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[email protected] @jornallona Ano XIII - Número 735 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, quinta-feira, 14 de junho de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil lona.redeteia.com Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá- vel iniciou ontem no Rio de Janeiro e debate o desenvolvimento sustentável. Especialistas frisam que é necessário esforço conjunto dos países. Pág. 3 Rio+20 só será efetivo com medidas claras e construtivas PERFIL ESPECIAL “A culpa não é da internet, mas sim do uso que a pessoa faz”, diz psicóloga ESPORTE Saiba mais sobre as ONGs que procuram as falhas do governo para ajudar as pessoas Págs. 4 e 5 Cadeirante leva sua vida de uma forma alegre e normal Pág. 8 Os jogos de decisão da Copa do Brasil Pág. 6 Pág. 7 Rafael Augusto Vignoli

LONA 735 - 14/06/2012

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, quinta-feira, 14 de junho de 2012

[email protected] @jornallona

Ano XIII - Número 735Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, quinta-feira, 14 de junho de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

lona.redeteia.com

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá-vel iniciou ontem no Rio de Janeiro e debate o desenvolvimento sustentável. Especialistas frisam que é necessário esforçoconjunto dos países. Pág. 3

Rio+20 só será efetivo commedidas claras e construtivas

PERFIL

ESPECIAL“A culpa não é da internet, mas sim do uso que a pessoa faz”, diz psicóloga

ESPORTE

Saiba mais sobre as ONGs que procuram as falhas do governo para

ajudar as pessoas

Págs. 4 e 5

Cadeirante leva sua

vida de uma forma

alegre e normal

Pág. 8

Os jogos de decisão da Copa do Brasil

Pág. 6

Pág. 7Rafael Augusto Vignoli

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Curitiba, quinta-feira, 14 de junho de 2012

Apenas ontem o governo resolveu não reduzir os salários pagos a mé-dicos federais, atitude que era prevista pela Medida Provisória 568 que tramita no Congresso. As consequências dessa medida seriam a de dobrar a carga horária dos médicos mantendo o mesmo salário. Isso tudo acabou gerando protestos e até a paralisação para que aconteça uma paralisação nessa medida provisória. Não adianta negar que o sistema de saúde bra-sileiro está bem precário. Como desculpa para tudo isso aumentar a carga horária sem aumentar o salário dos poucos médicos que temos seria mesmo a solução?

Infinitas esperas na fila de hospitais e a baixa renda dada ao SUS (Siste-ma Único de Saúde) provam que o nosso sistema realmente não se encontra nas melhores condições. Toda essa precariedade se deve a inúmeros fatores que vem assolando o Brasil. Dizer que o nosso sistema de saúde se encon-tra em situações lamentáveis apenas pelo fato do financiamento, é uma ilusão. Os Estados Unidos investem vinte vezes mais na saúde do que nós, e mesmo assim lá existem por volta de 50 milhões de excluídos. Dinheiro não é o problema. Ele é um dos.

A política corrupta e pessoas que obstruem todo o sistema são os princi-pais responsáveis pela falta de atenção. No Brasil existe a Emenda 29, que serve para aumentar o valor gasto pelo governo com saúde. Ótimo! Todos amam essa emenda, mas até hoje ela espera por votação. O que deixa ela paralisada? Ninguém sabe. Donos de hospitais particulares, planos de saú-des e outros, parecem ser os mais beneficiados com tudo isso estagnado.

Com todos esses problemas escancarados ainda aparece essa medida provisória que pode resultar em uma greve de médicos federais. A parali-sação dos atendimentos já serviu para assustar um pouco. A ministra das Relações Institucionais se pronunciou, dizendo que houve um erro na edi-ção da medida que provocou a redução, e tudo isso será resolvido em bre-ve. O senador Eduardo Braga vai manter a possibilidade de médicos terem jornadas duplas de vinte horas, benefício estendido integralmente a apo-sentados.

Ao que parece essa pequena paralisação assustou bastante muita gente. Apenas a paralisação impediu que 1529 cirurgias fossem realizadas somen-te aqui em Curitiba. Uma longa greve traria consequências absurdamente maiores e irrecuperáveis. Resta então prezar e respeitar os poucos profis-sionais de saúde que ainda atuam no Brasil.

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ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação So-cial: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Mar-celo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Peluso | Pauteira: Renata Silva Pinto| Editorial: Matheus Klocker

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pe-dro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conec-tora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

OpiniãoEditorial

Após vários meses de produção, é interessante notar a evolução das reportagens e dos tex-tos de opinião no Lona deste ano. Desde o começo do ano ainda com quatro páginas e apenas publicado na Internet até este último mês com oito páginas, colunas e reportagens especiais houve uma bela evolução nos textos e pautas, e na pertinência delas. E, claro, sempre houve, a página de opinião, que em diversas ocasiões foi a mais interessante da publicação, sempre com discussões e textos que acrescentam nas opiniões dos leitores, e em várias ocasiões con-tendo declarações e posições interessantes.

Esperemos que no próximo semestre, o Lona mantenha a qualidade que foi presente neste primeiro semestre, e que sempre haja uma evolução nas matérias, pautas e textos de opinião.

A política de saúde TED TalksMais interessante do que uma palestra, mais amplo do

que um telejornal e mais rápido que uma aula, as confe-rências TED Talks ganharam o mundo disseminando ideias úteis e que merecem ser compartilhadas.

Em apenas dezoito minutos, especialistas de diversas áreas do conhecimento debatem temas atuais e de interes-se contemporâneo. Através dos TEDs, conceitos científicos ganham maior dimensão e proximidade do público leigo, que compreende e se apropria das informações. Desta ma-neira, o formato desempenha papel importante na constru-ção do conhecimento que a sociedade recebe fragmentado através da mídia tradicional ou que muitas vezes, não rece-be.

Os vídeos estão divididos por temas como economia, mudança de poder, saúde, cinema e fotografia, histórias de vida, entre outros. Cada convidado utiliza muito bem o seu tempo com bom humor e até mesmo atitudes inusitadas, como a de Bill Gates, que abriu um vidro com mosquitos da mesma espécie transmissora da malária, e cerca de um minuto depois, esclareceu à plateia que eram inofensivos. A dinâmica rápida e a liberdade do palestrante atraem um público cansado do intermédio de apresentadores e de lon-gos monólogos promovidos por encontros especializados.

O nome TED remete a tecnologia, entretenimento e de-sign e é promovido por uma empresa sem fins lucrativos que agora produz em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil. Por aqui, o evento foi recebido em diversas cidades para promover o debate sobre o papel do país no desenvol-vimento mundial. As conferências podem ser acompanha-das pela internet e muitas delas têm legendas.

TED Talks: “ideias que mudam atitudes, as vidas e o mundo”.

Elisa Schneider

Gustavo Vaz, aluno do terceiro período do curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Carta do Leitor

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Rio+20 reascende debate sobreimportância da sustentabilidade

Mariana MacedoRenata Silva Pinto

A Conferência da ONU, que iniciou ontem, irá até o dia 22 com eventos sobredesenvolvimento sustentável e participação de diversos países

Começou ontem a Con-ferência das Nações Uni-das sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio +20, na cidade do Rio de Janeiro. O Lona falou com dois especialistas da área que comentaram sobre o even-to: Maria Alice Zimmerlin, diretora executiva do Instituto LIFE (Lasting Initiative For Earth ou na tradução: Inicia-tiva Duradoura pela Terra) – que possui um workshop na conferência -, e o professor Renato Engênio Lima, geólo-go integrante do Núcleo Inter-disciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento (NIMAD) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Segundo Lima, a Rio + 20

trará várias oportunidades, como de verificar o quanto foi desenvolvido desde a edição de 1992, a Rio + 92, e tam-bém de reafirmar, modificar e alterar as propostas que foram estabelecidas 20 anos atrás. Para Maria Alice, a conferên-cia irá “desenhar em conjunto um plano para um desenvolvi-mento sustentável”, mas para isso frisa que o plano deve ser claro e decisões construtivas.

“O planeta está toman-do consciência de que é necessário que todos os país-es trabalhem juntos para um futuro melhor”, ressalta Re-nato comentando sobre a im-portância dessa consciência. Ele acredita que não adianta que apenas o Brasil, por ex-emplo, faça a sua parte isola-damente, é preciso que todos se mobilizem ou não haverá os resultados necessários. En-tretanto, aponta que é frus-

trante que alguns chefes de Estado não compareçam ao evento.

Em 1992, conta que fo-ram estabelecidas centenas de propostas de “boa vontade”, em que algumas obtiveram avanços significantes e outras o contrário. Nesta edição da Conferência, a promessa é de decisões mais concretas, em que se definam as tarefas para cada nação. Uma novidade que Lima destaca é a intenção de se estabelecer redes de instituições que ponham em prática o que será discutido durante a Rio + 20. Para isso é preciso que seja feito um acordo sobre quais os países irão se envolver, segundo o especialista, não só com a “boa vontade”.

Já Maria Alice lembra que em 1992 não foi realizada ap-enas a Rio +92 com discussão

sobre o futuro do planeta. “Em 1992 aconteceram três convenções, uma sobre a de-sertificação, outra sobre clima e a terceira sobre biodiversi-dade”, contou Alice. Assim ressalta a importância da Rio + 20, pois é a primeira vez que uma conferência reúne todos os temas. Para ela, esse foi o ano em que se começou a discussão sobre o futuro sus-tentável do planeta.

Evento Paralelo

Amanhã será realizado o Workshop Internacional de Negócios e Biodiversidade, com organização do Instituto Life, de Curitiba. Maria Alice conta que o objetivo do even-to é mostrar para as empresas como conservar, recuperar e manter os recursos naturais.

Ressalta que sem a co-operação delas não existe

desenvolvimento sustentável. Entretanto, toda empresa uti-liza recursos naturais, assim precisam investir na área ou se não o recurso no futuro não estará disponível para seu uso. “Se eu não cuidar do rio não vou ter mais água para utilizar no meu negócio”, ex-emplifica.

Serviço

Para o dia de hoje está pre-visto cinco eventos paralelos: a continuação da III Reunião do Comitê Preparatório e mais dois eventos culturais, sendo que um é o término do Con-curso Cultural Rio +20. A conferência deve seguir até o dia 22 de junho no Rio de Ja-neiro. Em 2009, a conferência foi marcada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, se-gundo informações dadas pela organização do evento.

No final da tarde de ontem, a Universidade Positivo recebeu o chargista Ademir Paixão, do jornal Gazeta do Povo, que foi nomeado no dia 11 de maio como Cidadão Honorário de Curitiba. Paixão foi o convidado do programa Teia Entrevista, e contou sobre sua trajetória profissional até se tornar o ilustrador reconhecido nacionalmente. O caricaturista falou sobre a relação direta do seu trabalho com o jornalismo. “Sou um viciado em notícia. Desde manhã eu acompanho as notícias na rádio, não ouço músi-ca”, declarou Paixão. O programa, apresentado por Marcos Monteiro, vai ao ar na Rádio Teia apenas no segundo semestre.

Alunos do curso entrevistam o cartunista Ademir Paixão

Matheus Chequim

Michelle Ribeiro Valente

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ESPECIAL

Somente pelo prazer de ajudar

Brunno Brugnolo Leonardo Celeski

“O que uma mão dá a outra não precisa saber”. É com base nesse ditado que várias entida-des trabalham voluntariamen-te com o simples objetivo de ajudar o próximo. Conhecidas como organizações não gover-namentais, as ONGs tiveram crescimento significativo nos últimos anos.

Estas instituições são gru-pos sociais do terceiro setor que não possuem fins lucrati-vos. Elas têm como finalidade pública a atuação em diferentes áreas, como educação, meio-ambiente, desenvolvimento sustentável, combate à pobre-za, saúde, direito humanos, entre outras. As ONGs têm im-portância expressiva na socie-dade, pois costumam atuar em setores onde o Estado é pouco presente.

Para desenvolver os traba-lhos obtêm recursos através de financiamentos do Estado, par-cerias com empresas privadas, doações da população, venda de produtos ou rifas e promo-ção de eventos beneficentes. Perante o Código Civil elas se caracterizam como pessoas ju-rídicas de direito privado sem fins lucrativos, como associa-ções e fundações. Grande parte das pessoas que trabalham nes-sas entidades é voluntária.

Recentemente o conceito dessas organizações tem sido manchado por causa das diver-sas fraudes envolvendo falsas licitações, desvio de verbas e

corrupção. O que acontece hoje é uma intermediação entre o governo e a população através de convênios que se tornaram fontes de desvio de dinheiro público para enriquecimento de partidos ou pessoas ligadas - di-reta ou indiretamente - a eles.

Entretanto, é preciso valo-rizar o trabalho de entidades sérias, que fazem a diferença na vida de pessoas que neces-sitam de ajuda. Ou até mesmo de pessoas comuns, que, com determinado amparo, podem se transformar e viver uma nova realidade. Aqui em Curitiba existem alguns bons exemplos, como a Associação Paranaense Alegria de Viver (APAV) e o Instituto História Viva.

Para a presidente da APAV, Maria Rita Teixeira, a intenção é apenas ajudar o próximo. “Na época que iniciamos, o objeti-vo era dar assistência e salvar vidas, mas ao longo do tempo vimos que a doença não é mais um bicho de sete cabeças e hoje nossa preocupação é fortalecê-las e trabalhar contra o precon-ceito”, afirma a presidente da associação fundada em 1993, que presta assistência e cuida de crianças carentes portadoras do vírus HIV.

InstitutoHistória Viva

Criado em novembro de 2005, com sede em Curitiba, o instituto é certificado pelo Ministério da Justiça como Or-ganização da Sociedade Civil Organizada (OSCIP). De acor-do com o site da instituição, o História Viva conta com total

autonomia administrativa e or-çamentária para capacitar, trei-nar e organizar voluntários para se tornarem contadores e ouvi-dores de histórias. Desde a sua fundação foram formados mais de 700 voluntários, e atual-mente são 140 que atendem em média 14 mil pessoas durante o ano em diversas instituições de Curitiba e São Mateus do Sul. O recorde de pessoas im-pactadas foi no ano passado, quando mais de 34 mil pessoas foram atendidas. O maior local de atuação foi no Hospital das Clínicas, que concentrou quase 1/3 dos trabalhos. Na sequência aparece o Lar Rogate e o Hos-pital Erasto Gaertner

O objetivo principal do Ins-tituto é transformar ambientes e amenizar sentimentos de dor e sofrimento para pacientes de hospitais e moradores de asilos, abrigos e casas lares. Por meio das histórias é possível levar cultura, educação, carinho e alegria para crianças e idosos que passam por tratamento ou que simplesmente foram aban-donados por suas famílias. O estímulo ao hábito da leitura é uma das principais bandeiras do Instituto História Viva.

Ser voluntário mexe com sentimentos e emoções. Devido a grande responsabilidade, há um treinamento para os conta-dores de histórias. Alternando entre aulas práticas e teóricas, os interessados passam por um aprendizado que soma 35 ho-ras.

Reconhecimento

Devido ao impacto do tra-balho realizado, o Instituto

História Viva tem tido o reco-nhecimento através de prêmios e espaço na mídia nacional. Por duas vezes o voluntariado da entidade foi divulgado com destaque pela Rede Globo de Televisão. Na primeira opor-tunidade, em julho de 2010, no Programa Brasileiros; pos-teriormente, em abril de 2011, no Programa Ação, apresenta-do por Serginho Groisman. Em 2010 foi finalista na categoria Organização da Sociedade Ci-vil da 3ª Edição do Prêmio

Cultura Viva (promovido pelo Ministério da Cultura). Já em 2011, foi o vencedor da cate-goria educação da 3ª edição do Prêmio Instituto HSBC Solida-riedade – Troféu de Honra Dra. Zilda Arns Neumann. O prêmio de notoriedade nacional apoia ações de mobilização social que contribuem para a melho-ria do país.

Um dos grandes benefícios de ser um voluntário atuante é o crescimento pessoal gerado, de acordo com a fundadora do

Algumas instituições observam lacunas nos serviços prestados pelo Estado e, de forma voluntária, buscam melhorar a vida das pessoas

Jaleco e adesivos são as marcas registradas de Renê Junior

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ServiçoPara ajudar a APAV é necessário agendar uma

visita e conhecer o trabalho realizado. Aceitam doações de roupas, alimentos, matérias de lim-peza e higiene, brinquedos e móveis usados. Do-ações financeiras também são bem-vindas. Para maiores detalhes acesse o site www.apav.org.br ou entre em contato. APAV - Rua João Capiberibe, 1546 – Portão, Curitiba-PR. Fone: 3229-4779.

Para colaborar com o Instituto História Viva como voluntário, parceiro ou doador é necessário ir ao site www.historiaviva.org.br e preencher o formulário correspondente. Rua Atílio Bório, 719 - Cristo Rei, Curitiba – PR. Fone: 3779-1524.

Instituto História Viva, Roseli Bassi. “Os voluntários desen-volvem um senso de cidadania e responsabilidade que os fa-zem questionar os valores de suas vidas. Eles são tão bene-ficiados pelo processo quanto as pessoas as quais se propõe a ajudar”, reflete.

A alegria medida por sorrisos

Uma das maiores frustra-

ções de uma criança é ser impe-dida de brincar, pular e correr. Quando isso acontece devido a uma internação, a situação se agrava ainda mais. É neste mo-mento que entram os voluntá-rios, oferecendo carinho, diver-são e atenção.

A felicidade de Renê Orlan-do Palte Junior, por exemplo, está no sorriso de cada crian-ça. Aos 58 anos e já aposenta-do, ele sai da comodidade para voluntariar no Hospital Erasto Gaertner, pelo Instituto Histó-ria Viva. O percurso de cerca de cinco quilômetros é feito de bicicleta. O mesmo meio de transporte leva Palte ao Hospi-tal das Clínicas, onde a distân-cia percorrida é de aproximada-mente oito quilômetros.

Em cada local, as visitas ocorrem apenas em um dia da semana, para transmitir feli-cidade, e não contrair os pro-blemas. “Esse que é o grande segredo. A intenção é ajudar eles, e não me prejudicar. Por isso, venho ao Erasto apenas na sexta-feira. Dá uma ansiedade e uma vontade muito grande de vir em outros dias, mas é me-lhor aguentar”, ensina o volun-tário.

Mesmo assim, é inevitável criar um vínculo com os pa-cientes. Isso fica claro quando Palte recebe a notícia que, nes-ta visita, ele não poderá inte-ragir com todas as crianças. A maior parte delas está em área de isolamento. “Não dá? São muitas? O que aconteceu?”, in-dagou, em sequência. A queda de imunidade deixou a maioria das crianças isoladas do conta-

to normal com ou-tras pessoas. Palte tentou encarar com naturalidade, mas lamentava a situa-ção seguidamente. A caminho do quar-to, encontrou dois médicos, e, não sa-tisfeito, quis confir-mar a informação.

Situação pa-recida, embora mais grave, já ha-via acontecido em meados de 2009, quando expandiu a epidemia da Gripe H1N1, conhecida como Gripe Suína. “Nossa, fiquei qua-se seis meses longe deles. Foi bastante complicado, posso dizer que fiquei sem rumo. Conversar, contar história e ver as crianças mais felizes faz par-te da minha rotina... e ela foi quebrada de um modo muito ruim”, contou, com voz lenta e calma.

O contato

No quarto, apenas três das seis camas estavam ocupadas. Uma por João Pedro, o vetera-no da turma, 22 anos. Ele es-perou Palte lavar bem as mãos – ritual comum para quem entra no quarto -, o cumprimentou, largou o computador do lado e dormiu.

À sua frente estava o anima-do Luiz Henrique, de 9 anos, acompanhado pela mãe, Marcia Kuzma. “Que demora, vô”, dis-se o menino, ansioso para ouvir as histórias infantis. Bastante a vontade, Palte mostra sua cole-ção de livros. “Esse aí do maca-co”, pede Luiz. O voluntário lê a história interagindo com to-dos a sua volta. Mostra as ilus-trações e efeitos especiais con-tidos na obra, misturando com suas histórias de infância. “Do que o macaco gosta, Luiz?”, pergunta, com um largo sorriso no rosto. Da resposta do garoto,

aproveita para reforçar o quan-to as frutas melhoram a saúde.

Vindo de Prudentópolis, in-terior do Paraná, Luiz mostra simplicidade e conhecimento do campo. “Lá em casa a gen-te brinca no barro e na grama. Quando a gente encontra uma lesma matamos com sal”, relata o garoto, gargalhando.

O câncer foi descoberto quando Luiz tinha dois anos. Ele passou por tratamento por quatro anos e teve uma signi-ficativa melhora. Contudo, sua imunidade voltou a baixar nes-te ano e precisou retornar ao hospital. “Uma semana antes de eu voltar eu fui pescar, pe-guei um peixão bem grande, né, mãe?”, conta. Márcia concorda com a cabeça e dá um tímido sorriso, mostrando-se um pou-co preocupada com a transfu-são de sangue a qual Luiz seria submetido logo mais.

A despedida de Palte com os pacientes é animada. “Eu sempre trago adesivos pra eles. Nossa, a criançada gosta muito disso. Tenho pra meninos e me-ninas, de carros, bonecas, fute-bol... Do que pedir, o vô tem”, brinca ele.

Luiz demora para escolher suas três figurinhas. Espalha todas pela cama e pede ajuda aos pais. Depois, com cartelas de futebol, carro e bicicleta, devolve o maço ao voluntário, que distribuirá isso a outras crianças. Uma dessas é Enzo Morendi. O menino de quatro anos aguarda em cama próxima a chegada do ‘avô’. “Vamos fa-

zer a alegria de outras pessoas. Isso é muito gratificante. E pre-firo assim, de um em um, pois posso dar mais atenção. Essas crianças são muito especiais. Faço isso com o maior do mun-do”, discursa, com a voz em-bargada.

Assim são os voluntários do bem. Não medindo os esforços, medindo sorrisos.

Ao lado dos pais, Luiz escolhe as figurinhas adesivas oferecidas pelo voluntário

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Do caçador de marajás ao palhaço no plenário

POLÍTICA

Votos em branco e votos nulos são uma maneira de mostrar a insatisfação com os candidatos e candidatas que pleiteiam uma vaga tanto no executivo como no legislativo. Entretanto, caros amigos, caras amigas, é necessário di-zer que tanto o voto branco, quanto o voto nulo, são contados na somatória final da apuração como votos inváli-dos e, portanto, acabam beneficiando as siglas nos votos proporcionais.

Desde 2007, quando houve a mu-dança na Lei eleitoral, esses votos fo-ram tornados inválidos. Qual o porquê de haver as duas nomenclaturas? De acordo com o Tribunal Superior Elei-toral (TSE) é uma maneira de compre-ender o comportamento do eleitorado, visto que, quando o eleitor, a eleitora

Aline [email protected]

vota em branco, significa que nenhum dos candidatos ou candidatas supriu suas necessidades, ou seja, não há representatividade política, ao passo que votos nulos representam, para o TSE, a abstenção do direito ao voto.

Outrora havia uma aura de protes-to, defendida por alguns ainda, em vo-tos nulos ou brancos. Essa maneira de mostrar insatisfação, contudo, não é eficaz. Primeiro porque, de 64 quan-do houve o golpe militar até 88 na campanha das Diretas Já houve gran-de mobilização popular pelo direito ao voto; segundo porque conquistado esse direito, não há porque protestar pela falta de representatividade já que qualquer cidadão ou cidadã que seja alfabetizado pode filiar-se ou criar um

Direito de escolher nossos represen-tantes e dever de fiscalizá-los. Protes-tar vale sim, votando em palhaço (que aliás é o deputado mais presente nas plenárias) ou colocando o caçador de marajás novamente no cenário políti-co, o que não vale é querer se abster da culpa depois.

partido político que lhe represente.Há, por outro viés, a transferência

do voto de protesto que antigamente era nulo ou branco, para candidatos caricatos ou não tradicionais. Esse foi o caso do deputado federal mais famoso do país, eleito por São Paulo, Tiririca (PR). Críticos, com o perdão da redundância, criticaram os brasilei-ros e brasileiras por terem eleito um palhaço para a Câmara dos deputados. Outros diziam que esse foi um voto de protesto, mas quem protesta aqui sou eu, leitores, leitoras:

Quando votamos nos engravatados com brilhantina no cabelo, ou naque-les que diziam que iriam caçar mara-jás, o que houve com esse país? O voto é-nos ao mesmo tempo direito e dever.

ESPORTE

Copa do Brasil em fase decisivaA Copa do Brasil teve seus jogos

decisivos da fase quartas-de-final no mês passado, na última quarta-feira, e dois paranaenses estavam presentes. De um lado da chave, o Atlético fa-zendo duro confronto com o Palmei-ras, e do outro, o Coritiba tentando repetir o feito do ano passado, quan-do chegou a final.

Com o empate em 2 a 2 na Vila Capanema, o Atlético-PR foi para o confronto com o Palmeiras com certa desvantagem, já que a equipe paulis-ta conseguiu fazer dois gols fora de casa. No jogo da volta, o Palmeiras jogando na Arena Barueri tentou pres-sionar o time do Atlético, mas como de costume, o técnico rubro-negro Carrasco não deixou o time atrás e colocou Guerrón para jogar no sacri-fício. Apesar disso, o Palmeiras aca-

bou vencendo o jogo por 2 a 0, com gols de Luan e Henrique. O próximo adversário da equipe de Palestra Itá-lia será Grêmio ou Bahia.

Na chave de baixo, o Coritiba en-frentou o Vitória, tentando repetir o sucesso no torneio de 2011. Jogando no Couto Pereira, o Coxa precisava da vitória, já que o primeiro jogo ha-via empatado em 0 a 0. Apesar de sair atrás no placar, o alviverde conseguiu virar o jogo ainda no primeiro tempo, e fechar o jogo no segundo. Everton Costa duas vezes, Everton Ribeiro e Roberto marcaram para o Coritiba, enquanto o gol do Vitória foi feito por Marquinhos.

O Coritiba chega com boas chan-ces de fazer mais uma final. O rival de agora, São Paulo, terá vida dura quando jogar no Couto Pereira. Esse

confronto será de muito equilíbrio, com um Coritiba mordido pelo vice-campeonato contra o Vasco. Na outra semifinal, um confronto de muita ri-validade e história envolvendo Grê-mio e Palmeiras. Os técnicos são as grandes atrações: Vanderlei Luxem-burgo do lado gremista, e Luiz Felipe Scolari pelo lado do alviverde. Nesse caso há uma inversão de papéis, já que Felipão é grande ídolo no Grê-mio, e Luxemburgo ganhou muitos títulos com o Palmeiras.

Apesar da vantagem de fazer o jogo de volta em casa, acredito que o Palmeiras não será páreo para o Grê-mio, e deixará o torneio na semifinal. Fazendo a final contra os gremistas, aposto no Coritiba, que deve fazer muita pressão no jogo de volta no Couto Pereira, e o forte e experien-

Rodolpho [email protected]

te conjunto do Coxa deve prevalecer sobre a nova equipe do São Paulo. Porém, a minha aposta para campeão da Copa do Brasil é no Grêmio, que tem um ataque poderoso com Kléber e Marcelo Moreno e joga sua última temporada no estádio Olímpico.

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Geral

Mariana MacedoRenata Silva Pinto

A psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa em Psicologia da Internet da PUC-SP, explica sobre o uso compulsivo da internet no NPPI

Para psicóloga, o problema com a internet está no modo como o usuário a utiliza

O uso compulsivo da inter-net é um problema psicológico que possui poucos estudos e especialistas. Um dos pioneiros no Brasil sobre esta dependên-cia, o Núcleo de Pesquisas em Psicologia da Internet (NPPI), da Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo (PUC-SP), realiza orientações via e-mail. A integrante do núcleo e psicólo-ga Ana Luiza Mano falou com a Rede Teia sobre o uso abusivo da internet.

Segundo Ana Luiza, no nú-cleo é utilizado um questioná-rio sobre o uso compulsivo da internet criado pela psicóloga estadunidense Kimberly Young em 1994. O questionário se foca no tipo de uso da internet pela pessoa, se a prejudica, não dan-do tanta importância à quanti-dade de horas passadas em fren-te ao computador. “É o que você faz no tempo que você usa que dá o indício daquilo que está te prejudicando”, completa Mano.

As pessoas procuram o NPPI quando percebem que a utili-zação da internet está prejudi-cando a vida dela. “Você usa tanto que não consegue ir pro trabalho ou para escola, perde compromissos para ficar usan-do, está num lugar e não presta

atenção no que está acontecen-do, pois precisa usar”, exempli-fica. Além disso, pais preocupa-dos também procuram o núcleo acreditando que seus filhos es-tão viciados. Entretanto, Ana avisa que quem deve sentir a necessidade de procurar ajuda é o filho.

Como é a orientação

Ana Luiza explica que a orientação das pessoas que se apresentam como “viciados” em internet é realizada em cer-ca de seis semanas, dependendo da avaliação feita pela equipe. No programa, são trocados um e-mail por semana em dias com-binados previamente.

Na primeira semana há uma explicação sobre a orientação, a troca de e-mails, e são feitas as perguntas básicas sobre a pes-soa, como ela utiliza a internet, o tempo conectado e os motivos para acreditar que está viciado. Até a segunda semana é feito um mapeamento de uso.

Na terceira semana, procu-ram descobrir como é a vida da pessoa, o que ela deixou de fazer pelo “vício” e o que continua fa-zendo. Pela quarta e quinta se-mana há a sensibilização para que a pessoa compreenda por que está usando abusivamente algo que atrapalha sua vida.

Normalmente, após as sema-nas o paciente é encaminhado para um acompanhamento pre-

sencial em sua cidade, que pode ser sugerido por alguém do nú-cleo ou alguma universidade que tenha tratamento gratuito. Mano conta também que muitas vezes o tratamento se prolonga pelo paciente não responder ou pela falta de sensibilização da pessoa.

Educação sobre internet

Para a psicóloga Ana Lui-

za Mano, a única possibilidade de se evitar o vício da internet é com a educação sobre o uso, ensinando o que é seguro e o quanto se expor, por exemplo. As redes sociais, segundo Ana Luiza, são projetadas para mos-trar apenas o que te interessa, “o negócio deles (as redes sociais) é te cativar”.

Um órgão que adotou essa causa é o Instituto Coaliza, que tem como objetivo promover a educação cidadã e digital para a sociedade civil. Idealizado em 2010, o instituto atua com pa-lestras de conscientização em órgãos, escolas e panfletos no Rio de Janeiro e São Paulo, de acordo com um dos co-fundado-res, Lincoln Werneck.

A ideia, segundo Werneck, é utilizar o melhor das quatro áreas que abrangem a internet: Jurídica, humanas, segurança da informação e educação. “O instituto nasceu com o intuito de fazer as pessoas entenderem que a internet não é um mons-

tro”, complementa. Assim como Ana, Lincoln

acredita que o problema do uso da internet está no modo que as pessoas agem dentro dela. O Ins-tituto procura levar o conheci-mento para a sociedade, de uma forma clara e concisa. Contudo, afirma que a decisão final sempre será do usuário.

A ação principal do ins-tituto está na sua página do Fa-cebook e no Twitter. Até julho, segundo Werneck, pretendem estar com o Coaliza constituído judicialmente para firmar contra-tos. A intenção final é trabalhar com escolas e mostrar para pro-fessores como trabalhar e intera-gir com a internet, mostrando o que é prejudicial para a criança

A designer Carolina Tod Palhano, 21 anos, conta que passa pelo menos oito horas por dia usando a internet no trabalho, que foi escolhido em parte pelo uso da inter-net. “Escolhi isso [a profissão] por conveniência, então contar a vida por esses canais acabou virando um hábito” explica. Ela também usa a internet ao chegar em casa e até mesmo no trajeto entre o trabalho e sua casa, quando acessa via smartphone.

O uso excessivo da internet já rendeu brigas com a fa-mília e com o namorado, principalmente no que diz res-peito à exposição nas redes sociais. O cotidiano exposto no mundo virtual se tornou motivo de discussão em casa. “Reclamava de certas coisas que acontecia na família pelo Twitter. Quando descobriram que eu fumava foi por causa do meu perfil no Facebook também” relata Carolina, que reconhece que muitos de seus problemas poderiam ser evitados se usasse a rede de forma mais prudente.

e o que ajuda a desenvolver seu conhecimento.

Como começou Fazendo um breve histórico

sobre o NPPI, Ana Luiza con-tou que o núcleo começou em 1995. Três professores de psi-cologia da PUC-SP decidiram fazer uma home page para a clínica da universidade. Já em 1996/97 pessoas começaram a pedir orientação por email, as-sim os professores foram atrás dos conselhos regionais e na-cional para obter ajuda no que fazer. Atualmente é proibido dar consultas pela internet, mas é permitida a orientação.

Um exemplo

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Curitiba, quinta-feira, 14 de junho de 20128

Dr. JoãoRayssa Baú

Era uma terça-feira, pouco antes do meio dia, o consultório médico estava cheio e meu estô-mago roncava de fome. Tive que aguardar o atendimento de mais três pessoas. Já estava impacien-te. Enquanto esperava para falar com o doutor, puxei papo com a secretária. O nome dela é Laurie-te Priscila e trabalha lá há mais de um ano.

Perguntei como era a sua re-lação com os pacientes e se gos-tava do seu trabalho. Ela me res-pondeu com um lindo sorriso no rosto: “É muito bom atender as pessoas que vêm até aqui. Elas entram de um jeito e saem de ou-tro. O que mais me deixa feliz é saber que pude ajudá-las de uma maneira ou outra”.

Achei muito bacana seu co-mentário, até porque Lauriete deixou de prestar vestibular e entrar numa faculdade porque se encantou com o trabalho de secretária. “Aqui construí uma relação maravilhosa com os pa-

cientes. Eles me ligam até mes-mo pra saber como estou, se pre-ocupam comigo, não querem só meus serviços, sabe como? Além do mais é muito bom trabalhar ao lado do Dr. João e de sua es-posa, eles são maravilhosos”.

Quase esqueci de contar: jun-to ao consultório há uma sala onde trabalha a esposa do Dr. João, a fisioterapeuta Stefania Lopes. Conversei com ela tam-bém e fiquei sabendo que eles estão casados há mais de 20 anos e se conheceram na faculdade. Chegaram até a estudar juntos na França, mas isso antes de se formarem.

Stefania me contou um pouco do dia a dia de seu marido. “João tem dificuldade para andar, por isso usa cadeira de rodas, mas no resto ele é perfeito. Digo isso em todos os sentidos. É um óti-mo marido e companheiro, além de ser uma pessoa boa, que faz o possível para ajudar.”

Depois de esperar quase duas horas, consegui entrar na sala do neurologista João Ferrario Lopes Neto. Ele me tratou muito bem,

foi super gen-til e não se im-portou de con-versar comigo e contar sobre sua trajetória.

Ele nasceu junto com o ano novo de 1957. Foi fi-lho único a vida toda, mas sempre cer-cado de tios e primos. Sua relação com os médicos começou des-de pequeno quando desco-briu que tinha alguns proble-

PERFIL mas nas pernas e na coluna. Ele nasceu com artogripose, uma do-ença relacionada às pernas e com luxação congênita do quadril, o que o impediu de dar os primei-ros passos cedo. Ele foi andar só com 4 anos de idade.

Passado essa fase, João teve uma infância boa, mas sempre com algumas dificuldades de locomoção. Ainda nessa época, ele se submeteu a vários trata-mentos, mas nada que o fizesse melhorar definitivamente.

Sua primeira operação foi com 19 anos de idade e desde en-tão não parou. Começou tratando a perna direita, depois cuidou da esquerda e da coluna. As cirur-gias em si correram bem, mas houve alguns problemas, como conta João. “Passei por alguns tratamentos na Argentina e nos Estados Unidos, o que pensei que fosse me curar, mas houve erros médicos. Me colocaram uma prótese infectada.”

Passado esse pesadelo, João não desistiu. “Essa época foi a mais difícil, pois eu ainda era jo-vem, então não conseguia enca-rar muito bem essas coisas. Sem-pre tive apoio dos meus pais, o que me ajudou muito. Eles fize-ram de tudo para que eu pudes-se voltar a andar. Não mediram esforços para pagar minhas ci-rurgias e tratamentos. Sou grato eternamente a eles.”

Na juventude, João andava com a ajuda de muletas e foi as-sim que ele terminou a faculdade de medicina, em 1986. Mas a fase de tratamentos não terminou: ele ainda passou por uma cirurgia na coluna, em 1992 e não obteve bons resultados. Além dos erros médicos, ele conta que levou um susto. “Depois de operar a co-luna, escorreguei e cai no quar-to do hospital, o que me rendeu ainda mais complicações. Logo, em 1994, eu já dependia de uma cadeira de rodas”.

Ele me contou tudo isso com um sorriso no rosto. Na sua mesa havia inúmeras fotos de seus pais, sobrinhos e de seus

cachorros. Foi aí que ele contou que não tinha filhos de verdade, mas sim, quatro poodles. “Sem-pre gostei muito de cachorros, comecei com um casal e depois eles deram cria e a família foi au-mentando”.

Ao lado dessas fotos, junto a uma montanha de papéis, tinha uma imagem especial. Era uma foto dele sentado em um kart. Perguntei qual era a sua relação com esse esporte e como ele fa-zia para correr. João contou que adora adrenalina. “Sempre gos-tei muito de andar de jet-ski, ir a montanhas-russas e pilotar o kart. Ser cadeirante nunca foi um empecilho para eu deixar de fa-zer o que gosto.”

E, quanto ao kart, ele disse que tem um amigo que trabalha no ramo e se empenhou junto a alguns mecânicos a fazer uma adaptação para que ele conse-guisse correr. “Já faz alguns anos que dedico uma vez da semana, ou então do mês, dependendo do movimento do consultório, a andar de kart. Tenho um só meu

que é todo adaptado para minhas limitações. É simples, ao invés de apertar os pedais com os pés, controlo a velocidade com um cabo colocado no volante”.

Ficamos mais de uma hora conversando com uma empatia maravilhosa. Saí de lá com a consciência de que havia conhe-cido um exemplo de homem, de médico e de pessoa para os ami-gos, parentes e para toda a socie-dade. Alguém que enfrentou as dificuldades da vida de cabeça erguida e nunca deixou de fazer nada por causa de suas limita-ções, se é que elas existem.

Atualmente, João Lopes é médico neurologista. Ele dedica mais da metade do seu dia a aten-der pacientes dos mais diversos quadros clínicos possíveis. Sua vida está voltada a ajudar os ou-tros e a mostrar como é fácil vi-ver uma vida alegre e saudável. Como ele mesmo diz: “Aprendi a ser feliz como eu sou. Levanto com um sorriso no rosto e vou aproveitar os momentos que a vida pode me proporcionar”.

O kart é um esporte pra quem gosta de adrenalina. Ele, nada mais é do que um “carro” que possui volante, acelerador e freio. Para andar nele é preciso se equipar com o macacão, as luvas e o capacete. O esporte pode ser praticado em pistas abertas ou fechadas, sempre com a proteção de pneus para desenhar e assegurar o circuito.

Diferente do que se imagina, é comum que uma pessoa com alguma deficiência física possa pilotar um kart. Isso por-que alguns mecânicos conseguiram fazer uma adaptação es-pecial. Ao invés de apertar os pedais do freio e do acelerador com os pés, eles apertam com a mão. Existe um cabo chama-do borboleta que é conectado nos pedais e pode ser acionado manualmente. Dessa forma, os deficientes físicos conseguem ter domínio total do kart, apenas segurando o volante. Os ca-bos borboletas são colocados atrás da direção, de modo que se consiga fazer as curvas e manusear o freio e o acelerador ao mesmo tempo.

João Lopes Neto começou a andar de kart há 8 anos e gos-ta muito do esporte. “Sempre que posso vou correr. Adoro a adrenalina que o kart me traz.”

Maico Marcello Rosa é mecânico e já adaptou um kart especial. “Acho incrível a oportunidade que podemos dar a quem gosta do esporte. Dá muito trabalho fazer essa adap-tação, pois é preciso trocar todo o volante e ligar os cabos borboletas à direção, mas o restante do kart permanece igual. O único diferencial que pode ser acrescentado é o uso do cinto de segurança pra quem não tem equilíbrio no banco”.