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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 997-STF Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares furtados ou roubados. É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas. É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro por danos causados a pessoas presas na ditadura é constitucional. PODER JUDICIÁRIO Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara. DIREITO ADMINISTRATIVO FUNDAÇÃO Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para contratação de seus empregados. DIREITO TRIBUTÁRIO PIS/COFINS É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação e COFINS- Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam fabricantes de máquinas e veículos. DIREITO CONSTITUCIONAL COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares furtados ou roubados São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997). A situação concreta foi a seguinte: No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.336/2013 obrigando as operadoras de telefonia móvel a fornecerem aos órgãos de Segurança Pública, sem prévia autorização judicial, dados necessários para a localização de telefones celulares furtados, roubados ou utilizados em atividades criminosas. Veja o que diz o art. 1º:

Informativo comentado: Informativo 997-STF · fornecer aos órgãos de Segurança Pública, dados necessários para a localização de telefones celulares e cartões ^SIM _ que tenham

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  • Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

    Informativo comentado: Informativo 997-STF

    Márcio André Lopes Cavalcante

    ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

    COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ▪ É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares

    furtados ou roubados. ▪ É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas. ▪ É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro por danos causados a pessoas presas na ditadura é

    constitucional. PODER JUDICIÁRIO ▪ Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    FUNDAÇÃO ▪ Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para contratação de

    seus empregados.

    DIREITO TRIBUTÁRIO

    PIS/COFINS ▪ É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação e COFINS-

    Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam fabricantes de máquinas e veículos.

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares furtados ou roubados

    São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88).

    STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A situação concreta foi a seguinte: No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.336/2013 obrigando as operadoras de telefonia móvel a fornecerem aos órgãos de Segurança Pública, sem prévia autorização judicial, dados necessários para a localização de telefones celulares furtados, roubados ou utilizados em atividades criminosas. Veja o que diz o art. 1º:

  • Informativo comentado

    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 2

    Art. 1º Ficam obrigadas as operadoras de telefonia móvel que operam no Estado do Piauí a fornecer aos órgãos de Segurança Pública, dados necessários para a localização de telefones celulares e cartões “SIM” que tenham sido objeto de furto, roubo e latrocínio ou na utilização de atividades criminosas.

    A Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela usurpou competência privativa da União. O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? SIM.

    São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    O art. 21, XI, da CF/88 prevê que compete à União “explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”. O art. 22, IV, por sua vez, afirma que compete privativamente à União legislar sobre “água, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão”. Por conta disso, o STF tem julgado inconstitucionais as leis estaduais que, embora visando contribuir com as atividades dos órgãos de segurança pública, têm a consequência prática de interferir indevidamente em direitos individuais e na estrutura de prestação do serviço público. No caso, mesmo sendo uma lei necessária e importante para dar instrumentos aos órgãos de segurança pública a fim de que consigam reprimir os atos ilícitos, a definição de obrigações e procedimentos, no âmbito da prestação de serviços públicos, não se pode dar de forma não integrada, desvinculada do sistema como um todo. Nesses termos, inclusive medidas bem-intencionadas, ao desconsiderarem o funcionamento do sistema no nível mais amplo, se revelam ineficazes e, também, verdadeiramente contraproducentes na consecução dos fins a que se propõem.

    COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas

    É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em estabelecimentos comerciais.

    STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A situação concreta foi a seguinte: Em São Paulo, foi editada a Lei estadual nº 15.361/2014 tratando sobre a exposição de produtos orgânicos nos estabelecimentos comerciais do Estado. Confira:

    Art. 1º Esta lei regula a exposição de produtos orgânicos, “in natura” ou processados, nos estabelecimentos comerciais do Estado de São Paulo. Parágrafo único. Para fins desta lei, considera-se produto orgânico “in natura” ou processado aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuária ou oriundo de processo extrativista

  • Informativo comentado

    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 3

    sustentável e não prejudicial ao ecossistema local, nos termos da Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Art. 2º Os produtos orgânicos serão expostos em espaços exclusivos. § 1º Os espaços a que se refere o “caput” serão devidamente identificados em cada área ou seção do estabelecimento comercial, de modo a segregar os produtos orgânicos dos demais. § 2º A identificação a que se refere § 1º deverá ser de fácil visualização pelo consumidor e conterá os seguintes dizeres: “Produto Orgânico - sem agrotóxico”. Art. 3º A exposição comercial de produtos orgânicos em desacordo com o disposto no artigo 1º sujeitará o infrator às sanções previstas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor.

    Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria inconstitucional. O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? NÃO.

    É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em estabelecimentos comerciais. STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A referida lei dispõe sobre a proteção do consumidor, matéria de competência concorrente da União e dos Estados. Não se trata, portanto, de direito comercial. O legislador pretendeu facilitar para o consumidor a localização dos produtos orgânicos e estimular seu consumo. Além disso, a lei estadual somente amplia uma obrigação que já é prevista no Decreto federal 6.323/2007, que regulamentou a Lei federal nº 10.831/2003, que estabelece normas para a comercialização de produtos orgânicos no mercado interno. O decreto federal determina que, no comércio varejista, os produtos orgânicos que não possam ser diferenciados visualmente dos similares não orgânicos devem ser mantidos em espaço delimitado e identificado. Já a lei paulista especifica que os orgânicos devem ser expostos em espaços exclusivos. Desse modo, o único acréscimo foi a ampliação de obrigação já contida em norma federal. O preenchimento dessa lacuna em nada contraria a legislação federal, mas age em consonância com ela, protegendo os interesses comuns da federação. Por fim, o STF também afastou o argumento de que os comerciantes não mais poderiam determinar o layout dos seus estabelecimentos, o que violaria o princípio constitucional da livre iniciativa. Compete ao Poder Público encontrar mecanismos para influenciar o cidadão a tomar as melhores decisões. Não há de se falar em violação à livre iniciativa, mas de cumprimento do dever de informar o consumidor, princípio igualmente essencial para a garantia da ordem econômica.

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    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 4

    COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro

    por danos causados a pessoas presas na ditadura é constitucional

    Importante!!!

    É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos.

    STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A situação concreta foi a seguinte: No Espírito Santo, foi editada a Lei estadual nº 5.751/98, que reconhece a responsabilidade do Estado do Espírito Santo por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos e estabelece normas para que sejam indenizados. Confira os trechos mais importantes:

    Art. 1º O Estado do Espírito Santo indenizará, nos termos desta Lei, as pessoas que, presas ou detidas, legal ou ilegalmente, por motivos políticos entre os dias 02 de setembro de l961 a 15 de agosto de l979, que tenham sofrido sevícias ou maus tratos, que acarretaram danos físicos ou psicológicos, quando se encontravam sob a guarda e responsabilidade ou sob poder de coação de órgãos ou agentes públicos estaduais ou tenham sofrido perdas e danos materiais, em razão de terem cerceados direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período mencionado neste artigo. § 1º Não terá direito a indenização a pessoa que já a tiver obtido judicialmente, em ação movida contra o Estado do Espírito Santo, ou que esteja acionando com este fim, ressalvada neste último caso, a hipótese de desistência da ação antes do encaminhamento do pedido de que trata o Artigo 3º. § 2º O pagamento de eventual indenização pela União Federal fundada em iguais motivos, não inibe o recebimento da que ora se estabelece.

    Art. 2º Fica criada a Comissão Especial, composta por 7(sete) membros, que receberá e avaliará os pedidos de indenização e de Pensão Especial, fundados nesta Lei, pronunciando-se num prazo de 90 (noventa) dias, contados do recebimento, sobre sua procedência e fixando o montante da indenização de acordo com os critérios estabelecidos no Art. 4º. (...)

    Art. 4º O montante da indenização prevista nesta Lei não será superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), nem inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devendo sua fixação levar em conta a extensão e gravidade das sequelas apresentadas pelo ex-preso ou detido, considerando: I - Existência de danos físicos ou psicológicos; II - Existência de nexo de casualidade com detenção referida no Artigo 1º. Parágrafo único. Para a fixação do quantum da indenização a Comissão, sempre que necessário, determinará a realização de perícia.

    Vale ressaltar que a referida norma teve origem a partir de projeto de lei de um Deputado Estadual (iniciativa parlamentar). ADI O Governador do Estado ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria incompatível com a regras constitucionais que definem a competência privativa do chefe do Poder Executivo para propor projetos de lei que acarretem a criação ou o aumento de despesa e a criação de órgão público.

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    Segundo a ADI, a matéria tratada na lei somente poderia ser disciplinada em lei de iniciativa do Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e” e art. 165, III, da CF/88, que devem ser aplicados em nível estadual por força do princípio da simetria:

    Art. 61 (...) § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI;

    Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) III - os orçamentos anuais.

    Apontou, ainda, que o § 2º do art. 1º da Lei, segundo a qual eventual indenização pela União, com base em iguais motivos, não afasta o pagamento pelo estado, ofenderia os princípios da moralidade e da razoabilidade, pois configuraria enriquecimento sem causa do particular, em detrimento do patrimônio público. O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? NÃO.

    É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos. STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A lei estadual está em harmonia com o art. 37, § 6º da Constituição Federal, que estabelece que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos causados por seus agentes a terceiros. A situação descrita na lei é peculiar e não alcança matéria de iniciativa exclusiva do Poder Executivo (arts. 61, § 1º, e 165 da Constituição). A lei é expressa ao estabelecer a responsabilidade do Estado por danos físicos ou psicológicos causados a presos pelo regime militar ou às pessoas que tenham sofrido perdas e danos materiais em razão do cerceamento de direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período descrito na norma. Diversa é a situação da responsabilidade da União. Esta responde no tocante àqueles que, por si custodiados, tenham sofrido danos. Acompanharam o voto do relator os ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. Divergência Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes ficaram vencidos, por entender que houve violação da iniciativa do Executivo para legislar sobre a criação de órgão da administração pública e estabelecer suas atribuições. Ainda segundo a divergência, a lei ultrapassa os limites da anistia fixada no ADCT da CF/88 e mostra-se irrazoável ao prever o direito ao recebimento de dupla indenização por danos praticados pelo Estado brasileiro no período de exceção.

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    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 6

    PODER JUDICIÁRIO Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara

    É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.”

    STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    A situação concreta foi a seguinte: Lei do Estado do Maranhão previu que os oficiais de justiça poderiam também auxiliar nos serviços de secretaria da vara (ex: fazer juntada de documentos, armazenas processos físicos, atender o público etc.). Confira a redação do dispositivo:

    Art. 94. Aos oficiais de justiça incumbe: (...) VIII – auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiver realizando diligências.

    A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) ajuizou ADI contra o dispositivo. A autora argumentou que o dispositivo impugnado afronta os princípios da legalidade, da moralidade e da investidura abrigados nos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da CF/88. Isso porque tais atribuições seriam incompatíveis com as funções do Oficial de Justiça por se tratarem de atividades concernentes aos funcionários das secretarias das varas e eventual transformação do cargo de oficial de justiça exigiria a realização de concurso público. O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? NÃO.

    É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    Oficial de justiça é um auxiliar da Justiça O objetivo dessa norma é o de aumentar a celeridade e a eficiência na prestação de serviços públicos, melhorando sua qualidade no âmbito do Poder Judiciário, mediante a distribuição de tarefas entre os servidores competentes. A competência para a realização de atos auxiliares ao juízo é intrínseca ao cargo de oficial de justiça. Nesse sentido, confira o que diz o art. 154 do CPC:

    Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora; II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento; IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem; V - efetuar avaliações, quando for o caso; VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa.

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    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 7

    Além disso, o art. 149 reafirma que os oficiais de justiça são auxiliares da Justiça. Não se trata de mudança de cargo O dispositivo impugnado não representa mudança de cargo. A incumbência definida no preceito não desvirtua a função dos Oficiais de Justiça. Pelo contrário, firma sua posição como auxiliar do juízo. Não havendo transformação de cargos, alteração de funções nem ocupação de carreira diversa, bem como evidenciada a aderência da norma questionada às atividades atinentes aos Oficiais de Justiça, não há que se falar em violação dos princípios da investidura, da legalidade e da moralidade, e, em consequência, em ofensa aos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da Constituição Federal.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    FUNDAÇÃO Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado

    pode adotar o regime celetista para contratação de seus empregados

    Importante!!!

    É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde.

    STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    O que é uma fundação? Em termos gerais, fundação é um patrimônio afetado (destinado) à realização de um fim, possuindo, por essa razão, personalidade jurídica própria distinta de seu instituidor. Desse modo, o instituidor da fundação separa (destaca) um determinado patrimônio (dinheiro, imóveis, créditos etc.) declarando que esses bens serão utilizados para a realização de um objetivo específico. Depois de instituída, a fundação ganha personalidade própria (“vida própria”), sendo, portanto, uma pessoa jurídica distinta da pessoa (física ou jurídica) que a criou. A fundação é um instituto disciplinado originalmente pelo Direito Civil. Isso porque as primeiras fundações foram criadas por particulares. Ocorre que, posteriormente, o Poder Público passou a também instituir fundações, razão pela qual esse tema também é estudado em Direito Administrativo. Gustavo Scatolino e João Trindade explicam muito bem esse tema:

    “Originalmente, ao final do século XIX, as fundações foram concebidas como entidades (pessoas jurídicas), para que pessoas físicas ou jurídicas pudessem destinar parte de seus recursos a um objetivo de caráter social, até mesmo para o patrimônio pessoal não se misturar com o patrimônio destinado à execução de atividades sociais. Normalmente, a pessoa destinava parte do seu capital a essa finalidade e constituía uma fundação. O termo fundação origina-se de “fundos” como sinônimo de recursos financeiros ou patrimoniais. Desde então, a fundação veio a ser entendida como um conjunto de recursos destinados a uma finalidade social, a quem a lei atribuía personalidade jurídica. Com isso, surgiram as fundações privadas, criadas por testamentos, quando o instituidor pretendia instituir a fundação após sua morte; ou por escritura pública, quando o instituidor pretendia

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    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 8

    instituir a fundação ainda em vida. Também surgiram as fundações criadas por pessoas jurídicas, que, diferentemente das pessoas físicas, sempre instituem fundações por meio de escritura pública. Entre as fundações privadas, podemos citar como exemplos: Fundação Roberto Marinho, Fundação Bradesco, Fundação Perseu Abramo etc. Tais fundações existem e continuam sendo criadas; todavia, não fazem parte de nosso estudo, pois, sendo instituídas e mantidas por pessoas privadas (físicas ou jurídicas) não integram a Administração Pública Indireta. Essas entidades são disciplinadas pelo Código Civil. Ocorre que o Estado passou a criar fundações, isto é, destinar recursos públicos para fins sociais, criando uma pessoa jurídica para cal fim. Logo surgiu a dúvida sobre se tais pessoas — as fundações criadas e mantidas pelo Estado - eram de direito público ou privado.” (Manual Didático de Direito Administrativo. 6ª ed., Salvador: Juspodivm, 2018, p. 175-176).

    Espécies de fundação No ordenamento jurídico brasileiro, existem três tipos de fundação: a) fundação de direito privado, instituída por particulares; b) fundações públicas de direito privado, instituídas pelo Poder Público; e c) fundações públicas de direito público, que possuem natureza jurídica de autarquia. Como podemos conceituar as fundações públicas (fundações instituídas pelo Poder Público)? - Fundação pública é a pessoa jurídica de direito público ou privado - cuja criação foi autorizada por lei - sendo composta por um patrimônio - que foi reservado pelo instituidor para a realização de uma finalidade específica de interesse social, - como, por exemplo, atividades educacionais, culturais, de pesquisas científicas, de assistência social etc. Qual é o regime jurídico (regramento) aplicável às fundações instituídas pelo Poder Público? Elas estão sujeitas ao regime jurídico de direito público ou de direito privado? Depende. A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas. O STF definiu a seguinte tese:

    A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende: i) do estatuto de sua criação ou autorização e ii) das atividades por ela prestadas. As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime jurídico de direito privado. STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

    Assim, podemos identificar duas espécies de fundação pública (fundação instituída pelo Estado):

    Fundação pública de direito PÚBLICO Fundação pública de direito PRIVADO

    Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado.

    São criadas por lei específica (são uma espécie de autarquia, por isso também chamadas de “fundações autárquicas”).

    Deve ser editada uma lei específica autorizando que o Poder Público crie a fundação. Em seguida, será necessário fazer a inscrição do estatuto dessa fundação no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, quando, então, ela adquire personalidade jurídica.

  • Informativo comentado

    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 9

    Imagine agora a seguinte situação adaptada: No Rio de Janeiro, foi editada lei autorizando a criação de uma fundação pública, com personalidade jurídica de direito privado, com o objetivo de prestar serviços na área de saúde. O ponto mais polêmico está no fato de a lei ter determinado que essa fundação adotaria o regime celetista para contratação de seus empregados. Isso é possível? SIM.

    É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

    Segundo a Lei editada pelo Estado do Rio de Janeiro, essa fundação pública, com personalidade jurídica de direito privado, é dotada de patrimônio e receitas próprias, autonomia gerencial, orçamentária e financeira para o desempenho de atividades na área de saúde. Nessa configuração, o Estado não toca serviço público na área da saúde. Ele se utiliza de pessoa interposta — de natureza privada — que, então, adentra o mercado de trabalho e contrata. Assim, havendo uma opção do legislador pelo regime jurídico de direito privado, é decorrência lógica dessa opção que seja adotado para o pessoal das fundações autorizadas o regime celetista. Com esse entendimento, o Plenário considerou constitucional a previsão da lei estadual de contratação por meio do regime celetista. Os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux e Ricardo Lewandowski acompanharam o relator com ressalvas apenas para agregar fundamento específico acerca da distinção entre fundação pública de direito público e fundação pública de direito privado, nos termos do que decidido no RE 716.378, submetido à sistemática da repercussão geral.

    DIREITO TRIBUTÁRIO

    PIS/COFINS É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação

    e COFINS-Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam fabricantes de máquinas e veículos

    É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de máquinas e veículos.

    STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 744) (Info 997).

    Lei nº 10.865/2004 Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”. A modalidade mais comum do PIS e da COFINS é aquela que tem como fato gerador o faturamento.

  • Informativo comentado

    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

    No entanto, o julgado aqui comentado trata sobre o PIS-Importação e a COFINS-Importação, duas contribuições que incidem sobre a importação de bens e serviços, sendo regulamentadas pela Lei nº 10.865/2004. Polêmica em torno do § 9º do art. 8º O art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004 previu o seguinte:

    Art. 8º (...) § 9º Na importação de autopeças, relacionadas nos Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, exceto quando efetuada pela pessoa jurídica fabricante de máquinas e veículos relacionados no art. 1º da referida Lei, as alíquotas são de: I - 2,62% (dois inteiros e sessenta e dois centésimos por cento), para a Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e II - 12,57% (doze inteiros e cinquenta e sete centésimos por cento), para a Cofins-Importação.

    O que esse dispositivo diz, na prática:

    • se a empresa importadora de autopeças não for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar as alíquotas previstas no art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004.

    • se a empresa importadora de autopeças for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar alíquotas menores. Em outras palavras, se a importadora de autopeças não for fabricante, ela irá pagar alíquotas maiores. Essa previsão é constitucional? SIM.

    É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de máquinas e veículos. STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 744) (Info 997).

    O PIS-Importação e a COFINS-Importação são tributos de forte perfil extrafiscal, ou seja, atuam decisivamente na promoção ou no desestímulo de atividades econômicas. Conclui-se, portanto, que são tributos voltados não apenas para finalidades arrecadatórias, mas para a regulação do mercado, de forma que direcionam os contribuintes a certos comportamentos, de acordo com a política estipulada pelo governo. No caso dos autos, o objetivo notório da norma é o de estimular a fabricação de máquinas e peças no território nacional. Quanto à alegada violação aos princípios da isonomia em matéria tributária e da capacidade contributiva, a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que tais princípios destinam-se, primordialmente, ao legislador, de maneira que não cabe ao Poder Judiciário equiparar alíquotas diferenciadas, com fundamento no princípio da isonomia.

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    EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com

    órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). ( )

    2) É inconstitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em estabelecimentos comerciais. ( )

    3) É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos. ( )

    4) É inconstitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” ( )

    5) É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. ( )

    6) É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de máquinas e veículos. ( )

    Gabarito

    1. C 2. E 3. C 4. E 5. C 6. C

    OUTRAS INFORMAÇÕES

    CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020

    RECURSO EXTRAORDINÁRIO 719.870

    RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

    REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

    Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 670 da repercussão geral, deu provimento ao recurso

    extraordinário, em maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos

    de Declaração, à luz das diretrizes fixadas neste precedente, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator

    para o acórdão, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Roberto Barroso e Dias Toffoli, que proviam o

    extraordinário, assentando a nulidade do pronunciamento decorrente dos declaratórios, a fim de que o Tribunal emita

    entendimento explícito relativamente à falta de razoabilidade evocada. Foi fixada a seguinte tese: "I – No julgamento

    de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão,

    ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as

    atribuições previstas para os cargos; II – Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado a se

    pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente". Plenário, Sessão Virtual de

    2.10.2020 a 9.10.2020.

    EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, PROPOSTA

    PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRIAÇÃO DE CARGOS PÚBLICO, DE PROVIMENTO EM COMISSÃO,

    POR LEI MUNICIPAL. ALEGAÇÃO DE QUE OS CARGOS NÃO SE DESTINAM ÀS FUNÇÕES DE DIREÇÃO,

    CHEFIA E ASSESSORAMENTO. IMPERIOSIDADE DE ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS,

    DESCRITAS NA LEI. DESNECESSIDADE DE QUE O TRIBUNAL SE MANIFESTE SOBRE CADA CARGO,

    INDIVIDUALMENTE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. A Constituição Federal estabelece, na parte

    final do inciso V do art. 37, que os cargos em comissão destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e

    assessoramento. 2. Eventualmente, as leis que criam cargos em comissão conferem-lhes denominações que remetem às

    referidas funções, mas a descrição das atribuições revela tratar-se de atividades técnicas ou burocráticas. 3. Para

    concluírem se ocorre, ou não, esta inconstitucional burla ao concurso público, os Tribunais devem analisar a descrição

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    Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

    das atribuições dos cargos, constante na norma. 4. Por outro lado, o Tribunal não está obrigado, na fundamentação do

    julgamento, a se pronunciar sobre cada cargo, individualmente. 5. Recurso Extraordinário a que se dá provimento, em

    maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos de Declaração, à luz

    das diretrizes fixadas neste precedente. Tema 670, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “I - No julgamento de

    Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão, ao

    fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as atribuições

    previstas para os cargos; II - Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado se pronunciar sobre a

    constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente".

    RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.263.641

    RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

    REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

    Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 455 da repercussão geral, negou provimento ao recurso

    extraordinário, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros

    Marco Aurélio (Relator) e Edson Fachin. Foi fixada a seguinte tese: "A exigência de garantia para o exercício da

    profissão de leiloeiro, prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da

    CF/1988". Falou, pelo recorrente, o Dr. Deivid Kistenmacher. Não participou deste julgamento o Ministro Ricardo

    Lewandowski. Plenário, Sessão Virtual de 2.10.2020 a 9.10.2020.

    EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. LIVRE EXERCÍCIO PROFISSIONAL, ATENDIDAS AS

    QUALIFICAÇÕES QUE A LEI ESTABELECER. LEILOEIRO. PAGAMENTO DE CAUÇÃO PARA DESEMPENHO

    DA ATIVIDADE. CONSTITUCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A cláusula da

    liberdade de profissão (art. 5º, XIII, da CF) assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país o direito constitucional

    a exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. A

    jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tem afirmado que essa norma socorre tanto a liberdade de escolha,

    como a liberdade de exercício de uma atividade a título de trabalho, ofício ou profissão. 2. Quanto ao exercício de trabalho,

    ofício ou profissão, a garantia de liberdade comporta alguma limitação pelo legislador infraconstitucional, conforme

    dispõe o art. 5º, XIII, da CF. Embora admissível, essa intervenção está materialmente submetida aos demais preceitos

    constitucionais, como o valor social do trabalho (arts. 1º, IV; 6º, caput, XXXII; 170, caput, e VIII; 186, III, 191 e 193,

    entre outros). 3. A legitimidade da atuação legislativa no campo do exercício do trabalho deve ser restrita apenas ao

    indispensável para viabilizar a proteção de outros bens jurídicos de interesse público igualmente resguardados pela própria

    Constituição, como a segurança, a saúde, a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio, a proteção

    especial da infância e outros. Somente quando a execução individual de determinada atividade puder implicar risco a

    algum desses valores, imprescindíveis para o bem-estar da coletividade, é que o legislador estará autorizado a restringir

    a liberdade de trabalho. 4. São diretrizes para a atividade legislativa tendente a condicionar o exercício de alguma

    profissão: (a) a lei não pode estabelecer limitações injustificadas, arbitrárias ou excessivas; (b) as limitações instituídas

    pela lei devem fundamentar-se em critérios técnicos capazes de atenuar os riscos sociais inerentes ao exercício de

    determinados ofícios; e (c) as limitações instituídas pela lei não podem dificultar o acesso a determinada categoria

    profissional apenas sob o pretexto de favorecer os seus atuais integrantes, mediante restrição exclusivamente

    corporativista do mercado de trabalho. 5. Enfim, exige-se, como requisito de validade das limitações normativas ao

    exercício profissional, que sejam elas obedientes a critérios de adequação e de razoabilidade que possam ser aferidos

    lógica e objetivamente. . 6. O Decreto 21.981/1932 dispõe, em seus artigos 6º, 7º e 8º, que “o leiloeiro, depois de habilitado

    devidamente perante as Juntas Comerciais fica obrigado, mediante despacho das mesmas Juntas, a prestar fiança, em

    dinheiro ou em apólices da Divida Pública federal (…)”; “a fiança responde pelas dívidas ou responsabilidades do

    leiloeiro”; e que “o leiloeiro só poderá entrar no exercício da profissão, depois de aprovada a fiança oferecida (...)”.7. O

    leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o

    exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário - o que reforça o interesse social da norma

    protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. 8. Recurso Extraordinário a que se nega

    provimento. Tema 455, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “A exigência de garantia para o exercício da profissão

    de leiloeiro, prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da CF/1988”.

    OUTRAS INFORMAÇÕES

    26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020

    Portaria STF nº 433, de 23/10/2020- Dispõe sobre as Comissões Permanentes previstas no artigo 27, § 1º, do Regimento Interno.

    Resolução STF nº 708, de 23/10/2020 - Institui o Laboratório de Inovação do Supremo Tribunal Federal - Inova STF.

    Supremo Tribunal Federal – STF Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação Coordenadoria de Difusão da Informação

    [email protected]

    https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20201023_257.pdfhttps://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20201026_258.pdfmailto:[email protected]