Informativo Dizer o Direito 553 Stj

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Informativo de 2015 - do site DIizer o Direito

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  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante Julgados no comentados por terem menor relevncia para concursos pblicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: EDcl no REsp 1.340.444-RS; REsp 1.330.279-BA; REsp 1.218.605-PR; REsp 1.207.103-SP; Leia-os ao final deste Informativo.

    NDICE

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Existncia de cadver em decomposio em reservatrio de gua.

    SERVIDORES PBLICOS Inaplicabilidade do direito reconduo do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor pblico estadual.

    PENSO POR MORTE (LEI 8.112/90) Pessoa designada que receber a penso no precisa ter sido inscrita nos assentos funcionais do servidor.

    DIREITO CIVIL

    CONTRATO DE SEGURO Via adequada para cobrana de indenizao fundada em contrato de seguro de automvel.

    INTERDIO Desnecessidade de nomeao de curador especial se a interdio no foi proposta pelo MP.

    ALIMENTOS So irrenunciveis os alimentos devidos na constncia do vnculo familiar (art. 1.707 do CC). Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da penso alimentcia.

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO Inocorrncia de dano moral pela simples presena de corpo estranho em refrigerante.

    PRTICAS ABUSIVAS Prtica de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in re ipsa.

    BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES Requisitos para a propositura de ao de exibio de documentos relativos ao Crediscore.

    ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Possibilidade de cumprimento imediato de medida socioeducativa imposta na sentena.

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    AO RESCISRIA Prorrogao do termo final do prazo para ajuizamento da ao rescisria.

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    PROCESSO CAUTELAR Ao cautelar de exibio de documentos bancrios. Requisitos para a propositura de ao de exibio de documentos relativos ao Crediscore

    PENHORA Possibilidade excepcional de penhora sobre honorrios advocatcios.

    EXECUO FISCAL Dispensabilidade da indicao do RG, CPF ou CNPJ do devedor.

    EMBARGOS DE TERCEIRO Embargos de terceiro no servem para impugnar deciso se o fundamento invocado pelo autor no a posse, mas

    sim unicamente a propriedade.

    INTERDIO Desnecessidade de nomeao de curador especial se a interdio no foi proposta pelo MP.

    DIREITO PENAL

    USO DE DOCUMENTO FALSO Desnecessidade de prova pericial para condenao por uso de documento falso.

    AO PENAL NO CRIME DE ESTUPRO Ao penal no caso de crime praticado contra vtima que estava temporariamente vulnervel.

    CDIGO DE TRNSITO Denncia no caso de homicdio culposo deve apontar qual foi a conduta negligente, imprudente ou imperita que

    ocasionou a morte da vtima.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    PROVAS Compartilhamento de provas em razo de acordo internacional de cooperao.

    EMENDATIO LIBELLI Momento processual em que deve ser realizado.

    RECURSOS Manuteno do regime inicial fixado, mas com fundamentao diversa. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

    COMPETNCIA Desacato praticado por militar de folga contra militar em servio em local estranho administrao militar

    DIREITO TRIBUTRIO

    IMPOSTO DE RENDA Correo monetria do valor do IR incidente sobre verbas recebidas acumuladamente em ao trabalhista.

    DIREITO PREVIDENCIRIO

    PERODO DE GRAA Comprovao da situao de desemprego para prorrogao do perodo de graa.

    PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIRIO Necessidade de prvio requerimento administrativo para a concesso de benefcio previdencirio na via judicial.

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Existncia de cadver em decomposio em reservatrio de gua

    Foi encontrado um cadver humano em decomposio em um dos reservatrios de gua que abastece uma cidade.

    Determinado consumidor ajuizou ao de indenizao contra a empresa pblica concessionria do servio de gua e o STJ entendeu que ela deveria ser condenada a reparar os danos morais sofridos pelo cliente.

    Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omisso da concessionria decorrente de falha do dever de efetiva vigilncia do reservatrio de gua.

    Alm disso, restou caracterizada a falha na prestao do servio, indenizvel por dano moral, quando a Companhia no garantiu a qualidade da gua distribuda populao.

    O dano moral, no caso, in re ipsa, ou seja, o resultado danoso presumido.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.492.710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

    Imagine a seguinte situao: No Municpio de So Francisco/MG, foi encontrado um cadver humano em decomposio em um dos reservatrios de gua que abastece a cidade. At que o cadver fosse encontrado, a gua fornecida para o consumo da populao local encontrava-se contaminada. Ao saber do ocorrido, Joo, morador da cidade, ajuizou ao de indenizao por danos morais contra a companhia de gua do Estado (uma empresa pblica prestadora de servios pblicos). O que o STJ decidiu? O cliente tem direito de ser indenizado? SIM. O consumidor tem direito reparao por danos morais. Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omisso da concessionria decorrente de falha do dever de efetiva vigilncia do reservatrio de gua. Ainda que se alegue que foram observadas todas as medidas cabveis para a manuteno da segurana do local, fato que ele foi invadido, e o reservatrio passvel de violao quando nele foi deixado um cadver humano. Alm disso, restou caracterizada a falha na prestao do servio, indenizvel por dano moral, quando a concessionria no garantiu a qualidade da gua distribuda populao, porquanto inegvel que, se o corpo estava em decomposio, a gua ficou por determinado perodo contaminada. Outrossim, inegvel, diante de tal fato, a ocorrncia de afronta dignidade da pessoa humana, consistente no asco, angstia, humilhao, impotncia da pessoa que toma cincia que consumiu gua contaminada por cadver em avanado estgio de decomposio. Tais sentimentos no podem ser confundidos com o mero dissabor cotidiano. Ainda que assim no fosse, h que se reconhecer a ocorrncia de dano moral in re ipsa, o qual dispensa comprovao do prejuzo extrapatrimonial, sendo suficiente a prova da ocorrncia de ato ilegal, uma vez que o resultado danoso presumido. A ttulo de curiosidade: a indenizao foi fixada em R$ 3 mil.

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    SERVIDORES PBLICOS Inaplicabilidade do direito reconduo do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor pblico estadual

    Importante!!!

    Se a legislao estadual no prev a reconduo, possvel aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?

    NO. No possvel a aplicao, por analogia, do instituto da reconduo previsto no art. 29, I, da Lei 8.112/1990 a servidor pblico estadual na hiptese em que o ordenamento jurdico do estado for omisso acerca desse direito.

    Segundo a jurisprudncia do STJ, somente possvel aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos servidores pblicos estaduais e municipais se houver omisso, na legislao estadual ou municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicvel e desde que tal situao no gera o aumento de gastos. Ex: aplicao, por analogia, das regras da Lei 8.112/90 sobre licena para acompanhamento de cnjuge a determinado servidor estadual cuja legislao no prev esse afastamento (RMS 34.630AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteo da unidade famlia, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da CF/88).

    No caso da reconduo, contudo, no possvel a analogia porque esse direito no tem cunho constitucional.

    STJ. 2 Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

    RECONDUO

    O que reconduo?

    A Lei n. 8.112/90 prev, em seu art. 29, duas hipteses de reconduo. Confira:

    Art. 29. Reconduo o retorno do servidor estvel ao cargo anteriormente ocupado e decorrer de: I - inabilitao em estgio probatrio relativo a outro cargo; II - reintegrao do anterior ocupante. Pargrafo nico. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor ser aproveitado em outro, observado o disposto no art. 30.

    Para este julgado, nos interessa o inciso I. Veja um exemplo: Joo, servidor estvel do INSS, aprovado no concurso de Delegado de Polcia Federal e pede vacncia, assumindo o cargo de Delegado. No entanto, ao final do estgio probatrio, ele considerado inabilitado (inapto) para o cargo de Delegado. Nesse caso, Joo poder voltar ao seu antigo cargo de servidor do INSS. Obs: apesar de o inciso I falar em inabilitao em estgio probatrio, a jurisprudncia entende que possvel utilizar a vacncia tambm no caso em que o servidor desiste de continuar no estgio probatrio do novo cargo por no ter se adaptado funo. Nessa hiptese, ele poder pedir para ser reconduzido ao cargo que ocupava anteriormente. Assim, Joo no precisa esperar terminar o estgio probatrio de Delegado Federal; se ele no se acostumou e quiser voltar, no tem problema; isso ser uma reconduo do inciso I. RECONDUO E AUSNCIA DE PREVISO EM LEGISLAO ESTADUAL

    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo era analista do Tribunal de Justia, concursado e j estvel. Foi aprovado no concurso de Delegado de Polcia e tomou posse. Aps dois meses no cargo de Delegado, percebeu que no tinha perfil para a funo e, portanto, requereu sua exonerao.

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    Alm disso, pediu tambm a reconduo para o antigo cargo de analista judicirio. O pedido foi indeferido sob o argumento de que no existe, nem na lei dos servidores do TJ nem no Estatuto dos Servidores Pblicos Estaduais, a previso de reconduo. O ex-servidor impetrou, ento, mandado de segurana argumentando que, em razo da omisso na legislao estadual, deveria ser realizada a analogia, aplicando-se o art. 20, 2 e o art. 29, I, da Lei Federal

    n. 8.112/90, que tratam sobre a reconduo. O pedido do impetrante foi aceito pelo STJ? Se a legislao estadual no prev a reconduo, possvel

    aplicar a Lei n. 8.112/90 por analogia?

    NO. No possvel a aplicao, por analogia, do instituto da reconduo previsto no art. 29, I, da Lei n. 8.112/1990 a servidor pblico estadual na hiptese em que o ordenamento jurdico do Estado for omisso acerca desse direito.

    Segundo a jurisprudncia do STJ, somente possvel aplicar, por analogia, a Lei n. 8.112/90, aos servidores pblicos estaduais e municipais se houver omisso, na legislao estadual ou municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicvel e desde que tal situao no gere o aumento de

    gastos. Ex: aplicao, por analogia, das regras da Lei n. 8.112/90 sobre licena para acompanhamento de cnjuge a determinado servidor estadual cuja legislao no prev esse afastamento (RMS 34.630AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para a proteo da unidade familiar, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da CF/88). No caso da reconduo, contudo, no possvel a analogia porque esse direito no tem cunho constitucional.

    PENSO POR MORTE (LEI 8.112/90) Pessoa designada que receber a penso

    no precisa ter sido inscrita nos assentos funcionais do servidor

    Para fins de concesso da penso por morte de servidor pblico federal, a designao do beneficirio nos assentos funcionais do servidor prescindvel se a vontade do instituidor em eleger o dependente como beneficirio da penso houver sido comprovada por outros meios idneos.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.486.261-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/11/2014 (Info 553).

    Penso por morte O art. 215 do Estatuto dos Servidores Pblicos federais (Lei n 8.112/90) prev o pagamento de penso por morte aos dependentes dos agentes pblicos falecidos. Pessoa designada

    Segundo a redao original do art. 217, II, d, da Lei n. 8.112/90, o servidor pblico federal que falecesse poderia deixar uma penso por morte para uma pessoa por ele designada, at 21 anos ou invlida, e que vivesse sob sua dependncia. Veja:

    Art. 217. So beneficirios das penses: II - temporria: (...) d) a pessoa designada que viva na dependncia econmica do servidor, at 21 (vinte e um) anos, ou, se invlida, enquanto durar a invalidez.

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    Para que a pessoa receba a penso por morte do art. 217, II, d, imprescindvel que o servidor, antes de morrer, tenha deixado expressamente registrado o seu nome no departamento de pessoal do rgo/entidade? NO. A designao do beneficirio nos assentos funcionais do servidor prescindvel (dispensvel) se a vontade do instituidor em eleger o dependente como beneficirio da penso houver sido comprovada por outros meios idneos. Em outras palavras, mesmo que o servidor morra sem ter deixado expressamente registrado que aquela pessoa era sua dependente, ainda assim ser possvel que ela receba a penso por morte, desde que prove essa condio por outros meios admitidos em direito (ex: testemunhas, contas pagas em favor da pessoa etc., declaraes do colgio etc.). Ateno: MP 664/2014. No dia 30 de dezembro de 2014 foi publicada a MP 664/2014, promovendo importantes alteraes na

    penso por morte do Regime Prprio dos Servidores Pblicos federais (Lei n. 8.112/90). Uma das mudanas buscadas pela MP foi a de acabar com a possibilidade de ser concedida penso para pessoa designada que viva na dependncia econmica do servidor. At o momento, a MP no foi votada. Se for aprovada, a discusso acima perde importncia.

    DIREITO CIVIL

    CONTRATO DE SEGURO Via adequada para cobrana de indenizao fundada em contrato de seguro de automvel

    A via adequada para cobrar a indenizao securitria fundada em contrato de seguro de automvel a ao de conhecimento sob o rito sumrio (e no a ao executiva).

    No possvel propor diretamente a execuo nesse caso porque o contrato de seguro de automvel no se enquadra como ttulo executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).

    Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, so ttulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por meio de ao de execuo.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

    O que o contrato de seguro? No contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prmio, a garantir interesse legtimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados (art. 757 do CC). Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa fsica ou jurdica (chamada de segurada) paga uma quantia denominada de prmio para que uma pessoa jurdica (seguradora) assuma determinado risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de sinistro), a seguradora dever fornecer segurada uma quantia previamente estipulada (indenizao). Ex.: Joo celebra um contrato de seguro do seu veculo com a seguradora X e todos os meses paga R$ 100,00 como prmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora dever pagar R$ 30 mil a ttulo de indenizao para o segurado. Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro Risco: a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte. Sinistro: o sinistro o risco concretizado. Ex.: morte.

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    Aplice (ou bilhete de seguro): um documento emitido pela seguradora, no qual esto previstos os riscos assumidos, o incio e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficirio.

    Prmio: a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prmio deve ser pago depois de recebida a aplice. O valor do prmio fixado a partir de clculos atuariais e o seu valor leva em considerao os riscos cobertos.

    Indenizao: o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situao: Joo contratou um seguro para seu veculo. Determinado dia, seu carro foi furtado. A seguradora criou embaraos para efetuar o pagamento, razo pela qual o advogado de Joo ajuizou ao de execuo contra a seguradora, apontando o contrato de seguro como ttulo executivo extrajudicial. O advogado de Joo agiu corretamente? A via adequada para cobrar indenizao securitria a ao de execuo? NO. A via adequada para cobrar a indenizao securitria fundada em contrato de seguro de automvel a ao de conhecimento sob o rito sumrio (e no a ao executiva). No possvel propor diretamente a execuo nesse caso porque o contrato de seguro de automvel no se enquadra como ttulo executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). Somente a lei pode prescrever quais so os ttulos executivos, fixando-lhes as caractersticas formais peculiares. Desse modo, apenas os documentos descritos pelo legislador, seja em cdigos ou em leis especiais, que so dotados de fora executiva, no podendo as partes convencionarem a respeito. Logo, para o seguro de automveis, na ocorrncia de danos causados em acidente de veculo, a ao a ser proposta , necessariamente, a cognitiva (ao de conhecimento), sob o rito sumrio (art. 275, II, e, do CPC), uma vez que este contrato de seguro destitudo de executividade e as situaes nele envolvidas comumente no se enquadram no conceito de obrigao lquida, certa e exigvel, sendo imprescindvel, portanto, nessa hiptese, a prvia condenao do devedor e a constituio de ttulo judicial. Existe algum contrato de seguro que seja ttulo executivo? SIM. Os contratos de seguro de VIDA, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, so ttulos executivos extrajudiciais:

    Art. 585. So ttulos executivos extrajudiciais: III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e cauo, bem como os de seguro de vida;

    Logo, para a cobrana de indenizao decorrente de seguro de vida, possvel utilizar a ao de execuo. O legislador optou por elencar somente o contrato de seguro de vida como ttulo executivo extrajudicial, justificando a sua escolha na ausncia de carter indenizatrio do referido seguro, ou seja, o seu valor carece de limitao, sendo de responsabilidade do segurador o valor do seguro por ele coberto, uma vez que existe dvida lquida e certa. Em outras palavras, a pessoa contrata o seguinte: se eu morrer, dever ser pago XX mil reais s pessoas que indiquei. H, portanto, uma dvida lquida e certa. Os seguros de dano e de automveis, por outro lado, possuem ndole indenizatria, de modo que a indenizao a ser paga pela seguradora dever ser no exato valor do prejuzo sofrido pelo beneficirio, a fim de no gerar enriquecimento do segurado, mas apenas a reposio do que ele perdeu, nos limites do montante segurado. Ex: o carro, no momento em que foi furtado, custava R$ 30 mil; logo, esse valor dever ser pago ao beneficirio. Ocorre que isso no lquido e certo, podendo ser discutido na ao.

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    (...) de se verificar, assim, que o contrato de seguro tem eficcia executiva to-somente quando o objeto segurado a pessoa humana. Nas hipteses em que o objeto segurado seja uma coisa, caber ao beneficirio do contrato de seguro valer-se do processo cognitivo para fazer valer sua pretenso. Assim, por exemplo, nos seguros que tm por objeto um veculo qualquer, a indenizao devida pela seguradora em razo de acidente que o envolva ser exigvel atravs de 'ao de conhecimento' pelo procedimento sumrio (art. 275, II, e, do CPC). (CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil, vol. II, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 18 ed., 2010, p. 194) Veja o quadro-comparativo:

    SEGURO DE VECULOS SEGURO DE VIDA

    No ttulo executivo extrajudicial. ttulo executivo extrajudicial.

    Deve ser cobrado por meio de ao de conhecimento de rito sumrio.

    Pode ser cobrado por meio de ao executiva.

    INTERDIO Desnecessidade de nomeao de curador especial se a interdio no foi proposta pelo MP

    Importante!!!

    A curatela um encargo (mnus) imposto a um indivduo (chamado de curador) por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (curatelado) que, apesar de ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC.

    Para que a curatela seja instituda, necessria a instaurao de um processo judicial por meio de uma ao de interdio.

    necessrio que o juiz nomeie curador especial ao interditando?

    Se a ao de interdio for proposta pelo MP: SIM. O juiz dever nomear curador lide (curador especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.

    Se a ao de interdio for proposta por outro legitimado: NO necessria a nomeao de curador lide porque o prprio MP j ir fazer a defesa dos interesses do interditando (art. 1.770 do CC).

    STJ. 4 Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

    Curatela Em regra, se a pessoa for maior de 18 anos, ela plenamente capaz e est habilitada prtica de todos os atos da vida civil (art. 5 do CC). No entanto, existem determinadas pessoas que, mesmo sendo maiores, no possuem capacidade jurdica plena e no podem exercer alguns atos patrimoniais da vida civil sozinhos, necessitando da assistncia ou representao de terceiros. Para resguardar os direitos de tais pessoas, o Direito Civil previu uma proteo jurdica chamada de curatela. Mas o que vem a ser a curatela? A curatela um encargo (mnus) imposto a um indivduo (chamado de curador) por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (curatelado) que, apesar de ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Por conta disso, o curatelado s poder praticar certos atos patrimoniais se for assistido ou representado pelo curador.

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    Tutela x Curatela

    TUTELA CURATELA

    Instrumento jurdico para proteger a criana ou adolescente que no goza da proteo do poder familiar em virtude da morte, ausncia ou destituio de seus pais. A tutela uma espcie de colocao da criana ou adolescente em famlia substituta.

    Instrumento jurdico voltado para a proteo de uma pessoa maior de 18 anos que, apesar de adulto, possui uma incapacidade prevista no CC.

    Obs.: Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald apontam situao excepcional em que seria possvel a nomeao de curador a um menor de 18 anos. Trata-se da hiptese de um menor, relativamente incapaz (entre os dezesseis e os dezoito anos de idade), que sofre de alguma patologia psquica. De ordinrio, em se tratando de relativamente incapaz, deveria estar assistido pelo tutor, praticando os atos conjuntamente com ele. Todavia, considerado o seu estado psquico, no lhe ser possvel a prtica de qualquer ato, mesmo assistido, impondo-se-lhe a interdio, para nomeao de um curador, que continuar lhe assistindo mesmo aps os dezoito anos de idade. (Curso de Direito Civil. Famlias. Vol. 6., Salvador: Juspodivm, 2014, p. 902). Apesar do registro dessa ponderao feita pela genial dupla de autores, vale ressaltar que o tema no pacfico e h outros doutrinadores que defendem que, mesmo nesse caso, haveria tutela, por envolver menor de 18 anos, e no curatela. Hipteses em que ocorre a curatela Segundo o art. 1.767 do CC, esto sujeitos curatela as seguintes pessoas: I - aqueles que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, no puderem exprimir a sua vontade; III - os deficientes mentais, os brios habituais e os viciados em txicos; IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V - os prdigos. Como instituda a curatela? Para que a curatela seja instituda, necessria a instaurao de um processo judicial, de jurisdio voluntria, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186 do CPC. Esse processo iniciado por meio de uma ao de interdio. Legitimados A ao de interdio deve ser promovida: I - pelos pais ou tutores; II - pelo cnjuge, ou por qualquer parente; III - pelo Ministrio Pblico. Situaes em que o MP poder ajuizar a ao de interdio O Ministrio Pblico s promover interdio: I - em caso de doena mental grave (independentemente dos demais legitimados); ou II - em qualquer outro caso de incapacidade, se no existirem outros legitimados (pais, tutores, cnjuge ou parente) ou, existindo, eles ficarem inertes ou se no puderem propor a ao (por serem incapazes). Dessa forma, o MP s prope a ao de interdio em caso de doena mental grave ou se nenhum dos outros legitimados propuser.

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    (Promotor MP/PE 2014 FCC) O Ministrio Pblico s poder propor a ao de interdio no caso de anomalia psquica do interditando. (ERRADO). Petio inicial Na petio inicial da ao de interdio, o interessado (requerente) provar a sua legitimidade, especificar os fatos que revelam a anomalia psquica e assinalar a incapacidade do interditando para reger a sua pessoa e administrar os seus bens. Citao O interditando ser citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinar, interrogando-o minuciosamente acerca de sua vida, negcios, bens e do mais que lhe parecer necessrio para ajuizar do seu estado mental. Impugnao ao pedido (defesa do suposto incapaz) O interditando tem o direito de provar que pode gerir a sua prpria vida, administrar seus bens e exercer sua profisso. Justamente por isso, o CPC prev que o interditando poder impugnar o pedido de interdio, apresentando uma espcie de defesa (art. 1.182). Essa impugnao dever ser protocolizada dentro do prazo de 5 dias contados da audincia de interrogatrio. Defensor do suposto incapaz Como o interditando, em tese, sofre de uma enfermidade, a legislao prev que, se a ao de interdio for proposta pelo MP, o juiz dever nomear um defensor (curador especial) ao interditando, que ir fazer a sua defesa em juzo. Isso est previsto previsto no art. 1.770 do CC e no art. 1.179 do CPC:

    Art. 1.770. Nos casos em que a interdio for promovida pelo Ministrio Pblico, o juiz nomear defensor ao suposto incapaz; nos demais casos o Ministrio Pblico ser o defensor.

    Art. 1.179. Quando a interdio for requerida pelo rgo do Ministrio Pblico, o juiz nomear ao interditando curador lide (art. 9).

    (Promotor MP/PE 2014 FCC) O juiz nomear curador lide ao interditando, quando a interdio for requerida pelo Ministrio Pblico. (CERTO) Quais so os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? O curador especial exerce um mnus pblico. Sua funo a de defender o ru em juzo naquele processo. Possui os mesmos poderes processuais que uma parte, podendo oferecer as diversas defesas (contestao, exceo, impugnao etc.), produzir provas e interpor recursos. Obviamente, o curador especial no pode dispor do direito do ru (no pode, por exemplo, reconhecer a procedncia do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido. Funo institucional da Defensoria Pblica Segundo o art. 4, XVI, da LC 80/94, uma das funes institucionais da Defensoria Pblica a de exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei.

    Marinoni e Mitidiero defendem que, se existir Defensoria Pblica na comarca ou subseo judiciria, o curador especial dever ser obrigatoriamente o Defensor Pblico. Se no houver, o juzo ter liberdade para nomear o curador especial (Cdigo de Processo Civil comentado artigo por artigo. So Paulo: RT, 2008, p. 105).

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    Importante: a atuao da Defensoria Pblica como curadora especial no exige que o ru seja hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art. 9, entende-se que o ru ostenta hipossuficincia jurdica, sendo, portanto, necessria a atuao da Defensoria Pblica.

    Se a ao de interdio for proposta por outro legitimado que no seja o MP, ser necessria a nomeao de curador especial? NO. Nas aes de interdio no ajuizadas pelo MP, a funo de defensor do interditando dever ser exercida pelo prprio rgo ministerial, no sendo necessria, portanto, nomeao de curador lide. A designao de curador especial tem por pressuposto a presena do conflito de interesses entre o incapaz e o responsvel pela defesa de seus interesses no processo judicial. Assim, na hiptese de encontrar-se o MP e o suposto incapaz em polos opostos da ao, h intrnseco conflito de interesses a exigir a nomeao ao interditando de curador lide, nos termos do art. 1.179 do CPC, que se reporta ao art. 9 do mesmo Cdigo. Todavia, proposta a ao pelos demais legitimados, caber ao MP a defesa dos interesses do interditando, fiscalizando a regularidade do processo, requerendo provas e outras diligncias que entender pertinentes ao esclarecimento da incapacidade e, ao final, impugnar ou no o pedido de interdio, motivo pelo qual no se faz cabvel a nomeao de curador especial para defender, exatamente, os mesmos interesses pelos quais zela o MP. A atuao do MP como defensor do interditando, nos casos em que no o autor da ao, decorre da lei (art. 1.182, 1, do CPC e art. 1.770 do CC) e se d em defesa de direitos individuais indisponveis, funo compatvel com as suas funes institucionais (art. 127 da CF).

    Resumindo:

    Ao de interdio proposta pelo MP: o juiz dever nomear curador lide (curador especial);

    Ao de interdio proposta por outro legitimado: no necessria a nomeao de curador lide porque o prprio MP j ir fazer a defesa dos interesses do interditando.

    Obs: no confundir o curador do interditando, que nomeado ao final, caso a ao seja julgada procedente (art. 1.183, pargrafo nico do CPC), com o curador lide (curador especial), que designado logo no incio da ao (art. 1.179). Apesar do nome ser parecido, so figuras completamente diferentes. O curador lide um instituto processual, que s existe enquanto perdurar o processo. O curador do interditando uma figura de direito material, que vai surgir caso a ao de interdio seja julgada procedente.

    ALIMENTOS Renncia aos alimentos feita durante a vigncia da unio estvel no perdura se houve fato

    superveniente que reduziu a capacidade de trabalho de um dos conviventes

    Importante!!!

    Um homem e uma mulher, na poca em que conviviam juntos em unio estvel, fizeram uma declarao, por escritura pblica, afirmando que, em caso de dissoluo da unio, nenhum dos dois iria pleitear penso alimentcia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos.

    O STJ decidiu que, mesmo com essa renncia, seria possvel que a ex-convivente pedisse e tivesse direito aos alimentos na hiptese em que, aps essa renncia, ela tenha sido acometida de uma molstia grave, que reduziu sua capacidade laboral, comprometendo sua situao financeira.

    So irrenunciveis os alimentos devidos na constncia do vnculo familiar (art. 1.707 do CC).

    vlida e eficaz a renncia manifestada no momento do acordo de separao judicial ou de divrcio. No entanto, por outro lado, no pode ser admitida a renncia feita durante a vigncia da unio estvel.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.178.233-RJ, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

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    Imagine a seguinte situao adaptada: Joo e Maria viviam em unio estvel, cada um trabalhava e mantinha um bom padro de renda. Em determinado momento do relacionamento, o casal decidiu fazer uma escritura pblica reconhecendo que viviam em unio estvel e fixando as regras patrimoniais que deveriam vigorar nesta unio. Uma das regras fixadas era que, em caso de dissoluo da unio estvel, nem Joo nem Maria iriam pleitear penso alimentcia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos. Alguns anos depois, quando ainda viviam juntos, Maria foi acometida por um cncer de pulmo, que a obrigou a fazer altos gastos, ao mesmo tempo em que teve sua capacidade de trabalho reduzida. O relacionamento chegou ao fim e, Maria, ainda em tratamento, pleiteou penso alimentcia a ser paga por Joo. O ex-companheiro defendeu-se, alegando que Maria renunciou expressamente a esse direito, sendo essa renncia vlida e eficaz.

    Maria ter direito aos alimentos? SIM. O STJ decidiu que ela ter direito aos alimentos. A escritura pblica em que o casal renunciou prestao de alimentos no perdura em virtude da superveniente necessidade de um dos companheiros. A doena acarretou mulher reduo considervel de sua capacidade de trabalho, comprometendo, ainda que temporariamente, sua situao financeira. No momento da ruptura da sociedade conjugal, a situao que antes lhe permitia renunciar aos alimentos j no existia. A assistncia material mtua constitui tanto um direito como um dever para ambos, e tal direito no passvel de renncia durante a relao conjugal, pois tem previso expressa na lei. Em outras palavras, so irrenunciveis os alimentos devidos na constncia do vnculo familiar (art. 1.707 do CC). Nas exatas palavras do Ministro Raul Arajo: Ante o princpio da irrenunciabilidade dos alimentos, decorrente do dever de mtua assistncia expressamente previsto nos dispositivos legais, no se pode ter como vlida disposio que implique renncia aos alimentos na constncia da unio, pois esses, como dito, so irrenunciveis.

    Ateno para no confundir:

    vlida e eficaz a renncia manifestada no momento do acordo de separao judicial ou de divrcio.

    No entanto, por outro lado, no pode ser admitida a renncia feita durante a vigncia da unio estvel.

    ALIMENTOS Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da penso alimentcia

    Tema polmico!

    ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAO E VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO DEVEDOR

    As parcelas percebidas a ttulo de PARTICIPAO NOS LUCROS E RESULTADOS integram a base de clculo da penso alimentcia quando esta fixada em percentual sobre os rendimentos, salvo se houve disposio transacional ou judicial em sentido contrrio. Assim, se a penso alimentcia foi fixada em percentual (ex: 30% sobre os rendimentos), no ms que o devedor receber participao nos lucros da empresa, o percentual incidir sobre tal valor.

    ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS PELO DEVEDOR

    O 13 salrio, a participao nos lucros e outras gratificaes extras (eventuais) no compem a base de clculo da penso alimentcia quando esta estabelecida em valor fixo, salvo se houver disposio transacional ou judicial em sentido contrrio.

  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 13

    No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo (ex: 10 mil reais, 5 salrios-mnimos etc.), o alimentando no tem direito a receber, com base naquele ttulo judicial, quaisquer acrscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali no previstos. Assim, o credor no ter direito a qualquer acrscimo no valor da penso quando o devedor receber no ms um abono, comisso por produtividade, 13 salrio, participao nos lucros etc.

    AVISO PRVIO

    O aviso prvio no integra a base de clculo da penso alimentcia, salvo se houve disposio transacional ou judicial em sentido contrrio.

    Assim, no importa que a penso tenha sido fixada em valor fixo ou percentual varivel, o aviso prvio no interfere no valor a ser pago como penso alimentcia.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

    SITUAO 1 ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAO E VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO DEVEDOR Imagine a seguinte situao hipottica: Arthur, 5 anos de idade, representado por sua me, Carla, ajuizou ao de alimentos contra seu pai, Fausto, funcionrio regularmente contratado de uma empresa. O juiz, por meio de deciso interlocutria, de ofcio, deferiu a tutela antecipada, concedendo alimentos provisrios ao menor razo de 30% sobre os valores lquidos percebidos por Fausto, incidentes, inclusive, sobre ganhos eventuais (abono, participao nos lucros e gratificaes), que devem ser descontados diretamente da folha de pagamento do genitor. Fausto no concordou com a deciso. Qual o recurso que ele pode interpor neste caso? Agravo de instrumento (art. 522 do CPC). O juiz pode conceder alimentos provisrios de ofcio? SIM. Trata-se de uma das hipteses em que possvel concesso de tutela antecipada de ofcio. Esta previso est implcita no art. 4 da Lei n 5.478/68:

    Art. 4 As despachar o pedido, o juiz fixar desde logo alimentos provisrios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles no necessita.

    Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos no podem incidir sobre verbas espordicas, eventuais e incertas, que visam premiar o esforo pessoal do trabalhador, tendo natureza indenizatria e que no integram os rendimentos do alimentante, tais como adicionais, abonos, participao nos lucros e gratificaes. O que o STJ entende sobre o tema? As verbas de carter eventual (ex: horas extras) influenciam no valor da obrigao, aumentando o quantum da penso alimentcia nos meses em que o devedor receber parcelas extras? Em suma, toda vez que o devedor receber mais (por qualquer motivo), o valor da penso dever ser, automaticamente, pago a mais?

    1 corrente: NO 2 corrente: SIM

    Em regra, os alimentos provisrios fixados em percentual sobre os rendimentos lquidos do alimentante no abrangem as verbas que no faam parte da sua remunerao habitual.

    O valor recebido pelo alimentante a ttulo de horas extras, mesmo que no habituais, embora no ostente carter salarial para efeitos de apurao de outros benefcios trabalhistas,

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    Se a necessidade do alimentando est plenamente satisfeita, o valor dos alimentos no dever ser majorado pelo simples fato do alimentante ter tido um incremento em sua renda. Se, ao contrrio, o quantum dos alimentos estava abaixo das necessidades do credor, caso haja um aumento nas possibilidades do devedor, o valor dos alimentos ter que ser aumentado. Em outras palavras, mesmo que o alimentante receba mais naquele ms, o valor dos alimentos no ser aumentado se o quantum pago j for suficiente para atender as necessidades do alimentando. STJ. 3 Turma. REsp 1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013 (Info 519). a posio tambm de boa parte da doutrina, como Arnaldo Rizzardo e Yussef Said Cahali.

    verba de natureza remuneratria e integra a base de clculo para a incidncia dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos lquidos do devedor. STJ. 4 Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 25/06/2013 (no divulgado em Info). Desde que no haja disposio transacional ou judicial em sentido contrrio, as parcelas percebidas a ttulo de participao nos lucros e resultados integram a base de clculo da penso alimentcia quando esta fixada em percentual sobre os rendimentos. STJ. 4 Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

    O tema, no entanto, polmico e no deveria ser cobrado em uma prova objetiva. No entanto, como tudo possvel, caso seja exigido, marque a alternativa que espelha o ltimo julgado divulgado em Informativo, ou seja, a concluso que est exposta em amarelo no incio desta explicao. Caso haja alguma novidade, voc ser informado no site. AVISO PRVIO O aviso prvio no integra a base de clculo da penso alimentcia, salvo se houve disposio transacional ou judicial em sentido contrrio. Assim, no importa que a penso tenha sido fixada em valor fixo ou percentual varivel, o aviso prvio NO interfere no valor a ser pago como penso alimentcia. O aviso prvio parcela de carter excepcional, razo pela qual no deve incidir no clculo da penso alimentcia, salvo se houver disposio transacional ou judicial em sentido contrrio. A jurisprudncia do STJ unssona no sentido de que a verba indenizatria no se inclui na base de clculo da penso alimentcia. SITUAO 2 ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS PELO DEVEDOR Imagine a seguinte situao hipottica: Arthur, 5 anos de idade, representado por sua me, Carla, ajuizou ao de alimentos contra seu pai, Fausto, funcionrio regularmente contratado de uma empresa. O juiz proferiu sentena condenando o genitor a pagar alimentos no valor de 2 salrios mnimos. possvel a fixao de penso alimentcia em percentual ou nmero de salrios mnimos? SIM, possvel. Este o entendimento pacfico do STJ (REsp 1025769/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/08/2010). Se Fausto, em determinado ms, receber gratificaes extras em seu trabalho, o valor pago a ttulo de penso dever ser aumentado (exs: abono, comisso por produtividade, 13 salrio, participao nos lucros)?

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    NO. No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo, a ser pago em periodicidade mensal, o alimentando no tem direito a receber, com base naquele ttulo judicial, quaisquer acrscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali no previstos. Para o STJ, na hiptese de alimentos arbitrados em valor fixo, eventuais flutuaes dos rendimentos do alimentante, para cima ou para baixo, ou mesmo sua supresso, no so aptas a alterar o quantum devido, razo pela qual o recebimento de parcelas trabalhistas a ttulo de 13, frias e outras verbas da mesma natureza no tem o condo de influenciar a dvida consolidada, sob pena de alterar o binmio inicial (necessidade/possibilidade) considerado para a determinao do montante fixo. Enfim, se o magistrado sentenciante arbitrou os alimentos em valor fixo luz das circunstncias do caso concreto, h de se presumir que esse foi o mtodo por ele considerado como o mais adequado satisfao do binmio necessidade/possibilidade. Ressalvas:

    No comum acontecer, mas o juiz, na deciso que fixou os alimentos, pode ter feito uma ressalva, incluindo o 13 salrio e outras verbas eventuais. Ex: o pai ir pagar 2 salrios mnimos todos os meses, mais 20% do 13 salrio e outras verbas extras. Nesse caso, bvio, o devedor ter que pagar tais valores, mas porque isso ficou expressamente previsto.

    O alimentando, mesmo sendo condenado a pagar um valor fixo, poder combinar com o credor, de pagar uma parte das verbas eventuais que receber. Se houve essa disposio transacional, a quantia tambm ser devida.

    Resumindo: O 13 salrio, a participao nos lucros e outras gratificaes extras no compem a base de clculo da penso alimentcia quando esta estabelecida em valor fixo, salvo se houver disposio transacional ou judicial em sentido contrrio. PENSO EM VALOR FIXO X PENSO EM PERCENTUAL SOBRE REMUNERAO LQUIDA Na prtica forense, ao orientar um cliente, ou no momento de uma prova, importante estar atento para a diferena entre as duas situaes. Se o alimentante, em determinado ms, receber gratificaes extras em seu trabalho, o valor pago a ttulo de penso dever ser aumentado?

    Se os alimentos foram arbitrados em valor fixo: NO.

    Se os alimentos foram arbitrados em percentual sobre a remunerao: h divergncia, conforme exposto no quadro acimab.

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    DIREITO DO CONSUMIDOR

    RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO Inocorrncia de dano moral pela simples presena de corpo estranho em refrigerante

    Atualize o Info 537-STJ

    A simples aquisio de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem que haja a ingesto do produto, no circunstncia apta, por si s, a provocar dano moral indenizvel.

    Obs: existe precedente em sentido contrrio, mas o que prevalece que no h dano moral.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

    Imagine a seguinte situao: Joo comprou uma garrafa de refrigerante e, antes de abri-la, constatou que havia uma pequena lagartixa em seu interior. Diante disso, ajuizou ao de indenizao por danos morais contra a fabricante. A r, dentre outros argumentos, afirmou que no houve dano moral porque o consumidor nem abriu a garrafa e no chegou a ingerir o produto. H direito indenizao por dano moral nesse caso? Trata-se de tema polmico, havendo decises nos dois sentidos:

    SIM NO

    A aquisio de produto de gnero alimentcio (refrigerante) que tinha em seu interior um corpo estranho, expondo o consumidor a risco concreto de leso sua sade e segurana, d direito compensao por dano moral mesmo no tendo havido a ingesto de seu contedo. STJ. 3 Turma. REsp 1.424.304-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/3/2014 (Info 537).

    A simples aquisio de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem que haja a ingesto do produto, no circunstncia apta, por si s, a provocar dano moral indenizvel. A fim de evitar o enriquecimento sem causa, prevalece no STJ o entendimento de que a simples aquisio do produto danificado, uma garrafa de refrigerante contendo um objeto estranho no seu interior, sem que se tenha ingerido o seu contedo, no revela o sofrimento capaz de ensejar indenizao por danos morais. STJ. 3 Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

    Qual posio prevalece? A segunda, ou seja, a de que no gera dano moral. Assim, no se configura o dano moral quando ausente a ingesto do produto considerado imprprio para o consumo, em virtude da presena de objeto estranho no seu interior, por no extrapolar o mbito individual que justifique a litigiosidade, porquanto atendida a expectativa do consumidor em sua dimenso plural. Para o STJ, a tecnologia utilizada nas embalagens dos refrigerantes padronizada e guarda, na essncia, os mesmos atributos e as mesmas qualidades no mundo inteiro. Desse modo, no existe um sistemtico defeito de segurana capaz de colocar em risco a incolumidade da sociedade de consumo, a culminar no desrespeito dignidade da pessoa humana, no desprezo sade pblica e no descaso com a segurana alimentar. STJ. 3 Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

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    PRTICAS ABUSIVAS Prtica de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in re ipsa

    Importante!!!

    Configura dano moral coletivo in re ipsa a realizao de venda casada por operadora de telefonia.

    A prtica de venda casada por parte de operadora de telefonia capaz de romper com os limites da tolerncia. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas vantagens - no caso, o comrcio de linha telefnica com valores mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro, impe-lhe a obrigao de aquisio de um aparelho telefnico por ela comercializado, realiza prtica comercial apta a causar sensao de repulsa coletiva a ato intolervel, tanto que encontra proibio expressa em lei.

    Afastar, da espcie, o dano moral difuso, fazer tbula rasa da proibio elencada no art. 39, I, do CDC e, por via reflexa, legitimar prticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.397.870-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

    Imagine a seguinte situao: Determinada companhia de celular estava impondo a aquisio de aparelho telefnico aos consumidores que demonstrassem interesse em adquirir o servio de telefonia. Em outras palavras, a pessoa s conseguia comprar o chip e assinar os seus servios de telefonia se tambm j adquirissem o aparelho de celular na loja da operadora. Diante desse fato, o Ministrio Pblico estadual ajuizou ao civil pblica contra a concessionria, pedindo a sua condenao por danos morais coletivos. Houve alguma prtica abusiva por parte da empresa? SIM. A situao narrada configura a chamada venda casada, que reputada como prtica comercial abusiva pelo art. 39, I, do CDC:

    Art. 39. vedado ao fornecedor de produtos ou servios, dentre outras prticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de servio ao fornecimento de outro produto ou servio, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

    Qual a natureza do direito discutido na referida ACP? O direito metaindividual tutelado na espcie enquadra-se na categoria de direitos difusos, isto , tem natureza indivisvel e possui titulares indeterminados, que so ligados por circunstncias de fato, o que permite asseverar ser esse extensvel toda a coletividade. O que dano moral coletivo? O dano moral coletivo a leso na esfera moral de uma comunidade, isto , a violao de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do ponto de vista jurdico, de forma a envolver no apenas a dor psquica, mas qualquer abalo negativo moral da coletividade, pois o dano , na verdade, apenas a consequncia da leso esfera extrapatrimonial de uma pessoa. (Min. Mauro Campbell Marques). Toda vez que so violados direitos dos consumidores haver dano moral coletivo? NO. O STJ entende que no qualquer atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso (dano moral coletivo). necessrio que esse ato ilcito seja de razovel significncia e desborde os limites da tolerabilidade. Deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos,

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    intranquilidade social e alteraes relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva (STJ. 3 Turma. REsp 1.221.756/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 02/02/2012). devida a condenao por dano moral coletivo no presente caso? SIM. O STJ decidiu que configura dano moral coletivo in re ipsa a realizao de venda casada por operadora de telefonia. A prtica de venda casada por parte de operadora de telefonia capaz de romper com os limites da tolerncia. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas vantagens - no caso, o comrcio de linha telefnica com valores mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro, impe-lhe a obrigao de aquisio de um aparelho telefnico por ela comercializado, realiza prtica comercial apta a causar sensao de repulsa coletiva a ato intolervel, to intolervel que encontra proibio expressa em lei. Afastar, da espcie, o dano moral difuso, fazer tbula rasa da proibio elencada no art. 39, I, do CDC e, por via reflexa, legitimar prticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor.

    BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES Requisitos para a propositura de ao de exibio de documentos relativos ao Crediscore

    Para existir interesse de agir em ao cautelar de exibio de documentos ajuizada por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuao no sistema Crediscore, necessrio que o requerente comprove:

    a) que a recusa do crdito se deu em razo da pontuao que lhe foi atribuda pela dita ferramenta de scoring; e

    b) que tenha havido resistncia da instituio responsvel pelo sistema na disponibilizao das informaes requeridas pelo consumidor em prazo razovel.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

    O que Cresdiscore? Credit scoring, tambm chamado de crediscore um sistema ou mtodo utilizado para analisar se ser concedido ou no crdito ao consumidor que pedir a concesso de um emprstimo ou financiamento. No credit scoring, a pessoa que est pedindo o crdito avaliada por meio de frmulas matemticas, nas quais so consideradas diversas variveis como a idade, a profisso, a finalidade da obteno do crdito etc. Tais variveis so utilizadas nas frmulas matemticas e, por meio de ferramentas da estatstica, atribui-se uma espcie de pontuao (nota) para a pessoa que est pedindo o crdito. Quanto maior a nota, menor seria o risco de se conceder o crdito para aquele consumidor e, consequentemente, mais fcil para ele conseguir a liberao. Algumas das informaes que so consideradas como variveis na frmula matemtica do credit scoring: idade, sexo, estado civil, profisso, renda, nmero de dependentes, endereo, histrico de outros crditos que pediu etc. Com base em estudos estatsticos, concluiu-se que pessoas de determinado sexo, profisso, estado civil, idade etc. so mais ou menos inadimplentes. Logo, se o consumidor est includo nos critrios considerados como de bom pagador, ele recebe uma pontuao maior. O credit scoring pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliao do risco de concesso de crdito? SIM. O STJ entendeu que essa prtica comercial LCITA, estando autorizada pelo art. 5, IV e pelo art. 7,

    I, da Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos bancos de dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a anlise de risco de crdito.

  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 19

    Vale ressaltar, no entanto, que para o credit scoring ser lcito, necessrio que respeite os limites estabelecidos pelo sistema de proteo do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da mxima

    transparncia nas relaes negociais, conforme previso do CDC e da Lei n. 12.414/2011; STJ. 2 Seo. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551). Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situao: Joo tentou fazer um credirio em uma loja e esta, aps consultar o nome do cliente no Crediscore da Cmara de Dirigentes Lojistas (associao de lojistas), negou a concesso do crdito. Insatisfeito, Joo voltou para casa, entrou no site da CDL e no campo chamado fale conosco pediu para saber qual seria a sua pontuao no Crediscore e a metodologia que eles utilizam. A CDL respondeu que esse pedido, por envolver dados pessoais, s poderia ser atendido se fosse feito pessoalmente com a identificao do requerente. Joo no concordou e ajuizou ao cautelar de exibio de documentos contra a CDL requerendo fosse disponibilizado extrato contendo sua pontuao e os critrios utilizados pelas lojas no Crediscore. A CDL contestou a ao afirmando que falta interesse de agir na demanda. O pedido de Joo deve ser aceito? Existe interesse de agir no caso concreto? NO. O STJ decidiu que, para existir interesse de agir em ao cautelar de exibio de documentos ajuizada por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuao no sistema Crediscore, necessrio que o requerente comprove: a) que a recusa do crdito se deu em razo da pontuao que lhe foi atribuda pela dita ferramenta de scoring; e b) que tenha havido resistncia da instituio responsvel pelo sistema na disponibilizao das informaes requeridas pelo consumidor em prazo razovel. Em nosso exemplo, o consumidor comprovou que existiu recusa na concesso do crdito em virtude da pontuao que ele recebeu no Crediscore. No entanto, no houve resistncia em fornecer as informaes requeridas pelo consumidor. Apenas exigiu-se que ele fizesse o pedido pessoalmente, o que no caracteriza recusa. Alm de saber a sua pontuao, o consumidor tem direito de saber qual foi a metodologia utilizada no clculo? NO. O consumidor ter direito de saber a sua pontuao e as informaes pessoais utilizadas. No entanto, nem o consumidor nem ningum ter direito de saber a metodologia de clculo, ou seja, qual foi a frmula matemtica e os dados estatsticos utilizados no credit scoring. Isso porque essa frmula

    fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade empresarial (art. 5, IV, da Lei n. 12.4142011: ..."resguardado o segredo empresarial). STJ. 2 Seo. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).

  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 20

    ECA

    MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Possibilidade de cumprimento imediato de medida socioeducativa imposta na sentena

    Tema polmico!

    Em regra, a apelao contra a sentena que aplica medida socioeducativa de internao dever ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?

    1 corrente: apenas no efeito devolutivo, impondo-se ao adolescente infrator o cumprimento imediato da medida socioeducativa (STJ. 6 Turma. HC 301.135/SP).

    2 corrente: com a revogao do art. 198, VI, do ECA, as apelaes interpostas contra sentenas menoristas devem ser recebidas, em regra, no duplo efeito, com exceo da hiptese prevista no art. 520, VII, do CPC, o qual dispe que os apelos interpostos contra sentenas que confirmam a antecipao dos efeitos da tutela so recebidos apenas no efeito devolutivo (STJ. 6 Turma. AgRg no HC 292.200/PA).

    STJ. 6 Turma. HC 301.135-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553).

    STJ. 6 Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 19/08/2014.

    No caso de apurao de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC? Depende. Aplica-se:

    o CPP para o processo de conhecimento (representao, produo de provas, memoriais, sentena);

    o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA). Resumindo: 1 opo: normas do ECA. Na falta de normas especficas:

    CPP: para regular o processo de conhecimento.

    CPC: para regular o sistema recursal. Imagine agora a seguinte situao adaptada: Joo, adolescente, praticou ato infracional equiparado a roubo majorado (art. 157, 2, I e II, do CP). O magistrado proferiu sentena aplicando-lhe medida socioeducativa de internao. A defesa interps recurso de apelao. O juiz recebeu a apelao apenas no seu efeito devolutivo (ou seja, no recebeu no efeito suspensivo). Como o recurso no suspendeu a sentena, isso significa que, na prtica, o adolescente dever aguardar no centro de internao o julgamento da apelao. Em outros termos, foi negado ao adolescente o direito de recorrer em liberdade. A deciso do juiz foi acertada? Em regra, a apelao contra a sentena que aplica medida socioeducativa de internao dever ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?

    SIM NO

    Nos processos decorrentes da prtica de atos infracionais, em regra, a apelao interposta contra a sentena que aplicou internao dever ser recebida apenas no efeito devolutivo, impondo-se ao adolescente infrator o cumprimento imediato da medida socioeducativa.

    Existem inmeras decises em sentido contrrio,

    ou seja, afirmando que, depois da Lei n. 12.010/2009 ter revogado o inciso VI do art. 198 do ECA, a regra agora que os recursos sejam recebidos nos efeitos devolutivo e suspensivo. Confira:

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    Apesar de a Lei n. 12.010/2009 ter revogado o inciso VI do art. 198 do ECA, que conferia apenas o efeito devolutivo ao recebimento dos recursos, continua a viger o disposto no art. 215 do ECA, que determina o seguinte: Art. 215. O juiz poder conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparvel parte. Ora, se o art. 215 afirma que o juiz poder conferir efeito suspensivo, isso significa que os recursos possuem, em regra, apenas efeito devolutivo, inclusive contra sentena que acolhe a representao do Ministrio Pblico e impe medida socioeducativa ao adolescente infrator. Os processos envolvendo aplicao de medidas socioeducativas esto alicerados em fundamentos diferentes. No processo penal, as regras tm por objetivo, fundamentalmente, proteger o acusado contra ingerncias abusivas do Estado em sua liberdade. A pena criminal uma punio e o princpio da presuno de no culpabilidade levado ao extremo. Por outro lado, a medida socieducativa no representa punio, sendo um mecanismo de proteo do adolescente e da sociedade, possuindo natureza pedagcia e ressocializadora. Por essas razes, para o STJ, a imediata execuo da sentena que aplica medida socioeducativa no ofende o princpio da no culpabilidade (art. 5, LVII, da CF/88). Condicionar a execuo da medida socioeducativa ao trnsito em julgado da sentena que acolhe a representao seria um obstculo ao escopo ressocializador da interveno estatal, alm de permitir que o adolescente permanea em situao de risco, exposto aos mesmos fatores que o levaram prtica infracional. STJ. 6 Turma. HC 301.135-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553).

    (...) Com a revogao do art. 198, VI, do Estatuto da Criana e do Adolescente, as apelaes interpostas contra sentenas menoristas devem ser recebidas no duplo efeito, com exceo da hiptese prevista no art. 520, VII, do Cdigo de Processo Civil, o qual dispe que os apelos interpostos contra sentenas que confirmam a antecipao dos efeitos da tutela so recebidos apenas no efeito devolutivo. (...) (STJ. 6 Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 19/08/2014) (...) A Lei n. 12.010/2009 revogou o art. 198 do Estatuto da Criana e do Adolescente, que previa a regra geral segundo a qual a interposio da apelao geraria apenas o efeito devolutivo. Com o advento da Lei n. 12.010/2009, adotou-se a regra do art. 520 do Cdigo de Processo Civil, pelo qual o recurso de apelao detm tanto o efeito devolutivo quanto o suspensivo. 3. Em regra, no se admite mais a execuo provisria de deciso menorista impugnada por intermdio de apelao. Dentre os casos que comportam exceo referida regra, verifica-se a hiptese de supervenincia da interposio de recurso apelatrio em face de sentena que aplicou medida socioeducativa de internao, aps o deferimento de medida cautelar consistente em internao provisria, nos termos do art. 520, do Cdigo de Processo Civil. (...) (STJ. 5 Turma. RHC 41.359/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/11/2013).

    Dica de ordem prtica: Em provas e na prtica forense, se o Promotor de Justia entende que o adolescente no tem direito de aguardar o julgamento em liberdade, ele dever, nas alegaes finais (memoriais), pedir que o juiz, na sentena, conceda uma medida cautelar de internao, demonstrando a existncia do fumus boni iuris e do periculum in mora. Se o magistrado fizer isso, a apelao contra a sentena dever ser recebida no efeito apenas devolutivo, conforme determina o art. 520, VII, do CPC.

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    INTIMAO Publicao de intimao com erro na grafia do sobrenome do advogado

    Importante!!!

    NO h nulidade na publicao de ato processual em razo do acrscimo de uma letra ao sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o nmero do processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existncia de erro idntico nas intimaes anteriores, houve observncia aos prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro grfico no impediu a exata identificao do processo.

    O entendimento do STJ no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome do advogado, aliado possibilidade de se identificar o processo por outros elementos, como o seu nmero e o nome da parte, no enseja a nulidade da publicao do ato processual.

    STJ. Corte Especial. EREsp 1.356.168-RS, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014 (Info 553).

    CONCEITO DE INTIMAO Intimao o ato pelo qual se d cincia a algum dos atos e termos do processo, para que faa ou deixe de fazer alguma coisa (art. 234 do CPC). DIFERENAS ENTRE CITAO E INTIMAO

    CITAO INTIMAO

    dirigida ao ru ou ao interessado. dirigida a qualquer das partes, seus advogados, auxiliares da justia (peritos, depositrios, testemunhas) ou a terceiros, a quem cumpre realizar determinado ato no processo.

    Tem por finalidade dar cincia ao ru da existncia do processo, permitindo que apresente sua resposta demanda proposta.

    Tem por finalidade dar cincia a algum dos atos e termos do processo, para que faa ou deixe de fazer alguma coisa.

    Em regra, a citao deve ser feita pessoalmente ao ru (ou ao seu representante, em caso de incapacidade ou ao seu procurador).

    Em regra, a intimao feita para o advogado das partes, mediante publicao na imprensa oficial, salvo quando a lei exigir que seja pessoal.

    FORMAS PELAS QUAIS PODE SER REALIZADA A INTIMAO

    a) Publicao no Dirio Oficial: Em todas as capitais, e tambm nas comarcas onde houver Imprensa Oficial, a intimao pode ocorrer mediante publicao no Dirio Oficial. Vale ressaltar que o Dirio Oficial pode ser eletrnico (publicado somente pela internet). indispensvel, sob pena de nulidade, que, quando for publicada a intimao, constem os nomes das partes e de seus advogados, de forma a permitir a identificao. b) Correios (via postal) No dispondo a lei de outro modo, as intimaes sero feitas s partes, aos seus representantes legais e aos advogados pelo correio ou, se presentes em cartrio, diretamente pelo escrivo ou chefe de secretaria (art. 238 do CPC).

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    c) Mandado (oficial de justia) A intimao por meio de oficial de justia somente ser feita quando frustrada a realizao pelo correio (art. 239 do CPC). d) Edital No foi prevista expressamente pelo legislador, mas tem sido admitida nas hipteses em que a pessoa a ser intimada no puder ser identificada ou localizada. e) Vista dos autos No caso do Ministrio Pblico, a Lei determina que a intimao pessoal deve ocorrer atravs da entrega

    dos autos com vista (art. 41, IV, da Lei n. 8.625/93). No caso da Defensoria Pblica, a Lei afirma que a intimao pessoal atravs da entrega dos autos com vista somente ocorrer quando necessrio (arts. 44, I, 89, I e 128, I, da Lei Complementar 80/94). f) Meio eletrnico As intimaes podem ser feitas de forma eletrnica, conforme regulado em lei prpria (art. 237, pargrafo

    nico, CPC). A Lei n. 11.419/2006 dispe sobre o assunto. INTIMAO PELO DIRIO OFICIAL E NOME DOS ADVOGADOS E DAS PARTES

    A intimao pelo Dirio Oficial deve conter os nomes dos advogados e das partes O art. 236 do CPC, ao tratar sobre a intimao pelo Dirio Oficial, prev a seguinte regra:

    1 indispensvel, sob pena de nulidade, que da publicao constem os nomes das partes e de seus advogados, suficientes para sua identificao.

    O que acontece, no entanto, se a publicao for feita com erro no nome do advogado e este perder o prazo para a prtica do ato? O STJ entende que, nesses casos, deve ser analisado se o mencionado erro era grave a ponto de impedir que o advogado identificasse que se tratava do processo que patrocina. Assim, no se deve declarar a nulidade da publicao de acrdo do qual conste, com grafia incorreta, o nome do advogado se o erro insignificante (troca de apenas uma letra) e possvel identificar o feito pelo exato nome das partes e nmero do processo (STJ. Corte Especial. AgRg nos EDcl nos EAREsp 140.898/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 02/10/2013). Imagine o seguinte caso concreto: A sentena foi publicada com o patronmico do advogado errado. O erro ocorreu pelo acrscimo de apenas uma letra, n, no sobrenome do causdico: constou na publicao Monreau e o correto seria Moreau. Vale ressaltar que o prenome do advogado estava correto, assim como tambm estavam certos o nmero do processo e os nomes das partes. O nico erro era essa letra n a mais. Importante tambm destacar que nas outras publicaes anteriores, o sobrenome do advogado havia sido escrito da mesma forma (errada), ou seja, com um n a mais. Apesar disso, todos os prazos anteriores foram cumpridos tempestivamente. Somente agora no final, na publicao da sentena, o causdico deixou passar o prazo para a apelao. Diante da perda do prazo para o recurso, o advogado suscitou a nulidade da intimao realizada, nos termos do 1 do art. 236 do CPC, pedindo a republicao e a devoluo do prazo recursal. O pleito do causdico foi aceito pelo STJ? NO. Segundo decidiu a Corte Especial do STJ, NO h nulidade na publicao de ato processual em razo do acrscimo de uma letra ao sobrenome do advogado, no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o nmero do processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existncia

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    de erro idntico nas intimaes anteriores, houve observncia aos prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro grfico no impediu a exata identificao do processo. Reafirmou-se o entendimento da Corte no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome do advogado no enseja a nulidade da publicao do ato processual se for possvel identificar o processo por meio de outros elementos, como o seu nmero e o nome da parte.

    AO RESCISRIA Prorrogao do termo final do prazo para ajuizamento da ao rescisria

    Importante!!!

    Que dia ocorre o trnsito em julgado?

    O trnsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao ltimo dia do prazo para o recurso em tese cabvel.

    Qual o termo inicial do prazo de 2 anos da ao rescisria?

    O prazo de 2 anos comea a ser contado do exato dia em que ocorre o trnsito em julgado.

    O termo "a quo" para o ajuizamento da ao rescisria coincide com a data do trnsito em julgado da deciso rescindenda.

    Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ao rescisria comea a correr da data do trnsito em julgado da sentena rescindenda, incluindo-se-lhe no cmputo o dia do comeo.

    Se o ltimo dia do prazo da rescisria for sbado, domingo ou feriado, haver prorrogao para o primeiro dia til subsequente?

    SIM. O termo final do prazo para o ajuizamento da ao rescisria, embora decadencial, prorroga-se para o primeiro dia til subsequente se recair em dia de no funcionamento da secretaria do Juzo competente.

    STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 19/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

    CONCEITO Ao rescisria uma ao que tem por objetivo desconstituir uma deciso judicial transitada em julgado.

    NATUREZA JURDICA A ao rescisria uma espcie de ao autnoma de impugnao (sucedneo recursal externo). Ateno: a ao rescisria NO um recurso. O recurso uma forma de impugnar a deciso na pendncia do processo (enquanto este ainda no acabou). A ao rescisria, por sua vez, somente pode ser proposta quando h trnsito em julgado, ou seja, quando o processo j se encerrou.

    COMPETNCIA A ao rescisria sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular). Quem julga a rescisria sempre o prprio tribunal que proferiu a deciso rescindenda.

    PRAZO A ao rescisria possui prazo decadencial de 2 anos, contados do dia do trnsito em julgado da deciso:

    CPC/Art. 495. O direito de propor ao rescisria se extingue em 2 (dois) anos, contados do trnsito em julgado da deciso.

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    Que dia ocorre o trnsito em julgado? S h trnsito em julgado quando no mais couber qualquer recurso. Assim, o trnsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao ltimo dia do prazo para o recurso em tese cabvel contra a ltima deciso proferida na causa. Ex: o TJ publicou o acrdo em 01/02; em tese, contra essa deciso, caberia RE e REsp, cujo prazo de 15 dias; logo, as partes tinham at o dia 16/02 para interpor o recurso; imagine que no houve recurso; isso significa que o trnsito em julgado ocorreu no dia 17/02, ou seja, no dia imediatamente seguinte (subsequente) ao ltimo dia do prazo para o recurso em tese cabvel. Qual o termo inicial do prazo de 2 anos previsto no art. 495? Ele se inicia no dia do trnsito em julgado ou no dia seguinte ao trnsito em julgado? Ex: o acrdo transitou em julgado no dia 17/02. O prazo para a rescisria comea a ser contado no dia 17/02 ou em 18/02? O prazo de 2 anos comea a ser contado do exato dia em que ocorre o trnsito em julgado (em nosso exemplo, no dia 17/02). Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ao rescisria comea a correr da data do trnsito em julgado da sentena rescindenda, incluindo-se-lhe no cmputo o dia do comeo. Obs: existem julgados do prprio STJ em sentido contrrio, mas o precedente mais recente da Corte Especial foi no sentido de que o prazo se inicia no dia do trnsito em julgado. Como contado o prazo de 2 anos? Conta-se dia a dia? NO. Se o prazo fixado em anos, aplica-se a regra do 2 do art. 132 do Cdigo Civil:

    3 Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual nmero do de incio, ou no imediato, se faltar exata correspondncia.

    Assim, se a lei prev prazos em anos, eles no sero contados dia aps dia, mas sim ano aps ano, terminando no mesmo dia (numeral) em que comeou, acrescido dos anos respectivos.

    Ex: se o prazo de 2 anos comeou a correr no dia 17/02/2011 (data do trnsito), a ao rescisria poder ser proposta at o dia 17/02/2013 (este ser o ltimo dia possvel). E se o ltimo dia do prazo for sbado, domingo ou feriado? Haver prorrogao para o primeiro dia til subsequente? SIM. O STJ entende que, se o termo final do prazo para ajuizamento da ao rescisria recair em dia no til, ele dever ser prorrogado para o primeiro dia til subsequente. Em nosso exemplo, 17/02/2013 era um domingo. Logo, como se trata de um dia no-til, a parte poderia ajuizar a ao rescisria at o dia 18/02/2013 (segunda-feira).

    Mas o prazo para a ao rescisria no decadencial? Eu havia aprendido que o prazo decadencial no se suspende, no se interrompe nem se prorroga... verdade. Trata-se de prazo decadencial, mas apesar disso, o STJ afirmou que nesse caso especfico ele se prorroga sim. O STJ entende que deve ser aplicado ao prazo de ajuizamento da ao rescisria a regra geral do art. 184, 1, do CPC, com o objetivo de atender aos princpios da razoabilidade, efetividade e instrumentalidade, evitando que se subtraia da parte a plenitude do prazo a ela legalmente concedido.

    1 Considera-se prorrogado o prazo at o primeiro dia til se o vencimento cair em feriado ou em dia em que: I - for determinado o fechamento do frum; II - o expediente forense for encerrado antes da hora normal.

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    PROCESSO CAUTELAR Ao cautelar de exibio de documentos bancrios

    A propositura de ao cautelar de exibio de documentos bancrios (cpias e segunda via de documentos) cabvel como medida preparatria a fim de instruir a ao principal, bastando a demonstrao da existncia de relao jurdica entre as partes, a comprovao de prvio pedido instituio financeira no atendido em prazo razovel, e o pagamento do custo do servio conforme previso contratual e normatizao da autoridade monetria.

    STJ. 2 Seo. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, Segunda Seo, julgado em 10/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo, h mais de 40 anos, possui uma conta-poupana na Caixa Econmica Federal. Um advogado afirmou que ele teria direito de receber uma quantia da CEF. Isso porque, segundo o profissional, durante alguns planos econmicos (Planos Collor, Bresser e Vero), a atualizao dos valores depositados em sua poupana teria sido feita de forma incorreta (a menor). Tal situao ficou conhecida como expurgos inflacionrios dos depsitos em cadernetas de poupana. Joo foi orientado a pedir da CEF os extratos bancrios relativos sua conta-poupana referentes aos anos de 1987 a 1991 para que isso fosse analisado e posteriormente ele pudesse cobrar tais valores. O correntista pagou as tarifas bancrias necessrias para que os extratos fossem entregues, mas, mesmo assim, o gerente da agncia recusou-se a receber e protocolizar o pedido. Diante disso, Joo fez uma notificao extrajudicial exigindo os extratos, porm tambm no foi atendido. O que Joo poder fazer? cabvel a propositura de ao cautelar de exibio de documentos bancrios (cpias e segunda via de documentos) como medida preparatria a fim de instruir futura ao principal (cobrana os expurgos inflacionrios). Para isso, basta que ele demonstre:

    a existncia de relao jurdica com o banco, ou seja, que correntista;

    o prvio pedido instituio financeira no atendido em prazo razovel; e

    o pagamento do custo do servio conforme previso contratual e normatizao da autoridade monetria (tarifas bancrias).

    Esse tema foi decidido pelo STJ em sede de recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese: A propositura de ao cautelar de exibio de documentos bancrios (cpias e segunda via de documentos) cabvel como medida preparatria a fim de instruir a ao principal, bastando a demonstrao da existncia de relao jurdica entre as partes, a comprovao de prvio pedido instituio financeira no atendido em prazo razovel, e o pagamento do custo do servio conforme previso contratual e normatizao da autoridade monetria.

    PROCESSO CAUTELAR Requisitos para a propositura de ao de exibio de documentos relativos ao Crediscore

    Para existir interesse de agir em ao cautelar de exibio de documentos ajuizada por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuao no sistema Crediscore, necessrio que o requerente comprove:

    a) que a recusa do crdito se deu em razo da pontuao que lhe foi atribuda pela dita ferramenta de scoring; e

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    b) que tenha havido resistncia da instituio responsvel pelo sistema na disponibilizao das informaes requeridas pelo consumidor em prazo razovel.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

    Vide comentrios ao julgado em Direito do Consumidor.

    TTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS Contrato de seguro de automveis no titulo executivo extrajudicial

    A via adequada para cobrar a indenizao securitria fundada em contrato de seguro de automvel a ao de conhecimento sob o rito sumrio (e no a ao executiva).

    No possvel propor diretamente a execuo nesse caso porque o contrato de seguro de automvel no se enquadra como ttulo executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).

    Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, so ttulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por meio de ao de execuo.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

    Vide comentrios ao julgado em Direito Civil.

    PENHORA Possibilidade excepcional de penhora sobre honorrios advocatcios

    Importante!!!

    Os honorrios advocatcios (contratuais ou sucumbenciais) so a remunerao do advogado e, portanto, possuem carter alimentar. Logo, so, em princpio, impenhorveis, com base no art. 649, IV, do CPC.

    No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC no pode ser interpretado de forma literal ou absoluta. Em determinadas circunstncias possvel a sua relativizao.

    Assim, se os honorrios advocatcios recebidos so exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoveis para sustento prprio e de sua famlia, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa a ser possvel a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo advogado e possui dvidas de tributos federais, tendo sido, inclusive, proposta uma execuo fiscal contra ele pela Unio. A Procuradoria da Fazenda Nacional, que cobra judicialmente as dvidas da Unio, soube que Joo ir receber vultosa quantia de honorrios advocatcios em outro processo onde l ele atua como advogado. Diante disso, formulou requerimento pedindo a penhora, no rosto dos autos, dos honorrios que Joo ir receber.

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    Os honorrios advocatcios podem ser penhorados? Em regra no. Os honorrios advocatcios (contratuais ou sucumbenciais) so a remunerao do advogado e, portanto, possuem carter alimentar. Logo, so, em princpio, impenhorveis, com base no art. 649, IV, do CPC:

    Art. 649. So absolutamente impenhorveis: IV - os vencimentos, subsdios, soldos, salrios, remuneraes, proventos de aposentadoria, penses, peclios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua famlia, os ganhos de trabalhador autnomo e os honorrios de profissional liberal, observado o disposto no 3 deste artigo;

    Por que se falou em regra? Existe possibilidade de se penhorar a verba dos honorrios? SIM. O STJ entende que o art. 649, IV, do CPC no pode ser interpretado de forma literal ou absoluta. Em determinadas circunstncias possvel a sua relativizao. Se os honorrios advocatcios recebidos so exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoveis para sustento prprio e de sua famlia, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa a ser possvel a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado. Veja precedente nesse sentido:

    (...) 1. firme nesta Corte Superior o entendimento que reconhece a natureza alimentar dos honorrios advocatcios e a impossibilidade de penhora sobre verba alimentar, em face do disposto no art. 649, IV, do CPC. 2. Contudo, a garantia de impenhorabilidade assegurada na regra processual referida no deve ser interpretada de forma gramatical e abstrata, podendo ter aplicao mitigada em certas circunstncias, como sucede com crdito de natureza alimentar de elevada soma, que permite antever-se que o prprio titular da verba pecuniria destinar parte dela para o atendimento de gastos suprfluos, e no, exclusivamente, para o suporte de necessidades fundamentais. 3. No viola a garantia assegurada ao titular de verba de natureza alimentar a afetao de parcela menor de montante maior, desde que o percentual afetado se mostre insuscetvel de comprometer o sustento do favorecido e de sua famlia e que a afetao vise satisfao de legtimo crdito de terceiro, representado por ttulo executivo. 4. Sopesando criteriosamente as circunstncias de cada caso concreto, poder o julgador admitir, excepcionalmente, a penhora de parte menor da verba alimentar maior sem agredir a garantia desta em seu ncleo essencial. (...) (STJ. 4 Turma. REsp 1356404/DF, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 04/06/2013)

    A ttulo de curiosidade, no caso concreto, o advogado iria receber parcela de honorrios no valor aproximado de R$ 400 mil. Foi determinado que o advogado pudesse ficar com R$ 15 mil dessa quantia, sendo autorizada a penhora do restante.

    EXECUO FISCAL Dispensabilidade da indicao do RG, CPF ou CNPJ do devedor

    O juiz no pode indeferir a petio inicial em ao de execuo fiscal com o argumento de que no houve indicao do RG, CPF ou CNPJ da parte executada. Isso porque tais informaes no so exigidas pelo art. 6 da Lei n 6.830/80 (LEF).

    O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrnico) exige que a parte autora informe o CPF ou CNJP da r, mas tal Lei no prevalece sobre a LEF, por ser esta norma especfica e aquela norma geral.

  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 29

    Assim, em aes de execuo fiscal, descabe indeferir a petio inicial sob o argumento da falta de indicao do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa fsica ou jurdica), visto tratar-se de requisito no previsto no art. 6 da Lei 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade, ostenta primazia sobre a legislao de cunho geral, como ocorre frente exigncia contida no art. 15 da Lei 11.419/06.

    STJ. 1 Seo. REsp 1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Srgio Kukina, julgados em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

    Imagine a seguinte situao: Determinado Municpio ajuizou execuo fiscal contra Joo, devedor de IPTU, apontando o nome e o endereo do devedor. O juiz indeferiu a petio inicial da execuo alegando que a Fazenda Pblica no indicou o CPF ou o RG do

    executado, o que violaria o art. 15 da Lei n. 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrnico):

    Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso justia, a parte dever informar, ao distribuir a petio inicial de qualquer ao judicial, o nmero no cadastro de pessoas fsicas ou jurdicas, conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal.

    Agiu corretamente o magistrado? NO. O juiz no pode indeferir a petio inicial em ao de execuo fiscal com o argumento de que no houve indicao do CPF ou RG da parte executada. O mesmo raciocnio vale para o caso de a executada ser uma pessoa jurdica. No pode o magistrado indeferir a petio inicial sob a alegao de que falta a indicao do CNPJ da empresa devedora. O art. 6 da Lei n 6.830/80 (LEF), que trata sobre os requisitos da petio inicial na execuo fiscal, no exige que o exequente faa a indicao de RG, CPF ou CNPJ do executado. Confira:

    Art. 6 - A petio inicial indicar apenas: I - o Juiz a quem dirigida; II - o pedido; e III - o requerimento para a citao.

    Princpio da especialidade

    Diante da diferena entre a Lei n. 6.830/80 e a Lei n. 11.419/2006, o STJ entendeu que deveria prevalecer a LEF, j que se trata de norma especial, que prevalece sobre a norma geral. Orientao procedimental

    Outro argumento exposto foi o de que art. 15 da Lei n. 11.419/06 no criou um requisito processual para a formulao da petio inicial, mas apenas estabeleceu uma orientao procedimental voltada para facilitar a identificao das partes. Somente a Lei 6.830/80 pode trazer os requisitos formais para a composio da petio do processo fiscal. Novo CPC O novo CPC exige que a qualificao das partes venha acompanhada da indicao do CPF/CNPJ, mas h a ressalva de que a petio inicial pode ser recebida apesar da ausncia de algumas informaes.

  • Informativo 553-STJ (11/02/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 30

    EMBARGOS DE TERCEIRO Embargos de terceiro no servem para impugnar deciso se o fundamento invocado pelo autor

    no a posse, mas sim, unicamente, a propriedade

    O proprietrio sem posse a qualquer ttulo no tem legitimidade para ajuizar, com fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra deciso transitada em julgado proferida em ao de reintegrao de posse, da qual no participou, e na qual nem sequer foi aventada discusso em torno da titularidade do domnio.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

    O que so os embargos de terceiro? Os embargos de terceiro so... - uma ao de conhecimento - com rito especial sumrio, - por meio da qual uma pessoa objetiva livrar um bem do qual tenha posse (como senhor/proprietrio

    ou possuidor), - bem este que est sofrendo ou na iminncia de sofrer - uma constrio judicial (exs: penhora, arresto, sequestro etc.) Relembrado esse conceito, imagine a seguinte situao hipottica: Pedro morava em um stio e de l foi esbulhado por Antnio. Diante disso, Pedro ajuizou ao de reintegrao de posse, que foi julgada procedente, tendo havido o trnsito em julgado dessa deciso. Vale ressaltar que nessa ao de reintegrao de posse decidiu-se to somente a posse, no tendo havido qualquer discusso sobre qual dos dois seria o proprietrio do imvel em questo. Algum tempo depois de ter havido o trnsito em julgado, Joo ajuizou embargos de terceiro contra Pedro e Antnio alegando que nenhum dos dois tinha direito sobre o imvel, considerando que ele seria o real proprietrio do bem, conforme registrado no cartrio de registro de imveis. O pedido de Joo tem fundamento jurdico? Ele tem legitimidade para ajuizar essa ao? NO. O proprietrio sem posse a qualquer ttulo no tem legitimidade para ajuizar, com fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra deciso transitada em julgado proferida em ao de reintegrao de posse, da qual no participou, e na qual nem sequer foi aventada discusso em torno da titularidade do domnio. O embargante, na via estreita dos embargos de terceiro, no buscou apenas discutir se o bem deveria ou no ser objeto de constrio/apreenso. Seu objetivo foi tornar mais complexa a discusso material inicialmente travada, alegando que o domnio e, consequentemente, a posse do imvel, no seria nem do autor nem do ru, mas sua, por fora do direito de propriedade. Ora, na demanda originria nem sequer foi aventada discu