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ARTIGO PONTOS DE CULTURA FÁBRICA ENTREVISTA PARTO HUMANIZADO FÓRUM CEARENSE DOS PONTOS DE CULTURA CURTA O GÊNERO INSCRIÇÕES E PREPARATIVOS PROJETO INICIA NOVAS TURMAS EM 2014 CACTO a chegada do encontro traz algumas questões uma crítica sobre o histórico do programa cultura viva Cris Bonfim e Maíra Nunes acontece em abril na Casa Amarela página 2 a polêmica da nova medida do Ministério da Saúde página 4 página 3 página 3 página 6 página 7 HIV TESTES RÁPIDOS INFORMATIVO BIMESTRAL FÁBRICA DE IMAGENS EDIÇÃO Nº 15 JANEIRO-FEVEREIRO 2014

Informativo Fábrica de Imagens Edição 15

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Page 1: Informativo Fábrica de Imagens Edição 15

ARTIGOPONTOS DECULTURA

FÁBRICAENTREVISTA

PARTO HUMANIZADO

FÓRUMCEARENSEDOS PONTOSDE CULTURA

CURTA O GÊNEROINSCRIÇÕES E PREPARATIVOS

PROJETO INICIA NOVAS TURMAS EM 2014CACTO

a chegada do encontrotraz algumas questões

uma crítica sobre o históricodo programa cultura viva

Cris Bonfim e Maíra Nunes acontece em abril naCasa Amarela

página 2

a polêmica da nova medida doMinistério da Saúdepágina 4

página 3

página 3

página 6 página 7

HIVTESTESRÁPIDOS

INFORMATIVO BIMESTRALFÁBRICA DE IMAGENS

EDIÇÃO Nº 15JANEIRO-FEVEREIRO 2014

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Editorial

Há 10 anos, aproximadamente, surgia uma política cultural que se constituiu como

um ponto de inflexão nas políticas culturais brasileiras. Refiro-me aos Pontos de Cultura, elemento central de um Programa do Ministério da Cultura do Brasil chamado Cultura Viva. Idealizado pelo historiador e ex-secretário da Secretaria da Cidadania Cultural, Célio Turino, durante a gestão do Ministro Gilberto Gil, o referido programa se encaixou de modo muito apropriado às ideias e perspectivas salientadas logo no discurso de posse do ministro quando assinalou sobre o que deve se ocupar as políticas culturais, na sua percepção: “fazer uma espécie de Do-in antropológico, massageando pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo cultural do país” através de ações que deveriam ser entendidas como “exercícios de antropologia aplicada”. Na época, assinalava ainda o ministro que o papel da cultura “não é apenas tático ou estratégico - é central: o papel de contribuir objetivamente para a superação dos desníveis sociais”.

Ao longo destes anos, o Programa passou por muitos altos e baixos. A partir de 2009 quando problemas administrativos, financeiros e, sobretudo, jurídicos da relação entre Estado e Pontos de Cultura começam a se evidenciar de modo mais austero e recorrente, uma longa fase de baixa no Programa se instalou.

Os dois primeiros anos da gestão Dilma Rousself, tendo a frente da pasta a ministra Ana de Holanda, deram seguimento a um processo de afundamento do Programa Cultura Viva mascarado por uma “necessidade” do Ministério de redesenhar o mesmo. Soma-se a tudo isso lutas político-partidárias (PT e PCdoB) e pessoais no interior do Ministério, configurando enfim um prognóstico negativo para o Programa nesse período.

Durante todo esse duro percurso é preciso destacar a atuação da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, instância legítima da sociedade civil dentro do formato de gestão compartilhada do Programa Cultura Viva, como organismo ativo, atuando sempre de modo crítico e propositivo para a defesa e revitalização do Programa, sobretudo, nos momentos de maior desgaste do mesmo.

Com a chegada da ministra Marta Suplicy para a Cultura, com o prosseguimento do redesenho, agora em bases conceituais mais claras pelo qual as políticas de identidade e diversidade da antiga Secretaria de mesmo nome passaram a compor o Cultura Viva e com a discussão em torno de alternativas para a regulação da relação entre Estado e Pontos de Cultura que extinguissem a insegurança jurídica e administrativa destes últimos, somando-se a perspectivas de ampliação do

Programa e a tramitação no Congresso Nacional da Lei Cultura Viva, o Programa parece retomar enfim um sentido ascendente.

Nesse ínterim, poder-se-ia pensar que tudo vai bem então, que tudo se encaminha para o melhor dos caminhos possíveis. Não necessariamente, pois a construção de políticas públicas é algo que exige de nós que compomos a sociedade civil uma persistência, uma permanência e uma agudeza nos processos de proposição, articulação e controle social. Parece-me oportuno destacar alguns pontos da ordem do dia para o Movimento Nacional dos Pontos de Cultura e para o próprio Programa, a saber: rumos conceituais e aspectos legais do Programa, cenário latino-americano, estruturas de representação e funcionamento da gestão compartilhada e questões orçamentárias.

Este é um artigo introdutório e contextualizador do tema Cultura Viva. Ao longo das demais edições deste informativo as questões acima apenas mencionadas, mas que são centrais para o Programa, serão desdobradas e discutidas. Esperamos que este conjunto de textos possam compor um painel capaz contribuir para se pensar um Programa Cultura Viva cada vez mais forte, potente, compartilhado com a sociedade civil e a serviço da promoção da diversidade, da equidade e da justiça social.

Por Marcos Rocha | Diretor da Fábrica de Imagens | Membro da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura/GT Gênero

A ansiedade e a dúvida já o atormentavam há tempos, mas a coragem para encará-los parecia nunca chegar. Até aquele dia. A caixa com o teste, comprado na farmácia mais próxima, foi retirada do fundo do armário com a mesma violência com que o resultado lhe penetraria as estranhas, a intimidade e a vida alguns instantes depois: ele contraíra HIV. Com a certeza do diagnóstico, a decisão de ignorar aquilo que acabara de tomar consciência.

Ninguém jamais saberia daquilo, posto que ele mesmo esqueceria.

A história é ficcional, mas nada distante da realidade. O anúncio do Ministério da Saúde sobre o início da distribuição de testes rápidos de HIV por fluido oral ainda no início deste ano, com a possibilidade de vendê-los em qualquer tipo de farmácia num futuro próximo, tem levantado debates e discussões sobre as políticas públicas de prevenção e luta contra a Aids. Este

é o tema do nosso 15º informativo, que traz a você, leitor e leitora, um pouco do ponto de vista de alguns críticos da ação do governo.

Você confere ainda as novidades dos projetos da Fábrica de Imagens para 2014; uma entrevista sobre parto humanizado com as mães Cristiane Bonfim e Maíra Nunes; e o que vai rolar no 3º Fórum Cearense dos Pontos de Cultura. Boa leitura!

ALTOS E BAIXOS DE UM PROGRAMA QUE BUSCA VIDAA história do Programa Cultura Viva mostra que precisamos estar atentos à nossa política cultural

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Em janeiro, foi dada a largada para as novas turmas do projeto Cacto - Centro de Referência em Cultura,

Arte, Comunicação e Novas Tecnologias para a Promoção dos Direitos Humanos, da Equidade de Gênero e da Diversidade Sexual, realizado pela ONG Fábrica de Imagens. Além dos cursos de Audiovisual 1 e 2, Fotografia, Teatro e Animação 3D, a novidade é o curso de Jogos Eletrônicos, uma área com crescente demanda de atuação e carente de formação em Fortaleza.

O projeto promove a formação de jovens de 16 a 25 anos, dentro de

modalidades técnicas ligadas à arte e à comunicação num período de oito a 10 meses. Além disso, os/as estudantes também passam por formações socioeducativas dentro das temáticas trabalhas pela instituição nas áreas de Gênero, Diversidade Sexual, Direitos Humanos e Juventude. No final do curso, os/as formandos/as idealizam e apresentam projetos finais, como documentários e ficções audiovisuais, animações, peças teatrais, exposição fotográfica e jogos eletrônicos como material final de aprendizado. Todos eles, dentro das temáticas abordadas

durante todo o processo formativo.O Cacto já passou por duas edições,

totalizando 200 jovens capacitados, 10 curtas-metragens, cinco animações, seis sites e blogs de instituições beneficiadas, duas peças teatrais e duas exposições fotográficas, com um arcevo de 76 fotos. É um projeto patrocinado pelo Programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras, tendo como principal objetivo a constituição de um Centro de Referência em estratégias culturais e de comunicação para a promoção dos Direitos Humanos.

Por Monique Linhares

Por Sarah Coelho

CACTO

EM MARÇO

projeto inicia novas turmas em 2014

FOTO: THYAGO NOGUEIRA

Era o ano de 2010 quando os Pontos de Cultura de todo o Ceará coloriram juntos Fortaleza pela

última vez. De lá para cá, a realização de um encontro capaz de reunir os grupos culturais do nosso Estado para um momento de partilha e reflexão sofreu um hiato de quase quatro anos - que já tem data e local definidos para findar. O Fórum Cearense dos Pontos de Cultura finalmente chegará a sua terceira edição em 2014, de 20 a 23 de março, no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, constituindo um espaço legítimo para avaliação e proposição de uma política cultural mais transformadora.

Segundo números da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), atualmente existem 240 Pontos de Cultura no Estado, divididos por aproximadamente 120 municípios - sendo

200 vinculados à Secretaria (metade a partir de 2008; e a outra, de 2010) e 40 ao Ministério da Cultura. “O Ceará conta com uma das maiores redes do Brasil e a nossa intenção é concretizar este dado não só em tamanho, mas em qualidade e capacidade de articulação”, explica Xauí Peixoto, coordenador da Secult para os Pontos de Cultura.

Além disso, na ocasião do evento serão eleitos os/as delegados/as para representar o Ceará no Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, quando, por sua vez, serão eleitos os/as novos/as membros da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNdPC). Para Pai Lula, atual membro da CNdPC, já está na hora de passar o bastão: “Os Fóruns Estaduais são a instância básica para articulação e reafirmação do Programa Cultura Viva, o que torna fundamental a participação de todos. Assumimos a

Comissão em 2010, mas ela precisa ser viva e ativa como o nome do programa”.

Com o tema “Direitos Culturais para uma cultura de direitos”, o Fórum será um espaço privilegiado para a partilha de experiências, demandas, dificuldades e soluções, configurando um rico painel que aponta para o crescimento e aprimoramento da Política Estadual e Nacional dos Pontos de Cultura e do Programa Cultura Viva. “A ideia é expandir a noção de cultura e entender que processos de estabelecimento e violação de direitos humanos são fenômenos culturais e que, desse modo, a política cultural precisa se voltar de modo mais atento, sistemático e comprometido para este campo”, explica Marcos Rocha, membro da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e um dos organizadores do evento.

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Já no final de dezembro, mês em que se relembra a luta mundial contra a Aids - dia 1º -, o

Ministério da Saúde (MS) anuncia no portal DST-Aids e Hepatites Virais uma nova medida para ser lançada no início de 2014, a distribuição de testes rápidos de HIV por fluido oral. Segundo o MS, a iniciativa visa, mais adiante, dar mais privacidade às pessoas que queiram fazer o exame em casa, isoladas, ou como quiserem, pela distribuição através do Sistema Único de Saúde e pela posterior venda em qualquer farmácia. “As pessoas que, eventualmente, não se sentirem à vontade para ir a um centro de saúde ou a um laboratório, poderão fazer o teste com privacidade, em sua própria casa, no horário e da forma que quiserem”, ressaltou o ministro da da Saúde, Alexandre Padilha em nota publicada no site do MS.

O teste consiste em um kit com uma bula que informa o passo a passo do auto-exame e a quem recorrer dependendo do resultado. O kit foi apresentado como uma alternativa Isso tudo pode substituir um laboratório e profissionais responsáveis pelo teste comum, e o acompanhamento à pessoa, dependendo do diagnóstico, deve ser de iniciativa individual. Para o ministro, “a sua grande vantagem é a segurança e a confiabilidade, além de não necessitar de infraestrutura laboratorial”.

Entretanto, no momento inicial, o teste com fluido oral será utilizado por 40 ONGs parceiras do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, que atuam em 21 estados e no Distrito Federal. Terão prioridade para utilização do novo método, durante esta fase, as populações que apresentam maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV (homens que fazem sexo com homens, gays, profissionais do sexo, travestis, transexuais, pessoas que usam drogas, pessoas privadas de liberdade e em situação de rua).

Controvérsias

Ao que indica o Movimento Nacional de Luta Contra Aids, a medida não vai resolver e pode prejudicar a situação da campanha de prevenção e tratamento do vírus da Aids no Brasil. O quadro já é crítico, pois, mesmo que o número de mortes tenha caído em 2012, foram no mínimo 11 mil mortes, contra 18 mil em 2001, segundo relatório da Unaids – agência da ONU de combate à doença. O número de pessoas infectadas tem aumentado, no mesmo período, crescendo de um mínimo de 430 mil pessoas para 530 mil, alta de 23,3%.

Este levantamento ilustra a precariedade da saúde no Brasil no

cuidado com a população que vive com HIV/Aids. É o que leva a uma das principais questões destacadas pelos Fóruns estaduais de ONGs Aids: a transferência da responsabilidade das gestões públicas pelo SUS para as ONGs. Tal iniciativa vai de encontro ao real papel das ONGs, que sempre foi de luta e reivindicação pela melhoria da qualidade no atendimento à pessoa com HIV/Aids no SUS e de representação da mesma no Sistema.

Por Monique Linhares

Nova medida do Ministério da Saúde tende a transferir a responsabilidade do exame para diagnóstico de Aids para ONGs e, posteriormente, para o “consumidor”, desperta dúvidas ainda não esclarecidas e revela a ingerência e falta de diálogo do país na saúde pública, mais uma vez.

FOTOS: LÍVIA SOARES

Fotos da mobilização do Fórum do Movimento Social de Luta Contra a AIDS em dezembro, mês do Dia Mundial

de Luta Contra a AIDS.

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HIVTESTES RÁPIDOSTestagem de HIV/AIDS em ONGs levanta polêmica no movimento social

Jorge Beloqui, militante do Fórum ONGs Aids de São Paulo, entende que o Conselho Nacional de Saúde (CNS) precisa se manifestar sobre o contrato das ONGs pelo governo para testagem, “A ONG pode decidir fazer o que quiser, mas não poderá ser ao mesmo tempo representante de usuários e prestadora de serviços. Se o CNS entender que a ONG é prestadora de serviços, então, procurará sua representação junto a este segmento, e não junto ao de usuários”, pontua.

Os militantes pontuam outro agravante, o momento do diagnóstico. “O teste em ONGs será para fazer triagem (encaminhamento) ou o resultado de fato? Neste último caso quem dará o diagnóstico? Tem que ser um profissional de saúde! O que vai acontecer com as pessoas que ficam dando voltas com o diagnóstico positivo sem ter consulta? No caso de dar falso positivo ou falso negativo, de quem é a responsabilidade? Do prestador de serviços, acho eu”, provoca Beloqui.

E, mais uma vez, o terceiro setor é o que assume problemas graves e históricos que as gestões Municipais, Estaduais e Federal não dão conta, além de, literalmente, terceirizar o serviço público, pela também negligência do poder legislativo e do monitoramento falho do judiciário. A gestão da saúde pública é precária, e, ao invés de contornar o problema, essa nova medida vem para sobrecarregar ainda mais o trabalho de militância e representatividade do movimento social de luta contra a Aids.

A ANAIDS – Articulação Nacional de Luta Contra a AIDS – colegiado que reúne os Fóruns e Articulações de ONG AIDS dos 27 estados brasileiros, redes e demais representantes do Movimento Nacional de Luta Contra a AIDS, que por sua vez representam mais de 500 organizações, vem através desta nota se manifestar sobre a ampliação da estratégia de testagem em ONG promovida atualmente pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde:

Entendemos que o acesso ao exame de HIV é um direito do cidadão e como tal deve ser respeitado e ofertado dentro dos limites éticos e de responsabilidade estabelecidos pelo SUS e pelos conselhos profissionais de classe.

Considerando que o momento da revelação sorológica é de extrema importância para a adesão ao tratamento, bem como para minimizar os possíveis efeitos psicológicos que tal resultado poderá trazer, todo o processo de testagem deve ser efetuado com garantia de acompanhamento profissional de qualidade e, sobretudo, garantia de rápido ingresso no sistema de saúde e de retaguarda para efetivo tratamento/acompanhamento posterior.

Portanto, a atual estratégia do Ministério de Saúde de realização da testagem por ONGs, utilizando profissionais nesta prestação de serviços, configura flagrante desvio de função e precarização das relações de trabalho pois, utiliza mão de obra voluntária ou remunerada abaixo dos pisos das categorias, para um serviço que deve ser

exercido por profissionais habilitados e garantido pelo Estado.

Este entendimento da ANAIDS está alinhado com as deliberações do XVII Encontro Nacional de ONG Aids – ENONG, realizado em Salvador em novembro de 2013, onde se decidiu pela não adesão das ONGs a esta estratégia e pela defesa do SUS integral com valorização profissional e qualidade nos atendimentos:

A1-3 e A2-5: Ofertar e garantir o teste rápido exclusivamente pelos serviços de saúde, garantindo o pré e pós-aconselhamento qualificados (para Gestão Municipal, Distrital, Estadual e Federal), com abordagem sobre gestão de riscos, uso de novas tecnologias e autonomia responsável das pessoas, incluindo os casais sorodiscordantes, para além do modelo impositivo do uso do preservativo, bem como não vender o teste rápido para HIV em farmácias. (grifo nosso)

A5-5: Defender a saúde pública com gestão pública e como direitos de todos. (grifo nosso)

Estamos acompanhando as iniciativas governamentais de atração de organizações para esta prestação de serviços, inclusive a contratação direta sem qualquer tipo de licitação e a qualificação rasa que esta sendo oferecida aos que aderiram a proposta, banalizando a revelação de um resultado que pode influenciar numa mudança de vida radical da pessoa testada.

NOTA DA ANAIDS EM RELAÇÃO A TESTAGEM PARA HIV

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E quando o que é “natural” hoje foi, por um longo período, apenas uma opção e quase sempre a segunda?

É isso que mães e pais questionam ao defender a escolha e a maneira natural de parir os filhos, numa parceria entre o casal, o/a médico/a e a doula, acompanhante de parto. Atualmente, há um movimento de militância pelo que se chama parto natural, que defende o direito de empoderamento da mulher, na posição de decidir sobre o próprio corpo, pela escolha do método do parto, pela denúncia de abusos ou violações durante a gravidez, pela qualidade de assistência à saúde sua e do bebê . Assim, a luta dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, pela prevenção e pela qualidade de atendimento e assistência à gravidez e parto da mulher, é uma questão de

ordem política, como reforça a doula e mãe Cintia Mapurunga, do grupo Gestar & Maternar de João Pessoa/PB: “O parto dialoga com os direitos sexuais e reprodutivos devido a toda mulher ter o direito a uma gestação saudável e um parto seguro, digno e respeitoso. O retrato do atendimento à gestante no Brasil é o da violência obstétrica verbal ou física, onde a mulher não tem sua integridade respeitada. A violência é real e existe tanto na rede pública, quanto na saúde privada ou suplementar”.

A luta é contra a hospitalização e às intervenções cirúrgicas desnecessárias, além dos mitos criados e medos arraigados pela cultura da cesariana. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o parto cesariana no Brasil chega a 80% dos partos na rede particular

de saúde, e a 40% na pública. No entanto, “timidamente, o parto humanizado vem tomando forma no nosso país. E, através da informação, muitas mulheres já têm buscado seus direitos. A questão se aproxima diretamente ao movimento feminista. Tantas participantes deste buscam algo como meu corpo, meu parto, pedindo respeito. Daí, podemos também, enfim, reconhecer que as mulheres não pedem cesárea, elas pedem socorro. Uma mudança urgente no atual paradigma”, sinaliza Cintia. Assim aconteceu com Cristiane Bonfim e Maíra Nunes. Cris teve seu primeiro filho nascido por cesariana e o segundo por parto natural. Maíra, até o fechamento desta entrevista, esperava a hora de seu filho vir ao mundo. Na entrevista a seguir, elas contam suas experiências com nascimento.

1. Como chegou à decisão de optar pelo parto natural?

Cris: O meu primeiro filho, Ícaro, nasceu em 2005 por meio de uma cesárea. A recuperação foi rápida e ele é muito saudável, mas depois do nascimento fiquei um pouco frustrada com o fato de apenas ter assistido à chegada dele. Senti-me espectadora de um dos episódios mais importantes da minha vida. Por isso, decidi que da segunda vez tentaria fazer diferente e buscaria um parto natural humanizado.Maíra: Fui descobrindo as coisas durante a própria gravidez, aprendendo

com os sites de mães e com amigas, na curiosidade. Eu fui pesquisando e tomei a decisão de parto normal/natural (hospitalar). É muito egoísmo da minha parte “tirar” meu filho no momento mais conveniente para mim e quando ainda não estava preparada.

2. Quais as principais dúvidas e medos sobre o parto?

Cris: Na primeira gravidez, aos 28 anos, tinha muito medo da dor. Na segunda, me preparei melhor e não me preocupei muito com isso. Esperei até 41 semanas para que meu filho manifestasse sinais de

que iria nascer naturalmente. Os últimos dias da segunda gravidez foram um pouco tensos, mas durante todo o tempo tentei manter a confiança na minha capacidade de ter um parto normal. Deu certo.Maíra: Atualmente, com 40 semanas de gravidez (9 meses completos!), estou bem ansiosa pois é minha primeira gravidez e não sei o que me aguarda, como serão as dores, essas coisas. Acredito que o medo seja normal, visto que nunca passei por essa situação, mas a presença da doula e da médico, junto com a segurança que elas me passam, me tranquilizam.

MAÍRA NUNESProfessora de filosofia, já teve sua menina, por parto natural, logo depois do fechamento da entrevista.

CRISTIANE BONFIMJornalista, ativista do Parto Natural, teve seu primeiro

filho por cesariana e optou pelo natural com o segundo

FÁBRICAENTREVISTA

PARTO HUMANIZADOCom Maíra Nunes e Cris Bonfim

A decisão de mulheres que conhecem os direitos sobreseu corpo e sua gravidez.

Por Monique Linhares

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

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3. O/A seu/sua médico/a colaborou com sua decisão? Qual foi a posição dele/a?

Cris: Sim, na escolha pelo obstetra que me acompanhou levei em conta o histórico dele. Sabia que ele já havia realizado partos normais em outras mulheres que conheço. Ele respeitou a minha escolha e foi cauteloso em relação a esperarmos além da 41ª semana pelo nascimento do Bernardo. Maíra: Tive que trocar de médico com 32 semanas, pois o médico anterior não me dava abertura para perguntar sobre a postura dele. Estranhei o fato de eu ter um médico e também não me sentir à vontade para fazer as perguntas que eu quisesse. Ele não me passava segurança ou humanidade, não sentia o que eu precisava sentir: apoio de gente.

4. Você teve apoio de seu/sua parceiro/a, família e amigos?

Cris: Sim, contei com total apoio da minha família, especialmente do meu companheiro e da minha irmã. Houve também quem dissesse que optar pelo parto normal era “uma ignorância”. Preferi ignorar totalmente esse tipo de opinião e escutar os meus instintos.Maíra: Sim! Meu parceiro começou a entender junto comigo e me dar a maior força. Minha mãe, apesar de não ter tido parto normal (o três dela foram cesarianas), sempre entendeu que o parto normal era o

melhor para o bebê. Os amigos respeitam, mas todos são inseguros, me chamam de “corajosa”.

5. Foi fácil encontrar informações a respeito do parto humanizado?

Cris: Na segunda gravidez, sim. Na primeira, não tive acesso a essas informações e acabei indo pelo caminho que parecia então mais fácil e menos “sofrido”: a cirurgia. Hoje sei que o parto normal é um processo natural, um evento fisiológico pelo qual toda mulher tem capacidade de passar. Acredito que vir ao mundo de forma natural é muito mais saudável e menos traumático para o bebê. A cesárea deveria ser indicada apenas em casos específicos e de forma muito mais criteriosa. No dia do meu parto, nasceram outros 16 bebês no mesmo hospital particular por meio de cesárea.Maíra: A partir do momento que encontrei a fonte principal, sim. Mas a informação não está disponível tão facilmente... Na internet existem sites excelentes e outros que não tem fonte tão confiável. Os livros também não são encontrados facilmente nas livrarias.

6. Cris, qual a diferença de sensações e sentimentos nos dois tipos de parto? Como foi o momento do nascimento nos dois partos?Ter um filho nos braços é uma experiência maravilhosa, independentemente da via de

nascimento. Mas a experiência do parto natural faz com que a conexão entre a mãe e o bebê no momento de dar à luz seja muito mais forte. Os corpos dos dois estão trabalhando juntos em prol do nascimento, como atores principais daquele processo. No meu caso havia uma estrutura hospitalar e profissionais preparados para agirem apenas se fosse necessário. Na cesária, fiquei deitada numa maca aguardando os médicos me operarem e me entregarem meu filho. O amor pelas duas crias é imensurável, mas ter participado ativamente da chegada do segundo filho foi uma experiência que fez com que eu me sentisse mais forte

7. Maíra, quais as expectativas pro nascimento do seu neném?Nesse momento estou muito ansiosa para saber quais os sintomas vou sentir. A questão da dor preocupa, mas não é algo que me dá pânico. Estou confiante de que darei o melhor de mim, estou bem confiante de que a equipe que me acompanha e meu marido me apoiarão! Se acabar sendo cesárea, tudo bem! Espero que ela nasça saudável e quero que de preferencia seja no dia dela, no dia que o trabalho de parto iniciar!

MAIS INFORMAÇÕES:blog Cais do Parto:

caisdoparto.blogspot.comfanpage Gestar & Maternar JP/PB

Em 2014, a Fábrica de Imagens – Ações Educativas em Cidadania e Gênero apresenta mais uma edição

do Curta o Gênero – Mostra Internacional Audiovisual / Seminário / Itinerâncias, agora trazendo o debate em torno da liberdade. Este projeto multilinguagens convida à transformação de mentalidades através do debate e difusão de obras audiovisuais, fotográficas, cênicas e musicais comprometidas com a denúncia das desigualdades de gênero, com a construção ou invenção de outras representações e interpretações simbólicas baseadas na equidade de

gênero e na afirmação da diversidade sexual, ou seja, no exercício pleno da justiça e da liberdade nos campos do gênero e da sexualidade.

Nesse sentido, além da Mostra Internacional Audiovisual, o Curta o Gênero 2014 realiza a terceira edição do III Seminário Internacional Gênero, Cultura e Mudança, que fomentará o debate acadêmico e político em torno das relações entre gênero, sexualidade, liberdade, democracia, arte, fundamentalismos, violações de direitos e feminismos na contemporaneidade. Parte da programação do Seminário, a

novidade este ano é o Simpósio Gênero, Cultura e Mudança, para receber trabalhos acadêmicos que abordam os temas acima. Esse universo temático também inspira mais uma edição da exposição fotográfica Contrastes – gênero, tempos, lugares, olhares, que apresenta o olhar de jovens fotógrafos.

Em toda sua amplitude, o projeto Curta O Gênero assume um compromisso sociopolítico com a construção de uma cultura de liberdade, de solidariedade e de justiça entre homens e mulheres em suas múltiplas possibilidades performáticas.

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EXPEDIENTEEste jornal é uma publicação do projeto Cacto realizado pela ONG Fábrica de Imagens - ações educativas em cidadania e gênero.

Coordenação Geral: Marcos RochaCoordenação Socioeducativa: Christiane Ribeiro Gonçalves, Tel Cândido e Taiane Alves

Design Editorial: Thyago NogueiraJornalista Reponsável: Monique Linhares MTB JP 2630/CEReportagens: Sarah Coelho e Monique LinharesEndereço: Rua Odilon Benévolo, 1133, Maraponga, Fortaleza - CEContatos: (85) 34951887 / [email protected]

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