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INFORME C3 - EDIÇÃO 11

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INFORME C3Edição 11 – Jan/Mar - 2011Onde não bate o sol!!!!Segredo/Curiosidade/Tempo/EspaçoEsconderijos... lugares (in) acessíveis que despertam a curiosidade em diferentes épocas e espaços, onde o corpo é território para diferentes manifestações ou manifesta diferentes possibilidades... Onde não bate o sol é quente ou frio? Onde não bate o sol é iluminado pela lua? A sombra desperta o medo por muitas vezes não se ver o que está sob ela, ou, apresenta um espaço/tempo para se camuflar, esconder e/ou descansar? Quem vive no trânsito entre a luz e a escuridão? Quem guarda segredos em lugares onde não bate o sol que podem contar diferentes versões sobre a mesma história? O escondido, inacessível ou proibido desperta a curiosidade e desejos?

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  • Foto: Anderson de Souza

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    Onde no bate o sol!!!!Segredo/Curiosidade/Tempo/Espao

    Esconderijos... lugares (in) acessveis que despertam a curiosi-dade em diferentes pocas e espaos, onde o corpo territrio para dife-rentes manifestaes ou manifesta diferentes possibilidades... Onde no bate o sol quente ou frio? Onde no bate o sol iluminado pela lua? A sombra desperta o medo por muitas vezes no se ver o que est sob ela, ou, apresenta um espao/tempo para se camuflar, esconder e/ou des-cansar? Quem vive no trnsito entre a luz e a escurido? Quem guarda segredos em lugares onde no bate o sol que podem contar diferentes verses sobre a mesma histria? O escondido, inacessvel ou proibido desperta a curiosidade e desejos?

    04 - Informe C3

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    Informe C3 - 05

    Vai procurar tua turma!Relaes/Parcerias/Afetividade/Dilogo

    Quantos eus habitam em mim? Quantos eus me constituem? Quanto minhas relaes me constituem enquanto sujeito no(s) mundo(s) que reconheo como meu(s) territrio(s) de pertencimento? At que ponto minhas relaes me localizam na(s) dimenses e espaos onde (sobre) vivo? Atravs do dilogo podem-se iniciar parcerias ou podem-se findar relaes. Um dilogo sufocado quando uma nica fala prevalece trans-formando esse dilogo em um monlogo. A afetividade sobrevive ao si-lncio? Ser que essa pergunta faz sentido? Talvez a falta de dilogo para elaborar em um pargrafo essa ideia faa com que Eu me d conta de que Eu preciso do outro para tentar perceber os sentidos da existncia e do fim dela. Eu, tu... Talvez ns com eles! Onde est o outro? Que grupo esse? Onde est minha turma?

    Prxima Edio Colabore/contato: [email protected]

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    Classificao: 18 anos

    O contedo apresentado pelos colaboradores (textos, imagens...) no so de responsabilidade do Processo C3 Grupo de Pesquisa e da Informe C3 Revista Digital. Nem todo opinio expressa neste meio eletrnico ou em possvel vero impressa, expressam a opinio e posicionamento dos organizadores deste veculo.

    06 - Informe C3

    Informe C3 / n. 11, (jan./mar. 2011). Porto Alegre, RS : Processo C3, 2011. On line. Disponvel em: http://www.processoc3.com

    TrimestralISSN: 2177-6954

    1. Cultura. 2. Artes. 3. Corpo. 4. Moda. 5. Pesquisa

    CDD:301.2370.157793.3646

    Capa:Marlon Lima

    Foto:Anderson de Souza

    Produo geral:Wagner Ferraz

    Local:Porto Alegre/RS/Brasil

    Edio e tratamento de imagem:Anderson de Souza

    Direo de Arte:Wagner Ferraz

  • EXPEDIENTE

    Corpo - Cultura - Artes - ModaInformeC3Revista Digital

    Direo Geral e Coordenao Editorial:Wagner Ferraz e Camilo Darsie

    Pesquisa e Organizao:Processo C3 - Wagner Ferraz

    Edio de Moda e ArteAnderson de Souza e Lu Glaeser

    Projeto Grfico e Direo de Arte:Anderson de Souza e Wagner Ferraz

    Edio de Arte e diagramao:Wagner Ferraz

    Arte da Capa:Anderson de Souza

    Colaboradores/colunistas:Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil - www.teatropoa.blogspot.com;

    T. Angel - Frrrk Guys - So Paulo/Brasil- www.frrrkguys.com;Luciane Moreau Coccaro - Porto Alegre/Rio de Janeiro;

    Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil;Anderson de Souza - Porto Alegre/RS/Brasil

    Conselho Editorial:Luciane Moreau Coccaro (UFRJ/RJ); Marta Peres - (UFRJ/RJ); Ander-

    son L. de Souza (SENAC/Moda e Beleza - Processo C3); Wagner Ferraz (Processo C3 e Terps Teatro de Dana); Rodrigo Monteiro - Critica Teatral/

    Porto Alegre/RS; Luciane Glaeser - Pensando em Moda/SP.

    Apoiadores/Espaos para divulgao:Wagner Ferraz

    Contatos:Wagner Ferraz

    [email protected]

    www.processoc3.comwww.processoc3.blogspot.com

    http://processoc3.wordpress.com/http://processoc3.tumblr.com/

    http://processoc3.posterous.comhttp://www.twitter.com/processoc3

    O Processo C3 Grupo de Pesquisa uma ao em parceria com a Terps Teatro de Dana

    Informe C3 Revista DigitalProcesso C3 Grupo de Pesquisa

    Porto Alegre

    Ano 03 - Edio 11Jan/mar - 2011

    Informe C3 - 07

    www.terpsi.com.br

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    NDICE

    08 - Informe C3

    - Apresentao pg. 13Apresentando: Onde no bate o solWagner Ferraz

    - Ensaio 01 pg. 18As performances do perigoso breves e apressados apontamentosAndr Masseno

    - Ensaio 02 - pg. 24Uma reflexo sobre: Fragmentos do Desejo Luciane Coccaro

    - X[X]Y - pg. 30T.Angel

    Fotos:Thiago Marzano

    - Ensaio 03 - pg. 40Um lugar ao solVirgnia Las de Souza

    - Espao Livre 02 pg. 42Onde no Bate SolFotos: Anderson de Souza / Modelo: Marlon Lima

    - Ensaio 04 pg. 60Microrratos corroem por dentro Marta Peres

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    Informe C3 - 09

    - Espao livre 03 pg. 62Old School

    Aline Torchia Predebon/Fotos: Nati Canto

    - Espao Livre 04 pg. 68Roupaginada

    Anderson de Souza

    - Crtica Teatral pg. 66 O animal agonizante

    Rodrigo Monteiro

    - Espao Livre 05 pg. 80Prolas aos Porcos

    Filipe Espindola e Sara Panamby

    - Ensaio 5 pg. 94Jovens surdos e negociao cultural na dinmica das cidades contemporneas

    Camilo Darsie de Souza e Sabrine de Jesus Ferraz

    - Espao Livre 05 pg. 100um outro que no eu mesmo

    Priscilla Davanzo

    - Ensaio 06 pg. 104Vestgios de um bar (re)vestido

    Anderson de Souza

  • Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 11

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    Agradecimentos desta edio

    Terps Teatro de DanaPorto Alegre/RS/Brasil

    www.terpsiteatrodedanca.blogspot.com

    Thiago Soares - Frrrk GuysSo Paulo/Brasil

    www.frrrkguys.com

    Thiago MarzanoSo Paulo/Brasil

    Rodrigo MonteiroPorto Alegre/RS/Brasil

    www.teatropoa.blogspot.com

    Marta PeresRio de Janeiro/Brasil

    Luciane Moreau CoccaroRio de Janeiro/RJ/Brasil

    Luciane GlaeserPensando em Moda

    So Paulo/SP

    Virgnia Las de SouzaSo Paulo/Brasil

    Aline Torchia PredebonSo Paulo/Brasil

    Nati CantoSo Paulo/Brasil

    Filipe Espindola e Sara PanambyCampinas/SP/Brasil

    Sabrine de Jesus FerrazCanoas/RS/Brasil

    Priscilla DavanzoSo Paulo/Brasil

    SENAC Canoas - Moda e BelezaCanoas/RS/Brasil

    Jornal Dirio de CanoasCanoas/RS/Brasil

    Agradecemos tambm a todos que de forma diretaou indireta colaboraram com o Processo C3 Grupo

    e com o Informe C3.

    AGRADECIMENTOS

    12 - Informe C3

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    Apresentando: Onde no bate o sol

    APRESENTAO

    Informe C3 - 13

    Onde ser que no bate o sol? Ouvi muito essa pergunta por parte de diferentes pessoas aps lanar o ideia, para que diferen-tes interessados escrevessem para a Edio 11 da Informe C3.

    Esclareo que o ttulo - onde no bate sol surgiu no ano de 2010 em conver-sas no cotidiano e na rotina de meu antigo em-prego na Coordenao de Cultura na Universi-dade Luterana do Brasil. s vezes quando no encontrava algo na sala onde eu trabalhava, costumava perguntar se algum sabia o para-deiro do objeto procurado. Ento ouvia sempre de minha ex-colega de trabalho e amiga, Ca-mila Dall Agnese: Tu deve ter enfiado l onde no bate o sol!.

    Achava muito engraado e ficava pensando nos possveis lugares onde no bate o sol. A partir disso tentei traar desdo-bramentos que possibilitassem que diferentes pessoas de diferentes reas pudessem falar deste assunto a partir do ttulo da edio, de quatro palavras (talvez chaves) e da breve si-nopse que aqui apresento.

    Onde no bate o sol!!!!Segredo/Curiosidade/Tempo/Es-pao - Esconderijos... lugares (in) acessveis que despertam a curio-sidade em diferentes pocas e es-paos, onde o corpo territrio para diferentes manifestaes ou ma-nifesta diferentes possibilidades... Onde no bate o sol quente ou frio? Onde no bate o sol ilumina-do pela lua? A sombra desperta o medo por muitas vezes no se ver o que est sob ela, ou, apresenta um espao/tempo para se camuflar, esconder e/ou descansar? Quem vive no trnsito entre a luz e a es-curido? Quem guarda segredos em lugares onde no bate o sol que podem contar diferentes verses so-bre a mesma histria? O escondido, inacessvel ou proibido desperta a curiosidade e desejos?

    Pensei que diferentes perguntas pudessem auxiliar. No sei dizer ao certo que auxiliaram, mas isso pode ser acessado nas pginas des-ta edio e cada um poder tirar suas prprias concluses.

    Wagner Ferraz*

    O projeto desta edio esteve es-condido, inacessvel e guardado durante me-ses, meses estes em que adiei a finalizao desta edio por muitos motivos. Mas sempre me lembrava da amiga Camila quando as pes-soas perguntavam quando essa edio ficaria pronta. Imaginava-me respondendo: Est edi-o da revista est l onde bate o sol!

    Fiz um grande esfora para finaliz-la, pois cada edio um parto, cada edio dolorida, cansativa, difcil, cheia de desco-bertas, grandes parcerias, de grandes colabo-radores, de muito interessados a responder as questes aqui lanadas e dividir isso com outras pessoas. esse envolvimento e parti-cipao de todos os interessados que faz com este trabalho continue.

    Como o bailarino e amigo Marlon Lima que posou para a foto da capa e para o ensaio em outras pginas da revista. No ensaio 2 encontramos o texto da antroploga Luciane Coccaro que faz uma reflexo sobre um espetculo de dana. Em seguida nosso fiel colaborador T. Angel divide suas fotos to instigantes que podem ser interessantes para quem pesquisa sobre gnero e sexualidade, e para quem no pesquisa tambm. Virgnia Las de Souza colabora pela primeira vez com um ensaio que aponta para algumas das ditas deficincias permitindo pensar sobre o lugar onde estes se encontram. Seria um lugar onde bate o sol? Logo aps nossa colaboradora de longa data Marta Peres escreve, Microrratos corroem por dentro, ela nos conduz por um espao sub e nos faz chegar a um tema que grande partes das vezes costura todos os tra-balhos apresentados nesta revista o corpo. Aline Torchia Predebon apresenta um ensaio fotogrfico resultante do seu trabalho de con-cluso de curso de graduao que pode servir de orientao para outros que se encontram fazendo trabalhos de finalizao de curso na mesma rea moda. A crtica teatral de Rodri-go Monteira traz O animal agonizante. Rou-paginada o resultado de um trabalho de Anderson de Souza que mistura arte e moda apontando para um assunto to atual rea-proveitamento de materiais e sustentabilidade. Colaborando pela primeira vez encontramos um pouco sobre o trabalho dos performers Filipe Espindola e Sara Panamby causando estranhamento para alguns e despertando a admirao de tantos. Tambm pela primeira

    vez encontramos nesta edio Camilo Darsie de Souza e Sabrine de Jesus Ferraz Faller com o artigo Jovens surdos e negociao cultural na dinmica das cidades contemporneas aproveito para avisar que Camilo tambm est assumindo a funo de editor, junto comigo, nesta revista. Algumas fotos sobre o projeto um outro que no eu mesmo contemplado por edital de SP, que nos foi enviado pela ami-ga Priscilla Davanzo. E finalizando esta edio, tornando mais visvel o que esteve coberto por alguns dias, Anderson de Souza apresenta Vestgios de um bar (re)vestido.

    Pela primeira vez, aps 11 edies, no escrevo um ensaio, mas me sinto muito presente podendo apresentar todos que aqui se fazem presentes de alguma forma.

    E para quem teve a oportunidade de ler esta apresentao sugiro que passe a observar na sua vida em que momentos ou circunstncias o sol no est presente, o que fica escondido, o que fica em segredo e o que revelado.

    * Wagner Ferraz: Coordenador do Proces-so C3 - Corpo/Cultura/Artes/Moda; Editor da Informe C3 Revista Digital; Especialista em Gesto Cultural e Cursa Ps-Gradua-o em Educao Especial; Graduado em Dana; Elabora e Gerencia Projetos Cultu-rais; Coordenador de Projetos e Pesquisa da Terps Teatro de Dana. Endereo para acessar CV completo: http://lattes.cnpq.br/7662816443281769

  • Foto: Anderson de SouzaFoto: Anderson de Souza

  • 16 - Informe C3

    Onde no bate o sol!!!!Segredo/Curiosidade/Tempo/Espao

    Esconderijos... lugares (in) acess-veis que despertam a curiosida-de em diferentes pocas e espaos, onde o corpo territrio para diferentes manifestaes ou mani-festa diferentes possibilidades... Onde no bate o sol quente ou frio? Onde no bate o sol iluminado pela lua? A som-bra desperta o medo por muitas vezes no se ver o que est sob ela, ou, apresenta

    um espao/tempo para se camu-flar, esconder e/ou descansar? Quem vive no trnsito entre a luz e a escurido? Quem guar-

    da segredos em lugares onde no

  • Informe C3 - 17

    bate o sol que podem contar diferentes verses sobre a mesma histria? O es-condido, inacessvel ou proibido desperta a curiosidade e desejos? Esconderijos... lugares (in) acessveis que despertam a curiosidade em diferentes pocas e espaos, onde o corpo ter-ritrio para diferentes manifestaes ou manifesta diferentes possibilidades... Onde no bate o sol quente ou frio? Onde no bate o sol iluminado pela lua? A som-bra desperta o medo por muitas vezes no se ver o que est sob ela, ou, apresenta

    um espao/tempo para se camu-

    Onde no bate o sol!!!!Segredo/Curiosidade/Tempo/Espao

    Esconderijos... lugares (in) acess-veis que despertam a curiosida-de em diferentes pocas e espaos, onde o corpo territrio para diferentes manifestaes ou mani-festa diferentes possibilidades... Onde no bate o sol quente ou frio? Onde no bate o sol iluminado pela lua? A som-bra desperta o medo por muitas vezes no se ver o que est sob ela, ou, apresenta

    um espao/tempo para se camu-flar, esconder e/ou descansar? Quem vive no trnsito entre a luz e a escurido? Quem guar-

    da segredos em lugares onde no

  • Corpo - Cultura - Artes - ModaInformeC3Revista Digital

    18 - Informe C3

    Falar de esconderijos, revelar segre-dos, tornar transparente e direto o que parece turvo e obtuso: estas parecem ser as palavras de ordem do dia. Nesta sociedade de vidro na qual atualmente vivemos, onde exigido um discurso de si cristalino, ou se preferirmos, sincero, o sujeito que renncia reproduo compulsria da confisso pode ser considera-do, por certas instncias sociais normativas, extremamente perigoso e ameaador, pois a esquiva do escrutnio de si na esfera pblica obstrui a possibilidade de ser socialmente rotulado pelos seus desejos, pensamentos e sexualidade. E quando esta renncia parte de um sujeito pblico como o artista, a situao torna-se um pouco complicada. H um desejo incontrolvel de estender um fio narrativo e co-erente entre o sujeito-artista e sua obra, assim como entre a figura pblica deste sujeito e o seu comportamento na vida privada, como se nada pudesse passar inclume ao olhar alheio, como se no fosse possvel o resguardo, a dis-simulao ou a ficcionalizao da intimidade.

    Estas linhas um tanto apressadas so para dar um breve panorama de dois anos de pesquisa sobre performance, discurso e se-xualidade em mbitos acadmicos, mais preci-samente no Mestrado em Literatura Brasileira da Universidade do Rio de Janeiro. Desde ento, venho discutindo a ideia do que chamo de performances do perigoso, uma estratgia equacionada entre a figura pblica do artista construda por declaraes, fotos e entrevis-tas do mesmo e a sua obra. Um dos pontos desta noo de perigoso est no desmante-lamento do registro enunciativo da confisso, quando o artista o substitui pela encenao de uma intimidade e da ficcionalizao de si diante do olhar do observador. A performance do perigoso depende tanto dos contextos his-tricos, culturais e sociais nos quais se insere o artista, quanto da sua relao com o olhar desta entidade to incerta chamada pblico.

    Deste modo, se a performance do perigoso sempre transitria e flutuante, j que o perigoso de ontem pode no ser o mes-mo de hoje, assim como o perigoso para certa plateia no necessariamente seja para outra, foi preciso delimitar os artistas, e seus respec-tivos contextos, sobre os quais se debruaria esta hiptese. Optei, portanto, pelo estudo daqueles que, emprica ou artisticamente, dia-logaram com os anos iniciais do aparecimen-to e enunciao do HIV/AIDS, situados entre

    As performances do perigosobreves e apressados apontamentos

    Andr Masseno*

    as dcadas de 1980 e 1990. Artistas como o cantor Cazuza e o artista visual Leonilson, por exemplo, chamaram a minha ateno, mais precisamente no modo que tornaram visvel a tenso, naquele momento, entre a condio do artista soropositivo e a curiosidade pbli-ca. Cazuza, por exemplo, recorreu ao campo miditico para problematizar a maneira com que o espao pblico lidava e convivia com a imagem da epidemia e a de seus portadores, ao estampar o seu rosto na edio da revis-ta Veja de abril de 1989, embora sob o pre-conceituoso ttulo de Cazuza: uma vtima da AIDS agoniza em praa pblica. J Leonilson escolheu encenar, em seus bordados, pinturas e desenhos, uma intimidade perigosa e des-locada pelo gesto de no revelar tudo sobre si, ou seja, toda a periculosidade buscada pelo observador. Embora de modos diversos, am-bos transformaram o gesto confessional (ex-presso enquanto sinnimo de manifestao de uma interioridade trazida superfcie) em performance corporal e discursiva, produzindo poses diante do olhar e do desejo alheios.

    Neste perodo inicial de pavor e pa-ranoia em relao ao HIV/AIDS, quando os sujeitos infectados eram fortemente estigma-tizados, posso dizer que Cazuza e Leonilson pertenceram leva de tantos outros artistas que produziram a performance do (soroposi-tivamente) perigoso, colocando em jogo a ten-so entre a enunciao e a no-enunciao da soropositividade nas esferas pblica, artstica e/ou privada. Quando enunciada, seja em de-claraes pblicas ou em prticas artsticas, a sndrome podia se apresentar de duas manei-ras: a primeira, pela sua enunciao explcita, embora isso no significasse que o artista es-tivesse dizendo a mais pura verdade sobre a sua experincia de conviver com a doena; a segunda, sob o disfarce da abordagem desli-zante sobre o vrus, tal qual empreendida por Leonilson na obra intitulada O perigoso (1992), constituda por uma pequena mancha escure-cida sobre uma folha branca de papel. Esta mancha, na realidade, uma gota de sangue ressecada do artista. Aqui, a sndrome en-trevista pela apropriao de Leonilson da ima-gem do sangue e seus emblemas: o sangue perigoso, o sangue como arma letal, o sangue como dispndio, o sangue como uma memria pulsante.

    As posturas artsticas de Leonilson so curiosas e instigantes pois, embora ele

    fornecesse entrevistas que reforavam a sua condio soropositiva, as suas obras no re-tratavam o seu fsico debilitado, perturbando, assim, o olho do espectador que porventura buscasse encontrar a representao do corpo aidtico como pode ser notado no seu apa-rente autorretrato intitulado El Puerto (1992). Composto por uma pequena moldura verme-lha coberta por uma cortina feita de um teci-do listrado tpico das camas hospitalares, El Puerto no revela o rosto de Leonilson atrs da cortina, mas sim um espelho que reflete a imagem do prprio espectador. A nica refe-rncia que temos do artista so alguns dados biogrficos bordados na cortina, e que do conta respectivamente de seu apelido, idade, peso, altura e nome da obra Leo, 35, 60, 179, El Puerto.

    No h possibilidade de especula-o do observador a respeito da imagem de Leonilson, que ali no se encontra o autor-retrato do artista uma diferena ausente de representao, mas paradoxalmente presente no imaginrio do observador ao se deparar com as inscries bordadas na cortina. Por um lado, a definio de autorretrato como um des-locamento do eu atravs da experimentao da/na linguagem (cf. MIRANDA, 1992, p. 36) parece condizente com a obra do artista, que nada esconde ou revela a seu respeito, sen-do, portanto, um gesto que transgride e trai o carter utilitrio e exemplar da retrica da con-fisso. Por outro lado, a ideia do autorretrato como uma figurao de si definitiva e lapidar, um resumo daquilo que seria a essncia d[a] vida [do retratado] e uma fotografia final an-tes da hora (idem, ibidem) no condizem com o gesto de Leonilson, que justamente se es-quiva desta pose de si definitiva, ausentando o seu rosto da obra, deixando os bordados na cortina como rastros frgeis de seu nome e corpo.

    Leonilson renuncia representao de sua face como a cara da AIDS ao subs-titu-la pelo espelho que, entretanto, ainda tem a superfcie coberta pela cortina. Pode-se pensar tambm que a cortina um gesto de autoproteo do artista para no ver a si mes-mo refletido no espelho, j que pavoroso ver no s o prprio corpo debilitado em um curto espao de tempo, mas tambm a paranoia e a discriminao alheias pesando sobre a enfer-midade. Para Marcelo Secron Bessa, olhar-se no espelho, portanto, no significa ver sua

    ENSAIO 01

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    Informe C3 - 19

    Foto: Wagner Ferraz

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    20 - Informe C3

    prpria imagem, mas ver a imagem de um ai-dtico e aquilo que essa imagem representa (BESSA, 1997, p. 109 grifos do autor) e justamente por no querer contribuir com as conotaes pejorativas dadas imagem dos corpos com HIV/AIDS que Leonilson, a meu ver, deixa cair o pano sobre o espelho e retira, por fim, o seu rosto de cena.

    Sendo assim, aproprio-me da rela-o do artista com a sua imagem no espelho para refletir acerca de El Puerto, porm sob um duplo deslocamento: ao invs de compartilhar o pensamento de Bessa acerca do espelho, ressalto aqui a importncia do papel da cortina na composio da obra, separando o espelho do ambiente externo. Ao invs de concluir a anlise da obra no que tange imagem do artista, estendo-me importncia do papel do observador, que deseja levantar a cortina que separa o espao pblico e a imagem do artista na intimidade, que se espera representada por detrs daquele pano. De fato, a representao ansiada a do rosto do artista enfermo e sem anteparos. Quando levanta o pano, o observa-dor est movido por uma curiosidade: a de ver a doena estampada no rosto de Leonilson, isto , a de ver uma imagem-espelho do artista doente, refletindo sem mediaes o seu rosto aidtico. H um movimento mais intenso em relao ao espelho aps o levantar da cortina, que no somente o de fazer o espectador se deparar com o seu prprio rosto, mas tambm com os desejos e as expectativas que o move-ram em direo obra para ver a imagem do artista com AIDS. O foco passa ser o espec-tador e seu posicionamento diante da dor do outro. Logo, o que seria o gesto de levantar a cortina? Seria um gesto que reiteraria a produ-o das representaes estereotipadas acer-ca do sujeito soropositivo/aidtico? Este gesto seria proveniente de um observador tambm influenciado por tais estereotipias? Estas questes me parecem relevantes para se pen-sar os movimentos tanto de reiterao quan-to de resistncia produo de esteretipos sobre o sujeito com HIV/AIDS, seja pela arte, seja pelo pblico. Por enquanto, talvez o mais importante a ser frisado aqui que levantar ou no levantar a cortina trata-se de uma escolha do observador. O gesto do espectador, assim como o do artista, tambm , e sempre ser, um posicionamento tico.

    Enquanto a epidemia do HIV/AIDS, de acordo com a anlise sobre o vrus feita por Susan Sontag em AIDS e suas metforas (2007), acarreta a retomada do discurso bi-nrio heterossexualidade/homossexualidade, sexo seguro/sexo de risco, figura/fundo (cf. SONTAG, 2007, p. 138), acredito que a perfor-mance do artista (soropositivamente) perigo-so, como a de Leonilson atravs de sua obra, desmantela as performatividades de gnero calcadas no heterossexismo e na homofobia, sendo um modo de resistir e confrontar as performatividades de gnero hegemnicas e geralmente reguladoras, coercitivas e nada condescendentes com demais manifestaes de gnero e de sexualidade que fraturam o seu jogo de binarismo. Corpo perigoso por re-sistir confisso ao optar por uma performan-ce repleta de lacunas e (re)encenaes de si, borrando a legibilidade esperada entre a vida

    Foto: Wagner Ferraz

    Foto: Wagner Ferraz

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    Informe C3 - 21

    emprica do artista e a sua produo de arte. Como o prprio Leonilson declarara, todo o mundo traidor, todo o mundo mentiroso, hi-pcrita, todo o mundo vil (LAGNADO, 1998, p. 124). Ao afirmar que o artista no escapa deste todo o mundo generalizante e categ-rico, Leonilson retoca discursivamente a pos-sibilidade de uma imagem fidedigna e lmpida de si em suas obras, configurando-as como poses malfadadas e mentirosas de um eu que no est isento da vilania e da hipocrisia, mas que no coaduna com representaes estig-matizantes, heteronormativas e (homo)fbicas de sua (homos)sexualidade e de seu corpo soropositivo.

    A associao entre soropositividade e morte, que era recorrente nos anos iniciais de descoberta do vrus e da sndrome, aciona-va em Leonilson uma imagem de si em retros-pecto, parecendo um certo desejo de construir uma histria de si, embaralhada e contradit-ria, para o outro. Se houve a pretenso velada de uma narrativa genealgica e transparente de si, esta foi recuada pela performance de um corpo que, devido transitoriedade do gesto, se esquivava de qualquer afirmao categ-rica e unvoca de si. A verdade discursiva do artista soropositivo o advento de uma fala franca, crua e cristalina daquele que recebeu tanto o estigma da morte quanto o de ser de-tentor de uma amoralidade que precisava ser publicamente confessada era fraturada pelo retoque constante de sua imagem, fazendo da imagem de si como um instante especfico e mutvel, uma escolha entre vrias possibilida-des de se dar a ver.

    A performance do artista perigo-so em Leonilson mostra-se como um gesto transitrio e malevel, podendo ou no ser reencenado, editado, repetido (em diferena), reorganizado. Alm disso, no calcada na revelao do ntimo, mas sim na apropriao e reutilizao problematizada, por parte do artis-ta, dos signos e enunciaes conferidos pelos discursos reguladores ao seu corpo, s suas sexualidade e subjetividade.

    Nesta exposio ao olhar alheio atravs da performance do (soropositivamen-te) perigoso, ressalto que arriscado afirmar-mos que os artistas que lidaram com o tema do HIV/AIDS estivessem tirando a sua soropo-sitividade totalmente do armrio. Nem todos os artistas que empreenderam tal performance estavam interessados na revelao totalizan-te de si tanto no campo miditico quanto na produo artstica, mas sim na encenao de uma confisso na qual a expectativa pblica de ter uma declarao sincera e verdadeira daqueles fosse frustrada pelas omisses de fatos biogrficos, pelos acrscimos de passa-gens ficcionalizadas e, em certos momentos, silenciosas.

    Acompanhar durante tanto tempo as obras e os percursos de vida dos j citados Cazuza e Leonilson, assim como dos autores Caio Fernando Abreu, Jean-Claude Bernardet, Herv Guibert e a escrita ficcional de Silviano Santiago sobre o tema mais precisamente a sua novela Uma histria de famlia (1992) , remontar seus pensamentos, ler as suas obras

    *Andr Masseno: Coregrafo, performer, bailarino e diretor teatral. Mestre e ps-gra-duado em Literatura Brasileira pela UERJ e graduado em Artes Cnicas pela UNI-RIO. Foi colaborador de diversos artistas nas reas de live art, fotografia, teatro e dana contemporneos, tais como Robert Pacitti (Reino Unido), Manuel Vason (Itlia/Reino Unido), Dani Lima (RJ), Fernando Renjifo (Espanha), Mario Grisolli (RJ), Helena Viei-ra (RJ), Grupo Gestus (SP), Claudia Mller (RJ), Grupo Hibridus (MG) e Vvian Cfa-ro. Desde 1999 vem desenvolvendo a sua pesquisa artstica, culminando nas obras ana/grama (1999), Explicit Lyrics (2002), Baleia (2004), Im not here ou A Morte do Cisne (2004) e Outdoor corpo machine (2008), apresentadas em vrios estados brasileiros e no exterior.

    e analisar o contexto nas quais foram criadas, inevitavelmente suscitou-me uma questo com a qual finalizo, deixando-a suspensa no ar: em quais corpos, ficcionais ou empricos, poderia ser entrevista a performance do perigoso nos dias de hoje?

    Referncias Bibliogrficas:

    BESSA, Marcelo Secron. Histrias positivas: a literatura (des)construindo a AIDS. Rio de Ja-neiro: Record, 1997.

    LAGNADO, Lisette. Leonilson: so tantas as verdades. So Paulo: DBA Artes Grficas; Companhia Melhoramentos de So Paulo, 1998.

    MIRANDA, Wander Melo. Corpos escritos. So Paulo: Edusp; Belo Horizonte: UFMG, 1992.

    SONTAG, Susan. A doena e suas metforas; AIDS e suas metforas. Trad. Rubens Figuei-redo e Paulo Henriques Britto. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

    Foto: Wagner Ferraz

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    Foto: Wagner Ferraz

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    O que temos necessidade de es-conder ou inconscientemente fica escondido em ns? Que significados adquirem, em cada contexto, estas nossas zonas proibidas de ns mesmos? O que sabemos destes locais? Poderamos falar de locais ntimos em ns? Existem territrios desconhecidos de nossa existncia? Que valor d a nossa cultura ao mistrio e ao segredo? O corpo vira mesmo um local onde os significados esto ali pra ser desvendados? E se? Quem pode traduzir tais sentidos? Temos instrumental e ferramentas para tal feito? Valorizamos os nossos no di-tos? Qual parte de ns mesmos trazemos luz e quando?

    Nesta semana assisti ao espetculo Fragmentos do desejo da Cia Dos a Deux, bri-lhante e impactante trabalho cnico-coreogr-fico, definido pelos autores como teatro gestu-al. Trata-se de um espetculo absolutamente sem texto falado e sem legenda de apoio, cria-do primorosamente por dois daqueles talentos brasileiros radicados em Paris - um caso meio tpico da vida de muitos artistas em nosso pas que acontecem longe de casa: Andr Curti e Artur Ribeiro, com excelncia cnica propem mexer numa questo delicada e, de forma su-til, nos brindam com um espetculo arrepiante e de muito bom gosto. Um refinamento extre-mo e cuidado com cada detalhe parece ser a marca registrada da dupla, que conta para este grande feito com uma atriz divina e outros dois atores no menos brilhantes.

    A questo tema do espetculo vem a calhar com o assunto deste texto, ou seja, como lidamos com fatos vividos e que, talvez por serem to da ordem do escondido e do tabu, preferimos deixar no mbito daquele rol de coisas no ditas e at mesmo impronunci-veis.

    A vejo a arte como potncia de sim-bolizar, de elaborar mesmo nossos segredos to entranhados e doloridos de uma maneira que ao ser revelado ao pblico, torna-se capaz de emocionar e se impor a nossa catica e pa-dronizada viso de mundo e de ns mesmos. A arte, assim vista como uma possibilidade de tornar visveis elementos da cultura. Aconteci-mentos passados e marcantes em nossa vida social e familiar com os quais talvez no gos-taramos de ter contato, de enxergar, de deixar a mostra, de expor. Seria mais cmodo social-mente deix-los na sombra.

    Uma reflexo sobre Fragmentos do Desejo

    Luciane CoccaroAntroploga, bailarina-atriz

    ENSAIO 02

    Mas a Cia Dos a Deux bancou neste espetculo a idia de no encobrir mais a situ-ao do incesto e do abuso sexual na infncia, e ainda, cria uma narrativa cnica que conta um desenrolar possvel deste evento traum-tico, como algo decisivo na vida de um sujei-to. O desdobramento desta narrativa explicita como algum ao viver tal abuso no passado significa e consegue criar um sentido pra sua sexualidade na fase adulta, cheia de conflitos, como me parece tudo que envolve afinal qual-quer sexualidade.

    O impactante a forma como o tema abordado, o tom desta violncia est resolvida e contada no corpo dos atores, claro que no faltam elementos e signos pra rechear e nos propiciar uma dimenso extrema de bru-talidade, mas sem estar presente de fato como um ato bruto. A esperteza e a riqueza da dra-maturgia do corpo sugerem de forma inegvel o feito, mas sem dramatizar, sem despencar pra um drama corriqueiro e banal, no h banalizao assim como no h concesso. Apenas como algo que est presente e bem visvel. Numa sutileza que acaba virando uma porrada, ganhando assim, ao meu ver, ainda mais fora cnica de verdade vivida mesmo, na carne, o que gera ainda mais perplexidade na platia.

    De incio uma atmosfera de tenso entre os dois atores no papel de um pai e de um filho deixa claro que h um mistrio per-turbador entre eles. Nos corpos e nas atitudes conseguimos perceber o conflito. A ambincia, por vezes at soturna do incio da encenao gera uma expectativa e uma curiosidade pra descobrir o que aconteceu entre eles. Num simples jogo de xadrez entre os atores est posta a tenso, a raiva, a oposio. O jogo como metfora da ligao de disputa que nos d pistas de estar servindo pra encobrir algo. O pai representando a autoridade, o filho dei-xando escapar seu medo.

    Somos enquanto pblico convidados a olhar. No temos como fugir. O espetculo simplesmente nos embriaga e embarcamos nesta situao limite. A passagem do tempo na vida do ator em cena pontua e expe sua luta interna pra vencer uma situao: to passa-do e to presente nele. Da d pra pensar em como representamos nosso passado. Como criamos estratgias para seguir vivendo ape-sar de. Como em toda a nossa complexidade

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    Foto: Xavier Cantat

    achamos as brechas, porque afinal estamos a, o passado est no nosso presente carni-ficado - e tambm constitui e pode transformar nosso futuro.

    O espetculo trata tambm dos es-tigmas, das marcas emblemticas em ns. Falando com o corpo de como somos lidos em sociedade, de como ficamos vulnerveis classificao dos outros. De como fica difcil se desenredar dos nossos passados. No sei se os atores iriam gostar de eu falar da presena de uma espcie de esttica gay, escrevo sem ter uma idia de rotular e estigmatizar, mas est l. Em minha opinio dando inveja no Al-modovar.

    No espetculo, alis, nada gratui-to. Tudo est muito bem colocado e com uma fora cnica estrondosa. Talvez seja o ponto crucial da conseqncia do abuso na infn-cia, me parece, e a estou tateando, mas fica como uma hiptese de interpretao da cena, ok? Percebo uma idia de abolir de qualquer culpa, seja ela crist, seja por caretice social, como subtexto mesmo do espetculo, apare-ce uma noo de absolvio social da figura do Travesti, do Transformista, do Drag Queen. (No sei se de fato os atores diretores querem rotular a personagem em questo).

    Foi esta a escolha, talvez esta a sa-da que o ator-filho deu pra si mesmo. Escon-

    dido do pai ele se constri criando para si uma identidade distinta. Ele se monta, se maquia, sobe no salto. E, ao se vestir de mulher, assu-me uma postura outra, uma identidade outra, e uma profisso como cantora em uma casa de espetculos noturna.

    As definies, dentro da complexi-dade do tema, so pistas pra entender e no imposies minhas. Porque no fundo temos sede de explicaes, queremos racionalizar, no nos contentamos muitas vezes em nos deixar contaminar por um espetculo, que-remos sempre enquadrar at pra termos um pouco mais de autonomia e gerncia sobre nossas prprias emoes.

    No importa o rtulo, a denomina-o. O jogo que o pblico chamado a com-partilhar sensaes e acompanha a trajetria do ator. A metfora potica da metamorfose: a transformao numa linda borboleta, capaz de transmutar uma energia de sofrimento em leveza e arte expressas no corpo e na voz do ator.

    Alis, fiquei encantada com a corpo-reidade do ator nesta sua transformao, que delicadeza, que beleza ele encarna num cor-po de mulher, uma presena absolutamente feminina sem ser nada caricata, de fato neste momento do espetculo estamos num am-biente completamente feminino, aquecido, cor

    de rosa, a cena tem um perfume no ar, mas nunca perdendo a delicadeza em tratar de um tema s vezes tratado de forma grosseira e forado pelo cinema e pelo teatro.

    Outra metfora tambm presente a do sair do armrio, um signo fortssimo e emblemtico da opo sexual outra sendo assumida. Falando por si s, estas metforas nos levam a pensar. Pra mim fica forte o tom de crtica social ao ambiente familiar muitas vezes opressor e hipcrita. Esta hipocrisia de nossa cultura frente ao Incesto e os abusos infantis, mas tambm os preconceitos ao di-ferente, talvez nossa inveja a um ser huma-no que escolhe viver, expressar e decidir ser quem ele quer ser.

    Este filho-mulher vivendo sua opo sexual, volta pra casa pra visitar o pai j velho. Ainda e sempre percebemos a autoridade do pai sobre o filho, estes no ditos do passado entre eles. O filho se traveste de homem frente o pai, amputa seus desejos de ser outra coisa. Tem um peso nestes encontros, tem segre-dos. E, penso eu, quantos de ns na nossa sociedade homofbica e estigmatizante vivem de alguma maneira esta amputao dos nos-sos desejos.

    A arte vira de fato em Fragmentos do Desejo o local onde transmutamos junto com os atores estas imposies sociais. Lugar de

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    Foto: Xavier Cantat

    elaborar e vivenciar na pele do outro, algo no permitido, condenvel na vida real. Um gos-tinho amargo ficou em mim ps-espetculo frente a nossa cultura ocidental, em pleno s-culo XXI, to ainda careta. Mas por outro lado a sensao de redeno, pois o espetculo foi capaz de ampliar, de dilatar duas questes ainda meio Tabus: o incesto e o gnero.

    A encenao se passa fora do tem-po, pois fala de algo que est e esteve sempre por a, velado, escondido, colocado debaixo do tapete. uma narrativa universal e atemporal, pois no se refere a um tempo especfico das nossas sociedades. Mas algo mais universal e atemporal mesmo.

    Na viso antropolgica de Lvi-Strauss (1981)(1) ele sustenta no haver nada de instintivo no horror ao incesto. Segundo ele no haveria razo para proibir o que sem proi-bio, no haveria risco de acontecer. Dito de outro modo: podemos pensar que no nasce-mos com um chip instintivo que nos proibiria de ter relao sexual com nossos consang-neos, nossos pais por exemplo.

    Para o autor o Tabu do incesto algo universal e presente em todas as sociedades, ainda que com particularidades a respeito da regra. Em algumas sociedades, por exemplo, podem ser aceitveis as relaes sexuais en-tre primos, no Brasil no incomum casamen-tos entre primos em primeiro grau.

    O Tabu, enquanto proibio e re-

    gra social, funda a sociedade fazen-do nossa passagem da natureza para a cultu-ra e nos diferenciando dos animais. Para L-vi-Strauss esta proibio de manter relaes sexuais com nossos parentes de sangue, nos limita e ao mesmo tempo abre um leque das possibilidades de mantermos relaes sexuais com todos os outros que no so consang-neos, o que para ele gera a vida em sociedade e os laos por afinidade.

    Aprendemos as regras sociais no convvio social, determinado por nossa cultu-ra e seus valores. Vamos crescendo e sendo domesticados a reprimir nossos desejos. Mas como foi dito antes, no nascemos sabendo quem devemos ou no desejar sexualmente, isto algo aprendido socialmente, por isto o Tabu do incesto. Enquanto nas nossas pr-ticas, muitas vezes no est introjetada esta regra proibitiva. No estou aqui justificando o incesto, mas afirmando a la Lvi-Strauss a complexidade de relacionar nossos desejos frente a uma regra social. Tentando investigar as discrepncias entre nossos discursos re-grados socialmente e nossas prticas.

    E a entendo o Fragmentos do de-sejo como revirando explicitamente aspectos simblicos e fundantes da nossa vida em so-ciedade, cerceada e controversa. Um espet-culo que atualiza nossos mitos. O ator-filho se reinventa e vive um rito de passagem. Numa cena densa destes aspectos viscerais nossos, nos reconhecemos e libertamos.

    Este texto um exerccio no sentido de organizar a casa mesmo. As palavras so insuficientes pra descrever um espetculo to radicalmente fabuloso. A ordem simblica do no dito indescritvel. Fragmentos do dese-jo Imperdvel e impressionante. Um luxo ver dois atores diretores to precisos, na potica e na dramaturgia do corpo.

    Nota:(1) LVI-STRAUSS, Claude. 1981 [1947]. Les structures lmentaires de la parent. Paris: Mouton.

    *Luciane CoccaroRio de Janeiro/Porto Alegre/BrasilMestre em Antropologia Social/UFRGS; Bacharel em Cincias Sociais/UFRGS; Pro-fessora Assistente do curso de Bacharelado em Dana Departamento de Arte Corporal UFRJ; Foi Professora Adjunta do Curso de Graduao Tecnolgica de Dana/ULBRA; Foi Professora Adjunta da Faculdade De-cision de Administrao de Empresa/FGV; Foi Professora do Curso de Ps-Graduao em Enfermagem/IAHCS; Bailarina Prmio Aorianos 2000; Atriz Prmio Volkswagen 2003; Coregrafa de dana contempor-nea; Diretora da Cia LuCoc e do Grupo Ex-perimental de Dana da ULBRA de 2006 at 2008; Diretora e intrprete do Espetcu-lo Estados Corpreos em 2009.

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    Foto: Xavier Cantat

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    ESPAO LIVRE 01

    X[X]Y

    T. Angel

    Fotos: Thiago Marzano

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  • Foto: Anderson de Souza

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    Ficha tcnica:Criao & concepo artstica: T. Angel*Performer: T. AngelFotografia: Thiago Marzano - www.thiagomarzano.com.brEdio de imagem: Thiago MarzanoMake up: Milze KakauaStyling: Thais Santana TorresBrasil - 2010http://tang3l.blogspot.com

    *T.AngelTiago Soares - So Paulo/BrasilTcnico em moda pelo SENAC e acadmico em Histria pela Universidade FIEO, integra o staff do site argentino Piel Magazine e dire-tor geral do website Frrrk Guys, que aborda as temticas da modificao corporal e da beleza masculina oriunda dessa prtica. Desde 2005 vem atuando no cenrio da performance art. Nos ltimos anos, Thiago Ricardo Soares vem colaborando com artigos para diversas revis-tas nacionais e internacionais. Tem experin-cia na rea de Histria, atuando principalmen-te nos seguintes temas: body art, performance e modificao corporal. Como pesquisador histrico, interessa-se pelos seguintes temas: body art, performance e modificao corporal. Endereo para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2319714073115866

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    Um lugar ao sol Virgnia Las de Souza*

    ENSAIO 03

    E quem h de duvidar do ditado: O escondido mais gostoso? Usa-se para quase tudo, dos complexos casos de romance aos riscos que envolvem estar dentro e fora da lei. Porm, sabe-se que parte do que foi (ou ) escondido no necessariamente se encai-xa nesse ditado. No XIX os circos expunham pessoas como aberraes para conquistar o pblico. Mostrar a mulher coberta de pelos, as crianas siamesas e o homem com deformida-de fsica era um negcio interessantssimo.

    Os donos do circo ao encontrar uma pessoa fora do padro imaginavam um ver-dadeiro alavancar em sua carreira. Exibindo uma aberrao no circo, ele poderia ganhar muito dinheiro e ser conhecido como o nico na regio que era dono de algum em uma situao X.

    Para o pblico significava diverso garantida para os finais de semana. Por al-guns trocados, era possvel ter acesso a um show de horrores. Ao mesmo tempo, olhar o outro no papel de estranho traz uma sensao de conforto, a afirmao de que eu sou nor-mal.

    Quanto ao motivo da existncia do show... bom, isso pouco interessava. A pessoa tinha deformidades, era incapaz de conseguir trabalho e respeito da sociedade e muitas ve-zes tinha sido abandonada pela famlia. O que resta a essa pessoa? Aceitar esse emprego do circo como nica e caridosa forma de so-breviver. Em contrapartida tem lugar para mo-rar e ainda comida... o que mais algum pode querer?

    A relao criada nesses casos era completamente questionvel e ao mesmo tem-po se justificava pela curiosidade alheia. As pessoas queriam ver algum diferente, algo que realmente beirasse estranheza. O ato de pagar comprava a razo dessa atitude em relao ao outro. E, ainda, num momento onde essas pessoas eram marginalizadas e segre-gadas, no restava outro jeito de conhecer uma deficincia, por exemplo, que no fosse buscando no circo. O circo, ento, esse lugar que mata a curiosidade e mostra aquilo que estava escondido... longe do sol!

    Esse comportamento foi bastante comum, especialmente em cidades como Pa-ris e Londres. Leva-se um tempo at que algu-

    mas vises mudem; ao poucos, esses shows so extintos do circo e as pessoas at ento anormais passam a fazer parte da sociedade que antes a repugnava. Hoje pode-se conviver (quase) harmoniosamente no mesmo espao: esse algum diferente de mim e eu que sou igual maioria.

    De fato, muita coisa mudou: os di-reitos, o entendimento sobre alguns assuntos, a coragem de enfrentar os preconceitos. Mas, ser que to pouco tempo capaz de desmis-tificar signos to profundos? Para Courtine:

    (...) Pouco mais de um sculo nos separa desses acontecimentos. Parece, contudo, que chegam a ns de um passado muito mais dis-tante, de uma poca passada da diverso popular, de um exerccio arcaico e cruel do olhar curioso. (...) (COURTINE,2008:255)

    Estamos num momento onde as pessoas no so mais exibidas nos circos e a maneira de pensar o outro bastante amig-vel assim esperamos que continue. Porm existem centenas de relaes e atitudes que ainda nos aproximam do sculo XIX.

    Experimente ligar sua televiso aos domingos: ir conhecer o homem mais alto ou mais baixo do pas - incrvel perceber como o considerado distinto atrai multides. Outra reportagem frequente nas televises o da pessoa com deficincia que trabalha, ou prati-ca esportes, ou namora. No impressionante ver que algum diferente de voc faz as mes-mas coisas que voc? Ou ainda pensar que o pobre, abandonado, com tal caracterstica cor-prea e que possivelmente deveria reclamar das tragdias da vida, consegue superar e tocar sua vida.

    Isso considerando apenas exemplos individuais; imagine ento pensar no coletivo, em uma comunidade inteira que pode divertir alm de, claro, mostrar a superao dos seus limites sociedade. Para resolver esse mist-rio podemos visitar a comunidade Kumming. Trata-se de uma comunidade de anos chine-ses que decidiram modificar algumas coisas em sua vila afim de transform-la em parque temtico. Isso garante o sustento dos mora-dores e ainda diverte os turistas. (fonte: http://epocanegocios.globo.com/ de 30/09/2009)

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    Alguns padres de corpos foram incorporados no senso comum ao longo dos anos e, por mais que muita coisa se transfor-me, alguns continuam existindo. No conse-guimos olhar o outro com as singularidades que possui, mas olhamos sempre em compa-rao a outro, a mim, a maioria e isso nos leva ao problema de criar dicotomias entre normali-dade x anormalidade.

    Podemos ainda pensar em todos os casos que ocupam essa posio antes ocupa-da pelos circos. Quais so os lugares que atu-almente nos instigam? Talvez o reality show que mostra uma pessoa famosa em seus mo-mentos de higiene dos quais nunca teramos acesso se no fosse por esse formato de pro-grama (e afinal, como viver sem saber se uma atriz escova os dentes de baixo para cima ou de cima para baixo?). Esses lugares escondi-dos, que no esto prximos de nosso olhar, continuam gerando todo tipo de especulao. E a pessoa, como se comporta a essa exposi-o? Pode variar, claro, mas muitas acabam vendo essa exposio como fonte de renda. Mostra-se o corpo e as plsticas, porm ga-nha-se dinheiro e fama. Temos que concordar que nesses casos os negcios so um pouco mais justos e conscientes: a pessoa escolhe entrar no reality show e entra sabendo de sua exposio. No obrigada a fazer nada e pode sair quando quiser pelo menos assim temos notcia que os acordos acontecem.

    E o que acontece quando essas pessoas so finalmente expostas ao sol? No caso do reality show ela ter duas opes: ou esquecida rapidamente pelo pblico e per-de essa posio que desperta sentimentos no outro ou ento ser realmente lanada ao sol e continuar gerando curiosidades capazes de fazer com que o pblico a acompanhe por anos.

    Mas e nos casos do sculo XIX... o que aconteciam com as aberraes que saam do circo? Possivelmente muitos foram abando-nados e morreram sem ter com quem ou o que contar na busca de uma vida comum, outros conseguiram algum emprego que fizesse com que suas vidas se aproximassem do restante da sociedade (embora muito faltasse para que a vida fosse realmente igual do ponto de vis-ta de direitos), outros, sem encontrar opo, continuaram vendendo suas caractersticas para os amantes do circo, mas que desta vez encontravam-se em becos e espaos alterna-tivos diferentes do original, e outros foram o Homem Elefante.

    Joseph Carey Merrick (1862-1890) diagnosticado como portador de elefantase existem controvrsias em relao a doena - ficou conhecido como Homem Elefante por conta de caractersticas fsicas que causaram deformidades em seu rosto e corpo. Em 1980 David Lynch dirigiu o filme O Homem Elefante

    que retrata um pouco da vida de Joseph no circo. As sesses para o pblico tomar conhe-cimento de um corpo considerado uma aber-rao e tambm o momento em que Joseph deixa o circo para iniciar um tratamento ofere-cido por um mdico que se mobiliza com essa situao so assuntos tratados no filme. O que parece ser um exemplo dessa mudana, do sair do obscuro para ganhar um lugar comum, apresenta-se como contradio e angstia. Em alguns momentos observa-se que na ver-dade Joseph apenas saiu do circo e foi para um hospital, mas os estigmas que carrega e a posio que ocupa so os mesmos. No hos-pital as pessoas continuam se questionando e tendo curiosidade em relao ao Homem Ele-fante. Percebe-se, ento, que alguns proble-mas apenas mudam de lugar mas continuam sem soluo.

    Como garantir o lugar ao sol? Como no se incomodar com o que est no obscuro? Devemos participar de tudo? A vida do outro realmente importante para que minha vida acontea?

    O que conforta saber que tudo muda o tempo todo. Isso nos faz acreditar que os programas e divertimentos tambm so suscetveis a mudana como foram no scu-lo XIX. Com essa certeza sabemos que ainda muita coisa ser elevada ao patamar do atra-tivo ao pblico, mas tambm que muita coisa sair de cena. O ditado que abre este texto vai sendo confirmado ou destrudo; cada situao nica: h o escondido gostoso e o escondido bizarro... escolha o circo ao qual deseja pagar seu ingresso.

    BibliografiaCORBIN, A., COURTINE, J.J., VIGARELLO, G., 2008, Histria do Corpo, Traduo e revi-so: Ephraim Ferreira Alves , 2 edio, Petr-polis: Editora Vozes.

    *Virgnia Las de SouzaSo Paulo/BrasilFormada em Comunicao das Artes do Corpo, com habilitao em Dana pela PUC/SP. Atualmente cursa Pedagogia pela USP. Trabalhou como estagiria de dana por quase dois anos na AVAPE, instituio que oferece servios para pessoas com deficincia. Participou de workshops sobre tcnicas de dana para pessoas com defi-cincia, como Danceability, com orientao de Neca Zarvos em So Paulo, do Teacher Training com Candoco Dance Company e Summer Course com DV8 Physical Thea-tre, ambos em Londres, Inglaterra. Traba-lhou em projetos da Secretaria Municipal de Educao e da Secretaria de Participao e Parceria como professora e arte-educadora de dana em comunidades menos favoreci-das de So Paulo.

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    Onde no bate o sol!Onde no bate o sol!Foto: Anderson de SouzaModelo: Marlon LimaProduo Geral: Wagner Ferraz

    ESPAO LIVRE 02

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    Onde no bate o sol!Onde no bate o sol!

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    Microrratos corroem por dentro Marta Peres*

    ENSAIO 04

    Escondido, recalcado, reprimido, ou simples-mente...Deixado de lado, encostado, esquecidoNo congelador...Para um dia Vir tonaVir a ser Quem sabeRequentadoem microondas...

    O que se esconde o que no se vo que no se deseja ou no se pode expor

    desde as fobias mais paralisantesat frugais prolas a se lapidar para brilhar na vitrine

    poca esquisita esta, em que, l nos fundos, mas ditando o ritmo e o tempero afinal, a percusso a `cozinha` da banda, como a bateria o corao da escola de samba, em oposio fachada, ao vocalista, s passistas, ao `abre-alas` justo este cmodo costuma ser cenrio para posarem as celebridades para as revistas a exibirem suas pias, foges, ladrilhos ...

    Mas h esconderijos que preferimos no mos-trar...Existe tambm uma secreta obsesso por vas-culhar abismosPor trs dela, uma nsia de controlar o que sempre escapaDesafiara morte...

    * Contrariando minha vontade, meu filho Juca, de dez anos, tem um hamster cha-mado Tito.No gosto de ver bicho preso em gaiola, por isso, peo que ele o solte no apar-tamento, todos os dias. No ltimo domingo, Juca o soltou em seu quarto, sem reparar que a porta de uma estante de livros estava aber-ta. Tito adentrou pelos livros e penetrou numa fresta no assoalho da estante, sem que conse-gussemos retir-lo de l. Ouvamos apenas o rudo de sua movimentao, que quando ces-sava, nos trazia apreenso. L embaixo, ele Foto: Anderson de Souza

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    Informe C3 - 61

    Microrratos corroem por dentro

    no teria comida e mais cedo ou mais tarde morreria. As tbuas teriam que ser serradas... horror... Isso, sem falar no medo de que sob o piso vivam outros animais capazes de devo-rarem o bichinho... O desespero tomou conta de todos. Luiza e Rafael, amigos do prdio, vieram nos acodir. As trs crianas desceram afoitas as escadas para pedir ajuda ao portei-ro. Nosso super heri, Jorge, um senhor de sessenta anos, conseguiu retirar a tbua onde ele estava preso e libertar Tito, agarrado como um trofu por Rafael, de sete anos. Pronto. Achei o assunto para o Wagner!

    * Debruando-me sobre o medo da morte travestido no medo de coisas invisveis que se passam dentro de nosso organismo, criei o`conceito-metfora`de`microrratos`. Ins-pirei-me, para isso, no filme `Amores Perros` (2000) - no Brasil, intitulado `Amores Brutos` - do diretor mexicano Alejandro Gonzlez Ir-ritu.

    Embora os ces apaream, tanto no ttulo quanto nos quatro dramas que colidem no instante de um acidente de carros, os ratos so os verdadeiros protagonistas.

    Adestrados ora para a docilidade ora para a crueldade, os caninos nada mais so que um espelho de seus donos, enquanto, do alto (ou melhor, debaixo) de seu `extracam-po` (opa, no me refiro a blogs futebolsticos!), os quase-invisveis ratos desempenham o pa-pel do assustador medo do desconhecido e daquilo com que no se sabe lidar, talvez at porque no tenha um nome, um recorte, uma moldura. Considero uma das mais terrveis imagens da impotncia humana a condio de desamparo do cozinho poodle que, aps cair num buraco do novssimo porm defeitu-oso assoalho de tbuas corridas, parece estar sendo devorado paulatinamente pelos inme-ros habitantes roedores que de l no saem jamais. Digo `parece`, porque somos apenas levados a supor (mal) iluminando o subterr-neo com uma insuficiente lanterna. O escuro que libera a imaginao s faz aumentar o ta-manho da apreenso, remetendo a ameaas avassaladoras, justamente por escaparem a nosso campo visual. Subterrneos, sua pre-sena identificada por rudos inquietantes.

    Sobre o drama da dona do bichinho, materializado nessa situao esdrxula, no vou contar. S pegando o filme para assistir.

    Ao utilizar a metfora dos `microrra-tos` - a fim de sintetizar aqui a idia do texto, apresentado logo no Mxico, onde existe uma concepo bastante peculiar da morte - dese-java discutir o avano no campo dos dispositi-vos mdicos de exames de imagem enquanto ferramentas para lidar com medos do que est escondido dentro do corpo., tal qual a lanterna apontada para o subterrneo, que em parte ilumina, em parte, ao no permitir tudo mos-trar, deixa solta a imaginao.

    Anlogas aos sistemas de vigilncia dos espaos videomonitorados, que os defen-dem de supostos `bandidos`, essas microc-meras pesquisam, para evitar sua presena, os microrratos toda a sorte de microorganis-mos e comportamentos celulares indesejveis que acabam por concretizar a imagem da in-vestida da morte sobre qualquer ser vivo. Em certo sentido, as maneiras de lidar com os mi-crorratos varia desde o horror, a domesticao, at a ritualizao espetacular, dizendo muito a respeito de como se lida com a morte. No M-xico, aprendi algumas piadas e vi simpticas caveiras coloridas que demonstram que eles gostam de se relacionar com `ela` pelo cami-nho do humor.

    Diariamente assistimos, pelos jor-nais, impressos, televisivos, internet, a violen-tas imagens de assassinatos, roubos, agres-ses fsicas, logo, o fato de estarem sendo gravadas no os evitou. Sem defender um retorno ao passado, nos perguntamos em que medida isso tambm pode ocorrer com a tec-nologia mdica?

    Assim como as cmeras de vigiln-cia no so capazes de `impedir` que sejam cometidos crimes, as microcmeras at so capazes de identificar precocemente, mas no podem impedir o surgimento de doenas muito menos que chegue, um dia, a morte. Tanto a obsesso pelo escaneamento do organismo, e a consequente iluso de controle total de seu funcionamento o que um dos mdicos que entrevistei chamou de `espetculo da ima-gem` -, quanto o anseio pelo prolongamento da vida, ante a dificuldade de se lidar com a morte, levam a uma verdadeira proliferao da indstria dos pedidos de exame. Obviamente,

    no esquecendo do velho ditado que diz que `a clnica soberana`, eles trazem vantagens em termos de preciso e celeridade do diag-nstico.

    Por outro lado, em geral, os mdicos no tm outra escolha seno solicit-los, ainda que no sejam exatamente indispensveis, ta-manha a presso dos pacientes, da mdia, da sociedade, dos processos na justia.

    Fica lanada a provocao: micro-cmeras a vigiarem `microrratos que corroem por dentro`. A maneira de lidar com a morte e o medo acaba por dizer muito a respeito de como se lida, em determinado contexto cultu-ral, com a vida, com o corpo, com a sade.

    *Marta Peres - Rio de Janeiro/BrasilProfessora Adjunta do Departamento de Arte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora em Sociologia (UnB) com Ps Douturado em Antropologia, fisioterapeuta e bailarina. Endereo para acessar este CV: http://lat-tes.cnpq.br/5570019500701293.

    D i a r i a m e n t e assistimos, pe-los jornais, im-pressos, televi-sivos, internet, a violentas ima-gens de assas-sinatos, rou-bos, agresses

    Foto: Anderson de Souza

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    ESPAO LIVRE 03

    Old SchoolAline Torchia Predebon

    Fotos: Nati Canto

    Informe C3 - 62

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    Old School

    Informe C3 - 63

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    64 - Informe C3

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    Release

    A coleo Old School busca resga-tar o fascnio das antigas tatuagens e seus simbolismos. Num estilo quase marinheiro e de velha guarda os sapatos tem formas simpli-ficadas, dando mais glamour a suas estampas.Os tons so fortes como o azul marinho, ver-melho, amarelo, laranja, entre outras cores.As ferragens so parte integrante da coleo que possui fivelas e botes de presso em tons dourados. Os saltos so em madeira e facheta natural e em alguns casos vazados. So grossos em sua maioria para propor-cionar maior conforto. A coleo busca a descontrao e a irreverncia, trazen-do muitas cores e desenhos para o Look.

    Publico Alvo

    Jovens, caracterizadas por uma marcada sofisticao sensorial que se mani-festa atravs de suas escolhas cotidianas de consumo e atravs de cdigos de comunica-o originais dos produtos. Mulheres altamen-te sensveis ao mundo externo aquele que lhes imposto, demonstram uma forte cons-cincia de si mesmas e sabem o que querem encontrar. A riqueza interior dessas mulheres passa atravs dos sentidos. Elas esto em busca de novos equilbrios e da natural harmo-nia. Os produtos e os servios solicitados por essas mulheres devem se tornar facilitadores para definir novas linguagens e cdigos est-ticos. Para elas conta o cuidado extraordinrio e o toque artstico. Em relao tecnologia, apreciam o estilo nico e a esttica romntica.Buscam uma beleza que no nunca super-fcie, mas sempre expresso de harmonia entre mundo externo e interno. So atra-das por lugares onde o consumo encontra a cultura. Refinadas, sensveis e exticas...

    Trabalho de Concluso de Curso

    Old School /2009

    Faculdades Metropolitanas Unidas

    De Aline Torchia Predebon Coordenadoras do trabalho: Dora Costa e J Souza

    Ficha Tcnica

    Stylist: Aline Torchia Predebon Produo de Moda: Aline Torchia Predebon Looks: Aline Torchia & Marcelo Sommer Assistente de Fotografia: Aline Torchia Pre-debon & Diego Fotgrafa: Nati Canto Locao: Ruas prximas ao Ibirapuera/SP Make & Hair: Aline Torchia Predebon Assistentes: Mauri Predebon ,Filipe Sartorio, Diego, Lzaro Carro: Ford Galaxy 1974/ Proprietrio: Lzaro Humberto Casting: Paula Abreu

    Informe C3 - 64

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    CRTICA TEATRAL

    66 - Informe C3

    O animal agonizantePara Roth

    Rodrigo Monteiro*

    David Kepesh aparece pela terceira vez em O animal agonizante, romance publi-cado em 2001, pelo escritor norte americano vivo mais importante, Philiph Roth (1933). As outras duas vezes foram nos romances The Breast (1972) e The professor of desire (1977). Em Porto Alegre, ele aparece na pele de Luiz Paulo Vasconcellos, grande professor e coor-denador do Departamento de Artes Dramticas da UFRGS, alm de um dos melhores e mais importantes diretores da histria do nosso es-tado. O espetculo homnimo uma verso livremente inspirada no romance dirigida por Luciano Alabarse, nacionalmente conhecido como diretor gacho e internacionalmente lembrado como o idealizador e coordenador do Porto Alegre em Cena. O texto um mo-nlogo em que o personagem, um professor universitrio, expe seus sentimentos sobre uma aluna. Ele fala consigo mesmo, fala com o pblico, fala sozinho, mas, sobretudo, cons-tri imagens. Consuela Catillo uma filha de cubanos com quem o professor teve um caso, findas as aulas. A conquista, o relacionamento, o sexo, o cime, o fim, o desfecho so situa-es dramticas descritas pelas mos hbeis e j muitas vezes premiadas de Roth. Alabar-se/Vasconcellos sabiam que estavam diante de algo bastante desafiador. Se o melhor de Roth o modo como ele descreve, como atua-lizar isso usando os signos teatrais, esses to diferentes da literatura?

    A nica coisa realmente importante na hora de atualizar algo saber o como isso ser feito. Dentre as muitas, mas finitas, pos-sibilidades do artista, cada escolha sempre de total responsabilidade dele. E, sendo Roth conhecido pela forma como ele trata sobre sexo, sobre desejo, sobre excitao e suas circunstncias diante da diferena de idades, da doena, da morte, das convenes sociais, qualquer gesto no sentido de diminuir a im-portncia disso levaria a obra, que tambm j foi um filme (Elegy, 2008) para um lugar que no digno dela. Felizmente, no isso que acontece. Em cena, o que a plateia v muito mais retrica do que interpretao: os signos teatrais foram trabalhados bastante modesta-mente, timidamente, mas no de forma pobre. H pouco espao para o teatro em O animal agonizante. Mas o que h foi plenamente utili-zado.

    As palavras de Roth so, como j se disse, as coisas mais importantes da obra. Poucos atores na nossa cidade sabem valori-zar as palavras to bem como Luiz Paulo Vas-concellos. (Marcelo Adams, Jos Baldissera, Mauro Soares so outros.) Quando bem dita, a fala se torna um ato. H nela, assim, duas potencialidades cnicas importantes: o ato de dizer e o ato que dito. Vasconcellos diz as palavras com uma dico perfeita e uma to-nalidade que, sem importar o volume, o teatro inteiro compreende cada slaba do texto sem faltar uma s. Alm disso, bem dirigido, seu texto tem corpo, tem cor, tem intensidade.

    A interpretao de Kepesh se dese-nha sem formas fixas. O personagem livre e se mostra de vrias maneiras. Diante de uma cultura invejvel, o professor fictcio , no fundo, um animal selvagem vtima de seus im-pulsos. Vasconcellos, embora ainda no tenha conseguido se desvencilhar de seu sotaque carioca e tenha explorado pouco ou nada a sua tonalidade a fim de encontrar a voz de Kepesh, se utiliza do ritmo, da mtrica para construir as imagens que belamente constri, mantendo o seu jeito natural de falar tantas vezes ouvido nos palcos gachos, tanto na boca de perso-nagens como nas palestras e aulas que d. s vezes, rpido, s vezes, devagar, danando ou completamente preso em si, o ator se utiliza desses instrumentos vocais para nos fazer ver a grande quantidade de nuances que h em cada passagem da histria que, sozinho, con-ta. A produo acerta por ser humilde, por ser discreta.

    Uma poltrona, um piano, uma mesa de trabalho, uma mesa de centro, uma cadeira e um telefone. Os movimentos cnicos acon-tecem nesse espao nobre, muitas vezes, tido como a caverna onde esse animal se esconde. quando o espectador v o ator alternar-se pelos ambientes, cavando buracos e descan-sando. Pouco histrinico, Vasconcellos sabia-mente se coloca abaixo do texto, preocupan-do-se em oferecer muito mais de Roth do que Alabarse, o que o maior ganho dessa produ-o.

    A mesma modstia tem Luciana boli, atriz que interpreta Consuela. Sua figura vem menos para aparecer e mais para aliviar

    A nica coisa real-mente importante na hora de atuali-zar algo saber o como isso ser fei-to. Dentre as mui-tas, mas finitas, possibilidades do artista, cada es-colha sempre de total responsabili-dade dele.

    Foto: Jlio Appel

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    Informe C3 - 67

    * Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil. Licenciado em Letras, atuando profissionalmente como professor de Lngua Portuguesa, Lngua Inglesa e Literatura. Leciona desde 1997, quando concluinte do Curso de Magistrio. Bacharel em Comunicao Social - Habilitao Realizao Audiovisual, com especialidade em Direo de Arte e em Roteiro. Foi aprovado em primeiro lugar no processo de seleo 2009 para o Mestrado em Artes Cnicasna Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreve dramaturgia desde 2000. Endereo para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7379695337614127

    o espectador da tarefa de tanto imaginar. fundamental que Consuela seja materialmente visvel para que o espectador possa acompa-nhar a histria com mais liberdade. Le grand nu, de Mondigliani, a inspirao de Roth, e o jeito Kebeshe de ver Castillo. E atriz, em cena, ocupa eficientemente o seu lugar.

    Na noite de estreia, notam-se dois desacertos: a interpretao de Thales de Oli-veira e a trilha sonora, pois ambos quebram o paradigma e avanam o limite que d sucesso aos demais elementos arregimentados. Olivei-ra, ao interpretar o filho, numa situao difcil, de desabafo contra o prprio pai, grita, es-perneia, polui. O comedimento que sobra at ento em tudo, nessa construo falta, o que prejudica a cena como um todo diante de ns que olhamos mais para os seus movimentos do que prestamos a ateno no texto que o jovem ator diz.

    No entanto, a trilha sonora, como j aconteceu em dipo Rei, o maior equvo-co de Alabarse. Lascia Chio Pianga, da pe-ra Rinaldo (1711), de Handel (1685-1759), e Aquarius, do musical Hair (1967), por serem bastante simblicas, aliviam as tenses do tex-to, duelando com ele que no quer ser pasteu-rizado.

    A lio de sucesso dessa produo vem do fato notrio de saber curvar-se. Artistas menos experientes e mais egocntricos teriam esforo em mostrar suas marcas, mostrar suas vozes, seus pesos e o que sabem/aprenderam no palco de O animal agonizante. Aqui o re-sultado mostra que o processo foi privelegiar bem mais o fazer teatral dentro de seus limites desafiadores, do que privilegiar-se.

    Ficha tcnica

    Elenco:Luiz Paulo VasconcellosDavid KepeshLuciana boli.Consuela CastilloThales de Oliveira..Kenny Kepesh

    Adaptao e cenografia: Luciano AlabarseCortes e ajustes: Luiz Paulo VasconcellosIluminao: Cludia de BemTrilha sonora: Moyss LopesSeleo trilha: Luciano AlabarseFigurinos: EquipeDesign grfico: Ddi Juc e Fernando ZugnoFotos: Jlio AppelOperao de luz: Cludia de Bem e Joo Da-dicoOperao de som: Moyss LopesProduo executiva: Fernando Zugno e Miguel Arcanjo CoronelCoordenao de produo: Luciano Alabarse

  • 68 - Informe C3

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    ESPAO LIVRE 04

    Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 69

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    Cola, papel e tesoura Em meados de julho deste ano, o SENAC Canoas Moda e Be-leza aceitou a proposta de desenvolver roupas que fossem confeccio-nadas com jornal em comemorao ao aniversrio de 18 anos do Jornal Dirio de Canoas, sendo o resultado final apresentado em um desfile come-morativo. A execuo de tal projeto foi assumida pelos professores Anderson de Souza e Carla Meyer com a colaborao de alguns alunos da escola.

    Roupas feitas de papel, embora no sejam convencionais, h muito tempo no so novidades, e o maior desafio foi criar propostas vestveis, feitas inteiramente com jornal, de modo que fossem resistentes, mas que principal-mente no se parecesse com os modelos j tradicionais de roupas de papel.

    A criao teve como referncia o trabalho de Jum Nakao que, em sua Cos-tura do Invisvel , confeccionou roupas de papel vegetal. Alm do trabalho de Jum, as criaes em jornal tambm se inspiraram na indumentria feminina do sculo XIX, em especial os espartilhos e as estruturas das crinolinas . Yves Saint Laurent tambm foi lembrado durante a criao e execuo desta proposta, destacando a coleo do inverno de 1969 que associava a escultura moderna alta-costura, por meio de bustos esculpidos por Claude Lalanne em cobre galvanizado de ouro.

    O resultado final, das roupas de papel, lembram uma mistura de arma-duras medievais com do New Look de Christian Dior, quando olhamos especifica-mente para os modelos tomara que caia, cinturas marcadas e saias com volume.

    Todos os oito modelos consumiram aproximadamente 16 litros de cola branca, alguns quilos de jornais velhos, gua, 4 caixas de filme plstico de PVC, 300 rebites, e muitas horas de trabalho. As roupas foram apresentadas pela primeira vez em um desfile no Canoas Shopping na cidade de Canoas/RS, participaram de algu-mas exposies temporrias, passaram por uma restaurao e foram novamente desfiladas no Barra Shopping Sul em Porto Alegre/RS. Atualmente as roupas en-contram-se expostas na escola SENAC - Moda e Beleza na cidade de Canoas/RS.

    ROUPAGINADAAnderson de Souza*

    *Anderson Luiz de Souza - Brasil/RS/Canoas Bacharel em Moda. Especiali-zando em Arte Contempornea e Ensino da Arte e atualmente Docente no SENAC Moda e Beleza / Canoas-RS no Curso Tcnico em Produo Moda e em cursos livres nas reas de pesquisa, design e processo criativo em moda e cultura, Pesquisador do Processo C3 Grupo de Pesquisa e idealizador e responsvel pelo site www.processoc3.com. Tambm desenvolve trabalhos como estilista, figurinista, vitrinista, artista plstico e ilustrador de moda.

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    70 - Informe C3

    Foto: Anderson de Souza

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    Informe C3 - 71

    Foto: Anderson de Souza

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    Fotos: Anderson de Souza

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  • 74 - Informe C3

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    Fotos: Anderson de Souza

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    Informe C3 - 75

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    Informe C3 - 76

    Foto: Anderson de Souza

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  • 78 - Informe C3

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    Foto: Anderson de Souza

  • Informe C3 - 79

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    80 - Informe C3

    ESPAO LIVRE 05

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    Informe C3 - 81

    PROLAS AOS

    PORCOSFicha tcnica:

    Performers: Filipe Espindola e Sara PanambyFotos: Pedro Spagnol e Leandro Pena

    Construmos nosso trabalho em performance, a partir da criao de roteiros de aes e criao de imagens buscando poticas e polticas atravs do corpo. Pensamos o mo-mento da performance como um tempo-espa-o ritual, onde a fruio de nossas criaes se do pela instaurao de ambincias imersivas, como potncias de atravessamento sgnico.

    A performance Prolas aos Porcos, trata da construo de corpos surreais a partir da alterao dos contornos corporais. A pes-quisa fundamenta-se em questes referentes body art, a manipulao do corpo enquanto suporte e mdia artstica de modo a provocar o espectador atravs das sensaes corpre-as reverberadas por este tipo de interveno.

    Com influncias diretas dos freak shows do sclo XIX e incio do sculo XX, e do performer norte-americano Matthew Barney, procuramos desenvolver atravs do processo de costura corporal e de reconfigu-rao atravs de materiais diversos imagens impactantes e poticas, criando corpos sim-biticos entre o humano primitivo ancestral e seres ps-humanos, ps-orgnico. Esta rela-o aparentemente dicotmica revela um ca-rter visvel no mundo contemporneo, onde resgatam-se prticas ancestrais de rituais a fim de reorganizar o corpo de maneira a inseri-lo num contexto ficcional e extra-ordinrio, criador de possibilidades, prximo de seres simbiticos entre orgnico e no-orgnico.

    Sara Panamby e Filipe Espindola

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    82 - Informe C3

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    nforme C3 - 83

  • Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos por-cos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos P-rolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos por-cos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos P-rolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas

    84 - Informe C3

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  • Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos por-cos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos P-rolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos por-cos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos P-rolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas aos porcos Prolas

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    Informe C3 - 85

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    86 - Informe C3

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    Informe C3 - 87Foto: Anderson de Souza

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    Informe C3 - 89

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    90 - Informe C3

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    Informe C3 - 91

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    Informe C3 - 93

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    94 - Informe C3

    JOVENS SURDOS E NEGOCIAO CULTURAL NA DINMICA DAS CIDADES CONTEMPORNEAS

    Camilo Darsie de Souza* e Sabrine de Jesus Ferraz Faller**

    ENSAIO 05

    Introduo

    A proposta de um mundo globaliza-do ocasionou significativas transformaes em relao sociedade contempornea. Fatores como o desenvolvimento tecnolgico, o fluxo de informaes, as fuses entre grandes em-presas, entre outros, ocasionaram impactos relevantes no que se refere economia mun-dial abrindo espao para grandes debates. No entanto a influncia desse fenmeno atingiu de forma intensa, tambm, as relaes sociais em diferentes nveis, fazendo com que novas ma-neiras de se viver em sociedade emergissem e, com isso, novos desafios no que se refere s relaes interpessoais.

    possvel se argumentar que vi-vemos em um tempo de incertezas no qual discursos e valores sociais, outrora inquestio-nveis, so colocados em dvida e, com isso, (re)significados. Esse momento histrico, no-meado por muitos estudiosos como Ps-mo-dernidade teve como ponto de partida a frus-trao em relao s propostas de evoluo e progresso que definiram a Modernidade. Como forma de esclarecer, definimos aqui a Moderni-dade como um ideal ou um projeto de vida em nvel social que teve como objetivo um futuro melhor para todas as pessoas. Esse ideal foi impulsionado pela crena de que os avanos, cientfico e tecnolgico, poderiam garantir de forma uniforme, melhores condies de vida aos habitantes do planeta.

    Assim o projeto da Modernidade buscou padronizar as sociedades atravs da amenizao das diferenas existentes entre indivduos, da imposio de uma ordem no que se refere ao convvio social e da propaga-o de valores culturais considerados ideais, com o intuito de garantir o progresso. Mesmo que estejamos nos referindo a Modernidade como algo do passado, relevante se enten-der que tais ideais no foram suprimidos com-pletamente. Vestgios dessa forma de se en-tender o mundo podem ser identificados ainda hoje no que se refere, entre outros possveis exemplos, a textos publicitrios, projetos ar-quitetnicos, discursos mdicos e, at mesmo, em algumas relaes interpessoais.

    Mesmo considerando-se que as in-tenes do projeto da Modernidade tenham

    sido boas foram as melhores possveis, con-siderando-se a poca em que se estabelece-ram importante ressaltar que o progresso e a evoluo esperados no contemplaram de forma equivalente os diferentes lugares do mundo tampouco as diferentes sociedades e indivduos. Devido a isso, surgiram movimen-tos de resistncia, formados por grupos so-ciais que no foram includos no privilgio das melhorias modernas, ou que, de algum modo foram considerados desviantes e suprfluos (BAUMAN, 1998).

    A partir disso toma forma se que podemos considerar alguma forma para a Ps-modernidade a sociedade ps-mo-derna, fruto do descontentamento em relao aos ideais modernos. Essa forma de se viver em sociedade pode ser caracterizada a partir de suas relaes interpessoais em que as di-ferenas existentes entre os sujeitos servem como significaes que podem ser trocadas e modificadas. As inter-relaes culturais, impul-sionadas pelo carter voltil e efmero de tem-pos ps-modernos, alm do intenso fluxo de informaes e da possibilidade de mobilidade em diferentes espaos faz com que as fron-teiras contemporneas sejam instveis e com isso, desestabilizam-se, ainda mais, os enten-dimentos sobre a vida em sociedade e, mais especificamente, sobre as relaes sociais no contexto das grandes cidades e seus impactos em termos de desenvolvimento urbano.

    Constitudas e significadas a partir das relaes em que nelas ocorrem, as cida-des contemporneas podem servir como espa-os em que a troca e o fluxo cultural e identit-rio se estabelecem com mais freqncia. Pires (2008) refere que a busca pela compreenso das diversas e complexas relaes urbanas leva necessidade de se discutir a construo dos espaos cotidianos que consolidam repre-sentaes scio-culturais a partir dos desejos e necessidades de seus integrantes. Assim a autora argumenta que na dinmica urbana, grande parte da populao ocupa espaos marginalizados o que acaba por acarretar em segregaes em nvel social e espacial.

    Nesse contexto, problemas rela-cionados desigualdade social e dinmica urbana ganharam novas dimenses conside-rando grupos sociais que podem ser conside-

    Foto: Anderson de Souza

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    Informe C3 - 95

    JOVENS SURDOS E NEGOCIAO CULTURAL NA DINMICA DAS CIDADES CONTEMPORNEAS

    rados minorias entre as prprias minorias. O que se pretende dizer com isso que se no passado as discusses sobre desigualdade social se concentravam em problemas, como lutas de classes, desigualdade de gneros e/ou de raa, atualmente, essas questes divi-dem espao com problemas causados por di-ferenas identitrias mais especficas, muitas vezes, cruzadas entre si, visto que a partir da aceitao e valorizao de diferentes identi-dades culturais, os sujeitos tendem a se reco-nhecerem a partir de pequenas particularida-des culturais, formando grupos que, cada vez mais, reivindicam direitos civis e estabelecem fronteiras identitrias dentro do espao urbano atravs das relaes de poder(1).

    Tendo em vista essa dinmica s-cio-cultural urbana, abordamos neste texto, a questo dos jovens surdos, inseridos em gran-des cidades, que buscam a partir do estabele-cimento de agregados sociais a negociao de valores culturais e identitrios a partir de suas relaes com o espao urbano. A maneira con-tempornea de se viver em sociedade oportu-niza o fortalecimento de laos entre jovens sur-dos, diferentes entre si, mas que consideram a surdez como uma marca identitria e com isso, tendem a valorizar a chamada Cultura Surda. Como esclarece Hall (2003), os sujeitos assu-mem identidades diferentes em diferentes mo-mentos, identidades que no so unificadas ao redor de um eu coerente. Portanto, o surdo, assim como todos os outros sujeitos, pode apresentar diferentes identidades, por vezes, consideradas contraditrias. Tais identidades empurram o sujeito em diferentes direes, de tal modo que suas identificaes esto sen-do continuamente deslocadas. Assim, grupos de jovens surdos tendem a ter como fator de identificao majoritrio, a identidade surda, desconsiderando, momentaneamente outras identidades como, por exemplo, aquelas rela-cionadas sexualidade, etnia, classe so-cial e etc.

    Essa tendncia abre espao para a participao desses jovens e de suas pecu-liaridades como, por exemplo, o uso da lngua de sinais no que se refere dinmica do espao urbano e, quando reconhecidos como cidados, podem provocar redefinies em relao aos seus direitos, principalmente, no que se refere acessibilidade em espaos p-blicos bem como ao reconhecimento de suas capacidades e potencialidades.

    No entanto, relevante se levar em conta que na dinmica urbana, nem sempre os espaos pblicos ou privados, oferecem condies para que esses jovens possam, de fato, sentirem-se confortveis, tanto no que diz respeito s dificuldades encontradas em rela-o comunicao quanto no que se refere desconsiderao dos mesmos enquanto mino-ria cultural, o que acaba por acarretar repre-sentaes negativas no que se refere a ser um jovem surdo.

    Assim, interessa-nos aqui estabele-

    cer uma discusso que se mostre produtiva, no sentido de fazer com que se reflita sobre a relevncia e necessidade das relaes sociais entre jovens surdos nos espaos pblicos do contexto urbano. O reconhecimento desses jovens, enquanto parte relevante do universo juvenil pode acarretar novas oportunidades no que se refere ao respeito e ao reconhecimento da diferena surda, produzindo assim, novas condies de integrao social.

    A cidade transcultural

    A partir de estudos contemporne-os, as cidades so consideradas, alm da ma-terialidade que as constituem, o resultado das relaes humanas dos indivduos que nelas se encontram. Pesavento (2008) informa que as cidades so compostas por suas materiali-dades e sociabilidades, pois a materialidade projetada, construda e modificada por aes e intenes dos homens que agem coletivamen-te de acordo com suas polticas, necessidades e intenes. A cidade para a autora reduto de vida social. Sendo assim, possvel se pensar que a cidade contempornea, est em constante modificao, como resultado de in-meras disputas culturais e identitrias. A cida-de se constitui a partir de paradoxos culturais que fazem surgir diferentes estilos de vidas, diferentes comportamentos, diferentes subje-tividades, diferentes formas de se entender e de se viver os espaos urbanos. (FORTUNA e SILVA, 2002)

    Se a cidade contempornea cons-tituda por relaes sociais que constituem pa-radoxos culturais, so essas mesmas relaes que dividem o espao urbano em pequenos territrios que se diferenciam pelas especifi-cidades dos sujeitos que se relacionam sobre eles. Com isso, trona-se cada vez mais difcil o entendimento do espao urbano como algo uniforme. No entanto, Canclini (2005) argu-menta que uma nova maneira de se entender a cidadania se d a partir de comunidades que esto desvinculadas de lugares o que acaba por determinar um espao urbano no qual, jo-vens estabelecem territrios demarcados por fronteiras identitrias oriundas de suas consti-tuies culturais, cuja principal caracterstica sua efemeridade.

    Portanto, na atualidade