Início de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    1/6

    1

    TUNES, E. Cad a sndrome de Down que estava aqui? O gato comeu... O programa

    de Lurdinha. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleo EducaoContempornea).

    Para a leitura do livro na ntegra, consult-lo na Sala de Leitura do IHA. Este livro que

    se constitui o Programa de Lurdinha um apelo a observao.

    Desafios da entrada na escola, acompanhamento do desenvolvimento e avaliao

    O Pedro e a Joana so os meus grandes colaboradores. Brincam com Lucio e

    cuidam dele como se brinca e cuida de qualquer irmo menor.

    Penso que esta redao da Joana retrata um pouco o que eu percebo:

    Como ter um irmo de Sndrome de DAMW.Era uma vez um menino que tinha Sndrome de DAMW.E a irm dele achava que cuidar dele no era difcil nem fcil eraUm pouco dos dois e ele tambmera um pouco danado e muito esperto,ele tambm muito carinhoso

    com a professora dele e com os amiguinhos tambmAlgumas vezes que ele arruma briga, mas sempred tudo bem e s isso.

    Mas demais, sinal de preconceito

    Por conviver com pais de crianas com Sndrome de Down, Lurdinha sabia por meiodeles que no so todas as escolas que aceitam essas crianas. A primeira escola queprocurou informou-a de que aceitaria, mas [atualmente o acesso assegurado e ostpicos abaixo se tornaram mitosa serem desfeitos]:

    Os professores no tinham preparo para atender esse tipo de criana; A escola no podia se comprometer com atendimento de qualidade; A escola no podia garantir resultados; A escola no podia garantir a aceitao daquela criana por parte dos pais dos demais

    alunos;

    Os pais teriam que pagar uma pessoa estra para auxiliar a professora da sala em que acriana estaria;

    Os demais alunos da escola poderiam maltrat-la e a escola no teria como controlarisso;

    Os demais alunos poderiam no compreender os comportamentos inadequados docolega com Sndrome de Down e querer imit-lo;

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    2/6

    2

    Os pais teriam que assumir a responsabilidade por algo de errado que viesse aacontecer com seu filho;

    A escola precisaria ter uma avaliao psicopedaggica para saber se acriana tinhacondies de aprender;

    Precisaria ter um laudo mdico para conhecer as reais condies de sade da criana; Precisaria de um laudo psicolgico para saber se a criana tinha condies emocionais

    de conviver com outras crianas;

    Precisaria de uma avaliao neurolgica; Haveria a necessidade de a criana ter um acompanhamento profissional de um

    fisioterapeuta, fonoaudlogo e psiclogo;

    Enfim, matriculando a criana, os pais teriam que assinar um termo de compromissoaceitando todas as condies exigidas para mant-la na escola.

    Eram tantos masque Lurdinha logo viu que a escola, de fato, no aceitava

    matricular crianas com Sndrome de Down. Sentiu que as foras lhe fugiam e chegoumesmo a pensar que seria muito bom se houvesse uma escola s para crianas com

    Sndrome de Down. Mas refletiu e percebeu que esta seria uma soluo para o seu

    desnimo e no para o desenvolvimento de Lucio. E a sua maratona prosegiu at

    concluir que o esteretipo sobre a Sndrome de Down [a deficincia intelectual] o

    que guia a ao de muitas pessoas. Elas rejeitam a criana antes mesmo de conhec-la,

    de saber do que capaz e se tem condies de aprender. No ,e assim que se define

    um preconceito?

    Mas nem todas as escolas so iguais e nem todos os masso ruins.

    A ao conduz qualidade

    Aquela escola foi mesmo um pedacinho do cu... A diretora uma pessoa

    muito simptica, dinmica e otimista. Mesmo no tendo tido experincia anterior com

    crianas com Sndrome de Down, estava disposta a aceitar o desafio e procurar dar ao

    Lucio um atendimento de melhor qualidade. A escola estaria disposta a faz-lo e, na

    verdade, a chegada do Lucio seria uma grande oportunidade para que todos da escola

    pudessem crescer profissionalmente.

    A diretora percebendo a esperteza dele, achou que seria interessante coloc-lo

    na turma de trs anos. Ele tinha dois anos e estava com a fala bem atrasada. Embora

    preocupasse-me o fato de Lucio no falar conforme era esperado para sua idade, no

    sentia que este pudesse ser um grande problema. Acreditava-se que o convvio com

    crianas mais velhas na escola poderia colaborar para que ele desenvolvesse a fala.

    Lucio completou aquele ano indo muito bem na turma e acompanhando as outras

    crianas conforme as competncias prprias da idade dele.

    No final do ano, receando que Lucio pudesse no conseguir acompanhar a

    turma diante das exigncias que iriam surgir, podendo sentir frustrado, a escola

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    3/6

    3

    props que ele fosse matriculado na turma de crianas com a idade dele. Fiquei muito

    insegura com esta proposta, especialmente porque a professora e a equipe pedaggica

    da escola apresentaram, ao final do ano, os seguintes relatrios acerca do

    desempenho de Lucio:

    3 anos e tr meses

    Desenvolvimento social/afetivo Lucio uma criana alegre, extrovertida e e carinhosa.Adora brincar com os colegas da sala, principalmente com a [nome as criana], porm as vezesprefere brincar sozinho. s vezes resiste um pouco a seguir comandos. Quando solicitado,coopera na organizao do ambiente aps as atividades. Quando contrariado, geralmentechora e busca o apoio das professoras e s vezes, revida, batendo ou mordendo.

    Desenvolvimento cognitivo/linguagem No jogo de construo livre, arruma os blocos naposio vertical e na horizontal. Brinca enchendo e esvaziando diversas vasilhas comdiferentes contedos: potes com gua, caixas com brinquedos, baldes de areia etc. Lucioconversa bstante, porm a sua linguagem oral ainda no clara.

    Desenvolvimento motor Manuseia e explora diversos objetos como tintas, papis, giz decera, copos, papel toalha etc. Pinta, rasga papis para colar e empilha objetos. Raliza comsegurana atividades de correr, dearrastar-se usando braos e pernas, de empurrar diversosobjetos, de arrastar objetos pesados, subir e descer escadas com mvimentos alternados.

    Desenvolvimento de hbitos e atitudes Tira e guarda a agenda na mochila, abre a lancheira eorganiza o seu lanche sobre a mesa, lava as mos, escova os dentes e tira a roupa (sozinho)com autonomia.

    Desenvolvimento do grafismo Encontra-se na fase da rabiscao.Outro relatrio, a seguir:

    3 anos e cinco meses

    Lucio capaz de atender a comandos, de realizar atividades motoras com segurana (correr,pular, rolar, subir, descer...), de desenhar, de pintar, de colar e demonstra uma certaindependncia em realiz-las. Estamos muito contentes por termos contribudo para o seucrescimento durante este ano. Apesar de todos os ganhos, eles ainda no se expressa comclareza, comunicando-se com maior frequncia atravs de gestos.

    Diante dos relatrios da escola, fiquei em dvida a respeito das aquisies de

    Lucio: estariam elas de acordo com o esperado? Ou no? Assim, resolvi procurar a DraElizabeth, que acompanha o Lucio desde quando ele tinha um ano de idade, paranovas orientaes. Ela realizou vrias avaliaes do Lucio, apresentando um relatriodo qual transcrevo algumas partes:

    Desde pequeno, Lucio vem apresentando desenvolvimento psicolgico que podemosconsiderar normal para sua idade. [...] Em casa, tem manifestado comportamentos e tem sedesenvolvido em atividades da maneira como se espera para uma criana da sua idade. Brincaintensamente com irmos e primos, seguindo bem as regras das brincadeiras; comunica-seadequadamente com os mesmos; bastante risonho e comunicativo. Brinca tambm comobjetos, realizando tarefas com certa complexidade e que envolvem o reconhecimento de

    cores e formas. Todas as tarefas que pudemos v-lo realizando, ele faz com adequao,demonstrando desenvolvimento motor e cognitivo normais. Vale ressaltar que, em

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    4/6

    4

    brincadeiras e jogos que realiza ao ar livre, em parques e jardins (trepa-trepa, escorregador,piscina, brincadeiras de correr etc.),

    Lucio uma criana alegre, comunicativa e afetivamente estvel. Tem excelente interao com

    seus familiares (pais, irmos, primos, parentes de uma modo geral). J realiza inmeras tarefas

    com autonomia e por iniciativa prpria, tanto em casa quanto na escola.

    No que diz respeito fala, sabe indicar o que quer, demonstra compreenso da fala dos outros

    e j sabe nomear diversos objetos e eventos. Por exemplo, diz o nome do irmo (Pdo =

    Pedro), reconhece e indica com a palavra a presena de calor (quente); diz po, no, qu

    (quer), d p, gu (gua), j; tenta indicar quantidades (dois) e contar (um, dois, trs) e usa

    onomatopias (pop= tiro de revlver).

    Diante de tais informaes, senti que no promover o Lucio poderia ser muito

    mais prejudicial do que benfico. Alm disso, pensei que, caso ele no conseguisseacompanhar a turma, ento, sim, poderamos volt-lo para outra fase. No havia

    qualquer indcio que justificasse segur-lo. Por que no tentar avano?

    Desfeita a minha insegurana, passei a negociar com a escola, que aceitou a

    minha proposta de promov-lo e, caso ele no acompanhasse, retorn-lo a fase

    anterior.

    Lucio avanou com a turma e progrediu muito. Logo ao completar quatro anos,

    j era capaz de desenhar a figura humana, fato ilustrado a seguir e descrito pela

    professora em seu relatrio:

    4 anos e trs meses

    Aps um intenso trabalho desenvolvido em sala sobre o corpo humano, quando trabalhamos

    todas as partes do corpo, funes, utilidade etc, Lucio passou a desenvolver garatujas docorpo. Mais tarde, suas garatujas foram tomando formas bem mais definidas e foramaparecendo claramente os braos com mos e dedos, cabea com olhos, boca, nariz, orelhasem seus devidos lugares, e assim por diante.

    A concluso a que cheguei...

    A concluso a que cheguei, ao final de 1999, foi que Lucio capaz de atingir

    metas comuns para crianas normais de quatro anos e que esse sucesso pode dever-se

    ao fato de estar sendo sempre desafiado, isto , no exigimos dele apenas o que j

    sabe fazer, mas estamos a todo momento incentivando-o a aprender coisas que ainda

    no sabe.

    Mas, o ano terminava e, novamente, era apontada pela escola a questo de

    no promover o Lucio. O relatrio da professora no apontava indcios acerca dessanecessidade. Ento, Lurdinha procurou mais informaes junto equipe pedaggica e

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    5/6

    5

    direo da escola. Percebeu que a escola receava expor Lucio a situaes de

    insucesso, preocupao, alis, bastante justificada. Afinal, Lucio uma criana

    autoconfiante e segura de si; valeria a pena exp-lo ao rsico de fracasso? Talvez no. A

    fase escolar que iria iniciar-se seria bem mais exigente por comear a preparar para

    alfabetizao.

    Ainda que um pouco insegura com a proposta, Lurdinha receava que o fato de

    Lucio ainda no ter desenvolvido comletamente a fala pudesse vir, de fato, a

    prejudic-lo na nova fase escolar que se inauguraria. Assim, aps ouvir outros

    profissionais, entendeu que deveria concordar com a posio da escola. E assim foi

    feito.

    Mas um acontecimento de maior relevncia no fora levado em conta naqueladeciso. Ao final do segundo semestre, Luci comeara a se interessar pela leitura.

    No ano seguinte,...

    Algo parecia noe star dando certo. Todos ns concordamos em no promover

    o Lucio. Mas ele no demonstrava estar concordando. No queria mais ir aula, no

    vestia mais o seu uniforme sozinho; s vezes, no queria entrar na escola. A professora

    estava tendo dificuldades para integr-lo turma, mant-lo em sala de aula, conseguir

    que se concentrasse e prestasse ateno nas tarefas. A starefas estavam sendo muito

    malfeitas; Lucio no guardava mais a lancheira o lugar, no pegava a sua agenda.Enfim, tudo indicava um retrocesso. Comecei a perceber esse retrocesso at mesmo

    sem seus desenhos. Retratavam, agora, uma criana de trs anos. Senti muito medo!

    Comeamos, todos a questionar a nossa deciso de no promover. Com

    agilidade e muita flexibilidade, a escola decidiu reintegrar (reincluir) Lucio sua turma

    anterior. J no incio de maro, ele vestia uniforme azul, caracterstico da nova fase. Foi

    muito interessante o que aconteceu.

    No dia em que cheguei em casa com o uniforme azul que comprara, ele ficou

    muito feliz. Vestiu-o, desfilou com ele, mostrou para os irmos. Naquela segunda-feira,

    a primeira de uniforme azul, fez questo de vestir-se sozinho. Desceu logo do carro e

    entrou na escola orgulhoso, exibindo para todos o seu novo uniforme. Ele estava

    realmente feliz! Instantaneamente retornou o seu caminhar, do ponto de vista em qu

    estava. Voltou a fazer as coisas como antes; seus desenhos, prontamente, mostravam-

    se como eram.

    Fiquei muito impressionada com a rapidez da mudana. Tudo indica que ele

    percebera com a mior clareza que havia sido reprovado, apesar de todos os cuidados

    que tivemos para no lhe causar essa impresso.

  • 7/27/2019 Incio de conversa creche com alunos com DI novembro de 2013

    6/6

    6

    Tenho absoluta convico de que Lucio vai concluir este ano escolar com

    sucesso. Eu confio nele. Eu sei que ele capaz. A minha luta convencer os outros a

    confiarem e acreditarem nele. Hoje, criana que , precisa de mim para isso. Amanh,

    saber lutar por si prprio. Estarei, ento, ao seu lado, mas jamais sua frente!

    Se filhos de uma mesma famlia desenvolvem-se e formam-se de maneira

    diversa uns dos outros, o mesmo vale para as crianas com Sndrome de Down.

    Concluso bvia: duas crianas com Sndrome de Down no so iguais. Como saber o

    que bom? H apenas um jeito: conhecendo a criana e experimentando formas de

    atuar, como todos ns fazemos, (...). Evidentemente podemos apelar para a

    experincia de outras pessoas; por isso sempre bom informar-nos.

    *O livro na ntegra est na Aba Manuais no site IHA Informa

    www.ihainforma.wordpress.com

    Para saber mais consulte tambm os seguintes materiais:

    Vdeo Srie Toda criana nica

    Episdio 1 | Liberdade de ser e aprender

    Neste episdio, a incluso da de 6 anos, no Jardim de Infncia 316 Sul, Braslia.

    Diagnosticada como autista e com um comportamento que dificultava a socializao conseguiu

    superar suas dificuldades, tornou-se lder entre os colegas, comeou a falar e interage bem.

    *O vdeo est na Aba Multimdia, vdeos do MEC, no site IHA Informa

    http://ihainforma.wordpress.com/multimidia/videos-do-mec/

    Orientaes sobre a incluso do aluno com Transtornos Globais doDesenvolvimento

    Orientaes para promover a aprendizagem do aluno com Transtornos Globais do

    Desenvolvimento (TGD).

    *O artigo est na Aba Documentos, Orientaes para professores, no site IHA

    Informa http://ihainforma.wordpress.com/2010/06/13/orientacoes-sobre-a-inclusao-do-

    aluno-com-transtornos-globais-do-desenvolvimento/