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INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 0
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
FERNANDO RAMALHO GAMELEIRA SOARES
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE
CAMPINA GRANDE-PB: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DOS EFEITOS DA APLICAÇÃO DA LEI DE
INFORMÁTICA SOBRE O TERRITÓRIO
RECIFE
2007
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 1
FERNANDO RAMALHO GAMELEIRA SOARES
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE
CAMPINA GRANDE-PB: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DOS EFEITOS DA APLICAÇÃO DA LEI DE
INFORMÁTICA SOBRE O TERRITÓRIO
Monografia apresentada ao Departamento de Ciências
Geográficas da Universidade Federal de Pernambuco
como requisito parcial para obtenção do título de
bacharel em Ciências Geográficas.
Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes.
RECIFE
2007
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 2
FERNANDO RAMALHO GAMELEIRA SOARES
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE
CAMPINA GRANDE-PB: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DOS EFEITOS DA APLICAÇÃO DA LEI DE
INFORMÁTICA SOBRE O TERRITÓRIO
Monografia apresentada ao Departamento de
Ciências Geográficas da Universidade Federal de
Pernambuco, como requisito à obtenção do título de
bacharel em Ciências Geográficas.
Aprovada em: _____ / _____ / _____
Banca Examinadora
______________________________________________________
Profa. Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes (Orientadora)
______________________________________________________
Prof. Dr. Jan Bitoun
______________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Batista Dias
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 6
RESUMO
A acumulação capitalista global produz espaços diferenciados a partir do nível de
conhecimento e de atividades inovativas presentes no território. Assim, este trabalho discute a
dinâmica de transferência do conhecimento no espaço geográfico a partir das redes de
relações sociais e institucionais. Pretende-se tecer considerações sobre a influência sobre o
território de uma política pública normatizante para o setor de Tecnologia: a Lei de
Informática. A Lei tem o intuito de promover no país a inovação e o aumento da capacidade
produtiva do setor de bens e serviços de informática. Para a realização desta pesquisa foram
entrevistados vários agentes institucionais importantes, bem como 7 empresas de software
identificadas em Campina Grande. Apesar de não existir um número grande de empresas,
percebe-se uma alta capacidade inovativa entre aquelas identificadas. Com o estabelecimento
de parcerias entre multinacionais e a UFCG, via incentivos da Lei de Informática, as relações
existentes entre empresas locais e universidade quase cessou, restando apenas o contato com o
PaqTcPB. Percebe-se, portanto, um fluxo bastante incipiente de transferência de
conhecimento entre a as multinacionais a universidade e as empresas locais. Deve-se
mencionar ainda que, em uma região de baixo dinamismo econômico, com um pequeno tecido
produtivo, a parceria entre multinacionais e universidades pode ter ainda efeitos mais
perversos do que se verificaria em uma região de maior dinamismo, no qual as multinacionais
tivessem unidades de produção, pois, além de se transferir conhecimento, que poderia ser
desenvolvido pelo setor privado local, para as multinacionais, os benefícios que adviriam da
incorporação da inovação em um processo produtivo local, mesmo se fosse realizada na
própria subsidiária da multinacional, são transferidos para outro território.
Palavras-chave: Território. Conhecimento. Lei de Informática. Sistema de Inovação.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 7
LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS
Quadros
Quadro 1 - Componentes do conhecimento tecnológico localizado...................................................................... 30
Quadro 2 - Modelos de Negócios na Indústria de Software .................................................................................. 36
Quadro 3 - Categorias das Empresas de Prestação de Serviços do Setor de Informática ...................................... 37
Quadro 4 - Relação das Empresas de Software Identificadas em Campina Grande .............................................. 78
Gráficos
Gráfico 1 - Comparação entre o número de estabelecimentos em cada macrorregião brasileira por categoria de serviços em informática......................................................................................................................................... 44
Gráfico 2 - Proporção do número de estabelecimentos das categorias 2, 3 e 4 nos serviços em software de cada macrorregião brasileira.......................................................................................................................................... 45
Gráfico 3 - Número de estabelecimentos das categorias 2, 3 e 4 nos serviços em software de cada macrorregião brasileira em 2005 ................................................................................................................................................. 46
Gráfico 4 - Número de Empresas no Setor de Serviços em Informática distribuídas pelas Regiões Metropolitanas Oficiais do Nordeste.............................................................................................................................................. 50
Gráfico 5 - Número de Empresas no Setor de Desenvolvimento de Software distribuídas pelas Regiões Metropolitanas Oficiais do Nordeste..................................................................................................................... 51
Gráfico 6 - Redução Percentual do IPI, 2005-2019............................................................................................... 56
Gráfico 7 - Percentual de Investimentos em P&D, 2005-2019 ............................................................................. 57
Gráfico 8 - Gasto Total Médio em P&D nas 20 maiores economias do mundo.................................................... 61
Gráfico 9 - Evolução do Produto Interno Bruto Industrial de João Pessoa e Campina Grande............................. 67
Gráfico 10 - Evolução da População Urbana em João Pessoa e Campina Grande................................................ 68
Gráfico 11 - Evolução do Número de Estabelecimentos do Setor de Software e de Serviços em Informática em João Pessoa e Campina Grande............................................................................................................................. 69
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 8
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1 - Número de Estabelecimentos no Setor de Informática Brasileiro ............................................................ 40
Fig. 2 - Número de Empregados no Setor de Informática Brasileiro .................................................................... 41
Fig. 3 - Número de Estabelecimentos do Setor de Desenvolvimento deSoftware (Categrias 3 e 4) ..................... 48
Fig. 4 - Número de Empregados no Setor de Desenvolvimento de Software (Categorias 3 e 4) .......................... 49
Fig. 5 - Número de Estabelecimentos no Setor de Informática Nordestino .......................................................... 52
Fig. 6 - Número de Estabelecimentos no Setor de Desenvolvimento de Software Nordestino (Categorias 3 e 4) 53
Fig. 7 - Distribuição do Investimento em Atividades de P&D definida na Lei de Informática............................. 58
Fig. 8 - Climograma de Campina Grande.............................................................................................................. 64
Fig. 9 - Mapa de Localização de Campina Grande................................................................................................ 65
Fig. 10 - Crescimento Populacional da Cidade de Campina Grande..................................................................... 66
Fig. 11 - Distribuição Espacial dos Agentes Softex. ............................................................................................. 74
Fig. 12 - Rede Institucional relacionada ao PaqTcPB ........................................................................................... 75
Fig. 13 - Esboço da Rede de Interações entre Agentes do Setor de Software de Campina Grande....................... 86
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 9
SUMÁRIO
Agradecimentos
Resumo
Lista de Quadros e Gráficos
Lista de Figuras
Introdução.............................................................................................................................................................. 10
1. A Produção do Espaço Geográfico sob a Lógica da Acumulação Capitalista em tempos de Globalização: território, lugar, conhecimento e inovação ............................................................................................................ 12
1.1 A acumulação capitalista global e as perspectivas do território e do lugar...................................... 13
1.2 Da difusão da inovação à geografia da inovação.............................................................................. 20
1.3 A importância da interação e da transferência de conhecimento para os sistemas territoriais de
inovação ........................................................................................................................................................... 26
2. A Indústria de Software e a Instituição da Lei de Informática: o papel da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico ............................................................................................................................................................ 34
2.1 O Software e a Inovação .................................................................................................................... 34
2.2 A Indústria de Software...................................................................................................................... 37
2.3 Os componentes e as definições da Lei de Informática...................................................................... 54
2.4 A importância da Pesquisa e Desenvolvimento.................................................................................. 59
3. A Cidade de Campina Grande e o Setor de Software Local: os efeitos da aplicação da lei de informática sobre a dinâmica de transferência do Conhecimento no território......................................................................... 63
3.1 Rainha da Borborema: um “Oásis High Tech”? ............................................................................... 64
3.2 O Ambiente Institucional Local.......................................................................................................... 70
3.3 As Empresas de Software Locais e as Multinacionais ....................................................................... 76
3.4 A aplicação da Lei de Informática e a Dinâmica de Transferência de Conhecimento na Rede de
Interação Social................................................................................................................................................ 84
4. Conclusão .................................................................................................................................................... 87
Referências ............................................................................................................................................................ 91
Anexo .................................................................................................................................................................... 96
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 10
INTRODUÇÃO
Estamos vivenciando a era da informação e do conhecimento, e os setores de alta tecnologia
são cada vez mais evidenciados como atividades estratégicas para o desenvolvimento nacional
de um país. Portanto, por ser um setor de atividade altamente intensivo em conhecimento, a
indústria de software tem sido o setor de atividade econômica que mais cresce no mundo.
O conhecimento é a base para o processo de criação e comercialização de novos produtos ou
para a adoção de novos processos, isto é, para a inovação, conseqüentemente é um bem
primordial para as empresas e para os capitalistas. Este conhecimento pode ser adquirido por
variados processos, desde a aquisição de conhecimento codificado em livros até o
conhecimento adquirido através de experiências pessoais em interações casuais.
As especificidades dos lugares tornam-se cada vez mais relevantes para o processo de
acumulação capitalista global, portanto os espaços inovativos se apresentam como territórios
onde existem fluxos de conhecimento intenso e onde empresas, instituições de pesquisa e
universidades interagem garantindo sempre novas idéias e inovações para o setor produtivo.
A cidade de Campina Grande, chamada de a “Oásis Hgh Tech” Nordestina, desponta como
um celeiro de mão-de-obra qualificada, embora seu setor produtivo aparentemente não tenha a
capacidade de absorvê-los. Portanto, cabe a este trabalho analisar este setor local e apontar
suas fragilidades e potencialidades.
Assim, este trabalho deve discutir a dinâmica de transferência do conhecimento no espaço
geográfico a partir das redes de relações sociais e institucionais constituídas no território.
Pretende-se, então, tecer considerações sobre a influência de uma política pública
normatizante para o setor de Tecnologia – a Lei de Informática – com o intuito de promover
no país a Inovação e o Desenvolvimento Regional.
Pretende-se ainda investigar a possibilidade das atuais parcerias, que se efetivam entre
empresas multinacionais de capital estrangeiro e a Universidade Federal de Campina Grande,
mediante o desenvolvimento de pesquisas conjuntas através dos incentivos da Lei de
Informática, não estarem contribuído, mesmo que indiretamente, para a inovação nas
empresas locais do setor.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 11
Para atender aos objetivos propostos neste trabalho, faz-se no primeiro capítulo uma revisão
teórica acerca da produção do espaço geográfico neste novo cenário global, tomando como
referência o processo de acumulação capitalista. Faz-se, também, uma discussão acerca dos
conceitos de lugar, território e inovação, bem como das teorias sobre os espaços inovativos e
sistemas territoriais de inovação, ressaltando a importância da transferência do conhecimento
nestes espaços.
No capítulo 2, caracteriza-se o setor de informática, levando em consideração a sua dinâmica
espacial, e faz-se uma discussão acerca dos princípios e definições legais que compõe a
instituição da lei de informática. Destaca-se também a importância da pesquisa e do
desenvolvimento para o desenvolvimento tecnológico nacional.
Por fim, no capítulo 3, resgata-se a história da vocação tecnológica de Campina Grande,
fazendo-se um breve histórico da cidade e de suas instituições. Além disso, destacam-se todos
os elementos da rede institucional que afetam o sistema local de inovação em software, bem
como das empresas locais e multinacionais, fazendo, por fim, uma reflexão da transferência
de conhecimento dentro da rede de interação social entre as diversas instituições e empresas
atuantes no território.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 12
1. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO SOB A LÓGICA DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA
EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO: TERRITÓRIO, LUGAR, CONHECIMENTO E INOVAÇÃO
A geografia econômica mundial tem historicamente dado grandes contribuições a análise dos
espaços produtivos por todo o mundo. Hoje processos aparentemente contraditórios como a
homogeneização e diferenciação dos lugares, a demanda do sistema capitalista por
competição e cooperação, coexistem como faces da mesma moeda. Portanto cabe a essa
geografia econômica interpretar qual a importância do espaço geográfico, e principalmente do
território, nesse novo cenário.
Neste capítulo, pretende-se dialogar com os vários autores que tratam da temática da inovação
e da diferenciação dos espaços na nova lógica global de acumulação de capital. Verifica-se a
importância das categorias geográficas para interpretar os diferentes fenômenos dentro dessa
lógica.
A inovação e o estudo de espaços inovadores não são temáticas novas para a geografia, porém
a preocupação central das teorias formuladas diferia da atual preocupação direta com a
dinâmica social e econômica dos espaços inovadores, a qual tem como processo mobilizador a
busca pela inovação. Portanto faz-se um resgate das principais teorias da geografia econômica
e daquelas teorias que se preocuparam com a inovação.
Outra preocupação, que é central neste trabalho, e que é abordada neste capítulo é a
importância da transferência do conhecimento para esses territórios inovadores, territórios
estes que são interpretados atualmente sob várias perspectivas, sendo uma delas a concepção
do Sistema Local de Inovação. A noção de SLI pretende nortear toda a análise feita acerca do
território, incluindo a caracterização das instituições e das redes sociais estabelecidas
localmente
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 13
1.1 A ACUMULAÇÃO CAPITALISTA GLOBAL E AS PERSPECTIVAS DO TERRITÓRIO E DO LUGAR
A realização do capital baseia-se na lógica cíclica em que dinheiro produz mercadoria e que,
por sua vez, produz mais dinheiro. É a partir desse princípio que o sistema se organiza em
busca de mais-valia para alimentar as taxas de lucro dos capitalistas e financiar um novo ciclo
produtivo, remunerando o capital variável e o capital fixo. Porém, como nos alerta Marx, esse
modo de produção carrega consigo contradições internas claras, sendo a principal delas a
tendência do capitalista em “expandir o volume e o valor total das mercadorias no mercado,
enquanto tenta maximizar seus lucros mantendo os salários achatados, o que restringe o poder
aquisitivo das massas” (MARX, 1969 apud HARVEY, 2005). A desigualdade,
conseqüentemente, é um fator crítico e, ao mesmo tempo, fundamental para sua sustentação,
sendo assim o sistema estimula fatores que cedo ou tarde o levam a crises recorrentes, como o
desemprego, o subemprego crônico, o excedente de capital, a falta de oportunidades de
investimento, as taxas decrescentes de lucro, a falta de demanda efetiva no mercado, entre
outros (HARVEY, 2005).
A manifestação periódica das crises econômicas faz com que o sistema se renove e promova
mudanças no processo de acumulação na direção de um nível novo e superior. Como nos
mostra Harvey (2005), esse novo nível tem um aumento na produtividade da mão-de-obra
pela utilização de máquinas e equipamentos mais sofisticados, ocorrendo simultaneamente
uma desvalorização forçada dos equipamentos mais antigos, tem o custo da mão-de-obra
diminuído devido ao grande desemprego, o excedente de capital atraído por linhas de
produção novas e muito lucrativas e, por último, o esvaziamento do mercado de todos os bens
através da demanda efetiva expandida por produtos.
A expansão da demanda efetiva deve ser ressaltada, pois é construída a partir da penetração
do capital em novas esferas de atividade (transformação de atividades tradicionais ou criação
de atividades inteiramente novas), da criação de novos desejos e novas necessidades, do
desenvolvimento de novas linhas de produtos; da organização do consumo para que se torne
“racional” em relação ao processo de acumulação, do estímulo para um crescimento
populacional compatível com a acumulação a longo prazo e, por fim, da expansão geográfica
para novas regiões rumo a criação do “mercado mundial” (HARVEY, 2005).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 14
A estratégia utilizada pelas empresas para superação das crises no capitalismo através da
intensificação do capital encontra obstáculos bastante rígidos em alguns setores da economia,
o que permite que Harvey (2005) chegue a afirmar que “quanto mais difícil se torna a
intensificação, mais importante é a expansão geográfica para sustentar a acumulação de
capital”. Por isso, para os empresários, é importante que os custos de circulação do capital, o
qual é constituído da soma do custo de transporte mais o custo real ou implícito ligado ao
tempo consumido e às mediações sociais necessárias para que a mercadoria encontre seu
usuário final, seja cada vez mais reduzido permitindo aliar estratégias de especialização do
trabalho com uma divisão territorial do trabalho.
Ao tomar como referência esses elementos característicos do funcionamento do capitalismo,
pode-se entender melhor o atual estágio de desenvolvimento vivenciado hoje pela sociedade,
bem como, a forma de organização e distribuição no espaço das empresas em busca de lucros
extraordinários, os quais são capazes de mantê-las no topo de seus mercados. Permite também
que se investiguem as estratégias usadas por elas para adquirir o conhecimento necessário
para estarem sempre inovando.
Deve-se também realizar aqui uma análise da história recente do capitalismo, o que torna
necessária a caracterização dos diferentes regimes de acumulação ou modelos de
desenvolvimento vivenciados intensamente neste último século. Estes regimes são definidos
como “um conjunto de regularidades que asseguram progressão geral e relativamente coerente da
acumulação do capital” (BOYER apud BENKO, 2002), isto é, ao “modo de transformação
conjunta e compatível das normas de produção, de distribuição e de uso” (LEBORGNE &
LIPIETZ, 1994). O regime de acumulação permite, então, absorver as distorções e
desequilíbrios inerentes ao próprio processo de acumulação capitalista (BENKO, 2002).
Os mecanismos de manutenção deste conjunto de regularidades compõem o modo de
regulação e asseguram a compatibilidade dos comportamentos dos agentes econômicos e
sociais a partir de formas institucionais, redes, normas explícitas e/ou implícitas. Na esfera do
regime de acumulação, se configuram “princípios gerais de organização do trabalho e de uso
das técnicas que se pode chamar de paradigma tecnológico ou modelo de industrialização”
(BENKO, 2002).
O regime de acumulação, com seu modo de regulação e paradigma tecnológico específico,
marcante do período que sucedeu a segunda Guerra Mundial foi o fordismo, o qual se
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 15
caracterizava por “uma produção industrial estandardizada, apoiada num consumo de massa e
em seu estabelecimento com a ajuda de forte intervenção do Estado visando regular a
demanda efetiva em virtude do crescimento da produção” (BENKO, 2002). Mas esse modelo
de desenvolvimento começa a se exaurir já em meados dos anos 60, apresentando aí seus
primeiros indícios de fragilidade, e é a recessão provocada pela crise do choque do petróleo de
1973 o seu definitivo marco de solapamento (HARVEY, 1992).
A partir deste momento sobrepõe-se ao antigo regime um período de transição de modelo de
desenvolvimento, no qual novos mecanismos de regulação política, econômica e social
começam a se apresentar. Este período que se estende até os dias atuais e marca a ruptura com
a rigidez do fordismo, é conhecido e denominado por vários autores como acumulação
flexível.
A flexibilidade é característica dos novos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,
dos produtos e dos padrões de consumo. Muitos autores tratam as transformações em direção
a um regime mais flexível de uma maneira generalizante e homogênea, porém autores como
Leborgne & Lipietz (1994) sugerem que a adoção de mecanismos próprios da acumulação
flexível pode gerar resultados bastante distintos dependendo das peculiaridades de cada tipo
de organização econômica e social do espaço. Os autores sugerem que aspectos como a
herança do passado, produto da formação de um bloco sócio-territorial1 através de
compromissos travados pelo conjunto dos atores, bem como os projetos político-culturais,
tendem a influenciar fortemente a evolução dos territórios.
Ainda segundo os últimos autores supracitados, as políticas de desenvolvimento no período de
acumulação flexível podem ser reunidas em duas grandes famílias: a da flexibilidade
defensiva, a qual está associada a estratégias deletérias, e da flexibilidade ofensiva, esta, por
sua vez, associada a uma possível dinâmica econômica virtuosa. Estratégias como a adoção da
desregulação da relação salarial, a ampliação do fosso entre os responsáveis pela concepção e
os que se ocupam com a execução, as formas mais perversas de subcontratação e a formação
de áreas urbanas fortemente especializadas que coexistem com algumas metrópoles onde as
atividades terciárias superiores se opõem aos pequenos ofícios de serviços, sem proteção
social, são caracterizadas como características da política de flexibilidade defensiva. Já as
1 Entende-se por blocos sócio-territoriais um sistema estável de relações de dominação, de alianças e de concessões entre diferentes grupos sociais (dominantes ou subordinados) que se efetivam em nível nacional ou regional (LEBORGNE & LIPIETZ, 1994).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 16
estratégias características da flexibilidade ofensiva são: o estabelecimento de um novo
compromisso nos lugares de trabalho negociando a implicação dos assalariados na luta por
qualidade e produtividade em troca de diversas garantias e vantagens sociais, a organização de
formas de colaboração entre empresas, sindicatos, aparatos educativos e administrações locais
e a densificação de relações interempresariais, o que permite a consolidação de áreas urbanas
com sistemas produtivos flexíveis e diversificados (LEBORGNE & LIPIETZ, 1994).
Percebe-se então que o regime de acumulação flexível não é um rol de estratégias pré-
concebidas em uma única direção clara, o que se nota é muito mais um conjunto de
mecanismos que são adotados na intenção da superação da crise do fordismo, o que não quer
dizer que inexiste uma objetividade clara nas ações dos capitalistas, já que estes são regidos
de forma estrutural pela velha lógica da acumulação tratada anteriormente e buscam sempre o
aumento da sua mais-valia relativa2 a partir do ajuste dos diversos fatores de produção,
inclusive aqueles mais diretamente ligados ao lugar ou território onde se instalam. Deve-se
lembrar sempre que a adoção de estratégias flexíveis em vários lugares do mundo não impede
a permanência de estruturas rígidas fordistas em espaços ou setores da atividade econômica
que ainda possibilitam a manutenção destas.
Vive-se em um período de transformação e acomodação onde as estratégias capitalistas são
revistas gerando conseqüentemente um novo mapa do capitalismo, no qual territórios
anteriormente muito propícios à realização do capital são abandonados e sofrem um processo
de desterritorialização, enquanto outros espaços, inclusive periféricos, despontam como
lugares bastante vantajosos na nova lógica da acumulação do capital em nível global.
A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (tais como a “Terceira Itália”, Flandres, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém-industrializados) (HARVEY, 1992).
Este novo momento do capitalismo foi propiciado por alguns fatores que devem ser
ressaltados. Um deles é o fato do imenso avanço científico e tecnológico vivenciado pela
sociedade, principalmente durante o século XX, embora a revolução nos transportes e nas
redes de comunicações já tinha, como mostra Leila Dias (2003), redesenhado o mapa do
2 Adicionalmente à mais-valia absoluta, caracterizada pela apropriação promovida pelo capitalista de horas de trabalho do proletário não pagas, a mais-valia relativa consiste, para Marx, na ampliação da relação entre horas de trabalho excedente e necessárias, sem que se altere a jornada de trabalho (GALVÃO, 2004).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 17
mundo no século XIX. As redes técnicas efetivamente redefiniram a organização econômica
dos espaços produtivos e são elas que permitem a circulação de pessoas, mercadorias e
principalmente informações, propiciando assim a integração econômica e social de espaços
anteriormente isolados e distantes. Como sugeriu Marx e desenvolveu Harvey (2005), estamos
vivenciando um processo de “anulação do espaço pelo tempo”.
O tempo para a realização do capital depende diretamente do tempo de giro de um
determinado capital, o qual é soma do tempo de produção mais o tempo de circulação,
fazendo com que quanto menor o tempo de giro de determinado capital, maior é o rendimento
anual da mais-valia. Portanto, o imperativo da acumulação envolve tanto a redução do custo
de produção e transporte quanto efetivamente a redução do tempo de “perambulação” das
mercadorias (HARVEY, 2005).
Neste contexto, com as distâncias cada vez mais reduzidas entre os lugares e a tendência da
globalização em homogeneizar os espaços, surge uma aparente contra tendência que se baseia
na diferenciação local dos espaços (GALVÃO, 2004).
Para se entender essa relação local-global e a constituição de territórios capazes de influenciar
e ser influenciado pela acumulação das empresas é preciso conceituar algumas categorias já
referidas e que serão utilizadas de forma recorrente durante todo este trabalho. As duas
principais categorias conceituais da geografia que serão centrais neste trabalho serão o
território e o lugar.
A noção de território esteve por muito tempo associada à idéia de território nacional o que faz
com que a utilização do termo freqüentemente se remeta a conceitos como os de Estado,
nação e governo. Através das palavras de Lefebvre (1978 apud RAFFESTIN, 1993) podemos
perceber como se dá a formação de um território a partir do espaço, porém mesmo que ainda esteja se
referindo ao território nacional ao defini-lo como “espaço físico, balizado, modificado,
transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de
ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-estradas e rotas aéreas etc”. Porém, apesar do
território nacional ser sim um território, não é o único representante desta categoria, pois além
da escala nacional outras escalas, sejam elas sub-nacionais ou transnacionais, também podem
ser enquadradas nesse conceito.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 18
Ainda, como argumenta o próprio Raffestin (1993), muitas vezes o território é confundido e
utilizado com o mesmo sentido de espaço. Isto pode ser facilmente percebido nos trabalhos
contemporâneos da economia, sociologia e outras ciências preocupadas com os novos espaços
da inovação, as quais não mostram uma preocupação explícita com a conceituação precisa
deste termo, ora falando em espaço, ora em território, ora até mesmo utilizando termos como
região, ambiente e lugar, todos com sentido semelhante, sem nenhuma distinção clara entre
eles. O autor, então, nos esclarece um pouco mais a questão ao dizer que o espaço, na
realidade, antecede a existência de um território.
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. [...] é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder (RAFFESTIN, 1993).
Quando se fala em território deve-se, portanto, perguntar o que ou quem faz com que
determinado espaço seja qualificado como um território. Assim, não existe sentido falar em
território sem determinar atores sociais ou instituições que o definem, isto é, para se entender
de que tipo de território se fala deve-se qualificá-lo. Pode-se, então, falar em território
nacional, território do tráfico nos morros do Rio, das prostitutas em determinado bairro, dos
nordestinos na Praça Saens Peña, até mesmo no território dos países-membros da Organização
do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (SOUZA, 2003).
Persistem, porém, na Geografia brasileira algumas ambigüidades quanto à definição e
utilização do conceito de território. Para Marcelo Lopes de Souza (2003), o território é
fundamentalmente “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder”, a
qual é bastante próxima da definição de Raffestin. O mesmo autor ainda complementa sua
definição dizendo que o território pode ser interpretado como
um campo de forças, uma teia de relações sociais que, a partir de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre “nós”(o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os insiders) e os outros (os de fora, os outsiders) (SOUZA, 2003).
Porém uma segunda compreensão, particular a Milton Santos, concebe que para uma análise
no âmbito de uma ciência social o que importa é o entendimento do uso do território e não o
território em si mesmo. O território para este autor, diferente do entendimento de Souza e
Raffestin, se refere apenas às formas, enquanto que o território usado se refere aos objetos e
ações (SANTOS, SOUZA & SILVEIRA, 1998).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 19
Assim, para Milton Santos o território usado é sinônimo de espaço humano, espaço habitado,
espaço geográfico. E, por sua vez, conforme definição do próprio autor, o espaço geográfico
caracteriza-se como “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas
de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na
qual a história se dá” (SANTOS, 1997).
Logo entendemos que o território para Souza se aproxima bastante do território usado de
Milton Santos, porém ainda não são termos idênticos, pois para Souza o território não inclui o
espaço físico com seus objetos, o que o distingue tanto do conceito de território usado (objetos
e ações, fixos e fluxos) quanto da noção de território (formas) de que trata Milton Santos.
Sendo assim, o exemplo de uma cidade fantasma é, para Milton Santos, um território, mas não
um território usado, enquanto que para Souza não é nem um território, pois inexistem relações
sociais capazes de criar relações de poder sobre o espaço.
Por sua vez, o conceito de lugar também foi alvo de interpretações diversas tanto fora da
Geografia quanto no seio da própria ciência. A noção de lugar foi por muito tempo
influenciada pelo viés cartográfico, pelo qual o lugar é tratado como “a expressão do espaço
geográfico na escala local; a dimensão pontual” (SUERTEGARAY, 2001). Porém outras
acepções mais recentes vieram a dar um sentido mais abrangente e mais atual ao conceito, o
que tem sido, em linhas gerais, feito sob duas perspectivas distintas, a da Geografia
Humanística e a da Dialética Marxista.
Para a corrente humanística, como nos explica Leite (1998):
[...] o lugar é principalmente um produto da experiência humana: “(...) lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e atributos das localizações, mas à tipos de experiência e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e segurança” (Relph, 1979). Ou ainda, “lugar é um centro de significados construído pela experiência” (Tuan, 1975). Trata-se na realidade de referenciais afetivos os quais desenvolvemos ao longo de nossas vidas a partir da convivência com o lugar e com o outro. Eles são carregados de sensações emotivas principalmente porque nos sentimos seguros e protegidos (Mello, 1990); ele tanto nos transmite boas lembranças quanto a sensação de lar (Tuan, 1975; Buttimer, 1985a). Nas palavras de Buttimer (1985b, p. 228), “lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas”.
Por outro lado, particularmente importante para este trabalho, junto ao conceito de território, a
acepção de lugar mais diretamente associada ao Positivismo e ao Marxismo, pode auxiliar no
entendimento dos processos dialéticos entre o cotidiano local e a lógica global de interesse das
grandes corporações. Esta acepção permite que se interprete o lugar tanto como “produto de
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 20
uma dinâmica que é única, ou seja, resultante de características históricas e culturais
intrínsecas ao seu processo de formação, quanto como uma expressão da globalidade”
(LEITE, 1998). Portanto é esta acepção que será adotada neste trabalho quando o lugar for
referido.
Os dois conceitos, território e lugar, não são excludentes, mas também não se referem a
mesma idéia, são na verdade perspectivas de análise distintas do mesmo objeto, o espaço
geográfico. Ambas serão as perspectivas centrais deste trabalho, sendo utilizados tais termos
sempre com base no lastro conceitual organizado neste capítulo. Além destes, com a
finalidade de enriquecer a análise, outras categorias geográficas também podem ser
porventura abordadas no decorrer do texto.
Portanto, será adotada uma abordagem atenta principalmente às relações sociais e
institucionais que se manifestam sobre determinado espaço a partir de comportamentos e
dinâmicas econômicas que refletem diferentes interesses nas mais diversas escalas. Assim, o
território será visto aqui como uma construção humana, fruto do estabelecimento de uma rede
de relações sociais entre indivíduos, comunidades e instituições com intenções, papéis e
atuações diversas. A delimitação ou definições dos limites deste território serão vistos a partir
da intensidade de ligações entre os atores inseridos na rede, constituindo uma identidade ou
funcionalidade partilhada entre todos na rede, o que os diferencia de outros atores inseridos
em outros territórios. Deve-se deixar claro que a presença de solidariedades horizontais entre
os atores do lugar não exclui a existência e o estabelecimento de solidariedades verticais com
outros atores fora da rede ou com outras redes, caracterizando assim uma relação dialética
entre a dimensão local e global.
1.2 DA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO À GEOGRAFIA DA INOVAÇÃO
Durante a evolução da Ciência Geográfica no âmbito da Geografia Humana, várias escolas de
pensamento e métodos de análise foram propostos. O mesmo pode-se dizer quando se trata do
estudo da “organização do espaço em função da apropriação dos recursos naturais e da
transformação dos bens em mercadorias” (ANDRADE, 1998), isto é quando se fala em
Geografia Econômica.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 21
Dentro desse ramo da geografia, aliadas a outras disciplinas como a ciência regional e a
economia regional, algumas teorias sempre tiveram como preocupação central a análise da
lógica das localizações e distribuições das atividades econômicas no espaço. Teorias como a
dos círculos concêntricos de Von Thünen, a qual se detinha na investigação da diversidade e
ao mesmo tempo da regularidade das paisagens agrícolas, levando em consideração fatores
como custo da terra fértil e custo do frete, ou modelos de localização industrial como os de
Weber, Lösch, Isard e Söderman, foram teorias que objetivavam apreender a relevância do
espaço na organização econômica (CLEMENTE & HIGACHI, 2000).
Outra teoria bastante relevante e que pode dar pistas de como a organização humana se dá no
espaço a partir da busca por bens e serviços, proposta por Walter Christaller na Alemanha em
1933, é a Teoria dos Lugares Centrais. Esta tem a pretensão de entender a organização
espacial dos centros urbanos a partir da caracterização do poder de polarização de diferentes
lugares centrais posicionados em níveis hierárquicos distintos na rede de cidades de uma
determinada região. A lógica da distribuição das atividades de prestação de bens e serviços,
para Christaller, parte do equacionamento dos fatores relativos à freqüência da demanda e do
alcance espacial da oferta (HILHORST, 1973; BRADFORD & KENT, 1987).
Calcados em vários desses modelos outros teóricos vieram a propor métodos de intervenção
do Estado com o objetivo de melhor distribuir os fatores da produção e a riqueza pelo
território, diminuindo assim as desigualdades regionais crônicas proclamadas por economistas
como Myrdal e Hirschman (SCHWARTZMAN,1977). Uma das primeiras e mais
disseminadas teorias, propostas nesta direção, foi a teoria dos Pólos de Crescimento de
Perroux, a qual estava baseada no estímulo à implantação de indústrias chaves em certas
regiões menos desenvolvidas dos territórios nacionais com a função de agir como uma
indústria motriz e ser capaz de trazer, só pela sua atuação naquele novo espaço, novas
indústrias satélites denominadas de indústrias movidas. Perroux propunha para um
desenvolvimento econômico eficiente e menos desigual uma estratégia de descentralização
concentrada (HILHORST, 1973; SCHWARTZMAN,1977).
Em meados do século XX, muitas das teorias de organização espacial e de desenvolvimento
econômico regional serviram de base para a constituição de grandes políticas governamentais.
Os métodos de planejamento regional foram aplicados em vários países, hoje, porém este tipo
de intervenção governamental para o desenvolvimento defronta-se com as idéias neoliberais
disseminadas globalmente pelas grandes potências capitalistas. O neoliberalismo prega que o
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 22
estado deve ceder todo o seu poder à “mão invisível do mercado”, pois este seria o único
capaz de alocar eficientemente a riqueza em busca do crescimento econômico.
Entretanto, o mundo é eminentemente dialético, o que permite que, na busca pelo
desenvolvimento, muitos Estados, embora com menos força e autonomia que antes,
continuem tendo certo poder de atuação e regulação, fato que deva ainda perdurar por muito
tempo. Além do que, embora agora de forma supranacional e com estratégias distintas,
políticas regionais continuam sendo discutidas e implementadas de forma recorrente, tal como
ocorre hoje na União Européia, na qual existe um fundo monetário específico para o
desenvolvimento das regiões mais pobres do bloco (GOMES,1993).
Outra teoria muito influente na geografia foi inaugurada pelo trabalho do sueco Torsten
Hagerstrand em 1952, muito embora tenha sido amplamente conhecida apenas na década de
1970. Hagerstrand, através da sua teoria da difusão das inovações, trabalhou sob a ótica
geográfica como as inovações se difundiam pelo espaço. Para tal, o autor utilizou modelos
probabilísticos como também realizou observações de ondas de inovações através de dados
reais utilizando um modelo indutivo. O modelo probabilístico baseado no método Monte
Carlo utilizado por ele foi bastante aceito na época, principalmente nos Estados Unidos.
(BRADFORD & KENT, 1987; SANTOS, 2003).
Argumentava-se, à época, que a teoria dos lugares centrais e a dos pólos de crescimento de
Perroux, já mencionadas, completavam-se mutuamente através da mediação da teoria da
difusão de inovações. Porém, Milton Santos (2003) faz questão de refutar tal argumento de
forma incisiva, explicando que
A teoria da difusão de inovações poderia tornar-se um instrumento útil se pudesse trabalhar-se sistematicamente em diferentes níveis espaciais e com sistemas temporais nos quais o tempo estudado fosse o tempo concreto, objetivo. Este é, na verdade, o tempo da história real tal qual é vivida pelos homens. É através da prática humana que se pode retornar à teoria; e as regularidades não serão encontradas à priori, mas emergirão de um processo progressivo de redução, no qual as qualidades individuais darão lugar às qualidades tidas em comum. É assim que os conceitos serão encontrados e a teoria construída. O retorno à realidade – isto é, às realidades particulares a cada país, região ou lugar – ocorrerá, então através da aplicação de modelos para os quais a prática humana de novo se tornará o guia essencial.
Contudo, seria no mínimo injusto não ressaltar as contribuições de Hagerstrand para o
entendimento do fenômeno da difusão das inovações. O autor da teoria, pelo simples fato de
ter reformulado seu modelo algumas vezes, inserindo aspectos teóricos antes não
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 23
considerados, denota não ter a presunção de que seu modelo viesse a substituir a análise das
especificidades de cada lugar e da dinâmica do tempo da “história real” a que Santos (2003)
se refere. Deve-se, então, considerar o seu pioneirismo em discutir na geografia questões que
são retomadas hoje com grande relevância para o entendimento dos novos espaços produtivos
inovadores, tais como como: o papel dos centros urbanos como lugares propulsores da
inovação, o processo de aprendizagem, o efeito de vizinhança, a importância do contato face-
a-face, o efeito de barreira (grau de resistência da sociedade à inovação) e outras.
A intensificação da integração dos mercados, da circulação das pessoas e mercadorias, da
especialização produtiva e da divisão social e internacional do trabalho, as estratégias
flexíveis tanto na produção como nas relações trabalhistas suscitaram, então, o resgate do
conceito de inovação para interpretar essa nova realidade. Um dos primeiros a tratar deste
termo foi, em 1911, o economista Joseph Schumpeter (1939 apud EDQUIST, 1997), o qual
argumenta que “já que a produção no sentido econômico nada mais é que combinação de
serviços produtivos, podemos expressar a mesma coisa ao dizermos que a inovação é uma
nova combinação de fatores ou que consiste na geração de Novas Combinações”.
O conceito tem evoluído à medida que novas formas de perceber a firma inovadora permitem
dizer que, além da inovação schumpeteriana, a difusão também é parte do mesmo processo.
Para Nelson & Rosenberg (1993 apud EDQUIST, 1997) a inovação compõe-se por três
processos: a geração, a difusão e a utilização da tecnologia. Além de processos tecnológicos e
inovações em produtos, outros fatores são incorporados ao conceito de inovação. Novas
formas de organização, e inovações institucionais são vistas como parte integrante do
processo inovativo (MORGAN, 1997).
È necessário, ainda, que os termos invenção e inovação sejam diferenciados. Invenção é
segundo Friedmann (1973 apud SANTOS, 2003) “a criação de algo novo a partir de um
rearranjo de elementos já existentes”. Já a inovação deve ser entendida como a utilização
comercial bem sucedida da invenção, ou mesmo, “a aplicação de novos conhecimentos ou
invenções (idéias, criação de algo novo) para melhorar os processos produtivos ou a sua
modificação para a produção de novos bens” (MENDEZ & CARAVACA, 1996 apud GAMA,
2004).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 24
Existem diferentes tipos de classificações para as inovações. Uma delas distingue as
inovações entre inovações de produto, inovações de processo e inovações organizacionais e de
gestão (FREEMAN,1995; GAMA, 2004).
As inovações de produto têm o objetivo de “criar novos mercados ou ampliar os existentes
pela introdução de novos produtos ou modificações nos existentes, melhorando a qualidade,
as características, entre outros aspectos” (GAMA, 2004). Já as inovações de processo “afetam
a forma de fazer ou de organizar, tanto do processo produtivo, como das atividades
complementares” (GAMA, 2004). E por fim, as inovações organizacionais e de gestão
“afetam toda a empresa e visam uma melhor articulação e coordenação das atividades no seio
das firmas, exigindo novas competências e atitudes, quer dos empresários quer de toda a
organização considerada nos diferentes níveis” (GAMA, 2004).
Outra divisão diferencia as inovações entre inovações radicais e inovações incrementais. As
inovações incrementais se referem a modificação de um produto ou processo já existente e
segundo Freeman (1995) vem de engenheiros de produção, de técnicos e do “chão de fábrica”.
Ainda segundo o autor, “muitas melhorias nos produtos e nos serviços vêm de interações com
o mercado e com firmas relacionadas, tais como subcontratadas, fornecedoras de material e
serviços”3. Já, por sua vez, as inovações radicais se referem à primeira introdução de uma
idéia ou produto no sistema econômico e estão associadas diretamente, segundo Freeman
(1995), à pesquisa e desenvolvimento (P&D) formal, contudo, atualmente, não se deve
ignorar a contribuição e influência no nível das firmas e indústrias para esse tipo de inovação.
Ainda, para as empresas, uma terceira classificação, citada por Gama (2004), pode distinguir
entre as seguintes formas de inovações: “introdução de um novo produto e abertura de um
novo mercado; introdução de um novo método de produção; inovações organizacionais e de
gestão (sentido amplo, já que a inovação de processo é uma forma de alteração ao nível da
organização e da gestão das empresas).
A importância desse conceito para a atual fase do capitalismo se deve ao fato de que para a
superação da crise e valorização do capital, sem que para isso o capitalista atinja diretamente
os trabalhadores já contratados, aumentando assim a tensão social, as empresas precisam atuar
de duas maneiras, a fim de aumentar a sua mais-valia relativa, uma é através da variável
3 Citação traduzida pelo autor.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 25
localização e a outra é a partir da variável inovação, ambas intrinsecamente ligadas ao
território e ao lugar.
Com o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicações (TICs), a construção de infra-
estruturas de transporte cada vez mais rápidas e modernas, e com a diminuição das barreiras
nacionais à circulação de capital e de mercadorias, a relocalização torna-se uma estratégia
bastante vantajosa, pois as empresas podem se beneficiar de fatores territoriais como baixo
custo de mão-de-obra, isenções fiscais, linhas de crédito privilegiadas, acesso à matérias
primas, acesso à mercado, mão-de-obra qualificada, entre outros.
Da mesma forma que a instalação em localizações superiores, a adoção de tecnologias
superiores, inclusive com a criação de um novo produto ou a utilização de um novo processo,
também permite ao capitalista auferir lucros excepcionais. Sendo este processo regido pela
inovação (GALVÃO, 2004).
Porém as vantagens adquiridas pelas firmas, tanto em localizações superiores quanto com
tecnologias superiores, tendem a se exaurir com o tempo, pois cedo ou tarde outros
capitalistas buscarão as mesmas posições ou as mesmas tecnologias, o que fatalmente
diminuirá o lucro do pioneiro (GALVÃO, 2004). As duas variáveis (localização e inovação),
apesar de semelhantes quanto ao potencial de valorização do capital, possuem certas
diferenças que tornam a inovação a variável chave na economia do conhecimento. Isto é, a
relocalização envolve custos maiores para o capitalista, pois requer a existência de grandes
infra-estruturas físicas para a produção e comercialização, além do que, como afirma Galvão
(2004), a busca de condições excepcionais de valorização em áreas inexploradas do sistema,
denominada por Harvey (2005) de “spatial fix” (reparo espacial), não basta como remédio
para a crise, pois como lembra Swyngedouw (1989 apud GALVÃO, 2004)
[...] no momento em que a economia mundial global está integrada em uma divisão espacial internacional do trabalho e dada a forma institucional de regulação, as possibilidades de um reparo espacial se tornam (temporariamente) exauridas.
Já para a inovação, os custos estão associados em sua grande parte com bens intangíveis,
centrados no conhecimento científico e tecnológico aplicado, e não é limitada pela integração
mundial, podendo, pelo contrário, se beneficiar desta integração. Isso permite que, apesar das
duas estratégias terem riscos e custos, a inovação permite que o ciclo de realização e
valorização do capital incorpore mais eficientemente a rapidez e a flexibilidade do novo
regime de acumulação.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 26
Como se verá mais adiante, são diversas as abordagens acerca dos espaços inovadores,
refletindo assim uma preocupação contemporânea com a replicação de estratégias de sucesso
na inserção de territórios na nova geografia econômica global. Por isso, a geografia tem um
papel essencial a cumprir neste campo de pesquisas. Questões relacionadas à proximidade, à
relação local-global, aos fatores e vantagens locacionais dos territórios, à atuação global das
empresas transnacionais, à busca do desenvolvimento pelas regiões mais pobres do globo, à
função das cidades para a realização da inovação, à difusão das inovações, às implicações
territoriais da inovação, às redes territoriais, entre outras, são questões nas quais a percepção
do espaço geográfico é indispensável. Portanto a contribuição que a geografia, em outros
momentos, deu a esta temática, quando a teoria da difusão da inovação era a mais importante,
hoje precisa ser ampliada.
A preocupação de se estudar como um produto ou uma idéia se difunde no espaço não deve
ser esquecida nem menosprezada, até porque a inovação incremental e a própria difusão faz
parte de um entendimento mais amplo do processo de inovação, porém a preocupação central
agora é onde e como estão sendo desenvolvidos esses processos inovativos. Diferentemente
da época de Hagerstrand, a inovação, até mesmo a radical, tem sido perseguida e executada
em vários lugares do mundo, inclusive nos países emergentes e subdesenvolvidos.
A aceleração histórica que vivenciamos tem a inovação técnica como um conjunto de dispositivos impulsionadores das organizações territoriais. A inovação faz parte do dia-a-dia das sociedades e, em particular, das empresas, por meio de mudanças nos processos produtivos e nos modelos dos produtos que inserem o progresso tecnológico. Tem-se, assim, uma verdadeira geografia da inovação, ancorando-se em mudanças tecnológicas nos sistemas produtivos e no desenvolvimento e ordenação dos territórios, por meio de novos espaços de inovação (espontâneos e planejados), além de implicações territoriais decorrentes da inovação (SILVA & EGLER, 2004). (grifo nosso)
1.3 A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO E DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO PARA OS
SISTEMAS TERRITORIAIS DE INOVAÇÃO
Nos estudos sobre inovação e principalmente sobre os espaços da inovação, percebe-se, em
linhas gerais, a existência de duas concepções acerca do processo inovativo e de como se dá o
acesso ao conhecimento para inovar: uma concepção linear “arrowiana” e uma concepção
sistêmica, baseada em Schumpeter e Marshall (GAMA, 2004).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 27
O modelo linear da inovação vê as atividades de P&D como centrais em um processo linear
que vai desde a descoberta científica, passando pelo desenvolvimento e aplicação, até, por
fim, chegar ao mercado. Para esta abordagem, o conhecimento tecnológico e a informação são
bens públicos generalizáveis, facilmente transferíveis e para a qual a aprendizagem tem baixo
custo (GAMA, 2004; FREEMAN, 1995). Esta perspectiva, desconsidera tanto a contribuição
dos mecanismos de retroalimentação, que são essenciais para as atividades de P&D, quanto
outras formas de conhecimento como o “saber-fazer” técnico da engenharia e da produção,
constituindo assim uma concepção elitista do conhecimento (MORGAN, 1997; FREEMAN,
1995).
Já a abordagem sistêmica, baseada grandemente na noção de aprendizagem interativa e na
teoria econômica evolucionista ou neo-schumpeteriana, entende que a inovação é um processo
essencialmente interativo, entre firmas, infra-estruturas de pesquisa, fornecedores e outros
agentes do ambiente institucional (EDQUIST, 1997; MORGAN, 1997; GAMA, 2004). Vê-se,
então, o conhecimento tecnológico como de caráter localizado e não público, privilegiando a
percepção territorial onde aspectos como aprendizagem, fatores de localização, configuração
institucional, infra-estrutura tecnológica dos territórios e a cultura das instituições são de
extrema importância (GAMA, 2004; MORGAN, 1997).
O caráter privado e localizado da tecnologia atribui às firmas um papel determinante na
criação, uso e troca de conhecimento tecnológico. Por isso, o entendimento de como se dá a
dinâmica de transferência de conhecimento, no nível das firmas e entre estas e instituições de
pesquisa, é essencial para compreender quais práticas contribuem para o processo de
aprendizagem em busca da inovação, o que aumentaria, conseqüentemente, a densidade
econômica local.
A abordagem sistêmica da inovação, apesar de recente, já possui um arcabouço teórico
conceitual considerável, o qual permite identificar elementos que atuam localmente de forma
decisiva na constituição de um sistema territorial. Vários autores ressaltam existir um
considerável grau de espontaneidade na formação de Sistemas de Inovação, o que limitaria,
em certa medida, uma constituição intencional do poder governamental de um sistema de
inovação eficiente, porém, mesmo assim, várias estratégias bem sucedidas tentam ser
replicadas por todo o mundo (GALLI & TEUBAL, 1997; HOWELLS, 1999; EDQUIST,
1997).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 28
A idéia de Sistema Nacional de Inovação (SNI) foi, segundo Freeman (1995), pela primeira
vez desenvolvida por Lundvall, e para ele inclui “todas as partes e aspectos da estrutura
econômica e configuração institucional que afetam o aprendizado, bem como a pesquisa e a
exploração, onde os sistemas de produção, de mercado e financeiro apresentam-se como
subsistemas nos quais o aprendizado tem alta relevância” (LUNDVALL, 1992 apud
EDQUIST, 1977).
Entretanto, surgiram outras concepções sistêmicas que viam a dimensão nacional insuficiente
para responder às especificidades requeridas pelas diferentes regiões e territórios. Defendendo
a análise do Sistema Regional de Inovação (SRI), Howells (1999) argumenta que “distância
geográfica, acessibilidade, aglomeração e a presença de externalidades exercem uma poderosa
influência no fluxo de conhecimento, aprendizado e inovação, sendo essa interação
freqüentemente realizada em uma micro esfera geográfica”.
Paralelamente à idéia de Sistema Regional de Inovação surge a noção de Sistema Local de
Inovação (SLI), o qual está freqüentemente associado a diferentes conceitos relativos a
estruturas territoriais produtivas, tais como às noções de distritos industriais marshalianos,
cluster, arranjos produtivos locais, ambientes inovativos, etc (SUZIGAN, GARCIA &
FURTADO, 2005). A concepção de Sistema Local de Inovação permite apreender a política
tecnológica executada no nível local bem como todas as relações sociais e institucionais que
favorecem o comportamento inovador. A análise no nível local é vista como a análise mais
adequada para se considerar a contribuição da socialização e da transferência do
conhecimento a partir da interação informal entre os atores no território, considerando a
proximidade territorial um fator facilitador para as interações face-a-face e o estabelecimento
de confiança entre os atores, aspecto fundamental para a cooperação (PUTNAM, 1996;
CORTÊS et alli., 2004). Porém, o Sistema Local não se encerra em si mesmo, está inserido
em outros sistemas territoriais de inovação que favorecem a inovação em escalas menores, e
devem sempre ser considerados.
Para Kevin Morgan (1997), o sistema de inovação é constituído a partir de uma “variedade de
rotinas institucionais e convenções sociais”. Com essa assertiva o autor pretende ressaltar a
importância das instituições para a inovação e para o desenvolvimento econômico, sendo o
termo instituição entendido por ele como os padrões de comportamento recorrentes, como
hábitos, convenções e rotinas.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 29
Outras abordagens acerca da noção de instituição aparecem nos estudos sobre sistemas de
inovação e foram elencadas por Edquist (1997). Para Lundvall (apud EDQUIST, 1997), “as
instituições podem tanto significar rotinas, guiando as ações diárias na produção, distribuição
e consumo, quanto ser guias para as trocas”. Por outro lado, para Nelson & Rosenberg, as
instituições são na verdade estruturas formais com um propósito explícito, o que alguns
denominam de organizações, e incluem laboratórios de pesquisa, firmas, universidades,
laboratórios governamentais, entre outros (apud EDQUIST, 1997). Ainda, outra concepção
acerca do termo é definida por Carlsson & Stankiewicz, para eles as instituições são
“estruturas normativas que promovem padrões sociais estáveis de interações/transações
necessárias para o desempenho das funções sociais vitais” (apud EDQUIST, 1997). A partir
dessas concepções, este trabalho tratará as instituições como estruturas formais ou informais
capazes de influenciar o padrão de comportamento de determinada sociedade, desde
organizações e leis com propósitos explícitos até normas, regras e costumes moldados a partir
da tradição ou das relações cotidianas atuais.
São, portanto, as características da rede de instituições citada por Freeman (1995), que
definem uma maior ou menor capacidade de aprendizado de um território. Na era da
“economia da aprendizagem” (“learning economy”), o conhecimento, portanto, tem se
tornado um recurso estratégico, enquanto que a aprendizagem o seu processo mais importante
(MORGAN, 1997; LUNDVALL, 1999; GAMA, 2004).
Ao contrário do que sugeria o modelo linear, as atividades de P&D não configuram a única
forma de acúmulo de conhecimento capaz de solucionar problemas ou criar novos produtos ou
novos processos produtivos. Isso se deve à natureza do conhecimento tecnológico, pois
apenas parte deste pode ser codificado e adquirido de forma simples, o que denota uma
relativa importância para outras formas de acúmulo de conhecimento.
Deve-se, então, agora, perceber as nuances que definem a criação de novo conhecimento e
como este é adquirido pelos diversos agentes que atuam em um território de acumulação. O
conhecimento se apresenta basicamente sob quatro formas e é adquirido sob quatro distintos
processos (Quadro 1).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 30
Quadro 1
Componentes do conhecimento tecnológico localizado
Conhecimento Tácito Codificado
Interno Aprendizagem Atividades de P&D
Externo Socialização Troca e aquisição
Fonte: ANTONELLI, 1999 apud GAMA, 2004.
O conhecimento pode ser distinguido entre tácito e codificado. O conhecimento tácito se
refere aquele conhecimento inerente ao indivíduo, incluindo convicções, competências e
talentos, enquanto que o conhecimento codificado é aquele que pode ser transmitido
facilmente através de mídias analógicas e digitais como livros, artigos, vídeos, CDs, internet,
etc (GAMA, 2004). Outra diferenciação que se faz aqui, e que dispensa definições, é entre o
conhecimento adquirido no ambiente interno da firma e aquele adquirido no ambiente externo.
O primeiro processo, denominado de aprendizagem, se dá a partir da interação intra-firma
através de processos tratados por Lundvall de “learning by doing” (aprendizado pelo fazer),
introduzido por Arrow em 1962, e “learning by using” (aprendizado pelo usar), termo
introduzido por Rosenberg em 1982 (EDQUIST,1997; LUNDVALL, 1999; GAMA, 2004).
Esse processo de aprendizagem, de difícil transferência e resultado de um processo longo de
formação, é adquirido pelo indíviduo (ou pela organização) no ambiente de trabalho através
das operações de produção (“doing”) e do uso de sistemas complexos (“using”) (GAMA,
2004; EDQUIST, 1997).
Outro processo se refere às atividades de P&D e caracteriza-se por requerer conhecimento
codificado e ser desenvolvido internamente à firma. É necessário, portanto, que se defina aqui
o que se entende por Pesquisa Científica e Desenvolvimento (P&D). Segundo João Caraça
(1993 apud GAMA, 2004), as atividades de P&D
[...] englobam os trabalhos criativos prosseguidos de forma sistemática, com vista a ampliar o conjunto dos conhecimentos, incluindo o conhecimento do homem, da cultura e da sociedade, bem como a utilização desse conjunto de conhecimentos em novas aplicações.
Vários autores mencionam correntemente três categorias principais de atividades de P&D: a
pesquisa fundamental, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental. Rui Gama
(2004) caracteriza a pesquisa fundamental como a realização de “trabalhos, experimentais ou
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 31
teóricos, com o objetivo de obter novos conhecimentos científicos sobre os fundamentos de
fenômenos e fatos observáveis, sem finalidade específica de aplicação prática”; a pesquisa
aplicada como a realização de “trabalhos originais, com vista à aquisição de novos
conhecimentos, tendo presente uma finalidade ou objetivos pré-determinados”; e o
desenvolvimento experimental como a
[...] utilização sistemática de conhecimentos existentes, resultado da pesquisa e/ou da experiência prática, com o fim de fabricar novos materiais, produtos ou dispositivos, ao estabelecimento de novos processos, sistemas ou serviços, ou à melhoria significativa dos já existentes.
Podemos, porém, identificar atualmente atividades de P&D sendo desenvolvidas também no
ambiente externo à firma, principalmente em países como o Brasil, onde são poucas as
empresas que possuem setores de P&D, sendo esta atividade cada vez mais delegada às
universidades e laboratórios públicos de pesquisa. O papel da universidade no
desenvolvimento de atividades de P&D será discutido mais adiante.
Um terceiro processo, apontado e caracterizado como o processo de internalização do
conhecimento tácito externo à firma é a socialização. As trocas informais são a chave desse
processo. Considerado pelos economistas como externalidades, os aspectos não-econômicos
do cotidiano das pessoas em um determinado território interfere de forma positiva ou negativa
para o desenvolvimento econômico desse território. Por isso, o processo de aprendizado
gerado a partir dessas interações sociais, conhecido como “learning by
interacting”(aprendizado pela interação), vem sendo muito estudado por pesquisadores do
processo inovativo.
Em um SLI, as interações são essenciais para o fluxo do conhecimento fazendo dos territórios
espaços diferenciados com maior potencial inovativo. Essas interações são essencialmente
sociais, mesmo que se trate de relações organizacionais elas são estabelecidas e mantidas por
indivíduos que não encerram seu cotidiano no ambiente de trabalho. Então, como nos mostra
Storper (2005), retomando o que já ressaltou Adam Smith, Marshall e Jane Jacobs, a cidade
constitui “o locus da inventividade”, pois se configura através dos contatos humanos, centros
de produção de idéias e de conhecimento. O autor ressalta ainda que a “proximidade espacial
amplia os fluxos de informação de que os inovadores se utilizam para se comportarem como
tal” (STORPER, 2005).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 32
As redes sociais configuram-se, portanto, como o principal meio de circulação de um bem
intangível como o conhecimento tácito. Como explica Cortês (2005), as relações econômicas
são regidas pelo mercado e pela hierarquia criadas nas relações de trabalho, porém sob a
perspectiva das redes sociais, “busca-se analisar estas estruturas levando em conta o caráter
relacional dos agentes envolvidos no sistema”.
As redes, segundo Marteleto (2004), são “sistemas compostos por ‘nós’ e conexões entre eles
que, nas ciências sociais, são representados por sujeitos sociais (indivíduos, grupos,
organizações, etc.) conectados por algum tipo de relação”. Uma caracterização das relações
entre os elementos de uma rede é sugerida por Granoverter (1973 apud CORTÊS at alli), ele
classifica as ligações entre os nós como ligações fortes (laços fracos) e ligações fracas (laços
fortes). As ligações fortes se referem aos laços entre indivíduos, nos quais se despende mais
tempo, intensidade emocional e trocas. A amizade é um exemplo claro de um laço forte. Já os
laços fracos são aqueles nos quais o investimento é menor ou nulo. Pode-se verificar laços
fracos nas relações entre pessoas conhecidas apenas. Então em relação ao processo inovativo,
poderia se pensar que o mais importante para uma rede seria o estreitamento de laços fortes, o
que também é importante, porém o essencial e que caracteriza o potencial de expansão e de
“oxigenação” de uma rede são efetivamente os laços fracos. É principalmente a partir desses
laços fracos que novos conhecimentos são transferidos e internalizados por atores presentes na
rede.
As relações de confiança que se estabelecem no cotidiano das empresas e dos outros agentes
envolvidos no processo produtivo determinam o capital social de um território, o qual pode na
sua forma produtiva reduzir bastante os gastos com capital fixo. Quando se fala em capital
social devemos pensar nas “características da organização social, como confiança, normas e
sistemas, que contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações
coordenadas” (PUTNAM, 1996).
O último processo de aquisição de conhecimento tratado aqui é aquele adquirido através da
troca e aquisição. Esse processo se vale do conhecimento codificado obtido fora da firma.
Esse tipo de conhecimento é formado por informações genéricas disponíveis, implicando em
um esforço no sentido da utilização e adaptação em novos contextos distintos dos originais.
Na busca por esse tipo de conhecimento, são estabelecidas atividades cooperativas entre
firmas e entre empresas e outras organizações como universidades e centros de pesquisa.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 33
Porém, para que a cooperação se efetive de forma voluntária em um SLI é necessária a
definição de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica, caso isto não aconteça
torna-se necessária a existência de instituições formais capazes de auxiliar na superação do
problema da ação coletiva (PUTNAM, 1996).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 34
2. A INDÚSTRIA DE SOFTWARE E A INSTITUIÇÃO DA LEI DE INFORMÁTICA: O PAPEL DA
PESQUISA E DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
A indústria de software tem no conhecimento um ativo intangível de suma importância, e são
as atividades de P&D a sua maior mola propulsora. O Brasil identificou, em 2003, através da
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), o setor de software como
um dos quatro setores estratégicos para o país, junto aos setores de fármacos e medicamentos,
semicondutores e bens de capital.
O termo software muitas vezes é empregado de formas diferentes, portanto é preciso que neste
capítulo seja definido claramente o que se entende neste trabalho como tal. Também devem
ser ressaltadas as peculiaridades inerentes aos diferentes modelos de negócio, tipos e formas
de inovação em software.
A configuração espacial da indústria de software no país e, particularmente, no Nordeste é
analisada aqui com a finalidade de entender como as diferentes categorias de atividades de
serviço em software se comportam diante do território e da rede urbana nacional e regional.
Pretende-se realizar um breve histórico acerca do mecanismo legal conhecido como Lei de
Informática e que estabelece incentivos fiscais para as empresas de Tecnologia da Informação
tendo em contrapartida a aplicação de parte do faturamento destas em P&D.
Estas estratégias visam a aumentar o nível de investimento em P&D no país e fazem parte de
uma dinâmica global, na qual agentes econômicos internacionais buscam e são atraídos pelos
Estados Nacionais e pelos lugares. Porém é preciso verificar quais efeitos são gerados a partir
desse processo e quem está efetivamente se beneficiando a partir dele.
2.1 O SOFTWARE E A INOVAÇÃO
Os dois componentes básicos que formam os sistemas computacionais são conhecidos
amplamente como: “hardware” e software. Os componentes do tipo “hardware” representam
os equipamentos físicos eletroeletrônicos capazes de executar as tarefas demandadas pelo
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 35
usuário do sistema. Porém, para que a informação chegue do usuário até a máquina é
necessária a existência de um protocolo de comunicação capaz de ser reconhecido por esta.
Esse protocolo é conhecido como “linguagem de máquina”, que pode ser entendida como uma
sequência de 0s e 1s de difícil entendimento humano trivial. Por isso, existem diversas
linguagens, com regras e características próprias, chamadas de alto nível, que permitem a
definição de instruções capazes de serem transformadas para uma linguagem de baixo nível, e
assim, operacionalizadas pelo “hardware”. Os programas de computadores nada mais são do
que seqüências de instruções, em alto ou mais baixo nível, a serem executadas pelo
“hardware” (MOURA, 1995). Todo software é um programa, pois é constituído de instruções
que descrevem precisamente operações a serem executadas, porém o conceito de software,
como desenvolve Jorge Fernandes (apud NETTO, 2004), vai além do que simplesmente o de
uma entidade de natureza mecânica, é para ele “uma entidade descritiva, complexamente
hierarquizada, cognitivo-liguística e histórica, concebida através de esforços geralmente
coletivos durante um considerável período de tempo”. Sistemas operacionais (Windows,
Linux, MS-DOS, etc), editores de texto, planilhas eletrônicas, entre outros são exemplos
bastante conhecidos de “softwares”.
Como mostra Vicente Netto (2004), o software pode ser percebido, e se expressa, de três
formas distintas:
Conjunto de instruções ou código fonte, que o desenvolvedor ou programador
produz em alguma linguagem;
Aplicativo ou executável, consistente no programa que o usuário tem interesse de
operar. Aquilo que ao ser incorporado num meio legível por máquina, faça com
que uma máquina que dispõe de capacidade de processamento, indique, realize ou
execute uma determinada função, tarefa ou resultado;
Material de apoio, que vem a ser tudo aquilo que possa facilitar o entendimento da
obra que é um programa, como manuais de instrução ou diagramas de
funcionamento e comportamento de programas.
A inovação em software tem peculiaridades que requerem um maior entendimento da
estrutura do setor e da natureza de seus produtos e serviços. Segundo Frick e Nunes (apud
FREIRE, 2002, p.19) o setor de software pode ser classificado segundo a forma de chegada ao
mercado ou o tipo de mercado de destino. Segundo a forma o software pode ser do tipo:
Pacote - padronizado e não há interação entre o cliente e o desenvolvedor;
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 36
Serviço (ou por encomenda) - atende às necessidades específicas de cada cliente;
Embarcado - embutido em algum equipamento automatizado.
Já segundo o tipo de mercado de destino:
Mercado Horizontal - conteúdo proveniente da área de informática;
Mercado Vertical - programas desenvolvidos para uma determinada atividade
econômica.
Uma classificação bastante interessante, e que norteará o nosso entendimento das variações
dentro do setor, é aquela proposta pelo estudo da Sociedade SOFTEX sobre a indústria de
software no Brasil em 2002 (Quadro 2) (SOFTEX, 2002).
Quadro 2
Modelos de Negócios na Indústria de Software
Fonte: SOFTEX/MIT/W-Class, 2002.
Pode-se então classificar a maior parte dos modelos de negócios em software nos cinco
grandes tipos sugeridos no estudo, e identificados no quadro 2. São eles: serviço de baixo
valor, serviço de alto valor, produto customizávei, componente & embarcado e produto
pacote. Esse procedimento facilita a compreensão e mostra como difícil é apreender a
inovação em software. Cada tipo de negócio requer procedimentos específicos para a criação
de novos produtos ou processos que podem ser semelhantes ou totalmente distintos uns dos
outros.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 37
Devido à transversalidade característica da atividade de desenvolvimento de software, o
enquadramento da atividade para coleta e análise estatística torna-se difícil e muitas vezes
impreciso. A partir da classificação realizada por José Eduardo Roselino (2006), segundo a
fonte de receita predominante das empresas, serão aqui pré-definidas quatro categorias, para
fins de análise estatística, as quais se referem às empresas de serviços do setor de informática.
No quadro 3, a seguir, confrontam-se as categorias propostas por Roselino e as classes da
Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE). Assim, permite-se quantificar o
número de empresas e empregados em cada tipo de serviço do setor de informática.
Quadro 3
Categorias das Empresas de Prestação de Serviços do Setor de Informática
Categoria Descrição Classe CNAE 1.0
Categoria 1:
Serviços de Informática
Consultoria em hardware (configuração e redes), serviços de
manutenção e reparação e outras atividades relacionadas à
informática, inclusive comercialização de equipamentos.
72.10-9 Consultoria em hardware
72.50-8 Manutenção e reparação de máquinas de escritório e de informática
72.90-7 Outras atividades de informática, não especificadas anteriormente
Categoria 2:
Serviços em software de baixo
valor agregado
Serviços ligados à internet (exceto provedores de acesso),
criação e manutenção de banco de dados, processamento de
dados para terceiros, suporte e terceirização.
72.40-0 Atividades de bancos de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico
72.30-3 Processamento de dados
Categoria 3:
Serviços em software de alto
valor agregado
Desenvolvimento de software sob encomenda (análise, projeto,
programação, testes, implantação e documentação) e
desenvolvimento de projetos e modelagens de banco de dados.
72.29-0 Desenvolvimento de software sob encomenda e outras consultorias em software
Categoria 4:
Desenvolvimento e
comercialização de software-
produto
Desenvolvimento e produção de software pronto para uso
(inclusive customização), comercialização, licenciamento e
locação de software pronto para uso (inclusive de terceiros)
72.21-4 Desenvolvimento e edição de software prontos para uso
Fonte: ROSELINO, 2006; CNAE-2002.
2.2 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE
A evolução da indústria de software é algo recente, principalmente no que se refere ao seu
desenvolvimento no Brasil. Muitas transformações ocorreram no tratamento do software
desde o surgimento do primeiro computador eletrônico em 1946 nos Estados Unidos, o
ENIAC, até o advento das tecnologias de comunicação, capazes de aumentar
exponencialmente a velocidade da difusão de conhecimento e de inovações no setor.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 38
O software inicialmente não era compreendido de forma isolada do “hardware”, essa
dissociação só começa a se dar quando o matemático Von Neumann projeta pela primeira vez
um equipamento que prevê o armazenamento de programas em sua memória, os quais são
capazes de serem modificados para a execução de novas funções, o EDIVAC (FREIRE,
2002).
Com a produção de “chips” em larga escala na década de 1960, os computadores começaram
a ser produzidos com menos custo e com mais capacidade de processamento, fazendo com
que se difundisse rapidamente, aumentando enormemente a demanda por software. A
padronização de equipamentos e hardware foi acompanhada pelos sistemas operacionais e
aplicativos (FREIRE, 2002).
Durante a década de 80, os microcomputadores se popularizaram, bem como evoluíram as
estruturas de informática em rede. O software, então, tomou uma importância cada vez maior,
o que requereu uma evolução constante do setor de engenharia de software, aumentando cada
vez mais a eficiência na produção de sistemas computacionais e na geração de código.
Surgem então linguagens de programação orientadas a objeto e ferramentas CASE
(Computer-Aided Software Engineering), as quais permitem a automação de diversas tarefas
anteriormente custosas para os desenvolvedores (DUARTE, 2003).
Os países centrais se mostraram eficientes em produzir e difundir tais inovações,
consolidando, assim, seu poderio tecnológico sobre o resto do mundo. Contudo, alguns países
hoje considerados emergentes montaram estratégias eficientes de transferência de
conhecimento e instalaram sólidos parques tecnológicos atuando de forma complementar ou
algumas vezes de forma concorrente às grandes potências.
No mercado mundial de software, o qual atingirá, segundo algumas projeções, 900 bilhões de
dólares em 2008, países emergentes como China e Índia tornam-se referências importantes.
Em 2001, a China possuía um mercado doméstico de software de dimensões semelhantes à do
Brasil apresentando cifras de 7,9 bilhões de dólares enquanto que o Brasil detinha no mesmo
ano um mercado de 7,7 bilhões de dólares. Já a Índia possuía, por sua vez, um mercado
interno ainda pequeno diante do seu potencial, atingindo os 2 bilhões de dólares. Por outro
lado, em 2000, a Índia exportava 4 bilhões de dólares em software enquanto a China não
ultrapassava meio bilhão, e o Brasil apresentava apenas 100 milhões. Também se deve
destacar a formação de profissionais graduados na área de TI, pois a Índia formou, em 2000,
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 39
73 mil pessoas, enquanto a China formou 50 mil e o Brasil apenas 23 mil pessoas. Além das
questões econômicas, propriamente, questões culturais podem se tornar vantagens
comparativas importantes para os lugares. A Índia tem na língua uma vantagem comparativa
importante para o domínio do mercado de serviços de “outsourcing”4.
A indústria de software brasileira evoluiu de forma bastante distinta das economias centrais,
como é o caso, principalmente, da norte-americana. Os Estados Unidos, por serem o berço
maior dessa indústria, tem no software de pacote o seu maior trunfo. Como podemos perceber
no quadro 2, exposto na seção anterior, o produto pacote, apesar de ser um investimento de
risco, é produzido em larga escala e tem custo marginal virtualmente zero para novas vendas,
o que traz altos retornos financeiros.
Com a abertura para o mercado internacional e a concorrência estrangeira durante a década de
1990, as empresas nacionais acabaram por se especializar mais fortemente no mercado de
software customizável e de serviços, pois tinham na verticalidade desse mercado e na
demanda interna consideravelmente grande da indústria nacional, a qual era bastante diversa e
ávida para se modernizar, uma característica que as protegiam da concorrência das grandes
multinacionais.
Tendo como ponto de partida esse panorama da evolução da indústria no país, será realizado
aqui um esforço de caracterização da atual configuração espacial das atividades de prestação
de serviço em software no Brasil, levando em consideração as 4 categorias sugeridas no
quadro 3 da seção anterior.
As empresas de prestação de serviço atreladas ao setor da informática, as quais estão entre as
4 categorias pré-definidas, estão distribuídas por todo o território nacional, o que indica que
este setor rapidamente tornou-se indispensável a todos os setores de atividade econômica, bem
como às atividades cotidianas das pessoas. Assim, pode-se inferir que o “meio técnico-
científico informacional” está cada vez mais onipresente e hegemônico, e a difusão das
inovações, trabalhada por Hagerstrand, assume uma velocidade nunca vista na história da
humanidade (Figuras 1 e 2).
4 “ Outsourcing” designa a ação que existe por parte de uma organização em delegar operações secundárias da produção interna da firma para utra organização especializada na gestão desse tipo de operação, a diferença entre terceirização e “outsourcing” é que este se refere mais diretamente à procura de fontes fora da organização e do país.
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INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 42
Porém, pode-se perceber também que o setor de informática como um todo está diretamente
associado a economias de aglomeração, urbanização e advindas a partir de externalidades
garantidas em espaços de alta densidade econômica, o que pode ser comprovado com a grande
predominância de empresas e empregados do setor nas regiões metropolitanas de São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Porto Alegre. As metrópoles nordestinas
não apresentam números expressivos diante das metrópoles do sul e sudeste (incluindo
Brasília), dentre aquelas Salvador é a que possui mais empresas (1.053), mas, mesmo assim,
representa pouco mais de um terço do número de empresas de Curitiba (3.050), a qual
apresenta menor número dentre as metrópoles do sul e sudeste supracitadas (Figuras 1 e 2).
Ao compararem-se os dados referentes à distribuição espacial das empresas e dos empregados
verifica-se uma característica bastante importante deste setor que é a baixa taxa de
empregados por empresa, a qual varia nas capitais brasileiras, em 2005, entre 1,09
empregados/empresa em Macapá e 7,37 empregados/empresa em Florianópolis. São Paulo, o
maior centro de serviços do setor, apresenta uma taxa de apenas 2 empregados por empresa.
Outro fato relevante é que muitas das cidades do interior que apresentam de 1 a 250 empresas
não registram nenhum empregado, fato que indica a atuação nestas cidades de profissionais
liberais que montam micro e pequenas empresas com a finalidade de adquirirem caráter de
pessoa jurídica e prestam serviços de baixa complexidade principalmente na categoria 1.
Para possibilitar uma análise da evolução dos dados do setor por categoria e por macrorregião
brasileira desde 2000 até 2005 foi necessário o agrupamento das categorias 3 e 4, as quais
estão direcionadas ao desenvolvimento de software propriamente. Esse artifício tornou-se
necessário, pois só a partir de 2002 é que a CNAE começa a levar em consideração a
diferença entre as categorias 3 e 4, através das classes 7229-0 e 7221-4, ao contrário dos anos
anteriores que agrupavam-nas na classe 7220-6 (Desenvolvimento de Programas de
Informática). Mesmo assim o desmembramento da classe anterior não ocorreu por completo,
pois nos anos de 2002 e 2003 empresas ainda se definiam como pertencentes à classe 7220-6,
só extinta efetivamente em 2005. Por isso, as análises relativas à evolução do setor proceder-
se-á a partir das categorias 1 e 2 isoladamente e das categorias 3 e 4 de forma agregada, pois
esta será composta pelas classes 7229-0, 7221-4 e a extinta 7220-6. Contudo deve-se ressaltar
que, apesar de teoricamente essa agregação não trazer nenhum problema metodológico, na
prática os dados sofrem certa descontinuidade que deve ser levado em consideração na análise
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 43
da evolução do setor de desenvolvimento em software, portanto deve-se muito mais perceber
a diferença da distribuição espacial dos dados em cada ano do que a diferença das unidades
territoriais ano a ano, embora essa última análise possa ser feita tomando em conta apenas os
últimos anos disponíveis aqui (2002 a 2005).
Percebe-se uma nítida preponderância em todas as regiões da categoria 1, a qual se refere aos
serviços de informática como consultorias em hardware e serviços de manutenção ou
reparação relacionados à informática (Gráfico 1). Contudo, seguindo o padrão de
concentração regional brasileiro das atividades econômicas mais rentáveis e dinâmicas e que
requerem maiores qualificações profissionais, as atividades de prestação de serviços em
informática também mostram uma forte concentração de empresas na região sudeste do país, a
qual apresenta em 2005 um número de empresas em todo o setor de serviços em informática
(87.621 empresas) 4,7 vezes maior que a segunda região mais expressiva, a região Sul (18.586
empresas).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 44
Gráfico 1
Comparação entre o número de estabelecimentos em cada macrorregião brasileira por
categoria de serviços em informática
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE
CATEGORIA 1
CATEGORIA 2
CATEGORIA 3 e 4
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2000-2005.
A categoria 2, relativa aos serviços de software de baixo valor agregado, tem tido um
crescimento constante em todas as regiões desde 2000. A partir de 2002 esta categoria
configura-se como a segunda mais expressiva em todas as regiões, embora se deva ressaltar
que em 2000 e 2001 no sul, sudeste e centro-oeste esta era menos expressiva que a categoria
3, de desenvolvimento de software. Fato interessante é que no Sudeste ocorre uma inversão na
proporção entre a categoria 2 e o agrupamento das categorias 3 e 4 no ano de 2005, pois o
desenvolvimento de software volta a ser a segunda categoria mais importante do setor.
Comparando-se apenas as categorias relativas ao software, isto é, desconsiderando a categoria
1, verifica-se nos últimos anos estudados um aumento da participação dos serviços em
software de mais alto valor agregado e software pacote em detrimento dos serviços em
2000 2001 2002 2003 2005 2000 2001 2002 2003 2005 2000 2001 2002 2003 2005 2000 2001 2002 2003 2005 2000 2001 2002 2003 2005
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 45
software de baixo valor agregado (Gráfico 2). Isto se verifica mais acentuadamente na região
sudeste, a qual tem a participação das categorias 3 e 4 aumentadas de 44,17% em 2002 para
54,08% em 2005 (Gráfico 2), o que se refere de forma absoluta a mais que dobrar o número
de empresas na região com a maior densidade econômica do país (Gráfico 1).
Gráfico 2
Proporção do número de estabelecimentos das categorias 2, 3 e 4 nos serviços em
software de cada macrorregião brasileira
76,29%
72,74%
55,83%
63,57%
57,27%
23,71%
27,26%
44,17%
36,43%
42,73%
70,03%
69,11%
52,79%
63,61%
56,06%
29,97%
30,89%
47,21%
36,39%
43,94%
69,45%
68,51%
45,92%
62,34%
52,07%
30,55%
31,49%
54,08%
37,66%
47,93%
NORTE
NORDESTE
SUDESTE
SUL
CENTRO-OESTE
CATEGORIA 2
CATEGORIA 3 e 4
2002 2003 2005
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2000-2005.
Como em 2005 a divisão da classe de desenvolvimento de software da CNAE já está
configurada de forma definitiva, pode-se distinguir entre as categorias 3 e 4, a fim de perceber
qual categoria é mais expressiva e que responde mais fortemente pelo alto crescimento destes
serviços de software de mais alto valor agregado. Assim, percebe-se que efetivamente a
categoria 3, relativa ao desenvolvimento de software customizável é a que mais responde por
esse crescimento, pois como se verifica na região sudeste, esta apresenta uma participação
bastante expressiva muito próxima àquela da categoria 2, enquanto que a categoria 4
apresenta um número de empresas mais de 4 vezes e meia menor, comparativamente à
categoria 3 (Gráfico 3).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 46
Gráfico 3
Número de estabelecimentos das categorias 2, 3 e 4 nos serviços em software de cada
macrorregião brasileira em 2005
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE
CATEGORIA 2
CATEGORIA 3
CATEGORIA 4
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2005.
Analisando-se apenas o setor de desenvolvimento de software (categorias 3 e 4), a partir das
cidades brasileiras, verifica-se uma concentração ainda maior que aquela verificada no setor
de serviços em informática como todo nos grandes centros mais dinâmicos do país. Este fato
suscita algumas questões em relação à natureza da atividade de desenvolvimento de software,
pois a princípio poderia se pensar que, pelo fato de que para se montar uma empresa de
software o capital inicial não precisaria ser tão grande como em outros setores, haja vista que
o que se precisa fundamentalmente são computadores pessoais e cérebros, os fatores
limitantes para a entrada no mercado de software seriam menores, porém se verifica que a
proximidade do mercado, da mão-de-obra qualificada e de outras empresas é algo bastante
relevante.
Nota-se, como já deveria se supor, um papel primaz da região metropolitana de São Paulo,
contudo é digno de nota o crescimento que se verificou no número de empregados nesta
atividade em Brasília, saindo de 3.189 empregados em 2000 para 6.627 em 2005, número
bastante relevante, haja vista que o município de São Paulo, o qual apresenta maior número de
empregados no país, possuía, em 2005, 7.527 empregados. Outras cidades que se destacam
tanto no número de empregados quanto no número de empresas são Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Curitiba e Porto Alegre (Figuras 3 e 4).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 47
O Nordeste quase que desaparece nesse quadro, apenas apresentando números significativos
as tradicionais capitais Salvador, Recife e Fortaleza. Essa pouca densidade é ainda mais nítida
quando se trata do número de empregados do setor (Figuras 3 e 4).
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INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 50
Para que se possam evidenciar mais fortemente as nuances inerentes a configuração espacial
do setor na região Nordeste, torna-se necessário realizar um recorte regional, aumentando,
assim, a escala, a fim de permitir apreender a dinâmica desse espaço que se insere de forma
marginal à grande dinâmica nacional do setor de prestação de serviços em informática.
As cidades nordestinas que mais se destacam no setor de serviços em informática continuam
sendo Fortaleza, Recife e Salvador, contudo para que se tenha uma compreensão mais acurada
da diferença entre as capitais é necessário que se leve em consideração as suas regiões
metropolitanas, assim pode-se verificar no setor de informática como um todo a Região
Metropolitana de Salvador é a que mais se destaca acompanhada pela Região Metropolitana
do Recife e a Região metropolitana de Fortaleza (Gráfico 4).
Gráfico 4
Número de Empresas no Setor de Serviços em Informática distribuídas pelas Regiões
Metropolitanas Oficiais do Nordeste
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
2000 2001 2002 2003 2005
Fortaleza
Grande São Luís
Maceió
Natal
Recife
Salvador
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2000-2005.
Já em relação ao setor de desenvolvimento de software, a região metropolitana que mais se
destacou no último ano analisado é a do Recife, seguida por Salvador e Fortaleza. É
interessante perceber a diminuição no ritmo de crescimento da Região Metropolitana de
Fortaleza, a qual em 2000 se apresentava como a mais forte e em 2005 já caiu para o terceiro
lugar (Gráfico 5). Deve-se ressaltar também, entre 2000 e 2005, o crescimento acentuado do
número de empresas nesse setor na Região Metropolitana de Natal (Gráfico 5).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 51
Gráfico 5
Número de Empresas no Setor de Desenvolvimento de Software distribuídas pelas
Regiões Metropolitanas Oficiais do Nordeste
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
2000 2001 2002 2003 2005
Fortaleza
Grande São Luís
Maceió
Natal
Recife
Salvador
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2000-2005.
Ao ater-se à distribuição espacial dos estabelecimentos na região Nordeste pode-se perceber a
pouca expressão das cidades do interior (cidades fora das capitais e regiões metropolitanas),
destacam-se no setor de serviços em informática apenas Feira de Santana/BA e Campina
Grande/PB, possuindo, em 2005, respectivamente, 84 e 76 empresas (Figura 5).
Já no setor de desenvolvimento de software, Campina Grande é a única cidade fora das
capitais que aparece com mais de 10 empresas, mais precisamente 15, enquanto que Feira de
Santana, que tinha mais empresas no setor de informática, aparece com apenas 7 empresas em
desenvolvimento de software (Figura 6).
Estas duas cidades são de fato as duas cidades com mais densidade econômica do interior do
Nordeste, Feira de Santana em 2003 tinha o maior Produto Interno Bruto
(R$1.663.706.540,005) e Campina Grande o segundo maior (R$1.306.537.710,00), isso tanto
considerando o produto interno bruto total quanto o produto interno bruto obtido a partir do
setor de serviços. Ao se considerar Juazeiro e Petrolina uma aglomeração urbana e somarem-
se suas contas municipais, esta aglomeração tomará o segundo lugar de Campina Grande em
termos de densidade econômica, embora tenha números muito abaixo de Feira de Santana e
Campina Grande em relação ao setor de informática e de desenvolvimento de software, tendo
este último particularmente apenas uma empresa.
5 PIB Municipal divulgado pelo IBGE em preços constantes em reais de 2000.
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INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 54
2.3 OS COMPONENTES E AS DEFINIÇÕES DA LEI DE INFORMÁTICA
O Brasil, através da sua política de substituição de importações, durante a década de 80, ao
impor barreiras aos produtos e empresas estrangeiras e por possuir já uma considerável
demanda do setor industrial por tecnologias que possibilitassem a modernização do processo
produtivo das unidades fabris, conseguiu montar no país um parque industrial de informática
relevante. Essa estratégia, porém, fez com que o país devido ao isolamento competitivo, não
acompanhasse de perto às inovações mundiais do setor, o que trouxe problemas sérios no
momento da reabertura da economia nos anos 90. Muitas empresas nacionais não resistiram à
competição com empresas estrangeiras e acabaram, ou sendo compradas por essas últimas, ou
cessando suas atividades. Mesmo assim, o país constituiu durante a fase da substituição de
importações a base tecnológica industrial essencial para a ampliação da nascente indústria de
software que se desenvolveria pós-1990 (SOFTEX, 2002).
A partir daí, políticas foram implementadas para incentivar empresas multinacionais a
produzirem no país sob certas condições. Programas de fomento para as empresas locais
também foram implantados. Em 1991, com a lei 8.248, tornavam-se isentas de determinadas
taxas e impostos as empresas de informática que mantivessem “certo nível de produção local
e desenvolvesse conteúdo e P&D locais” (SOFTEX, 2002). Ao contrário da antiga legislação
de 1984 que regulava o setor de tecnologia e garantia um considerável aparato de proteção à
indústria nacional, chamada de “lei de informática”, a nova legislação ou “nova lei de
informática”, que foi aprovada em 1991 e entrou em vigor efetivamente em 1993, eliminou as
restrições anteriores ao capital estrangeiro e estimulou as empresas a converter parte do seu
faturamento bruto no mercado interno em recursos utilizados no desenvolvimento de
atividades de P&D no país (GARCIA & ROSELINO, 2002).
O valor acumulado dos investimentos através da nova lei de informática no país em P&D
entre 1993 e 2000 foi, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia (2000, apud GARCIA &
ROSELINO, 2002), em torno de R$ 3 bilhões. Deste montante R$ 1 bilhão foi investido em
parcerias nas instituições de ensino e pesquisa. Porém, o que preocupa é o fato de que, do
volume total de benefícios, 83% estão associados a atividades desenvolvidas por apenas 30
empresas (GARCIA & ROSELINO, 2002).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 55
Tais mecanismos, inegavelmente, contribuíram para a expansão do parque industrial de
informática do país e para a modernização de outros setores industriais e de serviços, porém,
até 2001, apenas 25% dos investimentos obtidos com a primeira lei de informática foram
investidos especificamente em software (SOFTEX, 2002).
Em 2001 ocorre ainda a modificação da nova lei de informática de 1991, sendo aprovada a lei
10.176, a qual, apesar de ter o mesmo espírito da lei anterior, modifica os percentuais a serem
aplicados em incentivos e define a obrigatoriedade de se aplicar nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste do país (SOFTEX, 2002). Esta lei favoreceu, portanto, o estabelecimento,
particularmente no Nordeste, de convênios entre universidades e grandes empresas nacionais
ou entre universidades e empresas transnacionais de capital estrangeiro, como é o caso das
parcerias que trataremos mais adiante entre a Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) e a Motorola ou a HP (Hewlett Packard).
A lei 10.176 de 2001 previa valores percentuais de incentivos que iam sendo reduzidos no
tempo, bem como, também, iam sendo reduzidos os percentuais obrigatórios a serem
investidos em P&D. Ela previa incentivos até 2009. Através desta também foi instituída a
obrigatoriedade das empresas beneficiadas de a cada três meses depositarem 0,5% dos
investimentos previstos em um Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FNDCT), o qual, através do Fundo Setorial para Tecnologia da Informação (CT-Info),
destina recursos à promoção de projetos estratégicos de pesquisa e desenvolvimento em
tecnologia da informação, inclusive em segurança da informação. O setor de Tecnologia da
Informação (TI) é constituído pelas empresas que ofertam bens e serviços capazes de permitir
o acesso à informação, sejam eles da Indústria de Computação, Telecomunicações,
Automação, Instrumentação, Microeletrônica, Software e serviços técnicos associados (MCT,
2003).
Já, em dezembro de 2004, foi aprovada a lei 11.077 que alterava fundamentalmente os prazos
e os valores dos incentivos definidos anteriormente, prorrogando-os até 2019. Também
alterou o artigo que definia que o investimento das empresas em P&D deveriam ser realizados
com 5% do seu faturamento bruto, redefinindo-o para 5% do faturamento da empresa com os
produtos incentivados.
Portanto a lei de informática define que as empresas que investirem em atividades de P&D em
tecnologias da informação poderão pleitear isenção ou redução de imposto sobre produtos
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 56
industrializados (IPI) para os bens de informática e automação produzidos por ela de acordo
com processo produtivo básico (PPB), o qual é definido pelo poder executivo e corresponde
ao conjunto mínimo de operações, no estabelecimento fabril, que caracteriza a efetiva
industrialização de determinado produto.
Mesmo que para fins desta lei considere-se “programas para computadores, máquinas,
equipamentos e dispositivos de tratamento da informação e respectiva documentação técnica
associada (software)” um bem ou serviço de informática e automação, a forma de incentivo
dada, através da redução do IPI, exclui como beneficiárias, as empresas voltadas
exclusivamente para a produção de software, pois esse imposto não recai sobre a concessão de
licenças de software. Portanto o desenvolvimento do setor se dá de forma indireta a partir das
atividades de P&D em software desenvolvida por empresas que tenham o software como
produto secundário ou complementar, ou através de projetos com recursos do FNDCT.
Os aspectos da lei que levam em consideração a questão regional no país são definidos
fundamentalmente pela definição de taxas diferenciadas de isenção de IPI e de percentual do
faturamento convertido em investimentos de P&D para empresas que investirem nas regiões
de influência da Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), da Agência de
Desenvolvimento do Nordeste (ADENE) e na região Centro-Oeste (Gráficos 6 e 7).
Gráfico 6
Redução Percentual do IPI, 2005-2019
Fonte: MCT, 2005.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 57
Gráfico 7
Percentual de Investimentos em P&D, 2005-2019
Fonte: MCT, 2005.
De 2005 a 2014, o percentual obrigatório para investimentos em P&D pelas empresas
beneficiárias da lei é de 4%, com exceção das regiões prioritárias que é de 4,35% (Gráfico 7),
destes 4%, no mínimo 1,44% tem de ser investido em projetos de P&D com instituições
credenciadas pelo CATI (Comitê da Área de Tecnologia da Informação) e no mínimo 0,4%
deve ser depositado no FNDCT/CTInfo (Figura 7). O que sobra, no máximo 2,16%, pode ser
investido em projetos de P&D nas próprias empresas incentivadas. Ainda é obrigatório que
dos 1,44% destinados a projetos em parcerias com outras instituições 0,64% seja investido nas
regiões Centro-Oeste e de influência da ADA e ADENE, destes, 0,192% devem ser
direcionados a parcerias com instituições públicas dessas regiões (Figura 7).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 58
Figura 7
Distribuição do Investimento em Atividades de P&D definida na Lei de Informática
Fonte: MCT, 2005.
Mesmo com certa preocupação regional exposta na lei, os investimentos em P&D tendem
naturalmente a continuar sendo fortemente concentrados nas regiões de maiores densidades
econômicas, além do que outros fatores podem atuar de forma implícita acentuando as
disparidades regionais. Em agosto de 2003, em carta endereçada ao Ministério da Ciência e
Tecnologia, o então presidente da ASSESPRO Nacional (Associação das Empresas
Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet), Ernesto Haberkorn, deixa claro
sua preocupação quanto ao fato de que, mesmo que em um primeiro momento os resultados
da política de incentivos fiscais proporcionados pela lei de informática pareçam bastante
otimistas, haja vista o aumento da arrecadação de impostos principalmente com o ICMS, o
qual registrou, entre 1993 e 1999, um aumento superior a R$ 700 milhões ao ano, o resultado
fiscal não é justo para os estados não produtores. Argumenta Haberkorn que, ao contrário do
IPI que é um tributo federal, aplicado em todos os estados da federação, o ICMS gerado é
destinado única e exclusivamente ao próprio estado produtor, o que na prática faz com que os
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 59
não produtores acabem por subsidiar os produtores, ou mesmo, os pequenos produtores
ajudem os grandes produtores.
A lei de informática tem em seu cerne a intenção de “estimular a pesquisa, o desenvolvimento
tecnológico e a inovação, por intermédio do relacionamento entre universidades, centros de
pesquisa e empresas, assim como a ampliação da capacidade produtiva da indústria de bens de
informática” (MCT, 2003). Destarte, a intenção da lei vai além de só atuar como uma forma
de financiamento para pesquisas na universidade, ou mesmo, a possibilidade de induzir as
atividades de P&D nas grandes empresas brasileiras, sejam elas de capital nacional ou
estrangeiro. O fato é que por trás da aplicação e função específica da lei deve existir uma
intenção maior de estimular a inovação nas empresas, a fim de aumentar a capacidade
produtiva e de exportação das empresas nacionais. Isso pode ser conseguido através do
aumento do nível de atividades de P&D nas empresas e através das parcerias entre estas e as
universidades, porém como as beneficiários da lei acabam sendo, na sua maioria, grandes
empresas multinacionais de capital estrangeiro, o fluxo de conhecimento nas parcerias destas
com a universidade não responde por si só ao aumento da capacidade nacional no setor de TI,
o conhecimento acumulado a partir dessas cooperações deveria ser, pelo menos em parte,
apropriado, posteriormente, pelo setor de produção local, inclusive pelas pequenas e médias
empresas.
Outro ponto relevante acerca da lei que deve ser discutido é a relação entre a “lei de
informática” e a indústria de software. A lei ainda é primordialmente voltada para beneficiar a
indústria da micro-informática e seus componentes físicos (hardware), sendo o software
tratado de forma complementar. Os produtores de software, por não terem no IPI um imposto
de grande relevância para as obrigações tributárias da empresa, não são beneficiários diretos
destes benefícios, recebendo apenas, segundo Haberkorn, “aquelas sobras nos rateios de
aplicação pela generosidade do titular do benefício (o produtor de “hard”), quando ocorre”.
2.4 A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Há algum tempo atrás, às empresas líderes, para se manter em seus setores, bastava se calcar
em estratégias virtuosas, as quais levassem em consideração basicamente a inovação gerada a
partir do P&D desenvolvido internamente na firma. Era suficiente que a empresa conseguisse
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 60
através de seus pesquisadores desenvolver novos produtos ou processos e colocá-los no
mercado, obtendo assim ganhos extraordinários, os quais possibilitavam a obtenção do lucro e
do capital necessário para se reinvestir em novas pesquisas capazes de reiniciar o ciclo
produtivo movido pela inovação.
Porém, no ambiente internacional, mudanças ocorreram exigindo das empresas novas
estratégias de aprendizado e realização de P&D. Entre estas mudanças estão: o aumento da
competição, a diminuição do ciclo de vida dos produtos, a necessidade de expansão das
competências tecnológicas para inovar, a mobilidade crescente de pessoal qualificado, o
aumento da vinculação das pesquisas ao objetivo comercial mais direto da empresa e
conseqüentemente a diminuição dos investimentos em pesquisas básicas e o extraordinário
avanço das tecnologias da informação e comunicação (GRYNZPAN, 2005).
O monitoramento do cenário global torna-se então um fator de extrema importância para a
manutenção da liderança das grandes empresas, levando à instalação de muitos laboratórios de
P&D fora de suas sedes de origem. As diferenças entre os lugares adquirem importância
fundamental para a competitividade das firmas. Os agentes capitalistas passam a atuar
globalmente principalmente em busca de recursos humanos com culturas diferentes e
conhecimentos distintos, que podem, em lugares com identidades distintas, atuar no sentido de
prover para esses agentes novas idéias capazes de gerar inovações prontas para o mercado
mundial.
Visando estas mudanças, os governos nacionais vêem na atração de investimentos privados
em P&D um importante fator de competição com outros países e de geração de riqueza na
esfera local. Com essa intenção os governos precisam, portanto, apoiar as pesquisas básicas,
aumentar a formação de pessoal qualificado, facilitar o acesso das empresas aos resultados das
pesquisas acadêmicas, criar um ambiente atrativo aos investimentos de P&D das
multinacionais, porém tudo isso precisa garantir que os investimentos se espalhem
efetivamente pela economia.
O Brasil, um país que figura entre as maiores economias do mundo, com um PIB,
recentemente divulgado em março de 2007, que ultrapassa os R$ 2,14 trilhões, garantindo-o
como o 8º maior PIB do mundo6, ainda é um país que investe pouco em Pesquisa e
6 Comparação realizada a partir de dados calculados pela Paridade do Poder de Compra dos países ou PPP (Purchasing Power Parity).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 61
Desenvolvimento. Segundo estudo sobre as tendências da indústria mundial realizado pela
CNI (Confederação Nacional da Indústria), o país numa comparação entre as 20 maiores
economias do mundo tem os piores indicadores, seja em relação ao gasto médio em P&D com
relação ao PIB, seja em relação à taxa média de cientistas e engenheiros em P&D por mil
pessoas (Gráfico 8) (DAHLMAN & FRISCHTAK, 2005). No país existem ainda poucas
empresas com unidades de P&D estruturados e com doutores em seus quadros de
funcionários. A universidade brasileira tem sido na prática o lócus da pesquisa no país.
Contudo, o país parece acordar para essa nova realidade, discutindo freqüentemente
incentivos e políticas que efetivamente venham aumentar os esforços em P&D no país.
Gráfico 8
Gasto Total Médio em P&D nas 20 maiores economias do mundo
Fonte: DAHLMAN & FRISCHTAK, 2005.
Por outro lado, um aspecto relevante a ser considerado é a qualidade e o tipo de P&D
desenvolvido no país. Como alguns autores argumentam, nem sempre os objetivos de grandes
empresas, principalmente multinacionais, ao estabelecer laboratórios de P&D em um país,
coincidem com os interesses do país, o que exige que se alinhe a política de atração de P&D à
outras políticas nacionais. Interessa às grandes empresas terem acesso aos centros de
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 62
excelência científica e tecnológica locais, pois dessa forma são capazes de absorver pessoal
qualificado que são originados nas universidades e institutos de pesquisa, de participar do
sistema de ciência e tecnologia do país, de investir em pequenas empresas de alta tecnologia
originadas das pesquisas universitárias, principalmente se as empresas atuam na cadeia
produtiva da multinacional, além de absorver pessoal de P&D de outras empresas, quando se
instalam em parques tecnológicos ou em algum “cluster” especializado, em torno de um
centro de excelência acadêmico (GRYNZPAN, 2005).
Alguns efeitos negativos que podem advir do investimento em P&D das multinacionais são: a
possibilidade de serem bloqueados ou abafados os investimentos de competidores nacionais
em P&D, o rápido deslocamento de seu laboratório caso as condições anteriores cessem, no
caso da lei de informática, os incetivos cheguem ao fim, além do que o investimento em P&D
pode funcionar como um enclave, se não gerar benefícios para o resto da economia local,
onde só a própria empresa de capital estrangeiro é que se beneficia da mão-de-obra altamente
qualificada. Ao contrário dos países mais desenvolvidos, onde a economia madura sabe se
aproveitar das inovações e os laboratórios de P&D das empresas se integram mais facilmente
com a economia local, os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento precisam de ações
intencionais do governo para não só atrair esse investimentos quanto para discipliná-los e
maximizar o espalhamento da capacidade inovativa dessas grandes empresas (GRYNZPAN,
2005).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 63
3. A CIDADE DE CAMPINA GRANDE E O SETOR DE SOFTWARE LOCAL: OS EFEITOS DA
APLICAÇÃO DA LEI DE INFORMÁTICA SOBRE A DINÂMICA DE TRANSFERÊNCIA DO
CONHECIMENTO NO TERRITÓRIO
Sítios Institucionais proclamam a vocação tecnológica de Campina Grande. A cidade,
apelidada de “Oásis High Tech do Nordeste” é considerada, graças fortemente a atuação do
Centro de Ciências e Tecnologia da UFCG, um berço de profissionais altamente qualificados
na área de software, no entanto, busca-se aqui verificar os reais fundamentos para esta
assertiva.
Além disso, deve-se caracterizar o ambiente institucional local, levando em consideração
todas as particularidades que permitem as instituições atuarem no território, e interferirem
diretamente no Sistema Local de Inovação. Deve-se, ainda, identificar e caracterizar as
empresas que compõem esse sistema, diferenciando a dinâmica das empresas locais e das
empresas multinacionais.
Com base na caracterização desse sistema torna-se possível, portanto, construir-se uma
representação da rede de interações sociais que ajudará na interpretação de como se configura
a estrutura moldada a partir do arcabouço institucional da Lei de Informática e de que forma
ela favorece ou dificulta o fluxo de conhecimento entre empresas e universidade no território.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 64
3.1 RAINHA DA BORBOREMA: UM “OÁSIS HIGH TECH”?
Localizada na região central do planalto da Borborema, entre o litoral e o sertão paraibano,
Campina Grande é uma cidade que possui, devido a sua altitude, um clima ameno, com uma
média anual de pouco mais de 20°C, chegando a atingir 15°C nas noites mais frias do ano,
fato que a distingue do restante do sertão e agreste nordestino, tal como as áreas de brejo
(Figura 8). Porém, apesar do clima ameno, por estar inserida numa região semi-árida,
Campina Grande tem problemas relativos à escassez de água corrente de boa qualidade,
principalmente nos meses de março a julho, quando a precipitação mensal beira os baixos 20
mm de chuva (Figura 8), peculiaridade que afeta de certa maneira, apesar de não ser
determinante, a ampliação de seu parque industrial nos setores mais tradicionais.
Figura 8
Climograma de Campina Grande
Fonte: GEOKLIMA.
A cidade historicamente se formou como um local de passagem e de descanso para os
viajantes que iam do sertão ao litoral a cavalo, pois havia, na área onde hoje é a cidade, um
grande açude que abastecia os viajantes e suas montarias (PASCHOAL et alli, 2003). Essa
característica evoluiu e veio a cristalizar Campina Grande como um entroncamento
importante de várias estradas que hoje ligam o Agreste, o Sertão e a Zona da Mata nordestina
(Figura 9).
A cidade, nas suas formas, se destaca por apresentar um sítio urbano moderno bem
estruturado, resultado da reforma urbana ocorrida na primeira metade do século XX, na qual o
J F A M J J A S O N DM
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 65
progresso e as perspectivas sanitaristas atropelaram as antigas formas da cidade,
principalmente da área central.
Figura 9
Mapa de Localização de Campina Grande
Org./Ed.Gráf.: Fernando Ramalho. Fonte: Malha Municipal, IBGE, 2001; Catas Digitais ao Milionésimo, IBGE, 2000.
Segundo o professor Antônio Marcos Nogueira Lima (Chefe do Departamento de Engenharia
Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande – DEE/UFCG), e a partir da literatura
que trata da história de Campina Grande, até a década de 1960, a cidade era economicamente
mais importante que João Pessoa, possuindo até empresas locais de telefonia, eletricidade e
distribuição de água. Essa importância foi adquirida durante as primeiras décadas do século
passado, quando Campina Grande chegou a rivalizar com Liverpool na Inglaterra a posição de
maior centro comercial de algodão do mundo (PASCHOAL et alli, 2003). Como comenta de
forma bastante ufanista o professor José Sérgio da Rocha Neto, “Campina Grande nesta época
chegou a ter um Banco Industrial cuja única filial estava simplesmente na 5ª Avenida em
Nova York”. Ressalta ainda o pioneirismo de Campina Grande em se transformar na única
cidade da região a possuir máquinas de enfardamento do algodão para facilitar o transporte do
produto. Portanto, também é durante esta fase que se pode verificar um “boom” no
contingente populacional da cidade (Gráfico 9).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 66
Gráfico 9
Crescimento Populacional da Cidade de Campina Grande
Fonte: WIKIPÉDIA – Enciclopédia Digital.
Ufanismos a parte, Campina Grande adquiriu de fato uma centralidade regional tanto em
relação às atividades comerciais, principalmente na época do “ouro branco”, quanto em
relação a serviços e reparos mecânicos, devido à demanda dos viajantes e caminhoneiros que
por ali passavam. Posteriormente com a atuação forte da prefeitura, o apoio do governo do
estado e da sociedade campinense, escolas técnicas e superiores vieram a ser implantadas na
cidade. Em 1954, é criada a Escola Politécnica (POLI), por lei estadual, a qual teve a
Engenharia Civil como o seu primeiro curso. Posteriormente, foram criados também os cursos
de Engenharia Elétrica e Engenharia Industrial. A Escola Politécnica logo foi incorporada à
Universidade Estadual da Paraíba e já, em 1960, à Universidade Federal da Paraíba. Para a
instalação desses cursos e a preparação para a montagem da pós-graduação foram trazidos
para Campina Grande vários professores do ITA (Instituto de Tecnologia Aeroespcial), além
de professores estrangeiros que vieram através de projetos de cooperação internacional,
principalmente com Canadá, França, Dinamarca e Estados Unidos (PASCHOAL, et al. 2003).
No final da década de 1980, o curso de pós-graduação em Engenharia Elétrica já era
considerado um dos melhores cursos do país, atingindo conceito 7 pela CAPES (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Hoje, como explica o professor Antônio
Marcos do DEE, os cursos de mestrado e doutorado baixaram o conceito para 6, entretanto o
professor acredita que este seja um conceito adequado para um curso de excelência em
engenharia elétrica que está sediado longe do eixo Rio - São Paulo, principalmente em uma
cidade média do interior do nordeste com um aparato urbano pouco denso. Isto quer dizer que
uma cidade como Campina Grande não consegue oferecer todas as facilidades e opções de
interação com empresas de base tecnológica e atividades de lazer que uma cidade como Rio
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 67
de Janeiro ou São Paulo oferece, assim, torna-se mais difícil receber ou manter uma
quantidade grande de pesquisadores e recursos humanos em uma cidade como esta, mesmo
que aspectos como qualidade de vida e mobilidade urbana possam ser vantagens a favor das
cidades menores.
A preocupação demonstrada por vários agentes institucionais de Campina Grande, em relação
aos limites impostos pela pouca densidade urbana e industrial da cidade à expansão do setor
tecnológico local, pode ser verificada na própria diferença intra-estadual entre Campina
Grande e João Pessoa. Verificou-se através da investigação acerca das empresas locais de
Campina Grande a transferência de uma empresa de base tecnológica (Zênite) criada na
cidade para a capital do estado, isso, portanto, pode ser considerado já um indício de
fragilidade do aparato institucional em garantir vantagens locacionais para Campina Grande,
além das existentes (mão-de-obra qualificada, qualidade de vida, etc), que compensem a
menor densidade urbana e até mesmo a desvantagem desta não ser a capital do estado, o que
acaba rendendo, politicamente, alguns privilégios para João Pessoa.
Ao se investigar a diferença entre estas cidades, percebe-se que, após 1985, João Pessoa
acelera seu desenvolvimento industrial, fato que não é acompanhado pela cidade de Campina
Grande. Mesmo com o aumento do PIB industrial verificado pela cidade agrestina entre 1996
e 1999, a partir de 1999 o crescimento industrial de João Pessoa se acelera ainda mais,
distanciando cada vez mais as duas cidades (Gráfico 10). Esse distanciamento é acompanhado
naturalmente pelo crescimento populacional, embora este tenha sido mais constante durante
todo o período (Gráfico 11).
Gráfico 10
Evolução do Produto Interno Bruto Industrial de João Pessoa e Campina Grande
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
João Pessoa
Campina Grande
Fonte: IPEA, 1980-1985-1996; IBGE, 1999-2000-2001-2002-2003.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 68
Gráfico 11
Evolução da População Urbana em João Pessoa e Campina Grande
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
19
70
19
71
19
72
19
73
19
74
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
João Pessoa
Campina Grande
Fonte: Censos Demográficos IBGE 1970, 1980, 1991 e 2000; Contagem Populacional IBGE 1996.
Tratando-se do setor de serviços em informática e do setor de desenvolvimento de software,
os dados mostram uma correspondência com o distanciamento verificado nos dados
populacionais e industriais (Gráfico 12). Isso vai de encontro a uma noção comum de que,
proporcionalmente à população urbana, Campina Grande teria mais empresas no setor de
software por habitante que João Pessoa. Isso não se comprova, pois, em 2000, Campina
Grande tinha um número de 0,23 estabelecimentos para cada 10 mil habitantes da cidade
enquanto que João Pessoa tinha 0,38 estabelecimentos para cada 10 mil habitantes.
Considerando os valores do setor de serviços em informática como todo, esses valores passam
para 2,25 estabelecimentos por 10 mil habitantes urbanos em Campina Grande contrapondo-
se aos 2,7 de João Pessoa. Portanto, proporcionalmente à população, João Pessoa ainda teria
uma maior densidade numérica de estabelecimentos.
Deve-se ressaltar, contudo, uma diferença maior entre o número de empresas especializadas
no setor de serviços em informática, entre João Pessoa e Campina Grande, que a diferença
entre o número de empresas no setor de desenvolvimento de software (Gráfico 12). O número
de estabelecimentos no setor de informática em João Pessoa, em 2003, é 2,3 vezes maior que
o de Campina Grande, enquanto que o de software é 2,1 vezes. Estes valores estão muito
próximos à diferença entre o PIB, o qual garante à capital uma economia 2,2 vezes maior que
Campina Grande. Apreende-se então que, dos três indicadores, o software é o menos díspare,
embora apenas sutilmente,
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 69
Gráfico 12
Evolução do Número de Estabelecimentos do Setor de Software e de Serviços em
Informática em João Pessoa e Campina Grande
0
50
100
150
200
250
2000 2001 2002 2003 2005
João Pessoa - Serviços em Informática
Campina Grande - Serviços em Infrormática
João Pessoa - Desenvolv. de Programas de Informática
Campina Grande - Desenvolv. de Programas de Informática
Fonte: Base de Dados RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego, 2000-2005.
Por outro lado, apesar do seu menor número, as empresas de base teconológica do setor de
software de Campina Grande apresentam uma alta capacidade inovativa, acumulando prêmios
de inovação tecnológica e exportando softwares e equipamentos para muitos países. Por sua
vez, as empresas de João Pessoa não se destacam tanto no setor de software, principalmente
na mídia especializada. E é por causa desse destaque que a vocação tecnológica de Campina
Grande vem sendo proclamada aos quatro cantos do país. O sucesso conseguido por algumas
das empresas campinenses fizeram com que a cidade fosse evidenciada, em 2001, através de
uma reportagem na revista Newsweek, na qual Campina Grande figura entre as nove “tech
cities” mundiais, junto às cidades de Akron (Ohio-EUA), Huntsville (Alabama-EUA),
Oakland (Califórnia-EUA), Omaha (Nebraska-EUA), Tulsa (Oklahoma-EUA), Barcelona
(Espanha), Suzhou (China) e Cote d’Azur (França) (Anexo 1). Estas cidades, segundo
Francilene Garcia (Diretora da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTcPB), se
equivalem pelo fato de que, assim como Campina Grande, apesar de isoladas, conseguiram se
desenvolver tecologicamente (PASCHOAL et alli, 2003).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 70
3.2 O AMBIENTE INSTITUCIONAL LOCAL
Torna-se essencial a caracterização das diversas instituições que afetam diretamente o sistema
local de inovação campinense, principalmente aqueles diretamente envolvidos com o setor de
software. Como tratamos anteriormente, o termo instituição compreende todas as estruturas
formais ou informais capazes de influenciar o padrão de comportamento de determinada
sociedade, desde organizações e leis com propósitos explícitos até normas, regras e costumes
moldados a partir da tradição ou das relações cotidianas atuais.
O que realmente interessa nesta seção é apontar quais as instituições principais (em seu
sentido mais amplo) presentes no território, quais seus papéis dentro deste grande sistema e
qual a contribuição delas para uma maior geração e difusão de novas tecnologias.
As principais instituições que atuam no território interferindo no Sistema de Inovação Local
em Software estão listadas e caracterizadas a seguir.
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
A Universidade Federal de Campina Grande, criada em 2002 a partir do desmembramento da
Universidade Federal da Paraíba, tem um papel preponderante na formação do capital social
acumulado no território campinense. Com uma estrutura multicampi, ainda se estende pelos
municípios de Patos, Cajazeiras e Souza, no sertão paraibano.
Tradicionalmente, a UFPB, em seu Campus II, acumulou conhecimento técnico e científico
principalmente nas áreas de engenharia, ressaltando a engenharia elétrica, que
tradicionalmente figura entre os melhores cursos de pós-graduação do país.
A partir da engenharia elétrica e da compra do primeiro computador de grande porte para o
nordeste, evento que impressiona pela mobilização social que gerou em torno da angariação
de fundos entre toda a sociedade campinense, o conhecimento na área de software também foi
disseminado, culminando com a criação do curso de Tecnologia em Processamento de Dados
em 1973 e cinco anos depois com o curso de graduação plena em Ciência da Computação.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 71
Hoje o Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) localizado no atual Campus I da UFCG agrega
os Departamentos de Sistemas e Computação (DSC) e de Engenharia Elétrica (DEE), ambos
credenciados pelo Comitê da Área de Tecnologia da Informação (CATI), embora atualmente
as regras prevejam o credenciamento da universidade e não mais dos centros isolados.
A Lei de Informática
A lei de Informática compreende a sucessão de várias versões, desde a lei N° 8.248/91,
passando pelas alterações impostas na lei N° 10.176/01, até seu texto mais recente, dado pela
lei N°11.077/04, contudo mantém o mesmo propósito definido em 1991 que é o da
“capacitação nacional nas atividades de informática, em proveito do desenvolvimento social,
cultural, político, tecnológico e econômico da sociedade brasileira” (Lei N° 8.248/91).
Assim, para atingir este objetivo mecanismos legais de incentivo fiscais são definidos na lei
para estimular o desenvolvimento de atividades de Pesquisa e Desenvolvimento no país,
porém é preciso observar de forma mais atenta os resultados dessa política, principalmente
quando o que se deseja é atingir o desenvolvimento não só econômico, mas também o
desenvolvimento social, cultural e político do país. Considera-se, portanto, a Lei de
Informática uma instituição bastante presente no território brasileiro com implicações em
diversas escalas, inclusive, e principalmente, na escala local.
Em Campina Grande a Lei de Informática é sentida fortemente pelo estabelecimento de
parcerias entre a UFCG e grandes empresas multinacionais como a IBM, HP, Motorola,
NOKIA e Nortel Networks.
PaqTcPB - Fundação Parque Tecnológico da Paraíba
Entidade sem fins lucrativos, voltada para o avanço científico e tecnológico do Estado, a
Fundação PaqTcPB pretende desempenhar o papel de promotora da geração de emprego e
renda, através da gestão e transferência tecnológica, do incentivo e suporte à criação de
empresas de base tecnológica, da difusão da informação, da capacitação técnico-científica e
da articulação e cooperação tecnológica institucional.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 72
Instituída pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico),
UFCG e Governo do Estado da Paraíba, possui ainda um conselho de curadores formado pela
PMCG (Prefeitura Municipal de Campina Grande), FIEP (Federação das Indústrias do Estado
da Paraíba), UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), SEBRAE (Serviço Brasileiro de
Apoio à Micro e Pequena Empresa), BNB (Banco do Nordeste do Brasil) e AEBT
(Associação de Empresas de Base Tecnológica).
O PaqTcPB tem, verdadeiramente, a função de intermediar e fomentar relações cooperativas
entre duas esferas que atuam sob lógicas bastante distintas, que são: a academia e o setor
privado empresarial.
Sob a égide da fundação PaqTcPB, empresas em estágio embrionário ou que necessitam de
um apoio institucional para desenvolver projetos inovadores encontram na ITCG (Incubadora
Tecnológica de Campina Grande) um ambiente propício para o acúmulo de conhecimento
técnico e científico e consolidação em um mercado específico.
O procedimento para seleção de empresas para incubação é baseado principalmente na
identificação de produtos ou serviços que apresentem inovação e grandes chances de sucesso
no mercado. As empresas apoiadas são, principalmente, as especializadas nas áreas de
eletroeletrônica, software, design, agroindústria e serviços na área de comunicação, eventos,
comercialização, marketing, embalagens e afins que apresentem algum tipo de inovação.
Um serviço bastante importante, implantado com o apoio do DEE da UFCG, recém
incorporado ao PaqTcPB, é a possibilidade de elaboração de testes de usabilidade em
software. Isso se deve à construção do LIHM (Laboratório de Interface Homem Máquina).
Outro laboratório semelhante funciona na UFCG, porém ainda não suporta testes simultâneos
como o do PaqTcPB.
Consórcio de Exportação de Software – PBTech
Com o objetivo de promover o desenvolvimento do mercado de software paraibano o
Consórcio de Exportação de Software PBTech, criado em dezembro de 2002 , reúne hoje 9
empresas de software da Paraíba. Dessas, 6 são de Campina Grande e 3 de João Pessoa.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 73
O Consórcio pretende intensificar o processo de divulgação, comercialização local e nacional,
além da exportação dos produtos fabricados no Estado. Financiado pelo Sebrae e pela
Agência de Promoção de Exportações (Apex), o PBTech conta ainda com o apoio do Governo
do Estado da Paraíba, da FIEP, da Fundação PaqTcPB, da ACCG (Associação Comercial de
Campina Grande) e da Sociedade Softex.
Dos consórcios de exportação de Tecnologia da Informação, financiados no Brasil, o único
caso mencionado como sucesso no livro “Passaporte para o Mundo”, lançado em maio pela
agência de Promoção à Exportação (APEX/BRASIL), foi o Consórcio paraibano.
Nos últimos anos, o consórcio tem participado de várias feiras no exterior voltados para
exportação de software, o que propiciou a realização de muitos negócios. Em 2005, o
consórcio, chegou a exportar ao todo US$ 1,8 milhão de dólares, valor já superado em 2006,
com o faturamento de US$ 2,4 milhões.
Projeto Farol Digital
O Farol Digital é um projeto mais amplo, posterior a consolidação do PBTech, com forte
relação entre as empresas consorciadas e o SEBRAE, objetivando o fortalecimento da
atividade econômica por todo o Estado.
Este projeto reúne quase 70 empresas com a pretensão de promover a competitividade e
sustentabilidade dos empreendimentos do setor por intermédio da difusão tecnológica e de
acesso a mercados.
Segundo reportagem divulgada em maio de 2006, no Portal Paraíbaonline, o Farol Digital
prevê um investimento de mais de R$ 3,2 milhões, em três anos, aportados pelo Sebrae da
Paraíba, Funetec/PB (Fundação de Educação Tecnológica e Cultural da Paraíba), Fundação
PaqTcPB, IEL/PB, UFPB, UFCG, UNIPÊ, FIP (Faculdades Integradas de Patos) e prefeituras
municipais de João Pessoa, Campina Grande e Patos. As ações do programa prevêem ainda a
disseminação de novas experiências, melhorias dos processos e produtos e capacitação dos
gestores (Portal Paraíbaonline - 29/05/2006).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 74
Agente Softex de Campina Grande – CGSoft
Os Agentes SOFTEX têm o papel de prestar apoio operacional às empresas de software,
funcionando como braços operacionais da SOFTEX em diversas regiões do Brasil. Eles atuam
em articulação com a iniciativa privada, governos estaduais e municipais, e contam com o
suporte de centros acadêmicos e instituições de fomento para atingir as metas do setor de
software confiadas à SOFTEX.
As diversas unidades regionais autônomas de promoção à excelência de software espalhadas
pelo Brasil, as quais estão distribuídas no mapa 1, como o CGSoft de Campina Grande, agem
em duas linhas de ação: a preparação de empreendimentos nascentes para o ingresso no
mercado, e o apoio à empresas já consolidadas, acompanhando todas as etapas de produção e
comercialização de seus produtos e serviços.
Figura 10
Distribuição Espacial dos Agentes Softex.
Fonte: SOFTEX.
Proposto e capitaneado pelo Agente SOFTEX de Campina Grande (CGSoft), o projeto
“TecOut Center” visa fomentar a exportação de software brasileiro no mercado oriental
(principalmente chinês) de forma sustentada. Para isso, prevê a criação de dois Centros Sino-
Brasileiro de Negócios de Base Tecnológica, para internacionalização de produtos e serviços
de software junto à China. Os ministérios de Ciência e Tecnologia brasileiro e chinês
assinaram, em dezembro de 2003, um memorando de entendimento para cooperação bilateral
que prevê a construção de duas unidades, em Campina Grande (PB) e em Zhaoqing,
localizada na província chinesa de Guangdong. Outra iniciativa é a criação do Centro de
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 75
Capacitação Empresarial para Negócios de Software (EduSoft Center), para qualificação das
empresas participantes do consórcio PBTech (SOFTEX, 2006).
O CGSoft, anteriormente, com o Projeto GENESIS de apoio à formação de novos
empreendimentos em software, informação e serviços no setor de informática tinha como
missão efetiva o desenvolvimento do setor de software. O GENESIS, através da incubadora
POLIGENE forneceu suporte conceitual e financeiro para o desenvolvimento de novos
empreendimentos a partir do DSC da UFCG. O projeto objetivava, principalmente, fornecer o
suporte para criação e desenvolvimento de novos empreendimentos em software, informação
e serviços, oferecendo apoio aos projetos dos graduandos ou graduados em Ciência da
Computação e cursos afins, que entram com as suas idéias e saem com uma empresa formada
e implantada (DSC, 2006). Hoje o POLIGENE, transferido para o PaqTcPB, não mais
financia projetos.
Após esse panorama das instituições do Setor de Software de Campina Grande, pode-se
perceber o papel central do PaqTcPB para o funcionamento de um Sistema Local de Inovação
em Software (Figura 11). O Parque Tecnológico abriga vários programas e recebe aporte de
várias organizações, como já foi dito, ele agrega projetos como o PBTech e o Farol Digital,
fornece serviços como o de incubação de empresas a partir da ITCG, realiza testes para
certificação de produtos através do LIHM, abriga o núcleo Softex de Campina Grande e
mantém estreita relação com a UFCG e a UEPB, além de articular fontes de financiamento
para pesquisas através de órgãos como FAPESQ (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da
Paraíba), FINEP, SEBRAE, APEX, entre outros.
Figura 11
Rede Institucional relacionada ao PaqTcPB
Fonte: Elaboração do autor.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 76
3.3 AS EMPRESAS DE SOFTWARE LOCAIS E AS MULTINACIONAIS
Neste trabalho a firma é o objeto central da nossa investigação, pois é o seu desempenho que
reflete a eficácia e eficiência do Sistema Local de Inovação em Software que se configura
neste ambiente. A inovação, vista como a invenção posta à prova no mercado, se realiza e
desenvolve a partir do acúmulo de competências e de pessoas organizadas no setor privado
em busca de realização e acumulação de capital. E é a partir do qual podem ser desenvolvidos,
ou não, projetos cooperativos para desenvolvimento de um novo produto ou um novo
processo produtivo.
Entretanto, para que se possa caracterizar o setor empresarial local é preciso antes superar
alguns obstáculos metodológicos que se impõe pela falta de dados precisos acerca do número
e da natureza das empresas em Campina Grande. Assim, foram, previamente, através da
INTERNET, identificadas as empresas campinenses especializadas no setor de TI que haviam
sido mencionadas como empresas inovadoras em sítios oficiais de notícias. Aliado a esse
levantamento foram compiladas informações de várias bases de dados disponíveis na web e
em órgãos locais. As seguintes fontes foram consultadas para a organização de uma listagem
única de empresas:
Sistema de informações do projeto da Base da dados Setorial SEBRAE (http://www.geo.sebrae.com.br/geodw/painel.asp);
Projeto Farol Digital (http://www.sebraepb.com.br/faroldigital);
Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP);
Empresas Incubadas na antiga Incubadora Poligene/CGSOFT;
Empresas Incubadas e Graduadas na Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) ou associada ao PaqTcPB;
Base de Dados Quantitativa da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A partir dessas fontes pôde-se identificar a presença de 35 empresas especializadas na
categoria 2 (atividade de bancos de dados, distribuição on-line de conteúdo eletrônico ou
processamento de dados) e 25 empresas na categoria 3 e 4 (desenvolvimento de software sob
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 77
encomenda e outras consultorias em software ou desenvolvimento de software
pacote/produto).
Deve-se ressaltar que a base de dados mais completa foi conseguida junto ao sistema de
informações do SEBRAE, o qual se refere ao ano de 2002. Portanto, ao se comparar o número
de empresas encontrado com o número de estabelecimentos da Base de dados da RAIS,
sabendo a limitação desta comparação7, tem-se que fazê-lo para o mesmo ano. Assim,
segundo a RAIS, para 2002, 12 estabelecimentos constavam na categoria 2 em Campina
Grande, enquanto 8 estabelecimentos podiam se enquadrar nas categorias 3 e 4. Apesar dos
números estarem bastante diferentes da lista encontrada no SEBRAE, percebe-se ao menos
uma correspondência na proporção de empresas por categoria, confirmando que
aproximadamente 60% das empresas do setores de serviços em software de Campina Grande
em 2002 eram da categoria 2, enquanto aproximadamente 40% fazia parte de categoria 3 e 4.
Devido aos problemas de inconsistência de muitas das listagens fornecidas pelos órgãos
consultados, optou-se por refinar essa base ainda mais deixando apenas as empresas cuja
verificação de sua atuação e de sua especialização se deu em campo. Também optou-se por
entrevistar e trabalhar apenas com as empresas das categorias 3 e 4, pois desta forma se
conseguiria realizar o levantamento das empresas em campo e se permitiria uma análise mais
acurada. Além disso, a escolha dos setores 3 e 4 se deve ao fato destes serem os mais
intensivo em conhecimento. Assim sendo, a partir das informações da pesquisa de campo e da
consulta às bases de dados já mencionadas, restaram apenas 13 empresas (Quadro 4).
Uma das empresas identificadas (New Ink), apesar de não estar relacionada diretamente com
as categorias escolhidas, foi incluída na lista por ser uma empresa de base tecnológica
extremamente relevante para o Sistema Local de Inovação de Campina Grande, estando
presente no consórcio PBTech e mantendo forte relação com o PaqTcPB. Esta empresa tem na
produção de software embarcado uma atividade complementar a produção de equipamentos
eletro-eletrônicos.
7 A empresa é uma unidade jurídica e tem uma determinada razão social, podendo conter uma ou mais unidades locais ou estabelecimentos. Já unidade local ou estabelecimento se refere ao espaço físico e contínuo em que a atividade é desenvolvida, correspondendo a apenas um endereço (ROSELINO, 2006).
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 78
Quadro 4
Relação das Empresas de Software Identificadas em Campina Grande
Empresa Ano de Fund.
Área de Atuação e Produto Tipo de SoftwarePaqTcPB /
ITCG PBTech
Farol Digital
LIGHT INFOCON TECNOLOGIA S/A
1983
Inicialmente, especializou-se no desenvolvimento e marketing de softwares para a plataforma Unix. Hoje tem como seu produto principal a plataforma Light Base (banco de dados textual multimídia orientado a objeto) utilizada por grandes órgãos nacionais e internacionais.
Software produto; Serviço de alto valor em software.
Associada Ex-Incubada
Participante Participante
APEL – APLICAÇÕES ELETRÔNICAS IND. E COM. LTDA.
1975
Indústria e comércio de equipamentos eletro-eletrônicos para radiodifusão, sonorização, CFTV, Projetos, Serviços e Instalações. Foi responsável pela sonorização de grandes aeroportos brasileiros, bem como das estações do Metrô de São Paulo. A empresa também tem instalado seu sistema de docagem para aeronaves em vários aeroportos do país.
Software Embarcado; Serviço de alto valor em software.
Associada Participante Participante
INSIELTECNOLOGIA ELETRÔNICA LTDA
1995
Empresa especializada no desenvolvimento de equipamentos eletrônicos para Segurança Eletrônica Patrimonial. Desenvolve software para monitoramento de alarmes e sistemas de proteção patrimonial.
Software Embarcado; Serviço de alto valor em software.Software produto
Associada Ex-Incubada
Participante Participante
C G SISTEMAS LTDA 1997 Atua no mercado de Automação Comercial atingindo um grande número de clientes na Paraíba e até fora do Estado.
Software produto; Serviço de alto valor em software.
Associada Ex-participante Participante
S. TOLEDO PRODUÇÕES LTDA
1997 Atua na produção de desenho animado, computação gráfica, cd rom interativo, e demais aplicações multimídia.
Serviço de baixo valor em software
Serviço de alto valor em software
Associada Ex-Incubada
Ex-participante
ERA DIGITAL INTERNETGRAPHICS
2000
Especializada em Tecnologia da Informação e com trabalho voltado a área de soluções/software para Internet. Tinha no software Atualizare (software para manutenção de sites) seu grande produto, porém atualmente tem no site Paraíba.com o seu maior faturamento.
Software produto Serviço de alto valor em software.
Ex-Incubada Participante
DECISÃOINFORMÁTICALTDA
-
Atua no mercado de software desenvolvendo sistemas informatizados para automação e gestão de pequenas e médias empresas. Tem no GH (Gestor Hoteleiro), software
desenvolvido para gerenciamento de hotéis e pousadas, seu maior produto.
Software produto; Associada
Ex-IncubadaParticipante Participante
ARCDED SISTEMAS E CONSULTORIA EM INFORMATICALTDA
1996
Baseia-se em uma rede internacional de competências em Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, com forte concentração no Brasil e na França. Tem programa de formação de consultores e colaboradores. Desenvolveu a ferramenta QSM (Quality Sense Making) de apoio à inovação em produtos e processos de TI.
Serviço de alto valor em software.
Associada Participante
LEE LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
2002 Empresa que atua na área de Eletro- Eletrônica e Eficiência Energética
Serviço de alto valor em software.
Incubada
GFARIAS.COM 1997 Atua em consultorias e serviços especializado em Educação a Distância.
Serviço de alto valor em software.
Incubada Participante
PACTO4 2003 Empresa multidisciplinar, que atua nas áreas de desenvolvimento de sistemas, webdesign e comunicação corporativa.
Serviço de alto valor em software.
Associada Ex-Incubada
Participante
NET IN PAGE - Tem competência nas várias áreas necessárias para o desenvolvimento de projetos completos de internet e de estratégias de marketing interativo.
Serviço de baixo valor em software;Serviço de alto valor em software;
Associada Ex-participante Participante
NEW INK TECNOLOGIA S/A
2000
Atua no mercado de reciclagem de cartuchos jato de tinta e laser. Entre seus produtos estão máquinas de recarga, testadores e desentupidores de cartuchos, toda variedade de acessórios e insumos, além de cursos especializados.
Software embarcado. Associada Participante Participante
Empresas Sediadas em João Pessoa
ZENITETECNOLOGIA
1991 Fornece, com tecnologia própria, hardwares, softwares e equipamentos para as áreas de telecomunicações, automação e informática.
Software Embarcado; Ex-Incubada Associada
Participante Participante
TRADESOFT / ZIONTEK
1998
Empresa especializada no desenvolvimento de soluções informatizadas para empresas, objetivando automatizar e melhorar os seus procedimentos internos e o relacionamento com os clientes.
Software produto; Serviço de alto valor em software.
Ex-Incubada Participante Participante
PHOEBUS 1997
A empresa atua na aplicação e desenvolvimento de soluções multiplataformas para terminais POS`s (point-of-sale), aplicativos como Palm`s, cartões inteligentes e microcontroladores.
Software embarcado; Serviço de alto valor em software.
Participante Participante
Fonte: PaqTcPB / PBTech / SEBRAE.
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 79
Outras empresas, embora não estejam presentes no território de Campina Grande, também
devem ser destacadas. A menção a essas empresas deve-se às relações que estas mantém com
as empresas do setor local de software de Campina Grande, seja por ter sido sido nascida na
cidade, a partir da UFCG e ter sido incubada no PaqTcPB (o caso da Zênite Tecnologia), ou
mesmo por fazer parte do Consórco de Exportação PBTech. São empresas especializadas
tanto em serviços de alto valor agregado em software, quanto software pacote ou embarcado
(Quadro 4).
Todas as empresas locais identificadas, como se pode perceber no quadro 4, mantém ou
mantiveram algum tipo de relação institucional com o PaqTcPB, seja via incubadora (ITCG),
seja via PBTech, ou seja até via SEBRAE / Farol Digital. Isso mostra que a cada projeto que
envolve as empresas locais criam-se laços fracos na rede que compõe o sistema local de
inovação, garantindo um maior potencial de expansão da rede e favorecendo a possibilidade
do estabelecimento de laços fortes.
Considerando as 13 empresas de Campina Grande e a empresa Zênite, a qual iniciou suas
atividades na cidade, 11, dessas 14 empresas, prestam serviços de alto valor em software, 5
desenvolvem e comercializam software do tipo pacote e 4 tem em alguns de seus produtos
softwares embarcados (Gráfico 13).
Quadro 13
Especialização em Software da Amostra de Empresas Identificadas
11 / 14
(78,57%)
5 / 14
(35,71%) 4 / 14
(28,57%)
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
Serviço de Alto Valor
em Software
Software
Produto/Pacote
Software Embarcado
Fonte: Compilação da pesquisa de campo e nos sites oficiais das empresas ou de instituições.
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Dentre estas 14 empresas, figuram 10 das 12 empresas que integram ou integraram o
Consórcio PBTech, as quais compõem com as outras duas empresas de João Pessoa
(Tradesoft/Ziontek e Phoebus) a totalidade dos participantes e ex-participantes do consórcio.
Percebe que, apesar de serem apenas 4 empresas que trabalham com software embarcado, são
empresas altamente inovadoras tanto em software, quanto em hardware, o que pode ser um
grande diferencial para o setor local.
Com a finalidade de se caracterizar essas empresas locais, foram realizadas entrevistas com 7
das 13 empresas de interesse, o que possibilitou ainda uma percepção de quais são as
principais vantagens locacionais de Campina Grande, quais suas desvantagens, como se dá a
interação entre as empresas no ambiente local e qual a relação destas com a universidade. As
empresas entrevistadas foram: Light Infocon, Apel, Era Digital, C.G. Sistemas, LEE, G.Farias
e New Ink.
A grande maioria das empresas listadas possuem um mercado maior que o próprio estado e
apontam, como uma desvantagem de estar em Campina Grande, a distância aos grandes
centros consumidores, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Algumas empresas possuem
escritórios de representação nesses centros maiores ou até mesmo filial, como é o caso da
Light Infocon que possui uma filial em Brasília para se manter próxima de seu maior cliente,
o Governo Federal.
A maior vantagem identificada pelas empresas é sem dúvida a alta qualificação dos
profissionais. Aspectos como qualidade de vida e baixo custo da mão-de-obra também são
citados como aspectos importantes. Um fator que favorece a manutenção de algumas dessas
empresas e seus sócios em Campina Grande é a relação que eles têm com a cidade, muitos
deles nasceram e se formaram nela.
As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento são percebidas por todas as empresas como
algo de extrema importância, porém poucas possuem departamentos de P&D estruturados.
Entretanto, a maioria das empresas afirmam ter pessoas voltadas, em grande parte do tempo,
para essas atividades.
Devido ao crescimento recente do setor empresarial de software em Campina Grande, poucos
contatos entre empresas e universidade foram registrados no passado. Mesmo assim, as
maiores empresas do setor local foram gerados a partir de spinoffs de projetos desenvolvidos
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na universidade, como é o caso da Apel e da Zênite, ou na reunião de professores ou ex-
alunos da universidade, como a Light Infocon.
As empresas de desenvolvimento de software de Campina Grande caracterizam-se, assim
como a maioria do setor de software nacional, como empresas de pequeno porte, possuindo
baixo número de empregados. Destas empresas, destacam-se, também, pelo número de
empregados, principalmente, a Light Infocon, com 40 pessoas, empresa essencialmente
voltado ao desenvolvimento de software, e a Apel, com 50 empregados, voltada
primordialmente para o setor eletro-eletrônico.
Quanto ao faturamento, de todas as empresas entrevistadas apenas uma nos forneceu
informação relativa a faturamento anual, o qual girava em torno de R$ 2 milhões em 2005.
Entre notícias veiculadas na mídia e relatos dos entrevistados estima-se por alto que o setor de
tecnologia da informação de Campina Grande como um todo tenha um faturamento anual
próximo de R$ 60 milhões, o que possivelmente inclua também a comercialização de
equipamentos. Já, quanto a exportação, estima-se que em 2007, as empresas associadas ao
PBTech, principalmente Light Infocon, New Ink, Zênite e Insiel, consigam, juntas, faturar
com a venda de equipamentos e softwares para o exterior um total de US$ 3 milhões.
Devido a excelência e o conceito dos cursos tecnológicos de Campina Grande, principalmente
Engenharia Elétrica, e a partir dos incentivos proporcionados pela Lei de Informática (nas
suas várias versões), grandes empresas multinacionais e até nacionais se interessaram em
estabelecer parcerias para desenvolvimento de P&D com o Centro de Ciência e Tecnologia da
Universidade Federal de Campina Grande.
Credenciados no Ministério da Ciência e Teconologia, o DEE e o DSC têm mantido
recentemente parcerias com as multinacionais Motorola, HP (Hewlett Packard), NOKIA e
Nortel Networks. Ao contrário de lugares como Campinas em São Paulo, onde as
multinacionais tem sedes e produzem, a presença da multinacional se dá em Campina Grande
apenas a partir das parcerias com a universidade, as quais são muitas vezes apenas garantidas
pela obrigatoriedade definida na Lei de Informática de que parte do investimento realizado em
P&D pela empresa, em contrapartida aos incentivos tributários, seja realizado nas regiões
Centro-Oeste e de influência da ADA e ADENE.
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A partir da versão da lei editada em 1991 (N° 8.248), segundo artigo sobre a avaliação dos
resultados da Lei de Informática, publicado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, e relato
do chefe do Departamento de Sistemas e Computação, professor Bruno Queiroz, a primeira
parceria da Universidade Federal de Campina Grande, através dos incentivos da lei, foi a
cooperação técnico-científica com a empresa estadunidense IBM (International Business
Machines), através de sua subsidiária no Brasil, que propiciou recursos para a recuperação e
ampliação da infra-estrutura computacional da Universidade. O programa viabilizou ainda a
realização de diversas pesquisas, construção de laboratórios e estações de trabalho, além da
construção de uma rede corporativa de comunicação de dados por fibra ótica interligando
vários centros em Campina Grande e João Pessoa.
Outra parceria foi a estabelecida com o Instituto de Pesquisas Eldorado, uma OSCIP
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) sediada em Campinas que atua na área
de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) e se dedica a pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias e à capacitação profissional dos colaboradores
envolvidos no Instituto. A cooperação técnico-científica na área de softwae teve como foco
um Programa de Capacitação Tecnológica (PCT), no qual o Instituto fazia a ponte entre o
DSC (Departamento de Sistemas e Computação), o DEE (Departamento de Engenharia
Elétrica) e a empresa Motorola, tendo funcionado na UFCG entre 2000 e 2002. A implantação
do PCT resultou na atualização de laboratórios, acervos bibliográficos, disciplinas da
graduação e principalmente na capacitação de 40 alunos de graduação em tecnologias
utilizadas pela empresa.
A parceria com a Motorola tinha como base um projeto de pesquisa e desenvolvimento em
aplicações usando a tecnologia IDEN (Integrated Digital Enhanced Network), um conjunto de
soluções sem fio de última geração para permitir o desenvolvimento de aplicações como
comércio eletrônico e conferências (MCT, 2004). Teve como resultado a criação de um novo
laboratório, o treinamento de alunos e pesquisadores, a atualização de disciplinas da
graduação e a busca por certificação CMM.
O convênio firmado entre a UFCG e a HP, com recursos da lei (10.176/01), tem no Projeto
OurGrid e tinha no Projeto Failure-Spotter seus principais eixos de cooperação. O Projeto
OurGrid tem como foco a criação de tecnologias que viabilizem o uso de “Grids”
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computacionais8 da forma mais rápida e direta possível. Por sua vez, o Projeto Failure-Spotter
consistiu principalmente na pesquisa de procedimentos para detecção e tratamento de falhas
em sistemas distribuídos.
Alguns resultados principais dessa parceria com a HP foram indicados como: a montagem de
2 laboratórios de pesquisa, o treinamento de alunos e pesquisadores, a publicação de 7 artigos
científicos, a submissão de 2 patentes em conjunto com a Hewlett Packard, a interação com
pesquisadores no exterior, a formação de mestres e doutores, a atração de novos pesquisadores
e a fixação de talentos locais (MCT, 2004).
Um dos laboratórios de pesquisa beneficiados com a parceria com a empresa HP, o
Laboratório de Sistemas Distribuídos (LSD), teve a construção de seu prédio sede financiada
com recursos dessa parceria. Segundo Marcelo Meira, gerente de projetos do LSD, o
laboratório não realiza projetos exclusivamente com a HP, ele já existia como Laboratório de
Pesquisa antes da Lei de Informática. Apesar disso percebe-se que a maior quantidade de
recursos humanos estão voltados para a parceria.
Outros projetos estabelecidos a partir das obrigações da Lei de Informática são desenvolvidos
em parceria entre o DSC e a NOKIA e entre o DEE e a Nortel Networks.
Além das multinacionais, Campina Grande começa a atrair a atenção de empresas nacionais
de grande porte do setor de software. É o caso da Politec, uma grande empresa especializada
no setor de serviços de alto valor agregado. Esta empresa é uma das cinco maiores empresas
do setor no país e possui várias filiais no Brasil e no exterior. Com a instalação da unidade em
Campina Grande, a empresa pretende aproveitar-se da alta capacidade técnica da mão-de-obra
local.
8 “Grids” computacionais ou computação em grade é um modelo computacional capaz de processar uma alta taxa de processamento divido em diversas máquinas, podendo ser em rede local ou rede de longa distância, que formam uma máquina virtual. Esses processos serão executados no momento em que as máquinas não estão sendo utilizadas pelo usuário, assim evitando o desperdício de processamento da máquina utilizada.
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3.4 A APLICAÇÃO DA LEI DE INFORMÁTICA E A DINÂMICA DE TRANSFERÊNCIA DE
CONHECIMENTO NA REDE DE INTERAÇÃO SOCIAL
Apesar dos aspectos positivos proclamados e que adviram da parceira entre as universidades e
as grandes multinacionais, melhorando as infra-estruturas de pesquisas de vários laboratórios,
alguns efeitos resultantes da prática cotidiana das parcerias e os reflexos na economia local
requerem uma análise mais acurada.
Apesar de inserida em uma região com uma densidade econômica muito mais intensa que a de
Campina Grande, Campinas (SP), um dos maiores pólos de tecnologia do país, tem sido
palco, assim como Campina Grande, de uma dinâmica de transferência de conhecimento
norteada pela aplicação da Lei de Informática. A região de Campinas, como sugere Diegues e
Roselino (2006), teve sua trajetória evolutiva bastante modificada a partir dos anos 90, quando
a abertura comercial e a onda das privatizações tomaram conta do país. Com a transformação
em uma fundação de caráter privado do CPqD/Telebrás (Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento da Telebrás), órgão estatal que junto a UNICAMP (Universidade Estadual
de Campinas) formava uma estrutura central de difusão de conhecimento e de capacidade
inovativa na região, e a instalação de várias multinacionais na região em busca dos incentivos
da lei e do conhecimento tácito construído na região, o setor local de produção tecnológica foi
extremamente afetado (DIEGUES & ROSELINO, 2006).
Antes de 1990, a interação entre os atores locais era intensa e a dinâmica de transferência de
conhecimento, principalmente tácito, era uma das maiores virtudes daquele território
(DIEGUES & ROSELINO, 2006). Hoje, verifica-se uma distinção clara entre a dinâmica
inovativa das subsidiárias estrangeiras e a das empresas locais. Às empresas multinacionais
não tem interessado a interação com as empresas locais ou a geração de spinoffs a partir do
conhecimento adquirido internamente por seus funcionários ou a partir de suas parcerias com
institutos para desenvolvimento tecnológico (DIEGUES & ROSELINO, 2006).
O que se verifica em Campina Grande é algo parecido, pois, apesar das multinacionais não
estarem presentes no território, elas estabelecem relações formais com a universidade,
reunindo os melhores pesquisadores das áreas de interesse da empresa, sem se verificar
nenhuma iniciativa na direção de se estabelecer relações cooperativas entre as multinacionais
e as empresas de Campina Grande, nem sequer com as mais dinâmicas.
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Alexandre Moura, diretor da empresa Light Infocon, chegou a mencionar uma relação
cooperativa com a empresa Microsoft Brasil de São Paulo, porém esta se caracteriza por uma
iniciativa isolada e que não tem ligação direta com a rede local de interações sociais de
Campina Grande, na qual o conhecimento efetivamente é gerado e transmitido através da
convivência das pessoas no território.
A dinâmica de transferência de conhecimento, que possibilitou a criação de empresas como
Apel, Light Infocon e Zênite, teve nas relações estabelecidas entre a Universidade Federal de
Campina Grande e pessoas dessas empresas um fator fundamental. O conhecimento pôde ser
transferido através, tanto de processos de socialização, envolvendo conhecimento tácito
externo à firma, quanto ao próprio desenvolvimento de atividades de P&D desenvolvidas nos
projetos com a universidade.
Hoje, verifica-se a existência de projetos como o PBTech e o Farol Digital que permitem que
as empresas locais interajam, seja buscando mercado de forma conjunta ou mesmo se
inserindo em projetos para desenvolvimento de novos produtos, como é caso do
WebArquiteto, um produto demandado pelo Governo do Estado para empresas ligadas ao
Farol Digital. Porém, a dinâmica de interações do setor local, mediada através do PaqTcPB é
bastante distinta daquela verificada entre as multinacionais e a universidade.
Segundo o diretor presidente da empresa Era Digital Henrique Cirne, ao explicar porque o
setor de software de Campina Grande não se desenvolve de forma mais eficiente, aponta a
formalização de parcerias entre a UFCG e multinacionais como um fator que pode estar
contribuindo para isso. Explica que as parcerias atraem, com complementação de salário e
bolsas mais altas, os mais brilhantes pesquisadores e estudantes, afastando-os do setor local, o
qual tem baixo poder de barganha diante das multinacionais.
Para representar a rede de relações entre os agentes institucionais presentes no território e
apreender a dinâmica de transferência de conhecimento no setor de software, construiu-se, a
partir do software UCINET 6.0, um diagrama representativo dessa rede de interações. Através
do diagrama, percebe-se, então, um afastamento entre as grandes empresas do setor e as
empresas locais pequenas e médias, as quais mantém relações estreitas via PaqTcPB.
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Figura 12
Esboço da Rede de Interações entre Agentes do Setor de Software de Campina Grande
Fonte: Elaborado pelo autor.
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4. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, permite-se aumentar, em certa medida, a
compreensão do setor de software no país, bem como compreender as nuances da aplicação da
principal política voltada à indústria de bens de informática. A pesquisa torna-se
particularmente relevante por tratar de uma cidade com alta vocação tecnológica, que,
contudo, encontra-se inserida em uma região de baixo dinamismo econômico. A partir da
análise da configuração instititucional e da rede de interação social estabelecida no território
de Campina Grande, pode-se em outras pesquisas tentar estabelecer paralelos com outros
territórios que estejam utilizando estratégias de constituição de sistemas locais de inovação.
Como se pôde verificar, a acumulação capitalista produz espaços diferenciados a partir do
interesse privado das firmas. Estas estão cada vez mais inseridas em uma dinâmica
globalizada, na qual a flexibilidade está na ordem do dia. A crise do modelo fordista leva os
capitalistas a buscarem em estratégias de relocalização ou de inovação a sua superação, e as
empresas multinacionais são fruto dessas estratégias. Hoje as corporações globais estão
amplamente distribuídas pelo mundo com seus tentáculos e suas antenas, vigilantes a tudo que
se produz de conhecimento e de inovação pelo mundo.
Isso nos leva a perceber a importância atual do conhecimento para o desenvolvimento das
nações. É através dele que os países conseguem se inserir na economia e no mundo global. A
importância do território e da territorialidade exercida por cada agente a partir de objetivos
comuns é que garante a este características que irão facilitar ou dificultar a sua inserção em
uma nova geografia econômica, onde os espaços produtivos não são mais o principal foco da
atenção dos capitalistas, mas, sobretudo, os espaços onde a inovação acontece, evidenciando
assim uma nova perspectiva da geografia econômica, a geografia da inovação.
Os territórios são formados como sistemas nos quais seus elementos relacionam-se de formas
diferenciadas, em busca de sobrevivência e de desenvolvimento. Como na nova lógica
capitalista o conhecimento é algo central, os processos de transferência desse conhecimento
são aqueles que distinguem territórios mais inovadores e territórios menos inovadores.
Processos de socialização, desenvolvimento de atividades de P&D, aprendizagem e trocas e
aquisições são essenciais para a configuração de ambientes inovativos ou sistemas locais de
inovação.
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A indústria de alta tecnologia, tal qual a de software, é uma indústria ainda bastante
concentrada nos países centrais, porém gigantes em desenvolvimento como Índia, China e
Brasil começam a despontar como grandes economias do setor de software. Software este, que
se tornou um produto economicamente estratégico, pois tem uma característica transversal
que beneficia todos os setores da atividade econômica.
No Brasil o setor de informática está associado à capacidade de difusão das inovações
tecnológicas no território, enquanto que o setor de software encontra-se muito mais restrito
aos grandes centros urbanos do país, onde o conhecimento é gerado e onde as
complementaridades da industriais se efetivam.
No nordeste o setor de software, seguindo a premissa anterior, se concentra nas metrópoles
regionais de Salvador, Recife e Fortaleza. No interior do Nordeste apenas Campina Grande se
destaca.
A lei de informática compreende um arcabouço institucional legal com o objetivo de aumentar
a capacidade produtiva da indústria de bens de informática no país através de parcerias para a
realização de atividades de P&D dentro e fora da firma. Além disso, prevê que parte dos
investimentos em P&D no país seja aplicado obrigatoriamente nas regiões menos
desenvolvidas. Porém não existe a preocupação de que a produção incentivada seja realizada
por empresas de capital nacional, ou que as disparidades regionais sejam minimizadas, pois
definem percentuais que não possibilitam a diminuição da concentração regional, apenas
garante que um mínimo de investimento seja aplicado nessas regiões.
Quanto ao setor de software a Lei de Informática não se aplica diretamente pois seu
mecanismo de incentivo não as beneficia. Portanto o aumento da capacidade produtiva e
inovativa do setor de software, apesar deste constar da lista de atividades de bens de
informática, é beneficiado de forma apenas indireta.
Campina Grande é considerada e proclamada na mídia como um pólo inovador de produção
de tecnologia. A fama de Campina Grande se deve muito ao pioneirismo de alguns agentes
locais que possibilitaram a instalação de uma escola politécnica no interior da Paraíba em
1954 e que acabou propiciando mais tarde uma nova atitude inovadora que foi a aquisição,
através de um esforço coletivo de arrecadação de recursos, do primeiro computador de grande
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porte do Nordeste. Campina Grande tornou-se então um centro de referência no Brasil de
formação de mão-de-obra tecnológica.
Porém, devido ao baixo dinamismo da região e da cidade, a criação de um tecido produtivo
local sofreu sérias limitações, muitos dos profissionais formados na cidade se mudaram para
grandes centros, caracterizando assim uma intensa fuga de cérebros, mas mesmo assim, apesar
da existências de poucas empresas, as empresas de base tecnológica criadas são altamente
inovativas.
Hoje, em Campina Grande, o território, sob o arcabouço legal da Lei de Informática, é
marcado pela presença institucional de empresas multinacionais que realizam os
investimentos obrigatórios em P&D destinados à região de influência da ADENE. Estas
empresas não estabelecem nenhuma relação cooperativa com empresas locais, o que
demonstra um distanciamento dentro da rede de interações sociais entre o setor produtivo
local e as empresas multinacionais. Assim percebe-se a inexistência de processos de
transferência direta de conhecimento para o setor de produção de bens de informática local.
Este é um problema que advém da escala territorial na qual a Lei de Informática foi
formatada, sem levar em consideração o setor de produção regional/local.
O estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento de atividades de P&D, por ser um
mecanismo legal, de âmbito nacional, que não diferencia empresas nacionais e empresas de
capital nacional, considera a inovação resultante de uma parceria desenvolvida entre uma
empresa multinacional e uma universidade do Nordeste, como um aumento na capacidade
produtiva do setor nacional de bens de informática. Este mesmo evento, se percebido sob uma
ótica que leve em consideração, tanto as questões regionais, quanto as questões propriamente
nacionais, não deve ser considerado um grande aumento da capacidade produtiva nacional,
além do que este acaba acentuando uma questão regional que ainda não foi resolvida no país.
Isto se dá, pois se, em uma região menos dinâmica economicamente, são estabelecidas
parcerias com os melhores pesquisadores locais, está naturalmente sendo inibida a
transferência de conhecimento via aprendizagem que poderia se realizar a partir de parcerias
das empresas locais com a universidade, além disso o conhecimento acumulado por
pesquisadores locais no território é apropriado pelas empresas multinacionais, sendo assim, a
inovação que podia ter sido gerada localmente, e aproveitada comercialmente a partir de
empresas locais, fica nas mãos destas multinacionais que têm a maioria das suas subsidiárias
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na região concentrada do país, favorecendo uma migração de conhecimento no sentido
nordeste-sudeste.
Deve-se mencionar, ainda, que, em uma região de baixo dinamismo econômico, com um
pequeno tecido produtivo, a parceria entre multinacionais e universidades pode ter ainda
efeitos mais perversos do que se verificaria em uma região de maior dinamismo, no qual as
multinacionais tivessem unidades de produção, pois, além de se transferir conhecimento, que
poderia ser desenvolvido pelo setor privado local, para as multinacionais, os benefícios que
adviriam da incorporação da inovação em um processo produtivo local, mesmo que fosse
realizado na própria subsidiária da multinacional, são transferidos para outro território.
Já, em relação a origem do capital da empresa, a empresa multinacional não tem vínculo com
o lugar, então a qualquer momento a produção e o conhecimento que foi, praticamente de
graça, transferido das universidades e dos institutos de pesquisa para a multinacional pode se
transferir dali, além do que o lucro obtido com as vendas no país não é reinvestido
inteiramente no próprio país, portanto a Lei deveria levar em consideração a origem do capital
da empresa, bem como também contemplar a produção Local/Regional.
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INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 95
ANEXOS
INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NO SETOR DE SOFTWARE DE CAMPINA GRANDE-PB 96
ANEXO A – CAPA DA REVISTA NEWSWEEK DE ABRIL DE 2001
Fonte: PaqTcPB.