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INOVAÇÃO, MANUFATURA AVANÇADA E O FUTURO DA INDÚSTRIA UMA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE SOBRE AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO 1ª Edição SIG Quadra 4, Bloco B, Ed. Capital Financial Center, Brasília - DF + 55 61 3962 8700 [email protected] www.abdi.com

INOVAÇÃO, MANUFATURA AVANÇADA E O FUTURO DA … · Glauco Arbix, Professor Titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). Mário Sérgio Salerno, Professor

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  • INOVAO, MANUFATURA AVANADA E O FUTURO DA INDSTRIA

    UMA CONTRIBUIO AO DEBATE SOBRE AS POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO

    1 Edio

    SIG Quadra 4, Bloco B, Ed. Capital Financial Center, Braslia - DF

    + 55 61 3962 [email protected]

    mailto:[email protected]://www.abdi.com

  • INOVAO, MANUFATURA AVANADA E O FUTURO DA INDSTRIAUMA CONTRIBUIO AO DEBATE SOBRE AS POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO

    BrasliaABDI2017

    Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    1 Edio

  • Repblica Federativa do Brasil

    Michel Temer

    Presidente

    Ministrio da Indstria,

    Comrcio Exterior e Servios

    Marcos Pereira

    Ministro

    Agncia Brasileira de Desenvolvimento

    Industrial - ABDI

    Luiz Augusto de Souza Ferreira

    Presidente

    Jos Alexandre da Costa Machado

    Diretor

    Miguel Antnio Cedraz Nery

    Diretor

    Bruno Jorge Soares

    Gerente de Planejamento

    Equipe Tcnica e Reviso da ABDI

    Carlos Henrique de Mello Silva

    Jackson De Toni

    Ricardo Amorim

    Roberto Pedreira

    Rogrio Arajo

    Simone Uderman

    Ana Carolina Nogueira

    (Estagiria)

    Projeto grfico

    Mariana Destro

    Contrato n.029/2015

    Servios tcnicos especializados para a reali-

    zao de estudos e pesquisas acerca de polticas

    industriais e aes de fomento ao desenvolvimen-

    to tecnolgico e inovao.

    Gestor do contrato: Roberto Pedreira

    Coordenao

    Carlos Torres Freire, Doutor em Sociologia pela

    USP e Diretor Cientfico do Cebrap.

    Glauco Arbix, Professor Titular do Departamento

    de Sociologia da Universidade de So Paulo (USP).

    Mrio Srgio Salerno, Professor Titular do

    Departamento de Engenharia de Produo da

    Escola Politcnica da USP.

    Equipe de pesquisa:

    Carolina Mota Mouro, Mestre em Direito

    do Estado pela USP, Professora de Direito

    Administrativo da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie.

    Daniel Babinski, Mestre em Direito do Estado

    pela USP, scio do Gomes & Navarro Advogados

    Associados e pesquisador associado do Cebrap.

    Felipe Massami Maruyama, mestrando em

    Engenharia de Produo na Poli/USP e pesquisa-

    dor associado do Cebrap.

    Graziela Castello, Graduada em Cincias Sociais

    pela Pontifcia Universidade Catlica de SP e

    pesquisadora do Cebrap.

  • Guilherme Soares Gurgel do Amaral, Doutor em

    Engenharia de Produo pela Escola Politcnica

    da USP, pesquisador associado do Cebrap.

    Leonardo Melo Lins, Mestre e Doutorando em

    Sociologia pela Universidade de So Paulo (USP) e

    pesquisador associado do Cebrap.

    Paula Santana, mestranda em Polticas Pblicas

    pela USP, pesquisadora associada do Cebrap.

    Consultores e especialistas:

    Andr Tortato Rauen (Ipea), Doutor em Poltica

    Cientfica e Tecnolgica pela Unicamp, pesquisa-

    dor do Ipea.

    Andr Amaral, economista, consultor em

    finanas pblicas.

    Carlos Amrico Pacheco, Doutor em Economia,

    Instituto de Economia da Unicamp.

    Cristina Caldas, Doutora em Imunologia pela USP,

    pesquisadora visitante no Center for International

    Studies do Massachusetts Institute of Technology

    (MIT).

    Demtrio G. C. Toledo, Professor Doutor do

    Bacharelado em Relaes Internacionais da

    Universidade Federal do ABC.

    Diogo Coutinho, Professor Associado do

    Departamento de Direito Econmico, Financeiro e

    Tributrio da Faculdade de Direito da USP.

    Eduardo de Senzi Zancul, Professor do Departamento de

    Engenharia de Produo da Escola Politcnica da USP.

    Evando Mirra, Professor Titular Engenharia

    Metalrgica da Universidade Federal de Minas

    Gerais (UFMG).

    Fernanda De Negri, Doutora em Economia pela

    Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),

    pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada (Ipea) e pesquisadora visitante no

    Industrial Performance Center do Massachusetts

    Institute of Technology (MIT).

    Jorge de Paula Costa Avila, Doutor em Sade

    Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro.

    Joo Alberto De Negri, Doutor em Economia pela

    Universidade de Braslia, pesquisador do IPEA.

    Pedro Salomon Bezerra Mouallem, Mestre em

    direito pela Faculdade de Direito da USP.

    Roberto Vermulm, Professor Dr. da Faculdade de

    Economia e Administrao da USP.

    Consultoria jurdica:

    Manesco, Ramires, Perez, Marques,

    Sociedade de Advogados.

    Sundfeld Advogados, Consultores em Direito

    Pblico e Regulao.

    Veirano Advogados.

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao - CIP

    Uma contribuio ao debate sobre as polticas de desenvolvimento produtivo: inovao e manufatura

    avanada / Organizador: Jackson De Toni - Braslia : ABDI, 2017.

    v. 1 (545 p.) : il., grfs. color.

    ISBN: 978-85-61323-42-4

    1. Indstria 2. Indstria Brasileira 3. Poltica Industrial

    4. Desenvolvimento Brasileiro 5. Inovao 6. Tecnologia;

    De Toni, Jackson// I. Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial.

  • INTRODUO

    APRESENTAO

    01 / PANORAMA DE POLTICAS INDUSTRIAIS E DE INOVAO NO BRASILINTRODUO

    PARTE I. INTRODUO E CONTEXTO

    1. PARMETROS PARA UMA NOVA GERAO DE POLTICAS DE INOVAO

    PARTE II. POLTICAS INDUSTRIAIS: TRAJETRIA RECENTE NO BRASIL

    1. A INOVAO COMO POLTICA DE ESTADO

    2. A POLTICA INDUSTRIAL TECNOLGICA E DE COMRCIO EXTERIOR (PITCE)

    3. A POLTICA DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO (PDP)

    4. O PLANO BRASIL MAIOR (PBM)

    5. O PLANO INOVA EMPRESA E A OVA GERAO DE POLTICAS DE INOVAO

    6. PROGRAMA NACIONAL PLATAFORMAS DO CONHECIMENTO (PNPC)

    PARTE III: MARCO REGULATRIO E EVOLUO DO FINANCIAMENTO A CT&I

    1. A CONSTRUO DO NOVO PADRO DE FINANCIAMENTO: 1997-2001

    2. CONSOLIDAO DO NOVO MODELO DE GOVERNANA: 2003-2009

    3. INTEGRAO DAS POLTICAS DE CT&I COM A POLTICA INDUSTRIAL: 2011-2014

    NOVOS RUMOS: REVISO DO MARCO LEGAL E PROJETOS ESTRUTURANTES

    REFERNCIAS GERAIS

    REFERNCIAS POR POLTICA INDUSTRIAL

    02 / BENCHMARKING DE POLTICAS PARA DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, TECNOLGICO E INOVAO DE PASES SELECIONADOSINTRODUO

    1. UM NOVO CONTEXTO PARA FORMULAO DE POLTICAS

    1.1. REARRANJO DA CAPACIDADE INDUSTRIAL

    1.2. A INOVAO COLABORATIVA E O PAPEL CRTICO DAS EMPRESAS NASCENTES

    1.3. NOVOS REQUERIMENTOS PARA GOVERNANA

    2. QUADRO CONCEITUAL PARA INSTRUMENTOS DE POLTICAS

    INDUSTRIAIS E DE INOVAO

    3. TENDNCIAS RECENTES NO USO DE INSTRUMENTOS DE POLTICA

    INDUSTRIAL PARA A INOVAO

    3.1. AUMENTO DA PARTICIPAO PBLICA NA P&D EMPRESARIAL E DA

    UTILIZAO DE INCENTIVOS FISCAIS

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    115

    SUM

    RIO

  • 3.2. CRIAO DE MECANISMOS DE TRANSFERNCIA TECNOLGICA JUNTO A

    INICIATIVA PRIVADA

    3.3. APOIO AO EMPREENDEDORISMO

    3.4. FORTALECIMENTO DO USO DA ENCOMENDA PBLICA

    4. PERFIS NACIONAIS RESUMIDOS

    4.1. ESTADOS UNIDOS

    4.2. CHINA

    4.3. ALEMANHA

    CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    03/ AVALIAO DO USO DO ARCABOUO JURDICO DE INOVAOINTRODUO

    1. ESTRUTURAO DA PESQUISA EMPRICA

    1.1. METODOLOGIA ADOTADA

    1.2. TEMTICAS EXPLORADAS

    2. AVANOS E DEMANDAS NA PERCEPO DOS USURIOS

    2.1. AVANOS PERCEBIDOS NO ARCABOUO LEGAL ASSOCIADO S

    PRTICAS DE INOVAO

    2.2. DEMANDAS A RESPEITO DO ARCABOUO LEGAL ASSOCIADO S

    PRTICAS DE INOVAO

    CONSIDERAES FINAIS

    ANEXO I ROTEIRO DE ENTREVISTA

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    04/ ANLISE DA LEI DE INOVAOSUMRIO DO CAPTULO

    1. COMPRAS

    2. FLUXO DE CONHECIMENTO

    3. EMPREENDEDORISMO E INOVAO

    4. FINANCIAMENTO

    APRESENTAO

    INTRODUO

    1. CONSOLIDAO DO ARCABOUO JURDICO-INSTITUCIONAL EM INOVAO

    2. COMPRAS

    2.1. ELEMENTOS METODOLGICOS

    119

    122

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    239

    240

  • 2.2. IMPORTAO, PESQUISA E INOVAO NO BRASIL: ASPECTOS LEGAIS E

    INFRALEGAIS

    2.3. O PODER DE COMPRA DO GOVERNO COMO INDUTOR DA MUDANA

    TCNICA NAS EMPRESAS

    3. FLUXOS DE CONHECIMENTO

    3.1. RECURSOS HUMANOS

    3.2. COOPERAO ICT-SETOR PRIVADO

    3.3. PROPRIEDADE INTELECTUAL

    3.4. RECOMENDAES

    4. EMPREENDEDORISMO E INOVAO

    4.1. INCENTIVOS S EMPRESAS INOVADORAS EM ESTGIO INICIAL

    4.2. INCENTIVOS S EMPRESAS INOVADORAS EM ESTAGIO INICIAL:

    O FINANCIAMENTO VIA CAPITAL DE RISCO

    4.3. INVESTIMENTO EM EMPRESAS INOVADORAS POR MEIO DE FUNDOS DE

    INVESTIMENTO EM PARTICIPAO - FIP

    4.4. FUNDOS DE INVESTIMENTOS EM EMPRESAS INOVADORAS COM

    PARTICIPAO ESTATAL

    4.5. O CAPITAL DE RISCO NA LEI DE INOVAO: PRINCIPAIS ENTRAVES E

    PROPOSTAS NO PLANO JURDICO

    4.6. RECOMENDAES

    5. FINANCIAMENTO

    5.1. SNTESE DA PROPOSTA DE FUNDO NACIONAL DE INOVAO

    5.2. FOMENTO INOVAO POR FINANCIAMENTO PBLICO

    5.3. FOMENTO INOVAO POR FINANCIAMENTO PRIVADO

    5.4. GOVERNANA DO FUNDO NACIONAL DE INOVAO

    CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    05/ MANUFATURA AVANADA NOS EUA US NATIONAL NETWORK OF MANUFACTURING INNOVATION: A ESTRATGIA AMERICANA PARA A INDSTRIA AVANADA

    SUMRIO EXECUTIVO

    INTRODUO

    1. A EMERGNCIA DA REDE DE MANUFATURA AVANADA

    2. POR DENTRO DO PROJETO NNMI

    3. TENDNCIAS NAS POLTICAS DE INOVAO A PARTIR DO NNMI

    242

    265

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    427

    431

    432

    435

    438

  • 3.1. A ORIGEM DO PROJETO NMI

    3.2. ARCABOUO INSTITUCIONAL E GOVERNANA DO PROGRAMA

    3.3. OS INSTITUTOS: CRIAO, FUNCIONAMENTO E AVALIAO

    3.4. FUNCIONAMENTO INTERNO

    3.5. EMPREGO E QUALIFICAO

    3.6. AVALIAO

    CONSIDERAES FINAIS

    1. A CENTRALIDADE DO OSTP NA FORMULAO DA POLTICA DE INOVAO

    2. MINISTRIOS-FIM NO FINANCIAMENTO E NAS AQUISIES DE INOVAES

    3. CRIAR AMBIENTES COMPARTILHADOS PARA EXPERIMENTAR, ABSORVER,

    GERAR E TESTAR TECNOLOGIAS DE LTIMA GERAO

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    OUTRAS REFERNCIAS

    ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA TRABALHO DE CAMPO

    06/ CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO EM SADE NOS EUA: POLTICAS PBLICAS E INSTITUIES

    INTRODUO

    1. CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO NOS EUA: A CINCIA COM MISSO

    2. METODOLOGIA DO LEVANTAMENTO DE CAMPO

    3. A POLTICA DE C&T NORTE-AMERICANA NA REA DE SADE

    4. TENDNCIAS RECENTES NAS POLTICAS DE CTI EM SADE

    CONSIDERAES FINAIS: LIES DAS EXPERINCIAS DOS EUA E

    RECOMENDAES DE POLTICAS E AES PARA O BRASIL

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA TRABALHO DE CAMPO

    ANEXO 2: LOCAIS VISITADOS E ENTREVISTADOS SADE NOS EUA

    07/ MANUFATURA AVANADA NA ALEMANHA MODELOS INSTITUCIONAISE POLTICAS DE CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO EM MANUFATURA

    AVANADA: O CASO DA ALEMANHA E DO PROGRAMA INDUSTRIE 4.0SUMRIO EXECUTIVO

    INTRODUO

    1. CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO EM MANUFATURA NA ALEMANHA:

    UMA VISO GERAL

    2. METODOLOGIA DO LEVANTAMENTO DE CAMPO

    438

    442

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    520

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    539

  • 3. TENDNCIAS RECENTES NAS POLTICAS DE CTI

    3.1. GOVERNANA DO PROGRAMA INDUSTRIE 4.0 E FORMAS

    DE PARTICIPAO

    3.2. O PAPEL DOS AMBIENTES DE TESTE E DEMONSTRAO TESTBEDS

    3.3. INSTRUMENTOS ESPECFICOS DE FOMENTO E ENVOLVIMENTO DE PMES

    CONSIDERAES FINAIS: LIES DAS EXPERINCIAS DA ALEMANHA E

    RECOMENDAES PARA O BRASIL

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA TRABALHO DE CAMPO

    08/ ENERGIA E TECNOLOGIA NA ALEMANHA A POLTICA DE INOVAO PARA ENERGIAS SUSTENTVEIS NA ALEMANHA

    SUMRIO EXECUTIVO

    INTRODUO

    1. CINCIA, TECNOLOGIA E INOVAO NO SETOR ELTRICO DA ALEMANHA:

    UMA VISO GERAL

    1.1. 1974 1989: FORMAO INICIAL DA DINMICA DO DESENVOLVIMENTO

    TECNOLGICO NO SETOR

    1.2. 1990 - 2000: GERAO DA INDSTRIA DE ENERGIAS RENOVVEIS

    NA ALEMANHA

    1.3. 2000 EM DIANTE: CONSOLIDAO DO PROCESSO DE DIFUSO DAS

    TECNOLOGIAS DE ENERGIA RENOVVEIS NA ALEMANHA

    2. METODOLOGIA DO TRABALHO DE CAMPO

    2.1. ENERGIA E INDSTRIA 4.0

    3. TENDNCIAS RECENTES NAS POLTICAS ENERGTICAS

    CONSIDERAES FINAIS: LIES DAS EXPERINCIAS DO PAS E

    RECOMENDAES PARA O BRASIL

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA TRABALHO DE CAMPO

    ANEXO 2: LOCAIS VISITADOS E PROFISSIONAIS ENTREVISTADOS

    NA ALEMANHA

    09/ MANUFATURA AVANADA NO BRASIL: DIRETRIZES E RECOMENDAES PARA A FORMULAO DE UM PROGRAMA NACIONAL

    SUMRIO EXECUTIVO

    INTRODUO

    543

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    630

    638

  • PRIMEIRA PARTE: INDSTRIA DO FUTURO, EUA, ALEMANHA E CHINA

    1. UMA NOVA INDSTRIA

    2. CONCEITOS E FUNDAMENTOS

    3. ALEMANHA

    4. ESTADOS UNIDOS

    5. CHINA

    6. TRAJETRIAS ADOTADAS NOS PASES ANALISADOS

    7. PONTO DE PARTIDA NO BRASIL

    SEGUNDA PARTE: DIRETRIZES PARA O BRASIL

    VISO GERAL DAS DIRETRIZES E RECOMENDAES

    1. GOVERNANA

    2. INTEGRAO INTERNACIONAL

    3. LABORATRIOS

    4. TESTBEDS

    ANEXO 1 DIRETRIZES PRELIMINARES PARA CHAMADAS PBLICAS DE

    FOMENTO A TESTBEDS

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    685

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 11

    INTRODUO

    Em estudo recente sobre a competitividade, o Brasil ocupou o penltimo

    lugar num ranking de 18 pases selecionados. 1 Entre nove fatores indicados,

    apenas em quatro, disponibilidade de mo de obra, competio e escala do

    mercado domstico, educao e tecnologia e inovao, o pas no ocupa o tero

    inferior do ranking. Entre os fatores mais preocupantes esto o alto custo de

    capital, as deficincias da infraestrutura de energia, a qualidade da educao,

    o baixo investimento em P & D e, claro, a deteriorao dos indicadores ma-

    croeconmicos.

    Essa situao preocupante, entretanto, no deve diminuir o papel da in-

    dstria na nossa trajetria de desenvolvimento nacional. O Brasil construiu

    um diversificado e complexo tecido industrial desde o ps-guerra. Eletroele-

    trnica, qumica, aeronutica, automobilstica, petroqumica, ..., poucos pa-

    ses emergentes lograram construir em pouco tempo um parque industrial que

    colocou o pas entre as dez maiores economias do mundo. A indstria trans-

    formou o pas, mais urbano e escolarizado, modernizando as relaes econ-

    micas e institucionais.

    Entretanto, no conseguimos acompanhar a revoluo tecno-cientfica

    em curso desde os anos setenta, nem modernizamos nossas instituies sufi-

    cientemente para acompanhar a revoluo nas cadeias globais de valor. Como

    1 Competitividade Brasil, 2016, comparao com pases selecionados, CNI, Braslia.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 12

    consequncia perdemos progressivamente produtividade e agregao de va-

    lor nas nossas exportaes, nos posicionamos de forma precria nas transfor-

    maes da estrutura produtiva mundial.

    Sabemos que a indstria, em especial a manufatura, que gera maiores

    multiplicadores da atividade econmica, maiores efeitos de escala e maiores

    oportunidades para a inovao. Sabemos tambm que a indstria no mundo

    inteiro vive um perodo de transio que no s tecnolgica, mas dos pr-

    prios modelos de negcio. Os servios, por exemplo, j adicionam mais que

    60% do valor aos produtos industriais. A economia digital, baseada em novas

    tecnologias de informao, avana em todos os setores. A assim chamada ma-

    nufatura avanada ou indstria 4.0 passou a ser um imperativo para insti-

    tuies pblicas e privadas que pensam o presente e o futuro do desenvolvi-

    mento produtivo. Segundo o Boston Consulting Group, as tecnologias que es-

    to transformando a estrutura produtiva so: 1. robs autnomos; 2. internet

    das coisas em nvel industrial; 3. manufatura aditiva; 4. integrao de siste-

    mas horizontais e verticais; 5. simulao; 6. realidade aumentada; 7. big data

    e anlises; 8. processamento e armazenamento de dados em nuvem; 9. segu-

    rana ciberntica. H tambm uma diluio entre os antigos setores industrial

    e agrcola na medida dos avanos da bioeconomia, da agricultura de preciso

    e de tecnologias hbridas envolvendo novos materiais e novas cadeias de pro-

    tenas. Essas tecnologias esto na base e so potencializadas por novos mode-

    los de negcios baseados na customizao em massa, na conexo instantnea,

    e na servitizao de bens industriais. Estamos beira da Quarta Revoluo

    Industrial.

    Tornou-se imprescindvel pensar o processo de desindustrializao, no

    s como o fim de um ciclo, mas o incio de novas fronteiras nas polticas p-

    blicas, para isso o apoio inovao, s parcerias pblico-privada e a um novo

    tipo de poltica industrial, mais horizontal, compreensiva e flexvel, feita em

    camadas que combinem agendas microeconmicas com projetos mais estru-

    turais fundamental.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 13

    O estudo exploratrio apresentado pela ABDI ajuda a debater esse com-

    plexo contexto, de profundas alteraes tecnolgicas, demogrficas, regulat-

    rias e sociais para repensar as polticas tradicionais de apoio ao setor produ-

    tivo e sugerir insights para polticas futuras.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 14

    APRESENTAO

    A presente publicao resulta da edio e compilao dos relatrios de

    pesquisa realizados pelo projeto de parceria entre a ABDI e o CEBRAP2 com o

    objetivo de subsidiar os debates sobre o balano das polticas de desenvolvi-

    mento produtivo e as expectativas e possibilidades de novas fronteiras, em es-

    pecial sobre a necessidade de aumentar a inovao no setor produtivo e disse-

    minar as prticas da Industrie 4.0, como a chamam os alemes ou a Advan-

    ced Manufacturing, denominao dada pelos norte-americanos.

    Os relatrios de pesquisa foram organizados em oito captulos. O pri-

    meiro captulo trata de um panorama das polticas industriais executadas na

    ltima dcada. A viso crtica e procura identificar os principais gargalos das

    polticas industriais colocadas em prtica no perodo, com nfase para o tema

    de inovao. O segundo captulo aborda um estudo de benchmarking de pol-

    ticas industriais em pases selecionados: Estados Unidos, China e Alemanha.

    O terceiro captulo aprofunda o debate sobre os desafios do marco regulatrio

    de inovao. Os temas so segmentados em compras pblicas, conhecimento

    e financiamento. O quarto captulo debate as alteraes na Lei de Inovao,

    incluindo o debate sobre os dispositivos da Lei 13.243/2016. J os captulos de

    cinco a oito apresentam relatrios de estudos de caso que envolveram visitas

    de campo. Os estudos so sobre a manufatura avanada nos Estados Unidos

    (Captulo 5), os setores de sade, tecnologia e inovao nos Estados Unidos (Ca-

    2 CEBRAP a sigla do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento, tradicional instituto de

    pesquisa econmica e social, sediado em So Paulo, foi fundado em 1969.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 15

    ptulo 6), o setor de manufatura avanada na Alemanha (Captulo 7) e final-

    mente os estudos de inovao e energias sustentveis na Alemanha (Captulo

    8). O ltimo Captulo, nove, apresenta, em carter exploratrio e reflexivo, su-

    gestes e recomendaes sobre uma eventual poltica de manufatura avan-

    ada para o Brasil.

    Cabe registrar que as ideias, reflexes e sobretudo as recomendaes de

    polticas aqui contidas tem natureza unicamente reflexiva e exploratria, no

    representando necessariamente a agenda oficial da agncia e/ou seu posicio-

    namento institucional, ou do Ministrio da Indstria, Comrcio e Servios

    (MDIC), ao qual a instituio vinculada.

    Boa leitura!

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 16

    01 /PANORAMA DE POLTICAS INDUSTRIAIS E DE INOVAO NO BRASIL

    INTRODUO

    Este captulo apresenta uma anlise de programas e aes de poltica

    industrial, tecnolgica e de inovao formuladas e implementadas pelo go-

    verno federal nos ltimos 10 anos.

    O objetivo bsico deste documento, alm de uma periodizao analtica,

    com descrio dos alvos, instrumentos e metas previstos, reconstruir a tra-

    jetria das polticas de modo a identificar as modalidades de apoio e de finan-

    ciamento pblicos ao desenvolvimento tecnolgico e inovao.

    No se pretende aqui refazer minuciosamente a histria das polticas

    pblicas voltadas para a indstria. Tampouco se debruar sobre uma anlise

    especializada dos resultados alcanados, o que exigiria outra metodologia e,

    fundamentalmente, sries histricas de dados de maior durao, capazes de

    fornecer informaes precisas e comparveis.

    Neste documento sero definidos os vetores principais que devem ori-

    entar a construo de uma nova gerao de poltica de desenvolvimento tec-

    nolgico e de inovao. Para isso, partiremos da reconstruo da evoluo das

    diretrizes, escopo e dos objetivos que nortearam as polticas aprovadas desde

    2004, com todas suas virtudes, mas tambm com as oscilaes, imprecises e

    equvocos mais importantes que marcaram suas trajetrias.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 17

    Como base para esse esforo, foram analisadas as seguintes aes: Pol-

    tica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior (PITCE); Poltica de Desen-

    volvimento Produtivo (PDP); Plano Brasil Maior (PBM); Plano Inova Empresa

    (PIE); Programa Nacional Plataformas do Conhecimento (PNPC). Alm destes,

    foram abordados de forma pontual o Programa de Sustentao do Investi-

    mento (PSI), o Inovar Auto e contribuies da Estratgia Nacional de Cincia e

    Tecnologia (ENCTI), definidas pelo Ministrio da Cincia Tecnologia e Inovao

    (MCTI) em 2012.

    Foram analisadas as proposies e carncias das polticas aps 2004

    pelo prisma do que consideramos ser o eixo estruturante de toda poltica in-

    dustrial contempornea: a necessidade urgente de aes voltadas para a dimi-

    nuio da distncia que separa a economia brasileira dos pases desenvolvidos

    e das prticas industriais mais avanadas.

    Nessa chave, o principal desafio que agentes pblicos e privados enfren-

    tam o de formular polticas que levem alterao do patamar de competiti-

    vidade do sistema produtivo, em geral, de baixo desempenho e sem condies

    de acompanhar a rpida evoluo da indstria nos pases avanados. Por isso

    mesmo, a preocupao bsica que deve permear as polticas industriais mo-

    dernas a de avanar rumo a alteraes estruturais, que possibilitem a supe-

    rao do gap tecnolgico e a acomodao inercial da indstria, tpica das eco-

    nomias de concorrncia limitada, fruto de dcadas de protecionismo e tutela

    estatal. Assim, os esforos para a elevao da baixa produtividade da economia

    e o ainda baixo grau de desenvolvimento tecnolgico e de inovao das nossas

    empresas, mesmo das mais dinmicas, indicam a qualidade das polticas in-

    dustriais, assim como sua eficincia para o desenvolvimento sustentvel e de

    longa durao.

    O captulo est dividido em trs partes. Na primeira, fazemos uma in-

    troduo discusso sobre poltica industrial, apontando brevemente a im-

    portncia de cincia, tecnologia e inovao, assim como fornecemos algumas

    referncias para se analisar as polticas no Brasil. Na segunda parte, traare-

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 18

    mos a trajetria e faremos uma leitura das polticas industriais a partir da pre-

    ocupao central com a inovao. Por fim, a terceira parte retoma o histrico

    de mudanas no modelo de financiamento e no marco legal para C&TI no Bra-

    sil nos ltimos anos.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 19

    PARTE I. INTRODUO E CONTEXTO

    1. Parmetros para uma nova gerao de polticas de inovao

    Desde o final do sculo XX, avanos sem precedentes nas tecnologias da

    informao e comunicao (TICs), favoreceram uma convergncia tecnol-

    gica indita, a partir da interconexo entre reas, disciplinas e tcnicas do co-

    nhecimento, e passaram a patrocinar mudanas radicais na indstria de

    transformao que, reestruturada, continuar sendo base e motor para inova-

    es sociais e econmicas. Setores industriais inteiros, como o qumico, ener-

    gtico, de minerao, de petrleo e gs, de sade e toda a matriz manufatu-

    reira, vivem mudanas profundas, a partir de novos materiais, imagens, rob-

    tica, impresso em 3D e, fundamentalmente, de sistemas integradores e ana-

    lticos que geram ou reutilizam dados em escala e qualidade impensveis h

    poucos anos. Com isso, tecnologias digitais ganharam fora indita e deflagra-

    ram processos inovadores que permitem ganhos em custo, produtividade e

    eficincia.

    Os impactos dessa grande transformao j se anunciam profundos,

    tanto nos pases desenvolvidos como nos emergentes. A comear pelas pers-

    pectivas de uma nova geografia da produo e dos sistemas de fornecimento;

    ou por conta dos desafios que os materiais avanados como a fibra de car-

    bono, o grafeno e outros colocam para os complexos do alumnio e do ao; ou

    pela diminuio das barreiras de entrada viabilizada pela computao e inter-

    net; ou ainda, pelo consistente entrelaamento da manufatura e servios.

    Por mais que esse panorama ainda seja restrito a algumas indstrias,

    fundamental compreender que o mundo fabril j mudou e vai mudar ainda

    mais. A criao de emprego ser mais difcil e, certamente, estar concentrada

    em trabalhadores mais qualificados engenheiros, designers, tcnicos de TI,

    logstica, marketing que operam em centros e escritrios muitas vezes longe

    da produo. O perfil do emprego ser muito distinto do que predominou no

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 20

    sculo XX, com imensas consequncias sociais, que nenhum ator relacionado

    formulao de polticas industriais pode ignorar.

    A elaborao de polticas avanadas, com uma compreenso de con-

    junto e com base em linhas de longa durao, est longe de ser trivial. As pre-

    ocupaes dos governos pautam-se, em geral, pelo curto prazo. Mais do que

    isso, governos so muito suscetveis a ceder diante de presses protecionistas

    ou a se mostrarem generosos com empresas e indstrias que se enraizaram no

    passado e no tm condies de competir no futuro.

    Foi por isso que, desde 2004, o governo brasileiro retomou a formulao

    de polticas industriais, s que agora, com o foco em inovao. As polticas in-

    dustriais implementadas na poca de substituio de importaes, tiveram

    como objetivo industrializao do pas, como meio de superao do atraso de

    uma sociedade agrria com uma economia baseada em produtos intensivos

    em recursos naturais e insumos de baixo valor agregado. Com uma infraestru-

    tura rudimentar e mo-de-obra despreparada, as polticas industriais dos

    anos 50, 60 e 70 desenvolveram-se em uma sociedade no plenamente demo-

    crtica, com uma concorrncia controlada e forte presena do Estado, princi-

    pal avalista, patrocinador do investimento de peso e tutor da industrializao.

    No se trata aqui de reescrever exaustivamente essa histria. Mas ape-

    nas de enfatizar alguns traos para deixar claro que o Brasil se transformou

    em uma sociedade muito mais aberta, democrtica e descentralizada, com

    uma indstria heterognea, relativamente integrada e, em muitas reas, ca-

    paz de competir inclusive mundialmente. Precisamente por isso, as polticas

    industriais de hoje, se quiserem alcanar os resultados que anunciam, preci-

    sam ter uma qualidade diferente das anteriores.

    Para no ficar prisioneiro do passado, o Brasil precisa aproximar rapi-

    damente sua indstria das melhores prticas internacionais, criar marcos re-

    gulatrios propcios ao desenvolvimento tecnolgico, de modo que suas em-

    presas consigam endogeneizar os avanos e desenvolver inovaes para mu-

    dar o patamar de seus sistemas de produo.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 21

    Como enfatizou Stiglitz, structural transformation is always taking

    place because of changes in technology, in comparative advantage, and in the

    global economy. Essas dimenses marcam o desenvolvimento industrial mo-

    derno como um processo contnuo de inovao tecnolgica e de diversificao

    econmica. Ainda assim, para que esse processo tenha xito, os pases preci-

    sam migrar seu capital humano e recursos financeiros escassos dos setores de

    baixo desempenho para as reas e complexos de alta produtividade. Para isso,

    so necessrias polticas pblicas com foco em inovao, articuladas com a

    iniciativa privada, uma vez que the process to be efficient, coordination is-

    sues and externalities issues must be addressed. Markets typically do not man-

    age such structural transformations on their own well (Stiglitz et alli, 2013,

    p.10).

    Transformaes dessa qualidade exigem investimento constante em

    Educao, Cincia e Tecnologia (C&T), assim como em canais institucionaliza-

    dos de comunicao permanente entre as estruturas produtivas e os centros

    geradores de conhecimento e formadores de mo de obra qualificada, sem os

    quais dificilmente os avanos obtidos sero traduzidos em produtos reais, com

    insero na economia.

    Assim, as polticas pblicas podem e devem ser concebidas para aumen-

    tar a produtividade geral da sociedade e, em especial, de cientistas, tcnicos e

    engenheiros que atuam nas empresas e em centros de pesquisa, abandonando

    de vez as prticas dirigistas e centralizadoras que marcaram o nosso passado.

    Isso significa que a definio de objetivos e metas deve envolver responsabili-

    dades compartilhadas entre o setor pblico e o privado, a comear pelo esforo

    conjunto de construo de uma verdadeira cultura da inovao, que rejeite a

    acomodao e a tutela do Estado como nico caminho para se evitar o desper-

    dcio de recursos e a preservao de prticas empresariais ineficientes.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 22

    No quadro a seguir apresentamos um resumo das mudanas que envol-

    veram as polticas industriais no pas nos ltimos 60 anos:

    Quadro 1: Contexto, Vetores e Viso das Polticas Industriais no Brasil

    Perodo 1950-1980 1990-1999 2001-2010

    Contexto Substituio de im-portaes

    Dirigismo estatal

    Proteo comercial

    Regime autoritrio

    Democracia restrita

    Tecnologias da In-formao

    Estado regulador

    Economia mais aberta

    Regime democr-tico

    Estabilidade e diminuio das desigualdades

    Crescimento econmico

    Estado indutor da transfor-mao industrial

    Vetores Industrializao Eficincia e quali-dade

    Inovao

    Viso so-bre Tec-

    nologia e Inovao

    Industrializao pro-moveria concorrncia, gerao de tecnologia e elevao da competi-

    tividade

    Competio e aber-tura econmica ge-

    rariam empresas mais competitivas

    e inovadoras

    Tecnologia e inovao nas empresas dependem de pol-

    ticas pblicas de incentivo

    Fonte: Adaptado de Miranda e Mirra, 2012.

    At 2004, apesar das diferenas de polticas e regimes econmicos ao

    longo do tempo, tecnologia e inovao foram concebidas muito mais como

    subproduto da atividade econmica ou do funcionamento regular dos merca-

    dos. A competio empresarial, no mercado domstico ou internacional, seria

    o motor do desenvolvimento de inovaes tecnolgicas. Concepes desse tipo

    e porte, certamente ajudam a entender parte do atraso tecnolgico brasileiro

    e o ainda baixo desempenho da nossa indstria.

    A inflexo nessa trajetria comearia a ocorrer a partir de 2004, com a

    retomada das iniciativas pblicas relacionadas s polticas industriais e, em

    especial, com o foco explcito na inovao e desenvolvimento tecnolgico. Mas

    essa trajetria no seguiu uma linha ascendente nem ocorreu de modo linear.

    O foco na inovao e desenvolvimento tecnolgico, essencial para alterao do

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 23

    patamar do sistema produtivo, nem sempre obedeceu aos enunciados e obje-

    tivos fixados pelas polticas que, impreterivelmente, declararam o foco na ino-

    vao e tecnologia.

    As perspectivas reais, porm, mostraram realidade distinta. No so-

    mente por falhas de execuo, mas a natureza mesma das polticas industri-

    ais, que envolveram seus objetos, metas, prioridades e alocao de recursos,

    foram objeto de longas e ainda inconclusivas polmicas; e isso dentro do go-

    verno, nas agncias pblicas, nas representaes de classe e movimentos em-

    presariais. importante registrar que a polmica sobre o desenho das polticas

    est diretamente relacionada ao diagnstico sobre o estgio da atividade in-

    dustrial, do lugar que a indstria pode (e precisa) ocupar no cenrio da econo-

    mia nacional e internacional e sobre a atuao e competncia institucional

    que devem ter agncias especializadas, como Banco Nacional do Desenvolvi-

    mento Econmico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-

    nep), Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Instituto Naci-

    onal de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Instituto Nacional da

    Propriedade Industrial (INPI), Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (An-

    visa), Agncia Brasileira de Promoo das Exportaes (Apex), na implemen-

    tao dos programas de governo. o que veremos a seguir.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 24

    PARTE II. POLTICAS INDUSTRIAIS: TRAJETRIA RECENTE NO BRASIL

    1. A inovao como poltica de Estado

    Assim como ocorreu com a cincia brasileira, a preocupao de se estru-

    turar um sistema de inovao recente. Foi somente nos ltimos 20 anos que

    o Brasil construiu uma arquitetura relativamente robusta de inovao, que se

    beneficiou do impulso coordenado pelo Ministrio da Educao (MEC) para a

    formao de tcnicos e engenheiros especializados, ganhou fora com a cria-

    o dos fundos setoriais coordenados pelo MCTI e executados legalmente

    pela Finep , voltados para o financiamento da pesquisa e desenvolvimento

    tecnolgico, e adquiriu maior maturidade com a implantao de uma rede de

    instrumentos, estmulos e incentivos econmicos para desenvolvimento tec-

    nolgico.

    Assim, na segunda metade dos anos 1990, ainda no governo Fernando

    Henrique Cardoso, foi registrado um grande avano com a engenharia insti-

    tucional dos Fundos Setoriais (com destaque para o Fundo Verde-Amarelo, de-

    dicado inovao) e a criao do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cient-

    fico e Tecnolgico (FNDCT), que seria regulamentado em lei especial de 2007,

    que ser apresentado na Parte III.

    A partir de 2003, o Brasil deu passos mais rpidos para a articulao de

    um sistema mais integrado e coerente para a induo da inovao nas empre-

    sas nacionais, com destaque para a aprovao da Lei da Inovao (Lei n

    10.973/2004) e da Lei do Bem (Lei n 11.196/2005), que viabilizaram incentivos

    P&D semelhantes aos utilizados pelos pases avanados. As mudanas no

    marco legal e regulatrio abriram a possibilidade de se estruturar programas

    pblicos de subveno econmica (operada pela Finep), voltada para apoiar,

    via FNDCT, projetos de alto risco tecnolgico; mais ainda, viabilizaram uma

    rede de subsdios para a fixao de pesquisadores nas empresas (Conselho Na-

    cional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq e Finep), a disse-

    minao de programas de financiamento inovao de capital empreendedor

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 25

    (Finep, BNDES e CNPq), assim como um arcabouo mais propcio interao

    universidade-empresa. Nesse perodo, as alteraes do marco legal ocorreram

    em paralelo a um crescimento acentuado dos recursos e do investimento em

    inovao e tecnologia. Por exemplo, o dispndio em P&D no pas apresentou

    crescimento de 1,01% do PIB em 2003 para 1,24% do PIB em 2013 (MCTI, 2015).

    O pas deu passos no rumo certo quando resolveu retomar as polticas

    industriais em 2003-2004. Mas escorregou ao perder o foco da inovao, gene-

    ralizar subsdios e aumentar a proteo para setores que no contribuem para

    o pas se aproximar da fronteira mundial do desenvolvido produtivo com base

    em tecnologia.

    A retomada das polticas industriais ativas deu-se com a Poltica Indus-

    trial Tecnolgica e de Comrcio Exterior (PITCE) em 2004, cujo foco estava ori-

    entado para a inovao tecnolgica e em diretrizes para dar suporte s estra-

    tgias de diferenciao de produtos e servios nas empresas. No entanto, for-

    oso registrar, a PITCE no conseguiu efetividade no seu desempenho e seus

    desdobramentos tiveram soluo de continuidade. Frgil do ponto de vista de

    sua dotao oramentria e dos instrumentos para a implementao de seus

    planos, a PITCE teve o mrito maior de colocar a inovao no centro dos desa-

    fios da indstria brasileira. Ainda que tardiamente em relao ao mundo, o

    Brasil ensaiava os primeiros passos para sintonizar a indstria com as novas

    tendncias tecnolgicas mundiais.

    Nos anos 90, a desconstruo do Estado desenvolvimentista no havia

    encontrado desenlace positivo na traduo de um novo modelo de desenvolvi-

    mento. Com exceo dos programas de qualidade, a indstria seria exposta

    competio interna e externa sem instrumentos de apoio, preparo e mo de

    obra qualificada. De fato, a PITCE surgiu como uma via de sada, ainda que pe-

    quena, para a crise da nossa indstria, cujos sinais de atraso contrastavam

    com o avano da microeletrnica, da computao e das TICS nos pases avan-

    ados e mesmo em outros, que at a dcada de 1970 mostravam-se mais atra-

    sados que o Brasil, como a Coria do Sul e Taiwan.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 26

    Em 2008, uma nova poltica industrial seria anunciada, a Poltica de De-

    senvolvimento Produtivo (PDP), com foco principal no aumento do investi-

    mento agregado. Correta do ponto de vista da economia, a PDP ofuscou a sina-

    lizao aberta pela PITCE e deu poltica industrial contornos tradicionais,

    com o uso intensivo de subsdios e de mecanismos de proteo contra a con-

    corrncia internacional. A PDP, executada basicamente pelo BNDES, no es-

    tava estruturada para diversificar o investimento, nem para aumentar a P&D

    nas empresas. O foco genrico da PDP levaria o BNDES a priorizar nada menos

    do que 24 setores da economia praticamente todos sem conexo com as di-

    nmicas internacionais.

    Dos esforos da PDP, porm, nasceria o Programa de Sustentao do In-

    vestimento (PSI, 2009), estruturado diretamente pelo Tesouro Nacional, que

    foi essencial para combater os efeitos da crise econmica originada nos Esta-

    dos Unidos em 2007-2008, pelo menos at 2011.

    O Plano Brasil Maior (PBM), de agosto de 2011, deu continuidade ten-

    dncia de retomada de prticas tradicionais, j prenunciada pela PDP. Mais do

    que isso, o PBM nasceu com o PSI em seus limites de efetividade. Mesmo assim,

    o PSI foi o principal suporte para um programa de desoneraes generalizadas

    para o setor produtivo, apresentado como a poltica industrial do primeiro go-

    verno Dilma. Apesar de aes relevantes, como a concesso de crdito subven-

    cionado e isenes fiscais para empresas inovadoras, essas iniciativas ocupa-

    ram espao marginal na dotao da PBM. Seu foco no era definitivamente a

    inovao, nem a priorizao de reas de futuro ou mesmo reas de maior di-

    namismo do ponto de vista tecnolgico. Sua formulao, coordenada direta-

    mente pelo Ministrio da Fazenda, foi marcada por uma preocupao de hori-

    zontalidade em uma generosa poltica de subsdios que, alm das questes fis-

    cais, pouco contribuiu para superar a ineficiente capacidade instalada. A ex-

    ceo seria o Inovar Auto que, apesar dos problemas mais estratgicos, surpre-

    endeu positivamente, como veremos adiante.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 27

    A partir de 2011, as novas iniciativas implementadas representaram

    com todas as suas fragilidades uma nova fronteira para as polticas indus-

    triais modernas. Com recursos volumosos, comparativamente com o passado

    ainda que modestos se tomados pelo prisma da necessidade as iniciativas

    pblicas voltadas para inovao se esforaram para sintonizar nossa indstria

    com as tendncias mundiais.

    O Programa Cincia Sem Fronteiras (Coordenao de Aperfeioamento

    de Pessoal de Nvel Superior Capes e CNPq, MEC e MCTI) e o Programa Nacio-

    nal de Acesso Escola Tcnica (Pronatec, Capes-MEC) enfatizaram a necess-

    ria formao de recursos humanos qualificados para a inovao nas empre-

    sas. Como forma de diversificar ainda mais o sistema de inovao, o Governo

    Federal criaria em 2013 a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovao Industrial

    (Embrapii), uma Organizao Social (OS) voltada para apoiar servios tecnol-

    gicos para as empresas industriais.

    Essas trs iniciativas merecem ser aperfeioadas, pois, alm de enrique-

    cerem o sistema de inovao, representaram, com o Plano Inova Empresa

    (2013), o que de melhor e mais relevante o Brasil construiu para alm do arca-

    bouo dos tradicionais instrumentos de polticas pblicas de formao de re-

    cursos humanos e desenvolvimento tecnolgico.

    O Programa Inova Empresa (PIE), lanado pelo governo em maro de

    2013, foi o primeiro na histria do pas inteiramente voltado para o apoio

    inovao tecnolgica. Representou enorme avano do ponto de vista do vo-

    lume de investimento destinado inovao (R$ 32,9 bilhes), da articulao

    interministerial (12 ministrios foram diretamente envolvidos, alm da Finep

    e BNDES, as duas principais agncias envolvidas com sua execuo) e da qua-

    lidade dos instrumentos utilizados e que, de modo indito, foram parcial-

    mente integrados com destaque para o crdito, a subveno econmica, re-

    cursos no-reembolsveis para Institutos de Cincia e Tecnologia (ICTs) e in-

    vestimento em empresas de forma direta ou por meio de fundos.

    O xito do Inova Empresa pavimentou o caminho para a elaborao do

    Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento, lanado por decreto

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 28

    pela Presidente da Repblica em junho de 2014. Apesar de ainda no ter sido

    implantado, foi criado nos moldes das melhores prticas internacionais e es-

    truturado para viabilizar no Brasil o uso das encomendas tecnolgicas3 a partir

    de demandas do Governo Federal para encontrar solues de problemas soci-

    ais e econmicos de alto risco e alta complexidade cientfica e tecnolgica.

    A seguir, detalharemos as propostas e as aes efetuadas por esses pro-

    gramas, com o objetivo de salientar xitos e apontar carncias do apoio pblico

    inovao e competitividade, de modo a identificar os principais desafios e o

    lugar do Estado como financiador e articulador social.

    3 A figura das encomendas tecnolgicas, prevista na Lei de Inovao, raramente utilizada,

    dados questionamentos legais para sua aplicao.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 29

    2. A Poltica Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior(PITCE)

    A PITCE foi anunciada em novembro de 2003 e lanada oficialmente

    pelo Presidente da Repblica, em maro de 2004, com trs pontos de inflexo

    na trajetria brasileira. Primeiro, a PITCE marcou a volta das polticas indus-

    triais no pas, aps um hiato de mais de 25 anos. Em segundo lugar, uma arti-

    culao rara entre vrios atores do governo, a comear pelo forte envolvi-

    mento do Ministrio da Fazenda e do Ncleo de Assuntos Estratgicos da Pre-

    sidncia da Repblica (NAE). A PITCE, no interior do governo, foi discutida e

    O que : Primeira poltica industrial depois de um longo perodo de des-

    crena no papel da ao do Estado para elevao da competitividade da

    indstria. A PITCE caracterizou-se como poltica distinta das implemen-

    tadas durante o desenvolvimentismo. Com foco em setores dinmicos,

    dotou-se de uma viso de longo prazo para a criao de setores industri-

    ais de alta tecnologia.

    Perodo: 2004-2006.

    Objetivos Principais: Colocar a inovao como foco da ao do Estado;

    melhoria das exportaes e aumento da participao brasileira no co-

    mrcio internacional via produtos de alta tecnologia; internacionaliza-

    o das empresas industriais; aumento do investimento privado em

    P&D; atrao de centros de internacionais de P&D.

    Principais Instituies Participantes: Casa Civil (CC); Ministrio do De-

    senvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC); Ministrio da Fa-

    zenda (MF); Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica

    (NAE); Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA); Banco Nacional

    de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES); Agncia de Promoo

    das Exportaes (APEX); Conselho Nacional de Desenvolvimento Indus-

    trial (CNDI) e Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),

    os dois ltimos criados com a PITCE.

    Fontes de financiamento e instrumentos: FNDCT, Tesouro Nacional,

    FAT, BNDES, Finep.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 30

    aprovada pela Cmara de Poltica Econmica, coordenada pelo Ministro da Fa-

    zenda. E, por fim, a inovao como eixo da poltica industrial, diferenciando-

    se do desenvolvimentismo e da inao do Estado nos anos 90.

    A PITCE descortinou novas modalidades de poltica industrial, com base

    na rejeio do protecionismo e diferenciando-se das medidas ocasionais e fra-

    gmentadas da dcada de 1990. Na base de seu diagnstico residia a perda de

    competitividade da indstria e a necessidade de acelerar os processos de ino-

    vao, via a diferenciao de produtos e processos, bem como a internaciona-

    lizao das empresas brasileiras.

    Na sua exposio de motivos, pode-se ler que:

    O desenvolvimento de novos produtos e usos possibilita a dis-

    puta e a conquista de novos mercados, acentuando o lugar cada

    vez mais importante que ocupa a capacitao para inovao in-

    dustrial. necessria uma alocao crescente de recursos p-

    blicos e privados para esse campo, para Pesquisa e Desenvolvi-

    mento (P&D), para a alta qualificao do trabalho e do trabalha-

    dor e para a articulao de redes de conhecimento. Essa intera-

    o de diferentes reas do saber, de mtodos e alvos constitui

    uma das marcas fundamentais da Poltica Industrial, Tecnol-

    gica e de Comrcio Exterior. (PITCE, 2003, p. 4).

    No incio do governo Lula, havia praticamente um consenso sobre a es-

    tagnao da indstria e que formas novas de se pensar a poltica industrial

    eram necessrias. Durante a dcada de 1990, no houve esforos sistemticos

    para se formalizar uma robusta poltica industrial. O Governo Federal, a partir

    de 2003, considerou fundamental que as instituies de Estado fossem reequi-

    padas e capacitadas para elaborar e implementar polticas pblicas de quali-

    dade. O foco em inovao colocava desafios enormes, j que o aparato institu-

    cional brasileiro para polticas industriais, ainda que inativo por anos, ainda

    se encontrava permeado por conceitos e prticas de outras pocas. No por

    acaso, a integrao e coordenao de diversos rgos pblicos e a ampliao

    do dilogo com o setor privado eram grandes desafios colocados para a PITCE.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 31

    Ao mesmo tempo, era inegvel que o Brasil possua uma base industrial

    consolidada, ainda mais se comparada com outros pases emergentes; alm

    disso, estavam em funcionamento vrias modalidades de financiamento que

    poderiam ser direcionados para a inovao, a comear dos Fundos Setoriais,

    instituies especializadas como o Inmetro e INPI, alm de agncias como o

    BNDES e a Finep.

    Trs pilares sustentavam a estrutura da PITCE:

    1. Linhas de ao horizontais: a) inovao e desenvolvimento tecno-

    lgico; b) insero externa; c) modernizao industrial; d) melho-

    ria do ambiente institucional e ampliao da capacidade e escala

    produtiva;

    2. Setores estratgicos: a) semicondutores; b) software; c) bens de ca-

    pital; d) frmacos e medicamentos;

    3. Atividades portadoras de futuro: a) biotecnologia; b) nanotecnolo-

    gia; c) biomassa e energias renovveis.

    Os setores estratgicos englobavam as reas mais preparadas tecnologi-

    camente e com capacidade de oferecer retornos rpidos para as cadeias nas

    quais estavam inseridas. Essas reas se diferenciavam do conjunto da inds-

    tria porque investiam mais em P&D, eram mais dinmicas e contavam com

    uma densa cadeia de fornecedores.

    As atividades portadoras de futuro identificavam e recomendavam in-

    vestimentos de longa durao, j que envolviam aprendizagem e maior tempo

    de maturao. A referncia era para setores de alta tecnologia com capacidade

    de competir internacionalmente. A escolha desses setores se deu com base em

    estudos internacionais (executados pelo Centro de Gesto e Estudos Estratgi-

    cos CGEE, e pelo NAE) prevendo a aproximao com a fronteira do conheci-

    mento e das prticas industriais mais avanadas.

    O debate pblico sobre a PITCE trouxe luz do dia a inadequao das

    instituies responsveis pelo desenvolvimento tecnolgico, assim como as

    imprecises e lacunas do marco regulatrio-legal, criados para outra era,

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 32

    quando a industrializao estava no centro das preocupaes. A mudana de

    foco e a necessria transformao da base produtiva deparavam-se com um

    forte despreparo institucional. Essa realidade tornava-se flagrante quando o

    debate tocava em dimenses, disciplinas e aspectos intangveis como softwa-

    res, dados, marcas, internacionalizao de ativos, propriedade intelectual,

    dentre outros ou reas transversais principalmente a biotecnologia e a na-

    notecnologia campos frteis para a inovao, e que no podiam prescindir

    de regramento adequado para se desenvolver. Desse ponto de vista, impor-

    tante registrar que na esteira das aes da PITCE, o Congresso Nacional apro-

    varia a Lei de Inovao e a Lei do Bem, que deram impulso ainda maior ao es-

    foro pela inovao, marcando o incio da modernizao do sistema regulat-

    rio- legal brasileiro.

    Em que pese o moderno aparato conceitual e da indita integrao da

    Poltica Industrial com Tecnologia e Poltica Exterior, a PITCE no alcanou

    efetividade. Estudos do IPEA acentuaram as virtudes da poltica (cf. De Negri

    e Salerno, 2005), dentre as quais o estabelecimento de relaes dinmicas en-

    tre inovao e desenvolvimento econmico. Evidncias reveladas pelo IPEA

    mostraram que as estratgias de inovao e a diferenciao de produto e pro-

    cesso eram centrais para o desenvolvimento do pas, pois as firmas mais pro-

    dutivas, mais competitivas e que melhor se inseriam internacionalmente

    eram as que inovavam e diferenciavam produto. Por isso mesmo, as polticas

    pblicas mais adequadas eram as que apoiavam fortemente a inovao e dife-

    renciao de produto, o que se identificava com os objetivos centrais da PITCE.

    Mesmo assim, sem a criao de programas na escala e na intensidade

    que o Brasil precisava, a PITCE ajudou a consolidar um diagnstico sobre a in-

    dstria brasileira, tanto nos rgos de governo quanto entre empresrios, e os

    rumos que seriam retomados com maior intensidade dez anos depois, com ini-

    ciativas mais consistentes, em especial com o Plano Inova Empresa.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 33

    3. A Poltica de Desenvolvimento Produtivo (PDP)

    A crise iniciada no sistema financeiro dos EUA ofereceria timas opor-

    tunidades para o Brasil, em especial no que se refere absoro de tecnologia

    (via compra de ativos ou joint ventures) ou seu desenvolvimento domstico

    (com recursos e instrumentos para P&D empresarial). O Brasil, no entanto, op-

    tou por dar passos de perfil menos ousados e retomar aes mais tradicionais

    de poltica industrial, como a generalizao de subsdios, medidas defensivas

    da indstria e isenes fiscais. O foco na inovao foi o elo que se perdeu, ainda

    que mantido no discurso de apresentao da PDP.

    Lanada em maio de 2008, como mais uma medida implementada pelo

    Governo Federal para minimizar os efeitos da crise econmica, a PDP seguiu

    O que : Poltica industrial que buscou o aumento do investimento

    na economia, classificou suas atividades centrais em trs grandes

    aes es-tratgicas e priorizou 24 setores para melhorar sua

    competitividade. A PDP reuniu um conjunto de incentivos voltados

    para dinamizar setores no mercado interno e aproveitar

    oportunidades do comrcio internacional.

    Perodo: 2008-2010.

    Objetivos Principais: Sustentar o crescimento econmico iniciado em

    2004. Elevar a capacidade de inovao. Fortalecer as micro, pequenas e

    mdias empresas (MPE). Apoiar a integrao Brasil-frica e consolidar o

    Mercosul. Conquistar novos mercados. Melhorar o posicionamento das

    marcas brasileiras. Ampliar o acesso da populao a servios bsicos.

    Principais Instituies Participantes: MDIC, MF, BNDES, ABDI.

    Fontes de financiamento e instrumentos: Reduo do prazo de

    apropriao de crditos PIS e COFINS. Eliminao do IOF nas operaes

    de crdito do BNDES, FINAME e FINEP. Reduo do IPI em setores seleci-

    onados. Financiamentos via crdito, subveno econmica e incentivos

    fiscais. Certificao de metrologia, promoo comercial e propriedade

    intelectual.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 34

    apenas formalmente as trilhas abertas pela PITCE. Seu foco, instrumentos e

    forma de atuao divergiam das propostas avanadas pela PITCE. Houve dife-

    rena grande na priorizao de setores: a PITCE havia selecionado poucos se-

    tores prioritrios, todos com potencial de retorno em termos de competitivi-

    dade internacional e de capacitao tecnolgica das empresas; na PDP, foram

    muitos os setores escolhidos como prioridade, o que dilua ainda mais a atua-

    o das agncias pblicas; e ainda, a base de sustentao da PDP estava nas

    linhas de renncia fiscal que atendiam praticamente o conjunto da indstria

    nacional.

    Crticas pontuais PITCE ressaltaram o carter de carta de princpios da

    poltica industrial, pois no havia uma manifesta determinao de aes con-

    cretas e metas a serem atingidas. Sendo assim, um plano de aes com objeti-

    vos de curto prazo foi desenvolvido pelo BNDES, de modo a dar maior visibili-

    dade e efetividade s propostas. Assim, as aes se dividiram em:

    1. Nvel Sistmico: Medidas que afetavam diretamente o desempe-

    nho da estrutura produtiva, priorizando aes nos planos fiscal e

    tributrio.

    2. Destaques Estratgicos: Fortalecimento das micro e pequenas

    empresas. Expanso das exportaes; integrao produtiva com a

    Amrica Latina e Caribe, com foco inicial no Mercosul; integrao

    com a frica; descentralizao espacial da produo do Pas; e pro-

    duo ambientalmente sustentvel.

    3. Programas Estruturantes: a PDP se contraps eleio de setores

    como realizado pela PITCE. As aes voltaram-se para equacionar

    necessidades de cada setor, no dilogo entre governo e empres-

    rios. Nesse ponto, a PDP anunciou trs frentes de atuao: Progra-

    mas mobilizadores de reas estratgicas, Programas para consoli-

    dar e expandir a liderana e Programas para fortalecer a competi-

    tividade. (PDP, 2008, p.15-16)

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 35

    O documento oficial da PDP registrava que havia um ambiente econ-

    mico favorvel, com altas reservas em dlar, reduo da inflao e aumento

    do nmero de empregos gerados, mas que era preciso estimular o aumento da

    taxa de investimento privado, de modo a gerar um efeito em cascata por toda

    a estrutura produtiva. Por isso, cada um dos setores contou com uma enge-

    nharia fiscal para equacionar a reduo de tributos e as desoneraes dos se-

    tores que aumentassem o investimento.

    Com essas diretrizes, a PDP estabeleceu Quatro Metas-Pas, para 2010:

    1. Aumentar a taxa de investimento da economia para 21% do PIB.

    2. Ampliar os investimentos privados em P&D para 0,65% do PIB.

    3. Ampliar para 1,25% a participao brasileira nas exportaes

    mundiais.

    4. Aumentar em 10% o nmero de MPE exportadoras.

    A caracterstica marcante da PDP foi a multiplicidade de aes e objeti-

    vos, o que diminuiu sua identidade poltica e aumentou as dificuldades de go-

    vernana, j presentes na PITCE.

    Formulada para dar sustentabilidade ao ciclo de expanso da economia

    a PDP distanciou-se das concepes modernas de poltica pblica, preocupa-

    das em levar a indstria a buscar a diminuio da distncia com a indstria

    avanada. Com isso, a PDP deixou passar a oportunidade histrica de interna-

    cionalizar as empresas brasileiras por conta da conjuntura de crise global, que

    disponibilizava empresas relativamente baratas para serem adquiridas no ex-

    terior.

    O lanamento do PSI em 2009 apenas confirmaria tendncia de colocar

    a inovao no mesmo nvel de outros gargalos da economia. De fato, toda a

    carteira do BNDES passou a ser financiada indistintamente por recursos sub-

    vencionados pelo Tesouro Nacional. Na prtica, as linhas do PSI foram formu-

    ladas para atender a carteira do BNDES e, em particular, para a expanso do

    Finame. O foco na formao bruta de capital fixo esteve na raiz da formulao

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 36

    de uma poltica industrial que acreditava, como nos anos 50 e 60, que o cres-

    cimento do investimento geraria naturalmente a inovao e o desenvolvi-

    mento tecnolgico.

    O PSI foi o maior programa de suporte ao investimento privado na his-

    tria do Brasil. No entanto, mesmo com fortes incentivos, a meta de elevao

    do investimento para 21% do PIB jamais foi atingida. O mesmo se deu com a

    meta de elevao do P&D empresarial de cerca de 0,5% para 0,65% do PIB. Ape-

    sar de constar como uma linha do PSI em 2010, nenhuma contratao nesta

    linha seria feita at 2011, quando ocorreu a entrada da FINEP como operadora

    do PSI.

    O PSI e a PDP marcaram a consolidao do predomnio do BNDES na exe-

    cuo da poltica industrial. Os dados sobre os desembolsos diretos e indiretos

    do banco4 no deixam dvidas: em 2007, o banco movimentou cerca de R$ 65

    bilhes; em 2008, este nmero subiu para R$ 91 bilhes e atingiu em 2014

    cerca de R$ 188 bilhes. O ano de maior aporte de recursos foi 2013, com cerca

    de R$ 190 bilhes em desembolsos. Percebemos um crescimento considervel

    nas movimentaes do BNDES, o que consistente com sua maior proeminn-

    cia na execuo e coordenao da poltica industrial.

    Por seu carter abrangente, com tratamento marginal da inovao, a

    PDP foi uma variante de ativismo estatal que, em larga medida, baseou suas

    propostas em desoneraes, contando que a reduo da carga tributria e au-

    mento de incentivos fiscais levaria a um aumento do investimento por parte

    do empresariado. Nesse sentido, ainda que contenha avanos em relao

    PITCE, principalmente quanto sua efetividade e volume de recursos, a PDP

    mostrou-se alheia ao esforo de construo de novas formas de ao para se

    alterar o patamar competitivo da economia.

    4 Valores referentes ao: Finem, Finame, Carto BNDES, Finame Agrcola, Exim, Mercado de Capitais, No-reembolsvel, Finame Leasing e BNDES Microcrdito. Fonte: www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatis-ticas_Operacionais/painel1_produtos.html

    http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatis-ticas_Operacionais/painel1_produtos.htmlhttp://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatis-ticas_Operacionais/painel1_produtos.htmlhttp://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatis-ticas_Operacionais/painel1_produtos.html

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 37

    4. O Plano Brasil Maior (PBM)

    O Plano Brasil Maior foi anunciado em agosto de 2011, com muita conti-

    nuidade em relao PDP e com os efeitos da crise econmica em pleno anda-

    mento. Seu objetivo era o de sustentar o crescimento em contexto econmico

    adverso e sair da crise internacional com a economia melhor posicionada do

    que em 2008. Sua expectativa era que as mudanas estruturais na indstria

    melhorariam a insero do pas na economia mundial. Assim, ainda que o PBM

    anunciasse a inovao e a elevao da competitividade como solues para

    acelerar o crescimento da economia, as medidas tomadas assemelharam-se

    O que : Tal como a PDP, o PBM tinha como intuito o aumento da capacidade

    de investimento das empresas por meio de instrumentos como o subsdio e a

    renncia fiscal. Em termos prticos, o PBM tinha como objetivo a manuteno

    do funcionamento da economia, visando a manuteno do emprego;

    Perodo: 2011-2014;

    Objetivos Principais: Reduo do custo dos fatores de produo; desenvol-

    vimento das cadeias produtivas; induo do desenvolvimento tecnolgico e

    qualificao profissional. Promoo de exportaes; defesa do mercado in-

    terno; reduo dos efeitos da Crise de 2008; fortalecimento de cadeias produ-

    tivas; ampliao e criao de novas competncias tecnolgicas e de negcios;

    desenvolvimento das cadeias de suprimento de energias; diversificao das

    exportaes; consolidao de competncias na economia do conhecimento

    natural.

    Principais Instituies Participantes: CC, MDIC, MF, MCTI, MPOG, BNDES,

    ABDI

    Fontes de financiamento e instrumentos: Financiamentos via crdito,

    subveno econmica e incentivos fiscais; desonerao da folha de pagamen-

    tos; ampliao do Simples Nacional e do Microempreendedor individual; Pro-

    grama de Sustentao do Investimento (PSI); Programas setoriais do BNDES.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 38

    mais s polticas anticclicas do que a uma efetiva poltica industrial, como se

    pode ver em suas justificativas oficiais:

    O Plano adotar medidas importantes de desonerao

    dos investimentos e das exportaes para iniciar o enfren-

    tamento da apreciao cambial, de avano do crdito e

    aperfeioamento do marco regulatrio da inovao, de

    fortalecimento da defesa comercial e ampliao de incen-

    tivos fiscais e facilitao de financiamentos para agrega-

    o de valor nacional e competitividade das cadeias pro-

    dutivas.

    Ou seja, o PBM ampliou e aprofundou as medidas de desonerao inici-

    adas pela PDP, em meio a um cenrio econmico menos favorvel.

    O plano contemplou 19 setores industriais e apresentou um conjunto de

    instrumentos diferenciados entre fiscais-tarifrios (isenes tributrias e ad-

    ministrao das tarifas de comrcio exterior), financeiros (condies favor-

    veis de financiamento corporativo, via BNDES e FINEP) e institucionais (defi-

    nio de marco regulatrio, constituio de carreiras pblicas e criao de no-

    vas condies de ao para o Estado).

    No que se refere s aes, o PBM definiu duas dimenses: uma setorial e

    outra sistmica. Na primeira, o Governo Federal e o setor privado se encarre-

    gariam de desenvolver projetos chamados Diretrizes Estruturantes, quais se-

    jam: fortalecimento de cadeias produtivas, ampliao e criao de novas

    competncias tecnolgicas e de negcios, desenvolvimento das cadeias de

    suprimentos de energias, diversificao das exportaes (mercados e produ-

    tos) e internacionalizao corporativa e consolidao de competncias na

    economia do conhecimento natural.

    Cada uma dessas diretrizes abarcava uma gama de setores especficos

    da economia variando os objetivos por grau de consolidao e capacidade de

    avano tecnolgico. Na sua concepo original, o plano definiu cinco diretri-

    zes. A primeira, de vis protecionista, voltava-se para setores industriais com

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 39

    baixssima capacidade de inovao tecnolgica e mais intensamente atingido

    pela concorrncia das importaes. Coibir prticas desleais de competio era

    objetivo explcito. Esta diretriz orientava aes para setores tradicionais, como

    Plsticos, Calados e Artefatos, Txtil e Confeces, Mveis, Brinquedos, Higi-

    ene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos e Servios de apoio produo.

    A segunda, terceira e quarta diretrizes poderiam ser agregadas, do

    ponto de vista tecnolgico, em torno de uma mesma finalidade. Essas diretri-

    zes voltavam-se para setores mais intensivos em tecnologia com o objetivo de

    criar novas competncias em: Bens de Capital, TICs, Qumica-Petroqumica,

    Aeronutica e Espacial, Defesa, Sade e Energias (Petrleo e Gs; Bioetanol e

    Energias Renovveis). A quarta diretriz tambm tinha foco nas exportaes e

    internacionalizao corporativa, e estmulo instalao de centros de P&D no

    pas.

    A quinta diretriz estava voltada para o comrcio atacadista e varejista,

    logstica e servios pessoais direcionados ao consumo das famlias e servios

    de apoio produo. Tal como a PDP, a abrangncia desmesurada deu lugar

    diluio da ao governamental.

    A segunda dimenso do programa, a sistmica, possua dois objetivos: 1.

    reduzir custos, acelerar o aumento da produtividade e promover bases mni-

    mas de isonomia para as empresas brasileiras em relao a seus concorrentes

    internacionais e 2. consolidar o sistema nacional de inovao por meio da

    ampliao das competncias cientficas e tecnolgicas e sua insero nas em-

    presas. Na prtica, porm, a PBM tambm no priorizou a inovao tecnol-

    gica, apesar de ter estabelecido como mote a ideia de inovar para competir,

    competir para crescer.

    Mesmo com essas deficincias, h um avano em relao s polticas

    passadas: no PBM, buscou-se algum tipo de articulao entre a poltica indus-

    trial e a poltica de formao como meio da qualificao da mo de obra. Nesse

    sentido, o PBM integrou nas suas propostas o Cincia Sem Fronteiras e o Pro-

    natec, assim como recomendou a implementao de um programa de fortale-

    cimento da engenharia nacional que, infelizmente, no foi levado adiante. Foi

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 40

    a primeira vez que a qualificao da mo de obra fazia parte do debate sobre

    poltica industrial. Esse um fator decisivo em qualquer economia em busca

    da elevao de sua competitividade, ainda mais em pases como o Brasil no

    qual a produtividade do trabalho baixa e no cresce desde os anos 1980, como

    mostram inclusive estudos realizados pelo IPEA em parceria com a ABDI (DE

    NEGRI e CAVALCANTI, 2014; DE NEGRI et. al., 2011).

    A qualidade da mo de obra, no entanto, era uma dentre vrias medidas

    da dimenso sistmica da PBM. Reproduzindo a falta de foco da PDP, o PBM

    previa dez metas para serem cumpridas at 2014:

    1. Ampliar o investimento para 22,4% do PIB.

    2. Elevar o dispndio de P&D privado para 0,9% do PIB.

    3. Aumentar para 65% a participao de trabalhadores com pelo me-

    nos o Ensino Mdio.

    4. Ampliar o valor agregado nacional para 45,3%.

    5. Elevar a indstria intensiva em conhecimento para 31,5% de partici-

    pao no total da indstria.

    6. Aumentar em 50% o nmero de micro e pequenas empresas inova-

    doras.

    7. Diminuir o consumo de energia por unidade de PIB industrial (137

    toneladas equivalente de petrleo - tep/R$ milho).

    8. Diversificar as exportaes brasileiras, representando 1,6% do co-

    mrcio mundial.

    9. Elevar para 66% a participao nacional nos mercados de tecnolo-

    gias, bens e servios para energias.

    10. Ampliar o nmero de domiclios urbanos com acesso banda larga

    (40 milhes de domiclios).

    Algumas dessas metas estavam presentes na PDP e apenas tiveram seus

    valores alterados, mesmo com o no cumprimento das metas previstas para

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 41

    2010. Essa mesma profuso de objetivos gerou uma lista enorme de aes atri-

    budas ao PBM, apresentada pelo governo no seu relatrio final (nos relatos

    oficiais so 69 medidas). Na prtica, a recorrente falta de foco e a pulverizao

    de aes se fizeram presentes.

    O PBM, importante registrar, inovou no desenho do arranjo poltico-

    institucional. Criado pelo Decreto n 7.540/2011, o plano contava com coorde-

    naes setoriais e sistmicas vinculadas aos eixos da poltica e que respondiam

    pela articulao com o setor privado e pela formulao das agendas. Para ge-

    renciamento e deliberaes do PBM havia um grupo executivo, um comit ges-

    tor e um conselho superior. O grupo executivo era coordenado pelo MDIC e

    contava com representantes dos seguintes rgos e agncias: Casa Civil, Mi-

    nistrio Pblico (MP), MF, MCT, ABDI, BNDES e FINEP.

    O comit gestor era formado pelos titulares dos seguintes rgos: MDIC,

    Casa Civil, MF, MPOG e MCT. Alm disso, contava ainda com o CNDI, rgo de

    aconselhamento superior da poltica industrial, composto por catorze mem-

    bros da sociedade civil, indicados pela presidente da Repblica, alm de treze

    ministros de Estado e pelo presidente.

    Esse aparato pode ter tornado as atividades de gesto complexas, conse-

    quentemente, dificultando a formulao e mesmo o acompanhamento das

    aes realizadas. No caso do PBM, tal aparato fragmentou decises e deu es-

    pao para ateno excessiva a detalhes pouco significativos de diversas fren-

    tes e interesses, por exemplo. O PBM sofreu de outros problemas, como uma

    estratgia de incentivos sem contrapartidas dos beneficirios dos subsdios e

    o aceite demasiado de lobbies empresariais de diferentes setores, o que difi-

    cultou o estabelecimento de prioridades poltica.

    Por fim, h trs instrumentos que devem ser ressaltados e que merecem

    uma ateno especial: i) polticas creditcias, em particular a continuidade do

    PSI, com ampliao e aumento de seus incentivos; ii) o Inovar Auto; e iii) as

    isenes tributrias generalizadas. A seguir, discutimos brevemente as duas

    primeiras: o PSI e o Inovar Auto.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 42

    4.1. O Programa de Sustentao do Investimento (PSI)

    Uma parcela importante das medidas tomadas a partir de 2008 foi uma

    resposta desacelerao da economia global. Muitos governos se viram diante

    da necessidade de intervir em suas economias, justamente para evitar que os

    impactos econmicos da crise se tornassem ainda mais desastrosos. No Brasil,

    o PSI ocupou lugar especial.

    Como programa, concedeu subveno econmica a empresas, na moda-

    lidade de equalizao da taxa de juros, para operaes de financiamento do

    BNDES e, a partir de 2011, tambm da FINEP, neste caso, somente para projetos

    de inovao tecnolgica (MP 465, junho de 2009, convertida na Lei 12.096 do

    mesmo ano).

    Apesar de o governo ter identificado corretamente a necessidade de ser

    mais ativo na reao crise internacional, a extenso do regime de incentivos

    do PSI para setores que no corriam risco tecnolgico no se refletiu no au-

    mento do investimento privado, conforme o desejado. Ou seja, o investimento

    pblico, neste caso, pode ter sido um substituto e no uma alavanca para o in-

    vestimento privado.

    No seu lanamento, o PSI possua diversas linhas de financiamento com

    taxas de juros subsidiadas e cada uma dessas linhas contava com taxas pr-

    prias de juros, que variavam de acordo com as caractersticas do objeto a ser

    apoiado. Chama ateno a ausncia de uma linha especfica para inovao tec-

    nolgica desde o incio, apesar do discurso pr-inovao.

    O PSI vigorou a partir de 2009 e, ao longo do tempo, sofreu diversas ca-

    libraes em suas linhas e taxas. Ou seja, o tipo e a intensidade do fomento

    adotado pelo programa foram ajustados de acordo com a conjuntura e as difi-

    culdades de cada setor, provocando sistemtica busca das empresas pelas li-

    nhas mais atraentes.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 43

    Ser que as alteraes realizadas foram apropriadas? A variao do sub-

    sdio se deu na intensidade adequada? Do ponto de vista da inovao, a pri-

    meira resposta negativa. O roteiro abaixo mostra os motivos:

    1. O programa foi lanado sem uma linha especfica de inovao;

    2. Quando criada, a linha de inovao ficou inativa at 2011;

    3. A FINEP foi includa como agente operador do PSI somente em

    2011, quando ento a linha de financiamento inovao comeou

    a operar (em 2010 a Finep era considerada agente financeiro do

    BNDES. E mesmo assim, no conseguiu realizar nenhum desem-

    bolso por conta dos trmites burocrticos impostos pelo Banco);

    4. Em 2012, o financiamento pelo PSI de mquinas, mquinas agr-

    colas, caminhes e nibus e outros equipamentos de transporte

    passou a operar com taxa fixa de 2,5% a.a, mais baixa que a linha

    de inovao, que operava com 3,5%, com os mesmos prazos de ca-

    rncia e de amortizao;

    5. Na sequncia, as linhas para a compra de silos foram disponibili-

    zadas a 2,5% a.a., com 4 anos de carncia e 12 anos para amortiza-

    o, em contraste com a linha para inovao, que permaneceu a

    3,5% a.a, 3 anos de carncia e 10 para amortizao.

    Ou seja, era mais vantajoso financiar caminho do que fazer inovao.

    Entre renovar a frota de caminhes com crdito mais barato do que realizar

    projetos de inovao com maior risco tecnolgico, as empresas optaram pelo

    crdito mais barato e no fizeram as inovaes que precisavam fazer. O resul-

    tado dessa variao sem critrio foi um imenso efeito deslocamento.

    O PSI alcanou a cifra de R$ 472 bilhes em 2014. Ou seja, em seis anos o

    programa cresceu dez vezes. No comeo, o PSI abrangia sete linhas distintas,

    com taxas de juros que variavam entre 3,5% a 7,5% para o beneficirio final do

    financiamento, com prazos de at 180 meses para retorno do crdito, em que

    at 36 meses podia ser concedido a ttulo de carncia.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 44

    As linhas que possuam maiores recursos eram as voltadas para a pro-

    duo e aquisio de caminhes, nibus, chassis, reboques e similares, que re-

    presentaram 44% do montante total (linha 1) e a linha voltada para aquisio

    dos demais bens de capital no associados e capital de giro associados a esses

    bens (linha 2), que representavam 28% do montante de recursos. Para a inova-

    o, ficaram disponveis apenas 5% dos recursos, mediante duas linhas. As de-

    mais linhas eram voltadas para o comrcio exterior e outra equivalente linha

    1, mas voltada s pessoas fsicas e empresas individuais ou de pequeno porte.

    Nas linhas de inovao, a primeira apresentava taxa ao beneficirio fi-

    nal de 4,5%, enquanto a segunda oferecia taxa mais baixa dentre todas as de-

    mais linhas do programa, ou seja, de 3,5% a.a. Isto , a taxa mdia ponderada

    pelo valor disponibilizado para as taxas de inovao era de 4%, inferior a qual-

    quer outra taxa ponderada das demais linhas e, ainda assim, muito prxima

    das demais linhas do PSI.

    O crescimento dos recursos do PSI foi de 375% entre 2009 e 2011, mas o

    valor destinado aos projetos de inovao cresceu apenas 50%. Mesmo com esse

    crescimento, a participao relativa das linhas de inovao caiu consideravel-

    mente, passando de 5% para 1,4% do montante total.

    A partir da entrada da FINEP como operadora do PSI, o enquadramento

    de projetos nas linhas de inovao passou a crescer consistentemente. Assim

    a disponibilidade das linhas de inovao precisou ser ampliada em 2011, pas-

    sando de R$ 3 bilhes no total para R$ 6,2 bilhes. Ainda assim, a participao

    relativa das linhas de inovao permaneceu mais baixa que no incio do pro-

    grama foi de 1,4% para 3% do montante total passvel de equalizao.

    J em 2012, algumas linhas do PSI foram desdobradas e outras conden-

    sadas. As taxas de inovao, por sua vez, sofreram um revs e passaram a per-

    der o diferencial de atrao em relao s outras linhas. Em 2012, o volume de

    recursos do PSI passou para R$ 227 bilhes, mas o total disponibilizado para

    inovao permaneceu o mesmo. As taxas de juros das linhas de inovao em

    2013 tiveram uma reduo, mas no o suficiente para tornar as taxas atrativas

    em relao a outras linhas de bens de capital.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 45

    Em 2014, o PSI saltou para R$ 372 bilhes, ou seja, uma ampliao de R$

    60 bilhes. Desta ampliao, apenas R$ 2 bi foram concedidos para as linhas

    de inovao, que passa a totalizar um estoque (considerando os exerccios an-

    teriores) de R$ 9,2 bilhes concedidos para apoio a projetos de inovao desde

    o incio do PSI. Esse montante representou apenas 2,4% de todo o recurso pas-

    svel de equalizao autorizado pelo governo desde o lanamento do pro-

    grama.

    Essas alteraes seguidas apenas evidenciam que os projetos com risco

    tecnolgico no eram considerados aes especiais e diferenciadas. Isso signi-

    fica que as empresas no contavam com estmulos adequados para a inovao,

    o que levou muitas a optarem pelos caminhos de menor risco e incerteza.

    H um debate forte sobre o PSI e os efeitos de crowding out, mas ainda

    faltam estudos bem fundamentados utilizando os dados oficiais para tornar

    essa questo mais clara. Ou seja, h uma polmica para identificar at que

    ponto as atividades financiadas pelo PSI seriam de todo modo conduzidas pe-

    los empresrios, mas com seus prprios recursos. O dilema seria saber se di-

    ante da oportunidade de obteno de capital barato e em condies extrema-

    mente vantajosas em relao ao mercado, as empresas manteriam seus recur-

    sos reservados ou aplicados no mercado financeiro, ao invs de aplicar seus

    prprios recursos na produo.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria

    46

    4.2. Inovar Auto: um foco novo para um cliente conhecido

    No mbito do conjunto de incentivos fiscais feitos pelo governo a partir

    de 2011, cabe destacar o Programa de Incentivo Inovao Tecnolgica e Aden-

    samento da Cadeia Produtiva de Veculos Automotores (Inovar Auto) como um

    exemplo a ser discutido. Este programa um avano em relao s polticas

    feitas para o setor automotivo nos ltimos anos. Isoladamente, insuficiente

    para inovaes mais radicais, mas positivo o fato de vincular os incentivos

    fiscais para a indstria inovao tecnolgica.

    O objetivo principal do programa foi melhorar a tecnologia e a segu-

    rana para os carros produzidos e vendidos no Brasil, mediante a permisso

    para as empresas habilitadas usufruir de crdito presumido de Imposto sobre

    Produtos Industrializados (IPI). O programa foi voltado para as empresas que

    produziam ou comercializavam veculos no Brasil ou que vieram a apresentar

    projetos de investimento no setor automotivo.

    O Inovar Auto tambm teve o objetivo de fomentar o desenvolvimento

    tecnolgico e buscar mais eficincia energtica. Para tanto, o crdito presu-

    mido de IPI pode incidir sobre os dispndios com P&D.

    Para o Inovar Auto, foi institudo no MDIC um mecanismo complexo de

    gerenciamento que trouxe mais burocracia na anlise de projetos de P&D que

    carregam, geralmente, a incerteza como norma. Se os critrios nem sempre

    so claros, as punies, por outro lado, so rigorosas. A no observao total

    ou parcial das normas pelos fornecedores diretos pode acarretar em: i) multa

    de 2% sobre o valor das operaes de venda, na hiptese de omisso na presta-

    o das informaes; ii) multa de 1% sobre a diferena entre o valor informado

    e o valor devido, na hiptese de incorrees no cumprimento da obrigao; iii)

    perda da habilitao ao Inovar Auto por parte da empresa, na hiptese de uti-

    lizao de valor a maior de crdito presumido por empresa habilitada em ra-

    zo de incorrees nas informaes. H no interior das instituies pblicas

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 47

    expertise suficiente para facilitar processos desse tipo que, no caso da inova-

    o, funcionam apenas como uma barreira de entrada para as empresas que

    querem inovar.

    Em que pesem tais barreiras e o fato de que os instrumentos fiscais,

    quando usados isoladamente, no serem os mais eficientes para compartilhar

    risco tecnolgico entre o setor pblico e privado, h razes para reconhecer

    que o programa Inovar Auto tem virtudes. E a ABDI teve participao na cons-

    truo desse mecanismo, com alocao de recursos tcnicos e financeiros para

    sua elaborao.

    Primeiramente, a elevada participao da indstria automotiva brasi-

    leira no PIB industrial motivou o governo federal a criar o Inovar Auto, bus-

    cando fazer com que o novo regime automotivo brasileiro elevasse o nvel tec-

    nolgico associado aos produtos e processos da indstria automotiva nacional

    por meio de incentivos P&D. O foco estaria, assim, alinhado com tendncias

    internacionais de produo de veculos mais modernos, seguros e eficientes.

    Outro ponto positivo a busca por novos materiais para a produo de

    veculos eficientes. A aplicabilidade desses materiais prioridade para mon-

    tadoras que buscam veculos mais leves, menos poluentes e mais econmicos.

    A utilizao de compsitos como materiais estruturantes no lugar do ao a

    base para a reduo da emisso de poluentes.

    As polticas de eficincia energtica, que constituem o foco do Inovar

    Auto, tambm podem levar reduo da emisso de poluentes. positivo,

    nesse sentido, o fato de que, para se habilitar ao programa, a empresa deve se

    comprometer a cumprir a exigncia de consumo energtico mximo, em

    MJ/km, calculado em funo da massa dos veculos vendidos no Brasil. Em

    combinao com as exigncias do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicu-

    lar (PBEV), coordenado pelo Inmetro, a expectativa que o programa gere bons

    resultados, mesmo que no se atinja os ganhos de eficincia anunciados nos

    novos veculos licenciados entre 2014 a 2017.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 48

    Se, por um lado, os desafios do Inovar Auto esto alinhados com os prin-

    cipais avanos das tecnologias de segurana veicular mundial, por outro, a na-

    cionalizao das tecnologias para a fabricao local dos dispositivos de segu-

    rana veicular ainda um desafio. Na cadeia produtiva, o desenvolvimento de

    fornecedores de matrias-primas e insumos estratgicos e a fabricao local

    dos componentes dos dispositivos de segurana veicular ainda so gargalos.

    H necessidade de implantao de laboratrios e pista de testes e parce-

    ria com instituies de pesquisa. Sendo assim, os percentuais mnimos dos

    dispndios em P&D, engenharia, tecnologia industrial bsica e capacitao de

    fornecedores exigidos pelo Inovar Auto podem no ser suficientes para os ob-

    jetivos a serem atingidos pelo programa, principalmente no caso da segurana

    veicular.

  • Inovao, Manufatura Avanada e o futuro da indstria 49

    5. O Plano Inova Empresa e a nova gerao depolticas de inovao

    Algumas aes realizadas pelo Governo Federal a partir de 2011 retoma-

    ram ideias originais presentes na PITCE (2004). Estas aes esto em conso-

    nncia com as experincias mais avanadas realizadas pelas polticas de ino-

    vao nos pases desenvolvidos. Em especial as que derivam de anlises sobre

    as estratgias empresariais e particularmente com as orientaes tericas e

    metodolgicas que ficaram conhecidas como viso baseada em recursos. O

    termo surge porque a empresa tomada nesta abordagem como um conjunto

    de recursos, que orientam algumas perguntas-chave: Quais so os recursos

    mais relevantes que a empresa domina? desejvel construir novas compe-

    tncias nas reas de domnio tecnolgico da empresa? Como ampliar as com-

    petncias da empresa?

    Uma nova gerao de polticas foi executada de 2011 a 2014. Estas pol-

    ticas foram formuladas e nucleadas no Ministrio de Cincia Tecnologia e Ino-

    vao e na FINEP com o apoio de diversos outras instituies, em particular do

    O que : O Plano Inova Empresa marcou uma retomada das polticas pblicas

    voltadas para aumento da competitividade com foco em inovao. Teve foco,

    prioridades, novos instrumentos, recursos e conseguiu diminuir a burocracia

    pblica para facilitar as atividades de inovao.

    Perodo: 2013-2015

    Objetivos Principais: Aumento do investimento privado em P&D. Defini-

    o de reas estratgicas: Sade, Defesa, Petrleo, Energia, Sustentabilidade.

    Apoio a projetos de alto risco tecnolgico. Fortalecimento da relao Emp