26
1 1. Inquérito e Instrução 1. Preliminares 1.1. Princípios da oficialidade e da legalidade O MP é o titular da acção penal, segundo um poder-dever, artigo 219º nº1 CRP, esse poder orienta-se pelos princípios da oficialidade que engloba os crimes cujo procedimento criminal depende de queixa ou acusação particular (artigo 48º e 49º C.P.P) e pelo princípio da legalidade, que se refere a crimes de pequena e mádia gravidade, se encontra estabelecido em matéria de arquivamento e caso de dispensa de pena, artigo 280º, procedimento este que está ligado por um juízo de oportunidade. O MP, desde que verificados determinados pressupostos fixados na referida disposição legal, tem a faculdade de optar pelo não prosseguimento da acção penal. Para exercer a acção penal, o MP abre obrigatoriamente um inquérito, artigo 262º nº1 e 2. Para passar a acusação, não basta, pois, que o MP tenha notícia de crime, é preciso que o MP fique na posse de indícios suficientes, isto é, provas que lhe dêem uma confortável probabilidade de obter a condenação do acusado, artigo 283º nº2. O artigo 262º nº2, ressalva que é obrigatório o inquérito, contudo, existem excepções como os casos expressamente previstos no código, o processo sumário, artigo 382º nº2 e o processo abreviado (mas pode ser dispensado), artigo 391º A nº1. 1.2. A notícia do crime À noção de notícia de crime estão ligadas as de conhecimento e suspeita.

Inquérito e Instrução

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Direito Processual Penal

Citation preview

Page 1: Inquérito e Instrução

1

1. Inquérito e Instrução

1. Preliminares

1.1. Princípios da oficialidade e da legalidade

O MP é o titular da acção penal, segundo um poder-dever, artigo 219º

nº1 CRP, esse poder orienta-se pelos princípios da oficialidade que engloba

os crimes cujo procedimento criminal depende de queixa ou acusação

particular (artigo 48º e 49º C.P.P) e pelo princípio da legalidade, que se

refere a crimes de pequena e mádia gravidade, se encontra estabelecido em

matéria de arquivamento e caso de dispensa de pena, artigo 280º,

procedimento este que está ligado por um juízo de oportunidade.

O MP, desde que verificados determinados pressupostos fixados na

referida disposição legal, tem a faculdade de optar pelo não prosseguimento

da acção penal.

Para exercer a acção penal, o MP abre obrigatoriamente um inquérito,

artigo 262º nº1 e 2.

Para passar a acusação, não basta, pois, que o MP tenha notícia de

crime, é preciso que o MP fique na posse de indícios suficientes, isto é,

provas que lhe dêem uma confortável probabilidade de obter a condenação

do acusado, artigo 283º nº2.

O artigo 262º nº2, ressalva que é obrigatório o inquérito, contudo,

existem excepções como os casos expressamente previstos no código, o

processo sumário, artigo 382º nº2 e o processo abreviado (mas pode ser

dispensado), artigo 391º A nº1.

1.2. A notícia do crime

À noção de notícia de crime estão ligadas as de conhecimento e

suspeita.

Page 2: Inquérito e Instrução

2

A notícia do crime chega ao MP ou por conhecimento próprio, ou por

intermédio dos OPC ou mediante denúncia.

Qualquer agente do MP, na área da sua competência, tem poder para

dar início a um inquérito com base no conhecimento que tenha tido de um

crime, mesmo que ele lhe não tenha sido denunciado por qualquer pessoa ou

entidade.

A denúncia é obrigatória, quer para as entidades policiais, quer para os

funcionários (386º C.P), mas, a estes, só quanto aos crimes de que tiverem

conhecimento no exercício das suas funções e por causa delas, artigo 242º.

Toda a denúncia que não tenha sido entregue directamente ao MP deve

ser-lhe remetida e não pode exceder 10 dias, artigos 243º nº3, 245º e

248º.

A denúncia é um acto facultativo para o comum dos cidadãos.

Quer num caso, quer no outro, da facultatividade ou obrigatoriedade, a

denúncia, só pode ter lugar relativamente a crimes públicos.

Quanto a crimes semipúblicos e particulares, a denúncia toma a

designação de queixa e é privativa, por razoes várias de política criminal, do

ofendido, do respectivo representante legal, ou de quem represente ou

continue a sua vontade, devendo ser apresentada no prazo legalmente

previsto, artigo 242º nº3 e 113º e ss C.P.

A queixa significa mais que um dar conhecimento; nela está coenvolvida

a intenção do titular de perseguir criminalmente.

O prazo que a lei vigente impõe é de 6 meses, artigo 115º nº1 C.P, a

contar da data em que o titular tiver tido conhecimento do facto e dos seus

autores, ou a partir da morte do ofendido, ou da data em que ele se tiver

tornado incapaz, ou, no caso previsto no artigo 113º nº6, o ofendido perfizer

18 anos.

Page 3: Inquérito e Instrução

3

A queixa relativa a determinados factos não pode ser convolada para

queixa por factos substancialmente diferentes.

A denúncia de um crime presenciado pela autoridade judiciária, no

exercício das suas funções e por causa delas, ou pelas entidades policiais,

toma a forma de auto de notícia, artigo 243º nº1 e 2, o qual é remetido ao

MP no mais curto prazo possível, que não pode exceder 10 dias (artigo 243º

nº3).

A denuncia tanto pode ser verbal como escrita, sendo a verbal logo

reduzida a escrito pela entidade que a recebe, e deve conter, na medida

possível, os elementos que, segundo o referido o artigo 243º, devem constar

do auto de noticia.

Tratando-se de um crime particular, é obrigatória, por parte do

queixoso, a declaração de que pretende constituir-se assistente, para o que

deve ser expressamente advertido pela entidade que receber a denuncia

verbal, artigo 264º nº4, advertência que engloba informação sobre os

procedimentos a observar para o efeito, de que se destaca o prescrito no

artigo 68º nº2.

A denuncia anonima, isto é, aquela que, por qualquer razão, seja

impossível referir a um determinado autor, implica a abertura de inquérito,

mas apenas nas condições estabelecidas nas duas alíneas do artigo 246º nº5.

A denuncia anonima deve ser destruída por ordem da competente

autoridade judiciária, artigo 246º nº7, que só não será o MP, se for

apresentada numa das fases posteriores ao inquérito, e dirigida ao juiz que

lhe presidir, o qual, todavia, não decidirá sem prévia audição do MP.

Todas as denúncias são registadas pelos serviços do MP; o denunciante

pode requerer, a todo o tempo, certificado desse registo, artigo 247º nº4 e

5.

Page 4: Inquérito e Instrução

4

Deve o MP informar o ofendido da noticia do crime, sempre que tenha

razões para crer que ele (ofendido) a não conhece, artigo 247º nº1. Este é

um dever que não depende da natureza do crime: particular, semipúblico ou

pública.

1.3. Medidas cautelares e de polícia

Os OPC têm importantes poderes de salvaguarda e conservação dos

meios de prova, justificados pela necessidade e pela urgência, artigo 249º

nº1.

Isto, no âmbito da sua competência de coadjuvantes das autoridades

judiciarias, que, além de uma iniciativa própria na colheita de noticias do

crime, no impedir as suas consequências e na descobertas dos agentes,

abrange os actos necessários e urgentes destinados a assegurar os meios de

prova, artigo 55º nº 1 e 2.

Mesmo antes de receberem ordem da autoridade judiciária para

iniciarem investigações, compete-lhes, o que vem explicito no artigo 249º

nº2.

Cabe ainda, aos OPC, no domínio do acautelamento das provas, e nos

termos do artigo 251º, a realização, sem prévia autorização da autoridade

judiciária, de revistas de suspeitos e de buscas no lugar em que se

encontrarem, que não domiciliarias, em caso de fuga iminente ou de

detenção. Estas revistas e buscas devem ser imediatamente comunicadas ao

juiz de instrução, sob pena de nulidade sanável, artigo 251º nº2 com

remissão para o artigo 174º nº6.

Em relação ainda à competência dos OPC ver artigos 252º nº3 e 272º.

Através do artigo 252º A, de acordo com o qual as autoridades

judiciárias e as autoridades de polícia criminal podem obter dados sobre a

Page 5: Inquérito e Instrução

5

localização do telemóvel, quando tais dados sejam necessários para afastar

perigo para a vida ou perigo de ofensa à integridade física grave.

A obtenção destes dados deve ser comunicada, no prazo máximo de

48h, ao juiz do processo (se o houver) ou ao juiz de instrução da sede da

entidade competente para a investigação (se não houver, ainda, processo),

para validação do acto.

As diligências de acautelamento das provas que as entidades policiais,

em atenção ao periculum in mora, podem e devem realizar são mencionadas

em relatório, a remeter à autoridade judiciária competente, MP ou juiz de

instrução, conforme os casos, isto é, conforme a fase do processo e a

competência para validar o acto, artigo 253º.

1.3.1. O Segredo de Justiça e as medidas cautelares e de polícia

As medidas cautelares e de polícia têm, hoje, outros contornos, porque

a regra passou a ser a da publicidade do inquérito, podendo o segredo de

justiça ser circunstancialmente imposto, por despacho da autoridade

judiciária competente (juiz de instrução ou MP, conforme os casos, artigo

86º nº 2 e 3).

Os mencionados actos preliminares não estão sujeitos a segredo de

justiça, pelo menos enquanto não for aberto o inquérito e ali instaurado

aquele regime eles ficarão sempre ao obrigo do segredo do funcionário até

que, por despacho, o MP declare aberto o inquérito respectivo.

2. O inquérito e a instrução

A abertura do inquérito é a normal consequência da notícia do crime.

Excepto nos casos previstos no código, no processo sumário e abreviado.

Page 6: Inquérito e Instrução

6

O inquérito é constituído, como já disse, pelo conjunto de diligências

que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e

a responsabilidade deles e descobrir e recolher provas, em ordem à decisão

sobre a acusação.

Decorre sob o signo do inquisitório, artigo 267º, e do segredo, artigo

86º nº2 e 3, o arguido, mesmo nesta fase, representado ou não por defensor

poder oferecer provas e requerer diligências, artigo 61º nº1 b), tal como o

assistente, artigo 69º nº22 a), e, também, apresentar exposições,

memoriais e requerimentos, artigo 98º nº1.

2.1.1. Objecto do inquérito

O objecto do processo, isto é, a finalidade imediata dos actos

processuais, é, o crime.

A limitação do objecto do processo é trabalho que se inicia no

inquérito e que, no essencial, se consolida na acusação ou na pronúncia,

quando a há.

Entre a acusação e a pronúncia, tem de haver uma identidade

substancial, como ressalta dos artigos 309º e 359º.

2.1.2. Direcção do inquérito

A direcção do inquérito é do MP, assistido pelos órgãos de polícia

criminal, nos quais o MP pode delegar, nos termos e com as limitações que,

adiante, se dirão, a realização de toda a investigação ou, tão só, a dos actos

que entende.

2.1.3. O pré-inquérito

É problemático, nesta perspectiva da relação entre o MP, titular do

inquérito, e os OPCS, o fenómeno do chamado pré- inquérito, isto é, a

Page 7: Inquérito e Instrução

7

realização de investigação criminal pelas entidades policiais antes de

normalmente aberto o competente inquérito, por despacho do MP ou por

decorrência da delegação genérica por este outorgada.

É um fenómeno que não se deve confundir com o das já referidas

medidas cautelares e de polícia, artigos 249º a 252º.

2.1.4. Competência

O critério de atribuição de competência territorial ao MP, para a

realização do inquérito, não coincide, exactamente, com o estabelecido para

a competência do tribunal.

Quanto ao tribunal, a competência afere-se pelo lugar da consumação

do crime.

Já a competência territorial do MP para a realização do inquérito é

aferida, não pelo “lugar da consumação”, como, quanto ao Tribunal, se afirma

no artigo 19º nº1, mas por aquele lugar onde o “crime tiver sido cometido”,

artigo 264º nº1.

Quanto à competência por conexão, ela é, naturalmente, decalcada

sobre a correspondente competência do tribunal, artigo 264º nº5.

Na fase de inquérito, a decisão sobre a competência territorial ou por

conexão compete ao próprio MP.

2.1.5. Actos de inquérito

O MP é livre, salvaguardados os actos de prática obrigatória, de levar a

cabo ou de promover as diligencias que entender necessárias com vista a

fundamentar uma decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito.

Devem ser realizados os actos de investigação destinados a apurar a

existência de um crime, a determinação dos seus agentes e sua

responsabilidade e descobrir e recolher provas, em ordem à decisão sobre a

Page 8: Inquérito e Instrução

8

acusação. O MP a investigar quaisquer circunstâncias relevantes para a

determinação da sanção que deva ser aplicada ao arguido, artigo 283º nº3 b)

parte final.

Face ao poder-dever do MP de praticar os actos e assegurar os meios

de prova necessários à realização das finalidades do inquérito, é por vezes,

difícil distinguir entre insuficiência do inquérito, que é motivo de nulidade

sanável, artigo 120º nº2 d).

Ainda que a direcção do inquérito pertença ao MP, existem meios de

prova e meios de obtenção de prova que têm de ser ordenados e realizados

pelo juiz de instrução criminal e outros que carecem de autorização da

mesma entidade.

Os actos que têm de ser ordenados e realizados pelo juiz de instrução,

vêm explícitos no artigo 268º nº1.

Os actos a ordenar ou autorizar pelo juiz de instrução, mas não a

realizar obrigatoriamente por ele, estão, no artigo 269º nº 1.

Todos os restantes actos são da competência exclusiva do MP, artigo

270º nº 1 e 4, contudo não pode o MP delegar, genérica ou especificamente,

os actos que vem explicito no artigo 270º nº2.

A delegação genérica não dispensa, como já disse, o dever de

comunicação rápida ao MP da notícia do crime, ou seja, não pode exceder 10

dias.

O primeiro interrogatório do arguido vem no artigo 272º. É

obrigatório, a partir do momento em que o inquérito corra contra

determinada pessoa, em relação à qual haja suspeita fundada da prática de

crime.

A omissão desta diligência será causada de nulidade do inquérito, por

insuficiência, artigo 120º nº2 d).

Page 9: Inquérito e Instrução

9

Para além do interrogatório do arguido e da tomada de declarações

para memória futura, artigo 271º nº2, não há outras diligências de prova

relativamente às quais a lei tenha prescrito expressamente a

obrigatoriedade de realização, durante o inquérito.

2.1.6. Comunicações para comparência

Os artigos 272º nº 2 a 4 e o 273º regulam a forma, termos e períodos

de antecedência das comunicações entre o MP e o arguido e defensor, e

entre o MP, ou as autoridades de policia criminal, e as pessoas cuja presença

seja necessário assegurar em acto de inquérito.

2.1.7. Autos de Inquérito

O inquérito é um processo escrito, cujas diligências probatórias,

incluídas as de prestação de declarações, são reduzidas a auto, ressalvadas

as que o MP dispense de tal formalidade.

O auto pode ser redigido por súmula, artigo 275º nº1.

Nos interrogatórios de arguido, deve utilizar-se, a gravação áudio ou

audiovisual, artigos 141º nº7, 143º, 144º e 101º nº1 parte final.

São obrigatoriamente reduzidos a auto os actos que dependem do juiz

de instrução, artigos 268º e 269º e as declarações para memoria futura,

alem da denuncia, quando feita oralmente, artigo 275º nº2.

Ver artigo 274º.

A falta do auto equivale a falta do próprio inquérito e é causa de

nulidade insanável, artigo 119º d).

2.1.8. Encerramento do inquérito – arquivamento ou acusação

O inquérito está subordinado a prazos máximos de duração, por obvias

razões, uma delas é o respeito pelas garantias fundamentais do arguido.

Page 10: Inquérito e Instrução

10

O prazo do inquérito conta-se a partir do momento em que o mesmo

tiver passado a correr contra pessoa determinada ou em que se tiver

verificado a constituição de arguido, artigo 276º nº3.

O inquérito termina logo que proferido despacho de acusação ou

arquivamento.

O MP encerra o inquérito por meio de arquivamento ou de dedução de

acusação, artigo 276º nº1.

E deve proferir um daqueles despachos nos prazos máximos que vêm

referidos no artigo 276º nº1 e podem ser elevados conforme os casos,

artigo 276º nº2 e 3.

1º Arquivamento do inquérito

O MP pode arquivar o inquérito em três situações possíveis, artigos

277º, 280º a 282º.

O arquivamento pelas causas referidas no artigo 277º nº1 e 2 é

comunicado ao arguido, ao assistente, ao denunciante com a faculdade de se

constituir assistente e a quem tenha manifestado a intenção de deduzir

pedido de indemnização civil, defensor e advogados, artigo 277º nº4.

Em caso de arquivamento com fundamento em prova bastante de não

ter havido crime, de o arguido o não ter cometido ou de ser legalmente

inadmissível o procedimento, artigo 277º nº1, o denunciante ou queixoso que

tenha feito um uso abusivo do processo, será condenado numa soma

pecuniária.

No caso de não ter havido requerimento para instrução da pessoa com

legitimidade para o fazer, neste caso o assistente, o arquivamento pelas

causas referidas no artigo 277º nº1 e 2, fica sujeito a controlo hierárquico

oficioso durante o prazo de 20 dias, contados desde a data em que a

abertura da instrução já não puder ser requerida, artigo 278º nº1.

Page 11: Inquérito e Instrução

11

O inquérito só pode ser reaberto se surgirem novos elementos de

prova, que invalidem os fundamentos do despacho de arquivamento, artigo

279º nº1.

Esta reabertura pode resultar de requerimento de alguém

legitimamente interessado, que pode ser o ofendido, para além, obviamente,

do assistente ou de pessoa com a faculdade de se constituir assistente, mas

também pode ser oficiosa.

Ver artigo 279º nç2.

Deve notar-se que, esta fase, o processo ainda não entrou na fase

judicial e que, por isso, não tem lugar a sistema de recursos.

Ver artigo 280º nº 1 e 2.

O arquivamento em caso de dispensa de pena passa ao largo do

assistente, da pessoa com a faculdade de se constituir assistente e das

partes civis. Trata-se, por outro lado, de um acto insusceptível de

impugnação (nem reclamação hierárquica, nem recurso ordinário), desde que

decidido com a concordância dos sujeitos obrigatoriamente intervenientes e

de harmonia com pressupostos substantivos, artigo 280º nº3.

2º Suspensão provisória do inquérito

A suspensão provisória do processo, mediante a imposição ao arguido

das injunções e das regras de conduta exemplificativamente indicadas no

artigo 281º nº2.

É aplicável no caso de o crime ser punível com pena de prisão não

superior a 5 anos ou com sanção diferente da prisão.

As injunções e regras de conduta não podem ofender a dignidade do

arguido.

Pode haver apoio e vigilância no cumprimento das injunções e regras de

conduta, feitos pelos OPC.

Page 12: Inquérito e Instrução

12

É uma medida própria da fase do inquérito e da instrução, e, portanto,

naquela primeira fase, da iniciativa do MP, oficiosa ou a requerimento do

arguido ou do assistente, mas supõe a concordância do juiz de instrução

criminal, e, também, do arguido e do assistente e, ainda, a verificação dos

seguintes demais pressupostos, artigo 281º nº1 a) a f).

Verificados os referidos pressupostos, deve o MP decidir-se pela

suspensão provisoria do processo, se outra solução de consenso de menor

intensidade e mais rápida execução, como por exemplo, o arquivamento em

caso de dispensa de pena, não for aplicável.

Ver artigo 281º nº3.

A suspensão do processo pode ir até aos 2 anos, prazo durante o qual

não corre a prescrição do procedimento criminal, artigo 282º nº1 e 2.

Nos casos de crime de violência domestica ou de crimes contra a

liberdade e autodeterminação sexual de menor, a que se reportam os

artigos 281º nº6 e 7, a suspensão pode durar até 5 anos.

A decisão de suspensão, de conformidade com o artigo 281º nº1, não é

impugnável, artigo 281º nº5.

Se o arguido cumprir as injunções e regras de conduta impostas, o

inquérito será arquivado, por despacho do MP.

Se o arguido as não cumprir, em substancia, ou se, durante o prazo da

suspensão provisória do processo, cometer crime da mesma natureza pelo

qual venha a ser condenado, o processo prossegue, não sendo restituídas as

prestações que o arguido tenha feito em cumprimento de qualquer injunção

a que tenha ficado subordinada a suspensão provisoria.

O arquivamento por cumprimento das injunções e regras de conduta

impostas pela suspensão provisória do processo é definitivo. O processo não

pode ser reaberto, artigo 282º nº3.

Page 13: Inquérito e Instrução

13

Não há, possibilidade de reabertura do inquérito, artigo 279º, mas, tal

como ficou dito a propósito do arquivamento em caso de dispensa de pena,

não fica excluído o recurso extraordinário de revisão, com fundamento no

artigo 449º nº1 a) e b).

3º Acusação

Se concluir pela existência de indícios suficientes do crime e de quem

foi o seu agente, o MP deduz acusação, no prazo de 10 dias após a conclusão

do inquérito, artigo 283º nº1.

Indícios suficientes são as provas obtidas no inquérito com base nas

quais é razoável formular um prognostico de condenação do arguido numa

pena ou numa medida de segurança, artigo 283º nº2.

Com as provas recolhidas e supondo que o processo acabasse aí, o MP,

imbuído de todo o seu indeclinável dever de objectividade, condenaria o

arguido, se fosse ele a julgar.

Sob pena de nulidade, a acusação deve conter o que vem referido no

artigo 283º nº3.

A narração dos factos é essencial pois é nela e com base nela que se

fixa, a partir de então, o objecto do processo e, decorrentemente, o

objecto da prova.

Tendo havido pedido cível, este pode acompanhar a acusação ou ser

deduzido em requerimento separado.

A acusação é comunicada ao arguido, ao assistente, ao denunciante com

a faculdade de se constituir assistente e a que tenha manifestado o

propósito de deduzir pedido cível, segundo o formalismo (notificação),

artigo 283º nº6.

Se os procedimentos para notificação não resultarem, o processo

segue termos sem ela, e sem necessidade de notificação edital do arguido,

Page 14: Inquérito e Instrução

14

ao contrário do que se sucede com a notificação do despacho de

arquivamento, artigo 277º nº4 b).

O assistente pode, deduzir acusação pelos mesmos factos acusados

pelo MP, por parte deles ou por outros que não importem alteração

substancial daqueles, devendo deduzi-la até 10 dias após a notificação da

acusação do MP, artigo 284º nº1.

A acusação do assistente está sujeita aos mesmos requisitos da

acusação pública, artigo 283º nº3 e 7, mas pode limitar-se a simples adesão

àquela, artigo 284º nº2 a); só podem ser arroladas provas que não constem

da acusação pública, artigo 284º nº2 b).

Se o crime for particular, o assistente é notificado pelo MP, uma vez

findo o inquérito, para, em 10 dias, deduzir acusação, a qual deve obedecer

aos requisitos da acusação pública, artigo 285º nº1. Nesse despacho, o MP

indica se foram recolhidos indícios suficientes da verificação do crime e de

quem foram os seus agentes. Nos crimes particulares, o assistente goza de

autonomia relativamente ao MP, no que tange, nomeadamente, à dedução de

acusação, artigo 287º nº 1 b) com remissão para o artigo 69º nº2 b) parte

final.

A acusação particular obedece aos requisitos da acusação pública,

quanto aos elementos que deve conter e à possibilidade de exceder o limite

legal do rol das testemunhas.

Se o assistente não deduzir acusação particular, o MP deve arquivar o

inquérito, por falta de legitimidade. Esta é uma solução não expressamente

prevista na lei, mas que decorre, inevitavelmente, do artigo 50º nº1.

2.2. Instrução

2.2.1. Generalidades

Page 15: Inquérito e Instrução

15

Se não for arquivado, o inquérito, depois de concluído, é remetido ao

tribunal, para instrução, quando requerida, ou para julgamento, no caso de

não ter sido requerida instrução, artigo 275º nº3.

A instrução é, uma fase intermédia e facultativa do processo. Só se

abre a requerimento do interessado com legitimidade para tal.

Trata-se de uma fase de interposição entre a acusação e o julgamento,

que visa a comprovação, por um tribunal, da existência de razoes solidas

para submeter o arguido a julgamento, artigo 286º nº1.

A instrução não é um complemento do inquérito. A sua finalidade é,

como se disse, a de apurar judicialmente se existem razões de facto e de

direito para submeter o arguido a julgamento.

Não pode ser deduzida contra incerto, isto é, ser posta ao serviço da

determinação do autor do crime. Isso é matéria do inquérito, da

competência primária do MP.

A instrução, com efeito, ou visa pôr em causa a decisão de acusar

determinado arguido ou suspeito, ou visa o mesmo objectivo com referencia

à decisão de não acusar alguém.

É dividida em duas fases, uma facultativa – actos de instrução –

praticam-se actos de investigação que o juiz de instrução, no uso de um

amplo poder discricionário, entenda levar a cabo. A outra fase já

obrigatória tem de nome debate instrutório – constituída por um debate

oral e contraditório, realizado perante o juiz de instrução, no qual podem

participar o MP, o assistente, o arguido e o defensor.

Com a instrução, passa-se à fase acusatória do processo, sob o domínio

dos princípios da publicidade e do contraditório.

2.2.2. Direcção da Instrução

Page 16: Inquérito e Instrução

16

Compete ao juiz de instrução, coadjuvado pelos OPC, artigo 290º nº1 e

2.

Conferida ao juiz de instrução, de encarregar os OPC de procederem a

quaisquer diligências e investigações, salvo o interrogatório do arguido, a

inquirição de testemunhas, e os actos que, por lei, devem ser por ele

realizados, e, também, aqueles actos que, no decurso do inquérito, o MP não

pode delegar, artigo 270º nº2 e que, nesta fase, pertencem á competência

indelegável do juiz de instrução.

Em suma, o juiz de instrução tem, em termos de investigação, um

poder-dever em tudo semelhante ao MP no inquérito, pois investiga

autonomamente, orientado por aquilo que, em seu critério, interessa ao

esclarecimento da verdade, a realização das diligências de prova que lhe

sejam requeridas não passa, apenas, por um crivo de legalidade,

necessidade, adequação ou obtenibilidade do meio, como, em geral, acontece

na audiência de julgamento, artigo 340º nº3, mas, também, e decisivamente,

por aquilo que, em seu critério, que releva muito de discricionariedade

técnica, interessa à descoberta da verdade material.

Ver artigo 291º nº1 e 2.

Mesmo após a designação de data para o debate instrutório, pode e

deve o juiz realizar, antes daquele debate, todas as diligências que se lhe

afigurarem uteis para o esclarecimento da verdade dos factos, com

observância, porém, do modelo estabelecido para a fase anterior.

Nesta fase do processo, já não há segredo de justiça, artigo 86º nº8

a).

Além de pública, a instrução é contraditória, sem prejuízo, como já foi

dito, de alguns resquícios de raiz inquisitória dos actos de instrução.

Ver artigo 289º nº2.

Page 17: Inquérito e Instrução

17

2.2.3 Prazos de duração máxima da instrução – Artigo 306º

O prazo inicia-se no momento em que o juiz declara aberta a instrução,

deferindo o requerimento nesse sentido, e termina com a decisão

introdutória.

Há dois factores que o legislador escolheu como motivo de

encurtamento e alongamento dos prazos, respectivamente:

1- Arguidos presos ou sob obrigação de permanência na

habitação;

2- Crimes referidos no artigo 215º nº2.

Se no processo, não existirem arguidos presos ou sob obrigação de

permanência na habitação, o prazo máximo de duração da instrução é de 4

meses.

Havendo arguidos presos ou sob obrigação de permanência na

habitação, o prazo é de 2 meses, que, todavia, se alonga para 3 meses, se,

além de arguidos presos ou sob obrigação de permanecia na habitação, o

objecto do processo for algum dos crimes a que se reporta o artigo 215º

nº2.

Os actos de instrução realizados para além dos prazos máximos

previstos na lei para instrução não enfermam, por isso, de nulidade.

2.2.4.Requerimento de instrução. Objecto da instrução

A instrução deve ser requerida dentro dos 20 dias seguintes ao da

notificação da acusação ou do arquivamento.

Pode ser requerida pelo arguido, relativamente a factos pelos quais foi

deduzida acusação, ou pelo assistente, relativamente a factos pelos quais o

MP não deduziu acusação principal, artigo 287º nº1 a) e b).

Page 18: Inquérito e Instrução

18

Considerando que o assistente pode deduzir acusação subordinada por

factos, diferentes dos indicados na acusação principal do MP, conclui-se,

então, que o assistente pode requerer instrução nas seguintes hipóteses:

1º - Quando o MP tenha proferido despacho de arquivamento do

inquérito;

2º - Quando o MP tenha deduzido acusação e o assistente pretenda

que o arguido seja julgado por factos, conexos com os da acusação pública e

investigados no inquérito, que importem alteração substancial destes

últimos, na acepção do artigo 1º f) e sobre a acusação pública é omissa.

Sem sujeição a formalidades especiais, o requerimento de instrução

deve conter, em sumula, as razoes de facto e de direito da discordância

relativamente à acusação ou ao arquivamento, e, nomeadamente, quando o

requerente pretenda provar factos, a indicação dos mesmos e dos meios de

prova a produzir, que não o tenham sido no inquérito, artigo 287º nº2.

O dever do assistente de dar ao requerimento de instrução a forma de

uma acusação, através da narração dos factos que fundamentam a reacção

criminal e da indicação das disposições legais aplicáveis, artigo 287º nº2

parte final. O requerimento de instrução do assistente não passa de um

substituto da acusação que o MP entendeu não deduzir e que, no entender

do assistente, requerente da instrução, deveria ter deduzido.

O requerimento de instrução do assistente pode ser dirigido contra um

mero suspeito, contra pessoa que, embora investigada, não tenha sido

constituída arguido durante o inquérito.

Desde respeitados os requisitos legais, do artigo 287º nº2, o

requerimento de instrução só pode ser rejeitado por extemporâneo, por

incompetência do juiz ou por inadmissibilidade legal da instrução.

Page 19: Inquérito e Instrução

19

A inadmissibilidade legal pode resultar, por exemplo, de ser aplicável

ao julgamento o processo especial, artigo 286º nº3, ou de a instrução ter

sido requerida pelo próprio titular do direito de acusar.

No despacho em que se admite e declara aberta a instrução, deve o

juiz nomear defensor ao arguido que ainda não tenha advogado constituído

ou defensor nomeado, artigo 287º nº4.

Este despacho deve ser notificado ao MP, ao assistente, ao arguido e

ao defensor, artigo 287º nº5.

2.2.5. Actos de instrução

São admissíveis todas as provas não proibidas por lei, artigo 283º nº2.

As provas já produzidas durante o inquérito não serão, em princípio,

renovadas, artigo 292º nº1 e 291º nº3.

O juiz de instrução interroga o arguido sempre que o entender

necessário, artigo 292º nº2.

Mas também o deverá interrogar sempre que o arguido lho solicite. É

esta mais uma manifestação do direito de audiência do arguido.

2.2.6. A convocação para comparência em acto de instrução

O sistema de comunicações entre o tribunal e os diversos

intervenientes é eito por meios de mandados e notificações, artigo 293º.

Como a instrução se rege pelos princípios da publicidade e do

contraditório, deve a realização dos actos de instrução ser comunicada aos

sujeitos processuais, para que possam exercer o seu direito de assistência e

de contradição.

2.2.6.1. A documentação dos actos de instrução

Page 20: Inquérito e Instrução

20

As diligências de prova realizadas em acto de instrução são gravadas

ou reduzidas a auto, a que, como tal, serão aplicáveis as normas dos artigos

99º a 101º com remissão do artigo 296º.

Ver artigo 275º.

A falta de auto equivale a falta de própria instrução, e é causa de

nulidade insanável, artigo 119º d).

2.2.7. Debate Instrutório

1. Generalidades

Quando considera que não há lugar a actos de instrução, ou nos 5 dias

que se seguem ao ultimo acto de instrução, deve o juiz designar debate

instrutório, coim a finalidade de discutir, com a acusação e a defesa, de

forma oral e contraditória, a questão de saber se, do decurso do inquérito e

da subsequente instrução, resultam indícios de facto e elementos de direito

suficientes para submeter o arguido a julgamento, artigos 297º e 298º.

2. Participantes e adiamento

Participam no debate instrutório o MP, o arguido, o defensor, o

assistente e o advogado do assistente.

A notificação para o efeito deve ser feita com antecedência de 5 dias,

artigos 297º nº3.

Os autos devem ser facultados, para consulta, aos intervenientes, após

a dita notificação.

O debate só pode ser adiado uma única vez e por motivo de absoluta

impossibilidade.

A presença do arguido, ao contrário do que sucede com a audiência de

julgamento, não é proclamada como indispensável.

Page 21: Inquérito e Instrução

21

A falta de arguido só justifica o adiamento do debate no caso de

“grave e legitimo impedimento” e se tratar de uma primeira marcação,

artigo 300º nº1 e 4.

Não o justifica se o arguido tiver antecipadamente renunciado ao

direito de estar presente ou se a falta ocorrer na segunda data marcada,

artigo 300º nº3 e 4.

No de a falta à primeira marcação não devida a grave e legitimo

impedimento, o arguido é representado, pelo defensor.

É claro que a ausência do arguido por causa de omissão ilegal da sua

notificação afecta de nulidade insanável o debate.

Assim, também, quanto ao MP, artigo 119º b).

Mas, já quanto ao assistente, pois, neste caso, tratar-se-á de nulidade

sanável, artigo 120º nº2 b).

3. Disciplina, direcção e organização do debate instrutório – artigos

301º e 304º

Competem, ao juiz de instrução, a quem cabem, para o efeito, poderes

semelhantes aos do presidente da audiência de julgamento.

O debate, embora liberto de formalidades especiais, tem, no entanto,

uma estrutura organizativa mínima, constituída pelo seguinte elenco de

actos, a realizar pela ordem por que forem referidos no artigo 302º.

O debate deve ser continuo, apenas admitindo as interrupções

indispensáveis à alimentação e repouso dos participantes, devendo continuar

no primeiro dia útil seguinte, caso não seja possível a sua conclusão no dia

em que foi iniciado.

O artigo 304º nº2, pode haver interrupção para a realização de actos,

por exemplo, a produção de provas, que não possam ser realizados nos

próprio debate.

Page 22: Inquérito e Instrução

22

4. Alteração não substancial e substancial dos factos – artigo 303º e

1º nº1 f)

Sempre que, dos actos de instrução ou do desenrolar do debate

instrutório, resultar, uma alteração dos factos descritos na acusação ou no

requerimento para abertura de instrução, e essa alteração não implicar, nem

a incompetência do juiz, nem a imputação ao arguido de um crime diverso ou

a agravação dos limites máximos da sanção aplicável, ou se resultar, apenas,

a alteração da qualificação jurídica, deve o juiz comunicar a alteração ao

defensor, ouvir, sobre os novos factos ou a nova imputação, ao arguido,

sendo possível, e conceder-lhe prazo não superior a 8 dias para reelaborar a

defesa, com consequente adiamento do debate instrutório, se necessário.

Se a alteração de factos, ao contrário, implicar a imputação de um

crime diverso ou a agravação no limite máximo da sanção aplicável, é ela

participada ao MP, que abre obrigatoriamente inquérito quanto aos factos

novos.

O juiz de instrução pode alargar ou ampliar os seus poderes de

cognição a factos que não constam na acusação ou no requerimento na

abertura da instrução, desde que a alteração que isso provoque no objecto

do processo não implique uma alteração substancial, com o significado

estabelecido no artigo 1º nº1 f).

2.2.8. Decisão instrutória – artigos 307º e 309º

1. Generalidades

A decisão instrutória contem a pronúncia ou a não pronuncia do

arguido, e é iniciada pela verificação e decisão sobre as nulidades ou

excepções que obstem ao conhecimento do mérito, e de que o juiz possa

conhecer de ofício, ou lhe tenham sido suscitadas.

Page 23: Inquérito e Instrução

23

Só o debate instrutório, o interrogatório arguido, sempre que este o

solicitar, artigo 292º nº2 parte final, e as declarações para memoria futura

de menor vitima de crime contra a sua liberdade e autodeterminação, artigo

294º e 271º nº2 são obrigatórios na fase de instrução, constituindo a sua

omissão a nulidade a que se refere o artigo 120º nº1 d).

Na decisão instrutória, o juiz ou confirma ou infirma, fundadamente, a

acusação ou arquivamento, emitindo o correspondente despacho de

pronuncia ou não pronuncia.

A decisão instrutória deve ser, por regra, proferida em acto seguido

ao debate instrutório.

Se proferida de imediato, a decisão instrutória pode tomar a forma

simplesmente oral, e ser ditada para a acta; de outro modo, deverá ter a

forma escrita.

2.O Despacho de Pronuncia

A pronúncia deverá ser o resultado de o juiz, depois de apreciada e

discutida toda a prova produzida, ter adquirido o convencimento de que

existem indícios suficientes dos factos de que depende a aplicação de uma

pena ou de uma medida de segurança.

O despacho de pronúncia apenas afirma a existência de razoes para

submeter o caso a julgamento.

O despacho de pronúncia deve conter, sob pena de nulidade sanável, os

mesmos elementos exigidos para a acusação, artigo 283º nº3.

Tal como prescrito para a acusação, no artigo 283º nº4, deve ser

proferida uma só pronúncia, em caso de conexão de processos.

3. O despacho de não pronúncia

Page 24: Inquérito e Instrução

24

O despacho de não pronuncia poe termo ao processo com os mesmos

fundamentos que podem sustentar o despacho de arquivamento do MP,

artigo 277º nº1 e 2.

A não pronúncia e consequente arquivamento do processo com

fundamento na inadmissibilidade legal do procedimento, ou na prova

bastante de se não ter verificado o crime ou de o arguido o não ter

praticado a qualquer título, constituem caso julgado, que obsta à futura

reabertura do processo. Sem prejuízo, porém, do recurso de revisão, artigo

450º nº1 b).

4. Âmbito da decisão instrutória – arguidos não requerentes – artigo

307º nº4

Requerida instrução por um só ou por alguns dos arguidos abrangidos

por uma acusação, os efeitos daquela estendem-se aos restantes que por ela

possam ser afectados, mesmo que a não tenham requerido.

O despacho de pronúncia ou não pronuncia a proferir pelo juiz de

instrução valerá como tal relativamente a todos os arguidos, requerentes ou

não requerentes.

Não será aplicável, em tais circunstâncias, artigo 311º nº2 e 3, isto é,

não pode o juiz do julgamento rejeitar, por manifestamente infundada ou

por ilegal alteração substancial de factos, a acusação deduzida contra os

arguidos não requerentes da instrução, se esta termina com a pronúncia dos

arguidos.

5. Nulidade da decisão instrutória – artigo 309º

O despacho de pronúncia deve conter, sob pena de nulidade sanável, os

elementos do artigo 283º nº3.

Page 25: Inquérito e Instrução

25

O despacho de pronúncia deve conter-se, por outro lado, dentro dos

limites do objecto do processo, sob pena, também, de nulidade sanável.

Para efeitos de instrução, o objecto do processo é constituído pelos

factos da acusação (MP ou do assistente) ou do requerimento de abertura

da instrução do assistente que integram os pressupostos da aplicação de

uma pena ou de uma medida de segurança.

Essa alteração substancial equivale a modificação do objecto da

instrução, e, portanto, a decisão de alargar a ela o âmbito da decisão

instrutória equivale a excesso de pronúncia, com o consequente efeito de

nulidade sanável.

Essa nulidade deve ser arguida nos 8 dias subsequentes à notificação

da decisão instrutória.

Excesso de pronúncia sobre factos que importem alteração não

substancial ou resultante de uma alteração da qualificação jurídica. O

excesso de pronúncia ocorrerá, nestes caos, se o juiz omite o dever de

proporcionar ao arguido o adequado contraditório, artigo 303º.

Ela constituirá simples irregularidade, artigo 123º nº1.

6. Suspensão provisória do processo – artigo 307º nº2

Com a concordância do MP, o juiz pode decidir a suspensão provisoria

do processo, artigos 281º e 282º.

Quer a suspensão provisória do processo, quer o arquivamento em caso

de dispensa de pena são instituídos apenas localizáveis nas fases

preliminares do processo: Inquérito e Instrução.

7. Acta – artigo 305º

Page 26: Inquérito e Instrução

26

O artigo 99º nº2, o auto respeitante ao debate instrutório tem a

denominação de acta, que deve respeitar os requisitos gerais dos actos

escritos e deve conter os elementos do artigo 99º nº3.

As declarações orais prestadas devem ser regidas por súmula, no

artigo 100º nº2. Mas nada impede, em vez da súmula, o registo se faça por

meios de gravação áudio e audiovisual.

2.2.9. Recursos

A decisão instrutória, de pronúncia, ou não pronuncia, é, em princípio,

recorrível, artigo 399º.

Mas não é recorrível a decisão instrutória quer pronunciar o arguido

pelos factos constantes da acusação do MP, quer seja a acusação principal,

artigo 283º, quer seja a acusação subordinada no artigo 285º nº4 com

remissão para i artigo 310º nº1.

Ver artigo 310º nº1 2º parte.

É recorrível, porém, o despacho que indeferir a arguição da nulidade do

despacho de pronuncia, com fundamento em ter abrangidos factos que

constituam alteração substancial dos descritos na acusação ou no

requerimento de instrução, artigo 310º nº3.

2.2.10. Mandados de comparência e notificações – Artigos 293º, 297º

nº2 a 5, 300º nº2 e 307º nº1 e 5

Através destes artigos, podemos dizer o que toca à forma de

comunicação dos actos de instrução e convocação para eles.