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1 Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA O ESPAÇO DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em pedagogia. Por.: Roland Chame Cantanhêde Orientador: Dr. Vilson S. de Carvalho Rio de Janeiro 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA … · não seja privada da educação física a que tem direito. Vale citar como até hoje algumas crianças cantam cantigas de

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Instituto A Vez do Mestre

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

O ESPAÇO DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO

Apresentação de monografia ao

Instituto A Vez do Mestre, como

requisito parcial para obtenção do grau

de licenciatura em pedagogia.

Por.: Roland Chame Cantanhêde

Orientador: Dr. Vilson S. de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de

coroar meu trabalho como pedagogo, a

todos que me ajudaram nesta

empreitada, a dedicação e colaboração

de minha esposa Ana Paula, parentes,

das colegas Marlem, Mariane, Danielle

e Patrícia, e de toda a equipe

pedagógica e de orientação do Instituto

a Vez do Mestre.

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo descrever a importância do ato

de brincar no seio familiar, no espaço escolar e fora dele, e com as atividades

lúdicas passaram a ocupar um espaço diferenciado na educação e tornaram-se

uma nova linguagem, interagindo com as crianças nos ambientes escolar e

familiar, quando bem conduzidas e elaboradas pelo corpo docente, tendo como

base as teorias de Piaget, Vygotsky e outros pensadores, assim como a

relação entre a psicomotricidade e a aprendizagem e os benefícios que tem

trazido as crianças e jovens no ambiente escolar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 CAPÍTULO I – JOGOS E BRINQUEDOS: A RELAÇÃO SÓCIO-CULTURAL DO LÚDICO COM A HUMANIDADE E AO CONTEXTO ESCOLAR.......................12 1.1 Da sociedade medieval ao século XIX: a criança e o brincar num contexto

sociocultural................................................................................................12

1.2 A história do brinquedo: uma leve abordagem............................................14

1.3 O coroamento do brincar como eixo da educação infantil nas diretrizes curriculares nacionais, na constituição e no estatuto da criança e do adolescente..................................................................................................14

1.4 Do primeiro contato social da criança – lar e família – a um novo espaço: a escola...........................................................................................................16

1.5 Jogos e brincadeiras: um novo paradigma para país e professores...........18

1.6 A importância do brincar no contexto escolar..............................................19 CAPÍTULO II – BRINQUEDOS, JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA CULTURA LÚDICO-CORPORAL COM MÚLTIPLAS LINGUAGENS NUMA RELAÇÃO DIALÉTICA E INTERDISCIPLINAR ENTRE APRENDIZAGEM E MUNDO......22 2.1 A contribuição dos brinquedos e brincadeiras para o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos.......................................................................................22 2.2 Os jogos: ferramentas com essência lacônica, lógica e atraente................26 2.3 Pedagogia do corpo: corpo, energia e movimento......................................27 2.4 Múltiplas linguagens: papel do professor e da escola diante da rica experiência humana com foco na aprendizagem..............................................31 CAPÍTULO III – PSICOMOTRICIDADE: CIÊNCIA NA ARTICULAÇÃO COM APRENDIZAGEM E LUDICIDADE SANANDO DIFICULDADES NA CONSTRUÇAO DO CONHECIMENTO............................................................33 3.1 Psicomotricidade: definição, objetivos, a contribuição de alguns pensadores e a relação com a aprendizagem......................................................................34 3.2 A aplicação da psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem.........39 CONCLUSÃO....................................................................................................44 REFERÊNCIAS ................................................................................................47

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é demonstrar como a criança significa o mundo

como sujeito social, mudando ao longo dos anos desde a sociedade medieval

europeia, dialogando com os elementos culturais a partir de uma lógica

diferenciada – a lógica infantil – bem como o quanto as atividades lúdicas vem

contribuindo não somente para o desempenho do educador, mas também ao

aprendizado do corpo discente nas escolas com foco nas crianças de 0 a 6

anos. O jogo – como atividade lúdica interativa e estruturada que, por meio de

conceitos, cenários e atores representam situações cotidianas reais na prática

de ações educativas – e o brinquedo, são fundamentais para um processo

pedagógico onde todos devem estar envolvidos ao longo do desenvolvimento

escolar das crianças, de maneira que estas num espaço externo bem

organizado trabalhem a colaboração, aprimorem a capacidade motora e

explorem a natureza, despertando um dialogo entre o ensino e a

aprendizagem.

O estudo destaca como é imprescindível nos afastarmos do paradigma

tradicional da educação, centrado meramente na transmissão e acumulação de

conhecimentos e no destacamento, para o questionamento de situações,

tomada de iniciativas, numa apreensão dinâmica, reflexiva e critica pelo uso de

uma didática prazerosa e produtiva. Os jogos didáticos forma desenhados

precisamente com o intuito de alavancar a espiral da aprendizagem e de

propiciar, com a sua aplicação, a teoria a partir das práticas. Para esta

proposta, não desprezando as teorias de autores como Gesell, Claparede, Hall,

Wallon, Freud, trago como reflexão as teorias de Piaget, Vygotsky e Winnicoot,

que também trouxeram um novo olhar na aprendizagem, na construção do

conhecimento e na relação da criança com o mundo, que demonstram a

necessidade de crianças ativas, da ação para compreensão do universo sócio-

natural sobre um objeto, onde elas compreendem não apenas suas

características como analisa Piaget, mas sua função social em nossa cultura

como afirma Vygotsky, de forma que a ação física além de permanecer,

transforma-se em ação simbólica, pela ludicidade nas atividades escolares.

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Somente a partir do século xx, a infância passou a ser abrangente como

importante período da vida a ser estudado, com destaque as teorias de Freud,

Piaget e Vygotsky entre outros pensadores.

No primeiro capítulo faz-se menção a transformação da educação num

contexto sócio cultural, cuja importância da educação infantil ficou declarada

nas diretrizes curriculares nacionais entre outros documentos legais, trazendo

um novo paradigma para a escola, aos educadores e as famílias pela

construção do conhecimento integral da criança pelo uso da ludicidade.

No capitulo II aponta-se como reflexão o uso de brincadeiras, jogos e

brinquedos canalizados para o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos,

devido as múltiplas linguagens que são vinculadas a pedagogia do corpo nos

estágios e fases de desenvolvimento infantil conforme teorizam Piaget,

Vygotsky e outros pensadores.

No capitulo III evidencia-se a importância da relação entre aprendizagem

e psicomotricidade e suas áreas psicomotoras que são ferramentas

indispensáveis e essenciais para tratar as dificuldades de aprendizagem do

corpo infantil nos campos transdisciplinar e interdisciplinar, demonstrando

como o caráter lúdico medeia a ação da criança com o mundo, desenvolvendo

sua percepção, reflexão, criatividade e afetivas, além de suas habilidades

percorrendo as linguagens dos movimentos corporais com base em alguns

teóricos.

Em todo o contexto desta pesquisa considero a tríade professor-criança-

familia pela necessidade da postura, sensibilidade e conhecimento do

professor das teorias aqui apresentadas vinculadas ao cotidiano das crianças

para tornar o ambiente escolar o mais favorável e propicio possível para que

todos aprendam com prazer, qualidade e por uma construção sócio-cognitiva

sólida baseada no raciocínio lógico adornado pela criatividade, liberdade de

expressão e senso crítico-reflexivo, pela formação de identidades próprias com

suas características, qualidades, e respeito as diferenças culturais, com a

participação de todos que somam responsabilidades junto as crianças por uma

educação enraizada na construção real de conhecimentos.

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METODOLOGIA

O estudo teve como base, pesquisa bibliográfica de autores professores da

UFMG, que tiveram como foco o desenvolvimento e aprendizagem atrelada as

atividades lúdicas em espaços escolares junto ao público infanto-juvenil, com

referencias de Vygotsky, Piaget e Winnicott, além de relatos descritos sobre o

brincar no cotidiano do centro de desenvolvimento da criança na UFMG.

Também foram usadas outras fontes como as teorias de D.W. Winnicott (1975)

e As Reflexões e propostas na esfera lúdico-corporal de autoria docente da

universidade de São Paulo, materiais dos cadernos das disciplinas corpo e

movimento elaborado pela professora, fonoaudióloga e psicomotricista Fátima

Alves (IAVM, 2008) e dificuldades de aprendizagem elaborado pela professora,

fonoaudióloga e psicopedagoga diferencial Caroline Kwee (IAVM, 2009), entre

outras pesquisas realizadas através da web.

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CAPÍTULO I

JOGOS E BRINQUEDOS: A RELAÇÃO SÓCIO

CULTURAL DO LÚDICO COM A HUMANIDADE E AO

CONTEXTO ESCOLAR

1.1 – Da sociedade medieval ao século XIX: a criança e o brincar num contesto

sócio cultural.

“Ao se pensar na evolução do brincar, deve-se voltar ao passado, época

no qual o brincar era uma atividade característica tanto das crianças quanto

dos adultos, representando para ambos um importante segmento da vida. As

crianças participavam das festividades, lazer e jogos dos adultos, mas tinham,

ao mesmo tempo, uma esfera separada de jogos. As brincadeiras eram

formulas condensadas de vida, modelos e miniatura da história e destino da

humanidade. A brincadeira era o fenômeno social do qual todos participavam e

foi só bem mais tarde que ela perdeu seus vínculos comunitários e seu

simbolismo religioso, tornando-se individual.” (FRIEDMANN apud TRINDADE

SILVA, 2009 s/p.)

Atravessando um percurso histórico na educação da sociedade medieval

europeia, a criança não era percebida afetiva e cognitivamente diferente do

adulto, pois ela participava das atividades coletivas do seu grupo social –

trabalho, vivencias, produtos culturais, jogos, brincadeiras, histórias – a partir

dos sete anos de idade, exercendo seu aprendizado para a vida adulta,

praticando ginástica e aprendendo leitura, história, ciências e música, não

existindo dois universos. Tais atividades que eram parte do conjunto cultural do

grupo social da criança passaram a fazer parte do repertório da cultura infantil.

Com as diversas reformas que deram luz a democracia, o ideal de

educação passou a ser a formação do cidadão. No século V, os jogos

olímpicos com regras severas e disciplinares, na realidade tinham fundamento

religioso em homenagem aos deuses, onde os vencedores eram vistos como

heróis. Muitos esportes foram realizados por doze séculos até sua extinção,

com suas características políticas e religiosas.

A partir do século XIX os jogos foram retomados, mas não com sentido

religioso. A Grécia deixou-nos grande herança de sabedoria, artes, ciências e

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arquitetura. Interessante observar como a ginástica, hoje intitulada educação

física, já tinha seus propósitos nos séculos passados e atualmente canalizados

para trabalhar a educação motora e o desenvolvimento da criança

considerando-se a pedagogia do corpo e do movimento na segunda infância,

pois como diz Freire (1997), o mais importante e fundamental é que a criança

não seja privada da educação física a que tem direito.

Vale citar como até hoje algumas crianças cantam cantigas de roda

originarias de canções africanas ou portuguesas de até quinhentos anos atrás,

um repertorio atravessando séculos. A cultura infantil se forma na relação com

a cultura adulta, pois ao longo de seu desenvolvimento, aprende valores,

hábitos e comportamentos do seu grupo social e também produções adultas

voltadas para as crianças.

Sendo assim, não há como deixar de honrar pensadores como Sócrates,

Platão, Descartes, Freud, Ajuriaguerra, Wallon, Piaget e Vygotsky, que

desenvolveram todo um processo de evolução da criança e do ser humano ao

longo dos anos, através de seus pensamentos, sentimentos, condutas,

vivencias, numa correlação entre o corpo e o objeto, pela busca de um

equilíbrio pela totalidade das funções as quais estamos sujeitos.

“ A ideia da infância não existiu sempre e da mesma maneira. Ao

contrario, ela aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na

medida em que mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade.”

(KRAMER apud GOUVEA 2006:14)

No Brasil, as complexas vivencias da infância e seu processo de

aprendizagem para a vida adulta deram-se historicamente a partir de seu

pertencimento sociorracional e de gênero, pois estas vivencias eram

radicalmente diferentes, definidas pela sua inserção social, que determinava

distintos processos e conteúdos de aprendizagem em instancias diversas, o

colégio, no caso da criança de elite, ou o trabalho, no caso da criança pobre ou

escrava. Diante do exposto, impôs-se no campo da psicologia e das práticas

pedagógicas a visão de um processo de desenvolvimento universal, biológico e

natural, de maneira que a cultura passou a ser a lente que nos permitiu ter

acesso, compreender e agir sobre o mundo.

1.2 – A história do brinquedo: uma leve abordagem.

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O interesse pela história dos brinquedos sempre levou pesquisadores a

desvendar que a associação existe junto ao ato de brincar, uma vez que desde

a segunda guerra mundial, os brinquedos de plástico tiveram grande demanda

nos diversos grupos sociais. Diante do aumento da violência nas ruas, os

brinquedos e a televisão passaram a fazer parte do cotidiano das crianças,

uma vez que as mulheres começaram a ter o direito e o dever de trabalhar para

dar garantia à subsistência familiar.

Considera-se questionável se os brinquedos industrializados e não

estruturados adequados à situação da época, realmente seiam ideais para

desenvolvimento integral da criatividade e imaginação da criança, diante das

três grandes vertentes que incidem sobre o lúdico, a saber: as visões sócio-

histórica, cognitiva e psicanalítica.

1.3 – O coroamento do brincar como eixo da educação infantil nas diretrizes

curriculares nacionais, na constituição e no estatuto da criança e do

adolescente.

Numa visão otimista já podemos ter como referencia a ludicidade entre

os fundamentos norteadores da educação infantil, uma vez que o brincar é

considerado um direito das crianças, conforme previsto na redação das

diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil (Res. CEB01-

07/04/99) transcrito abaixo:

Art. 3° - são as seguintes as diretrizes curriculares nacionais para a

educação infantil:

I – As propostas pedagógicas das instituições de educação infantil

devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores:

a) Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da

solidariedade e do respeito ao bem comum;

b) Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do

exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática;

c) Princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da

ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e

culturais.

II – As instituições de educação infantil ao definir suas propostas

pedagógicas deverão explicitar o reconhecimento da importância

da identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores e

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outros profissionais, e a identidade de cada unidade educacional,

nos vários contextos em que se situem.

III – As instituições de educação infantil devem promover em suas

propostas pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que

possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais,

afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo

que ela é um ser completo, total e indivisível.

IV – As propostas pedagógicas das instituições de educação infantil,

ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprender a

ser e a conviver consigo próprias, com os demais e o próprio

ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir

de atividades intencionais, em momentos de ações, ora

estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as

diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã,

contribuindo assim com o provimento de conteúdos básicos para

a constituição de conhecimentos e valores.

V – As propostas pedagógicas para a educação infantil devem

organizar suas estratégias de avaliação, através do

acompanhamento e dos registros de etapas alcançadas nos

cuidados e na educação para crianças de 0 a 6 anos, “sem o

objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino

fundamental.

Este artigo elucida claramente os princípios éticos, estéticos e políticos a

serem considerados assim como as práticas pedagógicas pela construção da

criança como sujeito histórico e sociopolítico, completo, total e indivisível,

valorizando a integração dos aspectos físicos, emocionais,

cognitivo/linguísticos e sociais, considerando-se todos eles numa

transformação política e social, conforme alguns teóricos e pensadores já

evidenciaram este cenário com muita propriedade há tempos atrás.

Na esfera dos direitos humanos, além dos especificados na constituição

federal e dos documentos sobre a educação no Brasil conforme artigo anterior

encontramos no estatuto da criança e do adolescente (Lei n°.8069 de

13/07/1990), redação que concede a criança o direito de lazer, a diversão e a

serviços que respeitem a condição própria da criança e do adolescente como

12

pessoas em desenvolvimento, onde se vê uma preocupação genuína em

impulsionar melhores condições de desenvoltura, incluída as fases de moradia

das crianças e adolescentes. Quando deparamos com as questões sociais, o

brincar é lesado pelo perigo existente nas ruas, famílias desestruturadas,

carência espacial de lazer, formas de viver austero, pela necessidade de

trabalhar, distancias extensas entre casa e escola dificultando o acesso tanto

para professores quanto para os alunos, entre outros.

Na visão deste cenário, é importantíssimo que a escola promova

espaços lúdicos socializantes para o brincar, jogos e atividades que fomentem

a educação, e possam dirimir tais dificuldades de forma que as crianças e os

jovens não sintam tanto o peso das circunstancias que os cercam. A escola

torna-se um segundo lar, onde elas devem ter prazer no convívio com toda a

equipe pedagógica e entre elas, aprendendo de forma prazerosa e construtiva

em todos os seus aspectos.

Diante deste panorama, torna-se essencial que os profissionais da

educação repensem o lugar que o brincar passou a ocupar, desenvolvendo

atividades e propostas pedagógicas em diferentes contextos, abraçando

fielmente seu trabalho como mediadores, numa ação reflexiva e ativa,

conhecendo os potenciais de cada individuo para que se desenvolvam seres

críticos e reflexivos através de lúdicas ações que resultem na construção do

conhecimento.

1.4 – Do primeiro contato social da criança – lar e família – um novo espaço: a

escola.

Quando a criança nasce, seu primeiro contato é com a mãe, que a

acaricia, brinca, canta e interage com ela o tempo todo. Esta idade tenra da

criança é um momento fascinante, onde o brincar vincula e cria laços, mesmo

quando temporários, pois mesmo ainda bebê ela possui habilidades e

capacidades que irão se desenvolver em torno do ambiente, através de seus

reflexos – agarrar, sugar, segurar -, sua capacidade visual passando aos

estímulos e as emoções representadas em sua face. Por isso é importante que

os pais sempre brinquem com seus filhos de forma voluntaria e intencional

desde o nascimento afim de desenvolverem as competências e habilidades,

que os ajudarão na sua relação com o mundo, e também permitirão que suas

crianças brinquem com outras, para que se abra um leque maior de convívio

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social e muitas habilidades possam ser desenvolvidas, uma vez que cada

contato produz distintos aprendizados.

“... é interessante observar que a questão do bebê possuir um alto grau

de imaturidade e dependência ao nascer, ao mesmo tempo em que constitui

num indicador de fragilidade, é também uma característica que impulsiona a

sua entrada nessa rede de relações sociais, principalmente com os adultos

responsáveis pelo seu cuidado. Assim, a imaturidade ao nascimento gera a

necessidade de interação com o outro, base a partir da qual o desenvolvimento

irá ocorrer.” (GUIMARÃES, 2006:32)

Diante destas ações as crianças aprendem a expressar suas emoções

exprimindo alegria, tristeza ou agressividade por meio de brincadeiras que

imitam o mundo dos adultos.

É necessário um extremo cuidado quando se trata das crianças de 0 a 6

anos, pois é quando está se construindo seu caráter, seu principio de inserção

no mundo, seus valores críticos e reflexivos, considerando-se que no lar ela

terá toda uma estrutura que facilite este desenvolvimento para seu ingresso a

escola, seu segundo lar, motivo de muitos choros de mães, medos, reações

diversas, até por parte dos próprios educadores. Preparar a criança para um

novo espaço de relacionamento é uma tarefa desafiante para os pais, pois elas

estão acostumadas a conviver com os componentes da família, vizinhos,

amigos, e as vezes com outras crianças.

É um novo capítulo que se escreve na vida das crianças, dos pais e do

corpo docente, pois cada criança é única com suas próprias características.

Nasce um mundo cheio de aventuras, descobertas, novidades, sentimentos,

emoções, onde a afetividade, a imaginação e a criatividade começam a brotar

na vida dos pequenos, e os pais começam a se adaptar a este novo palco de

relações sociais atrelado a educação.

1.5 – jogos e brincadeiras: um novo paradigma para pais e professores.

Trazer para a sala de aula a proposta e uso de jogos e brincadeiras no

processo de alfabetização na fase pré-escolar é ter a capacidade de se

perceber pelo corpo docente que ambos tem um papel essencial na relação

com a aprendizagem, quando se trata de construção do conhecimento e do

saber por parte das crianças, bem como os profissionais da educação estejam

abertos para este novo desafio e conheçam esta relação, transformando aulas

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preparadas em imaginação e criatividade, estabelecendo-se um elo estreito de

afetividade entre eles os educadores.

Para Freire (2002), o jogo tem a propriedade de trazer as experiências

do mundo exterior para o espírito humano, de maneira que jogando com elas, a

cultura possa ser criada, revista, corrigida e ampliada, garantindo o ambiente

de nossa existência. (psicopedagogia online, 2008). Vemos atualmente ainda

muitas crianças que não saltam, não correm, não pulam, não sobem em

arvores, nem brincam em sua total liberdade de expressão. Tais

comportamentos geram dificuldades de aprendizagem, que associados a

elementos de psicomotricidade, - citado no capitulo III desta monografia – como

esquema corporal, lateralidade, aspectos perceptivos e outros, relacionam-se a

troca de letras, dificuldades na escrita, leitura, linguagem, entre outros, uma

vez que toda a sua parte motora está comprometida.

“Dizer que as crianças precisam brincar livremente não significa que o

professor não deva interferir na brincadeira das crianças. Quando o adulto se

envolve no brincar com as crianças, partilhando a construção das regras,

ensinando novas coisas, deixando que as crianças lhe ensinem outras, este

tem a oportunidade de ajudá-las a organizar a sua experiência.” (DEBORTOLI,

2006:76)

Na citação anterior, vemos que neste brincar todos se beneficiam neste

partilhar de regras, pois apesar de adultos aprendemos sempre por toda nossa

vida neste convívio salutar coma as crianças, seja pelo jogo ou pela própria

brincadeira, desencadeando uma nova construção e significado aquilo com que

a criança está manipulando, brincando, transformando, e assim dando uma

nova expressão, como descreve Debortoli (2006) que “a compreensão do

brincar não pode ser passada nem pela experiência, nem pelos conhecimentos

de outras pessoas. É preciso envolver-se com as crianças, construir junto com

elas as regras e as relações.” (p.78)

Temos de lembrar que já fomos crianças e muitos de nós somos frutos

de um ensino tradicional, com professores severos e metodologias prontas,

além das diferenças sociais que muitos de nós vivemos, onde sempre

ouvíamos frases como “não pode, não faça isso, não corra se não vai sujar a

roupa, etc.” que infelizmente influenciou na passagem da adolescência para a

fase adulta. Tanto pais como professores devem estar harmonizados, numa

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linguagem singular e própria para que entendam e possibilitem este trabalho

lúdico dentro e fora de sala, de maneira que também possamos ser

colaboradores nas atividades propostas pelos professores e também pelas

crianças. Lamentavelmente ainda temos um confronto que se trata de vontade

político-administrativa, pois a educação em nosso país ainda é precária, com

um índice de analfabetismo ainda elevados e salários baixíssimos para o corpo

docente, e apesar dos fundamentos norteadores com respeito as propostas

pedagógicas das instituições de educação infantil constantes nas DCN’S,

muitas escolas – públicas e privadas – ainda não mudaram seus conceitos,

práticas e atividade de acordo com estas propostas, que visam a construção

integral da criança em toda sua plenitude.

É fato que a população desconhece estes direitos e muitos ficam a

mercê dos gestores e educadores que não se dispõem em adotar tais práticas.

Mas apesar de todos estes empecilhos, o professor pode transformar a sala de

aula num ambiente propicio para a aprendizagem e construção de

conhecimentos, com criatividade e motivação, assumindo uma nova postura

em prol da realidade que não há como ocultar.

1.6 – A importância do brincar no contexto escolar

Já estamos há mais de um século, e apesar de vivermos num contexto

globalizado e competitivo, muitas escolas ainda não despertaram para a

realidade da educação quanto as práticas em sala de aula. Neste contexto, é

imprescindível que o educador saiba propor, aceitar sugestões lúdicas em sala

que canalizam para os conteúdos curriculares, não desprezando as

ferramentas midiáticas, que bem administradas seja no lar ou na escola

produzam o afetivo crescimento da criança como individuo social e pleno.

Hoje, muitas crianças tornaram-se midiáticas e devido a muitos pais

precisarem estar trabalhando, o acesso a internet ficou vulnerável e permissivo.

A sociedade foi se transformando ao longo dos anos e o mundo que antes era

capitalista se tornou mundo do conhecimento e da informação, através da

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tecnologia que avança desenfreadamente em prol de qualidade de vida para a

humanidade onde somente alguns são favorecidos

Atualmente o brincar tornou-se uma linguagem de expressão corporal,

de emoções e sentimentos, contradizendo ao passado revestido de termos

dicótomos onde não havia espaço para um aprendizado que interviesse no

movimento espontâneo do desenvolvimento psicológico da criança.

“No tema em questão, a criança é aquela que está em busca do

aprender e que tem no brincar não uma ferramenta, mas uma maneira de se

expressar. É, portanto, importante estabelecer uma diferença entre o brincar

como ferramenta e o brincar como expressão.” (PEREIRA, 2005:26)

De acordo com a citação acima, vemos que cabe ao educador perceber

essa diferença, uma vez que a criança não tem maturidade para diferenciar as

nuances do brincar. Para a criança o brincar é algo mágico, onde ela age sobre

o objeto, interagindo com ele, seja uma boneca ou um carrinho, ou até uma

caixinha de fósforos. Tudo se cria, se renova e se transforma. A criança cria e

se adapta aquilo que na sua imaginação a satisfaz. Depois, ela recria com o

mesmo objeto e assim por diante, com outras crianças e entre adultos. É

importante despertar nas crianças a curiosidade de apertar, sentir, empurrar,

criar, fantasiar, etc. , atos que vão aprimorar suas funções motoras, emotivas e

cognitivas, que serão direcionadas para o seu desenvolvimento sociocultural.

Diante do exposto, é primordial que a escola promova espaços para que

as atividades possam ser bem trabalhadas pelas crianças acompanhadas

pelos educadores, como as brinquedotecas, oficinas, educação física, teatro,

música, artes, etc. de maneira que a observação in loco, de extrema

importância, possa ser exercida pelo docente quanto ao desenvolvimento

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infanto-juvenil, seja no individual ou em grupo. As brincadeiras ao longo dos

séculos não deixaram de existir; foram substituídas por jogos interativos que

infelizmente despertam nas crianças e nos jovens a agressividade, crueldade,

disputas, burlas, raiva, enfim toda a condição humana de afetos e desafetos

que como seres humanos possuímos.

“A criança não precisa (e nem deve) ficar pensando em porque brinca,

mas o educador precisa constantemente procurar saber o que o brincar tem a

ver com o seu trabalho.” (Id. 2005 p.25)

Vemos nessa citação, a importância do educador conhecer o significado

do brincar e suas peculiaridades, no sentido de ser mediador, colaborar e

incentivador das atividades lúdicas junto aos educandos, refletindo este

significado aos pais, e que este trabalho se propague também em suas casas.

Ao brincarmos com as crianças na escola com estratégias de jogos e regras,

brincadeiras, indispensáveis para a produção de situações imaginárias,

produzindo a necessidade do aprender e do brincar dentre outras funções

ligadas a psicomotricidade, percebendo e interacionando o vivido, o operatório

e o mental, que desencadearão pleno desenvolvimento das ações infantis e

também dos adolescentes, promovendo a evolução e a maturação psicomotora

e psicológica dos alunos, pois de acordo com a autora:

“com os jogos de regras, podemos analisar por trás das respostas

informações sobre seus conhecimento e conceitos. Esses níveis de

conhecimento podem ser classificados como: motor, egocêntrico, cooperação e

codificação de regras, e são paralelos ao desenvolvimento cognitivo da

criança.” (SILVA, 2009, s/p)

18

De acordo com Piaget, na fase pré-operatória é notada a ocorrência dos

jogos simbólicos, onde a criança repete situações exercendo a representação;

já em fase posterior, surgem os jogos de regras de caráter lógico e social.

O educador deve tornar o ambiente favorável e prazeroso de maneira

que todos aprendam, despindo-se do papel de mero transmissor de

conhecimentos e vestindo-se de consciência atitudinal como facilitador entre a

criança e o conhecimento seja pleno diante das diversidades sociais,

econômicas e culturais ali existentes, uma vez que vivemos num mundo

globalizado.

19

CAPÍTULO II

BRINQUEDOS, JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA

CULTURA LÚDICO-CORPORAL COM MÚLTIPLAS

LINGUAGENS NUMA RELAÇÃO DIALÉTICA E

INTERDICIPLINAR ENTRE APRENDIZAGEM E MUNDO

“Por que não criar novos jogos, tão dinâmicos quanto pacíficos? A

criação e a prática de novos jogos elaborados por quaisquer comunidades ou

culturas, a partir de suas práticas mais tradicionais, podem ser um pequeno

antídoto para estes tempos desumanos de grande violência, barbárie,

uniformização, globalização e virtualidade estéreis. Mas como? E por quê?”

(CASCO, 2008:13)

A citação de Casco nos faz ponderar como a criação e a prática de

novos jogos, bem como os tradicionais, podem transformar vidas,

aperfeiçoando relações sociais, unindo indivíduos de culturas diferentes,

fazendo com que as nocivas tendências humanas não aflorem, diante de um

mundo violento, perverso, sem valores e sem escrúpulos que nos rodeia.

Temos visto a preocupação de centenas de famílias com seus filhos, sejam

crianças, jovens ou adolescentes passando a fase adulta, pois a carga horária

de nossos empregos somada as preocupações cotidianas não nos permite

acompanhá-los como gostaríamos. A partir deste contexto, trago a luz as

propostas e teorias de como a ludicidade em toda a sua estrutura funciona

como centelha para um aprendizado eficaz, e o papel da escola neste contexto.

2.1 – A contribuição dos brinquedos e brincadeiras para o

desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos.

20

Os brinquedos principalmente nas mãos das crianças dão caminho a

exploração, a curiosidade e observação; para que isso ocorra é necessário que

elas possuam tempo para interagir com eles. Sendo assim, os brinquedos

devem ser pensados para despertar nas crianças o interesse pela escola e

pela aprendizagem e, que estejam de acordo com a faixa etária, ao grau de

maturidade delas, que prendam a atenção e desperte a curiosidade na fixa de

0 a 6 anos, idade em que tudo se descobre, se pergunta, se cria e também se

destrói para ser construído novamente, onde a criança está no momento de

absorver, construir noções de tempo e espaço, suas habilidades,

comportamentos e atitudes, dentro das suas limitações.

“Assim, agir sobre o mundo quando bebê é cheirar, bater, morder, jogar

um objeto e assim compreender sua forma de uso. Já, ao adquirir a linguagem,

agir significa dizer o nome do objeto, perguntar para que serve, desenhá-lo e

etc.” (GOUVÊA, 2006:21)

De acordo com a citação acima, percebe-se que a criança passa por um

processo de maturação e interação entre ela e o objeto, até adquirir a

linguagem e conhecer os nomes dos objetos, sendo um processo que leva

tempo e solicita paciência e amor por parte da família e dos educadores.

Quando pensamos na palavra imaginação achamos que tal se aplica

somente ao mundo infantil. Ledo engano, pois a imaginação também

caracteriza o pensamento adulto, visto que lidamos com a reprodução e

criação desde o nosso nascimento. Quando nos dispomos a sentar com as

crianças e participar das atividades, vemos como o mundo da fantasia e da

criatividade é ilimitado e acabamos sonhando com elas também. É fantástico,

21

mágico, porque passamos a fazer parte do mundo delas, um mundo de

emoções, sentimentos e atitudes, regado de prazer, sonho e fantasia.

“O brinquedo deve despertar e desenvolver o espírito cooperativo na

criança, ajudando-a a criar a ordem social, fortificando o companheirismo, além

de desenvolver características físicas, psíquicas e motoras, já que faz com que

a criança adquira a dominância corporal, reconhecendo suas capacidades e

limitações.” (ALVES, 2008:62)

Vê-se que pelo comentário anterior da profª Fátima Alves, o brinquedo

também exerce espírito cooperativo nas crianças, fortalecendo a relação em

grupo, estimulando o desenvolvimento neuro-psico-motor e o autocontrole,

cujas ações ao transcorrer de seu crescimento e vida escolar, estarão

temperadas de alegria, tranquilidade, atenção, sensibilidade, organização,

concentração, sociabilidade, experiência, interesse e maior independência.

É indispensável que o professor saiba integrar os brinquedos com

habilidade e muita propriedade, para a construção do conhecimento e do

pensamento, que venha de encontro ao treino de habilidades motoras, num

espaço que atenda aos desejos, expectativas e necessidades dos envolvidos,

pois as crianças gostam de explorar tudo que se encontra disponível e ao seu

alcance. Segundo Alves (2008) existe brinquedos para cada inteligência, cujas

linguagens estimulam a fala (linguística), expressam-se por outros símbolos

(lógico-matemático), trabalham a coordenação motora (cinestésica), constroem

um mundo espacial através de um modelo mental (espacial), usam a música

para a comunicação (musical) e se compreende e se percebe imitando objetos

da vida adulta (interpessoal). (ALMEIDA apud ALVES, p.67-68)

22

Percebemos neste universo de brinquedos e linguagens, a variedade de

atividades disponibilizada ao educador para uma relação dialética entre

aprendizagem e mundo, onde as crianças apreendem vários significados pelos

trabalhos manuais desenvolvendo os tônus, coordenação motora, limite, ritmo,

postura corporal, espaço e tempo, tornando mais firme o raciocínio, a atenção

e a compreensão.

Ainda apontado por Alves (2008) há exercícios que auxiliam e são

fundamentais na comunicação e expressão das crianças – fonoarticulatórios e

respiratórios -, são uteis para aprender através das sensações – tátil, gustativo,

olfativo, auditivo e visual -, desempenham maior harmonia nas aptidões

motoras com integridade e maturidade – atividade para coordenação, e são

interessantes para adaptar o aluno ao ambiente – exercícios de orientação e

estruturação espaço-temporal (p.74-75). Considero que todos estes exercícios

e atividades podem se tornar brincadeiras mediadas pelo (a) professor (a)

aquilo que se requer aprender, e desta forma as crianças se aperfeiçoam em

todos os sentidos, trabalhando estas atividades com alegria e prazer,

interagindo entre elas e com os professores pela construção dos

conhecimentos do cotidiano e escolar. As brincadeiras surgem diante do

mundo que as cercam, seja em casa, na rua, no trabalho, no recreio, dentro e

fora das instituições, em passeios, etc. , e até em dias chuvosos, transferindo

as ações dos adultos para o mundo ilusório do brinquedo pela falta de

maturidade que possuem por ainda não conseguirem executar tais ações fazer

comida, dirigir um automóvel, colocar as crianças para dormir, e neste cenário

surge o mundo do faz de conta favorecendo a abstração, cheio de ideias,

emoções, sentimentos, diálogos, etc.

23

A brincadeira da imitação a partir dos três anos de idade, também é uma

situação bem comum, ação simbólica da criança que na repetição do ato

adulto, apreende seu significado pela imaginação. Quando imitam certas ações

estabelecem uma relação com o adulto, onde ambos constroem e

compartilham um universo comum naquela ação, conforme descreve Gouvea

(2006) que “através da imitação, a criança não apenas significa o mundo

adulto, experimentando suas possibilidades no ato de imitar, mas também

experimentam uma interação neste ato” (p.22). E ainda acrescento que ao

vermos as crianças usando a imaginação, elas se relacionam com o cotidiano

brincando com o real, de acordo com (id. 2006), “mas no ato de imaginar, em

sua produção simbólica (usando desenhos,modelagem, jogos de faz de conta,

no brinquedo, etc.), ela compreende e ultrapassa esta realidade, reconstruindo-

a na imaginação.” (p.23)

Precisamos entender e mergulhar no mundo das crianças, aprendermos

a olhá-la pela riqueza de fantasias, imaginação, criatividade, percepções, etc.

onde a brincadeira é a fagulha que as une ao mundo adulto, onde existem duas

dimensões. O uso dos objetos, das brincadeiras e dos brinquedos, vinculado

ao ambiente espaço-temporal, está bem colocando conforme abaixo:

“Para usar um objeto, o sujeito precisa ter desenvolvido capacidade de

usar objetos. Isso faz parte da mudança para o principio da realidade. Não se

pode dizer que essa capacidade seja inata; tampouco seu desenvolvimento

num individuo pode ser tomado como certo. O desenvolvimento da capacidade

de usar um objeto constitui outro exemplo do processo de amadurecimento,

como algo que depende de um meio ambiente propício.”(WINNICOTT,

1975:125).

24

Entendo que a imaginação nos permite desenvolver o pensamento

criativo, pelo aprender fazendo, imprescindível para nossa inserção no mundo,

de modo que atitudes e comportamentos são modificados em um processo

lógico e racional, contradizendo o modelo educativo tradicional, onde o

individuo era concebido como um arquivo de informações acabadas, adaptado

as regras e metodologias ditadas pelo professor ou pela escola.

2.2 – Os jogos: ferramentas com essência lacônica, lógica e atraente.

Os jogos não deixam de ter sua identidade nas brincadeiras, onde são

desenvolvidas habilidades físicas, intelectuais, sociais e emocionais. Dentre

tantos objetivos, a socialização tem destaque ao brincarmos com as crianças

neste contexto, que devem ser motivadas para entrar em contato com variados

jogos onde o professor participa e interfere conscientemente para o trabalho

pedagógico sugerido por ele, pois estes visam a qualidade do estímulo, que

mesmo sendo um recurso de entretenimento, geram um aperfeiçoamento físico

e emocional conservando os reflexos e inteligência ativos.

“Descobrimos que os indivíduos vivem criativamente e sentem que a

vida merece ser vivida ou, então, que não podem viver criativamente e tem

dúvidas sobre o valor do viver. Essa variável nos seres humanos está

diretamente relacionada a qualidade e a quantidade das provisões ambientais

no começo ou nas fases primitivas da experiência de vida de cada bebê.”

(WINNICOTT, 1975:102-103).

Para teoria de Winnicott, percebemos a criatividade paralela as

brincadeiras, jogos e brinquedos usados na fase inicial da criança, se for um

ambiente pobre e deficiente, influenciará em seu progresso cognitivo-motor até

atingir a fase adulta. Por isso, a infância tratar-se-á com todo o cuidado, não

25

comprometendo suas habilidades e competências no decurso de seu

aperfeiçoamento.

“Em suma, o jogo é um procedimento didático altamente importante; é

mais que um passatempo; é um meio indispensável para promover a

aprendizagem, disciplinar o trabalho do aluno e incutir-lhe comportamentos

básicos, necessários a formação de sua personalidade.” (ALMEIDA pud

MEIRELLES, 2008 s/p)

Pela citação anterior verifica-se o contexto sócio-educativo que o jogo

produz, mesmo com as suas regras gerando disputas e competições,

beneficiando as saúdes físicas, social e intelectual do ser humano.

2.3 – Pedagogia do corpo: corpo, energia e movimento.

Não há como tratar as atividades lúdicas sem associar a pedagogia do

corpo, conforma citado por Alves que:

“Comportamentos uniformes, eficácia motriz, reprodução de gestos e

atitudes transformam em sinônimos os conceitos de autonomia e auto

conservação física. Nesse sentido, prevalece uma visão biologicista de

autonomia que desconsidera o sujeito para além da conservação e da

assimilação a norma social, e que dispensa a exigência do pensamento.”

(RICHTER, apud ALVES, 2008:20)

A citação acima nos dá a noção de como o movimento através de gestos

e atitudes transformam comportamentos, numa ligação entre a atividade

corporal e intelectual, uma vez que a criança é espontânea em todos os seus

atos, facilitando esta relação com o meio e o objeto, aonde hábitos,

comportamentos e valores vão sendo aprimorados e outros vão sendo

adquiridos para a construção de suas identidades, favorecendo sua maturidade

26

relacional, nos aspectos biológico, material e criativo, de maneira que as

experiências obtidas através da ludicidade propiciem a independência e a

liberdade no processo de aprendizado através dos corpos fisiológico e

imaginário, conduzindo-nos a somatognosia, segundo a autora abaixo

entendida como:

“Tomadas de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas

partes intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos

movimentos intencionais, isto é, a tomada de consciência do corpo como

realidade vivida e convivida.” (FONSECA apud ALVES, 2008:26)

Considerando a citação acima, vemos com as atividades teatrais

permitem aos alunos criarem suas histórias, da música e dança como artes de

expressar sentimentos através dos sons num contexto de costumes e crenças

universais, da educação física pela expressão corporal cm danças, esportes,

lutas e exercícios ginásticos, imitação e repetição de movimentos, permitindo

que os mesmos evoluam ao longo de cada ato pelo desejo de atuarem o mais

próximo do real pela livre expressão, assessorada pelo professor.

No que diz respeito as habilidades motoras, acrescento que “o trabalho

com as habilidades motoras e capacidades físicas deve estar contextualizado

em situações significativas e não ser transformado em exercícios mecânicos e

automatizados” (PCN, 1997:62)

A preocupação apresentada no PCN retrata a mudança radical que deve

ocorrer quanto as praticas pedagógicas alcançarem maturidade relacional a

partir das sensações interoceptivas, internas ao organismo como dor, calor,

frio, táteis, proprioceptivas como movimentos e posições do corpo, e

exteroceptivas que informam ao corpo sobre o que se passa no meio ambiente

27

como dor superficial, frio, calor e tato, elas conseguem exercer o domínio

corporal.

Segundo Piaget, a criança evolui mentalmente em quatro estágios, a

saber: sensório motor de 0 a 2 anos, onde o bebê reage por instintos dando luz

a novos estímulos, num contato sem representação ou pensamento usando

seu controle motor e muscular; pré operatório de 2 a 7 anos, onde tudo deve

ter uma explicação, relação com o comportamento e o pensamento pela

ludicidade, reproduz situações vividas e constrói sentimentos, comportamento

egocêntrico; operatório-concreto entre 7 e 12 anos, fase das noções de tempo,

espaço, velocidade, ordem, causa e efeito, meio e fim, de algumas tarefas em

grupo e ainda depende do mundo concreto para abstrair, e operatório formal de

12 anos em diante, fase da adolescência, onde são focados os processos

cognitivos e as relações sociais, abstração total, aplicabilidade de raciocínios

lógicos e hipóteses mesmo diante da realidade.

Analisando os estágios que caracterizam a gênese do movimento,

observa-se a necessidade de respeitar as fases de cada criança, devido a

maturidade e velocidade que cada uma possui para compreender e construir

seus conhecimentos, de forma agradável e prazerosa através das suas

condutas motoras até o momento do surgimento da linguagem propriamente

dita pelo reconhecimento efetivo dos componentes do ambiente que as

cercam.

Em síntese, a construção do conhecimento pela teoria piagetiana, de

caráter empírico e de abstração reflexiva, ocorre pelas ações físicas ou mentais

sobre objetos e se os estímulos não são desencadeados, ocorre um

desequilíbrio, onde a criança tenta fazer uma acomodação assimilando através

28

dos esquemas, onde acontece um equilíbrio sela criando um novo esquema ou

modificando algum já existente. Diferentemente de Vygotsky onde o sujeito não

é ativo nem passivo, mas interativo, tendo acesso as informações como regras

de jogo, por exemplo, conceituado pela zona de desenvolvimento real –

informações e conceitos já existentes – e a proximal – o que será adquirido

com outras pessoas – que identificará o potencial de cada individuo, a

brincadeira e o jogo surgem como atividade especifica da infância, de maneira

que as crianças recriam por símbolos num contexto sociocultural, Piaget

argumenta que o desenvolvimento na infância sucede ao longo da vida cuja

evolução mental é construída ao longo dela de acordo com os estágios ou

períodos, vendo as atividades lúdicas como caminho essencial para absorção

das realidades intelectuais através do sensório motor e de simbolismos,

criando profundo vinculo entre o jogo e educação.

De acordo com Cristina da Silva (2009), “enquanto Vygotsky fala do faz

de conta, Piaget fala do jogo simbólico, e pode-se dizer segundo Oliveira

(1997), que são correspondentes.” (s/p). Para ambos os teóricos, o importante

é o desenvolvimento cognitivo da criança, a construção de conhecimentos para

uma integração sócio-cultural de maneira prazerosa, embasados na vida

cotidiana e o mais próximo do real.

Na concepção vygotskyana, a palavra – de conteúdo polissêmico – está

vinculada a linguagem que surge ligada ao imaginário, aos sonhos, aos

preojetos e os pensamentos, fornecendo sentido com várias zonas de

estabilidade que de acordo com o contexto poderá mudar o sentido, de

maneira que o potencial do significado somente se realiza pela densidade das

circunstancias da fala harmonizando a imaginação e a construção de saberes,

29

visto que a criança age através das sensações, movimentos com o corpo e

pela própria fala.

Verifica-se que pelo intermédio das atividades lúdicas, as crianças no no

uso da espontaneidade, observação, criatividade, coordenação, alegria e

entusiasmo, principalmente quando desejam repetir certas atividades, recriam

formas de brincar e percebem novos significados, desenvolvem espírito

participativo e colaborador adquirindo competências quando decidem,

sugerem, e superam obstáculos, corroborando um futuro aprendizado.

Descrever a qualidade e riqueza de jogos, brincadeiras e materiais que

podemos fazer uso como mediadores junto as crianças para aprendizagem e

trabalhar conteúdos é infinita, desde o movimento reflexo ao intencional. Cito

alguns exemplos para o aprendizado infanto-juvenil, que desenvolvem a lógica,

percepção raciocínio, entre outros aspectos que tem efeitos e resultados

excelentes quando bem acompanhados e propostos pelo educador/alunos, a

saber: cabra-cega, jogo da velha, escravo de Jó, jogo da memória (percepção,

orientação espacial, raciocínio, atenção, concentração memória), quebra-

cabeça, amarelinha (orientação espaço-temporal, raciocínio, percepção visual,

sequencia lógica, atenção, concentração, coordenação motora fina, equilíbrio,

tônus, postura, destreza, agilidade), boliche, detetive, estátuas, pego-mímica

ou espelho, pular corda e sela, sentinela, pião, etc.

Quanto aos materiais temos argila, cartolinas de tamanhos e cores

variadas, giz de cera, fitas, massinhas, hidrocor, pincéis, colas coloridas,

instrumentos musicais, etc. tudo que se possa trabalhar os movimentos dos

sentidos entre outros, pois os jogos e brincadeiras conduzem a algumas

representações mentais, movimentação do tônus, do equilíbrio, das emoções.

30

Todas estas atividades devem ser propostas num ambiente propicio,

num clima de descontração e motivação, onde a criança se sinta a vontade,

perca o medo de errar, persista e acerte na realização de tarefas, facilitando o

raciocínio, a comunicação verbal e não verbal, e a transferência do mundo

concreto para a representação mental, conforme citado abaixo.

“A mediação adulta por meio de condutas corporais possibilita uma

aproximação da criança do vocabulário, da organização de movimentos de

locomoção (as modalidades), da harmonia rítmica, do raciocínio, da lógica, da

concentração e do aprender. Isso é pedagogia do corpo.” (ALVES, 2008:16)

2.4 – Múltiplas linguagens: papel do professor e da escola diante da rica

experiência humana com foco na aprendizagem.

“Cada invenção, ou descoberta, construção, fantasia ou imaginação (o

fogo, a máquina, o telefone, a televisão, o computador, o automóvel, o avião, o

cinema, a literatura, o teatro, as mais diferentes formas de arte, etc.), é como

se o mundo virasse de cabeça para baixo, trazendo novos conceitos, valores,

significados, noções e percepções para as coisas, para o tempo e para o

espaço.” (DEBORTOLI, 2006:75)

A existência humana tem uma marca contextualizada, pela reconstrução

de regras, invenção de novas palavras e maneiras de falar, recriando o mundo,

regado de intenções de sua presença e de interações, sempre sofrendo

modificações num mundo histórico de passado, caracterizando múltiplas

linguagens ou múltiplos sentidos e hoje globalizado. O mesmo autor comenta

que “não é isso por exemplo, o que a internet tem feito com nossas formas de

ver e compreender o mundo, o tempo e o espaço” (Id. P.75) e ainda que, “na

brincadeira partilhamos os significados de nossa existência social”. (id p.75)

31

Neste cenário é que o professor e a escola tem papel fundamental,

quanto a sua atuação em sala de aula e disponibilização de espaços para as

atividades dentro e fora da escola, com visitas a museus, exposições, parques,

zoológicos, de forma que ambos estejam antenados, usando a mesma

linguagem no que diz respeito a construção de indivíduos para sua inserção

social, contemplando a ludicidade como principio norteador das atividades

didático-pedagógicas, de maneira que as crianças na sua relação com o

mundo encontrem significados através das manifestações corporais.

Oe educandos não podem ser rotulados, aprender mecanicamente,

sendo meros dispositivos de armazenamento de informações, mas devem

desenvolver todas as suas potencialidades, aprendendo outros valores, por

temas que sejam paralelos as suas vidas, as suas experiências e realidade

social, contextualizados e oportunizados pelo professor de forma que o ensino

seja facilitador do processo de desenvolvimento. Por isso, o corpo docente

deve conhecer amplamente as teorias de Piaget, Vygotsky e wallon, entre

outras, que demonstram a influencia do lúdico na origem do pensamento,

citado por Cruz (2009) que: “É o caso de Piaget, de Wallon e do próprio

Vygotsky em particular, os significados das palavras são inacabados e

mutáveis, onde “o significado da palavra é inconstante. Ele modifica-se durante

o desenvolvimento da criança e com os diferentes modos de funcionamento do

pensamento. Ele não é uma forma estática, mas dinâmica.” (Vygotsky, 1987b

apud CRUZ, 2009), abrindo caminho para a relação entre psicomotricidade e

aprendizagem pela ludicidade, desenvolvendo a aparência comunicativa

corporal dando ao individuo condições de aperfeiçoar o seu equilíbrio pelo

domínio do corpo, conteúdo apresentado no próximo capítulo.

32

CAPÍTULO III

PSICOMOTRICIDADE: CIÊNCIA NA ARTICULAÇÃO

COM APRENDIZAGEM E LUDICIDADE SANANDO

DIFICULDADES NA CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO

A psicomotricidade é uma ciência que articula com outros campos

científicos como a neurologia, a psicologia e a pedagogia, possui grande

importância no desenvolvimento global do individuo em todas as suas fases.

“Sendo a psicomotricidade relação entre o pensamento e ação, o seu

desenvolvimento é fundamental, pois, desenvolve o individuo integralmente,

nas várias etapas do crescimento, ou seja, é a base para todo o aprendizado

futuro do sujeito, favorecendo o desabrochar da inteligência, além de

proporcionar o desenvolvimento motor, social, afetivo e cognitivo.”

(PRZYVITOWSKI, 2008, s/p)

Vemos que a autora ao aludir acerca desta relação que favorece a

inteligência, o desenvolvimento motor, social, afetivo e cognitivo, associa-se

também a tonicidade utilizando segundo Piaget, os jogos de exercícios nos

primeiros meses da criança, os jogos simbólicos na representação de objetos

durante o segundo ano de vida, os jogos de regras como esportes e jogos

sociais propostos para a faixa etária de quatro a sete anos, ou os sugeridos por

Wallon como os jogos funcionais que consiste nos movimentos simples pelo

agitar de dedos, tocarem objetos, a forma de flexionar braços e pernas; os

jogos de imitação como brincar de avião, carrinho, trem, bonecas, casinha; os

jogos de fabricação, que desenvolvem habilidades ao cortar, desenhar, colar,

modelar, etc. que partilhamos as experiências cinestésicas, visuais e táteis

fomentarão o progresso integral das crianças.

3.1 – Psicomotricidade: definição, objetivos, a contribuição de alguns

pensadores e a relação com a aprendizagem

Considerando-se os estudos da filogênese que trata da evolução da

espécies, da origem da vida, e da ontogênese que estuda as transformações

33

na evolução de um ser desde sua fecundação até sua completa maturidade

individual, nasceu a ideia de entender a motricidade humana consoante muitos

pensadores e autores que teorizaram sobre este assunto, na preocupação com

a relação entre o homem e o seu corpo nos aspectos psicomotores, cognitivos

e sócio-afetivos que compõem o sujeito, pelo desenvolvimento neuromuscular

e formação motora, emocional e cognitiva, sujeitos as atitudes, intenção,

anatomia e energia, cuja proposição trago para reflexão:

“A psicomotricidade pode ser definida, em termos necessariamente

reduzidos, como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e

as influencias recíprocas e sistêmicas, entre o psiquismo e a motricidade.”

(FONSECA apud ALVES, 2008:80)

De acordo com o autor, a psicomotricidade é uma analogia entre

consciência e movimento ou, entre pensamento e ação, favorecendo o

desenvolvimento de habilidades psicomotoras através de atividades lúdicas e

corporais pela relação do corpo/objeto no espaço e no tempo, pelos aspectos

visuais, da acuidade da visão e audição, da memória, além da sensibilidade,

percepção e outras já descritas anteriormente nesta pesquisa.

Neste capítulo faço menção a alguns autores resumidamente que

contribuíram aos estudos da psicomotricidade, como Duprè onde o termo

surgiu com ele pela primeira vez em 1920, na relação das anomalias

psicológicas – pensamento – com as motrizes – movimento, chamado de

síndrome da debilidade motora; Jean Piaget que focou seu trabalho nos

processos de desenvolvimento cognitivo por adaptação; Henry Wallon que em

1925 relacionou motricidade com emoção; Jean Le Boulch que deu ênfase a

tomada de consciência do corpo pela criança, a lateralidade e coordenação de

seus gestos e movimentos dividindo o corpo em sentido, percebido, vivido e

representado, nas faixas etárias de zero a três anos, quatro a sete anos, sete a

dez anos e dez a doze anos respectivamente; Eduard Guilmain que fez

referencia a maturação pela organização das funções do sistema nervoso

numa prática psicomotora mais especifica em 1935; Esteban Levin, professor

de educação física, psicólogo e psicanalista, aprofundou-se na área

psicomotora indo além do corpo orgânico e expressivo; Júlian de Ajuriaguerra,

quando em 1948 redefiniu o entendimento de debilidade motora e fixou

claramente os transtornos psicomotores no seu manual de psiquiatria infantil,

34

Dalila M. Costallat que se preocupou pela aquisição da alfabetização, dando

origem as atividades psicomotoras funcional e relacional; André Lapierre que

estudou as relações com vistas a área psicomotora através de atividades

espontâneas, e Vitor da Fonseca que estudou a Filogênese, a Ontogênese e a

Retrogênese, numa visão as união do corpo com o cérebro e o movimento,

entre outros estudiosos da área.

“Nos séculos XVIII e XIX o desenvolvimento tinha explicações inatistas e

empiristas, e a partir do século XX passaram a ter explicações interacionais.

Podemos citar como pensadores interacionais, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire,

etc. No século XX, essas mudanças alteram as perspectivas e a aprendizagem

passa a ser considerada e não apenas o ensino. Vygotsky, por exemplo, disse

que a aprendizagem se localiza entre o individuo e o meio, entre a criança e o

adulto.” (ALVES, 2007 s/p)

Diante de tantos estudos e pesquisas realizadas, faz-se necessário

eludicar a distinção entre o conceito e esquema corporal, consoante alguns

autores intitulam:

“O conceito corporal, que é o conhecimento intelectual sobre partes e

funções; e o esquema corporal, que em nossa mente regula a posição dos

músculos e partes do corpo. O esquema corporal é inconsciente e se modifica

com o tempo.” (GEOCITIES, 1996, s/p)

Ao pesquisar sobre a relação entre psicomotricidade e aprendizagem

pelo uso da ludicidade, é imprescindível identificar as áreas psicomotoras

trabalhadas que são:

-Coordenação motora: trabalha a coordenação dinâmica global ou geral

organizando e controlando os movimentos amplos por todo o corpo,

subdividida em coordenação dinâmica tornando mais fáceis os deslocamentos

por ações, e coordenação estática tendo a postura como referencia para

controlar os movimentos e as ações, além da coordenação motora fina,

visomotora ou óculo-motor que trata dos movimentos usando pequenos grupos

musculares como o das mãos pelo uso do violão.

-Lateralidade: sendo função dos hemisférios cerebrais, determina se a criança

será destra, canhota ou se terá ambas as habilidades, por sofre influencia de

dados neurológicos e hábitos sociais.

35

- Esquema corporal: dá consciência a criança do próprio corpo, suas partes e

funções.

- Orientação e estruturação espaço-temporal: favorece a organização e

ordenação dos gestos, dando direção e posição quanto aos significados de

perto e longe, abaixo e acima, curto e comprido, dentro e fora, direita e

esquerda, alto e baixo, grande e pequeno, atrás e a frente.

- Ritmo: é necessário ter organização espacial, por estar relacionado aos atos

motores, visuais, táteis e auditivos.

- Respiração: é o ato de inspirar e expirar presente nas ações psicomotoras.

- Percepção: ligada aos cincos sentidos tátil, visual, auditivo, olfativo e

gustativo, que desenvolvem as partes motora, afetiva e intelectual do individuo.

- Tônus: garante o equilíbrio estático e dinâmico, harmonizando os gestos pela

coordenação e postura em qualquer posição que o corpo esteja.

- Postura: numa relação indissociável do tônus, facilita o realizar dos gestos.

- Equilíbrio: podendo ser estático ou dinâmico, caracteriza-se pelo fato da

sustentação do corpo pelo uso do esquema corporal e da coordenação global.

Ficou provado por diversos estudiosos que a utilização dos jogos e

atividades lúdicas como exercícios psicomotores desenvolvem a interação, o

impulso criativo, as emoções, as sensações, a imaginação, as áreas

psicomotoras e vem trazendo benefícios incomensuráveis a população de uma

forma geral, pois não alcança somente crianças, mas também a jovens,

adolescente e adultos de acordo com o apontamento abaixo:

“O impulso criativo, portanto, é algo que pode ser considerado, como

uma coisa em si, algo naturalmente necessário a um artista na produção de

uma obra de arte, mas também algo que se faz presente quando qualquer

pessoa – bebê, criança, adolescente, adulto ou velho – se inclina de maneira

saudável para algo ou realiza deliberadamente alguma coisa,...” (WINNICOTT,

1975:100)

Há alguns critérios que são desenvolvidos não criação de jogos como

inclusão e participação, cooperação e competição, flexibilidade e aplicabilidade

de regras, sistema de pontuação proposto, nível de complexidade do jogo,

natureza do contato físico, construção de estratégias e autonomia, pois

segundo Casco:

36

“...a inteligência coletiva não é um tema puramente cognitivo. Só pode

existir desenvolvimento da inteligência coletiva se houver o que eu chamo de

cooperação competitiva ou competição cooperativa. Retomando o exemplo da

comunidade cientifica, podemos dizer que se trata de um jogo cooperativo, já

que se acumulam conhecimentos, há um progresso do saber etc. Mas isso só é

um processo cooperativo e plenamente cooperativo porque também é um

processo competitivo. Se não houver a liberdade de propor teorias opostas

aquelas que são admitidas, evidentemente o progresso nos conhecimentos

seria muito menor.” (LEVY apud CASCO, 2008:46)

O autor nos faz perceber que a cooperação está intimamente ligada a

competição, pois esta gera aplicação de regras, estratégias e níveis de

pontuação proposta, fazendo cada individuo pensar antes de agir teorizado por

Piaget que o pensamento aparece antes da linguagem, construindo uma

inteligência coletiva e individual desenvolvendo a cooperação como ajuste do

equilíbrio interpessoal nas competições, além das relações sociais adquiridas

pelo contato físico num intercambio sócio cultural citado por Vygotsky.

Um dos objetivos da psicomotricidade é também auxiliar no processo de

alfabetização atrelado aos movimentos corporais usando jogos ou brincadeiras,

pois as crianças impulsionadas pela ação geram reações despertando

curiosidade, motivação, alegria e prazer de aprender a escrever e ler, iniciando

sua comunicação escrita passando a verbal, se socializando e criando laços

afetivos, conforme descrito a seguir:

“Segundo Molinari e Sens (2003, citado por ASSIS, SILVA e LIMA,

2008), a educação psicomotora proporciona o desenvolvimento do esquema

corporal, muito útil na coordenação motora, as noções de tempo, espaço e

ritmo, auxiliam nas situações concretas na aprendizagem e dos cálculos, a

organização espacial e temporal contribui na efetuação dos cálculos

matemáticos como também na colocação dos números em series e na

combinação das formas para fazer construções geométricas, além de

desenvolver a socialização e aspectos afetivos.” (TRINDADE SILVA, 2009 s/p)

A titulo de exemplo, a educação física tendo como essência a

brincadeira, fora do foco cartesiano da dualidade entre corpo e mente, tem sido

sua integração no meio, apontado por Winnicott (1975) que “é no brincar e

somente no brincar, que o individuo, criança ou adulto, pode ser criativo e

37

descobre o eu (self)”. Através das brincadeiras, esportes e exercícios físico

numa sucessão de ideias, pensamentos, impulsos, sensações, expectativas e

desejos, comportamentos e atitudes vão sendo acrisolados no âmbito escolar e

consequentemente com reflexos no familiar.

Segundo coletivo de autores (PIAGET 1971:100 apud UFMG, 2005:40)

“exercício, símbolo e regra, tais parecem ser a três fases sucessivas que

caracterizam as grandes classes de jogos, do ponto de vista de suas estruturas

mentais”, pois o desenvolvimento integral da criança está atrelado as estruturas

mentais, pelas atividades motoras que traduzem uma simbologia que irá

produzir experiências com atitudes democráticas que existirão nas brincadeiras

em grupo, trazendo ponderamentos, críticas e opiniões para que se chegue a

um acordo comum quanto as regras dos jogos. Todas as atividades devem ser

acompanhadas por um profissional da educação, de maneira que a

agressividade, o mau humor, a apatia e o espírito de competição não se

manifestem, pois a finalidade em todas elas é que “o mais básico consiste em

que a pessoa não somente se desenvolve, mas também constrói a si.

Construtivismo. Mas ‘contra’ o intelectualismo (compare construção artística) e

o mecanicismo (compare construção semântica) (p.13).” (VYGOTSKY, 2000:33

apud CRUZ 2009, s/p)

O educador ao desenvolver as potencialidades infantis, deverá atentar

as suas práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula, para que incentive o

desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e expressividade de seus

educandos, observando quais atividades serão propicias a maturidade de cada

individuo ou do grupo a ser trabalhado, sob observação e avaliação crítico-

reflexivo considerando-se que a aprendizagem dependerá do tipo de atividade

realizada pelo sujeito e do seu nível cognitivo inicial, a fim de que todos

construam seus conhecimentos requintando suas habilidades e competências.

A contribuição da psicomotricidade na evolução escolar ocorrendo pelas

atividade psicofuncionais experimentando emoções e sensações, estimula a

percepção, a atenção, a memória e a discriminação, auxiliando crianças

apáticas, agitadas e angustiadas, com falta de atenção, falhas nas

coordenações motoras, etc. de maneira que na funcionalidade do corpo se

possa coordenar, controlar, conhecer e valorizar sua relação com o

desenvolvimento cognitivo e com a aprendizagem. O elo entre movimentos

38

organizados e integrados na vida escolar pelas experiências vividas e do

cotidiano dos alunos sugerem ações que envolvam movimento, pensamento,

adaptação, função postural, a fim de organizar funções do sistema nervoso,

aperfeiçoar a aprendizagem da leitura e da escrita reeducando suas ações,

emoções e atitudes para uma individualidade, linguagem e socialização

equilibrados. Este progresso escolar se estende não somente aos alunos, mas

também aos educadores e a todos os envolvidos neste contexto onde a

criatividade, percepção e harmonia são colocados em xeque, exigindo também

do corpo docente uma educação continuada diante do mundo globalizado que

vivemos, em prol de seu próprio desenvolvimento e daqueles que estão sob

sua pedagogia. Ainda que a escola seja resistente aos novos métodos, o

professor que abraça as mudanças atuais compromissado com uma educação

plena encontrará no espaço escolar total liberdade para contribuir ao

desenvolvimento integral de seus alunos, usando todas as ferramentas

disponíveis e acessíveis criando um ambiente democrático para um

aprendizado prazeroso e atraente, não sendo maçantes para ambas as partes:

educador e educandos.

3.2 – A aplicação da psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem.

O processo de aprendizagem dos alunos é resposta do seu estado

biológico, social e ambiental que está revestido de situações intrínsecas e

extrínsecas, que podem levá-los a uma condição de dificuldade(s) no seu

processo de aprendizagem, considerados os fatores orgânicos (saúde física,

alimentação), psicológicos (inibição, ansiedade) e ambientais (educação

familiar, estímulos, meio social).

De acordo com Alves:

“Por muitos anos os distúrbios psicomotores ou dispraxias, foram vistos

sob o nome de debilidade motora. Mais tarde, Ajuriaguerra define como

distúrbios psicomotora, englobando-as sob o nome de disfunções

psicomotoras.” (ALVES, 2008, s/p, grifo nosso).

O distúrbio psicomotor é um transtorno que atinge a relação que existe

entre a inteligência, afetividade e motricidade, onde o esquema e a imagem

corporal assim como o tônus ficam comprometidos impedindo que a criança

tenha domínio do seu próprio corpo. Por isso, a importância do papel da mãe

quanto a construção do saber sobre o corpo da criança desde o seu

39

nascimento até aos seis anos de idade, conforme Piaget teoriza sobre os

estágios de desenvolvimento da criança, cujos primeiros aprendizados iniciam-

se no ambiente familiar que serão aprimorados na escola bem como outros

serão compreendidos pelas vivencias através de interações no uso do tonus,

dos gestos, dos movimentos reflexos e intencionais, explorando, inventando,

experimentando, decodificando através de linguagens e suposições quanto a

um suposto suspeito, estimulando num contexto lúdico as habilidade motoras

sob a ótica cognitiva, social e afetiva, e que todas as vivencias que promovem

interações com os mais variados objetos favorecem um sem-número de

abstrações possíveis de serem explorados de acordo com o estágio de

desenvolvimento da criança.” (FONSECA apud ALVES, 2008:65).

Para diagnosticar dificuldades e/ou distúrbios de aprendizagem, cito a

observação de Caroline Kwee, pois muitas dificuldades são interpretadas como

distúrbios e vice-versa, cabendo ao professor ter conhecimento e olhar clínico

necessário para tal distinção:

“...para as crianças com problemas na aprendizagem sem causa

orgânica, classificaremos como crianças com dificuldades de aprendizagem.

Para as crianças com problemas na aprendizagem com alguma causa orgânica

(sensorial, física, mental) classificaremos de distúrbios de aprendizagem.”

(kwee, 2009:27)

Tratar as dificuldades de aprendizagem ou transtornos psicomotores

pela psicomotricidade é percebermos quais dificuldades existem entre

psiquismo (sensações, imagens, percepções, afetos, pensamentos) e

motricidade (ação do sistema nervoso sobre a musculatura), uma vez que o

corpo é funcional com o objetivo de coordenar, controlar e conhecer gestos e

movimentos, emoções, atitudes, comportamentos, etc. relacionando-se ao

desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. Há dificuldades específicas que

surgem logo no inicio da vida escolar infantil ao lidar com a linguagem, a leitura

e os números que devem ser perceptíveis ao olhar docente.

Quanto as crianças com impedimentos na linguagem, vê-se que

algumas são incapazes de dar respostas, são imaturas ou não seguem ordens.

Nesta situação existem problemas quanto a relação do sistema cognitivo e

pensamento atrelado ao sistema linguístico, cujo léxico que é o arquivo de

palavras sendo pobre afetará o fonológico e ao sintático, que é a estrutura

40

sonora das palavras do léxico e das regras da língua respectivamente, bem

como ao semântico que é o significado relacional das palavras estendendo-se

as relações discursivas e de conversação. Algumas atividades podem ser

propostas como exercícios fonoarticulatorios e respiratórios já citados nesta

pesquisa, além de jogos com vozes e sons, uso de microfones, livros com

textos e imagens que estimulem a fala pela imagem e imitação das situações.

No que diz respeito a leitura, constata-se uma deficiência no

processamento auditivo, onde a criança na decodificação das palavras não

reconhece as estruturas básicas e sonoras na relação léxica e fonológica

lesando o aumento de seu vocabulário, prejudicando a compreensão e

sínteses textuais que está associada ao semântico, léxico e sintático. As

atividades sugeridas podem ser livros com textos e imagens, brincadeiras que

incentivem a fala, representações simbólicas como a logográfica (associação

do símbolo com a representação); a alfabética, convertendo letras individuais

em forma de sons iniciando-se pelas vogais por não haver articulação, e assim

por diante onde a criança percebe que existem posições, ordens e sequencias

ao ordenar as palavras que, pela regra letra-som vai encontrando novas

palavras, a representação fonológica caracterizada pela intima relação que a

crianças com a construção ortográfica, não precisando mais falar em voz alta

cujo processo alfabético já está internalizado por ela e pela ortográfica, no

reconhecimento da palavra pela criança pela relação perceptível letra-som

como um todo, facilitando maior acesso a leitura. No que tange ao

envolvimento com os números, estes fazem parte do cotidiano das crianças

assim com as palavras. Existe uma sequencia estabelecida para conhecer as

ordens e a nomeação dos números e nomes numa representação léxica. O

processo de aprendizagem inicia-se pela contagem, numa repetição sequencial

simples, correspondendo números e nomes numa representação biunívoca

apoiado por uma linguagem lógico-matemático através de brinquedos(encaixe

de peças, jogos de construção, quebra-cabeça), que abrirá caminho para a

aritmética básica, usando-se como brincadeira objetos diversos para facilitar o

entendimento. A evocação de números também é uma opção bem produtiva

pelo processo perceptível no uso de formas, cores, tamanhos, uma vez que o

uso da memória torna-se um recurso cognitivo pela conservação dos números

vinculados a vivencia das crianças. A ocorrência das dificuldades das crianças

41

com os números tem sido observada na contagem básica – sequencias – que

não reconhecem os números e suas quantidades, a relação nomes e números;

na aritmética básica derivada das dificuldades de contagem, onde o problema

está na representação simbólica e do lugar que ocupa, a quantidade que

representa, gerando confusões devido a sobrecarga na memória ativa, e

dificuldades com o enunciado na linguagem matemática, quando se trata de

combinação, mudança, equalização ou comparação. Ao se tratar uma

paratonia, por exemplo, com prejuízos ao sistema cognitivo, concordo com o

apontamento de Kwee (2009) que “o ensino deve favorecer as interações

múltiplas entre o aluno e os conteúdos que tem de aprender; o aluno constrói o

conhecimento por meio das ações efetivas ou mentais que realiza sobre o

conteúdo de aprendizagem.” (p.19)

Logo, as interações abordadas por tais ações pelo uso das brincadeiras,

jogos e brinquedos, além da música e dança, do teatro, das ações de imitação

do concreto para o abstrato etc. tem como essência desenvolver o esquema e

a imagem corporal e o tônus, áreas psicomotoras vitais para o desenvolvimento

neuro-psico-motor inicial da criança que influenciarão na lateralidade,

coordenação, ritmo, postura, equilíbrio, respiração, percepção, orientação e

estruturação espaço-temporal, vinculado ao compromisso da escola, educador

e família pela excelência na educação por todo o seu curso.

42

CONCLUSÃO

Diante do trabalho apresentado pode-se deduzir que a relação entre

razão e imaginação é uma questão que vem atravessando séculos vinculados

ao pensamento e desenvolvimento do homem. A preocupação de muitos

autores de como o ser humano se relaciona com o mundo estendeu-se para

outras vertentes como a psicanálise, a psicologia, a filosofia, entre outras,

trazendo um contexto multifacetado a pedagogia, com características inter e

multidisciplinares, exigindo do docente uma nova visão e postura quanto as

suas práticas pedagógicas na transmissão de conteúdos, não cabendo mais o

uso de uma educação bancária.

Neste novo milênio onde a era do conhecimento é predominante, bem

com a crescente exigência social no que diz respeito a participação ativa do ser

humano na sociedade, direcionou o homem para se posicionar com clareza e

criticidade. Trazendo este contexto para a vida escolar, vemos que o professor

defronta com o seu maior desafio de promover atividades que desenvolvam a

capacidade da criança compreender, decodificar e produzir com criatividade e

reflexão. Ao se educar ludicamente exige do corpo docente um ato consciente

e planejado de maneira que repensem o conteúdo e sua práxis pedagógica

adornados pelo entusiasmo, modo de observar, refletir, compreender e

reconstruir o conhecimento, promovendo novas aprendizagens nos domínios

cognitivos e afetivos.

Conclui-se também que como as teorias aqui representadas são

indispensáveis para um ensino facilitador do processo de desenvolvimento de

forma que não seja acelerado e nem um entrave na vida dos educandos, pela

proposta de problemas que desencadeiam soluções num nível gradual elevado

de raciocínio que os habilitem a aprendizagens mais complexas.

Também é primordial que as crianças de 0 a 6 anos tenham

oportunidades de construir seus conhecimentos dentro do seio familiar

ampliando-se à escola, de maneira que ambos ambientes estejam

compromissados por uma educação construtivista, de liberdade de expressão,

criatividade, participação, colaboração, afetividade, harmonia, prazer e alegria

em prol das crianças pela construção de identidades, consideradas suas

habilidades, competências e áreas psicomotoras.

43

Vimos como o brincar é a maneira pela qual a criança busca subsídios

lúdicos para desenvolver-se, e como através deste brincar o professor assume

um papel fundamental de mediador neste processo, não fragmentando os

sujeitos, servindo de elo de todos os aspectos psicomotores, cognitivos e

sócio-afetivos que constituem um individuo, pelo uso de jogos com suas

estratégias, competições, favorecendo habilidades sociais e corporais

necessárias para lidar com as diversas circunstancias da vida, trazendo

autonomia aos alunos conforme proposto na teoria piagetiana.

O papel do educador é árduo e desafiador, pois ele precisa hoje ter um

olhar diferenciado e sensibilizado para perceber e lidar com todos os seus

alunos, conhecendo suas vidas, famílias, convívio social e afetivo, entre tantos

outros aspectos que irão influenciar no desenvolvimento e aprendizagem de

cada um, bem como possuir amplo conhecimento das teorias dos pensadores

que se preocupam com a educação infanto-juvenil, mostrando a

psicomotricidade como a ciência pela linguagem que se refere ao conceito

funcional do esquema corporal na tríade ambiente, tarefa educativa e individuo,

quando trabalhadas estratégias pedagógicas de movimentos, flexibilidade e

afetividade.

O cenário do descaso político por mudanças imediatas na educação de

acordo com a lei que trata do desenvolvimento integral da criança e, o mundo

já transformado pela linguagem da informação e do conhecimento subordinado

a informática, não podem sufocar a construção social, afetiva e cognitiva

infanto-juvenil nas escolas, famílias, comunidades, em todo e qualquer espaço

que a criança possa se expressar, criar refletir, brincar com prazer, alegria,

liberdade e harmonia, tornando-se indissociável o elo educador-criança-familia

num espaço escolar democrático.

O desafio permanece enquanto nós, educadores, pedagogos, gestores,

quisermos fazer da escola espaço criador e recriador de culturas,

aprendizados, e construção de conhecimentos com prazer, motivação e

consciência.

44

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