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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP Curso de Pós-graduação lato sensu Mestrado Profissional em Educação em Diabetes Daniela de Freitas Pereira AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE A RESPEITO DA PREVENÇÃO E ABORDAGEM DO PÉ DIABÉTICO Belo Horizonte 2014

INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP · especialmente, à prevenção de lesões nos membros inferiores resultantes do mau controle da doença e de práticas inadequadas no cuidados

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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP

Curso de Pós-graduação lato sensu

Mestrado Profissional em Educação em Diabetes

Daniela de Freitas Pereira

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE A RESPEITO DA

PREVENÇÃO E ABORDAGEM DO PÉ DIABÉTICO

Belo Horizonte 2014

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DANIELA DE FREITAS PEREIRA

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE A RESPEITO DA

PREVENÇÃO E ABORDAGEM DO PÉ DIABÉTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação Strictu-Sensu do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte, para obtenção de título de Mestre em Educação em Diabetes.

Orientador: Profª. Drª. Maria Elisabeth Renno de Castro Santos

Belo Horizonte

2014

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FOLHA DE APROVAÇÃO

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO

PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE A RESPEITO DA

PREVENÇÃO E ABORDAGEM DO PÉ DIABÉTICO

___________________________________________________________________

Aluna: Daniela de Freitas Pereira

___________________________________________________________________

Orientador: Profª. Drª. Maria Elisabeth Renno de Castro Santos

26/03/2014

BANCA EXAMINADORA

Prof. Maria Regina Calsolari Pereira de Souza

Prof. Eline Lima Borges

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Dedico este trabalho

Aos meus queridos pais, Raimundo e Beatriz, meus grandes

apoiadores. Pelo amor incondicional, por me ensinarem os verdadeiros

valores e princípios que me guiam, pela força com que me incentivaram

para eu não perder o foco dos meus sonhos e lutar pelos meus ideais,

eu dedico a vocês tudo o que sou e o orgulho que tenho de completar

mais essa etapa da minha caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que direciona o meu caminho.

Aos meus pais, minha irmã, meu cunhado e a toda a minha família que, com muito

carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da

minha vida.

Ao Victor Hugo, pela presença estimulante, pelo exemplo de persistência e fé.

À Victoria Beatriz, pela alegria contagiante.

À Doutora Maria Elizabeth Renno pela paciência na orientação, incentivo e

dedicação que tornaram possível a conclusão deste mestrado.

A todos os professores do curso, que foram tão importantes nesta caminhada e no

desenvolvimento dessa dissertação.

Aos amigos e colegas, pelo convívio, pela amizade, incentivo e pelo apoio

constantes.

À Ádria pela fundamental ajuda e encorajamento na coleta de dados.

Ao Eduardo Prates, do COEP da Prefeitura de Belo Horizonte, pelas orientações,

paciência e presteza.

Ao Eduardo, do COEP da Santa Casa, também pelas orientações, paciência e

presteza.

Aos enfermeiros da atenção primária da Prefeitura de Belo Horizonte, que

contribuíram significativamente para a conclusão deste trabalho.

Aos pacientes, que são a razão maior deste trabalho.

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“Diga-me e eu esquecerei

Mostre-me e talvez lembrarei

Envolva-me e entenderei.”

Confúcio

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RESUMO

O estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento dos enfermeiros da atenção primária de Belo Horizonte no que concerne a medidas preventivas e conhecer qual a assistência oferecida quanto ao pé diabético. Foi realizado em centros de saúde da rede municipal na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, nos meses de outubro a dezembro de 2013. A população de estudo constituiu-se de 117 enfermeiros assistenciais das equipes de saúde da família. Os dados foram obtidos por questionário. Os resultados apresentados descritivamente e analisados segundo a literatura pertinente, mostraram que a maioria dos enfermeiros tem conhecimento das ações preventivas e de assistência ao paciente diabético, entretanto os pés não são avaliados pela maioria (52,6%) a não ser que tenha ferida, falta de instrumentos na maioria das unidades e 53% dos enfermeiros não utilizam nenhum protocolo de classificação. Conclui-se que existe necessidade de maior compromisso dos profissionais e do próprio sistema de saúde quanto à educação continuada de seus funcionários e o fornecimento de material adequado para o trabalho. É necessário também ampliação de ações direcionadas aos cuidados com o diabetes e, especialmente, à prevenção de lesões nos membros inferiores resultantes do mau controle da doença e de práticas inadequadas no cuidados com os pés.

Palavras-chave: Pé diabético. Prevenção. Enfermagem de Atenção Primária.

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ABSTRACT

The study aimed to assess the knowledge of primary care nurses in Belo Horizonte with regard to preventive measures and knowing what assistance offered on the diabetic foot. Was carried out in health centers in the municipal city of Belo Horizonte, Minas Gerais, in the months from October to December 2013. The study population consisted of 117 clinical nurses of family health teams. Data were obtained by questionnaire. The results presented descriptively and analyzed according to the literature, showed that most nurses have knowledge of preventive and care to the diabetic patient, however legs are not evaluated by the majority (52.6%) unless you have wounds lack of instruments in most units and 53% of nurses do not use any protocol classification. It is concluded that there is need for greater commitment among professionals and the health system itself as to the continuing education of its employees and the provision of appropriate equipment for the job. Expansion of actions directed to diabetes care and especially the prevention of lower limb injuries resulting from poor control of the disease and inadequate practices in foot care.

Keywords: Diabetic Foot. Prevention. Primary Care Nursing.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Vias para a ulceração no pé diabético ................................. 21

Figura 2 Áreas de teste com monofilamento ................................. 23

Gráfico 1 Escore de acertos sobre pé diabético dos enfermeiros da amostra

................................. 37

Gráfico 2 Regressão linear do tempo de profissão de enfermeiro e o escore de acerto

................................. 39

Gráfico 3 Regressão linear do tempo de trabalho do enfermeiro na UBS e o escore de acerto

................................. 39

Gráfico 4 Frequência com que os enfermeiros examinavam os pés dos diabéticos

................................. 43

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LISTA DE QUADROS / TABELAS

Quadro 1 Distribuição dos enfermeiros da pesquisa conforme Unidade Básica de Saúde e Distrito Sanitário

.................... 31

Tabela 1 Caracterização sócio demográfica da amostra .................... 36

Tabela 2 Autoavaliação do enfermeiro sobre seu conhecimento das ações preventivas do pé diabético

.................... 37

Tabela 3 Distribuição dos escores de acerto dos enfermeiros segundo o Distrito Sanitário de Belo Horizonte

.................... 38

Tabela 4 Escore de acerto do enfermeiro segundo a participação em cursos e treinamentos específicos sobre pé diabético

.................... 40

Tabela 5 Avaliação dos enfermeiros sobre o atendimento prestado aos pacientes diabéticos nas Unidades Básicas de Saúde

.................... 41

Tabela 6 Utilização de algum protocolo de classificação de risco de pé diabético pelos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde

.................... 41

Tabela 7 Instrumentos disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde para avaliação do pé diabético

.................... 42

Tabela 8 Instrumentos usados pelos enfermeiros para avaliação dos pés do paciente diabético

.................... 42

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LISTA DE ABREVIATAURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

BH Belo Horizonte

CAD Cetoacidose Diabética

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DAP Doença Arterial Periférica

DCNT Doenças Crônicas não Transmissíveis

DM Diabetes Mellitus

DM1 Diabetes Mellitus Tipo 1

DM2 Diabetes Mellitus Tipo 2

ESF Equipe de Saúde da Família

GPARH Gerência de Planejamento e Acompanhamento de Recursos Humanos

IGT Intolerância a Glicose

ITB Índice de Pressão Tornozelo Braço

ND Neuropatia Diabética

NP Neuropatia Periférica

OMS Organização Mundial de Saúde

PND Polineuropatia Diabética Periférica

PP Pressão Plantar

SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

SHH Síndrome Hiperosmolar Hiperglicêmica

SMSA Secretaria Municipal de Saúde

SPP Sensação Protetora Plantar

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 12

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 14

2.1 Epidemiologia do Diabetes ............................................................................... 14

2.2 As complicações do diabetes, inclusive no pé................................................... 16

2.3. Testes neurológicos e biomecânicos................................................................ 22

2.4 Prevenção......................................................................................................... 24

2.5 Atenção Primária Em Saúde Em Belo Horizonte ............................................... 27

3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 29

4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 30

4.1 Estudo piloto ..................................................................................................... 30

4.2 Tipo de estudo................................................................................................... 30

4.3 Local de estudo................................................................................................. 30

4.4 População e amostra do estudo ........................................................................ 30

4.5 Aspectos éticos ................................................................................................. 32

4.6 Coleta de dados ................................................................................................ 32

4.7Análise de Dados ............................................................................................... 35

5. RESULTADOS ....................................................................................................... 36

6. DISCUSSÃO........................................................................................................... 44

7. CONCLUSÃO......................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 49

ANEXOS................................................................................................................. 54

APÊNDICES............................................................................................................ 61

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil transformou-se consideravelmente nas últimas décadas, tanto por

fatores relacionados à globalização, quanto por circunstâncias e processos

históricos e culturais próprios. Considerando os determinantes e condicionantes do

processo saúde/doença e as mudanças geradas no modo de adoecer da população,

observa-se que as doenças crônicas se colocam como protagonistas, passando a

exigir um repensar e uma nova forma de cuidar (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).

O Brasil, assim como o mundo, tem passado por processos de transição,

epidemiológica e nutricional desde a década de 1960, resultando não só em

alterações nos padrões de ocorrência de doenças, mas também com aumento

importante da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),

resultante das mudanças no estilo de vida e dos padrões de comportamento

(SANMARTÍ, 1985).

O tratamento das doenças crônicas tem por objetivo buscar melhoria da

qualidade de vida do paciente, e não somente a cura propriamente dita

(THOMPSON; GUSTAFSON, 1996).

Até o ano de 2020, possivelmente a principal causa de incapacidade serão as

doenças crônicas que representarão a maior sobrecarga para os sistemas de saúde

se não forem bem manejadas (OMS, 2002).

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) os custos do Diabetes

Mellitus (DM) não são apenas econômicos. Eles afetam o indivíduo, a família e a

sociedade. Há custos intangíveis, caracterizados pela dor, ansiedade,

inconveniência e perda da qualidade de vida que também representam grande abalo

na vida das pessoas com diabetes e seus familiares, sendo difícil de serem

mensurados (SBD, 2013).

O DM, considerado atualmente problema de saúde pública pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), se destaca como uma das principais causas de morte

entre a população no mundo e está entre as dez principais causas no Brasil.

Associa-se a uma maior incidência de outras doenças como a doença arterial

periférica, o acidente vascular cerebral, as doenças coronarianas e a insuficiência

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renal; assim como suas complicações: amputações, cegueira e neuropatias, que

levam ao risco de incapacitação, diminuição da expectativa de vida e enorme custo

em saúde para a sociedade (NEGRATO, 2001).

Percebe-se a falta de estudos de avaliação sobre as práticas relacionadas

aos cuidados preventivos e assistenciais na atenção primária em Belo Horizonte e a

necessidade de se conhecer o panorama atualizado, os recursos disponíveis nas

unidades e também de se instituir medidas urgentes para combater a progressão da

doença, de modo a assegurar, sobretudo à população mais exposta, uma condição

digna de sobrevivência.

Estes argumentos justificam a realização da pesquisa que ora se apresenta.

Impõe-se, portanto conhecer a real dimensão do problema em nível local,

desvelando-se, por meio da avaliação do conhecimento dos enfermeiros sobre as

alterações nos pés, incluindo lesão, dos pacientes atendidos com DM na atenção

primária de saúde e investigar como se dão as práticas para prevenção e

acompanhamento a nível básico dos pacientes atendidos. Deste modo, diante das

justificativas feitas tornam-se questões norteadoras da pesquisa avaliar qual o

conhecimento dos enfermeiros da atenção primária de Belo Horizonte sobre

prevenção do “pé diabético” e quais as práticas adotadas nas unidades.

Considera-se como “pé diabético” a infecção, ulceração e/ou destruição dos

tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e vários graus de

doença vascular periférica nos membros inferiores (CONSENSO INTERNACIONAL

SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Epidemiologia do Diabetes

Com a transição epidemiológica e demográfica no Brasil, verifica-se um

aumento importante nas taxas de incidência, prevalência e de mortalidade por

doenças crônicas. Associada a este cenário, a massificação do modo de vida, sob

pressão da “globalização”, predispõe a um aumento da obesidade e do

sedentarismo, que são fatores de risco para muitas doenças, entre elas o DM

(FREESE, FONTBONNE, 2006).

Em 1985, calculava-se haver 30 milhões de adultos com DM no mundo, esse

número aumentou para 135 milhões em 1995, alcançando 173 milhões em 2002,

com eminência de chegar a 300 milhões em 2030. Devemos considerar que cerca

de dois terços desses indivíduos vivem em países em desenvolvimento, onde esta

epidemia tem maior proporção, com número crescente de pessoas afetadas em

grupos etários mais jovens, que convivem também com os problemas das doenças

infecciosas (WILD et al., 2004).

O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina

e/ou da inabilidade desta em operar corretamente seus efeitos. Caracteriza-se por

hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e

proteínas. As consequências do DM, em longo prazo, incluem disfunção e ruína de

vários órgãos, especialmente rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos

(BRASIL, 2002).

A classificação atual da doença baseia-se na etiologia do diabetes e

distingue: diabetes tipo 1 (DM1), que tem como consequência primária a destruição

das células beta pancreáticas, ataca principalmente crianças e jovens e; diabetes

tipo 2 (DM2), que resulta em geral, de diversos graus de resistência à insulina e

deficiência relativa de secreção da mesma. Cerca de 90% dos casos da doença

inclui principalmente a população adulta maior de 40 anos, embora há pouco tempo

tenha crescido a prevalência do DM2 em faixas etárias mais precoces, associado ao

aumento da prevalência da obesidade (BRASIL, 2010).

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Outras formas menos frequentes de DM existem, como a gestacional e outros

tipos podem ocorrer devido a defeitos genéticos funcionais das células beta e/ou na

ação da insulina, que podem ser induzidas por agentes químicos, fármacos ou

infecções (BOCCUZZI et al., 2001).

Atualmente, o DM é considerado uma das doenças crônicas mais

comuns,cuja incidência e prevalência apresentam aumentos significativos. A

estimativa global sugere que são aproximadamente 347 milhões de pessoas com

DM, com prevalência de 9,8% para homens e9,2% para mulheres sendo que na

década de 1980 era de 8,3% e 7,5% para homens e mulheres, respectivamente

(DANAEI et al., 2011).

O aumento na incidência do DM2 é devido a vários fatores: o envelhecimento

da população com fatores predisponentes, crescente substituição dos alimentos

ricos em fibra, vitaminas e minerais por produtos industrializados; sedentarismo,

beneficiado por mudanças no sistema de trabalho e avanços tecnológicos;

obesidade; tabagismo; entre outros (SARTORELI et al., 2006).

Conhecido como Intolerância a Glicose (IGT), o estágio de pré-diabetes, é

onde os indivíduos com IGT têm risco significativo de progredir com DM2. Calcula-se

que aproximadamente 308 milhões de pessoas apresentaram quadro de IGT em

2007 e estima-se para 2025 uma prevalência de 8,1%, ou seja, 418 milhões de

pessoas (IDF, 2006), fato que aumentará de maneira significativa a prevalência de

DM e que é visto de forma desatenta pelos países. O DM na infância é outra

condição preocupante, uma vez que os dados recentes sugerem que uma em cada

três crianças nascidas nos Estados Unidos desenvolverá diabetes em algum

momento da vida. A expectativa de vida é reduzida em média, de dez a vinte anos,

quando essa doença é identificada nos jovens (IDF, 2006).

Com a cronicidade e a morbidade elevada, o DM vem tornando-se um dos

maiores problemas de saúde do mundo, pois envolve grandes gastos em cuidados

de saúde, que se reflete em elevados custos humanos, econômicos e sociais. Diante

desta perspectiva, vários esforços têm sido utilizados por governos e comunidades

científicas de modo a evitar o crescimento desta doença (IDF, 2006).

A maioria dos países latino-americanos, infelizmente, ainda não criou sistema

de vigilância epidemiológica para as DCNT na população, em especial a DM,

ocasionando uma sobrecarga ao sistema de saúde, desestabilizando a rede

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assistencial e causando um impacto negativo sobre a qualidade de vida

(SARTORELLI et al., 2006).

Conhecer a incidência de DM2 em grandes populações é difícil, pois requer

seguimento durante vários anos, com verificações periódicas de glicemia. Os

estudos de incidência geralmente se concentram no DM1, cujos sintomas iniciais

são bem específicos. A incidência de DM1 varia de acordo com a geografia,

apresentando taxas por 100 mil indivíduos com menos de 15 anos de idade, sendo

38,4 na Finlândia, 7,6 no Brasil e 0,5 na Coréia (SBD, 2014).

Em decorrência das complicações crônicas do diabetes muitos indivíduos

ficam incapacitados de trabalhar ou permanecem com alguma limitação no seu

desempenho profissional. Não é fácil estimar o custo social dessa perda de

produtividade. As estimativas para os Estados Unidos, em 2012, dos custos diretos

para o tratamento de DM foram de 176 bilhões de dólares em comparação com 69

bilhões de dólares para os custos decorrentes da perda de produtividade (ADA,

2003).

2.2 As complicações do diabetes, inclusive lesão no pé

As complicações agudas do DM na maioria dos casos (2/3) são causadas por

fatores evitáveis como a falta de adesão ao tratamento, tratamento inadequado ou

infecção. Perto de 20% ocorrem como expressão inicial da doença que são

debeladas após tratamento. As complicações agudas são a cetoacidose diabética

(CAD), ocasionada por deficiência importante de insulina; a síndrome hiperosmolar

hiperglicêmica (SHH) ou estado hiperosmolar não cetônico, devido à alta taxa de

glicose sérica e desidratação extrema; e a hipoglicemia (glicemia sérica < 50mg/dL).

O paciente diabético tipo 1, diferente do paciente diabético tipo 2, é mais susceptível

às complicações agudas, uma vez que no primeiro as mudanças glicêmicas ocorrem

mais rapidamente pela total falta do hormônio insulina (ASSUNÇÃO et al., 2003).

Os principais fatores responsáveis pela elevada morbidade e mortalidade dos

pacientes diabéticos são as complicações crônicas decorrentes da doença. Entre os

fatores envolvidos na etiologia dessas complicações estão o tabagismo, a

dislipidemia, a hiperglicemia, e a hipertensão arterial sistêmica (SCHEFFEL et al.,

2004).

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O acometimento dos grandes vasos, incluindo a aorta, por um processo

aterosclerótico acelerado leva às complicações macroangiopáticas, acometendo

principalmente artérias coronárias, cerebrais e de extremidades inferiores. O DM

está relacionado com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DAVIDSON,

2001).

A macroangiopatia junto com a microangiopatia e a neuropatia são

consideradas as principais complicações crônicas do diabetes. A microangiopatia

acomete os vasos sanguíneos pequenos (capilares). É ocasionada pelas lesões

endoteliais nos pequenos vasos de todo o organismo. Observa-se um

espessamento difuso das membranas basais, sendo mais comum nos capilares da

pele, musculatura esquelética, retina ocasionando retinopatia diabética, glomérulos e

medula renal, que ocasionam consequentemente a nefropatia diabética e a

neuropatia diabética (DAVIDSON, 2001; RIZVI, 2004).

A neuropatia diabética (ND) pode manifestar-se tanto por deficiência

neurológica periférica quanto por disfunção autonômica. Na DM2, os eventos

fisiopatológicos que levam às manifestações clínicas são diagnósticos lentos e

insidiosos, afetados pela interação de fatores genéticos e ambientais (RIZVI, 2004).

O aumento da incidência global do DM trouxe o correspondente aumento de

suas complicações. Àquelas que afetam especificamente os pés estão entre as mais

sérias e temíveis. Não apenas devido ao impacto das amputações que devastam a

vida das pessoas, mas também por ser uma de suas complicações mais onerosas.

O comprometimento tecidual agravado pelos traumas e pela vulnerabilidade do DM

às infecções gera quadros clínicos complexos que são englobados sob a

denominação de "pé diabético" (GRUPO DE TRABALHO INTERNACIONAL SOBRE

PÉ DIABÉTICO, 2001; OLEFSKY, 2000).

O pé diabético é uma das mais importantes e mais dispendiosas

complicações do diabetes, sendo importante causa de amputações de membros

inferiores e consequente incapacidade, invalidez e morte evitável. Fato que sinaliza

falta de assistência e cuidado à saúde (SANTOS, 2008).

As lesões são geralmente crônicas, e o tratamento é difícil, muitas vezes,

estas feridas não cicatrizam primariamente, evoluindo com necrose extensa e

processos infecciosos que podem levar à amputação de partes do corpo e até

mesmo de membros (FERREIRA et al., 2006).

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O diagnóstico do pé diabético é realizado, basicamente, pelos sinais da

neuropatia; verificação de deformidades, doença arterial periférica (DAP), déficit de

mobilidade das articulações; traumas; relato de ulceração ou amputação. O risco de

surgimento dos fatores citados aumenta com a presença de hiperglicemia ao longo

dos anos (CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001; BREM et

al., 2006; JONES, 2006).

A associação de NP, DAP e infecção formam um conjunto capaz de levar à

gangrena e à amputação, cujas complicações no paciente diabético tornam-se mais

importantes. Podem ser fatores de risco independentes para o aparecimento de

úlceras de pé (BRASIL, 2010).

A ND é a presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos nervos

periféricos em pessoas com diabetes, após a exclusão de outras causas, e pode

ainda ser classificada de acordo com manifestações clínicas. As neuropatias

sensitivo-motora e simpático-periférica crônicas são fatores de risco confirmados

para o desenvolvimento de lesões nos pés. A perda da sensação dolorosa e das

fibras grossas (vibração/ pressão/ táctil) constitui fatores de risco importantes para a

ulceração nos pés. A ulceração no pé pode, por si mesma, ser o elemento de

apresentação da neuropatia, na total ausência de quaisquer sintomas neuropáticos

prévios. Assim, a neuropatia não pode ser diagnosticada apenas com base na

história clínica: um cuidadoso exame neurológico dos pés é obrigatório

(CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

A neuropatia leva a perda da sensação protetora e consequentemente, à

deformidade do pé, com possibilidade de marcha anormal, tornando o paciente

passível a traumas (por uso de sapatos inadequados ou por lesões da pele ao

caminhar descalço), que podem causar úlceras (LOPES, 2003).

A ND está presente em 50% dos pacientes com DM2 acima de 60 anos,

sendo a polineuropatia simétrica distal ou polineuropatia diabética periférica a forma

mais comum, seguindo-se as autonômicas. Para o surgimento de úlceras por

pressão em pessoas com DM, a ND é o fator mais importante, afetando 30% dos

pacientes em atendimento clínico hospitalar e de 20% a 25% entre os pacientes na

atenção primária em saúde, além de estar presente entre em 10% daqueles com

pré-DM (BOULTON et al., 2005; TAPP, PEDROSA, 2007).

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A DAP constitui fator de risco para ulcerações, principalmente quando está

associada à neuropatia, sendo uma das principais causas não traumáticas de

amputação. Além de favorecer o aparecimento de úlceras, dificulta a cicatrização

das mesmas pela dificuldade do organismo em fornecer nutrientes e oxigênio ao

leito da ferida, assim como favorece a infecção pelo prejuízo da ação do antibiótico

devido à isquemia (BOULTON; PEDROSA, 2006).

Responsável pela insuficiência arterial, a DAP é o fator mais importante

relacionado à evolução de uma úlcera no pé. Em pacientes com DM, a aterosclerose

e a esclerose da camada média da artéria são as causas mais comuns da

doençaarterial. A aterosclerose causa isquemia pelo estreitamento e oclusão dos

vasos. A esclerose da média (esclerose de Moenckeberg) é a calcificação da

camada média causando um conduto rígido sem, no entanto, adentrar o lúmen

arterial. Então, não causa isquemia, mas o conduto arterial rígido pode interferir de

forma grave nas verificações indiretas da pressão arterial. Por isso, a

microangiopatia não deve ser aceita como causa primária de lesões na pele

(CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

A patogênese da ulceração no pé diabético, representada na FIG. 01 resulta

de uma combinação entre dois ou mais fatores de risco. Na neuropatia diabética

periférica, todas as fibras, sensitivas, motoras e autonômicas, são afetadas. A

neuropatia sensitiva está associada à perda da sensibilidade dolorosa, percepção da

pressão, temperatura e da propiocepção. A neuropatia autonômica conduz a

redução ou à total ausência da secreção sudorípara, ocasionando o ressecamento

da pele, com rachaduras e fissuras. Também, há um aumento do fluxo sanguíneo,

através dos shunts artério-venosos, culminando com um pé quente, por vezes

edematoso, com distensão das veias dorsais (CONSENSO INTERNACIONAL

SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

A DAP, muitas vezes em combinação com traumas leves ou danos triviais,

pode resultar em uma úlcera dolorosa, puramente isquêmica. Porém, a DAP e a

neuropatia estão presentes, geralmente, no mesmo paciente (CONSENSO

INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

A microangiopatia desenvolve um papel fundamental na patogênese das

úlceras do pé diabético; é um espessamento da membrana basal e o edema

endotelial nos capilares, porém não causa obstrução significativa. Deve-se

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acrescentar que as artérias distais são responsáveis pelo suprimento arterial dos

pododáctilos. Edemas relativamente leves, causados, por exemplo, por traumas,

trombose ou infecção podem resultar em uma oclusão total das artérias distais já

comprometidas, levando à gangrena do pododáctilo. A infecção raramente é a causa

direta de uma úlcera. No entanto, uma vez que a úlcera já se tenha complicado por

uma infecção, o risco de uma amputação subseqüente é maior (CONSENSO

INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001).

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Figura 1: Vias para a ulceração no pé diabético. Fonte: Consenso Internacional sobre Pé Diabético, 2001.

Limitação da mobilidade articular

Desvio de coordenação e de postura

Diminuição de sensação dolorosa e proprioceptiva

Diminuição da sudorese

Alteração da regulação do fluxo sanguíneo

Microangiopatia

Doença arterial

periférica

Pele seca fissuras

Deformidade nos pés, estresse, pressão de acomodação

Calçados inadequados, não adesão ao tratamento, negligência, inadvertência, educação terapêutica precária (pacientes/profissionais)

Calos

Trauma

Trauma

Isquemia

Gangrena

Infecção

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22

2.3. Testes neurológicos e biomecânicos

Monofilamento

O monofilamento avalia a sensibilidade protetora plantar e detecta alteração

de fibra grossa. Recomenda-se o uso do monofilamento de 10g, teste

semiquantitativo, que pesquisa a sensação protetora plantar (SPP) para avaliar o

risco neuropático de ulceração. É de fácil aplicabilidade, alta sensibilidade e baixo

custo. É um instrumento constituído de fibras de náilon apoiadas em uma haste

(monofilamento de Semmes-Weinstein). Representa o logaritmo (5,07) de 10 vezes

a força em miligramas necessária para curvá-lo e avaliar a sensibilidade protetora

plantar (MOREIRA, CAMPOS, 1999; NASCIMENTO et al., 2004).

O uso não deve ultrapassar dez pacientes ao dia e recomenda-se um

“repouso” de 24 horas para alcançar as 500 horas de meia-vida do instrumento em

boas condições (BOOTH; YOUNG, 2000).

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2014)

e da American Diabetes Association (ADA, 2010), recomenda-se testar o

monofilamento em quatro áreas plantares conforme FIG. 2, sendo elas: o hálux

(falange distal), o primeiro, o terceiro e o quinto metatarsosapresentando

especificidade de 80% e sensibilidade de 90%.

É importante que o examinador mostre o monofilamento ao paciente; toque o

dorso da mão do paciente com o monofilamento para que ele reconheça a

sensação; peça ao paciente para dizer “sim” sempre que perceber a sensação; peça

ao paciente que feche os olhos; aplique o monofilamento em um ângulo de 60º com

a superfície plantar, de forma que fique dobrado por um segundo, e, depois, retire-o;

faça isto uma vez em cada uma das quatro áreas de teste; dê um ponto para cada

estímulo não percebido pelo paciente (serão, no total, quatro pontos para cada pé).

Se houver 01 (um) ponto anormal já deve ser utilizado como sugestivo de

neuropatia. Se o paciente obtiver uma pontuação de quatro, a presença de

neuropatia naquele pé é indicada com sensibilidade de 90-100% e especificidade de

80% (MOREIRA, CAMPOS, 1999).

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Figura 2: Áreas de teste com monofilamento

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde, 2010

Diapasão, martelo de Buck e pino ou palito

Para aplicar o teste de diapasão segue-se o padrão do teste do

monofilamento. O paciente é orientado a responder se sente e onde sente. O

paciente permanece deitado e de olhos fechados durante o todo o teste. Confirmar

se compreendeu as orientações do instrutor, faz-se uma simulação antes do teste

ser aplicado. Ocorrendo uma resposta errada para duas perguntas realizadas

significa ausência de sensibilidade vibratória (MIRANDA PALMA et al., 2005).

Para avaliar as fibras grossas, sensitivas e motoras, utiliza-se o diapasão e o

martelo na avaliação de sensibilidade vibratória e reflexos aquileus,

respectivamente. E para identificar a sensibilidade dolorosa ou o pinprick, que é a

percepção da distinção de uma ponta romba e outra ponte aguda, usa-se o pino

(neurotip) ou palito descartável para avaliar fibras sensitivas (SBD, 2014).

Pressão plantar

A pressão plantar (PP) é investigada por meio da avaliação biomecânica, que

pode ser realizada por técnicas sofisticadas, como pedobarografia estática,

palmilhas com sensores internos ou pelo uso de plantígrafos (Harris Matt e Pressure

Stat – testes semiquantitativos), a serem realizadas em centros de referência de

acordo com os recursos disponíveis (BOULTON et al., 2006; ADA, 2010).

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Quando associada à polineuropatia diabética periférica, a pressão plantar

torna-se mais relevante como risco de ulceração, inclusive para nortear a confecção

e a distribuição de palmilhas (SBD, 2014).

Índice de pressão tornozelo braço

Com relação à DAP, para a sua investigação sempre deve ser efetuada a

palpação dos pulsos, além da verificação do índice de pressão tornozelo-braço (ITB)

com um Doppler Manual de transdutor de 8 a 10 MHz. Com esse aparelho afere-se

a pressão sistólica das artérias distais de ambos os pés e divide-se o maior valor

pelo maior valor das artérias braquiais, aferido bilateralmente. Os pontos de corte

indicativos de ITB normal é 0,9-1,30 (SBD, 2014)

2.4 Prevenção

A melhor forma e mais custo-efetiva de se prevenir o pé diabético e a

amputação é cessar o curso da doença em relação ao agravo, pela prevenção da

formação de úlceras (GREENet al., 2002).

Um escasso controle glicêmico, pouca informação recebida pelos pacientes

dos profissionais de saúde e longa duração do diabetes mellitus, são fatores de risco

associados à amputação(GUTIÉRREZ et al., 2003). Por isso, na atenção básica é

possível, com estratégias relativamente simples, controlar e prevenir o pé diabético,

com ações de educação, rastreamento e acompanhamento de saúde da população

adscrita.

Prevenção efetiva também representa mais atenção à saúde de forma eficaz.

Podendo acontecer mediante prevenção no início do DM (prevenção primária) ou de

suas complicações agudas ou crônicas (prevenção secundária). A prevenção

primária protege os indivíduos passíveis de desenvolver DM, tendo impacto por

reduzir ou retardar tanto a necessidade de atenção à saúde como a de tratar as

complicações da doença. Quanto à prevenção secundária, há evidências de que o

controle metabólico rigoroso tem papel importante na prevenção do surgimento ou

da progressão de suas complicações crônicas (SBD, 2014).

Vários fatores interferem na decisão de retirar ou não um membro de um

paciente. A gravidade da doença, as doenças associadas, as questões sociais e

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individuais do paciente, questões estruturais e dos serviços de saúde influenciam

nesta decisão, como o acesso à atenção primária, a qualidade deste nível de

atenção, erros na referência, disponibilidade e qualidade do atendimento.

A grande incidência de amputações pode demonstrar uma maior prevalência

da doença, referência tardia, recursos limitados, ou uma particular deficiência nos

meios de intervenção por parte da equipe de profissionais de saúde (JEFFCOATE,

VAN HOUTUM, 2004).

Alguns estudos têm mostrado que os profissionais da atenção primária não

realizam o exame dos pés habitualmente em pacientes diabéticos durante suas

consultas (ARMSTRONG, LAVERY, 1998; ADA, 2003).

Para direcionar as ações de controle do DM, o Ministério da Saúde (BRASIL,

2002) criou um instrumento normativo que preconiza para a prevenção do pé

diabético o rastreamento de riscode todos os pacientes diabéticos por meio de

exame detalhado do pé, nas consultas de rotina, além de orientações quanto aos

hábitos e estilo de vida saudáveis necessários à prevenção do DM.

Ochoa-Vigo e Pace (2005) realizaram um trabalho de revisão da literatura,

com ênfase na avaliação dos pés como medida preventiva fundamental, para

identificar, precocemente, as alterações neurológicas e vasculares periféricas e

disfunções biomecânicas. Concluíram que equipe da assistência primária deve

conscientizar-se das necessidades e riscos a que estão sujeitas as pessoas com

diabetes, principalmente os idosos e aquelas em que a doença tem longa duração. A

avaliação da sensibilidade periférica deve fazer parte da rotina do exame físico das

pessoas com diabetes, oportunidade em que o profissional deve descalçar o

paciente para examinar seus pés à procura de sinais e sintomas precoces, por ser

esta uma estratégia fundamental, apesar de não fazer parte da rotina da maioria dos

serviços de saúde, embora seja recomendação internacional.

O Consenso Internacional sobre o Pé Diabético (2001) estabelece diretrizes

que norteiam a necessidade de equipes multidisciplinares atentarem para o

tratamento do pé nos diversos níveis de atenção, criando um sistema de referência e

contra-referência, que seja capaz de identificar os pacientes com maior risco,

prevenir complicações e melhorar a qualidade de atendimento. Além disso, propõe

tratamento em tempo hábil, evitando as complicações, com abordagens dirigidas ao

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paciente e seus familiares, assim como aos profissionais de saúde, que devem ser

orientados sobre quais estratégias adotarão para cada paciente.

Visando a identificação do risco de ulceração, o treinamento de profissionais

de saúde, inclusive médicos, é fundamental para a aplicação dessas técnicas para

rastreamento e diagnóstico de polineuropatia diabética periférica e DAP, que deve

ser aplicada aos estimados 60% dos pacientes que se encontram aparentemente

sem alterações (YOUNG, 2006).

Nos serviços de saúde pública, principalmente na atenção básica, é primordial

o treinamento de equipes interdisciplinares (médico clínico, enfermeira e técnico de

enfermagem) para a classificação do risco e controle das intercorrências clínicas

iniciais dos pés dos diabéticos. Os diversos serviços de atenção à saúde,

particularmente os de saúde pública, devem providenciar protocolos e fluxogramas,

com níveis secundários e terciários, dispondo de atendimento especializado e

imediato, com orientações claras de serviços de referência (CAIAFA et al., 2011).

O Programa de Saúde da Família agudiza o debate no interior do sistema

único de saúde (SUS), demonstrando a fragilidade do nosso processo de construção

social da saúde que tem avançado pontualmente, mediante gradativas acumulações

e superposição de experiências que contemplam os enfoques das ações

programáticas de saúde, vigilância da saúde e em defesa da vida e das concepções

da atenção primária e da atenção básica. Vive, com isso, um paradoxo: ao mesmo

tempo em que cresce, desvenda importantes fragilidades inerentes a processos de

mudança. Em relação às práticas profissionais, estas não conseguem atender

adequadamente as novas necessidades de prestação dos cuidados de saúde

(integralidade, visão ampliada do processo saúde-doença, formação de vínculos,

abordagem familiar, trabalho em equipe). O mesmo ocorre em relação à gestão do

sistema, lógica quantitativa da produção, rigidez nos processos de trabalho, fixação

das equipes, normatização excessiva, baixa capacidade de inovação gerencial,

grande dependência dos serviços secundários, referência e contra referência (GIL,

2006).

Diante do exposto faz-se necessário atentar para o atendimento do indivíduo

diabético na Atenção Primária à Saúde, que é a porta de entrada do sistema de

saúde, onde o indivíduo deve ser acolhido primeiramente e necessita de cuidados e

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educação no que tange ao seu controle glicêmico e a prevenção das complicações,

para que se possa mudar esse cenário.

2.5 Atenção Primária em Saúde em Belo Horizonte

As primeiras Equipes de Saúde da Família (ESF) em Belo Horizonte foram

implantadas em fevereiro de 2002 e as primeiras cadastradas, cerca de 176, foram

organizadas com profissionais da rede. As equipes foram implantadas nos centros

de saúde do município, ficando responsáveis pela assistência à saúde das

populações consideradas de maior risco para adoecer e morrer, conforme o índice

de vulnerabilidade. Para estas populações a estratégia de saúde da família viria

substituir a forma de organização anterior, significando, ainda, uma mudança

processual por dentro da rede de serviços, sem redes paralelas e concorrentes

(TURCI, 2008).

No primeiro ano de implantação, os profissionais que não aderiram à ESF

permaneceram nos centros de saúde de origem. A Secretaria Municipal de Saúde

(SMSA) incentivou a formatação de equipes “ampliadas”, que agregavam o

especialista a equipe básica (médico generalista, enfermeiro, auxiliar de

enfermagem, agente comunitário de saúde), havendo incremento da população sob

sua responsabilidade (TURCI, 2008).

O Município de Belo Horizonte contava em 2013 com 147 (cento e quarenta e

sete) Centros de Saúde, sendo 583 ESF e duas equipes para população privada de

liberdade (PPL). Para gestão e planejamento da cidade, Belo Horizonte é dividida

em nove áreas administrativas regionais, que coincidem com nove Distritos

Sanitários: Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha

e Venda Nova, onde os Centros de Saúde estão distribuídos.

As unidades básicas de saúde são responsáveis pela atenção primária em

saúde, com ações voltadas para a população da área de abrangência e funcionam

de segunda a sexta-feira.

As ESF ainda têm encontrado muitas dificuldades na organização de seu

trabalho, decorrentes do excesso de demandas e da difícil negociação com a

população para a priorização de ações já programadas ou de prevenção e

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promoção, e percebem que a população tem expectativa de atendimento imediato

(TURCI, 2008).

A SMSA dispõe para os profissionais de saúde através do site da prefeitura

de Belo Horizonte uma série de protocolos assistenciais disponíveis em

http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxo

nomiaMenuPortal&app=saude&lang=pt_BR&pg=5571&tax=25601, entre eles

encontra-se disponível o Protocolo de Diabetes Mellitus e Atendimento Vascular de

2010, que na verdade é um passo a passo da prevenção e da assistência ao

diabético e inclusive ao pé diabético e o Protocolo de Prevenção e Tratamento de

Feridas que também orienta sobre cuidados com o pé resumidamente, dentre outros

assuntos.

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OBJETIVOS

3.1 Geral

Investigar o conhecimento dos enfermeiros da atenção primária de Belo

Horizonte no que concerne a medidas preventivas quanto ao pé diabético.

3.2 Específicos

-Caracterizar a amostra do estudo.

-Avaliar o conhecimento do enfermeiro da atenção primária de Belo Horizonte sobre

o pé diabético.

-Identificar a utilização do protocolo vigente para prevenção do pé diabético e

assistência ao paciente pelo enfermeiro da atenção primária.

-Investigar ações dos enfermeiros da atenção primária a respeito da avaliação dos

pés, classificação do risco de lesões e prevenção do pé diabético.

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4. METODOLOGIA

4.1 Estudo piloto

Foi realizado um estudo piloto, envolvendo 12 enfermeiros (selecionados

aleatoriamente) para análise da coleta de dados, visando à adequação do

instrumento de coleta de dados e do banco de dados. No estudo piloto, pode-se

corrigir e modificar a sequência e ordem das questões, e também verificar se os

termos utilizados estavam sendo bem compreendidos. É importante ressaltar que os

participantes do estudo-piloto não foram incluídos na pesquisa.

4.2 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo observacional e transversal.

4.3 Local de estudo

A pesquisa foi desenvolvida dentro da rotina de atendimento dos Centros de

Saúde do município de Belo Horizonte, que realizam a atenção primária em saúde.

4.4 População e amostra do estudo

A população de enfermeiros foi identificada nos Centros de Saúde,

perfazendo um total de 845 enfermeiros considerando as Equipes de Saúde da

Família e equipes de apoio. Esse dado foi enviado pela Gerência de Planejamento e

Acompanhamento de Recursos Humanos da Prefeitura de Belo Horizonte (GPARH)

em 12/08/13 por e-mail.

Para obtenção do universo amostral foi utilizado o programa estatístico

STATA (versão 12.0) considerando-se os parâmetros descritos na literatura para

prevalência da doença na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, e utilizando-

se os indicadores de: precisão = 10% e intervalo de confiança de 95%. Observou-se

a necessidade da inclusão de 117 participantes para se obter validade externa.

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Os critérios utilizados para inclusão neste estudo foram: enfermeiros

assistenciais de equipe de saúde da família, lotados em centros de saúde dos

municípios de Belo Horizonte/MG, apresentar condição física e emocional para

participar do estudo; consentir em participar do estudo. O estudo contou com

participantes dos nove Distritos Sanitários da cidade de Belo Horizonte/MG

conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 Distribuição dos enfermeiros da pesquisa conforme Unidade Básica de Saúde e

Distrito Sanitário. Distritos Sanitários Unidades Básicas de Saúde Número de enfermeiros

Barreiro 04 Vila Cemig 03 Barreiro de Cima 04

Barreiro

Bairro das Indústrias 02 N.S.Fátima 01 N.S. Aparecida 02 Cafezal 02 Pe. Tarcisio 02 Menino Jesus 03

Centro Sul

Oswaldo Cruz 03 Alto Vera Cruz 01 Pompéia 05 Paraíso 02 São Geraldo 02

Leste

São José Operário 03 Alcides Lins 04 Capitão Eduardo 04 Olavo Albino 03

Nordeste

São Gabriel 02 Glória 01 Pe. Eustáquio 05 São Cristóvão 03

Noroeste

Dom Bosco 04 Providência 05 Floramar 04 Norte 1º de Maio 04 Noraldino de Lima 04 Vista Alegre 04 Oeste Cabana 05 Jardim Alvorada 05 Itamarati 02 Santa Amélia 02 Santa Rosa 02 São José 01

Pampulha

São Francisco 01 Céu Azul 04 Copacabana 02 Mantiqueira 03

Venda Nova

Venda Nova 04 TOTAL 117

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A amostra foi composta por 117 enfermeiros de ambos os sexos. Destaca-se

que havia pelo menos um enfermeiro de cada Unidade Básica de Saúde dos nove

Distritos Sanitários.

4.5 Aspectos éticos

Conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de

Pesquisa envolvendo os seres humanos foram obedecidos os seguintes princípios:

- Encaminhou-se o Projeto de Pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto

de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, sendo o

parecer consubstanciado de número 407.872 aprovado em 26 de setembro de 2013

(ANEXO A).

- Encaminhou-se o Projeto de Pesquisa para a Prefeitura de Belo Horizonte,

especificamente para a Gerência de Assistência (GEAS), sendo liberada a Carta de

Anuência Institucional em 21 de outubro de 2013 (ANEXO B).

- Encaminhou-se o Projeto de Pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa Prefeitura

de Belo Horizonte, sendo o parecer consubstanciado de número 448.741 aprovado

em 06 de novembro de 2013 (ANEXO C).

- Solicitação de autorização prévia dos 09 (nove) gerentes dos Distritos Sanitários de

Belo Horizonte/MG, antes da visita aos enfermeiros nos Centros de Saúde.

- Aos participantes foi solicitada a concordância por meio do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, preenchida em 02 (duas) vias, sendo uma via do

participante e a outra do pesquisador, tendo garantido o anonimato e o direito de

desistência em qualquer fase da mesma (APÊNDICE A).

4.6 Coleta de dados

Os dados da pesquisa foram coletados no período de outubro a dezembro de

2013, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ensino e

Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, autorização da Gerência

de Assistência da Prefeitura de Belo Horizonte e do Comitê de Ética em Pesquisa da

Prefeitura de Belo Horizonte/MG.

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Antes da coleta, apresentou-se o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido aos participantes do estudo e, mediante a sua concordância em

participar da pesquisa iniciou-se a pesquisa.

Os dados foram coletados por meio de questionário individual, aplicado

durante a rotina de atendimento do enfermeiro no Centro de Saúde. O tempo gasto

para o preenchimento do questionário foi em média de 08 minutos.

O instrumento de coleta (APÊNDICE B) consistiu de duas partes. A primeira

investigou dados sócio demográficos: idade, sexo, última titularidade, tempo de

trabalho na Unidade Básica de Saúde e tempo de profissão do enfermeiro. A

segunda parte consistiu de 13 questões, sendo doze fechadas e uma aberta.

Destaca-se que a pergunta 02 desdobrava em duas questões, totalizando 14

questões.

A avaliação do conhecimento do enfermeiro a respeito do pé diabético

consistiu de cinco perguntas de múltipla escolha (questões 06, 07, 08, 09 e 10):

-A distribuição da dor neuropática pode ser: 1- panturilhas, pés e coxas; 2- dedos dos

pés, pés, panturilhas e coxas; 3- dedos dos pés e mãos, pés e mãos, panturilhas,

antebraços e coxas; 4- panturilhas, dedos dos pés, pés e coxas; 5- Nenhuma das respostas.

-Com relação à avaliação dos pés, podemos considerar: 1- O Teste da Sensibilidade

Vibratória é feito com o Diapasão de 128 Hertz; 2- O Teste dos Reflexos Neurológicos usa o

Martelo de Buck para testar os reflexos Patelar e Aquileu; 3- O Teste da Sensibilidade

Dolorosa é feito com um Pino ou Palito, colocado em diferentes pontos no dorso do pé e

região pré-tibial sem penetrar a pele; 4 - O Teste da Sensibilidade Térmica é feito com o

Termostato ou com o Cabo do diapasão colocados

no dorso do pé, pode-se, ainda, usar um chumaço de algodão com álcool para passar sobre

o dorso do pé; 5- Todas as respostas estão corretas.

-É a principal situação responsável pelo aparecimento de úlceras no pé diabético: 1-

vasculopatia; 2- Neuropatia; 3- Infecção; 4- Microangiopatia; 5- Todas as respostas estão

corretas.

-A principal causa de úlceras nos pés de diabéticos é a neuropatia periférica

sensitivo-motora. Assinale a afirmativa correta: 1- No diabetes, foi padronizado que um

indivíduo é considerado como risco para úlcera quando ele não percebe a pressão medida

com o monofilamento Semmes-Weinstein de 12g; 2- Recomenda-se testar quatro áreas

plantares: hálux (falange distal), primeiro, terceiro e quinto metatarsos; 3- O teste é

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considerado positivo se dois ou mais pontos apresentarem-se alterados; 4- As respostas 2 e

3 estão corretas; 5- As respostas 1 e 3 estão corretas.

-Considerando a classificação do risco de lesões no paciente diabético, é correto

afirmar que: 1- No paciente com neuropatia ausente a freqüência de avaliação do pé do

paciente diabético é uma vez por ano; 2- No paciente com neuropatia presente a freqüência

de avaliação do pé do paciente diabético é uma vez entre 3 a 6 meses; 3- No paciente com

neuropatia presente, sinais de doença vascular periférica e/ou deformidades nos pés a

freqüência de avaliação do pé do paciente diabético é uma vez entre 2 a 3 meses; 4- No

paciente com amputação ou úlcera prévia a freqüência de avaliação do pé do paciente

diabético é uma vez entre 1 a 2 meses; 5- Todas as respostas estão corretas.

Além dessas perguntas, também fez parte uma pergunta avaliativa sobre o

próprio conhecimento (questão 05): como você avalia o seu conhecimento a respeito

das ações preventivas de pé diabético e assistência de enfermagem ao paciente

com pé diabético nas Unidades Básicas de Saúde? Ótimo; muito bom; bom; regular.

Cinco perguntas (questão 01, 2.2, 3, 11, e 13) investigavam as condutas

adotadas pelo enfermeiro no atendimento do diabético:

-Com que frequência você examina os pés dos pacientes diabéticos? 1- Todas as

consultas; 2- A cada 6(seis) meses; 3- A cada ano; 4- Não tenho o hábito de avaliar, a não

ser que tenha ferida.

-Você utiliza algum protocolo de classificação? Qual?

-O que você avalia no exame do pé do paciente diabético? (pergunta aberta)

-No caso de chegar à Unidade Básica de Saúde paciente diabético com lesão no pé

qual a sua conduta (pode ser assinalado mais de uma resposta): 1- Avalio e

acompanho na unidade; 2- Encaminho sempre para o Centro de Pé diabético (PAM Padre

Eustáquio); 3- Encaminho para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA); 4- Outros.

Especifique.

-Qual(is) instrumento(s) para avaliação do pé do paciente diabético você costuma

usar? Monofilamento; Pino ou Palito; Diapasão; Chumaço de algodão com álcool; Martelo

de Buck; Outro.

Uma pergunta (questão 2.1) investigava a formação do enfermeiro: Você já

participou de algum curso ou treinamento específico sobre pé diabético?

Uma pergunta (questão 12) abordava os recursos materiais disponíveis na

unidade: Qual(is) instrumento(s) para avaliação do pé do paciente diabético existe

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disponível na sua unidade? Monofilamento; Pino ou Palito; Diapasão; Chumaço de

algodão com álcool; Martelo de Buck; Outro.

Uma pergunta (questão 4) referia-se a qualidade do atendimento ao paciente

diabético: Como você avalia o atendimento ao paciente diabético, relacionado a

ações preventivas de pé diabético nas Unidades Básicas de Saúde, justifique sua

resposta: ótimo; muito bom; bom; regular.

4.7 Análise de dados

Para todas as análises foi utilizado o pacote estatístico (versão 21.0), da

empresa IBM.

Inicialmente as variáveis foram recodificadas conforme a necessidade para a

análise. Foram realizadas analises exploratórias para verificar a presença de dados

outliers e possíveis discrepâncias. O teste utilizado para análise da normalidade dos

dados neste estudo foi Shapiro Wilk. Procedeu-se então a analise descritiva das

variáveis qualitativas utilizadas neste estudo classificando-as em nominais ou

categóricas. A partir da recodificação, construiu-se tabelas de distribuição de

frequências. Para as variáveis contínuas foram utilizadas medidas de tendência

central e variabilidade.

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5. RESULTADOS

Os dados da pesquisa estão organizados nos itens “caracterização da

amostra”; “conhecimento do enfermeiro sobre o pé diabético”; “ações preventivas

adotadas pelos enfermeiros da atenção primária”.

Caracterização da amostra

Os dados referentes às características sócio demográficas da amostra

encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1

Caracterização sócio demográfica da amostra. Belo Horizonte, 2014

Variáveis Média* ou %** ±dp*

Sexo

Feminino 88,9%

Masculino 11,1%

Última titularidade (especialização) 41,0%

Idade (anos) 38,8 ± 10,7

Tempo de profissão (anos) 13,2 ±10,1

Tempo de trabalho em UBS (anos) 9,4 ±8,1

*Variáveis quantitativas expressas por medias e desvio padrão ** variáveis qualitativas expressas por percentagens

A maioria dos profissionais era do gênero feminino (88,9%), com média de

idade de 38,8 anos (± 10,7). Muitos tinham curso de especialização (41%), com

média de formado de 13,2 anos (± 10,1) e 9,4 anos (± 8,1) de trabalho na Unidade

Básica de Saúde.

Conhecimento do enfermeiro sobre pé diabético

A autoavaliação dos enfermeiros a respeito do conhecimento das ações de

prevenção do pé diabético encontra-se na Tabela 2.

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37

Tabela 2

Autoavaliação do enfermeiro sobre o seu conhecimento das ações preventivas do pé diabético. Belo Horizonte, 2014

Categoria n %

Ótimo 03 2,6

Muito bom 20 17,1

Bom 64 54,7

Regular 29 24,8

Sem avaliação 01 0,9

Total 117 100

A maioria dos enfermeiros considerou o próprio conhecimento a respeito das

ações preventivas do pé diabético e assistência de enfermagem nas UBS como bom

(54,7%) ou muito bom (17,1%) ou ótimo (2,6%).

O resultado das cinco questões do teste proposto para medir o conhecimento

do enfermeiro a respeito do tema encontra-se no Gráfico 1.

Gráfico 1: Escore de acertos sobre o pé diabético dos enfermeiros da amostra. Belo Horizonte, 2014.

O percentual de enfermeiros que acertaram as cinco perguntas sobre o pé

diabético foi de 6%. Grande parte dos enfermeiros (35,9%) acertou 60% das

perguntas. Destaca-se que 4,3% dos profissionais acertaram nenhuma questão.

O percentual de acerto conforme o Distrito Sanitário da UBS onde o

enfermeiro trabalhava encontra-se na Tabela 3.

Escores de acertos

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Tabela 3

Distribuição dos escores de acerto dos enfermeiros segundo o Distrito Sanitário de Belo Horizonte, 2014

Distrito Sanitário Escore de

acertos n %

Barreiro Centro

Sul Leste Nordeste Noroeste Norte Oeste Pampulha

Venda Nova

0% 5 4,3% -- 15,4% -- 7,7% -- -- 7,7% -- 7,7

20% 16 13,7% -- -- 15,4% 23,1% -- 23,1% 15,4% 30,8% 15,4%

40% 30 25,6% 30,8% 23,1% 30,8% 23,1% 61,5% 23,1% 23,1% -- 15,4%

60% 42 35,9% 53,8% 23,1% 30,8% 30,8% 30,8% 30,8% 53,8% 38,5% 30,8%

80% 17 14,5% 7,7% 38,5% 7,7% 7,7% 7,7% 15,4% 23,1% 23,1% 23,1%

100% 7 6% 7,7% -- 15,4% 7,7% -- 7,7% -- 7,7% 7,7%

Total 117 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Dos sete (6%) enfermeiros que tiveram escore de acerto de 100%, grande

parte (15,45) desses profissionais pertencia ao Distrito Sanitário Leste.

Considerando os 17 (14,5%) enfermeiros com escore de acerto de 80%, a maior

parte (38,5%) era do Distrito Centro Sul. Vale destacar que dos cinco (4,3%)

enfermeiros que não acertaram questão alguma, a maior parte (15,4%) também

pertencia ao Distrito Centro Sul.

Ao analisar o maior escore de acerto de cada Distrito Sanitário percebe-se

que o 60% foi o mais frequente, sendo encontrado no Barreiro, Nordeste, Norte,

Oeste, Pampulha, Venda Nova e Leste. Neste último Distrito, o escore de acerto de

60% foi semelhante ao escore de acerto de 40%. Destaca-se que para o Distrito

Sanitário Centro Sul e Noroeste, o maior escore de acerto foi de 60% e 40%,

respectivamente.

Os escores de acerto comparado com o tempo de profissão e de trabalho do

enfermeiro na UBS encontram-se no Gráfico 2 e Gráfico 3.

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p= 0,19

Gráfico 2: Regressão linear do tempo de profissão do enfermeiro e escore de acerto

P = 0,23

Gráfico 3: Regressão linear do tempo de trabalho do enfermeiro na UBS e escore de

acerto

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Não foi observada diferença estatisticamente significativa entre tempo de

profissão ou tempo de trabalho na UBS em relação ao escore de acerto. Ressalta-se

que também não houve diferença estatística significativa entre o escore de acerto e

a titulação do enfermeiro.

Na Tabela 4 encontra-se o escore de acerto segundo a participação do

enfermeiro em cursos e treinamentos específicos sobre pé diabético.

Tabela 4

Escore de acerto do enfermeiro segundo a participação em cursos e treinamentos específicos sobre pé diabético

Participação em cursos (%) Escore de acertos

Sim Não

0% 2,9 4,8

20% 17,7 12,1

40% 14,7 30,1

60% 38,2 34,9

80% 14,7 14,5

100% 11,8 3,6

Total 100 100

Comparando o grupo de enfermeiros que participaram de capacitação

específica sobre pé diabético com o grupo que não participou, o primeiro grupo

apresentou maior acerto no escore de 100% e 80%.No grupo das pessoas que

participaram de cursos ou treinamento específico sobre pé diabético, 38,2%

acertaram 60% das questões.

Ações preventivas adotadas pelos enfermeiros da atenção básica

A avaliação dos enfermeiros sobre a qualidade da assistência prestada pela

UBS encontra-se na Tabela 4.

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Tabela 5

Avaliação dos enfermeiros sobre o atendimento prestado aos pacientes diabéticos nas Unidades Básicas de Saúde de Belo Horizonte. 2014.

A maioria dos enfermeiros considerou o atendimento prestado aos pacientes

diabéticos na UBS como regular (54,7%). O atendimento ótimo e muito bom foi

avaliado por 0,9% e 6,8% dos enfermeiros, respectivamente que corresponde a um

e oito enfermeiros.

A informação quanto ao uso de protocolo pelo enfermeiro encontra-se na

Tabela 5.

Tabela 6

Utilização de algum protocolo de classificação de risco de pé diabético pelos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde. Belo Horizonte, 2014

Variável n %

Sim 55 47,0

Não 62 53,0

Total 117 100,0

O uso de algum protocolo para classificação do pé diabético foi citado por

menos da metade (47,0%) dos enfermeiros, sendo que o mais utilizado era o

protocolo da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (31,6%), Protocolo de

Prevenção e Tratamento de Feridas, e o segundo mais utilizado era o do Ministério

da Saúde (6,0%).

Os materiais disponíveis nas UBS, citados pelos enfermeiros, estão

apresentados na Tabela 6.

Variável n %

Ótimo 01 0,9

Muito bom 08 6,8

Bom 43 36,8

Regular 64 54,7

Não avaliou 01 0,9

Total 117 100,0

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Tabela 7 Instrumentos disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde para avaliação do pé

diabético. Belo Horizonte, 2014

Instrumentos n %

Monofilamento e chumaço de algodão com álcool 50 42,7

Monofilamento 42 35,9

Monofilamento, pino ou palito e chumaço de algodão com álcool 14 12,0

Pino ou palito e chumaço de algodão com álcool 5 4,3

Monofilamento e pino ou palito 1 0,9

Pino ou palito 1 0,9

Chumaço de algodão com álcool 1 0,9

Monofilamento e diapasão 0 0,0

Monofilamento, diapasão, martelo de Buck e chumaço de algodão com álcool 0 0,0

Monofilamento e outro 0 0,0

Diapasão e chumaço de algodão c/álcool 0 0,0

Não disponível 3 2,6

A maior parte dos enfermeiros (42,7%) informou ter disponível na UBS

monofilamento e chumaço de algodão com álcool para avaliar o pé do paciente

diabético. A seguir, foi citado somente o monofilamento (35,9%), o monofilamento,

pino ou palito e chumaço de algodão com álcool (12,0%) e monofilamento e pino ou

palito (0,9%). Considerando essas informações, pode-se afirmar 107 (91,5%)

enfermeiros tinham o monofilamento disponível na UBS. Destaca-se que não houve

referência ao diapasão e ao martelo de Buck e que 2,6% dos enfermeiros afirmaram

não haver qualquer instrumento disponível na UBS.

Na Tabela 7 encontram-se os instrumentos usados pelos enfermeiros para

avaliação do pé do paciente diabético.

Tabela 8

Instrumentos usados pelos enfermeiros para avaliar os pés do paciente diabético. Belo Horizonte, 2014

Instrumentos n %

Monofilamento e chumaço de algodão c/álcool 14 12,0

Monofilamento 59 50,4

Monofilamento, pino ou palito e chumaço de algodão c/álcool 07 6,0

Pino ou palito e chumaço de algodão com álcool 03 2,6

Monofilamento e pino ou palito 00 0,0

Pino ou palito 03 2,6

Chumaço de algodão com álcool 03 2,6

Monofilamento e diapasão 01 0,9

Monofilamento, diapasão, martelo de Buck e chumaço de algodão c/álcool 01 0,9

Monofilamento e outro 01 0,9

Diapasão e chumaço de algodão c/álcool 09 7,7

Outro 02 1,7

Não usa 14 12,0

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A maioria dos enfermeiros (71,1%) usava o monofilamento para avaliação dos

pés do paciente diabético, de forma exclusiva (50,4%) ou acompanhado de chumaço

de algodão com álcool (12,0%) ou com pino ou palito e chumaço de algodão com

álcool (6,0%) ou com diapasão (0,9%) ou com diapasão e martelo de Buck e

chumaço de algodão com álcool (0,9%).

Destaca-se que apesar da UBS não disponibilizar o diapasão e o martelo de

Buck, o primeiro era usado por dois enfermeiros e o segundo, por um enfermeiro.

A frequência em que os pés dos pacientes diabéticos eram avaliados pelos

enfermeiros encontra-se no Gráfico 4.

Legenda: 1- todas as consultas; 2- a cada seis meses; 3- a cada ano; 4: não examinavam a não ser que apresentassem feridas

Gráfico 4: Frequência com que os enfermeiros examinavam os pés dos pacientes diabéticos. Belo Horizonte, 2014

A maioria (52,6%/60) dos enfermeiros não examinava os pés dos pacientes

diabéticos, a não ser que os pés apresentassem feridas. Dos 57 (47,4%)

enfermeiros restantes, 19 (16,2%) examinavam os pés em todas as consultas, 14

(12,0%) examinavam a cada seis meses e 21 (17,9%) examinavam a cada ano.

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6. DISCUSSÃO

As lesões nos pés representam importantes complicações crônicas do

diabetes. Decorrem geralmente de trauma e frequentemente se complicam com

gangrena e infecção, ocasionadas por falhas no processo de cicatrização resultando

em amputação, quando não se institui tratamento precoce e adequado. Na revisão

de literatura sobre enfermeiros e cuidados com o pé diabéticos, Santos et al. (2013)

constatou que dentre os tratamentos para os pés diabéticos as amputações

correspondem a 85% e se dão basicamente pela falta de prevenção na Atenção

Primária, muitas vezes pela ausência dos usuários no próprio serviço, outras, por

negligência ou falta de conhecimento por parte dos profissionais de enfermagem.

Portanto, o conhecimento da patogênese do DM, bem como do tratamento

são necessários ao enfermeiro para que este possa promover ações de

autocuidado, buscando mudança de estilo de vida, concepções, comportamentos e

atitudes a fim de conquistar autoestima, vontade de aprender, controlar e conviver

com o diabetes (VASCONCELOS et al., 2000).

O enfermeiro é considerado um dos principais profissionais que atuam no

cuidado e prevenção do pé diabético. Essa importância foi confirmada no estudo

realizado por Bragança et al. (2010). Esses autores, ao avaliarem os cuidados com

os pés prestados por 100 pacientes diagnosticados com diabetes no município de

São Paulo, observaram que 47% desses pacientes foram orientados sobre os

cuidados com o pé por enfermeiros.

No estudo realizado por Cox et al. (2012) o nível de conhecimento dos

enfermeiros do Programa Saúde da Família do município de Recife sobre medidas

preventivas para pé diabético foi considerado bom para 11,6% dos entrevistados,

regular para 26,8% e insuficiente para 61,6%. Das questões avaliadas no estudo o

maior número de acertos foi para as questões relacionadas a aspectos normativos

em comparação com os aspectos práticos. Diferente do resultado do estudo em tela,

uma vez que 79,5% dos enfermeiros acertaram apenas 60% das questões

referentes ao cuidado com os pés diabéticos e 4,6% não acertaram questão alguma.

Nesse estudo realizado em Belo Horizonte, quando se avalia os escores de acerto

por região, constata-se que os melhores resultados foram para a região centro sul,

onde 38% dos enfermeiros tiveram escores de acerto acima de 80%. No entanto,

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segundo dados do Distrito Sanitário Leste, essa região passou por treinamento

específico em cuidados para pés diabéticos pela Escola de Enfermagem da

Universidade Federal de Minas Gerais, mas os escores de acertos acima de 80% só

foram obtidos por 23% dos enfermeiros, escores menores quando observados os

resultados da região Pampulha e Venda Nova em que 30,8% dos enfermeiros

acertaram mais de 80% das questões cada uma.

Embora sem diferença estatística entre o percentual de acertos e a

titularidade do enfermeiro, observou-se maior percentual de acertos acima de 80%

para os enfermeiros com mestrado, seguido dos enfermeiros com especialização em

diversas áreas. Tal realidade pode ter relação com o fato de que muitas vezes o

aprendizado fica longe da realidade. Segundo Silva e Ferreira (2011), muitos

enfermeiros não trabalham com aquilo em que foram especializados.

No estudo realizado por Lucino e Freitas (2006), embora a maioria dos

enfermeiros tivesse especialização, observou-se que nenhum era especialista no

tratamento de feridas. Estes dados corroboram com os resultados da presente

pesquisa, pois 60% da amostra que tinha Curso de especialização ou mestrado

nenhum era na área de feridas.

A generalização das especializações em enfermagem mostra a diversidade

dos campos de especialização que o enfermeiro busca que, mesmo com enfoque de

especialista, tende a atender às diversas situações de agravos à saúde. Pode-se

observar que no âmbito da enfermagem, os cursos de especialização são opções do

enfermeiro, muitas vezes dissociados dos campos em que atuam.

Em muitos casos, o tempo de serviço pode contribuir para a capacitação do

enfermeiro. No presente estudo a média de tempo de formado foi de 13,2 anos e de

tempo de serviço na UBS foi de 9,4 anos. Embora não tenha ocorrido diferença

significativa entre o tempo de serviço e o escore de acertos, observou-se uma

tendência de que quanto maior o tempo de serviço, menor o número de acertos.

Esse dado pode sugerir falta de atualização ou até mesmo a acomodação às rotinas

antigas.

Entretanto, no estudo realizado na cidade de Salvador em 2006, das 15

enfermeiras que atendiam pacientes diabéticos, sete analisavam os pés dos

pacientes. Neste estudo observou-se que o tempo médio de serviço na instituição foi

de 9 a 25 anos (LUCINO, FREITAS, 2006).

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Segundo Khanolka et al. (2008), durante o exame físico o enfermeiro deve

pesquisar características físicas que demonstrem alterações estruturais nos pés,

como tônus muscular, integridade da pele e condições vasculares. Este tipo de

investigação pode mostrar indícios da presença de neuropatias e desgaste

muscular, presença e condição dos pulsos poplíteos e podais, existência de pé de

Charcot, pele ou unhas em más condições, presença de cicatrizes por úlceras ou

cirurgias prévias e insuficiência venosa.

É importante lembrar que o tratamento e prevenção das feridas têm sido cada

vez mais atribuídos como tarefa do profissional enfermeiro, embora por falta de

conhecimento ou por ausência de legislação própria, que falha em dispor

informações a respeito da atuação do enfermeiro no tratamento de feridas, muitos

profissionais não têm assumido o processo de cuidar e do cuidado com autonomia

(SANTOS et al., 2008).

A maioria das UBS de Belo Horizonte disponibilizava monofilamento para o

enfermeiro avaliar o pé do diabético, contudo não houve referência ao diapasão e ao

martelo de Buck. Verificou-se que as unidades careciam de materiais para avaliação

completa do pé do paciente e que materiais simples como o pino e palito também

não estavam disponíveis em algumas UBS. Quando o enfermeiro foi perguntado

sobre qual instrumento ele costumava utilizar para avaliar o pé dos pacientes

diabéticos a maioria respondeu utilizar o monofilamento e poucos citaram o uso de

diapasão e o martelo de Buck, entretanto, esses últimos instrumentos não estavam

disponíveis na unidade. Infere-se, portanto, que os instrumentos referidos

pertenciam aos profissionais. Constatou-se que alguns profissionais também não

utilizavam instrumento para avaliar os pés, o que sugere desconhecimento, falta de

rotina e falha importante na assistência ao paciente diabético quanto a prevenção de

complicações.

Segundo Santos et al. (2013), o enfermeiro tem autonomia para avaliar e

tratar o pé diabético, mas em grande parte, só tomam conhecimento disto por meio

de protocolos e rotinas estabelecidas nas próprias instituições. No presente estudo

identificou-se que a maioria dos enfermeiros afirmou não dispor de algum protocolo

na instituição para orientar quanto ao tratamento e os que citaram seguir um

protocolo, seguiam o disponibilizado pela PBH ou pelo MS ou outros protocolos. A

não utilização do protocolo da própria instituição sugere falta de padronização das

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rotinas e consequentemente o profissional adota a rotina que lhe é mais

conveniente.

Assim, segundo Comiotto e Martins (2006), o profissional enfermeiro é de

extrema importância na cadeia de educação do paciente diabético, pois além do

papel de cuidador, este deverá promover a educação em saúde, centrada em

atender as necessidades apresentadas pelo diabético, estimulando-o ao

autocuidado.

Portanto, deve-se entender o enfermeiro membro da equipe de saúde como

um elemento multiplicador de conhecimentos através da promoção de educação em

saúde, em pacientes diabéticos, contribuindo para o desenvolvimento de hábitos

saudáveis que visam maior segurança ao diabético e melhor aceitação da doença.

Esta consciência de sua condição promove mudanças no sentido da prevenção e

controle de agravos característicos da doença (VASCONCELOS et al., 2000).

Uma limitação desse trabalho foi o pequeno número de trabalhos na literatura

sobre avaliação do conhecimento dos enfermeiros. Observou-se uma vasta literatura

em relação ao conhecimento do paciente acerca de sua doença, mas restrita quanto

ao conhecimento do profissional enfermeiro.

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7. CONCLUSÃO

Diante destes achados, torna-se claro a necessidade de maior compromisso

dos profissionais e do próprio sistema de saúde quanto à educação continuada de

seus funcionários e o fornecimento de material adequado para o trabalho. Ampliação

de ações direcionadas aos cuidados com o diabetes e, especialmente, à prevenção

de lesões nos membros inferiores resultantes do mau controle da doença e de

práticas inadequadas no cuidados com os pés. Quanto às intervenções de baixa

complexidade, estas podem e devem contribuir, decisivamente, para a prevenção de

úlceras, minimizando a influência dos riscos, bem como o número de amputações. O

monitoramento das ações prestadas aos usuários detecta precocemente problemas

técnicos, além de realçarem resultados preventivos e econômicos para o usuário e

para a sociedade.

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ANEXO A

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ANEXO B

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ANEXO C

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APÊNDICE A

Pesquisador Responsável: Daniela de Freitas Pereira Endereço: Rua Caribé, 343 CEP: 33125-170 – Santa Luzia – MG Fone: (31) 9657-9639 E-mail: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PROCESSO COEP Nº

O Sr. (a) está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa “Conhecimento dos enfermeiros da atenção primária a respeito da prevenção e abordagem do pé diabético”. Neste estudo pretendemos investigar a assistência prestada pelo profissional enfermeiro na atenção primária de saúde no que concerne a medidas preventivas e assistência oferecida quanto ao pé diabético no município de Belo Horizonte.

O motivo que nos leva a estudar deve-se a falta de estudos de avaliação sobre as práticas e serviços de prevenção e controle deste quadro e a necessidade de se conhecer o panorama atualizado, e de se instituir medidas urgentes para combater a progressão da doença, de modo a assegurar, sobretudo à população mais exposta, uma condição digna de sobrevivência.

Para este estudo adotaremos os seguintes procedimentos: aplicação de questionário em profissionais enfermeiros atuantes em centros de saúde da rede municipal de Belo Horizonte/MG. Não existem riscos para os enfermeiros que vierem a participar da pesquisa. O benefício é subsidiar a construção de conhecimento para embasar a prática de enfermagem, a melhoria e a qualidade da assistência prestada, bem como equipamentos adequados e investimento na qualificação profissional.

Para participar deste estudo de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira. Você será esclarecido (a) sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido pelo pesquisador.

O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.

Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão.

O (A) Sr (a) não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.

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Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável e a outra será fornecida a você.

Caso haja danos decorrentes dos riscos previstos, o pesquisador assumirá a responsabilidade pelos mesmos.

Eu, ____________________________________________, portador do documento de Identidade ____________________ fui informado (a) dos objetivos do estudo “Conhecimento dos enfermeiros da atenção primária a respeito da prevenção e abordagem do pé diabético”, de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Belo Horizonte, _________ de __________________________ de 2013.

Nome Assinatura do Participante Data

Nome Assinatura do Pesquisador Data

Nome Assinatura da Testemunha Data

Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o

IEP – Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte Rua Domingos Vieira, 590- Telefone: (031) 3238-8838 Santa Efigênia- BH/MG - CEP 30.150-240 E-mail: [email protected]

Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte Rua Frederico Bracher, 103 - 3ºandar. Telefone: (031) 3277-5309 Padre Eustáquio – BH/MG.CEP: 30.720 -000 E-mail: [email protected]

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APÊNDICE B

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO

Código _____________________

Leia atentamente o enunciado das questões e responda somente uma alternativa nas questões fechadas, exceto na questão de número 11 (onze), 12 (doze) e 13 (treze) que você poderá responder mais de uma alternativa. Sexo ( ) 1- Feminino ( ) 2- Masculino Idade____________________________ Última titularidade _________________ Anos de Profissão: _________________ Tempo de trabalho em UBS:__________ 01) Com que freqüência você examina os pés dos pacientes diabéticos? ( ) 1- Todas as consultas ( ) 2- A cada 6(seis) meses ( ) 3- A cada ano ( ) 4- Não tenho o hábito de avaliar, a não ser que tenha ferida.

02) 2.1.Você já participou de algum curso ou treinamento específico sobre pé

diabético?

( ) 1- SIM ( ) 2- NÃO 2.2.Você utiliza algum protocolo de Classificação? ( ) 1- SIM ( ) 2- NÃO 2.3. Se sim qual?____________________________________________________ 03) O que você avalia no exame do pé do paciente diabético?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

04) Como você avalia o atendimento ao paciente diabético, relacionado a ações

preventivas de pé diabético nas Unidades Básicas de Saúde, justifique sua resposta:

( ) 1- Ótimo ( ) 2- Muito bom ( ) 3- Bom ( ) 4- Regular

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05) Como você avalia seu conhecimento a respeito das ações preventivas de pé diabético e assistência de enfermagem ao paciente com pé diabético nas Unidades Básicas de Saúde:

( ) 1- Ótimo ( ) 2- Muito bom ( ) 3- Bom ( ) 4- Regular 06) A distribuição da dor neuropática pode ser: ( ) 1- panturilha, pés e coxas. ( ) 2- dedos dos pés, pés, panturilhas e coxas. ( ) 3- dedos dos pés e mãos, pés e mãos, panturilhas, antebraços e coxas. ( ) 4- panturilha, dedos dos pés, pés e coxas. ( ) 5- Nenhumas das respostas. 07) Com relação à avaliação dos pés, podemos considerar: ( ) 1- O Teste da Sensibilidade Vibratória é feito com o Diapasão de 128 Hertz . ( ) 2- O Teste dos Reflexos Neurológicos usa o Martelo de Buck para testar os reflexos

Patelar e Aquileu. ( ) 3- O Teste da Sensibilidade Dolorosa é feito com um Pino ou Palito, colocado em

diferentes pontos no dorso do pé e região pré-tibial sem penetrar a pele. ( ) 4 - O Teste da Sensibilidade Térmica é feito com o Termostato ou com o Cabo do

diapasão colocados no dorso do pé; pode-se, ainda, usar um chumaço de algodão com álcool para passar sobre o dorso do pé.

( ) 5- Todas as respostas estão corretas.

08) É a principal situação responsável pelo aparecimento de úlceras no pé diabético: ( ) 1- vasculopatia ( ) 2- Neuropatia ( ) 3- Infecção ( ) 4- Microangiopatia ( ) 5- Todas as respostas estão corretas

09) A principal causa de úlceras nos pés de diabéticos é a neuropatia periférica

sensitivo-motora. Assinale a afirmativa CORRETA: ( ) 1- No diabetes, foi padronizado que um indivíduo é considerado como risco para úlcera

quando ele não percebe a pressão medida com o monofilamento Semmes-Weinstein de 12g.

( ) 2-Recomenda-se testar quatro áreas plantares: hálux (falange distal), primeiro, terceiro e quinto metatarsos.

( ) 3- O teste é considerado positivo se dois ou mais pontos apresentarem-se alterados. ( ) 4- As respostas 2 e 3 estão corretas ( ) 5- As respostas 1 e 3 estão corretas

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10) Considerando a classificação do risco de lesões no paciente diabético, é correto

afirmar que: ( ) 1- No paciente com neuropatia ausente a freqüência de avaliação do pé do paciente

diabético é uma vez por ano. ( ) 2- No paciente com neuropatia presente a freqüência de avaliação do pé do paciente

diabético é uma vez entre 3 a 6 meses. ( ) 3- No paciente com neuropatia presente, sinais de doença vascular periférica e/ou

deformidades nos pés a freqüência de avaliação do pé do paciente diabético é uma vez entre 2 a 3 meses.

( ) 4- No paciente com amputação ou úlcera prévia a freqüência de avaliação do pé do paciente diabético é uma vez entre 1 a 2 meses.

( ) 5- Todas as respostas estão corretas 11) No caso de chegar à Unidade Básica de Saúde paciente diabético com lesão no pé

qual a sua conduta (pode ser assinalado mais de uma resposta): ( ) 1- Avalio e acompanho na unidade ( ) 2- Encaminho sempre para o Centro de Pé diabético (PAM Padre Eustáquio) ( ) 3- Encaminho para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ( ) 4- Outros. Especifique___________________________________

12) Qual(is) instrumento(s ) para avaliação do pé do paciente diabético existe

disponível na sua unidade? ( ) Monofilamento ( ) Pino ou Palito ( ) Diapasão ( ) Chumaço de algodão com álcool ( ) Martelo de Buck ( ) Outro

_______________________________ 13) Qual(is) instrumento(s ) para avaliação do pé do paciente diabético você costuma

usar? ( ) Monofilamento ( ) Pino ou Palito ( ) Diapasão ( ) Chumaço de algodão com álcool ( ) Martelo de Buck ( ) Outro

_______________________________

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ARTIGO

Avaliação do conhecimento dos enfermeiros da atenção primária do município

de Belo Horizonte a respeito da prevenção e abordagem do pé diabético

Daniela de Freitas Pereira¹

O estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento dos enfermeiros da atenção primária de Belo Horizonte no que concerne a medidas preventivas e conhecer qual a assistência oferecida quanto ao pé diabético. Foi realizado em centros de saúde da rede municipal na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, nos meses de outubro a dezembro de 2013. A população de estudo constituiu-se de 117 enfermeiros assistenciais das equipes de saúde da família. Os dados foram obtidos por questionário. Os resultados apresentados descritivamente e analisados segundo a literatura pertinente, mostraram que a maioria dos enfermeiros tem conhecimento das ações preventivas e de assistência ao paciente diabético, entretanto os pés não são avaliados pela maioria (52,6%) a não ser que tenha feridas, falta de instrumentos na maioria das unidades e 53% dos enfermeiros não utilizam nenhum protocolo de classificação. Conclui-se que existe necessidade de maior compromisso dos profissionais e do próprio sistema de saúde quanto à educação continuada de seus funcionários e o fornecimento de material adequado para o trabalho. É necessário também ampliação de ações direcionadas aos cuidados com o diabetes e, especialmente, à prevenção de lesões nos membros inferiores resultantes do mau controle da doença e de práticas inadequadas no cuidados com os pés.

Descritor: Pé diabético; Prevenção; Enfermagem de Atenção Primária.

Key words: Diabetic foot; Prevention; Primary Care Nursing.

INTRODUÇÃO

O Brasil transformou-se consideravelmente nas últimas décadas, tanto por

fatores relacionados à globalização, quanto por circunstâncias e processos

históricos e culturais próprios. Considerando os determinantes e condicionantes do

processo saúde/doença e as mudanças geradas no modo de adoecer da população,

observa-se que as doenças crônicas se colocam como protagonistas, passando a

exigir um repensar e uma nova forma de cuidar (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).

Até o ano de 2020, possivelmente a principal causa de incapacidade serão as

doenças crônicas que representarão o maior sobrepeso para os sistemas de saúde

se não forem bem manejadas (OMS, 2002).

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O aumento da incidência global da DM teve como conseqüência o aumento

de suas complicações. Àquelas que afetam especificamente os pés estão entre as

mais sérias e temíveis. Não apenas devido ao impacto das amputações que

devastam a vida das pessoas, mas também por ser uma de suas complicações mais

onerosas. (GRUPO DE TRABALHO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO,

2001; OLEFSKY, 2000).

Segundo Santos (2008), o pé diabético é uma das mais importantes e mais

dispendiosas complicações do diabetes, sendo importante causa de amputações de

membros inferiores e conseqüente incapacidade, invalidez e morte evitável,

sinalizando a falta de assistência e de cuidado à saúde.

Ochoa-Vigo e Pace (2005) reforçam que equipe da assistência primária deve

conscientizar-se das necessidades e riscos a que estão sujeitas as pessoas com

diabetes, principalmente aquelas em que a doença tem longa duração e os idosos e

a avaliação da sensibilidade periférica deve fazer parte da rotina do exame físico das

pessoas com diabetes, oportunidade em que o profissional deve descalçar o

paciente para examinar seus pés à procura de sinais e sintomas precoces, por ser

esta uma estratégia fundamental, embora ainda ela não faça parte da rotina da

maioria dos serviços de saúde, apesar das recomendações internacionais.

Pela necessidade de se conhecer a realidade do cuidado prestado pelo

enfermeiro em Belo Horizonte, os recursos disponíveis nas unidades e também de

se instituir medidas urgentes para combater a progressão da doença, de modo a

assegurar, sobretudo à população mais exposta, uma condição digna de

sobrevivência, decidiu-se realizar este estudo.

Acredita-se que o estudo é importante no sentido de que conhecer sobre a

atuação do enfermeiro favoreça a reflexão sobre como melhorar os cuidados

preventivos e a assistência junto a esta clientela. Pretende-se contribuir para

melhoria da qualidade da assistência, o crescimento do conhecimento na área de

enfermagem e favorecer amelhoria do atendimento para o paciente.

O presente estudo teve como objetivo investigar o conhecimento dos

enfermeiros da atenção primária de Belo Horizonte no que concerne a medidas

preventivas e conhecer qual a assistência oferecida quanto ao pé diabético.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de estudo observacional, transversal, aberto e pragmático. Quando o

pesquisador opta pelo estudo descritivo, ele busca informações precisas sobre as

características dos sujeitos de pesquisa, grupos, instituições ou situações, ou sobre

a freqüência da ocorrência de um fenômeno (LOBIONDO-HOOD; HABER , 2001).

O estudo foi desenvolvido em centros de saúde do município de Belo

Horizonte, Minas Gerais. A população do estudo foi formada por 117 enfermeiros

que atuam no atendimento e cuidado do paciente diabético e portador do pé

diabético junto às equipes de saúde da família, cujas características atenderam aos

objetivos propostos.

Os dados foram coletados nos meses de outubro a dezembro de 2013.

Quanto aos aspectos éticos legais em pesquisa com seres humanos, foram

seguidas as recomendações da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde. Inicialmente, o projeto de pesquisa foi submetido à comissão de ética do

Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte e

da prefeitura de Belo Horizonte, para avaliação e autorização. Posteriormente,

iniciou-se visita às gerencias dos distritos sanitários responsáveis pelos centros de

saúde; Após essa visita foi realizado contatos com as gerências dos centros de

saúde solicitando a participação das enfermeiras, mediante assinatura no Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Os centros de saúde que participaram da

pesquisa foram escolhidos aleatoriamente através de sorteio.

O instrumento foi aplicado após contato prévio com as gerentes e

agendamento com as (os) enfermeiras (os) e o investigador aguardou na unidade

até o término do preenchimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Constatou-se que entre os 117 enfermeiros investigados houve maior

frequência dos profissionais são do sexo feminino (88,9%). Com relação à

experiência profissional uma média de 13,21 ±10,10 anos e de 9,39 ± 8,12 anos de

trabalho nas Unidades Básicas de Saúde.

Grande parte da amostra era forma por especialistas (41,0%) e mestres

(2,6%), e 40,2% possuíam somente graduação em enfermagem. Foram também

referidas especializações em enfermagem em saúde pública, nefrologia,

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enfermagem do trabalho, terapia intensiva e urgência e emergência. A generalização

das especializações em enfermagem mostra a diversidade das áreas de

especialização, opções muitas vezes dissociadas dos campos em que atuam

(LUCINO; FREITAS, 2006).

Quanto à freqüência com que os enfermeiros examinavam os pés dos

pacientes diabéticos, verificou-se que 52,6% não examinam os pés dos pacientes

diabéticos, a não ser que o paciente tenha ferida, 18,4% referem examinar os pés a

cada ano, 12,3% relatam examinar a cada seis meses e 16,2% examinam a cada

consulta.

Quanto ao percentual de enfermeiros que acertaram as questões propostas

para medir o conhecimento acerca dos cuidados com os pés de pacientes

diabéticos. Observa-se que somente 20,5% dos profissionais acertaram mais de

80% das questões e que 4,3% dos profissionais não acertaram nenhuma questão.

Verificou-se também que 35,9% dos profissionais acertaram 60% das questões e

que 25,6% dos profissionais acertaram 40% das questões propostas.

O enfermeiro é um dos membros da equipe de saúde com papel importante

como um elemento multiplicador de conhecimentos através da promoção de

educação em saúde, em pacientes diabéticos, contribuindo para o desenvolvimento

de hábitos saudáveis que visam maior segurança ao diabético e melhor aceitação da

doença. Esta consciência de sua condição promove mudanças no sentido da

prevenção e controle de agravos característicos da doença (VASCONCELOS et al.,

2000).

Constatou-se que a maioria dos enfermeiros (42,7 %) informou ter disponível

na unidade monofilamento e chumaço de algodão com álcool para avaliar o pé

diabético, seguidos de 35,9% que referem ter disponível somente o monofilamento e

12% referem ter disponível na unidade monofilamento, pino ou palito e chumaço de

algodão com álcool. Não houve referência ao uso do diapasão e martelo de Buck.

No estudo de Santos (2013) no que diz respeito às variáveis relacionadas à

atenção básica, os resultados aqui encontrados mostraram associação entre a

ocorrência de amputações e o número de 1 a 3 consultas realizadas no último ano,

tanto pela análise qualitativa quanto quantitativa. Observou-se ainda que 61,3% e

55,4% dos pacientes submetidos à amputação relatavam não ter os pés examinados

e não receber orientação sobre o cuidado com estes, respectivamente, nas

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consultas realizadas no último ano. Estas variáveis mostraram-se associadas à

ocorrência de amputações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos achados, torna-se claro a necessidade de maior compromisso dos

profissionais e do próprio sistema de saúde quanto à educação continuada de seus

funcionários e o fornecimento de material adequado para o trabalho. Ampliação de

ações direcionadas aos cuidados com o diabetes e, especialmente, à prevenção de

lesões nos membros inferiores resultantes do mau controle da doença e de práticas

inadequadas no cuidados com os pés. Quanto às intervenções de baixa

complexidade, estas podem e devem contribuir, decisivamente, para a prevenção de

úlceras, minimizando a influência dos riscos, bem como o número de amputações O

monitoramento das ações prestadas aos usuários detecta precocemente problemas

técnicos, além de realçarem resultados preventivos e econômicos para o usuário e

para a sociedade.

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