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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES CURSO DE ESTADO-MAIOR CONJUNTO 2007/2008 TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO INDIVIDUAL REFORMA DO SECTOR DE SEGURANÇA EM MOÇAMBIQUE: NUMA PERSPECTIVA AFRICANA VIEIRA MACOMBO MAJOR

INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES · Segurança do Estado . 2.3. Segurança Humana ... Qual é o impacto das Reformas do Sector de Segurança em Moçambique? ... noroeste

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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

CURSO DE ESTADO-MAIOR CONJUNTO

2007/2008

TRABALHO DE INVESTIGAO INDIVIDUAL

REFORMA DO SECTOR DE SEGURANA EM MOAMBIQUE: NUMA

PERSPECTIVA AFRICANA

VIEIRA MACOMBO MAJOR

IESM CEMC 2007/08

ndice INTRODUO

RELEVNCIA DO TEMA

DELIMITAO DO ESTUDO

OBJECTIVO DO TRABALHO

CAPTULO I 1. Contextualizao Geo-histrica de Moambique.

1.1. Localizao Geogrfica de Moambique

1.2. Contexto histrico

1.3. Conflito ps-independncia

1.4. O Processo de Paz

CAPTULO II 2. CONCEITUALIZAO DA SEGURANA

2.1. Conceito de segurana

2.2. Segurana do Estado

2.3. Segurana Humana

CAPTULO III 3. REFORMA DO SECTOR DE SEGURANA EM MOAMBIQUE 3.1. Reforma em Moambique

3.2. Reforma no sector de segurana

3.3. Reforma no sector de Justia

3.4. Reforma no sector de Sade

CAPTULO IV 4. OUTRAS AMEAAS E PRIORIDADES 4.1. Catstrofes naturais

4.2. Medidas na rea poltica Institucional

4.3. Principais Sectores Intervenientes

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CONCLUSES

BIBLIOGRAFIA

1- Legislao Moambicana

2- Manual do Seminrio de Lderes de Alto Nvel de 2007- Addis-Abeba.

Etipia.

3- Programa de Reforma do Sector Pblico Autoridade da Funo

Pblica.

4- Avaliao da vulnerabilidade, as mudanas climticas e estratgias.

adaptao.

5- Directiva do Ministrio Para Coordenao e Aco Ambiental.

6- Ancia A. Lal.

7- Estratgia e Segurana na frica.

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INTRODUO

O continente africano considerado at hoje como um continente pobre.

Esta pobreza resulta da falta de capacidade em explorar os seus recursos para

o benefcio do seu povo. Durante o sculo XV os pases europeus desafiaram

as adversidades dos oceanos para chegar ao continente africano. A presena

dos europeus em frica trouxe novos desafios para o continente. O pretexto da

abertura do caminho martimo para a ndia teve como consequncia a fixao

das potncias europeias na regio da Africa Austral.

A resistncia africana foi notria em vrias frentes, mas a fraqueza dos

seus lderes permitiu que a frica fosse ocupada, como fonte de obteno do

ouro e marfim por um lado, e, por outro como fonte de escravos. A formao de

Estado-nao e a definio das actuais fronteiras no ocidente europeu,

resultantes da revoluo francesa, bem como as independncias das colnias

da Amrica culminou com a abolio da escravatura.

Depois das duas guerras mundiais, alguns pases africanos conseguiram

as suas independncias de uma forma negocial. Os outros pases tiveram que

desafiar exrcitos bem preparados e equipados para alcanarem as suas

independncias. Neste perodo no se podia falar de segurana, pois em

tempo de guerra muitos aspectos relativos a segurana so ignorados.

Terminados os conflitos alguns pases experimentaram o desenvolvimento

econmico, num perodo em que a sociedade vivia um conflito entre duas

potncias a chamada guerra-fria. A descolonizao da frica Austral terminou

com o fim do Apartheid e a independncia da Nambia. Embora o isolamento

da frica do Sul, com a criao da SADC, fosse de natureza econmica,

acredita-se que foi a primeira preocupao da segurana na regio.

As reformas administrativas visam atingir um equilbrio na mudana

institucional. A reforma do sector de segurana na Africa Austral passa

necessariamente pela introduo da cultura de boa governao, e a

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consolidao dos princpios democrticos (princpios da legalidade, da

separao dos poderes e o respeito dos direitos do homem). Para responder

s preocupaes da regio no que diz respeito a reforma do sector pblico em

geral, o governo moambicano criou, recentemente o Ministrio da Funo

Pblica, organismo que tem a responsabilidade de dirigir as reformas de toda a

Administrao Pblica.

Relevncia do tema

As actuais organizaes burocrticas so obrigadas a realizar reformas

administrativas, como polticas pblicas com objectivo de responder as

exigncias e necessidades dos cidados. Aps a guerra civil, o pas hoje est

virado no combate as ameaas que possam vir criar transtornos para o

desenvolvimento socio-econmico do pas, no contexto de reconstruo de

vrias infra-estruturas, nomeadamente: escolas, estradas, ampliao da rede

de energia elctrica, gua, comunicao social desenvolvimento da actividade

agrria como base de sobrevivncia do povo Moambicano. A nossa

abordagem cingir-se- actual poltica de reforma do sector pblico, pois

vista como uma alavanca para o desenvolvimento do pas.

Delimitao do Estudo

O nosso tema reforma no sector de segurana em Moambique ter, em

primeiro lugar, uma abordagem geral das reformas que esto em curso no pas

e, em segundo lugar, pretendemos dar maior enfoque ao sector de segurana

que apresenta algumas dificuldades estruturais. Na primeira abordagem

faremos uma breve localizao geogrfica de Moambique, dando, em

seguida, um panorama histrico, para depois trazer os aspectos conceptuais

do tema. Na segunda traremos a actual situao, isto , as reformas em curso,

para finalmente analisar aquilo que est sendo feito no sector de segurana.

Apercebendo que alguns fenmenos merecem uma maior ateno por parte do

governo traremos tambm os aspectos transversais.

1. Objectivo da Investigao

Perante o tema proposto, A Reforma no sector de Segurana em

Moambique, consideramos importante analisar o conceito de RSS em frica e

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a viabilidade da sua aplicao em Moambique e identificar a sua utilidade para

a identificao dos principais obstculos, Segurana em frica e para a

elaborao de Estratgias para os ultrapassar.

Para o efeito elegemos a seguinte pergunta de Partida.

Qual o impacto das Reformas do Sector de Segurana em

Moambique?

Q D-1: Qual o impacto do contexto geo-histrico de Moambique no

processo da RSS?

H-1 O contexto geo-histrico Moambicano influenciou significativamente

a debilitao das estruturas da nao no perodo da descolonizao e da

guerra-fria.

H-2 O conflito armado e as e as lutas de interesses interno e externo

relacionados com os recursos Moambicanos, potenciaram as ameaas

segurana Estatal e humana.

H-.3 A boa gesto dos recursos naturais, o processo da democratizao e

a gradual integrao de Moambique no processo de globalizao tem

reduzido as ameaas segurana.

Q D 2: qual o impacto do largamento do conceito de segurana e

adaptao de medidas no quadro da RSS em frica e, particularmente na

frica Austral?

H-1 O reconhecimento da importncia da segurana humana tem

influenciado as polticas e estratgias africanas em especial na U.A. nas

organizaes sub-regionais africanas, mas tambm nos Estados.

H-.2 A RSS representa um quadro no mbito do qual as organizaes

regionais, sub-regional africanas tm desenvolvido as suas aces de apoio ao

esforo dos Estados onde a maioria destes tem inserido as suas polticas e

apoios da comunidade internacional.

QD3-Qual o impacto do processo de RSS em Moambique?

H-1 A RSS no um processo explicitamente assumido pelo governo

Moambicano mas as medidas por estes adoptados enquadram-se nela de

forma significativa designadamente o plano de reconstruo Nacional de

combate pobreza e o apoio do NEPAD.

H-2 Moambique define as ameaas nacionais tendo em conta tambm

as ameaas a segurana humana.

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H-3 Qual o impacto da RSS na definio das ameaas e no estabelecimento de medidas sectoriais e sua priorizao?

CAPTULO I

1. Contextualizao Geo - histrico de Moambique

Localizao Geogrfica de Moambique

Moambique est situado na costa sudoeste de frica, ocupando uma

superfcie de 783.080 Km2, fazendo fronteira a norte com a Tanznia, a

noroeste com o Malawi e a Zmbia, a oeste com o Zimbabwe e com a

Repblica da frica do Sul e a sul tambm com este pas e com a Suazilndia.

O territrio tem um litoral de 2.470 km, sendo as costas geralmente

baixas, apresentando grandes baas. As principais cidades moambicanas so

Maputo, capital e sede do Governo, com cerca de 1 milho de habitantes, Beira

(425 mil habitantes), Nampula (325 mil habitantes).

No que diz respeito ao relevo do territrio moambicano, cerca de 44% do

territrio constitudo por plancies, enquanto que os planaltos correspondem a

cerca de 43% da superfcie do pas. Os restantes 13% constituem as zonas

montanhosas, com uma altitude superior a 1.000 metros. Os pontos de maior

altitude registam-se nas regies contguas ao Zimbabwe (Monte Iniangani,

2.596 metros), Zmbia e Malawi.

No que diz respeito fertilidade, predominam na regio norte os solos de

fertilidade mdia e no sul os solos arenosos de baixa fertilidade, intercalados

com plancies de aluvial altamente frteis. Relativamente vegetao,

destacam-se essencialmente trs espcies: a floresta densa, a floresta aberta e

a savana, enquanto que em zonas restritas aparece o mangal. Contudo,

predomina a savana em grande parte do territrio moambicano.

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A rede hidrogrfica, salvo algumas excepes, pertence vertente do

Oceano ndico.

Moambique conta com mais de 100 bacias hidrogrficas, cerca de 1.300

lagos e 10 barragens, com capacidade de armazenamento de 430.000 m3 de

gua.

Relativamente ao clima, este apresenta-se diferenciado, sendo tropical no

Norte, com influncia da mono de Vero e com duas estaes distintas: o

Inverno, estao seca e fria e o Vero, estao quente e hmida com chuvas

que se prolongam de Outubro a Maro.

As chuvas diminuem da costa para o interior, mas as zonas montanhosas

chegam a alcanar os 2.000 mm. Todavia, em quase todo o seu espao

territorial, Moambique goza de um clima favorvel, terra frtil e chuvas

adequadas, exceptuando a regio sul que sofre de secas cclicas.

1.2. Contexto histrico. A histria de Moambique encontra-se documentada pelo menos a partir

do sculo X, quando um estudioso viajante rabe, AL-Masudi, descreveu uma

importante actividade comercial entre as naes da regio do Golfo Prsico e

os Zanj da Bilad as Sofala, que inclua grande parte da costa norte e centro

do actual Moambique.

No entanto, vrios achados arqueolgicos permitem caracterizar a pr -

histria de Moambique (antes da escrita) por muitos sculos antes.

Provavelmente o evento mais importante dessa pr-histria foi a fixao nesta

regio dos povos bantus que, no s eram agricultores, mas introduziram aqui

a metalurgia do ferro, entre os sculos I a IV.

Entre os sculos X e XIX existiram no territrio que actualmente

Moambique vrios estados bntus, o mais conhecido dos quais foi o imprio

dos Mwenemutapas (ou Monomotapa).

A penetrao Portuguesa em Moambique, iniciada no incio do sculo

XV, s em 1885- com a partilha de frica pelas potencias europeias durante a

conferencia de Berlim se transformou numa ocupao militar, ou seja, na

submisso total dos estados ali existentes, que levou, nos incios do sculo XX,

a uma verdadeira administrao.

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Depois de uma guerra de libertao que durou cerca de 10 anos,

Moambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, na sequncia

da Revoluo dos Cravos, a seguir qual o governo Portugus assinou com a

Frelimo os acordos de Lusaka.

A Frente de Libertao de Moambique FRELIMO, um grupo

nacionalista criado em 1962 com o objectivo de tornar Moambique

independente do colonialismo portugus. Com a conquista da Independncia,

Moambique tornou-se numa Repblica mono partidria, com a Frelimo

instituda como partido no poder e o seu Presidente Samora Machel, como o

detentor do Poder Executivo.

Em 1977, a Frelimo adoptou oficialmente a doutrina marxista-leninista

como base ideolgica, opo que viria a abandonar mais tarde, em 1980. A

partir de finais dos anos 80, passou a privilegiar a promoo da economia de

mercado.

A Resistncia Nacional Moambicana Renamo, surgiu como movimento

rebelde em 1976, com sede na ento Rodsia (Zimbabwe), tendo sido fundada

por um grupo de descontentes. Com a morte de Andr Matsangaissa, em 1979,

Afonso Dhlakama assumiu a liderana do movimento, que atingiu nos anos 80

nmeros apontados para os 20 mil homens.

Samora Machel, o primeiro Presidente de Moambique, destacou-se logo

nos primeiros anos da independncia pela sua perspiccia, capacidade de

liderana escala regional e maturidade poltica e pragmatismo. Moambique

foi aceite na famlia do Banco Mundial (BIRD) e do Fundo Monetrio

Internacional (FMI) em 1984.

A sua obra ficaria no entanto incompleta, com a interrupo abrupta e

violenta da sua vida. A 19 de Outubro de 1986, em circunstncias por

esclarecer, caiu o avio em que seguia o Presidente. Joaquim Alberto

Chissano, outro histrico da Frelimo, passa a ser o lder do Partido Frelimo e

Chefe do Estado Moambicano.

Em 1990, a nova Constituio consubstanciava a abertura econmica,

consagrada na enumerao dos diversos tipos de propriedade e na defesa da

iniciativa individual e dos direitos dos trabalhadores, e a abertura poltica, com

a instituio de uma democracia poltica de que so reflexo as liberdades

fundamentais e a institucionalizao de eleies livres e directas para os

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mais importantes rgos de Soberania.

O sistema de partido nico foi oficialmente abandonado em Agosto de

1990 e, em Dezembro desse ano, foi acordado um cessar-fogo parcial entre o

Governo e a Renamo. Foi a base para que, em 1991, se iniciassem as

conversaes de Paz em Roma, que conduziram em Agosto de 1992, a que o

Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama assinassem em Roma um

decisivo e

celebrado Acordo de Paz, pondo termo a 16 anos de guerra civil.

A nvel poltico, verificou-se uma alterao cvica notvel, quanto ao

discurso que passou de belicista, para um discurso reconciliatrio.

Quatro meses depois, em Novembro de 1994, tiveram lugar as primeiras

eleies parlamentares e presidenciais multipartidrias. As duas formaes

concorrentes ao processo eleitoral eram sem dvida a Frelimo e a Renamo,

apesar de em vsperas eleitorais se terem criado vrios partidos pressa, que

viriam a ser recuperados pela Renamo para formar uma Unio Eleitoral.

A Frelimo conseguiu uma superioridade, elegendo 133 postos

parlamentares contra os 117 da Renamo-Unio Eleitoral e Joaquim Chissano

venceu as presidenciais com 53,3% dos votos.

Sanados os problemas, dava-se incio a uma nova era para Moambique,

com a formao de um novo Governo, que iria enfrentar uma grave crise

econmica e uma ameaa de fome generalizada, ainda resqucios da

prolongada guerra civil.

De igual modo, Chissano elegeu promover a paz e a reconciliao

nacional, bem como a reconstruo do pas e a criao de novas infra-

estruturas. Ampliou as reformas econmicas, tornou o pas atractivo para o

investimento estrangeiro e lanou bases consideradas realistas para o

desenvolvimento de Moambique.

Conflito ps independncia As razes do conflito em Moambique so internas e externas. As causas

internas esto relacionadas com o processo de formao de estado e nao

num contexto complexo de pluralismo tnico e religioso, um legado colonial e

as polticas da ps-independncia. As causas externas esto relacionadas com

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o conflito da Guerra-fria, a nvel mundial e, regionalmente, com o papel da

destabilizao da anterior Rodsia e da frica do Sul.

Nos anos seguintes independncia, a Frelimo tenta implementar as suas

polticas marxistas-leninistas suscitando descontentamentos significativos entre

os moambicanos, especialmente nas reas rurais. Exemplos de tais polticas

so a criao de campos de reeducao, a imposio do patriarcado nas

regras familiares, a concentrao de produo em fazendas do estado e a

ilegitimizao oficial de autoridades tradicionais e religiosas. Estas tentativas

genunas para criar uma sociedade moderna geraram descontentamento

interno e eventualmente resistncias.

O governo da Frelimo tambm perturbou os regimes minoritrios brancos

na Rodsia e na frica do Sul. Moambique apoiou e albergou os combatentes

da guerrilha zimbabueana e os servios secretos da Rodsia retaliaram

organizando, treinando e armando um movimento de guerrilha em

Moambique, composto por antigos soldados moambicanos que serviram no

exrcito portugus, fugitivos dos campos de reeducao e ex-membros da

Frelimo que discordavam da ideologia marxista-leninista do movimento. Tal era

a gnese da Resistncia Nacional de Moambique (Renamo) que comeou a

operar nas provncias centrais de Manica e Sofala.

Em 1980, quando a Rodsia se transformou no Zimbabu independente,

a Africa do Sul assumiu o apoio Renamo e continuou a faz-lo at depois da

assinatura do Pacto de No-Agresso de Nkomati entre Moambique e a frica

do Sul em 1986.

A estratgia de guerra da Renamo era destruir ou minar tudo o que

poderia ser entendido como um esforo governamental para providenciar

produtos e servios para a populao. Isso incluiu a destruio de escolas,

hospitais, estradas, linhas de electricidade e de telefone, etc. A violncia da

Renamo no se limitou apenas s infra-estruturas. Foram cometidas

atrocidades contra pessoas: assassinatos, incendiamento de casas, raptos,

tortura. Por outro lado, a Renamo tambm conseguiu ganhar uma certa

legitimidade atravs da reinstalao de autoridades tradicionais e religiosas em

reas sob o seu controlo.

O exrcito moambicano no pde evitar que a insurreio da Renamo se

alastrasse em direco ao norte (Tete, Zambzia e partes da provncia de

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Nampula) e em direco ao Sul (Gaza, Inhambane e Maputo). A medida que a

guerra chegou num impasse e a situao econmica se ia deteriorando, o

exrcito oficial tambm se tornou mais agressivo, fazendo-se valer de

violncias arbitrrias contra civis, fossem estes suspeitos ou no de colaborar

com a Renamo.

A guerra civil entre a Renamo e a Frelimo tornou-se mais sangrenta entre

1984 e 1986. No mesmo perodo, algumas mudanas auspiciosas comeavam

a formar a base que conduziria aos alicerces para a paz. Em 1984,

Moambique adere ao Banco Mundial e ao FMI e anuncia uma mudana

dramtica na sua poltica econmica. Em 1986, a morte sbita do Presidente

Samora Machel

trouxe o menos carismtico mas mais diplomtico e pragmtico Joaquim

Chissano ao poder. Em 1989, no momento simblico do fim da Guerra-fria e

das suas guerras satlites nos pases em desenvolvimento, a Frelimo rejeita o

marxismo-leninismo formalmente. Por ltimo, mas no menos importante, o

regime de apartheid da frica do Sul comeava a estar mais orientada para as

suas transies polticas internas, abandonando assim o seu apoio aos grupos

da oposio armados na regio.

1.4. O Processo de Paz

As negociaes de paz intermediadas pela Igreja Catlica iniciaram-se em

1988. Em 1989, o presidente Mugabe do Zimbabu e o presidente Moi do

Qunia promoveram conversaes entre os lderes da Igreja e da Renamo em

Nairobi, da resultando as condies delineadas para a intensificao do

dilogo, comeando assim o longo caminho para a paz e a vontade manifesta

de pr fim a guerra.

Em Julho de 1990, a Comunidade Catlica de Santo Egdio foi aceite por

ambas as partes, como mediadora e as negociaes formais comearam em

Roma. As conversaes eram marcadas por uma constante tenso entre o

desejo pela paz e a desconfiana mtua. A agenda para as negociaes de

paz foi acordada em Maio de 1991 e consistiu em seis tpicos: a lei dos

partidos polticos, o sistema eleitoral, assuntos militares, garantias para a

Renamo, o cessar-fogo e uma conferncia de doadores.

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Gradualmente foi-se alcanando o consenso em cada um dos tpicos e a

4 de Outubro de 1992, em Roma, foi assinado o Acordo Geral de Paz (AGP).

O AGP resultou na criao duma operao especial da ONU em

Moambique, a ONUMOZ, para supervisionar a implementao do acordo de

paz. A operao concentrou-se principalmente na desmobilizao de tropas da

Renamo, na formao de um novo exrcito unificado e na preparao das

primeiras eleies multipartidrias. De acordo com o AGP, tais eleies teriam

de ser realizadas no espao de um ano desde a sua assinatura, mas isto no

aconteceu. Foi necessrio mais tempo para se adoptar uma lei eleitoral

consensual, criar estruturas eleitorais e recensear os eleitores. As primeiras

eleies multipartidrias, levadas a cabo em Outubro de 1994, so geralmente

consideradas como o ponto alto do processo de paz. Os moambicanos

participaram maciamente, no houve nenhum incidente notvel, o processo foi

tecnicamente satisfatrio e o partido derrotado, a Renamo, aceitou os

resultados.

CAPTULO II

2. CONCEPTUALIZAO DA SEGURANA Conceito de segurana. Segurana uma condio relativa de proteco na qual se capaz de

neutralizar ameaas discernveis contra a existncia de algum ou de alguma

coisa. Em termos organizacionais, segurana obtida atravs de padres e

medidas de proteco para conjuntos definidos de informaes, sistemas,

instalaes, comunicaes, pessoal, equipamentos ou operaes. As medidas

de proteco devem guardar certa proporcionalidade em relao s ameaas

percebidas contra a existncia, efectividade e autonomia de quem - ou do que -

est sendo protegido.

As foras de segurana buscam aprimorar-se a cada dia e atingir nveis

que alcancem a expectativa da sociedade como um todo, imbudos pelo

respeito e defesa dos direitos fundamentais do cidado e, sob esta ptica,

compete ao Estado garantir a segurana de pessoas e bens na totalidade do

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territrio, a defesa dos interesse nacionais, o respeito pelas leis e a

manuteno da paz e ordem pblica.

Paralelamente s garantias que competem ao Estado, o conceito de

segurana pblica amplo, no se limitando poltica do combate

criminalidade e nem se restringindo actividade policial.

A segurana pblica enquanto actividade desenvolvida pelo Estado

responsvel por empreender aces de represso e oferecer estmulos activos

para que os cidados possam conviver, trabalhar, produzir e divertir-se,

protegendo-os dos riscos a que esto expostos.

As instituies responsveis por essa actividade actuam no sentido de

inibir, neutralizar ou reprimir a pratica de actos socialmente reprovveis,

assegurando a proteco colectiva, dos bens e servios.

Norteiam esse conceito os princpios da Dignidade Humana, da

Interdisciplinaridade, da Imparcialidade, da Participao comunitria, da

Legalidade, da Moralidade, do Profissionalismo do Pluralismo Organizacional,

da Descentralizao Estrutural e Separao de Poderes, da Flexibilidade

Estratgica, do Uso limitado da fora, da Transparncia e da Responsabilidade.

2.2. Segurana do Estado. Por segurana de Estado, entende-se aqui uma condio relativa de

proteco colectiva e individual dos membros de uma sociedade contra

ameaas plausveis sua sobrevivncia e autonomia. Nesse sentido, o termo

refere-se a uma dimenso vital da existncia no contexto moderno de

sociedades complexas, delimitadas por estados nacionais de base territorial. No limite, estar seguro nesse contexto significa viver num estado que capaz

de neutralizar ameaas vitais atravs da negociao, da obteno de

informaes sobre capacidades e intenes, do uso de medidas extraordinrias

e do leque de opes relativas ao emprego de meios de fora. A dupla face

dessas ameaas, interna e externa, implica algum grau de complementaridade

e de integrao entre as polticas externa, de defesa e de provimento da ordem

pblica. A segurana nacional, como uma condio relativamente desejvel a ser obtida atravs dessas polticas pblicas, fornece a principal justificativa

para o exerccio da soberania e o monoplio estatal do uso legtimo de meios

de fora.

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A grande maioria dos ordenamentos constitucionais contemporneos

reconhece a agresso militar, espionagem, operaes encobertas, invaso

territorial e o bloqueio econmico como ameaas externas plausveis, capazes

de engendrar respostas dissuasrias proporcionais por parte dos estados

ameaados. Ameaas internas seriam, caracteristicamente, os apoios internos

quelas ameaas externas, acrescidas da problemtica noo de "subverso"

(uso sistemtico da violncia para forar mudanas sociais, polticas e legais).

Nas ltimas dcadas, foi acrescentada uma nova categoria de ameaas

transnacionais, como o crime organizado, o narcotrfico e o terrorismo.

Este novo conceito de segurana, caracterstico do perodo ps-guerra-

fria, provocou uma alterao na relao entre segurana e desenvolvimento.

Exige uma adaptao daqueles que eram os tradicionais instrumentos de

respostas aos riscos e ameaas, nomeadamente no mbito da Segurana e

Defesa. Transformou as tradicionais misses de guerra em misses de paz.

Estas novas misses desempenhadas pelas Foras armadas, as misses de

paz, tornam-se indispensveis, no s para conteno de catstrofes

humanitrias, mas tambm onde falhou o Estado e produo de estabilidade.

Porque sem Estado nenhuma sociedade pode ter segurana. E sem segurana

no pode haver desenvolvimento sustentado. Trata-se, parece-me de realizar

justamente o movimento contrrio, de trazer os temas de segurana, defesa,

informaes e policiamento para a agenda regular dos debates polticos sobre

polticas pblicas. Certamente h restries para isso, especialmente aquelas relacionadas ao segredo governamental, mas no h motivo para se pensar

que tais temas sejam dotados de qualquer tipo de sacralidade que impea a

pesquisa terica ou emprica nessa rea importante de actuao do estado.

justamente para reduzir a incerteza e aumentar a capacidade de

preservar a segurana nacional que existem as foras armadas, polcias e

servios de informaes. Tais organizaes so parte do necessrio esforo

governamental para a soluo de problemas de segurana, mas, na medida

em que a prpria busca de segurana problemtica, tais organizaes de

fora e informaes so tambm parte do problema. Por isso a segurana um

tema complexo, que teima em persistir a despeito da retrica liberal em torno

da globalizao.

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2.3. Segurana Humana O conceito de segurana humana foi apresentado pela primeira vez em

um relatrio do PNUD de 1994, embora as bases para sua formulao

estivessem h muito presentes no mbito das Naes Unidas. A Carta da

ONU, alm de diversos documentos posteriores, menciona a soberania

nacional como princpio norteador do sistema internacional, bem como a

defesa universal dos direitos humanos a despeito das fronteiras. Em outras

palavras, desde a sua origem as Naes Unidas reconhecem duas linhas de

valores absolutos que o sistema internacional deve proteger: a soberania

nacional e os direitos humanos individuais.

Actualmente, a defesa do conceito de segurana humana se baseia em

particular na nova constelao internacional de actores polticos, posterior

Guerra Fria em boa parte pelo facto de que hoje a insegurana fsica

causada mais por conflitos armados internos do que por guerras entre pases.

Tais conflitos podem ser guerras civis ou disputas mais indefinidas entre

quadrilhas armadas ou grupos terroristas, s vezes com apoio directo ou

indirecto de Estados pouco comprometidos com os direitos humanos.

O conceito de segurana humana inovador em sua nfase no

cumprimento das leis de defesa dos direitos humanos individuais. Considera-se

esta a principal tarefa da ordem internacional, mesmo contra a vontade dos

Estados, mencionados como uma das principais fontes de insegurana

individual.

Todavia, como veremos, apesar de estar centrada nos indivduos, a

segurana humana no pode ser dissociada dos quadros institucionais, em

especial dos Estados sob os quais os direitos humanos so (ou no)

implementados.

Garantir a segurana humana significa proteger as liberdades vitais.

Significa proteger as pessoas expostas a ameaas ou situaes crticas,

desenvolvendo os seus pontos fortes e procurando realizar as suas aspiraes.

Significa tambm criar sistemas que proporcionem s pessoas os elementos

bsicos de sobrevivncia, dignidade e meios de subsistncia. A segurana

humana liga diferentes tipos de liberdades: a liberdade de viver sem

necessidades nem medo e a liberdade de agir em prol dos seus interesses

pessoais. Para esse fim, a segurana humana prope duas estratgias gerais:

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a proteco e a autonomizao. A proteco defende as pessoas dos perigos.

Exige um esforo concertado para elaborar normas, processos e instituies

que se ocupem sistematicamente das questes de insegurana. A

autonomizao permite que as pessoas realizem as suas potencialidades e

participem plenamente na tomada de decises. A proteco e a autonomizao

reforam-se mutuamente e, na maioria das situaes, ambas so necessrias.

A segurana humana complementa a segurana do Estado, promove o

desenvolvimento humano e refora os direitos humanos. Complementa a

segurana do Estado concentrando-se nas pessoas e tomando em

considerao as inseguranas que no foram consideradas uma ameaa para

a segurana do Estado. Ao contemplar este outro tipo de riscos faz com que o

desenvolvimento humano v mais alm do conceito de crescimento em

equidade. O respeito pelos direitos humanos est no cerne da proteco da

segurana humana.

Promover os princpios democrticos constitui um passo em direco

consecuo da segurana humana e do desenvolvimento. Permite que as

pessoas participem na governao e que faam ouvir as suas vozes. Isto exige

a criao de instituies slidas, o estabelecimento do estado de direito e a

autonomizao das pessoas.

CAPTULO III 3. REFORMA DO SECTOR DE SEGURANA EM MOAMBIQUE

3.1. Reforma em Moambique Quando se coloca a questo da reforma do sector pblico em

Moambique o que se observa uma certa confuso entre fases de reforma e

processo de reforma. As profundas alteraes verificadas no sector pblico

moambicano desde a independncia, constituram, na essncia, fases de

reformas que, com maior ou menor profundidade, procuravam suprir a

necessidade de ajustar o aparelho de Estado evoluo e s alteraes

introduzidas no modelo poltico-econmico do pas.

Assim, ao abordar a questo da reforma do sector pblico em

Moambique h que destacar no essencial, trs fases de inflexo

17

IESM CEMC 2007/08

particularmente relevantes para a prpria edificao do Estado Moambicano,

nas quais o movimento de mudanas fez-se sentir de forma mais acentuada.

A primeira (1975), decorrente da luta de libertao, foi a da constituio do novo Estado, optando-se, por razes por demais conhecidas, por um

modelo centralizado e centralizador apoiado num partido.

A segunda, (1986), incio das reformas econmicas, reviso profunda do modelo ento vigente e mudana dos princpios bsicos que o norteavam,

resultando mais tarde a implantao do Programa de Reabilitao Econmica

(PRE) que gerou uma reviso profunda do prprio papel definido para o

Estado. Num curto perodo o Pas passou de um modelo de economia

centralizada com base na iniciativa do Estado para uma economia de mercado

com base na iniciativa privada. Transitou-se de um modelo de Estado unitrio

centralizado e para um Estado unitrio gradualmente descentralizado e no qual

foram consolidadas as relaes regulares entre o executivo e o parlamento.

A terceira fase, iniciada em 1990, com a introduo da nova constituio e consolidao do modelo poltico e econmico assumido e aps as primeiras

eleies gerais em 1994, esta fase, prolonga-se at hoje e pode ser

caracterizada como um perodo de ajustamento do sector pblico ao modelo

poltico actualmente vigente visando a sua consolidao e aperfeioamento.

Este breve resumo histrico torna evidente que fases, ou momentos, de

reforma do sector pblico tm tido lugar em Moambique h mais de duas

dcadas. Durante os 26 anos de Independncia, foram feitas profundas

mudanas para se ajustar o sector pblico evoluo e s alteraes no

modelo socioeconmico do pas. Apesar destes esforos, o sector pblico

ainda tem operado, de modo geral, com nveis baixos de eficincia e

efectividade, assim como uma reduzida qualidade de servios prestados ao

cidado.

O que se constata, portanto, no a ausncia de experincias de reforma

do sector pblico mas a ausncia de estratgias sistematizadas que as

tivessem conduzido de forma mais consistente e coerente, no quadro de um

processo contnuo e controlado, e com um horizonte temporal mais alargado.

Por outras palavras, esta situao explica-se porque os processos ainda no

eram globais, ainda no eram sistematizados e ainda no eram integrados de

forma a permitir administrao pblica a antecipar-se e estar preparada a

18

IESM CEMC 2007/08

responder cabalmente e a tempo s exigncias impostas pelas directrizes

polticas do Governo. Dentro desta ptica, a reforma deve ser entendida como

um movimento permanente e contnuo de ajustamento da administrao

pblica s alteraes do ambiente s necessidades e anseios da sociedade e

s polticas globais do governo e no como um evento unitrio e delimitado no

tempo.

3.2. Reforma do sector de segurana. Com a assinatura dos Acordos de Roma em 1992, o sector de segurana

confrontou-se com a necessidade de uma reestruturao que teve incio com a

desmobilizao de 92,881 soldados161 das foras armadas, de acordo com o

estabelecido no Protocolo IV do Acordo Geral de Paz (AGP), que definia as

bases para a criao das novas Foras Armadas de Defesa de Moambique

(FADM). O processo de criao das FADM implicou primeiro a desmobilizao

total das foras governamentais e das unidades guerrilheiras da Renamo, e em

seguida, a incorporao de voluntrios de ambos os lados, numa base de

50:50. O objectivo de se alcanar um total de 30,000 tropas, conforme

estabelecido no AGP, nunca foi, contudo, realizado, visto poucos voluntrios se

terem apresentado. Ainda como parte da reestruturao foi posteriormente

institudo um novo sistema de recrutamento, que tem, no entanto, revelado

deficincias, contribuindo assim para que os jovens no encarem as foras

armadas como uma opo de carreira atraente.

As Foras Armadas tem vindo a comportar um processo de reorganizao

demorado e com exiguidade de recursos, dado no constituir prioridade para o

Governo nem para os doadores. Porm, problemas de outra natureza (tcnica)

se deparam neste processo, referentes dificuldade de integrar elementos

provenientes de uma fora de guerrilha e de foras armadas profissionais. O

impacto tem-se revelado no baixo nvel de eficincia das FADM, apesar dos

esforos levados a cabo em treinamento e formao, de forma a alcanar

maior equilbrio entre os seus constituintes. Por outro lado, do ponto de vista de

uma perspectiva poltica, esta integrao tem sido concebida como sendo

bem sucedida, uma vez que o processo decorreu calmamente, contribuindo

19

IESM CEMC 2007/08

para uma reconciliao efectiva, sucesso este provavelmente atribuvel aos

princpios de disciplina e hierarquia, apangios do aparelho militar.

No que concerne relao entre as Foras Armadas e o Estado

democrtico, esta pode ser considerada positiva, visto no existir um passado

de tentativas militares com o intuito de assumir a governao do Pas. Esta

ausncia de golpes de Estado (caractersticos em vrios pases Africanos),

pode dever-se ao facto de durante a luta pela independncia e sob a

governao do regime socialista, as foras armadas terem permanecido

intrinsecamente ligadas, mas sempre subordinadas poltica.

As FADM continuam ainda a depararem-se com desafios de vulto,

relacionados com a imprescindvel necessidade de levar a cabo o processo de

Defense Review (reviso do Conceito de Defesa Nacional) e de Anlise da

Situao Estratgica. Uma minuciosa reorganizao do sector afigura-se

pertinente, por forma a permitir s FADM realizar as suas tarefas tradicionais

de defesa do pas, bem como responder a novas misses, tais como a

assistncia s populaes em situaes de calamidade e o envio de tropas

para integrar operaes de paz.

No que diz respeito aos Servios Secretos, e ao abrigo do Protocolo IV do

AGP, foram criados rgos para o controlo destes (a Comisso Nacional de

Informao Cominfo) e da Polcia (a Comisso Nacional de Assuntos

Policiais Compol). Elementos nomeados pela Frelimo e pela Renamo

compuseram estes rgos, mas uma vez que ambas as instituies foram

dissolvidas aps as primeiras eleies democrticas (em conformidade com o

AGP), a Renamo perdeu intendncia sobre estes sectores, que presentemente

se encontram bastante ligados Frelimo. Assim, pode-se inferir que, se por um

lado, parece altamente improvvel que as Foras Armadas venham a ameaar

a democracia, por outro, a fidelidade do aparelho policial e dos servios

secretos a um Governo, que no da Frelimo, mantm-se por provar.

A transformao dos servios secretos numa agncia de informao do

Estado tem vindo a ocorrer; contudo, existe pouca informao disponvel que

permita a elaborao de uma anlise nesta fase. O grau de confiana e

efectividade da agncia constitui motivo de inquietao, uma vez que as suas

tarefas aumentaram, com a responsabilidade adicional de apoiar a Polcia no

desmantelamento das redes de crime e no desenvolvimento da capacidade

20

IESM CEMC 2007/08

para investigar possveis actividades relacionadas com o terrorismo que

possam surgir no Pas e/ou na regio.

No obstante as acima referidas, outras preocupaes estruturais devem

ser consideradas para um desenvolvimento sadio destas instituies, no

contexto de um ambiente democrtico. Por exemplo, apesar dos esforos para

a formao da Polcia em direitos humanos, as foras policiais so vistas ainda

como uma das instituies mais corruptas do Estado, granjeando do nvel de

confiana populacional mais reduzido, comparativamente a outras instituies.

Esta conjuntura afigura-se problemtica do ponto de vista da legitimidade do

Estado e da confiana social, bem como relativamente s operaes e

actividades da Polcia. A ausncia de confiana, corroborada por constataes

de pesquisas de opinio que atestam que 76.2% das pessoas no contactam a

Polcia para solicitar ajuda na resoluo dos problemas locais, pode prejudicar

a nova iniciativa de policiamento comunitrio, na qual se apela aos cidados

para cooperar com a Polcia, com vista deteno de criminosos.

Um outro desafio enfrentado pela Polcia a criao de capacidade para

pr cobro s redes transnacionais de criminosos que operam em Moambique.

Estas redes dedicam-se ao trfico e comercializao de drogas, lavagem de

dinheiro, trfico de rgos humanos, contrabando, roubo de veculos, assaltos

a bancos, organizao de grupos de assassinos, e envolvem-se ainda no

estabelecimento de redes criminosas dentro do aparelho do Estado e das

empresas, obstruo da justia e corrupo.168 Face a este cenrio, existe

necessidade de se adoptarem polticas adequadas para lidar com o crime.

Embora a Lei sobre Defesa e Segurana (17/97) estabelea as misses e

responsabilidades dos trs ramos de segurana, a lei especfica sobre

segurana pblica, que deveria regular a actividade da Polcia, nunca foi

concluda. Est em curso um trabalho com vista ao desenvolvimento de um

plano estratgico para a rea, mas a sua pertinncia torna-se questionvel do

ponto de vista de sequncia organizacional, se se considerar que, at ao

momento, nenhuma poltica de segurana pblica foi elaborada.

Em geral, refira-se que, no que diz respeito reforma do sector de

segurana, bastante h para ser feito. Para alm da prestao de assistncia

tcnico-militar, poucos esforos foram desenvolvidos pela comunidade

internacional no sentido de encorajar o Governo a rever a forma e a estrutura

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IESM CEMC 2007/08

do sector, para alm dos apelos genricos de que as foras de segurana se

devem submeter a um controlo democrtico. A vulnerabilidade institucional e

organizacional das principais instituies de superviso do sector de

segurana, tais como os Ministrios da Defesa, Finanas e Interior, as

Comisses Parlamentares de Defesa e Ordem Pblica, assim como outros

grupos da Sociedade Civil, no tm recebido a devida ateno da comunidade

internacional. Apesar do referido e no menos importante, deparamo-nos com

um Governo aptico, principalmente concentrado na resoluo das tarefas que,

primariamente, incumbido, tais como, reconstruo, criao de um equilbrio

macroeconmico e melhoramento dos sectores de educao e sade.

Certas concesses polticas imperativas no que diz respeito s foras de

segurana, foram feitas no perodo de transio imediato ao AGP, causando

algumas dificuldades, que no foram at ao presente solucionadas. Estes

comeam a ressurgir de forma problemtica e, por exemplo, soldados que no

foram desmobilizados, tendo-lhes sido permitido continuar armados, como

guardas pessoais do presidente da Renamo envolvido em vrios actos

violentos na Gorongosa, provncia de Sofala. O problema que se coloca na

actualidade que j no existe um quadro jurdico para desmobilizar e integrar

estes homens na sociedade, tal como aconteceu com os seus colegas e deste

modo, eles utilizam as suas armas para perpetrar aces duvidosas, embora

as justifiquem como sendo uma questo de sobrevivncia. Os seus actos so

considerados criminais, e declaraes inflamatrias feitas pelo Governador da

provncia de Sofala tem denunciado esta situao, preparando o terreno para o

crescimento de tenso poltica.

A reforma na rea de defesa e segurana, indispensvel que poder

tambm apresentar uma oportunidade de melhoramento da democracia

interna, aumentando, ao mesmo, a eficincia militar e a estabilidade

institucional.

Em Moambique, com a experincia existente fundamentada pelas

conquistas da luta de libertao nacional, da defesa da independncia,

soberania e integridade do pas, constituem permanentes fontes de inspirao

da aco nesta rea.

Neste contexto, e, tendo em conta o ambiente da segurana, a situao

geopoltica e geoestratgia prevalecente e o potencial econmico mobilizvel, a

22

IESM CEMC 2007/08

plataforma de aco do governo na esfera de defesa nacional vai ser orientada

no sentido de dar prosseguimento aos seguintes objectivos:

Desenvolvimento de aces inerentes a cooperao bilateral e

multilateral na rea de defesa, promovendo a estabilidade nacional, regional

e internacional.

Desenvolver esforos de identificao de parcerias estratgicas para

a elevao da capacidade defensiva das Foras Armadas de Defesa de

Moambique;

Reforo da capacidade de previso de conflitos e desenvolvimento

de variantes de postura da Defesa Nacional perante os potenciais conflitos;

Prossecuo das aces visando a consolidao do processo do

estabelecimento das bases jurdico-legais que definem os princpios

orientadores do funcionamento da instituio da defesa;

Fortalecer as Foras Armadas de Defesa de Moambique atravs da

formao, em reas especficas em matria de cincias militares;

Incremento da participao das Foras Armadas de Defesa de

Moambique em misses de interesse pblico, nomeadamente de mbito

humanitrio, de proteco civil e de meio ambiente, particularmente as

referentes ao salvamento de vidas humanas e bens da populao em

situao de desastres e calamidades naturais e outras;

Implementao de programas de desminagem e destruio de

material excedentrio na posse das Foras Armadas de Defesa de

Moambique identificveis ao longo do territrio nacional;

Prosseguir com a participao de contingentes militares das Foras

Armadas de Defesa de Moambique em Operaes Apoio Paz bem como

nos diversos mecanismos colectivos de segurana regional.

3.3. Reforma no sector da justia Desde a independncia de Moambique, existiram duas fases principais

de reforma planeada: imediatamente aps a independncia, entre 19751978,

23

IESM CEMC 2007/08

e aps a promulgao da Constituio de 1990, no processo para o acordo de

paz entre a FRELIMO e a anterior oposio armada, RENAMO.

De um modo geral, em ambos os momentos a reforma centrou-se

fundamentalmente na alterao e modernizao do sistema judicirio, da

Procuradoria-Geral da Repblica e dos servios de registo e notariado. Outras

questes fundamentais, tanto estruturais como operacionais, no foram

tomadas em considerao. Entre as prioridades chave na administrao da

justia que foram negligenciadas (e que sero discutidas com mais pormenor

neste relatrio) conta-se a reforma do sistema prisional dualstico, a

subordinao dualstica100 da Polcia de Investigao Criminal (PIC), as

fraquezas dos servios do Ministrio Pblico, a falta de incorporao de

mecanismos de justia informal e a falta de capacidade dos recursos

profissionais.

a) Reforma legal

Nos ltimos anos, a reviso de legislao e a reforma legal tm registado

progressos considerveis.

O Governo no s reconheceu a ineficincia da legislao processual que

remonta ao perodo colonial e a inadequao da legislao substantiva s

necessidades actuais, como tem feito esforos considerveis para sanar tais

faltas.

Em 2002, o Governo criou um rgo interministerial, a Comisso

Interministerial de Reforma Legal (CIREL), responsvel pela superviso da

implementao da poltica da reforma legal. A CIREL composta pelo

Primeiro-Ministro (Presidente), o Ministro da Justia (Vice-Presidente), o

Ministro do Interior, o Ministro da Educao e Cultura, o Ministro da

Administrao Estatal, o Ministro do Plano e Desenvolvimento e o Ministro das

Finanas. De forma a implementar as polticas da CIREL, criou-se a Unidade

Tcnica de Reforma Legal (UTREL), com responsabilidade primria na

elaborao e alterao da legislao. A UTREL opera principalmente atravs

de contratao externa de grupos tcnicos para trabalharem em legislao

especfica. Desde o incio das suas actividades, a UTREL tem conseguido,

24

IESM CEMC 2007/08

imprimir dinamismo ao processo de reforma legislativa. A legislao

recentemente revista e aprovada inclui:

A Lei da Famlia aprovada pela Assembleia da Repblica

em 2004

Um novo Cdigo do Registo Civil aprovado pela

Assembleia da Repblica em Dezembro de 2004

Um novo Cdigo de Processo Civil aprovado pelo Conselho

de Ministros por decreto-lei em Dezembro de 2005. O Cdigo de

Processo Civil estava a precisar urgentemente de reviso, pois datava

de 1962 (com alteraes em 1967)

Um novo Cdigo Comercial aprovado por decreto-lei do

Conselho de Ministros em Dezembro de 2005

Um novo Cdigo de Notariado aprovado por decreto-lei em

Maio de 2006

Uma nova Lei Orgnica dos Tribunais Judiciais aprovada

enquanto projecto pelo Conselho de Ministros em 2006 e que carece,

ainda, de aprovao pela Assembleia da Repblica.

Tambm j est em curso o processo de reviso do Cdigo

de Processo Penal e do Cdigo Penal.

A reviso destes dois cdigos crtica para o melhoramento do sistema

de justia criminal de Moambique, actualmente envolto em longos atrasos de

julgamentos. No discurso de abertura do ano judicial de 2005, o Presidente do

Tribunal Supremo reconheceu a ineficcia da legislao substantiva,

particularmente dos Cdigos Civil e Penal, na resposta s necessidades

modernas.

O Cdigo Penal, por exemplo, estabelece sentenas

desproporcionalmente severas para certos crimes e permite uma considervel

discricionariedade aos juzes na aplicao de sentenas, levando, na prtica,

aplicao das mais severas. O Procurador-Geral tambm se mostrou

preocupado com a inadequao da actual lista de ofensas criminais previstas

no Cdigo Penal e outras peas legislativas, pois matrias como a violncia

domstica e a violao sexual no esto definidas como crimes (embora

possam ser indiciadas como outras ofensas). A primeira verso do anteprojecto

da reviso do Cdigo Penal foi apresentada publicamente pela UTREL a 13 de

25

IESM CEMC 2007/08

Julho de 2006 para discusso e debate. O anteprojecto da reviso do Cdigo

Penal apresenta mudanas substanciais. A UTREL j submeteu ao Governo

duas verses do anteprojecto de reviso do Cdigo de Processo Penal,

tambm com mudanas significativas tendentes a imprimir maior celeridade

processual. No entanto, at Agosto de 2006, nenhuma das duas verses havia

sido apresentada e discutida publicamente.

Antes da aprovao da Constituio em Novembro de 2004, tinha-se

iniciado o trabalho de elaborao de um projecto de lei que estabelecia um

regime abrangente para o sector da justia, a ante-proposta da Lei de Bases do

Sistema de Administrao de Justia. Inicialmente, esta proposta de lei surgiu

da necessidade de responder s lacunas decorrentes da Constituio de 1990,

incluindo a questo do pluralismo jurdico, a situao dos tribunais

comunitrios, a organizao do sistema de recurso dentro dos tribunais

judiciais e a posio institucional do Ministrio Pblico. Uma verso desta lei

circulou imediatamente aps a aprovao da Constituio de 2004, num

seminrio organizado pela UTREL e pelo Centro de Formao Jurdica e

Judiciria (CFJJ), realizado em Junho de 2004 na Faculdade de Direito da

Universidade Eduardo Mondlane. Uma segunda fase de consulta decorreu

entre Outubro e Novembro de 2004 nas cidades de Maputo, Matola (Maputo),

Nampula (Nampula), Beira (Sofala) e Inhambane (Inhambane), envolvendo

representantes de todas as provncias do pas. Argumenta-se que a nova

organizao judiciria respondeu a muitas das questes que haviam sido

levantadas, limitando a utilidade da ante-proposta da Lei de Bases do Sistema

de Administrao da Justia na sua actual forma.

Subsequentemente, iniciaram-se revises lei, tendentes a desenvolver

as possibilidades de reforma abertas pela Constituio de 2004,

nomeadamente o reconhecimento constitucional do conceito de pluralismo

jurdico e as disposies que permitem um novo nvel de tribunais de recurso

entre o nvel dos tribunais provinciais e o do Tribunal Supremo. A ltima verso

da lei disponvel na pgina electrnica da UTREL (em Maio de 2006) apresenta

alteraes considerveis ao estatuto dos tribunais comunitrios, ligando-os ao

o sistema judicirio formal. Noutras reas, a verso mais conservadora, no

fazendo, por exemplo, referncia aos mecanismos tradicionais de resoluo de

conflitos. Em Maio de 2006, no era claro o estgio do projecto de lei nem se

26

IESM CEMC 2007/08

estava, de facto, a ser seriamente considerado. A UTREL tambm est

ocupada na elaborao de uma nova Lei dos Tribunais Comunitrios e num

estudo sobre a reforma do Instituto de Assistncia e Patrocnio Jurdico (IPAJ).

Embora se registem atrasos em algumas peas-chave de legislao,

como o Cdigo Penal e o Cdigo de Processo Penal, o Governo est, de um

modo geral, claramente a avanar com a reforma legal. Apesar de o Governo

incluir listas com legislao prioritria na sua estratgia para a reforma legal,

ainda no realizou uma reviso ampla e participativa da legislao existente.

Uma anlise sistemtica do panorama legislativo iria permitir um plano

abrangente da reforma legal a ser feita e iria trazer coerncia aos esforos em

curso. Outra questo de fundo ainda por resolver tem a ver com a fiscalizao

da implementao de legislao. No existem mecanismos instalados para

determinar o impacto da legislao que tem sido aprovada. A CIREL poderia

reunir-se anualmente para analisar a legislao adoptada no ano anterior;

sendo esta uma rea para a qual a sociedade civil tambm poderia contribuir

atravs de fiscalizao.

3.4. Reforma no sector da sade

O desenvolvimento do sector da sade no perodo ps-guerra foi

orientado por documentos importantes relativos poltica sanitria, como a

Poltica do Sector da Sade, o Programa de Recuperao do Sector da Sade

e o Programa do Governo. Durante este perodo, registou-se um aumento do

volume de servios prestados s populaes.

Embora a misso actual do Ministrio da Sade seja "promover e

preservar a sade da populao moambicana, promover a prestao de

servios de boa qualidade, sustentveis e acessveis a todos os

moambicanos, com equidade e eficcia", foram determinadas novas

direces, em trs documentos que contribuem para a definio da poltica do

sector da sade:

Programa do Governo 2000-2004, que engloba os servios bsicos para

a maioria da populao, incluindo os grupos de alto risco.

27

IESM CEMC 2007/08

Plano de Aco para a Reduo da Pobreza Absoluta 2001-2005, cujo

objectivo principal inclui o alargamento e a melhoria dos cuidados primrios de

sade, atravs de programas especiais para grupos-alvo.

Plano Estratgico para o Sector da Sade 2001-2005, o qual

compreende trs intervenes fundamentais: prestao de cuidados de sade,

reforo da capacidade dos indivduos e das comunidades e advocacia para a

sade.

O Plano Estratgico para o Sector da Sade (PESS) surge em resposta

aparente fragmentao e falta de coordenao no sector da sade. Tem como

objectivo clarificar as funes do Ministrio da Sade no Servio Nacional de

Sade, promover a participao da comunidade, criar um pacote de servios

essenciais e melhorar a gesto financeira. Tambm lana as bases para o

desenvolvimento do sector a curto e mdio prazo.

a) Epidemias

As doenas que causam maior morbilidade e mortalidade no pas, e

problemas de sade pblica so o paludismo, HIV/SIDA, tuberculose, diarreias,

infeces respiratrias e sarampo.

O paludismo a maior causa de morbi-mortalidade no pas, constituindo

cerca de 40% das consultas externas, com uma taxa de letal idade de 3,9% e

6,2%, para crianas e adultos, respectivamente. Embora afecte todo o pas de

forma endmica, as comunidades rurais e mais pobres so as que mais sofrem

os efeitos desta doena, devido sua elevada transmisso, fraco acesso aos

cuidados de sade preventivos e curativos, e reduzido conhecimento em

relao aos seus riscos e medidas de preveno. A situao do paludismo

agravada pela falta de conhecimentos por parte das comunidades.

Moambique est entre os 10 pases do mundo, mais afectados pelo

HIV/SIDA.

Estima-se em 13.6% a taxa de prevalncia na populao entre os 15 e os

49 anos de idade. Esto infectadas cerca de 1.500.000 pessoas. A estratgia

do pas em relao ao HIV/SIDA prev a criao de uma rede integrada,

incorporando centros de aconselhamento e testes voluntrios, cuidados

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IESM CEMC 2007/08

domicilirios, preveno e tratamento de infeces oportunistas, preveno da

transmisso vertical e tratamento com antiretrovirais.

A tuberculose outra causa importante de morbilidade e mortalidade em

Moambique, tendo constitudo a primeira causa de internamento nos

hospitais rurais, em todo o pas, em 1997. A epidemia do HIV/SIDA tem vindo a

contribuir para um aumento do nmero de casos. A incidncia estimada para

todas as formas de tuberculose era de 433 casos por 100.000, em 2002, contra

254, em 1997.

Entretanto, embora o Programa Nacional de Combate Tuberculose

esteja presente em todos os distritos do pas, a vigilncia epidemiolgica, a

preveno da tuberculose em doentes seropositivos, e a deteco precoce da

doena, precisam ser melhoradas.

A lepra afecta principalmente as provncias do norte e centro do pas,

estando associada a factores socio-econmicos, como a pobreza. Em 2003, a

taxa de prevalncia a nvel nacional, era de 4/10.000 habitantes, com 7.163

casos em tratamento. Actualmente, o pas encontra-se a implementar uma

estratgia para a eliminao da lepra.

Outras doenas que afectam principalmente as crianas dos 0 aos 5 anos

so as doenas diarreicas, as infeces respiratrias e o sarampo. Em 2003,

foram notificados surtos de sarampo em todas as provncias. Relativamente

poliomielite, a certificao de erradicao desta doena ainda no foi obtida.

Dados disponveis de 2001, mostram uma prevalncia de malnutrio

crnica de 43,8%, e 5,5% de malnutrio aguda. A carncia em micro nutriente

um problema grave, reportando-se uma prevalncia de 68,8% de carncia

em vitamina A nas crianas, e de 10,9% nas mes. Em relao anemia,

reporta-se uma prevalncia de 74,7% nas crianas, e de 48.2% nas mes.

Apesar do perfil epidemiolgico pr-transitrio referido, verifica-se um

aumento inquietante, das doenas no-transmissveis, sendo mais frequentes

as doenas cardiovasculares, o cancro, a asma e a diabetes. Os traumatismos

de origens diversas, com destaque para os acidentes de viao e a violncia,

tm vindo a aumentar consideravelmente. Algumas doenas como o tracoma,

schistossomase, filarase, e tripanosomase, tm sido negligenciadas,

requerendo uma ateno mais determinada.

29

IESM CEMC 2007/08

No contexto actual acima descrito, os principais desafios que se colocam

ao estado moambicano visam Melhorar a sade atravs de intervenes intra

e inter-sectoriais devidamente articuladas e relacionadas com a reduo da

pobreza, segurana alimentar, alfabetizao de adultos, educao das

meninas, igualdade de gnero, gua e saneamento.

4.1. Catstrofes Naturais Verifica-se nos ltimos anos um crescente reconhecimento para

necessidade de adopo de estratgias para mitigao de impacto da

variabilidade e de mudanas climticas. A mitigao deste fenmeno de

estrema importncia no contexto de desenvolvimento econmico, dado aos

seus impactos negativos que esta pode criar.

Esta adopo no pode ser vista somente como uma reaco aos

referidos impactos, mas tambm como mudana de conscincia da sociedade,

conducente a um melhor uso dos recursos naturais de forma a evitar efeitos

negativos sobre si mesmo. Contudo verifica-se um contnuo aumento de

conhecimento nesta matria bem como alguns projectos correntes com vista a

mitigao a curto prazo e investigao cientfica para um melhor entendimento

do fenmeno. Estas iniciativas incluem investigadores, agncias

governamentais, instituies de prevenes meteorolgica, agncias

internacionais de apoio alimentar, instituto nacional de Gesto de Calamidades

e agencias no governamentais.

a) Secas

A seca um fenmeno historicamente frequente cujo impacto na vida das

populaes tem sido maior do que o das cheias. Embora com um

desenvolvimento lento, a seca possui um potencial para causar roturas

econmicas de longo termo contrariamente a uma calamidade de curta

durao.

30

IESM CEMC 2007/08

Embora a vulnerabilidade seca seja alta nas regies sudoeste (oeste da

provncia de Gaza) e central (Oeste da provncia de Tete) de Moambique as

sementeiras ou plantaes ribeirinhas tm contribudo bastante na reduo da

sua dependncia s chuvas. Os sistemas de regadio de pequena e larga

escala tm igualmente ajudado na reduo do impacto das secas regulares.

A vulnerabilidade nestas regies deve-se em parte as precipitaes

irregulares e imprevisveis. A estao chuvosa frequentemente no inicia

conforme as previses resultando em perodos errticos das sementeiras. Esta

ao ocorrer concentra-se em perodos bastante curtos (precipitao potencial)

causando a degradao fsica dos solos pelo fenmeno de escoamento

superficial.

Em Moambique as secas severas tm ocorrido em intervalos de 7 a 11

anos, sendo as secas de menor intensidade as que ocorrem mais

regularmente. A seca de 1991-92 foi a pior na memria, tendo afectado na

maior parte da regio austral da frica. De acordo com dados histricos, as

secas ocorrem em frica Austral num regime cclico, mas ainda no possvel

prev-las com preciso.

b) Ciclones

Moambique um pas bastante exposto a este fenmeno, uma vez que

a sua costa forma a uma fronteira ocidental de duma das mais activas bacias

dos ciclones tropicais, o sudoeste do Oceano ndico. Todos anos, esta bacia

sozinha produz cerca de 10% de todos os ciclones do mundo.

Os ciclones tropicais que se formam nesta zona atingem Moambique em

mdia uma vez por ano, enquanto que as depresses de menor intensidade

ocorrem trs a quatro vezes por ano. A parte do pas atingida com mais

frequncia a zona entre Pemba e Angoche e nas proximidades da cidade da

Beira.

A estao ciclnica em Moambique vai desde Novembro a Abril e os

ciclones que atingem o pas formam-se no leste de Madagscar e no canal de

Moambique. Enquanto os primeiros tendem a causar ventos mais fortes,

intensificando ao atingir as guas quentes do Canal de Moambique, os ltimos

so normalmente acompanhados por chuvas mais intensas por vezes

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causando cheias. De facto, os ciclones e as depresses tropicais contribuem

bastante para a ocorrncia das catastrficas cheias registadas no pas.

Na sequncia destas mudanas bem como a crescente densidade

populacional, cresce cada vez mais o nvel de vulnerabilidade aos ciclones e

outros fenmenos naturais relacionados.

Os ciclones no podem ser prevenidos nem controlados, mas importantes

medidas podem ser tomadas para minimizar o seu impacto fazendo com que o

sistema de aviso prvio seja um dos instrumentos de mitigao mais

importantes. Um aviso prvio permite a tomada de decises a tempo e hora

pelos diversos intervenientes, nomeadamente as populaes que bem podem

evacuar os seus interesses da rea visada. Entretanto, os avanos

tecnolgicos deram luz a um sistema fivel de monitoria dos ciclones. Na frica

Austral j foram estabelecidos vrios Centros Meteorolgicos Regionais

Especializados (CMREs) que monitoram a formao e desenvolvimento dos

ciclones.

c) Cheias

As cheias no pas, so causadas no s pela precipitao que ocorre dentro

do territrio nacional, mas tambm pelo escoamento das guas proveniente

das descargas das barragens dos pases vizinhos situados a montante.

Considerando que o pas tem 9 bacias hidrogrficas internacionais e outras

tantas pequenas bacias, pode-se afirmar que praticamente todo pas

vulnervel a cheias. Nos ltimos anos, o pas tem sido afectado por graves

cheias, conduzindo assim a um agravamento de dbito dos rios internacionais

e consequente alargamento das reas ribeirinhas que muitas das vezes

servem de alternativa de produo agrcola das populaes rurais.

As cheias so os desastres naturais mais difceis de avaliar os seus

impactos indirectos. Mas elas no podem ser vistas somente como um factor

destruidor. Para alm de serem potencialmente destrutivas, tambm trazem

consigo benefcios. Elas fazem parte do ciclo regenerativo, podendo

acrescentar nutrientes ao solo, reabastecer os aquferos subterrneos, gerar

abundncia de peixe e incrementar rendimentos agrcolas.

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IESM CEMC 2007/08

Os impactos positivos e negativos das cheias podem mudar dependendo

da sua magnitude, durao e destruio especial do evento. Os novos

depsitos de solos causados pelas cheias numa determinada zona podem

constituir um enorme potencial agrcola poucos meses depois.

As aces devastadoras numa determinada rea, podem constituir

benefcios ecolgicos em zonas imediatamente adjacentes atravs de

enriquecimento dos elementos nutrientes necessrios para o crescimento das

culturas.

Em Moambique, as cheias so causadas por um conjunto de factores,

incluindo precipitao localizada intensa, actividade dos ciclones tropicais, e a

deficiente gesto das barragens quer no territrio nacional ou nos pases do

montante.

Ao longo dos anos, estas cheias, tm criado um enorme peso financeiro

para Moambique, agravado ainda por este se encontrar em recuperao

econmica e social. Estima-se que as cheias de 2000 custaram

aproximadamente 20% do produto Interno Bruto (PIB) do pas.

O esforo no sentido de maximizar os benefcios enquanto se minimiza o

custo da sua ocorrncia um desafio crucial que requer a participao dos

mais diversos sectores da sociedade particularmente o sector de pesquisa e

investigao.

Medidas 4.2. Medidas na rea poltica Institucional Fortalecer, aprimorar e modernizar a administrao pblica, tornando-a

progressivamente activa, eficaz e eficiente no quadro da boa Tendo em vista a

transformao e a modernizao da administrao pblica e da funo pblica,

foi criada o Ministrio da Funo Pblica com a misso de:

Governao e dos objectivos estratgicos do governo

Moambicano;

Promover e avaliar o desempenho profissional, do sentido de

responsabilidade, dos princpios ticos e das boas prticas de liderana na

funo pblica;

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IESM CEMC 2007/08

Capacitar os recursos humanos do Estado Moambicano de

forma a assegurar uma crescente qualidade dos servios prestados ao

cidado;

Aplicar a legislao sobre os recursos humanos do Estado em

geral e do Estatuto geral dos Funcionrios do Estado em particular;

Controlar a implementao das polticas relativas a previdncia

social dos funcionrios do Estado;

Emanar as orientaes metodolgicas no mbito de organizao

do Aparelho do Estado e da gesto e desenvolvimento dos recursos

humanos.

Para o cumprimento desta misso o Ministrio da Funo Pblica

organiza-se nas seguintes reas de actividades:

da Autoridade da Funo Pblica, cuja composio a seguinte: os

comissrios, os Secretrios Permanentes dos Ministrios, e os Secretrios

Gerais das Instituies do Estado que trimestralmente analisa e delibera sobre

assuntos ligados a transformao, a modernizao da administrao e da

Funo Pblica.

3.3- Medidas na rea Poltica diplomticas

Os xitos em seu processo de reconciliao interna, a estabilidade

poltica e bons resultados na rea econmica tm facultado a Moambique

uma maior projeco internacional, particularmente no contexto regional e no

entorno.

A proximidade frica do Sul, inclusive nos temas da poltica externa

regional, tem tambm dado mais lastro diplomacia moambicana. Sobre a

criao da Unio Africana, a diplomacia moambicana v com optimismo a

nova instituio. O antigo Chefe de Estado moambicano, Joaquim Chissano,

j assumiu a presidncia da Unio Africana.

3.4- Segurana social Medidas scio econmico

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A elevao de efectividade e a eficincia da aco da Administrao e proviso

de servios pblicos um elemento crtico para o sucesso dos esforos

visando a erradicao da pobreza e fomento da prosperidade econmica e

social. Para este fim o governo prossegue com os esforos para a

modernizao da Administrao pblica. A descentralizao e a desconcentrao da Administrao Pblica um

dos pilares de processo de modernizao do Estado. A transferncia de

atribuies e competncias especficas aos rgos locais, legitimando-os e

concedendo-os instrumentos para a execuo de servios constituem uma

base importante para o processo de descentralizao.

A transferncia administrativa e financeira um requisito para a elevao

da confiana nas instituies pblicas e contribui significativamente para o

combate corrupo. por outro lado, a base fundamental para a legitimao

de processo de governao e para o reforo do respeito s instituies e

rgos do Estado. Neste sentido o governo define os seguintes objectivos:

Consolidao do papel do Estado como garantia da unidade

nacional;

Desenvolvimento de um clima democrtico e participao no

exerccio da governao em todos os nveis da Administrao pblica;

Aumento da participao cvica e poltica dos cidados na

formulao, implementao e avaliao de polticas sectoriais do governo;

Prosseguimento de hierarquizao gradual no pas, como forma

de expandir a Administrao municipal e de incrementar o envolvimento dos

cidados na gesto dos seus assuntos comunitrios;

Defesa dos direitos e liberdades pessoais e cvicas do cidado;

Garantia da liberdade de informao e expresso;

Manuteno da ordem pblica, protegendo pessoas e bens e da

defesa da integridade territorial, da soberania e da Constituio da

Repblica;

Construo duma Administrao Pblica voltada para o cidado

Melhoria da qualidade de prestao de servio; e

Aperfeioamento das respostas administrativas `sociedade.

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Tendo em conta estes objectivos, o desenvolvimento institucional do Estado, a

transformao das suas instituies em estruturas mais actuantes e eficientes

no mbito das competncias e responsabilidades do Estado constitui o desafio

fundamental. De vrias transformaes polticas, e scio -econmicas em

curso;

A elevao do nvel de articulao governamental;

A reduo da distncia entre o aparelho administrativo do Estado

e a sociedade, apoiado por mecanismos de participao do cidado;

O reforo da capacidade tcnica de concepo, gesto,

implementao e avaliao das polticas pblicas;

O aumento da transparncia e da responsabilidade de gesto

financeira e no uso de recursos pblicos

Ainda no mbito da segurana social - o Ministrio da Mulher e Aco

Social, no seu plano governamental tem desenvolvido vrias actividades de

apoio as populaes vulnerveis de seguinte:

Construo de centros de acolhimento s crianas rfos;

Apoio aos idosos construindo casas de menos custo para o seu

alojamento;

Apoio aos deficientes fsicos e o seu enquadramento na

sociedade;

Promoo de trabalho pela comida;

Pagamento de subsdio de velhice e aos deficientes;

Criao de centros de educao e formao para crianas da rua;

Promoo de centros de educao e alfabetizao de adultos;

Promoo de centros de trabalho produtivo (cooperativas).

Por exemplo: Cooperativas agrcolas, cooperativas de consumo, costura,

negcios, criao de animais e aves, fabrico de blocos para construo etc.

4.3. Principais Sectores Intervenientes

1-Ministrio Para Coordenao e Aco Ambiental.

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Este sector, tendo como principal tarefa, a coordenao intersectoriais

com vista a uma correcta gesto e proteco e um uso racional de recursos

naturais para o bem-estar da sociedade, tem levado a cabo tambm vrias

aces de mitigao a efeito de mudanas climticas. O MICOA, definiu as

seguintes medidas que possam contribuir activamente na diminuio da

vulnerabilidade, a saber:

Implementao da estratgia e plano de aco para conservao

da biodiversidade em Moambique;

Estratgia e plano de aco para preveno e combate as

queimadas descontroladas;

Estratgia e plano de aco para preservao e combate a

eroso dos solos;

Implementao do plano Nacional de capacitao, para

implementao do Mecanismo de desenvolvimento limpo no quadro de

protocolo de Quot;

Implementao de projecto de avaliao da necessidade de

capacitao nacional para auto-avaliao de gesto global do ambiente;

Estabelecimento de organizaes jovens com vista a conservao

ambiental em Moambique.

2-Instituto Nacional de Gesto de Calamidades (INGC)

Na sequncia das lies aprendidas nos ltimos desastres naturais, o

INGC passou a ter um papel cada vez menos logstico e passando a ser mais

coordenativo sob a tutela do Ministrio de Negcios Estrangeiros.

Este rgo, tem direita ou indirectamente um papel activo na mitigao de

desastres naturais com base nas competncias e aco seguinte:

Divulgao a publicao de informao no campo em situaes

de desastres;

Organizar e coordenar a nvel nacional a obteno, anlise e

disseminao de informao meteorolgica, suas tendncias e

consequentes impactos sobre a populao;

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Informar as instituies de tutela a qualquer acto com vista a

preveno, salvamento e reabilitao de infra-estruturas;

Providenciar informao regular dos seus gestores aos

respectivos doadores;

Promover assistncia mtua e troca de informao entre

organizaes internacional similar.

3-Secretariado Tcnico de Segurana Alimentar e Nutrio,

(SETSAN).

SETSAN um grupo de trabalho constitudo por tcnicos de vrios

sectores interministeriais incluindo organizaes no governamentais, com

vista ao melhoramento e estabelecimento da segurana alimentar e nutricional

da populao Moambicana.

O governo de Moambique tem procurado assegurar este princpio

atravs da implementao de estratgia de desenvolvimento social e

econmico e reduo da pobreza absoluta baseado nos seguintes aspectos:

Desenvolvimento do capital humano;

Reabilitao de infra-estruturas chaves

Reestruturao da produo agrcola;

Criao de um ambiente favorvel ao desenvolvimento de

iniciativa privada.

Neste contexto, vrias polticas, programas e medidas tm sido

implementadas contribuindo para a minimizao das causas que conduzam a

insegurana alimentar e nutricional entre as quais: a poltica agrcola, a lei de

terras, reviso da lei de transportes e comunicaes, libertao de comrcio,

acesso aos cuidados bsicos de sade e gua potvel.

A implementao destes programas no s constituem aces de

mitigao como o caso da poltica agrcola e o acesso ao mercado para

melhoramento da segurana alimentar, mais tambm tm um grande contributo

em momento de recuperao ps desastres como o caso do papel dos

transportes e comunicaes.

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4-Cruz Vermelha de Moambique (CVM).

Moambique um pas propenso a desastres. Anualmente, desastres de

pequena ou grande dimenso ocorrem, colocando vidas humanas em perigo,

provocando sofrimento e insegurana. Tendo a CVM definido como sua misso

melhorar a vida das populaes mais vulnerveis, prevenindo e aliviando o

sofrimento humano, sua obrigao ter um papel mais activo na preveno e

resposta aos efeitos das calamidades que assolam o pas, particularmente

junto das comunidade mais carentes.

Infelizmente, no incio do sculo XXI, a maior ameaa ao bem-estar

econmico e social da populao moambicana o HIV/SIDA. A CVM no est

de mos cruzadas relativamente a esta catstrofe concentra os seus esforos

no combate a esta doena.

A CVM, dentro do seu papel de auxiliar dos poderes pblicos, e

cumprindo a sua Misso Humanitria de aliviar e prevenir o sofrimento

humano, considera que a rea de preparao e reposta a desastres e combate

ao HIV/SIDA deve ser a sua primeira prioridade.

Como resultado das suas intervenes em desastres, a CVM ganhou boa

imagem e reconhecimento pblico, o que lhe d maiores responsabilidades e

expectativa.

A CVM tem assistido grande parte da populao vulnervel em

colaborao e auxlio de instituies governamentais como o Ministrio de

Agricultura, Sade, ICNGC. As suas aces no s implementam-se atravs

de intervenes imediatas, mas tambm na antecipao de desastres atravs

de planificao direccionada apoiar os mais diversos sectores da sociedade.

CAPTULO IV Apoio Internacional para o Desenvolvimento. PMA - Programa Mundial de Alimentao. O programa Mundial de Alimentao trabalha em parceria com algumas instituies nacionais e internacionais, particularmente nas Provncias mais

afectadas pela seca e cheias (caracterizadas por zonas mais vulnerveis a

desastres naturais), direccionando as suas actividades para:

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Distribuio alimentar, incluindo o programa de (comida pelo

trabalho), direccionada a grupos vulnerveis;

Fornecimento de alimentao suplementar para crianas com

menos de 5 anos de idade e mulheres grvidas;

Distribuio alimentar as escolas e reas perifricas e distribuio

porta a porta para melhoramento nutricional de crianas;

Implementao de programas de emergncia integrando o

HIV/SIDA, essas actividades tem em vista a assistncia a famlias afectadas

com HIV/SIDA e possveis grupos vulnerveis atravs de programa de

comida pelo trabalho e distribuio alimentar regular. O PMA tambm

desenvolve actividades de monitoramento do Estado de vulnerabilidade e

insegurana alimentar em colaborao com o grupo de anlise de

vulnerabilidade (GAV) e a FAO para avaliao de necessidades

alimentares.

UNICEF - Fundo das Naes Unidas Para Crianas.

Os programas da UNICEF em Moambique tm em vista o melhoramento

de aces previstas e de cuidados bsicos de sade s crianas e

adolescentes, e por outro lado a capacitao e aprovisionamento de cuidados

contra infeces de HIV.

O desenvolvimento dos seus programas assegurado pela utilizao de

trs estratgias fundamentais:

Providenciar treinamento e capacitao das direces Distritais e

Provinciais matria de planificao, gesto e melhoramento de qualidade de

servios de sade;

Assegurar e disseminar de uma abordagem mais abrangente

sobre os cuidados a ter com as crianas e jovens, preveno da

transmisso do HIV da me para a criana e melhoramento de servios de

sade aos seus parentes;

Criar de uma estrutura permita maior participao da comunidade

na distribuio e assistncia aos cuidados bsicos de sade, e,

implementao de estratgias para melhoramento do conhecimento sobre a

preveno de doenas.

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PNUD Programa Para Naes Unidas para Desenvolvimento.

Desde os meados dos anos oitenta, PNUD tem tido um papel cada vs

mais interventivo para capacitao e resposta a situaes de emergncia.

Com base nos seus objectivos orientados a operacionalizao de

emergncia alguma das actividades levadas a cabo em Moambique so:

Preparao de um plano nacional de desastres e estabelecimento

de uma rede de apoio atravs de ONGs, governos locais para o

fornecimento de iniciativas comunitrias na reduo de desastres;

O estabelecimento de um fundo para suporte local e comunitrio

para mitigao de desastres naturais

Melhoria de sistema de informao, participao pblica na

reduo dos impactos de desastres e reduo de vulnerabilidade;

Melhoria de informao geogrfica populacional em reas de

risco.

Os grandes programas de capacitao envolvem cinco grandes

componentes:

Desenvolvimento de planos nacionais para reduo de riscos

potenciais, atravs de estabelecimento de um suporte financeiro para uma

maior mobilizao comunitria, montagem de sistema de alerta e

desenvolvimento de uma maior consciencializao comunitria na mitigao

dos desastres;

Fortalecimento institucional atravs de treinamento de tcnicos de

estruturas administrativas, como o INGC;

Operacionalizao de mecanismos de gesto de desastres

atravs de coordenao de um conselho tcnico de gesto de desastres

baseado num plano de contingncia quer a nvel provincial e at mesmo

distrito. Criao de um sistema de aviso prvio gerido por autoridades locais

atravs dos delegados do INGC;

Promoo de campanhas de consciencializao pblica atravs

de programas de arejamento e criao de centros de informao;

Estabelecimento de coordenao regional atravs da SADC para

implementao de programas regionais.

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CONCLUSES No obstante os progressos acima citados, em termos gerais o sector

pblico em Moambique pode ser caracterizado por:

Prestao de servios de forma centralizada.

Falta de habilidades e de incentivos para os funcionrios

pblicos servirem de forma eficaz o pblico em geral.

Prestao de contas de forma inadequada em relao ao

uso de recursos escassos.

Fraca coordenao de polticas, monitoria e avaliao.

Significativo impacto do HIV/SIDA sobre a capacidade do

sector pblico.

A atitude geral do sector pblico requer uma mudana significativa por

forma a ser centrada no cliente e orientada para um maior grau de eficcia. A

descentralizao e a desconcentrao constituem objectivos importantes da

poltica do Governo de Moambique (GdM), para cujo alcance constitui pr-

condio uma maior capacidade das instituies do sector pblico a nvel

central, provincial e distrital.

O Governo de Moambique reconheceu a necessidade de Reforma do

Sector Pblico como factor crtico para o sucesso na imp