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Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
Carolina Emi Urushibata
PROGRAMAS DE MELHORIA HABITACIONAL EM FAVELAS PÓS-
URBANIZADAS: EXPERIÊNCIAS NOS MUNICÍPIOS DE TABOÃO DA
SERRA E DIADEMA
SÃO PAULO 2013
Carolina Emi Urushibata
Programas de melhoria habitacional em favelas pós-urbanizadas: as experiências no
município de Taboão da Serra e Diadema.
Defesa de Mestrado apresentada ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Habitação: Planejamento e Tecnologia.
Área de concentração: Planejamento Gestão e Projeto (PGP)
Data da aprovação ____/____/____
______________________________________
Prof. Dra. Patrícia Rodrigues Samora (Orientadora) USP – Universidade de São Paulo
Membros da Banca Examinadora:
Prof. Dra. Patrícia Rodrigues Samora (Orientadora) USP – Universidade de São Paulo Prof. Dr. André Luiz Gonçalves Scabbia IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
Prof. Dra. Prof. Dra. Maria de Lourdes Zuquim USP – Universidade de São Paulo
Carolina Emi Urushibata
Programas de melhoria habitacional em favelas pós-urbanizadas: as experiências no município de Taboão da Serra e Diadema.
Defesa de Mestrado apresentada ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Habitação: Planejamento e Tecnologia. Área de Concentração: Tecnologia de Construção de Edifícios Orientadora: Prof. Dra. Patrícia Rodrigues Samora
São Paulo Maio/2013
Ficha Catalográfica Elaborada pelo Departamento de Acervo e Informação Tecnológica – DAIT do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
U82p Urushibata, Carolina Emi
Programas de melhoria habitacional em favelas pós-urbanizadas: as experiências no município de Taboão da Serra e Diadema. / Carolina Emi Urushibata. São Paulo, 2013. 169p.
Dissertação (Mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia) - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Área de concentração: Tecnologia em Construção de Edifícios.
Orientador: Profa. Dra. Patrícia Rodrigues Samora
1. Habitação de interesse social 2. Assentamento precário 3. Melhoria habitacional 4. Assistência técnica 5. Taboão da Serra (SP) 6. Diadema (SP) 7. Urbanização 8. Tese I. Samora, Patrícia Rodrigues, orient. II. IPT. Coordenadoria de Ensino Tecnológico III. Título 13-51 CDU 728.222(043)
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado a minha família e
Ronaldo pelo amor incondicional e apoio ao meu
sucesso.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por atender minhas preces, sempre abrindo os
caminhos em minha vida e evolução, dando forças, cuidando com muito amor e
direcionando.
A minha Família por ter me proporcionado suporte financeiro e apoio moral.
Que através de palavras sábias instruíram a não desistir nunca dos meus sonhos e
objetivos.
A Profa. Dra. Patrícia Samora pelo carinho, pelas orientações, pelas sugestões
e incentivo para que realizasse meu trabalho plenamente. Que dispôs de seu
escasso tempo entre família e trabalho para me orientar sabiamente, abrindo as
portas de seu lar e me aconselhando sobre rumos a seguir.
A oportunidade oferecida pelo IPT, pela bolsa de estudo, durante a minha
primeira oportunidade de emprego como arquiteta, e ao corpo docente que ampliou
meus conhecimentos nas áreas técnicas e de planejamento, certamente de grande
utilidade para meu desenvolvimento profissional.
Às minhas colegas da turma 26, que aos trancos e barrancos sempre me
deram forças para êxito do trabalho.
Aos membros presentes na banca de Qualificação e Defesa pelas relevantes
considerações contribuindo à realização de um trabalho coerente de cunho técnico-
científico.
Aos meus “primos-irmãos”, como Juliana e Diego que sempre torceram para
que finalizasse meu trabalho.
A minha tia Marina e tio Kenji, pelas sábias palavras sempre aconselhando
para obtenção do sucesso profissional e acadêmico.
E por fim, ao meu companheiro Ronaldo que nos momentos mais difíceis, com
muito amor e paciência, auxiliou-me a focar no objetivo principal, abrindo os meus
olhos sobre a importância do término desta etapa.
RESUMO
Nos últimos anos, há um evidente progresso no combate ao déficit habitacional e a extrema precarização das moradias situadas em assentamentos precários, conforme as premissas da Política Habitacional Nacional (PNH), de 2003. A fim de investigar os alcances e limites das ações de melhoria habitacional no âmbito municipal, tendo como marco temporal a promulgação da Lei Federal de Assistência Técnica de 2008, este trabalho investiga os programas implementados nos municípios de Taboão da Serra e Diadema, e também os resultados alcançados. Para atingir esses objetivos, partiu-se da construção de uma coletânea de experiências de assistência técnica habitacional em diferentes localidades do país, buscando compreender seus programas, objetivos e método de intervenção, dentro de um contexto mais amplo da evolução da política habitacional nacional relativa aos assentamentos precários nas últimas décadas. Em seguida, empreendeu-se um esforço em conceituar a “qualidade habitacional”, de modo a estabelecer parâmetros que permitissem analisar criticamente as experiências selecionadas de Taboão da Serra e Diadema. Como resultado, verifica-se que a política habitacional municipal ainda possui fragmentos a serem reparados, principalmente quando voltada à qualificação das moradias autoconstruídas. No entanto, entende-se que as prefeituras analisadas estão a caminho de proporcionar ações eficientes para adequar o estoque de moradias situadas em assentamentos urbanizados, mas que ainda carecem de melhores condições de habitabilidade quanto ao ambiente construído consolidado após a urbanização.
Palavras-chave: 1.Melhoria Habitacional 2.Assistência Técnica 3. Inadequação
Habitacional 4.Taboão da Serra 5. Diadema
ABSTRACT
Programs to improve housing in post-urbanized slums: Experiences of Taboão
da Serra and Diadema
In the last years, there is an evident progress in the housing shortage combat and the extreme precariousness of the dwellings situated in slums, according to the premises of the National Housing Policy (PolíticaHabitacionalNacional - PNH), 2003.
In order to investigate the scope and limits of the improvement actions in municipal ambit, having as a temporal boundary the Technical Assistance Federal Law of 2008, this research investigates the implemented programs in Taboão da Serra and Diadema counties, and also the achieved results. To reach these goals, it has started from the construction of an experiences collection about habitation technical assistance in the country different locations, seeking to understand their programs, goals and intervention method, within a broader context of the national habitation policy evolution, relative to the precarious settlement, in the last decades. Then, an effort has undertaken to conceptualize the "habitation quality", in order to stablish parameters that allow analyzing critically the selected experiences from Taboão da Serra and Diadema, used as case study.
As the results, it verifies that the municipal habitation policy still has fragments to be repaired, mainly when focused to the autoconstructed housing qualification. However, it understands that the analyzed city halls are in the way to provide efficient actions to suit the housing stock situated in urban settlements but still need better habitability conditions in relation to the built environment, consolidated after the urbanization. Keywords: 1. Housing Improvement 2. Technical Assistance 3. Habitational Inadequacy 4.Taboão da Serra 5. Diadema
Lista de Fotografias
Fotografia 1 – Família beneficiada em frente a reforma. ......................................... 54
Fotografia 2 - Execução da Fundação de nova moradia. ........................................ 55
Fotografia 3 – Finalização da execução da alvemaria. ............................................ 55
Fotografia 4 - Aula da oficina de capacitação ......................................................... 58
Fotografia 5 - Entrevista com candidatos a capacitação. ........................................ 58
Fotografia 6 – Residência precária construída em pau a pique. .............................. 59
Fotografia 7 - Residência posterior a intervenção. ................................................... 59
Fotografia 8 - Curso de Capacitação em pintura, promovido por empresa do setor privado. Experiência - Arquiteto de Família/Soluções Urbanas ................................. 61
Fotografia 9 - Curso de Capacitação em pintura, promovido por empresa do setor privado ...................................................................................................................... 61
Fotografia 10 – Cozinha anterior a reforma. ............................................................ 65
Fotografia 11 – Cozinha posterior a reforma............................................................ 65
Fotografia 12 – Varanda anterior a reforma. ............................................................ 65
Fotografia 13 – Varanda posterior a reforma. .......................................................... 65
Fotografia 14 – Fachada anterior a reforma............................................................. 65
Fotografia 15 – Fachada posterior a reforma. .......................................................... 65
Fotografia 16 - Situação das casas que foram atendidas pelo programa Minha Morada. ..................................................................................................................... 67
Fotografia 17 - Situação das casas que foram atendidas pelo programa Minha Morada. ..................................................................................................................... 67
Fotografia 18 - Situação das casas que foram atendidas pelo programa Minha Morada. ..................................................................................................................... 68
Fotografia 19 - INOCOOP Serra Verde (ao fundo), Vale dos Pinheiros (ao centro da foto). .......................................................................................................................... 87
Fotografia 20 - INOCOOP Vale dos Pinheiros. ........................................................ 87
Fotografia 21 - CDHU Parque Laguna. .................................................................... 87
Fotografia 22 - CDHU Parque Jacarandá. ............................................................... 87
Fotografia 23 – Sítio das Madres 1. ....................................................................... 101
Fotografia 24 - Sítio das Madres 2 ......................................................................... 101
Fotografia 25 - Sítio das Madres 3 ........................................................................ 102
Fotografia 26 - Sítio das Madres 4 ........................................................................ 102
Fotografia 27 - Doação de Lotes Saint Moritz,lado a lado com os lotes da Cooperativa Novo Horizonte ................................................................................... 102
Fotografia 28 – Barracos de madeira no Jardim Saint Moritz. ............................... 102
Fotografia 29 – Foto fachada anterior à reforma do PSH. ..................................... 107
Fotografia 30 – Foto fachada posterior à reforma do PSH. ................................... 107
Fotografia 31 – Foto fachada anterior à reforma do PSH. ..................................... 107
Fotografia 32 – Foto fachada após à reforma do PSH ........................................... 107
Fotografia 33 – Foto banheiro com infiltração anterior à reforma do PSH. ............ 107
Fotografia 34 – Foto banheiro posterior à reforma do PSH. .................................. 107
Fotografia 35 – Foto instalação elétrica anterior à reforma do PSH ...................... 108
Fotografia 36 – Quadro de elétrica posterior à reforma do PSH. ........................... 108
Fotografia 37 – Foto de piso em corredor anterior à reforma do PSH. .................. 108
Fotografia 39 – Acabamento cerâmico anterior à reforma do PSH ........................ 108
Fotografia 38 – Acabamento cerâmico posterior à reforma do PSH ...................... 108
Fotografia 40 – Acabamento cerâmico posterior à reforma do PSH. ..................... 108
Fotografia 41 – Foto acesso sem escada .............................................................. 109
Fotografia 42 – Foto posterior a reforma com a escada. ....................................... 109
Fotografia 43 – Foto acesso sem escada. ............................................................. 109
Fotografia 44 – Foto posterior a reforma com a escada. ....................................... 109
Fotografia 45 – Travessa Salvador, anterior a intervenção do programa Tá Bonito. ................................................................................................................................ 129
Fotografia 46 – Travessa Salvador, após a intervenção do programa Tá Bonito. . 129
Fotografia 47 – Realização do Cadastro Social. .................................................... 130
Fotografia 48 – Realização do levantamento físico das moradias. ........................ 131
Fotografia 49 – Situação da casa 1 anterior à reforma. ......................................... 135
Fotografia 50 – Situação da casa 1 posterior à reforma. ...................................... 135
Fotografia 51 – Situação da casa 2 anterior à reforma. ......................................... 137
Fotografia 52 – Situação da casa 2 posterior à reforma. ....................................... 137
Fotografia 53 – Situação da casa 3 anterior à reforma. ......................................... 139
Fotografia 54 – Situação da casa 3 posterior à reforma. ....................................... 139
Fotografia 55 – Situação da casa 4 anterior à reforma. ......................................... 140
Fotografia 56 – Situação da casa 4, fundos anterior à reforma. ............................ 140
Fotografia 57 – Situação da casa 4, fachada, posterior à reforma. ........................ 140
Fotografia 58 – Situação da casa 4, fundos posterior à reforma. ........................... 140
Fotografia 59 – Moradia do Programa “Tá Bonito”, construção da escada, mas ausente equipamento de segurança - corrimão. ..................................................... 151
Lista de Figuras
Figura 1 – Panfleto de divulgação. ................................................................................. 52
Figura 2 – Desenho do Levantamento. .................................................................... 53
Figura 3 – Proposta de Projeto. ...................................................................................... 53
Figura 3 - Projeto da fachada. .................................................................................. 54
Figura 4 - Instruções e dicas para uma boa construção, 2007. ................................ 56
Figura 5 - Fluxo do escritório Reforma Mais. ............................................................ 63
Figura 6 – Mapa dos assentamentos precários. ....................................................... 78
Figura 7 – Mapa dos Assentamentos precários. ...................................................... 84
Figura 8 – Localização dos bairros que estão sofrendo ação do PSH. .................... 98
Figura 9 – Localização dos bairros Sítio das Madres. .............................................. 99
Figura 10 – Localização do bairro Saint Morritz. ...................................................... 99
Figura 11 – Projeto de reforma “casa1” do 1º pavimento, ampliação do cômodo, sala. ......................................................................................................................... 136
Figura 12 – Projeto de reforma “casa 2” térreo, ampliando-se com mais uma cozinha. ................................................................................................................... 137
Figura 13 – Projeto de reforma “casa2” 1º pavimento, ampliando-se o dormitório 2. ................................................................................................................................ 138
Figura 14 – Projeto de reforma “casa 3” do 1º pavimento, não há abertura acesso solar no dormitório 3. ............................................................................................... 139
Figura 15 – Projeto de reforma casa 4 - Plantas .................................................... 141
Figura 16 – Projeto de reforma casa 4 – Cortes e elevação .................................. 141
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Critérios de inadequação dos domicílios urbanos duráveis (1), segundo regiões geográficas - Brasil - 2000, 2005 e 2008. ..................................................... 33
Tabela 2 - Domicílios em assentamentos precários, de acordo com as diferentes fontes e metodologias de levantamento. Município de Taboão da Serra. ................. 81
Tabela 3 – Número total de domicílios em situação de inadequação habitacional. Município de Taboão da Serra. ................................................................................. 82
Tabela 4 – Número total de domicílios em situação de inadequação habitacional. Município de Taboão da Serra. ................................................................................. 85
Tabela 5 – Promoção Pública Habitacional até 2005. Município de Taboão da Serra. .................................................................................................................................. 86
Tabela 6 – Valor dos contratos de repasse da SEMUDUH entre 2005 até 2009. Município de Taboão da Serra. ................................................................................. 89
Tabela 7 – Síntese dos Valores Investidos por Programa. Município de Taboão da Serra. ........................................................................................................................ 90
Tabela 8 – Dados dos assentamentos precários do Município de Taboão da Serra. ................................................................................................................................ 101
Tabela 9 - Distribuição da Demanda Prioritária – Município de Diadema ............... 120
Tabela 10 - Déficit Habitacional Básico no Município de Diadema, 2000. .............. 121
Tabela 11 - Necessidade de Novas Habitações de Interesse Social até 2020. Município de Diadema. ............................................................................................ 122
Tabela 12 - Síntese do Déficit Quantitativo. Município de Diadema. ...................... 122
Tabela 13 - Síntese do Déficit Qualitativo. Município de Diadema. ........................ 123
Tabela 14 - Demanda do Programa Requalificação Habitacional. Município de Diadema. ................................................................................................................. 125
Lista de Quadros
Quadro 1 (Q1) Questionamentos realizados aos técnicos das prefeituras. .............. 24
Quadro 2 (Q2) Metodologia de cálculo do déficit e da inadequação dos domicílios – 2008. ......................................................................................................................... 26
Quadro 3 (Q3) Evolução de programas e ações da Política Habitacional - a partir de 2001. ......................................................................................................................... 38
Quadro 4 (Q4) Entidades promotoras versus funções. ............................................ 62
Quadro 5 (Q5) Síntese dos questionamentos iniciais - Taboão da Serra ............... 112
Quadro 6 (Q6) Síntese dos questionamentos iniciais - Diadema ........................... 143
Quadro 7 (Q7) Comparação das ações de melhoria pesquisadas com parâmetros de melhoria propostos. ................................................................................................. 152
Lista de Abreviaturas e Siglas
AEIS Áreas Especiais de Interesse Social AEIS
ATME Assistência Técnica à Moradia Econômica
ABCP Associação Brasileira de Cimentos Portland
BID Banco Interamericano do Desenvolvimento
BM Banco Mundial
BNH Banco Nacional da Habitação
CEF Caixa Econômica Federal
CEI Centro de Estatística e Informação
CEM Centro de Estudo da Metrópole
CDHU Companhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano
CPFL Companhia Paulista de Força e Luz
Emplasa Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA
FUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP
FJP Fundação João Pinheiro
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
Fumapis Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social
FNHIS Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INOCOOP – SP
Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
ITERJ Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro
MCMV Minha Casa Minha Vida
MCidades Ministério das Cidades
OGU Orçamento Geral da União
ONG Organização Não Governamental
Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Social
PNH Política Nacional de Habitação
PMD Prefeitura Municipal de Diadema
PMTS Prefeitura Municipal de Taboão da Serra
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PSH Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social
PPI Projetos Prioritários de Investimentos
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SHDU Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Habitacional
SEMUDUH Secretaria Municipal do Desenvolvimento urbano e Habitacional
SFH Sistema Financeiro de Habitação
ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 16
1.1 JUSTIFICATIVA..........................................................................................................20
1.2 OBJETIVO.................................................................................................................20
1.3 MÉTODO DE TRABALHO.............................................................................................21
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO................................................................................23
1.5 FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................................23
2 INADEQUAÇÃO HABITACIONAL E REQUALIFICAÇÃO DAS MORADIAS..................................................................................... 25
2.1 EVOLUÇÃO DA INADEQUAÇÃO HABITACIONAL - CONCEITOS, METODOLOGIA E NÚMEROS.. 26
2.1.1 EVOLUÇÃO DOS NÚMEROS DA INADEQUAÇÃO DOMICILIAR NO BRASIL, ANÁLISE DOS ANOS
2000, 2005 E 2008........................................................................................................ 30
2.2 EVOLUÇÃO POLÍTICA HABITACIONAL NO PAÍS.............................................................35
2.2.1 ESPECIFICIDADES DOS PROGRAMAS DE MELHORIA HABITACIONAL.............................. 39
2.3 A PROBLEMÁTICA HABITACIONAL E EXPERIÊNCIAS DE URBANIZAÇÃO........................... 42
2.3.1 BREVE HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DOS GOVERNOS MUNICIPAIS DE SÃO PAULO E SANTO
ANDRÉ NOS PROGRAMAS DE URBANIZAÇÃO.......................................................................44
2.4 ADVENTO DA LEI DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXPERIÊNCIAS...................................... 49
2.4.1 PROJETO HABITAT - CONSULTÓRIO MÓVEL DE ARQUITETURA E PROJETO HABITAT DE
AÇÃO IMEDIATA EM VIÇOSA, 2007.................................................................. .................. 51
2.4.2 PROJETO ARQUITETO DE FAMÍLIA - ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA MELHORIAS
HABITACIONAIS EM ASSENTAMENTOS INFORMAIS URBANOS, 2007.......................................59
2.4.3 REFORMA MAIS: MELHORIA HABITACIONAL PARA MORADIAS POPULARES COM
ASSISTÊNCIA TÉCNICA E MICROCRÉDITO, 2010................................................................. 61
2.4.4 MINHA MORADA: ASSESSORIA PERSONALIZADA À CONSTRUÇÃO AUTOGERIDA –
RACIONALIZAÇÃO DE PROCESSOS.................................................................................... 66
2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS EXPERIÊNCIAS RELATADAS............................................ 68
2.6 CONCEITO SOBRE MORADIA DIGNA...........................................................................70
2.6.1 DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE HABITABILIDADE.................................................... 74
3 ESTUDOS DE CASO............................................................................................. 75
3.1 ESTUDO DE CASO – TABOÃO DA SERRA...................................................................... 76
3.1.1 HISTÓRICO DE URBANIZAÇÃO E AÇÕES HABITACIONAIS.............................................. 78
3.1.2 DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL - PLHIS (DIAGNÓSTICO E
PROPOSTAS).................................................................................................................. 80
3.1.3 PROGRAMAS HABITACIONAIS................................................................................... 85
3.1.4 OS PROGRAMAS DE “MELHORIA HABITACIONAL”........................................................ 91
3.1.4.1 URBANIZAÇÃO- PAC.................................................................................... ......... 93
3.1.4.2 ASSISTÊNCIA TÉCNICA- PAC................................................................................. 96
3.1.4.3 PROGRAMA DE SUBSÍDIO A HABITAÇÃO – PSH........................................................ 97
3.1.5 RESULTADOS DAS AÇÕES DE TABOÃO DA SERRA....................................................... 109
3.2 ESTUDO DE CASO – DIADEMA................................................................................... 113
3.2.1 HISTÓRICO DE URBANIZAÇÃO E AÇÕES HABITACIONAIS............................................ 114
3.2.2 PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL - PLHIS (DIAGNÓSTICO E
PROPOSTA).................................................................................................................. 119
3.2.3 PROGRAMAS DE MELHORIA HABITACIONAIS.............................................................124
3.2.4 PROGRAMA TÁ BONITO- VILA OLINDA...................................................................... 129
3.2.4.1 COMPOSIÇÃO DOS RECURSOS E METODOLOGIA ADOTADA..................................... 131
3.2.4.2 AÇÃO SOCIAL DE GERAÇÃO DO TRABALHO E RENDA.............................................. 133
3.2.4.3 PRAZO DA OBRA................................................................................................ 134
3.2.4.4 DIFICULDADES E CUSTOS EXCEDENTES............................................................... 134
3.2.4.5 RESULTADOS DO PROJETO “TÁ BONITO”- VILA OLINDA...........................................135
3.3 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASOS............................................................................ 144
4 RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES..........................................................154
5 CONCLUSÕES........................................................................................... 158
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 162
16
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação discorre sobre dois programas de “melhoria
habitacional”, buscando compreender de que maneira os municípios estão
implementando, ou não, os dispositivos da Lei Federal nº 11.888, Lei de Assistência
Técnica, de 24 de dezembro de 2008.
Durante a pesquisa, notou-se que as administrações municipais estão
encontrando dificuldades para a regulamentação da Lei de Técnica, cujos motivos
serão enumerados ao longo do trabalho.
Para subsidiar este estudo, foram selecionados os municípios de Diadema e
Taboão da Serra, ambos localizados na Região Metropolitana de São Paulo, com
intuito de buscar os programas que promoveram a melhoria habitacional em
assentamentos precários, além de investigar quais motivos que impediram a efetiva
aplicação da Lei de Assistência Técnica.
Segundo levantamentos realizados, Diadema possui um histórico pioneiro na
formulação de políticas fundiárias e habitacionais que visa à integração dos
assentamentos precários à cidade formal. Tem como principal desafio a
implementação da política de melhoria habitacional, buscando ir além da mera
consolidação das moradias precárias existentes nas favelas regularizadas. Já o
município de Taboão da Serra possui graves problemas habitacionais e, somente
nas últimas décadas, a administração passou a ter como ênfase as políticas
habitacionais efetivas.
O interesse pela pesquisa sobre assistência técnica surgiu de experiência
prática realizada como bolsista em programa de extensão da Universidade Federal
de Viçosa, quando, então, era aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Nesse programa, participava da elaboração de projetos e acompanhamento
técnico de reformas das moradias. As edificações que passaram por requalificações
estavam situadas em Nova Viçosa, bairro com moradias carentes em infraestrutura.
Algumas famílias passaram a receber subsídios municipais por meio da doação de
materiais de construção. Assim, ficou a cargo dos estudantes e professores da
universidade a elaboração do projeto e o acompanhamento na execução da reforma.
Em fase de elaboração da dissertação, indaguei a respeito de como tem sido
a evolução da política habitacional no país, o que me motivou a realizar os seguintes
questionamentos: houve, de fato, progresso na política habitacional do país? Os
17
municípios estão tendo êxito com programas que visem à melhoria da qualidade da
habitação das famílias de baixa renda?
Da análise da evolução da política habitacional do país constata-se que,
historicamente, grande parte da população de baixa renda ficou à margem dos
processos referentes ao acesso a programas e subsídios habitacionais.
Maricato (1995) relata que as favelas tornaram-se opção de moradia tanto
para os trabalhadores urbanos informais como para o trabalhador da indústria
fordista. O não atendimento das necessidades habitacionais dentro do mercado
formal foi consequência dos baixos salários pagos pela indústria, problema agravado
pela falta de políticas públicas habitacionais direcionadas às camadas de mais baixa
renda. A autora ainda define que:
A produção ilegal de moradias e o urbanismo segregador estão,
portanto, relacionados às características do processo de
desenvolvimento industrial – na medida em que o salário do operário
industrial não o qualifica para adquirir uma casa no mercado
imobiliário legal –, às características do mercado imobiliário
capitalista – sobre cujos agentes não pesa nenhum constrangimento
antiespeculativo, como seria o caso da aplicação da função social da
propriedade – e também às características dos investimentos
públicos, que favorecem a infraestrutura industrial e o mercado
concentrado e restrito. (MARICATO, 1995, p.22)
Como forma de atender à classe popular, em 1964, foram criados, o Sistema
Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação (BNH), fornecendo
“um exemplo muito adequado da modernização excludente” (MARICATO, 1995, p.
22).
“O BNH, que deveria atender à classe operária, restringiu o atendimento
somente às classes média e média alta, ao fixar o piso para financiamento a oito
salários mínimos” (FURIGO, 2003, p. 2). Como se não bastasse, patrocinou obras
faraônicas de saneamento básico, conforme dados a seguir:
O investimento de uma vultosa poupança, parte compulsória (FGTS)
e parte voluntária (SBPE) no financiamento à habitação, saneamento
básico e infraestrutura urbanos, mudou a face das cidades
brasileiras, financiando a verticalização das áreas residenciais mais
18
centrais; contribuindo para o aumento especulativo do solo;
dinamizando a promoção e a construção de imóveis (o mercado
imobiliário atinge um novo patamar e uma nova escala);
diversificando a indústria de materiais de construção; subsidiando
apartamentos para as classes médias urbanas; patrocinando a
formação e consolidação de grandes empresas nacionais de
edificação e mesmo de construção pesada, nas faraônicas obras de
saneamento básico (MARICATO, 1995, p. 2).
Além da falta de comprometimento do governo (Federal, Estadual e
Municipal) em lidar com o crescente déficit habitacional e a desorganização espacial
nas cidades, outro fator ocasionou o adensamento nos loteamentos periféricos
irregulares: o rápido processo de urbanização nos grandes centros econômicos
provocado pelo êxodo rural, sobretudo, a partir da década de 1970.
A migração deve-se à “concentração fundiária em primeiro lugar, seguida da
introdução de tecnologia em certos setores da produção rural destinada
principalmente à exportação e também o desprezo pelo avanço das relações
trabalhistas no campo” (MARICATO, 1995, p. 19).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta os números
que comprovam a crescente urbanização do país:
(...) nos anos 60, o Brasil ainda era um país agrícola, com uma taxa
de urbanização de apenas 44,7%. Em 1980, 67,6% do total da
população já vivia em cidades. Entre 1991 e 1996, houve um
acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, o que se reflete na
elevada taxa de urbanização, 78,4% (http://www.ibge.gov.br/).
Lorenzetti (2001) constata, acerca dos números crescentes de urbanização,
que não houve o mesmo crescimento na geração de empregos, na oferta de
moradias, infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos, o que refletiu na
ocupação desordenada do solo e na expansão contínua das periferias.
Consequentemente os trabalhadores, mesmo empregados, não possuíam
condições de acesso à moradia digna. Então, eram obrigados a ocupar terrenos
localizados em espaços não urbanizados, em áreas de mananciais, à beira de
córregos e encostas de morros, protegidos legalmente contra a ocupação indevida.
19
O resultado desse somatório de fatores levou a produção de habitações sem
mínimas condições de habitabilidade, muitas vezes localizadas em assentamentos
precários.
Na mesma linha, Cardoso (2008) relata que devemos partir do pressuposto
de que as favelas são frutos de problemas estruturais da sociedade e da economia
brasileira; mas, sobretudo, consequência da má governança e da incapacidade dos
governos de acionar mecanismos de controle da atuação do mercado.
Entretanto, algumas experiências de urbanização suscitaram a melhoria das
condições de infraestrutura urbana, tal como aponta Denaldi (2003) em análise
realizada por intermédio de um dos indicadores de inadequação das condições da
moradia.
Segundo a autora, ao longo dos tempos, as condições sanitárias dos
domicílios em favelas melhoraram. “Na cidade de São Paulo, em 1973, 65,8% dos
domicílios não tinham sanitários e/ou eram providos de banheiro coletivo. Em 1980,
esse número foi de 38,5% e, em 1987, somente 10,9% das residências não tinham
banheiro”. Em 1991, 12,6% eram os domicílios em favelas onde o banheiro era
inexistente ou coletivo. Em 2001, 4% de domicílios duráveis, em todo o país, não
possuíam banheiro interno e 2,6% foi o número apresentado nas regiões
metropolitanas (DENALDI, 2003, p. 45).
Quanto às questões sanitárias, os números mostram-se satisfatórios, mas o
mesmo não é observado nas diversas categorias que classificam a moradia como
precária. Ainda é significativo o número de domicílios que apresentam o
adensamento excessivo, que possuem ambientes insalubres, quanto às condições
de ventilação, iluminação e segurança (DENALDI, 2003).
A afirmação demonstra que melhoraram, sim, as condições de habitabilidade
quanto ao saneamento; mas acredita-se que os programas federais devem ser
conduzidos com o olhar crítico na promoção dos programas de melhoria
habitacional. Torna-se importante viabilizar a consolidação das moradias de maneira
adequada, promovendo condições mínimas de habitat. Para Samora (2010), garantir
que as moradias existentes no local sejam mantidas em condições dignas de habitat
é um sinal de respeito aos esforços que já foram investidos pelo morador, bem como
ao direito de permanência destes nos assentamentos.
20
1.1 JUSTIFICATIVA
Justifica-se o presente estudo ao se constatar que há, no país, um expressivo
estoque de moradias que necessita de intervenções físicas para que apresentem
condições satisfatórias de habitabilidade, conforme aponta a Fundação João
Pinheiro (FJP).
Segundo dados apresentados pela FJP em 2008, há necessidade não só de
reposição do estoque e da demanda por novas moradias, mas, sobretudo, de
qualificar o estoque existente. São significativos os números de habitações que
necessitam ser reformadas. Por essa razão, é necessário que os programas e as
ações procedentes do Poder Público atendam, também, às moradias que se
encontram em estado de inadequação, definidas pela ausência de algum tipo de
rede de infraestrutura urbana, adensamento excessivo, irregularidade fundiária,
ausência de iluminação e ventilação ou mesmo de cobertura adequada.
Parte-se, então, da premissa de que, no âmbito do Governo Federal, há um
progresso no combate ao déficit e a extrema precarização das moradias em favelas,
iniciadas pelas experiências da década de 1990, como o programa Habitar Brasil
(BID). No entanto, para esta dissertação determinou-se como marco a criação da
Política Nacional da Habitação (PNH), criada em 2003.
O combate à inadequação domiciliar, contudo, tornou-se motivo de interesse
dentro da PNH, a partir de 2008, quando estabelecida federalmente a
obrigatoriedade do cumprimento da Lei de Assistência Técnica pública e gratuita às
famílias de baixa renda (Lei nº 11.888).
Observa-se que é um momento no qual a legislação está regulamentada e os
recursos, na grande maioria de origem federal, estão disponíveis tanto para que os
poderes Executivos, Estaduais e Municipais promovam o acesso à cidade formal
como à moradia digna, destinada principalmente à população mais vulnerável.
Resta verificar se estes esforços têm, de fato, contribuído para o alcance de
padrões adequados de habitabilidade, conforme será discutido neste trabalho, a
partir da experiência de dois municípios.
1.2 OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as ações e programas de
“melhoria habitacional” em assentamentos urbanizados nos municípios de Taboão
21
da Serra e Diadema, buscando identificar quais foram os resultados obtidos. A partir
deste recorte, o trabalho tem como objetivo principal refletir criticamente sobre os
alcances e limites da política habitacional que tenham como foco a requalificação do
estoque habitacional presente nos assentamentos precários a partir da promulgação
da Lei de Assistência Técnica (colocar o número da lei e data).
Pretende-se, ainda fornecer subsídios para uma reflexão sobre o real
significado dos ditos programas de “melhoria habitacional”, conforme tem sido a
nomenclatura para ações que visem interferir no estoque habitacional em
assentamentos que se encontram em processos de urbanização e consolidação. De
fato, nem sempre investimentos nas moradias, produzidas por meio de
autoconstrução, conseguem reverter seu grau de inadequação e, por esta razão, o
uso do termo “melhoria habitacional” precisa ser problematizado.
Pretendia-se, inicialmente, analisar o impacto da Lei de Assistência Técnica
em localidades da Região Metropolitana de São Paulo. Porém, dentre os municípios
pesquisados, nenhum aplicou os dispositivos deste instrumento em sua totalidade,
razão pela qual este objetivo não foi alcançado.
1.3 MÉTODO DE TRABALHO
O método de trabalho utilizado foi o investigativo comparativo. Primeiro,
tentou-se busca pelos resultados acerca de como a Lei de Assistência Técnica vem
sendo apropriada, e possivelmente que rumo deverá ser tomado dentro da Política
Nacional de Habitação, para que as famílias de baixa renda sejam efetivamente
beneficiadas pela ação. No entanto, ao serem analisados dois estudos de caso,
notou-se que ambos não conseguiram implementar ou não obtiveram resultados
significativos com a assistência técnica gratuita. Dessa forma, partiu-se para a
análise dos programas, que, de alguma forma, visam as melhorias das condições de
habitabilidade das famílias. Dois programas de maior visibilidade foram analisados, o
PSH, em Taboão da Serra, e o Tá Bonito, de Diadema.
O processo de análise teve início com a construção de um referencial teórico
sobre o tema da “melhoria habitacional”, no âmbito da problemática do combate ao
déficit habitacional no Brasil,
Destacando o conceito de moradia digna e a evolução da inadequação
habitacional apresentada pela Fundação João Pinheiro. Procurou-se fundamentar
22
quais os conceitos de moradia digna a serem adotados, possibilitando, assim,
estabelecer parâmetros de habitabilidade, ou categorias de análise para conduzir a
avaliação dos programas escolhidos.
Buscou-se, ainda, destacar as modalidades atualmente ofertadas pelo
Governo Federal como incentivo à minimização do problema da habitação precária
no Brasil, situando-as no contexto da promulgação da Lei de Assistência Técnica.
A esta etapa, foram incorporadas experiências praticadas por ONGs e
associações que tinham como intuito assistir tecnicamente à população carente,
desde a captação para obtenção de financiamentos até a assessoria a projetos e
execução das obras. A meta foi verificar como esses projetos eram realizados e de
que maneira os procedimentos adotados, elementos que também subsidiaram a
análise dos programas escolhidos
Na segunda etapa, foram selecionadas duas prefeituras da Região
Metropolitana de São Paulo, visando comparar as ações empregadas com a
finalidade de melhoria habitacional com os parâmetros de análise estabelecidos na
etapa anterior. Os municípios escolhidos foram Taboão da Serra, dado seu recente
histórico de reforma da política habitacional, e Diadema, cidade pioneira na criação
de programas e ações para qualificação dos assentamentos precários desde a
década de 1980.
Foram realizadas entrevistas com o corpo técnico das prefeituras de Taboão
da Serra e Diadema, nas quais, foi solicitado o acesso a dados e informações que
auxiliaram a compor e entender os expedientes adotados em cada situação para
viabilização dos programas de intervenção das habitações autoconstruídas. Os
técnicos relataram a atuação das prefeituras no combate à inadequação das
moradias e as principais dificuldades na implantação dessas ações.
Disponibilizaram, ainda, fotos anteriores e posteriores à reforma e relatórios de
análise dos programas.
Por fim, realizou-se o cruzamento entre os programas de melhoria
habitacional nos municípios escolhidos, comparando-os com outras experiências e
informações bibliográficas levantadas, com a finalidade de avaliar os programas
adotados como estudo de caso.
23
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Após este capítulo inicial, contendo justificativa, objetivos e método adotado e
forma de análise dos dados, o segundo capítulo consolida o referencial teórico
utilizado como base para está dissertação. Buscará-se entender as intervenções
praticadas pelo poder público, em especial na região metropolitana de São Paulo,
além de serem relatadas experiências pontuais promovidas por ONGs e instituições
visando à minimização dos problemas das moradias precárias no Brasil.
O terceiro capítulo apresenta os resultados dos estudos de caso selecionados
nos municípios de Taboão da Serra e outro em Diadema, incluindo o histórico de
intervenção em relação à urbanização de assentamentos precários e qualificação
das moradias, além de demonstrar o levantamento de inadequação domiciliar de
cada município. E buscou-se também adentrar na atual política municipal, que tem
como objetivo a qualificação das habitações pertencentes às famílias de baixa
renda.
No penúltimo capítulo, serão expostas as recomendações e as proposições
para o enfrentamento da inadequação habitacional.
Finalmente, no último capítulo, serão apresentadas as conclusões e
considerações finais deste trabalho.
1.5 FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para análise dos resultados, foram formulados os seguintes questionamentos:
A Lei de Assistência Técnica foi apropriada pelos municípios
analisados?
Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos agentes municipais
para implementar a Lei de Assistência Técnica?
Se não há implementação da Lei de Assistência Técnica, quais foram
os resultados dos programas de melhoria habitacional?
Tais programas utilizaram parâmetros apropriados de “melhoria
habitacional”, conforme o referencial construído nesta pesquisa?
24
A fim de coletar dados e informações a respeito dos programas de melhoria e
dos procedimentos adotados, foram sistematizadas as seguintes perguntas,
conforme quadro a seguir:
Quadro 1 (Q1) – Questionamentos realizados aos técnicos das prefeituras.
Questões Taboão da
Serra Diadema
1
1
Há ações de assistência técnica de acordo com a Lei
11.888?
2
2 Se não, quais programas têm o mesmo intuito?
3
3 Que programa foi utilizado como estudo de caso?
4
4 Onde se situa a intervenção?
5
5 Qual o nome do programa que envolve a intervenção?
6
6
De onde vem o subsídio? FGTS, OGU? É fundo
perdido, sim ou não? Se não, as famílias são
oneradas?
7
7
O programa está incluso num processo de urbanização
de favelas ou não?
8
8
Em que estágio de implantação encontra-se o
programa?
8
9
Como se deram as reformas para a melhoria
habitacional?
1
10
Quais os passos que os agentes promotores tiveram de
percorrer para viabilizar a implantação do programa?
1
11
Qual foi o tempo para cada etapa até o atual estágio em
que se encontra a intervenção?
1
12
Quais as dificuldades enfrentadas pelos agentes
promotores (houve resistência na implantação, como foi
a aceitação da comunidade? Foi participativa?)
1
13
Houve remoções? Se sim, onde se encontram as
famílias removidas? Quantas foram as famílias
removidas?
25
1
14
Há associação de moradores? Há lideranças na
comunidade?
1
15
Quantas famílias foram atendidas (nos programas de
melhoria e na área do estudo de caso)?
1
16
Há registros da intervenção (levantamentos, projetos, fotos
anteriores à reforma e posteriores)?
1
17 Foi realizada alguma avaliação pós-ocupação?
1
18
Foi realizada pesquisa de satisfação com os
moradores?
Fonte: Elaborado pela autora
2 INADEQUAÇÃO HABITACIONAL E REQUALIFICAÇÃO DAS MORADIAS
O objetivo principal deste capítulo é apresentar elementos teóricos que
fundamentem a temática do déficit e da inadequação habitacional, com ênfase nas
ações de melhoria habitacional, estabelecendo elementos de subsídios para
avaliação crítica dos programas selecionados para o estudo de caso.
Para tanto, serão relatados conceitos e números da inadequação habitacional
e como o Governo Federal vem subsidiando para que as prefeituras venham atender
à demanda da inadequação domiciliar.
Além disso, serão apresentadas quatro experiências de assistência técnica,
como forma de contextualização das ações, objeto do estudo de caso.
Foram selecionados os seguintes temas para fundamentação:
Conceitos iniciais
i. Conceito de déficit habitacional e inadequação domiciliar
apresentando-se os números levantados pela Fundação João Pinheiro1
(FJP).
ii. Leis, decretos e ação referentes a programas de melhoria habitacional.
1 A Fundação João Pinheiro (FJP) é uma entidade do Governo de Minas Gerais vinculada à
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). É referência nacional em estatística e informações, pesquisas históricas, econômicas e demográficas, desenvolvimento humano, urbano, segurança e criminalidade, ensino e pesquisa em Administração e Administração Pública.
26
Histórico da Política Habitacional
iii. Investigação teórica, com ênfase no histórico de políticas de
urbanização de favelas, que vem ocasionando a consolidação da
precariedade das habitações.
iv. Históricos das intervenções urbanísticas e habitacionais promovidas
pelo Poder Público na Região Metropolitana de São Paulo.
Experiências e ações
v. Breve histórico de ações de assistência técnica à criação da Lei de
Assistência Técnica. Ações promovidas por ONGs e instituições, a fim
de ser verificada a metodologia de cada ação.
Parâmetros de melhoria habitacional
vi. Conceitos de moradia digna, domicílios adequados e melhoria das
moradias em assentamentos precários.
vii. Definição dos parâmetros a serem adotados neste trabalho.
2.1 INADEQUAÇÃO HABITACIONAL - CONCEITOS, METODOLOGIA E
NÚMEROS.
O primeiro relatório realizado pela FJP foi em 1995, a partir de levantamentos
dos dados do Censo de 1990 e do Pnad de 1991. Neste relatório foram criadas duas
vertentes distintas de análise, referentes à questão habitacional no Brasil:
o déficit habitacional e
a inadequação de moradias.
Segundo Azevedo e Araújo (2008), o conceito de déficit refere-se à imediata
necessidade de construção de novas moradias como respostas aos problemas
sociais e às especificidades detectadas em cada habitação. Os números
apresentados neste item estão diretamente ligados ao quantitativo de moradias que
necessitam ser repostas, ou seja, novas moradias a serem construídas.
O conceito da inadequação refere-se aos problemas relacionados à qualidade
de vida dos moradores, que está relacionada às especificidades internas das
moradias. “São assim definidos os domicílios que não proporcionam condições
27
desejáveis de habitabilidade, o que não implica, contudo, necessidade de
construção de novas unidades.”
Os números de déficit excluem os domicílios inadequados, “os critérios
adotados para a inadequação habitacional não são mutuamente exclusivos. Os
resultados, portanto, não podem ser somados, sob risco de haver múltipla contagem
(a mesma moradia pode ser simultaneamente inadequada segundo vários critérios)”
(AZEVEDO; ARAÚJO, 2008, p. 112).
A Fundação João Pinheiro (2008) classificou por componentes que definem
as habitações como déficit e as moradias classificadas como inadequadas, segundo
quadro 2, a seguir.
28
Quadro 2 (Q2) - Metodologia de cálculo do déficit e da inadequação dos domicílios –
2008.
ESPECIFICAÇÃO COMPONENTES
DÉFICIT HABITACIONAL
a) Habitações precárias
- Domicílios rústicos
-Domicílios improvisados
b) Coabitação familiar
- Cômodos alugados, cedidos e
próprios
- Familiares conviventes secundárias
com intenção de constituir domicílio
exclusivo
c) Ônus excessivo com aluguel
d) Adensamento excessivo de
moradores em domicílios alugados
INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS
a)Adensamento excessivo de
moradores em domicílios próprios
b) Carência de serviços e de
Infraestrutura (energia elétrica,
abastecimento de água,
esgotamento sanitário, coleta de
lixo)
c) Inadequação fundiária urbana
d) Inexistência de unidade sanitária
domiciliar exclusiva
e) Cobertura Inadequada
Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informação
(CEI), 2010.
Os números foram calculados com base nos dados do IBGE, e o déficit
habitacional, em 2008, representava cerca de “5.546 milhões de domicílios, dos
quais 4.629 milhões, ou 83,5%, estão localizados nas áreas urbanas”. Comparando-
se os números apresentados em 2007 com os de 2008, verifica-se relativa “queda
de 442.754 unidades habitacionais no montante considerado como déficit
habitacional no Brasil” (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 30).
29
Constata-se que São Paulo é o Estado onde o número de necessidade por
novas moradias é maior, cerca de 1 milhão e 60 mil de unidades habitacionais
precisam ser respostas. Desse montante, 8,2% dos domicílios são particulares
permanentes. Somente na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), esse
número compreende 510 mil unidades, o que demonstra a expressiva concentração
de moradias que não possuem nenhuma condição de habitação na região de maior
desenvolvimento econômico do país (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008).
Quanto ao número de moradias que necessitam de adequação e não
necessariamente precisam ser respostas no estoque habitacional, a Fundação João
Pinheiro utilizou-se dos critérios explícitos no quadro 2.
Os critérios utilizados pela FJP para adensamento excessivo são casas e
apartamentos próprios, uma vez que os alugados são considerados nos cálculos de
déficit habitacional. Imóveis onde o número médio de pessoas ultrapassava três
pessoas por dormitório foram considerados com adensamento excessivo.
No quesito de carência de serviços de infraestrutura, foram considerados os
domicílios que não dispõem de pelo menos um destes itens: iluminação elétrica,
rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede geral de
esgotamento sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo.
Para a inadequação fundiária, a FJP classificou famílias em que, pelo menos,
um dos moradores apresentasse a propriedade da moradia, mas não a propriedade
total ou parcial do terreno onde o domicílio estivesse localizado. Não cabe a essa
classificação os chamados “aglomerados subnormais”. Nota-se que, para esse
quesito ser considerado como tal, o número de déficit ou inadequação tende a
aumentar.
O quesito de inexistência de unidade sanitária domiciliar exclusiva refere-se
ao domicílio que não dispõe de banheiro ou sanitário de uso exclusivo do morador.
Não foram computados como domicílios inadequados, nesse quesito, os que
estavam depreciados, com mais de cinquenta anos e que necessitavam apenas de
manutenção.
E os domicílios sob cobertura inadequada são aqueles que, mesmo
possuindo parede em alvenaria ou madeira, possuem telhados de madeira
aproveitada, de zinco, de lata ou palha.
Os valores totais, encontrados em cada um dos critérios, serão apresentados
no subitem posterior.
30
Devido à dificuldade de se obter os números de pessoas residindo nessas
condições, o IBGE partiu do pressuposto de contagem dos assentamentos
subnormais, estes caracterizados pelo “conjunto constituído por no mínimo 51
unidades habitacionais (barracos, casas etc.) ocupando ou tendo ocupado, até
período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular), dispostas, em
geral, de forma desordenada e densa. Em sua maioria são carentes de serviços
públicos essenciais” (IBGE, CENSO 2010).
Os autores Azevedo e Araújo (2008) ainda relatam que o conceito de
assentamento subnormal condiz com o que se denominam favelas, e o número
obtido pelo IBGE é muito inferior aos identificados por estudiosos da questão.
Mesmo sabendo dessa diferenciação entre os dados, a Fundação João Pinheiro
resolveu adotar os disponibilizados pelo IBGE, por serem a única base de dados que
permite a análise comparativa entre todos os municípios brasileiros. Estimando-se,
assim, o déficit e a inadequação de moradias para essa parcela específica da
população.
2.1.1 EVOLUÇÃO DOS NÚMEROS DA INADEQUAÇÃO DOMICILIAR NO
BRASIL, ANÁLISE DOS ANOS 2000, 2005 E 2008.
Nota-se que para verificar se o combate a precarização está sendo eficiente,
tem-se como base a análise quantitativa e qualitativa das ações de requalificaçãod
as moradias.
Apresenta-se desde os anos 1990, a Fundação João Pinheiro estima a
inadequação habitacional brasileira, sendo a responsável pela elaboração do
conceito e do método para seu cálculo.
Para o diagnóstico realizado pela FJP, quanto aos números da inadequação,
levaram-se em conta algumas premissas, como:
1) Os domicílios não enquadrados nas situações de déficit
habitacional estão exclusos na contagem de inadequação habitacional;
portanto, as habitações precárias, como as improvisadas e rústicas, além
dos domicílios do tipo cômodo, estão inclusos na contagem de déficit
dentro do quesito de coabitação familiar.
2) Exclusos os domicílios localizados nas áreas rurais.
31
3) A inadequação segundo mais de um critério. Portanto, não é
possível a soma dos componentes, correndo-se o risco de dupla
contagem.
Assim, foram detectados, em 2008, “cerca de 10.948 milhões de domicílios
carentes de infraestrutura, o que corresponde a 22,3% dos domicílios particulares
permanentes urbanos do país” (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, p. 59). A carência de
infraestrutura é um caso grave presente nas cinco regiões brasileiras; a região
Nordeste apresenta o pior desempenho em números absolutos, com 3.861 milhões
de domicílios carentes de infraestrutura. A seguir, a região Sudeste apresenta 2.152
milhões de domicílios, a Centro-Oeste, 1.797 milhão, a Norte, 1.627 milhão, e a Sul,
com 1.509 milhão de domicílios.
Considerando o recorte metropolitano, observa-se que a carência de
infraestrutura é relativamente menor nas regiões metropolitanas, que
têm 13,6% de seus domicílios nessa situação, ao passo que nas
demais áreas o percentual chega a 27,0% dos domicílios
(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 60).
O segundo critério com maior número são os domicílios classificados quanto
a inadequação fundiária (imóveis em terrenos não legalizados). Apresenta-se, no
total, 1.692 milhão de unidades, ou seja, 3,4% dos domicílios particulares
permanentes urbanos do país. A região Sudeste apresenta 967 mil unidades com
inadequação fundiária, representando 4,1% de seus domicílios particulares
permanentes urbanos. A região Nordeste tem 336 mil domicílios nessa situação
(3,0% dos domicílios), a região Sul tem 252 mil (3,3% dos domicílios), a Centro-
Oeste tem 74 mil (2,0% dos domicílios) e a Norte, pouco menos de 62 mil (2,0% dos
domicílios particulares permanentes urbanos). Considerando o recorte do Sudeste, a
inadequação fundiária é relativamente maior na Região Metropolitana de São Paulo
(5,9% dos domicílios particulares permanentes urbanos).
Quanto ao adensamento excessivo em domicílios próprios, é apresentado
cerca de 1.434 milhão de domicílios, ou seja, 2,9% dos particulares permanentes
urbanos brasileiros. A região Sudeste novamente é a mais afetada, cerca de 693 mil
(2,9% de seus domicílios particulares permanentes urbanos) são inadequados
quanto ao adensamento excessivo. A região Nordeste tem 341 mil unidades (3,0%
de seus domicílios) afetadas nesse critério de inadequação. Na região Norte, o
32
número de domicílios é menor (210 mil), mas o percentual em relação ao total de
domicílios particulares permanentes é maior (6,7 %) do que nas regiões Sudeste e
Nordeste. Na região Sul, a inadequação alcança 110 mil (1,5% dos domicílios), e no
Centro-Oeste o montante do percentual de domicílios com essa inadequação
chegam a 77 mil (2,1%).
Outros dois tipos de inadequação são: a ausência de banheiro exclusivo e a
cobertura inadequada. Esses itens apresentam números menos significativos,
quando comparados aos anteriores, e correspondem a 800 mil de ausência de
banheiros (1,6% dos domicílios particulares permanentes urbanos) e 600 mil
domicílios com coberturas inadequadas (1,2%).
Segundo dados da Fundação João Pinheiro (2008), encontra-se maior
número de habitações que não possuem banheiro na região Nordeste e maior
número de habitações onde a cobertura é inadequada na região Sul.
A Tabela 1 destaca a evolução dos números encontrados em cada critério de
inadequação no Brasil e em cada uma das regiões, nos anos de 2000, 2005 e 2008.
33
Tabela 1 – Critérios de inadequação dos domicílios urbanos duráveis (1), segundo regiões
geográficas - Brasil - 2000, 2005 e 2008.2
Especificação Inadequação
Fundiária
Adensamento
Excessivo
Domicílios sem
Banheiro
Carência de
Infraestrutura
Cobertura
Inadequada
Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto %
Brasil
2000 1.506.744 4,0 2.024.939 5,4 1.466.701 3,9 10.261.076 27,5
2005 1.739.231 3,9 1.885.785 4,2 1.027.487 2,3 11.319.673 25,1 390.369 0,9
2008 1.692.516 3,4 1.434.113 2,9 800.418 1,6 10.948.684 22,3 600.584 1,2
Norte
2000 56.346 2,8 184.822 9,1 162.865 8,0 1.165.622 57,1
2005 61.111 2,2 212.688 7,5 207.159 7,3 1.585.240 56,0 95.429 3,4
2008 61.978 2,0 210.573 6,7 186.252 5,9 1.627.757 51,7 85.931 2,7
Nordeste
2000 432.270 5,3 385.916 4,7 714.738 8,8 4.010.173 49,1
2005 341.293 3,5 406.585 4,1 480.867 4,9 4.190.284 42,6 57.737 0,6
2008 336.407 3,0 341.019 3,0 337.414 3,0 3.861.874 34,5 72.791 0,7
Sudeste
2000 650.406 3,5 1.133.647 6,1 315.379 1,7 2.155.271 11,7
2005 946.660 4,3 975.858 4,4 170.886 0,8 2.369.942 10,7 86.115 0,4
2008 967.493 4,1 693.888 2,9 147.697 0,6 2.152.417 9,1 199.889 0,8
Sul
2000 325.923 5,5 198.062 3,3 179.154 3,0 1.469.648 24,8
2005 333.682 4,8 157.560 2,3 120.668 1,7 1.449.478 20,7 134.388 1,9
2008 252.224 3,3 110.964 1,5 84.471 1,1 1.509.211 20,0 229.059 3,0
Centro-Oeste
2000 43.799 1,6 122.492 4,5 94.565 3,4 1.460.462 53,1
2005 56.485 1,7 133.094 4,0 47.907 1,4 1.724.729 52,0 16.700 0,5
2008 74.414 2,0 77.669 2,1 44.584 1,2 1.797.425 48,3 12.914 0,3
FONTE: Dados básicos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), 2008.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informação (CEI). Dados de 2008 inserido
pela autora. Nota: (1) Para domicílios duráveis não são considerados não são considerados os improvisados e
os rústicos, sendo excluídos também os cômodos, por se constituírem parcela do déficit habitacional. Inclui, além
dos domicílios urbanos, os rurais de extensão urbana.
2 Itens em vermelho representam crescimento do número de domicílios e itens em azul representam
significativa queda no número de domicílios, quando comparado aos anos anteriores.
34
Entre os períodos 2000 a 2008, ao se observar a evolução dos diferentes
tipos de inadequação no Brasil, houve relativa queda em alguns quesitos, quando
comparado à totalidade dos domicílios permanentes existentes. Só não houve
diminuição das porcentagens do quesito inadequação fundiária, apresentada na
região Centro-Oeste, e cobertura inadequada na região Sul, Sudeste e Nordeste.
A tabela indica que, na maioria dos critérios apresentados, os valores
absolutos no ano de 2005, em comparação ao ano de 2000, foram marcados por
crescimento, principalmente no critério de inadequação fundiária e carência de
infraestrutura. Quando comparados os critérios do ano 2008 em relação aos de
2005, verifica-se que houve relativa queda das porcentagens. Essa observação está
nitidamente demonstrada quando se analisa o critério carência de infraestrutura no
Brasil, em valores absolutos.
Uma hipótese é de que os programas implantados até 2008, em que se
priorizaram massivamente ações de urbanização de favelas, de certa forma
contribuíram para a redução dos valores quanto ao acesso à infraestrutura urbana e
ao adensamento excessivo, no país em geral. Mas deve-se atentar para o critério de
carência de infraestrutura, que ainda apresenta números expressivos em relação a
outros quesitos analisados pela Fundação João Pinheiro.
Conclui-se que a análise dos números levantados pela Fundação João
Pinheiro é de extrema importância para visualizar o montante de moradias que
apresentam problemas de habitabilidade. A compreensão desse montante de
inadequação justifica a importância de serem avaliados os programas disponíveis
pelo Governo Federal, com intuito de verificar se os municípios estão conseguindo
incorporar em suas linhas de ação o combate contra a inadequação das moradias
precárias.
A fim de se verificar o atendimento ou não dos programas oferecidos pelo
Governo Federal, no próximo será apresentado um panorama referente ao
progresso da política habitacional nas esferas federais e municipais.
Serão verificados os programas federais disponíveis atualmente. E, a partir da
apresentação desses programas, pretende-se averiguar se há subsídios federais
relativos à provisão da melhoria habitacional e quais as possibilidades, no âmbito
municipal, de se enfrentar esse problema.
35
2.2 EVOLUÇÃO POLÍTICA HABITACIONAL NO PAÍS.
O governo vem tratando a questão do acesso à cidade formal e a habitação
para classes populares como uma das prioridades dentro das atuações das políticas
públicas. Mas, por muito tempo, a população pobre esteve excluída das decisões e
ações pautadas nas políticas habitacionais.
Neste trabalho, partir-se-á do marco regulatório para o enfrentamento das
questões habitacionais no país, com o estabelecimento da atual Política Nacional de
Habitacional, em vigência desde 2003, e regulamentada pelo Poder Executivo
Federal.
Neste mesmo ano de 2003, durante o governo do presidente Luís Inácio Lula
da Silva, foi criado o Ministério das Cidades (MCidades), com o objetivo de mudar a
conjuntura habitacional no país. Esse ministério passou a ser responsável pela
Política de Desenvolvimento Urbano e estabeleceu a Política Nacional da Habitação
(PNH), que tem por finalidade estruturar o Poder Executivo e o Legislativo, visando
tratativa igualitária ao acesso à cidade, regulamentando os projetos nos setores da
provisão da habitação e saneamento ambiental, com objetivo de garantir acesso à
terra legalizada e moradia digna para a população de baixa renda.
Ela está inserida na concepção de desenvolvimento urbano integrado e
participativo e enfatiza que se deve estender a habitação desde o direito à
infraestrutura necessária até mesmo às condições dignas de habitabilidade,
perfazendo-a como um direito de todo cidadão (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).
Em junho de 2005, com a aprovação da Lei Federal nº 11.124/2005, instituiu-
se o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, que prevê a
integração das ações entre os três níveis de governo, agentes públicos e privados.
Criou-se, também, o Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social – FNHIS e seu
Conselho Gestor. Nesse momento, o programa nacional de urbanização e
regularização de assentamentos precários passou a ser prioritário, e foram inseridas
nesse programa as ações que promovem a melhoria habitacional, nos
assentamentos precários (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).
No entanto, para que os municípios possam acessar o Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social (FHNIS), é obrigatório elaborarem e apresentarem,
além do Plano Diretor Municipal, o Plano Local de Habitação de Interesse Social, o
PLHIS.
36
A finalidade do PLHIS é definir um conjunto de objetivos e metas, diretrizes e
instrumentos de ação e intervenção para o setor habitacional dentro da área
municipal. O Plano deve conter as seguintes etapas: processos metodológicos,
diagnóstico e estratégias de ação.
Na fase de diagnóstico, são identificadas as necessidades de novas
moradias, quer pelo déficit habitacional ou pela demanda futura. Além disso, devem
ser realizadas estimativas das moradias que se encontram em situação de
inadequação.
Além dessas iniciativas viabilizadas pelo Governo Federal, um dos fatores
legislativos que ordenaram juridicamente e urbanisticamente a cidade foi a Lei
Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como o Estatuto da Cidade.
Nele, é prevista a garantia da função social da terra por meio de leis e instrumentos
que prevêem sanções aos munícipes que não estiverem cumprindo o real uso da
terra urbana.
Para que sejam executadas as sanções previstas no Estatuto da Cidade, o
município deverá instituir o Plano Diretor Municipal, que tem como finalidade,
segundo o Estatuto da Cidade (Capítulo III, art. 40º), ser um instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 2001).
O Plano Diretor deve ser obrigatório para municípios com mais de 20 mil
habitantes, de acordo com o Estatuto da Cidade, art. 41º. É nele que se definem as
áreas que são Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) (BRASIL, 2001).
As ZEIS tornaram-se instrumentos de regulação da terra ou indução à
promoção da habitação social quando somadas às ações fiscalizadoras, e
aprovadas pelo Plano Diretor. Verifica-se que a aplicação desse instrumento como
ordenador da cidade gerou parâmetros próprios das limitações edilícias, permitindo-
se maior adensamento nas áreas de interesse social.
O objetivo das ZEIS é proteger do mercado imobiliário as áreas destinadas
aos fins habitacionais e garantir o acesso igualitário à cidade, por meio de
intervenções urbanas, habitacionais e regularização fundiária de assentamentos
precários.
Com a evolução dos programas habitacionais, em 2006, o FNHIS foi
contemplado com um montante de R$ 1 bilhão para iniciar a sua operação. Uma
parcela significativa desses recursos foi direcionada aos estados e municípios, por
37
meio de repasses, com fins de implementação de projetos de integração urbana de
assentamentos precários (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).
Em 2007, foi a primeira vez que o tema de urbanização de assentamentos
precários foi incluso nas linhas de ação efetivando o desenvolvimento econômico e
social do país, quando então, foram inseridos nas ações do Programa de Aceleração
do Crescimento – PAC. Este programa, lançado em janeiro de 2007, consistiu em
um conjunto de medidas, implementados entre 2007 e 2010. (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2007).
Seu prosseguimento se deu na etapa PAC 2, com período de vigência entre
2011 a 2014. O objetivo do PAC é o aumento dos investimentos públicos em
infraestrutura e promoção de melhoria na vida da população carente com intenção
de remover obstáculos burocráticos, administrativos, normativos, jurídicos e
legislativos ao crescimento e desenvolvimento do país.
Os municípios contemplados com os recursos do PAC foram previamente
selecionados pelo Ministério das Cidades. Estes recursos são destinados a
urbanização de assentamentos precários, saneamento integrado, manejo de águas
pluviais e prevenção de deslizamento de encostas que demandem reassentamento,
e remanejamento ou substituição de unidades habitacionais. Exclusivamente, para
essas unidades habitacionais a legislação prevê a dispensa de participação
financeira dos beneficiários, assim como a extrapolação no limite de renda até o teto
de R$ 2.790,00. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).
No ano de 2009, foi lançado o programa Minha Casa Minha Vida, MCMV,
dentro do PAC, que tem por finalidade a criação de mecanismos de incentivo a
produção e aquisição de novas moradias, ou mesmo a requalificação de imóveis
urbanos aptos serem utilizados como residências. Este programa atinge famílias
com rendas mensais até R$ 4.650,00, ou seja, grande parcela da população carente
do país. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).
Em 2008, institui-se a Lei Federal Nº 11.888, de promoção a assistência
técnica gratuita às famílias com renda inferior a três salários mínimos, que deverá
ser tratado com maiores detalhes em capítulo posterior.
Todo histórico levantado acerca de como o poder legislativo e executivo vem
implementando ação referente à política habitacional está resumida em Quadro 3,
explicitadas abaixo:
38
Quadro 3 (Q3) - Evolução de programas e ações da Política
Habitacional - a partir de 2001.
POLITICA, LEIS, DECRETOS E AÇÕES
ESFERA ANO
Lei Federal nº 10.257 de 2001- Estatuto da Cidade
Federal 2001
Plano Diretor Municipal Municipal
obrigatoriedade a implantação
até 2008, exceto para municípios com menos de
20 mil habitantes
Criação do Ministério das Cidades (Mcidades)
Federal 2003
Politica Nacional de Habitação Federal 2003
Lei Federal Nº 11.124/2005-Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social - SFNHIS
Federal
2005
Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social - FNHIS
Federal 2005
Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLIHIS)
Municipal
obrigatoriedade a implantação
até 2012, exceto para municípios com menos de
50 mil habitantes
Investimento no FHIS- 1 bilhão de reais Federal 2006
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC 1 Federal 2007
LEI-11.888 - Lei de Assistência Técnica gratuita Federal 2008
Minha Casa Minha Vida - MCMV Federal 2009
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC 2 Federal 2011
Fonte: elaborado pela autora, 2013.
Verifica-se a seguinte premissa: grande parte dos recursos está sendo
destinado a campanhas para produção de novas moradias, e o intuito é promover o
Programa Minha Casa Minha Vida, segundo informações levantada diretamente com
servidores públicos da Caixa Econômica Federal (CEF), principal gestora dos
contratos das ações governamentais.
Além do mais, consideráveis investimentos estão sendo destinados, em
grande proporção, para a construção de novas unidades habitacionais, reaquecendo
39
o mercado da construção civil, no entanto, poucos foram os subsídios destinados a
regularização de moradias carentes. Portanto, será verificada, em itens posteriores,
a importância dada ao programa de assistência técnica, conforme Lei nº 11.888,
promulgada a partir de 2008, e se há programas municipais que viabilizem o acesso
a condições dignas de moradia.
2.2.1 ESPECIFICIDADES DOS PROGRAMAS DE MELHORIA HABITACIONAL.
Para entendimento da atual política habitacional do país, foram consultadas
bibliografias acerca das diretrizes e definições dos programas foram encontrados no
sítio eletrônico3 do Ministério das Cidades, pode-se encontrar o Guia Básico dos
Programas Habitacionais (BRASIL, 2007). Nesse guia, foram coletadas informações
para esclarecimento dos seguintes questionamentos: quais programas possuem
ações para o atendimento, especificamente, da demanda de moradias que está
consolidada numa área de assentamento, precário ou não, e que conta como um
dos objetivos o subsídio para promoção de melhoria das habitações?
Para responder este questionamento foram verificados os seguintes
programas, que atendem o objetivo em questão e estão expostos no Guia:
Programa Urbanização, Regularização e Integração de
Assentamentos Precários, que possui a ação de Apoio à Melhoria
das Condições de Habitabilidade de Assentamentos Precários.
Programa Habitação de Interesse Social, sob Ação
Apoio à Provisão Habitacional de Interesse Social – modalidade
Prestação de Serviços de Assistência Técnica.
Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social
(PSH).
Projetos Prioritários de Investimentos (PPI) ou
Programa de Intervenções em Favelas.
Programa Carta de Crédito Individual.
Programa Crédito Solidário.
3 Nesse sítio foi verificado que as ações implementadas pelo PAC, hoje, são as que possuem em maior proporção
quando se analisa a aplicação dos fundos e que, de certa forma, vem sendo tratada com maior importância pelo
Governo Federal.
40
Nota-se que existem seis programas que possuem como uma das metas a
adequação dos domicílios, por algum tipo de reforma, ou mesmo o acesso a
serviços de infraestrutura.
Diante desse levantamento, questiona-se se a Lei de Assistência Técnica
Gratuita, de 2008, está sendo difundida diante do cenário apresentado. Os recursos
disponíveis dentro de cada programa estão sendo utilizados?
Para obter resposta a essa pergunta, foi realizada uma pesquisa no site da
Caixa Econômica Federal (CEF), no qual foram encontrados dados referentes aos
contratos assinados entre o período de 2004 a 2012. São contratos referentes aos
programas que possuem recurso oriundo do Orçamento Geral da União (OGU).
Puderam ser identificadas as ações concernentes à modalidade “Prestação
de Serviços de Assistência Técnica”, pertencente ao Programa Habitação de
Interesse Social. Para os outros programas mencionados não há dados suficientes
que identifiquem para qual finalidade foi destinado o recurso dentro de cada
modalidade, observa-se apenas a adesão ou não do município ao programa.
No caso dos programas Carta de Crédito Individual e Crédito Solidário, por
serem oriundos do FGTS, não há informação dos contratos assinados disponíveis
para consulta em público.
Na análise do Programa Habitação de Interesse Social, foi identificada a
assinatura de 3.976 contratos, no período de 2004 a 2012, destinados às diversas
localidades do país. Mas, dentro desse programa e na modalidade Prestação de
Serviços de Assistência Técnica, foram assinados apenas 376 contratos.
No período de 2004 ao final de 2007, foram assinados 80 contratos de
Assistência Técnica, dos 1.907 desse programa. Nesse período, somam-se para
essa modalidade apenas 4% do total de contratos assinados.
A partir de 2008, quando então foi instituída a Lei da Assistência Técnica,
foram assinados 296 contratos na modalidade Assistência Técnica, num total de
2.069 assinados no programa. Em porcentagem, significa que aproximadamente
14% dos contratos assinados a partir de 2008 têm por finalidade oferecer serviços
de assistência técnica à população de baixa renda.
Ao analisar os dados levantados e relacioná-los quanto à obrigatoriedade ou
não dessa modalidade, nota-se que, com a promulgação da Lei 11.888, houve um
aumento de assinatura de contrato, a partir de 2008, mas ainda aquém diante do
quadro de unidade que sofre por inadequação no país. Ainda, não se pode afirmar
41
se essas ações promovem melhoria efetiva, pois não há informações suficientes que
visem avaliar a ação como um todo, principalmente se a ação foi concluída ou não, e
nem quanto à qualidade das reformas que vêm sendo produzidas por esse tipo de
intervenção. Não foi encontrado nenhum tipo de relatório de pós-ocupação das
moradias contempladas com esse tipo de ação. Dessa forma, partir-se-á se para a
análise dos programas de melhoria que obtiveram melhores resultados dentro do
recorte, ou seja, nos municípios de Taboão da Serra e Diadema.
No aparato legislativo disponibilizado até o momento pelo Governo Federal,
bastante amplo, foram identificadas seis modalidades de ações, geridas pela Caixa
Econômica Federal (CEF), principal gestora dos contratos. Esses programas surgem
como uma via de ação à promoção de melhoria das moradias, prevendo reforma,
requalificação ou ampliação delas. Algumas dessas ações são de contratos firmados
entre a CEF e as Prefeituras Municipais, outras, entre os próprios beneficiários e a
CEF.
Como consequência, nota-se um mercado promissor para arquitetos
engajados na causa de promover condições dignas de moradia à população de
baixa renda, ao se disponibilizar a modalidade de Assistência Técnica, além dos
requisitos já apontados.
Diante dessa análise e retomando a idéia de Bueno (2008), na qual, para
manutenção da qualidade da intervenção urbanística e inserindo-a na ótica de
melhoria de um conjunto de habitações, as ações não obterão sucesso, se não
houver um correto sistema de fiscalização e orientação do uso e da ocupação do
solo já urbanizado. Somente surtirá efeito se forem disponibilizadas dentro da
própria comunidade ações de instrução e manutenção da qualidade das habitações,
bem como reciclagem de técnicos (moradores do próprio bairro) para a manutenção
do espaço revitalizado.
Por meio dos relatos de experiências promovidas pelo Poder Público
municipal, ONGs e instituições, a serem apresentados nos próximos itens, pretende-
se discorrer sobre as possíveis soluções, direcionando as ações relativas à melhoria
habitacional.
42
2.3 A PROBLEMÁTICA HABITACIONAL E EXPERIÊNCIAS DE
URBANIZAÇÃO.
Conforme mencionado no início do trabalho, a autoconstrução em terrenos
irregulares, por vezes, consolida a precariedade habitacional. Esta, por sua vez, é
consequência da incapacidade de políticas públicas que solucionem, de fato, o
problema dos trabalhadores operários e emigrantes rurais diante da aquisição de
moradias via mercado formal.
Segundo Lorenzetti (2008), nesse período de crescente urbanização, grande
parcela dos recursos provenientes das secretarias de habitação foi alocada para
financiamentos às classes de maior poder aquisitivo. A autora afirma que esses
financiamentos possuíam “caráter elitista”.
Lorenzetti (2008, p. 18) ainda afirma, quando relata a mensuração da
aplicação desses recursos que deveriam ser destinados à população de baixa
renda, ou seja, em “1975, o total de investimentos do BNH relativos às faixas de
renda situadas entre 1 e 5 salários mínimos não passou de 9%”.
Encerrando-se a reflexão acerca do cenário apresentado, Lorenzetti (2001, p.
25) conclui que “a moradia não deve ser entendida como mero abrigo, ela traz
consigo um conjunto de elementos, como os serviços de saneamento básico e
urbano, educação e saúde”.
Além disso, o acesso a terra por meios regulares ocorria onde houvesse a
possibilidade da ocupação tanto em áreas públicas ou privadas abandonadas, em
áreas alagadiças, nas encostas, embaixo de pontes ou viadutos. Uma realidade
marcada pela “ilegalidade, a irregularidade e a clandestinidade”. Conclui-se que, de
fato, houve uma “certa conivência do poder público, diante da sua incapacidade de
prover moradias adequadas” (LORENZETTI, 2001, p. 25).
Em contrapartida, na finalidade de transformar o cenário, surgem as primeiras
experiências de intervenção nas áreas de assentamentos informais. Segundo
Valladares (2005, apud PASTENAK, 2009), em meados dos anos 1960, até o final
de 1970, durante o regime da militar, foram realizadas as primeiras intervenções nas
favelas do Rio de Janeiro, com intuito de eliminação e remoção das favelas.
Mas somente durante a década de 1990 que os programas de urbanização de
favelas passaram a se tornar linhas de política nacional, quando a política de
43
urbanização foi propulsionada pela nova ótica do Banco Mundial em promover
“estratégias de alívio da pobreza” (CARDOSO, 2008, p. 26).
Segundo Cardoso (2008), a partir dessa data, os financiamentos oriundos do
Banco Mundial (BM) e do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID)
acarretaram importantes experiências de urbanização nos grandes centros urbanos
do país, como:
o Programa Reconstrução Rio, financiado em 1989 pelo BM para atendimento
emergencial às vítimas de enchentes ocorridas em 1986 no estado do Rio de
Janeiro;
o Programa de Saneamento Ambiental do Reservatório Guarapiranga,
envolvendo a urbanização de favelas, financiado em 1992 pelo BM;
o Programa Favela-Bairro, desenvolvido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, em
1994, e financiado pelo BID;
o “Projeto Cingapura”, desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo, financiado,
também, pelo BID, em 1994.
Em análise realizada por Samora (2010), quanto aos programas de
urbanização realizados até então, verifica-se que o escopo das ações de
urbanização restringia-se em atender somente ao espaço público e, em alguns
casos, as moradias que estivessem em risco. O espaço privado normalmente era
deixado a cargo do morador, ou seja, a produção de novas moradias e a melhoria
habitacional. Esse tipo de solução muitas vezes não levou em consideração os
problemas relacionados ao adensamento excessivo e à falta de acesso solar e
ventilação, o que pode ter ocasionado a consolidação da precariedade habitacional.
Samora (2010) afirma que os programas de urbanização contribuíram para
um grande avanço das ações dentro da Política Nacional de Habitação (PNH),
instituída pelo Governo Federal desde 2003. Contudo, alerta que essa política não
terá seu alcance pleno se não forem consideradas, nas ações de urbanização, as
reformas e adequações das unidades a serem consolidadas.
Para solução dos problemas elencados, o Estado, quando trata do problema
habitacional, preocupa-se em apenas prover novas moradias, minimizando os
números apresentados no déficit habitacional nacional.
44
Verifica-se que não se trata somente de equacionar o déficit habitacional, é
necessário qualificar a moradia autoconstruída para que sejam alcançadas
condições dignas do habitar.
Em suma, não basta que as Políticas Habitacionais implementadas
intervenham apenas no espaço público, dotando as favelas de ruas, serviços de
infraestrutura e saneamento, é necessária a intervenção no espaço privado, no
interior das moradias. Estas, consolidadas em seu local de origem durante o
processo de urbanização. Algumas experiências, contudo, têm sido ensaiadas em
alguns municípios.
A seguir, serão apresentados programas em curso, na Região Metropolitana
de São Paulo, que tenham como escopo a intervenção em moradias
autoconstruídas de assentamentos em vias de urbanização.
2.3.1 BREVE HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DOS GOVERNOS MUNICIPAIS DE
SÃO PAULO E SANTO ANDRÉ NOS PROGRAMAS DE URBANIZAÇÃO
As principais experiências de urbanização de favelas são provenientes, em
sua grande maioria, da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), área que
apresenta a maior concentração de assentamentos precários do país.
De acordo com números apresentados pela FJP (2008), somente na Região
Metropolitana de São Paulo encontram-se 510 mil domicílio em situação de
inadequação, conforme definições estabelecidas pelo instituto.
Ainda é característico dos assentamentos precários da RMSP, em números,
um montante de aproximadamente 938 assentamentos, conforme apresentado pelo
Censo de 2000, para as cidades de São Paulo, Guarulhos, Osasco e Diadema,
“cerca de ¼ das favelas do país, segundo o censo demográfico”. A constatação
desses números expressivos é um alerta para que sejam priorizados programas de
urbanização e melhoria habitacional nessa região. (PASTERNAK, 2006, p.11)
Além dos números apresentados, é característica na paisagem morfológica o
predomínio de favelas. Quase que a totalidade das edificações é autoconstruída em
alvenaria. Desde 1987, já não se encontram barracos construídos de madeira. Isso
pode significar que as moradias passaram a ter um caráter mais consolidado ao se
adotar como material construtivo a alvenaria para vedação no lugar de fechamentos
em madeira. A tipologia mais vista nesses assentamentos subnormais,
45
principalmente na cidade de São Paulo, é a de sobrados, onde o bloco de concreto
define o primeiro pavimento e o tijolo baiano, o segundo.
Os domicílios, em grande maioria, são servidos de energia, água potável e
coleta de lixo, mas ainda é preocupante o destino dado aos dejetos domésticos, pois
somente 51% das moradias estão ligadas à rede pública de saneamento, segundo
dados do Censo de 2000 (PASTERNAK, 2006).
Esses dados, característicos das favelas do município de São Paulo, são
comumente encontrados nas mais diversas metrópoles brasileiras. Talvez uma ou
outra característica tipológica se diferencie, dado as características regionais, mas
um componente é comum a todos: a precariedade. Diante desse cenário, o Governo
Federal, em conjunto com as prefeituras, vem promovendo intervenções
urbanísticas por todo o país, principalmente nas regiões metropolitanas de maior
concentração de inadequação habitacional.
Bueno (2008) constata, em pesquisa realizada em projetos e obras de
intervenções urbanas, que nas diversas cidades do país, mesmo as favelas sofrendo
intervenções de cunho urbanístico, alguns problemas são mantidos, como exposto a
seguir.
- Tem se verificado que após a urbanização não houve mudança na
renda dos moradores.
- A maior parte dos moradores atuais já morava lá antes da
urbanização.
- Não houve regularização urbanística (aprovação de parcelamento
no município), ambiental (aprovação dos projetos nos órgãos
responsáveis) ou fundiária (titulação e registro), ou isso foi parcial.
- A quantidade de casas reconstruídas ou reformadas indica uma
dinâmica positiva mobilizada pela urbanização e a capacidade de
poupança e empreendedorismo dos moradores. Esse resultado,
entretanto, não é controlado pelo poder público, sobretudo o
adensamento excessivo e a coabitação.
- A satisfação dos moradores com as obras foi muito alta, mesmo em
locais onde a avaliação pós-obra indicou problemas de concepção ou
manutenção.
46
- Analisados os aspectos urbanos e ambientais com implicação na
habitabilidade, após a intervenção, as obras apresentam falhas de
operação e manutenção.
- Apenas em algumas cidades se procura mudar a denominação da
área após a urbanização (...) (BUENO, 2008, p. 52).
Entende-se que, mesmo as ações não solucionando 100% dos problemas
expostos, a política habitacional nacional de certa forma avançou. É o que será
verificado, como exemplo, pelas ações promovidas no município de Santo André,
conforme análise de Denaldi (2008).
Constata-se que, na década de 1980, a política nacional diante dos
assentamentos precários era marcada por intervenções de erradicação das favelas.
Contudo, esse processo era insustentável.
Entre o período de 1980 e 1990, as obras de intervenção nos assentamentos
precários possuíam caráter “emergencial”, sem nenhum tipo de planejamento. Os
projetos de infraestrutura e as decisões executivas eram definidos no próprio local
onde se pretendia intervir.
Essa prática adotada, de ausência de planejamento, do projeto e do
diagnóstico completo, resultou na consolidação de situações inadequadas ao habitat
e ainda dificultou o armazenamento de dados referentes às previsões e o
dimensionamento do recurso a serem utilizados.
Entretanto, a Prefeitura Municipal de Santo André, com intuito de melhor
planejamento das ações de urbanização, adotou um método de intervir de acordo
com os tipos de núcleo encontrados. Se estes não eram consolidáveis, significava
que deveriam ser executadas as remoções das moradias e o reassentamento em
nova área. Se os núcleos eram consolidáveis, era necessária a realização de
urbanização ou urbanização integrada.
Empregou-se a urbanização integrada, que corresponde à aplicação da
multidisciplinaridade, visando promover tanto “a melhoria das condições de
habitação e a integração da favela à cidade” como “tratar dos múltiplos aspectos da
exclusão social por meio do desenvolvimento integrado de programas sociais, de
educação, saúde, geração de trabalho e renda” (DENALDI, 2008, p. 61).
47
A urbanização da década de 1990 diferenciou-se por integrar a favela à
cidade formal, ou seja, rompeu-se “com a visão setorial, tratando conjuntamente as
questões socioeconômicas, ambientais e urbanísticas” (DENALDI, 2008, p. 61).
Cardoso (2008) afirma que foi nessa década que se consolidaram as
principais experiências de urbanização dos assentamentos precários, sendo
ampliadas em diversas regiões do país.
A integração das diversas políticas sociais levou as comunidades carentes a
terem acesso aos diversos serviços públicos, além de promover a qualidade
urbanística na comunidade.
Para Denaldi (2008), o caso mais significativo de urbanização foi o programa
“Santo André Mais Igual”, de 1997, que passou a articular os programas de
urbanização com programas de requalificação das moradias, financiamento e
assessoria à autoconstrução habitacional.
Esse trabalho foi resultado da análise da administração municipal da época,
que apontava a incapacidade da urbanização promover mudanças significativas no
quadro socioeconômico e cultural dos moradores das favelas.
Foi exigida dos órgãos municipais uma nova organização e articulação nos
diversos setores da Prefeitura, definindo-se, assim, uma composição de equipe em
três níveis hierárquicos: equipe gestora, equipes operacionais e equipes locais.
(CARDOSO, 2008).
Cardoso (2008) relatou a dificuldade de se implantar esse tipo de intervenção,
uma vez que houve problemas quanto a conflitos de lideranças políticas,
principalmente referente à filiação política. O autor argumenta que esse modelo de
intervenção só poderia ser desvencilhado dos interesses partidários pela “vontade
política” do prefeito, impondo-se um desenho institucional que acorde aos interesses
de um bem comum ao município.
Denaldi (2008, p. 71) relata que a “urbanização das favelas promove
inquestionavelmente uma melhoria das condições de habitabilidade, no entanto, a
qualidade dos serviços urbanos prestados na favela urbanizada nem sempre se
equipara à qualidade dos serviços prestados na cidade formal”.
O que se verifica se nas ações de urbanização é que, em grande parte delas,
a reforma habitacional fica a cargo do morador, que autoconstrói e financia suas
próprias moradias. Assim, as condições de habitabilidade nem sempre atingem
patamares de qualidade considerados adequados. É o que revelam estudos
48
realizados por Samora e Vosgueritchian (2006, p. 1) na favela de Heliópolis, que
destacam o problema quanto à falta de insolação e ventilação nas moradias:
em média 35% dos domicílios não recebem sequer 1 hora de sol
durante o inverno; em média 30% dos habitantes dessas quadras
vivem nessas edificações; há uma coincidência entre os domicílios
que estão em condições críticas de insolação e aqueles que
apresentam problemas, tais como utilização de redes clandestinas de
esgoto e água potável, ausência de unidade sanitária, ausência de
rede de drenagem etc.; a maior parte da população (61%) habita
domicílios que possuem níveis de insolação adequados, mas que
podem apresentar outros tipos de problemas como, por exemplo, de
coabitação domiciliar.
As moradias são autoconstruídas gradativamente, conforme necessidade de
espaço pelo morador. Não há preocupação quanto a afastamentos, nem sequer
quanto às condições de “conforto ambiental no interior das moradias (desempenho
térmico, ventilação e iluminação natural e conforto acústico)”. Essa forma de habitar
é uma das principais causas para o aparecimento de “doenças respiratórias, que
atingem principalmente as crianças” (DENALDI, 2008, p. 72).
Diante do panorama apresentado, Samora (2010) alerta para o cuidado com
as ações de urbanização, que podem provocar a consolidação da precariedade
quanto às condições mínimas de habitabilidade. Este tipo de ação não deveria ser
aceito como solução frente à precariedade das moradias.
Conclui-se que as ações de urbanização trouxeram a evolução qualitativa
durante as experiências e políticas adotadas; no entanto, poucos foram os
programas preocupados em proporcionar plenamente condições dignas de
habitação. Não foram identificados exemplos significativos em que a urbanização
estendeu-se até o interior das moradias, provendo minimamente salubridade
ambiental, com exceção do programa “Santo André Mais Igual”.
Ao contrário do esperado, muitas das ações de urbanização acarretaram
consolidação problemática das habitações, por conta da ausência do diagnóstico
socioespacial da favela e seu entorno e da não participação da comunidade nos
processos decisórios do projeto.
No próximo item, serão relatados os caminhos de programas de assistência
técnica até a oficialização com a criação da Lei de Assistência Técnica de 2008.
49
Foram escolhidas experiências de assistência técnica, promovidas por ONGs,
instituições de ensino e associações, para contextualizar os programas de Diadema
e Taboão da Serra, que foram objeto empírico desta dissertação. As experiências
selecionadas são as seguintes: Projeto Habitat, de Viçosa – MG; Projeto Arquitetos
de Família, de Niterói – RJ; Projeto Reforma Mais de Fortaleza – CE e Minha
Morada de Campinas – SP.
2.4 ADVENTO DA LEI DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXPERIÊNCIAS.
As experiências de assistência técnica se inserem no âmbito do debate pela
ampliação do acesso à moradia adequada destinado a população que carece de
recurso financeiro.
Durante o embate pela promoção de moradias de interesse social, também foi
travada a luta pelo direito à assistência técnica, devendo as ações abranger o direito
ao projeto e ao planejamento da obra, bem como ao acompanhamento da execução
da reforma das moradias.
Cunha, Arruda e Medeiros (2007) relatam que, em 1976, foi criada a primeira
proposta de Assistência Técnica à Moradia Econômica, o Programa ATME, ao ser
publicado oficialmente pelo Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul
(SAERGS).
Já nos idos da década de 1990, surgem algumas leis municipais visando
assegurar a assistência técnica para projetos e execução habitacional. Casos como
esses foram se sucedendo em cidades como Porto Alegre, Campo Grande, São
Paulo, Vitória e Belo Horizonte. A partir de iniciativas pontuais, surge a idéia do
acesso ao projeto como direito de todo cidadão e dever do Estado em prover esses
serviços (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007).
No mesmo período, a assistência técnica começa a ser mobilizada no meio
acadêmico, e as escolas de arquitetura passam a promover diversas iniciativas de
extensão universitária, incluindo em seus currículos questões referentes ao direito à
cidade e habitação. Esse tipo de ação será exemplificado no próximo item.
Em setembro de 2001, foi aprovado o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01).
E, após onze anos de tramitação do Estatuto no Congresso, foram regulamentadas
as ações cabíveis ao município, a fim de regularizar e fiscalizar o acesso a terra.
Nesse estatuto, foi criado o instrumento da assistência técnica e jurídica gratuita
50
para comunidades e grupos sociais menos favorecidos. Conforme o art. 4º, do inciso
V:
r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e
grupos sociais menos favorecidos; (BRASIL, 2001).
Segundo relato apresentado por Bueno (2004), as ações de assessoria
técnica precisavam ser ampliadas. Dessa forma, dentro da programática de ações
para produção de assistência técnica, deveriam ser inseridas as seguintes
atividades:
projetos de arquitetura;
quantitativos dos materiais e serviços necessários;
visitas a campo; e
auxílio técnico na execução de obras como montagem de ferragem,
construção das formas e instalações sanitárias e elétricas.
Segundo Cunha, Arruda e Medeiros (2007), passaram-se quase trinta anos,
desde que foi iniciado o movimento pela assistência técnica. Mas em dezembro de
2008, foi sancionado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei
11.888, que regulamenta a Assistência Técnica Pública e Gratuita às famílias de
baixa renda.
Relato organizado por Medeiros (2007, apud CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS,
2007), durante o Seminário Nacional “Assistência Técnica, um Direito de Todos:
construindo uma política nacional”, realizado na cidade de Campo Grande, 2005,
demonstra que as discussões em torno da política habitacional são tendenciosas e
possuem caráter partidário eleitoral.
Em publicação do relatório do evento, foi debatido entre os profissionais
presentes que a intenção em promover a assistência técnica quase sempre possui
interesse político eleitoral, pois os recursos são disponibilizados, mas o importante é
a apresentação de resultado quanto a números de atendimentos das famílias, e não
a qualidade com que se realizaram tais ações.
51
O importante é a quantidade e não a qualidade, a concepção só é
colocada no papel, na prática as coisas mudam (MEDEIROS, 2007,
p. 43).
Conforme crítica de Medeiros (2007) há necessidade de corrigir os erros
apresentados nas experiências dos programas, e não erradicar programas que,
porventura, se mostraram pouco significativos. São expostos os intentos conforme
citação:
O que ficou muito claro foi a necessidade de se discutir programas
habitacionais sociais, corrigir o que está errado e não simplesmente
erradicar programas premiados que acabaram ou mudaram a forma
administrativa excluindo os profissionais autônomos dispostos a
abraçar a causa (MEDEIROS, 2007, p. 43).
Após breve relato sobre como se sucedeu a luta para o acesso à Assistência
Técnica, serão analisadas quatro experiências: Projeto Habitat (Viçosa), Projeto
Arquiteto de Família (Rio de Janeiro), Projeto Reforma Mais (Fortaleza) e Projeto
Minha Morada (Campinas). Tem-se como intuito analisar a metodologia e os
processos de viabilização dos atendimentos.
A primeira ação a ser relatada teve ponto fundamental para a análise, pois
houve a participação da autora no projeto durante período de três meses. Tal
experiência será relatada a partir de publicações em congressos.
2.4.1 PROJETO HABITAT - CONSULTÓRIO MÓVEL DE ARQUITETURA E
PROJETO HABITAT DE AÇÃO IMEDIATA EM VIÇOSA, 2007.
A pesquisa de iniciação científica, realizada em 2004, sobre as principais
necessidades das famílias com problemas habitacionais, culminou na criação do
projeto de extensão4 a ser apresentado a seguir. Segundo relato da professora e
orientadora do projeto, com o levantamento sentiu-se a necessidade de atender às
famílias de maneira prática.
Assim, em 2007, foi criado o programa de extensão universitária Projeto
Habitat, que inicialmente atendeu famílias situadas no bairro de Nova Viçosa
4 A motivação quanto ao estudo de melhorias habitacionais partiu da experiência adquirida com minha
participação no Projeto de Extensão Habitat – consultório móvel de arquitetura, agregando conhecimentos acerca
dos problemas de precariedade habitacional, muito comuns na paisagem urbana brasileira.
52
(Viçosa/MG) e, posteriormente, surgiu a necessidade de estender essa experiência
para toda a malha urbana do município.
Esse projeto teve suas atividades encerradas em 2009, e o objetivo principal
foi proporcionar orientação técnica às famílias da comunidade, nos serviços
referentes à construção, reformas, acréscimos e soluções de problemas construtivos
das moradias.
O primeiro procedimento adotado foi a implantação de um “escritório”, numa
sala cedida por uma associação pastoral local. Posteriormente, foi realizado trabalho
de divulgação, por meio de cartazes fixados em estabelecimentos comerciais e
pontos estratégicos, além de panfletos explicativos entregues aos alunos de uma
escola do bairro, conforme figura 1.
Figura 1 – Panfleto de divulgação.
Fonte: Borges, 2007
Definiu-se a ordem de atendimento conforme a demanda das reformas, que
priorizou as famílias que foram beneficiadas com doação de material de construção
pela Secretaria Municipal de Ação Social (SANTANA, et al., 2009).
Iniciava-se as atividades, com a realização das seguintes etapas: visitas
técnicas; realização do cadastro das pessoas; levantamento das necessidades
habitacionais dos moradores; levantamentos arquitetônicos (figura 2) e fotográficos
53
das moradias e famílias (fotografia 1), elaboração dos projetos arquitetônicos (figura
3) e acompanhamento da execução da obra.
O cadastro era composto por dados socioeconômicos da família e das
condições da moradia.
Na fase de projeto, a equipe elaborava dois projetos arquitetônicos: um que
incluía o número de cômodos que era possível construir, limitados ao material
construtivo doado pela Prefeitura, e outro que propunha uma solução para a
demanda futura dos moradores.
Figura 2 – Desenho do Levantamento.
Fonte: Borges, 2007
Figura 3 – Proposta de Projeto.
Fonte: Borges, 2007.
54
Fotografia 1 – Família beneficiada em frente a reforma.
Fonte: Cedido pelo autor.
Autor: Borges, 2007
Em alguns casos, a família possuía o terreno, mas não tinha condições para
aquisição de materiais de construção, nem contratação de profissional para
realização do projeto. Nesse caso, os alunos integrantes elaboravam o projeto e
acompanhavam a obra desde a fundação, sob supervisão da professora orientadora
do projeto. Um exemplo é o caso do Sr. José Eufrásio, retratado a seguir (figura 3 e
fotografias 2 e 3). Toda a execução da reforma ficava a cargo dos moradores que
utilizavam suas horas livres para a reforma das moradias, contavam com a ajuda de
vizinhos que trabalhavam na área da construção civil e familiares locais. Era comum
no bairro chefes de família que viviam a serviço da construção civil. Os alunos
tinham o papel de acompanhar as obras e aconselhar tecnicamente qual a melhor
solução construtiva adotada caso houvesse algum problema.
Figura 3 - Projeto da fachada.
Fonte: Santana et. al., 2009.
55
Fotografia 2 - Execução da Fundação de nova moradia.
Fonte: Cedido pelo autor.
Autor: Borges, 2007.
Fotografia 3 – Finalização da execução da alvemaria.
Fonte: Santana et. al., 2009.
Durante os levantamentos em campo, devido à quantidade de irregularidades
encontradas, a equipe sentiu obrigação de alertar as famílias. Assim, foram
distribuídos panfletos (figura 4) com instruções e dicas para uma boa construção,
com a intenção de se evitar erros vistos com frequência na autoconstrução.
56
Figura 4 - Instruções e dicas para uma boa construção, 2007.
Fonte: Santana et.al., 2009.
Nesse projeto, houve participação dos beneficiários, em todas as atividades.
E, na fase final, compreendida pela aprovação dos moradores, discutiam-se as
possíveis modificações e acréscimos. Esse processo tornou-se fundamental para
maior satisfação dos moradores.
Como resultado dessa ação, em 2007, foram realizadas 57 visitas técnicas,
somente no bairro de Nova Viçosa, onde 36 famílias haviam sido beneficiadas com
projetos de residência elaborados e construções assistidas.
Em 2008, mais de 200 famílias haviam sido beneficiadas com a ação do
Projeto Habitat.
Foram identificadas, pela equipe, oito famílias que moravam em área de risco
e, por esse motivo, não tiveram o projeto elaborado pelos alunos. Essas habitações
foram condenadas pela Defesa Civil do município, e situavam-se em lotes doados
pela prefeitura.
No terceiro ano da ação, já com o nome do programa modificado para Projeto
Habitat Ação Imediata, a metodologia adotada consistia em:
57
1) seleção das famílias atendidas, mediante análise criteriosa da
assistente social da prefeitura, considerando-se as condições
socioeconômica e habitacional de cada família;
2) inserção das famílias no banco de dados do Programa de
Melhoria Habitacional, promovido pela Prefeitura Municipal. Esse
programa tinha por finalidade a doação de materiais de construção para
famílias carentes;
3) reunião entre professores e coordenadores do projeto da
Secretaria de Assistência Social para definição de diretrizes e de
participantes, bem como da participação dos alunos dos seguintes cursos:
Engenharia Civil, Engenharia de Agrimensura e Arquitetura e Urbanismo.
Ao todo, fizeram parte da equipe 29 estudantes.
Para as visitas técnicas, foram utilizados os critérios de seleção da Secretaria
Municipal de Assistência Social, como:
a) famílias de baixa renda cuja casa esteja em situação de risco;
b) famílias que precisam construir banheiro;
c) famílias numerosas que precisam construir quartos;
d) famílias que precisam construir muro ou muro de arrimo.
Por meio desse primeiro levantamento, foi identificado que a renda familiar da
maioria dos atendidos era de 1/4 (um quarto) do salário mínimo ou inferior a esse
montante. E grande parte desses moradores possuía como única fonte de renda o
benefício do Programa Bolsa-Família.
Nesse mesmo projeto, foram disponibilizadas oficinas profissionalizantes, com
objetivo de capacitar os moradores dos bairros atendidos, conforme fotografias 4 e
5.
As aulas abordavam cinco temas: construção civil, informática básica,
matemática básica, leitura de projeto arquitetônico e leitura de projeto estrutural.
Elas foram ministradas por dez estudantes de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia
Civil, divididos em duplas, sendo cada uma responsável por um tema. A primeira
turma possuía doze alunos com ou sem experiência na área de Construção Civil.
58
Fotografia 4 - Aula da oficina de
capacitação
Fonte: Yanagui, 2009.
Fotografia 5 - Entrevista com candidatos
a capacitação.
Fonte: Yanagui, 2009.
Segundo Santana et al. (2009), ao final, nota-se que o benefício gerado
tornou-se um diferencial para o estudante de Arquitetura e Urbanismo, permitindo
que aplicassem os conhecimentos adquiridos, durante a graduação, em prol das
famílias carentes de Viçosa, conscientizando os alunos sobre as condições de
carência observadas nas periferias dos municípios.
Os resultados alcançados foram:
Projeto Habitat Consultório em Nova Viçosa:
Em dois anos de atuação, foram realizadas 57 visitas técnicas e produzidos
36 projetos. Havia casos de situações de risco, o que inviabilizou a realização do
projeto dos mesmos.
Projeto Habitat Ação Imediata:
De julho de 2008, a meados de 2009, 200 (duzentas) famílias foram atendidas
através de orientações técnicas para a construção e/ou reforma de suas residências.
Foram elaborados mais 14 projetos arquitetônicos para famílias que receberam lotes
doados pela prefeitura, e a primeira oficina de capacitação para Construção Civil
contou com a participação de 12 alunos. O programa foi inviabilizado por conta de
regulamentações jurídicas.
A fotografia 6 demonstra o grau de precariedade, ainda com resquícios do
ambiente rural, comumente encontrado nos bairros carentes de Viçosa, e a
fotografia 7, a moradia após a intervenção. Verifica-se que foi adicionado mais um
cômodo na habitação para atendimento da necessidade da família.
59
Fotografia 6 – Residência precária
construída em pau a pique.
Fonte: Yanagui, 2009.
Fotografia 7 - Residência posterior a
intervenção.
Fonte: Yanagui, 2009.
Observa-se que esse tipo de ação, atrelada às ações da prefeitura, contribuiu
não só para a queda dos números e da precariedade das moradias, como também,
inseriu os alunos universitários numa realidade, por vezes, distante do seu cotidiano.
2.4.2 PROJETO ARQUITETO DE FAMÍLIA - ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA
MELHORIAS HABITACIONAIS EM ASSENTAMENTOS INFORMAIS URBANOS,
2007.
O projeto Arquiteto de Família teve como escopo o atendimento às famílias do
Morro Vital Brasil, em Niterói-RJ.
Essa ação foi inaugurada em 2007, inaugurou-se essa ação, quando então a
arquiteta Mariana Estevão fundou a ONG Soluções Urbanas, atrelada ao programa
Redes de Cooperação, que colocou em prática ações para a promoção de melhoria
habitacional e o habitat sustentável.
De acordo com dados e vídeo disponibilizados no site ASHOKA-
Changemakers (2012), até a data do relato, 16 famílias já possuíam em mãos o
projeto de reforma de suas moradias.
Mas, segundo relato de Itamar Barbosa de Oliveira, no blog da ONG, o
projeto cadastrou 351 famílias, sendo que 100 encontravam-se em situações críticas
de moradia (ESTEVÃO, 2012).
A atuação seguia no campo do projeto de reforma das moradias, no entanto,
a construção e a aquisição dos materiais de construção ficam a cargo do morador.
60
Segundo Estevão (2012), a execução da reforma das casas é viabilizada pelo
regime de autoconstrução, portanto, foram oferecidos no programa cursos de
capacitação a moradores interessados (fotografias 8 e 9).
Caracteriza-se como inovação, nesta ação, o planejamento da obra por
etapas. Este método permitiu às famílias planejar os recursos financeiros de acordo
com as suas possibilidades.
No projeto, foram utilizadas como solução práticas simples, entre elas: a
abertura de vãos que permitiam o aproveitamento da iluminação e ventilação natural
e a reforma das coberturas, que eliminaram infiltrações e promoveram o conforto
ambiental, além de eliminarem-se os riscos de queda.
Os honorários dos arquitetos foram provenientes de licitação em contrato
firmado entre a Caixa Econômica Federal e o Instituto de Terras e Cartografia do
Estado do Rio de Janeiro – ITERJ, no programa federal para Assistência Técnica
para Mobilização e Organização Comunitária e Assistência Técnica para Habitação
de Interesse Social. Esse recurso era liberado apenas após a apresentação de 12
relatórios, como demonstrativo de aplicação da ação.
Para o curso de Capacitação em Assistência Técnica, foram estabelecidas
parcerias: a Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense
e a Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz.
Um dos empecilhos encontrados para viabilização dessa ação, segundo
Estevão, é referente à obtenção de recursos para as famílias. Segundo a autora da
ação, o projeto de arquitetura, o memorial e o cronograma físico-financeiro não eram
suficientes para impulsionar o processo de reforma para todas as famílias.
Houve intenção de criação de um fundo para que fossem iniciadas
experiências de microcrédito que permitissem às famílias o financiamento das
reformas, mas não obtiveram resultados.
61
Fotografia 8 - Curso de Capacitação em pintura, promovido por empresa do setor privado. Experiência - Arquiteto de Família/Soluções Urbanas
Fonte: Soluções Urbanas, 2012.
Fotografia 9 - Curso de Capacitação em pintura, promovido por empresa do setor privado. Experiência - Arquiteto de Família/Soluções Urbanas
Fonte: Soluções Urbanas, 2012.
2.4.3 REFORMA MAIS: MELHORIA HABITACIONAL PARA MORADIAS
POPULARES COM ASSISTÊNCIA TÉCNICA E MICROCRÉDITO, 2010.
O programa Reforma Mais é promovido pelo CEARAH Periferia, uma ONG
fundada em 1991, cuja missão é fortalecer os movimentos sociais urbanos na sua
organização e capacitação, identificando atores aptos ao exercício da cidadania.
Além disso, conta com a parceria da Associação Brasileira de Cimentos Portland,
ABCP e a ONG ASHOKA, desde 2009.
Os resultados apresentados pelo programa entre março de 2010 a março de
2011 foram de 431 famílias beneficiadas pelo microcrédito para reforma, o
CrediAmigo.
Seu principal objetivo é assistir tecnicamente à população, visando a
melhoraria das condições de habitabilidade e salubridade das moradias. Para
alcançar este objetivo, o programa conta com a adesão das famílias no microcrédito
para reforma, e dentro deste pacote de microcrédito estão inseridos os serviços de
assistência técnica promovido pela ONG.
A importância da assistência técnica oferecida a estas famílias é garantir o
aproveitamento adequado dos recursos financiados pela família, além da correta
utilização dos materiais de construção, adotando-se técnicas construtivas
compatíveis com o contexto local.
Resumidamente a função de cada instituição é definida conforme atividades
descritas em quadro 4, abaixo:
62
Quadro 4 (Q4) - Entidades promotoras versus funções.
Entidades Funções
Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP
Desenvolvimento de ferramentas padrão de assistência técnica
Treinamento da equipe do Escritório Reforma Mais para entrega da assistência técnica.
Liderança na sistematização da entrega da assistência técnica. Treinamento doa assessoria de crédito Crédiamigo em relação ao produto da assistência técnica
Identificação de parcerias no setor privado e industrial
ASHOKA
Desenvolvimento do escritório Reforma Mais como modelo sustentável e replicável.
Liderança na identificação de oportunidade de parcerias para sustentabilidade do Escritório
Liderança no processo de replicabilidade
Contribuição para o desenvolvimento do serviço de assistência técnica
CEARAH Periferia
Coordenação do escritório Reforma Mais durante a fase 1
Elaboração da cartilha de sensibilização sobre a importância da assistência técnica no contexto da reforma
Contribuição para o desenho do modelo Reforma Mais em escala
Coordenação do Grupo Controle para medir o impacto do serviço de assistência técnica nas obras de reforma
Banco Nordeste
Desenvolvimento de um novo produto de crédito com foco em reforma
Aquisição de clientes via rede de microcrédito e promoção de crédito para reforma e assistência técnica
Fonte: Reforma Mais, 2011.
Segundo informações coletadas na cartilha Reforma Mais (2011), a
associação atende exclusivamente aos clientes que aderiram ao microcrédito do
Programa CrediAmigo.
A equipe do Reforma Mais é composta por 1 coordenador (assistente social),
1 arquiteto, 3 estagiários e 1 estagiário orçamentista. Na figura 5, visualiza-se o fluxo
das atividades desenvolvidas por esse programa.
63
Primeiramente, o Banco identifica o cliente em potencial e envia dados ao
programa Reforma Mais. O coordenador do programa define as famílias que irão
construir ou reformar e agenda visita. Nesse estágio, as atividades dividem-se em
duas frentes de trabalho: um estagiário é encaminhado para os casos de reforma e
outro, para casos de construção das casas. No segundo dia, cada estagiário realiza
a digitalização dos cadastros e os levantamentos realizados. Já no terceiro dia,
realiza-se o orçamento tanto para construção quanto para reforma. Envia-se o
produto aos técnicos responsáveis, que dão encaminhamento ao processo.
Figura 5 - Fluxo do escritório Reforma Mais.
Fonte: ABCP, 2012
As atividades da associação compreendem:
- visitas técnicas;
- visitas sociais;
- levantamento das necessidades de melhoria;
- elaboração de projetos arquitetônicos;
- orçamento de materiais;
- acompanhamento de obras (REFORMA MAIS, 2011).
Para o sucesso dessa ação, é promovido um trabalho de marketing que atua
no mercado de melhorias habitacionais, facilitando e adequando o acesso a crédito
ao perfil das famílias e integrando-o com o serviço de assistência técnica.
Os resultados da ação foram apontados no site da ASHOKA – Changemakers
(2012), e estão explicitados a seguir:
parcerias firmadas entre agentes públicos, agentes financeiros e
organização da sociedade civil;
escritório permanente de Assistência Técnica implantada;
desenvolvimento de produtos e ferramentas para melhorias
habitacionais voltados para a valorização e qualificação da moradia;
64
metodologia de operação aferida entre todos os agentes/parceiros
envolvidos e com visibilidade para o Poder Público;
atingiram-se 423 melhorias para as moradias durante um ano;
ampla visibilidade e interesse por parte de outros agentes
governamentais, financeiros e não governamentais;
equipe capacitada e qualificada para prestar o serviço, agregando o
componente social;
agentes de crédito sensibilizados para o valor da Assistência Técnica;
envolvimento do Ministério das Cidades, agregando recursos públicos
para ampliação da demanda e escala;
acesso direto e garantido de moradia digna e segura associada ao
acesso a crédito;
Valor agregado para as casas das famílias atendidas.
As fotografias 10 a 15 demonstram os resultados das reformas promovidas
pelos moradores com a assistência técnica oferecida pelo programa Reforma Mais.
Os resultados foram mensurados a partir de relatórios mensais produzidos
em reuniões de avaliação realizadas entre parceiros e equipe de operação, além de
depoimentos dos clientes atendidos e de outros agentes envolvidos.
Após visita sistematizada a 110 famílias, das 431 que adquiriram o crédito e a
assistência técnica, verificou-se que 78% das famílias haviam realizado as obras, e
22% apresentavam barreiras para iniciá-la. Entre as dificuldades mais citadas,
consta a falta de mão de obra devido ao aquecimento do mercado da construção
civil.
65
Fotografia 10 – Cozinha anterior a reforma.
Fonte: Nogueira, 2012.
Fotografia 11 – Cozinha posterior a reforma.
Fonte: Nogueira, 2010.
Fotografia 12 – Varanda anterior a
reforma.
Fonte: Nogueira, 2012.
Fotografia 13 – Varanda posterior a
reforma.
Fonte: Nogueira, 2012.
Fotografia 14 – Fachada anterior a
reforma.
Fonte: Nogueira, 2012.
Fotografia 15 – Fachada posterior a
reforma.
Fonte: Nogueira, 2012.
66
2.4.4 MINHA MORADA: ASSESSORIA PERSONALIZADA À CONSTRUÇÃO
AUTOGERIDA – RACIONALIZAÇÃO DE PROCESSOS
O programa “Minha Morada” é uma ação fundada pela ONG Arquitetas da
Comunidade, que tem por objetivo a melhoria da qualidade de vida por meio da
assessoria técnica a moradias autogeridas, além de atendimento dos espaços de
convívio comunitário (CHANGEMAKERS, 2012).
A metodologia consiste em levar atendimento direto às comunidades
periféricas de baixa renda, famílias que possuem renda entre 3 e 6 salários mínimos.
As premissas do projeto, segundo material fornecido por uma das fundadoras,
são as de que os serviços devem ser cobrados e acessíveis, o atendimento deve ser
diferenciado e deve-se levar em conta a racionalização dos custos.
Esse programa possui como escopo o atendimento às famílias, nas seguintes
atividades:
projeto personalizado;
previsão orçamentária; e
acompanhamento da obra.
Para que os valores dos serviços prestados pela ONG sejam acessíveis, são
acordadas formas de pagamento levando-se em consideração as possibilidades de
cada família.
Para melhor sistematização e viabilidade do programa, foi levada em conta a
proximidade das casas, ou seja, prioriza-se grupos de famílias vivendo numa mesma
região, com intuito de racionalizar-se os custos e os deslocamentos da ONG.
Assim, foi desenvolvido um projeto-piloto, no Parque Oziel, bairro do
município de Campinas-SP.
Nos vinte meses de atuação (setembro/2009 a abril/2011) do programa, no
complexo do Parque Oziel, a ONG atingiu:
visitas gratuitas = 55 famílias;
visitas cobradas no valor de R$ 10,00 = 5 famílias;
visitas cobradas no valor de R$ 40,00 = 5 famílias;
projetos contratados = 10 famílias no valor de R$ 3.900,00 + 1 projeto
gratuito;
projetos perdidos (desistência) = 5 famílias;
oito obras em andamento, duas regularizações e uma obra por iniciar.
67
Além da promoção de um projeto com valor acessível à comunidade, houve
patrocínio do Instituto Votorantim para a realização do curso de formação de
pedreiros dentro da comunidade.
O curso contou com a colaboração das empresas Companhia Paulista de
Força e Luz (CPFL), Eternit e Cortag para a doação dos materiais necessários à
realização das aulas práticas. A Votorantim Cimentos auxiliou no encaminhamento
dos jovens formados para o mercado de trabalho.
Como resultado observado pelas fundadoras, estima-se uma redução em
média de 15% nos custos de uma obra com assessoria técnica. Esse valor varia
significativamente de acordo com a capacidade de planejamento do autogestor,
chegando a certos casos a uma redução de 30% (caso em que o morador construiu
cinco vezes a mesma parede, antes de contratar a assessoria técnica).
Segundo a autora, os obstáculos encarados pela ONG são como ganhar
escala e conquistar o mercado popular, lidar com a inadimplência dos clientes e
ausência de linhas de crédito federais para o público-alvo.
As fotografias 16, 17 e 18 ilustram as condições de moradia antes da atuação
da assistência técnica.
Fotografia 16 - Situação das casas que
foram atendidas pelo programa Minha
Morada.
Fonte: cedida por Daniela Zacardi, fundadora da ONG Arquitetas da Comunidade.
Fotografia 17 - Situação das casas que
foram atendidas pelo programa Minha
Morada.
Fonte: cedida por Daniela Zacardi, fundadora da ONG Arquitetas da Comunidade.
68
Fotografia 18 - Situação das casas que foram atendidas
pelo programa Minha Morada.
Fonte: cedida por Daniela Zacardi, fundadora da ONG Arquitetas da Comunidade.
2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS EXPERIÊNCIAS RELATADAS.
Foram relatadas algumas experiências relacionadas a ações de melhoria
habitacional para a população de baixa renda; no entanto, é possível conhecer
outras a partir da plataforma eletrônica do Clube da Reforma. Essa plataforma reúne
experiências promovidas por empresas privadas, entidades não governamentais e
instituições públicas, tornando-se ferramenta para troca de experiências. Dos casos
relatados, certos dados foram obtidos sob consulta desta plataforma.
Em suma verifica-se que as experiências indicam como vem sendo praticada
a assistência técnica em algumas cidades do país, mesmo que de forma pontual.
Apesar de essas experiências contribuírem para a minimização da
inadequação habitacional, percebe-se que, diante dos números apresentados pela
Fundação João Pinheiro, tais ações são inexpressivas diante do um milhão de
domicílios que se encontram inadequados.
As ações são viabilizadas, da melhor forma, com intuito de planejar a reforma
das edificações que estão em condições precárias.
Entretanto alguns quesitos apontados pela FJP, como regularização fundiária
e ausência de infraestrutura, são problemas que só podem ser resolvidos com ações
de urbanização das favelas. Já ações visando à solução de problemas como
adensamento excessivo, falta de cobertura e ausência de sanitário requerem maior
69
cuidado, pois a urbanização que vem sendo praticada apenas da “soleira para fora”
não proporciona condições mínimas de habitabilidade. Estas ações de urbanização
devem garantir, como complemento, os programas de melhoria habitacional e
assistência técnica.
Nota-se, pela experiência, que os projetos Habitat, Minha Morada e Arquitetos
da Família têm procedimentos “artesanais” e necessitam de ajustes na metodologia
para que mais famílias possam ser atendidas em menor prazo.
Tanto a experiência Minha Morada (Campinas-SP) como o programa
Arquitetos de Família (Niterói-RJ) possuem os mesmos problemas quanto à
obtenção de recursos para as famílias a fim de que as obras sejam executadas.
A experiência Reforma Mais já possui uma metodologia consolidada, inclusive
para obtenção de financiamento às famílias. Ela poderá atender melhor o perfil da
nova classe emergente no país, a classe C. No entanto, restringe o atendimento às
famílias em condições extremas de miséria, com renda mensal inferior a três salários
mínimos, e que não possuem condições de aderir a um microcrédito, pois sua renda
é toda comprometida com outras necessidades básicas. Para essas famílias, é
necessário o subsídio proveniente do Poder Público Federal para realização de
reformas nas moradias.
O caso do Projeto Habitat, em Viçosa-MG, possui suas falhas, mas trata-se
de uma experiência interessante, pois, além de capacitar membros da comunidade
visando o acesso profissional na construção civil, a experiência forma futuros
profissionais, estudantes, conscientes da realidade de precariedade habitacional no
país.
Nesse tipo de ação, verificaram-se algumas barreiras, principalmente quanto
ao processo de legalização dos lotes e das construções, uma vez que parte das
famílias envolvidas possuía lotes doados pela prefeitura, mas que se encontravam
irregulares no cadastro do município. Conforme relatos da professora coordenadora
do projeto de extensão, outra dificuldade refere-se à responsabilidade técnica dos
projetos e das obras realizados por estudantes, por não estarem cadastrados no
conselho profissional da área. Foi enfatizado que, mesmo sob acompanhamento de
professores universitários, é importante que um profissional registrado no conselho
de classe seja responsável técnico pelos projetos e pelas obras.
Enfim, nota-se que, para o sucesso da promoção de assistência, é importante
a atuação de um conjunto de fatores, como:
70
participação da população no processo de elaboração do projeto, como
forma de atendimento dos anseios das famílias;
capacitação e instrução da comunidade, com intuito evitar que sejam
reproduzidas a precariedade no ato de autoconstrução das casas;
formulação de cartilhas explicativas destinadas a associações de
moradores quanto à obtenção de subsídios federais já disponíveis
dentro da Política Nacional de Habitação;
trabalho em conjunto com instituições de ensino, visando formar
profissionais cientes da realidade da precariedade habitacional no país;
trabalho em conjunto com ONGs, tornando-as ferramenta de
transformação do quadro social brasileiro;
criação de normas e parâmetros específicos que visem balizar as
qualidades mínimas requeridas nesse tipo de ação para obtenção de
moradias dignas de serem habitadas;
trabalho em conjunto com conselhos profissionais como o Crea e o
CAU, com intuito de criar isenção da taxa sob o registro de
responsabilidade técnica do projeto e da obra;
melhora da remuneração, que não é atrativa, para os profissionais da
construção civil que desejam trabalhar com a assistência técnica.
A obtenção das recomendações anteriores torna-se um meio de verificar os
sucessos e insucessos das experiências e confrontá-las com as experiências de
“melhoria habitacional” dos estudos de caso de Taboão da Serra e Diadema.
No capítulo seguinte, será relatado o conceito de moradia digna, visando
definir parâmetros de análise qualitativos e comparando-os com os programas de
“melhoria habitacional” a serem relatados nos estudos de caso.
2.6 CONCEITO SOBRE MORADIA DIGNA
A busca por uma moradia digna é um direito de todo cidadão definido pela
constituição nacional. No entanto, o que é uma moradia digna?
71
Segundo a agência Habitat da Organização das Nações Unidas (UN-
HABITAT5) é definido, como uma moradia habitável, as que:
possuem condições duráveis: onde a estrutura deve ser permanente,
afastadas das áreas de risco iminente, protegidas o suficiente das
intempéries;
têm áreas suficientes: as áreas da moradia devem ser suficientes aos
membros das famílias, ou seja, não mais que três pessoas dividindo o
mesmo ambiente;
provêem acesso a água tratada: significa ter uma quantia suficiente de
água para todos os membros da família, num preço acessível;
têm acesso ao saneamento básico: ou seja, ter acesso a um sistema
de evacuação das excretas, num banheiro privado ou num banheiro de uso
coletivo, contanto que seja utilizado por um número razoável de pessoas
da família;
possuem seguro contra despejo: leis que assegurem ao morador a
proteção contra os despejos forçados (UN-HABITAT, 2006, p. 19).
Por ser uma versão global dos parâmetros de moradia digna, é complexa a
mensuração pela Organização, uma vez que a diversidade de precariedade, ou grau
de precariedade, é desigual de um país para outro. A definição anterior aplica-se a
países que possuem casos extremos de precariedade. No Brasil, por exemplo,
quase não é observada a precariedade quanto a não existência de saneamento
básico, como já enunciado na introdução do trabalho.
Já a Fundação João Pinheiro – FJP (2008) define como domicílio adequado
os que não necessitam de alguma intervenção imediata, ou seja, que não se
enquadram em nenhum dos quesitos que os definem na situação de déficit e nos
critérios de inadequação de domicílios.
A classificação de um domicílio ser adequado rege se exclusos das definições
apresentadas abaixo, não apresentando nenhum dos pontos a seguir. São
considerados como adequados para a FJP:
5 Agência formada pelas Nações Unidas que possui como objetivo estabelecer parâmetros para que
se garanta o fornecimento de uma habitação adequada. Extraído e traduzido pela autora da literatura: The State of the world’s cities report 2006/2007. The Millenium Development Goals and Urban Sustainability: 30 years of Shaping the Habitat Agenda (UN-HABITAT, 2006, p. 19).
72
- Domicílios precários: são domicílios que se enquadram como
rústicos e improvisados. Os domicílios improvisados são construídos
em locais que não possuem fins residenciais e que acabam por servir
de moradia, tais como barracas, viadutos, prédios em construção,
carros, etc. Os domicílios rústicos não possuem paredes de alvenaria
ou madeira aparelhada, o que resulta em desconforto e risco de
contaminação por doenças, em decorrência das suas condições de
insalubridade.
- Domicílios carentes de serviços de infraestrutura: são domicílios
que não dispõem de ao menos um dos seguintes serviços básicos,
como: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água com
canalização interna, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa
séptica e coleta de lixo.
- Domicílios inadequados quanto à questão fundiária urbana:
situação na qual pelo menos um dos moradores do domicílio declara
ter a propriedade da moradia, mas informa não possuir a
propriedade, total ou parcial, do terreno ou a fração ideal de terreno
(no caso de apartamento) em que ela se localiza.
- Domicílios com adensamento excessivo: são domicílios cujo
número médio de moradores seja superior a três por dormitório. O
número de dormitórios corresponde ao total de cômodos que servem,
em caráter permanente, de dormitório para os moradores do
domicílio.
- Domicílios onde inexiste unidade sanitária domiciliar exclusiva:
domicílio que não dispõe de banheiro ou sanitário de uso exclusivo.
- Domicílios sem cobertura adequada: são todos os domicílios que,
embora possuam paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, têm
telhado de madeira aproveitada, zinco, lata ou palha; ainda que
telhados de sapê e similares possam ser considerados uma
alternativa em áreas rurais muito restritas das regiões Norte e
Nordeste do país (AZEVEDO; ARAUJO, 2008, p. 122-123).
Quando localizados em assentamentos precários, Bueno (2004) considera
adequados os domicílios com:
73
- densidade residencial adequada – menos de três habitantes por
dormitório;
- ter cozinha, banheiro e sala em cômodos separados de dormitório;
- ter boas condições de mobilidade urbana com ênfase no transporte
coletivo e
- ter acesso à rede de serviços públicos (em especial saneamento
ambiental) e equipamentos sociais (BUENO, 2004, p. 61 e 62).
Além disso, a autora relata que, para adequar o local que sofrerá intervenção
urbana e das moradias, deverá ser levado em conta a execução dos seguintes
serviços:
- erradicação de risco;
- minimização de problemas de conforto e salubridade;
- acesso a saneamento ambiental;
- acessibilidade;
- iluminação pública;
- individualização de serviços urbanos, como água, energia e correio;
- adequação da casa às dimensões e atividades do grupo familiar
(BUENO, 2008, p. 56).
Samora (2010, p. 120) apresenta outros indicadores de habitabilidade,
relacionados ao adensamento excessivo nas favelas: “o acesso solar, risco de
incêndio e risco de injúrias físicas”. Segundo a autora, a solução desses problemas
dá-se durante a fase de elaboração do projeto de intervenções urbanísticas, que, de
certo modo, pode gerar níveis aceitáveis de densidade populacional e construtiva do
assentamento.
Samora (2010) considera que as ações, para integrarem a malha urbana
formal aos assentamentos precários, muitas vezes consolidam as moradias com
adensamento excessivo, que, não sofrendo intervenções específicas, mantêm as
condições de insalubridade, sobretudo quanto à falta de ventilação e insolação dos
cômodos. Além do mais, a falta de espaço remanescente nos lotes dificulta a
74
ampliação das moradias para que se cumpram as funções de higiene, estar,
repouso, alimentação.
Esse adensamento excessivo, oriundo da falta de espaço nos lotes, e a
ocupação indiscriminada do solo têm sido umas das principais causas do
alastramento de incêndios em favelas. Por isso, o risco de incêndios deve ser
observado nos processos de urbanização.
Um terceiro indicador, sugerido por Samora (2010), qualitativo inovador, é o
de injúrias físicas. Segundo a autora, é relevante o número de pessoas,
principalmente crianças, acidentadas devido a quedas em lajes. A carência de
espaços públicos ou privados, para o desenvolvimento das atividades relacionadas
ao habitat, faz com que as lajes das edificações sejam utilizadas para diversas
finalidades, como abrigo de automóveis, secagem de roupas, lazer infantil, etc. Sem
equipamentos de proteção, elas tornam-se propícias a acidentes. A escada de
acesso também é outro dispositivo que requer atenção nesse sentido.
A seguir, serão definidos quais parâmetros, diante dos diversos apresentados,
se tomarão por base para análise dos programas de “melhoria habitacional”
definidos no estudo de caso.
2.6.1 DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE HABITABILIDADE
Neste item, serão definidos quais parâmetros a serem levados em
consideração para análise dos programas de “melhoria habitacional”. Serão
verificados se esses parâmetros fazem parte ou não do escopo da linha de ação
preestabelecida nos programas de Taboão da Serra e Diadema. Para tanto, deverão
ser investigados por meio de dados e informações fornecidos pelos técnicos
responsáveis por gerir a ação.
Para estabelecimento dos critérios de análise, serão adotados os conceitos
de Bueno (2008) e Samora (2010):
conforto ambiental e salubridade;
acessibilidade;
dimensionamento adequado dos espaços nas moradias suficientes
para a realização da atividade pretendida;
risco de injúrias físicas dos ocupantes; e, por fim,
75
risco de incêndio iminente.
3 ESTUDOS DE CASO
Conforme apresentado nos capítulos anteriores, o Governo Federal vem
ofertando subsídios aos programas que envolvem acréscimo do estoque
habitacional, no entanto, os programas de qualificação de moradias inadequadas,
localizadas em assentamentos urbanizados ou não, tem pouco destaque nas
diretrizes da política.
Assim, para avaliar os alcances e limites destes programas, foram analisados
dois estudos de caso nos municípios da Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP): Taboão da Serra e Diadema.
Partindo do referencial construído em capítulos anteriores, serão analisadas
algumas ações de melhoria habitacional praticadas por dois municípios da RMSP,
buscando concluir se tais esforços são de fato suficientes para consolidar, com
qualidade, as moradias por eles afetadas no tecido urbano formal.
Portanto, foram coletados dados e informações dos programas de melhoria
existentes em cada município e, por meio das entrevistas, apontaram-se os
programas de melhoria que se destacavam em relação a outros que vêm
enfrentando dificuldades para implantação.
Pretendia-se, inicialmente, em Taboão da Serra, fazer a análise de um
programa de melhoria realizado na favela Jardim Comunitário, que no momento da
entrevista, 2012, encontrava em fase de término das obras de urbanização.
Esperava-se entrevistar as famílias que participaram do processo de elaboração dos
projetos, com intuito de entender a sistemática do programa e verificar a satisfação
dos usuários quanto aos projetos.
No entanto, como não havia previsão do início das reformas, foi respeitada a
decisão da assistente social de não realizar as entrevistas, pois ocasionaria um
clima de expectativa da população residente no bairro quanto à conclusão ou não do
programa de melhoria.
Assim, conforme apontado pelo técnico da prefeitura, seria mais interessante
o estudo de outro programa de melhoria, o Programa de Subsídio a Habitação
(PSH). Nesse caso, o subsídio era concedido à reforma das moradias
76
autoconstruídas e à construção de novas moradias “embriões”, em substituição às
casas que se encontravam em péssimas condições de habitabilidade.
Já no município de Diadema, a arquiteta responsável pelo programa de
melhoria habitacional relatou os vários programas que foram realizados ou que
ainda seriam implantados no município. Um projeto em específico propiciou maior
contribuição aos moradores, diante das experiências de melhoria já realizadas pelo
município, o programa “Tá Bonito”, no bairro Vila Olinda.
Assim, para melhor compreensão das ações implantadas, buscou-se
responder aos seguintes questionamentos:
a. Quais os programas existentes em cada município que possuem como
alvo a promoção da melhoria habitacional?
b. As ações analisadas diagnosticaram corretamente os problemas de
inadequação das moradias, conforme o referencial teórico? Se não, o
que deixou de ser atendido?
c. Quais as inconformidades e patologias mais recorrentes nas
habitações que necessitam de reforma?
d. Quais as dificuldades e os impedimentos que o Poder Público
Municipal se depara ao viabilizar as reformas e/ou ampliação das
moradias autoconstruídas?
e. Os municípios se apropriaram da Lei de Assistência Técnica? Como?
Após coleta dos dados compilados, estes serão apresentados nos próximos
itens.
3.1 ESTUDO DE CASO – TABOÃO DA SERRA
Taboão da Serra era distrito subordinado ao município de Itapecerica da
Serra e vizinho de parte do município de São Paulo. Foi elevado à categoria de
município em 1959, desmembrado do município de Itapecerica da Serra. (IBGE,
2012).
Seu histórico de ocupação resume-se a uma cidade que passou de “povoado
de entroncamento” para um município considerado industrial. Esse fato levou ao
rápido crescimento populacional marcado entre o período de 1960 a 1980,
caracterizado pelo forte crescimento urbano brasileiro (BONDUKI, 2010).
77
Em 1960, com a emancipação do município, o prefeito Nicola Vivilecchio
concedeu isenção de impostos a todas as indústrias instaladas na sua limítrofe,
desde que atendessem às “formalidades legais” (PREFEITURA, 2004, apud
BONDUK, 2009).
Mas o desenvolvimento da cidade foi impulsionado, principalmente, pela
construção da rodovia Régis Bittencourt (na época BR-2, hoje BR-116), ligando São
Paulo a Curitiba e atraindo indústrias e migrantes.
Segundo o Censo de 2010, Taboão da Serra possui uma extensão de 20 km²
e 244.528 habitantes. Faz divisa com Embu das Artes e está a oeste do município
de São Paulo. É um município que não possui zona rural, sendo totalmente
urbanizado e fortemente conurbado com São Paulo e Embu (ZILIO, 2011).
É o único dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) que
está totalmente fora das áreas de mananciais, portanto, possui taxa de urbanização
de 100%. É caracterizado dentro do Estado de São Paulo como uma das cidades
que possuem maiores densidades demográficas, 120,5 hab./ha, segundo Censo de
2010 (IBGE, 2010).
Taboão da Serra não é classificada como uma cidade-dormitório como a
grande maioria dos municípios do entorno de São Paulo. A forte presença das
indústrias ao longo da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116) caracteriza-a como
industrial. A presença marcante das indústrias faz com que 1/3 do PIB do município
seja derivado do setor industrial (ZILIO, 2011).
Verifica-se que a rodovia BR-116 segmenta a cidade em duas porções. A
norte é caracterizada pelas macroáreas de preservação, com a área nordeste
concentrando a população rica do município, além de melhores condições
urbanísticas e socioeconômicas. A porção ao sul da rodovia concentra a população
de baixa renda e grande parte dos assentamentos precários da cidade. Nessa
porção sul, avista-se uma morfologia urbana com escassez de espaços livres, baixa
qualidade de infraestrutura urbana e edilícia. É marcada por falta de ordenação
territorial, elevada impermeabilização, devido à alta densidade construtiva, pouca
presença de áreas arborizadas e falta de cuidado com os córregos e as áreas
verdes (ZILIO, 2011).
Segundo dados do diagnóstico realizado pelo Plano Local de Habitação de
Interesse Social (PLHIS), ao todo se somam 81 assentamentos precários
distribuídos no território do município. Na figura 6, a seguir, observa-se a
78
concentração desses assentamentos precários (delimitados pela linha vermelha), na
porção sul da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), representado pela linha amarela.
Figura 6 – Mapa dos assentamentos precários.
Fonte: BONDUKI, 2010, p. 54 - 55. Elaborado por: Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – USP-FUSP, modificado pela autora.
3.1.1 HISTÓRICO DE URBANIZAÇÃO E AÇÕES HABITACIONAIS
Segundo Bonduki (2010), a proximidade de Taboão da Serra das rodovias
Régis Bittencourt (BR-116) e Raposo Tavares (SP-270) e do Rodoanel abriu novas
possibilidades para o mercado imobiliário, o que levou à valorização do preço das
terras (BONDUKI, 2010).
Nas últimas décadas, houve uma migração populacional dos distritos
municipais de São Paulo para os municípios do entorno. Nesse caso, a população
do distrito de Vila Sônia. Isso se deve ao agressivo mercado imobiliário, que tem
investido fortemente na região e busca atender à população de média e alta renda
da cidade de São Paulo. A tendência é de que a população de baixa renda, antes
moradora do município de São Paulo, venha buscar alternativa e ocupar o reduzido
espaço de Taboão da Serra.
79
Diante do desenvolvimento proporcionado pela abertura de rodovias, houve
um estímulo ao crescimento das atividades econômicas; no entanto, sem o mesmo
acompanhamento relativo às políticas sociais, marcado pelo descaso pelas
necessidades dos moradores carentes.
Hoje, Taboão da Serra enfrenta sérios problemas habitacionais, e grande parte
da população pertence à classe baixa ou média baixa. Os fatores mencionados
contribuíram para a precarização do município. Além disso, a população foi marcada
pela presença de calamidades como enchentes e cheias do Rio Pirajuçara e seu
afluente, Ribeirão Poá, fato recorrente que demonstra a dificuldade de implantação
das políticas urbanas diante da ocupação desordenada e das características
ambientais da cidade.
Como se não bastasse, a paisagem de morros de alta declividade, somando-
se à ocupação irregular de alta densidade, gerou grandes extensões de
desmatamento da porção da vegetação nativa que acarretam o risco iminente de
deslizamentos.
Os assentamentos precários começaram a surgir na década de 1960,
exemplificado pelo Jardim Trianon, ocupado desde 1967.
Segundo o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), ao final dos
anos 1970, houve a formulação da lei de zoneamento da cidade, que não alterou em
nada sua forma de ocupação irregular. No plano, fica explícito que parte da zona
definida como industrial foi ocupada por loteamentos populares, com uso diferente
do destinado.
A atuação das políticas habitacionais diante desse cenário foi inaugurada
somente a partir de 2005. Anteriormente, caracterizava-se por uma política pública
assistencialista, com a doação de lotes urbanizados (BONDUKI, 2010).
Segundo Zílio (2011), os movimentos sociais organizados e a participação
popular fortaleceram a política, de forma autônoma ou por meio de reivindicação de
moradias. Além de participação nas instâncias de discussão promovidas pela
prefeitura, como na elaboração do Plano Diretor Participativo, na formação do
Conselho de Desenvolvimento Urbano e na elaboração do Plano Municipal de
Habitação.
Com a elaboração do Plano Diretor Participativo em 2006, foi estabelecida
uma política urbana no município. A implantação dos instrumentos ZEIS 1 (áreas de
assentamentos precários) e ZEIS 2 (áreas vazias destinadas à habitação social),
80
delimitaram-se as áreas visando ao acesso democrático à cidade formal (ZILIO,
2011).
Após esse período, foram pleiteados novos projetos e financiamentos junto
aos diversos níveis do governo. Houve uma reorganização das secretarias do
município, após a criação da Política Nacional de Habitação.
O resultado dessa organização institucional deu chance a Taboão da Serra de
se enquadrar nos programas federais, como no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e no Programa Minha Casa Minha Vida, possibilitando
acréscimos não onerosos e significativos no combate à precarização dos
assentamentos e que tenham como foco ações voltadas à urbanização e a produção
habitacional (BONDUKI, 2010).
3.1.2 DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL - PLHIS
(DIAGNÓSTICO E PROPOSTAS)
A criação do Plano Municipal de Habitação ou Plano Local de Habitação de
Interesse Social ocorreu em 2010. Esse plano teve por objetivo organizar estratégias
a médio e a longo prazo para enfrentamento da questão habitacional e urbana.
Para diagnóstico de moradias que necessitam ser repostas ou adequadas,
em 2005, a prefeitura municipal contratou o Centro de Estudo da Metrópole, do
Cebrap, para levantamento dos dados, uma vez que os levantados pelo IBGE em
2000 estavam desatualizados (BONDUKI, 2010).
Assim, foram levantados os números do déficit habitacional no município, que
é da ordem de 15.818 domicílios, segundo o Cebrap; mas, segundo a Secretaria
Municipal do Desenvolvimento Urbano e Habitacional de Taboão da Serra
(Semuduh), esses números, acumulados às novas demandas por unidades
habitacionais, atingem cerca de 20.861 unidades, conforme demonstrado na tabela
2 (BONDUKI, 2010).
81
Tabela 2 - Domicílios em assentamentos precários, de acordo com as diferentes
fontes e metodologias de levantamento. Município de Taboão da Serra.
Número de domicílios
Fonte
Aglomerados subnormais6 4.346 IBGE (2000)
Assentamentos precários 15.818 CEM (2005)
Assentamentos precários (81 núcleos) 20.861 SEMUDUH (2009)
Fonte: Bonduki, 2010.
O atendimento à nova demanda deve-se às moradias que estão em áreas de
riscos e às futuras remoções solicitadas para a urbanização dos assentamentos
precários.
Quanto aos números de inadequação de domicílios (tabela 3), que se
manifestam, sobretudo, pela existência de 81 assentamentos precários, verifica-se a
presença de quase 21 mil domicílios em assentamentos precários, dos quais mais
de 14 mil requerem, com premência, a urbanização ou a melhoria habitacional
(BONDUKI, 2010).
De acordo com dados levantados por Bonduki (2010, p.51), “apresentam-se
em maior número de inadequação os domicílios com adensamento excessivo,
6.833, em seguida os com carência de infraestrutura, 4.935. A irregularidade
fundiária apresenta-se em 3.155 domicílios, e 1.415 não possuem unidade sanitária
interna”. No entanto, conforme o capítulo 2, os quesitos de inadequação não podem
ser somados, pois um domicílio pode ser inadequado em mais de um quesito.
Assim, segundo levantamentos da Fundação João Pinheiro, foram considerados
cerca de 14 mil domicílios, representando 28% do total; destes, cerca de 2 mil
apresentam mais de um quesito de inadequação.
6“ Segundo definição do IBGE, aglomerado subnormal é o “conjunto constituído por no mínimo 51
unidades habitacionais (casas, barracos etc.) ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular), dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. Em sua maioria são carentes de serviços públicos essenciais”.(FJP, 2008, p.40)
82
Tabela 3 – Número total de domicílios em situação de inadequação habitacional.
Município de Taboão da Serra.
Nº Absoluto Nº Relativo
Domicílios Inadequados 14.813 28,29%
Domicílios Adequados 37.548 71,71%
Total dos domicílios 52.361 100,00%
Fonte: Bonduki, 2010.
Além dos domicílios que devem ser repostos por novas habitações e dos
inadequados, o PLHIS define, dentro do diagnóstico realizado, os assentamentos
quanto aos níveis de precariedade. Os 81 assentamentos precários existentes foram
ordenados quanto à urgência da intervenção.
Os critérios para classificação da precariedade referem-se às dificuldades de
se intervir do ponto de vista fundiário e urbanístico. São eles:
Nível 1: assentamentos que possuem apenas precariedade fundiária,
não requerendo intervenções urbanísticas;
Nível 2: assentamentos que são bem estruturados, mas que
apresentam precariedade fundiária e possuem carência de
infraestrutura;
Nível 3: assentamentos com alguma estruturação da malha viária,
divisão de lote e organização das construções, mas que apresentam
elevado grau de carência de infraestrutura e urbanização,
requerendo uma urbanização simples, pois podem ser consolidados
sem muitas remoções, haja vista que não possuem uma grande
quantidade de moradia em alto grau de risco físico;
Nível 4: assentamentos de ocupação caótica, sem malha viária
estruturada ou delimitação de lotes definida, forte carência de
infraestrutura e grande ocorrência de risco físico. A urbanização
desses núcleos é mais complexa, com alta taxa de remoções tanto
por conta dos riscos físicos quanto para abertura de sistema viário e
implementação de infraestrutura;
83
Nível 5: são núcleos não consolidáveis, seja pela complexidade da
ocupação, pela fragilidade ambiental ou geotécnica da área, ou ainda
por questões fundiárias que impeçam a permanência das famílias na
área (BONDUKI, 2010, p. 58).
O PLHIS ainda ordenou em mapa (figura 7) a localização desses
assentamentos, de acordo com os níveis levantados.
84
Figura 7 – Mapa dos Assentamentos precários.
Fonte: BONDUKI, 2010, p. 59-60.
Elaborado por: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP- FUSP.
Na tabela 4, evidencia-se que, em termos dos números, quase metade dos
assentamentos estão enquadrados em nível 4 de precariedade. Compreende-se que
a intervenção do Poder Público tardio reflete nas condições de consolidação das
85
favelas, acarretando uma ocupação caótica. Verifica-se que as intervenções nessas
favelas são complexas, caracterizadas por altas taxas de remoções, quer pela
abertura do sistema viário para instalação de infraestrutura básica urbana, quer pela
eliminação de riscos físicos.
Diante dos dados apresentados, serão verificados, no próximo item, o que a
administração municipal vem realizando efetivamente para minimização desses
números de precariedade habitacional.
Tabela 4 – Número total de domicílios em situação de inadequação habitacional.
Município de Taboão da Serra.
Nível de Precariedade
Número de assentamentos
Número de domicílios Área (m²)
Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absoluto Relativo
Nível 1 22 27,16% 4.902 23,50% 681.078 31,25%
Nível 2 9 11,11% 3.264 15,65% 413.989 18,99%
Nível 3 10 12,35% 1.542 7,39% 149.146 6,84%
Nível 4 35 43,21% 10.487 50,27% 856.560 39,30%
Nível 5 5 6,17% 666 3,19% 78.943 3,62%
Total 81 100,00% 20.861 100,00% 2.179.716 100,00%
Fonte: Bonduki, 2010.
Elaboração: FUSP, 2009.
3.1.3 PROGRAMAS HABITACIONAIS
O recorte das ações promovidas pela prefeitura de Taboão da Serra iniciou-se
a partir de 1983, quando foram construídos dois empreendimentos (fotografias 19 e
20) realizados pelo Poder Público estadual. Segundo Bonduki (2010), foram
executados com o apoio do Inocoop – entidade que era integrante do Sistema
Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional de Habitação (BNH), cuja
produção destinava-se a famílias de renda média.
Já em 1994, foi entregue o empreendimento habitacional promovido pela
Companhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), o Parque Laguna
(fotografia 21). Esse empreendimento possui 16 edifícios, onde foi instalada
86
infraestrutura completa, incluindo a construção de duas escolas que atendem a
comunidade do entorno.
O governo estadual cessou as ações de promoção à habitação por quase oito
anos e as retomou em 2002, com a entrega do empreendimento realizado pela
CDHU, o Parque Jacarandá (fotografia 22), denominado “Taboão da Serra C” pela
empresa. No entanto, a infraestrutura urbana do conjunto não foi finalizada.
Em 2002, também foram iniciadas as obras para construção de 304 unidades
habitacionais (embriões) no núcleo Reassentamento Jd. Primavera, todos com os
recursos do contrato de repasse do Programa Habitar Brasil BID (HBB-UAS1). As
unidades foram entregues até 2005, no entanto, 16 delas tiveram de ser demolidas
por conta de instabilidades no solo e ainda não foram reconstruídas.
A seguir, tabela ilustrativa das ações promovidas pelo governo municipal e
estadual no combate a precarização e incremento do estoque habitacional.
Tabela 5 – Promoção Pública Habitacional até 2005. Município de Taboão da Serra.
Agente Promotor
Nome Nº de
Unidades Tipologia
Ano de Entrega
INOCOOP Serra Verde 1.276 Aptos+casas 1983
INOCOOP Vale dos Pinheiros 1.184 Aptos -
CDHU Parque Laguna 496 Aptos 1994
CDHU Parque Jacarandá 500 Aptos 2002
PMTS-HBB Reassentamento Jd.
Primavera 304 Embriões 2005
TOTAL --- 3.760 --- ---
Fonte: Bonduki, 2010.
Elaboração: FUSP, 2009.
As fotografias 19 a 22 retratam o resultados destas ações:
87
Fotografia 19 - INOCOOP Serra Verde
(ao fundo), Vale dos Pinheiros (ao centro
da foto).
Fonte: BONDUKI, 2010.Autor: Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito, 2005.
Fotografia 20 - INOCOOP Vale dos
Pinheiros.
Fotografia 21 - CDHU Parque Laguna.
Fonte: BONDUKI, 2010.Autor: Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito, 2005.
Fotografia 22 - CDHU Parque Jacarandá.
Fonte: BONDUKI, 2010. Autor: FUSP, 2005.
Fonte: BONDUKI, 2010. Autor: FUSP, 2005.
Como resultado das ações por quase vinte e quatro anos, totalizaram-se a
implantação de 3.760 unidades habitacionais novas, número que possivelmente não
se aproximava da real demanda habitacional do município.
Devido à política assistencialista praticada por governantes anteriores a 2005,
com a doação de lotes, foram geradas as comunidades: Sítio das Madres (fases I, II,
III e IV) e Jd. Saint Moritz. Esses lotes, pertencentes à prefeitura ou áreas
remanescentes a obras públicas7, foram “doados” em pequenos grupos (BONDUKI,
2010).
7 Áreas remanescentes de obras públicas, por ocasião da retificação de um trecho do Pirajuçara.
88
O problema frequente nessa região é a irregularidade da posse dos imóveis,
pois não há titularidade. Além disso, como consequência desse processo de doação
não planejada dos lotes, houve o desfalque do patrimônio público, uma vez que
parques e praças na cidade são escassos. Para agravar o cenário, essa prática
levou ao estímulo da produção de novos assentamentos precários, uma vez que não
houve ação conjunta para que fossem realizadas assessorias técnicas para os
beneficiários, nem facilidades de financiamento para aquisição de material de
construção (BONDUKI, 2010).
A partir de 2005, a Prefeitura Municipal de Taboão da Serra, por meio da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente e Habitação
(Semuduh), assumiu uma nova postura para o enfrentamento das necessidades, e
tem criado, em conjunto com consultorias técnicas, importantes ações de
desenvolvimento de políticas e planos integrados, como:
Plano Diretor Participativo (2006-2007);
Plano Municipal de Redução e Erradicação de Riscos (2008);
Política e Plano de Habitação (2009) e
Plano de Regularização Fundiária (2009).
O Plano Diretor de Taboão da Serra está bem fundamentado e elogiado, pois
retrata com exatidão a aplicação do instrumento das ZEIS, em cima da real
demanda habitacional para a população de baixa renda. Segundo Carvalho e
Rossbach (2010, p. 27), “não houve nem subdimensionamento da área nem
superdimensionamento, a quantidade dos metros quadrados é suficiente para
atender à demanda do déficit habitacional”.
Desde 2005, vem sendo aplicada uma importante ação com trabalhos de
fiscalização e controle do uso e ocupação do solo, por meio de monitoramento, na
tentativa de impedir novas ocupações irregulares em terrenos vazios, praças e
passeios (BONDUKI, 2010)
Até 2010, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional –
Semuduh atendia na área de habitação cerca de doze mil famílias, nas frentes de
urbanização de assentamentos precários, provisão habitacional e regularização
fundiária (BONDUKI, 2010).
89
Além de ações de urbanização e qualificação urbanística, têm sido realizadas
ações de melhorias da qualidade de vida no interior das favelas, como coleta de lixo
especial, com a contratação dos moradores locais para o recolhimento do lixo
domiciliar e transporte até uma caçamba próxima, onde ocorre a coleta por
caminhões (BONDUKI, 2010).
O Programa Municipal de Universalização da Assessoria Técnica Pública
para Projetos e Obras de Interesse Social até momento de coleta dos dados, em
2012, estava em processo de implantação.
Em 2005, Taboão da Serra tinha apenas dois contratos de aporte de recursos
para habitação (Programa Habitar Brasil BID e Programa de Assessoria Técnica
Pro-Sanear), totalizando R$ 17,7 milhões. Esses recursos futuramente
transformaram-se em obras do PAC (BONDUKI, 2010).
A partir de 2005, houve um grande esforço da Semuduh para aderir a mais
programas habitacionais e fechar novos contratos de repasse, o que alterou por
completo a atuação da prefeitura no setor de habitação. Até 2009, a Secretaria
contava com 34 contratos de repasse, que totalizavam mais de R$ 80 milhões para
o setor de habitação, contratados entre 2005 e 2009, como demonstra a Tabela 6
(BONDUKI, 2010).
Tabela 6 – Valor dos contratos de repasse da SEMUDUH entre 2005 até 2009.
Município de Taboão da Serra.
Ano Nº de Contratos de
repasse Valor total (R$ )
2005 2 17.700.000,00
2009 34 81.914.924,87
Fonte: Bonduki,2010.
Elaboração: FUSP, 2009.
A tabela 6 demonstra, em síntese, os recursos disponíveis pelo Governo
Federal para realização de programas envolvendo a Secretaria de Habitação de
Taboão, contratados entre os anos de 2005 e 2009. Denota-se que houve
significativa ampliação dos recursos.
A tabela 7, a seguir, aponta em quais programas os valores foram investidos,
dado a atenção aos programas de melhoria habitacional, no qual foram investidos
cerca de 18 milhões de reais; no entanto, não é expresso o número de domicílios
90
atendidos, o que revelaria de forma quantitativa as ações municipais em prol da
melhoria das condições de habitabilidade das moradias.
Tabela 7 – Síntese dos Valores Investidos por Programa. Município de Taboão da
Serra.
Programa
Nº de empreendimento/assenta-mento
Nº de domicílios Valor total
investido (R$) Fonte dos recursos
Atendidos Final na
área
Regularização Fundiária e Jurídica de
Assentamentos Precários e Informais
8 1632 456.852,25 OGU 2005 e 2006
Urbanização de Assentamentos
Precários¹ 10 5171 4772 48.387.342,42*
PAC-PAT, PAC-HBB, FNHIS
Reurbanização Parcial ou
Total de Assentamentos Precários
Reurbanização Parcial
7 - 321 10.940.735,81 PAC-PAT, PAC-HBB,
FNHIS-CSU, Pró-Moradia
Reurbanização
Total 3 377 396 16.186.135,96
PAC-HBB, FNHIS, MCMV
Provisão de unidades Novas
7** - 925 40.085.502,67
Promoção para demanda dispersa
3 - 155 7.789.400,00 Iniciativa privada+
Carta de Crédito FGTS + FNHIS
Unidades Novas para Atendimento em casos
de remoção 2 - 394 11.300.952,03 PAC-PAT, PAC-HBB
Unidades Novas por Autogestão
3 - 680 28.674.664,00 Crédito Solidário, PAR,
CDHU
Melhorias Habitacionais
15 - 3120 18.525.377,59 FNHIS, PSH, PAC-
PAT, PAC-HBB, FGTS
Auxílio Aluguel - 470 3.072.682,18
*** PMTS
Total 58 12253 185.419.644,90
Fonte: Bonduki, 2010. Elaboração: FUSP, 2009.
* O número de famílias a serem consolidadas na área é o total de famílias que permanecem
em suas residências originais. Não estão contabilizadas as unidades novas dentro da própria área (já
que estas se encontram item a seguir, ‘Reurbanização Parcial de Assentamentos Precários’).
** Além deste total de unidades habitacionais, em 2005 foram entregues 304 unidades
(embriões) no núcleo Reassentamento – Jd. Primavera 6, construídas com recursos do HBB e PMTS.
*** período de 2006 a 2009.
1 Até setembro de 2009, dez assentamentos precários possuíam recursos de contratos de
repasse para intervenções de urbanização. Cinco deles já iniciaram alguma etapa de obra e cinco
91
estão em processo de abertura de licitação. Além disso, oito áreas já possuem ou estão em fase de
elaboração de projeto de urbanização, mas ainda não possuem recursos para as obras.
“Considerando o total das ações de urbanização em assentamentos precários (em obra ou
em fase de projeto), 8.659 famílias estão em atendimento, das quais 5.171 já têm atendimento
garantido por algum programa com recurso previsto.” (BONDUKI, 2010, p.74)
3.1.4 OS PROGRAMAS DE “MELHORIA HABITACIONAL”
Na tabela 7, verifica-se que em 15 assentamentos precários estão sendo
implantado algum tipo de intervenção para a melhoria habitacional. Até 2012, a
Prefeitura Municipal de Taboão da Serra (PMTS) vinha se comprometendo a intervir
em 3.120 domicílios desses assentamentos; no entanto, segundo os dados de
inadequação habitacional levantados pela Semuduh, em 2009, existiam cerca de 14
mil domicílios inadequados para habitação.
Ao analisarmos a demanda necessária e quantas unidades sofrerão algum
tipo de ação de melhoria, esse número ainda é inferior à demanda real de unidades
que precisam ser reformadas, apenas 20% do total.
Essas ações de melhoria habitacional são subsidiadas por meio de contratos
assinados entre a Caixa Econômica Federal e a administração municipal, com
pequena parcela dos recursos provenientes de contrapartida municipal e a maior
parcela proveniente do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS),
do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS). Apenas no Programa de Subsídio a Habitação (PSH) os
contratos foram firmados entre famílias beneficiadas e bancos responsáveis por gerir
os recursos provenientes do Orçamento Geral da União (OGU).
A Caixa Econômica Federal (CEF) é a principal gestora dos contratos e
responsável por fiscalizar o andamento das obras e dos contratos, além de liberar
recursos diretamente à construtora, quando as obras forem realizadas de acordo
com o projeto contratado.
A PMTS é responsável por licitar e fiscalizar as obras realizadas pelas
construtoras in loco, além de atender a população beneficiada. E é a principal
intermediadora entre a CEF, a construtora e os moradores.
Sendo a PMTS a principal intermediadora, acredita-se que possua maior
conhecimento das características da população residente e da organização
socioespacial do município. Portanto, optou-se por entrevistar os técnicos e
92
arquitetos da PMTS, com intuito de entender o processo de viabilização dos
programas de melhoria habitacional.
E, como resultado da entrevista, identificaram-se as dificuldades dos técnicos
ao implementar os programas, que serão apresentadas no transcorrer deste
capítulo.
Serão apresentados os programas de melhoria de Taboão da Serra, conforme
entrevistas realizadas em 2012.
Segundo relatos dos profissionais envolvidos no processo, o programa que
apresentou expressivo atendimento às moradias precárias foi o Programa de
Subsídio a Habitação (PSH), ou seja, a escolha por estudo detalhado do PSH
deveu-se aos resultados já apresentados.
Em entrevista realizada com funcionários da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano e Habitação (Semuduh), em 1/3/2012 e 20/3/2012, pôde-
se entender e obter maior aproximação das ações que têm a melhoria habitacional
como parte do escopo.
A primeira entrevista foi realizada com a arquiteta responsável por um dos
contratos de urbanização de favelas. Posteriormente, realizou-se entrevista com o
técnico responsável pela gerência dos programas PSH; nessa ocasião, foram
fornecidos materiais suficientes para a elaboração da pesquisa.
Em 2012, foi realizada entrevista com outro arquiteto, também responsável
pelo programa de urbanização de favelas. Nessa entrevista, foi possível
complementar as informações já fornecidas.
Foi relatado pelos arquitetos responsáveis8 pelos contratos de urbanização
que, atualmente, as ações que envolvem a Secretaria de Habitação do Município de
Taboão da Serra estão subdivididas em três grandes grupos, por modalidade de
implantação das ações de melhorias habitacionais. São eles:
as urbanizações com recursos oriundos do PAC para os antigos
programas PAT – PROSANEAR/BIRD – Projeto de Assistência
Técnica ao Programa de Saneamento para Populações em Áreas de
Baixa Renda e o Programa HABITAR BRASIL BID-HBB, que serão
denominados como Urbanização-PAC;
8Arquitetos responsáveis pelos contratos de repasse de urbanização das favelas realizados pelo município de
Taboão da Serra, em entrevista concedida em março de 2012.
93
a promoção de Assistência Técnica conforme previsto no Plano Diretor
de Taboão da Serra, com subsídios do PAC, que será denominada
nesta dissertação como Assistência Técnica PAC;
a promoção melhoria habitacional por meio do Programa de Subsídio a
Habitação, denominado com a nomenclatura PSH.
A seguir, será descrito resumidamente o papel de cada ação conforme
elucidado anteriormente e detalhado o programa do PSH, para obter informações de
como vêm sendo viabilizados os programas de melhoria habitacional.
3.1.4.1 URBANIZAÇÃO- PAC
Nas entrevistas realizadas com arquitetos, responsáveis cada qual por um
contrato do PAC, observou-se que a administração municipal estava enfrentando
muitos problemas para promover a melhoria habitacional dentro do programa de
urbanização, uma vez que pertencia ao escopo do programa de urbanização
contratado.
Na ocasião em que foi realizada a entrevista, a prefeitura era responsável
pela urbanização de cinco grandes áreas.
Três dessas áreas possuíam contratos firmados com o Governo Federal.
Eram antigos contratos pertencentes ao programa de saneamento PAT-
PROSANEAR, de 2007, que passaram a pertencer ao PAC. As áreas pertencentes
a esse grupo de intervenção eram: CSU, Jd. Comunitários e Jd. Margarida. As
outras duas áreas eram o Irati e o Parque Trianon, que faziam parte de um antigo
contrato firmado pela prefeitura com o programa Habitar Brasil BID-HBB.
Todas essas intervenções foram inseridas no PAC após modificações na
gerência dos programas, provocadas na esfera federal a partir de 2007.
Dessas cinco áreas, encontrava-se em fase avançada, em estágio de entrega
de obra, o Jd. Comunitários. Essa intervenção tinha como objetivo a inserção de
infraestrutura e canalização do córrego Palmital e ações de melhoria nas moradias
já consolidadas no bairro.
De acordo com a entrevista, constatou-se que, para esses contratos, firmados
com recursos oriundos do Governo Federal, estavam inclusos os seguintes serviços:
94
remoção das famílias localizadas em áreas de risco ou com condições
da moradia muito precárias, inclusos o aluguel social enquanto as
famílias não eram realocadas;
urbanização do assentamento, que incluia serviços como:
- demolição;
- provisão de água potável;
- provisão de luz;
- provisão de serviços de saneamento;
- pavimentação;
- drenagem;
- eletricidade;
- coleta de águas pluviais.
reassentamento das famílias;
construção de novas unidades habitacionais; e
melhoria habitacional das famílias que permaneceram em seu local de
origem.
Os arquitetos relataram divergências conceituais, definidas pela CEF e pelos
técnicos da prefeitura, quanto aos serviços que deveriam ser escopo do programa
de urbanização. Houve esforços da parte técnica em atender os moradores, ao
adentrarem o interior das residências, com intuito reformar e adequá-las
minimamente, mas não era o que estava ocorrendo.
Foram variadas as tentativas da prefeitura em viabilizar ações no quesito
melhorias habitacionais, dentro do programa de urbanização. Uma das intervenções,
palco de experiência para os técnicos, gestores do processo de urbanização, foi
incorporar ao quadro técnico de funcionários uma equipe destinada somente a
executar obras para atender as famílias que necessitavam de reformas em suas
moradias.
Foram contratados mestre de obra, pedreiros, ajudante de pedreiro e uma
arquiteta. Nesse meio tempo, todo material destinado às reformas, que foi adquirido
por licitações diretas da municipalidade, foi furtado. Esse material encontrava-se em
um depósito da prefeitura que funcionava como almoxarife. Além desse ocorrido,
95
com o crescimento na área da construção civil, a prefeitura acabou perdendo o
quadro de funcionários.
Uma série de fatores levou a prefeitura a desistir do método. Até o momento
da entrevista, em 2012, não havia resultados significativos na promoção de melhoria
habitacional nessas áreas pós-urbanizadas pelo PAC. Mas estava previsto, dentro
do programa de urbanização integrado, o projeto de melhoria das moradias que
continuavam em seu local de origem mesmo após a urbanização.
No caso do programa dentro do Jd. Comunitários em específico, cerca de 30
projetos de reforma foram realizados por uma arquiteta e equipe, mas apenas duas
residências estavam em fase de obras. Nessas duas residências, o material e a mão
de obra foram cedidos pela prefeitura.
Na ocasião, a equipe técnica responsável estava tentando experimentar um
novo método, que consistia em licitar “pacotes de serviços”. Seriam realizados
levantamentos, alguns finalizados como no Jd. Comunitários, e separadas as
melhorias por “pacotes de serviços”. Esses pacotes consistiam em um conjunto de
serviços a serem realizados. A seguir, alguns exemplos fictícios apenas para
entendimento do que se trata esses pacotes:
- pacote de saneamento, que deverá prever instalações sanitárias, colocação
de dutos, ligação com a rede de saneamento, com a rede coletora principal, na rua,
recém-instalada com a urbanização.
- pacotes de acabamento, que incluem serviços de pequena demolição,
realização de contrapiso, assentamento de acabamento cerâmico e rejunte.
Nota-se a vontade do corpo técnico municipal de Taboão da Serra em atender
à demanda das moradias inadequadas; no entanto, as dificuldades eram inúmeras.
A seguir, serão enumeradas as dificuldades dos técnicos em viabilizar ações,
a fim de evitar que as moradias fossem consolidadas precariamente. Essas
dificuldades foram apontadas em 2012, como resultado dos relatos dos arquitetos,
por meio de observações a respeito do problema encontrado.
Dificuldade de contratação de construtores empenhados em viabilizar
reformas, ampliações e requalificações dessas habitações inadequadas.
Por ser um trabalho que demanda tempo, o serviço passou a ser pouco
96
rentável, muitas construtoras optam por não participar desse tipo de
licitação.
Falta de contratação de profissionais no quadro institucional, referente aos
trabalhos prestados por esse tipo de intervenção.
O levantamento de necessidades que caracterizam a habitação como
inadequada torna-se obsoleto rapidamente, devido à rápida alteração dos
espaços em ambientes informais.
O não entendimento pelo corpo técnico da CEF, que, por vezes,
compreende que a melhoria deve ser empregada apenas no espaço
público, não concordando que esta deva ser estendida também para o
interior das residências. Não se compreende que a grande maioria dessas
famílias possui renda mensal inferior a três salários mínimos, insuficiente
para a realização das reformas das moradias.
Entraves burocráticos. Com intuito de evitar desvio dos recursos,
primeiramente devem ser executados os serviços, para que, então, seja
realizada aferição e avaliada as condições de qualidade da intervenção.
Somente após esse procedimento, realizado pela CEF, o recurso é
depositado diretamente na conta da construtora. Normalmente, as grandes
construtoras, acostumadas com os procedimentos da lei de licitações,
optam por obras de fácil execução, para rápido retorno dos recursos.
Falta de comprometimento das construtoras em realmente atender aos
problemas detectados.
O fato de as intervenções serem realizadas no interior das residências
torna-se dificultoso e custoso, pois, dependendo da dimensão da
execução da reforma, o morador deverá habitar temporariamente outra
localidade, até que sejam finalizadas as obras. Ou seja, a municipalidade
deverá estar disposta a arcar com o custo do aluguel ou outra forma de
moradia provisória para esse morador.
3.1.4.2 ASSISTÊNCIA TÉCNICA- PAC
Os dados apresentados a seguir foram obtidos por meio das entrevistas com
arquitetos da prefeitura de Taboão da Serra.
97
Há duas modalidades de assistência técnica que estão sendo aplicadas
nesse município, mas nenhuma delas apresentou resultado significativo, até a data
da entrevista, 2012. Foi constatada baixa demanda de implementação com relação
ao diagnóstico dos problemas habitacionais apresentados no item 3.1.2. São ações
de assistência que, no entanto, não apresentam resultados significativos:
Assistência técnica proveniente do Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS)
Foram realizadas algumas experiências, no quesito melhoria de habitação e
regularização fundiária. É uma ação que não se encontra mais em
andamento.
Assistência técnica gratuita para baixa renda, prevista no Plano Diretor
Eram atendidas algumas solicitações pontuais apenas com orientação técnica
e desenvolvimento de projetos. Segundo relato de técnicos da secretaria, verificou-
se que, até a data da entrevista, em 2012, a prefeitura ainda não possuía estrutura
para atender algumas solicitações referentes à equipe de execução das obras, nem
recursos para provisão do material de construção. Segundo a opinião da arquiteta
da Secretaria de Habitação do Município, para atendimento de uma demanda
efetiva, o atual quadro de políticas habitacionais deveria ser formatado de modo a
gerar fundos específicos para atender essa demanda.
3.1.4.3 PROGRAMA DE SUBSÍDIO A HABITAÇÃO – PSH
O PSH é um programa com recursos oriundos do Orçamento Geral da União
(OGU). É gerido por instituições bancárias autorizadas pela Caixa Econômica
Federal (CEF), principal gestora dos contratos na esfera federal. Essas instituições
participam de leilões públicos e, ao vencerem, atuam com finalidade de gerir as
cotas dos recursos destinados diretamente às construtoras, por meio de contrato
realizado entre as famílias beneficiadas e a instituição bancária.
Esses recursos são liberados pelas medições realizadas pelos técnicos
municipais, responsáveis pela fiscalização, e sob supervisão da Caixa Econômica
98
Federal. Para aprovação do recurso a ser liberado pela CEF, o técnico da prefeitura
elabora relatórios descritivos e fotográficos das reformas e os envia à CEF. Assim
que aprovado, o recurso é destinado diretamente à construtora. As famílias não são
oneradas nesse tipo de ação. No entanto, injetam-se recursos municipais, como
contrapartidas obrigatórias para adesão ao programa.
Essa intervenção ocorreu nos bairros de Sítio das Madres I, II, III e IV
(delimitado em azul na figura 9) e Saint Moritz I e II (delimitado em vermelho nas
figura 10), onde foram realizadas reformas e construções de novas moradias com
intuito de promover a regularização fundiária (Clube da Reforma, 2012). A
localização no território do município pode ser visualizada na figura 8 a seguir.
Figura 8 – Localização dos bairros que estão sofrendo ação do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico da prefeitura.
99
Figura 9 – Localização dos bairros Sítio das Madres.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico da prefeitura.
Figura 10 – Localização do bairro Saint Morritz.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico da prefeitura.
Esses dois bairros foram ocupados pela intervenção assistencialista
dos governos municipais de Taboão da Serra, anterior a 2005, que doava
100
lotes não urbanizados às famílias em situações de precariedade e risco.
Entretanto, esses lotes encontravam-se em situação de irregularidade
fundiária, como consta na afirmação de Bonduki (2010, p. 53):
(...) a própria Prefeitura de Taboão utilizou-se de uma prática que
intensificou esse tipo de ocupação. A chamada “doação de lotes”,
que tem como conceito a ideia de lotes urbanizados, originou uma
série de loteamentos, como o Sítio das Madres (fases 1, 2, 3 e 4) e o
Jd. Saint Moritz (BONDUKI, 2010, p. 53).
Segundo descrição dos funcionários da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano e Habitação (Semuduh), o evento de loteamentos
irregulares no município é recorrente. E, em parte, essa situação deve-se à
“conivência do poder publico com loteadores da cidade” (BONDUKI, 2010, p. 53).
Nesses bairros, parte das glebas pertencia à prefeitura municipal e parte foi
adquirida por compra de loteamento privado, a própria prefeitura encarregava-se de
realizar o parcelamento e, em seguida, eram realizadas as distribuições dos lotes.
Os lotes nesses núcleos eram ofertados sem infraestrutura mínima, que aos poucos
foi instalada. A construção das moradias ficava por conta do morador.
Parte dos lotes doados pela prefeitura pertencia à área verde ou institucional
do município. Esses lotes eram distribuídos aleatoriamente e de forma esparsa no
território municipal, tornando complexo o seu levantamento cadastral e a sua
quantificação, pois não estavam regularizados no cadastro de lotes da prefeitura
(BONDUKI, 2010).
Na tabela 8 a seguir, serão descritas breves características dos bairros que
sofreram as ações do PSH. Nota-se que, em análise realizada no PLHIS, todos os
bairros são caracterizados, na maioria, em precariedade pela irregularidade fundiária
e carência de infraestrutura, pertencente à classificação de nível 2.
101
Tabela 8 – Dados dos assentamentos precários do Município de Taboão da Serra.
NOME DA ÁREA
TIPO DE PRECARIED
ADE
NÍVEL DE PRECARIE-
DADE
ÁREA (m²)
NÚMERO DE DOMICÍLIOS
(DOM/HA)
DENSIDADE DOMICILIAR
(DOM/HA)
ANO DE OCUPAÇÃO
Jardim Saint Moritz I
Fundiária N1 54.845,26 600 109,4
Sítio das Madres I
Urbanístico Fundiária
N2 34.768,26 228 65,58 1994
Sítio das Madres II
Urbanístico Fundiária
N2 28.892,39 256 88,6 1997
Sítio das Madres III
Urbanístico Fundiária
N2 23928,79 722 176,36 2000
Sítio das Madres IV
Urbanístico Fundiária
N2 13.001,82 188 144,6 2002
Fonte: Bonduki, 2010. Elaboração: FUSP, 2009, adaptado pela autora.
Nas figuras 23 a 28 a seguir, serão retratadas algumas ruas dos
assentamentos precários que receberam a intervenção do PSH. Verifica-se que são
dotadas de infraestrutura mínima, como pavimentação, sistema de drenagem, rede
elétrica, coleta de lixo; mas ainda é presente o acesso por vias de terra em parte do
bairro.
Grande parte das moradias não possui afastamentos laterais, ou seja,
desprovidos de um corredor contínuo no entorno das casas, fato que limita o acesso
solar e a ventilação apenas pela fachada frontal e posterior da edificação, quando
essa possui a tipologia térrea.
Fotografia 23 – Sítio das Madres 1.
Fonte: BONDUKI, 2010.
Fotografia 24 - Sítio das Madres 2
Fonte: BONDUKI, 2010.
102
Fotografia 25 - Sítio das Madres 3
Fonte: BONDUKI, 2010.
Fotografia 26 - Sítio das Madres 4
Fonte: BONDUKI, 2010.
Fotografia 27 - Doação de Lotes Saint
Moritz,lado a lado com os lotes da
Cooperativa Novo Horizonte
Fonte: BONDUKI, 2010.
Fotografia 28 – Barracos de madeira no Jardim Saint Moritz.
Fonte: BONDUKI, 2010.
De acordo com entrevistas realizadas em 1/3/2012 com o técnico
responsável pelo programa e dados disponibilizados na plataforma digital do
Clube da Reforma (2012), para esse programa foram realizadas duas
experiências, uma iniciada em 2006 e outra em 2008.
O contrato firmado envolvia as famílias beneficiadas e os bancos, sendo
que era de responsabilidade da comissão de obras (grupo formado pelos
próprios moradores) contratar a construtora (no caso de PSH, Banco Luso).
As famílias que assinaram o contrato com o banco tiveram a propriedade
do lote, onde foram concedidos o título da propriedade, recebendo o benefício
da regularização ofertado pela prefeitura.
103
Uma das experiências foi iniciada em 2006, com o Banco Cobansa, de
onde se adquiriram 49 cotas com valores de R$ 9.000,00, havendo um
complemento de mais R$ 7.000,00 de contrapartida (materiais de construção)
municipal para construção das unidades novas. Essa experiência foi realizada
nos bairros de Saint Moritz I e II e Sítio das Madres I, II, III e IV.
Outra experiência foi realizada com o Banco Luso, em 2008, em que
foram disponibilizadas um total de 416 cotas. Cada cota possuía valor de R$
10.000,00, totalizando um subsídio de R$ 4.160.000,00, somada a
contrapartida municipal que foi o terreno.
Estão disponibilizadas as intervenções da seguinte forma:
por meio do PSH em parceria com o Banco Luso, foram atendidos
um total de 416 famílias, sendo 342 no Saint Morritz I e II e 74 nos
Sítios das Madres I, II, III e IV. Iniciaram-se as intervenções em
2008, mas não houve comprometimento da primeira construtora
contratada, tendo contrato rescindido. Essa experiência ainda
enfrentou outras dificuldades iniciais. Estimava-se a existência de
32 unidades precárias com moradias em madeira. Estas seriam
removidas para construção de novas unidades, os embriões. Mas,
por conta da paralisação por quase dois anos das obras, algumas
famílias arrumaram meios próprios de reformarem suas
residências, reconstruindo parte ou totalmente em alvenaria.
Assim, o número de unidades precárias caiu para 7 no bairro
Saint Moritz e 8 no bairro Sítio das Madres, restando 17 moradias
em péssima condição de se habitar. Contudo, em 2012, essas
famílias ainda permaneciam cadastradas para construção de
novas moradias.
Com a retomada das obras em 2010, foi contratada nova
construtora, que, até a data da entrevista, já tinha atendido 356
moradias. Segundo informações relatadas pelos técnicos de
Taboão da Serra, foi uma experiência considerada positiva.
Já o PSH, em parceria com o Banco Cobansa, está atendendo
um total de 46 famílias, sendo 18 unidades novas e 31 melhorias,
todas no Sítio das Madres IV.
104
O contrato foi firmado em 2006, e a previsão da execução das
reformas foi via mutirão. Esse processo de mutirão não obteve os
resultados esperados, em virtude do baixo interesse dos
moradores. Nesse caso, a ação não foi levada adiante.
Foi adotada, então, a autoconstrução, em que o próprio morador
realizaria a obra ou contrataria a mão de obra, os materiais de
construção básicos se tornaram contrapartida do município.
Mesmo sendo aplicado mais de 90% do repasse federal, por ser
regime de autoconstrução, não houve cumprimento nos prazos,
uma vez que as famílias não conseguiram garantir a obra no
prazo estimado. Outra dificuldade foi referente à escassez de mão
de obra, o que comprometeu novamente a questão dos prazos.
Tanto a experiência do Banco Luso como a Cobansa revelaram que a
ação de melhoria habitacional proporcionou resultados mais significativos para
a população de Taboão da Serra, pois não se onerou o morador e as melhorias
ficaram vinculadas ao programa de regularização fundiária da área.
As famílias que se localizavam em áreas públicas receberam
gratuitamente a titularidade da propriedade, desde que assinassem contrato
com o banco financeiro e se comprometessem a receber as melhorias nas
moradias promovidas pelo programa.
Para tanto, será retratada a metodologia, para que se possa entender
quais os motivos que tornaram a ação vantajosa para ambas as partes,
prefeitura e famílias beneficiadas.
Primeiro, houve um comprometimento da prefeitura em se responsabilizar
pela divulgação e captação das famílias que estavam interessadas em ser
beneficiadas pelo programa. Após a captação, selecionaram-se as famílias por
meio de entrevistas, além de ser verificado se possuíam renda mensal inferior
a R$ 1.245,00. Em caso positivo, e os lotes enquadrados em uma área
urbanizada pertencente à prefeitura, as famílias eram inclusas no PSH.
Assim, realizaram-se os levantamentos fotográficos de casa em casa,
com registro dos problemas recorrentes dos domicílios, que se tornaram
balizadores para implementação de uma ação mais bem planejada e
105
direcionada, de acordo com a frequência dos problemas que surgiam nos
levantamentos.
Eram casos, principalmente, patológicos, envolvendo desde
revestimento de fachada até estruturais da edificação, conforme descrição a
seguir, concedida pela equipe técnica de Taboão da Serra:
requalificação estrutural;
revestimento interno e externo;
instalação de revestimento cerâmico (piso e parede);
alvenaria;
execução de cobertura (telhado);
impermeabilização de áreas suscetíveis à umidade;
troca/instalação de esquadrias;
instalações elétricas e hidrossanitárias;
requalificação da fachada;
estruturas auxiliares (escada, etc.);
construção de embrião;
regularização fundiária do lote realizada pela prefeitura.
Após o levantamento, a construtora contratada visitava novamente as
casas e registrava as necessidades dos moradores. Assim que os
levantamentos eram realizados, a construtora orçava a reforma (dentro da
tabela de preços oficiais, habilitada para órgão público, no caso o SINAPI),
estando esta restrita à realização dos serviços que solucionassem os
problemas recorrentes apresentados.
A construtora ficava limitada também ao orçamento destinado a cada
família, R$ 10.000,00 por moradia. Realizados os acordos entre moradores,
equipe da prefeitura e construtora, iniciava-se a fase da execução da reforma,
moradia a moradia.
Após a conclusão da reforma, o corpo técnico da prefeitura realizava as
medições. Para maior comprovação dos serviços realizados pela construtora,
exigia-se, por parte da prefeitura, um registro fotográfico do antes e depois da
intervenção (conforme fotografias 29 a 44). Tratava-se de uma obrigatoriedade
de documentos que eram submetidos à prefeitura, além de outros, como:
planilha orçamentária;
106
memorial de cálculo;
ordem de serviço assinada pelo morador;
memorial descritivo das ações;
termo de conclusão da obra assinado pelo morador.
Ao final da medição pela equipe técnica da prefeitura, o banco, no caso
Cobansa ou Luso, realizava suas próprias avaliações e medições. Se tudo
estivesse de acordo com o contrato assinado entre o banco e o morador, fazia-
se o pagamento diretamente à construtora.
107
Fotografia 29 – Foto fachada anterior à
reforma do PSH.
Fotografia 30 – Foto fachada posterior à
reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 31 – Foto fachada anterior à
reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 32 – Foto fachada após à
reforma do PSH
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 33 – Foto banheiro com
infiltração anterior à reforma do PSH.
Fotografia 34 – Foto banheiro posterior à
reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
108
Fotografia 35 – Foto instalação elétrica anterior à reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 36 – Quadro de elétrica
posterior à reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 37 – Foto de piso em
corredor anterior à reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 39 – Acabamento cerâmico
anterior à reforma do PSH
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 38 – Acabamento cerâmico
posterior à reforma do PSH
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 40 – Acabamento cerâmico
posterior à reforma do PSH.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico responsável.
109
Fotografia 41 – Foto acesso sem escada
.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 42 – Foto posterior a reforma com a escada.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 43 – Foto acesso sem escada.
Fonte: Arquivos da PMTS, 2012, cedido gentilmente por técnico responsável.
Fotografia 44 – Foto posterior a reforma
com a escada.
Fonte: Arquivos da PMTS, cedido
gentilmente por técnico responsável.
3.1.5 RESULTADOS DAS AÇÕES DE TABOÃO DA SERRA
Verifica-se que há problemas de viabilização das ações de melhorias
habitacionais inseridas no programa de urbanização promovido pela prefeitura. Além
disso, a Lei de Assistência Técnica promulgada em 2008 não foi amplamente
incorporada na política habitacional da cidade, quer pela dificuldade de obter
110
recursos e profissionais disponíveis para atuação nessa área, quer pelo
desconhecimento da população residente dos serviços ofertados pela secretaria de
habitação.
O programa de Taboão da Serra, o PSH, é um dos únicos que vêm refletindo
positivamente de maneira quantitativa diante das adversidades enfrentadas em
outras experiências de melhoria no município. Até fevereiro de 2012, 356 famílias já
haviam sido atendidas pelo programa, mas questiona-se o PSH vem atendendo às
famílias de maneira qualitativa.
Por meio de observações das fotografias (29 a 44), nota-se que são ações
com atendimento de caráter emergencial, em alguns casos há necessidade de
inserção de detalhes técnicos, como o caso da fotografia 42, em que foi construída
escada sem corrimões. A falta desses pequenos detalhes vai classificar a
intervenção como sendo positiva ou não, vai ditar se há atendimento dos parâmetros
elencados no início da dissertação ou não. Neste caso, não há atendimento do item
de risco a injúrias físicas, a falta do corrimão poderá ser risco grave para a
ocorrência de acidentes.
No caso da família que teve seu banheiro reformado, nota-se que foi
necessária a aplicação do revestimento cerâmico, por conta dos problemas com
infiltração. Do mesmo modo, em outra família, o quadro de energia foi reformado,
atendendo satisfatoriamente, pois haveria risco de curto-circuito que poderia causar
foco de incêndio. Nas outras fotos, percebe-se que as intervenções partiram para a
estética das fachadas e dos cômodos.
Dados da entrevista realizada com o técnico responsável por gerir essa ação
demonstram a falta de mais funcionários qualificados no atual quadro da prefeitura,
o que pode ocasionar erros na fiscalização, uma vez que há disponibilização de
apenas um técnico para gerir essa ação.
O fato de a intervenção pelo PSH estar sendo aplicada numa grande
demanda de moradias torna dificultosa a fiscalização das obras pelo técnico. Além
disso, há falta de estrutura para locomoção até as áreas envolvidas, pois as visitas
ocorrem somente quando há algum carro disponível. Segundo o técnico, se
houvesse carros disponíveis para visitas até o bairro e aumento de profissionais no
quadro de funcionários, certamente o programa teria melhor êxito.
Outro fator que poderia ser levado em conta é o fato de se predeterminar os
problemas recorrentes, que limitaram a inclusão de outros serviços que poderiam ser
111
prioritários para a provisão de condições satisfatórias da moradia. Se, por um lado,
esse método agilizou o processo de fiscalização das obras, por outro, ele pode estar
consolidando uma inadequação.
Ainda que realizado os levantamentos pelo técnico, anteriores à execução
das reformas, o problema que indica a inadequação da moradia pode ser
rapidamente desatualizado, pelo rápido processo com que se modificam os
ambientes. As famílias visam ao atendimento imediato das necessidades, sem o
mínimo planejamento.
O levantamento inicial das condições das moradias foi importante no caso das
habitações muito precárias, pois estas acabaram sendo inclusas na listagem de
moradias que necessitavam ser repostas por uma nova.
Não é possível analisar as condições de pós-ocupação das moradias, já que
a ação ainda não foi finalizada. Ressalta-se que a análise seria um passo importante
para complementar o conhecimento acerca das intervenções.
Além disso, as experiências têm contribuído para aumentar o acervo de
informações, uma vez que é recente a implantação da política habitacional no
município. Foram variadas as formas de intervir nas moradias, como consequência
da situação de cada assentamento, uns mais precários que outros.
Acredita-se que, por meio dos erros e acertos durante as intervenções, a
equipe técnica de Taboão da Serra adquiriu conhecimento e experiência de como
intervir nesses assentamentos precários, especificamente nas ações de melhoria
habitacional.
No quadro 5 a seguir, poderão ser analisadas as respostas dos
questionamentos realizados no início do capítulo. Trata-se de dados e informações
colhidos em 2012.
112
Quadro 5 (Q5) - Síntese dos questionamentos iniciais - Taboão da Serra
a
Quais os programas existentes em cada município e que possuem como alvo a promoção da melhoria habitacional?
PAC- Urbanização/ PAC- Assistência Técnica/ PSH.
b
As ações analisadas diagnosticaram corretamente os problemas de inadequação das moradias, conforme o referencial teórico? Se não, o que deixou de ser atendido?
As ações priorizaram a inadequação das moradias conforme levantamento inicial realizado. Não foi foco do programa, por exemplo, atender aos quesitos de risco a incêndio, adensamento excessivo, etc. No entanto, o conserto da fiação elétrica, por exemplo, minimizou o risco contra incêndio. Focaram-se atendimento do acesso solar e tratamento de patologias decorrentes má execução dos componentes construtivos.
c
De acordo com as inconformidades e patologias levantadas nas habitações, quais foram os serviços mais recorrentes com intuito de atender minimamente as famílias?
• Requalificação estrutural; • Revestimento interno e externo; • Instalação de revestimento cerâmico (piso e parede); • Construção de alvenaria; • Execução de cobertura (telhado); • Impermeabilização de áreas suscetíveis à umidade; • Troca/instalação de esquadrias; • Instalações elétricas e hidrossanitárias; • Requalificação da fachada; • Instalação de estrutura auxiliares (escada, etc...); • Construção de embrião; • Regularização fundiária do lote realizada pela prefeitura.
d
Quais as dificuldades e impedimentos que o poder público municipal se depara ao viabilizar as reformas e/ou ampliação das moradias autoconstruídas?
Variados, conforme já enunciado durante a descrição dos programas.
e Os municípios se apropriaram da Lei de Assistência Técnica? Como?
Não se apropriaram. Ainda encontra dificuldades para implantação de Fundo Municipal que irá manter o programa e dificuldade quanto o número restrito de funcionários especializados presente no quadro funcional da prefeitura.
Fonte: autora do trabalho
113
3.2 ESTUDO DE CASO – DIADEMA
Diadema é um município que teve área pertencente à Ordem Jesuítica, em
1700, sendo trajeto de tropeiros em direção à mina de ouro do Embu. Em 1900,
passou por um processo de desenvolvimento, época que teve como marco a
instalação de serraria a vapor (IBGE, 2012). Diadema pertenceu ao município de
São Bernardo do Campo e foi emancipada em 1959.
A partir da sua emancipação, verificou-se um crescimento populacional
vertiginoso, em “1960 possuía 12 mil habitantes, 79 mil em 1970, 228 mil em 1980 e
300 mil em 1990” (REALLI; ALLI, 2010, p. 36).
Diadema foi caracterizada como pólo da indústria automobilística brasileira e,
como consequência da industrialização, atraiu uma população formada por
trabalhadores migrantes de pouca qualificação profissional, vivendo em situação de
baixos salários e alta rotatividade nos empregos. Essa população instalou-se em
meio a terrenos baratos e acessíveis, porém desprovidos de qualquer infraestrutura
urbana (REALLI; ALLI, 2010).
Localizada no Grande ABC, Região Metropolitana de São Paulo e distante 19
quilômetros a sudeste da capital do estado, Diadema encontra-se entre os
municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo. Possui uma área de
aproximadamente 31 km², sendo 7 km² área de proteção de mananciais, uma
população de 386.039 de habitantes, segundo o último Censo de 2010, e alta
densidade demográfica de 125,20 hab./ha., a segunda maior do Estado de São
Paulo.
Infelizmente, estima-se que 13,3% das famílias estejam vivendo em situação
de extrema pobreza, enquadradas na faixa populacional que sobrevive com uma
renda de zero a meio salário mínimo. Essa porcentagem corresponde a 60 mil
habitantes vivendo em situação de pobreza.
Apresenta em seu território cerca de 207 assentamentos informais e favelas.
Em termos de área ocupada pelos assentamentos, corresponde a 4,62% do território
da cidade, o que representa cerca de 25% da população, ou seja, quase 100 mil
pessoas.
Segundo dados de 2010, destes 207 assentamentos, 161 já estão totalmente
urbanizados; no entanto, 32 núcleos ainda encontram-se em urbanização, seis já
114
receberam intervenções específicas e oito estavam localizados em áreas de risco,
necessitando de remoção (REALLI; ALLI, 2010, p. 37).
As décadas de 1960 e 1970 são caracterizadas por uma ocupação
progressiva de loteamentos populares em terrenos que antes eram chácaras. O fato
de a Prefeitura Municipal ter incentivado e estimulado a industrialização, através das
isenções de tributos, provocou a maciça ocupação do território com a instalação de
galpões industriais.
Na década de 1980, o município praticamente caracterizava-se como cidade-
dormitório, contudo as condições de moradia ofertadas eram de extrema
precariedade e apenas 22% da malha viária eram urbanizados. Nessa época, quase
30% da população residia nas favelas, presentes em 3,5% da superfície territorial
municipal. Foi um período marcado pelo descaso do Poder Público quanto às ofertas
de serviços públicos básicos, como educação, saúde, cultura e lazer, que
praticamente inexistiam (REALLI; ALLI, 2010).
3.2.1 HISTÓRICO DE URBANIZAÇÃO E AÇÕES HABITACIONAIS
Segundo o relatório cedido pela Secretaria de Habitação de Diadema
(DIADEMA, 2009), o município passou por um rápido processo de urbanização entre
as décadas de 1970 e 1980. Muito se deve à instalação de grandes indústrias na
região do ABC, impulsionando a economia local.
A cidade de Diadema se tornou atrativa para população de migrantes; estes
passaram a residir em loteamentos clandestinos sem nenhuma infraestrutura
urbanística e, por vezes, construíam suas habitações com materiais e técnicas
limitadas à escassez de recursos das famílias. De forma desorganizada, a
população carente passa a ocupar lotes irregulares, contribuindo para o surgimento
de várias favelas (DENALDI, 2003).
A paisagem comumente encontrada de casas construídas e inacabadas
concedeu à cidade o título de “cidade vermelha” (DIADEMA, 2009).
Segundo Realli e Alli (2010, p. 37), em 1973, foi elaborado o primeiro Plano
Diretor de Diadema, que “praticamente desconhecia a existência das favelas e da
cidade ilegal”. Já em 1970, começaram a se articular no país movimentos populares
reivindicatórios, conhecidos como “Movimento pela Reforma Urbana”, que visavam à
115
garantia de melhores condições de habitação, regularização dos loteamentos
clandestinos e infraestrutura urbana.
Os movimentos populares tiveram um grau de organização e mobilização
diferenciado, originando diversas invasões e ocupações dos terrenos, sendo
futuramente transformados em loteamentos informais (REALLI; ALLI, 2010).
Esse cenário levou a administração pública a adotar uma política de
urbanização dos loteamentos informais a partir de 1983. Os programas de
urbanização, segundo Baltrusis (2003), tinham por objetivo a integração dos núcleos
à cidade formal, com obras de saneamento básico9 e regularização fundiária.
Denaldi (2003, p. 84) relata que a política aplicada:
inovou ao tratar a questão da urbanização de favelas não mais como mera intervenção pontual ou programa alternativo. A continuidade político-administrativa, propiciada pela eleição consecutiva de três governos que administraram a cidade por 14 anos – de 1983 a 1996 –, garantiu que a política para favelas fosse consolidada e aprimorada.
A instalação dos serviços públicos aponta uma transformação da realidade
pautada na precariedade e na falta de sensibilidade quanto aos problemas da
população carente.
Para melhor entender como a administração pública de Diadema veio
tratando dos problemas habitacionais e urbanísticos, será relatado um breve
histórico das intervenções a partir da tese de Denaldi (2003, p. 84-100) e publicação
de Realli e Alli (2010).
No primeiro mandato, em 1985, a Prefeitura Municipal outorga a “Concessão
de Direito Real de Uso da Terra”, que, inicialmente, beneficiou por noventa anos os
moradores de favela e núcleos habitacionais, permitindo o uso e a construção de
moradias em áreas pertencentes ao Poder Público. Foram realizadas intervenções
nesses locais, como abertura de vielas e ruas, viabilizando a infraestrutura urbana.
Por enfrentar escassez de recursos, a prefeitura optou por urbanizar as
favelas espalhando os investimentos: promoveu melhorias gradativas e esparsas ao
maior número de núcleos possíveis, ao invés de concentrar os investimentos em
uma só localidade, promovendo a implantação completa dos projetos urbanos
(REALLI; ALLI, 2010).
9 Saneamento básico é compreendido pelas ações de drenagem, abastecimento de água e coleta de esgoto, além
de pavimentação, construção de escadarias, contenção de encostas e iluminação pública (BALTRUSIS, 2003).
116
Durante o segundo mandato do governo do PT, foi criado o Fundo Municipal
de Habitação de Interesse Social – Fumapis, que tinha como conselho:
representantes da Câmara Municipal, o governo municipal e representantes do
movimento de moradias. O Fumapis tinha recursos oriundos do orçamento
municipal, tendo financiado várias obras de infraestrutura em favelas e promoção de
novas moradias com a construção dos conjuntos habitacionais. No período, cerca de
5% do orçamento municipal era aplicado na área de habitação (DENALDI, 2003, p.
86).
Já no terceiro mandato do governo petista, foram revisadas as legislações
existentes, obtendo-se ampla participação popular nas decisões referentes à gestão
de projetos habitacionais.
Para os assuntos relacionados à política urbana, implantaram-se instrumentos
que promoviam o acesso a terras e a regularização dos lotes nas favelas, como “o
parcelamento e a edificação compulsórios, a operação urbana e o consórcio
imobiliário, por meio do qual os proprietários poderiam fazer parcerias com a
Prefeitura para viabilizar a urbanização de seus loteamentos” (REALLI; ALLI, 2010,
p. 40). O instrumento mais importante criado no âmbito do novo Plano Diretor,
promulgado em 1994, foi as AEIS - Áreas Especiais de Interesse Social (Lei n.º
25/94), posteriormente chamado de Zonas Especiais de Interesse Social, ZEIS.
Foram criadas duas modalidades de AEIS:
AEIS-1, que eram áreas vazias destinadas à produção de novos núcleos habitacionais e representando 2,8% do território do município (870 mil m²); e as AEIS-2, relativas às áreas que já estavam ocupadas por favelas e que correspondiam a 3,5% do território (1,07 km²), onde viviam cerca de 25% dos moradores de Diadema (REALLI; ALLI, 2010, p. 40).
O objetivo de adoção de instrumentos, como as AEIS, era flexibilizar os
parâmetros relativos ao uso e ocupação do solo. Nessas áreas, era possível a
regularização de lotes já ocupados, além de otimizar a ocupação da terra e da
infraestrutura dos novos empreendimentos, visando ao melhor aproveitamento do
solo.
Enquanto as AEIS-1 tinham como intuito salvaguardar o estoque de terras
particulares vazias para futura implantação de habitações para interesse social, as
AEIS-2 tinham finalidade de modificar os padrões urbanísticos ocupados por favelas
117
em áreas públicas. Contudo, adotaram-se padrões urbanísticos diferenciados em
relação à cidade formal, possibilitando a urbanização, consolidando as famílias e
investindo-se na melhoria da qualidade de vida da população. Nas duas
modalidades, somavam-se uma área de aproximadamente 1,9 km² (REALLI; ALLI,
2010).
Para as diversas áreas altamente adensadas, em situações de risco ou para
abertura de vias, a administração municipal interviu garantindo a construção de
edifícios de apartamentos.
Ao final da terceira gestão, com três governos sucessivos sob o mesmo
partido, houve mudança significativa na cidade. O que antes caracterizava Diadema
pela precariedade, após 1996, quase toda infraestrutura urbana havia sido
implantada na cidade. Houve pavimentação de praticamente toda malha viária,
iluminação pública, distribuição de água e coleta de lixo, passando a atender cerca
de 90% das famílias que residiam em favelas.
Segundo dados da prefeitura de Diadema (DIADEMA, 1995-1999 apud
DENALDI, 2003, p. 84), em 1983, apenas 15% das ruas formais da cidade eram
pavimentados, em 1996, essa porcentagem passou a ser de 99%.
Houve também a ampliação da rede de água e esgoto, 99,5% e 76%,
respectivamente, dos domicílios da cidade estavam sendo atendidos. Quanto aos
serviços de coleta de lixo, passaram a atender 98,4% dos domicílios (EMPLASA,
1998 apud DENALDI, 2003, p. 84).
A Concessão do Direito Real de Uso (CDRU) por noventa anos atingiu cerca
de 40% da população residente em assentamentos precários, e foram implantados
números significativos de equipamentos públicos (REALLI; ALLI, 2010).
Dessa forma, a cidade deixou de ser classificada como cidade-dormitório,
pois cerca de 60% da população residente já trabalhavam no município.
Como resultado dessa ação que perdurou por quatorze anos, obteve-se:
Do total de 192 favelas e núcleos habitacionais, mais de 90% tinham recebido intervenções e melhorias promovidas pelo poder público. Cerca de 51% deles já estavam urbanizados e 38% estavam em processo de urbanização. Essas intervenções tinham como característica sua abrangência, da infraestrutura à regularização fundiária, passando pelo apoio à autoconstrução. Conseguiam, assim, reinserir os núcleos nas relações com seus bairros e
118
assegurar a todos o acesso aos serviços urbanos (REALLI; ALLI, 2010, p. 41).
Resumidamente, a metodologia adotada para obtenção dos resultados
apontados consistia nos seguintes passos:
1) Cadastro das famílias carentes, prevendo-se a dimensão do lote e qual
seria a forma de atendimento.
2) Implantação do projeto de urbanização de favelas com reparcelamento de
lotes. Poucas foram as remoções de famílias.
3) Intervenções: que poderiam ser executadas das seguintes formas:
– executadas por empreiteiras ou diretamente pela administração
municipal;
– executadas por mutirão: a população moradora em um núcleo de
favela organiza-se para executar total ou parcialmente as obras de
infraestrutura em regime de mutirão. Nesse caso, técnicos da
Prefeitura davam assessoria técnica;
– autogeridas pela população (somente no período de 1993-1996): a
PMD, por meio de convênio, repassa os recursos financeiros para
uma associação de moradores que representa a população
moradora de determinado núcleo, e esta gerencia a aplicação dos
recursos e execução do projeto. Nesse caso, a assessoria técnica é
prestada por ONGs (organizações não governamentais) contratadas
diretamente pela associação (DENALDI, 2003, p. 92-93).
No entanto, Denaldi (2003) observa que o processo de construção por
mutirão organizado pela prefeitura era considerado complexo, devido às dificuldades
operacionais e à necessidade de mobilizar a população.
Para a prefeitura, foi complexo distribuir, estocar e controlar a utilização
adequada do material de construção nos núcleos. Havia atrasos na licitação, o que
comprometia o andamento das obras. Era recorrente a desmobilização das pessoas
envolvidas no mutirão, principalmente quando existia uma parcela da comunidade
que já havia sido contemplada com a ação. Os moradores pertencentes a essa área
já urbanizada frequentemente voltavam-se apenas para a execução de suas
próprias casas, deixando a urbanização a cargo da administração municipal
(DENALDI, 2003).
119
Pode-se dizer que, por mais diversificadas que fossem as formas de intervir,
quer por mutirão ou não, a execução das obras de urbanização foi praticamente
subsidiada pelo governo municipal.
Em 1996, houve tentativa de implantação de programa de melhoria na cidade,
com a criação do programa “Pós-Urbanização”. Esse programa objetivava integrar
os bairros aos núcleos de favela; dessa forma, eram previstas ações do tipo
assistência técnica à construção de moradias, mas poucas foram as favelas
atendidas, devido à escassez do quadro de funcionários da prefeitura.
Permanece o questionamento a ser explicitado na dissertação, no qual o
enfrentamento à precariedade urbana está sendo solucionado com políticas voltadas
à urbanização de favelas. Entretanto, nota-se que as políticas de urbanização não
tinham em seu escopo a melhoria das moradias. Deverá ser investigada na
dissertação como o Poder Público vem enfrentando o problema da inadequação das
habitações, pois o método aplicado em algumas políticas de urbanização pode ter
consolidado a precariedade das moradias.
3.2.2 PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL - PLHIS
(DIAGNÓSTICO E PROPOSTA)
De acordo com o Plano Local de Habitação de Interesse Social do Município
de Diadema, instituído em 2010, considerou-se como déficit habitacional as
unidades habitacionais que precisariam ser respostas. Para mensuração desses
números, foram considerados os seguintes critérios pela Secretaria Habitacional e
do Desenvolvimento Urbano- SHDU.
Demanda Prioritária: composta por famílias habitando os núcleos
habitacionais que caracterizam urgência e/ou necessidade de priorização em sua
remoção. Enquadram-se nessa situação:
A.1.1) Risco – núcleos habitacionais que apresentam, ao menos em
parte do seu território, situações de risco envolvendo enchentes ou
escorregamento de massas de terra, domicílios rústicos e insalubres,
precariedade ou inexistência dos serviços de saneamento ambiental
como abastecimento de água, coleta de esgotos e coleta de lixo,
caracterizando agressões constantes à vida e à saúde pública;
A.1.2) Mananciais – núcleos situados na “Área de Proteção e
Recuperação dos Mananciais do Reservatório Billings”, cujas
120
características de necessidades de preservação, proteção e
recuperação ambiental exigem tratamento diferenciado da questão
habitacional, com ações tendentes ao desadensamento e
recuperação das condições de permeabilidade do solo e
revegetação;
A.1.3) Faixa não edificável da Rodovia dos Imigrantes – núcleos que
apresentam pelo menos parte do seu território na faixa non
aedificandi da Rodovia dos Imigrantes, exigindo soluções junto ao
Governo do Estado de São Paulo e à empresa concessionária da
rodovia;
A.1.4) Adensamento excessivo com interferência em obras públicas
– núcleos extremamente adensados que interferem no
encaminhamento de obras públicas de saneamento ambiental e do
sistema viário, comprometendo as condições de segurança e
salubridade das moradias e gerando problemas de acessibilidade e
mobilidade urbana (DIADEMA, 2010, p. 8-9).
Verificou-se que são necessárias 4.448 novas unidades. Grande parcela das
famílias, 46%, conviviam em situação de risco, necessitando ser removidas,
urgentemente. Seguindo a proporção, seguiam as famílias situadas em faixas não
edificáveis do Rodoanel, com 26% dos domicílios enquadrados no déficit. A seguir,
segue tabela caracterizada pela demanda prioritária de novas unidades
habitacionais.
Tabela 9 - Distribuição da Demanda Prioritária – Município de
Diadema
DEMANDA PRIORITÁRIA
REASSENTAMENTO (em área nova)
REMANEJAMENTO (na própria área)
TOTAL
Risco 1005 1055 2060
Mananciais 376 601 977
Faixa não edificável da Rodovia dos Imigrantes
551 636 1187
Adensamento excessivo
194 30 224
TOTAL GERAL 2216 2322 4448
Fonte: DIADEMA, 2010; Prefeitura do Município de Diadema, out. 2010.
121
O Déficit por Demanda Difusa foi definido, conforme os seguintes critérios:
- Famílias conviventes: constituídas por, no mínimo, duas pessoas
ligadas por laço de parentesco, dependência doméstica ou normas
de convivência, que residem no mesmo domicílio com outra família
denominada principal;
- Cômodos: domicílios particulares compostos por um ou mais
aposentos localizados em casa de cômodo, cortiço ou
assemelhados;
- Domicílios Improvisados: locais construídos para fins não
residenciais sendo utilizados como moradia;
- Domicílios Rústicos: domicílios que não apresentam paredes de
alvenaria ou madeira aparelhada, construídos com materiais
inapropriados, o que resulta em desconforto para seus moradores,
riscos de desmoronamento e contaminação por doenças (DIADEMA,
2010, p.10).
Considerou-se no PLHIS, como demanda difusa do déficit habitacional, 7.428
moradias que necessitam ser repostas.
A tabela seguinte demonstra os componentes do Déficit Habitacional por
Demanda Difusa de Diadema.
Tabela 10 - Déficit Habitacional Básico no Município de
Diadema, 2000.
COMPONENTE DO DÉFICIT HABITACIONAL
BÁSICO
DÉFICIT SEGUNDO
CENSO IBGE 2000
% CONSIDERADO COMO DÉFICIT
NO PLHIS DIADEMA
DEMANDA DIFUSA
DO PLHIS DIADEMA
Domicílios Improvisados 547 100% 547
Domicílios Rústicos 331 100% 331
Coabitação Familiar
Famílias Conviventes
3.680 65% 2.392
Cômodos 4.158 100% 4.158
TOTAL 8.716 - 7.428
Fonte: DIADEMA, 2010; Fundação João Pinheiro e Censo IBGE 2000
122
Observa-se na tabela apresentada que 65% das famílias estão enquadradas
no item “famílias conviventes”, ou seja, levou-se em conta que nem todas as famílias
possuem a intenção de residir em outras moradias.
Segundo esclarecimentos do PLHIS de Diadema, os números apresentados
encontram-se defasados, uma vez que os dados retirados representam ao déficit
encontrado até 2000.
Considerou-se como Demanda Futura, a razão dos números do crescimento
populacional de famílias com até três salários mínimos. Foi encontrado para este
item cerca de 6.105 moradias que deverão ser construídas até o ano de 2020,
conforme demonstrado na tabela 11 abaixo:
Tabela 11 - Necessidade de Novas Habitações de Interesse Social até 2020.
Município de Diadema.
Crescimento populacional em nº de famílias 2010-2020¹ 11.741
% com Renda Familiar até 3 salários mínimos (%) ² 52%
NECESSIDADES DE NOVAS HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL
6.105
Fontes: DIADEMA, 2010. (1) Crescimento populacional no período, segundo projeções da Fundação SEADE (2) Porcentagem dos responsáveis por domicílios particulares conforme CENSO IBGE 2000.
Quanto aos números apresentados pela demanda de remoções para
Requalificação Urbana e Habitacional, foram localizados cerca de 38 domicílios que,
por se situarem em áreas de alto adensamento populacional, necessitam de novas
moradias.
Ao todo, serão necessárias 18.019 novas unidades habitacionais. Os
números são significativos entre a demanda difusa e demanda futura. Segue abaixo
a tabela comparativa, disponibilizada no PLHIS.
Tabela 12 - Síntese do Déficit Quantitativo. Município de Diadema.
TIPO DE DEMANDA
NOVAS HABITAÇÕES EM TERRENOS VAZIOS (REASSENTAMENTO)
NOVAS HABITAÇÕES NO MESMO TERRENO (REMANEJAMENTO)
TOTAL
Demanda Prioritária
2.126 2.322 4.448
Demanda Difusa 7.428 0 7.428
123
Demanda Futura 6.105 0 6.105
Remoções por Requalificação
38 0 38
TOTAL 15.697 2.322 18.019
Fonte: Diadema, 2010. Elaboração SDHU, 2010.
O PLHIS utilizou-se das informações disponíveis pela Fundação João
Pinheiro para elaboração do diagnóstico levantado.
Os critérios adotados não estão atualizados e, no entanto, foram utilizados
apenas três critérios para classificar os domicílios como inadequado. São eles:
a) Carência de infraestrutura urbana: núcleos com necessidade integral, parcial ou de complementação de obras.
b) Inadequação Urbana e Habitacional: núcleos e domicílios que necessitam de ações de requalificação urbana e habitacional.
c) Irregularidade Fundiária: assentamentos habitacionais irregulares que se encontram sem registro em Cartório. (DIADEMA, 2010, p.13)
São presentes 10.620 moradias que necessitam de algum tipo de serviço de
infraestrutura. Quanto a Inadequação Urbana e Habitacional, cerca de 13.360
domicílios e quanto a Irregularidade Fundiária 34.547 moradias encontram-se
ausentes de registros. Segue tabela abaixo para melhor visualização dos problemas
de inadequação.
Tabela 13 - Síntese do Déficit Qualitativo. Município de Diadema.
TIPO DE DEMANDA
Carência de infraestrutura
Inadequação Urbana e
Habitacional
Irregularidade Fundiária
Domicílios 10.620 13.360 34.547
Fonte: DIADEMA, 2010; Fundação João Pinheiro, CENSO IBGE 2000.
Nota-se que a Fundação João Pinheiro disponibiliza mais dois quesitos de
inadequação, o adensamento excessivo e o da inadequação da cobertura da
moradia; entretanto, esses quesitos não foram considerados no Plano de Habitação
de Diadema.
124
3.2.3 PROGRAMAS DE MELHORIA HABITACIONAIS
Atualmente, a Política Habitacional de Diadema está pautada na divisão dos
seguintes programas e ações, de acordo com a apresentação do PLHIS de Diadema
(DIADEMA, 2010):
urbanização - tem por objetivo promoção de atendimento das
necessidades dos núcleos informais;
provisão habitacional - tem por finalidade o acesso e o fomento para a
produção de novas moradias, destinadas a suprir a demanda
habitacional para famílias com renda até três salários mínimos, bem
como viabilizar a utilização de imóveis ociosos para esta finalidade;
regularização fundiária - tem por objetivo a promoção da regularização
fundiária em assentamentos irregulares, aprimorar normas e formas de
gestão das concessões de posse, formalizar o registro dos
empreendimentos e núcleos habitacionais e aplicar os instrumentos de
regularização fundiária nos assentamentos irregulares públicos e
particulares; e
requalificação urbana e habitacional - tem por finalidade estabelecer
um novo padrão de uso e ocupação do solo urbano, verificando-se
melhoria contínua no espaço já consolidado na malha da cidade.
Viabilizar a ligação das redes de infraestrutura, promovendo a
integração do público e privado, promoção da melhoria da qualidade
urbana e ambiental, promoção da melhoria da qualidade das unidades
habitacionais, ampliando as condições de salubridade e habitabilidade
das moradias e, por fim, viabilizar a ampliação e qualificação dos
espaços coletivos e de lazer.
Para entender a demanda do programa de requalificação urbana e
habitacional, o PLHIS de Diadema diagnostica que, dos 223 núcleos identificados,
68% foram considerados totalmente urbanizados, dados de março de 2009. Os 152
núcleos habitacionais, que compreendem 13.713 domicílios, correspondem ao
universo do Programa de Requalificação, conforme tabela seguinte.
125
Tabela 14 - Demanda do Programa Requalificação Habitacional.
Município de Diadema.
Região Nº de
núcleos Domicílios Habitantes Área (m²)
Densidade (hab/ha)
leste 32 5.100 18.411 375.691 490
norte 67 5.511 19.895 314.672 632
oeste 33 1.841 6.646 115.732 574
sul 20 1.261 4.552 98.958 460
Total 152 13.713 49.504 905.052 547
Fonte: DIADEMA, 2010; Elaboração SHDU, 2010.
Além do diagnóstico da demanda por requalificação habitacional, o PLHIS
estabelece três modalidades distintas e complementares dentro do programa
Requalificação Urbana e Habitacional:
requalificação urbana e habitacional nos núcleos totalmente
urbanizados;
pós-urbanização; e
manutenção.
Conforme a complexidade dos assentamentos precários e a sua diversidade,
são estabelecidos tratamentos diferenciados a cada núcleo. Assim, dentro do
programa de requalificação urbana e habitacional, foram classificados os universos
de acordo com o grau de intervenção necessário.
Definiu-se, como grau RQ1, um grau satisfatório de urbanização, sem a
necessidade de remoção das moradias. Nesse grau, os núcleos deverão ser
requalificados pela provisão de melhorias habitacionais, além da manutenção,
qualificação de áreas coletivas e acessibilidade dessas mesmas áreas (DIADEMA,
2010).
Como grau RQ2, são classificados os núcleos com intervenções localizadas,
havendo a necessidade de remoções. Para intervir nessa área, são necessárias
ações que prevejam minimamente “melhorias habitacionais, abertura de vias,
126
implantação de áreas verdes e necessidade de pequenas remoções”, com intuito de
solucionar os problemas estruturais como circulação, área verde, drenagem,
saneamento e remoções por impossibilidade de regularização fundiária (DIADEMA,
2010, p. 44-45).
Com intuito de garantir a implantação desse programa, o PLHIS de Diadema
estabeleceu algumas metas, caracterizadas por definirem cronogramas físicos e
financeiros a serem cumpridos pela administração municipal.
Resumidamente, as metas se definem em dar continuidade às obras de
urbanização que já vêm sendo implantadas, além da provisão de moradias,
requalificação urbana e habitacional e regularização fundiária. Essas ações ocorrem
com subsídios do Governo Federal, por meio de contratos do PAC NAVAL, PAC
MANANCIAL e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS, com
previsão de término em 2012. Além disso, pretende-se ampliar as ações em
núcleos habitacionais que ainda não foram contemplados com nenhum tipo de ação
(DIADEMA, 2010).
Perante o quadro de programas municipais apresentados, no qual se fazem
presentes 207 assentamentos precários com 161 núcleos contemplados pelos
programas de urbanização, em 2005, o governo municipal instituiu o Programa “Tá
Bonito”, dentro da modalidade pós-urbanização.
De acordo com relatório produzido pela Secretaria do Desenvolvimento
Urbano e Habitacional - SHDU (DIADEMA, 2009), o Programa “Tá Bonito” visou
proporcionar melhores condições das moradias, solucionando as questões de
habitabilidade e salubridade. Foram previstas ações que visem à requalificação,
tanto interna como externa, de edificações já consolidadas no núcleo. Incluiu, ainda,
o acompanhamento técnico das obras e a requalificação da mão de obra local,
visando à geração de trabalho e renda e buscando a integração do núcleo à cidade.
O programa apresentou também a experiência de capacitação e contratação
de mão de obra local na área da construção civil.
No entanto, para que o núcleo seja contemplado com a ação, deveriam ser
seguidos alguns critérios de seleção, como:
- maior organização das comunidades;
- núcleos com número significativo de autoconstrução;
- núcleos com infraestrutura implantada;
127
- núcleos com regularização fundiária ou passíveis de regularização a curto prazo, com prioridade para áreas com concessão (DIADEMA, 2009, p.3).
Em data da entrevista, 2012, o Programa “Tá Bonito” conta com intervenção
em 14 áreas distintas dentro do perímetro de Diadema. Porém, esse programa
contradiz os objetivos expostos no PLHIS de Diadema, pois implementa a melhoria
apenas na área externa das edificações. Somente na fase 2 do projeto “Tá Bonito”,
de Vila Olinda, aplicou-se efetivamente a requalificação interna das moradias,
conforme destaque em vermelho, na tabela 15, e ilustradas nas fotografias 45 e 46.
128
Tabela 15 - Programa Pós Urbanização - Melhoria Habitacional- Tabela comparativa -Programa Tá Bonito
Área / Etapa
Ano/Execução n°
Unid. Tipo de
Intervenção Programa/ Recurso
Forma de execução
R$/ Unid. Situação
Vila Olinda 1ª Fase
2005 39 Revitalização
Externa Tesouro-
PMD Construtora
R$ 2.100,00
realizadas/em andamento
Vila Olinda 2ª Fase
2007/2008 49 Revitalização
Externa e Interna
FGTS-Resolução
460+ Contrapartida
PMD
Autogestão R$
10.600,00 realizadas/em
andamento
Morro do Samba
2008/2009 416
Revitalização. Externa +
Infraestrutura+ Regularização
Fundiária
PSH Construtora R$
10.000,00 realizadas/em
andamento
Barão de Uruguaiana
2010/2011 60
Revitalização Externa +
Regularização Fundiária
PSH Construtora R$
9.500,00 realizadas/em
andamento
D. João VI 2010/2011 280
Revitalização Externa +
Regularização Fundiária
PSH Construtora R$
9.000,00 realizadas/em
andamento
Vila Eleonor
2011 33
Revitalização Externa +
Regularização Fundiária
PSH Construtora R$
9.000,00 realizadas/em
andamento
Naval 2010/2011 165 Revitalização
Externa PAC Construtora
R$ 2.665,00
realizadas/em andamento
Gazuza - 955 Revitalização
Externa PAC 2 Construtora
R$ 8.519,12
a realizar
Nações - 145 Revitalização
Externa PAC 2 Construtora
R$ 8.779,10
a realizar
Piratininga - 60 Revitalização
Externa PAC 2 Construtora
R$ 7.760,86
a realizar
Jóquei/ Carapeba
- 81 Revitalização
Externa PAC 2 Construtora
R$ 12.392,77
a realizar
Iguassu - 52 Revitalização
Externa PAC Construtora
R$ 4.407,84
a realizar
Inverno Verão
- 153 Revitalização
Externa FNHIS Construtora
R$ 8.469,97
a realizar
Antônio Palombo
- 16 Revitalização
Externa FNHIS Construtora
R$ 9.049,22
a realizar
Fonte: SHDU, DIADEMA, 2012. Readaptado pela autora.
129
Fotografia 45 – Travessa Salvador,
anterior a intervenção do programa Tá
Bonito.
Fotografia 46 – Travessa Salvador, após
a intervenção do programa Tá Bonito.
Fonte: Diadema, 2009, Relatório do Programa Tá Bonito, Vila Olinda.
Fonte: Diadema, 2009, Relatório do Programa Tá Bonito, Vila Olinda.
Assim, para análise, foi considerado como estudo apenas o Programa “Tá
Bonito”- Vila Olinda, ação que se estendeu para o interior das edificações. Nesta
pesquisa, não serão consideradas como melhoria habitacional os programas que
visem apenas à melhora por meio da revitalização externa, ou seja, “pintura das
fachadas”. Para obtenção dos dados, foi realizada entrevista, em 3 de abril de 2012,
com a arquiteta do quadro funcional da Prefeitura de Diadema, responsável pelos
programas de melhoria, especificamente o de Vila Olinda, além de análise de
materiais e relatórios cedidos pela própria arquiteta.
3.2.4 PROGRAMA TÁ BONITO- VILA OLINDA
Vila Olinda situa-se no norte de Diadema e, desde a década de 1980, iniciou
o processo de urbanização. A cidade foi escolhida para ser o piloto do programa “Tá
Bonito”, devido à grande quantidade de edificações ainda inacabadas, e por estas já
possuírem infraestrutura básica instalada. Além disso, pressupunha a facilidade de
inserção na comunidade de trabalhos via mutirão, uma vez que a comunidade
possui características participativas, fato herdado pela urbanização realizada por
autogestão.
130
A primeira fase iniciou-se em 2005, quando foram realizadas as obras em
quatro quadras. Como resultado, 39 moradias passaram por reforma das fachadas.
O período total das obras foi de seis meses, com a contratação da assessoria
técnica e empreiteira.
A segunda fase iniciou-se pela busca de recursos financeiros junto à Caixa
Econômica Federal (CEF), que indicou a inclusão do “Tá Bonito” no programa Carta
de Crédito – Individual – Operações Coletivas – Aquisição de Materiais de
Construção, que utiliza recursos não reembolsáveis do FGTS, por meio do Programa
Operações Coletivas – FGTS, resolução 460/518. O programa tem por objetivo
atender às necessidades habitacionais das famílias de baixa renda, com
financiamento direto às pessoas físicas, organizadas de forma coletiva, em parceria
com a entidade organizadora. Essa foi a primeira experiência de reformas
habitacionais através de operações coletivas com recursos da resolução 460 em
todo o Brasil.
Por meio das discussões, surgiu a idéia de estender a reforma para o interior
das residências. A primeira barreira que surgiu foi relativa à responsabilidade
técnica, uma vez que as casas autoconstruídas estavam em desacordo com as leis
edilícias da cidade. Além disso, as regras para composição do recurso para esse
tipo de financiamento deveriam ser de 75% material construtivo e 25% mão de obra,
o que não possibilitava as quantias necessárias para a contratação de mão de obra.
Durante o processo de levantamento, uma parte da equipe tentava adequar o
programa nos moldes da resolução 460, outro grupo de técnicos partiu para
realização dos levantamentos em campo (fotografias 47 e 48).
Fotografia 47 – Realização do Cadastro Social.
Fonte: Diadema, 2009, Relatório do Programa Tá Bonito, Vila Olinda.
131
Fotografia 48 – Realização do levantamento físico das moradias.
Fonte: Diadema, 2009, Relatório do Programa Tá Bonito, Vila Olinda.
O levantamento englobou as unidades atendidas na 1ª fase que necessitavam
de intervenções internas, além de priorizar moradias ao longo da rede de
transmissão de energia, que atravessa a área, considerada como não edificável e
invadida pelos moradores, devendo estes ser removidos.
Após longo período de discussão, ficou acordado que as obras seriam
realizadas no regime de autogestão. A Associação de Moradores seria entidade
organizadora e a Prefeitura Municipal de Diadema – PMD, entidade interveniente de
caução.
Assim, a Associação de Moradores ficou responsável por contratar a
assessoria técnica, mão de obra e pela administração dos recursos do programa. Já
a PMD, comprometeu-se em iniciar o processo de regularização fundiária da área,
juntamente com a revitalização. O habite-se, a ser emitido ao final da obra, foi
substituído por um termo de aprovação das condições de habitabilidade emitido pela
PMD.
3.2.4.1 COMPOSIÇÃO DOS RECURSOS E METODOLOGIA ADOTADA
Inicialmente, foram orçadas 49 casas, de acordo com as melhorias
necessárias para atingir um padrão adequado de habitabilidade. No entanto, houve
desistência de quatro famílias, assim, o número passou a ser 45.
O recurso administrado pela CEF foi composto por:
132
1) Subsídio (recurso a fundo não reembolsável do FGTS) - que variava de
acordo com a renda e idade do morador, valor de avaliação do imóvel e orçamento
da obra, que atingia até R$ 12.000,00 por unidade.
2) Financiamento (recurso restituído pelo beneficiário, em até 72 meses),
sendo destinado as famílias de baixa renda. A Prefeitura Municipal de Diadema -
PMD disponibilizou uma caução de R$ 1.500,00 por unidade que seria restituída
posteriormente pelos beneficiários.
O total de recursos orçados para realização das reformas foi de R$
545.607,45. Dentro desse valor orçado, estava incluso o material (R$ 275.900,13) e
mão de obra (R$ 269.647,32, embutido o valor assessoria técnica).
Para a CEF, o recurso do subsídio deveria ser composto por: (FGTS) +
financiamento (caução) + 75% aplicados na compra de materiais + 25% no
pagamento de mão de obra = R$ 275.900,13 e R$ 91.986,71 (material e mão de
obra, respectivamente).
Nota-se que o valor real para mão de obra (R$ 269.647,32) ultrapassa os R$
91.986,71 (25% do valor do material), previstos de acordo com o regimento do
FGTS.
Então, houve complementação pela PMD como contrapartida, chamada de
“investimento”, que compreendia: Subsídio + Financiamento (caução) +
Contrapartida Complementar.
Do montante total de Contrapartida Complementar (R$ 193.319,88), R$
51.216,96 foram utilizados e correspondiam a investimentos já aplicados pela PMD
na 1º fase do programa. Esses recursos foram usados na revitalização externa de 14
unidades, incluídas na nova etapa por ainda apresentarem seus interiores
inacabados; eram transferidos diretamente para duas contas bancárias criadas:
uma, pela Associação de Moradores, e outra, pela Comissão de Representantes
eleita pelos beneficiários para gestão dos recursos.
O depósito dos valores era realizado de forma integral, mas a movimentação
dessas contas era vinculada ao Cronograma de Obras, sendo a liberação dos
recursos realizada mediante comprovação da conclusão de cada etapa, vistoriada
por um técnico da CEF.
Todos os beneficiários assinaram um contrato individual com a CEF e outro
com a PMD.
133
3.2.4.2 AÇÃO SOCIAL DE GERAÇÃO DO TRABALHO E RENDA
A necessidade de mão de obra e a realização do trabalho de autogestão
levou a equipe a utilizar a mão de obra local. Assim, em março de 2007, buscaram-
se as seguintes metas:
- contratação de mão de obra local para a realização dessa etapa;
- possibilitar o acesso dos prestadores de serviço à seguridade social;
- oferecer remuneração compatível ao mercado de trabalho;
- promover cursos de capacitação na área da construção civil.
Entretanto, a equipe deparou-se com as seguintes limitações, ordenadas a
seguir:
1) Forma de contratação da mão de obra, ou autônomo ou prestador de
serviço. Como solução, houve a contratação na condição de prestadores
de serviço, por meio da Associação de Moradores, que pagaria 20% de
encargos, além dos 11% pagos pelos trabalhadores, o que eliminaria a
carência contra acidentes de trabalho.
2) Notou-se baixa produtividade da mão de obra devido a não capacitação
dos funcionários. Surgiram iniciativas de qualificação da mão de obra, no
entanto, não houve participação efetiva dos moradores. Como solução,
buscou-se realizar um treinamento com carga horária de 20 hora, e
participaram 22 pessoas. Contudo, as aulas não foram suficientes para
qualificar os trabalhadores, faltando tempo de estágio para adquirir
experiência, o que resultou em baixa produtividade. Como solução,
alterou-se a remuneração, antes mensal, por remuneração vinculada à
produtividade.
3) Alta rotatividade dos trabalhadores, que encontravam serviços mais
rentáveis em outras áreas.
4) Questão de segurança do trabalho - apesar da disponibilização dos EPIs
(Equipamentos de proteção individual) e da realização de palestras
referentes ao uso dos equipamentos, não houve uma conscientização
efetiva sobre seu uso, nem tampouco sistemas suficientemente eficazes
de fiscalização.
134
5) A inserção dos trabalhadores no INSS, com devidos encargos pagos pela
Associação de Moradores, segundo o relatório, mostrou-se incompatíveis
com o viés social do programa, consumindo parte recurso que poderia ser
destinado a outras finalidades.
Finalizou-se a obra com poucos membros do grupo inicial. Mesmo assim, não
se pode descartar que a experiência trouxe avanços na qualidade dos serviços de
alguns trabalhadores.
3.2.4.3 PRAZO DA OBRA
As obras da segunda fase do projeto-piloto iniciaram-se em 19 de março de
2007, com prazo inicial de sete meses. Porém, durante a execução, surgiram uma
série de imprevistos, que implicaram em prorrogações sucessivas de cronograma e,
consequentemente, maiores custos. As obras terminaram em 29 de abril de 2008,
ultrapassando em sete meses o prazo estipulado. Foram concluídas as 45 unidades,
havendo a desistência de quatro beneficiários.
3.2.4.4 DIFICULDADES E CUSTOS EXCEDENTES
Por se tratar de obras de reforma em unidades autoconstruídas sem
planejamento, em muitos dos casos, houve necessidade de aditivos de serviços não
previstos, onerando os custos finais da ação.
Outra dificuldade se deu pela logística. Havia barreiras quanto à carga e
descarga do material construtivo, pelo fato dos lotes se situarem numa topografia
acidentada. Desse modo, os materiais foram todos transportados manualmente.
Houve problema também no transporte dos objetos pessoais das famílias,
pois algumas tiveram de ser removidas durante a obra, havendo dificuldade também
para transferência dos moradores entre cômodos da mesma unidade. Devido à falta
de planejamento dos beneficiários e à dificuldade de se encontrar imóveis para
aluguel na região, grande parte das mudanças e remoções atrasou o cronograma de
obra.
Os custos excedentes gerados levaram à necessidade de um pedido da PMD
para a utilização da contrapartida relativa aos três beneficiários desistentes. Além
disso, o município aditou R$ 31.000,00 para cobrir despesas com trabalhadores,
depósitos e previdência.
135
3.2.4.5 RESULTADOS DO PROJETO “TÁ BONITO”- VILA OLINDA
A primeira experiência realizada em Vila Olinda serviu de reflexão para o
corpo técnico da PMD ao promover o programa. O que, a princípio, visava apenas à
revitalização externa, na segunda fase, viu-se a necessidade de “garantir
intervenções físicas no interior das moradias, para efetivamente garantir salubridade
e habitabilidade” (DIADEMA, 2009, p. 32).
De acordo com levantamento de satisfação realizada pela prefeitura de
Diadema, junto às famílias beneficiadas, observou-se que houve relativa melhoria
nos padrões de habitabilidade e salubridade, com a ampliação de cômodos e
abertura de janelas, visto que antes as moradias eram caracterizadas pelo alto
adensamento populacional e falta de acesso à ventilação e insolação, problemas
recorrentes nas edificações.
Nota-se, nas fotografias 49 e 50, que a edificação foi ampliada. Na fachada
frontal da casa 1, visualizava-se apenas um cômodo servindo de área para secagem
de roupa (foto 49) e, posteriormente, foi incorporada uma sala, completando-se a
cobertura existente (foto 50, projeto de figura 11).
Fotografia 49 – Situação da casa 1
anterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 50 – Situação da casa 1
posterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
136
Figura 11 – Projeto de reforma “casa1” do 1º pavimento, ampliação do cômodo, sala.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Nas fotografias 51 e 52, ilustrando a casa 2, contemplada com cozinha a
frente do lote (figura 12), modificando-se o acesso principal à casa e mais um
dormitório no piso superior (figura 13). Além disso, houve melhoria do telhado
existente, contemplando a casa com uma laje.
137
Fotografia 51 – Situação da casa 2
anterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 52 – Situação da casa 2
posterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Figura 12 – Projeto de reforma “casa 2” térreo, ampliando-se com mais uma cozinha.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
138
Figura 13 – Projeto de reforma “casa2” 1º pavimento, ampliando-se o dormitório 2.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Apesar de as moradias retratadas possuírem um lote “privilegiado”, com lotes
vizinhos vazios ou por situarem-se em esquinas, a grande maioria das construções
não obedeceu aos limites impostos pela Lei de uso e ocupação do solo, que obriga
que sejam mantidos os afastamentos laterais e dos fundos do lote, acarretando a
consolidação de moradias sem acesso solar e ventilação, como evidenciado em
projeto da casa 3 abaixo (fotografias 53 a 54 e projeto de figura 14).
139
Fotografia 53 – Situação da casa 3
anterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 54 – Situação da casa 3
posterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Figura 14 – Projeto de reforma “casa 3” do 1º pavimento, não há abertura acesso solar no
dormitório 3.
Falta de aberturas para acesso solar e de ventilação no dormitório 3.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
140
Entretanto, houve relativa melhora quando as moradias foram concebidas
com pelo menos um afastamento lateral, como destacado na figura 58. Em algumas
situações, notou-se além das intervenções externas à edificação, uma requalificação
do espaço, envolvendo a segurança e salubridade das edificações, como ilustrado
nas fotografias 55 a 58 e projetos de figura 12 e 13.
Fotografia 55 – Situação da casa 4
anterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 56 – Situação da casa 4,
fundos anterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 57 – Situação da casa 4,
fachada, posterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por
arquiteta responsável pela ação.
Fotografia 58 – Situação da casa 4,
fundos posterior à reforma.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
141
Figura 15 – Projeto de reforma casa 4 - Plantas
Afastamento
garantindo
acesso solar e
ventilação em
todos os
comodos da
edificação.
Execução de
guarda corpo
melhorando-se
o aspecto da
segurança
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
Figura 16 – Projeto de reforma casa 4 – Cortes e elevação
Construção de guarda
corpo no terraço casa
4.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta responsável pela ação.
142
Foram previstos, no projeto da casa 4, guarda-corpos na escada e no terraço,
conforme figura 15, por questão de segurança da família, evitando-se o risco de
injúria física. Ainda se pode observar relativa melhora das condições de salubridade
e segurança, com a execução de aberturas e guarda-corpos no terraço. Esse fato
pode ser verificado em projeto (figura 16) elaborado pelos agentes da Prefeitura de
Diadema.
Na pesquisa de pós-ocupação, realizada pela própria prefeitura, os
moradores alegam que essa ação trouxe relativa melhoria das condições de
segurança, principalmente o fato de terem sido realizadas instalações elétricas
embutidas, estruturas de concreto e guarda-corpos (DIADEMA, 2009).
No entanto, foi revelada a existência de fungos em 41% das moradias;
muitas, por serem autoconstruídas sem a impermeabilização de paredes, pisos e
fundações e terem seus lotes totalmente ocupados, não dispunham de aberturas
para ventilação e iluminação (DIADEMA, 2009).
Mesmo o programa tendo se preocupado com essas questões, ainda houve
deficiência quanto ao atendimento do acesso à ventilação e insolação, conforme
verificado no evento da casa 3 acima (figura 14).
Ao final, obtiveram resultados de insatisfação com 58% dos entrevistados,
que afirmaram que a moradia não ficou como esperado. Muitos alegaram que
desejavam a inclusão de mais serviços, pois havia limitação dos recursos a serem
utilizados por cada família. “[...] A qualidade do serviço foi avaliada como ótima em
19% dos casos, como boa em 30% dos casos, como regular em 42% dos casos e
como ruim em 7% dos casos. [...] O prazo de execução das obras foi apontado como
longo por 56% dos moradores” (DIADEMA, 2009, p. 23).
Para análise do programa de forma geral, serão respondidos os
questionamentos realizados no início do capítulo 3, conforme quadro a seguir:
143
Quadro 6 (Q6) - Síntese dos questionamentos iniciais - Diadema
a
Quais os programas existentes em cada município e que possuem como alvo a promoção da melhoria habitacional?
Programa “Tá Bonito”, conforme apresentado em Tabela 15. No entanto, apenas uma experiência municipal realmente realizou a melhoria, interna das residências, passando de mera reforma de fachada para reformas internas a edificação.
b
As ações analisadas diagnosticaram corretamente os problemas de inadequação das moradias, conforme o referencial teórico? Se não, o que deixou de ser atendido?
Foi realizado levantamento anterior à execução das obras, e elas atenderam a maioria dos requisitos de inadequação existente. Não foi possível observar se foram atendidos os requisitos à incêndio. E em algumas situações não foi possível o atendimento ao acesso solar, no entanto em relação à acessibilidade e a risco de injúrias físicas, quase que em 100% dos casos houve atendimento.
c
De acordo com as inconformidades e patologias levantadas nas habitações quais fôramos serviços mais recorrentes, com intuito de atender minimamente as famílias?
De acordo com levantamento fotográfico pode-se observar a execução dos seguintes serviços dado as inconformidades apresentadas: • Revestimento interno e externo; • Instalação de revestimento cerâmico (piso e parede); • Alvenaria para construção de novos cômodos; • Execução de cobertura (telhado); • Impermeabilização de áreas suscetíveis à umidade; • Troca/instalação de esquadrias; • Requalificação da fachada; • Estrutura auxiliares (escada, etc...); • Construção de guarda corpos
d
Quais as dificuldades e impedimentos que o poder público municipal se depara ao viabilizar as reformas e/ou ampliação das moradias autoconstruídas?
-Obtenção de subsídio federal compatível com programa de melhoria desejado, -obtenção de mão de obra para execução das obras, -criação e manutenção de fundo municipal, com arrecadação financeira das famílias beneficiadas pelo programa, - custo do programa como contrapartida do município tornou-se oneroso
e Os municípios se apropriaram da Lei de Assistência Técnica? Como?
Não se apropriaram. E parece não haver interesse para inserção da ação na política habitacional do município.
Fonte: Elaborado pela autora .
Por fim, conforme análise do relatório realizado pela Prefeitura de Diadema,é
importante a incorporação de avanços tanto no processo quanto na forma de intervir,
144
além de ampliação do programa para outros assentamentos informais. No entanto,
deverá ser analisada a viabilidade do recurso existente, pois a decisão de não mais
adotar o Programa “Tá Bonito”, conforme implantado na Vila Olinda, pela
administração municipal existente em 2012, foi motivada pelos gastos, que se
tornaram dispendiosos aos cofres municipais.
3.3 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASOS
Os procedimentos dos dois estudos de caso apresentados são bem distintos,
mas que tinham o mesmo objetivo final: a melhoria das condições de habitabilidade
das moradias, além de regularização fundiária das moradias reformadas.
Nota-se que ambos os municípios tiveram intensificação no processo de
urbanização, a partir da década de 1970, ocasionado pelo rápido processo de
ocupação, e, como consequência, o adensamento populacional nas regiões
periféricas das cidades.
O que tornou as experiências de urbanização díspares foi a política adotada
para solução dos problemas habitacionais. Enquanto no município de Taboão da
Serra realizou-se a prática assistencialista de doação de lotes em terrenos públicos
sem infraestrutura urbana adequada, em Diadema optou-se pela adoção de políticas
habitacionais que visavam à mudança do cenário da precariedade, com
intervenções realizadas a partir da década de 1980.
Distingue-se, ainda, o fato de Diadema possuir trinta anos de experiência de
urbanização das favelas, enquanto Taboão da Serra vem implantando esse tipo de
ação a partir de 2005, ou seja, há apenas oito anos.
Ao analisar os estudos de caso, verifica-se que, quanto mais consolidada a
favela, mais complexa torna-se a intervenção. Talvez seja esse o motivo da grande
dificuldade enfrentada pelos técnicos da prefeitura de Taboão da Serra ao tentarem
viabilizar a melhoria das condições de moradia da população residente nos
assentamentos precários.
O modo de intervir em Diadema tornou a política habitacional do município
mais sólida. As experiências contribuíram para a elaboração da política nacional de
habitação, implantada em 2003, mas o sucesso dessa política depende da adoção
de instrumentos de fiscalização, além do uso e ocupação do solo.
145
Os dois estudos de caso apresentados (programa Tá Bonito em Diadema e
PSH em Taboão) foram realizados em áreas que já haviam sido contempladas por
algum tipo de urbanização. Por mais que estas comunidades tenham sofrido algum
processo de requalificação urbana, ainda há situações, no caso de Diadema, em
que deveriam ser priorizada a remoção das famílias. Esta situação foi levantada no
caso das edificações que se mantinham próximas a faixa não edificante de trajeto da
linha de alta tensão, pertencente a Eletropaulo. Uma melhoria não pode ser
denominada como melhoria se consolida edificações em áreas que não devem ser
ocupadas.
Assim, visando melhor análise do estudo, deverão ser respondidos os
questionamentos formulados no início do capítulo, comparando-os com as
intervenções em Taboão da Serra e Diadema.
O primeiro questionamento foi:
a. Quais os programas existentes em cada município que possuem como
alvo a promoção da melhoria habitacional?
Ao analisar os programas de Taboão da Serra e Diadema, de alguma forma,
estas prefeituras optaram por “aprimorar” as ações concernentes a “melhoria
habitacional” do que implantar a assistência técnica as moradias precárias, mas que,
de certa forma, possuem objetivos finais comuns.
Os programas de melhoria habitacional normalmente são subsidiados pelo
Governo Federal e têm como articulador das ações o Poder Público municipal.
Normalmente, atendem a uma demanda maior e seguem procedimentos
burocráticos com regras definidas pela CEF. A mão de obra e os materiais de
construção devem ser contratados via licitação. Se comparar, os programas diferem-
se das ações de assistência técnica quanto ao método e processo de intervir.
A assistência técnica, normalmente, é praticada por ONGs e instituições. E é
realizada de forma artesanal, contando com apoio de técnicos, arquitetos e
engenheiros que atendem como consultores, planejando o espaço autoconstruído e
acompanhando a reforma das moradias. Nota-se, que nas experiências
apresentadas, em nenhum momento, a instituição que promoveu a ação se
encarregou pela compra de materiais e contratação de mão de obra.
146
Conforme levantado pelos estudos de caso, a assistência técnica não tem
sido incorporada pelos municípios, por falta de implantação de uma política pública
efetiva, que vise à melhoria das moradias. Além disso, há uma dificuldade dos
municípios em cadastras profissionais que queiram realizar este tipo de serviços que
muitas vezes não se sentem atraídos devido a baixa remuneração, ou mesmo pela
falta de divulgação quanto à obrigatoriedade de atendimento à população com renda
inferior a três salários mínimos.
Em Taboão da Serra, há três programas que têm como objetivo final a
requalificação das moradias precárias. São eles: Urbanização com subsídios
habitacionais PAC, Assistência Técnica com subsídios do PAC e Programa de
Subsídio à Habitação (PSH). O programa que conseguiu atender numa escala maior
as moradias que necessitavam de reforma foi o PSH, por isso a escolha de se
detalhar este programa.
No município de Diadema, escolheu-se o estudo do programa de
requalificação das moradias autoconstruídas, o Tá Bonito. Analisando-o, verificou-se
que, nas 14 intervenções do programa, apenas uma, em Vila Olinda, focou na
melhoria interna das edificações; ainda assim não apresentando plena de satisfação
dos moradores que tiveram suas moradias reformadas.
Ainda sobre os questionamentos realizados:
b. As ações analisadas diagnosticaram corretamente os problemas de
inadequação das moradias, conforme o referencial teórico? Se não, o
que deixou de ser atendido?
Os problemas de inadequação foram definidos como parâmetros mínimos de
habitabilidade, conforme capítulo 2.6 da dissertação. No entanto, ao serem
analisados, notou-se que um quesito fundamental deixou de ser inserido para
comparação, o de salubridade quanto a impermeabilização. Esse quesito tinha por
finalidade verificar o atendimento ou não dos problemas referentes à
impermeabilização. Em contrapartida, não foi possível identificar o atendimento de
um quesito, se os espaços das moradias eram suficientes para a realização da
atividade pretendida. Assim, ele foi substituído por melhoria à habitabilidade.
147
O atendimento ou não desses parâmetros pelo programa será apresentado
no quadro a seguir, como análise comparativa entre os municípios em estudo de
caso.
Outro questionamento realizado foi:
c. Quais as inconformidades e patologias mais recorrentes nas
habitações que necessitam de reforma?
As inconformidades e as patologias foram levantadas anteriormente à
execução das obras, tanto em Taboão da Serra como em Diadema. No caso de
Taboão, na ocasião da entrevista, o programa não havia sido finalizado, e não
puderam ser obtidos os projetos de reforma das edificações; no entanto, foi listada
uma série de serviços referentes as patalogias recorrentes nas edificações e que
necessitariam ser readequadas, levantamento conforme apontado no quadro 5, do
item 3.1.5, acima. Em Diadema, foram fornecidos os levantamentos fotográficos e
projetos. A obtenção serviços a serem realizados foi analisada caso a caso, de
acordo com projetos cedidos pela arquiteta responsável pelo programa e resumidos
no item 3.2.4.5, quadro 6 acima.
Ressalta-se que no programa Tá Bonito a ocupação indiscriminada do solo e
o elevado adensamento mantiveram, em 41% das moradias reformadas, a presença
de umidade, ocasionando problemas futuros de doenças respiratórias e alérgicas
nos moradores, conforme observado em relatório de satisfação do programa
realizado pela própria prefeitura (DIADEMA, 2009).
Outro questionamento foi:
d. Quais as dificuldades e os impedimentos que o Poder Público
municipal se deparou ao viabilizar as reformas e/ou ampliação das
moradias autoconstruídas?
Uma das dificuldades encontradas no PSH de Taboão da Serra foi o não
comprometimento da construtora contratada inicialmente pelo Banco Luso, o que
ocasionou atraso na entrega das obras. Além da falta de funcionários para compor a
equipe de fiscalização das obras implantadas e de carro para locomoção até o bairro
de Saint Morritz e ao Sítio das Madres, entre outras já relatadas no item 3.1.5.
148
Em Diadema, uma das maiores dificuldades foi a obtenção de recursos como
contrapartida da ação, além da escassez de mão de obra para execução das
reformas, mesmo o programa tendo a preocupação de capacitar trabalhadores para
servirem de mão de obra contratada pelo programa.
Em ambos os programas, verificou-se a dificuldade da garantia da
manutenção do mesmo por meio de arrecadação de fundos das famílias que
participaram da intervenção.
E, por fim, respondendo ao questionamento final:
e. Os municípios apropriaram-se da Lei de Assistência Técnica? Como?
Verificou-se que nenhuma das administrações municipais está promovendo
ou possui resultados expressivos de melhoria habitacional, conforme a
obrigatoriedade da Lei de Assistência Técnica Gratuita (Lei nº 11.888).
Na cidade de Diadema, a arquiteta10 responsável por gerir o programa de
melhoria Tá Bonito negou, quando questionada, que esteja sendo implantada a
assistência técnica gratuita às famílias.
Quanto às dificuldades para a implantação da Lei, os entrevistados tanto de
Taboão da Serra como de Diadema alegaram a falta de corpo técnico para gerir
essas ações, além da necessidade de promulgação da lei municipal que obrigue, de
fato, as prefeituras a auxiliar a população por meio da assistência técnica gratuita.
O problema que parece ser técnico vai muito além dos fatos apresentados.
Há falta de regulamentação da Lei nos municípios e implementação de uma política
pública. Esta é a maior justificativa para o insucesso da assistência a serem
promovidas pelo poder municipal.
O que pode ser analisado é que ambos os municípios praticam a
regularização da edificação localizada nos “antigos assentamentos informais” que
passaram por intervenções de urbanização. Essas ações deveriam promover a
melhoria habitacional, mas não há atendimento desse propósito. Ao contrário,
consolida-se a precariedade habitacional.
Zuquim (2012), quando analisa o programa de urbanização no Jardim Olinda,
na cidade de São Paulo, comparando o discurso projetual ao que realmente foi
10
Entrevista realizada em 3/4/12 com arquiteta, responsável por gerir o programa de melhoria Tá Bonito, de Vila
Olinda.
149
executado, constata que as recentes intervenções urbanísticas realizadas têm
mantido o padrão de precariedade, principalmente referente ao “pós-obra”.
Conforme discurso a seguir:
(...) após a execução da obra de intervenção, as favelas e
loteamentos mantiveram a precariedade urbana característica das
cidades brasileiras. A garantia dos direitos à moradia digna, à justiça
social, à sustentabilidade ambiental como direito à cidade e à gestão
democrática e eficiente dos recursos públicos expressos e inscritos
na Política de Habitação Social e nos Programas de Intervenção em
Assentamentos Precários ficaram no discurso dos governantes,
marcando o claro descompasso entre os objetivos declarados e as
ações empregadas nas intervenções urbanas (ZUQUIM, 2012, p.
18).
Fica o seguinte questionamento a ser exposto:
Se as reformas das moradias perante a legislação municipal, de fato, vêm
promovendo ou não a legítima melhoria das condições do habitat.
Para obter resposta a essa pergunta, confrontaram-se os programas
estudados com parâmetros mínimos de requalificação de moradias, conforme
definido no capítulo 2.6. O resultado desse exercício será apresentado no quadro 7,
a seguir. Com base nessa avaliação, observa-se que nenhum programa atendeu
plenamente ao que pode ser considerada uma intervenção de melhoria habitacional.
E, em alguns parâmetros, não foram obtidas informações suficientes que
classifiquem o atendimento ou não ao parâmetro estabelecido.
Anteriormente à intervenção, considerou-se como melhoria para o PSH de
Taboão da Serra intervenções como ampliações das moradias e requalificação
como reforço estrutural, correção de patologias, coberturas, impermeabilizações,
instalações hidrossanitárias e elétricas, melhoria das condições de salubridade,
revestimentos e reforma das fachadas. Segundo dados levantados no material
fornecido pela prefeitura, algumas famílias não tinham visão do que era prioridade
na melhoria e, por vezes, preferiam a instalação de um portão automático na
garagem a resolver problemas de infiltração da moradia. No entanto, verifica-se que
a instalação do portão automático pode estar vinculado a falta de segurança na
comunidade, o que não está no alcance deste programa de requalificação.
150
Já em Diadema, a prefeitura municipal instituiu o programa Tá Bonito, e
segundo o Artigo 3º, da Lei Municipal nº 2.526, foram definidos legalmente os
seguintes objetivos:
a) melhorar a qualidade de construção das edificações, através da orientação técnica quanto a:
I. utilização de materiais de construção e tecnologias adequados;
II. racionalização da construção;
III. adequada utilização do lote (uso do espaço);
IV. boas condições de conforto ambiental;
V. eliminação de situações insalubres nas edificações;
VI. eliminação de situações de risco;
VII. revitalizar os espaços de uso coletivo existentes nos núcleos habitacionais;
VIII. recuperação externa das unidades habitacionais, visando melhorias das condições de habitabilidade e salubridade;
b) orientação para recuperação interna dos domicílios pelos próprios moradores; (DIADEMA, 2006, p. 3).
Nota-se que há intenção do programa em atender todos os parâmetros
mínimos de requalificação estabelecidos, no entanto, observa-se que ficou
novamente no discurso a prática das melhorias internas das moradias precárias.
No programa Tá Bonito de Vila Olinda, a história não foi diferente. Obteve-se
relativa melhoria, se comparadas a outras intervenções do Tá Bonito, referente a
outros bairros. Mas ao analisar os parâmetros de habitabilidade, no quesito risco à
injúria física, praticado em Diadema, houve instalação de guarda-corpos nas
moradias, mas faltou a instalação de corrimãos nas escadas, conforme demonstrado
na fotografia 59.
151
Fotografia 59 – Moradia do Programa “Tá Bonito”,
construção da escada, mas ausente equipamento de
segurança - corrimão.
Fonte: Diadema, 2009, cedido por arquiteta
responsável pela ação.
No item de risco a incêndio iminente, sob o ponto de vista das instalações
elétricas, observou-se atendimento tanto no município de Taboão da Serra como em
Diadema. No entanto, se analisarmos esse parâmetro quanto ao risco do incêndio
provocado pelas instalações de gás de cozinha, não puderam ser obtidas
informações a respeito. Esta problemática é determinante quanto ao atendimento ou
não do risco a incêndio.
O quadro 7, a ser apresentado abaixo, resume se houve atendimento ou não
nos quesitos mínimos de habitabilidade, como forma de analisar se há aplicação da
melhoria ou se está ação permanece apenas no discurso.
152
Quadro 7 (Q7) – Comparação das ações de melhoria pesquisadas com parâmetros de
melhoria propostos.
Indicadores de inadequação habitacional
PSH-Taboão da Serra "Tá Bonito"-Vila Olinda -
Diadema
Em substituição ao quesito de dimensionamento dos ambientes, será analisada a salubridade das moradias, visando ao atendimento quanto à impermeabilização. Atendeu quanto à habitabilidade no que diz respeito a impermeabilizações?
Apesar de algumas casas terem recebido serviços de colocação de revestimento cerâmico, conforme ilustrado nas fotografias 38, 34 e 40, ser ou não revestido não diz se a edificação foi impermeabilizada ou não. De certa forma o revestimento protege os componentes construtivos da ação da água externamente, mas não garante que a alvenaria ou o piso esteja realmente impermeabilizado.
Conforme apresentado nas figuras 12 e 14, nota-se que nos projetos previam-se a aplicação de revestimento cerâmico nas áreas molhadas da edificação, mas estar em projeto não garante que foram executadas a aplicação de impermeabilizantes anterior a colocação do revestimento.
Atendeu quanto ao acesso a ventilação e iluminação solar?
Não foi possível fazer a análise, devido à falta de projetos e relatório fotográfico para identificação desse quesito.
Não, em 100% dos casos, casas autoconstruídas, em algumas situações não era possível a abertura de janelas (ver figura 11 e 12).
Atendeu quanto ao risco à injúria física?
Não, em alguns casos houve falta de instalação de corrimão, como observado na fotografia 42
Não. Houve atendimento quando instalados guarda corpos nas escadas e terraços (figura 13). No entanto, apresentou mesmo erro que Taboão, quanto à falta de corrimão nas escadas, conforme fotografia 59.
Atendeu quanto ao risco a incêndio?
Não pôde ser analisado o risco quanto à instalação correta do gás de cozinha. Mas, atendeu, quanto à realização das instalações de elétrica e dos quadros (fotografias 35 e 36).
Não. Houve atendimento do item se analisado o risco de incêndio provocado por curtos das instalações elétricas, mas não obtido informações quanto a instalações do gás de cozinha.
153
Atendeu quanto à acessibilidade?
Quesito dificilmente será atendido dado a topografia acidentada em que se situam os lotes.
Quesito dificilmente será atendido dado a topografia acidentada em que se situam os lotes
Aparentemente, em Taboão da Serra, o programa atendeu de forma
quantitativa, a partir de análise baseada à listagem inicial de serviços que foram
estipulados. Não pode ser obtidas informações acerca dos projetos de reforma que
foram elaborados. Obtiveram-se apenas fotos comprovando a implantação do
programa.
Com as fotos cedidas pelo técnico da prefeitura de Taboão da Serra, nota-se
que há problemas quanto à construção das escadas. Esses dispositivos foram
implantados sem segurança (fotografias 42 e 44), inexistindo a instalação do
corrimão, fato recorrente na ação de Diadema.
Não puderam ser obtidas informações, em ambos os programas analisados,
se de fato foram realizadas serviços de impermeabilização. Nota-se que a aplicação
do revestimento cerâmico evita que a água adentre para o interior do componente
edificado, no entanto, por vezes somente a aplicação do revestimento não é
suficiente caso a fundação e alvenarias não tenham sido tratadas com produtos
hidrofugantes.
O quadro 7 revela que está sendo considerado como uma moradia digna as
que atendem aos parâmetros definidos no capítulo 2.6. Os dados do estudo de caso
organizado no capítulo 3 indicam que somente alguns parâmetros qualitativos foram
constatados nos programas analisados. Como experiência futura, espera-se que os
seguintes parâmetros sejam plenamente atendidos: risco a incêndio, risco de injúria
física, acesso a luz solar e ventilação, acessibilidade e habitabilidade dos cômodos.
Pode ser que, por um lado, os programas teoricamente visem à melhoria das
condições das famílias de fato, por outro, que as ações de urbanização venham
somente a servir de “pano de fundo” para campanhas eleitorais.
154
De fato, mesmo não se comprovando o atendimento à totalidade dos
parâmetros aqui defendidos, é importante verificar que os programas de melhoria
analisados visam combater os problemas decorrentes da precariedade habitacional,
e estavam presentes, em 2012, na agenda da política habitacional dos municípios.
Apresenta-se, como gargalo, a gestão desses programas, dada a sua complexidade,
exigindo que sejam atendidos em uma escala significativa e em massa. Verifica-se
como solução: o atendimento pelo método artesanal, cujos levantamentos se devem
à busca de casa em casa por soluções técnicas que melhor atendam as famílias.
4 RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES
Após a pesquisa teórica sobre o problema da habitabilidade das moradias
autoconstruídas, conforme o capítulo 2, e pesquisas empíricas sobre programas de
melhoria, apresentados nos capítulos 3, é possível propor recomendações para
aperfeiçoamento de futuros programas.
Parte-se do princípio de que as ações e os subsídios federais já estão em
vigor, cabe aos governos municipais empenho e prioridade a favor de mudanças do
quadro de inadequação apresentado, principalmente quando trata-se da maior
parcela da população que carece de recursos para obtenção de educação, saúde e
moradia digna.
Além disso, é imprescindível a fiscalização do uso e ocupação do solo
urbano. Se a ação não for realizada a aplicação das diretrizes em defesa da função
social da terra será plantada em vão.
O segundo ponto de partida é que não cabe mais adotar programas de
urbanização com remoção total das famílias dos assentamentos precários, visto que
essas remoções tornam-se custosas aos cofres públicos, além de irem contra ao
princípio de sustentabilidade mundial. É necessário levar em conta o que já foi gasto
pelo morador ao erguer cada metro quadrado de sua moradia. Cria-se, assim, um
país sustentável evitando-se o desperdício do dinheiro adquirido com muito suor
pelo trabalhador.
Com os levantamentos realizados, tanto bibliográficos ou por meio de
entrevistas com os agentes técnicos, constatou-se que há dois níveis de intervenção
para melhoria das condições de habitabilidade das moradias.
155
O primeiro nível dá-se durante o processo projetual de urbanização das
favelas, quando são definidas, por precariedade das moradias, as que serão
erradicadas para eliminação de situações de risco, aberturas viárias e implantação
de infraestrutura, e quais permanecerão no local. Na execução das obras de
urbanização, ou seja, concomitante às obras, devem se adequar as moradias
consolidadas, visando à ampliação da edificação, abertura de vãos para acesso
solar, construção de sanitários privativos e interligação dos ramais de esgoto e água
potável ao ramal viário. Esse tipo de intervenção torna-se prioritária e deve ser
inclusa dentro do “pacote”, integrado às intervenções urbanísticas promovidas pelo
PAC.
Além dessas intervenções físicas, torna-se regra nessa fase a realização de
um trabalho social, mobilizando-se os moradores a fazer parte de um movimento
popular a favor da melhoria da comunidade. Esse tipo de organização é encontrado
nos condomínios residenciais, onde são indicados síndicos e representantes dos
moradores. Os objetivos são os mesmos, garantir a qualidade e a manutenção dos
espaços comuns.
É imprescindível a participação dos agentes técnicos administrativos das
prefeituras, motivando e capacitando os moradores, e até mesmo levando o
sentimento de que a intervenção adotada é para o bem comum de todos. Assim, os
próprios moradores seriam fiscalizadores do espaço público, evitando-se desgaste
por falta de cuidado ou manutenção. Poderão ser previstas ampliações dos
equipamentos comunitários, dos serviços públicos prestados ou mesmo supressão
da demanda do déficit, fornecendo-se novas unidades habitacionais.
Conscientizando-se, os moradores beneficiados, estes, teriam um papel
importantíssimo ao serem os “olhos” fiscais da comunidade.
O segundo nível de intervenção refere-se às comunidades que já receberam
a intervenção urbanística, há algum tempo.
O interessante seria implantar, por determinado tempo, um escritório formado
por profissionais da área da construção civil e assistentes sociais, instalados dentro
de uma comunidade. Ou, talvez, fosse o caso de prover microcréditos para assistir
tecnicamente à população de baixa renda com projetos, como visto no programa
Reforme Mais.
As experiências relatadas mostram as variadas modalidades de intervenção,
com ou sem recursos oriundos de fundos federais. Não existe nenhuma “receita de
156
bolo” a ser adotada em cada intervenção; no entanto, faz-se necessário que os
governos municipais e estaduais incentivem a prática da assistência técnica em prol
da melhoria da qualidade ambiental das moradias consolidadas, e também que as
intervenções de melhoria habitacional atendam minimamente aos parâmetros de
requalificação, conforme exposto na dissertação.
Mais do que isso, para evitar a autoconstrução de forma indiscriminada, é
importante o governo municipal e as instituições de ensino alertarem as famílias dos
assentamentos precários sobre os riscos de se autoconstruir sem planejamento, a
exemplo do projeto de extensão da Universidade de Viçosa, o Projeto Habitat.
Diante da análise realizada, nota-se que várias são as formas de intervir na
comunidade, e cada programa possui um procedimento a ser adotado, conforme a
modalidade de subsídio aprovada.
Como forma de facilitar e direcionar o programa, recomenda-se, antes de
qualquer intervenção de melhoria habitacional, analisar e rebater os seguintes
questionamentos:
Qual subsídio federal mais apropriado para ações de melhoria? Deverá
ser um subsídio conjunto a outras ações como reurbanização ou não?
Há contrapartida municipal? Qual a porcentagem? O município possui
condições de arcar com a contrapartida do programa?
Foi realizado levantamento das moradias que sofrerão intervenção?Há
quanto tempo?Está atualizado?
Qual o custo da reforma tanto de materiais como de mão de obra?
Qual a porcentagem de famílias que desejam aderir à ação?
É um bairro urbanizado ou não?
Qual o predomínio de classificação quanto à precariedade das
moradias?
Serão removidas muitas famílias? Se sim, quais os motivos?
Há projeto de bolsa aluguel caso as famílias necessitem sair das
moradias durante a reforma?
Qual a aceitação dos moradores em relação à implantação de
melhorias?
157
Há um histórico de militância ou mutirão na comunidade que sofrerá
intervenção? Há possibilidade de participação efetiva da comunidade?
Há possibilidade de capacitação profissional da comunidade?
Há preocupação de informar a comunidade dos principais riscos que
podem vir a ocorrer quando se constrói em lugares de risco ou de
maneira inadequada?
A melhoria onera as famílias? Se sim, para onde será revertido o
fundo?
É um lugar acidentado ou de fácil acesso? Há possibilidade de montar
canteiro de obras? Há localização para estocagem de materiais de
construção?
Qual a forma de contratação da mão de obra? Contratos entre famílias
e construtoras ou entre prefeitura e construtoras?
Foi realizado projeto? O projeto foi participativo, consentido pelos
moradores?
O projeto contempla minimamente intervenções que solucionem
problemas quanto à insalubridade (acesso à insolação e ventilação em
todos os cômodos), à acessibilidade dos cômodos, ao risco de
incêndio, de injúria física e, por fim, quanto ao dimensionamento dos
cômodos?
Haverá um grupo responsável por fiscalizar ou mesmo autocontrolar as
construções indevidas?
Há responsável técnico pelas intervenções? Em caso de reclamações
ou problemas relacionados à má execução, quem será o responsável
por atender a família lesionada?
As moradias serão regularizadas perante o órgão competente? Se sim,
interessante verificar se a intervenção realmente está consolidando
uma moradia digna de ser habitável.
O subsídio contempla pesquisa de pós-ocupação das moradias? É
interessante analisar fatores que podem apontar defeitos e acertos do
para chances de melhoria dos programas vindouros.
158
O fato é que tanto nas ações de assistência técnica como nas de melhoria
habitacional, quando há participação da família em fase de elaboração de projeto,
certamente serão obtidos melhores resultados.
Por fim, Bueno (2008) aponta que, para manutenção da qualidade de uma
intervenção urbanística, nenhuma das ações obterá total sucesso, se não houver um
correto sistema de fiscalização e orientação do uso e da ocupação do solo já
urbanizado. Somente surtirão efeitos se forem disponibilizadas, dentro da própria
comunidade, ações de instrução e manutenção da qualidade das habitações, bem
como capacitação de técnicos (moradores do próprio bairro) para a manutenção do
espaço revitalizado.
5 CONCLUSÕES
Este trabalho partiu do desejo de se investigar como, e se, os municípios
estavam se apropriando da Lei de Assistência Técnica, de 2008. Contudo, as
análises iniciais apontaram que as dificuldades dos municípios eram imensas, o que
dificultava que as políticas habitacionais locais lograssem implementar efetivamente
este dispositivo legal.
Assim, buscou-se, então, compreender que tipo de ações os municípios
estavam, de fato, empregando, com o propósito de qualificar as moradias
inadequadas, situadas em assentamentos já urbanizados ou em processo de
urbanização.
Verificou-se que nas administrações municipais estudadas, em conformidade
com a política habitacional de 2012, esforços foram empreendidos no combate ao
déficit habitacional com a implantação do programa Minha Casa Minha Vida e a
política de urbanização de favelas com o PAC. Acredita-se que, num primeiro
momento, esses programas têm sido muito importantes, criando novas perspectivas
em relação ao problema habitacional brasileiro.
Entretanto, torna-se importante, num segundo momento, intervir na melhoria
das moradias consolidadas em assentamentos urbanizados. As ações envolvendo a
urbanização das favelas podem até a levar à redução dos 10 milhões de moradias
inadequadas, mas é fundamental que não se interrompa o processo já iniciado com
a institucionalização da política habitacional brasileira e que seja promovida melhoria
efetiva nas moradias de uma população que carece de recursos.
159
Como sugestão para que a melhoria efetiva seja realizada, seria interessante
se houvesse uma verba destinada especificamente à aos serviços de qualificação
das moradias que permaneceram em seu local de origem.
Além disso, no momento de se definir o cronograma de obras, destacar que
os serviços de implantação da melhoria habitacional sejam realizado concomitantes
à implantação das vias e redes de infraestrutura, devendo a construtora contratada
disponibilizar duas frentes de trabalho, evitando-se que as reformas das moradias
sejam deixadas ao acaso propositalmente e garantindo que esses serviços sejam
plenamente realizados.
Outra situação de precariedade verificada é característica nas áreas dos
estudos de caso, onde os limites dos lotes já são predefinidos, no entanto,
encontram-se irregulares. Normalmente, são caracterizadas por uma densidade
populacional não tão alta, mas as unidades carecem de infraestrutura como
instalações elétricas adequadas, falta de segurança ao acessar os pavimentos
superiores da casa, falta de impermeabilização e falta de acesso solar, que , no
entanto, foram contempladas com alguma melhoria urbanística.
Programas de subsídios federais, como carta de crédito individual ou coletiva,
são interessantes para famílias que já possuem alguma renda para financiar as
reformas. Já o PSH, realizado em assentamentos com loteamento irregular, é
interessante para os moradores com renda mínima inferior a três salários mínimos,
como apresentado no estudo de caso de Taboão da Serra.
A assistência técnica também poderá ser aplicada nessa situação, e é
caracterizada por um trabalho “artesanal”, em que cada caso deve ser considerado
isoladamente, pois a patologia ou precariedade encontrada em uma residência pode
ser diferente da do vizinho. Os métodos utilizados pelas experiências de assistência
técnica, como relatadas no capítulo 2, comprovam que, para maior satisfação dos
moradores, é interessante que o processo projetual seja participativo.
No entanto, quando se compara a assistência técnica às ações de melhoria
do PSH e do Tá Bonito, nota-se que o processo é mais demorado, tornando
complexa a incorporação da metodologia para atendimento de uma demanda ampla.
Buscou-se compreender se os municípios estão capacitados ou apresentam
condições para implementar a Lei 11.888. E constatou-se que o problema se refere
à falta de aplicação de política pública adequada.
160
Por meio dos dois estudos de caso, notou-se que as prefeituras encontravam
problemas técnicos, não conseguindo incorporar a assistência técnica gratuita às
famílias carentes, quer pela falta de funcionários no quadro da prefeitura, quer pela
falta de fundos municipais para a compra de materiais de construção e contratação
de mão de obra.
No entanto, Diadema e Taboão da Serra partiram para intervenções de
“melhoria habitacional”. Observou-se nos estudos que, apesar de a cidade de
Diadema ter sido destaque por bons exemplos de políticas de urbanização na
década de 1980, o mesmo não ocorreu quanto à implantação de ações para a
qualificação interna das moradias. Parece que não é interesse do governo atual
promover ações de melhoria habitacional. Como relatado pela arquiteta, infelizmente
não houve continuidade desse tipo de intervenção, devido aos gastos dispendiosos
do programa Tá Bonito. Dessa forma, voltou-se a adotar ações de promoção de
embelezamento dos bairros e das comunidades periféricos, que não influem na
qualidade de vida dos moradores, apenas maquiam a situação de precariedade das
moradias.
Já o programa PSH, de Taboão da Serra, seguiu os parâmetros exigidos pela
CEF, com limite dos subsídios de R$ 10.000,00 por unidade, o que tornou um
limitante para incorporar serviços que poderiam ser indispensáveis. Esse limitante
direcionou os gestores do programa a predeterminar as atividades a serem
executadas e subsidiadas pelo programa, restringindo a execução de alguns
serviços importantes para a família. De fato, a construtora foi obrigada a executar
apenas os serviços que já haviam sido definidos pelos gestores do programa.
Há um impulso para que sejam realizadas as “melhorias” nas habitações
precárias, mas é importante verificar que não há melhoria, de fato, e pode-se estar
denominando como melhoria algo que não é. Pesquisas pós-ocupação são
caminhos para investigar se os programas vêm atendendo minimamente os
parâmetros de qualidade, conforme sugerido no início da dissertação, como acesso
solar e ventilação, acessibilidade, habitabilidade dos cômodos quanto à infiltração,
risco de injúrias físicas e, por fim, risco de incêndio iminente. Observou-se que em
nenhum dos quesitos apresentados alcançou padrões mínimos, que possam ser
considerados como ações de melhoria.
Analisando os estudos de caso, conclui-se que não é possível afirmar que
houve melhoria significativa e integral das moradias afetadas pelos programas PSH
161
e Tá Bonito. De certa forma, esses programas trouxeram evolução diante de um
histórico de recente urbanização, como observado em Taboão da Serra. Mas é
preocupante a forma como vêm se consolidando as habitações, quer por
regularizações fora de normas e leis edilícias, quer pela falta de informação da
comunidade sobre os problemas de se construir conforme a necessidade, mesmo
que emergencial.
Diante dos dados apresentados, entende-se serem necessárias futuras
pesquisas referentes às intervenções para se verificar a evolução das políticas de
intervenção em moradias precárias que deem ênfase à qualidade habitacional.
Por fim, é fato que o Governo Federal tem sido um importante “arquiteto”, por
formular programas atrelados a subsídios e promover reformas no cenário
habitacional brasileiro. Assim, é fundamental que as ações de melhoria sejam
implantadas em conjunto com o processo de urbanização, dado os levantamentos
históricos de consolidação da precariedade apresentados, buscando atender
plenamente à população de baixa renda. Seria interessante se política habitacional
incorporasse exigências para que os programas de urbanização de favelas vigentes
atendessem também a demanda de adequação de moradias, ou seja, a promoção e
reformas internas na edificação.
Nota-se que o PSH atende a uma pequena parcela das moradias
inadequadas que se encontram em lotes já urbanizados. Conclui-se que os
programas em estudo não conseguiram atender plenamente às questões referentes
aos parâmetros mínimos de habitabilidade, dada as dificuldades de limitação
orçamentária. Considerou-se que estes programas tratam de uma ação paliativa,
não atingindo a raiz do problema que deve ser tratada como uma questão de política
pública.
Constatou-se que a atual política habitacional pouco combate a ocupação
irregular, há uma tentativa de “maquiar” o que já está consolidado, e a pesquisa
mostra que quando pretende-se consolidar e fixar as famílias nas localidades o
resultado não chega a ser satisfatório para as famílias que tiveram suas moradias
reformadas.
Acredita-se que, partindo dessa ótica, serão produzidas intervenções que
realmente garantirão o fornecimento de condições dignas de habitar.
162
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