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INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL
OBJETIVOS DE SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE PRODUÇÃO
E QUALIDADE DO LEITE PARA A RAÇA GIR LEITEIRO
MARCO AURÉLIO PRATA
NOVA ODESSA
Janeiro – 2012
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO
AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS
INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL
OBJETIVOS DE SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE PRODUÇÃO
E QUALIDADE DO LEITE PARA A RAÇA GIR LEITEIRO
Marco Aurélio Prata
Orientadora: Profa. Dr
a. Lenira El Faro
Co-Orientador: Profo. Dr
o. Rui da Silva Verneque
Nova Odessa - SP
Janeiro – 2012
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação do Instituto de Zootecnia, -
APTA/SAA, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em
Produção Animal Sustentável.
Ficha elaborada pelo
Núcleo de Informação e Documentação do Instituto de Zootecnia
Bibliotecária responsável – Ana Paula dos Santos Galletta - CRB8/7166
P912o Prata, Marco Aurélio
Objetivos de seleção para características de produção e qualidade
do leite para a Raça Gir leiteiro. / Marco Aurélio Prata. Nova
Odessa - SP, 2012.
42p. : il.
Dissertação (Mestrado) - Instituto de Zootecnia. APTA/SAA.
Orientador: Profa. Dra. Lenira El Faro.
1. Produção leiteira - Aspecto econômico. 2. Leite –
Objetivos de seleção. I. El Faro, Lenira. II. Título.
CDD 637.1
Dedico este trabalho primeiramente a Deus,
pela saúde e inteligência concedida durante este período
A minha família, pelo apoio, incentivo e pelos momentos de alegria vividos
A vocês, meu muito obrigado!
Agradecimentos
À Deus e Nossa Senhora pela minha vida, saúde e sabedoria concedidos durante esta
caminhada.
Aos meus pais pelo apoio e carinho incondicional durante todo este tempo e por
confiarem em mim, nunca deixando com que nada faltasse.
Aos meus irmãos Fegurson e Eduardo, por constituírem a minha família e por sempre me
apoiarem.
A minha avó Nair de Abreu pelas orações e apoio.
Ao Instituto de Zootecnia – IZ por me abrigar, pela confiança e pelo apoio demonstrado
durante a realização deste trabalho.
A minha orientadora Profa. Dr
a. Lenira El Faro pela orientação, confiança, ensinamentos,
amizade, apoio e incentivo concedidos na execução deste trabalho.
Aos pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, Dr. Rui da Silva Verneque e Dra. Maria
Gabriela Campolina Diniz Peixoto pela confiança desde a iniciação científica, pelas conversas,
discussões, paciência e principalmente pela co-orientação durante a execução deste trabalho.
Ao suporte financeiro concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), para o aprimoramento dos meus conhecimentos.
A Embrapa Gado de Leite pela concessão dos dados e por proporcionar as condições
necessárias para a realização deste estudo.
Aos pesquisadores Aníbal Eugênio Vercesi Filho e Vera Lúcia Cardoso, meus tutores,
pelos ensinamentos, pelo constante estímulo, ajuda na construção dos modelos bio-econômicos e
pela disponibilidade.
A Profa. Dr
a. Cláudia Cristina Paro de Paz pelos conselhos e sugestões para o
enriquecimento deste trabalho.
Ao amigo Heverton Luiz Moreira, doutorando da Universidade de São Paulo pela ajuda
nas análises e pelas valiosas sugestões apresentadas.
Aos funcionários da Embrapa Gado de Leite, em especial a Cátia, Aline, Jonas e Ivete
pela ajuda na organização e coleta dos dados e pelo agradável convívio.
À ABCGIL (Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro), por congregar uma
verdadeira seleção de criadores e funcionários e por confiar no nosso trabalho.
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA – Ribeirão Preto – SP) pela
infra-estrutura concedida para a realização deste estudo.
Aos funcionários da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA –
Ribeirão Preto) pela atenção dispensada e pela amizade.
Aos meus primos Marconi, Luiz Gustavo, Henrique, Nagib e Antônio Carlos pelo
convívio, amizade e apoio incondicional.
Aos meus tios Antônio e Laíz por me acolherem em sua residência, e por tornarem tão
melhor a minha estada em Juiz de Fora – MG.
A Dona Iemar, Débora e Filipe, pelo carinho com que me acolheram em sua residência,
pelos alegres momentos de convivência e pela generosidade em compartilhar as preciosas horas do
Dr. Rui.
Aos amigos de pós-graduação do Instituto de Zootecnia – IZ, pela amizade e pelos
momentos agradáveis.
Aos meus bons amigos Leandro, Marcelo e Alexandre Balancin pela amizade.
A toda a família de Melhoristas e demais pesquisadores, pelo exemplo.
A todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a realização deste trabalho.
SUMÁRIO
Índice de tabelas iv
Índice de figuras vi
Resumo vii
Abstract
viii
1 CAPÍTULO I – Objetivos de seleção para características de
produção e qualidade do leite para a raça Gir Leiteiro 1
1.1 Introdução 1
1.2 Revisão de Literatura 4
1.2.1 Os objetivos de seleção e os valores econômicos 4
1.2.2 Modelos bio-econômicos 8
1.2.3 Os índices de seleção 8
2.0 Material e métodos 10
2.1 Descrição do sistema de produção 10
2.2 Manejo alimentar das vacas em lactação 11
2.3 Controle zootécnico 12
2.4 Valores econômicos para leite, gordura, proteína e contagem de
células somáticas (CCS)
13
2.5 Análise de sensibilidade 18
2.6 Parâmetros genéticos 18
3.0 Resultados e discussão 19
3.1 Validação do modelo 19
3.2 Valores econômicos 20
4.0 Conclusões 29
5.0 Referências bibliográficas 31
6.0 Anexos 36
iv
Índice de tabelas
Tabela 1 Itens de composição e requisitos de padrão de qualidade do leite
adotados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento com a criação da Instrução Normativa 51.
6
Tabela 2 de composição e requisitos de padrão de qualidade do leite
adotados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento com a criação da Instrução Normativa 51.
Pesos econômicos para diferentes características encontradas na
literatura
7
Tabela 3 Divisão das terras do sistema de Produção de Leite a Pasto com
Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite e categoria animal
manejada em cada uma.
11
Tabela 4 Médias das características zootécnicas do Sistema de produção
de leite a pasto com Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite e
em dois sistemas de produção de leite a pasto com vacas
mestiças de São Paulo e Minas Gerais.
13
Tabela 5 Composição (%) dos componentes da dieta e preços utilizados
para descrever o Sistema de Produção de Leite a Pasto com Gado
Mestiço da Embrapa Gado de Leite.
15
Tabela 6 Valores econômicos para as características componentes do
objetivo de seleção expressos por unidade de característica.
20
Tabela 7 Impacto anual de 1,0% de melhoramento genético sobre a
produção de leite, gordura e proteína para o rebanho estudado,
levando-se em conta as formas de pagamento do leite adotado
pelas duas empresas.
23
Tabela 8 Coeficientes de herdabilidade (diagonal), correlações genéticas
(acima da diagonal) e correlações fenotípicas (abaixo da
diagonal) para as características produção de leite aos 305 dias
(P305), produção de gordura (GOR), produção de proteína
(PRO) e escore de células somáticas (ECS), utilizados no cálculo
dos índices de seleção.
25
v
Tabela 9 Análise de sensibilidade dos valores econômicos para as
características de produção de leite (Leite), gordura (Gor) e
proteína (Pro) para a situação inicial e após as mudanças nos
preços do leite e nos preços dos componentes da dieta em ± 25%
e ± 50%.
27
vi
Índice de figuras
Figura 1 Fluxo de genes de acordo com a estratificação dos rebanhos. 2
Figura 2 Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido. 16
vii
OBJETIVOS DE SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE
PRODUÇÃO E QUALIDADE DO LEITE PARA A RAÇA GIR
LEITEIRO
RESUMO – Este trabalho teve como objetivo obter valores econômicos para características
de importância econômica na atividade leiteira, para fins de definição de objetivos de seleção.
Os valores econômicos para as características produção de leite, gordura e proteína numa
lactação de 305 dias foram calculados à partir de dados econômicos e zootécnicos do Sistema
de Produção de Leite a Pasto com Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite no período de
2005 a 2008. Estes valores foram estimados a partir de um modelo bio-econômico através da
diferença entre receita e despesa, considerando-se duas empresas, cujo pagamento pelo leite e
seus constituintes foi diferenciado. Os valores econômicos para leite e proteína foram
positivos para as duas empresas estudadas, o que justifica sua inclusão nos programas de
melhoramento animal. O valor econômico para gordura foi positivo para a empresa 1 e
negativo para a empresa 2, ou seja, para a empresa 1 seria lucrativa a inclusão da gordura
como objetivo de seleção, já para empresa 2 não seria. Porém, se um índice de seleção fosse
construído para as duas empresas todos os componentes teriam pesos positivos. Os valores
econômicos para o escore de células somáticas na lactação foram bastante expressivos e
negativos, refletindo a necessidade de ser considerado como critério de seleção dentro de um
programa de melhoramento visando à redução na mastite.
Palavras-chave: objetivos de seleção, valores econômicos, índices de seleção.
viii
BREADING GOALS FOR MILK TRAITS OF DAIRY GYR BREED
ABSTRACT – The aim of this study was to estimate economic values for traits of economic
importance in dairy cattle, to define breeding goals. The economic values for 305-day milk,
fat and protein yields were calculated from economic information and productive performance
of the Embrapa Dairy Cattle Pasture Based Milk Production System in the period from 2005
to 2008. These values were estimated by a bio-economic model as the difference between
revenues and expenses, for two enterprises located at the studied region that the pays for milk
constituents. The economic values for milk and protein yields were positive for both payment
systems studied, which justifies its inclusion in animal breeding programs. The economic
value for fat yield was positive for the enterprise 1 and negative for enterprise 2, indicating
that including fat yields on breeding goal would be profitable for enterprise 1 system of
payment rather than for enterprise 2. However, if a selection index was built considering
both payment systems, all components would have positive weights for these three traits. The
economic value for lactation somatic cell score were quite significant and negative, reflecting
the need to be included as selection criteria in a breeding program for reducing mastitis
incidence.
Key-words: breeding goals, economic value, selection index.
1
CAPÍTULO I – OBJETIVOS DE SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS
DE PRODUÇÃO E QUALIDADE DO LEITE PARA A RAÇA GIR
LEITEIRO
1.0 INTRODUÇÃO
Cerca de 80% da produção de leite no Brasil é proveniente de rebanhos comerciais
mestiços, constituídos por animais resultantes do cruzamento de raças européias
especializadas, em especial, a raça Holandesa, e raças Zebuínas, em especial, a raça Gir
Leiteiro. Resultados de pesquisa realizada junto a 291 produtores de 26 cooperativas do
Estado de Minas Gerais indicaram que, 92,4% dos produtores possuíam rebanhos mestiços,
sendo o cruzamento entre Holandês x Zebu predominante na maioria deles (Madalena, 1996).
O cruzamento entre estas duas raças tem sido realizado há anos e representa uma ferramenta
importante para aumentar a produção de leite e a eficiência reprodutiva e adaptativa dos
animais em condições de clima tropical, através da expressão da heterose e da
complementaridade.
Neste contexto, assume destaque a raça Gir Leiteiro, que vem sendo amplamente
utilizada como base em diversos sistemas de cruzamento para produção de leite no Brasil.
Outro aspecto relevante em relação a esta raça deve-se ao fato de ser a primeira raça leiteira
do Brasil e a primeira raça zebuína do mundo a participar de um programa delineado de
2
melhoramento genético, a ter touros provados para leite pelo teste de progênie, além de
proceder à avaliação genética das vacas. Além disso, os touros são anualmente avaliados para
características de conformação e de manejo, baseando-se em medidas realizadas nas suas
progênies (VERNEQUE et al., 2000).
Para aumentar a eficiência produtiva e reprodutiva nos rebanhos comerciais, ou seja,
aquele consumidor de genética melhorada torna-se necessário o melhoramento nas raças
puras, pois ambos entram na formação do rebanho mestiço. Neste caso a genética melhorada é
proveniente de rebanhos Holandês puros e Gir Leiteiro puros, que fornecerão material
genético para os rebanhos comerciais, seguindo o fluxo de genes apresentado na Figura 1
(BICHARD, 1971).
Figura 1 - Fluxo de genes de acordo com a estratificação dos rebanhos.
Adaptado de Bichard (1971).
Na implantação de um programa de melhoramento genético é importante definir as
características que irão compor os objetivos de seleção a fim de maximizar o ganho genético
econômico (HAZEL, 1943). Além da sua importância para direcionar a seleção, os objetivos
de seleção das características zootécnicas contribuem para melhor compreensão da influência
dessas variáveis na eficiência econômica da exploração considerada.
Apesar da óbvia importância do assunto, no Brasil, apenas recentemente a
determinação dos objetivos econômicos de seleção tem recebido mais atenção, tanto na teoria
desta determinação quanto na sua avaliação prática. Tem-se pouco conhecimento de
avaliações de objetivos econômicos de seleção de bovinos em países tropicais, como no
3
Brasil, onde as características de interesse podem ter importância diferente que nos países
desenvolvidos, de clima temperado (MADALENA, 1986; VERCESI FILHO et al., 2000).
No Brasil avaliações de objetivos econômicos de seleção de bovinos de leite foram
apresentados (VECESI FILHO et al., 2000; MADALENA, 2000a; MARTINS et al., 2003;
CARDOSO et al., 2004; BUENO et al., 2004), porém maior número de trabalhos torna-se
necessário, abrangendo número mais representativo de situações práticas e, dadas as
diferenças existentes nos sistemas de produção brasileiros e nos sistemas de pagamento atuais.
Este trabalho teve como objetivo a obtenção de valores econômicos para
características de produção e qualidade do leite para rebanhos Gir Leiteiro levando em
consideração as circunstâncias de rebanhos comerciais mestiços.
4
1.2 REVISÃO DE LITERATURA
1.2.1 Os objetivos de seleção e os valores econômicos
No Brasil, os programas de melhoramento genético de gado de leite são conduzidos
com o objetivo principal de aumentar produção. Porém, Madalena (2007) relatou que as
características ligadas à fertilidade e aquelas como rusticidade e adaptabilidade têm recebido
pouca ênfase, sendo estas, um dos principais problemas dos rebanhos leiteiros com genética
de alta produção. Pouca atenção também tem sido dada em melhorar a qualidade do produto.
Ademais, nos últimos anos, as indústrias têm sinalizado claramente para o
pagamento do leite por qualidade, bonificando maiores teores de gordura e proteína, e menor
contagem de células somáticas (CCS). Estes são itens que podem melhorar o rendimento na
fabricação dos produtos lácteos (BARBANO et al., 1991; KLEI et al., 1998), e no caso da
CCS, aumentar a vida de prateleira dos produtos (MUNRO et al., 1984) Do mesmo modo,
leite e derivados lácteos de melhor qualidade têm sido mais procurados pelo mercado
consumidor. Com isto, os produtores terão que atentar para melhorar a qualidade do produto,
utilizando animais geneticamente superiores para produção de leite, bem como para seus
componentes, visando atender a demanda da indústria e do consumidor.
O objetivo de uma empresa agropecuária deveria estar focado no seu objetivo de
seleção ou objetivo econômico, que foi definido por Ponzoni e Newman (1989) como uma
5
combinação de características economicamente importantes de acordo com o sistema de
produção e que, foi considerado como primeiro passo em um programa de melhoramento.
Para a definição dos objetivos de seleção devem-se identificar, na medida do possível, todos
os caracteres biológicos que influenciam as receitas e despesas do sistema de produção. Em
geral, este objetivo inclui as variáveis econômicas tradicionais tais como as quantidades
produzidas de leite, gordura, proteína, mas também podem incluir outros aspectos funcionais,
que embora não aumentem diretamente as quantidades de produtos, o seu melhoramento pode
ocasionar a diminuição dos custos de produção (GROEN et al., 1997).
A definição do objetivo de seleção, segundo vários autores, constitui importante
passo na elaboração de um programa de melhoramento (HARRIS, 1970; HARRIS et al.,
1984; PONZONI e NEWMAN, 1989). Ponzoni (1988) propôs as seguintes etapas para se
estabelecer o objetivo de seleção:
1) Especificação do sistema de produção, acasalamento e comercialização;
2) Identificação de todas as fontes de receitas e despesas dentro de um rebanho. A partir daí,
é construído uma função de lucro levando-se em conta todas as fontes de receitas e
despesas dentro da propriedade, independente da dificuldade de se mensurar a
característica;
3) Determinação das características biológicas que influenciam a receita e a despesa;
4) Derivação dos pesos econômicos para cada característica da função lucro.
Assim sendo, a definição do objetivo de seleção e o cálculo dos valores econômicos
levando-se em conta rebanhos comerciais poderiam aumentar a eficiência da produção
trazendo reflexos favoráveis na venda de reprodutores geneticamente superiores, e melhorias
na eficiência produtiva, gerando maior lucro para os produtores e para indústria (FEWSON,
1993).
Em sistemas de produção de leite com base em rebanhos comerciais, a principal
fonte de receita é a venda do leite, além da venda dos bezerros, do excedente de novilhas para
reposição e de vacas descartadas para abate. Nos países onde existe o pagamento diferenciado
6
do leite pela qualidade, o objetivo de seleção inclui a produção de gordura e proteína. No caso
do Brasil, com a implantação da Instrução Normativa 51 (IN 51) pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2002), o pagamento por qualidade do leite
vem sendo adotado por alguns laticínios, fazendo com que o produtor adote mecanismos para
adaptar-se às exigências de mercado. Na Tabela 1 estão apresentados os itens de composição
e os requisitos de padrão de qualidade do leite adotados pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento com a criação da Instrução Normativa 51 (BRASIL, 2002).
Tabela 1 – Itens de composição e requisitos de padrão de qualidade do leite adotados pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com a criação da Instrução Normativa
51.
Item de Composição Requisito
Gordura (g/100g) Mínimo 3,0
Proteína (g/100g) Mínimo 2,9
CCS (ccs/ml) Máximo 6 x 105
No Brasil trabalhos envolvendo a derivação de pesos econômicos para bovinos
leiteiros têm sido desenvolvidos por, Madalena (2000a), Vercesi Filho et al. (2000), Martins
et al. (2003), Cardoso et al. (2004), Bueno et al. (2004) e Seno et al. (2007), sendo esse último
para bubalinos leiteiros. Todos os autores encontraram valores econômicos negativos para a
produção de gordura e proteína no leite e positivos para produção de leite (Tabela 2).
7
Tabela 2 - Pesos econômicos para diferentes características encontradas na literatura.
Autores Valores Econômicos
Leite Gordura Proteína
Cardoso et al. (2004)* US$ 0,15 -US$ 0,48 -US$ 0,31
Madalena et al. (2000a)1*
R$ 0,15 -R$ 0,21 -R$ 0,32
Madalena et al. (2000a)2*
R$ 0,12 R$ 0,88 R$ 0,82
Vercesi Filho et al. (2000)* R$ 31,73 -R$ 23,92 -
Vargas et al. (2002)** US$ 0,04 US$ 5,25 US$ 3,95
Martins et al. (2003)* R$ 0,56 -R$ 3,82 -R$ 2,69
1 Pagamento no estado de Minas Gerais.
2 Pagamento no estado do Paraná.
* Valores econômicos encontrados para sistemas de produção no Brasil. Taxa de conversão:
US$ 1,00 = R$ 1,88;
** Valores econômicos encontrados para sistemas de produção na Costa Rica.
Como pode ser observado na Tabela 2, a maioria dos valores econômicos
encontrados para produção de proteína e de gordura foram negativos, o que está relacionado à
falta de incentivo da indústria em remunerar estes componentes. Como consequência, poderia
ser mais conveniente desconsiderar ou inclusive dar peso negativo à proteína e à gordura nos
programas de melhoramento no Brasil, contrariando a tendência mundial de mercado em
produzir alimentos de melhor qualidade (MADALENA, 2000b). Segundo Carvalho et al.
(2010), o sistema de pagamento por qualidade do leite no país ainda é recente e a grande
maioria dos laticínios não valoriza estes itens na formação do preço ao produtor, e no caso dos
que pagam, os valores adicionais não chegam a estimular investimentos.
Como sugerido por Madalena (2000a) e Cardoso et al. (2004) existe a necessidade de
uma ampla discussão que envolva todos os setores da cadeia produtiva do leite, visando
estabelecer objetivos a médio e longo prazo, para a produção de componentes do leite, a fim
de direcionar a seleção no sentido das tendências futuras de mercado. Com isto, deve-se
cuidar da qualidade do produto, a qual tem sido ignorada, mas espera-se que tenha um efeito
nos preços futuros (QUEIROZ, 2002).
Vercesi Filho et al. (2000) verificaram que a mastite apresentou elevado peso
econômico (-R$3341,90) e que esta característica merece bastante destaque no processo
seletivo em conseqüência dos altos custos imputados. Por isto, estudar a CCS para ser
8
incluída como critério de seleção visando a redução na mastite seria interessante em programa
de melhoramento animal.
1.2.2 Modelos bio-econômicos
A principal ferramenta utilizada no cálculo dos valores econômicos das
características de interesse mediante a aplicação de equações de lucro (profit functions) ou de
modelos bioeconômicos (BEM) é a modelagem ou análise sistêmica. Esses modelos baseiam-
se em análises conjuntas entre o aspecto econômico e produtivo, relacionando custos, receitas,
dados biológicos e o manejo realizado na propriedade (VAN ARENDONK, 1985; VAN
ARENDONK e DIJKHUIZEN, 1985; AMER et al., 1994; HIROOKA et al., 1998; TESS e
KOLSTAD, 2000). Duas abordagens podem ser distinguidas da análise sistêmica: a
abordagem positiva ou avaliação de dados e a abordagem normativa ou simulação de dados
(JAMES e ELLIS, 1979).
De acordo com Groen e Van Arendonk (1997), no primeiro caso (abordagem
positiva), são usados dados técnicos e econômicos observados. No caso da simulação, são
usadas as equações de lucro e os modelos bioeconômicos. No Brasil, Cardoso et al. (1998)
apresentou um modelo bio-econômico, o qual simula produções de leite, gordura e proteína e
peso das vacas, de acordo com a ordem de parto, níveis de produção e duração dos intervalos
de partos. Já Vercesi Filho et al., (2000) e Bueno et al. (2004) apresentaram uma avaliação de
dados de dois sistemas de produção de leite através do uso de equações de lucro.
O objetivo em ambos os casos (modelos bio-econômicos e equações de lucro) é a
obtenção da receita líquida, obtida pela diferença entre a receita obtida com o produto menos
o custo estimado de produção. A modelagem de sistemas de produção animal fornece uma
boa compreensão da sensibilidade dos valores econômicos às circunstâncias de produção no
nível do animal, do rebanho, da fazenda e níveis superiores.
1.2.3 Índices de seleção
Uma vez que são várias as características que afetam a eficiência econômica, e uma
vez que, a unidade de seleção é o indivíduo (reprodutor ou matriz), na seleção artificial as
características a serem melhoradas serão ponderadas pelos seus respectivos valores
9
econômicos. Hazel (1943), em seu trabalho sobre Índice Econômico de Seleção (IES), definiu
o “mérito genético agregado” (H) como uma função linear dos valores genéticos para cada
uma das características de interesse (Gi) ponderadas pelo seu valor econômico relativo (ai), H
= ai Gi definindo os valores econômicos ai como “a quantidade esperada de aumento no
lucro por unidade de melhoramento na característica i”. Hazel e Lush (1943) demonstraram
que a resposta à seleção para H é maximizada ao se selecionar por um índice I = bi Pi das
características Pi ponderadas por pesos bi, sendo estes pesos decorrentes das (co) variâncias
genéticas e fenotípicas entre as características e dos valores econômicos.
O IES tem como objetivo principal classificar os reprodutores com base no seu
mérito total. Estes IES proporcionam o balanço adequado entre as diferentes características,
maximizando o retorno econômico do melhoramento genético (HAZEL, 1943). Porém, a
aplicação do IES foi pouco empregada nas décadas seguintes, pois a determinação dos
objetivos de seleção e o cálculo dos valores econômicos não se mostraram tarefas simples.
Segundo Hazel (1943), na escolha das características que irão compor o índice
devem ser levados em consideração:
1) O valor econômico da característica;
2) A estimativa de herdabilidade da característica considerada;
3) As correlações genéticas entre as características;
4) As correlações fenotípicas entre as características.
Hazel e Lush (1943) comparam a eficiência dos três métodos de seleção: índice de
seleção, método de tanden e dos níveis independentes de eliminação. Os autores concluíram
que o índice de seleção foi o método mais eficiente para seleção de características múltiplas,
por apresentar maior ganho genético. Os autores salientaram também que, a superioridade do
índice cresce, com o número de características envolvidas na seleção e quando a importância
das características torna-se mais semelhantes. Segundo VanVleck (1993), a seleção baseada
em índice tem sido amplamente utilizada no melhoramento animal, proporcionando maiores
ganhos genéticos quando comparados a outros métodos de seleção.
10
2.0 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Descrição do sistema de produção
Neste estudo foram utilizados dados de desempenho produtivo e reprodutivo dos
animais do Sistema de Produção de Leite a Pasto com Gado Mestiço (SPLGM) pertencentes à
Embrapa Gado de Leite entre o período de 2005 a 2008. O SPLGM está localizado no
Município de Coronel Pacheco-MG, na região da Zona da Mata Mineira. A precipitação
pluviométrica média anual é de 1.580mm e com temperatura média de 20,6°C. As estações do
ano são definidas como sendo o período das “águas” (novembro a abril) e período da “seca”
(maio a outubro).
A fazenda ocupa uma área de 100,0 ha, sendo os animais manejados em grupos de
idade para melhor desempenho e manejo. As pastagens são formadas de Braquiarão
(Braquiaria brizantha cv. Marandu), Setaria (Setaria phacelata), Capim Elefante
(Pennisetum purpureun), Grama Estrela (Cynodon dactylon) e Capim Gordura (Melinis
menutiflora). A área de produção de volumosos para corte utilizada no período das “secas” é
cultivada com cana de açúcar para consumo in natura e milho para fabricação de silagem. Na
Tabela 3 estão descritas as divisões das terras do SPLGM e a categoria animal manejada em
cada uma.
11
Tabela 3 - Divisão das terras do sistema de Produção de Leite a Pasto com Gado Mestiço da
Embrapa Gado de Leite e categoria animal manejada em cada uma.
Cultura Área
(ha) Categoria animal
Braquiarão 38 Fêmeas de 1 ano, novilhas com mais de 330 kg e
vacas secas
Setária 3 Novilhas de 6 meses a 1 ano
Capim Elefante 14,5 Vacas em Lactação
Capim Gordura 26 Fêmeas de 1 ano, novilhas com mais de 330 kg e
vacas secas
Grama Estrela 2,3 Bezerras do desmame a 6 meses e vacas e
novilhas gestantes
Cana de Açúcar 2 -
Milho 4,3 -
Outros (instalações e etc.) 9,9 -
Total 100 -
O rebanho utilizado no SPLGM é composto por animais mestiços Holandês X Gir,
em sistema de cruzamento rotacionado de duas raças com repetição do Holandês (Holandês –
Holandês – Gir). A composição genética do rebanho variou entre animais 1/2 Holandês X 1/2
Gir até 31/32 Holandês X 1/32 Gir (considerado como puro por cruza - PC). No período
estudado o rebanho estava estabilizado para as categorias animais.
2.2 Manejo alimentar das vacas em lactação
Todas as vacas em lactação são manejadas em piquetes de Capim Elefante com área
de aproximadamente 1,2 ha, com 3 dias de ocupação e 30 dias de descanso. A lotação de cada
piquete é de 3,5 a 4,5 UA/ha e, dependendo da disponibilidade de forragem e da época do
ano, os animais são manejados em pasto “reserva” de braquiarão não rotacionado para não
prejudicar o crescimento das plantas no piquete. Durante todo o ano a suplementação mineral
é fornecida à vontade no cocho para todos os animais. As vacas do SPLGM são divididas em
3 lotes, conforme a produção diária, divididas nas seguintes categorias:
12
1) Primíparas: toda primípara permanece neste lote até aproximadamente 90 dias pós-parto
e recebem diariamente 3,0 kg ração/litro de leite produzido. Somente em caso de baixa
produção ou alteração no estado fisiológico do animal ele não deixa este grupo após o período
citado acima. Após 90 dias do parto o animal é transferido para o lote de animais de acordo
com sua produção diária. Na época da “seca” estes animais recebem suplementação volumosa
a base de silagem de milho e no período das “águas”, eles são mantidos exclusivamente a
pasto;
2) Vacas com produção superior a 18,0 kg de leite/dia: estes animais recebem 3,0 kg de
ração/litro de leite produzido. Na época da “seca” as vacas recebem suplementação volumosa
à base de silagem de milho e no período das “águas” são mantidas exclusivamente a pasto.
Toda vaca recém parida, com exceção das primíparas, permanece neste grupo até 30 dias após
o parto e caso não expresse seu potencial para produção de leite é transferida para o grupo que
corresponde a sua produção diária;
3) Vacas com produção até 18,0 kg de leite/dia: estas recebem 3,0 kg de ração/litro de
leite produzido. Na época da “seca” estas vacas recebem suplementação volumosa à base de
silagem de milho e, no período das “águas”, elas são mantidas exclusivamente a pasto.
2.3 Controle zootécnico
Os registros zootécnicos são utilizados para estudos de eficiência produtiva e
reprodutiva dos sistemas de produção e incluíram nascimentos, mortes, vendas, transferências
e mudanças de categoria de animais, com as causas correspondentes, e os números de animais
em cada categoria. Como não havia informações referentes à composição do leite no SPLGM,
foram usados dados referentes a dois rebanhos mestiços (Holandês x Gir) localizados nos
Estados de São Paulo e Minas Gerais. Estes rebanhos apresentam manejos semelhantes ao
rebanho estudado, sendo assim uma amostra representativa dos sistemas de produção
brasileiros. Na Tabela 4 estão apresentadas as médias das características zootécnicas no
período de 2005 a 2008, utilizadas no cálculo dos valores econômicos.
13
Tabela 4 - Médias das características zootécnicas do Sistema de Produção de Leite a Pasto
com Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite e em dois sistemas de produção de leite a pasto
com vacas mestiças de São Paulo e Minas Gerais.
Características Símbolo Médias
Produção total de leite aos 305 dias (kg) P305 3278,42
Duração da lactação (dias) DLAC 309,57
Produção diária de leite/vaca (kg) PDLV 10,46
Proteína (%)* PRO 3,26
Gordura (%)* GOR 3,71
CCS média (x 1000/ml)* CCS 375,64
Intervalo de partos (dias) IDP 446,01
Porcentagem de vacas em lactação %VL 69,41
Idade ao primeiro parto (meses) IPP 36,52
Peso da vaca em lactação (kg) PVL 486,27
Peso da vaca seca (kg) PVS 532,76
Produção diária de leite (kg) PDL 674,00
Número de vacas em lactação VL 59,00
Número de vacas secas VS 26,00
*Média de dois rebanhos localizados nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
2.4 Valor econômico para leite, gordura, proteína e contagem de células somáticas
(CCS)
Para o cálculo dos valores econômicos os registros contábeis foram separados por
categoria animal dentro do sistema de produção. Os custos variáveis, referentes ao SPLGM
incluíram as despesas com concentrado, mineral, produção de volumoso (silagem e pasto). As
receitas contabilizaram a venda do leite, incluindo as bonificações ou penalizações para as
porcentagens de gordura e proteína do leite, além das bonificações ou penalizações para a
categoria de contagem de células somáticas.
Para o presente estudo, os valores econômicos foram calculados, levando-se em
conta as circunstâncias de produção e mercado de um rebanho comercial mestiço, ou seja,
aquele consumidor da genética melhorada. Nesse caso, a genética melhorada é proveniente de
rebanhos Gir Leiteiro puros, que fornecerão material genético para os rebanhos comerciais.
14
As características avaliadas para inclusão nos objetivos de seleção foram as
produções de leite, gordura, proteína e a contagem de células somáticas do leite.
As exigências nutricionais necessárias para produção (leite, gordura e proteína),
crescimento, gestação (terço final) e mantença foram calculados com base no NRC (2001),
levando-se em consideração os parâmetros biológicos observados na Tabela 3, de acordo com
as seguintes equações:
1) Produção = 1*((% GOR*0,0929) + (% PRO*0,0547) + 0,192)
2) Mantença = 0,08*(PVL0,75
)*1,2
em que GOR é a porcentagem de gordura no leite, PRO é a porcentagem de proteína no leite e
PVL é o peso vivo da vaca em lactação. Como sugerido por Cardoso1 (Comunicação pessoal),
o peso para mantença da vaca foi acrescido de 20% pois o animal necessita de mais energia
para se locomover quando é mantido em pastagens.
Para obtenção do valor de um kg de matéria seca da pastagem utilizado no cálculo
dos valores econômicos, foram levados em consideração os custos anuais com formação e
manutenção de um hectare de pastagem de capim elefante, supondo-se adubação nitrogenada
de 150 kg/ha/ano. As informações sobre a composição dos alimentos, bem como a quantidade
de energia disponível e o preço dos componentes foram extraídos da literatura
(VALADARES FILHO et al., 2006; ANUALPEC, 2011; EMBRAPA, 2011) e estão
apresentados na Tabela 5.
______________________________________
1CARDOSO, V, L. Comunicação pessoal, 2011.
15
Tabela 5 – Composição (%) dos componentes da dieta e preços utilizados para descrever o
Sistema de Produção de Leite a Pasto com Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite.
Componentes da
dieta MS* NDT*
Preço kg MO
(R$)**
Preço kg MS
(R$)** PB*
Silagem de milho 30,00
64,00
R$ 0,05
R$ 0,17
7,26
Capim elefante 16,00
60,00
R$ 0,01
R$ 0,06
8,43
Ração 90,00
75,00
R$ 0,87
R$ 0,97
22,00
MS = matéria seca; NDT = nutrientes digestíveis totais; MO = matéria orgânica; PB =
Proteína bruta.
*Valadares Filho et al. (2006);
**Anualpec (2011) e Embrapa (2011).
Os valores econômicos para os componentes do leite (produção de gordura e
proteína) foram calculados levando-se em consideração o sistema de pagamento de leite
adotado por duas grandes empresas responsáveis pela captação de leite na região Sudeste do
País. Em certos casos, o preço base do leite recebido pelo SPLGM entre o período de 2005 a
2008 (R$ 0,6693) sofreu um acréscimo ou decréscimo de diferenciais, segundo os percentuais
de gordura e proteína acima ou abaixo das bases mínimas para estes componentes (Anexos 1 e
2). Além da apresentação dos valores econômicos para cada empresa, foi calculada neste
trabalho uma combinação de pagamento feito pelas duas empresas (Anexo 3), levando-se em
conta os valores médios de bonificação ou de penalização para cada classe de pagamento
adotado pelas empresas.
Para a obtenção dos valores econômicos, foi desenvolvido um modelo bio-
econômico, com auxílio de planilhas do Microsoft Excel®
para o cálculo do desempenho
produtivo, das receitas e dos custos, para as características produção de leite, produção de
gordura e produção de proteína. A estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido está
apresentado na Figura 2.
16
Figura 2 - Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido.
Os valores econômicos (VE’s) foram calculados pela diferença marginal no lucro
anual, decorrente do aumento de 1,0% de melhoramento em cada característica, mantendo-se
o nível original das outras constantes, levando-se em conta o interesse de maximização do
lucro e supondo-se o rebanho estabilizado para as categorias animais (GROEN et al., 1997)
por meio da seguinte equação:
VE = [(receita anual) – (custo anual)]
em que,
VE é o valor econômico da característica e é diferença marginal no lucro anual (depois da
seleção – antes seleção).
A variável CCS também foi incluída como objetivo de seleção, pois há uma
remuneração para o leite fornecido quando as contagens são menores. Como a CCS não
possui distribuição normal, a mesma foi transformada para escore de células somáticas (ECS),
através da seguinte equação proposta por Ali e Shook (1980):
Parâmetros do rebanho
Situação inicial
(antes do melhoramento)
Situação final
(após o melhoramento)
Receitas e despesas
(antes e após melhoramento)
Valores
econômicos
17
3)100(log2 CCSECS
Em seguida foi calculado o escore médio de células somáticas na lactação (ECSL),
por meio da média aritmética dos ECS mensais numa lactação com, no mínimo, cinco
controles. O valor econômico para ECSL foi calculado pela diferença marginal no lucro
decorrente do aumento de 1,0 escore de células somáticas na lactação.
Os custos associados com o nível de ECSL resultaram da penalidade ou bonificação
aplicada ao preço do leite de acordo com o sistema de pagamento de leite adotado por duas
grandes empresas responsáveis pela captação de leite na região Sudeste do país. O valor
econômico para ECSL foi calculado de acordo com o sistema de pagamento do leite destas
duas empresas (Anexos 1 e 2), seguindo a metodologia proposta por Charfeddine et al.
(1997):
TnDnDm
TDD
TDDVECSL ...
223
112
1
,
em que:
VECSL = valor econômico para escore de células somáticas na lactação;
D = diferencial no pagamento do leite;
µ = média de escore de células somáticas na lactação;
σ = desvio padrão do escore de células somáticas médio na lactação;
Φ(T) = distribuição normal acumulada;
m = último acréscimo ou decréscimo de diferencial no pagamento do leite;
n = penúltimo acréscimo ou decréscimo de diferencial de pagamento do leite.
Este método segue uma metodologia utilizada por Meijering (1986), Bekman e Van
Arendonk (1993) e Dekkers (1994) para derivar os valores econômicos para distocia de parto
utilizando dados categóricos. Neste caso, os custos do escore de células somáticas médio na
lactação foram definidos como a soma das frequências de cada classe de ECSL multiplicada
por uma penalidade atribuída a cada classe (CHARFEDDINE et al., 1997). Para o sistema de
pagamento adotado pelos autores, entretanto, só houve penalidades de acordo com o aumento
na classe de ECSL. No sistema de pagamento adotado pelas duas empresas no Brasil (Anexos
18
1 e 2), houve um acréscimo no diferencial pelo pagamento do leite quando a CCS foi baixa e
não apenas penalidade.
2.5 Análise de sensibilidade
O preço do leite sofre flutuações devido a vários fatores, dentre eles, as incertezas
associadas à falta de políticas que regulamentem satisfatoriamente o setor (CARDOSO et al.,
2004). Por esta razão, foram realizadas análises de sensibilidade para avaliar o impacto de
possíveis mudanças nas variações no preço do leite e dos componentes da dieta em ± 25,0% e
± 50,0%, sobre os valores econômicos das características.
2.6 Parâmetros genéticos
Para estimar os parâmetros genéticos para as produções de leite acumuladas aos 305,
produção de gordura, produção de proteína e o escore de células somáticas na lactação foram
utilizadas informações da primeira lactação de 23.313 vacas, com partos ocorridos entre o
período 1984 a 2010, provenientes dos arquivos do Programa Nacional de Melhoramento do
Gir Leiteiro, executado pela Embrapa Gado de Leite em parceria com a Associação Brasileira
dos Criadores de Gir Leiteiro.
O modelo estatístico utilizado na estimação dos componentes de variância foi
realizado por meio de um modelo animal, em análises bi-características e incluiu os efeitos
fixos de grupo de contemporâneo (rebanho – ano de parto), época de parto, composição
genética da filha do touro e a idade da vaca ao parto como covariável (efeitos linear e
quadrático). Os componentes de variância foram estimados pelo método de máxima
verossimilhança restrita, que usa algoritmos livres de derivadas, utilizando o programa
computacional MTDFREML (Multiple Trait Derivative-Free Restricted Maximum
Likelihood), desenvolvido por Boldman et al. (1995).
19
3.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Validação do modelo
A metodologia para o cálculo dos valores econômicos através do uso de modelos
bio-econômicos envolve uma programação matemática composta por um conjunto de
equações, o que permite uma completa relação dos fenômenos biológicos e econômicos
observados em um determinado sistema de produção.
O modelo desenvolvido no presente estudo baseou-se nas análises produtivas,
reprodutivas e econômicas do rebanho, relacionando custos, receitas, dados biológicos e o
manejo utilizado na propriedade. O modelo foi bastante eficaz, pois ao se relacionar os dados
econômicos e biológicos do sistema de produção avaliado, e alterar o parâmetro biológico de
uma determinada característica simulando o melhoramento genético, o modelo foi capaz de
predizer as receitas e despesas provenientes de cada unidade de melhoramento para esta
mesma característica logo que as mudanças foram estabelecidas.
Pode ser observado também que o manejo alimentar das vacas no sistema foi
próximo os dados simulados. Por exemplo, o custo por vaca em lactação por dia com
concentrado no SPLGM foi de R$ 2,90, já com o sistema de simulação foi de R$3,13, ou seja,
os dados simulados conseguiram predizer o manejo real praticado pelo SPLGM . Nos anexos
de 4 a 8 estão apresentados a estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido.
20
De acordo com Bourdon e Golden (2000) o uso de modelos bio-econômicos
apresenta um grande potencial para uso no melhoramento animal, por ser uma técnica que
permite avaliar receitas e despesas separadamente para cada característica dentro do sistema
de produção, e com isto auxiliar na tomada de decisões relacionadas ao melhoramento animal.
3.2 Valores econômicos
Na Tabela 6, estão apresentados os valores econômicos para produção de leite,
gordura, proteína e contagem de células somáticas expressos por unidade de característica.
Tabela 6 - Valores econômicos para as características componentes do objetivo de seleção
expressos por unidade de característica.
Características
Valores econômicos (R$)
Empresa 1 Empresa 2 Combinação
Empresa 1 e 2
Leite (kg) 0,31 0,31 0,32
Gordura (kg) 0,09 -6,99 0,49
Proteína (kg) 7,21 2,14 12,06
ECSL* -94,54 -88,80 -104,06
*Escore de células somáticas na lactação.
Os valores econômicos obtidos para a produção de leite (Tabela 6) para as duas
empresas receptoras do leite foram semelhantes e positivos, indicando que a seleção para esta
característica implicaria em ganho econômico para o produtor. O valor econômico calculado
para a combinação das duas empresas, também positivo, o que implicaria em ganho
econômico para o produtor próximo aos valores encontrados para cada empresa
individualmente. Isso indica que, se um índice de seleção fosse construído levando-se em
consideração este sistema médio de pagamento, o lucro para o produtor seria semelhante ao
das duas empresas. Isso é interessante uma vez que no Brasil existem sistemas de pagamento
diversificados e, provavelmente, os valores econômicos poderiam ser executados para um
sistema médio de várias empresas, pois haveria dificuldades operacionais de cálculo de
valores econômicos individualizados para as várias circunstâncias de mercado das indústrias
do setor lácteo.
21
Os valores econômicos positivos encontrados para a produção de leite estão de
acordo com os relatados por Cardoso et al. (2004), Vercesi Filho et al. (2000) e Martins et al.
(2003), porém não são resultados comparáveis, pois na época da realização destes estudos os
cenários econômicos eram diferentes. Assim como nos resultados da literatura, os resultados
do presente estudo eram esperados, uma vez que há maior ênfase dos laticínios em remunerar
o volume do leite produzido.
Os valores econômicos calculados para a proteína foram positivos para as duas
empresas estudadas (Tabela 6), o que significa que, o incremento de sua produção por meio
da seleção resultaria em aumento no lucro da fazenda. Este valor indica que, a remuneração
aplicada pela indústria para este componente no leite, justifica e compensa a sua inclusão
como objetivo de seleção nos programas de melhoramento genético no Brasil. A diferença
nos valores econômicos obtidos entre as duas empresas deve-se ao fato de que, o diferencial
de pagamento pelo preço deste componente, quando há penalização, ser duas vezes maior
para Empresa 2 (R$ -0,06) do que para a Empresa 1 (R$ -0,03). Isso mostra a diversidade dos
sistemas de pagamento adotado pelas empresas brasileiras, mesmo dentro de uma mesma
região geográfica e a dificuldade de se estabelecer um padrão único de pagamento.
Valores econômicos positivos para proteína no leite em países de clima tropical
foram relatados por Madalena (2000a), para um laticínio na região Sul do Brasil, porém
inferior a gordura. Embora o valor econômico para a proteína tenha se mostrado bem maior
que o de leite, a interpretação dos mesmos é com relação ao aumento de 1,0Kg na
característica, ou seja o aumento de 1,0kg de proteína por meio do melhoramento animal,
seria mais lucrativo que aumentar 1,0kg de leite, pois o valor que o produtor iria receber pela
proteína seria bem superior ao que receberia pelo leite. Quando comparado o sistema de
combinação de pagamento das duas empresas estudadas pode ser observado que o valor
econômico para proteína foi bem superior, o que reflete a dificuldade de se estabelecer um
padrão único de pagamento. Outro aspecto relevante deve-se ao fato de que o número de
classes de pagamento para o sistema médio foi inferior ao das duas empresas o que pode ter
contribuído para elevar o valor econômico desta característica.
Os valores econômicos obtidos para gordura no leite (Tabela 6) foi positivo para a
Empresa 1, porém de pequena magnitude e negativo para a Empresa 2, indicando que o
aumento da porcentagem de gordura seria antieconômico para esta última Empresa, pois a
22
receita gerada com a sua venda não cobriria os custos de produção, mesmo havendo
remuneração para este componente (Anexos 1 e 2). Porém quando o preço do leite foi
calculado baseando-se na combinação de pagamento (Anexo 3) entre as 2 empresas ele foi
positivo, porém de pequena magnitude. Martins et al. (2003), analisando o mesmo sistema de
produção deste estudo, encontraram valores econômicos negativos para gordura e proteína no
leite. Os autores verificaram que na época da realização do estudo a propriedade não recebia
preço diferenciado para os componentes do leite, não justificando sua inclusão como objetivo
de seleção.
Os valores econômicos para a proteína foram maiores que os da gordura para as duas
empresas estudadas, indicando a importância econômica deste componente no sistema de
produção. A razão pela qual a gordura apresentou valores econômicos inferiores a proteína
esta relacionado ao seu maior custo de produção. Por exemplo, para o presente trabalho, o
custo para produzir 1,0 kg de gordura foi 1,92 vezes maior que para produzir 1,0 kg de
proteína. Isto indica também que maior ênfase à seleção deve ser dada para a proteína, pois
haveria aumento considerável do lucro para a fazenda e para a indústria.
Na situação atual de pagamento vigente para os componentes do leite, maior atenção
deve ser dada para a correta definição dos objetivos de seleção nos programas de
melhoramento genético nacional para raças zebuínas, pois na construção de um índice de
seleção haveria dois cenários diferentes (um para cada empresa). Por exemplo, a aplicação de
um índice de seleção para a Empresa 1 ponderaria valores positivos para o leite, gordura e
proteína. Já para a Empresa 2 o índice daria peso negativo para a gordura. Contudo, se um
índice fosse construído utilizando a combinação de pagamento das duas empresas, os pesos
para todos os componentes do leite seriam positivos. Deveria ser feito também, um estudo
envolvendo as diversas situações de pagamento efetuado pelas empresas atuantes no Brasil
para obter um valor único e representativo para a maioria.
Na Tabela 7, pode ser observado qual seria o impacto por vaca por lactação do
sistema de produção avaliado levando-se em conta as formas de pagamento do leite adotado
pelas duas empresas, caso ocorresse uma mudança de 1,0% no melhoramento genético para
cada característica produtiva considerada, mantendo-se as demais nos seus valores originais.
23
Tabela 7 - Impacto anual de 1,0% de melhoramento genético expresso por vaca por lactação
para o Sistema de Produção de Leite a pasto com Gado Mestiço da Embrapa Gado de Leite,
levando-se em conta as formas de pagamento do leite adotado pelas duas empresas.
Características
Impacto anual no rebanho (R$)
Empresa 1 Empresa 2 Combinação
Empresa 1 e 2
Leite 10,22 10,23 10,53
Gordura 0,12 -8,47 0,59
Proteína 7,73 2,29 12,93
Como pode ser observado na Tabela 7, há maior impacto econômico visando à
seleção para aumentar o volume do leite, mesmo havendo valorização para os seus
componentes. Além disso, verifica-se que o sistema de pagamento no país ainda é arbitrário,
sendo que o produtor de leite pode ter uma lucratividade bem menor dependendo do sistema
de pagamento adotado pela empresa receptadora.
Devido às diferentes formas de pagamento do leite adotado pelas diferentes
indústrias atuantes no país, estabelecer um objetivo de seleção para um programa de
melhoramento animal seria bastante difícil, pois cada empresa teria que desenvolver um
objetivo de seleção de forma que atenda as suas necessidades, o que seria inviável
economicamente.
Neste contexto, Bueno et al. (2004) e Madalena (2000b) verificaram que os índices
de seleção para o Rio Grande do Sul e Minas Gerais iriam favorecer os animais que
produzissem menores teores de gordura e de proteína, devido aos coeficientes negativos para
estes componentes. Os valores econômicos dos componentes do leite em países desenvolvidos
têm sido positivos e maiores para proteína, seguidos de valores menores para a gordura e
valores bem mais baixos ou negativos para o leite, devido ao sistema de quotas adotado pelos
países europeus (DEKKERS, 1991; VEERKAMP et al., 2002; GONZÁLES-RECIO et al.,
2004; WOLFOVÁ et al., 2007). Resultado semelhante foi encontrado neste estudo, exceto
para a produção de leite que teve valor econômico positivo.
De acordo com a metodologia empregada para o cálculo dos valores econômicos
(receita-despesa), as diferenças nos valores obtidos para os sistemas de pagamento das duas
24
empresas dependem dos preços dos componentes, já que os custos com alimentação foram
considerados iguais. É provável que existam certas diferenças nos custos de produção de uma
região para outra, mas considera-se que estas não venham a alterar, substancialmente, os
resultados (MADALENA, 2000a).
Os valores econômicos para o ECSL foram bastante expressivos e negativos (Tabela
6), refletindo a necessidade de serem incluídos como critério e/ou objetivo de seleção dentro
de um programa de melhoramento. Dessa maneira, a interpretação é diferente, pois o aumento
no ECSL torna o valor econômico mais negativo. O valor econômico negativo para esta
característica deve-se ao fato da indústria penalizar os produtores que fornecem leite com
altas contagens de ECSL, pois o aumento desta característica reflete em menor rendimento na
fabricação dos produtos lácteos e menor vida de prateleira dos produtos (MUNRO et al.,
1984; POLITIS e NG-KWAI-HANG, 1988; BARBANO, et al., 1991). Outro aspecto
relevante em relação às altas contagens de células somáticas no leite está relacionado a
questões de saúde pública, pois de acordo com Souza et al. (2004), à medida em que há
aumento da CCS no rebanho, aumenta a probabilidade de serem encontrados resíduos de
antibióticos no leite.
Segundo Prata et al. (2009) e Coldebella et al. (2004), o aumento da CCS também
provoca diminuição na produção de leite e seus constituintes, o que poderia contribuir para a
diminuição do lucro anual do rebanho. Não foram abordadas nesse estudo perdas econômicas
decorrentes do aumento da mastite sub-clínica nos rebanhos devido à morte do animal,
tratamento, perda de tetos e perda na produção, o que poderia elevar ainda mais o valor
econômico desta característica. Além das perdas causadas na produção pelo aumento na CCS,
com a implementação da IN 51, fica ainda mais importante incluir a CCS como objetivo de
seleção, pois haverá maior rigor para leite com alta CCS. Porém, atenção maior deve ser dada
a esta característica no processo seletivo, por ser uma característica que apresenta baixa
hedabilidade (0,09), fazendo com que seu ganho genético por meio da seleção seja pequeno
(CHARFEDDINE et al., 1997). Outro fator importante está relacionado a seleção intensa para
produção de leite, o que provocaria um aumento na ECSL, devido a correlação genética e
fenotípicas positivas e antagônicas entre ECSL e a produção de leite (Tabela 8). Existe
também uma correlação genética e fenotípica positiva do ECSL com a produção de gordura e
proteína (Tabela 8).
25
Tabela 8 - Coeficientes de herdabilidade (diagonal), correlações genéticas (acima da
diagonal) e correlações fenotípicas (abaixo da diagonal) para as características produção de
leite aos 305 dias (P305), produção de gordura (GOR), produção de proteína (PRO) e escore
de células somáticas (ECS), utilizados no cálculo dos índices de seleção.
Característica P305 GOR PRO ECS
P305 0,23 0,95 0,96 0,18
GOR 0,91 0,19 0,96 0,20
PRO 0,96 0,90 0,21 0,19
ECS 0,02 0,03 0,03 0,09
Estudar a inclusão da característica CCS como critério de seleção para redução da
mastite seria interessante, pois, apesar dessa característica ser um indicador de saúde da
glândula mamária, o produtor teria o seu rebanho monitorado para a incidência da mastite.
Estudar esta característica também como objetivo de seleção seria importante visando atender
os padrões de qualidade pré-estabelecidos pela IN 51.
Com os resultados obtidos no presente estudo verifica-se que a indústria tem
sinalizado para o pagamento pela qualidade do leite, principalmente pela proteína. Segundo
Madalena (2000a) o sistema de pagamento pela composição do leite constitui-se em poderosa
ferramenta para direcionar mudanças genéticas, porém uma correta definição dos objetivos de
seleção para todo o país é essencial para o direcionamento correto dos programas de
melhoramento no Brasil.
O sistema de pagamento do leite no Brasil é praticado com base nas porcentagens de
gordura e proteína e não por kg (Anexos 1 e 2). Segundo Dekkers e Gibson (1998), os
objetivos de seleção devem ser formulados com base nas quantidades de proteína e gordura
produzidas, e não nas suas porcentagens, por serem as quantidades dos produtos as
comercializadas, podendo, se necessário, ser facilmente traduzíveis em valores por
diferenciais. Os autores também chamaram a atenção para o fato de que, na aplicação dos
objetivos de seleção, deve haver interação completa entre os pesquisadores e a cadeia
produtiva agropecuária (laticínios, criadores, produtores e outros) para que todos os aspectos
do processo como, cenário futuro, reescalonamento da produção e forma de pagamento
utilizada pela indústria sejam compatíveis com a forma de expressar as características e
permitam que os princípios científicos sejam usados para obtenção de um ótimo econômico.
26
Em um futuro próximo, com pagamento diferenciado para características
relacionadas à qualidade do leite (gordura, proteína e CCS) poderão ser utilizadas em
programas de melhoramento para bovinos leiteiros no Brasil. No entanto, os produtores terão
que estar informados sobre as diversas ferramentas disponíveis para melhorar a qualidade do
leite e a lucratividade do rebanho através do melhoramento animal. Com isto, a escolha dos
touros poderá ser realizada baseando-se em índices de seleção que combinem estas quatro
características (leite, gordura, proteína e CCS), de modo a maximizar o ganho genético
econômico para os produtores de acordo com os objetivos de seus rebanhos.
Um fato importante a ser mencionado é que os valores genéticos das características
para os quais os valores econômicos foram obtidos (leite, gordura e proteína), encontram-se
disponíveis para os produtores no sumário brasileiro de touros da raça Gir Leiteiro, publicado
anualmente. Com isto, o produtor poderá praticar a seleção dos animais baseando – se em
seus respectivos valores econômicos.
A tendência da indústria em bonificar os componentes do leite (gordura, proteína), e
não apenas o volume de leite produzido como grande maioria dos laticínios parece ser
irreversível, e deverá aumentar nos próximos anos, especialmente se o país ingressar de forma
mais acentuada no processo de exportação do leite (leite in natura) e derivados lácteos
(principalmente leite em pó e queijos). Deste modo, os produtores terão que atentar
efetivamente para o seu aumento, especialmente com a proteína e gordura, quer seja pela
utilização de reprodutores com valores genéticos positivos para estas características, ou por
meio de um balanceamento mais adequado da dieta fornecida aos animais. As duas medidas
são recomendadas.
A análise de sensibilidade foi realizada promovendo-se mudanças em ± 25% e ±
50% no preço dos componentes da dieta e mostrou que estas mudanças provocariam
alterações nos valores econômicos (Tabela 9). A diminuição nos custos dos componentes da
dieta ocasionou o aumento da receita líquida para leite, gordura e proteína, resultando no
aumento dos valores econômicos destas características. Por outro lado, mudanças superiores a
25% no preço dos componentes da dieta fariam com que os valores econômicos para a
gordura ficassem negativos para as duas empresas estudadas e para a combinação entre elas,
indicando que os valores econômicos são sensíveis às mudanças no preço da dieta. Neste
caso, o aumento de 1,0kg desta característica por meio de seleção não seria capaz de provocar
27
uma diferença marginal positiva no lucro anual da fazenda, pois o seu custo de produção seria
superior ao preço de mercado.
Tabela 9 - Análise de sensibilidade dos valores econômicos para as características de
produção de leite (Leite), gordura (Gor) e proteína (Pro) para a situação inicial e após as
mudanças nos preços do leite e nos preços dos componentes da dieta em ± 25% e ± 50%.
Valores econômicos (R$)
Empresa 1 Empresa 2
Combinação
Empresa 1 e 2
Leite Gor Pro Leite Gor Pro Leite Gor Pro
Situação inicial
0,31 0,09 7,21 0,31 -6,99 2,14 0,32 0,49 12,06
Variação
(%) Mudanças no preço dos componentes da dieta
+25% 0,21 -1,22 6,44 0,21 -8,30 1,37 0,22 -0,82 11,92
-25% 0,41 1,41 7,98 0,41 -5,68 2,91 0,42 1,80 13,47
+50% 0,11 -2,53 5,66 0,11 -9,61 0,59 0,12 -2,13 11,15
-50% 0,51 2,72 8,75 0,51 -4,36 3,68 0,52 3,11 14,24
A proteína do leite também foi sensível às mudanças no preço dos componentes da
dieta, porém, seus valores econômicos permaneceram positivos. O fato da proteína não sofrer
grandes variações nos seus valores econômicos quando comparados com a gordura está
relacionado à quantidade de energia necessária para sua produção. Por exemplo, para o
presente trabalho, seria necessário 63,02% a mais de energia na dieta (Mcal) para produzir 1
kg de gordura, quando comparado com a produção de 1,0 kg de proteína.
Os valores econômicos devem ser calculados com base em preços futuros, já que o
melhoramento genético é orientado com vistas ao futuro, pois os reflexos das decisões
tomadas no presente serão observados somente quando o animal expressar seu potencial
produtivo. Uma das vantagens do uso de modelos bio-econômicos é a possibilidade de avaliar
facilmente o impacto de mudanças de cenários nos valores econômicos das características e
recalcular estes valores, assim que estas mudanças sejam estabelecidas. Segundo Amer et al.
(1994), os modelos bio-ecônomicos também podem ser utilizados para comparar diferentes
28
raças e cruzamentos sob diferentes condições de alimentação e manejo, bem como para
direcionar a direção para o progresso genético futuro.
Outras características relacionadas à conformação, saúde do úbere, longevidade,
características de parição e fertilidade, crescimento, ingestão de alimentos, peso da vaca e
etc., também poderiam ser incluídas como objetivos de seleção nos programas de
melhoramento no Brasil. Porém, existe uma falta de informações/dados suficientes para julgar
os impactos de diferentes alternativas de seleção no melhoramento animal no Brasil e seu
efeito sobre a lucratividade dos sistemas de produção, fazendo com que sejam ignoradas ou
até mesmo esquecidas durante o processo seletivo.
29
4.0 CONCLUSÕES
Características que apresentam impacto econômico positivo, como no caso do leite,
gordura e proteína e negativo no caso da CCS merecem ser consideradas como objetivos de
seleção dentro de um programa de melhoramento animal no Brasil, trazendo assim, ganhos
econômicos reais para o produtor.
Os valores econômicos positivos calculados para a produção de leite e seus
componentes indicam que a seleção para estas características seria economicamente rentável
para o produtor, justificando a sua inclusão como objetivos de seleção em programas de
melhoramento genético no Brasil.
O valor econômico para a gordura no leite foi inferior aos das demais características
produtivas e bastante diferenciado para os dois sistemas de pagamento estudados, indicando
que deve haver certa cautela por parte do produtor em dar ênfase para esta característica no
processo seletivo. Além disso, esse componente foi bastante sensível ao preço dos
componentes da dieta, uma vez que para sua produção é necessário uma maior ingestão de
energia pelo animal o que, consequentemente, aumentará os custos de produção.
A redução da contagem de células somáticas no leite implicaria no aumento do
ganho genético econômico para o produtor e para a indústria, merecendo atenção durante o
processo seletivo.
30
O modelo bio-econômico utilizado neste estudo foi bastante eficaz em estimar os
valores econômicos das características analisadas, pois foi capaz de prever as mudanças nos
parâmetros biológicos e no lucro anual da fazenda assim que foram estabelecidas.
31
5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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36
6.0 ANEXOS
Anexo 1 - Forma de remuneração do leite praticado pela Empresa 1.
Gordura* Proteína* CCS (x1000/ml)*
% Diferencial
R$ %
Diferencial
R$ CCS
Diferencial
R$ D**
<= 2,00 - 0,0500 <= 2,00 - 0,0500 <=200000 R$ 0,0300 D1
2,01 a 2,20 -R$ 0,0409 2,01 a 2,20 -R$ 0,0400 200001 a 225000 R$ 0,0263 D2
2,21 a 2,60 -R$ 0,0227 2,21 a 2,40 -R$ 0,0300 225001 a 250000 R$ 0,0225 D3
2,61 a 2,80 -R$ 0,0136 2,41 a 2,60 -R$ 0,0200 250001 a 275000 R$ 0,0188 D4
2,81 a 3,00 -R$ 0,0045 2,61 a 2,80 -R$ 0,0100 275001 a 300000 R$ 0,0150 D5
3,01 a 3,10 R$ 0,0000 2,81 a 2,90 -R$ 0,0050 300001 a 325000 R$ 0,0112 D6
3,11 a 3,20 R$ 0,0033 2,91 a 3,00 -R$ 0,0000 325001 a 350000 R$ 0,0075 D7
3,21 a 3,40 R$ 0,0100 3,01 a 3,10 R$ 0,0075 350001 a 375000 R$ 0,0037 D8
3,41 a 3,60 R$ 0,0167 3,11 a 3,20 R$ 0,0150 375001 a 400000 R$ 0,0000 D9
3,61 a 3,80 R$ 0,0233 3,21 a 3,30 R$ 0,0225 400001 a 450000 R$ 0,0000 D10
3,81 a 4,00 R$ 0,0300 3,31 a 3,40 R$ 0,0300 450001 a 500000 R$ 0,0000 D11
4,01 a 4,20 R$ 0,0366 3,41 a 3,50 R$ 0,0367 500001 a 550000 -R$ 0,0060 D12
4,21 a 4,40 R$ 0,0433 3,51 a 3,60 R$ 0,0433 550001 a 600000 -R$ 0,0120 D13
>= 4,41 R$ 0,0500 >= 3,61 R$ 0,0500 600001 a 650000 -R$ 0,0180 D14
- - - - 650001 a 700000 -R$ 0,0240 D15
- - - - >=700001 -R$ 0,0300 D16
*Preço base do leite mais acréscimo ou decréscimo de diferenciais.
**D=acréscimo ou decréscimo de diferencial para as classes de pagamento da contagem de
células somáticas.
37
Anexo 2 - Forma de remuneração do leite praticado pela Empresa 2.
Gordura* Proteína* CCS (x1000/ml)*
% Diferencial % Diferencial CCS Diferencial
R$ D*
<= 2,09 -R$ 0,0520 <= 2,09 -R$ 0,1017 <= 2000000 0,0400 D1
2,10 a 2,19 -R$ 0,0468 2,10 a 2,19 -R$ 0,0904 200001 a 300000 0,0200 D2
2,20 a 2,29 -R$ 0,0416 2,20 a 2,29 -R$ 0,0791 300001 a 400000 0,0100 D3
2,30 a 2,39 -R$ 0,0364 2,30 a 2,39 -R$ 0,0678 >= 400001 - 0,0200 D4
2,40 a 2,49 -R$ 0,0312 2,40 a 2,49 -R$ 0,0565 - -
2,50 a 2,59 -R$ 0,0260 2,50 a 2,59 -R$ 0,0452 - -
2,60 a 2,69 -R$ 0,0208 2,60 a 2,69 -R$ 0,0339 - -
2,70 a 2,79 -R$ 0,0156 2,70 a 2,79 -R$ 0,0226 - -
2,80 a 2,89 -R$ 0,0104 2,80 a 2,89 -R$ 0,0113 - -
2,90 a 2,99 -R$ 0,0052 2,90 a 2,99 R$ 0,0000 - -
3,00 a 3,09 R$ 0,0000 3,00 a 3,09 R$ 0,0000 - -
3,10 a 3,19 R$ 0,0000 3,10 a 3,19 R$ 0,0113 - -
3,20 a 3,29 R$ 0,0000 3,20 a 3,29 R$ 0,0226 - -
3,30 a 3,39 R$ 0,0052 3,30 a 3,39 R$ 0,0452 - -
3,40 a 3,49 R$ 0,0104 3,40 a 3,49 R$ 0,0565 - -
3,50 a 3,59 R$ 0,0182 3,50 a 3,59 R$ 0,0678 - -
3,60 a 3,69 R$ 0,0234 3,60 a 3,69 R$ 0,0735 - -
3,70 a 3,79 R$ 0,0286 3,70 a 3,79 R$ 0,0791 - -
3,80 a 3,89 R$ 0,0338 3,80 a 3,89 R$ 0,0848 - -
3,90 a 3,99 R$ 0,0364 3,90 a 3,99 R$ 0,0904 - -
4,00 a 4,09 R$ 0,0390 4,00 a 4,09 R$ 0,0961 - -
4,10 a 4,19 R$ 0,0416 >= 4,01 R$ 0,1017 - -
4,20 a 4,29 R$ 0,0442 - - - -
4,30 a 4,39 R$ 0,0468 - - - -
4,40 a 4,49 R$ 0,0473 - - - -
4,50 a 4,59 R$ 0,0478 - - - -
4,60 a 4,69 R$ 0,0484 - - - -
4,70 a 4,79 R$ 0,0489
Continua
38
4,80 a 4,89 R$ 0,0494 - - - -
4,90 a 4,99 R$ 0,0499 - - - -
>5,00 R$ 0,0504 - - - -
*Preço base do leite mais acréscimo ou decréscimo de diferenciais.
**D=acréscimo ou decréscimo de diferencial para as classes de pagamento da contagem de
células somáticas.
39
Anexo 3 - Combinação da forma de pagamento praticado pelas 2 Empresas.
Gordura* Proteína* CCS (x1000/ml)*
% Diferencial % Diferencial CCS Diferencial
R$ D*
< =2,00 - R$ 0,0500 < =2,00 - R$ 0,0500 <=200000 R$ 0,0350 D1
2,01 a 2,20 - R$ 0,0466 2,01 a 2,20 - R$ 0,0774 200001 a 300000 R$ 0,0205 D2
2,21 a 2,40 - R$ 0,0336 2,21 a 2,40 - R$ 0,0590 300001 a 400000 R$ 0,0065 D3
2,41 a 2,60 - R$ 0,0286 2,41 a 2,60 - R$ 0,0406 400001 a 500000 - R$ 0,0065 D4
2,61 a 2,80 - R$ 0,0167 2,61 a 2,80 - R$ 0,0226 500001 a 600000 - R$ 0,0090 -
2,81 a 3,00 - R$ 0,0067 2,81 a 3,00 - R$ 0,0041 600001 a 700000 - R$ 0,0210 -
3,01 a 3,20 R$ 0,0008 3,01 a 3,20 R$ 0,0085 >=7000001 - R$ 0,0300 -
3,21 a 3,40 R$ 0,0051 3,21 a 3,40 R$ 0,0301 - - -
3,41 a 3,60 R$ 0,0151 3,41 a 3,60 R$ 0,0511 - - -
3,61 a 3,80 R$ 0,0251 3,61 a 3,80 R$ 0,0675 - - -
3,81 a 4,00 R$ 0,0334 3,81 a 4,00 R$ 0,0776 - - -
4,01 a 4,20 R$ 0,0391 >= 4,01 R$ 0,0889 - - -
4,21 a 4,40 R$ 0,0448 - - - - -
4,41 a 4,60 R$ 0,0284 - - - - -
4,61 a 4,80 R$ 0,0486 - - - - -
4,81 a 5,00 R$ 0,0497 - - - - -
>=5,01 R$ 0,0504 - - - - -
*Preço base do leite mais acréscimo ou decréscimo de diferenciais.
**D=acréscimo ou decréscimo de diferencial para as classes de pagamento da contagem de
células somáticas.
40
Anexo 4 – Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido – Parâmetros do rebanho.
Anexo 5 – Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido – Parâmetros da dieta.
41
Anexo 6 – Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido – Requisitos (Situação Inicial).
Anexo 7 – Estrutura do modelo bio-econômico desenvolvido – Requisitos (Situação Final).