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PCT BRA/IICA/05/004
(PAN DESERTIFICAÇÃO)
Produto E: “Relatório de propostas de ações de combate à desertificação nas
ASD do Estado do Espírito Santo, considerando os sistemas de produção
agropecuários das ASD e visando a ampliação sustentável da capacidade
produtiva dessas áreas”.
Consultor: Francisley Lucas Correia
Novembro de 2011
Vitória - ES
INSTITUTO INTERAMERICANO DE
COOPERAÇÃO PARA AGRICULTURA
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Identificação
Consultor(a) / Autor(a): Francisley Lucas Correia
Número do Contrato: 110182, de 10/06/2010
Nome do Projeto: PAN Desertificação
Oficial/Coordenador Técnico Responsável: Gertjan B. Beekman
Data /Local: Agosto de 2011, Vitória
Classificação
Temas Prioritários do IICA Agroenergia e Biocombustíveis Sanidade Agropecuária
Biotecnologia e Biosegurança Tecnologia e Inovação
Comércio e Agronegócio Agroindustria Rural
Desenvolvimento Rural Recursos Naturais x
Políticas e Comércio Comunicação e Gestão do Conhecimento
Agricultura Orgânica Outros:
Modernização Institucional
Palavras-Chave: Desertificação, Propostas Estratégicas, Mudanças Climáticas, Sistemas Produtivos e Áreas
Susceptíveis a Desertificação.
Resumo
Título do Produto: “Relatório de propostas de ações de combate à desertificação nas ASD do Estado do Espírito
Santo, considerando os sistemas de produção agropecuários das ASD e visando a ampliação
sustentável da capacidade produtiva dessas áreas”.
Subtítulo do Produto:
Resumo do Produto: O presente documento apresenta propostas de ações de combate à desertificação nas ASD do
Estado do Espírito Santo, considerando os sistemas de produção agropecuários das ASD e
visando a ampliação sustentável da capacidade produtiva dessas áreas. Neste documento buscou-
se identificar as áreas prioritárias para implantação de sistemas alternativos de produção; avaliar
os sistemas agroflorestais (SAF’s) como ferramenta de combate à desertificação; as adequações
ambientais das propriedades rurais visando à conservação da água e do solo como estratégia de
combate à desertificação; avaliar a viabilidade de implantação de arranjos produtivos locais;
identificar tecnologias alternativas visando à ampliação sustentável da capacidade produtiva;
identificar diretrizes científicas e tecnológicas compatíveis à região e, por fim, definir estratégias
viáveis de ampliação da cobertura da Assistência Técnica no meio rural.
Qual Objetivo Primário do Produto? Propor estratégias/ações para o combate à desertificação nas ASD do Estado do Espírito Santo,
considerando os sistemas de produção agropecuários das ASD e visando a ampliação sustentável
da capacidade produtiva dessas áreas.
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Que Problemas o Produto deve Resolver? O principal problema a ser resolvido por este produto é a necessidade de propostas de estratégias
de enfrentamento para as questões referenciadas no eixo temático do PAN-Brasil: ampliação
sustentável da capacidade produtiva.
Como se Logrou Resolver os Problemas e Atingir os Objetivos? A princípio este produto servirá como texto-base para subsidiar os debates e as discussões dos
participantes das Oficinas do PAE-ES, com o apoio do Grupo de Trabalho Interinstitucional de
Combate à Desertificação (GTI-CD/ES).
Quais Resultados mais Relevantes? Os resultados mais relevantes são de fato as propostas para efetivação do Programa Estadual de
Combate a Desertificação – PAE-ES.
O Que se Deve Fazer com o Produto para Potencializar o seu Uso? Para potencializar o uso deste produto as demais etapas do projeto PAN Desertificação deverão
ser concretizadas e o programa de combate à desertificação de fato implementado.
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LISTA DE SIGLAS
ASD - Áreas Susceptíveis a Desertificação
ANA - Agência Nacional de Águas
ALBESA - Alcooleira Boa Esperança S/A
ALCON - Companhia de Álcool Conceição da Barra
APA - Área de Proteção Ambiental
APPs - Áreas de Preservação Permanente
BANDES - Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo
BNB - Banco do Nordeste do Brasil
CMDRS - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável
DISA - Conceição da Barra Usinas de Açúcar e Álcool e Biodiesel S/A
CRIDASA - Cristal Destilaria Autônoma De Álcool S/A
FETAES - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Espírito Santo
GTI-CD/ES - Grupo de Trabalho Interinstitucional de Combate à Desertificação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo
IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura
IFES - Instituto Federal do Espírito Santo
IGAM - Instituto Mineiro de Gestão da Águas
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MMA - Ministério do Meio Ambiente
PAE-ES - Programa de Ação Estadual de Prevenção e Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos da Seca do Espírito Santo
PAN-Brasil - Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PAIS - Produção Agroecológica Integrada Sustentável
PEDEAG - Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura
PIRH-DOCE - Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce –
PIRH/DOCE
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PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PEZEE-ES - Programa Estadual de Zoneamento Econômico Ecológico do Espírito Santo
SAF - Sistema Agroflorestal
SEAG - Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca
SEAMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SEDU - Secretaria de Estado da Educação
SEP - Secretaria de Estado de Economia e Planejamento
SETADES - Secretaria de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social
TCE - Tema de Concentração Estratégica
TDR - Termo de Referência
UC - Unidades de Conservação
UNCCD - Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1
2. PROPOSIÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA IMPLANTAÇÃO DE
SISTEMAS ALTERNATIVOS DE PRODUÇÃO...................................................... 2
3. AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF’S) COMO
FERRAMENTA DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO........................................ 3
4. ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS VISANDO À
CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E DO SOLO COMO ESTRATÉGIA DE
COMBATE À DESERTIFICAÇÃO............................................................................ 5
5. AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS.............................................................................................. 9
6. DIRETRIZES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS VISANDO
ALTERNATIVAS PARA AMPLIAÇÃO SUSTENTÁVEL DA CAPACIDADE
PRODUTIVA................................................................................................................ 11
7. DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS VIÁVEIS DE AMPLIAÇÃO DA
COBERTURA DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NO MEIO RURAL........................ 16
8. PROPOSTAS DE AÇÕES PARA A AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE
PRODUTIVAS DAS ASD............................................................................................. 17
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS......................................................................... 22
1
1 – INTRODUÇÃO
O presente documento vem apresentar propostas de ações de combate à desertificação
e mitificação dos efeitos da seca nas ASD do Estado do Espírito Santo, levando em
consideração os sistemas de produção agropecuários das ASD e visando a ampliação
sustentável da capacidade produtiva dessas áreas.
O documento que se segue, em princípio, buscou identificar as áreas prioritárias para
implantação de sistemas alternativos de produção que sejam capazes de ampliar de forma
sustentável a capacidade produtiva. Procurou-se avaliar os sistemas agroflorestais (SAF’s)
como ferramenta de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, além de propor
adequações ambientais para as propriedades rurais de modo a conservar a água e o solo, tendo
em vista que essas adequações propostas são estratégias de combate à desertificação.
Também se buscou analisar e avaliar a viabilidade de implantação de arranjos
produtivos locais como estratégia para o combate à desertificação, além de identificar e
pontuar tecnologias alternativas que sejam capazes de ampliar de forma sustentável a
capacidade produtiva nas ASD.
Por fim, o presente documento aponta diretrizes científicas e tecnológicas compatíveis
com as ASD e pontua estratégias viáveis para ampliação da cobertura da Assistência Técnica
no meio rural.
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2- PROPOSIÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA IMPLANTAÇÃO DE
SISTEMAS ALTERNATIVOS DE PRODUÇÃO.
A identificação das áreas prioritárias parte do princípio da urgência, da maior
necessidade, de um plano de trabalho que postule ações emergenciais para algumas áreas, em
detrimento, inicialmente, de outras menos afetadas. Entretanto, não se pode perder o foco
geral do programa e das condições em que estão inseridas as regiões norte e parte do noroeste
do Espírito Santo, ou seja, as denominadas Áreas Susceptíveis a Desertificação.
Fica claro que é uma urgência e, antes de se pensar na implantação de mudanças nos
sistemas de produção, se pressupõem medidas de ordem técnica, social e cultural naquelas
áreas onde os sinais da desertificação já se manifestam em caráter de maior gravidade.
Há que se estabelecer os diferentes estágios da trajetória da desertificação através do
uso de indicadores mais amplos e aqueles mais especificamente relacionados com os sistemas
de produção em todas estas áreas, pois, além das condições climáticas, o modelo tomado
como hegemônico nas ASDs também contribui para o processo de desertificação.
Para identificação das áreas prioritárias é necessário, ainda, um estudo mais detalhado
sobre as ASDs - será necessária a criação de um programa para identificação das áreas
prioritárias. A identificação de áreas prioritárias é o primeiro passo para a elaboração de
estratégias regionais e/ou mais localizadas para recuperação da capacidade produtiva. Ela
permite ordenar os esforços e os recursos disponíveis para elaboração de políticas públicas
que garantam a transição para sistemas sustentáveis de produção.
O processo de seleção das áreas e das ações tem que ser baseado em um estudo
multidisciplinar e com um processo participativo de tomada de decisão, onde as áreas e ações
serão definidas com a participação de técnicos e os mais diversos grupos da sociedade civil,
desde a sensibilização até a formação, passando pela construção de indicadores sócio-
ambientais e econômicos. O programa para definição das áreas tem que passar por algumas
linhas, objetivos e levantamento de informações:
1- Consolidar e atualizar as informações existentes sobre as ASDs:
a) Ambientais: domínios de solos, clima e relevo.
b) Levantamento e avaliação dos sistemas produtivos existentes para as diferentes
produções (café, gado, fruticultura, etc.) relacionados com as condições ambientais
do agroecossistema.
c) Atualizar o diagnóstico dos índices de desertificação.
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2- Classificar em níveis de sustentabilidade produtiva os agroecossistemas.
3- Identificar áreas prioritárias para a implantação dos sistemas alternativos de produção;
4- Identificar e avaliar a utilização dos sistemas alternativos de produção;
5- Promover a conscientização e participação dos atores envolvidos e da sociedade para o
sucesso do programa.
3 – AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF’S) COMO
FERRAMENTA DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO
Os sistemas agroflorestais, comumente denominados SAF’s, são formas de cultivo
múltiplos buscando a interação entre árvores e outras plantas manejadas para a produção
agrícola e/ou pecuária, otimizando o uso dos recursos naturais em um agroecossistema1 para
uma produção mais sustentável. Através dos SAF’s criam-se diferentes estratos ou andares
vegetais, procurando imitar uma floresta natural, onde as árvores e/ou arbustos, pela
influência que exercem no processo de ciclagem de nutrientes, da água e do aproveitamento
da energia solar, são considerados os elementos estruturais básicos e principais para a
estabilidade do sistema.
A produção através dos SAF’s pode contribuir para a solução de problemas no uso dos
recursos naturais pelas funções biológicas e socioeconômicas que esses sistemas podem
cumprir, possuindo uma grande aplicabilidade em áreas com atividades agrícolas e pecuárias.
Vários pesquisadores têm afirmado que esses sistemas de cultivo responderiam em grande
parte aos problemas de desmatamento e degradação de diferentes ecossistemas, pela maior
diversificação da produção e também pela possibilidade de poderem configurar as áreas de
Reserva Legal das propriedades, ou seja, conforme os objetivos do Código Florestal
Brasileiro, podem ser enquadrados ou aceitos para fins de adequação ambiental, desde que se
priorizem as espécies nativas da região.
Os SAF’s, pela aproximação aos ecossistemas naturais em estrutura e diversidade,
representam um grande potencial para a restauração de áreas e ecossistemas degradados,
possuindo vários estudos comprovando a eficácia desses sistemas quando planejados e
implantados adequadamente, permitindo o retorno da produção em áreas exauridas e
consideradas improdutivas, pela melhoria das condições físicas e da fertilidade do solo, dada a
1 O termo agroecossistema refere-se ao ecossistema que é manejado pelo homem com a finalidade de produção
agrícola ou pecuária incluindo as dimensões ecológicas, sociais e culturais.
4
constante reposição de matéria orgânica, bem como o aumento da atividade biológica daí
advinda, gerando um amplo incremento na biodiversidade (meso e microfauna e microflora).
Essa aproximação aos ecossistemas naturais, além de contribuir com uma maior
produção, garante ao agroecossistema maior resiliência ecológica, ou seja, maior estabilidade
e capacidade de resistir aos choques externos e as variações climáticas, sem comprometer sua
integridade e o seu potencial produtivo. Essa maior estabilidade é de grande pertinência ao se
considerar as dificuldades de produção nas áreas suscetíveis a desertificação, sendo um
diferencial para ampliação sustentável da capacidade produtiva, além das vantagens elencadas
a seguir.
Considerando os diferentes fatores que envolvem um agroecossistema, os SAF’s em
termos gerais apresentam vantagens ecológicas, econômicas e sociais em relação à agricultura
convencional (CONSTANTIN, 2005; MAY e TROVATTO, 2008).
Ecológicas, por promover a melhoria e conservação do solo e da água, do micro clima
para as plantas e animais, proporcionando maior estabilidade contra intempéries, além de
garantir a redução da erosão pela maior cobertura do solo e pela manutenção de vários
extratos vegetais; por promover também a melhoria do solo, desde suas propriedades físicas e
químicas até biológicas; por diminuir a demanda de insumos externos, dispensando o uso de
agroquímicos; por proteger as culturas contra pragas e doenças, pelo aumento da
biodiversidade.
Econômicas, porque otimizam a produção e proporcionam a obtenção de produtos
agrícolas e florestais variados na mesma área, aumentando assim a renda líquida por unidade
de área da propriedade e diminuindo os riscos em relação à produção e às oscilações de
preços; porque diminuem os custos de implantação e manutenção, por menor necessidade de
insumos externos.
Sociais, porque distribuem a mão-de-obra ao longo do ano e diminuem o êxodo rural;
porque diversificam a produção e promovem maior segurança alimentar com alimentos de
qualidade para as famílias; também melhoram as condições de trabalho, pois, além de não
utilizar produtos tóxicos, o trabalho é realizado à sombra, com melhor desempenho e menor
cansaço; melhoram, ainda, a qualidade de vida do produtor, já que permitem uma produção
mais sustentável econômica, social e ambientalmente aos produtores rurais.
Conforme os mesmos autores, esses sistemas também podem apresentar algumas
desvantagens, principalmente em anos iniciais de implantação, pois os conhecimentos das
5
relações entre plantas e das exigências de muitas espécies ainda são limitados, poucos
agricultores cultivam espécies florestais e muitos não conhecem os SAF’s.
O manejo em geral é mais complicado quando comparado a outros sistemas de
cultivos, e os custos de implantação dos SAF’s podem ser elevados se as mudas precisarem
ser compradas; a mecanização é mais difícil, sendo pouco recomendado o uso dos
equipamentos e máquinas atuais, precisando-se buscar alternativas; e, mesmo havendo uma
maior produtividade, a produção por espécie é menor e mais diversificada, tornando a
comercialização mais difícil.
Analisando-se as vantagens e desvantagens desses sistemas observa-se claramente que
os benefícios dos SAF’s são muitos frente às dificuldades na adoção desses sistemas. Deve-se
considerar também que os benefícios, quer sejam de ordem social, ambiental ou econômica,
não atingem tão somente os agricultores, mas a sociedade em geral, principalmente pela
contribuição na melhoria do meio ambiente, recuperação das áreas degradadas, diminuição de
agroquímicos e aumento na oferta de alimentos, quando comparados à agricultura
convencional.
Ainda, observa-se que as desvantagens supracitadas podem ser superadas através das
políticas públicas já existentes, sendo fundamental o papel da Assistência Técnica e Extensão
Rural – ATER, através dos órgãos públicos como o INCAPER, para orientação da
implantação e manejo dos SAF’s; acesso ao PRONAF, para o financiamento da implantação
dos SAF’s em áreas degradadas ou para realizar a transição da agricultura convencional para
sistemas agroecológicos/orgânicos e, por fim, o acesso a programas como o Programa de
Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, que
garantem a comercialização.
4 – ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS VISANDO À
CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E DO SOLO COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE À
DESERTIFICAÇÃO.
As práticas agrícolas sofreram grandes mudanças a partir de 1966; estas mudanças
foram fomentadas pela Revolução Verde que, em pouco tempo, implementou novas técnicas
na agricultura. Essas transformações se deram através dos “pacotes tecnológicos”, com a
promessa de trazer o desenvolvimento para a agricultura, alcançando altos níveis de
produtividade, visando “acabar com a fome no mundo”. Os pacotes eram compostos por
6
insumos agrícolas modernos (fertilizantes químicos e agrotóxicos), máquinas, equipamentos e
implementos. Esse pacote foi pensado em nível global e não considerava as especificidades
regionais.
Este modelo de altos índices produtivos, porém não sustentáveis ao longo do tempo,
deixou conseqüências ambientais graves como a diminuição da capacidade produtiva dos
solos, salinização e contaminação dos solos, erosão, diminuição da biodiversidade, baixa
retenção de água no solo, contaminação das águas, entre outros. Essa degradação ambiental
gerou impactos fortes sobre os microclimas, períodos de chuva com maior intensidade e
períodos de seca mais severos, por exemplo.
Se a ocupação das terras com vocação agrícola se estabeleceu como uma necessidade
do crescimento econômico e populacional, a destruição das matas ciliares não se fez e faz
unicamente sob o império da necessidade, mas sim em função do desrespeito ou ignorância
para com as leis que visam manter áreas destinadas à preservação de recursos críticos à
sociedade, tais como as águas.
Os efeitos da degradação do solo, da poluição das águas, e de muitos outros tipos de
danos ambientais, assim como o aumento da consciência da população sobre a sua
dependência do meio ambiente, em relação aos recursos naturais e a qualidade de vida,
levaram nas últimas décadas a revisão, criação e ampliação de uma legislação disciplinadora
do uso do ambiente, a legislação ambiental.
Mesmo com a existência da legislação ambiental, exemplo da Lei 4.771 de 1965, que
instituiu o Código Florestal Brasileiro, a cobertura florestal foi drasticamente reduzida. O
Código Florestal Brasileiro cria importantes mecanismos de conservação que são as Áreas de
Preservação Permanente e Reserva Legal. Dentre as APP estão as nascentes e matas ciliares,
importantíssimas para o equilíbrio hídrico do microclima.
A recuperação das áreas florestais é estratégica para o aumento da disponibilidade de
água no agroecossistema. Diversos estudos apontam que cultivos (lavouras) próximos às áreas
com florestas tem se mostrado mais resistentes e com menor queda de produção em períodos
de seca. Este efeito é decorrente do microclima criado pela cobertura florestal.
Assim sendo, é notório que o cumprimento da legislação ambiental e
consequentemente a manutenção das áreas de Reserva Legal, das APP, somado a produção
dentro de critérios da sustentabilidade e da adoção de práticas agrícolas sustentáveis, tanto
para os processos produtivos como também para a conservação dos solos, são atitudes
7
primordiais quando se pensa na elevação da capacidade produtiva das ASD: se estas passam a
ser adequadas ambientalmente, gerarão condições de garantir a sustentabilidade dos
empreendimentos e do meio ambiente como um todo, não só para esta como também para as
gerações vindouras.
Quando se pensa em adequação ambiental das propriedades para conservação da água
e do solo, deve se planejar através da micro-bacia hidrográfica, priorizando-se a recuperação
de nascentes e matas ciliares bem como o aumento da cobertura florestal e recuperação das
áreas de reserva legal.
Diante do acima exposto, é valido ressaltar que para Rodrigues & Gandolfi (2004), a
recuperação de ecossistemas degradados é uma atividade muito antiga, podendo-se encontrar
exemplos de sua existência na história de diferentes povos, épocas e regiões. No entanto, até
recentemente, ela se caracterizava como uma atividade sem vínculos estreitos com
concepções teóricas, sendo executada normalmente como uma prática de plantio de mudas,
com objetivos muito específicos. Só recentemente a recuperação de áreas degradadas adquiriu
o caráter de Área do Conhecimento, sendo denominada por alguns autores como Restauração
Ecológica.
As ações de adequação ambiental das propriedades rurais visando à conservação da
água e do solo como estratégia de combate à desertificação devem seguir alguns eixos como:
Recuperação das Matas Ciliares:
As matas ciliares, entre outros papéis ecológicos, atuam na contenção de enxurradas,
na infiltração do escoamento superficial, na absorção do excesso de nutrientes, na retenção de
sedimentos e agrotóxicos, colaboram na proteção da rede de drenagem e ajudam a reduzir o
assoreamento da calha do rio, favorecendo o aumento da capacidade de vazão durante a seca.
Essas matas fornecem, ainda, matéria orgânica para as teias alimentares dos rios, troncos e
galhos que criam micro habitats dentro dos cursos d´água e protegem espécies da flora e
fauna. Diante do exposto, fica evidente a importância da recuperação das matas ciliares.
Regularização ambiental das propriedades:
Neste eixo tem-se que fazer o levantamento das propriedades para restauração das
áreas degradadas, definindo-as tecnicamente e garantindo o sucesso da restauração,
procurando desenvolver as técnicas a um custo baixo. É fundamental que o Estado, nas suas
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diversas esferas, crie um amplo e massivo programa de incentivo à regularização ambiental
concomitantemente com um programa de regularização fundiária, de forma a “legalizar” as
ações de interesse não apenas das famílias, mas de toda a sociedade.
Recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP):
São áreas prioritárias para a preservação, e essas áreas são fundamentais na
conservação dos solos e dos recursos hídricos, devendo o PAE-ES priorizar a recuperação das
nascentes e matas ciliares tendo como unidade de planejamento as micro-bacias hidrográficas.
Outros estados como o Paraná, por exemplo, já implementaram, na década de oitenta,
programas de recuperação de APP’s com resultados exitosos e crescentes.
Regularização da Reserva Legal:
Dar incentivo/subsídio aos produtores para regularizarem suas áreas de Reserva Legal,
fazendo a averbação, deve ser uma ação inicial do Estado para facilitar e baratear este
processo. Estas áreas são menos restritivas, no aspecto produtivo, que as APPs, portanto
passíveis de manejo; ao criar mecanismos que estimulem a recuperação progressiva destas
áreas estar-se-á vinculando a geração de renda através do manejo sustentável das reservas
legais, o que a tornam mais atrativa ainda para as famílias.
A utilização dos Sistemas Agroflorestais para estas áreas é uma ferramenta essencial,
articulando-os com os programas já existentes no Estado, por exemplo Corredores
Ecológicos, ProdutorES de Águas, Florestas para a Vida e outros.
Adoção de Práticas Agrícolas Sustentáveis:
Na implementação dos processos de conservação dos solos e da água é preciso que,
além das propriedades estarem regularizadas ambientalmente, se busque a mudança do padrão
tecnológico de produção, baseado nas tecnologias e técnicas da revolução verde. É necessário
que se busquem formas (conforme ações supracitadas) para a implantação de programas de
transição para a agroecologia, que se baseia em técnicas sustentáveis de produção, para que o
agricultor dependa menos de insumos externos e busque a construção do equilíbrio ecológico
de seu agroecossistema.
O primeiro passo para se pensar nesta transição requer um olhar mais apurado sobre as
formas de manejo adotadas de forma participativa em que, à medida que são diagnosticadas
9
juntamente com suas consequências, sejam fomentados processos reflexivos das famílias que
servirão de bases para o planejamento das ações, tanto em nível de suas propriedades quanto
da micro bacia. Os agricultores precisam dispor das técnicas de uso e conservação dos solos,
conservação e manejo da água, avançar para sistemas de irrigação mais eficientes,
diversificação de culturas, erradicação do uso dos agrotóxicos e substituição por compostos
naturais, etc.
Desenvolvimento de Processos de Educação ambiental:
O processo de educação ambiental deve ser transversal aos outros eixos - ele deve
reafirmar as ações colocadas pelos mesmos. A educação ambiental deve ter um caráter
massivo, realizando atividades que venham a fortalecer a incentivar as ações tanto de
regularização ambiental quanto de transição para as boas práticas agrícolas.
Deve debater as propriedades rurais não só como unidades produtivas, mas também
como espaço social de reprodução da vida, onde diversas pessoas constroem as suas vidas
nestes locais. Este processo deve ser desencadeador de uma mudança de atitudes a partir da
conscientização não apenas das pessoas que vivem no espaço rural como também daquelas
que habitam as cidades. A educação ambiental deve atingir todas as idades, porém, precisa ser
ministrada de maneira seqüencial e complementar, desde a mais tenra idade até o ciclo
universitário do ensino formal.
Tendo em vista o cenário de ocupação desordenada do solo capixaba e em especial das
ASD, muitas propriedades se encontram em situação irregular frente à legislação ambiental
vigente. Com o simples cumprimento da legislação um grande avanço será dado com relação
ao processo de recuperação de áreas degradadas, bem como da restauração de remanescentes
florestais perturbados.
No entanto, sabe-se que o Código Florestal Brasileiro está prestes a sofrer
modificações que poderão colocar ainda mais em risco as ASD. Ainda é tempo da sociedade
organizar e exigir sua participação com informação, conhecimentos e um amplo debate, de
forma que as adequações a legislação referida sejam atualizações que venham ao encontro dos
debates sobre os temas Desertificação e Mudanças Climáticas, e não para agravar ainda mais
o quadro decorrente destes dois fenômenos naturais.
10
5 – AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS
No que diz respeito a ações capazes de colaborar com a ampliação sustentável da
capacidade produtiva, de modo geral, pode-se dizer que o PEDEAG aponta iniciativas nesta
direção, porém coloca para o Estado o papel de organizador da demanda do setor
agroindustrial, a exemplo da implantação dos Pólos de Fruticultura expressos no zoneamento
agrícola que está desenhado a partir da localização das empresas do setor.
Desta forma, o modelo de agricultura propagado por este documento está calcado na
Revolução Verde e Biotecnológica, o que é totalmente contraditório quando se pensa em
ações de mitigação dos efeitos da seca e desertificação. Ampliar a produção sim, mas em que
bases tecnológicas? Aquelas que favorecem o meio ambiente ou aquelas que o degradam?
O Espírito Santo é um dos únicos estados brasileiros que até então não tem
Zoneamento Agrícola e Climático, e por esse motivo o Estado também é um dos únicos que
não acessam os recursos do seguro de Garantia de Safra para a agricultura familiar -
mecanismo importante para garantir os recursos na cadeia dos arranjos produtivos.
Na implantação dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) deve-se avaliar os atores
sociais envolvidos (os grupamentos), a caracterização das empresas de atuação local e definir
as melhorias necessárias tanto do ponto de vista de infraestrutura, da logística e dos aspectos
sócio-organizativos.
Do ponto de vista recorrente, os APL’s pressupõem apoio ao conjunto de segmentos
envolvidos no arranjo produtivo para garantir ganhos de produtividade coletivos. Prevê-se
também a realização de estudo de viabilidade econômica deste “conjunto”, bem como o
acompanhamento técnico para o desenvolvimento destes arranjos. Assim deve-se ter
capacitação, garantia do desenvolvimento dos fornecedores, garantia de compra, etc.
Segundo o BNDES (2000), o programa de desenvolvimento dos Arranjos Produtivos
deve ter:
Um conjunto de metas e ações a serem alcançadas;
Acompanhamento e avaliação das empresas;
Participação de Entidade Técnica;
Mecanismo para aceleração do processo de introdução de inovações e de
utilização de tecnologias;
Mecanismos de Desenvolvimento Social;
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Mecanismos para Preservação do Meio Ambiente;
Melhoria da infraestrutura.
No Estado do Espírito Santo, o PEDEAG aponta, além do café, os Pólos de Frutas
localizados mais ao norte do estado como prioritários. Estes últimos foram criados, conforme
dito, com o objetivo de satisfazer a demanda de matéria prima gerada pala indústria Sucos
Mais; já no sul do Estado, para a Nutris, uma das esmagadoras e fornecedoras da “Sucos
Mais”.
Porém, esses pólos frutícolas são difundidos em uma perspectiva de desenvolvimento
e de modernidade totalmente ligados à lógica da agricultura convencional, o que de certa
forma vem de contraponto ao modelo sustentável de produção.
A viabilidade de arranjos produtivos pode ocorrer através da indução das pequenas
experiências existentes nas ASD, com aporte de recursos focado na agroindustrialização dos
produtos, com peso para agregação de valor ao que já é comercializado conforme a vocação
regional. Sabe-se que existem diversas iniciativas isoladas, porém devem ser aprimoradas
(desenvolvidas).
O desenvolvimento das iniciativas de beneficiamento de produtos tem uma grande
viabilidade, pois os recursos financeiros necessários não são de ordem muito grande e trazem
resultados concretos no aumento de renda e incentiva a organização das comunidades.
É comum escutar no meio rural a frase “produzir não é o problema, o grande gargalo é
a comercialização”. Desta forma, é essencial investir em canais de comercialização. Como
muitos produtores não conseguem beneficiar seus produtos ou, quando beneficiam, sentem
dificuldades de comercializar, acabam aderindo aos meios já consolidados de produção e
comercialização, ou seja, vendem a matéria-prima a atravessadores ou investem em mercados
com compra garantida, porém a preço baixo.
No caso da Agricultura Familiar, nota se a necessidade de priorizar as cadeias de
circuito curto de comercialização como as feiras livres, os mercados PAA e PNAE, através de
investimentos e subsídios que garantam estruturação da produção e beneficiamento em bases
agroecológicas, além da melhoria do transporte, armazenagem e comercialização direta.
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6 – DIRETRIZES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS VISANDO ALTERNATIVAS
PARA AMPLIAÇÃO SUSTENTÁVEL DA CAPACIDADE PRODUTIVA
O surgimento da agricultura é de aproximadamente 10.000 anos atrás e “passando por
processos lentos e de forma evolucionária, e não revolucionária” (FAGUNDES, 2006 p. 16)
os sistemas agrícolas complexos evoluíram em diferentes partes do mundo com altas taxas de
produtividade, utilizando-se de tecnologias que respeitavam os ecossistemas de origem.
Deste processo lento a agricultura foi incorporando o processo de mecanização e
industrialização tornando-a cada vez mais dependente e insustentável. Cortez ([200-]) afirma
que o modelo de agricultura pré-industrial perdurou hegemonicamente até meados do século
XX.
Nessa época a maior parte da população morava no campo, tendo uma agricultura de
subsistência com produção diversificada, baseada na venda e troca de excedentes, força de
trabalho braçal e pequenos equipamentos de tração animal. A partir do momento em que a
agricultura começou a se industrializar, e com o avanço da Revolução Verde após a Segunda
Guerra Mundial, houve a grande transformação da agricultura.
Com a denominada “Revolução Verde” e a sua âncora, que foi a modernização da
agricultura, intensificou–se a penetração do capitalismo no campo, tendo como fundamento a
maximização produtiva usando os recursos naturais para a “maximização dos lucros”, sem
preocupação nenhuma com os efeitos da tecnologia empregada sobre o ambiente, com a
justificativa da necessidade do abastecimento alimentar das populações e de acabar com a
fome no mundo.
Segundo Caporal e Costabeber (2007) mesmo com a difusão de pacotes tecnológicos,
não aconteceram os esperados aumentos nos rendimentos físicos da agricultura. Estudos da
EMBRAPA mostram que no período de 1974 a 1979, a produtividade dos 15 principais
cultivos do Brasil cresceu apenas 16,8%. No mesmo período, aumentou o consumo de
fertilizante em 124,3%, de inseticidas em 233,6%, de fungicidas em 584,5%, de herbicidas em
5.414,2% e de tratores em 389,1%. Tratava-se – e ainda perdura - de um modelo baseado na
Matriz Energética baseada no petróleo - recurso não renovável e diretamente ligado ao
processo de mudanças climáticas, conforme dito anteriormente. Para Paulos, Müller e
Barcellos (2000) a incorporação dessas tecnologias (da revolução verde), foram
13
implementadas de forma inadequada, pela própria natureza das tecnologias introduzidas,
gerando impactos altamente negativos, sociais e sobre o meio físico. Um dos indícios da insustentabilidade da agricultura convencional apontado por
Rosset (2006) é que, no período pós-guerra, o que caracteriza a crise e a redução do número
de agricultores nos EUA, quando 3 milhões de agricultores saíram do meio rural, são as
razões econômicas, e não especificamente as razões ecológicas. Os agricultores estão em
direção a uma situação de insolvência, ocasionada pelos custos cada vez mais altos da
tecnologia moderna, o que faz com que parcela significativa de suas receitas seja consumida
para manter a produção e o padrão tecnológico.
Goodman e Redccliift 1991 apud Rosset (2006) mostram que historicamente o capital
tem se apropriado dos elementos do processo produtivo, fazendo assim uma inversão na
agricultura tornando-a dependente de insumos e equipamentos, ou seja, substituindo os
mecanismos naturais de controle de pragas pelo uso de agrotóxicos, a fertilidade natural do
solo pela aplicação de adubos químicos, e assim sucessivamente.
As conseqüências ambientais desta agricultura moderna baseada num modelo
altamente energético e dependente, são enormes e logo diminuíram os rendimentos de
produção. Altieri (1995), explica que este processo se deve a fatores como a degradação das
terras mediante erosão do solo, compactação, diminuição da fertilidade natural do solo,
salinização, esgotamento das águas do subsolo, desmatamento e desertificação, como o
aparecimento de pragas derivadas da generalização da monocultura.
O relatório das Nações Unidas para o Meio Ambiente cita que a humanidade consome
20% acima da capacidade de reprodução da biosfera, com um déficit que vem aumentando em
torno de 2,5% ao ano. Ainda temos o processo de desertificação que consome anualmente 60
mil Km² e as perdas das florestas tropicais em torno de 150 mil Km² por ano. (FAGUNDES,
2006).
É urgente a necessidade de mudança para meios de produção sustentáveis que
respeitem as características do ecossistema, bem como as das populações locais, como a sua
cultura, seus conhecimentos e as suas formas de interação com o ambiente. No âmbito da
produção rural, devemos procurar métodos que garantam não só a continuidade e aumento da
produção e produtividade, mas que também elevem a renda daqueles que estão em situação de
risco social.
14
Ao se buscar as alternativas, autores como Caporal, Altieri e Guzmán colocam que não
se deve propor modelos alternativos que não sejam capazes de garantir níveis de produção e
produtividade agrícola semelhantes ao do atual modelo. Ao mesmo tempo as mudanças não
podem e não devem ser abruptas, sob o risco de diminuições drásticas das produtividades. Há
que se pensar os processos de transição, tomando o maior número de alternativas já
desenvolvidas e comprovadas cientificamente que, juntadas ao conhecimento das realidades
locais, passem por um amplo processo de experimentação para que sejam adaptadas a tais
situações.
Caporal e Costabeber (2007) apontam para uma inversão no que se refere à base
produtiva: em vez de monoculturas produzidas através de elevados aportes de insumos
químicos e mecânicos, a agricultura sustentável se afirma numa maior diversificação de
culturas, integração de agricultura pecuária, rotação de cultivos, fertilização orgânica do solo,
reciclagem de nutrientes, controle biológico de pragas, diminuição de gasto de energia
externa, eliminação do uso de agroquímicos, incremento de biodiversidade, entre outras
práticas que vão na direção da sustentabilidade do agroecossistema.
Gliessman (2001) destaca a preservação da produtividade em longo prazo como uma
saída para alcançarmos a produção sustentável de alimentos; para isso se faz necessária a
utilização de praticas agrícolas alternativas, orientadas em conhecimento profundo dos
processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e com o contexto com que elas se
relacionam - assim caminhamos em direção às mudanças socioeconômicas que promovem a
sustentabilidade de todo o sistema alimentar.
Diversas organizações não governamentais, na década de oitenta, a partir de avaliações
dos insucessos dos projetos de “ajuda” (AID) a populações rurais nos países
subdesenvolvidos, perceberam que grande parte se devia ao fato de que não se levavam em
consideração as especificidades locais, muito menos o conhecimento autóctone ou local. Em
resposta ao despejo de conteúdos, à negação deste conhecimento e ao conjunto de saberes,
crenças e valores locais, as tecnologias eram implantadas parcialmente ou eram abandonadas.
No bojo destes saberes estava a expressão dos processos ecológicos locais e suas diversas
implicações.
Para Altieri (2005), os elementos decisivos de um agroecossistema sustentável seriam
níveis moderados, porém sustentáveis, de produtividade: a estratégia e a sustentabilidade
ecológica de longo prazo em lugar da produtividade de curto prazo. Assim, seria necessário
15
seguir alguns princípios como: a) Reduzir o uso de energia e recursos tendo uma alta relação
produção investimento; b) reduzir a perda de nutrientes, diminuir a erosão, melhorar a
ciclagem de nutrientes usando leguminosas e adubação orgânica, compostagem e outros
mecanismos de reciclagem de nutrientes; c) utilização de cultivos da região adaptados ao
contexto socioambiental e econômico; d) uma produção sustentada mediante a minimização
de degradação do solo; e) diminuir os custos aumentando a eficiência e a viabilidade
econômica de granjas de pequeno e médio tamanho, promovendo sistemas agrícolas
diversificados e flexíveis.
São estes princípios que garantiram durante séculos a segurança alimentar de
civilizações populacionalmente já consideradas grandes, como a dos Incas, Astecas, Maias,
Hindus. O processo de substituição dos conhecimentos como elemento primordial da
dominação dos colonizadores fez com que tais conhecimentos praticamente desaparecessem,
denotando o fenômeno chamado de Erosão Cultural.
Embora estejam comprovadas cientificamente, as tecnologias elencadas pelos autores
não devem ser encaradas como um modelo, pois a agricultura sustentável ou a agroecologia
não é um modelo ou pacote a ser repassado aos agricultores e sim um processo de
aprendizagem, aonde o agricultor é o sujeito das ações a serem desenvolvidas e não mero
receptor de tecnologias.
Gliessman (2001), tomando como base os conhecimentos presentes, sugere que uma
agricultura sustentável siga os seguintes caminhos: efeitos negativos mínimos no meio
ambiente, não liberação de substâncias tóxicas ou nocivas no ambiente; manutenção da saúde
ecológica do solo, conservação da água de maneira que satisfaça as necessidades hídricas do
ambiente e das pessoas; dependência principalmente de recursos de dentro do
agroecossistema; valorização e conservação da diversidade ecológica e igualdade de acesso
às práticas, conhecimento e tecnologias agrícolas adequadas, além do controle local dos
recursos agrícolas.
Conway e Barbier apud Caporal e Costabeber (2007) colocam um fator
importantíssimo que deve ser considerado na relação de sustentabilidade que é a equidade,
distribuição eqüitativa da produtividade do sistema agrícola entre os beneficiários humanos. A
agricultura sustentável é um processo e não o ponto final; mais do que um conjunto de
técnicas, a sustentabilidade agrária deve ser vista como o enfoque de se buscar um balanço
entre os ótimos agronômicos, ambientais e sociais. No entanto, o modelo de agricultura
16
convencional é extremamente concentrador de terras e de riquezas, gerando problemas sociais
gravíssimos. Este modelo desterritorializa povos e tem no cerne da disputa dos territórios o
controle dos recursos naturais como matéria prima e fonte de lucros.
Com a insustentabilidade do modelo de agricultura hegemônico, há muito o homem
vem tentando formular estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente, capazes de
proteger os recursos naturais e torna-los duráveis no tempo. Em muitos países foram surgindo
estas agriculturas alternativas, sob diferentes denominações: orgânica, biológica, natural,
ecológica, biodinâmica, permacultura, entre outras, cada uma seguindo determinadas
filosofias e princípios, tecnologias e normas, conforme as correntes que estavam inseridas.
(Caporal e Costabeber 2007).
Portanto, é fundamental que se invista recursos em pesquisa, divulgação e validação
dessa nova abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola. Para Gliesman (2001),
uma abordagem e desenvolvimento que “se baseie sobre os aspectos de conservação dos
recursos da agricultura tradicional local, enquanto se exploram métodos e conhecimentos
ecológicos modernos...”.
“A partir dos princípios ensinados pela agroecologia passaria a ser estabelecido um
novo caminho para a construção de agriculturas de base ecológica ou sustentáveis”
(CAPORAL E COSTABEBER, 2007 p. 8). A perspectiva de futuro dada ao tempo verbal por
estes autores refere-se notadamente à perspectiva de escala uma vez que a agroecologia
enquanto forma de produção sustentável tem a idade da atividade agrícola; enquanto ciência é
mais recente e, enquanto práticas capazes de mudar o quadro da desertificação e das
mudanças climáticas já possui inúmeras experiências exitosas pelo Brasil e pelo mundo afora,
ao ponto de recentemente a FAO reconhecer o seu potencial e a sua capacidade já
demonstrada de superar, além destes fenômenos, a pior crise alimentar, em escala, pela qual
vem passando a humanidade nos ditos “tempos modernos.”
A citação abaixo demonstra a Agroecologia como diretriz científica para a elaboração
tecnologias compatíveis com as regiões:
“A agroecologia se consolida como enfoque cientifico na medida em que este
campo de conhecimento se nutre de outras disciplinas cientificas, assim como de
saberes, conhecimentos e experiências dos próprios agricultores, o que permite o
estabelecimento de marcos conceituais, metodológicos e estratégicos com maior
capacidade para orientar não apenas o desenho e manejo de agroecossistemas
sustentáveis, mas também processos de desenvolvimento rural sustentável”
(Caporal e Costabeber, 2007 p. 14).
17
7 – DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS VIÁVEIS DE AMPLIAÇÃO DA COBERTURA
DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NO MEIO RURAL
Para superar a atual crise da agricultura, além da proposição de uma nova forma de
produção se faz necessária a discussão também de uma nova forma de extensão rural,
principalmente no que se refere à Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER. Como a
agroecologia é colocada como um meio para se atingir o desenvolvimento rural sustentável –
e não o fim em si mesma, é necessária a rediscussão do atual modelo de ATER, que ainda está
em grande medida ligada à visão difusionista, mesmo quando a retórica é agroecológica.
Caporal e Costabeber (2007) enfatizam que a pura difusão de tecnologias já se
mostrou insuficiente como uma prática da extensão rural: é preciso revolucionar as bases
teóricas, redimensionamento do seu papel e revisão de quem é o seu público prioritário,
apropriando-se de um referencial metodológico com mecanismos que possam abrir um novo
caminho para uma extensão rural apta a ocupar um espaço que possa mostrar-se socialmente
útil.
Numa nova proposta para a construção de uma extensão agroecológica, há muitas
tendências que indicam que a extensão rural pública do futuro deverá buscar orientações para
desempenhar um papel fundamental na busca de equidade no meio rural e da sustentabilidade
na agricultura, sendo que estas exigências são impostas ao Estado e não podem ser resolvidas
de forma completa – muito menos satisfatória – pelas leis de mercado. Esta ATER, segundo
definição do Seminário Nacional de ATER (MDA/SAF/Dater, 2009) deve continuar sendo
gratuita, pública (porém não necessariamente oficial), tendo como objetivo a sua
universalização. Para tanto, é preciso que o Estado reveja as legislações que implicam em sua
relação com as organizações da sociedade civil organizada, que há muito desempenham
ATER primordialmente e desde a década de oitenta se orientam pelos princípios da
agroecologia.
Para Caporal e Costabeber (2007) extensão rural agroecológica pode ser definida
como um processo de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de
investigação ação participante, que permitem o desenvolvimento de uma prática em que os
sujeitos do processo buscam e construção e sistematização dos conhecimentos, o que faz com
que eles incidam conscientemente na sua realidade, com o objetivo de alcançar um modelo de
18
desenvolvimento socialmente equitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios
teóricos da Agroecologia como critério para as escolhas das soluções mais adequadas e
compatíveis com as características específicas do agroecossistema.
De forma análoga e complementar, Rodrigues (2002), afirma que é preciso ver a
extensão rural sob um prisma completamente diferente. É difundir a agrofloresta, a
agroecologia, contextualizadas na realidade dos agricultores, que são vistos como agentes de
mudança, com suas experiências, e que, lendo o mundo ao seu redor, são capazes de construir
novos conhecimentos a partir daqueles que já carregam consigo, graças a sua vivência de
mundo, misturado assim com o conhecimento dos outros, surgindo novas visões a partir da
reflexão e do confronto das ideias e conceitos.
Com base nestes conceitos o MDA deve lançar Chamadas Públicas específicas com a
temática de ampliação sustentável da capacidade produtiva nas ASDs, garantindo assim uma
ATER especializada e qualificada para o tema.
8 - PROPOSTAS DE AÇÕES PARA A AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE
PRODUTIVA DAS ASD.
No Produto D, foram apresentados os Temas de Concentração Estratégica, ou seja, os
temas que necessariamente precisam ser priorizados, por eixo temático, tendo em vista a
alocação de recursos materiais, humanos e financeiros, contribuindo assim com o alcance dos
objetivos e visão do PAE-ES. Esses TCE representam questões críticas relacionadas a cada
eixo temático anteriormente definido e são focados nos principais gargalos que
potencialmente podem impedir o alcance dos objetivos do Programa.
Sendo assim, para o eixo temático “Ampliação Sustentável da Capacidade Produtiva”,
foi possível perceber os seguintes TCE: Fortalecimento da Agricultura Familiar; Educação e
valorização do conhecimento tradicional; Modelos Produtivos; Recursos Hídricos.
Destes TCE derivaram quatro importantes estratégias, com capacidade para garantir de
forma sustentável a ampliação da capacidade produtiva das ASD, validadas e
complementadas nas Oficinas Regionais. Nestas mesmas oficinas, para cada estratégia foram
propostas, analisadas e elencadas as seguintes linhas de ação, relevantes para combate a
desertificação no Estado do Espírito Santo, no que diz respeito a Ampliação Sustentável da
Capacidade Produtiva, cabendo ao consultor dar tratamento técnico adequado as propostas,
19
conforme mostra o fluxograma abaixo, e elaborar os objetivos e os indicadores para cada uma
das linhas de ação.
23
Fluxograma 01: Estratégias e Linhas de Ações para o Eixo 02: Ampliação Sustentável da Capacidade Produtiva.
ESTRATÉGIA 1.1.
FORTALECIMENTO DA
AGRICULTURA FAMILIAR
ESTRATÉGIA 1.2.
REESTRUTURAÇÃO DO
MODELO PRODUTIVO
ESTRATÉGIA 1.3.
PRESERVAÇÃO ,
CONSERVAÇÃO E USO
SUSTENTAVEL DOS RECURSOS
NATURAIS.
ESTRATÈGIA 1.4. FORTALECER E
QUALIFICAR A EDUCAÇÃO NAS ASD
VALORIZANDO O CONHECIMENTO
TRADICIONAL.
1.1.1. Ampliar o quadro de servidores que atuam na
assistência e extensão rural
1.2.1. Fortalecer e ampliar a implantação de
Sistemas Agroflorestais, silvopastoris,
agrosilvopastoris e plantios consorciados.
1.3.1.Incentivar o uso racional dos recursos hídricos 1.4.1.Criar condições de incentivo a produção cultural das
comunidades rurais.
1.1.2. Fortalecer as instituições de ATER.
1.2.2. Difundir e incentivar práticas agricolas com
base em modelos de produção que tenham
sustentabilidade econômica, social e ambiental.
1.3.2.Divulgar estratégias de adaptação e convivência
com os efeitos da seca.
1.4.2.Pesquisar e divulgar o conhecimento sobre o manejo
de plantas nativas e de praticas das comunidades
tradicionais.
1.1.3. Implantar de forma efetiva da Lei de ATER. 1.2.3. Ampliar o acesso ao PRONAF Florestal,
Agroflorestal, Agroecologia. 1.3.3.Conservar e recuperar as nascentes.
1.4.3.Ampliar e fortalecer a Rede Estadual de
Agroecologia.
1.1.4. Ampliar o investimento na área de agroecologia
com profissionais de ATER capacitados.
1.2.4. Ampliar linhas de crédito para modelos
sustentáveis de produção.
1.3.4.Incentivo ao manejo de irrigação adequado paras
condições das ASD
1.4.4.Trabalhar o "Tema Meio Ambiente" nas escolas
municipais e nas escolas rurais.
1.1.5. Garantir a assistência técnica de forma contínua e
orientada para agroecologia.
1.2.5. Incentivar e auxiliar a transição para
modelos agroecológicos de produção
1.3.5.Dar agilidade às análise de processos de
licenciamento e para uso dos recursos hídricos.
1.4.5.Ampliar e estruturar as escolas de formação do
campo.
1.1.6. Fomento a regularização fundiária e a titularização
das terras de comunidades e povos tradicionais
1.2.6. Incentivar o agroturismo e ecoturismo como
atividade econômica, social e ambiental. 1.3.6..Investir em obras para aumento de oferta hídrica.
1.4.6.Elaborar e atualizar os estudos de potencialidades
econômicas.
1.1.7. Apoiar a estruturação da RECAFES (Rede de
Comercialização da Agricultura Familiar e Economia
Solidaria)
1.2.7. Incentivar e assistir quanto a forma correta
de utilização de equipamentos de mecanização e
práticas agrícolas.
1.3.7.Realização de outorgas coletivas. 1.4.7.Capacitar os técnicos de ATER para trabalhar com as
comunidades respeitando os saberes populares.
1.1.8. Incentivar a agroindutrialização dos produtos da
agricultura familiar.
1.2.8. Combater o uso indiscriminado de
defensivos agrícolas. 1.3.8.Incentivar aos programas de adequação ambiental.
1.4.8.Trabalhar nos currículos escolares o tema meio
ambiente.
1.1.9. Incentivo a produção local para atender o mercado
convencional e projetos institucionais. 1.2.9. Estimular as Certificações Agroecologicas. 1.3.9.Ampliar o PSA nas ASD.
1.4.09. Investir na qualificação dos profissionais que atuam
como educadores nas escolas de educação do campo.
1.1.10. Incentivar a produção e o consumo local de
produtos agroecológicos.
1.3.10.Fortalecer os comitês de bacias e elaborar os
plano de bacias hidrográficas
1.4.10. Capacitação de agricultores e comunidades rurais
em temas voltados ao meio ambiente
1.1.11. Fortalecer a UNICAFES-ES (União das
Cooperativas da Agricultura Familiar e de Economia
Solidaria do Espírito Santo)
1.3.11.Ampliar o acesso a programas de recuperação de
áreas de preservação permanente
1.1.12. Estimular a diversificação agrícola com
sustentabilidade.
1.3.12.Incentivar a utilização de métodos eficientes de
irrigação.
1.1.13. Criar programas de incentivo a pequenas
agroindústrias familiares para o fortaler o
desenvolvimento local..
1.3.13.Incentivar estudo da etnobotânica nas ASD
1.1.14. Incentivar o desenvolvimento produtivo de forma
sustentável
23
23
È importante ressaltar que tanto as “Estratégias” como as “Ações” subscritas estão
focadas nos principais gargalos que potencialmente impedem maior desenvolvimento das
ASD e constituem-se de certa forma na ponte entre o diagnóstico (apresentado pela
consultoria técnica especialista por áreas temáticas do PAN-Brasil) e a visão dos atores
sociais a respeito da realidade local e sobre a referida temática.
ESTRATÉGIA 01: FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Essa estratégia trata do fortalecimento da agricultura familiar, forma de organização e
produção predominante nas ASD. Desta forma, essa estratégia tem como objetivo também
estratégico o estabelecimento de uma série de ações prioritárias para o fortalecimento da
agricultura local, para a promoção da reorganização e para reestruturação das propriedades
localizadas nas ASD, além do incentivo ao desenvolvimento produtivo de forma sustentável e
a garantia da assistência técnica de foram contínua e orientada para a agroecologia.
Linhas de ação:
1.1. Ampliar o quadro de servidores que atuam na assistência e extensão rural.
Objetivo: Garantir acompanhamento aos produtores nos processos produtivos.
Indicador: Número de técnicos contratados.
1.2. Fortalecer as instituições de ATER.
Objetivo: Atender a agricultura com eficiência e qualidade
Indicador: Número de entidades contempladas com ações.
1.3. Implantar de forma efetiva da Lei de ATER.
Objetivo: Fazer com que a Lei de ATER saia do papel e seja de fato aplicada.
Indicador: Lei implantada.
1.4. Ampliar o investimento na área de agroecologia com profissionais de ATER
capacitados.
Objetivo: Desenvolver a agroecologia tendo em vista a sustentabilidade deste modelo
Indicador: Número de recursos destinados a atividades ligadas a agroecologia e número de
famílias atendidas.
1.5. Garantir a assistência técnica de forma contínua e orientada para agroecologia.
Objetivo: Difusão dos modos de produção agroecologicos.
Indicador: Número de propriedades agroecológicas atendidas.
23
1.6. Fomento a regularização fundiária e a titularização das terras de comunidades e
povos tradicionais
Objetivo: Legalizar as propriedade localizadas nas ASD e fazer reestruturação agrária.
Indicador: Numero de propriedades regularizadas e titularizadas.
1.7. Apoiar a estruturação da RECAFES (Rede de Comercialização da Agricultura
Familiar e Economia Solidaria)
Objetivo: Criar um canal de comunicação e comercialização para os produtos da agricultura
familiar.
Indicador: Formalização da rede.
1.8. Incentivar a agro industrialização dos produtos da agricultura familiar.
Objetivo: Agregar valor aos produtos da agricultura familiar através do beneficiamento
Indicador: Número de agroindústria fomentada.
1.9. Incentivo a produção local para atender mercados institucionais.
Objetivo: Garantir a diversificação da propriedade e o desenvolvimento local através das
oportunidades colocadas pelo mercado institucional e também pelo mercado convencional.
Indicador: Números de contratos com a CONAB e números de vendas feitas para as
prefeituras.
1.10. Incentivar a produção e o consumo local de produtos agroecológicos.
Objetivo: Desenvolver a agricultura local através de incentivos a técnicas de produção e ao
consumo sustentável.
Indicador: Número de propriedades que praticam a agroecologia e número de ações em prol
da adoção da agroecologia.
1.11. Fortalecer a UNICAFES-ES (União das Cooperativas da Agricultura Familiar e de
Economia Solidaria do Espírito Santo)
Objetivo: Garantir que as cooperativas ligadas a agricultura familiar e à economia solidária
tenham um órgão que de fato as representem de forma política, técnica e institucional.
Indicador: Atividades realizadas pela Unicafes
1.12. Estimular a diversificação agrícola com sustentabilidade.
Objetivo: Diversificar a agricultura de forma sustentável garantindo que o agricultor não
tenha como fonte de renda uma única atividade agrícola.
Indicador: Número de novas culturas implantadas.
1.13. Criar programas de incentivo a pequenas agroindústrias familiares para fortalecer
o desenvolvimento local.
23
Objetivo: Agregar valores aos produtos, gerando ocupação e renda para as famílias,
garantindo a permanência das mesmas no campo.
Indicador: Relação de programas criados.
ESTRATÉGIA 02: REESTRUTURAÇÃO DO MODELO PRODUTIVO
Essa estratégia trata da reestruturação do modelo produtivo até então vigente nas ASD
capixabas. Sendo assim, essa estratégia tem como objetivo o estabelecimento de uma série de
ações visando difundir praticas agrícolas que tem como base modelos de produção baseados
na sustentabilidade econômica, social e ambiental, tais com, por exemplo, o agroturismo e o
ecoturismo.
Também faz parte do rol das ações de coerência com essa estratégia, divulgar as
formas corretas de utilização de mecanização e das práticas agrícolas, o uso racional dos
agrotóxicos e defensivos, além do incentivo à implantação de sistemas agroflorestais,
silvopastoris e agrosilvopastoris, através da ampliação do número de acessos ao PRONAF
Florestal, Agroflorestal e Agroecológico.
Linhas de ação:
2.1. Fortalecer e ampliar a implantação de Sistemas Agroflorestais, silvopastoris,
agrosilvopastoris e plantios consorciados.
Objetivo: Fazer com que os modelos Agroflorestais, Silvopastoris, Agrosilvopastoris e os
plantios diretos sejam praticados nas ASD
Indicador: Número de propriedades que adotaram os sistemas.
2.2. Difundir e incentivar práticas agrícolas com base em modelos de produção que
tenham sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Objetivo: Garantir a sustentabilidade econômica, social e ambiental nas ASD
Indicador: Número de propriedades com adoção de praticas sustentáveis
2.3. Ampliar o acesso ao PRONAF Florestal, Agroflorestal, Agroecológico.
Objetivo: Contribuir para mudança do modelo de produção agropecuária e florestal,
utilizando de linhas de créditos existentes.
Indicador: Número de créditos acessados.
2.4. Ampliar linhas de crédito para modelos sustentáveis de produção.
Objetivo: Contribuir para mudança do modelo de produção agropecuária e florestal.
23
Indicador: Número de créditos acessados.
2.5. Incentivar e auxiliar a transição para modelos agroecológicos de produção
Objetivo: Contribuir para mudança do modelo de produção agropecuária e florestal.
Indicador: Números de propriedades com adoção da agroecologia
2.6. Incentivar o agroturismo e o ecoturismo como atividades econômicas, sociais e
ambientais.
Objetivo: Ofertar alternativas de renda ao agricultor
Indicador: Número de propriedades explorando o agroturismo e o ecoturismo.
2.7. Incentivar e assistir quanto à forma correta de utilização de equipamentos de
mecanização e práticas agrícolas.
Objetivo: Conservar o solo e os recursos hídricos através do uso sustentável.
Indicador: Número de cursos sobre práticas de manejo sustentável ofertados.
2.8. Combater o uso indiscriminado de defensivos agrícolas.
Objetivo: Diminuir o consumo excessivo de agrotóxicos na agricultura.
Indicador: Queda do volume de agrotóxico utilizado.
2.9. Estimular as Certificações Agroecológicas
Objetivo: Certificar a produção agroecologica.
Indicador: Número de certificados emitidos.
ESTRATÉGIA 03: PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTAVÉL DOS
RECURSOS NATURAIS
Essa estratégia busca estabelecer uma política pública capaz de preservar e conservar
os recursos ambientais e fomentar o manejo sustentável dos recursos naturais na ASD do
Estado do Espírito Santo.
Sendo assim, essa estratégia tem como objetivo o estabelecimento de ações visando o
incentivo a praticas de manejo de irrigação adequadas para as condições das ASD e
divulgação e adoção de praticas conservacionistas para os recursos hídricos, somadas à
criação de mecanismos eficientes e eficazes para o armazenamento de água, reduzindo assim
os conflitos pelo uso da mesma, além de ações que garantam agilizar os processos referentes
ao uso e construção de mecanismos para armazenamento de água e dos processos de
licenciamento para uso dos recursos hídricos.
23
Linhas de ação:
3.1. Incentivar o uso racional dos recursos hídricos.
Objetivo: racionalizar o uso da água tanto no nível domiciliar, quanto industrial e agropecuário.
Indicador: Número de técnicas para uso correto da água; número de pessoas, indústrias e
estabelecimentos agropecuários sensibilizados.
3.2. Divulgar estratégias de adaptação e convivência com os efeitos da seca.
Objetivo: Apresentar alternativas para convivência e adaptação aos efeitos da seca.
Indicador: Número de estratégias difundidas e números de agricultores participantes
3.3. Conservar e recuperar as nascentes.
Objetivo: Aumentar a oferta de recursos hídricos.
Indicador: Número de nascentes recuperadas.
3.4. Incentivo ao manejo de irrigação adequado para as condições das ASD.
Objetivo: Garantir o uso sustentável dos recursos hídricos
Indicador: Percentual de propriedades que utilizam equipamentos de irrigação de forma
sustentável
3.5. Dar agilidade à análise de processos de licenciamento para uso dos recursos
hídricos.
Objetivo: Acelerar os processos de licenciamento para uso dos recursos hídricos.
Indicador: Evolução do número de processos e redução do tempo para efetuação dos
mesmos.
3.6. Investir em obras para aumento de oferta hídrica.
Objetivo: Garantir bom armazenamento da água.
Indicador: Número de mecanismos para este fim criados.
3.7. Realização de outorgas coletivas.
Objetivo: Agilizar e dinamizar os processos de emissão de outorgas coletivas.
Indicador: Número de outorgas coletivas realizadas.
3.8. Incentivo aos programas de adequação ambiental.
Objetivo: Garantir a ampliação do programa de adequação ambiental.
Indicador: Número de acessos ao programa.
3.9. Ampliar o PSA nas ASD.
Objetivo: incentivar a conservação ambiental através da compensação financeira pelos
serviços ambientais, associados à preservação de nascentes com mata nativa.
23
Indicador: Número de beneficiários do PSA.
3.10. Fortalecer os comitês de bacias e elaborar os plano de bacias hidrográficas
Objetivo: Utilizar as Bacias Hidrográficas como unidade de planejamento e gestão ambiental.
Indicador: Número de entidades envolvidas nas tomadas de decisão dos Comitês de Bacias
Hidrográficas.
3.11. Ampliar o acesso a programas de recuperação de áreas de preservação permanente
Objetivo: Aumentar a área de preservação permanente.
Indicador: Números de propriedades que aderiram ao programa.
3.12. Incentivar a utilização de métodos eficientes de irrigação.
Objetivo: Garantir a utilização racional dos recursos hídricos.
Indicador: Número de métodos racionais utilizados.
3.13. Incentivar estudo da etnobotânica2 nas ASD
Objetivo: Ampliar a base de conhecimento sobre a etnobotânica.
Indicador: Número de estudos realizados.
ESTRATÉGIA 04: FORTALECER E QUALIFICAR A EDUCAÇÃO NAS ASD
VALORIZANDO O CONHECIMENTO TRADICIONAL
Essa estratégia busca fortalecer e qualificar a educação nas ASD com base na
valorização do conhecimento tradicional. Desta forma, esta estratégia tem como finalidade
estabelecer um serie de ações baseada na pesquisa, no entendimento e na divulgação do
conhecimento a respeito do manejo das plantas nativas e das praticado das comunidades tradicionais
no que diz respeito a agricultura familiar, o fomento a Rede Estadual de Agroecologia, a capacitação
para gestão ambiental nas escolas municipais e nas escolas rurais, apoiando a formação no campo e
por fim a elaboração e/ou atualizar os estudos de potencialidades econômicas destas ASD.
2 No Brasil, pesquisas etnobiológicas começam a ser mais freqüentes nos anos oitenta, embora muitos trabalhos anteriores,
desde o século passado, possam ser considerados etnobiológicos. Entretanto, mesmo sendo realizadas no Brasil, a maioria
dos trabalhos nessa área são de autoria de estrangeiros. Uma definição de etnobiologia é feita por Posey (1987:15): “a
etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito
da biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, mas enfatiza as categorias e
conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo”. Dentro da etnobiologia, vários campos podem ser definidos, partindo
da visão compartimentada da ciência sobre o mundo natural, tais como a etnozoologia, etnobotânica, etnoecologia,
etnoentomologia e assim por diante, da mesma forma como podemos estudar diferentes sociedades a partir de uma
abordagem da etnomedicina, etnofarmacologia, etc. HAVERROT, Moacir. Etnobotânica: uma revisão teórica. Disponível
em http://www.cfh.ufsc.br/~nessi/Etnobotanica%20uma%20revisao%20teorica.htm. Acesso em 28 jun.2012.
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Linhas de ação:
4.1.Criar condições de incentivo a produção cultural das comunidades rurais.
Objetivo: Resgate sócio cultural das comunidades localizadas nas ASD.
Indicador: Número de eventos culturais promovidos.
4.2.Pesquisar e divulgar o conhecimento sobre o manejo de plantas nativas e de práticas
das comunidades tradicionais.
Objetivo: Mostrar a importância da utilização e do manejo das plantas nativas.
Indicador: Número de pesquisas feitas e divulgadas.
4.3.Ampliar e fortalecer a Rede Estadual de Agroecologia.
Objetivo: Criar espaços políticos e de representação da agroecologia em nível de estado.
Indicador: Número de entidades agregadas à rede.
4.5.Trabalhar o "Tema Meio Ambiente" nas escolas municipais e nas escolas rurais.
Objetivo: Conscientizar dos jovens sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Indicador: Número de escolas trabalhando temas ligados ao meio ambiente.
4.6.Ampliar e estruturar as escolas de formação do campo.
Objetivo: Garantir que os jovens permanecem nas escolas do campo.
Indicador: Número de escolas ampliadas e estruturadas.
4.7.Elaborar e atualizar os estudos de potencialidades econômicas.
Objetivo: Criar elementos capazes de orientar o desenvolvimento produtivo.
Indicador: Número de estudos elaborados e número de estudos atualizados.
4.8.Capacitar os técnicos de ATER para trabalhar com as comunidades respeitando os
saberes populares.
Objetivo: Formar profissionais com capazes de respeitar os saberes locais.
Indicador: Número de cursos de capacitação oferecidos e número de técnicos capacitados.
4.9.Trabalhar nos currículos escolares o tema meio ambiente.
Objetivo: Conscientizar dos jovens sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Indicador: Número de escolas trabalhando temas ligados ao meio ambiente.
4.10. Investir na qualificação dos profissionais que atuam como educadores nas escolas
de educação do campo.
Objetivo: Ofertar as escolas do campo ensino de qualidade.
Indicador: Número de profissionais qualificados.
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4.11. Capacitação de agricultores e comunidades rurais em temas voltados ao meio
ambiente.
Objetivo: Conscientizar a população sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Indicador: Número de agricultores e de comunidades rurais capacitados.
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IICA, 2007.
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Brasília: 2006.
FREITAS, L. A. S. et al. Condicionantes da Implantação de Sistemas Agroflorestais junto
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estudo de caso. Brasília: Dissertação de graduação em agronomia - UnB 2005.
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