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Instrução: As questões de números 25 a 28 tomam por base uma passagem de um conto de Ignácio de Loyola Brandão (1936-) e parte de um artigo de Bernardo Jefferson de Oliveira. O homem que queria eliminar a memória (...) Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gente logo de entrada? O médico: — Sim? — Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro. — Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um peda- ço do seu cérebro? — Porque eu quero. — Sim, mas precisa me explicar. Justificar. — Não basta eu querer? — Claro que não. — Não sou dono do meu corpo? — Em termos. — Como em termos? — Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estou impedido de fazer no senhor. — Quem impede? — A ética, a lei. — A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo que desejo. E se acabou. — Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão boba. E não tenho tempo a perder. Por que o senhor quer cortar um pedaço do cérebro? — Quero eliminar a minha memória. — Para quê? — Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê? por quê? para quê? Falei com dezenas de pessoas e todos me perguntaram: por quê? Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a memória. — Já que o senhor veio a mim para fazer esta ope- ração, tenho ao menos o direito dessa informação. — Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. As coisas passaram, passaram. Fim! — Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar pequenas coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc. — É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto. — Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada assim. — Em lugar nenhum posso eliminar a minha memó- ria? — Que eu saiba não. U U N N E E S S P P ( ( 2 2 . . A A F F A A S S E E ) ) D D E E Z Z E E M M B B R R O O / / 2 2 0 0 1 1 1 1

Instrução: As questões de números 25 28 tomam por base uma ...estaticog1.globo.com/2011/12/19/objetivo/UNESP2012_2fase_2dia.pdf · — Seria muito melhor para os homens. O dia

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Instrução: As questões de números 25 a 28 tomam porbase uma passagem de um conto de Ignácio de LoyolaBrandão (1936-) e parte de um artigo de BernardoJefferson de Oliveira.

O homem que queria eliminar a memória

(...)Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca,

anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gentelogo de entrada?

O médico:— Sim?— Quero me operar. Quero que o senhor tire um

pedaço do meu cérebro.— Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um peda -

ço do seu cérebro?— Porque eu quero.— Sim, mas precisa me explicar. Justificar.— Não basta eu querer?— Claro que não.— Não sou dono do meu corpo?— Em termos.— Como em termos?— Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o

senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estouimpedido de fazer no senhor.

— Quem impede?— A ética, a lei.— A sua ética manda também no meu corpo? Se pago,

se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo quedesejo.

E se acabou.— Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão

boba. E não tenho tempo a perder. Por que o senhor quercortar um pedaço do cérebro?

— Quero eliminar a minha memória.— Para quê?— Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê? por

quê? para quê? Falei com dezenas de pessoas e todos meperguntaram: por quê? Não podem aceitar pura esimplesmente alguém que deseja eliminar a memória.

— Já que o senhor veio a mim para fazer esta ope -ração, tenho ao menos o direito dessa informação.

— Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. Ascoisas passaram, passaram. Fim!

— Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhorprecisa da memória. Para lembrar pequenas coisas. Ougrandes.

Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc.— É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda,

olho ali e pronto.— Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A

medicina não está tão adiantada assim.— Em lugar nenhum posso eliminar a minha memó -

ria?— Que eu saiba não.

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— Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. Odia de hoje para a frente. Entende o que eu quero dizer?Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. Opassado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado.Não seria engraçado? Não se lembrar sequer do que setomou no café da manhã? E para que quero me lembrardo que tomei no café da manhã?

(Ignácio de Loyola Brandão. Cadeiras proibidas:contos. Rio de Janeiro: Codecri, 1984, p. 32-34.)

Os avanços da genética nos filmes

Uma boa forma de se pensar as possibilidades e riscosno avanço das ciências é se aventurar nas ficções literá -rias e cinematográficas. Enquanto os cientistas devemzelar para não fazer especulações infundadas, os autoresde ficção tratam de dar asas à imaginação e projetar emhistórias emocionantes as possíveis aplicações da ciênciae alguns de seus efeitos inesperados.

A possibilidade de recriação da vida humana ou docontrole que poderíamos ter sobre seus corpos e destinossão alguns dos grandes temas que há muito tempo vêmsendo explorados. O que seria de nossa vida se soubés -semos como prolongá-la indefinidamente? Como fica -riam nossos corpos se pudéssemos transformá-los àvontade ou se conseguíssemos fabricar seres para nossubstituírem nas tarefas duras e chatas? Não seria umamaravilha se pudéssemos implantar ou fazer umdownload de memórias e conhecimentos que nos dispen -sassem de ter que aprender “na marra”, com muito estu -do e algumas experiências ruins? Que tal poder escolhere reconfigurar nossas características e as das pessoascom quem convivemos?

Nosso imaginário é povoado por robôs, clones, artifí -cios fantásticos, instrumentos poderosos e tecnologiassofisticadas que aparecem sob variadas formas nosenredos de diversos filmes. Metrópolis, Frankenstein,Blade Runner, Inteligência Artificial, Eu Robô e Matrixsão alguns que se tornaram clássicos, pois forammarcan tes para gerações e continuam sendo referidos erevi si ta dos. De maneira geral, retratam como boas ideiaspodem ter desdobramentos imprevistos e indesejáveis. Éo que acontece, por exemplo, nas narrativas utópicas quedes crevem sociedades ideais, mas que se revelamsombrias e nada atraentes quando conhecidas de perto,como nos filmes 1984 ou Brazil.

Isto obviamente não invalida, nem deveria desesti -mular, os avanços do conhecimento. Pelo contrário!Juntamente com as dúvidas que essas histórias lançamsobre nossas certezas e expectativas, elas suscitam inter -roga ções e recolocam questões fundamentais. Se a enge -nharia genética pode fazer as pessoas melhores, maissaudáveis, mais desejáveis, por que não seguir em frente?Quais seriam as implicações dessa seleção artificial?

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Assistir e conversar sobre o filme GATTACA é umaboa forma de entrar nessa discussão. O nome da pro du -ção e do local onde se passa vem das letras com querepresentamos as sequências do DNA (G, A, T, C). Maisprecisamente, as iniciais das bases químicas dessasmoléculas: Guanina, Adenina, Timina e Citosina. O filmeretrata uma sociedade organizada e estratificada deforma racional, tomando como base o levantamentogenético dos indivíduos. Aparentemente, uma forma dese aproveitar melhor, e para o bem comum, as caracterís -ticas e o potencial de cada um. Acontece que um jovem,inconformado com o destino que seus genes “defeituo -sos” lhe reservara, falseia sua identidade genética paraassumir a profissão com que sempre sonhara, a deespaçonauta. Boa parte da trama e do suspense do filmeadvém do fato de que sua verdadeira identidade bioló gi -ca, inválida para aquela atividade, tinha que ser ocultadatodo o tempo e com muita astúcia, pois a manutenção daordem social se baseava em constantes escaneamentosgenéticos. As situações enfrentadas pelo personagem noslevam a compartilhar sua percepção de injustiça, e torcerpela subversão ao sistema.

(Bernardo Jefferson de Oliveira. Os avanços dagenética nos filmes. pré-Univesp, edição 6, 15.11.2010:

www.univesp.ensinosuperior.sp.gov)

25A personagem do conto de Loyola Brandão, em suastentativas de demonstrar ao médico que seria bomeliminar a memória, apresenta, entre seus argumentos, noúltimo parágrafo, um de ordem emocional, sentimental.Identifique esse argumento e justifique-o do ponto devista da personagem.

ResoluçãoO argumento em questão é assim formulado: “Nenhu -ma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. Opassado fechado, encerrado. Definitivamente blo quea -do.” Trata-se, evidentemente, de abolir os traços daexperiência anterior do sujeito e, desta forma, elimi -nar a carga emotiva trazida pelas recordações. Apersonagem dá a impressão de, ao desejar livrar-se dopassado, aspirar à possibilidade de contínua reno va -ção, sem compromisso com o já vivido, fazendo quecada dia se inicie como uma folha branca (“Seriamuito melhor para os homens. O dia a dia. O dia dehoje para a frente”). Assim sendo, a figura do contogeneraliza, ao afirmar querer livrar-se tanto dasmemórias positivas quanto das negativas – “nenhumalembrança, ruim ou boa” –; mas, ao acrescentar“nenhu ma neurose”, dá a entender que aquilo que defato perturba é a carga negativa do passado, causa deproblemas psicológicos que limitam a vida presente.

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26Depois de comparar os dois textos, demonstre que, quantoà questão da memória, o homem do conto, que procura omédico, e o pesquisador Bernardo Jefferson de Oliveiramanifestam opiniões bem distintas.

ResoluçãoAo exprimir seu entusiasmo diante de possibilidadesreais ou fictícias da genética, o pesquisador exempli -fica com o que seria uma ampliação extraordinária damemória: “Não seria uma maravilha se pudéssemosimplantar ou fazer um download de memórias econhecimentos...?” Trata-se de atitude inteiramenteoposta à da personagem do conto, que considera quea “maravilha” seria justamente eliminar a memória,não aumentar a sua capacidade e multiplicar os seusconteúdos. Outro aspecto da divergência entre as duasperspectivas está em que a personagem do conto quereliminar o passado porque quer livrar-se das memó -rias, isto é, da presença do passado no presente; mas,na situação imaginada no artigo, as memórias seriamindependentes do passado, não resultariam da expe -riên cia anterior do sujeito – por exemplo: não seriapreciso estudar para saber, o conhecimento viria porimplante ou download. Assim sendo, não seriam im -plan tadas recordações ruins e a opinião da perso na -gem do conto a respeito da memória poderia mudar...

27Segundo se depreende da síntese de Bernardo Jeffersonde Oliveira, ao apresentar uma sociedade organizada eestratificada de forma racional, tomando como base olevantamento genético dos indivíduos, o filme GATTACAfocaliza uma utopia cuja aplicação, como em todas asutopias, acaba não dando inteiramente certo. Indique qualo aspecto da natureza humana que a organização dasociedade de GATTACA ignorou e que acabou gerandotoda complicação focalizada no enredo do filme.

ResoluçãoNo filme mencionado, a sociedade “ideal” ignoraprojetos individuais (sonhos) que podem contrariaruma organização estabelecida em bases que sepretendem científicas. Assim, sufoca-se a liberdadeindividual, restringindo-se as possibilidades de desen -vol vimento das pessoas para além dos limites queestariam geneticamente estabelecidos, mas que, comodemonstraria a personagem revoltada do filme,poderiam ser superados graças a determinação eesforço pessoal.

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28No primeiro parágrafo e em outras passagens do artigo,Bernardo Jefferson de Oliveira destaca que os literatos eos cineastas desfrutam de uma liberdade que os cientistasnão têm ante suas próprias descobertas científicas. Queliberdade é essa?

ResoluçãoTrata-se da liberdade conferida pela imaginação, quepermite a escritores e cineastas não só projetar pos -sibi lidades insuspeitadas de avanço da ciência e con -sequente desenvolvimento tecnológico, mas tambémespecular sobre os efeitos que a aplicação da ciência ea adoção de novas tecnologias poderiam acarretar naorganização da sociedade e na vida das pessoas,considerando aspectos éticos, políticos e existenciaisque estão fora do âmbito das questões enfrentadaspelos cientistas.

Instrução: As questões de números 29 a 32 tomam porbase uma passagem de um conto de Machado de Assis(1839-1908) e uma tira do cartunista Laerte (LaerteCoutinho, 1951-).

Um homem superior

Quis a desgraça de Medeiros [patrão de Clemente] queos negócios lhe corressem mal; duas ou três catástrofescomerciais o puseram às portas da morte.

Clemente Soares fez quanto pôde para salvar a casa deque dependia o seu futuro, mas nenhum esforço erapossível contra um desastre marcado pelo destino, que éo nome que se dá à tolice dos homens ou ao concurso dascircunstâncias.

Achou-se sem emprego nem dinheiro.(...)No pior da sua posição, recebeu Clemente uma carta

em que o comendador o convidava a ir passar algumtempo na fazenda.

Sabedor da catástrofe de Medeiros, queria o comenda -dor naturalmente dar a mão ao rapaz. Este não esperouque repetisse o convite. Escreveu logo dizendo que daí aum mês se poria em marcha.

Efetivamente um mês depois saía Clemente Soares emcaminho do município de***, onde era a fazenda docomendador Brito.

O comendador esperava-o ansioso. E não menosansiosa estava a moça, não sei se porque já lhe tivesseamor, se porque ele fosse uma distração no meio damonótona vida rural.

Recebido como amigo, tratou Clemente Soares depagar a hospitalidade, fazendo-se conviva alegre edivertido.

Ninguém o poderia melhor do que ele.Dotado de grande perspicácia, compreendeu em pou -

cos dias como entendia o comendador a vida do campo,e tratou de o lisonjear por todos os modos.

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Infelizmente, dez dias depois da sua chegada à fazen -da, adoeceu gravemente o comendador Brito, por manei -ra que o médico poucas esperanças deu à família.

Era ver o zelo com que Clemente Soares servia deenfermeiro do doente, procurando por todos os meiossuavizar-lhe os males. Passava noites em claro, ia aospovoados quando era necessário fazer alguma coisa maisimportante, consolava o doente já com palavras deesperanças, já com animada conversa, cujo fim eradistraí-lo de pensamentos lúgubres.

— Ah! dizia o pobre velho, que pena que eu o nãoconhecesse há mais tempo! Bem vejo que é um verdadeiroamigo.

— Não me elogie, comendador, dizia Clemente Soares,não me elogie, que é tirar o mérito, se o há, destesdeveres agradáveis ao meu coração.

O procedimento de Clemente influiu no ânimo deCarlotinha, que nesse desafio de solicitude soube mos -trar-se esposa dedicada e reconhecida. Ao mesmo tempofez com que em seu coração se desenvolvesse o gérmende afeto que Clemente de novo lhe lançara.

Carlotinha era uma moça frívola; mas a doença domarido, a perspectiva da viuvez, o desvelo do rapaz, tudofez nela uma profunda revolução.

E mais que tudo, a delicadeza de Clemente Soares,que, durante esse tempo de tão graves preocupações paraela, nenhuma palavra de amor lhe dirigiu.

Era impossível que o comendador escapasse à morte.

(Machado de Assis. Contos fluminenses, vol. II. São Paulo: Editora Mérito, 1962, p. 103-105.)

Fagundes, um puxa-saco de mão-cheia

(Laerte [Laerte Coutinho]. Fagundes: um puxa-saco demão-cheia. Porto Alegre: L&PM, 2007, p.16.)

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29Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucosdias como entendia o comendador a vida do campo, etratou de o lisonjear por todos os modos.

Explique em que medida o verbo “lisonjear”, empregadona frase, representa uma síntese da atitude de ClementeSoares ante o comendador, na passagem apresentada.

ResoluçãoLisonjear significa “enaltecer com exagero, visando àobtenção de favores, privilégios etc.; adular” (dicio -ná rio Houaiss). A definição da palavra resume ocompor tamento de Clemente Soares: tudo que faz,todos os seus cuidados para com o Comendador, entreos quais o reforço astucioso que procura dar àsopiniões que descobre nele – tudo obedece à intençãode lisonjear. Clemente é um lisonjeador, palavra que atirinha apresentada em seguida traduz cruamentepara o registro popular de linguagem: “puxa-saco”.

30O que sugere com certa malícia o narrador, ao empregara forma verbal soube no fragmento apresentado, dizendoque Carlotinha soube mostrar-se esposa dedicada ereconhecida, quando poderia ter dito que ela “mostrou-se esposa dedicada e reconhecida”?

ResoluçãoA sugestão contida em soube indica que o compor ta -mento de Carlotinha era premeditado, que elasimulou papel que a situação exigia, de esposadedicada diante da doença do marido. Difere dosentido que teria a expressão mostrou-se esposadedicada, que sugeriria comportamento espontâneo ecompadecido de esposa solidária, ou pelo menos nãosugeriria encenação.

31Releia o segundo parágrafo do conto de Machado deAssis e explique o que deixa implícito o narrador arespeito da noção usual de destino.

ResoluçãoO narrador atribui o que se costuma chamar destino“à tolice dos homens e ao concurso das circuns tân -cias”. Portanto, ele considera que a trama da vida nãose deve a alguma instância transcendente, a algumaforça superior que dirigisse os fatos, mas apenasàquilo que os homens fazem e que o acaso produz.

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32Na tira de Laerte, aponte o que o aluno não percebeu deimediato como primeira lição de Fagundes.

ResoluçãoO aluno não percebeu que a fala lisonjeira endereçadaa ele, no segundo quadrinho, é uma demonstração daatitude de adular: Um aluno como você faz a glória dequalquer professor!

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Instrução: Leia o texto para responder, em português, àsquestões de números 33 e 34.

Gattaca Review

by James Brundage

(January 15th, 1999)

Gattaca is a character drama in the guise of a thriller,the same way that The Truman Show was a drama in theguise of a comedy. Andrew Niccol works his beautifulcharms with both of them. In Gattaca, he offers us astunning vision of the not-so-distant future, a time wheregenetic engineering is so commonplace that it is commonpractice. The world, of course, has the drawback thatanyone who was not genetically engineered is part of anew class of society, called an invalid.

Vincent Freeman was born this way. He chooses,however, not to remain an invalid but to become what isknown as a de-generate, someone who uses other people’sblood, urine, hair etc. to fake a genetic code superior totheir own. His dream was to end up in space and beingthis particularly loathed thing is the only way he is ableto do it. Lending his dream to the real Gerome Morrow,a suicidal cripple, the two band together to get him intospace. Everything is going well, he is set to leave in aweek. Then the mission director is murdered.

This occurs, in my opinion, only to keep less intelligentviewers interested in the story, which contains enoughpathos to warrant me watching it if it didn’t involve amurder at all. As Vincent tries to keep his secret, he isfalling in love with Irene Cassini, another worker atGattaca, the story’s equivalent of Cape Canaveral. Thepanic caused by the moment causes each person involvedto examine themselves, society, and the state of the world.

The sad thing about Gattaca is that so many people willhate this movie because of its utterly slow pace. It doesnot keep the interest of someone not intrigued by people,which encompasses most every viewer today. So thattakes out studio fans, and its Star Trek target audience.

(www.killermovies.com. Adaptado.)

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33Quem era denominado pelo termo invalid no contexto dahistória do filme? O que significava ser um de-generate,no mesmo contexto?

ResoluçãoOs “invalid” são aqueles que não são produtos daenge nharia genética, constituindo parte de uma novaclasse da sociedade. No contexto da história do filme,Vincent Freeman era um “invalid”.Um “de-generate” é aquele que usa o sangue, a urina,o cabelo de outras pessoas para simular um códigogenético superior ao seu.

34Segundo a crítica, por que o diretor da missão espacialfoi assassinado? Havia realmente necessidade de esse fatoocorrer?

ResoluçãoDe acordo com James Brundage, o diretor da missãoespacial foi assassinado apenas para manter o inte res -se dos espectadores menos inteligentes. SegundoBrundage, não haveria necessidade de esse fatoocorrer, pois, mesmo sem o assassinato, o filme jácontém sofrimento suficiente para entreter a plateia.

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Instrução: Leia o texto para responder, em português, àsquestões de números 35 e 36.

Personal Marketing: Selling yourself

Before you begin a job search campaign you must havea personal marketing strategy. A personal marketingstrategy provides you with a game plan for your jobsearch campaign.

You should look at the job search as a marketingcampaign, with you, the job seeker, as the product. Everyproduct, even the best ones, won’t succeed without astrong marketing strategy. This begins with acomprehensive, yet flexible plan. First you must know towhom you are marketing. You must identify the types ofemployers who would be looking for an employee withyour qualifications. Are they all within a certain industry?Are there many industries that hire employees with yourbackground?

You already know that personal marketing skills areimportant to your career and perhaps to find a better job,but the only problem is that the art of self marketing isdifficult for a lot of people.

Selling yourself well doesn’t mean talking just aboutyourself or arrogantly telling others how great you are.By selling yourself, in an interview or an informalnetworking meeting, I mean thinking first about theemployer’s needs and expectations and figuring out howyou can create value for their organization. What doesthe potential employer really need from a new employee?What specific technical skills, workplace competenciesand personal qualities is the employer looking for? Nowif you can ask those questions dispassionately, you shouldbe able to identify your own strengths that match andgently weave them into every conversation you have inthe world of good jobs and prospective careers.

(Adaptado de http://careerplanning.about.com ewww.your-career-change.com)

35Liste quatro aspectos importantes a serem considerados,segundo o texto, para se realizar uma propaganda de simesmo com a finalidade de conseguir um emprego.

Resolução• Você deve saber para quem você está “venden do-

se”.• Você deve saber identificar os tipos de emprega -

dores que estariam buscando um funcionário comsuas qualificações.

• Você deve evitar a arrogância e o autoelogioexcessivo.

• Você deve levar em conta as necessidades e expec -tativas do empregador e imaginar como agregarvalor à empresa.

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36Qual o significado da oração …if you can ask thosequestions dispassionately… no texto? A quais perguntasse faz referência nessa oração?

ResoluçãoA oração significa “...se você conseguir fazer essasperguntas friamente...” e referem-se a: o que oempregador em potencial realmente espera do novoempregado? que habilidades técnicas específicas,competências e qualidades pessoais o empregador estábuscando?

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RREEDDAAÇÇÃÃOOAs reações do cérebro à bajulação

Pesquisa mostra que se você for bajular alguém émelhor fazer elogios descarados

Não é o que os meritocratas convictos gostariam deouvir. Uma pesquisa da escola de negócios da HongKong University of Science and Technology indica que abajulação tem um efeito marcante no cérebro da pessoabajulada. Mais surpreendente do que isso é a conclusãodo estudo de autoria de Elaine Chan e Jaideep Sengupta:quanto mais descarada a bajulação, mais eficiente ela é.A pesquisa deu origem a um artigo no Journal ofMarketing Research, intitulado Insincere FlatteryActually Works (“Bajulação insincera de fato funciona”,numa tradução literal) e rapidamente chamou a atençãoda imprensa científica mundial.

Os autores são cautelosos ao afirmar que puxar o sacofunciona, mas é nessa direção que sua pesquisa aponta.Elaine e Sengupta criaram situações nas quais ospesquisados foram expostos à bajulação insincera eoportunista. Numa delas, distribuíram um folder entre ospesquisados que detalhava o lançamento de uma novarede de lojas. O material publicitário elogiava o “apura -do senso estético” do consumidor. Apesar do evidentepuxa-saquismo, o sentimento posterior das pessoas foi desimpatia em relação à rede. Entre os participantes, amedição da atividade cerebral no córtex pré-frontal(responsável pelo registro de satisfação) indicou umaumento de estímulos nessa região. O mesmo ocorreu emtodas as situações envolvendo elogios.

Segundo os pesquisadores, a bajulação funcionadevido a um fenômeno cerebral conhecido como “com -por tamento de atraso”. A primeira reação ao elogioinsin cero é de rejeição e desconsideração. Apesar disso,a bajulação fica registrada, cria raízes e se estabelece nocérebro humano. A partir daí, passa a pesar subjetiva -mente no julgamento do elogiado, que tende, com otempo, a formar uma imagem mais positiva do bajulador.Isso vale desde a agência de propaganda até o funcio ná -rio que leva um cafezinho para o chefe. “A suscetibi -lidade à bajulação nasce do arraigado desejo do serhumano de se sentir bem consigo mesmo”, diz ElaineChan. A obviedade e o descaramento do elogio falso,paradoxalmente, conferem-lhe maior força. Segundo ospesquisadores, é a rapidez com que descartamos oselogios manipuladores que faz com que eles passem semfiltro pelo cérebro e assim se estabeleçam de forma maisduradoura.

Segundo Elaine e Sengupta, outro fator contribui paraa bajulação. É o “efeito acima da média”. Temos atendên cia de nos achar um pouco melhor do que realmen -te somos, pelo menos em algum aspecto. Pesquisas commotoristas comprovam: se fôssemos nos fiar na autoima -gem ao volante, não haveria barbeiros. Isso vale até paraa pessoa com baixa autoestima. Em alguma coisa, ela vaise achar boa, nem que seja em bater figurinha.

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Mas se corremos o risco de autoengano com a ajudado bajulador, como se prevenir? “Desenvolvendo umaautoestima autêntica”, diz Elaine. A pessoa equilibrada,que tem amor-próprio, é mais realista sobre si mesma,aceita-se melhor e se torna mais imune à bajulação.

(As reações do cérebro à bajulação. Época Negócios, março de 2010, p. 71.)

PROPOSIÇÃO

Bajular, lisonjear, adular, puxar saco são atitudesconsideradas, muitas vezes, defeitos de caráter ou deslizesde natureza ética; são, também, condenadas pelas própriasreligiões, como vícios ou “pecados”. As ficções literárias,teatrais e cinematográficas estão repletas de tipos bajula -do res, lisonjeadores, aduladores, puxa-sacos, quasesempre sob o viés do ridículo e do desvio de caráter. Mo -der namente, porém, pelo menos em parte, essa conde -nação à bajulação e à lisonja tem sido atenuada, e atémesmo justificada por alguns como parte do marketingpessoal, ou como estratégia para atingir metas, dado ofato de que, como se informa no próprio artigo acimaapresentado, até o elogio mais insincero pode encontrareco na mente e no coração do elogiado. Na passagem doconto de Machado de Assis, apresentada nesta prova,Clemente Soares acabou atingindo seus objetivos pormeio da bajulação, e a personagem Fagundes, de Laerte,parece viver sempre feliz em sua atividade preferencialde bajular.

Reflita sobre o conteúdo dos três textos mencionadose elabore uma redação de gênero dissertativo, empregan -do a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A bajulação: virtude ou defeito?

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Comentário à proposta de Redação

A bajulação: virtude ou defeito? Esta pergunta-tema deveria ser respondida numa redação de gênerodissertativo. Além da proposição, que praticamenteresumiu a questão a ser discutida, o candidato pôdecontar com um texto da revista Época (As reações docérebro à bajulação) e outros dois textos que consta -vam da prova de Linguagens e Códigos, o primeirotratando da lisonja interesseira – no caso do perso -nagem Clemente – e o segundo de uma tira de Laerte,mostrando o extremo do puxa-saquismo na figura dopersonagem Fagundes.

Caso o candidato considerasse a bajulação comovirtude, poderia destacar o fato de vivermos em umasociedade de narcisistas, cuja vaidade precisaria serestimulada por meio de elogios que, segundo pesquisascientíficas, independentemente de serem sinceros,poderiam “encontrar eco na mente e no coração doelogiado”. Criariam, assim, “raízes” em seu cérebro,conferindo-lhe “maior força” e aumentando suareceptividade aos aduladores, sobretudo os mais“descarados”. Em tempos de marketing pessoal, desupervalorização da imagem, colecionar elogios semsequer filtrar sua procedência ou veracidade estariaplenamente justificado.

Já o candidato que enxergasse o hábito de bajularcomo defeito poderia observar que tal prática, alémde revelar falhas de caráter ou “deslizes de naturezaética”, em geral tenderia a surtir efeito em pessoascarentes e inseguras, que precisariam da aprovaçãoalheia para se sentirem bem consigo mesmas. Isso astornaria mais vulneráveis aos apelos bajuladores,impedindo uma percepção mais realista de si própriasque lhes permitisse desenvolver “uma autoestimaautêntica”, imunizando-as dessa forma contra abajulação.

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