Upload
denilson-feitoza
View
288
Download
50
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Autor: Fábio Galindo Silvestre. Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMPMG). Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco. Tem por objetivo imediato estudar, dentro do contexto das atividades de inteligência desenvolvidas no Brasil, o atual estágio das atividades de inteligência no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e, a partir disso, lançar novos horizontes e novas perspectivas para a ampliação e especialização da utilização das atividades de inteligência no âmbito ministerial. Enfrentar a questão sobre a diferenciação entre investigação ministerial criminal e atividades de inteligência no âmbito do Ministério Público,
Citation preview
Fábio Galindo Silvestre
INTELIGÊNCIA CRIMINAL VERSUS INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Centro Universitário Newton Paiva
Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais
Belo Horizonte
2010
Fábio Galindo Silvestre
INTELIGÊNCIA CRIMINAL VERSUS INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, oferecido pela Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública
Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco
Centro Universitário Newton Paiva
Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais
Belo Horizonte
2010
Centro Universitário Newton Paiva
Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de
Estado e Inteligência de Segurança Pública com Direitos Humanos
Projeto de Pesquisa intitulado ―Inteligência Criminal Versus Investigação
Criminal no Ministério Público do Estado de Minas Gerais‖, de autoria de Fábio
Galindo Silvestre, considerado aprovada com nota 90 (noventa) em 100 (cem)
pontos distribuídos, pela banca examinadora constituída pelos seguintes
professores:
______________________________________________
Professor Doutor Denilson Feitoza Pacheco – Orientador
_______________________________________________
Professor Mestre Sérgio Antônio Teixeira
_______________________________________________
Professor Especialista Ronaldo Silveira de Alcântara
Belo Horizonte / MG, 26 de maio de 2010.
Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais Rua Timbiras, 2928, 4º. andar, Bairro Barro Preto
30140-062 - Belo Horizonte - MG Tel: 31-3295-1023
www.fesmpmg.org.br
Dedico esta monografia às pessoas que me servem, na terra, de
amparo para o enfrentamento da vida e que me ensinam diariamente, mesmo
a distância, pelas notas do amor. Meus pais Nilton (exemplo de honestidade) e
Adalva (exemplo de dedicação e amor), meus irmãos maravilhosos, Pedro Ivo
e Flávia, e seus respectivos pares, Carla e Roberto, que não deixam de ser
igualmente irmãos. Aos meus tesouros, João Pedro e Maria Eduarda, afilhados
do coração, e a Vinícius, o caçula. Ao amor da minha vida, Isabella, minha
nova família, minha eterna namorada, por todo amor, pelos sonhos e por viver
comigo os momentos mais felizes de minha vida. À Maria Vitoria e Davi,
sonhos do futuro, mas realidades já presentes no coração do papai e da
mamãe.
Dedico este trabalho, também, ao meu querido Ministério Público, que
tem consumido minha juventude e grande parte de minha vida, sendo que
estou consciente do que faço, nesse sentimento misto de vocação e devoção,
que me permite sentir nada mais do que um cidadão melhor, não pela
autoridade e prerrogativas afetas à função, mas pela oportunidade de
manifestar, no desempenho cotidiano de minha profissão, toda minha
indignação contra as injustiças sofridas por esse nosso povo, em sua
esmagadora maioria composto por pessoas de bem, nessa luta de Davi contra
Golias na busca de promover justiça.
AGRADECIMENTOS
Inegavelmente, a generosidade é uma das facetas mais puras do amor e, para
que assim o seja, deve sempre estar atrelada à sinceridade. Por isso, registro
que a sinceridade é nota distintiva dos agradecimentos aqui lançados.
Ao meu orientador Dr. Denilson Feitoza Pacheco, não só pelos ensinamentos
sobre metodologia científica e por me despertar para a importância vital da
inteligência no Ministério Público mas, principalmente, pela motivação e
incentivo indispensáveis para que este trabalho se tornasse uma realidade.
Obrigado pela confiança, pela humildade em dividir seus valiosos
conhecimentos, e, como colega de Instituição, por introduzir no Parquet a
cultura de inteligência como instrumento de aperfeiçoamento funcional.
.
Aos colegas da 1ª. Turma de Inteligência de Estado e Inteligência de
Segurança Pública com Direitos Humanos, pelo ótimo ambiente de estudo e
pelos ensinamentos na contínua troca de experiências profissionais.
À Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais pela
oportunidade de me abrir as portas para esse interessante e desafiador
universo da inteligência.
Aos ilustres membros da banca examinadora.
Sobretudo a Deus, Ser supremo e exemplo mais puro do amor, que tem
sob sua batuta a regência perfeita de todas as coisas e que, por sua pura
generosidade, me permitiu chegar até aqui com o espírito altivo como um dia
falou São Paulo: Combati um bom combate e guardei a fé.
“Quando escolho, escolho quem eu sou”
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Instituições
ABIN Agência Brasileira de Inteligência
CESIN
CIA
Centro de Segurança e Inteligência Institucionais
Central Intelligence Agency
COPLI Coordenadoria de Planejamento Institucional do Ministério Público de Minas
Gerais
GGI Gabinete de Gestão Integrada
GSI Gabinete de Segurança Institucional
KGB Komitet Gasudarstvennoy Bezopasnosti – Comitê de Segurança do Estado
(URSS)
LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
MPMG Ministério Público do Estado de Minas Gerais
SEPE Secretaria de Planejamento Institucional do Ministério Público de Minas Gerais
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública
Termos Técnicos
Cel Coronel
ISP Inteligência de Segurança Pública
SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência
SISP Sistema de Inteligência de Segurança Pública
RESUMO
O trabalho que ora se apresenta tem por objetivo imediato estudar, dentro do contexto das atividades de inteligência desenvolvidas no Brasil, o atual estágio das atividades de inteligência no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e, a partir disso, lançar novos horizontes e novas perspectivas para a ampliação e especialização da utilização das atividades de inteligência no âmbito ministerial. Ainda, o trabalho se lança na difícil missão de enfrentar a questão sobre a diferenciação dogmática e teórica existente entre investigação ministerial criminal e atividades de inteligência no âmbito do Ministério Público, pois, com a difusão das idéias de inteligência e de uma doutrina nacional de inteligência de segurança pública, criou-se uma zona cinzenta e de confluência entre uma e outra atividade, sendo certo que, não raras vezes, profissionais de ambas as áreas tomem uma por outra quando, em essência, são atividades parecidas mas não exatamente iguais, certamente com alguns pontos de intersecção mas, essencialmente, diferentes. Falamos inicialmente em objetivo imediato, pois temos a plena consciência que uma obra teórica, ainda que se aceite a idéia de perfeição, o que não é o caso, não terá valia nenhuma se não modificar a realidade das pessoas, nesse casamento necessário e indissolúvel da teoria com a prática, razão pela qual o grande objetivo desta obra é sugerir aperfeiçoamento e ampliação das atividades de inteligência no Ministério Público mineiro para que a Instituição possa refletir seus rumos, alterar seus rumos caso necessário, a fim de tornar mais eficiente a gestão de conhecimento e mais produtivo o tratamento da informação, tudo a permitir um ganho de força e robustez na atuação ministerial que irá desembocar, inegavelmente, em ganho de qualidade de vida para os membros da sociedade mineira e brasileira, na busca incansável de se alcançar esta vocação constitucional do Ministério Público que é a efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana e a tutoria do interesse público.
Palavras-chave: Ministério Público, inteligência estratégica, inteligência tática, investigação criminal
ABSTRACT
The immediate aim of this study, inside of the intelligence activities context developed in Brazil, was the current apprenticeship of the intelligence activities in the extent of the Public Prosecution of Minas Gerais State and, starting from that, to throw new horizons and perspectives for the enlargement and specialization of the use of the intelligence activities in the ministerial extent. Still, the work rushes in the difficult mission of facing the subject about the dogmatic and theoretical differentiation existent between criminal investigation and intelligence activities in the extent Public Prosecution, because, with the diffusion of the intelligence ideas and of a national intelligence‘s doctrine of public security, it grew up a gray area and of confluence between an and other activity, being right that, no rarely, professionals of both areas take one for other when, in essence, they are similar activities but no exactly same, certainly with some intersection points but, so many others of differentiation. We spoke initially in immediate objective because we are the full aware that a theoretical work, although the perfection idea is accepted, what is not the case, it won't have value any not to modify the people's reality, in that necessary and indissoluble marriage of the theory with the practice, reason for the which, the great objective of this work is to suggest improvement and enlargement of the intelligence activities in the Public Prosecution of Minas Gerais State so that the institution can reflect their directions, to alter their directions in necessary case, in order to turn more efficient the knowledge administration and more productive the treatment of the information, everything to allow an earnings of force and robustness in the ministerial performance that it will end, undeniably, in earnings of life quality for the inhabitant of Minas Gerais State and Brazilian society, in the tireless search of reaching this constitutional vocation of the Public Prosecution that is the effective of the human person's fundamental rights and the guardianship of the public interest.
Key-words: Public Prosecution, strategic intelligence, tactical intelligence, criminal investigation
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 13
2.1 Breve histórico 13
2.2 Conceito de inteligência 18
2.3 Ramos 21
2.4 Aspectos normativos 23
2.5 Classificação 25
2.6 Ciclo de inteligência 27
2.7 Operações de inteligência 29
3 A INTELIGÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO 33
3.1 Fundamento 33
3.2 Espécies 34
3.2.1 Inteligência ministerial 34
3.2.2 Inteligência ministerial estratégica e inteligência ministerial tática 35
3.2.3 Inteligência ministerial criminal e inteligência ministerial cível 36
4 A INTELIGÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS 38
4.1 Estrutura 38
4.2 Atuação 40
5 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS
GERAIS 49
5.1 Fundamento 49
5.2 Estrutura e atuação 51
6 INTELIGÊNCIA CRIMINAL VERSUS INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO
MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS 53
6.1 Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial criminal 53
6.2 Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial criminal no
Ministério Público de Minas Gerais 68
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 74
REFERÊNCIAS 76
ANEXO A - Administração Superior (artigo 4º,I, LC N.34/1994) 79
ANEXO B - Resolução PGJ Nº 12, de 3 de abril de 2009 80
ANEXO C - Resolução PGJ Nº 32, de 5 de maio de 2010 83
ANEXO D - Resolução Nº 13, de 02 de outubro de 2006 93
ANEXO E - Resolução PGJ CGMP Nº 2, de 14 de setembro de 2004 101
11
1 INTRODUÇÃO
O problema que é objeto do presente estudo pode ser formulado
mais especificamente da seguinte forma: como a diferença entre atividade de
investigação criminal e atividade de inteligência criminal afeta a aplicabilidade
desta no âmbito do Ministério Público de Minas Gerais?
Para compreender este fenômeno, buscamos, inicialmente, fazer
um estudo sobre a realidade da inteligência e seus conceitos básicos, como
inteligência em sentido estrito, contrainteligência, operações de inteligência,
técnicas operacionais e métodos operacionais.
O pressuposto em que se baseará esta pesquisa é a de que
atividade de investigação criminal e atividade de inteligência criminal são
essencialmente diferentes, no aspecto dogmático, teórico e prático.
Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizamos o método de
abordagem descritivo, baseado puramente em levantamento bibliográfico e
pesquisas documentais internas no Ministério Público do Estado de Minas
Gerais.
Como critérios de inclusão, foram utilizados os descritores:
ministério público, inteligência estratégica, inteligência tática, investigação
criminal e inteligência criminal.
A prospecção para desenvolvimento desta pesquisa ocorreu em 5
(cinco) etapas.
Na primeira etapa, mediante estudo descritivo baseado em revisão
retrospectiva da literatura, através de levantamento bibliográfico de fontes
primárias e secundárias e buscas a referências bibliográficas dos estudos
relevantes sobre o tema, buscamos desenhar o ambiente doutrinário das
atividades de inteligência praticadas no Brasil, em suas variadas vertentes,
especificamente na área de segurança pública.
Na segunda etapa, mediante estudo descritivo baseado em revisão
retrospectiva da literatura, através de levantamento bibliográfico de fontes
primárias e secundárias e buscas a referências bibliográficas dos estudos
12
relevantes sobre o tema, objetivando afunilar o espectro da pesquisa,
debruçamo-nos sobre as atividades de inteligência no âmbito do Ministério
Público e procuramos identificar as idéias centrais dos conceitos de inteligência
e de contrainteligência no Ministério Público brasileiro, chegando ao conceito
de inteligência ministerial e suas classificações
Na quarta etapa, mediante estudo descritivo baseado em revisão
retrospectiva da literatura, através de levantamento bibliográfico e pesquisas
exploratórias em documentos que regem, internamente, o Ministério Público de
Minas Gerais, afunilamos ainda mais o espectro de pesquisa e buscamos fazer
um exato diagnóstico das atividades de inteligência no âmbito do Ministério
Público mineiro.
Na quinta etapa, mediante estudo descritivo baseado em revisão
retrospectiva da literatura, através de levantamento bibliográfico e pesquisas
exploratórias em documentos que regem, internamente, o Ministério Público de
Minas Gerais, mudamos o foco do espectro de pesquisa e buscamos fazer um
exato diagnóstico das atividades de investigação criminal no âmbito do
Ministério Público mineiro.
Na sexta etapa, uma vez diagnosticadas as atividades de
investigação criminal e atividade de inteligência criminal desenvolvidas pelo
Ministério Público mineiro, com espírito crítico e baseado na doutrina de
inteligência levantada, passamos a confrontá-las para identificar seus pontos
de contato e divergências, chegando às conclusões apresentadas neste
trabalho.
13
2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA
2.1 Breve Histórico
Para entender o contexto atual das atividades de inteligência, não
podemos deixar de fazer uma digressão, ainda que breve, pelo nascimento e
evolução da inteligência, já que os registros históricos constituem bom ponto
de partida para se entender o presente.
GELIO FREGAPANI, citado por Almeida Neto1, noticia:
[...] falou o Senhor a Moisés, dizendo: `enviai homens que espiem a
terra de Canaã, que Eu lhe hei de dar aos filhos de Israel´. Enviou-os pois Moisés a espiar a terra de Canaã, e disse-lhes: `subi por aqui para a banda do sul, e subi a montanha; e vede que terra é, e o povo que nela habita; se é boa ou má e como são suas cidades, se arraiais ou fortalezas´. Retornando da missão, as pessoas dela incumbida passaram a relatar os dados obtidos e disseram-lhe: `fomos à terra que nos enviastes; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o fruto. O povo porém que habita a terra é poderoso e as cidades são fortes e mui grandes. Vimos ali os filhos de Enaque.
E prossegue o citado autor:
Esta foi a primeira `Ordem de Busca´ de que temos registro. Na verdade, a Bíblia traz mais de uma centena de referências a informações e espionagem. Certamente houveram muitas ações de espionagem anteriores, de povos ainda mais antigos, mas é certo que os que não colheram as informações corretas tiveram menos chance de tomar as decisões adequadas, e que isto freqüentemente lhes custou a sobrevivência.
Silvestre2, sintetizando e citando as obras de Araújo e Buzanelli, faz
completa abordagem histórica sobre os primórdios da inteligência, nos
seguintes termos:
1ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público: aspectos
práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009, p. 28.
14
[...] teve início no primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, o Grande, que organizou um corpo de espiões (―Os olhos e os ouvidos do rei‖), para espionar os sátrapas (vice-reis das unidades político-administrativas chamadas Satrapias). Na Roma Antiga era comum a presença de espiões atrás das cortinas para ouvir segredos. Antes do século II esta potência não possuía um corpo diplomático, então, para resolver os problemas, enviava ao exterior pequenas missões que agiam em nome do governo, tornando-se, posteriormente, embaixadas permanentes, nas quais muitos membros prestaram-se ao serviço de espionagem. Toda a aristocracia romana tinha sua rede permanente de agentes clandestinos e casas com compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes
3.
Apesar desse histórico, os romanos só institucionalizaram a atividade de inteligência e espionagem no período do Império. Na Idade Média, o serviço de espionagem foi posto de lado, devido à influência da Igreja e da Cavalaria, que o julgavam pecado. Porém Maomé o utilizou em 624. Seus agentes infiltrados em Meca (Arábia Saudita) o avisaram de um ataque de soldados árabes a Medina, cidade em que estava refugiado. Ele mandou então que fizessem trincheiras e barreiras ao redor da cidade, que impediram o avanço dos soldados
1.
A atividade de inteligência volta com a Renascença. As cortes européias tornaram-se verdadeiros centros de intrigas. Durante esse período, muitos ministros e diplomatas foram responsáveis pela coleta de informações. O Cardeal Richelieu (1585-1642) fundou, na França, o Gabinet Noir, que monitorava as atividades da nobreza, e Sir Francis Walsingham (1537-1590) frustrou os empreendimentos de Mary Stuart e Felipe II, ambos católicos, contra a coroa inglesa de Elizabeth I, protestante, por meio do serviço de Inteligência. A primeira escola de Inteligência foi criada pelos russos, a ―Casa de Ukrainev‖ – célula-mãe da Okhrana, polícia secreta dos czares. A Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865) trouxe avanços significativos para a Inteligência, como o uso de fotos (os fotógrafos tinham trânsito livre e reduziam o tamanho das fotografias, inserindo nelas mensagens – protótipo da microfilmagem), telegrafia, uso de códigos e cifras e reconhecimento aéreo realizado por balões
4.
Na Primeira Guerra Mundial houve a modernização da atividade de Inteligência. A SIGINT (Inteligência de sinais, ou seja, o uso de tecnologia, ou outros artifícios não humanos, para a produção de conhecimento) adquiriu caráter mais decisivo devido à quebra de cifras. Ao início, a Rússia já possuía um serviço de inteligência organizado, a Okhrana. O período entre guerras foi o momento em que houve a institucionalização dos primeiros órgãos de Inteligência. A URSS, a
2 SILVESTRE, Flávia Galindo. A importância de um núcleo de inteligência de segurança pública para as
atividades periciais. Belo Horizonte/MG: 2009. 56 p. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, p. 12-14.
3 ARAÚJO, Raimundo Teixeira de. História secreta dos serviços de inteligência: origens, evolução e
institucionalização. São Luís: Ed. do autor, 2004. 204p.
4 ARAÚJO, Op. cit., 2004.
15
Alemanha e a Inglaterra, então, já possuíam um bom serviço de Inteligência. Na Segunda Guerra Mundial, o Eixo possuía o seguinte aparato de Inteligência: a Alemanha organizou o Abwehr (inteligência militar) e SD (inteligência do Partido Nazista); os japoneses tinham uma rede de espionagem na América, controlada da Espanha neutra, a Kempei Tai (Polícia Militar Secreta). Essa polícia foi responsável pela infiltração de um espião em Pearl Harbor meses antes do ataque. Os aliados também possuíam seu serviço de Inteligência e o utilizaram amplamente para a quebra de códigos, como os da máquina alemã Enigma e da japonesa Púrpura
2.
Os ingleses criaram o Serviço de Operações Especiais (SOE). Seus agentes foram enviados a territórios ocupados pelo inimigo para organização de grupos de resistência. Os Estados Unidos organizaram o Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), com atribuições semelhantes ao SOE. A URSS possuía a Orquestra Vermelha, que espionava, em especial, a Alemanha; porém Stálin não confiava muito em seus espiões
5.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho atuou como um eficaz agente do movimento comunista internacional. Os Estados Unidos descobriram que a Rússia os espionou mesmo quando eram aliados. Criaram então a CIA, seguida pela Agência de Segurança Nacional (NSA) para atuar com SIGINT, e passaram a basear suas decisões políticas nos relatórios de Inteligência, iniciando, dessa maneira, a Guerra Fria, momento em que houve um grande desenvolvimento tecnológico com o objetivo de monitorar com mais precisão os passos de cada potência. Com o fim da Guerra Fria, houve um novo redirecionamento de interesses no cenário político e econômico mundial. Mudaram os inimigos e os alvos a serem alcançados. O combate ao crime organizado, terrorismo, narcotráfico, biopirataria, espionagem industrial e econômica e aos ilícitos transnacionais passaram a constituir o escopo da atividade de inteligência no século XXI
3.
Em 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso baixou a medida provisória nº. 813, cujo texto manteve a Subsecretaria de Inteligência (SSI) subordinada à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), e ainda autorizava a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) como uma autarquia federal vinculada à Presidência da República. A nova entidade possuiria, entre suas finalidades, a incumbência de planejar e executar atividades de natureza permanente, relativas ao levantamento, coleta, análise de informações, e executar atividades de natureza sigilosa, necessárias à Segurança do Estado e da sociedade. Em 1997 foi remetido ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº. 3.651, dispondo sobre a instituição do Sistema Brasileiro de Inteligência e a criação da ABIN, órgão que permaneceu vinculado a Casa Militar até 1999, quando foi criado o Gabinete de Segurança Institucional – GSI, assumindo, entre outras funções, todas as responsabilidades relacionadas à extinta Casa Militar. Após a sanção presidencial, a SSI foi extinta sendo criada a ABIN como órgão de assessoramento direto do Presidente da República.
5 BUZANELLI, Márcio Paulo. Evolução histórica da atividade de inteligência no Brasil. In: IX
CONGRESSO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DE LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA. Madrid, Espanha, 2004.
16
Ainda em 1999, o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nº. 9.883, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e regulamentou a criação da ABIN
6.
A Lei nº 9.883 atribuiu ao SISBIN a responsabilidade de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do país, o que incluiu o processo de obtenção, análise e disseminação "de informações necessárias ao processo decisório do Poder Executivo", bem como a salvaguarda da informação "contra o acesso de pessoas ou órgãos não autorizados". Também destaca como principais fundamentos do sistema a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado democrático de direito e a dignidade da pessoa humana. Essa lei instituiu a ABIN como órgão de assessoramento direto ao presidente da República e como órgão central do SISBIN, com a missão de "planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do país", e ainda estabeleceu que a atividade de inteligência será desenvolvida, no que se refere aos seus limites e ao uso de suas técnicas, sempre em observância irrestrita aos princípios constitucionais
4.
A nova lei estabeleceu que o diretor-geral da agência deverá ter seu nome aprovado pelo Senado Federal e será o responsável pela elaboração e edição do regimento interno da ABIN a ser aprovado pelo presidente da República. A criação da Agência proporcionou ao estado brasileiro institucionalizar a atividade de inteligência, mediante ações de coordenação do fluxo de informações necessárias às decisões de governo, no que diz respeito ao aproveitamento de oportunidades, aos antagonismos e às ameaças, reais ou potenciais, para os mais altos interesses da sociedade e do país. Em 2002 o Congresso Nacional, através da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, promoveu o seminário "Atividades de Inteligência no Brasil: Contribuições para a Soberania e para a Democracia", com a participação de autoridades governamentais, parlamentares, acadêmicos, pesquisadores e profissionais da área de inteligência. A contribuição do evento foi significativa para o aprofundamento das discussões acerca da atividade de inteligência no Brasil. Esta foi a primeira `Ordem de Busca´ de que temos registro. Na verdade, a Bíblia traz mais de uma centena de referências a informações e espionagem. Certamente houveram muitas ações de espionagem anteriores, de povos ainda mais antigos, mas é certo que os que não colheram as informações corretas tiveram menos chance de tomar as decisões adequadas, e que isto freqüentemente lhes custou a sobrevivência.
Importante retomarmos um momento histórico que conferiu novos
rumos para a inteligência atual, quando, na década de 1990, teve fim a Guerra
Fria. Travada entre os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas
6 BUZANELLI, Op. cit., 2004.
17
Socialistas Soviéticas, com um aparato de Inteligência jamais vivenciado no
mundo, a tensão era vivenciada e criada entre a Inteligência e a
Contrainteligência da CIA e da KGB, serviços secretos dos referidos países,
respectivamente.
Com o fim da guerra fria, a pergunta que remanesceu foi o que fazer
com todo o aparato de inteligência montado? Muitos estudiosos e operadores
de inteligência sinalizavam pela extinção dos serviços de inteligência em
virtude de sua desnecessidade. Parecia o fim das atividades de inteligência.
Ledo engano. A realidade do mundo moderno, com o desvelo de um choque
intenso de civilizações (Ocidente X Oriente – mais propriamente o Oriente-
Médio, Europa X Estados Unidos); o crescimento assustador de uma potência
mundial como a China, com mais de 1/5 da população mundial; o surgimento
da internet e da conhecida www – world wide web – rede mundial de
computadores e o fluxo intenso e em tempo real de informações; as
externalidades negativas da globalização como a criminalidade cibernética, o
crime transnacional, o tráfico variado (entorpecentes, crianças, pessoas,
animais, plantas, minerais); a lavagem mundial de capitais, enfim,
consequências nunca antes imaginadas, passou a assolar a civilização atual.
Um marco temporal e histórico, que virou a página e as ideias da
desnecessidade das atividades de inteligência e a instituiu como um dos
únicos meios capazes de permitir uma vida harmônica em sociedade, se
utilizada dentro de princípios éticos e humanitários por seus detentores, foi o
ataque terrorista do fatídico 11 de setembro de 2.001, quando terroristas,
extremistas religiosos, atacaram o World Trade Center e outros pontos
estratégicos no território dos Estados Unidos da América, fazendo com que o
Governo norte-americano, à época comandado por George W. Bush, lançasse
uma declarada ―guerra contra o terror‖ cuja principal ferramenta foi e ainda é a
inteligência. 7
7 CEPIK, Marco A. C. Aula inaugural ministrada aos alunos do curso de pós-graduação em inteligência de
estado e inteligência de segurança pública com direitos humanos oferecido pela Fundação Escola
18
Todavia, diferentemente do que ocorreu no período militar e da guerra
fria, a inteligência, seu conceito, sua ideia, finalidade e processo deixou de ser
um conhecimento enclausurado, exclusivo de alguns Estados e organizações,
um apanágio dos nobres, como quis um dia o coronel Walther Nicolai8, mas
um processo de coleta/tratamento de informações difundido para organizações
as mais variadas, públicas e privadas, de amplitude local, regional, nacional ou
internacional, havendo uma verdadeira ―popularização‖ das atividades de
inteligência, que, até certo ponto, em excesso, é perigosa, tendo em vista a
potencialidade dos instrumentos à disposição da inteligência para a
consecução de seus fins.
É nesse contexto que a atividade de inteligência torna-se uma
realidade mundial e nacional.
2.2 Conceito de inteligência
Longe de ser unívoco, o conceito de inteligência é polissêmico e na
doutrina especializada, tudo a depender do enfoque que se dá ao teor do
conceito, isto é, aos atributos como segredo, origem, finalidade, etc...
Para depurarmos tal conceito, passamos a uma abordagem das
principais idéias encontradas nas publicações especializadas para, então,
assumirmos o conceito que melhor se adapta aos objetivos deste trabalho e a
idéia de atividade de inteligência no âmbito do Ministério Público.
Partimos das lições de Antunes,9 que, em abordagem técnica e
didática, apresenta definição das atividades de inteligência por três autores
anglo-saxões:
Superior do Ministério Público de Minas Gerais em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva, 1ª. Turma – outubro/2006 a março/2008.
8 Walter Nicolai foi chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck – 1873/1934.
9 ANTUNES, Priscila Carlos Brandão. SNI & Abin: uma leitura da atuação dos serviços secretos
brasileiros ao longo do século XX. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002, p. 17-21.
19
Sims [1995] afirma que seria toda informação coletada, organizada e analisada para atender aos tomadores de decisão em suas atividades. Shulsky [1991] restringe a área de atuação da Inteligência e a vincula necessariamente à competitividade entre nações, ao segredo e ao formato das organizações. Em suas palavras, a atividade é definida como ―coleção e análise de informações relevantes para a formulação e implementação da política de segurança nacional‖. Já Herman [1991] define Inteligência como tudo aquilo que os órgãos governamentais oficiais de Inteligência produzem, restringindo-a a esfera estatal.
Outros conceitos foram elaborados com sutis alterações, todavia,
não desviam em essência daqueles retro apresentados. Vejamos.
Silvestre condensa com bom conteúdo a pluralidade de conceitos
sobre atividade de inteligência:
Para Robert David Steele, defensor ferrenho da utilização de fontes abertas e principal executivo da empresa privada Open Source Solution, ―inteligência é informação descoberta, discriminada, destilada e difundida para um decisor a fim de responder uma questão específica‖. Cepik (2003, p. 27-32), um dos principais pesquisadores brasileiros na área de inteligência, reconhece a existência de duas correntes: uma define inteligência como conhecimento ou informação analisada; a outra, mais restrita, como o mesmo que segredo ou informação secreta, pois se refere à ―coleta de informações sem o consentimento‖. A definição de Herman é mais precisa, pois, além de não limitar a atividade ao campo do conflito, de desvinculá-la da incondicionalidade do segredo e de não excluir temas como ―movimentos sociais‖ e ―meio ambiente‖, também não permite que qualquer entidade que auxilie a tomada de decisões seja considerada um potencial produtor de inteligência. Nota-se, no entanto, que todas as definições apresentadas parecem convergir ao afirmarem ou sugerirem que a responsabilidade de subsidiar o decisor seria a principal função da atividade dos órgãos de inteligência. Segundo Cepik
10, serviços de inteligência são organizações
governamentais especializadas na coleta, análise e disseminação de informações sobre problemas e alvos relevantes para a política externa, para a política de defesa nacional e a para a segurança pública de um país, formando, juntamente com as Forças Armadas e
as polícias, o núcleo coercitivo do estado contemporâneo. 11
10 CEPIK, Marcos A.C. Espionagem e democracia: agilidade e transparência como dilemas na
institucionalização de serviços de inteligência. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003.
11 SILVESTRE, Flávia Galindo. A importância de um núcleo de inteligência de segurança pública para as
atividades periciais. Belo Horizonte/MG: 2009. 56 p. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, p. 19.
20
No âmbito do Estado Brasileiro, de acordo com a Doutrina Nacional
de Inteligência, a atividade de inteligência é o exercício permanente de ações
direcionadas para:
a) a obtenção de dados e avaliação de situações que impliquem
ameaças, veladas ou dissimuladas, capazes de dificultar ou impedir a
consecução dos interesses estratégicos do Brasil;
b) a obtenção de dados e a avaliação de situações que
representem oportunidades para a consecução dos interesses estratégicos do
país;
c) a identificação, avaliação e neutralização da espionagem
promovida por serviços de Inteligência estrangeiros;
d) a identificação, avaliação e neutralização de ações adversas
promovidas por organismos ou pessoas, vinculados ou não a governos;
e) a salvaguarda dos conhecimentos e dados que, no interesse da
segurança do Estado e da sociedade, devam ser protegidos.
Vejamos o conceito de atividade de inteligência segundo a DNISP12
(2007):
A atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP) é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para prever, prevenir e reprimir atos delituosos de qualquer natureza ou relativos a outros temas de interesse da Segurança Pública e da Defesa Social.
Para arrematar a discussão, teremos como conceito a ser
utilizado doravante neste trabalho aquele apresentado por Almeida Neto13
,
segundo o qual é possível definir inteligência como
a atividade permanente e especializada de obtenção de dados, produção e difusão metódica de conhecimentos, a fim de assessorar um decisor na tomada de uma decisão, com o resguardo do sigilo,
12 BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Doutrina Nacional de
Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Brasília, 2007.
13 Op. Cit. p. 28.
21
quando necessário para a preservação da própria utilidade da decisão, da incolumidade da instituição ou do grupo de pessoas a que serve. Tal atividade, em sentido amplo, abrange, ainda, a prevenção, detecção, obstrução e neutralização das ameaças (internas e externas), às informações, áreas, instalações, meios, pessoas e interesses a que a organização serve (contra-inteligência).
2.3 Ramos
Conforme se observa do conceito adotado no presente trabalho e
ponto comum nos conceitos apresentados pela literatura especializada, o
termo inteligência ou atividade de inteligência aceita uma subdivisão entre
inteligência e contrainteligência.
Inteligência, ou mais especificamente, inteligência stricto sensu, é a
atividade permanente e especializada de coleta de dados, produção e difusão
metódica de conhecimentos, a fim de assessorar o usuário na tomada de uma
decisão relevante, com o resguardo do sigilo quando necessário para a
preservação da própria utilidade da decisão, da incolumidade da instituição ou
do grupo de pessoas que a serve.
Contrainteligência é a atividade de detecção, identificação,
avaliação, prevenção, obstrução, exploração e neutralização das ameaças
internas e externas, às informações sensíveis que a organização detém ou às
suas áreas, instalações, pessoas e interesses, inclusive provenientes da
inteligência adversa.14
No âmbito normativo, estes conceitos também são encontrados.
De acordo com o art. 1°, § 2°, do Decreto 4.376/2002, que
regulamentou a Lei 9.883/1999, inteligência é ―a atividade de obtenção e
análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos,
dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou
potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a
salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado‖.
14 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público. Belo
Horizonte: Dictum, 2009, p. 49-50.
22
Por sua vez, contrainteligência é ―a atividade que objetiva prevenir,
detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer
natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e
conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem
como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem‖ (art. 3° do
Decreto 4.376/2002).
Na DNISP12
(2007), a concepção mais ampla de contrainteligência
é:
Contrainteligência (CI) é o ramo da atividade de ISP que se destina a produzir conhecimentos para proteger a atividade de Inteligência e a instituição a que pertence, de modo a salvaguardar dados e conhecimentos sigilosos e identificar e neutralizar ações adversas de qualquer natureza. A CI presta assessoria, também, em assuntos internos de desvios de conduta, relacionados à área de Segurança Pública.
Almeida Neto,15
detalhando a contrainteligência, assim leciona:
A contrainteligência é tradicionalmente subdividida em dois setores: a segurança ativa e a segurança orgânica. A primeira, como o próprio nome sugere, abrange as medidas e ações pró-ativas de maior poder vulnerante, destinadas a detectar, avaliar, identificar, explorar e neutralizar as ameaças à organização. Este é o âmbito em que se desenvolve, na inteligência de Estado, tradicionalmente, a contrapropaganda, a contrasabotagem, a contraespionagem e o contraterrorismo. Embora alguns profissionais entendam que a contrainteligência interna (que, por exemplo, pode assessorar a corregedoria de uma unidade ou organização) seria um terceiro setor, é mais adequado tratá-la como um seguimento afeto ao âmbito da segurança ativa, uma vez que também implicará a necessidade constante da realização de medidas pró-ativas em relação ao seu pessoal orgânico, inclusive de detecção de espiões, de vazamentos intencionais, recrutamentos, sabotagens, entre outros. A segurança orgânica, por sua vez, traduz as medidas e ações de cunho propriamente defensivo, ou seja, aquelas destinadas à prevenção e obstrução das ameaças. A prevenção das ameaças se dá, principalmente, por intermédio do conhecimento acerca das potencialidades lesivas à disposição dos atores adversos, bem como, pela detecção, identificação, avaliação e correção das vulnerabilidades do sistema e da organização. Tal segmento da
15ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público. Belo
Horizonte: Dictum, 2009, p. 57-58.
23
contrainteligência costuma ser subdividido em segurança do pessoal (abrangendo não apenas a proteção da incolumidade física dos recursos humanos da organização, mas também o estudo de suas vulnerabilidades a fim de evitar a sua exploração por atores adversos), segurança do conhecimento (que envolverá o acompanhamento de cada fase do ciclo de produção do conhecimento, com a proteção e o controle de todos os veículos, meios, suportes, áreas, instalações, materiais e detentores do conhecimento sensível), segurança de áreas e instalações (aquelas nas quais se desenvolvam serviço de fundamental importância para a organização) e proteção do material (proteção dos materiais que, pelo que representam ou contêm, interessam à organização preservar). Cada um desses segmentos contém uma miríade de ações e reclamam providências técnicas que deverão ser adotadas pela organização a fim de atingir a sensação de segurança.
Importante registro a se fazer no presente momento diz respeito às
operações de inteligência.
Apesar de didaticamente na academia as matérias serem
lecionadas separadamente, Inteligência, contrainteligência e operações de
inteligência, ou, de um órgão de inteligência contemplar, na prática, tal
subdivisão em 3 (três) departamentos ou setores distintos, importante assinalar
que, malgrado a importância e relevâncias das operações e suas respectivas
técnicas operacionais, conceitualmente, elas não constituem ramo diverso,
pois, como se verá adiante, poderão servir tanto à inteligência quanto à
contrainteligência, na medida em que constituem ações que promovem,
essencialmente, a busca de dados mediante emprego de técnicas e meios
especializados.
2.4 Aspectos normativos
A par do escorço histórico já elaborado para, cronologicamente,
demonstrar a estruturação da inteligência no Brasil, valioso registrar nesta
passagem quais os instrumentos legais que atualmente regem a atividade de
inteligência pública no Brasil e como funciona o Sistema de Inteligência do
Poder Executivo Federal.
A Lei federal nº. 9.883, de 07 de dezembro de 1.999, instituiu o
Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e a criação da Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN).
24
Tal instrumento legal atribuiu ao SISBIN a responsabilidade de
integrar as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência
do país, o que incluiu o processo de obtenção, análise e disseminação "de
informações necessárias ao processo decisório do Poder Executivo", bem
como a salvaguarda da informação "contra o acesso de pessoas ou órgãos
não autorizados". Também destaca como principais fundamentos do sistema a
preservação da soberania nacional, a defesa do Estado democrático de direito
e a dignidade da pessoa humana.
O Decreto n. 4376/2002, no âmbito infralegal, regulamenta a
estrutura e organização do SISBIN.
A Lei 9.883/99 instituiu a ABIN como órgão de assessoramento
direto ao presidente da República e como órgão central do SISBIN, com a
missão de "planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as
atividades de inteligência do país", e ainda estabeleceu que a atividade de
inteligência será desenvolvida, no que se refere aos seus limites e ao uso de
suas técnicas, sempre em observância irrestrita aos princípios constitucionais.
A ABIN é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República (GSI).
A estruturação administrativa da ABIN está prevista no Decreto
6.408/2008 e o plano de cargos e carreira estabelecido na Lei 11.776/2008.
Importante ressaltar, ainda, no âmbito da administração pública
federal, a vigência do Decreto 4.553/2002, que, entre outras coisas, estabelece
os graus de sigilo que poderão ser atribuídos aos documentos ou informações,
de extrema importância para um órgão de inteligência.
A fiscalização das atividades de inteligência no âmbito federal é
promovida pela Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência.
O Decreto 3.695/2000 criou o Subsistema de Inteligência de
Segurança Pública (SISP), estabelecendo como seu órgão central a Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP). O SISP é um subsistema por ser
parte do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Compõem o SISP, além
da SENASP, os Ministérios da Justiça, da Fazenda, da Defesa e da Integração
25
Nacional e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Também podem integrar o SISP os órgãos de inteligência de Segurança
Pública dos Estados e do Distrito Federal. Numa síntese, órgãos dos Poderes
Executivos estaduais e federal.
A SENASP criou a Rede Nacional de Inteligência de Segurança
Pública (RENISP), que é uma rede tecnológica para a comunicação segura
dos integrantes do SISP, basicamente composta por um módulo de criptografia
de mensagens (MCX-27), um aparelho de criptografia de fax ou fac-símile (UD-
7) e um telefone que criptografa a voz (TSG).16
2.5 Classificação
A inteligência pode ser classificada como pública, quando realizada
por organizações estatais, ou privada, desenvolvida no âmbito das
organizações privadas.
No que tange à inteligência privada, esta pode ter como sinônimos
inteligência empresarial e inteligência competitiva e, em suma, consiste no
desenvolvimento de atividades de inteligência no setor privado, por
organizações igualmente privadas, particulares, sem a regulamentação típica
da administração pública. Ressalte-se, todavia, que suas operações deverão,
obviamente, respeitar a legislação constitucional e infraconstitucional,
especialmente no que tange á tutela dos direitos fundamentais da pessoa
humana.
A inteligência pública pode ser subdividida em inteligência clássica
ou inteligência de Estado (destinada a assessorar o chefe de Estado/governo)
e inteligência de segurança pública (destinada a assessorar as autoridades
responsáveis pela segurança pública e pela obtenção de provas na
16 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividade de inteligência no Ministério Público. In: CONGRESSO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MINISTÉRIO PÚBLICO E JUSTIÇA SOCIAL, 2005. Belo Horizonte. Anais Associação Nacional dos Membros do Ministério Público/ Associação Mineira do Ministério Público, 2006, p. 631-649.
26
persecução penal). A inteligência clássica ou de Estado também pode ser
classificada em dois grupos: inteligência militar de Estado e inteligência civil de
Estado17
.
A inteligência de Estado, especialmente destinada ao
assessoramento do processo decisório governamental, passou a coexistir com
a inteligência de segurança pública.
Pacheco18
apresenta uma subdivisão da inteligência de segurança
pública (ou criminal) em: inteligência policial, para a inteligência desenvolvida
no âmbito das polícias e inteligência prisional (ou mais restritivamente
inteligência penitenciária), para a atividade desenvolvida no âmbito dos
presídios. Conclui, contudo, que ―a inteligência de segurança pública ou
inteligência criminal é um conceito em construção‖.
Almeida Neto7 acrescenta nesta subdivisão outras três categorias:
inteligência fiscal (exercida pelas autarquias e órgãos fazendários), inteligência
financeira (exercida pelas unidades de inteligência financeira) e inteligência
ministerial de segurança pública (exercida pelo Ministério Público).
Não poderíamos deixar de registrar, neste momento, os conceitos
de inteligência estratégica e inteligência tática.
A inteligência estratégica é voltada para a produção do
conhecimento necessário para que, numa determinada perspectiva de futuro,
se estabeleça o modo pelo qual a organização irá atingir seus objetivos e
cumprir sua missão, e, em certos casos, para que se modifiquem os próprios
rumos da organização.
Por seu turno, a inteligência tática é voltada para o assessoramento
das decisões referentes à aplicação e execução da estratégia definida.
17 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público. Belo
Horizonte: Dictum, 2009.
18 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: IV JORNADA JURÍDICA
DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – Auditoria da 4ª CJM, Juiz de Fora/MG, 30 set. 2005.
27
A inteligência estratégica funciona em um nível mais geral, de alta
complexidade, com informações de médio e longo prazos, enquanto a
inteligência tática se desenvolve em um nível mais específico, de menor
complexidade, com informações a curto prazo.19
2.6 Ciclo da atividade de inteligência
Um dos maiores signos da atividade de inteligência, que a diferencia
de outras tantas atividades, é a produção do conhecimento, vale dizer, a
transformação do dado (―todo e qualquer fato, relato, notícia, observação não
submetido à metodologia para a produção do conhecimento‖) em informação
ou conhecimento (―resultado do processamento de dados avaliados e
conhecimentos, com a utilização de metodologia específica, que possibilita
tomar ciência ou estabelecer conclusões sobre fatos e/ou situações de
interesse de atividade de inteligência‖) de acordo com determinado
procedimento metodológico e técnicas específicas. Esse processo de
transformação do dado em conhecimento útil, preciso, avaliado, e interpretado,
numa concatenação de ações logicamente seqüenciadas, é o que se costuma
denominar: ciclo de produção do conhecimento de inteligência.20
As dez etapas tradicionais de produção do conhecimento de
inteligência são bem sintetizadas na obra de Marco A. Cepik21
:
As descrições convencionais do ciclo de inteligência chegam a destacar até 10 passos ou etapas principais que caracterizariam a atividade, a saber: 1. Requerimentos informacionais. 2. Planejamento. 3. Gerenciamento dos meios técnicos de coleta. 4. Coleta a partir de fontes singulares. 5. Processamento. 6. Análise das informações obtidas de fontes diversas. 7. Produção de relatórios, informes e estudos. 8. Disseminação dos produtos. 9. Consumo pelos usuários. 10. Avaliação (feedback). Entretanto, na maior parte desta seção
19 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público: aspectos
práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009, p. 66.
20 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Op, cit. p. 50.
21 CEPIK, Marco A.C. Espionagem e democracia. Rio de Janeiro: Ed. FGV. 2003, p. 32.
28
serão destacadas basicamente as duas etapas fundamentais de coleta (single sources) e análise (all sources).
Segundo Pacheco
22, há várias teorias sobre quais fases compõem o
ciclo de inteligência:
Podemos, por exemplo, numa perspectiva acadêmica, ter as seguintes fases: identificação das necessidades informacionais do usuário final (requerimento ou determinação da produção de determinada informação/conhecimento), planejamento da obtenção dos dados/informações requeridos, gerenciamento dos meios técnicos de obtenção, obtenção (coleta ou busca) dos dados/informações, processamento dos dados/informações (organização, avaliação e armazenagem), produção do conhecimento (análise, interpretação e síntese dos dados/informações), disseminação do conhecimento, uso do conhecimento e avaliação do ciclo (feedback quanto ao uso do conhecimento para aperfeiçoamento do ciclo de inteligência). Em geral, um órgão de inteligência se subdivide em três áreas: a) análise ou atividade de inteligência stricto sensu (produção de conhecimento, que é documentado e disseminado na forma de relatórios de inteligência, a saber, informe, apreciação, informação e estimativa); b) Contrainteligência (proteção dos dados, informações e conhecimentos de uma instituição, por meio da segurança do pessoal, segurança da documentação e material, segurança das áreas e instalações, e segurança dos sistemas de informações – comunicações e informática); c) operações de inteligência (busca do dado e/ou da informação negados ou não-disponibilizados). As espécies de informação lato sensu podem ser determinadas conforme o grau crescente de sua utilidade para a tomada de decisão: a) dado (informação lato sensu, em ―estado bruto‖, ou seja, não submetida à análise, síntese e/ou interpretação); b) informação (informação stricto sensu, já submetida a algum trabalho de análise e interpretação); c) conhecimento (dados e informações já submetidos à análise, síntese e interpretação necessários para a tomada de decisões).
De acordo com a DNISP (2007), o CPC – ciclo da produção do
conhecimento – é definido sinteticamente como um processo formal e regular
separado em duas etapas principais, uma vinculada à reunião de dados e a
outra ao processo de análise. O resultado desse conjunto de ações
sistemáticas é um conhecimento de inteligência, materializado em documentos
de inteligência, atendidas as peculiaridades de sua finalidade. Dentro de uma
22 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: IV JORNADA JURÍDICA
DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – Auditoria da 4ª CJM, Juiz de Fora/MG, 30 set. 2005.
29
perspectiva menos sintética, trata-se, o CPC, de um processo contínuo e
seqüencial composto por quatro fases, planejamento, reunião de dados,
processamento e difusão, que não são desenvolvidas em uma ordem
necessariamente cronológica.
Independentemente do número de fases, remanesce a idéia de que
há um processo de tratamento dos dados obtidos a fim de que se torne um
conhecimento apto a dar subsídio ao tomador de decisões, como que na
lapidação do diamante a fim de transformar uma pedra bruta em pedra
preciosa.
Cepik23
bem condensa esta ideia:
A própria idéia de ciclo de inteligência deve ser vista como uma metáfora, um modelo simplificado que não corresponde exatamente a nenhum sistema de inteligência realmente existente. Por outro lado, essa falta de acuidade descritiva não é o que mais importa, pois a caracterização das atividades de inteligência enquanto um processo de trabalho complexo e dinâmico é importante para que se possa distinguir as mudanças qualitativas que a informação sofre ao longo de um ciclo ininterrupto e inter-relacionado de trabalho. A principal contribuição da idéia de um ciclo de inteligência é justamente ajudar a compreender essa transformação da informação e explicitar a existência desses fluxos informacionais entre diferentes atores (usuários, gerentes, coletores, analistas, etc...)
2.7 Operações de inteligência
Inicialmente cumpre frisar, conforme já assinalado, que o segmento
de operações de inteligência não constitui um ramo autônomo, ao lado da
inteligência strictu sensu e da contrainteligência, mas uma fração da unidade
de inteligência responsável pela busca de dados negados e pela neutralização
de ações adversas, servindo ora à inteligência, ora à contrainteligência.
Operações de inteligência, então, é o conjunto de ações planejadas,
com o emprego de técnicas e meios especializados para a realização da
busca.
23 Op cit. p. 32.
30
O departamento de operações classifica suas ações de busca em:
buscas exploratórias e buscas sistemáticas. As primeiras são aquelas
encetadas para colher, em um curto espaço de tempo, dados necessários a
produção de um conhecimento sobre um fenômeno específico que não se
prolonga no tempo. As segundas, de seu turno, são aquelas promovidas
rotineiramente pelo segmento de operações em virtude da necessidade de
acompanhamento contínuo e permanente das atividades de determinado
alvo.24
O segmento de operações, tratado pela DNISP como ELO (setor
que planeja executa as operações), como dito, vale-se de métodos (ações de
busca) e técnicas especiais, a fim de atingir seu objetivo principal que, sem
dúvida alguma, é a coleta do dado negado.
Métodos operacionais ou ações de busca são 9 (nove):
reconhecimento, vigilância, recrutamento operacional, infiltração,
desinformação, provocação, entrevista, entrada e interceptação de sinais e
dados.
1. Reconhecimento: ação de busca realizada para obter dados sobre o ambiente operacional ou identificar visualmente uma pessoa. Normalmente é uma ação preparatória que subsidia o planejamento de uma operação de inteligência. 2. Vigilância: consiste em manter um ou mais alvos em observação. 3. Recrutamento Operacional: tem por finalidade convencer uma pessoa não pertencente ao Núcleo de inteligência a trabalhar em benefício desta como colaborador ou informante. 4. Infiltração: consiste em colocar uma pessoa junto ao alvo. 5. Desinformação: consiste em confundir alvos (pessoas ou organizações) mediante a utilização de informações inverídicas para, intencionalmente, induzir ao cometimento de erros de apreciação e, com isso, a prática de comportamentos pré-determinados e equivocados. Muito utilizado pela contrainteligência. 6. Provocação: consiste em fazer com que um alvo/pessoa modifique seus procedimentos e adote comportamentos executando algo desejado, sem que desconfie que o está fazendo por provocação. 7. Entrevista: consiste na obtenção de dados por meio de uma conversa mantida com propósitos pré-definidos, planejada e controlada pelo entrevistador.
24 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Op. cit. p. 59.
31
8. Entrada: ação realizada para a obtenção de dados em locais de acesso restrito sem que seus responsáveis tomem conhecimento. 9. Interceptação de sinais (eletromagnéticos, óticos e acústicos) e de dados: ação realizada com a utilização de equipamentos adequados utilizados por agentes com conhecimento especializado em eletrônica.
Anote-se que os métodos de interceptação, infiltração e entrada
dependem de autorização judicial, conforme mandamento constitucional, por
constituir relativização de direito fundamental individual da pessoa humana.
Já as técnicas operacionais são habilidades específicas também
utilizadas como instrumentos para a obtenção de dados, de utilização
conjugada com as ações de busca, a fim de viabilizar a execução desta e um
maior sucesso na obtenção do dado pretendido.
São 8 (oito): processo de identificação de pessoas; (OMD) –
Organização, Memorização e Descrição; estória-cobertura; disfarce;
comunicações sigilosas; leitura da fala; análise de veracidade;
fotointerpretação.
1. Processo de identificação de pessoas: é a técnica que vale-se da evolução tecnológica com a finalidade de identificar ou reconhecer pessoas (fotografia, fotometria, retrato falado, datiloscopia, DNA, arcada dentária, voz, íris, medidas corporais, etc...) 2. OMD – observação, memorização e descrição: consiste no exame minucioso pelo observador de pessoas, locais, fatos ou objetos, pela máxima utilização dos sentidos, especialmente a visão, de modo a reproduzir posteriormente, com fidedignidade, tais dados. 3. Estória-cobertura: técnica de dissimulação utilizada para encobrir as reais identidades dos agentes de operações de inteligência, a fim de facilitar a obtenção de dados, preservar a segurança e o sigilo. 4. Disfarce: consiste na utilização de recursos naturais ou artificiais para modificação da aparência física do agente de inteligência a fim de evitar o seu reconhecimento, atual ou futuro, ou utilizado para adequação a uma estória-cobertura. 5. Comunicações sigilosas: consiste no emprego de formas e processos especiais convencionados para a transmissão de mensagens ou para passar objetos, no decorrer de uma operação. 6. Leitura da fala: consiste na decodificação, a distância, de uma conversação travada por uma pessoa, através do movimento de seus lábios, que permita a compreensão do assunto tratado. 7. Análise de veracidade: consiste na utilização de recursos tecnológicos ou outros meios lícitos, como expressão corporal, a fim de constatar se uma pessoa está falando a verdade sobre fatos ou situações.
32
8. Fotointerpretação: técnica utilizada para identificar os significados das imagens obtidas.
25
Derradeiramente, imperioso registrar que os róis de métodos e
técnicas não são taxativos ou exaustivos, admitindo outros desde que dentro
dos limites mínimos traçados pela proteção dos direitos fundamentais.
25 DNISP. Doutrina Nacional de Segurança Pública. Ministério da Justiça, 2007.
33
3 A INTELIGÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO
3.1 Fundamento
Sem sombra de dúvidas o principal fundamento de índole
constitucional para a adoção de atividades de inteligência no Ministério Público
é o princípio constitucional da eficiência estampado no artigo 37, caput, da
Constituição da República.
Conforme preconizado por Pacheco26
, um dos maiores, senão o
maior defensor da criação e incremento das atividades de inteligência no
Ministério Público:
As expressões ―sistema de inteligência‖ e ―atividade de inteligência‖ possuem uma aura mítica, que em razão das experiências repressivas e traumatizantes dos serviços de informação, como o SNI, durante a época do regime militar no Brasil, passaram a gozar de grande preconceito. Foi por isto que, após o término do regime militar, os Serviços de Informação mudaram sua terminologia para ―inteligência‖, a fim de ter legitimidade perante a sociedade. Entretanto, as atividades de inteligência podem ser reconduzidas ao método científico. De outro ponto de vista, os ―sistemas de inteligência‖ e as ―atividades de inteligência‖ nada mais são do que sistemas de gestão da informação, ou, numa visão mais ampla e atual, sistemas de gestão do conhecimento. Há uma imensa ―massa de informação‖ com a qual, por exemplo, a Segurança Pública e as Receitas estaduais e federal têm que lidar cotidianamente, seja quanto aos seus trabalhos forense ou fiscal, seja quanto ao estabelecimento e execução de suas políticas e estratégias institucionais (execução orçamentária, gestão de seus recursos humanos, financeiros e materiais, planos gerais de atuação, relacionamento com outras instituições etc.). Certamente viola o princípio constitucional da eficiência que tais órgãos públicos trabalhem com essa ―massa de informações‖ de maneira meramente empírica, acarretando grande desperdício de recursos humanos, materiais e financeiros. Os órgãos públicos, portanto, devem utilizar-se de métodos, técnicas e ferramentas adequadas para lidar com as informações necessárias ao desempenho de suas finalidades. Não importa se serão utilizados os métodos, as técnicas e as ferramentas
26 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência no Ministério Público. In: CONGRESSO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MINISTÉRIO PÚBLICO E JUSTIÇA SOCIAL, 16, 2005, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público/ Associação Mineira do Ministério Público, p. 631-649, 2006.
34
do que se convencionou denominar de ―atividades de inteligência‖ ou, numa visão mais ―gerencial‖, dos seus equivalentes dos sistemas de gestão da informação e da inteligência competitiva, pois, diante da crescente complexidade dos fatos com os quais os órgãos públicos lidam e a necessidade de sua atuação sistêmica, o certo é que devem utilizar algum sistema de gestão da informação, superando a fase individualista e amadorística de muitos servidores públicos e alcançando a racionalidade gerencial exigida pelo princípio constitucional da eficiência.
Como afirma Coelho, em sua obra monográfica, a eficácia normativa
constitucional do princípio da eficiência decorre da confluência da eficiência de
segurança pública, da eficiência enquanto princípio geral da administração
pública e da eficiência da gestão orçamentária, financeira e patrimonial, que se
traduzem em aspectos político, administrativo e econômico. 27
No mesmo sentido, afirma Santin que o princípio da eficiência, no
aspecto político, relaciona-se com o melhor resultado possível das políticas e
serviços públicos, com o alcance das finalidades preconizadas pelas normas
constitucionais e infraconstitucionais. No aspecto administrativo, a eficiência
refere-se à organização e estruturação da administração pública voltada para o
cumprimento das atividades e funções públicas com mais agilidade, presteza,
perfeição e rendimento funcional. Já no aspecto econômico, observa-se a
exigência do uso de recursos públicos com racionalidade, de modo a alcançar
o melhor resultado possível com o mínimo de gastos públicos. 28
3.2 Espécies
3.2.1 Inteligência ministerial
Já falamos, no tópico referente à classificação das atividades de
inteligência, que Pacheco introduziu novo conceito doutrinário sobre
27 COELHO, Willian Garcia Pinto. Fontes abertas e federalismo cooperativo. Belo Horizonte/MG: 2008. 81
p. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, p. 32.
28 SANTIN, Valter Foleto. Controle judicial da segurança pública: eficiência do serviço na prevenção e
repressão do crime. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 134.
35
inteligência, qualificando de inteligência ministerial as atividades de inteligência
promovidas pelo Ministério Público. Verbis:
Organizações privadas, especialmente empresas, adaptaram a noção de inteligência de estado à de inteligência competitiva, sempre no sentido de dados e informações que foram adequada e suficientemente trabalhados para se tornarem inteligência ou conhecimento, ou seja, uma informação interpretada e sintética capaz de propiciar a tomada de decisão, especialmente a decisão estratégica
29. Podemos, assim, generalizar a noção de inteligência de
estado para a de inteligência institucional (melhor se diria: aplicarmos a inteligência no âmbito de outras instituições ou órgãos públicos), abrangendo-se, desse modo, órgãos públicos em geral, inclusive os Ministérios Públicos, não somente quanto à sua área criminal, mas também quanto a todas as suas áreas. Assim, é cabível dizer-se inteligência ministerial, para se referir às atividades de inteligência institucional realizadas pelo Ministério Público.
30
Aprofundando tais lições, pretendemos conferir duas qualificações
às atividades de inteligência promovidas pelo Ministério Público.
3.2.2 Inteligência ministerial estratégica e inteligência ministerial
tática
A inteligência ministerial estratégica é aquela voltada para a
produção do conhecimento necessário para que, numa determinada
perspectiva de futuro, se estabeleça o modo pelo qual o Ministério Público irá
atingir seus objetivos e cumprir sua missão constitucional, possibilitando,
inclusive, mudanças de rumo da própria instituição.
Tomemos por exemplo um conhecimento específico, baseado em
dados trabalhados por profissionais especializados, que permita ao
Procurador-Geral de Justiça saber como deverá o Ministério Público se
29 Para uma visão abrangente: TARAPANOFF, Kira (org.). Inteligência organizacional e competitiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
30 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência no Ministério Público. In: CONGRESSO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MINISTÉRIO PÚBLICO E JUSTIÇA SOCIAL, 16, 2005, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público/ Associação Mineira do Ministério Público, p. 631-649, 2006.
36
preparar para a Copa do mundo de futebol de 2014 na área criminal, de
consumidor, meio ambiente, acessibilidade à deficientes e fiscalização do
patrimônio público sobre os milhões e milhões de reais dos cofres públicos a
serem investidos em obras de infra estrutura?
Por seu turno, a inteligência ministerial tática é voltada para o
assessoramento das decisões referentes à aplicação e execução da estratégia
definida.
Assim, por exemplo, definido o incremento das Promotorias de
combate aos crimes contra a ordem tributária como atuação estratégica, será
objeto próprio da inteligência ministerial tática produzir o conhecimento
específico sobre onde instalar tais Promotorias, na capital, na grande Belo
Horizonte, ou nas cidades pólos do interior?
3.2.3 Inteligência ministerial criminal e inteligência ministerial cível
Ainda, pretendemos apresentar a seguinte classificação: inteligência
ministerial criminal e inteligência ministerial cível.
Como é cediço, com a hipertrofia das atribuições do Ministério
Público em virtude da nova missão e novos instrumentos que lhe foram
conferidos pela Constituição Federal da República, de 1988, o Ministério
Público exerce atribuições nas mais variadas áreas, todas elas sensíveis à
sociedade brasileira.
Tradicionalmente, continua a clássica atuação na seara criminal com
o poder de deflagrar a ação penal31
e seus pedidos cautelares, e ainda, como
se verá adiante, o poder investigatório. Mesmo na área criminal, o Ministério
Público tem novas atribuições, como o exercício do controle externo da
atividade policial, as atuações especializadas de combate ao crime organizado,
de combate aos crimes contra a ordem tributária, entre outros. As atividades de
31 Art. 129, inc. I, da Constituição Federal de 1988. “São funções institucionais do Ministério Público: I –
promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
37
inteligência relacionadas a essa função criminal, serão chamadas inteligência
ministerial criminal.
Não se pode olvidar a nova gama de direitos, especialmente difusos,
coletivos ou titularizados por grupos hipossuficientes/vulneráveis, que a
Constituição colocou sob a tutela e salvaguarda do Ministério Público, como,
por exemplo, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direitos
do consumidor, direitos dos idosos, dos portadores de deficiência, da criança e
do adolescente, direitos humanos, direito à saúde, sendo certo que, doravante,
as atividades de inteligência ligadas a essa área de atuação será nomeada
inteligência ministerial cível.
Conforme conceitos retro gizados, podemos perfeitamente fazer
uma combinação e chegar à real possibilidade de admitirmos, no âmbito do
Ministério Público, inteligência estratégica pura (ou institucional), inteligência
estratégica criminal ou inteligência estratégica cível, bem como, inteligência
tática institucional, inteligência tática criminal e inteligência tática cível.
Sobreleva notar que, sendo de qualquer natureza, a atividade não
perde de foco o fato de ser atividade de inteligência e, como tal, submeter-se a
toda doutrina de inteligência, como o respeito ao ciclo de produção de
conhecimento, os conceitos utilizados, a terminologia própria, o segredo ou
sigilo, a execução por profissionais especializados em todos os setores, como
análise e operações, o produto final que é sempre conhecimento e a finalidade
de assessorar tomada de decisões.
38
4 A INTELIGÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS
GERAIS
4.1 Estrutura
Em novembro de 1995 nasceu a primeira idéia de um órgão especial
de assessoramento do tomador de decisões – chefe do Ministério Público
mineiro. Pela Resolução PGJ 046/95, criou-se a Diretoria Geral da
Procuradoria-Geral de Justiça com a atribuição, entre outras, de coordenar as
atividades de assistência, assessoramento e execução de serviços e tarefas de
natureza técnico-administrativas da Procuradoria-Geral de Justiça. 32
Sem dúvida, o marco histórico para a inteligência no Ministério
Público de Minas Gerais foi fincado na gestão do então Procurador-Geral de
Justiça, Nedens Ulisses Freire Vieira, pela Resolução PGJ 60, de 06 de
setembro de 2001, que criou e estruturou a COPLI, Coordenadoria de
Planejamento Institucional, consagrando, formalmente, pela primeira vez, a
atividade de inteligência no âmbito do Ministério Público.
Por sua importância para a Instituição, vale a pena reproduzir seu
inteiro teor:
RESOLUÇÃO PGJ Nº 60, DE 06 DE SETEMBRO DE 2001
Dispõe sobre a criação e define as atribuições da Coordenadoria de Planejamento Institucional – COPLI. O Procurador-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, usando da atribuição que lhe é conferida pelos arts.18, inciso XII e § 1º, da Lei Complementar nº 34, de 12 de setembro de 1994, Considerando a necessidade de proteção sistemática de instalações, pessoal, comunicações, informática, documentação, informações e operações do Ministério Público;Considerando a necessidade de sistematização de medidas de coleta, busca, análise, produção, disseminação, gestão e proteção do conhecimento relativo ao processo decisório, ações e segurança institucionais; Considerando que a Coordenadoria de Planejamento
32Art. 2° Compete ao titular da Diretoria-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça: I- coordenar, a nível
superior, as atividades de assistência e assessoramento e de execução de serviços e tarefas de natureza técnico-administrativa da Procuradoria-Geral de Justiça.
39
Institucional já vem atuando em projetos e ações de segurança institucional e de informações; resolve:
Art. 1º Fica criada a Coordenadoria de Planejamento Institucional, subordinada técnica e administrativamente ao Procurador-Geral de Justiça, como órgão de assessoramento, com o objetivo de desenvolver, elaborar, orientar e acompanhar as atividades de planejamento, de inteligência e de segurança institucionais do Ministério Público de Minas Gerais. Art. 2º A Coordenadoria de Planejamento Institucional será dirigida por Coordenador escolhido livremente pelo Procurador-Geral de Justiça, dentre os Procuradores ou Promotores de Justiça da mais elevada entrância. Art. 3º Compete à Coordenadoria de Planejamento Institucional: I - acompanhar de forma sistêmica a atuação do Ministério Público, identificando necessidades e sugerindo mudanças; II - elaborar o Plano Geral de Atuação do Ministério Público, com a participação dos Centros de Apoio e das Procuradorias e Promotorias de Justiça, bem como das unidades administrativas da Procuradoria-Geral de Justiça, submetendo-o ao Procurador-Geral de Justiça para posterior aprovação pela Câmara de Procuradores de Justiça; III - coordenar, orientar e acompanhar a execução do Plano Geral de Atuação do Ministério Público, bem como propor modificações; IV - coordenar a gestão da informação institucional, objetivando sua padronização, eficiência, integração, modernização e segurança, inclusive quanto à política de informática; V - planejar, executar, coordenar e supervisionar a segurança institucional de instalações, pessoal, operações e informações;VI - elaborar e propor, dentre outros, a Política de Segurança Institucional, a Norma Geral de Segurança Institucional, o Plano de Segurança Pessoal, o Plano de Segurança de Instalações, o Plano de Segurança de Informações e os Planos Especiais de Segurança (antiincêncio, antibombas e evacuação); VII - planejar, executar, coordenar e acompanhar as atividades de inteligência institucional, assim entendidas as que tenham por fim a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação ministeriais e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Ministério Público; VIII - promover o desenvolvimento de recursos humanos e do conhecimento relativos à segurança e à inteligência institucionais, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento das atividades de segurança e de inteligência institucionais; IX - identificar recursos públicos ou privados, nacionais ou internacionais, disponíveis para o cumprimento das funções do Ministério Público; X - estudar, propor e elaborar projetos e convênios institucionais, inclusive para a captação dos recursos acima referidos; XI - requisitar informações e suportes material e técnico às unidades administrativas do Ministério Público; XII - manter intercâmbio e solicitar informações, diretamente, de quaisquer pessoas, órgãos e entidades, públicos ou privados, nacionais ou internacionais, visando o cumprimento de suas atribuições; XIII - solicitar informações e cooperação de quaisquer membros ou órgãos de execução do Ministério Público; XIV - exercer outras funções que lhe forem delegadas pelo Procurador-Geral de Justiça. Art. 4º O Coordenador de Planejamento Institucional expedirá normas complementares de regulamentação interna, visando operacionalizar
40
o funcionamento e a estruturação da Coordenadoria. Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. (grifos nossos)
Outras Resoluções internas sobrevieram com o intuito de modificar
as atribuições da COPLI, sendo elas a Resolução PGJ – 03/2003 (que dispõe
sobre a estrutura orgânica da COPLI), Resolução PGJ – 65/2004 (que
modifica a estrutura orgânica da COPLI), Resolução PGJ – 30/2006 (que
dispõe sobre as atribuições e a estrutura orgânica da COPLI), Resolução PGJ
– 43/2006 (que dispõe sobre as audiências públicas, cuja organização é
atribuída à COPLI), Resolução PGJ – 01/2009 (que cria o Conselho Gestor de
Segurança da Informação) e Resolução PGJ 02/2009 (que cria o Fórum
Permanente de Centros de Apoio Operacional), Resolução PGJ – 12/2009
(cria a SEPE – Secretaria Especial de Planejamento Estratégico – anexo 2) e
Resolução PGJ – 32/2010 (que dispõe, atualmente, sobre as atribuições e a
estrutura orgânica da COPLI – anexo 3).
4.2 Atuação
Abordaremos, detidamente, as Resoluções PGJ 12/2009 e 32/2010,
atualmente vigentes e, portanto, paradigmas para as conclusões adiante
extraídas.
Atualmente, vinculada ao Gabinete do Procurador-Geral de Justiça,
existe a SEPE – Secretaria Especial de Planejamento Estratégico, criada pela
Resolução 12/2009,
órgão de assessoramento do Procurador-Geral de Justiça, a quem é subordinada técnica e administrativamente, que tem como finalidade desenvolver, orientar, acompanhar e avaliar as atividades de planejamento estratégico, promoção institucional, articulação de políticas públicas e sociais, inteligência e segurança.
33
33 Art. 1º Fica instituída a Secretaria Especial de Planejamento Estratégico (SEPE), órgão de
assessoramento do Procurador-Geral de Justiça, a quem é subordinada técnica e administrativamente, que tem como finalidade desenvolver, orientar, acompanhar e avaliar as atividades de planejamento estratégico, promoção institucional, articulação de políticas públicas e sociais, inteligência e segurança.
41
Ainda, sobredita Resolução dispõe que fica vinculada à Secretaria
Especial de Planejamento Estratégico a Coordenadoria de Planejamento
Institucional (COPLI).34
Por sua vez, a Resolução 32/2010, de 05 de maio de 2010, confere
atribuições e estrutura à COPLI, nos seguintes termos:
Art. 1º A Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI), unidade organizacional subordinada à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico, tem como finalidade programar, desenvolver, orientar, acompanhar e avaliar as atividades de planejamento institucional, construção de indicadores, modernização administrativa, desenvolvimento de sistemas e de inteligência e segurança institucionais do Ministério Público de Minas Gerais. Art. 2º A Coordenadoria de Planejamento Institucional é dirigida por Coordenador escolhido livremente pelo Procurador-Geral de Justiça, dentre os Procuradores ou Promotores de Justiça da mais elevada entrância. Art. 3º Compete à Coordenadoria de Planejamento Institucional: I - prestar assessoramento direto e imediato ao Coordenador da Secretaria Especial de Planejamento Estratégico; II - promover, orientar e coordenar a elaboração do Plano Geral de Atuação do Ministério Público e do Planejamento Estratégico, com a participação das Procuradorias e Promotorias de Justiça e demais unidades organizacionais; III - promover, orientar, acompanhar e coordenar a elaboração e a execução do Plano Geral de Atuação do Ministério Público e do Planejamento Estratégico, bem como sugerir alterações ao Procurador-Geral de Justiça; IV - elaborar, acompanhar, orientar e compatibilizar projetos, programas, ações e medidas institucionais; V - acompanhar de forma sistêmica a atuação do Ministério Público, identificando necessidades e sugerindo mudanças; VI - organizar e prestar apoio técnico-operacional necessário para a realização das audiências públicas e do Fórum Permanente dos Centros de Apoio Operacional; VII - auxiliar no planejamento, definição e acompanhamento da política de segurança da informação no âmbito do Ministério Público, atuando como membro do Conselho Gestor de Segurança da Informação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (CGSI); VIII - planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar as atividades de inteligência e de segurança institucionais de pessoal, instalações e respectivas operações; IX - promover o desenvolvimento do conhecimento relativos à segurança e à inteligência institucionais, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento das atividades de segurança e de inteligência institucionais;
34 Art. 5º Fica vinculada à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico a Coordenadoria de
Planejamento Institucional (COPLI).
42
X - analisar e propor convênios relacionados às atividades de inteligência e segurança institucionais; XI - manter intercâmbio, solicitar informações e cooperação de quaisquer membros ou órgãos de execução do Ministério Público; XII - promover, coordenar, orientar e executar ações necessárias à construção de indicadores, à modernização administrativa e ao desenvolvimento de sistemas; XIII - coordenar, com base em diretrizes estratégicas, o desenvolvimento de sistemas informatizados; XIV - elaborar e coordenar a implantação de normas, sistemas e métodos de simplificação e racionalização de trabalho, bem como proceder à sua revisão e adequação e indicar o treinamento interno necessário à sua operacionalização; XV - exercer outras funções que lhe forem delegadas pelo Procurador-Geral de Justiça. Art. 4º A Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI) tem a seguinte estrutura orgânica: I - Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC): a) Diretoria de Planos, Projetos e Programas Institucionais (DPIN); b) Diretoria de Sistemas e Monitoramento de Informações Estratégicas (DMIN); c) Centro de Segurança e Inteligência Institucional (CESIN). Art. 5º A Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC), unidade organizacional subordinada à Coordenadoria de Planejamento Institucional, tem como finalidade planejar, coordenar e promover atividades relacionadas à elaboração de planos, programas, projetos, acompanhando e avaliando sua execução, à modernização administrativa, bem como orientar as atividades de inteligência e segurança institucionais. Art. 6º Compete à Superintendência de Planejamento e Coordenação: I - coordenar, acompanhar e proceder a elaboração e execução do planejamento estratégico, do plano geral de atuação e dos planos, programas e projetos institucionais e acompanhar as ações respectivas; II - manter intercâmbio permanente com órgãos ou entidades na sua área de competência; III - orientar e compatibilizar planos, projetos, parcerias, programas, ações e medidas institucionais; IV - coordenar a elaboração dos planos de trabalho de convênios estruturantes ligados ao planejamento estratégico; V - coordenar e realizar as atividades relacionadas à elaboração e aferição de desempenho da execução do Planejamento Estratégico Institucional e do Plano Geral de Atuação; VI - planejar, coordenar e realizar as atividades relacionadas à otimização de processos, ao estudo da estrutura organizacional e ao desenvolvimento de sistemas; VII - auxiliar e fornecer subsídios à elaboração das propostas orçamentárias, especialmente para promover a alocação de recursos orçamentários necessários ao cumprimento dos objetivos estratégicos alinhados à missão do Ministério Público, observada a competência da Diretoria de Orçamento; VIII - orientar e promover apoio administrativo e técnico às atividades de inteligência, Contrainteligência e segurança institucionais;
43
IX - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 7º A Diretoria de Planos, Projetos e Programas Institucionais (DPIN), unidade organizacional subordinada à Superintendência de Planejamento e Coordenação, tem como finalidade propor, elaborar, orientar, formatar e compatibilizar planos, projetos institucionais e programas, acompanhando a sua execução, bem como organizar audiências públicas e Fórum de CAOs. Art. 8º Compete à Diretoria de Planos, Projetos e Programas Institucionais: I - elaborar o Plano Geral de Atuação do Ministério Público e o Planejamento Estratégico, com participação das Procuradorias e Promotorias de Justiça e demais unidades organizacionais da Instituição; II - elaborar e formatar a proposição de objetivos e metas pretendidos, decorrentes da visão de futuro e da missão do Ministério Público, estabelecidas através do planejamento estratégico, com definição de responsabilidades, dos recursos necessários e do cronograma de execução; III - acompanhar a execução do Plano Geral de Atuação do Ministério Público e do Planejamento Estratégico, bem como propor modificações quando necessário, apresentando relatórios de cumprimento; IV - estudar, propor, elaborar, formatar e articular projetos institucionais e parcerias de interesse do Ministério Público; V - organizar e acompanhar a realização de Fórum de CAOs e audiências públicas, consolidando as informações geradas nesses encontros; VI - propor ações de alinhamento de planos, projetos e programas institucionais à missão do Ministério Público; VII - elaborar os planos de trabalho de convênios estruturantes ligados ao planejamento estratégico; VIII - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 9º A Diretoria de Sistemas e Monitoramento de Informações Estratégicas (DMIN), unidade organizacional subordinada à Superintendência de Planejamento e Coordenação, tem como finalidade planejar e executar atividades relacionadas à construção de indicadores e à modernização administrativa. Art. 10. Compete à Diretoria de Sistemas e Monitoramento de Informações Estratégicas: I - proceder às análises estatísticas referentes aos resultados da execução do Plano Estratégico Institucional e do Plano Geral de Atuação; II - sistematizar e executar a coleta e o tratamento de dados para construção de indicadores e análises estatísticas que subsidiem planos e projetos da instituição; III - elaborar e monitorar indicadores de desempenho e índices que auxiliem na gestão estratégica das metas institucionais e na mensuração de resultados; IV - fomentar a elaboração e manutenção de banco de dados estatísticos, concernente à atuação finalística, estrutura administrativa e outros necessários à gestão estratégica do Ministério Público e ao acompanhamento dos indicadores estratégicos estabelecidos;
44
V - propor e acompanhar convênios que viabilizem o acesso de base de dados de outras instituições com fins de obter informações para análises estatísticas; VI - sugerir, subsidiar e acompanhar o desenvolvimento de sistemas informatizados, conforme as propostas de otimização das rotinas e fluxo de informações; VII - realizar e apresentar estudos sobre as rotinas administrativas, visando à propositura de medidas de otimização e alteração da estrutura orgânica institucional; VIII - analisar e compatibilizar propostas de definição e transferência de atribuições, competências e funções de unidades administrativas internas, observadas as diretrizes estabelecidas pelo órgão; IX - dar suporte técnico às unidades no que se refere à implantação de normas, sistemas e métodos de simplificação e racionalização de trabalho e padronização de formulários e representações gráficas, inclusive no que tange ao planejamento do quantitativo de servidores e suas funções; X - desenvolver organogramas, fluxogramas, cronogramas e outros instrumentos de análise organizacional; XI - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 11. O Centro de Segurança e Inteligência Institucionais (CESIN), unidade organizacional subordinada à Superintendência de Planejamento e Coordenação, tem como finalidade desenvolver atividades de inteligência institucional e de elaborar, executar e supervisionar projetos de segurança institucional de instalações, de pessoal, de informações e de operações. Art. 12. O CESIN tem a seguinte estrutura orgânica: I - Núcleo de Segurança Pessoal; II - Núcleo de Segurança Patrimonial; III - Núcleo de Inteligência Institucional. Art 13. Compete ao Centro de Segurança e Inteligência Institucional: I - planejar, coordenar, orientar e avaliar ações de inteligência, Contrainteligência e de investigação; II - coordenar e orientar vistorias preventivas quanto à segurança de imóveis e eventos; III - supervisionar, coordenar e promover atividades relativas à segurança dos membros do Ministério Público; IV - promover cursos e treinamentos relativos à segurança institucional; V - propor e elaborar, dentre outros, a Política de Segurança Institucional, a Norma Geral de Segurança Institucional e os Planos de Segurança Institucional, como o Plano de Segurança Pessoal, o Plano de Segurança de Instalações, o Plano de Segurança de Informações e os Planos Especiais de Segurança (anti-incêndio, antibombas e evacuação); VI - executar outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 14. Compete ao Núcleo de Segurança Pessoal: I - programar, estabelecer e avaliar medidas de proteção aos membros e servidores do Ministério Público, em situação de risco decorrente de suas atividades funcionais;
45
II - gerenciar, promover e avaliar atividades relativas a segurança dos membros do Ministério Público, extensiva à família, em situação de risco; III - realizar a intermediação institucional junto à Polícia Militar de Minas Gerais em assuntos de interesses das duas instituições; IV - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 15. Compete ao Núcleo de Segurança Patrimonial: I - propor, elaborar, avaliar e executar, em conjunto com as demais unidades tecnicamente competentes, planos de segurança de edificações, de monitoramento e controle de acesso; II - programar e executar vistorias preventivas no que diz respeito à segurança em imóveis e eventos, elaborando relatórios de análise de segurança; III - promover cursos relacionados a prevenção de incêndios, bem como o treinamento de brigadas de incêndio; IV - emitir pareceres técnicos e elaborar a especificação técnica dos equipamentos de segurança nas edificações do Ministério Público Estadual; V - realizar a intermediação institucional junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais em assuntos de interesses das duas instituições; VI - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 16. Compete ao Núcleo de Inteligência Institucional: I - gerenciar e desenvolver ações de inteligência e Contrainteligência relativas à segurança institucional dos membros do Ministério Público; II - realizar pesquisas para localização e qualificação de pessoas arroladas em procedimentos presididos por membros do Ministério Público; III - programar, gerenciar e executar vistorias técnicas nas redes de telefonia do Ministério Público; IV - garantir a segurança institucional em eventos do Ministério Público por meio de ações de inteligência e contra-inteligência; V - apoiar as investigações desenvolvidas pelos Centros de Apoio Operacional, quando solicitado; VI - realizar a intermediação institucional junto à Polícia Civil de Minas Gerais em assuntos de interesses das duas instituições; VII - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas. Art. 17. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 18. Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a Resolução PGJ nº 30/2006, de 24 de maio de 2006. (grifos do autor)
Importante atentar para os pontos da Resolução, que
comentaremos a seguir.
A inteligência estratégica do Ministério Público do Estado de Minas
Gerais está sob responsabilidade do Núcleo de Inteligência Institucional (art.
46
12, inc. III c.c art. 16), que é uma unidade organizacional do SPC
(Superintendência de Planejamento e Coordenação – art. 4º., alínea ―c‖ ), que
era para ser uma unidade organizacional do CESIN (Centro de Segurança e
Inteligência Institucional – art. 4º., inc. I), que é uma unidade organizacional da
COPLI (Coordenadoria de Planejamento Institucional – art. 4º, caput), que é
uma unidade organizacional subordinada à SEPE (Secretaria Especial de
Planejamento Estratégico – art. 1º.), que, por sua vez, é subordinada ao
Gabinete do Procurador-Geral de Justiça, como seu órgão de assessoramento,
conforme art. 1º., Res. PGJ – 12/2009), conforme organograma constante do
anexo (anexo 1).
Afirmamos que a SPC (Superintendência de Planejamento e
Coordenação), ―era para ser” uma unidade organizacional da COPLI
(Coordenadoria de Planejamento Institucional), pois o artigo 4º. estabelece, no
caput, que ―a COPLI terá a seguinte estrutura orgânica‖, iniciando pelo inciso I,
com a SPC, dando a entender que haveria outras unidades organizacionais de
mesma hierarquia que o SPC, as quais dariam ensejo aos incisos II, III, IV, e
assim por diante.
Ocorre que o artigo 4º. encerra sem o sugerido inciso II e seguintes,
passando, nos artigos subsequentes (5º.,6º.,7º.,8º.,9º.,10,11,12), a disciplinar
as unidades organizacionais da SPC e, nos seguintes (13,14,15,16,17), a
disciplinar as subunidades organizacionais da SPC, sediadas no CESIN, de tal
modo que a SPC não é unidade organizacional da COPLI, porque não existe
outra. Logo, SPC e COPLI, apesar de parecerem unidades organizacionais em
relação de subordinação hierárquica, na prática, são a mesma coisa: CESIN e
SPC se equivalem, a SPC é a COPLI com nome diferente.
A Resolução diz que compete ao CESIN planejar, coordenar e
avaliar ações de inteligência, contrainteligência e de investigação35
e, quando
estabelece as atribuições do Núcleo de Segurança Institucional, diz que a ele
compete I - gerenciar e desenvolver ações de inteligência e contrainteligência
47
relativas à segurança institucional dos membros do Ministério Público; II -
realizar pesquisas para localização e qualificação de pessoas arroladas em
procedimentos presididos por membros do Ministério Público; III - programar,
gerenciar e executar vistorias técnicas nas redes de telefonia do Ministério
Público; IV - garantir a segurança institucional em eventos do Ministério
Público por meio de ações de inteligência e contra-inteligência; V - apoiar as
investigações desenvolvidas pelos Centros de Apoio Operacional, quando
solicitado; VI - realizar a intermediação institucional junto à Polícia Civil de
Minas Gerais em assuntos de interesses das duas instituições;
. Interpretando as atribuições do Núcleo de Inteligência Institucional
do Ministério Público de Minas Gerais, temos a seguinte leitura:
De intróito, localizar e qualificar testemunhas (II) e intermediação
institucional com a Polícia Civil (VI) não são, técnica e dogmaticamente,
atividades de inteligência, segundo o conceito utilizado como marco teórico
neste trabalho;
Investigação promovida por Centro de Apoio (VI) não é, técnica e
dogmaticamente, atividade de inteligência, como se verá adiante, mas
atividade investigativa;
Segurança institucional é atividade típica de contrainteligência, quer
seja de seus membros (I), quer seja das redes de telefonia (III), quer seja de
eventos;
Há uma atecnia quando se fala, no inciso I, de ações de inteligência
relativa à segurança institucional dos membros e, no inciso IV, relativa à
segurança em eventos do ministério Público, pois, neste caso, como
consagrado pela doutrina especializada, estamos diante de contrainteligência
de segurança orgânica.
Logo, em resumo, sob a luz da Doutrina Nacional de Segurança
Pública, da literatura especializada e do conceito de atividade de inteligência
35 Art. 13, inc. I, da Resolução PGJ 32/2010.
48
adotado no presente trabalho, segundo as regras internas vigentes e
acessíveis para pesquisa em fonte aberta (excluindo-se, portanto, documentos
ou atos normativos classificados ou confidenciais), o Ministério Público do
Estado de Minas Gerais não promove atividades de inteligência, resumindo
seu Núcleo de Inteligência Institucional a atividades de contrainteligência
ligadas à segurança ativa e segurança orgânica (pessoal, instalações), além de
outras atribuições que não configuram atividades de inteligência.
49
5 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO
DE MINAS GERAIS
5.1 Fundamento
Ressalte-se, de intróito, como mencionado no tópico acerca das
atividades de inteligência ministerial, que podem ser cíveis ou criminais, a
depender da matéria/atribuição do órgão de execução do Ministério Público, as
investigações, nesse particular, também poderão ser cíveis ou criminais. Cíveis
serão aquelas ligadas aos direitos difusos, coletivos ou de grupos
hipossuficientes, nos autos específicos de um Inquérito Civil, enquanto as
criminais, serão aquelas de natureza criminal, cujo objeto será um fato
criminoso, sendo perpetrada nos autos de um Procedimento Investigatório
Criminal.
A investigação criminal pelo Ministério Público foi questão
doutrinária de cunho processual penal e constitucional que, até o ano de 2.009,
suscitou debates apaixonados entre os doutrinadores e, principalmente, entre
as Instituições, haja vista que a Polícia Judiciária, no âmbito estadual (Polícia
Civil) e Federal (Polícia Federal), entendia que a investigação criminal era
atribuição a ela delegada pela Constituição Federal, com nota de
exclusividade, enquanto o Ministério Público, por interpretação constitucional
calcada, principalmente, na teoria dos poderes implícitos, sustentava que, o
fato de ser ele o titular da ação penal, por explicita dicção constitucional36
,
conferia a ele, implicitamente, o poder de investigar.
Dentro desta linha de raciocínio, o Ministério Público brasileiro,
através do Conselho Nacional do Ministério Público, editou a Resolução nº. 13,
de 02 de outubro de 2.006, que regulamenta a investigação criminal no âmbito
da instituição (anexo 4).
36 Art. 129, inc. I, da Constituição Federal.
50
No âmbito do Ministério Público de Minas Gerais, a regulamentação
interna é prevista na Resolução Conjunta PGJ/CGMP – nº. 02, de 14 de
setembro de 2.004 (anexo 5).
Colocando termo à discussão doutrinária e interinstitucional, o
Supremo Tribunal Federal prolatou precedente histórico e de grande
importância para o Ministério Público e para a sociedade brasileira,
reconhecendo o poder investigatório do Ministério Público, precedente este
confirmado em todos os julgamentos seguintes da Corte Suprema, abaixo
transcrito:
Trancamento de ação penal. Falta de justa causa. Existência de suporte probatório mínimo. Reexame de fatos e provas. Inadmissibilidade. Possibilidade de investigação pelo ministério público. Delitos praticados por policiais. A presente impetração visa o trancamento de ação penal movida em face dos pacientes, sob a alegação de falta de justa causa e de ilicitude da denúncia por estar amparada em depoimentos colhidos pelo ministério público. A denúncia foi lastreada em documentos (termos circunstanciados) e depoimentos de diversas testemunhas, que garantiram suporte probatório mínimo para a deflagração da ação penal em face dos pacientes. (...) É perfeitamente possível que o órgão do Ministério Público promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e da materialidade de determinado delito. Tal conclusão não significa retirar da Polícia Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo a compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos fatos supostamente delituosos, mas também a formação da opinio delicti. O art. 129, inciso I, da Constituição Federal, atribui ao parquet a privatividade na promoção da ação penal pública. Do seu turno, o Código de Processo Penal estabelece que o inquérito policial é dispensável, já que o Ministério Público pode embasar seu pedido em peças de informação que concretizem justa causa para a denúncia. Ora, é princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos ‗poderes implícitos‘ segundo o qual, quando a Constituição Federal concede os fins, dá os meios. Se a atividade fim – promoção da ação penal pública – foi outorgada ao parquet em foro de privatividade, não se concebe como não lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que o CPP autoriza que ‗peças de informação‘ embasem a denúncia. Cabe ressaltar, que, no presente caso, os delitos descritos na denúncia teriam sido praticados por policiais, o que, também, justifica a colheita dos depoimentos das vítimas pelo Ministério Público. [STF, HC 91.661, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em: 10/03/09, 2ª Turma, DJE de 3-4-09]
51
5.2 Estrutura e atuação
A investigação no Ministério Público é promovida por todos os Órgão
de Execução, isto é, tem legitimidade para a investigação criminal, que se dá
nos autos de um PIC – Procedimento Investigatório Criminal – , todos os
promotores de justiça e procuradores da república com atribuição criminal.
Valioso ressaltar que no Ministério Público do Estado de Minas
Gerais, em razão da já falada hipertrofia das atribuições institucionais e diante
da especialização da atuação institucional, foram criados, pela Resolução PGJ
– 64 de 13 de setembro de 2.001, os Centros de Apoio Operacionais, órgãos
auxiliares e de apoio à atividade finalística dos promotores de justiça com
atribuições especializadas em todo estado.
Para os fins do nosso trabalho, importante frisar que, na área
criminal, foram criados três Centros de Apoio Operacionais: Centro de Apoio
Operacional Criminal (CAOCRIM); Centro de Apoio Operacional de Combate
ao Crime Organizado e Investigação Criminal (CAOCRIMO); Centro de Apoio
Operacional de Combate aos Crimes Contra a Ordem Econômica e Tributária
(CAOET).
Quanto ao primeiro, CAOCRIM, este não pratica atividades
especializadas de investigação, assessorando os órgãos de execução no
enfrentamento dos crimes comuns.
Por seu turno, o crime organizado é enfrentado em aspecto bipartido
no Ministério Público mineiro: crime organizado comum (organizações
criminosas de tráfico, roubos de cargas, a bancos, de falsificação), cuja
atribuição é do CAOCRIMO, e crime organizado especializado nas fraudes
contra a ordem econômica e tributária (organizações criminosas de sonegação
fiscal, atuação de monopólio e fraudes no mercado de combustíveis), cuja
atribuição é do CAOET.
O CAOCRIMO foi regulamentado pela Resolução PGJ nº. 52, de 12
de julho de 2.002, e atualmente, para o desempenho de sua missão
investigativa, conta com um grupo especializado formado por policiais civis e
52
militares que prestam serviços dentro do próprio Ministério Público.
Por sua vez, conforme o Termo de Cooperação técnica assinado
entre a Procuradoria-Geral de Justiça e a Secretaria de Fazenda do Estado de
Minas Gerais, anexo, o CAOET, conta com uma equipe especializada de
auditores da Receita Estadual para dar apoio às investigações e ações do
Ministério Público conhecido como NUMP – Núcleo de Apoio ao Ministério
Público, sediado dentro do próprio Ministério Público. Ainda, conta com um
Laboratório Especializado de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro –
LAB-LD, fruto de uma parceria entre a Procuradoria-Geral de Justiça e a
Secretaria Nacional de Justiça, Órgão do Ministério da Justiça.
53
6 INTELIGÊNCIA CRIMINAL VERSUS INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS
GERAIS
6.1 Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial
criminal
Enfrentaremos, doravante, as diferenças intrínsecas entre atividades
de inteligência criminal e suas respectivas operações de inteligência e
atividades de investigação criminal e suas respectivas operações de
investigação.
O raciocínio aqui desenvolvido pode ser utilizado de maneira
idêntica tanto para as idéias de inteligência ministerial criminal quanto para as
idéias de inteligência policial, em contraponto, respectivamente, às
investigações criminais presididas pelo Ministério Público no bojo de um
procedimento investigatório criminal, ou pela Polícia Judiciária, nos autos de
um Inquérito Policial ou Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Quando aborda o tema de inteligência policial que, repetimos, segue
as mesmas regras da inteligência ministerial criminal, Joanisval Gonçalves37
conclui seu raciocínio com o seguinte teor:
Portanto, a inteligência policial tem por substrato, basicamente, a produção de prova de materialidade e autoria de crimes, ou seja, por meio da análise sistemática de informações disponíveis, busca-se a identificação dos criminosos e os aspectos essenciais da consumação do delito.
Ousamos, com a devida vênia, discordar frontalmente do renomado
autor e caminhar no sentido diametralmente oposto. Vejamos.
37 GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata. SISD – Série
Inteligência, Segurança e Direito. Niterói Impetus: 2009.
54
Com efeito, a conclusão do renomado autor, ao invés de tratar
essencialmente sobre inteligência, adota o conceito puro de investigação
criminal que não se confunde com inteligência de qualquer ordem ou, in casu,
com inteligência policial.
Inteligência ministerial criminal ou inteligência policial, como o
próprio nome indica, só podem ser concebidas dentro das idéias conceituais
de inteligência.
Assim, a primeira premissa a ser estabelecida é de natureza
gramatical, isto é, do ponto de vista da linguística, os adjetivos ―ministerial
criminal‖ e ―policial‖ só podem ser utilizados se não traírem o substantivo
imediatamente antecedente, ou seja, o teor daquilo que se concebe por
inteligência.
Nessa esteira, como visto, inteligência é
a atividade permanente e especializada de obtenção de dados,
produção e difusão metódica de conhecimentos, a fim de assessorar
um decisor na tomada de uma decisão, com o resguardo do sigilo,
quando necessário para a preservação da própria utilidade da
decisão, da incolumidade da instituição ou do grupo de pessoas a que
serve. Tal atividade, em sentido amplo, abrange, ainda, a prevenção,
detecção, obstrução e neutralização das ameaças (internas e
externas), às informações, áreas, instalações, meios, pessoas e
interesses a que a organização serve (contra-inteligência).
Noutro norte, conforme sedimentado pelo processo penal e pela
prática que se verifica em toda e qualquer Promotoria de Justiça ou em
qualquer Delegacia de Polícia Judiciária espalhada pelo Brasil, tecnicamente,
investigação criminal só pode ser concebida enquanto a coleta de elementos
sensíveis capazes de esclarecer a materialidade (ocorrência) e a autoria de um
fato criminoso.
A investigação depende de um fato certo, determinado, delimitado
no tempo e no espaço.
55
Tal diferença, per si, já basta para concluirmos que inteligência
criminal (ministerial ou policial) e investigação criminal (ministerial ou policial)
são expressões que possuem conteúdo semântico completamente diferentes.
Dizer que o Ministério Público desenvolve inteligência criminal,
significa que:
— possui um núcleo próprio para a produção de tais conhecimentos
(Núcleo de Inteligência) voltados para a área criminal;
— os dados ou informações coletados são submetidos a um
rigoroso ciclo de produção de conhecimento, até se tornarem produto final, isto
é, existe um ciclo industrial específico para tornar o dado ou informação
obtidos em conhecimento;
— existe uma doutrina própria que rege a gestão/produção do
conhecimento, com terminologias próprias, modelos de documentos
específicos, graus de sigilo dos documentos etc;
— os dados e informações coletadas passarão, necessariamente,
pelo setor de análises no ciclo de formação do conhecimento;
— os profissionais que dão tratamento à informação são
especializados para o desempenho das atividades, devem ser recrutados de
maneira especial, para a atividade típica de inteligência, são submetidos a um
regime rigoroso de controle do sigilo das informações com as quais trabalham;
— o produto da inteligência criminal é o conhecimento;
— os conhecimentos produzidos têm por finalidade assessorar um
tomador de decisão;
— os conhecimentos produzidos se destinam a auxiliar decisões
futuras;
— a produção de conhecimentos pelo Núcleo é perene,
permanente;
— a atuação da inteligência tática criminal é prospectiva – para o
futuro;
Por seu turno, dizer que o Ministério Público promove investigação
criminal, significa que:
56
— não necessariamente o faz por um núcleo próprio, podendo fazê-
lo isoladamente, pelo próprio Promotor de Justiça ou com o auxílio de outras
instituições, como não raras vezes acontece;
— os dados ou informações coletados não são submetidos a um
rigoroso ciclo de produção de conhecimento, até se tornarem produto final, isto
é, não existe um ciclo ―industrial‖ específico para tornar o dado ou informação
obtidos em conhecimento;
— existe uma doutrina própria que rege a investigação criminal, mas
ela é diversa da doutrina de inteligência e está prevista no Código de Processo
Penal, mais precisamente no Título VIII, do Livro I, que trata ―Das Provas‖;
— os dados e informações coletadas não passarão, por qualquer
setor de análises no ciclo de formação do conhecimento capaz de dar-lhe
interpretação, pois, em essência, a prova é objetiva e deve, ao máximo, ser
desprovida de subjetivismo de quem quer que seja, exceto do julgador – Poder
Judiciário;
— não há tratamento da informação coletada, e os profissionais de
investigação não são submetidos a regimes especiais de conhecimento,
recrutamento, sigilo;
— o produto da investigação criminal é a prova;
— os conhecimentos produzidos têm por finalidade elucidar um fato
criminoso e todas as suas circunstâncias quanto a materialidade e autoria
delitiva;
— os conhecimentos produzidos se destinam a auxiliar decisões
sobre fatos passados;
— a produção de conhecimentos é ocasional, isto é, depende da
ocorrência de um fato criminoso determinado, um crime, para ser deflagrada;
— a atuação da investigação criminal é retrospectiva – tenta
reconstruir um fato passado;
Inegável que existem algumas semelhanças entre as atividades de
inteligência tática criminal e a atividade de investigação criminal, como o fato
de serem desenvolvidas por agentes públicos da área de segurança pública,
57
destinarem-se, lato sensu, ao combate ao crime, especialmente aquele
organizado, cada uma no seu viés, mas, a maior semelhança, sem dúvida,
repousa sobre o seguinte aspecto: a possibilidade de ambas se valerem de
operações e técnicas operacionais especiais.
E é justamente este o ponto que se quer frisar no presente trabalho:
Tanto a inteligência ministerial criminal quanto a investigação ministerial
criminal podem se valer de operações e técnicas operacionais especiais.
Todavia, as atividades são essencialmente diferentes, como já demonstrado,
de modo que, no caso da inteligência ministerial criminal, estaremos diante de
típicas operações de inteligência que se valem de métodos e técnicas
especiais, ao passo que, no caso de uma investigação ministerial criminal,
estaremos diante de operações de investigação que, igualmente, podem ou
não se valer de métodos e técnicas especiais sem que isso configure
obrigatoriamente atividade de inteligência.
O que se pretende aqui é, com precisão cirúrgica, separar atividade
ministerial de inteligência criminal de atividade ministerial de investigação
criminal, ou, em resumo, inteligência criminal e investigação criminal no
Ministério Público e, por consequente, operações de inteligência criminal de
operações especiais de investigação criminal no âmbito do Ministério Público.
Vejamos através de um exemplo.
A utilização da técnica operacional conhecida como vigilância pelo
Ministério Público será sempre operação de inteligência?
Resposta: Não. Depende do contexto e da finalidade, conforme os
critérios previamente estabelecidos para que se defina se a técnica especial
utilizada enquadra-se em inteligência criminal ou investigação criminal.
Se os dados obtidos foram produzidos por um núcleo especializado
do Ministério Público, por profissionais especializados; se o dado obtido for
submetido a um rigoroso e sistemático processo de tratamento; se o dado tiver
por objetivo gerar um produto chamado conhecimento; se isto ocorrer
sistematicamente no âmbito desse órgão; se isto tiver por finalidade subsidiar a
58
tomada de decisões estratégicas, estaremos diante de uma típica atividade de
inteligência criminal.
Todavia, se o dado obtido se der no curso de um procedimento
persecutório, não se submeter a tratamento ou processo de produção de
conhecimento, não se der de maneira permanente, mas ocasional, e tiver por
finalidade produzir prova a fim de esclarecer a autoria e materialidade de um
delito, estaremos diante de uma típica atividade de investigação criminal.
O que confunde com certa frequência a comunidade de segurança
pública é o raciocínio que utiliza, como critério de diferenciação entre
investigação criminal e inteligência criminal, a qualidade da técnica ou método
operacional empregado, isto é, se a investigação está baseada nas técnicas
tradicionais, estamos diante de uma investigação, ao passo que, se forem
utilizadas técnicas especiais, tecnológicas, modernas, estamos diante de
operações de inteligência, o que não é dogmática nem intrinsecamente correto.
Acostumou-se no meio ministerial e policial com técnicas
tradicionais e ultrapassadas, como a oitiva de testemunhas e produção de
perícias mais simples, como um laudo de exame Cadavérico, sendo que,
quando técnicas investigativas especiais são empregadas, como vigilância,
fotografia, coleta de provas mediante o uso de técnica de disfarce ou outras
técnicas especiais, a tendência do leigo é acreditar, equivocadamente, que,
pelo simples fato do emprego de meios especiais, trata-se, invariavelmente, de
operação de inteligência.
Tanto uma interceptação telefônica, técnica especial, pode ser,
essencialmente, operação especial de investigação, quanto uma entrevista,
que se confunde com a prova mais simples do processo penal, a prova
testemunhal, conhecida como a prostituta das provas, técnica simples e
tradicional, pode estar no contexto de uma operação de inteligência. Tudo vai
depender do contexto em que tais técnicas/métodos estão inseridas e,
principalmente, a finalidade a que se destinam.
59
Se invocarmos conhecimentos básicos de direito processual penal e
de direito penal, perceberemos com grande clareza a diferença de incidência
da inteligência criminal e da investigação criminal.
Do ponto de vista do direito penal, o tempo do crime é, segundo o
artigo 4º. do Código Penal, o tempo da ação ou omissão, ainda que outro seja
o momento do resultado.38
No estudo do chamado iter criminis, ou caminho do crime, que são
os momentos ou fases do crime, desde a mente do agente até sua finalização,
os penalistas identificam as seguintes fases: cogitação – fase intrapsíquica do
agente, quando surge a idéia de praticar um crime; preparação – quando a
idéia já começa a se concretizar no mundo dos fatos, porém, sem qualquer
ameaça direta ao bem jurídico tutelado – p. ex, compra de uma arma de fogo
sem sequer ter relação direta com a vida da vítima; execução: início dos atos
executórios, isto é, inicia-se a ameaça ou violação ao bem jurídico, exemplo,
apontar a arma para a vítima e iniciar o ato de puxar o gatilho; consumação –
quando o bem jurídico foi violado – p ex. morte da vítima e, para alguns,
exaurimento – que é a vantagem de algum crime.
Trazendo tais conhecimentos para o nosso debate, como a
investigação criminal só trabalha com o pressuposto de um crime já ocorrido,
ela somente atuará depois do início da execução do crime, isto é, a
investigação criminal clássica não se presta a prevenir delitos, monitorar
comportamentos, fazer estatísticas criminais, formular tipologias de crimes,
perfis de criminosos etc. Ela somente entrará em ação após o início da terceira
etapa do caminho do crime, isto é, após o início da execução.
Enquanto isso, todas as etapas do caminho do crime poderão ser
objetos da inteligência criminal, a depender do tipo de conhecimento que se
pretende produzir.
38 Código Penal Brasileiro, art. 4º. “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão,
ainda que outro seja o momento do resultado”.
60
Também, as investigações somente podem ter início se tiver uma
pessoa envolvida, física ou jurídica, ao passo que a inteligência trabalha com
um leque maior de opções, com o cruzamento de dados em tese, sem
suspeitos específicos, sem um fato determinado, acompanhando, por exemplo,
movimentação criminosa quantitativa, qualitativa, sem um único fato específico.
Do ponto de vista processual penal, a investigação tem seu âmbito
bem delimitado, isto é, sua finalidade precípua é apurar fato que constitua
infração penal e sua respectiva autoria.39
Em resumo, existe uma série de diferenças entre investigação
criminal e inteligência criminal no âmbito do Ministério Público, mas, se for para
apontar os dois principais pontos de divergência serão, sem dúvida, aqueles
classificados segundo os critérios do produto e da finalidade. A inteligência
ministerial criminal tem por produto um conhecimento cuja finalidade é
subsidiar a tomada de uma decisão criminal estratégica. A investigação
ministerial criminal tem como produto a prova, cuja finalidade é esclarecer a
materialidade e autoria de um fato criminoso.
Noutro giro, o principal ponto de contato entre inteligência ministerial
criminal e investigação ministerial criminal é que ambas têm a possibilidade de
se valer, para a consecução de seus fins, que são diversos, do emprego de
técnicas e métodos especiais, sem que isso, a priori, sinalize que o caso será,
invariavelmente, operação de inteligência. Vejamos com outro exemplo.
Fulano de tal, traficante, chefe de uma organização criminosa com
atuação no ramo do narcotráfico de cocaína, está sob interceptação de
comunicações telefônicas de seu terminal executada pelo Ministério Público.
Podemos afirmar categoricamente, a priori, tratar-se de investigação ministerial
criminal ou inteligência ministerial criminal?40
39PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 5.ed.rev, ampl. e atual.
Niterói, Impetus: 2008, p. 162.
40Importante ressaltar que, segundo o comando constitucional insculpido no art. 5º. inc, XI, da
Constituição Federal, o sigilo das comunicações telefônicas só será afastado ―por ordem judicial, nas hipóteses e forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
61
Não. Tão somente o emprego de técnica operacional especial não é
capaz de definir a resposta.
Caso as informações estejam sendo coletadas no bojo de um
procedimento investigatório criminal, com a finalidade de comprovar que no dia
X, às horas Y, o investigado promoveu a venda e a entrega de 100 quilos de
cocaína, no endereço Z, para a pessoa W, o que se confirmou pelo flagrante,
estaremos diante de caso clássico de prova criminal produzido por uma
investigação criminal com o emprego de operações especiais de investigação.
Por outro lado, se as informações estiverem sendo coletadas por um
núcleo de Inteligência, por profissionais especializados, e se estiverem sendo
submetidas a um ciclo especializado de produção do conhecimento e, ao final,
este conhecimento produzido tiver por finalidade assessorar um tomador de
decisões, no caso, o promotor de justiça, para, por exemplo, monitorar o
movimento de organização criminosa chefiada pelo referido traficante, a fim de
acompanhar o movimento da onda criminosa de determinada cidade, tudo a
permitir ao promotor de justiça melhor direcionar seu foco de atuação no
combate à criminalidade, estaremos diante de um caso clássico de
conhecimento de inteligência produzido por atividade de inteligência criminal,
com o emprego de operações de inteligência.
Em suma, não é a técnica ou os métodos empregados que definem
a natureza da atividade (atividade de investigação criminal ou atividade de
inteligência criminal), mas o seu produto (produção de prova criminal ou de
conhecimento) e sua finalidade (esclarecer materialidade e autoria de crime ou
assessorar a tomada de decisões).
Corroborando a diferenciação entre atividade de inteligência criminal
e investigação criminal, ainda que sob o enfoque pericial, Silvestre41
, citando
Lima, assim entende:
41 Op. cit. p. 50-51.
62
Diante do exposto, torna-se possível então, falar em ―inteligência pericial‖ e ―contrainteligência pericial‖. Para isso, é importante primeiramente ressaltar a diferenciação entre investigação criminal (ou policial) e atividade de inteligência. Investigação criminal é levantamento de provas que levem ao esclarecimento de um fato delituoso, nos aspectos de materialidade e autoria delitiva, após a instauração de um formal procedimento persecutório. Tem a sua atuação restrita a um único evento criminal (ou a mais de um evento se houver crime relacionado). Lima
42 propõe um ciclo para a
investigação: delito – a autoridade sabe de algo; levantamento – os investigadores buscam indícios, provas e testemunhos; análise – a autoridade avalia quais levantamentos são pertinentes ao caso; captura – os investigadores prendem os suspeitos ou infratores; e produção – a autoridade produz peça acusatória. Ainda segundo Lima
22, enquanto o ciclo de inteligência é basicamente
linear, o ciclo da investigação pode sofrer maiores variações de etapas, podendo, por exemplo, a etapa captura ocorrer em qualquer das fases. A inteligência visa antecipar-se ao fato, agindo sobre elementos que possam modificar o futuro. Já a investigação surge após o fato, agindo sobre elementos que possam dizer o passado. A inteligência contém a investigação, pois se utiliza de técnicas operacionais próprias da investigação como disfarce, vigilância, escuta etc. Porém não podemos afirmar que a investigação contém a inteligência, porque investigação é meio. O termo ―inteligência pericial‖ é aqui postulado como a atividade de inteligência de segurança pública desenvolvida no âmbito do sistema pericial e que consiste no exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a produção de conhecimentos técnicos de origem pericial necessários na atividade preventiva e elucidação de autoria delituosa de qualquer natureza. O termo ―Contrainteligência pericial‖ é postulado como a atividade desenvolvida no âmbito do sistema pericial que visa a produção dinâmica e a salvaguarda de conhecimentos sensíveis de origem pericial, e, da instituição.
Talvez haja uma última diferenciação a ser feita, entre aquilo que
denominamos inteligência ministerial criminal tática e investigação ministerial
criminal.
Como já visto, inteligência ministerial estratégica é aquela que
auxilia o tomador de decisões a definir rumos do seu órgão como um todo,
enquanto a inteligência ministerial tática é aquela mais específica, ligada à
própria execução da estratégia adotada.
42 LIMA, Antônio Vandir de Freitas. O papel da inteligência na atualidade. 2004. 135 f. Monografia
(Especialização em Inteligência Estratégica) – Faculdade Albert Einstein, Brasília, 2004.
63
Aplicado este raciocínio ao campo criminal, temos que a inteligência
ministerial criminal estratégica é aquela que subsidia o tomador de decisões a
definir o rumo de atuação criminal de sua organização, decisões em níveis
gerais, institucionais, enquanto a inteligência ministerial criminal tática é aquela
que auxilia o promotor de justiça ou tomador de decisão a executar a decisão
estratégica definida, como encontrar os melhores meios de se produzir uma
prova criminal pretendida, sem que isso, propriamente, consista na produção
da prova. É o trabalho de bastidores feito pela inteligência, que gera um
conhecimento a concretizar a execução da decisão estratégica. É o casamento
necessário e salutar entre o núcleo de inteligência e o núcleo de investigação
de uma determinada organização, no caso, uma promotoria de justiça ou um
centro de apoio operacional.
Tomemos um exemplo elucidativo.
O Centro de Apoio Operacional de Combate ao Crime Organizado
de um Ministério Público de determinado Estado da Federação demanda seu
Núcleo de Inteligência sobre quais as organizações criminosas que mais
assolam a comunidade local, quais seus ramos de atuação (tráfico, roubo,
seqüestros etc.), para encontrar a melhor forma de enfrentamento. Produzido o
conhecimento, identifica-se que o ramo mais nocivo é o de tráfico de drogas e
se elabora o organograma das três organizações criminosas que atuam no
ramo com suas tipologias. Eis uma típica demanda e a atuação da inteligência
ministerial criminal estratégica. Feito o organograma e a tipologia, levando em
conta sua estrutura material, física e de pessoal, o coordenador, tomador de
decisão, decide investigar a maior organização criminosa – decisão
estratégica. Encerra-se o ciclo de inteligência estratégica.
Diante da organização criminosa em foco, decide o tomador de
decisões demandar o Núcleo de Inteligência para elaborar um desenho dos
membros da organização, seus perfis criminosos. Para tanto, o Núcleo de
Inteligência adota operações de inteligência, utilizando as técnicas e métodos
64
consagrados, infiltra43
um agente na organização e elabora um detalhado
esquema de funcionamento empresarial da organização. Ainda, sinaliza
quando, onde, como produzir as provas que incriminam a organização. Eis aqui
uma típica demanda e atuação de inteligência ministerial criminal tática.
Diante desse grau de especificidade, o tomador de decisões
instaura o competente procedimento investigatório criminal e demanda o
Núcleo de Investigações, que, diante do quadro, adotará suas técnicas e
métodos a fim de comprovar a prática de um fato criminoso, mediante a
utilização de interceptações das comunicações telefônicas e de dados, a
filmagem de diversos momentos de comércio de drogas (venda, carregamento,
descarregamento, forma de transporte), identificará seus autores com
pesquisas de dados em sistemas, fará perfis criminológicos, com fotos,
qualificação, delineará o patrimônio dos agentes, até que um dia determinado,
a operação de campo entra em cena e, em cumprimento a um mandado de
busca e apreensão e prisão expedidos pelo juízo criminal, todos os agentes
são presos, grande quantidade de droga é apreendida e os bens dos agentes
são bloqueados e igualmente apreendidos.
Fique registrado que o que irá ao processo são as provas colhidas
pelo núcleo de investigações, o resultado da busca e apreensão judicial, das
interceptações telefônicas relevantes, das fotografias tiradas e das filmagens
que revelam o momento da venda e carregamento da droga, e todos os outros
elementos de convicção que se destinam ao juiz.
Perceba-se que a prova produzida pelo Núcleo de Investigação não
foi submetida a um ciclo ordinário, não subsidiará tomada de decisões
estratégicas ou táticas, pois constitui prova criminal e se destina a elucidar e
esclarecer um fato criminoso.
E a pergunta final: e todo o conhecimento produzido pela
inteligência, estratégica e tática?
43Importante ressaltar que, segundo o disposto no art. 53, inc. I, da Lei 11.343/2006, a infiltração somente será autorizada para fins de investigação criminal, precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
65
Resposta: ficará armazenado na instituição como seu patrimônio de
informações, seguirá o ciclo de produção de conhecimento em sua etapa final,
a de avaliação (feedback), para retroalimentar o sistema.
Atente-se para um último fato: o agente infiltrado não foi ouvido em
juízo, não serviu como testemunha, não apareceu enquanto prova criminal,
mas orientou toda a produção desta em atividade de inteligência, tudo a
resguardar o sigilo típico das suas atividades.
Quatro comentários finais.
O primeiro é que o mesmo Núcleo de Inteligência poderá
empreender o ciclo de inteligência estratégica e o ciclo de inteligência tática.
O segundo é que se recomenda que o Núcleo de Inteligência
Criminal seja diverso do Núcleo de Investigação Criminal, tendo em vista a
necessidade de sigilo de identidade e de informações relevantes por eles
titularizadas, que deve resguardar os profissionais das atividades de
inteligência.
O terceiro é que deve haver uma separação entre o Núcleo de
Investigação Criminal e o Núcleo de investigação para que tenham suas
informações compartimentadas. Todavia, como se pode perceber do exemplo,
é fundamental que, nos pontos comuns, haja uma interlocução direta, um canal
aberto quanto às informações comuns para que a inteligência alimente o setor
de investigação e vice-versa, objetivando a atividade final.
O quarto é que, sem aprofundar no assunto, mas registrando-o por
oportuno e pela relevância, o produto da inteligência – conhecimento – não
tem por finalidade precípua produzir prova, mas, em homenagem ao princípio
da liberdade probatória, trabalhado com perfeição por PACHECO (2005), é
possível que este seja utilizado como prova, isto é, elemento de convicção
destinado ao juízo, por exemplo, para subsidiar pedidos e medidas
cautelares.44
44 Quanto à validade das provas obtidas na busca (operação de inteligência), todas as “provas” obtidas pelas atividades de inteligência em geral e pelas operações de inteligência podem, em princípio, ser utilizadas na investigação criminal, desde que sujeitas às limitações de conteúdo e de forma
66
Abordando a clara diferenciação entre investigação criminal e
inteligência criminal, citamos Pacheco:45
Os serviços de inteligência, todavia, não têm como objetivo, geralmente, a coleta ou busca de provas processuais, mas a produção de um conhecimento que permita ao decisor de uma instituição tomar suas decisões estratégicas. Ademais, em razão do segredo de certas matérias ou dos sigilos funcionais a que estão submetidos agentes de inteligência, geralmente não é possível a utilização dos elementos probatórios colhidos durante as atividades de inteligência no âmbito do direito processual penal, não porque não sejam reconhecidos pelo direito processual como elementos probatórios ou investigativos, mas por força dos sigilos legalmente impostos aos agentes de inteligência ou às matérias sigilosas.
Na mesma linha de raciocínio, Almeida Neto46
:
Vale destacar que assessorar e municiar de informações de inteligência uma autoridade a fim de subsidiar a produção da prova (as suas decisões a respeito da qual, como, quando e onde produzir a prova) é tarefa bem diversa da produção da prova em si, esta última, objeto propriamente da investigação criminal, nos sentidos empregados no presente trabalho. Assim como a inteligência clássica não se confunde com as decisões tomadas pelo chefe de Estado, a inteligência de segurança pública, nos níveis estratégicos e tático, não se confunde com a atividade probatória em si, ainda que o produto daquela possa, reflexamente, vir a ser utilizado como elemento de prova.
E arremata:
A expressão investigação criminal é utilizada no presente trabalho como sinônimo da atividade deflagrada pelos órgãos competentes
estabelecidas pela lei processual penal. Essa possibilidade de utilização decorre do princípio da liberdade probatória do processo penal. Tal aplicabilidade ocorre mais intensamente na fase de investigação criminal, tendo em vista sua finalidade de servir de base à propositura de ações penais e às medidas cautelares pessoais (prisões provisórias, busca-apreensão pessoal) e reais (seqüestro, arresto, busca-apreensão de coisas etc.). Assim, uma filmagem com som, feita em público, em que o indiciado declara que irá fugir, inclusive com o detalhamento da fuga, servirá para que um juiz criminal decrete sua prisão temporária ou preventiva, conforme o caso, não importando se a filmagem foi feita por uma operação de inteligência ou por uma investigação criminal.
45 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: IV JORNADA JURÍDICA
DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – Auditoria da 4ª CJM, Juiz de Fora, 2005. Disponível em http://www.militar.com.br/legis/artdireitomilitar/ano2005/. Acesso em 21 março. 2010.
46 Op. cit. p. 62.
67
para colher provas sobre a materialidade e a autoria de um delito após a instauração de um formal procedimento persecutório (inquérito policial ou procedimento investigatório criminal).
Ante todo o exposto, apresentamos o seguinte quadro comparativo
entre inteligência ministerial criminal investigação ministerial criminal:
INTELIGÊNCIA CRIMINAL
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
possui um órgão próprio para a produção de tais conhecimentos (Núcleo de Inteligência) voltados para a área criminal;
não necessariamente o faz por um núcleo próprio, podendo fazê-lo isoladamente, pelo próprio Promotor de Justiça ou com o auxílio de outras instituições, como não raras vezes acontece;
os dados ou informações coletados são submetidos a um rigoroso ciclo de produção de conhecimento, até se tornarem produto final, isto é, existe um ciclo ―industrial‖ específico para tornar o dado ou informação obtidos em conhecimento;
os dados ou informações coletados
não são submetidos a um rigoroso ciclo de produção de conhecimento, até se tornarem produto final, isto é,
não existe um ciclo ―industrial‖ específico para tornar o dado ou informação obtidos em conhecimento;
existe uma doutrina própria que rege a gestão/produção do conhecimento, com terminologias próprias, modelos de documentos específicos, graus de sigilo dos documentos etc.;
existe uma doutrina própria que rege a investigação criminal, mas ela é diversa da doutrina de inteligência e está prevista no Código de Processo Penal, mais precisamente no Título VIII, do Livro I, que trata ―Das Provas‖;
os dados e informações coletadas passarão, necessariamente, pelo setor de análises no ciclo de formação do conhecimento;
os dados e informações coletadas não passarão, por qualquer setor de análises no ciclo de formação do conhecimento capaz de dar-lhe interpretação, pois, em essência, a prova é objetiva e deve, ao máximo, ser desprovida de subjetivismo de quem quer que seja, exceto do julgador – Poder Judiciário;
os profissionais que dão tratamento à informação são especializados para
não há tratamento da informação coletada, e os profissionais de
68
o desempenho das atividades, devem ser recrutados de maneira especial, para a atividade típica de inteligência, são submetidos a um regime rigoroso de controle do sigilo das informações com as quais trabalham;
investigação não são submetidos a regimes especiais de conhecimento, recrutamento, sigilo;
o produto da inteligência criminal é o conhecimento;
o produto da investigação criminal é a prova;
os conhecimentos produzidos tem por finalidade assessorar um tomador de decisão;
os conhecimentos produzidos têm por finalidade elucidar um fato criminoso e todas as suas circunstâncias quanto a materialidade e autoria delitiva;
os conhecimentos produzidos se destinam a auxiliar decisões futuras;
os conhecimentos produzidos se destinam a auxiliar decisões sobre fatos passados;
a produção de conhecimentos pelo Núcleo é perene, permanente;
a produção de conhecimentos é ocasional, isto é, depende da ocorrência de um fato criminoso determinado, um crime, para ser deflagrada;
a atuação da inteligência tática criminal é prospectiva – pro futuro;
a atuação da investigação criminal é retrospectiva – tenta reconstruir um fato passado;
Obs. Tanto a inteligência criminal quanto a investigação criminal podem se valer de técnicas e métodos especiais para colher seus dados e atingir suas finalidades.
6.2 Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial
criminal no Ministério Público de Minas Gerais
Diante da estrutura de inteligência e investigação ministerial já
exposta no presente trabalho e da inexistência de outros atos oficiais do
Procurador-Geral de Justiça a respeito de inteligência, a diferenciação entre
69
inteligência ministerial criminal e investigação ministerial criminal permite-nos
tirar as seguintes conclusões sobre o Ministério Público de Minas Gerais:
— no âmbito do CAOCRIMO (Centro de Apoio Operacional do
Ministério Público), os policiais civis, militares e os Promotores de Justiça que
lá oficiam promovem, tecnicamente, investigação ministerial criminal, e não
inteligência ministerial criminal;
— no âmbito do CAOET (Centro de Apoio Operacional de Combate
aos Crimes contra a Ordem Tributária), os auditores da receita estadual, bem
como, a equipe do LAB-LD, Laboratório de Combate à Corrupção e à Lavagem
de Dinheiro, promovem, tecnicamente, investigação ministerial criminal, e não
inteligência ministerial criminal;
— os Promotores de Justiça com atribuição criminal que oficiam por
todo o Estado de Minas Gerais, no exercício de suas atribuições, promovem,
se o caso, investigação ministerial criminal, mas não inteligência ministerial
criminal;
— A (SEPE) Secretaria Especial de Planejamento Estratégico,
criada pela Resolução nº 32, de 05 de maio de 2010, pelo Núcleo de
Inteligência Institucional ligado à COPLI (Coordenadoria de Planejamento
Institucional), é o único órgão do Ministério Público capaz de promover
inteligência criminal ministerial, mas hoje, por suas atribuições definidas na
Resolução PGJ 32/2010, não é possível promover atividade de inteligência
criminal ou de qualquer outra natureza (institucional ou cível), limitando-se à
atividade de contrainteligência com enfoque no viés orgânico;
E, por fim, uma grave, preocupante e triste conclusão:
— Na atual realidade institucional do Ministério Público do Estado de
Minas Gerais, com a conformação que lhe é dada, internamente, pelas
Resoluções editadas pelo Procurador-Geral de Justiça, chefe da instituição,
não existe um núcleo com atribuição expressa de promover inteligência
ministerial criminal, seja ela estratégica ou tática.
Exaurido, assim, o objeto do presente trabalho, que se embrenhou
na tarefa de pesquisar as diferenças semânticas e dogmáticas entre
70
investigação criminal ministerial e inteligência criminal ministerial e sua
aplicabilidade frente a realidade atual do Ministério Público de Minas Gerais.
No entanto, flexibilizando a rigidez das regras de metodologia
científica em homenagem àquilo que acreditamos ser a grande finalidade da
pesquisa científica, já registrado no resumo do presente trabalho – repercutir
positivamente e modificar para melhor a vida das pessoas –, passamos a tecer
breves, mas importantes comentários para o crescimento institucional do
Ministério Público.
Constatada a triste realidade, não pode o Ministério Público se
deixar abater pelo atraso e ineficiência. Ao contrário. Isto deve servir de
estímulo para que a Instituição, e seus membros, promova uma profunda
reflexão e redirecione os rumos institucionais em nome da sociedade,
destinatária final dos trabalhos do Ministério Público e razão única de sua
existência.
É mais do que hora de serem criados Núcleos de Inteligência
Criminal, tanto em sede de inteligência estratégica numa visão ampla de
Ministério Público, ligado ao Gabinete do Procurador-Geral de Justiça, para
que lá sejam definidos os rumos da Instituição no aspecto criminal, quanto em
sede estratégica e tática ligados aos Centros de Apoio Operacionais de
Combate ao Crime Organizado, de Combate aos Crimes Contra a Ordem
Tributária e puramente Criminal. Nada impede ainda que Núcleos de
Inteligência sejam criados no âmbito das Promotorias de Justiça, seguindo-se
a ordem de entrância, passando pelas Promotorias de entrância especial,
segunda entrância e a quimera de pequenos Núcleos em Promotorias de
primeira entrância, cuja demanda, utilidade e necessidade, talvez, seja a maior.
A criação de núcleos especiais de inteligência encontra amparo nas
vantagens já identificadas por Pacheco47
:
47 PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência no Ministério Público. In: CONGRESSO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MINISTÉRIO PÚBLICO E JUSTIÇA SOCIAL, 16, 2005, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público/ Associação Mineira do Ministério Público, p. 631-649, 2006.
71
a) um órgão de inteligência do Ministério Público estabelece um princípio de confiança em outros órgãos de inteligência, no sentido de que as regras de sigilo de documentos de inteligência serão respeitadas;
b) órgãos de inteligência intercambiam informações diretamente com outros órgãos de inteligência, inserindo, assim, os Ministérios Públicos em várias redes de inteligência, o que lhes permite o acesso rápido a informações;
c) um órgão de inteligência possibilita uma sistematização de alto nível no tratamento de dados e informações, capaz de transformá-los em conhecimento necessário para a tomada de decisões estratégicas;
d) um órgão de inteligência ministerial pode propiciar o desenvolvimento das atividades persecutórias, devido ao aperfeiçoamento das técnicas de análise, por meio das quais é possível o cruzamento de imensas quantidades de informação.
Acerca dos benefícios da criação de uma unidade de inteligência,
Almeida Neto48
assevera:
Nesse novo contexto informacional, a autoridade assessorada (usuário/decisor) terá mais chances de tomar decisões que superem o mero interesse secundário da instituição e, de fato, contribua para a persecução do bem comum. A inteligência permitirá a organização que ela se insira nesse contexto maior de todas as instituições (nos mais diversos graus e níveis) e, de fato, conecte-se à parcela de atividade que lhe cabe nessa busca coletiva. Além de possibilitar resultados mais ―universais‖ e maximizados e de otimizar a relação meio-fim, a inteligência contribui para a democratização e desburocratização da entidade a que serve.
Em reforço à literatura especializada já exposta, a Doutrina Nacional
de Segurança Pública fomenta a criação de Unidades de Inteligência de
Segurança Pública:
Objetivamente, a DNISP vem possibilitar a padronização de procedimentos de ISP, em nível nacional, de forma a realizar o enfrentamento de um fenômeno criminal que hoje é translocalizado e, por isso mesmo, requerendo medidas de direção central,
48 ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público: aspectos
práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009, p. 117.
72
coordenação, controle, e produção de conhecimento, todas elas integradas em nível local, estadual, regional, nacional e até mesmo internacional. A integração, mote maior da segurança pública contemporânea, indiscutivelmente demanda, especificamente, uma efetiva integração de conhecimentos sobre o crime, criminosos e questões conexas.
Calcado na esperança que povoa o espírito dos jovens de espírito,
lembramos ainda as advertências sábias e de alta carga reflexiva formuladas
por Denilson Feitoza Pacheco:
[...] O Ministério Público que meramente cumpre a ―trilogia formal alienante‖, a saber fazer relatório/fundamentação/conclusão em suas manifestações forenses, comparecer no fórum ou tribunal no horário legal e manter trabalho em dia, já não atende mais os anseios sociais. De que adianta o cumprimento dessa trilogia se a atuação do Ministério Público não é socialmente eficiente, eficaz e efetiva? Como pode um membro do Ministério Público que atua, por exemplo na área criminal, ignorar as taxas de criminalidade (furtos, homicídios, roubos etc.), as tendências de evolução da criminalidade ou até o impacto efetivo de sua atuação nos índices de criminalidade e, como se não bastasse, acomodar-se com seus mapas estatísticos do número de peças produzidas que não têm qualquer relevância para o estabelecimento de políticas públicas?
A disseminação e o fortalecimento da inteligência no Ministério
Público de Minas Gerais, quer na área criminal, ou em outra área de atuação
ministerial, dependerá de uma mudança de paradigmas de atuação funcional,
uma árdua campanha de convencimento daqueles que já despertaram para o
universo e a importância da inteligência como instrumento/ferramenta a
disposição do aperfeiçoamento da atividade ministerial-fim, para aqueles que
estão insatisfeitos com os resultados da instituição e buscam alternativas para
encontrar satisfação pessoal sincera em sua atuação, aquela verdadeira busca
do sentimento do dever cumprido ao invés da morfina emocional que
entorpece centenas de consciência com o formalismo simplista de cumprir o
horário legal e oficiar nos inquéritos e processos sobre sua mesa, num
movimento que virá debaixo para cima, dos promotores de justiça, órgãos de
execução e titulares da atividade finalística para a Procuradoria-Geral de
Justiça, da classe para a Administração Superior, enfim, da grande base
73
executora, que totaliza aproximadamente 600 promotores, para a pequena
cúpula detentora do poder de decisão sobre questões institucionais
estratégicas, composta pelo núcleo da Procuradoria-Geral de Justiça (3
Procuradores-Gerais de Justiça Adjuntos – Jurídico, Administrativo e
Institucional, e o Procurador-Geral de Justiça).
Imperioso, caminhando para o fim, lembrar as advertências do
jovem procurador da República Wilson Rocha Almeida Neto49
:
Na complexidade do mundo atual, há cada vez menos espaços para profissionais que acreditam poder descortinar, insulados em seus gabinetes, desconectados dos demais colegas e apartados das informações que fluem logo após a sua porta cerrada, os remédios para os males da humanidade ou a solução para os seus mais ingentes e lancinantes problemas. Se cada vez mais a palavra de ordem do mundo global é informação, e nenhum profissional pode pretender sucesso apartado da mesma, não pode ser diferente com o membro do Ministério Público, constitucionalmente atrelado à manutenção da ordem jurídica e à tutela dos direitos fundamentais destes homens que estão lá fora. Num mundo onde todos se conectam e se encontram, onde as potencialidades lesivas ganham proporções catastróficas nunca vistas antes, onde os documentos se tornaram virtuais, as autoridades não podem mais trabalhar da mesma forma como faziam há séculos; o isolamento e o tempo passaram a ser luxos caros e perigosos, principalmente para as autoridades responsáveis pela tutela dos direitos fundamentais
Ainda que essa mudança leve anos, não se pode retirar do jovem
aquilo que ele tem de mais lindo, a capacidade de sonhar.
E encerro, definitivamente, lembrando o expoente do modernismo
português, Fernando Pessoa, que, em um de seus inúmeros momentos de
grande inspiração, cunhou: ―Só sente ansiedade aquele cujo presente é
vazio‖.50
49ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contra-inteligência no Ministério Público: aspectos
práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009, p. 125.
50 Fernando Pessoa, poeta português, nasceu aos 13 de junho de 1888 e morreu em 30 de setembro de
1935. Foi um dos expoentes do Modernismo, movimento literário que aconteceu na Europa, entre 1890/1910.
74
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. A atividade de inteligência é uma realidade no Ministério Público brasileiro,
adotando a denominação de inteligência ministerial, cujo principal fundamento
é o princípio constitucional da eficiência insculpido no artigo 37, caput, da
Constituição da República.
2. O Ministério Público do Estado de Minas Gerais tem como seu órgão de
inteligência o Núcleo de Inteligência Institucional, que integra e é subordinado,
sucessivamente, ao CESIN (Centro de Segurança e Inteligência Institucionais),
à SPC (Superintendência de Planejamento Estratégico) e à COPLI
(Coordenadoria de Planejamento Institucional), a qual é ligada à SEPE
(Secretaria Especial de Planejamento Estratégico), que está vinculada ao
Gabinete do Procurador-Geral de Justiça, chefe da Instituição, conforme
Resoluções PGJ 12/2009 e 32/2010.
3. O Núcleo de Inteligência Institucional do Ministério Público de Minas Gerais,
segundo a doutrina nacional de segurança pública, a doutrina especializada e
o conceito de inteligência adotado como marco teórico adotado neste trabalho
não promove atividades de inteligência, mas tão somente contrainteligência
ativa e orgânica, além de outras atribuições que não se consideram atividades
de inteligência.
4. O Ministério Público do Estado de Minas Gerais promove investigações
criminais através dos Centros de Apoio Operacional de Combate ao Crime
Organizado e de Investigação Criminal (CAOCRIMO) e de Combate aos
Crimes Contra a Ordem Tributária (CAOET), bem como, se for o caso, por
todos os promotores de justiça com atribuição criminal, com fundamento na
Resolução do PGJ e do CNMP que encontram amparo em recentes decisões
do Supremo Tribunal Federal.
5. Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial criminal são
conceitos próprios, com conteúdos semânticos completamente distintos,
diferenciando-se, principalmente, quanto ao produto e à finalidade, de sorte
que, na inteligência ministerial criminal, o produto é o conhecimento e a
75
finalidade é assessorar a tomada de decisões de cunho criminal, enquanto
que, na investigação criminal ministerial, o produto é a prova criminal e a
finalidade é esclarecer a autoria e materialidade de um fato criminoso.
6. Inteligência ministerial criminal e investigação ministerial criminal encontram,
como principal ponto de contato, o fato de ambas terem a possibilidade de
utilização de métodos e técnicas especiais de operação, o que não significa
dizer tratar-se, invariavelmente, de operação de inteligência, sendo esta
reservada somente para o primeiro caso.
7. O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, de acordo com a legislação
e a disciplina normativa interna vigente, não tem fundamento para realizar
inteligência ministerial criminal e suas respectivas operações de inteligência,
promovendo a instituição, no momento, investigação ministerial criminal com
suas correspondentes operações de investigação.
8. É vital que o Ministério Público do Estado de Minas Gerais reoriente sua
gestão de conhecimento e, por conseguinte, sua atuação na área criminal
mediante a criação de Núcleos de Inteligência Criminal, em homenagem ao
princípio constitucional da eficiência e para cumprimento de sua missão
constitucional que é conferir proteção eficaz e de qualidade à sociedade,
destinatária final de seu trabalho e razão única de sua existência.
76
REFERÊNCIAS
ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e Contra-inteligência no Ministério Público: aspectos práticos e teóricos da atividade como instrumento de eficiência no combate ao crime organizado e na defesa dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Dictum, 2009.
ANTUNES, Priscila Carlos Brandão. SNI & Abin: uma leitura da atuação dos serviços secretos brasileiros ao longo do século XX. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002.
ARAÚJO, Raimundo Teixeira de. História secreta dos serviços de inteligência: origens, evolução e institucionalização. São Luís: Ed. do autor, 2004. 204p.
BESSA, Jorge da S. A importância da inteligência no processo decisório. In: ENCONTRO DE ESTUDOS: DESAFIOS PARA A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO SÉCULO XXI, 3, 2004, Brasília: Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Brasília, 2007.
BUZANELLI, Márcio Paulo. Evolução histórica da atividade de inteligência no Brasil. In: IX Congresso Internacional Del Clad Sobre La Reforma Del Estado Y De La Administración Pública. Madrid, Espanha, 2004.
CARDOSO JUNIOR, Walter Felix. Atividade de inteligência: origens, evolução e seus modelos de aplicação. Belo Horizonte/MG: Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMP/MG), 2007. 6 f. Notas de aula.
CEPIK, Marco A. C. Espionagem e democracia: agilidade e transparência como dilemas na institucionalização de serviços de inteligência. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003.
COELHO, Willian Garcia Pinto. Fontes abertas e federalismo cooperativo. 2008. 81 f. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
DANTAS, George Felipe de Lima; FERRO JÚNIOR, Celso Moreira. Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública. SENASP. p. 8. Disponível em: <http://www.fesmpmg.org.br/ default.asp?menu=11>. Acesso restrito em: 28 jan. 2008.
77
LUZ FILHO, Arismar; MENDES, Gilson Libório de Oliveira Mendes. Operações de inteligência. Belo Horizonte: Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, 2008. (Apostila)
FREGAPANI, Gelio. Segredos da espionagem: a influência dos serviços secretos nas decisões estratégicas. Brasília: Thesaurus, 2001.
GEHLEN, Reinhard. O serviço secreto. Rio de Janeiro: Bibliex, 1972.
GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata Niterói: Impetus, 2009. (Sisd – Série Inteligência, Segurança e Direito)
KENT, Sherman. Informações estratégicas. Trad. Cel. Hélio Freire. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1967. (Título original: Strategic intelligence for american world policy)
LIMA, Antônio Vandir de Freitas. O papel da inteligência na atualidade. 2004. 35 f. Monografia (Especialização em Inteligência Estratégica) – Faculdade Albert Einstein, Brasília, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: JORNADA JURÍDICA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – Auditoria da 4ª CJM, Juiz de Fora, 2005. Disponível em <http://www.militar.com.br/legis/artdireitomilitar/ano2005/>. Acesso em: 21 mar. 2010.
PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência no Ministério Público. In: CONGRESSO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MINISTÉRIO PÚBLICO E JUSTIÇA SOCIAL, 16. 2005, Belo Horizonte. Evento. Belo Horizonte: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público/ Associação Mineira do Ministério Público, p. 631-649, 2006.
PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 5. ed. ver., ampl. e atual. Niterói, Impetus: 2008.
PACHECO, Denilson Feitoza. O princípio da proporcionalidade no direito processual brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
PLATT, Washington. A produção de informações estratégicas. Trad. Major Álvaro Galvão Pereira e Capitão Heitor Aquino Ferreira. Rio de Janeiro: Ed. Biblioteca do Exército, Livraria Agir Editora, 1974.
SANTIN, Valter Foleto. Controle judicial da segurança pública: eficiência do serviço na prevenção e repressão ao crime. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004.
78
SILVESTRE, Flávia Galindo. A importância de um núcleo de inteligência de segurança pública para as atividades periciais. 2009. 56 f. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
79
ANEXO A – ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR (ARTIGO 4º, I, LEI
COMPLEMENTAR N. 34/1994)
PROCURADORIA-
GERAL DE
JUSTIÇA
COLÉGIO DE
PROCURADORE
S DE JUSTIÇA
CONSELHO
SUPERIOR DO
MINISTÉRIO
PÚBLICO
CORREGEDORI
A-GERAL DO
MINISTÉRIO
PÚBLICO
GABINETE DO
PROCURADOR-
GERAL DE JUSTIÇA
SEPE
(Res. 12/2009)
COPLI
(Res. 32/2010)
SPC
(Art. 4º, I, c/c 5º E
6º)
D. PIN
Art. 4º, I, “a” c/c 7º e 8º
D. MIN
Art. 4º, I, “b” c/c 9º e 10
CESIN
Art. 4º, I, “a” c/c 11, 12 e 13
NÚCLEO DE
SEGURANÇA
PESSOAL
Art. 13, I, c/c 14
NÚCLEO DE
SEGURANÇA
PATRIMONIAL
Art. 13, II, c/c 15
NÚCLEO DE
INTELIGÊNCIA
INSTITUCIONAL
Art. 13, III, c/c 16
80
ANEXO B – RESOLUÇÃO PGJ N.º 12, DE 3 DE ABRIL DE 2009.
Institui, na estrutura da Procuradoria-Geral de Justiça, a Secretaria Especial
de Planejamento Estratégico (SEPE).
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS,
no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art.18, inciso XII, da Lei
Complementar n.º 34, de 12 de setembro de 1994,
RESOLVE:
Art. 1º Fica instituída a Secretaria Especial de Planejamento Estratégico
(SEPE), órgão de assessoramento do Procurador-Geral de Justiça, a quem é
subordinada técnica e administrativamente, que tem como finalidade
desenvolver, orientar, acompanhar e avaliar as atividades de planejamento
estratégico, promoção institucional, articulação de políticas públicas e sociais,
inteligência e segurança.
Art. 2º Compete à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico:
I - assessorar o Procurador-Geral de Justiça na definição, elaboração,
coordenação, acompanhamento, orientação e avaliação de planos, projetos,
programas, ações e medidas institucionais, incluindo de inteligência e
segurança;
II - auxiliar no processo de formulação de estratégias para a atuação
institucional e na definição de objetivos, metas e indicadores de resultado;
III - promover a integração, o intercâmbio de informações e a articulação
entre órgãos de Execução e os de Administração Superior do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, resguardado o princípio de independência
funcional, visando à unidade das ações institucionais;
IV - promover, nas questões afetas a sua finalidade, sob orientação do
Procurador-Geral de Justiça e em conjunto com o Procurador-Geral de Justiça
Adjunto Institucional, a interlocução do Ministério Público do Estado de Minas
81
Gerais com os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, nas esferas
estadual e federal, e com outras instituições que tenham por objeto a atuação
em áreas de interesse institucional;
V - supervisionar a elaboração da proposta do Plano Geral de Atuação do
Ministério Público do Estado de Minas Gerais, apresentando-a ao Procurador-
Geral de Justiça, nos moldes do art. 19 da Lei Complementar 34/94;
VI - coordenar, orientar e acompanhar, com apoio da Coordenadoria de
Planejamento Institucional, a execução do Plano Geral de Atuação do
Ministério Público do Estado de Minas Gerais, bem como sugerir alterações ao
Procurador-Geral de Justiça;
VII - estimular, em conjunto com a Coordenadoria de Inclusão e
Mobilização Sociais, a integração entre o Ministério Público do Estado de
Minas Gerais e as instituições e entidades de interesse social, visando à
articulação de políticas públicas;
VIII - acompanhar, em conjunto com o Procurador-Geral de Justiça
Adjunto Institucional, os processos de relevante interesse do Ministério Público
do Estado de Minas Gerais no âmbito dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, nas esferas estadual e federal, e nos Conselhos Nacionais de
Justiça e do Ministério Público;
IX - promover articulações para celebração de convênios, acordos e
parcerias do Ministério Público do Estado de Minas Gerais com os órgãos dos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, nas esferas estadual e federal, e
com os demais Ministérios Públicos e entidades afins;
X - coordenar, sob orientação do Procurador-Geral de Justiça, o Fórum
Permanente dos Centros de Apoio Operacional;
XI - promover o desenvolvimento de recursos humanos e de
conhecimento relativos à segurança e inteligência institucionais, e realizar
82
estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento das atividades de
segurança e inteligência institucionais;
XII - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 3º A Secretaria Especial de Planejamento Estratégico será dirigida
por coordenador escolhido pelo Procurador-Geral de Justiça, dentre os
Procuradores ou Promotores de Justiça da mais elevada entrância.
Art. 4º Funcionarão, junto à Secretaria Especial de Planejamento
Estratégico, um serviço de apoio administrativo e um assessor especial,
escolhido pelo Procurador-Geral de Justiça, dentre Promotores de Justiça da
mais elevada entrância, para, sem prejuízo das suas atribuições, auxiliar na
atuação do órgão.
Art. 5º Fica vinculada à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico a
Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI).
Art.6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Art.7º Revogam-se as disposições em contrário.
83
ANEXO C – RESOLUÇÃO PGJ Nº 32, DE 5 DE MAIO DE 2010.
Dispõe sobre a estrutura orgânica e atribuições da
Coordenadoria de Planejamento Institucional
(COPLI)
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS,
usando da atribuição que lhe é conferida pelo art.18, incisos XI e XX da Lei
Complementar nº 34, de 12 de setembro de 1994,
Considerando a vinculação da Coordenadoria de Planejamento Institucional
(COPLI) à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico, por meio da
Resolução PGJ nº 12/2009, que incumbiu à COPLI novas competências
decorrentes do acompanhamento legislativo e da elaboração, implantação e
acompanhamento do Planejamento Estratégico no âmbito do Ministério Público
de Minas Gerais;
Considerando que as Resoluções PGJ nº 43/2006, que cria Sistema de
Audiências Públicas e nº 02/2009, que cria o Fórum Permanente dos Centros
de Apoio Operacional, atribuem à COPLI o apoio técnico-operacional
necessário ao desenvolvimento das atividades desses órgãos;
Considerando que a Resolução PGJ nº 01/2009, que cria Conselho Gestor de
Segurança da Informação, inclui a COPLI como membro; e
Considerando a necessidade de melhor estruturar a COPLI, para atendimento
a essas exigências e adequar todas as atribuições com a Resolução PGJ nº
30/2006;
RESOLVE:
Art. 1º A Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI), unidade
organizacional subordinada à Secretaria Especial de Planejamento Estratégico,
tem como finalidade programar, desenvolver, orientar, acompanhar e avaliar as
84
atividades de planejamento institucional, construção de indicadores,
modernização administrativa, desenvolvimento de sistemas e de inteligência e
segurança institucionais do Ministério Público de Minas Gerais.
Art. 2º A Coordenadoria de Planejamento Institucional é dirigida por
Coordenador escolhido livremente pelo Procurador-Geral de Justiça, dentre os
Procuradores ou Promotores de Justiça da mais elevada entrância.
Art. 3º Compete à Coordenadoria de Planejamento Institucional:
I - prestar assessoramento direto e imediato ao Coordenador da
Secretaria Especial de Planejamento Estratégico;
II - promover, orientar e coordenar a elaboração do Plano Geral de
Atuação do Ministério Público e do Planejamento Estratégico, com a
participação das Procuradorias e Promotorias de Justiça e demais unidades
organizacionais;
III - promover, orientar, acompanhar e coordenar a elaboração e a
execução do Plano Geral de Atuação do Ministério Público e do Planejamento
Estratégico, bem como sugerir alterações ao Procurador-Geral de Justiça;
IV - elaborar, acompanhar, orientar e compatibilizar projetos, programas,
ações e medidas institucionais;
V - acompanhar de forma sistêmica a atuação do Ministério Público,
identificando necessidades e sugerindo mudanças;
VI - organizar e prestar apoio técnico-operacional necessário para a
realização das audiências públicas e do Fórum Permanente dos Centros de
Apoio Operacional;
VII - auxiliar no planejamento, definição e acompanhamento da política de
segurança da informação no âmbito do Ministério Público, atuando como
membro do Conselho Gestor de Segurança da Informação do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais (CGSI);
85
VIII - planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar as atividades
de inteligência e de segurança institucionais de pessoal, instalações e
respectivas operações;
IX - promover o desenvolvimento do conhecimento relativos à segurança
e à inteligência institucionais, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e
aprimoramento das atividades de segurança e de inteligência institucionais;
X - analisar e propor convênios relacionados às atividades de inteligência
e segurança institucionais;
XI - manter intercâmbio, solicitar informações e cooperação de quaisquer
membros ou órgãos de execução do Ministério Público;
XII - promover, coordenar, orientar e executar ações necessárias à
construção de indicadores, à modernização administrativa e ao
desenvolvimento de sistemas;
XIII - coordenar, com base em diretrizes estratégicas, o desenvolvimento
de sistemas informatizados;
XIV - elaborar e coordenar a implantação de normas, sistemas e métodos
de simplificação e racionalização de trabalho, bem como proceder à sua
revisão e adequação e indicar o treinamento interno necessário à sua
operacionalização;
XV - exercer outras funções que lhe forem delegadas pelo Procurador-
Geral de Justiça.
Art. 4º A Coordenadoria de Planejamento Institucional (COPLI) tem a
seguinte estrutura orgânica:
I - Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC):
a) Diretoria de Planos, Projetos e Programas Institucionais (DPIN);
86
b) Diretoria de Sistemas e Monitoramento de Informações Estratégicas
(DMIN);
c) Centro de Segurança e Inteligência Institucional (CESIN).
Art. 5º A Superintendência de Planejamento e Coordenação (SPC),
unidade organizacional subordinada à Coordenadoria de Planejamento
Institucional, tem como finalidade planejar, coordenar e promover atividades
relacionadas à elaboração de planos, programas, projetos, acompanhando e
avaliando sua execução, à modernização administrativa, bem como orientar as
atividades de inteligência e segurança institucionais.
Art. 6º Compete à Superintendência de Planejamento e Coordenação:
I - coordenar, acompanhar e proceder a elaboração e execução do
planejamento estratégico, do plano geral de atuação e dos planos, programas
e projetos institucionais e acompanhar as ações respectivas;
II - manter intercâmbio permanente com órgãos ou entidades na sua área
de competência;
III - orientar e compatibilizar planos, projetos, parcerias, programas, ações
e medidas institucionais;
IV - coordenar a elaboração dos planos de trabalho de convênios
estruturantes ligados ao planejamento estratégico;
V - coordenar e realizar as atividades relacionadas à elaboração e
aferição de desempenho da execução do Planejamento Estratégico
Institucional e do Plano Geral de Atuação;
VI - planejar, coordenar e realizar as atividades relacionadas à otimização
de processos, ao estudo da estrutura organizacional e ao desenvolvimento de
sistemas;
VII - auxiliar e fornecer subsídios à elaboração das propostas
orçamentárias, especialmente para promover a alocação de recursos
87
orçamentários necessários ao cumprimento dos objetivos estratégicos
alinhados à missão do Ministério Público, observada a competência da
Diretoria de Orçamento;
VIII - orientar e promover apoio administrativo e técnico às atividades de
inteligência, contra-inteligência e segurança institucionais;
IX - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 7º A Diretoria de Planos, Projetos e Programas Institucionais (DPIN),
unidade organizacional subordinada à Superintendência de Planejamento e
Coordenação, tem como finalidade propor, elaborar, orientar, formatar e
compatibilizar planos, projetos institucionais e programas, acompanhando a
sua execução, bem como organizar audiências públicas e Fórum de CAOs.
Art. 8º Compete à Diretoria de Planos, Projetos e Programas
Institucionais:
I - elaborar o Plano Geral de Atuação do Ministério Público e o
Planejamento Estratégico, com participação das Procuradorias e Promotorias
de Justiça e demais unidades organizacionais da Instituição;
II - elaborar e formatar a proposição de objetivos e metas pretendidos,
decorrentes da visão de futuro e da missão do Ministério Público,
estabelecidas através do planejamento estratégico, com definição de
responsabilidades, dos recursos necessários e do cronograma de execução;
III - acompanhar a execução do Plano Geral de Atuação do Ministério
Público e do Planejamento Estratégico, bem como propor modificações
quando necessário, apresentando relatórios de cumprimento;
IV - estudar, propor, elaborar, formatar e articular projetos institucionais e
parcerias de interesse do Ministério Público;
V - organizar e acompanhar a realização de Fórum de CAOs e audiências
públicas, consolidando as informações geradas nesses encontros;
88
VI - propor ações de alinhamento de planos, projetos e programas
institucionais à missão do Ministério Público;
VII - elaborar os planos de trabalho de convênios estruturantes ligados ao
planejamento estratégico;
VIII - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 9º A Diretoria de Sistemas e Monitoramento de Informações
Estratégicas (DMIN), unidade organizacional subordinada à Superintendência
de Planejamento e Coordenação, tem como finalidade planejar e executar
atividades relacionadas à construção de indicadores e à modernização
administrativa.
Art. 10. Compete à Diretoria de Sistemas e Monitoramento de
Informações Estratégicas:
I - proceder às análises estatísticas referentes aos resultados da
execução do Plano Estratégico Institucional e do Plano Geral de Atuação;
II - sistematizar e executar a coleta e o tratamento de dados para
construção de indicadores e análises estatísticas que subsidiem planos e
projetos da instituição;
III - elaborar e monitorar indicadores de desempenho e índices que
auxiliem na gestão estratégica das metas institucionais e na mensuração de
resultados;
IV - fomentar a elaboração e manutenção de banco de dados estatísticos,
concernente à atuação finalística, estrutura administrativa e outros necessários
à gestão estratégica do Ministério Público e ao acompanhamento dos
indicadores estratégicos estabelecidos;
V - propor e acompanhar convênios que viabilizem o acesso de base de
dados de outras instituições com fins de obter informações para análises
estatísticas;
89
VI - sugerir, subsidiar e acompanhar o desenvolvimento de sistemas
informatizados, conforme as propostas de otimização das rotinas e fluxo de
informações;
VII - realizar e apresentar estudos sobre as rotinas administrativas,
visando à propositura de medidas de otimização e alteração da estrutura
orgânica institucional;
VIII - analisar e compatibilizar propostas de definição e transferência de
atribuições, competências e funções de unidades administrativas internas,
observadas as diretrizes estabelecidas pelo órgão;
IX - dar suporte técnico às unidades no que se refere à implantação de
normas, sistemas e métodos de simplificação e racionalização de trabalho e
padronização de formulários e representações gráficas, inclusive no que tange
ao planejamento do quantitativo de servidores e suas funções;
X - desenvolver organogramas, fluxogramas, cronogramas e outros
instrumentos de análise organizacional;
XI - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 11. O Centro de Segurança e Inteligência Institucionais (CESIN),
unidade organizacional subordinada à Superintendência de Planejamento e
Coordenação, tem como finalidade desenvolver atividades de inteligência
institucional e de elaborar, executar e supervisionar projetos de segurança
institucional de instalações, de pessoal, de informações e de operações.
Art. 12. O CESIN tem a seguinte estrutura orgânica:
I - Núcleo de Segurança Pessoal;
II - Núcleo de Segurança Patrimonial;
III - Núcleo de Inteligência Institucional.
Art 13. Compete ao Centro de Segurança e Inteligência Institucional:
90
I - planejar, coordenar, orientar e avaliar ações de inteligência, contra-
inteligência e de investigação;
II - coordenar e orientar vistorias preventivas quanto à segurança de
imóveis e eventos;
III - supervisionar, coordenar e promover atividades relativas à segurança
dos membros do Ministério Público;
IV - promover cursos e treinamentos relativos à segurança institucional;
V - propor e elaborar, dentre outros, a Política de Segurança Institucional,
a Norma Geral de Segurança Institucional e os Planos de Segurança
Institucional, como o Plano de Segurança Pessoal, o Plano de Segurança de
Instalações, o Plano de Segurança de Informações e os Planos Especiais de
Segurança (anti-incêndio, antibombas e evacuação);
VI - executar outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 14. Compete ao Núcleo de Segurança Pessoal:
I - programar, estabelecer e avaliar medidas de proteção aos membros e
servidores do Ministério Público, em situação de risco decorrente de suas
atividades funcionais;
II - gerenciar, promover e avaliar atividades relativas a segurança dos
membros do Ministério Público, extensiva à família, em situação de risco;
III - realizar a intermediação institucional junto à Polícia Militar de Minas
Gerais em assuntos de interesses das duas instituições;
IV - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 15. Compete ao Núcleo de Segurança Patrimonial:
I - propor, elaborar, avaliar e executar, em conjunto com as demais
unidades tecnicamente competentes, planos de segurança de edificações, de
monitoramento e controle de acesso;
91
II - programar e executar vistorias preventivas no que diz respeito à
segurança em imóveis e eventos, elaborando relatórios de análise de
segurança;
III - promover cursos relacionados a prevenção de incêndios, bem como o
treinamento de brigadas de incêndio;
IV - emitir pareceres técnicos e elaborar a especificação técnica dos
equipamentos de segurança nas edificações do Ministério Público Estadual;
V - realizar a intermediação institucional junto ao Corpo de Bombeiros
Militar de Minas Gerais em assuntos de interesses das duas instituições;
VI - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 16. Compete ao Núcleo de Inteligência Institucional:
I - gerenciar e desenvolver ações de inteligência e contra-inteligência
relativas à segurança institucional dos membros do Ministério Público;
II - realizar pesquisas para localização e qualificação de pessoas
arroladas em procedimentos presididos por membros do Ministério Público;
III - programar, gerenciar e executar vistorias técnicas nas redes de
telefonia do Ministério Público;
IV - garantir a segurança institucional em eventos do Ministério Público
por meio de ações de inteligência e contra-inteligência;
V - apoiar as investigações desenvolvidas pelos Centros de Apoio
Operacional, quando solicitado;
VI - realizar a intermediação institucional junto à Polícia Civil de Minas
Gerais em assuntos de interesses das duas instituições;
VII - exercer outras atividades correlatas que lhe forem delegadas.
Art. 17. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
92
Art. 18. Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a
Resolução PGJ nº 30/2006, de 24 de maio de 2006.
93
ANEXO D – RESOLUÇÃO N.º 13, DE 02 DE OUTUBRO DE 2006.
Regulamenta o art. 8º da Lei Complementar 75/93 e o
art. 26 da Lei n.º 8.625/93, disciplinando, no âmbito do
Ministério Público, a instauração e tramitação do
procedimento investigatório criminal, e dá outras
providências.
O CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, no exercício das
atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 130-A, § 2º, inciso I, da
Constituição Federal e com fulcro no art. 64-A de seu Regimento Interno,
Considerando o disposto no artigo 127, ―caput‖ e artigo 129, incisos I , II, VIII e
IX, da Constituição Federal, Considerando o que dispõem o art. 8° da Lei
Complementar n.º 75/93, o art. 26 da Lei n.º 8.625/93 e o art. 4º, parágrafo
único, do Código de Processo Penal;
Considerando a necessidade de regulamentar no âmbito do Ministério
Público, a instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal;
R E S O L V E:
Capítulo I
DA DEFINIÇÃO E FINALIDADE
Art. 1ºO procedimento investigatório criminal é instrumento de natureza
administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do Ministério
Público com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de
infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e
embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal.
94
Parágrafo único. O procedimento investigatório criminal não é condição de
procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de ação penal e
não exclui a possibilidade de formalização de investigação por outros órgãos
legitimados da Administração Pública.
Capítulo II
DA INSTAURAÇÃO
Art. 2º Em poder de quaisquer peças de informação, o membro do Ministério
Público poderá:
I – promover a ação penal cabível;
II – instaurar procedimento investigatório criminal;
III – encaminhar as peças para o Juizado Especial Criminal, caso a infração
seja de menor potencial ofensivo;
IV – promover fundamentadamente o respectivo arquivamento;
V – requisitar a instauração de inquérito policial.
Art. 3º O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado de ofício,
por membro do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao
tomar conhecimento de infração penal, por qualquer meio, ainda que informal,
ou mediante provocação.
§ 1º O procedimento deverá ser instaurado sempre que houver determinação
do Procurador-Geral da República, do Procurador-Geral de Justiça ou do
Procurador-Geral de Justiça Militar, diretamente ou por delegação, nos moldes
da lei, em caso de discordância da promoção de arquivamento de peças de
informação.
§ 2º A designação a que se refere o § 1º deverá recair sobre membro do
Ministério Público diverso daquele que promoveu o arquivamento.
95
§ 3º A distribuição de peças de informação deverá observar as regras internas
previstas no sistema de divisão de serviços.
§ 4º No caso de instauração de ofício, o membro do Ministério Público poderá
prosseguir na presidência do procedimento investigatório criminal até a
distribuição da denúncia ou promoção de arquivamento em juízo.
§ 5º O membro do Ministério Público, no exercício de suas atribuições
criminais, deverá dar andamento, no prazo de 30 (trinta) dias a contar de seu
recebimento, às representações, requerimentos, petições e peças de
informação que lhes sejam encaminhadas.
§ 6º O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado por grupo de
atuação especial composto por membros do Ministério Público, cabendo sua
presidência àquele que o ato de instauração designar.
Art. 4º O procedimento investigatório criminal será instaurado por portaria
fundamentada, devidamente registrada e autuada, com a indicação dos fatos a
serem investigados e deverá conter, sempre que possível, o nome e a
qualificação do autor da representação e a determinação das diligências
iniciais.
Parágrafo único. Se, durante a instrução do procedimento investigatório
criminal, for constatada a necessidade de investigação de outros fatos, o
membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a
extração de peças para instauração de outro procedimento.
Art. 5º Da instauração do procedimento investigatório criminal far-se-á
comunicação imediata e escrita ao Procurador-Geral da República,
Procurador- Geral de Justiça, Procurador-Geral de Justiça Militar ou ao órgão a
quem incumbir por delegação, nos termos da lei.
Capítulo III
DA INSTRUÇÃO
96
Art. 6º Sem prejuízo de outras providências inerentes à sua atribuição funcional
e legalmente previstas, o membro do Ministério Público, na condução das
investigações, poderá:
I – fazer ou determinar vistorias, inspeções e quaisquer outras diligências;
II – requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades,
órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
III – requisitar informações e documentos de entidades privadas, inclusive de
natureza cadastral;
IV – notificar testemunhas e vítimas e requisitar sua condução coercitiva, nos
casos de ausência injustificada, ressalvadas as prerrogativas legais;
V – acompanhar buscas e apreensões deferidas pela autoridade judiciária;
VI – acompanhar cumprimento de mandados de prisão preventiva ou
temporária deferidas pela autoridade judiciária;
VII – expedir notificações e intimações necessárias;
VIII- realizar oitivas para colheita de informações e esclarecimentos;
IX – ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caráter público ou
relativo a serviço de relevância pública;
X – requisitar auxílio de força policial.
§ 1º Nenhuma autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
função pública poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer pretexto, a
exceção de sigilo, sem prejuízo da subsistência do caráter sigiloso da
informação, do registro, do dado ou do documento que lhe seja fornecido.
§ 2º O prazo mínimo para resposta às requisições do Ministério Público será de
10 (dez) dias úteis, a contar do recebimento, salvo hipótese justificada de
relevância e urgência e em casos de complementação de informações.
97
§ 3º Ressalvadas as hipóteses de urgência, as notificações para
comparecimento devem ser efetivadas com antecedência mínima de 48 horas,
respeitadas, em qualquer caso, as prerrogativas legais pertinentes.
§ 4º A notificação deverá mencionar o fato investigado, salvo na hipótese de
decretação de sigilo, e a faculdade do notificado de se fazer acompanhar por
advogado.
§ 5º As correspondências, notificações, requisições e intimações do Ministério
Público quando tiverem como destinatário o Presidente da República, o Vice-
Presidente da República, membro do Congresso Nacional, Ministro do
Supremo Tribunal Federal, Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior,
Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe de missão diplomática de
caráter permanente serão encaminhadas e levadas a efeito pelo Procurador-
Geral da República ou outro órgão do Ministério Público a quem essa
atribuição seja delegada.
§ 6º As notificações e requisições previstas neste artigo, quando tiverem como
destinatários o Governador do Estado os membros do Poder Legislativo e os
desembargadores, serão encaminhadas pelo Procurador-Geral de Justiça.
§ 7º As autoridades referidas nos parágrafos 5º e 6º poderão fixar data, hora e
local em que puderem ser ouvidas, se for o caso.
§ 8º O membro do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das
informações e documentos que requisitar, inclusive nas hipóteses legais de
sigilo.
Art. 7º O autor do fato investigado será notificado a apresentar, querendo, as
informações que considerar adequadas, facultado o acompanhamento por
advogado.
Art. 8º As diligências serão documentadas em auto circunstanciado.
Art. 9º As declarações e depoimentos serão tomados por termo, podendo ser
utilizados recursos áudio-visuais..
98
Art. 10 As diligências que devam ser realizadas fora dos limites territoriais da
unidade em que se realizar a investigação, serão deprecadas ao respectivo
órgão do Ministério Público local, podendo o membro do Ministério Público
deprecante acompanhar a(s) diligência(s), com a anuência do membro
deprecado.
§ 1º A deprecação poderá ser feita por qualquer meio hábil de comunicação,
devendo ser formalizada nos autos.
§ 2º O disposto neste artigo não obsta a requisição de informações,
documentos, vistorias, perícias a órgãos sediados em localidade diversa
daquela em que lotado o membro do Ministério Público.
Art. 11 A pedido da pessoa interessada será fornecida comprovação escrita de
comparecimento.
Art. 12 O procedimento investigatório criminal deverá ser concluído no
prazo de 90 (noventa) dias, permitidas, por igual período, prorrogações
sucessivas, por decisão fundamentada do membro do Ministério Público
responsável pela sua condução.
§ 1º Cada unidade do Ministério Público, manterá, para conhecimento dos
órgãos superiores, controle atualizado, preferencialmente por meio eletrônico,
do andamento de seus procedimentos investigatórios criminais.
§ 2º O controle referido no parágrafo anterior poderá ter nível de acesso
restrito ao Procurador-Geral da República, Procurador-Geral de Justiça ou
Procurador-Geral de Justiça Militar, mediante justificativa lançada nos autos.
Capítulo IV
DA PUBLICIDADE
99
Art. 13 Os atos e peças do procedimento investigatório criminal são públicos,
nos termos desta Resolução, salvo disposição legal em contrário ou por razões
de interesse público ou conveniência da investigação.
Parágrafo único. A publicidade consistirá:
I – na expedição de certidão, mediante requerimento do investigado, da vítima
ou seu representante legal, do Poder Judiciário, do Ministério Público ou de
terceiro diretamente interessado;
II – no deferimento de pedidos de vista ou de extração de cópias, desde que
realizados de forma fundamentada pelas pessoas referidas no inciso I ou a
seus advogados ou procuradores com poderes específicos, ressalvadas as
hipóteses de sigilo;
III – na prestação de informações ao público em geral, a critério do presidente
do procedimento investigatório criminal, observados o princípio da presunção
de inocência e as hipóteses legais de sigilo.
Art. 14 O presidente do procedimento investigatório criminal poderá decretar o
sigilo das investigações, no todo ou em parte, por decisão fundamentada,
quando a elucidação do fato ou interesse público exigir; garantida ao
investigado a obtenção, por cópia autenticada, de depoimento que tenha
prestado e dos atos de que tenha, pessoalmente, participado.
Capítulo V
DA CONCLUSÃO E DO ARQUIVAMENTO
Art. 15 Se o membro do Ministério Público responsável pelo procedimento
investigatório criminal se convencer da inexistência de fundamento para a
propositura de ação penal pública, promoverá o arquivamento dos autos ou
das peças de informação, fazendo-o fundamentadamente.
100
Parágrafo único. A promoção de arquivamento será apresentada ao juízo
competente, nos moldes do art.28 do CPP, ou ao órgão superior interno
responsável por sua apreciação, nos termos da legislação vigente.
Art. 16 Se houver notícia de outras provas novas, poderá o membro do
Ministério Público requerer o desarquivamento dos autos, providenciando-se a
comunicação a que se refere o artigo 5º desta Resolução.
Capítulo VI
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 17 No procedimento investigatório criminal serão observados os direitos e
garantias individuais consagrados na Constituição da República Federativa do
Brasil, aplicando-se, no que couber, as normas do Código de Processo Penal e
a legislação especial pertinente.
Art. 18 Os órgãos do Ministério Público deverão promover a adequação dos
procedimentos de investigação em curso aos termos da presente Resolução,
no prazo de 90 (noventa) dias a partir de sua entrada em vigor.
Art. 19 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 02 de outubro de 2006.
101
ANEXO E – RESOLUÇÃO CONJUNTA PGJ CGMP Nº 2, DE 14 DE
SETEMBRO DE 2004
Regulamenta o art. 67, I, da Lei Complementar n° 34, de 12 de setembro de
1994, disciplinando, no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas
Gerais, a instauração e tramitação do Procedimento Investigatório Criminal, e
dá outras providências.
O Procurador-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, no uso da
atribuição que lhe é conferida pelo art. 18, LV, da Lei Complementar n° 34/94,
em conjunto com o Corregedor-Geral do Ministério Público de Minas Gerais e
com anuência, por unanimidade, da Câmara de Procuradores de Justiça e do
Conselho Superior do Ministério Público de Minas Gerais,
Considerando que o exercício da ação penal não depende
exclusivamente de prévio inquérito policial;
Considerando o que dispõem o art. 26 da Lei nº 8.625/93, o art. 8° da Lei
Complementar nº 75/93, o art. 67 da Lei Complementar nº 34/94 e o art. 4º,
parágrafo único, do Código de Processo Penal;
Considerando que o Brasil, como Estado-parte de Convenções
Internacionais de Direitos Humanos e de outros instrumentos internacionais,
comprometeu-se a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o
respeito universal aos direitos humanos e às liberdades fundamentais e a
observância desses direitos e liberdades;
Considerando que os Estados-membros do Brasil devem, na defesa dos
direitos humanos, priorizar a investigação e o combate aos delitos que colocam
em xeque a concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa
102
do Brasil, a exemplo de tortura, execuções sumárias, sonegação fiscal,
lavagem de dinheiro, corrupção, etc;
Considerando a necessidade de disciplinar, no âmbito do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, a instauração e tramitação do
Procedimento Investigatório Criminal;
Considerando a orientação expedida pelo Conselho Nacional de
Procuradores-Gerais no sentido de se uniformizar os procedimentos
investigatórios criminais conduzidos pelo Ministério Público;
Considerando a necessidade de se efetivar o combate à criminalidade,
primando pelo resguardo do poder punitivo estatal, resolve:
CAPÍTULO I
DA DEFINIÇÃO E FINALIDADE
Art. 1º O Procedimento Investigatório Criminal é instrumento de natureza
administrativa e inquisitória, instaurado e presidido pelo Ministério Público, e
terá por fim a obtenção dos esclarecimentos necessários à apuração de
infrações penais de ação penal pública.
Parágrafo único. O Procedimento Investigatório Criminal:
I - não exclui a possibilidade de formalização de investigação por outros
órgãos da Administração Pública;
II - não constitui pressuposto processual para o ajuizamento de ação
penal.
CAPÍTULO II
DA INSTAURAÇÃO
Art. 2º O Procedimento Investigatório Criminal poderá ser instaurado:
I - de ofício, pelo membro do Ministério Público com atribuições criminais,
ao tomar conhecimento de infração penal, por qualquer meio, entre os quais:
103
a) comunicação originada de outro membro do Ministério Público, de
autoridade judicial ou policial ou ainda de qualquer outra autoridade;
b) requerimento de qualquer pessoa do povo;
c) representação da vítima ou de seu representante legal quando a lei a
exigir.
II - pelo membro do Ministério Público designado pelo Procurador-Geral,
em caso de discordância da promoção de arquivamento de peças informativas
ou do indeferimento do pedido de instauração;
§1º Da decisão que indefere o requerimento de instauração de
Procedimento Investigatório Criminal, caberá recurso para o Procurador-Geral
de Justiça, no prazo de 10 (dez) dias.
§2º A designação a que se refere o inciso II deverá recair sobre membro
do Ministério Público diverso daquele que promoveu o arquivamento.
Art.3º O Procedimento Investigatório Criminal será instaurado por portaria,
devidamente registrada e autuada, com a indicação do objeto a ser
investigado, e deverá conter:
I - a descrição do fato objeto de investigação ou esclarecimentos e o meio
ou a forma pelo qual dele se tomou conhecimento;
II - o nome e a qualificação do autor da representação, se for o caso;
III - a determinação das diligências iniciais.
Parágrafo único. Se, durante a instrução do procedimento investigatório
criminal, for constatada a necessidade de investigação de outros fatos, o
membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a
extração de peças para instauração de outro procedimento investigatório
criminal.
104
Art. 4º Em poder das peças informativas, o membro do Ministério Público
poderá:
I - promover a ação penal cabível;
II - instaurar Procedimento Investigatório Criminal;
III - encaminhar as peças para o Juizado Especial Criminal, caso a
infração seja de menor potencial ofensivo;
IV - promover fundamentadamente o respectivo arquivamento;
V - requisitar a instauração de inquérito policial.
CAPÍTULO III
DA INSTRUÇÃO
Art. 5º Sem prejuízo de outras providências inerentes à sua atribuição
funcional e legalmente previstas, o membro do Ministério Público, na condução
das investigações, poderá:
I - fazer ou determinar a execução de vistorias e inspeções;
II - requisitar informações, exames, perícias e documentos de
autoridades, órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta, da
União, do Estado e dos Municípios;
III - requisitar informações e documentos a entidades privadas;
IV - notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, nos casos
de ausência injustificada, ressalvadas as prerrogativas legais;
V - acompanhar buscas e apreensões deferidas pela autoridade judiciária;
VI - acompanhar cumprimento de mandados de prisão preventiva ou
temporária deferidos pela autoridade judiciária.
105
§1º O prazo fixado para resposta às requisições do Ministério Público será
de 10 (dez) dias úteis, a contar do recebimento, salvo em caso de relevância e
urgência ou em casos de complementação de informações.
§2º Ressalvadas as hipóteses de urgência, as notificações para
comparecimento devem ser efetivadas com antecedência mínima de 48 horas,
respeitadas, em qualquer caso, as prerrogativas legais pertinentes.
§3º A notificação deverá mencionar o fato investigado e a faculdade do
notificado de se fazer acompanhar por advogado.
§4º No exercício de suas funções, ou para assegurar o cumprimento de
suas determinações, o membro do Ministério Público poderá requisitar o auxílio
de força policial.
Art. 6º O Ministério Público, na condução do Procedimento Investigatório
Criminal, ouvirá o(s) investigado(s), salvo:
I - se houver dificuldade justificada em fazê-lo;
II - em situações justificadas de urgência;
III - se, de algum modo, venha a acarretar prejuízo à eficácia dos
provimentos jurisdicionais cautelares.
§1º A oitiva do(s) investigado(s) será realizada preferencialmente ao final
do Procedimento Investigatório Criminal.
§ 2º Na notificação, o investigado será cientificado desta condição e da
faculdade de se fazer acompanhar por advogado.
§3º O investigado poderá, no curso do Procedimento Investigatório
Criminal, requerer a juntada de documentos e outras diligências.
Art. 7º As diligências serão documentadas em auto circunstanciado.
Art. 8º As declarações e os depoimentos serão tomados por termo.
106
Art. 9º Quando necessária, a diligência poderá ser deprecada ao membro
do Ministério Público local, assinalando-se prazo razoável para cumprimento,
sendo facultado ao membro do Ministério Público deprecante o
acompanhamento da(s) diligência(s).
Parágrafo único. A deprecação poderá ser feita por qualquer meio hábil
de comunicação, devendo ser formalizada nos autos.
Art. 10. Para fins de instrução do Procedimento Investigatório Criminal ou
ajuizamento de ação penal dele decorrente, as cópias de documentos originais
poderão ser autenticadas pelo membro do Ministério Público ou por servidor
designado.
Art. 11. A pedido da pessoa interessada, será fornecida comprovação
escrita de comparecimento.
Art. 12. O Procedimento Investigatório Criminal deverá ser concluído no
prazo de 6 (seis) meses, permitidas, se necessário, prorrogações por iguais
períodos, mediante motivação, com comunicação ao Procurador-Geral de
Justiça.
CAPÍTULO IV
DA PUBLICIDADE
Art. 13. Os atos e as peças do Procedimento Investigatório Criminal são
públicos, nos termos desta Resolução, salvo disposição legal em contrário ou
por razões de interesse público.
Parágrafo único. A publicidade consistirá:
I - na expedição de certidão, mediante requerimento da parte diretamente
interessada, do Poder Judiciário, do Ministério Público e de outros órgãos
públicos;
II - na concessão de vistas dos autos, nos termos do inciso I deste artigo;
107
III - na extração de cópias, nos termos do inciso I deste artigo;
IV - na prestação de informações ao público em geral, a critério do
presidente do Procedimento Investigatório Criminal, observados o princípio da
não culpabilidade e as hipóteses legais de sigilo.
Art. 14 O sigilo das investigações poderá ser decretado pelo presidente do
Procedimento Investigatório Criminal, por decisão fundamentada, quando a
elucidação do fato o exigir, observadas as garantias legais do investigado e de
seu advogado.
Parágrafo único. O sigilo em relação ao investigado ou seu advogado
deverá ser decretado judicialmente.
CAPÍTULO V
DA CONCLUSÃO E DO ARQUIVAMENTO
Art. 15. A conclusão do Procedimento Investigatório Criminal será
comunicada ao Procurador-Geral de Justiça e, se for o caso, a denúncia será
oferecida no prazo legal contado desta data.
Art. 16. Se o Presidente do Procedimento Investigatório Criminal se
convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação penal
pública, deverá promover o arquivamento dos autos ou das peças de
informação, fazendo-o fundamentadamente.
Parágrafo único. A promoção de arquivamento será apresentada ao Juízo
competente na forma do art. 28 do Código de Processo Penal.
Art. 17. Se houver notícia de outras provas relevantes, poderá o membro
do Ministério Público requerer o desarquivamento dos autos.
CAPÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
108
Art. 18. Ressalvadas as substituições decorrentes de faltas e
impedimentos legais, caberá ao membro do Ministério Público que detenha a
respectiva atribuição:
I - receber, após protocolo e distribuição, as representações, notícias-
crimes e peças informativas;
II - instaurar e presidir o Procedimento Investigatório Criminal.
§1º O conflito de atribuições será dirimido pelo Procurador-Geral, nos
termos da Lei Orgânica respectiva.
§2º É admitida a atuação simultânea no mesmo Procedimento
Investigatório:
I - de mais de um membro do Ministério Público;
II - entre membros do Ministério Público da União e dos Estados.
Art. 19. Incumbe ao Procurador-Geral:
I - instaurar e presidir o Procedimento Administrativo Investigatório,
pessoalmente ou mediante delegação, quando a autoridade noticiada ou
investigada gozar de prerrogativa de foro em razão da função, conforme
disciplinado na Constituição da República e na Constituição Estadual;
II - expedir e encaminhar as requisições e notificações, quando tiverem
como destinatários:
a) Chefe do Poder Executivo da União ou dos Estados;
b) Ministros de Estado ou Secretários Estaduais;
c) membros do Congresso Nacional ou das Assembléias Legislativas;
d) membros dos Tribunais de Contas da União e dos Estados;
e) membros do Supremo Tribunal Federal ou dos Tribunais Superiores,
ou ainda dos órgãos do Poder Judiciário em segundo grau de jurisdição;
109
f) membros do Ministério Público no último grau da carreira ou que atuem
perante o Poder Judiciário em segundo grau de jurisdição.
CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 20. Na instrução do Procedimento Investigatório Criminal aplicam-se,
no que couber, as normas do Código de Processo Penal e a legislação
especial pertinente, asseguradas as prerrogativas previstas na Lei nº 8.906/94.
Art. 21. A qualquer momento da investigação, diante de abuso ou
omissão do membro do Ministério Público, mediante decisão fundamentada e
aprovada previamente pelo Conselho Superior do Ministério Público, poderá o
Conselho Superior do Ministério Público designar outro membro do Ministério
Público para o Procedimento Investigatório Criminal.
Art. 22. Cada Promotoria de Justiça ou Procuradoria da Justiça manterá
controle atualizado do andamento de seus Procedimentos Investigatórios
Criminais, remetendo-o, anualmente, ao Centro de Apoio Operacional Criminal,
para fins estatísticos e de conhecimento.
Art. 23. Os membros do Ministério Público deverão promover, no prazo de
6 (seis) meses, se for o caso, a conversão, em Procedimento Investigatório
Criminal, das peças informativas em trâmite.
Art. 24. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação,
revogando-se as disposições em contrário.