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Philipe Alves Rosa A ATUAÇÃO DO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS NA REPRESSÃO QUALIFICADA À CRIMINALIDADE VIOLENTA Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, oferecido pela Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco Belo Horizonte Centro Universitário Newton Paiva Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais 20l0

Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

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Autor: Philipe Alves Rosa. Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMPMG). Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco. Trata-se de um estudo direcionado a responder a indagação: Como atua o Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais (SIPOM) na repressão qualificada da criminalidade violenta no Estado?

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Philipe Alves Rosa

A ATUAÇÃO DO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR DO

ESTADO DE MINAS GERAIS NA REPRESSÃO QUALIFICADA À CRIMINALIDADE VIOLENTA

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, oferecido pela Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança PúblicaOrientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco

Belo Horizonte

Centro Universitário Newton PaivaEscola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

20l0

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Centro Universitário Newton Paiva

Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

Curso de Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de

Segurança Pública

Monografia intitulada “A atuação do Sistema de Inteligência da Polícia Militar do

Estado de Militar de Minas Gerais na repressão qualificada da criminalidade violenta:

através da inteligência tática”, de autoria de Philipe Alves Rosa, considerado aprovado,

com a nota 86 (oitenta e seis pontos), pela banca examinadora constituída pelos

seguintes professores:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco – Orientador

____________________________________________________________

Prof. Mestre Sérgio Antônio Teixeira

____________________________________________________________

Prof. Especialista Ronaldo Silveira de Alcântara

Belo Horizonte/MG, 26/maio/2010.

Escola Superior do Ministério Público de Minas GeraisRua Timbiras, 2928, 4º. andar, Bairro Barro Preto

30140-062 - Belo Horizonte - MG Tel: 31-3295-1023

www.fesmpmg.org.br

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Dedico este trabalho aos meus companheiros de farda da Polícia Militar de Minas Gerais, pelo empenho e profissionalismo prestados ao povo mineiro e pelos valores que me foram transmitidos ao longo dos meus anos de trabalho, os quais me levam a pensar sempre naquilo que pode ser feito para construir uma instituição melhor a cada dia.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por me guiar com sua infinita sabedoria, abençoando-me com saúde e motivação, durante o percurso dessa jornada.

À minha amada esposa Suellen, que, com sua paciência e carinho, esteve sempre próxima, com uma palavra de apoio e incentivo, para que eu pudesse alcançar meus objetivos.

Aos meus pais, Manoel e Nilda, como fontes eternas de carinho e exemplos de seres humanos que sempre busco seguir. Aos meus irmãos, Júlio e Winicius, amigos presentes em todos os momentos.

Ao meu sogro, Saulo (em memória), e minha sogra, Jane, pois estes são os maiores exemplos de superação e fé que já tive em minha vida.

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“A vitória não é mais importante do que a certeza de termos feito todo o esforço para conquistá-la.” Bernardinho, técnico da seleção brasileira de vôlei.

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RESUMO

Trata-se de um estudo direcionado a responder a indagação: Como atua o Sistema de

Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais (SIPOM) na repressão qualificada da

criminalidade violenta no Estado? No qual se apresenta uma descrição objetiva das

ações que são adotadas pelas agências que compõem o SIPOM, para que essas atuem

repressivamente e de forma qualificada, no combate à criminalidade violenta no Estado.

Para tanto, foram estudados assuntos referentes à atividade de inteligência policial,

especificadamente, no campo da inteligência tática, além de uma descrição do processo

histórico da inteligência. Os aspectos referentes ao índice de criminalidade violenta

também receberam uma atenção especial, quando foi descrita a vinculação desses

delitos com aqueles relacionados ao tráfico de drogas. Por fim, foi feita uma abordagem

do Sistema de inteligência da Polícia Militar, desde sua estrutura, passando pelas

diretrizes trazidas para o setor, pelo plano estratégico institucional e, ao final, foi

apresenta uma proposta de modelo de policiamento orientado pela inteligência. A

pesquisa contou não só com um levantamento bibliográfico, mas também com um

trabalho de campo, por intermédio de uma entrevista com um gestor do nível estratégico

do setor de inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais.

Palavras-chaves: atividade de inteligência, inteligência tática, Polícia Militar de Minas Gerais, Sistema de Inteligência da Polícia Militar, policiamento orientado pela inteligência, repressão qualificada e criminalidade violenta.

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ABSTRACT

This is a study aimed at answering the question: How does the Intelligence System of

the Military Police of Minas Gerais (SIPOM) qualified in the prosecution of violent

crime in the state? In which he presents an objective description of the actions that are

adopted by the agencies that comprise the SIPOM, if such act repressively and so

qualified to combat violent crime in the state. To this end, we studied issues relating to

the activity of police intelligence, especially in the area of tactical intelligence, and a

description of the history of intelligence. Aspects related to the violent crime rate also

received an special attention, when he described the binding of these crimes with those

related to drug trafficking. Finally, we made an approach to intelligence system of the

military police, from its structure, through the guidelines for the sector brought about by

the institutional strategic plan and submitted a final model proposition intelligence-led

policing. They gathered not only a literature, but also with a area, through an interview

with a manager of strategic level intelligence sector of the Military Police of Minas

Gerais.

Keywords: intelligence activities, tactical intelligence, Military Police of Minas Gerais,

Intelligence System of the military police, intelligence-led policing, repression and

qualified violent crime.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1 - Diferenças entre inteligência tática e estratégica ….................... 22

QUADRO 2 - Relação entre fases do tráfico de drogas e legislação penal existente …................................................................................... 34

QUADRO 3 - Fases do tráfico, método repressivo e tipo de operações de inteligência ….............................................................................. 36

QUADRO 4 - Comparação entre repressão qualificada, inteligência tática, operações sistemáticas e ação repressiva inteligente ….............. 37

QUADRO 5 - Adaptação ao método de resolução de problemas IARA e modelo de policiamento orientado pela inteligência …............... 64

FIGURA 1 - Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível estratégico do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais (Diretoria de Inteligência) na repressão qualificada da criminalidade violenta, através da inteligência tática ............................................................................................ 69

FIGURA 2 - Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível tático (Agências Regionais e Agências Regionais Especiais), na repressão qualificada da criminalidade violenta através de inteligência tática ….................................................................... 70

FIGURA 3 - Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível operacional (Agências de Área, Agências Especiais, Subagências de inteligência e Núcleos de inteligência), na repressão qualificada da criminalidade violenta, através da inteligência tática ….................................................................... 71

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA - Agência de Área

ABIN - Agência Brasileira de Inteligência

AC - Agência Central

AE - Agência Especial

AR - Agência Regional

ARE - Agência Regional Especial

BPE - Batalhão de Polícia de Eventos

CEBRID - Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas

CG - Comando-Geral

CPB - Código Penal Brasileiro

CPM - Corregedoria de Polícia Militar

CPP - Código de Processo Penal

CTInt - Centro de Treinamento de Inteligência

CVC - Cadastro de Vínculos Criminais

DInt - Diretoria de Inteligência

DNISP - Doutrina Nacional de Inteligência

DPSSP 01 - Diretriz para Produção de Serviços de Segurança Pública 01

DPSSP 03 - Diretriz para Produção de Serviços de Segurança Pública 03

EMPM - Estado-Maior da Polícia Militar

EUA - Estados Unidos da América

GIPM - Gabinete de Identificação da Polícia Militar

IARA - Identificação/Avaliação/Resposta/Análise (método de resolução de problemas)

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ICV - Índice de Criminalidade Violenta

ISP - Inteligência de Segurança Pública

LOB - Lei de Organização Básica

NA - Núcleos de Agência

OEB - Órgão Especial de Busca

ORB - Órgão Regional de Busca

PAEI - Plano de Ação Estratégica de Inteligência

PM/2 - Segunda Seção do Estado Maior

PMMG - Polícia Militar de Minas Gerais

REINT - Portal de Inteligência da PMMG

RGPM - Regulamento Geral da Polícia Militar de Minas Gerais

ROTAM - Rondas Táticas Metropolitanas (Batalhão da PMMG)

SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos

SENASP - Secretaria Nacional de Segurança Pública

SFICI - Serviço Nacional de Informações e Contra-Informações

SI - Subagência de Inteligência

SIPOM - Sistema de Inteligência da Polícia Militar

SISBIN - Sistema Brasileiro de Inteligência

SNI - Serviço Nacional de Informações, criado em 1964

SISNI - Sistema Nacional de Informações, criado em 1970

SVS/MS - Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde

THC - Tetrahidrocanibiol (princípio ativo da maconha)

UEOp - Unidade de Execução Operacional

ZQC - Zona Quente de Criminalidade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................14

2 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA E INTELIGÊNCIA TÁTICA.............................18

2.1 INTELIGÊNCIA........................................................................................................................................18

2.2 INTELIGÊNCIA TÁTICA E INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA....................................................................................20

2.2.1 Ciclo completo de polícia ........................................................................................................24

3 CRIMINALIDADE VIOLENTA E REPRESSÃO QUALIFICADA................................................29

3.1 CRIMINALIDADE VIOLENTA......................................................................................................................29

3.2 TRÁFICO DE DROGAS E CRIMINALIDADE VIOLENTA – FORMAS DE COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS....................31

3.3 REPRESSÃO QUALIFICADA DA CRIMINALIDADE.............................................................................................38

4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTELIGÊNCIA..............................................................................42

4.1 EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA NO MUNDO...................................................................................................42

4.2 EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA NO BRASIL...................................................................................................45

4.3 EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA NAS POLÍCIAS MILITARES E NA PMMG............................................................47

5 SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS..........................51

5.1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................51

5.2 ESTRUTURA DO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS.......................................54

5.3 ATUAÇÃO DO SIPOM EM FACE DO PLANO ESTRATÉGICO 2009-2011.........................................................58

5.3.1 Aspectos gerais do Plano Estratégico 2009-2011....................................................................58

5.3.2 Gestão da inteligência no Plano Estratégico...........................................................................61

6 ATUAÇÃO DO SIPOM NO COMBATE À CRIMINALIDADE VIOLENTA...............................68

6.1 POLICIAMENTO ORIENTADO PELA INTELIGÊNCIA ..........................................................................................68

6.2 ATUAÇÃO DO SIPOM NO COMBATE À CRIMINALIDADE VIOLENTA.................................................................74

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................79

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................81

APÊNDICE – TERMO DE ENTREVISTA............................................................................................84

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1 INTRODUÇÃO

Na sociedade contemporânea, o assunto segurança pública tem se tornado

tema recorrente, nos debates e discussões sobre qualidade de vida da população. Isso se

deve ao fato de que, com o passar do tempo, a atuação dos criminosos vem evoluindo e

exigindo, cada vez mais, qualidade dos órgãos que compõem o sistema de defesa social.

Com essa modificação e aperfeiçoamento das modalidades criminosas, a

atuação policial, também, vem sendo direcionada a um novo modelo de policiamento,

que atue de forma mais eficiente e qualificada, com foco direcionado aos infratores.

Nesse contexto, a atividade de inteligência surge como um dos diferenciais

qualitativos das forças policiais, ou seja, o uso de ferramentas de inteligência, no

combate à criminalidade, constitui-se, atualmente, como uma das respostas que o

Estado pode oferecer à sociedade, para o controle das ações criminosas.

Esse novo momento da inteligência está inserido em um processo de

evolução histórica, quando as agências de inteligência policiais, que, inicialmente,

direcionavam suas atenções à ordem interna dos Estados, como no policiamento político

europeu, passam a enxergar como principal ameaça à população não a ação de

elementos contrários ao regime político vigente, mas sim, de organizações criminosas

atuantes dentro do território nacional.

Essa reorganização das estruturas criminosas, bem como o sentimento de

insegurança da sociedade, frente à violência utilizada para a prática desses atos, exige

que as instituições policiais contemporâneas remodelem sua forma de atuação, de modo

que a inteligência de segurança pública ou inteligência policial esteja apta a reprimir, de

forma qualificada, a criminalidade.

A repressão qualificada pode ser entendida como um processo de repressão

inteligente, direcionado e eficiente, que busca a identificação dos criminosos e o

direcionamento das operações policiais, agindo como atos cirúrgicos de retirada desses

elementos do meio social.

Page 13: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

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A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), atuando sempre na vanguarda

da elaboração de políticas públicas, na área de defesa social, com o foco na gestão de

ações por resultados, elaborou seu Plano Estratégico 2009-2011, conferindo ao seu

sistema de inteligência uma atenção especial, incluindo o setor entre as áreas de

resultado de trabalho. Dessa forma almeja-se o atendimento às atuais demandas

operacionais.

Diante desse contexto, torna-se de extrema relevância um estudo sobre a

forma de atuação do Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM), que busque o

direcionamento de seus esforços operacionais, de acordo com o nível institucional a que

pertençam, descrevendo quais são as ações que as agências que compõem o sistema

devem realizar, para que reprimam de forma qualificada a criminalidade violenta no

Estado.

Para tanto, o presente estudo será desenvolvido em sete seções, sendo que a

segunda seção apresentará uma contextualização doutrinária da atividade de inteligência

de segurança pública, com foco direcionado ao seguimento da inteligência tática, que é

a forma pela qual as agências desenvolvem suas atividades no combate à criminalidade

no campo operacional. O estudo desse capítulo busca uma melhor compreensão sobre

os conceitos de inteligência tática e estratégica, bem como sua aplicabilidade na

atividade policial.

A terceira seção apresenta um estudo sobre a criminalidade violenta no

Estado, principalmente sobre os crimes que compõem o Índice de Criminalidade

Violenta em Minas Gerais e a vinculação desses delitos com os crimes relacionados ao

tráfico de drogas. Nessa seção serão discutidas as principais características que

determinam a inclusão de um crime para o cálculo do ICV.

A quarta seção apresenta a evolução histórica da atividade de inteligência, a

qual adotará, inicialmente, uma perspectiva mundial, em seguida, o processo no Brasil

e, por fim, nas instituições policiais. Nesse momento será possível compreender o

motivo da utilização do setor de inteligência, como elemento principal e norteador dos

trabalhos policiais, de acordo com o contexto contemporâneo.

Page 14: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

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A quinta seção apresenta a descrição do Sistema de Inteligência da Polícia

Militar de Minas Gerais, já atualizado com as mudanças estruturais, ocorridas no ano de

2010. Ao final desse capítulo, serão apresentadas as diretrizes institucionais para a área

de inteligência trazidas pelo Plano Estratégico 2009 – 2011, bem como será possível

compreender o processo de elaboração desse documento.

O sexto capítulo trata, especificadamente, da atuação do Sistema de

Inteligência da Polícia Militar, no combate à criminalidade violenta no Estado,

apresentando, inicialmente, uma nova teoria de atuação policial, conhecida como

policiamento orientado pela inteligência, quando, também, serão descritos os passos que

as instituições policiais devem adotar para a implantação desse modelo. Ao final, será

elaborado um diagrama de ações, de acordo com os documentos estudados, para ser

adotado pelas agências de inteligência da instituição, de acordo com seu nível

institucional, para que estas atuem na repressão qualificada da criminalidade violenta,

através da inteligência tática.

A sétima seção apresenta as considerações finais que foram levantadas,

durante o estudo.

Dessa maneira, o problema de pesquisa deste trabalho é: Como atuam as

agências que compõem o Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais, na

repressão qualificada da criminalidade violenta no Estado?

O objetivo geral do trabalho é identificar as ações que devem ser realizadas

pelas agências dos níveis estratégico, tático e operacional do SIPOM, para que estes

atuem de forma eficiente, na repressão qualificada da criminalidade no Estado,

utilizando-se da inteligência tática policial.

Entre os objetivos específicos estão: estabelecer um conceito adequado de

inteligência tática, voltada para a atividade de inteligência de segurança pública; estudar

os crimes que estão inseridos no cálculo do índice de criminalidade violenta, quanto a

sua definição e caraterísticas principais, bem como estabelecer a vinculação desses

delitos com os crimes relativos ao tráfico e uso de drogas; estudar as diretrizes trazidas

pelo plano estratégico institucional para a área de inteligência; e apresentar o modelo de

policiamento chamado intelligence-led policing, policiamento orientado pela

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inteligência, que reformula o conceito de atuação policial, quando esta passa a ser

direcionada pelo seu setor de inteligência.

No que se refere à metodologia de pesquisa utilizada, quanto ao método de

abordagem empregado, será utilizado o método hipotético-dedutivo, em que será

estabelecido o problema de pesquisa e para o qual será apresentada uma resposta inicial

de solução (hipótese básica), que será detalhada e estudada, visando sua comprovação

ou não.

Quanto ao método de procedimento, serão utilizados o método monográfico,

pois estudar-se-ão partes relevantes do sistema de inteligência da polícia militar, que,

posteriormente, o representarão como um todo, e o método estruturalista, pois com este

estudo buscar-se-á uma investigação concreta do atual sistema e, posteriormente, será

elaborado um modelo abstrato o qual poderá ser adotado.

A técnica de pesquisa utilizada será basicamente a documentação indireta,

através de pesquisa bibliográfica, e documentação direta, através de entrevista

estruturada, aplicada a um gestor da inteligência do nível estratégico da PMMG.

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2 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA E

INTELIGÊNCIA TÁTICA

Este capítulo trata dos pressupostos conceituais básicos, a respeito da

inteligência, que irão nortear o trabalho. Constitui-se de uma oportunidade, para que se

compreenda melhor os termos relevantes da pesquisa, como a inteligência de segurança

pública e a inteligência tática.

2.1 Inteligência

Antes de se iniciar a discussão sobre a inteligência de segurança pública, é

necessário que se compreenda melhor o termo inteligência.

Dentro de uma perspectiva legal, em 7 de dezembro de 1999, foi publicada a

Lei Federal 9.883, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (e que servirá de

base para as definições deste estudo), constando em seu artigo primeiro, parágrafo

segundo, que:

Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação do conhecimento dentro e fora do território nacional sobre fatos e situação de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. [BRASIL, 1999a]

É possível observar que a definição de inteligência, apresentada acima, trata

a gestão do conhecimento como sendo uma atividade atinente ao Estado. Embora,

saiba-se que ferramentas de inteligência também são utilizadas por órgãos não estatais,

como, por exemplo, pela inteligência competitiva, que agrega tais conhecimentos

relacionados ao ramo empresarial.

Page 17: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

19

Para efeitos deste estudo, as definições apresentadas acima são suficientes

para a abordagem do problema de pesquisa, uma vez que o foco do trabalho está no

exercício da atividade de inteligência por um órgão estatal, neste caso, a Polícia Militar.

No ano de 2007, foi publicada a Doutrina Nacional de Inteligência de

Segurança Pública (DNISP), com o intuito de se uniformizar os conceitos e definições

sobre o tema. Logicamente, por se tratar de um documento oficial, publicado pela

Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), órgão ligado ao Ministério da

Justiça, tais definições deverão ser abordadas como uma perspectiva inicial para a

definição doutrinária de inteligência de segurança pública, que, de acordo com alguns

estudiosos, também, é conhecida como inteligência policial. Sendo assim, o conceito

inicial, trazido por esta fonte, estabelece:

A atividade de inteligência de segurança pública (ISP) é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para prever e reprimir atos delituosos de qualquer natureza ou relativos a outros temas de interesse de Segurança Pública e da Defesa Social. [BRASIL, 2007b, p. 9]

Nesse conceito, é possível identificar, claramente, a principal finalidade da

ISP, ou seja, o assessoramento através da produção de informações, de maneira

imparcial e oportuna, com vistas à prevenção e repressão de delitos ou atos que afetem à

segurança pública ou a defesa social.

Com a leitura da definição citada, torna-se necessário especificar a diferença

entre segurança pública e defesa social. No que diz respeito à segurança pública, esta

pode ser definida como:

A segurança pública é uma atividade atinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei. [MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 20--, on line1]

Para se conceituar a expressão defesa social, será utilizada a Diretriz para a

Produção de Serviços de Segurança Pública 01 (DPSSP 01), que editada pela Polícia

Militar de Minas Gerais, constitui o documento normativo doutrinário que trata do

emprego da Polícia Militar no Estado de Minas Gerais, e no qual cita-se que: 1http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ1BFF9F1BITEMIDE16A5BBC4A904C0188A7643B4A1DD68CPTBRIE.htm

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Defesa Social é o conjunto de ações desenvolvidas por órgãos, autoridades e agentes públicos, cuja a finalidade exclusiva ou parcial, seja a proteção e o socorro públicos, através da prevenção, ou repressão de ilícitos penais ou infrações administrativas. A Defesa Social visa, antes de tudo, atingir um elenco de soluções que levem à harmonia social. A Defesa Social consiste, então, num conjunto de ações adotadas para proteger os cidadãos contra os riscos decorrentes da própria sociedade. A Defesa Social é exercida pelos poderes constituídos, instituições, órgãos e entidades públicos ou privados, que tenham por fim proteger o cidadão e a sociedade, através de mecanismos que assegurem a ordem pública [MINAS GERAIS, 2002b, p. 94].

A partir das definições apresentadas, pode-se perceber que a defesa social é

mais abrangente que a segurança pública, ou seja, a segurança pública faz parte da

defesa social.

Trazendo-se a questão para a esfera estadual, a Polícia Militar de Minas

Gerais, seguindo o raciocínio federal, definiu, em seu plano estratégico 2009-2011, o

termo inteligência de segurança pública, a partir de seu objetivo, como pode ser

observado no seguinte fragmento: “busca, através de ações especializadas, produzir

conhecimentos necessários para prever, prevenir e reprimir atos delituosos de qualquer

natureza ou relativos a outros interesses da Segurança Pública e da Defesa Social”

[MINAS GERAIS, 2009c, item 8.2.1].

Percebe-se que a definição estadual apresenta-se, praticamente, como uma

reprodução do texto trazido pela DNISP, o que atende a um dos objetivos deste

documento, que é o da uniformização da doutrina na área de inteligência.

Utilizando-se como base a definição de inteligência de segurança pública,

verifica-se que essa atividade pode ser dividida em dois segmentos ou níveis de atuação,

a inteligência tática e a inteligência estratégica, que serão aprofundados mais adiante

por este estudo.

2.2 Inteligência tática e inteligência estratégica

Como dito anteriormente, a inteligência de segurança pública ou policial

divide-se em dois níveis de atuação, inteligência tática e estratégica. Dessa forma, é

Page 19: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

21

preciso que se faça uma diferenciação entre esses dois termos, para que se tenha uma

boa compreensão do assunto.

A obra Strategic Intelligence, de Don McDOWELL (2009), constitui uma

relevante fonte para a compreensão do que venha a ser a inteligência tática, isso porque

a obra faz uma descrição detalhada da inteligência no nível estratégico e contrapõe esse

nível com a inteligência no nível tático. No âmbito nacional, existem poucas fontes que

tratam do assunto, por isso aquela obra será apresentada como fonte principal para o

estudo.

Segundo McDOWELL (2009), no que se refere ao nível institucional, a

inteligência estratégica está vinculada ao nível estratégico, ao seguimento gestor da

instituição. Está voltada para a gestão e utilização do executivo. Preocupa-se com a

síntese da missão, as metas e objetivos, programas e planejamento de recursos.

Já a inteligência tática, segundo McDOWELL (2009), está dirigida ao nível

operacional, ao seguimento que está voltado para a atividade-fim da instituição. Visa

suprir as necessidades diárias dos supervisores e gerentes de linha e concentra-se na

rotina e nas atividades básicas.

Para aquele autor a inteligência tática, no que se refere a aplicação da lei,

normalmente está preocupada com a identificação, segmentação, detecção e intervenção

(ou interdição) de criminosos específicos. Concentra-se na identificação de elementos

específicos ou operações ilegais de qualquer espécie. Já a inteligência estratégica nem

sempre estará voltada para o combate de um tipo de criminalidade ou criminoso

específico, tratará do assunto de maneira mais genérica, delineando diretrizes e

estratégias institucionais da organização.

McDOWELL (2009) também cita que a inteligência tática tem seu

funcionamento otimizado quando sua realização ocorre de maneira próxima ao trabalho

de base. Para o autor, ela deve buscar a colaboração e cooperação dos agentes locais da

organização. Outra característica a ser mencionada é a busca de uma atividade de coleta

e pedidos de entrada de dados em ações e reações atuais, tanto do grupo alvo quanto da

organização e agentes responsável pela execução de atos delituosos.

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22

Pode-se observar, portando, algumas diferenças básicas entre esses dois

seguimentos da atividade de inteligência de segurança pública. Para que tal distinção

seja bem compreendida, basta que se observe o Quadro 1, no qual estão descritas as

principais diferenças entre os dois termos.

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QUADRO 1Diferenças entre inteligência tática e estratégica

INTELIGÊNCIA TÁTICA INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA

Tarefa Está direcionada aos criminosos. Voltada para as operações de criminalidade

específica a ser combatida. Analisa e responde às necessidades do comando

operacional.

Direciona-se para a análise de problemas, compreensão estrutural, desenvolvimentos de planos e etc.

Assessora o nível executivo e não o comandante operacional.

Planejamento Deve ser mais detalhado, possuindo maior rapidez e agilidade na execução, de forma a

atender necessidades operacionais urgentes. Possui um processo de mudança

mais ágil e é definido pelo comandante operacional.

Definido pelo gestor e orientado pelo nível estratégico da organização, deve ser mais amplo e possui uma mudança

mais lenta e gradual.

Foco Busca um conhecimento específico, voltado aos indivíduos e suas associações,

planos e capacidades.

Busca é por um conhecimento mais amplo, destinado a recolher todos os

tipos de fontes e dados, tanto no âmbito interno quanto externo ao governo.

Fonte: Obra Strategic Intelligence, de Don McDOWELL (2009).

Como dito anteriormente, no Brasil, poucas são as fontes que fazem menção

à diferenciação entre esses dois termos. Para Pacheco (2005), inteligência tática é “a

atividade de inteligência policial voltada especialmente para a produção de provas de

materialidade da autoria de crime”.

Observa-se, ainda, que, para este autor, a inteligência policial atuará como

inteligência estratégica quando a atividade estiver voltada para

realizar atividade de natureza consultiva, quando, por meio dos conhecimentos contidos em análises de conjuntura criminal ou em estimativas de evolução da criminalidade, assessora autoridades governamentais na formulação de políticas de combate à criminalidade. [PACHECO, 2005]

De acordo com o entrevistado para a elaboração deste trabalho, no que diz

respeito à inteligência tática:

Entende-se como inteligência em nível tático, a atividade de inteligência realizada através do exercício permanente e sistemático de ações especializadas, direcionadas à produção e salvaguarda de conhecimentos, em observâncias às diretrizes de Inteligência emanadas pelo Comando-Geral, para o planejamento e à execução de ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Page 22: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

24

Levando-se em conta as fontes apresentadas, é possível construir uma

definição a respeito do que vem a ser inteligência tática. Assim, pode-se dizer:

inteligência tática é o seguimento da atividade de inteligência de segurança pública ou

inteligência policial, que está voltado para a atividade-fim da força policial. Pode ser

executada por qualquer nível institucional, de acordo com a complexidade do fato,

porém seu foco está direcionado para o nível operacional (trabalho de base), quando,

então, atinge a maior eficiência de seus resultados, buscando um conhecimento

específico a respeito de agentes e organizações criminosas. Está voltado para o

planejamento e execução de ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos

criminosos que atentem contra ordem pública.

2.2.1 Ciclo completo de polícia

Após o entendimento do que vem a ser inteligência tática, é preciso

relacionar tais conceitos à realidade brasileira. Isso porque, sendo McDowell um

estudioso estadounidense, suas definições estão voltadas ao modelo policial dos Estados

Unidos (EUA), o qual possui o ciclo completo de polícia. Já no caso brasileiro, exige-se

uma apreciação melhor sobre o assunto, pois exitem no país diferentes instituições

policiais, que podem ou não possuir o ciclo completo.

A existência do ciclo completo de polícia no Brasil é uma exceção,

existindo apenas em alguns casos na esfera federal ou nos estados, em caso de crimes

militares. Tais casos não serão abordados neste estudo, uma vez que o objetivo de

pesquisa visa à aplicação da inteligência tática na Polícia Militar de Minas Gerais, no

combate à criminalidade violenta.

Faz-se necessário o estudo do ciclo policial, uma vez que existem

entendimentos de que não cabe às polícias militares a realização de atividades de

inteligência, por entenderem que tal atividade estaria vinculada à fase investigatória. Por

isso, a necessidade de se diferenciar investigação criminal, de um lado, da atividade de

inteligência, de outro.

Page 23: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

25

O ciclo completo de polícia, segundo Lazzarini apud Oliveira (2003), é

constituído de três fases:

a) situação de ordem pública normal; b) quebra da ordem pública e sua restauração;c) fase investigatória.

Não se deve confundir esse ciclo com o ciclo de persecução criminal, que é

composto de quatro fases, cujo início ocorre na segunda etapa do ciclo policial, e possui

a seguinte composição:

a) momento da quebra da ordem pública ou ocorrência do ilícito penal, b) fase investigatória;c) fase processual;d) fase das penas.

As instituições policiais, na esfera estadual, se dividem, na atuação dentro

do ciclo policial, em polícia administrativa e polícia judiciária. A polícia administrativa,

também chamada de preventiva ou geral, estaria voltada à prevenção da existência do

delito, enquanto a polícia judiciária atuaria no momento em que o delito ocorreu e faz-

se necessário o levantamento de sua autoria e materialidade.

Tais ações estão bem definidas na teoria, porém o motivo das discussões a

respeito das esferas de competência das ações policiais encontram-se na aplicação

prática da segunda fase do ciclo policial.

Isso porque o momento da eclosão do delito e a sua restauração, embora

estejam doutrinariamente inseridos em uma única fase, na realidade, devem ser

analisados de maneira segmentada, levando-se em conta a eclosão, ou seja, instante de

deflagração da anormalidade, e a duração, que é o período que persiste a alteração da

ordem.

Nesse contexto, é preciso que se dividam as ações policiais em duas etapas:

as ações imediatas, que são voltadas ao restabelecimento imediato da ordem pública; e

ações mediatas, compostas pelas ações de busca de elementos de autoria e

materialidade, e que consistem na ligação da segunda fase com a terceira.

Page 24: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

26

Desse modo, a ação da polícia militar, no contexto imediato da eclosão do

delito, mesmo sendo esta, de acordo com a doutrina, a ação da polícia administrativa ou

preventiva de preservação da ordem, deve ocorrer, pois, isso possibilitará a prisão em

flagrante do criminoso, a consequente restauração da ordem e a continuidade do ciclo.

Finalmente, para que sejam sanadas as dúvidas a respeito do assunto, é

preciso que se faça uma diferenciação entre as atividades de investigação policial e

inteligência policial. Para o entrevistado, tais atividades se diferenciam da seguinte

maneira:

A diferença entre inteligência policial e investigação policial é, em regra, mais teórica do que prática, uma vez que ambas lidam, invariavelmente, com os mesmos objetos: crime, criminosos, criminalidade e questões conexas.

A distinção entre os conceitos começa na medida em que se observa o campo de atuação e o propósito a que se constituem cada uma delas. A primeira se presta basicamente à produção de conhecimento de Segurança Pública para o auxílio à tomada de decisão da autoridade ou redirecionamento de suas políticas, possuindo um ciclo próprio de processamento da informação voltado para antecipação de fatos ou situações. Já a investigação policial trata da coleta de indícios e provas para esclarecimento de determinado fato delituoso já ocorrido, cujo evento criminal pode demandar diligências que culminem inclusive na prisão de infratores.

Um aspecto relevante é que, enquanto a investigação policial está orientada pelo modelo de persecução penal regulado pela norma processual, visando à obtenção de evidências, indícios e provas da materialidade e autoria do crime, a Inteligência de Segurança Pública atua preventiva e repressivamente com vistas à produção de conhecimento.

Cabe observar que, eventualmente, a atividade de Inteligência subsidia a produção de provas. Nesse caso, o sigilo, em caráter excepcional, ficará mitigado ao fornecimento de elementos probatórios, devendo os profissionais de inteligência valerem-se dos procedimentos e limites estabelecidos na legislação aplicável. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Ainda de acordo com o citado acima, Couto (2008) orientou seu trabalho

acadêmico com vistas a realizar a diferenciação entre essas duas atividades. Dessa

forma foram elencados três aspectos principais de desigualdades: os pressupostos, os

meios e os fins, inerentes a cada uma das atividades.

Segundo o autor, no que se refere aos pressupostos:

a investigação policial se origina da necessidade de averiguar a existência de uma infração criminal possivelmente ocorrida, inclusive no que concerna à

Page 25: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

27

respectiva autoria. Os canais de introjeção na atividade, portanto, são restritos, exigindo que se configure, pelo menos em tese, a ocorrência de um fato penalmente relevante. [COUTO, 2008]

Ou seja, para o início de uma investigação policial, deve existir a notícia de

um crime, normalmente dada através de um boletim de ocorrência policial. Já no que se

refere à investigação policial, o autor cita:

A inteligência policial, de sua parte, não sofre semelhante constrangimento. Qualquer demanda informacional que se ajuste aos interesses de seu usuário é razão necessária e suficiente para que sejam mobilizados os seus recursos. [COUTO, 2008]

Portanto, a inteligência policial é mais versátil, não necessita de um

procedimento formal para que se inicie seu ciclo de produção do conhecimento,

bastando que seja dada a demanda pelo gestor competente.

Com base nesses dizeres, outra diferença aparece de forma subjetiva, pois

enquanto a investigação policial apresenta caráter meramente reativo, respondendo a

uma notícia de crime apresentada, a inteligência policial pode atuar tanto na repressão,

buscando informações de um determinado fato já ocorrido, quanto na prevenção,

buscando atuar em ações criminosas, mesmo antes que ocorram.

No que diz respeito à finalidade, Couto (2008), afirma,

a investigação policial visa angariar subsídios probatórios, ainda que em caráter indiciário, para assegurar o exercício profícuo da ação penal por parte do sujeito ativo legitimado. E embora a fase preambular da ação penal – isto é, a próprio investigação policial – não se ocupe de provas judiciárias stricto sensu, a aferição da viabilidade da acusação, exercida por seu respectivo titular, implica necessariamente uma previsão da possibilidade de converter em prova os insumos da investigação. As restrições de valoração probatória que galvanizam o processo penal, por conseguinte, acabam repercutindo na investigação policial. [COUTO, 2008]

Já no que se refere a inteligência policial, segundo o mesmo autor, esta “se

interessa pela aquisição de quaisquer informações capazes de reduzir o estado de

incerteza de um dado usuário, instruindo, pois, seu processo decisório fora dos

condicionamentos típicos da dinâmica jurisdicional.”

Por fim, o último ponto que difere as duas atividades, segundo Couto

(2008), são os meios de execução, isso porque:

Page 26: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

28

Para que a investigação satisfaça a expectativa de que é depositária, portanto, deve eleger seus métodos entre aqueles legitimados pelo norteamento jurídico próprio do processo penal. Esses métodos, enumerados exemplificativamente no art. 6º do Código de Processo Penal – CPP, têm (sic) em comum o traço de consubstanciarem manifestações do chamado poder de polícia. [COUTO, 2008]

Já a inteligência policial não necessita de pautar suas ações de acordo com o

referido diploma legal, pois se utiliza de técnicas próprias para a aquisição e

processamento de informações, o que denomina-se ciclo de produção do conhecimento.

Dessa maneira, não há que se falar em inviabilidade do exercício da

atividade de inteligência pela Polícia Militar, pois agindo dessa forma, a instituição não

estará usurpando a função da polícia investigativa, mas sim otimizando suas ações,

preventivas ou repressivas, dentro das fases de situação de ordem pública normal e

restauração da ordem pública, quando de sua quebra.

Page 27: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

29

3 CRIMINALIDADE VIOLENTA E REPRESSÃO

QUALIFICADA

Neste capítulo, será feito um estudo a respeito dos crimes que compreendem

a expressão criminalidade violenta, a vinculação desses delitos com os crimes

relacionados ao tráfico e uso de drogas e as formas de repressão qualificada, desse tipo

de criminalidade.

3.1 Criminalidade violenta

Diante das definições sobre a atividade de inteligência já abordadas, torna-

se necessário, neste momento, o estudo sobre quais crimes estariam inseridos no termo

criminalidade violenta, para que seja, então, possível estabelecer quais são suas formas

de repressão.

Para tanto, o Memorando 34.598.4/2001 do Estado-Maior da Polícia Militar

de Minas Gerais (EMPM) discorre, especificadamente, sobre o assunto e apresenta-se

como parâmetro para o início da discussão sobre o tema.

O documento mencionado diz quais são os delitos que devem ser

considerados para o cálculo do índice de criminalidade violenta (ICV), pela Polícia

Militar em Minas Gerais, quais sejam:

a) homicídio consumado;b) homicídio tentado;c) roubo consumado;d) roubo a mão armada consumado (assalto);e) estupro consumado;f) estupro tentado;g) sequestro e cárcere privado;

Page 28: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

30

h) latrocínio e;i) extorsão mediante sequestro.

Portando, a partir dessa publicação, adotou-se, como base para o cálculo do

ICV, em Minas Gerais, pela Polícia Militar, o somatório dos eventos ocorridos de tais

delitos, o que passou a ser referência para a elaboração de políticas públicas de combate

à criminalidade violenta, no Estado.

Ao se analisarem os crimes citados acima, quanto ao bem jurídico tutelado,

é possível observar que existem dois delitos tipificados no Título I, da parte especial do

Código Penal brasileiro (CPB), que trata dos crimes contra a pessoa. São eles o

homicídio, consumado e tentado (artigo 121), e o sequestro e cárcere privado (artigo

148). Verifica-se, também, quatro delitos tipificados no Título II, que trata dos crimes

contra o patrimônio. São eles: o roubo consumado ou a mão armada consumado (artigo

157, caput de maneira geral, ou § 2º, I, se houve emprego de arma de fogo), o latrocínio

(um tipo especial, também previsto no artigo 157, § 3º, que possui uma qualificação

específica, devido ao resultado morte), extorsão mediante sequestro (artigo 159) e um

delito previsto no Título VI, dos crimes contra os costumes, o estupro consumando e

tentado (artigo 213).

Quanto ao emprego de violência, é possível observar, também, que, nem

sempre, um crime violento terá como elemento de seu tipo penal o uso da violência, real

ou presumida, como é o caso do sequestro ou cárcere privado2.

Existem, ainda, delitos que possuem como elemento normativo, em seu tipo

penal, o uso da violência e não recebem essa classificação, como é o caso da extorsão3,

por exemplo.

A partir de tais observações, surge a dúvida a respeito da característica

principal que um crime deve possuir para ser considerado como crime violento. Para

responder a essa indagação, o Memorando do EMPM descreve que “Os crimes

violentos caracterizam-se pelo alto poder ofensivo e seus reflexos negativos para a

2 Artigo 148 do Código Penal: Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado.3 Artigo 158 do Código Penal: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer, alguma coisa.

Page 29: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

31

população quanto à construção de um ambiente de tranqüilidade pública” [MINAS

GERAIS, 2001d, item 6].

Trata-se de uma análise, de certa forma, subjetiva, que leva em consideração

a proposição de um senso comum junto à sociedade sobre a influência de tais delitos em

seu meio. Esse método, que, em princípio, não se utiliza de parâmetros científicos em

sua definição, possui como vantagem a possibilidade de se adequar, adicionando-se ou

retirando-se do ICV crimes que passem ou não a possuir tal influência junto à

sociedade. Por outro lado, o método apresenta margens para questionamentos quanto a

cientificidade.

3.2 Tráfico de drogas e criminalidade violenta – formas de combate ao

tráfico de drogas

Ao se definir uma estratégia de repressão aos crimes violentos, deve-se

buscar sempre a concentração de esforços nas condicionantes desses delitos. Nesse

contexto, o tráfico de drogas apresenta-se como um relevante influenciador à prática dos

chamados crimes violentos, como proposto por diversos estudiosos da área de

segurança pública, os quais, apontam que “O tráfico de drogas é o único crime que leva

a outros, o usuário de drogas rouba para sustentar o vício e é morto se não paga o

traficante” [TÚLIO KAHN, apud MINAS GERAIS, 2002e].

Ainda, de acordo com o supramencionado, a Diretriz para a Produção de

Serviços de Segurança Pública 03/2002 (DPSSP 03), que regula a atuação da PMMG na

prevenção ao uso e tráfico de drogas, afirma que:

O tráfico da droga está na origem ou em conexão com outros delitos. Comumente o furto e o roubo de veículos, os assaltos a estabelecimentos financeiros, às práticas de lavagem de dinheiro, o contrabando, a extorsão mediante sequestro, dentre outros, sendo que tais ligações possibilitam o financiamento de uma ou de outra modalidade criminosa [MINAS GERAIS, 2002e, item 5.4]

Page 30: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

32

Diversas são as formas com as quais o comércio de entorpecentes se

comunica com outras modalidades criminosas, como citado abaixo:

Existem várias maneiras pelas quais os crimes podem estar associados à questão das drogas. A primeira delas está relacionada com os efeitos das substâncias tóxicas no comportamento das pessoas. Outra forma de associação decorre do fato de tais substâncias serem comercializadas ilegalmente, gerando então violência entre os traficantes, corrupção dos representantes do sistema da justiça criminal e ações criminosas de indivíduos em busca de recursos para a manutenção do vício. [BEATO FILHO et al. 2001].

Adotando-se uma perspectiva estatística, pode-se observar que “O resultado

mais interessante diz respeito à associação da taxa de crimes violentos com a taxa de

incidência de drogas, o que pode denotar o uso e o tráfico de drogas como associados a

um estilo de vida violentos” [BEATO; REIS, 1999]. Tal afirmação dos referidos autores

fundamenta-se em sua pesquisa, na qual levantaram-se dados, correlacionando os

crimes violentos com a incidência de drogas (tráfico ou uso), conforme pode ser visto

na tabela abaixo.

TABELA 1 Relação entre crimes violentos e incidência de drogas

MODALIDADE CRIMINAL INCIDÊNCIA DE DROGAS (variável)

Crimes violentos 0,31 (0,009)

Crimes violentos contra pessoas -

Crimes violentos contra patrimônio 0,53 (0,003)

Roubo 0,45 (0,005)

Roubo à mão armada 0,47 (0,004)

Roubo de veículos e assalto a veículos 0,23 (0,044)

Fonte: BEATO; REIS, Desigualdade, desenvolvimento socioeconômico e crime, 1999.

Como pode ser observado, não é somente o fato da criminalização do uso de

drogas que influencia a prática de outros crimes. A influência à prática de delitos deve

ser observada de forma segmentada, com vistas ao usuário e ao traficante.

Quanto ao usuário, verifica-se que este, sob os efeitos de substâncias

entorpecentes, perde o controle de suas ações, podendo, nesse momento, vir a cometer

diversos tipos de crimes.

Page 31: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

33

Para entender esse tipo de comportamento, é importante que se faça uma

definição a respeito do que são drogas e quais são seus efeitos no organismo das

pessoas.

Para se definir a expressão drogas, inicialmente, deve-se buscar o que a lei

diz sobre o assunto. A Lei 11.343/2006, que é conhecida como a lei nacional antidrogas,

cita em seu artigo primeiro, parágrafo único, que “consideram-se como drogas as

substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou

relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”

[BRASIL, 2006d].

É possível observar que a lei, ao tratar do tema, não esgota o assunto,

deixando, inclusive, para outra norma especificar quais seriam as substâncias

consideradas como drogas, o que classifica esse dispositivo legal como norma penal em

branco4. Atualmente, no Brasil, a complementação jurídica do termo drogas é dada pela

Portaria nº SVS/MS 344/98, do Ministério da Saúde.

Aprofundando-se mais no assunto, pode-se dizer:

Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no organismo modifica suas funções. As drogas naturais são obtidas através de determinadas plantas, de animais ou de alguns minerais. Exemplo, cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da cannabis). As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas especiais. O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas ao senso comum é uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. [WIKIPÉDIA, Drogas, 2009]

A partir das definições apresentadas, pode-se observar o porquê do usuário

de drogas possuir uma maior propensão ao cometimento de crimes. Pois, como pode ser

visto, uma das principais características das drogas é a modificação das sensações,

humor e comportamento dos indivíduos, o que faz com que estes passem a não agir de

maneira normal e, possivelmente, de forma contrária às leis. Isso ocorre pois o efeito

das drogas no organismo das pessoas altera o seu comportamento, de acordo com o tipo

4Norma penal em branco é aquela cujo o conteúdo necessita de ser complementado por outra norma ou dispositivo legal.

Page 32: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

34

de substância consumida. Vale ressaltar que as drogas podem ser classificadas, quanto

aos seus efeitos, como estimulantes, depressores e perturbadores5:

a) estimulantes, são as drogas que aceleram o funcionamento do cérebro, por exemplo, cocaína e anfetamina;

b) depressores, são as drogas que diminuem a velocidade de funcionamento do cérebro, por exemplo, opiáceos, inalantes e barbitúricos;

c) perturbadores, são as drogas que alteram o funcionamento do cérebro, podendo gerar alucinações e outros efeitos, por exemplo, maconha e ácidos.Outro estímulo ao cometimento de crimes, por parte do usuário, está na

necessidade constante e cada vez maior de consumir o entorpecente, fazendo com que,

para sustentar seu vício, venha a cometer roubos e furtos, na busca por conseguir

recursos para aquisição das drogas, conforme aponta o seguinte autor:

O incremento de outras modalidades de crime violento parece também associar-se ao uso de drogas. Muitos usuários esgotam rapidamente seus recursos legais para o consumo de drogas, recorrendo a diversas modalidades de delitos para levantar recursos, tais como assaltos a transeuntes, a ônibus, a postos de combustíveis e casas lotéricas. Isso pode ocorrer várias vezes em uma semana, ou até mesmo, várias vezes ao dia. [BEATO FILHO et al. 2001].

O fenômeno que faz com que o usuário tenha sempre uma necessidade

maior para consumir drogas é chamado de tolerância, o qual assim, pode ser definido:

A tolerância acontece quando um organismo acaba por se acostumar ou fica tolerante à droga, ou seja, a droga faz a cada dia menos efeito. Assim para se obter o que se deseja, é preciso ir aumentando cada vez mais as doses. [CENTRO BRASILEIRO DE DROGAS PSICOTRÓPICAS (CEBRID) – 2009?].

No que se refere ao traficante de drogas, diversas são as formas pelas quais

sua atividade pode levá-lo ao cometimento de crimes, como destacam os autores citados

abaixo:

A variedade sistêmica de violência associada a droga interessa-nos mais de perto em razão de implicar guerras por territórios entre traficantes rivais, agressões e homicídios cometidos no interior da hierarquia como forma de reforço dos códigos normativos, roubos de drogas por parte do traficante com retaliações violentas dos traficantes e de seus patrões, eliminação de informantes e punição por vender drogas adulteradas ou por não conseguir quitar débitos com vendedores (Goldstein, 1987, apud, Hunt 1990). Este tipo

5Apesar de existir a classificação principal, vale ressaltar que existem drogas que podem apresentar mais de um efeito no organismo do usuário, como por exemplo o álcool, que inicialmente estimula o sistema nervoso central, porém com a continuidade do uso passa a deprimir o funcionamento do cérebro.

Page 33: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

35

de violência decorre de não haver formas legais de resolução de conflitos entre traficantes e usuários. Daí muitos estudos ressaltarem que, mais do que o uso, é a venda de drogas que está associada aos homicídios (Chakein & Chakein, 1990; Zaluar, 1984). [BEATO FILHO et al. 2001].

Ainda de acordo com o apresentado acima, comenta-se:

É válida a vinculação do tráfico de drogas com os crimes violentos, principalmente o homicídio e roubo. Diariamente registra-se casos de homicídio em que a motivação se dá pelo envolvimento do autor ou da vítima com o tráfico de drogas. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Como observado, a violência está associada ao comércio de entorpecentes,

pois considerando-se o tráfico de drogas como um mercado, sua regulamentação ocorre

através de leis de oferta e procura. Porém, como esse tipo de comércio não possui

normatização, a disputa por clientes (usuários), pontos de venda (áreas de dominação

das quadrilhas), bem como as normas que regulam seu funcionamento interno (relação

entre os membros da quadrilha) são geridas conforme bem entendem e julgam serem

necessários os indivíduos envolvidos nessa modalidade criminal, sendo que, via de

regra, as relações são estabelecidas por meio da violência e demonstração de força. Daí

o fato de o tráfico de drogas estar intimamente ligado aos crimes violentos.

Para que seja possível o combate ao tráfico de entorpecentes, é necessário

que se compreenda como ocorre seu funcionamento, desde sua produção até o

consumidor final. Desta forma, é possível dividir o tráfico, didaticamente, em cinco

fases:

a) produção;b) distribuição;c) transporte;d) armazenamento;e) e comércio.

É possível fazer um paralelo entre as fases do tráfico e a atual legislação

existente no país, através da Lei Federal 11.343/2006, conforme pode ser observado no

quadro abaixo:

Page 34: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

36

QUADRO 2Relação entre fases do tráfico de drogas e legislação penal existente

FASES VERBOS REITORES DO TIPO PENAL (artigo 33 caput, Lei 11.343/2006)

Produção Preparar, produzir, fabricar

Distribuição Importar, exportar, remeter, adquirir

Transporte Transportar, trazer consigo

Armazenamento Ter em depósito, guardar

Comércio Vender, expor à venda, oferecer, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer

Fonte: BRASIL, Lei 11.343, 2006.

A partir dessa contextualização, é possível que se desenvolvam mecanismos

de repressão a essa modalidade criminal, de forma específica e eficiente.

Segundo a DPSSP 03/2002, para a PMMG, existem duas formas de

repressão ao tráfico de drogas: a repressão sistemática e a ação repressiva inteligente.

No que diz respeito à primeira, pode-se defini-la como sendo “aquela

desenvolvida no dia-a-dia de modo sistemático e persistente, junto a pontos conhecidos

de distribuição e consumo de drogas” [MINAS GERAIS, 2002e, item 2.8]. É a forma de

repressão conhecida como “formiguinha”, que possui eficácia limitada, uma vez que

seus resultados são colhidos de forma pontual, pois sua ação é voltada aos elementos ou

partes da organização criminal e não à sua estrutura como um todo. Nesse tipo de

repressão, a instituição policial não usa de ações específicas para prevenir a ocorrência

do tráfico de drogas novamente na região, ocupa-se apenas em prender os traficantes.

Já no que se refere à ação repressiva inteligente, pode-se dizer:

No seu conceito de operações, o local de atuação é previamente delimitado no planejamento operacional, sendo precedida de levantamento de inteligência, executada com precisão “cirúrgica” e direcionada à prisão de criminosos previamente identificados e homiziados naquele ambiente. Concomitantemente, a população ordeira presente ao redor da área de atuação policial é protegida e preservada.

São indicadas ações preventivas/recuperativas comunitárias pós-ação/operação policial, objetivando avaliar os resultados e os efeitos da repressão, de modo a estabelecer condições de manutenção do grau de confiança no trabalho desenvolvido pela corporação naquele ambiente. [MINAS GERAIS, 2002e, item 2.9].

Page 35: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

37

Conceitualmente, observa-se que o uso da inteligência, como ferramenta de

combate ao tráfico, é citado apenas na forma de ação repressiva inteligente. Porém,

quando aplicada a teoria de operações de inteligência, é possível observar que existem

ações que podem ser desenvolvidas em ambos os métodos de repressão ao tráfico. Isso

porque, doutrinariamente, existem dois tipos de operações de inteligência (as

exploratórias e as sistemáticas), que podem ser definidas como:

Operações Exploratórias – visam atender às necessidades imediatas de dados específicos sobre determinado alvo. São utilizadas, normalmente, para cobrir eventos e levantar dados ou informações específicas em curto prazo. Prestam-se, particularmente, para cobertura de reuniões em geral, para o reconhecimento e levantamento de áreas, para o levantamento das atividades e contatos das pessoas, para obtenção de conhecimentos contidos em documentos guardados, para avaliação da validade da abertura de outras operações, [sic] etc.

Operações Sistemáticas – são utilizadas normalmente para acompanhar, metodicamente, a incidência de determinado fenômeno ou aspecto da criminalidade, as atividades de pessoas, organizações, entidades e localidades. Prestam-se, principalmente, para o acompanhamento das facções criminosas, a neutralização de suas ações e a identificação de seus integrantes Visam atualizar e aprofundar conhecimentos sobre suas estruturas, atividades e ligações, através da produção de um fluxo contínuo de dados. São, particularmente, apropriadas para o levantamento das atividades futuras do alvo. [BRASIL, 2007b, grifo nosso].

Logicamente, para que se desenvolva uma operação sistemática com

perfeição, necessariamente, terão que ser desenvolvidas, ao longo do processo de busca,

várias operações exploratórias, que, ao final, irão formar um compêndio de

informações, que produzirão o conhecimento pretendido.

Diante de tais definições acerca de operações de inteligência, observa-se

que, mesmo para o método repressivo sistemático, é perfeitamente viável que se

utilizem operações exploratórias para atender a necessidades imediatas dos policiais. Já

o método de ação repressiva inteligente necessita de conhecimentos mais amplos das

organizações criminosas e, via de regra, utilizará operações sistemáticas em seu suporte.

É possível fazer uma relação entre as fases do tráfico de drogas, o método

repressivo adotado e as operações de inteligência que comumente serão utilizadas para o

combate. Logo, pode-se observar como esses conceitos se relacionam segundo descrito

no quadro abaixo:

Page 36: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

38

QUADRO 3Fases do tráfico, método repressivo e tipo de operações de inteligência

FASES MÉTODO REPRESSIVO TIPO DE OPERAÇÕES

Produção Ação repressiva inteligente Sistemáticas

Distribuição Ação repressiva inteligente Sistemáticas

Transporte Repressão sistemática/Ação repressiva inteligente Exploratórias ou Sistemáticas

Armazenamento Ação repressiva inteligente Sistemáticas

Comércio Repressão sistemática/Ação repressiva inteligente Exploratórias ou Sistemáticas

Observa-se que as únicas duas fases do tráfico de drogas em que é possível,

de maneira geral, realizar a prisão de agentes, com base no método repressivo

sistemático, com ações exploratórias, são no transporte e comércio de drogas. Isso

porque, nas demais fases, via de regra, qualquer ação que vise reprimir o tráfico

necessitará de um subsídio de informações, que não serão obtidas de imediato, sem um

levantamento de informações bem fundamentado.

3.3 Repressão qualificada da criminalidade

Visando uma melhor definição dos mecanismos de repressão que são

utilizados pela instituição, a Polícia Militar de Minas Gerais buscou priorizar, como

forma a ser adotada por suas unidades, o que se denominou como repressão qualificada

da criminalidade.

Para definir melhor esse termo, pode-se utilizar o conceito trazido pela

Diretriz Nº 3.02.1/2009 – CG (Comando Geral), que regula procedimentos e orientações

para a execução com qualidade das operações na Polícia Militar de Minas Gerais, que

define como repressão qualificada aquela

Atuação precedida de conhecimentos de Inteligência de Segurança Pública, com vistas a identificação de criminosos contumazes, grupos de infratores, atividades de gangues e quadrilhas, de modo a conhecer os respectivos líderes e seus cooperadores, “modus operandi”, locais de homizio, o grau de periculosidade e a forma de destinação dos dividendos da atividade

Page 37: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

39

criminosa, de modo a permitir medidas pontuais de repressão ao problema identificado. [MINAS GERAIS, 2009f, item 3.6].

Confirmando o texto apresentado pela diretriz, o gerente do SIPOM,

entrevistado no trabalho, define o termo repressão qualificada da seguinte maneira:

Define-se a repressão qualificada como um conjunto de medidas adotadas por órgãos policiais com o objetivo de prevenir e reprimir crimes de forma focalizada, mediante a utilização da análise criminal e da Inteligência de Segurança Pública na produção de conhecimentos, visando resultados pontuais, objetivos e eficientes. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Observa-se, como descrito no quadro 4, que a definição de repressão

qualificada apresenta algumas características principais, as quais também estão

presentes nas definições já apresentadas anteriormente, sobre inteligência tática,

operações sistemáticas e ação repressiva inteligente.

Dessa forma, torna-se viável a comparação entre esses termos, no qual estão

sempre presentes as áreas de inteligência de segurança pública ou policial e a atuação,

com base na busca de conhecimentos específicos sobre agentes e organizações

criminosas atuantes, assim como observa-se a seguir:

QUADRO 4Comparação entre repressão qualificada, inteligência tática, operações sistemáticas e

ação repressiva inteligente

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

Repressão qualificada Atuação precedida de conhecimentos de Inteligência

de Segurança Pública.

Busca a identificação de criminosos contumazes, grupos de infratores, atividades de gangues e quadrilhas, de modo a conhecer os

respectivos líderes e seus cooperadores.

Inteligência tática Seguimento da atividade de inteligência de segurança pública ou inteligência

policial.

Busca um conhecimento específico a respeito de agentes e organizações criminosas.

Operações sistemáticas

Tipo de operação de inteligência de segurança

pública.

Prestam-se, particularmente, ao acompanhamento das facções criminosas, à

neutralização de suas ações e à identificação de seus integrantes.

Ação repressiva inteligente

Ação precedida de levantamento de inteligência.

Executada com precisão “cirúrgica” e direcionada à prisão de criminosos, previamente

identificados e homiziados naquele ambiente.

Page 38: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

40

Ao definir o que seria repressão qualificada e elencar como uma de suas

características principais a atuação precedida de conhecimentos de inteligência de

segurança pública, a Polícia Militar relaciona quais são os objetivos que deseja alcançar

com o uso da inteligência nessas operações, tal qual pode ser observado na seguinte

passagem:

A Inteligência de Segurança Pública (ISP) buscará a ampliação das informações, por meio de análise sistemática dos fatos e situações que afetem a segurança pública, buscando respostas para os quesitos “quem”, “como” e “por que”, tendo como resultado a produção de conhecimento instrumental, para o enfrentamento do crime, com intervenções preventivas e repressivas e, consequentemente, maior eficácia do resultado.[MINAS GERAIS, 2009f, item 5.1.1]

Com base em tais objetivos, a Diretriz Nº 3.02.01/2009 - CG elencou, como

estratégias que devem ser desempenhadas pelo órgão de inteligência, as seguintes6:

a) adoção de medidas que proporcionem a produção de conhecimentos de ISP pelas agências de inteligência do SIPOM, antecipando as operações policiais militares;

b) participação efetiva das agências de inteligência no planejamento de operações policiais visando à identificação e mapeamento de cidadãos infratores atuantes em ZQC (zonas quentes de criminalidade);

c) identificação e monitoramento de gangues e outras estruturas criminosas, buscando conhecer a rede de vínculos criminais, de forma a compreender o fenômeno e combater os principais grupos criminosos atuantes;

d) otimização das informações sobre cidadãos infratores cadastrados no CVC (cadastro de vínculos criminais);

e) otimização dos esforços de captação e averiguação de denúncias que interfiram diretamente na atividade do policiamento ostensivo;

f) integração com as agências de inteligência de organismos externos para propiciar a troca de informações acerca de cidadãos infratores;

g) monitoramento dos locais de maior incidência criminal (crimes violentos e não violentos).Com base na definição de repressão qualificada e nas ações que devem ser

desempenhadas para que o órgão policial esteja orientando suas ações através desse

método, observa-se que o uso da atividade de inteligência de segurança pública,

6 MINAS GERAIS, Diretriz Nº 3.02.01/2009 – CG, item 5.1.1

Page 39: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

41

principalmente da inteligência tática, estará sempre presente, como elemento principal

de subsídio de informações para esses tipos de operações policiais.

Page 40: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

42

4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTELIGÊNCIA

Neste capítulo, serão abordados assuntos referentes ao processo histórico da

inteligência, adotando-se, inicialmente, uma perspectiva mundial, em seguida, a

evolução no Brasil e, por fim, no âmbito das polícias militares.

4.1 Evolução da inteligência no mundo

Há muito tempo, a inteligência tem sido usada por gestores e tomadores de

decisão, como forma de alcançar o sucesso em suas empreitadas. O mais antigo relato

que se tem nota, remonta ao antigo testamento, quando Moisés expediu o que

atualmente é conhecido como ordem de busca:

Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã, e disse-lhes: Subi por aqui para o lado do Sul, e subi à montanha: E vede que terra é, e o povo que nela habita; se é forte ou fraco; se é pouco ou muito. E como é a terra em que habita; se é boa ou má; e quais são as cidades em que eles habitam; se em arraiais, ou em fortalezas. Também como é a terra, se é fértil ou estéril; se nela há árvores ou não; (…) Assim subiram e expiaram a terra. [NÚMEROS, 13, 17-21].

Esse, que pode ser considerado o primeiro registro de uma operação de

inteligência, teria ocorrido por volta dos anos 1400 a.C.7, durante o reinado do Faraó

Ramsés II.

No entanto, a atividade começou a ganhar respaldo, inclusive doutrinário,

quando o filósofo, que se tornou general, na China, Sun Tzu, cerca de setecentos anos

após a empreitada de Moisés, compilou um dos manuais mais lidos ao longo do tempo.

Sua obra, por ele chamada de “o Ping La” ou “A arte da guerra”, descreve os aspectos

essenciais que devem ser observados pelos comandantes durante a batalha. Além de um

capítulo específico, tratando do tema espionagem, ressalta-se que, Sun Tzu possui como

um de seus maiores princípios o seguinte:

7Fonte: Bíblia de Estudo Vida, tradução João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora Vida, 2. ed. 1999.

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43

Se conheces os demais e te conheces a ti mesmo, nem em cem batalhas correrás perigo; se não conheces os demais, porém te conheces a ti mesmo, perderás uma batalha e ganharás outra; se não conheces aos demais nem te conheces a ti mesmo, correrás perigo em cada batalha. [SUN TZU, 525 a.C.?]

O império romano pode ser considerado como a primeira potência europeia

a organizar um serviço permanente de inteligência. O “explorador”, como era

conhecido, integrava os efetivos regulares das legiões e possuía a missão de levantar

informações para seus comandantes.

Após o fim do império romano e passagem para a Idade Média, pouco se

tem notícia do exercício da atividade de inteligência no mundo. Isso porque, durante a

época, havia uma ideia de repulsa ao que se considerava como atividade secreta.

Embora saiba-se que houve, por parte da igreja, um grande movimento de proteção do

conhecimento, como forma de perpetuar seu poder.

Numa perspectiva mais contemporânea, a evolução dos sistemas de

inteligência podem ser analisados, segundo Cepik (2003), em três matrizes doutrinárias

principais:

O surgimentos dos sistemas nacionais de inteligência está associado, ao lento processo de especialização e diferenciação organizacional das funções internacionais e coercitivas que fazem parte, integralmente, da diplomacia, do fazer a guerra, da manutenção da ordem interna e, mais tarde, do policiamento na ordem moderna. [HERMAN apud CEPIK, 2003].

O processo de evolução no que se refere à diplomacia, ou seja, à relação

externa entre os países, e à guerra, ao conhecimento militar dos exércitos de seus

potenciais inimigos, não será aprofundado, uma vez que o estudo busca a

contextualização histórica da formação da inteligência policial.

Dessa forma, em relação à terceira matriz histórica, é possível observar que

inicialmente essa era tratada apenas como inteligência interna, o qual buscava o

conhecimento sobre as ameaças internas à ordem dos países. Suas origens estão na

preocupação dos governantes com os ideais revolucionários, como cita o autor,

anteriormente descrito:

As origens das atuais organizações de inteligência de segurança remontam ao policiamento político desenvolvido na Europa na primeira metade do século

Page 42: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

44

XIX, decorrente da percepção de ameaça representada por movimentos inspirados na Revolução Francesa e pelo nascente movimento operário anarquista e socialista. [CEPIK, 2003]

Embora o medo dos movimentos populares tenha perdido força após a

segunda metade do século XIX, o processo de formação das polícias europeias, com o

surgimento das unidades de investigação, continuaram impulsionando a formação dos

sistemas de inteligência. Isso se deu devido a um processo de cientificização do

combate ao crime que alcançou o modelo de policiamento político e a repressão contra a

subversão.

Já no século XX, a conjuntura internacional modificou-se novamente e

determinou novas mudanças no processo de inteligência interna:

Principalmente depois da I Gerra Mundial e da Revolução Russa, as polícias políticas e serviços secretos de cada país passaram a vigiar regularmente as atividades dos serviços de inteligência estrangeiros dentro do território nacional. Com isso além da inteligência de segurança (security intelligence) propriamente dita, essa organizações se especializaram também em contra-espionagem e contra-inteligência (counterintelligence). Com o processo de descolonização durante a Guerra Fria e com o terrorismo dos anos 70, certas operações de suporte à contra-insurgência, contramedidas (sic) defensivas e antiterrorismo foram acrescentadas ao leque de missões desse tipo de organização. Nas últimas duas décadas, o crime organizado, o tráfico de drogas e crimes eletrônicos (incluindo a fraude financeira e lavagem de dinheiro) adquiriram tal importância na agenda de segurança de alguns países que a busca por informações extrapolou os limites da rotina da investigação criminal. [CEPIK, 2003].

Como visto, a inteligência interna que inicialmente possuía apenas um

caráter político, passou, ao longo do tempo, a ser um dos principais setores da atividade

de inteligência, principalmente no contexto atual, quando ações terroristas e

organizações criminais exigem do Estado um postura rápida e eficiente.

Logicamente, no contexto democrático do século XXI, a função inicial da

inteligência interna, passou para segundo plano, pois movimentos populares passaram a

ser considerados, na maioria dos países, como manifestações legítimas da sociedade.

Page 43: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

45

4.2 Evolução da inteligência no Brasil

No Brasil, a evolução da atividade de inteligência ocorreu de forma tardia,

em relação ao processo europeu. Até o século XX, poucas são as fontes que tratam do

assunto. O primeiro documento oficial remonta ao ano de 1927, no governo de

Washington Luís, quando, através do decreto nº 17.999, de 29 de novembro de 1927,

instituiu-se o Conselho de Defesa Nacional, que possuía, dentre outras, a missão de

coordenar a produção de conhecimento sobre questões de ordem financeira, econômica,

bélica e moral, referentes à defesa da pátria. Percebe-se no documento a preocupação do

governo em produzir informações, tanto a nível de Estado quanto de defesa.

Já no ano que 1946, criou-se o Serviço Federal de Informações e Contra-

Informações (SFICI). Esse órgão possuía vinculação ao Conselho de Segurança

Nacional, possuindo a incumbência de tratar as informações no Brasil e a competência

de superintender e coordenar as atividades de informação que interessassem à segurança

nacional.

Com o início do regime militar, em 1964, e a alta pressão imposta pelo

governo americano, vivendo o auge da Gerra Fria e buscando a manutenção de

territórios de influência do capitalismo, os militares que assumiram o governo viram,

então, a necessidade de se reformular o seu serviço de informações. Foi nesse contexto

que a Lei nº 4.341, de 13 de junho de 1964, foi promulgada, criando o Serviço Nacional

de Informações (SNI).

Já no ano de 1970, foi criado o Sistema Nacional de Informações (SISNI),

que era integrado tanto por ministérios civis, quanto por militares, e que ficou com a

responsabilidade de órgão central desse sistema o SNI.

Nesse período, praticamente todo o serviço de inteligência nacional

executava um serviço muito parecido com o do início do processo de inteligência

interna europeu, buscando elementos que fossem contrários ao regime e subversivos à

ordem nacional. As matrizes da diplomacia e defesa não ocupavam relevantes espaços

na agenda. Logicamente, esse foco principal dos serviços de inteligência brasileiros

Page 44: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

46

contava com o apoio do governo dos Estados Unidos, que eram os maiores interessados

em não permitir que ideais comunistas, contrários ao regime capitalista, ganhassem

força dentro de territórios de sua influência.

No fim da década de 70 e início de 80, o regime militar já perdera força e a

Gerra Fria caminhava para o seu fim, sendo que em 1990, o, então, presidente Fernando

Collor de Melo extinguiu o SNI e criou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

É Importante ressaltar que, àquele tempo, predominava no país um forte

receio a qualquer instituição que se prestasse a algum tipo de serviço relativo à

inteligência. Isso porque a repressão política realizada no período do regime militar

estava muito presente na memória dos brasileiros e principalmente dos governantes da

época, os quais foram foco do sistema de inteligência, quando na condição de oposição

ao regime.

Já no governo de Itamar Franco, foi criada a Subsecretaria de Inteligência

(SSI), através da Lei nº 8.490, de 19 de novembro de 1992. Essa subsecretaria estava

subordinada a (SAE).

Em 1995, o, então, presidente Fenando Henrique Cardoso autorizou a

criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), através da Medida Provisória

(MP) nº 813, de 1º de janeiro de 1995. Essa MP só foi regulamentada em 1999, através

da Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que criou, ainda, o Sistema Brasileiro de

Inteligência (SISBIN). A referida lei traz, em seu artigo terceiro, o seguinte texto:

Fica criada a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, órgão de assessoramento direto ao Presidente da República, que, na posição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, terá a seu cargo planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividade de inteligência do país, obedecidas a política e as diretrizes superiormente traçadas nos termos da lei. [BRASIL, 1999a]

Embora sancionada em 1999, a Lei 9.883 só foi regulamentada em 2002,

passando-se cerca de uma década entre a extinção do SNI e a criação da ABIN. Esse

longo período, em que a inteligência no país foi deixada em segundo plano, ocorreu

como reflexo da desvirtuação da atividade durante o regime militar.

Page 45: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

47

Essa lacuna no tempo, na esfera federal, produziu efeitos também nos

sistemas estaduais, como poderá ser visto adiante.

4.3 Evolução da inteligência nas polícias militares e na PMMG

O exercício da atividade de inteligência, dentro das instituições policiais

militares, teve uma evolução lenta e pautada na missão institucional que essas

instituições possuíram ao longo do tempo.

Embora existam instituições bisseculares, como é o caso da Polícia Militar

de Minas Gerais, cuja criação remonta ao século XVIII, a missão de policiamento foi

inserida de forma recente, dentro dos padrões históricos.

A Constituição Federal de 1946 trouxe, em seu artigo 183, que “as Polícias

Militares, instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem nos Estados,

nos territórios e no Distrito Federal, são consideradas, como forças auxiliares, reservas

do Exército” [BRASIL, 1946h]. Pode-se dizer que esse foi o primeiro diploma legal a

conferir às polícias a missão de manutenção da ordem. Até esse momento, essas

instituições estavam mais voltadas para ações de defesa interna, tendo como referência

de suas ações o próprio Exército nacional.

No ano de 1967, já durante o regime militar, o artigo 13, parágrafo quarto,

da Constituição Federal, promulgada à época, trouxe uma modificação no que tange à

missão das polícias. Segundo a Carta, caberia às polícias militares a manutenção da

ordem e a segurança interna dos Estados.

Também, no ano de 1967, o Decreto-Lei 317 atribuiu às polícias militares o

policiamento ostensivo fardado. O decreto criou, também, a Inspetoria Geral das

Polícias Militares, fazendo com que essas passassem a ser controladas pelo Exército

Brasileiro, o que tornou as forças policiais diretamente subordinadas à força nacional.

Page 46: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

48

Em 1969, a Emenda Constitucional nº 1 trazia em seu texto: “As Polícias

Militares, instituídas para a manutenção da ordem pública nos Estados, no territórios e

no Distrito Federal” [BRASIL, 1969k].

Também neste ano, foi publicado o Decreto-Lei 667, de 2 de julho de 1969,

que, alterado pelo Decreto 1.072, do mesmo ano, proibiu os Estados de criarem

qualquer outra instituição policial uniformizada, em favor da exclusividade do

policiamento ostensivo atribuído às polícias militares.

Embora tenham ocorrido várias modificações na missão das polícias

militares, desde que essas deixaram de focar a defesa interna e passaram a assumir a

missão de policiamento propriamente dito, os sistemas de inteligência dessas

instituições pouco evoluíram ou mudaram seu direcionamento, até a década de 60. Na

PMMG, por exemplo, o foco do setor de inteligência, ainda, estava focado no público

interno.

Na década de 60, o Estado-Maior da PMMG achava-se estruturado em

quatro seções:

a) G1 – Pessoal;b) G2 – Informações;c) G3 – Operações e;d) G4 – Logística.

O G2, conforme descrito pelo Regulamento Geral da Polícia Militar de

Minas Gerais, constituía-se da seguinte maneira:

a) Chefia;b) Subchefia e Subseção Administrativa;c) Subseção de Segurança Interna;d) Subseção de Contra-Informações;e) Subseção de Investigações;f) Gabinete de Identificação da Polícia Militar (GIPM).

Existia, ainda, nas unidades, as Segundas Seções, denominadas S2, que

eram encarregadas da elaboração e supervisão das medidas de informação e contra-

informação.

Page 47: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

49

O cenário da área de inteligência nas forças policiais começou a mudar com

o início do regime militar, conforme pode ser visto a seguir:

Com a criação do SNI (1964), a atividade de inteligência ganhou força e, no âmbito da PMMG, um processo de profissionalização, com a introdução de novos métodos e técnicas de trabalho disponibilizados pelo SISNI. Nessa época, caracterizada por violentas ações das guerrilhas rurais e urbanas, compostas por radicais de esquerda que não aceitavam o regime ditatorial, passou-se a estabelecer conexões com os governadores dos estados, com empresas privadas e com as administrações municipais, com a finalidade de intensificar a coleta de informações de interesse para a Segurança Nacional. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Já na década de 70, profundas mudanças ocorreram no sistema de

inteligência das polícias. O Decreto nº 66.862, de 8 de julho de 1970, citava que “As

Polícias Militares integrarão o serviço de informações e contra-informações do

Exército, conforme dispuserem os Comandantes de Exército ou Comandos Militares de

Áreas, nas respectivas áreas de jurisdição” [BRASIL, 1970m].

A partir de então, os serviços de inteligência das polícias passaram a

integrar o Sistema Nacional de Informações e a atuar conforme a demanda trazida pelo

Exército, deixando, aos poucos, o foco exclusivo ao público interno, passando a buscar

organizações ou pessoas que pudessem atentar contra a ordem nacional. Ressalta-se

que, até esse momento, os serviços de inteligência pouco se ocupavam de questões

referentes ao combate à criminalidade.

Porém, como dito anteriormente, com o fim da Gerra Fria, do regime

militar, o advento da Constituição Federal de 1988 e a extinção do SNI, a inteligência

interna passou a ter um novo direcionamento.

O aumento da criminalidade e o surgimento de movimentos terroristas, no

mundo, forçaram os sistemas de inteligência policiais a se adequarem à nova realidade.

A missão institucional foi novamente modificada, deixando-se de lado a função de

cumprimento às demandas apresentadas pelas forças armadas e direcionando-se para o

exercício da polícia ostensiva de preservação da ordem pública, ocupando-se de

questões afetas ao combate à criminalidade.

É oportuno, ainda, dizer que, na transição entre esses dois períodos houve

momentos em que os sistemas de inteligência das polícias sentiram-se desnorteados

Page 48: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

50

quanto à sua nova função, existindo, até mesmo, a tendência de volta ao foco de suas

atenções ao público interno, executando atividades típicas de correição.

Na PMMG, esse desnorteamento terminou no ano de 2000, com a criação

da Corregedoria de Polícia Militar, através da Resolução 3553, de 22 de dezembro

daquele ano. Esse órgão, desde então, assumiu o papel de correição e vem se

estruturando, cada vez mais, deixando para os órgãos de inteligência a missão principal

de combate à criminalidade.

Page 49: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

51

5 SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR

DE MINAS GERAIS

5.1 Introdução

Antes de se iniciar propriamente o estudo a respeito da estrutura do Sistema

de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais, é preciso que se contextualize esse

sistema, numa perspectiva mundial, de acordo com os principais modelos existentes.

Ainda se faz necessário o estudo a respeito do sistema de inteligência

brasileiro, aprofundando-se um pouco mais no subsistema de inteligência de segurança

pública, para que, dessa forma, seja possível uma perfeita compreensão da estrutura

organizacional adotada pela polícia mineira.

De uma maneira geral, os sistemas de inteligência, no mundo, apresentam,

em regra, algumas partes necessariamente coincidentes. Guardadas as particularidades

de cada caso, esses sistemas desenvolveram-se de uma forma semelhante, descrita assim

por Cepik:

Nas última três ou quatro décadas do século XX formaram-se sistemas governamentais de inteligência nos países mais importantes do mundo. Dotado de maior ou menor complexidade estrutural quando considerado de forma concreta, o desenho organizacional ideal-típico de tais sistemas envolve os seguintes componentes: alguma instância central de coordenação, uma ou mais agências principais de coleta de informações (normalmente imagens e sinais estão separados de humint e fontes ostensivas), alguma instância central de análise, unidades departamentais de análise com ações mais ou menos definidos com as organizações centrais de coleta de inteligência, poderosos subsistemas de inteligência de defesa e de segurança, algum órgão de formação e treinamento e, mais recentemente, órgãos mais ou menos colegiados para coordenação e instâncias de supervisão externa, seja no próprio Poder Executivo, no Legislativo ou, mais raramente, no Judiciário. [CEPIK, 2003, p. 112]

Após o desenho da estrutura básica do sistema, passando desde a formação e

treinamento, pelas agências de busca e coleta, de análise, de tecnologia, pela agência

central reguladora e até mesmo pelos órgãos de fiscalização e controle, segundo o

Page 50: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

52

próprio autor, é possível classificar os sistemas de inteligência nacionais em três tipos,

quais sejam: o modelo anglo-saxão, o modelo europeu continental e o modelo asiático.

As variáveis levadas em consideração para tal classificação são: grau de

centralização de autoridade sobre as unidades do sistema, grau de integração analítica

de inteligência disseminada para os usuários, a maior ou menor separação entre as

funções de inteligência e de policymaking (elaboração de políticas), efetividade dos

mecanismos de accountability (prestação de contas) internacionais no Poder Executivo

e no Legislativo.

A partir de tais considerações, os sistemas poderiam ser classificados como:

Modelo “anglo-saxão”, caracterizado por alta centralização da autoridade sobre as unidade do sistema, alto grau de integração analítica, média separação entre inteligência e política, além de média efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão – nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e, com muitos cuidados, Índia e África do Sul;

Modelo “europeu continental”, caracterizado por média centralização da autoridade sobre as unidades do sistema, média integração analítica dos produtos de intel, alto envolvimento da atividade de inteligência com as instâncias de policymaking e, finalmente, uma baixa efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão (oversight) – nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como França, Alemanha, Rússia, Polônia, Itália e, com muitos cuidados, Brasil e Argentina;

Modelo “asiático”, caracterizado por baixa centralização da autoridade sobre as unidades do sistema, alta integração analítica dos produtos de intel, médio envolvimento da atividade de inteligência com as instâncias de policymaking e de forma ainda mais pronunciada do que no tipo “europeu continental”, uma baixa efetividade dos mecanismos de accontability e supervisão – nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como China, Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Coréia (sic) do Norte e, com muitos cuidados, Indonésia e Vietnã. [CEPIK, 2003, p.112-113]

Feita essa contextualização doutrinária, é possível, em conjunto com o

estudo sobre a evolução história da inteligência no Brasil, descrever e analisar o atual

Sistema Brasileiro de Inteligência.

Inicialmente, é preciso citar a lei que institui o referido sistema, a Lei

federal 9.883/1999, que traz em seu artigo primeiro:

Page 51: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

53

Art. 1º Fica instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência, que integra as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência no País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse institucional.

§ 1º O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a Defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa da Brasil seja parte ou signatário, e a legislação Doutrinária. [BRASIL, 1999a]

No artigo segundo, da referida lei, está prevista a participação dos estados

na composição do sistema:

Art 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal que, direta ou indiretamente, possam produzir conhecimentos de interesse da atividade de inteligência, em especial aqueles responsáveis pela defesa externa, segurança interna e relações exteriores, constituirão o Sistema Brasileiro de Inteligência, na forma de ato do Presidente da República. [BRASIL, 1999a]

Nesse artigo, percebe-se a divisão do sistema, de acordo com as três

matrizes doutrinárias de evolução da atividade de inteligência, já citadas: a defesa

nacional, a segurança interna e as relações exteriores. Através das quais, as polícias

militares surgem como potenciais integrantes, dentro da perspectiva da segurança

interna.

A Lei Fedeeral 9.883/1999 foi regulamentada pelos Decretos 3.448, os quais

foram revogados pelo Decreto 3.695, e instituiu o subsistema de inteligência de

segurança pública:

Art 1º Fica criado, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, com a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões nesse campo. [BRASIL, 2000n].

O referido decreto, também, prevê, em seu artigo 2º, parágrafo 2º, a

participação dos órgãos de inteligência dos estados no subsistema, “nos termos do § 2º

artigo 2º da Lei 9883, poderão integrar o Subsistema de Inteligência de Segurança

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54

Pública os órgãos de Inteligência de Segurança Pública do Estados e do Distrito

Federal” [BRASIL, 2000n].

5.2 Estrutura do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas

Gerais

O atual sistema de inteligência da PMMG recebeu, neste ano de 2010, uma

grande reformulação, isso por causa da criação da Diretoria de Inteligência (DInt).

A PMMG organiza-se, institucionalmente, em Unidades de Direção Geral,

Unidades de Direção Intermediária e Unidades de Execução, que correspondem,

respectivamente, aos níveis estratégico, tático e operacional.

As Unidades de Direção Geral são o Comando Geral da instituição, que é

composto pelo Gabinete do Comandante-Geral e Estado-Maior da Polícia Militar, o

qual é dividido em chefia do EMPM e suas seções. Segundo a Lei de Organização

Básica da PMMG (LOB), tais unidades são responsáveis pelo planejamento geral,

visando a organização e o emprego da corporação.

As Unidades de Direção Intermediária correspondem aos Comandos

Regionais de Policiamento, Comando do Policiamento Especializado e as Diretorias.

Tais unidades são responsáveis, perante o Comando-Geral da instituição, pela condução

das respectivas unidades, nos campos operacional e de apoio.

Por fim, as Unidades de Execução Operacional correspondem aos Batalhões

de área, unidades especializadas, Companhias de Polícia Independente e unidades de

execução e apoio). Essas unidades são responsáveis pela execução das atividades-fim e

atividades-meio, em cumprimento às ordens emanadas pelos escalões superiores.

Com a reformulação passada pelo SIPOM, houve uma modificação na

estrutura básica do sistema. Anteriormente, a agência central correspondia à Segunda

Seção do Estado Maior, ou PM/2, que estava no nível estratégico da instituição. Porém,

após a publicação da Resolução 4.062, de 13 de janeiro de 2010, a qual criou a Diretoria

Page 53: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

55

de Inteligência, esta passou a exercer a função de órgão central do sistema de

inteligência institucional, correspondendo ao nível tático organizacional.

Embora tenha havido uma queda em relação ao nível institucional a que

pertence o órgão central (saindo do nível estratégico para o tático), a criação da DInt

significa uma elevação do estatus da atividade de inteligência. Isso porque,

anteriormente, a agência central posicionava-se como uma das seis seções do EMPM,

comandada por um Tenente Coronel, e possuía como intermediário de acesso ao

Comando-Geral o próprio Chefe do Estado-Maior. Com a atual estrutura, a Diretoria de

Inteligência passa a agir como órgão independente, sob o comando de um Coronel,

último posto hierárquico das polícias militares, e com acesso direto ao comando da

instituição.

A composição da DInt possui a seguinte estrutura administrativa, conforme

a Resolução 4.062:

a) Diretor;

b) Sub-Diretor;

c) Seções;

• DInt 1 – Contra Inteligência;

• DInt 2 – Inteligência;

• DInt 3 – Operações, possuindo em sua composição a Sala de Situação;

• DInt 4 – Gestão da Tecnologia da Informação;

• DInt 5 – Seção Administrativa, responsável pelos recursos humanos, secretaria, apoio logístico e sala de operações da fração (SOFI).

Vincula-se, ainda, à DInt o Centro de Treinamento de Inteligência da Polícia

Militar (CTInt), que é responsável pela formação e aperfeiçoamento do efetivo

empregado na atividade.

Com a mudança, algumas estruturas externas passaram a vincular-se à DInt,

quais sejam:

a) Gabinete Integrado de Segurança Pública;b) Grupo de Combate a Organizações Criminosas em Minas Gerais;c) Disque Denúncia Unificado;

Page 54: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

56

d) Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos.Várias são as atribuições da DInt, conforme sua resolução de criação, dentre

as quais pode-se citar:a) executar as atribuições de Agência Central do SIPOM, subordinando-se

diretamente ao Comando-Geral;b) planejar e coordenar as operações de inteligência que envolvam Comandos

Regionais distintos ou em grandes eventos;c) realizar a coordenação tática das ações e operações de inteligência, através

do controle de recursos humanos e materiais do SIPOM;d) produzir conhecimentos de inteligência de segurança pública, de forma a

subsidiar os comandos nos níveis tático e operacional, com vistas à orientação das ações ostensivas;

e) desenvolver as atividades nos campos de inteligência tática, nos campos de contra-inteligência, inteligência criminal, inteligência de estado, tecnologia da informação e operações de inteligência;

f) manter o Comando-Geral permanentemente informado sobre os fatos e situações de interesse para a segurança pública e suas repercussões;

g) realizar a coleta e busca de dados e informações necessárias à produção de conhecimentos;

h) desdobrar diretrizes, planos e ordens emanadas do Comando-Geral, em conformidade com o Plano de Inteligência da Polícia Militar;

i) expedir normas e orientações técnicas setoriais de inteligência para o SIPOM;

j) realizar supervisões técnicas nas agências de inteligência do SIPOM;k) planejar, realizar e coordenar o treinamento de inteligência com o apoio

pedagógico da Academia de Polícia Militar; l) participar da execução de projetos envolvendo recursos de inteligência no

âmbito do SIPOM;m) promover o intercâmbio com os órgãos de inteligência externos ao SIPOM

para tratar de assuntos atinentes ao nível tático da polícia militar;n) exercer a coordenação das atividades realizadas por policiais militares

empregados em órgãos externos, desenvolvendo ações de inteligência ou similares, definidas pelo Comando-Geral;

o) gerenciar a rede e o portal de inteligência do SIPOM (REINT);p) gerenciar o acesso e os sistemas informatizados destinados à atividade de

inteligência;q) elaborar propostas e avaliar a aquisição de soluções tecnológicas destinadas

à atividade de inteligência;

Page 55: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

57

r) realizar o controle dos equipamentos, softwares e viaturas de uso do SIPOM. Percebe-se que a DInt, como órgão central do sistema, acumula as funções

de execução da inteligência de segurança pública tanto no nível tático quanto no nível

estratégico, sendo que a função de correição não está presente entre as atribuições do

órgão, ficando à cargo da Corregedoria de Polícia Militar (CPM).

O SIPOM é composto por agências para a execução de suas atividades. Tais

agências podem ser classificadas de acordo com seu nível institucional.

Agência Central (AC) corresponde à Diretoria de Inteligência. Pode ser

entendida como o nível estratégico da inteligência na instituição, embora,

organizacionalmente, esteja no nível tático da PMMG.

Agências Regionais (AR) são órgãos de inteligência dos Comandos

Regionais de Policiamento e Agência Regional Especial (ARE) e órgão de inteligência

do Comando de Policiamento Especializado. Correspondem ao nível tático do SIPOM.

Agências de Área (AA) são órgãos de inteligência das unidades

operacionais, formadas pelos batalhões e companhias independentes. As Agências

Especiais (AE) são órgãos de inteligência das unidades especializadas, como por

exemplo, o Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (ROTAM) e o Batalhão de

Polícia de Eventos (BPE). Já as Subagências de Inteligência (SI) são órgão de

inteligência das companhias. Por fim, os Núcleos de Agências (NA), que são órgãos de

inteligência dos pelotões. Tais agências correspondem ao nível operacional da

inteligência na instituição.

Existe, ainda, de acordo com uma demanda eventual, a possibilidade da

instalação de órgãos especiais de busca (OEB), instituídos pela Agência Central,

podendo ser instalados em qualquer parte do Estado, para o cumprimento de missões

específicas.

Finalmente, há os órgãos regionais de busca (ORB), que, nas mesmas

circunstâncias dos OEB, executarão atividades em caráter excepcional nas respectivas

regiões.

Page 56: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

58

As agências dos níveis tático e operacional são, hierarquicamente e

estruturalmente, subordinadas aos respectivos comandos de policiamento a que

pertencem, porém possuem vinculação técnica à agência central.

5.3 Atuação do SIPOM em face do Plano Estratégico 2009-2011

Inicialmente, é preciso que seja feita uma explanação do processo de

elaboração do plano, no qual serão explicados conceitos importantes, como, por

exemplo, fases de trabalho, áreas de atuação, objetivos temáticos, resultados finalísticos,

estratégias e ações correspondentes. Sendo que, ao final, será feita uma abordagem

apenas com foco no que diz respeito à inteligência.

5.3.1 Aspectos gerais do Plano Estratégico 2009-2011

O Plano Estratégico 2009-2011 é o documento através do qual o

Comandante-Geral da PMMG traça as diretrizes que a instituição irá adotar, no período

de vigência do documento. Trata-se de uma forma de gestão, seguindo parâmetros

empresariais, em que são estabelecidas as prioridades e a forma de alcance dos

objetivos, podendo ser definido por:

O plano estratégico é um documento elaborado para detalhar e governar o rumo da organização, com propósito de orientar o estabelecimento de ações táticas e operações, sendo um instrumental técnico que expressa a definição das decisões do nível estratégico dentro do processo de gestão. [MINAS GERAIS, 2009c].

A mudança no modelo de administração pública, que passou de um modelo

burocrático para um modelo gerencial, ocorrida na década de 90, com maior impacto a

Page 57: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

59

partir do ano de 2003, através do choque de gestão8 do governo do Estado, influenciou

decisivamente na elaboração do plano estratégico da Polícia Militar de Minas Gerais.

Basicamente, essa mudança vasava uma alteração na filosofia administrativa

dos órgãos públicos estaduais, que ficou conhecida como administração pública

gerencial, buscando substituir o então vigente modelo burocrático. Enfatiza-se que a

principal característica do modelo atual está nas ações orientadas por resultados, com

foco no atendimento às necessidades dos cidadãos, através de um planejamento com

execução, de forma descentralizada e transparente. Segundo o plano:

A nova gerência pública preocupa-se não apenas com a mensuração da eficiência, mas também com a eficácia, que resulta na efetividade dos serviços públicos prestados, e é utilizada para a melhoria contínua e elaboração das estratégias futuras, conforme o princípio do aprendizado organizacional. [MINAS GERAIS, 2009c, p.8].

A forma de elaboração do plano traz, inicialmente, o alinhamento da

identidade organizacional, com a descrição da missão, visão e valores da PMMG. Em

seguida, foram estabelecidos áreas de resultado, os objetivos, as estratégias e ações. Ao

final, estruturou-se um sistema de implementação, monitoramento e avaliação.

O desenvolvimento dos trabalhos ocorreu em duas fases, sendo a primeira a

formulação da estratégica e a segunda a implementação dessas. Tais fases foram

dividias em cinco etapas: sensibilização, delimitação da identidade organizacional,

diagnóstico, formação da estratégia, execução e avaliação.

Para a elaboração dos trabalhos, foram organizados quatro grupos de

trabalhos, quais sejam:

a) grupo de coordenação, com a missão de avaliação final das etapas dos trabalhos para a aprovação do Comando-Geral;

8 “O Choque de Gestão é uma política de governo proposta por Aécio Neves durante seu mandato como governador do Estado brasileiro de Minas Gerais, que visa, primeiramente, a promoção do desenvolvimento mediante a reversão dos quadros de déficits orçamentários (através, inclusive, num primeiro momento, da redução de despesas), da organização e modernização do aparato institucional do Estado e da busca e a implementação de novos modelos de gestão.

A médio e longo prazo, o projeto contempla a gestão para obtenção de resultados baseados na qualidade e na produtividade, mediante critérios de incentivos que induzam o maior comprometimento dos atores responsáveis. Por outro lado, ele também prevê investimentos na capacitação do servidor público do Estado e a adoção de novos modelos de parcerias público-privadas que possibilitem a oferta de melhores serviços aos cidadãos.”

Fonte: Wikipédia, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Choque_de_Gest%C3%A3o&oldid=19289471>. Acesso em: 20 fev. 2010.

Page 58: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

60

b) grupo de qualidade e controle, com a missão de avaliação qualitativa da produção dos grupos temáticos e alinhamento aos objetivos governamentais;

c) grupo técnico, responsável pela definição da metodologia de trabalho e orientação aos grupos temáticos;

d) grupos temáticos, constituídos de acordo com as áreas de atuação e de interesse da PMMG, para elaboração de diagnóstico e estratégias de suas respectivas áreas.

Já na etapa de formação de estratégias, buscou-se a exploração das

oportunidades e a minimização ou neutralização de ameaças. Nessa fase, foram

definidas onze áreas de resultado, combinando-se as atividades que possuem

características semelhantes. Nesse momento, os resultados dependem de um esforço em

conjunto de dois ou mais setores institucionais. Entre as áreas de resultado, está a gestão

da inteligência.

A partir das áreas de resultados, foram definidos quatorze objetivos

estratégicos, delimitando a que ponto ou patamar a instituição pretende atingir, os

chamados resultados finalísticos. Entre os objetivos traçados estão:

a) reduzir a violência, a criminalidade, a desordem e a sensação de insegurança, nas áreas urbanas rurais e nas rodovias;

b) atender com qualidade as necessidades do cidadão e da sociedade;

c) garantir o acesso da sociedade às informações de interesse público e aprimorar a comunicação organizacional, conferindo transparência e credibilidade às práticas institucionais;

d) desenvolver ações integradas com o setor público, privado, terceiro setor e comunidade especialmente na municipalidade, para a prevenção social, solução dos problemas locais e formulação de políticas públicas;

e) instituir uma gestão caracterizada pela melhoria contínua (qualidade), orientada por resultados, com aperfeiçoamento dos processos finalísticos e de suporte, em conformidade com o Modelo de Administração Pública Gerencial;

f) modernizar o sistema de inteligência, com ênfase na inteligência de segurança pública;

g) desenvolver a gestão operacional focada na prevenção criminal, garantia das liberdades e direitos fundamentais;

h) otimizar a gestão de recursos orçamentários e financeiros, melhorando a qualidade e produtividade do gasto setorial;

Page 59: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

61

i) planejar, prover e utilizar, com efetividade, os recursos logísticos, para o alcance da excelência na prestação de serviços;

j) aprimorar a gestão integrada ao contexto da defesa social no Estado;

k) atrair, desenvolver e manter pessoas de elevado desempenho;

l) prover a gestão de pessoas, com foco nos princípios éticos, na valorização, na saúde, no desempenho e comprometimento com os valores e objetivos institucionais;

m) intensificar o uso integrado da tecnologia da informação e da comunicação, propiciando uma interação sinérgica, contínua e dinâmica na troca de informações e conhecimentos;

n) garantir a evolução e a sustentabilidade da instituição, com a intensificação do senso de pertencimento e da responsabilidade social, pela inovação, aprendizado coletivo e conhecimento compartilhado.

Para unir os objetivos aos resultados, foram elaboradas estratégias e ações

correspondentes.

5.3.2 Gestão da inteligência no Plano Estratégico

A gestão da inteligência na instituição foi um dos aspectos que recebeu

atenção especial no Plano Estratégico 2009-2011. Inicialmente, foi constituído um

grupo temático sobre o assunto, o qual, após um estudo, estabeleceu a gestão da

inteligência como uma área de resultado.

Na sequência, foi traçada, como um dos objetivos estratégicos (Objetivo 6),

a modernização do Sistema de Inteligência, com ênfase na inteligência de segurança

pública. Segundo o plano, “a atividade de Inteligência de Segurança Pública assume

papel fundamental, porquanto deve ser um dos principais direcionadores do emprego

operacional e de obtenção de resultados” [MINAS GERAIS, 2009c]. O documento cita,

ainda:

A efetiva participação do Sistema de Inteligência no emprego racional dos recursos da Corporação objetiva subsidiar as ações policiais no sentido de produzir resultados eficientes na execução da prevenção e repressão qualificada da criminalidade e da violência. Dessa forma, os esforços de modernização do Sistema de Inteligência da PMMG visam conduzir a

Page 60: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

62

produção de conhecimentos para proporcionar suporte necessário à atividade-fim. [MINAS GERAIS, 2009c].

Quatro áreas de atuação foram delimitadas, para que fosse possível cumprir

esse objetivo estratégico, quais sejam o desenvolvimento de uma estrutura logística,

tecnológica, de recursos humanos e de gestão. Através de investimentos nessas áreas,

espera-se atender às demandas atuais, otimizar a integração das informações de

segurança pública com outros órgãos de defesa social, bem como atualizar a doutrina e

capacitação dos profissionais que atuam no SIPOM.

Por fim, foram traçadas as estratégias e ações por áreas de resultado. Nesse

momento foram estabelecidas quatro estratégias institucionais para a gestão da

inteligência.

A primeira visa aperfeiçoar a rede de captação (coleta e busca), circulação,

processamento, disseminação de informações e conhecimentos de segurança pública.

Para tanto, estabeleceu-se como necessidade o aprimoramento dos recursos humanos,

logísticos e tecnológicos, e da gestão do conhecimento no SIPOM. As ações9

correspondentes a essa estratégia são:

a) alocar os recursos humanos necessários, mediante a definição de um padrão mínimo de efetivo requerido nas agências do SIPOM, obedecendo aos critérios de distribuição científica de efetivo na PMMG;

b) dotar as agências do SIPOM de recursos logísticos, mediante a definição de um padrão mínimo requerido;

c) identificar, adquirir e desenvolver tecnologias e soluções que otimizem a coleta, busca, processamento e monitoração de informações de segurança pública;

d) implementar a rede de inteligência, visando a circulação de dados e conhecimentos, de forma segura, promovendo o acesso rápido à informação e integração das diversas agências do SIPOM;

e) produzir conhecimentos acerca de crimes vinculados à internet e crimes cibernéticos;

f) produzir/atualizar os seguintes manuais doutrinários: Fundamentos Doutrinários da Inteligência de Segurança Pública, Manual de Contra-inteligência, Manual de Operações de inteligência e Plano de Inteligência;

g) estudar a viabilidade de criação da Diretoria de Inteligência.

9Fonte: Plano Estratégico 2009-2011, item 8.2.1

Page 61: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

63

A segunda estratégia visa a estruturação, capacitação e o treinamento de

inteligência na polícia militar, aprimorando as competências para o desempenho da

atividade de Inteligência de Segurança Pública para os integrantes do SIPOM. As

ações10 correspondentes são:

a) estruturar a capacitação e treinamento de inteligência da polícia militar;

b) normatizar as atividades administrativas da capacitação e do treinamento em ISP;

c) capacitar os integrantes do SIPOM para o exercício da atividade de ISP;

d) realizar o Treinamento Policial Básico (adaptado) presencial para os chefes de Agência Regional (AR) da PMMG e para todos integrantes do SIPOM da RMBH.

e) Restruturar a atividade de inteligência nas áreas de meio ambiente e trânsito.

A terceira estratégia visa fomentar a produção integrada de conhecimentos

de ISP, citando, como exemplo, os trabalhos do Grupo de Monitoramento de

Gangues11, que divide sua atuação em três fases: a identificação/mapeamento, o

diagnóstico e o monitoramento. As ações12 correspondentes são:

a) desenvolver procedimentos específicos para analistas e agentes de busca, de modo a ampliar a produção integrada de conhecimentos de ISP;

b) produzir, de forma integrada, conhecimentos relacionados às gangues, organizações criminosas e homicídios;

c) criar subagências de inteligência nas companhias PM Especiais das Unidades da RMBH com responsabilidade territorial.

A quarta estratégia visa produzir conhecimentos de ISP, buscando a

repressão qualificada da criminalidade violenta em Minas Gerais. Tem por finalidade

proporcionar condições para ampliar qualitativamente a repressão qualificada pelos

policiais militares empregados no policiamento, através da atividade de inteligência de

segurança pública.

Por se tratar, essa estratégia, do tema central desse trabalho, os resultados

finalísticos referentes às ações traçadas serão apresentados.

10Fonte: Plano Estratégico 2009-2011, item 8.2.211Atualmente a terminologia mais adequada é quadrilha e não gangues, pois dessa forma identifica a ação desses criminosos já de acordo com a legislação penal. 12Fonte: Plano Estratégico 2009-2011, item 8.2.3

Page 62: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

64

A primeira ação visa implementar procedimentos específicos para que os

analistas e agentes de busca produzam conhecimentos relativos à criminalidade

violenta. Os resultados13 esperados são:

a) estabelecer critérios, metodologias, fluxos e indicadores para a produção de conhecimentos de ISP relativos à criminalidade violenta, até setembro (2009);

b) produzir conhecimentos de ISP relativos à criminalidade violenta incidente na RMBH e nas cidades sedes das Agências Regionais do interior, até março (2010);

c) produzir conhecimentos de ISP relativos à criminalidade violenta incidente nas cidades sedes das Agências de Área e Especiais, até dezembro (2011).

A segunda ação refere-se à ampliação do registro de infratores no Cadastro

de Vínculos Criminais (CVC), visando à sua utilização efetiva pelo policiamento. Os

resultados finalísticos14 esperados são:

a) migração de todos os registros dos diversos sistemas de cadastro de infratores existentes para o CVC até julho (2009);

b) cadastramento de infratores atuantes nos municípios, até o nível de Companhia Independente até dezembro (2009);

c) definição do modelo de relatório do CVC para difusão de conhecimentos às Unidades de Execução Operacionais (UEOp), até agosto (2009);

d) utilização do relatório de atuação de infratores, com base no CVC, por todas as sedes de (UEOp), até dezembro (2009);

e) identificação das tecnologias que possam ser agregadas ao CVC, para a melhoria de sua performance e planejamento orçamentário, até julho (2009);

f) cadastro de infratores atuantes nos demais município, até julho (2010);

g) utilização por todas as frações militares do relatório de atuação de infratores, com base no CVC, até dezembro (2010);

h) aquisição de tecnologias que possam ser agregadas ao CVC, até dezembro (2010).

Ao se observarem todas as estratégias e ações correspondentes, previstas no

Plano Estratégico 2009-2011, pode-se perceber que invariavelmente a produção de

conhecimentos de inteligência de segurança pública está sempre presente.

13Fonte: Plano Estratégico 2009-2011, item 8.2.4.114Fonte: Plano Estratégico 2009-2011, item 8.2.4.2

Page 63: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

65

Esse fato deixa clara a preocupação do segmento gestor da instituição em

concluir a passagem histórica do atual momento da inteligência, descrita na seção 4

deste trabalho, na qual a inteligência nas instituições policiais passa a focar suas ações

no combate à criminalidade.

A atenção especial à inteligência, na instituição, pode ser observada já desde

o plano estratégico anterior (2004-2007), que possui seis objetivos estratégicos para a

área, quais foram:

a) Objetivo 9, promover a formação e atualização doutrinária dos recursos humanos do SIPOM;

b) Objetivo 10, restruturar as atividades de policiamento velado na PMMG;

c) Objetivo 11, dotar as agências do SIPOM de meios e recursos tecnológicos necessários para melhor desempenho de suas missões;

d) Objetivo 12, focalizar a atividade de inteligência na prevenção e enfrentamento das condutas delitivas relacionadas à criminalidade organizada, no âmbito do Estado de Minas Gerais;

e) Objetivo 13, aperfeiçoar as formas de captação de informações na Polícia Militar;

f) Objetivo 14, fomentar a completa integração da comunidade de inteligência no Estado de Minas Gerais;

g) Objetivo 15, integrar e participar, efetivamente, da rede de inteligência das polícias militares do Brasil.

Embora com atenção especial já àquela época, o foco institucional para

atividade de inteligência, voltado para inteligência de segurança pública, aparece com

maior intensidade no plano atual. Isso por causa da crescente demanda de uma maior

especialização e profissionalismo nas ações de combate à criminalidade.

Como visto, havia apenas um dos objetivos estratégicos, no plano anterior,

que buscava remodelar o foco da atividade de inteligência, porém no combate à

criminalidade organizada (Objetivo 12). Já o atual plano possui, em todos os objetivos,

a preocupação em vincular a atividade de inteligência em ações referentes à segurança

pública, principalmente, no combate à criminalidade violenta.

Todavia, a repressão qualificada à criminalidade violenta, prevista no quarto

objetivo do atual plano, se apresenta de forma superficial, tomando-se como base os

atuais condicionantes e características desse tipo de criminalidade.

Page 64: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

66

No capítulo 3 deste estudo, na seção 3.1, foi possível desenvolver um

trabalho mais aprofundado sobre a criminalidade violenta. Naquela oportunidade,

discutiu-se sobre as características que um crime deveria possuir para ser considerado

como violento, que como visto, ao contrário do que parece, não possui uma definição

objetiva. Tal assunto, que carece de uma atenção maior, no entanto, não foi tratado pelo

atual plano.

Outro elemento importante que não foi abordado pelo plano é a relação

entre o tráfico de drogas e criminalidade violenta, estudada na seção 3.2, em que foi

possível perceber que os crimes relacionados ao tráfico e uso de drogas estão entre as

principais condicionantes de cometimento dos chamados crimes violentos.

Estruturalmente, as atribuições das agências que compõem o SIPOM,

também, não estão bem definidas de acordo com o objetivo de repressão qualificada da

criminalidade violenta.

No atual contexto, com a criação da Diretoria de Inteligência, percebe-se um

ambiente favorável ao estabelecimento de diretrizes para as agências, devendo-se

atentar, no entanto, que, sendo o SIPOM um dos maiores sistemas de inteligência no

país, deve haver um processo rigoroso de distribuição de tarefas e controle do fluxo de

informações, para que o sistema consiga produzir o máximo de seu potencial, sem que

haja sobreposições de tarefas.

Percebe-se, portanto, que as estratégias e ações do Plano Estratégico 2009-

2011 tratam-se de um início de procedimentos, que devem ser aprofundados, passando-

se por um estudo maior, sobre o que se considera criminalidade violenta, quais são suas

condicionantes, como essas podem ser reprimidas de forma qualificada e quais são as

atribuições das agências que compõem o SIPOM, dentro desse contexto.

É oportuno, ainda, citar que no ano de 2006, além do plano estratégico

vigente, foi elaborado o Plano de Ação Estratégica de Inteligência (PAEI), que orienta

suas ações para a inserção do setor de inteligência de acordo com o atual momento

histórico da atividade, dentro de três eixos principais: organização e gestão,

modernização tecnológica e capacitação, conforme comenta:

Page 65: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

67

Em 2006 foi elaborado o Plano de Ação Estratégica de Inteligência (PAEI), fundamentado em três eixos: organização e gestão, modernização tecnológica e capacitação. O PAEI teve por concepção a busca do aprimoramento da atividade de Inteligência de Segurança Pública na Corporação, sob o enfoque da polícia ostensiva orientada pela Inteligência. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010, grifo nosso]

Esse plano de ação, doutrinariamente, dá início a uma nova fase da

atividade de inteligência na PMMG, preparando o ambiente institucional para a

reforma, não somente do sistema de inteligência, mas do processo de gestão policial, em

que as ações e operações passam a ser direcionadas pelas agências de inteligência, com

foco no combate à criminalidade.

Page 66: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

68

6 ATUAÇÃO DO SIPOM NO COMBATE À

CRIMINALIDADE VIOLENTA

O atual momento histórico, ratificado pelas diretrizes trazidas pelo plano

estratégico vigente na PMMG, apontam para um novo momento da inteligência, quando

esta passa a assumir um papel de destaque no cenário da segurança pública.

Nesta seção, será feito o estudo de um modelo de atuação do SIPOM, no

combate à criminalidade violenta no Estado, apresentando-se, inicialmente, uma nova

teoria de policiamento, com base nos serviços de inteligência e, posteriormente,

contextualizando tal teoria com os conceitos já elencados por este trabalho.

6.1 Policiamento orientado pela inteligência

Surgiu, nesta década, um novo modelo de policiamento, que vem ganhando

grande destaque entre as forças policiais no mundo, principalmente no Estados Unidos,

após os atos terroristas de 11 de setembro de 200115.

Tal modelo, conhecido por intelligence-led policing, pode ser traduzido para

o português como policiamento de inteligência ou, de forma mais semântica,

policiamento orientado pela inteligência. Trata-se de um modelo de policiamento que

acompanha o atual papel histórico da inteligência interna, com o foco voltado para as

ações de segurança pública, especialmente no combate à criminalidade.

A principal fonte utilizada para o estudo desse modelo de policiamento é o

artigo Intelligence-Led Policing: The New Intelligence Architecture, do publicado pelo

U.S Department of Justice (Departamento de Justiça dos Estados Unidos), pois trata-se

15 Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, chamados também de atentados de 11 de setembro de 2001, foram uma série de ataques suicidas contra alvos civis no Estados Unidos, perpetrados em 11 de setembro de 2001 e atribuídos à organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Fonte: Wikipédia, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.phptitle= ataques_de_setembro_de_11_de_setembro_de_2001&oldid=19386091>. Acesso em: 01 mar. 2010.

Page 67: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

69

do documento mais completo encontrado, que apresenta a descrição do modelo,

inclusive com os passos que as instituições policiais devem adotar para implementar

esse tipo de policiamento.

Nos EUA e em alguns países europeus, além do foco criminal, a teoria

adaptou as ações também ao combate ao terrorismo, devido à demanda específica

desses países.

A origem desse modelo possuiu suas primeiras experiências na Grã-

Bretanha, mais especificadamente na Polícia de Kent, surgindo como resposta ao

aumento dos crimes contra o patrimônio na cidade, principalmente, os crimes de furto e

de roubo de veículos. Para a polícia local, havia a crença de que um pequeno número de

criminosos seria responsável por um grande número desses delitos, construindo-se a

ideia de focar as ações policiais nesses criminosos específicos, através de um trabalho

de inteligência criminal.

O modelo parte de alguns princípios de atuação, dentre os quais, pode-se

citar:

a) a melhoria na qualidade das operações de inteligência ajuda a polícia a responder de forma mais eficaz aos crimes;

b) a prevenção do crime deve ser baseada na coleta de informações de origem e analise dos delitos. Para a colocação em prática do modelo, no entanto, é preciso que não só os

integrantes dos sistemas de inteligência modifiquem sua forma de atuação. A formação

de todos os profissionais é a chave para a mudança. Isto porque a recente ênfase no

papel da inteligência revelou que muitas pessoas envolvidas na aplicação da lei não

compreendem plenamente a função da inteligência e aquilo que ela pode realizar. Este

equívoco, segundo os idealizadores do policiamento orientado pela inteligência, seria o

maior entrave para a aplicação do modelo.

Essa dificuldade de compreensão, atualmente, já vem sendo trabalhada pela

PMMG, com vistas a minimização de seus efeitos, principalmente, para os

comandantes, nos diversos níveis institucionais, como apresentado abaixo:

Há uma dificuldade de compreensão do modelo na medida em que determinados comandantes desconhecem as funções exercidas pela atividade

Page 68: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

70

de Inteligência de Segurança Pública. Todavia, é diferente dizer que os comandantes não estão preparados para aplicar o modelo de policiamento. Existe uma estrutura de inteligência na PMMG, com uma doutrina sólida, que os comandantes têm à sua disposição. Ressalta-se a criação de um Centro de Treinamento que se ocupa da capacitação de gestores, analistas e agentes de busca com a finalidade de implementar e difundir uma doutrina voltada para o policiamento orientado pela inteligência. A aplicação do modelo passa por uma conscientização e o principal motivador da sua ação são os resultados alcançados com a adoção do modelo. [GERENTE DO SIPOM, nível estratégico, 2010]

Para os formadores dessa teoria, a prevenção à criminalidade ocorreria

através das informações analisadas dos delitos anteriores e dos indicadores estatísticos

das áreas de atuação, quando, então, os analistas poderiam até mesmo antecipar as

tendências criminais da região e as agências, em conjunto com o policiamento local,

poderiam realizar medidas preventivas para intervir ou mitigar o impacto dos crimes.

Segundo os idealizadores, essa forma de policiamento poderia, inclusive, ser

adaptada ao modelo de policiamento orientado para a resolução de problemas,

idealizado por Herman Goldstein, o qual é muito utilizado pelas polícias no mundo.

Uma das ferramentas utilizadas para a solução de problemas seria o método IARA, que

possui em sua composição quatro fases: identificação, análise, resposta e avaliação. A

adaptação poderia ser feita conforme o quadro que se segue:

QUADRO 5

Adaptação ao método de resolução de problemas IARA e modelo de policiamento orientado pela inteligência

FASES MÉTODO IARA POLICIAMENTO ORIENTADO PELA INTELIGÊNCIA

1ª Fase Identificação Coleta e busca de informações criminais

2ª Fase Análise Análise das informações

3ª Fase Resposta Aplicação de estratégias com base no conhecimento construído

4ª Fase Avaliação Avaliação do processo de construção do conhecimento e dos resultados alcançados

Fonte: artigo Intelligenc-Led Policing: the new intelligence arthitecture.

Para que o modelo de policiamento possa ser aplicado às diversas realidades

policiais existentes, é preciso que se faça uma análise sobre o nível em que a agência de

inteligência se encontra. Segundo a teoria, existem quatro níveis de agências.

Page 69: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

71

Nível 1 é o mais alto que existe, porém o mais raro. Segundo a classificação,

essas agências produzem conhecimentos em nível tático e estratégico, que beneficiam a

própria agência, bem como outras que tenham a necessidade de conhecer. Possuem em

sua estrutura um gerente de inteligência, agentes secretos e analistas.

No nível 2, produz-se conhecimentos nos níveis tático e estratégico, porém

voltados prioritariamente para o consumo interno da instituição. Usa-se a inteligência

para apoiar investigações e operações, sendo que em sua maior parte, conduz as

operações de forma independente e somente, às vezes, atua como força tarefa,

integrando os esforços. Essas agências podem até ter um banco de dados acessível a

outros departamentos, mas não se costuma designar pessoal para fornecer produtos de

inteligência para outras agências. Possui, em sua estrutura, unidades de inteligência,

gerente, analistas e agentes.

As agências de nível 3 são citadas como sendo o tipo mais comum. Podem

desenvolver produtos de inteligência interna, porém são mais propensas a utilizar o

conhecimento produzido por outras agências (nível 1 e 2). Possuem analistas,

geralmente possuem agentes, porém esses são em pequeno número.

No nível 4 pode-se não produzir conhecimento ou uso de análise de

inteligência, geralmente opera-se num nível básico de análise. Não possuem agentes e

podem ou não possuir analistas. Geralmente captam informações através de coleta.

Comparando-se essa classificação com a estrutura das agências do SIPOM,

pode-se observar:

a) Agência Central estaria classificada no nível 2;b) Agências Regionais e Regionais Especiais estariam classificadas de forma

intermediária entre os níveis 2 e 3; c) Agências de Área e Especiais estariam classificadas no nível 3;d) Subagências de Inteligências e Núcleos de Inteligência estariam

classificadas no nível 4.Diante dessa classificação, seria possível estabelecer os passos básicos que

uma agência deveria seguir para desenvolver uma inteligência criminal (nesse ponto,

essas ações devem ser levadas em consideração, tomando-se como base todo o sistema

Page 70: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

72

de inteligência da PMMG, que estaria classificado no nível 2, e não suas agências em

separado):

a) criar um ambiente apropriado, que inclui a obtenção do apoio do gestor executivo, suporte político e orçamentário, e educação das agências e da comunidade sobre os benefícios da inteligência criminal;

b) estabelecer uma unidade de inteligência criminal, voltada para a prevenção da criminalidade;

c) desenvolver a missão da agência focada nas atividades criminais;d) selecionar pessoal adequado, incluindo analista treinado;e) obter instalações seguras para as agências;f) estabelecer procedimentos de contra-inteligência (planos de segurança);g) propiciar a formação adequada para gestores, analistas e agentes;h) estabelecer ligações com as agências vizinhas, para compartilhar o

conhecimento, quando necessário;i) estabelecer critérios de avaliação das operações e do conhecimento

produzido. O documento16 traz, ainda, algumas perguntas básicas para auxiliar nesse

processo de avaliação:a) o que foi aprendido?b) como foi feita a produção do conhecimento?c) poderia ter sido feita de forma melhor?d) deve haver mudança nos esforços de produção?e) as informações foram fornecidas para o pessoal de outras agências?f) os relatórios dos agentes foram tratados de forma adequada?

Porém, antes de se adotarem esses passos básicos, seria necessário que o

sistema de inteligência realizasse ações preparatórias, sobre áreas críticas, que

construirão um ambiente favorável ao estabelecimento de uma policiamento orientado

pela inteligência, quais sejam:

a) construir parcerias mais fortes entre a polícia e a comunidade;

b) combinar inteligência estratégica e planejamento de polícia;

c) instituir o compartilhamento de informações públicas;

d) construir um suporte analítico para as agências de inteligência.

16Intelligence-Led Policing: The New Intelligence Architecture. Disponível em: <http://www . ncjrs.gov/pdffiles1/bja/210681.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2010.

Page 71: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

73

A gestão de operações, também, deve obedecer uma metodologia específica

de padronização de procedimentos, que podem ser descritos como:

a) procurar formas de aumentar o compartilhamento de esforços para a inteligência e promover o compartilhamento de informações, através da participação em forças-tarefa estadual, regional ou federal;

b) implementar uma declaração de missão para o processo de inteligência dentro da agência;

c) definir a gestão e supervisão das operações de inteligência;

d) selecionar pessoal qualificado para ser utilizado nas operações;

e) estabelecer procedimentos de proteção do conhecimento para o funcionários e usuários do sistema, para garantir que as instalações sejam seguras e para proteger o acesso ao sistema ou rede;

f) assegurar a formação adequada para todo o pessoal ou integrantes do processo de inteligência;

g) assegurar que a privacidade dos indivíduos e os direitos constitucionais serão considerados em todos os momentos;

h) apoiar o desenvolvimento de produtos analíticos de inteligência;

i) implementar um sistema de divulgação de informações de forma adequada;

j) implementar políticas e procedimentos de um manual, que devem estabelecer a responsabilidade da agência para o funcionamento da inteligência, e devem instituir políticas e procedimentos em todos os aspectos do processo de inteligência;

k) promover uma política de abertura ao se comunicar com o público e outras partes interessadas sobre o processo criminal, isto quando não afetar a integridade do processo.

A respeito desse modelo de policiamento, comenta-se, ainda, que:

É um modelo de policiamento que traz cientificidade e consequentemente a eficácia na prestação de serviços de Segurança Pública. Sendo utilizado corretamente, faz com que as organizações se profissionalizem e apresentem resultados eficazes. [GERENTE DO SISPOM, nível estratégico, 2010]

Em outras palavras, desenvolver um policiamento orientado pela

inteligência significa direcionar o sistema de inteligência da instituição policial para a

produção de conhecimentos com foco na criminalidade, sendo que, a partir de então, as

estratégias, ações e operações policiais devem estar voltadas para a prisão dos alvos e

organizações estabelecidos, o que trará como consequência a redução da criminalidade.

Page 72: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

74

6.2 Atuação do SIPOM no combate à criminalidade violenta

Com base nos estudos já apresentados, é possível descrever uma série de

ações a serem desenvolvidas pelo Sistema de Inteligência da Polícia Militar, no que se

refere à inteligência tática, que estão inseridas dentro dos conceitos de repressão

qualificada da criminalidade, repressão ao tráfico de drogas e ações do Plano

Estratégico institucional.

A partir dessas ações será possível correlacioná-las com as agências que

compõem o SIPOM, dentro de cada nível institucional (estratégico, tático e

operacional). Quando, então, pode-se criar um padrão de gestão da inteligência, com

foco nas ações criminais, em atendimento às diretrizes oriundas do plano estratégico

institucional e de acordo com o modelo de policiamento orientado pela inteligência.

Dessa forma podem-se citar como ações a serem desenvolvidas pelo

SIPOM, no que diz respeito à repressão ao tráfico de drogas, de acordo com as fases de

produção, distribuição, transporte, armazenamento e comércio, aquelas:

a) por intermédio do método sistemático ou;

b) pela ação repressiva inteligente.

Seguem ações referentes à repressão qualificada da criminalidade, trazidas

pela Diretriz 3.02.01/2009, que trata da gestão das operações com qualidade pela

PMMG:

a) identificação de criminosos contumazes e grupos de infratores;

b) monitoramento das atividades de gangues e quadrilhas, buscando o conhecimento dos seus líderes e integrantes, modo de atuação, local de homízio, grau de periculosidade e forma de destinação dos dividendos conseguidos com a ação criminosa;

c) produção de conhecimentos de inteligência de segurança pública para preceder a operações policiais;

d) participação efetiva das agências de inteligência no planejamento de operações policiais, visando a identificação e mapeamento de cidadãos infratores, atuantes em zonas quentes de criminalidade;

Page 73: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

75

e) identificação e monitoramento de gangues e outras estruturas criminosas, buscando conhecer a rede de vínculos criminais, de forma a compreender o fenômeno e combater os principais grupos criminosos atuantes;

f) otimização das informações sobre cidadãos infratores incluídos no cadastro de vínculos criminais (CVC);

g) otimização dos esforços de captação e averiguação de denúncias que interfiram diretamente na atividade do policiamento ostensivo;

h) integração com as agências de inteligência de organismos externos para propiciar a troca de informações acerca de cidadãos infratores;

i) monitoramento dos locais de maior incidência criminal;

As ações traçadas pelo Plano Estratégico 2009-2011, para a área de

inteligência, que dizem respeito à inteligência tática, são:

a) produzir conhecimentos de inteligência de segurança pública relativos à criminalidade violenta incidente na região metropolitana de Belo Horizonte e nas cidades sedes das Agências Regionais;

b) produzir conhecimentos de inteligência de segurança pública relativos à criminalidade violenta incidentes na agências sedes de Agências de Área e Especiais;

c) migração de todos os registros de diversos sistemas de cadastro de infratores existentes para o Cadastro de Vínculos Criminais (CVC);

d) cadastrar de infratores atuantes nos municípios até o nível de Companhia Independente;

e) cadastrar infratores atuantes nos demais municípios;

Dessa forma, pode-se estabelecer um modelo de atuação do SIPOM, na

repressão qualificada da criminalidade violenta, através da inteligência tática, de acordo

com o nível estratégico institucional, conforme pode ser observado nos diagramas

abaixo, FIG. 1, 2 e 3.

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76

FIGURA 1 Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível estratégico do Sistema

de inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais (Diretoria de

Inteligência), na repressão qualificada da criminalidade violenta, através da

inteligência tática.

Page 75: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

77

FIGURA 2 Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível tático (Agências

Regionais e Agências de Regionais Especiais), na repressão qualificada da

criminalidade violenta através de inteligência tática.

Page 76: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

78

FIGURA 3 Diagrama de ações a serem desenvolvidas pelo nível operacional (Agências

de Área, Agências Especiais, Subagências de inteligência e Núcleos de

inteligência), na repressão qualificada da criminalidade violenta, através da

inteligência tática.

Page 77: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

79

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para responder à indagação apresentada como problema de pesquisa, foi

estabelecido a seguinte hipótese: as agências que compõem o SIPOM devem orientar

suas ações para a produção de conhecimentos de inteligência de segurança pública,

voltadas à repressão qualificada da criminalidade violenta, através da inteligência tática,

determinando competências para seus órgãos, para que estes atuem de forma sistemática

ou exploratória, de acordo com seu nível institucional. Para tanto, devem adaptar sua

forma de trabalho, no que tange ao direcionamento das ações e operações policiais, ao

modelo de policiamento orientado pela inteligência.

A hipótese apresentada, de acordo com a pesquisa feita, foi comprovada,

uma vez que, por intermédio do estudo dos conceitos, de repressão qualificada, de

repressão ao tráfico de drogas, pelo método repressivo sistemático ou ação repressiva

inteligente e das diretrizes institucionais trazidas pelo Plano Estratégico 2009-2011, foi

possível identificar a forma de atuação do SIPOM no combate à criminalidade violenta

no Estado, sendo, inclusive, elaborado um diagrama de ações para cada nível

institucional, para que as agências integrantes do SIPOM desenvolvam suas operações

de acordo com sua capacidade. Sendo que, preferencialmente, devem ser desenvolvidas

operações sistemáticas pelo nível estratégico, operações sistemáticas ou exploratórias

pelo nível tático e operações exploratórias pelo nível operacional.

Nesse momento, cumpriu-se o objetivo geral da pesquisa, quando foram

identificadas as ações que devem ser realizadas pelas agências, em todos os níveis

institucionais, para que seus órgãos atuem de forma eficiente, na repressão qualificada

da criminalidade violenta no Estado, utilizando-se da inteligência tática.

No decorrer da pesquisa foi estabelecida a vinculação dos delitos integrantes

do índice de criminalidade violenta com os crimes relacionados ao tráfico e uso de

drogas, tipificados pela Lei 11.343/2006, do que conclui que a elaboração de políticas

públicas e estratégicas institucionais para o controle da criminalidade violenta deve,

Page 78: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

80

necessariamente, abordar ações com vistas a repressão e prevenção ao tráfico e uso de

drogas.

Quando do estudo do modelo de policiamento orientado pela inteligência,

conclui-se que sua aplicabilidade por parte da Polícia Militar de Minas Gerais

apresenta-se viável, sendo que a instituição demonstrou que já vem adotando os passos

necessários para sua implantação, tanto no que se refere à gestão da estrutura

organizacional, mediante a criação da Diretoria de Inteligência, como também, à

capacitação dos integrantes do SIPOM, principalmente, por intermédio da criação do

Centro de Treinamento de Inteligência da Polícia Militar.

Dessa forma, com adoção de ações específicas, dentre as quais cita-se os

procedimentos apresentados nos diagramas descritos na seção 6.2, o SIPOM atuará de

forma eficiente e modificará a forma de atuação da PMMG, quando, as ações e

operações policiais passarão a ser direcionadas pelo setor de inteligência, explorando,

ao máximo, as potencialidades das agências de inteligência da instituição.

Page 79: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

81

REFERÊNCIAS

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2. ATAQUES de 11 de setembro de 2001. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.phptitle=Ataques_de_11_de_setembro_de_2001&oldid=19386091>. Acesso em: 01 mar. 2010.

3. BEATO F. Cláudio Chaves; REIS, Ilka Afonso. Desigualdade, desenvolvimento socioeconômico e crime. [s.l.], [20--]. Disponível em: <www.crisp.ufmg.br/desigualdade.pdf> Acesso em: 04 jan. 2010.

4. BEATO FILHO, Claudio Chaves. et al. Conglomerados de homicídios e o tráfico de drogas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1995 a 1999. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: <www.crisp.ufmg.br/tdbh.pdf> Acesso em: 21 dez. 2009.

5. BRASIL. Lei 9.883, de 07 de dezembro de 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, e dá outras providências. Brasília, 1999a.

6. __________. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Brasília, 2007b.

7. __________. Código Penal brasileiro, Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Rio de Janeiro, 1940c.

8. __________. Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006. Lei nacional antidrogas. Brasília. 2006d.

9. __________. Decreto 17.999, de 29 de novembro de 1927. Rio de Janeiro, 1927e.

10. __________. Lei Federal 4.341, de 13 de junho de 1964. Cria o Serviço Nacional de Informações. Brasília, 1964f.

11. __________. Lei Federal 8.490, de 19 de novembro de 1992. Dispõe sobre a organização da Presidência da República dos Ministérios e dá outras providências. Brasília, 1992g.

12. __________. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. Rio de Janeiro, 1946h.

13. __________. Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967. Brasília, 1967i.

14. __________. Decreto Lei 317, de 13 de março de 1967. Reorganiza as Polícias e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Dos Territórios e do Distrito Federal e da outras providências. Brasília, 1967j.

Page 80: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

82

15. __________. Emenda Constitucional Nº 1, de 17 de outubro de 1969. Brasília, 1969k.

16. __________. Decreto Lei 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e Distrito Federal, e da outras providências. Brasília, 1969l.

17. __________. Decreto 66.862, de 8 de julho de 1970. Aprova o Regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (r-200). Brasília. 1970m.

18. __________. Decreto 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, e dá outras providências. Brasília, 2000n.

19. CARDOSO, Wilson Chagas. O papel do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais no combate ao crime organizado. 2008. Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, 2008.

20. CENTRO BRASILEIRO DE DROGAS PSICOTRÓPICAS – CEBRID. Universidade Federal de São Paulo. Botucatu, [2009?].

21. CEPIK, Marco A.C. Espionagem e democracia. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003. 232 p.

22. CHOQUE de gestão. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Choque_de_Gest%C3%A3o&oldid=19289471>. Acesso em: 20 fev. 2010.

23. CLARET, Martin. A arte da guerra. São Paulo: Martin Claret, 2005.

24. COUTO, Marcelo Augusto. Investigação policial e inteligência policial. 2008. Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública) – Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, 2008.

25. DROGA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2009. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Droga&oldid=18090022>. Acesso em: 26 dez. 2009.

26. McDOWELL, Don. Strategic intelligence: a handbook for practitioners, Managers, and Users. [s.l.]. 2009. 272 p.

27. MINAS GERAIS. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Apostila de atividade de inteligência CFO – CHO/2009. Belo Horizonte. 2009a.

28. __________. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública 01/2002 (DPSSP 01/2002). Belo Horizonte, 2002b.

29. __________. Polícia Militar. Comando-Geral. M663p – Plano Estratégico – CG: Planejamento Estratégico da PMMG, para vigência no período de 2009-2011. Belo Horizonte: Comando Geral, Assessoria da Gestão para Resultados, 2009c.

Page 81: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

83

30. __________. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Estado Maior da Polícia Militar. Memorando 34.598.4/2001/EMPM: Classificação dos Crimes Violentos. Belo Horizonte: Estado Maior, 27 de dezembro de 2001d.

31. __________. Polícia Militar. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Comando Geral. Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública Nr 03/2002: regula a atuação da PMMG na prevenção ao uso e tráfico de drogas. Belo Horizonte, 26 de agosto de 2002e.

32. __________. Polícia Militar. Comando-Geral. Diretriz nº 3.02.01/2009-CG. Regula procedimentos e orientações para a execução com qualidade das operações na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Comando-Geral, 3ª Seção do Estado Maior da PMMG, 2009f.

33. __________. Polícia Militar de Minas Gerais. Resolução 3553, de 22 de dezembro de 2000. Cria Provisoriamente a Corregedoria de Polícia Militar. Belo Horizonte, 2000g.

34. __________. Polícia Militar de Minas Gerais. Resolução 4.062, de 13 de janeiro de 2010. Belo Horizonte, 2010h.

35. __________. Polícia Militar de Minas Gerais. Plano Estratégico 2004-2007. Belo Horizonte: Comando Geral, 2003i, p.93.

36. __________. Decreto 11.636, de 29 de janeiro de 1969. Aprova o Regulamento Geral da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e dá outras providências. Belo Horizonte, 1969j.

37. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Conceitos básicos de segurança pública. Brasília, [20--]. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/data/Pages/.htm>. Acesso em: 01 out. 2009.

38. OLIVEIRA, Ary José Lage de. Conflito aparente de atribuições entre autoridades policiais das polícias militares e polícias civis na repressão imediata. Jus Navegandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3754>. Acesso em: 22 out. 2010.

39. PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: IV JORNADA JURÍDICA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – AUDITORIA DA 4ª CJM, 30 set. 2005, Juiz de Fora/MG. Disponível em: <http://www.advogado.adv.br.>. Acesso em: 26 abr. 2009.

40. U.S. DEPARTMENT OF JUSTICE. Intelligence-Led Policing: the new intelligence architecture. New Realites: Law Enforcement in the Post-9/11 Era. Washington, 2005. Disponível em: <http://www.ncjrs.gov/pdffiles1/bja/210681.pdf> Acesso em: 21 jan. 2010.

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84

APÊNDICE – TERMO DE ENTREVISTA

Esta pesquisa faz parte do trabalho monográfico, para a obtenção do título

de especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, conferido

pela Fundação Escola Superior do Ministérios Público de Minas Gerais, FESP-MG.

O trabalho garante ao entrevistado total reserva de seus dados pessoais, que

será identificado apenas como “um dos dirigentes do nível estratégico do Sistema de

Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais”.

TEMA

A atuação do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais, na

repressão qualificada da criminalidade violenta no Estado, através da inteligência tática.

OBJETIVOS

PRINCIPAL

Obter informações do entrevistado sobre o tema: “Atuação do Sistema de

Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais na repressão qualificada da

criminalidade violenta, através da inteligência tática”

SECUNDÁRIOS

Determinar a opinião do entrevistado sobre o tema.

Page 83: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

85

Descobrir a viabilidade dos planos de ação propostos pelo estudo.

TIPO DE ENTREVISTA

Despadronizada ou não-estruturada, através de entrevista focalizada, ou

seja, seguirá um roteiro de tópicos relativos ao problema em estudo.

PERGUNTAS

1 - Na opinião do entrevistado, o que se compreende como atividade de

inteligência de segurança pública, e inteligência tática?

RESPOSTA: Atividade de Inteligência de Segurança Pública é o exercício

permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento

e avaliações de ameaças reais ou potenciais na esfera da segurança pública, basicamente

orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os

governos federal e estaduais na tomada de decisões, para o planejamento e à execução

de uma política de segurança pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e

reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública

(DNISP/2009).

Entende-se como inteligência em nível tático, a atividade de inteligência

realizada através do exercício permanente e sistemático de ações especializadas

direcionadas à produção e salvaguarda de conhecimentos, em observância às diretrizes

de Inteligência emanadas pelo Comando-Geral, para o planejamento e à execução de

ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer

natureza ou atentatórios à ordem pública.

2 – Quais são as diferenças entre atividade de inteligência e investigação

policial?

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86

RESPOSTA: A diferença entre inteligência policial e investigação policial

é, em regra, mais teórica do que prática, uma vez que ambas lidam, invariavelmente,

com os mesmos objetos: crime, criminosos, criminalidade e questões conexas.

A distinção entre os conceitos começa na medida em que se observa o

campo de atuação e o propósito a que se constituem cada uma delas. A primeira se

presta basicamente à produção de conhecimento de Segurança Pública para o auxílio à

tomada de decisão da autoridade ou redirecionamento de suas políticas, possuindo um

ciclo próprio de processamento da informação voltado para antecipação de fatos ou

situações. Já a investigação policial trata da coleta de indícios e provas para

esclarecimento de determinado fato delituoso já ocorrido, cujo evento criminal pode

demandar diligências que culminem inclusive na prisão de infratores.

Um aspecto relevante é que, enquanto a investigação policial está orientada

pelo modelo de persecução penal regulado pela norma processual, visando a obtenção

de evidências, indícios e provas da materialidade e autoria do crime, a Inteligência de

Segurança Pública atua preventiva e repressivamente com vistas a produção de

conhecimento.

Cabe observar que, eventualmente, a atividade de Inteligência subsidia a

produção de provas. Nesse caso, o sigilo, em caráter excepcional, ficará mitigado ao

fornecimento de elementos probatórios, devendo os profissionais de inteligência

valerem-se dos procedimentos e limites estabelecidos na legislação aplicável.

3 – Doutrinariamente, as operações de inteligência classificam-se como

sistemáticas ou exploratórias. É possível definir esses dois termos? Caso positivo,

de que maneira?

RESPOSTA: Há dois tipos básicos de Operação de ISP: a exploratória e a

sistemática

Operações Exploratórias são as utilizadas, normalmente para cobrir

eventos e levantar dados específicos, em curto prazo. Visa o atendimento à necessidade

imediata de um conhecimento específico sobre determinado assunto.

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87

Operações Sistemáticas são utilizadas, normalmente, para acompanhar,

metodicamente, as atividades de pessoas, organizações, entidades e localidades.

Prestam-se, particularmente, para o acompanhamento das facções criminosas, a

neutralização de suas ações e a identificação de seus integrantes. Visa a atualização

constante e detalhamento de estruturas, atividades e ligações criminosas. São

particularmente aptas para o levantamento das atividades futuras do alvo.

4 – Como evoluiu a atividade de inteligência da Polícia Militar de Minas

Gerais ao longo do tempo?

RESPOSTA: As Polícias Militares no BRASIL sempre atuaram em

observância aos princípios doutrinários e técnicos, embasados em caráter

eminentemente militar. A estruturação organizacional, o treinamento, a distribuição do

efetivo, as designações de postos e graduações e mesmo os aquartelamentos

assemelhavam-se aos padrões fixados pelo EXÉRCITO BRASILEIRO.

A PMMG não diferia dos demais corpos militares, pois desde sua criação,

em 09 de junho de 1775, recebeu do Governador, D. ANTÔNIO DE NORONHA, as

atribuições de cunho policial e militar.

No que se referia à sua natureza policial, desenvolvia esforços para impedir

o contrabando do ouro e escoltar o seu transporte até o RIO DE JANEIRO. Mas, por

inúmeras vezes, foi convocada e teve seu efetivo disponibilizado para a luta em batalhas

internas e externas, demonstrando modelo e caráter tipicamente militar.

Nas primeiras décadas do século XX, surgiram, de forma restrita, pequenas

células voltadas para levantamentos dos problemas evidenciados pelos integrantes das

forças policiais militares.

Com a criação do SNI (1964), a atividade de inteligência ganhou força e, no

âmbito da PMMG, um processo de profissionalização, com a introdução de novos

métodos e técnicas de trabalho disponibilizados pelo SISNI. Nessa época, caracterizada

por violentas ações das guerrilhas rurais e urbanas, compostas por radicais de esquerda

que não aceitavam o regime ditatorial, passou-se a estabelecer conexões com os

Page 86: Inteligência da PM na repressão qualificada à criminalidade violenta

88

governadores dos estados, com empresas privadas e com as administrações municipais,

com a finalidade de intensificar a coleta de informações de interesse para a Segurança

Nacional.

Na década de 60, o Estado-Maior da PMMG achava-se estruturado em

quatro seções:

a) G1 - Pessoal;

b) G2 - Informações;

c) G3 - Operações; e

d) G4 - Logística.

A G2, conforme descreve o Regulamento Geral da Polícia Militar de Minas

Gerais (RGPM), aprovado pelo decreto nº 11636, de 29 de janeiro de 1969, se constituía

de:

a) Chefia;

b) Subchefia e Subseção Administrativa;

c) Subseção de Buscas;

d) Subseção de Segurança Interna;

e) Subseção de Contra-Informações;

f) Subseção de Investigações;

g) Gabinete de Identificação da Polícia Militar (GIPM).

Havia ainda, de igual forma, nas Unidades da Polícia Militar, as Segundas

Seções, denominadas S2, encarregadas da elaboração e supervisão das medidas de

informação e contra-informação.

Através da lei n° 6624 (Lei de Organização Básica), de 18 de julho de 1975,

a segunda seção, passou a ser denominada PM2.

Com o objetivo de estabelecer normas gerais para planejamento,

coordenação, execução e controle da atividade de inteligência desenvolvida pelo

SIPOM, de forma a torná-lo eficaz e padronizado, foi aprovado o Manual de

Informações (Resolução n° 1.027/82), o Plano de Informações (Resolução n° 963/81) e

o Manual de Agente de Informações (Resolução n° 578/78).

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A década de 90 foi um período de poucos investimentos no SIPOM,

acarretando prejuízos para a atividade de inteligência na PMMG, sendo retomado o

processo de modernização a partir do ano de 2000.

Em 2006 foi elaborado o Plano de Ação Estratégica de Inteligência (PAEI),

fundamentado em três eixos: organização e gestão, modernização tecnológica e

capacitação. O PAEI teve por concepção a busca do aprimoramento da atividade de

Inteligência de Segurança Pública na Corporação, sob o enfoque da polícia ostensiva

orientada pela Inteligência.

Nessa busca contínua pela modernização, a PM2 foi reorganizada nos anos

de 2007 a 2009, ampliando-se assessorias, administração e criando-se o NÚCLEO DE

TREINAMENTO DE INTELIGÊNCIA17, passando a ser responsável pelo treinamento

dos profissionais de inteligência no SIPOM.

Da necessidade de se separar atividades de Inteligência Estratégica e

Inteligência Tática até então exercidas pela PM2, em 13 de janeiro de 2010 foi criada a

DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA (Resolução 4062/10) que, dentre outras atribuições,

passou a ser a Agência Central do SIPOM.

Além da estrutura interna, a DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA passou a

coordenar as atividades de Inteligência exercidas por policiais militares em órgãos

externos à PMMG, sendo os seguintes:

a) Gabinete Integrado de Segurança Pública (GISP);

b) Grupo de Combate às Organizações Criminosas em Minas Gerais (GCOC/MG);

c) Disque Denúncia Unificado (DDU);

d) Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos (CGCC).

5 - A classificação de um delito como crime violento, segundo o

Memorando 34.598.4/2001, cita que um crime para caracterizar-se como violento,

este deve possuir alto poder ofensivo e reflexos negativos junto a população, no que

se refere à construção de um ambiente de tranquilidade pública. O referido

17 Criado pela Resolução 4031, de 29 de junho de 2009, com retroação a 09 de Março de 2009.

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Memorando é a norma institucional de determina quais os crimes serão

considerados violentos, que ao serem estudados não apresentaram um padrão para

uma definição objetiva, deixando de fora por exemplo o crime de extorsão (que

possui o uso da violência em seu tipo penal) e incluindo o crime de sequestro e

cárcere privado (que não possui o uso da violência como elemento normativo do

tipo).

Esse método subjetivo de classificação prejudica a adoção de políticas e

estratégias para o combate à criminalidade violenta?

RESPOSTA

Como em qualquer organização, a PMMG deve focar seu trabalho em ações

específicas. No caso dos crimes violentos, adotou-se um rol de crimes pelos quais

devem ser adotadas medidas específicas para o problema. Assim, observa-se que é

necessário ter uma norma específica que traga subsídios para a adoção de estratégias e

acredita-se que a classificação seja útil para tornar mais fácil a identificação de crimes

que tenham maior comoção social. Todavia, toda norma pode ser revista e no caso da

extorsão, seqüestro (sic) e cárcere privado, tais crimes podem entrar na classificação

adotada, após análise do Estado-Maior, tal como ocorreu com o crime de latrocínio, que

foi incluída posteriormente.

6 - Qual é a opinião do entrevistado sobre a vinculação dos delitos

relacionados ao uso e principalmente ao tráfico de drogas com os crimes violentos?

RESPOSTA: É válida a vinculação do tráfico de drogas com os crimes

violentos, principalmente o homicídio e roubo. Diariamente registra-se casos de

homicídio em que a motivação se dá pelo envolvimento do autor ou da vítima com o

tráfico de drogas.

7 - O que o entrevistado entende sobre repressão qualificada da

criminalidade?

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RESPOSTA: Define-se a repressão qualificada como um conjunto de

medidas adotadas por órgãos policiais com o objetivo de prevenir e reprimir crimes de

forma focalizada, mediante a utilização da análise criminal e da Inteligência de

Segurança Pública na produção de conhecimentos, visando resultados pontuais,

objetivos e eficientes.

8 - O Plano Estratégico 2009 – 2011, traz em sua estratégia 8.2.4

“produzir conhecimentos de Inteligência de Segurança Pública visando a repressão

qualificada da criminalidade violenta em Minas Gerais”. Porém, nas ações

correspondentes cita apenas: implementar procedimentos específicos para que os

analistas e agentes de busca produzam conhecimentos relativos à criminalidade

violenta;ampliar o registro de infratores no Cadastro de Vínculos Criminais

(CVC) visando à sua utilização efetiva pelo policiamento.

Na opinião do entrevistado, o plano poderia ter apresentado ações mais

abrangentes sobre essa estratégia institucional, estabelecendo procedimentos

específicos a nível das agências do SIPOM e vinculando como uma das formas de

combate à criminalidade violenta a repressão e prevenção ao tráfico e uso de

drogas no Estado?

RESPOSTA: Primeiramente é necessário entender a concepção da

construção do Plano Estratégico. Ele foi construído com base em áreas de resultado,

estando a inteligência em uma delas. O conjunto de todas as estratégias das respectivas

áreas de resultado estão direcionados aos resultados finalísticos, os quais estão

relacionados à diminuição de taxas de criminalidade. Portanto, a estratégia 8.2.4

elencada no Plano Estratégico faz parte de um objetivo maior pelo qual contribui para

alcançá-lo. Além disso, algumas estratégias estão direcionadas ao fortalecimento da

estrutura policial para a efetivação de outras estratégias de médio e longo prazo. Isso

quer dizer que não dá para a Polícia Militar resolver todos os problemas de Segurança

Publica de uma só vez e sozinha. Há uma série de variáveis que devem ser consideradas

e dependem primeiramente de estruturação dos aparatos policiais. Como deve ter

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92

percebido, a questão é complexa e exige esforços direcionados de vários setores

conjuntamente.

9 - Qual é a opinião do entrevistado sobre o modelo de policiamento

chamado de intelligence-led policing, ou policiamento orientado pela inteligência,

que vem sendo utilizado por diversos países no combate ao terrorismo e

principalmente à criminalidade?

RESPOSTA: É um modelo de policiamento que traz cientificidade e

consequentemente a eficácia na prestação de serviços de Segurança Pública. Sendo

utilizado corretamente, faz com que as organizações se profissionalizem e apresentem

resultados eficazes.

10 - Na opinião do entrevistado esse modelo de policiamento poderia ser

aplicado pela PMMG?

RESPOSTA: Trata-se de um modelo que é utilizado em diversos países

com sucesso sendo ele aplicável aos esforços da Polícia Militar no controle da

criminalidade, se constituindo atualmente como norte da atividade de inteligência.

11 - Um dos entraves a aplicação desse modelo, segundo seus

idealizadores, é o desconhecimento por parte de agentes de aplicação da lei da

função da inteligência e sua capacidade de ação. Na opinião do entrevistado, os

comandantes, no diversos níveis institucionais, estão preparados para aplicar esse

modelo de policiamento?

RESPOSTA: Há uma dificuldade de compreensão do modelo na medida

em que determinados comandantes desconhecem as funções exercidas pela atividade de

Inteligência de Segurança Pública. Todavia, é diferente dizer que os comandantes não

estão preparados para aplicar o modelo de policiamento. Existe uma estrutura de

inteligência na PMMG, com uma doutrina sólida, que os comandantes têm à sua

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disposição. Ressalta-se a criação de um Centro de Treinamento que se ocupa da

capacitação de gestores, analistas e agentes de busca com a finalidade de implementar e

difundir uma doutrina voltada para o policiamento orientado pela inteligência. A

aplicação do modelo passa por uma conscientização e o principal motivador da sua ação

são os resultados alcançados com a adoção do modelo.

12 - Qual é a opinião do entrevistado sobre o diagrama de

responsabilidades, apresentados na pesquisa, para os níveis institucionais,

estratégico, tático e operacional, do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de

Minas Gerais, atuando na repressão qualificada da criminalidade violenta no

Estado?

RESPOSTA: Os diagramas retratam os níveis tático e operacional de

inteligência no SIPOM, trazendo clareza em suas ações. Todavia, ao se delimitar o

“tráfico de drogas” dentro do fluxograma, acredita-se que ela foi colocada em um

primeiro plano, deixando-se outros crimes como homicídio em segundo plano. O tráfico

de drogas passa por quase todas as outras atividades de “monitoramento de quadrilhas,

produção de conhecimentos e averiguação de denúncias”. Sugere-se que ela esteja

inserida em um contexto maior de criminalidade que deve ser objeto de repressão

qualificada, tal qual os crimes violentos. No item de crimes violentos, por sua vez, deve

ser melhor detalhada, pois a inteligência não deve ficar restrita a monitoramento de

incidências e sim a ações mais concretas, afinal de contas este é o tema central da

monografia.