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DEL POL CIV/RJ DAVID ANTHONY GONÇALVES ALVES INTELIGÊNCIA EM NÍVEL ESTRATÉGICO NA SEGURANÇA PÚBLICA: ANÁLISE E CRÍTICA MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA CURRICULAR PARA OBTENÇÃO DO DIPLOMA DO CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA RIO DE JANEIRO - 2011 C2011

INTELIGÊNCIA EM NÍVEL ESTRATÉGICO NA seg. pub.pdf

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  • DEL POL CIV/RJ DAVID ANTHONY GONALVES ALVES

    INTELIGNCIA EM NVEL ESTRATGICO NA

    SEGURANA PBLICA: ANLISE E CRTICA

    MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGNCIA CURRICULAR

    PARA OBTENO DO DIPLOMA DO CURSO DE ALTOS ESTUDOS

    DE POLTICA E ESTRATGIA

    ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

    RIO DE JANEIRO - 2011

    C2011

  • DAVID ANTHONY GONALVES ALVES

    INTELIGNCIA EM NVEL ESTRATGICO NA

    SEGURANA PBLICA: ANLISE E CRTICA

    Trabalho de Concluso de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito obteno do diploma do Curso de Altos Estudos de Poltica e Estratgia. Orientador: Prof. Jos Amaral Argolo.

    Rio de Janeiro 2011

  • C2011 ESG

    Este trabalho, nos termos da legislao que resguarda os direitos autorais, considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). permitida a transcrio parcial de textos do trabalho, ou mencion-lo, para comentrios e citaes, desde que sem propsitos comerciais e que seja feita a referncia bibliogrfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho so de responsabilidade do autor e no expressam qualquer orientao institucional da ESG.

    ____________________________________

    Biblioteca General Cordeiro de Farias

    Alves, David Anthony Gonalves

    Inteligncia em nvel estratgico na segurana pblica: anlise e

    crtica / Del Pol Civ/RJ Anthony David Gonalves Alves. Rio de Janeiro:

    ESG 2011.

    61f.

    Orientador: Prof. Jos Amaral Argolo. Trabalho de Concluso de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito obteno do diploma do Curso de Altos Estudos de Poltica e Estratgia (CAEPE), 2011.

    1. Servios de Inteligncia. 2. Segurana Pblica. 3. Inteligncia Estratgica. I.Ttulo.

  • minha esposa, VANESSA LYRIO BOECHAT ALVES,

    companheira em todos os momentos, - pelo apoio, amor e compreenso que recebi.

    minha filha

    LUISA BOECHAT ALVES, minha esperana,

    com amor paternal.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos profissionais de Inteligncia de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro,

    soldados das sombras, que mesmo com o sacrifcio de suas carreiras e at de suas

    vidas, dedicam-se ao trabalho silencioso de proteo da nossa sociedade.

    Ao Cel Ref EB Romeu Antonio Ferreira, pela sua generosidade em compartilhar

    seus conhecimentos orientando-me como verdadeiro Oficial mestre na arte do

    ofcio;

    Ao Delegado de Polcia Civil Nelsi de Freitas;

    Ao Delegado de Polcia Civil Virglio Alves da Silva;

    Ao Procurador de Justia Astrio Pereira dos Santos;

    Ao Delegado de Polcia Federal Pedro Berwanger;;

    Ao Major PM Alexander Vras Vieira;

    Ao Delegado Roberto Precioso;

    Ao Professor Jos Amaral Argolo, meu orientador;

    Ao Corpo Docente, aos funcionrios da ESG;

    E aos meus amigos da Turma Segurana e Desenvolvimento pela convivncia sadia

    e enriquecedora.

  • A previso era a razo pela qual o prncipe esclarecido e o general prudente venciam o inimigo, quaisquer que fossem os seus movimentos.

    SunTzu

  • RESUMO

    Este estudo aponta de modo sucinto o grau de influncia dos documentos de

    Inteligncia em Nvel Estratgico, produzidos por Agncias de Inteligncia de

    Segurana Pblica, nas decises tomadas por Secretrios de Estado, com base em

    seus planejamentos estratgicos. Os parmetros doutrinrios sobre a aplicabilidade

    e contribuio da produo de conhecimentos do tipo Apreciao e Estimativa na

    Inteligncia de Segurana Pblica bem como a avaliao do real emprego dos

    conhecimentos do tipo Apreciao e Estimativa sob a tica dos dirigentes de

    Agncias de Inteligncia e dos respectivos decisores (Secretrios de Estado). O

    mtodo aplicado se vale da pesquisa de fontes abertas relevantes para o tema, na

    internet, complementado com a leitura de material primordial que fundamenta o

    marco terico utilizado na seleo de dados bibliogrficos para resumo e

    fichamento. A pesquisa tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o

    problema, atravs de anlise de dados de forma indutiva, para tanto, utilizou-se de

    dados por meio de registros e da entrevista semi-estruturada com alguns ex-

    diretores de Agncias Centrais de Inteligncia de Segurana e Sistema Penitencirio

    do Estado do Rio de Janeiro, bem como de seus respectivos decisores, Secretrios

    de Estado do sistema de Segurana Pblica. Como resultado da anlise crtica e da

    melhor compreenso do que seja inteligncia em nvel estratgico de Segurana

    Pblica busca-se um salto qualitativo no assessoramento aos decisores

    governamentais como subsdio ao planejamento de polticas pblicas em defesa da

    sociedade.

    Palavras-chaves: Servios de Inteligncia. Segurana Pblica. Inteligncia

    Estratgica.

  • ABSTRACT

    This study points out succinctly the degree of influence of the Intelligence

    documents at the strategic level, produced by the Intelligence Agencies of Public

    Security, the decisions taken by Secretaries of state, based on their strategic

    plans. The doctrinal parameters on the applicability and contribution of knowledge

    production type and Estimation in consideration of Public Security Intelligence and

    the evaluation of the real job of the type of knowledge assessment and estimate

    from the viewpoint of heads of intelligence agencies and their makers (Secretaries

    of State). The methodology takes advantage of open source research relevant to

    the topic, the internet, complete with reading primordial material that underlies the

    theoretical framework used in the selection of bibliographic data and summary

    book report. The research aims to provide greater familiarity with the problem

    through data analysis inductively. To this end, we used data through records and

    semi-structured interviews with some former directors of Central Intelligence

    Agencies Security and Prision System in the State of Rio de Janeiro, as well as

    their makers, Secretaries of State System Public security. As a result of critical

    analysis and understanding of what Intelligence Strategic level of Public Security is

    seeking a step change in advice to government decision-makers as an aid to

    planning policies in defense of society.

    Key Words: Intelligence Agency. Public Security. Strategic Intelligence.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................... 11

    2 INTELIGNCIA ESTRATGICA ............................................................... 15

    2.1 INTELIGNCIA NO CAMPO EXTERNO..................................................... 15

    2.1.1 Caractersticas da Inteligncia ................................................................ 17

    2.1.2 Conceitos de fontes e Dado ..................................................................... 19

    2.1.3 Servios de Inteligncia ........................................................................... 22

    2.1.4 Inteligncia Estratgica antecipativa....................................................... 24

    2.1.5 Agncia Central de Inteligncia................................................................ 26

    2.2 INTELIGNCIA NO CAMPO INTERNO ..................................................... 28

    2.2.1 Inteligncia Policial ................................................................................... 28

    2.2.2 Inteligncia de Segurana ........................................................................ 29

    2.3 INTELIGNCIA ESTRATGICA E INTELIGNCIA TTICA....................... 32

    3 INTELIGNCIA DE SEGURANA PBLICA ............................................ 34

    3.1 SERVIOS DE INTELIGNCIA E DE SEGURANA ................................. 34

    3.2 DOUTRINA NACIONAL............................................................................... 36

    3.2.1 Definio .................................................................................................... 36

    3.2.2 Modelo anterior .......................................................................................... 37

    3.2.3 Criao da ABIN......................................................................................... 38

    3.2.4 Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica................................. 40

    3.3 DOUTRINA DE INTELIGNCIA NO RIO DE JANEIRO ............................. 42

    3.3.1 Origem histrica ........................................................................................ 42

    3.3.2 Fase recente ............................................................................................... 43

    3.4 INTELIGNCIA DE SEGURANA PBLICA ............................................. 44

    4 ANLISE CRTICA ..................................................................................... 47

    4.1 OPERADORES E DECISORES................................................................... 47

    4.2 MTODO DE ENTREVISTA........................................................................ 48

  • 4.2.1 Apreciaes e Estimativas nas Agncias Centrais................................ 48

    4.2.2 Anlise Prospectiva contribuio para a segurana pblica............. 50

    4.2.3 Produo de conhecimento em nvel Estratgico bices................... 51

    4.2.4 Inteligncia em Nvel Estratgico legado para a Segurana

    Pblica.........................................................................................................

    52

    5 CONSIDERAES .................................................................................... 53

    5.1 CRIME ORGANIZADO ................................................................................ 53

    5.2 AES ESTRATGICAS ........................................................................... 54

    6 CONCLUSES ........................................................................................... 56

    REFERNCIAS .......................................................................................... 60

  • 11

    1 INTRODUO

    A Segurana Pblica h um bom tempo, deixou de ser um problema

    circunscrito aos Estados da Federao, para entrar de vez na pauta da poltica

    brasileira como um dos desafios a serem enfrentados tambm pelo Governo

    Federal.

    Nessa trajetria, importantes instrumentos foram agregados ao arsenal dos

    rgos de segurana, dentre os quais, o emprego da Inteligncia. Porm, muito se

    tem falado nela, mas, poucos, de fato, entendem seu significado. Alm disso,

    quando encontra-se especializada, no campo da Segurana Pblica, torna-se ainda

    mais complicada a sua compreenso.

    A Inteligncia:

    atividade de exerccio permanente e sistemtico de aes especializadas orientadas, basicamente, para a produo, difuso e salvaguarda de conhecimentos necessrios ao assessoramento para a deciso dos planejadores, nos respectivos nveis de deciso (Poltico, Estratgico, Ttico e Operacional), campos de atuao e fontes utilizadas

    1 .

    A atividade de Inteligncia importante para o estabelecimento de cenrios e

    estratgias de atuao nas reas de segurana pblica e institucional, devendo

    realizar operaes de busca de conhecimentos protegidos e desenvolver trabalhos

    de anlise estratgica, empregando procedimentos sistemticos, estudos e

    avaliaes, com o objetivo de identificar e compreender as caractersticas e modos

    de atuao das organizaes criminosas e de seus componentes2.

    Joanisval Brito Gonalves afirma que a Inteligncia visa obteno, anlise

    e disseminao de conhecimentos, tanto dentro, como fora do territrio nacional,

    sobre fatos e situaes de imediata ou potencial influncia sobre o processo

    decisrio e a ao governamental e sobre a salvaguarda e a segurana da

    sociedade e do Estado.

    1 FERREIRA, Romeu Antonio. Inteligncia Estratgica. In. Conferncia para o curso de ps-

    graduao em estratgia militar para gesto de negcios, Ribeiro Preto, SP: FAAP: 2011.

    2 GONALVES, Joanisval Brito. A atividade de Inteligncia no combate ao crime organizado. Revista

    Jus Navegandi, 2003. Acessado em 5/8/2011. Disponvel em:

    http://jus.uol.com.br/revista/texto/8672/a-atividade-de-inteligencia-no-combate-ao-crime-organizado/2

  • 12

    E entende por Contra-Inteligncia a atividade voltada "neutralizao da

    Inteligncia adversa", seja de governos ou de organizaes privadas3.

    Contra-Inteligncia:

    a atividade que objetiva salvaguardar dados e conhecimentos sigilosos e identificar e neutralizar aes adversas de qualquer natureza que constituam ameaa salvaguarda de dados, informaes e conhecimentos de interesse da segurana da sociedade e do Estado, bem como das reas e dos meios que os retenham ou em que transitem

    4.

    A Inteligncia, em uma definio ampla, a informao coletada, organizada

    ou analisada visando atender s necessidades do tomador de decises. Enquanto

    que, para a cincia da informao, agrega e cuida do tratamento analtico da

    informao, que passa de dados brutos a conhecimentos reflexivos. Tem o mesmo

    sentido de segredo ou informao secreta quando realizada sem o consentimento, a

    cooperao ou o conhecimento dos alvos da ao5.

    Apesar da dificuldade doutrinria, o emprego da Inteligncia na Segurana

    Pblica tem sido amplamente debatido, em especial, quando tratarmos da

    Inteligncia Operacional e da sua aplicabilidade na preservao da ordem pblica,

    bem como, da apurao de ilcitos criminais. No entanto, pouco se fala sobre a

    Inteligncia Estratgica, melhor dizendo, sobre a Inteligncia em Nvel Estratgico

    como instrumento para a Segurana Pblica.

    Para tanto, a idia central do presente trabalho consiste na verificao da

    possibilidade do uso estratgico da Inteligncia na Segurana Pblica, por meio da

    anlise do estudo doutrinrio e das crticas, utilizando-se possveis experincias j

    realizadas. Analisar-se-, qual o grau de influncia dos documentos em nvel

    estratgico produzidos por Agncias de Inteligncia de Segurana Pblica, nas

    decises tomadas por Secretrios de Estado, com base nos planejamentos

    realizados a partir destes documentos.

    3 Ibid.

    4 BRASIL. Resoluo N 1, de 15 de julho de 2009, regulamenta o Subsistema de Inteligncia de

    Segurana Pblica SISP.

    5 RIO DE JANEIRO. Subsecretaria de Inteligncia da Secretaria de Estado de Segurana Pblica do

    Estado do Rio de Janeiro. DISPERJ Manual. Aprovado atravs do Decreto n 37.272, DE 01 de abril de 2005.

  • 13

    A Inteligncia de Segurana Pblica:

    a atividade permanente e sistemtica, via aes especializadas, que visa identificar, acompanhar e avaliar ameaas, reais ou potenciais, sobre a segurana pblica e produzir conhecimentos e informaes que subsidiem o planejamento e a execuo de polticas de Segurana Pblica, bem como aes para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, de forma integrada e em subsdio investigao e produo de conhecimentos

    6.

    Por sua vez a Inteligncia Policial:

    o conjunto de aes que empregam tcnicas especiais de investigao, visando a confirmar evidncias, indcios e a obter conhecimentos sobre a atuao criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificao de redes e organizaes que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre a maneira de agir e operar, ramificaes, tendncias e alcance de condutas criminosas

    7.

    A origem histrica da formao da Inteligncia de Segurana Pblica, tambm

    ser estudada, por meio da experincia vivenciada no Estado do Rio de Janeiro e da

    Doutrina Nacional.

    Ser avaliada a aplicabilidade e a contribuio da produo de

    conhecimentos do tipo Apreciao e Estimativa, sob a tica dos dirigentes de

    Agncias de Inteligncia e seus respectivos decisores (Secretrios de Estado)

    A partir da hiptese de que a produo de Inteligncia, em nvel estratgico,

    se apresenta como um instrumento de assessoramento para os decisores, sero

    demonstrados os cenrios prospectivos e de estudos interdepartamentais dos

    assuntos que contribuem com o direcionamento do planejamento estratgico das

    polticas de Segurana Pblica.

    O presente trabalho, assim, objetiva prospectar a melhor forma de fazer com

    que o conhecimento em nvel estratgico, produzido por Agncias Centrais de

    Inteligncia, contribua como fator de incremento na Poltica de Segurana Pblica,

    por meio da sua implementao na poltica da Secretaria Estadual de Segurana

    Pblica. Ou seja, tem-se por objetivo a avaliao da melhor forma de se prover os

    6 Brasil, Op.cit.

    7 Ibid

  • 14

    operadores de segurana pblica, os membros da comunidade Inteligncia, os

    gestores de agncias e, principalmente, os decisores, que so os dirigentes do mais

    alto nvel e responsveis pela implementao das polticas de segurana pblica, de

    subsdios que permitam uma melhor tomada de deciso em situaes de crise.

  • 15

    2 INTELIGNCIA ESTRATGICA

    O presente captulo analisa o conceito da doutrina internacional sobre

    Inteligncia Estratgica, avaliando as vantagens no seu investimento, de modo a

    produzir conhecimento de alto nvel que permitir a tomada de decises estratgicas

    do Estado.

    2.1 INTELIGNCIA NO CAMPO EXTERNO

    A literatura estrangeira clssica traz no conceito de Inteligncia Estratgica a

    idia de produo de conhecimento voltado para a proteo do Estado soberano

    frente s ameaas originrias do exterior. Assim, seria necessria a expanso do

    conhecimento sobre naes estrangeiras de interesse, para a defesa do Estado8.

    As informaes estratgicas so, por conseguinte, informaes positivas de

    alto nvel do exterior9 .

    Sherman Kent afirma que, para serem consideradas informaes

    estratgicas, de alto nvel, faz-se necessria a excluso dos conhecimentos

    produzidos pela Contra-Inteligncia, alm da excluso dos nveis de deciso ttico e

    operacional e, por fim, sua matriz de produo deve estar focada no estrangeiro10.

    Washington Platt e Sherman Kent, desconsideram que a natureza estratgica

    do conhecimento se d em funo do nvel de deciso, podendo o status de nvel

    estratgico estar presente, associado aos demais (poltico, ttico e operacional) em

    determinado campo de atuao. Logo, no o nvel de deciso que

    qualifica/caracteriza o tipo de Inteligncia, mas, sim, o seu campo de atuao.

    8 PLATT, Washington. Produo de Informaes Estratgicas. Traduo do major lvaro Galvo

    Pereira e Capito Heitor Aquino Ferreira. Rio de Janeiro GB: Biblioteca do Exrcito; livraria Agir Editora, 1974, p. 31.

    9 KENT, Sherman. Informaes Estratgicas. __ed, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito; 1967

    (Coleo General Bencio), p. 18.

    10 Ibid, p. 17.

  • 16

    Dessa forma, tais autores, ao se referirem Inteligncia Estratgica como

    atividade de produo de conhecimento voltado para o campo externo, visando

    proteo dos interesses nacionais, consideram-na mais adequada enquanto

    Inteligncia de Estado (em funo do seu campo de atuao).

    Alm da literatura estrangeira, encontramos, ainda nos dias de hoje, razes

    desse entendimento no mbito da Escola Superior de Guerra, em sua definio de

    Conhecimento de Inteligncia Estratgica, como sendo:

    A resultante da obteno, anlise, interpretao e disseminao de conhecimentos sobre as situaes nacional e internacional, no que se refere ao Poder Nacional, aos bices, s suas vulnerabilidades, s possibilidades e outros aspectos correlatos, com possvel projeo para o futuro

    11.

    No se trata aqui de preciosismo acadmico ou mero jogo de palavras, sem

    efeito no mundo real. Na realidade, traz conseqncias significativas. guisa de

    exemplo, a produo de conhecimento do tipo Inteligncia de Segurana Pblica

    (ISP) , nos termos dos conceitos aqui tratados, no poderia produzir conhecimento

    estratgico, por no se tratar de Inteligncia elaborada para o alcance dos objetivos

    nacionais, em defesa do Estado e com o olhar direcionado ao campo externo.

    Tal interpretao, limitaria diversos tipos de produo de Inteligncia apenas

    aos chamados conhecimentos correntes (ttico e operacional), privando, assim, os

    gestores governamentais, no mbito dos Estados da Federao e dos municpios,

    de poderoso instrumental para assessoramento s polticas pblicas. Do que se

    recomenda, como denominao mais adequada seria a Inteligncia no Nvel

    Estratgico.

    11 ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual bsico: assuntos especficos. Rio de Janeiro,

    2009. v. 2, p. 95.

  • 17

    2.1.1 Caractersticas da Inteligncia

    A Inteligncia, em seu conceito clssico, se diferencia da mera aquisio de

    informao por sua capacidade explicativa e/ou preditiva. Seu fluxo de

    gerenciamento incerto e parcialmente estruturados, no permitindo, por isso, garantir

    vitrias nem predies por serem condicionados vulnerabilidade das fontes e do

    alto grau de interveno humana nas suas anlises. O atendimento gil aos usurios

    dificultado pela caracterstica das informaes processadas, que se apresentam

    em grandes volumes e com razovel complexidade tcnica. Por isso, os analistas

    precisam produzir tanto conhecimento relevante para a deciso como, tambm,

    alternativas especficas de curso de ao, o que feito atravs de relatrios e

    informes dirigidos aos comandantes militares e aos governantes. Por fim, as

    contramedidas de segurana e as operaes de Contra-Inteligncia apresentam

    riscos que obrigam sua coleta a conviver com uma forte dose de segredo, auto-

    refreamento e redundncia, que alm de impor limites claros agilidade, afetam a

    transparncia na conduo das operaes12.

    A produo desse conhecimento se d atravs da aplicao de um ciclo de

    atividades, metodologicamente ordenadas, permitindo que o dado obtido atravs de

    aes de busca, que traduzem a obteno de dados no disponveis ou atravs de

    coleta dos dados disponveis, receba um tratamento analtico do profissional de

    Inteligncia.

    Cabe ser observado que os dados protegidos, normalmente sigilosos, num

    universo antagnico e de difcil obteno, so obtidos atravs de aes

    especializadas realizadas pelo elemento de operaes (ELO) de uma agncia de

    Inteligncia (AI).

    Recomenda-se comear, o chamado ciclo da produo do conhecimento, por

    um planejamento que tem incio observando-se o contexto geral para se saber onde

    buscar os dados e os informes. Em seguida, se poder seguir dois caminhos: num

    deles, se divide o projeto em partes, dando incio coleta de dados para cada uma e

    seguindo adiante; no outro, os dados so todos reunidos e depois trabalhados,

    12 CEPIK, Marco Aurlio Chaves. Espionagem e democracia. 2003. Ed. Getlio Vargas, Rio de

    Janeiro, p. 67.

  • 18

    sendo necessrio avaliar de antemo o tempo necessrio para cobrir cada parte da

    informao13.

    Seria ilusrio retratar o processo de produo de informaes simplesmente como fases regulares dentro de um ciclo bem definido. Um retrato mais fiel tem de ser feito. Um alto grau de realimentao e inter-relao dos elementos do conhecimento e das fases do processo

    14.

    Esse ciclo de produo do conhecimento de Inteligncia, no Brasil,

    encontrado tambm nos manuais da Escola Superior de Guerra ESG, e trata-se do

    processo que pe disposio dos usurios as informaes coletadas pelas

    Agncias de Inteligncia, sendo que suas duas grandes etapas: coleta e anlise,

    esto vinculadas a diferentes rgos estatais15,, tudo em funo dos diferentes

    campos de aplicao da inteligncia (Militar, Econmico, Segurana Pblica,

    Empresarial), dentre outros.

    As dinmicas operacionais e os fluxos informacionais, que caracterizam a

    atividade de inteligncia, seriam como um funil que recebe informaes de fontes

    diversas, no necessariamente nem principalmente secretas, analisa e produz a

    Inteligncia. Esta, busca avaliar tendncias e descrever a realidade para antecipar

    eventos relevantes, seja fornecendo alerta avanado quanto contribuindo para a

    formulao de polticas, planos operacionais e projetos de fora, o que se d por

    meio de sumrios dirios/semanais sobre temas correntes at estudos mais

    aprofundados sobre tendncias e problemas delimitados a partir de critrios

    espaciais ou funcionais16.

    13 PLATT, op. Cit, p.36.

    14 RANSOM, Harry Howe. Central Intelligence and National security. Cambridge, Massachusetts:

    Harvard University Press; 1958, p.28.

    15 ANTUNES, Priscila Carlos Brando. Captulo 1 A atividade de Inteligncia: conceitos e

    processos. In: SNI & ABIN: Entre a Teoria e a Prtica. Uma leitura da atuao dos servios secretos brasileiros ao longo do sculo XX. Rio de Janeiro; 2001. Acessado em: 25/05/2011. Disponivel em: Http://www.fafich.ufmg.br/pae/republica/bibliografia/capitulo1.pdf

    16 CEPIK, op.cit, p. 55.

  • 19

    Outra caracterstica da atividade de inteligncia a sua independncia,

    originria nas guerras do final do sculo XIX, quando foi possvel criar um staff

    permanente, responsvel pelo suporte e planejamento de informaes para os

    comandos tomarem decises e as controlarem . Alm dessa funo externa, no

    campo militar, tambm houve uma especializao na funo policial e repressiva,

    com o objetivo de evitar revoltas populares17.

    Com a quantidade de informaes geradas atualmente, a atividade de

    Inteligncia exige funcionamento permanente, tornado necessria uma organizao

    administrativa mais eficiente e efetiva, principalmente, que possa distribuir recursos

    e produtos aos usurios em tempo hbil18.

    Para se obter mais agilidade na coleta, anlise e disseminao de

    informaes so necessrias: velocidade, capacidade e flexibilidade. O primeiro

    caso demanda ciclos temporais mais curtos; no segundo, um aumento de

    capacidade; e, no terceiro, deve haver maior integrao entre as agncias.

    Por fim, as anlises e as estimativas produzidas pela atividade de Inteligncia

    diferem daquelas realizadas pelos outros rgos de assessoramento tcnico e

    governamental pelos seus fins, que so aumentar o grau de conhecimento sobre os

    adversrios e os problemas que afetam a segurana estatal e nacional. Tambm

    exigem maior grau de interveno humana na anlise e na disseminao dos

    dados19.

    2.1.2 Conceitos de Fontes e Dado

    Existem basicamente trs fontes de obteno de dados: fontes abertas,

    fontes humanas e fontes eletrnicas. As fontes abertas so fontes de dados para a

    produo de conhecimento de Inteligncia que renem disciplinas de coleta e

    anlise de informaes no classificadas atravs de nveis de segurana e

    disponveis para o pblico em geral.

    17 ANTUNES, op.cit.

    18 Ibid.

    19 CEPIK op.cit, p. 29.

  • 20

    Um especialista em informaes, Ellis M. Zacharias, que durante a Segunda

    Guerra Mundial foi Vice Diretor da Repartio de Informaes Navais,

    escreveu, h alguns anos, que na Marinha dos Estados Unidos, noventa e

    cinco por cento das informaes de tempo de paz provinham de fontes

    ostensivas, quatro por cento de semi-ostensivas e somente um por cento,

    s vezes menos, era obtido por meio de agentes secretos20

    .

    A Inteligncia Eletrnica pode ser dividida em: Inteligncia de Sinais,

    Inteligncia de Imagens e Inteligncia de Dgitos. Na Inteligncia Humana o ponto de

    aplicao de esforo o humano, mesmo que apoiado por equipamentos; enquanto

    que na Inteligncia Eletrnica, o ponto central o equipamento que captura os

    dados21.

    Caso se empregue a verso inglesa para os conceitos, as informaes

    vindas de fontes humanas seriam Humint (human intelligence), as provenientes de

    interceptao e decodificao de comunicaes e sinais eletromagnticos chama-se

    Sigint (signals intelligence), as oriundas da produo e da interpretao de imagens

    fotogrficas e multiespectrais, Imint (imagery intelligence), e as vindas da

    mensurao de outros tipos de emanaes, como as ssmicas, as trmicas, etc.,

    Masint (measurement and signature intelligence). Essas fontes podem ser tanto

    clandestinas como ostensivas. Porm, se vierem de fontes pblicas, impressas ou

    eletrnicas, ento tratar-se-iam de Osint (open sources intelligence). Esse autor

    alerta que h relatrios, especialmente os de sigint e imint, que devem sair das

    unidades de coleta diretamente para os usurios finais. Esse fato faz com que haja

    sobreposio das etapas, no caso as de disseminao e as de avaliao,

    contradizendo o esquema de estgios claros e papis definidos22.

    Na prtica, o foco da Inteligncia Eletrnica de Dgitos envolve a captura dos

    dados pela interceptao de sistemas de informtica e telemtica, enquanto que o

    reconhecimento a Ao de Busca realizada para obter dados sobre o ambiente

    operacional ou identificar visualmente uma pessoa.

    20 RANSOM, op.cit. p.24.

    21 RIO DE JANEIRO, op.cit.

    22 CEPIK, op.cit. p. 32.

  • 21

    Normalmente uma ao preparatria que subsidia o planejamento de uma

    Operao de Inteligncia23.

    Com relao Humint, haveria uma estratificao que ascende a partir de

    uma base composta por fontes menos glamurosas, de menor valor, de entrevistas

    sistemticas a pessoas que tenham tido acesso a pases ou reas negadas, como

    turistas, viajantes ocasionais, acadmicos, contatos de negcios, refugiados e

    indivduos oriundos de minorias oprimidas. Em situaes de conflito armado os

    informantes podem ser integrantes das populaes de reas ocupadas e os

    prisioneiros de guerra. Numa camada intermediria, estariam os informantes

    recrutados, exilados polticos, partidos de oposio etc., os quais podem ser

    abordados formalmente ou ento manipulados para passarem as informaes sem

    se darem conta de que esto tratando com um rgo de Inteligncia. No pice

    estariam as fontes secretas que transmitem regularmente informaes que podem

    no ser muito numerosas, mas tendem a ser de maior valor agregado e de alta

    sensitividade. Elas podem ser tanto recrutadas como voluntrias, pois tratam-se de

    agentes regulares, conscientes de que espionam seu prprio governo ou

    organizao e fornecem informaes mais ou menos vitais. Em algumas reas de

    Inteligncia, como a de segurana, a policial e a externa sobre terrorismo, as nicas

    fontes so os informantes e os agentes infiltrados. Alm disso, a Humint a forma

    mais antiga e barata, e tambm a mais problemtica, de se obter informaes

    secretas24.

    Por fim, no se pode desconsiderar que, apesar dos avanos tecnolgicos

    alcanados, nenhuma mquina conseguiu revelar o desejo humano, ainda em

    concepo racional25. Dessa forma, nada melhor que outra mente humana para

    sintetizar os elementos fugazes de pensamento e emoo em um modo de agir,

    dentro de um grau de previsibilidade.

    23 BRASIL. Doutrina Nacional de ISP DNISP verso para correo final.

    24 CEPIK, op.cit. p. 39.

    25 HIND,Alisson. A Short History of Espionage. New York: David Mackay Company; 1963, p.14.

  • 22

    Mas enquanto verdade que na era dos satlites e piratas de computadores , a informao tecnolgica , o que no sai barato, tem de ser usada, os agentes humanos no podem ser substitudos por completo. A tecnologia s pode estabelecer a situao do momento; planos secretos, opes e outras consideraes permanecero ocultos at mesmo do mais sofisticado satlite26.

    Por sua vez, Dado pode ser conceituado como qualquer representao de

    um fato ou de uma situao, passvel de estruturao, obteno, quantificao e

    transferncia, sem exame e processamento pelo profissional de Inteligncia. J

    Informao o conjunto de dados que possui relevncia e aplicao til, exige

    unidade de anlise e consenso em relao ao seu contedo. Enquanto que

    Conhecimento a representao de um fato ou de uma situao, real ou hipottico,

    de interesse para a atividade de Inteligncia de segurana pblica, com exame e

    processamento pelo profissional de Inteligncia27.

    2.1.3 Servios de Inteligncia

    Na sua obra, Sherman Kent identifica o termo Intelligence em trs

    significados: produo de conhecimento, atividade e organizao28,este ltimo,

    desenvolvido por instituies especializadas que buscam o dado negado, na

    produo de inteligncia e na salvaguarda dessas informaes, os servios

    secretos.

    Os famosos servios secretos, nos moldes do estilo clssico criado por

    Wilhelm Stieber, cederam o seu lugar no ps-guerra a organizaes inteiramente

    diferentes, cujas atividades se resumem, fundamentalmente, na pesquisa,

    investigao e interpretao de fatos e dados concretos, oriundos da conjuntura

    nacional e internacional.

    26 WOLF, Markus . O homem sem rosto: a autobiografia do maior mestre da espionagem do

    comunismo/ Markus Wolf; traduo de Gilson B. Soares Rio de Janeiro:Record; 1997, p.427.

    27 BRASIL. Resoluo N 1, de 15 de julho de 2009, regulamenta o Subsistema de Inteligncia de

    Segurana Pblica SISP

    28 KENT, Sherman. Informaes Estratgicas. __ed, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito; 1967

    (Coleo General Bencio).

  • 23

    No sentido amplo, servio secreto toda uma organizao: coletores de

    informaes, pesquisadores, compiladores, avaliadores, relatores,

    analisadores, divulgadores e uma quantidade de outros tipos, juntamente

    com todos os seus instrumentos, sistemas de comunicao, bibliotecas,

    laboratrios, arquivos, escritrios de trabalho. No setor de proteo existem:

    contra-espies, censores, planejadores, decifradores de cdigos,

    verificadores de lealdade, especialistas em segurana e outros mais, com

    seus prprios equipamentos e acessrios. [...] Em sentido estrito, servio

    secreto no simplesmente a informao processada adequadamente, mas

    a informao em sua essncia29

    .

    Os rgos de Inteligncia orientam a produo do conhecimento na resposta

    a trs questes: o que esto fazendo, o que podem fazer e o que faro. Para esta

    ltima necessrio saber avaliar o esprito do povo e ter um conhecimento da

    situao particular, como um todo. Dessa forma, o objetivo buscar tirar a

    concluso mais valiosa de todos os fatos disponveis. O que demanda:

    compreenso, julgamento e perspectiva30.

    Por sua vez, o termo intelligence considerado como especfico,

    significativo e derivado de uma informao, informe, fato ou dado, de relevada

    importncia para determinado problema de poltica nacional corrente, que foi

    selecionado, avaliado, interpretado e expresso. Alm disso, considera que deve

    haver uma distino entre o informe bruto (raw information) e a informao acabada

    (finished intelligence)31.

    Outra definio dos servios de Inteligncia:

    so agncias governamentais responsveis pela coleta, pela anlise e pela disseminao de informaes consideradas relevantes para o processo de tomada de decises e de implementao de polticas pblicas nas reas de poltica externa, defesa nacional e provimento de ordem pblica

    32.

    29 HIND, op.cit. p. 15.

    30 PLATT, op.cit. p.29.

    31 PLATT, op.cit. p.30.

    32 CEPIK, op.cit. p. 13.

  • 24

    Os responsveis pela coleta de informao precisam planejar a utilizao

    dos meios tcnicos e fontes humanas disponveis para produzir a mxima sinergia

    possvel, pois mesmo nos pases mais ricos os recursos so escassos. E os meios

    tcnicos de coleta necessitam de gerenciamento especializado e complexo,

    dependendo das plataformas utilizadas33.

    2.1.4 Inteligncia Estratgica Antecipativa

    A primeira meta da Inteligncia proporcionar conhecimento antecipado,

    suprindo aqueles que formulam e executam a poltica nacional, com avaliaes

    corretas sobre as situaes presente e futura, incluindo as possibilidades e as

    intenes adversrias. Na procura de tais informes, deve ser feita uma distino

    entre o cognoscvel e o incognoscvel, entre o que pode ser previsto com razovel

    certeza e o que se apresenta apenas com certo grau de probabilidade34.

    Essa expresso Inteligncia Estratgica Antecipativa comeou nas

    empresas, onde considerada genrica e englobando diversos tipos especficos

    para a implantao. um processo informacional coletivo e contnuo pelo qual um

    grupo de indivduos busca (de forma voluntria) e utiliza as informaes

    antecipativas relacionadas s mudanas suscetveis de serem produzidas no

    ambiente exterior da empresa, com o objetivo de criar oportunidades de negcios e

    de reduzir riscos e incertezas em geral35.

    Harry Howe Ransom apresenta como principais objetivos de uma agncia de

    Inteligncia de Estado, em nvel Estratgico, fornecer conhecimento antecipado

    (informes), avaliaes sobre a situao presente, tambm chamada de estimativa

    cognoscvel (apreciaes), e avaliaes sobre situaes futuras, tambm chamadas

    33 Ibid. p.33.

    34 RANSOM, op.cit. p.16.

    35 SOUZA, A. C. R.; SENTO-S, J.O.; ACHAN, W. Ncleo de Inteligncia: o papel da produo de

    informaes estratgicas como mecanismo de controle, transparncia, eficincia e efetividade na gesto pblica. In: III Congresso CONSAD de Gesto Pblica, 2010, Painel 38/150. Modernizao, inovao e impactos na melhoria da gesto pblica no Governo do Estado da Bahia atravs da atuao de um sistema articulado de rgos de controle e combate corrupo. Salvador, 2010. Acessado em: 25/05/2011. Disponvel em: http://www.consad.org.br/sites/1500/1504/00001958.pdf

  • 25

    de estimativas incognoscvel (estimativas strictu sensu) respeito de possibilidades

    e intenes de potncias estrangeiras36. Tanto as apreciaes como as estimativas

    compem o que se chama Inteligncia Antecipativa.

    A informao Estimada Nacional um dos aperfeioamentos mais importantes dentre os introduzidos no sistema nacional de tomada de decises, na dcada seguinte Segunda Guerra Mundial. verdade que tais estimativas ainda refletem as limitaes inerentes a qualquer previso sobre atos dos seres humanos ou governo, as deficincias de qualquer produto dependente do consenso

    37.

    Esse autor afirma ainda que o conhecimento de Inteligncia, de carter

    antecipativo, deve ser produzido no mbito da agncia central38.

    Tal fato se justifica no s pela complexidade e necessidade de tempo para a

    elaborao das estimativas, mas, principalmente pela dificuldade dessa produo

    em agncias que tenham por misso precpua o fornecimento de informaes em

    nvel ttico e operacional, onde a oportunidade e utilidade do conhecimento so

    extremamente passageiros39.

    Outro aspecto ressaltado pelo autor versa no que tange observncia, na

    Inteligncia Estratgica Antecipativa, do seu duplo grau de falhabilidade e incerteza.

    O primeiro inerente prpria produo de conhecimento de Inteligncia, quando

    se funda em fragmentos de dados disponveis, suficientes para tornar a informao

    til e oportuna para o seu destinatrio; o segundo considera a imprevisvel varivel

    humana.

    A histria est cheia de exemplos de polticos que, por uma razo ou por outra, recusaram-se a acreditar em informaes estimadas, as quais, em muitos casos, se revelaram corretas

    40.

    36 RANSOM, op.cit. p. 20.

    37 Ibid. p.124.

    38 Ibid.

    39 Ibid. p. 153.

    40 Ibid. p. 179.

  • 26

    2.1.5 Agncia Central de Inteligncia

    Cabe agncia central do Sistema de Inteligncia a coordenao das

    informaes entre agncias.

    O conhecimento por ela produzido no substitui as informaes das agncias

    do sistema, mas aumenta a qualidade e eficincia delas, coordenando-as e

    suplementando-as, evitando duplicaes de esforos, assegurando a explorao de

    todo o campo de anlise atribudo, bem como participando, ativamente, na

    consecuo dos objetivos genricos de recrutamento e treinamento de pessoal.

    Esse conhecimento deve ser compilado em anlises estratgicas, por meio de

    apreciaes ou estimativas nacionais. Tal tarefa apresenta grande complexidade,

    no s pela dificuldade de superao da burocracia da administrao pblica na

    difuso do conhecimento de maneira oportuna ao seu cliente final, o decisor

    estratgico, mas, tambm pelo reconhecimento, por parte dele, com o til e confivel

    para a sua tomada de deciso41.

    A agncia central deve abster-se de realizar trabalhos substantivos primrios

    (inteligncia no nvel operacional e ttico). Deve, sim, preocupar-se em manter as

    agncias do sistema unidas, como uma equipe, para a busca da soluo de

    problemas considerados de importncia para o Estado, prestando assessoramento

    tcnico e fornecendo recursos materiais para a realizao de trabalhos relevantes,

    impondo-se e superando dificuldades.

    Por fim, importante salientar que as funes operacionais da agncia central

    no devem ser realizadas em competio com as demais agncias do sistema.

    Qualquer que seja o produto resultante do funcionamento da agncia central, as

    informaes que o compem devero atender, primordialmente, as necessidades e

    interesse das agncias de Inteligncia que compem e/ou aquelas definidas e

    constantes no Plano de Inteligncia de mbito estadual ou nacional.

    41 Ibid.

  • 27

    A funo de coordenao desenvolvida pela agncia central tem por

    elementos bsicos:

    a fixao de uma jurisdio ntida para as sees de informaes dos diversos ministrios; policiamento destas fronteiras jurisdicionais; avaliao permanente dos padres de informao dos ministrios; auxlio na elevao dos padres de informaes dos ministrios; direo dos projetos interministeriais e estabelecimento dos padres do governo para obter pessoal de informaes de alto gabarito

    42 .

    O modelo norte-americano de atuao da agncia central inclui outras cinco

    funes especficas, a serem desempenhadas, sob a direo do Conselho de

    Segurana Nacional, como funes legais:

    Assessorar o Conselho de Segurana Nacional em assuntos de informaes do governo relacionadas com a segurana nacional. Apresentar propostas ao Conselho de Segurana Nacional sobre coordenao das atividades de informaes os ministrios e rgos do governo. Correlacionar e avaliar informaes e providenciar sua difuso adequada no mbito governamental. Desempenhar em benefcio dos rgos de informaes existentes, os servios adicionais que, por determinao do CSN, possam ser realizados com mais eficincia sob forma centralizada. Desempenhar outras funes e obrigaes relacionadas com as informaes que interessem segurana nacional, de acordo com a determinao do Conselho de Segurana Nacional

    43.

    O papel de integrador desempenhado pela agncia central durante a

    coordenao do trabalho das demais agncias, permite, muitas vezes, que dados ou

    informes, ainda dispersos, ganhem corpo e construam um conhecimento oportuno

    e til, tal como um artfice que restaura uma pea de porcelana quebrada, cujos

    pedaos se encontram em diversos locais diferentes44.

    42 Ibid. p. 189.

    43 Ibid. p. 74.

    44 HILSMAN, Roger. Strategic intelligence and national decisions. Illinois, EUA: The Free Press,

    Glencoe, 1956. p.83.

  • 28

    A coordenao permite, ainda, que se evite o retrabalho sobre o mesmo

    tema, otimizando os meios disponveis e, muitas das vezes, reorientando anlises j

    realizadas45.

    A autoridade da agncia central advm da existncia de canais tcnicos

    estabelecidos entre as agncias de um sistema de Inteligncia, no havendo,

    portanto, obedincia hierrquica entre os integrantes do sistema46.

    2.2 INTELIGNCIA NO CAMPO INTERNO

    O trabalho de Inteligncia est dividido nos mbitos externo e interno, busca

    as informaes sobre identidades, capacidades, intenes e aes de grupos e

    indivduos dentro de um pas, cujas atividades so ilegais ou alegadamente

    ilegtimas. Entretanto, mesmo na democracia e com tolerncia, existe uma tenso

    entre a vigilncia estatal e a privacidade e os direitos individuais47.

    2.2.1 Inteligncia Policial

    O conceito e a abrangncia da Inteligncia Policial visam sua aplicao no

    mbito da investigao criminal (polcia judiciria) e no emprego do policiamento

    ostensivo (polcia militar). No primeiro caso, procurada a produo de provas; no

    segundo, se busca uma otimizao dos meios e a anlise do fenmeno criminal.

    Tambm necessrio desfazer a confuso conceitual na aplicao dos

    termos Inteligncia Policial e Inteligncia de Segurana Pblica. Esta, tem por

    contedos a Inteligncia Policial e a Anlise Criminal. Diante dos nveis de deciso

    (estratgico, ttico e operacional), a Inteligncia de Segurana Pblica se materializa

    no nvel ttico/operacional atravs da Inteligncia Policial e da anlise criminal.

    45 PETTEE, George S. The Future of American Secret Intelligence. Washington DC: Infantry Journal

    Press; 1972. p.40.

    46 Ibid. p.80.

    47 ANTUNES, op.cit.p. 33.

  • 29

    Assim, a ISP deve atuar em nvel estratgico apenas no mbito da agncia central

    de Inteligncia da Secretaria de Estado.

    De acordo com Resoluo N 1, de 15 de julho de 2009, que regulamenta o

    Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica SISP, a Anlise Criminal:

    um conjunto de processos sistemticos direcionados para o provimento de informao oportuna e pertinente sobre os padres do crime e suas correlaes de tendncias, de forma a apoiar a rea operacional e administrativa no planejamento e distribuio de recursos para a preveno e supresso de atividades criminosas

    48.

    2.2.2 Inteligncia de Segurana

    A Inteligncia de Segurana, ou Inteligncia Interna ou Domstica, trata das

    ameaas internas ordem existente. Suas origens remontam o policiamento poltico

    desenvolvido na Europa na primeira metade do Sculo XIX, quando os movimentos

    inspirados na Revoluo Francesa e os grupos operrios anarquistas e socialistas

    passaram a ser vistos como ameaa49.

    A Inteligncia de Segurana nada mais que a Inteligncia de Estado

    voltada para o campo interno, atuando como servio de contra-Inteligncia na

    proteo do Estado Nacional.

    Nos Estados Unidos da Amrica essa funo exercida por uma

    organizao policial, o Federal Bureau of Investigation (FBI). Mas as autoridades

    mais responsveis na formulao da alta poltica daquele pas tambm no

    consideram seus problemas de segurana interno no campo da estratgia,

    parecendo muito satisfeitas em resolv-los eficientemente com uma organizao

    policial como o FBI.

    Na Inglaterra o mesmo no ocorre porque se produz conhecimento, em

    nvel estratgico, no somente no campo externo, mas, tambm, no campo interno,

    atravs de sua organizao de Inteligncia, o MI 5 (Contra-Inteligncia de Estado) ,

    48 BRASIL. Resoluo N 1, de 15 de julho de 2009, regulamenta o Subsistema de Inteligncia de

    Segurana Pblica SISP

    49 CEPIK, op.cit. p. 99.

  • 30

    ficando o MI 6 (Inteligncia de Estado) com a incumbncia de atuar no campo

    externo.

    Consideramos que muitas informaes relativas ao campo interno so

    estratgicas e, inevitavelmente, devem ser consideradas no trabalho de formulao

    da poltica de segurana nacional, e compor o repertrio de assuntos do Plano de

    Inteligncia Nacional.

    O Brasil adotou o modelo norte-americano, deixando a cargo da Agncia

    Brasileira de Inteligncia (ABIN) a misso de produo de Inteligncia de Estado e

    ao Departamento de Polcia Federal (DPF), alm da sua misso precpua como

    instituio policial, a operacionalizao das aes repressivas, relativas Contra-

    Inteligncia de Estado, dentro do territrio nacional.

    Tal modelo tem gerado muita polmica, no mbito dos tribunais superiores,

    quanto participao da ABIN em aes conjuntas com o Departamento de Polcia

    Federal (DPF). Tal confuso ocorre exatamente pela falta de compreenso sobre a

    matria. Em tese, tal atuao conjunta somente se justificaria nos casos em que o

    DPF estivesse atuando na represso a aes relacionadas com a Contra-

    Inteligncia de Estado, sendo inadequada a participao do rgo de Inteligncia de

    Estado na apurao de ilcitos criminais.

    Diferencia-se a Inteligncia de Segurana da Inteligncia Policial, a qual est

    voltada para questes tticas e operacionais de represso e de investigao de

    ilcitos e grupos infratores e incumbncia das polcias estaduais, civis e militares,

    e da Polcia Federal. Estas auxiliam o trabalho do Poder Judicirio e do Ministrio

    Pblico ao atuarem na preveno, obstruo, identificao e neutralizao das

    aes criminosas, obedecendo aos preceitos legais e constitucionais para a

    atividade policial e para as garantias individuais. Entretanto, reala Rodrigo Carneiro

    Gomes, no caso das organizaes criminosas tambm necessria sua

    combinao com a Inteligncia governamental50.

    50 GONALVES, Joanisval Brito. A atividade de Inteligncia no combate ao crime organizado: o caso

    do Brasil. Florianpolis: BuscaLegis.ccj.ufsc.br; 2010. Acessado em 25/05/2011. Disponvel em: https://www2.mp.pa.gov.br/sistemas/gcsubsites/upload/60/A%20atividade%20de%20intelig%C3%83%C2%AAncia%20no%20combate%20ao%20crime%20organizado(2).pdf

  • 31

    preciso que haja interao entre os rgos internos do Departamento de

    Polcia Federal e outros rgos policiais e de segurana do Estado, assim como

    comunicao, em tempo real, de possveis ameaas ao Estado, com a finalidade de

    neutralizar aes criminosas51.

    Por exemplo, considera-se que o atentado s Torres Gmeas, em Nova York,

    somente foi possvel devido falta de comunicao entre o Escritrio Federal de

    Investigao (FBI), o Servio de Imigrao e a Agencia Central de Inteligncia (CIA),

    quanto presena de terroristas em solo norte-americano52.

    As informaes mais relevantes da Polcia Federal para a investigao e a

    Inteligncia ainda permanecem restritas, havendo necessidade de coloc-las

    disposio para consulta, de modo organizado e sistematizado, sempre que for

    preciso. Entretanto, esse problema ainda no foi resolvido visto que as polcias, em

    geral, ainda se encontram mais preocupadas com o sucateamento crnico e a baixa

    remunerao, sobrando pouco tempo para a produo de conhecimento de

    qualidade que possa ser armazenado e utilizado53.

    Para que as agncias intergovernamentais possam cooperar entre si, ser

    necessrio mitigar o secretismo oficial e investir maciamente em recursos

    tecnolgicos e na rea de Inteligncia. Um exemplo prtico da importncia de se

    superar esta situao est numa ao que poderia ter sido evitada, se estas

    medidas j estivessem disposio. No caso, foi a onda de ataques promovida pelo

    Primeiro Comando da Capital (PCC), entre 1997 e 2006, no Estado de So Paulo,

    que contou com rebelies carcerrias e ataques mortais a agentes pblicos54.

    51 Ibid.

    52 GOMES, Rodrigo Carneiro. Prevenir o crime organizado: Inteligncia policial, democracia e difuso

    do conhecimento. Revista do Tribunal Regional Federal da 1 Regio, v. 21, n. 8, ago. 2009. Acessado em: 25/05/2011. Disponvel em: http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/25248/prevenir_crime_organizado_inteligencia.pdf?sequence=1

    53 Ibid.

    54 Ibid.

  • 32

    2.3 INTELIGNCIA ESTRATGICA E INTELIGNCIA TTICA

    Em Inteligncia necessrio distinguir estratgias, de tticas. Estas ltimas

    tm um aproveitamento prtico e imediato, a chamada Inteligncia Ttica, enquanto

    que os primeiros, ou Inteligncia Estratgica, visam um conhecimento de longa

    durao55.

    A diferena bsica consiste na qualificao do nvel de deciso, atravs da

    amplitude do contedo analisado, sua aplicao e tcnica de processamento da

    informao.

    Na Inteligncia Ttica o conhecimento produzido visando o assessoramento

    para tomada de deciso em mdio e at em curto prazo, assim, o tempo disponvel

    permite com que o contedo a ser analisado possua uma maior amplitude,

    comparado com o produzido pela Inteligncia Operacional (ou de combate), cujas

    tomadas de deciso so de curto prazo ou at mesmo imediatas. Nem sempre a

    distino entre ambas ntida56 por tratarem da parte prtica das aes; no exemplo

    militar, as aes de combate.

    A aplicao, pelo decisor, da Informao Ttica, processada, ir subsidi-lo

    no atendimento de objetivos intermedirios, mais mutveis que os estratgicos,

    atravs do planejamento, gesto e controle do conjunto de aes operacionais a

    serem executadas pelos rgos operacionais.

    Tanto para a Inteligncia Operacional quanto para a Ttica a tcnica de

    processamento e instrumentos de difuso (tipos de documentos de Inteligncia), so

    basicamente os mesmos, o que no acontece com a Inteligncia Estratgica.

    Na Inteligncia Estratgica, o contedo a ser analisado ainda de maior

    amplitude que os demais nveis de deciso, muitas das vezes com o a necessidade

    de participao de diversas agncias em sua elaborao. Assim, exigem maior

    tempo para sua elaborao, portanto destinado seu produto final para uma aplicao

    de mdio para longo prazo, sendo apresentada atravs de apreciaes e estimativas

    que projetam cenrio futuro mais provvel para o evento em estudo.

    55 US Army Intelligence Center. Us Army Course Strategic Intelligence. Edition Date: September

    1997. p.06.

    56 RANSOM, op.cit. p. 20.

  • 33

    Considera-se que a informao estratgica abranja os oito ramos a seguir,

    oriundos das cincias naturais e sociais: informao cientfica, geogrfica, de

    transporte e telecomunicaes, econmica, militar, sociolgica, poltica e biogrfica.

    Estas, em geral, tm mais tempo disponvel para serem avaliadas que aquelas do

    enfrentamento57.

    Tambm pode ser empregado com sucesso o mtodo cientfico, o qual consta

    de coleta de dados, formulao de hipteses, verificao destas e concluses, as

    quais podem ser utilizadas como fontes idneas de previso58.

    Na concepo da Escola Superior de Guerra toda informao nacional

    estratgica, mas o inverso no verdadeiro, pois, pelo critrio de classificao, as

    informaes so estratgicas quanto ao nvel de utilizao e nacionais quanto ao

    rgo de produo59.

    57 PLAT, op.cit. p. 31.

    58 Ibid. p.100.

    59 RANSOM, op.cit. p. 16.

  • 34

    3 INTELIGNCIA DE SEGURANA PBLICA

    Neste captulo ser estudado o desenvolvimento da Inteligncia de

    Segurana Pblica, sua origem histrica, tendo por base seus fundamentos no

    Estado do Rio de Janeiro e como se encontra a doutrina nacional nos dias de hoje.

    3.1 SERVIOS DE INTELIGNCIA E DE SEGURANA

    Os servios de Inteligncia e de segurana foram criados para resolver

    problemas de informao relativos defesa nacional e ordem pblica, tendo

    havido disputas relativas jurisdio e entre organizaes similares subordinadas a

    diferentes governos. Sempre foi difcil delimitar a jurisdio das polcias e dos

    servios de Inteligncia. As culturas organizacionais, os mandatos legais e os

    objetivos da coleta e anlise de informaes so diferentes nesses dois tipos de

    organizaes estatais. H pelo menos duas diferenas entre ambas instituies, e

    que tem se mantido nos diferentes contextos nacionais. Primeiro, as investigaes

    criminais buscam elucidar a autoria dos crimes e contravenes penais visando a

    instruo de um processo criminal, enquanto os servios de Inteligncia so mais

    abrangentes, auxiliando na elaborao de polticas pblicas mais eficazes e

    fornecendo um relatrio sobre o conhecimento adquirido. Segundo, a polcia cuidaria

    de problemas internos do pas, enquanto a Inteligncia (de Estado) das questes

    exteriores60.

    Segurana seria uma proteo para neutralizar ameaas discernveis contra

    algum ou alguma coisa com razovel expectativa de sucesso, empregando

    padres e medidas de proteo para conjuntos definidos de informaes, sistemas,

    instalaes, comunicaes, pessoal, equipamentos ou operaes. Essas medidas

    devem ser proporcionais s ameaas percebidas para que no se tornem elas

    prprias uma ameaa efetividade, autonomia e prpria existncia do protegido,

    60 CEPIK, op.cit. p. 128.

  • 35

    pois, a proteo total contra tudo e contra todos impossvel do ponto de vista

    material e psicolgico, e indesejvel enquanto totalitria61.

    Haveria pelo menos trs sistemas bsicos de Inteligncia nacional, o modelo

    anglo saxo, o europeu continental e o asitico. No primeiro caso apresenta alta

    centralizao da autoridade sobre unidades do sistema, alto grau de integrao

    analtica, mdia separao entre Inteligncia e poltica, e mdia efetividade dos

    mecanismos de prestao de contas (accountability) e superviso. No segundo,

    mdia centralizao da autoridade sobre as unidades do sistema, mdia integrao

    analtica dos produtos de Inteligncia, alto envolvimento da atividade de Inteligncia

    com as instncias de policymaking e baixa efetividade dos mecanismos de

    accountability e de superviso, este seria, de certo modo o modelo adotado pelo

    Brasil. No terceiro, h baixa centralizao da autoridade sobre as unidades do

    sistema, alta integrao analtica dos produtos de Inteligncia, mdio envolvimento

    da atividade de Inteligncia com as instncias de policymaking e uma efetividade

    dos mecanismos de accountability e de superviso mais baixa que no tipo europeu

    continental3.

    Com relao rea internacional, segredo e Inteligncia diferem nas

    situaes em que as operaes de coleta de informaes so difceis ou no podem

    ser obtidas atravs de meios corriqueiros de pesquisa. E a rationale do segredo na

    rea de Inteligncia se assentaria em trs diferentes tipos de considerao a

    respeito de fontes, informaes, operaes, mtodos e tecnologias empregadas.

    Primeiro, o segredo como forma de regulao quando o valor da Inteligncia obtida

    depende do alvo no ficar sabendo o que efetivamente se sabe sobre ele. Cita-se

    como exemplo, o conhecimento prvio de um plano inimigo para um ataque

    surpresa abre a possibilidade de se preparar uma emboscada, desde que o inimigo

    no saiba que a vtima sabe que ser atacada. Em segundo, est na forma de se

    obter informaes, principalmente em tempo de paz, pois a espionagem, a vigilncia

    eletrnica e a invaso de redes de computadores contrariam as leis dos pases-alvo

    e as internacionais que garantem a inviabilidade do territrio, do espao areo e

    das guas territoriais. Em terceiro, a vulnerabilidade das fontes s contramedidas

    61 Ibid. p. 138.

  • 36

    de segurana que o alvo tomaria, caso soubesse do esforo adversrio em obter

    Inteligncia. Aqui, no se protegeria qualquer informao em particular, mas a

    continuidade dos fluxos de Inteligncia62.

    Com relao aos mecanismos de controle pblico sobre atividades de

    Inteligncia e segurana, listam-se sete: as eleies; a opinio pblica informada

    pela mdia; os mandatos legais delimitando funes e misses; os procedimentos

    judiciais de autorizao e de disputas de interpretao; as inspetorias e as

    corregedorias nos prprios rgos de Inteligncia; outros mecanismos de

    coordenao e de superviso do Poder Executivo; e, o Poder Legislativo. Estes dois

    seriam os mais efetivos, principalmente o ltimo63.

    3.2 DOUTRINA NACIONAL

    3.2.1 Definio

    A doutrina constituda por marcos que guiam um oficial de Inteligncia,

    devendo este ficar atento ao fato de que a doutrina no se trata de uma descrio

    inteiramente acurada da prtica, pois sofre influencia, da mesma,, em alto grau e

    so os esquemas ao qual a prtica se amolda. Outra definio a de ideal pelo

    qual se luta64.

    O corpo doutrinrio composto pelas leis, diretrizes e regulamentos que

    regem as diversas unidades de pesquisa de informaes e que orientam suas

    relaes com os rgos de governo formuladores de poltica e encarregados de

    operaes65.

    A apostila Inteligncia Policial da Polcia Militar da Bahia define a doutrina de

    Inteligncia como um conjunto de normas, valores, princpios e pressupostos ticos

    62 Ibid. p. 157.

    63 Ibid. p. 159

    64 HILSMAN, op.cit. p. 01.

    65 Ibid.

  • 37

    que regem as Atividades de Inteligncia, principalmente no que se refere ao

    comportamento de seus integrantes66.

    3.2.2 Modelo Anterior

    O nico rgo de informaes das foras armadas anterior a 1964 era o

    Centro de Informaes da Marinha (Cenimar). No final da dcada de 1960, para

    combater a chamada subverso, foram criados o Centro de Informaes do Exrcito

    (CIE) e o Centro de Informaes e Segurana da Aeronutica (CISA). Em 1967, se

    uniu a estes o SNI. E assim, a atividade de informaes confundiu-se com a prpria

    segurana nacional67.

    A discusso sobre o tema Inteligncia ganhou relevncia a partir da dcada

    de 1990, quando foi extinto o Servio Nacional de Informaes (SNI). Nesse

    perodo, a atividade de informaes estava muito atrelada represso e violao

    dos direitos civis do perodo anterior de regime militar, quando esses servios

    converteram-se em estados paralelos com alto grau de autonomia, enorme poder e

    grande capacidade operacional68.

    No perodo posterior transio democrtica, havia uma discusso na

    produo acadmica brasileira quanto ao controle e subordinao do aparato

    militar sociedade civil, sendo desse perodo a maioria dos escassos trabalhos

    nacionais sobre o assunto. Alguns autores consideraram que o controle civil deveria

    agir sobre o cerne dos servios de informaes do regime militar, sendo que uns

    avaliaram que esta iniciativa deveria vir do Legislativo, enquanto outros das prprias

    foras armadas69.

    66 MORAES, L.S.M.; JESUS, I.A.S.; REIS, J.H.B. Inteligncia Policial. 2008. Coletado na internet.

    Acessado em 25/05/2011. Disponvel em: http://www.tok2.com/home/gr2008feira/arquivos/Intelig%EAncia/Apostila%20Intelig%EAncia.pdf. Acessado em 09/03/2010

    67 ANTUNES, op.cit. p. 10.

    68 Ibid. p. 05.

    69 Ibid. p. 20.

  • 38

    Outros autores consideram que o Legislativo no tem esclarecimento

    suficiente sobre o assunto, e que o esgotamento do modelo do SNI ocorreu como

    repercusso indireta da democratizao e pelas contradies inerentes aos servios

    de informaes. Outro livro prestigiado A Histria da Atividade de Inteligncia no

    Brasil trata da importncia da atividade de Inteligncia, embora no aborde de forma

    crtica a atividade dos rgos de informaes no governo militar70.

    Se houve pouca produo acadmica sobre a atividade de Inteligncia, o

    debate poltico foi ainda menor. Houve um seminrio promovido pelo Congresso

    Nacional com universidades brasileiras e norte-americanas, em 1994, e uma

    audincia pblica, promovida pela Comisso de Defesa Nacional, em 199671.

    O problema que, devido experincia autoritria anterior, houve resistncia

    a discusses abordando a atividade de Inteligncia e a segurana nacional, o que

    atrasou a criao da ABIN no Congresso Nacional, alm de ter dificultado o debate

    sobre os mecanismos responsveis pelos segredos governamentais72.

    3.2.3 Criao da ABIN

    Para assessorar o Presidente da Repblica com informaes estratgicas,

    foram criados, pela Lei n 9883/99, o Sistema Brasileiro de Inteligncia (SISBIN) e

    seu rgo central, a Agncia Brasileira de Informaes (ABIN), esta ltima

    responsvel pela misso de planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar

    as atividades de Inteligncia e de Contra-Inteligncia, sendo que com irrestrita

    observncia dos direitos e garantias individuais, fidelidade s instituies e aos

    princpios ticos que regem os interesses e a segurana do Estado73.

    No caso da ABIN, o mecanismo de controle externo uma Comisso

    Parlamentar, composta por membros da Cmara dos Deputados e do Senado

    Federal, pelo Tribunal de Contas da Unio (gesto de recursos oramentrios) e

    70 Ibid. p. 07.

    71 Ibid. p. 22.

    72 Ibid.

    73 GONALVES, op.cit.

  • 39

    pela Comisso Mista de Controle da Atividade de Inteligncia - CCAI (Poltica

    Nacional de Inteligncia). Formam essa Comisso as lideranas majoritrias e

    minoritrias do Congresso Nacional e os presidentes das Comisses de Relaes

    Exteriores e Defesa Nacional da Cmara dos Deputados e do Senado Federal74.

    O Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica foi institudo pelo Decreto

    n 3.695, de 21 de dezembro de 2000, no mbito do SISBIN, com a finalidade de

    "coordenar e integrar as atividades de Inteligncia de segurana pblica em todo o

    Pas, bem como suprir o governo federal e os estaduais de informaes que

    subsidiem a tomada de decises neste campo". Seu rgo central a Secretaria

    Nacional de Segurana Pblica do Ministrio da Justia (SENASP) e dele fazem os

    Ministrios da Justia, da Fazenda, da Defesa e da Integrao Nacional e o

    Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica, podendo ainda

    integr-lo os rgos de Inteligncia de Segurana Pblica dos Estados e do Distrito

    Federal75.

    Os Comandos Militares do Exrcito, da Marinha e da Aeronutica e o

    Ministrio da Defesa, tm setores voltados para a Inteligncia Militar. A Receita

    Federal, o INSS e o IBAMA tm reas de Inteligncia voltadas para a fiscalizao. O

    Banco Central do Brasil e bancos estatais, como a Caixa Econmica Federal, tm

    setores direcionados Inteligncia na rea financeira, sendo o COAF encarregado

    da coordenao das atividades de combate lavagem de dinheiro. A Polcia

    Federal, a Polcia Rodoviria Federal e as polcias estaduais, civis e militares, tm

    unidades de Inteligncia Policial76.

    Muitos desses rgos de Inteligncia governamental e policial esto

    conectados com congneres estrangeiros, alguns com adidos em representaes

    brasileiras no exterior. Compem, dessa forma, um alicerce para a cooperao

    internacional na preveno e no combate a organizaes criminosas e terroristas77.

    74 Ibid.

    75 Ibid.

    76 Ibid.

    77 Ibid.

  • 40

    3.2.4 Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica

    Em considerao manifestao favorvel do Conselho Especial do

    Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica16, o Subsistema de Inteligncia

    de Segurana Pblica - SISP foi regulamentado pela Resoluo N 1, de 15 de julho

    de 2009. Esta, segundo seu Art.1, 4, compe o Sistema Brasileiro de

    Inteligncia SISBIN, que constitudo de rede prpria, sendo responsvel pelo

    processo de coordenao e integrao das atividades de Inteligncia de segurana

    pblica no mbito do territrio nacional. Seu objetivo :

    fornecer subsdios informacionais aos respectivos governos para a tomada de decises no campo da segurana pblica, mediante a obteno, anlise e disseminao da informao til, e salvaguarda da informao contra acessos no autorizados

    78.

    Conforme dispe o 1 do referido artigo, o SISBIN est comprometido com o

    Estado Democrtico de Direito e a promoo dos direitos e garantias individuais.

    Sua Agncia Central a Coordenao-Geral de Inteligncia - CGI, da Secretaria

    Nacional de Segurana Pblica - SENASP, destinatria direta dos dados,

    informaes e conhecimentos decorrentes das atividades de Inteligncia de

    Segurana Pblica. Tem como fundamentos a preservao e a defesa da

    sociedade e do Estado, das instituies, a responsabilidade social e ambiental, a

    dignidade da pessoa humana79.

    De acordo com o 3 do art. da citada Resoluo, so elementos

    constituintes do SISP, originariamente:

    I - Conselho Especial do Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica;

    II - a Rede Nacional de Inteligncia de Segurana Pblica - RENISP;

    III - a Rede de Integrao Nacional de Informaes de Segurana Pblica,

    Justia e Fiscalizao - INFOSEG;

    78 BRASIL. Resoluo N 1, de 15 de julho de 2009, regulamenta o Subsistema de Inteligncia de

    Segurana Pblica SISP

    79 Ibid.

  • 41

    IV - o Sistema Nacional de Identificao de Veculos em Movimento -

    SINIVEM;

    V - os Organismos de Inteligncia de Segurana Pblica e suas agncias, o

    respectivo pessoal e estrutura material;

    VI - a Doutrina Nacional de Inteligncia de Segurana Pblica (DNISP); e

    VII - os sistemas de informaes, os bancos de dados de propriedade e ou

    cedidos SENASP;

    VIII - Conselho Nacional de Chefes de Organismos de Inteligncia de

    Segurana Pblica CNCOI80.

    Segundo o artigo 6 da precitada Resoluo As Agncias de Inteligncia

    subordinam-se chefia da unidade organizacional respectiva e a sua atuao

    sempre dever obedecer as diretrizes contidas na DNISP e nas deliberaes do

    Conselho Especial do Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica. Essa

    Doutrina definida como:

    um conjunto de normas, mtodos, valores e princpios orientadores que, associados aos pressupostos ticos, regem as atividades de Inteligncia de segurana pblica, voltadas para a produo e proteo de conhecimentos relativos Segurana Pblica, tanto do ponto de vista estratgico quanto ttico

    81.

    Embora a DNISP conste como elemento constituinte do SISP, tem ela a

    mesma valorao normativa, e serve como um modelo orientador s Agncias de

    Inteligncia dos Estados e componentes do SISP, estabelecendo sua

    regulamentao a obrigatoriedade de obedincia s diretrizes dela emandadas82.

    De acordo com o Decreto Federal n. 3.695/00, o Conselho Especial do

    Subsistema deve propor a integrao de todos os rgos de Inteligncia de

    Segurana Pblica dos Estados e do Distrito Federal e estabelecer normas

    80 Ibid.

    81 WENDT, Emerson. Inteligncia de Segurana Pblica e DNISP Aspectos iniciais. 15 de maro de

    2010. Acessado em 5/8/2011. Disponvel em: http://www.inteligenciapolicial.com.br/2010/03/inteligencia-de-seguranca-publica-e.html

    82 Ibid.

  • 42

    operativas e de coordenao da atividade de Inteligncia de Segurana Pblica,

    acompanhando e avaliando o desempenho desta83.

    3.3 DOUTRINA DE INTELIGNCIA NO RIO DE JANEIRO

    3.3.1 Origem histrica

    Iniciada e comandada pelo Chefe de Polcia Euzbio de Queiroz, a polcia

    secreta surgiu sem um regulamento formal e uma hierarquia definida. Os agentes

    secretos, ou espies, trabalhavam em conjunto com a populao que era

    incentivada a delatar crimes e criminosos em troca de prmios em dinheiro. O

    incentivo era estendido aos policiais cujos baixos salrios poderiam melhorar

    mediante a premiao84.

    Aps a reforma do Cdigo de Processo Criminal em 1841, que ampliou a

    atividade secreta da polcia, os agentes secretos infiltravam-se paisana no meio da

    populao, constituindo uma espcie de trabalho de detetive85.

    As atividades de polcia secreta eram executadas por dois grupos de agentes.

    O primeiro era formado por uma equipe regular, convocada pelo Chefe de Polcia ou

    pelos Delegados para espreitar certas atividades suspeitas e prestar apoio a

    operaes policiais. O segundo, era provisrio, formado por homens contratados e

    pagos para executarem determinados servios86.

    A exposio ao ambiente criminal mostrou-se nociva a alguns destes agentes,

    que acabaram aproveitando-se do cargo para obter vantagens. Muitos agentes

    foram dispensados, acusados de facilitar a continuidade das casas de jogos e de

    prostituio, e at de incentivar o crime, chegando-se ao extremo de, em 1880,

    serem todos dispensados pelo Chefe de Policia. Em 1890, j na repblica, este

    83 BRASIL. Presidncia da Repblica, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurdicos. Cria o

    Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica, no mbito do Sistema Brasileiro de Inteligncia, e d outras providncias. D.O. Eletrnico de 22/12/2000, P. 77.

    84 REZNIK, Luis. 200 anos da Polcia Civil do Estado do Rio de Janeiro 2008. 1 ed. Rio de Janeiro:

    Editora Ideorama, 2008.

    85 Ibid.

    86 Ibid

  • 43

    modelo de polcia secreta foi substitudo por outro, composto de 35 agentes secretos

    que recebiam salrios fixos87.

    3.3.2 Fase recente

    No Rio de Janeiro, a necessidade de se dispor de um Sistema de Inteligncia

    de Segurana Pblica que pudesse fazer um processamento contnuo de dados

    para assessorar o Secretrio de Estado de Segurana Pblica e as polcias, surgiu

    na Operao Rio, de 1994.

    Operao Rio demonstrou que a ao policial de massa a nada conduz se no for alicerada pelo conhecimento preciso, objetivo, oportuno e seguro. Os rgos de Inteligncia das Foras Armadas, desorientados pelo "know-how" perdido e pela inexperincia na atuao contra a criminalidade, em nenhum momento conseguiram alimentar as tropas com o conhecimento necessrio para prender os chefes do trfico

    88.

    Somente no ano seguinte, esse processo teve incio na rea federal, quando

    foi criada a ABIN, rgo central do Sistema Brasileiro de Inteligncia (SISBIN). No

    mbito desta, o Decreto Federal n 3.695, de 21 de dezembro de 2000, criou, o

    Subsistema de Inteligncia de Segurana Pblica (SISP), cujo rgo central a

    Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP) do Ministrio da Justia89.

    A ABIN atua na identificao de ameaas do crime organizado e contra a

    segurana pblica, na neutralizao da espionagem estrangeira e na vigilncia de

    pessoas ou grupos vinculados ao terrorismo internacional dentro do Brasil. Tambm

    o rgo central do Sistema Brasileiro de Inteligncia (SISBIN), que congrega os

    rgos da comunidade de Inteligncia do Pas90.

    87 Ibid

    88 FERREIRA, Romeu Antonio. Situao da Inteligncia. In. Conferncia para o curso de ps-graduao em estratgia militar para gesto de negcios, Ribeiro Preto, SP: FAAP: 2011.

    89

    RIO DE JANEIRO, op.cit.

    90 GONALVES, op.cit.

  • 44

    O Rio de Janeiro est integrado ao governo federal por meio Sistema de

    Inteligncia de Segurana Pblica (SISPERJ), atravs da SSINTE, no SISP e no

    SISBIN91.

    O Estado do Rio de Janeiro saiu na frente, criando, em 01 de Janeiro de 1995, um rgo de Inteligncia diretamente ligado ao Secretrio de Segurana, o ento Centro de Inteligncia de Segurana Pblica (CISP), atual Subsecretaria de Inteligncia (SSINTE). O sucesso alcanado pelo CISP/RJ provocou a criao de rgos similares, em diversos estados do Pas

    92.

    Para que o SISPERJ pudesse orientar e padronizar sua atuao, permitindo

    elevar seus padres de eficincia e de eficcia, foi adotada, formalmente, a Doutrina

    de Inteligncia de Segurana Pblica, publicada no Boletim Reservado 40, de 22 de

    novembro de 2002, da SSP/RJ, posteriormente aperfeioada pela nova Doutrina de

    Inteligncia de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro (DISPERJ),

    publicada na Portaria n 0001, de 15 de setembro de 200493.

    3.4 INTELIGNCIA DE SEGURANA PBLICA (ISP)

    A Inteligncia de Segurana Pblica (ISP) trata da aplicao da atividade de

    Inteligncia clssica Segurana Pblica, e, vem sendo utilizada pela Secretaria de

    Segurana do Estado do Rio de Janeiro no combate criminalidade e ao crime

    organizado. Emprega o conjunto de conceitos, caractersticas, princpios, valores,

    classificaes, normas, mtodos, medidas e procedimentos94.

    91 RIO DE JANEIRO, op.cit.

    92 FERREIRA, op.cit.

    93 RIO DE JANEIRO, op.cit.

    94 Ibid.

  • 45

    A atividade de ISP, segundo a Disperj (Doutrina de Inteligncia de Segurana

    Pblica do Rio de Janeiro), conceituada como:

    o exerccio permanente e sistemtico de aes especializadas para a identificao, acompanhamento e avaliao de ameaas reais ou potenciais na esfera de segurana pblica, orientadas, basicamente, para a produo e para a salvaguarda de conhecimentos necessrios deciso, ao planejamento e execuo de uma poltica de segurana pblica e das aes para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza

    95.

    Deve estar alicerada em valores ticos e morais, estando compromissada

    com a vida, a verdade, a justia, a honra, a integridade de carter, a famlia, a

    solidariedade, o patriotismo, a democracia, a legislao e o respeito aos direitos

    humanos96.

    A ISP tem dez caractersticas que a identificam e a qualificam como tal, a

    saber: produo de conhecimento, assessoria, verdade com significado, busca de

    dados protegidos, aes especializadas, economia de meios, iniciativa, amplitude,

    flexibilidade e segurana97.

    Tambm so dez os princpios da ISP, que, vm a ser as proposies

    diretoras da orientao e da definio das atividades: preciso, imparcialidade,

    objetividade, simplicidade, oportunidade, interao, permanncia, controle,

    compartimentao e sigilo98.

    Assim como as moedas tm uma cara e uma coroa, indissoluvelmente ligadas,

    a atividade de ISP, igualmente, possui dois ramos interdependentes, a Inteligncia e a

    contra Inteligncia. O primeiro, ou Inteligncia positiva, destina-se a produzir

    conhecimentos para a atividade fim; enquanto que o segundo, ou Inteligncia

    negativa, busca proteger a prpria atividade de Inteligncia e a instituio a qual

    95 Ibid.

    96 Ibid.

    97 Ibid.

    98 Ibid.

  • 46

    pertence. Seus esforos esto direcionados principalmente aos assuntos internos,

    como desvios de conduta e ameaas de foras adversas99.

    A atividade de ISP, quando integralmente implementada, dever apresentar as seguintes principais vantagens: - reunir maior quantidade de dados; - produzir conhecimentos precisos, oportunos e seguros para os rgos policiais, proporcionando economia de meios; - estabelecer a capilaridade, isto , um fluxo de conhecimento da ponta cpula e vice-versa; - proporcionar um banco de dados diferenciado e suplementar ao criminal; - atuar num nvel da criminalidade em que as polcias no atuam ou atuam muito pouco; - facilitar as ligaes com os rgos similares federais e estaduais

    100.

    99 Ibid.

    100 Ibid.

  • 47

    4 ANLISE CRTICA

    No presente captulo ser traada uma anlise crtica ao real emprego dos

    conhecimentos do tipo apreciao e estimativa durante o perodo de 10 anos (1996

    a 2006), no Estado do Rio de Janeiro, obtida atravs de entrevistas aos ocupantes

    dos cargos de dirigentes de agncia central e decisores do respectivo perodo.

    Sero levantados os pontos fortes e fracos no ambiente interno, ameaas e

    oportunidades no ambiente externo que podero contribuir para as polticas pblicas

    de segurana.

    4.1 OPERADORES E DECISORES

    Para o presente estudo a figura do operador se limita ao Diretor de Centro de

    Inteligncia, embora o conceito de operador seja bem mais abrangente, incluindo

    todos profissionais que trabalham na produo de conhecimento de Inteligncia e na

    assessoria aos decisores.

    Os decisores so as autoridades governamentais do Estado do Rio de

    Janeiro na rea da Segurana Pblica, responsveis pela elaborao e deciso das

    polticas pblicas.

    Embora seja possvel uma distino entre as pessoas que tomam decises

    finais sobre a poltica e as que meramente recomendam polticas, e outra distino

    entre as pessoas que recomendam ou decidem sobre a poltica e aquelas que

    meramente executam, no parece haver nenhuma finalidade til em estabelecer

    essas distines aqui.

    Ao analisarmos o grau de influncia dos documentos em nvel estratgico,

    produzidos por Agncias de Inteligncia de Segurana Pblica, consideramos os

    conhecimentos do tipo apreciao e estimativa como sendo aqueles que permitem

    um grau de elaborao intelectual e tcnico possveis de subsidiar planejamentos

    estratgicos, traados por Secretrios de Estado para o alcance das polticas

    governamentais na rea de segurana pblica.

  • 48

    4.2 MTODO DE ENTREVISTA

    O material usado neste captulo deriva, principalmente, de entrevistas

    realizadas com ex-diretores de Centros de Inteligncia e de ex-Secretrios de

    Estado das Secretarias de Segurana Pblica e Administrao Penitenciria no

    Estado do Rio de Janeiro, no perodo compreendido entre os anos de 1996 a 2006.

    Embora as perguntas tenham se repetido, o questionrio padronizado foi

    utilizado apenas como uma orientao para o desenvolvimento do trabalho.

    Aps uma breve explanao sobre o tema da entrevista, o entrevistador

    procurou manter, como referncia, as informaes estratgicas e a atuao na

    agncia central, sondando os pontos importantes e procurando extrair dos

    entrevistados suas impresses pessoais, por meio das experincias vividas na

    Secretarias que cuidam da segurana no Rio de Janeiro.

    Este captulo foi dedicado, primeiramente, formulao da opinio dos

    operadores e decisores sobre a regularidade da produo dos documentos,

    apreciao e estimativa na agncia central. A seguir, foi avaliada a contribuio para

    a segurana pblica pela produo de anlises prospectivas. Posteriormente, foi

    levantada a indagao quanto aos bices encontrados para a produo de

    conhecimento em nvel estratgico e, por fim, foi analisado o legado da Inteligncia

    em nvel estratgico para o incremento de polticas pblicas na rea da segurana.

    4.2.1 Apreciaes e Estimativas nas Agncias Centrais

    A pergunta formulada aos operadores e decisores entrevistados versava

    sobre a freqncia com que a Agncia Central do Sistema de Inteligncia de

    Segurana Pblica foi demandada no assessoramento em nvel estratgico, atravs

    de documentos do tipo apreciao ou estimativa.

    Os operadores, em sua grande maioria, reconheceram que a produo de tais

    documentos foi bastante incomum no perodo em que dirigiram a agncia central,

    por diversos motivos: o carter inovador, porque no dizer, pioneiro da atividade de

    Inteligncia de forma organizada no mbito policial. Por tal motivo, na dcada em

    anlise, foram criadas estruturas para a organizao do sistema de Inteligncia de

  • 49

    segurana pblica: criao de rgos, elaborao de planos, doutrina e treinamento

    do efetivo. Tais medidas, inegavelmente, apresentaram carter estratgico para a

    gesto e cumprimento de uma poltica de segurana pblica. Todavia, no podem

    ser consideradas como produo de conhecimento, em nvel estratgico.

    Por conta de todo o planejamento e implementao da estrutura da agncia

    Central CISP e sua reestruturao como SSINTE, houve uma grande

    demanda na produo de atividade em nvel estratgico101

    Outro argumento apresentado foi em funo da necessidade de conhecer do

    decisor que se apresentou de forma incidente, quanto produo do conhecimento

    Apreciao, em razo dele expressar opinio sobre o passado e/ou presente, mas,

    tambm, segundo a doutrina, para prospeco no futuro imediato, ou seja,

    raciocnios formulados para o futuro prximo, diferentemente da Estimativa, onde a

    anlise visa o futuro mediato, distante. me explique para que eu possa reescrever

    Assim, era a busca por informaes correntes que permitiam o

    assessoramento imediato, inerente prpria dinmica da segurana pblica e

    administrao penitenciria e suas interfaces, alm de questes polticas que

    acabavam por limitar no tempo o interesse do gestor.

    O relato de um dos operadores retrata bem a situao da produo desse tipo

    de conhecimento, in verbis:

    Ao longo de 11 (onze) anos ininterruptos atuando na Inteligncia Estadual,

    nos seus diversos rgos, seja como analista, gestor ou assessor (Polcia

    Militar, Secretaria de Administrao Penitenciria e Ministrio Pblico),

    nunca me deparei com uma Estimativa. A complexidade deste

    conhecimento, somada a desestruturao dos dados (no estruturao

    adequada em suas mais diversas bases) e/ou conhecimentos e a

    descontinuidade de polticas na rea, dificultava sua produo e uso

    adequado102

    .

    101 ORAF

    102 OAVV

  • 50

    Quanto aos decisores, ao atriburem a aplicao de aes estratgicas

    durante a estruturao do sistema de Inteligncia como produo de conhecimento

    estratgico, consideraram uma boa frequncia de tal atividade em suas gestes.

    4.2.2 Anlise Prospectiva contribuio para a Segurana Pblica

    A Produo de conhecimento prospectivo ou antecipativo se refere ao aviso

    de alerta, dado atravs das informaes correntes, apontando uma grande crise em

    planejamento, como, por exemplo, os ataques realizados pelo trfico de drogas ao

    Rio de Janeiro, no final do ano de 2006. Tanto os operadores, como os decisores

    informaram que houve uma contribuio significativa do conhecimento antecipativo

    para a tomada de deciso e na gesto do planejamento de polticas pblicas na rea

    de segurana.

    Mas, se a referncia feita espcie de aviso oriundo de uma anlise

    estimativa de tendncias, da anlise de possibilidades e da deduo de intenes,

    os pontos de vista dos operadores variaram.Quando instados especificamente sobre

    esta espcie de advertncia, muitos operadores disseram que a aprovavam, mas

    com frequncia acrescentaram que julgavam que outras funes eram mais

    importantes.

    Acreditamos que o emprego de conhecimentos, apesar de servir de insumo

    ao nvel estratgico, normalmente se desdobrava em aes nos nveis ttico

    e operacional. A necessidade constante de resultados e as naturais

    demandas do dia-a-dia (apagar incndios), em muito dificultavam a

    aplicao estratgica. Sem esquecer que tal utilizao, ainda possui dois

    campos de aplicao, ou seja, o estratgico poltico e o estratgico

    executivo. Neste a aplicao ainda mais rara103

    .

    Um operador, por exemplo, declarou que um dos fatores que dificultou o

    trabalho de produo de conhecimento prospectivo foi a prpria figura do decisor.

    No havendo estmulo do decisor em requisitar agncia central a elaborao de

    estudos que pudessem servir de base para o planejamento estratgico, mas, sim,

    103 OAVV

  • 51

    exigindo medidas urgentes sobre fatos pontuais e ocupando a agncia central com

    atividades tpicas das polcias (civil ou militar), atuando como um terceiro organismo

    policial no exerccio de atividades incompatveis com sua misso.

    4.2.3 Produo de Conhecimento em Nvel Estratgico bices

    As entrevistas realizadas apontam o grau de fragilidade das polticas traadas

    para a rea de segurana, deixando ao alvedrio do decisor poltico de planto a

    tomada de deciso, ainda com bases pouco slidas. Logo, o sistema de Inteligncia

    ficou sujeito a tais mudanas de concepo, muitas das quais sem qualquer rigor

    tcnico, apenas pelo prazer de no se dar continuidade