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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA CURSO DE DOUTORADO EM ZOOLOGIA Interação de Ucides cordatus Linnaeus, 1763 em manguezais da Ilha de Marajó: uma abordagem ecológica CLEIDSON PAIVA GOMES Orientador: Dr. Marcus E. B. Fernandes Belém - PA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA

CURSO DE DOUTORADO EM ZOOLOGIA

Interação de Ucides cordatus Linnaeus, 1763

em manguezais da Ilha de Marajó: uma

abordagem ecológica

CLEIDSON PAIVA GOMES

Orientador: Dr. Marcus E. B. Fernandes

Belém - PA

2012

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CLEIDSON PAIVA GOMES

Interação de Ucides cordatus Linnaeus, 1763

em manguezais da Ilha de Marajó: uma

abordagem ecológica

Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B. Fernandes

Belém - PA

2012

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi e

Universidade Federal do Pará, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Doutor em Zoologia.

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i

FOLHA DE APRESENTAÇÃO

Candidato: Cleidson Paiva Gomes

Título da Tese: Interação de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) com os

manguezais da Ilha de Marajó: uma abordagem ecológica.

Área de concentração: Zoologia

Orientador: Marcus Emanuel Barroncas Fernandes

A comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa da Tese de Doutorado,

em sessão pública realizada em 01/10/2012, considerou.

(X) Aprovado ( ) Reprovado

Banca Examinadora

Examinador Nome: Dr. João Marcos Góes Instituição: Universidade Federal do Piauí Assinatura:__________________________________________ Examinador Nome: Dr. Fernando Araújo Abrunhosa Instituição: Universidade Federal do Pará – Campus Bragança Assinatura:__________________________________________ Examinador Nome: Dra. Moirah Paula Machado de Menezes Instituição: Universidade Federal do Pará – Campus Bragança Assinatura:__________________________________________ Examinador Nome: Dr. Cleverson Rannieri Meira dos Santos Instituição: Museu Paraense Emílio Goeldi Assinatura:__________________________________________ Presidente: Nome: Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes Instituição: Universidade Federal do Pará – Campus Bragança Assinatura:__________________________________________

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ii

EPÍGRAFE

“...Minha cama é a lama, calendário é o mar.

Me persegues, me punis.

Mas não vou me entregar.

Hoje noite de lua, noite boa pra namorar.

Guardarei meus instintos.

Hoje eu quero só andar...”

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iii

DEDICATÓRIA

“Dedico a Deus, o pleno responsável por tudo em minha vida...”

A meu Pai, João Gomes Filho e ao meu Tio Wagner Pinheiro.

In memorian

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iv

AGRADECIMENTOS

- Ao Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Paraense Emílio

Goeldi, pela oportunidade de formação.

- Ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Abaetetuba.

- Ao Prof. Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes pela orientação, paciência

e apoio durante o desenvolvimento deste desta Tese. Sou grato por todo o

aprendizado.

- A minha esposa Lana Gomes e meus filhos, Évora, João Neto e David

Gomes, que souberam esperar por tanto tempo para que ficássemos

finalmente juntos, pra sempre!

- A minha grande Mãe, Alzira Gomes e as minhas Irmãs, Christiane e Carla

Gomes, que sempre estiveram presentes nos momentos importantes.

- Ao meu Irmão, Danilo Gardunho, eternos parceiro no campo e na vida. Valeu

Companheiro.

- Ao casal, Osvaldo e Mônica Gardunho, pela acolhida e generosidade.

- Ao Sr. Brito e Sra. Jerônima, pela amizade e logística em Soure.

- A Dra. Eva Abufauiad, pela grande acolhida, simpatia e apoio em Soure.

- A Tropa do mangue: Juliana Reis, Zoio, Ney, Berruga e Sr. Pedrinho. Minha

grande equipe de Campo.

- Aos parceiros, Rosa, Adriane, Jota, Neto, Gavino e Joãozinho pelo apoio nas

coletas.

- A todos os colegas do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), UFPA.

- As amigas, Dorotéia e Vanessa, pelo apoio e por estarem sempre dispostas a

ajudar.

- A todos que tenham contribuído em qualquer momento para a concretização

deste trabalho.

Obrigado!

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v

SUMÁRIO

FOLHA DE APRESENTAÇÃO ............................................................................... i

EPÍGRAFE ............................................................................................................ ii

DEDICATÓRIA ..................................................................................................... iii

AGRADECIMENTOS ........................................................................................... iv

SUMÁRIO.............................................................................................................. v

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ vi

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... vii

LISTA DE ANEXOS ............................................................................................ vii

RESUMO GERAL ................................................................................................ ix

ABSTRACT ........................................................................................................... x

CAPÍTULO 1. INTRIDUÇÃO GERAL ...................................................................1

1.1. O ecossistema manguezal .............................................................................1

1.2. O caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e seu papel ecológico.7

2. Principais Objetivos ......................................................................................... 13

O ESCOPO DA TESE ......................................................................................... 14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 15

CAPÍTULO 2. Associação de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Ucididae) às

zonas de transição com várzea estuarina na Ilha de Marajó, Pará, Brasil .......... 26

RESUMO............................................................................................................. 27

ABSTRACT ......................................................................................................... 28

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 29

MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 31

RESULTADOS .................................................................................................... 35

DISCUSSÃO ....................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 45

CAPÍTULO 3. Avaliação de fatores que controlam as populações de Ucides

cordatus (Linnaeus, 1763) (Ucididae) em zonas de transição na Ilha de Marajó,

Pará, Brasil .......................................................................................................... 52

RESUMO............................................................................................................. 53

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ABSTRACT ......................................................................................................... 54

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 55

MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 57

RESULTADOS .................................................................................................... 60

DISCUSSÃO ....................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 72

CAPÍTULO 4. Predação e seletividade de propágulos de Rhizophora spp. por

Ucides cordatus (Linnaeus, 1763): o efeito sobre o seu recrutamento nas

florestas de mangue na Ilha de Marajó, Pará, Brasil ........................................... 80

RESUMO............................................................................................................. 81

ABSTRACT ......................................................................................................... 82

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 83

MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 86

RESULTADOS .................................................................................................... 94

DISCUSSÃO ....................................................................................................... 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 103

CAPÍTULO 5. DISCUSSÃO GERAL ................................................................. 109

DISCUSSÃO GERAL ........................................................................................ 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 114

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vi

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1 .........................................................................................................1

Fig. 1: Caranguejo-uçá (Ucides cordatus), Paia do Goiabal, Soure, Ilha de Marajó, Pará,

Brasil ................................................................................................................... 10

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................... 26

Fig. 1. Localização geográfica dos sítios de coleta no município de Soure, litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ................................................................... 34

Fig. 2. Densidade relativa das árvores de mangue e da várzea estuarina nos manguezais da Praia do Goiabal e Furo do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. .................................................................................................................. 38

Fig. 3. Relação entre a densidade de galerias de Ucides cordatus e o nível de transição (V=densidade de árvores de várzea estuarina / M=densidade de árvores de mangue), em Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ............................. 39

Fig. 4. Relação entre a largura da carapaça (LC) de Ucides cordatus e o nível de transição (V=densidade de árvores de várzea estuarina / M=densidade de árvores de mangue), em Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ............................. 39

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................... 52

Fig. 1. Localização geográfica dos sítios de coleta no município de Soure, litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ................................................................... 58

Fig. 2. Variação anual da salinidade nos sítios de trabalho, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ............................................................................................ 62

Fig. 3. Participação percentual dos componentes da serapilheira nos manguezais de baixa e alta transição com várzea estuarina, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. Rh=Rhizophora spp., Vz=Várzea estuarina, Av=Avicennia germinans, La=Laguncularia racemosa .............................................................. 64

CAPÍTULO 4 ....................................................................................................... 80

Fig. 1. Localização geográfica do sítio de trabalho (Praia do Goiabal) no município de Soure, litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil. ........................ 87

Fig. 2. Desenho esquemático da fixação das cestas coletoras no principal canal-de-maré do manguezal da Praia do Goiabal, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil... ................................................................................................................ 64

Fig. 3. Frequência média cumulativa da predação sobre propágulos de Rhizophora spp. de tamanho mais viável e menos viável ao desenvolvimento, ao longo de 41 dias de exposição ............................................................................ 64

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vii

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................... 26

Tabela I. Valores médios dos atributos estruturais da vegetação de Mangue (Rhizophora) e de Várzea Estuarina nos manguezais da Praia do Goiabal e Furo do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. DAP= Diâmetro à Altura do Peito; Alt= Altura; FR= Frequência Relativa; DE = Densidade; DO = Dominância; VI = Valor de importância. DP= desvio-padrão, P = nível de significância (<0,05), n.s. = não significativo ................................................................................................ 37

Tabela II. Valores médios ± Desvio-Padrão da densidade de galerias ocupadas e largura da carapaça de Ucides cordatus nos manguezais da Praia do Goiabal e Furo do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. P = nível de significância (<0,05) ................................................................................................................. 38

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................... 53

Tabela I. Produção total e dos componentes da serapilheira (Mg.ha-1), Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. BT= Baixa transição, AT= alta transição, Rh=Rhizophora spp., Vz=Várzea estuarina, Av=Avicennia germinans, La=Laguncularia racemosa, P=nível de significância (<0,05), n.s.= não significativo, n.a. = não aplicável. ........................................................................ 44

Tabela II. Características utilizadas como indicadores da atividade de pescas do caranguejo-uçá em manguezais de baixa e alta transição com várzea estuarina, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. LC = Largura da carapaça, DeR= densidade relativa. ................................................................................................................ 63

CAPÍTULO 4 ....................................................................................................... 80

Tabela I. Taxa de herbivoria sobre propágulos e folhas de Rhizophora spp., na Praia do Goiabal, Soure, Pará, Brasil. Tratamento-1= menor oferta de alimento; Tratamento-2= maior oferta de alimento; A (%)= percentual da taxa de consumo considerando para cada item individualmente; B (%)= percentual da taxa de consumo para os dois itens juntos. Valores de oferta e consumo estão expressos em peso seco (gPS.m-2.dia-1). .............................................................................. 96

Tabela II. Resultado da ANOVA: Fatorial axb (com replicação) da média cumulativa de herbivoria sobre propágulos de Rhizophora spp. de tamanho viável e menos viável para o recrutamento, ao longo do tempo de exposição. SQ = Soma dos Quadrados; QM = quadrado médio ................................................. 98

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viii

LISTA DE ANEXOS

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................... 26

Anexo I. Valores utilizados para a análise de regressão entre a densidade de galerias (galerias.m-2) e a largura da carapaça (mm) de U. cordatus com os valores do níveis de transição (V=densidade de árvores de várzea estuarina / M=densidade de árvores de mangue).............................................................. ...44 Anexo II. Comparação da densidade de galerias e largura da carapaça (LC) de Ucides cordatus nos manguezais de diferentes municípios do Estado do Pará, Brasil. .................................................................................................................. 44

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................... 52

Anexo I. Comparação da produção anual de serapilheira (Mg.ha-1) em florestas dominadas por espécies do gênero Rhizophora, no litoral brasileiro. ................. 71

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ix

RESUMO

O presente trabalho foi realizado nos manguezais de Soure, Ilha de

Marajó, Pará, Brasil, onde o grande aporte fluvial permite o desenvolvimento de

zonas de transição estuário/rio que definem o limite geobotânico para os

manguezais paraenses e, consequentemente, para o caranguejo-uçá, Ucides

cordatus (Ucididae) frequentemente encontrado na região. Para uma

abordagem ecológica sobre a interação entre U. cordatus e as florestas de

mangue foram investigados os seguintes temas: i) a relação entre as

características populacionais de U. cordatus e os diferentes níveis de transição

ao longo do gradiente de vegetação entre as florestas de mangue e as florestas

de várzea estuarina; ii) a influência dos fatores ambientais dessas zonas de

transição sobre os padrões de tamanho e densidade populacional de U.

cordatus; iii) os impactos da herbivoria de U. cordatus sobre a produção de

propágulos e os possíveis efeitos no processo de recrutamento desses

propágulos para as florestas de mangue. Sítios de trabalho foram classificados

quanto ao nível de transição com floresta de várzea estuarina, sendo estes

valores correlacionados com dados de densidade e tamanho dos indivíduos

das populações de U. cordatus. Em cada sítio de trabalho determinou-se a

disponibilidade de alimento através da serapilheira, as taxas de salinidade, e os

indicadores das atividades de pescadores sobre essas áreas. O impacto de U.

cordatus sobre o recrutamento dos bosques foi avaliado através da estimativa

da taxa de herbivoria e predação de propágulos. Os resultados revelam que em

zonas de “alta transição” as condições locais parecem limitar os estoques de U.

cordatus, haja vista essa espécie ter apresentado valor de densidade

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populacional muito abaixo daqueles registrados na zona de “baixa transição”.

No entanto, zonas de alta transição oferecem condições mais favoráveis ao

desenvolvimento das populações do caranguejo-ucá, principalmente no que se

refere à variabilidade e disponibilidade de alimento e à proteção contra a ação

antrópica na região. Os indicadores da atividade da pesca de U. cordatus

revelaram que os bosques de mangue da zona de baixa transição estão mais

sujeitos à sobreexploração, principalmente pela facilidade de acesso. A

principal via de impacto sobre os propágulos foi a taxa de consumo de 60%,

sendo que a taxa de exportação dos propágulos pelas marés foi de apenas 1%,

sendo considerada pouco relevante. U. cordatus pode ser considerado o

principal agente de impacto sobre a produção de propágulos desses bosques

de mangue sem apresentar seletividade por tamanho ou maturidade dos

propágulos, sendo importantes na regulação das taxas de recrutamento e,

consequentemente, na dinâmica populacional das árvores de Rhizophora nas

florestas de mangue da zona costeira da Ilha de Marajó, na Amazônia

brasileira.

Palavras-chave: manguezal, caranguejos, Ucides cordatus, propágulos,

Rhyzophora.

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x

ABSTRACT

The present study was carried out in the mangroves of Soure, Marajó

Island, Pará, Brazil, where the great amount of freshwater intake allows the

development of transition zones estuary/river defining the geobotanic limits for

mangroves in the state of Pará and, hence, for the leaf-removing mangrove

crab (Ucididae). For an ecological approach on the interaction between U.

cordatus and mangrove forests the following issues were investigated: i) the

relationship between the population characteristics of U. cordatus and different

transition levels along the gradient of vegetation between mangrove forests and

tidal valley forests, ii) the influence of environmental factors of such transition

zones on patterns of size and density of U. cordatus population, iii) the impacts

of herbivory of U. cordatus on the seedlings production and the possible effects

on recruitment process of these seedlings for mangrove forests. Study sites

were classified according to the transition level of the tidal várzea forests, and

these values correlated with density and size values of U. cordatus population.

In each study site the availability of food by litterfall rates, salinity, and indicators

of fishing activities on these areas were determined. The impact of U. cordatus

on the recruitment of mangrove stands was evaluated by estimating the rate of

herbivory and predation on propagules. The results reveal that in the zone of

"high transition" local conditions seem to limit U. cordatus stocks, showing that

the density of this species population is much lower compared to those

recorded in the "low transition" zone. However, areas of high transition offer

more favorable conditions for development of the leaf-removing mangrove crab

populations, especially with regard to the variability and availability of food and

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protection from human action in the region. The indicators of fishing activity on

U. cordatus revealed that the mangrove forests of the lower transition zone are

more subject to overexploitation, mainly for ease of access. The main via of

impact on propagules was the consumption rate of 60%, being the rate of

export of propagules by tides of only 1%, thus less relevant. U. cordatus may be

considered the most important impact agent on the propagules production of

these mangrove forests without showing selectivity by size or maturity of

seedlings, being important in the regulation of recruitment rates and, hence, in

the population dynamics of Rhizophora’s trees in the mangrove forests on the

coastal zone of Marajó Island, in the Brazilian Amazon.

Keywords: mangrove, crabs, Ucides cordatus, propagules, Rhyzophora.

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CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO GERAL

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2

1.1. O ecossistema manguezal

O estuário é um sistema heterogêneo onde o nível de salinidade depende

da relação entre os volumes de água do mar e dos rios, bem como da amplitude

das marés, da topografia e do clima local, com tendência a variações diárias

desses fatores (Spivak, 1997). Esse ambiente é caracterizado pela predominância

de material sedimentar fino de origem marinha, fluvial e terrestre, que se acumula

nessas áreas formando planícies de sedimento ricas em alimento, mas pobres em

oxigênio (Mclusky, 1989).

As regiões estuarinas abrigam diferentes ecossistemas como, por exemplo,

as marismas que são dominadas por vegetação herbácea e as largas faixas de

manguezais, as quais são típicas de regiões tropicais e subtropicais (Schaeffer-

Novelli et al., 2000). O ecossistema manguezal funciona como uma barreira

protetora das regiões costeiras, recebendo depósitos de sedimento dos rios e

diminuindo a força das marés, assegurando equilíbrio morfogenético a essas

regiões (Schaeffer-Novelli et al., 1990; Mendes, 2003). Os manguezais, também

atuam como nicho e abrigo para organismos marinhos, onde inúmeras espécies

se desenvolvem e reproduzem (Twilley et al.,1985).

O termo manguezal é usado para designar um sistema ecológico

(Schaeffer-Novelli et al., 2000), enquanto o termo mangue é utilizado para

designar um grupo florístico diverso de arbustos e árvores tropicais

fisiologicamente adaptadas à permanência em áreas alagadas, salinas, de

substratos inconsolidados e de baixo teor de oxigênio (Ovalle et al., 1990; Ridd,

1996).

O litoral brasileiro possui uma das maiores áreas de manguezal do mundo,

estimada em 1,38 milhões de hectares, distribuídos ao longo de uma costa de

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3

aproximadamente 6800 km de extensão (Kjerve & Lacerda, 1993). A planície

costeira do Estado do Pará tem aproximadamente 300 km, estendendo-se desde

o braço norte do rio Amazonas até o município de Viseu (Almeida, 1996). Essa

região abriga extensos manguezais, cobrindo uma área aproximada de 2.177 km2

(Souza-Filho, 2005). Semelhantes aos bosques do Amapá e do Maranhão, os

bosques de mangue paraenses formam um dos maiores conjuntos de

manguezais do mundo, conferindo à região, considerável riqueza em recursos

naturais (Prost et al., 2001).

Os manguezais do litoral norte brasileiro destacam-se pelo notável efeito

da descarga do rio Amazonas sobre as águas da costa. O litoral paraense, em

particular, é caracterizado pela presença de elevado número de rios e estuários,

que possuem grande influência na dinâmica dos fatores físicos e oceanográficos,

bem como na ecologia da biota da região (Camargo & Isaac, 2003).

No estuário baía de Marajó, Pará, os manguezais estão submetidos a

condições extremamente baixas de salinidade, as quais são determinadas pelo

grande aporte de água doce oriunda principalmente do rio Pará. Alguns

manguezais dessa região estão inseridos em zonas de interface com outros

ecossistemas florestais amazônicos como, por exemplo, as várzeas estuarinas

que são descritas como florestas sujeitas a enchentes diárias, resultantes de rio

com influência das marés e que podem sofrer ação da água salgada (Prance,

1979). De acordo com Mendes (2003), as zonas de transição estuário/rio definem

o limite geobotânico para os manguezais paraenses, formando um gradiente

vegetacional em resposta à maior influência fluvial e às modificações no solo da

floresta, devido ao acúmulo de silte e areia no sedimento.

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Nos trópicos úmidos, onde as condições climáticas são favoráveis ao

rápido crescimento vegetal, os manguezais são altamente produtivos (Clough et

al., 1997). Essa produtividade ainda é bastante discutida nos diversos estudos

sobre os manguezais, considerando-se desde as comunidades até o nível

específico (Lamparelli, 1995; Almeida, 2005; Mehlig, 2006; Fernandes et al., 2007;

Bernini & Rezende, 2010). Outros autores investigaram as causas da variação da

produtividade nessas florestas, incluindo fatores locais, tais como: precipitação,

temperatura, radiação solar, velocidade dos ventos (Duke, 1990; Slim et al., 1996;

Fernandes, 1999; Mehlig, 2001), salinidade (Cintrón et al., 1978; Ball, 1988; Lin &

Sternberg, 1992), acúmulo de gás sulfídrico (McKee, 1993), condições do solo e

limitação de nutrientes (Pezeshki et al., 1997; Feller, 1995). De acordo com

Schaeffer-Novelli et al., (2000), o suprimento adequado de nutriente está

intimamente ligado ao fluxo hídrico, tendo como principal porta de entrada para

esse sistema a maré de sizígia, que carreia os nutrientes da água do mar, das

chuvas e da drenagem dos rios.

Os manguezais comportam uma grande diversidade e abundância de

biomassa em seu sedimento, as quais são importantes para o processo de

decomposição e reciclagem de nutrientes. Estas por sua vez, podem sofrer

variações em função da composição dos bosques, do material trazido pelos rios

de áreas adjacentes, da exportação de detritos pelas marés e de seu consumo

pela macrofauna (Twilley, 1985; Alongi, 1997; Koch & Wolff, 2002; Sherman et al.,

2003).

As folhas das árvores de mangue são o principal componente da

serapilheira (Clough et al., 2000; Fernandes et al., 2007; Bernini & Rezende,

2010), cuja degradação da matéria orgânica produz detritos em ativo processo de

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decomposição que, por fim, são disponibilizados para o uso do próprio sistema

(Houlguin et al., 2001).

As florestas de mangue vivem submetidas a uma série de fatores adversos,

tais como a grande mobilidade dos solos lamosos, a aeração deficiente e a alta

taxa de salinidade (Schaeffer-Novelli et al., 1999). A ação desfavorável desses

fatores explica o reduzido número de espécies vegetais que nele ocorrem, já que

as mesmas necessitam de adaptações especiais para sobrevivência nestes

ambientes (Tomlinson, 1986). Entre essas espécies destacam-se as do gênero

Rhizophora L. (mangue vermelho), Avicennia L. (Siriúba) e Laguncularia Gaertn. f.

(mangue branco) cuja distribuição é influenciada pela maior ou menor tolerância à

salinidade, ao aporte de água doce, à preferência por determinados tipos de

sedimentos, à frequência de inundações e às declividades dos terrenos (Rebelo-

Mochel, 2000; Krause, 2001; Lara & Cohen, 2006).

Além de suas espécies vegetais características, os manguezais são

habitados em toda a sua extensão por organismos, como bactérias, microalgas,

protozoários, invertebrados e vertebrados em geral (Leitão, 1995). A fauna do

manguezal é constituída, principalmente, por espécies escavadoras, como

caranguejos e poliquetas que formam enormes populações nos fundos lamosos,

além de vários animais filtradores, como bivalves que se alimentam de partículas

suspensas na água (Camargo, 1986; Beasley et al., 2005).

Alguns representantes da fauna de manguezal atuam diretamente na

serapilheira acumulada no sedimento, influenciando a formação de detritos

através da alimentação (Koch & Wolff, 2002). Certas espécies fragmentam a

matéria vegetal, o que aumenta sua área superficial permitindo a colonização

microbiana (Skov & Hartnoll, 2002; Nordhaus et al., 2006). Entre os animais que

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atuam no consumo e retirada da serapilheira, os caranguejos correspondem a um

dos grupos de maior importância, devido à sua elevada biomassa, papel

bioturbador, e atuação no fluxo energético (Koch, 1999; Wolff et al., 2000;

Amouroux & Tavares, 2005).

Os caranguejos são adaptados aos mais variados tipos de ambiente, sendo

elementos importantes dentro das comunidades dos ecossistemas costeiros,

sendo de relevância ecológica e econômica (Teixeira & Sá, 1998). Sua

distribuição é abundante e controlada principalmente pela disponibilidade de

alimento, stress fisiológico causado pelo ambiente, diversidade de habitats,

competição e predação (Spivak, 1997; Koch & Wolff, 2002; Piou et al., 2009).

Além disso, características físico-químicas do sedimento, como a composição

granulométrica e o teor de matéria orgânica, também são considerados

relevantes, no aspecto populacional das espécies (Frusher et al., 1994; Mouton &

Felder, 1996; Morrisey et al., 1999; Ribeiro et al., 2005; Turra et al., 2005).

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1.2. O caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e seu papel

ecológico.

Em termos taxonômicos, o caranguejo-uçá é classificado nas seguintes

categorias principais (Ng et al, 2008):

Reino: Animalia

Filo: Arthropoda

Subfilo: Crustacea

Classe: Malacostraca

Ordem: Decapoda

Infraordem: Brachyura

Família: Ucididae

Gênero: Ucides

Espécie: Ucides cordatus (Linnaeus, 1763)

U. cordatus é uma espécie semiterrestre que ocorre em florestas de

mangue no Atlântico ocidental: Flórida, Golfo do México, Antilhas, norte da

América do Sul, Guianas e Brasil (do Amapá até Santa Catarina) (Spivak, 1997;

NG et al., 2008). A espécie é considerada endêmica dos manguezais (Melo,

1996) e apesar da sua importância econômica, os estudos que abordam os

aspectos ecológicos dessa espécie no litoral Paraense são, na sua maioria,

restritos à península de Ajuruteua, no município de Bragança (Koch, 1999;

Nordhaus, 2003; Schories et al., 2003; Diele et al., 2005; Nordhaus & Wolff, 2007;

Piou et al., 2009).

O caranguejo-uçá habita em galerias escavadas no substrato do

manguezal que servem de proteção contra predadores e a dessecação do

sedimento (Schories et al., 2003; Nordhaus & Wolff, 2009). A espécie possui

distribuição agregada nos manguezais, estando associada às raízes das árvores

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(Diele et al., 2005; Oliveira, 2005; Piou et al., 2009). Vários estudos destacam que

a composição e a estrutura dos bosques são fatores determinantes da distribuição

das populações de U. cordatus, de modo que os bosques dominados por

espécies do gênero Rhizophora parecem oferecer melhores condições de

alimentação e abrigo para esses crustáceos (Branco, 1993; Blankensteyn, et al.,

1997; Diele, 2000; Nordhaus et al. 2006; Hattori, 2006; Wunderlinch et al., 2008;

Piou et al., 2009; Goes et al., 2010).

Essa espécie de caranguejo apresenta um crescimento lento, cuja

estimativa de idade, até que atinja o tamanho comercial (6 cm de largura da

carapaça) é de 6,1 a 7,5 anos, podendo viver por mais de 10 anos (Diele, 2000).

O macho atinge uma largura máxima de carapaça entre 9,1 cm (Diele, 2000) e

10,1 cm (Fernandes & Carvalho, 2007). As fêmeas, por sua vez, atingem um

tamanho máximo entre 7,3 cm (Diele, 2000) e 7,8 cm (Pinheiro et al., 2005) de

largura.

Foto: Cleidson Gomes Fig. 1: Caranguejo-uçá (Ucides cordatus), Praia do

Goiabal, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

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A espécie exerce um papel-chave dentro do ecossistema manguezal

(Schories et al., 2003) em função do seu hábito alimentar e da expressiva

bioturbação do sedimento causada pela escavação das galerias, auxiliando na

dinâmica do fluxo de nutrientes (Smith et al., 1991; Amourox & Tavares, 2005). A

matéria orgânica originária da serapilheira constitui a base da cadeia alimentar

nos manguezais, sendo o principal recurso alimentar de diversas espécies de

insetos, moluscos e crustáceos (Twilley et al.,1997; Clough et al., 2000; Mckee,

1995).

O caranguejo-uçá alimenta-se principalmente da serapilheira, que é

colhida diariamente e consumida ou armazenada nas tocas (Nascimento, 1993;

Rademaker, 1998; Schories et al., 2003). A obtenção de alimento por essa

espécie é realizada durante a baixamar nas proximidades das tocas, para onde o

material é levado, constituindo-se principalmente de folhas e propágulos

(Nordhaus & Wolff, 2007). Também já foi observada a ação predatória do

caranguejo-uçá sobre algumas espécies de bivalves e gastrópodes (Christofoletti,

2005). Esses animais possuem hábito predominantemente diurno, com menor

atividade noturna, pois dependem da visão para a coleta de alimento (Nordhaus &

Wolff, 2009).

Nordhaus & Wolff (2006) comentam que nos manguezais da península de

Ajuruteua, Bragança, Pará, as populações de U. cordatus são responsáveis pelo

consumo de cerca de 81% da produção diária de serapilheira em áreas

dominadas por Rhizophora mangle (Linnaeus, 1753). Esses autores também

afirmam que o processamento das folhas através da alimentação influência

amplamente o fluxo de matéria orgânica, promovendo a retenção de nutrientes e

da energia dentro das florestas de mangue. A mesma ideia é apoiada por outros

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autores, os quais enfatizam que a remoção de serapilheira do mangue por U.

cordatus para consumo ou armazenamento reduz, consideravelmente, a

exportação direta de matéria orgânica para as águas do estuário pela maré, o que

assegura a manutenção de nutrientes no manguezal (Wolff et al., 2000; Schories

et al., 2003).

A atividade de predação sobre propágulos de mangue e seus efeitos no

desenvolvimento estrutural e regeneração das florestas têm sido estudados em

várias regiões tropicais e subtropicais do mundo (Smith et al., 1989; Osborne &

Smith, 1990; McKee, 1995; Farnsworth & Ellison, 1997; Dahdouh-Guebas et al.,

1998; Clarke & Kerrigan, 2002; Bosire et al., 2005; Nordhaus & Wolff, 2007;

Souza & Sampaio, 2011). A maioria dos trabalhos aponta os insetos, moluscos e

crustáceos, como os grandes agentes impactantes de propágulos e plântulas

(Cannicci et al., 2008), com destaque para os caranguejos que dominam a

superfície lamosa dos manguezais (Santos & Coelho, 2000), atuando na cadeia

de remineralização dos nutrientes através de sua alta taxa de remoção de

serapilheira (Nordhaus & Wolff, 2007).

Estudos demonstram que os caranguejos podem influenciar diretamente no

padrão de abundância e distribuição dos bosques de mangue, através de seu alto

consumo de propágulos (Smith, 1987; Green et al., 1997; Sherman, 2002;

Lindquist & Carroll, 2004). No entanto, a importância atribuída aos efeitos de sua

atividade predatória tem sido bastante variada, estando provavelmente ligadas às

condições de cada região e à espécie envolvida.

Em alguns casos, a predação de propágulos tem sido abordada de forma

prejudicial às florestas, principalmente para as áreas em processo de

regeneração (Smith et al., 1989; Osborne & Smith, 1990). Entretanto, para outros

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autores, os efeitos danosos causados pela predação são irrelevantes (Souza &

Sampaio, 2011) ou ainda, benéficos para a vegetação, já que podem reduzir o

processo de competição intraespecífica (Steele et al., 1999; Clarke & kerrigan,

2002). Bosire et al. (2005) sugerem uma relação mútua entre os caranguejos e as

árvores de mangue, onde estas oferecem alimento e abrigo aos caranguejos, que

por sua vez, reduzem a competição entre propágulos, através da predação.

No estudo desenvolvido por Mckee (1995) nos manguezais Caribenhos,

diferenças interespecíficas de tamanho e palatabilidade dos propágulos foram

fatores que influenciaram de forma significativa a taxa de predação pelos

caranguejos Goniopsis cruentata Latreil e U. cordatus. Nos manguezais do

oceano Indo-Pacífico estudos mostraram a importância dos caranguejos

sesarmídeos na determinação da estrutura da comunidade de mangue, por meio

do consumo de diferentes espécies de propágulos (Jones, 1984; Lee, 1998;

Kathiresan & Bingham, 2001).

Grande parte da vegetação arbórea de mangue constitui-se de espécies

vivíparas, que desenvolvem propágulos como estrutura reprodutiva, com alta

capacidade de dispersão pelas marés e colonização de áreas adjacentes

(Tomlinson, 1986). A produção desses frutos nos bosques de mangue é bastante

elevada, principalmente durante a estação chuvosa (Fernandes et al., 2007),

período no qual as marés auxiliam na dispersão.

Após a queda, os propágulos maduros permanecem viáveis por um longo

período de tempo, sendo capazes de se estabelecer após flutuarem por vários

meses (Rabinowitz, 1978; Smith et at., 1989). Alguns propágulos podem ser

liberados prematuramente, o que parece ser motivado por danos causados pela

predação por insetos ou crustáceos arborícolas, de forma que as árvores

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removem grandes populações de frutos que se tornaram inviáveis ao

desenvolvimento e à dispersão (Robertson et al., 1990; Clarke, 1992). Por outro

lado, a permanência dos propágulos nas árvores até atingirem a fase madura

parece ser compensada, sem diminuição na taxa de crescimento, pelo fato da

atividade predatória na superfície ocorrer de forma ainda mais intensa

(Farnsworth & Ellison, 1997).

No litoral brasileiro, o U. cordatus é apontado como o principal agente

impactante da produção primária dos bosques de mangue (Nordhaus & Wolff,

2006), representando mais de 75% da biomassa bentônica desse sistema (Koch

& Wolff, 2002). A pesar disso, poucos estudos desenvolvidos no Brasil, destacam

aspectos da atividade alimentar de U. cordatus sobre as populações de

propágulos (Schories et al., 2003; Nordhaus & Wolff, 2007) e a influência dessa

atividade para o recrutamento das árvores de mangue (Souza & Sampaio, 2011).

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2. Objetivos

Nos manguezais de Soure, Ilha de Marajó, Pará, o grande aporte fluvial

permite o desenvolvimento de zonas de transição estuário/rio que definem o limite

geobotânico para os manguezais paraenses. Considerando-se que o

conhecimento sobre a estrutura e a produtividade dos bosques de mangue, os

quais compõem esse gradiente de vegetação misto com outras florestas

alagáveis (ex. igapós e várzeas estuarinas), é relevante para melhor

entendimento de como tais associações podem influenciar as populações de

espécies da fauna típica dos manguezais, o presente estudo tem como principais

objetivos:

Investigar a relação entre as características populacionais de U. cordatus e os

diferentes níveis de transição ao longo do gradiente de vegetação entre as

florestas de mangue e de várzea estuarina.

Avaliar a influência de fatores ambientais dessas zonas de transição sobre os

padrões de tamanho e densidade populacional de U. cordatus.

Analisar os impactos da herbivoria de U. cordatus sobre a produção de

propágulos dos bosques e os possíveis efeitos no processo de recrutamento

desses propágulos no manguezal.

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O ESCOPO DA TESE

O Capítulo 2 enfatiza a associação de U. cordatus, com bosques de

mangue de diferentes níveis de transição com as florestas de várzea estuarina,

através da correlação entre os dados de densidade e biometria dos caranguejos e

as características estruturais dos bosques de mangue, onde esses crustáceos

habitam. Assumi-se que a incidência da vegetação de várzea em florestas de

mangue altera as características populacionais de U. cordatus.

O Capítulo 3 apresenta uma análise de fatores que possam influenciar as

populações de U. cordatus nos bosques de mangue submetidos aos diferentes

níveis de transição com as florestas de várzea estuarina. Admiti-se que os fatores

ambientais oriundos de manguezais localizados em zonas de alta e baixa

transição com florestas de várzea estuarina influenciam de forma diferenciada as

populações de U. cordatus.

O Capítulo 4 investiga o comportamento alimentar de U. cordatus,

abordando o seu papel como agente no impacto da produção de propágulos de R.

mangle e os efeitos dessa atividade no processo de recrutamento desses

propágulos nos bosques de mangue. Assumi-se que a ação herbívora de U.

cordatus sobre propágulos de mangue influencia o recrutamento das árvores nos

manguezais.

O Capítulo 5 apresenta uma discussão geral baseada nas informações

produzidas nos capítulos anteriores, buscando sintetizar os achados sobre a

associação das populações de U. cordatus com as florestas de mangue e sua

influência sobre a manutenção dos seus bosques em uma região de transição

como é a baía de Marajó, Pará, Brasil.

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* Formatado segundo o periodico científico

“International Journal of Crustacean Research”

CAPÍTULO 2

Associação de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Ucididae) às zonas de transição com

várzea estuarina na Ilha de Marajó, Pará, Brasil

CLEIDSON PAIVA GOMES

DANILO CESAR LIMA GRADUNHO

MARCUS E. B. FERNANDES

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RESUMO

Na região de Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil, os baixos índices de

salinidade permitem a formação de zonas de transição entre os manguezais e

florestas de várzea estuarina. No presente estudo foi avaliado de que forma do

nível de transição com florestas de várzea estuarina influencia as populações de

Ucides cordatus. Em dois sítios de trabalho foram avaliadas características

estruturais dos bosques, sendo que a razão entre a densidade de espécies de

mangue e de várzea estuarina foi utilizada como estimativa do nível de transição

entre os bosques. Médias de densidade e largura da carapaça de U. cordatus

foram tomadas em cada sítio e correlacionadas com o nível de transição. Zonas

de alta transição revelaram caranguejos maiores (72,9 mm) e em menor

densidade (0,4 ind.m-²), enquanto que na zona de baixa transição revelaram

caranguejos menores (68,8 mm) e em maior densidade (1,6 ind.m-²). Em zonas

de “alta transição” as condições locais parecem limitar os estoques dos

caranguejos. Esse baixo índice populacional de U. cordatus pode ser resultado

tanto do baixo recrutamento larval, promovido pela baixa salinidade, quanto pelo

comportamento agonístico, o que aumenta seu espaçamento interindividual nos

bosques de mangue.

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ABSTRACT

In the region of Soure, Marajó Island, Pará, Brazil, low levels of salinity

allow the formation of transition zones between mangrove and tidal valley forests.

In the present study we evaluated how the transition level with tidal valley forests

influences populations of Ucides cordatus. In two study sites were evaluated

structural characteristics of the stands, considering the ratio between the tree

species density of both mangrove and tidal várzea forests the parameter used as

an estimate of the transition level between the stands. Means of density and

carapace width of U. cordatus were taken at each site and correlated with the

transition level. Areas of “high transition” revealed larger crabs (72.9 mm) and

lower density (0.4 ind.m-²), whereas the low transition zone revealed smaller crabs

(68.8 mm) and higher density (1.6 ind.m-²). In areas of "high transition" local

conditions seem to limit crab stocks. This low rate of U. cordatus population may

be the result of both the low larval recruitment, promoted by low salinity, as the

agonistic behavior, which increases the interval between individuals in mangrove

forests.

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INTRODUÇÃO

O caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) é considerado uma

espécie endêmica dos manguezais e um dos maiores e mais abundantes

caranguejos do litoral brasileiro (Melo, 1996). Possui grande importância

econômica para as comunidades ribeirinhas da costa amazônica (Fiscarelli &

Pinheiro, 2002, Glaser & Diele, 2004; Diele, et al, 2005; Magalhães et al., 2007) e

seu papel ecológico abrange desde a fragmentação da matéria orgânica

produzida pela serapilheira até o processo de bioturbação no solo da floresta,

ambos refletindo na aceleração do processo de ciclagem de nutrientes dos

manguezais (Koch & Wolff, 2002; Schories et al., 2003; Araujo et al., 2011).

As florestas de mangue estão localizadas em ambientes que apresentam

condições ambientais diferenciadas. De acordo com Soto & Jiménez (1982),

algumas condições abióticas são essenciais para o desenvolvimento dos

manguezais, como a presença de salinidade, a composição do sedimento e o

grau de inundação. Walsh (1974), por sua vez, relata que a presença de água

salina é considerada um dos principais requisitos para o desenvolvimento dessas

florestas nas zonas litorâneas, já que sua flora é formada por plantas halófitas,

que dependem desta condição para competirem com espécies não tolerantes à

salinidade.

No estuário da baía de Marajó, Estado do Pará, Brasil, os manguezais

estão submetidos a condições extremamente baixas de salinidade, as quais são

determinadas pelo grande aporte de água doce oriunda principalmente do rio

Pará. Algumas florestas de mangue dessa região estão inseridas em zonas de

transição com outros ecossistemas florestais amazônicos como, por exemplo, as

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várzeas estuarinas que são definidas como florestas sujeitas a enchentes diárias,

resultantes de rio com influência das marés e que podem sofrer ação da água

salina (Prance, 1979). De acordo com Mendes (2003), as zonas de transição

estuário/rio definem o limite geobotânico para os manguezais paraenses,

formando um gradiente vegetacional em resposta à maior influência fluvial e às

modificações no solo da floresta, devido ao acúmulo de silte e areia no sedimento.

O conhecimento sobre a estrutura dos bosques de mangue nessas zonas

de transição, onde ocorre uma vegetação mista que se limita com outras florestas

alagáveis (ex. igapós e várzeas estuarinas), é relevante para o melhor

entendimento de como tais associações podem influenciar as populações de

espécies da fauna típica dos manguezais. Nesse contexto, considerando que o

caranguejo-uçá (U. cordatus) é endêmico das florestas de mangue, o presente

estudo investigou como os bosques de mangue de zonas de transição influenciam

as populações desse crustáceo. Com essa finalidade, foram analisadas as

relações entre: i) a densidade de indivíduos e o tamanho de U. cordatus e ii) os

diferentes níveis de transição, cuja determinação foi baseada na razão entre a

densidade das espécies arbóreas de mangue e da várzea estuarina nos bosques

de mangue.

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MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido nos manguezais do município de Soure, situado

no litoral leste da Ilha de Marajó, Estado do Pará. O Clima na região é do tipo

equatorial, com temperatura média anual em torno de 27°C, pluviosidade média

de 3.217 mm e umidade relativa em torno de 85% (EMBRAPA, 2010). Apresenta

um regime de meso a macromarés, alcançando valores máximos entre 3,6 e 4,7

m (DHN, 2007) e salinidade média anual de 7,7 (Sousa, 2011). As amostragens

ocorreram entre fevereiro e junho de 2008, sendo desenvolvidas em dois sítios de

trabalho (Fig. 1):

i) Praia do Goiabal (00°41’36,1’’S - 48°29’20,3’’W) - localizado às

margens da baía de Marajó, estando sujeito a maior influência das

marés.

ii) Furo do Saco (00°38’18,3’’S - 48°33’54,8’’W) - localizado a uma

distância de 15 km à montante da foz do rio Paracauari, sujeito a

menor influência das marés.

Para a avaliação da estrutura e composição dos bosques foram

demarcadas, em cada sítio, três transecções de 100 m de comprimento e 20 m de

largura, com espaçamento de 500 m entre as transecções, que foram

posicionadas em sentido perpendicular ao gradiente de inundação. Cada

transecção foi dividida em cinco parcelas de 20X20 m, onde todas as árvores com

diâmetro à altura do peito (DAP) acima de 10 cm foram identificadas e medidas

conforme o método descrito por Schaeffer-Novelli & Cintrón (1986).

Foram determinados os seguintes atributos estruturais: Altura da árvore,

Diâmetro à Altura do Peito (DAP), Frequência Relativa (FR), Densidade absoluta

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(DE) e Relativa (DeR), Dominância absoluta (DO) e Relativa (DoR) e o Valor de

Importância (VI), dado pela soma dos valores da Frequência Relativa, Densidade

Relativa e Dominância Relativa (FR+DeR+DoR= 300).

Através da razão entre a densidade de árvores de várzea e densidade de

árvores de mangue, por parcela, foram calculados os valores do “nível de

transição”, que expressam a taxa de ocorrência da vegetação de várzea estuarina

associada aos manguezais dos dois sítios de trabalho.

A densidade de indivíduos de U. cordatus foi quantificada para cada sítio

pela contagem direta das galerias habitadas, utilizando-se 15 parcelas de 5x5m

que foram demarcadas no interior das parcelas utilizadas para a análise de

estrutura do bosque. As galerias habitadas foram identificadas conforme as

características descritas por Wunderlich et al. (2008), sendo consideradas

abandonadas aquelas não apresentavam indícios de atividade biogênica do

caranguejo-uçá. Além disso, nos casos de galerias com dupla abertura, essas

foram quantificadas como uma única.

Após a identificação e contagem das galerias habitadas por parcela,

indivíduos foram capturados para a determinação do sexo e medição da largura

da carapaça (LC). As galerias de onde não foi possível retirar os indivíduos

também foram computadas para efeito da amostragem de densidade

populacional, dada à determinação positiva da presença do indivíduo na galeria.

Os atributos estruturais da vegetação de mangue e várzea em cada sítio

foram comparados utilizando-se um teste t, sendo que nos casos em que foi

registrada a ausência de normalidade (teste de Lilliefors) e homogeneidade das

variâncias (teste de Cochran) os dados foram transformados pelo Ln(x). Quando

os requisitos estatísticos não foram cumpridos, análises não paramétricas foram

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utilizadas. Na comparação dos atributos da vegetação (mangue+várzea) entre

sítios foi empregado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney (U). Esse mesmo

teste estatístico foi aplicado para comparar as médias de densidade de galerias e

largura da carapaça dos caranguejos entre os sítios. Os dados de densidade de

galerias e largura da carapaça foram correlacionados aos valores

correspondentes do nível de transição, por parcela, através de uma análise de

regressão linear. Todas as análises foram realizadas no pacote estatístico

BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007).

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Fig. 1. Localização geográfica dos sítios de coleta no município de Soure,

litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

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RESULTADOS

Foram medidas 1007 árvores, pertencentes a cinco espécies vegetais,

sendo duas de mangue, Rhizophora harrisonii Leechman e Rhizophora racemosa

G.F.W. Meyer, que ocorreram em ambos os sítios, e três espécies típicas da

várzea estuarina com raízes tabulares, Zygia cauliflora (Willd.) Killip., Pachira

aquatica Aubl., Pterocarpus amazonicus Huber, sendo que apenas esta última foi

registrada nos manguezais da Praia do Goiabal.

A análise comparativa entre os atributos estruturais das árvores de mangue

e de várzea de maré mostrou que as árvores de mangue apresentam os maiores

fustes (DAP - Goiabal: t = 20,1; gl= 27; p < 0.001 / Saco: t = 12,1; gl = 28; p <

0.001) e são mais altas (Altura - Goiabal: t = 16,3; gl = 26; p < 0.001 / Saco: t =

19,2; gl = 28; p < 0.001). No entanto, não houve diferença de DAP e altura no

comparativo da vegetação de mangue e de várzea de maré entre os dois sítios

(Tabela I).

Os dois tipos de vegetação apresentaram frequências relativas similares

em relação aos valores de seus sítios e na comparação da vegetação entre sítios.

A densidade de árvores de mangue na Praia do Goiabal revelou valores

estatisticamente maiores do que os valores observados para várzea (t = 7,9; gl =

23; p < 0.001), contrastando, ao que foi registrado no Furo do Saco, onde a

densidade da vegetação de várzea ultrapassou a de mangue (t = 1,9; gl = 28; p <

0.05) em cerca de 20% (Tabela I; Fig. 2).

Em ambos os sitos as árvores de mangue apresentaram maior dominância

quando comparada às árvores de várzea (Goiabal: t = 19,8; gl = 27; p < 0.001 /

Saco: t = 12,1; gl = 28; p < 0.001), sendo que essa diferença não foi significativa

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na comparação entre os sítios (tabela I). Em comparação ao Valor de Importância

calculado para os tipos de vegetação, as árvores de mangue apresentaram valor

superior às da várzea estuarina nos dois sítios estudados, sendo que a diferença

entre os valores foi menor no Furo do Saco (Tabela I).

Os valores do “Nível de Transição”, taxa de ocorrência da vegetação de

várzea estuarina associada aos manguezais, foram calculados para os dois sítios

de trabalho, sendo apresentados no Anexo I.

Houve diferença significativa na média de densidade de U. cordatus entre

os sítios (Mann-Whitney, Z(U) = 4.23; p < 0,001), sendo maior na Praia do

Goiabal (1,6 ± 0,6 ind.m-²) em comparação ao Furo do Saco (0,4 ± 0,3 ind.m-²). Ao

todo foram coletados 395 indivíduos de U. cordatus, dos quais 59% foram machos

e 41% fêmeas. A largura da carapaça (LC) dos indivíduos na Praia do Goiabal

(68,8 ± 4,9 mm) foi estatisticamente menor que o tamanho registrado no Furo do

Saco (72,9 ± 4,8 mm) (Mann-Whitney, Z(U) = 2,12; p < 0,05) (tabela II).

A análise de regressão linear foi utilizada para correlacionar as médias de

densidade de galerias e a largura da carapaça de U. cordatus com os valores do

nível de transição (Anexo I). Como resultado, a densidade de galerias apresentou

um padrão de interação positivo e significativo em relação ao nível de transição (F

= 16,2; gl = 1, 14; R² = 0,54; p < 0,01 – fig. 3). A medida de largura da carapaça

de U. cordatus apresentou uma correlação de tendência negativa e significativa

referente ao mesmo nível de transição (F = 4,8; gl = 1, 14; R² = 0,26; p < 0,05 –

fig. 4).

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Tabela I

Valores médios dos atributos estruturais da vegetação de Mangue (Rhizophora) e de Várzea Estuarina nos

manguezais da Praia do Goiabal e Furo do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. DAP= Diâmetro à Altura do

Peito (cm); Alt= Altura (m); FR= Frequência Relativa; DE = Densidade; DO = Dominância; VI = Valor de

importância. DP= desvio-padrão, P = nível de significância (<0,05), n.s. = não significativo.

DAP ± DP Alt ± DP FR ± DP (%) DE ± DP (%) DO ± DP (%) VI (%)

Praia do Goiabal

Mangue 28,73 ± 05,81 15,98 ± 01,60 1,00 ± 0,00 (52) 13,93 ± 05,54 (83) 0,0692 ± 0,03 (97) 232 (77)

Várzea 05,06 ± 01,86 04,34 ± 02,49 0,93 ± 0,25(48) 02,86 ± 02,06 (17) 0,0022 ± 0,01 (03) 68 (23)

P <0,001 <0,001 n.s. <0,001 <0,001

Furo do Saco

Mangue 20,21 ± 7,40 14.31 ± 01,16 1,00 ± 0,00 (50) 20,13 ± 09,90 (40) 0,0360 ± 0,033 (92) 182 (61)

Várzea 06,00 ± 1,45 05,52 ± 01,34 1,00 ± 0,00 (50) 29,73 ± 13,10 (60) 0,0029 ± 0,001 (08) 118 (39)

P <0,001 <0,001 n.s. <0,05 <0,001

Soure (Geral)

Praia do Goiabal 16,89 ± 12,76 10,16 ± 06,26 0,97 ± 0,25 (49) 08,40 ± 06,97 (25) 0,0357 ± 0,04 (65)

Furo do Saco 13,10 ± 08,92 09,92 ± 04,63 1,00 ± 0,00 (51) 24,93 ± 12,44 (75) 0,0195 ± 0,02 (35)

P n.s. n.s. n.s. <0,001 n.s.

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Fig. 2. Densidade relativa das árvores de mangue e da várzea estuarina nos

manguezais da Praia do Goiabal e Furo do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará,

Brasil.

Tabela II

Valores médios ± Desvio-Padrão da densidade de galerias ocupadas e largura

da carapaça de Ucides cordatus nos manguezais da Praia do Goiabal e Furo

do Saco, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. P = nível de significância (<0,05).

Densidade de Galerias (ind.m²)

Largura da Carapaça (mm)

Sítio de Trabalho Mínimo Máximo Média ± DP Mínimo Máximo Média ± DP

Praia do Goiabal 0 2,9 1,6 ± 0,6

37,1 84,9 68,8 ± 4,9

Furo do Saco 0 1,2 0,4 ± 0,3

54,2 93,3 72,9 ± 4,8

P < 0,001 < 0,05

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Fig. 3. Relação entre a densidade de galerias de Ucides

cordatus e o nível de transição (V=densidade de árvores

de várzea estuarina / M=densidade de árvores de

mangue), em Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

Fig. 4. Relação entre a largura da carapaça (LC) de

Ucides cordatus e o nível de transição (V=densidade de

árvores de várzea estuarina / M=densidade de árvores de

mangue), em Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

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DISCUSSÃO

As duas espécies vegetais de mangue do gênero Rhizophora (R.

harrisonii e R. racemosa) registradas nos manguezais da área de estudos

foram descritas em outros estudos desenvolvidos no litoral norte brasileiro

(Prost & Rabelo, 1996; Almeida, 1996; Bastos & Lobato, 1996; Fernandes,

1997; Menezes et al., 2008).

A presença de espécies arbóreas de várzea associadas aos manguezais

foi reportada por autores que já destacaram a sua maior ocorrência nas

planícies costeiras internas dos manguezais da região amazônica brasileira

(França & Souza Filho, 2003; Rodrigues & Senna, 2011). No presente estudo,

essas espécies foram registradas nos dois sítios de trabalho, porém com

densidade significativamente maior no manguezal do Furo do Saco (De= 60%),

se comparado à vegetação de mangue, o que pode estar relacionado a um

menor efeito da salinidade sobre a vegetação a montante do rio Paracauari.

Segundo Wittmann & Parolin (2005), espécies de várzea estuarina, que

formam raízes tabulares, ocorrem em áreas com frequência de inundação

muito curta e de baixa sedimentação, o que reduz sua capacidade de

proliferação em regiões submetidas às fortes e constantes ações das marés.

Essas regiões são colonizadas principalmente por árvores de espécies do

gênero Rhizophora que se adaptam ao sedimento mais fluido (inconsolidado) e

com maior frequência de inundação, encontrando suporte em suas raízes

escoras (Schaeffer-Novelli et al., 1990; Cuzzuol & Campos, 2001; Mendes,

2003).

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Estudos destacam a composição e os atributos estruturais da vegetação

do manguezal entre os fatores determinantes da variabilidade em escala

espacial e temporal das populações de U. cordatus, sendo que os bosques

dominados por espécies de Rhizophora propiciam melhores condições de

alimentação e abrigo para esses crustáceos (Branco, 1993; Osborne & Smith,

1990. Diele, 2000; Nordhaus et al. 2006, 2007; Hattori, 2006; Wunderlinch et

al., 2008; Piou et al., 2009; Goes et al., 2010; Sandrini-Neto & Lana, 2011).

No presente estudo, as correlações entre as características

populacionais de U. cordatus e o nível de transição dos bosques de mangue

revelou que nos sítios de “alta transição”, esse crustáceo tende a apresentar

populações com baixa densidade e maior tamanho de seus indivíduos. Além do

mais, a média de densidade registrada no sítio de alta transição foi muito

abaixo dos valores registrados para os manguezais do litoral paraense (Anexo

II).

Essa menor densidade de U. cordatus pode estar relacionada à

dificuldade de escavação do solo para formação das galerias nesses bosques,

uma vez que, a grande aglomeração de árvores de várzea, cujas raízes

tabulares ocupam parte significativa da superfície, tende a tornar o sedimento

mais consolidado propiciando o estabelecimento dessas espécies vegetais.

Mendes (2003) cita que zonas de transição estuário/rio são suscetíveis ao

acúmulo de silte na constituição do sedimento, de forma que, tal componente

favorece sua consolidação.

O efeito da salinidade sobre a taxa de recrutamento do U. cordatus,

também pode ser um dos fatores que podem influenciar a redução da

densidade de indivíduos nessas zonas de “alta transição”. Simith & Diele

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(2008) sugerem que em razão da menor taxa de sobrevivência de larvas zoea,

em condições de baixa salinidade dos estuários, torna-se necessária à

dispersão larval para áreas costeiras, cujas condições de maior salinidade são

mais favoráveis ao seu desenvolvimento.

Os resultados revelam que em zonas de alta transição são registrados

os maiores indivíduos e as menores densidades populacionais de U. cordatus,

quando comparada a zonas de baixa transição. Acredita-se que tal

característica possa estar relacionada ao comportamento agonístico de U.

cordatus, o que induz a chamada “hierarquia por espaço”. Segundo alguns

autores, esse comportamento é observado quando os caranguejos de maior

porte dominam os espaços dentro do manguezal, forçando os indivíduos

menores a ocuparem espaços menos preferenciais da floresta, levando a

agregação dos mesmos (chamados de “machos tolerantes”) em locais de baixa

cobertura vegetal e sujeitos à maior ação das marés (Nordhaus et al. 2009;

Piou et al., 2009; Conti & Nalesso, 2010).

Em suma, o presente estudo evidencia a ocorrência de U. cordatus nos

bosques de mangue localizados em zonas de transição com ecossistema de

várzea estuarina, cuja composição e estrutura da vegetação tende a ser

modificada, em resposta à entrada de espécies arbóreas associadas,

provenientes de sistemas de florestas adjacentes, reflexo da baixa salinidade

da região do entorno. Em zonas de “alta transição” as condições locais

parecem limitar os estoques de U. cordatus, haja vista essa espécie ter

apresentado valor de densidade populacional muito abaixo daqueles

registrados, tanto para a zona de “baixa transição” quanto para outros locais

fora dessa zona. Esse baixo índice populacional registrado para U. cordatus

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pode ser resultado i) do baixo recrutamento larval, promovido pela baixa

salinidade e ii) do seu comportamento agonístico, aumentando seu

espaçamento interindividual nos bosques de mangue.

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Anexo I

Valores utilizados para a análise de regressão entre a densidade de galerias

(galerias.m-2) e a largura da carapaça (mm) de U. cordatus com os valores do

níveis de transição (V=densidade de árvores de várzea estuarina /

M=densidade de árvores de mangue).

V/M Densidade Largura

0.22 1.46 74.60

0.27 1.80 70.10

0.33 1.44 65.30

0.40 1.76 67.60

0.50 1.42 62.30

0.63 1.96 77.44

0.64 0.76 65.80

1.00 0.62 62.10

1.84 0.34 63.68

2.10 0.10 76.36

2.14 0.36 74.00

2.91 0.20 68.23

3.50 0.70 74.67

3.54 0.36 79.89

5.00 0.16 75.50

5.88 0.30 75.33

Anexo II

Comparação da densidade de galerias e largura da carapaça (LC) de U.

cordatus nos manguezais de diferentes municípios do Estado do Pará, Brasil.

Localidade Densidade (galerias.m-²) LC (mm) Fonte

Quatipuru 1,3 57,8 Silva, 2008

Maracanã 1,4 66,0 Freitas, 2011

Curuçá 1,5 70,0 Perote, 2010

Bragança 1,9 50,5 Queiroz, 2009

Tracuateua 2,3 60,0 Melo, 2010

média 1.7 60.1

Soure (Praia do Goiabal) 1,6 67,8 presente estudo

Soure (Furo do Saco) 0,4 71,9 presente estudo

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* Formatado segundo o periodico científico

International Journal of Crustacean Research

CAPÍTULO 3

Avaliação de fatores que controlam as populações de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763)

(Ucididae) em zonas de transição na Ilha de

Marajó, Pará, Brasil

CLEIDSON PAIVA GOMES

DANILO CESAR LIMA GARDUNHO

MARCUS E. B. FERNANDES

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RESUMO

Nos manguezais de Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil, as populações

de U. cordatus estão associadas aos bosques de mangue, que por sua vez,

fazem limites com as florestas de várzea estuarina, formando zonas de

transição entre esses dois ecossistemas. Baseado nessa associação, o

presente estudo avaliou se as características de tamanho e densidade de

indivíduos das populações de U. cordatus estão relacionadas às condições

ambientais locais, tais como: salinidade da água, produção de serapilheira e

sua disponibilidade de alimento e atividades de pesca sobre essa espécie de

crustáceo. Dois sítios de trabalho em áreas e mangue foram avaliados, um

localizado em zonas de alta transição com várzea estuarina e outro em zonas

de baixa transição com várzea estuarina. Os resultados mostram que a

salinidade no sítio de baixa transição apresentou variação de 1 a 16 ppm, ao

passo que no sítio de alta transição a variação anual foi de 0 a 9 ppm. O item

de maior produção na serapilheira foi folha, não havendo diferença na

produção desse item entre os sítios (baixa transição= 7.28; alta transição=

7.64). Indicadores da atividade da pesca de U. cordatus revelaram que os

bosques de mangue da zona de baixa transição estão mais sujeitos à

sobreexploração, principalmente pela facilidade de acesso.

Consequentemente, as áreas de alta transição oferecem condições mais

favoráveis ao desenvolvimento das populações de U. cordatus, principalmente

no que se refere à variabilidade e disponibilidade de alimento e à proteção

contra a ação antrópica na região.

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ABSTRACT

In the mangroves of Soure, Marajó Island, Pará, Brazil, populations of U.

cordatus are associated with mangrove forests, which in turn are bound with

tidal várzea forests, forming transition zones between these two ecosystems.

Based on this association, the present study evaluated whether characteristics

of size and density of U. cordatus populations are related to local environmental

conditions such as water salinity, litter production and its food availability, and

fishing activities on this crustacean species. Two study sites were evaluated,

being one in a high transition zone and other placed in the low transition zone

with tidal várzea forests. The results show that at the low transition site salinity

ranged from 1 to 16 ppm, whereas at the high transition site annual variation

ranged from 0 to 9 ppm. Leaf was the largest item in the litterfall production and

there was no difference in the production of this item between sites (low

transition = 7.28; high transition = 7.64). Indicators of fishing activity on U.

cordatus revealed that mangrove forests of the lower transition zone are more

subject to overexploitation, mainly for easy access. Hence, areas of high

transition offer more favorable conditions for the development of U. cordatus

population, especially those regard to the variability and availability of food and

protection from anthropogenic activities in the region.

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INTRODUÇÃO

O Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) é um crustáceo semiterrestre que

habita os manguezais brasileiros, representando mais de 75% de toda a

biomassa bentônica produzida nesse sistema (Koch & Wolff, 2002). Esses

caranguejos vivem em galerias individuais escavadas no chão da floresta,

próximo às raízes das árvores, saindo durante a baixamar em busca de folhas

de mangue, consideradas o principal componente de sua dieta (Christofoletti,

2005; Nordhaus & Wolff, 2007). Através da escavação de suas galerias,

promovem a bioturbação e oxigenação do sedimento dos manguezais (Stieglitz

et al., 2000; Amouroux & Tavares, 2005; Araujo et al., 2011), sendo

considerada a espécie-chave na ciclagem de nutrientes desse ecossistema

(Koch & Wolff, 2002; Schories et al., 2003; Northdaus et al., 2006). A espécie

também possui grande importância econômica, servindo de fonte de alimento e

renda, sobretudo para as populações ribeirinhas (Fiscarelli & Pinheiro, 2002;

Alves & Nishida, 2003; Glaser & Diele, 2004; Magalhães et al., 2007).

Nos últimos anos U. cordatus tem sido alvo de estudos que buscam

avaliar a influência dos ambiente sobre suas características populacionais.

Alguns desses estudos revelaram que as características vegetacionais, o tipo

do sedimento, a salinidade e o grau de inundação, são fatores que exercem

grande efeito sobre a densidade e tamanho dos indivíduos dessa espécie de

caranguejo (Branco, 1993; Almeida, 2005; Hattori, 2006; Wunderlinch et al.,

2008; Conti et al., 2010; Goes et al., 2010). Além disso, qualidade e a

disponibilidade de alimento, tente a favorecem o processo de ecdise desta

espécie, possibilitando um melhor crescimento corporal (Christofoletti, 2005;

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Pinheiro et al., 2005). Ao contrário, a atividade pesqueira resulta em danos

para às populações do U. cordatus, promovendo a diminuição de seus

estoques pesqueiros (Diele et al., 2005; Goes et al., 2010), a exemplo, de

outras espécies de crustáceos como o caranguejo guaiamum, Cardisoma

guanhumi (Latreille, 1825), cujas populações foram praticamente dizimadas

das regiões de manguezais do nordeste do Brasil (Araujo & Calado, 2008).

Nos manguezais de Soure, litoral norte brasileiro, as populações de U.

cordatus estão associadas aos bosques de mangue que se conectam às

florestas de várzea estuarina, formando zonas de transição entre esses dois

ecossistemas (Gomes et al., in prep. – ver Capítulo 2 da presente Tese). As

várzeas estuarinas são florestas costeiras que se desenvolvem em planícies

alagadas sujeitas às enchentes, cujas águas são provenientes de rios que

recebem influência direta das marés, podendo sofrer ação da salinidade

(Prance, 1979).

Segundo Gomes et al. (in prep.), nas zonas de transição onde os

bosques de mangue apresentam elevada ocorrência de árvores de várzea

estuarina (chamados de zona de alta transição), os espécimes de U. cordatus

apresentam indivíduos de maior tamanho, porém, com baixa densidade

populacional, quando comparadas aos bosques de mangue considerados de

baixa transição. Partindo desse pressuposto, o presente estudo procurou

avaliar se a diferença no tamanho dos indivíduos e na densidade populacional

desses dois ambientes de transição está relacionada às condições ambientais

locais, tomando-se como base algumas variáveis, tais como: i) salinidade da

água, ii) produção de serapilheira, iii) disponibilidade de alimento produzido na

serapilheira e iv) atividades de pesca sobre o U. cordatus.

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido nos manguezais do município de Soure,

litoral leste da Ilha de Marajó, Estado do Pará (1°S - 51°W) (Fig. 1). A região

possui clima equatorial com temperatura do ar média anual de 27°C, com

pluviosidade média de 3.217 mm e umidade relativa do ar de 85% (Embrapa,

2010). A estação chuvosa inclui os meses de janeiro a junho, enquanto a

estação seca ocorre nos meses julho a dezembro. Apresenta um sistema de

meso e macromarés podendo atingir valores máximos entre 3,6 e 4,7 m (DHN,

2007) e salinidade média anual de 7,7 (Sousa, 2011).

As amostragens ocorreram mensalmente, de dezembro de 2007 a

novembro de 2008, em dois sitos de trabalho (Fig. 1) cujos bosques de mangue

são dominados por espécies de Rhizophora L. e diferem quanto ao nível de

transição com a várzea estuarina.

1) Sítio de baixa transição – Bosque com maior densidade relativa de

árvores de espécies do mangue, localiza-se no manguezal da Praia

do Goiabal (00°41’36.1’’S - 48°29’20.3’’W), às margens da baía de

Marajó, sujeito a maior influência das marés.

2) Sítio de alta transição - Bosque com maior densidade relativa de

árvores de espécies da várzea estuarina, localiza-se no manguezal

do Furo do Saco, no estuário do rio Paracauari (00°38’18.3’’S -

48°33’54.8’’), sujeito a menor influência das marés.

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Fig. 1. Localização geográfica dos sítios de coleta no município de

Soure, litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

A salinidade da água nos dois sítios de trabalho foi monitorada através

de amostras coletadas no curso d’água que margeia os bosques de mangue,

sendo avaliada in loco com um refratômetro óptico portátil.

A produção de serapilheira nos bosques de mangue foi estimada através

de coletas mensais ao longo de um ciclo anual, de dezembro de 2007 a

novembro de 2008. Sete coletores foram distribuídos ao longo de uma

transecção perpendicular à margem do principal curso d´água, em cada sítio de

coleta, sendo confeccionados em madeira e cobertos com tela de náilon de

malha de 1 mm², com área útil de 1 m2. Esses coletores foram fixados em

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intervalos de 20 m e suspensos por estacas de madeira de 2 m de altura,

ficando acima do nível das marés de sizígia.

O material acumulado em cada coletor foi recolhido mensalmente e

separado nos seguintes componentes: folha (separado pelos grupos:

Rhizophora; Avicennia; Laguncularia e Várzea), fruto (separado pelos grupos:

Rhizophora e Várzea), flor (somente Rhizophora), estípula (somente

Rhizophora), galho (não foi separado por grupo) e miscelânea (que se refere

ao material vegetal e animal não identificado e fezes). Este procedimento foi

efetuado para cada amostra separadamente, sendo em seguida seco em

estufa a 70 oC até atingir peso constante, quando então foi tomado o peso seco

final por componente.

A estimativa da disponibilidade de alimento para o caranguejo-uçá foi

comparada entre os sítios tomando como base a produção dos componentes

folha e fruto na serapilheira.

Os indicadores da atividade de pesca sobre o U. cordatus nas áreas de

baixa e alta transição estão abaixo relacionados:

i) número de caranguejeiros que utilizam as áreas como ponto de

coleta;

ii) distância da sede do município;

iii) forma de acesso.

iv) tamanho médio dos caranguejos capturados pelos caranguejeiros

para a comercialização.

Também foi calculado o tamanho médio dos caranguejos coletados para

comercialização pelos caranguejeiros em cada sítio de coleta, tomando como

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base a medida de largura da carapaça (mm) de exemplares cedidos durante o

transporte em direção ao centro urbano.

Os dados originais foram testados quanto à normalidade e à

homogeneidade das variâncias utilizando-se os testes de Lilliefors e Cochran,

respectivamente. Considerando que algumas séries de dados não

apresentaram os pré-requisitos para o uso de estatística paramétrica, o teste

não paramétrico de Mann-Whitney (U) foi usado para comparar a produção

total de serapilheira e de seus componentes entre os sítios. Na analise da

produção dos diferentes componentes da serapilheira em cada sítio foi utilizada

a análise de variância não paramétrica de Kruskal-Wallis (H). Todas as

análises foram realizadas no pacote estatístico BioEstat 5.0 (Ayres et al.,

2007).

RESULTADOS

A salinidade no sítio de baixa transição variou entre 0 a 16 ppm (5,8±5,1)

na estação chuvosa e seca, respectivamente, enquanto que no sítio de alta

transição os níveis de salinidade apresentaram variação entre 0 e 9 ppm

(3,3±3,2) (Fig. 2).

A tabela I apresenta os valores totais e dos componentes da

serapilheira dos dois sítios de trabalho. A comparação da produção total de

serapilheira entre os sítios não apresentou diferença significativa (Mann-

Whitney, p>0,05).

Dentre os componentes da serapilheira a maior produção foi de folha de

Rhizophora, representando 50% de toda a produção no sítio de baixa transição

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e 61% no de alta transição (Fig. 3), sendo que não houve diferença significativa

entre os sítios (Mann-Whitney, p>0,05). Folha de várzea apresentou baixa

produção em ambos os sítios, porém foi mais representativa no sítio de alta

transição (Mann-Whitney, Z(U)=4,16; p<0,001). Os outros tipos de folhas

(Avicennia e Laguncularia) foram registrados apenas no sítio de baixa

transição, o que representou apenas 0,2% do total desse componente.

A produção de frutos no sítio de baixa transição foi composta apenas por

fruto de Rhizophora (propágulo), representando 23% do total da produção de

serapilheira, ao passo que no sítio de alta transição a produção de fruto foi

significativamente menor (Mann-Whitney, Z(U)=2,42; p<0,01), representando

apenas 8% da produção total. Ainda no sítio de alta transição também foram

registrados frutos de várzea, os quais revelaram produção pouco expressiva,

apenas 1%.

Os outros componentes juntos (flor, estípula, galho e miscelânea)

representaram 26,1% de toda a produção de serapilheira no sítio de baixa

transição e 26,3% no de alta transição, não havendo diferença significativa

entre os sítios (Mann-Whitney, p>0,05).

A avaliação dos indicadores da atividade da pesca do caranguejo-uçá

revela que os bosques de mangue situados em áreas de baixa transição,

sofrem a maior ação dos caranguejeiros, principalmente pela menor distância

que se encontram da sede do município e pela facilidade de acesso, que é feito

por terra (tabela II). Segundo os dados da ACS (Associação dos

Caranguejeiros de Soure), existem 131 pescadores em atividade no município

de Soure, dos quais apenas 30% são conhecidos por priorizarem a exploração

dos manguezais da região do Furo do Saco (alta transição). O tamanho médio

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dos caranguejos coletados no sítio de baixa transição para a comercialização

foi de 73,7±7,3 mm (min=56,0 e max=88,6; N=435), sendo inferior ao tamanho

registrado no sítio de alta transição, cuja média foi de 78,8 ± 6,9 mm (min=60,9

e max=96,2; N=470).

Fig 2. Variação anual da salinidade nos sítios de trabalho, Soure, Ilha

de Marajó, Pará, Brasil.

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Tabela I.

Produção total e dos componentes da serapilheira (mg.ha-1), Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. BT= Baixa transição, AT= alta

transição, Rh=Rhizophora spp., Vz=Várzea estuarina, Av=Avicennia germinans, La=Laguncularia racemosa, P=nível de

significância (<0,05), n.s.= não significativo, n.a. = não aplicável.

Sítio Folha

Rh

Folha

Vz

Folha

(Av + La)

Fruto

Rh

Fruto

Vz

Flor Estípula Galho Miscelânea Total P

BT 7,28 0,02 0,03 3,37 - 2,00 0,66 0,77 0,35 14,49 p<0,01

AT 7,64 0,47 - 0,97 0,17 1,59 0,62 0,85 0,23 12,56 p<0,01

P n.s. p<0,01 n.a. p<0,01 n.a. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s.

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Fig. 3. Participação percentual dos componentes da serapilheira nos

manguezais de baixa e alta transição com várzea estuarina, Soure, Ilha de

Marajó, Pará, Brasil. Rh=Rhizophora spp., Vz=Várzea estuarina, Av=Avicennia

germinans, La=Laguncularia racemosa.

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Tabela II.

Características utilizadas como indicadores da atividade de pesca do U. cordatus em manguezais de baixa e de alta transição com

várzea estuarina, Soure, Ilha de Marajó, Pará, Brasil. LC = Largura da carapaça, DeR= densidade relativa.

Indicadores Baixa transição Alta transição Fonte

Caranguejeiros registrados 70% 30% ACS*

Distância da sede ~ 4,5 km ~ 10 km ACS

Forma de acesso por terra (bicicleta) por água (barco) ACS

Tamanho dos caranguejos (LC) 73,7 ± 7,3 mm 78,8 ± 6,9 mm Presente estudo

Densidade dos caranguejos 1,5 ± 0,5 galeria.m-2 0,4 ± 0,1 galeria.m-2 Gomes et al. (in press – Cap.1)

DeR das árvores de várzea 17% 60% Gomes et al. (in press – Cap.1)

* Dados de 2008, cedidos pela Associação dos Caranguejeiros de Soure (ACS), Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

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66

DISCUSSÃO

Vários fatores ambientais controlam a distribuição dos manguezais e das

espécies vegetais e animais características desse sistema. A salinidade, por

exemplo, é considerada um dos principais fatores limitantes da distribuição e

desenvolvimento de crustáceos semiterrestres (Frusher et al., 1994; Turra et

al., 2005). Caranguejos da família Ocypodidae, como os do gênero Uca, são

geralmente encontrados em regiões cuja salinidade pode variar de 5 a 40

(Thurman, 2003), enquanto que algumas espécies desse mesmo gênero são

restritas a locais, os quais a salinidade mínima é 20 (Masurani, 2006). Para U.

cordatus a salinidade ótima gira em torno de 25 a 30 (Oliveira, 1945). No

entanto, essa espécie é conhecida por sua capacidade de tolerar a variação de

salinidade, cuja manutenção da homeostase é alcançada graças a um eficiente

mecanismo de osmorregulação (Martinez et al., 1999).

Larvas de U. cordatus possuem baixa taxa de sobrevivência em águas

estuarinas com salinidade abaixo de 15 ppm, dispersando-se para regiões mais

salinas após a desova, para que completem seu desenvolvimento larval e

transformem-se em megalopa (Diele & Simith, 2006). Nesse estágio de

desenvolvimento, as larvas são mais resistentes à variação de salinidade

(Simith, 2012) e conseguem retornar aos manguezais nas marés enchentes de

sizígia (Simith & Diele, 2008).

No entanto, mesmo com a baixa sobrevivência dessas larvas, parte da

população resiste à salinidade reduzida durante os primeiros dias de vida,

sendo o suficiente para que ocorra a migração até as regiões mais favoráveis

ao seu desenvolvimento, dessa forma promovendo a manutenção das

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populações que se assentam em áreas reguladas pela baixa salinidade (Diele

& Simith, 2006).

Tomando-se como base o trabalho desenvolvido por Diele & Simith

(2006), é possível afirmar que as populações de U. cordatus estão submetidas

a níveis de salinidade bastante reduzidos, principalmente em manguezais de

zonas de alta transição, sendo provável, que tal condição seja um fator

determinante de alta mortalidade e menor taxa de recrutamento de larvas.

Nesse contexto, um dos resultados possíveis dessa condição seria a baixa

densidade de indivíduos nessas zonas de alta transição.

Considerando a produção de serapilheira dos bosques de mangue da

área de estudo, os valores estimados são compatíveis com a produção

registrada em outros manguezais dominados pelo gênero Rhizophora no litoral

brasileiro (Anexo I). O caranguejo U. cordatus é apontado como o grande

consumidor de serapilheira dos manguezais (Koch & Wolff, 2002; Schories et

al., 2003; Almeida, 2005; Nordhaus et al., 2006), sendo as folhas de

Rhizophora o principal item de sua dieta (Nordhaus & Wolff, 2007), cuja

capacidade de consumo pode ser exceder 80% de toda produção em um

manguezal (Nordhaus et al., 2006).

No presente estudo, a fração “folha de Rhizophora” foi considerada o

principal item do total da produção de serapilheira nos sítios de baixa e alta

transição (50% e 61%, respectivamente), não havendo diferença significativa

entre eles. Este resultado, aparentemente demonstra uma menor influência do

item folha de Rhizophora na diferenciação observada entre a densidade e o

tamanho das populações de U. cordatus presentes na zona de transição.

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Nordhaus & Wolff (2007) afirmam que U. cordatus é capaz de utilizar

outras fontes de alimento com forma de compensar a dieta pobre em

nutrientes, proporcionada pelas folhas de mangue. Assim, é possível que as

folhas das espécies de várzea estuarina possam também servir para

compensar a dieta de U. cordatus, revelando-se como uma estratégia útil para

a melhor adaptação desse crustáceo às zonas de transição. Segundo

Ostrensky et al. (1995), a taxa de crescimento de U. cordatus pode ser

quadruplicada, quando oferecida um dieta constituída de vários itens

alimentares (vegetais, folha de mangue, peixe) em comparação a uma dieta

baseada apenas em folhas de mangue.

Outro item citado na literatura como parte da dieta de U. cordatus são os

frutos de espécies arbóreas de mangue (Schories et al., 2003; Nordhaus &

Wolff, 2007; Souza & Sampaio, 2011). McKee (1995) relata que a atividade

alimentar do caranguejo-uçá é intensificada sobre os propágulos de

Rhizophora de acordo com o aumento da dominância dessas árvores na

floresta de mangue. Apesar desse fato, os propágulos de Rhizophora, assim

como as folhas das espécies da várzea estuarina, não parecem influenciar a

densidade e o tamanho dos caranguejos nas zonas de transição,

principalmente pelo fato de que no bosque de alta transição, onde os

caranguejos são maiores, os valores percentuais de produção de propágulos

alcançam apenas 7% da produção total de serapilheira.

Contudo, é importante ressaltar que, no presente estudo, não está sendo

considerada a composição nutricional desses itens alimentares, haja vista

alguns trabalhos mostrarem que a qualidade de nutrientes da folha (Conde et

al., 1995; Nordhaus & Wolff, 2007) e do propágulo (Smith 1987; Smith et al.,

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1989; McKee 1995; Cannicci et al., 2008) de Rhizophora parece influenciar o

crescimento dos animais (Pinheiro et al., 2005; Chirstofoletti, 2005).

Outra variável relevante que pode influenciar de forma direta a

densidade e o tamanho das populações de U. cordatus é a atividade humana

nas áreas de manguezais. Estudos indicam que a pouca sazonalidade, a

grande abundância relativa, o baixo custo exigido para a captura e a fácil

comercialização são aspectos que contribuem para a intensificação da

atividade de pesca sobre o caranguejo-uçá no litoral brasileiro (Nordi, 1992;

Alves & Nishida, 2003; Glaser & Diele, 2004).

No município de Soure, a pesca do U. cordatus desponta entre as

principais atividades desenvolvidas nos manguezais. Essa atividade ocorre de

forma tradicional, pelo método de braceamento e com auxilio de gancho, em

respeito à legislação específica (Lei n. 7.679 de 23 de novembro de 1988).

No presente estudo, os indicadores da atividade de pesca do U.

cordatus revelaram que os manguezais situados em zonas de baixa transição

estão sujeitos à maior exploração pelos caranguejeiros. Isto ocorre

principalmente devido a sua maior proximidade da sede do município e pela

melhor condição de acesso a esses mangues. Além do mais, essas áreas

apresentam bosques mais abertos e de fácil circulação, em função da menor

densidade de árvores, permitindo que a captura do caranguejo seja realizada

mais rapidamente. Por outro lado, na zona de alta transição, onde caranguejos

são maiores e de maior valor comercial, a única via de acesso é o barco,

proporcionando um custo excedente. Essa condição certamente reduz a

procura e, consequentemente, a atividade dos caranguejeiros, fazendo com

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70

que as zonas de baixa transição, que são próximas às vilas, sofram maior

intensidade de exploração.

É possível concluir, que as áreas de alta transição com várzea estuarina

oferecem condições aparentemente mais favoráveis ao desenvolvimento das

populações de U. cordatus, uma vez que oferecem maior variabilidade e

disponibilidade de alimento, bem como, proteção contra a ação antrópica local.

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Anexo I.

Comparação da produção anual de serapilheira (Mg.ha-1) em florestas

dominadas por espécies do gênero Rhizophora, no litoral brasileiro.

Localidades, Estado Produção de Serapilheira Fonte

Ilha de Maracá, Pará 16,5 Fernandes, 2003

Paraiba do Sul, Rio de Janeiro 14,6 Bernini & Rezende, 2010

Natal, Rio Grande do Norte 12,3 Ramos & Silva et al., 2006

Itacuruçá, Rio de Janeiro 9,6 Silva et al., 1998

Bragança, Pará 6,4 Fernandes et al., 2007

Bragança, Pará 3,5 Mehlig, 2001

Soure (Baixa Transição), Pará 14,5 Presente estudo

Soure (Alta Transição), Pará 12,6 Presente estudo

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* Formatado segundo o periodico científico

“International Journal of Crustacean Research”

CAPÍTULO 4

Predação e seletividade de propágulos de Rhizophora spp. por Ucides cordatus (Linnaeus, 1763): o efeito sobre o seu

recrutamento nas florestas de mangue na Ilha de Marajó, Pará, Brasil

CLEIDSON PAIVA GOMES

MARCUS E. B. FERNANDES

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81

RESUMO

Ucides cordatus é considerado um importante agente impactante da

serapilheira produzida nos manguezais da Amazônia brasileira, sendo que sua

atividade predatória sobre propágulos pode influenciar diretamente o

recrutamento desses propágulos nos bosques de mangue. O presente estudo

foi desenvolvido nos manguezais da Praia do Goiabal, Soure, Ilha de Marajó,

Pará, Brasil. O objetivo foi investigar a relevância de U. cordatus no processo

de recrutamento de propágulos do gênero Rhizophora, acessando sua taxa de

consumo de propágulos e a seletividade alimentar por tamanho de propágulo.

Experimentos in situ foram realizados como forma de avaliar a taxa diária de

herbivoria sobre propágulos e folhas de Rhizophora. Em experimento similar foi

testada a seletividade por tamanho de propágulos (viáveis e menos viáveis

para recrutamento). Foi também estimada a taxa de exportação de propágulos

dos manguezais pelas marés. Os resultados revelaram uma taxa de consumo

de propágulos de 60% (1,7 gPS.m-2.dia-1) e de 84% (0,74 gPS.m-2.dia-1) para

folhas. Não houve seletividade por tamanho de propágulos, sendo a taxa de

predação, entre os itens, bastante similar. A principal via de impacto sobre os

propágulos foi à taxa de consumo de 60%, sendo que a taxa de exportação dos

propágulos pelas marés foi de apenas 1%, portanto, pouco relevante. Os

resultados fortemente sugerem que U. cordatus é o principal agente de impacto

sobre a produção de propágulos dos bosques de mangue estudados, sendo

que não foi constatada seletividade por tamanho ou maturidade dos

propágulos. Fato que revela sua importante na regulação das taxas de

recrutamento e na dinâmica populacional das árvores de Rhizophora nas

florestas de mangue.

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82

ABSTRACT The leaf-removing crab, Ucides cordatus, is considered the most important

impact agent on the litterfall produced in the Brazilian Amazon mangrove

forests, and their activity on propagules can directly influence the recruitment of

these seedlings in mangrove forests. The present study was carried out in the

mangroves of Goiabal Beach, Soure, Marajó Island, Pará, Brazil. The objective

was investigated the relevance of U. cordatus in the recruitment process of the

genus Rhizophora propagules, accessing the consumption rate of seedlings

and selectivity by propagules size. Experiments were performed in situ as a way

to assess the daily rate of herbivory on seedlings and leaves of Rhizophora. In

a similar experiment the selectivity for propagules size (viable and less viable

for recruitment) was tested. It also estimated the rate of export of propagules

from mangroves by the tides. The results showed a consumption rate of

propagules of 60% (1.7 gDW.m-2.day-1) and 84% (0.74 gDW.m-2.day-1) for the

leaves. There was no selectivity for propagules size, and the predation rate

among the items was very similar. The main via of impact on propagules was

the consumption rate of 60%, being the export rate of propagules by the tides of

only 1% thus less relevant. The results strongly suggest that U. cordatus is the

most important impact agent on the production of seedlings of these mangrove

stands without showing selectivity by size or maturity of seedlings. Fact that

reveals its important in the regulation of recruitment rates and population

dynamics of Rhizophora trees in mangrove forests.

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INTRODUÇÃO

A atividade de predação sobre os propágulos de mangue e seus efeitos

no desenvolvimento estrutural e regeneração das florestas têm sido estudado

em várias regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo (Smith et al.,

1989; Osborne & Smith, 1990; McKee, 1995; Farnsworth & Ellison, 1997;

Dahdouh-Guebas et al., 1998; Clarke & Kerrigan, 2002; Bosire et al., 2005). A

maioria dos trabalhos aponta insetos, moluscos e crustáceos, como os grandes

agentes dos impactos sobre os propágulos e as plântulas de mangue, muito

embora os crustáceos dominem a superfície lamosa dos manguezais (Cannicci

et al., 2008).

Os crustáceos braquiúros, especialmente Ucides cordatus (Linnaeus,

1763), destacam-se no que diz respeito à ação sobre o recrutamento de

propágulos para a formação dos bosques de mangue, principalmente quando

as altas taxas de remoção de serapilheira, estão associadas a esses

organismos (McIvor & Smth, 1995; Skov & Hartnoll, 2002; Koch & Wolff, 2002;

Schories et al., 2003; Nordhaus & Wolff, 2007; Lee, 2008).

A importância atribuída ao U. cordatus para o recrutamento dos bosques

de mangue tem sido bastante discutida. Para alguns autores, a predação de

propágulos é abordada de forma prejudicial às florestas, principalmente para

áreas em processo de regeneração, resultando em um efeito negativo para o

sistema (Smith et al., 1989; Osborne & Smith, 1990). Por outro lado, alguns

estudos afirmam que os efeitos causados por essa atividade de predação são

irrelevantes (Souza & Sampaio, 2011) ou mesmo benéficos, já que podem

reduzir a competição intraespecífica, sendo assim considerados como de efeito

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positivo (Steele et al., 1999; Kathiresan & Bingham, 2001; Clarke & Kerrigan,

2002). De forma complementar, alguns pesquisadores sugerem uma relação

de benefício mútuo entre o U. cordatus e as espécies arbóreas de mangue, na

qual as árvores oferecem alimento e abrigo aos caranguejos e estes, por sua

vez, minimizam o processo de competição por espaço entre propágulos,

através da predação (Bosire et al., 2005).

Ainda como consequência desse processo de interação animal-planta, a

seletividade alimentar do U. cordatus por determinada espécie ou tamanho de

propágulos pode ser um dos fatores relevantes na intensificação do

comportamento de predação desse crustáceo (Smith, 1987; Mckee, 1995;

Farnsworth & Ellison, 1997; Dahdouh-Guebas et al., 1997; Souza & Sampaio,

2011). O trabalho desenvolvido por Mckee (1995) em manguezais dominados

por Rhizophora mangle L., aponta nessa direção quando os resultados

mostram que as diferenças no tamanho e na palatabilidade foram os fatores

que mais influenciaram a taxa de predação dos caranguejos sobre os

propágulos.

Outras variáveis também são relevantes na análise do recrutamento de

propágulos nos manguezal. Avaliando esse processo através da vegetação

envolvida, é importante ressaltar que as árvores de mangue apresentam

características, como a viviparidade e dispersão hidrocórica, que são

estratégicas para a colonização de áreas adjacentes (Tomlinson, 1986). No

entanto, as atividades herbívoras dos insetos ou crustáceos arborícolas

parecem causar a abscisão prematura de propágulos, determinando a perda de

parte da população de frutos, que se tornam inviáveis para o recrutamento

(Robertson et al., 1990; Clarke, 1992; Dahdouh-Guebas et al., 1998). Por outro

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lado, a permanência dos propágulos nas árvores, até atingirem a fase madura,

mesmo considerando a predação que ocorre diretamente nas árvores, parece

ser compensada pelo fato de que essa atividade predatória é muito mais

intensa na superfície do chão da floresta (Farnsworth & Ellison, 1997).

Estudos sobre a ecologia de U. cordatus apontam essa espécie como o

principal agente de impacto da serapilheira produzida nos manguezais da

Amazônia brasileira (Nordhaus & Wolff, 2006). Essa espécie de caranguejo

representa mais de 75% da biomassa bentônica desse sistema (Koch & Wolff,

2002) e possui um papel central na ciclagem de nutrientes dos manguezais da

região (Schories et al., 2003). Sua associação com os bosques dominados por

hizophora é considerada preferencial (Almeida, 2005), sendo sua atividade

alimentar apontada como relevante para o recrutamento de propágulos neste

sistema (Souza & Sampaio, 2011).

Assim, o presente estudo tem como objetivo principal investigar a

relevância de U. cordatus no processo de recrutamento de propágulos,

especificamente de Rhizophora, determinando a taxa de consumo de

propágulos da floresta e avaliando se esses caranguejos apresentam

seletividade alimentar por tamanho de propágulo, assumindo que o tamanho

expressa a viabilidade dos mesmos para efeito de recrutamento

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MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi conduzido nos manguezais da Praia do Goiabal

(00°41’36,1’’S - 48°29’20,3’’W), no município de Soure, Estado do Pará, Brasil

(fig. 1). Essa área apresenta um clima quente e úmido (classificação de

Köppen), apresentando temperatura média do ar de 27°C e pluviosidade média

anual de 3.217 mm. O ciclo das chuvas é dividido em duas estações, sendo a

chuvosa nos meses de janeiro a junho e a seca no período de julho a

dezembro (EMBRAPA, 2010). A região apresenta um sistema de meso e

macromarés podendo atingir valores máximos entre 3,6 e 4,7 m (DHN, 2008),

com níveis de salinidade variando de 0 na estação chuvosa a 16 na estação

seca (Gomes et al., in press – Cap. 3)

O sítio de trabalho possui um canal-de-maré com 15 m de largura e 3 m

de profundidade (área de 23,6 m2), velocidade média de corrente de 0,36 m.s-1

e vazão de 7,16 m3.s-1 (preamar e baixamar). Este canal foi utilizado como via

de acesso para os bosques de mangue e serve como a principal conexão para

as águas da baía de Marajó. Esses bosques são dominados por espécies

arbóreas de Rhizophora (R. harrisonii Leechman e R. racemosa G.F.W.

Meyer), sendo também registrada a presença de espécies arbóreas associadas

típicas de florestas de várzea estuarina (Zygia cauliflora (Willd.) Killip., Pachira

aquatica Aubl. e Pterocarpus amazonicus Huber). A presença destas espécies

vegetais associadas é resultado da baixa salinidade das águas adjacentes à

área de estudo. Consequentemente, alguns bosques de mangue estão

inseridos em áreas de transição com as florestas de várzea estuarina, muito

embora os manguezais da Praia do Goiabal sejam classificados como área de

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baixa transição de acordo com a classificação de Gomes et al. (in prep. – ver

Capítulo 2 da presente Tese).

Fig. 1. Localização geográfica do sítio de trabalho (Praia do Goiabal)

no município de Soure, litoral leste da Ilha de Marajó, Pará, Brasil.

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- Taxa de herbivoria

A taxa de herbivoria de U. cordatus sobre propágulos e folhas do gênero

Rhizophora foi avaliada através de um experimento realizado in situ, executado

durante a estação chuvosa (março de 2008). Foram abertas duas transecções

paralelas (50x2 m), com espaçamento de 100 m entre elas. Cada transecção

foi dividida em 5 parcelas (2x2 m), com intervalos de 10 m. Em ambas as

parcelas foram oferecidas amostras compostas por dois itens (propágulos e

folhas) com pesos úmidos (g) conhecidos. A oferta dessas amostras foi

realizada com cada item amarrado individualmente por 2 m de fio de náilon em

uma extremidade, sendo preso na raiz de uma árvore pela outra, evitando a

perda do mesmo durante os movimentos das marés, mas ainda possibilitando

a sua remoção para dentro das galerias pelos caranguejos.

Em cada transecção foi realizado um experimento (= Tratamento) com

diferença na quantidade de itens alimentares ofertados por amostra. A

diferença nas amostras possibilita avaliar a tendência da seletividade por item e

quantidade do item.

Tratamento-1 (menor oferta) – a) 0,86 g de peso seco (≈ 1 propágulo)

b) 0,64 g de peso seco (≈ 2 folhas)

Tratamento-2 (maior oferta) – a) 5,17 g de peso seco (≈ 2 propágulos)

b) 1,18 g de peso seco (≈ 4 folhas)

As mostras foram verificadas a cada período de 24 h, sendo registrado o

número de propágulos e/ou folhas levado para o interior das galerias; estes

itens foram considerados como 100% consumidos. Os itens que

permaneceram sobre o chão da floresta foram recolhidos para posterior

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pesagem em laboratório. O peso úmido (g) de cada item recolhido foi medido

após a sua lavagem em água corrente e secagem à sombra sob temperatura

ambiente. O experimento foi repetido durante cinco dias consecutivos, sendo

os dados utilizados para a estimativa da taxa média de herbivoria dos itens de

cada tratamento.

A determinação da biomassa (grama por Peso Seco - gPS) dos itens

oferecidos e consumidos foi estimada através da calibragem entre o peso

úmido e o peso seco. Para esse fim, foram coletados 40 exemplares de cada

item, cujo comprimento dos propágulos variou de 5 a 37 cm e o das folhas de 8

a 17 cm. No laboratório, esses exemplares foram lavados e secos à sombra

sob temperatura ambiente durante um período de 24 h. Após esse

procedimento, cada exemplar foi medido (cm) e determinado seu peso úmido

(g), sendo em seguida seco em estufa a 70 °C por 72 h para a determinação do

seu peso seco.

No intuito de acessar as taxas de exportação de propágulos de

Rhizophora das florestas de mangue foi utilizado um método de captura da

serapilheira transportada pelas águas do principal canal-de-maré, que

comunica esses bosques à baía de Marajó. Esse procedimento foi realizado

durante a estação chuvosa, nos meses de março e abril de 2008, quando

ocorre o pico da produção de propágulos nos manguezais amazônicos

(Fernandes, 1999). O método consiste em fixar de uma margem à outra do

canal-de-maré três cestas de tela de náilon de 0,5 cm, medindo 60 cm largura x

60 cm de altura x 60 cm comprimento, interligadas por uma corda (fig. 2),

deixando as cestas expostas por um período de quatro horas em cada fase da

maré (baixamar e preamar). Dos propágulos retidos nas cestas também foi

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90

determinado o peso seco, utilizando-se o mesmo procedimento já descrito para

a calibragem de biomassa no experimento sobre as taxas de herbivoria.

Fig. 2. Desenho esquemático da fixação das cestas coletoras no principal

canal-de-maré do manguezal da Praia do Goiabal, Soure, Ilha de Marajó, Pará,

Brasil.

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- Seletividade por tamanho

Para testar a seletividade alimentar por tamanho dos propágulos,

inicialmente foi necessário estimar o tamanho mínimo de um propágulo viável

para efeito de recrutamento. O método utilizado foi o cultivo experimental dos

diversos tamanhos de propágulos encontrados no chão da floresta. Para esse

fim foram coletados 120 propágulos intactos e recém caídos das árvores, os

quais foram divididos em seis classes de tamanho, sendo 20 exemplares por

classe. O número de classes foi definido a partir do método algébrico

aplicando-se a Regra de Sturges (K=1+3,3log n), onde n é o número de dados

observados.

Classes: > 50

50 |– 40

40 |– 30

30 |– 20

20 |–10

< 10

Os exemplares foram cultivados separadamente em recipientes

contendo substrato do manguezal e monitorados por um período de 31 dias.

Após este período, registrou-se a taxa de sobrevivência e mortalidade para

cada classe, dessa forma, sendo representada a viabilidade de cada classe de

tamanho para efeito de recrutamento. O resultado do experimento da

viabilidade dos diferentes tamanhos de propágulos mostrou uma diferença

significativa entre os tamanhos dos propágulos (G= 11,7; gl= 5; p= 0,035),

indicando que os propágulos da categoria <10 cm devem ser considerados

apenas como “menos viáveis”, haja vista alguns exemplares tenham brotado.

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A seletividade por tamanho dos propágulos pelo U. cordatus foi avaliada

utilizando duas categorias: i) viável ( ≥ 10 cm) e ii) menos viável (< 10 cm).

Para acessar a seletividade por tamanho dos propágulos, foi realizado

um experimento também desenvolvido in situ, em seis parcelas de 5x5 m,

distribuídas aleatoriamente no sítio de trabalho. Em cada parcela foram

oferecidos seis propágulos para cada categoria (viável e menos viável),

totalizando 72 propágulos. A oferta desses propágulos foi realizada utilizando-

se o mesmo procedimento descrito anteriormente para o experimento referente

à taxa de herbivoria.

As parcelas foram avaliadas no 2º, 4º, 6º, 8º, 10º, 12º, 15º, 20º, 25º, 31º

e 41º dias, de acordo com os critérios abaixo, os quais foram baseados no

método desenvolvido por Smith (1987) e adaptado por Mckee (1995); Dahdouh

et al. (1998) e Clarke & Kerrigan (2002):

i) intacto – propágulos que não apresentaram sinal de

herbivoria;

ii) parcialmente consumido – propágulos que sofreram perdas

por herbivoria de até 50% do hipocótilo;

iii) consumido – propágulos que apresentaram partes vitais

consumidas (plúmula e radícula) ou sofreram perdas por

herbivoria acima de 50% do hipocótilo. Estes propágulos

foram considerados predados.

iv) removido para a galeria – propágulos considerados 100%

consumidos (= predados).

Os propágulos classificados nos critérios (i) e (ii) foram mantidos nas

parcelas durante a avaliação, por serem considerados ainda viáveis. Os

propágulos dos critérios (iii) e (iv), por sua vez, foram retirados por serem

considerados 100% consumidos (= predados).

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Para os dados sobre a taxa de herbivoria, a normalidade e a

homogeneidade das variâncias foram avaliadas utilizando-se os testes de

Lilliefors e Cochran, respectivamente. Como alguns dados não apresentaram

os pré-requisitos para o uso de estatística paramétrica, o teste de Mann-

Whitney (U) foi usado para avaliar a oferta e o consumo dos itens (propágulo e

folha) separadamente entre os dois tratamentos experimentais. Os valores de

peso seco (variável dependente), peso úmido (variável independente) e das

taxas de herbivoria foram correlacionados através de uma análise de regressão

linear para a obtenção de uma equação alométrica.

A viabilidade dos propágulos de Rhizophora, entre as classes de

comprimento, foram analisadas utilizando-se tabelas de contingência LxC

(Linhas x Colunas) através da estatística não paramétrica, teste G. Na

avaliação da seletividade por tamanho dos propágulos pelos caranguejos foi

utilizada a análise paramétrica ANOVA: Fatorial axb (com replicação), tendo

como base os dados referentes ao tempo de predação e tamanho dos

propágulos. Todas as análises foram realizadas no pacote estatístico BioEstat

5.0 (Ayres et al., 2007).

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RESULTADOS

De acordo com o monitoramento da produção de serapilheira realizado

na mesma área de estudo por Gomes et al. (in prep. – ver Capítulo 3 da

presente tese), a produção anual de propágulos nos manguezais da Praia do

Goiabal foi de 337,49 g.m-2.ano-1, sendo que a média mensal estimada em

28,12±22,31 g.m-2.mês-1 e a média diária em 0,92±0,74 g.m-2.dia-1, com pico de

produção ocorrendo durante o período chuvoso (março e abril), estimado em

1,48±0,51 g.m-2.dia-1.

Os resultados do experimento sobre as taxas de herbivoria de U.

cordatus mostraram que do total de propágulos e folhas oferecido para o

consumo, 48% foram classificados nos critérios (iii) consumido e (iv) removido

para a galeria, ou seja, foram considerados predados, enquanto 20%

representou o critério (ii) parcialmente consumido e 32% permaneceram

intactos.

A média de consumo sobre os propágulos para os dois tratamentos foi

de 1,7 gPS.m-2.dia-1, representando 60% da taxa de consumo desse item

(expressa por A; tabela I), enquanto a média de consumo de folhas foi de 0,74

gPS.m-2.dia-1, representando 84% (tabela I). Esses valores mostram um maior

consumo de folha nos dois tratamentos, em comparação a propágulo. No

entanto, isto se deve ao fato de que o item folha apresenta-se em menor oferta

(gPS.m-2.dia-1) em ambos os tratamentos. Considerando que as ofertas foram

significativamente diferentes entre os dois itens, a avaliação comparativa entre

eles (expressa por B) mostrou que o percentual de consumo foi equivalente

(Mann-Whitney; Z(U)= 0,94; gl=3; P=0,347), apresentando tendência para o

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maior consumo de propágulos principalmente no Tratamento-2 (Mann-Whitney;

Z(U)= 1,56; gl=3; P=0,058) (tabela I).

A taxa de herbivoria sobre os propágulos produzidos na serapilheira dos

bosques de mangue é uma das principais vias de impacto sobre o

recrutamento das árvores nesse sistema e foi acessada pelo percentual médio

da taxa de consumo (expresso por A%) dos propágulos, considerando os dois

tratamentos, alcançando 60%. Esse valor médio é a taxa que melhor

representa o percentual de consumo de U. cordatus em diferentes condições

de oferta de propágulo. Adicionalmente, outra via de impacto sobre os

propágulos foi acessada, a taxa de exportação desses propágulos pela ação

das marés, cujo valor foi de 0,006 gPS.m-2.dia-1.

Tabela I.

Taxa de herbivoria sobre propágulos e folhas de Rhizophora spp., na Praia do

Goiabal, Soure, Pará, Brasil. Tratamento-1= menor oferta de alimento;

Tratamento-2= maior oferta de alimento; A (%)= percentual da taxa de

consumo considerando para cada item individualmente; B (%)= percentual da

taxa de consumo para os dois itens juntos. Valores de oferta e consumo estão

expressos em peso seco (gPS.m-2.dia-1).

Oferta (Média±DP) Consumo (Média±DP) A (%) B (%)

Tratamento-1

Propágulo 0,86±0,04 0,57±0,19 66,28 48,72

Folha 0,64±0,04 0,60±0,07 94,14 51,28

Total 1,50 1,17 78,17 100,00

P 0,009 0,347 Tratamento-2

Propágulo 5,17±0,17 2,76±1,17 53,38 75,83

Folha 1,18±0,01 0,88±0,07 74,59 24,17

Total 6,35 3,64 57,32 100,00

P 0,009 0,058

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No experimento de seletividade por tamanho, todos os propágulos

oferecidos foram predados no período de 41 dias de observação. Os resultados

mostraram que aproximadamente 90% dos propágulos foram carregados para

o interior das galerias pelos caranguejos, sendo considerados pelos critérios

observados como consumidos (= predados). Apenas 10% dos propágulos

apresentaram consumo parcial de suas partes, tendo a região da plúmula como

a parte mais afetada. A formação de raízes só foi detectada em propágulos

maduros (n= 3), após 25 dias de experimento. Houve diferença na taxa de

predação de propágulos ao longo do tempo de exposição (ANOVA: Fatorial axb

(Tempo)= F= 2,937; gl= 10; P=0,003), de forma que a atividade de predação foi

mais intensa durante os dois primeiros dias para ambos os tamanhos testados

(44% para propágulos viáveis e 50% propágulos para os menos viáveis) (fig.

3). Não foi observada diferença significativa nas taxas de predação

considerando o tamanho dos propágulos (ANOVA: Fatorial axb (Tamanho)= F=

0,019; gl= 1; P=0,884) e a interação entre as variáveis Tempo e Tamanho

(ANOVA: Fatorial axb (Tamanho)= F= 0,101; gl= 10; P=0,999) no decorrer do

experimento (tabela II).

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Fig. 3. Percentual médio cumulativo da predação sobre propágulos de

Rhizophora spp. de tamanho mais viável e menos viável ao

desenvolvimento, ao longo de 41 dias de exposição.

Tabela II

Resultado da ANOVA: Fatorial axb (com replicação) da média

cumulativa de herbivoria sobre propágulos de Rhizophora spp. de

tamanho viável e menos viável para o recrutamento, ao longo do tempo

de exposição. SQ = Soma dos Quadrados; QM = quadrado médio.

Fonte de variação gl SQ QM F P

Tamanho 1 0,068 0,068 0,019 0,884

Tempo 10 102,212 10,221 2,937 0,003

Interação 10 3,515 0,352 0,101 0,999

Erro 110 382,833 3,481

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DISCUSSÃO

O presente estudo apresentou duas abordagens para avaliar a influência

de U. cordatus sobre o recrutamento de propágulos nas florestas de mangue

dominadas pelo gênero Rhizophora, na região costeira da Ilha de Marajó. A

primeira abordagem foi baseada no estudo de impacto do caranguejo-uçá

sobre os propágulos de mangue da área de estudo, além de avaliar a taxa de

exportação desses propágulos pelo principal canal-de-maré, como uma das via

de impacto sobre a produção desse item.

No presente estudo, o experimento enfocando a taxa de herbivoria sobre

as folhas e os propágulos do gênero Rhizophora mostrou que em ambos os

tratamentos (menor e maior oferta) houve uma tendência para o aumento no

consumo de propágulos. Os estudos sobre a alimentação de U. cordatus

apresentam resultados controversos quanto à seletividade dos itens da sua

dieta. Por outro lado, estudos apontam as folhas do gênero Rhizophora como o

item preferencial na alimentação dessa espécie de crustáceo, mesmo

apresentando maior quantidade de toxinas em comparação às outras espécies

arbóreas típicas desse sistema (Almeida, 2005; Nordhaus & Wolff, 2007).

Outros mostram um elevado consumo de propágulos de Rhizophora por U.

cordatus, relacionado este fato ao seu alto valor nutritivo (Christofoletti, 2005;

Nordhaus & Wolff; 2007) e aos períodos de maior produção desse item (Souza

& Michell, 1999; Christofoletti, 2005).

Os resultados do presente estudo, por sua vez, mostraram uma

tendência para o consumo de propágulos em relação às folhas, indicando que

o consumo foi diretamente proporcional à oferta. Considerando essa tendência,

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é de se esperar que a seletividade alimentar em U. cordatus seja fortemente

direcionada para itens que apresentem maior oferta no ambiente.

O U. cordatus também se alimenta de outros itens além de folhas e

propágulos de mangue. Esses itens incluem raízes, cascas de árvores,

sedimento e restos de animais (Ostrensky et al., 1995; Christofoletti, 2005;

Nordhaus & Wolff, 2007). Segundo Nordhaus & Wolff (2007), esse

comportamento é uma forma de compensar sua dieta pobre em nutrientes e de

difícil digestão, proporcionada pelo maior consumo de folhas de mangue. No

presente estudo, a oferta experimental de 10 folhas de cada uma das espécies

da várzea estuarina (Zygia cauliflora (Willd.) Killip., Pachira aquatica Aubl. e

Pterocarpus amazonicus Huber), revelou que essas folhas foram consumidas

ou removidas para as galerias, obtendo-se uma taxa de 83% de consumo em

três dias de observação. Tal resultado mostra que U. cordatus também é capaz

de utilizar uma gama diferente de espécies vegetais associadas ao manguezal

como fonte de nutrientes, diversificando os itens e, consequentemente, as

fontes de nutrientes da sua dieta.

Os efeitos da herbívora sobre os propágulos pelos caranguejos

semiterrestres têm sido descrita em vários estudos que reforçam a importância

desses crustáceos como reguladores do recrutamento dos bosques (Smith et

al., 1989; Clarke, 1992; Farnsworth & Ellison, 1997; Green et al., 1997;

Sherman, 2002; Lindquist & Carroll, 2004; Souza & Sampaio, 2011). No

presente estudo, a taxa de herbivoria sobre os propágulos foi acessada pelo

percentual médio da taxa de consumo de propágulos que foi de 60%.

Considerando-se que esse é o valor da capacidade de consumo de propágulos

para U. cordatus na área de estudo e que esse experimento foi realizado in

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100

situ, na mesma área, assume-se que essa é a contribuição percentual no

impacto do propágulo e, consequentemente, do recrutamento dos mesmos nos

bosques locais.

Embora U. cordatus apresente uma grande variedade de itens em sua

dieta, alguns estudos já enfatizaram os efeitos da atividade alimentar do

caranguejo-uçá sobre os propágulos de espécies arbóreas típicas dos

manguezais, reforçando que essa atividade contribui para definir a zonação

das plantas, que aparece como resultado da predação seletiva de sementes

(Bortolus et al., 2004; Bosire et al., 2005).

Embora a produção de propágulos no manguezal possa alcançar valores

percentuais elevados, uma fração dessa produção também é dispersa pelas

marés, sendo exportada do sistema (Boto & Bunt, 1981; Twilley, 1997; Dittmar

& Lara, 2001). No presente estudo, a produção de propágulos representou

cerca de 20% da produção total de serapilheira, enquanto a ação das marés

sobre a produção dos propágulos foi muito baixa, representando apenas 0,6%

do valor produzido nos bosques de mangue. Este valor extremamente reduzido

indica que os manguezais da área de estudo não são grandes exportadores de

matéria orgânica, a exemplo do que já foi registrado em manguezais do

Equador (Twilley, 1997). Contudo, é importante ter em mente que a estimativa

do balanço (exportação – importação) de matéria orgânica movimentado pela

ação das marés é o principal indicador no processo de avaliação do potencial

de exportação de matéria orgânica nos manguezais.

A segunda abordagem do presente estudo tomou como base o fato de

que se o U. cordatus é responsável pelo consumo de um elevado percentual da

produção de propágulos de Rhizophora nos bosques de mangue, tal consumo

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101

pode ser conduzido pela seletividade alimentar dessa espécie por tamanho dos

propágulos em questão (Mckee, 1995), haja vista existir uma grande variedade

de tamanhos disponíveis no chão da floresta.

Algumas pesquisas já investigaram a seletividade alimentar por tamanho

em caranguejos e os resultados desses estudos sugeriram que o tamanho dos

propágulos pode, de fato, influenciar no comportamento de forrageio desses

animais (Smith, 1987; Mckee, 1995; Komiyama et al., 1998). Na área de

estudo, a seletividade por tamanho foi avaliada em função da maturidade dos

propágulos, revelando-se um fator de pouca influência na atividade alimentar

do U. cordatus. Esse resultado pode estar relacionado ao comportamento de

forrageio da espécie, que precisa ser desenvolvida em tempo compatível a

ação de fatores externos, tais como o movimento das marés (Twilley, 1986), a

exposição a predadores (Andrade & Fernandes, 2005) e a competição

intraespecífica (Piou et al., 2009). Por outro lado, como informação adicional,

vale ressaltar que 90% dos propágulos oferecidos foram removidos para as

galerias, reforçando a ideia de que os indivíduos de U. cordatus alimentam-se

principalmente dentro das tocas (Nordhaus et al., 2009).

A atividade de predação foi mais intensa durante os dois primeiros dias

de exposição, onde foram impactados entre 50 – 44% dos propágulos, o que

sugere uma tendência à maior captura de alimento quando estão mais frescos,

e ainda, de estocagem de alimento em condições de maior abundância de

recursos. Outros estudos realizados em diferentes países também apresentam

predação intensa em poucos dias (Panamá - 20% em 4 dias - Smith et al.,

1989; Belize - 25% em 10 dias; Mckee, 1995 e Brasil - 61% em 18 dias -

Souza & Sampaio, 2011).

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102

A espécie U. cordatus representa mais de 75% da biomassa bentônica

dos manguezais (Koch & Wolff, 2002) sendo responsável pela remoção de

81% da serapilheira produzida nos bosques (Nordhaus & Wolff, 2006). Embora

a maior parte dos itens disponibilizados no presente estudo tenha sido

removida para as galerias de U. cordatus, sabe-se que outras espécies de

caranguejos também contribuem para o consumo na superfície do solo da

floresta. No entanto, durante o trabalho de campo, os outros caranguejos

encontrados em maior abundância foram os do gênero Uca, que são espécies

detritívoras. Outras espécies consideradas herbívoras, como Sesarma rectum

(Randall, 1840) (Cannicci et al., 2008) ou generalistas como, Goniopsis

cruentata (Latreille, 1803) (Lima-Gomes et al., 2011) foram raramente

registradas nos bosques.

Em suma, para melhor entender melhor o processo de regulação sobre

o recrutamento de propágulos de Rhizophora nos bosques de mangue é

necessário acessar as diferentes vias de impacto sobre esse item. Os

resultados revelaram que a principal via de impacto sobre os propágulos foi a

taxa de consumo de 60%, ao passo que a taxa de exportação dos propágulos

pelo principal canal-de-maré não atingiu 1%, sendo uma via considerada pouco

relevante. O processo de decomposição não foi considerado, em função da sua

menor importância para o presente enfoque.

Dessa forma, U. cordatus pode ser considerado o principal agente de

impacto sobre os propágulos desses bosques, sem distinção de tamanho ou

maturidade dos propágulos, demonstrando, assim, forte influência no

recrutamento e na dinâmica populacional dos bosques de Rhizophora de

Soure, Ilha de Marajó, Amazônia, Brasil.

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CAPÍTULO 5

DISCUSSÃO GERAL

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110

DISCUSSÃO GERAL

Os aspectos ecológicos que envolvem a fauna e flora dos manguezais

ainda são pouco estudados no Brasil. A exemplo de U. cordatus, espécie de

elevada importância econômica, estudos que abordem fatores que influenciem

seus padrões populacionais e seu papel ecológico para a manutenção dos

bosques são de grande relevância. Os resultados obtidos no presente estudo

destacam as associações de U. cordatus aos manguezais inseridos em zonas

de transição com outros ecossistemas alagáveis, como é o caso da várzea

estuarina. Nesses ambientes, essa espécie apresenta condições suficientes

para o desenvolvimento e manutenção de suas populações.

Observou-se que a baixa salinidade pode limitar a distribuição espacial

dos indivíduos de U. cordatus nos bosques de mangue, muito embora sejam

considerados excelentes osmorreguladores quando adultos (Martinez et al.,

1999), bem como em suas formas larvais (Simith, 2012). Por outro lado, a

abundância de indivíduos parece ser comprometida, principalmente em regiões

de alta transição com bosques de várzea, nas quais o maior adensamento de

árvores dessa vegetação nos manguezais promove maior consolidação do

chão da floresta, dificultando a escavação das galerias pelos caranguejos.

Além disso, o acesso das larvas de U. cordatus (megalopas) a essas áreas

pode estar sendo comprometido por diferentes fatores, como ação das

correntes dos rios e a maior ação de predadores.

No aspecto nutricional, as duas zonas de transição oferecem condições

similares de alimentação para o U. cordatus, considerando os valores de

produção da serapilheira. Além do mais, observou-se que U. cordatus também

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111

se utiliza das folhas de espécies de várzea estuarina, o que proporciona uma

maior oferta de recursos para suas populações, principalmente nas zonas de

alta transição.

A diferença observada no tamanho dos caranguejos entre as diferentes

zonas de transição parece estar relacionada à maior atividade de pesca sobre

as populações das zonas de baixa transição. Além do mais, vários aspectos

facilitam essa atividade pesqueira, tais como, a proximidade da sede e o

acesso por terra, sem o custo adicional com embarcações, promovendo uma

atividade de coleta mais rápida e produtiva.

Segundo Diele (2000), os bosques de mangue propiciam inúmeros

refúgios para os caranguejos, principalmente entre as raízes das árvores, as

quais salvaguardam parte da população e possibilitam a reposição do estoque

em locais mais explorados. Fato que não impede que essa capacidade de

“amortecimento” se esgote em condições de intensa exploração.

Nesse sentido, torna-se bastante evidente a relação de dependência de

U. cordatus com a vegetação dos bosques, de onde são obtidos abrigo e

alimento para suas populações. Em Soure, o U. cordatus revelou-se uma

espécie de grande importância para o recrutamento de propágulos de

Rhizophora, de modo que sua atividade herbívora é capaz de proporcionar

efeitos positivos e negativos para o sistema. A alta predação sobre produção

de propágulos nos manguezais da área de estudo, implicam, por exemplo, em

um efeito negativo para o sistema, aumentando as taxas de mortalidade dos

propágulos para efeito de recrutamento no bosque. Por outro lado, pode-se

supor que esse impacto causado sobre os propágulos pode ser revertido em

efeito positivo no recrutamento, considerando que esse evento diminui a

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112

competição entre plântulas no processo de assentamento no bosque (Bosire et

al., 2005). Além disso, outros efeitos positivos estão relacionados à própria

estratégia dos propágulos (no caso de Rhizophora spp.) em sobreviver e

promover, assim, o recrutamento, através da sua capacidade de se

desenvolverem mesmo após o consumo (herbivoria) de partes consideradas

expressivas do hipocótilo (Souza & Sampaio, 2011), ou ainda, quando

fragmentados artificialmente (Komiyama et al., 1998).

Os resultados do presente estudo mostram que a seletividade alimentar

de U. cordatus é direcionada para o item de maior oferta. Adicionalmente, essa

espécie de crustáceo também se alimenta de folhas daquelas espécies

arbóreas associadas aos manguezais, colocando em cheque a sua

“preferência”, apontada pela maioria dos estudos, por folhas e propágulos de

espécies de mangue. Da mesma forma, U. cordatus não apresentou

seletividade por tamanho de propágulos, o que pode significar um efeito

positivo para o manguezal. De fato o consumo de propágulos de todos os

tamanhos, inclusive os menores, que pertencem à classe dos menos viáveis,

aumenta a sobrevivência e o recrutamento de propágulos viáveis no

manguezal. Esse efeito deve ser mais amplificado em locais com menor

produtividade de propágulos, como no caso dos manguezais inseridos em

zonas de alta transição com várzea estuarina.

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