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18 GAZETA DO POVO Curitiba, quarta-feira, 9 de junho de 2010 V ida Pública DIÁRIOS secretos Da Redação Fim da impunidade e mais respeito ao que é público. Pelo menos 6,9 mil pessoas reunidas em 15 cidades do interior do estado passaram um recado claro à Assembleia Legislativa do Paraná: os paranaenses acompanham com interesse e indig- nação os escândalos recentes. Em Londrina, pelo menos 1,5 mil manifestantes atende- ram ao chamado da OAB local, da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) e da CUT. Uma hora antes da manifestação, as primeiras pessoas começaram a chegar ao calçadão. Quando os discursos começaram, os participantes reagiram com aplausos em diversos momentos. “É minha primeira manifestação. Vim aqui para trazer mais gente, por- que é participando que a gente incentiva os outros a participar. É um absurdo o que está acontecendo e ficar em casa não vai resolver nada”, afirmou o estudante Gabriel Darcin Souza, 18 anos. Ele e o amigo Felipe Salermo, 18 anos, defendem que a Mesa Diretora, especialmente, o presidente Nelson Justus e o primeiro-secretário Alexandre Curi sejam afastados. “Sem isso eles vão continuar com manobras para escapar da punição”, disse Salermo. Lideranças comunitárias, estudantes, donas de casa e tra- balhadores formaram um público de 1,3 mil pessoas em Ponta Grossa, todos com o coro afinado: “Queremos um novo Paraná”. O ato foi apoiado por cerca de 30 entidades. A OAB deixou a disposição dois computadores para que a população aderisse ao “indignômetro” do site do movimento (www. novoparana.com.br). Até ontem à noite, Ponta Grossa era a primeira cidade do interior em número de adesões, com 1.350 assinaturas on-line. “O que aconteceu hoje em Ponta Grossa é uma demonstração da luta pela democracia porque envolveu pessoas de todas as classes e idades”, disse o estudante e coor- Manifestações em 15 cidades reuniram quase 7 mil pessoas Da Redação denador do Fórum Social em Defesa de Políticas Públicas, Joel de Oliveira. Uma caminhada pelas ruas do centro da cidade com a parti- cipação de autoridades e de representantes de 22 entidades abriu a manifestação em Maringá. Segundo estimativa dos organizadores, pelo menos 500 manifestantes estiveram con- centradas na Praça da Rodoviária Velha, sem contar as centenas de pessoas que passaram pelo local. “Conseguimos passar a mensagem ao cidadão, que é preciso discutir a corrupção, cobrar o mandato daqueles que elegemos. Hoje demonstramos nossa indignação e agora vamos encaminhar o manifesto à Assembleia e ao Ministério Público”, disse o vice-presidente da OAB-PR, César Moreno. Em Paranaguá, de acordo com organizadores, cerca de mil pessoas compareceram à Praça Fernando Amaro, no centro da cidade. No local, um telão relembrava o escândalo, trazido à tona pela Gazeta do Povo e RPC TV. Após o hino nacional, o microfone foi aberto para que a OAB, lideranças religiosas e do comércio se manifestassem. “Atos como esse têm o poder de derrubar o manto da impunidade. O rei vai se mostrar nu, e as pessoas vão entender o poder que possuem: o do voto. O eleitor vai conhecer quem é o herói e quem é o bandido”, afirmou a chefe da subseção de Paranaguá da OAB, Dora Schuller. Uma passeata pela Avenida Brasil com apitaço foi a forma de protesto de cerca de 800 pessoas em Foz do Iguaçu. Com faixas e cartazes, as pessoas pediram transparência e ética na política. Os manifestantes, com narizes de palhaço, chamaram a atenção também para as irregularidades que se espalham por todas as esferas e poderes do governo. “Tem sujeira por todos os lados. Isso que estamos vendo na Assembleia Legislativa é comum desde a prefeitura, a Câmara de Vereadores, até no Congresso”, disse o aposentado Vivaldino Oliveira. “Manifes- tações como essa deveriam acontecer sempre. Os que estão no poder precisam saber que a população não está contente. Chega de corrupção, de políticos pensando apenas em como se dar bem e fazendo de conta que não sabem por que foram eleitos”, sugeriu o recepcionista de hotel e presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Turismo de Foz, Wilson Martins. Erika Pelegrino, de Londrina; Hélio Strassacapa, de Maringá; Vanessa Prateano, de Curitiba; Fabiula Wurmeister, de Foz do Iguaçu; Maria Gizele da Silva, de Ponta Grossa. Interior do PR pede punição e respeito EM FOZ, BANDEIRAS E NARIZES DE PALHAÇO Em Foz do Iguaçu, cerca de 800 pessoas marcharam pelas ruas da cidade e carregaram bandeiras. Por onde os manifestantes passavam, as lojas eram fechadas e luzes apagadas, numa demonstração de apoio. Muitos usaram narizes de palhaço. A comunidade árabe da fronteira deu apoio ao movimento. PROTESTO DE TODAS AS IDADES Crianças, adultos, idosos. Homens, mulheres, casais. No interior, as manifestações uniram famílias inteiras e não tiveram limite de idade. No alto, à esquerda, a moça mostra um adesivo contra a corrupção em Londrina. À direita, menina balança bandeira em Maringá. Acima, casal protesta em Ponta Grossa. CONTRA A CORRUPÇÃO O gaúcho Miral Pereira Santos, 68 anos, já percorreu 30 cidades da região Sul do Brasil com sua campanha particular pela ética e moralidade: “A corrupção é a poluição da política”. Santos partiu de Canoas (RS) em janeiro, e no Paraná já passou por Ponta Grossa, Guarapuava e Campo Mourão. Em Maringá, ele era um dos 500 manifestantes que engrossaram o coro contra os desmandos na Assembleia Legislativa do Paraná. “Essa situação é chocante por conta de um detalhe. A Casa (Assembleia) inteira está reagindo num corporativismo para proteger a Mesa Diretora”, disse. De carona pelas estradas, Santos segue para Londrina nesta quarta-feira, de onde partirá rumo ao Nordeste levando sua mensagem. 40 KM PARA PROTESTAR Com a bandeira do Paraná nas costas, o professor e cirurgião-dentista Giovatan de Souza Bueno viajou cerca de 40 quilômetros, de Palmeira para Ponta Grossa, para participar do ato público. “Como minha cidade não realizou nenhuma manifestação, vim para Ponta Grossa representando toda minha cidade”, afirmou. Ele se mostrou indignado com as denúncias de irregularidades na Assembleia, com a edição dos diários oficiais avulsos e com a falta de posição da maioria dos deputados estaduais com relação ao afastamento da Mesa. “Estou aqui por causa dos meus netos e dos meus bisnetos. É preciso pensar num futuro melhor.” Leoni de Andrade Vieira, de 85 anos de idade, que participou do protesto em Guarapuava. Paranavaí O ato contou com a distribuição de cerca de mil bottons e 600 adesivos, que foram colados nos veículos que passavam próximos ao calçadão da Rua Souza Naves. Manifestantes: 400. Cascavel Cerca de 300 pessoas participaram da manifestação pública. O presidente do Sindicato dos Bancários, Gladir Basso, lembrou que a corrupção é mais letal do que armas e drogas ao desviar dinheiro que deveria ser usado na saúde, educação e habitação. Imbituva Organizado pelo padre Leocádio Vytkowski, conhecido pelo engajamento político, o ato reuniu 300 pessoas. Marechal Cândido Rondon Um computador foi colocado à disposição da população e até as 20 horas o indignômetro da cidade contava com 259 adesões. Houve exibição de um filme com mensagens do movimento e um histórico dos escândalos da Assembleia. Manifestantes: 200. Campo Mourão Na cidade, a articulação começou cedo, mas funcionários da prefeitura retiraram faixas colocadas nas principais avenidas e praça central da cidade. Um dos organizadores do movimento leu os nomes de deputados federais e estaduais que se manifestaram favoráveis ou contrários ao afastamento da mesa diretora da Assembléia. Manifestantes: 200. Umuarama Cerca de 200 pessoas participaram da mani- festação. O promotor de Justiça na comarca local, Carlos Roberto Moreno, pediu mais ação da comunidade contra a corrupção. “Nosso povo ainda é muito pacato, por isso, políticos corruptos sobrevivem. Vamos para as ruas protestar e expulsar esse povo de ficha suja.” Guarapuava A mobilização foi marcada pela exigência de transparência, tanto na Assembleia Legislativa quanto na política local. Houve passeata e concentração de cerca de 150 pessoas Outras cidades Houve manifestações também em Pato Branco, Toledo e Rio Negro. INDIGNAÇÃO Confira outras cidades onde houve manifestações: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo Fábio Dias/ Gazeta do Povo Fábio Dias/ Gazeta do Povo Celso Margraf Celso Margraf Gilberto Albelha/Jornal de Londrina CIDADANIA

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18GAZETA DO POVO Curitiba, quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vida Pública

DIÁRIOSsecretos

Da Redação

❚ Fim da impunidade e mais respeito ao que é público. Pelo menos 6,9 mil pessoas reunidas em 15 cidades do interior do estado passaram um recado claro à Assembleia Legislativa do Paraná: os paranaenses acompanham com interesse e indig-nação os escândalos recentes.

Em Londrina, pelo menos 1,5 mil manifestantes atende-ram ao chamado da OAB local, da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) e da CUT. Uma hora antes da manifestação, as primeiras pessoas começaram a chegar ao calçadão. Quando os discursos começaram, os participantes reagiram com aplausos em diversos momentos. “É minha primeira manifestação. Vim aqui para trazer mais gente, por-que é participando que a gente incentiva os outros a participar. É um absurdo o que está acontecendo e ficar em casa não vai resolver nada”, afirmou o estudante Gabriel Darcin Souza, 18 anos. Ele e o amigo Felipe Salermo, 18 anos, defendem que a Mesa Diretora, especialmente, o presidente Nelson Justus e o primeiro-secretário Alexandre Curi sejam afastados. “Sem isso eles vão continuar com manobras para escapar da punição”, disse Salermo.

Lideranças comunitárias, estudantes, donas de casa e tra-balhadores formaram um público de 1,3 mil pessoas em Ponta Grossa, todos com o coro afinado: “Queremos um novo Paraná”. O ato foi apoiado por cerca de 30 entidades. A OAB deixou a disposição dois computadores para que a população aderisse ao “indignômetro” do site do movimento (www.novoparana.com.br). Até ontem à noite, Ponta Grossa era a primeira cidade do interior em número de adesões, com 1.350 assinaturas on-line. “O que aconteceu hoje em Ponta Grossa é uma demonstração da luta pela democracia porque envolveu pessoas de todas as classes e idades”, disse o estudante e coor-

Manifestações em 15 cidades

reuniram quase 7 mil pessoas Da Redação

denador do Fórum Social em Defesa de Políticas Públicas, Joel de Oliveira.

Uma caminhada pelas ruas do centro da cidade com a parti-cipação de autoridades e de representantes de 22 entidades abriu a manifestação em Maringá. Segundo estimativa dos organizadores, pelo menos 500 manifestantes estiveram con-centradas na Praça da Rodoviária Velha, sem contar as centenas de pessoas que passaram pelo local. “Conseguimos passar a mensagem ao cidadão, que é preciso discutir a corrupção, cobrar o mandato daqueles que elegemos. Hoje demonstramos nossa indignação e agora vamos encaminhar o manifesto à Assembleia e ao Ministério Público”, disse o vice-presidente da OAB-PR, César Moreno.

Em Paranaguá, de acordo com organizadores, cerca de mil pessoas compareceram à Praça Fernando Amaro, no centro da cidade. No local, um telão relembrava o escândalo, trazido à tona pela Gazeta do Povo e RPC TV. Após o hino nacional, o microfone foi aberto para que a OAB, lideranças religiosas e do comércio se manifestassem. “Atos como esse têm o poder de derrubar o manto da impunidade. O rei vai se mostrar nu, e as pessoas vão entender o poder que possuem: o do voto. O eleitor vai conhecer quem é o herói e quem é o bandido”, afirmou a chefe da subseção de Paranaguá da OAB, Dora Schuller.

Uma passeata pela Avenida Brasil com apitaço foi a forma de protesto de cerca de 800 pessoas em Foz do Iguaçu. Com faixas e cartazes, as pessoas pediram transparência e ética na política. Os manifestantes, com narizes de palhaço, chamaram a atenção também para as irregularidades que se espalham por todas as esferas e poderes do governo. “Tem sujeira por todos os lados. Isso que estamos vendo na Assembleia Legislativa é comum desde a prefeitura, a Câmara de Vereadores, até no Congresso”, disse o aposentado Vivaldino Oliveira. “Manifes -tações como essa deveriam acontecer sempre. Os que estão no poder precisam saber que a população não está contente. Chega de corrupção, de políticos pensando apenas em como se dar bem e fazendo de conta que não sabem por que foram eleitos”, sugeriu o recepcionista de hotel e presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Turismo de Foz, Wilson Martins.

Erika Pelegrino, de Londrina; Hélio Strassacapa, de Maringá; Vanessa Prateano, de Curitiba;

Fabiula Wurmeister, de Foz do Iguaçu; Maria Gizele da Silva, de Ponta Grossa.

Interior do PR pede punição e respeito

EM FOZ, BANDEIRAS E NARIZES DE PALHAÇOEm Foz do Iguaçu, cerca de 800 pessoas marcharam pelas ruas da cidade e carregaram bandeiras. Por onde os manifestantes passavam, as lojas eram fechadas e luzes apagadas, numa demonstração de apoio. Muitos usaram narizes de palhaço. A comunidade árabe da fronteira deu apoio ao movimento.

PROTESTO DE TODAS AS IDADESCrianças, adultos, idosos. Homens, mulheres, casais. No interior, as manifestações uniram famílias inteiras e não tiveram limite de idade. No alto, à esquerda, a moça mostra um adesivo contra a corrupção em Londrina. À direita, menina balança bandeira em Maringá. Acima, casal protesta em Ponta Grossa.

CONTRA A CORRUPÇÃOO gaúcho Miral Pereira Santos, 68 anos, já percorreu 30 cidades da região Sul do Brasil com sua campanha particular pela ética e moralidade: “A corrupção é a poluição da política”. Santos partiu de Canoas (RS) em janeiro, e no Paraná já passou por Ponta Grossa, Guarapuava e Campo Mourão. Em Maringá, ele era um dos 500 manifestantes que engrossaram o coro contra os desmandos na Assembleia Legislativa do Paraná. “Essa situação é chocante por conta de um detalhe. A Casa (Assembleia) inteira está reagindo num corporativismo para proteger a Mesa Diretora”, disse. De carona pelas estradas, Santos segue para Londrina nesta quarta-feira, de onde partirá rumo ao Nordeste levando sua mensagem.

40 KM PARA PROTESTARCom a bandeira do Paraná nas costas, o professor e cirurgião-dentista Giovatan de Souza Bueno viajou cerca de 40 quilômetros, de Palmeira para Ponta Grossa, para participar do ato público. “Como minha cidade não realizou nenhuma manifestação, vim para Ponta Grossa representando toda minha cidade”, afirmou. Ele se mostrou indignado com as denúncias de irregularidades na Assembleia, com a edição dos diários oficiais avulsos e com a falta de posição da maioria dos deputados estaduais com relação ao afastamento da Mesa.

“Estou aqui por causa dos meus netos e dos meus bisnetos. É preciso pensar num futuro melhor.”

Leoni de Andrade Vieira, de 85 anos de idade, que participou do protesto em Guarapuava.

ParanavaíO ato contou com a distribuição de cerca de mil bottons e 600 adesivos, que foram colados nos veículos que passavam próximos ao calçadão da Rua Souza Naves. Manifestantes: 400.

CascavelCerca de 300 pessoas participaram da manifestação pública. O presidente do Sindicato dos Bancários, Gladir Basso, lembrou que a corrupção é mais letal do que armas e drogas ao desviar dinheiro que deveria ser usado na saúde, educação e habitação.

ImbituvaOrganizado pelo padre Leocádio Vytkowski, conhecido pelo engajamento político, o ato reuniu 300 pessoas.

Marechal Cândido RondonUm computador foi colocado à disposição da população e até as 20 horas o indignômetro da cidade contava com 259 adesões. Houve exibição de um filme com mensagens do movimento e um histórico dos escândalos da Assembleia. Manifestantes: 200.

Campo MourãoNa cidade, a articulação começou cedo, mas funcionários da prefeitura retiraram faixas colocadas nas principais avenidas e praça central da cidade. Um dos organizadores do movimento leu os nomes de deputados federais e estaduais que se manifestaram favoráveis ou contrários ao afastamento da mesa diretora da Assembléia. Manifestantes: 200.

UmuaramaCerca de 200 pessoas participaram da mani -festação. O promotor de Justiça na comarca local, Carlos Roberto Moreno, pediu mais ação da comunidade contra a corrupção. “Nosso povo ainda é muito pacato, por isso, políticos corruptos sobrevivem. Vamos para as ruas protestar e expulsar esse povo de ficha suja.”

GuarapuavaA mobilização foi marcada pela exigência de transparência, tanto na Assembleia Legislativa quanto na política local. Houve passeata e concentração de cerca de 150 pessoas

Outras cidadesHouve manifestações também em Pato Branco, Toledo e Rio Negro.

❚ INDIGNAÇÃO

Confira outras cidades onde houve manifestações:

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