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1
CAIO MORENO RODRIGUES SAMPAIO
INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
CURSO DE DIREITO
CAMPO GRANDE – MS
2009
2
3
INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA
CAIO MORENO RODRIGUES SAMPAIO
4
INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFEÊNCIA
Monografia apresentada como exigência
final para obtenção do título de Bacharel
em Direito, à Banca Examinadora da
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB),
sob a orientação do Professor Renato da
Rocha Ferreira.
CAMPO GRANDE – MS
2009
5
6
“Fazer guerra é muito fácil, quero ver fazer poesia.” (Lourival dos Santos – Tião Carreiro)
7
Dedico a presente
monografia a Deus, aos
meus amigos e a minha
família.
8
AGRADECIMENTOS
A Deus, nossa força superior.
Aos meus pais por terem me auxiliado ao longo do curso.
Aos meus avós, por terem acreditado que seria possível enfrentar este
desafio.
Ao meu irmão, por ter me apoiado, e me incentivado nos momentos
difíceis.
Ao Professor Renato da Rocha Ferreira, sempre paciente e prestativo
tendo um papel muito importante na orientação desta pesquisa.
9
SAMPAIO, Caio Moreno Rodrigues. Interrogatório por Videoconferência. 50 Páginas.
2009. Monografia. Curso de Direito. Universidade Católica Dom Bosco.
RESUMO
A informatização tem tomado conta do nosso cotidiano, abrangendo cada vez mais a realidade humana e facilitando o dia-a-dia daquele que aceita que mecanismos eletrônicos farão parte de nossa vida. É certo a resistência humana, completamente compreensível evita que este avanço se dê de forma mais rápida e ampla. No mundo jurídico, não poderia ser diferente. Este trabalho pretende demonstrar que a informatização no direito pode ajudar muito nos procedimentos que são adotados atualmente, principalmente no que tange o interrogatório por videoconferência. Primeiramente serão demonstradas as mudanças decorrentes do avanço tecnológico, abrangendo a informática no Direito e a videoconferência em geral. O Direito Comparado é tratado, visando demonstrar os primeiros países a adotar este procedimento, e de que forma se dá. Será abordado o interrogatório de maneira ampla, como conceito, natureza jurídica e características. O interrogatório por videoconferência é tratado em seguida, abrangendo o conceito, legislações, pontos controversos e a aplicação no estado de Mato Grosso do Sul.
Palavras-chave: Informatização no Direito. Interrogatório. Interrogatório por
Videoconferência. Interrogatório on-line. Lei 11.900/2009.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................
1 JUSTIÇA INFORMATIZADA...............................................................................
1.1 AS MUDANÇAS DECORRENTES DO AVANÇO TECNOLÓGICO...............
1.2 INFORMÁTICA NO DIREITO.........................................................................
1.3 VIDEOCONFERÊNCIA...................................................................................
1.4 DIREITO COMPARADO.................................................................................
2 INTERROGATÓRIO............................................................................................
2.1 CONCEITO.....................................................................................................
2.2 NATUREZA JURÍDICA...................................................................................
2.3 CARACTERÍSTICAS......................................................................................
2.3.1 Pessoalidade........................................................................................
2.3.2 Judicialidade........................................................................................
2.3.3 Oralidade...............................................................................................
2.3.4 Publicidade...........................................................................................
3 INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA.............................................
3.1 CONCEITO.....................................................................................................
3.2 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 10.792/03........................................
3.3 DO PROJETO DE LEI DO SENADO N° 679/2007........................................
3.4 DA LEI 11.900/2009.......................................................................................
3.5 LEGITIMIDADE..............................................................................................
3.6 DIREITOS DO RÉU........................................................................................
3.6.1 Acompanhar audiência de instrução e julgamento em sua
integralidade..........................................................................................................
3.6.2 Entrevista reservada com o defensor.....................................................
3.7 A POLÊMICA QUANTO À CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.900/09.....
3.8 A APLICAÇÃO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL.........................
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................
REFERÊNCIAS.......................................................................................................
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12
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar a inovação trazida pela Lei 11.900,
de 08 de janeiro de 2009, que trata do interrogatório do réu por meio de
videoconferência, também chamado de interrogatório on-line.
A informática, cada vez mais faz parte da vida do ser humano.
Procedimentos como fazer compras, retirar extratos bancários e até mesmo declarar
o Imposto de Renda são feitos dentro de sua própria casa, através do computador.
Assim, o Direito não poderia ficar inerte enquanto a evolução caminha no
sentido de fornecer à população procedimentos mais rápidos, baratos e seguros.
Neste sentido, o interrogatório por videoconferência passou a ser utilizado
também dentro dos tribunais, inicialmente da América do Norte, espalhando-se
rapidamente pelo mundo e chegando ao Brasil, tendo sua utilização iniciada antes
mesmo de haver amparo legal.
Apesar de produzir uma boa impressão, o interrogatório on-line causa
muita polêmica, principalmente entre os doutrinadores mais conservadores, já que
alegam ferir alguns princípios constitucionais, como por exemplo, o da Ampla
Defesa, considerado um dos pilares do Processo Penal Brasileiro.
Diante disso, o presente estudo mostra como se deu a informatização no
Direito, aborda os principais pontos sobre o interrogatório e por fim, discorre sobre o
interrogatório por videoconferência, demonstrando como se deu sua criação, e como
é sua aplicabilidade, chegando ao Estado de Mato Grosso do Sul, onde o resultado
prático é satisfatório.
13
1 JUSTIÇA INFORMATIZADA
1.1. AS MUDANÇAS DECORRENTES DO AVANÇO TECNOLÓGICO
A comunicação, desde os primórdios, é um traço marcante na natureza
humana, sempre em busca do domínio de imagens, sons, e finalmente a escrita. Tal
característica mostra-se fundamental para o desenvolvimento da espécie, já que
desde sua origem, o homem compreendeu que em grupo, as hipóteses de
sobrevivência seriam mais diversificadas 1.
Na tentativa de relacionar-se uns com os outros, o ser humano criou
mecanismos de comunicação gestuais a princípio, evoluindo para formas mais
elaboradas, com o uso da oralidade 2.
Ou seja, uma característica que o homem traz consigo ao longo dos
séculos, é a capacidade de se desenvolver em grupo, descobrindo novas formas de
comunicação cada vez mais modernas, facilitando assim sua sobrevivência e
evolução.
Porém, à cerca de 6 mil anos atrás, o homem deu um grande passo rumo
à evolução, quando passou a utilizar-se de escrita como uma nova forma de se
comunicar. Este sistema, originado de desenhos e ideogramas desenvolveu-se de
forma independente, e evoluiu de forma autônoma pelo mundo.
Segundo Juliana Fioreze3:
A comunicação à distância, no entanto, só foi verdadeiramente possível com o aparecimento e progresso na escrita. Só no século XIX, com a invenção do telégrafo, foi possível comunicar-se a distância de forma mais rápida usando formas não escritas, o que foi conseguido codificando os caracteres do alfabeto dos a forma de
1 FIOREZE, Juliana. Videoconferência no processo penal brasileiro. Curitiba: Juruá, 2008. p. 65.
2 idem.
3 Idem.
14
impulsos elétricos. Depois veio o telefone, o rádio, a televisão, o telex etc. (...) Mas, a grande revolução das comunicações deu-se com o advento dos computadores, melhorando radicalmente os serviços já existentes (fax, rede digital de telefones, telefones celulares, televisão de alta definição) e criando novos meios de comunicação (por fibras óticas de alta velocidade, via satélite, etc.).
Em 1969, em pleno período de Guerra Fria, foi inventada a internet pelo
sistema de defesa americano, como um projeto militar, cujo objetivo era criar um
sistema de informação independente e descentralizado de Washington, para não
serem cortadas as linhas de comunicação entre cientistas e engenheiros militares
em caso de um ataque à capital americana 4.
Assim, em meio à disputas estratégicas e conflitos indiretos, nascia a
internet, como um meio seguro e rápido de comunicação.
Já no Brasil, o surgimento da internet se deu em 1988, no meio
acadêmico, através do Professor Oscar Sala, da Universidade de São Paulo (USP),
e conselheiro da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo
(Fapesp), o qual, desenvolveu a idéia de estabelecer contato com instituições de
diversos países visando compartilhar dados através de uma rede de computadores
5.
Na busca por solução de obstáculos à comunicação (fatores espaciais,
temporais), novas tecnologias de informação transformam-se em objeto natural da
obsessão humana, e terminam por consolidar solução impactante de setores pré-
consolidados. Estes, por sua vez, passada a purgação do impacto, se ajustam a
nova tecnologia surgida 6.
Porém, a inovação se depara com a resistência humana, tão
compreensível quanto vencível, formada principalmente de idéias conservadoras,
obsoletas e antiquadas.
Expõe Marco Antônio de Barros:
É natural que as mudanças causem medo e estranheza nas pessoas. E não podia ser diferente no meio jurídico. Quando surgiram as máquinas de escrever, estas passaram a ser vistas com
4 FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 67.
5 Internet: 10 anos. Em 10 anos Internet cresceu em diversas áreas. Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/internet10anos/interna/0,,OI546299-EI5026,00.html>. Acesso em 24 set. 2009. 6 FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 68.
15
certa desconfiança pelos operadores do Direito, os quais alertavam para o risco da redação de sentenças com máquinas deste tipo, porque, alegavam, com elas não havia segurança da autoria dos atos judiciais. 7
Vale à pena relembrar a lição do Professor Jorge Americano, citado por
Antônio Luiz da Câmara Leal, ao criticar a inovação trazida nos anos 40 pelo então
recém editado Código de Processo Penal, consistente na possibilidade de ser
datilografada a sentença do Juiz:
“A sentença deve ser escrita do próprio punho, datada e assinada por seu próprio prolator. São considerados essenciais estes requisitos, porque servem para fiscalizar a autenticidade da sentença e, ao mesmo tempo, asseguram o sigilo que sobre ela se deve manter até a respectiva publicação. É essencial, para a dignidade da magistratura, que o juiz mantenha sigilo quanto à sua opinião sobre a demanda, até o momento de lavrar a sentença. Qualquer conversação sobre ela travada conduziria à discussão com as partes, com grave prejuízo da austeridade a até da honra do magistrado [...] Ora, permitir que a sentença seja datilografada é tolerar o seu conhecimento pelo datilógrafo, antes de publicada. É certo que a sentença, enquanto em estado de rascunho, pode ser modificada, e só adquire força depois de publicada. Basta uma hesitação da parte do juiz, em presença do datilógrafo, um erro que corrija, uma modificação que introduza, para criar no espírito desse auxiliar uma suspeita sobre a integralidade do juiz ou, quando tal não se dê, trazer a público incidentes curiosos ou anedóticos quanto à maneira de lavrar a sentença. [...] Eis porque parece mais sábio manter a tradição, segundo a qual o juiz lavrar, data e assina a sentença de próprio punho 8”.
Valho, por fim, das brilhantes palavras de Ronaldo Batista Pinto:
“Quem sabe se ao final deste século, a resistência quanto à implantação de modelos modernos, capazes de agilizar a justiça (como a experiência de interrogatório à distância), não servirá, apenas, comum capítulo pitoresco de nossa história, se ombreando à recomendação acima transcrita (que reclama do juiz que lavre de próprio punho a sentença), ambas compondo um museu de curiosidade 9”.
1.2. INFORMÁTICA NO DIREITO
7 BARROS, Marco Antônio de. Teleaudiência, Interrogatório On-Line, Videoconferência e o
Princípio da Liberdade das Provas. Revista dos Tribunais, a. 92, v. 818, p. 426, dez. 2003 8 LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Comentários ao Código de Processo Penal Brasileiro. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1942. Vol. III, p. 21. 9 PINTO, Ronaldo Batista. Interrogatório On-Line ou Virtual. Constitucionalidade do ato e
vantagens em sua aplicação. Jus Navigandi. Teresina, a. 11, n. 1.231, 14 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9163>. Acesso em 24 set. 2009.
16
Muitos ramos do conhecimento humano estão sendo atingidos e,
evidentemente, o Direito não é exceção à regra. Relações contratuais, direitos do
autor, à proteção da propriedade industrial e intelectual, à privacidade, tributário,
criminal, do consumidor, em suma, todas as subdivisões desta ciência já estão
presentes no mundo da internet, sendo que expressões como contratos
eletrônicos/virtuais, proteção de nomes de domínio e de softwares, criptografia,
documentos eletrônicos como prova, assinatura digital, videoconferência,
interrogatório on-line, dentre outras, já se fazem comuns em nosso meio jurídico 10.
Não há como negar que ao passar do tempo, máquinas e aparelhos cada
vez mais modernos farão parte de nosso dia-a-dia, funcionando como um
instrumento de ligação rápido, eficiente e seguro entre as pessoas.
Os computadores passaram a ser utilizados pelos profissionais do Direito,
substituindo assim a máquina de escrever, considerada a principal ferramenta de
trabalho do advogado, tudo isso, graças aos novos editores de texto lançados no
mercado, contendo inúmeros recursos de edição, como vários tipos de fontes de
letras, inserção de figuras, gráficos, tabelas, recursos estes jamais impensáveis na
máquina de escrever 11.
Segundo Damásio de Jesus, “a diferença entre a fase da máquina de
escrever e a atual, com o micro, é a mesma entre andar no lombo de um burro e
voar num jato. Um abismo. Irreversível 12”.
O jurista Pedro Madalena13 se manifesta da seguinte forma:
“Quando foram editados os códigos de Processo Civil, Penal e de
Organização Judiciária, os legisladores pensavam, com a
naturalidade do seu tempo, que os respectivos atos de registro,
controle e operação, seriam praticados pelo costumeiro manuscrito,
em livros, folhas soltas e em fichas de cartolina. Com o aparecimento
da máquina de escrever, a caneta passou a ter função quase que
10
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 69. 11
Idem p. 70. 12
JESUS, Damásio E. de. Eu e o computador. Jus Navigandi. Teresina, a. 3, n. 30, abr. 1999. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1755>. Acesso em 25 set. 2009. 13
MADALENA, Pedro. Processo Judicial Automatizado e Virtualizado. Jus Navigandi. Teresina, a. 6, n. 57, jul. 2002. Disponivel em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3003>. Acesso em: 13 out. 2009.
17
exclusivamente para o registro da assinatura do operador do serviço
forense. Mais tarde, com a chegada do computador, foram efetuadas
algumas adaptações para a realização dos serviços nos
cartórios/secretarias e gabinetes dos magistrados e, apesar dessa
modesta evolução, os códigos continuaram e ainda continuam
iguais”.
Hoje, fazemos compras sem sair de casa e sem conversar com o
vendedor, transferimos dinheiro por telefone ou internet sem ter que ir ao banco
conversar com o gerente. Até a arrecadação, fiscalização e restituição do imposto de
renda são feitas sem nosso contato pessoal com o funcionário do fisco,
procedimentos estes difíceis de imaginar há alguns anos atrás 14.
Aquela resistência que até pouco tempo atrás não nos deixava progredir,
perdeu lugar para a comodidade e segurança trazidas pela rede mundial de
computadores.
Serviços bancários são oferecidos pela internet (e-banking), empresas
criam o e-commerce, ou “lojas virtuais”, e até mesmo a máquina governamental,
caracterizada pela ineficiência, atualmente vem se destacando com o e-Governo,
onde o cidadão tem a possibilidade de utilizar inúmeros serviços virtuais. É certo que
o Direito não pode permanecer estático diante o desenvolvimento tecnológico, sendo
sua modernização imprescindível para que a segurança jurídica seja alcançada nas
relações mantidas em uma sociedade informatizada 15.
É notório o esforço que o Poder Judiciário tem intentado no sentido de
incorporar novas tecnologias em seus procedimentos. Apesar de esbarrar em
problemas como sistematização e divulgação, muito tem sido feito pela
informatização da Justiça e do próprio processo.
1.3. VIDEOCONFERÊNCIA
14
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 70 15
Idem p. 71
18
De acordo com a União Internacional de Telecomunicações (Internacional
Telecommunication Union/Telecomunication Standardization Sector – ITU)
videoconferência é “um serviço de transferência audiovisual de conversação
interativa que prevê uma troca bidirecional e em tempo real, de sinais de áudio (voz)
e vídeo (imagem), entre grupos de usuários em dois ou mais locais distintos” 16.
Confundem-se os termos videoconferência, audioconferência e
teleconferência, tornando-se necessária, de início, uma diferenciação técnica de
cada um dos procedimentos 17.
A teleconferência é uma comunicação à distância de uma maneira
combinada, compreendendo a telefonia e a televisão, através de uma comunicação
via satélite. É o que ocorre na maioria dos ensinos ministrados à distância. A
audioconferência é a realização de uma conferência através de áudio (telefone ou
celular). A videoconferência é a comunicação interativa nos dois sentidos, utilizando
áudio e vídeo, viabilizando uma interação dinâmica, fácil e rápida, de modo a facilitar
a comunicação entre pessoas separadas geograficamente 18.
Diversos tipos de intervenções processuais podem ser realizados por
videoconferência. O doutrinador Vladimir Aras19 às classificam da seguinte forma:
a) o teleinterrogatório, para tomada de declarações do indiciado ou suspeito, na fase policial, ou do acusado, na fase judicial; b) o teledepoimento, para a tomada de declarações de vítimas, testemunhas e peritos; c) o telerreconhecimento, para a realização de reconhecimento do suspeito ou do acusado, à distância, ato que hoje já se faz com o uso de meras fotografias; d) a telessustentação, ou a sustentação oral a distância, perante tribunais, por advogados, defensores e membros do Ministério Público; e) o telecomparecimento, mediante o qual as partes ou seus advogados e os membros do Ministério Público acompanham os atos processuais à distância, neles intervindo quando necessário;
16
MORAES FILHO, Rodolfo Araújo de; PEREZ, Carlos Alexandre Dias. Teoria e prática da videoconferência (caso das audiências judiciais). Recife: Cepe, 2003 p.19-20. 17
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 51. 18
idem 19
ARAS, Vladimir. Videoconferência no processo penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 585, 12 fev. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6311>. Acesso em: 24 set. 2009.
19
f) a telessessão, ou a reunião virtual de juízes integrantes de tribunais, turmas recursais ou turmas de uniformização de jurisprudência; g) a telejustificação, em atos nos quais seja necessário o comparecimento do réu perante o juízo, como em casos de sursis processual e penal, fiança, liberdade provisória, etc.
Portanto, a videoconferência pode ser utilizada na realização de diversos
atos processuais, seja em primeira ou segunda estância, ou até mesmo em
procedimentos investigativos conduzidos pela autoridade policial ou pelo Ministério
Público.
1.4. DIREITO COMPARADO
Nas últimas décadas, várias nações inseriram em suas legislações,
dispositivos que permitem a utilização da videoconferência para se produzir provas,
tanto em ações penais como cíveis. Na maioria dos casos, destina-se a réus já
condenados que são interrogados à distância, ou seja, nas dependências dos
estabelecimentos prisionais, além da tomada de depoimentos de vítimas de crimes
sexuais, ou ainda aqueles que merecem de alguma proteção, sejam vítimas ou
acusados 20.
Ou seja, até mesmo àquele a quem era imputado determinado fato
delituoso, o qual pudesse prejudicar sua integridade física e moral, utilizava-se da
videoconferência em seu benefício como forma de proteção.
Impossível afirmar qual foi o precedente no sistema judicial dos Estados
Unidos no que tange ao uso de videoconferência em processos criminais, porém, 21
é certo que desde 1996 sistemas similares vêm sendo utilizados pela Justiça
Federal norte-americana.
Um dos primeiros casos em que isto ocorreu foi o do Professor Theodore
20
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 303. 21
idem
20
Kaczynsky, apelidado de Unabomber, quando em 1996, depois de ser preso no
Estado de Montana, ele foi levado para o Estado da Califórnia, onde responderia a
várias acusações de terrorismo. Concomitantemente, instaurou-se sobre o mesmo
uma ação penal por homicídio, ocorrido no ano de 1994 no Estado de Nova Jersey,
ou seja, do lado oposto do país 22.
Assim, para que o mesmo fosse transportado de um extremo ao outro do
continente norte-americano, exigir-se-ia a mobilização de uma elevada soma de
recursos (aproximadamente U$ 30.000) e um expressivo contingente de agentes
federais. Tendo em vista tais dificuldades e o risco que o transporte representava,
preferiu-se a realização da audiência por meio de videoconferência de lado a lado do
país, onde o custo ficou apurado em apenas U$ 45 23.
Ou seja, a videoconferência “estréia” no ordenamento do jurídico de forma
eficaz, tornando sua utilização um procedimento seguro, econômico e célere, que
posteriormente seria seguido por diversos países do mundo.
Em 1998, o Código Criminal (Criminal Code) e o Código de Processo
Penal (Evidence Act) do Canadá foram emendados, visando permitir à coleta de
depoimentos à distância, por meio de vídeo-link. O código já permitia a presença
virtual do réu, em circuito fechado de televisão ou mediante vídeo-link a partir de um
estabelecimento prisional, assim como a ouvida de crianças e adolescentes, vítimas
de abusos, por meio de videoconferência 24.
Desta forma, o continente norte-americano tornou-se o pioneiro na
utilização da videoconferência em procedimentos judiciais, abrindo um valioso
precedente às demais regiões do mundo.
A Austrália, que é uma federação com unidades que detêm grande
autonomia, e de dimensões continentais, admite o uso de videoconferência em
audiências sempre que o autor solicite, bem como para a ouvida de acusados e
sentenciados, além de requerimentos de fiança, entre outros procedimentos, sempre
baseados na Evidence (Audio Visual and Audio Link) Act 1997 e na Children and
Young Persons Act 1989). O mesmo ocorre no Estado da Austrália Ocidental
(Western Australia), de acordo com a Acts Amendment (Video and Audio Links) Act
22
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 304 23
idem. 24
Idem p. 317.
21
1998 e o Sentencing Act 1995 25.
Na Índia, a Suprema Corte, utilizando-se de sistema copiado de
Cingapura, permite que os advogados façam suas sustentações orais por
videoconferência, bem como a realização de depoimentos testemunhais e
interrogatórios criminais.
No Reino Unido, desde 2003 a Lei Geral sobre Cooperação Internacional
em Matéria Penal ampliou as hipóteses de coleta de provas à distância. A nova
regulamentação, mais abrangente, permite que testemunhas na Inglaterra, na
Escócia, na Irlanda do Norte ou no País de Gales sejam ouvidas por
videoconferência, por autoridades de outros países e vice-versa 26.
Na Espanha, a Lei de Proteção a Testemunhas (Ley de Protección a
Testigos), a Lei Orgânica do Poder Judiciário (Ley Orgánica del Poder Judicial) e o
Código de Processo Penal (Ley de Enjuiciamiento Criminal), permitem, na jurisdição
criminal, a tomada de depoimentos por videoconferência, visando garantir que
vítimas protegidas não sejam vistas e/ou ameaçadas pelos acusados 27.
O Código de Processo Penal (Code de Procedure Penale) Francês, em
seu artigo 706-71, introduzido pela Lei n. 1062, de 15 de novembro de 2001,
discorre sobre a utilização de meios de telecomunicação no curso do procedimento
criminal, no que tange à coleta de depoimentos de testemunhas, acareação de
pessoas e interrogatório de acusados, bem como a concretização de medidas de
cooperação internacional 28.
Na Itália, país que combate setores das máfias calabresa, siciliana e
napolitana, tratados permitem a realização de audiências eletrônicas por
mecanismos audiovisuais, sendo que este método passou a ser usado em grande
escala para a instrução criminal de ações penais afim de combater as organizações
mafiosas, aprimorando-se assim o sistema de proteção a vítimas e testemunhas,
procedimento este denominado collegamento audivisivo a dintanza, ou ligação
audiovisual à distância 29.
25
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 319. 26
idem p. 322. 27
ARAS, Vladimir. Op. Cit. 28
Idem 29
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 324
22
Giancarlo Sandro Casseli, ex-chefe do pool, antimáfia italiano,
atualmente responsável pelo sistema carcerário da Itália, aduz que:
“Para evitar que os mafiosos fossem resgatados ou fizessem ameaças às testemunhas durante os interrogatórios, o Ministério Público passou a utilizar o que eles chamam de videoconferência. Os interrogatórios são feitos pro circuito interno de televisão. Dessa maneira não há constrangimento para testemunhas, e existe mais segurança para os setores que estão investigando os mafiosos” 30.
Cingapura, país do Sudeste asiático adota desde 2003 a videoconferência
para a realização de ouvida de testemunhas em audiências cíveis. A partir de 2005,
este sistema passou a ser usado também em interrogatórios criminais, sendo que os
advogados locais também podem utilizar a videoconferência para apresentar
alegações orais junto as Cortes 31.
Na capital portuguesa Lisboa, o sistema de videoconferência foi utilizado
não sem grandes oposições, no rumoroso processo de pedofilia que ficou conhecido
como “Escândalo da Casa Pia”. A pretensão era impedir constrangimentos às várias
vítimas menores a serem ouvidas na ação penal. O Dr. Rui Teixeira, Juiz do caso,
decidiu que a audição para memória futura no caso Casa Pia fosse feita através de
videoconferência, com os menores depondo longe do local onde estivessem os
acusados. Os depoimentos foram prestados no estabelecimento da Polícia Judiciária
e não, no Centro de Estudos Judiciários, como tinha ordenado anteriormente o Juiz
de instrução. Isto, porque o testemunho presencial poderia causar traumas
irremediáveis nos jovens 32.
A legislação portuguesa, assim como a de outros países da Europa
autoriza a utilização de instrumentos audiovisuais para a gravação de depoimentos
para memória futura, denominadas “declarações em conserva”, as quais podem ser
gravadas pela aparelhagem de videoconferência, como ocorreu no caso da “Casa
Pia”, visando não constranger as jovens vítimas.
30
CASELLI, Giancarlo Sandro. Proteção de Vítimas e Testemunhas no Processo Penal na Alemanha.
Revista Direito Mackenzie. N. 2, a. 1, 24 mar. 2003 31
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 328 32
idem. p. 329.
23
2 INTERROGATÓRIO
2.1 CONCEITO
Segundo Fernando Capez o interrogatório:
“é o ato processual no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação contra ele formulada. É ato privativo do juiz e personalíssimo do acusado, possibilitando a este último o exercício da sua defesa, da sua autodefesa 33”.
Já Antônio Alberto Machado entende que:
“o interrogatório é um ato a ser realizado no processo penal, tal como estabelecido de forma impositiva pelo art. 185 do CPP, quando diz que o acusado, comparecendo ao processo, “será qualificado e interrogado”, em qualquer fase do procedimento, inclusive em grau de recurso. Trata-se de um ato processual de reconhecida importância, pois que carregado de expectativas de defesa e de grande significado para a prova no processo penal. É por meio de interrogatório que o acusado, pessoalmente e de forma intrasferível, faz a sua primeira intervenção no processo, realizando uma espécie de autodefesa cuja relevância é mesmo inegável 34”.
Guilherme de Souza Nucci35 conceitua como:
“o ato processual que confere oportunidade ao acusado de se dirigir diretamente ao juiz, apresentando a sua versão defensiva aos fatos que lhe foram imputados pela acusação, podendo inclusive indicar meios de prova, bem como confessar, se entender cabível, ou mesmo permanecer em silêncio, fornecendo apenas dados de qualificação. O interrogatório policial, por seu turno, é o que se realiza durante o inquérito, quando a autoridade policial ouve o indiciado, acerca da imputação indiciária”.
33
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal / Fernando Capzez. 16. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2009. p. 350. 34
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de Processo Penal / Antônio Alberto Machado. – 2. Ed. – São Paulo: Atlas, 2009. p. 376. 35
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal / Guilherme de Souza Nucci. – 5. Ed. Ver. atual e ampl. 3. tir. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p.421
24
Trata-se portanto, de ato processual obrigatório, onde o réu tem a
oportunidade de defender-se diretamente ao juiz das imputações que lhe são feitas,
esclarecer fatos, indicar provas, ou permanecer em silêncio, realizando assim sua
autodefesa da forma que lhe convier.
“É a audiência do réu”, segundo Greco Filho36.
José Frederico Marques afirma que interrogatório consiste em
“declarações do réu resultantes de perguntas formuladas para esclarecimento do
fato delituoso que lhe atribui e de circunstâncias pertinentes a esse fato” 37. Para
Noronha, trata-se das “declarações do acusado em resposta às perguntas
formuladas” 38.
2.2 NATUREZA JURÍDICA
A doutrina é bastante divergente quanto à natureza jurídica do
interrogatório, se tal ato é meio de prova, meio de defesa.
Nucci39 apóia esta última posição. Vejamos:
“Nota-se que o interrogatório é, fundamentalmente, um meio de defesa, pois a Constituição assegura ao réu o direito ao silêncio. Logo, a primeira alternativa que se avizinha ao acusado é calar-se, daí não advindo conseqüência alguma. Defende-se apenas. Entretanto, caso opte por falar, abrindo mão do direito ao silêncio, seja lá o que disser, constitui meio de prova inequívoco, pois o magistrado poderá levar em consideração suas declarações para condená-lo ou absolvê-lo”.
Nesta mesma linha de raciocínio, acrescenta Capez:
36
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 225. 37
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. Campinas: Bookseller, 1997. v. 1, p. 297. 38
NORONHA, Edgar Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 1971. P. 114. 39
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit. p.422.
25
“O Código de Processo Penal, ao tratar do interrogatório do acusado no capítulo concernente à prova, fez clara opção por considerá-lo verdadeiro meio de prova, relegando a segundo plano sua natureza de meio de autodefesa do réu (Francisco Campos, Exposição de Motivos do Código de Processo Penal, item VII). Entretanto, a doutrina mais avisada, seguida pela jurisprudência mais sensível aos novos postulados ideológicos informativos do processo penal, tem reconhecido o interrogatório como meio de defesa, i. e., como ato de concretização de um dos momentos do direito de ampla, defesa, constitucionalmente assegurado, qual seja, o direito de autodefesa, mista do interrogatório, sendo aceito como meio de prova e de defesa [...] Tratamos o ato processual do interrogatório entre os meios de prova apenas para seguir o iter do Código de Processo Penal [...] consideramo-lo como meio de defesa do acusado 40”.
Já Aranha, entende ser o interrogatório meio de prova. Defende:
“induvidosamente um meio de prova, podendo acidentalmente ser usado como meio de defesa, como igualmente atuar como elemento incriminador 41”.
Demonstra ainda, quatro pontos relevantes nesta questão:
“Em primeiro lugar, porque colocado no Código entre as provas e como tal considerado pelo julgador ao formular sua convicção; depois, porque as perguntas podem ser feitas livremente, apenas obedecendo-se às diretrizes do art. 188; em terceiro, porque pode atuar tanto contra o acusado, no caso da confissão, como em seu favor; e, finalmente, porque o silêncio, a recusa em responder às perguntas, pode atuar como um ônus processual (arts. 186 e 191)42”.
O renomado autor Damásio E. de Jesus43 entende o interrogatório ser
meio de defesa e, secundariamente, meio de prova.
“A nova disciplina do interrogatório lhe confere preponderantemente caráter de meio de defesa. No entanto, o fato do seu conteúdo poder ser utilizado como elemento na formação da convicção do julgador, lhe outorga, secundariamente, a característica de meio de prova. O STF possui decisão anterior a Lei 10.792, de 1°.12.2003, em que fundado no caráter do interrogatório como meio de defesa, permitiu ao defensor técnico, constituído ou dativo, considerá-lo dispensável, de acordo com as circunstâncias do caso concreto (STF, RTJ 73/760).”
40
CAPEZ, Fernando. Op. Cit. p. 350-351. 41
ARANHA, Adalberto José Q. T. De Camargo. Da prova no processo penal. 7. ed. revisada e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 98. 42
idem 43
JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 177.
26
Para Machado, não há que se falar em meio de prova ou mecanismo de
defesa, afirmando ser este um ato híbrido:
“Discute-se acerca da natureza do interrogatório, se meio de prova ou mecanismo de defesa. Apesar da celeuma entre os que o consideram uma coisa ou outra, parece óbvio que se trata de ato híbrido, ou seja, ao mesmo tempo em que é um dos elementos mais importantes do conjunto probatório, portanto, um meio de prova, é também um ato essencial à defesa do réu44”.
Apesar de várias correntes e vários doutrinadores destacarem pontos
controversos acerca da natureza jurídica do interrogatório, entende-se que este ato
pode ser visto tanto como meio de prova como ato de defesa.
2.3 CARACTERÍSTICAS
2.3.1 Pessoalidade
É ato personalíssimo, ou seja, somente o acusado pode ser interrogado,
não podendo, em nenhuma hipótese, se fazer representar por outra pessoa por mais
próxima que seja ou que conheça os fatos45. Não é admitido no Processo Penal,
portanto, substituição, representação nem sucessão. Interrogado tem que ser o
próprio réu, e ninguém, por ele, nem mesmo seu defensor.46
2.3.2 Judicialidade
44
MACHADO, Antônio Alberto. Op. Cit. p. 376-377. 45
ARANHA, Adalberto José Q. T. De Camargo. Da prova no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 72. 46
TORNAGHUI, Hélio Bastos. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1980. V. 1, p. 362.
27
Cabe ao juiz e só a ele, interrogar o acusado. Ninguém mais: nem o
Promotor de Justiça, nem o escrivão47. Apesar do Código de Processo Penal
autorizar a ouvida do indiciado na fase do inquérito policial, pela autoridade policial,
procura-se evitar o uso do termo interrogar, como por exemplo, no artigo 6°, inciso
V, do Código de Processo Penal, que dispõe: “Logo que tiver conhecimento da
prática da infração penal, a autoridade policial deverá: V – ouvir o indiciado...”,
reconhecendo assim, ser o ato do próprio juiz de Direito48.
2.3.3 Oralidade
Se o interrogatório deve ser pessoal, deve mais ainda ser oral, já que o
principal meio de comunicação ainda é a fala. A voz se traduz numa manifestação
inequívoca do pensamento, e a emissão do som é algo particular, individual, que
identifica cada ser vivo49.
O juiz faz a pergunta e o acusado a ela responde, sendo as respostas
ditadas ao escrivão. Este, as consignará no respectivo auto, o qual, terminado o
interrogatório, será lido e rubricado pelo escrivão em suas folhas e assinado pelo
juiz, pelo promotor, pelo defensor e pelo acusado50.
2.3.4 Publicidade
O interrogatório é audiência pública, assim como os demais atos
47
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. V. 3, p. 255. 48
TORNAGHUI, Hélio Bastos. Op. Cit. p. 362. 49
idem. 50
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. Cit. p. 282.
28
processuais, decorrente da garantia do processo público. A Constituição Federal
verbera em seu artigo 93, IX que “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos (...) podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e seus advogados, ou somente
a estes”.
O Código de Processo Penal, por sua vez, no artigo 792 acentua: “As
audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos...”. Porém,
quando as circunstâncias determinarem que seja realizada a portas fechadas,
obrigatoriamente o defensor deverá estar presente, uma vez que o acusado deve ter
a garantia e a segurança que não se praticará extorsão das confissões.
29
3 DO INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA
3.1 CONCEITO
Segundo Ana Cláudia Bezerra, o interrogatório on-line:
“um ato judicial, presidido pelo juiz, em que se indaga ao acusado sobre os fatos imputados contra ele, advindo de uma queixa ou denúncia, dando-lhe ciência, ao tempo em que oferece oportunidade de defesa, realizado através de um sistema que funciona com equipamentos e software específicos 51”.
Juliana Fioreze acrescenta:
“Trata-se de um interrogatório realizado à distância, ficando o juiz em seu gabinete no fórum e o acusado em uma sala especial dentro do próprio presídio, onde há uma interligação entre ambos, por meio de câmeras de vídeo, com total imagem e som, de modo que um pode ver e ouvir perfeitamente o outro 52”.
Desta forma, no interior da própria penitenciária, ficam o preso, seu
advogado, agentes penitenciários, oficiais de justiça, uma impressora, microfone,
monitores de vídeo e uma câmera conectada ao computador, enquanto que, do
outro lado, ligados por cabos de fibra ótica, ficam instalados os mesmos
equipamentos no Fórum ou Tribunal, à disposição do Juiz, o qual conduzirá a
audiência, na presença do Promotor de Justiça53.
Podemos descrever, então, como um ato judicial, realizado à distância,
presidido por um juiz, este, acompanhado a um Promotor, onde as perguntas,
51
BEZERRA, Ana Cláudia da Silva. Interrogatório on-line e a ampla defesa. Advogado ADV. 2005. Disponível em :<http://www.advogado.adv.br/artigos/2005/anaclaudiadasilvabezerra/interrogatorio-online.htm >. Acesso em 1°. Out. 2009. 52
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p.107. 53
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p.107.
30
indagações e questionamentos são feitas ao acusado, que se encontra em outro
local acompanhado de seu Advogado, estando ambas as partes interligadas por
equipamentos e softwares específicos que proporcionam uma conexão de imagem e
som em tempo real entre um e outro.
3.2 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 10.792/03
Com o advento da Lei 10.792/03, o interrogatório obteve importantes
alterações no que diz respeito à sua aplicação. O Código de Processo Penal, em
seu artigo 185 previa que: “O acusado, que for preso, ou comparecer,
espontaneamente ou em virtude de intimação, perante a autoridade judiciária, no
curso do processo penal, será qualificado e interrogado”.
Porém, com o novo texto trazido pela Lei 10.792/03, o art igo
185 do Código de Processo Penal, passou a ter a seguinte redação:
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
§ 1º O interrogatório do acusado preso será feito no estabelecimento prisional em que se encontrar, em sala própria, desde que garantidas a segurança do juiz e auxiliares, a presença do defensor e a publicidade do ato. Inexistindo a segurança, o interrogatório será feito nos termos do Código de Processo Penal.
§2º Antes da realização do interrogatório, o juiz assegurará o direito de entrevista reservada do acusado com seu defensor.
Aqueles que se opunham à aplicabilidade de videoconferência no
interrogatório do réu, fundamentaram seus argumentos com base na expressão
“comparecer perante à autoridade judiciária”, disposta no artigo 185, caput, do CPP,
afirmando que o sentido do texto implicava que o acusado deviria estar fisicamente
31
diante da autoridade judiciária, sendo o interrogatório on-line uma forma de
inviabilizar este contato 54.
Vlademir Aras 55, promotor de Justiça no Estado da Bahia, em
seu art igo “Teleinterrogatório não elimina nenhuma garan t ia
processual” defende que:
“Não concordamos que uma exegese da letra do artigo 185 do CPP, na sua anterior ou na atual redação, tenha o condão de inviabilizar o sistema de teleinterrogatório. Nações democráticas da Europa já adotam o teleinterrogatório, sem qualquer lesão a direitos individuais de imputados, tanto no plano interno quanto no espaço jurídico comum europeu. Além do mais, sabe-se que a interpretação gramatical ou literal não é a melhor para solucionar uma questão tão complexa.
Na sistemática do CPP, "comparecer" nem sempre significa necessariamente ir à presença física do juiz, ou estar no mesmo ambiente que este. Comparece aos autos ou aos atos do processo quem se dá por ciente da intercorrência processual, ainda que por escrito, ou quem se faz presente por meio de procurador, até mesmo com a oferta de alegações escritas, a exemplo da defesa prévia e das alegações finais.
Vide, a propósito, o artigo 570 do CPP, que afasta a nulidade do ato, considerando-a sanada, quando o réu "comparecer" para alegar a falta de citação, intimação ou notificação. Evidentemente, aí não se trata de comparecimento físico diante do juiz, mas sim de comunicação processual, por petição endereçada ao magistrado.
Se assim é, pode-se muito bem ler o "comparecer" do artigo 185 do CPP, referente ao interrogatório, como um comparecimento virtual, mas direto, atual e real, perante o magistrado.
A Lei n. 10.259/2001, que cuida dos Juizados Especiais Federais (cíveis e criminais), permitiu que as turmas de uniformização de jurisprudência reúnam-se por meios eletrônicos. De fato, o artigo 14, §3º, da lei, diz que "A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será feita pela via eletrônica". Que é isto senão uma audiência virtual? Estamos diante de uma sessão de julgamento plenamente válida, embora os juízes participantes não estejam presentes no mesmo recinto, mas sim presentes em recintos diversos, em plena interação.
Alega-se que o artigo 9º, §3º, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Pacto de Nova Iorque) e o artigo 7º, §5º, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), prevêem o direito do réu de ser conduzido à presença física do juiz natural. Ora, as referidas normas falam
54
BEZERRA, Ana Cláudia da Silva. Interrogatório on-line e a ampla defesa. Disponível em <http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/interrogatorio.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2009 55
ARAS, Vladimir. Op. Cit. . Acesso em: 04 nov. 2009
32
apenas em levar o detido à "presença do juiz", e a presença virtual, ao vivo, atual e simultânea, por meio de videoconferência, confere ao acusado as mesmas garantias que o comparecimento in persona, diante do magistrado.
Portanto, desde que seja garantida a liberdade probatória ao acusado e que sejam assegurados ao réu os direitos de ciência prévia, participação efetiva e ampla defesa (1) (inclusive com o acompanhamento do ato in loco por seu defensor e/ou por um oficial de justiça), não há razão para temer o teleinterrogatório, sob o irreal pretexto de violação a direitos fundamentais do acusado no processo penal. Até porque só há nulidade processual, quando existir prejuízo, e não se pode afirmar que essa é a regra no tocante a teledepoimentos criminais.
Ademais, o comparecimento físico do acusado perante a autoridade judicial não é exigido pelo direito internacional nem pela Constituição brasileira. Com efeito, o artigo 5º, inciso LXII, declara que "A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada".
Frise-se: a prisão será "comunicada" ao juiz competente. Não impõe a Constituição a apresentação do réu ao juiz, na sede do juízo, mesmo num momento em que a legalidade ou legitimidade da prisão em flagrante ainda não foi verificada pelo Judiciário.
O teleinterrogatório não é um dos males do tempo. Ao contrário, vem eliminar certas burocracias e óbices ao andamento dos feitos criminais. Não esqueçamos que a videoconferência se presta à ouvida de réus presos e de réus soltos, detidos na mesma ou em comarca diversa do distrito da culpa, ou residentes a longas distâncias do foro. Assim, o sistema atende a interesses fundamentais de uns e outros. A mera mudança do procedimento de apresentação do réu ao juiz, especialmente nos casos em que estejam em julgamento presos perigosos, não elimina nenhuma garantia processual, nem ofende os ideais do Estado de Direito. Basta que se adote um formato de videoconferência que permita aos sujeitos processuais o desempenho, à distância, de todos os atos e funções que seriam possíveis no caso de comparecimento físico”.
3.3. DO PROJETO DE LEI DO SENADO N° 679/2007
33
O interrogatório por videoconferência, ou interrogatório on-line, apesar de
não ter, na época dispositivo legal autorizando-o, já era utilizado em alguns estados
da federação.
Desta forma, visando a legalização da prática, o Senador Aloízio
Mercadante apresentou em 28/11/2007, o projeto de Lei do Senado n° 679/2007,
onde pretendia a alteração de dispositivos do Decreto-Lei n° 3.689, de 03 de
Outubro de 1.941 – Código de Processo Penal, prevendo a realização excepcional
de interrogatório do acusado preso por videoconferência. Vejamos um trecho:
“Em linhas gerais, a videoconferência pode ser uma exceção, uma possibilidade, não a regra. Parece-me mais adequado, que a regra geral seja a realização de interrogatório no estabelecimento prisional, com o deslocamento do magistrado. E que, o interrogatório por meio videoconferência seja efetivado apenas excepcionalmente.
Para isso, é necessário, primeiro, que o uso da videoconferência esteja condicionado à existência de justificativa, devidamente fundamentada pelo Juiz, com vistas a garantir segurança pública, manutenção de ordem pública ou garantia da aplicação da lei penal e instrução criminal, e desde que sejam assegurados canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que permanecer no presídio e os advogados presentes nas salas de audiência dos fóruns, e entre estes e o preso.
Além do interrogatório do acusado preso, o projeto sugere a ampliação da utilização da videoconferência no caso de oitiva de testemunha presa, e, também, a criação de regra que possibilita, mediante autorização do juiz, que acusado preso acompanhe a oitiva de testemunha por meio de videoconferência.
Há na proposta, ainda, o esclarecimento de que será admitida a presença de defensor no estabelecimento prisional durante a realização do interrogatório do acusado preso ou oitiva de testemunha presa à distância.
São as razões pelas quais julgo fundamental a aprovação de norma que autorize a realização de videoconferências em interrogatórios, desde que observado o balizamento imposto pela Constituição Federal, traduzido na excepcionalidade do uso deste novo instrumento.
Por essas razões, submeto à apreciação das Casas Legislativas a presente proposição, por se tratar de inegável avanço na legislação penal do país”.
34
3.4. DA LEI 11.900/2009
É sabido que o interrogatório do réu pode ser realizado de três maneiras:
pessoalmente dentro do fórum, dentro do presídio onde o acusado se encontra
(respeitadas todas as garantias exigidas pela legislação como por exemplo a
segurança do réu e das partes, ou a publicidade do ato), e por fim, a Lei 11.900/09
dispõe que o interrogatório do réu pode ser realizado, excepcionalmente, por
decisão fundamentada por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico
de transmissão de sons e imagens em tempo real, conforme leciona o §2º do art.
185 do CPP, trazendo este dispositivo as finalidades desta modalidade de
interrogatório. Vejamos:
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
Explica Luiz Flávio Gomes:
35
A realização de qualquer ato processual por videoconferência é excepcional. Em regra o ato deve ser realizado com a presença física do réu no local do próprio ato (ou no presídio ou no fórum). Essa é a regra. Excepcionalmente o ato pode ser realizado por videoconferência. 56
Ensina ainda, que a decisão a ser tomada pelo magistrado é de
motivação vinculada, já que o legislador elencou as hipóteses de cabimento do ato,
sendo aquelas expressas nos incisos I, II, III e IV do supracitado § 2º do art. 185,
CPP. 57
Referindo-se a hipótese do inciso I, ou seja, prevenir risco à segurança
pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização
criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento, o
doutrinador afirma que:
“todo transporte de preso gera risco para a segurança pública. Não é entretanto, esse risco genérico o que justifica o uso da videoconferência. O risco deve ser fundamentado na suspeita fundada de que o preso integra organização criminosa (réu acusado formalmente de pertencer ao PCC por exemplo). O outro fundamento é o de que pode o réu fugir durante seu deslocamento. É preciso que haja indícios sérios desse fato. Meras ilações ou elucubrações não bastam para fundamentar o ato”. 58
A segunda hipótese prevê a realização da videoconferência com o escopo
de possibilitar a participação do réu no ato processual que estiver sendo realizado,
quando haja, segundo a lei, impossibilidade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal. Para Luiz Flávio Gomes59:
“sábia a orientação da lei no sentido de procurar assegurar a participação do réu no ato processual (via videoconferência), quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo. São muitas as dificuldades que existem para garantir o comparecimento do réu em juízo. A lei elencou duas: enfermidade ou outra circunstância pessoal (réu jurado de morte por exemplo). Uma das mais comuns razões (falta de escolta) não foi elencada. Mas na nossa opinião nada impede que o juiz, por analogia (in bonan
56
GOMES, Luiz Flávio .Videoconferência: Comentários à Lei nº 11.900, de 8 de janeiro de 2009. Disponível em <http://www.lfg.com.br>. Acesso em 04 nov. 2009.. 57
Idem. 58
Idem. 59
Idem.
36
partem), faça uso da videoconferência em todas as hipóteses de dificuldade de apresentação do réu preso.”
A terceira hipótese prevista para a realização do interrogatório on-line se
refere ao art. 217 do CPP, que diz o seguinte:
Art. 217, CPP. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.
Desta forma, quando não houver possibilidade de colher o depoimento da
testemunha ou vítima por intermédio da videoconferência, nos moldes do art. 217,
do Código de Processo Penal, poderá o magistrado utilizar-se deste método para
interrogar o réu, com a finalidade de impedir que este exerça influência sobre
aquelas pessoas.
Por fim, a Lei 11.900/09, expressa que o interrogatório por
videoconferência poderá ser realizado com a finalidade de responder à gravíssima
questão de ordem pública, onde, em razão de uma inundação, por exemplo, fica
impossibilitado o deslocamento do presídio até o fórum.60
3.5 LEGITIMIDADE
A realização do interrogatório por videoconferência pode ser determinada
de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes e, sempre, com decisão
fundamentada, intimando-se as partes com antecedência mínima de 10 dias,
conforme o § 3º, do art. 185 do Código de Processo Penal. Vejamos:
60
GOMES, Luiz Flávio .Op. Cit. Acesso em 04 nov. 2009.
37
Art. 185, § 3º, CPP. Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.
Em relação a tal exigência, ensina a doutrina:
A intimação das partes de todos os atos processuais é uma exigência absolutamente necessária porque é ela (intimação) que possibilita o contraditório (e é este que possibilita a ampla defesa). No mínimo com dez dias de antecedência as partes devem ser intimadas. A violação dessa regra gera nulidade relativa. Comprovado o prejuízo, anula-se o ato. 61
Ou seja, comprovado prejuízo, legítimos as partes, deve o juiz decidir
fundamentadamente, e ainda, intimá-los com antecedência mínima de 10 (dez) dias,
sob pena de anulação do ato.
3.6 DIREITOS DO RÉU
Visando a proteção na nova forma de interrogatório, de eventual argüição
de inconstitucionalidade, a Lei 11.900/09 apontou em seu texto algumas garantias
ao acusado, tais como acompanhar a audiência de instrução e julgamento em sua
integralidade, bem como realizar entrevista previa e reservada com sua defensor.
Vejamos:
3.6.1 Acompanhar Audiência de Instrução e Julgamento em sua
integralidade
61
GOMES, Luiz Flávio .Op. Cit. Acesso em 04 nov. 2009.
38
Com a criação da Lei de nº 11.719/08, o interrogatório do réu passa a ser
o último ato da audiência, já que altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de
outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à suspensão do processo,
emendatio libelli, mutatio libelli e aos procedimentos, contemplando-se assim cada
vez mais a ampla defesa62.
Tais modificações podem ser avistadas nos artigos 400, 411 e 531 do
Código de Processo Penal, in verbis:
Art. 400, CPP. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Processo Comum)
Art. 411, CPP. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate. (Procedimento do Tribunal do Júri)
Art. 531, CPP. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate. (Processo Sumário).
Ao se confrontar com tais modificações, o legislador visou acrescentar, por
meio da Lei 11.900/09, o § 4º, ao artigo 185 do CPP, que garante ao detento
acompanhar, também pelo sistema de videoconferência, a realização dos atos da
audiência única de instrução e julgamento63.
62
SAMPAIO, Rafael R. Artigo - Interrogatório por videoconferência e a Lei 11.900/2009. 2009. P. 13.
63
SAMPAIO, Rafael R. Op. Cit. p. 15.
39
Dispõe a matéria:
Art. 185, §4º, CPP. Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.
Por mais que a letra expressa da Lei utilize o termo poderá, a renomada
doutrina afirma que, querendo, tem o direito líquido e certo de acompanhar os atos
precedentes ao interrogatório.64
3.6.2 Entrevista reservada com o Defensor
O art. 8º do Pacto de San José da Costa, também conhecido como
Convenção Americana de Direitos Humanos, ratificado pelo Brasil em 25 de
setembro de 1992, já previa a entrevista do réu com seu defensor, e trazia a
seguinte redação:
Artigo 8º - Garantias judiciais
(...)
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
(...)
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;
O § 5º, do art. 185, do Código de Processo Penal considerando o expresso
acima, ensina que:
64
GOMES, Luiz Flávio .Op. Cit. Acesso em 04 nov. 2009.
40
Art. 185, § 5o, CPP. Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.
Desta forma, resta claro que, sendo a audiência realizada por intermédio da
videoconferência, todo o réu tem direito a uma entrevista prévia e reservada com
seu Defensor, dando-se esta através de um canal telefônico reservado, onde apenas
os interlocutores terão acesso.
Explica a Doutrina:
(...) para se assegurar a comunicação entre o preso e seu advogado, assim como, entre o defensor presente no ato e o advogado presente na sala de audiência, haverá linha telefônica exclusiva. Dessa comunicação ninguém pode tomar parte. É um ato reservado, sigiloso. Faz parte das prerrogativas dos advogados. No momento das reperguntas, sobretudo, é muito importante a comunicação entre o preso e seu advogado (ou entre o defensor e o advogado).65
Os doutrinadores ainda trazem a diferença das expressões defensor e
advogados, dispostas no texto do § 5º, do art. 185, do CPP. Vejamos:
Defensor e advogado: são duas pessoas distintas. O defensor está presente no presídio. O advogado (ou outro defensor) está no fórum. Isso pode parecer exagero, mas não é. São dois locais distintos: a lisura do ato não pode ser maculada. Quanto mais fiscalização melhor. Quanto mais atuação efetiva da defesa, mais se cumpre a constituição. Caso o réu tenha dois advogados contratados, nada impede que um deles esteja no presídio e o outro no fórum.66
A exigência de um defensor (em sentido amplo) na sala de audiência do
estabelecimento prisional junto ao réu, e outro na sala de audiência no fórum,
juntamente com o Magistrado, é extremamente necessárias para garantir
autenticidade e constitucionalidade do ato a ser realizado67.
65
GOMES, Luiz Flávio .Op. Cit. Acesso em 04 nov. 2009. 66
idem 67
SAMPAIO, Rafael R. Op. Cit. p. 16.
41
3.7 A POLÊMICA QUANTO À CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
11.900/09
Mesmo com a publicação da Lei de nº 11.900/2009, os questionamentos
sobre a constitucionalidade do interrogatório por videoconferência devem continuar.
Importante ressaltar que em outros atos processuais, tais como oitiva de
testemunhas, peritos, dentre outros, que possam se encontrar em local distante da
sala de audiências do fórum, a doutrina não impõe grande resistência, estando a
grande controvérsia no interrogatório do réu.
Juliana Fioreze, citando Fabio Ramazzini Bechara, explica que:
O fundamento da inconstitucionalidade, esta na alegada violação do
princípio da ampla defesa, cujo conteúdo abriga o direito à defesa
técnica, o direito a prova, e o direito a auto defesa. O direito à
autodefesa, por sua vez, engloba o direito do acusa à audiência, ou
de ser ouvido, o direito ao silêncio, o direito de entrevista com o
defensor e, finalmente o direito de presença, o qual implica o direito
de estar presente nos atos processuais, de participar ativamente
durante a realização e de ter entrevista, pessoalmente, com o Juiz de
Direito, a fim de que este possa extrair suas valorações e impressões
pessoais. O direito-dever do magistrado de conhecer e sentir
pessoalmente o acusado e o direito deste de ser ouvido pelo Juiz de
Direito que irá julgá-lo estão inseridos nos princípios gerais da
imediatez e da oralidade.
Eis a dimensão constitucional do princípio da ampla defesa. Sem
dúvida alguma, sua aplicação nos exatos termos acima delineados
inviabilizaria a adoção do sistema de videoconferência, que impede a
presença física do acusado no ato processual. 68
Desta forma, a ausência física do acusado diante do magistrado fere o
Princípio Ampla Defesa, um dos pilares do Processo Penal, segundo a corrente
doutrinária contrária à realização do interrogatório on-line.
68
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 112-113.
42
Porém, a própria Carta Magna prevê, em seu artigo 5º, LXXVIII, que “a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação 69.”
Tal entendimento contempla o chamado Princípio da Eficiência, que apesar
de não prosperar em relação aos outros, coexistem, com o propósito no princípio da
proporcionalidade.
A corrente doutrinária que defende a realização do interrogatório por
videoconferência trata esse suposto conflito de princípios da seguinte forma.
Vejamos:
(...) a participação a distância acarreta evidente mitigação do
princípio da ampla defesa, notadamente do direito de presença, mas
não o inviabiliza, já que o núcleo essencial está preservado pelo
princípio da proporcionalidade, diante da possibilidade do acusado
intervir no ato processual por meio da tecnologia, mas não
fisicamente, resguardando o contato com o defensor.
É exatamente esta a idéia predominante da Lei 11.900/09, contudo, não é
desta forma que entendem os doutrinadores mais conservadores, defendem que:
É necessário usar a reflexão como contraponto da massificação. É
preciso ler nos lábios as palavras que estão sendo ditas, ver a alma
do acusado através dos seus olhos, descobrir a face humana que se
escondera por trás da máscara do delinqüente. É preciso, enfim, a
aproximação física entre o Senhor da Justiça e o Homem do Crime,
num gesto de alegoria que imita o toque dos dedos, o afresco
pintado pelo Gênio Michelangelo na Capela sistina da criação de
Adão. 70
No mesmo sentido, afirma Auri Lopes Júnior.71:
Sob o pretexto dos altos custos e riscos (como se não vivêssemos
numa sociedade de risco) gerados pelo deslocamento de presos
“perigosos”, o que estão fazendo é retirar a garantia da jurisdição, a
garantia de ter um juiz, contribuindo ainda mais para que eles
assumam uma postura burocrática e de assepsia da jurisdição.
69
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 70
René Arial Dotti, O interrogatório à distância: um novo tipo de cerimônia degradante. A. 86, v.740, p. 476-481, apud, Juliana Fioreze, Videoconferência no Processo Penal, p. 121. 71
Auri Lopes Jr., O interrogatório on-line no Processo Penal: entre a assepsia judiciária e o sexo virtual. Boletim IBCCRIM, n. 154, apud, Juliana Fioreze, Videoconferência no Processo Penal, p. 121-122.
43
Matam o caráter antropológico do próprio ritual judiciário,
assegurando que o juiz sequer olhe para o réu, sequer sinta o cheiro
daquele que ele vai julgar
E mais a fundo relata o autor:
Claro que nos criticarão por essa postura, rotulando-nos de (neo)
iluministas – como se isso fosse ofensivo. Assumimos uma posição
conservadora, mas coerente para quem até hoje não compreendeu
como é que se pode fazer interrogatório on line ou sexo virtual.72
Tais entendimentos nos obrigam a fazer referência à doutrina datada de
1942, citada anteriormente, quando o Código de Processo Penal apresentou a
possibilidade do magistrado datilografar sua sentença
Diante de tais argumentações, vemos que necessárias são as modernas
modificações de nossas legislações, merecendo méritos o legislador que inovou com
a sua sentença datilografa, e na mesma proporção, méritos àqueles que tornam
realidade em âmbito de Legislação Federal, o interrogatório por videoconferência73.
Sinteticamente, Ana Cláudia da Silva Bezerra74, expõe alguns dos pontos
positivos desta inovação legislativa:
Os adeptos ao interrogatório on line apontam vantagens quanto a
sua utilização, tais como: a) diminuição dos gastos públicos, não
necessitando o deslocamento de escoltas de soldados, carros e
motos; b) agilização no interrogatório, diminuindo a demanda da
saída dos processos, e sanando o problema da falta de transporte
para os presos serem conduzidos ao Fórum, fato que acontece com
freqüência; c) o problema da superlotação carcerária tende a ser
minimizada na medida em que os processos serão agilizados; d)
diminuição de fugas de presos, devido ao não deslocamento do
preso ao Fórum, conseqüentemente haverá uma segurança maior a
população; e) integridade de informação no interrogatório na medida
em que a videoconferência é gravada em disquete ou CD-ROM e
arquivada, sendo acompanhada por um assessor jurídico da
penitenciária junto ao preso e um defensor juntamente com o juiz;
etc.
72
FIOREZE, Juliana. Op. Cit. p. 121-122. 73
SAMPAIO, Rafael R. Op. Cit. p. 19. 74
BEZERRA, Ana Cláudia da Silva. Interrogatório on-line e a ampla defesa. Disponível em <http://www.advogado.adv.br/artigos/2005/anaclaudiadasilvabezerra/interrogatorio-online.htm>. Acesso em 1°. Out. 2009.
44
Logo, resta claro que a discussão que envolve o tema é positiva, no sentido
de aprimorar a aplicação da norma, já que os questionamentos que envolveram o
assunto deste o princípio, ajudaram o legislador à estudar, criar, e aprovar a Lei
11.900/09, que não foi possível de imediato sua aceitação irrestrita.
3.8 A APLICAÇÃO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
A aplicação da videoconferência no estado de Mato Grosso do Sul teve seu
início com a regulamentação do Provimento nº 08, de 01 de abril do ano de 2008,
emitido pelo Tribunal de Justiça local, que antecipava as novidades trazidas pela Lei
11.900/09, como por exemplo a presença de defensor juntamente com o preso no
estabelecimento penitenciário, e defensor na sala de audiência do fórum,
possibilidade de comunicação prévia e sigilosa entre réu e defensor através de linha
telefônica reservada, entre outras.
Vejamos os motivos pelos quais, criou-se este dispositivo em âmbito
estadual, antes da regulamentação federal:
PROVIMENTO N. 8, DE 1º DE ABRIL DE 2008.
Dispõe sobre a implantação de sistema de videoconferência para
realização dos procedimentos judiciais destinados à audiência de
apenados à distância.
O DESEMBARGADOR DIVONCIR SCHREINER MARAN,
CORREGEDORGERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO
GROSSO DO SUL, no uso de suas atribuições legais, nos termos
dos arts. 169, incisos VII e XXIX, e 284, inciso IV e § 6º, do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça,
CONSIDERANDO a necessidade de disciplinar o uso do sistema de
videoconferência utilizado pela 2ª Vara de Execuções Penais
instalado no Fórum da Capital e no complexo penitenciário de
Campo Grande, em sala especial, destinada exclusivamente à
audiência de apenados;
CONSIDERANDO oportuna a ocasião para estender a autorização
do uso deste sistema a outras unidades judiciárias, dentro das
45
possibilidades da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, de
modo a contemplar as demais varas de execução penal do Estado;
CONSIDERANDO que o interrogatório à distância não configura
ofensa às garantias constitucionais do apenado que pode silenciar ou
até mesmo apresentar versão que melhor lhe convier;
CONSIDERANDO tratar-se de matéria de natureza procedimental,
de índole administrativa, objetivando economia processual e
agilização da atividade jurisdicional;
RESOLVE:
Art. 1º Acrescentar ao art. 246 caput do Código de Normas da
Corregedoria-Geral de Justiça, os arts. 246-A, 246-B e 246-C, que
passarão a viger com a seguinte redação:” (...)
Baseando-se na aplicação da norma pela 2ª Vara de Execução Penal de
Campo Grande, pioneira na utilização da videoconferência como forma de
interrogatório, foi possível perceber uma grande melhora na prestação jurisdicional.
Inicialmente, desde sua implantação, o Estado de Mato Grosso do Sul teve
uma economia financeira aproximada de R$ 162.000,00 (cento e sessenta e dois mil
reais)75, referente ao transporte de presos.
O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, em matéria
intitulada Videoaudiência garante segurança, economia e celeridade na prestação
jurisdicional, informa que:
Dados apresentados pela Companhia de Guarda, responsável pelo
transporte dos presos para audiências, mostram que um único
traslado de um condenado do presídio para o fórum custa R$ 62,50
nos municípios de Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Ponta
Porã.
Nas comarca s de Corumbá e de Bonito, o valor aumenta para R$
75,00; em locais fora do território sul-mato-grossense, o gasto passa
para R$ 100 – se cidade pequena – e R$ 130, se município de
grande porte.
A economia pode ser constatada quando se compreende que o valor
de cada ponto de videoconferência custará à citada Companhia R$
3.000,00/mês. Calculando-se 10 audiências diárias na Capital,
teremos R$ 625,00 ou R$ 12.500 mensais, se computados cinco dias
75
Disponível em: http://www.tjms.jus.br/noticias/materia.php?cod=14326
46
úteis por semana. Com o ponto instalado, a economia inicialmente
poderá ser constatada em R$ 9.500.76
As audiências que eram marcadas em um número de 10 (dez) por dia (as
audiências na 2ª VEP ocorrem toda quarta-feira), hoje estão em um patamar de 30
(trinta) a 35 (trinta e cinco), perfazendo um total de aproximadamente 130 (cento e
trinta) a 140 (cento e quarenta) audiências por mês. 77
Em relação à segurança, o Sr. Vitor Luis Guibo, na época, Juiz de Direito
titular da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, juntamente com o Promotor
de Justiça André David de Medeiros e a Defensora Clari Maria Stevaux
reconheceram várias vantagens, conforme noticia o Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul, vejamos:
Além dos aspectos positivos da utilização do sistema para a
realização de audiências, há um muito importante e de extrema
relevância: a segurança. Tanto o juiz quanto a defensora e o
promotor foram unânimes em apontar que no prédio do fórum
circulam mulheres e crianças, pessoas da sociedade que ficam
expostas a cenas incômodas como a de um preso algemado sendo
levado da sala reservada para audiência.
Eles chamaram a atenção ainda para o fato de que, com o uso da
tecnologia, o reeducando não será mais obrigado a passar pelo
constrangimento de ser levado para a sala de audiências algemado e
escoltado, sob a visão de quem estiver no prédio do fórum. “Em uma
eventualidade, as pessoas que estiverem no fórum (cidadãos,
servidores, advogados, juízes) estarão seguros. Um sistema que só
nos oferece vantagens e que no futuro poderá ser incorporado pelos
advogados, que não precisarão sair de seus escritórios para realizar
uma audiência em Cuiabá, por exemplo”, concluiu o promotor.78
Desta forma, impossível não reconhecer as vantagens da inovação do
Processo Penal Brasileiro pela videoconferência, ainda mais com a edição da Lei
11.900/09, que concretiza algumas discussões sobre o tema, principalmente a falta
de Legislação Federal especifica, já que o interrogatório on-line só era
regulamentado em âmbito estadual.
76
Disponível em: http://www.tjms.jus.br/noticias/materia.php?cod=11063 77
idem 78
idem
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise detalhada sobre o interrogatório por videoconferência,
concluímos tratar-se de um método eficaz. Apesar de caminharmos a passos curtos
rumo à total estruturação do Poder Judiciário no Brasil, percebemos que algo tem
sido feito visando à melhora do sistema.
Resta, depois do estudo, constatar que o novo procedimento traz consigo
muitos pontos positivos, como economia e celeridade processual, além de garantir
maior segurança aos envolvidos no processo.
A polêmica quanto à constitucionalidade do ato, apesar de muitas vezes
exagerada, serviu para aprimorar a elaboração da norma, não sendo possível,
prever quando a controvérsia irá terminar.
Importante ressaltar que o legislador foi cauteloso na criação da Lei
11.900/09, e rigoroso quanto ao seu texto, privilegiando também o acusado, já que
garante a entrevista prévia e sigilosa do réu com seu defensor, a publicidade da
audiência, tanto na sala do fórum, quanto na sala onde o réu está presente, além
expressamente prever a presença do defensor no recinto.
Por fim, podemos afirmar com convicção que as discussões sobre o tema
não irão se encerrar com a sanção da referida Lei, porém, com muita eficiência, o
método já está sendo utilizado, e, mais uma vez afirmando que tais discussões, em
alto nível de conhecimento, colaboram com a ciência jurídica.
48
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