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Trabalho apresentado como exigência parcial para a disciplina Pesquisa e Projeto Transdisciplinar em Artes, Design e Moda, do curso Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Carlos Alberto Barbosa. São Paulo 2010/1 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI DESIGN DIGITAL TURMA MA7

Intervenções Urbanas: apropriação do meio através da arte

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Trabalho apresentado como exigência parcial para a disciplina Pesquisa e Projeto Transdisciplinar em Artes, Design e Moda, do curso Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Carlos Alberto Barbosa.

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Trabalho apresentado como exigência parcial para a disciplina

Pesquisa e Projeto Transdisciplinar em Artes, Design e Moda, do

curso Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi, sob a

orientação do Prof. Carlos Alberto Barbosa.

São Paulo2010/1

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBIDESIGN DIGITAL

TURMA MA7

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CLAUDIA GARCIA MARDEGANMARCELO MORAES ACQUILINO

MARINA CARDOSOMAURO STROCOVSKY

RAFAEL CARDOSO DE ALMEIDARAPHAEL FINELLI FABENI

THIAGO STANZANI

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Trabalho apresentado como exigência parcial para a disciplina

Pesquisa e Projeto Transdisciplinar em Artes, Design e Moda, do

curso Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi, sob a

orientação do Prof. Carlos Alberto Barbosa.

São Paulo2010/1

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBIDESIGN DIGITAL

TURMA MA7

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A busca pelo entendimento da natureza estende-se por séculos e já foi tema estudado por diversos

autores. Através de pesquisas bibliográficas referenciais e orientações, a construção da pesquisa baseou-

se em importantes autores que desenvolveram estudos sobre artes, linguagem, cultura e meios urbanos.

Com isso o trabalho se desenvolveu de modo a explorar o meio urbano através de intervenções, como o

grafite e a pichação, buscando entendimento sobre a cidade. Essas intervenções urbanas foram compara-

das à arte rupestre, em que a busca pelo entendimento do meio através dos grafismos encontrados nas

paredes das cavernas, que eram desenvolvidos pelos homens primitivos, era uma maneira dominar a na-

tureza que o cercava. Na atualidade, com o desenvolvimento da tecnologia, as máquinas executam suas

funções de maneira independente e agora o homem não possui mais controle sobre o meio que o cerca.

Assim, encontra-se no grafite e na pichação uma maneira de intervir na cidade, procurando um entendi-

mento sobre o espaço urbano.

Palavras-chave: Arte. Linguagem. Rupestre. Urbano. Grafite.

RESUMO

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The search for nature understanding comes for centuries and it has already been a theme studied by

various authors. Through bibliographical references and lectures, the research was based on important

authors who developed studies about arts, language, culture and urban environment. This research was

intended to explore the urban environment through interventions, like the art on wall and graffiti, achieving

understanding about the city. These urban interventions were compared to the primitive art, in wich the

understanding of the environment was done through the drawings found on the caves walls, done by primi-

tive men in order to rule the nature that surrounded them. Nowadays, with the technology, the machines

execute its functions independently and now the man doesn’t have the control over the environment anymo-

re. But then we figured in art on wall and graffiti a way to intervene in the city, looking for understanding

of the urban space.

Keywords: Art. Language. Primitive. Urban. Art on wall.

Abstract

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Lista de imagens

FIGURA 9 - Aldeia em culto religioso

24FIGURA 3 - Grafite - Os Gêmeos

18FIGURA 10 - Grafite em parede de casa em Olinda - PE28FIGURA 4 - Graffiti Robert Rauschemberg

19FIGURA 10 - Grafite em prédio, em Lisboa - Os Gêmeos29

FIGURA 5 - FreestyleFIGURA 6 - Wild Style20

FIGURA 1 - Homem-Espírito Caçando Cangurus. Pin-tura aborígene de Western Arnhem Lan - Austrália Se-tentrional - Casca de árvoreFIGURA 2 - Touro Negro. Parte de uma pintura ru-pestre, 15000-10000 a. C. Gruta de Lascaux, França

15FIGURA 7 - Throw UpFIGURA 6 - 3d Style21

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9 Agradecemos a todos os professores da Universidade Anhembi Morumbi que de certa forma auxi-

liaram e aconselharam desde o início da pesquisa transdisciplinar em Artes, Design e Moda, do curso

Design Digital, principalmente ao professor Carlos Alberto Barbosa, que nos orientou de modo que esta

pesquisa tenha se concluída.

Queremos agradecer especialmente ao grafiteiro Bruno Paiva, que contribuiu com o seu trabalho

para o desenvolvimento da etapa gráfica dessa pesquisa.

obr igado

Agradecimentos

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1214151617

1920242831

INTRODUÇÃO

1.3 ARTE URBANA

1.3.1 Abordagem Textual do Grafite

1.3.2 O Grafite dos Anos 80 ao 2000

1.4 RELAÇÃO ENTRE ARTE, ARTE

RUPESTRE E GRAFITE

CAPÍTULO 2 CULTURA E LINGUAGEM

2.1 CULTURA

2.1 ELEMENTOS DE LINGUAGEM

CAPÍTULO 3 A APROPRIAÇÃO DO

MEIO PELO HOMEM, ATRAVÉS DA

ARTE URBANA

CONCLUSÃO

CAPÍTULO 1 NATUREZA E ARTE

1.1 ARTE RUPESTRE

1.1.1 Mimese e Arte Rupestre

1.1.2 O homem – de caçador a coletor

1.2 HOMEM, ARTE E A TRANSFORMAÇÃO

DA NATUREZA

Sumário

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A pesquisa aborda o tema da apropriação do meio urbano através da arte como obtenção de entendimen-

to do mesmo.

Em um primeiro momento, pode-se observar a arte sendo executada nas paredes das cavernas na pré-

história, em que o homem, através de rituais mágicos, buscava a compreensão da natureza e dos animais, com

o objetivo de dominá-los, para posteriormente sobreviver através da caça. Com o desenvolvimento da sociedade

e o surgimento das cidades, o homem transforma essa natureza pré-histórica em uma segunda natureza gerando

um novo período de aprendizado, em que não se compreendia e sequer tinha-se domínio desse ambiente. Sur-

gem assim, as primeiras intervenções urbanas, a fim de dominar o desconhecido, retomando os princípios dos

desenhos pré-históricos.

No segundo capítulo, aborda-se sobre a identidade da sociedade que habita na segunda natureza, defi-

nindo sua cultura e as formas de se expressarem, através dos elementos de linguagem, proporcionando uma

maneira de dialogar com a cidade, reparando o espaço urbano como uma forma de comunicação e expressão.

Por fim, no terceiro capítulo, é discutida a razão da intervenção urbana e como ela se relaciona com o

conceito da arte rupestre, abordando o seu valor de culto, considerada por seu valor único e não apenas por

estar exposta em um ambiente público, onde todos podem apreciá-la.

INTRODUÇÃO

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NATUREZA E ARTE

CaPíTULo 1

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Quando falamos sobre natureza, o que

de imediato pensamos são as florestas e seu

verde, paisagens deslumbrantes e seus ani-

mais. Porém, como objeto de estudo, a nature-

za apresenta outros aspectos que devem ser

levados em consideração.

Em seu curso do Collège de France,

Merlau-Ponty (2000) analisou diversos filóso-

fos cujo estudo da natureza se apresentava de

forma profunda. A partir dos relatos propostos

por ele pode-se observar um aspecto em co-

mum: a natureza é um conjunto de fenôme-

nos, sobre os quais não temos controle algum.

Independente desse fato, incluído em

seu ciclo de fenômenos, o ser humano busca

incessantemente controlar esta natureza, atra-

vés de suas criações, assim como o homem

pré-histórico e seus desenhos rupestres. O ser

humano tenta transformar as paisagens a fim

de lhes proporcionar um ambiente com carac-

terísticas produtivas e familiares (MORAN,

2006).

À primeira vista, a casa, ou ainda a ca-

verna nas quais os homens pré-históricos habi-

tavam, seria a primeira tentativa de controlar

o ambiente que nos cerca. No entanto, pode-

mos ir um pouco além dessa questão, verifi-

cando o porquê da existência dos próprios

desenhos encontrados dentro dessas ‘casas’ e

como eles influenciavam o modo de vida e a

própria natureza dos homens primitivos.

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1.1. arte rupestre

Embora haja objeto de estudo em vá-rios campos do conhecimento, a arte rupestre, ou primitiva, revela pouco sobre os homens primitivos e a função real de tais desenhos.

De acordo com Janson (2001), inicial-mente os desenhos tinham aspecto de ritual, onde os homens pintavam a presa com o intui-to de diminuir o medo dos caçadores no mo-mento da caça. Fazendo isso, eles acredita-vam estar ‘matando o próprio espírito do animal’, encontrando dominação sobre o in-divíduo que foi pintado e, por conseguinte, o ambiente, a natureza.

Para Martins e Calabria (1997, p.16), “a teoria mais aceita é a de que esses dese-nhos eram feitos por caçadores. Tudo o que conseguissem desenhar poderia interferir na captura de um animal, desenhando-o ferido mortalmente, podendo desta forma dominá-lo com facilidade”. Pode-se dizer que mesmo de maneira inconsciente o homem pré-histórico já praticava o ato da mimese.

De acordo com Dondis (1997, p. 168) “a pintura das cavernas é uma tentativa huma-na de olhar para a natureza e representá-la com o máximo de realismo possível”.

1.1.1 Mimese e a arte rupestre

Os homens primitivos não queriam retratar os animais com perfeição, e sim sua essência, ao contrário dos escultores ou pin-tores mais recentes que, imitando a natureza, apenas retratam a concha externa aparente a todos que possam enxergar. Nunes (2001), lembrando os entendimentos de mímese adot-ados por Platão, apresenta que existem ape-nas dois atos miméticos: a “imitação primeiro

realizada” que remete a aparência dos cor-pos, criando “as coisas sensíveis, tomando por modelo as essências imutáveis” e a “imita-ção moral” que tem por importância a re-abilitação espiritual do homem e os valores do Bem e do Belo, a fim de assemelhar-se ao que se contemplava intelecutalmente. A esta segunda observação podemos acrescentar o modo com o qual os homens primitivos tomavam a arte: imitação espiritual. Deste modo, mais uma vez, podemos verificar a vontade do ser humano em se apropriar da natureza de modo sobrenatural. Numa breve análise, pode-se entender a mímese destes ho-mens primitivos como uma tentativa de retratar a essência dos seres e das coisas a fim de se tomar posse delas e, uma vez possuída e ten-do seu co- nhecimento, obter sucesso em suas caças. Além disso, pode-se verificar a existên-cia de um fator de planejamento através da arte, algo que, sugere-se como um tipo de de-sign. Isto posto, podemos afirmar que a for-ma com a qual o homem primitivo tratava os seus desenhos, além de outros rituais artísti-cos, ia além da arte comum e imitativa: ela buscava entendimento.

Figura 2 - Touro Negro. Parte de uma pintura rupestre, 15000-10000 a. C. Gruta de Lascaux, França.Fonte: JANSON, 2001, p. 66.

Figura 1 – Homem-Espírito Caçando Cangurus. Pintura aborígene de Western Arnhem Lan - Austrália Seten-trional - Casca de árvore.Fonte: JANSON, 2001, p. 46.

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1.1.2. o homem - de cacador a coletor

Depois da produção de ferramentas e o cultivo de plantas e animais, o homem evoluiu mais em 5000 anos do que em toda sua exis-tência anterior a este evento. Entender este sal-to evolutivo é essencial para que entendamos alguns aspectos a serem apresentados no de-correr da pesquisa. . No período que era caçador, o homem se mantinha fiel aos desenhos rupestres com o intuito de gerar proteção contra o desconheci-do. Porém, com a “[...] domesticação de ani-mais e a cultura de plantas alimentícias conse-guiu-se uma vitória decisiva [...] pela sobrevivência” (JANSON, 2001, p.72). Em adição a isto, através de suas ferra-mentas o homem começa a alterar de modo mais apropriado o meio que o cerca, estabele-cendo assentamentos e não mais sendo nôma-de. Além disso, o ser humano passa a ter co-nhecimento sobre os fenômenos, não mais se escondendo dos mesmos, mas tomando posse destes em prol da própria existência. Como afirma Janson (2001, p.72) “[...] as forças da natureza nunca mais o ameaçariam”. Essa sen-sação de segurança foi vital para a criação de pequenos povoados. O ser humano, nesse momento, não ne-cessitava mais possuir os apurados sentidos do caçador Paleolítico, e o seu poder de observa-ção foi substituído pela abstração e racionali-zação. Ocorreram também mudanças na ma-neira de desenhar e pintar e, os próprios temas das artes começaram a mudar (PROENÇA, 2000). Apesar da importância dos desenhos, Hauser (1998) assume que os ‘profissionais’ que eram responsáveis por tais rituais foram deixados de lado por algum tempo.

1.2 Homem, arte e a transformacão da Natureza

A revolução industrial serviu de transição do Feudalismo ao Capitalismo, e tem como prin-cipal aspecto a grande utilização de maquiná-rio e o surgimento do trabalho assalariado. Neste período a demanda de produção tornou--se cada vez maior, obrigando as empresas a trabalhar mais e de forma automatizada. Neste período a população mais pobre não teve esco-lha a não ser abandonar seu estilo de vida tra-dicional e adotar automaticamente por qualquer outra coisa que fosse oferecida como alternati-va de sustento. Este é o cerne da questão dos efeitos sociais da industrialização, que de certo modo reflete como o homem começou a tratar a natureza desde então (MARQUES; BERUTTI; FA-RIA, 2001). O proletariado passou a viver uma ‘roti-na’, sobre a qual não poderia fugir, pois sua única fonte de renda tinha origem no trabalho em fábricas. O trabalhador foi inserido num no-vo ciclo de fenômenos sobre os quais detinha pouco conhecimento, bem diferente do que es-tava acostumado no período pré-industrial. Se recuperarmos a história do homem primitivo, discutido alguns parágrafos acima, podemos entender que esta transição do campo para as cidades e suas fábricas gerou um novo período de aprendizado humano, mesmo que mais sutil. O homem não compreendia todo o processo e estava suscetível a um novo ambien-te. Mesmo que artificial, a cidade lhe era estra-nha, assim como os fenômenos que foram domi-nados por ele séculos atrás. Pode-se dizer que se tratou de uma questão de tempo e de oportu-nidade para que os povoados que estavam em crescimento se desenvolvessem em algo maior e consequentemente mais complexo, transforman-do-se assim no que chamamos atualmente de

-

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cidades. (MORAN, 2006). Dentro desta expansão foram introduzi-dos diversos elementos que não estavam sob o domínio da população. Apesar das mudanças ocorridas com o passar dos anos, podemos ci-tar entre estes elementos a criação do transpor-te coletivo, sistemas de gerenciamento de trân-sito e o sistema de iluminação pública. A estas atividades pode-se considerar que seja uma nova natureza, pois se tratam de atividades cí-clicas e independentes da vontade humana. Grande parte dessas atividades é gerada por tecnologia criada pelo homem e, apesar de fa-cilmente serem reprogramadas, depois de sê-lo temos que nos adaptar a elas, do mesmo modo como os homens primitivos se adaptavam às estações do ano ou ao movimento de rotação do planeta, o dia.

1.3 arte Urbana

Como visto, na época pré-histórica os homens desenhavam nas paredes das caver-nas cenas que vivenciavam. Esses desenhos representavam animais e caçadores, invoca-ções de deuses, além de outros símbolos que ainda são considerados enigmas para os ar-queólogos.

Assim como na arte rupestre em que o homem se ocupava registrando desenhos so-bre seu cotidiano e acontecimentos por motivo de sobrevivência e domínio do desconhecido, os artistas urbanos encontraram na cidade uma maneira de compreendê-la através de expres-sões artísticas, apropriando-se do meio como suporte para seu próprio entendimento.

Para melhor leitura dos parágrafos que seguem, é necessária a apresentação de um

conceito do que é cidade e o que é urbano. Analisando Moreno (2001), podemos conce-ber a cidade como um espaço que contém os cidadãos, os quais não se mantêm apenas ao papel de moradores, onde exercem suas ativi-dades culturais, financeiras e sociais, e não so-mente ao seu espaço físico geográfico. Além disso, urbano provém do latim urbs, o que po-demos tomar por civilidade, em contraponto ao rústico, o rural, o campestre.

A partir disso, por arte urbana pode-se entender toda e qualquer manifestação que exalta os conceitos e costumes característicos dos centros urbanos, e não da cidade como um todo. No entanto, como se pode observar em grandes cidades, através de grafites e picha-ções, ainda encontramos aspectos rupestres da arte, se não rústicos, a nível fundamental, se baseando no que já foi apresentado. Este é o propósito que devemos observar no decorrer dos próximos parágrafos.

Pintar em muros e paredes é uma ativi-dade que o homem pratica desde o início do século XX. Tendo seus primeiros registros no México, país que na época lutava para con-

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quistar sua identidade cultural, essa arte urba-na, tinha como objetivo tirar a arte dos museus e levá-la ao povo através dos muros e paredes das ruas (ZUIN, 2003).

Mesmo quando não há propósito artísti-co, o ato de pintar paredes exemplifica a ne-cessidade do homem em conquistar seu pró-prio espaço, como observado por Moreno (2001), nos textos de William J. Mitchell. Esta necessidade gera certo conflito por parte dos pichadores e grafiteiros, buscando aquele que julgam ser o melhor espaço. Isto não altera o fato de que nem sempre a tais lugares é dada a devida atenção, pois a quantidade de infor-mação transmitida atualmente para a socieda-de é cada vez maior. Essa sociedade que habi-ta o meio urbano não se mantém apenas ao papel de moradores. Eles exercem suas ativida-des culturais, financeiras e sociais também. Pode-se citar os acontecimentos de maio de 1968 em Paris que, de acordo com Sumiya (1992), relacionavam-se a uma ação ‘anti-siste-ma’, uma vez que a ação praticada - no caso, a ‘pichação’ praticada pelos estudantes - era algo condenado aos banheiros públicos e ter-renos baldios e, que traziam à tona os manifes-tos dos mesmos em relação à situação que en-contrava-se Paris naquela época. Os muros da cidade já haviam recebido inscrições, anterior-mente, no entanto somente relacionadas às

campanhas político-eleitorais e, freqüentemente acompanhadas de cartazes dos candidatos. No Brasil não foi diferente. Uma peque-na comunidade de estudantes, pintores e jovens, escolhiam pontos estratégicos da cidade para transmitir mensagens contra o sistema, na épo-ca, a ditadura militar. Foi a partir deste ponto que, no Brasil, esses desenhos passaram a ser conhecidos como grafite ou pichação. No en-tanto, de acordo com Zuin (2003, p. 33), “am-bos são diferentes quanto aos temas, às técni-cas, aos objetos e os valores sociais que os constituem”. Muitos pensam que o grafite difere da pi-chação, mas o que muitos não sabem é que a pichação ajudou no surgimento do grafite. Se-gundo Gitahy (1999) tanto a pichação como o grafite utilizam do mesmo suporte para suas in-tervenções, a cidade, assim como o mesmo ma-terial (tintas). Tanto como o grafite, a pichação também interfere no espaço, subverte valores, é espontânea, gratuita e efêmera. Uma das prin-cipais diferenças entre o grafite e a pichação é que o primeiro advém das artes plásticas e o segundo da escrita, ou seja, o grafite privilegia a imagem, tanto paisagem como uma escrita bem trabalhada; a pichação, a palavra e/ou a letra’ com traços característicos, muitas vezes ilegíveis.

Figura 3 - Grafite - Os GêmeosFonte: http://nuvemsobreoatlantico.blogspot.com

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Surgida anteriormente ao grafite, na pi-chação “[...] o que importa é transgredir e até agredir; marcar a presença, provocar e cha-mar a atenção sobre si sobre o suporte” (ZUIN, 2003, p. 36). Pode se dizer que a pichação passou por algumas fases: a primeira delas consistia em ‘carimbar’ e xaustivamente o pró-prio nome, com o desejo de chamar atenção para si mesmo. Na segunda fase, muitos usa-vam apelidos, abreviações, ou marcas que pu-dessem identificar certos grupos, como se fosse uma delimitação de território. Na terceira fase, pode-se dizer que a história intensificou, nesta época da prática, os pichadores decidiram dri-blar porteiros e zeladores de edifícios públicos. Agora o mais importante não era a quantida-de, e nem o território, e sim o picho mais difícil. Já na quarta fase, a prática atinge seu auge, que era gerar maior polêmica na mídia, Apa-recer, acontecer, desafiar autoridades ou reali-zar obras inusitadas (GITAHY, 1999). Há um motivo muito forte para que a prática da pichação seja em lugares públicos, e casas de classe média e alta. Esta é a manei-ra de demonstrar seu sentimento quanto às de-sigualdades sociais. O fato de cada piche su-perar o outro, em questões de localização, seja em lugares altos, vencendo obstáculos perigo-sos, é uma das maneiras de manifestar o quão valorosos são os textos da pichação. É de conhecimento popular que o piche é utilizado para a pavimentação de ruas das cidades. No entanto, quando este material é

riscado nos muros, aparece a pichação, onde paredes recebem uma marca preta. “Tem-se aqui uma interpretação ‘simbólica’ da cor para sugerir que a pichação é ‘preta’ porque o pi-che é preto e, conseqüentemente, toda sua ma-nifestação pode ser marcada por traços nega-tivos atribuídos culturalmente em relação à cor preta” (ZUIN, 2003, p.38).

O grafite cada vez mais está inserido na sociedade. Entretanto de acordo com Dieguez (2008), esse tipo de manifestação artística é muitas vezes confundido com pichação e atos de vandalismo, principalmente no Brasil. Na Europa e até mesmo nos Estados Unidos, a coi-sa não é diferente. Apesar de ser reconhecido como ‘manifestação artística’, o grafite está muitas vezes relacionado como algo clandesti-no e passível de prisão. Com o surgimento do grafite, os muros das cidades passaram a receber um pouco mais de vida, e não mais somente aquela ca-mada cinzenta que muitas ofereciam. O grafite veio para ‘decorar’ o espaço urbano com dese-nhos alegres e coloridos. Depois de ser margi-nalizada, a prática ganhou status na socieda-de de forma que passou a ser utilizada em escolas como prática contra o vandalismo e a pichação. De acordo com Gitahy (1999) até mes-mo os rabiscos que fazemos enquanto estamos ao telefone, e os encontrados em bancos de praças e portas de banheiro podem ser classi-ficados como grafite. Poato (2006, p.86) dá seqüência ao pensamento dizendo que “qual-quer pessoa pode fazer um grafite, colar um sticker ou um lambe-lambe e se dizer grafiteiro ou artista urbano”. Porém, isto é um grande indício de que a arte realizada por tais ‘artis-tas’ em suma, é semelhante a arte realizada pelos homens primitivos, que se apropriam do meio que habitam para entendê-lo ou fazer entender-se. Ambos são proibidos, mas o grafite, de-pois de inúmeras práticas, passou a ser reco-nhecido como arte plástica, por prezar a boa escrita, a imagem e a cor.

1.3.1 a abordagem textual do grafite

A principal base para a leitura de um

Figura 4 - Graffiti Robert Rauschemberg.Fonte: http://clairereilly.files.wordpress.com

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grafite é, fazer uma breve análise de cores, for-matos, imagens e conjunções. Desta maneira, é possível imaginar ou até mesmo desvendar o que o artista intencionava passar com aquele desenho: um fato cotidiano, um pensamento, um sentimento ou apenas uma simples ilustra-ção. É claro que tentar interpretar um grafite está longe de ser uma tarefa simples, ainda mais pelo fato de muitos detalhes poderem pas-sar despercebido, o que pode alterar o signifi-cado do todo da obra.

“Neste jogo de situações, o texto através de suas figuras manifesta o inesperado, e aproveitam das suas ex-pressões para espalhar poesia, mensa-gens e compor o visual da cidade, deixando-a carregada de sentidos” (ZUIN, 2003, p.67) .

1.3.2 o grafite dos anos 80 aoS 2000

Na década de 80 muitos problemas quase fizeram com que o grafite desapareces-se. Como cada vez mais, pelos problemas pú-blicos, a marginalidade crescia atrelada a ven-da e consumo de drogas e a ocorrência de assaltos, o grafite, anteriormente utilizado co-mo ferramenta de agressão, também sofreu re-pressão. Muitos dos artistas que grafitavam desistiram de lutar pela causa, outros dedica-ram-se ao estudo da arte. Neste intervalo de tempo, muitos praticantes lutavam para provar que o grafite não fazia parte desta minoria

‘mal intencionada’, muito pelo contrário, pôde--se comprovar que a arte tem a capacidade de retirar inúmeras crianças das ruas e da crimina-lidade, através de centros de reabilitações e centros culturais. Por volta do ano 2000, o grafite se apri-morou, para simplificar o ato de grafitar, e não ‘exigir’ que o praticante tivesse algum conheci-mento sobre a prática. A partir disso um novo estilo foi criado, “o throw-up, que no inglês sig-nifica ‘vomitar’, foi o estilo que teve início para inovar as anteriores, também foi o estilo que primeiro surgiu nos anos 2000, sendo conside-rado o modo mais simplificado para se grafitar. As vantagens desse estilo são de ordem econô-mica e de praticidade: utiliza-se pouca tinta, e seus adeptos não precisam ser grafiteiros treina-dos, pois o throw-up é constituído por traços e letras bem simples, o que levou a torná-lo para a maioria dos grafiteiros novatos, a prática mais utilizada” (ZUIN, 2003, p.84).

Um jeito bem simples de reconhecer este estilo é que geralmente ele é produzido com poucas cores, mas com bastante contraste entre si. O fundo é deixado para trás, uma vez que neste estilo seus ‘rabiscos’ são realizados com muita rapidez, e muitas vezes as letras são con-feccionadas com formatos arredondados, como

Figura 6 – Wild Style.Fonte: ttp://www.duncancumming.co.uk

Figura 5 – Freestyle.Fonte: ttp://farm3.static.flickr.com

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se tivessem um caminho a seguir, ora, sobrepon-do uma letra na outra.

Outros estilos foram criados como o ’free-style’ – estilo livre – e o ‘wild style’. No primeiro observa-se a mescla de desenhos, letras ou as-sinaturas em uma única composição. Já no se-gundo, também chamado de estilo selvagem de grafitar, o que se nota é a presença de letras trançadas, embaralhadas, o que muitas vezes dificulta a leitura, principalmente para a pessoa que não está acostumada a esses textos. Por fim, surge um novo estilo inovador, o 3-D style, onde as imagens parecem verdadeiras, dando sensação de volume e espaços-reais. Para obter resultado nesta técnica, exige-se um amplo con-hecimento de técnicas como a de alto contraste e de luz e sombra por parte do grafiteiro (ZUIN, 2003).

1.4 relacão entre arte, arte rupestre e grafite

Ao atribuirmos a classificação de arte ao grafite, devemos buscar um propósito. Se fal-harmos na procura do mesmo, temos então um ato de vandalismo. Sumiya (1992) apresenta tais propósitos nas primeiras manifestações de grafites brasileiros, tendo inicio em meados de 1970, trazendo mensagens enigmáticas. Estes grafites eram realizados em paredes de banhei-

ros e tinham teor semel-hante aos grafites con-t e m p o r â n e o s nova-iorquinos. Em 1977, os bairros

próximos a USP presenciaram um surto de grafites. Nessa mesma época, no Rio de Ja-neiro, podemos observar o movimento ‘poesia nas ruas’, oriunda da Escola de Belas artes, responsável por diversos murais e painéis. Sumiya (1992) ainda estabelece que nesta ép-oca foi introduzido um ‘elemento chave: o spray’ e ainda observa o slogan: ‘Um spray na mão e uma idéia na cabeça’, inspirada em Glauber Rocha, diretor de cinema, que dizia: ‘Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça’. Esta preocupação em ter uma idéia ao realizar os grafites é o fator que diferencia a arte do vandalismo. Da mesma forma, o grafite é a língua utilizada para documentar, seja essa documen-tação consciente, ou não, muitos ainda dizem ser uma atividade que diz respeito a uma ne-cessidade humana, como dançar, falar, dormir, ou até mesmo comer. De acordo com Poato (2006, p. 49) “[...] o grafite não seria somente a inflação que apresenta o sintoma de uma ur-banidade corrompida e banalizada pelos di-versos meios contemporâneos, mas também a própria arte nas ruas”. Mas onde está a relação entre o grafite e a arte rupestre? Pode-se estabelecer esta rela-ção entre as artes urbana e rupestre na demar-cação de território, em prática nas duas. En-quanto as pinturas rupestres [pré-históricas], na sua grande maioria são símbolos abstratos que são interpretados como uma demarcação de território (GONTIJO, 2004), na arte urbana nota-se essa mesma característica, principal-mente na prática da pichação.

E se quisermos ir um pouco mais além, e estabelecermos a relação do grafite com a arte exposta em museus, se pode citar Zuin (2003), afirmando que “mesmo que o grafite não seja apresentado como movi-mento artístico [...]” o mesmo pas-sou a ganhar “os espaços das gale-rias de arte”. Alguns artistas dos anos 80 que grafitavam se direcio-naram para as artes plásticas. A ex-posição de Keith Hering na XVII Bi-enal de São Paulo apresenta uma abertura das grandes exposições a todos os grafiteiros, incluindo os na-cionais como Alex Vallauri, Zaidler e Matuck, apesar de ser encarado como ato marginal pelo então pre-feito Jânio Quadros.

Figura 7 - Throw Up.Fonte:http://farm3.static.flickr.com

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CULTURA E LINGUAGEM

CaPíTULo 2

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2.1 Cultura

A cada dia que passa o mundo sofre modificações, transmitidas de geração para geração, e a capacidade do ser humano de entender e responder ao meio em que vive gera mudança de hábitos. Assim se dá início ao desenvolvimento de uma cultura de deter-minado lugar ou comunidade. Cultura está relacionada ao “[...] todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costume ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo ho-mem como membro de uma sociedade” (LA-RAIA, 1986, p. 25).

Cultura também pode ser entendida co-mo identidade. Todo povo de uma determina-da região age conforme seus costumes, sendo “[...] um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações an-teriores” (LARAIA, 1986, p.48). Essa defini-ção pode ser classificada como a que possui a participação do povo, ou seja, o que é divi-dido pela maioria das pessoas em uma re-gião. Esta região se define, em nosso escopo, como os centros urbanos já citados no capítu-

lo anterior. Moreno (2001) retrata a cidade como o centro no qual as pessoas (cidadãos) se reú-nem para realizar atividades específicas de determinados centros. Cada indivíduo passa seu conhecimento como um instrumento de aprendizado, independente de nível social. Além disso, podemos observar Arantes, dizen-do que “o que define cultura popular [...] é a consciência de que a cultura tanto pode ser instrumento de conservação, como de transfor-mação social” (1998, p. 54). Podemos observar esses atos desde a pré-história, quando surgem as primeiras al-deias que posteriormente tornaram-se povoa-dos, quando nesse período, o homem pré-his-tórico observava a ação dos animais e dos fenômenos da natureza e utilizava-se dessas ações como forma de aprendizado para se proteger e conseguir alimento. Pode-se dizer que estes atos faziam par-te da cultura do homem pré-histórico. A partir desse momento o ser humano começa a intera-gir com o meio e inevitavelmente dá-se inicio à transformação social. Neste momento o traba-lho já é dividido por sexo e idade e, em algu-mas aldeias, cultuavam-se a natureza crendo que seus elementos eram deuses por lhes ga-rantir a vida. A bagagem cultural e social de cada indivíduo interfere intensamente no que se diz respeito ao entendimento de arte e sua constru-ção.

2.2 Elementos de Linguagem

Os atos da cultura de uma sociedade são definidos por uma parte essencial da lin-guagem: a língua. Segundo Saussure, ela é “[...] um produto social da faculdade de lin-guagem e um conjunto de convenções necessá-rias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa linguagem nos indivíduos”. Sendo assim, a língua se faz necessária para expressar qualquer tipo de linguagem, bem co-mo o grafite é uma ferramenta para exercer a arte urbana. É uma maneira de dialogar com a cidade, na qual o artista repara o espaço urbano como uma forma de comunicação, e a escolha do lugar podem ser definidas como a assinatura do artista, como se pode observar nos grafites do Zezão, que encontrou nas gale-rias de esgotos uma forma de se expressar, in-

Figura 9 – Aldeia em culto religioso.Fonte: http://www.coiab.com.br

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tervindo em um lugar onde a maioria classifi-ca como sujo e desagradável, interagindo a arte com o meio urbano.

A linguagem é um ato que sempre trans-forma a matéria, logo, a língua é a ferramen-ta que o homem utiliza para a transformação da matéria falada que estabelece relações en-tre a matéria fônica e as idéias, evoluindo sob a influência de sons e significados. Porém, podemos observar que “isto não significa, en-tretanto, que a língua deva ser identificada com a fala. Deve-se estabelecer uma diferen-ça entre os sinais lingüísticos e o meio que tais sinais se realizam” (LYONS, 1987, p.8). Isto é o que de fato ocorria entre os homens primiti-vos, não importando qual o meio, neste caso os desenhos, a linguagem utilizada era de fá-cil entendimento. Já na arte urbana, o grafite é a língua que transforma as idéias, relacio-nando as com a matéria, deixando de lado a matéria fônica, utilizando-se em grande parte de desenhos mais trabalhados, que oferecem, àqueles que se importarem, uma nova consci-ência sobre a cidade e seus cidadãos. A existência da civilização humana só se tornou possível com o surgimento da lín-gua, em que Bassani (2003) afirma que o ho-mem passou a organizar seus próprios pensa-mentos e compartilhar isso com os outros, amplificando-os a partir dessa troca de infor-mações.

Considerando o tema desta pesquisa, a língua é tida como um código que substancia o ato da linguagem, transformando os pensa-mentos através da manipulação de signos, presentes tanto na arte rupestre, quanto na ar-te urbana dos dias atuais, na qual, concor-dando com Bassani, a cidade é a linguagem em questão, que se oferece para ser lida nos limites de sua operacionalidade, na qual é preciso elaborar novos códigos que substi-tuem a referência absoluta da natureza por algo artificial. A linguagem observada nas interven-ções urbanas é substanciada por diferentes ti-pos de signos, como o grafite a pichação, os stickers e o stencil, que se utilizam de uma mesma matéria: a tinta, atualmente sendo uti-lizado o ‘spray’, sobre um muro; podendo as-sim observar que esta língua é uma ferramen-ta da linguagem, a qual não é possível a sua existência sem a manipulação dessa ferra-menta e também que, em relação a arte rupes-tre, a língua não se alterou, mudaram apenas as ferramentas. Trazendo para o âmbito urbano, Bassa-ni (2003) afirma que a linguagem manifesta-se em qualquer tipo de expressão humana com a proposta de comunicar algo, ou seja, além de ato ela é produto. Sendo assim, po-de-se considerar que as artes visuais urbanas

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são atos de linguagem definidos através da comunicação entre o homem e a sociedade que o cerca. Retomando a definição de Saussure (2000) quanto aos atos de linguagem, ele afirma que a língua é um sistema de signos que exprimem idéias. Conforme foi observa-do no segundo capítulo, estes signos, na era primitiva, eram os animais caçados, a própria essência e idéia, portanto seriam estes signos objetos reais. Estes objetos são apropriados como uma ciência abstrata, que a lingüística se ocupa em criar relações do meio com o conceito.

“(...) sem o recurso dos signos se-ríamos incapazes de distinguir duas idéias de modo claro e constante. To-mado em si, o pensamento é como uma nebulosa onde nada está neces-sariamente delimitado. Não existem idéias pré-estabelecidas, e nada é dis-tinto antes do aparecimento da lín-gua” (SAUSSURE, 2000, p. 130).

Segundo Bassani (2003) a cidade tem um ambiente criado de uma aparente realida-de paralela ao mundo natural, precisando elaborar novos códigos. A referência absoluta da natureza é substituída pela relativa do arti-fício, do cultural. Bassani (2003) ainda afirma que a arte se desenvolve, a partir do século XX, sobre dois pontos:

“1 - a interação com os processos cons-trutivos, técnicos e semânticos, que a partir de agora [passam a ser] comuni-cativos na cidade;2 - A auto-referência urbana torna-se também, autoreferente, vasculha seu interior lingüístico, meta-linguagem, aprofunda-se nas suas qualidades de materialidade lingüística para, assim, alcançar seu potencial comunicativo numa sociedade baseada na informa-ção e na reprodução técnica”.

Tendo estes aspectos como entendidos, podemos observar que a arte, em um ambiente urbano, exercita uma interação entre a vida humana e os espaços projetados como os pré-dios, muros, etc., além de apresentar os aspec-tos rupestres da arte, criando identidade da arte humana que pouco se alterou como lin-guagem no decorrer dos períodos histórico ar-tísticos.

Ainda pode-se considerar que esses es-paços projetados servem de suporte para o exercício da linguagem urbana, os quais, se-gundo Magnani e Souza (2007) podem ser classificados como não-lugares, em que o es-paço não pode ser definido como identitário, nem como relacional, muito menos como histó-rico, mas, a partir do momento que se intervém nele, o espaço que não era observado por nin-guém, passa a ser de todos.

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A APROPRIAÇÃO DA NATUREZA PELO

HOMEM, ATRAVÉS DA ARTE URBANA

CaPíTULo 3

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Sabe-se que o homem primitivo utiliza-va a arte como forma de apropriação do meio a fim de dominá-lo e ainda comunicava-se com outros indivíduos trocando informações, estabelecendo um significado para aquela na-tureza. Em outras palavras, o homem, através da arte, como se observa nas representações de pinturas nas paredes das cavernas pré-his-tóricas, tinha como objetivo tentar dominar o desconhecido para, a partir disso, dominar o que temia.

Não somente durante o período rupes-tre tal aspecto se apresentava. Durante os sé-culos e os diversos movimentos artísticos, esta apropriação esteve presente e esta prática serviu como pilar de criação de elementos simbólicos socioculturais de um povo ou clas-se social em diversas ações prazerosas que buscavam a transformação, ou ainda: sua apropriação.

No renascimento, o modelo grego foi retomado, e a utilização de medidas tornou-se padrão na criação de obras. No romantismo, apropriando-se de uma realidade, o artista propunha algo com maior perfeição. No im-pressionismo e, posteriormente em algumas vanguardas, a tradução da técnica em forma de arte, se utilizava da apropriação de um fenômeno, neste caso a luz – natureza – para representação artística.

Em todos os momentos a natureza esteve presente, seja como modelo, seja como práti-ca. Não é diferente no que se toca a arte urba-na atual, na qual se observa o regionalismo e a sociedade em suas produções que visam à apropriação da cidade, que podemos anali-sar como uma nova natureza a fim de obter entendimento. Enquanto não podemos analisar os ‘por quês’ das diversas obras, podemos observar como elas foram executadas, e é quando veri-ficamos a semelhança entre a linguagem da arte urbana com a arte rupestre, através da apropriação da natureza, em que o homem pintava as paredes de suas cavernas, ou seja, seus muros.

Os homens pré-históricos desenvolviam grafismos nas paredes das cavernas com a fi-nalidade de dominar o meio que o cercava. Esse domínio, através de uma ligação espiritu-al, era uma maneira de perder o medo do que era considerado perigoso, como um animal que tinham a intenção de caçá-lo. Através de sua arte, o homem conhecia os aspectos de sua presa. Porem, quando ele começou a se estabelecer em determinados territórios, ainda utilizava-se da arte buscando melhor entendi-mento dos elementos cíclicos da natureza.

Figura 10 – Grafite em parede de casa em Olinda - Pernambuco.Fonte: http://www.pvv.org/~bct/brasil3/

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Além da proteção, o homem registrava nas paredes o animal que temia para assegu-rar assim uma caça bem sucedida. Estas ima-gens não eram criadas com o objetivo de se-rem expostas para apreciação de todos. Com isso, podemos observar o valor de culto defi-nido por Walter Benjamin:

“A produção artística começa com imagens a serviço da magia. O que importa, nessas imagens, é que elas existem, e não que sejam vistas. O alce, copiado pelo homem paleolí-tico nas paredes de sua caverna, é um instrumento de magia, só ocasio-nalmente exposto aos olhos dos outros homens: no máximo, ele deve ser vis-to pelos espíritos.” (BENJAMIN, 1994, p. 173)

Os principais temas que os homens pri-mitivos desenvolviam em seus grafismos nas paredes das cavernas eram o próprio indiví-duo e o meio que esse habitava. Na atualida-de esse tema se diferencia na arte urbana, já que a técnica age de forma praticamente in-dependente. Assim, torna-se evidente um con-flito entre a sociedade e o meio, pois a tecno-logia avançou a tal ponto em que as máquinas independem do homem para executar suas funções, e assim, ele passa a compreender o meio como uma nova natureza. Nesse ponto, a arte serve novamente como ferramenta para esse aprendizado, só que, dessa vez, o meio não é mais o tema, ele passa a ser suporte.

Este entendimento da natureza se man-teve no decorrer da história, sendo observado em diversos períodos (movimentos) artísticos, utilizando a natureza como técnica, como no impressionismo, ou a proporção encontrada na mesma para criar suas obras, como no re-nascimento.

Nos dias atuais, de acordo com Canne-vacci (2004) a cidade estabelece uma forte relação com o ser humano, onde este não é mais apenas um espectador urbano e, agora passa a ser um ator que dialoga continuamen-te com os muros da cidade. Ainda pode-se citar Moreno (2001) que afirma que a cidade seria a grande casa do homem, enquanto a sua própria casa seria sua pequena cidade.

Nas ruas dos grandes centros urbanos, é possível observar as pessoas caminhando distraídas, lendo jornais ou com fones de ou-vido, sem perceber o ambiente que as cerca. Assim, a informação que está presente nesses centros, enquanto casa do homem, disponível para quem quiser observar, acaba sendo des-cartada. É comum nos dias de hoje que as pessoas selecionem o tipo de informação que desejam recepcionar, e, com isso, acabam

Figuras 11 e 12 –Grafite em prédio em Lisboa – Os Gêmeos.Fonte: http://www.zupi.com.br/index.php/site_zupi/view/os_gemeos_blu1/

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descartando e não dando a atenção devida ao que não é de seu interesse. A partir disso, pode-se citar a apropria-ção da cidade pela arte urbana. Esse tipo de manifestação, que intervém na cidade ao usá-la como suporte para o exercício da arte, pos-sibilita a transformação de um espaço que era considerado irrelevante pelo fato não ser ob-servado por ninguém e que, com a apropria-ção do mesmo, passa a ser de todos. Com is-so, pode-se entender a arte urbana como toda e qualquer manifestação que exalta os concei-tos e costumes característicos dos centros ur-banos. Essa relação da cidade com o ser hu-mano é reforçada por Moreno (2001, p. 16) afirmando que, “a cidade é um produto da natureza. Tal e qual uma caverna ou um formi-gueiro. A cidade é também uma obra de arte consciente. Uma obra coletiva e complexa, que contém muitas infinitas obras de arte mais simples e mais pessoais”. Tendo por base o pensamento de Moreno, se a grande casa do homem é a cidade e, a mesma é um produto da natureza, o homem acaba por ter a nature-za como sua própria casa e, assim apropria-se da mesma. Esse novo ator, citado por Cannevacci, passa a apropriar-se de locais urbanos, atra-vés da arte, que antes passavam despercebi-dos por grande parte da população - muros, viadutos, galerias de esgoto, etc. Peixoto (2002), acrescentando a essa idéia, afirma que no mundo atual as coisas acabaram ad-quirindo uma velocidade cada vez maior. O ser humano anda pela cidade numa velocida-de acelerada e, repara cada vez menos nas belezas urbanas que a cidade pode oferecer. A arte acaba se perdendo no caos urbanos. Estes locais citados, e, comumente coadjuvan-tes na paisagem urbana, são muito utilizados pela técnica do grafite, que de acordo com Rosa (2009), reforça a relação entre a socie-dade e o ser humano e, muitas vezes retratan-do o registro de experiência urbana, esse tipo de arte, acaba ganhando valor social.

Essa apropriação de locais urbanos pe-la arte conseqüentemente acaba causando uma transformação da paisagem urbana. Mo-ran afirma que “[...] as pessoas transformam as paisagens para lhes proporcionar um am-biente produtivo e familiar, capaz de satisfazer sua imagem de como uma paisagem estetica-mente agradável deve parecer” (2006, p. 92).

Analisando Peixoto (2002) de uma for-ma mais profunda, pode-se dizer que apesar das intervenções urbanas tentarem, através da arte, promover determinados lugares como únicos e a conseqüente valorização da identi-dade urbana, estas intervenções vão contra as idéias de arte propostas por Janson (2001, p. 12) que afirma que “a arte é um objeto estéti-co, feito para ser visto e apreciado pelo seu valor intrínseco. As suas características gerais fazem da arte um objeto a aparte, por isso mesmo muitas vezes é colocada à parte, longe da vida cotidiana, em museus, igrejas ou ca-vernas”. Essas intervenções urbanas através da arte contribuem para redefinir o espaço urba-no, ao criarem novas relações com a socieda-de e, com a arquitetura e o urbanismo ao re-dor dos espaços.

De acordo com Benjamin, houve uma transformação em relação ao valor das obras de arte. Se no século XX, as obras eram valori-zadas por serem guardadas a sete chaves, preservando sua aura e, consequentemente o seu valor de culto, atualmente, é difícil existi-rem obras que não sejam abertas à sociedade. Quanto mais a obra é exposta, mais ela é va-lorizada. Pode-se dizer do declínio do valor de culto e da aura em troca da ascensão do valor de exposição da obra. No entanto, essa troca de valores, não implica necessariamente quali-dade artística.

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Através do assunto discutido ao longo da pesquisa, pode-se concluir que a arte urbana apropria-se do meio, na qual a cidade serve de suporte para o seu desenvolvimento. Outro ponto levantado seria a seme-lhança entre a arte rupestre e as intervenções urbanas, como o grafite e a pichação, em relação à demarca-ção de território.

Pode-se admitir que tal apropriação discutida no decorrer do trabalho, existe de maneira concreta em nossos centros urbanos e está intimamente ligada aos conceitos de arte rupestre e ao valor de culto apresen-tado por Walter Benjamin, em que a intervenção não é importante por seu valor de exposição, devido ao alto volume de manifestações grafiteiras, e sim por seu valor único e o que pretende se expressar nele.

CONCLUSÃO

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