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Introdução à História das Religiões.
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Histria das Religies 1
INTRODUO
A histria, com sua profundidade e seriedade de pesquisa. A histria das
religies no apenas uma entre as disciplinas que estudam as religies, mas a
disciplina-me de qualquer estudo das religies. De fato, como poderamos falar das
religies sem conhecer suas origens, seus fundadores, os textos sagrados que foram se
formando, os perodos histricos de maior desenvolvimento das doutrinas etc?
A histria das religies procurou e procura manter certa neutralidade diante do objeto de seu estudo, isto , a prpria religio, para no comprometer o carter
cientfico da pesquisa.
Definies do termo.
Historicamente foram propostas vrias etimologias para a origem de religio. O
conceito de religio remonta ao vocbulo latino religio, cujo significado j era
controvertido na Antiguidade tardia. O escritor cristo Lactncio, tambm chamado de
o Ccero cristo (sc. II ou IV d.C.) deriva a palavra de religare, e a interpreta como religao do ser humano com Deus (Div. Inst. VII 28). Uma questo ao mesmo tempo filolgica e ideolgica: o objetivo de Lactncio era redirecionar o termo religio.
Religio a religando significava purificar o termo latino da escria dos rituais pagos.
Com isso contradiz o clebre escritor romano Ccero (45 a.C.), que havia
derivado a palavra relegere e interpretado como cuidadosa venerao dos deuses (De Natura Deorum II 72). Para Ccero a prtica religiosa atravs de seus rituais,
sacrifcios e oraes a venerao como mago da religio. Sublinha-se o carter da religio romana neste entender. Ambas as derivaes tm em comum a pressuposio
da diferenciao entre esfera humana e divina. A partir da compreensvel que a
crena em Deus muitas vezes considerada a essncia da religio em si.
Esta compreenso embasa, p. ex., a obra de W. Schmidt sobre a origem da idia
de Deus. Acontece, porm, que em sua definio de religio Schmidt substitui a
expresso crena em Deus pela formulao reconhecimento de um ou mais seres pessoais que sobressaem alm das condies terrenas e temporais (Schmidt I 5). Tambm G. Widengren em sua fenomenologia da religio parte da convico de que a crena em Deus constitui a essncia mais ntima da religio (Widengren 3). Em sua definio da religio circunscreve o conceito de Deus pela expresso
determinador do destino. Neste contexto, Schimdt e Widengren discutem a questo se o budismo original pode ser considerado uma religio. Da surge a dificuldade que
temos em aplicar a outras culturas o conceito de religio de cunho ocidental.
Ainda, entre os escritores latinos que examinaram o termo religio, o pensador
Macrbio (sc. V d.C.) atribui a Srvio Sulpcio a afirmao de que ele derivado de
relinquere (deixar, no sentido daquilo deixado pelos antepassados) esta afirmao no
teve repercusso.
A questo etimolgica ser retomada por Agostinho (sc. IV d.C.) em vrias
ocasies. No De Civitate Dei (c. 3 n. 2: ML 41,280), procura no se opor a Ccero, de
relegere passa a religere, no sentido de Deum reeligere debemus, quem amiseramus negligentes, isto , reeleger a Deus, a quem, por negligncia perdemos como retorno a Deus. Ou, para entender melhor, atravs da religio a humanidade reelegia
Histria das Religies 2
de novo a Deus, do qual se tinha separado. No De Vera Religione (c. 55 n. 113: ML
34,172), Agostinho retoma a leitura de Lactncio (religio = religar), retoma a fonte do
vocbulo religio a religando: Religet nos religio uni omnipontenti Deo a religio nos religar ao Deus nico e onipotente.
A idia permaneceu religio que significava uma relao baseada na submisso e
no amor entre o homem e Deus: religio proprie importat ordinem ad Deum (Toms de Aquino, Summa theol., II, 2
ae, q. 81, a. l.) eis, ento, o conceito catlico de
religio. Isso denota o conjunto das relaes que ordenam o homem a Deus, como a seu principio e fim ltimo.
O termo Religio e suas denotaes.
O que uma religio oferece? Continuando, ainda, a tentativa de definir Religio,
podemos dizer que, a palavra e o conceito de religio apresentam significados bem
distintos de acordo com os diversos povos e idiomas. Os gregos, por exemplo,
empregavam o termo terapia (therapeia), ou seja, o cuidado associado aos altares, o apreo aos lugares e ministros dos cultos. J as lnguas latinas e germnicas preferiram
expressar a idia por um termo derivado do latim religio (do verbo relegere, recolher),
que significa escrpulo, temor piedoso, sentimento de respeito em relao ao sagrado. No entanto, os autores cristos associaram religio e religare (religar). Os dois
significados muitas vezes se aproximam, uma vez que religio recolhe as tradies e religa os homens. Quando os cristos chegaram China no incio do sculo XVII, os chineses traduziram a palavra religio pelos ideogramas zong e jiao, que significam ensino dos ancestrais: a nfase era dada para a transmisso de um conhecimento e, sobretudo, dos ritos (li). Do mesmo modo, no sculo XIX os japoneses criaram o
termo shukyo, que significa ensino do essencial, mantendo a noo primordial de catecismo, ou seja, de instruo. Nos ltimos sculos, a globalizao das trocas e a
mistura das crenas condenaram extino diversas religies regionais consideradas
slidas ou que prenunciavam grande futuro. Por outro lado, cultos bastante
minoritrios, que hoje chamaramos de seitas, propagaram-se pela Terra. O culto Mithra desapareceu, enquanto o dedicado a Jesus expandiu-se vale lembrar que o Novo Testamento definia o pequeno grupo de amigos de Jesus como seita ou heresia (hairses). Os deuses do Egito no sobreviveram conquista muulmana, mas o deus de Israel superou todas as perseguies. Brahma conta hoje com apenas
um templo em toda a ndia, enquanto existem milhares devotados a Shiva e Vishnu.
Religio um conceito notoriamente difcil de definir. A concepo baseada no
senso comum, especialmente no Ocidente, de que abrange as crenas e prticas
referentes ou dirigidas a Deus ou aos deuses. Essa definio apropriada para as
grandes religies abramicas, como o judasmo, cristianismo e islamismo, que contam
com mais da metade dos fiis e religiosos do mundo, assim chamadas porque suas
origens remontam poca de Abrao, o antigo patriarca semita. No entanto, essa
definio no se adapta to bem quando se refere a religies fora dessa tradio. O
budismo, por exemplo, to popular no Japo e na China, no possui uma concepo
clara de Deus, e, ainda assim, normalmente considerado uma religio. Igualmente, a
idia de Deus, ou mesmo do sobrenatural como um todo, est quase totalmente ausente
Histria das Religies 3
no confucionismo, a filosofia religiosa em que se baseia a maior parte da cultura
chinesa.
A melhor candidata a uma definio de religio talvez seja aquela emitida pelo
socilogo francs mile Durkheim (1858-1917), que definiu religio como sendo um sistema unificado de crenas e prticas relacionadas a coisas sagradas. Essa definio no perfeita ela parece no considerar o que altamente pessoal como religioso, por exemplo , mas est muito mais prxima do esprito inclusivo. Enfim, muitas pessoas j tentaram definir religio, buscando uma frmula que
se adequasse a todos os tipos de crenas e atividades religiosas uma espcie de mnimo denominador comum. Existe, naturalmente, at um risco nessa tentativa, j
que ela parte do princpio de que as religies podem ser comparadas. Esse um ponto
em que nem todos os crentes concordam: eles podem dizer, por exemplo, que sua f se
distingue de todas as outras por ser a nica religio verdadeira, ao passo que todas as
outras no passam de iluso, ou, na melhor das hipteses, so incompletas. H tambm
pesquisadores cuja opinio que o nico mtodo construtivo de estudar as religies
considerar cada uma em seu prprio contexto histrico e cultural. Contudo, h mais de
um sculo os estudiosos da religio tentam encontrar traos comuns entre as religies.
O problema que eles interpretam as semelhanas de maneiras diferentes. Alguns as
consideram resultado do contato e do intercmbio entre grupos raciais; segundo eles,
as diferentes fs e idias se espalharam do mesmo modo que outros fenmenos
culturais, como a roda e o arado. Outros pesquisadores fazem comparaes a fim de
descobrir o que caracteriza o conceito de religio em si. a que as definies entram
em cena.
Teses e conceitos importantes para os apologistas.
Existem termos que so ditos/escritos freqentemente no discurso religioso
grego, romano, judeu e cristo. Entre eles esto: sacro e seus derivados (sacrar, sagrar,
sacralizar, sacramentar, execrar), profano (profanar) e deus(es). O conceito desses
termos varia bastante conforme a poca e a religio de quem os emprega. Contudo,
possvel ressaltar um mnimo comum grande parte dos conceitos atribudos aos
termos.
Os religiosos gregos e romanos criam na existncia de vrios deuses; os judeus,
maometanos e cristos acreditam que h apenas uma divindade, um ser impassvel de
ser sentido pelos sensores humanos e que capaz de provocar acontecimentos
improvveis/impossveis que podem favorecer ou prejudicar os homens. Para grande
parte das religies, as coisas e as aes se dividem entre sacras e profanas. Sacro
aquilo que mantm uma ligao/relao com o(s) deus(es). Frequentemente est
relacionado ao conceito de moralidade. Profano aquilo que no mantm nenhuma
ligao com o(s) deus(es). Da mesma forma, para grande parte das religies a
imoralidade e o profano so correspondentes. J o verbo profanar (tornar algo profano) sempre tido como uma ao m pelos religiosos.
Dentro do que se define como religio pode-se encontrar muitas crenas e
filosofias diferentes. As diversas religies do mundo so de fato muito diferentes entre
si. Porm ainda assim possvel estabelecer uma caracterstica em comum entre todas
elas. fato que toda religio possui um sistema de crenas no sobrenatural, geralmente
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envolvendo divindades ou deuses. As religies costumam tambm possuir relatos
sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem, e o que acontece aps a morte. A
maior parte cr na vida aps a morte.
A religio no apenas um fenmeno individual, mas tambm um fenmeno
social. A igreja e o povo escolhido (o povo judeu), so exemplos de doutrinas que
exigem no s uma f individual, mas tambm adeso a um certo grupo social.
A idia de religio com muita frequncia contempla a existncia de seres
superiores que teriam influncia ou poder de determinao no destino humano. Esses
seres so principalmente deuses, que ficam no topo de um sistema que pode incluir
vrias categorias: anjos, demnios, elementais, semideuses, etc. Outras definies mais
amplas de religio dispensam a idia de divindades e focalizam os papis de
desenvolvimento de valores morais, cdigos de conduta e senso cooperativo em uma
comunidade.
Algumas religies no consideram deidades, e podem ser consideradas como
atestas (apesar do atesmo no ser uma religio, ele pode ser uma caracterstica de
uma religio). o caso do budismo, do confucionismo e do taosmo.
De modo geral podemos classificar as crenas em cinco grupos:
1. Henotesmo: cultua-se um nico Deus, mas se reconhece a existncia de
outras divindades;
2. Monotesmo: Do grego, monos = nico / Theos = Deus. Como religio traz doutrina e teologia que no aceita outros deuses. Encontraremos no seio das grandes religies monotestas algo como diferentes nomes para Deus, no qual cada um
deles faz evocar qualidades diferentes do mesmo Deus, como yD'v; lae. Sem falar dos Anjos e Arcanjos, o catolicismo encontrou nos santos a soluo
perfeita para preencher o espao vago deixado pelas divindades pags anteriores sua
expanso.
3. Politesmo: Do grego, polys = muitos / Theos = Deus. Como religio, traz doutrina e teologia que aceitam vrios deuses.
4. Pantesmo: Do grego, pan = todo/ Theos = Deus. Sistema filosfico que identifica Deus com a Natureza e vice-versa, e em virtude da qual a Natureza
apenas o aspecto fsico, a manifestao visvel ou o corpo da Divindade suprema ou,
melhor dizendo, da Alma do Mundo, princpio infinito e onipresente, que a tudo
anima. So muitas as religies pantestas. Elas enxergam as manifestaes de Deus na
natureza, considerando coincidente a divindade e o universo natural;
5. Panentesmo: crena segundo a qual a divindade e o universo natural
coincidem, embora professe uma transcendncia de Deus diante da natureza.
Relacionados ao termo Religio, existem outros, derivados do discurso religioso
grego, romano, judeu e cristo:
- Sagrado, sacro: aquilo que mantm uma ligao/relao com o(s) deus(es);
- Profano: aquilo que no mantm nenhuma ligao com o(s) deus(es).
- Mstico: tudo que se refira a um plano sobrenatural.
Apesar da sua diversidade, em quase todas as religies, como fenmenos
individuais e sociais, se encontram as seguintes caractersticas:
Histria das Religies 5
a) Um sistema de princpios ou crenas no sobrenatural, compreendendo as
concepes sobre o Universo, a Terra, o Homem, o Criador, a vida aps a morte;
b) Divindade(s) ou ser(es) superior(es) com influncia ou poder sobre o destino
humano: deuses, anjos, demnios, elementais, semideuses, etc. Em certas religies,
no h essa idia de divindade(s), que e substituda por valores morais e cdigos de
conduta;
c) Rituais (do latim ritualis) ou cerimnias, procedimentos ou atos que os seres
humanos praticam, de religao ou contacto com a(s) divindade(s). Os rituais podem
ser individuais ou coletivos. Uma outra palavra para designar o oficio religioso e
liturgia (do grego leitourgi,a, servio ou trabalho pblico), a celebrao, podendo incluir um ritual (como a missa catlica) ou uma atividade religiosa diria (como as
salats muulmanas). A celebrao litrgica rememora a relao dos fieis com a(s)
divindade(s).
Em certas religies, so usadas vestimentas, instrumentos, objetos (clice,
crucifixo, livros sagrados, velas, imagens, etc) que so dotados de simbolismo, ou seja,
de significado religioso.
d) Igrejas, templos, terreiros, mesquitas etc, que so lugares a que os fiis comparecem
para realizar os seus atos de celebrao religiosa;
e) Um corpo de pessoas que cuidam das funes religiosas. Em certas religies, de
acordo com suas concepes, h pessoas consideradas intermediarias entre os fiis e
a(s) divindade(s) (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo, etc). Em outras religies,
com concepes distintas, no se considera necessrio tais intermedirios.
Apesar de suas diferenas, h algo comum a todas as religies: elas se baseiam
na f, palavra que vem do grego pi,stij, idia de confiana, fidcia, firme persuaso, uma convico em uma verdade, mesmo sem nenhuma evidencia fsica. No hebraico
hn"Wma/, que quer dizer: confirmar aquilo que est escrito. Por outro lado, h pessoas que no tm religio, tm dvidas sobre a
religiosidade ou praticam uma religiosidade baseada em outros princpios e no na f.
Dentro do conceito de religio temos tambm algumas questes que fazem parte de
sua abordagem, entre elas os pensamentos atestas, agnosticistas e destas.
Para ficar mais claro, seguem alguns conceitos:
- Atesmo: negao da existncia de Ser(es) Supremo(s) e, portanto, da veracidade de
qualquer religio testa. Um ateu, porem, pode acreditar em outros princpios para a
explicao da vida e do Universo, como aqueles cientficos ou filosficos, por
exemplo.
- Agnosticismo: dvida, questionamento sobre a existncia de Deus e sobre a
veracidade de qualquer religio testa, considerando a falta de provas favorveis ou
contrrias.
- Desmo: crena num deus cujo conhecimento e feito pela razo e no pela f e
revelao.
- Tesmo: crena na existncia de pelo menos um deus.
Histria das Religies 6
Religio, intolerncia e conflitos.
Ao longo da Histria da Humanidade, infelizmente, a convivncia dos seres
humanos, dos grupos sociais, das vrias sociedades, com seres humanos, grupos
sociais, sociedades diferentes, ou seja, a convivncia com o Outro, nem sempre foi
pacfica.
A intolerncia se expressa diante de varias diversidades: de gnero, de etnia, de
gerao, de orientao sexual, de padro fsico-esttico, e, tambm, de religio.
A intolerncia religiosa pode causar espanto, mas muitos e muitos conflitos e
guerras violentas foram e ainda so travados em nome de uma determinada crena
religiosa ou de outra.
Este um problema extremamente complexo porque tais confrontos,
costumeiramente, no carregam motivaes exclusivamente religiosas, mas a estas se
somam razes de ordem econmica, social, poltica, cultural, variveis a cada
experincia histrica. Os exemplos de conflitos religiosos so numerosssimos: entre
judeus e cristos; entre cristos e islmicos; as milhares de mortes produzidas pelas
Inquisies Catlica e Protestante) contra os considerados hereges; as guerras entre
catlicos e protestantes em decorrncia da Reforma e da Contra-Reforma, nos sculos
XVI-XVII; a imposio do cristianismo ou do catolicismo sobre os indgenas da
Amrica e os negros importados da frica como escravos. Hoje, alguns desses grandes
conflitos ainda perduram, como aquele entre islmicos e cristos ou entre catlicos e
protestantes, na Irlanda do Norte. Mas a intolerncia religiosa tambm se expressa em
pequenos conflitos cotidianos, quando se desqualifica pessoas por no pensarem
religiosamente do mesmo modo de quem as desqualifica; ou quando se destri templos
e smbolos de religies que se consideram adversrias; ainda, quando algum arroga
para a sua crena o estatuto de religio e qualifica a crena alheia como seita.
Diante da intolerncia religiosa, o filosofo francs Voltaire, dizia no sculo
XVIII: verdade que esses horrores absurdos no mancham todos os dias a face da terra; mas foram freqentes, e com eles facilmente se faria um volume bem mais
grosso do que os Evangelhos que os reprovam. (Voltaire, Tratado sobre a Tolerncia. So Paulo, Martins Fontes, 1993: 127).
Ora, vamos fazer uma reflexo.
Se as vrias concepes de divindade(s) esto vinculadas a algo grandioso,
como a criao do Universo e da vida; se, atravs da religio, as pessoas realizam uma
busca espiritual e uma harmonia interior, como podem elas, em nome de Deus(es),
discriminar outras pessoas, ofend-las, agredi-las, e ate mat-las? Porque tais pessoas
no pensam igual? Por que no tm as mesmas concepes religiosas?
Em nome de quem elas praticam essa violncia?
Com que autoridade elas procedem dessa maneira?
Acaso Deus(es) deu (deram) poderes a certas pessoas como nicas donas da
verdade?
Se, nas mais diversas concepes religiosas, a(s) divindade(s) (so)
representada(s) por sua magnanimidade, como o Bem, a justia, o perdo, como, em
seu nome, praticar o Mal, a injustia, a intolerncia?
Por que a minha religio seria melhor do que a sua?
Por que a sua religio seria melhor do que a minha?
Histria das Religies 7
A intolerncia de qualquer natureza, para com o Outro, diferente de ns, gera a
discriminao, o preconceito, o conflito, a violncia, at a guerra.
Divergncias religiosas resolvidas desse modo so anti-religiosas.
A tolerncia, nesse caso, religiosa, e a garantia de cada um realizar a sua
escolha religiosa. Ou no escolher. E a garantia do direito a diferena. E a
possibilidade de um mundo menos conflituoso.
Historicamente, ha muitas religies que guardam muitas aproximaes entre si.
O desconhecimento, a ignorncia mesmo, a respeito dessas afinidades, e uma das
fontes da intolerncia. A outra e a arrogncia de algum se considerar dono da verdade
divina.
Por isso, h movimentos de dilogo entre diferentes religies, no sentido de
construo mtua da tolerncia religiosa. Essa perspectiva se denomina dilogo inter-
religioso.
J o denominado ecumenismo, a busca da unidade entre as Igrejas crists.
Cristos de diferentes Igrejas so praticantes da mesma religio. Tm uma base
comum. Pertencem mesma grande famlia de f, isto , ao Cristianismo.
Outros termos importantes.
Paganismo: Do grego, paganus = da natureza, do campo. O pago aquele que cultua suas divindades e sua religio na natureza. Por se contra o sistema
monotesta, foi considerado sistema e religio de hereges. Herege (haeresis) significa opinio, sistema doutrina, seita, que acabou, na Idade Mdia por tomar o
sentido de ser o que nega ou contraria a doutrina estabelecida (por um grupo). Ficou
ainda o conceito de que aquele que no fosse batizado na f catlica automaticamente
permanecia pago.
Mitologia: Do grego, mythos = relato. Portanto, mito um relato, e mistrio deriva de mito. Mitologia um relato alegrico dos mistrios, do que oculto, haja vista que
alegoria significa dizer outra coisa, portanto que tm a finalidade de explicar o sobrenatural e que encerra verdades de ordem espiritual, moral ou religiosa, de forma
velada, para os que tm olhos para ver. Costuma criar explicaes para o inexplicvel aos olhos leigos, de forma que apenas aceito ou no, comprovado
jamais. Entendido mediante a iniciao nos mistrios. Logo, Mitologia compreende
muito mais do que contos e fbulas no aceitos pela mente do homem moderno. Mitologia explica todo o panteo (conjunto das divindades) de uma religio e se
emprega esse termo para designar o seu estudo.
Seita: Do latim, secta, de sequi = seguir. O termo espelha o confronto de igrejas e religies com minorias dissidentes, que so julgadas como herticas e ilegtimas e, por
sua vez, freqentemente negam legitimidade s organizaes-mes.
Heresia: Do grego hairesis = diferena, escolha. Tese que se desvia da doutrina comumente aceita. As Religies e Confisses religiosas definiram mais ou menos o
que faz e o que no faz parte do seu elenco doutrinrio. Caso o membro da
comunidade em questo sustente uma opinio fortemente contrria, esta condenada
Histria das Religies 8
como heresia, conforme o princpio: Uma doutrina que leva ao erro, j errnea. - No
caso de graves heresias, pode-se chegar at excluso da comunidade.
BIBLIOGRAFIA DA INTRODUO:
CUMINO, Alexandre. Deus, deuses e divindades. Editora Madras. SP/SP 2004.
FRANZ, Knig & Waldenfels, Hans. Lxico das Religies. Vozes. Petrpolis/RJ.
1998.
HELLERN, Victor Gaarder, Jostein Notaker, Henry. O Livro das Religies. Ed. Companhia das Letras. SP/SP. 2005.
SCHWIKART, Georg. Dicionrio ilustrado das religies. Aparecida, SP. Editora
Santurio. 2001.
STANGROOM, Dr. Jeremy. Pequeno Livro das Grandes Idias Religio. Ciranda Cultural Editora. SP/SP. 2008.
TERRIN, Aldo Natale. Introduo ao estudo comparado das religies. Paulinas.
SP/SP. 2003.
VALLET, Odon. Uma outra histria das Religies. Ed. Globo. SP/SP. 2002.