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5/17/2018 Introduo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/introducao-563b817ac3b2d 1/8 História das Religiões 1 INTRODUÇÃO A história, com sua profundidade e seriedade de pesquisa. A história das religiões não é apenas uma entre as disciplinas que estudam as religiões, mas a disciplina-mãe de qualquer estudo das religiões. De fato, como poderíamos falar das religiões sem conhecer suas origens, seus fundadores, os textos sagrados que foram se formando, os períodos históricos de maior desenvolvimento das doutrinas etc? A história das religiões procurou e procura manter certa “neutralidade” diante do objeto de seu estudo, isto é, a própria religião, para não comprometer o caráter “científico” da pesquisa. Definições do termo. Historicamente foram propostas várias etimologias para a origem de religio. O conceito de religião remonta ao vocábulo latino religio, cujo significado já era controvertido na Antiguidade tardia. O escritor cristão  Lactâncio, também chamado de “o Cícero cristão” (séc. II ou IV d.C.) deriva a palavra de religare, e a interpreta como “religação do ser humano com Deus” (  Div. Inst. VII 28). Uma questão ao mesmo tempo filológica e ideológica: o objetivo de Lactâncio era redirecionar o termo religio.  Religio a religando significava purificar o termo latino da escória dos rituais pagãos. Com isso contradiz o célebre escritor romano Cícero (45 a.C.), que havia derivado a palavra relegere e interpretado como “cuidadosa veneração dos deuses” (  De Natura Deorum II 72). Para Cícero é a prática religiosa através de seus rituais, sacrifícios e orações  –  a veneração –  como âmago da religião. Sublinha-se o caráter da religião romana neste entender. Ambas as derivações têm em comum a pressuposição da diferenciação entre esfera humana e divina. A partir daí é compreensível que a crença em Deus muitas vezes é considerada a essência da religião em si. Esta compreensão embasa, p. ex., a obra de W. Schmidt  sobre a origem da idéia de Deus. Acontece, porém, que em sua definição de religião Schmidt substitui a expressão “crença em Deus” pela formulação “reconhecimento de um ou mais seres  pessoais que sobressaem além das condições terrenas e temporais” (Schmidt I 5). Também G. Widengren em sua fenomenologia da religião parte da “convicção” de que “a crença em Deus constitui a essência mais íntima da religião” (Widengren 3). Em sua definição da religião circunscreve o conceito de Deus pela expressão “determinador do destino”. Neste contexto, Schimdt e Widengren discutem a questão se o budismo original pode ser considerado uma religião. Daí surge a dificuldade que temos em aplicar a outras culturas o conceito de religião de cunho ocidental. Ainda, entre os escritores latinos que examinaram o termo religio, o pensador Macróbio (séc. V d.C.) atribui a Sérvio Sulpício a afirmação de que ele é derivado de relinquere (deixar, no sentido daquilo deixado pelos antepassados) esta afirmação não teve repercussão. A questão etimológica será retomada por Agostinho (séc. IV d.C.) em várias ocasiões. No De Civitate Dei (c. 3 n. 2: ML 41,280), procura não se opor a Cícero, de relegere  passa a religere, no sentido de “Deum reeligere debemus, quem amiseramus negligentes ”, isto é, “reeleger a Deus , a quem, por negligência perdemos ” –  como retorno a Deus. Ou, para entender melhor,  –  através da religião a humanidade reelegia

Introdução

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Introdução à História das Religiões.

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  • Histria das Religies 1

    INTRODUO

    A histria, com sua profundidade e seriedade de pesquisa. A histria das

    religies no apenas uma entre as disciplinas que estudam as religies, mas a

    disciplina-me de qualquer estudo das religies. De fato, como poderamos falar das

    religies sem conhecer suas origens, seus fundadores, os textos sagrados que foram se

    formando, os perodos histricos de maior desenvolvimento das doutrinas etc?

    A histria das religies procurou e procura manter certa neutralidade diante do objeto de seu estudo, isto , a prpria religio, para no comprometer o carter

    cientfico da pesquisa.

    Definies do termo.

    Historicamente foram propostas vrias etimologias para a origem de religio. O

    conceito de religio remonta ao vocbulo latino religio, cujo significado j era

    controvertido na Antiguidade tardia. O escritor cristo Lactncio, tambm chamado de

    o Ccero cristo (sc. II ou IV d.C.) deriva a palavra de religare, e a interpreta como religao do ser humano com Deus (Div. Inst. VII 28). Uma questo ao mesmo tempo filolgica e ideolgica: o objetivo de Lactncio era redirecionar o termo religio.

    Religio a religando significava purificar o termo latino da escria dos rituais pagos.

    Com isso contradiz o clebre escritor romano Ccero (45 a.C.), que havia

    derivado a palavra relegere e interpretado como cuidadosa venerao dos deuses (De Natura Deorum II 72). Para Ccero a prtica religiosa atravs de seus rituais,

    sacrifcios e oraes a venerao como mago da religio. Sublinha-se o carter da religio romana neste entender. Ambas as derivaes tm em comum a pressuposio

    da diferenciao entre esfera humana e divina. A partir da compreensvel que a

    crena em Deus muitas vezes considerada a essncia da religio em si.

    Esta compreenso embasa, p. ex., a obra de W. Schmidt sobre a origem da idia

    de Deus. Acontece, porm, que em sua definio de religio Schmidt substitui a

    expresso crena em Deus pela formulao reconhecimento de um ou mais seres pessoais que sobressaem alm das condies terrenas e temporais (Schmidt I 5). Tambm G. Widengren em sua fenomenologia da religio parte da convico de que a crena em Deus constitui a essncia mais ntima da religio (Widengren 3). Em sua definio da religio circunscreve o conceito de Deus pela expresso

    determinador do destino. Neste contexto, Schimdt e Widengren discutem a questo se o budismo original pode ser considerado uma religio. Da surge a dificuldade que

    temos em aplicar a outras culturas o conceito de religio de cunho ocidental.

    Ainda, entre os escritores latinos que examinaram o termo religio, o pensador

    Macrbio (sc. V d.C.) atribui a Srvio Sulpcio a afirmao de que ele derivado de

    relinquere (deixar, no sentido daquilo deixado pelos antepassados) esta afirmao no

    teve repercusso.

    A questo etimolgica ser retomada por Agostinho (sc. IV d.C.) em vrias

    ocasies. No De Civitate Dei (c. 3 n. 2: ML 41,280), procura no se opor a Ccero, de

    relegere passa a religere, no sentido de Deum reeligere debemus, quem amiseramus negligentes, isto , reeleger a Deus, a quem, por negligncia perdemos como retorno a Deus. Ou, para entender melhor, atravs da religio a humanidade reelegia

  • Histria das Religies 2

    de novo a Deus, do qual se tinha separado. No De Vera Religione (c. 55 n. 113: ML

    34,172), Agostinho retoma a leitura de Lactncio (religio = religar), retoma a fonte do

    vocbulo religio a religando: Religet nos religio uni omnipontenti Deo a religio nos religar ao Deus nico e onipotente.

    A idia permaneceu religio que significava uma relao baseada na submisso e

    no amor entre o homem e Deus: religio proprie importat ordinem ad Deum (Toms de Aquino, Summa theol., II, 2

    ae, q. 81, a. l.) eis, ento, o conceito catlico de

    religio. Isso denota o conjunto das relaes que ordenam o homem a Deus, como a seu principio e fim ltimo.

    O termo Religio e suas denotaes.

    O que uma religio oferece? Continuando, ainda, a tentativa de definir Religio,

    podemos dizer que, a palavra e o conceito de religio apresentam significados bem

    distintos de acordo com os diversos povos e idiomas. Os gregos, por exemplo,

    empregavam o termo terapia (therapeia), ou seja, o cuidado associado aos altares, o apreo aos lugares e ministros dos cultos. J as lnguas latinas e germnicas preferiram

    expressar a idia por um termo derivado do latim religio (do verbo relegere, recolher),

    que significa escrpulo, temor piedoso, sentimento de respeito em relao ao sagrado. No entanto, os autores cristos associaram religio e religare (religar). Os dois

    significados muitas vezes se aproximam, uma vez que religio recolhe as tradies e religa os homens. Quando os cristos chegaram China no incio do sculo XVII, os chineses traduziram a palavra religio pelos ideogramas zong e jiao, que significam ensino dos ancestrais: a nfase era dada para a transmisso de um conhecimento e, sobretudo, dos ritos (li). Do mesmo modo, no sculo XIX os japoneses criaram o

    termo shukyo, que significa ensino do essencial, mantendo a noo primordial de catecismo, ou seja, de instruo. Nos ltimos sculos, a globalizao das trocas e a

    mistura das crenas condenaram extino diversas religies regionais consideradas

    slidas ou que prenunciavam grande futuro. Por outro lado, cultos bastante

    minoritrios, que hoje chamaramos de seitas, propagaram-se pela Terra. O culto Mithra desapareceu, enquanto o dedicado a Jesus expandiu-se vale lembrar que o Novo Testamento definia o pequeno grupo de amigos de Jesus como seita ou heresia (hairses). Os deuses do Egito no sobreviveram conquista muulmana, mas o deus de Israel superou todas as perseguies. Brahma conta hoje com apenas

    um templo em toda a ndia, enquanto existem milhares devotados a Shiva e Vishnu.

    Religio um conceito notoriamente difcil de definir. A concepo baseada no

    senso comum, especialmente no Ocidente, de que abrange as crenas e prticas

    referentes ou dirigidas a Deus ou aos deuses. Essa definio apropriada para as

    grandes religies abramicas, como o judasmo, cristianismo e islamismo, que contam

    com mais da metade dos fiis e religiosos do mundo, assim chamadas porque suas

    origens remontam poca de Abrao, o antigo patriarca semita. No entanto, essa

    definio no se adapta to bem quando se refere a religies fora dessa tradio. O

    budismo, por exemplo, to popular no Japo e na China, no possui uma concepo

    clara de Deus, e, ainda assim, normalmente considerado uma religio. Igualmente, a

    idia de Deus, ou mesmo do sobrenatural como um todo, est quase totalmente ausente

  • Histria das Religies 3

    no confucionismo, a filosofia religiosa em que se baseia a maior parte da cultura

    chinesa.

    A melhor candidata a uma definio de religio talvez seja aquela emitida pelo

    socilogo francs mile Durkheim (1858-1917), que definiu religio como sendo um sistema unificado de crenas e prticas relacionadas a coisas sagradas. Essa definio no perfeita ela parece no considerar o que altamente pessoal como religioso, por exemplo , mas est muito mais prxima do esprito inclusivo. Enfim, muitas pessoas j tentaram definir religio, buscando uma frmula que

    se adequasse a todos os tipos de crenas e atividades religiosas uma espcie de mnimo denominador comum. Existe, naturalmente, at um risco nessa tentativa, j

    que ela parte do princpio de que as religies podem ser comparadas. Esse um ponto

    em que nem todos os crentes concordam: eles podem dizer, por exemplo, que sua f se

    distingue de todas as outras por ser a nica religio verdadeira, ao passo que todas as

    outras no passam de iluso, ou, na melhor das hipteses, so incompletas. H tambm

    pesquisadores cuja opinio que o nico mtodo construtivo de estudar as religies

    considerar cada uma em seu prprio contexto histrico e cultural. Contudo, h mais de

    um sculo os estudiosos da religio tentam encontrar traos comuns entre as religies.

    O problema que eles interpretam as semelhanas de maneiras diferentes. Alguns as

    consideram resultado do contato e do intercmbio entre grupos raciais; segundo eles,

    as diferentes fs e idias se espalharam do mesmo modo que outros fenmenos

    culturais, como a roda e o arado. Outros pesquisadores fazem comparaes a fim de

    descobrir o que caracteriza o conceito de religio em si. a que as definies entram

    em cena.

    Teses e conceitos importantes para os apologistas.

    Existem termos que so ditos/escritos freqentemente no discurso religioso

    grego, romano, judeu e cristo. Entre eles esto: sacro e seus derivados (sacrar, sagrar,

    sacralizar, sacramentar, execrar), profano (profanar) e deus(es). O conceito desses

    termos varia bastante conforme a poca e a religio de quem os emprega. Contudo,

    possvel ressaltar um mnimo comum grande parte dos conceitos atribudos aos

    termos.

    Os religiosos gregos e romanos criam na existncia de vrios deuses; os judeus,

    maometanos e cristos acreditam que h apenas uma divindade, um ser impassvel de

    ser sentido pelos sensores humanos e que capaz de provocar acontecimentos

    improvveis/impossveis que podem favorecer ou prejudicar os homens. Para grande

    parte das religies, as coisas e as aes se dividem entre sacras e profanas. Sacro

    aquilo que mantm uma ligao/relao com o(s) deus(es). Frequentemente est

    relacionado ao conceito de moralidade. Profano aquilo que no mantm nenhuma

    ligao com o(s) deus(es). Da mesma forma, para grande parte das religies a

    imoralidade e o profano so correspondentes. J o verbo profanar (tornar algo profano) sempre tido como uma ao m pelos religiosos.

    Dentro do que se define como religio pode-se encontrar muitas crenas e

    filosofias diferentes. As diversas religies do mundo so de fato muito diferentes entre

    si. Porm ainda assim possvel estabelecer uma caracterstica em comum entre todas

    elas. fato que toda religio possui um sistema de crenas no sobrenatural, geralmente

  • Histria das Religies 4

    envolvendo divindades ou deuses. As religies costumam tambm possuir relatos

    sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem, e o que acontece aps a morte. A

    maior parte cr na vida aps a morte.

    A religio no apenas um fenmeno individual, mas tambm um fenmeno

    social. A igreja e o povo escolhido (o povo judeu), so exemplos de doutrinas que

    exigem no s uma f individual, mas tambm adeso a um certo grupo social.

    A idia de religio com muita frequncia contempla a existncia de seres

    superiores que teriam influncia ou poder de determinao no destino humano. Esses

    seres so principalmente deuses, que ficam no topo de um sistema que pode incluir

    vrias categorias: anjos, demnios, elementais, semideuses, etc. Outras definies mais

    amplas de religio dispensam a idia de divindades e focalizam os papis de

    desenvolvimento de valores morais, cdigos de conduta e senso cooperativo em uma

    comunidade.

    Algumas religies no consideram deidades, e podem ser consideradas como

    atestas (apesar do atesmo no ser uma religio, ele pode ser uma caracterstica de

    uma religio). o caso do budismo, do confucionismo e do taosmo.

    De modo geral podemos classificar as crenas em cinco grupos:

    1. Henotesmo: cultua-se um nico Deus, mas se reconhece a existncia de

    outras divindades;

    2. Monotesmo: Do grego, monos = nico / Theos = Deus. Como religio traz doutrina e teologia que no aceita outros deuses. Encontraremos no seio das grandes religies monotestas algo como diferentes nomes para Deus, no qual cada um

    deles faz evocar qualidades diferentes do mesmo Deus, como yD'v; lae. Sem falar dos Anjos e Arcanjos, o catolicismo encontrou nos santos a soluo

    perfeita para preencher o espao vago deixado pelas divindades pags anteriores sua

    expanso.

    3. Politesmo: Do grego, polys = muitos / Theos = Deus. Como religio, traz doutrina e teologia que aceitam vrios deuses.

    4. Pantesmo: Do grego, pan = todo/ Theos = Deus. Sistema filosfico que identifica Deus com a Natureza e vice-versa, e em virtude da qual a Natureza

    apenas o aspecto fsico, a manifestao visvel ou o corpo da Divindade suprema ou,

    melhor dizendo, da Alma do Mundo, princpio infinito e onipresente, que a tudo

    anima. So muitas as religies pantestas. Elas enxergam as manifestaes de Deus na

    natureza, considerando coincidente a divindade e o universo natural;

    5. Panentesmo: crena segundo a qual a divindade e o universo natural

    coincidem, embora professe uma transcendncia de Deus diante da natureza.

    Relacionados ao termo Religio, existem outros, derivados do discurso religioso

    grego, romano, judeu e cristo:

    - Sagrado, sacro: aquilo que mantm uma ligao/relao com o(s) deus(es);

    - Profano: aquilo que no mantm nenhuma ligao com o(s) deus(es).

    - Mstico: tudo que se refira a um plano sobrenatural.

    Apesar da sua diversidade, em quase todas as religies, como fenmenos

    individuais e sociais, se encontram as seguintes caractersticas:

  • Histria das Religies 5

    a) Um sistema de princpios ou crenas no sobrenatural, compreendendo as

    concepes sobre o Universo, a Terra, o Homem, o Criador, a vida aps a morte;

    b) Divindade(s) ou ser(es) superior(es) com influncia ou poder sobre o destino

    humano: deuses, anjos, demnios, elementais, semideuses, etc. Em certas religies,

    no h essa idia de divindade(s), que e substituda por valores morais e cdigos de

    conduta;

    c) Rituais (do latim ritualis) ou cerimnias, procedimentos ou atos que os seres

    humanos praticam, de religao ou contacto com a(s) divindade(s). Os rituais podem

    ser individuais ou coletivos. Uma outra palavra para designar o oficio religioso e

    liturgia (do grego leitourgi,a, servio ou trabalho pblico), a celebrao, podendo incluir um ritual (como a missa catlica) ou uma atividade religiosa diria (como as

    salats muulmanas). A celebrao litrgica rememora a relao dos fieis com a(s)

    divindade(s).

    Em certas religies, so usadas vestimentas, instrumentos, objetos (clice,

    crucifixo, livros sagrados, velas, imagens, etc) que so dotados de simbolismo, ou seja,

    de significado religioso.

    d) Igrejas, templos, terreiros, mesquitas etc, que so lugares a que os fiis comparecem

    para realizar os seus atos de celebrao religiosa;

    e) Um corpo de pessoas que cuidam das funes religiosas. Em certas religies, de

    acordo com suas concepes, h pessoas consideradas intermediarias entre os fiis e

    a(s) divindade(s) (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo, etc). Em outras religies,

    com concepes distintas, no se considera necessrio tais intermedirios.

    Apesar de suas diferenas, h algo comum a todas as religies: elas se baseiam

    na f, palavra que vem do grego pi,stij, idia de confiana, fidcia, firme persuaso, uma convico em uma verdade, mesmo sem nenhuma evidencia fsica. No hebraico

    hn"Wma/, que quer dizer: confirmar aquilo que est escrito. Por outro lado, h pessoas que no tm religio, tm dvidas sobre a

    religiosidade ou praticam uma religiosidade baseada em outros princpios e no na f.

    Dentro do conceito de religio temos tambm algumas questes que fazem parte de

    sua abordagem, entre elas os pensamentos atestas, agnosticistas e destas.

    Para ficar mais claro, seguem alguns conceitos:

    - Atesmo: negao da existncia de Ser(es) Supremo(s) e, portanto, da veracidade de

    qualquer religio testa. Um ateu, porem, pode acreditar em outros princpios para a

    explicao da vida e do Universo, como aqueles cientficos ou filosficos, por

    exemplo.

    - Agnosticismo: dvida, questionamento sobre a existncia de Deus e sobre a

    veracidade de qualquer religio testa, considerando a falta de provas favorveis ou

    contrrias.

    - Desmo: crena num deus cujo conhecimento e feito pela razo e no pela f e

    revelao.

    - Tesmo: crena na existncia de pelo menos um deus.

  • Histria das Religies 6

    Religio, intolerncia e conflitos.

    Ao longo da Histria da Humanidade, infelizmente, a convivncia dos seres

    humanos, dos grupos sociais, das vrias sociedades, com seres humanos, grupos

    sociais, sociedades diferentes, ou seja, a convivncia com o Outro, nem sempre foi

    pacfica.

    A intolerncia se expressa diante de varias diversidades: de gnero, de etnia, de

    gerao, de orientao sexual, de padro fsico-esttico, e, tambm, de religio.

    A intolerncia religiosa pode causar espanto, mas muitos e muitos conflitos e

    guerras violentas foram e ainda so travados em nome de uma determinada crena

    religiosa ou de outra.

    Este um problema extremamente complexo porque tais confrontos,

    costumeiramente, no carregam motivaes exclusivamente religiosas, mas a estas se

    somam razes de ordem econmica, social, poltica, cultural, variveis a cada

    experincia histrica. Os exemplos de conflitos religiosos so numerosssimos: entre

    judeus e cristos; entre cristos e islmicos; as milhares de mortes produzidas pelas

    Inquisies Catlica e Protestante) contra os considerados hereges; as guerras entre

    catlicos e protestantes em decorrncia da Reforma e da Contra-Reforma, nos sculos

    XVI-XVII; a imposio do cristianismo ou do catolicismo sobre os indgenas da

    Amrica e os negros importados da frica como escravos. Hoje, alguns desses grandes

    conflitos ainda perduram, como aquele entre islmicos e cristos ou entre catlicos e

    protestantes, na Irlanda do Norte. Mas a intolerncia religiosa tambm se expressa em

    pequenos conflitos cotidianos, quando se desqualifica pessoas por no pensarem

    religiosamente do mesmo modo de quem as desqualifica; ou quando se destri templos

    e smbolos de religies que se consideram adversrias; ainda, quando algum arroga

    para a sua crena o estatuto de religio e qualifica a crena alheia como seita.

    Diante da intolerncia religiosa, o filosofo francs Voltaire, dizia no sculo

    XVIII: verdade que esses horrores absurdos no mancham todos os dias a face da terra; mas foram freqentes, e com eles facilmente se faria um volume bem mais

    grosso do que os Evangelhos que os reprovam. (Voltaire, Tratado sobre a Tolerncia. So Paulo, Martins Fontes, 1993: 127).

    Ora, vamos fazer uma reflexo.

    Se as vrias concepes de divindade(s) esto vinculadas a algo grandioso,

    como a criao do Universo e da vida; se, atravs da religio, as pessoas realizam uma

    busca espiritual e uma harmonia interior, como podem elas, em nome de Deus(es),

    discriminar outras pessoas, ofend-las, agredi-las, e ate mat-las? Porque tais pessoas

    no pensam igual? Por que no tm as mesmas concepes religiosas?

    Em nome de quem elas praticam essa violncia?

    Com que autoridade elas procedem dessa maneira?

    Acaso Deus(es) deu (deram) poderes a certas pessoas como nicas donas da

    verdade?

    Se, nas mais diversas concepes religiosas, a(s) divindade(s) (so)

    representada(s) por sua magnanimidade, como o Bem, a justia, o perdo, como, em

    seu nome, praticar o Mal, a injustia, a intolerncia?

    Por que a minha religio seria melhor do que a sua?

    Por que a sua religio seria melhor do que a minha?

  • Histria das Religies 7

    A intolerncia de qualquer natureza, para com o Outro, diferente de ns, gera a

    discriminao, o preconceito, o conflito, a violncia, at a guerra.

    Divergncias religiosas resolvidas desse modo so anti-religiosas.

    A tolerncia, nesse caso, religiosa, e a garantia de cada um realizar a sua

    escolha religiosa. Ou no escolher. E a garantia do direito a diferena. E a

    possibilidade de um mundo menos conflituoso.

    Historicamente, ha muitas religies que guardam muitas aproximaes entre si.

    O desconhecimento, a ignorncia mesmo, a respeito dessas afinidades, e uma das

    fontes da intolerncia. A outra e a arrogncia de algum se considerar dono da verdade

    divina.

    Por isso, h movimentos de dilogo entre diferentes religies, no sentido de

    construo mtua da tolerncia religiosa. Essa perspectiva se denomina dilogo inter-

    religioso.

    J o denominado ecumenismo, a busca da unidade entre as Igrejas crists.

    Cristos de diferentes Igrejas so praticantes da mesma religio. Tm uma base

    comum. Pertencem mesma grande famlia de f, isto , ao Cristianismo.

    Outros termos importantes.

    Paganismo: Do grego, paganus = da natureza, do campo. O pago aquele que cultua suas divindades e sua religio na natureza. Por se contra o sistema

    monotesta, foi considerado sistema e religio de hereges. Herege (haeresis) significa opinio, sistema doutrina, seita, que acabou, na Idade Mdia por tomar o

    sentido de ser o que nega ou contraria a doutrina estabelecida (por um grupo). Ficou

    ainda o conceito de que aquele que no fosse batizado na f catlica automaticamente

    permanecia pago.

    Mitologia: Do grego, mythos = relato. Portanto, mito um relato, e mistrio deriva de mito. Mitologia um relato alegrico dos mistrios, do que oculto, haja vista que

    alegoria significa dizer outra coisa, portanto que tm a finalidade de explicar o sobrenatural e que encerra verdades de ordem espiritual, moral ou religiosa, de forma

    velada, para os que tm olhos para ver. Costuma criar explicaes para o inexplicvel aos olhos leigos, de forma que apenas aceito ou no, comprovado

    jamais. Entendido mediante a iniciao nos mistrios. Logo, Mitologia compreende

    muito mais do que contos e fbulas no aceitos pela mente do homem moderno. Mitologia explica todo o panteo (conjunto das divindades) de uma religio e se

    emprega esse termo para designar o seu estudo.

    Seita: Do latim, secta, de sequi = seguir. O termo espelha o confronto de igrejas e religies com minorias dissidentes, que so julgadas como herticas e ilegtimas e, por

    sua vez, freqentemente negam legitimidade s organizaes-mes.

    Heresia: Do grego hairesis = diferena, escolha. Tese que se desvia da doutrina comumente aceita. As Religies e Confisses religiosas definiram mais ou menos o

    que faz e o que no faz parte do seu elenco doutrinrio. Caso o membro da

    comunidade em questo sustente uma opinio fortemente contrria, esta condenada

  • Histria das Religies 8

    como heresia, conforme o princpio: Uma doutrina que leva ao erro, j errnea. - No

    caso de graves heresias, pode-se chegar at excluso da comunidade.

    BIBLIOGRAFIA DA INTRODUO:

    CUMINO, Alexandre. Deus, deuses e divindades. Editora Madras. SP/SP 2004.

    FRANZ, Knig & Waldenfels, Hans. Lxico das Religies. Vozes. Petrpolis/RJ.

    1998.

    HELLERN, Victor Gaarder, Jostein Notaker, Henry. O Livro das Religies. Ed. Companhia das Letras. SP/SP. 2005.

    SCHWIKART, Georg. Dicionrio ilustrado das religies. Aparecida, SP. Editora

    Santurio. 2001.

    STANGROOM, Dr. Jeremy. Pequeno Livro das Grandes Idias Religio. Ciranda Cultural Editora. SP/SP. 2008.

    TERRIN, Aldo Natale. Introduo ao estudo comparado das religies. Paulinas.

    SP/SP. 2003.

    VALLET, Odon. Uma outra histria das Religies. Ed. Globo. SP/SP. 2002.