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Introdução à Economia 61022 Apontamentos de: Manuela Baptista E-mail: [email protected] Data: 16/05/2008 Livro: Introdução à Economia de João César das Neves Nota: 7ª edição do livro Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.

Introdução à Economia 61022 - AAUAb · PARTE I. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ... seja mais ou menos igual entre todos os elementos da ... a interacção das curvas da procura e

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Introdução à Economia 61022

Apontamentos de: Manuela Baptista E-mail: [email protected] Data: 16/05/2008 Livro: Introdução à Economia de João César das Neves Nota: 7ª edição do livro

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.

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PARTE I. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ECONOMIA 1. A ECONOMIA 1.1 O que é a Economia? Baseia-se na troca. Estuda como as sociedades decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir. Decisão acerca da afectação dos recursos (terra, trabalho e capital). I) A Economia é essencial Porque todos dependemos uns dos outros. O pai da Economia é Adam Smith (1723-1790) II) A Economia é uma ciência Porque exige conhecimento rigoroso e sistemático. III) A Economia é uma ciência humana Uma vez que estuda o ser humano e a sociedade. 1.2 Os princípios básicos da Economia Que caracterizam a Economia relativamente a outras ciências: � Postulado da racionalidade cada passageiro procura sair pela porta mais perto � Postulado do equilíbrio cada passageiro defronta outros que também querem o mesmo e

adapta o seu comportamento às suas acções. Assim, metade sai pela porta da frente e metade sai pela porta traseira. Cada um decide por si.

Assim, se os agentes são racionais e a sua interacção equilibrada, sabe-se imediatamente o que esperar do sistema. Mão invisível: se cada um prosseguir os seus próprios objectivos, consegue-se no fim o máximo bem-estar para todos. Principal inimigo da Economia: o desperdício Benefício líquido: outros dos princípios fundamentados da Economia – como em todas as decisões económicas só o que der maior benefício público é que deve ser feito. 2. A CIÊNCIA ECONÓMICA 2.1 Definição de Economia Para Paul Samuelson a Economia é o estudo de como as sociedades usam recursos escassos para produzir bens valiosos e distribuí-los entre diferentes grupos. I) Estudo do comportamento dos agentes e da sociedade O objectivo da Economia é o ser humano, dirigindo-se à compreensão do seu comportamento. Por outro lado, estuda-se o comportamento de «agentes e sociedades». Uma sociedade é uma amálgama de agentes, que se compõe do comportamento diferente de cada um deles. A Economia estuda os agentes mas numa perspectiva da relação interpessoal. II) Bens e recursos São aspectos básicos da Economia. Bem económico: satisfaz uma necessidade humana (ex. pão satisfaz a fome, a roupa, um concerto, o ar, uma cama, um cão, um amigo) Não são só as coisas materiais que são económicas. O que determina se uma coisa é bem ou não é o ser humano e as suas necessidades. Não há, portanto, economia desligada da humanidade, daí ela ser uma ciência humana.

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Recursos: não satisfazem directamente as necessidades humanas (por isso não são bens) mas servem para produzir bens (ex. uma máquina, um pedaço de terra. O trabalho pode ser um recurso ou um bem (se se tirar prazer daquilo que se faz). Há economistas que chamam aos recursos «bens intermédios» ou «factores», uma vez que a utilidade dos recursos existe apenas indirectamente através dos bens que virá a produzir. III) Escolha e escassez Escolha: não havendo escolha não há necessidade logo não há problema. Escassez: causa a necessidade de escolhas e decisões. IV) Consumo Satisfação das necessidades humanas através de bens. O consumo não tem que ser material. Ex: uma sinfonia, um soneto, são bens económicos e o acto de os utilizar através da contemplação ou da audição é consumo. V) O Tempo As decisões económicas reflectem-se no presente e no futuro – é um dos elementos mais importantes da Economia e mais difíceis de analisar. 2.2 A abordagem científica Sendo uma ciência, a Economia usa o método científico. O objectivo central do método científico consiste em tentar conseguir obter uma compreensão clara e profunda do fenómeno de estudo, evitando erros e confusões. O método científico divide-se em 3 partes: experimentação, observação e análise. � Hipótese coeteris paribus (o resto fica igual) Como em Economia tudo tem a ver com tudo, isola-se uma parte do problema, anulando o resto dos elementos relevantes. Cada economista ao estudar um problema necessita de, logo de início, escolher o que é relevante, para introduzir na sua análise, enquanto o resto é eliminado porque mantido constante (coeteris paribus). � Incerteza Porque a realidade, além de complexa é muito volúvel e variável. � Subjectividade Sendo uma ciência humana, o grau de subjectividade, incluído nos julgamentos é muito maior do que numa ciência exacta. � Falácia da composição O que se passa numa parte não é necessariamente válido no todo. Ex: se uma pessoa grita, faz-se ouvir, se todos gritam ninguém ouve nada. � Falácia do post hoc (depois de, por isso, por causa de) Erro em atribuir um nexo de causalidade entre dois factos contemporâneos. Ex: se acções na Bolsa descerem depois da subida de um imposto deduzo que a Bolsa caíu por causa do imposto. Pode ser que sim mas também existem coincidências. 3. O PROBLEMA ECONÓMICO 3.1 Escassez e escolha A escassez é a impossibilidade dos bens disponíveis satisfazerem as necessidades presentes. A escolha advém da escassez • Custo Se é preciso escolher para satisfazer uma necessidade é preciso sacrificar uma outra, ou seja, existe um custo.

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• Custo de oportunidade Conceito económico de custo (valor do que de melhor deixamos de fazer para fazer o que fizemos. Ver exemplo pág. 42 • «Não há almoços grátis» Expressa o fenómeno da escassez – não é possível ter uma coisa escassa de borla. Grátis só a luz do Sol, a areia da praia, a água do rio. • Perguntas básicas do problema económico O que produzir? Como produzir? Para quem produzir) 3.2 Racionalidade e interdependência Os agentes são racionais e os sistemas equilibram – estas são as hipóteses-base de toda a teroia económica e delas saem praticamente todos os teoremas da economia. A resolução económica exige a racionalidade. A racionalidade exige duas coisas: I) Optimização O primeiro elemento da racionaldiade é tirar partido de uma melhoria, em relação aos objectivos do agente. Como disse Francis Edgeworth: o primeiro princípio da Economia é que cada agente é motivado apenas pelo interesse próprio. Isto equivale a dize rque não se escolhe uma má escolha quando estão disponíveis outras melhores. II) Coerência O segundo elemento da racionalidade é a coerência: se, entre duas alternativas, uma pessoa escolhe uma, todas as vezes que estiver nas mesmas circunstâncias, deve manter a escolha. Ver pp.47 e 48. 3.3 As possibilidades de produção fazem-se a partir de: � Recursos e factores produtivos Terra, trabalho e capital. � Fronteira de possibilidade de produção Lugar geométrico dos pontos de produção máxima de 2 produtos, dado um certo montante de recursos disponíveis. � Lei dos custos relativos crescentes À medida que se sacrifica um produto para obter outro, esse outro custa sucessivamente mais do primeiro (ver exemplo pág. 52) � Lei dos rendimentos decrescentes O aumento de um ou mais recursos variáveis, quando outro se mantém fixo, gera aumentos de produção sucessivamente menores (ver exemplo pág. 54) � Progresso tecnológico Inverte as previsões pessimistas de Malthus e Ricardo pois paralelamente ao fenómeno da Lei dos Rendimentos Decrescentes apareceu o progresso tecnológico, anulando os efeitos da Lei dos Rendimentos Decrescentes. John Stuart Mill Apresenta o desenvolvimento como uma corrida entre o progresso tecnológico e os rendimentos decrescentes.

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4. SOLUÇÕES DO PROBLEMA 4.1 Tradição, autoridade e mercado I) Tradição Elimina em muito a necessidade de novas decisões dando estabilidade ao sistema económico, mas reduz em muito a sua flexibilidade e eficiência. II) Autoridade Tem enorme influência sobre o sistema económico, alterando e impondo decisões aos agentes económicos, através de impostos e subsídios, das leis, de empresas públicas e acordos internacionais. III) Mercado Não se resume à compra e venda mas em todos os casos a decisão é deixada à livre escolha dos interessados (ex. casamento é decidido pelos interessados podendo assim ser considerado um mercado). 4.2 O mercado na sociedade moderna � Preços São o centro do mercado – é o coração do sistema. � Incentivos São o truque centrado nos preços. Se os consumidores querem mais de um bem lutam por ele, oferecendo mais dinheiro por esse bem, subindo o preço. Os vendedores são assim incentivados a aumentar a produção. � Eficiência Cada um produz o que de melhor sabe fazer e troca por aquilo de que mais gosta. � Circuito económico Ver pág. 63 4.3 O papel do Estado I) Promoção da eficiência � Bens públicos Produtos ou serviços especiais são bens que, embora não sejam grátis, todos podem gozar sem pagar, pois não existe modo de o mercado cobrar o seu custo. II) Promoção da equidade Garantir que a distribuição dos bens produzidos seja mais ou menos igual entre todos os elementos da sociedade � Conflito eficiência-equidade Se o Estado retira a uns para dar a outros, é natural que uns e outros reduzam a sua produção III) Promoção da estabilidade � Conflito desenvolvimento-estabilidade Ao buscar a estabilidade perde-se rapidez de desenvolvimento 5. A CRUZ MARSHALLIANA 5.1 A curva da procura • Efeito substituição Variação de preços – ao subir o preço de um bem compra-se outro equivalente mas mais barato • Efeito rendimento Ao subir o preço, continuando o consumir a ganhar o mesmo dinheiro, ele fica mais pobre, porque agora compra menos.

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• Deslocamentos «ao longo da curva» e «da curva» Ver exemplos nas pp. 74 e 75. 5.2 A curva da oferta • Lei dos rendimentos decrescentes Se o preço de um bem sobe (coeteris paribus) a quantidade oferecida aumenta, uma vez que para produzir mais de um bem temos que aumentar os factores produtivos, mas como há alguns que se mantém, é lógico que cada vez seja mais caro produzir uma unidade. • Deslocamentos «ao longo da curva» e «da curva» Ver exemplos p. 76 5.3 Equilíbrio • Mecanismo de mercado Definição dos contornos entre a interacção das curvas da procura e da oferta • Excesso de oferta Se a quantidade que os produtos querem vender for superior à que os consumidores querem comprar • Excesso de procura Se os consumidores quiserem comprar mais do que os produtores querem vender. Exemplos Ver pp. 83 à 99. 6. OS PROBLEMAS GLOBAIS DA ECONOMIA 6.1 O todo e as partes I) Conflito eficiência-equidade Se se pretende dar uma fatia justa da riqueza nacional a todos, o bolo fica menor quanto é melhor distribuído II) Conflito desenvolvimento-estabilidade O desenvolvimento nasce do aparecimento de novas ideias que competem com as já existentes; ora essa concorrência cria um contínuo tumulto económico, logo só é possível conseguir a estabilidade sacrificando o desenvolvimento 6.2 A actividade do Estado O Estado não produz recursos, logo tem que ir buscá-los a: I) Impostos Tirar dinheiro às pessoas através do Ministério das Finanças II) Dívida pública � Taxa de juro É o preço pago por esses empréstimos III) Emissão de moeda Feita através do � Banco Central Em Portugal é o Banco de Portugal

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� Inflação Resulta da nova emissão de notas e moedas, mas ao haver mais dinheiro não significa que haja mais coisas para comprar e se a Economia e o Estado têm as mesmas coisas para comprar e mais dinheiro para gastar, o preço das coisas sobe. 6.3 O Espaço e o Tempo O Espaço permite traçar fronteiras, traduzindo-se nas exportações e importações • Taxa de câmbio É o preço da moeda nacional face à estrangeira, ou seja, o seu preço ao longo do Tempo PARTE II. TEORIA ECONÓMICA A) TEORIA DO VALOR: AGENTES RACIONAIS 1. TEORIA DO CONSUMIDOR 1.1 Utilidade • Paradoxo do valor Ver p. 103 • Conceito de utilidade Forma de medir o «bem-estar» obtido pelos bens, materiais ou não. 1.2 A decisão do consumidor • Afectação de recursos Encontrar a regra que o consumidor deve seguir para maximizar a utilidade. • Utilidade total e utilidade marginal Utilidade de cada um dos copos de água. É o acréscimo de utilidade que a última consumida trouxe. • Lei da utilidade marginal decrescente À medida que se consome mais do bem, a utilidade de cada unidade consumida desce. • Regra de decisão do consumidor A utilidade marginal do último euro gasto em cada bem deve ser igual em todos os bens. • Primeira Lei de Gossen À medida que se consome mais do bem, a utilidade de cada unidade adicional consumida desce. • Segunda Lei de Gossen O consumidor, para obter o máximo de satisfação, deve consumir até que a utilidade marginal do último euro gasto em cada bem seja igual em todos os bens. • Excedente do consumidor Ver p. 111 • Bens públicos Ver p. 113 1.3 A análise moderna do consumidor • Lei da substituição Ex: Quanto menos livros tem mais pães lhe têm de dar para ficar igual, ou seja, quanto menos livros se tem, maior é a utilidade marginal do livro, pela lei de Gossen. • Curva de indiferença Revela as preferências particulares do consumidor

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• Valor relativo Valor relativo dos bens em relação aos outros • Mapa de indiferença Ver p. 117 • Taxa marginal de substituição Representa, por exemplo, a utilidade relativa do pão e dos livros, por exemplo, ou seja, esta taxa diz-nos quantos pães valem 1 livro. • Possibilidades de consumo • Recta do rendimento A inclinação da recta do rendimento diz quanto pode comprar mais de pão se deixa de comprar certo montante de livros, dados os preços de pão e livros. • Representação gráfica do equilíbrio do consumidor 1.4 Três outras questões do consumidor • Curva consumo-rendimento Se calcularmos os pontos óptimos para muitos níveis de rendimento e esses forem unidos entre si. • Curvas de Engel Relacionam directamente o consumo óptimo de cada bem com o nível de rendimento que o gera. • Lei de Engel • Elasticidade Conceito de variação relativa percentual • Bens superiores, inferiores e normais Bens superiores: são os que os ricos têm hipóteses de comprar Bens inferiores: o consumidor ao ficar mais rico, consome menos Bens normais: os bens em relação aos quais o consumidor, quando o seu rendimento sobe, aumenta o seu gasto mas menos proporcionalmente à subida do rendimento • Curva preço-consumo Ao fazer novas variações de preços (subidas e descidas), é possível unir os vários pontos de consumo óptimo, obtendo-se deste modo a curva preço-consumo. • Paradoxo de Giffen Para alguns bens, quando o preço sobe, as pessoas compram mais desses bens, tratando-se assim de uma clara violação da lei da curva da procura negativamente inclinada. • Efeito substituição e efeito rendimento O paradoxo de Giffen explica-se por estes dois efeitos (ver p. 128). O efeito substituição leva sempre a uma redução da quantidade consumida do bem cujo preço aumenta. O efeito rendimento pode reforçar o efeito substituição descendo ainda mais a quantidade. • Efeito de King Constatação de que quando a colheita é boa, o preço do bem desce. • Elasticidade preço da procura È igual ao aumento percentual da procura dividido pelo número percentual do preço e mede-se por (ver p. 131).

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• Procura elástica e rígida A procura elástica é um bem que tenha uma elasticidade procura-preço maior que 1. A procura rígida é um bem que tenha elasticidade procura-preço menor que 1. • Elasticidade preço cruzada da procura A variação da procura de um bem causada por alterações de preço de outro bem. Ela mede o grau de independência entre a procura de bens e serve para classificar os bens. • Bens substitutos e bens complementares Os bens substitutos são bens que tenham a elasticidade procura-preço cruzada positiva. Os bens complementares são quando a elasticidade procura-preço é negativa. 2. TEORIA DO PRODUTOR 2.1 Empresas e produção • Função de produção Relação existente entre a quantidade de produto e as quantidades de recursos (terra, trabalho, capital) • Produto total e produtividade marginal O produto total é a curva que relaciona o produto e o trabalho. A produtividade marginal regista apenas o decréscimo do produto que a última unidade de trabalho trouxe. • Lei dos rendimentos marginais decrescentes A curva do produto marginal é negativamente inclinada, ou seja, acréscimos sucessivos de um factor feitos sobre quantidades constantes dos outros factores levam a acréscimos sucessivamente menores de produto. • Escala de produção Quando não se varia apenas um mas todos os factores produtivos simultaneamente. O que varia é toda a escala de produção. • Rendimentos de escala constantes, decrescentes ou c rescentes Surgem da seguinte forma: Supondo que todos os factores produtivos viram a sua quantidade duplicada, dobrando assim a escala de produção. Nesse caso, a quantidade produzida pode variar proporcionalmente mais ou menos. Rendimentos de escala crescentes: quando a produção aumenta para mais do dobro, gerando assim rendimentos de escala crescente. Rendimentos de escala decrescentes: se ao aumentar muito a escala, começarem a aparecer problemas de gestão e controle, de escoamento de produtos, etc – reduzindo por isso o aumento percentuald a produção. • Economias de escala São benefícios adicionais de produção causados por um aumento da escala de produção. • Progresso tecnológico Aparecimento de novas formas de produção que competem com as antigas, vencendo as melhores. 2.2 Como produzir? • Curvas isoquantas Curvas de indiferença de produção, ou seja, podemos unir ia vários pontos que correspondem a quantidades de terra e trabalho que dão a mesma quantidade de produto. Chamam-se isoquantas porque cada uma é composta por pontos que geram a mesma produção.

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• Taxa marginal de substituição técnica É a inclinação da isoquanta • Recta de isocusto Custo total que a empresa está disposta a suportar e pelos preços dos factores. • Representação gráfica do equilíbrio O ponto óptimo é um ponto de tangência, neste caso entre a isoquanta e a recta do isocusto. 2.3 Quanto produzir? 2.3.1 Tecnologia e custos � Custo de oportunidade Conceito de Stuart Mill. Este custo representa o que de melhor se deixou de fazer para fazer o que se fez para produzir determinado produto. O custo de oportunidade mede o sacrifício total, em qualquer das formas possíveis, em que se incorreu para se conseguir a produção. E esse sacrifício é medido na única verdadeira medida de valor: a utilidade. � Custos fixos e custos variáveis Custos fixos: a máquina ou a dimensão da fábrica Custos variáveis: nr. trabalhadores, quantidade matéria prima � Custos médios e custos marginais Custo da última unidade produzida, o custo da unidade marginal, ou custo por unidade é o custo que, em média se pode atingir a cada unidade produzida. CM=CT/Q � Equilíbrio de curto prazo e de longo prazo Ver pp. 148, 149 e 150. 2.3.2 Estrutura de mercado � Concorrência perfeita Muitos produtores iguais � Concorrência monopolística Muitos produtores diferentes � Monopólio Um só produtor � Oligopólio Poucos produtores B) TEORIA DO VALOR: MERCADOS EQUILIBRADOS 1. CONCORRÊNCIA PERFEITA � Condições necessárias para concorrência perfeita A concorrência perfeita é quando existem muitos produtores e consumidores todos pequenos. Assim, nenhum deles pode influenciar o mercado. Existem três outras condições: produto homogéneo; perfeita informação de todos os participantes no mercado sobre os aspectos relevantes; livre mobilidade de recursos. � Regra do lucro máximo O produtor vai vendendo mais uma unidade enquanto tenha benefício líquido positivo de venda, ou seja, enquanto o lucro aumentar. Assim, o produtor vende até o preço = custo marginal, logo a cada preço eu ofereço a quantidade dada pela intercessão desse preço na curva do custo marginal.

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� Curva da oferta A curva da oferta pode ser definida de curto prazo e de longo prazo. A curva do custo marginal é a curva da oferta na concorrência perfeita. � Limiar de rentabilidade Ver p. 157 � Limiar de encerramento O ponto de intercepção da curva da oferta com a curva dos custos variáveis médios. � Equilíbrio no longo prazo O ponto de equilíbrio de curto prazo define uma situação em que toda a gente do mercado está momentaneamente satisfeita. No longo prazo, depois desses momentos se darem, toda a gente está satisfeita. 1.1 Eficiência de mercado A concorrência perfeita é aquela em que o mercado funciona em pleno, uma vez que ninguém tem poder de influenciar o preço atingindo a situação óptima. • Eficiência Para Pareto, o óptimo e a concorrência garantida estão apenas ligados à eficiência. • Óptimo de Pareto Posição onde não é possível melhorar em qualquer dimensão sem piorar noutra. • Teoremas fundamentais do bem-estar 1º Teorema: qualquer equilíbrio competitivo é Pareto óptimo 2º Teorema: qualquer ponto Pareto eficiente pode ser obtido por equilíbrio competitivo. Os teoremas também podem ser designados de Teoremas da Mão Invisível, porque formalizam a ideia de A. Smith. • Externalidades Custos ou benefícios que não passem pelo mercado, como a poluição e os bens públicos. 2. IMPERFEIÇÕES NA CONCORRÊNCIA � Razões do poder de mercado (padrões de custo e proc ura e barreiras à concorrência)

a) Padrões de custo e procura quando a curva de custos relativa a uma certa tecnologia define a zona de produção da empresa que é economicamente razoável. Se essa dimensão da produção for muito próxima da quantidade procurada, então o número de empresas que são possíveis nesse mercado é relativamente baixa.

b) Barreiras à concorrência relacionado com motivos não económicos. A existência de leis que podem ter motivações económicas (lei que protege patentes por forma a fomentar a criatividade) ou não (leis que impõem serviços públicos ou barreiras alfandegárias) mas que forçam a existência de limites à concorrência é uma das principais causas da falta de concorrência nos mercados. Há ainda barreiras naturais (geográfica) e artificiais (publicidade) que impedem a livre competitividade entre todos os potenciais participantes num mercado. Concorrência perfeita: regra do óptimo P=cm

2.1 Monopólio • Benefício ou receita marginal Diferença entre dois rectângulos que representam o produto do preço pela quantidade, ou seja, a receita. • Curva da oferta O monopolista não a tem, porque não existe uma curva que relacione p e q mas sim três.

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• Lucro anormal ou não económico Porque ultrapassa a definição económica simples de lucro. • Políticas de intervenção por parte do Estado As políticas de intervenção existem pelo facto dos monopólios serem maus sistemas de produção. Estas políticas utilizam instrumentos (nacionalização da empresa, a fixação de preços, lançamento impostos sobre o monopolista para sugar o lucro). 2.2 Oligopólios Existem algumas empresas, poucas, que concorrem no mercado de um produto. O facto de serem poucas dá a cada um poder de mercado (poder de influência sobre o mercado). Não quer dizer que não exista concorrência entre elas. Exs: Coca Cola e Pepsi; Boeing e Airbus. Antoine Cournot foi o primeiro economista a tratar seriamente o problema do oligopólio. • Oligopólio coligado Algumas empresas, poucas, que dominam um mercado, mas, além disso, combinam entre si estratégias, preços e quantidades. Também se chama cartel ou trust e tem um resultado parecido com o monopólio. Cartéis internacionais mais conhecidos: as sete empresas multinacionais na primeira metade do séc. XX (as 7 irmãs) e a partir de 1973 a OPEP. Ver p. 171. 2.3 Teoria dos jogos A situação de oligopólio reduz-se sempre a um jogo. Cada elemento toma a sua decisão sabendo que o resultado depende do que o outro fizer. Para estudar estes fenómenos existe a Teoria dos Jogos. I) Estratégias dominantes Ver ex. p. 172. Os 2 jogadores têm estratégias dominantes porque o que quer que o outro escolha, cada um deles deve escolher »preço normal». II) Equilíbrio de Nash Caso em que se as empresas escolhem preço baixo ganham mais as duas. Ver ex. p. 173. «Equilíbrio de Nash» ou «Equilíbrio não cooperativo» onde cada empresa, dada a estratégia da outra, não pode fazer melhor que estar aí. III) Dilema do prisioneiro Ver p. 174 IV) Estratégias mistas Ver ex. Sherlock Holmes/Moriarty uma vez que qualquer dos jogadores pode fazer qualquer uma das coisas, dependendo do que o outro fizer – não há solução. Isto quer dizer que não existem «estratégias puras», ou seja, uma actuação clara para seguir por cada jogador. Existem, sim, «estratégias mistas», i.e., mistura das 2 estratégias básicas, entrando em conta com o peso dos ganhos e perdas em cada caso. 2.4 Concorrência monopolística Existem muitos produtores (como na concorrência perfeita) mas cada um deles produz e vende um produto ligeiramente diferente do produzido por qualquer dos outros. Assim, na sua produção particular, cada empresa é um monopólio, mas como os produtos satisfazem necessidades quase iguais, existe uma intensa concorrência entre eles. Ex: mercados, como o dos vinhos, bombas de gasolina, remédios e apartamentos. • Implicações As diferentes marcas de um mesmo produto captam também algo deste caso. Claro que cada tipo de vinho ou pasta dentrífica tem diferenças face aos seus congéneres, mas se o seu preço for muito distante do praticado pelos outros, os consumidores iriam mudar de escolha.

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C) TEORIA MONETÁRIA 1. MOEDA � Características que um bem deve ter para ser uma bo a moeda 1) Divisibilidade: importante por causa dos trocos 2) Durabilidade:a degradação do bem altera-lhe o valor e dificulta o seu uso como padrão das trocas. 3) Aceitabilidade geral: se não for reconhecida por todos, não cumpre a função de meio de troca. 4) Ter reduzida procura não monetária: para evitar flutuações no montante disponível de moeda. 5) Manter o valor: se o valor da moeda varia, torna-se difícil o seu uso. 6) Ser prática de movimentar: um bem muito pesado ou volumoso torna-se difícil de usar nas trocas. 7) Dificilmente falsificável � Actividade bancária Ver p. 188 � Moeda fiduciária Passava-se da moeda de papel para o papel-moeda. Quando o Estado entrou no negócio, lançou uma lei que obrigava as pessoas a aceitar e a transaccionar em moeda de papel, sem a poderem trocar por ouro – tornou assim o papel inconvertível em ouro. Isto tornou a moeda independente do ouro – o papel passou a ser a moeda, enquanto que antes ele apenas representava a moeda. � Inflação A moeda só vale porque nós dizemos que ela vale. A nossa confiança no sistema é o único suporte de valor da moeda. Mas se todos desconfiarmos da moeda e nos quisermos livrar dela, não podemos fazer bancarrota porque a lei obriga-nos a aceitar a moeda. A única solução é comprar bens ou moedas de outros países. Como os bens são limitados, e todos os querem, o valor das coisas sobe e o valor da moeda cai porque ninguém a quer. A este fenómeno chama-se inflação ou desvalorização da moeda. Ex: situações em que o Estado inunda o país de moeda para pagar as suas despesas. � Moeda escritural Os bancos, em consequência da monopolização da emissão de moeda de papel pelo Estado, foram impedidos de participar nesse negócio. Mas não se renderam. Convidaram-nos a depositar, não o nosso ouro, mas as nossas notas e moedas estatais. Eles guardam-nos os valores, enquanto nós fazemos transacções, ordenando ao banco que movimente a nossa conta, assinando nós um cheque. Agora, a moeda que o banco emite é o cheque – chamado moeda escritural. � Moeda electrónica Transacções feitas através de temrinais de computador, no qual a conta bancária +e movimentada directamente. Atenção: os cartões Multibanco que apenas servem para levantar dinheiro, não são moeda, pois não são meios para fazer transacções só quando usados para fazer compras. 2. CRÉDITO, BANCOS E POLÍTICA MONETÁRIA Não há uma definição de moeda mas muitas: Circulação monetária: notas e moedas emitidas pelo Estado através do Banco Central (em Portugal é o Banco de Portugal). Depósitos à Ordem: sobre os quais se podem passar cheques sem restrições. Depósitos a Prazo: menos utilizáveis em transacções, porque só se podem passar cheques sobre eles em certas condições, nomeadamente ao fim de certo prazo. São menos «líquidos». I) Multiplicador do crédito A alma do negócio bancário está em emprestar o dinheiro que não é seu. Mas não pode emprestar tudo para o caso de algum depositante vir levantar parte do dinheiro e porque a lei obriga a ter certas reservas (reservas legais). Para garantir que o banco pode cumprir as suas responsabilidades, ou seja, devolver aos depositantes o dinheiro emprestado.

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O banco cria moeda, ao emprestar parte do dinheiro dos depositantes. O processo repete-se (ver p. 193). Este processo de criação de moeda é um círculo vicioso. Este processo só acaba quando as reservas forem todas necessárias, ou seja, quando as reservas forem exactamente 10% do total dos depósitos, não é possível retirar essas reservas do banco. Neste caso, o banco já não pode dar mais dinheiro em crédito. Todo este processo teve em conta só um banco e supondo que o que as pessoas recebem é novamente depositado no banco. Na realidade, existem pessoas que podem não querer depositar todo o dinheiro ficando com algum em casa, e não existe só um banco mas muitos, o que significa que o crédito criado num banco é depositado noutro. Neste caso, o funcionamento do sistema atrás exposto não é alterado mas tem que se ter em conta a totalidade do sistema bancário. II) Bancos e juro Por forma a ganhar dinheiro, o banco emite crédito. O que ele recebe por esse crédito é o juro, que é pago por quem pedir emprestado. Como os montantes pedidos são diferentes de pessoa para pessoa, a forma mais fácil de definir esse pagamento é através da taxa de juro. Taxa activa: é a taxa de crédito. O que os bancos recebem por emprestar dinheiro. Taxa passiva: é a taxa dos depósitos. O que os bancos pagam pelos depósitos efectuados Prazo ou maturidade: é o tempo de duração do depósito ou do contrato. Regra geral, quanto maior o prazo, maior a taxa porque como o dinheiro está disponível por mais tempo, logo pagará mais por mês ou por ano. Aqui reside a diferença entre taxa de curto e longo prazo. Liquidez: quanto mais fácil for movimentar o dinheiro (maior liquidez) menor é a taxa recebida pelo depósito. A liquidez pode, entre outras razões estar ligada ao prazo e às condições de movimentação da conta. Risco: quanto mais arriscado é um crédito mais caro ele é. O banco só arrisca emprestar dinheiro se lhe pagarem bem. Custos administrativos: pagos a partir das receitas do banco, obtidas na diferença entre a taxa activa e passiva. Quando um banco tem custos altos, vê-se obrigado a subir as taxas dos seus créditos e a descer as dos seus depósitos, levando a uma fuga de clientes para a concorrência. Taxa de juro positiva: relaciona-se com o custo marginal (quem se abstém de consumir hoje) e o benefício marginal (quem tem hoje dinheiro disponível para consumir ou investir) da movimentação do dinheiro através do tempo. Assim, o facto de na maioria das situações a taxa de juro ser positiva significa que, normalmente para as sociedades o benefício de ter já hoje é maior do que a possibilidade de adiar para amanhã. III) Política monetária O Banco Central não tem poder de definir directamente os depósitos e créditos, mas pode influenciá-los e, como é da sua responsabilidade orientar e controlar o sistema, é essencial que o faça e é nisso que consiste a política monetária. Os meios que o Banco Central tem para influenciar o montante total de moeda em circulação são: A) Lançar ou retirar moeda da circulação A forma de o Banco Central controlar a base monetária é através da compra e venda de títulos – obrigações do Estado. Assim a emissão de moeda é feita por operações de mercado aberto. O BC compra ou vende títulos do Estado quando quer emitir (ou contrair) a moeda. Outra forma de emitir moeda é através de empréstimo aos bancos. Porém, é preciso convencê-los a pedirem emprestado. A maneira é através do preço desse crédito, a que se chama taxa de redesconto. Se o BC descer essa taxa, os bancos são levados a pedir dinheiro à fonte primária (BC) par o emprestarem a taxas maiores e fazerem lucros. Assim, o BC está a emitir moeda. Assim, se a taxa de redesconto está baixa, é um incentivo para os bancos baixarem as suas taxas de crédito. O redesconto caíu em desuso devido à maior eficácia das operações de mercado aberto. B) Influenciar as reservas dos bancos Atrás já foi mencionado o facto de o BC obrigar os bancos a ter uma percentagem dos seus depósitos em reservas. É o BC que controla essa lei, fixando a taxa de reserva legal. Se o BC subir esta taxa está a mobilizar mais dinheiro, não podendo por isso ser emprestado em crédito, descendo assim o montante de moeda no país. Sendo as reservas um elemento essencial

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do processo de crédito, logo a taxa de reserva legal é uma arma muito forte, afectando largamente o multiplicador monetário. C) Regulação directa O BC pode «mandar» nos bancos, uma vez que ele representa o poder do Estado. A sua influência pode ir desde o aconselhar até ordenar a eliminação de um banco que se esteja a «portar mal». Assim, os vários exemplos são: fixação das taxas de juro e limites de crédito. 3. PROCURA DE MOEDA E MERCADO FINANCEIRO � Funções da moeda A maior parte das apresentações das funções da moeda dividem-nas em três: Intermediário geral das trocas: foi a primeira função da moeda – foi o propósito da contrapartida corrente nas trocas económicas. Unidade de conta: a moeda torna-se no padrão comum de medida de valor. Reserva de valor: as trocas não são sempre feitas instantaneamente e por isso a moeda tem de guardar valor em si, para o transferir para o futuro. � Determinantes da procura de moeda I) Razões da procura

A moeda é melhor porque é mais líquida. Quanto mais trocas se fazem, mais se quer moeda e o número de trocas está ligado à actividade produtiva. Assim, a procura de moeda está directamente relacionada com o nível de actividade económica, medido por exemplo pelo produto do rendimento. A procura de moeda, depende positivamente do nível de rendimento.

� Equação de Fisher Do atrás exposto surge a equação das trocas ou equação de Fisher, cuja ideia é muito simples: como intermediária das trocas, a moeda depende do montante delas. Como cada troca tem sempre a moeda como contrapartida, o valor da moeda tem de ser igual ao valor das trocas. M = P x T em que: M = montante da moeda em circulação P = nível geral dos preços T = transacções realizadas P x T = valor das transacções realizadas no certo período de tempo – um ano por exemplo. Como cada moeda faz mais do que uma troca, é possível o conceito de «velocidade de circulação da moeda», o número de transacções que cada moeda faz por ano. A equação ficará então: M x V = P x T E se se medir o número de transacções pelo produto (y) alterando correspondentemente V, a forma corrente da equação de Fisher ficará: M x V = P x Y Esta equação indica-nos uma forma de relacionar os preços, a actividade produtiva e o funcionamento do sistema monetário e financeiro (V) com a moeda. II) Bolsa A Bolsa é um mercado financeiro em que o preço dos títulos (acções, obrigações, opções, etc) sobe e desce conforme a procura e a oferta. Uma acção pode ver o seu valor subir ou descer porque se pensa que as perspectivas do valor futuro da produção desse capital irá aumentar ou diminuir. Tudo isto se relaciona com expectativas e perspectivas fortemente subjectivas. Assim, o estado de espírito dos investidores é uma determinante essencial da evolução da Bolsa. Bolhas especulativas: Estão ligadas ao facto atrás exposto. São situações cumulativas onde um certo estado de espírito afecta a Bolsa e esta, por sua vez, agrava o estado de espírito, criando círculos viciosos não

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amortecidos, que crescem cada vez mais com a variação. Este círculo vicioso pode levar as acções a subir acima de qualquer valor realista. Quando alguns algentes prevêem que as acções não vão subir mais, tentam vendê-las com valores muito inflacionados. Esta venda faz subir a oferta e dá lugar à tendência para baixar o preço, podendo aumentar o espírito de desconfiança. Se se entrar uma vez mais em círculo vicioso, a descida será tão rápida e dramática como foi a subida - é a este processo que se chama «bolha especulativa», que incha e explode em pouco tempo. Por isso, a subida geral e acelerada das cotações acaba normalmente com um crash ou queda repentina. Teoria do mercado eficiente: O mercado incorpora toda a informação relevante no seu preço, ou seja, quando a uma empresa acontece algo que lhe sobe as expectativas de ganho futuro (ex. descoberta de petróleo na cave), a procura das acções dessa empresa sobe imediatamente e o preço sobe logo, pelo que ninguém tem garantida a possibilidade de se aproveitar dessa informação. Os mais rápidos ou sortudos, ganharam desta vez. Também na Bolsa «não há almoços grátis. Não há portanto, forma de ser rico rapidamente ao jogar na Bolsa porqur o factor principal é a imprevisibilidade. III) Taxas reais e nominais A diferença está na unidade de medida. A taxa real é medida em unidades de bem e a taxa nominal é medida em moeda. Claro que a moeda é uma forma de medir o valor dos bens mas é um metro elástico cujo valor varia consoante o nível geral dos preços. Assim, a diferença entre taxa é a taxa de juro nominal é igual à taxa real somada à taxa de inflação: i = r + π em que i = taxa nominal r = taxa real π = taxa de inflação IV) Conclusão A procura de moeda depende das características do intermediário das trocas e da reserva de valor. PARTE III. OS DOIS CONFLITOS BÁSICOS A) DISTRIBUIÇÃO E POBREZA 1. Mercados de factores � Rendimento e transferências Rendimento: está intimamente ligado à actividade produtiva, visto que corresponde ao dinheiro recebido como remuneração dos factores (terra, trabalho, capital) detidos pelo agente. Todas as rendas, salários, juros e lucros que uma família ou país recebe, constituem o total dos seus rendimentos. Transferências: está relacionado com o facto de após receber o rendimento, o agente paga e recebe dinheiro devido a outras actividades. Assim, ele vê-se obrigado a passar parte desse ganho para outros, através de impostos, multas, ofertas, etc. Por outro lado, recebe subsídios (abono de família, reforma) e ofertas (por ex. remessas de emigrantes para a família) que lhe trazem dinheiro. São estes movimentos pecuniários desligados da produção que se chamam «transferências». Os rendimentos resultam directamente do funcionamento dos mercados de factores produtivos. � Circuito económico Ver p. 218 � Procura de factores produtivos O mercado de factores produtivos é um mercado como outro qualquer, com uma oferta e uma procura. A procura de factores produtivos tem muitas semelhanças com a procura de bens, mas também algumas diferenças:

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É interdependente entre os vários sectores (manifestação da economia em que tudo tem a ver com tudo) Procura derivada: as empresas não procuram trabalho pelo trabalho mas porque querem vender. As empresas só querem factores porque as pessoas querem bens. � Produtividade marginal dos factores É o benefício adicional de uma unidade de L (trabalho), T (terra) ou K (capital), ou seja, o montante de bem adicional produzido, multiplicado pela receita marginal desse montante adicional de bem. O óptimo dar-se-á quando existir igualdade entre os dois lados, ou seja, preço do factor, por exemplo salário, for igual ao produto da receita marginal física do trabalho. � Regra óptima de distribuição Garante a eficiência. Consiste em igualar o preço do factor à sua produtividade marginal. I) Terra � Renda económica pura Acontece em todos os recursos ou bens em que a oferta é perfeitamente rígida. Por exemplo, a oferta de quadros de um pintor morto; a oferta de génios (Einstein só há um tal como Pelé ou Beethoven). Nestes casos, quem vende está completamente à mercê da procura para definir o preço. À remuneração destes bens chama-se renda económica pura. É uma renda porque se todos os compradores combinarem entre si, podem descer até zero o preço, não podendo a oferta fazer nada senão continuar a oferecer a mesma quantidade. II) Trabalho Ao contrário da terra e do capital, compostos por coisas, o trabalho é composto por pessoas. � Efeito substituição e efeito rendimento Ver p. 224 III) Capital � Capital físico Consiste no factor produtivo propriamente dito: todos os instrumentos de produção que são utilizados no processo, distinguindo-se três tipos de capital físico:

- as estruturas (edifícios onde se faz a produção, os sistemas de abastecimento de água ou energia)

- equipamento (máquinas e outros instrumentos de produção) - stocks (formados pelo armazenamento de matérias-primas ou produto acabado, para uso

futuro) � Capital financeiro Não é directamente um factor produtivo, mas representa a posse do capital físico e facilita a sua transacção. Ex: acções, obrigações e letras, e depósitos. O papel não produz nada mas representa o capital físico. Acções: representam a posse directa de capital Obrigações e letras: constituem as dívidas desse capital Depósitos: baseiam-se na entrega de dinheiro a um intermediário que depois o transformará em capital. � Lucros, dividendos e juros Um bem de capital tem como característica essencial o facto de custar um valor hoje e fornecer em troca, uma sequência de ganhos no futuro:

- lucros da venda da sua produção - dividendos (lucros da empresa distribuídos aos accionistas) - juros decorrentes de um depósito ou obrigação

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2. POBREZA E EQUIDADE � Tipos de pobreza Da má distribuição nasce a pobreza que pode ser dividida em 4 tipos: 1º tipo de pobreza => subdesenvolvimento em que o total da produção da economia (o bolo global) é demasiado pequeno para dar uma quantidade satisfatória a todos. Prevalece nos chamadas países do «terceiro mundo». 2º tipo de pobreza resulta de choques e perturbações que a economia sofre (flutuaçaõ económica) afectando certos estratos da economia menos favorecida. A flutuação económica é a causadora do aumento da pobreza verificado em períodos de crise e depressão. 3º tipo de pobreza resulta de uma má distribuição do bolo global e só nasceu quando depois da Revolução Industrial algumas economias modernas resolveram o problema anterior de subdesenvolvimento crónico. Aqui, a pobreza liga-se à equidade já que a pobreza resulta de uma desigualdade de acesso aos bens produzidos, causada por desigualdades sociais e económicas. 4º tipo de pobreza aparece mesmo quando uma sociedade resolveu, em boa parte, os seus problemas de desenvolvimento, estabilidade e distribuição. São situações de pobreza, marginalização e isolamento que resultam de «doenças» pessoais e sociais. � Círculo vicioso da pobreza É uma constatação que a pobreza tem características cumulativas de circuito vicioso. � Armadilha da pobreza As várias causas de um certo estado de pobreza constituem uma armadilha da pobreza. � Estratégias da solução A distribuição de transferências directas (esmolas, programas directos de combate à pobreza) para os mais pobres foi o grande falhanço nas estratégias contra a pobreza. O fiasco deveu-se ao facto dessa política dirigir-se mais às manifestações do que às causas da situação. Estas transferências directas só se justificam para casos e situações especiais onde a pobreza é de natureza transitória. Exs: calamidades (secas, terramotos, guerras) ou situações pessoais de dependência (doentes, crianças, velhos). As transferências directas podem acompanhar outras estratégias de combate ao problema. A redistribuição directa dos factores produtivos actua mais concretamente no 3º tipo de pobreza. A má distribuição da terra e do capital está normalmente na origem da desigualdade e consequentemente da pobreza. Por forma a resolver o problema de modo mais natural e economicamente mais directo recorre-se a políticas de redistribuição de activos (reforma agrária, confiscação e nacionalização de capital). � Estabilização e desenvolvimento São meios importantes de combate à pobreza. � Definições do conceito de igualdade Há pelo menos três:

- igualdade de direitos políticos, que consiste na eliminação das discriminações. Esta igualdade realiza-se na sociedade democrática.

- igualdade de direitos económicos, que consiste na necessidade de toda a gente partir da mesma situação com iguais regras de jogo.

- igualdade de resultados económicos, que se atinge quando toda a gente se encontra sempre na mesma situação económica.

� Eficiência e equidade A maior parte dos autores fala de conflito entre a eficiência e a equidade. Tem-se verificado que se o bolo é mais bem distribuído, fica mais pequeno. Mas se o mercado funciona bem o conflito é muito pequeno � Teorema de Caose

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Supondo que uma pessoa é dona de todos os factores. Se é racional vai afectar cada factor de forma a que o benefício marginal do uso de cada factor em cada produto seja igual em todos os produtos. Porém, se os factores produtivos forem distribuídos por muitos e não houver custos de negociação entre as pessoas, e como todos são racionais, a afectação final de valores vai ser exactamente igual à anterior. Eis aqui a aplicação do Teorema de Coase. B) CICLOS ECONÓMICOS 1. ABORDAGENS AO PROBLEMA Este capítulo e seguintes trata dos problemas relativos ao conflito estabilidade-desenvolvimento. Este conflito tem como razão essencial o facto do desenvolvimento económico consistir no aparecimento de novas ideias, que desafiam as estabelecidas. Uma economia muito dinâmica não pode ser estável. Mas a estabilidade é um valor em si. As perturbações reduzem a confiança, limitam as transacções, turvam os preços como mecanismo de afectação. Os problemas de desemprego, inflação, insegurança de investimentos, risco nas transacções, estão estreitamente ligados à instabilidade. Daqui nasce o conflito: só é possível conseguir a estabilidade sacrificando o desenvolvimento e o desenvolvimento sacrificando a estabilidade. Este conflito é essencialmente um fenómeno de curto prazo tendo como exemplo o desemprego, que causa perdas de eficiência e de equidade. O conflito estabilidade-desenvolvimento consiste numa manifestação dinâmica do conflito eficiência-equidade mas introduzindo o elemento tempo. O desenvolvimento consiste na eficiência ao longo do tempo. O desenvolvimento consiste na eficiência ao longo do tempo, enquanto na estabilidade está ligado à equidade ao longo do tempo. Esse conflito manifesta-se normalmente através da existência de ciclos económicos relacionados com o facto do mercado ser continuamente perturbado pelo aparecimento de novas ideias, novos produtos, etc. � Lei de Say Esta lei de Say ou lei dos mercados diz que se a economia individual funcionasse bem, não haveri aproblemas globais. É porque pretende consumir que o agente oferece a sua produção - «a oferta cria a sua própria produção». � Desequilíbrio Em 1936, na sequência da Grande Depressão de 1929, John Maynard Keynes diz que a partir do comportamento dos agentes individuais é muito difícil chegar à análise global. Segundo Keynes, a economia agregada está em desequilíbrio. Agregação: devido à fragilidade do conhecimento humano, quando se ganha em visão de conjunto perde-se em pormenor. Segundo Keynes, a existência de ciclos económicos +e a demonstração de que o mercado funciona mal, construindo uma nova teoria baseada em:

i) não parte de princípios simples (racionalidade, equilíbrio) para descrever os fenómenos, mas sim de hipóteses directas sobre certos tipos de comportamento.

ii) parte da ideia de que a Economia deixada a si própria já não atinge o equilíbrio óptimo, sendo necessário a intervenção do Estado, a política de estabilização. Ex: o problema do desemprego – ver p. 244 e seguintes

� Políticas de estabilização Descrito no tópico anterior 1.1 Medição Económica • Aproximação do preço à utilidade média Desde a primária, toda a gente sabe que não se podem somar bananas com laranjas. Os números para poderem ser adicionados devem estar definidos nas mesmas unidades. Ora, o que se pede ao calcular os agregados económicos e exactamente que se somem as banas, as laranjas e todos as outras frutas com os produtos metalúrgicos, bancários e artísticos. Como não os podemos somar directamente, temos um problema. O que se pretende medir é a utilidade total. Bastava saber a utilidade média de cada produto, multiplicar pela quantidade consumida desse produto e somar para todos os produtos. Assim, o produto da utilidade média pela quantidade seria igual à utilidade total. Porém, não conseguimos que ninguém nos diga qual a utilidade média de um bem, quanto mais conseguir a utilidade média de toda a sociedade. Em vez da utilidade média, há outra coisa que se

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aproxima: o preço. O preço é medido numa unidade clara: a moeda, que, aliás, foi criada exactamente para ser a medida de valor. Por outro lado, o preço, toda a gente o sabe, pois é divulgado pelo mercado. Para além disso, o preço, embora não seja igual à utilidade média, está relacionado com ela. É uma aproximação daquela, mas uma má aproximação. • Razões pelas quais os indicadores agregados são um mau indicador de utilidade

- o preço, no mercado concorrencial, é uma aproximação da utilidade marginal e não da utilidade média, significando que ao medir a utilidade pelo preço, fica de fora o excedente do consumidor, que não passa pelo mercado.

- O preço só é aproximação da utilidade marginal se os mercados funcionarem bem, sem externalidade, intervenções estatais, monopólios, etc.

- Não englobam bens como o ar que respiramos, uma paisagem, cuja utilidade média é alta mas a marginal é nula.

- Não mede adequadamente o valor dos bens que não são transaccionados no mercado e por isso não têm preço, como o amor ou a amizade.

• Produto real e produto nominal A diferença entre produto real e produto nominal é que os mesmos produtos calculados a preço do mesmo ano (preços correntes) dão o valor do «produto corrente ou nominal». Se usarmos os mesmos preços, apenas variando as quantidades temos o «produto real». • Deflator Ao aumento de volume e ao aumento dos preços provocando uma variação dos preços chama-se variação do deflator ou deflacionador do produto. A) Produto � Produto nacional Verificando o fluxo à saída das empresas, mede-se o montante de bens produzidos, a que se chama produto nacional – a soma dos bens realizados e comprados. � Valor acrescentado É aquilo que o produto vale, no momento da venda, a mais do que valiam as suas partes componentes que a empresa comprou, já produzidas.

B) Despesa � Despesa nacional Na despesa nacional contrariamente ao produto nacional, só interessa ver a despesa em bens finais. A grande diferença entre esta forma de ver e a anterior é que agora identificamos os sítios para onde vão os produtos e não de onde vêm. Normalmente, separa-se a despesa por tipo de utilização: consumo ou investimento e dentro do consumo se é:

- consumo público (do Governo) - consumo privado (das famílias)

e se existem relações com o estrangeiro (exportações) se vendemos, e se compramos (importações). A expressão será: D = C + G + I + E - Im D de Despesa; C de Consumo privado; G de Consumo público; I de Investimento; Exportação de Exportação e Im de Importação. C) Rendimento � Rendimento nacional A terceira forma de medir o mesmo fluxo é fazê-lo no lado do mercado dos factores (terra, trabalho e capital). O rendimento nacional vem dividido em vários pagamentos conforme o factor que é remunerado:

Salários (w) => trabalho Rendas (Re) => terra Juros (J) e Lucros (L) => capital

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Temos então a seguinte expressão: R = W + Re + J + L � Depreciação do capital Houve uma coisa gasta para produzir os bens e que não foi considerada: o gasto das máquinas. Na prática, nós não pagamos isso mas daqui a uns anos a máquina deixa de funcionar e então, de uma só vez, temos de pagar tudo. Logo, em cada ano devíamos calcular o valor que gastámos do capital neste ano e que se chama: amortização, depreciação ou reposição do capital. � Transferências Quando os rendimentos são entregues aos que os ganharam (e até antes) há logo perturbações. Impostos, subsídios, ofertas, movimentos de dinheiro que nada têm a ver com o pagamento dos factores mas que no fim determinam quem fica com o dinheiro => são as transferências. � Poupança e riqueza Há que distinguir entre rendimento e riqueza. Rendimento é um fluxo enquanto a riqueza é um stock, resultado da acumulação de tudo aquilo que o país foi juntando por sucessivas poupanças e é composto pela moeda, pela propriedade (terras, quadros, máquinas) e os títulos financeiros (acções, obrigações, etc). 1.2 Cuidados com as estatísticas As estatísticas são medições numéricas da realidade. O uso correcto destes números exige um certo tipo de cuidados especiais para evitar uma grande quantidade de armadilhas e falácias em que muitas pessoas caem. Toda a estatística se baseia num olhar para a realidade, que terá de ser sempre selectivo. As estatísticas gostariam de medir tudo mas não conseguem. Só se consegue medir directamente o que tem preço, ou seja, o que passa pelo mercado. A) Amostragem Como é impossível atender a todas as situações, medem-se algumas e depois usam-se métodos especiais que nos permitem avaliar todas as situações. Assim se fazem as previsões eleitorais, os ensaios de medicamentos ou os testes de qualidade nas fábricas: escolhe-se uma amostra, analisa-se o problema nesse campo e depois a conclusão é extrapolada (cientificamente) para o universo. A forma de extrapolar da amostra para o universo baseia-se na «teoria estatística», a qual exige que a amostra seja «aleatória», isto é, perfeitamente ao acaso. B) Medidas de localização Mas mesmo a informação reduzida de uma amostra é demasiado para nós. Uma vez obtida a amostra, queremos ter informação mais concreta. Para isso, a teoria estatística utiliza as medidas de localização: � Média A mais usada, que é a construção aritmética feita sobre os valores da distribuição � Moda Que representa o valor mais vezes observado � Mediana É a observação do meio, aquela em que tem tantos valores observados acima como abaixo � Distribuição «Normal» Ver p. 267. Esta distribuição representa o caso mais comum: um valor normal à volta do qual está a maioria dos casos. Nesta distribuição, a moda, a média e a mediana têm o mesmo valor, o que está a meio, não fazendo diferença qual das 3 medidas usar. Porém, há muitos casos em que a distribuição não é normal (ver ex. sapatos).

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C) Medidas de dispersão Não basta ter uma ideia de «à volta de quanto anda o problema». É fundamental ter também ideia de qual o grau de confiança que se pode ter nessa informação (ver p. 268). D) Informação errónea Um dos erros (ou manipulação) mais frequentes na interpretação das estatísticas, e um dos mais difíceis de evitar dá-se quando a informação que se fornece é verdadeira, está relacionada com a conclusão mas não é a informação relevante para a conclusão. Ex: a aoposição centra-se no último período de expansão e o Governo escolhe o fundo da última crise, para que o momento actual pareça pior ou melhor do que é. E) Correlação errónea Aparece na falácia post hoc. Ver exemplo p. 269. Uma verdadeira correlação, resultado de um nexo de causalidade demonstrado, não explica casos individuais. Trata-se de uma relação média que se verifica em tendência e que pode e deve ter excepções. F) Representação errónea Um dos meios mais fáceis de dar uma ideia errada de um número é representá-lo num gráfico. Um gráfico é uma das formas mais simples de sugerir uma interpretação errada das estatísticas. Ver pp. 270 e 271. G) Conclusões È essencial ter muita atenção quando um número é invocado para suportar um argumento. A maior parte das pessoas confia instintivamente, quando uma estatística é invocada É bom fazer as seguintes perguntas: Quem diz? / Como é que ele sabe? / O que é que falta? / Será que alguém mudou o assunto? / Será que faz sentido? 2. O EQUILÍBRIO ECONÓMICO GLOBAL 2.1 O equilíbrio geral walrasiano Até agora as análises feitas eram de equilíbrio parcial (discutia-se um consumidor ou um produto como se as suas escolhas não afectassem os preços, discutia-se um mercado como se o que se passava no outro não o afectasse). O truque estava em dizer que o agente que analisávamos (o consumidor, a empresa, o mercado) era muito pequeno, pelo que não afectava quase nada. Mas afecta sempre, porque em Economia tudo tem a ver com tudo. Ao entrar na análise global, temos o equilíbrio geral walrasiano que significa determinar simultaneamente o vector de preços (de todos os bens e factores) que equilibram todos os mercados. Assim, se um mercado está em desequilíbrio, a sua influência sobre os outros vai fazer com que os outros mercados, possivelmente também fiquem em desequilíbrio. Quem conseguiu pela primeira vez esta análise global foi Léon Walras. 2.2 Economia de Robinson Crusoé Ver pp. 278 e 279 2.3 A Economia descentralizada Na economia descentralizada seria um choque do petróleo ou um mau ano agrícola. O que isto quer dizer é que há uma descida da função de produção, que traz o novo ponto de óptimo que pode ser decomposta em dois tipos de efeito: efeito substituição e o efeito rendimento. Efeito substituição: relaciona-se com a alteração das escolhas entre produto e lazer. Passa a obter menos produto por unidade de lazer. Logo, como o produto é mais caro, consegue menos produto e mais descanso. Efeito rendimento: significa que, agora, mesmo que a produtividade marginal do trabalho não tenha descido, a produção desceu. Logo, desce simultaneamente o consumo de produto e de descanso. Na soma dos três efeitos normalmente o efeito substituição domina o efeito rendimento e, por isso, o descanso sobe e o trabalho desce. Neste modelo, criou-se uma recessão. Na realidade, esse fenómeno causa falências, despedimentos e miséria. Aqui, foi abordado um tipo de choque, dos

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muitos possíveis – este foi um choque produtivo. Este modelo considera consumidores e produtores em 2 bens ao mesmo tempo (produto e lazer). 2.4 A Economia com crédito Aqui será introduzido o tempo, não um, mas dois períodos de tempo (hoje e amanhã). Ao introduzir dois períodos de tempo, o aspecto essencial passa a ser que todas as grandezas económicas têm agora de ter um índice temporal. A razão é que agora, bens iguais em períodos diferentes, são diferentes (batatas hoje são diferentes de batatas amanhã). Para transportar consumo de hoje para amanhã e vice-versa não guardando fisicamente o bem, criou-se um título (um papelinho que se compra hoje por uma unidade e que amanhã rende uma unidade mais juro). O aparecimento deste título permite a transacção através do tempo. O título é a única coisa que passa de um período de tempo para outro. Tudo o resto (consumo, trabalho, etc) desaparece. Paga-se para consumir já e recebe-se se se estiver disposto a adiar. A taxa de juro é o preço do tempo ou o ganho da poupança. • Condições de consistência agregativa É outro dos aspectos que nascem da economia global. São factos que se revelam por se estar agora a tratar do todo:

- para cada pessoa que empresta há uma que pede emprestado - não se podem guardar bens para o ano seguinte, produzindo hoje e consumindo amanhã.

A nível individual esta situação não se verifica. • Taxa marginal de substituição intertemporal Transferência de consumo de hoje para amanhã • Teorema da separabilidade de Fisher Devido à existência de um mercado de crédito, qualquer que seja a distribuição temporal dos rendimentos, o ponto de consumo é sempre o mesmo para as mesmas referências e riqueza. O mercado de créditos permite separar as decisões de trabalhar (ganhar dinheiro) das decisões de consumir. • Efeito de substituição intertemporal Uma alteração na taxa de juro tem este efeito A) Choque temporário Suponhamos que é uma descida temporária (mau ano agrícola). Neste caso a descida é só neste ano. Resultado: ver p. 290 B) Choque permanente Suponhamos que é uma descida permanente (choque de petróleo). Nesse caso, a descida é nos 2 anos. Resultado: ver p. 291 2.5 A Economia como moeda Aqui introduz-se a moeda. Já se viu na teoria monetária que se houver estratégias do Banco Central na actuação dos bancos por forma a modificar o montante de moeda em circulação (moedas, notas, depósitos), altera-se a oferta de moeda. Se variar o produto, os preços, a taxa de juro nominal, varia a procura de moeda. • Condições de consistência agregativa São agora três:

- total de títulos disponíveis é zero (para cada pessoa que empresta há uma que pede emprestado)

- no mercado dos bens não se podem guardar bens para o ano seguinte e só se pode comer o que existe.

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- A moeda não cai do céu.

A) Choque na produção Cada perturbação pode ser decomposta em: Choque do petróleo mau ano agrícola Efeito substituição Efeito substituição Efeito rendimento Efeito rendimento Efeito riqueza

Efeito substituição intertemporal Com a introdução da moeda e a descida do produto, isso tem o efeito de descer a procura de moeda, dando como resultado final uma subida de preços => esta é a história dos choques de petróleo ligados à inflação. B) Choque na oferta de moeda Se o BC aumentasse a moeda, o efeito seria um aumento proporcional dos preços. Um aumento da moeda vai fazer com que as taxas tenham mais dinheiro do que queriam. Como não querem guardar esse dinheiro, tentam gastá-lo. Como não há variação na produção, o único efeito é a subida do preço. O aumento da moeda tem efeito sobre a riqueza, mas a subida de preços faz descê-la e anula esse efeito. C) Choque na procura de moeda Se subir a procura de moeda, isso vai fazer descer os preços. Esta descida de preços reequilibra o mercado monetário. 2.6 A Economia com Estado 1) Choque nos gastos com financiamento com impostos Os gastos públicos, mesmo que para bem dos consumidores, não são controláveis pelos consumidores, pelo que, na prática, o efeito que conta é apenas os impostos. E os impostos são como uma subtracção ao produto. O que é produzido é o mesmo que antes, mas agora uma parte é retirada e vai para o Estado. 2) Choque nos gastos com financiamento com dívida Se o Estado pedir emprestado para pagar o seu consumo de bens. Como não produz nada, a dívida são impostos adiados. Na prática, o que se verifica é que o Estado hoje tira às pessoas, prometendo pagar no futuro, mas no futuro, para pagar o que deve a uns vai tirar a outros. 3) Choque nos gastos com financiamento com moeda Se o Estado puder pagar as suas compras com nova moeda, qual a variação? O Estado tira sempre os bens aos consumidores, que ficam sem eles. Mas agora dá-lhes dinheiro. O aumento de moeda não desejado vai criar inflação e a inflação é um imposto, pois significa que o dinheiro que as pessoas têm no bolso fica menos valioso. As pessoas ficam sem o dinheiro, embora pareça que está na mesma. 3. DESEMPREGO E INFLAÇÃO 3.1 Desemprego Não existe um mas vários tipos de desemprego: I) Desemprego voluntário Este tipo de desemprego é composto pelas pessoas que, ao nível de salários verificado, não querem trabalhar. Trata-se de pessoas que não encontram o tipo de trabalho ou de remuneração que pensam suficiente para justificar o esforço. Ex: a pessoa decide trabalhar em part-time, para po der descansar ou estudar; licenciado em Medicina que se mantém desempregado por não ter lugar como médico – mesmo que possa arranjar trabalho como varredor de ruas, não aceita. O subsídio de desemprego contribui oara aumentar o desemprego voluntário, uma vez que nestas condições as pessoas estão dispostas a esperar mais tempo por um emprego que realmente lhes agrade.

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II) Desemprego friccional Causado por dificuldades de equilíbrio de mercado. Ex: pessoas que deixam um emprego, querem continuar a trabalhar e há emprego para elas, mas ainda não o encontraram. A causa deste desemprego reside nas imperfeições do mecanismo de ajustamento do mercado de trabalho: maus sistemas de informação, dificuldades de transportes e comunicações, são as razões mais frequentes. III) Desemprego involuntário Corresponde mais à visão popular de desemprego em que há falta absoluta de postos de trabalho para as pessoas que querem trabalhar ao salário do mercado. A esse salário as pessoas estão dispostas a trabalhar e não trabalham porque não encontram emprego e não encontram porque não há. 3.2 Inflação Trata-se de uma elevação do nível dos preços, mas que inclui como características essenciais a sustentabilidade e generalidade desse fenómeno. Uma subida de preços só pode ser caracterizada como inflação se ela for continuada e permanente e se simultaneamente, for um fenómeno verificado na maior parte dos produtos. • Inflação inercial É o facto frequente de em economias que sofreram fortes e longos processos de inflação, mesmo quando se reduz ou elimina o fluxo de nova moeda na economia, esta se manter durante algum tempo. • Expectativas de inflação Deve-se ao facto de as pessoas e instituições, habituadas à situação de crescimento continuado de preços, terem dificuldade em se adaptar à nova situação de estabilidade de preços. Aqui reside a dificuldade em controlar as expectativas da inflação. • Curva de Philips Relação entre inflação e desemprego. Segundo esta curva, existia uma relação inversa entre o nível de desemprego e a taxa de inflação. Segundo ela, níveis altos de inflação estavam ligados a baixo emprego. 4. O DEBATE NA ECONOMIA AGREGADA 4.1 A economia keynesiana A ideia central de Keynes é que os mercados não equilibram, pelo menos a curto prazo. Para o mesmo autor, os agentes não são raiconais. Violam-se assim as duas hipóteses-base da Economia: os mercados (ou parte deles) que não equilibram e os agentes que não são racionais (em certas situações). A análise keynesiana centra-se no mercado dos bens, onde ele faz as principais alterações. A) Lado da procura O modelo está dividido em duas partes: a procura e a oferta. No lado da procura, o consumo das famílias é a parte mais importante da despesa da sociedade. • Função consumo Define as principais determinantes do nível do consumo em certo momento. Essas determinantes são: o consumo privado das famílias de uma sociedade e depende fundamentalmente do rendimento dessa sociedade. • Propensão média e propensão marginal ao consumo Propensão média: o peso médio do consumo no produto Propensão marginal: acréscimo de consumo feito por mais uma unidade de rendimento

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• Despesa pública Todas as despesas do Estado em bens e serviços (incluindo o vencimento dos funcionários públicos). B) Lado da oferta • Representação gráfica Ver pp. 321 e 322. C) Equilíbrio Keynesiano • Ponto de equilíbrio Por exemplo, supondo que por cada escudo recebido, o consumo é menor que esse escudo. Neste caso, só há um ponto de igualdade entre a procura e a oferta. É nesta estrutura geral de desequilíbrio que Keynes chama o ponto de equilíbrio. Este «equilíbrio keynesiano» nasce numa estrutura que é de desequilíbrio e de irracionalidade, tendo um significado muito diferente de qualquer equilíbrio estudado até agora. Neste caso, equilíbrio significa que, nesse ponto, a procura total (causada por esse nível de rendimento) é igual à oferta total. • Mecanismo de ajustamento Se a oferta for maior que Y*, as empresas que conseguem vender e vão acumulando stock de bens invendáveis. O que elas vão ser obrigadas a fazer é reduzir a produção. Se a produção for pouca, haverá excesso de pressão sobre os stocks, e as empresas são levadas a produzir mais. Assim, se tende para o ponto de equilíbrio. • Ponto pleno de emprego Embora o ponto Y* seja o ponto de equilíbrio, nada obriga a que este ponto seja o ponto pleno de emprego, podendo a economia manter-se durante muito tempo, de forma estável e sustentada, numa situação de desemprego. Ver p. 324. D) Multiplicador Quando o aumento dos gastos causa imediatamente um aumento de rendimento igual a si próprio, mas desencadeia enormes quantidades de aumentos futuros, devidos ao consumo. O modo como Keynes pretende acabar com o desmeprego é através do Estado gastar dinheiro (ver desenvolvimento na p. 326). Antes de Keynes, Hitler aplicou o seu método com excelentes resultados =< ver pp. 326 e 327. O mecanismo multiplicador, que funciona na subida, também funciona na descida. O efeito multiplicador só funciona bem quando a economia está em estado de depressão. Caso contrário, se a economia funcionar em situação de equilíbrio, aplicar o modelo keynesiano criará uma situação inflacionária. E) Extensões do modelo a) Impostos O dinheiro pago em impostos, em princípio, é considerado perdido pelos agentes, e não afecta as decisões de consumo. Estas só são afectadas pelo que fica depois de pagos os impostos ao Estado. b) Mercado monetário No modelo keynesiano, os preços são considerados constantes. Não há razão para que os preços subam, pois há excesso de capacidade d eprodução. Assim, um aumento de produção (abaixo do pleno emprego) dá-se sem alteração do nível de preços, sendo os preços fixos e o rendimento determinado pelo mercado de bens. Resta-nos um único elemento para ser determinado pelo mercado monetário e que é a taxa de juro. c) Efeito da taxa de juro na procura Visto que a taxa de juro pode ser tomada como o preço ou, mais exactamente, o custo de oportunidade de um investimento, ao subir a taxa de juro desce o investimento e o consumo. Este raciocínio reside na hipótese de que a taxa de juro é o custo do empréstimo que quem quer investir tem de fazer. O juro é o custo para quem investe ou compra a crédito, mas é o ganho para quem poupa e empresta.

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F) Choques na Economia No modelo de equilíbrio geral, parte-se do princípio que a economia funciona bem, com os agentes a tomarem decisões racionais e os mercados com tendência para equilibrarem. No modelo keynesiano, a economia funciona mal. Os agentes são irracionais e os mercados são rígidos. Esta diferença de atitude é essencial para compreender as diferenças dos dois modelos. a) Choques na produção Estes choques que tento efeito tinham no modelo básico, pouco ou nada representam. Dado que existe excesso de capacidade e estamos abaixo da função produção, alterações nessa função não têm impacto no ponto equilíbrio. b) Política monetária Para ver a reacção, consideremos a subida no stock da moeda, aumentando assim a oferta da moeda. Ver exemplo pp. 332 e 333. Situação final: aumento do produto, do consumo e do investimento é descida da taxa de juro. Este efeito é muito diferente do obtido no modelo de equilíbrio geral, onde o aumento da oferta da moeda tinha apenas um efeito inflacionista sobre os preços. c) Aumento dos gastos financiado por dívida Aqui, o resultado é mais parecido com o do modelo de equilíbrio, embora o mecanismo que gera esse resultado seja muito diferente. O impacto imediato da subida dos gastos é uma subida da despesa nacional que, depois, vai aumentar ainda mais, devido ao efeito multiplicador. Ver exemplo pp. 333 e 334 d) Aumento dos gastos financiado por impostos A subida dos gastos faz subir a despesa, o que aumenta o produto pelo multiplicador. Por outro lado, desce o consumo, por aumento dos impostos, o que também tem um efeito multiplicador, mas no sentido contrário, a descer. Qual o efeito total? O efeito líquido da subida dos gastos e dos impostos sobre a despesa é dominado pelo primeiro efeito. Logo, há uma subida da despesa, mas muitomenor que a dos gastos => Teorema Haavelmo. Ver resto na p. 334. e) Aumento dos gastos financiado por emissão de moe da A parte inicial do efeito deste choque é muito parecida com a dos dois casos anteriores: a subida dos gastos faz subir a despesa, o que aumenta o produto pelo multiplicador. Ver resto na p. 334. Política orçamental: quando a economia não se encontra numa situação de equilíbrio, mas sim num estado de depressão, o Governo pode usar os seus gastos ou os impostos para manipular a situação económica. 4.2 O papel do Estado É a questão fundamental de política económica, na segunda metade do séc. XX. • Ao nível do funcionamento dos mercados Os defensores do mercado livre (mão invisível), são contra o Estado, que se deve limitar a ser polícia dos contratos Os defensores do socialismo extremo e do comunismo dão ao Estado o papel de dirigir toda a economia. • Ao nível da gestão da conjuntura (conjuntura global do país) Neoclássicos extremos defendem que a economia deve ser deixada a si própria, e até a emissão de moeda pelo Estado deve ser restringida por regras gerais Keynesianos extremos pretendem que o Estado esteja sempre atento à economia, intervindo sempre que houver necessidade.

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• Ao nível do desenvolvimento económico Há os que defendem o planeamento estatal dos projectos de desenvolvimento; os que querem liberdade de investimento e orientação de mercado. A atitude com maior sucesso de política é intermédia: a economia mista. • Principais responsabilidades económicas do Estado O Estado tem enormes responsabilidades económicas, tais como:

- definir o quadro legal - intervir na afectação dos bens e recursos, principalmente quando se verificam falhas na

concorrência, etc - ter um papel activo na redistribuição da riqueza e combate à pobreza - influenciar a conjuntura económica, através do controle do sistema monetário e financiamento

e do efeito que o orçamento de receitas e despesas estatais têm na economia influenciar as empresas e sectores nas suas decisões de investimento e indicação na linha do desenvolvimento. C) INTERDEPENDÊNCIA MUNDIAL A maior partes das sociedades de hoje são economia abertas porque são economias que têm relações com o resto do Mundo. Não existem grandes diferenças entre relações internas e internacionais: a grande diferença entre elas reside no facto de estas últimas se verificarem entre sistemas económicos diferentes. E a grande diferença entre sistemas situa-se no Estado. Cada país tem um Estado soberano e, embora as empresas e consumidores se comportem de forma paralela, esta diferença traz grandes implicações económicas. A fronteira política pode ser, de facto, uma certa barreira económica: é mais fácil emigrar para Lisboa do que para Paris; é mais fácil e seguro vender para Braga do que para Sevilha, ainda que esta última esteja mais perto. 1. A BALANÇA DE PAGAMENTOS É o registo de todos os fluxos económicos que se fazem através da fronteira, ou seja, das relações económicas da sociedade com o exterior. A balança de pagamentos está dividida em contas ou balança: � Principais contas da balança de pagamentos Balança de mercadoria ou balança comercial: regista as exportações ou vendas (+, crédito) e importações ou compras (-, débito) de mercadorias Balança de serviços: regista as exportações ou vendas ao estrangeiro (+, crédito) e importações ou compras (-, débito) de serviços, ou seja, de transportes, turismo, etc. Balança de rendimentos: regista o pagamento de salários, juros, rendas que os nossos trabalhadores e investidores recebem do estrangeiros (+) e os nossos pagamentos a trabalhadores, investidores estrangeiros (-) Balança de transferências unilaterais: ofertas de dinheiro feitas por eles a nós (+) e nós por eles (-). O total algébrico destas quatro balanças chama-se Balança Corrente (transacções de bens, serviços e remunerações de facturas realizadas neste período e com efeitos também neste período). Balança de capitais: entrada de dinheiro no nosso país (+, crédito). Por exemplo, investimento em Portugal feito por estrangeiros, e as saídas de dinheiro como (+,débito) A balança de capitais normalmente divide-se em: Balança capitais de médio e longo prazo Balança capitais de curto prazo (investimentos, compra acções, empréstimos a Empréstimos a menos de um ano mais de um ano) Balança básica: é o total (algébrico) da Balança Corrente com a Balança Capitais a Médio e Longo prazo, visto que, regista as transacções que têm a ver com os movimentos normais da economia. Balança Operações Não Monetárias: é o total (algébrico) da Balança Corrente com a Balança Capitais. Se a BONM for positiva é porque depois de todas as operações feitas entrou mais dinheiro do que saíu. Se a BONM for negativa quer dizer o inverso. Operações Monetárias ou Variação de Reservas: têm como finalidade compensar o resultado das outras transacções. Assim, se aumentarem as reservas, regista-se a subtrair (débito); se diminuírem regista-se a somar (crédito). Ver quadro resumo da Balança Pagamentos

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� Principais movimentos Cada movimento, pela regra das partidas dobradas, regista-se sempre duas vezes e com sinais contrários (um crédito e um débito). Ex: Exportação => crédito na Balança Corrente e débito na Balança Reservas se o pagamento for em dinheiro; débito na Balança Capitais de Curto Prazo,s e for recebida uma letra. Importação => débito na Balança Corrente e crédito na Balança Reservas Remessa de Emigrantes => crédito na Balança Transferências Unilaterais e débito nas reservas dos bancos Investimento de Portugal no estrangeiro => débito na Balança Capitais a Médio e Longo Prazo e crédito nas reservas dos bancos. � Operações autónomas e não autónomas Operações autónomas: são as que os agentes fazem por si Operações não autónomas: são as que o Estado é levado a fazer, para compensar as autónomas 2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL � Razões associadas à troca Por quê a razão da troca? Porque as pessoas (os países) não são iguais e ganham em bem-estar e utilidade se trocarem. Numa troca, os dois lados ganham. � Ganhos e perdas com o comércio internacional No país que exporta: ganham os produtores (que produzem mais e mais caro) e perdem os consumidores (que têm menos quantidade e mais caro para consumir). No país que importa: ganham os consumidores (que têm mais e mais barato para consumir) e perdem os produtores (que produzem menos e mais barato). Em cada país, a troca faz com que haja mais ganho que perda e, por isso, é sempre possível que os ganhos indemnizem os que perdem, ainda lhes sobrando alguma coisa dos seus ganhos. Uma vez que se vê que numa troca os dois lados ganham, se isso for feito, ninguém fica pior e há alguns que ficam melhor, ou seja, houve melhoria de Pareto. � Vantagem comparativa Será que a existência de troca internacional não sugere a ideia de que o país poderoso vende tudo, fica rico e o país pobre, não lhe consegue vender nada, compra-lhe tudo e fica expoliado? Não será melhor o país pequeno e pobre proteger-se e produzir internamente o que consome? Esta ideia é um dos erros mais antigos e persistentes da Economia e que David Ricardo veio resolver num dos seus teoremas com a ideia de vantagem comparativa. Esta significa que mesmo que um país fosse mais eficiente que os outros em todas as produções, teria ainda interesse em trocar com os outros, tal como um país que fosse eficiente em tudo. Ver exemplo do médico e dactilógrafo (p. 352) e do estudo de Portugal e Inglaterra relativamente a tecidos e vinho (p. 353). 2.1 Política comercial • Proteccionismo (e quotas) Apesar dos economistas sempre terem dito, baseado nas ideias de Ricardo, que o comércio é vantajoso para todos, houve sempre quem defendesse que o país se devia proteger da concorrência estrangeira. Esta foi uma das principais razões para os países instituírem fronteiras, que facilitam o controle dos movimentos externos. Ao longo dos tempos, apareceram muitas formas de «proteger» o país contra a invasão de produtos externos: � Tarifas Cobrança de tarifas ou direitos aduaneiros impostos sobre os produtos importados, que por isso, lhes sobem o preço, tornando-os menos apetecíveis ao consumidor. � Quotas Colocação de quotas ou contingentes que fixam quantidades máximas de importação

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• Justificações A) Motivos não económicos Segundo esta linha de raciocínio, é preciso colocar barreiras para proteger esta indústria, devido a razões não económicas (defesa, cultura nacional, etc) que se sobrepõem à eficiência. B) Motivos económicos inválidos i) Produzir e comprar internamente é bom porque acumula reservas e poupa moeda estrangeira (divisas) – esta é a ideia mercantilista ii) Temos de proteger os produtores nacionais deste sector da concorrência externa iii) Temos de evitar a concorrência do trabalhador estrangeiro barato iv) Retaliação: nós somos pelo comércio livre, e se os outros o praticassem nós eliminaríamos as nossas barreiras mas como os outros países se protegem, é justo que nós o façamos. C) Motivos económicos dinâmicos i) Tarifa óptima Se um país tem grau de monopólio, i.e., se é um país grande relativamente a certo mercado, a distorção que o monopólio introduz pode justificar uma nova distorção que é a tarifa ii) Indústria nascente Pôr a barreira para proteger e ajudar uma indústria que acaba de se fundar e, que, por isso, tem dificuldades em concorrer com as empresas estrangeiras mais experientes. iii) Redução de desemprego Dado que a economia se encontra distorcida e há desemprego, a nova distorção das barreiras pode melhorar a situação. Proteger a indústria é uma maneira de reduzir o desemprego, pois faz subir as exportações e reduzir as importações. 3. OS MOVIMENTOS DE CAPITAIS � Representação das curvas da oferta e da procura de crédito Ver pp. 361 e 362 4. PROBLEMAS MONETÁRIOS INTERNACIONAIS � Taxa de câmbio É o preço da moeda determinado pelo mercado. O equilíbrio entre a curva da procura da moeda estrangeira e a curva da oferta de moeda estrangeira determina a taxa de câmbio, ou seja, quantas unidades da nossa moeda temos de dar pela moeda deles. � Regimes de taxa de câmbio A forma como o governo olha para a taxa de câmbio varia de país para país, criando vários regimes de taxa de câmbio ou políticas cambiais. As mais importantes são:

• Taxa de câmbio perfeitamente flexível ou flutuante O Estado deixa a taxa completamente livre

• Taxa de câmbio perfeitamente fixa

É o oposto. Neste caso, o Estado fixa por lei e mantém-na, como qualquer outro preço tabelado.

• Flutuação controlada

Regime em que se encontra actualmente a maioria dos países desenvolvidos. Trata-se de um regime em que a taxa de câmbio é livremente determinada pelo mercado, tal como nos câmbios flutuantes; só que o Estado, embora respeitando sempre as leis de mercado, não deixa o mercado fixar a taxa de câmbio onde calhar. O Estado consegue essa influência através das reservas. No regime de flutuação controlada, o banco central não pode garantir exactamente o nível da taxa de câmbio, devido ao

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facto de se comprometer a respeitar as regras de mercado, e nesse mercado ele ter uma posição dominante. Porém, alguns bancos centrais sentem-se de tal forma confiantes na sua influência sobre o mercado cambial que se dão ao luxo de anunciarem uma garantia quanto ao nível da taxa de câmbio do seu país, sem usarem a lei ou outra intervenção para além da compra e venda de moeda estrangeira no mercado livre. É o caso do Sistema Monetário Europeu, em que os Bancos Centrais da UE, juntando as suas forças, criaram o «mecanismo de taxa de câmbio» do SME, que era uma garantia de estabilidade para as suas moedas. Assim, era fixada para cada moeda uma «taxa central» e os bancos centrais europeus garantiam que, sem violar as regras de mercado, essa moeda não se afastaria mais do que uma certa percentagem desse nível central.

David Hume e o price-specie mechanism, mecanismo preço-espécie (ouro). O funcionamento é simples: se um país tem défice, paga-o em ouro, ou seja, sai moeda do país. Se houver menos moeda, os preços descem. Com preços menores, o país torna-se mais competitivo (exporta mais e importa menos), o que resolve o problema. 5. IMPLICAÇÕES DA ABERTURA DA ECONOMIA A abertura da economia tem vários efeitos sobre a eficiência das políticas económicas. Aqui será analisado um caso particular (existem muitos outros) que é o de uma economia que se integra com outras, fixando a taxa de câmbio como é o exemplo da União Económica e Monetária da UE. � Igualdades num mercado livre em bens e capital Vimos que a ligação internacional tendia a igualar os preços (pelo comércio internacional) e a taxa de juro. Na altura, não foi considerada a existência de moedas diferentes e a consequente flutuação cambial. O mercado livre em bens e capitais causa o aparecimento das igualdades (ver pp. 375 e 376). D) DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO 1. A SITUAÇÃO ACTUAL DO MUNDO Para ter uma ideia geral, é possível, tomando as devidas cautelas, dividir o mundo económico actual em 4 grandes grupos de países: � Principais grupos de países 1º grupo: economias abastadas da Europa Ocidental, América do Norte, Australásia e Japão. 2º grupo: economias semi-desenvolvidas ou ainda muito pobres como é o caso de Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan (os quatro baby-tigers), parte da OPEP e China. 3º grupo: constituído pelos países que, tendo atingido um nível intermédio de desenvolvimento, esbarraram com dificuldades graves, como são os casos da América Latina, resto da OPEP, Tailândia, Turquia, Paquistão e Filipinas, entre outros. Pertencem também a esta classe os países do Leste da Europa. Este grupo de economias é aquele para onde as atenções do mundo se dirigem. 4º grupo: economias muito pobres como as da Ásia do Sul e sobretudo a África subsariana. � Distribuição da população mundial A disparidade de dimensão da população é patente no facto de quatro países constituírem quase metade da população mundial (ver gráficos p. 380) � Distribuição do produto mundial Na distribuição do produto, a disparidade é ainda maior, pois bastam três países para deter metade do produto mundial (ver gráfico p. 380) � Distribuição geográfica do nível de desenvolvimento Ver gráfico p. 381

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� Distribuição geográfica da taxa de desenvolvimento Ver gráfico p. 382. Este gráfico e o anterior mostram a grande disparidade de situação e, também uma forte relação entre a geografia e a situação económica. É claro que se um país se começa a desenvolver, é normal que tal comece a propagar-se à zona vizinha, criando blocos de desenvolvimento. � Principais indicadores de desenvolvimento Esperança de vida ao nascer / taxa de urbanização / taxa mortalidade infantil / população por médico / taxa de alunos por professor / Consumo energia per capita / Circulação de jornais, etc (ver pp. 382 e 383). 2. A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO � Evolução histórica do processo de desenvolvimento e conómico Desde o início dos tempos até meados do séc. XVIII, o Planeta não experimentara qualquer processo sustentado de crescimento económico. Na maior parte das épocas e regiões, o aumento da produção seguira, em geral, os acréscimos de população, mantendo aproximadamente o produto médio per capita. Até 1750, nunca se verificara algum período de subida sustentada do nível de produto per capita. Até aí, a humanidade tinha conseguido um nível de vida estável, mas baixo. Porém, o começo da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, foi o detonador de um processo que viria a mudar a face do nosso planeta: o processo de desenvolvimento económico. O primeiro efeito foi o aumento espantoso da população mundial. Tendo mais recursos, houve redução da taxa de mortalidade. Além do aumento da população, verificou-se também um aumento rápido do nível de vida médio das pessoas. O séc. XIX assistiu à expansão internacional do desenvolvimento. Os vizinhos da Grã-Bretanha começaram a copiar as experiências que aí se faziam e que eram tão bem sucedidas. Apesar dos conflitos políticos e militares, o séc. XIX assistiu a um lento mas sólido despoletar do crescimento moderno do continente europeu. Também nas zonas ultramarinas para onde a sociedade britânica foi transplantada (América do Norte, Austrália) o desenvolvimento propagou-se. O processo mostrou-se assim contagioso e auto-sustentado. Todavia, no resto do Mundo, a história é feita do domínio colonial até ao fim da II Guerra Mundial.

- América Latina foi talvez a zona extra-europeia onde a expansão do desenvolvimento teve maior impacto inicial

- Ásia: a relação colonial revelou o máximo de variedade do seu espectro – desde impenetrabilidade quase total no Japão até ao domínio imperial mais acabado como na Índia.

- África foi a mais desanimante das experiências. Devido às suas características peculiares (civilizações mais fechadas e diferentes da ocidental), o continente africano seria o que maiores obstáculos apresentaria à penetração do fenómeno do desenvolvimento.

A Guerra de 1914-18 interrompeu o processo de desenvolvimento, alterando o equilíbrio permanente. No fim da I Guerra Mundial, o quadro político apresentava-se extremamente instável. Para essa instabilidade contribuiu as fortes indemnizações de guerra exigidas aos derrotados e a sobrevalorização da libra e de outras moedas, causada pela decisão de voltar à paridade anterior à guerra. A destruição da economia dos países vencidos no conflito, resultará na hiperinflação austríaca e alemã do início dos anos 20, aproveitada pelo nazismo. Este processo culminará no crash de 1929, que determinou a maior deflação moderna da economia mundial. Na tentativa de exportar o desemprego resultante da depressão, a maior parte dos países lançou-se em políticas «Beggar-thy-Neighbour» (empobrece o teu vizinho), consistindo num processo de desvalorização cumulativa e de subida em cadeia das fronteiras alfandegárias. A falta de liquidez internacional e a inexistência de autoridade reconhecida facilitará o caos. A recuperação da crise foi lenta, ajudada por políticas de despesa pública como o «New Deal» de Roosevelt dos EUA. Entretanto, a Revolução Russa começara com o comunismo de guerra, e posteriormente com o NEP (Nova Política Económica) de Lenine. Com a morte deste, chega o fim do NEP e o início da colectivização forçada dos camponeses, iniciada por Estaline, levando ao aparecimento dos planos quinquenais.

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Após a II Guerra Mundial, o panorama internacional é dominado pelas duas superpotências e pela guerra fria. Apesar da divisão do mundo em dois blocos, havia uma calma internacional (apesar da guerra fria e de escaramuças locais), a necessidade de reconstrução depois do conflito e o empurrão do Plano Marshall levaram a anos de desenvolvimento que, historicamente, não têm par. A Europa, que perdeu a hegemonia que teve durante séculos, unificou-se com a criação da CEE. Entretanto, as independências criaram uma nova força política: o Terceiro Mundo, traduzindo-se no Movimento dos Países não Alinhados. O prestígio e confiança das várias zonas do mundo estava abalada pelas derrotas militares e diplomáticas dos Franceses em Dien-Bien-Phu (1954), dos Ingleses na Crise do Suez (1956) e dos Americanos na Baía dos Porcos (1961), a guerra do Vietname, o Maio de 68 e a «Primavera de Praga». Em meados da década de 60 a calma económica começava a ser perturbada. O gigante americano reduzia-se a olhos vistos, perante a rápida recuperação e crescimento das outras economias. O despertar nos novos países independentes, da consciência da sua força fomentava o aparecimento de conflitos. O monopólio das «Sete Irmãs» no mercado internacional do petróleo era um dos mais escandalosos. O fim do sistema monetário internacional de Bretton Woods, em Agosto 1971, deixou a economia mundial quase sem as defesas necessárias para suportar os choques do petróleo em 1973. O fantasma da crise de 1929 levou a adoptar, na maioria dos países, medidas keynesianas antidepressivas. Gerou-se um novo fenómeno estagflação (coincidência de estagnação, desemprego e inflação). A crise de 1973 resume-se ao facto de os países do petróleo terem levado riqueza aos outros, e por isso, estarmos hoje mais pobres. A inflação da década de 70 teve outro efeito inesperado devido ao erro de ajustamento da crise de 73 – como os preços de todos os produtos subiram, os preços do petróleo deixaram de estar acima dos outros, ficando o petróleo de novo mais barato. Daqui resultou o segundo choque do petróleo em 1980. Desta vez, a atitude geral dos países seria muito diferente. Recusando visões keynesianas, as autoridades económicas dos países industriais enfrentaram decididamente os problemas da inflação, travando a procura. Esta opção repercute-se nos países pobres que sofreram com a queda das importações dos ricos, deflagrando a crise da dívida. Por exemplo, os países da América Latina, a braços com a dívida externa, tinham também hiperinflação. Pela mesma altura, Israel e Bolívia conseguem eliminar as suas hiperinflações. Entretanto, na URSS dá-se uma abertura política com Gorbatchev que iniciou uma política de abertura (Glasnost) e de reformas (Perestroika) com poucos efeitos económicos mas que liberta os países de Leste, em 1989, e desmantela a URSS em 1991. A viragem do milénio foi marcada por uma abertura económica mundial sem precedentes. A «globalização» e a «nova economia», baseadas num clima internacional de paz e diálogo, numa legislação de liberalização e em novas tecnologias de comunicação, traz promessas de progresso e justiça, trazendo também medos e incertezas. 3. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO � Em que consiste o desenvolvimento? Ele traz consigo um alargamento do leque das escolhas. É possível fazer coisas muito melhores que antes, mas também é possível fazer coisas muito piores que antes. Por exemplo, o desenvolvimento trouxe consigo potencialidades enormes de progresso no bem-estar das populações, grandes possibilidades de curas das doenças, etc. Mas, simultaneamente, deu ao homem um potencial de destruição nunca antes sonhado. Assim, com o desenvolvimento, o homem viu-se capaz de fazer muito melhor, mas também muito pior do que antes. Trouxe, deste modo, uma melhoria das condições de vida e um aumento do risco. Estes são os dois aspectos inseparáveis. � Atitudes face ao desenvolvimento Ver quadro p. 394. A única visão correcta face ao desenvolvimento é a que compreende que as duas características do desenvolvimento são inseparáveis, e que só há progresso se se aceitar correr os riscos inerentes. � Características do desenvolvimento O desenvolvimento tem três características fundamentais:

1) o processo de desenvolvimento é um processo civilizacional completo

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2) o processo de desenvolvimento é muito caro, quer em termos económicos, quer em termos sociais

3) o processo de desenvolvimento, devido às enormes transformações referidas e ao seu elevado custo, gera sérios conflitos na sociedade

Resumindo, só uma sociedade unida, em todas as suas dimensões, empenhada em enfrentar os custos do progresso, flexível para ultrapassar os conflitos que dele nascem, e consciente das vantagens e dos riscos do desenvolvimento, pode conseguir desenvolver-se.

� Mitos e burlas Mito de Robin Hood: centra-se na ideia de que o fim da pobreza se obtém «roubando aos ricos para dar aos pobres». Isto resulta do facto de os pobres serem pobres porque há ricos. Esta ideia, como se viu é errada. A solução para a pobreza não é a melhor distribuição do bolo, mas sim o aumento do bolo a distribuir: o desenvolvimento. Mito de James Bond: assume que existe uma pessoa ou um grupo de pessoas que se reúne (misteriosamente) e controlam a economia mundial, falando-se assim de conspiração capitalista, comunista, judaica ou qualquer outra. Ora a economia mundial é muito grande para ser controlada por alguns países ou grupos. Os países ricos, que supostamente controlam a economia mundial, estão doentes, com défices e outros problemas. O mundo é demasiado grande para ser controlado pelo homem. Burla do Terceiro Mundo: a ideia de que seria possível juntar os países pobres num «Terceiro Estado» que liderasse a revolução mundial. Esta esperança esfumou-se perante a crise mundial da década de 70. Esta, mostrou que os países pobres são muito diferentes, com interesses por vezes antagónicos e, por isso, incapazes de acção concertada. Burla da «Terceira Via»: muitos iluminados tentaram apregoar a existência de uma via alternativa entre o capitalismo e o socialismo. A realidade encarregou-se de desacreditar estes vários sistemas intermédios, como os casos do capitalismo liberal, dos idealistas e os vários sistemas «utópicos» ou marxistas, que não funcionaram na prática. � Como se consegue desenvolver uma economia?

1) 1ª lição de Adam Smith – o mercado, deixado a si próprio e às forças da concorrência, consegue não só o equilíbrio de maior bem-estar mas também o desenvolvimento económico

2) A visão deste processo foi desenvolvida e explicada por Joseph Schumpeter. Para ele, o desenvolvimento é uma mudança espontânea e descontínua nos canais de fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Trata-se de uma inovação, uma nova combinação que engloba 5 casos:

- introdução de um novo bem - introdução de um novo método de produção - abertura de um novo mercado - conquista de uma nova fonte de matérias-primas - estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria

Os principais elementos da teoria económica para uma estratégia eficaz do desenvolvimento são:

1) acumulação de capital 2) dimensão do mercado 3) Revolução Industrial 4) Ser humano

Para a Economia, o ser humano é, não só o objectivo do desenvolvimento, mas, curiosamente, também o seu grande motor. A riqueza humana de um povo é o principal «capital» com que essa sociedade pode contar para conseguir desenvolver-se.

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3.1 As tendências do crescimento � Factos estilizados (Kaldor) São seis os factos de Nicholas Kaldor:

1) produto real por trabalhador cresce a uma taxa aproximadamente constante 2) o stock de capital por trabalhador cresce a uma taxa aproximadamente constante 3) o ratio capital-produto tem uma tendência horizontal 4) a taxa de lucro tem tendência horizontal, enquanto a taxa de salário cresce a uma taxa mais

ou menos constante 5) as remunerações totais do trabalhador e do capital repartem o produto total em partes mais

ou menos fixas 6) existe uma grande variabilidade nas taxas de crescimento do produto por trabalhador entre

países IV TEORIA E DOUTRINAS ECONÓMICAS 1. TEORIA ECONÓMICA O pai da Economia foi o escocês Adam Smith que na sua obra “Ensaio sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, descreve o funcionamento do mercado, levado por uma mão invisível a maximizar o bem-estar. Após Smith, temos o economista David Ricardo que introduz a lei dos rendimentos decrescentes, construindo o primeiro modelo da evolução da economia na sua obra “Princípios de Economia Política e Tributação”. É influenciado pelo seu amigo Thomas Malthus e da sua obra “Ensaio sobre o Princípio da População”, fazendo-se notar a sua influência no seu pessimismo. Os seguidores de Ricardo formam a escola clássica que dominará na Economia na maior parte do séc. XIX. O seu maior expoente é John Stuart Mill, cuja obra “Princípios da Economia Política” constituirá o manual de Economia durante cerca de 30 anos. Um dos discípulos de Ricardo foi Karl Marx, que tirou as conclusões mais extremas do seu mestre, na sua obra “O Capital”, conclusões essas que justificam um novo tipo de sociedade, através de reformas sociais – assim nascia o comunismo que apareceria como alternativa à economia de mercado. Porém, e economia clássica esgota-se e aparece no início da década de 1870 uma nova ideia difundida em três lugares diferentes:

- Manchester com W. Stanley Jerons - Viena com Carl Menger - Lausanne com Léon Walras

A ideia é o marginalismo em que o valor é dado pela utilidade marginal, e o custo pelo custo marginal. O novo sistema atinge o seu auge com Alfred Marshall que publica “Princípios da Economia”, que foi o manual de Economia durante mais de 40 anos. Vários autores vêm completar o que estudámos:

- Knut Wicksell que apresenta um manual que completa muito do que diz Marshall, sobretudo na área do capital e da moeda

- Irving Fisher que apresenta a teoria monetária completa com a equação de Fisher M x V = P x Y e a distinção entre taxa de juro real e nominal

- Joseph Schumpeter abordará de forma revolucionária o problema do desenvolvimento económico que apresentava o sistema capitalista como o sistema mais dinâmico e explicava como ele evoluía

- John Maynard Keynes discute um modelo de desequilíbrio, para uma economia em depressão

Os seguidores de Keynes, como Paul Samuelson, procuraram ligar a nova teoria à ortodoxia anterior, buscando a síntese neoclássica. Mas o seu livro “Fundamentos da Análise Económica”, definiu a nova abordagem matemática aos problemas económicos. O livro “Economia” de 1948, continua a manter-se como manual-base desde há 40 anos com sucessivas revisões.

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2. DOUTRINAS ECONÓMICAS A teoria esteve sempre ligada à doutrina. Adam Smith, o «pai da teoria económica», foi também um dos autores que mais influenciou a posição dogmática da maioria dos economistas. A sua confiança na racionalidade dos agentes e no equilíbrio dos mercados, levava-o a defender uma sociedade livre e democrática, onde a concordância entre todos, permitiria atingir um maior nível de bem-estar geral. Porém, ele tem sido frequentemente acusado de defender o «capitalismo selvagem» e a concorrência desenfreada e sem regras. Todavia, a sua preocupação com os pobres, levara-o a afirmar que «nenhuma sociedade pode certamente ser florescente e feliz, se a maior parte dos seus membros for pobre e desgraçada. Outro autor com grande importância foi Joseph Schumpeter. Ele apresenta o sistema capitalista numa visão bem diferente do habitual. O seu objectivo era repetir a tentativa de Marx. A sua ideia fundamental é a de uma estreita ligação entre o sistema capitalista e o processo de desenvolvimento. O resultado desse progresso é a extraordinária melhoria de nível de vida das últimas décadas, sobretudo para os pobres. As duas razões principais deste sucesso são:

1) A «civilização do capitalismo» intensamente ligada à racionalidade 2) A relação do capitalismo com a democracia: «não existe instituição mais democrática que o

mercado». 2.1 A Doutrina Social da Igreja Ela não é, essencialmente, um corpo ideológico técnico, uma vez que no centro da doutrina não se encontra um conjunto de textos definidores da linha de orientação, mas sim Jesus Cristo. É na referência a Cristo que nasce a doutrina. A Doutrina Social da Igreja (DSI) não é uma teoria ou um modelo, mas apenas a vontade de seguir a Cristo no quotidiano. Por isso, a Igreja, ao longo dos dois mil anos de vida, tem convivido com múltiplos sistemas políticos, organizações sociais, modelos económicos, estruturas culturais, procurando sempre orientá-las para Cristo. A Economia dirige-se para o homem e o homem dirige-se para Deus. A DSI centra-se ecem dois princípios essenciais:

- Solidariedade: cada uma deve incluir o «próximo» na sua função utilidade). A esta doutrina junta-se a reflexão sobre os princípios directores da estrutura social.

- Subsidariedade: consiste num entendimento ordenado do papel do Estado e da liberdade humana e a verdadeira posição do sindicalismo e do associativismo na sociedade

Para além destes dois princípios (solidariedade e subsidariedade) há a preferência pelos pobres que faz parte do traço distintivo do cristão. A partir dos princípios fundamentais, sai um grande número de conclusões: � Problemas do trabalho � «salário justo» � «função social da propriedade» � sistema económico Através destes aspectos, a DSI chama a atenção para a aplicação cega e automática dos princípios económicos esquecendo as realidades humanas que estão ligadas. A este erro chama-se «economicismo». Análise das relações entre a doutrina e a teoria ec onómica

- se para a doutrina cristã, o objectivo da actividade económica deve ser o homem, para a teria económica é o cérebro que é a principal nota de desenvolvimento

- A Igreja tem uma desconfiança sobre as possibilidades do mercado em tratar dos problemas relativos à pobreza e para a teoria económica é um importante suporte

- A solidariedade económica impõe o diálogo entre todos os interessados num problema; é o único meio para procurar uma solução aceitável para ele. Na vida económica, contacto entre esses interessados é feito no mercado, pela interacção livre de todos.

Verifica-se, assim, que há grande acordo entre a doutrina e a análise da realidade.

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Finalmente, para haver diálogo é necessário dar voz a todos. A preocupação pelos pobres tem suporte teórico e dogmático. Verifica-se que não existe desacordo entre as leis para um são funcionamento da economia e os princípios cristãos da vida social. É claro que, há muitas ocasiões em que a eficácia económica choca com os princípios cristãos, uma vez que são duas linhas completamente distintas de raciocínio: uma representa uma visão doutrinal do mundo; a outra uma abordagem científica do mesmo. Todavia, é importante notar que não há qualquer grande obstáculo à compatibilidade entre a Doutrina Social da Igreja e a Teoria Económica.