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ATIVIDADE DISCURSIVA III ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DA ESCOLA Aluno: _______________________________________________ ___ / ___ /___ Cidade Polo: __________________________________________ I A avaliação externa criada pelo Governo Federal é uma forma de unir estados, municípios, união e distrito federal com um único objetivo, o de, diante dos resultados, as escolas e rede de ensino possam melhorar o planejamento, a prática na sala de aula e a formação dos educadores. II Agora a coisa ficou séria, depois do resultado do Enem 2012 e as muitas dificuldades do pessoal em visualizar as notas, muita gente estranhou a correção do Enem 2012. E aí vem chumbo grosso. (Blog do Enem, 3 de janeiro de 2013). 1. Baseado nos textos acima, emita sua opinião acerca das avaliações externas do INEP como forma de melhorar a educação brasileira. ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 1

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ATIVIDADE DISCURSIVA III

ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DA ESCOLA

Aluno: _______________________________________________ ___ / ___ /___

Cidade Polo: __________________________________________

I A avaliação externa criada pelo Governo Federal é uma forma de unir estados, municípios, união e

distrito federal com um único objetivo, o de, diante dos resultados, as escolas e rede de ensino

possam melhorar o planejamento, a prática na sala de aula e a formação dos educadores.

II Agora a coisa ficou séria, depois do resultado do Enem 2012 e as muitas dificuldades do pessoal

em visualizar as notas, muita gente estranhou a correção do Enem 2012. E aí vem chumbo grosso.

(Blog do Enem, 3 de janeiro de 2013).

1. Baseado nos textos acima, emita sua opinião acerca das avaliações externas do INEP como forma de melhorar a educação brasileira.

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O desafio de universalizar a escola no Brasil já foi praticamente vencido. Hoje, a questão passa mais pela qualidade do que é ensinado em sala de aula do que propriamente pelo acesso. Para medir o nível da educação básica no país, criou-se uma série de avaliações externas, como o Saeb, a Prova Brasil e a Provinha Brasil. A partir dos resultados desses exames, é possível se pensar em novas políticas públicas educacionais. Para o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet) do Rio de Janeiro e ex-diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, Carlos Artexes, as avaliações servem como indicadores consistentes sobre a educação no país, mas ele alerta que podem causar distorções.

Avaliações externas contribuem para melhorar a qualidade do ensino?As políticas educacionais brasileiras durante muito tempo excluíram muitas pessoas da educação escolar. Nas últimas décadas, o Brasil democratizou o acesso à escola. Mais recentemente, houve uma percepção de que não bastava apenas alcançar o acesso à escola, era preciso garantir a aprendizagem dos alunos. As avaliações de larga escala se inserem nesta nova visão sobre as políticas educacionais. A avaliação se propõe a ser um indicador para os professores, a sociedade e os educadores em geral.

Isso não significa que a avaliação em larga escala não tenha determinados riscos. Um, é a supervalorização da avaliação e a substituição dos processos pedagógicos pela avaliação. Se há um processo de qualidade, os indicadores podem, equivocadamente, serem vistos como a grande questão. A avaliação é um indicador que reflete aquilo que foi feito no processo pedagógico. O processo pedagógico é que garante a formação ampla das crianças e dos jovens.

O outro grande risco da avaliação é confundi-la com o currículo e a formação dada em cada etapa educacional. Avaliação é sempre algo reduzido, não é todo o processo. Nós queremos resolver o problema da educação e o exame indica um processo de proeficiência, de aquisição de algumas questões que são escolhidas para serem avaliadas.

Há um terceiro perigo que são as distorções provocadas pelos resultados dessas avaliações, como, por exemplo, a comparabilidade e o ranqueamento de escolas. Há várias realidades, as desigualdades de escolarização no Brasil são imensas, a desigualdade individual ou de grupos específicos... Não podemos simplesmente comparar esses resultados.

O senhor considera que os critérios utilizados nessas avaliações são bons?Não podemos avaliar tudo. A grande centralidade de um processo educativo é a formação humana na sua integridade. A avaliação vai eleger algumas questões que são passíveis de medida. Ela escolhe aquilo que é

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reconhecido socialmente, alguns conhecimentos, alguns valores, algumas perspectivas que são importantes avaliar. O Brasil avançou muito na competência técnica e da organização dessas avaliações, não só sob o ponto de vista operacional quanto do ponto de vista pedagógico. Existem indicadores extremamente importantes e desenvolvidos para que possamos identificar determinados níveis de aprendizagem em vários níveis da educação básica. No Brasil, a mídia incentiva a ideia - porque a sociedade de certa forma exige - de que uma escola melhor é aquela que obtem melhores resultados em qualquer exame. Isso é extremamente relativo, mas pode ser considerado algo importante para saber se aquelas escolas, para aquele público que atendem, estão alcançando determinados resultados.

Por que o senhor considera “relativo”?Quando se faz avaliação, não se está levando em conta a priori aquilo que ela teve anteriormente. Não se está avaliando simplesmente o que a escola contribiu efetivamente com o desenvolvimento desse aluno. O que interessa é o quanto nós alcançamos no desenvolvimento dessa criança durante o processo. Por isso é que comparar no tempo o nível de proeficência é fundamental, para avaliarmos o nível de desenvolvimento que as crianças e jovens tiveram durante um período. Devemos considerar o resultado de várias avaliações para podermos fazer um juízo do esforço que determinada escola, determinado grupo de educadores, determinada rede fez.

Não há o risco de as escolas se tornarem preparatórias para as avaliações?Isso é um dos perigos, porque pode provocar um reducionismo na formação. A aposta é que se os exames de avaliação forem cada vez mais bem desenvolvidos, os resultados desses exames serão cada vez melhores quanto mais prepararem o sujeito em sua dimensão mais ampla. Isso significa que esses exames são recorte daquilo que se propõe de formação na escola. Os exames são indicadores, precisam ser considerados, precisam ser conhecidos, inclusive a forma com que são feitos, mas o correto é olhar para dentro do processo pedagógico.

Os exames seguem essa linha?Eles têm cumprido uma tarefa importante. Uma delas é a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um índice que pode ser comparado no tempo e cuja preocupação é a qualidade do ensino. O Ideb conjuga a proeficiência da prova com as taxas de transição, porque o Brasil tem uma cultura de reprovação extraordinária. Temos que fazer um esforço para não ter reprovação – e aprovação com aprendizagem. O Ideb é de extrema inteligência nesse sentido e vai direcionando o processo. Na ânsia de querer ter mais resultados haverá algumas distorções, mas acho que temos que avançar para compreender melhor a importância e os limites das avaliações em larga escala.

O que está sendo avaliado?Não existe formação humana sem conteúdo. Mas nós tivemos durante muito tempo – e ainda temos – um processo seletivo que valoriza um determinado nível de conteúdo que, na verdade, não faz parte do contexto da formação humana em si, são informações que alguns têm e outros não têm. Há uma outra perspectiva, que é reconhecer no sujeito as suas potencialidades e as suas capacidades. No momento em que você cria um exame capaz de perceber quais são essas capacidades, é evidente que muda a concepção e induz diferentemente aquilo que o processo pedagógico vai valorizar. Se é preciso que a pessoa interprete um texto, que seja capaz de raciocinar, que comece a relacionar os seus saberes com coisas da sua vida, a formação vai ser diferente. Não basta mais botar o aluno dez horas repetindo determinadas coisas e inúmeras informações. É preciso que ele tenha desenvolvimento interno e que aprenda a aprender, aprenda a raciocinar.saiba mais

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PRINCÍPIOS NORTEADORESDe acordo com Beatriz Scoz1 (2013), o princípio norteador da Psicopedagogia é aintegração entre a objetividade e a subjetividade nos processos de ensino/aprendizagem. Osconhecimentos da Psicopedagogia nos permitem compreender a integração entre a construção doconhecimento por parte do sujeito - o sujeito epistêmico e a constituição do sujeito peloconhecimento - seu desejo, sua história, sua singularidade. Numa perspectiva psicopedagógica,para incorporar conhecimento e desejo nos processos de ensino/aprendizagem, existe oentrelaçamento de quatro níveis de estruturação: organismo, corpo, estrutura cognitiva eestrutura dramática e simbólica.Em sendo, podemos aferir que o fazer psicopedagógico se dá numa conjuntura deanalogia entre pessoas, objetivando, conduzir os sujeitos e objetos dessa ciência (a criança, ojovem, o adulto e a instituição) a reinserir-se, modificar-se e reciclar-se numa aprendizagemsaudável, de acordo com as possibilidades e interesses dela.Para tanto, surge o psicopedagogo como sendo aquele profissional da ação, cuja práxiscongrega um conjunto de atitudes e decisões, que envolve a si e aos outros, nos processos deaprendizagem humana.Nesse sentido, podemos afirmar, com base em diversos estudos e análises de estudiososdo tema (COLL, SCOZ, NOFFS, COUTINHO, DROUET, FAGALI e VALE, FONTES,MACHADO, MASINI, ALVES, ANDRADE, BOSSA e BEAUCLAIR), que a Psicopedagogiaocupa-se, essencialmente, da aprendizagem humana e do processo dessa aprendizagem, a partirda busca por respostas à seguintes questões: Como se aprende? Como a aprendizagem alteraevolutivamente e está acondicionada por vários fatores? Como se produzem as inquietações naaprendizagem? Como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las?As respostas para os questionamentos acima está no trabalho Psicopedagógico, hajavista que, é consensual a afirmação de que o objeto de estudo da Psicopedagogia pode serresumido como, o processo de aprendizagem e o seu desenvolvimento normal ou patológico emcontexto, considerando os aspetos cognitivos, afetivos, sociais, implícitos nas questões inerentesà aprendizagem humana.Já Maria Dolores Fortes Alves2 (2013), pensa a Psicopedagogia “como uma área deestudo interdisciplinar que olha para o sujeito como um todo no contexto em que está inserido,que estuda os caminhos do sujeito que aprende e apreende”.Podemos encontrar outro princípio no Código de Ética dos Psicopedagogos (2012) que,em seu artigo primeiro, define a Psicopedagogia como,um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagemhumana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio -família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentospróprios da psicopedagogia. (Artigo 1º).

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Para Weiss apud Bossa (2000, p. 20) ela “busca a melhoria das relações com aaprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunose educadores”.Segundo Macedo apud Bossa (2000, p. 31),as atividades do psicopedagogo são: orientação de estudos (organizar a vida escolar dacriança quando esta não sabe fazê-lo espontaneamente); apropriação dos conteúdosescolares (propiciar o domínio de disciplinas escolares em que a criança não vem tendoum bom aproveitamento); desenvolvimento do raciocínio (trabalhos realizado com oprocesso de pensamento necessário ao ato de aprender); atendimento de crianças(atender deficientes mentais, autistas ou com comprometimentos orgânicos maisgraves).Jorge Visca3 (1987) compreendeu a Psicopedagogia como uma possibilidade de termosuma visão mais ampliada dos complexos processos que nos levam à efetiva aprendizagem.E salienta que, a Psicopedagogia, ao fazer uso de múltiplos modos de prevenir,diagnosticar e de corrigir possíveis dificuldades, pode dispor de estratégias capazes de intervir narelação que o sujeito aprendente estabelece com outros sujeitos e com o meio, para encontrarsignificado e sentido ao seu movimento de ser e estar em processo de aprender. Alerta, ainda,que não podemos esquecer, em nenhuma hipótese, as interações que este sujeito mantém com oseu mundo segundo suas condições sociais e culturais.Por fim, Golbert (1985) nos orienta, no sentido de que:O objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: opreventivo e o terapêutico. O Enfoque preventivo considera o objeto de estudo dapsicopedagogia o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. Seu objeto deestudo é a pessoa ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de taisprocessos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido amplo. Não se restringea uma agência como escola, mas ir também à família e à sua comunidade. Poderáesclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradoressobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre progresso nosprocessos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem, sobreas condições determinantes de dificuldades da aprendizagem. O enfoque terapêuticoconsidera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação, a análise, a elaboraçãode uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizado. (p.25).Contudo, antes de nos adentrarmos ao estudo do objeto da psicopedagogia, buscaremosluz em diversos estudiosos para tentarmos definir o que vem a ser a Psicopedagogia.2. DEFINIÇÃODe acordo com Simaia Sampaio4 (2013),a Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo,portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só noâmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentesetapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender suascaracterísticas evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não sãopróprios da idade. Terapeuticamente a psicopedagogia deve identificar, analisar,planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento. (s/p).Para Neves apud Bossa (2000, p. 19),a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta asrealidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais,

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procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais quelhe estão implícitos.João Beauclair5 (2009, p. 51) afirma que, deste modo, o campo de estudo daPsicopedagogia está focado no próprio ato de aprender e ensinar, percebendo que é necessárioconsiderar simultaneamente aspectos da realidade interna e da realidade externa daaprendizagem visando compreender as dimensões sociais, subjetivas, afetivas e cognitivas queinteragem dialeticamente na constituição do sujeito que se movimenta na complexidade inerenteao processo do conhecer.O mesmo autor salienta que a psicopedagogia se propõe a integrar, de modo coerente,conhecimentos e princípios de distintas ciências humanas, objetivando adquirir uma amplacompreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender. Em seguida, afirma que oprofissional que atua como psicopedagogo tem um amplo conjunto de tarefas e funções queprestam assessoramento psicopedagógico às escolas.Nesse sentido, Weiss (2001) ressalta, em seus estudos, que a Psicopedagogia é umcaminho fundamental à ampliação das possibilidades de busca de qualidade nos processosrelacionais, presentes na aprendizagem humana, que ocorre no movimento do desejo,potencialidade maior de cada um de nós, enquanto sujeitos humanos, de melhor construirmosnossas próprias aprendizagens.Segundo Elza Vidal de Castro (2002), a Psicopedagogia é um campo emergente emultifacetado apresenta seu quadro teórico marcado pelos seguintes aspectos: a definição de seuobjeto, de suas relações com os campos psicológico e pedagógico, da ênfase dada ao indivíduo e,também, da ênfase aos fatores externos ao sujeito na determinação do problema (contexto socialmais amplo).Para Noffs (1995), a Psicopedagogia institucional apresenta-se como transformação daprópria pedagogia, devendo estudar as modalidades de ensino-aprendizagem desencadeadas e/oupossibilitadas pela instituição escola, visando a prevenção e enfrentamento de conflitos.De acordo com Scoz (1994), a Psicopedagogia, como as outras áreas de saúde, implicaum trabalho a nível preventivo e curativo. Na função preventiva, cabe ao psicopedagogo atuar nas escolas e em cursos de formação de professores, esclarecendo sobre o processo evolutivo dasáreas ligadas à aprendizagem escolar (perceptiva motora, de linguagem, cognitiva, emocional),auxiliando na organização de condições de aprendizagem de uma forma integrada e de acordocom as capacidades dos alunos (p. 12).O mesmo autor afirma, ainda, que a Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com oprocesso de aprendizagem e com os mesmos problemas decorrentes, recorrendo a váriasciências, sem perder de vista o fato educativo nas suas articulações sociais mais amplas (p.12).Mais adiante, Scoz lembra que a Psicopedagogia transformou-se em um campo deestudos dos que podem surgir no decorrer desse processo. Para responder à complexidade dessaquestão, houve um esforço para alcançar uma visão multidisciplinar, que inclua contribuições devárias ciências e de estudos recentes, colocando, em pé de igualdade, aspectos cognitivos,afetivos, orgânicos e sociais, e descartando qualquer recorte de realidade que impeça uma visãomais completa do fenômeno a ser pesquisado (1994, p. 13).Por fim e, em outra obra, Coll (2000), afirma que a psicopedagogia é uma confluênciadisciplinar, um conjunto de saberes e um espaço profissional. Em relação ao espaço profissionaldessa área, o psicopedagogo precisa da contribuição de diferentes profissionais como,psicólogos, pedagogos e psicopedagogos e assistentes sociais e também a contribuição de outrasáreas de conhecimentos numa dimensão de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.Assim, após tantas definições de tantos estudiosos, podemos aferir algumas respostas e

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afirmações, acerca do que vem a ser essa ciência e suas especificidades, partindo da premissa deque, ela é, antes de mais nada, uma Especialização interdisciplinar que necessita dosconhecimentos teóricos, dos métodos e das técnicas da Psicologia, Pedagogia, Medicina(Neurologia), assim como da Fonoaudiologia e da Educação, para a sua completa aplicação eeficácia.Tem como objetivo final a solução dos problemas relativos à aprendizagem, no quetange às dificuldades enfrentadas pelos indivíduos, nesse processo, partindo da investigaçãosobre a origem da dificuldade de aprendizagem e a compreensão de seu processamento,averiguando o elemento da aprendizagem no seu processo didático e na relação ensinoaprendizagem,ou seja, relação docente-discente, práxis docente, relação família-aluno, entreoutros fatores. É, portanto uma ciência que estudo e busca compreender a relação entre o sujeito, aconstrução do conhecimento, por parte dele e sua história, visando a construção de um caminhoprazeroso e singular, deste sujeito, para que ele alcance a aprendizagem buscada, haja vista que,a realidade do sujeito interfere, significativamente, em seu aprendizado ou não, haja vista que, oprocesso de aprendizagem e seu desenvolvimento normal e patológico, será positivo ou negativo,dependendo do contexto, sem deixar de lado, é claro, os aspectos cognitivos, afetivos e sociaisimplícitos em tal processo.Sendo assim, neste curso buscaremos as respostas para estas questões, não esperandoencontrar todas, mas, pelo menos traçarmos o caminho para elas.Daremos início a esse caminho, analisando um trecho da dissertação de mestrado deSueli de Abreu, que fez um estudo sobre a avaliação psicopedagógica (“CONSTRUINDO UMESPAÇO: AMBIENTE COMPUTACIONAL PARA APLICAÇÃO NO PROCESSO DEAVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA” – Sueli de Abreu – UFRJ/NCE – 2004. Disponível em:http://abpp-rj.com.br/abpp-rj. Acesso em 13 Jan. 2013).Em seu estudo, a autora escreve, valendo-se de Bossa:A psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo deaprendizagem e se tornou uma área de estudo específica que busca conhecimento em outroscampos e cria seu próprio objeto de estudo (Bossa, 2000, p. 23). Ocupa-se do processo deaprendizagem humana: seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo.Quanto ao campo de atuação da psicopedagogia, a autora diz, com base em Weiss apudScoz, que, a clínica psicopedagógica corresponde a um de seus campos de atuação, cujo objetivoé diagnosticar e tratar os sintomas emergentes no processo de aprendizagem. O diagnósticopsicopedagógico busca investigar, pesquisar para averiguar quais são os obstáculos que estãolevando o sujeito à situação de não aprender, aprender com lentidão e/ou com dificuldade;esclarece uma queixa do próprio sujeito, da família ou da escola. (Weiss apud Scoz, 1991, p. 94).Sobre as bases teóricas da psicopedagogia, no Brasil, a autora afirma, a partir de Bossaque, a psicopedagogia no Brasil, há trinta anos, vem desenvolvendo um quadro teórico próprio.“É uma nova área de conhecimento, que traz em si as origens e contradições de uma atuaçãointerdisciplinar, necessitando de muita reflexão teórica e pesquisa” (BOSSA, 2000, p.13) Ainda de acordo com Bossa, Abreu afirma que a Psicopedagogia se ocupa daaprendizagem humana, o que adveio de uma demanda – o problema de aprendizagem, colocandonum território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia –e evolui devido a existência de recursos, para atender esta demanda, constituindo-se assim, numaprática. Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente doprocesso de aprendizagem. Portanto vemos que a psicopedagogia estuda as características daaprendizagem humana: como se aprende, como esta aprendizagem varia evolutivamente e estácondicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como

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reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Este objeto de estudo, que é um sujeito a ser estudado poroutro sujeito, adquire características específicas a depender do trabalho clínico ou preventivo(Idem, p. 21).Em seguida, Abreu trata dos dois campos de atuação da Psicopedagogia e faz adistinção entre o trabalho clínico e o preventivo, afirmando ser fundamental. O primeiro visabuscar os obstáculos e as causas para o problema de aprendizagem já instalado; e o segundo,estudar as condições evolutivas da aprendizagem apontando caminhos para um aprender maiseficiente.E utiliza novamente, Bossa (2000, p.21) e sua definição sobre os dois campos deatuação da psicopedagogia:O trabalho clínico dá-se na relação entre um sujeito com sua história pessoal e suamodalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita nonão-aprender. Nesse processo, onde investigador e objeto-sujeito de estudo interagemconstantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da Psicopedagogia. Isto significaque, nesta modalidade de trabalho, deve o profissional compreender o que o sujeito aprende,como aprende e porque, além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeitode forma a favorecer a aprendizagem.No enfoque preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico daaprendizagem é objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processosdidático-metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem.No exercício clínico, o psicopedagogo deve reconhecer seu processo de aprendizagem,seus limites, suas competências, principalmente a intrapessoal e a interpessoal, pois seu objeto de estudo é um outro sujeito, sendo essencial o conhecimento e possibilidade de diferenciação doque é pertinente de cada um. “Essa inter-relação de sujeitos, em que um procura conhecer ooutro naquilo que o impede de aprender, implica uma temática muito complexa” (BOSSA, 2000,p. 23).Sobre a função do psicopedagogo, Abreu escreve que, o mesmo tem como funçãoidentificar a estrutura do sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio nestastransformações e seu relacionamento com o aprender. Este saber exige do psicopedagogo oconhecimento do processo de aprendizagem e todas as suas inter-relações com outros fatores quepodem influenciá-lo, das influências emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas. Conhecer osfundamentos da Psicopedagogia implica refletir sobre suas origens teóricas e entender comoestas áreas de conhecimento são aproveitadas e transformadas num novo quadro teórico próprio,nascido de sementes em comum.A autora salienta que a Psicologia e a Pedagogia são as áreas “mães” dapsicopedagogia, mas não são suficientes para embasar todo o conhecimento necessário. Destaforma, foi preciso recorrer a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, aPsicolinguística e a Psicanálise, no sentido de alcançar uma compreensão multifacetada doprocesso de aprendizagem.E, valendo-se de Pain, a autora afirma que nesse lugar do processo de aprendizagemcoincidem um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e umsujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa aEpistemologia; referimo-nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana dainteligência e a teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e oinconsciente (Pain,1985, p.15).Novamente a autora aborda a questão do campo de atuação da psicopedagogia, dessavez ela analisa que, o mesmo é focado no estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e

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tratamento dos seus obstáculos, sendo o psicopedagogo responsável por detectar e tratarpossíveis obstáculos no processo de aprendizagem; trabalhar o processo de aprendizagem eminstituições de indivíduos ou grupos e realizar processos de orientação educacional, vocacional eocupacional, tanto na forma individual ou em grupo. Sobre as áreas de estudo da Psicopedagogia, a autora escreve, com base em Weiss, queelas se traduzem na observação de diferentes dimensões no processo de aprendizagem: orgânico,cognitivo, emocional, social e pedagógico. “A interligação desses aspectos ajudará a construiruma visão gestáltica da pluricausalidade deste fenômeno, possibilitando uma abordagem globaldo sujeito em suas múltiplas facetas” (Weiss, 1992, p. 22).E descreve cada uma, a começar pela dimensão emocional, afirmando que ela estáligada ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e aexpressão deste através de uma produção gráfica ou escrita. A psicanálise é a área que embasaesta dimensão, trata dos aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender, permitindo-noslevar em conta a face desejante do sujeito. Neste caso, o não aprender pode expressar umadificuldade na relação da criança com seu grupo de amigos ou com a sua família, sendo osintoma de algo que não vai bem nesta dinâmica.A dimensão social está relacionada à perspectiva da sociedade, onde estão inseridas afamília, o grupo social e a instituição de ensino. A Psicologia Social é a área responsável por esteaspecto. Encarrega-se da constituição dos sujeitos, que responde às relações familiares, grupais einstitucionais, em condições socioculturais e econômicas específicas e que contextualizam toda aaprendizagem. Um exemplo de sintoma do não aprender relacionado a este aspecto podeacontecer pelo fato do sujeito estar vivendo realidades em dois grupos de ideologia e prática commuitas diferenças.A dimensão cognitiva está relacionada ao desenvolvimento das estruturas cognoscitivasdo sujeito aplicadas em diferentes situações. No domínio desta dimensão, devemos incluir amemória, a atenção, a percepção e outros fatores que usualmente são classificados como fatoresintelectuais. A Epistemologia e a Psicologia Genética são as áreas de pano de fundo para esteaspecto. Encarrega-se de analisar e descrever o processo construtivo do conhecimento pelosujeito em interação com os outros objetos.A dimensão pedagógica está relacionada ao conteúdo, metodologia, dinâmica de sala deaula, técnicas educacionais e avaliações aos quais, o sujeito é submetido no seu processo deaprendizagem sistemática. A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do processoensino aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina. A dimensão orgânica está relacionada à constituição biofisiológica do sujeito queaprende. A medicina e, em especial, algumas áreas específicas contribuem para o embasamentodeste aspecto. Os fundamentos da Neurolinguística possibilitam a compreensão dos mecanismoscerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades mentais. Sujeitos com alteração nosórgãos sensoriais terão o processo de aprendizagem diferente de outros, pois precisamdesenvolver outros recursos para captar material para processar as informações.A Linguística é a área que atravessa todas as dimensões. Apresenta a compreensão dalinguagem como um dos meios que caracteriza o tipicamente humano e cultural: a línguaenquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômenosubjetivo, evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica.Ao final do texto, Abreu afirma que, “nenhuma dessas áreas surgiu para responderespecificamente a questões da aprendizagem humana. No entanto, fornecem meios pararefletirmos cientificamente e operarmos no campo psicopedagógico.” (ABREU, 2004, s/p).Em sendo, podemos afirmar que a Psicopedagogia é a área maior, no que tange à

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aprendizagem humana, sendo, portanto, a responsável pela análise e busca de soluções para seusucesso ou fracasso.Nesse sentido, transcreveremos, a seguir, o texto de Géssica Ramos, em que a autoradescreve um estudo sobre o caminho percorrido pela Psicopedagogia, desde o seu surgimento atéa sua concretude como ciência do aprender.CAPÍTULO 2PSICOPEDAGOGIA: APARANDO ARESTAS PELA HISTÓRIAGéssica Priscila Ramos6VIDYA, v. 27, n. 1, p. 9-20, jan./jun., 2007 - Santa Maria, 2009. ISSN 0104-270XRESUMOA palavra “Psicopedagogia”, especialmente após 1990, começou a fazer parte dos debates sobreeducação escolar de modo intenso. Todavia, tal terminologia, ainda hoje, tem sua história esignificados perdidos em meio a discursos que em muito enfraquecem o potencial científico dosestudos psicopedagógicos, fundamentalmente no campo da educação escolar. Com base nessaobservação inicial, este artigo tem o objetivo de resgatar a história (passada e presente) e osignificado da Psicopedagogia, bem como o papel de seu profissional, a partir de uma análisebibliográfica que busca recuperar e unir os dados que se encontram dispersos na literatura sobreo tema.Palavras-chave: Psicopedagogia; ABPp; História.INTRODUÇÃOA palavra “Psicopedagogia”, especialmente a partir dos anos 90, começou a fazer partedos debates sobre educação escolar de modo intenso. Nesse contexto, essa terminologia acaboutornando-se mistificada, presa a discursos amadores que pouco ou quase nada contribuíram parasua compreensão efetiva, confundindo-a ora com a Psicologia, ora com a Pedagogia, ora comuma mescla de ambas as áreas.Conforme constatado em levantamento bibliográfico, tal terminologia, ainda hoje, temsua história e significados perdidos em meio aos discursos amadores que em muito enfraquecemo potencial científico dos estudos psicopedagógicos, fundamentalmente no campo da educaçãoescolar. Com base nessa observação inicial, este artigo objetiva resgatar a história (passada epresente) e o significado da Psicopedagogia, a partir de uma análise bibliográfica que buscarecuperar e unir os dados dispersos na literatura sobre o tema.1. OS PRIMÓRDIOSO nascimento da Psicopedagogia ocorreu na Europa do século XX. Todavia, o anopreciso ainda não é um dado consensual na literatura. Segundo Andrade (2004), ele teriaacontecido na década de 1920, momento em que se instituiu o primeiro Centro dePsicopedagogia do mundo. Ligado ao pensamento psicanalítico de Lacan, tal centro, de acordocom a autora, fundamentou aquilo que posteriormente foi nomeado de Psicopedagogia Clínica.Bossa (1994) e Masini et al. (1993), por outro lado, apontam que a Psicopedagogia teria nascidono ano de 1946, período em que se deu a criação dos primeiros Centros Psicopedagógicos naEuropa, em Paris, por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco.Conforme Masini et al. (1993), Mauco teria explicado que o termo “psicopedagógico”foi utilizado na nomenclatura desses centros em substituição à expressão “médico-pedagógico”,já que os pais aceitavam mais facilmente encaminhar suas crianças para consultaspsicopedagógicas, do que médicas. A Psicopedagogia iniciada nesses centros tinha entre os seusobjetivos centrais auxiliar as crianças e os adolescentes que apresentavam dificuldades decomportamento (na escola ou na família), segundo os padrões da época, no intuito de reeducá-laspara o seu ambiente por meio de um acompanhamento psicopedagógico (BOSSA, 1994). A

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prática da reeducação consistia em identificar e tratar dificuldades de aprendizagem, a partir deações de medição, de classificação de desvios e de elaboração de planos de trabalho. A base doconhecimento utilizado provinha fundamentalmente da Psicologia, da Psicanálise e da Pedagogiae o tipo de enfoque predominante era o médico-pedagógico.Apesar das equipes desses centros serem formadas por profissionais de várias áreas(psicólogos, psicanalistas, pedagogos, reeducadores de psicomotricidade, de escrita etc.), era omédico o responsável pela realização do diagnóstico do sujeito (MASINI et. al, 1993). Porintermédio da investigação da vida familiar, das relações conjugais, das condições de vida, dosmétodos educativos, dos resultados dos testes de QI da pessoa, ele dava a orientação sobre o tipode tratamento cabível, visando corrigir a falta de adaptação detectada no sujeito.Em 1948, para além da consideração dos casos de problema de comportamento, oestudioso Maurice Debesse inseriu, ainda, como preocupação psicopedagógica, a ocorrência decrianças e adolescentes que, embora fossem considerados inteligentes, apresentavam problemasde aprendizagem.Nesses casos, o tipo de atuação privilegiada também era de cunho médico-pedagógico eo objetivo da ação era diferenciar esses sujeitos daqueles que possuíam deficiências físicas,mentais e ou sensoriais, bem como lhes possibilitar ações reeducadoras que contribuíssem para odesaparecimento de seus sintomas. Segundo Drouet (1995), esse tipo de atuação recebeu o nomede “Psicopedagogia Curativa” ou “Pedagogia Curativa” e designava, além de uma ação dereeducação especializada, exercícios de readaptação.Embora, desde a década de 60, vários pesquisadores não concordassem com essaconceituação diagnóstica, tal enfoque perdurou na história da Psicopedagogia por muito tempo,vindo a influenciar os cursos de formação que se seguiram na área, bem como odesenvolvimento do campo psicopedagógico na Argentina. Nesse país, a criação dos primeiroscursos em Psicopedagogia se deu por volta da década de 70, com a instalação dos Centros deSaúde Mental. Eles se localizavam em Buenos Aires e possuíam equipes de psicopedagogos queatuavam no diagnóstico e no tratamento dos casos.2. A PSICOPEDAGOGIA NO BRASILFoi a Argentina a maior influenciadora da Psicopedagogia brasileira, notadamente apartir dos anos 60, momento em que vários países latinos contavam com governos ditatoriais evivenciavam a lógica do medo e do silêncio em seus territórios.Por essa razão, a Psicopedagogia chegou até nós de forma clandestina, por intermédiode seus exilados políticos (ANDRADE, 2004). Sob tais influências, igualmente ao que ocorrianaquele país, a Psicopedagogia brasileira também se construiu sob um enfoque médicopedagógicoe com uma natureza mais prática do que acadêmica.Anteriormente, o Brasil já tinha contado com uma iniciativa de trabalhopsicopedagógico de cunho mais preventivo, especialmente voltada para a relação professoraluno.Essa experiência ocorreu, conforme Masini et. al (1993), em 1958, com a criação doServiço de Orientação Psicopedagógica (SOPP) da Escola Guatemala, na Guanabara (escolaexperimental do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnísioTeixeira/MEC), participando um profissional da Pedagogia e outro da Psicologia. Entretanto, adespeito dessa experiência, a literatura revela que a finalidade que predominou na história antigada Psicopedagogia brasileira foi a de atuar nos problemas referentes às disfunções neurológicasou, mais precisamente, naquilo que foi denominado na época de “Disfunção Cerebral Mínima”(DCM). Essa tendência, fortalecida notadamente por volta da década de 70, ilustrava nomomento uma interpretação psiconeurológica do desenvolvimento humano, bem comosustentava uma visão orgânica e patologizante sobre os problemas de aprendizagem. Sob essa

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perspectiva, tais problemas eram tratados como originários de disfunções neurológicas tãopequenas que, por essa razão, acabavam não sendo detectadas nos exames clínicos, emboraprovocassem alterações de comportamento.Essa visão patologizante, que em princípio era utilizada apenas dentro dos consultóriosparticulares, acabou chegando às escolas sem nenhum critério, num processo de rotulação decrianças e adolescentes (SCOZ, 1994). Segundo Bossa (1994, p. 43, grifo do original):O rótulo DCM foi apenas um dentre os vários diagnósticos empregados para camuflarproblemas ciopedagógicos traduzidos ideologicamente em termos de psicologiaindividual. Termos como dislexia, disritmia e outros também foram usados para essefim.Todavia, concomitantemente aos diagnósticos patologizante sobre os problemas deaprendizagem feitos na época, o sistema educacional brasileiro vivia um conturbado processo dedemocratização do ensino, mediante profunda massificação da escola e da qualidade daeducação.Nessa perspectiva, os diagnósticos patologizantes contribuíam para ocultar todas asmazelas educacionais provenientes desse momento político, responsabilizando, em termosbiológicos e individuais, a criança e o adolescente pelos problemas que eles apresentavam emtais condições.Iludidos pelo cientificismo do discurso presente nos diagnósticos, os próprios pais eprofessores passaram a tomá-los como verdades, de modo que, frente às dificuldades deaprendizagem detectadas em seus filhos ou alunos, eles apresentavam como primeira atitude oencaminhamento médico da criança e do adolescente. Por isso, conforme Scoz (1994), se por umlado o conceito de DCM permitiu um maior processo de aceitação da criança e do adolescentepor par te de seus pais e professores, por outro, contribuiu para desmotivar alguns professores epais a investirem na aprendizagem desses sujeitos.Foi sob essa herança conceitual médico-pedagógica que nasceram, na década de 70, osprimeiros cursos de Psicopedagogia no país, voltados especialmente para complementar aformação do psicólogo e do educador. Em princípio, a formação dos profissionais emPsicopedagogia se dava na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre.Posteriormente, foram criados alguns cursos de mestrado com área de concentração emAconselhamento Psicopedagógico (por exemplo, o da PUC-RS, em 1972).Porém, somente em 1979, após quase vinte anos da efetiva prática psicopedagógica noBrasil, surgiu o primeiro curso de especialização em Psicopedagogia do país, inicialmentechamado de Curso de Reeducação Psicopedagógica. Ele foi criado no Instituto Sedes Sapientiae(SP) e não era legalmente reconhecido já que a referida Instituição preferiu abrir mão davalidação acadêmica de seus certificados em troca de poder exercer a prática da liberdade depensamento e de expressão multidisciplinar, formando profissionais comprometidos com osdireitos da pessoa humana (ANDRADE, 2004).A despeito de durante muito tempo esse tipo de curso ter sido raridade no contextonacional, com o passar dos anos, as especializações e os cursos de aperfeiçoamento seexpandiram, proliferando-se, sobretudo por volta da década de 90. Em princípio, eles seconcentravam nas Faculdades de Educação do estado de São Paulo. Em seguida, espalharam-sepor todo o território brasileiro.Ao trilhar esse caminho, a formação do psicopedagogo brasileiro acabou afastando-se, emuito, de sua matriz argentina. Isso porque, enquanto nesse país a formação do psicopedagogocontinuou a dar-se por meio de cursos de graduação de aproximadamente cinco anos, o Brasilperpetuou a tradição de uma formação mais aligeirada, por volta de um ano, em nível de

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especialização lato sensu ou em cursos de aperfeiçoamento, nas modalidades presencial,semipresencial e a distância. Segundo Bossa (1994), essa tradição brasileira de formação menosaprofundada na área explicaria por que, na Argentina, tornou-se facultativo para opsicopedagogo o uso de alguns testes diagnósticos que, no Brasil, mantiveram-se apenas para ouso exclusivo pelo psicólogo. Embora ainda hoje o país mantenha a tradição de formação psicopedagógica nos cursosde especialização, em meados dos anos 2000, a Psicopedagogia brasileira começou a escreveruma nova história, criando outros tipos de cursos de formação na área (curso superior de curtaduração; curso de graduação em Psicopedagogia; curso de mestrado em Psicopedagogia; cursode doutorado em Psicopedagogia), ocasionando um aumento significativo da produçãoacadêmica dentro desse campo (FONTES, 2006).Não obstante essa expansão dos cursos e das pesquisas em Psicopedagogia no Brasil,vale frisar que a profissão de psicopedagogo ainda não foi nacionalmente regulamentada. PelaClassificação Brasileira de Ocupações, o psicopedagogo é apenas membro da família dos“Programadores, Avaliadores e Orientadores de Ensino”, que é composta por coordenadorpedagógico, orientador educacional, pedagogo, professor de técnicas e recursos audiovisuais,supervisor de ensino e psicopedagogo.Pensando nessa realidade, desde 1997, está em trâmite em Brasília um projeto de leicujo objetivo é alterar tal situação7. Esse projeto, registrado sob o nº 3.124/97, é de autoria dodeputado federal Barbosa Neto e dispõe sobre a regulamentação da profissão de psicopedagogono país, bem como cria os Conselhos Regionais de Psicopedagogia e dá outras providências. Oreferido projeto se encontra atualmente na mesa diretora da Câmara dos Deputados, na situaçãode arquivado desde 31 de janeiro de 2007. Apesar desses limites legais, o estado de São Paulo,desde 2001, tem aprovada a lei nº 10.891 (resultado do projeto de lei nº 128, de 2000, dodeputado Claury Alves da Silva), que autoriza implantar a assistência psicológica epsicopedagógica nos estabelecimentos de ensino público básico paulista, tendo comopreocupação central o aprendiz e a instituição pública de educação infantil e ensino fundamentale médio, no diagnóstico e na prevenção de problemas de aprendizagem. Enquanto isso, aAssociação Brasileira de Psicopedagogia -ABPp- continua na luta pela regulamentação dessaprofissão no país.A ABPp em 1980, com base na iniciativa de professores e formandos emPsicopedagogia do curso do Instituto Sedes Sapientiae, a Associação de Psicopedagogos de São Paulo foi criada na capital do estado. Sua preocupação central era definir o perfil do profissionalda área, atuando no oferecimento de pequemos encontros para reflexão e trocas de experiênciassobre o trabalho com os problemas de aprendizagem (BOSSA, 1994).O primeiro grande encontro foi realizado no ano de 1984, cuja preocupação essencialfoi não somente a discussão sobre os problemas de aprendizagem, mas, inclusive, a reflexãosobre as ações que poderiam implicar a melhoria da qualidade do ensino.Com o crescente desenvolvimento do campo de ação psicopedagógica no contextopaulista e a latente necessidade de uma atuação mais multidisciplinar por esses profissionais, aAssociação começou a oferecer cursos, palestras, seminários etc., voltados à participação degraduados em Psicologia, Neurologia, Psiquiatria, Pedagogia etc., almejando a troca deexperiências e saberes entre eles. Enquanto isso, vários outros estados, seguindo o exemplopaulista, criavam os seus núcleos associativos.Assim, em 1988, a Associação de Psicopedagogia de São Paulo passou a se chamarAssociação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Ela tornou-se uma entidade de representaçãodo grupo que cadastrava seus profissionais e atuava na consolidação da identidade legal da

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categoria, na elaboração, publicação e revisão de conhecimentos e tendências na área, bem comona organização de eventos.Uma de suas primeiras ações em termos nacionais foi a promoção do “I CongressoBrasileiro de Psicopedagogia” conjuntamente ao “III Encontro de Psicopedagogos”, cujafinalidade era exatamente a de reforçar a importância da integração de conhecimentos para secompreender o processo de aprendizagem como um todo – o que já havia tentado enquantoAssociação paulista. Após esse encontro, vários outros eventos foram promovidos pela ABPp.Além de sua atuação na promoção de encontros, congressos, seminários etc., a ABPppassou a agir na orientação dos psicopedagogos do país. Com esse objetivo, o ConselhoNacional da ABPp aprovou, em 2000, um documento (“Diretrizes Básicas da Formação dePsicopedagogos no Brasil e Eixos Temáticos para Cursos de Formação em Psicopedagogia”) emque constavam sugestões de diretrizes para a consolidação e identidade da formação dopsicopedagogo nacional.Dentre outras coisas, o Conselho orientava que os cursos de Psicopedagogia fossemoferecidos preferencialmente em nível de pós-graduação e contemplassem as áreas institucional e clínica, por meio de uma carga horária mínima de 600 horas (75% de aulas teóricas e 25% deestágios supervisionados). Segundo o documento, os coordenadores dos cursos precisariam terformação em Psicopedagogia e grande par te do corpo docente (70%) deveria ser constituída porpsicopedagogos com experiência prática e de pesquisa na área.O Conselho sugeria ainda que os candidatos ao curso fossem necessariamentehabilitados em nível superior e selecionados por meio de análise de currículo, de entrevistaindividual ou coletiva, de carta de intenções/exposição de motivos e de sua experiência docente.O aluno participante do curso deveria realizar um estágio supervisionado (clínico e institucional),bem como a elaboração de um trabalho de conclusão que articulasse teoria e prática.Ao curso de Psicopedagogia em si, o Conselho sugeriu como eixos temáticos de seucurrículo: a especificidade e a conceituação da Psicopedagogia (contextualização daPsicopedagogia; ética no trabalho psicopedagógico; metodologia científica e produção doconhecimento; filosofia das ciências; sociologia); a Psicopedagogia e as áreas de conhecimento(desenvolvimento sócioafetivo e implicações na aprendizagem; desenvolvimento cognitivo,aquisição de conhecimento e habilidades intelectuais; desenvolvimento psicomotor e implicaçõesna aprendizagem; constituição do sujeito do conhecimento e da aprendizagem; aquisição edesenvolvimento da leitura e da escrita; processos de pensamento lógico-matemático;aprendizagem e contextos sociais); o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica (fundamentosteóricos do atendimento psicopedagógico; avaliação psicopedagógica da aprendizagemindividual e grupal com utilização de instrumentos próprios da Psicopedagogia; intervençãopsicopedagógica em diferentes contextos de aprendizagem).A ABPp também aprovou, em 12 de julho de 1992, durante a assembleia geral realizadano “V Encontro” e “II Congresso de Psicopedagogia”, um código de ética (“Código de Ética daAssociação Brasileira de Psicopedagogia”) que, dentre outros fins, pretendia delimitar melhor osobjetivos da Psicopedagogia e a identidade do psicopedagogo no Brasil. Tal Código declaravaque a Psicopedagogia seria um campo de atuação em Saúde e Educação voltado para o processode aprendizagem humana em seus padrões normais e patológicos, considerada a influência domeio nos casos. Ainda, segundo o Código, tal campo atuaria a partir de procedimentos, técnicase métodos próprios e valer-se-ia das várias áreas do conhecimento humano voltadas para acompreensão do ato de aprender (em seu sentido ontogenético e filogenético), tendo em vista asua natureza interdisciplinar. A base desse trabalho seria de origem clínica e institucional, decaráter preventivo e ou remediativo, tendo como metas essenciais a promoção da aprendizagem e

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a realização de pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia.O documento indicava ainda que o psicopedagogo atuasse somente nos limites dasatividades que lhe coubesse, bem como considerasse a existência dos casos referentes a outroscampos de especialização e a necessidade do encaminhamento para diferentes profissionais.Nessa linha de atuação, a ABPp posteriormente criou uma Comissão de Ética, compostapor membros de seu Conselho, cuja ação dar-se-ia na orientação sobre a formação profissionaldo psicopedagogo e sobre sua conduta profissional, bem como em relação à conduta dos gruposassociativos de psicopedagogos, com base no Código de Ética.Hoje, a ABPp se encontra presente em todo país, tendo seção na Bahia, em Brasília, noCeará, em Goiás, em Minas Gerais, no Paraná Norte, no Paraná Sul, em Pernambuco, no Rio deJaneiro, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Sergipe, bem comonúcleos no Espírito Santo, no Sul Mineiro e em Teresina. Sem embargo dessa história da ABPp,vale lembrar que ela se constitui numa entidade representativa de uma categoria profissional que,até o presente, não é reconhecida legalmente no Brasil.3. O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA E O PAPEL DOPSICOPEDAGOGODiferentemente do que costuma supor o senso comum, a Psicopedagogia não se resumea uma fração da Psicologia, ou a parte da Pedagogia, ou a uma junção reducionista entrePedagogia e Psicologia. Antes disso, a Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuaçãoprofissional voltada para a temática da aprendizagem ou, mais precisamente, para a temática dosujeito que aprende.Em princípio, seu foco era as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar.Atualmente sua preocupação se volta, de forma mais abrangente, para a compreensão doprocesso de aprendizagem, dentro ou fora do ambiente escolar, considerando a influência dosfatores físico, emocional, psicológico, pedagógico, social, cultural etc. Durante muito tempo, contudo, conforme o apresentado, foi o enfoque orgânico queconduziu o desenvolvimento da história da Psicopedagogia pelo mundo. Tal enfoque teve suaorigem nas contribuições das ciências médicas e biológicas, que classificavam rigidamente osseus pacientes em “anormais”. Com o passar dos anos, essa visão patológica sobre os pacientestransferiu-se dos hospitais para as escolas, originando a utilização do termo “anormais escolares”(SCOZ, 1994).O fortalecimento da área psiquiátrica e a incorporação de alguns de seus conceitos daárea médica (a influência do ambiente na personalidade, a atuação da dimensão afetivoemocionalno comportamento, por exemplo) possibilitaram a mudança, no meio escolar, dotermo “criança anormal” para a expressão “criança com problema” (SCOZ, 1994). Entretanto, amodificação efetiva dessa visão individualizante dos problemas de aprendizagem para outra decaráter mais totalizante e menos patológica não se deu imediatamente. Ela foi lenta e amparou-sena contribuição de várias tendências teóricas e nas descobertas científicas de diversos campos doconhecimento.No Brasil, pode-se destacar dentro dessas tendências, por exemplo, o movimentoescolanovista. Esse movimento deixou como legado histórico uma nova visão sobre a criança,em termos da especificidade de seu desenvolvimento e da adequação da escola para ela,especialmente por meio da criação de novos métodos de ensino.Outra tendência for temente importante nesse processo é identificada nas teorias decunho sociorreprodutivistas que, ao apontarem a faceta reprodutiva da escola, contribuíram paravalorizar a influência dos fatores externos à criança em seu processo de aprendizagem. De outromodo, ressaltam-se ainda as abordagens de matriz piagetiana, que, dentre outras coisas, retiraram

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do “erro” o sinônimo de problema e o reinterpretaram como expressão das hipóteses infantis,lançadas durante o seu desenvolvimento. Há ainda a concepção vygotskyana que destacou ainterdependência do meio sociocultural na aprendizagem da pessoa e salientou a importância doadulto e do professor nesse processo.Além dessas tendências específicas, dentro da Psicopedagogia, são encontradas tambémcontribuições de diversas áreas do saber como da Antropologia, da Epistemologia, daLinguística, da Neurolinguística, da Fonoaudiologia, da Pedagogia, da Psicanálise, da Psicologia,da Sociologia etc. Toda essa confluência de saberes, teorias e campos de conhecimento presentes naformação da Psicopedagogia explica-se na medida em que, embora ela possa ser consideradacomo um corpo teórico organizado, não conseguiu até agora sustentar-se pela qualidade de seusaber científico, em razão de se manter muito presa a esfera da empiria (BOSSA, 1994;ANDRADE, 2004).Assim, pautada na articulação dos conhecimentos desses vários campos e teorias(inclusive daquelas que não foram criadas para responder aos problemas de aprendizagem), aPsicopedagogia tenta fundamentar a construção de uma teoria própria, de tal modo que, hoje,conforme Bossa (1994) e Andrade (2004), ela já consiga demonstrar com clareza suaespecificidade, bem como sua conotação como prática, como campo de investigação do ato deaprender e como saber científico.4. A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICANo início de seu desenvolvimento, a Psicopedagogia se utilizava tão somente deinstrumentos de atuação diagnóstica, de intervenção e de prevenção vindos dos campos médico epsicológico. Atualmente, entretanto, a referida área tem atuado a partir de métodos próprios.O trabalho com equipes provenientes da área da educação e da saúde continua sendomuito privilegiado. Porém, a expectativa é a de que, na prática, o psicopedagogo atue por meiode um olhar multidisciplinar.A Psicopedagogia conta presentemente com duas fortes tendências de ação, sendo a decaráter clínico e a de caráter preventivo. A atuação clínica caracteriza-se por ter a finalidade dereintegrar o sujeito com problemas de aprendizagem ao processo. Tal ação usualmente se dá emconsultórios e hospitais, possuindo uma conotação mais individualizada. Já a atuação preventivatem a meta de refletir e discutir os projetos pedagógico-educacionais, os processos didáticometodológicose a dinâmica institucional, melhorando qualitativamente os procedimentos emsala de aula, as avaliações, os planejamentos e oferecendo assessoramento aos professores,orientadores etc. (FAGALI; VALE, 1993).Geralmente, esse tipo de ação ocorre dentro da própria instituição (escola, creche,centro de habilitação etc.), atuando, segundo Bossa (1994), em três níveis de prevenção: o primeiro, que visa analisar e modificar os processos educativos para diminuir a frequência doscasos de problemas de aprendizagem na instituição; o segundo, que objetiva analisar e modificaros processos educativos para baixar e tratar os casos já instalados no local; e o terceiro, que atuadiretamente e de modo mais individualizado (sob uma perspectiva mais clínica, inclusive) comos sujeitos com problemas de aprendizagem, prevenindo-lhes o aparecimento de outrosproblemas. Nesse último caso, seu papel não seria o de eliminar os sintomas, agindo como um“professor de reforço”, ensinando de forma particular o conteúdo não aprendido. Ao contráriodisso, sua atuação seria a de diagnosticar e intervir no problema gerador do referido sintoma.Não obstante a distinção entre a atuação clínica e a preventiva constante da literatura, háque se lembrar que toda ação psicopedagógica tem em si um caráter clínico, localizado na atitudedo profissional em investigar a situação como um caso particular e único (BOSSA, 1994). Poroutro lado, o trabalho clínico também pode conter em si uma natureza preventiva: ao se tratar de

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determinado problema, está se contribuindo para evitar outros.Dentro dessa perspectiva, o campo de atuação do profissional formado emPsicopedagogia vem se ampliando, sendo demandado por clínicas, centros de atendimento,hospitais, empresas, organizações (inclusive do terceiro setor), escolas, organizaçõeseducacionais etc.Com base no Projeto de Lei 3.124/97 e nas discussões da Comissão de Regulamentaçãoe Cursos da ABPp, interpreta-se que, dentro desses espaços de atuação, seriam atribuições ecompetências dos psicopedagogos:- intervenção psicopedagógica no processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendopor enfoque o sujeito que aprende em seus vários contextos: da família, da educação (formal einformal), da empresa, da saúde;- realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica mediante a utilização deinstrumentos e técnicas próprios de Psicopedagogia;- utilização de métodos, técnicas e instrumentos psicopedagógicos que tenham porfinalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com aaprendizagem;- consultoria e assessoria psicopedagógicas, objetivando a identificação, a análise e aintervenção nos problemas do processo de aprendizagem; - supervisão de profissionais em trabalhos teóricos e práticos de Psicopedagogia;- orientação, coordenação e supervisão de cursos de Psicopedagogia;- coordenação de serviços de Psicopedagogia em estabelecimentos públicos e privados;- planejamento, execução e orientação de pesquisas psicopedagógicas.Conquanto seja possível dizer que há um consenso para o objeto central de estudo daPsicopedagogia, a aprendizagem humana, o mesmo não pode ser dito quanto aos caminhos deintervenção e de pesquisa sobre tal processo. Como lembra Bossa (1994, p. 9, grifo da autora), a“concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem, e é em razão desta queacontece a práxis psicopedagógica”. Assim, a concepção de aprendizagem, de homem e aqualidade da formação do profissional determinam os diagnósticos e as intervenções nosproblemas detectados, bem como as pesquisas realizadas pelo psicopedagogo.CONSIDERAÇÕES FINAISA história da Psicopedagogia revela a todos a importância de um posicionamento claroquanto à prática psicopedagógica.Assim, um primeiro ponto a ser destacado é que, tendo a Psicopedagogia o alvo dediscutir e de atuar sobre a aprendizagem, todo profissional envolvido com essa área deve termuita sensibilidade ao abordá-la e fundamentá-la. Conforme lembra Machado (1997), durante ahistória da humanidade, várias teorias serviram para justificar o abismo social e seus efeitossobre a aprendizagem das crianças, como: a teoria racista: que pregava a existência de umaevolução natural da espécie humana e a hierarquia entre as raças; a teoria do dom: que pregava aexistência de uma diferenciação natural entre as pessoas dada por seus dons e por seus talentosnaturais; a teoria da carência cultural: que pregava que as diferenças entre os sujeitos seriamunicamente relativas a questões como: pobreza, desestruturação familiar, desinteresse dos pais,desnutrição das crianças, falta de estímulo, linguagem pobre, problemas emocionais etc.De acordo com a autora, embora essas teorias e seus fundamentos pareçamsuficientemente superados em nossa sociedade, eles ainda têm sido utilizados como base para oencaminhamento psicopedagógico, de diversas crianças e adolescentes, por seus pais.Psicopedagogia recebeu um corpo de conhecimentos provenientes de seus grupos dereferência: Pedagogia e Psicologia. No histórico deste contexto, seus personagens constroem sua

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identidade individual, que passa a integrar a identidade coletiva.Aprender um papel/construir um personagem significa um trabalho de várias camadascognoscitivas e afetivas do sujeito. O desenvolvimento da identidade ocorre num movimentocontínuo entre os diferentes personagens do processo histórico entrelaçando estas camadascognoscitivas e afetivas.A identidade é movimento, pois se constitui no movimento dos personagens em suahistória vivida, dando agilidade a estes e procurando a articulação entre a subjetividade e aobjetividade. Observamos no campo da Psicopedagogia os profissionais buscando uma formaçãoque os instrumentalize a lidar com os problemas de aprendizagem; a subjetividade provocandouma transformação em um profissional diferente daquele que iniciou este processo, para responder a uma necessidade de uma realidade objetiva (fato evidente nas entrevistas compsicopedagogos), reafirmando um fenômeno dialético na transformação da identidade. ConformeCiampa nos diz, sem a unidade da subjetividade com a objetividade, a primeira é “desejo quenão se concretiza, e a objetividade é finalidade sem realização” (1987, p.145).As histórias dos psicopedagogos mostram bem esta relação entre seus desejos, suasnecessidades e as possibilidades apresentadas pelo contexto.Portanto, na medida em que os papéis sociais/profissionais vão sofrendotransformações, observamos o processo contínuo de metamorfose da identidade (Ciampa, 1987),processo este claramente constatado na história do psicopedagogo. Ele é um profissional oriundode diferentes graduações: Pedagogia, Psicologia, Fonoaudiologia, Letras, Matemática, etc., queatravés de sua consciência busca uma transformação de suas concepções e do seu fazer - buscasair da mesmice de uma praxis, busca sair de uma identidade mito, isto é, de uma aparência denão-transformação, constituindo sua história neste processo.Ciampa afirma que “identidade é história, o que nos permite dizer que não hápersonagens fora da história, assim como não há história sem personagens” (1987, p. 157).Outra característica do processo de construção de identidade é o interjogo que combinaigualdade e diferença do sujeito em relação a si próprio em seus diferentes personagens e aosdemais que o cercam. Ciampa nos mostra como por meio do nosso nome, temos a indicação dosingular (indicado pelo 1o nome) e do geral (indicado pelo nome de nossa família), isto é, onome nos diferencia dentro do contexto familiar e o sobrenome é o que nos inclui, o que nosreconhece como membros desta família. O passo seguinte é a identificação com papéis quecorrespondem também a uma predicação e colocam o sujeito como personagem de uma história.Dentre estas identificações é importante assinalar a identificação profissional, que está sendoobjeto de análise neste trabalho.No entender de Berger e Luckmann (1995), o indivíduo vai construindo uma estruturabiográfica a partir dos momentos sucessivos de sua experiência e o compartilhar com outraspessoas os significados dessas experiências para que ocorra a integração biográfica comum, podegerar um processo de institucionalização. A institucionalização ocorre inicialmente num planopré-teórico, em função de um corpo de conhecimentos que o grupo recebe, os quais fornecem asregras de conduta institucionalmente adequadas. Podemos dizer que a Psicopedagogia recebeu um corpo de conhecimentos oriundo de seus principais grupos de referência, a Psicologia e aPedagogia e as experiências posteriores de seus profissionais gerou a institucionalização.Ainda em Berger e Luckmann veremos o conceito de institucionalização, que para elesocorre quando há uma padronização (ou uma tipificação) de ações habituais pelos vários tipos deatores, referindo-se ao “caráter típico dos atores nas instituições. As tipificações das açõeshabituais que constituem as instituições são sempre partilhadas” (1995, p. 79), estabelecendopontos em comum nesta ação, nas tomadas de decisão. As tipificações recíprocas são construídas

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no desenrolar de uma história compartilhada e não repentinamente, como é o caso daPsicopedagogia que inicialmente reúne um conjunto de profissionais respondendo a uma mesmademanda (as dificuldades encontradas em relação ao processo de aprendizagem), reiterando ocaráter institucional de uma história compartilhada pelo entrelaçamento dos papéis de seusprofissionais/personagens, que posteriormente legitimam esta institucionalização pelaorganização de uma Associação formal que os representa - a ABPp.Segundo Baptista (1996), o desenvolvimento da identidade institucional ocorre nummovimento contínuo entre os diferentes personagens desse processo histórico e destes com seusgrupos de referência. A coexistência constante dos personagens nesse novo contexto, bem comoas alternâncias, que atendem às necessidades surgidas do processo histórico deste grupo, dão ocaráter dinâmico à identidade institucional (metamorfose).Ao percorrer o histórico da Psicopedagogia, nos deparamos com os personagenspsicopedagogos dessa história construindo sua identidade, isto é, a identidade individual de cadaprofissional e constituindo uma identidade coletiva - do conjunto de profissionais inscritos emdeterminado tempo e lugar, enquanto processos interdependentes. Como diz Agnes Heller “oindivíduo (a individualidade) contém tanto a particularidade quanto o humano genérico quefunciona consciente e inconscientemente no homem” (1970, p. 22).Ainda segundo a autora, o homem vai tomando um distanciamento entre o humanogenérico (a comunidade) e o próprio indivíduo e graças a isto ele pode construir uma relaçãocom sua própria comunidade, assim como com sua particularidade.Aprender um papel ou construir um personagem significa um trabalho nas váriascamadas cognoscitivas e afetivas do indivíduo, sobre o corpo de conhecimentos inerentes a este Este fato nos leva a analisar a questão da identidade do “eu” (singular) e a identidadecoletiva (particular e universal), conceitos trabalhados por Habermas (1983). Para o autor aidentidade do “eu” é uma resultante da identificação do sujeito com os outros e de seureconhecimento por estes.Segundo análise de Baptista: “os 'outros’ (o grupo de referência) dispõem de identidadecoletiva que é o elemento que permite ao sujeito se sentir pertencendo ao mesmo, a partir dassemelhanças reconhecidas” (1992, p. 16).Na medida em que o sujeito assume papéis sociais/profissionais, adquire uma maiorautonomia em relação aos modelos oferecidos, e com isto vai adquirindo a identidade do “eu”,vai construindo seu personagem. Paralelamente no processo de institucionalização o grupo vaiconstruindo sua identidade, a partir de seus grupos de referência e atribuindo uma objetividade eum sentido a sua ação.Nesse sentido encontramos um argumento interessante em Berger e Luckman:O mundo da vida cotidiana não somente é tomado como uma realidade certa pelosmembros ordinários da sociedade na conduta subjetivamente dotada de sentido que imprimem asuas vidas, mas é um mundo que se origina no pensamento e na ação dos homens comuns, sendoafirmado como real por eles (1995, p. 36).Para Heller, é na cotidianidade que o homem age sobre a base da probabilidade, dapossibilidade; entre as coisas que faz e as consequências delas, existe uma relação objetiva deprobabilidade. “O pensamento cotidiano implica também em comportamento” (1970, p. 43).Outro aspecto a ser analisado na construção da identidade da Psicopedagogia, é o fatode seu surgimento representar claramente o que Ciampa denominou uma questão política, já quesua existência parece ameaçar o campo de trabalho de outros profissionais, principalmente osque pertencem aos grupos de referência. Na prática, o psicopedagogo tem como modelo, papéisassumidos tanto pelo psicólogo no que tange a atuação clínica, como do pedagogo, no trabalho

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com aprendizagem. Historicamente é a partir destes modelos que surge a identidade dopsicopedagogo com uma especificidade que lhe é própria.A ação dos profissionais que lidam com os problemas de aprendizagem, a partir dacotidianidade construiu sua práxis, estabelecendo novos ideais, dando assim elementos quepossibilitam a revisão da atuação educacional. Uma questão discutida por Heller é o preconceito, como consequência do pensamentocategorizado e do comportamento cotidiano (1970, p. 43), é o resultado de estereótipos,analogias e esquemas já formulados, que dependerão de uma atitude crítica, para que possam serpercebidos, enquanto preconceitos para que venham a ser problematizados. A autora define opreconceito como um tipo particular de juízo provisório, isto é, passível de refutação pela ciênciae por uma experiência cuidadosamente analisada, mas que se conservam inalterados contra todosos argumentos da razão.Creio que podemos afirmar a existência do preconceito em relação a atuação dopsicopedagogo, advindo de um de seus grupos de referência, pelo fato de que muitas vezes a áreade conhecimento com que atuam – a aprendizagem é menosprezada socialmente.Quando o profissional é visto a partir da identidade pessoal (na formação de origem),tende a ocorrer o pré-conceito, como categoria do pensamento e do comportamento cotidiano, oque ocorre muitas vezes com o psicopedagogo, cuja formação inicial é a Pedagogia. Nessescasos é necessário ficarmos atentos, pois estamos a um passo da estigmatização!A identidade coletiva surge como consequência das identidades pessoais (como ditoanteriormente), que podem acrescentar novos e bons elementos ou cristalizar aspectospejorativos.A identidade social é composta por:Identidade atribuída: o agir dentro das regras básicas que atendam às exigências daposição assumida.Identidade adquirida: o sujeito prova seu mérito para tal, são papéis diferenciados.Como nos descreve Barone, as profissões surgem por combinação de alguns fatores:Problema - uma demanda social, pela falta de profissionais com recursos para responder a umanecessidade;Fundamentos teóricos - as fontes teóricas que darão subsídios a uma atuação;Prática - como os profissionais passam a organizar seus conhecimentos teóricos edemais recursos.Sarbin e Scheibe (1983) afirmam que a identidade social de uma pessoa, é consequênciade suas posições sociais validadas, o que ocorre segundo ratificações do papel desempenhadocorreta e adequadamente. Para estes autores, a sobrevivência das pessoas está ligada a habilidade de “localizarem-se devidamente nas várias ecologias” (p.8). O termo ecologia, aqui é utilizadopara designar a estrutura e o desenvolvimento das comunidades em suas relações com o meioambiente e sua consequente adaptação.Segundo esses autores,(...) entre as várias ecologias nas quais o mundo pode ser diferenciado, é que fica aecologia social ou o sistema de papel desempenhado. As pessoas, constantemente sedefrontam com a necessidade de localizarem-se em relação com os outros. A málocalização do eu no sistema pode trazer consequências embaraçosas amargas (p. 8).As pessoas em conjunto produzem um ambiente humano, com a totalidade de suasformações socioculturais e psicológicas, gerando um contexto voltado a uma direção e a umaorganização. O psicopedagogo tenta inserir-se nesta ecologia social, no sentido de responder auma demanda surgida em função de um fracasso escolar; inicia seu trabalho estabelecendo

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relações com os demais profissionais das áreas afins, encontrando muitas vezes váriosobstáculos. Neste movimento de ação e reflexão, vai constituindo sua identidade.Outro aspecto, que ajuda a entender a construção da identidade profissional dospsicopedagogos, é a questão dos papéis. Historicamente muitos dos profissionais que procuraramsuprir a demanda das crianças com dificuldades de aprendizagem eram, em sua maioria,pedagogos que procuravam formas de resolver os problemas observados em sala de aula, pormeio de cursos com neurologistas, psiquiatras e psicanalistas, etc. A partir disso, passavam aassumir papel terapêutico junto a esta clientela, e consequentemente diferenciavam-se enquantopersonagens dessa história. De acordo com Berger e Luckmann: “(...) os papéis são tipos deatores neste contexto (...) ao desempenhar papéis, o indivíduo participa de um mundo social. Aointeriorizar estes papéis, o mesmo mundo torna-se subjetivamente real para ele” (1995, p. 103).Desta forma, os personagens/psicopedagogos estão firmando cada vez mais seu espaçode atuação, procurando a legitimação de seu agir de forma competente, constituindo o discursoda Psicopedagogia e consequentemente construindo a sua identidade.A grande demanda por Psicopedagogia acontece no final da década de 70 e início de 80(quando ocorre um índice significativo de repetência escolar e evasão).Os fundamentos teóricos são encontrados em várias áreas do conhecimento: Pedagogia,Psicologia, Psicolinguística, Neurologia, Fonoaudiologia, Psicanálise...

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