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Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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INTRODUÇÃO
O presente estudo debruça-se sobre a Fome no Mundo, com o propósito de canalização
sistêmica das informações hoje dispersas entre os organismos internacionais, universidades e
pesquisadores que dedicam-se a este tema.
O alcance contemporâneo e global dos estudos sobre as principais causas da Fome no
Mundo é viabilizado pelos documentos e relatórios dos organismos internacionais de
congruência ao tema, como FAO/ONU, OMS, BIRD, UNICEF, UNESCO. Ainda
possibilitado pelos pesquisadores doutrinadores que dedicam esforços elucidadores e
equacionativos à problematização em foco. Em 2001, o universo de nossos estudos,
segundo a FAO, em relatório oficial de 2005, apontava para 1,89 bilhões de pessoas vivendo
com menos de 1 U$ por dia, assim distribuindo-se nas regiões mundiais:
Região Milhões de Pessoas %
África Subsaariana 313 28,74
América Latina e o Caribe 50 4,59
Ásia Oriental 271 24,88
Europa Oriental e Ásia Central 17 1,56
Oriente Médio e Norte da África 7 0,64
Sul da Ásia 431 39,57
A relevância do presente estudo em reunir-se as principais causas da Fome no
Mundo Contemporâneo em um conjunto único acadêmico, encontra-se em contribuir para
com os pesquisadores e organizações que debruçam-se sobre o mesmo tema, somando à
construção de um corpo teórico de suporte à tomada de decisões minimizativas e mesmo
erradicativas deste grave problema humano e social, cuja delimitação, ainda que
comprovadamente existente no Mundo na Idade Moderna e mesmo em outros períodos
históricos o limitamos globalmente ao marco de início da Idade Contemporânea, no ano de
1793, sinalizado pela Revolução Francesa, até os dias atuais, em 2010.
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Inicialmente, avançamos oferecendo conceitos gerais elementares ao entendimento
do todo a que nos propomos, como uma breve evolução do pensamento global sobre a fome
no mundo, partindo para números da fome no mundo; causas prováveis; fome infantil e
consequências da fome.
Justifica-se o presente estudo por imposição da desumana realidade da fome mundial.
Uma fome capaz de matar. Em 2008, o mundo contava com 430 milhões de pessoas
sobrevivendo com fome extrema no Sul da Ásia. 313 milhões nas mesmas condições na África.
O problema que envolve os objetivos da pesquisa remete entre 815 milhões e 1,1 bilhão de
pessoas no mundo em 2008, as quais não conseguem comer diariamente, vivendo com menos de
1 U$ diário. Dessa população, morrem entre 24 e 25 mil pessoas diariamente. Aproximadas 750
mil mortes em um único mês, somando 9 milhões em um ano. Em termos comparativos,
aproximados 3 milhões superiores a população do Paraguay em 2009. Para uma melhor
visualização dessa desumana realidade, apenas neste período de 3 anos em que desenvolvemos
este esforço de tese, em busca de colaborarmos à erradicação da fome no mundo, morreram em
decorrência da fome, 27 milhões de seres humanos, ou seja: a soma aproximada das populações
do Uruguay (6 milhões) e Paraguay (6 milhões), multiplicadas por dois. A priori, esta realidade
não está presente em outras espécies animais. Não obtante a utilização de alimentos para a
produção de combustíveis, também é uma realidade, desviando-se dos pratos vazios, seguindo
para os tanques dos carros daqueles que não têm problema alimentar.
Nesse contexto, emerge o problema: - quais são as principais causas da fome no
mundo contemporâneo? Não obstante, tal problema, exige novas perguntas e incursões
investigativas como:
- não houve implementação dos acordos internacionais de combate a Fome?
- quais as conseqüências correlacionais das causas da fome?
- em que consistem as causas da fome no mundo contemporâneo?
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- a destinação de grãos à produção de biocombustíveis na contextualização mundial
econômica, responde pelo agravamento da Fome no Mundo?
Duas hipóteses são apresentadas para a pegunta norteadora das incursões
investigativas, encontrando-se as hipóteses das principais causas de origen da fome no
mundo contemporâneo, centradas no paradigma clima e político, como expoentes das
origens naturais e humanas, respectivamente. O que, por força dos estudos empreendidos,
foram confirmadas. Isto, em observância à delimitação, Idade Contemporânea, iniciando em
1789 até os dias atuais em 2010, e objetivo proposto, de Identificação de tais causas de
origem da fome, evidenciando-se como principais, desdobramentos do clima e política,
sendo: guerras, castátrofes naturais, doenças, política e distribuição de renda, demografía,
alimentação animal e produção de biocombustíveis a partir de cereais. As guerras, por
desestruturarem os serviços básicos e organização interna dos países derrotados. Da mesma
forma as catástrofes naturais também repercutem sobre o sistema organizacional dos países
atingidos. As doenças fragilizam as populações, alijando-as do mercado de trabalho,
restringindo a capacidade econômica familiar, repercutindo em fome aos membros. A
distribuição de renda privilegia um número muito reduzido de cidadãos arrastando quase a
totalidade dos demais integrantes da população a um mundo de miséria e fome. O
crescimento demográfico é outro fator apontado por um grupo de pesquisadores como
responsável pela fome no mundo. Não obstante, os animais, pela necessidade suas
alimentações, também concorrem em alimentos com os seres humanos. As políticas de
produção de combustíveis a partir de cereais, sob a máxima de substituição dos combustíveis
fósseis, alegando-se o superaquecimento do planeta, também recebem consideráveis
responsabilidades sobre a problematização da fome no mundo. Por fim, a política, em uma
análise mais ampla, firma-se, entre as causas humanas apontadas, como a principal origem
responsável pela deflagração e ou resolução das demais causas, levando à refutação de
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todas as demais, excetuando-se as originadas pelas variações climáticas e de naturezas
catastróficas. As quais, frente a governos comprometidos, também são minimizadas e
ou mesmo preventivamente evitadas. Exigindo-nos, por força de tais análises, um
posicionamento validativo da hipótese de ser a fome no mundo contemporâneo fruto de
causas humanas, tendo a política como principal responsável.
O presente trabalho tem como objetivo geral Identificar as Principais Causas da
Fome no Mundo Contemporâneo.
Quanto aos objetivos específicos assim os determinamos:
Estudar a evolução do pensamento de combate à Fome no Mundo Contemporâneo,
relacionando as Principais Causas que a originam.
Identificar as consequências correlacionais das principais causas da Fome no
Mundo Contemporâneo.
Incursionar sobre variáveis em conceitos e argumentações que fundamentam e
sustentam as causas naturais e humanas da fome no mundo contemporâneo.
Contextualizar no sistema econômico mundial os biocombustíveis e grãos
enquanto causa humana geradora da fome no mundo.
Quanto ao marco teórico é importante ressaltar que a fome no mundo é uma
realidade que se mantém século após século sem progressos coletivos observáveis. No
início dos estudos, em janeiro de 2008, os números da fome no mundo apontavam para
815 milhões. Em maio de 2009 este número encontrava-se em 923 milhões e, em
setembro de 2009, três meses antes da defesa da presente tese, segundo a FAO,
ultrapassa a 1 bilhão o número de famintos no mundo (www.fao.org/ 2009).
No site www.fao.org/ da Food and Agriculture Organization [FAO] encontram-se
informações quantitativas e qualitativas em forma de relatórios, com fácil acesso à pesquisa sobre a
fome no mundo e suas principais causas. Na FAO também são encontrados os relatórios utilizados
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como embasamento ao capítulo 1 da tese, onde é disponibilizada uma evolução histórica dos
esforços organizacionais mundiais de combate à fome.
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios [APTA] em 2008 publica
material sobre o desperdício de alimentos.
No site www.academialetrasbrasil.org.br, oficial da Academia de Letras do Brasil [ALB]
(2009) são disponibilizados links que apontam para as causas da fome no mundo. Causas Naturais
e Humanas ganham profundidade, sendo consideradas por esta organização como as duas
principais divisões das causas da fome no mundo contemporâneo.
O capítulo 2, sobre a desnutrição mundial ganha profundidade através do Fundo
das Nações Unidas para a Criança/Brasil [UNICEF/Br, 2009].
No capítulo 3, onde incursões são destinadas ao aprofundamento sobre as variáveis
da fome no mundo, são encontradas discussões entre teóricos e também organizações
internacionais como a FAO (2005) tratando sobre a realidade das guerras, doenças e clima.
Cretella Netto (2007) contribui com o exemplo da Coréia do Norte em relação as
consequências dos bloqueios internacionais, Neste capítulo encontra-se fundamentações
em Tejada (2001), BBC (2007), ALB (2009), Jornal Estado de São Paulo (2007), Seeran
(2007), Unicef (2007), Josué de Castro (1946) contradiz Malthus, alegando ser a explosão
demográfica efeito da fome, e não o contrário. O FMI (2007) trata sobre expectativas
inflacionárias mundiais dos alimentos. Ainda, a Fundação Getúlio Vargas (2008) oferece
dados sobre índice dos preços. Sobre os transgênicos Décio Gazzoni (2008) oferece visão
apurada no assunto, apontando para a falta de evidências científicas à repercussões
negativas dos mesmos na saúde humana. Também, neste capítulo, de Incursões sobre as
Variáveis da Fome no Mundo, são encontradas discussões de Camargo (2003) e Leff
(2001), bem como Gutiérrez & Prado (2000), ainda Avanzi (2004), Dias (1994), Tristão
(2004), Loreiro (2004), Lima (2004), Barcena (1997), Burbules & Torres (2004), Andrade
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(2009), como os teóricos eleitos à fundamentação às discussões sobre meioambiente,
bioética, bioecologia, questões sócio ambiental e educação embiental, temas estes,
essenciais à relação homem/meio, vida e produção de alimentos.
No capítulo 4, onde os biocombustíveis e o frágil sistema mundial de necessidades
e economias são abordados, os teóricos Mário Penz Júnior e Mário Gianfelici (2008)
oferecem os embasamentos, conduzindo o trabalho aos primórdios da humanidade e suas
formas alimentares, com passagem pela fixação do homem e mudanças alimentares.
Sobre inovação energética, os biocombustíveis ganham atenção especial, pela
polêmica de competirem com os alimentos, encontrando marco teórico em artigos
publicados pela Organização dos Estados Americanos [OEA] (2007).
O Programa Alimentar Mundial [PAM] (2008) é outra fonte primária de relevância
quando o tema é segurança alimentar. O Banco Mundial, Bird (2008), através de seu
presidente Zoellick, Robert, faz-se também relevante quando tratamos sobre crise alimentar.
Em Chonchol, (1987 /1989) no livro O Desafio Alimentar, traduzido por Alcy Cheuiche
(1989), analisa a Conferência alimentar mundial de Roma. Fritz Baade (1956) é outro
pesquisador que marca em nossas buscas, através de seu livro Teoria mundial da alimentação, com
incursões abrangentes sobre áreas agricultáveis, produção e expectativas alimentares para a
humanidade, livro este, traduzido em Lisboa por José Ervedosa em 1963. Malassis (1993)
traduzido por Rabaça em 1994 trata com profundidade sobre como alimentar os homens.
Lebrel (1960) no livro O Drama do Século XX traduzido em 1962 por Santa Cruz e
Souza faz-se também doutrinador da problematização em foco, onde encontram-se
confrontações das complexidades alimentares. Nos pesquisadores Minayo e Dowbor (1985) no
livro Raízes da Fome, falam com profundidade sobre a Subnutrição no terceiro mundo.
Em Abramovay (1985) no livro O que é fome? Aprofundamos pesquisas sobre as
populações biológicamente vulneráveis em consequência da fome.
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Jornais como BBC de Londres; O Estado de São Paulo; O Globo, entre outros,
também constituem-se em importantes fontes auxiliares enquanto marco teórico.
O trabalho foi elaborado mediante ampla revisão bibliográfica, estudando-se as
causas da fome no mundo contemporâneo, identificando-se àquelas de maior
repercussão sobre os seres, retiradas de relatórios e documentos oficiais de
organizações mundialmente reconhecidas e instituídas sob princípios formais
internacionais. Também, àquelas apontadas por pesquisadores da área.
Na parte que se refere ao Marco Metodológico é determinada a metodologia
adotada no presente trabalho, com enfoque qualitativo e tipo de estudo descritivo , sob
técnicas de análise de conteúdos. Naquela destinada aos Resultados damos enfoque aos
dados e respectivas apresentações, com direcionamento de menção estratificada aos
resultados de maior relevância.
Na parte que trata das conclusões e recomendações, com base nas principais
fundamentações, conceitos e argumentos dos autores e organizações que compõem este trabalho,
aproveita-se à inferência das conclusões pessoais sobre o que foi estudado, reunindo-se,
descritivamente, as principais causas naturais e humanas da fome no mundo contemporâneo.
Irrefutavelmente o enfoque da presente tese é de grande relevância. Isto, por constituir-se
na concentração dos elementos essenciais responsáveis pela existência, manutenção e avanço da
fome no mundo. Logo, concentrados em um corpo de estudos, antes dispersos, mais fácilmente
podem ser identificadas, ainda que por descrição, as principais causas da fome no mundo. De
onde, melhor conhecendo-as, mais facilmente se tornará a criação de dispositivos à
minimização de seu efeitos ou até suas totais neutralizações, em busca da erradicação da fome
no mundo, proporcionando aos seres, com a evolução das pesquisas e sobretudo suas
implementações, pleno acesso aos alimentos.
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Finalmente, posicionamo-nos cientificamente, sob pressupostos de convergência
lógica das tendências e lacunas observadas, descrevendo, identificativamente, como
esforços contributivos, as variáveis de maior convergência teórica, apontadas pelas
instituições e pesquisadores estudados, como principais responsáveis das causas e origens
da fome no mundo contemporáneo.
Assim, as principais causas da fome no mundo, sob as bases naturais e humanas,
justificam nosso objetivo geral, de serem identificadas. Para este fim, utiliza-se como fonte
primária, os dados constantes dos relatórios da (Food and Agriculture Organization [FAO] 1974
– 2008), onde se evidenciam informações à somarem ao projeto de tese na forma de hipóteses.
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1. EVOLUÇÃO E COMBATE ÀS PRINCIPAIS CAUSAS DA FOME NO MUNDO
Neste capítulo inicial nos propomos à uma Visão Geral, ainda que estratificada,
sobre a Evolução do Pensamento Global de Combate a Fome no Mundo. Ainda, buscamos
relacionar em identificação, as Principais Causas da Fome no Mundo Contemporâneo.
1.1. Conferência Mundial da Alimentação, Roma, 5 a 6 de novembro de 1974
Na Conferência Mundial da Alimentação, ocorrida em Roma, entre 5 e 16 de
novembro de 1974, segundo a (Organização das Nações Unidas [ONU] 1974) os governos
tomaram para si o problema da produção e do consumo alimentar global, e solenemente
proclamaram "o direito inalienável de cada homem, mulher e criança viver livre da fome e
desnutrição, atingindo o pleno desenvolvimento de suas capacidades físicas e mentais."
1.2. Conferência Internacional sobre Nutrição, Roma, 1 a 3 de dezembro 1992
Em Roma, entre 1 e 3 de dezembro de 1992, na sede do órgão da ONU responsável
pela agricultura e alimentação (Food and Agriculture Organization [FAO] 1992) realizou-
se a Conferência Internacional sobre Nutrição. Seus patrocinadores foram a FAO e a
Organização Mundial da Saúde - OMS.
A conferência supra contou com a presença de delegações de 159 países,
Comunidade Econômica Européia, 16 agências das Nações Unidas, 11 organizações
intergovernamentais e 144 organizações não-governamentais.
As conversações incidiram sobre as formas de combate à fome e à desnutrição.
Aspectos gerais de caracterização da desnutrição e doenças decorrentes da fome foram
levantados, delimitados e projetados em escalas mundiais. Também as mortes diárias e
anuais ganharam destaque, apontando-se para o alarmante número médio de 25 mil mortes
impostos pela fome todos os dias somados os índices do conjunto dos países que integram
a Organização dos Estados Americanos.
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1.3. Primeira Reunião de Cúpula das Américas
1.3.1. Entre 9 a 11 de dezembro de 1994, Miami, Flórida, EUA
No sítio http://www.summit_americas.org/eng-2002/summit-process.htm,
recuperado em 14 de março de 2009, encontramos um farto material sobre todas Reuniões
de Cúpulas das Américas. A Primeira Cúpula das Américas teve lugar em Miami, de 9 a
11 de dezembro de 1994. A reunião produziu uma Declaração de Princípios e um Plano de
Ação assinada por todos os 34 chefes de Estado e de Governo participantes.
É importante observar haver sido esta, a primeira Cúpula em que todos os líderes
foram democraticamente eleitos e também primeira Reunião de Cúpula onde foram
incluídos o Canadá e os Estados insulares do Caribe.
A Declaração de Princípios estabeleceu um pacto de desenvolvimento e
prosperidade baseada na preservação e fortalecimento da comunidade democrática das
Américas.
O documento supra propôs a expansão da prosperidade através da integração
econômica e livre comércio, objetivando erradicar a pobreza e a discriminação no hemisfério
sul e garantir o desenvolvimento sustentável, protegendo simultaneamente o ambiente.
O Plano de Ação de Miami continha as seguintes iniciativas, agrupadas em 22 os
seguintes temas: Fortalecimento da Democracia; Direitos Humanos; Fortalecimento da
Sociedade; Valores Culturais; Corrupção; Narcotráfico; Terrorismo; Confiança Mútua;
Livre Comércio; Capital Markets; Infra-estrutura Hemisférica; Cooperação Energética;
Telecomunicações; Ciência e Tecnologia; Turismo; Educação; Saúde; Mulher; Micro
Empresas; Capacetes Brancos; Utilização Sustentável da Energia; Biodiversidade;
Prevenção da Poluição e agendar a Reunião de Cúpula Mundial de 1995 sobre o
Desenvolvimento Social.
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1.4. Projeto do Milênio da Organização das Nações Unidas
A meta de redução em 50% da Fome no Mundo até 2015 resultou de Reunião
realizada em Copenhague, na Dinamarca, entre 6 a 12 de março de 1995. Nesta reunião,
Jacque Diouf, então presidente da FAO, no discurso de abertura, apelou às Nações,
objetivando sensibilizar o mundo a um distribuir mais humano dos recursos ao acesso
linear aos meios de subsistência, trabalho, saúde e moradia, sobretudo aos alimentos. Estes
últimos, como resultado final de democratização alimentar. Também em 1975, líderes
mundiais se reuniram em torno da problematização fome, apontando metas, não de
minimizá-la, mas de erradicá-la até 1995, ano alvo este, resultou no discurso infra.
Pronunciamento do Presidente da FAO, Jacques Diouf (1995):
Reunimo-nos aqui para assumir o compromisso, junto aos nossos governos
e Nações, de promover o desenvolvimento social em todo o mundo para que
todos os homens e mulheres, especialmente aquelas que vivem na pobreza,
possam exercer seus direitos, utilizar os recursos e partilhar as
responsabilidades que lhes permitam levar vidas satisfatórias e contribuir
para o bem-estar das suas famílias, suas comunidades e da humanidade.
Para promover e apoiar estes esforços devem ser prioridades da comunidade
internacional, particularmente os seres que são afetados pela pobreza,
desemprego e a marginalização social (FAO, 1995, online).
1.5. Reunião de Cúpula Mundial da Alimentação
Em Roma entre os dias 13 e 17 de novembro de 1996, a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, conduziu a Reunião de Cúpula, em
resposta à desnutrição generalizada.
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Na pauta, apresentava-se também as preocupações com a capacidade da agricultura
para satisfazer as futuras necessidades alimentares da Humanidade (FAO, 1996, online).
No decurso de cinco dias as reuniões giraram em torno de altíssimos níveis de
debates sobre preocupantes temas humanos, participando representantes de 185 países e a
Comunidade Européia.
Como resultados da Reunião de Cúpula, aprovaram-se a Declaração e o Plano de Ação
sobre Segurança Alimentar Mundial, com o objetivo principal de reduzir a fome em 50% até o
final de 2015. Além de determinar as medidas adequadas para alcançar a segurança alimentar
universal. Fazendo desta reunião referência mundial em resposta à desumana situação de fome,
de números elevadíssimos em muitos países, capaz de levar milhares de pessoas, não só à
inaptidão de saúde e incapacidade ao trabalho, como à morte.
Segundo a Academia de Letras do Brasil, ALB (2009),
Este acontecimento histórico, realizado na sede da FAO em Roma, reuniu
cerca de 10.000 participantes e proporcionou um fórum de debate sobre um
dos assuntos mais importantes que irão se defrontar os líderes mundiais no
novo milênio: a erradicação da fome (online)
No site da ALB (www.academialetrasbrasil.org.br) são encontradas iinformações
que tratam a respeito da adoção da Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar
Mundial e Plano de Ação da Reunião de Cúpula Mundial da Alimentação por 112 chefes
de Estado e de Governo ou seus representantes, e por mais de 70 altos representantes de
outros países, definindo-se, tal encontro, como uma reunião estratégica mundial,
envolvendo, não apenas chefes de Estados como também contou ativamente com
representantes de Organizações Intergovernamentais [OIG]; e Organizações Não-
Governamentais - ONGs, tendo proporcionado um quadro para introduzir mudanças
importantes nas políticas e programas necessários para disponibilizar comida para todos.
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Programas estes que envolvem desde as mais elementares às mais complexas causas da
fome, como doenças, guerras, conflitos civis, clima, trabalho, cuidados pré-natal e
saneamento básico.
1.6. Seguimento da Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres
1.6.1. Sessão Extraordinária das Nações Unidas - Mulheres do Ano 2000
Em 2000 deu-se seguimento sobre a plataforma de ação de Pequim/1995, ficando
também conhecida como Pequim + 5. Ocorreu em Nova Yorque, entre 5 e 9 de junho de
2000. Ênfase especial foi dada à Igualdade entre Mulheres e Homens, Desenvolvimento e
Paz para o Século XXI.
Segundo o site www.parlamentoeuropeu.org (2009) em 15 de dezembro de 2000,
na Quarta Cúpula e Quarta Conferência Mundial Sobre a Mulher, realizada em Nova
Yorque, entre 5 e 9 de junho, a comunidade internacional reconheceu expressamente que a
mulher e o homem viviam em diferentes e desiguais estados de miséria e empobreciam de
maneiras diferentes, necessitando ser consideradas tais distinções à compreensão das
causas da pobreza, ou mesmo para nortear ações pelos Estados à adoção de medidas para
eliminação das condições diferenciadoras.
Na ocasião foram detectados diversos fatores a serem combatidos em escala
mundial. Fatores estes que continuam impedindo a emancipação econômica da mulher,
propiciando a crescente feminização da pobreza, observada ainda em 2009.
Os principais fatores apontados pelo sítio parlamentoeuropeu (2009) são:
(...) a persistência da discriminação das mulheres no mercado de trabalho; a
diferença de salários; desigualdade de acesso aos recursos produtivos e de
capitais; desigualdade de acesso à educação e a formação; fatores sócio-
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culturais que continuam a influenciar as relações entre gêneros perpetuando
a discriminação contra as mulheres (online)
Foi reconhecido que a igualdade entre homens e mulheres é essencial para o
desenvolvimento social. Ainda, de serem muito lentos os progressos têm no tocante a
incorporação de perspectivas de gênero em todas as políticas e programas que visem erradicar
a pobreza, proporcionando às mulheres os meios necessários para melhorar sua situação.
Apenas com finalidades de facilitação aos pesquisadores, dispomos dados as
sucessivas conferências mundiais sobre a Mulher: a 1ª. ocorreu no México, em 1975. A 2ª.
em Copenhague, Dinamarca, no ano de 1980. A 3ª. em Nairobe, Quênia, no ano de 1985. A
4ª. considerada a mais importante Conferência Mundial sobre a Mulher, teve como sede
Pequim, China, ocorrendo em 1995. Duas outras sucessivas a Pequim, se fizeram em Nova
Yorque: 4ª.1 Nova Yorque, de 5 a 9 de junho, conhecida como Pequim + 5 e, a 4ª.2, Nova
Yorque, de 28 de fevereiro a 11 de março, conhecida como Pequim + 10. Maiores
aprofundamentos e pesquisas podem se fazer através do sítio:
http://www.europarl.europa.eu, consultado em 13 de março de 2009.
1.7. Reunião de Cúpula Mundial da Alimentação de 1996
Segundo o Relatório da FAO (1996), representantes de 185 países e a Comunidade
Européia, se comprometeram na luta para eliminar a fome no Mundo. Como um primeiro
passo para o alcance desse objetivo, foi definida a meta de reduzir o número de pessoas
famintas pela metade até 2015.
1.8. Reunião de Cúpula Mundial da Alimentação de 2001
Ocorrendo em Roma, entre 10 e 13 de junho de 2001, esta segunda Reunião de
Cúpula confirmou o compromisso de reduzir a fome no mundo à metade até 2015 e apelou
para a formação de uma aliança internacional para acelerar os esforços para o alcance do
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objetivo. Tal assertiva, segundo a FAO (2001) quando, por foi aprovado por unanimidade
uma declaração em que pede à comunidade internacional para cumprir o compromisso
assumido quando da primeira Reunião de Cúpula Mundial da Alimentação, de reduzir o
número de pessoas famintas para cerca de 400 milhões até 2015.
A Reunião de Cúpula de Roma de 2001 foi marcada pela presença de delegações de 179
países e pela Comissão Européia - chefiado por 73 chefes de Estado, governo ou seus delegados.
A Reunião de Cúpula foi convocada para que um grupo de trabalho
intergovernamental elabore diretrizes voluntárias para fazer avançar a
implementação do direito à alimentação.
Reverter o declínio do orçamento geral dos países em desenvolvimento
para a agricultura e o desenvolvimento rural, com a assistência prestada pelos
países desenvolvidos, empréstimos de instituições financeiras internacionais e de
contribuições voluntárias para o Fundo Fiduciário da FAO para a Segurança
Alimentar e Segurança dos Alimentos (FAO, 2001).
A Reunião de Cúpula de Roma de 2001 também proporcionou um fórum para os
interessados na luta contra a fome, onde participaram os funcionários governamentais,
comunidades de agricultores, silvicultores e pescadores, Organizações Não
Governamentais [ONGs], a juventude e os grupos indígenas. Muitos atos simultâneos
ofereceram oportunidades para que os delegados discutissem temas congruentes à fome,
desde o papel da mulher rural na alimentação mundial, às atividades da FAO frente a
situações de emergência alimentar. Ainda, foi realizado um encontro de parlamentares, um
fórum do setor privado e outro fórum de ONGs e de organizações sociais, paralelamente
ao evento oficial.
A FAO apresentou durante a Reunião de Cúpula de Roma em 2001 os programas de
combate à fome. Também, observou que o dinheiro economizado, reduzindo subsídios,
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poderia pagar parte do programa, que conta com U$ 24 000 milhões de investimentos
públicos adicionais nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estes fundos, segundo
a FAO (2001) seriam utilizados para melhorias para as fazendas, por exemplo: irrigação,
sementes melhoradas, conservação da base de recursos naturais para a produção de
alimentos, elevação dos serviços de pesquisa e extensão, além de melhorar a infra-estrutura
rural e oferecer um melhor acesso aos mercados, bem como dispor de maiores e especiais
cuidados às pessoas com condições especiais de necessidade.
Este fórum salientou a necessária participação do setor privado para eliminar a fome
e sublinhou a importância do desenvolvimento das infra-estruturas e a ausência de conflitos
e as lutas de poder. Relevância ao amadurecer das idéias mundiais e organização das
estratégias de combate à fome.
Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal, 2004) a Reunião de
Cúpula de Roma de 2001, objetivou discutir os progressos realizados para eliminar a fome no
mundo, havendo sido concebida para acompanhar os progressos realizados desde a Reunião de
Cúpula 1996, submetendo formas de acelerar o processo às considerações dos participantes.
Segundo a Cepal (2004), o pronunciamento oficial de Jacques Diouf, Diretor Geral da FAO à
Reunião de Cúpula de Roma 2001, objetivamente aponta para a necessidade de definições quanto
ao incremento da decisão política e dos recursos financeiros para lutar contra a fome:
O objetivo deste evento é inculcar novos poderes para os esforços globais para
com as pessoas que passam fome. É necessário aumentar os recursos
financeiros e políticos para lutar contra a fome. A comunidade internacional
tem reiterado o seu compromisso com a erradicação da pobreza. A eliminação
da fome é um primeiro passo crítico (online).
Os dados de 2001 indicam que o número de pessoas com carências específicas
alimentares, por consequência, subnutridas, vem declinando na média de seis milhões por
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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ano (FAO, 2001), bem inferior à taxa de 22 milhões de pessoas anualmente, necessária ao
alcance da meta da Cúpula Mundial da Alimentação, a qual [meta] objetiva adentrar o ano
em 2015 com a metade de pessoas com graves problemas alimentares quando do
lançamento da proposta, reduzindo assim, de 800 para 400 milhões o número de pessoas
que enquadram-se na condição penúrica de famintos. Caracterizando-se em um crime de
proporções internacionais.
Embora reconhecendo que alguns países e comunidades tenham conquistado
significativos progressos contra a fome, a FAO (2001) destacou que muito ainda resta a ser
feito, solicitando que os líderes mundiais definem os passos necessários em seus países
para alcançarem o objetivo e sugiram formas de acelerar o processo, dividindo assim, com
os Estados membros da ONU, a responsabilidade sobre os ODM. Na mesma reunião, a
FAO demonstrou a necessidade de serem apresentadas e submetidas sugestões a serem
discutidas e consideradas quanto as formas de serem aumentados os recursos para a
agricultura e o desenvolvimento rural.
1.9. Conferência Alimentar Mundial de Roma de 1974
Não obstante, em 1974, 130 países fizeram-se representar na Conferência
Alimentar Mundial de Roma. Na ocasião, solenemente assumiram compromissos em
relação à Erradicação da fome no Mundo.
A meta resultante da Conferência Mundial de Roma fora a erradicação mundial da
fome e desnutrição em um período de dez anos. Solene e oficialmente o ano/meta era
1984. Contudo, depois de alguns progressos nos 6 anos imediatos ao compromisso,
observou-se, isto sim, a partir de 1980, a elevação dos números de fome no mundo.
Sobretudo pelo não cumprimento dos acordos e metas propostas em 1974 pelos governos
dos 130 Estados participantes (Chonchol, 1987 /1989).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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1.10. Extrato Histórico dos Objetivos do Milênio de 2000
Na Cúpula do Milênio em setembro de 2000, a maior reunião de líderes mundiais
na história, segundo o Relatório da FAO (2000), foi adotada a Declaração do Milênio das
Nações Unidas, comprometendo suas nações numa parceria global para reduzir a pobreza,
melhorar a saúde e promover a paz, os direitos humanos, a igualdade de gênero e a
sustentabilidade ambiental. Logo depois, segundo o Relatório da FAO (2002), os líderes
mundiais encontraram-se novamente na Conferência Internacional de março de 2002 sobre
Financiamento para o Desenvolvimento, em Monterrey, México, estabelecendo um marco
de referência para balizar a parceria global de desenvolvimento, no qual os países
desenvolvidos e os países em desenvolvimento concordaram em adotar ações conjuntas
para reduzir a pobreza. Mais tarde no mesmo ano, os Estados membros das Nações Unidas
reuniram-se na Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo,
África do Sul, onde reafirmaram os Objetivos como as metas de desenvolvimento já
aprazadas para o mundo. Mundo este, que mais uma vez, através dos ODM, ao menos em
intenções e no papel, propunham a enfrentar a fome.
1.10.1. Posição em 2008, com Menos Dez anos para o Ano Meta de 2015
Segundo a FAO (2008) o mundo avançou muito na consecução dos Objetivos.
Entre 1990 e 2002 a renda total média aumentou em aproximadamente 22 por cento. O
número estimado de pessoas vivendo em extrema pobreza diminuiu em 130 milhões.
A taxas de mortalidade de crianças menores de 5 anos caíram de 88 mortes por
1.000 nascidos vivos por ano para 70. A expectativa de vida subiu de 63 anos para quase
65 anos. Nove por cento de pessoas no mundo em desenvolvimento ganharam acesso à
água. Quatorze por cento passaram a ter acesso a melhores serviços de saneamento.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Segundo a FAO (2008) a África Subsaariana é o epicentro da crise. Isto, pela
constante insegurança alimentar, crescimento da extrema pobreza, mortalidade materna e
de crianças menores de 5 anos extremamente elevada, além de um grande número de
pessoas vivendo em assentamentos precários e um atraso generalizado na consecução da
maioria dos ODM.
Ainda, no mesmo Relatório, observa-se a Ásia como a região com progresso mais
rápido, embora centenas de milhões de pessoas permaneçam na extrema pobreza e mesmo
os países em crescimento rápido não consigam atingir alguns dos Objetivos não
relacionados à renda.
Outras regiões constam no Relatório como apresentando situações variadas,
notadamente a América Latina, as economias de transição, o Oriente Médio e o Norte da
África, freqüentemente com progresso lento ou nenhum progresso em alguns dos Objetivos e
desigualdades persistentes que comprometem o progresso em outros.
O progresso também tem sido limitado na Ásia Oriental, Sul da Ásia, Ásia
Ocidental e Oceania, e a mortalidade continua muito elevada na África Subsaariana.
1.11. Números Sobre a Pobreza e a Fome no Mundo
A seguir, identificamos números gerais do ano de 2006 que somam às causas da
Fome no Mundo, segundo a equipe editorial do sítio webciencia (2008). Recuperado em
17 de fevereiro de 2009, de http://www.webciencia.com.br:
O Mundo conta com 1 bilhão de analfabetos;
1,1 bilhão de pessoas vivem na pobreza, destas, 630 milhões são
extremamente pobres, cuja renda per capta anual é menor que 275 dólares, o
que equivale a 0,75 dólares ao dia, ou 22,6 dólares ao mês;
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Cerca de 1,5 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável, ou
aproximados 1/4 da humanidade;
Aproximados 1 bilhão de pessoas passam fome.
Uma para cada três crianças com menos de cinco anos no mundo
encontram-se subnutridas, o que corresponde a 150 milhões de crianças
com menos de 5 anos de idade. Destas, 12,9 milhões de crianças morrem a
cada ano antes de completar 5 anos de vida (online).
Passemos ao estudo e conhecimento de mais números voltados à relação existente
sobre população e extrema pobreza no mundo entre 1980 e 2009.
O mundo contava em 1980 com uma população na ordem de 3,4 bilhões de pessoas
(Chonchol, 1987 – 1989) chegando à ordem de milhões os que viviam sob o rótulo da má
nutrição. As cifras da FAO citada por Chonchol (1980) mostram que haviam 450 milhões de
pessoas no mundo com um consumo alimentício diário inferior às suas necessidades vitais.
Estudos realizados pela International Food Policy Research Institute de
Washington, também citada por Chochol (1980), estimou-se que os subalimentados
permanentes em 1980 chegavam à 900 milhões entre homens, mulheres e crianças.
Em 2008 segundo a FAO (2008) a População Mundial é 6,5 bilhões de pessoas,
dentre as quais, 923 milhões vivem em estado de extrema pobreza.
Segundo o World POPClock Projection (2009) o mundo em abril de 2008 contava
com 6.661.799.168 de habitantes. Já o US Census Bureau (2008) órgão do governo dos
EUA que faz a contagem populacional interna e estimativas sobre a população mundial,
em maio de 2008, se chegaria a marca de 6.600.000.000 pessoas sobre o planeta. O Bird e
FMI, afirmam, segundo a Agência Brasil (2009), entidade governamental brasileira, que
em decorrência da crise mundial americana, 55 milhões de pessoas no mundo serão
levadas à condição de extrema pobreza.
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Assim, alcança-se uma visão inicial sobre a evolução do pensamento mundial de
combate a fome. Suficiente e plausível ao convencimento e convicção, sob os dados
apresentados, que existe a consciência por parte das autoridades internacionais sobre a
grandiosidade da miséria mundial humana. Somado-se à consciência e buscas de
pesquisadores como Chonchol (1985), à identificação e análise das principais causas da fome
no mundo. Sobretudo em busca da multiplicação de seus conhecimentos e experiência,
objetivando a evolução do pensamento e métodos em combate a esta miséria humana.
1.12. Identificação das Principais Causas da Fome no Mundo
Sob o tema supra são reunidas informações sobre as Causas Naturais e Humanas da
Fome no Mundo, fundamentando-se em instituições e autores que por suas trajetórias se
fazem cientificamente confiáveis. Sobretudo são embasas em informações de fontes
primárias, devido as comuns distorções observadas em fontes secundárias, seguindo as
recomendações técnicas normatizadoras da Américan Psychological Association [APA]
2009) adaptadas e instituídas pela (Universidad Autónoma de Asunción [UAA] 2009).
1.13. Causas da Fome
Encontramos unanimidade sobre as principais causas da fome na visão dos
estudiosos pesquisados, dentre os quais, o alemão, natural de Neurippin, humanista,
teólogo, médico e advogado Fritz Baade (1956/1963) em seu livro: Economia Mundial da
Alimentação (1973), aponta também para os dois grandes grupos, naturais e humanas,
como responsáveis pela fome no mundo. Ganhando, em Hudson (1989), subdivisões.
1.13.1. Causas Naturais
São apontadas como as principais causas naturais, por Hudson (1989), o clima;
secas; inundações; terremotos; pragas e, enfermidades de plantas.
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1.13.2. Causas Humanas
Segundo a ALB (2009), as Causas Humanas, responsáveis pela fome, são muitas,
interagindo umas sobre as outras reciprocamente. Algumas têm imediata repercussão sobre
as demais. Existindo assim, segundo a ALB, aquelas que exercem maior influência
desencadeante quando deflagradas. Como exemplo, encontramos as Guerras e as
Catástrofes Naturais. Estas, por sua vez, quando presentes, ganham rápido reforço das
demais causas, multiplicando-se rapidamente a fome, pela incidência sob diversas frentes.
Existe uma grande complexidade na relação entre as Causas da Fome. Por
exemplo, segundo a ALB (2009), ao apontar-se a Causa Guerra, como uma, entre as
principais causas humanas, haverá de ser admitido, concomitantemente, um motivo
desencadeante, ou seja, uma nova causa que a originou, a qual, comumente encontrar-se-á
fundamentada em interesses políticos, o que se apresenta como a causa da causa da causa.
E ao aprofundar-se um pouco mais no tema, observar-se-á que esta causa, interesses
políticos, conta suas bases, com circunstâncias de disputas econômicas e territoriais, o que
mais uma vez redirecionará as pesquisas a um novo fator determinante, que também
deverá ser considerado como causa. Contudo, neste momento, antes de um
aprofundamento maior, aponte-se outras entre as principais causas humanas da fome no
mundo, excetuando-se aquelas as já citadas: Recursos Naturais; Conflitos Civis; Acesso
aos Recursos e Meios de Produção; Planificação Agrícola; Estruturas Fundiárias;
Destruição de Colheitas; Bloqueios Econômicos; Endividamento dos Países mais Pobres;
Cultura; Fome Crônica e Desnutrição; Pobreza; Fome Moderada; Políticas Agrárias;
Demografia; Causas Naturais e Sociais; Petróleo; Biocombustíveis; Instabilidade Política;
Planos Econômicos Falhos; Proliferação de Vírus; Doenças; Dependência Econômica;
Cereais Destinados à Alimentação Animal; Desperdício de Alimentos (ALB, 2009).
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Certamente não esgotam-se as principais causas da fome no mundo, bastando a
proposição de avançar um pouco mais e novas causas se apresentam, como o fator idade
avançada, em idosos, apresentado-se com significativos percentuais de manifestações da
desnutrição. Isto ocorrendo, nesta causa em especial, mesmo diante a recursos financeiros
fartos. Mas, isto sim, pela distância de familiares que se lhes preparem alimentos e ou mesmo
que lhes sirva. Não obstante, que auxiliem o idoso a levar à boca os alimentos (Hudson, 1989).
Avance-se ao estudo isolado das Causas da Fome no Mundo. Ainda que sempre
presente se faça a possibilidade de ser constatado ao longo das pesquisas ora
incursionadas, algumas para as quais aponta-se inicialmente dentre as principais causas
naturais e ou humanas da fome, não venham a firmarem-se, exigindo sua refutação.
1.14. Estudos das Causas Humanas
Sobre o tema Causas Humanas, são utilizadas publicações disponíveis no sítio
(www.academialetrasbrasil.org.br), endereço este, oficial da Academia de Letras do Brasil
(ALB, 2009), apontando para estas, sobretudo em sua variável política, perfazendo um elo
entre variáveis interdependentes, iniciando pela improbidade administrativa que dá
margem aos desvios de recursos e instabilidades econômicas.
Diante aos desvios econômicos, propiciados pela má administração, havemos de
observar, segundo o mesmo sítio e ano supra, da ALB, resultados repercutirem-se na falta
de recursos a serem aplicados em programas de desenvolvimentos e também sociais,
enfraquecendo-se os estímulos e incentivos à produção interna, fonte de divisas quando
utilizados os excedentes ao comércio internacional. Desdobrando-se necessariamente, em
maior empobrecimento das classes menos privilegiadas da população e falta de alimentos;
rotulando-se o país como de alto risco aos investimentos dos mercados internacionais.
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Na falta de investidores e capitais externos, são elevados os juros, objetivando
desaquecer a economia, com consequente diminuição de acesso das populações aos alimentos e
demais gêneros de consumo, o que refletirá na elevação dos índices da miséria e fome.
Este tema, além da fonte supra citada, encontra sustentação e fundamentação em
discussões na disciplina de Economia Internacional, ministrada pelo Prof. Dr. Fábiam Alejandro
Monges Ojeda I Macedo (2008, julho) titular da cadeira no curso de Mestrado em Relações
Internacionais da Universidad Autónoma de Asunción, Paraguay.
Segundo a ALB (2008) como Causas da Fome, ainda sob o paradigma político-
administrativo deficitário, onde são observadas a corrupção e improbidade política e
administrativa, leva a um sucateamento dos serviços essenciais de educação, saúde e
transportes; estagnação do desenvolvimento científico e tecnológico, com elevação do
número de mortes por falta de acesso a alimentos e saúde, além da elevação dos sem teto
pela falta de investidores no sistema imobiliário e consequente falta de linha popular de
crédito à aquisição da casa própria.
O enriquecimento de minorias políticas por crimes de corrupção, ainda segundo a
ALB (2009) resulta na manipulação e manutenção do poder, reproduzindo-se pelas
populações em corrupções em menores proporções. Porém, generalizadas, seguindo o
exemplo dos governantes, registrando-se paralelamente a elevação de furtos e aumento da
criminalidade por desrespeito em confrontação com a corrupção política. A elevação das
necessidades estruturais policiais e a descredibilidade generalizada na justiça, são pontos
também destacados pela ALB (2009).
Sob as bases supra, firma-se e eleva-se a descredibilidade na justiça, por permitir
ou dar margem a continuidade da corrupção pela falta de critérios seletivos ao acesso dos
políticos corruptos ao poder. Como bem se pode observar, como exemplo, o Brasil,
evidenciando-se a corrupção publicamente no Governo Collor de Mello, com redução no
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Governo Fernando Henrique Cardoso, voltando a acentuar-se no governo Lula da Silva, a
partir dos anos 2002 (ALB, 2009).
No mesmo sítio, referindo-se a má política administrativa, sob o contexto maior de
Causas Humanas, encontra-se também a administração dos Recursos Naturais.
1.14.1 Recursos Naturais
Quando da ineficácia na utilização dos recursos naturais ou por suas más
administrações e ou mesmo por interesses econômicos em suas explorações, resultam
também em fome, o que soma às causas de sua origem (Velázquez, 2007).
1.14.2 Guerras
As guerras, como causas que somam a disseminação da Fome, são motivadas por
ambições territoriais, domínios econômicos, submissão de sistemas, distúrbios mentais de
líderes, ideologias, entre outras razões, que somados seus resultados determinam
desorganizações dos sistemas produtivos, de comércio e distribuição dos alimentos, além do
sucateamento dos meios de produção. Daí, a elevação do número de necessitados, tanto por
mutilações, incapacitando-os ao trabalho, como pela geração de órfãos e ou mesmo por
distúrbios e neuroses provenientes de conflitos existenciais, decorrentes dos horrores da
guerra. A dita simples coleta de lixo, em sua ausência, soma-se decisivamente à desordem e
proliferação de doenças, superlotando e incapacitando os sistemas de saúde (Hudson, 1989).
1.14.3. Conflitos Civis
Os conflitos civis são motivados por desorganização interna dos países, ainda, por
governos autoritários e corruptos, sistemas e regimes conflitantes com os interesses populares,
ideais de independência por grupos insatisfeitos com os respectivos governos, divergências
religiosas, interesses sobre terras e demarcações autoritárias sem a observância de fatores
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históricos relacionados à posse, direito de propriedade e utilização produtiva das terras,
resultando em mortes e elevação do número de necessitados (Robles Tejada, 2000).
1.14.4. Acesso aos Recursos e Meios de Produção
Sejam trabalhadores rurais, sem-terras ou mesmo populações, diante a falta de
acesso aos recursos e meios de produção, são colocados em condições de
precariedade subsistencial, somando-se como causas da fome.
1.14.5. Planificação Agrícola
Na falta ou se deficiente a planificação agrícola, são observados resultados em
mais fome e distanciamentos sociais.
Segundo a ALB (2009), não se encontra, a priori, nos sistemas de buscas, quaisquer
referências a planificações de Municípios, Estados ou Nações, no tocante a distribuição
geográfica de produção de alimentos por região de seu natural desenvolvimento agrícola,
excetuando-se as hortaliças, por exigirem sempre cuidados especiais. Mas, isto sim,
cereais, tubérculos e frutas. Se no Norte do Brasil, Roraima, são encontradas pupunha,
jaca, maracujá, caju, buriti, carambola, jambo, açaí, manga, pinha, goiaba, acerola,
taperebá, limão, cacau, graviola, mamão, mandioca, arroz, banana, coco, abacaxi,
desenvolvendo-se naturalmente, sem auxílio de agrotóxicos e fertilizantes, enquanto no
sul, em regiões específicas, encontra-se naturalmente a laranja, bergamota, butiá, banana,
uva, ameixa, pêssego, goiaba, araçá, amora, pêra, maçã, pitanga, abacate, jabuticaba,
mandioca, limão, marmelo, mamão, melão, morango, pinha, romã, batata doce, pinhão,
amendoim, entre outras frutas que facilmente se desenvolvem em determinadas regiões,
podendo ser encontradas no sítio: (www.colegiosaofrancisco.com.br) premissa esta capaz
de nos proporcionar uma visão de mundo, onde em suas regiões, plantas e sementes
adaptem-se naturalmente, com super produções de alimentos. Da mesma forma em cada
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Estado. Uma divisão por região agrícola de potencial de produção, com posteriores trocas
e exportações das colheitas que excedam às necessidades internas, significa planejamento,
isto sim, produção alimentar.
1.14.6. Estruturas Fundiárias
A má distribuição de áreas produtivas e a concentração por poucos, aproximados 10%
apenas das populações mundiais, sobre os bens de produção, são também fatores determinantes
à motivação de mais fome e desequilíbrios sociais (Chonchol, 1985).
1.14.7 Destruição de Colheitas
Observância especial deve-se à destruição de colheitas, como causa consciente de
geração de fome em detrimento a manutenção de economias, com fim na manipulação dos
preços e lucros pessoais. Práticas estas observáveis por grandes empresários agrícolas,
comumente orientados por políticas oficiais de governo (Chonchol, 1985).
1.14.8. Bloqueios Econômicos
Os bloqueios e sansões econômicas, comuns aos cidadãos por imposições dos governos
como forma coercitiva de capitação de impostos e ou por empresas à garantia manutenção dos
volumes financeiros acumulados, e ou mesmo àqueles praticados pelos países contra os Estados
e estes contra os municípios e não obstante todos estes contra os trabalhadores, para exigir-lhes
responsabilidades, somam-se todos as causas da fome. Sobretudo quando impostos por sistemas
internacionais como medidas de retaliação política a uma Nação. Os resultados se refletem como
diminuição da alimentação das populações trabalhadoras, sem no entanto atingir a mesa dos
governantes, seus familiares e grupos próximos.
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1.14.9. Endividamento dos Países mais Pobres
Não apenas os países, mas também os cidadãos, empresas, indústrias, municípios e
Estados, haverão de pagar juros e dividendos aos donos do capital, restringindo o alcance de
suas ações, a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome. Aos países endividados,
restará o pagamento de dívidas em detrimento à produção (ALB, 2009).
1.14.10 Cultura
Culturalmente, segundo a ALB (2009), como causas da fome, observa-se a influência
de hábitos errôneos alimentares, muitos impostos pela mídia a serviço e interesse de
multinacionais, capazes de manipular a vontade humana por força de rótulos e mesmo
formação de hábitos de seus interesses. Uma das formas como isto ocorre, se faz a partir da
doação de alimentos por um determinado período, para posteriormente usufruir a preferência
forjada pela dependência, com imposição de preços, tanto pela venda dos produtos
alimentares, quanto pela transferência de tecnologias e meios de produção.
1.15. Análise da Fome Sob Aspectos de Geração Humana
Segundo o sítio da ALB (2009), não é incomum atribuir-se ao crescimento
populacional a responsabilidade pela existência da fome, Malthus assim o fez. Da mesma
forma, às adversidades do clima e do solo.
Apesar da responsabilidade que pesa sobre todos os seres no tocante a fome no
mundo, e a assertiva da significativa influência destas variáveis sobre a questão da fome,
apresentam-se de forma a reduzir o problema, acomodando em parte as populações, para
que não pensem. Assim, não exercem pressão sobre os governos, permitindo-lhes o
exercício do poder sem um comprometimento maior. Dessa forma, são ofuscadas ou
ocultas outras variáveis, com não menos complexidades de contundentes efeitos de
manutenção e elevação da fome no mundo (Hudson, 1989).
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Respostas acomodadoras sobre a problematização em tela, oportunizam, segundo
Hudson, tão somente uma solução imediata e rápida, de alguma forma, descomprometida,
como se a extensão do problema não ultrapassasse os limites destas variáveis: demografia,
clima e solo.
Segundo Chonchol (1985), com uma análise mais detalhada permite constatar que a
fome é uma criação humana. Ela existe e maltrata bilhões de pessoas, formando-se de
crianças as principais e mais numerosas vítimas, atingindo a 61% da totalidade dos casos.
Ao se organizar em sociedade o homem criou uma desigualdade. De um lado, uma minoria
rica, dispondo de tudo quanto necessita para viver com qualidade e, de outro, a grande
maioria despojada de riqueza, sem contar sequer com o mínimo a sua sobrevivência, nem
mesmo com o que comer, imagine-se material de higiene, moradia, vestuário, transporte,
utensílios domésticos, móveis, cultura, educação e lazer.
Entre as causas da fome o processo de colonização pelos europeus, na América,
Ásia e África é genitor para os demais. Ao chegar nesses continentes introduziram seus
costumes e alteraram profundamente a organização social dos nativos. Exploraram suas
terras ao máximo. Implantaram propriedades agrícolas destinadas à exportação.
Com o desequilíbrio gerado pelos colonizadores, a produção de subsistência caiu e
os problemas de subnutrição e fome surgiram (Hudson, 1989).
Os problemas decorrentes da inadequada utilização da terra também pesam na
explicação da fome. Os países subdesenvolvidos têm, geralmente, um passado colonial.
Dentro da atual ordem econômica mundial, a maioria desses países não conseguiu livrar-se
do colonialismo econômico que ainda predomina nas relações internacionais. As suas
economias estão estruturadas de forma a atender as necessidades do mercado externo em
prejuízo do mercado interno. Dá-se maior atenção a uma agricultura para servir de
exportação do que para atender o mercado interno. Em vista disso, ocorre escassez de
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alimentos básicos para o mercado interno ou o seu preço é tão elevado que dificulta a sua
aquisição por grande parte da população de baixa renda (Chonchol, 1985).
O problema da fome no mundo certamente não ocorre por falta de produção de
alimentos, mas sim devido a causas sócio-econômicas. Acontece que a maior parte da
riqueza, especialmente nos países pouco desenvolvidos, onde ocorre a maior parte do
problema, está concentrada nas mãos de uma minoria, assim os que podem comprar
comida o fazem, mas os que não têm condições para isso passam fome.
A política da moeda da troca de alimentos por dinheiro está arraigada no mundo,
não contando com quaisquer perspectivas, a priori, de evolução. De serem retirados os
alimentos da linha de lucros e especulação. Também pela falta de uma política mundial
voltada para o alimentar indiscriminado humano.
Para Hudson, Alimentos e água não devem constar das políticas especulativas
como moedas, uma vez que atrás dos alimentos existem vidas que deles necessitam para
atender necessidades vitais, ímpares de desenvolvimento biopsicofísicos, para só então
desenvolverem-se socialmente. Senão todo alimento, ao menos que seja eleito um gênero,
como as frutas, retirando-as da linha comercial de capitação de recursos e lucros (1989).
Observamos desde o início dos anos 2000 os governos cada vez mais empenhados
em promover privatizações sob todos os meios de produção e serviços, eximindo-se cada
vez mais de responsabilidades, preocupando-se somente com as arrecadações. Os governos
podem trabalhar, assumindo para si, as responsabilidades sobre as condições essenciais,
mínimas de sobrevivência das populações. Uma imensa lacuna no tocante a serviços
essenciais encontra-se em aberto. Considera-se somente o serviço de saúde como
essencial. Contudo, a saúde é decorrente de uma melhor ou pior condição alimentar unida
a exercícios físicos, higiene e satisfação pessoal. Cada um destes elementos abre suas
próprias variáveis, com dimensões calculáveis e presumíveis, segundo os ideais
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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individuais dos seres. Em realidade, o que na década de 2000 se diz serviço de saúde, é
isto sim, um serviço e assistência sobre a doença depois de gerada, iniciada, em
desenvolvimento, o que a torna bem mais onerosa. Pois, sob uma aparentemente simples
assertiva interpretativa do fim à seguir, com aplicação e correto direcionamento de
posturas ao objeto fim da problematização, poderá resultar no redimensionamento da
questão, redirecionando-se esforços que, sob nova óptica e balizamento, poderão abreviar,
em dias, meses, anos, décadas ou mesmo séculos e milênios, toda uma trajetória de
esforços, se bem direcionados, e efetivamente voltados, sob uma linha de assertiva entre,
uma vez existindo o problema, ele e a efetiva solução (Hudson, 1989).
Se a questão for acabar com a fome, havemos de despender maiores esforços e
preocupação ao transporte, armazenamento e distribuição dos alimentos. Cuidados pré,
durante e pós-colheita, uma vez que somente nas colheitas perde-se 20% das safras. Rever-
se Leis, como ocorre no município do Rio de Janeiro, que se proíbe a distribuição popular
das sobras diárias de alimentos dos restaurantes. Se na Lei consta o risco de intoxicações
alimentares, que se preveja o correto armazenamento e distribuição com segurança. Assim,
além de se salvar vidas, se evitará desperdícios de alimentos.
Outro fator é a padronização dos produtos para comercialização, fazendo com que
parte da produção que não obedece a esses critérios, como produtos feios, pequenos ou
grandes demais ou manchados, seja condenada, também sendo totalmente perdida.
Deixando de ser redirecionada àqueles que mais necessitam.
Quem passa fome não se importa com tamanho ou cor de um alimento. Existem
ainda os excedentes de produção que costumam ocorrer, e ao invés de se fazerem doações
desses alimentos, os deixam estragar, como ocorreu com o soja, que teve excedente de
produção e empresas pagaram para ele não entrar no mercado, porque se entrasse seu
preço cairia. Então por quê não pagar para distribuí-la aqueles que não têm o que comer?
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
32
Isso mostra que as grandes empresas não querem alimentar os famintos, mas sim vender
suas sementes usando a fome no mundo especulativamente. Existe também o aumento da
dependência do produtor, que passa a ser um fantoche da empresa, pois precisa estar
sempre comprando suas sementes, porque elas não podem ser reproduzidas a partir do que
foi plantado, pagando um preço alto.
Como se não bastasse este tipo de cultura geralmente está associada ao uso de
produtos químicos produzidos pela mesma empresa.
Mesmo que se considere que a produção alimentar deva aumentar para aliviar a
fome mundial, então por que não são produzidas sementes com capacidade de crescer em
solos pobres? O que elevaria o conteúdo proteico por hectare, diminuindo a necessidade de
fertilizantes, pesticidas, regas ou maquinárias caras, voltando-se à características baratas e
próprias para alimentar pessoas acometidas pela fome crônica e desnutrição.
1.15.1. Fome Crônica e Desnutrição
A fome crônica e a desnutrição ganham atenção especial pela FAO (2007). Além
de ser a pobreza apontada como responsável direta pela multiplicação e geração da fome.
Segundo a FAO (2007), entre 5 e 20 milhões de óbitos são registrados anualmente
no Mundo em decorrência da falta de alimentos.
A fome extrema é uma fome onde o necessitado não come hoje, amanhã, depois e
dias seguintes. Dentre os mortos, 61% são crianças. Se considerarmos a média entre 5 e 20
milhões como 12,5 milhões de mortes ao ano, chegaremos ao número diário de 34.246
mortes, dentre as quais, 20.890 são crianças.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Um grande avanço é observado no relatório da FAO (2007), uma vez que a
problematização da fome e desnutrição ganham assertivas em definições de suas causas,
sobre as quais, a seguir, avançaremos em estudos.
1.15.1.1. Principais Causas da Fome e Desnutrição
1.15.1.1.1. Pobreza. Como condicional agravante observa-se a concentração das
rendas nacionais nas mãos de poucos, em detrimento de grandes massas populacionais,
gerando pobreza e consigo a fome. No relatório da FAO (2007), como principal causa
responsável pela fome e desnutrição, encontramos:
A pobreza é a principal causa da fome e da desnutrição: os pobres não podem
comprar comida suficiente nem prover a si mesmos uma dieta balanceada.
Produtores agrícolas pobres não estão em posição de produzir comida em
quantidade e qualidade suficientes para a própria subsistência (online).
1.15.1.1.2. Políticas agrárias. Deve-se primordialmente à concentração de terras em
grandes latifúndios, com subsequentes falta de recursos e meios de produção e escoação;
subsídios e ou protecionismos a mercados econômicos.
1.15.1.1.3. Demografia. O crescimento populacional quando não acompanhado de
equitativa capacidade produtiva, resulta também como causa da fome.
A assertiva supra, não pode ser confundida com a teoria malthusiana (Baade,
1856/1963): “(...) os homens têm tendência para se multiplicarem por forma mais rápida
que os seus alimentos (...)”. Além do exposto, Baade coloca que a teoria de Malthus,
entende ser as guerras, epidemias, miséria e a elevada mortalidade infantil, necessárias
para se restabelecer o equilíbrio entre a população e os alimentos (p. 9).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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1.15.1.1.4. Variável de equilíbrio. Ao equilíbrio alimentar, Malassis (1993/1994) faz
referência (cf) a identificação da variável fundamental: “Quando as superfícies cultivadas são
mais ou menos equivalentes às superfícies cultiváveis (...) a produtividade da terra torna-se a
variável fundamental de ajustamento ao crescimento da população” (p. 58).
No sítio (www.academialetrasbrasil.org.br) da ALB (2009), no tocante à
produtividade, encontramos: “Necessariamente à produtividade da terra, além de
superfícies cultiváveis, deve ser considerado também as variáveis: recursos, meios de
produção e clima. Sobretudo à germinação em adaptação aos solos”.
Para o ajustamento dos alimentos ao crescimento populacional, deve ser
considerado, além dos meios de transporte ao escoamento dos alimentos, armazenagem e,
sobretudo, a capacidade econômica, de aquisição dos alimentos pelas populações, variável
esta, determinante da capacidade alimentar humana, considerando-se a organização
comercial das nações e sistemas econômicos mundiais em 2009.
Ainda, há que se considerar as causas naturais e sociais como agravantes aos
problemas que resultam em Fome no Mundo.
1.15.1.2. Causas Naturais e Sociais
Cornelius Walford (1978-79, citado por Chonchol, 1987/1989) apresentou à
sociedade estatística de Londres em 1878, dois importantes comunicados sobre a fome no
mundo, nos quais analisava as causas de mais de 350 surtos de fome que haviam flagelado
os povos ao longo dos séculos. Ele classificava como:
1.15.1.2.1. Causas Naturais. “(…) secas, inundações, gelo, tremores de terra, tifo,
ataques de predadores, na forma de pragas, gafanhotos e ratos, infestações parasitárias” (p.
7) como a que destruiu as colheitas de batatas na Irlanda em 1845/47 e;
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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1.15.1.2.2. Causas Sociais. “(…) guerra, baixa produtividade agrícola, ausência de
vias de comunicação, perturbação do comércio e especulação, desvio de cereais do consumo
direto para uso em cervejaria” (p. 7). Se em 2008, Walford não omitiria desta lista os
biocombustíveis, que: “(…) para a produção de 50 litros, utiliza matéria prima equivalente a
alimentação de uma pessoa por um período de um ano, fazendo com que os aspectos
humanos e econômicos sejam confrontados (ALB, 2008, online).
Segundo Carabajal (1996), no tocante a produção de biocombustíveis, como parte
das causas sociais, antes do milho e cana de açúcar, deve ser utilizada à produção de
etanol, a mandioca gigante, naturalmente encontrada a exemplo do Brasil, como na região
do Apiaú em Roraima. Segundo o pesquisador, escritor e humanista venezuelano, Robles
Máximo (1996, citado por Carabajal, 1996): “A mandioca gigante oferece 300 litros de
álcool em 1 tonelada de matéria prima”, enquanto a cana de acúçar, segundo o especialista
Wilson Mota Figueiredo (1996, citado por Carabajal, 1996), diretor da única usina da
Região Norte do Brasil, Abran Lincoln, localizada no municipio de Medicilândia no Pará,
“oferece no máximo 80 litros para 1000 kg de matéria prima” (p. 42).
Isto, não resume-se, no entanto, ao aspecto energético a partir de biocombustíveis a
nossa problematização.
1.16. Causas Conjugadas, Sociais e Econômicas da Fome Mundial
O petróleo também exerce significativa influência sobre os problemas alimentares,
segundo Garuti (2008), o barril do petróleo, com preços elevados, arrasta consigo os
preços dos combustíveis que por sua vez encarecem em muito os transportes dos
alimentos, refletindo-se nos preços dos mesmos, aumentando o número de pessoas na linha
da pobreza em todo o mundo.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Como exemplo da conjugação de causas sociais e econômicas da fome, em
relatório datado de novembro de 1998 elaborado pela Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e a Alimentação e o Programa Mundial de Alimentos, surge um elemento de
explicação à crise de 1990 da agricultura norte-coreana, ligando-a à crise do petróleo,
sucateamento do maquinário agrícola e falta de caminhões.
Observe-se que a agricultura norte-coreana, altamente mecanizada, enfrenta à
época uma restrição séria. Isto, devido ao fato de cerca de quatro quintas partes de seu
maquinário e equipamento agrícola motorizado se encontrar totalmente fora de uso.
Devendo-se, tal agravamento, em razão à obsolescência ou falta de peças sobressalentes e
combustíveis.
De fato, encontramos em Hudson (1989), assertivas em relação as considerações de
Garuti (2008), devendo-se à falta de caminhões, o fato de muitas colheitas permanecerem
nos campos durante largos períodos de tempo.
Com base nas informações supra, podemos observar a tamanha complexidade dos
múltiplos elementos e fatores que resultam em Fome no Mundo, entre os quais somam-se:
máquinas agrícolas ultrapassadas; falta de peças de reposição; falta de caminhões para o
transporte das colheitas e a própria falta de combustíveis, interferem decisivamente no
problema mundial da fome, assim como a instabilidade política, encontrada na origem das
causas da extrema pobreza, a exemplo da África.
1.17. Instabilidade Política e Dependência Econômica como Causas da Fome
A exemplo do que ocorre na África, a conjugação da instabilidade política e
dependência econômica, se apresenta como a principal causa da pobreza extrema no
Continente africano (ALB, 2009).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Segundo a Organização Causa Operária (2009, online) a pobreza extrema da África
vem diretamente do fato de que países como EUA, Inglaterra, Japão e Alemanha,
promoveram e promovem o saqueamento de todas as riquezas do continente. A busca da
burguesia imperialista pelo lucro, por mercados consumidores e principalmente por mão-
de-obra barata resultou em centenas de golpes militares e ditaduras ao longo do século XX,
dos quais, entre 75 e 90% foram apoiados por países imperialistas, responsáveis estes
também por impor divisões arbitrárias entre a população do continente. Essa instabilidade
política aliada à dependência econômica gerou a infinidade de guerras e conflitos internos,
agravando significativamente as causas da fome da população, com morte, sobretudo de
crianças, somando-se às causas geradoras da miséria e fome, entre as quais encontramos
endemias, epidemias, pandemias, além da crescente concorrência das indústrias de cerveja,
produção de etanol e alimentação animal.
1.18. Alimentação Animal como Causa da Fome no Mundo
Em 1970, segundo Chonchol (1987/1989) quando houve a Primeira Conferência
Alimentar Mundial, concluiu-se que os animais dos países ricos consomem mais cereal que toda
a população da China e da Índia juntas, que sozinhas representavam, no mesmo ano, 40% da
população mundial. Tal fato, explica Chonchol, pela disponibilidade monetária dos países ricos e
a diversificação de seus sistemas alimentares, o que lhes permite adquirir os cereais com
prioridade, e usar a maior parte na produção de proteína animal. Esse fenômeno que se iniciou
nos Estados Unidos, grande produtor mundial de cereais e onde se destina a maior parte do
consumo animal, penetrou a Europa e vai se infiltrando nos países então socialistas
desenvolvidos, mormente a União Soviética. Por isso se explicam as enormes compras da URSS
a partir da década de 70. Não é que lhes falte trigo para comer. Esse país é o principal produtor
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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de trigo do mundo. As imensas compras de 30, 40, 50 milhões de toneladas se destinaram a
melhorar o nível de consumo de proteína animal da população.
Nos países da Europa Oriental e URSS, nos anos 60, gastavam-se 70 milhões de
toneladas para o consumo humano e nos anos 70 a cifra era a mesma. O consumo animal era
de 60 milhões de toneladas e em 1985, segundo Chonchol (1987/1989) é de quase 150 milhões
de toneladas anuais. Esses países têm uma política de absorção em proporção crescente da
venda de cereais no mundo, destinada a sustentar um regime alimentar muito mais rico em
proteínas. Tal atitude é sustentada por um nível monetário que lhes permite comprar com
prioridade, em detrimento da falta de cereais à milhares de pessoas, levando muitos à morte.
1.18.1. Cereais Destinados à Alimentação Animal
A cada dia morrem 24.000 pessoas por causa da fome, enquanto isso um imenso
número de terras ficam nas mãos de poucos fazendeiros que ao final do processo exportarão a
maior parte daqueles alimentos; um grande número de cereais, somando 60,6%, que serão
utilizados na alimentação animal dos países desenvolvidos, à transformação de calorias
vegetais em animais – um total contraste em relação aos países subdesenvolvidos.
1.18.1.1. Transformação de Calorias Vegetais em Animais
Adentremos sucintamente nas relações das Causas da Desnutrição Humana em
razão da transformação de Calorias Vegetais em Animais.
O pesquisador Ladislau Dowbor, co-autor na obra Raízes da Fome, (Silva et al,
1985), após analisar a distribuição dos cereais entre humanos e animais, fez a seguinte
observação:
(...) ficando mais de 60% para a alimentação animal, transformando as calorias
do real em alimentação mais nobre, como carne, queijos, leite, ovos, o que
significa o uso de 3 a 10 calorias vegetais para cada caloria de alimento animal
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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produzido (...). Inversamente, os países subdesenvolvidos estão consumindo
70,1% dos seus cereais sob forma direta, pois não podem se dar ao luxo de
desperdiçar o seu valor alimentício na redução do cereal (p.78).
Essa inequívoca concorrência pelos alimentos, estende-se à perdas e desperdícios,
não animais, mas pelo próprio trato humano.
1.19. Desperdício de Alimentos como Causa da Fome no Mundo
Segundo o sítio da (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios [APTA]
2008) desperdícios marcam todas da fazes da produção de alimentos. No Brasil, demonstra
a APTA (2008) 20% dos alimentos são perdidos só na colheita. Percentuais significativos
se perdem também no transporte, devido a utilização de embalagens inadequadas. Em
outras partes do mundo essa perda pode chegar a 70%.
No Rio de Janeiro há uma perda de 40 toneladas diárias de alimentos. Alimentos
estes que vão direto para aterros sanitários. Ainda, se perdem também, todas as sobras de
alimentos dos restaurantes. Por força de Lei são proibidas suas distribuíções para os seres
necesitados, carentes e famintos de alimentos (ALB, 2009).
Segundo a mesma organização cultural supra, muitas pessoas têm buscado explicar
o porquê de tanto desperdício. Também se detém nas razões de pessoas passarem fome,
chegando a resultados sempre incompletos, devido as múltiplas variáveis responsáveis
pelas causas do problema. Isto, por encontrar-se na base de cada variável, novas variáveis
que levam a novos elementos. Todos, responsáveis e determinantes do problema.
Tamanha se faz a complexidade que não bastaria simplesmente, segundo Hudson
(1989), promovermos o plantio de três mudas de árvores frutíferas frente a cada residência
no mundo, sendo disponibilizadas árvores frutíferas em ruas, avenidas, praças e
logradouros públicos, bem como ao longo das estradas públicas, municipais, estaduais e
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
40
federais. Somando tudo isto ao plantio de mudas frutíferas em um ou dois terrenos por
quadra, transformado as cidades em verdadeiros pomares. Ainda que tudo isto
avançássemos no combate à fome, onde todo o ser, criança, homem, mulher ou idoso, ao
simples erguer de um braço, tivessem acesso a um alimento natural, saciando a fome, onde
quer que se encontrassem, ainda assim, contaríamos com as guerras, mutilando seres,
arrancando-lhes pés, pernas, mãos e braços, levando-os a dependência de ações de
solidariedade e políticas públicas de auxílio.
À evolução humana e alimentar, haveriamos de arrancar o ser do individualismo
intrínseco que o conduz, da ganância que o completa e o impulsiona, dos múltiplos valores
impostos pelo capital por centenas de anos e, sobretudo, levá-lo a uma nova óptica de
Pátria, de amor a uma bandeira ou idioma, conscientizando-o que para subsistir a Nação,
antes, é preciso existir o Mundo, onde a soberania do planeta, se imponha à soberania das
Nações individualmente (ALB, 2009).
1.20. Hipóteses como Causas da Fome no Mundo Refutadas por Alberto Garuti
Segundo Garuti (2008, online) a situação da fome precisa ser enfrentada, pois uma pessoa
faminta não é uma pessoa livre. É necessário, segundo o pesquisador, em primeiro lugar, serem
conhecidas as causas que levam à fome.
Comum se faz a idéia de conhecimento sobre a fome, no entanto, quando a estudamos
com maior comprometimento, observamos que, como em um círculo, continuamos a repetir
antigos chavões, que encobrem e desviam das verdadeiras causas que a compõem (Hudson, 1989).
Em realidade, segundo Hudson (1989), pouco ou quase nada se sabe sobre o que é ou
não verdade, senão sob a máxima da estrita ciência. Ainda assim, sempre passíveis de refutações
por evoluções dos paradigmas científicos: “O que não é plenamente verdadeiro, não é meia
verdade. O que não é plenamente verdadeiro é, isto sim, plenamente falso” (p. 27).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Segundo a ALB (2009) encontramos em Popper a assertiva de inexistência de uma
verdade acabada.
1.20.1. A Fome é Causada Porque o Mundo Não Produz Alimentos Suficientes
Segundo Garuti (2008), a afirmação supra é refutável, afirmando que a terra conta
com recursos suficientes para alimentar a humanidade, aponta para o sítio www.fao.com
àqueles que busquem confrontar os números de oferta e demanda, para o contingente
demográfico presente e futuro.
1.20.2. A Fome é Devida ao Fato de que Somos Demais
A afirmação supra, de ser a fome decorrente de altas taxas demográficas também é
refutada por Garuti (2008):
“Há países muito populosos, como a China, onde todos os habitantes
têm, todo dia, pelo menos uma quantidade mínima de alimentos e
países muito pouco habitados, como a Bolívia, onde os pobres de
verdade padecem de fome!” (online).
1.20.3. No Mundo Há Poucas Terras Cultiváveis
A existência de poucas terras cultiváveis no mundo, no mesmo artigo, também é
refutada por Garuti, alegando, “(...) por enquanto, há terras suficientes que, infelizmente, são
cultivadas, muitas vezes, para fornecer alimentos aos países ricos!”. E como já pudemos também
estudar, para alimentar sobretudo a criação animal dos países ricos.
Para uma pequena formação de opinião e reflexão sobre esse ponto, saiba-se que o
Brasil, em 2009, conta com pouco mais de 190 milhões de pessoas e, paralelamente, com esse
mesmo número em cabeças de gado (ALB, 2009). Sendo que o gado transforma em média 10
calorias vegetais que recebe, em apenas uma caloria animal.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Do ponto de vista econômico, a transformação de calorias vegetais em animais, segundo
Garuti (2008), representa um investimento 10 vezes maior. Isto, sem se considerar os aspectos
financeiros sobre tais divisões da energia alimentar.
1.21. Causas da Fome no Mundo por Alberto Garuti
As verdadeiras causas da Fome no Mundo segundo Alberto Garuti (2008), relacionam-
se as: Monoculturas; Diferentes Condições de Troca Entre os Vários Países; Multinacionais;
Dívida Externa; Conflitos Armados; Desigualdades Sociais; Neo-Colonialismo. Causas estas
que interagem conjuntamente frente à miséria do país.
Extratificamos a seguir, cada uma das Causas, sob a óptica e visão do pesquisador
Alberto Garuti, o qual, esforça-se em demonstrar que a fome como é concebida, conta com
profundidades, além daquelas evidenciadas por outros pesquisadores:
1.21.1. As Monoculturas
O produto interno bruto, PIB, de vários países é dependente, de uma só
cultura, como acontecia a décadas atrás com o Brasil, cujo único produto de
exportação era o café. Sem produções alternativas, a economia desses países depende
muito do preço do produto, é fixado em outros lugares, e das condições climáticas
para garantir uma boa colheita.
1.21.2. Diferentes Condições de Troca Entre os Vários Países
Alguns países, ex-colônias, estão precisando cada vez mais de produtos
manufaturados e de alta tecnologia, que eles não produzem e cujo preço é fixado pelos
países que exportam.
Os preços das matérias-primas, quase sempre o único produto de exportação dos
países pobres, são fixados, de novo, pelos países que importam.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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É comum ocorrer que a totalidade das produções agrícolas dos países pobres
ganhem o status de moeda à amortização de suas dívidas externas.
Muitos países pobres comercializam no mercado de futuros suas produções
alimentares ainda nem mesmo plantadas, amortizando suas dívidas externas, em prejuízo
das populações (Garuti, 2008).
1.21.3. Multinacionais
Segundo este pesquisador, as Multinacionais são organizações em condições
de realizar operações de caráter global, fugindo assim ao controle dos Estados
nacionais ou de organizações internacionais. Elas constituem uma rede de poder
supranacional. Querem conquistar mercados, investindo capitais privados e
deslocando a produção onde os custos de trabalho, energia e matéria-prima são mais
baixos e os direitos dos trabalhadores, limitados. Controlam 40% do comércio
mundial e até 90% do comércio mundial dos bens de primeira necessidade.
1.21.4. Dívida Externa
No sítio da Organização para a Alimentação e a Agricultura, FAO (2008)
(www.fao.org/) encontramos referências à dívida externa dos países pobres, como entraves
a importação de alimentos, como também se colocando como obstáculo ao
desenvolvimento agrícola. A dívida, segundo o sítio da FAO, está paralisando a
possibilidade de países menos avançados de importar os alimentos dos quais precisam ou,
de dar à própria produção agrícola o necessário desenvolvimento. A dívida é contraída
com os bancos particulares e com Institutos internacionais como o Fundo Monetário e o
Banco Mundial. Para poder pagar os juros, tenta-se incrementar as exportações. Em certos
países, 40% do que se arrecada com as exportações são gastos somente para pagar os juros
da dívida externa. A dívida, infelizmente, continua inalterada ou aumenta (Garuti, 2008).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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1.21.5. Conflitos Armados
Para Garuti (2008), o dinheiro necessário para providenciar alimento, água,
educação, saúde e habitação de maneira suficiente para todos, durante um ano,
corresponde a quanto o mundo inteiro gasta em menos de um mês na compra de armas.
Além disso, os conflitos armados presentes em muitos países em desenvolvimento causam
graves perdas e destruições em seu sistema produtivo primário.
1.21.6. Desigualdades Sociais
A luta contra a fome é, segundo Garuti (2008), uma luta contra a fome pela justiça
social. As elites que estão no governo, controlando o acesso aos alimentos, mantêm e
consolidam o próprio poder. Paradoxalmente, os que produzem alimento são os primeiros
a sofrer por sua falta. Entre a maior parte dos países, é mais fácil encontra-se pessoas que
passam fome em contextos rurais do que em contextos urbanos. Os pequenos produtores
obrigam-se a vender suas produções a preços inferiores aos de mercado, forçados por
carências e necessidades pessoais e familiares.
1.21.7. Neo-colonialismo
Em 1945, na visão de Garuti (2008) através do reconhecimento do direito à
autodeterminação dos povos, iniciou o processo de libertação dos países que até então
eram colônias de outras nações. Mas, uma vez adquirida a independência, em muitos
continuaram os conflitos internos que têm sua origem nos profundos desequilíbrios sociais
herdados do colonialismo.
Em muitos países, ao domínio colonial sucederam as ditaduras, apoiadas pela
cumplicidade das superpotências e por acordos de cooperação com a antiga potência
colonial. Isso deu origem ao neocolonialismo e as trocas comerciais continuaram a
favorecer as mesmas potências.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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1.22. Análise do Conjunto das Causas da Fome Apontadas por Alberto Garuti (2008)
Quando um país vive numa situação de miséria, podemos dizer que, praticamente,
todas essas causas estão agindo ao mesmo tempo e estão na origem da fome de seus
habitantes. Algumas delas dependem da situação do país, como o regime de monocultura, os
conflitos armados e as desigualdades sociais. Elas serão eliminadas, quando e se o mesmo país
conseguir um verdadeiro desenvolvimento. Mas outras causas já não dependem do próprio
país em desenvolvimento, e sim da situação nos níveis internacionais.
A realidade supra refere-se às condições desiguais de troca entre as várias nações, à
presença das multinacionais, ao peso da dívida externa e ao neo-colonialismo.
As assertivas supra significam dizer que os países em desenvolvimento, não conseguirão
sozinhos vencer a miséria e a fome, a não ser que mudanças verdadeiramente importantes
aconteçam no relacionamento entre essas nações e as mais industrializadas (Garuti, 2008).
Neste capítulo, pudemos acompanhar a evolução do pensamento global de combate
à Fome no Mundo, bem como, identificamos e localizamos as Principais Causas da Fome
no Mundo em dois grandes grupos, sendo: as Causas Naturais e as Causas Humanas.
Nas Causas Naturais encontram-se o Clima, que pode refletir-se em Secas e
Chuvas prolongadas, Inundações, Furacões, Tsunames, Maremotos. Ainda, neste grupo
encontram-se os Terremotos; Gelo; Tifo; Predadores: insetos, ratos e gafanhotos;
Enfermidades de Plantas; Solos Inadequados, Germinação.
Nas Causas Humanas encontra-se tudo quanto, pelas ações ou falta de ações
humanas, possam resultar em Fome à Humanidade, como: Acesso aos Recursos Naturais;
Guerras; Conflitos Civis; Acesso aos Recursos e Meios de Produção; Planificação
Agrícola; Estruturas Fundiárias; Destruição de Colheitas; Bloqueios Econômicos;
Endividamento dos Países mais Pobres; Cultura; Pobreza; Políticas Agrárias; Demografia;
Variável de Equilíbrio; Sociais; Econômicas; Instabilidade Política; Dependência
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Econômica; Alimentação Animal; Desperdício de Alimentos; Produção; Monoculturas;
Condições de Troca Entre os Países; Multinacionais; Neo-colonialismo.
No contexto supra, também as populações dos países que constituem o Mercosul
são acometidas pela fome. Em menores índices que os observados na Ásia e África, sem
contudo, constituir-se em menor o problema. Somente no Brasil, são encontrados 14
milhões de pessoas com problemas extremos de alimentação. O Paraguay, também
membro do Mercosul, conta com o significativo percentual de 50% de sua população
vivendo sob o rótulo da pobreza. Ambos, determinados por problemas sobretudo
estruturais, onde a distribuição, contribui decisivamente. A distribuição de renda é outra
realidade de diretas responsabilidades sobre os problemas alimentares enfrentados nos
países do Mercosul. Origem esta, observada como variável da fome nos demais blocos
mundiais. Em linhas médias gerais, 90% do capital mundial concentra-se nas mãos de
apenas 10% da população, enquanto os 10% restantes do capital são distribuídos entre os
90% restantes, ou seja, pela quase totalidade da população. Definindo-se tal desequilíbrio,
como uma, entre as causas da fome no mundo. No âmbito do Mercosul, Argentina e
Uruguay, contam com menores problemas extruturais, refletindo-se em índices de
probreza inferiores a 22%. Altos inequivocamente. Mas bem inferiores aos encontrados no
Brasil e Paraguay.
As Causas da Fome apresentadas pela FAO, OMS, Bird, pensadores e
pesquisadores, são muitas, passíveis, ao longo de nossos estudos, de maiores
aprofundamentos, análises e conclusões sobre suas participações no problema.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS CAUSAS DA FOME NO MUNDO
Quadro de Resumo
Causas Naturais Clima: Secas e Chuvas prolongadas; Inundações; Terremotos;
Tsunames; Furacões; Gelo; Tifo; Predadores: insetos, ratos e
gafanhotos; Enfermidades de Plantas; Solos Inadequados,
Germinação.
Causas
Humanas Recursos Naturais; Guerras; Conflitos Civis; Acesso aos
Recursos e Meios de Produção; Planificação Agrícola;
Estruturas Fundiárias; Destruição de Colheitas; Bloqueios
Econômicos; Endividamento dos Países mais Pobres; Cultura;
Pobreza; Políticas Agrárias; Demografia; Variável de
Equilíbrio; Germinação; Sociais; Econômicas; Instabilidade
Política; Dependência Econômica; Alimentação Animal;
Desperdício de Alimentos; Produção Insuficiente;
Monoculturas; Condições de Troca Entre os Países;
Multinacionais; Neo-colonialismo. Política, Petróleo;
Biocombustíveis; Proliferação de Vírus; Doenças; Idade
Avançada; Economia; Armazenamento; Educação, Transportes;
Pesquisas Deficitárias; Justiça; Distribuição de Renda; Cultura.
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GLOBAL DE COMBATE À FOME
Conferência Mundial da
Alimentação Roma, 1974
governos assumem o problema da produção e
do consumo alimentar global.
Conferência Internacional sobre
Nutrição, Roma, 1992
formas de combate à fome e à desnutrição
Primeira Cumbre das Américas,
Miami, 1994
integração econômica e livre comércio, contra
a pobreza
Reunião em Copenhague,
Dinamarca, 1995
Projeto do Milênio da ONU
Cimeira Mundial da Alimentação, Declaração e o Plano de Ação sobre
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
48
Roma, 1996 Segurança Alimentar Mundial
Cúpula do Milênio em setembro de
2000
maior reunião de líderes mundiais na história,
adotada a Declaração do Milênio da ONU
Cimeira Mundial da Alimentação,
Roma, 2001
reduzir a fome à metade até 2015
Conferência Internacional,
México, 2002
sobre Financiamento para o Desenvolvimento
Cúpula sobre Desenvolvimento
Sustentável, em Joanesburgo, 2002
reafirmaram os Objetivos como as metas de
desenvolvimento
[Cepal] (2004) acompanhar progressos desde a Cimeira 1996
FAO (2008) o mundo avançou na consecução dos Objetivos,
a extrema pobreza diminuiu em 130 milhões.
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49
2. FOME E FATORES RELACIONADOS À FALTA DE ALIMENTOS
2.1. Fome e Mortalidade Infantil na América Latina e Mundo
2.1.1. Os Povos São Muito Desiguais Face a Vida
Sob o título supra, Lebret (1960/1962) demonstra grandes distâncias entre distintos
países. No decurso dos anos 1936 e 1937 registrava-se um percentual de mortes de
crianças antes de completar o primeiro ano de vida na ordem de 15 a 20% na África do
Norte, correspondendo a 150 e 200 por 1000 nascidos. Entre os indígenas sul-africanos
este número encontrava-se entre 200 e 300 mortos para 1000 nascidos, o que significam 20
e 30% de mortes dos nascidos antes de completar um ano de vida. Esses percentuais
podem melhor ser observados ao compará-los com os de outros países.
Lebret (1960/1962) aponta para a Suécia em 1936, onde morriam aproximados 43
para 1000 nascidos. Em 1948, neste mesmo país, o número de mortes caiu para 23 por
1000 e, em 1957, menores ainda foram os registros de mortes entre crianças com menos de
um ano, fixando-se em 17 para cada 1000 nascidos. No Reino Unido, nos anos de 1936,
1948 e 1957, foram registrados os números de 62, 36 e 24 respectivamente. Os Estados
Unidos também apresentou significativa redução das mortes de crianças no primeiro ano,
de 57 para 1000 em 1936, atingindo 32 em 1948, reduzindo ainda mais em 1957, quando
foram registrados 26 mortes no primeiro ano para 1000 nascidos. A Bélgica, nestes
mesmos anos, saiu de 86 em 1936, chegando em 1957 com 35. Na África Ocidental
também significativa registrou-se a redução de mortes dentro do primeiro ano, os dados de
1936 não foram apurados, mas sabemos que em 1948 morriam 58 crianças em cada 1000
nascidas, antes de completar um ano. Já em 1957, esse número reduziu-se para 36. A
França contou com números próximos à África Ocidental, em 1936 entre mil nascidos,
morriam 67 antes de completar um ano. Em 1948 o número caiu para 56 e em 1957 para 34.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Assim estima-se que na África Ocidental de 1936 as mortes giravam entre 69 e 71 para cada
1000 nascidos. Para uma maior reflexão, observemos a seguir, os números médios
encontrados nestes mesmos anos em outros países.
Em Cuba, México e Paraguay, segundo Lebret, em média, morriam 125 crianças para
1000 nascidos antes de completar um ano. A média aproximada estimada para a Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, República Dominicana e
Venezuela, neste mesmo período, 1936 à 1957, fixou-se em 150 mortos para 1000 dentro do
primeiro ano. Já a média entre Guatemala, Salvador e Tailândia, fixou-se em 175 para 1000.
Índia, Paquistão e Filipinas ficaram com a segunda maior média, morriam 200 para cada 1000
dentro do primeiro ano. Um quinto dos nascidos morriam antes de completar um ano de vida.
Por fim, a Birmânia aferiu o elevadíssimo percentual de 22,5%, correspondendo a 225 mortos
para cada 1000 nascidos, quase 1/4 entre os nascidos.
De acordo com relatório das Nações Unidas (United Nations, 2006), cerca de 815
milhões de pessoas passam fome no mundo em 2006. Deste total, 127 milhões são crianças
que sofrem com insuficiência alimentar. Os problemas são mais graves nos países da
África subsaariana acentuando-se as diferentas entre o números de mortes entre países
pobres e ricos (Relatório. ONU, 2006).
2.1.1.1. Disparidade da Morte Infantil Entre Países Ricos e Pobres
Observemos, fundamentados na (Organização Mundial de Saúde [OMS] 2008), a
combinação mundial entre situação alimentar e sanitária:
De perto de 122 milhões de crianças que nascem cada ano, cerca de 10%
morrerão antes de chegar ao seu primeiro aniversário, e mais 4% antes do
seu quinto aniversário. Mas as chances de sobrevivência são distribuídas de
maneira muito desigual no mundo. Assim, enquanto o risco de morrer antes
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da adolescência é de cerca de 1 para 40 nos países desenvolvidos, é de 1
para 4 na África em geral, e atinge 1 para 2 em certos países (p. 129).
Ladislau Dowbor, na obra Raízes da Fome, Minayo, M. C. S., et al (1985)
manifesta claramente o pensamento de que os números da fome no mundo, com trágica
categoria de mortalidade previsível e evitável, estamos frente a um genocídio por omissão
que não tem paralelo na história da humanidade.
Pelo estudado até aqui através dos relatórios do Banco Mundial e FAO, a subnutrição
trata-se da maior condição generalizada que afeta a saúde de crianças no mundo.
Segundo o (Fundo das Nações Unidas para a Criança [UNICEF] 2009) em
declaração pública, a diretora executiva da UNICEF, Ann M. Veneman, deu sinal de
alerta frente ao elevado número de crianças afetadas pela violência constante na região
setentrional de Vanni, em Sri Lanka.
Centenas de meninos e meninas têm morrido e muitos outros têm sofrido
ferimentos e lesões devido ao conflito em Sri Lanka. Existem milhares de
crianças em perigo devido a gravíssima carência de alimentos, água e
medicamentos (online).
Mais de 150.000 pessoas têm ficado desamparadas por causa do conflito entre os
contingentes do governo e o grupo rebelde conhecido como Tigres de Liberação do Ealam
Tamil – TLET.
É imprescindível, segundo Veneman, que as organizações de ajuda
humanitária contem com acesso seguro e constante à população afetada, de
maneira que possam fazer-lhes chegar auxílio para salvar vidas. Também se
deve permitir a transferência dos civis para zonas seguras onde possam
obter mais facilmente apoio humanitário essencial (online).
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Sem a ajuda humanitária, sobretudo com suas retiradas temporárias, para zonas
seguras, os direitos das crianças estão ameaçados.
A retirada temporária pode ter incluso uma repercussão enorme na saúde e no
desenvolvimento das crianças. O UNICEF trabalha para minimizar os efeitos da
interrupção escolar e os efeitos psicológicos adversos que provoca a exposição à violência
nas regiões de conflito cingalesas. Veneman fez referência a todas as partes envolvidas no
conflito que respeitaram os direitos das crianças e evitaram mortes entre os civis. “As
crianças são as vítimas inocentes do conflito em Sri Lanka. Necessitam ajuda
desesperadamente e serão despendidos esforços extraordinários para protege-las”
Veneman (online).
Nils Kastberg, segundo o sítio do UNICEF (2008), diretor regional do Fundo das
Nações Unidas para a Infância, na Conferência de 2008 para a Desenvolvimento da
Infância na América Latina e Caribe, ocorrida na capital chilena, chamou os países da
América Latina e do Caribe a comemorar em 2010 os 200 anos de independência da
Espanha, com um objetivo específico de garantir que nenhuma criança sofra desnutrição.
Observa que este desafio pode lograr êxito a partir da boa vontade política dos
governantes, sob um espírito pan-americano e aproveitando a cooperação Sul-Sul.
Em lugar de falar de heróis, túmulos e próceres, se refere Kastberg, o melhor
desafio para a região é assegurar a partir de 1º. de janeiro de 2010 que nenhuma grávida
sofra de anemia, que afete o peso dos recém-nascidos, e que criança alguma deixe de ser
auxiliada à definitiva erradicação da desnutrição.
Em 2006, segundo o Vaticano, conforme o sítio (http://www.fides.org) da Agenzzia
Fides (2006) “(...) é inaceitável que 18.000 crianças morram de fome todos os dias em um
planeta que produz comida suficiente para matar a fome de todos” (online).
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Segundo o sítio (http://www.webciencia.com) 2009, cento e cinquenta milhões de
crianças encontram-se sob o rótulo da subnutrição no mundo, estas, com menos de cinco
anos. Uma para cada três no mundo. Com um total de 12,9 milhões de óbitos de crianças,
com menos de 5 anos, anualmente (online).
Segundo a jornalista Somini Sengupta do jornal New York Times (2009) postado
em 17 de março de 2009 no sítio (www.limiaretransformacaoblogspot.com) referindo-se a
vergonhosa situação da fome na Índia, onde os índices de desnutrição infantil continuam
sendo piores que em muitos países subsaarianos, encontrando-se o elevadíssimo percentual
de 42,5% de crianças de até cinco anos abaixo do peso. Enquanto que na China, este
percentual foi reduzido à 7%.
Na Índia encontramos o maior programa de alimentação infantil do Mundo,
contudo, elaborado de forma inadequada, sem conseguir reduzir os índices. O programa
integrado Serviços para o Desenvolvimento da Criança, no valor de U$ 1,3 bilhão, financia
uma rede de cantinas que fornece sopas em favelas e vilarejos. No entanto, não consta no
programa, prioridades, em muitos locais de distribuição, ao invés de crianças debilitadas e
mães gestantes, filas de homens e mulheres, muitos sadios, são observados com suas
tigelas para receberem alimentos. Assim, os índices de menores de cinco anos com graves
problemas de desnutrição, continuam elevados. Contudo, a fome é um fenômeno que
atinge não apenas a crianças, mas também os adultos. Àqueles que se encontram nas filas,
com suas tigelas, necessitam também dos alimentos. Ao invés de se pensar em retirá-los
das filas, é necessário que se ampliem os programas de distribuição de alimentos.
No Relatório anual de 2004 da FAO sobre defasagem alimentar, consta um
alarmante, onde 53 milhões das 852 milhões de pessoas desnutridas do mundo, há época,
viviam na América Latina e Caribe.
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Segundo o Relatório (2004), em levantamentos entre 2000 e 2002, existiam 815
milhões de pessoas sem alimentação adequada nos países em desenvolvimento. Na Nações
em transição encontram-se 28 milhões. Os 9 milhões restantes, encontram-se nos países
industrializados. Sendo que dos 53 milhões de famintos da América Latina, 33 milhões
vivem na América do Sul, 7 milhões no Caribe e 12,6 na América Central e México.
Citando estudos da Academia para Desenvolvimento Educativo, o Relatório FAO
(2004) afirma que com apenas 25 milhões de dólares anuais, seria possível reduzir a
desnutrição em 15 países da América Latina e África, antes de 2015, salvando
aproximadas 900 mil crianças da fome, até 2015.
O relatório afirma que aproximados 5.4 milhões de crianças deixaram de morrer
entre 90 e 92 e 2000 e 2002. Isto da premissa de 80% dos óbitos a que se refere o relatório,
7 milhões de pessoas, serem compostos por crianças. Para a FAO, cerca de 5 milhões de
crianças morrem no mundo, por ano, em conseqüência da fome. Confessa a FAO,
incapacidade administrativa mundial, para o alcance da meta do milênio, em reduzir em
50% a fome no mundo até 2015.
Segundo a (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe [CEPAL]
2008), no Panorama Social de 2008, em Santiago, no Chile, a pobreza diminui
consideravelmente na América Latina e no Caribe, entre 2002 e 2007. Contudo, em 2007
ainda atingia 184 milhões de pessoas. O que correspondia a 34,1% da população regional.
Em 2002 esse número era de 44%, igual a 221 milhões de pessoas. Diminuiu no período,
até 2007 em 9,9%, ou seja, 37 milhões de pessoas, diminuindo para 184 milhões. Desses
números, em uma relação de 80% de incidências em crianças, constata-se 147,2 milhões
de crianças na linha da pobreza.
Segundo a CEPAL (2009) entre 2002 e 2007, Colômbia, Equador, Honduras,
México, Nicarágua, Panamá, Paraguay, Peru e Venezuela, demonstraram redução de
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mínimos, 1,5% na população de pobres, enquanto na República Dominicana houve um
aumento da miséria. Somente no Uruguai, tanto a pobreza quanto a indigência cresceram
neste período.
Segundo a CEPAL (2009), a redução da pobreza na região se deve as variáveis,
crescimento econômico, com a elevação do PIB em 5,7% em 2007 e a melhor distribuição
de renda, que reduziu a pobreza entre 60 e 70% no período 2002/07.
As nações com os menores índices de pobreza na América Latina e Caribe são:
Argentina, Chile, Costa Rica e Uruguai. Com taxas inferiores a 22%. No Brasil, México,
Panamá e Venezuela, os pobres encontram-se entre menos de 32% da população desses
países. Enquanto a Colômbia, Equador, El Salvador, Peru e República Dominicana, têm
taxas de 38 a 48%. Os percentuais mais altos, acima de 50% encontram-se na Bolívia,
Guatemala, Honduras, Nicarágua e Paraguay.
2.1.2. Mortalidade Infantil no Brasil
Segundo o Relatório sobre a População Mundial 2008, publicado em 12 de
novembro de 2008, pelo Fundo de População das Nações Unidas, da ONU (2008), em
relação a expectativa para 2008, o Brasil possui o terceiro maior índice de morte infantil,
23 crianças mortas para cada 1000 nascidos vivos, menores de cinco anos, na América do
Sul., O primeiro pior índice é o da Bolívia, com 45 para 1000 e o segundo do Paraguay,
com 32 para 1000.
2.1.3. Os Melhores Índices de Vida Infantil
O Chile, em 2007, apresentava a menor taxa de mortalidade infantil, com média de
7 para 1000 nascidos vivos. Em segundo figuram Argentina e Uruguai. Ambos com taxa
de 13 óbitos para 1000. Em terceiro vê-se a Venezuela, com relação de 13 mortes para
cada 1000 nascidos vivos.
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Segundo a CEPAL (2009) a redução da pobreza foi especialmente significativa na
Argentina, caindo de 45% em 2002, para 21% em 2006.
Em estudo realizado na Guatemala pela (Secretaria de Segurança Alimentar e
Nutricional – [Sesan] 2008), somente naquele país da América Central, 45,6% das
crianças guatemaltecas, com idades entre 7 e 9 anos, sofrem por desnutrição, de severa
a moderada. E entre 52 e 60% das crianças com 8 e 9 anos, apresentam desnutrição.
Entre as crianças indígenas guatemaltecas, nas mesmas faixas etárias, são
encontrados, em 2008, pela Sesan, os maiores índices.
No relatório da UNICEF (2007), para a situação desnutricional infantil na Guatemala,
aponta que 49% das crianças com menos de cinco anos, sofrem de desnutrição crônica.
Segundo o UNICEF Brasil (2006) entre1996 e 2005 encontramos 146 milhões de
crianças até cinco anos de idade, em todo o mundo, abaixo do peso, sendo que 73% ou ¾
do problema, concentra-se em: Índia 57 milhões; Bangladesh 8; Paquistão 8; China 7;
Nigéria 6; Etiópia 6; Indonésia 6; Congo 3; Filipinas 3; Vietnã 2; Outros países em
desenvolvimento, 40 milhões.
Segundo o CEPAL (2009) o ano 2009 contaria, em decorrência da crise
financeira mundial, com a elevação das taxas de desemprego, elevando consigo o
número dos pobre e indigente, acreditando contudo na minimização do problema, a
partir da contenção dos preços dos alimentos.
Em dezembro de 2008, segundo o CEPAL (2009) o número de pobres na região da
América Latina e Caribe, se mantinha 10,1 pontos percentuais acima dos 24 % necessários
ao alcance dos objetivos do milênio, até 2015.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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2.1.4 Mortalidade Infantil na América do Sul
Segundo a Company World Factbook (2008), a mortalidade infantil na América do Sul
encontra-se, em uma relação óbitos por 1000 nascidos vivos, assim distribuída: Bolívia, 49
óbitos para 1000 nascidos vivos. Guiana, 30. Peru, 30. Brasil, 27. Paraguay, 26. Venezuela, 22.
Equador, 21. Colômbia, 20. Suriname, 19. Argentina, 14. Uruguai, 12. Chile, 8.
2.2. Índices Mundiais de Óbitos na Gestação Desde 1980
Segundo o Relatório sobre a Situação da População Mundial em 2008, divulgado pelo
Fundo de População das Nações Unidas (2008) o número de mulheres, que morrem em
decorrência da gestação e do parto, permanecem inalterados desde 1980. A média, era em
2008, de 536 mil óbitos anuais no mundo. Orienta o Relatório que para a redução da
mortalidade materna e prevenção de lesões, é necessário um melhor atendimento entre a
gestação e o parto, assim como serviços de emergências em casos de complicações e do acesso
ao planejamento familiar. O relatório aponta que outros 15 milhões de mulheres sofrem lesões
ou adoecem motivadas pelo parto. Não trata o relatório, as depressões pós-parto, anemia entre
outras agravantes culturalmente desconsideradas pelas mulheres e familiares.
2.2.1. Redução dos Índices de Mortalidade Infantil pela Prevenção Pré-Natal
Segundo o Governo do Estado de Minas Gerais (2009) citado pelo Portal Agência
Minas (2009), no Brasil, o município de Janaúba, no norte de Minas Gerais, uma das regiões
mais pobres do Estado, tem um índice de mortalidade infantil, de 4,2 para 1000 nascidos
vivos, sendo o menor da América Latina e Caribe, saindo em 2000 de 31 óbitos para 1000
nascidos vivos, superando inclusive, os índices do Canadá, Cuba e Estados Unidos. Segundo o
secretário municipal de saúde, Helvécio Campos de Albuquerque, este baixo índice se deve ao
foco assistencial na atenção primária, com ações preventivas, a partir do direcionamento de
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atenção à fatores sob uma classificação de risco, sob as variáveis: baixo peso de neonatal,
inferior a 2 kg; mães analfabetas; questões sócio econômicas.
2.2.2. Relação Entre Gestação e Mortalidade Infantil
Segundo a nutricionista Amanda de Paula Pereira (2007), Revista Virtual Partes,
“(...) o peso ao nascer é um dos mais importantes parâmetros relacionados à morbidade e
mortalidade infantil”. Ainda, segundo a autora, a Organização Pan-Americana – OPAS,
estima que aproximados 30 (%) das gestantes, apresentam anemia, determinando uma
maior probabilidade, dos bebês nascerem com baixo peso. O que eleva os percentuais de
óbitos. Em uma amostra de 108 mulheres gestantes do Estado do Amapá, no Brasil, um
número de 69 mulheres desenvolveram anemia, dentre as quais, 84,8% tiveram partos
prematuros, resultando em 81,2% de bebês de baixo peso, devido a desnutrição (p. 08).
Logo, a anemia na gestação, responde diretamente por uma maior incidência de
óbitos neonatais, somando-se aos elevados números da mortalidade infantil no mundo, o
que justifica a experiência bem sucedida no município de Janaúba do norte de Minas
Gerais, nos anos 2000, com drástica redução, de 31 para 4,2 a taxa de mortalidade para
cada 1000 nascidos vivos, a partir do cuidado preventivo gestacional.
Passemos a seguir ao estudo dos números mundiais da mortalidade infantil antes
dos cinco anos. A distância entre os extremos da mortalidade infantil entre os países é
gritante.
A realidade supra varia entre 2 e 182 mortes para cada 1000 nascidos vivos.
Realidade esta de extrema distância, sobretudo pelas distâncias econômicas entre países
ricos e pobres. Enquanto na França, Suécia e Singapura morrem entre 2 e 3 crianças para
cada 1000 nascidos vivos - ns, em Angola este número chega ao elevado índice de 182
óbitos antes dos cinco anos para 1000 ns.
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2.3. Mortalidade Mundial Infantil de Crianças com Menos de Cinco Anos
Infra, o índice de mortalidade infantil de todos os países com dados registrados. A
relação consta de óbitos em cada 1000 nascidos vivos. Os dados foram recuperados em 23
de março, 2009, do sítio: (www.indexmundi.com) e posteriormente organizados, de tal
forma, que pudessem ficar reunidos, facilitando a consulta. Segundo o sítio, os dados são
válidos até janeiro de 2008.
Objetivando facilitar o entendimento dividimos em 9 grandes grupos de países:
- onde a mortalidade infantil com menos de cinco anos encontra-se entre;
Grupo A) 0 / Ideal
Grupo B) 1 e 3 para cada 1000 nascidos vivos / Baixo
Grupo C) 4 e 9 para cada 1000 nascidos vivos / Relativamente Alto
Grupo D) 10 e 15 para cada 1000 nascidos vivos / Alto
Grupo E) 16 e 22 para cada 1000 nascidos vivos / Elevado
Grupo F) 23 e 28 para cada 1000 nascidos vivos / Elevadíssimo
Grupo G) 29 e 48 para cada 1000 nascidos vivos / Ultra-elevado
Grupo H) 49 e 100 para cada 1000 nascidos vivos / Alarmante
Grupo I) 101 e 200 para cada 1000 nascidos vivos / Ultra-alarmante
A nomenclatura de classificação: Ideal; Baixo; Relativamente Alto; Elevado;
Elevadíssimo; Ultra-elevado; Alarmante e Ultra-alarmante, não segue a nenhum critério
prévio senão a utilização do sentido original dos termos, em busca à expectativa do que se
consideraria como Ideal, 0.
Grupo a. Não encontramos nenhum país no Grupo a, o que representaria ou
traduze-se como Ideal, com mortalidade infantil igual a 0, antes dos cinco anos.
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Grupo b. Neste grupo, ainda que considerado Baixo, morrem, antes de completar
cinco anos, entre 1 e 3 crianças para cada 1000 nascidos vivos. Nesta categoría,
encontramos não mais do que cinco países, sendo:
França 3, Islândia 3, Hong Kong 3, Japão 3, Suécia 3, Singapura 2.
Grupo c. Neste grupo, Relativamente Alto, morrem, antes de completar cinco anos,
entre 4 e 9 crianças para cada 1000 nascidos vivos. Encontrando um grande número de
países nesta categoria, sendo:
Nauru 9, Bósnia e Herzegovina 9, Macedónia 9, Ucrânia 9, Kuwait 9, Costa Rica 9,
Letónia 9, Porto Rico 9, Hungria 8, Chile 8, Estónia 7, Nova Caledónia 7, Ilhas Caimão 7,
Eslováquia 7, Polónia 7, Lituânia 7, Bielorrússia 7, Croácia 6, Estados Unidos 6, Coreia do
Sul 6, Cuba 6, Itália 6, Taiwan 5, São Marinho 5, Grécia 5, Mônaco 5, Irlanda 5, Canadá 5,
Nova Zelândia 5, Reino Unido 5, Portugal 5, Países Baixos 5, Luxemburgo 5, Listenstaine
5, Austrália 5, Bélgica 5, Áustria 4, Dinamarca 4, Eslovénia 4, Macau 4, Israel 4, Espanha
4, Suíça 4, Andorra 4, Alemanha 4, República Checa 4, Malta 4, Noruega 4, Finlândia 4.
Grupo d. Neste grupo, Alto, morrem, antes de completar cinco anos, entre 11 e 15
crianças para cada 1000 nascidos vivos, onde, 20 países ocupam esta posição, sendo:
Groelândia 15, Seicheles 14, Domínica 14, Argentina 14, Palau 14, São Vicente e
Granadinas 14, Granada 14, Moldávia 14, São Cristóvão e Neves 13, Emiratos Árabes
Unidos 13, Brunei 13, Maurícia 13, Santa Lúcia 12, Arábia Saudita 12, Tonga 12, Fiji 12,
Uruguai 12, Barbados 11, Rússia 11, Rússia 11.
Grupo e. Neste grupo, Elevado, morrem, antes de completar cinco anos, entre 16 e
22 crianças para cada 1000 nascidos vivos. Onde encontramos 26 países, sendo:
Salvador 22, Venezuela 22, Líbia 22, Coréia do Norte 22, Filipinas 21, Equador 21,
China 21, Arménia 21, Ilhas Salomão 20, Colômbia 20, Suriname 19, Albânia 19, Sri
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Lanca 19, México 19, Tuvalu 19, Bulgária 19, Tailândia 18, Antígua e Barbuda 18, Omã
17, Catar 17, Geórgia 17, Malásia 16, Barém 16, Panamá 16, Jamaica 16, Jordânia 16.
Grupo f. Neste grupo, Elevadíssimo, morrem, antes de completar cinco anos, entre
23 e 28 crianças para cada 1000 nascidos vivos, onde, 16 países são agrupados, sendo:
Egipto 28, República Dominicana 27, Síria 27, Brasil 27, Cazaquistão 27,
Nicarágua 26, Paraguai 26, Samoa 25, Honduras 25, Roménia 24, Baamas 24, Belize 24,
Vietname 24, Trindade e Tobago 24, Tunísia 23, Líbano 23.
Até este ponto, observamos que o número de países não aumentam proporcionais a
elevação do número de mortes.
Grupo g. Neste grupo, Ultra-elevado, morrem, antes de completar cinco anos, entre
29 e 47 crianças para cada 1000 nascidos vivos, onde encontramos 43 países sob este
agrupamento, dando um imenso salto em relação ao grupo anterior, sendo:
Papua-Nova Guiné 47, Namíbia 46, Iraque 45, Quiribáti 45, Eritreia 44, Botsuana
44, Cabo Verde 43, Tajiquistão 42, Timor Leste 42, Mongólia 57, Azerbaijão 56, Iémen
56, Quénia 56, Madagáscar 56, Gabão 53, Gana 52, Butão 52,Turquemenistão 52, Vanuatu
51, Zimbabué 51,Birmânia 49, Bolívia 49, Papua-Nova Guiné 47, Namíbia 46, Iraque 45,
Quiribáti 45, Eritreia 44, Botsuana 44, Cabo Verde 43, Tajiquistão 42, Timor Leste 42,
Mongólia 41, São Tomé e Príncipe 38, Marrocos 38, Turquia 37, Irão 37, Índia 32,
Quirguizistão 32, Indonésia 31, Guiana 30, Peru 30, Guatemala 29, Argélia 29
Grupo h. Neste grupo, Ultra-alarmante, morrem, antes de completar cinco anos,
entre 49 e 100 crianças para cada 1000 nascidos vivos. Somando, 48 o número de países
neste grupo, sendo:
Chade 100, Jibuti 99, Nigéria 94, Malávi 91, Etiópia 90, Guiné 87, Sudão 87,
Burquina Faso 86, Costa do Marfim 86, Guiné Equatorial 84, Ruanda 83, Congo-Kinshasa
83, República Centro-Africana 82, Congo-Brazzaville 81, Laos 80, Lesoto 79, Benim 76,
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
62
Sara Ocidental 71, Tanzânia 70, Suazilândia 70, Gâmbia 69, Comores 69, Usbequistão 68,
Paquistão 67, Mauritânia 67, Uganda 66, Camarões 65, Haiti 62, Nepal 62, Burúndi 61,
Senegal 59, África do Sul 58, Togo 58, Bangladeche 57, Camboja 57, Azerbaijão 56, Iémen
56, Quénia 56, Madagáscar 56, Gabão 53, Gana 52, Butão 52, Turquemenistão 52, Vanuatu
51, Zimbabué 51, Birmânia 49, Bolívia 49.
Observamos proporcionalidade entre o número de mortes e o crescimento de países
dos grupos g e h, Alarmante e Ultra-alarmante.
Grupo i. Neste grupo, morrem, antes de completar cinco anos, entre 101 e 200
crianças para cada 1000 nascidos vivos, sendo:
Angola 182, Serra Leoa 156, Afeganistão 155, Libéria 144, Níger 115, Somália
111, Moçambique 108, Mali 104, Guiné-Bissau 102, Zâmbia 101.
Fundamentados nos dados estudados, podemos comprovar a dificuldade e morte de
milhares de crianças no mundo. Se por um lado existem mortes, em suas extensões
encontraremos outros milhares de pessoas sofrendo em decorrência dos óbitos de seus
familiares. Assim, se efetivamente morrem em Angola 182 crianças para cada 1000
nascidos vivos, podemos esperar que aproximadas 546 crianças, em cada 1000 têm suas
vidas ameaçadas pela morte. Isto, da premissa que entre os que morrem, existem aqueles
que se salvam, onde consideramos 3 ameaçados para 1 óbito real. Uma fome alarmante em
mais de 50% dos nascidos vivos. Destacamos outrossim, a disparidade comprovada da
iminência da morte antes da adolescência entre países ricos e pobres: - enquanto em um
país rico têm-se a expectativa de morte de 1 em cada 40, em determinados países
Áfricanos esta expectativa é de 1 para cada 4. Ainda, observamos a falta de
acompanhamento pré-natal; déficit alimentar gestacional e amamentar nos primeiros 5
anos de vida, à somarem às causas e fatores relacionados com a desnutrição e fome no
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
63
mundo, com fundo no déficit nutricional. Além da morte a fome e desnutrição poderá
instalar-se em níveis intermediários, em forma de doenças.
2.4. Mortalidade e Doenças Decorrentes da Falta de Alimentos
Ainda que tenhamos observado os números em todo o mundo no tocante a
mortalidade infantil, evidenciando-se proporcionalidade entre desenvolvimento econômico
dos países e número de óbitos infantis, há pesquisadores que sustentam a redução da
mortalidade dever-se ao declínio das doenças e não às melhorias econômicas.
A redução da mortalidade, segundo Lebret (1960/1962) não corresponde à
melhoria das condições econômicas. Mas, isto sim, pelo declínio de doenças, oportunizado
pela introdução de vacinas, antibióticos, combate a insetos, melhoria dos equipamentos de
saúde, maiores oportunidades educacionais.
No tocante ao combate à malária, segundo o mesmo pesquisador, em 1958, os
custos correspondiam entre 4,5 cêntimos à 1 dólar aproximadamente (Lebret, 1960/1962).
A afirmativa de Lebret, nos leva a uma interpretação complexa da realidade. Pois, a
mortalidade, se infantil, é dependente de investimentos econômicos, desde o pré-natal a
uma alimentação balanceada após ao nascimento, e para isto, os recursos são
indispensáveis. Se referindo às condições econômicas dos Estados, só contaríamos com
uma melhora no sistema de saúde, capaz de levar ao declínio da mortalidade, se também
com maiores investimentos econômicos. A variável morte inegavelmente é dependente da
variável saúde. Assim como, sob o paradigma do mundo como o conhecemos, sob o
sistema capitalista, uma maior saúde relaciona-se diretamente com o investimento de
capitais, minimizando as variáveis que levam à desnutrição e suas extensões.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
64
2.4.1. Desnutrição em suas Variáveis e Extensões
Segundo Abramovay (1985), pelo registro de óbitos, não se morre de fome no
Brasil, logo, no mundo. Não é o jejum total e absoluto que provoca a morte. Se a fome
mata, é porque ela enfraquece o indivíduo, abrindo as portas para doenças que, num
organismo sadio, seriam banais, mas que para o faminto costumam ser fatais. O sarampo,
pneumonia, desidratação e outras doenças infecciosas são na maior parte das vezes
consequências e não causa. Consequência de uma alimentação pobre e insuficiente.
As mais sérias vítimas da má alimentação situam-se entre aquilo que os
especialistas chamam de população biologicamente vulnerável. São crianças até quatro
anos e mães em amamentação e gestantes. Isto, nos diz Abramovay (1985) por dois
motivos básicos. Primeiramente, esta é a faixa da população mais sensível a doenças
infecciosas e que mais necessita ser protegida pela boa alimentação. Além disso,
abatendo-se sobretudo entre as crianças, a fome não faz apenas sofrer no imediato, ela
rouba do indivíduo boa parte daquilo que seu potencial genético estava destinado a
realizar. Por isso, é sobre as crianças que se concentra o essencial das preocupações
dos especialistas sobre o assunto.
A desnutrição tem frequentemente início antes mesmo do nascimento, na vida
intra-uterina. Uma gravidez saudável fornecerá normalmente à criança um peso ao nascer
suficientemente elevado para protege-la dos inúmeros ataques do meio exterior a que
estará sujeita quando abandonar o útero materno. Os especialistas, conforme pesquisas de
Abramovay (1985) consideram que este peso mínimo é de 2,5 quilos. Ora, nos países
desenvolvidos, apenas 5% das crianças nascem com menos de 2.5 quilos. Já nos países
pobres, esta proporção sobe para 17%. De 125 milhões de crianças que nascem anualmente
nas nações subdesenvolvidas, 21 milhões vêm ao mundo com menos de 2,5 quilos. Para
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
65
avaliarmos o significado deste dado basta lembrar que a taxa de mortalidade das crianças
com peso baixo ao nascer é vinte vezes superior à de outros recém-nascido.
O sistema imunológico do desnutrido não atua como daqueles satisfatoriamente
alimentados. Observemos o exemplo que nos oferece Abramovay (1985):
Em muitas famílias de classe média tem-se o hábito de, quando algum filho é
atingido pelas chamadas doencinhas de criança, catapora ou rubéola, colocar-se
todos os irmãos no mesmo quarto para que peguem a infecção. Isto porque é
muito menos desagradável uma doença destas na infância que na adolescência
ou na idade adulta. A mãe, ao tomar esta atitude, está certa de que não expõe os
filhos a nenhum risco maior. Sabe que o organismo da criança tem um
funcionamento normal e que a consequência da doença será a criação dos
anticorpos que evitarão a moléstia em período posterior da vida (p. 18).
Se no entanto, na visão de Abramovay (1985) esta mesma medida for adotada em
uma família pobre, os resultados podem ser desastrosos. O organismo do desnutrido
assemelha-se ao de crianças que nascem com o sistema imunitário defeituoso ou de quem
sofre de leucemia. As células que deveriam constituir o batalhão de defesa contra
agressores externos não funcionam de maneira adequada.
Observemos outro exemplo oferecido pelo autor:
Todos nós possuímos uma glândula perto da tireóide que se chama timo e
que é responsável pelo nosso sistema imunitário. Pois bem, esta glândula no
desnutrido chega a pesar de dez a quinze vezes menos que na criança
normal (...). Uma simples diarréia que, em mim, você ou numa criança bem
nutrida constitui um incômodo passageiro, pode ser fatal para a criança
faminta. Seu intestino é, por assim dizer, careca, isto é, não possui as
bactérias responsáveis pela digestão normal (...). Tais bactérias vêm da
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
66
alimentação que, sendo escassa, expõe estes frágeis corpos à ação de
verminoses que lhes roubam o pouco ferro e a pouca proteína de que
dispõem (p.19).
Não podemos, no entanto, inverter os termos da equação. Eles não são desnutridos por
serem atacados por vermes. Ao contrário, deixam-se atingir tanto pelas verminoses justamente
em função de sua desnutrição. Abramovay (1985) faz a comparação daquela criança
desprovida de imunidade ideal à bem alimentada. Nesta última, as verminoses não revelam
este poder destrutivo que lhes é propiciado pelo intestino do desnutrido. Se a criança
subalimentada resistir ao ataque das doenças infecciosas ou dos vermes que fazem com que os
filhos dos pobres tenham muito menos chances de sobreviver que os dos ricos, esta infância de
fome marcará sua existência de maneira irreversível. Primeiramente, seu crescimento será
mais lento que os das pessoas bem alimentadas. Embora nem todos com estaturas baixas
venham de uma infância carente de alimentos. Contudo, os desnutridos contarão com menores
estaturas. “Não é à toa que a estatura média dos japoneses vem aumentando desde que suas
condições alimentares melhoraram sensivelmente, sobretudo após a 2ª. Guerra Mundial”. A
desnutrição retarda a ossificação e, por isso, a criança apresenta sempre uma estatura inferior à
de sua idade cronológica, sendo o desmame precoce, neste contexto um dos responsáveis pela
desnutrição infantil, com desdobramento em doenças.
2.4.2. Doenças Decorrentes do Desmame Precoce e Desnutrição
2.4.2.1. Kwashiorkor
Do ponto de vista clínico, os médicos localizam duas principais doenças
decorrentes da desnutrição nas crianças. A primeira delas, que se manifesta em geral a
partir de uns seis meses, chama-se Kwashiorkor, expressão da língua ashanti, de Ghana, no
Oeste da África. Significa criança a mais. Trata-se da doença que o filho adquire quando
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
67
nasce seu irmão, o qual tomará seu lugar junto ao seio materno. O menino desmamado
passa a ser uma criança a mais, e a vinda ao mundo do novo bebê marca a passagem do
filho mais velho para uma alimentação monótona e paupérrima em proteínas. A grande
causa do kwashiorkor não provoca o emagrecimento da criança, mas um inchaço nos
braços, pernas, costas e mãos, que pode até dar a impressão de gordura, mas que, na
realidade, é uma cruel marca da fome. Os cabelos se descoloram e caem, de tão fracos, e a
pele apresenta sinais que poderiam ser confundidos com uma queimadura. O fígado não
consegue mais assimilar as proteínas e deixa-se tomar pelas gorduras. Esta
degenerescência gordurosa do fígado impede que ele desempenhe seu papel de filtro e
produza as enzimas necessárias à digestão. Além disso há uma deterioração da mucosa
intestinal, e o resultado de tudo isso é que a criança vai perdendo sua capacidade de
produzir anticorpos e de defender-se contra as agressões microbianas ou virais. Razão pela
qual as crianças portadoras de kwashiorkor são apáticas, retraídas, estáticas, apresentando
aspecto miserável e pouco manifestam interesse pelo ambiente que as cerca. São crianças
tristes que muitas vezes atingem a idade de dois ou três anos sem andar nem engatinhar.
Sua apatia é tanta que permanecem na mesma posição em que foram colocadas
durante horas. Sua própria interação com a mãe, seu poder de manifestar suas
necessidades e, por aí, despertar a ação do instinto maternal é limitada pelo
estado apático em que se encontram (Abramovay, 1985, p. 21 e 22).
2.4.2.2. Marasmo
O Marasmo é uma segunda doença característica da desnutrição. Aparece logo nas
primeiras semanas de vida. Trata-se de um déficit calórico global, diferentemente do
kwashiorkor, em que o déficit é sobretudo protéico.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
68
O marasmo manifesta-se também por ocasião do desmame. A criança
emagrece subitamente, sem que sua desnutrição seja encoberta pelo inchaço
típico do kwashiordor. A gordura da pele desaparece, tornando salientes e
angulosos os ossos do rosto, das costas, dos braços e das pernas. A criança
adquire um aspecto que evoca a velhice precoce e pode chegar a menos de
60% de seu peso normal (Abramovay, 1985, p. 22).
Abramovay (1985) nos chama atenção para o fato de que, embora o kwashiorkor e
o marasmo sejam doenças de grande incidência no Terceiro Mundo, representam, isto sim,
“(...) a ponta de um iceberg (p. 22).
2.4.3. A Desnutrição Moderada Mata Lentamente Milhões de Crianças no Mundo
A desnutrição moderada, discreta e invisível acompanha dezenas de milhões de
crianças em todo o planeta. Não são casos que exigem hospitalização e tratamento
médico específico. A fome aí rói o indivíduo de forma lenta e paciente, mas nem
por isso menos prejudicial a sua saúde (Abramovay, 1985, p. 23).
2.4.3.1. Efeitos da Desnutrição Sobre a Inteligência
Ainda como consequência de repercussão orgânica da desnutrição, Abramovay nos
conduz a reflexão sobre a influência sobre o desenvolvimento mental do indivíduo:
(...) se a fome retarda a ossificação, prejudica o sistema imunitário, impede o
perfeito funcionamento intestinal, é de se crer que ela atinja também a
inteligência de sua vítima. Mas essa é uma visão no mínimo unilateral das
coisas: diferentemente da ossificação, do sistema imunitário e do
funcionamento intestinal, a inteligência depende não só de fatores orgânicos,
mas também – numa medida tremendamente importante – de determinações
emocionais e pedagógicas. Em outras palavras, o que vai interferir sobre a
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
69
inteligência da criança não é apenas o que ela come, mas o conjunto de sua
relação com o mundo que a cerca, os estímulos que lhe são oferecidos, o amor
que recebe e a atenção que lhe é consagrada pelo ambiente doméstico
(Abramovay, 1985, p. 23).
Do ponto de vista orgânico, encontramos em Abramovay vários especialistas
afirmam que a desnutrição é responsável por prejuízos na formação cerebral. O próprio
feto seria, no caso, vítima da desnutrição materna, pois até o sétimo mês de vida formam-
se de 10 a 12 bilhões de neurônios, fatores básicos da inteligência, cuja evolução é
bloqueada pela desnutrição:
No entanto, pesquisas da década de 1980 demonstram que mais importante que
estes fatores orgânicos é a falta de estímulos que caracteriza a vida do
desnutrido. Insatisfeita em suas necessidades alimentares, a criança queixa-se
até um certo momento, a partir do qual ela adapta-se a esta situação reduzindo
seu ritmo metabólico, diminuindo a intensidade de suas atividades físicas e de
seu próprio crescimento. É como se todos os instintos da criança se colocassem
de acordo na montagem de uma estratégia de sobrevivência, cuja lei básica
seria repousar o máximo e cansar-se o mínimo (Abramovay, 1985, p. 24).
Com essas colocações, Abramovay (1985, p. 24) esclarece o fato da criança dormir
anormalmente, parando de brincar, de se interessar pelo mundo que a cerca, voltando-se
para uma única finalidade, em busca desesperada da auto preservação. É claro, nos diz o
autor, que independentemente das repercussões diretamente cerebrais da desnutrição, estes
fatores de origem emocional, prejudicam profundamente a inteligência, que é um traço
especificamente humano, na medida em que caracteriza a própria socialização de nossa
espécie. A recreação da criança, na visão de Abramovay, quando da falta de alimentos,
encerra-se em voltar-se para si mesma, originando a anti-socialização (p. 25).
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Os efeitos deste “embotamento precoce das atividades mentais”, segundo
Abramovay (1985) não parecem irreversíveis. Passando de um ambiente em que imperam
a fome e a apatia a um regime alimentar saudável e a uma situação de estímulo intelectual,
o indivíduo reage de maneira surpreendentemente positiva. Prova disso é que:
(...) os cursos de pós-graduação nos Estados Unidos são frequentados por
inúmeros estudantes nascidos na Coréia durante a violenta guerra que
atingiu aquele país e adotados por famílias norte-americanas. Vários destes
estudantes, comprovadamente, sofreram formas graves de desnutrição no
início da vida e, apesar disso, seu desempenho escolar é perfeitamente
normal (Abramovay, 1985, p. 25).
Esta é uma conclusão importante, pois derruba o mito de que a fome torna os povos
pobres pouco aptos para enfrentar o desafio do desenvolvimento. Se os efeitos da
desnutrição sobre a inteligência humana fossem irreversíveis, aí sim, conclui Abramovay
(1985) “(...) poderíamos falar de uma incapacidade dos povos pobres para assumir as rédeas
de seu destino”. Mas não é isso que as pesquisas da década de 1980 descobriram,
demonstrando-nos, isto sim, pelas conclusões desse pesquisador que:
(...) ao contrário – no que se refere a inteligência – a boa alimentação e um
ambiente de estímulo e afeto podem devolver ao indivíduo aquilo que a fome
e o desespero lhe haviam retirado: sua capacidade de pensar e intervir no
mundo em que vive (Abramovay, 1985, p. 25 e 26).
O ambiente e o estímulo, são elementos constitutivos do que, em sua ausência,
resultam em parte, em doenças sociais.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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2.4.4. Doenças Sociais
Ainda em Abramavay (1985) encontramos a fome em uma versão social de doença
quando propagada em um meio. O autor nos oferece três áreas como exemplo:
educacional; de trabalho e; de custos à previdência social.
2.4.4.1 Fome e Desnutrição como Doença Social Educacional
No tocante a educação, trata sobre o rendimento escolar, sempre mais difícil
àqueles acometidos pela fome, sobretudo pela falta de estímulos, interferindo na
capacidade de aprendizado, repercutindo no próprio país, pois:
(...) a criança desnutrida de hoje será o trabalhador pouco qualificado de
amanhã. É todo um potencial de inteligência e criatividade totalmente
desperdiçado. Se é verdade que a maior riqueza de um país é seu povo, o
tamanho desta riqueza depende em grande parte da capacidade deste povo
(Abramovay, 1985, p. 26).
Nesse sentido, não há dúvida de que é impossível construir uma grande nação sobre
a base de uma massa faminta, pouco instruída e pronta apenas a ser pau-prá-toda-obra
(Abramovay, 1985).
2.4.4.2. Fome e Desnutrição como Doença Social Profissional
Abramovay (1985) inicia este tema, com a chamada: “(...) o trabalhador pouco
qualificado é em geral mal remunerado”. De onde parte em assertiva para afirmar que “(...)
quanto pior é a remuneração da base da sociedade, da grande massa, menor tende a ser seu
mercado interno, o que limita imensamente suas possibilidades de desenvolvimento
econômico”. O que se nos apresenta bastante lógico.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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2.4.4.3. Fome e Desnutrição como Doença Social Econômica
Esta questão, da premissa traçada por Abramovay, (1985) da fome e desnutrição
como doença social econômica, observamos como de especial relevância ao
convencimento cabal daqueles que governam seus municípios, estados e países, sob a
óptica pragmática, voltados exclusivamente para os aspectos econômicos, com pouco ou
nenhum ideal. Convencemo-nos com os argumentos apresentados pelo autor, que o
governante minimamente inteligente, após este ponto de nossas pesquisas, adotará, com
determinação, medidas de urgência à erradicação da fome no âmbito de sua abrangência
governamental. Quanto mais rápidas, duradouras e definitivas se fizerem as ações voltadas
à erradicação preventiva da fome e da desnutrição, maiores se apresentarão os resultados
financeiros ao Estado que as adota. Observemos a riqueza de argumentos utilizados por
Abramovay, cuja citação merece um pouco de espaço:
Evidentemente, o custo social e humano da fome é tão alto que não pode
sequer ser contabilizado, salvo num aspecto: o que concerne à previdência
social. Médicos da Universidade de Londrina (PR – Brasil) realizaram um
estudo onde compararam o custo econômico do atendimento hospitalar a
desnutridos com o custo daquilo que seria uma dieta equilibrada para estas
crianças. Conclusão: o que foi gasto no atendimento a 81 crianças em
estágios variados de desnutrição seria suficiente para alimentar de maneira
adequada nada menos que 430 crianças até a idade média em que aquelas
81 foram hospitalizadas. O gasto com atendimento hospitalar a desnutridos
poderia, de maneira muito mais rentável, ser investido – em lugar de
tentativa de cura sempre provisória e restrita ao tempo em que a criança
permanecer no hospital – na prevenção do mal: investindo em alimentação
para as populações carentes (Abramovay, 1985, p. 26).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Não considerando suficiente a contundente argumentação para, sobretudo, os que
só se deixam convencer por argumentações financeiras, Abramovay (1985) utiliza-se
também de um outro apelo, de ordem social, da estabilização e por que não dizer da
manutenção do poder sem o desconforto da desordem e gritos de protestos das classes
mais pobres, com fome e sem mais nada, além de suas vidas, que a cada dia vêem se
esvaziando pela falta de nutrientes à própria sobrevivência. Acompanhemos, na visão
desse autor, o custo político decorrente da fome:
A desnutrição, quando atinge um certo ponto, faz aflorar no homem seus
instintos mais destrutivos, que paradoxalmente são também instintos de
sobrevivência, diante dos quais só há duas possibilidades: a satisfação de
suas necessidades ou a repressão sistemática, a montagem de um corpo
armado, capaz de defender os que têm contra os que não têm. (...) É muito
difícil a estabilização política pacífica, o respeito por determinadas
instituições como a propriedade, por exemplo, num ambiente marcado pelo
contraste entre a opulência e a miséria (Abramovay, 1985, p. 27).
Como exemplo concreto, o mesmo autor aponta para os saques que surpreenderam
a cidade de São Paulo, Brasil, logo no início do primeiro governo eleito após o Golpe de
1964, ocorridos em abril de 1983. Isto, da premissa que trata o autor quanto aos regimes
ditatoriais mais apresentarem-se: “(...) em países onde impera uma grande desigualdade
social” (Abramovay p. 28, 1985).
Observemos a seguir, um exemplo de realidade que pelo desespero pode, de alguna
forma, justificar atitudes extremas como os saques enfocados no parágrafo anterior. Sob o
título infra, conheçamos a característica de uma nova doença, que também gera fome.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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2.4.4.3.1. Doença Econômica em Política de Exportações
Abramovay nos remete ao ano de 1877 à cidade de Calcutá, na Índia, onde, ao longo
deste ano, no porto local, foram intensas as movimentações de cereais destinados à
exportação. Todo o movimento foi acompanhado por milhares de olhos de uma população
faminta, sem nem mesmo o pão para comer: “Infelizmente estes Cereais já estão vendidos e
os pedidos dos famintos não podem ser satisfeitos. (...) No final deste ano a fome deixa um
saldo de quatro milhões de mortos” (1985, p. 52).
2.5. Mortalidade Prevista e Evitável
Segundo Ladislau Dowbor (1985) o conceito de mortalidade prevista e evitável é
lançado pelo Relatório da OMS. Dowbor nos diz que em estudo realizado no Chile, citado
pelo relatório da OMS, próximo a 1985, as mortes infantis pós-neonatais naquele país,
entre 75 e 80% se enquadrariam como previstas e evitáveis:
Na média, o nível de mortalidade para as crianças de operários, é mais de
três vezes superior ao índice de classe média, e a taxa sócio-econômica de
mortalidade aumenta em razão de doenças infecciosas e parasíticas,
alcançando um ponto máximo com a subnutrição, com taxa de mortalidade
de filhos de operários atingindo 5,6 vezes mais pessoas do que os de filhos
de operários atingindo 5,6 vezes mais pessoas do que os de classe média.
Seria difícil encontrar um exemplo mais claro das grandes desigualdades em
matéria de saúde (Gel OMS, Vol. I, p. 50).
Juntam-se aqui, segundo Ladislau Dowbor (p. 84, 1985) duas idéias de grande
importância. Primeiro, serem essas mortes previsíveis e evitáveis. Isto, em termos técnicos,
pode ser considerado como homicídio por omissão, sendo impressionante que nos
tenhamos acostumado com tal situação, considerando essas realidades sob um ângulo
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
75
exclusivamente técnico. Em segundo lugar, podemos bem observar o problema da fome
como ancorado solidamente na situação das classes sócio-econômicas. O drama da fome, é
assim, cada vez mais constado, não como um problema agrícola e, isto sim, como enorme
escândalo político. De foco e tratamento incongruentes à realidade. Isto, por
quantificarmos todas as variáveis do problema, faltando apenas a definição de receitas
compatíveis à equação resolutiva à falta de acesso aos alimentos de graves consequências,
sobretudo nos países subdesenvolvidos.
2.5.1. Subnutrição Grave nos Países Subdesenvolvidos
O número de pessoas sofrendo de subnutrição grave nos países subdesenvolvidos,
excluindo-se a China e outros países socialistas, passou de cerca de 360 milhões em 1969-71
para cerca de 420 milhões, correspondendo a 22% da população desses países em 1974-76
(FAO, 1981, por Ladislau Dowbor, 1985, p. 72).
A subnutrição de graves consequências nos países subdesenvolvidos é citada por
Dowbor (1985), permitindo-nos um olhar crítico e analítico, fundamentado sobre a questão.
No Relatório Sixth Report on the World Health Situation, sexto relatório sobre a
situação da saúde no mundo, da OMS (1982, p. 18), citado por Ladislau Dowbor (1985),
observamos a subnutrição entre 1969 e 1974:
Entre 1969 e 1974, na África encontramos 25% de sua população abaixo do
metabolismo de base, correspondendo a 70 milhões de desnutridos. No Extremo Oriente,
esse mesmo percentual de 25%, devido a imensa população, remete-nos à 256 milhões de
subnutridos. Na América Latina neste mesmo período, encontramos um percentual de 16%
de pessoas abaixo do metabolismo, 44 milhões. Tais índices baseiam-se em calorias,
indispensáveis à sobrevivência e trabalhos humanos.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
76
2.5.2. Calorias Necessárias aos Seres
No mesmo relatório da OMS (1982), citado por Dowbor (1985) são apontadas a
necessidade de 1600 calorias diárias para a pessoa em descanso e 2.400 para a
sobrevivência.
2.6. Pessoas no Terceiro Mundo Abaixo do Mínimo Nutricional
Dowbor (1985), referindo-se ao relatório da OMS (1982), observa que no Terceiro
Mundo entre 1969/71 haviam 401 milhões de pessoas abaixo do mínimo nutricional, sendo
que entre 1972 e 1974 esse número elevou-se para 455 milhões, aumentando a
possibilidade do desenvolvimento de uma sociedade de esquizofrenicos. No tocante a
assertiva de possibilidades de se relacionar a desnutrição e esquizofrenia, aprofundaremos
a seguir, sob o título Fome Eleva Risco do Desenvolvimento de Esquizofrenia, uma
experiência desenvolvida na China.
2.7. Fome e o Desenvolvimento de Esquizofrenia
Um estudo feito por cientistas chineses e publicado na revista especializada
American Medical Association concluiu através de análises estatísticas que a fome sofrida
pelos chineses entre 1959 e 1961 aumentou o risco de esquizofrenia de 0,84% para 2,15%.
O estudo segue a mesma linha de um outro trabalho, realizado na Holanda, no qual
foi constatado a existência do dobro do risco de esquizofrenia entre crianças que nasceram
em 1944 e 1945, durante a escassez de alimentos decorrente da Segunda Guerra Mundial.
No estudo realizado na China, a equipe da Universidade Jiao Tong, em Xangai,
comparou as taxas de esquizofrenia entre aqueles que nasceram antes, durante e depois dos
anos de fome que atingiram a região de Wuhu, que atualmente tem uma população de 62
milhões de pessoas.
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77
Durante o período de escassez de comida, a taxa de natalidade da área caiu em
80%. No entanto, entre os bebês que nasceram nessa época, a taxa daqueles que
desenvolveram esquizofrenia quando adultos é muito maior do que entre aqueles que
nasceram em períodos sem escassez. O risco de esquizofrenia em Wuhu cresceu de 0,84%
em 1959 para 2,15% em 1960. Na China de 1959 à 1961, a fome mata 36 milhões de
pessoas. Até mesmo o canibalismo foi observado (Yang Jisheng, 2008).
2.7.1. Nutrição e Gravidez
A necessidade de uma nutrição adequada é essencial durante os três primeiros
meses de gravidez, de acordo com os especialistas (Médicos na Internet, 2007). Observe-
se, no entanto, que há uma evolução conceitual na abordagem dos temas Nutrição
adequada e Subalimentação.
Evolução conceitual. Encontramos evoluções nas interpretações quando são
abordados temas como nutrição adequada e subalimentação. Até 1974, quando
oficialmente o assunto girava em torno da subalimentação, o tema ganhava direcionamento
à crise de proteínas.
Na Conferência Mundial sobre Alimentação de 1974, provocada pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura, segundo Abramovay (1985), não mais se tratou
sobre o tema da subalimentação como crise de proteínas. Essa mesma organização, afirma:
O principal problema para garantir uma dieta adequada na maioria dos
países em desenvolvimento reside sobretudo na quantidade de alimentos
consumidos. Em muitos casos, se se consumissem em maior quantidade os
mesmos alimentos, a ingestão de energia e nutrientes seria adequada.
Assim, portanto, quando a ingestão de energia é adequada, geralmente o é
também a ingestão de proteínas (ALB, 2008).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
78
Do ponto de vista econômico e social, esta mudança de óptica com relação à
abordagem dominante durante os anos 1950 é fundamental. Se a fome se explicasse pelo
fato de as pessoas comerem mal, pela ingestão de alimentos biologicamente pouco
adequados, então, na visão de Abramovay (p. 40, 1985) “(...) o remédio é ensiná-las a
comer bem, a compor suas refeições de maneira mais equilibrada”. O que facilmente se
faria através de campanhas utilizando-se tão somente a mídia mundial. Contudo,
considerando-se como assertivas as conclusões da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura, explicando-se a fome a partir de necessidades quantitativas de alimentos: “(...)
o remédio é fornecer-lhes os meios para que possam comer mais” Ainda, complementa:
“A melhor política para isso, evidentemente, é elevar o padrão de vida dos pobres – um
remédio bem mais complicado que o sugerido anteriormente, de ensinar os pobres a
comer” (Abramovay, 1985, p. 41).
Para uma melhor compreensão do conjunto alimentar que nos subsidiará em
conclusões de subalimentação e ou alimentação adequada, adentremos a seguir, ainda que
estratificadamente, em um breve estudo dos principais elementos considerados como
essencias para o funcionamento orgânico equilibrado.
2.8. Funcionamento Orgânico
Como funcionamento orgânico entende-se a alimentação que resulte na
organização e estruturação biopsicofísica capaz de atender as necessidades essenciais de
desenvolvimento dos seres, proporcionando-lhes naturalmente, além da sobrevivência,
condições de estudos, lazer, trabalho, reprodução e convívio social. Isto, necessariamente,
com o devido e indispensável equilíbrio emocional (Carabajal, 2009, online).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
79
Os seres são dependentes de alguns elementos essenciais constitutivos das bases
orgânicas ao fornecimento de energia, formação de tecidos, transporte de oxigênio e
funcionamento enzimático.
2.8.1. Elementos Essenciais à Vida (webciência, 2008)
Carboidratos e lipídios. São nutrientes orgânicos cuja função principal é fornecer
energia às células. Alimentos ricos nestes nutrientes costumam ser chamados de alimentos
energéticos. Os carboidratos ou, Glicídios - estão presentes nas massas e açúcares e tem a
função de produzir e armazenar energia. Já os lipídios são os óleos e as gorduras, tem a função
de armazenar energia, reserva alimentar, manter a temperatura e dissolver algumas vitaminas.
Proteínas. São nutrientes orgânicos cuja função principal é fornecer aminoácidos às
células. A maior parte dos aminoácidos absorvidos é empregada na fabricação das proteínas
específicas do animal. Uma vez que as proteínas são os principais constituintes estruturais
das células animais, costuma-se dizer que alimentos ricos nesse tipo de nutriente são
alimentos plásticos. As proteínas são construtoras de tecidos, como exemplo: unha, pele,
músculos... e catalisa reações bioquímicas, enzimas. Os aminoácidos estão contidos nas
carnes e derivados do leite.
Sais minerais. São nutrientes inorgânicos que fornecem ao homem elementos
químicos como o cálcio, o fósforo, o ferro ou o enxofre, entre outros. O cálcio por
exemplo é um elemento químico de fundamental importância na estrutura dos ossos. O
ferro, presente na hemoglobina do sangue de diversos animais, é fundamental para o
transporte de oxigênio para as células. O fósforo faz parte da molécula de ATP,
responsável pelo fornecimento de energia a todas as reações químicas fundamentais à vida.
A água, particularmente, não é propriamente um nutriente, embora seja fundamental à vida.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
80
Todas as reações vitais ocorrem no meio aquoso presente no interior das células.
Geralmente, a água faz parte da composição de todos os alimentos.
Vitaminas. Substâncias orgânicas essenciais à vida, obtidas no alimento ingerido. A
maioria das vitaminas atua como co-fatores enzimáticos, isto é, como fatores assessórios
de reações catalisadas por enzimas. Na ausência de certas vitaminas, determinadas enzimas
não funcionam, com prejuízo para as células. As doenças resultantes da falta de vitaminas
são denominadas avitaminoses. Até hoje foram identificadas treze vitaminas que o homem
necessita ingerir na dieta. O termo vitamina significa amina vital (webciencia, 2008).
A alimentação adequada não depende de grandes quantidades de alimentos. São,
isto sim, necessárias variações dos gêneros alimentares para que deles sejam abstraidos
todos os indispensáveis componentes essenciais ao bom funcionamento orgânico. Por mais
que sejam ingeridos carbaidratos, fatariam ao bom funcionamento orgânico, proteínas e
vitaminas. Investigações técnicas, através de exames complementares, devem se fazer
acompanhar aos programas de dietas e nutrição popular (Baade, 1956/1963a).
Ainda, segundo Baade, entre os múltiplos fatores que relacionam-se à falta de
alimentos, a desnutrição, resposável pela baixa imunológica do organismo, capaz de levar
muitos seres à morte, apresenta-se como grave autor no problema alimentar mundial.
Seja pelo desmame precoce, falta de emprego e renda, ou quaisquer motivos que se
apresentem, de fato, o problema alimentar mundial, sobretudo, atua sobre os seres que não
dispõe de recursos para os adquirir. Mesmo em países africanos, a exemplo de Angola, miséria
e riqueza co-existem. De um lado a fome que mata, pela falta de recursos para comprar a
própria subsistência. De outro, a riqueza, onde carros e mansões, remetem a um cenário
semelhante a Hoollyood. Isto, observado mesmo entre os anos 1972 e 2002, quando o país
encontrava-se sob guerras. Assim, a principal Causa da Fome é a falta de ter o que comer.
Não bastando ter, é preciso ingerir. Pois uma criança ou um idoso, poderão dispor de
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alimentos sem contudo terem a capacidade de os preparar. Isto, independentemente se meio a
guerras, baixa produtividade, políticas agrárias, recursos pessoais (Carabajal, 2000).
Segundo a ALB (2006), a fome é consequência direta, primeiramente da falta do que
comer, ainda que extensões outras proponham-se justificar tal indisponibilidade. O que
caracteriza a falta de alimentos, como principal causa da fome. O que se nos apresenta como
bastante lógico. Houvesse alimentos disponíveis, ou ao alcance dos seres, mesmo na forma de
frutas, frente as casase avenidas, como o modelo de Cidades Ecológicas proposto pela
Academia de Letras do Brasil, guerras e outros fatores não impediriam um mínimo alimentar.
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FATORES RELACIONADOS À FALTA DE ALIMENTOS
Quadro Resumo
1) Imunidade: organismo semelhante ao do sistema imunitário defeituoso. As
células de defesa contra agressores externos não funcionam de
maneira adequada tornando o organismo vulnerável ao ataque
externo, o que propicia a instalação de doenças e até a morte.
2) Doenças
Decorrentes do
Desmame
Precoce e
Desnutrição:
Kwashiorkor - doença pela perda do seio materno – produz inchaço
e causa impressão de gordura, os cabelos descolorem e caem, a pele
apresenta sinais semelhantes a queimadura, crianças apáticas de
aspecto miserável, sem interesses, tristes, atingindo a idade de dois
ou três anos sem andar nem engatinhar.
Marasmo: déficit calórico, emagrecimento súbito, a gordura da pele
desaparece, tornando salientes os ossos, aspecto de velhice precoce.
Desnutrição moderada: mata lentamente, perda progressiva de
nutrientes, queda na imunidade, doenças por carências nutricionais
ou organismos oportunistas. (Abramovay, 1985, p. 23).
Repercussões neurocognitivas: prejuízos na formação cerebral e a
falta de estímulos e apatia que caracteriza a vida do desnutrido.
(Abromovay, 1985, p. 23, 24), maior probabilidade de desenvolver
Esquizofrenia. (American Medical Association).
Doenças Sociais da fome (Abramovay, 1985): interfere na
capacidade de aprendizado e na qualificação profissional; trabalho:
pouco qualificado e mal remunerado; custos altos à previdência
social; desperta o instinto de preservação a qualquer custo.
Nutrição e gravidez: as mais sérias vítimas da má alimentação estão
entre a população biologicamente vulnerável, ou seja, crianças até
quatro anos e mães em amamentação e gestantes.
3) Morte: falência do organismo, por deficiências nutricionais ou
aparecimento de doenças oportunistas, milhões de mortos,
anualmente.
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FOME E MORTALIDADE INFANTIL NA AMÉRICA LATINA E MUNDO
2008 - OMS (Organização Mundial de
Saúde): números anuais, aproximados:
- 122 milhões de crianças nascem;
- 12,2 milhões, morrem antes de 1 ano;
- 4,88 milhões, morrem antes de 5 anos;
- risco de morrer antes da adolescência:
a) países desenvolvidos: cerca de 1 para
40 b) África: 1 para 4 .
2009, segundo a FAO: - cerca de 5 milhões de crianças morrem
no mundo, por ano, em consequência da
fome.
Sítio http://www.webciencia.com(2009): - cento e cinquenta milhões de crianças
encontram-se sob o rótulo da subnutrição,
uma para cada três no mundo;
Menores e maiores índices de pobreza na
América Latina e Caribe:
- Menos de 22% - Argentina, Chile,
Costa Rica e Uruguai.
- Menos de 32% - Brasil, México,
Panamá e Venezuela
- De 38 a 48% - Colômbia, Equador, El
Salvador, Peru e República Dominicana
-Acima de 50%: Bolívia, Guatemala,
Onduras, Nicarágua e Paraguay.
Mortalidade Infantil - expectativa 2008 -
número de mortes antes dos cinco anos
para cada 1000 nascidos vivos (ns),
Relatório sobre a População Mundial
2008, publicado em 12 de novembro de
2008, pelo Fundo de População das
Nações Unidas, da ONU (2008):
-Bolívia, primeiro pior índice, 45 para
1000 ns.
-Paraguay, segundo pior, com 32 mortos
para 1000 ns.
-Brasil, terceiro pior índice, 23 mortes
para cada 1000 ns.
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3. INCURSÕES SOBRE AS VARIÁVEIS DA FOME NO MUNDO
Inicia-se este capítulo com incursões sobre o que origina e influencia a Fome no
Mundo, como a realidade das guerras, bloqueios econômicos, sanções econômicas e
catástrofes naturais, onde as guerras são apontadas entre as principais causas geradoras,
mantenedoras e fomentadoras da Fome no Mundo (Robles Tejada, 2000).
3.1. Guerras
Elementarmente “O homem vive em um estado permanente de guerra” (Prof. Doutor
Ricardo Estigarribia Velázquez. Disciplina de Seminário Temático Avançado I, do curso de
doutorado em Ciências Educacionais, UAA, em 27 de julho de 2009: 10h.).
Na declaração da FAO (2005) a realidade das guerras e conflitos internos, seguidos
pela Aids e imediatamente pelas mudanças climáticas, respondem respectivamente como
principais geradoras da fome no Mundo. Os bloqueios econômicos devem ser também
considerados. Como veremos no desenvolvimento das pesquisas, são os bloqueios
econômicos formas dissimulativas de se fazer guerras, entendendo-se a guerra como uma
forma de combate resultando ganhadores e perdedores. Sendo que entre os últimos,
perdedores, resultam também grande número de mortos, instabilidade econômica,
dificuldades alimentares entre outras agravantes. Nos bloqueios econômicos, não é
diferente, tais variáveis também são observadas.
As guerras e toda ordem de conflitos armados, sabidamente, através de bombas,
mísseis, entre tantos dispositivos com fim na destruição das barreiras contrárias, deixam,
nos limites dos territórios onde decorrem, extensivo e repercutivo aos países limítrofes,
visíveis e dimensionáveis problemas, dentre os quais, a Fome, exigindo projetos
equacionativos à assertiva da designação da inteligência humana (Hudson, 1989).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
85
Sob a premissa do parágrafo anterior, são decorrentes, tanto pela migração de
imensos contingentes populacionais, fugindo das ameaças contra a vida de seus familiares,
em busca de condições mínimas de sobrevivência, quanto aos países com quem mantém
relações econômicas.
No tocante aos países com relações econômicas, limitamos a visão da
extensividade de repercussões decorrentes das guerras, uma vez que, segundo Hudson
(1989) tanto podem estes representar elevação dos preços dos produtos de exportação, pela
diminuição da oferta ocasionada pela guerra, como levar a uma dimensão diametralmente
oposta, pela necessidade de maior entrada de capitais estrangeiros, pelas prioridades de
sobrevivência, aceitando quaisquer preços por seus produtos de exportação. Dessa forma,
agravando ainda mais a problemática interna do país vitimado pela guerra.
A 1ª. Grande Guerra Mundial, segundo Carmem Balhestero (2009), somou mais de
10 milhões de mortos e a 2 ª., conforme Ricardo Velázquez (2008), 60 milhões.
Segundo Andrade (2009) no século XX houve significativos avanços à consciência
ecológica devido aos efeitos devastadores deixados pelas duas grandes Guerras Mundiais.
Impulsionando a um repensar humano voltado para a natureza, sobretudo como fonte de
vida através dos alimentos que somente ela pode proporcionar e da imperiosidade de um
equilíbrio socioambiental à preservação e continuidade da própria espécie humana,
entendido por Camargo (2003) como revolução socioambiental. Andrade (2009)
denominou este momento de “Nova Era de Organização da Sociedade” ao referir-se aos
múltiplos movimentos observados no mundo em promoção de maior estreitamento das
relações homem/meio, alavancados pela criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) em 1945 que, segundo Andrade, “... mais tarde assumiria uma responsabilidade
fundamental nas questões relacionadas aos problemas ambientais e nas relações sociais
internacionais” (p. 12). Encontrando premissa em Camargo (2003). Pois, segundo este
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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autor, desde a fundação da ONU são observadas dedicações a temas como paz, direitos
humanos e o desenvolvimento equitativo. Ainda, com organização motivada em
decorrência das Grandes Guerras, observa-se em 1948, segundo Dias (1994), a criação da
União Internacional da Natureza (UNICN), tendo como centro polizador, um grupo de
cientistas ligados também à ONU. Onze anos depois, ocorre o que Dias denominou como
marco do ambientalismo internacional, pela realização da Conferência Científica das
Nações Unidas, sobre a Conservação e Utilização de Recursos Naturais. Em Tristão (2004)
encontra-se assertivas de a sustentabilidade apregoada pelas ciências não ser de mérito
restrito às ciências, mas de repercussões disseminativas sociais, donde, pela inobservância
e um fazer conjunto, seus retornos em catástrofes punem a toda humanidade.
3.2. Bloqueio Econômico
3.2.1. Coréia, 1993
Como exemplos concretos, observemos o caso da Coréia do Norte. Segundo
Cretella Neto (2007), a Coréia do Norte, após sofrer embargos econômicos em 1993, por
não ceder em seu programa de desenvolvimento nuclear, acusou elevação da fome interna.
Sobretudo às populações mais desprivilegiadas, sem perdas aos líderes políticos e
locupletação econômica por estes e os amigos, próximos ao poder. De fato, o embargo,
gerou dificuldades apenas àqueles que, vítimas das políticas públicas internas, fazem-se
também vítimas dos embargos econômicos decretados pela justiça internacional.
3.2.2. Alemanha, 1916
Com o bloqueio naval inglês iniciado em 1916, por meio de submarinos, aos portos
do norte da Alemanha, a fome acabou por chegar à população. Os problemas da
agricultura durante a guerra eram grandes, faltavam braços para a colheita da produção
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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face à convocação dos jovens para o esforço de guerra. Em 1916, a produção de batata
entrou em colapso e passou-se a usar o nabo em seu lugar, no longo inverno de 1916-1917.
Esse inverno ficou conhecido como o "Inverno dos Nabos" (Tejada, 2001, online).
3.2.3. Consequência dos bloqueios e guerras contra o Iraque
De acordo com pesquisas elaboradas pela organização Save the Children, duas
guerras e sanções econômicas em menos de uma década foram suficientes para aumentar
em 150% o número de mortes entre crianças com menos de cinco anos no Iraque (BBC,
9/5/2007).
Desde 2003, falta de eletricidade e água potável insuficiente, serviços de saúde em
deterioração e inflação galopante, pioraram as já difíceis condições de vida no Iraque.
Aproximadas 122 mil crianças iraquianas – uma em cada oito – morreram em 2005 antes
de chegar ao quinto ano de idade.
3.3. Refugiados
Não menos problemática é a situação dos refugiados. Somente no Sudão dos anos
1990, aproximados 600 mil pessoas morreram, vítimas da fome, com consequente
desnutrição e doenças a partir da baixa imunidade biológica, além de todas as dificuldades
sociais, econômicas e emocionais. Comumente, os refugiados são vítimas de Guerra Civis.
3.4. Guerra Civil
As guerras civis devem-se sobretudo à discordância de regimes religiosos e de governos,
motivadas em desestruturações internas dos sistemas políticos, administrativos e serviços
públicos. Também se deve aos desequilíbrios entre a oferta e demanda de alimentos e gêneros
essenciais de saúde, higiene, vestuário, transporte e moradia. Agravados pela ausência de
abundante oferta de dispositivos terapêuticos de massa à vazão coletiva das tensões.
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3.4.1. África, Sudão, anos 1990
Segundo a Academia de Letras do Brasil [ALB] (2009) o Sudão, maior país da
África, tenta encerrar em 2005 a guerra civil existente desde a década de 1950 que opõe o
governo muçulmano a guerrilheiros cristãos e animistas no sul do país.
Em 1985, o general Gaafar Nimeiry, governante desde 1969, é derrubado num
levante popular. Eleições em 1986 colocam no poder o Partido Uma. O primeiro-ministro
Sadiq al-Mahdi negocia com os rebeldes separatistas do Exército de Libertação do Povo
Sudanês [SPLA], que opera no sul sob o comando de John Garang, mas não consegue o
fim da guerra civil. O governo é deposto em 1989 pelo general Omar Hassan al-Bashir.
Como resultado, encontramos milhares de desabrigados, famintos e a elevação de mortos,
por subnutrição e fome. Mas não só à religião contribui para a geração de conflitos. A
ciência também, através de novas tecnologias chegou aos biocombustíveis, elevando a
vulnerabilidade dos países pobres, pela geração de conflitos internos, pela concorrência do
fim de destino dos alimentos, se para geração de energia ou à mesa de quem necessita.
3.5. Clima, Super-população e Biocombustíveis
As mudanças climáticas, o crescimento populacional e o aumento da demanda por
biocombustíveis resultam em preços altos para os alimentos, entre 2008 e 2011, tornando
os países pobres do mundo ainda mais vulneráveis, afirmou a diretora do PAM - Programa
Alimentar Mundial das Nações Unidas (Jornal Estado de São Paulo, 2007, online).
Os preços das commodities agrícolas tiveram um forte aumento tanto nos países
desenvolvidos quanto nos países emergentes nos últimos meses de 2007, dificultando o
acesso alimentar às regiões mais pobres do mundo, como a África Ocidental, observando-
se elevadíssimas carências de suprimentos básicos à subsistência humana, como arroz e
grãos. Ceifando vidas de forma cruel e políticas economicamente previstas e planejadas.
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"Com os preços dos alimentos no maior patamar registrado em décadas, muitas
pessoas simplesmente estão sendo excluídas do mercado", disse a diretora-executiva da
PAM, Josette Sheeran (2007) durante uma visita ao Senegal e Mali. Lembre-se aqui, que o
termo mercado supra, significa acesso aos alimentos, somando aos milhares de famintos já
existentes no mundo. Assim, como meros números, a humanidade é conduzida, a esmo.
Do Senegal, na porção mais ocidental da África, até a Etiópia, no leste, o
descontentamento com os preços altos dos gêneros alimentícios básicos se tornou o foco
de um polêmico debate nacional, até mesmo nas economias estáveis do continente mais
pobre do mundo. Onde, na base do problema, entre outros fatores, concorrem os
biocombustíveis, que geram muitas polêmicas e dúvidas. Por um lado, com apoio por
algumas organizações. Por outro, acusações de responsabilidade sobre a crise alimentar
iniciada em 2008. Razão esta que justifica destinarmos um subtítulo relacionando a
diminuição dos alimentos supra estudada, com os biocombustíveis. Os dados pesquisados
são significativos, como a controvérsia sob o tema e as milhares de vidas que se perdem.
3.6. Preços do Petróleo e Produção de Biocombustíveis
Os preços sem precedentes do petróleo elevaram os custos de transporte, e a
explosão dos biocombustíveis, subsidiados por alguns países ocidentais, também diminuiu
a oferta dos alimentos, contribuindo para o aumento nos preços.
A China, que anteriormente era um dos principais fornecedores mundiais de milho,
não exportou o cereal no ano passado, decidindo mantê-lo nos estoques para a fabricação
de biocombustíveis, segundo Sheeran (2007) enquanto os produtores africanos de
mandioca conseguiam vender a raiz por um preço mais alto quando a comercializavam
para fins de geração de energia, em vez de alimentação. O que bem evidencia as políticas
mundiais de desestímulo ao atendimento das necessidades humanas alimentares.
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3.7. Clima, Natalidade e Fatores Estruturais
As mudanças climáticas devem contribuir isoladamente para o aumento do número
de subnutridos no mundo, elevando de 40 milhões para 170 milhões de pessoas, de acordo
com previsões do painel intergovernamental de especialistas no assunto.
As mudanças nos padrões de chuvas podem significar que, em apenas uma década,
as áreas que dependem de precipitações na África podem produzir com um rendimento
agrícola equivalente à metade dos níveis atuais.
Ao mesmo tempo, a população da região está crescendo mais rápido do que em
praticamente qualquer outro lugar do mundo. Na Nigéria, por exemplo, na porção sul do
deserto do Sahara, cada mulher tem uma média de 7,1 filhos.
Economistas não vêem os preços elevados dos alimentos em 2008 passando por um
movimento breve de alta, mas indicam um ajuste estrutural ocorrido após um período
sustentado de preços relativamente baixos.
Os custos do PAM com alimentos cresceram 50 por cento nos cinco anos, entre
2003 e 2007, projetando Sheeran (2007, online): “Esperamos um aumento adicional de 35
por cento nos próximos dois anos”. Todos estes fatores são decisivos à geração da fome no
mundo. No entanto, um entre os que mais contribuem encontramos também na natureza,
na forma de catástrofes à humanidade.
3.7.1. Catástrofes Naturais
Segundo Leff (2001) no tocante às catástrofes Naturais estão diretamente ligadas,
ou são reflexos da degradação ambiental.
... a degradação ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de
civilização, marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio
do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza.
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Aquestão ambiental problematiza as próprias bases da produção; aponta
para a desestruturação do paradigma econômico da modernidade e para a
construção de futuros possíveis, fundados nos limites das leis da natureza,
nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade
humana (p. 17).
As catástrofes apresentam-se sob variadas formas, desde furacões, tornados,
maremotos, vulcões, tsunames e mesmo na forma de uma aparente chuva ou seca. As
chuvas, desde que prolongadas, transformam áreas agricultáveis em verdadeiros rios ou,
se frente a secas, em verdadeiros desertos, inviabilizando plantações. Se em períodos de
colheitas, impõem perdas, repercutindo sobre as colheitas, somando à fome no mundo.
3.7.1.1. Coréia, Seca de 1997
As catástrofes naturais como a seca prolongada registrada na Coréia em 1997,
deixando um rastro de destruição sobre as plantações de arroz, bem demonstram o rastro de
fome gerada pelas catástrofes naturais em algumas regiões do globo.
3.7.1.2. Inundação de 1995 e 1996 na Coréia
Inequívoca participação à somar nas causas da fome se deve às catástrofes naturais,
a exemplo das inundações ocorridas entre 1995 e 1996 na Coréia.
Organismos internacionais estimam entre 1 milhão e 3 milhões o número de mortos
pela fome, decorrentes das referidas catástrofes na Coréia.
Em situações como estas, ocorridas na Coréia, a população, para sobreviver, passa
a depender dos donativos de alimentos oferecidos sobretudo pelos Estados Unidos, Japão e
Coréia do Sul. (ALB, 2008, online).
Uma necessidade, ao evoluir com o trato para com a natureza, encontra em
Andrade (2009) sua mais pura significação através de um esforço à implantação da
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ecopedagogia “Espera-se que o desenvolvimento da ecopedagogia possa contribuir na
desestruturação do ciclo de degradação ambiental... pode ser desenvolvida nas escolas
como movimento social por um lado e também como abordagem curricular” (p. 10).
Segundo a pesquisadora, a busca da democratização da educação ambiental encontra em
organizações não governamentais as primeiras manifestações, juntamente com outros
movimentos da sociedade civil, resultando na Carta da Terra, estes, interpretados por
Avanzi (2004) como o equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no
tocante à equidade, justiça e sustentabilidade.
Gutiérrez e Prado (2000) apontam para a vivência cotidiana o local ideal à gestação
transformadora socioambiental. Isto, a partir de pioneirismos a serem criados pela
pedagogia ecológica. Estes autores depositam na vida cotidiana lugar adequado à práxis
produtivas da aprendizagem. Nesse sentido Andrade (2009) entende que
... o processo educacional tem um papel fundamental na formação dos
cidadãos planetários do futuro... pensar esta formação, nada mais é do que
pensar nas mudanças de comportamentos para com as causas
socioambientais, por meio dos valores de bioética e de ecologia humana,
pois é urgente a necessidade de se construir um novo modelo de sociedade
que seja capaz de desestruturar os ciclos da degradação dos recursos
naturais, protegendo as várias espécies de vida...” (p. 10).
Dessa forma, com Andrade, sustentado pelos demais autores e teóricos da área,
nasce um novo modelo de educação, objetivando o desenvolvimento das relações
sustentáveis socioamientais, onde, “As famílias, as universidades, escolas e demais
instituições sociais, responsáveis pela educação precisam refletir suas práticas
socioambientais, na tentativa de minimizar o que, hoje, se pode denominar de
desestruturação social e ambiental” (p. 11). Tais assertivas, encontram em Leff (2003)
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sustentação, descrevendo esta problemática, sócio ambiental, como superior a uma crise
ecológica, mas, isto sim encontrando-se na ontologia, de sustenção filosófica, exigindo um
questionamento mais profundo, do pensar e do questionar humano. Corroborando assim
com Andrade, pois, somente na escola novas bases de valores axiológicos e sociais podem
ser pensados e trabalhadas assim, a formação da consciência. Nesse sentido e direção,
pode-se observar, em relação a fome, em Havena (www.academialetrasbrasil.org.br, 2009)
uma prática no âmbito escolar, capaz de influenciar professores e colegas à um pensar
mais profundo sobre a possibilidade da construção das cidades ecológicas, onde frente a
cada residência, avenidas e logradouros públicos, são disponibilizadas árvores frutíferas,
rompendo com os estágios da fome sustentados nos sistemas financeiros.
Assim, surge a necessidade de uma visão holística da vida biológica, social e
política, assumindo-se maiores responsabilidades socioambientais. Pois, “a crise ambiental
é, por tanto, muito mais a crise de uma sociedade do que uma crise de gerenciamento da
naturaza, tout court” (Brügger, 1994, p. 27).
Segundo Andrade (2009),
…para que o conceito de responsabilidade socioambiental ganhe ênfase nas
relações políticas e sociais é necesario que as universidades promovam a
educação ambiental crítica, com objetivo de viabilizar ambientes/momentos
educativos de mobilização do processo de intervenção sobre a realidade e
seus problemas socioambientais (p. 52).
Layrargues (2004), observa a educação ambiental como sendo o que fora
convencionado à oferecer à práxis educativa o melhor que se relaciona a questão. Dessa
forma, segundo Andrade (2009), “…a Educação Ambiental designa uma qualidade
especial que define uma classe de características que juntas, permitem o reconhecimento
de sua identidade diante de uma educação que busca a mudanza de comportamento,
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atitudes e valores para com o meio ambiente” (p. 53). Lima (2004) entende a educação
ambiental como de importancia enquanto instrumento à mudanças sociais e culturais, em
um amplo sentido libertador, buscando responder aos desafios dispostos pela crise
sociambiental, cabendo, sobretudo a universidade, a reestruturação pedagógica, levando
maior reflexão e conscientização às comunidades, objetivando o alcance de despostas aos
desafios da sociedade atual. Isto, corroborado por Bárcena (1997) para o qual a questão
ambiental assumiu a causa social cidadã, com verdadeiros chamados a grupos voluntários
nacionais e internacionais, conseguindo adesões por classes políticas e segmentos sociais.
Para Andrade (2009) “A crise socioambiental alerta para a necessidade de
desarticulação do ciclo de degradação, que se evidencia na problemática ambiental que
surgiu nas últimas décadas do século XX, como o sinal mais elocuente da crise da
racionalidade econômica que conduz o processo de modernização.
Nessa sequência, além do que já vimos, encontramos ainda, a somar ao
agravamento da fome no mundo, alguns lugares onde diversos fatores são encontrados
conjuntamente, como ocorre na Àfrica.
3.8 Causas Conjugadas
3.8.1. Doenças, Guerras Civis, Fome, Morte e Segurança Alimentar
3.8.1.1. África Austral, Combinação de HIV, Fome e Guerras Civis
Na África Austral, a epidemia de HIV/Aids deixa os agricultores doentes demais
para produzir alimentos e reduz a capacidade do governo de fornecer ajuda. Os países
doadores podem aumentar muito a eficácia dos remédios que distribuem fornecendo
alimentos suficientes às famílias atingidas.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Segundo Jordan Dey, diretor de Relações dos EUA no Programa Mundial de
Alimentação das Nações Unidas, em relação a África Austral, considera como há tempos
haver se tornado um verdadeiro celeiro para a África. Mais recentemente, evoluiu a
categoria de uma das regiões econômica e politicamente mais estáveis do continente.
Contudo, encontra-se sob as ameaças combinadas pelo surto de HIV/Aids, desgaste da
segurança alimentar e declínio da capacidade governamental e civil.
Diariamente 8 mil pessoas do mundo morrem em decorrência do HIV/Aids.
A disseminação das contaminações se dão na ordem de aproximados 5 milhões de
novos casos anualmente. Estima-se que 40 milhões de pessoas no mundo encontram-se
contaminadas pelo HIV/Aids. Desse total, 27 milhões estão localizados na África
Subsaariana.
O Programa Mundial de Alimentação (PMA) das Nações Unidas opera em Angola,
Lesoto, Madagascar, Malaui, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue. A
África Austral ocupa a linha de frente da batalha global contra essa doença devastadora,
pois tem 9 dos 10 países com maior prevalência de HIV/Aids. A Aids reduziu a
expectativa de vida para níveis medievais, na casa dos 30 anos em diversos países da
região. Essa doença atingiu muito duramente o setor produtivo, dizimando fileiras de
servidores civis, professores, médicos, comerciantes e agricultores, enfraquecendo os
governos e a infra-estrutura civil e social. Estima-se que 8 milhões de agricultores tenham
morrido de Aids na África Austral nas duas últimas décadas. De acordo com relatório
recente da Oxfam International, as taxas atuais de mortalidade indicam que um quinto da
força de trabalho agrícola da África Austral terá morrido de Aids até 2020.
Estima-se que a Aids tenha deixado cerca de 3,3 milhões de órfãos na África
Austral. O (Fundo das Nações Unidas para a Infância [Unicef] 2007) informa que a
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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proporção de órfãos em relação à população total está crescendo mais depressa lá do que
em qualquer outra parte do mundo.
A combinação de grande prevalência de HIV/Aids e número elevado de órfãos está
enfraquecendo as comunidades e desfalcando as famílias, bem como os orçamentos
governamentais de assistência médica e serviços sociais, segurança alimentar e educação.
Todas essas tendências trazem implicações preocupantes para a estabilidade
econômica e política a longo prazo. Enquanto isso, a segurança alimentar doméstica já está
seriamente minada.
3.8.1.2. HIV, Vetor de Desequilíbrio à Segurança Alimentar Africana
Comida é também um problema enorme para as famílias atingidas pela Aids,
minando a produção e a segurança alimentar nas residências.
Estudos realizados na África e no resto do mundo mostram que a Aids tem efeitos
devastadores sobre as famílias de zonas rurais. Com frequência o pai é o primeiro a cair, e,
quando isso ocorre, a família pode ter de vender ferramentas e animais agrícolas para
pagar seu tratamento, o que leva frequentemente a um empobrecimento rápido de famílias
que, muitas vezes, já são pobres. Se a mãe também cai doente, então os filhos talvez
tenham de enfrentar as assustadoras responsabilidades de cuidar da agricultura e assistir os
pais em tempo integral, além deles próprios.
Quando milhões de agricultores deixam de trabalhar, os países têm menos
alimentos. Enfraquecidos, agricultores soropositivos que ainda conseguem trabalhar são
menos produtivos, e sua capacidade de auferir rendas fora da agricultura também é menor.
Como ganham menos, os agricultores não têm condição de comprar fertilizantes e outros
insumos agrícolas.
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97
À medida que se observam redução das safras, os agricultores entram em uma
inexorável espiral descendente, passando a vender tudo o que têm, migrando para uma
pobreza abjeta. Estes agricultores e suas famílias, em pouco tempo, após esta etapa,
começam a passar fome.
Na África Austral, até 70% dos agricultores sofreram perdas de mão-de-obra por
causa do HIV/Aids. À medida que os trabalhadores agrícolas são afetados pela doença,
tendem a cultivar áreas menores e a trabalhar com culturas menos trabalhosas. No Malaui,
26% das famílias com um membro cronicamente doente mudaram a mistura habitual de suas
culturas e 23% deixaram de cultivar a terra. No Zimbábue, a produção caiu em mais de 67%
em moradias onde houve morte por Aids.
3.8.1.3. África Austral, Escassez Crescente de Alimentos, Fome e Morte
A África Austral vem obtendo ganhos substanciais na produção agrícola desde
2002, quando toda a região esteve à beira de uma das piores crises humanitárias jamais
vistas na região e mais de 14 milhões de pessoas de seis países precisaram de assistência
emergencial. Graves perdas de vidas foram evitadas pela coordenação excepcional da
resposta humanitária e pela generosidade dos doadores, particularmente os Estados
Unidos, a União Européia, Austrália, Canadá, Japão e África do Sul. Desde então, o
número de pessoas necessitando de ajuda alimentar declinou constantemente, em grande
parte em função de melhores safras, devido à chuvas mais regulares, e da maior
disponibilidade de sementes e fertilizantes. Porém, em 2007, safras ruins em diversas áreas
da região, especialmente em Zimbábue, Suazilândia e Moçambique, estão novamente
fazendo crescer o número de pessoas que necessitam de ajuda alimentar emergencial. A
estimativa atual do número de necessitados na região é de 4,4 milhões de pessoas, embora
novo relatório sobre a segurança alimentar no Zimbábue indique que esse número aumentará
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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em mais 2 milhões, no mínimo, por causa das safras ruins do país em 2008 e pelo
agravamento da crise econômica. A seca, os custos elevados das sementes e dos
fertilizantes, o acesso desigual ao mercado e as políticas de posse da terra estão exacerbando
essa recente escassez de alimentos, somando-se ao HIV/Aids ao agravamento da fome
mundial (ALB, 2009, online).
Os líderes políticos da África Austral, como os do resto do mundo, realizaram
avanços significativos no combate ao HIV/Aids. Essa doença finalmente foi
desmistificada, acabando com anos de rejeição, vergonha e estigma.
A promessa do governo Bush em 2008 de doar US$ 15 bilhões para combater o
HIV/Aids nos países em desenvolvimento, especialmente na África, é histórica: é o maior
compromisso com um problema de saúde global jamais feito por um governo. O
presidente Bush também propôs uma prorrogação de cinco anos com quase o dobro da
verba, US$ 30 bilhões em cinco anos a partir de 2009. Esse compromisso assumido pelo
governo dos EUA mobilizou diversas respostas complementares, especialmente nas áreas
de medicamentos, governos regionais e setor privado, inclusive de empresas
farmacêuticas, entre outros doadores.
Na África Austral, medicamentos anti-retrovirais estão sendo distribuídos
gradativamente em todos os países, com um reforço nove vezes maior em Malaui - de 8
mil pessoas em janeiro de 2005 para mais de 70 mil no início de 2007. No entanto, ainda
falta muito para atender à demanda em todos os países da África Austral, e vários milhões
de pessoas continuam sem acesso a medicamentos vitais.
Os doadores poderiam aumentar muito a eficácia de seu investimento de vários
bilhões de dólares para o tratamento da Aids obedecendo a uma receita simples, porém
freqüentemente negligenciada: alimentos junto com os remédios. É uma receita endossada
pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e pela Organização
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Mundial da Saúde (OMS). Também recebeu apoio do Plano de Emergência do Presidente
para Combate à Aids (Pepfar), que, por exemplo, está operando na Etiópia em conjunto
com o Programa Mundial de Alimentação para ajudar a fornecer alimentos, suplementos
vitamínicos e aconselhamento nutricional a pessoas afetadas pelo HIV/Aids.
A lógica é simples: a maioria dos medicamentos vem com instruções para ingestão
antes ou depois das refeições, um regime desenvolvido para os ricos, que não se
preocupam em saber de onde virá a próxima refeição.
Mas na África, onde uma em cada três pessoas é desnutrida e vive com 1 dólar por
dia, muitas pessoas contaminadas pelo HIV não têm garantida nem uma refeição. A
eficácia de medicamentos poderosos que ajudam a manter a vida não é a mesma em corpos
esgotados e estômagos vazios.
Pesquisas de campo demonstraram que fornecer o alimento certo e a nutrição certa
na hora certa pode fazer uma tremenda diferença, ajudando as pessoas a prolongar sua
sobrevida, mantendo as crianças nas escolas e longe das ruas e ajudando as famílias a se
manterem unidas. Essa é uma idéia que finalmente está se popularizando.
Peter Piot, chefe do Unaids (2008), relata com frequência a história de seu encontro
com um grupo de mulheres do Malaui que conviviam com o HIV, quando ao perguntar-
lhes qual era sua maior prioridade, obteve por unanimidade, de forma clara e objetiva a
assertiva resposta “comida”. Não pediam assistência médica nem mesmo medicamentos ou
tratamento. Nem mesmo ajuda contra estigmas, mas simplesmente comida” (p. 21).
Isso não é surpresa em um continente onde a Aids mata muito mais do que a
guerra. A África, onde o PMA realiza a metade de suas operações, já está atormentada
pelos piores problemas de segurança alimentar do mundo. Oito de cada dez agricultores da
África são mulheres, a maioria agricultoras de subsistência, e as mulheres são acometidas
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
100
por essa doença de maneira desproporcional. As doenças levam os seres à
improdutividade. Onde, em seu conjunto, são desencadeadas calamidades sociais.
3.9. Calamidade Social
A condição de enormes contingentes humanos que se tornam improdutivos por não
conseguirem acesso a uma alimentação adequada, como se em um círculo vicioso, não
adquirem os alimentos em razão da causa inversa, improdutividade, o que corrobora à
comprovação da dependência econômica dos seres para que possam gozar do privilégio de
uma alimentação mínima às suas subsistencias. Josué de Castro (1946) buscou caminhos
para romper este círculo vicioso e combateu a indiferença daqueles que naturalizavam o
fenômeno como uma catástrofe inevitável. Encontrando-se no ordenamento econômico de
prioridades políticas as soluções.
Ainda, Josué de Castro (1946) combate a explicação da fome no mundo como
efeito do crescimento demográfico. No século XVIII, o economista inglês Thomas
Malthus formulou a hipótese de que enquanto as populações crescem em progressão
geométrica, a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, o que justificaria a
necessidade de limitar o crescimento demográfico. Mesmo com estas previsões
contrariadas pela história, muitos pensadores liberais do século XX adotaram esta teoria de
princípio fatalista em busca de explicações à fome, justificando o controle de natalidade
em países do terceiro mundo.
Os neomalthusianos, ao afirmarem que o mundo vive faminto e está condenado a
perecer numa epidemia total de fome porque os homens não controlam de maneira
adequada os nascimentos de novos seres humanos, não fazem mais do que atribuir a culpa
da fome aos próprios famintos.
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Ao contrário do que prega a doutrina malthusiana, Josué de Castro constata que a
explosão demográfica é um efeito da fome, e por esta razão uma característica de países
subdesenvolvidos. Observa que há uma correlação entre uma alimentação pobre em
proteínas e o aumento da taxa de natalidade. Trata-se de uma expressão biológica de uma
calamidade social.
Na obra de Josué de Castro (1946), a palavra fome refere-se a qualquer falta de
elementos nutritivos necessários à formação do organismo humano, abrangendo, assim, a fome
quantitativa ou penúria aguda, e a fome qualitativa, causada por deficiências específicas na dieta
cotidiana. O termo fome também significa doença carencial, ou desnutrição. Esse conceito dado
pela clínica, expressa a deficiência de micro nutrientes, vitaminas e minerais e, macro nutrientes,
proteínas e calorias. A estes aspectos fisiológicos são correlacionados fatores sócio-econômicos
que são predominantes na formação de áreas de fome que correspondem a áreas de
subdesenvolvimento. Onde, mais uma vez, ao avançarmos aos anos 2000, encontraremos
Etanol, em franca concorrência com o organismo humano, somando, aos demais fatores, em
níveis cada vez mais abrangentes, à indisponibilidade dos grãos.
3.9.1. Indisponibilidade de Grãos no Mundo
Em 2008, o estoque mundial de grãos atingiu o menor nível dos últimos 30 anos.
Crise similar ocorreu na década de 80, repetindo-se 28 anos depois.
È importante lembrar que na crise dos anos oitenta, exceto a cana de açúcar, que já
vinha sendo usada para a produção de etanol, outras culturas não eram empregadas
industrialmente para este fim. Ou seja, naquela época, ainda não havia a concorrência
pelos grãos, empregados na alimentação, para a produção de etanol.
O panorama da crise era outro. Naquela época, era a crise da produção e hoje os
estoques estão baixando pelo aumento do consumo dos grãos como alimento e o aumento
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do uso deles para fins não alimentícios (USDA, 2008). Para confirmar esta afirmação, na
China, nos últimos 10 anos, a produção de grãos aumentou em aproximadamente 9% e o
consumo aumentou aproximadamente 30% (USDA, 2008). Esta situação poderia ser
minimizada se a produção mundial de grãos aumentasse, pelo aumento da área produzida
ou pela produtividade alcançada. Entretanto, as estatísticas mostram que, nos últimos 20
anos, isto não tem acontecido (USDA, 2007b). Os EUA têm mantido uma produção maior
do que o consumo. O mesmo, por exemplo, não tem ocorrido na China (USDA, 2007b)
Outro aspecto que deve ser considerado é que deste estoque mundial de grãos, mais
da metade é de milho e encontra-se nos EUA e na China (USDA, 2007a). Esta informação
não só estabelece o risco de que os estoques continuem baixando mas, mais do que isto,
que também não há uma distribuição lógica destes grãos no mundo, situação similar àquela
das fontes fósseis de energia e que também terá todos os problemas de logística de
distribuição (USDA, 2007b). Assim, neste momento é importante dizer que a redução de
estoque é grave mas, associada à complexidade de distribuição, torna o cenário mais
complexo para países distantes das fontes de produção. No futuro, em alguns países,
poderá ocorrer a falta eventual de abastecimento do produto, por dificuldade de transporte.
3.9.1.1. Relação Entre Produção e Consumo de Milho na Produção de Etanol
O milho tem sido empregado em alguns países, em especial nos EUA, para a
produção de etanol. Entretanto, entre todas as alternativas disponíveis, a cana de açúcar é
pelo menos duas vezes mais eficiente na produção de etanol, em uma relação litros/ha, do
que o milho (IEA. 2005). O que leva os EUA a empregar o milho como insumo para a
produção de etanol, consiste na não disponibilidade, em volumes significativos, de outras
fontes importantes para a produção combustível, como a cana de açúcar e a beterraba. Este
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103
tema sempre será tratado de forma controversa, pois os EUA dispõem de milho, mas a
humanidade, em outras condições, carece da sua disponibilidade.
3.9.1.2. Produção e Consumo do Milho no Mundo e nos EUA
Segundo o (USDA, 2008a), a produção e consumo de milho, no mundo e nos
Estados Unidos se encontra em completa desigualdade. Entre 2005 e 2008, nos EUA, a
produção de milho aumentou 30,5% e o consumo aumentou 22,9%, o que possibilitou um
aumento real de estoque do cereal de 66,6%.
No resto do mundo, no mesmo período, a produção aumentou 17,2% e o consumo
aumentou 15,8%. Como o estoque já estava baixo, este pequeno aumento da produção não
permitiu que os países terminassem com uma relação entre consumo e estoque positiva (-
7,9%). Evidentemente que o estoque final de milho em 2007 não foi de somente 2.887
milhões de toneladas porque estoques residuais, de ano para ano, foram sendo
considerados. De acordo com o USDA (2008a), o ano de 2007 terminou com um estoque
mundial de milho na ordem de 109.060 milhões de toneladas, sendo que 42% deste total
estava nos EUA.
Países como China, Brasil e México tiveram seus estoques de milho reduzidos
nestes últimos anos. Como a China e o Brasil não produzem etanol a partir do milho, as
reduções de estoque podem ser explicadas pelo aumento do consumo humano (China) e
pelo aumento do consumo pelos animais e pelas exportações (Brasil), tendo em vista que
estes dois países não tiveram perda de produção nos últimos anos. Ao contrário, suas
produções aumentaram (USDA, 2008ª).
Contudo, existe um lugar no mundo onde, estatisticamente não é diagnosticada a
fome. Este país é Mônaco. Sem contudo confirmarmos se contrariando ou validando as
teorias maltusianas (ALB, 2009).
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Alguns economistas seguem os preceitos malthusianos, atribuindo à fome ser
resultante ou consequente da causa relacionada com a densidade demográfica de alguns países.
Ao confrontarmos a teoria malthusiana, observamos que a África possui uma
densidade demográfica de 18 pessoas por quilômetro quadrado, enquanto a Europa
apresenta 96 habitantes por quilômetro quadrado. Logo, se válida fosse tal teoria, os
europeus passariam muita fome, o que comprovadamente é refutável (ALB, 2009).
Segundo a mesma fonte, à África é atribuída uma produtividade em tão somente 30%
de suas terras, fundamentando-se assim, com uma explicação plausível a fome no continente.
Contudo, em Mônaco, um mini-Estado, sem grande produção agrícola, mas de grande poder
econômico e de importações, não observa-se falta alguma de alimentos, somando à refutação
da tese que relaciona a fome com a demografia, levando-nos ao direcionamento, pelos dados
apresentados, de maiores assertivas de correlação da fome com o poder econômico de cada
país, desde que observadas distribuições adequadas de renda.
Se utilizar-nos de uma visão deducionista, o que é válido para um país, é também
válido para um cidadão. Mesmo sem produção própria de alimentos, mas se com poder
aquisitivo, não se lhe atingirá a falta de alimentos. Isto, certamente, sob a organização
capitalista de comércio.
Em nossas análises, conseguimos observar que as causas estudadas, com exceção
da Política, necesariamente, representam em si, não causas independentes. Mas, isto sim,
variáveis ou causas dependentes.
Ao lado da Política, observamos o clima e as pragas, como variáveis
independentes. Contudo, se considerarmos o atual estágio científico da humanidade,
haveremos de admitir a viabilidade de estudos delimitadores das áreas de risco de grandes
variações climáticas e ou de incidência de catástrofes, como maremotos, tsunamis, secas e
chuvas em excesso, utilizando-se preventivamente tais conhecimentos.
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Ao referir-nos à utilização científica dos conhecimentos adquiridos pela
humanidade, devemos considerar a subutilização do mesmo. Pois, toda a geração de
ciência mundial, não conta ou ganha atenção implementatória pelos governos executivos.
Os sistemas administrativos das Nações, não fundamentam-se nas ciências, mas em uma
pseudos vontade popular que, em realidade, traduzem tão somente a vontade manipulativa
daqueles que detém o poder, seja do executivo, legislativo e judiciário.
Os resultados e esforços científicos, tão somente somam um imenso banco de
dados, servindo como suporte àqueles que deles deliberadamente os utilize. Sem que isto
ocorra sob o rigor da Lei, com aproveitamento máximo de suas assertivas e esforços.
Sob tais pressupostos, avançamos à identificação das Causas Políticas como únicas
independentes à resolução da fome, isto, pelo fato de que se adotadas minimamante as
contribuições das ciências à resolução de problemas, neste caso relacionados à fome,
avânços significativos se observariam.
As causas como guerras, bloqueios econômicos, refugiados, guerra civil, doenças
como o HIV, segurança alimentar, escassez de alimentos, calamidades sociais,
indisponibilidade de grãos, cereais destinados ao etanol, super-população,
biocombustíveis, preços do petróleo, natalidade e mesmo clima, catástrofes naturais e
como veremos a seguir a agroinflação, podem ganhar redimensionamentos a partir de
políticas voltadas efetivamente à resolução das mesmas.
3.10. Agroinflação
Devido a influência dos preços dos alimentos nos sistemas humanos de
organização social, como emprego, qualidade de vida, saúde, produtividade, dedicamos
atenção especial ao estudo deste tema, agroinflação. Iniciando com o que prevíra a (União
Européia [UE] 2008) em relação a diminuição dos preços dos alimentos.
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3.11. União Européia Prevê Arrefecimento da Agroinflação
A União Européia, UE, avalia que os preços das commodities agrícolas continuarão
flutuando, no médio prazo, em um nível mais elevado que o das últimas décadas, 1980 e
1990. Todavia, as altas recordes do último semestre de 2008, não haveriam de persistir
(Valor Econômico, 2008, online). O que, segundo a ALB (2009) não ocorreu nos
primeiros três meses de 2009. Os preços dos alimentos continuaram subindo.
A perspectiva de estabilização dos preços dos alimentos, para 2009, foi apresentada
pela comissária de Agricultura da UE, Marian Fischer Boel, aos ministros europeus do
setor. O anúncio antecedeu a divulgação de um documento que analisa as causas do
aumento dos preços e sugere algumas alternativas de respostas ao fenômeno.
A avaliação dos europeus, tanto grandes exportadores como importadores, é de que
fatores estruturais que aumentaram os preços agrícolas não são passageiros.
Contudo, a tendência do mercado é de que se observe no segundo trimestre de
2009, uma leve redução dos preços, como ocorreu com os cereais e lácteos, depois de
ultrapassar fatores temporários como seca em algumas regiões.
A UE se apóia em projeções do Conselho Internacional de Grãos, do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos, USDA e de outras entidades que prevêem algumas
colheitas recordes no mundo para 2008.
Para Fischer Boel (2008), isso ocorreu com efeito nos preços. A tonelada do trigo
francês, que chegou a U$ 300 no começo do ano de 2008, declinou para U$ 220 no
segundo semestre. Nos EUA, as cotações do cereal para exportação baixaram no segundo
semestre entre 30% a 40% em relação ao pico de março de 2008. No mercado de futuros,
contratos de junho indicam queda adicional de 15%, com cotações abaixo da barreira
psicológica de U$ 200 por tonelada.
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Entre o final de junho e início de julho de 2008, a OCDE e a FAO anunciam
projeções de longo prazo que, segundo Fischer Boel, confirmam essas tendências. Isso
significa que, em condições meteorológicas normais, podia-se projetar esperanças de uma
maior produção e recuperação dos estoques, transmitindo mais moderação aos preços. A
expectativa à época, era de que as projeções acalmassem os mercados.
A comissária européia, no mesmo período destacou o que chamou de boas notícias
no lado das políticas. A Ucrânia, por exemplo, removeu sua cota de exportação para milho
e aumentou as licenças de embarque para volumes maiores de trigo e cevada. A Rússia,
por sua vez, se propôs a não prolongar a taxa sobre exportações de cereais, que vigorou até
o fim do mês de junho de 2008.
A avaliação européia é que restrições às exportações impostas em diversos países
causaram efeitos prejudiciais. Exemplo disso seriam os preços do arroz. Para Fischer Boel,
as restrições à exportação foram a principal razão para a explosão do preço da commodity.
Do lado da produção, a UE observou que a diminuição do ritmo de crescimento da
oferta de grãos, como o trigo na Europa, relacionava-se com os custos de insumos,
fertilizantes, defensivos e diesel, entre outros que entre 1995 e 2007, aumentaram, em
média, 45%. Já os preços agrícolas subiram 25%, segundo Bruxelas.
Do lado da demanda, a UE aponta como principal influência o crescimento
econômico e as mudanças demográficas, especialmente na Ásia. Também culpa a
produção de etanol nos EUA, que afetou o mercado de milho e teve impacto sobre a soja.
Fischer Boel aponta ainda a especulação financeira nos mercados de futuros como outro
fator altista.
Em meio à crise alimentar, a comissária defendeu a Política Agrícola Comum -
PAC européia. Em setembro de 2007, Bruxelas deu o sinal verde para o aumento de 10%
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na produção de cereais na Europa. Em dezembro do mesmo ano, suspendeu tarifas de
importação para esses produtos em 2008. Em março, aumentou em 2% as quotas de
produção para leite. Recuando em abril de 2008, o preço dos alimentos.
3.11.1. Agroinflação Recua
O índice de preços dos alimentos da Food and Agriculture, FAO, considerado o
melhor indicador de inflação global dos alimentos, apresentou a primeira queda em 15
meses em abril de 2008. Segundo o órgão, o recuo foi puxado por preços menores do trigo,
açúcar, soja e lácteos. O índice publicado no fim junho de 2008 demonstrou queda para
216, 7 pontos em relação aos 217 pontos de março de 2008. (Valor Econômico, 2008,
online)
Nos 12 meses anteriores, ele havia acumulado alta de 52%. Jose María Sumpsi,
diretor-geral assistente da FAO, acreditava que a inflação houvera atingido o seu pico.
Corretamente avaliado. Pois, como vimos a partir de abril de 2008 registraram-se quedas
nos preços dos alimentos.
3.12. Preços de Alimentos Atingem Pico em 2008
De acordo com o Fundo Monetário Internacional, FMI, os preços de alimentos
devem atingir o pico em 2008, com expectativa de que tenham abrandamento gradual
posteriormente. No curto prazo, no entanto, os riscos são de alta, uma vez que a demanda
permanece forte, pondera no relatório Perspectiva Econômica Mundial, WEO na sigla em
inglês. O Fundo calcula que os preços dos alimentos subiram 39% de fevereiro de 2007 até
fevereiro de 2008. O Fundo cita que, no geral, os ciclos de preços de alimentos duram três
anos, mas acreditava que este seria um dos mais prolongados. A razão é que a demanda
por alimentos deveria continuar aumentando indefinidamente devido ao crescimento da
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
109
produção de biocombustível nos EUA e na União Européia, e também pela continuidade
da forte demanda dos países emergentes. (Agência Estado, 2008, online).
Em 2007, segundo a mesma fonte, Agência Estado (2008) os preços dos alimentos
respondiam por cerca de 45% da inflação.
A mensuração dos índices supra foram registrados e atribuidos, em comparação
com cerca de 27% de grande parte das economias consideradas industriais e emergentes,
em 2006, cita o Fundo Monetário Internacional - FMI. O impacto de preços mais altos dos
alimentos sobre os emergentes é calculado em 70% nestas economias, sendo muito mais
amplo do que o impacto sobre as economias avançadas, estimado em 20%. O FMI prevê
que o efeito dos preços mais elevados de alimentos sobre a inflação medida por índices
cheios se manteria ao longo de 2008, sendo que o potencial para efeitos secundários
permanece uma preocupação. De onde, buscamos entender os fatores que levam ao
desequilibrio os preços os gêneros alimentares.
3.13. Desequilíbrio no Preço de Alimentos
Quebras de safras e estoques baixos em muitos países têm estimulado a alta dos
preços globais de alimentos, afirmou o diretor-geral da Organização das Nações Unidas,
ONU, para Agricultura e Alimentação, FAO, Jacques Diouf. "A crescente mistura do
mercado agrícola com mercados não agrícolas, como produção de energia, e mudanças
climáticas também estão influenciando a oferta geral e a demanda", disse ele em um
encontro com o ministro da Agricultura da Índia, Sharad Pawar (Ag. Estado, 2008, online).
O forte crescimento econômico em países em desenvolvimento e a crescente
demanda por energia são outros fatores que estão impulsionando os preços mundiais, e os
estoques globais de alimentos estão no nível mais baixo desde 1980, afirmou Diouf
(2008): "Esses estoques são suficientes para atender uma demanda de apenas oito a 12
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
110
semanas" (online), acrescentou, alertando que em meio a este cenário, os preços não
devem diminuir em breve.
O diretor da FAO expressou preocupação com o crescente número de distúrbios no
mundo relacionados a alimento, e afirmou que eles podem se espalhar para mais países. "A
situação dos alimentos é extremamente séria e temos visto agitações no Egito, Burkina
Faso, Haiti, Camarões e outros países. Há temores de que essas inquietações possam se
expandir para mais países onde entre 50% e 60% da renda individual é destinada à
alimentação", disse ele, concluindo que a crise de 2008 precisará de uma intervenção
estrutural da comunidade internacional para evitar mais problemas, concluiu. As
informações são da Dow Jones (2008).
Tais complicações são observadas não somente em países subdesenvolvidos como
também em países ricos.
3.14. Comida Apresenta Maior Alta em 18 Anos nos EUA
Segundo a Agência Estado (2008) a inflação ao consumidor norte-americano ficou
abaixo do esperado em abril, no entanto, os preços dos alimentos, não acompanharam essa
queda, apresentando a sua maior alta em 18 anos, desde janeiro de 1990.
O Índice de Preços ao Consumidor, CPI, avançou 0,2% no mês de abril de 2008,
correspondendo a 0,1 ponto percentual inferior ao observado no mês imediatamente
anterior. O núcleo do índice que exclui alimentos e energia, itens considerados voláteis,
subiu 0,1% e, no decurso de 12 meses, entre abril de 2007 e o mesmo mês em 2008,
acumulou alta de 2,3%, próxima da meta do Federal Reserve, Fed, o Banco Central [BC]
dos Estados Unidos. A inflação e o crescimento da economia são as principais
preocupações do BC estadunidense.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
111
O índice supra referenciado demonstrou que os consumidores norte-americanos
tiveram que pagar mais pelos alimentos, frente a um aumento de 0,9% em março de 2008.
Os preços de frutas e vegetais subiram 2% naquele mês. A carne suína ficou 3,4% mais
cara, e a de peixe elevou-se em 2,6%. Contudo, os preços de energia, que são uma das
grandes preocupações devido as constantes altas do petróleo, ficaram estáveis em abril de
2008, depois de subirem 1,9% no mês anterior. Categorias como transporte e recreação
apresentaram retração nos seus preços no mês de abril de 2008 nos Estados Unidos.
Observando-se, quando do inverso, aumento dos preços dos alimentos, paralelamente, o
aumento da inflação às classes de menor renda.
3.15. Alta dos Alimentos Elevam Inflação da Baixa Renda
A elevação dos preços dos alimentos refletiu-se na alta da inflação para a
população de baixa renda em junho de 2008. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1
[IPC-C1] que mede a inflação para as famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos,
registrou variação de 1,29% no mês de junho. A taxa é pouco menor que a registrada no
mês anterior, quando em maio fixou-se em 1,38%. No primeiro semestre de 2008, este
índice acumulava alta de 5,97% e, entre junho de 2007 e junho de 2008, observou-se uma
elevação de 9,11%. Ao analisar-se as informações observas-se que o IPC-C1 supera as
taxas para o conjunto da população, calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor - IPC-
BR. No mês de junho de 2008, o IPC-BR ficou em 0,77%. Já o acumulado no ano ficou
em 3,84% e em um ano, 5,96%.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, FGV (2008), as taxas maiores são resultado
da alta dos preços dos alimentos, no Brasil, que têm maior peso sobre o IPC-C1 do que
sobre o IPC-BR. Na passagem de maio para junho de 2008, os alimentos tiveram alta de
18,88%, elevando para 79% o impacto do grupo sobre o resultado geral do IPC-C1. Em 12
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
112
meses, tiveram destaque as altas registradas pelo arroz branco, 45,78%, feijão carioquinha,
137,51%, batata inglesa, 19,39% e carnes bovinas, 44,13%. Em abril de 2008, na EU
registrava-se elevado aumento dos preços.
3.16. Alimentos na Europa Sobem o Dobro da Inflação Geral
O aumento nos preços dos alimentos foi quase o dobro da inflação geral da União
Européia em abril. Os alimentos subiram 7,1% em abril de 2008 em relação ao mesmo
mês do ano anterior e a inflação dos 27 países avançou 3,6% (Folha de S. Paulo, 2008).
Nos 15 países que formam a zona do euro, os preços dos alimentos tiveram alta de
6,2% e a inflação geral foi de 3,3%. As altas dos alimentos em março e abril foram as
maiores desde 1996. No entanto, esta elevações constantes dos preços podem representar
vantagens econômicas aos países produtores de alimentos, como o Brasil e EUA.
3.17. Agronegócio Brasileiro Fecha 2008 com Superávit de US$ 62 bi
As exportações do agronegócio brasileiro, que triplicaram de valor entre 2004 e 2007,
estimava-se que fechariam o ano de 2008 em US$ 74 bilhões, um resultado 27% superior
aos US$ 58,4 bilhões de 2007, informou Ministério da Agricultura do Brasil (2008). O
superávit comercial do setor poderia assim, atingir US$ 62 bilhões, ou 24% acima dos US$
49,7 bilhões de 2007. Até julho deste de 2008, os embarques somaram US$ 41,7 bilhões e
o saldo bateu em US$ 35 bilhões.
O resultado projetado para o setor do agronegócio deveria levar as exportações do
Brasil a um aumento real de 36,4% para 37% na fatia do total das vendas externas.
"Seremos responsáveis por todo o superávit da balança este ano", previu o secretário de
Relações Internacionais do ministério, Célio Porto. Segundo o secretário, em 2008, o setor
de produtos florestais deveria bater a marca dos US$ 10 bilhões em vendas, valor atingido
até 2008 só nos complexos soja e carnes. Estimava Porto para 2008 a consolidação das
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113
exportações de produtos lácteos brasileiros, cujas vendas saltaram de US$ 27 milhões, em
2001, para US$ 300 milhões em 2007, além da confirmação da importância dos embarques
de milho. "Os lácteos são a bola da vez. É um consenso aonde quer que se pergunte",
afirmou Porto. "E o milho veio para ficar na pauta de exportações. Agora, vamos agregar
valor com estímulos às exportações de ração animal", onde o incremento de intercâmbios
ganham projeções (Ministério da Agricultura, Gov/Br. 2008).
3.18. Projeção 2009 de Intercâmbio Comercial do Agronegócio de Países Emergentes
O Secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, MAPA,
Célio Porto (2008) informa que seu ministério projetava para 2009 que os mercados dos
países emergentes, cujas demandas crescessem ao ritmo anual de 20%, deveriam receber
metade das vendas totais do agronegócio. "Em 2010, a tendência é ultrapassar os países
desenvolvidos" Célio Porto (2008). Tal estimativa fundamentava-se, segundo Porto, em
minucioso anuário "Intercâmbio Comercial do Agronegócio" sobre o comportamento das
exportações do setor. O estudo mostra que o Brasil elevou de 4,9% para 6,9% sua
participação no comércio mundial do agronegócio na década de 2000. O ritmo de
crescimento do setor no Brasil chegou a 9,6% ao ano.
Nos anos entre 2005 e 2007, houve uma aceleração no agronegócio brasileiro para
14% ao ano, resultado esse, da elevação de 68% nos preços e 32% na quantidade
exportada.
Na análise dos dados do anuário supra, é surpreendente o desempenho do mercado
chinês. "Eles absorveram quase 20% das nossas vendas em julho" aludiu Porto (2008).
Os Países Baixos, segundo maior mercado, responderam por 9% e os Estados
Unidos, por 8% das exportações do agronegócio brasileiro. Somente a China contribuiu
com metade do aumento na fatia dos países emergentes, saltando de 3,7%, em 2001, para
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114
8% em 2007. "Mas há o risco de concentração e dependência excessiva do mercado
chinês, sobretudo para as vendas de soja", ponderou Célio Porto (2008). Do total
embarcado à China, 60% deve-se à soja.
Os países do Oriente Médio e da África, assim como a Rússia, também expandiram
sua participação. Dos US$ 3,7 bilhões exportados para a Rússia em 2007, por exemplo,
90% foram produtos do agronegócio brasileiro. O que corresponde a maior participação
relativa do agronegócio por total vendido em um país.
No Irã, as vendas do setor de agronegócios representaram 85,2%, chegando a US$
1,6 bilhão. Durante a década de 2000, os embarques cresceram 20% ao ano.
A Venezuela, que em 2006 ocupava a 12ª posição no ranking dos maiores mercados para o
setor de agronegócios, figurava em 2008 em 9º, aponta o anuário citado por Célio Porto.
O soja, contudo, não se limita a índices de vendas e produtividade, encontrando-se no
centro de grandes discussões mundiais.
3.19. Soja Transgênica, Saúde, Ágio e Deságio
3.19.1. Transgênicos
Na visão de Décio Gazzoni (2008) caso houvesse alguma perspectiva de prejuízo
com o soja RR, a pressão dos agricultores não seria tão avassaladora. E o Governo Federal,
fortemente dependente das divisas da exportação de soja, não a liberaria. Após debruçar-se
sobre as cotações entre os aons de 2003 e 2008, o analista Flávio França Jr., da Agência
Safras e Mercados, demonstrou que o mercado não trabalha com ágio para soja
convencional ou com deságio para a transgênica. Observe que a Argentina duplicou a
venda de soja à Europa, coincidindo com o plantio de soja RR, que representa 99% da
produção. Tanto a Europa quanto a China, maiores compradores mundiais de soja, exigem
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
115
que o país exportador certifique que a partida de soja seja transgênica ou convencional, de
rotulando-a, sem que isto altere a decisão de compra ou a cotação da partida de soja.
Observemos a seguir, as implicações da soja enquanto conceitos e dúvidas,
vantagens e desvantagens, saúde e doença, sob a óptica dos transgênicos.
3.19.1.1. Repercussão dos Transgênicos na Saúde Humana
Os opositores da soja RR, ilustra Décio Gazzoni (2008) denunciam não existirem
evidências científicas, definitivas, de que a soja RR não causa problemas à saúde humana.
Em contraposição, seus defensores alegam que não existe qualquer evidência de que algum
problema de saúde possa decorrer do consumo de soja transgênica. Utilizando outra linha
de raciocínio, Gazzoni, demonstra ser incontestável o tamanho do mercado, os prêmios e
os descontos determinados pelo consumidor, tanto na forma de avaliações objetivas como
por percepções subjetivas.
O avanço extremamente rápido da soja RR, representando em 2008 mais de 50%
da soja produzida no mundo, deixa transparecer que a maior parcela da opinião pública
não vislumbra riscos à saúde, em decorrência de seu consumo.
Em tempos de culto à saúde, se dúvidas persistissem, a opinião pública mundial
enxotaria do mercado os alimentos derivados de OGMs, incluindo a soja RR. O
consumidor foi tranquilizado sob o que Gazzoni nominou de efeito de massa, representado
por mais de 300 milhões de toneladas de soja transgênica, consumidas nos entre 2005 e
2008, sem que aflorasse qualquer suspeita de efeito alergênico ou outro distúrbio de saúde.
Adverte Gazzoni que a soja transgênica, produzida nos EUA ou na Argentina, é consumida
nos países do Primeiro Mundo. Seus cidadãos foram as cobaias, com riscos à saúde.
Não apenas os órgãos sanitários dos países ricos permitiram que o teste ocorresse
com sua população, como não houve uma reação civil cuja magnitude impedisse esse teste.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
116
Muitas dúvidas nos anos 2000 são levantadas sobre o soja, dentre as quais, uma
deve-se às implicações ambientais.
3.19.1.2. Problemas Ambientais Atribuídos à Soja
O principal problema ambiental, no tocante a soja transgênica, para o qual chama a
atenção Décio Gazzoni (2008), refere-se ao fluxo gênico. Nas condições brasileiras, o risco
prático de que esse fenômeno venha a ocorrer é nulo. A soja é uma planta autógama e a
polinização ocorre com a flor ainda fechada. O pólen, após a abertura da flor, possui uma
viabilidade muito baixa. E a polinização entre flores necessita do auxilio de polinizadores,
escassos na cultura. Isto, mesmo entre diferentes cultivares de soja, a polinização cruzada
seria difícil, pelas restrições que apresenta, sobretudo por tratar-se de espécies diferentes.
O pólen da soja Glycine max fecundando outras espécies vegetais, resulta em
probabilidade ainda menor, pois não existem parentes botânicos da soja no Brasil, com
compatibilidade cromossômica, capaz de viabilizar a hibridação.
Esta mesma restrição, constante do parágrafo supra, poderia ser eventualmente um
problema no Nordeste da China, onde existem espécies de soja selvagem. Similarmente ao
exposto para o tópico saúde, em uma quadra da civilização em que a proteção ambiental é
um culto, a percepção da maior parcela da opinião pública é de que não existem perigos
palpáveis pelo cultivo da soja RR, paradoxalmente podendo até ser favorecida, pela menor
descarga de herbicidas no ambiente. Não obstante, aponta-se até mesmo, algumas
vantagens à produção da semente de soja transgênica.
3.19.1.3. Vantagens da Soja Transgênica
Segundo Gazzoni (2008) propalam-se, de uma parte, ganhos financeiros com o
cultivo de soja RR, por menor uso de herbicidas, e de outra que a mesma apresenta menor
produtividade. Os institutos de pesquisa brasileiros nunca puderam comprovar qualquer
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
117
das afirmativas. Agora, essa dúvida poderá ser elucidada, comparando-se produção,
receitas e despesas, em similaridade de condições.
Gazzoni entende que a vantagem da soja RR é a simplificação do controle de
plantas daninhas, menos dependente de tecnicalidades e de condicionamentos de solo,
clima e dimensionamento de parque de máquinas. Em relação à produtividade da lavoura
não é lícito supor qualquer vantagem da soja RR, porque a tecnologia resume-se à
resistência ao herbicida glifosato, não interferindo com outras características agronômicas.
E, como todos os temas novos e polêmicos pelas mudanças naturais que propõe, com
dilemas, sobre os quais, são necesarias, não apenas reflexões, com profundas e
fundamentadas investigações sob bases e pressupostos científicos.
3.19.1.4. Dilema Quanto a Soja RR
O grande dilema, como forma de preocupação manifestado por Grazzoni (2008)
desde o surgimento da soja RR diz respeito ao desenvolvimento de plantas invasoras
resistentes ao glifosato: “A pressão de seleção que será exercida sobre as invasoras será de
tal ordem que, em pouco tempo, seria possível surgir ervas daninhas resistentes ao
glifosato, em grande escala”. Esse fenômeno indesejável, segundo o pesquisador, não é
novidade nem é inevitável. Plantas daninhas resistentes ao glifosato foram identificadas
nos EUA e na Argentina.
Durante o II Congresso Brasileiro de Soja, o tema foi analisado e os resultados das
pesquisas dão margem à preocupações.
Os agricultores devem atentar para o manejo de plantas daninhas, executando
rotação de culturas, diversificando formas de controle, alternando cultivares convencionais
e transgênicas.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
118
Neste contexto, o agricultor relapso corre o risco de enormes prejuízos financeiros
e muitas dificuldades para conduzir sua lavoura.
A agroinflação, ou diminuição da capacidade de compra de alimentos, ainda que
apontada como uma das Causas da Fome no Mundo, é isto sim, consequência da elevação
dos preços dos barris de petróleo, diminuição mundial das reservas de cereais, que embora
apontada também como Causa da Fome, encontra nos biocombustíveis suas origens,
aliadas a performanse alimentar chinesa que em última análise, são coadjumantes no
problema alimentar mundial. Pois, são dependentes das Políticas Internas e Internacionais.
Estas sim, responsáveis pela regulamentação em assertivas resolutivas. Contudo, o reflexo
mais evidente da agroinflação encontra-se na aceitação e entrada nos mercados
internacionais de alimentos com origem em sementes modificadas geneticamente, os
transgênicos, por oferecem, em uma primeira análise, maior produtividade. Os aspectos de
segurança, não encontram nas populações observâncias que restrinjam suas produções e
utilização.
Não traduzem-se preocupações latentes a utilização dos transgênicos. Houvesse, se
manifestariam em tensões e manifestações, na não compra e utilização. Em Velázquez
(2009) à luz de suas palavras, encontra-se os seres em um estado permanente de guerra,
servindo também para manifestações em forma de conflitos e bloqueios econômicos, com
origens em uma linha latente de vazão tensional em forma de impulsos transferenciais
permanentes dos seres. Corroborado por Carabajal (2000) ao observar as transferências das
tensões pessoais geradas pelo caso Mônica em sucessivos bombardeios ao Golfo “... os
valores axiológicos passivos ou ativos, positivos ou negativos, são potencializados e
codificados em forma catéxica no interior dos seres, permanecendo em estados latentes,
prontos a aflorarem, desde que estimulados” (p. 21).
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119
Tais manifestações tensionais, capazes de impulsionar ações, segundo Carabajal
(2000) frente a não aceitação de um determinado produto, por medo de doenças ou efeitos
colaterais, não se traduziria em guerra, mas, em seu isolamento nas prateleiras dos
supermercados e centros distribuidores. Ao contrário, os transgênicos, pela prioridade
alimentar humana, onde mais de 6 bilhões de pessoas disputam o que é produzido, ainda
que não sob a máxima de Velázquez, sob estados permanentes de guerras, ganha, a cada
dia, mais espaço nas mesas daqueles que podem pagar para os utilizar na alimentação.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
120
INCURSÕES SOBRE AS VARIÁVEIS DA FOME NO MUNDO
Quadro Resumo
Guerras:
FAO (2005):
forma de combate, grande número de mortos, instabilidade
econômica e sociais.
Bloqueio
Econômico:
formas dissimulativas de se fazer guerras e com aumento da fome
pelas mesmas variáveis observadas na guerra.
Refugiados: comumente vítimas de Guerra Civis, morrem aos milhares pela
fome, além das dificuldade sociais, econômicas e emocionais.
Guerra Civil: resulta sobretudo da discordância de regimes religiosos e de
governos. Ainda, de desestruturações internas
Variações
climáticas:
mudanças nos padrões de chuvas, aumento de subnutridos no
mundo de 40 para 170 milhões.
Teoria/Malthus população cresce acima da produção e estoques de alimentos.
Biocombustíveis: combustíveis produzidos a base de grãos.
Catástrofes Nat. furacões, tornados, maremotos, vulcões, tsunames, secas, chuvas
Aids: síndrome da imunodeficiência adquirida, caracterizada pela
infecção com o vírus HIV
Calamidade
social:
contingentes humanos se tornam improdutivos por não
conseguirem se alimentar adequadamente, depois não adquirem
alimentos por serem improdutivos. Josué de Castro (1946)
Crescimento
demográfico:
Thomas Malthus formulou a hipótese das populações crescem em
progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos crescer
em progressão aritmética, aconselhando limitar o crescimento
demográfico. Previsões estas refutadas historicamente.
Indisponibilidade
de Grãos Mundo:
2008, estoque mundial menor nível dos últimos 30 anos, pelo
aumento do consumo e produção de Etanol. (USDA, 2008).
Distribuição da
produção:
desigualdade na distribuição, maior em países distantes das
fontes de produção.
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121
AGROINFLAÇÃO
Fatores dos altos preços mundiais,
Jacques Diouf (2008)
quebras de safras e estoques globais no
nível mais baixo desde 1980, suficientes
para apenas 8 a 12 semanas, o forte
crescimento econômico em países em
desenvolvimento e a crescente demanda
por energia.
Fundo Monetário Internacional [FMI] os preços dos alimentos subiram 39% de
fevereiro de 2007 até fevereiro de 2008 e
responderam por 45% da inflação.
Elevação dos preços dos alimentos inflação para a população de baixa renda
Países da União Européia preços dos alimentos tiveram alta de
6,2% e a inflação geral foi de 3,3%. As
altas dos alimentos em março e abril
foram as maiores desde 1996.
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122
4. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO FRAGIL SISTEMA
MUNDIAL DE NECESSIDADES E ECONOMIAS
Significativas foram as vezes em que os assuntos relacionados à fome no mundo
conduziram nossas pesquisas à economia e necessidades alternativas de energia, com
destaque dos biocombustíveis e sistema financeiro internacional, tornando indispensável,
neste trabalho um capítulo abrangendo estes temas.
4.1. O Futuro dos Grãos com o Incremento dos Biocombustíveis
Segundo os pesquisadores Antônio Mário Penz Júnior e Mário Gianfelici, (2008)
nos primórdios das civilizações, a base da alimentação humana foi a proteína de origem
animal. Entretanto, os homens, para se alimentar constantemente precisavam migrar em
busca de suas presas, os animais. Com a evolução destas civilizações, houve a necessidade
dos homens permanecerem em locais fixos, constituindo os modelos de cidade que
persistem ainda nos anos 2000. Para tanto, obrigou-se a civilização à mudanças
fundamentais de seus hábitos alimentares, que passaram a buscar nos vegetais alternativas
de consumo de alimentos, o que proporcionou o desenvolvimento de múltiplas culturas,
inserindo-se na práxis alimentar humana como indispensáveis à sobrevivência.
Entre outras mudanças registram-se as culturas do milho, arroz e trigo, seguindo-se
pela soja e demais espécies do segmento das oleaginosas.
Nas últimas décadas, devido a importância dos grãos farináceos ou protéicos na
alimentação humana, discutia-se a viabilidade do desenvolvimento das produções de
animais monogástricos. Isto pelo fato do complexo biofisiológico e químico dos animais
serem pouco eficientes na transformação de fibras em energia. Logo, por dependerem dos
mesmos grãos usados pelos homens, fazem-se seus grandes competidores.
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123
Segundo Penz Júnior e Gianfelici, os ruminantes foram exaltados como uma
solução correta de produção animal, por serem eficientes transformadores da energia
retirada dos alimentos vegetais, não preferencialmente empregados pelos homens.
A literatura discutiu este tema da eficiência da produção de alimentos e a priorização
de seu uso sob diferentes maneiras, filosófica, social, nutricional e segmentos das ciências e
áreas de interesse, sempre colocando o animal como um competidor do homem por alimentos,
o que não pode ser refutado. Alguns países, como o México, entre outros, proibiram o uso de
alimentos preferenciais das dietas humanas na alimentação dos animais. No México, proibiu-
se o milho, e no Brasil, o trigo.
No processo histórico de evolução da humanidade, referem-se os autores a
descoberta e utilização da energia. Descobriu-se fontes fósseis de energia, petróleo e
carvão. Estas descobertas foram indispensáveis para garantir energia às lides nas casas,
cidades e indústrias. A primeira dificuldade à utilização linear de tais fontes, encontrou-se
na não distribuição uniforme desses recursos em todos os países. Assim, evidenciaram-se
problemas na distribuição mundial, favorecendo-se seus detentores, se lhes outorgando
maior poder político e econômico. As crises de abastecimento destas fontes energéticas,
intencionais ou não, têm promovido aumentos de preço inesperados dificultando o
desenvolvimento dos países, inclusive comprometendo a manutenção da qualidade de vida
de seus cidadãos.
Estas condições ressaltam os pesquisadores Penz Júnior e Gianfelici, têm forçado
buscas de energias alternativas possibilitando ao homem minimizar tão complexas
interrelações homem/meio, de abastecimento e consumo. Neste contexto alternativo,
apresentam-se a energia hidráulica, eólica, nuclear e, mais recentemente, a energia
produzida a partir da cana de açúcar, do milho, da mandioca, dos cereais de inverno,
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124
resultando no etanol, ou a energia produzida a partir de oleaginosas como,
preferencialmente, a soja, resultando no biodiesel.
As novas dimensões dos programas energéticos, nas visões de Penz Júnior e
Gianfelici (2008) trazem para o cenário internacional da fome, mais um elemento de
competição pelos alimentos, provocando novas discussões:
(...) Agora, não são somente os animais que competem com os homens pelos
alimentos. A sociedade, para manter suas condições de vida e de desenvolvimento,
necessita desta energia, aumentando o seu preço e comprometendo o seu
fornecimento como alimentos para certas populações (online).
Contudo, pela difícil e ainda não oficial participação dos biocombustíveis no
aumento dos problemas alimentares, enquanto algumas organizações apontam para os
mesmos como responsáveis pelo agravamento das dificuldades em abastecer-se o planeta
com alimentos, paralelamente, observa-se apoios declarados, como o faz a OEA, à
utilização de cereais na produção de biocombustíveis.
4.1.1. OEA Apóia Produção de Biocombustíveis nas Américas
A Organização dos Estados Americanos, OEA, está disposta a apoiar a expansão da
produção de biocombustíveis na América Latina. Na avaliação do secretário-geral da OEA, José
Miguel Insulza (Agência Safras, 2007) os biocombustíveis são a grande promessa para suprir o
aumento do consumo de energia na região. Afirmou em coletiva à imprensa.
Na medida em que a região está crescendo e a produção industrial
aumentando, e não progredimos muito em matéria de eficiência energética,
a demanda de energia é muito maior (...) Nós, como organização, estamos
interessados em apoiar o desenvolvimento dos biocombustíveis (online).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
125
Segundo Insulza não há, entre os países membros da OEA, preocupação quanto à
redução da produção de alimentos devido à expansão dos biocombustíveis. O tema foi
amplamente debatido na última Assembléia geral da OEA "Para a grande maioria dos
países os biocombustíveis são vistos como uma promessa e não como uma ameaça",
assegurou, reiterando:
Não existe nenhuma razão para considerar que a produção de energia com
base biológica possa produzir uma redução da capacidade de produzir
alimentos. A agricultura mundial tem capacidade para ambas as coisas. O
tema pode ser político, em nenhum caso são fatalidades naturais (online).
O desenvolvimento de fontes de energias renováveis foi um dos temas tratados por
Insulza em 2007 com o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, do Brasil. A
integração energética também entrou em pauta, segundo o secretário-geral da OEA. "Os países
dizem que temos que integrar-nos, mas também dizem que temos que ser auto-suficientes”.
Em continuação afirma Insulza, segundo informações da Agência Safras (2007):
A integração energética surge da síntese destas duas coisas (...) Neste
processo de crescimento energético da região nenhum país pode dizer que
vai ver o que o outro produz para comprar. Todos devem ser capazes de
fazer um aporte fundamental. Ao mesmo tempo, todos os países têm que
buscar não depender de uma ou duas formas de produção energética (...).
Estamos disponíveis para apoiar os países com mais dificuldades na
integração energética (online).
Enquanto de um lado vê-se o incremento no redirecionamento dos grãos, dos pratos
para a energia automotora, de outro observamos iniciativas contrárias, como na China,
propondo-se priorizar a alimentação. Contudo, em nosso ver, somente paliativas, pois, a
energia a base de milho tão somente é substituída por outras espécies alimentares. Alguns
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
126
governos, até mesmo proíbem a utilização do milho para a produção de etanol, objetivando
maior segurança alimentar interna.
4.1.2. Governo da China Anuncia Proibição do Etanol de Milho
Sob as manchetes supra, a China anunciou no dia 17 de julho de 2007 que iria parar
de produzir etanol à base de milho, substituindo o grão por raízes de batata doce, mandioca
e sorgo, noticiou a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (2007).
As usinas produtoras do combustível teriam um prazo de cinco anos para se
adaptar, encerrando-se em 2012.
A decisão de banir o etanol de milho foi tomada há poucas semanas da data do
anúncio público internacional, porque o uso do grão na produção do combustível fizera a
demanda e o preço do milho aumentar muito.
Apesar das safras recordes de 2005, o preço do milho apresentou significativos
aumentos em 2006. Naquele ano o valor médio do quilo de milho cultivado na China
chegou a 1,2 yuan (U$ 0,10), um aumento de 3% em relação ao ano anterior de 2005.
O milho ainda é a principal matéria prima do etanol. Até recentemente, 100% da
produção de etanol vinha sendo feita de milho, segundo a agência de notícias estatal
Xinhua. Mas a província central de Henan mudou 20% da sua produção para mandioca.
Por ter uma capacidade agrícola limitada e uma grande população, de 1,3 bilhão de
pessoas, a China optou por dar prioridade ao uso do milho para a produção de alimentos.
Xiong Bilin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma -
CNDR, disse à imprensa estatal, na ocasião que: “(...) a mudança de matéria prima na
fabricação do álcool não vai ser cara nem complicada” (online).
Em 2007 a China era o terceiro maior produtor mundial de etanol, atrás apenas do
Brasil e dos Estados Unidos.
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127
A China quer dobrar a sua capacidade de processar etanol dentro dos próximos três
anos. O país espera pular de 1 milhão de toneladas para 2 milhões de toneladas ao ano até
2010. "Atingir nossa meta para 2010 não vai ser um problema", acredita Xiong (2007).
Segundo Agências Internacionais (2007), a meta de dois milhões de toneladas foi
revisada. Originalmente, a China ambicionava chegar a produzir 5 milhões de toneladas.
Xiong ressaltou que ainda assim o país está determinado a diminuir o consumo de
combustíveis fósseis para economizar energia e combater o aquecimento global.
Em nove províncias a gasolina e o óleo diesel já são vendidos com uma mistura de 10%
de álcool. No ano passado, esse consumo correspondeu a 1,3 milhões de toneladas de etanol.
"O país vai gradualmente substituir petróleo por etanol como principal combustível
de sua indústria química", explicou Xiong (2007).
O governo está considerando oferecer 5% de reembolso fiscal para os produtores
de etanol. Além de dar mais de mil yuans, o que corresponde em abril de 2009, em torno
de U$ 110 em subsídios por tonelada processada.
De acordo com o jornal China Daily, segundo a (Associação Brasileira dos
Produtores de Amido de Mandioca [ABAM] 2007). A demanda anual de combustíveis da
China é de mais de 50 milhões de litros. Essa demanda é suprida em quase sua totalidade
ainda pelo petróleo.
Todavia, do outro lado, encontramos o órgão máximo da ONU para agricultura, FAO
apontando objetivamente para o Etanol como direto responsável pela inflação de grãos.
4.1.3. FAO Alerta para Inflação de Grãos e Culpa Etanol
No Relatório de 11 de outubro de 2007, a FAO/ONU destaca que o trigo atingiu em
setembro do mesmo ano, preços recordes. Para os países importadores de alimentos, a conta
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
128
com a compra de produtos agrícolas aumentou naquele período em 14% se comparando
2007 com o ano imediatamente anterior.
No total, os países em desenvolvimento teriam que gastar um valor recorde de US$
52 bilhões na importação de cereais em 2007. Federação da Agricultura do Estado do Paraná
(2007), a alta no trigo seria gerada pela demanda mundial crescente. Ainda, pelos
baixíssimos níveis de estoques e oferta e produção também reduzida. Somando-se a isto,
encontramos um elevado custo com transportes, forçado pelo aumento dos preços do
petróleo, implicando consequente inflação no preço do pão em muitos países.
A FAO, organização da ONU voltada para o desenvolvimento e acompanhamento
da agricultura mundial, em seu Relatório de 2007 lançou previsões não otimistas a curto
prazo, no entanto realistas quanto as reservas mundiais de cereais, admitindo que manter-
se-iam baixos nos anos seguintes a 2007, o que entendemos, como os anos de 2008, 2009 e
2010. "Essa é uma situação preocupante", afirmou Paul Racionzer (2007) do sistema de
alerta da FAO. Os estoques são os mais baixos desde 1982, acusando 143 milhões de
toneladas. Como causa, apontam para a safra 2007 européia. A produção foi a pior desde
2003. A Romênia e Bulgária, paises considerados como tradicionais produtores, também
apresentaram acentuadas quedas na safra desse cereal, na ordem de 35% e 45%.
Com fim ao refrear inflacionário, a Europa apontou para o incentivo à livre
importação de trigo.
Nos Andes, os altos preços do trigo registrados no início do segundo semestre de 2007,
no conjunto de seus países, deflagraram alta generalizada no preço do pão. Governos
autorizaram adoção de medidas emergenciais objetivando controlar a inflação. Na Bolívia, até
mesmo o exército assumiu responsabilidades, passando a operar fábricas à produção de pães.
Também no Peru, o preço do trigo, elevou-se em 50% entre janeiro e junho de
2007. Ásia e Oriente Médio, segundo o mesmo relatório da FAO (2007) contaram com
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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manifestações em forma de protestos pela elevação do custo alimentar. As manifestações
nestas regiões chegaram a ser denominadas como violentas. A situação, porém, segundo a
FAO, seria mais grave nos três últimos meses de 2007.
A FAO, no relatório de 2007 apontava objetivamente para o etanol como co-autor e
co-responsável pela inflação registrada nos preços dos alimentos. Há época a FAO
afirmava através do relatório: “o consumo de cereais no mundo aumentará em 2%,
atingindo 2,1 bilhões de toneladas” (online).
O etanol, segundo a FAO (2007) seria responsável por 75% do crescimento
inflacionário dos alimentos. O uso industrial dos cereais enunciava aumentos na ordem de
9% entre 2006 e 2007, devido as suas utilizações à produção de energia. Pois, 50% se
transformariam em etanol. Concomitantemente, apontava o relatório, a elevação no
consumo alimentar ficaria em torno de 1%. Ainda, determinava em consequência da
inflação nos preços, significativas quedas no consumo em países economicamente pobres e
subdesenvolvidos. A FAO há época acreditava que nem mesmo uma produção recorde de
cereais no mundo resolveria os problemas.
No mesmo relatório de 2007 a FAO evidenciou perspectivas de quedas de
produções, lançando como expectativa para a safra 2007 um total de 2,11 bilhões de
toneladas. Esse volume responderia tão somente à demanda internacional e os estoques
manter-se-iam baixos. O relatório realista da FAO, no tocante ao comércio internacional
lançou a projeção de dificuldades, pela inexorável tendência de ser afetado negativamente.
A FAO previa uma safra recorde de milho para o Brasil em 2007, ao apontar para
a alta nos preços internacionais do grão graças à demanda por etanol. Entre 2006 e 2008,
os Estados Unidos destinaram ao etanol um volume de milho quase equivalente a todo o
comércio mundial da commodity.
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À safra americana de 2007 previa-se ser 26% maior que a de 2006. Um volume
recorde era esperado. Uma safra recorde também esperava-se para 2007 na América do
Sul. Somente ao Brasil projetava-se alta de 25%, atingindo 52,2 milhões de toneladas. Ao
México também eram atribuidas projeções recordes para 2007. Tais espectativas
fundamentaram-se em estudos da FAO.
Se por um lado os biocombustíveis concorrem com a vida na base fundamental de
sobrevivência, comprendida pelos alimentos, de outro os combustíveis fósseis concorrem,
não deixando nenhuma margem opcional, por extinguirem por completo quaisquer
posibilidades de vida sobre o planeta. Não concorre pelos alimentos como ocorre com os
biocombustíveis. Concorre, isto sim, com o ar, com o ambiente, destrói a camada de ozono
e assina, de forma catastrófica sobre iminentes alterações climáticas, de efeitos também
catastróficos, de difícil reversibilidade.
Portanto, mesmo diante a proposta deste capítulo de estudos do avanço dos
biocombustíveis frente a fragilização dos sistemas mundiais, faz-se necessária uma breve e
sucinta incursão sobre os combustíveis fósseis.
4.2. Biocombustíveis e Combustíveis Fósseis
Segundo Décio Gazzoni, (2005) sob o título Desafio Alimentar, afirma que a
elevada participação de combustíveis fósseis na matriz energética é um dos maiores
perigos à qualidade ambiental, amplificando o efeito estufa, provocando chuvas ácidas e
poluindo a atmosfera com substâncias deletérias à saúde.
Todavia, não havendo uma intervenção a tempo e a hora, os cientistas prevêem
uma sequência catastrófica de mudanças climáticas, com consequências imprevisíveis,
colocando em risco a sustentabilidade de diversas atividades desenvolvidas pelo homem.
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4.3. UE Propõe Fim do Subsídio para o Álcool
Segundo um dos maiores portais de suinocultura das Américas, PorkWorld (2008) a
Comissão Européia, principal executiva do bloco europeu, composto por 27 países, propôs
o fim do subsídio destinado à agricultores para o cultivo de lavouras de produção de
biocombustíveis. Proposição esta com objetivo à tentativa de elevação da produção
agrícola, devido aos elevados e mesmo recordes preços dos alimentos. A proposta da
União Européia objetiva eliminar o subsídio do álcool, estabelecido em 45 euros por
hectare, como alternativa de incentivo ao cultivo de outros alimentos. A EU declarou a
possibilidade de não alcançar a meta da região, a qual prevê que até 2020 10% dos
veículos estão utilizando álcool.
Do mesmo portal, PorkWorld, destacamos:
A meta nunca foi alcançar a qualquer preço 10% de carros movidos a
biocombustível. São 10% sob algumas condições rigorosas. Entre essas
condições estão um esquema de sustentabilidade robusto e factível e a
viabilidade comercial dos biocombustíveis de segunda geração (online).
O esquema de sustentabilidade da UE encontrava-se em junho de 2008 sendo discutido
no Conselho e Parlamento europeus. Será o primeiro sob essa linha no mundo. Por esta
premissa, se lhe exigirão resultados de eficiência, produções elevadas e exeqüíveis.
O projeto do Conselho Europeu para a Política Agrícola Comum [PAC] do bloco,
prevê medidas como a redução do subsídio pago aos donos de grandes propriedades,
também, o fim da exigência para que os produtores deixassem de cultivar 10% de suas
terras anualmente. Refletindo a força reativa imediata da UE devido ao aumento repentino
nos preços dos alimentos. José Manuel Durão Barroso, português, Presidente da Comissão
Européia, há ocasião, declarou: “Estamos lidando com um problema com múltiplas causas
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e várias consequências. Por isso, temos de agir ao mesmo tempo em várias frentes para
solucioná-lo” (Rel. UE, 2008).
O novo projeto que prevê o fim dos subsídios agrícolas até 2013, foi encaminhado
em junho de 2008 aos chefes de Estados reunidos em torno do Conselho Europeu. O
mesmo, para entrar em vigor, necessita ser aprovado pelo Parlamento do bloco e pelos
ministros da Agricultura da região. A expectativa de aprovação era para novembro de
2008. O projeto, entre junho e novembro seria submetido a alterações.
A França, que é o principal produtor agrícola do bloco e o que mais recebe
subsídios, se manifestou contra a proposta supra. O ministro da Agricultura, Michel
Barnier, manifestou incongruências sobre alguns pontos, elegendo-os como não aceitáveis.
A França entende como fundamentais os auxílios agrícolas, apontando os preços dos
alimentos como variáveis determinantes a um maior incremento econômico nesta área. "A
crise alimentícia nos dá um motivo para preservar a capacidade de produção que temos na
Europa" Barnier (Rel. UE, 2008).
Outros países, a exemplo do Reino Unido, defendem cortes significantes,
colocando como desnecessária a ajuda, haja vista as constantes elevações nos preços. A
proposição de corte aos subsídios encontrou obstáculos também nos alemães, os quais
declaram contrariedade sobre parte das medidas.
Para a comissária da Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, (Rel. UE, 2008) as
novas medidas:
(...) são para dar liberdade aos nossos agricultores, para que eles possam
atender a crescente demanda e responder rapidamente ao que o mercado
está dizendo para eles. Trata-se também de simplificar, racionalizar e
modernizar a PAC e dar aos nossos agricultores os meios necessários para
enfrentar os novos desafios, tais como as alterações climáticas.
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4.4. Disponibilidade de Grãos no Mundo
Em 2008 os estoques de grãos no mundo atingiram níveis baixíssimos, só
registrada, crise semelhante, em 1980. Mister a lembrança que na crise dos anos 1980,
excetuando-se a cana de açúcar, pois já contava com seu aproveitamento à produção do
etanol, nenhuma outra cultura tinha fins industriais em busca de energia combustível. A
alimentação não registrava concorrência de seus grãos para o fim de produção do etanol.
Os parâmetros originários de ambas as crises, de 1980 e de 2008, são distintos, a
primeira centrou-se na produção e a segunda nos baixos estoques mundiais de grãos.
Redução esta, de 2008, forçada pelo consumo crescente alimentar, humano e animal,
sobretudo, pela utilização dos grãos na indústria energética (United States Department of
Agriculture [USDA] (2008).
Em confirmação da premissa supra, na China, observamos nos 10 anos anteriores a
2008, um aumento na produção de grãos na ordem de 9%, contra um aumento de consumo em
aproximados 30% (USDA, 2008). Tal situação minimizaria se a produção de grãos
aumentasse proporcionalmente à área produzida e ou pela produtividade alcançada. Contudo, a
estatística mostra que nos 20 anos anteriores a 2008 isto não registrou-se (USDA, 2007b). Os
EUA, por exemplo, mantiveram produções superiores ao seu consumo interno. No entanto, em
outros países, como a China, não ocorreu o mesmo. (USDA, 2007b)
Outro importante ponto a ser considerado, deve-se a concentração pelos EUA e
China de aproximados 50% dos estoques de milho mundiais. (USDA, 2007a). Tais
observações apontam para uma contínua redução dos estoques mundiais, bem como, para
uma distribuição não objetiva sobre a problematização da fome no mundo, a satisfazer as
necessidades dos povos que mais sofrem carências alimentares. Além do grande problema
de logística, similar o enfrentado pelas fontes fósseis de energia, tanto em produção,
quanto em logística de distribuição (USDA, 2007b).
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Tais constatações podem levar-nos a conclusões inacabadas. Porém, como vetores
na problematização, de encontrar-se nos baixos estoques mundiais de alimentos, parte da
solução da fome mundial, agravada, pela má distribuição ou, distribuição, desde as vias de
escoamento, quanto aos transportes e custos, conservação ineficiente e distribuição àqueles
que mais necessitam.
Quanto mais longe se encontre o país importador das origens produtivas,
maiores as dificuldades no abastecimento das populações. Projetando-se claramente
perspectivas de agravamento do problema alimentar aos países que não invistam em
tecnologias agrícolas em busca da auto-suficiência. Mesmo pela crescente utilização
de produtos alimentares como fonte de energia combustível, desenhando-se um futuro
obscuro, ainda de muitas dúvidas em relação aos famintos do mundo.
4.4.1. O Uso do Milho para a Produção de Etanol
Segundo Nogueira (2008) o milho tem sido desconsiderado como fonte prioritária
alimentar, em especial nos EUA, em detrimento da produção de etanol. Contudo, entre as
alternativas disponíveis, concentra a cana de açúcar, duas vezes mais eficiência à produção de
etanol, sendo, no Brasil: 7.500 litros de etanol/ha de cana, contra 3.000 litros de etanol/ha de
milho. “O que leva os EUA a empregar o milho como insumo para a produção de etanol é a
não disponibilidade, em volumes significativos, de outras fontes importantes para a produção
de etanol, como a cana de açúcar e a beterraba” diz o especialista em etanol Luiz Augusto
Horta Nogueira (2008).
Há e são comuns as controvérsias quando o tema é etanol, fazendo-se constantes.
Nogueira neste sentido demonstra a razão intrínseca das controvérsias: “Os EUA dispõem
de milho, mas a humanidade, em outras condições, carece da sua disponibilidade”. O
etanol emprega, segundo Nogueira (2008) “(…) vinte vezes mais mão-de-obra por litro do
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que o petróleo”. Contudo, cabe aos pesquisadores analisarem as relações salariais das duas
frentes de produções, entre àquele trabalhador dos canaviais e o trabalhador das
plataformas de petróleo.
Observemos a seguir a produção e consumos mundiais do milho, com ênfase nos
Estados Unidos, Brasil, China e Mundo (USDA, 2008a): entre 2006 e 2009 nos EUA, a
produção de milho aumentou 30,5% e o consumo aumentou 22,9%, o que possibilitou um
aumento real de estoque do cereal em 66,6%. Enquanto no mundo, com exceção aos Estados
Unidos a produção aumentou 17,2% e o consumo aumentou 15,8%. Como o estoque já
estava baixo, este pequeno aumento da produção não permitiu que os países terminassem
com uma relação entre consumo e estoque positiva; -7,9%.
Evidentemente que o estoque final de milho em 2007 não foi de somente 2.887
milhões de toneladas porque estoques residuais, de ano para ano, foram sendo
considerados. De acordo com o USDA (2008a), o ano de 2007 terminou com um estoque
mundial de milho na ordem de 109.060 milhões de toneladas, sendo que 42% deste total
encontrava-se nos EUA.
Países como China, Brasil e México tiveram seus estoques de milho reduzidos entre
os anos 2005, 2006 e 2007. Como a China e o Brasil não produzem etanol a partir do milho,
as reduções de estoque podem ser explicadas pelo aumento do consumo humano na China e
pelo aumento do consumo pelos animais e pelas exportações no Brasil, tendo em vista que
estes dois países não tiveram perda de produção nos anos de 2005, 2006 e 2007. Ao
contrário, suas produções aumentaram.
Com base na circular do USDA (2008) passemos a análise da produção, consumo e
estoque de milho no mundo e nos EUA, mais objetivamente, em milhões de toneladas.
Entre 2003 e 2004 os EUA produziram 256.278 milhões de toneladas de milho.
Neste mesmo período, o restante do mundo produziu 370.967 milhões de toneladas.
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Os EUA, entre 2007 e 2008 elevou em 30% sua produção de milho em relação ao
período anterior, chegando a 334.476 milhões de toneladas.
Os demais países do mundo, somadas suas produções de milho no período
2007/2008, tiveram um aumento em apenas 17%, totalizando 434.837 milhões de toneladas,
contra 370.967 entre 2003 e 2004.
O consumo americano de milho entre 2003 e 2004, foi de 211.644 milhões de
toneladas, elevando-se em 22,9% entre 2007 e 2008, somando 260.108 milhões de
toneladas. Enquanto todos os demais países juntos, consumiram entre 2003 e 2004, 437.237
milhões de toneladas, elevando-se em apenas 15,8% para o período 2007/2008, atingindo
506.318 milhões de toneladas.
Em relação aos estoques, com base na mesma circular USDA (2008) encontramos nos
EUA entre 2003/2004 um estoque de 44.634 milhões de toneladas de milho e, entre 2007/2008,
74.368 milhões, correspondendo a um aumento real de estoques, na ordem de 66,6%.
Os estoques mundiais de milho, excetuando-se os EUA e somando-se demais
países, entre 2003 e 2004, foram negativos, de -66.270 milhões de toneladas, e entre 2007
e 2008, de -71.481 milhões, somando-se -7,9% ao déficit do período anterior.
No período 2003/2004 obsorvou-se um déficit mundial de -21.636 milhões de
toneladas de milho. Já no período 2007/2008, o valor foi baixo, porém positivo, em 2.887
milhões de toneladas. Nos seis anos anteriores, entre 2001 e 2006, o mundo contou com
significativos avanços na produção de biocombustíveis a partir do Etanol.
4.5. Produção de Etanol, Realidade e Projeções
Entre 2000 e 2006, a produção mundial de etanol teve um aumento de
aproximadamente 75%. O mundo utilizou, em 2007, 54 bilhões de litros de etanol.
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Devendo-se a produção americana, havendo dobrado. Também à brasileira, pelo aumento
em aproximadamente 70%, somando 21,5 bilhões de litros.
Do total dupra, pouco mais de 3 bilhões foram destinados às exportações. Este
aumento da produção de etanol americana forçou a redução de abastecimento de milho
para o mundo e também um aumento de preço deste insumo (FAO, 2007).
Entretanto, as informações provenientes do USDA (2008c) sugerem que esta
redução não continuará ocorrendo, permanecendo as exportações estáveis em 2009, 2010 e
2011 em decorrência do aumento de produção de milho previsto para o mesmo período.
Este aumento de produção ocorrerá pelo aumento da área de plantio, em detrimento da
área de plantio da soja (USDA, 2008c).
Segundo Luiz Augusto Horta Nogueira (2008) autoridade mundial sobre o tema
etanol, este combustível, em futuro próximo, entre 2015 e 2020, presumimos, sairá do
consumo utilizado em 2007, de 54 bilhões de litros, para atender 20% do consumo
mundial de combustível líquido. Necessidade esta, que em 2008, correspondia a 120
bilhões de litros.
O Brasil, neste contexto, devido ao clima, solo e tecnologías desenvolvidas, entre
outros fatores, poderá atender 10% das necessidades mundiais futuras. O Brasil produziu
21,5 bilhões de litros e os EUA, 24,5 bilhões de litros, na safra 2007.
Para cada litro de gasolina utilizado na lavoura ou na indústria, são produzidos 9,2
litros de etanol. No caso do etanol de milho, essa relação cai para 1,4 litro de etanol para
cada litro de combustível fóssil empregado no processo.
A título de maior conhecimento sobre o quanto as pesquisas têm à avançar, saiba-se que
constam mais de 5.000 espécies de canas no banco de espécies à serem pesquisadas, dentre as
quais, somente 100 até 2008 ganharam uso comercial. Imagine-se quando a humanidade evoluir
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ao conhecimento dos potenciais, não apenas energéticos, mas também alimentares, sobre parte
da biodiversidade disponível in natura em nossos mares, rios e florestas.
Segundo a FAO (2007) a produção mundial de etanol, bilhões de litros, tem
aumentado ano a ano. Para uma pequena visão do crescimento, os EUA saiu de uma
produção de 7,6 bilhões de litros de etanol no ano 2000, chegando ao ano de 2003 com
produção de 12,1 bilhões de litros e em 2006 esse número atingia a marca de 19,8 bilhões.
O Brasil, primeiro produtor mundial entre 2000 e 2004 e segundo a partir desta
data, no ano 2000 produziu 10,6 bilhões de litros de etanol. Em 2003 chegou a 14,7
bilhões e em 2006 atingiu a marca de 17,8 bilhões de litros. A produção mundial em 2000
fora de 29,4 bilhões de litros. Em 2003, de 39 bilhões de litros e em 2006, atingiu os 51,3
bilhões de litros de etanol.
Confrontando os dados supra, retirados do Relatório sobre Bioenergia da FAO
(2007), é possível verificar o aumento da produção de etanol ocorrida nos EUA nos
últimos 25 anos, com uma projeção interessante para o aumento de produção até
2010/2011 (USDA, 2008b).
Entretanto, este fenômeno supra, de aumento da produção de etanol nos EUA
ocorreu nos últimos anos, coincidindo com a administração Bush (2000/2008). Para que
esta produção de etanol atinja aproximadamente 11 bilhões de galões em 2010/2011, sob a
administração Barac Obama, em torno de 30% da produção total de milho daquele país
deverá ficar comprometida para este fim (USDA, 2008b).
As estimativas supra eram consideradas há época, por analistas internacionais e
observadores, como consistentes e conservadoras. Em meados de 2007 existiam, nos EUA,
128 unidades de produção de etanol e outras 85 unidades encontravam-se em construção
(USDA, 2007c). Tal crescimento do parque industrial americano se destina às bases de
incremento à demanda de milho à produção de etanol.
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Essas alterações no mercado de grãos e de oleaginosas, com preços aumentados no
comércio internacional, não tem ocorrido com o mercado da carne. A demanda é
crescente, sem alteração dos preços de venda na proporção dos preços dos insumos.
Os países produtores e exportadores devem investir em tecnologias de melhor
produção e eficiência, buscando compensar a discordância entre o que se observa na
prática dos preços dos insumos e os preços pagos pelos consumidores pelo produto final.
A diminuição, por exemplo, da produção da soja, com conseqüente desequilíbrio na oferta
e demanda, deve-se, sobretudo, ao maior rendimento do milho. Assim a soja, tanto não
chega à mesa como tem dificuldade de ganhar forma combustível, como biodiesel.
4.6. O Uso da Soja para a Produção de Biodiesel
Com o aumento da demanda de milho para a produção de etanol nos EUA, a
cultura mais prejudicada foi a da soja. No ano de 2006 a produção desta oleaginosa foi de
87 milhões de toneladas, caindo, no ano de 2007, caiu para 70 milhões de toneladas, ou
seja, uma redução de aproximadamente 20%. Neste mesmo período, Brasil, Argentina,
Paraguai, China e Índia, aumentaram suas produções de soja. Observa-se no entanto que
este aumento não foi suficiente para compensar a diminuição americana. Entre 2006 e
2007, a produção mundial caiu de 235 para 220 milhões de toneladas acusando uma
redução de 6%. Isto confirma que outros países também diminuíram suas produções de
soja, buscando uma maior produção de milho (USDA, 2008d).
Ao tratar-se de consumo de grãos e oleaginosas, a China deve sempre ser
considerada. A China tem, sistematicamente, conseguido aumentar sua produção de soja.
Somente no período de 2003 a 2007, a importação desta oleaginosa aumentou em
aproximadamente 212%, sendo responsável por 80% sobre o incremento nas exportações
mundiais (USDA, 2008d).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
140
O farelo de soja no ano de 2007 contou com uma produção mundial de 162 milhões de
toneladas e, em 2003, de 129 milhões, 26%, o que evidencia maior consumo na alimentação
humana e animal. Entre 2005 e 2007 a China foi responsável pelas alterações observadas no
cenário internacional em relação ao aumento do consumo de farelo de soja, com incremento de
34%. A importação chinesa do grão, no entanto, fixou-se em 80%. Os chineses optam pela
importação da soja, utilizando-a e a seu óleo na alimentação humana (USDA, 2008d).
O soja, com finalidade na alimentação humana e animal, deve ser avaliado no
contexto como fonte produtora de biodiesel. Nos últimos anos, a produção de biodiesel
vem aumentando, o que força a procura de soja para um fim antes pouco considerado.
Como podemos observar, os biocombustíveis concorrem juntamente com a
alimentação animal, com os alimentos. O futuro dos grãos para a alimentação humana, por
esta ordem de competição, fica assim seriamente comprometida. Contudo, observa-se, por
outro lado, apoios, como os manifestados pela Organização dos Estados Americanos, à
produção de Biocombustíveis nas Américas, confrontando-se com iniciativas como as do
Governo da China, quando proíbe a utilização do milho à produção do etanol.
Oficialmente, a Food and Agriculture Organization aponta para a inflação de grãos como
conseqüência de suas utilizações à geração de energia combustível.
Contudo, cresce no mundo a utilização das áreas de produção agrícola alimentar
com fim no milho, cana-de-açúcar e soja, objetivando sobretudo a elevação de divisas a
partir das indústrias de combustíveis e ração animal.
Sob tais embasamentos teóricos, firmam-se neste capítulo, tais elementos à
somarem às Causas da Fome no Mundo. Paralelamente, como à produção de
biocombustíveis e etanol fazem-se indispensáveis a utilização de áreas cultiváveis,
recursos, maquinárias, transportes, armazenamento, mão de obra agrícola, insumos,
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
141
passam estes a contar com peso duplo na problematização alimentar, visto serem todos
usados sem efetivamente destinarem-se à alimentação humana.
Logo, os biocombustíveis e ração animal contribuem dobradamente à falta de
alimentos no mundo. Isto, por deslocarem às suas produções e comercialização a infra-
estrutura necessária capaz de disponibilizar alimentos a um mundo faminto, fragilizado
também por sistemas econômicos complexos, interdependentes e incompletos.
4.7. Fralgilização dos Sistemas Mundiais
Não poderíamos deixar de contemplar o tema fragilização dos sistemas mundiais,
dentre os quais, a Crise Econômica Americana de 2008 ganha relevância, por repercutir
sobre tais sistemas em decorrência da desvalorização das matérias primas agrícolas, sob a
óptica do comércio internacional.
4.8. Crise dos EUA Desvaloriza Matéria-Primas
Segundo a Agência Estado (2008) algumas commodities brasileiras em 2008
encontravam-se enfraquecidas devido a crise americana.
O agravamento da crise norte-americana de 2008 reflete-se no mundo, afetando os
preços das matérias-primas, commodities.
Ao acentuarem-se as quedas das cotações das matérias-primas agrícolas e
industriais comercializadas no mercado internacional os países mundiais passaram a
conviver com a eminência do risco de verem suas vendas externas estagnarem ou mesmo
caírem em relação aos valores dos anos anteriores.
O Brasil, particularmente, em 2008, interrompe um ciclo de oito anos de
crescimento consecutivo das exportações.
Segundo o site G1 (2008), disponível em www.g1.org.br de acordo com o índice
elaborado pelo Commodity Research Bureau, dos Estados Unidos, uma das principais
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
142
empresas de pesquisa e análise de commodities no mundo, as cotações desses produtos
perderam sustentação depois que a crise nos EUA se disseminou pelos mercados mundiais.
"Os preços de algumas commodities exportadas pelo Brasil já dão mostra de
enfraquecimento", diz Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores (2008 online).
Essa perda de sustentação sobre as matérias-primas agrícolas, a exemplo do Brasil,
tem ocorrido sobretudo nos países sudesenvolvidos e com maior intensidade nos pobres,
levando o mundo a conviver com ações extremas de desespero, como saque de alimentos,
em busca da sobrevivência.
Segundo Silveira, o preço da soja, principal commodity agrícola negociada pelo
Brasil no mercado global, apresentou em 2008 alta de 9% na média de janeiro de 2008.
Contraditoriamente, alguns países se beneficiam da crise, como o Brasil, enquanto em
outros eleva-se, não o superávit. Mas, isto sim, a tensão, pela fome.
4.9. Fome Causa Tensão no Mundo
A crise financeira internacional deflagrada pelo setor habitacional dos EUA e a
elevação da fome em decorrência da inflação próximo a 86% sobre alimentos entre 2006 e
2008 gera tensão no Mundo, preocupando ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco
Mundial, Bird.
Segundo o presidente do Banco Mundial Robert Zoellick (2008), entre os anos
2006 e 2008, os preços dos alimentos subiram 86% devido, principalmente, ao
crescimento da demanda causado pela China e Índia, pelas secas atribuídas ao
aquecimento global e pela concorrência dos biocombustíveis.
Diante as pressões supra, alencadas por Zoellick, o mundo passa a voltar-se para os
transgênicos, como alternativa em grandes escalas alimentares. Isto, por possibilitarem
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
143
maior e melhor produção por hectare plantado, minimizando custos, principalmente ao
pequeno produtor.
4.10. Transgênicos como Alternativa à Alimentação Mundial
Paralelamente à crise inflacionária mundial sobre os alimentos, são observados
grandes incentivos à produção de transgênicos, com fim a elevação produtiva de alimentos
à demanda crescente seguida de pressões dos grandes exportadores, liderados pelo Brasil,
para uma liberalização do comércio agrícola, com o fim dos subsídios dos países ricos.
4.11. Protestos e Saques de Alimentos no Haiti e Países Africanos
Nos dias que antecederam a 14 de abril de 2008, desencadearam-se violentos
protestos no Haiti. Observaram-se ainda distúrbios e saques em países africanos. Na
reunião de cúpula da Índia e África, ambas solicitaram às Nações Unidas empenho em
busca de maior segurança alimentar (Robert Zoellick 2008).
Marcos Oliveira (2008), vice-presidente de Estudos e Planejamento da ABIFINA,
na 13 edição da revista Facto, cita René Dumont, em busca de resposta à crise mundial de
alimentos: “Alimentos estão sendo transformados de alguma coisa que se cultiva para
comer em alguma coisa que se compra, vende e manipula” (René Dumont, por Marcos
Oliveira, online).
Na visão de Oliveira (2008), morreram milhares de africanos antes que a morte dos
primeiros americanos e europeus vitimados pela Aids despertasse o Ocidente para a
gravidade do problema, obrigando a comunidade científica, seguida pela industrial, a
lançarem-se em busca de soluções para conter a disseminação e a mortalidade causada
pelo vírus. Da mesma forma tem ocorrido com a problematização em relação a fome.
Há muitos anos morrem milhares de pobres nas nações periféricas do globo. Na
África, milhões morrem todos os anos por desnutrição e fome. Porém, somente após
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vivenciar o crescimento da desigualdade nos EUA, pelo agravo do problema local da
desnutrição, em decorrência de fatores conjunturais que elevaram os custos da alimentação
também para os países centrais, é que vimos esta questão, da disponibilidade de alimentos,
alcançar manchetes na grande mídia internacional, começando-se a tratar a problematização
da fome com maior comprometimento e responsabilidade (Oliveira, 2008).
Segundo Oliveira (2008), a fome, além dos países pobres, como Burundi, Rwanda
ou Bangaladesh, acentuou-se também nas classes desfavorecidas de países ocidentais,
evidenciando a eminente possibilidade de instabilidades sociais, lançando claro sinal
amarelo nas salas dos governantes mundiais. Inúmeras agitações em decorrência da fome
foram observadas ao longo de 2007 e 2008, sempre, primeiramente nas periferias do
mundo. No mês de abril de 2008, o diretor geral da FAO, Jacques Diouf, segundo Oliveira
(2008), declarou que os motins da fome não demorariam a manifestarem-se. Registraram-
se em 2008, manifestações sob a bandeira da fome em grandes cidades, como: Camarões,
Abdijã, Egito e Senegal.
Sob as advertências do Programa Alimentar Mundial, PAM (2008), encontramos
uma segurança alimentar na Mauritânia, não superior a 30%, razão de agitações e os
protestos populacionais. Calderón, presidente do México em 2008, o programa Vivir
Mejor, de disponibilização de recursos financeiros às populações pobres, objetivando
compensar as altas incontroláveis dos alimentos. Nos asiáticos, ao sudoeste, os quais têm o
arroz como alimento básico, a situação agravou-se em muito ao longo de 2008, com
muitos focos de protestos em evidência da contínua intranquilidade.
Segundo Oliveira (2008), as previsões do órgão do Congresso americano
responsável pelo orçamento, apontaram para 2009 com falta de otimismo, onde os
americanos constantes no programa de ajuda alimentar, através do selo alimentar - food
stamp, chegariam a 28 milhões. Com orçamento de aproximados US$ 300 bilhões em
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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cinco anos, vão necessitar minimamente US$ 10 bilhões anuais para contrapor o balanço
com o aumento do número de assistidos e dos crescentes níveis de preços dos alimentos.
Em 2008, a cesta básica do programa americano de assistência, contou com um aumento
de 6,5% em relação aos 12 meses anteriores.
Apontar para responsáveis pela crise alimentar mundial foi bastante simples em
busca de culpados. Na grande mídia internacional, segundo Oliveira (2008), vimos e
ouvimos afirmações de serem os chineses e indianos os responsáveis pela fome, devido ao
crescimento de suas populações, ao passarem a comer mais e melhor.
Ainda, segundo o pesquisador, os brasileiros recebem indicações de
responsabilidade sobre os problemas alimentares mundiais, sob alegações de haverem
parado de produzir alimentos, transformando o país em um grande canavial à produção de
etanol. Como responsáveis, na mídia mundial, figuram também os americanos, sob
alegações de que o milho que se destinaria à alimentação, estar sendo usado na produção
de álcool combustível. Circulam outros culpados na mídia, como a Europa, onde o
biodísel, como fonte de energia, desvia todo o óleo alimentar. Ainda, como culpados pela
crise alimentar de 2008, apontado pela grande mídia, encontramos a seca australiana,
reduzindo a colheita do trigo. Ou, as inundações que dizimaram as colheitas de arroz,
diminuído a oferta. Por fim, o culpado é o petróleo, devido a elevação dos preços dos
transportes. Isto, entre tantos outros culpados, apontados pela mídia mundial.
Inegavelmente, segundo Oliveira (2008), a somatória de fatores conjunturais
desempenham papel relevante à crise de alimentos e consequente escalada dos preços.
Contudo, trata-se de uma análise socioeconômica deficitária, apontar para os fatores supra,
como únicos responsáveis e causas do problema alimentar que assolou a humanidade a
partir de 2008. Deve-se maior análise a evolução estrutural da produção de alimentos
enquanto sistema, sobre os quais, atuam os fatores conjunturais.
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146
Na história civilizadora humana, os desequilíbrios entre oferta e demanda de
alimentos ocasionados por fatores conjunturais não acrescem quaisquer novidades.
Contudo, deve-se lançar um olhar mais profundo, capaz de ultrapassar as reações
imediatistas desencadeadas pela evidência de focos de latência, com objetivos em
resultados de curto prazo tão somente.
São necessários, isto sim, maiores domínios de conhecimentos das várias estrutura
de produção agrícola, para que possam ser utilizadas em redirecionamento à redução de
eventuais efeitos de origens adversas, que resultem em desequilíbrios alimentares
(Oliveira, 2008).
Ao longo da história humana, os núcleos populacionais procuraram estabelecer
fontes próprias à produção de alimentos, onde os recursos e comércio internacional
ocuparam funções complementares.
Nem mesmo o processo de urbanização que se acelerou acentuadamente nos
tempos modernos foi capaz de alterar substancialmente esse quadro. É claro
que a expansão colonialista européia introduziu um componente novo, a
produção de alimentos nas colônias, mas esse foi um fenômeno que teve
maior significado nos primeiros tempos da era colonial e muito
especialmente para a Inglaterra em função de suas limitações insulares que
contrastavam com a vastidão dos espaços na América do Norte, Nova
Zelândia e Austrália (Oliveira, 2008, online).
Segundo Oliveira (2008), a segurança alimentar européia sempre foi razoavelmente
balanceada entre produção e importações de alimentos. Estes, tradicionalmente provindos
de regiões próximas como: “(...) a franja mediterrânea da África ou dos países de Leste
europeu” (on line). Entre as principais importações encontrávamos especiarias ou
matérias-primas, agrícolas ou minerais, como: “algodão, linho, juta, açúcar, cacau,
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madeira, ferro, diamantes, ouro, cobre, estanho, guano” (online). Matérias-primas estas
que foram se tornando mais e mais importantes à medida que a Europa, seguida pelos
Estados Unidos, aceleravam suas entradas na era industrial.
A utilização dos vastos espaços coloniais para a produção de matérias-primas
necessárias ao esforço industrial ocidental introduziu um fator de desequilíbrio na
segurança alimentar das colônias à medida que as melhores terras eram destinadas à
monoculturas de exportação, como o algodão, café, cacau e açúcar. Como também, pela
degradação de vastos ambientes naturais, em buscas e explorações minerais.
Dessa forma, cada vez mais, a agricultura à produção de alimentos foi perdendo
espaços, colocando em risco a segurança alimentar dos países com menores capacidades
de produção agrícola, os quais, passam a submeterem-se à maiores importações de gêneros
alimentícios com fim ao equilíbrio interno alimentar (Oliveira, 2008). O que acarreta
maior endividamento, fragilizando, ainda mais, as nações pobres.
Toda esta transformação, a que se refere Oliveira (2008), sobretudo estrutural,
segundo este autor, começou a ter efeitos em um colonialismo tardio. Por outro lado, a
transição à fase neocolonialista, característica da primeira metade do século XX, não
modificou o panorama, agravando-se substancialmente na transição para a fase seguinte,
evidenciada na era do pós-colonialismo, quando se observa sensível perda de
exclusividade da governança global pelos poderes de governos constituídos em nações.
Isto, sobretudo, pela força natural crescente impositiva dos grandes grupos, organizações,
empresas e indústrias internacionais (Oliveira, 2008).
Como exemplo de organizações culturais que passam a estabelecer vínculo ativo
com a vida mundial, citamos a criação da Academia Mundial de Relações Internacionais,
Amunri e, a Academia Mundial de Direito Internacional, Amundi, fundadas em 2009,
tendo como mantenedora, a Academia de Letras do Brasil. Estas instituições contam em
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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seus quadros, com estudantes e professores dos cursos de mestrado e doutorado nestas
áreas, tendo por centro de união, a Universidad Autónoma de Asunción, no Paraguay
(ALB, 2009, online). Uma das primeiras ações dessas instituições em conjunto, encontra-
se ainda em estudos de fundamentação, onde, com fim à justiça internacional, propõem
acusação contra Jorge W. Bush junto ao Tribunal de Justiça Internacional, em decorrência
da elevação de 40 para 120 mortes anuais, na primeira década de 2000, de crianças com
menos de cinco anos, após os bloqueios e guerras contra o Iraque. Dessa forma, governos e
governantes das nações, a partir da organização da sociedade civil, passam a responder a
chamados de ordem, cujas competências anteriores a esse novo momento histórico de
governabilidade do planeta, somente aos Estados competia tais exigências.
Durante a 2ª Guerra Mundial, segundo Oliveira (2008), os EUA evoluíram a condição de
grande exportador mundial de alimentos. Situação esta que prolongou-se no período pós-guerra,
durante a fase de reconstrução das nações. Houve grandes avanços nas produtividades agrícolas
em decorrência do desenvolvimento e utilização de novas tecnologias, o que caracterizou-se
como, revolução verde. Os EUA contaram em anos sucessivos com grandes e notáveis
excedentes na produção de alimentos, tornando-se imperativo que parte dos excedentes fossem
destinados às exportações. “Ou se exportava ou se teria que diminuir a produção com o
conseqüente desemprego interno” Oliveira (2009, online).
A abundância norte-americana foi usada como atrativo mundial, levando o Fundo
Monetário Internacional, Breton Woods e o Banco Mundial, a levarem aos países
periféricos verdadeiras receitas de progresso e prosperidade:
(...) produzam matérias-primas úteis para a indústria que com a renda
gerada por suas exportações comprarão os alimentos de que precisam a
preços convidativos, pois eles serão produzidos com o melhor existente em
tecnologia agrícola” (Oliveira, 2008, online).
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Pode-se dizer que desde os anos 1980 uma centena de países com relações
comerciais com os Estados Unidos, resultando em mensuráveis e consideráveis prejuízos
culturas internas tradicionais de alimentação. Muitos países, sobretudo africanos, têm suas
economias diretamente condicionadas a exportação restrita de um ou dois produtos
agrícolas. Produções estas, que exigiram a quase totalidade das melhores áreas
agricultáveis, mão de obra, equipamentos e investimentos dos escassos recursos existentes.
Desviando-se assim o foco de produção local de alimentos com fim a auto-suficiência
nutricional. Segundo o relatório da ONU de 2008, “38 países em desenvolvimento
dependem de um único produto de exportação para a geração de 50% do total de suas
receitas externas” (Oliveira, 2008).
A receita difundida pelos Estados Unidos e instituições financeiras internacionais
em razão da super oferta existente nos anos 50 e 60, contou com considerável reforço da
ideologia neoliberal hegemônica do início dos anos 80. Contudo, expectativas geraram-se
sobre políticas de equilíbrio de mercados a partir da natural lei de oferta e demanda, as
quais foram frustradas, mesmo sob máximas de uma série de macroestruturas visando
controlar produções e preços ditados pelo Acordo Internacional do Café, Trigo e Cacau.
Dessa forma: “O mercado foi liberado da influência dos Estados para se tornar refém dos
interesses das grandes empresas responsáveis pelos fluxos de comércio internacional”
(Oliveira, 2008, online).
No relatório de 2008 do Banco Mundial, segundo Oliveira (2008), embora o erro
da receita tenha sido reconhecido, tempo e sofrimento dos mais pobres é que corrigirão a
situação. A ação do Estado é essencial para corrigir imperfeições mercadológicas,
advindas da falência do modelo neoliberal, especialmente na agricultura, seus insumos e
comercialização dos produtos, onde as imperfeições mais se evidenciam.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Os onerosos subsídios e as barreiras protecionistas, que os países centrais
direcionam fortemente para os produtos tropicais, deflagram os problemas que, seguindo
curso, avançam pela concentração na produção e distribuição de insumos e finalizam na
comercialização da produção. Embora não exista dúvida quanto à enorme concentração
alcançada pelo setor, subsiste uma ferrenha controvérsia acadêmica no que tange à
oligopolização mundial das commodities agrícolas,
O autor enfatiza o fato de que nas commodities alimentares, algumas poucas
empresas multinacionais, cerca de 60%, realizam o comércio internacional. Exemplifica
que no comércio internacional: quatro controlam 60% de café, três o de chá, duas detém
50% do comércio de bananas e, em 2002, apenas duas companhias dominavam 75% do
comércio de grãos internacional.
Oliveira (2008) estende o problema aos insumos, onde seis empresas são responsáveis
por cerca de 80% do comércio mundial de pesticidas, assim como no comércio internacional de
sementes o controle é de não mais do que três empresas e no setor de fertilizantes embora menor,
o controle é muito expressivo, especialmente em potássio.
Ainda segundo Oliveira (2008), é “ridículo” afirmar que os responsáveis pelo
aumento do preço dos alimentos no mundo são: a expansão dos canaviais brasileiros ou o
uso da soja para biodiesel e vai além dizendo haver explicações suficientes de que no
Brasil a extensão das áreas agricultáveis permitem manter a produção de alimentos,
mesmo aumentando a produção de biocombustíveis.
São profundas as raízes desencadeadoras da problematização sobre o
abastecimento alimentar mundial. Existe uma estrutura concentrada de distribuição dos
alimentos, com técnicas, equipamentos e insumos excessivamente monopolizadas por
países detentores dos capitais. Isto, não apenas em relação aos alimentos, como dos demais
produtos industriais. Sobretudo, aos fatores financeiros são atribuídas as variáveis
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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deflagradoras da crise, devendo-se à elevada especulação sobre as commodities agrícolas
as principais causas.
Segundo a ALB noticiou-se em 2008 na mídia internacional que cerca de 40% dos
contratos futuros lançados na Bolsa de Chicago estavam sendo adquiridos por fundos de
pensão, num claro movimento de financeirização da produção agrícola. Alimentos estão
passando de bens essenciais para ativos financeiros com os quais se especula
investimentos de alto retorno econômico, como previu René Dumont na Década de 1970.
Observa a Academia de Letras do Brasil (2008), que uma operação sobre contratos
futuros de trigo e soja, chega a render aos especuladores, à curtíssimos prazos, e mesmo
em apenas um único dia, renda muitas vezes superiores à percebida pelos produtores, com
meses de trabalho, árduo sobre os arados. Sem considerarmos os riscos naturais de
variações súbitas de clima, pragas e germinação deficitária.
Não obstante, as crises mundiais, de 2008 e anteriores, despertaram consciências
sobre as deficiências do sistema agrícola de produção alimentar global. A nação brasileira,
ainda que não caracterize a maior concentração do problema, haverá de canalizar esforços
sobre medidas mais estruturais e menos paliativas à solução de problemas eventuais. Isto,
se objetivar um papel de maior relevância e influência em busca das soluções globais ao
problema alimentar.
O Brasil conta com condições favoráveis à contribuir, como um manancial de água
doce de grandes proporções. Também as terras agricultáveis são abundantes. A incidência
de sol está entre os melhores padrões mundiais. Somando assim, em excelentes condições
à elevação da produção agrícola.
Contudo, para o alcance do equilíbrio entre ganhos financeiros e necessidades
sociais, medidas e intervenções à redução das influências negativas das imperfeições de
mercado são prementes. Em 2008, tais imperfeições são observáveis, sobretudo devido a
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distribuição de terras e financiamentos agrícolas, cabendo urgentes discussões saneadoras,
redimensionativas e redirecionativas de esforços sobre o problema agrícola.
Os interesses daqueles que controlam os fluxos sobre as fronteiras agrícolas,
insumos, somados ao deficitário sistema portuário e corredores de escoamento, aliados às
políticas de liberação de sementes transgênicas e plantas modificadas geneticamente, em
resistência à produtos específicos, são marcos a serem cuidadosamente discutidos e
aperfeiçoados.
O Brasil tem uma área de assentamentos quase igual à área de cultivo agrícola
extensivo. Contudo, segundo a ALB (2008), é extremamente improdutiva. Falta uma
política adequada de suporte para permitir a atuação eficiente do pequeno produtor, que
sabidamente tem uma importância crucial na produção de alimentos.
Ainda, segundo a ALB (2008) fatores elementares ao amplo equilíbrio do
desenvolvimento agrícola, como as terras, necessitam sair da linha direta de investimentos
especulativos. Deixando de servir aos interesses únicos de lucro sobre as áreas de valor
potencial de produções, substituídos pelo mero capital improdutivo, de circulação
inoperante aos anseios alimentares mundiais, são também prementes de regulações
governamentais. Pois, perdem-se os controles ao eficaz fim de produção de alimentos,
somando a uma acumulação improdutiva de caráter meramente financeiro-especulativo.
No Centro-Oeste e também na Amazônia brasileira tais práxis são constantes e evoluem a
passos largos. Na palavras de Oliveira (2008)
Limitar a produção de biocombustíveis usando como matérias-primas soja e
açúcar de cana é um erro. Há que se ganhar produtividade através do uso de
material celulósico para a produção de álcool e as pesquisas neste sentido, no
Brasil, andam meio atrasadas em relação ao resto do mundo (online).
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Oliveira (2008) observa que o Brasil tem condição reais de elevar a oferta e
produção de fertilizantes, além dar suporte à produção interna de sementes e defensivos
agrícolas. Assim, segundo Oliveira, reduzirá as pressões exercidas pelos preços ditados
pela oligopolização desses mercados.
Se for preciso um argumento monetarista para realçar a necessidade de
aumentar a oferta de alimentos basta dizer que 1/3 da atual inflação
brasileira é decorrente do aumento do preço da cesta básica, do feijão com
arroz, sobretudo Oliveira (online).
Em relação a crise e a possibilidade de otimizá-la, Oliveira (2008) faz referência as
crises como situações de mercados, onde àqueles com maior capacidade criativa,
conseguem abstrair, sob a óptica pragmática, vantagens sobre as adversidades, colocando
dúvida quanto ao Brasil saber maximizar tais interesses.
A humanidade, antes de pragmatismos, necessita de ações reais, sob ideais e
solidariedade. Tanto que o próprio Bird reconhece e lança apelos ao mundo.
4.12. Banco Mundial Faz Apelo Para Reinício de Debates
4.12.1. Aumento de Produção Pode Reduzir Preços de Alimentos
Em avaliação sobre os altos preços dos alimentos, a vice-presidente do banco
Mundial, Bird, doutora Pâmela Cox, quando em visita à Lima, capital do Peru, em maio de
2008, acredita que os preços não cederão até aproximadamente o ano de 2016.
Oportunidade em que solicitou maior brevidade à finalização da Rodada de Doha:
"O problema não vai sumir. É preciso aumentar a produção para resolver",
atribuindo à Rodada de Doha possibilidades de maiores oportunidades a uma estabilização
dos mercados a partir de assinaturas de acordos internacionais à redução dos preços: "Para
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que os preços caiam, é importante finalizar a Rodada Doha, da Organização Mundial do
Comércio e gerar mercado mais competitivo" (Jornal do Brasil, 2008, online).
Para Pâmela, o crescente aumento de preços dos alimentos no comércio internacional
tem como uma das principais causas a demanda, também crescente em países como China e
Índia, além do concorrente incentivo à produção de biocombustíveis. Apontando Pâmela, para
o biocombustível, sobretudo de milho, que sabidamente, encontramos nos Estados Unidos, seu
maior produtor. A vice-presidente do Bird fez referência aos fertilizantes, apontando para os
preços altos como um fator de elevação dos preços dos alimentos. Ainda, fez menção aos
problemas enfrentados pelos Estados Unidos e Austrália, em relação aos sérios problemas
climáticos, somando a crise mundial de alimentos.
Pâmela na ocasião, desaconselhou medidas de contenção sobre os preços pelos
governos e limitação das exportações, bem como, na visão da vice-presidente, não vê uma
medida adequada a incidência ou elevação de impostos sobre importações. Considerando,
tais medidas, como não recomendáveis. Contudo, Pâmela considerou aquele momento como
de união e fortalecimento para a América Latina: "a América Latina está muito mais
fortalecida agora", mesmo diante as considerações de o Bird haver reduzido 4,5% as
previsões de crescimento para a região.
No entanto, o chefe dos conselhos econômicos da Casa Branca, Edward Lazear
(Jornal do Brasil, 2008), é mais otimista, acreditando que os preços altos dos alimentos
deveriam persistir por apenas dois ou três anos, ou seja: de 2008 à 2010 ou 2011. Isto da
premissa de que perduraria tão somente até a recuperação e reabastecimento dos estoques
mundiais que se encontravam baixos em 2008, quando de suas declarações. Em oposição as
declarações da vice-presidente do Banco Mundial, refuta totalmente a as considerações que
o milho destinado à produção de biocombustível desempenhe papel que possa influencias
para cima os preços dos alimentos.
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O Fundo Monetário Internacional, FMI, por sua vez, através de seu diretor-gerente,
Dominique Strauss-Kahn, previra desaceleração para a economia global, dizendo não
enxergar quaisquer sinais de recuperação. Porém, mesmo referindo-se a estes sinais
distantes, fora mais otimista que Pámela, vice-presidente do Bird e Edward Lazear, chefe
dos conselhos da Casa Branca. Pois, apontou para 2009 como ano de retomada da
aceleração da economia mundial.
Segundo Strauss-Kahn, parte significativa da crise econômica, já teria passado em
2008, mas não o suficiente para conter a desaceleração da economia que, segundo o
mesmo, não se reverteria antes do ano de 2009.
No entanto, o que se observou ao longo de 2009, mesmo com grandes
investimentos dos governos norte americanos e europeus, na ordem de 1 trilhão de euros e
900 bilhões de dólares, foram, entre outras consequências, o fechamento de bancos e
indústrias, desemprego em massa, elevação em aproximados 100 mil o número de
famintos no mundo, sem nenhum real sinal de recuperação da capacidade média alimentar
da humanidade (ALB, 2009, on line).
Segundo a ALB, a crise econômica e financeira teve seus primeiros sinais em
janeiro de 2007, no momento acentuou-se a inadimplência de hipotecas de risco, subprime,
caracterizando-se como a oferta de empréstimos para compradores com elevadíssimo risco
de crédito nos Estados Unidos.
Os pagamentos de tais títulos deixaram de se fazer e isto acarretou prejuízos da
ordem de bilhões de dólares à bancos, empurrando para baixo os mercados de ações. Nos
primeiros seis meses de 2008, observou-se um crescimento da economia em apenas 0,6%,
mantendo-se elevados, no entanto, os preços dos alimentos.
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4.13. A FAO Alerta que o Preço dos Alimentos Permanecerá Alto
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, FAO, através
de seu diretor geral, Jacques Diouf (2008), mais objetivamente que as autoridades
mundiais estudadas no parágrafo anterior, alertou para a permanência elevada dos preços
dos alimentos, ocasião em que apelou para que fosse aumentada a produção agrícola
mundial, atribuindo tal constância a mudanças climáticas, crescente demanda de
biocombustíveis, baixos estoques de alimentos mundiais e, elevação da demanda nos
países emergentes, citando a China, Índia, Indonésia e Brasil, responsáveis pelo maiores
contingentes populacionais do planeta.
Diouf em 2008 alertou para a não resolução do problema sem o aumento da
produção, pedindo aos líderes mundiais que se encontrariam ainda naquele ano no Japão,
que enfrentassem a questão sugerindo maiores investimentos na agricultura e em rodovias
nas regiões rurais para escoamento da produção, e que discutissem o armazenamento, uso
e controle da água potável.
“No curto prazo, é importante providenciar alimentos aos países mais atingidos e
tentar salvar o plantio para as próximas safras, ao permitir que os agricultores tenham
acesso adequado a sementes, fertilizantes e ração animal” afirmou Diouf.
O aumento de preços dos alimentos no mundo inteiro no primeiro trimestre de
2008, decorreu, afirma Diouf (2008) da combinação dos aumentos de preço do petróleo e
combustíveis, do crescimento da demanda, das variações climáticas severas, do aumento
crescente da produção de biocombustíveis e da especulação no comércio. Fatores estes que
culminaram em protestos populares na África, Ásia e América Central, reforçando a
expectativa de que a subnutrição e a instabilidade econômica tomem proporções
assustadoras. Embora os protestos tenham partido dos países pobres da África, Ásia e
América Central, Diouf alerta que o problema excede a eles. "Esses preços terão impacto
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não apenas nos países pobres e em desenvolvimento, mas também nos países
desenvolvidos, por causa da inflação” (online).
Informações de agências internacionais, noticiadas pela ALB (2008) garantem que o
chefe da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques
Diouf, em 2008, discutiu o apoio da FAO aos países europeus e asiáticos fortemente afetados
tanto pelos altos preços dos alimentos quanto pelas mudanças climáticas na região, buscando,
como outros organismos internacionais, meios a ultrapassar a carência alimentar que assola o
planeta em 2008. Uma dessas organizações também comprometida e a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico [OCDE].
4.14. OCDE Aconselha Corte de Subsídios
No relatório 001/2008 da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
OCDE, a organização diante da alta mundial dos preços de alimentos faz um apelo aos países
ricos à que reformulem, urgentemente, as políticas agrícolas protecionistas.
As medidas que costumam causar distorções nos mercados, com o aumento de
preço dos alimentos, deixaram de ser eficazes nos problemas de receita dos agricultores,
segundo o relatório.
Em 2007, a ajuda aos produtores dos países da OCDE chegou a US$ 258 bilhões -
apenas US$ 1 bilhão a mais do valor concedido em 2006, e embora tenha se mantido
estável de um ano para outro, 2006/07, o valor equivalente a 23% da receita dos produtores
ficou 3% abaixo do ano anterior e 5% abaixo de 2005.
Histórica e estatisticamente, desde 1980, o menor nível de ajuda foi o de 2007,
devido, principalmente, pelo aumento dos preços globais das commodities, atribuiu o
relatório, citando, para fins de comparação, o nível de 37% entre 1986 e 1988. "(...) as
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medidas dos países da OCDE para manter os preços geraram transferências menores,
resultando em uma redução total da ajuda aos produtores."
Para a OCDE, segundo o Relatório (2008), "não aproveitar as oportunidades para
reformas, abertas com o momento de alta nos preços dos alimentos, significará prolongar a
vida de políticas que criam desequilíbrios de mercado” (online).
Ao analisar-se a inflação dos alimentos verifica-se que o Relatório/08 soma as
discussões sobre políticas protecionistas na questão do aumento dos preços de alimentos.
Segundo a entidade de ajuda humanitária Oxfam Internacional (2008), uma das
organizações não governamentais de maior atuação mundial de combate à pobreza e à fome:
“desmantelar os subsídios agrícolas dos países ricos ajudaria a conter a alta dos produtos
agrícolas” (online). Para a OCDE (2008), as altas do setor agrícola se devem a vários fatores:
tendências de aumento na demanda por alimentos nos mercados emergentes, preços mais altos
de energia e redução temporária de oferta de mercados-chave por conta de secas.
Além disso, afirma o documento da OCDE: "uma maior atividade especulativa e
políticas de estímulo à mudança no uso de determinadas colheitas para produção de
biocombustíveis foram outras fontes de aumento dos preços das commodities" (online).
Houveram avanços segundo a organização, em relação ao desmantelamento das políticas
protecionistas agrícolas.
Como exemplo, aponta a organização, foi a reforma do açúcar pela União Européia.
Ainda, a aprovação de lei agrícola nos Estados Unidos, entre outras pequenas mudanças no
Japão e Coréia do Sul.
Entretanto, "as reformas têm sido desiguais de acordo com cada país", diz o
mesmo documento. A OCDE observou a história da agricultura, como: “um capítulo de
dificuldades contínuas nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do
Comércio, junto com o acesso a serviços e mercados não agrícolas". Em Doha, pode ser
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considerado, em meio a um processo multilateral lento, que os países da OCDE iniciaram
novos acordos bilaterais e também regionais de comércio.
A OCDE resumiu como em um balanço geral a problematização agrícola mundial,
em uma única frase: "as políticas que distorcem o comércio continuam a caracterizar as
políticas agrícolas de muitos países membros desta organização" (BBC Brasil, pelo
Estadão.com, 2008). Além da FAO e OCDE, a União Européia, EU, busca meios para
aliviar a crise alimentar.
4.15. UE Propõe Fundo de US$ 1,5 Bilhões Para Aliviar Crise Alimentar
A agência Estado (2008), noticiou que a União Européia, UE, propôs a criação do
fundo emergência de 1 bilhão em euros com a finalidade de ajuda à países pobres no
combate a crise mundial alimentar. Este fundo seria distribuído em dois anos sucessivos,
2008 e 2009. A proposição previa a criação do fundo, a não utilização de recursos do
orçamento agrícola do ano fiscal de 2008. José Manuel Durão, presidente da Comissão
Européia, disse que o fundo teria como objetivo a ajuda, sobretudo das nações africanas,
com fim à estabilização dos mercados: "O impacto dos preços elevados dos alimentos é
particularmente severo para as populações mais pobres do mundo", disse Durão.
Segundo o mesmo, sem essa iniciativa de ajuda, por parte dos países europeus,
seria colocado em risco os Objetivos do Milênio, ODM, da ONU, de redução em 50% a
pobreza mundial até 2015, o que implica sabidamente, no aumento das tensões entre as
nações africanas pela falta de recursos. (Agência Estado, 2008, online).
O dinheiro do fundo, quando de sua aprovação pelos governos do bloco e
Parlamento Europeu, seria utilizado em programas de emergência de agências da ONU,
como exemplo, o Programa Mundial de Alimentação e a Cruz Vermelha Internacional.
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Ainda, na elevação da oferta de fertilizantes e sementes, objetivando intensificar o cultivo
de alimentos durante os anos de 2009 e 2010.
A responsável pela pasta de Agricultura e Desenvolvimento Rural na Comissão
Européia, Mariann Fischer Boel, disse ser importante os países em desenvolvimento virem
a receber maiores possibilidades de ajuda comum.
Mariann Boel da Comissão Européia, sob essa problematização, faz ainda a
seguinte afirmação: "Os preços mais elevados dos alimentos podem estimular a produção
nestes países" (online).
A expectativa da Comissão, segundo Mariann, é de que o fundo influencie
positivamente, aumentando as produções agrícolas nos países beneficiados, melhorando a
segurança no abastecimento e reduzindo a desnutrição, forçando a queda da inflação
provocada pelos preços dos alimentos. No entanto, mesmo com esperanças o Bird aponta
para alimentos caros, até 2015.
4.16. Preços dos Alimentos Continuarão Altos até 2015
Devido a demanda dos países em desenvolvimento, os preços dos alimentos devem
se manter em alta, até 2015, foi a avaliação de Robert Zoellick, Presidente do Banco
Mundial, Bird, em visita ao México em 2008 (2008, segundo a revista Época).
"Os níveis dos preços em 2015 serão mais altos do que em 2004, devido ao crescimento da
demanda dos países em desenvolvimento", declarou Zoellick, em entrevista coletiva, no
término de sua visita de dois dias ao México no ano de 2008.
Para Zoellik, uma possível saída para a alta dos preços dos alimentos, é que "haja
uma resposta da oferta para baixar os preços". Uma das maiores preocupações mundiais
são os preços altos dos produtos básicos alimentares, sendo contemplados com prioridade,
entre os temas centrais da análise de Zoellick junto às autoridades mexicanas.
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Em 2008, foi a primeira visita oficial de Zoellick à América Latina, desde que
assumiu a presidência do Banco Mundial, Bird, em julho de 2007. Pouco antes da
entrevista coletiva, foi assinado um empréstimo contingente, entre o Banco Mundial,
representado por Zoellick e o governo mexicano, representado pelo ministro da fazenda
mexicana, Agustín Carstens, no valor de 501 milhões de dólares, objetivando o combate ao
aquecimento global, em atendimento ao programa mexicano de Estratégia Nacional de
Mudanças Climáticas.
A preocupação com os preços dos alimentos e com fatores, como o clima, qie
interferem na produção, são observadas em todos os extremos do planeta. A crise
financeira e alimentar, em abril de 2008, chegaram até mesmo ao produtor chinês.
4.17. Preços ao Produtor na China Sobem 8,1% em Abril de 2008
O Índice de Preços ao Produtor, PPI, da China, subiu 8,1% em abril de 2008. Isto,
em relação ao mesmo período de 2007, em decorrência dos preços de energia, segundo o
Escritório Nacional de Estatísticas, ENE, noticiado pela agência Estado, publicado no
PorkWorld, portal de suinocultura da América Latina (2008). Este aumento, registrado em
abril, segundo o ENE, manteve a incidência da aceleração dos nove meses anteriores.
Observou-se alta superior aos 8% registrados em março de 2008. O Índice de Preços ao
Produtor acumulava alta de 7,2% nos primeiros quatro meses de 2008 em relação a 2007.
Este índice é uma referência para a inflação, à medida que os aumentos dos preços ao
produtor são transferidos ao consumidor, ainda que o governo fixe e controle preços, como
ocorre com os da eletricidade e também com os derivados do petróleo.
Dessa forma, podemos observar as múltiplas causas que somam ao aumento da fome
no mundo. Seja pela elevação dos preços da energia na China, ou, como alertou em 2008,
Margaret Chan, da Organização Mundial de Saúde para o que denominou Crises Globais,
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pela somatória da crise dos alimentos, variações climáticas e a Gripe Aviária, que a
exemplo da gripe Suína que tomo a mídia internacional em 2009, chegando ao nível de
pandemia em declaração pública da OMS em junho de 2008, também a a gripe Aviária,
desde 2008, tem mantido-se no foco internacional das atenções. Em relação a gripe suína,
faz-se indispensável o comentário, em relação ao anúncio da criação de vírus, na mídia
mundial, exatamente no dia seguinte a declaração de pandemia pela OMS. Nas ruas,
esquinas e praças, também em meios não científicos de análise sociológica, não é
incomum encontrarmos explicações para a deflagração da gripe suína para contrapor-se a
grande repercução que vinha recebendo a crise econômica americana. O que não
encontramos, a priori, nenhuma comprovação científica de sustentação.
4.18. Alimentos, Clima e Gripe Aviária são Crises Globais
A crise alimentar, juntamente com as mudanças climáticas e possível pandemia de
gripe aviária observadas em 2008, foram e se mantém, ao menos até 2009, como três
grandes crises globais que ameaçam a saúde de milhares de pessoas, bem como, a
segurança do planeta. Isto, segundo Margaret Chan, diretora-geral da Organização
Mundial da Saúde, OMS, observe-se em suas próprias palavras: "As três crises globais
estão surgindo no horizonte. As três são ameaças à segurança mundial", (discurso, 61ª
Assembléia Mundial da Saúde). A assembléia constitui-se no órgão executivo da OMS, na
qual encontramos os responsáveis máximos de saúde de 193 países-membros (Agência
Efe, 2008, online). Chan lembrou que morrem por desnutrição, no mundo, todos os anos,
3,5 milhões de pessoas. Ainda, que as famílias pobres gastam entre 50% e 75% de suas
rendas com alimentação, concluindo: "Mais dinheiro gasto com alimentos significa menos
disponível para saúde" (discurso, 61ª. Assembléia MS).
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Como segunda grande ameaça, Margaret Chan, diretora-geral da OMS (2008) se
referiu as mudanças climáticas, acreditando que a mesma se evidenciará com maior
intensidade sobre os mais pobres. "Mais secas, inundações e tempestades tropicais
significam mais necessidade de ajuda humanitária". Adverte Chan que a comunidade
internacional necessita enfrentar a "um número crescente de refugiados ambientais (...) Os
refugiados ambientais se transformarão em uma nova onda de colonização, que
provavelmente acirrarão as tensões internacionais" (online).
Sobre a gripe aviária, no mesmo discurso de Chan (OMS, 2008) advertiu que "não
devemos descer a guarda" e que a comunidade internacional deve preparar-se para
enfrentar uma pandemia que se evidencia "da mesma forma que com a mudança climática,
pois todos os países serão afetados, mas de uma forma mais rápida e devastadora" (online).
Chan falou em forma de condolências e pesar sobre as catástrofes naturais ocorridas na
Ásia, sendo: a passagem em Mianmar do ciclone Nargis, como na China o terremoto
começou seu discurso manifestando condolências e pesar pelas duas catástrofes naturais na
Ásia, a passagem do ciclone Nargis por Mianmar e o terremoto em seu país natal, China:
"infelizmente é preciso estar preparado para mais crises humanitárias no futuro próximo e
imediato" (OMS, discurso, 2008).
Chan, afirmou na mesma ocasião que a saúde poderá colaborar e fazer frente às
essas crises, porém, somente em relação a gripe aviária será possível planejar políticas as
quais denominou de preparação e resposta. Solicitou Chan aos 193 países-membros que
apresentem "uma frente unida" (p. 21) na Assembléia Mundial da Saúde em relação ao
projeto de resolução sobre troca dos tecidos do vírus H5N1. Chan na mesma assembléia
falou que nos últimos anos, 2004 e 2008, deduzimos, a Indonésia, país com mais vítimas
humanas de gripe aviária, não aceitou compartilhar as mostras sem a garantia da
contrapartida de acesso à vacinas e outros benefícios. Advertiu que estas três grandes
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crises globais, clima, gripe aviária e falta de alimentos, afetam negativamente o
cumprimento dos Objetivos do Milênio da ONU, nos aspectos que se referem à saúde.
Lembrou Chan alguns progressos conquistados sobre doenças como a aids,
tuberculose e malária. Ainda, destacou o fato negativo de em duas décadas de esforços,
não registrar-se quaisquer avanços à equação da mortalidade materna, dizendo: "Encontro
pessoalmente esta falta de progresso vergonhosa. Por que a sociedade dá tão pouco valor
às mulheres, por que suas vidas são simplesmente esquecidas e descartáveis?" (p. 22).
No mesmo encontro Chan fez ainda a seguinte colocação: "os impostos sobre o
tabaco são a mais poderosa medida de controle" e, por isso, "não é surpreendente que a
indústria tabaqueira resista a eles ferozmente". Ainda, "essa indústria diz há muito tempo
que a OMS é a sua maior inimiga. E estou contente, cada vez mais, de fortalecer essa
reputação", argumentou (p. 23).
Chan destacou que houve avanços significativos nas negociações sobre propriedade
intelectual e remédios, manifestando a existência de um projeto e texto prontos, com 18
parágrafos, sem consenso, frente aos 200 iniciais.
Antes do discurso de abertura da assembléia, proferido por Chan, mais uma vez
Taiwan teve seu pedido para entrar na OMS como observador rejeitado.
Taiwan, com seu pedido pela segunda vez de ingresso negado como observador na
OMS, argumenta, sem sucesso ao seu ingresso, desde 1997, vendo-se excluída do sistema
mundial de saúde. A Organização das Nações Unidas (2009) não reconhece Taiwan como
Estado. Razão pela qual seu pedido de ingresso tem sido, por vezes seguidas negado. A
China à considera como uma mera província rebelde. Discordias estas, capazes de
repercutir sobre as relações comerciais e sistemas económicos mundiais.
A fragilização dos sistemas mundiais, sobretudo, em 2008, propiciada pela crise
imobiliária americana, atingindo os mercados mundiais com a desvalorização das matérias
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165
primas, gera tensão em muitos países, devido a falta de alimentos. Tensões semelhantes
foram também registradas nos anos que antecederam a Revolução Francesa, ocorrida em
1789, ano marco do Mundo Contemporâneo. Saques, protestos, agitações no Haiti e países
africanos em 2008, idênticos aos anos anteriores ao de 1789, fazem-se ouvir pelo mundo,
propiciando a abertura a caminhos alternativos, como os transgênicos. O Banco Mundial,
devido a crise alimentar, solicita a abertura de amplos debates mundiais (ALB, 2009).
Neste contesto, somente o aumento da produção de alimentos é apontada como
capaz de reduzir os preços. Contudo, nem mesmo a FAO, principal responsável pela
ordenação da alimentação mundial, acredita em estabilização, afirmando que os preços dos
alimentos permanecerão altos até 2015. A própria OCDE aconselha corte dos subsídios
agrícolas com fim ao equilíbrio mundial alimentar (FAO, 2009). O que sustenta a Causa
Política como principal artífice do problema.
As Causas Políticas de origem da fome no mundo podem encontrar no campo
jurídico assertivas de exigências a um fazer executivo mais comprometido e humano.
4.19. Aspectos Jurídicos Sobre a Problematização Fome no Mundo
Encontramos em Ramón Sixto (2009), professor de mestrado e doutorado da UAA,
em asunción, uma visão objetiva do direito sobre a Fome no Mundo.
Primeiramente nos diz Ramón Sixto, (disciplina de Direito Privado, janeiro, 2009).
(...) há que se entender a Fome em dois aspectos fundamentais quanto ao
enquadramento legal, podendo tanto ser objeto do Direito Territorial,
individual de cada país, por encontrar-se no âmbito de cada Estado, como
também ser entendido como de abrangência do Direito Internacional
Público, pela participação dos Estados em sua resolução.
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O Direito Internacional Privado, segundo Ramón Sixto, pode ser aplicado por conter
interesses mútuos entre pessoas de diversos países “(...) fome é um problema essencial que
afeta o direito humano primário do ser” por esta razão, pode ser arbitrado através do Direito
Internacional Privado.
Segundo Sixto Mora, o Direito Internacional Privado não dedica-se exclusivamente
a contenda e conflitos de interesses entre seres de distintos países, como também, detém-se
na busca de soluções de problemas comuns enfrentados pelos seres de dois ou mais países,
citando a fome como exemplo “(...) a fome é um problema universal” (cf). Contudo,
corrobora Ramón Sixto (jan. 2009) existem problemas de Jurisdição e soberania pela
aplicação do principio de territorialidade da lei. Através da assinatura de um acordo
internacional, primeiramente os Estados partes devem aceitar a jurisdição e competência
de um tribunal supraestatal, de competência internacional.
A partir da visão desenvolvida na cadeira de Direito Diplomático, ministrada pelo
professor doutor Linneo Ynsfran, entre12 e 19 de janeiro de 2009, no Mestrado em
Relações Internacionais, na Universidad Atónoma de Asunción, encontra-se em Ynsfran a
possibilidade da proposição de assinatura em celebração de acordo multinacional entre os
países com maiores índices de submissão de suas populações à fome, com foco em:
a - intercâmbio de ações à resolução do problema;
b - intercâmbio de tecnologias agrícolas;
c - isenção de impostos aduaneiros sobre produtos alimentares, máquinas, implementos e
fertilizantes agrícolas;
d - redução máxima interna de taxação sobre a produção, industrialização e
comercialização de máquinas, implementos, fertilizantes e produtos agrícolas;
e - intercâmbio de ações voltadas à saúde das populações;
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- campanha multimídica de plantio de mudas frutíferas em praças, logradouros, estradas
públicas, escolas e frente às residências;
f - acordo de cooperação ao desenvolvimento implementatório de grandes lavouras
públicas nacionais, com destinação do resultado dos saldos dos impostos sobre produtos e
tecnologias agrícolas, para aplicação na produção de alimentos, somando-se à
possibilidade de participação da imprensa, comércio, indústrias, populações e
departamentos de pesquisas agrícolas. Os resultados em grãos, destinando-se aos países
cooperados, objetivando a redução e mesmo a erradicação da fome.
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BIOCOMBUSTÍVEIS CONCORREM COM OS ALIMENTOS
Quadro Resumo
As crises de abastecimento energéticas
das fontes fósseis
busca de energias alternativas, como
etanol e o biodiesel.
Biocombustível (FAO, 2007) co-autor e co-responsável pela inflação
registrada nos preços dos alimentos
Produção de grãos Os biocombustíveis competem com
alimentos na sua produção, pois utilizam
grande parte da produção de grãos. Só o
etanol é responsável por 75% do aumento
do consumo e pelo uso de 50% dos grãos
para sua produção. A FAO acreditava que
nem mesmo uma produção recorde de
cereais no mundo resolveria os problemas
de consumo.
CRISE AMERICANA FRAGILIZA SISTEMAS MUNDIAIS
Commodity Research Bureau,
em www.g1.org.br
Com as quedas das cotações das matérias-primas
agrícolas e industriais comercializadas no mercado
internacional, o mundo passou a conviver com a
eminência da queda ou estagnação das vendas
externas, depois que a crise nos EUA se disseminou
pelos mercados mundiais, gerando tensão pela
elevação da fome em decorrência da inflação
próximo a 86% sobre alimentos entre 2006 e 2008
Autoridades internacionais e
pareceres
- vice-presidente doBird, doutora Pâmela Cox,
desaconselha medidas de contenção sobre os preços
pelos governos e limitação das exportações;
- chefe dos conselhos econômicos da Casa Branca,
Edward Lazear, os preços altos dos alimentos
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O Direito Privado e a Fome
Os Direitos Humanos e a
Fome
perdurará até a recuperação e reabastecimento dos
estoques mundiais (Jornal do Brasil, 2008);
- Fundo Monetário Internacional, FMI, através de seu
diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn, prevê a
desaceleração para a economia global com retomada
ainda em 2009;
- Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação, FAO, através de seu diretor geral,
Jacques Diouf (2008), alertou para a permanência
elevada dos preços dos alimentos, apelando para o
aumento da produção agrícola mundial;
- Margaret Chan, diretora-geral da Organização
Mundial da Saúde, OMS. (Agência Efe, 2008,
online).
A fome das populações pode transformar-se em
objeto de interesse do Direito Internacional Privado,
visto corresponder a interesses particulares de
abrangência em diversos países.
Acordos multinacionais podem somar à equação dos
problemas alimentares mundiais..
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MARCO METODOLÓGICO
O presente trabalho dedicou estudos às causas da fome no mundo contemporâneo,
identificando àquelas de maior repercussão sobre os seres, apontadas em relatórios e
documentos oficiais de organizações mundialmente reconhecidas e instituídas sob princípios
formais internacionais. Também, àquelas apontadas por pesquisadores da área.
Em 2009 o número de famintos no mundo, segundo as organizações e pesquisadores
estudados, ultrapassam a 1 bilhão de pessoas.
Buscou-se reunir informações sobre o problema em foco, a partir dos organismos
internacionais como FAO/ONU, UNICEF, BIRD, OMS e pesquisadores com credibilidade e
renome internacional no assunto de estudo, com fim à maior abrangência possível de estudos
voltados às causas da fome no mundo, possibilitando uma visão geral e bem direcionada ao
objeto da tese, de identificação daquelas de maior participação, enquanto causas humanas e
naturais, das origens que resultam em fome às populações mundiais. Tais informações foram
descritas ao longo de 4 capítulos, construindos sobre elos consequenciais, desde a própria
evolução do pensamento mundial de combate a fome, avançando-se às causas da fome,
apontadas sob as bases supra, de onde avança-se às consequências das mesmas.
Imediatamente, incursiona-se, também fundamentados em organismos internacionais e
pesquisadores da área, sobre as variáveis da fome no mundo. Donde, finaliza-se, buscando-se
também uma visão consequente dos sistemas económicos que repercutem sobre a fome
mundial.
A metodologia adotada sob o presente trabalho conta com enfoque qualitativo, e
técnica de análise de conteúdos. A linha de estudos seguidos define-se como qualitativa,
sob a máxima da revisão bibliográfica como método descritivo dissertativo.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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A fome inequívocamente pode ser tratada sobre limites geográficos distintos, como
também suas causas podem limitarem-se à origens distintas, como no Continente africano,
deflagrada pela alta corrupção e guerrílhas internas, enquanto no Sul da Ásia, debe-se
sobretudo às catástrofes naturais. Contudo, em nossos estudos, buscou-se descrever o conjunto
global dessas causas, viável pelo fenómeno da globalização, onde são encontrados com
facilidade, na rede mundial de computadores, relatórios anuais dos varios organismos
mundiais que dedicam-se a temas sociais sobre o planeta. Ainda, pelos resultados em livros, de
estudos de pesquisadores como Chonchol, Baad, Lebret, entre outros.
Sob a premissa supra de investigações caracteriza-se o foco descritivo, dissertando-
se sobre os conteúdos estudados, em um conjunto sequencial coerente e sistêmico,
utilizando-se a técnica de análise de conteúdos de textos e documentos selecionados e
fichados. Motivados em investigar e compreender tal realidade. Assim, os pressupostos e
fundamentações do presente estudo, apóiam-se em levantamentos documentais e
bibliográficos. A correlação das informações deteve-se na utilização de fichamentos sobre
os relatórios oficiais, livros selecionados e sites estudados.
Não obstante, as organizações supra citadas e autores, na ausência de pesquisa de
campo, por força de seus Relatórios Anuais Sobre a Fome no Mundo, em particular, o
Projeto do Milênio da Nações Unidas, em seu objetivo primeiro, que trata sobre a redução
em 50% da Fome no Mundo até o ano de 2015, expressam, em seu resultados, decisões
oficiais, deliberadas em reuniões internacionais, coordenadas pela FAO/ONU, com fim ao
estudo viabililacional de minização da fome. Premissa esta que permite-nos uma ampla
visão das principais causas da fome no mundo, constituindo-se na Unidade de Análise.
Como hipóteses das principais causas de origen da fome no mundo contemporâneo,
elegemos o clima e a política, como expoentes das origens naturais e humanas,
respectivamente. Quanto as variáveis independentes, elegemos: 1. Óbitos Decorrentes da
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Fome; 2. Causas Naturais e 3. Causas Políticas. Encontrando respectivamente as variáveis
dependentes para: 1. Produção e Distribuição de Alimentos, Desnutrição e Doenças. 2.
Furacões, Tsunames, Excesso e Escassez de Chuvas. 3. Guerras, Economias, Alimentação
Animal e Prudução de Biocombustíveis.
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ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
As principais causas da fome no mundo encontram-se sob dois grandes grupos,
causas naturais e causas humanas (ALB, 2009, online).
No primeiro grupo, das causas naturais, encontram-se as Catástrofes, Tsunames,
Inundações, Secas Prolongadas, Chuvas excessivas, Pragas sobre as lavouras.
Tais causas são responsáveis por significativas gerações da fome no mundo,
levando muitas populações de diversos países à estados de calamidade pública. Isto, pela
constante falta de alimentos, não por escassez, mas pela falta de recursos para adquirí-los.
Ainda, por força de do clima e seus desdobramentos. Observa-se, segundo a ALB (2009),
que as causas naturais independem da vontade humana, ainda que na política com variável
dependente da variável independente causas humanas, muitas causas naturais que resultam
em fome, poderiam ser minimizadas, se canalizados maiores recursos e observância às
evidências científicas de possibilidades.
Exatamente no sul da Ásia encontra-se a região do mundo de maiores
incidências dos fenômenos naturais, os quais foram identificados e descritos como
desencadeadores da Fome no Mundo Contemporâneo.
Como principais causas humanas da fome no mundo são identificadas, através
dos autores e organismos internacionais estudados, sobretudo as guerras, por deixarem,
segundo Hudson (1989), um rastro de destruição e fome, com consequente
desestruturação dos sistemas responsáveis pela vida em sociedade, como o que pode
ser observado em 2009 em Angola/África, quando em 2003 registrou-se o fim de 30
anos de guerras civis, onde hospitais e toda infra-estrutura daquele país fora abalada e
mesmo destruída. Ou, como no Iraque dos anos 2000, onde observou-se a elevação de
40 para 120 o número de crianças que morrem antes do primeiro ano de vida, como
resultado da invasão americana. (Hudson, 1989).
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Ao longo deste trabalho pode-se também observar a fome decorrente dos
bloqueios econômicos, tendo a Coréia como exemplo, encontrando em Cretella Netto
as exposições embasatórias, quando, ao envés de fazerem frente aos regimes contrários
ou aos propósitos a que se destinam, levam, isto sim, as populações à estados de
carências, sobretudo alimentares, enquanto os governates dos países sob bloqueio, bem
como àqueles próximos ao poder, mantém-se em estado de fatura e até mesmo
recebendo benésses ao fortalecimento do sistema interno de resistências.
Não obtante, somam-se às principais causas humanas da fome, de origem na
própria consequência do estado de fome, as instabilidades políticas decorrentes
sobretudo das guerras civis, que nada mais são, senão as consequências da falha nos
planos econômicos e agrícolas, agravados pela falta de políticas públicas voltadas à
atender as grandes massas populacionais, que descontentes, com fome e sem emprego,
ultrapassados os limites de suas resistências, organizam-se em grupos, primeiramente
de reinvidicação de maiores acessos aos recursos e meios de produção, bem como de
melhoras da distribuição de renda e políticas agrárias, as quais, sem respostas, avanças,
paulatinamente à formas mais agressivas de reivindicações, alcançando o extremo
através das guerras civis (Hudson, 1989).
Ainda, registrou-se entre as principais causa humanas da fome no mundo, as
desestruturações fundiárias e destruição de colheitas, com vista ao atender de interesses
econômicos de minorias e mesmo das políticas de preços dos gêneros alimentícios (FAO, 2005).
Como ficou demonstrado, à página 27, segundo a ALB (2009), ainda que
complexo, mesmo a cultura pode resultar em maior insidência de fome, por estratégias
de marketing e ou impostas pela formação de hábitos alimentares, após um longo
período de condicionamento em forma de doações de alimentos.
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A fome crônica, moderada e desnutrição ganham contornos de distinção nos
pesquisadores estudados, transformando a fome, em classes, como se morrer e sofrer
de fome, ou sofrer e enfrequecer suas resistências imunológicas, de consequentes
disposições às doenças e aberturas à instalação da eminência de morte, não fossem
partes de um só processo, de submissão humana à sistemas de governo ineficazes.
Onde a fome, é qualificada, recebendo status diferenciados. É certo que sim, mas no
direcionamento de posturas concretas de solução, onde umas necessitam mais do que
alimentos, exigindo cuidados especializados, enquanto outras exigem maiores
conhecimentos, pela utilização incorreta dos alimentos. Mas todas, de uma só origem,
falta de capacidade política-governamental, como observou-se, sendo toda causa
humana de geração de fome no mundo, decorrente de políticas e sistemas de governo
ineficientes, desdobrando-se em múltiplas causas e agravamento da Fome no Mundo
(ALB, 2009).
Observou-se ainda que a fome, independentemente se Natural ou Humana, têm
repercuções neroquímicas, físicas e psiquicas, conscientes e inconscientes,
ultrapassando a barreira dos seres individuais, manifestando-se nos sistemas sociais,
econômicos e civilizatórios, de forma negativa na exata proporção diametral a sua
grandeza e manifestação (Hudson, 1989).
Ao longo deste trabalho pode-se entender, segundo a Food and Agriculture
Organization (2009) os números alarmantes de mortes diárias, da ordem de 25 mil óbtos em
decorrência da fome no mundo. Ocorrendo pelo não cumprimentos de acordos internacionais
por parte do países signatários de proposições à redução da Fome no Mundo.
Em análise, observa-se ainda a mortalidade infantil antes dos cinco anos. Onde, em
países que submeteram-se à guerras, como Angola, morrem 182 crianças para cada 1000
nascidos vivos. Enquanto em Singapura, registram-se 2 óbitos de crianças para cada 1000
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nascidos vivos. Não adentramos contudo no estudo dos interesses ocultos que mantiveram
Angola por 30 anos permanentemente em guerra, respondendo por este aterrorizador número de
mortes por fome. Segundo Rosendo (2009), naquele país são encontrados carros de últimos
modelos e mansões nada inferiores àquelas dos mais belos clássicos de Hollyood.
Importante análise considera-se o fato de em Minas Gerais, estado brasileiro, haver
conseguido, segundo o Portal Agência Minas (2009), em particular o município de
Janaúba, localizado em uma das regiões mais pobres daquele Estado, reduzir a mortalidade
até um ano, infantil, de 31 para 4,2 para 1000 nascidos vivos, devendo-se tal progresso ao
foco assistencial na atenção primária, com ações preventivas, de direcionamento de
cuidados especiais aos fatores considerados como de risco, como peso neonatal inferior
aos 2 kg, também esclarecimentos e cuidados especiais às gestantes e analfabetas; além
das questões sócio econômicas. O que bem demonstra a possibilidade de reversão de tais
índices em outras localidades e regiões mundiais.
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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1.Conclusões
Esta tese em seu objetivo deteve-se em identificar as principais causas naturais
e humanas da fome no mundo contemporâneo. Com aparente redundância, haveremos
de concluir, insistentemente, nos fatores políticos, onde recaem às origens das causas
humanas responsáveis pela fome. Sempre partindo de discussões sobre suas
repercussões.
Do primeiro objetivo específico, conclui-se que os governos mundiais, a partir da
Conferência de Roma sobre Alimentação, ocorrida em 1974, têm buscado identificar as
principais causas geradoras da fome e dos problemas alimentares, assumido para si
maiores responsabilidades em neutralizá-las.
Uma vez identificada a desnutrição, barreira alfandegárias e pobreza, como fontes à
multiplicação da fome, conferências em combate à desnutrição são observados, bem como
esforços à integração econômica e livre comércio. Estas últimas, em resposta à pobreza.
Estes esforços foram firmados nos encontros de Roma, 92 e Miami, 94, respectivamente.
Grande esforço, após a identificação de causas geradoras da fome, vem decorrendo
desde de 1995, quando em Copenhague, foram traçados os Objetivos do Milênio, onde, em
seu objetivo primeiro, encontra-se a proposta de reduzir em 50% a fome no mundo até
2015. Desde então, à medida que são apontadas causas apresentam-se como determinantes
à geração da fome, novas estratégias são lançadas, como o Financiamento para o
Desenvolvimento, resultante da Conferência Internacional do México em 2002, ou o
Desenvolvimento Sustentável, reafirmado em Joanesburgo em 2002, como forma de
contribuir com os Objetivos do Milênio.
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Com fim ao atendimento do segundo objetivo específico, identificamos as
consequências da fome às suas causas, relacionando doenças e desdobramentos da falta de
alimentos, alcansando plenamente também este objetivo.
Em atendimento ao terceiro objetivo específico, incursionamos sobre as causas
naturais e humanas da fome no mundo envidenciadas nos capítulos anteriores, em
conceitos e argumentos que refutam e ou sustentam as duas hipóteses levantadas,
confirmando-se suas validações e assertivas. Confirmaram-se sob o pressuposto de se
enteder que as causas encontradas, senão indutiva, dedutivamente enquadrar-se-ão sob
o contexto natural e ou humano, paradigminimizados pelas hipóteses da pesquisa,
clima e política, respectivamente.
O quarto objetivo específico foi plenamente alcançado ao contextualizarmos os
biocombustíveis em um mundo sistêmico econômico de interesses conflitivos entre os
destinos dos grãos, se energéticos e ou alimentares. .
Através dos diversos autores e organismos que tratam e se didicam ao tema,
Fome no Mundo, pudemos ampliar nossa visão sobre a imensa complexidade que cerca
o objeto de nossas pesquisas. Contudo, não complexo suficientemente para desviar-nos
da razão que aponta para a solução da fome na solicialização dos alimentos, capaz de
ser alcançada com o rompimento dos elos existentes entre os sistemas financieros
internacionais, internos, energéticos, de transportes e de abastecimentos, com a
disponiilização de alimentos às populações necessitadas. A priori, viável do ponto de
vista teórico, através do plantio de mudas frutíferas frente às residências, praças,
avenidas, ruas, escolas e, nos bairros novos, sob normatização internacional e interna,
em um terreno por quadra, em forma de pomar. Isto, como bem evidenciou-se ao longo
de nossas pesquisas, sempre dependente das causas políticas, que em última análise
encontram-se sob pressupostos de causas humanas de geração da fome.
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Consideram-se alcançados os objetivos do presente trabalho. Confirmando-se,
como se verá na sequência, pela identificação e análise das múltiplas faces da origem
da fome no mundo. Identicamos as principais causas naturais e humanas, em suas
vertentes e variáveis. Dentre as quais, comprovamos encontrar-se nas causas humanas
as origens mais agravantes de nossa problematização, mais precisamente na política,
por ser esta responsável pelas ações preventivas à miniminazação da fome. Quando não
observada ou gerenciada com eficácia, todas as demais causas ganham maior
proporção em efeitos de miséria e fome. Saiba-se contudo, de forma inequívoca e
irrufutável, que toda causa leva, isto sim, para a falta de alimentos, que por sua vez,
deflagrará a única falta, em essência, da fome, sendo esta, a falta de alimentação. Dize-
se falta de alimentação e não de alimentos, pelo fato de, como estudado, poderá o ser
dirpor de alimentos e não contar com os elementos que os transformam à alimentação,
como, fogão, panelas, água, gás ou energia. Sendo estes, dependentes do sistema
econômico, enquanto as frutas, sob a forma proposta pelos Membros da Academia de
Letras do Brasil, independerá do ser, com fome, dispor de recursos à aquisição do
alimento que o manterá vivo, sem prejuízo deste, uma vez sanada a fome, manter-se na
caminhada sócio-integrativa, sob os pressupostos dos sistemas vigentes.
Irrefutavelmente a política está presente em toda causa da fome no mundo. Mesmo
nas causas naturais, que aparentemente não contam com esta consoante, têm seus efeitos
preventivamente minimizados sobre uma gestão eficaz de problemas.
Com fim à resolução do problema alimentar mundial, a política, como descrita
como a principal entre as principais causas da Fome no Mundo, é a única capaz de fazer
com que seus efeitos e decisões repercutam com rapidez sobre quaisquer dos pontos de
interesses e prioridades. Sem a institucionalização governamental dos problemas que
retornam em fome às populações, quaisquer iniciativas populares nesta direção são
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prejudicadas, exatamente pela falta da repercussão oficial de assertivas à canalização de
esforços. Prejudicadas. Não impossíveis.
A política encontra-se no epicentro decisório à resolução objetiva do problema
mundial alimentar. Não obstante, às ciências apontam possibilidades equacionativas das
causas que originam a fome. Contudo, sempre dependentes da política à implementação.
Também o Direito Interno e Internacional podem direcionar esforços à linearização de
direitos, sem contudo, conquistarem a devida consecução sem à práxis executiva e
deliberação prioritária que somente é encontrada nas esferas políticas.
Vê-se como desumano o fato de no Afeganistão concentrar-se em 2009, 1,5 milhões de
refugiados passando fome em decorrência de políticas de interesses territoriais.
Concluimos haver evoluido teóricamente o pensamento mundial sobre a problematização
da fome, sem contudo observar-se avanços concretos sobre a questão.
Em nossas conclusões, ainda, o não cumprimento pelos Estados dos acordos e
metas, como a de ser reduzida em 50% a fome no mundo até 2015, deve-se à falta de um
órgão internacional juríco que exija o cumprimento sobre o que é acordado.
É notória e flagrante a real falta de priorização do problema em foco, ao contrário
do que ocorreu com a crise financeira mundial de 2008. Na ocasião, não observou-se
reuniões e metas a longo prazo. Mas, isto sim, prioridade e tomada de decisão, oferecendo
equilíbrio e estabilidade ao sistema financiero.
Concluimos faltar vontade política, onde encontram-se as respostas aos problemas
simples e complexos sociais, Ainda uma agenda de prioridades mundiais à aplicação dos
recursos públicos.
É inequívoca a conclusão de firmarem-se as hipóteses levantadas, de localização da
fome, e ou suas agravantes, nas Causas Humanas, em sua variável política. Enquanto, nas
Causas Naturais, firmar-se o clima como seu principal responsável.
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181
Clui-se ainda que as Causas Naturais estão compreendidas em: Secas e Chuvas
prolongadas; Inundações; Terremotos; Tsunames; Furacões, Gelo, Solos Inadequados e
Germinação., estas sob o paradigma Clima. Os Predadores: insetos, ratos e gafanhotos;
Enfermidades de Plantas, são reconhecidas como Origens Naturais Concorrentes da Fome.
Contudo, quaisquer destas origens, podem ganhar em direcionamentos políticos, maior ou
menor prioridades, reduzindo-se ou ampliando-se seus efeitos. Maiores investimentos em
pesquisas, com a observância das recomendações científicas resultantes, poderão somar à
resolução ou diminuição dos efeitos das causas naturais.
Se as Causas Naturais podem ganhar significância reducional na política, maior se
evidenciará esta eficácia quando a causa tem suas origens nas próprias causas humanas.
Conclui-se que as Causas Humanas da fome no mundo sustentam-se e têm origem
exclusivamente na variável política.
Seja a utilização dos Recursos Naturais ou as Guerras, Conflitos Civis ou Acesso
aos Recursos e Meios de Produção, encontrar-se-á na política as bases neutralizadoras ou
propagadoras de seus efeitos sobre as populações. Da mesma forma, a Planificação
Agrícola, Estruturas Fundiárias e Destruição de Colheitas, encontrarão na política a adoção
e incentivo direcionador e dimensionador de seus desdobramentos repercutivos na
produção e disponibilidade de alimentos. Por sua vez, as políticas internacionais também
determinam a elevação e ou redução dos problemas mundiais de geração da fome.
Observe-se tais consequências na exposição das populações frente aos Bloqueios
Econômicos e Endividamento dos Países mais Pobres. O que se apresenta como Causa, na
realidade, são desdobramentos de políticas de interesses.
Conclui-se, seja a Cultura, Pobreza, Políticas Agrárias e Demografia, ainda que
apontadas como Causa da Fome, representam, isto sim, efeitos de políticas ineficazes e
cientificamente pobres, pela inobservância do vasto suporte disponibilizado e sustentado
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em pesquisas por cientistas de universidades de comprovado comprometimento sócio-
evolutivo.
Não obstante, conclui-se que a germinação de sementes, apontada entre as causa da
fome, também resultar de políticas pobres de investimentos em pesquisas. Contudo,
dissimuladamente desvinculados dos resultados, sem que se atribua à política tais fracassos
desdobrativos.
Outrossim, conclui-se ainda serem as causas Sociais; Econômicas; Instabilidade
Política; Dependência Econômica; Alimentação Animal; Desperdício de Alimentos;
Produção Insuficiente; Monoculturas; Condições de Troca Entre os Países e
Multinacionais, dependentes de Políticas governamentais
Apontamos em conclusões para uma nova forma do colonialismo. Esta, fundada
em dependências econômicas e de tecnologias que mantém os países pobres submissos e
subservientes, colocando suas populações na condição de escravas legais. Isto, em
decorrência também de políticas, onde todos, em extrema pobreza, doam suas vidas à
manutenção da riqueza de seus dominadores.
Quaisquer que sejam as conclusões às causas apontadas como origem do problema
alimentar mundial, seja o Petróleo, Biocombustíveis ou mesmo a Proliferação de Vírus, ou
ainda as Doenças e Idade Avançada, também encontrar-se-ão sob o paradigma Político os
meios à minimização, reversão e ou estabilização de seus efeitos.
Ainda que apontemos para outras causas da fome no mundo, em conclusão aos
estudos dispendidos, como Economia; Armazenamento; Educação, Transportes; Pesquisas
Deficitárias; Justiça; Distribuição de Renda e Cultura, concluir-se-á em localizar-se cada
uma destas origens da fome, também sob o paradigma político. Encontrando-se na política,
o real dimensionador destas variáveis. Isto, por concluir-se ao longo dos estudos, tratarem-
se tais origens, como previsíveis e evitáveis.
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Assim, conclui-se que nenhuma causa humana da fome no mundo encontra-se fora
do contexto político de gestão, pesquisa, administração e possibilidades reversivas.
Irrefutável se torna, em concluisões, que a fome extrema acarreta conseqüências,
como enfraquecimento do ser, podendo evoluir à doenças e mesmo mortalidade. Como
também, inaptidão aos estudos e ao trabalho. O que permite-nos concluir que a fome, além
de gerar despesas sociais, não participa da produção econômica das Nações.
Especial atenção conclusiva deve-se à possibilidade de redução da mortalidade
infantil a partir da prevenção pré-natal, a exemplo do ocorrido entre 2000 e 2009 no
município de Janaúba/MG, Brasil, partindo de 31 óbitos em cada 1000 nascidos vivos no
ano de 2000, chegando em 2009, pela prevenção, com 4,2 óbitos/ 1000 nascidos vivos.
Ao identificar-se os Juros Altos, Carga Tributária e Falta de Insumos como
geradores da fome no mundo, mais uma vez, conclui-se encontrarem-se também estes
elementos, como resultantes de políticas, em suas variáveis econômicasa e de pesquisas.
Frente ao conjunto estudado, é possível concluir que o mundo ainda não encontrou
uma forma equânime de condução linear retro-alimentativa de distribuição das riquezas
naturais e aquelas manipuladas pelo homem, de forma a somarem em conforto e bem estar
coletivo.
Na busca de respostas às principais causas da fome no mundo contemporâneo,
ao chegar-se ainda à não importância Pré-Natal; Déficit Alimentar Gestacional e
Amamentar nos Primeiros 5 anos de Vida, conclui-se decorrerem da inexistência de
políticas públicas de prioridades à estes fins.
Faltam políticas sócio-linearizantes de democratização alimentar, as quais,
concluimos serem passíveis de alcance através de acordos multinacionais em políticas
aduaneiras ou de desenvolvimento de tecnologias e ou, por fim, através de campanhas
públicas do plantio e disponibilização de mudas frutíferas às populações, e ou ainda, pelo
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desenvolvimento de lavouras públicas, acordadas em contrato de co-responsabilidade
pelos autores, diretores e protagonistas deste genocidio, desumano e criminoso, onde seus
principais responsáveis são capazes de priorizarem outros assuntos antes da essencialidade
subsistencial humana.
Entre outras conclusões, é primitiva, irresponsável e inconsequente a forma como
são administrados os Estados, suas nossões de justiça e prioridades, não buscando
soluções aos problemas humanos. Mas, ao contrário, os potencializam em práticas de
guerras, enriquecimentos próprios e ilícitos, com práticas de corrupções e busca insana do
controle e poder sobre seus semelhantes.
Em nossas conclusões, entre os múltiplos fatores que resultam da falta de
alimentos, a desnutrição, resposável pela baixa imunológica do organismo e em
alguns casos levar os seres à morte, apresenta-se como grave co-autor no problema
alimentar mundial, sem, no entanto, emergir como independente à problematização,
sendo também, mais uma face da incapacidade política dos governos mundiais.
Outros causas são apontadas como responsáveis pela fome no mundo, como
desmame precoce, falta de emprego e renda, resultando na incompleta nutrição orgânica
humana que, conclui-se, independentemente se decorrentes de guerras, baixa
produtividade, políticas agrárias, cultura, recursos pessoais ou catástrofes naturais, se dá
pela falta do que comer. Ainda que extensões outras proponham-se justificar tal
indisponibilidade, concluimos mais uma vez, encontrar-se nas políticas governamentais,
seja, econômica, social ou de pesquisas, as possivilidade erradicativa ou minimizativas de
suas consequências.
Com base nos pressupostos estudados, conclui-se que havendo alimentos
disponíveis, ou ao alcance dos seres, como árvores frutíferas em ruas, avenidas e
logradouros públicos, também frente a cada residência, estradas municipais, estaduais e
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federais, não se observaria a fome, mesmo frente as guerras e demais causas hoje
apontadas como causas da fome no mundo. Contudo, salvo iniciativas particulares, haver-
se-á de depender da adoção de políticas públicas à implementação de tais medidas.
Isto posto, haveremos de concluir, apontando para as Causas Políticas como
únicas independentes à resolução da fome. As demais, como guerras, bloqueios
econômicos, refugiados, guerra civil, doenças como o HIV, segurança alimentar, escassez
de alimentos, calamidades sociais, indisponibilidade de grãos, cereais destinados ao etanol,
super-população, biocombustíveis, preços do petróleo, natalidade e mesmo clima e
catástrofes naturais, como diretamente dependentes das Causas Políticas, capaz até mesmo
de minimizar os efeitos das causas naturais. Isto, somente a partir de políticas voltadas
efetivamente à resolução, sobretudo preventivas das mesmas, assinalando áreas de risco.
Outro ponto importante de conclusão debruça-se sobre agroinflação ou diminuição
da capacidade de compra de alimentos. Esta, ainda que apontada como uma das Causas da
Fome no Mundo, é isto sim, consequência da elevação dos preços do barril de petróleo,
diminuição mundial das reservas de cereais, que embora conste entre as Causa da Fome,
encontra nos biocombustíveis suas origens, aliadas a performance alimentar chinesa que
em nossas conclusões, são coadjumantes no problema alimentar mundial. Todavia, como
as demais, são dependentes das Políticas Internas e Internacionais. Estas sim, responsáveis
pela regulamentação em assertivas resolutivas, refletindo em consequente aceitação,
entrada e expansão, nos mercados internacionais, de alimentos de origem em sementes
modificadas geneticamente, os transgênicos, que em uma análise conclusiva, oferecem
maior produtividade.
O que bem evidenciamos conclusivamente, quando estuda-se a agroinflação, são
os desdobramentos dos reais fatores de origem da inflação, como a elevação dos preços do
barril de petróleo e utilização dos cereais para fins de geração de energia e alimentação
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animail, em detrimento da alimentação humana, repercutindo na elevação dos preços dos
alimentos, o que também nos remete à política.
Ainda, os biocombustíveis somam por sua notória e irrefutável competição, a
complexidade alimentar mundial, onde conclui-se que priorizar é preciso.
Contudo, não se observa nas organizações e autores estudados, unanimidade quanto
aos biocombustíveis responderem como agravantes à disponibilidade de alimentos ao
mundo. Ainda assim, concluímos a partir dos estudos realizados, crescer no mundo a
utilização das áreas de produção agrícola alimentar para a finalidade de produção de
alimentação animal e de combustíveis, encontrando-se o milho, cana-de-açúcar e soja,
como geradores de divisas aos países que os produzem. O que torna cada vez mais
consistentes nossas conclusões de encontrarem-se nas Causas Políticas as principais
origens do problema em foco.
Ainda que apontemos como causa da fome no mundo para Recursos, Maquinárias,
Transportes, Armazenamento, Mão de Obra Agrícola ou mesmo Insumos, haveremos
também concluir que estas origens também constituem assertivas de ordem política
administrativa, formando-se em reflexo de decisões governamentais.
Com pressupostos nas assertivas supra, conclui-se que o incentivo dos governos,
fomentando à opção dos produtores à produção de biocombustíveis e produção de ração
animal, contribui à falta de alimentos no mundo.
Como resultados dos estudos empreendidos, conclui-se que o deslocamento à
produção de biocombustíveis e ração animal, de toda a infra-estrutura que se destinaria à
produção e disponibilização de alimentos, soma-se à falta de prioridades políticas
governamentais que resultam em um mundo, no final de 2009, de aproximados 1 bilhão de
famintos. O que sustenta nossas conclusões de faltar adoções de medidas e tomada de decisão
política à priorização humana dos alimentos.
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Em conclusão, outro fator de origem da fome no mundo evidenciado a partir das
organizações e autores estudados, apontam para a fragilização mundial decorrente da crise
imobiliária americana em 2008, que determinou a desvalorização das matérias primas e falta
de alimentos, resultando em tensão debido a fome em muitos países.
Ainda que teoricamente a elevação das produções mundiais de alimentos colocariam
fim às tensões com origem na fome, conclui-se no entanto que não bastaria a produção de
mais alimentos, visto que os recursos que determinam o destino dos alimentos encontram-se
nas mãos de aproximadamente 10% da população mundial. Tornando nossas convicções mais
sustentáveis. Encontrando-se na política a única alternativa concreta de solução da
problematização mundial alimentar.
Conclui-se ainda que juridicamente, a Fome no Mundo comporta medidas privadas de
direito, por corresponder a necessidades individuais humanas, somando-se em proporções
mundiais, evidenciando a ordem global de direito privado não atendido. Tal premissa sustenta
ações, à priori, pioneiras à resolução do problema. Conclui-se inadmissível que em 2010,
aproximados 1 bilhão de pessoas encontrem-se na condição de famintos, com óbtos diários na
ordem de 25 mil pessoas. Estes, pela exclusiva falta de alimentos.
Por fim, conclui-se com um olhar científico de esperança, apontando para o
projeto de erradicação da fome no mundo, proposto pela Academia de Letras do Brasil,
ALB, estudado, por apresentar-se como uma alternativa ao alcance dos governos
mundiais, de fácil implementação, consistindo elementarmente na disponibilização de
frutas às populações a partir do plantio de mudas frutíferas em avenidas, ruas, praças,
estradas federais, estaduais e municipais. Onde, em ação conjunta
governos/populações, assumem co-responsabilidades na equação do problema.
Outro ponto importante que se nos evidenciam em conclusões encontra-se na
vinculação do capital com a capacidade alimentar dos seres. Pois, na ausência de recursos
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econômicos dos cidadãos, não há capacidade auto-alimentar, colocando-se este ser em
consequente estado de fome. Sendo que esta vinculação de dependência capital/alimento,
não existe nas Cidades Ecológicas, objeto de nossas conclusões resolutivas da questão,
tornando possível serem atendidas as necessidades elementares de alimentos por todos os
seres, sem que fatores econômicos de variações constantes interfiram, determinando quem
pode ou não comer. Por esta razão, conclui-se que essa linearização equacionativa do
projeto, desvinculada do poder aquisitivo dos seres carentes de alimentos, consiste em uma
qverdadeira revolução social à resolução da fome no mundo.
Conclui-se finalmente que é possível que todo ser, onde se encontre, instituidas as
Cidades Ecológicas, poderá, independentemente do quanto disponha de recursos
econômicos, ao simples erguer de um braço, seja criança, adulto ou idoso, poderá colher
uma fruta, saciando a fome, oferecendo ao organismo as condições mínimas de
subsistência, sem quaisquer contra indicações.
Como registro final do objeto de estudo e tese de nosso mestrado em Relações
Internacionais pela Universidad Autónoma de Asunción, o qual dedicamos em tributo à
problematização mundial alimentar, conclui-se que fome é medida e mantida em razão
de múltiplas causas que a torna dependente primeiramente de suas equações para, só
então, retroceder em seus altos índices. Ainda que se continue com todos os esforços
ao fim das guerras, efeito estufa, distribuição de renda e as múltiplas origens estudadas
da fome, conclui-se não ser possível manter-se a solução da fome mundial dependente
da total erradicação destas causas, o que a tornaria tão complexa quanto a tudo o que
foi aquí estudado, e não e tão somente a criação de ações pontuais à alimentar 1 bilhão
de possoas que passam fome, muitos morrendo, na mais absoluta, desumana e injusta
miseria, instalada pela omissão, irresponsabilidade e descomprometimento dos
governos mantidos e escolhidos por cada um de nós.
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2. Recomendações
À redução das principais causas de origem da fome no mundo contemporâneo
haveríamos de reduzir as guerras para ver a fome também retroceder. Certamente isto é um ideal
passível de consecução, sobretudo quando por interdependência forem criados dispositivos
legais internacionais de contenção dos conflitos, cabendo aprofundamentos e pesquisas nessas
direções.
Também, constantes aprofundamentos e pesquisas à redução da fome, devem ser
direcionadas aos temas: sistemas mundais e internos de transportes; energias alternativas;
equilibrio mundial econômico, sobretudo ao controle da variação dos preços dos combustíveis e
de insumos agrícolas; estudos à integração e formação, com maior eficácia e respeito, das
populações que utilizam-se de fontes alternativas de trabalhos subsistenciais; isonomia pública
subsistencial; resgate isonômico, salarial e alimentar, reconhecimento e valorização econômica
proporcional à essencialidade pública dos serviços de saúde prestados pelos lixeiros; análise
crítica equacionativa sobre a concorrência dos biocombustíveis e alimentação animal.
O enquadrar jurídico à apuração de responsabilidades apresenta-se como a iniciativa
mais palpável e concreta à resolução do problema mundial alimentar, passando-se a exigir
legalmente aos países o cumprimento dos acordos firmados. Premissa que sustenta nossas
recomendaões de avanços em pesquisas e formas disciplinadoras internacionais do problema sob
um olhar jurídico.
Recomenda-se aos estudiosos do desenvolvimento e aperfeiçoamento de sofwares à
criação de dispositivos de controle e inibição da corrupção, diretamente responsável pelo desvios
de recursos que se destinariam, não só à elevação das fronteiras agrícolas, como também à saúde
e demais áreas que direta ou indiretamente repercutem em acessibilidade ao estudo e emprego,
facilitadores estes, à conquista das necessidades básicas à subsistência humana.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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Observância especial em recomendações dirige-se à necessidade do
aprofundamento de pesquisas ao desenvolvimento de projetos que retirem as ciências,
sobretudo humanas e sociais, da condição passiva em que são encontrados seus resultados
teóricos e experimentais. As encontramos como suporte isto sim, mas dependentes de
eleições aleatórias e da boa vontade política, sem imporem-se constitucionalmente como
objeto do sistema de prioridades aplicativas pelos executivos.
Mister, nesse tocante, faz-se a observância dos resultados científicos de pesquisas
sobre o caminho a seguir. Enquanto as ciências não assumirem papel executivo de
aplicação prioritária à tomada de decisões, estaremos a mercê de caminhos tortuosos e sem
elos comprovados de repercussões. Pois, somente as ciências têm como justa proposição a
total responsabilidade com as consequências de seus experimentos, apontando
comprometidamente para um futuro de consistentes conhecimentos sob um olhar
consciente à assertivas conducionais.
Nas ciências encontram-se o real passado, presente e futuro da humanidade,
competindo aos cientistas de todos os tempos, o compromisso, através de suas pesquisas e
resultados, de os retirarem do papel e acervos lítero-científicos, precipitando suas
consecuções em construção de um mundo melhor.
Mário Carabajal/Tese Ms. Principais Causas: Fome no Mundo/UAA/Asunción18jan10
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