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Aos nossos alunos e colaboradores Aos nossos alunos e colaboradores Se constatarem que utilizamos – na íntegra ou em parte e sem a devida citação da fonte – obras protegidas por direito autoral, solicitamos entrarem em contato para que, procedente a reclamação, providenciemos a imediata retirada do material indevidamente disponibilizado. Enfatizamos, contudo, o caráter excepcional, inadvertido e de boa-fé dos procedimentos, pois é nosso objetivo principal difundir o conhecimento e a cidadania, por meio de oferta gratuita, plural e democrática. Equipe de Educação a Distância do ILB Guia do Estudante Guia do Estudante As orientações abaixo ajudarão você, estudante a distância, a utilizar melhor os recursos didáticos do nosso curso. Estas instruções visam a auxiliá-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamento e sucesso em seus estudos. O material didático, elaborado conforme os preceitos da Educação a Distância, está dividido em Módulos, cujos conteúdos são colocados de maneira clara e compreensível. Familiarize-se com os recursos disponíveis em nosso ambiente virtual de aprendizagem, o Trilhas:

Introdução Ao Direito Constitucional

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  • Aos nossos alunos e colaboradores

    Aos nossos alunos e colaboradores

    Se constatarem que utilizamos na ntegra ou em parte e sem a devida citao dafonte obras protegidas por direito autoral, solicitamos entrarem em contato para que,procedente a reclamao, providenciemos a imediata retirada do materialindevidamente disponibilizado.

    Enfatizamos, contudo, o carter excepcional, inadvertido e de boa-f dosprocedimentos, pois nosso objetivo principal difundir o conhecimento e a cidadania,

    por meio de oferta gratuita, plural e democrtica.

    Equipe de Educao a Distncia do ILB

    Guia do Estudante

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    As orientaes abaixo ajudaro voc, estudante a distncia, a utilizar melhor os recursos didticos donosso curso.Estas instrues visam a auxili-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamentoe sucesso em seus estudos.O material didtico, elaborado conforme os preceitos da Educao a Distncia, est dividido emMdulos, cujos contedos so colocados de maneira clara e compreensvel.Familiarize-se com os recursos disponveis em nosso ambiente virtual de aprendizagem, o Trilhas:

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    COMUNICAO

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    APOIO

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    AVALIAO FINAL

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    RECOMENDAES

    APRESENTAO DO CURSO

    APRESENTAO

    O curso Introduo ao Direito Constitucional busca familiarizar o estudante com conceitos elementares da disciplina e muni-lode senso crtico para compreender as diferentes questes suscitadas nos tribunais superiores e na grande mdia.

    Nessa perspectiva, o Mdulo I fornece definies bsicas de constituio, sua origem e sua evoluo no tempo.

    Num segundo momento, o direito constitucional se permeabiliza da histria para traar o desenvolvimento doconstitucionalismo e trazer a nova concepo originada na segunda metade do sculo passado, a doutrina doneoconstitucionalismo.

    Em seguida, convida-se o estudante a refletir sobre o fenmeno do transconstitucionalismo e a necessidade de se equilibrarduas ordens constitucionais hierarquicamente iguais que se conflitam na soluo de um fato humano. Parece complicado? Nose preocupe: trataremos o tema de modo a que o aluno possa ir assimilando sem pressa os contedos.

  • Finalmente, examinam-se as experincias constitucionais por que passou o Estado brasileiro, remetendo o aluno aos fatoshistricos que antecederam determinado paradigma jurdico e como tal paradigma foi superado. Aqui encerra-se o Mdulo I.

    No Mdulo II apresentamos a estrutura da CF/88 (Constituio vigente), e elementos bsicos de Teoria da Constituio, comoo Poder Constituinte e o Controle de Constitucionalidade.

    Por fim, No Mdulo III, faz-se um estudo dos direitos e das garantias fundamentais do indivduo, abordando os direitosindividuais e coletivos positivados na constituio e a forma com que a jurisprudncia vem lidando com o assunto.

    Esperamos que o estudo o auxilie na compreenso do Direito Constitucional como um todo, e tambm de nossa Carta Magna,de modo a torn-lo, estudante, um cidado ainda mais consciente e zeloso da cidadania.

    MDULO I CONSTITUCIONALISMO E AS CONSTITUIES BRASILEIRAS

    Objetivos do Mdulo I

    Unidade 1 Conhecendo o Direito Constitucional: definio, origem e evoluo

    Objetivos da Unidade 1

  • Pgina 2: Direito Constitucional: definio, origem e evoluo

    Unidade 1 Conhecendo o Direito Constitucional: definio, origem e evoluo

    Vamos comear nosso curso a partir da prpria definio do tema. Tradicionalmente, costuma-sedizer que o Direito Constitucional o ramo do direito pblico que tem por objeto de estudo asnormas da Constituio de um Estado.

    Dessa maneira, a parte do direito que analisa, sistematiza e interpreta as normas fundamentaisde certo pas. E a Constituio o documento que congrega tais normas, estabelecendo osprincpios e as regras que organizam o funcionamento do Estado e delimitam as garantias e osdireitos do cidado.

    Em resumo, o Direito Constitucional a disciplina que se dedica ao direito fundamental de umasociedade.

    Essa definio ainda satisfatria nos dias atuais? Isto : podemos dizer que o Direito se divideem dois grandes ramos, pblico e privado, e que o Direito Constitucional pertence quele ramo, isoladamente?

    Esta clssica diviso do direito, ora atribuda aos romanos, ora associada ao jurista francs Jean Domat, enxergava umadistino entre leis civis e leis pblicas. Estas cuidavam dos assuntos estatais, enquanto aquelas tratavam de matrias da vidaprivada, como as regras contratuais, a capacidade civil e o direito de famlia. O Direito Civil era a Constituio Privada, eregulava a vida do indivduo sob o ponto de vista de seu patrimnio.

  • Pgina 3: Mudanas sociais que refletiram no pensamento jurdico

    No entanto, recentemente, passamos por mudanas sociais que refletiram diretamente no pensamento jurdico. A crise dochamado liberalismo de mercado, nitidamente excludente, fez com que o Estado marcasse maior presena nas questesindividuais. O Direito Civil, por sua vez, no poderia se importar apenas com o lado patrimonial do indivduo. Era preciso queele se mostrasse hbil para realizar os valores da pessoa humana como titular de interesses existenciais.

    As Constituies pblicas, outrora dedicadas somente a assuntos estatais, passaram a influenciar a vida cotidiana daspessoas, conformando valores e princpios, como o da dignidade da pessoa humana, que contagiaram o Direito Civil.Vivenciamos a publicizao do Direito Civil.

    Dessa forma, ao mesmo tempo em que houve constitucionalizao de direitos, houve tambm superao da dicotomiapblico-privado, que reinava no sculo XIX.

    Ento, como podemos compreender o Direito Constitucional atualmente?

    Pgina 4: Direito Constitucional: antes e depois

    Levando-se em conta esse novo quadro jurdico e social, que ser detalhado mais adiante, o Direito Constitucional ocupa,hoje, o centro do ordenamento jurdico, e o influencia por completo, tanto na esfera privada quanto na pblica. Ele filtro detodo o sistema jurdico e tem, no princpio da dignidade da pessoa humana, o seu principal valor.

    Alocao do Direito Constitucional

    a) VISO TRADICIONAL

    b) VISO CONTEMPORNEA

  • Essa mudana fez nascer a possibilidade de aplicao dos direitos fundamentais constitucionais tambm nas relaesprivadas, paralelamente a j consolidada aplicao na relao vertical Estado-particular.

    Pgina 5: Exemplo

    Para exemplificar: na relao Estado-particular, o direito fundamental da igualdade ou isonomia nos diz que as regras doconcurso pblico tm que ser iguais para todos. Mas este princpio deve ser seguido na relao particular-particular? Porexemplo, uma empresa deve seguir o princpio da igualdade na hora da contratao ou da demisso de um empregado?

    O STF vem se posicionando no sentido de haver, sim, a possibilidade de se aplicar os direitos fundamentais nas relaesprivadas, sobretudo quando se tratar de matria com relevncia pblica. Esta nova viso ficou conhecida como eficciahorizontal dos direitos fundamentais, pois envolve duas pessoas que esto, em tese, na mesma hierarquia.

    Observe o seguinte exemplo, que ilustra esta nova tendncia e mostra a eficcia vertical e horizontal dos DireitosFundamentais:

  • a) EFICCIA VERTICAL

    b) EFICCIA HORIZONTAL

    O STF decidiu ser inconstitucional a discriminao que se baseia em atributo, qualidade, nota intrnseca ou extrnseca doindivduo, como o sexo, a raa, a nacionalidade, o credo religioso (...). O caso concreto o da empresa AIR FRANCE, queno aplicava o Estatuto do Pessoal da Empresa, mais vantajoso, a brasileiro empregado da companhia, pelo fato de ele noser francs. O tribunal resolveu a questo dizendo que o princpio da igualdade, estampado no art. 5 da CF/88, aplicvel nasrelaes entre particulares e assentou que o brasileiro faria jus s mesmas condies dos empregados franceses. (RE161.243-6)

    Pgina 6: Movimentos constitucionais

  • Feita essa breve reflexo, cabe indagar: qual a origem do Direito Constitucional? Por que eleapareceu e onde?

    Essas questes nos levam a pensar, sem dvida, num fenmeno chamado constitucionalismo. E,aqui, preciso ressaltar que

    ele no possui um sentido nico nem universal. Como aponta Gomes Canotilho, melhor dizerque existiram e existem movimentos constitucionais ao longo da histria. O que se passou naInglaterra no se reproduziu nos Estados Unidos da Amrica, nem tampouco na Frana. Damesma maneira, o Brasil teve sua prpria verso de constitucionalismo.

    Todavia, podemos apontar algumas caractersticas comuns que, reunidas, nos do o ncleo da ideia de constitucionalismo.Assim, a busca pela limitao do poder do governante e pela garantia de direitos fundamentais do indivduo integra o conceitodos movimentos constitucionais.

    Pgina 7: O Constitucionalismo

    Em outras palavras: o constitucionalismo , no plano poltico e social, a luta da sociedade para regrar a atuao dogovernante, impondo-lhe limites e deveres, e fixar os direitos bsicos do homem em face do Estado. Paralelamente, no planojurdico, traduz-se na necessidade de condensar essas regras numa Constituio escrita. No entanto, esta ideia foi maisdesenvolvida a partir do sculo XVIII, com as Revolues Liberais da Inglaterra e da Frana.

    Para exemplificar: no mundo antigo o constitucionalismo se mostrava na possibilidade de os profetas, entre os hebreus,fiscalizarem os atos governamentais que ultrapassassem os ditames bblicos. Tambm nas cidades-Estados gregas v-se umrelevante exemplo com a democracia direta, exercida pelos cidados, que determinavam o rumo da poltica de sua cidade.

    Na Idade Mdia, a Carta Magna de 1215, tambm denominada Carta do Rei Joo sem Terra, foi o grande marco doconstitucionalismo medieval ingls. Outros documentos tambm tiveram sua importncia, como o Petition of Rights, de 1628;o Habeas Corpus Act, de 1679; o Bill of Rights, de 1689; e o Act of Sttlement, de 1701.

  • Pgina 8: Importncia

    Esses pactos tinham como fundamento o acordo de vontades entre o monarca e os sditos, no qual se estabeleciamconvenes em relao ao modo de governo e s garantias dos direitos individuais. Nos Estados Unidos, ficaram conhecidosos contratos de colonizao, de que so exemplos as Fundamental Orders of Connecticut; na Frana, as leis fundamentaisdo reino impuseram limitaes ao prprio rei.

    No entanto, foi no constitucionalismo moderno que as constituies ganharam importncia central. A constituio passou a sero local onde se consagrava o triunfo do constitucionalismo. Era a arma ideolgica contra o Antigo Regime absolutista. Aomesmo tempo, nela deveriam estar consignados a limitao estatal e os direitos fundamentais, sob pena de no existir.

    isso que disps a Declarao Universal dos Direitos do Homem de 1789: toda sociedade na qual no est assegurada agarantia dos direitos nem determinada a separao dos poderes, no tem Constituio. As principais Cartas Constitucionaisforam a dos EUA, de 1789, fruto do movimento de independncia do pas, e a da Frana, de 1791, que sintetizou os ideais darevoluo francesa.

    Pgina 9: Direitos sociais

    Esses documentos so marcos histricos da transio da sociedade para a idade contempornea e foram inspirados pelosvalores do liberalismo clssico. Neles, previa-se que todos eram livres e iguais perante a lei, abandonando-se os privilgios doabsolutismo, e que o Estado no intervinha nas leis do mercado, que se regia livremente. Alm disso, o direito de propriedadeera garantido, e o governante sofria limitao constitucional.

    Nesta poca ficaram consagrados os direitos de primeira gerao, como o direito vida, liberdade, manifestao depensamento e ao voto.

    Esse modelo foi colocado em xeque no fim do sculo XIX e comeo do sculo XX, pois a autorregulao do mercado nopermitiu o enriquecimento de todos. Na verdade, gerou concentrao de renda e grande excluso social. Direitos bsicos,como sade, trabalho e educao, no faziam parte da vida da maioria das pessoas.

    Nessa etapa, o constitucionalismo marchou para o Estado Social de Direito, em que o Estado passou a garantir condiesmnimas de existncia ao indivduo. Surgiram os direitos de segunda gerao, marcadamente garantidores de direitos sociais(trabalho, sade, educao etc.), econmicos (o Estado passou a intervir no mercado, sobretudo depois da crise da Bolsa deValores, em 1929) e culturais.

  • Pgina 10: Influncias

    Fala-se, aqui, que a Constituio comeou a ser dirigente, j quepassou a obrigar o governo a elaborar e executar polticas quealcanassem os objetivos programados em seu texto.

    As principais constituies sociais foram a Mexicana, de 1917, e aAlem, de 1919, tambm conhecida como Constituio de Weimar.

    Elas influenciaram, inclusive, a nossa Constituio de 1934, queera claramente uma constituio social.

    Mas elas foram realmente efetivas?

    Principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, esse modelo de Constituio se mostrou ineficaz, pois no passou de umconvite atuao dos governantes. Por estar sujeito s vontades do administrador, diz-se que o texto no possua foranormativa para realizar suas promessas. Em alguns casos, como no estado nazista de Hitler e na Itlia fascista de Mussolini, aLei Maior serviu para proteger e justificar um estado de barbrie. O Judicirio tinha pouca importncia na realizao dosdireitos fundamentais.

    Pgina 11: Marcos

    Nesse passo, o Direito Constitucional entra em mais uma importante fase de sua evoluo. Conforme muitobem tratado pelo jurista Lus Roberto Barroso, deu-se incio ao "novo direito constitucional" ou

    "neoconstitucionalismo".

    Ateno

  • O pensador aponta trs marcos determinantes para isso:

    a) marco histrico: o constitucionalismo do ps-guerra, que "redefiniu o lugar da Constituio e a influncia do direitoconstitucional nas instituies contemporneas". As principais referncias so: a Lei Fundamental de Bonn, de 1949(Alemanha), e a Constituio da Itlia, de 1947. No Brasil, cita-se a Constituio de 1988.

    b) marco filosfico: o ps-positivismo. Explicando melhor o que se entende por ps-positivimo, podemos dizer que ajuno das ideias no jusnaturalismo do sculo XVIII com as do positivismo do sculo XIX, criando uma nova forma deentender o direito. A corrente jusnaturalista fundou-se na crena de que existem princpios de justia universalmentevlidos para todos os seres humanos. Ela impulsionou as revolues liberais do sculo XVIII, mas, por ter sidoconsiderada "abstrata" ou metafsica, foi substituda pelas ideias do positivismo. Este igualou o Direito lei, retirandotoda carga valorativa e filosfica da norma. Era a Cincia pura do Direito. Com a crise deste sistema em meados dosculo XX, era preciso repensar a filosofia jurdica. Como esclarece Barroso: "o ps-positivismo busca ir alm dalegalidade estrita, mas no despreza o direito posto; procura empreender uma leitura moral do Direito, mas sem recorrera categorias metafsicas."

    c) marco terico: primeiramente, a constituio passou a ser dotada de fora normativa. Isso quer dizer que o textoconstitucional deixa de ser um convite atuao do governante, uma mera carta poltica, e reconhece o papel doJudicirio na concretizao de direitos. Em segundo lugar, consequentemente, h uma expanso da jurisdioconstitucional, criando-se Tribunais Constitucionais com o objetivo de efetivar o texto constitucional, na perspectiva daSupremacia da Constituio. Por fim, em terceiro lugar, houve uma mudana em relao forma de se interpretar anorma constitucional. A nova interpretao constitucional passou a ter que lidar com a existncia de princpios econceitos abertos, a serem concretizados pelo intrprete, a exemplo do princpio da dignidade da pessoa humana. Almdisso, a tcnica da ponderao de interesses e a argumentao jurdica se tornam fundamentais para a soluo decolises entre direitos.

    Pgina 12: Evoluo do Constitucionalismo

    ESQUEMA GERAL DA EVOLUO DO CONSTITUCIONALISMO

    Histrico do Constitucionalismo

    Exemplos

    Constitucionalismo Antigo Hebreus e gregos

    Institucionalismo Medieval Carta Magna de 1215, Petition of Rights, Bill of Rights,Habeas Corpus Act, Fundamental Orders of Connecticut.

    Constitucionalismo Moderno Declarao Universal dos Direitos do Homem de 1789,Constituio Americana de 1789, Constituio Francesa de1791.

    Constitucionalismo Social (sc. XX) Constituio Mexicana de 1917 e Constituio de Weimarde 1919.

  • Novo Direito Constitucional Neoconstitucionalismo

    Constituies do ps-guerra. Destaques: Lei Fundamentalde Bonn de 1949 (Alemanha) e a Constituio da Itlia de

    1947. No Brasil, Constituio de 1988.

    Direito Constitucional Alm dasFronteiras Transconstitucionalismo

    Caso da Princesa de Mnaco, que teve fotos ntimaspublicadas na internet. O que deve prevalecer: o direito

    fundamental da liberdade de imprensa ou o da intimidade?

    Portanto, vemos que o Direito Constitucional vem se transformando no decorrer dos tempos. E, nos dias atuais, coloca-se umnovo problema a ser enfrentado por essa cincia jurdica: como resolver uma determinada questo que envolve mais de umaesfera constitucional? Ou melhor: o que fazer quando dois rgos no hierrquicos enfrentam um problema com fundamentoconstitucional e que ultrapassa os interesses de um pas?

    Para ilustrar, trazemos a lio do professor Marcelo Neves, que desenvolveu a ideia do transconstitucionalismo. Conformepalavras dele: o transconstitucionalismo o entrelaamento de ordens jurdicas diversas, tanto estatais como transnacionais,internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional.

    Pgina 13: Exemplos e concluso da unidade 1

    Dentre os vrios exemplos ofertados na tese de Marcelo Neves, podemos citar o daprincesa Caroline de Mnaco, que teve fotos

    ntimas publicadas por paparazzi na imprensa alem. Ela entrou com processojudicial, e a Corte Constitucional Alem decidiu que, em casos como o dela, em quea pessoa socialmente proeminente, no h que se falar em direito privacidade.Ela se socorreu para o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que, em decisocontrria, defendeu haver direito privacidade, mesmo em se tratando de pessoaspblicas, como Caroline de Mnaco, no se aplicando, aqui, a liberdade deimprensa.

    Qual deciso deve prevalecer? Marcelo Neves defende que no se deve impor umaou outra deciso, mesmo porque esses rgos no possuem grau de hierarquiaentre eles. Deve-se buscar a orientao socialmente mais adequada. preciso quehaja um dilogo entre as Cortes Constitucionais para se definir o caminho a sertomado.

    Para encerrar esta unidade, veja mais alguns exemplos e conhea mais um pouco deste tema assistindo seguinte entrevistadada pelo professor, que aborda, tambm, os assuntos da ponderao de princpios e do controle do Judicirio:

    Vdeo

  • VIDEO 1/3

    VIDEO 2/3

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    Unidade 2 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio Imperial de 1824 e a Constituio Republicana de1891

    Objetivos da Unidade 2

  • Pgina 2: Introduo

    Unidade 2 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio Imperial de 1824 e a ConstituioRepublicana de 1891

    Nas prximas duas unidades, falaremos das experincias constitucionais brasileiras. Abordaremos, brevemente, o contextohistrico de criao de cada Constituio e suas principais caractersticas. Tambm forneceremos os dados necessrios paraque o aluno possa compreender o que se passou com cada diploma constitucional ptrio.

    Alertamos que este assunto extenso e profundo. Por isso, este curso no esgotar o tema. Na verdade, temos o interesse dedespertar a curiosidade do estudante para que ele possa, posteriormente, buscar mais informaes e realizar novaspesquisas.

    Introduzido o assunto, sigamos.

    Pgina 3: Constituies brasileiras

    Ateno:

    O Brasil teve sete constituies, a saber:

    Constituio Imperial de 1824 (a primeira do Brasil)

    Constituio de 1891 (inaugurou a Repblica)

    Constituio de 1934 (ps fim Repblica Velha)

    Constituio de 1937 (incio do Estado Novo, de Getlio Vargas)

    Constituio de 1946 (redemocratizou o pas)

    Constituio de 1967 (emendada pela EC n. 1/69, vigorou na Ditadura Militar)

    Constituio de 1988 (Constituio Cidad, trouxe de volta o Estado Democrtico)

  • Apesar de alguns juristas considerarem a EC n. 1/69 como mais uma carta constitucional brasileira,analisaremos seu texto em conjunto com a Constituio de 1967. Reconhecemos o carter revolucionrio dodiploma e trataremos deste tpico na Unidade 4.

    Sendo assim, passemos ao estudo das nossas duas primeiras Constituies.

    Pgina 4: Constituio de 1824

    Constituio de 1824

    A Constituio de 1824 foi a que por mais tempo vigorou em nosso pas:65 anos. Ela fruto de acontecimentos que se iniciam com a vinda daFamlia Real Portuguesa, no ano de 1808. Devido ocupao dasterras portuguesas pelas tropas napolenicas, a monarquia teve que seretirar de Portugal, estabelecendo-se no Brasil, ainda colnia.

    Pertencendo, agora, ao Reino Unido de Portugal e Algarves, cujo Reiera D. Joo VI, o Brasil era a sede da metrpole portuguesa, tendocomo capital a cidade do Rio de Janeiro. Alguns historiadoresdenominam esse fato como inverso metropolitana, pois Portugal eragovernado a partir da antiga colnia.

    Muitas coisasmudaram com a chegada da corte portuguesa. Fundou-se o Banco doBrasil, criaram-se a Biblioteca Real, o Jardim Botnico, a AcademiaReal Militar e duas escolas de Medicina, uma na Bahia e outra no Riode Janeiro, dentre outras instituies.

    Alm disso, foi assinado o Decreto de Abertura dos Portos s NaesAmigas, em cumprimento ao apoio dado pelos ingleses aosportugueses na viagem at o Brasil. Ele marcou o fim do pacto coloniale trouxe vrios privilgios aos britnicos, que poderiam negociardiretamente com o Brasil, sem ter que passar pelas alfndegas dePortugal.

  • Pgina 5: Constituio da Mandioca

    Com a derrota de Napoleo e o crescente poderio britnico sobre os portugueses,deu-se incio, em 1820, Revoluo do Porto. Este movimento reivindicava a volta daFamlia Real para restabelecer a colonizao das terras brasileiras e expulsar osingleses do controle militar.

    Assim, D. Joo VI retorna a Portugal, mas deixa no Brasil seu filho, D. Pedro deAlcntara, na condio de Prncipe Regente.

    Sob presso dos liberais, D. Pedro, desrespeitando as ordens da corte portuguesa, ficano Pas (Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822) e declara a independncia em 7 desetembro de 1822, tornando-se D. Pedro I, imperador do Brasil.

    Convocada uma Assembleia Nacional Constituinte, deu-se incio aos trabalhos paraelaborar a primeira Constituio da nao independente. Havia dois partidos queintegravam a Constituinte: o partido Luso e o partido Brasileiro. D. Pedro, obviamente,apoiava o partido Luso, pois no queria perder o poder. O partido brasileiro era lideradopelos irmos Andrada (Jos Bonifcio de Andrada e Silva, Antnio Carlos Ribeiro deAndrada Machado e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada), que elaboraram o primeiro anteprojeto de constituio,conhecido como Constituio da Mandioca.

    Pgina 6: Assembleia Nacional Constituinte

    Uma vez que a maioria dos proprietrios de terra era brasileira, os portugueses seriam excludos do poder, tanto comoeleitores como representantes. Vendo esta jogada jurdica dos liberais, o imperador dissolveu a Assembleia (esse episdioficou conhecido como Noite da Agonia, que aconteceu do dia 11 para o dia 12 de novembro de 1823) e nomeou somenteportugueses para redigir a Constituio, que seria imposta ou outorgada em 25 de maro de 1824.

  • Link

    Clique para saber o que foi a noite da agonia!

    Com a outorga da Constituio, passamos a ser uma monarquia hereditria, cujo Imperador e Defensor Perptuo do Brasil eraD. Pedro I.

    Pgina 7: Provncias

    As capitanias hereditrias foram transformadas em provncias, as quais eramadministradas por presidentes nomeados pelo Imperador. Elas integravam os EstadosUnidos do Brasil, cuja capital era a cidade do Rio de Janeiro. Foram os embries dasatuais unidades da Federao.

    Veja no menu esquerda, em Mapas, as capitanias hereditrias poca da colonizao.

    Nosso Estado detinha a forma unitria, ou seja, o poder era centralizado em um nicorgo, a Coroa, no havendo autonomia poltica das provncias. Essa condio s foimodificada com a Constituio de 1891, quando se adotou o federalismo.

    Houve uma tentativa de derrubar esse unitarismo, durante a Regncia Trina Permanente(1831-1835), perodo em que D. Pedro I abdica do trono, deixando D. Pedro II, aindamenor, no poder. A Lei n. 16 de 1834, modificando normas da Constituio, criou asAssembleias Legislativas Provinciais, dando a elas certa autonomia.

    No entanto, essa tentativa no foi bem sucedida, tendo sido totalmente extirpada com a Lei n. 105 de 1840, que interpretou asmodificaes trazidas pela Lei 16/1834. Alis, a referida lei ficou conhecida como Lei de Interpretao.

    Pgina 8: Revoltas sociais

    Mesmo assim, as revoltas sociais eclodiam em vrias partes do territrio nacional, tendo como ponto comum odescontentamento com o poder central. So exemplos: a Cabanagem, no Par (1835); a Farroupilha, no Rio Grande do Sul(1835); a Sabinada, na Bahia (1837); a Balaiada, no Maranho (1838); e a Revoluo Praieira, em Pernambuco (1848).

    Outra caracterstica importante de nossa primeira Carta Maior foi o fato de termos uma religio oficial: a Catlica ApostlicaRomana. Em virtude disso, todas as outras formas religiosas no podiam ter manifestao externa. Aceitava-se, apenas, seu

  • culto domstico.

    Na nossa primeira experincia constitucional, no adotamos a forma popular e revolucionria de repartio dos poderes. Adenominada tripartio dos Poderes de Montesquieu, em que havia os Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio, comatribuies complementares, autnomas e independentes, no foi implementada na Carta de 1824.

    Pgina 9: O quarto poder

    Na realidade, pelas ideias de Benjamin Constant, a organizao dos Poderes do Imprio abrangia um quarto poder, o PoderModerador, ao lado daqueles trs. Ele era a chave de todo o complexo poltico e assegurava ao Imperador o controle dosdemais poderes.

    Estava regulado nos arts. 98, 99, 100 e 101. Veja o que diz, com a grafia da poca, o art. 98:

    O Imperador exercia o Poder Moderador e era o chefe do Poder Executivo. Paralelamente, nomeava os integrantes do PoderLegislativo e indicava os do Poder Judicirio. Como se v, o controle era demasiadamente centralizado.

    Ao lado desse centralismo poltico, o Imperador era considerado uma pessoa sagrada e inviolvel. Vigia a teoria dairresponsabilidade total do Estado: o rei no erra (the king can do no wrong). O art. 99 assim o dizia: A Pessoa do Imperador inviolvel, e Sagrada: Ele no est sujeito a responsabilidade alguma. Essa ideia marcou o absolutismo europeu at osculo XVIII e ainda perdurou no Brasil at a proclamao da Repblica, em 1889.

    Pgina 10: Direitos Fundamentais

    No que se refere aos direitos fundamentais, a Constituio de 1824, por influncia da Constituio Francesa de 1789, defendiaa liberdade, a segurana e a propriedade. Por essa linha de pensamento, assegurou importantes direitos civis e polticos deprimeira dimenso (direitos individuais).

    A grande contradio, todavia, foi a permanncia da escravido, que atendia aos interesses de grandes latifundiriosmonocultores de cana de acar. Podemos citar, tambm, o fato de o voto ser restrito aos homens e ser censitrio (conforme arenda).

    Por fim, a garantia do habeas corpus no foi constitucionalizada em 1824. Houve sua previso infraconstitucional no CdigoCriminal de 1830 e no Cdigo de Processo Criminal de Primeira Instncia de 1832. Essa importante garantia s viria a ter

  • status constitucional em 1891, como veremos na sequncia.

    Pgina 11: Constituio de 1891

    Constituio de 1891

    O surgimento de nossa segunda constituio est ligado ao enfraquecimento da monarquia, que pode ser observado desde1831, quando houve a tentativa de descentralizar o poder. Como dissemos anteriormente, a Lei n. 16 de 1834 concedeualguma autonomia s provncias, ao possibilitar que elas legislassem. Porm, tal lei foi interpretada e praticamente revogadaem 1840. O poder continuou centralizado, e essa capacidade de legislar foi retirada das provncias.

    No entanto, a partir de 1860, o centralismo poltico comeava a ser um problema para algumas classes. Por exemplo, mesmosendo vitoriosos na Guerra do Paraguai, em 1870, os militares ficaram extremamente descontentes com o fato de terem seuoramento e seu efetivo reduzidos pelo imperador D. Pedro II.

    Outro fato que demonstra o descontentamento com a monarquia a publicao do Manifesto do Centro Liberal, em 1869, e doManifesto Republicano, em 1870. Nesses documentos, reivindicava-se maior legitimidade da representao do Pas, exigindoo fim da vitaliciedade do mandato no Senado e no Conselho de Estado.

    Paralelamente, tambm a Igreja se mostrava insatisfeita com o regime, especialmente em razo de ser submissa ao EstadoImperial. Um fato que mostra essa contrariedade a priso dos bispos de Olinda e Belm, em 1874, ao no ter sido aprovadauma bula papal que censurava a maonaria. Alm disso, o Imperador perdeu o apoio dos produtores rurais, ocasionando alibertao dos escravos em 1888.

    Pgina 12: Repblica

    Dentro desse contexto, a Repblica proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889, por meiodo Decreto n. 1. Este decreto foi redigido pelo conhecido jurista Rui Barbosa e previu um Governo Provisrio com o objetivode consolidar o regime e elaborar a nova Constituio, a qual seria promulgada em 24 de fevereiro de 1891. a primeiraconstituio promulgada da nossa histria, marcando o fim do absolutismo monrquico.

    Embora o Decreto n. 1 de 1889 j tivesse reunido as provncias sob a condio de Estados Unidos do Brasil, a formafederativa foi constitucionalizada em 1891. A capital era o Distrito Federal, com sede na cidade do Rio de Janeiro. aqui quesurge a ideia de se levar a capital do pas para o planalto central. O art. 3 assim o disps: Art. 3 - Fica pertencendo Unio,no planalto central da Repblica, uma zona de 14.400 quilmetros quadrados, que ser oportunamente demarcada para nelaestabeIecer-se a futura Capital federal.

    A partir da CF/1891, deixamos de ser um Estado unitrio centralizado. Os estados federados passaram a ter autonomia paralegislar e administrar seus territrios. Alguns at adotaram o bicameralismo, como foi o caso de So Paulo e de Pernambuco,que possuam a Cmara dos Deputados Estaduais e o Senado Estadual.

    Como se disse, a repblica era a nova forma de governo, e a monarquia foi afastada do poder e banida do territrio brasileiro.Com ela se foi tambm o Poder Moderador e a concepo de Benjamim Constant. Na nossa segunda Constituio, as ideiasde Montesquieu prevaleceram, e a tripartio dos Poderes foi adotada.

  • Pgina 13: Os trs Poderes

    O Poder Executivo era exercido por um Presidente, eleito diretamente pelo povo. Todavia, somente os homens acima de 21anos votavam.

    O Poder Legislativo era comandado pela Cmara dos Deputados e pelo Senado Federal, tendo os parlamentares mandato de3 e 9 anos, respectivamente. Fixou-se, assim, o bicameralismo federativo, com uma casa iniciadora e outra revisora.

    O Poder Judicirio, por sua vez, passou a ter um rgo mximo independente, o Supremo Tribunal Federal (STF).

    Outro detalhe importante que, com a Constituio de 1891, no havia mais religio oficial no Brasil. O Pas, agora, era umlaico, leigo ou no confessional. Em virtude disso, algumas prticas mudaram: era proibido o ensino religioso nas escolaspblicas; os cemitrios eram administrados pela autoridade municipal e no mais pela Igreja; no existia mais o padroado(direito de o imperador intervir nas nomeaes de bispos e de alguns cargos eclesisticos), bem como o recurso Coroa paraatacar as decises dos Tribunais Eclesisticos. Houve, portanto, a separao total entre Igreja e Estado.

    Pgina 14: Direitos Fundamentais

    Sobre os direitos fundamentais, podemos dizer que eles foram aprimorados, extinguindo-se algumas penas cruis, como a degals (trabalhos forados), a de banimento e a de morte. Esta persistiu apenas na legislao militar em tempo de guerra.

    A garantia do habeas corpus foi constitucionalizada pela primeira vez, no art. 72, 22: Dar-se- o habeas corpus sempre queo indivduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violncia ou coao por ilegalidade ou abuso de poder.

    Pela abrangncia do dispositivo, criou-se em nosso pas a denominada Teoria brasileira do habeas corpus, pois este remdioconstitucional no protegia apenas a liberdade de locomoo, mas qualquer direito fundamental.

    Em vista disso, em 1926, por meio da Emenda Constitucional n. 1, o habeas corpus foi restringido apenas liberdade delocomoo. Veja como ficou, poca, a nova redao do dispositivo: Dar-se- o habeas corpus sempre que algum sofrer ouse achar em iminente perigo de sofrer violncia por meio de priso ou constrangimento ilegal em sua liberdade delocomoo.

  • Pgina 15: Concluso da unidade 2

    A Constituio de 1891 vigorou at 1930, sofrendo apenas uma reforma em 1926. Na prxima unidade do nosso cursoestudaremos os fatos que determinaram o fim da Repblica Velha, a revogao desse ordenamento jurdico e a promulgaode um novo texto constitucional, o de 1934.

    Para encerrar esta unidade, assista ao vdeo do professor Boris Fausto, que faz alguns comentrios sobre esse momentohistrico no Brasil:

    Vdeo

    Unidade 3 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio de 1934, a Carta de 1937 e a ConstituioDemocrtica de 1946

    Objetivos da Unidade 3

  • Pgina 2: Constituio de 1934

    Unidade 3 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio de 1934, a Carta de 1937 e a ConstituioDemocrtica de 1946

    Chegou a vez de sabermos um pouco sobre as Constituies de 1934, de 1937 e de 1946. A de 34 marca o fim da PrimeiraRepblica ou Repblica Velha e o incio de um novo perodo, que interrompido pelo golpe de Getlio Vargas, em 1937. Onovo regime instaurado por Getlio, o Estado Novo, de cunho autoritrio, se estendeu at 1946, quando houve aredemocratizao do pas. Vamos ao estudo.

    Constituio de 1934

    As principais causas para a extino da Repblica Velha, que perdurou de 1889 a 1930, podem ser associadas a dois fatores:

    1) domnio das oligarquias mineiras e paulistas (o termo oligarquia significa governo de poucos); e

    2) ruptura eleitoral do ento presidente Washington Lus, que no respeitou o acordo da poltica do caf com leite.

    Pgina 3: Eleies

    Como se sabe, por esse acordo os paulistas e os mineiros se alternavam na presidncia da Repblica. Porm, nas eleiesde 1929, ao invs de indicar o candidato mineiro, Antnio Carlos Ribeiro de Andrada, Washington Lus apoiou o governadorpaulista, Jlio Prestes. Em contrapartida, Antnio Carlos posicionou-se em favor do gacho Getlio Vargas para as eleies de1930.

    Apesar de eleito, Jlio Prestes no tomou posse. A Revoluo de 1930, liderada pelos militares gachos e deflagrada depoisdo assassinato de Joo Pessoa, fez com que Getlio Vargas assumisse o poder, por meio de um governo provisrio.

    Nesse perodo, a Constituio de 1891 foi revogada, e o Congresso Nacional dissolvido. Getlio Vargas governava pordecretos. Paralelamente, foram nomeados interventores em todos os estados da federao, exceto em Minas Gerais, estadodo governador Antnio Carlos, que apoiara Getlio.

  • Mesmo com avanos em algumas reas na poca do Governo Provisrio, a exemplo do Cdigo Eleitoral, que trouxe o sufrgiouniversal, direto e secreto, englobando o voto feminino, e vrias garantias trabalhistas (descanso semanal remunerado, friasremuneradas, licena-maternidade e jornada de trabalho mxima de 8 horas dirias), vivamos, na prtica, sob o domnio deuma s pessoa, e no possuamos, ainda, uma Constituio.

    Pgina 4: Assembleia Constituinte

    Em virtude disso, um movimento revolucionrio reivindicava a convocaode Assembleia Nacional Constituinte com o intuito de elaborar a nova

    constituio. Ficou conhecido como Revoluo Constitucionalista de SoPaulo. Os conflitos iniciaram-se em 9 de julho de 1932, estendendo-se at

    outubro desse mesmo ano. Mesmo tendo massacrado os paulistas, Getlio Vargas se viu obrigado aconvocar a Assembleia Constituinte, pois seno perderia sua legitimidade.Fala-se que, embora vitorioso na guerra, Getlio fracassou politicamente.

    Dessa forma, a Constituio de 1934 promulgada aps intensosmovimentos revolucionrios e num contexto mundial de profunda crise docapitalismo. A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque evidencia adepresso do modelo liberal. Ao lado disso, a recente industrializao,surgida com a Primeira Guerra Mundial, deixa uma grande classe deoperrios sem emprego.

    Diante desse quadro, a nossa terceira Constituio teve grande nfase social, sofrendo influncias da Constituio Alem de1919 (Constituio de Weimar), que tambm possua a mesma preocupao. A Carta de 1934 marca uma importante transiodo nosso constitucionalismo, que passa a garantir os direitos sociais ou direitos de segunda gerao, como por exemplo osdireitos trabalhistas, o direito sade e educao e o direito de greve. Alm, claro, dos j consagrados direitos de primeiragerao (direitos civis e polticos: liberdade, igualdade perante a lei, direito vida e propriedade).

    Pgina 5: Estado Social de Direito

    Passamos, assim, do Estado Liberal ou Estado de Direito para o Estado Social de Direito, em que o Estado assume suaresponsabilidade perante a sociedade e deve garantir o mnimo para que as pessoas possam viver uma vida digna.

    Outras caractersticas podem ser citadas sobre o texto constitucional de 1934:

    a) o sufrgio universal, direto e secreto, abrangendo o voto feminino;

    b) a forma republicana foi mantida;

    c) a capital da Repblica manteve-se no Distrito Federal, com sede no Rio de Janeiro (havia a previso de transferncia dacapital para um ponto central do pas).

    Continuamos a ser um pas laico, sem religio oficial, mas esta caracterstica foi amenizada, visto que a Constituio de 1891

  • havia sido muito severa sobre o tema. Dessa maneira, o casamento religioso voltou a produzir efeitos civis, e o ensinoreligioso em escolas pblicas se tornou facultativo.

    Pgina 6: Justia Eleitoral

    Criou-se a Justia Eleitoral, a Justia do Trabalho e as Comisses Parlamentares de Inqurito (CPIs), e previu-se, pelaprimeira vez, o Mandado de Segurana e a Ao Popular, importantes mecanismos para garantir direitos fundamentais.

    Havia a tripartio de Poderes. No entanto, instalou-se no Poder Legislativo Federal o que muitos chamam de bicameralismodesigual ou unicameralismo imperfeito, pois ele era exercido pela Cmara dos Deputados com a colaborao do SenadoFederal. Assim, o Senado Federal no detinha o mesmo status da Cmara, sendo um mero colaborador.

    Apesar de alguns defeitos, o texto de 1934 representou importante avano nas reas da educao e da economia, bem comono campo social. Assista ao vdeo abaixo, que ilustra esse tema.

    Vdeo

    Pgina 7: Constituio de 1937

  • Constituio de 1937

    Com a eleio de Getlio Vargas para governar durante o perodo de 1934 a 1938,comeou a haver uma forte disputa entre dois movimentos nacionais. De um lado, oda direita fascista, que defendia um estado autoritrio, inspirado nas ideias deMussolini, representado pela Ao Integralista Brasileira (AIB); e, de outro, aAliana Nacional Libertadora (ANL), movimento de esquerda que apoiava ideiassocialistas e comunistas e pretendia combater o fascismo nacional.

    Em 11 de julho de 1935, quatro meses aps a criao da ANL, o Governo a fechou,sob a alegao de que essa aliana era ilegal em vista da Lei de SeguranaNacional. Paralelamente, para evitar o avano comunista, Getlio Vargas decretouo estado de stio, inviabilizando uma insurreio poltico-militar que objetivavaderrub-lo e instalar o comunismo, a denominada Intentona Comunista.

    Porm, o estopim desse quadro histrico foi a descoberta do famoso PlanoCohen, que novamente pretendia derrubar Getlio. Foi descoberto peloEstado-maior do Exrcito e veiculado em rdio nacional. Como pretexto parasalvar o Brasil do comunismo, Getlio Vargas decreta o golpe de estado e fecha oCongresso Nacional.

    Para refletir

    PLANO COHEN A matria a seguir conta que, na verdade, o Plano Cohenfoi uma fraude para tentar manter Getlio Vargas no poder. Vale a pena l-lo.PLANO COHEN

    Pgina 8: Carta de 1937

    Na sequncia, Getlio outorga (impe) a Carta de 1937, iniciando o que chamou de Estado Novo. Essa constituio foielaborada por Francisco Campos e teve o apelido de Polaca, em virtude da influncia da constituio polonesa fascista e

  • autoritria de 1935.

    Apesar de ter estabelecido em seu art. 187 que seria submetida a plebiscito nacional, isso nunca aconteceu. Sua caractersticaprincipal foi o autoritarismo, tendo sido fechado o Parlamento, e o Judicirio passou a ser controlado pelo Executivo.

    Para se ter uma ideia, o art. 170 da Carta de 1937 disps que durante o estado de emergncia ou o estado de guerra, dosatos praticados em virtude deles no podero conhecer os Juzes e Tribunais. Isso equivalia a dizer que por mais atrozes quefossem as condutas de militares, o cidado no poderia levar isso ao conhecimento de nenhum juiz. Vivamos numa tripartioapenas formal dos Poderes, pois na prtica apenas o Poder Executivo comandava o Pas.

    Igualmente, a federao tambm sofreu limitaes. O Governo nomeou interventores nos estados federados, diminuindo suacapacidade de se autogovernar. A forma federativa era apenas nominal, no existia de fato.

    Pgina 9: Modificaes da Constituio de 1934

    Houve retrocesso em algumas criaes da Constituio de 1934, como o caso da Justia Eleitoral, que foi extinta. Da mesmaforma, os partidos polticos foram dissolvidos pelo Decreto-lei n. 37 de 1937. A eleio para Presidente da Repblica passou aser indireta.

    No entanto, a rea mais afetada foi a dos direitos fundamentais. Veja algumas dessas modificaes:

    a) retiraram-se do texto constitucional o Mandado de segurana e a Ao popular;

    b) o princpio da irretroatividade das leis no mereceu muita ateno;

    c) estabeleceu-se a censura prvia, restringindo-se o direito liberdade de manifestao do pensamento, e todos os jornaisficaram obrigados e inserir comunicaes do Governo, quando assim fosse necessrio;

    d) previu-se a pena de morte para crimes polticos e quando se tratasse de homicdio cometido por motivo ftil;

    e) a greve era proibida.

    Vdeo

    Ao arrepio da Constituio, a tortura era utilizada como forma de represso, a exemplo do que aconteceu com OlgaBenrio, mulher do comunista Lus Carlos Prestes. O filme Olga ilustre bem esse fato. Ela foi entregue e,posteriormente, assassinada em um campo de concentrao nazista, na Alemanha. Est disponvel o trailer:

  • Pgina 10: Retrocessos e Avanos

    Como se v, esse momento foi muito duro para a histria brasileira, sobretudo sob o ponto de vista dos direitos individuais.Mas em razo da forma populista de governo, podemos dizer que houve avanos nos campos trabalhista e industrial. dessetempo a criao de importantes empresas estatais: a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Companhia Hidroeltrica do SoFrancisco (1945) e a Companhia Siderrgica Nacional, que comeou a operar em 1946.

    O Brasil s viria a ser redemocratizado em 1946, aps uma contradio na politica adotada por Vargas, como veremos aseguir.

    Pgina 11: Constituio de 1946

    Constituio de 1946

    .

    O Estado Novo se prolongou de 1937 a 1946, sendo que Vargas governou, efetivamente, desde o Governo Provisrio,instalado em 1930. No total, foram mais de quinze anos de Era Vargas. Como se viu, a poltica interna se baseava em ideiasda direita fascista e se norteava pelo autoritarismo, configurando-se como uma verdadeira ditadura.

    Porm, com o incio da 2 Guerra Mundial, o Brasil declarou guerra aos pases do Eixo (a Alemanha nazista, a Itlia fascista eo Japo), combatendo, assim, do lado dos Aliados (EUA, URSS, China, Frana e Inglaterra).

    Numa clara contradio entre a poltica interna (ditadura Vargas nazifascista) e a poltica externa (apoio aos pases quequeriam destruir as ditaduras nazifascistas), foi publicado o Manifesto dos Mineiros, que evidenciava esse quadro

  • controverso.

    Tendo perdido apoio e entrado em crise poltica, Getlio Vargas se viu obrigado a convocar eleies para a Presidncia doBrasil. Por meio da Lei Constitucional n. 9, de 1945, ele o faz e comea a corrida das eleies.

    Pgina 12: Nova Carta

    Embora tenha surgido o movimento queremismo, que, em sntese, significava queremos Getlio, ele no foi eleito. Algunsfatos, como a substituio do chefe de polcia do Distrito Federal pelo seu irmo, fez com que Getlio Vargas fosse expulso dopoder pelas Foras Armadas, mais especificamente pelos Generais Gis Monteiro e Gaspar Dutra. Pensava-se que elepoderia dar um novo golpe e se perpetuar no poder.

    O Executivo passou a ser exercido pelo Presidente do STF, Jos Linhares, at que o General Gaspar Dutra foi eleito parachefiar o pas, a partir de 1946. Antes disso, a Lei Constitucional n. 13, de 1945, atribuiu poderes constituintes ao Parlamento,para que este elaborasse outra constituio.

    A nova Carta foi promulgada em 18 de setembro de 1946 e teve o importante papel de redemocratizar o Brasil. Dentre asprincipais mudanas, destaque-se que os direitos fundamentais voltaram a ter a proteo adequada, sendo que o Mandado deSegurana e a Ao Popular foram recolocados no diploma constitucional. Vedou-se a pena de morte, salvo em tempo deguerra e de acordo com a legislao militar. Reconheceu-se o direito de greve.

    Pgina 13: Nova Capital e concluso da unidade 3

  • Consolidou-se a tripartio real dos Poderes e implementou-se, novamente, o bicameralismo paritrio no Poder LegislativoFederal. O Poder Judicirio no foi excludo de apreciar qualquer demanda que lesasse direitos individuais, e o PoderExecutivo voltou a ser eleito diretamente, para mandato de 5 anos. Os partidos polticos tambm voltaram a ter guaridaconstitucional.

    Assim, a Constituio de 1946 deu ao Brasil as bases necessrias para construir um pas democrtico. Todavia, devido aoconhecido Golpe de 64, mergulhamos num dos perodos mais conturbados de nossa histria. Como veremos na prximaunidade, a Constituio de 1967, emendada pela EC n. 1/69, assemelhou-se em muitos pontos Carta de Vargas,representando um retrocesso poltico e social para os brasileiros.

    Unidade 4 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio do perodo militar e a redemocratizao do pas com aConstituio de 1988

    Objetivos da Unidade 4

  • Pgina 2: Constituio de 1967

    Unidade 4 As experincias constitucionais brasileiras A Constituio do perodo militar e a redemocratizao dopas com a Constituio de 1988

    Estudaremos, agora, as duas ltimas constituies do Brasil. A de 1967, que sofreu uma importante emenda em 1969 evigorou durante a ditadura militar. E a de 1988, hoje vigente, que simbolizou a volta do Brasil para o Estado Democrtico e,

    mais do que isso, a evoluo de nosso constitucionalismo para a construo de espao aberto ao debate.

    Sendo assim, comecemos pelos fatos que antecederam a criao da CF/1967.

    Constituio de 1967 e a Emenda Constitucional n. 1, de 1969

    Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido em dois grandes blocos: a parte capitalista, liderada pelos EUA,e a parte socialista, chefiada pela ex-URSS (Unio das Repblicas Socialistas Soviticas). Essas potncias ajudavam nareconstruo dos pases destrudos pela guerra e, paralelamente, exerciam sua influncia para a garantia de poder e comandosobre tais territrios.

    Nessa poca, o Brasil se vinculou ao mundo capitalista, tendo, inclusive, recebido algumas multinacionais para explorar omercado nacional. Alis, especialmente a partir da dcada de 50, que desnacionalizou segmentos importantes da economianacional, como a rea do petrleo, tal poltica econmica ficou conhecida como entreguismo.

    Pgina 3: Volta do presidencialismo

  • Nesse passo, havia no Pas um esprito de caa aos comunistas, devido ideologia adotada por nosso governo. Todavia, napresidncia de Jnio Quadros comea a haver um desemparelhamento com o bloco norte-americano. O governo brasileirocomea a travar relaes com a China e com a ex-URSS, expoentes do mundo comunista.

    Perdendo apoio tanto da direita quanto do centro, Jnio Quadros renuncia. Em seu lugar, assumiria o vice-presidente JooGoulart, que no momento da renncia estava na China. As Foras Armadas queriam impedir que Jango, como ficouapelidado, assumisse a presidncia, e tentou impedir seu retorno ao Brasil.

    Para contornar a situao, o Congresso Nacional aprovou um regime parlamentarista, em que Joo Goulart ficaria como chefede Estado e Tancredo Neves seria o chefe de Governo. Esse sistema, no entanto, foi rejeitado pela populao, que, emplebiscito, escolheu a volta do presidencialismo (6 de janeiro de 1963).

    Dessa forma, Joo Goulart voltou a ocupar a chefia do Poder Executivo, sob o sistema presidencialista, e, por ter um vispopulista, coordenou as Reformas de base. Nessas reformas, o presidente Jango permitiu que os analfabetos votassem,iniciou a reforma agrria, limitou a remessa de capital ao exterior e deu grande incentivo educao.

    Pgina 4: Atos Institucionais

    Apesar de ter ampla aprovao do operariado, a classe mdia, assim como a Igreja, no via com bons olhos essa polticapopulista. Nesse contexto, em 31 de maro de 1964, acusado de estar a servio do comunismo internacional, Joo Goulart derrubado do poder pelos militares.

    Em seguida, constitudo o Supremo Comando da Revoluo pelos militares vitoriosos General Costa e Silva, BrigadeiroFrancisco Correa de Melo e Almirante Augusto Rademaker. Esse Supremo Comando, no exerccio do Poder Executivo, baixouos famosos Atos Institucionais (AI), que governariam o pas at imposio da Carta de 1967.

    Vejamos a sntese de cada um deles.

    .

    O AI-1 permitiu ao Comando decretar o estado de stio, quando assim se fizesse necessrio, alm de conferir o poder de

  • aposentar qualquer civil ou militar. Ainda, por meio desse Ato, os militares poderiam suspender direitos polticos e cassarmandatos legislativos federais, estaduais ou municipais.

    O AI-2 estabeleceu eleies indiretas para Presidente da Repblica.

    O AI-3 fez o mesmo que o 2, porm na esfera estadual.

    O AI-4, a seu turno, convocou o Congresso Nacional, que estava fechado, para elaborar a nova Carta Constitucional, queregeria o pas a partir de ento.

    Embora conste que o texto foi promulgado, bom frisar para o estudante que ele foi imposto unilateralmente pelo regimemilitar. Houve apenas as formalidades de votao, aprovao e promulgao. Na verdade, o Parlamento estava ali paraatender aos interesses do Comando da Revoluo.

    Pgina 5: Texto de 1967

    Em sntese, de 1964, quando houve o golpe de Estado, at 1967, quando a Constituio foi outorgada, o Brasil foi regido porAtos Institucionais. A Constituio de 1946 existia apenas formalmente. Ela foi revogada, em definitivo, no dia 15 de maro de1967, data em que passou a viger o novo texto constitucional.

    Dentre as caractersticas mais marcantes do texto de 1967, podemos destacar o centralismo poltico, que significou o fim dofederalismo. Experimentamos, praticamente, um estado unitrio, em que os estados federados no possuam muitaautonomia.

    A Tripartio dos Poderes tambm no existiu na prtica, pois o Executivo foi extremamente fortalecido, esvaziando acompetncia dos demais Poderes. O Presidente governava mediante a edio de Decretos-Lei, fazendo o parlamento ummero coadjuvante. Some-se a isso o fato de que as eleies presidenciais eram indiretas e se davam pelo Colgio Eleitoral.

    Pgina 6: AI-5

    Mas foi com o AI-5 que a Ditadura deixou seu maior legado, ao restringir, violentamente, os direitos fundamentais doindivduo. Por ele, o Presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e dasCmaras dos Vereadores, sendo que, nesse perodo, ele assumiria as funes desses rgos.

    O AI-5 tambm permitia ao Presidente intervir nos Estados e nos Municpios, sem as limitaes previstas na Constituio. Ochefe do Executivo tambm poderia decretar o confisco de bens de todos aqueles que tivessem enriquecido de maneira ilegal,no exerccio de cargo ou funo pblica, bem como suspender os direitos polticos de quaisquer cidados, pelo prazo de 10anos.

    Conforme o art. 10 do Ato, a garantia de habeas corpus foi suspensa nos casos de crimes polticos, contra a segurananacional, a ordem econmica e social e a economia popular. E, de forma mais autoritria, excluiu da apreciao judicial os atospraticados em acordo com seus comandos.

    Pgina 7: Golpe dentro do golpe

  • Percebe-se, portanto, que o estadoautoritrio instalado ofendia os direitosindividuais e gerava descontentamentopor parte da

    sociedade civil. Outros setores tambmse mostravam insatisfeitos com oGoverno Militar, como foi o caso doDeputado carioca Moreira Alves, que,em 1968, sustentou no haver nada ase comemorar no Dia da Independncia,pois vivamos sob o domnio (edependncia) dos militares.

    Nesse meio tempo, no fim de agosto de 1969, o presidente Costa e Silva adoece e sua substituio se faz necessria. Noentanto, seu vice, Pedro Aleixo, que fora contra o AI-5, descartado pelos militares.

    Num golpe dentro do golpe, os militares assumem o poder. Eles editam o AI-12, que permite a uma Junta de Militaresgovernar o pas enquanto Costa e Silva estivesse afastado por motivos de sade. Em seguida, editam a EC n 1/69,acrescentando alguns pontos importantes na CF/67. Vejamos alguns detalhes dessa Emenda.

    Pgina 8: Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969

    A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969.

    Como dissemos no incio da Unidade 2, discute-se se esta Emenda no configuraria uma nova Constituio, j que ela frutode um poder revolucionrio, que afasta da presidncia quem deveria assumi-la (vice-presidente Pedro Aleixo), e outorga umnovo diploma constitucional.

    Certamente, essa viso pode ser defendida, pois a EC 1/69 constitucionalizou o uso dos Atos Institucionais, que j regulavamo pas, alm de ter mantido em vigor os Atos j baixados. Aumentou, tambm, o mandato do Presidente para 5 anos. Noentanto, ela no revogou expressamente a CF/67, mantendo, inclusive, vrios pontos de seu texto.

    O estudante precisa ficar atento a essa discusso, sempre lembrando que colocamos o nome Emenda Constitucional pararespeitar o que se sucedeu na histria constitucional brasileira.

    E como conseguimos superar o estado autoritrio? Como passamos sociedade que atualmente vivemos, sob os princpiosde um Estado Democrtico? isso que veremos no tpico adiante.

    Pgina 9: Constituies de 1988

    Constituio de 1988

    .

    Durante o regime militar, mais especificamente no governo do General EmlioMdici, experimentamos o milagre econmico (perodo de 1968 a 1973).

    Houve um crescimento econmico muito grande, mas custa do endividamentonacional. Apesar de ter privilegiado sobretudo a classe mdia, as classes mais

    pobres no aproveitaram esse milagre. No governo de Ernesto Geisel

  • (1974-1979), as consequncias dapoltica econmica adotada naadministrao anterior foramaparecendo e passamos por umperodo de inflao acelerada ecrise econmica acentuada.Acrescente-se a isso a criseinternacional do petrleo, que

    tambm atingiu o Brasil.

    Mesmo assim, Geisel no modificou seus projetos de desenvolvimento (erapreciso mostrar ao povo que o Governo Militar ia bem), deixando o pas com umadvida externa altssima. Diante disso, os militares foram perdendo apoio etemiam que alguns movimentos de oposio se insurgissem contra eles.

    dessa poca a edio da famosa Lei Falco, que reduziu a propaganda poltica, com o intuito de minar as possibilidades daoposio. Houve, tambm, o conhecido Pacote de Abril de 1977, elaborado por Geisel, que, dentre outras coisas, aumentouo mandato do presidente para 6 anos. Ele pretendia fazer um caminho para democracia, mas seria lento e gradual.

    Pgina 10: Movimentos sociais

    Mesmo tentando se manter no poder, os militares no tinham apoio popular. Vivamos soba censura, a tortura e sequestros de artistas e intelectuais. Nasceram alguns movimentosque criticavam essa estrutura, como o caso da Tropiclia.

    H um site que traz informaes interessantes sobre esse movimento. H fotos, vdeos,biografias etc. Vale a pena visit-lo: http://tropicalia.com.br.

    Em 1978, tentando contornar algumas controvrsias, edita-se o Pacote de Junho, que,em resumo, revoga o famigerado AI-5, suspende as decises que cassaram os direitospolticos de alguns cidados e prev a impossibilidade de o Presidente da Repblicasuspender os trabalhos do Congresso Nacional. Era o incio da redemocratizao dopas.

    Outros fatos denotam o avano do Brasil para o caminho democrtico. O primeiro deles a Reforma Partidria de 1979 (Lei n. 6.767/1979), que reinstitui o pluripartidarimo. Antes,havia apenas os partidos ARENA (Aliana Renovadora Nacional, de situao) e MDB (Movimento Democrtico Brasileiro, deoposio). Depois da Reforma, a Arena passou a se chamar PDS e o MDB se desmembrou em cinco novos partidos: PMDB,PP, PT, PDT e PTB.

    Pgina 11: Diretas j

    Tambm como passo rumo democratizao, podemos citar o estabelecimento de eleies diretas para governador dosEstados e o movimento Diretas J, que pretendia tornar diretas as eleies para Presidente da Repblica. A Proposta deEmenda Constitucional n. 5/83 PEC Dante de Oliveira, como ficou chamada encabeou essa tentativa. Todavia, mesmotendo imenso apoio popular, ela foi rejeitada.

  • Vdeo

    Nas eleies indiretas de 1985, Tancredo Neves eleito o primeiro civil depois de um longo perodo de governo s demilitares. Suas promessas eram de estabelecer a Nova Repblica, baseada num governo democrtico.

    Porm, ele adoeceu e faleceu, no chegando a tomar posse como presidente. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, JosSarney, que tambm era civil. Ele cumpriu a promessa de Tancredo e instituiu uma Comisso de Notveis ( Comisso AfonsoArinos), para elaborar um anteprojeto de Constituio.

    Alis, a Emenda Constitucional n. 26 de 1985 determinou que fosse convocada uma Assembleia Nacional Constituinte com ofim de elaborar a nova Constituio do pas. O curioso dessa emenda que ela no pretendia modificar, e sim eliminar, aConstituio a que se refere (a CF/67, emendada pela EC n. 1/69). Por essa razo, no razovel pensarmos que elaconfigura Emenda Constitucional. Enquadra-se, com maior propriedade, como ato poltico revolucionrio, aos moldes do queacontecera com a EC n. 1/69, s que com vis democrtico.

    Pgina 12: Nova Constituio

    O Presidente, no entanto, rejeitou o texto apresentado pela Comisso, sobretudo em razo deela ter optado pelo regime parlamentarista de governo. Cumprindo o mandamento da EC n.

    26, instala-se a Assembleia Constituinte em 1 de fevereiro de 1987, composta por 559Congressistas, sendo que o grupo majoritrio era do Centro Democrtico, tambm conhecido

    como Centro, apoiado pelo Executivo e defensor de ideias mais conservadoras.

    Aps intensas discusses, vrios lobbies e brigas polticas, a recm-elaborada constituio foi

  • promulgada, em 5 de outubro de 1988, pelo presidente da Assembleia Constituinte, UlyssesGuimares. Ele a denominou de Constituio Cidad, pois o povo pode contribuir para sua

    elaborao, por meio de propostas populares. Alm disso, ela inaugurou um novo pas,erguido sob o Estado Democrtico de Direito e que devia respeito sua Lei Maior.

    A nova Constituio fixou eleies diretas para Presidente da Repblica, cujo mandato ficouestabelecido em 4 anos (por fora da Emenda Constitucional de Reviso n. 5, de 1994, que alterou a previso constitucional

    original, com mandato de 5 anos para Presidente). Esta regra tambm ficou sendo obrigatria para Estados-membros,Municpios e Distrito Federal. O primeiro presidente eleito segundo a CF/88 foi Fernando Collor de Melo, que, pressionado pordenncias de corrupo e j aberto contra ele um processo de impeachment, renuncia ao cargo em 29 de dezembro de 1992

    envolvido em escndalos de corrupo.

    Pgina 13: Redemocratizao

    Com a CF/88, a forma republicana e o sistema presidencialista de governo foram consolidados. Isso ocorreu especialmenteaps o plebiscito (consulta popular) de 21 de abril de 1993, que confirmou a escolha da populao por esses mecanismos deadministrao pblica.

    Por sua vez, o federalismo foi reestabelecido e os entes da federao voltaram a ter autonomia poltica, administrativa efinanceira. Foi criado o estado de Tocantins e transformados em estados federados os antigos Territrios Federais de Roraimae Amap. Ao lado disso, a ilha de Fernando de Noronha deixou de pertencer Unio (era territrio federal, foi extinto) epassou para o domnio do estado de Pernambuco.

    No entanto, devemos ressaltar que ainda h muitos resqucios do centralismo poltico, em que a Unio detm uma amplagama de competncias administrativas e legislativas, como se pode ver pela leitura dos arts. 20 a 23 do atual textoconstitucional.

    Link

    Abra aqui a Constituio Federal e confira a ntegra dos arts. 20 a 23.

    Continuamos a ser um pas laico, sem religio oficial, e ter a capital do pas em Braslia. A redemocratizao trouxe de volta atripartio real dos Poderes, que, conforme o art. 2, so independentes e harmnicos entre si. No mbito do Poder Judicirio,criou-se o Superior Tribunal de Justia (STJ), competente para uniformizar o entendimento dos magistrados no tocante saes que se fundamentem em lei federal. Dessa forma, O STF passou a cuidar das matrias estritamente constitucionais.

    Pgina 14: Direitos fundamentais do indivduo

  • O Poder Legislativo exercido pelo Congresso Nacional, formado pelo Senado Federal e pela Cmara dos Deputados,representantes dos Estados-membros e do povo, respectivamente. Estabeleceu-se, enfim, o bicameralismo paritrio ouigualitrio, em que uma casa legislativa no se sobrepe outra.

    Enfim, no podemos deixar de anotar que foi com a Constituio Cidad que os direitos fundamentais do indivduo foramconsolidados em nosso ordenamento. Alguns at de forma indita, como, por exemplo, o fato de o racismo e a tortura terem setornado crimes inafianveis e a possibilidade de impetrar habeas data para assegurar o conhecimento de informaesrelativas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carterpblico ou para a retificao de dados, quando no se prefira faz-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (art. 5,inciso LXXII).

    O tema dos direitos fundamentais ser analisado com mais detalhes no Mdulo 3. Por ora, devemos ter em mente que a CF/88representou uma quebra de paradigma com o sistema anterior (CF/67), pois alou os direitos fundamentais como centro doordenamento jurdico, tendo a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado brasileiro.

    Pgina 15: Concluso do Mdulo I

    Ao lado da dignidade da pessoa humana, adotamos como fundamentos, ainda, a soberania (internamente, traduz-se naideia de que ningum superior ao Estado, e, externamente, significa que todos os pases so iguais entre si), a cidadania(na qual o sujeito possui o direito e o dever de intervir na ordem poltica em que se insere, tanto elegendo seus representantescomo contribuindo para melhorar a sociedade), os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo poltico(rompendo com a ordem anterior, que se baseava no bipartidarismo e no repdio diversidade poltica).

    Assim, vimos que nossa histria constitucional passou por avanos e retrocessos. Conseguimos superar estados autoritrios eprogredir na proteo do indivduo e da coletividade.

    preciso levar em considerao que nossa Carta Maior sempre sofrer mudanas, pois a realidade social fluida e est,constantemente, em transformao. Carta atual j se incluram dezenas de Emendas Constitucionais. Mesmo assim, necessrio proteger seus fundamentos, pois so eles que norteiam o esprito democrtico e sustentam a construo de umasociedade melhor.

  • MDULO II ELEMENTOS DE TEORIA DA CONSTITUIO

    Objetivos do Mdulo II

    Este mdulo pretende munir o aluno de algumas noes sobre Teoria da Constituio. Sendo assim, ele dever ser capaz de,ao seu trmino, discernir sobre a estrutura da Constituio de 1988 e institutos fundamentais como o Poder Constituinte, esuas implicaes, e o Controle de Constitucionalidade das leis.

    Unidade 1 Estrutura da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 CRFB/88. O prembulo e as normasconstitucionais

    Objetivos da Unidade 1

    Nesta unidade, ser oferecido ao estudante a estrutura da Constituio de 1988 e os princpios bsicos que nortearam suaformatao. Paralelamente, o estudante ter contato com outras partes do texto igualmente importante: o prembulo e o Ato

    das Disposies Constitucionais Transitrias.

    Pgina 2: Prembulo, corpo e normas transitrias

    Unidade 1 Estrutura da Constituio de 1988. O prembulo e as normas constitucionais

    .

    Aps termos estudado toda a travessia histrica de nossas constituies, analisaremos a estrutura da atual, a Constituio de1988. Seu texto dividido em trs partes: prembulo, corpo e normas transitrias. Veja o quadro abaixo:

    Prembulo INTRODUO

    Ttulo I Dos Princpios Fundamentais (arts. 1 a 4)CORPO OU PARTE

    CENTRALTtulo II Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5 a 17)

  • Ttulo III Da Organizao do Estado (arts. 18 a 43)

    Ttulo IV Da Organizao dos Poderes (arts. 44 a 135)

    Ttulo V Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas (arts. 136 a

    Ttulo VI Da Tributao e do Oramento (arts. 145 a 169)

    Ttulo VII Da Ordem Econmica e Financeira (arts. 170 a 192)

    Ttulo VIII Da Ordem Social (arts. 193 a 232)

    Ttulo IX Das Disposies Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250)

    Ato das Disposies Constitucionais Transitrias ADCT (arts. 1 a 97) NORMASTRANSITRIAS

    Nota-se, inicialmente, uma profunda mudana em relao estrutura da constituio anterior, a de 1967, emendada pela ECn. 1/69. Esta carta constitucional, que vigorou durante o perodo militar, tinha a caracterstica de ser autoritria. Sua estruturaera baseada na organizao do Estado e de suas instituies, havendo uma centralizao de poder nas mos dos militares.

    Pgina 3: Direitos Fundamentais do Cidado

    Por sua vez, os Direitos Fundamentais do Cidado localizavam-se aps toda a organizao administrativa do Estado. Somentecom a CF/88, os direitos fundamentais foram antepostos Organizao do Estado, significando que so mais importantes queesta.

    Observe como era a CF/1967:

    Prembulo INTRODUO

    Ttulo I Da Organizao Nacional (arts. 1 a 144)CORPO OU PARTE

    CENTRALTtulo II Da Declarao de Direitos (arts. 145 a 159)

  • Ttulo III Da Ordem Econmica e Social (arts. 160 a 174)

    Ttulo IV Da Famlia, da Educao e da Cultura (arts. 175 a180)

    Ttulo V Das disposies Gerais e Transitrias (arts. 181 a 217) NORMASTRANSITRIAS

    E por que o legislador de 1988 fez essa opo?

    Primeiramente porque, ao instituir um Estado Democrtico de Direito, centrado na dignidadeda pessoa humana, como afirma o art. 1, inciso III, os direitos fundamentais tinham que virem primeiro plano.

    Em segundo lugar, podemos afirmar que o constituinte brasileiro de 1988 adotou opensamento jusnaturalista de Jean Jacques Rousseau. Para este pensador, o homem, desdequando vivia isoladamente, possua direitos inseparveis de sua condio humana. Por uminstinto de se juntar a outros homens, estabeleceu com eles um contrato hipottico,originando o Estado.

    Assim, uma vez que os direitos do indivduo j existiam antes do Estado, funo desteproteger tais direitos e no o contrrio. Por essa razo, a CF/88 posicionou os direitosfundamentais antes dos elementos que o organizam.

    Pgina 4: Prembulo

    Mas h um item singular e comum entre as duas constituies (de 1967 e de 1988). Ambas apresentam um texto introdutrio,chamado de prembulo. Qual a sua funo, j que ele no integra o corpo normativo da Lei Fundamental?

    Muito se discute se esse texto introdutrio teria eficcia jurdica ou seria apenas um texto para inspirar a norma que seinaugura. Vejamos o que diz o prembulo da CF/88:

    PREMBULO

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte parainstituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais eindividuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e ajustia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com asoluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinteCONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

    Embora no seja norma jurdica capaz de disciplinar direitos e deveres, o prembulo possui a importante tarefa de demonstrar

  • a posio ideolgica de um Estado, situando-se na rea da poltica. Na Constituio de 1967, por exemplo, o prembulo erabem curto e se limitava a dizer: O Congresso Nacional, invocando a proteo de Deus, decreta e promulga a seguinteCONSTITUIO DO BRASIL.

    Pgina 5: Constituio promulgada

    A Constituio Cidad de 1988, ao romper com o paradigma militar, quis deixar claro, logo de incio, todos os motivos quenortearam a configurao desse novo Estado. Tambm a Constituio Francesa de 1791, elaborada durante a RevoluoFrancesa, que pretendia abolir os privilgios do clero e da nobreza, caractersticos do Regime Absolutista (Antigo Regime),tinha um prembulo extenso, contendo a Declarao Universal dos Direitos do Homem e do Cidado.

    O prembulo um elemento natural de Constituies feitas em momento de ruptura histrica ou degrande transformao poltico-social.

    Jorge Miranda

    O prembulo, portanto, a antessala das normas constitucionais propriamente ditas. H, ainda, mais um detalhe contido aofinal de seu texto que deve ser observado: a palavra promulgamos. Dizer que uma constituio foi promulgada significa, emregra, que houve participao popular em sua elaborao, que ela no fruto da vontade de um governante ou de um grupodetentor do poder. Ela no foi imposta sociedade, mas aprovada por ela, por meio de representantes eleitos para comporemuma Assembleia Nacional Constituinte.

    Pgina 6: Outorgada x Promulgada

    Na nossa histria, trs constituies foram impostas ou outorgadas: a imperial de 1824, a getulista de 1937 e a militar de 1967,apesar de nesta ltima conter a palavra promulgamos. As demais foram de fato promulgadas (1891, 1934, 1946 e 1988).Veja que, nestas, a imagem democrtica da Constituio traduzida pela intensa participao popular, enquanto naquelas afigura do constituinte se resume a uma pessoa ou a um pequeno grupo de pessoas.

    Vdeo

  • Aps o prembulo, esto as normas constitucionais. Como se v, elas compem um corpo normativo que no homogneo.Umas tratam dos princpios fundamentais, outras dos direitos e deveres dos cidados. H as que regulam a ordem econmica

    e financeira e as que disciplinam a defesa do Estado e das Instituies Democrticas.

    Por essa razo, diz-se que h normas materialmente constitucionais, quando abordam temas ligados estruturao do Estadoe aos direitos fundamentais, e normas formalmente constitucionais, que, apesar de estarem inseridas no texto da Constituio,no tratam de temas essencialmente constitucionais. A Constituio de 1988 formal, pois elege como norma constitucionaltudo aquilo que compe seu texto e submetido a uma determinada forma de elaborao, no importando seu contedo.

    No entanto, no podemos deixar de alertar o estudante para o fato de que essa diviso entre norma constitucional material enorma constitucional formal discutvel, pois o contedo das constituies vem, naturalmente, sendo ampliado, tornando intilessa fragmentao. As constituies tm adotado como fundamental no somente a estrutura do Estado e os direitosfundamentais, mas tambm, por exemplo, os fins e objetivos a que ele persegue.

    Pgina 7: Concluso da unidade 1

    Nesse sentido, vivenciamos um momento de expanso constitucional, isto , cada vez mais h assuntos sendo inseridos notexto constitucional como elemento essencial. A CF/88 , genuinamente, uma Carta extensa, por no se limitar a regular aestrutura do Estado e os direitos fundamentais, ao contrrio de constituies sintticas ou resumidas, como a dos EUA, que serestringem queles assuntos.

    Para finalizar esta unidade, cabe uma palavra sobre o ADCT. Embora seja denominado de Ato das DisposiesConstitucionais Transitrias, ele tem o mesmo valor de norma constitucional e se destina a regular as situaes que ficamtransitando entre a ordem jurdica passada e a atual. Isso denota o cuidado do constituinte com os fatos j consolidados,sendo mais um fator de legitimao da Constituio perante a sociedade.

  • Unidade 2 Poder Constituinte: a elaborao da Constituio, sua transformao e a relao com a ordem jurdica anterior

    Objetivos da Unidade 2

    A Unidade 2 do segundo Mdulo pretende ensinar ao aluno a ideia bsica de Poder Constituinte. Dessa forma, traz o conceito,a fundamentao e os exemplos de Poder Constituinte Originrio e seus derivados (Reformador, Decorrente e Revisor). Aofinal, estuda os fenmenos que podem ocorrer entre a ordem jurdica atual e a ordem jurdica anterior.

    Pgina 2: Questes

    Unidade 2 Poder Constituinte: a elaborao da Constituio, sua transformao e a relao com a ordem jurdicaanterior

    Na unidade passada, vimos como a Constituio estruturada. Agora, precisamos saber quem o responsvel pela suaelaborao. Tentaremos responder algumas perguntas, que inevitavelmente aparecero. Por exemplo:

    Como o texto constitucional se mantm atualizado e a quem atribudo o dever de atualizao?

    possvel modificar o sentido de uma norma constitucional, sem mudar seu texto?

    Os estados federados possuem Constituio? Quem a elabora?

    Como ficam as situaes que eram regidas pelo ordenamento jurdico anterior?

    Esses e outros questionamentos sero abordados no decorrer desta unidade, que se inicia esclarecendo o que o PoderConstituinte.

    Pgina 3: Poder Constituinte

  • O Poder Constituinte a fora de se constituir algo. Quando nos referimos a ele na rea do Direito, estamos falando do poderde se formular ou atualizar uma Constituio, que o documento que cria e organiza o Estado. Este, por sua vez, umapessoa poltica abstrata formada pelo povo de um determinado territrio, que decide se unir de forma organizada para atingirum determinado fim ou bem comum.

    Assim, conclumos, primeiramente, que quem tem o poder de constituir um Estado o povo. E ele quem tem a titularidade dopoder de elaborar a Constituio que reger o Estado por ele formado.

    Mas nem todos os cidados exercem essa titularidade. Quem elabora, realmente, a Constituio uma Assembleia NacionalConstituinte, eleita pelo povo com o fim nico de escrever o texto. So os primeiros representantes do povo. Nos regimesautoritrios, no entanto, o prprio governante ou os detentores do poder escrevem a Carta Constitucional e a outorgam sociedade, no havendo um colegiado eleito para tanto.

    Quando nos referimos ao Poder Constituinte que elabora a Constituio estamos falando do Poder Constituinte Originrio, poisele d origem a um novo estado, criando uma nova ordem jurdica.

    Pgina 4: Poder Constituinte Originrio

    Seja nos momentos em que o texto constitucional vigente no mais condiz com as realidades sociais, seja nas horas em que asociedade clama por mudanas mais profundas, o Poder Constituinte Originrio rompe com a ordem anterior e inaugura umanova.

    O Poder Constituinte Originrio possui algumas peculiaridades:

    a) inicial e autnomo, na medida em que a nova constituio ser estruturada livremente, de acordo com os anseios dequem exerce este poder;

    b) ilimitado juridicamente, pois no precisa respeitar os limites traados pelo direito anterior;

    c) um poder de fato e um poder poltico, ao se identificar como verdadeira fora social, na qual a ordem jurdica passa aexistir a partir de sua manifestao.

    Apesar de o Poder Constituinte Originrio ser autnomo, a corrente jusnaturalista defende que h alguns direitos naturais queso indissociveis do homem e, mesmo o onipotente Poder Constituinte Originrio, no poderia suprimi-los. Na verdade, preciso que os representantes escolhidos pelo povo para elaborar a nova Carta Constitucional se faam identificar com osdesejos dos representados, pois somente assim se materializa o legtimo exerccio do Poder Constituinte Originrio.

    Quem tenta romper a ordem constitucional para instaurar outra e no obtm a adeso dos cidados, noexerce poder constituinte originrio, mas age como rebelde criminoso.

    Gilmar Ferreira Mendes

  • Pgina 5: Poderes Constituintes derivados

    Elaborada a Constituio, o Poder Constituinte Originrio sai de cena e entram os outros poderes institudos por ele, queestaro presentes durante o perodo em que vigorar o novo texto.

    Existem trs poderes constituintes que so derivados do originrio:

    . poder constituinte derivado reformador;

    . poder constituinte derivado decorrente; e

    . poder constituinte derivado revisor.

    A seguir, passaremos ao estudo de cada um deles, que possuem, em comum, a caracterstica de estarem limitados econdicionados aos parmetros colocados pelo Poder Constituinte Originrio.

    Pgina 6: Poder Reformador

    O Poder Constituinte Derivado de Reforma ou Reformador aquele responsvel por modificar a Constituio, por meio deum procedimento especfico, determinado pelo originrio, sem que seja necessrio abandonar o texto vigente e convocar umanova Assembleia Nacional Constituinte. O cotidiano da sociedade faz com que ela reveja alguns pontos da Constituio edeseje alter-los, aperfeioando a regulamentao de determinada matria.

    O Poder reformador ocorre por meio das Emendas Constitucionais, reguladas no art. 60 da CF/88. A Constituio colocaalguns limites para seu exerccio. H limitaes expressas, como a necessidade de qurum qualificado de 3/5 e votao emdois turnos, em cada Casa do Congresso, assim como iniciativa de, pelo menos, um tero dos membros da Cmara dosDeputados ou do Senado Federal. Outra limitao expressa refere-se s matrias que no podem ser objeto de modificao,as chamadas clusulas ptreas, que esto no 4 do art. 60.

    Pgina 7: Artigo 60

    Para contextualizarmos, leia o art. 60 em sua ntegra:

  • Art. 60. A Constituio poder ser emendada mediante proposta:

    I - de um tero, no mnimo, dos membros da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal;

    II - do Presidente da Repblica;

    III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federao, manifestando-se, cada

    uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

    1 A Constituio no poder ser emendada na vigncia de interveno federal, de estado de defesa ou

    de estado de stio.

    2 A proposta ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,

    considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, trs quintos dos votos dos respectivos membros.

    3 A emenda Constituio ser promulgada pelas Mesas da Cmara dos Deputados e do Senado

    Federal, com o respectivo nmero de ordem.

    4 No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir:

    I - a forma federativa de Estado;

    II - o voto direto, secreto, universal e peridico;

    III - a separao dos Poderes;

    IV - os direitos e garantias individuais.

    5 - A matria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada no pode ser objeto

    de nova proposta na mesma sesso legislativa.

    Pgina 8: Modificar normas constitucionais

    H, tambm, limitaes implcitas, como a impossibilidade de se violar as limitaes expressas ou alterar o titular do poderconstituinte.

  • Como se v, o Poder Constituinte Originrio enumerou algumas condies para que a Constituio fosse modificada,demonstrando, na ocasio em que foi desenvolvida, a preocupao com a manuteno dos valores democrticos.

    Uma questo que se apresenta neste momento a seguinte: o procedimento para se alterar as normas da constituio omesmo para se alterar as normas de uma lei infraconstitucional? A resposta simples, mas esclarece um ponto interessantepara ns.

    O constituinte estabeleceu um procedimento mais complexo e difcil para alterar as normas constitucionais porque pretendeuque a Constituio fosse mais estvel que as outras normas, no podendo ser modificada facilmente. Some-se a isso o fato dea Constituio estar no pice do ordenamento jurdico, servindo de fundamento para as demais leis.

    Pgina 9: Reflexo

    Por esta razo, dizemos que nossa Constituio, quanto ao critrio da estabilidade, classificada como rgida, pois estabeleceum maior grau de dificuldade para mudar as normas constitucionais. No lado oposto, esto as constituies flexveis, em queno h um processo legislativo mais rgido para alterar o texto constitucional. Nesse caso, o mesmo trabalho para se alterara constituio ou as normas infraconstitucionais. Dessa maneira, no h hierarquia entre normas constitucionais e normaslegais (infraconstitucionais). Um exemplo tpico de Constituio flexvel a da Inglaterra.

    Para finalizar o estudo do Poder Reformador, cabe refletir sobre uma instigante questo: possvel reduzir a maioridade penalde 18 anos para 16 anos, j que, aparentemente, trata-se de um direito fundamental individual (clusula ptrea)?

    A matria controversa e suscita intensos debates. H quem defenda o carter absoluto da norma e, por isso, no se poderrestringi-la. Outros dizem que o termo abolir, usado no 4 do art. 60, refere-se situao que extingue por completo umdireito, o que no o caso. Ademais, para os que defendem a possibilidade de reduo da maioridade penal, uma pessoa j plenamente capaz de entender seus atos aos dezesseis anos, tanto assim que est autorizada a votar, nos termos do art. 14, 1, alnea c, da CF/88.

    Pgina 10: Poder Decorrente

  • J o Poder Constituinte Derivado Decorrente aquele conferido aos Estados-membros para que estruturem suasrespectivas Constituies Estaduais. Uma vez que vivemos sob a forma federalista de Estado, os entes federados detmcapacidade para se auto-organizarem tanto no mbito administrativo quanto nas reas judiciria e legislativa, sendo que oexerccio desse poder foi concedido s Assembleias Legislativas Estaduais. Isso traduz o esprito do art. 1 da CF/88, queestabelece ser o Brasil uma Repblica Federativa, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do DistritoFederal.

    Do mesmo modo que o poder de reforma, o Poder Decorrente est submetido aos princpios adotados pela ConstituioFederal. O art. 25 confirma essa ideia, ao dizer que Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituies e leis queadotarem, observados os princpios desta Constituio.

    Tais princpios esto espalhados por todo o texto constitucional, mas podemos citar, dentre outros, os seguintes:

    . as Constituies estaduais devem observar a forma federativa e o princpio republicano do Estado;

    . no podem suprimir direitos fundamentais enumerados na Constituio Federal;

    . no esto autorizadas a invadir competncia assegurada Unio, sob pena de inconstitucionalidade;

    . devem respeitar as regras do processo legislativo federal, adaptando as normas para as peculiaridades estaduais;

    . tm que seguir os princpios oramentrios estabelecidos na CF/88.

    Pgina 11: Estados e municpios

    Cabe indagar: somente os Estados podem elaborar suas Constituies? Isto : o Poder Derivado Decorrente foi conferidoapenas aos Estados-membros, ou e o DF ou os Municpios tambm o possuem?

    Esta matria tambm polmica e h quem defenda que o DF foi dotado de tal poder, apesar de sua vinculao parcial Unio, pois a formulao de sua Lei Orgnica (Constituio Distrital) est fundamentada diretamente na CF/88, maisespecificamente no art. 32, que autoriza o ente a elabor-la. O Ministro Carlos Ayres Britto, do STF, afirmou, alis, que oDistrito Federal est bem mais prximo da estruturao dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional dosMunicpios, mesmo o DF legislando tanto em matrias estaduais quanto em matrias municipais.

    No entanto, em relao aos Municpios, no h que se falar em Poder Derivado Decorrente porque seu fundamento nodecorre direta e exclusivamente da Constituio Federal. Na verdade, o art. 29 nos diz que as Leis Orgnicas Municipaisatendero os princpios da CF/88 e das Constituies estaduais que lhe disserem respeito, construindo, dessa forma, umpoder decorrente de terceiro grau, o que no configura aquele tipo de Poder.

    Pgina 12: Poder Revisor

    Em terceiro lugar, h o Poder Constituinte Derivado Revisor. Este poder, tambm institudo pelo Poder Originrio, teve oobjetivo de revisar a Constituio aps cinco anos de sua promulgao, mediante um procedimento mais simplificado do queaquele estabelecido para se propor Emendas Constitucionais. Assemelha-se ao Poder Reformador em quase tudo, exceto noque se refere ao fato de no mais poder ser exercido, devido eficcia esgotada da norma que o instituiu.

  • Alm desses trs poderes mencionados, no podemos deixar de citar um outro poder, implcito na sociedade e que pode serdenominado como poder constituinte difuso. Ele se manifesta por meio das mutaes constitucionais, sendo um poderespontneo e fruto das mudanas sociais. Por meio dele, algumas expresses da Constituio, embora permaneam com omesmo texto, ganham um novo ou mais amplo significado.

    Um bom exemplo seria o termo casa, constante do art. 5, XI, que, no decorrer dos anos, passou a abranger, tambm, outroslocais por exemplo: o estabelecimento comercial, o escritrio de contabilidade, o quarto de hotel ocupado, o escritrio deadvocacia e o consultrio mdico.

    Pgina 13: Relao: Constituio vigente e Ordem Jurdica anterior

    Para encerrarmos esta unidade, preciso analisar a relao que existe entre a Constituio vigente e a Ordem Jurdicaanterior. Basicamente, dois fenmenos podem ocorrer:

    1) uma determinada norma, publicada antes da Constituio atual, pode ser com ela compatvel e, desta forma, serrecepcionada pela nova ordem jurdica; ou

    2) uma outra norma, tambm anterior a Constituio vigente, pode no ser compatvel com os valores da nova ordem jurdicae, por esta razo, dever ser revogada neste caso, no se fala que a lei inconstitucional, pois somente pode-se falar eminconstitucionalidade em relao a atos normativos publicados aps uma determinada Constituio.

    Assim, podemos ter a recepo de normas compatveis com a nova ordem constitucional e a revogao das normas que comela no forem compatveis. A deciso sobre esse assunto cabe aos juzes no julgamento de casos concretos. No entanto, possvel haver uma deciso que valer de maneira uniforme para todos, quando a matria for submetida ao Supremo TribunalFederal.

    Nesse contexto foi que se revogou a Lei de Imprensa. Uma vez que a lei data de 1967, ela deveria ser analisada medianteao prpria que possibilitasse o exame de sua recepo ou revogao diante da CF/88. O Supremo Tribunal Federal, por 7votos a favor, decidiu derrubar a lei diante de sua incompatibilidade com a democracia.

    Link

    Veja, em artigo do Estado, como foi a derrubada da Lei de Imprensa.

    Pgina 14: Deciso dos Ministros

  • Dentre as razes que nor