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7/23/2019 Introdução - Aziz http://slidepdf.com/reader/full/introducao-aziz 1/3  Prof. Aziz Tuffi Saliba. Direito Internacional Público. - 1 - INTRODUÇÃO Mais do que ciência, técnica ou arte, o Direito é uma necessidade social. No curso da história, todas as sociedades  grandes ou pequenas, poderosas ou fracas - formularam normas com o intuito de propiciar condições de convivência. Atrelada à imprescindibilidade das normas e, por conseqüência, do Direito, está a constatação que “a ordem é necessária e o caos inimigo de uma sociedade justa e estável.” 1  Também a sociedade internacional precisa de normas que a regulem. Ao Direito aplicável à sociedade internacional denominamos Direito Internacional 2 . Esta denominação foi primeiramente utilizada por Jeremy Bentham, em 1780 e a partir de meados do século XIX, passou a ser amplamente adotada, mormente pelas doutrinas de línguas latinas e inglesa, em lugar da antiga nomenclatura Direito das Gentes 3 . Na atualidade, a expressão Direito Internacional tem sido empregada para se referir a uma série de temas, matérias e até mesmo a disciplinas distintas 4 . Nesta obra, ela será utilizada para tratar de nosso objeto de estudo  o Direito Internacional Público.  1  Cf. SHAW, Malcom N. International law. 4 ed. Cambridge: CUP, 1997, p. 1. 2  DINH , Nguyen Quoc et alli. Direito Internacional Público. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999, p. 29. 3  AKEHURST, Michael. Modern introduction to international law. Atualizado por Peter Malanczuk. 7ed. Londres: Routledge, 1997, p. 1, e SEPÚLVEDA, César. Curso de Derecho Internacional Público. 6a ed. México: Porrua, 1974. Aponta AKEHURST que a terminologia Direito das Gentes remonta ao conceito romano de ius gentium e pode ser encontrada nas obras de Cícero e que em algumas idiomas (alemão, escandinavos, holandês, eslávicos) ainda se adota a expressão Direito das Gentes. 4  Como é o caso do Direito Internacional Privado.

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  Prof. Aziz Tuffi Saliba. Direito Internacional Público. - 1 - 

INTRODUÇÃO

Mais do que ciência, técnica ou arte, o Direito é uma necessidade social. No

curso da história, todas as sociedades – grandes ou pequenas, poderosas ou fracas -

formularam normas com o intuito de propiciar condições de convivência. Atrelada

à imprescindibilidade das normas e, por conseqüência, do Direito, está a

constatação que “a ordem é necessária e o caos inimigo de uma sociedade justa e

estável.”1 

Também a sociedade internacional precisa de normas que a regulem. Ao

Direito aplicável à sociedade internacional denominamos Direito Internacional 2.

Esta denominação foi primeiramente utilizada por Jeremy Bentham, em 1780 e a

partir de meados do século XIX, passou a ser amplamente adotada, mormente

pelas doutrinas de línguas latinas e inglesa, em lugar da antiga nomenclatura

Direito das Gentes3. 

Na atualidade, a expressão Direito Internacional tem sido empregada para

se referir a uma série de temas, matérias e até mesmo a disciplinas distintas4

.Nesta obra, ela será utilizada para tratar de nosso objeto de estudo –  o Direito

Internacional Público. 

1 Cf. SHAW, Malcom N. International law. 4 ed. Cambridge: CUP, 1997, p. 1.2 DINH , Nguyen Quoc et alli. Direito Internacional Público. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999, p.29.3 AKEHURST, Michael. Modern introduction to international law. Atualizado por Peter Malanczuk.7ed. Londres: Routledge, 1997, p. 1, e SEPÚLVEDA, César. Curso de Derecho Internacional Público.6a ed. México: Porrua, 1974. Aponta AKEHURST que a terminologia Direito das Gentes remontaao conceito romano de ius gentium e pode ser encontrada nas obras de Cícero e que em algumasidiomas (alemão, escandinavos, holandês, eslávicos) ainda se adota a expressão Direito das Gentes.4 Como é o caso do Direito Internacional Privado.

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Conceito

A multiplicidade de conceitos de Direito Internacional reflete a variedade de

concepções filosóficas, de convicções pessoais bem como a experiência profissional

daqueles que os propõe5. Assim, não há (e provavelmente nunca haverá) um

conceito universalmente aceito de Direito Internacional.

A principal nota distintiva entre os conceitos se assenta na  personalidade em

Direito Internacional  Público –  tema do qual trataremos com maior minudência no

segundo capítulo. Para a doutrina tradicional, que prevaleceu até meados doséculo XX, somente os Estados tinham personalidade de Direito Internacional, o

que equivale a dizer que apenas os Estados poderiam possuir direitos e obrigações

na ordem internacional. Destarte, o Direito Internacional era o “Direito que

regulava as relações entre os Estados.”6 

Contudo, as organizações internacionais, que em forma rudimentar já

existiam desde o século XIX 7 , adquiriram papel fundamental no cenário

internacional a partir do século XX com a criação da Liga das Nações e,posteriormente, e ainda mais relevante, o engendro da Organização das Nações

Unidas (ONU). Tal importância resultou em amplo reconhecimento doutrinário e

 jurisprudencial da personalidade das organizações internacionais de direito

internacional público.

Além disso, assistimos à criação de tribunais penais internacionais com o

propósito de julgarem indivíduos pela violação de Direito Internacional, bem como

o de órgãos arbitrais em que pessoas (físicas ou jurídicas) podem pleitear em face

5 TOUSCOZ, Jean. Direito Internacional. Mem Martins: Europa-América, 1993, p. 23.6Cf. BUERGENTHAL, Thomas. Public International Law. 2a ed. St. Paul, MN: West, 1990, p. 1. e,também, AKEHURST, op. cit., p. 17 Dentre outras, apontamos a União Telegráfica Internacional (1865), União Postal Universal (1874),Associação Internacional de Geodesia (1864).

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de Estados, o que recrudesceu debate sobre a personalidade jurídica internacional

de indivíduos e empresas.

Controvérsias à parte, um conceito para refletir as práticas contemporâneas

deve ao menos levar em conta a relação do Direito Internacional com as pessoasnaturais e jurídicas. A formulação conceitual contida no Restatement  do  American

Law Institute leva em conta tal ligação e nos possibilita uma noção do nosso objeto

de estudo: 

Consiste em regras e princípios de aplicação geral concernentes à conduta de

Estados e organizações internacionais e suas relações entre si, bem como algumas

de suas relações com pessoas naturais ou jurídicas.8 

8 AMERICAN LAW INSTITUTE. Restatement of the Law  - Foreign Relations Law of the UnitedStates Restatement (Third) of Foreign Relations Law of the United States. Washington: ALI, 1986, §101.