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583 DA FICÇÃO À HISTÓRIA: A ESCRITA DA HISTÓRIA DE ATHOS DAMASCENO FERREIRA (1940 – 1974) GABRIELA CORREA DA SILVA Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Resumo: Este artigo expõe a pesquisa de mestrado da autora (em andamento) que tem como objeto de estudo parte da obra do pesquisador porto-alegrense Athos Damasceno Ferreira. O propósito geral do estudo é destacar a inserção de Damasceno no contexto de reelaboração da memória local, que buscava incluir o Rio Grande do Sul na história da cultura nacional por meio da história regional. As fontes que estão sendo utilizadas são algumas das obras publicadas pelo autor no período de 1940 e 1974: artigos e livros tais como Colóquios com a minha cidade (1974), coletânea composta por textos publicados em diferentes períodos. Também está sendo pesquisado o arquivo pessoal de Athos, do IHGRGS. Palavras-chave: escrita da história; história regional; intelectuais. INTRODUÇÃO Athos Damasceno consagrou-se enquanto escritor de literatura no campo da poesia e a cidade de Porto Alegre foi seu objeto favorito. Como um homem de seu tempo, o autor teve uma obra bastante diversificada 1 : ensaísta, cronista, sociólogo, historiador, poeta e romancista. Ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) em 1957. Para Fischer (2007) ele foi um dos grandes escritores sul-rio- grandenses ofuscados pela notável qualidade literária de Erico Verissimo. Parece justo, então, convidar Érico para apresentar seu amigo poeta. Verissimo (1973, p.17), ao lembrar-se de suas viagens à capital ainda enquanto farmacêutico do interior, e de suas visitas à Livraria do Globo, rememora que “com o rabo dos olhos observava o ambiente, na esperança de que se encontrassem ali alguns dos escritores gaúchos de renome que costumava ler em livros ou nas páginas do Correio do Povo e do Diário de Notícias.Ao avistar o Grupo da Globo, tentava adivinhar os nomes das fisionomias: “O tipo esguio como um punhal, rosto fino e longo, que fazia epigramas e contava estórias que provocavam o riso de todos? Athos Damasceno Ferreira.” 1 Damasceno, como produtor de conhecimento histórico e literário e de maneira similar a seus contem- porâneos, demonstra o que Nedel afirma sobre a produção dos intelectuais deste período, marcado pelo “regime de frágil distinção interdisciplinar em que atuavam.” (NEDEL; RODRIGUES, 2005, p. 27).

INTRODUÇÃO€¦ · regionalista em outras regiões do país e nas relações entre o regionalismo nordestino e o modernismo paulista. Com relação ao aspecto político do regionalismo,

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DA FICÇÃO À HISTÓRIA: A ESCRITA DA HISTÓRIA DE ATHOS DAMASCENO FERREIRA (1940 – 1974)

Gabriela Correa da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do [email protected]

Resumo: Este artigo expõe a pesquisa de mestrado da autora (em andamento) que tem como objeto de estudo parte da obra do pesquisador porto-alegrense Athos Damasceno Ferreira. O propósito geral do estudo é destacar a inserção de Damasceno no contexto de reelaboração da memória local, que buscava incluir o Rio Grande do Sul na história da cultura nacional por meio da história regional. As fontes que estão sendo utilizadas são algumas das obras publicadas pelo autor no período de 1940 e 1974: artigos e livros tais como Colóquios com a minha cidade (1974), coletânea composta por textos publicados em diferentes períodos. Também está sendo pesquisado o arquivo pessoal de Athos, do IHGRGS.

Palavras-chave: escrita da história; história regional; intelectuais.

INTRODUÇÃO

Athos Damasceno consagrou-se enquanto escritor de literatura no campo da poesia e a cidade de Porto Alegre foi seu objeto favorito. Como um homem de seu tempo, o autor teve uma obra bastante diversificada1: ensaísta, cronista, sociólogo, historiador, poeta e romancista. Ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) em 1957. Para Fischer (2007) ele foi um dos grandes escritores sul-rio-grandenses ofuscados pela notável qualidade literária de Erico Verissimo. Parece justo, então, convidar Érico para apresentar seu amigo poeta.

Verissimo (1973, p.17), ao lembrar-se de suas viagens à capital ainda enquanto farmacêutico do interior, e de suas visitas à Livraria do Globo, rememora que “com o rabo dos olhos observava o ambiente, na esperança de que se encontrassem ali alguns dos escritores gaúchos de renome que costumava ler em livros ou nas páginas do Correio do Povo e do Diário de Notícias.” Ao avistar o Grupo da Globo, tentava adivinhar os nomes das fisionomias: “O tipo esguio como um punhal, rosto fino e longo, que fazia epigramas e contava estórias que provocavam o riso de todos? Athos Damasceno Ferreira.”

1 Damasceno, como produtor de conhecimento histórico e literário e de maneira similar a seus contem-porâneos, demonstra o que Nedel afirma sobre a produção dos intelectuais deste período, marcado pelo “regime de frágil distinção interdisciplinar em que atuavam.” (NEDEL; RODRIGUES, 2005, p. 27).

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(VERISSImO, 1973, p.17). Parece-nos que uma das possibilidades de investigação da obra de Damasceno

para o campo da historiografia é compreender o que sua produção informa sobre a escrita da história do Rio Grande do Sul no período aqui privilegiado. Em razão disso, é relevante destacar um aspecto de sua obra que parece dos mais profícuos: à semelhança de autores como Guilhermino César2, Damasceno dedicou-se ao estudo sobre a história da cultura no estado. Sua vinculação à Comissão Estadual do Folclore3 vem sendo investigada como possivelmente imbricada nesta inclinação para a pesquisa da história da cultura sul-rio-grandense. Com esta pesquisa, pretende-se destacar a inserção do autor no contexto de reelaboração da memória local, que buscava incluir o Rio Grande do Sul na história da cultura nacional por meio da história regional. Assim, o problema deste estudo pode ser enunciado em duas etapas, sendo a primeira apresentada em três perguntas centrais: como era a escrita da história em Athos Damasceno? Quais preocupações em torno de como representar o Rio Grande do Sul frente à nação orientavam sua escrita? Qual era sua concepção de história?

Pesquisar a obra de Damasceno contempla a reflexão sobre o processo de ressemantização do regionalismo4 sul-rio-grandense. A inclusão da temática regionalista para estudá-lo leva em conta sua centralidade para a inserção dos autores locais na vida intelectual. A temática se constituiu em via obrigatória e privilegiada para a iniciação no mundo das letras locais, pelo menos desde 1920, quando da fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, até décadas após o advento de cursos superiores de História em Porto Alegre (NEDEL, 2005). Odaci Coradini (2003), ao se referir ao contexto de fundação da Revista Província de São Pedro (década de 1940), na qual Damasceno veiculou com freqüência seus artigos, refere a existência de um programa regionalista que seria uma contraposição ao antigo regionalismo “saudosista”. O que estava em questão não era mais “gauchizar” o Brasil e sim pleitear o lugar dos intelectuais da província no contexto nacional.

Tendo por objetivo investigar a operação historiográfica5 em Damasceno, acredita-se ser necessário indagar quais eram suas redes de sociabilidade e quais seus objetivos com a escrita da história. Sendo assim, é chegada a hora de apresentar a segunda etapa do problema desta pesquisa: A releitura do passado regional inerente à produção do autor não

2 Coincidentemente, a publicação do livro de Guilhermino Cesar (1956) dedicado ao tema da Literatura no estado, data do mesmo ano da publicação de Palco, Salão e Picadeiro, também de 1956. 3 Para maiores esclarecimentos sobre a atuação da referida Comissão ver Nedel (2005).4 De acordo com Chiappini Leite (1978), desde a década de 1920 havia um projeto explícito de reno-vação do regionalismo entre a intelectualidade local, decorrente, em grande parte, das formulações do “Grupo da Globo” influenciados pela penetração do modernismo no estado. 5 Segundo a assertiva clássica de Certeau (1982) esta operação refere-se à combinação de um lugar social, de práticas “científicas” e de uma escrita.

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seria uma forma de projetar um futuro? Qual futuro? A maior investida de Damasceno na pesquisa histórica estaria relacionada aos objetivos de uma ressemantização da região? Seria a história, para o autor, mais adequada para tal empreendimento? Como Damasceno dialoga com os discursos acerca da conformação da nacionalidade em voga no período?

Estes questionamentos nos impõe a observação das discussões acerca das identidades regionais e nacional em voga no centro do país neste momento, uma vez que esta perspectiva relacional permite pensar a história do regionalismo articulada à história do nacionalismo. A pesquisa da historiografia do regionalismo pode auxiliar a dessacralizar a memória em torno dele e da representação do Rio Grande do Sul frente ao Brasil em dado momento. Com isso, talvez tenhamos mais elementos para a reflexão acerca das representações relativas à identidade regional que são feitas no presente6. É interessante a afirmação de Albuquerque Jr. (2001) de que a História deve debruçar-se sobre o presente, descobrindo-o como multiplicidade espaço-temporal, pensando os vários passados que se encontram em nós, e os vários futuros que se pode construir:

Devemos nos debruçar criticamente sobre as formas como foram narrados os eventos históricos, não como uma representação verdadeira ou falsa do passado, mas como partícipe da invenção deste para nós. Narrativas que construíram um dado universo e uma memória, que continuam funcionando em nós e dirigindo nossos passos. (ALBUQUERQUE JR., 2001, p. 311).

A hipótese desta pesquisa é a de que a concepção de história de Damasceno foi orientada pelo conceito moderno de história, exposto por Koselleck7 e tributário da noção que advém da ideia de progresso: a de evolução do processo histórico. Parece-me que Damasceno buscou no estudo da história o mesmo que Carlos Armani (2002) afirma sobre Souza Docca, contemporâneo de Athos: a presença, em ambos os pensamentos, da razão moderna que embasa uma ideia de ciência histórica. Para Damasceno, assim como para Docca, o conhecimento deveria servir ao progresso. O papel da história, portanto, era o de retratar o gaúcho como ele realmente era.8 Entender sua produção em história desta

6 Sobre a apropriação do passado no presente, Thiesse (2010) aponta que uma das características da modernidade é a da onipresença do passado, a qual torna a fronteira entre passado e presente porosa. Ao analisar a trajetória da figura do gaulês na história francesa, a autora observa que no século XIX o passado foi modernizado e nacionalizado por intelectuais, cientistas e por processos estéticos. O gaulês, contudo, vem sendo ressignificado até recentemente. 7 Conforme Koselleck (2006), com o advento da Revolução Francesa o topos história magistra vitae perdeu espaço. A história deixou de ser a mestra da vida e ocorreu a emergência da concepção moderna de história, bem como do conceito de progresso: surgiu a noção de processo histórico. É o mesmo proces-so inerente ao regime moderno de historicidade, categorização proposta por F. Hartog, na qual a categoria do futuro se torna preponderante e onde o tempo é percebido como aceleração (HARTOG, 2006). 8 Em polêmica com Vargas Netto, Damasceno Ferreira enfatiza o encerramento da literatura regionalista e escreve sobre a necessidade de recorrência à história, uma vez que a literatura não era mais o reflexo da realidade viva: “Só há um meio de voltarmos ao passado, sem arriscar-nos a cair no lugar-comum, na repetição e na cópia, por falta de fontes de inspiração direta, de remoção espiritual e de clima próprio

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maneira permite esboçar seus objetivos com a escrita da história.

A atualidade do fenômeno regionalista pode ser mencionada como uma das motivações desta pesquisa. Sua persistência atual informando aspectos da vida cotidiana é flagrante e não é casual. A identidade regional sul-rio-grandense é frequentemente afagada e reivindicada na aproximação das efemérides farroupilhas, nas datas comemorativas em que o estado do Rio Grande do Sul exerceu algum tipo de protagonismo (vide as comemorações exaustivas em torno do cinquentenário da Campanha da Legalidade) e, sobretudo, cotidianamente nos estádios de futebol. O regionalismo no Rio Grande do Sul se presta à graça, como no caso do jornal O Bairrista, no qual diariamente são atualizados gracejos do tipo: “Brazilian Day atrai pouco público no RS: festa dos imigrantes brazileiros não agrada população”9 referindo-se ao desfile de 07 de setembro. manifestações como esta demonstram que a construção social da identidade gaúcha é constantemente atualizada, reposta e evocada, tendo como tema reincidente a tensão entre autonomia e integração na relação com o restante do Brasil (OLIVEN, 1992).

2. REvISÃO bIblIOgRáFICA

Dos raros estudos dedicados exclusivamente à pesquisa sobre Athos Damasceno, temos a tese de doutorado de maria Beatriz Papaleó (1996). A autora analisa a obra de Damasceno através dos textos poéticos, novelas urbanas e ensaios de cunho histórico-sociológico, nos quais o escritor se volta para a representação da cidade. Sua preocupação, no entanto, é focada na área da Literatura. O estudo é importante no sentido de apontar fontes para o estudo do autor.

A temática do regionalismo é abordada de maneira central neste estudo. Nesse sentido, os trabalhos de Nedel (2005) e Albuquerque Jr. (2001) são fundamentais. Nedel estudou a relação da ressignificação do regionalismo gaúcho, a partir de década de 1940, com os movimentos intelectuais de outros estados brasileiros. A abordagem da temática é bastante esclarecedora, especialmente por cotejar os empreendimentos identitários locais aos nacionais. Por outro lado, é valorosa para compreendermos o que a obra de Damasceno representa no âmbito da produção regionalista a partir dos anos 1940. Albuquerque Jr. estudou a história da emergência da região Nordeste como um objeto de saber e um espaço de poder. Procurou entender como se produziu o Nordeste pela cultura brasileira: “O discurso regionalista não é emitido a partir de uma região objetivamente exterior

para a expansão das idéias-forças: - é libertando-nos das palavras e mergulhando fundo na nossa história”. (FERREIRA, 1932c, p. 3). 9 BRAZILIAN Day atraí pouco público. Festa dos imigrantes brazileiros não agrada população. Jornal O Bairrista, 8 set. 2011. Disponível em: <http://obairrista.com/noticia&codigo=483>. Acesso em: 10 set. 2011.

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a si, é na sua própria locução que essa região é encenada, produzida e pressuposta” (ALBUQUERQUE JR., 2001, p. 23). A obra auxilia na compreensão do fenômeno regionalista em outras regiões do país e nas relações entre o regionalismo nordestino e o modernismo paulista. Com relação ao aspecto político do regionalismo, a leitura do clássico de Joseph Love (1975) se faz compulsória. Love entende o regionalismo como uma atuação política que aceita o Estado-Nação como um fato: é uma forma de atuação que tenta maximizar os favores de patronagem dentro do sistema do Estado Federativo.

No sentido relacional região/nação, mara Rodrigues10 aponta para a articulação entre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) desde a fundação do primeiro. Esta relação indica conexões entre os empreendimentos intelectuais locais e aqueles operados no centro do país. A autora refere um processo de enquadramento da revolta farroupilha pelos historiadores locais no IHGB. Na década de trinta, Souza Docca, gaúcho que possuía dupla inserção institucional como sócio efetivo do instituto nacional e regional, se empenhou em glorificar as lideranças farroupilhas e afirmar seu patriotismo em detrimento das teses separatistas advogadas por Alfredo Varela na História da Grande Revolução (1933). A escrita da história farroupilha de Docca, apesar de polêmica, teve maior aceitação do que a de Varella, possivelmente por ter sido formulada no interior do local de legitimidade de escrita sobre a nação, qual seja, o IHGB. Dessa forma, a memória de combates como o da guerra dos Farrapos marcou a inserção do Rio Grande do Sul na cultura histórica republicana nacional.11 Parece-me que a produção de Athos Damasceno visa somar esforços nesse sentido: inserir o Rio Grande do Sul na cultura histórica nacional.

No que toca à historiografia sul-rio-grandense, Nedel e Rodrigues (2005) apontam para um aumento progressivo, na década de 1980, na produção desta área. Este aumento se relaciona ao surgimento dos programas de pós-graduação nas universidades locais e

10 RODRIGUES, mara Cristina de matos. Linguagem e conceitos historiográficos dos regionalismos brasileiros na primeira metade do século XX: o caso do Rio Grande do Sul nas revistas do IHGB e IH-GRS. Relatório de Pós-doutorado Jr. Rio de Janeiro, Pós-graduação em História UFF, 2011. Não publica-do.

11 Carvalho (1990), ao se referir ao processo de construção de um imaginário social para a República recém proclamada, aborda a temática da produção de seus símbolos, entre eles, a construção de um herói republicano. O eleito foi Tiradentes, em função principalmente de sua apelação cristã ao povo. Com relação à contribuição do Rio Grande do Sul com um possível candidato, o autor afirma: “Não consta que se tenha tentado transformar Bento Gonçalves, presidente da república sul-rio-grandense, em herói repu-blicano nacional. O fato talvez se deva a posição peculiar do Rio Grande do Sul no cenário brasileiro e à suspeita de separatismo dirigida à revolta farroupilha. Faltava aos heróis gaúchos a característica nacio-nal, indispensável à imagem de um herói republicano” (CARVALHO, 1990, p. 67). No contexto referido por Rodrigues parece que se tratou de superar esta lembrança, que teve empenho principal da parte de Souza Docca. O estudo de Oliveira (1989) também examina as características que distinguem a República do Império, tratando do processo de ruptura de uma tradição e de construção de um novo universo simbó-lico capaz de legitimar a República.

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no Brasil. Os trabalhos produzidos pela “historiografia crítica”12 neste momento referem-se principalmente à análise das relações entre a prática historiográfica e os processos de “cooptação ideológica” na geração de autores como Othelo Rosa, moysés Vellinho e mansueto Bernardi. Esta análise de modo geral vinculou a historiografia oficial com a classe dominante, porquanto o tipo de produção que adveio daí era mitificadora do passado do estado e tinha por intuito sustentar a classe dominante. A historiografia crítica propunha então a busca da realidade concreta por detrás do discurso oficial. A pesquisa aqui apresentada busca o afastamento da historiografia crítica e se valerá de perspectivas mais recentes que vêm sendo elaboradas de forma diversa. mais recentemente, a partir dos anos 2000, os estudos historiográficos buscam uma outra perspectiva de análise. Diferentemente da “historiografia crítica”, a nova abordagem13 privilegia mais os conceitos e contextos, “mais focada no texto, na construção de sentido na narrativa, no tratamento do evento, da estrutura e da temporalidade, articulando-se esses aspectos com o lugar social de produção do conhecimento histórico” (RODRIGUES, 2006, p. 13).

Em relação à escrita da história no período republicano, a renomada historiadora Ângela de Castro Gomes (1996) aborda a produção de conhecimento na fase de 1941-1945. Segundo a autora, durante o Estado Novo houve preocupação governamental com uma verdadeira “ressurreição” do passado. Empreendimento semelhante fora outrora realizado pelo IHGB14 desde sua fundação (1838): a construção de uma história nacional e a afirmação do papel do Estado como criador e garantidor da nossa nacionalidade. Durante o Estado Novo houve o envolvimento direto do Estado no esforço de construção/legitimação de uma consciência nacional, atuando no subsídio a várias instituições regionais, como os Institutos Históricos. Houve um apelo aos intelectuais por uma participação nos rumos políticos do país por meio da contribuição no aparelho do Estado. A leitura de Gomes contribui para compreender a articulação (ou não) das ideias de Athos Damasceno para a inserção da região no arcabouço cultural da nação com a política

12 Exemplos destes trabalhos seriam a coleção Documenta (ed. mercado Aberto) e os trabalhos de ALmEIDA, marlene medáglia. Introdução ao estudo da historiografia Sul-rio-grandense: inovações e recorrências do discurso oficial (1920-1935),1983. Dissertação (mestrado em Sociologia) - IFCH, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1983. Também, GUTFREIND, Ieda. A Construção de uma identidade: a historiografia sul-rio-grandense de 1925 a 1975. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1989.13 Para ficar apenas no século XX, cito como exemplos dessa nova perspectiva os trabalhos de Rodri-gues (2006) e Silva (2010).14 Sobre as relações entre o período da Primeira República e o IHGB, Gomes (2010) afirma ter sido este um momento estratégico para o desenvolvimento de reflexões que, com o aval da ciência, investiam na criação de um “Brasil civilizado”. Deste projeto participaram os historiadores, “homens de letras”. É o momento de existência de um protagonismo dos intelectuais no Brasil (e portanto do IHGB como instituição encarregada de trabalhar com o “passado”) e a eleição do tema de identidade nacional como objeto a ser construído. O desafio dos historiadores do IHGB era o de tornar palatável uma articulação entre Colônia, Império e República, sem obscurecer as tradições dos primeiros, mas não ferir e desejo de legitimidade da segunda.

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governamental varguista. Importante considerar que o autor assinou, juntamente com outros nomes de autores locais, o conhecido manifesto dos Intelectuais, publicado pela revista do Globo em 1932 em apoio à tomada do poder central por Getúlio Vargas em 1930. É relevante destacar que no Brasil da primeira metade do século XX, os campos político e intelectual tinham fronteiras fluidas, assim como eram fluidas as fronteiras disciplinares (GOmES, 2009).

3. REFERENCIAIS TEÓRICOS E METODOlÓgICOS

A fim de resolver a questão de como Damasceno desenvolve sua escrita da história, utiliza-se o conceito de operação historiográfica, de michel de Certeau, bem como a releitura15 desta operação realizada por Paul Ricoeur (2007). De acordo com a teorização clássica de Certeau (1982), é necessário atentar à particularidade do lugar de onde se fala quando se analisa um texto histórico, encarando a história como uma operação, o que significa que devemos compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura).

Para Certeau (1982), cada lugar de onde o discurso do historiador se articula possui as leis do meio, que influenciam no trabalho do historiador16. Antes de saber o que a história diz de uma sociedade, é necessário saber como funciona dentro dela. A função do lugar é tornar possíveis certas pesquisas, em função de conjunturas e problemáticas comuns, e impossibilitar outras. De acordo com o autor, um estudo particular é definido pela relação que mantém com os contemporâneos e com as problemáticas exploradas pelo grupo e os pontos estratégicos que a constituem. Levando isso em conta, será indagado qual era o lugar social de onde Damasceno produzia seus textos, tendo em vista que ele implica no sentido que o historiador dá a sua produção. Parece-me plausível encarar o Grupo da Globo e o Instituto Histórico e Geográfico local como lugares sociais aos quais Damasceno esteve vinculado. Sendo assim, cabe indagar quais eram as permissões e interdições inerentes a estes lugares. Sabe-se que havia desde 1920 no IHGRGS uma preocupação com a constituição da brasilidade do Rio Grande. Nesse sentido, a produção

15 Ricoeur (2007) enfatiza a relação entre história e memória. À semelhança da explicação de Certeau, para Ricoeur a constituição do conhecimento histórico se dá por meio de uma operação composta por três fases: a fase de documental, onde ocorre a seleção e análise de vestígios e temos a figura do testemu-nho (daqueles que declaram ter se encontrado no local onde as coisas aconteceram), a fase explicativa/compreensiva, na qual se dá a mediação de um esquema de explicação/compreensão, e da representação historiadora escriturária ou literária que seria a aquisição de uma forma textual definitiva.16 A afirmação de que toda a pesquisa historiográfica está ligada a um lugar de produção não quer dizer que o discurso seja reduzido ao lugar. A pesquisa está, isto sim, submetida a imposições e remete a uma particularidade (CERTEAU, 1982).

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de Damasceno que buscou retratar o estado sulino enquanto parte do todo da nação esteve em consonância com o discurso da instituição. A influência do modernismo paulista no Grupo da Globo é destacada por Erico Verissimo (1968), que o descreve como sendo, nos anos 1930, “a cabeça-de-ponta” da Semana de Arte moderna de 1922. Levar em conta o lugar, portanto, permite compreender o estudo histórico “mais ligado ao complexo de uma fabricação específica e coletiva do que ao estatuto de efeito de uma filosofia pessoal ou à ressurgência de uma ‘realidade’ passada.” (CERTEAU, 1982, p.73).

As considerações de Ricoeur (2007) auxiliam na compreensão do redirecionamento da produção de Damasceno com enfoque na área da história a partir dos anos 1940. Uma das características da operação historiográfica, segundo Ricoeur, é a pretensão à verdade que confere ao conhecimento histórico seu afastamento com relação à ficção17. Tendo em vista tal premissa, talvez seja plausível explorar uma questão que surge daí: Será que escrever história, para Damasceno, seria mais legítimo para contribuir com a constituição do modelo de região ao qual se alinhava? A primeira fase, do arquivo, da operação designada por Ricoeur parece-me especialmente presente em muitos dos textos de Athos, como por exemplo, em seu Apontamentos para o estudo da Indumentária no Rio Grande do Sul (1957):

Quem tiver a santa paciência e o necessário espírito de sacrifício para percorrer de olho vivo e lápis na mão alguns inventários de pessoas aqui falecidas de 1760 até a entrada do século XIX – quarentas anos, não mais – irá verificar como eram pobrezinhos os nossos antepassados. Embora muitos deles fossem possuidores de consideráveis extensões de terras e ainda de gado grosso e grossa escravaria – dá pena constatar, através desses inventários, como vestiam mal [...].Todavia, e a despeito de tudo, não se enfarpelavam eles apenas de calções e jaquetas, conforme a superfialíssima notícia do apontista Cezimbra Jacques, que, além do mais, dá de ombros aos trajos femininos, deles nada dizendo (FERREIRA, 1957, p. 75).

Neste trecho o autor invoca os documentos: inventários de 1760 até o início do século XIX. Em razão disso, desacredita Cezimbra Jacques, outro autor que havia se dedicado ao tema da indumentária no Rio Grande de São Pedro, desconsiderando sua “superficialíssima notícia” e reivindicando a verdade de sua versão baseado na leitura das fontes (testemunho). O seu texto, portanto, quer ser um discurso veritativo acerca da vestimenta no período.

Para a compreensão de outra dimensão da obra de Damasceno – a da concepção de história como processo e sujeita ao progresso –, utiliza-se as reflexões de Koselleck (2006).

17 O autor enfatiza na operação historiográfica a visada referencial da história. A referência, aqui, remete à exterioridade do discurso e é a partir dela que conhecimento histórico se caracteriza pela busca da verdade. A especificidade da referencialidade em regime historiográfico deve “transitar pela prova documental, pela explicação causal/final e pela composição literária. Tal arcabouço tríplice continua a ser o segredo do conhecimento histórico” (RICOEUR, 2007, p. 263).

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Segundo o autor, na era moderna a diferença entre experiência e expectativa aumentou progressivamente, tendo as expectativas se distanciado cada vez mais das experiências feitas até então. Este processo foi o que possibilitou a concepção da modernidade como um tempo novo. Foi o momento do advento de um novo horizonte de expectativa, que tomou forma com o conceito de progresso (final do século XVIII). Desde então, a história passou a ser entendida como um processo de contínuo e crescente aperfeiçoamento, o qual é apreensível a partir da análise de conceitos que carregam expectativas e propõem um rompimento com a experiência até então: são conceitos de pura expectativa. A hipótese aqui é que a concepção de história de Damasceno esteve afetada pelo fenômeno narrado pelo teórico alemão, concentrando no conceito de regionalismo uma nova carga semântica, em conformidade com as expectativas que visava efetivar.

Evoluir, na década de 1940 para Athos Damasceno, era superar um discurso identitário para o Rio Grande do Sul exclusivamente ligado ao campo, que poderia remeter ao separatismo18, e se aproximar da nação brasileira. mesmo que a representação da região ancorada no campo não tivesse pretensões separatistas, ela afirmava a diferença com relação ao restante do Brasil, cabia agora afirmar as semelhanças19. Parece que, sobretudo a partir dos anos 1940, o autor passou a buscar no conhecimento histórico a legitimação para a forma como entendia a região. A constituição de uma verdade pautada no progresso para a região passa pela afirmação dos seus intelectuais e pela integração do estado ao Brasil. Talvez assim possa ser entendida sua aproximação com os postulados de Gilberto Freyre, a partir de então, para a representação regional. Refiro-me especificamente ao culturalismo integrador de Freyre pautado na ideia de heterogeneidade das diferentes regiões brasileiras como amálgama da nação. Este postulado parece ter tido grande apelo entre os intelectuais gaúchos, inclusive em Damasceno (NEDEL, 2007a). Entendo que sua obra dialoga, em determinados aspectos, com o sociólogo de Recife20, porém, em

18 É interessante a afirmação de Damasceno (1932a, p.3): “Não sendo mais o Rio Grande simplesmente um vasto campo de creação de gado, os seus escriptores e os seus poetas devem abandonar esta literatura de saudade, essa literatura exclusivista e separatista, voltando-se para a zona colonial e para as cidades que nos dão de facto os traços marcantes da nossa vida actual de povo mais ou menos civilisado [...].” (grifo meu). 19 Desde a década de 1920, em prenúncio às comemorações do centenário farroupilha, houve uma pre-ocupação em marcar seu caráter não-separatista, a fim de afirmar a brasilidade do Rio Grande e de seus habitantes (OLIVEN, 1992). Gutfreind (1998) também menciona que a historiografia sulina, sobretudo após a fundação do IHGRGS (1920), privilegiava sentimentos de nacionalidade e brasilidade no Rio Grande do Sul. 20 Com relação ao modernismo tradicionalista de Freyre, é visível no manifesto de 1926 sua negação (diferentemente dos modernistas paulistas) à urbanização e industrialização como elementos representati-vos da identidade regional nordestina (e nisso não há como traçar um paralelo entre ele e Damasceno), e a busca na tradição patriarcal a sua formulação para a representação da região Nordeste (ALBUQUERQUE JR., 2001). Segundo Oliven (1993), o movimento modernista de 1922, surgido em São Paulo, recusava o regionalismo, porquanto seus formuladores entendiam que por meio do nacionalismo chegariam ao universal. A partir da segunda fase do movimento (1924) passa-se a enfatizar uma preocupação com a formulação de uma cultura nacional. A reação vem com a elaboração do manifesto Regionalista de Recife

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outros, com os modernistas da semana de arte moderna de 1922. Para Eduardo Jardim de moraes (1988) o projeto modernista visava compatibilizar

moderno e nacional e apresentar o moderno como necessariamente nacional. Contudo, existia a noção de que a modernização da cultura só se viabilizaria se estivesse assentada em tradições nacionais caracterizadas como populares. Segundo o autor, a modernização era percebida como atualização do Brasil em relação às “nações civilizadas”, o que não a afasta da tradição. Assim sendo, me parece que Damasceno apresenta influência de ambos os movimentos: ao defender uma concepção de evolução do processo histórico, de necessária adequação entre a região/nação e a representação que deveria ser feita delas, estaria mais afinado aos modernistas paulistas. A investida feita por Damasceno e seus contemporâneos da esfera local na diversificação dos temas da pesquisa histórica (década de 1940) aponta no sentido de constituir um discurso de uma região heterogênea, diversa, no qual ela se assemelha ao discurso de Freyre da heterogeneidade/diversidade das regiões como amálgama da nação. Buscava-se atingir o nacional por meio do regional.

Para pensar a relação entre a escrita da história em Damasceno e a produção regionalista no Rio Grande do Sul é importante pensar os conceitos de região e regionalismo em relação ao conceito de nação21 e o de nacionalismo. Anne-marie Thiesse (2002) elucida estas imbricações. De acordo com a autora, o processo de construção das identidades nacionais pela Europa implicou, por um lado, em redefinir as identidades locais, como características secundárias, subordinadas e complementares à identidade nacional. Por outro lado, a elaboração das identidades regionais nutre semelhanças com a construção das identidades nacionais. Dessa forma, o regionalismo francês do século XX reforçava a grande pátria, se colocava como um complemento à nação, e não em oposição a ela. Contribuiu, assim, para a manutenção da unidade nacional e atuou na consciência nacional como elemento de consenso (THIESSE, 1995). O regionalismo gaúcho que queria inserir-se e consolidar-se na memória histórica nacional republicana nutre semelhanças com o regionalismo francês.

Por fim, a insistência com que questões relativas à cultura regional têm sido colocadas no estado é significativa22 e um dos questionamentos mais recorrentes é a inserção

(1926). De certo modo, o que Freyre afirma é que a única maneira de ser nacional, num país com as dimensões do Brasil, é ser regional. Aqui há uma correlação entre o discurso de Freyre e dos intelectuais sul-rio-grandenses. O manifesto advoga a defesa da região enquanto unidade de organização nacional e a conservação dos valores regionais e tradicionais do Brasil e do Nordeste em particular, o progresso era visto como portador de malefícios. 21 Conforme Anderson (2008) a nação é uma comunidade política imaginada como sendo intrinse-camente limitada e mesmo assim, soberana. É imaginada porque seus membros sabem que existem outros indivíduos que comungam com eles da mesma comunidade. Limitada porque suas fronteiras são finitas. Comunidade porque a nação é concebida como uma camaradagem horizontal, a despeito das desigualda-des que possam existir dentro dela. 22 De acordo com Nedel (2007b), a partir dos anos 1990 é cada vez mais raro o uso do termo regionalismo nos estudos históricos. Há, na área das Ciências Sociais, estudos mais específicos sobre a

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particular do Rio Grande do Sul no arcabouço cultural brasileiro (NEDEL, 2007b). Ao estudar Athos Damasceno como produtor de um discurso de inserção da região na história da cultura nacional, que passa por uma reconfiguração da identidade regional e soma-se aos discursos de produção do regionalismo, este estudo pretende auxiliar a compreender parte desta inserção e seus desdobramentos.

4. FONTES

As obras escolhidas levaram em consideração a fase de 1940-1974, na qual é possível observar um maior enfoque do autor na produção de estudos na área da História. São elas: Imagens Sentimentais da Cidade (Porto Alegre: Globo, 1940); O teatro em Porto Alegre no século XIX (Fundamentos da Cultura Rio-Grandense: Faculdade de Filosofia / UFRGS, 1954); Palco, salão e picadeiro em Porto Alegre no século XIX: contribuição para o estudo do processo cultural do Rio Grande do Sul (Porto Alegre: Globo, 1956); Apontamentos para o estudo da Indumentária no Rio Grande do Sul (Fundamentos da Cultura Rio-Grandense: Faculdade de Filosofia / UFRGS, 1957); Sociedades Literárias em Porto Alegre no Século XIX (Fundamentos da Cultura Rio-Grandense: Faculdade de Filosofia / UFRGS, 1962); O Carnaval Porto-Alegrense no Século XIX (Porto Alegre: Globo, 1971); Colóquios com a minha cidade (Porto Alegre: Globo, 1974). Também está sendo utilizado na pesquisa o arquivo Athos Damasceno Ferreira, do IHGRGS. O arquivo contém parte da correspondência pessoal do autor de 1924-1974.

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