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Transformador monofásico com fator de potência constante na carga. Modelo em Simulink
Introdução
A tensão no secundário do transformador depende do valor de corrente e do fator de potência (fdp) da carga, variando de valor mesmo que a tensão no lado do primário seja mantida constante.
Se se considerar uma situação típica de um transformador a ligar duas entidades distintas, com um fornecedor de energia elétrica a ligar a rede de abastecimento ao primário e um cliente com a instalação de utilização ligada ao secundário, percebe-se que esta característica do transformador constitui um ponto a merecer especial atenção das duas entidades.
O cliente necessita de um valor de tensão adequado ás características dos equipamentos instalados, mas é ele que provoca a variação da tensão ao ligar e desligar equipamentos, por outro lado, o fornecedor, que só pode agir a partir do lado do primário, não sabe antecipadamente que equipamentos serão ligados pelo cliente nem o fdp daí resultante e assume muitas vezes compromisso contratual de manter o valor da tensão no cliente controlado, apesar das variações de carga criadas por este.
A curva teórica de variação da tensão no secundário em função da corrente e do fdp da carga, carateriza o funcionamento do transformador e constitui uma boa ferramenta de análise desta situação.
Como a tensão depende de duas variáveis, corrente e fdp, é usual, para simulação, fixar um valor para uma delas, por exemplo o fdp enquanto se faz variar a corrente desde zero até ao valor nominal. A curva assim obtida apresenta a variação da tensão relativamente à corrente, mas apenas para aquele fdp.
Repetindo o procedimento para outros valores de fdp, obtêm-se outras tantas curvas, uma para cada fdp.
Problema
Calcular a tensão no secundário, mantendo constante um valor predefinido para o fdp do secundário.
Um cálculo da tensão no secundário, baseada no circuito equivalente do transformador, com restrição de manter constantes a tensão e fdp no primário, pode realizar-se pela aplicação simples das Leis de Ohm e Kirchhoff. Contudo o valor do fdp que resulta para o secundário (carga) varia com a corrente, não permanece constante como se pretende.
A manutenção de um valor constante para o fdp da carga durante o cálculo, obriga a ajustar o modelo, para além da simples aplicação das Leis enunciadas.
Apresentam-se dois exemplos, em que se mantêm constantes a tensão e o fdp no primário e se calculam a tensão e o fdp no secundário em dois pontos de funcionamento distintos. Comparem-se no final os valores do fdp resultantes para o secundário.
Vai ser usado nos exemplos um transformador mono-fásico com as seguintes características:
𝑆 = 750 𝑉𝐴 ; 𝑉1 = 150 𝑉 ; 𝑉2 = 300 𝑉 ; 𝑅𝑒𝑞 = 1,88 𝛺 ;
𝑋𝑒𝑞 = 13,19 𝛺
O modelo de transformador (fig. 1), é o circuito equiva-lente aproximado reduzido ao primário (circuito de Steinmetz), numa versão simplificada (fig. 2) que não influencia as conclusões.
fig. 1 - Circuito equivalente aproximado do
transformador reduzido ao primário
A simplificação consiste em desprezar o ramo paralelo com a resistência de perdas no ferro e a reatância de magnetização, 𝑅𝑝 𝑒 𝑗𝑋𝑚, representados a cinzento na fig. 1.
2/8
fig. 2 - Circuito equivalente simplificado como vai ser
considerado nos exemplos fig. 3 - Diagrama vetorial geral de correntes e tensões
correspondente ao circuito da fig. 2.
𝑉2′ e 𝐼2
′ representam a tensão e a corrente do secundário e mantêm a desfasagem observada entre 𝑉2 e 𝐼2.
A tensão e o fdp do lado do primário são mantidos constantes nos dois exemplos.
𝑉1 = 150 ∠0º
cos 𝜑1 = 0,8𝑖 (𝜑1 = −36,87º)
Exemplo 1: Cálculo da tensão e fdp no secundário para uma corrente de 2 A.
𝐼1 = 2 ∠ − 36,87º 𝐴
Aplicando a lei de Kirchhoff na malha do circuito equivalente,
𝑉2′ = 𝑉1 − (𝑅𝑒𝑞 + 𝑗𝑋𝑒𝑞)×𝐼1
𝑉2′ = 150 ∠0 − (1,88 + 𝑗13,19)×2 ∠ − 36,87 = 132,51 ∠ − 8,18º 𝑉
Como 𝐼2′ = 𝐼1, a desfasagem entre a corrente e a tensão no secundário é
𝜑2 = 𝜑(𝐼2′) − 𝜑(𝑉2
′) = −36,87 − (−8,18) = −28,69 º
No ponto de funcionamento deste exemplo, o fdp resultante para o secundário é:
cos 𝜑2 = 0,88𝑖
𝜑2 = −28,69 º
Como pode ser observado na fig. 4.
fig. 4 - Diagrama vetorial de correntes e tensões correspondente ao exemplo 1.
Exemplo 2: Cálculo da tensão e fdp no secundário para uma corrente de 5 A.
𝐼1 = 5 ∠ − 36,87 𝐴
𝑉2′ = 150 ∠0 − (1,88 + 𝑗13,19)×5 ∠ − 36,87 = 113,18 ∠ − 24,60 𝑉
Desfasagem entre a corrente e a tensão no secundário
𝜑2 = 𝜑(𝐼2′) − 𝜑(𝑉2
′) = −36,87 − (−24,60) = −12,27 º
O fdp resultante para o secundário neste exemplo é:
cos 𝜑2 = 0,98𝑖
𝜑2 = −12,27 º
Como pode ser observado na fig. 5.
fig. 5 - Diagrama vetorial de correntes e tensões
correspondente ao exemplo 2.
Conclusão: do primeiro para o segundo exemplo o objetivo de manter constante o valor do fdp do secundário não é atingido só com a aplicação das leis de Ohm e Kirchhoff.
3/8
A variação da corrente de 2 para 5 A, teve como consequência a passagem do fdp de 0,88 para 0,98 com a correspondente variação na desfasagem entre a tensão e a corrente no secundário de -28,69º para -12,27º.
Pode ver-se na fig. 6 e na fig. 7, a variação do valor do fdp e do angulo quando a simulação é alargada a todos os
valores de corrente no secundário entre 0 e 5 A (𝐼2𝑛′ ).
fig. 6 - Variação do angulo de desfasagem entre tensão
e corrente no secundário em função da corrente no
secundário
fig. 7 - Variação do fdp do secundário em função da
corrente no secundário
solução
A solução para manter o fdp constante no secundário tem de respeitar a restrição de manter constante a tensão no primário.
Se a questão se resumisse ao cálculo num ponto de funcionamento único, a solução estaria facilitada, com o desenvolvimento de um método de cálculo iterativo e as leis de Ohm e Kirschhoff seriam suficientes.
Como se pretende desenhar uma curva e esta é obtida com os resultados da aplicação repetida do cálculo a uma elevada quantidade de pontos de funcionamento, o processo já requere uma abordagem diferente da aplicação simples das leis enunciadas.
Propõe-se uma solução que tem por base algum desenvolvimento matemático envolvendo grandezas do diagrama vetorial de tensões e correntes como o da fig. 5, trigonometria, teorema de Pitágoras e equações de grau superior a 1. Ao tornar desnecessário o cálculo iterativo, fica facilitada a implementação da solução num programa de simulação tipo Simulink, em que o modelo é repetidas vezes aplicado para se obter a curva pretendida.
Como resultado obter-se-ão algumas expressões matemáticas que constituirão o modelo de simulação, apesar de cada uma delas não representar em particular qualquer lei ou expressão do domínio da eletrotecnia.
Para maior clareza, revejam-se as variáveis e a sua localização antes de se passar ao desenvolvimento.
fig. 8 - Diagrama vetorial correspondente ao circuito equivalente
fig. 9 - Grandezas a manter constantes durante a
simulação: 𝑉1 = 150 ∠0º e 𝑐𝑜𝑠 𝜑2 = 0,8𝑖
4/8
fig. 10 - Grandeza a calcular fig. 11 - Grandeza a variar entre os limites 0A e 5A
fig. 12 - Grandezas a variar de forma dependente 𝑉𝑍𝑒𝑞 ;
𝑉𝑅𝑒𝑞 ; 𝑉𝑋𝑒𝑞
e 𝜑1 fig. 13 – Triangulo de tensões
Passe-se à análise e observe-se em particular do triangulo de tensões formado pelos vetores [𝑉1, 𝑉2′ , 𝑉𝑍𝑒𝑞
] e os
ângulos 𝜑2 e 𝜃 da fig. 13.
𝜑2 = angulo correspondente ao fdp pretendido
𝜃 = 𝑎𝑡𝑎𝑛 (𝑋𝑒𝑞
𝑅𝑒𝑞⁄ )
São ambos independentes do ponto de funcionamento, têm por isso valores constantes durante a simulação
(Nota: neste exemplo considera-se uma carga indutiva, logo o angulo 𝜑2 de desfasagem entre a tensão e corrente no secundário é negativo e o angulo 𝜃 correspondente à impedância equivalente é positivo.)
Observem-se agora os ângulos 𝛼 e 𝛽.
𝛽 = 180º + 𝜑2 [1]
𝛼 = 360º − 𝛽 − 𝜃 [2]
Os ângulos 𝛼 e 𝛽, em consequência também mantêm valores constantes durante a simulação.
Considere-se o angulo 𝛼 dividido em dois ângulos, 𝑎1 e 𝑎2 e as variáveis assinaladas na fig. 14.
Desenvolvendo o seno do angulo α.
b c
d
a1 a2
1V
'
2V
ZeqV
fig. 14 – Diagrama com as variáveis a considerar no cálculo.
𝑠𝑒𝑛 𝛼 = 𝑠𝑒𝑛(𝑎1 + 𝑎2) = 𝑠𝑒𝑛 𝑎1 𝑐𝑜𝑠 𝑎2 + 𝑠𝑒𝑛 𝑎2 𝑐𝑜𝑠 𝑎1 [3]
Como
𝑠𝑒𝑛 𝑎1 =𝑏
𝑉2′ 𝑐𝑜𝑠 𝑎1 =
𝑑
𝑉2′
𝑠𝑒𝑛 𝑎2 =𝑐
𝑉𝑍𝑒𝑞 𝑐𝑜𝑠 𝑎2 =
𝑑
𝑉𝑍𝑒𝑞
Substituindo na eq. [3].
𝑠𝑒𝑛 𝛼 =𝑏
𝑉2′
𝑑
𝑉𝑍𝑒𝑞+
𝑐
𝑉𝑍𝑒𝑞
𝑑
𝑉2′ =
𝑑(𝑏 + 𝑐)
𝑉2′𝑉𝑍𝑒𝑞
Como.
𝑉1 = 𝑏 + 𝑐 [4]
5/8
𝑠𝑒𝑛 𝛼 =𝑉1𝑑
𝑉2′𝑉𝑍𝑒𝑞
𝑑 =𝑉2
′𝑉𝑍𝑒𝑞𝑠𝑒𝑛 𝛼
𝑉1 [5]
Aplicando agora o teorema de Pitágoras aos triângulos [𝑉2′, b, d] e [𝑉𝑍𝑒𝑞, d, c].
{𝑉2
′2= 𝑏2 + 𝑑2
𝑉𝑍𝑒𝑞2 = 𝑑2 + 𝑐2
{𝑉2′2
−𝑉𝑍𝑒𝑞2 = (𝑏2 + 𝑑2) − (𝑑2 + 𝑐2)
…{𝑉2
′2−𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 𝑏2 − 𝑐2
…
Substituindo 𝑏 = 𝑉1 − 𝑐, retirado da eq. [4].
{𝑉2′2
−𝑉𝑍𝑒𝑞2 = (𝑉1 − 𝑐)2 + 𝑐2
…{𝑉2
′2−𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 𝑉12 + 𝑐2 − 2𝑉1𝑐 + 𝑐2
…{𝑉2
′2−𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 𝑉12 − 2𝑉1𝑐
…
Explicitando 𝑐.
𝑐 =𝑉1
2 − 𝑉2′2
+𝑉𝑍𝑒𝑞2
2 𝑉1 [6]
Aplicando o teorema de Pitágoras ao triangulo [𝑉𝑍𝑒𝑞, d, c]
𝑉𝑍𝑒𝑞2 = 𝑑2 + 𝑐2 [7]
Substituindo d e c das equações [5] e [6].
𝑉𝑍𝑒𝑞2 = (
𝑉2′𝑉𝑍𝑒𝑞𝑠𝑒𝑛 𝛼
𝑉1)
2
+ (𝑉1
2 − 𝑉2′2
+𝑉𝑍𝑒𝑞2
2 𝑉1)
2
Desenvolvendo.
𝑉𝑍𝑒𝑞2 =
𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼
𝑉12 +
(4 𝑉12) (4)
(𝑉12 − 𝑉2
′2+𝑉𝑍𝑒𝑞
2)2
4 𝑉12
(1)
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + (𝑉1
2 − 𝑉2′2
+𝑉𝑍𝑒𝑞2)
2 [8]
Considerando temporariamente uma variável intermédia ℎ2.
ℎ2 = 𝑉𝑍𝑒𝑞2 − 𝑉2
′2 [9]
e substituindo 𝑉𝑍𝑒𝑞2 − 𝑉2
′2 por ℎ2 na eq. [8].
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + (𝑉1
2 + ℎ2)2
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + (𝑉1
2)2
+ (ℎ2)2 + 2𝑉12ℎ2
Voltando a substituir a variável temporária ℎ2 pela eq. [9].
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + 𝑉1
4 + (𝑉𝑍𝑒𝑞2 − 𝑉2
′2)
2+ 2𝑉1
2(𝑉𝑍𝑒𝑞2 − 𝑉2
′2)
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + 𝑉1
4 + ((𝑉𝑍𝑒𝑞2)
2+ (𝑉2
′2)
2− 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2𝑉2′2
) + 2𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 − 2𝑉12𝑉2
′2
4 𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 = 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + 𝑉1
4 + 𝑉𝑍𝑒𝑞4 + 𝑉2
′4− 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2𝑉2′2
+ 2𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2 − 2𝑉12𝑉2
′2
Reordenando as parcelas para melhor clareza do passo seguinte.
𝑉2′4
+ 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 − 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2𝑉2′2
− 2𝑉12𝑉2
′2+ 𝑉1
4 + 𝑉𝑍𝑒𝑞4 + 2𝑉1
2𝑉𝑍𝑒𝑞2 − 4 𝑉1
2𝑉𝑍𝑒𝑞2 = 0
𝑉2′4
+ 4𝑉2′2
𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 − 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2𝑉2′2
− 2𝑉12𝑉2
′2+ 𝑉1
4 + 𝑉𝑍𝑒𝑞4 − 2𝑉1
2𝑉𝑍𝑒𝑞2 = 0 [10]
6/8
𝑉2′4
+ 𝑉2′2
(4𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 − 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2 − 2𝑉12) + 𝑉1
4 + 𝑉𝑍𝑒𝑞4 − 2𝑉1
2𝑉𝑍𝑒𝑞2 = 0 [11]
Considerando temporariamente uma variável intermédia z.
𝑧 = 𝑉2′2
[12]
E duas constantes w e k.
𝑤 = 4𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 − 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2 − 2𝑉12
𝒌 = 𝑽𝟏𝟒 + 𝑽𝒁𝒆𝒒
𝟒 − 𝟐𝑽𝟏𝟐𝑽𝒁𝒆𝒒
𝟐
[13]
[14]
Pode reescrever-se a eq. [11].
𝑧2 + 𝑤𝑧 + 𝑘 = 0 [15]
Como equação do segundo grau tem as seguintes soluções para z:
𝑧 =−𝑤 + √𝑤2 − 4𝑘
2 [16]
𝑧 =−𝑤 − √𝑤2 − 4𝑘
2
[17]
Substituindo agora nas equações [16] e [17] 𝒛 por 𝑉2′2
da eq. [12].
𝑉2′2
=−𝑤 + √𝑤2 − 4𝑘
2
𝑉2′2
=−𝑤 − √𝑤2 − 4𝑘
2
Têm-se finalmente as soluções para a equação [11] que é do grau 4.
𝑉2′ = +√−𝑤 + √𝑤2 − 4𝑘
2 [18]
𝑉2′ = −√−𝑤 + √𝑤2 − 4𝑘
2 [19]
𝑉2′ = +√−𝑤 − √𝑤2 − 4𝑘
2 [20]
𝑉2′ = −√−𝑤 − √𝑤2 − 4𝑘
2 [21]
As quatro expressões acima constituem as raízes da equação [11] numa conceção puramente matemática, contudo, numa análise ao circuito equivalente, rapidamente se encontrarão as que não fazem sentido nesse contexto, ficando apenas naturalmente a que constitui a solução procurada.
Tome-se como exemplo um ponto de funcionamento correspondente aos seguintes dados do exemplo 1:
Elementos do circuito equivalente : 𝑅𝑒𝑞 = 1,88 𝛺; 𝑋𝑒𝑞 = 13,19 𝛺;
Tensão constante no primário : 𝑉1 = 150 𝑉;
Fator de potência pretendido para o secundário : cos 𝜑2 = 0,8𝑖 (𝜑2 = −36,87º);
Corrente no ponto de funcionamento do exemplo : 𝐼1 = 2 ∠ − 36,87º 𝐴.
Desenvolvimento do cálculo.
𝛽 = 180º + 𝜑2 = 180 + (−36,87) = 143,13º
7/8
𝜃 = 𝑎𝑡𝑎𝑛 (𝑋𝑒𝑞
𝑅𝑒𝑞⁄ ) = (13,19
1,88⁄ ) = 81,89º
𝛼 = 360º − 𝛽 − 𝜃 = 360 − 143,13 − 81,89 = 134,98º
𝑍𝑒𝑞 = √𝑅𝑒𝑞2 + 𝑋𝑒𝑞
2 = √1,882 + 13,192 = 13,32 𝛺
𝑉𝑍𝑒𝑞 = 𝑍𝑒𝑞𝐼1 = 13,32×2 = 26,65 𝑉
𝑤 = 4𝑉𝑍𝑒𝑞2𝑠𝑒𝑛2 𝛼 − 2𝑉𝑍𝑒𝑞
2 − 2𝑉12
𝑤 = 4(26,65)2𝑠𝑒𝑛2(134,98) −2(26,65)2 − 2(150)2 = −44999,10
𝑘 = 𝑉14 + 𝑉𝑍𝑒𝑞
4 − 2𝑉12𝑉𝑍𝑒𝑞
2
𝑘 = (150)4 + (26,65)4 − 2(150)2(26,65)2 = 474802269,64
Calculando as raízes
𝑉2′ = +√−(−44999,10) + √(−44999,10)2 − 4×474802269,64
2= 167,65 𝑉
𝑉2′ = −√−(−44999,10) + √(−44999,10)2 − 4×474802269,64
2= −167,65 𝑉
𝑉2′ = +√−(−44999,10) − √(−44999,10)2 − 4×474802269,64
2= 129,98 𝑉
𝑉2′ = −√−(−44999,10) − √(−44999,10)2 − 4×474802269,64
2= −129,98 𝑉
Confrontando estes valores com o circuito equivalente, verifica-se a existência de duas raízes negativas que podem ser excluídas por não fazerem sentido no contexto. Restam os valores positivos.
Como se pode observar na fig. 15, o vetor 𝑉2′ desloca-se
sobre a linha ponteada que representa o lugar geométrico da ponta do vetor 𝑉2
′ , quando a corrente do secundário varia da situação de vazio (𝐼1 = 0 𝐴 ; 𝑉2
′ = 150 𝑉 ) até à situação de curto-circuito ( 𝑉2
′ = 0 𝑉 ), sendo por isso sempre inferior ao valor de 𝑉1 = 150 𝑉, por esse motivo pode desprezar-se o valor 167,65 V.
1V
'
2V
ZeqV
fig. 15 – Lugar geométrico da ponta do vetor 𝑉2′.
O valor procurado é 129,98 V e correspondente à equação [20] que é a que se deve usar na simulação.
Implementação em Simulink.
O modelo consiste apenas na implementação das equações [1], [2], [13], [14] e [20], todavia, no modelo da fig. 16, também foram implementadas as equações [18], [19] e [21] para se poderem observar as outras raízes.
O Clock representa o módulo de 𝐼2′ . Os valores
mínimo e máximo para a simulação são 0 e 2 como pode ver-se na fig. 17 com janela da opção:
“Simulation/Configuration Parameters …”.
fig. 16 –Modelo implementado em Simulink.
8/8
Para facilitar a compreensão do modelo, os cálculos estão divididos em dois subsistemas: “CÁLCULO DAS CONSTANTES W; K” e “CÁLCULO DE V'2”.
Apresentam-se a seguir e crê-se que sejam suficientemente claros para dispensarem explicações adicionais.
fig. 17 – Atribuição de limites à variável 𝐼2′ .
fig. 18 – Interior do subsistema ““CÁLCULO DAS CONSTANTES W; K”” da fig. 16.
fig. 19 – Interior do subsistema “CÁLCULO DE V'2” da fig. 16.
Observe-se que na fig. 16, para 𝐼2′ = 2 𝐴 , constam os
quatro valores calculados teoricamente para 𝑉2′, dos quais
apenas interessa o correspondente à eq. [20], 𝑉2′ =
129,98 𝑉.
Alterando os limites da corrente 𝐼2′ (fig. 17) para 0 e 5,
obtém-se a curva para todos os valores de corrente.
Podem comparar-se na fig. 20 a curva de 𝑉2′ obtida com a
solução proposta para fdp constante no secundário (linha contínua), com a que se obtém com um modelo de fdp constante no primário (linha ponteada).
Para a corrente nominal, observa-se uma redução aproximada de 19,5% no valor da tensão 𝑉2
′ calculada com a solução proposta.
fig. 20 –Tensão 𝑉2′ com fdp constante no secundário
e fdp constante no primário.
Considera-se que este valor percentual (19,5%) possa ter alguma variação consoante o transformador, contudo o valor encontrado não é negligenciável e justifica a adoção de uma metodologia mais rigorosa com a da solução proposta.