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1 Introdução A minha principal motivação para esta dissertação foi de ordem pessoal uma vez que Almada foi a terra que os meus avós maternos escolheram para casar e para constituir família. Assim, procuro não só contribuir para a investigação já muito extensa desenvolvida sobre o Estado Novo, como para a cultura do concelho onde nasceu a minha mãe e para o qual vim residir aos 4 anos de idade. Inicialmente pensei estudar o período entre 1933, quando o regime passou a adoptar esta designação, até ao fim da ditadura a 25 de Abril de 1974. Embora a minha análise do movimento associativo siga esta baliza cronológica, o volume de informação que recolhi levou-me a recuar no estudo da resistência ao Estado Novo no concelho até ao fim da campanha de Humberto Delgado. Busco, por um lado, compreender como a luta contra a ditadura se desenrolou no concelho de Almada o que motivou várias questões. Desde logo, quais eram as principais colectividades e forças políticas em Almada no ínicio da ditadura a 28 de Maio de 1926? Mantiveram elas a mesma influência ao longo do tempo ou perderam-na com o passar do tempo? Quem integrava a comissão concelhia do MUD e quais as suas linhas de acção para combater o regime? Quem dava corpo à comissão concelhia e quais as suas estratégias para derrubar a ditadura? De que maneira as bibliotecas das colectividades e as sessões por elas patrocinadas ajudaram a formar uma mentalidade oposicionista no concelho? Como foram os resultados das listas eleitorais da oposição no concelho? Como se relacionavam as colectividades com o movimento oposicionista concelhio (anarquistas, MUD, PCP)? Por outro lado, espero ligar a resistência à ditadura no concelho de Almada à que era operada no resto do país. Assim, como o governo olhava para o concelho de Almada? Como um baluarte antifascista ou nem por isso? Como a comissão concelhia do MUD se relacionava com o centro do movimento em Lisboa? Quais as ordens que recebia? O que se esperava dela? Através de uma simples consulta do registo geral de presos da PIDE na Torre do Tombo, facilmente se depreende que a luta contra a ditadura não foi um fenómeno de centro, ligado a Lisboa ao Porto ou a Coimbra, mas nacional. Assim, a história local permite-nos compreender como as diversas regiões do país, com as suas características

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1

Introdução

A minha principal motivação para esta dissertação foi de ordem pessoal uma vez que

Almada foi a terra que os meus avós maternos escolheram para casar e para constituir

família. Assim, procuro não só contribuir para a investigação já muito extensa

desenvolvida sobre o Estado Novo, como para a cultura do concelho onde nasceu a minha

mãe e para o qual vim residir aos 4 anos de idade.

Inicialmente pensei estudar o período entre 1933, quando o regime passou a

adoptar esta designação, até ao fim da ditadura a 25 de Abril de 1974. Embora a minha

análise do movimento associativo siga esta baliza cronológica, o volume de informação

que recolhi levou-me a recuar no estudo da resistência ao Estado Novo no concelho até

ao fim da campanha de Humberto Delgado.

Busco, por um lado, compreender como a luta contra a ditadura se desenrolou no

concelho de Almada o que motivou várias questões. Desde logo, quais eram as principais

colectividades e forças políticas em Almada no ínicio da ditadura a 28 de Maio de 1926?

Mantiveram elas a mesma influência ao longo do tempo ou perderam-na com o passar do

tempo? Quem integrava a comissão concelhia do MUD e quais as suas linhas de acção

para combater o regime? Quem dava corpo à comissão concelhia e quais as suas

estratégias para derrubar a ditadura? De que maneira as bibliotecas das colectividades e

as sessões por elas patrocinadas ajudaram a formar uma mentalidade oposicionista no

concelho? Como foram os resultados das listas eleitorais da oposição no concelho? Como

se relacionavam as colectividades com o movimento oposicionista concelhio

(anarquistas, MUD, PCP)?

Por outro lado, espero ligar a resistência à ditadura no concelho de Almada à que

era operada no resto do país. Assim, como o governo olhava para o concelho de Almada?

Como um baluarte antifascista ou nem por isso? Como a comissão concelhia do MUD se

relacionava com o centro do movimento em Lisboa? Quais as ordens que recebia? O que

se esperava dela?

Através de uma simples consulta do registo geral de presos da PIDE na Torre do

Tombo, facilmente se depreende que a luta contra a ditadura não foi um fenómeno de

centro, ligado a Lisboa ao Porto ou a Coimbra, mas nacional. Assim, a história local

permite-nos compreender como as diversas regiões do país, com as suas características

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próprias, tiveram dentro delas quem agitasse as águas do indiferentismo político. Almada

foi um destes casos e o concelho presta homenagem aos que lutaram pela democracia na

sua toponímia e fá-lo tanto aos seus filhos biológicos como aos adoptivos.1 Contudo, a

resistência colectiva dos almadenses à ditadura encontra-se imortalizada na estátua “Os

Perseguidos”, situada perto do Externato Frei Luís de Sousa.

Convém que se distinga entre oposição passiva e activa. A primeira pode ser uma

assinatura de um jornal oposicionista ou a leitura de obras proibidas pelo regime. A

segunda pode ser a organização de uma campanha eleitoral de um candidato oposicionista

ou a participação num golpe contra o regime.

Este trabalho pretende ser o mais abrangente possível do universo de resistência

no concelho. Assim, abordei tanto os dois rostos da oposição que acima se definiu, como

o papel das mulheres e dos homens na luta contra o regime.

Estudei as campanhas presidenciais de Norton de Matos, de Ruy Luís Gomes e de

Humberto Delgado respectivamente em 1949, 1951 e 1958; assim como o plebiscito à

constituição de 1933 e as eleições de deputados em 1934 e 1957. Quanto às colectividades

trabalhei sobretudo a Incrível Almadense, a Academia Almadense, a SFUAP e a

Cooperativa Piedense já que foram as mais importantes para o movimento de resistência.

Em termos de fontes consultadas, no Arquivo da Câmara Municipal de Almada

consultaram-se periódicos locais2 que nos dão um panorama de como a vida era no

concelho e apresentam os corpos gerentes das colectividades. A partir daí pode-se

consultando o registo de presos na Torre do Tombo saber se houve presos políticos à

frente de alguma das associações do concelho. Neste arquivo consultei também o registo

1 Atente-se o largo Gabriel Pedro onde fica o tribunal em sua memória, tendo ele residido no concelho

durante os anos 1950 servindo o seu café que ainda hoje existe, na Praça MFA, de nome Dragão Vermelho,

de tertúlia oposicionista. As ruas Pedro Matos Filipe e Joaquim Montes, na Cova da Piedade e no

Laranjeiro, respectivamente, prestam preito a estes anarquistas, intervenientes no 18 de Janeiro de 1934 e

que faleceram no Tarrafal. O funcionário comunista Alberto de Araújo, também ele deportado para o

Tarrafal, tem um busto no jardim da cidade por cima do largo do tribunal e o seu nome no centro de trabalho

do PCP, sito na rua Capitão Leitão, e em ruas na Cova da Piedade, na Caparica, Costa da Caparica e na

Sobreda. Os republicanos Manuel Parada e José Alaíz, pertencentes ao MUD, deram o seu nome

respectivamente a duas ruas no Pragal e na Sobreda e a um largo em Almada. 2 Foram consultados neste contexto os republicanos a Voz de Almada de 1927, dirigida por José Alaíz, O

Almadense, dirigido nos anos 1930 por Felizardo Artur, entre 1928 e 1934; o católico Jornal de Almada de

1954 a 1974 fundado pelo padre Manuel Marques e no qual participaram oposicionistas almadenses como

Romeu Correia ou Alfredo Canana, entre 1954 e 1974; o capariquense Praia do Sol, entre 1950 e 1974 de

cariz mais situacionista; o Académico, órgão oficial da Academia Almadense de 1945; A Incrível, jornal

oficial da Incrível Almadense de 1948; a Voz do Tejo, semanário regionalista de 1956; o Fogo de Campo,

boletim oficial do Clube de Campismo de Almada, entre 1969 e 1974.

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de pedidos de informação da PIDE e o registo geral de correspondência recebida para,

por uma banda, ter noção da vigilância montada pela polícia política ao concelho e, por

outro, de como o governo e as autoridades locais interagiam entre si. Trabalhei igualmente

com colectâneas de fontes documentais, o livro concernente ao processo eleitoral de 1957

e as actas da Câmara Municipal de Almada, estas últimas úteis para a minha

contextualização económica do concelho.

A nível nacional usei, na Biblioteca Nacional, O Século, A República, Diário de

Notícias, O Primeiro de Janeiro e o Diário Popular para me darem uma nova perspectiva

sobre a realidade concelhia durante a vigência da ditadura.

No Centro de Documentação do Museu da Cidade investiguei nos dossiês

temáticos acerca das eleições de 1958, do MUD em Almada, do associativismo, do ensino

e de dados estatísticos sobre o concelho. Foram ainda sondados os espólios de fontes orais

e os de António Henriques, Alexandre Castanheira e Hélio Quartim, personagens

importantes no quadro da resistência ao regime e do movimento associativo. Recorri

também ao seu arquivo fotográfico para ilustrar a campanha eleitoral de 1958, assim

como as condições de trabalho dos operários nas fábricas da Cova da Piedade,

nomeadamente a Rankin & Sons e a Bucknall & Sons.

Em termos de registo memorialístico encontrei os volumes auto-biográficos de

Edmundo Pedro no Museu do Aljube, as memórias de Fernando Brito Mateus e de

Alexandre Castanheira na Biblioteca Municipal de Almada e o livro de Gabriel Pedro3

que me foi ofertado por Joaquim do Carmo.

As fontes orais constituem um elemento precioso para a realização de um trabalho

sobre a resistência ao Estado Novo uma vez que os documentos produzidos pela polícia

política, aninhados no Arquivo PIDE/DGS, além de tendenciosos por vezes apresentam

omissões.4

Assim, seleccionei 13 entrevistados que me pudessem dar uma visão abrangente

sobre o período. Deste modo procurei entrevistar participantes das campanhas de Norton

3 Esta última foi editada postumamente em 2015 uma vez que Gabriel Pedro faleceu em França antes do 25

de Abril pelo que a obra se baseia em escritos por ele deixados e por uma discrição da sua participação na

acção da ARA contra o navio Cunene, em protesto contra a Guerra Colonial, feita por Jaime Serra dado

que Pedro, como medida conspirativa, não deixou nada redigido sobre este episódio. 4 Um exemplo disso é o relatório da PIDE acerca da morte de Cândido Capilé em Almada em 11 de

Novembro de 1961 o qual, como se pode facilmente depreender, oculta a repressão policial que se abateu

sobre os manifestantes e que teve como consequência o falecimento de Capilé, baleado pela GNR.

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de Matos, Humberto Delgado e da CDE, membros do MUD e do PCP e associados das

principais colectividades do concelho: Incrível Almadense, Academia Almadense,

SFUAP e Cooperativa Piedense. Procurei igualmente recolher o testemunho não só de

presos políticos como de pessoas que, embora não fossem presas, tiveram igualmente um

papel activo na luta contra o regime.

Neste aspecto, pensei em colaborar com o Museu da Cidade de Almada uma vez

que considero que a recolha de testemunhos de antigos oposicionistas políticos ao Estado

Novo é o reviver de uma memória e de uma identidade que não foi só pessoal, no sentido

de quem lutou e de quem foi preso, mas também colectiva representando uma parcela da

nossa História recente que deve ser preservada. Desse modo passei a colaborar

directamente com a doutora Ana Costa, na sua condição de coordenadora do Arquivo de

Fontes Orais do Museu da Cidade de Almada, tendo para esse fim elaborado um guião

genérico que serviu de base às entrevistas que conduzi. Este foi dividido em 6 partes tendo

como linha condutora a experiência pessoal dos entrevistados enquanto oposicionistas ao

Estado Novo.

A primeira parte foi chamada Movimentos e Partidos políticos e girava à volta

quer da participação dos entrevistados no MUD ou no PCP, quer da sua percepção acerca

da implantação dos católicos progressistas e da extrema-esquerda no concelho durante o

Estado Novo.

A segunda foi designada Campanhas eleitorais e visava principalmente as

eleições presidenciais de Norton de Matos em 1949, de Humberto Delgado em 1958 e da

CDE em 1969 e 1973. Foram abordadas também a campanha presidencial de Ruy Luís

Gomes em 1951 e as eleições para deputados em 1957.

A terceira foi denominada Associativismo e esteve relacionada com a memória

que os entrevistados têm das colectividades como palco de luta contra o regime. Foram

escolhidas como principais colectividades a abordar a Sociedade Filarmónica Incrível

Almadense, a Academia de Recreio e Instrução Familiar Almadense, a Sociedade

Filarmónica União Artística Piedense e as Escolas do Clube Desportivo da Cova da

Piedade. A Cooperativa Piedense foi falada nas entrevistas com Vitor e Raul Costa, na

sua condição de dirigentes da mesma, contudo não foi colocada no guião uma vez que as

entrevistas realizadas por Dulce Simões tiveram como foco esta colectividade estando

nelas muitos elementos relacionados com a resistência ao Estado Novo no seu seio.

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Assim, para não cair em repetição deixei esta colectividade de lado quando fiz as

entrevistas.

A quarta foi intitulada Momentos Políticos e focou-se em 5 momentos principais

da vida política do concelho durante o Estado Novo que foram: a morte do presidente

Óscar Carmona em 1951, o funeral do doutor Alberto de Araújo em 1955, notável

oposicionista almadense que esteve no Tarrafal como membro do Partido Comunista

Português; a comemoração do 5 de Outubro em 1956, a manifestação de 11 de Novembro

de 1961 em que morreu Cândido Capilé e o 1º de Maio de 1964. Esta última data foi

incluída devido à leitura do livro Margem de Certa Maneira de Miguel Cardina que falava

sobre acções violentas preparadas para este dia na margem sul. Neste sentido, procurei

junto dos entrevistados saber se algo deste género se passou no concelho.

A quinta foi nomeada A mulher na resistência e teve como objectivo recordar o

papel das mulheres no concelho na oposição ao regime e a sua relação com o homem

enquanto companheira de luta a nível de tratamento e distribuição de tarefas inerentes à

resistência ao Estado Novo.

A última teve como título Constrangimentos na luta e incidiu sobre a repressão

de que os entrevistados foram alvo por parte da polícia política, aliada à GNR no concelho

de Almada, e dos delatores que serviram a PVDE, a PIDE e a DGS ao longo da ditadura

salazarista e caetanista.

Os arquivos da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense e da Academia

Almadense foram digitalizados pela empresa InfoGestNet, encontrando-se actualmente

no site daquela entidade a partir do Arquivo Histórico de Almada – Colectividades do

Concelho de Almada. Nestes consultei as actas das sessões da Assembleia Geral, da

Direcção, dos Corpos Sociais e do Conselho Fiscal para os anos da Segunda Guerra

Mundial, altura em que as colectividades foram galardoadas pelo regime para no término

do conflito se furtarem a cumprimentar o Presidente do Conselho. Consultei, no caso da

AIRFA, o livro de visitantes e, no caso da SFIA, as comissões de biblioteca, relações de

conferência e as actividades culturais durante o período da ditadura para compreender

como a Academia era vista por quem a visitava e a evolução da actividade cultural da

Incrível.

O arquivo da SFUAP encontra-se danificado devido a um incêndio que ocorreu

na sede daquela colectividade em 1987. Decorrem agora projectos para a edificação de

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uma nova sede onde se localizará um núcleo de arquivo constituído pelos documentos

que se conseguiram salvar.

Quanto à Cooperativa Piedense existem várias entrevistas a associados seus no

Centro de Documentação conduzidas por Dulce Simões que constituíram a base do seu

trabalho sobre esta associação. Ao mesmo tempo, o seu Arquivo encontra-se na Câmara

Municipal sem se saber para onde vai pelo que a sua consulta não é de fácil acesso.

No Arquivo Nacional da Torre do Tombo comecei por consultar o registo geral

de presos para ter uma ideia da quantidade de presos políticos que houve em Almada.

Depois consultei alguns processos de indivíduos ligados ao 18 de Janeiro de 1934 e ao

MUD para me dar conta do que a polícia política sabia acerca da implantação daquele

movimento oposicionista no concelho assim como da repressão que foi movida contra os

seus intervenientes. No fundo do Ministério do Interior encontrei alguma informação

complementar sobre o corporativismo em Almada e o concelho, em geral, durante a

guerra civil de Espanha e no rescaldo da revolta reviralhista de Agosto de 1931. Ao

mesmo tempo foram consultados os processos de censura ao Jornal de Almada e de

suspensão de O Almadense como rostos do enfreamento imposto à imprensa.

Na Fundação Mário Soares recolhi dois relatos sobre a direcção da SFUAP nos

anos 1960 utilizados no capítulo do movimento associativo e no Arquivo Histórico

Parlamentar consultei os cadernos eleitorais e o mapa com os resultados eleitorais do

plebiscito à constituição de 1933; o resultado das eleições de deputados de 1934; abaixos-

assinados de apoio à candidatura de Cunha Leal à presidência da República. Neste último,

por via da internet, foram consultados debates parlamentares sobre o concelho de Almada.

O trabalho está estruturado em capítulos. O primeiro capítulo subdivide-se em

quatro subcapítulos que abordam respectivamente, o período republicano, a ditadura

militar, o Estado Novo desde o plebiscito à constituição de 1933 até ao fim da guerra civil

de Espanha e a Segunda Guerra Mundial. Procura-se traçar as principais correntes

ideológicas dos almadenses durante a República e como elas evoluíram durante a

institucionalização do Estado Novo assim como a realidade socio-económica do concelho

entre 1910 e 1945.

O segundo reparte-se em três subcapítulos que tratarão respectivamente da génese

da comissão concelhia do MUD e do MUDJ até à ilegalização do primeiro em 1948; da

campanha de Norton de Matos em 1949 até às eleições de deputados de 1957 e da

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campanha de Humberto Delgado em 1958. Neste conta-se a história dos activistas do

MUD em Almada e das suas principais acções passando naturalmente pelo seu passado

político e pela repressão que lhes foi movida pela polícia política. Grande parte da

informação nele contida foi obtida através dos processos da PIDE já que tanto na

Fundação Mário Soares como no Centro de Documentação do Museu da Cidade não se

encontrou quase nada acerca da comissão concelhia do MUD.

O terceiro chama-se o movimento associativo. Neste pretende-se demonstrar a

importância assumida pelo movimento associativo em Almada ao longo do tempo como

centro de sociabilidades e de auxílio em tempos agrestes, mas também na luta contra a

ditadura, como pólo de cultura alternativo. Mostra-se, neste último plano, as principais

actividades culturais desenvolvidas pelas colectividades como meio de criação de uma

cultura oposicionista e a resposta do regime de contenção dessas mesmas acções.

Terminei esta dissertação com uma explicação, olhando para o que foi dito

anteriormente, da importância da resistência almadense para a luta nacional contra o

Estado Novo. O mais importante aqui é tentar articular o que se fez a nível local com o

que se fez a nível nacional e como é que os dois pontos se tocaram e se influenciaram um

ao outro.

Relativamente ao estado da arte surgiram nos últimos anos dissertações de

mestrado e teses de doutoramento tanto no campo da Antropologia como da História que

dão alguma luz sobre como foi a resistência política ao Estado Novo em algumas regiões

do País. Para esta dissertação foi particularmente importante a tese de doutoramento de

Maria João Duarte Raminhos sobre o caso de Silves já que não só muitos silvenses

migraram para Almada e tiveram um papel activo na resistência, tema aliás de um

subcapítulo da tese, como os dois locais foram importantes centros corticeiros tendo a

Vilarinho & Sobrinho implantado uma filial sua em Almada.5 A dissertação de mestrado

de Ruben Lopes para o Seixal6 é interessante pela proximidade geográfica que tem com

o concelho sendo também um centro industrial. Já a dissertação de Iúri Amador acerca de

5 DUARTE Maria, Silves e o Algarve: uma história de oposição à ditadura, Lisboa, Colibri, 2010, pp.540-

553 6 LOPES Rúben, O Estado Novo e a vila do Seixal (1926-1961): um percurso político e socio-económico

do concelho durante a ditadura, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de

Lisboa, 2016

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Vila Franca de Xira7 pode ser também utilizada como modelo comparativo uma vez que

Almada também foi um dos bastiões da oposição e teve um movimento associativo forte,

criador de um polo cultural alternativo ao regime.

Sobre o caso específico de Almada denota-se um predomínio de obras acerca das

freguesias mais industrializadas do concelho: Almada, Cova da Piedade e Cacilhas e um

ofuscamento das freguesias mais rurais como são os casos da Costa da Caparica8 e da

Trafaria.9 Esta última tinha interesse ser estudada já que foi terra de uma prisão política

durante o Estado Novo, além de a sua indústria conserveira poder oferecer mais pistas

acerca do fenómeno de resistência política à ditadura no concelho. Já na Costa da

Caparica implantou-se a Casa dos Pescadores que importa ser estudada como organismo

corporativo e tentativa por parte do regime de enquadramento da classe piscatória e como

essa mesma classe respondeu a essa tentativa. Quanto ao movimento associativo destaca-

se o trabalho de Dulce Simões que procurou analisar a importância da Cooperativa para

a população piedense e como se tornou num polo cultural alternativo à ditadura.10 O

mesmo falta fazer para as outras colectividades, relativamente às quais este trabalho

apenas pode dar meras achegas.

7 AMADOR Iúri, "A vermelha" [Texto policopiado]: para uma história da oposição ao Estado Novo no

concelho de Vila Franca de Xira (1926-1974), Lisboa, s.e, 2005 8 Faz-se a ressalva a dois livros: CONDE DOS ARCOS, Caparica através dos séculos, Cacilhas, Gráfica

Progressiva de Cacilhas, 1973; NEVES Mário Silva, Costa da Caparica no Areal do Tempo, Costa da

Caparica, Câmara Municipal de Almada, 2008 9 Destacam-se os trabalhos de Alexandre Flores e de António Policarpo como os autores que mais se têm

debruçado sobre a História do concelho: POLICARPO António Neves, José da Silva Gordinho 1899-1948

Memorial de um anarquista almadense, Cova da Piedade, Junta de Freguesia da Cova da Piedade, 2003;

POLICARPO António, FLORES Alexandre, História da água e saneamento em Almada, Almada, SMAS,

2016; POLICARPO António, Memórias da nossa terra e da nossa gente, Almada, Junta de Freguesia de

Almada, 2013; FLORES Alexandre, Almada Antiga e Moderna Roteiro Iconográfico, 3 vol., Almada,

Câmara Municipal, 1985-1990; FLORES Alexandre, Clube Recreativo do Feijó abordagem histórico-

sócio-cultural, Feijó, Clube Recreativo do Feijó, 1995; FLORES Alexandre, Almada na história da

indústria corticeira e do movimento operário: da regeneração ao estado novo (1860-1930), Almada,

Câmara Municipal, 2003; FLORES Alexandre, POLICARPO António, Proclamação da República em

Almada, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2011 10 SIMÕES Dulce, Memórias, sociabilidades e resistências: o caso da Cooperativa de Consumo Piedense,

Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2017

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I. O concelho de Almada

I.1. A República (1910-1926)

A industrialização em Almada começou nos anos 1830 e 1840 com a Fábrica de Fiação

e Tecidos de Olho de Boi, em Cacilhas, e a Fábrica da Margueira de produtos químicos,

na Cova da Piedade.11 As primeiras fábricas de cortiça foram fundadas entre 1860 e 1870

e a partir de 1890 seriam fundados novos fabricos de capital estrangeiro e lusitano.12A

proximidade com Lisboa exerceu a sua influência com a fixação de fábricas de

proprietários ingleses e escoceses no concelho a partir da década de 1860 com a zona

ribeirinha a ser alvo de crescente industrialização e o rio, face à inexistência de transportes

terrestres, era usado no escoamento do produto já fabricado e pronto a ser exportado.13 A

exportação era a partir de 1880 feita sobretudo para a Alemanha, Inglaterra, EUA, França

e Rússia.14

Como consequência da industrialização houve um aumento populacional

concentrado a partir da segunda metade de Oitocentos na Cova da Piedade e na Trafaria

assistindo-se à migração de muita gente de Silves, fruto da falta de trabalho na indústria

corticeira e das Beiras.15 Geralmente os silvenses forneciam os operários mais

especializados, ao passo que os beirões ficavam com trabalhos mais braçais. No topo da

hierarquia figuravam os escolhedores de rolhas, de onde maioritariamente vinham os

futuros encarregados, e na base as mulheres e os menores largamente explorados como

mão-de-obra barata por uma indústria em expansão e ávida de lucros.16

11 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.47 12 As primeiras fábricas foram as inglesas Henry Bucknall & Sons (f. 1858) e The London and Lisbon Cork

Wood Company ou a Companhia (f. c.1863-1864); a escocesa William Rankin & Sons (f. 1871), a silvense

Vilarinho & Sobrinho (f. 1879) e a José Thomaz Callado (f. 1872). Entre as fundadas em 1890 destacam-

se a Alexander Symington & C.ª ou a Fábrica do Inglês e a de Manuel Antão Júnior, figura ligada ao

republicanismo. (Ibidem, pp.71-78) 13Ibidem, p.93; RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem

Sul: Almada 1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1995, p.31 14 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.92 15 Ibidem, p.118 16 Ibidem, pp.101; 146-151

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O proletariado almadense cresceu exponencialmente, passando de duzentos e

quarenta e um em 1889 para perto de mil na década seguinte.17 Estavam organizados

desde 1891 na Associação de Corticeiros de Almada, sediada na Mutela, e a partir de

1899 tinham o seu órgão de classe O Corticeiro, dirigido por Manuel Fevereiro.18

Por outro lado, as condições de vida e de trabalho dos operários eram duríssimas

percorrendo muitos dezenas de quilómetros a pé de locais como a Sobreda ou a

Charneca.19 Dentro das unidades fabris o labor era de sol a sol em locais mal ventilados

o que provocava várias doenças20, especialmente quando se tratava de trabalho em

empreitada.21 As difíceis condições de vida levaram a um surto grevista intenso entre

1892 e 1910 com o desencadeamento de 11 greves no concelho e ligadas também ao

desprestígio crescente das autoridades monárquicas, vistas como complacentes para com

o patronato.22

O concelho tinha sobretudo problemas de abastecimento de água, que eram

agravados pelas dificuldades financeiras e lutas intestinas na edilidade entre

regeneradores e progressistas.23 As elites camarárias eram recrutadas, segundo Jorge

Rodrigues, entre os funcionários administrativos das grandes fábricas, nas profissões

liberais, no seio dos comerciantes e no grupo dos médios proprietários rurais.24

A nível nacional vivia-se a crise do Ultimato Britânico que faria o Partido

Republicano, fundado em 1876, ganhar força, já notada nas celebrações camonianas de

17 Ibidem, pp.98-99 18 Manuel Fevereiro (née Febrero) tinha ascendência espanhola e vinculado ao socialismo, que trabalhou

como corticeiro na Bucknall de onde foi despedido por ser um agitador operário. (Ibidem, pp.122-124;251) 19 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.138; CORREIA Romeu, Homens e Mulheres vinculadas

às terras de Almada (Nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978,

p.226 20 Deram-se surtos epidémicos, motivados pelas deficientes condições de higiene tendo sido

particularmente intensos os das febres na Costa da Caparica em 1877, de varíola em 1883 que vitimou cerca

de quatrocentas pessoas; de peste bubónica em 1899 e de febre tifoide no Pragal em 1906. (POLICARPO

António, FLORES Alexandre, História da água e do saneamento em Almada, Almada, SMAS, 2016, pp.

127;143-166) 21 Ibidem, p.150 22 Deram-se greves na Rankin & Sons, entre Setembro e Outubro de 1892; na Symington & C.ª, entre 17 e

27 de Janeiro de 1903; na mesma fábrica entre 24 e 26 de Abril de 1906; na Gudewill & Bucknall entre 18

e 23 de Maio de 1906; na Rankin & Sons entre 2 e 5 de Junho de 1906; na Vilarinho & Sobrinho entre 2 a

12 de Julho de 1906; na Rankin & Sons entre 21 a 25 de Setembro de 1906; na de Pedro Fernandes em

Setembro de 1908; na Symington & C.ª entre Fevereiro e Abril de 1909; na Bucknall, Scholtz &C.ª entre

Julho e Outubro de 1909; na Vilarinho & Sobrinho entre Setembro e Outubro de 1910 Ibidem, pp.188-218 23 POLICARPO António, FLORES Alexandre, História da água e do saneamento em Almada, Almada,

SMAS, 2016, pp.124-145 24 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1995, p.31

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1880, com a vinda de novos militantes mercê da boa apropriação que fez da onda de

indignação popular que varreu o país contra as instituições monárquicas titubeantes face

aos desmandos britânicos, leia-se o Finis Patriae.25 Ao mesmo tempo, como notou Pedro

Urbano, a realeza foi incapaz, ao contrário de outras congéneres europeias26, de renovar

o seu cerimonial e de se fazer identificar com o povo, não obstante os esforços de João

Franco, baldados pelo indiferentismo da maioria dos monárquicos, bem patente no

episódio de Afonso Costa no Campo Pequeno em 1907.27

As ideias republicanas no concelho eram veiculadas através dos Centros

Republicanos: o Centro Escolar e Eleitoral Republicano de Cacilhas (f. 1884), o Centro

Eleitoral Democrático «Elias Garcia» (f. 1906) e o Centro Escolar Republicano «Capitão

Leitão» (f.1907).28 Em Julho de 1909 o PRP estava organizado na comissão política

municipal e nas comissões paroquiais da Caparica e de S. Tiago, em Almada, e em Janeiro

de 1910 tinha o seu órgão de imprensa local na figura de O Correio do Sul.29

25 FLORES Alexandre, POLICARPO António, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 2011, pp.49-57; CATROGA Fernando, O Republicanismo em Portugal da formação

ao 5 de Outubro de 1910, II volume, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1991,

p.445 26 Em Espanha o jovem monarca Afonso XIII procurava através das viagens fazer o povo identificar-se

com a monarquia tendo sido especialmente importantes nesse sentido aquelas que fez à Catalunha e ao País

Basco, como focos autonomistas dentro de nação que ele visava homogeneizar sob a batuta de Castela. Já

em Inglaterra o império colonial pujante auxiliava a aproximação e a identificação dos cidadãos comuns

com a monarquia. (VILLARES Ramón, Nacionalizar la monarquía, «monarquizar» la nación, Granada,

Comares Historia, 2016, p.XVIII; RUBÍ Gemma, Cuando el Estado se festeja a sí mismo y la corona quiere

convertirse eb símbolo activo de la Nacíon. Los viajes de Alfonso XIII a tierras aragonesas y catalanas

(1903-1922), Granada, Comares Historia, 2016, pp.51-73; TEIXIDOR Félix Luengo,

CENDAGORTAGALARZA Ander Delgado, Antes Patria que Rey. Los viajes de Alfonso XIII por el País

Vasco y Navarra, Granada, Comares Historia, 2016, pp.75-99; CANNADINE David, The Context,

Performance and Meaning of Ritual: The British Monarchy and the “Invention of Tradition”, c.1820-1970,

Cambridge, Cambridge University Press, 1983, pp.124-136) 27 Afonso Costa foi expulso à força da Câmara dos Deputados, na sessão de 20 de Novembro de 1906, por,

na sequência da discussão da questão dos adiantamentos à casa real, ter pronunciado a frase: “Por muito

menos crimes do que os cometidos (sic) por D. Carlos, rolou no cadafalso, em França, a cabeça de Luís

XVI!” Pouco depois o deputado republicano era no Campo Pequeno aplaudido pela assistência na presença

da família real e ante a passividade dos monárquicos. Debates Parlamentares, Monarquia Constitucional,

Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, Sessão nº 34, 20 de Novembro de 1906, p. 17;

MACHUQUEIRO Pedro Urbano da Gama, “Nos bastidores da Corte”: o Rei e a Casa Real na crise da

Monarquia 1889-1908, Tese de Doutoramento em História, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, 2013, pp.23;363-367 28 FLORES Alexandre, POLICARPO António, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 2011, p.19; 31-33 29 A comissão municipal era presidida por Artur Ferreira de Paiva, secretariada por Jaime de Amorim

Ferreira e integrada por Júlio César de Magalhães e Adelino dos Santos. A comissão paroquial de Almada

era constituída por Galileu de Saúde Correia, José Manuel Antão, Manuel Dinis André, Manuel Pinto

Soares, António Bernardino Moreira, Vicente Pais Padrão, Arsénio Vitorino Quaresma, Manuel da Graça,

Guilherme António Pedroso e Joaquim Peças. (Ibidem, pp.23-25)

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Durante este período deram-se surtos epidémicos de gravidade no concelho fruto das

más condições sanitárias com as chamadas valas, esgotos a céu aberto, a constituírem

autênticos focos de doença sobretudo no Verão.30 O sentimento de que as câmaras

monárquicas, fortemente subfinanciadas, constantemente falhavam a população levou a

que o republicanismo ganhasse força e vencesse as últimas eleições em Almada.31

O republicanismo começou a penetrar nas fábricas pela mão dos operários corticeiros,

influenciados pela corrente anarquista intervencionista que propugnava uma colaboração

com os republicanos no derrube da monarquia, mas também dos encarregados e

empregados de escritório das principais fábricas de cortiça. Bartolomeu Constantino foi,

neste sentido, uma figura crucial como personificação desta corrente e grande

dinamizador da Associação de Corticeiros de Almada, que era o principal organismo de

classe no concelho, além de a Federação Socialista fortemente implantada no concelho

também ter sido um importante difusor daquela linha ideológica.32 Já a maçonaria

estabelecida em 1898, com a fundação do triangulo nº 6 em Almada como filial da loja

maçónica Elias Garcia nº 184 de Lisboa, não obstante alguns dos seus membros fossem

activos republicanos nunca conseguiu ter um papel importante no desenvolvimento das

ideias republicanas no plano local.33

O republicanismo pareceu estar bem implantado na freguesia mais industrializada,

que concentrava Almada e a Cova da Piedade, granjeando adeptos entre alguns industriais

e sobretudo comerciantes, lojistas e profissionais liberais ligados ao ensino, à justiça e à

30 Destaquem-se os surtos de varíola em 1883, de febres colerinas e varíola em 1894, de peste bubónica em

1899 e de febre tifóide em 1906 (POLICARPO António, FLORES Alexandre, História dam água e do

saneamento em Almada, Almada, SMAS, 2016, pp.143-149; 156-160; 162-166) 31 Os resultados na Caparica foram duramente contestados com a acusação de compra de votos e de ameaças

aos eleitores. (Assembleia de Caparica, “Correio do Sul”, nº35, 4 de Setembro de 1910, p.1); Assembleia

de S. Tiago, “Correio do Sul”, nº35, 4 de Setembro, p.1) 32 No dia 4 de Outubro de 1910 deslocou-se com os republicanos Jaime Amorim Ferreira, Mário Guerreiro,

Manuel dos Santos Parada e Galileu Saúde Correia às principais fábricas do concelho onde conseguiram a

aderência do operariado que com eles seguiram da Cova da Piedade até aos Paços do Concelho onde foi

hasteada a bandeira republicana sem qualquer resistência das autoridades no concelho; VENTURA

António, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal As convergências possíveis (1892-1910),

Lisboa, Edições Cosmos, pp.106-108; FLORES Alexandre, Policarpo António, Proclamação da República

em Almada, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2011, pp.40-41

VENTURA António, Anarquistas Republicanos e Socialistas em Portugal As convergências possíveis

(1892-1910), Lisboa, Edições Cosmos, 2000, p.187 33 Constituído apenas por Artur António Ferreira de Paiva, José Maria Figueiredo e José Soares do Pinho

tendo sido dissolvido em 1911. (VENTURA António, Revoltar para resistir A Maçonaria em Almada

(1898-1937), Almada, Câmara Municipal de Almada, 2010, pp.33-34)

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imprensa.34 A sua ligação ao meio associativo, que desenvolveremos posteriormente,

também foi fundamental para transmitir a mensagem republicana já que as colectividades

eram o principal ponto de encontro e centro de sociabilidade da população. Já nas

freguesias rurais os proprietários constituem os principais aderentes ao republicanismo,

não obstante encontremos alguns republicanos junto de trabalhadores.

No dia 4 de Outubro a monarquia cai em Almada sem apoios às mãos de um pequeno

grupo de republicanos que hasteiam a bandeira na Cãmara Municipal. O anticlericalismo

da população almadense que a aproximou do republicanismo fez-se sentir logo no ataque

ao retiro do Vale do Rosal e em acções posteriores à implantação da República contra

igrejas amplamente apoiadas por republicanos e anarquistas radicais. O concelho

assumiria nesta fase um papel central já que abasteceu os revoltosos em Lisboa e deu-

lhes de certo modo ânimo para o triunfo da causa.

Os republicanos pertenceriam principalmente à facção democrática, ainda que

realizassem coligações pontuais com os evolucionistas, como ocorreu em 1916 durante a

Grande Guerra.35

Durante a monarquia constitucional, a partir de 1855, foram editados 27 jornais,

13 durante a República e 32 durante o Estado Novo que estiveram ligados a diferentes

correntes políticas e às colectividades.36 A instabilidade da República pode explicar o

34 Dados obtidos através das biografias dos principais republicanos do concelho. (FLORES Alexandre,

POLOCARPO Alexandre, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara Municipal de Almada,

2011, pp.98-197 35 A vereação republicana era constituída por Galileu Saúde Correia, presidente e no pelouro de

Contencioso, Instrução e Beneficência; Jaime de Amorim Ferreira, vice-presidente e no pelouro das Fontes,

Poços, Chafarizes e Incêndios; José Justino Lopes no da Iluminação Pública, Júlio César de Magalhães no

de Sanidade Pública; Francisco Luís de Oliveira no dos Cemitérios; Joaquim Peças no dos Jardins e no dos

Arvoredos; Florêncio Ricardo Domingues no da Viação, Obras e Matadouro (Ibidem, pp.47-50; 81) 36Monarquia Constitucional: O Almadense (1855); A Esperança (Associação de Artistas Almadenses,

1857); A Caridade (1856); Círculo nº73 (1876); O Clamor de Almada (1879, progressista); O Ecco de

Almada (1879); As Instituições (1881, progressista); O Círculo de Almada (1882); A Realeza (1882); O

Correio do Caramujo (1881); O Correio do Sul (1910, republicano); O Sul do Tejo (1883); O Correio da

Piedade (1884); O Rabicho (1886, satírico); O Círculo nº78 (1887); O Puritano (1889, regenerador); O

Correio do Inferno (1889); O Programa (1892); A Vila (1894); A Voz do Descarregador (1896, socialista-

marxista); A Festa (1899, AIRFA); O Liberal (1902); O Corticeiro (1899); Aurora de Caparica (189-); O

Pharol do Sul (189-); Almada (1900); O Incrível (1906)

I República: A Pátria (1915); Jornal d’ Almada (1916, evolucionista); O Trafaria (1921); O Correio do

Sul (democrático); O Despertar (1922); A Verdade (1923, independente); A Mocidade (1924, socialista);

Almada Sport; Gazeta de Almada (1921); Eco de Almada (2ª série, 1911); A Pátria (2ª série, 1922); Almada

Sport (1922); A Academia (AIRFA, 1921)

Ditadura Militar e Estado Novo: A Voz de Almada (1927, republicano); O Almadense (1928, republicano);

Pátria Portuguesa (1931); A Margem Sul (1932); O Altar (1935); O Concelho de Almada (1937); Voz do

Tejo (1956); Nova Almada (1950, situacionista); Notícias de Almada (1928); O Excursionista; 1935 – De

Semana a Semana (1935, republicano); O Castelo (1952); Rotary Clube de Almada (1953); Sul do Tejo

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decréscimo no número de jornais, enquanto a repressão durante o regime ditatorial levou

a que muitos dos jornais tivessem vida curta.

Cedo a República começou a desencantar o operariado almadense que viu os seus

principais líderes serem presos sem culpa formada na sequência de um incêndio encenado

na fábrica Vilarinho & Sobrinho.37 Este surgiu na sequência de Francisco Manuel Pereira

Caldas resolver fechar a fábrica como resposta a decisão do ministro José Relvas de pôr

término à exportação em bruto da cortiça que chocava com os interesses dos industriais

da época representados parlamentarmente por Jacinto Nunes.38

Rapidamente se desencadeou um movimento de solidariedade com os grevistas

do concelho por parte de corticeiros na capital, no Barreiro, no Porto, em Gaia e em Évora,

entre 24 e 26 de Agosto de 1911, tendo a Federação Corticeira proclamado a greve geral

ante o finca-pé dos industriais em não readmitirem os grevistas ao trabalho.39

A greve terminaria a 10 de Setembro e os presos libertados em fins de Outubro,

numa jornada que contribuiu para o rompimento do operariado, controlado pelos

anarquistas, com os republicanos.40 A classe trabalhadora cedo se desiludiria com a

República através do decreto-burla de Dezembro de 1910 que impunha condicionamentos

às greves, além de muitas terem sido reprimidas com dureza pelas autoridades, o que

levou ao afastamento dos anarquistas face à República.41

(1954); Farol (1955); Comunicado (1956, AIRFA); Fogo e Paz (Bombeiros Voluntários daa Trafaria,

1968); Fogo de Campo (1962); O Ginásio Clube do Sul (1950); A Academia (AIRFA); O Incrível (SFIA);

(1954); Praia do Sol (1950, União Nacional); O Corticeiro (1928, clandestino); Cova da Piedade (Clube

Desportivo da Cova da Piedade, 1963); Sociedade Cooperativa Piedense (1966); Revoada (Escola António

da Costa, 1969); O Nosso Seminário (Seminário de Almada, 1960); Arauto da Fé (1958); Voz de Almada

(2ª série, 1952); Despertar (Escola Industrial e Comercial de Almada, 1959); Leis e Economia (1969);

Comunidade (1971); Arsenal do Alfeite (Boletim Interno, 1972); Eco da Juventude (Juventude Evangélica,

1973); Novo Rumo (Liceu Nacional de Almada, 197-) FLORES Alexandre, Imprensa Periódica de Almada

(1808-2008), Almada, Câmara Municipal de Almada, 2008, pp.23-29; CORREIA Romeu, Homens e

Mulheres vinculados às terras de Almada (Nas Artes, nas Letras, nas Ciências), Almada, Câmara

Municipal de Almada, 1978, pp.118-121 37 Foram presos Bartolomeu Constantino, João Rocha Júnior, José dos Santos Mourinho, Amílcar Joaquim

do Carmo, José Maria Campos Fabião, Jacinto da Silva Lopes, Florêncio Lobato, Francisco José Ruivo,

José António Pratas Júnior, António Carrasquinho e Prudêncio dos Santos (FLORES Alexandre, Almada

na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930), Almada, Câmara Municipal de

Almada, pp.220-222) 38 Ibidem, pp.2;.158-159; 219 39 Ibidem, pp.222-225 40 Almada ficou dominada pelo comando militar na sequência da demissão do administrador do concelho

(Ibidem, pp. 223;.225;228 41 Almada ficou dominada pelo comando militar na sequência da demissão do administrador do concelho

(Ibidem, p.223); SAMARA Maria Alice, A questão social à espera da «Nova Aurora», Lisboa, Tinta-da-

China, 2010, pp.157-158; VENTURA António, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal As

convergências possíveis (1892-1910), Lisboa, Edições Cosmos, 2000, p.219

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Por outro lado, os republicanos, não obstante, desde os tempos de propaganda,

fossem muito regionalistas a verdade é que as lutas intestinas e intrigas políticas e o

subfinanciamento das edilidades, herdado do regime anterior levaram a que muitos dos

problemas prementes do concelho quedassem sem resolução.42

Entretanto, chega a guerra e Portugal posiciona-se ao lado dos aliados primeiro

para se fortalecer e legitimar-se internamente ao tornar a República sinónimo de glórias

militares alcançadas enquanto combatia lado a lado com as grandes potências.43 Por outro

lado, a nível externo, contava-se salvaguardar o nosso império colonial apetecido pelos

principais potentados, afastar o “perigo espanhol”, avivado com o 5 de Outubro, e tornar

a aliança luso-britânica num acordo entre iguais, fugindo, por esta via, à multi-secular

dependência lusa relativamente à velha aliada.44

Chegada ao conflito mundial trabalhavam 7000 operários na indústria corticeira

em Almada tendo a União Operária Nacional, criada em 1914 e ligada aos anarquistas,

tido alguma implantação no concelho.45 Era no essencial anti-guerrista, acompanhando

o pensamento bolchevista em Zimmerwald, vendo o conflito como a causa da miséria do

proletariado que via a fome inundar os seus lares suscitada pelo aumento galopante do

custo de vida.46 Este favoreceu a unificação do movimento operário, pensando-se, nesse

sentido numa greve geral em 1916 contra a carestia de vida que era acompanhada pela

repressão do governo aos surtos grevistas.47

A instabilidade social causada pelo aumento da carestia de vida tentou ser

minorada pelas edilidades que puniram em 1915 os aguadeiros por cobrança excessiva

do barril de água.48 Todavia, em 1916 assaltaram-se armazéns de géneros e em 1917

verificou-se tumultos e assaltos a estabelecimentos comerciais que levariam à imposição

42 A municipalidade viu-se, assim, obrigada a recorrer ao Ministério do Fomento para interceder junto do

executivo de modo a auxiliar-lhe na obra de tapar uma vala no Porto Brandão que funcionava como esgoto

a céu aberto com evidentes perigos para a saúde pública. (POLICARPO António, FLORES Alexandre,

História da água e saneamento em Almada, Almada, SMAS, 2016 pp.203; 207) 43 TEIXEIRA Nuno Severiano, O Poder e a Guerra 1914-1918, Objectivos Nacionais e Estratégias

Políticas na Entrada de Portugal na Grande Guerra, Lisboa, Editorial Estampa,1996, pp. 378-379 44 Ibidem,pp.113; 376 45 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.80; SAMARA Maria Alice, Verdes e Vermelhos Portugal

e a Guerra no ano de Sidónio Pais, Lisboa, editorial notícias, 2003, pp.75;84 46 OLIVIERA César, O Movimento sindical português: A Primeira Cisão, Mem Martins, Publicações

Europa-América, 1982, pp.20;25-26 47 Ibidem, p.27 48 POLICARPO António, FLORES Alexandre, História da água e saneamento em Almada, Almada,

SMAS, 2016, p.212

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do estado de sítio ao concelho entre e 20 e 22 de Maio desse ano.49 A inexistência de um

estudo local sobre este período impede-nos de compreender a forma como a classe

operária estava organizada e quais as suas linhas de luta. Contudo, subentende-se pela

relativa implantação da UON no concelho que seguisse a sua matriz ideológica. César

Oliveira refere a paralisação de três dias dos transportes e dos correios na Margem Sul

em 1917, no entanto, pelos motivos anteriormente apresentados, o seu impacto em

Almada é ignoto.50

De início a UON apoiou a revolução de Dezembro, contudo o prolongar da crise e a

repressão aos trabalhadores fê-la passar para a oposição.51 O concelho aparece referido

por Maria Samara como o cerne das movimentações operárias para o Sul do País de

protesto contra o sidonismo tendo-se aqui realizado um comício a 15 de Setembro de

1918.52

Nesse ano o concelho foi afectado por um surto de pneumónica trazida pelos

combatentes almadenses vindos das trincheiras, especialmente gravoso na Cova da

Piedade onde morreu a maioria dos habitantes do “Pátio dos Ciganos”, zona onde

moravam dezenas de famílias pobres.53 Entre os veteranos que regressaram da guerra

conta-se Alberto Figueiredo, combatente na Flandres, que a partir de 1929 seria o director

do semanário republicano O Almadense e Alexandre Bento Simões, conhecido como

“tenente Simões”, que foi radiotelegrafista a bordo do cruzador Vasco da Gama e da

canhoneira Bengo tendo tomado parte na batalha do Rovuma em Moçambique e

posteriormente na aplacação da Monarquia do Norte e nas campanhas de Norton de Matos

e de Humberto Delgado no Estado Novo.54

A política de guerra da República foi, de facto, desastrosa. Primeiro, a fraca

industrialização e a pouca representatividade das instituições impediram a criação de

meios e de soldados motivados para o conflito.55 Segundo, a União Sagrada não ofereceu

49 OLIVEIRA César, O Movimento sindical português: A Primeira Cisão, Mem Martins, Publicações

Europa-América, 1982, p.27; Apontamentos cedidos por António Policarpo ao autor 50 OLIVEIRA César, O Movimento sindical português: A Primeira Cisão, Mem Martins, Publicações

Europa-América, 1982, p.28 51 SAMARA Maria Alice, Verdes e Vermelhos Portugal e a guerra no ano de Sidónio Pais, Lisboa, editorial

notícias, 2003, pp.99-108 52 Ibidem, pp.125; 127 53 Apontamentos cedidos por António Policarpo ao autor 54 O nosso director, “O Almadense”, nº160, 9 de Agosto de 1931, p.1; FLORES Alexandre, POLICARPO

António, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2011, pp.99-100 55 MENESES Filipe Ribeiro de, União Sagrada e Sidonismo Portugal em Guerra (1916-1918), Lisboa,

Edições Cosmos, 2000, p.44

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a unidade necessária para a condução de um esforço de guerra sujeito ás críticas dos

monárquicos, anarquistas e unionistas.56 Por fim, a condução atabalhoada da nossa

colaboração com os aliados impediu que as reivindicações lusas tivessem algum peso nas

negociações de paz.57

A crise que atravessou a Europa após a Grande Guerra motivada pelo ocaso da

velha ordem representada pelos impérios plurinacionais criou não só o problema do

nacionalismo como o da transição democrática.58 Neste aspecto as entidades nacionais

que se formaram no terreno dos velhos impérios não resolveu o velho problema nacional

nos Balcãs, além de a Sociedade das Nações, com a saída dos EUA, ser um organismo

estéril e sem poder mediador em questões internacionais, como se viu no caso da invasão

da Abissínia pela Itália em 193559.

Por outra banda, o triunfo do bolchevismo na Rússia e o crescimento dos

partidos comunistas na Europa assustou as elites burguesas que viram no fascismo a

alternativa contra o perigo vermelho que tinha tomado Munique e Bolonha onde se

implantaram sovietes.60 O fascismo opunha a colectividade ao individualismo burguês no

sentido de criar uma nação una e coesa na qual as massas estivessem devidamente

enquadradas através não só da repressão violenta da oposição como da propaganda

simples e directa que fosse facilmente entendida e absorvida.61 É neste sentido que Nolte

fala sobre a guerra civil europeia como oposição entre estas duas ideologias, ambas

reclamando para si o estabelecimento de uma nova ordem social.62

Entrementes, os corticeiros em Almada, fruto das más condições de vida,

reclamam aumento salarial e 8 horas de trabalho o que lavaria à declaração da greve geral

em 24 de Abril de 1919 com a paralisação das indústrias em Évora e Portalegre.63

Guilherme Teles, Eurico Rodrigues e João Caramelo formaram uma comissão

56 Ibidem, pp.103-106 57MENESES Filipe Ribeiro de, A Grande Guerra de Afonso Costa, Lisboa, Dom Quixote, 2015, pp.45-72;

291-304 58 MAZOWER Mark, O continente das trevas O século XX na Europa, Lisboa, Edições 70, 2014, p.59 59 SHARP Alan, Peacemaking after World War I, Oxford, Blackwell Publishing, 2006, pp.269-271 60 REES Laurence (dir.), The Nazis: A Warning from History, Episódio 1, Helped into power, BBC, 1997

(https://www.dailymotion.com/video/xq1ym0?playlist=x2r7fe); PAXTON Robert, The anatomy of

fascism, Nova Iorque, Alfred A. Knopf, 2004, pp.60-64 61 MANN Michael. Fascists, Nova Iorque, Cambridge University Press, 2004, pp.13-17; PAXTON Robert,

The anatomy of fascism, Nova Iorque, Alfred A. Knopf, 2004, p.41 62 NOLTE Ernst, La guerre civile européenne 1917-1945, Paris, Éditions des Syrtes, 1997, p.593 63 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, pp.228-229

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permanente de apoio à greve que terminaria a 2 de Maio com o dia de 8 horas e um

incremento salarial de 40%.64Aquela organização estava sediada no concelho em Mutela

mobilizando a classe para novos aumentos salariais ao longo de 1920 conseguindo apenas

40% em Janeiro e 20% em Outubro.65 Por outro lado, a crise de trabalho em 1924

agudizava o conflito social tentando-se canalizar os braços desempregados para as obras

em execução para o Arsenal do Alfeite.66

Como marcos importantes no meio operário refira-se a constituição da CGT em

1919 e do seu órgão de imprensa A Batalha e o surgimento do PCP em 1921 a partir de

uma cisão das juventudes sindicalistas.67 José da Silva Gordinho destacou-se como

presidente da Juventude Sindicalista do Núcleo de Almada, membro da Legião Vermelha

e como redactor delegado do diário sindicalista tendo sido preso e deportado para Timor

durante a República como consequência da sua actividade sindical.68

No concelho, em sintonia com o que se passava no resto do País, o desprestígio

do Partido Democrático denota-se na passagem de vários dos seus membros para a

Esquerda Democrática, integrando esta força partidária quando se dá o 28 de Maio.69 Nos

últimos anos da República agudiza-se as tensões entre os republicanos nas sucessivas

edilidades, ao mesmo tempo que, sob a presidência de Alfredo Pimenta, futuro aderente

ao Estado Novo, foram implementados alguns melhoramentos a nível local.70 Os

socialistas, embora integrassem o elenco camarário, não tinham muita força a nível

local.71

64 Ibidem, p.230 65 Ibidem, pp.230-232 66 Ibidem, p.235 67 O hino de A Batalha foi da autoria de um almadense de nome João Black também participante no

congresso de Tomar. (RODRIGUES Edgar, A oposição libertária em Portugal 1939-1974, Lisboa, Editora

Sementeira, 1982, pp.193-194); OLIVEIRA César, O Movimento sindical português: A Primeira Cisão,

Publicações Europa-América, 1982, pp37;.61 68 POLICARPO António Neves, José da Silva Gordinho 1899-1948 Memorial de um anarquista

almadense, Cova da Piedade, Junta de Freguesia da Cova da Piedade, 2003, pp.28-29 Vide biografia em

Anexos. 69 FLORES Alexandre, POLOCARPO António, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 2011, p.84 70 Em 1924 a comissão executiva da CMA pede demissão colectiva. Já como melhoramentos significativos

refira-se a inauguração do chafariz de Almada onde fica hoje o Largo José Alaís e do lavadouro público da

Boca do Vento. (POLICARPO António, FLORES Alexandre, História da água e do saneamento em

Almada, Almada, SMAS, 2016, pp.221-235) 71 Durante a presidência de Pimenta estava à frente da edilidade uma coligação entre republicanos e

socialistas. (Ibidem, pp.221-222)

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Conhece-se pouco o que se passa nas freguesias mais rurais dado até ao momento

o seu estudo ter sido desprezado. Contudo, em 1922 era criada a assembleia de voto da

Trafaria, fruto do desenvolvimento da região e da dificuldade dos eleitores se deslocarem

em Almada, onde estava a única assembleia de voto do concelho que contava então com

845 eleitores.72

Quanto ao operariado o anarquismo era a força dominante, não obstante em 1923 em A

Verdade… nua e crua tenha surgido a notícia de uma tentativa de se unificar pela primeira

vez os comunistas dispersos do concelho numa comissão da iniciativa de João Baco,

Mário Correia da Costa e Mário Augusto Carlos.73 Contudo, parece ter-se mantido uma

força algo incipiente até à Segunda Guerra Mundial, período em que Alfredo “Alex”

Dinis controla uma célula na Parry & Sons desde 1941 e integra o comité local de

Almada tendo sido o responsável pela paralisação desta unidade fabril nas greves de

1943.74

I.2. A Ditadura Militar (1926-1933)

A República depois da guerra tentou regenerar-se suavizando os ataques aos

monárquicos e aos católicos numa política de “dividir para melhor conter” .75 No entanto,

a desvalorização crescente da moeda e as avultadas dividas de guerra agudizaram os

efeitos da crise de 1920-1922 que se prolongou nos anos seguintes.76 Nesse contexto, o

72 A assembleia da Trafaria era constituída pelas seguintes povoações: Buchos, Trafaria, Capuchos,

Murfacém, Costa da Caparica, Pera, Torrão, Terras da Costa, Quinta do baixo, Raposeira e Ribeiro. A do

Monte da Caparica era formada pelas seguintes: Charneca, Monte da Caparica, Costas de Cão, Fonte Santa,

Lazarim, Vila Nova, Sobreda, Torre e Porto Brandão. (Primeira República, Câmara de Deputados nº 5034,

6ª legislatura, projecto de lei nº 178-I Assembleia Eleitoral na povoação da Trafaria, freguesia da Caparica,

s.n.) 73 Comunistas em Almada, “A Verdade… nua e crua”, nº6, 4 de Fevereiro de 1923, p.5 74 PIDE/DGS, SC, GT 7, NT 1384 Alfredo Assunção Diniz, f.9; FERREIRA Sónia, A Fábrica e a Rua

resistência operária em Almada, Loulé, 100LUZ, 2010, p.217 75 Já em 1914 Bernardino Machado tinha advertido sobre os ataques à Igreja tomando-se algumas de ruptura

com a radicalização anticlerical dos verdes anos da República e que foram reforçadas durante o sidonismo.

A Igreja assume uma posição de não atacar abertamente as instituições republicanas envolvendo-se na luta

política por meio do Centro Católico onde militou Salazar que foi eleito deputado para o círculo de

Guimarães em 1921. (PINTO Ana Catarina, Nova estratégia para a República, Lisboa, Tinta-da-China,

2011, pp.413-414) 76 Não obstante em 1923-1924 e 1925-1926 houve uma melhoria da economia que passou por uma

valorização da moeda em 1924. Contudo, manteve-se a fuga dos capitais e chegada à ditadura as reservas

de ouro do Banco de Portugal eram relativamente baixas. (MARQUES A H de Oliveira, A Primeira

República Portuguesa para uma visão estrutural, Lisboa, Livros Horizonte, 1972, pp.40-49)

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operariado, influenciado pela revolução russa, continuava especialmente reivindicativo,

não obstante ter conseguido algumas conquistas.77

No plano político assiste-se ao enfraquecimento do partido democrático, principal

perdedor da guerra, e à estruturação das direitas numa tentativa de encontrar uma solução

autoritária para a instabilidade do regime e que culminou no golpe de 28 de Maio de

1926.78 Como projectos nacionalistas deve referir-se o surgimento da Cruzada

Nun’Alvares Pereira e do Integralismo Lusitano. Deste último, de base monárquica

tradicionalista, sairia uma facção liderada por Rolão Preto que procuraria nos anos 1930

impor o fascismo em Portugal.79

Em Julho de 1926 começariam a surgir as primeiras medidas repressivas com a

instauração da censura e em Dezembro era criada a “polícia especial de informações de

carácter secreto”, subordinada ao governador civil de Lisboa.80

A ditadura não foi de imediato hostilizada pelos republicanos em Almada que,

como vimos, já tinham rompido com o Partido Democrático, ao qual se associava o

desprestígio da República, além, de como se pode ler no artigo de Gil Braz, manifestarem

cansaço face à instabilidade política que, no plano local, se traduzia nas lutas intestinas

na Câmara.81 Ao mesmo tempo, a figura de Jaime Amorim Ferreira, ligado ao anterior

regime desde a sua implantação, como Presidente da Câmara impunha uma certa

continuidade.82 Com efeito, o regime até Dezembro de 1928 aconselhou os governadores

civis a escolher para as comissões administrativas dos concelhos elementos prestigiados

dentro dos concelhos.83

A 22 de Dezembro de 1926 o decreto nº 12.870 colocaria Almada no distrito de

Setúbal o que foi mal recebido pela imprensa e pelas autoridades camarárias, ainda

77 PEREIRA Joana Dias, A ofensiva operária, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.421-438; OLIVEIRA

César, O Movimento sindical português: A Primeira Cisão, Mem-Martins, Publicações Europa-América,

1982 p.17 78 FARINHA Luís, A transformação política da República: o PRP dos «bonzos», tempo dos deuses

menores, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.466-478 79 PINTO António Costa, Os camisas azuis e Salazar Rolão Preto e o Fascismo em Portugal, Lisboa,

Edições de 70, 2015, pp.103-120 80 RIBEIRO Maria da Conceição, A Polícia Política no Estado Novo 1926-1945, Lisboa, Editorial Estampa,

2000, p.53; FARINHA Luís, O Reviralho Revoltas Republicanas contra a Ditadura e o Estado Novo 1926-

1940, Lisboa, Editorial Estampa, 1998, p.31 81 BRAZ Gil, Almada por dentro, “A Voz de Almada”, nº215, 15 de Janeiro de 1927, p.4 82 POLICARPO António, FLORES Alexandre, História da água e saneamento em Almada, Almada,

SMAS, 2016, p.244 83 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.71

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ligadas aos antigos regionalistas republicanos, que ressentiam o afastamento do centro de

poder ao argumentarem que Almada se tinha desenvolvido sempre com os olhos postos

em Lisboa e, portanto, esta mudança administrativa feria os interesses do município.84

A 9 de Janeiro de 1927, em coincidência com o aniversário do PSP, era inaugurada

no salão da Academia Almadense a Liga de Mocidade Socialista numa sessão presidida

por Alfredo Franco, secretariado por José Alexandre e Alfredo Júlio Rodrigues.85 A sua

comissão administrativa era constituída por Jaime Ferreira Dias, Júlio José Ferraz,

Francisco Cascão, Américo Marques Pereira e Roberto Ferreira e logrando a adesão dos

corticeiros Francisco Guerreiro, Abel Pereira Rosa, José Vieira, Inocêncio Araújo e

Horácio Coelho.86 Os socialistas em Almada apenas conseguiram um maior apoio na

Associação dos Operários Tanoeiros estando o movimento operário dominado pelo

anarco-sindicalismo.87

Por outro lado, o partido, ao contrário dos anarquistas apostou numa via

eleitoralista de transição pacífica do regime desprezando a linha revolucionária

reviralhista quer por não acreditar no seu triunfo, quer por tributar o falhanço da

República aos próprios republicanos o que não só impediu que a Aliança Republicana e

Socialista tivesse futuro além do acto eleitoral de 1931, como forneceu à ditadura

argumentos para pintar uma oposição desentendida e sem força para a incomodar.88

Entretanto, o afastamento de Mendes Cabeçadas constituiu o primeiro passo para

a consolidação da ditadura dado este ainda representar o anterior regime.89 A revolta

reviralhista em Fevereiro aliada à má política financeira de Sinel de Cordes levariam ao

pedido de empréstimo por parte do regime à SDN, negado em parte pela campanha

movida pela Liga de Paris, e objecto de forte contestação por parte de Oliveira Salazar,

então professor catedrático em Coimbra.90 Salazar seria neste contexto chamado a

assumir a pasta das finanças tendo alcançado excelentes resultados no equilíbrio das

84 Representação de Almada contra o decreto nº 12.870, “Voz de Almada”, nº2 15 de Janeiro de 1927, p.1 85 Liga da Mocidade Socialista, “Voz de Almada”, nº2, 15 de Janeiro de 1927 86 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930),

Almada, Câmara Municipal de Almada, 2008, p.257 87 Ibidem 88 FARINHA Luís, Ramada Curto Republicano, Socialista, Laico, Lisboa, Assembleia da República, 2014,

pp.169-181 89 MADUREIRA Arnaldo, 28 de Maio A génese do Estado Novo, Lisboa, Clube do Autor, 2016, pp.190-

192 90 WHEELER Douglas, A ditadura militar portuguesa 1926-1933, Mem Martins, Publicações Europa-

América, 1986, p.20

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contas públicas que contribuiriam para ser criado em torno dele a imagem de homem

competente e providencialista de viés sebastianista, como assinalou Wheeler.91

A 15 de Julho de 1928 saiu o primeiro número da segunda série de O

Almadense que era nesta primeira fase propriedade do jornal O Setubalense. Foi dirigido

nesta fase pelo republicano João Luiz da Cruz e contava também com a colaboração de

socialistas como Jaime Ferreira Dias.

As condições de vida no concelho continuavam más. Por um lado, a falta de um

hospital em Almada levava a que os doentes fossem tratados em Lisboa contraindo a

câmara uma dívida avultadíssima aos hospitais civis de Lisboa já que durante o regime

constitucional sempre teve falta de dinheiro.92 Por outro, as deficientes condições

sanitárias levaram em 1931 a um novo surto de tuberculose que atingiu especialmente o

operariado que habitava em casas sem o mínimo conforto nas antigas vilas e pátios e tinha

uma alimentação insuficiente e desequilibrada.93 Madureira refere que a esperança média

de vida rondava os 35 anos fruto das doenças e das más condições de vida do operariado

que, além de laborar em fábricas sem condições de higiene, não auferia o suficiente para

se sustentar e habitava em barracas insalubres.94

A CGT, que era então a força hegemónica junto do proletariado almadense, declarou-

se abertamente contra o regime, ainda que nesta fase Alexandre Flores apenas tenha

apontado uma grande manifestação no 1º de Maio de 1928.95 Já em 1931 era fundado por

Mário Cal Brandão em Almada o triângulo nº315 de rito francês que era constituída por

ele, Gustavo Nolasco da Silva, fundador da loja maçónica Revoltar nº464 em 1932;

Álvaro António Barreiro Pais de Ataíde, Sebastião dos Santos Gonçalves Pereira,

Eugénio Bento Ferreira, Raul Goulart de Ávila e David António Almiro do Vale.96

Desconhece-se a acção desta organização na resistência ao regime em Almada.

91 Ibidem, pp.37-40 92 Finanças Municipaes, “O Almadense”, nº2. 22 de Julho de 1928, p.3 93Os pátios concentravam-se no Pragal, Barrocas, Mutela, Caramujo e Romeira e em Almada nas ruas da

Judiaria, dos Tanoeiros, do Norte, do Paço, Latino Coelho, do Passa-Rêgo (actual Largo das Vítimas 26

de Agosto), do Paço, da Padaria e no Largo das Andorinhas. (FLORES Alexandre, Almada na História da

Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-1930), Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003,

pp.289-292)VIEIRA José, Piedade Senhores!, “O Almadense”, nº138, 1 de Março de 1931, p.2 94 MADUREIRA Arnaldo, 28 de Maio A génese do Estado Novo, Lisboa, Clube do Autor, 2016, p.192 95 Ibidem, p.202 96 VENTURA António, Revoltar para resistir A Maçonaria em Almada (1898-1937), Almada, Câmara

Municipal de Almada, 2010, pp.50-62

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A imprensa republicana, sempre muito sensível aos melhoramentos locais, suportava

iniciativas para elevar o nível de vida do concelho97 e acusava as edilidades de indiferença

pelo estado do concelho apontando-se o dedo ao largo Costa Pinto em Cacilhas, local de

grande movimento com as camionetes que fazem carreira para o Sul do País e os

passageiros que chegam e partem de Lisboa ainda por pavimentar e “cheio de toda a casta

de imundices”.98

1931 foi um ano complicado para a ditadura. Em Abril a República é proclamada em

Espanha o que favorece a fixação de oposicionistas próximo da fronteira e motiva o

contentamento em O Almadense que recupera a velha retórica republicana para explicar

a queda da monarquia vizinha: por um lado, o atraso suscitado pela ligação íntima entre

o trono e o altar e, por outro, a ideia de república como regeneradora, conectada ao

progresso e ao cientismo de matriz positivista.99

A revolta de Agosto de 1931, por seu turno, pela sua magnitude foi o primeiro

grande abalo da ditadura e a última acção do reviralho e está intrinsecamente ligada à

mudança de regime em Espanha como fonte de alento para o derrube da ditadura. Em

Almada Manuel Vasques tinha como missão alvejar o forte de Almada, afecto à ditadura,

contudo ao desviar-se dos tiros atingiu a rua Passo do Rego matando 6 pessoas, na sua

maioria crianças, e ferindo cerca de 50.100 A acção valeu o repúdio do jornal O

Almadense, que iniciou uma subscrição a favor das vítimas e cuja redacção foi visitada

pelo administrador e governador civil de Setúbal, ignorando aquelas autoridades que os

feridos se encontravam hospitalizados em Lisboa.101 Vasques procura na sua carta

dirigida a partir do exílio ao povo de Almada, por um lado, legitimar a sua acção como

revolucionário em luta contra a opressão representada pela ditadura e, por outro, fazer das

97 José Alaíz a partir de Março de 1929 lideraria nas páginas de O Almadense uma campanha que apelava

para a iniciativa privada a fim de se construir um hospital em Almada e que chegaria a ter o apoio do sub-

inspector de saúde do concelho, não obstante não ter concretizado os seus intentos. (ALAÍZ José, A

Assistência hospitalar em Almada, “O Almadense”, nº 38, 31 de Março de 1929, pp.3; 6; A Assistência

hospitalar em Almada, “O Almadense”, nº39, 7 de Abril de 1929, p.1) 98 O celebérrimo cais de Cacilhas, “O Almadense”, nº138, 1 de Março de 1931, p.5 99 Em Espanha ha Liberdade ! Viva a Republica !, “O Almadense”, nº 145, 19 de Abril de 1931, p.1 100 Carta escrita no exílio pelo piloto Manuel Vasques, em 1931, in Almada na História Boletim de Fontes

documentais, nº17-18, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2010, p.65; Almada de luto, “O

Almadense”, nº 164, 30 de Agosto de 1931, p.1 101 O Sr. Governador do distrito de Setúbal visitou no sábado a redacção de «O Almadense» na passagem

por esta vila, onde vinha visitar os feridos da explosão da bomba, “O Almadense”, nº164, 30 de Agosto

de 1931, p.4; A favor das vítimas, “O Almadense”, nº 164, 30 de Agosto de 1931, p.4

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vítimas mártires da oposição cuja morte tributa aos ditadores.102 O acontecimento deu azo

a uma tentativa de afastamento do administrador do concelho e presidente da edilidade

pelo tenente José Paiva de Almeida que o acusava de incúria.103 O governador civil teve

um papel interventivo tanto na manutenção de Ribeiro da Cruz nos seus cargos como

propondo a transferência de Paiva de Almeida ao Ministro da Guerra para longe de

Almada.104

Em fins de 1931 dá-se a primeira tentativa séria de o regime assentar bases no

concelho com a nomeação de Joaquim Lança como governador civil de Setúbal com a

missão de organizar a União Nacional em Almada que, não obstante a oposição dos

principais notáveis da terra, levou ao cerceamento do principal jornal oposicionista O

Almadense que só voltaria às bancas em 1933.105

Em 14 de Novembro de 1932 morre precocemente aos 29 anos Jaime Ferreira

Dias, destacado socialista almadense, na esteira de Benoît Malon. Na sua vasta obra

destacou-se sobretudo na defesa dos trabalhadores e sua educação; do sufrágio feminino,

do pacifismo e da municipalização dos serviços da Câmara.106 O meio em que viveu

acabou por condicionar o homem e o seu posicionamento político. Se a sua

consciencialização nasce e se desenvolve dentro da fábrica tomando conhecimento da

dureza da sua vida e da dos seus familiares, ela evoluirá paulatinamente para uma maior

politização à medida que alarga a sua base teórica.

102 Carta escrita no exílio pelo piloto Manuel Vasques, em 1931, in Almada na História Boletim de Fontes

documentais, nº17-18, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2010, pp.65-66 103 “Ofício de Jacinto Monteiro Torres Franco dirigido ao administrador do concelho de Almada”,

Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 452, [pt.23/6], f.8 104 Idem, ff.3;6 105 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1995, p.75 106Vide biografia em anexo. Sobre o municipalismo: DIAS Jaime Ferreira, Municipalismo, “O Almadense”,

nº3, 29 de Julho de 1928, pp.3; 5; DIAS Jaime Ferreira, Politica Municipalista, “O Almadense”, nº37, 24

de Março de 1929, p.2 sobre as condições do operariado: DIAS Jaime Ferreira, O flagelo da época, “O

Almadense”, nº6, 19 de Agosto de 1928, p.3; DIAS Jaime Ferreira, A evolução mecânica e a transformação

social, “O Almadense”, nº20, 25 de Novembro de 1928, p.2; DIAS Jaime Ferreira, As crianças, “O

Almadense”, nº28, 20 de Janeiro de 1929, p.2; DIAS Jaime Ferreira, O culto da indiferença, “O

Almadense” nº33, 24 de Fevereiro de 1928, p.2; sobre a educação: DIAS Jaime Ferreira, A dôr humana,

“O Almadense”, nº14, 14 de Outubro de 1928, pp.2; 5; DIAS Jaime Ferreira, A luz do alfabeto, “O

Almadense”, nº 23, 16 de Dezembro de 1928, p.3; DIAS Jaime Ferreira, Traumatismo social, “O

Almadense”, nº28, 20 de Janeiro de 1929, p.3; DIAS Jaime Ferreira, A escola e acriança, “O Almadense”,

nº34, 3 de Março de 1929, p.3; sobre o sufrágio feminino: DIAS Jaime Ferreira, Mosaicos, “O Almadense”,

nº15, 21 de Outubro de 1928, pp.2;5; sobre o pacifismo: DIAS Jaime Ferreira, Quando deixará de ser a

Paz uma ficção e a Guerra uma ameaça?!, “O Almadense”, nº124, 23 de Novembro de 1930, p.3

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Tanto no seu funeral como na sessão comemorativa do aniversário da sua morte

denota-se a forte presença do operariado, das colectividades de recreio de Almada e de

vultos do PSP que demonstram bem o prestígio que detinha no concelho em que nasceu

e junto dos trabalhadores e do partido em que militava.107 Bourbon e Meneses chegar-

lhe-ia mesmo a dedicar o seu livro Páginas de Combate, no qual são coligidos os

principais artigos de doutrinação socialista de Meneses. Daí ser interessante integrar

Ferreira Dias no movimento socialista e perceber através da sua obra de que forma seguia

a linha partidária ou se em certos aspectos ousava ser mais radical.108

I.3. Do Estado Novo à Guerra Civil de Espanha (1933-1939)

Em 1933 Almada tinha 23656 habitantes e estava dividida nas freguesias de Almada e

Cova da Piedade. A sua rede eléctrica, canalizada especialmente para a indústria, era

abastecida pela Câmara usufruindo dela uma pequena franja da população já que em

Almada contava-se apenas 276 consumidores e na Cova da Piedade 336, incluindo-se

nesta designação pessoas individuais e colectivas.109

Do ponto de vista político os comunistas começavam por via da Comissão

Intersindical a implantar-se nos corticeiros, metalúrgicos e na construção e os nacional-

sindicalistas conseguiram controlar a Associação de Classe dos Tanoeiros em Almada e

transformá-la num Sindicato Nacional, enquanto os socialistas perderam o controlo

daquela Associação para os camisas azuis restando-lhes a Associação dos Operários

Corticeiros e a Associação dos Descarregadores de Mar e Terra.110

107 Promovida por O Almadense, contou com uma sessão de honra no teatro da SFUAP onde discursou

Bourbon e Meneses. Jaime Ferreira Dias, “O Almadense”, II série, nº 12, 12 de Novembro de 1933, p.1;

A homenagem a Jaime Ferreira Dias constituiu uma impressionante manifestação de saüdade, “O

Almadense”, II série, nº13, 19 de Novembro de 1933, pp.1-2 108 Das obras consultadas versando o socialismo para o período em questão não encontrei referência

nenhuma a Jaime Ferreira Dias. Falo sobretudo da biografia de Ramada Curto por Luís Farinha e do estudo

de Susana Martins acerca da oposição socialista durante a ditadura: FARINHA Luís, Ramada Curto

Republicano, Socialista, Laico, Lisboa, Assembleia da República, 2014; MARTINS Susana, Socialistas na

oposição ao Estado Novo : um estudo sobre o movimento socialista português de 1926 a 1974, Cruz

Quebrada, Casa das Letras / Editorial Notícias, 2005 109 INE, Administração Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção dos Serviços Eléctricos,

Estatística das Instalações Eléctricas em Portugal, Ano de 1933, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934, pp.238-

239 110 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.77

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O plebiscito nacional ao projecto constitucional em 19 de Março e sua

subsequente aprovação a 11 de Abril marca a instauração da ditadura, doravante

conhecida como Estado Novo, denominação que imprimia um sentido de ruptura e

rejuvenescimento do novo regime.111 A votação em Almada decorreu no dia 16 de Março

nas freguesias de Almada, Caparica, Cova da Piedade e Trafaria que estavam organizadas

em 6 assembleias de voto: Almada, Cova da Piedade, Caparica e Charneca na Caparica;

Trafaria e Costa da Caparica na Trafaria.112 O eleitorado era predominantemente ligado

ao comércio e ao operariado tendo o concelho acompanhado o resto do país com uma

abstenção a rondar os 70%.113 Como as abstenções eram contadas como votos

concordantes foram somadas aos votos reais a favor, segundo a indicação em nota

informativa de 26 de Março, não identificada, o que teve como resultado uma aprovação

quase unânime do plebiscito quando esta apenas rondava os 30%.114

Entretanto O Almadense volta ao prelo com uma nova direcção encabeçada por

Felizardo Artur, Sebastião Lopes e José Carlos Pinto Gonçalves, que era especialmente

combativa e motivada em denunciar o desprezo com que o concelho era olhado pelo poder

central, já notado por Amaro da Silva em 1863, e criticava veladamente a falta de

iniciativa e o desleixo das sucessivas vereações numa série de artigos.115 O ataque a

pessoas importantes do regime, especialmente António Ferro, e às ditaduras fascista e

nacional-socialista, com as quais o Estado Novo teria algumas afinidades ideológicas fê-

lo ser notado e à primeira oportunidade, depois do 18 de Janeiro de 1934, seria

111 ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.128 112 O número de votantes inscritos foi o seguinte e por Assembleia: Almada (841), Caparica (664), Charneca

(363), Cova da Piedade (918), Costa da Caparica (199) e Trafaria (353) Actas do Plebiscito Nacional para

Aprovação do Projecto de Constituição Política da República Portuguêsa Assembleias de voto de Almada,

Caparica, Charneca, Costa da Caparica, Cova da Piedade e Trafaria, 16 de Março de 1933 (Secção XXV-

D, cx. 42) 113 Dos 3327 eleitores inscritos abstiveram-se 2273 (Vide nos Anexos a fotografia nº6 do mapa com o nº de

sufrágios contra e a favor, de abstenções e de votos positivos) 114ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.128; Dos

3327 eleitores inscritos apenas 992 aprovaram o plebiscito, contudo somando estes com os que se

abstiveram o número de sufrágios a favor ascende aos 3265 (Concelho de Almada Secção XXV-D, cx. 42) 115 Acerca do desprezo do poder central pelo município: Directriz Futura, “O Almadense”, II Série, nº2, 3

de Setembro de 1933, p.1; : Ela a raquítica, “O Almadense”, II série, nº 4, 17 de Setembro de 1933,

p.1;Uma demissão, “O Almadense”, II série, nº5, 24 de Setembro de 1933, p.1 Terra desgraçada!, “O

Almadense”, II Série, nº 9, 22 de Outubro de 1933, p.1; Um concelho mártir, “O Almadense”, II série,

nº20, 7 de Janeiro de 1934, pp.1; 4 António Avelino Amaro da Silva retrata o fascínio que a capital exercia

sobre os almadenses contrapondo-o com a forma subalterna como as elites lisboetas viam esta margem do

Tejo, encarada por elas como mero local de passeio. (SILVA António Avelino Amaro da, O Caramujo,

Lisboa, Typografia Universal, 1863, pp.16; 102-103)

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definitivamente silenciado.116 A sua combatividade surge também como resposta ao

cerceamento do periódico anos antes demonstrando, desta feita, a sua confiança e a sua

perseverança no cumprimento do que considerava ser a sua missão: a luta pela melhoria

das condições de vida no concelho.

O corporativismo procurou, por um lado, retirar liberdade de acção aos

trabalhadores colocando-os em sindicatos nacionais onde as suas reivindicações eram

controladas e, por outro, tolher os movimentos dos patrões por via dos grémios impedindo

a criação de frentes patronais que obviassem a mediação do Estado no conjunto dos

interesses dominantes.117 Nesta óptica em finais de 1933 era extinta a Associação de

Classe dos Corticeiros de Almada que seria substituída por um Sindicato Nacional

formado por João de Almeida.118 Luís Teotónio Pereira, irmão de Pedro Teotónio Pereira,

foi quem no concelho delineou a estrutura corporativa ao secundar a formação do

Sindicato Nacional e a organização dos tanoeiros em cooperativa a fim de controlar o

fornecimento de vasilhame para a empresa dirigida por seu pai João Teotónio Pereira.119

Nos últimos meses do ano a comissão concelhia da UN era presidida pelo tenente

Afonso Martins Correia Gonçalves e contava na vereação com Eugénio Pimenta, filho de

Alfredo Pimenta, e Luís Júdice Pargana, parente afastado de Luís Teotónio Pereira.120

O administrador do concelho capitão Ribeiro da Cruz traça num ofício o quadro

de um concelho em plena pujança industrial, marcada pela indústria corticeira, e com um

grande movimento no Largo de Cacilhas onde estavam as camionetes para o sul do País

e o cais de embarque para a capital.121

116 Sobre os nacionais-sindicalistas: Azuis… mas sem camisa, “O Almadense”, II série, nº4, 3 de Setembro

de 1933, p.1; É assim mesmo, “O Almadense”, II série, nº7, 8 de Outubro de 1933, p.2; Abaixo a guerra!,

“O Almadense”, II série, nº9, 22 de Outubro de 1933, p.1; sobre Mussolini: Mussolini glorificado, “O

Almadense”, II série, nº5, 24 de Setembro de 1933, p.1; Um grande político, “O Almadense”, II série, nº

12, 12 de Novembro de 1933, p.1; sobre o nacional-socialismo: Esta é autêntica, “O Almadense”, II série,

nº6, 1 de Outubro de 1933, p.1; Abaixo a guerra!, “O Almadense”, II série, nº9, 22 de Outubro de 1933,

p.1; Uma amostra, “O Almadense”, II série, nº14, 26 de Novembro de 1933, p.1; O Nacional–Socialismo,

“O Almadense”, II série, nº15, 3 de Dezembro de 1933, p.1; sobre António Ferro: O trabalho dêle…, “O

Almadense”, II série, nº2, 10 de Setembro de 1933, p.1; Um prodígio, “O Almadense”, II série, nº3, 16 de

Setembro de 1933, p.1 117 ROSAS Fernando, O Estado Novo nos Anos Trinta 1928-1938, Lisboa, Editorial Estampa, 1996, p.270 118 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-

1930), Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.257 119 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.79 120 Ibidem, p.80 121 Citado em PATRIARCA Fátima, Sindicatos contra Salazar A revolta do 18 de Janeiro de 1934, Lisboa,

Imprensa de Ciências Sociais, p.418

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Foi sob este panorama, num concelho fortemente industrializado e com uma classe

operária politizada, que se desenrolou o 18 de Janeiro de 1934 como protesto pela

extinção da influente associação de classe e luta por sindicatos livres. João Costa, que

teve um papel fulcral como elemento de ligação entre os elementos da CGT de Almada e

da Cova da Piedade e os de Lisboa assim como no corte dos cabos submarinos, era o

presidente daquela associação de classe o que diz muito sobre as principais motivações

dos intervenientes na greve revolucionária.122

A “greve revolucionária” surge como resposta ao pacote legislativo de Setembro

de 1933 no qual assenta as bases da organização corporativa e que acabava com o

sindicalismo livre como existia até então ao dar ao governo a capacidade de intervir nos

vários aspectos da vida sindical, retirar aos operários a sua principal arma reivindicativa,

greve, como parte da harmonização entre classes prevista no Estatuto do Trabalho

Nacional e ao permitir apenas a existência dos Sindicatos Nacionais tendo todos os outros

de apresentar os seus estatutos até ao término daquele ano sob pena de dissolução.123 A

Marinha Grande com a tomada dos postos dos correios e da GNR e consequente prisão

doze militares da Guarda Republicana na Nacional Fábrica de Vidros levou tanto a uma

resposta brutal com a chegada de forças militares e policiais vindas de Leiria que fazem

prisões arbitrárias, como a uma posterior mitificação como o exemplo mais acabado do

movimento.124

O concelho, por seu turno, foi importante na produção de bombas por Romão dos

Santos Duarte no Feijó e por Manuel Augusto da Costa na Cova da Piedade e depois em

Fernão Ferro que eram depois transportadas para vários pontos do país por Joaquim

Montes.125 Montes pertencia à Comissão de Acção da CGT e participou ainda nas

paralisações das fábricas e das camionetes a 18 de Janeiro e tentou evadir-se sem êxito da

cadeia da Trafaria com Gabriel Pedro .126 Outra acção importante foi o corte do cabo

122 PATRIARCA Fátima, Sindicatos contra Salazar A revolta de 18 Janeiro de 1934, Lisboa, Imprensa de

Ciências Sociais, p.394 123 ROSAS Fernando (coord.), O Estado Novo, Lisboa, Editorial Estampa, 1994, p.235 in MATTOSO José

(dir.), História de Portugal, vol. 7, Lisboa, Editorial Estampa, 1994 124A mitificação parece ter surgido apenas nos anos sessenta com Francisco Martins Rodrigues a criar os

símbolos do soviete e do hastear da bandeira vermelha, argumentando a autora que nos anos imediatamente

seguintes ao movimento este não colheu grande destaque nas páginas do Avante. PATRIARCA Fátima,

Sindicatos contra Salazar A revolta de 18 de Janeiro de 1934, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2000,

pp.331-333-360 125 Ibidem, p.397 126 Ibidem, p.394

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submarino entre a Trafaria e o Porto Brandão por um grupo de almadenses e lisboetas em

que figuram Filipe José da Costa, Armando dos Santos, António Lopes, João Costa, Pedro

de Matos Filipe, Jorge Moura, Silvino Ferreira e Manuel Ferreira.127

Segundo Fátima Patriarca, a repressão no concelho saldou-se em 37 prisões,

contudo a sua face mais trágica fora, sem dúvida, as mortes de Pedro de Matos Filipe,

Manuel Augusto da Costa e Joaquim Montes no Tarrafal vítimas de febre biliosa

heglobinúrica no Tarrafal, respectivamente em 1937, 1945 e 1943.128 Estes morrem no

contexto em que a violência no campo é mais aguda, entre a guerra civil de Espanha e

perto da derrota dos nazis, aliada às más condições dentro do campo e ao clima abrasador

da colónia que provocava doenças e muitas vezes a morte, mercê da precária assistência

médica.129

Filipe José da Costa esteve às portas da morte vítima de uma ptose, confirmada

em relatório pelo clínico do Tarrafal, o que motivou o envio por parte do detido de vários

requerimentos para ser enviado para o continente onde, mesmo sob custódia, podia

receber melhor tratamento. O próprio director da Colónia Penal escreveu ao director da

PVDE a sugerir o mesmo obtendo a seguinte resposta:

“Para conhecimento de V. Exª. informo: que êste indivíduo tem no seu passado uma série

de acções conhecidas, a partir de 1928, de que tal gravidade o colocam à cabeça dos

indesejáveis e perigosos para a sociedade;

Que como recluso nessa Colónia Penal dispõe certamente de melhor tratamento e mais

recursos clínicos do que muitos cidadãos que residem nessas Ilhas;

Que dos milhares de portugueses que residem em Cabo Verde, bem poucos serão os que

vêm para o Continente tratar de qualquer doença ou para serem sujeitos a observações

pelo facto de haver ai falta de meios de investigação não sendo portanto o caso deste para

considerar em especial.” 130

A PVDE, criada em Agosto de 1933, estava, ao superintender diretamente os

locais de prisão, “habilitada a determinar os moldes em que esta se processaria, podendo

127 Ibidem, pp.400-401 128 Ibidem, p.422 ; PIDE,SC, SPS 1011, NT 4303 Pedro de Matos Filipe, ff.125-126141-142;155 129MADEIRA João (coord.), PIMENTEL Irene (coord.), FARINHA Luís (coord.), Vítimas de Salazar

Estado Novo e violência política, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007, pp.230-235 130 PIDE/DGS, SC, SPS, Proc.1227, NT 4309 Filipe José da Costa, ff.91; 94-95; 97, 105-107

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prolongá-la se o entendesse necessário.”131 Os antecedentes criminais de Filipe José da

Costa guindaram a decisão da polícia política de o manter no cárcere, não obstante o seu

estado de saúde e ter sido mandado soltar pelo TME em 1940. A violência punitiva, da

qual este caso oferece um exemplo, foi uma das causas explanativas da durabilidade do

regime ao se isolar os presos mais perigosos numa tentativa de frustrar as actividades da

oposição privando-a dos seus membros mais capazes.132

Romão dos Santos Duarte foi viver para a Cova da Piedade e submetido a regime

de liberdade vigiada tendo de se apresentar à PVDE sempre que intimado a fazê-lo e a

comunicar-lhe a sua nova morada caso a alterasse.133 Existe uma incongruência na

bibliografia que o dá como combatente na guerra civil de Espanha e morto num campo

de concentração franquista depois da guerra.134 Contudo, em Dezembro de 1938 é posto

em liberdade vigiada na Cova da Piedade sendo-lhe difícil sair do país por ser um

indivíduo já referenciado. Ao mesmo tempo a 22 de Abril de 1939 envia uma carta a

solicitar ao director da PVDE autorização para se mudar para a casa de familiares em

Sousel por não conseguir arranjar trabalho em virtude de ter a perna esquerda

imobilizada.135 Como o conflito findou dia 1 e Santos Duarte se tivesse sido ali ferido

muito provavelmente não chegaria à fronteira portuguesa duvidamos que ele tenha estado

em Espanha durante a guerra civil.

Outros lograram escapar às garras da PVDE tais como João Costa que entrou

clandestinamente no Barreiro dentro de um saco de rolhas e Adriano Pimenta que fugiu

para Espanha.136

Por outro lado, O Almadense era suspenso e o seu director Felizardo Artur era

preso pela PVDE, não se encontrando no processo movido ao jornal qualquer justificação

para a sua suspensão.137 Todavia, dado a sua combatividade parece-nos lógico que o

131 RIBEIRO Maria da Conceição, A Polícia Política no Estado Novo 1926-1945, Lisboa, Editorial

Estampa, 2000, p.242 132 ROSAS Fernando, Salazar e o Poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.202-210 133 PIDE,SC, SPS 1011, NT 4303 Pedro de Matos Filipe, f.96 134 POLICARPO António, Memórias da nossa terra e da nossa gente Freguesia de Almada, Almada,

Câmara Municipal, 2013, p.188;190; CANANA Alfredo, O 18 de Janeiro em Almada, “Diário de Lisboa”,

nº20749, 11 de Janeiro de 1982, p.7 135 PIDE,SC, SPS 1011, NT 4303 Pedro de Matos Filipe, ff.97-99 136 Entrevista a Raul Costa, 2 de Julho de 2018 137 PATRIARCA Fátima, Sindicatos contra Salazar A revolta de 18 Janeiro de 1934, Lisboa, Imprensa de

Ciências Sociais, p.422; Suspensão do jornal O Almadense, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro,

Mç. 467,[pt.11/1]

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regime tenha aproveitado a vaga de prisões para se ver livre deste semanário

inconveniente capaz de medrar a sua implantação no concelho.

O 18 de Janeiro teve igualmente como consequência uma maior implantação dos

comunistas no concelho aproveitando-se da enorme vaga de prisões que decapitou a

liderança do movimento anarco-sindicalista tendo sido presos no rescaldo da greve

revolucionária 24 dos seus principais delegados sindicais.138

Em Dezembro dão-se as eleições para deputados à Assembleia Nacional que

resultaram, sem surpresas, no triunfo da lista única do regime.139 Destarte, da primeira

comissão foram nomeados José Martins Vieira, António do Carmo Macedo e José Pereira

da Silva e para a segunda Mário Alves de Figueiredo, António Gouveia e António Luís

Fernandes.140 Não temos informação sobre as diferentes assembleias de voto nem sobre

os eleitores inscritos e dentro desses os que votaram contra, a favor ou se abstiveram.

Contudo, a fraude eleitoral foi inequívoca já que dos 90 candidatos 86 tiveram 1107 e 4

obtiveram 1106 votos o que traduz uma clara manipulação dos sufrágios que realmente

eles possam ter recebido. Estas eleições serviram para consolidar o Estado Novo depois

de vencidos os movimentos operário e nacional-sindicalista e decorrendo num ambiente

de apatia cívica que em muito contribuiu para a legitimação interna e externa do

regime.141

Ainda que a União Nacional tenha em 1932 enviado um voto de confiança142 à

comissão administrativa da câmara o que deixa transparecer a existência de boas relações

entre os dois organismos, nem sempre as mantidas com o poder central eram agradáveis.

Neste sentido, em 1935 o administrador do concelho, que em 1931 ganhou com a bênção

do governador civil a luta de poder no município, protestava contra os constantes

atropelos à sua autoridade por parte da Polícia de Defesa Social, da Polícia de

Investigação e da Fiscalização dos Géneros Alimentícios.143 Por outro lado, Almada,

138 FERREIRA Sónia, A Fábrica e a Rua resistência operária em Almada, Castro Verde, 100Luz, 2010,

p.193; PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura 1926-1974, Porto, Figueirinhas, 2013, p.162 139Acta da Assemblea de apuramento da eleição dos Membros da Assemblea Nacional, Concelho de

Almada, 23 de Dezembro de 1934 cota XXV –c), cx.21, s.n. 140 Idem 141 ROSAS Fernando, As primeira eleições legislativas do Estado Novo As eleições de 16 de Dezembro de

1934, Lisboa, o jornal, 1985, pp.20-23;94-95 142 “Moção da Comissão da União Nacional de Almada”, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, ,

Mç.457, [pt.17/16], f.1 143 Aqueles atropelos levavam a que muitas vezes os munícipes fossem enganados por pessoas que se faziam

passar por fiscalizadores. (“Envio do oficio do administrador do Concelho de Almada”, Ministério do

Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 465, [pt. 21/4], f.2)

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mercê do subfinanciamento herdado dos regimes anteriores, carecia de ajudas estatais

para proceder a melhoramentos locais. Todavia raramente as recebia, o que de certa forma

fica implícito no ofício de Ribeiro da Cruz repetindo o pedido de ajuda ao Ministério do

Interior para a manutenção de uma esquadra de polícia que assegurasse um melhor

policiamento ao concelho que além de muito movimentado, tinha fama de

oposicionista.144 Foi também com os olhos postos em mais auxílios estatais que a

vereação almadense em 1936 felicitou o governo pela sua decisão de apoiar os

nacionalistas na guerra civil de Espanha.145

A vitória da Frente Popular em Espanha levou o governador civil de Setúbal a

aconselhar ao administrador do concelho de Almada que se procedesse a uma vigilância

apertada para evitar “Repercussões Victoria Esquerdas Hespanha”.146 Desde 1935 que

recrudesceu a repressão no concelho, que traria antigos democráticos para o seio da UN,

mercê de uma estratégia da comissão administrativa de aproximar Almada do Estado

Novo com vista a obter maiores apoios do poder central.147

Em Julho estalava a guerra civil em Espanha que forneceu um microcosmos á

ideia de guerra civil europeia de Ernst Nolte ao opor os nacionalistas, secundados pela

Alemanha e pela Itália, aos republicanos, apoiados pela URSS.148 Traduz igualmente a

polarização política com a bolchevização do PSOE e os falangistas a mesclarem, segundo

Beevor, o conservadorismo espanhol com o fascismo.149 A instabilidade social provocada

pelas greves revolucionárias da CNT e o anticlericalismo da República, que tal como em

Portugal, pôs em causa o poder da Igreja, aliado à conjuntura externa de ascensão dos

fascismos e dos autoritarismos contribuíram para a queda do regime.150

144Havia apenas um oficial de diligências e um posto da GNR somente destinado ao policiamento rural e

independente da autoridade administrativa. (Idem, f.3) 145 “Felicitações da CM de Almada pela posição do governo face ao conflito espanhol”, Ministério do

Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 483, [pt.16/1], f.2 146 BEEVOR Antony, La Guerra Civil Española, Barcelona, Crítica, 2005, p.59; Almada, Arquivo

Histórico Municipal, Administração do Concelho de Almada, Funções de gestão, Expediente,

Correspondência expedida e recebida confidencial, 1926-1942, cx. nº reg. 907. In Almada na História

Boletim de Fontes Documentais, edição nº 31, pp.10-11 147 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão de Lisboa para a Margem Sul: 1938-1950, Lisboa

ISCTE, 1999, P.81 148 España en Guerra, episódio 11, No pasarán, RTVE, 1986

(https://www.youtube.com/watch?v=kzjZmdXKxao); España en Guerra, episódio 2, Republica: Reforma

y Reacción RTVE, 1986

(https://www.youtube.com/watch?v=r3rPXgTaE0A&index=2&list=PL0O6zhzaJqwx-

IQ7I0u13nTiFPsB5mrL4) 149 BEEVOR Antony, La Guerra Civil Española, Barcelona, Crítica, 2005, pp.43-50; 65-67 150 Ibidem, pp.34-39

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O regime apoiará os nacionalistas tanto a nível diplomático como militar, já que

temia que uma vitória da República fizesse perigar a sua consolidação.151 Foi nesse

contexto que surgiu o atentado contra Salazar perpetrado pelos anarquistas em

solidariedade com os seus correligionários espanhóis e no qual participou João Costa que

ficou encarregado de buscar os componentes importantes da bomba numa oficina em

Alcântara e guardou-as no seu gabinete de tesoureiro na Cooperativa Piedense.152

O atentado pôs a nu divergências dentro da polícia política e um certo amadorismo

da PVDE que ávida em prestar serviço prende e tortura brutalmente os homens errados,

enquanto os verdadeiros culpados eram descobertos por meio de uma investigação

criteriosa e minuciosa conduzida pelo juiz Alves Monteiro com a colaboração do chefe

da SPS Maia Mendes desgostoso de o caso ter sido dado a José Catela e ao director

Agostinho Lourenço.153 Ao mesmo tempo o regime reforçava-se com o abafamento do

fiasco da polícia política e o juramento de fidelidade dos chefes do Exército e da Marinha

a Salazar, cujo procedimento no desenrolar dos acontecimentos lhe granjeou o respeito

dos militares, sempre muito sensíveis a questões de coragem e abnegação pessoais,

facilitando a domação das forças armadas ao Estado Novo.154

Nesse sentido, apostou-se também no reforço bélico da GNR, como apontou

Cerezales para “retirar ao exército as tarefas de manutenção da ordem interna” e defender

o regime de elementos extremistas passando a andar com armas automáticas.155 A Guarda

Republicana foi em Almada o principal braço repressivo e a fiel servidora da polícia

política a quem entregava os presos no concelho. A violência preventiva foi um dos

factores de durabilidade do regime ao vigiar os comportamentos dos cidadãos pela polícia

151 TELO António, As Relações Peninsulares num Período de Guerras Globais, Lisboa, Edições Colibri,

1996, pp.137-139; Los refugiados de Barrancos, Associación Cultural Mórrimer, 2009,

(https://www.youtube.com/watch?v=mFEnf8F4_1U); España en guerra, episódio 18, El hundimiento de

Euskadi, RTVE, 1986

(https://www.youtube.com/watch?v=jxpr7mxdY4Q&t=0s&index=19&list=PL0O6zhzaJqwx-

IQ7I0u13nTiFPsB5mrL4) 152 FREIRE João, Sobre o anarquismo e a guerra civil de Espanha, Lisboa, Edições Colibri, 1996, pp.200-

201; Entrevista a Raul Costa, 23 de Outubro de 2018 153 ARAÚJO António, Matar o Salazar o atentado de Julho de 1937, Lisboa, Tinta-da-China, 2017, p.13;

83-86; Raul Costa referiu ao autor em conversa que o pai, João Costa, participou no atentado ao Salazar e

que por sorte não foi capturado. 154 Ibidem, p.123 155 CEREZALES Diego Palacios, Portugal à coronhada protesto popular e ordem pública nos séculos XIX

e XX, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, pp.268-269

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e punir os desafiadores da sua autoridade e ao enquadrá-los na sua esfera por via do

organismo corporativo.156

Almada foi profundamente afectada pelo conflito com os camiões de alimentos a

passarem de noite nas Barrocas com o título “sobras de Portugal” e os refugiados que se

implantaram especialmente na Cova da Piedade e contactaram com a comunidade

local.157 A guerra provocou um grande êxodo de gentes que, como se pode ler na obra de

Dulce Simões sobre Barrancos, afectou especialmente a zona raiana.158

O conflito ajudou a formar uma cultura oposicionista no concelho, especialmente

nas pessoas que cresceram durante a sua vigência. António Coelho, nascido em 1930 foi

um deles: “Epá, eu não tinha 10 anos, nem nada que se parecesse que havia pessoas sérias,

chefes de família que eram apanhados por indivíduos de má-fé e que era… eram

repatriados e depois que encostavam à parede e que os fuzilavam… é que a partir daí

nunca mais parei.”159 A propaganda comunista, que começava a penetrar no concelho,

denunciava os crimes dos nacionalistas espanhóis tendo muitos operários, como o primo

de Coelho, tomado conhecimento dessa situação.

A indústria corticeira em Almada e na Cova da Piedade encontrava-se em crise

com a ruptura de stock e as fábricas de conservas na Trafaria estavam paralisadas

lançando muitas famílias no desemprego, ao passo que os trabalhadores rurais do Monte

da Caparica só trabalhavam 3 ou 4 dias o que fazia ressentir o comércio do concelho.160

Na Rankin trabalhavam em 1936 428 operários, a maior parte (304) consistindo em

mulheres e menores, isto é, mão-de-obra barata a quem eram pagos salários diminutos.161

A juntar á falta de trabalho a assistência era sobretudo de iniciativa particular destacando-

156 ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.196-202 157 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018; Entrevista com José de Matos Silva, 4 de Junho de 2018 158 SIMÕES Dulce, A Guerra de Espanha na Raia Luso-Espanhola Resistências, Solidariedades e usos da

Memória, Lisboa, Edições Colibri, 2016 159 Resistência: Entrevista a António Coelho, 1ª parte, 19 de Fevereiro de 2014, FON ORA-RES 329, p.4

Vide biografia em anexos 160 Ofício confidencial sobre a situação económica, política e social no concelho de Almada in Almada na

História Boletim de fontes documentais, nº31, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2018, pp.16-17 161 Enquanto os homens em média auferiam entre 27$50 e 9$50, as mulheres recebiam entre 11$00 e 5$00.

A mesma diferença, embora em menor escala, se traduzia nos aprendizes. Enquanto os masculinos auferiam

o mesmo que as mulheres, aos femininos não lhes era pago mais que 5$50. (FLORES Alexandre, Almada

Antiga e Moderna Roteiro Iconográfico III Freguesia da Cova da Piedade, Almada, Câmara Municipal de

Almada, 1990, p.107)

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se no Monte da Caparica a figura do padre Baltasar Dinis de Carvalho e no Porto Brandão

uma obra de assistência a famílias carenciadas e em Almada a Misericórdia.162

Na Cova da Piedade, onde se concentrava a maior população operária, a dissensão

crescia. Por um lado, a passagem dos camiões com “as sobras de Portugal” para o lado

nacionalista constituía um insulto para a população que não tinha o que comer devido à

falta de trabalho. As mulheres, mal pagas e com os filhos para sustentar, lideravam os

protestos paralisando as fábricas e percorrendo o concelho com as “bandeiras da fome”

negras como negra era a vida miserável que viviam.163 Por outro, o contacto com os

refugiados espanhóis gerava na camada mais esclarecida da população um sentimento de

solidariedade para com eles e de repúdio relativamente à ajuda prestada pelo governo aos

nacionalistas.

O anti-clericalismo, que se mantinha desde os tempos da República, recrudesceu

nesta conjuntura de crise. Em Outubro de 1936 o pároco de Almada era apedrejado e

insultado enquanto acompanhava um enterro tendo-se afastado depois de os amigos do

defunto lhe referirem que o finado não simpatizava com padres.164

Nesta conjuntura o regime forçava a sua entrada no concelho com a organização, em fins

de 1936, da Legião Portuguesa por António José Gomes de Faria, seu delegado concelhio

e chegado a vereador em 1938.165 Todavia ainda haviam óbices à sua consolidação

partindo sobretudo da “desunião interna” no seio da comissão concelhia da UN o que

permitia, em íntima ligação com as más condições de vida, que em Abril de 1937 as

patrulhas da GNR encontrassem “panfletos subversivos em paredes em Almada e no

Pragal” e que na Trafaria circulasse propaganda desfavorável ao regime.166

162 Idem, pp.18-19 163 Entrevista a Raul Cordeiro, 26 de Julho de 2018 164 “Agressão e injúrias ao pároco de Almada”, Ministro do Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 479,

[pt.19/1], ff.1;3 165 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul : 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999. p.85 166Ofício confidencial sobre a situação económica, política e social no concelho de Almada in Almada na

História Boletim de fontes documentais, nº31, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2018,, pp.17; 19

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I.4. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Em 1940 a população total do concelho eram 29.219 pessoas e havia no ano lectivo

de 1940-1941 2431 alunos em 29 escolas ou postos escolares dos quais 2242 no ensino

oficial e 189 no particular e doméstico. Os professores, na sua maioria mulheres, eram 45

distribuídos pelas escolas, enquanto que o número dos que frequentava a escola pela

primeira vez era inferior ao dos que repetiam a primeira classe e estavam em outras

classes.167

Durante a guerra reforçou-se a estrutura corporativa no concelho a partir da Casa de

Pescadores da Costa da Caparica, do grémio de lavoura de Almada e do Seixal e do

Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Armazéns do Distrito de Setúbal (SNTADS),

com sede em Almada.168 Não irei, por não se tratar do tema do trabalho, aprofundar como

funcionavam estas estruturas focando-me mais nas relações que tiveram com a população

e o poder.

A Casa de Pescadores, à falta de uma colectividade de recreio e dado a miséria na

região, teve alguma implantação ao oferecer assistência no nascimento, na doença, na

invalidez e no funeral e actividades recreativas e uma escola para os filhos dos pescadores

com uma aula nocturna para adultos. 169 Porém, havia apenas um médico, uma enfermeira

que também servia de parteira e um auxiliar o que faz duvidar do real impacto que esta

estrutura teve no auxílio às populações.170 Tinha também uma função de enquadramento

ideológico dos pescadores desenvolvida pela mão de Henrique Tenreiro que apostava nos

pequenos armadores e pescadores como seus agentes junto da classe piscatória.171

167 INE, Estatísticas da Educação, Ano Lectivo 1940-1941, Lisboa, Bertrand, 1944, pp.20-21 Vide quadros

nº5 a 8 em Anexos 168 Arquivo Histórico Parlamentar, Comissão de Inquérito aos Elementos da Organização Corporativa, Casa

dos Pescadores de Lisboa- Secção Costa da Caparica, 1946 cota: AN, Col. 5, nº2, s. n; Estatutos do Grémio

da Lavoura de Almada e Seixal, Lisboa, tip. Adolfo de Mendonça LTD., 1944, p.5 cota: AN, cx.9, nº4;

Comissão de Inquérito aos Elementos de Organização Corporativa, Sindicato Nacional dos Trabalhadores

de Armazéns do Distrito de Setúbal, cota: AN, cx. 38, nº26, s.n 169 Arquivo Histórico Parlamentar, Comissão de Inquérito aos Elementos da Organização Corporativa, Casa

dos Pescadores de Lisboa- Secção Costa da Caparica, 1946 cota: AN, Col. 5, nº2, s. n.) 170 Idem 171 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1995, p.208; ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar,

Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.294

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O SNTADS fez Salazar seu sócio honorário em 27 de Junho de 1942 numa medida

de claro pendor ideológico, no entanto, como os relatórios assinalavam, era incapaz de

prestar um bom auxílio aos trabalhadores por falta de recursos financeiros o que também

explicava os baixos salários que auferiam os trabalhadores, apesar terem sido aumentados

em 1944 e 1945.172

O grémio da Lavoura de Almada e Seixal, embora gozasse do apoio do presidente da

edilidade e do antigo presidente da Associação de Comerciantes do Concelho de Almada

José Pinto Gonçalves173 era mal visto pela população que culpava os grémios pela crise.174

As senhas para o racionamento eram requisitadas na Junta de Freguesia havendo

longas filas para a compra de mantimentos notando-se especialmente a falta de pão.

Contudo, as senhas eram manipuladas e os merceeiros manipulavam os preços dos

alimentos, em busca de lucros, o que propiciou o mercado negro.175 O próprio regime

tinha noção desses abusos assistindo-se com Supico Pinto à abertura de inquéritos às

instituições corporativas mais acossadas pela crítica que levaram à moção de alguns

processos e exoneração de algumas direcções o que, no cômputo geral, não resolveu nada

e contribuiu para o descrédito do organismo corporativo agitado nas eleições de 1945.176

A falta de alimentos e as deficientes condições sanitárias do concelho propiciaram

um surto de tuberculose durante os anos da guerra. Vitor Costa, que perdeu a mãe, a irmã

e a avó em 1942, vítima dessa doença, assinala que: “Todos os dias morriam pessoas

tuberculosas. Nas Barrocas não houve casa nenhuma em que não tivesse morrido uma

pessoa tuberculosa.”177

Por outro lado, a chegada dos Viriatos da guerra civil de Espanha foi relembrada

por Raul Costa: “naquele domingo de manhã pá ia com o meu pai das Barrocas ali para

172 Em 1944 estavam tabelados em 22 escudos para os de primeira categoria, 18 escudos para os de segunda

e 10 escudos para as mulheres e em 1945 em 26 escudos para os de primeira categoria, 22 escudos para os

de segunda e 10 escudos para as mulheres e aprendizes. (Comissão de Inquérito aos Elementos de

Organização Corporativa, Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Armazéns do Distrito de Setúbal, cota:

AN, cx. 38, nº26, s.n) 173 Pai do oposicionista José Carlos Pinto Gonçalves, membro da comissão concelhia do MUD desde 1945

e preso em 1949 na sequência da campanha de Norton de Matos. (FLORES Alexandre, Almada Antiga e

Moderna Roteiro Iconográfico II Freguesia de Cacilhas, Almada, Câmara Municipal de Almada 1987,

p.70) 174 Grémio de Lavoura de Almada e Seixal, Relatório de Contas de 1943, pp.8-9; Grémio de Lavoura de

Almada e Seixal, Relatório de Contas de 1945, p.7 cota: AN, cx.9, nº4 175 Ibidem, pp.1-3; 13 176 ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, p.295 177 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018

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baixo ouvia um clamor choroso, aquele clamor choroso pá (…) então eram homens,

digamos, eram partes de homens, sem pernas, sem braços com umas muletas assim de

madeira ou umas coisas arranjadas por eles, não sei. As pessoas no hospital deviam ter

dado alta e vieram para a rua pedir esmola.”178 Ciente do impacto que esta imagem

poderia ter na mente dos almadenses, que se apercebiam minimamente de que lado eles

tinham combatido, estes mutilados da guerra foram retirados da rua desconhecendo-se

onde foram colocados. De facto, quando terminou a guerra deu-se um vazio legal mesmo

em relação aos que tinham combatido pelo lado do regime já que este não queria

reconhecer publicamente o seu auxílio ao lado franquista.179 Outros, como o almadense

Alípio dos Santos Rocha, que combateram pelo lado republicano foram deportados para

o Tarrafal.180

A 21 de Fevereiro de 1942 em debate na Assembleia Nacional o deputado Antunes

Monteiro refere que em Almada existia um dispensário de puericultura no qual cerca de

3000 crianças beneficiavam de consultas médicas, visitas domiciliárias, medicamentos e

alimentos.181 Contudo, se cruzarmos essa informação com os testemunhos orais vemos

que ela é tendenciosa, uma vez que aqueles apontam para uma assistência mais virada

para a iniciativa particular do que para a estatal, que era praticamente nula. Na Cova da

Piedade existia a clínica do doutor Elvas que prestava auxílio aos trabalhadores,

destacando-se a acção de alguns médicos beneméritos como Henrique Barbeitos e o

doutor Pessoa no Pragal que davam muitas vezes consultas gratuitas à população.182

Ao mesmo tempo as notícias da guerra passavam nas telefonias que havia nos

estabelecimentos públicos do concelho o que levou a PVDE a emitir um ofício contra os

taberneiros de Cacilhas que passavam as “emissões radiofónicas de propaganda dos

países beligerantes” apelando a que se ouvisse a Emissora Nacional como “garantia da

178 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018 179 Informação prestada ao autor em conversa por Rui Aballe Vieira, investigador no IHC. 180MADEIRA João (coord.), PIMENTEL Irene (coord.), FARINHA Luís (coord.), Vítimas de Salazar

Estado Novo e violência política, Lisboa, a esfera dos livros, 2007, p.248 181 Estado Novo, Assembleia Nacional, II Legislatura, Sessão Legislativa, número 129, 21 de Fevereiro de

1942 p.266 182 Henrique Barbeitos estabeleceu-se em 1937 tendo sido logo notado pelo seu humanismo na imprensa

local. (FLORES Alexandre, Almada Antiga e Moderna Roteiro Iconográfico III Freguesia da Cova da

Piedade, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1990, p.70); Dr. Henrique Barbeitos, “O Concelho de

Almada”, suplemento regional de “Gazeta do Sul”, nº1, 14 de Novembro de 1937, p.14; Resistência:

Entrevista / António Coelho, 3ª parte, 3 de Março de 2014, FON ORA-RES 329, pp.4-5)

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isenção que é indispensável manter neste momento.”183 Foi neste sentido de enquadrar a

população almadense nas ideias do regime que a comissão concelhia da UN convidava

“os bons portugueses deste Concelho a tomar parte na manifestação nacional a Salazar”

decorrida a 28 de Abril de 1941 no Terreiro do Paço.184 Durante a guerra estavam à frente

da edilidade António Joaquim Manuelito, comandante da GNR, Piano Júnior, João

Silvério Ferreira Vaz Pacheco de Canto e Castro e o engenheiro Adriano Pio Soares

Leite.185

Como notou Fernando Rosas, a política laboral do governo beneficiava o

patronato e agudizava a contestação operária ao opor-se à celebração de contratos

colectivos de trabalho e a aumentos salariais, e ao impor o regime de horas extraordinárias

por metade do ordenado.186 Em Almada haviam 73 fábricas de cortiça no princípio da

década das quais 66 estavam em laboração e apenas 13 utilizavam maquinaria avançada

recorrendo as restantes a trabalho manual.187 Por outras palavras, a mão-de-obra era na

sua maior parte explorada e sujeita a um grande desgaste físico. O labor era escasso a 3

dias por semana, devido à crise na indústria suscitada pela alteração das trocas comerciais

provocada pela guerra, formando-se um movimento de entre-ajuda entre os que

trabalhavam e os que não trabalhavam cozinhando-se refeições comunais que eram

servidas por todos.188 As mulheres levavam os filhos até as quintas em busca de

alimentos, outras vezes os miúdos iam sozinhos até às quintas, únicos locais onde podiam

comer fruta.189

Foi neste ambiente que se deram três surtos grevistas. O primeiro deu-se a

Novembro de 1942 com a paralisação da Parry & Sons, no contexto da luta contra o

desconto para o Abono de Família e o regime de obrigatoriedade do trabalho

extraordinário pago a metade decretados em Agosto, como também das contratações

183 Ofício confidencial da PVDE ao Delegado Policial do concelho de Almada in Almada na História,

Boletim de Fontes Documentais, Almada, nº31, 2018 pp.24-25 184 Apelo da comissão concelhia da UN de Almada para a participação na manifestação de apoio a Salazar

in Almada na História, Boletim de Fontes Documentais, Almada, nº31, 2018 pp.21-22 185 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.94 186 ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995,

pp.369-371 187 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.37 Para o trabalho na Rankin & Sons para esta década vide figuras nº 1 a 3

em Anexos 188 Entrevista a Mário Araújo, 13 de Junho de 2018 189 Idem; Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018

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colectivas à margem dos trabalhadores e do desconto de salários já de si baixos o que

agravava ainda mais o custo de vida.190 Estas greves apanharam de surpresa tanto o PCP

pela sua espontaneidade como o regime pela capacidade de mobilização dos proletários

que endureceu posteriormente a sua resposta face ao surto grevista ter-se concentrado em

sectores-chave da economia nacional como o comércio externo (estivadores de Lisboa e

do Porto), construção naval (estaleiros e oficinas de reparação naval como a Parry),

transportes (Carris) e comunicações (Companhia de Telefones).191

Em 26 de Julho de 1943 estalava a greve na indústria corticeira do concelho motivada

pala fixação das categorias profissionais nos contratos, pelo aumento galopante do custo

de vida acompanhado pela baixa de salários e pelas horas extraordinárias obrigatórias

serem pagas a metade, e, por vezes, a menos.192 Ao mesmo tempo, a conjuntura

internacional era favorável com a queda de Mussolini anunciada pela imprensa

portuguesa no dia anterior e que certamente ofereceu ânimo ao proletariado almadense.193

Arrastada à Parry & Son a 27 já foi politicamente enquadrada pelo PCP que conseguiu

mobilizar 50 000 operários da cintura industrial de Lisboa e da Margem Sul.194 As

mulheres lideraram as greves, motivadas pelas carências, paralisando o comércio todo em

Almada o que teve como represália o fecho pelo governo durante um mês das mercearias

e das fábricas do concelho.195 Vitor Costa assinala que os homens ficaram encostados à

parede “à espera que eles [a GNR] tivessem um bocado mais de respeito. Não tiveram

respeito nenhum. Tinha uma tia que ficou desta cor (bate no tampo negro da mesa) com

tanta porrada que lhe deram na PIDE, aquilo não era PIDE, era PVDE.”196

As mulheres foram, de facto, nesta fase quem capitalizou mais o

descontentamento que se fazia sentir junto da classe trabalhadora concelhia. Por um lado,

eram discriminadas nas fábricas recebendo salários irrisórios e muito menores do que os

190 FERREIRA Sónia, A Fábrica e a Rua resistência operária em Almada, Loulé, 100LUZ, 2010, pp.214-

217; ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995,

p.376 191ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, pp.378-

379 192 ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995,

pp.380-381 193 Ibidem 194Ibidem, p.382,FERREIRA Sónia, A Fábrica e a Rua resistência operária em Almada, Loulé, 100LUZ,

2010, pp.217;233 195 Ibidem, pp.232-246; Entrevista a Raul Costa, 2 de Julho de 2018 196 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018

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homens.197 Por outro, tendo a seu cargo o cuidado dos filhos viam-se a braços com o

problema do seu sustento dado o aumento galopante do custo de vida e o racionamento

que restringia a oferta dada a tamanha procura. A resposta do regime foi brutal passando

as empresas em greve para a tutela do Ministério da Guerra, ao abrigo da legislação que

decretava a mobilização industrial, encerrando-se as principais fábricas de cortiça, não

obstante protesto dos industriais ingleses e sujeita-se a foro militar os estaleiros da Parry

& Sons e a Companhia Portuguesa de Pescas, aonde os grevistas sob prisão são

transferidos para Caxias198

Contudo, esta é apenas uma face da repressão. O registo de pedidos de informação

demonstra a vigilância que a polícia política fez ao concelho durante os anos do conflito,

enviando pedidos constantes desde 16 de Junho de 1942 até 4 de Maio de 1945. Os

visados estavam sobretudo ligados ao movimento operário, quer ao Arsenal do Alfeite,

quer aos sindicatos nacionais; embora também fossem vigiados os elementos da

Academia Almadense e, em menor número, os indivíduos que se candidatassem a

empregos na esfera do Estado.199

As más condições de vida aliadas à repressão desencadeada pelo Estado Novo aos

protestos dos operários faziam com que se respirasse no concelho um clima de

contestação latente à ditadura materializado quer no vaiar entredentes Salazar, visto como

o principal responsável pelos sofrimentos vividos, quer no questionamento das políticas

oficiais que começava inclusive nas próprias escolas com o contraste entre a realidade

familiar dos alunos experienciada por eles quotidianamente e a apologia feita pelo

professor ao regime e à sua política.200

Foi neste contexto que surgiu o decreto-lei nº33278 que previu a construção de

4000 casas económicas, número esse aumentado em Dezembro para 5000, distribuídas

por Lisboa, Almada, Porto e Coimbra que seriam financiadas pelo Estado e pelas câmaras

municipais, as quais tinham a seu cargo “o fornecimento dos terrenos necessários, dentro

dos limites de preço exigidos pelo sistema, e, como é normal, a urbanização dos

197 Na Rankin & Sons em 1942 enquanto os homens recebiam uma média de entre 40$00 e 11$00, as

mulheres auferiam entre 11$00 e 5$00. (FLORES Alexandre, Almada Antiga e Moderna Roteiro

Iconográfico, 3º volume, Freguesia da Cova da Piedade, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1990,

p102) 198 ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995,

pp.384-385 199 Registo de pedidos de informação (PT/AHALM/CMALM/I/A/004) 200 Entrevista a Raul Cordeiro, 26 de Julho de 2018

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bairros.”201 Foi desta época que datou a construção do mercado persistindo até esta altura

a venda na rua dos géneros alimentícios sujeitos à poeira, pois as ruas não eram limpas, e

ao calor e às moscas no Estio.202

Em Maio de 1944 deu-se uma greve de menores dimensões de protesto pelo duro

racionamento do pão propalado a 20 de Abril e pela manifesta incapacidade de os

operários, mesmo os mais bem pagos, conseguiram pagar a sua alimentação resumindo-

se, segundo Ferreira a “adesões (…) pontuais e dispersas, não chegando a participar

nenhuma das grandes fábricas de 43.”203 Joaquim Campino “Filipe”, que controlou nesta

fase as greves em Almada, fala de desorganização, não obstante houvesse ânimo.204 O

resultado mais significativo, segundo Alfredo Dinis na reunião do CC do Partido, foi a

quase satisfação das reivindicações dos operários da Parry & Sons, não se pronunciando

sobre outras fábricas, talvez por nada de importante ter acontecido.205 Em suma, pode-se

dizer que a greve foi desorganizada e não logrou, excepto na Parry & Sons, grandes

conquistas.

Foi neste clima de agitação social e consequente repressão pelas autoridades que surge

uma manifestação representando a morte de Mussolini às mãos da guerrilha italiana.206

Dava um sinal inequívoco de protesto contra o regime que, pela propaganda

oposicionista, sabia-se aliado do fascismo e que era tido como responsável pelas más

condições de vida que se vivia no concelho.

201 O Estado adiantaria metade do seu custo, sem juro, enquanto as câmaras assegurariam a um juro de 4%

a outra metade podendo pedir empréstimos, em circunstâncias especiais (Estado Novo, Assembleia

Nacional, III Legislatura, Sessão Legislativa 02, número 51, 29 de Fevereiro de 1944, p.171);Estado Novo,

Assembleia Nacional, III Legislatura, Sessão Legislativa 02, Suplemento ao Diário de Sessões nº42, 6 de

Dezembro de 1943 p.4 202 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.62 203ROSAS Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra 1939-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, pp.387-

388; FERREIRA Sónia, A Fábrica e a Rua resistência operária em Almada, Loulé, 100LUZ, 2010, p.246 204 Partido Comunista Português, As Greves de 8 e 9 de Maio de 1944, Lisboa, edições Avante, 1979, p.20 205 Ibidem, p.68 206Entrevista a Raul Costa 2 de Julho de 2018

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II. O Movimento de Unidade Democrática

II.1. O MUD da génese à ilegalização (1945-1948)

O término da guerra trouxe em Almada grandes manifestações de regozijo, entre 6000 e

10000 pessoas, com o operariado da Cova da Piedade e de Cacilhas a desembocar,

conjuntamente com as gentes vindas do Pragal no largo da câmara, sempre acompanhados

pelas bandas das principais colectividades.207

Vitor Costa participou com 16 anos nas manifestações: “eram pessoas na rua (…)

com bandeiras, havia um pau que não levava, não é, era a bandeira da Rússia, não é, esse

não tinha… tinha a bandeira inglesa, americana, francesa e tal. (…)”208

José de Matos da Silva estudava em Lisboa tendo nelas participado à noite: “Eu

fiquei num grupo, por azar ou por sorte, depois ficou sozinho, só uns 10 ou 15 e a

determinada altura começámos também a cantar a Internacional de maneira que não sei,

durante o dia acho que foi, que foi a grande, durante o dia eu não estive cá.”209

O proletariado cumprimentou as gerências inglesas da Rankin e da Bucknall num

acto simbólico de oposição ao regime, conotado como fascista e aliado dos derrotados na

guerra, assim como o pau vazio a representar a União Soviética, ideologicamente tida

como a pátria da emancipação operária, nas manifestações reforça o “claro cunho

antifascista” das mesmas.210

O regime prepara-se para o mundo do pós guerra, por um lado definindo-se como

apoiante na primeira hora da causa aliada e negando as perseguições e a falta de liberdade

e, por outro, engendrando uma abertura política com a convocação de eleições a 6 de

Outubro.211 Ao mesmo tempo tanto a PSP como a GNR, por meio dos seus comandantes,

207 Entrevista a Mário Araújo, 29 de Maio de 2018; Em Almada, Cacilhas e Cova da Piedade, “Diário de

Notícias”, nº28461, 10 de Maio de 1945, p.2; Na província as manifestações pelo final da guerra tiveram

indescritível entusiasmo, “O Século”, nº22673, 9 de Maio de 1945, p.2 208 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018 209 Entrevista a José de Matos da Silva, 4 de Junho de 2018 210 Em Almada, Cacilhas e Cova da Piedade, “Diário de Notícias”, nº28461, 10 de Maio de 1945, p.2;

ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.228 211 Afirmações do Chefe do Governo no seu notável discurso de ontem na Assembleia Nacional, “Diário de

Notícias”, nº28470, 25 de Maio de 1945, pp.1; 5; ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber

durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.228

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procuravam “meios repressivos mais humanitários”, como o uso de gás lacrimogénio para

dispersar as manifestações numa aparência de corte com o passado de brutalidade policial

que marcaram estas forças no tempo áureo do fascismo, nos anos 1930 e 1940.212

A 8 de Outubro dava-se a reunião fundadora do MUD no Centro Republicano

Almirante Reis tendo dali saído a ida às urnas, mediante condições mínimas tais como

um prazo alargado, até seis meses, de campanha eleitoral e a criação de partidos e órgãos

de imprensa para veicular as ideias de cada força partidária.213

No Casino Setubalense, três dias depois, analisar-se-iam as directrizes emanadas

da reunião do Centro Almirante Reis, ao mesmo tempo que os representantes dos diversos

concelhos do distrito reuniram-se com vista a formarem as comissões locais que em cada

concelho organizariam a campanha eleitoral.214 A fazer fé em informações do República

neste evento esteve presente uma delegação de Almada, cujos nomes não foram

divulgados.215

O MUD, segundo Maria Isabel Alarcão e Silva mostrou-se devedor do espírito de

unidade do MUNAF, através do qual “se criou um certo espírito de unidade entre

diferentes correntes políticas da Oposição até então isoladas e desmoralizadas após

sucessivos falhanços verificados na década de trinta (…)”216 Raby refere-se ao período

de 1941 a 1949 como a “idade de ouro” da luta antifascista em Portugal cuja unidade

materializada em 1944 no MUNAF recebeu a sua inspiração dos movimentos de

resistência nos países ocupados e foi incentivada pelo PCP através de contactos com

várias forças da oposição, no seguimento da linha do Comintern sobre a Frente Popular

de 1935.217 A conjuntura internacional parecia igualmente favorável com as derrotas da

Alemanha Nazi e com a falhada conspiração para o assassinato de Hitler.

212 CEREZALES Diego Palacios, Portugal à coronhada protesto popular e ordem pública nos séculos XIX

E XX, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, p.290 213 Numa reunião politica no Centro Almirante Reis foi resolvido concorrer as urnas com listas de oposição

se forem atendidas certas reclamações, O Século, 10 de Outubro de 1945, pp.1;8 214 A reunião de Setubal decorreu com grande entusiasmo e com larga concorrência de pessoas do

Barreiro, “O Século”, nº22830, 14 de Outubro de 1945, p.2; A reunião de Setubal, “Diário de Notícias”,

nº28617, 14 de Outubro de 1945, p.5 215 Setubal, 14, “República”, nº5374, 15 de Outubro de 1945, p.4 216 SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994, p.30 217 RABY Dawn Linda, A resistência antifascista em Portugal Comunistas, democratas e militares em

oposição a Salazar, 1941-1974, Lisboa, Edições Salamandra, 1988, pp.14;25eee´+çlk

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O Estado Novo prepara, então, um recuo estratégico concedendo eleições, ao

passo que algumas medidas como a amnistia aos presos políticos e as mudanças

cosméticas da PVDE para PIDE e do SPN para SNI criavam uma aparente abertura do

regime.218

A 18 de Outubro de 1945 aprova-se numa reunião em Lisboa a estruturação do

movimento à escala nacional com o centro de execução das medidas deliberadas na

Assembleia de Delegados na comissão central, sediada em Lisboa, que extravasava para

as comissões de distrito ou do Ultramar que se desdobravam em comissões concelhias,

de freguesia ou de bairro.219

No dia 26 de Outubro realiza-se em Almada a primeira sessão de propaganda

eleitoral no salão da Incrível Almadense, entre as 21 h 30 e as 23 h15, que foi presidida

pelo tenente Gil Gonçalves, ladeado por Domingos Miguel, representante do operariado,

Júlio César de Magalhães, dr. Castro Rodrigues e a escritora Irene Lisboa220 tendo a ela

assistido os doutores José Magalhães Godinho e Adão e Silva, como membros da

comissão central do Movimento de Unidade Democrática.221 A assistência que veio de

vários pontos do concelho era numerosa, 2000 de acordo com o República, pelo que se

teve de montar altifalantes para os que ficaram do lado de fora.222

Nesta sessão aprovou-se por aclamação as conclusões do relatório da reunião do

centro republicano Almirante Reis e formou-se a comissão concelhia do MUD que foi

218ROSAS Fernando, Salazar e o Poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.228 219 SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto Policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994,p.43; (1947), "O que é e o que pretende o MUD (Resumo

de algumas resoluções de Assembleias de Delegados)", CasaComum.org, Disponível HTTP:

http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_94064 (2018-6-7 220 Em alguns jornais aparece como Silva, mas tudo indica que se tratava de Irene Lisboa, como aparece no

“Diário de Notícias” e em “O Primeiro de Janeiro”. (As reuniões do Porto, Tomar e Almada ficarão

memoráveis no grande movimento nacional em favor da Democracia, “República”, nº 5386, 27 de Outubro

de 1945 p.3; Em Almada efectuou-se uma entusiástica reunião de republicanos democratas, “O Primeiro

de Janeiro”, nº295, 27 de Outubro de 1945, p.5; Sessões de propaganda republicana oposicionista em

Almada, Pôrto e Tomar, nas quais foram aprovadas as resoluções que se tomaram no Centro Almirante

Reis, “O Século”, nº22843, 27 de Outubro de 1945, p.8; nº1109, Os elementos oposicionistas realizaram

reüniões em Almada, Pôrto e Tomar, “Diário Popular”, 27 de Outubro de 1945, p.3) 221 As reuniões do Porto, Tomar e Almada ficarão memoráveis no grande movimento nacional em favor da

Democracia, “República”, nº 5386, 27 de Outubro de 1945 p.3; Em Almada efectuou-se uma entusiástica

reunião de republicanos democratas, “O Primeiro de Janeiro”, nº295, 27 de Outubro de 1945, p.5 222 Em Almada efectuou-se uma entusiástica reunião de republicanos democratas, “O Primeiro de Janeiro”,

nº295, 27 de Outubro de 1945, p.5; O Povo do Pragal acorreu em massa á sessão de Almada, “República”,

nº5387, 28 de Outubro de 1945, p.5

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integrada por Felizardo Sanches Artur223, José Alaíz224, Domingos Miguel, Firmino da

Silva225 e pelos doutores José Carlos Pinto Gonçalves226, Paulo de Lencastre, Henrique

Barbeitos Pinto227.228 Pela sua composição verifica-se a presença já de comunistas, na

pessoa de Henrique Barbeitos, intensificada durante os anos da guerra no concelho mercê

da decapitação da liderança anarco-sindicalista no rescaldo do 18 de Janeiro de 1934, não

obstante ainda encontremos nesta fase republicanos e anarquistas, embora já ofuscados

um pouco politicamente.

O concelho desde os primeiros momentos que se integrou na luta nacional contra

o Estado Novo com a integração da comissão central do MUD por Manuel Maria Parada,

António Rodrigues de Miranda, Manuel José Gomes Marques, Alberto Gonzaga

Marques, António Marques Pereira da Cruz e Hélio Vieira Quartim229 Aqui, tal como na

concelhia, assistimos à presença de republicanos ladeados por comunistas, personificados

em Quartim.

Almada desenvolveu-se entre Lisboa e Setúbal. Por uma banda, a oposição

almadense, profundamente regionalista, acompanhando já a tradição republicana

espelhada nas páginas de O Almadense, ressentia o menosprezo do poder central face ao

concelho. Esta noção dava azo a que se procurasse integrar Almada na resistência ao

regime, esperando-se que com a sua queda e, em troca do seu papel nesse mesmo derrube,

viesse o tão almejado e continuamente adiado progresso. Por outra, sendo o MUD um

movimento de bases nacionais e estando o concelho integrado no distrito de Setúbal,

vários oposicionistas almadenses teriam actividade política em Setúbal.

O discurso de Pinto Gonçalves deve ser lido nesta dupla vertente, por um lado,

integrando o pensamento geral da oposição democrática que antevia na queda do nazi-

fascismo o ruir do Estado Novo e, por outro, o resquício do velho republicanismo

223 Vide biografia em anexos 224 Vide biografia em anexos 225 Vide biografia em anexos 226 Vide biografia em anexos 227 Vide biografia em anexos 228 As reuniões do Porto, Tomar e Almada ficarão memoráveis no grande movimento nacional em favor da

Democracia, República, nº 5386, 27 de Outubro de 1945 p.3; A reunião de ontem no cinema de Almada,

“Diário de Notícias”, nº28630, 27 de Outubro de 1945, p.2; Em Almada efectuou-se uma entusiástica

reunião de republicanos democratas, “O Primeiro de Janeiro”, nº295, 27 de Outubro de 1945, p.5; Sessões

de propaganda republicana oposicionista em Almada, Pôrto e Tomar, nas quais foram aprovadas as

resoluções que se tomaram no Centro Almirante Reis, “O Século”, nº22843, 27 de Outubro de 1945, p.8 229 FLORES Alexandre, POLICARPO António, Proclamação da República em Almada, Almada, Cãmara

Municipal de Almada, 2010, pp.99; 112; 185-186; PIDE/DGS,SC,SR, 50/46, NT 2513 Hélio Vieira

Quartim, Nuno Fidelino Lobo da Costa Figueiredo, ff.11;14; 26; 32-35

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almadense de matriz regionalista que procurava aqui integrar o concelho no movimento

de luta contra a ditadura.230

As eleições no Estado Novo eram profundamente condicionadas limitando-se

tanto a campanha da oposição, circunscrita apenas ao período em que as mesmas

decorriam, como o espaço apenas se permitindo sessões em recintos fechados e sob o

olhar vigilante da autoridade que tinha poder para suspender uma sessão, no caso de não

lhe agradar o que estava a ser dito.231 No caso deste comício a autoridade presente foi o

administrador do concelho tenente António Joaquim Manuelito.

Em 1945 o concelho tinha 4 freguesias: Almada, Caparica, Cova da Piedade e

Trafaria, cada uma com uma assembleia de voto. Havia nesse ano, em cada uma delas e

respectivamente, 2401, 1581, 3991 e 1234 eleitores que eram na maioria da classe

trabalhadora e da pequena burguesia ligada ao comércio e às profissões liberais, embora

na Cova da Piedade, devido à instalação do Arsenal do Alfeite, e na Trafaria os militares

também estivessem representados.232

A Cova da Piedade era o epicentro da indústria almadense com um movimento

operário pungente que começava agora a ser controlado pelos comunistas que

paulatinamente construíam as suas estruturas nas principais fábricas do concelho. A

situação do operariado mantinha-se difícil. Por um lado, os salários continuavam baixos,

irrisórios no caso das mulheres e dos menores.233 Por outro, a nível de habitação

persistiam no Caramujo os pátios operários de início de Novecentos com os seus

corredores exíguos e as suas habitações sem condições sanitárias e próximas dos locais

de descarga dos esgotos que exalavam um cheiro pestilento e propiciavam o aparecimento

de doenças.234 Além de as casas estarem sujeitas a embates de veículos pesados na Mutela

e no Pragal devido à construção desordenada que estrangulava a circulação rodoviária,

nelas era comum viverem mais do que uma família operária já que as rendas eram

230 Sessões de propaganda republicana oposicionista em Almada, Pôrto e Tomar, nas quais foram

aprovadas as resoluções que se tomaram no Centro Almirante Reis, “O Século”, nº22843, 27 de Outubro

de 1945, p.8 231 CRUZ Manuel Braga da, O Partido e o Estado no Salazarismo, Lisboa, Editorial Presença, 1988,

pp.212-213 232 AHCMA, Livro de recenseamento eleitoral para o Chefe de Estado e Assembleia Nacional, 1945, Livro

nº2326 (PT/AHALM/CMALM/G/B/004), ff.2-63; 68-108; 110-212; 214-24 233 Na Bucknall & Sons enquanto os homens recebiam entre 61$55 e 19$00, as mulheres auferiam entre

18$60 e 11$00. (FLORES Alexandre, Almada Antiga e Moderna Roteiro Iconográfico III Freguesia da

Cova da Piedade, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1990, p.97) 234 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, pp-66-67

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elevadas na ordem dos 350 escudos, absolutamente incomportáveis para uma bolsa

operária.235

Em 28 de Julho de 1946 no Centro Republicano José Estevão é criado o MUD

Juvenil organizando-se em Comissões Juvenis regionais, distritais e locais que dependem

da Comissão Central do MUD Juvenil, ao passo que ligação ao MUD é feita através de

representantes da Juventude nas Comissões Distritais e na Comissão Central por

intermédio do delegado do MUD Juvenil.236 Em 1947 reforça-se a sua expansão pela

Semanas da Juventude na qual se promoveu encontros de convívio de jovens com vista a

granjear novos adeptos, ao mesmo tempo que o PCP em 1946 extingue a Federação das

Juventudes Comunistas Portuguesas, num gesto de unidade oposicionista nos moldes da

Frente Popular.237

A comissão concelhia do MUD J foi criada por Pinto Gonçalves e por Henrique

Barbeitos, secundados por José Alaíz tendo sido integrada por José Braizinha da Costa e

Alexandre Castanheira, convidado por Barbeitos em 1946 depois de proferir uma

conferência na Incrível acerca de Eça de Queiroz.238 Existem duas fases do MUD J em

Almada. A primeira de 1946 a 1949 conta com as primeiras aderências de jovens nascidos

entre os fins dos anos 1920 e os inícios dos de 1930 e que tomaram parte activa na

campanha presidencial de Norton de Matos. São os casos de Sofia Terruta, Vitor Costa,

José Alves de Almeida, Raul Cordeiro, Alexandre Castanheira, José Braizinha da Costa.

José de Matos da Silva e Albertino Ferreira de Oliveira. A segunda é formada por jovens

nascidos a partir dos meados da década de 1930 e que serão membros activos da

campanha presidencial de Humberto Delgado. São os casos especialmente de Raul Costa

e Joaquim do Carmo.

O movimento estava muito implantado na Cova da Piedade como centro da

indústria corticeira e importante polo cultural por via do seu movimento associativo

235 Ibidem, pp.65-66; Rúbrica Em defesa dos trabalhadores, Em Almada não há moradias para as classes

operárias, Diário Popular, nº1119, 6 de Novembro de 1945, p.1 236 HONÓRIO Cecília, Mulheres contra a ditadura, Lisboa, Bertrand Editora, 2014, p.16; SILVA Maria

Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado Novo [Texto

policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,

Universidade Nova de Lisboa, 1994, p.131 237 SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994, pp.132; 179 238 Associativismo / Alexandre Castanheira, FON ORA ASS 177, 20 e 21 de Julho de 2006, pp.4-6

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pungente espelhado na Cooperativa Piedense e na SFUAP, cuja actividade na formação

política da população trataremos mais adiante.

A consciência como adverte, Hannah Arendt é “não-política”239, ao invés, ela

surge primeiro como uma relação entre o indivíduo e o meio que o rodeia e depois poderá

advir a politização com o desenvolvimento das ideias políticas do indivíduo através da

leitura de livros ou da propaganda de movimentos políticos. Neste sentido, é a

adversidade do meio familiar que coloca estes jovens na oposição ao Estado Novo

aderindo ao MUD J. Nados e criados nos anos difíceis da Guerra Civil de Espanha e da

Segunda Guerra Mundial com a falta de trabalho dos pais, a repressão severa das greves

e os efeitos penosos do racionamento cedo começam a associar a sua miséria ao governo.

Como explica Raul Cordeiro, falando da sua infância: “E em casa… quando se vinha para

a escola já se sabia que Salazar fez isto, fez aquilo e fez aqueloutro era sabido… o

professor, às vezes, dizia o contrário que era muito bonzinho, mansinho… Nós sabíamos

que não era verdade, quer dizer havia um contraste entre a informação da escola –

informação, nesse aspecto político – e a nossa realidade.”240É justamente o

questionamento, ainda que incipiente, da autoridade do Estado que abre as portas, como

escreve Arendt, à desobediência.241

O mundo das fábricas era o da exploração sobretudo do trabalho barato de

mulheres e crianças. Joaquim do Carmo, tal como outros, teve de trocar os bancos de

escola pela oficina sofrendo dois acidentes de trabalho: “trabalhava eu prá’ í há um mês

ou dois rebentou uma correia atingiu-me aqui o olho (aponta para o olho esquerdo) e fiz

até uma operação às cataratas proveniente disso. (…) Regressei ao trabalho, dois meses

depois puseram-me a trabalhar numa máquina, uma criança a trabalhar numa máquina

daquelas, cortei este dedo (mostra o dedo decepado)”.242

Alguns jovens tiveram familiares oposicionistas que lhes fomentaram, a par da

realidade social que iam apreendendo, uma mentalidade anti-situacionista como foi o caso

de José de Matos da Silva, sobrinho por via materna de Pedro de Matos Filipe tendo como

primeiras recordações a sua visita ao tio no Aljube com 6 anos e a notícia da sua morte

no campo do Tarrafal com 9 anos.243 Os irmãos Vitor e Raul Costa eram filhos de João

239 ARENDT Hannah, Desobediência Civil, Lisboa, Relógio d’Água, 2017, p.17 240 Entrevista a Raul Cordeiro, 26 de Julho de 2018 241 ARENDT Hannah, Desobediência Civil, Lisboa, Relógio d´Água, 2017, p.27 242 Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018 243 Entrevista a José de Matos da Silva, 4 de Junho de 2018

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Costa que também teve um papel preponderante no 18 de Janeiro de 1934 tendo assistido

ao jantar a várias conversas entre o pai anarco-sindicalista e o avô materno comunista.244

Vitor, o irmão mais velho, esteve fugido com o pai durante 3 anos no rescaldo da greve

revolucionária e recorda que o avô, militante desde 1926 no PCP “era quadrador de rolhas

(…) e o dinheiro que recebia comprava livros. Tinha uma biblioteca muito gira em casa,

boa, não é, pequena, mas boa, era só do bom. Eu com 8 anos já lia os livrosinhos, o avô

ia explicando e ia implantando em mim certas ideias ou eu ia recebendo deles, das

conversas deles.”245 Sofia do Nascimento Pinto veio de Silves, recordando-se ainda

criança de ver o seu irmão preso na sequência do 18 de Janeiro de 1934; ao mesmo tempo

que, como mulher, recebia menos do que um operário masculino da mesma categoria pelo

que a sua politização advém da simbiose entre a noção da sua exploração como corticeira

e o paradigma dos seus familiares que lutaram contra o regime.246

Seria interessante tentar perceber como foi feita a politização da população nas

freguesias rurais, todavia tal só pode ser feito com o desenvolvimento de um estudo neste

campo o que até agora ainda não foi feito. Em todo o caso, elas quedavam as mais

negligenciadas com deficiências a nível de abastecimento de água, no fornecimento de

electricidade e nos acessos.247

A força do MUD, com os seus comícios aguerridos e a ampla base social de apoio

que granjeou, fez o regime passar à defensiva usando da coerção e da repressão contra os

oposicionistas cuja face mais visível foi a demissão de Mário Azevedo Gomes e Bento

de Jesus Caraça dos seus cargos de professores universitários depois do comunicado do

MUD acerca da candidatura de Portugal à ONU.248

Já o golpe da Mealhada de 10 de Abril pode ser vista como uma tentativa de a

oposição democrática demonstrar a Carmona ter a força militar necessária para afastar

244 Entrevista a Raul Costa, 2 de Julho de 2018; Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018 245 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018 246 Resistência – Entrevista / Sofia Nascimento Pinto Santos, FON ORA RES 3, 3 de Março de 2009, p.1 247 Porto Brandão, que pertencia à Trafaria, encontrava-se num estado lastimoso com uma iluminação

deficiente e frequentemente avariada, o mesmo sucedendo á velha bomba manual que servia o principal

posto de abastecimento público; com a via de ligação à Fonte Santa suja, mal pavimentada e pestilenta e

uma ponte de embarque atulhada que dificultava a atracagem dos barcos. (Porto Brandão carece de atenção

dos poderes públicos para as suas grandes necessidades, “Diário Popular”, nº1088, 4 de Outubro de 1945,

p.9) 248ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.229-230;

SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994, pp.124-126

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Salazar e fazer uma transição ordeira de regime.249 O presidente teve de facto um papel

conivente no golpe, como demonstraram os arguidos em julgamento, que Salazar

procurará desdramatizar conduzindo, na pena de Fernando Rosas “a condenações

simbólicas que permitem a quase todos sair em liberdade.”250 Francisco Fritzgerald

Correia dos Santos participou no golpe provavelmente aliciado por Mendes Cabeçadas

com quem mantinha relações desde anos 1930, muito embora o seu processo não

esclareça acerca do seu papel no mesmo.251 Foi condenado pelo 1º Tribunal Militar

Territorial “em um ano e vinte dias de prisão correcional, pena esta que se lhe dá expiada

pela prisão preventiva” e a coima de 8 escudos por dia em igual período de tempo.252

A 7 de Fevereiro de 1946 haviam a comissão concelhia e as de freguesia de

Almada e da Cova da Piedade o que nos permite inferir que o movimento estava mais

implantado nesta parte do concelho provavelmente pelo seu cariz mais fabril.253 Paulo de

Lencastre tinha ido residir para Lisboa entrando para o seu lugar o estudante Mário

Fernandes, mantendo-se os demais elementos da primeira comissão concelhia. À de

Almada pertenciam Romeu Correia, António Henriques, Raimundo José Moreira,254

Mário Augusto, Fernando Gil, José Baptista Oliveira e Anselmo Baptista Lopes Júnior.

À da Cova da Piedade pertenciam Raul Adão e Silva, João Castro Rodrigues, António de

Campos Aguiar255, António Lopes256, Manoel Alves da Silva, Domingos José Antunes e

António Pereira da Costa. Voltamos a encontrar republicanos como Raimundo José

Moreira e anarco-sindicalistas como António Lopes, mas já começa a existir um certo

predomínio de comunistas.

O MUD insistiu, como comprovou Alarcão e Silva, na sua legalidade através, por

exemplo, da apresentação dos nomes e profissões dos elementos das comissões distritais

249 SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994, p.209 250 ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp.232-234 251 Vide biografia em anexos. PIDE/DGS, Del P, PI 124, NT 3449 Francisco Fritzgerald Correia dos Santos,

f.1 252 PIDE/DGS, Del P, PI 124, NT 3449 Francisco Fritzgerald Correia dos Santos, f.1 253PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.105 254 Vide biografia em anexos 255 Vide biografia em anexos. Controlador do sector comunista de Almada nos anos trinta e quarenta

(Entrevista a Raul Costa, 2 de Julho de 2018) 256 Vide biografia em anexos. Anarco-sindicalista e membro do grupo que a 18 de Janeiro cortou os cabos

submarinos que faziam ligação à capital

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demarcando-se, assim, da clandestinidade comunista.257 Todavia, a repressão foi uma

constante ao longo da sua existência legal com a prisão de elementos oposicionistas e

assaltos a sedes de campanha, ao mesmo tempo que a PIDE recorria a informadores

dentro dos movimentos oposicionistas para monitorizar a sua actividade. Deve-se

também considerar o papel das cartas de denúncia que, como Duncan Simpson explicou

num artigo recente, traduzem uma instrumentalização da polícia política pela população

para servir as suas rivalidades e invejas.258 Foi o que aconteceu a 3 de Novembro de 1946

com a denúncia de reuniões oposicionistas num café em Almada, na biblioteca da

Academia Almadense e na casa de Henriques Barbeitos, o qual foi alegadamente visto a

distribuir panfletos do MUD e do CAR. 259 O seu autor esconde-se sob a capa de “um

apoiante fervoroso da obra do Estado Novo” numa clara tentativa de demonstrar a

credibilidade das suas posições e efectivar o seu plano de ver presos aqueles elementos

oposicionistas. Tal abundância de denúncias preocupou mesmo o regime, à semelhança

do que aconteceu na Alemanha, pois elas punham em causa a coesão e a harmonia da

nação tão apregoadas pelo Estado Novo.260

No campo diametralmente oposto deve ser colocada uma carta enviada ao

Director da PIDE a pedir a libertação de Sofia do Nascimento Pinto “Terruta”, cuja autora

assina como “uma partidária da Paz”.261 A ocultação da identidade por parte dos

oprimidos era, como assinala Scott, uma forma estratégica de manifestarem a sua

oposição escapando a represálias.262 Neste caso era mais difícil à polícia agir contra a

autora por não poder identificá-la.

Outra medida era ostracizar os elementos oposicionistas como aconteceu com

Henrique Barbeitos a quem a PIDE tentou impedir que fosse médico da Caixa de

Previdência da Indústria Corticeira, porém o seu prestígio era tal junto da classe que o

257 SILVA Maria Isabel Mercês de Melo de Alarcão e, O Movimento de Unidade Democrática e o Estado

Novo [Texto policopiado]: 1945-1948, Lisboa, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1994, p.183 258 SIMPSON Duncan, The “sad grandmother”, the “simple but honest Portuguese” and the “good son of

the Fatherland”: letters of denunciation in the final decade of the Salazar regime, Análise Social, nº226,

vol. LIII, 2018, pp.10; 23 259 Ibidem, ff.103-104 260 PIMENTEL Irene (coord.), FARINHA Luís (coord.), MADEIRA João (coord.), As Vítimas de Salazar,

Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007, p.99 261 PT/TT/PIDE/E/015/11253, ff.57-58 262 SCOTT James C., A dominação e a arte da resistência Discursos ocultos, Lisboa, letra livre, 2013,

p.200

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Presidente daquele organismo não deu importância à actividade política do médico,

mantendo-o, perante a perplexidade daquela polícia, no lugar para o qual foi nomeado.263

Por fim o MUD foi ilegalizado sob o pretexto de ser manobrado por comunistas o

que era redutor pela insistência na legalidade que sempre manifestou, apesar de ter

continuado a sua actividade na candidatura de Norton de Matos, pensada a esse propósito

em 1947.264

A prisão de vários anarco-sindicalistas na sequência de grandes incêndios que

assolaram as principais fábricas do concelho em Novembro de 1946 marca o fim da

hegemonia desta corrente na oposição concelhia.265 Era frequente os patrões em altura de

crise deflagrarem incêndios para tentarem vender alguma cortiça e receberem o dinheiro

do seguro pelo que muito possivelmente estes homens podem ter servido de bodes

expiatórios dado a sua actividade política.266

Aproximando-nos da campanha presidencial de 1949 o regime ainda mostrava

dificuldade em se implantar no concelho por um lado, pela inexistência de uma comissão

da UN entre 1943 e fins de 1948 e, por outro, pela atitude negligente e depreciativa do

presidente da edilidade Sá Linhares face ao município, visto por ele como um “bairro

operário de Lisboa”, subalterno e sem futuro. Neste sentido, o administrador do concelho,

major Adriano Dores, que depois integraria a comissão concelhia da UN, propunha: “a

fundação de uma cantina na Cova da Piedade, nos moldes da FNAT. – a criação da

freguesia da Costa da Caparica. – o aumento da rede de esgotos da Trafaria. – atenção ao

hospital da Misericórdia de Almada.” Os melhoramentos visavam, por uma banda,

chamar a população para junto do regime ao elevar-lhes um pouco as condições de vida

e, por outro, esboça a tentativa de enquadramento da população operária da Cova da

Piedade através da FNAT.

263 Ibidem, f.107 264 Ibidem, pp.164-165;180 265 O incêndio afectou particularmente a Rankin e a Bucknall tendo sido inculpados e presos José da Silva

Gordinho, Mário Moreia, Liberto da Silva Costa, Francisco Jara, José Matias Rocha, Júlio Monteiro

Martins, Cândido Migueis da Silva, António Pereira, António Lopes e Manuel Francisco da Silva

(POLICARPO António Neves, José da Silva Gordinho 1899-1948 Memorial de um anarquista almadense,

Cova da Piedade, Junta de Freguesia da Cova da Piedade, 2003, pp.65-66; 70); POLICARPO António,

Memórias da nossa terra e da nossa gente Freguesia de Almada, Almada, Junta de Freguesia de Almada,

2013, p.169; Irene Pimentel, no entanto, refere que ainda, entre 1946 e 1949, subsistiam alguns núcleos

anarquistas em Almada. (PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura 1926-1974, Porto,

figueirinhas, 2013, p.272) 266 Entrevista a Raul Costa, 12 de Julho de 2018

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A 21 de Novembro, depois de um longo interregno, era empossada a comissão

concelhia da União Nacional no edifício da Câmara Municipal de Almada na presença do

governador civil de Setúbal, presidente da comissão distrital da UN e outras autoridades

locais, ficando constituída pelo major Adriano Dores, José Carvalho dos Santos para

Almada; Manuel Gomes Marques para a Cova da Piedade; Silvestre Rosmaninho para a

Trafaria; Joaquim Pedro Figueira Quintela, para a Caparica.267

II.2. Campanha de Norton de Matos e o “refluxo das

oposições” (1949-1957)

José Mendes Ribeiro Norton de Matos quando aceitou a candidatura à Presidência da

República em Abril de 1948 já era um político conhecido pela sua obra em Angola

durante a República e um líder oposicionista respeitado como líder do Grande Oriente

Lusitano Unido, promotor da Acção Republicana e Socialista e membro do MUNAF,

tendo sido preso e exilado para S, Miguel como consequência da sua participação na

revolta reviralhista de Fevereiro.268

O general defende a sua candidatura como um movimento legal e ordeiro gozando

do amplo apoio da nação, ao mesmo tempo que o governo era visto como anti-nacional,

“era como se o país tivesse sido ocupado por um povo conquistador.”269 O regime

retribuiria a crítica acusando o candidato de ser porta-voz dos comunistas e de estar a

soldo de Moscovo, leia-se as referências a ele feitas no órgão situacionista Diário da

Manhã.

Não obstante em termos coloniais pouco divergia do regime advogando uma

política paternalista de educação dos nativos e não pondo em causa a unidade imperial,

267 Foram empossados novos membros da comissão concelhia da U.N. do concelho de Almada, nº23944,

“O Século”, 22 de Novembro de 1948, p.2 268 JANEIRO Helena Pinto, Norton de Matos, o improvável republicano: Um olhar sobre Portugal e o

Império entre Afonso Costa e Salazar, Tese de Doutoramento em História Contemporânea, Lisboa,

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 2014, pp.310-328; 365-369 269MATOS Norton, Os dois primeiros meses da minha candidatura à Presidência da República, Lisboa,

Edição de Autor, 1948, p.16

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como se pode ler em Nação Una.270 O mesmo diz Maria Dáskalos referindo-se à sua obra

colonial em Angola guindada em duas linhas principais: de asseguramento da soberania

lusa, por um lado, e, por meio de uma acção desenvolvimentista, de “transformação

civilizacional do indígena segundo um figurino europeu ou, mais exactamente

português.”271

A sua candidatura foi estruturada, nos moldes do MUD, à escala nacional com a

Comissão de Serviços Centrais da Candidatura, sediada em Lisboa, e as Comissões dos

Serviços Distritais da Candidatura nos distritos do continente e ilhas, cuja acção era

ampliada nas Comissões Concelhias, de Freguesia e de Bairros com vista ser feita à

“mobilização e concentração dos eleitores do Distrito tendo em vista o triunfo eleitoral

do Candidato (…)”272

O concelho tinha em 1949 29.219 habitantes distribuídos pelas freguesias de

Almada, Cova da Piedade, Trafaria e Caparica. A sua rede eléctrica era fornecida pela

União Eléctrica Portuguesa todavia uma vasta margem da população ainda não tinha

acesso a electricidade uma vez que o número de consumidores voltava a ser muito

reduzido em relação ao total da população contando-se em apenas 4885.273 Aquela

empresa detinha o exclusivo do fornecimento e distribuição de electricidade no concelho

selado pela inauguração da sua sede em Almada em Novembro de 1950.274

A campanha foi inaugurada em Almada no dia 12 de Janeiro de 1949 na sede da

Academia Almadense que foi presidida por Fernando Mayer Garção, secundado por

Maria Lamas e Domingos Miguel decorrendo o comício em sala cheia e num efusivo de

gritos pelo nome do candidato e canto em coro do Hino Nacional.275

Naquele comício a polícia destacou o papel do comandante José Braz, homem

influente em Almada com cargos no Hospital, na Misericórdia e nos bombeiros, que

270 MATOS Norton, A Nação Una, Lisboa, Paulino Ferreira, Filhos, LDA., 1953, pp.201-280 271 DÁSKALOS Maria Alexandre, A Política de Norton de Matos para Angola 1912-1915, Coimbra,

MinervaCoimbra, 2008, p.54 272 MATOS Norton, Os dois primeiros meses da minha candidatura à Presidência da República, Lisboa,

Edição de Autor, 1948, pp.115-116 273 INE, Ministério da Economia, Direcção Geral dos Serviços Eléctricos, Estatística das Instalações

Eléctricas em Portugal, ano de 1949, 1º volume, Lisboa, Imprensa Nacional, 1950, pp.366-367 274 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.209 275 Em Almada Numa sessão de propaganda a favor do general sr. Norton de Matos, falaram os srs. dr.

Mayer Garção, dr. Pinto Gonçalves, dr. Palma Carlos, o trabalhador Benjamim Lopes Francisco, o dr.

Ramos e Costa e a escritora D. Maria Lamas, “Primeiro de Janeiro”, nº13, 14 de Janeiro de 1949, p.3

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mantinha boas relações com a câmara e como presidente daquela colectividade permitiu

que no seu decorrer a sua banda tocasse o hino nacional sempre que qualquer orador

falasse e que as raparigas do grupo cénico andassem com fitas verdes-rubras no braço a

angariar fundos a favor da campanha, os quais renderam 2.000$00.276 Francisco

Fritzgerald Correia dos Santos, presidente daquela corporação, foi chamado ao palco por

Mayer Garção ante uma entusiástica aclamação, fruto da sua preponderância na terra

acompanhando Braz nos almoços promovidos pela municipalidade para cativar os

políticos locais.277 Estas relações com o poder podem por um lado, significar a

importância incontornável destes homens em Almada e, por outro, a incapacidade de o

regime se implantar no concelho e formar quadros capazes de os substituir nas posições

que eles desempenhavam.

No dia 26 de Janeiro deu-se uma nova sessão de propaganda na SFUAP presidida

por José Pinto Gonçalves, secretariado pela operária Maria Laura Fernandes e pelo dr.

Adão e Silva e participaram como oradores de Cruz Ferreira, Heliodoro Caldeira,

Alexandre Castanheira, Maria Laura Fernandes e Romeu Correia.278

Maria Laura Fernandes assumiu grande visibilidade nesta campanha como

oradora, num mundo dominado por homens e onde as mulheres que discursavam

provinham sobretudo de um meio burguês como Maria Lamas ou Maria Isabel Aboim

Inglês. Sofia do Nascimento Pinto, ligada ao MUD Juvenil, também falou num comício

organizado no Clube Recreativo Piedense.279 No caso destas mulheres foi a dureza do

quotidiano que fomentou a sua politização a par das actividades culturais organizadas nas

colectividades que, como veremos, ajudaram a criar uma mentalidade oposicionista em

quem as frequentava.

Contudo, as mulheres também tiveram grande visibilidade na retaguarda no

socorro às famílias dos presos políticos. A mãe de Alexandre Castanheira foi uma delas:

“ela que é doente, que tem dificuldade em andar calcorreia aquela subida p’ a Cacilhas

276 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.86; Em Almada Numa sessão de

propaganda a favor do general sr. Norton de Matos, falaram os srs. dr. Mayer Garção, dr. Pinto

Gonçalves, dr. Palma Carlos, o trabalhador Benjamim Lopes Francisco, o dr. Ramos e Costa e a escritora

D. Maria Lamas, “Primeiro de Janeiro”, nº13, 14 de Janeiro de 1949, p.3 277 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.85-86 278 Foram jornadas de entusiasmo e de fé democrática as sessões realizadas em Almada e Grândola,

“República”, 27 de Janeiro de 1949, p.7; Sessões de propaganda da candidatura do sr. general Norton de

Matos realizaram-se na Foz do Douro, em Alpiarça, Estarreja e Almada, “O Século”, nº24002, 22 de

Janeiro de 1949, p.8 279 Carta de Sofia do Nascimento Pinto à sua mãe PT/TT/PIDE/E/015/11253, f.10

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com outras senhoras… Muitas alentejanas e tal, sem meios… sem meios, que nós

tínhamos, financeiro e, no entanto, ela fazia comida para elas depois distribuírem lá dentro

ós outros.280 Esta atitude era tanto mais importante pelo conforto que trazia a quem estava

preso ao saber que os seus entes queridos estavam a ser apoiados, ao mesmo tempo que

era a comida vinda do exterior que alimentava os prisoneiros já que as refeições na cadeia

eram mal confecionadas e pouco alimentícias. É simultaneamente um acto de coesão da

comunidade sob o ideal de resistência, neste caso passiva, de apoio e suporte à oposição.

Alexandre Castanheira, membro do MUD Juvenil, era referenciado como

secretário de propaganda de Henrique Barbeitos e de Pinto Gonçalves, com quem

participou numa sessão de propaganda em Setúbal no clube Avenida no dia 27, sob a

presidência de Gonçalves.281

O concelho era tido pelos oposicionistas como um dos seus bastiões e assim pode-

se ler na mensagem enviada por Norton de Matos que, como antigo republicano,

certamente tinha presente a precocidade da implantação da República em Almada.282

No último dia do mês eram inauguradas entre 44 a 50 moradias no bairro dos

pescadores da Costa da Caparica pelo subsecretário de Estado das Corporações numa

cerimónia onde estiveram presentes o delegado do governo para os organismos de pesca,

o secretário-geral da Sociedade de Arrasto, o presidente da Câmara, o director da Escola

Profissional de Pesca, o presidente da Junta Central das Casas de Pescadores, o inspector

das obras públicas, o presidente da União Nacional de Almada, o comandante da

guarnição de Almada, o prior da Costa da Caparica, o presidente da junta da freguesia da

Caparica, o director do Jornal do Pescador, o chefe dos serviços de assistência aos

pescadores e outras autoridades corporativas e administrativas.283

280 Associativismo / Alexandre Castanheira, FON ORA ASS 177, 20 e 21 de Julho de 2006, p.13 281 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.85; Em Setúbal, “Diário

Popular”, nº2272, 26 de Janeiro de 1949, p.9 282 Foram jornadas de entusiasmo e de fé democrática as sessões realizadas em Almada e Grândola,

“República”, 27 de Janeiro de 1949, p.7; Sessões de propaganda da candidatura do sr. general Norton de

Matos realizaram-se na Foz do Douro, em Alpiarça, Estarreja e Almada, “O Século”, nº24002, 22 de Janeiro

de 1949, p.8 283 “A soma e a qualidade dos benefícios concedidos pelas Casas dos Pescadores representam o mais

extraordinário contraste com a situação anterior ao advento da Revolução Nacional” – disse o sr.

subsecretário das Corporações na inauguração do bairro para pescadores na Costa da Caparica, “O

Século”, nº24012, 2 de Fevereiro de 1949, pp.1;9; Na Costa da Caparica inaugurou-se o bairro dos

pescadores, “Diário de Notícias”, nº29799, p.1; Na Costa da Caparica o bairro de pescadores foi ontem

inaugurado pelo subsecretário de Estado das Corporações, “Diário Popular”, nº2277, pp.1;8; “Ruínas e

miséria; fome e mendicidade; analfabetismo e ignorância; tugúrios e barracas miseráveis em vez de lares

foi o que a organização corporativa encontrou em toda a população da beira-mar” – afirmou o

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O regime celebrou-se a si mesmo numa cerimónia de inequívoco pendor

eleitoralista e devidamente encenada com a colocação à entrada da povoação, segundo o

Diário da Manhã, de dois dísticos onde se lia «Sejam benvindos (sic)» e «Mais uma obra

do Estado Novo». Mota Veiga, o subsecretário de Estado das Corporações, entrega a

chave da primeira moradia ao pescador Nicolau Gonçalves que afirmou a unidade entre

os pescadores e o Estado Novo selada no voto da classe ao presidente Carmona e depois

ouviu-se o hino nacional tocado pela banda de música da Casa dos Pescadores, seguido

de uma manifestação de 300 crianças dessa instituição ao presidente da câmara de Almada

e ao subsecretário de Estado das corporações.284

Tal como em 1945 quando se inaugurou a secção desportiva da Casa dos

Pescadores, o regime servia-se desta estrutura para celebrar a sua acção no concelho como

se pode ler no auto-elogio de Sá Linhares à sua obra enquanto presidente da edilidade.285

O Estado Novo foi ajudado nesta acção pelo pároco Baltasar Dinis de Carvalho e por

Henrique Tenreiro. O primeiro, representante da igreja tradicional e reacionária, como

elemento doutrinador dos pescadores, maioritariamente analfabetos pregando-lhes os

benefícios da situação política então vigente.286 O segundo, ao funcionar como elo de

ligação ao poder central, dinamizava a nível local várias iniciativas de cariz social, tais

como a inauguração do Hospital da Misericórdia em 1947 e a construção do Centro de

Assistência Social da Trafaria em 1943, com o fito de aproximar as pessoas do regime ao

passar a mensagem de que este cuidaria delas.287

Na verdade, o concelho de Almada apresentava esta dicotomia entre indústria e

urbanidade, por um lado, nas freguesias de Almada e da Cova da Piedade e ruralidade,

Subsecretário das Corporações na entusiástica inauguração do novo bairro dos pescadores na Costa da

Caparica, “Diário da Manhã”, nº6365, 2 de Fevereiro de 1949, pp.2;6 284 “Ruínas e miséria; fome e mendicidade; analfabetismo e ignorância; tugúrios e barracas miseráveis

em vez de lares foi o que a organização corporativa encontrou em toda a população da beira-mar” –

afirmou o Subsecretário das Corporações na entusiástica inauguração do novo bairro dos pescadores na

Costa da Caparica, “Diário da Manhã”, nº6365, 2 de Fevereiro de 1949, p.2 285 “Ruínas e miséria; fome e mendicidade; analfabetismo e ignorância; tugúrios e barracas miseráveis

em vez de lares foi o que a organização corporativa encontrou em toda a população da beira-mar” –

afirmou o Subsecretário das Corporações na entusiástica inauguração do novo bairro dos pescadores na

Costa da Caparica, “Diário da Manhã”, nº6365, 2 de Fevereiro de 1949, p.6; Nós queremos Salazar!” disse

a gente do mar da Costa da Caparica numa sessão que ali realizou para celebrar a fundação da secção

desportiva da Casa dos Pescadores, “Diário da Manhã”, nº5202, 29 de Outubro de 1945, p.3 286 “A soma e a qualidade dos benefícios concedidos pelas Casas dos Pescadores representam o mais

extraordinário contraste com a situação anterior ao advento da Revolução Nacional” – disse o sr.

subsecretário das Corporações na inauguração do bairro para pescadores na Costa da Caparica, “O

Século”, nº24012, 2 de Fevereiro de 1949, pp.1;9; 287 Ibidem, p.9; RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem

Sul : Almada 1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1995, pp.207-208

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por outro lado, nas freguesias da Trafaria e da Costa da Caparica. A falta de estudos sobre

as freguesias rurais impossibilita-nos de compreender se a população era, de facto,

alheada da política ou, se as suas acções eram mais facilmente silenciadas. Os pescadores

sobretudo foram apropriados tanto pelos autores neo-realistas, como Alexandre Cabral

ou Romeu Correia, que ao retratarem a sua miséria estavam a mostrar o fracasso do

regime em elevar a qualidade de vida dos trabalhadores, como pela Situação. Neste caso

Mota Veiga encerra a sessão ligando os pescadores, afirmação do “valor da raça sua

vocação marítima”, à obra do Estado Novo de ressurgimento da nação e da glória do seu

Império construído por aquela “gente heroica e sofredora”.288 Com certeza que a gente

do mar tinha o mínimo de consciência relativamente à dureza da sua vida e aos poucos

auxílios que recebiam, mas, talvez a implantação da Casa dos Pescadores, sob o comando

de Henrique Tenreiro, um homem forte do regime, e a sua falta de politização e

organização enquanto classe obstaculizava a sua acção reivindicativa.

A 2 de Fevereiro deu-se um novo comício oposicionista desta vez na Sociedade

Incrível Almadense sob a presidência de Mário Azevedo Gomes, ladeado por Maria

Isabel de Aboim Inglês e Viriato Gomes e contando como oradores Rodrigues Lapa,

Aboim Inglês, Nuno Rodrigues dos Santos, Pinto Gonçalves, Magalhães Godinho e

Germano da Costa.289

Germano da Costa290 criticou na sua alocução a política assistencial do Estado por

meio das Caixas de Previdência e denunciou as condições de trabalho das mulheres e dos

proletários em geral que eram obrigados a labutar mesmo quando estão doentes tendo

sido longamente aplaudido pela numerosa assistência.291 Este oferece também um

exemplo de resistência passiva já que os assistentes na sua maioria operários selam a sua

aquiescência por meio do aplauso o que significa que apoiam fortemente as críticas feitas

à ditadura.

288 Na Costa da Caparica inaugurou-se o bairro dos pescadores, “Diário de Notícias”, nº29799, p. 7 289 O Povo de Almada aclamou, mais uma vez entusiasticamente o senhor General Norton de Matos a

República e a Democracia, “República”, nº6554, 3 de Fevereiro de 1949, p.3; A “República” em Portugal

(Almada) Fevereiro, 5, “República”, nº6557, 6 de Fevereiro de 1949, pp.5;7 290 Era operário corticeiro e uma personagem algo controversa no meio associativo piedense, onde esteve

ligado especialmente à Cooperativa Piedense, devido às relações que alegadamente teve com os mandantes

da terra além de ser conhecido pelos discursos vibrantes e pujantes que produzia. (Entrevista a Mário

Araújo, 29 de Maio de 2018) 291 O Povo de Almada aclamou, mais uma vez entusiasticamente o senhor General Norton de Matos a

República e a Democracia, “República”, nº6554, 3 de Fevereiro de 1949, p.3

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Viriato da Conceição Gomes, chefe da secretaria judicial no concelho, aparece

referenciado pela PIDE como organizador das sessões e participante activo na

propaganda para a inscrição nos cadernos eleitorais junto do operariado corticeiro.292

logrando algumas inscrições que depois seriam cortadas pelos elementos do regime.

Estava previsto um último comício na SFUAP a 7 de Fevereiro presidido por José

Carlos Pinto Gonçalves e tendo como oradores José de Matos da Silva, Maria Laura

Fernandes, Raul Pina, Alexandre Castanheira, Mário Soares, Bernardina Felgueiras e

Jorge Coelho da Silva.293 Contudo, este foi cancelado pelo representante do governador

civil presente na sessão já que Pinto Gonçalves não conseguiu comparecer devido ao

prolongamento de uma reunião que teve em Setúbal.294 Pode-se especular que nesta se

tivesse discutido a desistência de Norton de Matos que viria a suceder no dia seguinte,

embora não tenhamos elementos suficientes para o afirmar com certeza.

Esta campanha teve uma forte participação da juventude como recorda José de

Matos da Silva, à época com 20 anos: “Até, até, a própria sala foi toda pintada por nós e

os dizeres que lá estavam lá dentro da sede do Clube Recreativo Piedense, sede não, salão,

não é? Toda essa organização foi feita por nós, não é? Os letreiros lembro-me de um que

lá estava «Saudamos o paladino da liberdade general Norton de Matos»”295 Raul Costa,

com 12 anos, distribuiu propaganda vinda do Barreiro com o seu irmão Vitor e com

Manuel José Lourenço no cinema do Clube Recreativo Piedense ante o alheamento da

GNR que patrulhava a sessão.296

O MUD Juvenil em Almada tendia a assumir este trabalho de bastidores, na

preparação das campanhas e nas actividades de agitação. Não surpreende que assim fosse,

já que os seus membros eram jovens que não tinham a prendê-los responsabilidades

familiares ou laborais. Ao mesmo tempo, a irreverência própria da juventude dava ânimo

para a concretização das tarefas. O MUD, por contraste, era composto por elementos mais

velhos, alguns já com passado político, como os velhos republicanos. Era, portanto, uma

força mais madura que escolhia os candidatos e servia também, em certas ocasiões, como

oradores, como no caso de Pinto Gonçalves.

292 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.85-86 293 Na Cova da Piedade Nova sessão de propaganda eleitoral oposicionista, “República”, nº 6558, 7 de

Fevereiro de 1949, p.4 294 Entrevista a José de Matos Silva, 4 de Junho de 2018 295 Idem 296 Entrevista a Raul Costa 2 de Julho de 2018

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Com efeito, nem todos tinham a disponibilidade para tomarem parte activa na

oposição ou por temerem perder o emprego, ou por terem uma vida familiar, mulher e

filhos, que os fizesse medir as consequências de uma militância activa. No entanto, isto

não os fazia apoiantes do Estado Novo, simplesmente não tinham visibilidade. Foram

estes homens e mulheres que praticaram no concelho a chamada resistência passiva,

frequentando os comícios da oposição, requisitando nas colectividades os livros

proibidos, assistindo nas associações a actividades culturais realizadas por antagonistas

do regime, tomando parte em manifestações. Ou seja, actividades que, não obstante,

demonstrassem discordância face às instituições vigentes, não singularizavam a pessoa

que as praticavam, permanecendo anónima e sem destaque.

O grupo dos activistas esse, realmente, foi mais reduzido e isso nota-se nos

relatórios da polícia política quando os mesmos nomes ao longo dos anos aparecem

referenciados quer em campanhas eleitorais, quer em actividades dentro das

colectividades que tinham uma grande importância, como teremos ocasião de ver.

A partir de um informador a polícia política localizou as tipografias de José Alaíz

e Gráfica do Sul, em Cacilhas, onde se faziam os panfletos da oposição e destacou como

elementos mais activos na campanha Alberto Araújo, Viriato da Conceição Gomes, Raul

Adão e Silva, Emílio Beltrão, Francisco Correia dos Santos, José Braz, Henrique

Barbeitos297, José Pinto Gonçalves, Felizardo Artur, Alexandre Castanheira e José

Baptista Moura.298

Destaca-se neste aspecto Alberto Emílio de Araújo, regressado muito doente do

Tarrafal para onde foi deportado como membro do secretariado do PCP, que era colocado

durante a campanha eleitoral num camarote para ser aclamado pelo público como um

mártir da oposição. Este deve ser lido como um acto de oposição colectiva em torno de

uma figura muito prestigiada a nível local espalhando-se o boato de que ele só foi

deportado porque era mais inteligente que o Salazar. Como refere James Scott o boato

era uma forma de agressão popular, no caso de Almada contra um regime que não

representava a população do concelho que sofria com a falta de habitações dignas e com

a exploração nas fábricas.299 Ao colocarem como alvo o chefe de governo percebe-se que

297Médico da caixa de Previdência de Almada e transportou no seu veículo os convidados de Lisboa. 298 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.85-86 299 SCOTT James C., Dominação e a arte de resistência Discursos ocultos, Lisboa, letra livre, 2013, p.202

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a população o tomava como responsável directo pelo seu mal estar apresentando-o como

invejoso e desprovido de escrúpulos.

O regime, em plena Guerra Fria, foi tolerado pelas democracias ocidentais sendo

um dos países fundadores da NATO, o que levou a muitos protestos da oposição e

particularmente à prisão de Vitor Costa.300

Em 1950 era fundado na Costa da Caparica o jornal Praia do Sol que,

assim como o Nova Almada, serviu como órgão de propaganda do regime no concelho e

era financiado pela União Nacional como comprovam sucessivas notas de financiamento

do ano de 1959.301 A 13 de Janeiro de 1951 reuniu a comissão concelhia de Almada da

UN para debater a política do concelho e lançar as bases de uma campanha de filiação

sendo constituída por Amado de Aguillar, Eugénio Simões Pimenta, Augusto Edmundo

de Carvalho, tenente-coronel Adriano de Figueiredo, Santos Lima, Mário Fernandes

Pinto, Vitor Soveral Simplício e Artur Silva do Cais.302

O presidente Óscar Carmona faleceu em Abril desse ano culpando o agente João

Côrte Real Machado o comandante dos bombeiros voluntários de Almada por aquela

corporação não cumprir o luto nacional decretado pelo governo apresentando a bandeira

da corporação, não a nacional, em meia haste apenas no segundo dia e por pouco

tempo.303

Ribeiro de Carvalho que era funcionário da Misericórdia, onde José Braz era

segundo provedor, foi notado por levar uma gravata vermelha para o emprego após o

falecimento do chefe de Estado e José de Matos da Silva usou nesse dia gravata às riscas

com as cores republicanas, numa atitude de festejo da morte do marechal, que não passou

despercebida à PIDE aonde foi chamado duas vezes antes de ser despedido do Arsenal.304

Como assinala Cerezales, os actos de resistência simbólica não eram sistematicamente

reprimidos possibilitando uma oposição dentro dos limites o que não impedia que a PIDE

300 PIMENTEL Irene, História da Oposição à Ditadura 1926-1974, Porto, Figueirinhas, 2013, p.273 301 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, pp.205-207União Nacional, cx. 447, mç.993, ff.492-495;497-498; 508-509 302 Comissão concelhia de Almada da União Nacional, O Século, nº24709, 13 de Janeiro de 1951, p.5 303 Ibidem, f.82 304 Entrevista a José de Matos Silva 4 de Junho de 2018

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não tomasse nota dos mesmos e os utilizasse para ostracizar e dificultar a vida a quem os

perpetrasse.305

O chefe de estado era amplamente desprezado pela população que o via como um

títere de Salazar, sem vontade própria e subordinado a ele. A sua morte não trouxe pesar

nenhum a uma população que se sentia marginalizada pelo regime, como refere Raul

Cordeiro: “Morreu, morreu, foi mais um.”306 Em finais deste ano construiu-se o Bairro

de Casas Económicas do Arsenal do Alfeite, todavia longe de beneficiar a população

operária, esta viu-se secundarizada pelos militares da Armada e pelos membros dos

organismos corporativos.307 Portanto, o ressentimento do proletariado do concelho face

ao regime tinha razão de ser já que as casas do concelho em 1950 eram maioritariamente

alugadas e as rendas ainda eram caras.308

Por outro lado, a estrutura corporativa além de pouco representativa, por não

colher aderentes junto dos operários era má administrada. Funcionava à época uma

Secretaria Sindical que conglomerava sete sindicatos, cujas direcções viviam alheadas

dos interesses dos organismos que dirigiam e subordinadas ao chefe de serviços da

Secretaria.309 A incúria foi levada ao extremo no Grémio do Comércio, extinto em 1948,

cujo presidente, que acumulava funções como Subdelegado da Mocidade Portuguesa foi

responsável por desfalques avultadíssimos, além de o livro de contas ser feito sem o

mínimo de rigor e no qual existiam múltiplas despesas indocumentadas.310 Esta situação,

como a própria IOC admitia, não contribuía para o prestígio da organização corporativa

no concelho.

305 CEREZALES Diego Palacios, Portugal à coronhada protesto popular e ordem pública nos séculos XIX

e XX, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, p.295 306 Entrevista a Raul Cordeiro. 26 de Julho de 2018 307 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.160 308 INE, Censos de 1950, Anexo Inquérito às condições de habitação da família (Vide anexos) 309 Faziam dela parte as seções de Almada do Sindicato Nacional dos Caixeiros do Distrito de Setúbal, do

Sindicato Nacional dos Operários de Construção Civil dos Distritos de Setúbal, do Sindicato Nacional dos

Descarregadores de Mar e Terra do Distrito de Setúbal, do Sindicato Nacional dos Empregados de

Escritório do Distrito de Setúbal, do Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Conservas do Distrito

de Setúbal e do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Armazém do Distrito de Setúbal. (Secretaria

Comum (Geral) dos Sindicatos e Secções com Sede em Almada. Inspecção dos Organismos Corporativos,

cx. 65, proc. 10, ff.47; 52-53) 310 Além de uma dívida superior a 20.000 $ ao Grémio dos Retalhistas do Sul, conta-se o desfalque de

14.139$04. (Grémio do Comércio dos Concelhos de Almada e Sesimbra, distrito de Setúbal, Inspecção dos

Organismos Corporativos, cx. 106, proc. 7 (não está paginado))

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As novas eleições presidenciais deram-se num período de “refluxo da oposição”

no dizer de Fernando Rosas com a clivagem entre os sectores comunistas e não

comunistas da oposição patente nos candidatos oposicionistas Ruy Luís Gomes, apoiado

pelos primeiros, e Quintão Meireles, secundado pelos segundos.311

Deu-se uma sessão de propaganda a favor deste último no salão de festas da

Incrível Almadense presidida por José Morgado Cardoso Júnior ladeado por Henrique

Barbeitos e Laura Lopes e nela participaram Carlos Alberto de Oliveira, Alexandre

Castanheira, José Pinto Gonçalves, Carlos Loureiro da Conceição, José Alaíz, Salvador

Avelar, Mário Ferreira, Carlos de Carvalho, António da Conceição Marques, António

Areosa Feio e Ernesto Nunes Pereira.

Na numerosa audiência predominava o proletariado estando a sala adornada com

os dísticos “Democrata Almadense, Luta pelas condições mínimas, Elaboração de um

recenseamento honesto, Liberdade de propaganda, Fiscalização do acto eleitoral, Viva a

República”; “Ruy Gomes candidato do Povo, da República e da Paz – Amnistia a todos

os presos políticos – Abolição da censura – Por salários melhores e contra o desemprego

– Democracia e Paz.”312

Nesta conjuntura o Cominform adoptou a partir de 1947 a directriz emanada de

Andrei Jdanov de luta pela paz que se traduziu em campanhas contra a proliferação de

armas nucleares, inscritas no Apelo de Estocolmo, o rearmamento da Alemanha

Ocidental, a bomba nuclear e a guerra da Coreia.313 Sofia do Nascimento Pinto era

aderente do Movimento Nacional de Defesa da Paz, organismo criado pelo PCP, tendo

percorrido as fábricas da Cova da Piedade com listas de apelo à paz vindo a ser presa em

1953 por ter sido denunciada por Eduardo Costa que não resistiu à intimidação policial

sobre quem lhe tinha dado a assinar uma daquelas listas.314

Em 1952 faziam parte da comissão concelhia Henrique Barbeitos, Alberto de

Araújo e José Alaíz e da comissão de freguesia do Pragal Alfredo Quaresma dos Santos,

Júlio da Silva Leitão, António da Conceição Marques, Agostinho da Conceição

Rodrigues, José Domingos Morgado, António da Rocha Simões, Cesário Diniz e

311 PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura, Porto, Figueirinhas, 2013, pp.282-283 312 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.80 313 PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura, Porto, Figueirinhas, 2013, pp.283-284 314 PIDE/DGS, SC, SR, SR, 1592/53, NT Sofia do Nascimento Pinto, ff. 30; 33-41;

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Domingos da Cruz Leitão.315 Esta já era predominantemente comunista, não se vendo já

anarco-sindicalistas, nem antigos republicanos.

A 6 de Fevereiro era preso Alexandre Castanheira em sua casa por uma brigada

da PIDE liderada por Rosa Casaco que conduziram na sua presença uma rusga ao

domicílio.316 Na véspera tinha participado numa reunião no Barreiro onde ficou a saber

que a polícia estava a fazer detenções preventivas para obstar a qualquer acção contra a

reunião da NATO em Lisboa pelo que esteve “a queimar papeis” nessa madrugada tendo

o resto sido entregue a uma vizinha da sua confiança pela mãe num cesto de pão.317 Esteve

preso até 9 de Abril em Caxias para regressar novamente à prisão a 24 de Abril lá

permanecendo até 23 de Julho.318

A 11 de Fevereiro eram presos Vitor Fernandes Costa e Manuel José Lourenço

pelo comandante da GNR de Almada, 2º sargento João Dias Alves sob a acusação de

distribuição de propaganda, em particular O Militante, e a escrita no portão da Serração

Piedense onde trabalhavam de frases contra a NATO e a guerra.319 Foram para o Aljube

e interrogados na António Maria Cardoso no dia seguinte onde negaram o que lhes era

imputado tendo Vitor Costa apenas confirmado o que lhe foi apreendido em casa e a sua

pertença ao MUD Juvenil.320 Como a PIDE não conseguiu encontrar provas convincentes

contra os arguidos libertou os dois jovens a 19 de Março .321

O principal informador da polícia política foi “Santarém” que possuía um certo

estatuto dentro do PCP e do MUD, assistindo a reuniões da comissão distrital, tendo sido

através dele que a PIDE colheu informações sobre a actividade de Pinto Gonçalves e de

Henrique Barbeitos durante as eleições de deputados de 1957 e as presidenciais de 1958.

Entende-se por informador “todo o indivíduo ligado ou com acesso a qualquer sector da

actividade política “identificando-se” por um pseudónimo e que com o pagamento do seu

315 Ibidem, f.79 316 CASTANHEIRA Alexandre, Outrar-se ou a longa invenção de mim, Porto, Campo das Letras, 2003,

pp.31-32 317 Ibidem, pp.29-33 318 Ibidem, p.33 319 PIDE/DGS, SC, PC 16/52, NT 5065 Vitor Fernandes Costa, ff.1-8 320 Foram-lhe apreendidos um panfleto contra a NATO, outro contra a guerra, outro do MND a apelar ás

eleições no contexto da campanha eleitoral de 1951 e uma folha de papel para colocar no pedestal do

monumento de mortos da Primeira Guerra Mundial a dizer “Dos jovens piedenses que desejam a paz”

Ibidem, ff.4-8; 11-14 321 Ibidem, ff.23-24; 27-28

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trabalho recebia um ordenado mensal como recibo”, distinto de um colaborador, cuja

participação é apenas pontual e paga consoante a sua validade.322

A actividade dos delatores era altamente disruptiva ao quebrar os vínculos de

comunidade sobretudo num meio pequeno e comunitário como era Almada. De realçar,

que as denúncias não eram só feitas no plano vertical, do pobre para o rico, como também

no horizontal, entre colegas de trabalho, o que ajudava a fomentar um sentimento de

insegurança e de desconfiança. Para alguns oposicionistas a certa invisibilidade dos

delatores era, em certa medida, mais intimidatória do que a força policial em si já que

condicionava os seus meios de defesa uma vez que era mais difícil identificar o inimigo

que, por vezes, podia estar próximo de mais.323 Raul Costa, em contraste, não lhes dava

importância e refere o isolamento e o achincalhamento a que eram votados aqueles que

se suspeitavam de serem informadores.324 Outra das estratégias usadas era mudar de

conversa assim que aparecia alguém suspeito normalmente, no caso dos homens, para

futebol que era um terreno neutro onde não se podia deixar escapar nada de

incriminatório.325

A 10 de Outubro de 1953 era presa Sofia do Nascimento Pinto por pertencer ao

Movimento da Paz na Cova da Piedade e nesse mesmo dia foi-lhe feita, na sua presença,

uma busca à sua residência, cujo auto recusou assinar assim como todos os autos de

declarações lavrados na PIDE.326 A polícia não conseguiu obter declarações de Sofia pelo

que interrogou o ex-marido Francisco Manuel Martins, o companheiro Vasco da Silva

Santos e as operárias Maria do Carmo Costa Fernandes, Maria da Conceição dos Santos,

Adelaide de Almeida da Silva, Fernanda Paulada de Almeida Pina, Idalina Baptista

Fernandes Lourenço, Ana Lucrécia Braz, cujos nomes apareciam em abaixos-assinados

que lhe foram apreendidos em casa a favor do referido movimento.327 Todavia, à falta de

“provas” que permitissem sustentar uma acusação Sofia foi solta a 30 de Novembro.328

322 Álvaro Pereira de Carvalho, director dos serviços de informação da PIDE citado por Irene Pimentel in

PIMENTEL Irene, Os informadores da PIDE-DGS, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007, p.98; PIMENTEL

Irene, Os informadores da PIDE-DGS, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007, pp.99-100 323 Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018 324 Entrevista a Raul Costa, 12 de Julho de 2018 325 Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018; Entrevista a Mário Araújo, 7 de Junho de 2018 326 PT/TT/PIDE/E/015/11253 ff.2;4-5;13-16 327 Ibidem, ff.13-16; 20-21;24-30 328 Ibidem, f.31

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Entretanto, em 1954 o padre Manuel Marques fundou o Jornal de Almada que,

não obstante contar com colaboradores desafectos ao regime, não se manifestava

abertamente contra a Situação o que não o livrou de alguns processos na PIDE por não

apresentar os artigos a tempo à censura motivado pela longa distância que separava a

Delegação da Censura em Setúbal da tipografia onde o jornal era impresso em Beja.329

Em Maio de 1957 era notificado para pagar uma coima de 500 $ como consequência da

publicação de dois artigos em Abril nos quais se criticava duramente as posições dos

deputados sobre o custo de vida em Portugal e em Outubro de 1969 era notificado a pagar

outra no valor de 1000 $ por ter deixado passar um artigo de apoio à oposição nas eleições

presidenciais desse ano.330

Pinto Gonçalves e Henrique Barbeitos pertenciam à comissão distrital do MUD e

à comissão concelhia do MND em Almada que reuniu em Abril de 1955 na presença de

David de Carvalho e de António José Saraiva para se decidir a ida de Saraiva a Paris

encontrar-se com Manuel Valadares a fim de conduzir na imprensa gaulesa uma

campanha contra a prisão de Ruy Luís Gomes do Conselho Mundial da Paz.331

Em 1956 os corticeiros de Almada formaram duas comissões uma local que

recebeu o delegado do Instituto Nacional do Trabalho e outra para ir a Setúbal para se

esclarecer junto do Presidente do Sindicato Nacional dos Operários Corticeiros do

Distrito de Setúbal acerca do salário mínimo.332 Manuel Calvário e Carlos Joia foram

notados pelo chefe de brigada Miguel Cardoso como os mais activos tendo Calvário

entregue na delegação do INT em Setúbal a exposição dos corticeiros ao presidente do

SNOCDS referente ao salário mínimo.333 Nesta época a indústria corticeira atravessava

329 Carta do padre Manuel Marques ao Delegado dos Serviços de Censura de Setúbal, datada de 15 de Maio

de 1957; Informação do Delegado dos Serviços de Censura de Setúbal ao Director Adjunto destes serviços

datada de 9 de Maio de 1957 (“Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa

609, pasta nº 460) 330 Registo de pagamento da coima pelo Padre Manuel Marques nos Serviços Administrativos da Delegação

dos Serviços de Censura de Setúbal, datada de 25 de Maio de 1957; Carta do Director Adjunto dos Serviços

de Censura de Setúbal ao director do Jornal de Almada, datada de 16 de Maio de 1957 (“Jornal de Almada”,

Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa 609, pasta nº 460)); ANUNCIADA Manuel d’, A

Assembleia Nacional discute o custo de vida, Jornal de Almada, nº122, 21 de Abril de 1957, pp.1;6 in

“Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa 609, pasta nº 460); Fala o

Vicente, Jornal de Almada, nº127, 21 de Abril de 1957 in “Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de

Informação, Censura caixa 609, pasta nº 460; “Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação,

Censura, caixa 560 331 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff. 76-77 332 As comissão de Setúbal foi integrada por Sofia do Nascimento Pinto, José da Cruz, Adelaide de Almeida,

Marieta Aleixo Monteiro Joia e Manuel Calvário. A de Almada era formada por Carlos Joia, Fernando

Joaquim, José da Cruz e Manuel Calvário PIDE/DGS, SC, SR 1592/53, NT Sofia do Nascimento Pinto, f.9 333 Idem, f.10

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uma grave crise com a paralisação no ano anterior de duas importante fábricas no

concelho: a Bucknall & Sons e a Cabruja e Cabruja. Esta última foi levada a tribunal pela

Secção de Almada do SNOCDS por pagar uma indemnização irrisória aos operários e

obrigada a pagar o previsto na lei.334

Nesse ano celebrou-se o 46º aniversário da implantação da República em

Almada estando a comissão comemorativa constituída por Hélio Vieira Quartim,

Firmino da Silva, Rafael Ferreira, José Alaís, José Duarte Vitorino Júnior, António

Maria dos Santos Queimado, Raimundo José Moreira, José Maria, Amadeu de Almeida

Ferrão, Óscar Penedo, Herculano Pires, Henrique Barbeitos, Francisco Açucena, Raul

Adão e Silva, João Pedro de Jesus, José Moreira335, Romeu Correia, João Romana, José

Justino de Jesus, Salvador Avelar, José de Jesus dos Santos, António Maria Ribeiro,

Felizardo Artur, Francisco Correia e Amaro Trindade Sanguinho.336 Do programa

apresentado o governador civil apenas aprovou a sessão na Incrível Almadense no dia 4

e um jantar de confraternização de republicanos deixando de fora a romagem à casa

onde nasceu Elias Garcia por razões óbvias de retirar visibilidade à celebração da

efeméride adivinhando um cortejo cívico com alguma expansão que pudesse constituir

uma manifestação aberta e espontânea de repúdio ou de questionamento das

instituições.337 Foi no sentido de exercer controlo e vigilância sob o evento que

Fernando Gouveia e a brigada liderada por Manuel de Medeiros se deslocaram a

Almada.

A sessão na Incrível Almadense foi presidida por Câmara Reis, secretariado por

Firmino da Silva e Henrique Barbeitos e teve como oradores Rodrigues Lapa, José Alaíz,

Herculano Pires, Edmundo Vieira Ferreira, João Pedro Martins Calvário e José Correia

Pires na presença de uma numerosa assistência onde foram notadas mulheres e menores.

Foi aprovada uma moção enviada por Amadeu de Almeida Ferrão e Mário Fernandes que

propunha que a comissão organizativa da sessão continuasse para organizar a nova

campanha eleitoral, ao passo que no jantar de confraternização celebrou-se um minuto de

334 Sindicato Nacional dos Operários Corticeiros do Distrito de Setúbal (Secção de Almada), Inspecção dos

Organismos Corporativos, cx.63, proc.11, f.6 335 Era sobrinho do republicano Raimundo José Moreira que atirou os santos da igreja de S. Paulo pela

rocha abaixo aquando do 5 de Outubro numa manifestação anticlerical (Entrevista a Raul Costa, 14 de Julho

de 2018) 336 PIDE/DGS, SC, SR, 50/46, NT 2513 Hélio Vieira Quartim Nuno Fidelino Lobo da Costa Figueiredo,

f.17 Vide figuras nº 7 e 8 em Anexos 337 Ibidem; PIDE/DGS,SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.68;77

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silêncio pelos que morreram pela República em 1910 e implicitamente pelos perseguidos

e mortos pelo regime.

Neste evento ainda vemos antigos republicanos, como Firmino da Silva, embora esteja já

dominado pela oposição comunista. Estes eventos constituíam momentos de contestação

ao se celebrar a democracia, a coberto da República, ou seja, não era uma comemoração

da Primeira República, mas da liberdade que existia durante a sua vigência e, portanto,

quando se vitoriava a República era este o seu significado. Era, à semelhança das

campanhas eleitorais, um momento em que, a coberto da concentração de gente, se podia

manifestar o antagonismo às instituições vigentes sem, ou dificilmente podendo, se ser

singularizado. Oferecia destarte um pretexto para a resistência passiva.

Foi neste sentido que Gouveia no seu relatório desvalorizou abertamente o

simbolismo da ocasião e especialmente a presença do povo almadense através, por um

lado, da banalização da cerimónia como mais um dia na vida dos almadenses e, por outro,

da redução propositada dos assistentes à sessão de propaganda como pouco

representativos da massa populacional da vila. Percebe-se que foi tendencioso ao procurar

ocultar o que podia ter acontecido já que, pelos testemunhos orais, sabe-se que estas

ocasiões juntavam sempre muita gente.

Em Dezembro num almoço de confraternização Henrique Barbeitos era proposto

por aclamação para integrar a Comissão Eleitoral de toda a Oposição que coordenaria a

nível nacional o recenseamento nos vários distritos do País o que demonstra o prestígio

que já tinha alcançado no meio oposicionista.338

Em 1957 integrou, conjuntamente com Herculano Pires e Francisco Açucena, a

Comissão Promotora do Recenseamento e do Voto do Distrito de Setúbal que emitiu um

documento apelando ao recenseamento eleitoral.339 Advogou a ida às urnas mesmo sem

condições numa reunião em Setembro onde se concluiu que só Almada poderia dar

alguma expressão ao acto eleitoral e que a comissão distrital eleitoral estava em

dificuldades financeiras por falta de auxílio financeiro das comissões concelhias.340

Em Outubro numa discussão acesa criticou Manuel Antunes e Paulino

Gomes por não quererem ir às urnas já que, segundo ele, mesmo sem condições, devia-

338 Ibidem, f.64 339 Ibidem, ff.62-63 340 Ibidem, ff.59-60

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se aproveitar o momento para fazer uma agitação de massas. Nessa mesma reunião Pinto

Gonçalves e Manuel Antunes eram duramente criticados por não se terem recenseado

convenientemente uma vez que representavam respectivamente os concelhos de Almada

e de Setúbal que seriam renovadas em Dezembro especialmente da parte de João

Raimundo e Valério de Almeida. Gonçalves tentou, em vão, contra-argumentar,

desculpando-se que a sua condição de advogado e proprietário o recenseavam

automaticamente.341 Pinto Gonçalves pode ter sido cortado dos cadernos eleitorais por já

ter sido preso pelo regime. Outros oposicionistas como Vitor Costa e José Inácio da Cruz

também encontraram entraves ao seu recenseamento.342 Todavia houve outros igualmente

destacados que conseguiram recensear-se como foram os casos de João Raimundo, Hélio

Quartim, Henrique Barbeitos, José Alves de Almeida, António Coelho ou José Alaís, não

obstante Quartim ter estado preso em 1943.343

As eleições estavam programadas para Novembro desconhecendo-se os processos

eleitorais, por falta de elementos, nas cinco assembleias de voto do concelho: Almada,

Caparica, Costa de Caparica, Cova da Piedade e Trafaria. Votaram, no entanto, em cada

uma delas e respectivamente, 1005, 275, 227, 1458 e 138 eleitores, embora, dado a

inexistência de cadernos eleitorais, não se possa inferir sobre a composição socio-

profissional dos potenciais sufragistas.344

341 Ibidem, ff.51-53; 57 342 AHCMA, Assembleia Nacional, 1957, livro nº2349 (PT/AHALM/CMALM/G/C/003), “Certidões

requeridas verbalmente por indivíduos não recenseados” 343 AHCMA, Assembleia Nacional, 1957, livro nº2349 (PT/AHALM/CMALM/G/C/003), Certidão de

Recenseamento de João Alberto Raimundo, 30 de Setembro de 1957; Certidão de Recenseamento de

Henrique Lima Barbeitos Pinto, 30 de Setembro de 1957; Certidão de Recenseamento de António da Silva

Coelho, 1 de Outubro de 1957; Certidão de Recenseamento de José Alaíz, 2 de Outubro de 1957; Certidão

de Recenseamento de Hélio Vieira Quartim, 3 de Outubro de 1957 344 AHCMA, Assembleia Nacional, 1957, livro nº2349 (PT/AHALM/CMALM/G/C/003), carta do

presidente da mesa da assembleia de voto na Trafaria Raimundo António Francisco para o presidente da

câmara, 3 de Novembro de 1957; carta do presidente da mesa da assembleia de voto da Cova da Piedade

Mário Fernandes Pinto para o presidente da edilidade, 3 de Novembro de 1957; carta do presidente da mesa

da assembleia de voto da Costa da Caparica para o presidente do município, 3 de Novembro de 1957; carta

do presidente da mesa da assembleia de voto da Caparica para o presidente da câmara, 3 de Novembro de

1957, carta do presidente da mesa da assembleia de voto de Almada para o presidente da edilidade, 3 de

Novembro de 1957

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II.3. Campanha de Humberto Delgado e o esfumar da

unidade (1958)

A campanha presidencial começou a pensar-se em Dezembro de 1957 participando

Henrique Barbeitos e José Pinto Gonçalves numa reunião no dia 1 em que se propôs a

candidatura de Jaime Cortesão e em casa de Barbeitos em Fevereiro de 1958 discutiu-se

a candidatura de Mário Azevedo Gomes, então considerada como uma fenda no

movimento unitário.345 Estes candidatos tinham sido propostos pelo Directório

Democrático Social de António Sérgio, ao passo que em Janeiro de 1958 já o PCP e a

Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa, formada em 1957 para concorrer às eleições de

deputados, apoiaram Cunha Leal por ser alguém que atrairia sectores moderados da

oposição e teria força suficiente para desagregar o regime.346

Na sequência da reunião de apoio ao candidato em 22 e 23 de Março presidida por

Mem Verdial Cunha Leal receberia abaixo-assinados de apoio dos corticeiros de Almada,

dos trabalhadores da Cova da Piedade e de um grupo de tanoeiros e trabalhadores de

armazém de exportação de vinhos do concelho de Almada num total de 160 assinaturas

entre os quais se contam antigos presos políticos tais como Gabriel Pedro e Sofia do

Nascimento Pinto.347

Henrique Barbeitos acompanhou em casa de Manuel Cabanas a desistência de

Cunha Leal por motivos de doença e a escolha entre Arlindo Vicente, Palma Carlos e

Cruz Ferreira tendo-se ressaltado as qualidades da personalidade de Vicente ante o seu

desconhecimento do grande público.348 Obteve, depois de escolhido Arlindo Vicente em

21 de Abril, conjuntamente com Cabanas auxílio da parte de Mário Assunção Lopes,

advogado setubalense, em termos de fundos e colocando o seu escritório à disposição

para reuniões políticas.349

345 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.48;56 346 PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura 1926-1974, Porto, figueirinhas, 2013, p.314 347Ibidem, p.315; Abaixo-assinados dos corticeiros de Almada, dos trabalhadores da Cova da Piedade e dos

tanoeiros e trabalhadores de armazém de exportação de vinhos do concelho de Almada dirigidos a Cunha

Leal com apelos á candidatura à Presidência da República em 1958, cota: AFPCL, cx. 6, mç. 4 nº 74 a 76

Vide transcrições dos mesmos em Anexos 348 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.43-44 349 Ibidem, f.39; PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura 1926-1974, Porto, figueirinhas, 2013,

p.316

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O concelho em 1958 tinha 43.510 habitantes distribuídos pelas freguesias de

Almada, que aglutinou a da Cova da Piedade, Caparica, Costa da Caparica e Trafaria. A

sua rede eléctrica continuava a ser abastecida pela UEP, contudo os consumidores não

ultrapassavam os 15720. A iluminação pública era precária, de fraca intensidade e

formada por materiais facilmente deterioráveis que não eram convenientemente

substituídos pela empresa responsável.350 As falhas de energia eram especialmente

frequentes na zona leste do concelho devido ao aumento extraordinário da população que

suplantava as melhorias efectuadas.351 Parece, destarte, duvidoso que com apenas 2083

lâmpadas no concelho para iluminação pública, com uma potência na ordem dos 7 aos 23

kW chegando aos 93 kW em Almada tivessem um consumo tão elevado de 630904 kW;

assim como o elevado número de consumidores domésticos quando o número total de

consumidores era tão baixo face ao número de habitantes, cerca de 36 %.352 A mesma

análise encontra-se num artigo de Manuel d’ Anunciada que escapou à censura sobre o

custo de vida em Abril de 1957: “Falta de conforto, de luz, de água, de higiene porque os

salários são insuficientes.”353

O concelho estava numa fase de expansão urbana, fruto da qualidade dos terrenos

que permitiam a construção de edifícios mais pequenos e baratos do que em Lisboa,

despoletando igualmente o fenómeno da construção clandestina, em particular na Cova

da Piedade e no Feijó, mercê do seu afastamento face ao centro administrativo e da

atractividade exercida pela proximidade do Arsenal, que depois seriam legalizadas.354 O

plano de urbanização de Etiènne de Gröer não foi levado em linha de conta devido aos

interesses dos homens que geriam a câmara, todos ligados à construção, pelo que se foi

construindo ao sabor dos negócios.355

350 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.209 351 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.209 352 INE, Ministério da Economia, Direcção-Geral dos Serviços Eléctricos, Estatística das Instalações

Eléctricas em Portugal, Ano de 1958, Lisboa, Imprensa Nacional, 1959, pp.226-227 353 ANUNCIADA Manuel d’, A Assembleia Nacional discute o custo de vida,” Jornal de Almada”, nº122,

21 de Abril de 1957, p.6 (“Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa 609,

pasta nº 460) 354 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, pp.190-191 355 Veja-se os casos do comandante da secção da GNR de Almada tenente António Joaquim Manuelito que

foi um pequeno construtor de moradias na Costa da Caparica durante os anos 1940 e 1950 e VirgiIio A.

Xavier, membro da UN desde a década de 1940 fundou a firma Agência Neotécnica Ltd. A qual se

dedicou a actividades de urbanização como empreitadas e construção de prédios e moradias. RODRIGUES

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O passado de Humberto Delgado ao lado do regime como dirigente da Legião e

adido da NATO nos EUA ensombrou as suas relações com o PCP patente na

caracterização que dele faz António Pereira, militante do partido desde o início da década

de 1950, como “homem do Estado” e, portanto, ligado à ditadura.356 Todavia a sua

posição francamente contrária ao regime e a sua popularidade abriram as portas a uma

colaboração entre as duas candidaturas como ficou decidido numa reunião a 12 de Maio

em Almada que juntou 40 oposicionistas do concelho sob o claro predomínio da

juventude e da qual saiu uma comissão executiva formada por Henrique Barbeitos e Hélio

Vieira Quartim, como delegados à comissão distrital; Mário Silveira, José Alaíz, João

Raimundo, Joaquim Eduardo Pereira, José Moreira, António Coelho, Argentina Ferrão e

Joaquim do Carmo, estes dois últimos como representantes respectivamente das mulheres

e da juventude.357

Delgado defendeu-se dos seus detractores, por um lado, assumindo-se como

desiludido com o regime que eternizou a ditadura e, por outro, que a sua colaboração

apenas se cingiu á sua profissão de militar.358 De resto os dois candidatos convergiam na

questão do Ultramar não apoiando nenhum deles a descolonização, mas tão só uma

unidade política que preconizasse a igualdade de direitos entre metropolitanos e

ultramarinos.359 Raby refere que a ênfase que o general punha na eficácia e na honra tanto

o colocaram em primeiro lugar contra a instabilidade da Primeira República como contra

o atavismo do Estado Novo face à robustez das sociedades democráticas americana e

britânica.360

Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-1950, Lisboa,

ISCTE, 1999, pp.205-507 356 Entrevista a António dos Santos Pereira, 26 de Abril de 2018 357 Na reunião haviam 24 elementos da Juventude, 4 representantes da mulheres, 6 da Cova da Piedade, 1

do Pragal e 4 de Almada. A candidatura do sr. Arlindo Vicente no concelho de Almada; Apontamento da

reunião pelo punho de Hélio Quartim in Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de

Documentação Museu da Cidade, 2006 ADM LOC A ELE; Apontamento da reunião pelo punho de Hélio

Quartim in Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006

ADM LOC A ELE 358 Proclamação de abertura do General Humberto Delgado A todos os portugueses da Metrópole e do

Ultramar, “República”, nº9831, 8 de Maio de 1958, p.8; Momento Histórico O sr. general Humberto

Delgado num desassombrado depoimento sobre as eleições em que é candidato à Presidência da

República, declara que não se pode viver sempre a faltar à verdade, “República”, nº9833, 10 de Maio de

1958, pp.1;9 359 Proclamação de abertura do General Humberto Delgado A todos os portugueses da Metrópole e do

Ultramar, “República”, nº9831, 8 de Maio de 1958, p.16; O manifesto do Dr. Arlindo Vicente dirigido ao

Povo Português, “República”, nº9831, 8 de Maio de 1958, p.15 360 RABY Dawn Linda, A resistência antifascista em Portugal 1941/74, Lisboa, edições Salamandra, 1990,

pp.177-183

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Gabriel Pedro foi a única voz a bradar por unidade convencido de que Delgado

era o candidato mais forte.361 Esta posição não teve eco, junto de qualquer uma das

candidaturas o que não impediu que Hélio Quartim repudiasse, em representação da

comissão executiva da candidatura de Arlindo Vicente em Almada, os ataques à

residência e sede de campanha de Humberto Delgado em Lisboa.362

Aquela comissão era composta, para além de Quartim, por Amadeu Almeida

Ferrão, António Coelho, João Raimundo e Henrique Barbeitos e a sua sede localizava-se

na Praça do Comércio, nº1, cave esquerdo363. Projectaram uma sessão na Incrível

Almadense e promoveram outra na SFUAP às 21 horas que seria presidida por Lopes de

Oliveira e teria como participantes Lilia da Fonseca, Constantino Fernandes, Domingos

Carvalho, Manuel dos Santos Cabanas, Manuel José Fernandes Lourenço, Manuel João

Palma Carlos e Francisco da Silva Sobreira.364 Contudo estas não tiveram eco na

imprensa, muito provavelmente por terem sido recusadas pelo governador civil já que a

16 de Maio os apoiantes do candidato pediram deferimento para a realização da sessão

de propaganda na SFUAP.365

A comissão concelhia de apoio à candidatura de Humberto Delgado tinha a sede

no mesmo prédio ao lado da de Arlindo Vicente e era composta por Viriato Gomes, Raul

Adão e Silva, Herculano Pires e Mário Silveira.366 A campanha, tal como a de Norton de

Matos, foi desenvolvida pelos membros do MUD Juvenil através da distribuição de

propaganda e de pichagens. Raul Costa tinha um grupo que fazia pichagens integrado por

Carlos Gouveia e Artur Nunes, este último que também servia de tipógrafo imprimindo a

propaganda que era depois distribuída.367

361 PEDRO Gabriel, Acontecimentos Vividos, Lisboa, edições avante!, 2015, pp.154-155 362 Hélio Quartim, em nome da comissão concelhia de apoio à candidatura de Arlindo Vicente, expressa a

sua desaprovação pelos desacatos ocorridos na residência e na sede de candidatura do general Humberto

Delgado in Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de Documentação, 2006 (ADM LOC A

ELE) 363 PIDE/DGS,SC,SR, 50/46, NT 2513 Hélio Vieira Quartim Nuno Fidelino Lobo da Costa Figueiredo, f.9

Ibidem; Correspondência entre a comissão concelhia de apoio à candidatura de Arlindo Vicente e o

presidente da câmara municipal de Almada, 19 de Maio de 1958 in Dossiês de Informação Eleições em

Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 (ADM LOC A ELE) 364 Correspondência entre a comissão executiva da candidatura de Arlindo Vicente e a direcção da Incrível

de 19 de Maio de 1958; Comunicado da comissão concelhia de candidatura de Arlindo Vicente, s.d. in

Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 ADM LOC

A ELE; 365 Foram eles José Alves de Almeida, João Silvestre Antunes, João Alberto Raimundo, José Anselmo

Moreira e Mário Silveira PIDE/DGS, SC, SR, 4743/58, NT 2888 José Alves de Almeida, f.4 366 Resistência: Entrevista / António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, FON ORA RES 329 p. 13 367 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018

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João Raimundo foi referenciado, em conjunto com Vitor Costa e José João

Gonçalves Lavrador como incitadores à inscrição nos cadernos eleitorais tendo sido

cortados dos cadernos da Junta de Freguesia da Cova da Piedade 37 oposicionistas,

maioritariamente corticeiros que se tinham recenseado nos dias 12, 13 e 15 de Março.368

A organização do recenseamento eleitoral ficou ao cargo de Henrique Barbeitos,

Hélio Quartim, Romeu Correia e Ramiro de Almeida Ferrão que, se dirigiram à Câmara

Municipal de Almada nos dias 8, 9 e 10 de Maio para copiarem os cadernos eleitorais

tendo-se de 49 indivíduos indeferido 25 na sua maioria corticeiros da Cova da Piedade,

embora neles se incluíssem antigos presos políticos como Vitor Costa.369 Este deu-se

368 Eram eles: João Alberto Raimundo, serralheiro e residente na Cova da Piedade; Vitor Fernandes Costa,

empregado de escritório e residente na Cova da Piedade; Domingos Alfaite Preguiça, proprietário e

residente na Cova da Piedade; José Fernando Ferreira, corticeiro e residente na Cova da Piedade; Carlos

Joaquim corticeiro e residente na Cova da Piedade; António Pereira Franco, corticeiro e residente na Cova

da Piedade; Acácio do Carmo Martins, corticeiro e residente na Cova da Piedade; Manuel José Janeiro

Ferreira, trabalhador e residente na Cova da Piedade; José Gonçalves Baía, cortador e residente na Cova da

Piedade; Alfredo Mogo Canana, empegado de escritório e residente na Cova da Piedade; José Henriques

da Cunha, pedreiro e residente na Cova da Piedade, Jorge Vieira Neto, empregado de armazém e residente

na Cova da Piedade; Manuel Pereira, sapateiro e residente na Cova da Piedade; Emilio Leandro Sabino,

barbeiro e residente na Cova da Piedade; António Ezequiel Pereira Casanova, empregado de escritório e

residente na Cova da Piedade, Mário Coelho Caeiro, alfaiate e residente na Cova da Piedade; Antônio

Gomes, industrial e residente na Cova da Piedade; André Marques Valente, carroceiro e residente na Cova

da Piedade; José Justino de Jesus corticeiro e residente na Cova da Piedade; Romão Coelho Rosalino

trabalhador e residente na Cova da Piedade; Raul Jacinto carpinteiro e residente na Cova da Piedade; José

João Gonçalves Lavrador gerente comercial e residente na Cova da Piedade; Helder Oliveira Cabrita,

corticeiro e residente na Cova da Piedade; Armando Moura trabalhador e residente na Cova da Piedade;

Caciano Francisco da Glória traçador e residente na Cova da Piedade; Francisco Sequeira Correia

empregado de comércio e residente na Cova da Piedade; Rogério de Carvalho Anacieto corticeiro e

residente na Cova da Piedade; Joaquim Ferreira Soares empregado de comércio e residente na Cova da

Piedade; Horácio Varela Passarinho corticeiro e residente na Cova da Piedade; Laurentino Calvário de

Sousa Fava corticeiro e residente na Cova da Piedade; Manuel Guerreiro Rebelo empregado de comércio e

residente na Cova da Piedade, João de Sousa empregado de armazém e residente na Cova da Piedade;

Plácido Dias de Sousa ferreiro e residente na Cova da Piedade, Augusto Ramos corticeiro e residente na

Cova da Piedade, Raul Fernandes Costa empregado de escritório e residente na Cova da Piedade; Artur

Francisco Martins Nunes empregado de escritório e residente na Cova da Piedade. (PIDE/DGS, SC, SR,

395/52, NT 2703 Vitor Fernandes Costa, ff.11-13) 369 Deferidos foram: António Júlio Xavier Tavares de Almeida, empregado bancário e morador em Almada;

Américo Amorim de Carvalho, ferramenteiro e residente na Cova da Piedade; Eduardo Vieira Ferreira,

electricista e residente na Cova da Piedade; Gregório Gonçalves Silva, carpinteiro e residente na Cova da

Piedade; Joaquim da Conceição Sim Sim, funcionário público e residente na Cova da Piedade; Castelino

Gomes da Silva, serralheiro e residente em Almada; José Fernandes Ferreira, corticeiro e residente na Cova

da Piedade; António da Silva Coelho, comerciante e residente no Pragal; João Silvestre Antunes, polidor e

morador em Almada; Acácio do Carmo Martins, corticeiro e residente na Cova da Piedade; António Pereira

Franco, corticeiro e morador na Cova da Piedade; António Maria dos Santos Queimado, sargento adjunto

e residente na Cova da Piedade; Ernesto Nunes Pereira, ajudante de caldeireiro e residente na Cova da

Piedade; Francisco Nicolau da Silva, corticeiro e residente na Cova da Piedade; Ivo Manuel Martins

Calvário, soldador e residente na Cova da Piedade; Hélder de Oliveira Cabrita, corticeiro e residente na

Cova da Piedade; João Alberto Raimundo, serralheiro e residente na Cova da Piedade; João Gomes

Fernandes, serralheiro e residente na Cova da Piedade; João Pedro Martins Calvário, corticeiro e residente

na Cova da Piedade; José Justino de Jesus, corticeiro e residente na Cova da Piedade, Noémio José Martins,

corticeiro e residente na Cova da Piedade; Virgilio Martins Fernandes, serralheiro e residente na Cova da

Piedade.

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devido a um acordo entre Barbeitos e o ajudante de notário que fez horas extraordinárias

o que permitiu que os trabalhadores se inscrevessem nos cadernos após o trabalho.370

A PIDE assinalava reuniões oposicionistas na Cooperativa Piedense e na empresa

Coelho & Pedroso e destacava como elementos activos José Braz, Francisco Marques

Açucena e Viriato Gomes, este último pertencente à comissão distrital da candidatura do

general.371

Gabriel Pedro refere o papel da sua mulher Maria Adelaide e da sua afilhada Maria

José Lopes da Silva, peixeiras de Almada, na campanha, por um lado, no

acompanhamento do general durante a sua vinda a Almada e, por outro, na sua

participação com a camioneta de venda de peixe, transformada em camioneta de

campanha, num cortejo de carros que percorreram o concelho em manifestação de apoio

ao candidato.372 António Coelho confirma que a camioneta fez o percurso da Caparica,

Fonte Santa, Trafaria e Costa da Caparica até à Cova da Piedade, no entanto não seguiu

nenhum carro a acompanhá-los devido à acção de Ernesto Castelo Branco que frustrou,

através da mentira, a iniciativa de convidar os poucos que tinham carro a acompanhá-

la.373 Raul Costa, elemento destacado nesta campanha, nega, porém, ter havido o referido

cortejo argumentando que existiam poucos automóveis no concelho para o efectivar.374

Humberto Delgado deslocou-se a Almada a 29 de Maio tendo sido recebido

efusivamente, segundo Gabriel Pedro: “(…) Era a multidão em loucura colectiva que já

Indeferidos foram: Alexandre Nunes da Fonseca, serralheiro mecânico e residente na Cova da Piedade;

António Agostinho Pereira, serralheiro e residente na Cova da Piedade; Carlos Julio Martins, serralheiro

mecânico e residente na Cova da Piedade; Caciano Francisco da Glória, traçador e residente na Cova da

Piedade; Leonel da Silva Alves, serralheiro mecânico e residente na Cova da Piedade; Salvador Soares,

trabalhador de Armazem e residente em Caparica; Jorge das Dores Araújo, serralheiro mecânico e residente

em Almada; Alfredo Mogo Canana, empregado de escritório e residente na Cova da Piedade; Armando

Henriques da Silva, empregado de escritório e residente na Cova da Piedade; Manuel Moor, empregado

comercial e residente na Cova da Piedade, Gabriel Pedro, comerciante e residente em Almada; Herminia

Lelubre do Espirito Santo, empregada de escritório e residente em Almada; Joaquim da Luz Romana,

corticeiro e residente em Almada; José das Dores Luz Romana, pedreiro e residente em Almada; Maria

Adelaide da Fonseca, comerciante e residente em Almada; André Marques Valente, carroceiro e residente

na Cova da Piedade; António Ezequiel Ferreira Casanova, empregado de escritório e residente na Cova da

Piedade; Domingos Alfaiate Preguiça, proprietário e residente na Cova da Piedade; Joaquim Trindade

Pedroso, carpinteiro e residente na Cova da Piedade; José Gonçalves Baía, cortador e residente na Cova da

Piedade; Mário Coelho Caeiro, alfaiate e residente na Cova da Piedade; Raul Jacinto, carpinteiro e residente

na Cova da Piedade; Vasco da Silva Santos, ajudante de fiol e residente na Cova da Piedade; Victor

Fernandes Costa, empregado de escritório e residente na Cova da Piedade (PIDE/DGS, SC, SR, 50/46, NT

2513 Hélio Vieira Quartim Nuno Fidelino Lobo da Costa Figueiredo, ff.12-13) 370 Resistência: Entrevista / António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, FON ORA RES 329, p.15 371 PIDE/DGS,SC,SR,3277/58,NT 2873 Francisco Marques Açucena, f.12 372 PEDRO Gabriel, Acontecimentos Vividos, Lisboa, edições avante!, 2015, p.157 373 Resistência: Entrevista / António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, pp.7-8 374 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018

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nada poderia conter. O carro não pôde avançar porque todos queriam abraçar e beijar o

general.”375 Esta acção foi acompanhada de um forte contingente policial armado,

coadjuvado pelo destacamento de Almada e o Regimento de Infantaria nº 11 de Setúbal,

que seguiu por fora da multidão acompanhando a chegada do candidato à Academia

Almadense onde foi recebido com sala cheia e ao som da Portuguesa e de gritos

ininterruptos de «Justiça», «Humberto», «Vitória»” 376 Dado a sobrelotação da sala, teve

de se ligar altifalantes para que as pessoas nos corredores e noutros salões pudessem ouvir

o que se estava a falar.377

A mesa era presidida pelo candidato e composta pelo dr. Herculano Pires, como

membro da comissão concelhia da candidatura de Delgado e pelo professor Vieira de

Almeida e participaram como oradores o dr. Pires, Manuel José Lourenço, o dr. Rodrigo

de Abreu, dr. Costa e Melo, dr. Aresta Branco, Rolão Preto e Ernesto Nunes Pereira.378

Neste comício tanto Humberto Delgado como Rolão Preto começam a sua

intervenção ao integrar o concelho na luta nacional contra a ditadura, invocando o seu

passado democrático.379 Rolão Preto devia-se ter apercebido disso pela campanha contra

os nacionais-sindicalistas movido pelo principal órgão de imprensa almadense controlado

pelos republicanos e, ainda que não tenhamos dados concretos, é possível que tenha

havido choques entre os anarco-sindicalistas que dominavam o movimento operário e os

camisas azuis que procuraram implantar-se no concelho nos anos 1930.

No término do comício decidiu-se na biblioteca da colectividade a junção das

candidaturas, acto esse selado na casa do general.380 Perto do seu fim houve uma pausa

de 30 minutos que pode muito bem ter constituído um encontro prévio entre os dois

candidatos combinando aí se encontrarem mais tarde, muito embora Delgado seja omisso

375 O general Humberto Delgado presidiu a uma sessão em Almada, onde foi recebido com entusiasmo, “O

Primeiro de Janeiro”, nº147, 30 de Maio de 1958, p.8; Ibidem, p.155 Vide fotografia nº10 em Anexos 376 PEDRO Gabriel, Acontecimentos Vividos, Lisboa, edições avante!, 2015,p.155; O general Humberto

Delgado foi vibrantemente aclamado na sessão de propaganda que anteontem se realizou em Almada,

“República”, nº 9854, 31 de Maio de 1958, p.9; FARIA Telmo, Quem tem a Tropa…, Lisboa, vega, 1998,

p.261 Vide fotografia nº 11 em Anexos 377 Ibidem 378 O general Humberto Delgado presidiu a uma sessão em Almada, onde foi recebido com entusiasmo,

“O Primeiro de Janeiro”, nº147, 30 de Maio de 1958, p.8; O general Humberto Delgado foi vibrantemente

aclamado na sessão de propaganda que anteontem se realizou em Almada, “República”, nº 9854, 31 de

Maio de 1958, p.9 379 Sessão eleitoral em Almada, “República”, nº9854, 31 de Maio de 1958, p.13 380 O general Humberto Delgado foi vibrantemente aclamado na sessão de propaganda que anteontem se

realizou em Almada, “República”, nº 9854, 31 de Maio de 1958, pp.9;13; DELGADO Humberto, Memórias

de Humberto Delgado, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991, pp.96;106

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sobre este interregno nas suas memórias. Todavia a presença de Vicente desde o início da

sessão e os constantes rumores no sentido da união das candidaturas apontam-nos para

esta análise.

Arlindo Vicente qualifica a decisão, apoiada pelo PCP três dias antes, como a

formação de uma frente de oposição na luta contra “um regime de partido único”,

enquanto o general apresenta-a como uma estratégia para frustrar os planos do governo

de declará-lo como inapto e concorrer apenas com Vicente, no faro de uma vitória certa

ao livrar-se do candidato mais popular.381

O regime procurou desvalorizá-la ficando conhecida depreciativamente no Diário

da Manhã como “Pacto de Cacilhas” que em muito insultou os apoiantes em Almada do

general que se viam retratados como os típicos burros de Cacilhas que animavam as

tradicionais festas da vila, as chamadas burricadas.382

O general na sua saída do concelho passou pela casa onde nasceu Elias Garcia e

num acto carregado de simbolismo depositou ali um ramo de flores ante as ovações de

centenas de pessoas que assistiram ao acto.383 Humberto Delgado ainda quis discursar,

todavia foi dissuadido a não o fazer pelo chefe da polícia de Almada o que provocou uma

onda de indignação nos populares que quiseram agredir a autoridade.384

As eleições dar-se-iam a 8 de Junho sendo a urna secretariada por Eugénio

Abrantes e António Mendes Gonçalves e escrutinada por José Correia Maurício.385 Do

lado da oposição foram fiscalizadas por Hélio Vieira Quartim, José Alaís, Salvador

Avelar, António da Silva Coelho, Amadeu de Almeida Ferrão, Raúl Henrique Pereira em

Almada e João Raimundo na Cova da Piedade.386

Os resultados oficiais dariam obviamente a vitória no concelho a Américo Tomaz

com 1504 votos contra os 1469 de Humberto Delgado.387 Apenas temos informação

381 Ibidem, p.106; O Dr. Arlindo Vicente explica-nos as razões da sua desistência a favor da candidatura

do general Humberto Delgado, “Diário Popular”, 30 de Maio de 1958, p.1; MADEIRA João, Uma

Primavera turbulenta, Lisboa, vega, 1998, p.55 382 O Pacto de Cacilhas, “Diário da Manhã”, nº9682, 31 de Maio de 1958, pp.1; 6; Resistência: Entrevista

/ António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, FON ORA RES 329, pp.3-4 383 O general Humberto Delgado presidiu a uma sessão em Almada onde foi recebido com entusiasmo, “O

Primeiro de Janeiro”, nº147, 30 de Maio de 1958, p.8 384 PEDRO Gabriel, Acontecimentos Vividos, Lisboa, avante!, 2015, p.156 385 Em Almada, O Primeiro de Janeiro de 1958, nº157, 9 de Junho de 1958, p.2 386 PIDE/DGS, SC, SR, 50/46, NT 2513 Hélio Vieira Quartim Nuno Fidelino Lobo da Costa Figueiredo,

f.8 387 Alguns resultados do acto eleitoral fornecidos oficialmente, nº157, “O Primeiro de Janeiro” de 1958,

p.5

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acerca das assembleias de voto de Almada e da Trafaria presididas respectivamente por

Eugénio Simões Pimenta e António da Silva Vieira tendo o candidato situacionista ganho

por uma margem reduzida e depois de se terem cortado um número elevado de eleitores.

Assim, em Almada votaram 1033 indivíduos e impedidos de o fazer 265 por

alegadamente não estarem recenseados, porém o mais lógico é estarem referenciados

como oposicionistas; na Trafaria foram às urnas 321 eleitores e impedidos de o fazer 303

pelos mesmos motivos acima citados. Os resultados oficiais em Almada deram a vitória

a Américo Tomaz com 573 votos contra os 460 de Humberto Delgado; na Trafaria os

dois candidatos tiveram ambos 161 votos. Deve referir-se ainda o impedimento do

delegado da oposição na Trafaria por não ter sido reconhecido como tal e a presença de

uma brigada da PIDE na Assembleia de Voto de Almada como medidas repressivas de

um acto eleitoral que mais uma vez terminou em farsa.388 Houve ainda, como assinala,

António Coelho muitos que não votaram no general por medo de perderem os seus

empregos por serem assinalados como oposicionistas.389

Contudo, João Raimundo na Cova da Piedade declarou a vitória de Humberto

Delgado formando-se uma ampla manifestação de regozijo no largo 5 de Outubro, ao

mesmo tempo que em Almada depois do prolongamento da contagem de votos a oposição

reclamou que lhe retiraram cem votos.390 O regime acusou os oposicionistas de

deslealdade implicando que esses sufrágios foram por eles postos antes do começo da

eleição.

Como resposta à fraude eleitoral deu-se no dia 12 de Junho uma greve que

paralisou, segundo João Madeira, 9 fábricas de cortiça, 3 serrações e 2 metalúrgicas

quedando-se nas empresas maiores pelas “faltas ao trabalho e pelos «braços caídos»” e

na Parry & Sons assim como na construção civil e no Grémio de Armadores de Bacalhau

somente durou meia hora.391 Dawn Raby escreveu que a partir de 2 de Junho a Parry &

Sons e o Arsenal do Alfeite entraram em greve.392 Raul Costa que foi quem organizou a

388 Relatório da Assembleia de Voto de Almada, 15 de Junho de 2018; Relatório de voto da Assembleia da

Trafaria, s.d in Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de Documentação, 2006 ADM LOC A

ELE 389 Resistência: Entrevista / António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, pp.16-17 390 Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018; Relatório da Assembleia de Voto de Almada, 15

de Junho de 2018 in Dossiês de Informação Eleições em Almada, Centro de Documentação, 2006 ADM

LOC A ELE 391 MADEIRA João, As greves de Junho-Julho de 1958, Lisboa, vega, 1998, p.195 392 RABY Dawn Linda, A resistência antifascista em Portugal 1941/74, Lisboa, edições Salamandra, 1990,

p.214

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greve afirma que ela arrancou a 14 de Junho e apenas logrou a paralisação da Mecânica

Piedense tendo o seu irmão Vitor sido preso na sequência disso.393 Organizou ainda uma

grande pichagem na noite das eleições como contestação aos resultados: “depois fizemos

uma pichagem intensiva (…) nas paredes, nas lojas suásticas, «morte aos traidores! Morte

aos fascistas! Morte aos nazistas!» coisas desse género, está a ver o ambiente?”394

A campanha foi profundamente galvanizadora, agitando-se as águas outrora

mansas da oposição ao regime, e teve como consequências importantes trazer ao decima

a dissidência católica e monárquica no seio do regime.395 Delgado, ele próprio um

dissidente, aspirava por uma revolução que com apoio popular fizesse cair a ditadura,

razão pela qual andava sempre fardado para a chefiar assim que ela eclodisse.396 Desde

1951 que existia da parte de alguns oficiais, ligados à NATO, aspirações reformistas que

passariam por uma possível abertura do regime e encontraram eco no presidente Craveiro

Lopes em linha de ruptura com a linha «ultra» protagonizada pelo ministro da defesa

Santos Costa.397 Todavia a campanha ao descer à rua impedia uma transição ordeira

pegando os oficiais craveiristas em armas para manter a ordem e a paz social.398

A repressão, em Almada, começou logo na véspera das eleições com a prisão de

Henrique Barbeitos, segundo António Coelho para o impedirem de fiscalizar os cadernos

eleitorais sob a acusação de pertencer ao PCP.399 Foi submetido a vários interrogatórios

e a tortura do sono tendo ficado sem dormir 3 dias e 3 noites, 4 dias e 4 noites e 5 dias e

5 noites tendo declarado na sequência disso transportar funcionários do partido no seu

veículo e fornecer amostras de medicamentos para o partido.400 Foi a julgamento em Maio

de 1959 tendo a sua defesa sido assegurada por Manuel Sertório que pôs a depor várias

testemunhas todas elas situacionistas, juízes e oficiais do exército, que defenderam a

idoneidade do arguido e insistiu nas declarações obtidas através de tortura para absolver

393 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018 394 Idem 395 PEREIRA Nuno Teotónio, O arranque da dissidência católica, Lisboa, vega, 1998, pp.131-136;

QUINTAS José Manuel, Os Monárquicos, Lisboa, veja, 1998, pp.159-173 396 RABY Dawn Linda, A resistência antifascista em Portugal 1941/74, Lisboa, edições Salamandra, 1990,

p.210 397 FERREIRA José Medeiros, As Forças Armadas no contexto das eleições de 1958, Lisboa, vega, 1998,

pp.231-236; ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015,

p.238 398 ROSAS Fernando, Salazar e o poder A arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, p.242 399 PIDE/DGS, SC, PC 973/58, NT 5223 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.1; Resistência – Entrevista /

António Coelho, II parte, 28 de Fevereiro de 2014 (FON ORA RES 329), p.6 400 PIDE/DGS, SC, PC 973/58, NT 5223 Henrique Lima Barbeitos Pinto, f.1

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o seu cliente. Durante o julgamento os agentes Frutuoso Marques e Adelino Tinoco

entraram em contradição sobre a sua presença nos autos de inquirição o que foi

aproveitado por Sertório para argumentar os métodos ilegais usados pela polícia.401 Não

obstante, Barbeitos foi condenado a um ano de prisão, com desconto da já sofrida e

suspensão dos direitos políticos por 3 anos.402

Vitor Costa seria preso novamente a 14 de Junho sob a suspeita de pertencer à

comissão organizadora das greves da margem sul do Tejo e a 16, sob interrogatório,

negou a sua participação nas greves declarando ter ido trabalhar no dia da paralisação

apenas se ausentando para acompanhar a mulher ao médico, com o consentimento do

patrão.403 Foi submetido à tortura da estátua e a mais 4 interrogatórios, nos quais manteve

a postura inicial tendo sido libertado a 6 de Setembro por falta de provas suficientes que

o condenassem.404

A tortura do sono passou a ser preferida à da estátua pelos seus efeitos serem mais

dolorosos e desgastantes, além de poder ser aplicada durante períodos mais longos de

tempo.405 A administração destas torturas foram influenciadas pelo contacto que a polícia

política teve com outros serviços secretos estrangeiros nomeadamente a CIA tendo, por

exemplo, agentes da PIDE participado em cursos lecionados por essa agência em 1957

em Camp Peary, no estado da Virgínia, sob o nome de código Isolation.406

Raul Costa fugiu para Alfarim para evitar a captura tendo regressado pouco depois

a Almada por lhe terem dito que libertariam o seu irmão, caso ele se apresentasse. No

escritório da Mecânica Piedense foi alvo da intimidação de um inspector da PIDE que lhe

disse: “Olha bem para a minha cara! Tu já estiveste preso pela Guarda Republicana em

1957. Desta vez não vais preso, mas podes ter a certeza pá, quando vejo uma cara não me

esqueço, a próxima que caíres lá em Lisboa pagas todas juntas!”407

401 Idem, ff.84-87 402 Idem, f.86 403 Idem, ff.3-7 404 Foram eles nas seguintes datas: 17 de Junho, 23 de Junho, 18 de Julho e 18 de Agosto (Idem, ff.8-10;

14-16; 19-22) 405

MADEIRA João, PIMENTEL Irene, FARINHA Luís, Vítimas de Salazar: Estado Novo e violência

política, Lisboa, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007, p.108 406 Ibidem, p.109 407 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018

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Na sequência da greve agudizou-se a repressão tendo sido presos na Cova da

Piedade Raul Antunes Cordeiro e José Alves de Almeida a 28 de Outubro, José Inácio da

Cruz em Lisboa a 7 de Novembro e Albertino Ferreira de Oliveira na Cova da Piedade a

8 de Novembro acusados de pertencerem ao PCP.408

Raul Cordeiro declarou ter sido aliciado por José Alves de Almeida a entrar para

o partido com o qual organizou, sob o controlo do funcionário “Jorge”, uma estrutura

partidária dentro da Cooperativa Piedense e da SFUAP materializada na preparação de

sessões culturais para os associados, em especial recitais, exposição de livros e passagem

de documentários cedidos pelas embaixadas de Canadá, França e Grã-Bretanha, tendo

ficado posteriormente mais ligado à Sociedade Filarmónica Incrível Almadense.409

Esteve em isolamento em Caxias entre 29 de Novembro de 1958 e 19 de Janeiro de 1959

por se ter recusado a responder sobre a proveniência de panfletos apreendidos pela polícia

na sua residência e foi mantido na prisão sem culpa formada tal como José Alves de

Almeida, José Inácio da Cruz e Albertino Ferreira de Oliveira até Abril de 1959 quando

a polícia preparou o relatório que seria a base para o seu julgamento.410 Julgado no 2º

Juízo do Tribunal Criminal da comarca de Lisboa em dois anos e 3 meses de prisão,

suspensão dos direitos políticos por 15 anos, na medida de segurança de internamento

indeterminado entre 6 meses e 3 anos e o mínimo de imposto de justiça tendo sido posto

em liberdade condicional em Julho de 1964, revertida para definitiva em Outubro de

1969.411

José Alves de Almeida, declarou ter aderido ao MUD Juvenil em 1949 e ao PCP

em 1954 ficando ligado com Cordeiro ao organismo partidário dentro das colectividades

representando nele a Cooperativa Piedense e a SFUAP da qual era segundo secretário.412

Foi condenado, tal como José Inácio da Cruz e Albertino Ferreira de Oliveira, pelo 2º

Juízo do Tribunal Criminal da Comarca de Lisboa a 2 anos e 2 meses de prisão maior,

suspensão de direitos políticos por 15 anos, na medida de segurança de internamento

indeterminado, de 6 meses a 3 anos e no mínimo do imposto de justiça. Foi posto em

408 PIDE/DGS, SC, PC 1195/58, NT 5243 José Alves de Almeida, ff.2;5;21;24 409 Ibidem, ff.7-10 410 Ibidem, ff.31; 42;57;59; 70;101 411 Ibidem, ff.127-128; 309 412 Ibidem, ff.8; 15-17

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liberdade condicional a 25 de Agosto de 1964 que transitou para definitiva em Julho de

1969.413

José Inácio da Cruz declarou ter pertencido ao MUD Juvenil até fins de 1956 no

qual esteve ligado a Alves de Almeida e a Carlos Franco que lhe entregavam o jornal do

movimento tendo a partir daquela data aderido ao PCP ficando integrado com Cordeiro e

José Alves de Almeida no organismo partidário das colectividades no qual representava

a Incrível Almadense da qual era director.414 Esteve preso até Agosto de 1964 quando foi

posto em liberdade condicional, transitada para definitiva em Outubro de 1969.415

Albertino Ferreira de Oliveira declarou a 17 de Novembro de 1958 que aderiu ao

MUD Juvenil em 1954 ficando ligado a Rebelo e a Domingos dos quais passou a receber

o jornal A Juventude tendo conjuntamente com Aurélio, Domingos e Rebelo participado

em diversas reuniões no jardim da Cova da Piedade nas quais se discutia a organização

de festas e passeios do movimento.

Em 1955 formou com António Mendes, Domingos e Aurélio a comissão concelhia

do MUD Juvenil em Almada, além de pertencer à comissão distrital e estar ligado à

comissão central por Armando Myre Dores. Da comissão concelhia fizeram

posteriormente parte Casanova, António Biscoito, Carlos, Fernando, João Pedro e

Eduardo Simões.

Em 1956 participou no Seixal numa reunião da comissão distrital de Setúbal na

qual entrou para o PCP a convite de José Gomes, elemento que controlava o MUD Juvenil

na margem sul, e numa reunião de membros das comissões distritais em Agosto de 1957

na qual se discutiu a organização de excursões que possibilitassem o convívio de jovens

de vários pontos do país.416

As casas dos detidos eram alvo de busca policial para a qual, como recorda Irene

Pimentel, não era usado qualquer tipo de autorização policial ou mandado de captura.417

A PIDE devassava tudo em busca de alguma coisa que incriminasse os presos, como

413 Ibidem, ff.127-128; 281; 284; 414 Ibidem, ff.23; 36 415 Ibidem, ff.188-189; 299; 416 Ibidem, ff.26; 32-35 417 PIMENTEL Irene, a história da PIDE, Lisboa, Circulo de Leitores, 2016, p.343

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conta Camélia Cordeiro, esposa de Raul: “Até de uma mala que eu tinha com a roupa do

bebé, eles deitaram tudo para o chão, eles deram a volta a tudo, tudo, tudo.”418

Os presos foram submetidos a tortura no primeiro interrogatório no qual nada

disseram tendo a todos sido extorquidas declarações a partir do segundo. Raul Cordeiro

suportou 72 horas de estátua ao fim das quais caiu tendo sido violentamente pontapeado

no pé direito para o forçarem a levantar.419 A polícia esperava deste modo desorientar o

preso e forçá-lo a abrir-se depois de ser submetido a períodos de isolamento, como estes

almadenses foram em Caxias.420

Os presos mais combativos como Raul Cordeiro eram por vezes provocados pelos

guardas de modo a serem postos no segredo. Raul esteve lá 20 dias por ter respondido

torto ao director da cadeia de Caxias que o ofendeu deliberadamente para ter um motivo

para o punir.421 Tal como Albertino Ferreira de Oliveira, José Alves de Almeida e José

Inácio da Cruz foi alvo de várias sanções disciplinares demonstrativas da capacidade

destes homens em continuarem a lutar num terreno hostil e com os poucos meios que

tinham.422

Os reclusos tiveram de suportar condições degradantes enquanto estiveram nas

cadeias privativas da PIDE no Porto, localizadas em antigas cavalariças, requerendo ao

longo do ano de 1961 uma série de consultas médicas sendo as queixas mais frequentes

dores de cabeça, insónias, tosse e abatimento de peso.423 Segundo Victor Barros a

violência do sistema prisional tinha como missão regenerar o preso por via do trauma

418 Resistência – Entrevista / Raul Cordeiro e Camélia Pateiro FON ORA RES 47, 2009 (não está paginado) 419 Resistência – Entrevista / Raul Cordeiro e Camélia Pateiro FON ORA RES 47, 2009 (não está paginado) 420 PIMENTEL Irene, a história da PIDE, Lisboa, Circulo de Leitores, 2016, p.349 421 Entrevista a Raul Cordeiro, 18 de Julho de 2018 422 José Alves de Almeida foi alvo de 4 sanções disciplinares: em 26 de Janeiro de 1959 privado de

exercício ao ar livre por 2 dias; em 11 de Fevereiro de 1960 privado de visitas por um mês; em 11 de

Outubro de 1960 isolado na própria cela por 15 dias; em 2 de Janeiro de 1961 privado de visitas por 2

meses. (PIDE/DGS, SC, PC 1195/58, NT 5243 José Alves de Almeida, f.196)

José Inácio da Cruz foi punido com 3 sanções disciplinares: em 26 de Agosto de 1960 privado de exercício

ao ar livre por 3 dias; em 11 de Outubro de 1960 isolado na própria cela por 15 dias; em 2 de Janeiro de

1961 privado de visitas por 2 meses. (Idem, f.197)

Raul Cordeiro e Albertino Ferreira de Oliveira foram castigados com 5 sanções disciplinares: em 26 de

Outubro de 1959, privados de exercício ao ar livre por 2 dias; em 11 de Fevereiro de 1960, privados de

visitas por um mês; em 26 de Agosto de 1960, privados de exercício ao ar livre por terem secundado,

conjuntamente com Inácio da Cruz, o protesto de Belchior Alves Pereira contra a proibição de se correr no

recreio; em 11 de Outubro de 1960 isolados 15 dias nas próprias celas; em 2 de Janeiro de 1961 privados

de visitas por 2 meses. (Idem, ff. 195; 199) 423 PIDE/DGS, Del P, PI 26802, NT 3865 José Alves de Almeida, ff.1-124

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debilitando-os e despersonalizando-os com o intuito de os afastar do seu grupo de

pertença e os fazer entrar na esfera do regime.424

José Alves de Almeida refere ao director da cadeia as condições da sua cela: “A

sala onde me encontro é de tal modo húmida que a roupa pendurada nas paredes aparece

de um dia para o outro cheia de bolor, e, como somos vinte presos nesta sala em que o

arejamento é insuficiente, fácil é verificar quanto a minha saúde se pode ressentir.”425

Raul Cordeiro notava também à sua mulher: “ o calor insuportável quando aquece que já

te descrevi há ainda a falta de higiene, pois que agora [Outubro de 1961] cortam-nos a

dose de sabões ao meio além de conflitos que já houve por causa de cortes de água.”426

José Inácio da Cruz tinha quase todo o estômago ferido, em virtude de uma úlcera

duodenal, necessitando ser operado, não obstante na cadeia não lhe ser administrada a

dieta que lhe fora recomendada pelo médico consistindo em meio litro de leite a cada

refeição.427 O próprio descreve a sua situação ao director da cadeia: “nos últimos dias,

comecei a sofrer de dores no estômago, que têm aumentado de intensidade a ponto de

muitas refeições não me ser possível comer mais do que a sopa, apesar desta tambem me

fazer mal, por conter hortaliça. No dia 19 do corrente [Fevereiro de 1961] comecei a

receber meio litro de leite como reforço, mas isto sr. Director, é insuficiente, porque as

refeições na sua maioria são guizadas e feitas com carne de porco e picantes. E mais sr.

Director a sopa, além de ter sido sempre a mesma desde há um mês, é muito pouco

alimentícia, por conter pouquíssima gordura.”428

Raul Cordeiro contraiu uma bronquite devido às condições das celas tendo a sua

esposa se correspondido com o Ministro da Justiça a solicitar que fosse transferido para

outra prisão.429 O subdirector da PIDE ripostou ao ministro de forma exemplar: “(…)

naquele estabelecimento prisional, todos os detidos e reclusos são convenientemente

assistidos clinicamente, não constando que tenha sido feita qualquer proposta no sentido

de se proceder a transferência de internados por motivos de doença. Por último, esclarece-

se V. Exª que a carta dirigida a Sua Excelência o Ministro da Justiça, não constitue mais

424 BARROS Victor, Campos de Concentração em Cabo Verde, Coimbra, Imprensa da Universidade de

Coimbra, 2009, p.46 425 PIDE/DGS, Del P, PI 26802, NT 3865 José Alves de Almeida, f.217 426 Idem, f.178 427 PIDE/DGS, SC, E/GT 1241, NT 1455 José Alves de Almeida, f.4Ibidem, ff.125-126 428 Idem, f.212 429 Foram duas cartas datadas respectivamente em Maio e Novembro de 1961 (Idem, ff.157;193)

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que uma das muitas e usuais manobras (…) do “partido comunista português” que impõe

aos familiares dos presos, o envio de cartas e postais a todos os membros do Governo,

contendo proclamações sobre a situação dos presos que designam por “políticos.””430

Outra das consequências mais duras das prisões era o apartamento das famílias

que delas resultava, especialmente doloroso no caso de se ter filhos de tenra idade, como

aconteceu com José Alves de Almeida e José Inácio da Cruz, por serem impedidos de

acompanhar o seu crescimento. Por outro lado, as visitas estavam sujeitas a uma série de

constrangimentos desde a deslocação à cadeia como a restrição sobre o que se podia dizer

e quem podia visitar o preso que deviam ser apenas familiares directos. Como colocou

Alves de Almeida ao director da cadeia: “nem em regime de incomunicabilidade me era

vedado escrever diáriamente; as visitas desde que passei à comunicabilidade também têm

sido diárias, ao passo que, presentemente, só me é permitida uma visita semanal e com

dia e hora marcadas. Tendo a minha família que percorrer cerca de 700 km para me visitar

só pode estar comigo uma hora, pois tem de regressar imediatamente, uma vez que só

pode voltar a ver-me na semana seguinte.”431

Os presos não reclamavam só ao director da cadeia como também aos ministros

do Interior e da Justiça como notou o ofício do subdirector da cadeia do Porto que mandou

reter 14 requerimentos ao Ministro da Justiça entre os quais se contava os de Albertino

Ferreira de Oliveira, Raul Cordeiro e José Inácio da Cruz.432 Contudo, além de poderem

sofrer represálias, eram sempre recebidos com indiferença pelos membros do governo

notada ironicamente por Raul Cordeiro: “Na verdade eu é que andava enganado. Isto na

verdade é muito bom, tem todas as condições, tenho tudo quanto necessito. Só que ando

há três meses à espera de ser consultado pelo oftalmogista. Mas isso é questão de

pormenor que não tem qualquer importância. E ainda acabo por apresentar as minhas

humildes desculpas.”433

As agruras do encarceramento fortalecem os laços de solidariedade entre os

detidos recusando-se Raul Cordeiro, Albertino Oliveira, José Inácio da Cruz e José Alves

de Almeida a jantar a 7 de Dezembro de 1961 como protesto contra as agressões sofridas

por Camilo de Oliveira Santos Costa às mãos da polícia.434 Segundo Raul Cordeiro, o

430 Idem, ff.160-161 431 Ibidem, f.217 432Ibidem, f.187-188; 190; 192 433 Ibidem, f.201 434 Ibidem, ff.163-166

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sofrimento às mãos da polícia moralizavam o preso para resistir porque acreditavam ser

vítimas de uma brutalidade e que estavam a lutar por uma causa justa. Raul Costa segue

a mesma linha referindo as pichagens que se faziam sempre que um camarada era preso:

“Agente não parava (…) tínhamos a nossa organização própria, eramos auto-

suficentes.”435 Todavia também existe o reverso da medalha dos que foram presos e

passaram a ser informadores da polícia como aconteceu com Carlos Gouveia que

participou em diversas acções com Costa.

Para as esposas e para os filhos privados do ente querido não era menos doloroso.

Paulina Santos de Almeida, esposa de José Alves de Almeida, correspondeu-se com o

Ministro da Justiça a pedir que o marido fosse transferido das cadeias do Porto, onde

esteve desde Janeiro até Dezembro de 1961, para outra mais próxima para que pudesse ir

visitá-lo com a filha “de cinco anos que me pede continuamente para ver o paizinho sem

que eu consiga satisfazer o seu desejo!”436

Outro aspecto que causava tensão entre os familiares e a autoridade era a

interrupção de visitas como aconteceu a Ofélia do Nascimento Cruz quando visitou o

marido no Aljube em Dezembro de 1959 e criticou as condições em que o esposo estava

preso sendo expulsa à força da cadeia por ter protestado contra o término abrupto da

visita.437

James Scott teorizou acerca do discurso oculto por parte dos subordinados que

procuravam por esta via contestar o poder dominante numa linguagem codificada para

escapar a represálias. Os presos políticos fizeram-no nas visitas para avisar os camaradas

de que a sua prisão estava iminente. Um caso desses ocorreu com José Inácio da Cruz

numa visita com a sua mulher: “Ó Ofélia como é que vão os coelhos pá? Eles coitados

andam lá no quintal abandonados, e aquele coelho de cobrição, (…) que é tão bom coelho,

se lá vão os gatos tenho uma pena do bichinho, às vezes lembro-me se vão lá os gatos,

pronto.”438 Neste contexto, usa-se uma metáfora de caça em que os “gatos” são a PIDE e

o “coelho de cobrição” é António Coelho que deveria ser avisado de que estava prestes a

ser capturado pela polícia. Coelho foi avisado a tempo e conseguiu fugir para o Norte.

435 Entrevista a Raul Costa, 5 de Julho de 2018 436 PIDE/DGS, SC, PC 1195/58, NT 5243 José Alves de Almeida, f.163; PIDE/DGS, Del P, Cad 11709,

NT 3447 José Alves de Almeida, f.1 437 Ibidem, f.48 438 Resistência- Entrevista / António Coelho, II Parte, 28 de Fevereiro de 2014, FON ORA RES 329, p.19

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Por fim o concelho desenvolveu-se durante os anos 1950 e 1960 numa cidade-

dormitório, subalterna e dependente de Lisboa, carente de infraestruturas que servissem

os munícipes.439 Foram criadas escolas secundárias entre 1952 e 1958, mas eram

insuficientes para o número de alunos que se inscreviam por ano e os transportes fluviais

eram poucos, caros, em horários esparsos e com poucas condições para albergar os

passageiros.440 Quanto aos transportes rodoviários embora tivessem boas condições, o

largo de Cacilhas era insuficiente face ao volume de autocarros que circulavam no

concelho. É neste contexto que o Hospital da Misericórdia de Almada lança um apelo à

participação no cortejo de oferendas a reverter para esta instituição em 1960 para fazer

face às despesas com o cuidado dos enfermos.441

439 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programa de Lisboa para a Margem Sul: Almada

1938-1950, Lisboa, ISCTE, 1995, p.212 440 As escolas foram: Externato Sá de Miranda (1952), Escola Comercial e Industrial (1955) que em 1958

se desdobrou na Escola Comercial e Industrial Emídio Navarro e a Escola Preparatória D. António da Costa;

Externato Frei Luís de Sousa (1956); a secção do liceu D. João de Castro de Lisboa (1965) Ibidem, pp.210-

212 441 União Nacional, cx. 447, mç. 993, ff.490-491

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III. Movimento associativo

A primeira colectividade de cultura e recreio a ser fundada no concelho foi a Sociedade

Filarmónica Incrível Almadense a 1 de Outubro de 1848 já num período em que as

primeira indústrias se fixavam no concelho.442 Romeu Correia aponta que em 1820 havia

a Sociedade Pedro Marques Faria que aparece também descrita no romance Caramujo de

1863 como abrilhantadora de festas populares nos tempos da guerra civil.443

Todavia foi a industrialização crescente do concelho nas últimas décadas de

Oitocentos que levou a um desenvolvimento do movimento associativo no concelho. As

novas colectividades localizaram-se na zona mais urbanizada do concelho em Almada e

na Cova da Piedade. Estas, embora tivessem uma base operária, eram conduzidas pelos

trabalhadores mais esclarecidos politicamente. Os republicanos, em particular, ajudaram

a fundar a Sociedade Filarmónica União Artística Piedense em 1889, a Academia

Almadense em 1895 e a Cooperativa Piedense em 1893.444 O anarquista Bartolomeu

Constantino foi o principal dinamizador do teatro da Academia Almadense e o presidente

da Assembleia Geral da Cooperativa Piedense.445 O socialista Jaime Ferreira Dias foi

presidente da Assembleia Geral da SFUAP e esteve também ligado aos corpos dirigentes

da Cooperativa Piedense.446

O mutualismo teve uma grande implantação na freguesia rural e piscatória de

Nossa Senhora do Monte na Caparica e surgiu como uma resposta à miséria vivida nos

campos, na pesca e nas fábricas e à falta de assistência oferecida pelo poder local;

enquanto que no ínicio do século pretérito este tipo de associações constituíam uma

dezena.447 Entre elas a mais importante foi a Associação dos Operários de Cortiça

442 HENRIQUES António, A Incrível no limiar dos seus 150 anos, Volume III, Almada, SFIA, 1995, p.61 443SILVA António Avelino Amaro da, O Caramujo, Lisboa, Typographia Universal, 1863, pp.36-40 444 José Maria de Oliveira fundou a Academia em 1895, após uma cisão no seio da Incrível Almadense

devido á nova sede; Artur Ferreira de Paiva fundou a SFUAP em 1889; José Carlos de Melo foi co-fundador

do Ginásio Clube do Sul; Manuel Antão Júnior foi um dos fundadores da Cooperativa de Consumo Piedense

em 1893; Tomaz José Vieira foi fundador da Sociedade Cooperativa Almadense em 1891. (FLORES

Alexandre, POLICARPO António, Proclamação da República em Almada, Almada, Câmara Municipal de

Almada, 2011, pp.114; 161; 173; 181; 196) 445 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-

1930), Almada, Câmara Municipal de Almada, 2003, p.222 446 Necrologia, “O Século”, nº18205, 15 de Novembro de 1932, p.4 447 Eram elas: Associação de Socorros Mútuos dos Artistas Almadenses (1858); Montepio de Nossa

Senhora da Assunção (1858); Associação Filarmónica Protectora do Montepio de Nossa Senhora de

Caparica (1865); Fraternidade Operária (1872)¸Montepio Caparicano de Nossa Senhora do Rosário (1878);

Montepio de Nossa Senhora do Cabo do Monte de Caparica (1880); Asociação Marítima do porto Brandão

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Primeiro de Dezembro fundada em 1883 no Salão de Teatro Almadense pelos operários

José Tavares Veloso e José Costa Leal ante a presença de 115 corticeiros da Bucknall &

Sons e que alteraria o seu nome dois anos depois para Associação de Socorros Mútuos

Primeiro de Dezembro por a sua acção se ter extravasado da esfera corticeira.448 A

assistência oferecida consistia em subsídios, fornecimento de medicamentos, assistência

médica e farmacêutica, além de existirem um fundo para pensões e outro para doenças

para os quais os associados tinham de contribuir respectivamente com 10$ e 50$.449 Neste

campo, os sócios “visitadores” faziam ainda visitas domiciliárias aos enfermos nas zonas

de Cacilhas, Caramujo, Pragal e Almada dando-lhes amparo e trazendo-lhes

medicamentos.

Em Julho de 1867 Andrade Corvo aprovou a Lei Basilar Cooperativa pela qual o

associativismo radicar-se-ia na iniciativa popular com o fito de “melhorar a sorte dos que

vivem do trabalho.”450 Frederico Laranjo seria em 1885 o primeiro a debruçar-se sobre

cooperativismo entendendo-o como criador de consensos sociais à semelhança dos

republicanos no seu programa de 1891 como forma de favorecer a solidariedade e o

consenso sociais.451 Para o socialista José de Macedo era um importante passo no combate

à iniquidade social, embora não fosse a sua solução definitiva.452 Fernando Emydio da

Silva pensava em 1917, tal como Charles Gide, no cooperativismo como um meio de

transformação da sociedade em moldes mais fraternos numa nova ordem que a paz viria

abrir.453

(1895); Associação de Socorros Mútuos 1º de Dezembro (1883); Associação de Socorros Mútuos José

Lourenço de Carvalho (1893); Associação de Socorros Mútuos Piedense (1908) POLICARPO António,

Memórias da nossa terra e da nossa gente Freguesia de Almada, Almada, Junta de Freguesia de Almada,

2013, p.154; A freguesia de Nossa Senhora do Monte compreendia o Pragal, Fonte da Telha, Charneca,

Porto Brandão e Trafaria (Associativismo e Cidadania, Exposição sobre o Movimento Associativo em

Almada, Museu da Cidade, Câmara Municipal de Almada, Outubro de 2006 a Julho de 2007, p.22) 448 FLORES Alexandre, Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário (1860-

1930), Almada, Câmara Municipal de Almada,2003, pp.265-266 449 Entre os subsídios incluía-se o de deslocação em tratamentos para fora do concelho no valor de 120 réis

diários. Ibidem, pp.269-270 450 PEREIRA Hélder Cardoso, Associativismo e capital social: perfil sociológico dos dirigentes das

cooperativas de consumo, Tese de Doutoramento em Sociologia, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa,

p.153 451Ibidem, pp.154-155; CATROGA Fernando, O Republicanismo em Portugal da formação ao 5 de

Outubro de 1910, I volume, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1991, pp.24-30 452 MACEDO José de, Cooperativismo, Lisboa, Biblioteca Popular de Orientação Socialista, 1898, p.8 453 GIDE Charles, As Sociedades Cooperativas de Consumo, Lisboa, Livraria Classica Editora, 1908, p.145;

PEREIRA Hélder Cardoso, Associativismo e capital social perfil sociológico dos dirigentes das

cooperativas de consumo, Tese de Doutoramento em Sociologia, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa,

2008, pp.157-162; SILVA Fernando Emygdio da, Cooperativas de Consumo sua technica, Lisboa, Edição

da Cooperativa 29 de Dezembro, 1917, pp.31-41

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As filarmónicas começaram como uma forma de entretenimento através da música

acompanhando as bandas as principais festas populares.454 A instrução foi o principal fito

das associações de cultura e recreio, mas também na Cooperativa Piedense relacionando-

se com os ideais republicanos e socialistas de emancipação do homem por via da cultura.

Pode-se lê-lo nos estatutos da Academia Almadense de 1927 e na proposta de Ferreira

Dias de alteração de estatutos da Cooperativa Piedense, datada de 1929 ao sugerir a

fundação de escolas, bibliotecas e cursos de educação social a fim de educar a massa

associativa.455

Em 1843 um grupo de tecelões fundou a Rochdale Society of Equitable Pionieers

inaugurando por esta via o movimento cooperativo na Europa.456 Talvez por este

movimento se ter iniciado em Inglaterra os gerentes ingleses olhavam com bons olhos os

operários que se destacavam nas colectividades e convidavam os mais destacados para

postos na fábrica. Jaime Ferreira Dias foi convidado para ser escriturário da Bucknall pelo

seu papel na SFUAP e na Cooperativa Piedense.457 Também faziam donativos a

associações, razão pela qual Henry Bucknall e o seu irmão foram feitos sócios honorários

da Associação de Socorros Mútuos Primeiro de Dezembro em 1885.

James Scott assinala como os grupos subordinados têm lugares onde podem retirar

a máscara que colocam à frente do poder dominante e podem agir e falar livremente.458

Com a consolidação do Estado Novo as colectividades do concelho tornaram-se nesses

lugares e por isso mesmo eram vigiadas e alvo de processos na polícia política.459

As colectividades foram aumentando o seu número até à ditadura existindo 33

colectividades de recreio e de assistência no concelho aquando do 28 do Maio de 1926 e

em 1941 haviam 21 colectividades apenas no tocante às desportivas e de recreio.460 Na

454 ABREU Carlos, BRANCO Francisco, Associativismo tradição e arte do povo de Almada, Almada,

Câmara Municipal de Almada, 1984, p.28 455 SIMÕES Dulce, Memórias Sociabilidades e Resistências O caso da Cooperativa de Consumo Piedense,

Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2017, p.155; Capítulo I, Artigo 2º, parágrafo único, nº3, 4 e 6 Estatutos

da Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Lisboa, Tipografia Teixeira, 1927 456 BARBOSA Raul Tamagnini, Modalidades e aspectos do cooperativismo, Porto, Imprensa Social, 1930,

p.17 457 Entrevista a Raul Costa, 2 de Julho de 2018 458 SCOTT James C., A dominação e a arte da resistência Discursos ocultos, Lisboa, letra livre, 2013,

pp.174-176 459 PIMENTEL Irene, História da oposição à ditadura 1926-1974, Porto, figueirinhas, 2013, p.265 460 Em 28 de Maio haviam cerca de 18 colectividades de recreio e 15 de solidariedade social.

(Associativismo e Cidadania, Exposição sobre o Moviemento Associativo em Almada, Museu da Cidade,

Câmara Municipal de Almada, Outubro de 2006 a Julho de 2007, p.36) Em 1941 eram elas: SFIA, AIRFA,

União Sport Club Almadense, Pedreirense “Foot-ball Club”, Ginásio Clube do Sul, Clube Recreativo José

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década de 1960 contavam-se 120 colectividades ganhando as de desporto nos anos 1970

o fôlego que perderam vinte anos antes devido à falta de recintos para a prática de

desporto e à hegemonia do futebol que condicionava a pratica de outras modalidades.461

Almada continuava a ser um meio essencialmente comunitário pelo que as

colectividades ainda continuavam a jogar um importante papel como lugar de encontro e

de recreio da população. Eram nelas que os jovens se encontravam e conheciam a pessoa

com quem iriam casar tornando-se o acto de pertencer a uma associação numa tradição

familiar. A relação com os mais velhos era, por outra banda, tida como uma fonte de

aprendizagem pelos mais novos, sobretudo quando se tratavam de antigos militantes

anarquistas ou comunistas que iam através das conversas depositando nas jovens mentes

ideias progressistas.462

As direcções dirigiam-se aos sócios num registo informal, com o uso do tu e do

nós, com o fim de realçar a igualdade entre todos os associados e construir a ideia da

sociedade como um espaço familiar para os consócios. Nesse sentido a direcção da

Cooperativa Piedense escrevia a um sócio a propósito da comemoração do 66º aniversário

da sociedade: “(…) apelamos para a tua boa vontade, lembrando-te, acima de tudo, que a

Cooperativa Piedense é a tua casa. (sublinhado meu)”463

Orlando Laranjeiro descreve a Incrível como uma colectividade inter-classista:

“Porque era o único sítio onde a gente via o dono da fábrica a dançar com a corticeira.”464

Todavia a presença de diferentes classes sociais levava naturalmente a confrontos

próprios das diferentes formas de ver e de estar no mundo inerentes a cada grupo. Em

1931, por exemplo, o projecto de criação de uma secção da cortiça apelativo aos

corticeiros por ajudá-los a manter os postos de trabalho ameaçados pela crise vigente não

Avelino, Sociedade Recreativa União Pragalense, SFUAP, Clube Recreativo Piedense, União Piedade

“Foot-ball” clube, Sporting Clube Piedensem Clube Recreativo do Laranjeiro, Clube Recreativo União e

Capricho, Monte da Caparica Atlético Club, Sociedade de Recreio e Beneficência do Porto Brandão, Centro

de Beneficiência e Instrução Sobredense, Clube Recreativo Charnequense, Sociedade Musical Trafariense,

Trafaria “Foot-ball” Club, Recreios Desportivos da Trafaria e Clube Náutico Mare Nostrum (doc. nº48 in

Dossiês de Informação, Associativismo em Almada, II, 2005, SOC – ANT A ASS) 461 Associativismo e Cidadania, Exposição sobre o Movimento Associativo em Almada, Museu da Cidade,

Câmara Municipal de Almada, Outubro de 2006 a Junho de 2007, pp.55;68 462 Entrevista a Alfredo Guaparrão, 18 de Abril de 2018; Entrevista a Raul Cordeiro, 26 de Julho de 2018;

Associativismo e Cidadania – Sociedade Filarmónica Incrível Almadense / Orlando Laranjeiro, 2 de

Dezembro de 2005, FON ORA ASS 68, p.29 463 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f. 90 464 Associativismo e Cidadania – Sociedade Filarmónica Incrível Almadense / Orlando Laranjeiro, 2 de

Dezembro de 2005, FON ORA ASS 68, p.6

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interessava a pequenos industriais como Manuel Antão Júnior que viam na sua

concretização o desvio de braços necessários à manutenção das suas fábricas.465

Já as Assembleias Gerais, como lugar de debate, traduziam tensões a nível

ideológico e político que já vinha de épocas anteriores.466 O choque não era apenas entre

anarquistas e comunistas, mas também entre direcções mais neutrais politicamente e

outras mais conectadas com a oposição.467 Em causa estava o medo de que o regime

pudesse atacar as colectividades no caso de estas desenvolverem actividades

oposicionistas mais vistosas.468 Estas tensões levavam, por um lado, a ataques aos corpos

gerentes e, por outro, à sua substituição. Assim, na Incrível Almadense Alexandre

Castanheira era eleito como Presidente da Assembleia Geral em representação da ala mais

progressista dentro da sociedade e na Cooperativa Piedense Eugénio Barbosa, Germano

da Costa e Semedo, protagonistas de uma linha mais conservadora, eram acusados de

“fascistas” e “denunciantes e colaboradores da PIDE.”469

Foram muitos os oposicionistas que passaram pelos corpos gerentes das principais

associações do concelho. Na Incrível Henrique Barbeitos, membro da comissão distrital

do MUD, era vice-presidente do Conselho Fiscal em 1948 e Manuel José Lourenço, preso

em 1952 e 1958 como membro do MUD Juvenil, era secretário da direcção da SFUAP

em 1972.470 Na Cooperativa Piedense Raul Cordeiro era presidente da Assembleia Geral

quando foi preso em 1958.471

A tomada de posse dos corpos gerentes era assinalada pela polícia política que

referenciava os elementos considerados desafectos à Situação e cuja acção era

monitorizada mesmo depois de abandonarem os cargos.472 Nesse contexto a GNR

465 SIMÕES Dulce, Memórias, sociabilidades e resistências O caso da Cooperativa Piedense, Casal da

Cambra, Caleidoscópio, 2017, p.102 466 A SFIA era nos fins do século XIX uma colectividade conservadora, ligada aos regeneradores,

assistindo-se a choques com os republicanos. (RAMOS António Alberto C. P., Colectividades de Almada

(1890-1910), Almada, Junta de Freguesia de Almada, 1991, p.37) 467 Entrevista a José de Matos Silva, 4 de Junho de 2018 468 Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018; Associativismo / Alexandre Castanheira, 20 e 21

de Julho de 2006, FON ORA ASS 177, p.10 469 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, ff.3; 45; Associativismo /

Alexandre Castanheira, 20 e 21 de Julho de 2006, FON ORA ASS 177, p.10 470Corpos gerentes da Sociedade, A Incrível, Número comemorativo do centenário, 1948, p.6; PIDE/DGS,

SC, CI(1), 5118, NT 1292 Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, ff.1-2 471 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f.110 472 Relatório do posto da DGS de Setúbal acerca da tomada de posse dos corpos gerentes da SFUAP, datado

de Janeiro de 1972 (PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118, NT 1292 Sociedade Filarmónica União Artística

Piedense, ff.1-2); Recorte de jornal relativo à tomada ao empossamento dos corpos gerentes da Cooperativa

Almadense, datado de 1970 (PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, 1305 Cooperativas – Sociedade Cooperativa

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surpreendeu num piquenique para os lados de Corroios António Cabrita Gonçalves,

Manuel Francisco, Jorge Manuel Martins Rodrigues, José Manuel Marques Carvela e

Marcos Manuel Rolo Antunes, antigos elementos dos corpos gerentes da Cooperativa

Piedense e acusados de estarem a conduzir uma reunião clandestina do PCP.473

A cultura durante a ditadura teve um papel crucial na formação de uma

mentalidade oposicionista dentro das colectividades através das bibliotecas e das sessões

culturais com a realização de palestras e colóquios por opositores ao regime.

As bibliotecas foram desenvolvidas por elementos activos na oposição ao regime.

Libânio Ferreira, preso em 1937 como extremista, foi um dos principais dinamizadores

da biblioteca da Academia Almadense a partir de 1944 e Alexandre Castanheira, membro

do MUD Juvenil, a partir de 1946 auxiliou o desenvolvimento da biblioteca da Incrível

Almadense.474 A biblioteca da Cooperativa Piedense foi fundada em 1940 tendo como

principais impulsionadores João da Costa, veterano anarco-sindicalista do 18 de Janeiro

de 1934 e António de Campos Aguiar, controlador do sector comunista em Almada.475

Houve ainda a comissão de bibliotecas de Almada com o intuito, segundo António Ramos

de “organizá-las em esquemas modernos e realizar actividades culturais paralelas à

leitura”.476

Sofia do Nascimento Pinto refere a importância que a leitura teve na sua formação

oposicionista: “Eu deixava um baile por um livro. E se tinha um livro era uma riqueza.”477

De facto, o volume de obras lidas era enorme como recorda Vitor Costa: “na Cooperativa

mais de metade dos livros não tavam lá, havia filas para levantar livros.”478 Na SFUAP

em 1959 a biblioteca tinha 786 livros para 106 leitores e um movimento de entradas e

Almadense, f.1); PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, ff.44-45; 110;

PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118, NT 1292 Associações Recreativas e Culturais e Desportivas – Sociedade

Filarmónica Incrível Almadense – Almada, f.6 473 Respectivamente: Presidente da Direcção, Presidente da mesa da Assembleia Geral, Presidente do

Conselho Fiscal, Primeiro Secretário da Assembleia Geral, referenciado como “chefe” dentro da

Cooperativa (Idem, ff.10-12) 474 Associativismo / Alexandre Castanheira FON ORA ASS 177, 20 e 21 de Julho de 2006, pp.4-5;

FERREIRA Libânio, A nossa biblioteca, A Academia, número comemorativo do cinquentenário, 1945

(sem páginas) 475 CANANA Alfredo, As bibliotecas da Cova da Piedade, Jornal de Almada, nº206, 30 de Novembro de

1958, p.1 476 Associativismo / Alexandre Castanheira, FON ORA ASS 177, 20 E 21 de Julho de 2006, p.9; RAMOS

António Alberto C. P., Cooperativa de Consumo Piedense 100 anos de futuro, Almada, Câmara Municipal

de Almada, 1994, p.92 477 Resistência – Entrevista / Sofia do Nascimento Pinto Santos, 3 de Março de 2009, FON ORA RES 3,

p.2 478 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018

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saídas de 810 obras pelo que cada leitor em média lia 7 a 8 livros.479 Carlos Alberto

Rosado, ligado à Incrível Almadense, refere que os pais incentivavam os filhos a

cultivarem-se o que explica o grande movimento das bibliotecas que também tinham

secções infantis.480

Os livros realistas e neo-realistas eram preferidos, por uma banda, pelos

organizadores porque educavam os leitores para as desigualdades sociais que a

propaganda do regime procurava ocultar e, por outra, pelo público, maioritariamente

operário, porquanto os temas neles retratados eram facilmente identificáveis com a dureza

do quotidiano nas fábricas. Neste prisma entre 1945 e 1967 entre os autores mais lidos na

Incrível contam-se Alves Redol, Jorge Amado, Ferreira de Castro, John Steinbeck ou

Emílio Zola.481 Para os entrevistados A Mãe de Maxim Gorky e Os subterrâneos da

liberdade de Jorge Amado foram as obras mais marcantes para a sua consciencialização

política.

Estes livros circulavam clandestinamente nas lancheiras dos operários camuflados

com o almoço que assim os podiam ler em suas casas.482 Dentro das bibliotecas existiam

fundos falsos onde eram guardados estes livros para os manterem escondidos dos olhos

da polícia no caso de rusgas.483 Não obstante este cuidado tanto com o empréstimo como

com a circulação destas obras, por vezes algumas eram apreendidas. Em Junho de 1947,

por exemplo, uma brigada da PIDE apreendeu 40 exemplares do livro Sábado sem Sol de

Romeu Correia na biblioteca da Incrível Almadense devido ao autor não ter enviado um

exemplar à censura.484

Os agentes da PIDE tinham uma fraca formação cultural que ficou patente numa

busca feita à Cooperativa Piedense no decorrer de uma sessão de música clássica. Como

recordou Brito Mateus: “E eles começaram então a vasculhar os discos, todos os que

479 Rúbrica Jornal das Colectividades, Sociedade Filarmónica União Artística Piedense algumas passagens

do seu relatório, Jornal de Almada, nº288 26 de Junho de 1960, p.8 480 Entrevista a Carlos Alberto Rosado, 24 de Agosto de 2018 481 AHA CCA, Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, A Biblioteca e os Músicos da Incrível,

AHALM-CCA-001-01-001-016_m0009 e AHALM-CCA-001-01-001-016_m0010 482 Associativismo / Alexandre Castanheira, FON ORA ASS 177, 20 e 21 de Julho de 2006, p.10 483Entrevista a Carlos Alberto Rosado, 24 de Agosto de 2018; SIMÕES Dulce, Memórias, sociabilidades

e resistências O caso da Cooperativa de Consumo Piedense, Casal da Cambra, 2017, p.148 484 Correspondência do Inspector Adjunto Jorge Pedreira com o Director dos Serviços de Censura, datada

de 16 de Junho de 1947 in “Proibição do livro “Sábado sem Sol””, Secretariado Nacional de Informação,

Censura, cx. 732, Processo nºL83

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tinham nomes russos, que eram a maioria, levaram-nos.”485 Ainda que a Escola Técnica

de Polícia fosse criada em 1948 com a finalidade de se preparar melhor politica e

profissionalmente os futuros agentes, a necessidade de novos efectivos permitiu a

aprovação de pessoas parcamente preparadas.486

Além de livros, as comissões de biblioteca também passavam filmes e música. Na

Cooperativa Piedense em 1969 na visita do correspondente do República ouviu-se

Adriano Correia de Oliveira e em 1949 Alexandre Castanheira apresentou o filme A

Semente de Ódio de Jean Renoir como exemplo do cinema neo-realista.487 O teatro era

igualmente importante evocando José Cavaco A gota de mel de Leon Chancerel, relativa

à paz, como marcante para a sua posição oposicionista.488

No Clube Desportivo da Cova da Piedade as chamadas aulas de cultura geral489,

dinamizadas por Gomercindo de Carvalho, foram importantes para forjar uma cultura

oposicionista em quem as frequentou com a discussão de temas políticos e a vinda de

escritores oposicionistas.490 Gomercindo tinha uma formação católica começando a sua

actividade na Cooperativa Piedense nas comissões culturais e em 1964 orientou um curso

de cultura geral na biblioteca da Incrível.491 Em 1966 recebeu Ferreira de Castro e

pronunciou um discurso em sua homenagem na presença dos alunos das aulas nocturnas

tendo o escritor ficado vivamente impressionado com as manifestações de apoio com que

foi prendado nesta colectividade e na Cooperativa Piedense.492

José Cavaco, que participou logo no ínicio das Escolas, refere que elas, por

intermédio das suas actividades culturais, ajudaram à preparação da campanha de 1969 e

485 SIMÕES Dulce, Memórias sociabilidades e resistências O caso da Cooperativa de Consumo Piedense,

Casal de Cambra, p.190 486 PIMENTEL Irene, a história da PIDE, Lisboa, Círculo de Leitores, 2016, pp.58-61 487 A.D.T., Acerca da (in) actividade cultural na Cooperativa Piedense, República, 16 de Outubro de 1969,

p.7; Apresentação comparada dos filmes A mulher e a selva, americano, e A semente de ódio, feito por Jean

Renoir em Hollywood por Alexandre Castanheira, c. 1949 in Espólio de Alexandre Castanheira, Museu da

Cidade de Almada 488 Entrevista a José Cavaco, 2 de Maio de 2018 489 O curso de cultura geral era lecionado por Gomercindo Jesus de Carvalho, José de Sousa Cavaco e

Eduardo José Gonçalves e abordava, entre outros temas, Literatura, Psicologia, Arte, Filosofia e Sociologia.

(O Curso Geral dos Liceus (1º ciclo no nosso Clube, é uma realidade, “O Cova da Piedade”, nº8, Novembro

de 1963, p.10) 490 Entrevista a Gilberto Silva, 14 de Junho de 2018; Entrevista a António Reizinho, 17 de Abril de 2018;

Entrevista a Joaquim Judas, 24 de Maio de 2018; Entrevista a Mário Araújo, 29 de Maio de 2018 491 Entrevista a Vitor Costa, 9 de Maio de 2018; Entrevista a José Cavaco, 2 de Maio de 2018; AHA CCA

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, A Biblioteca e os Músicos da Incrível, AHALM-CCA-001-01-

001-016_m0012 492 Homenagens a Ferreira de Castro, Jornal de Almada, nº594, 8 de Maio de 1966, pp.1;6

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das teses apresentadas no congresso em Aveiro ao formarem politicamente os seus

pupilos.493 Raul Costa, pelo contrário, considera as Escolas como um grupo fechado e

cuja actividade mal se fazia notar no meio oposicionista.494

As comissões culturais apostavam também nos colóquios e nas palestras de

oposicionistas ao regime que vinham esclarecer a massa associativa acerca dos problemas

prementes da sociedade. Estes eventos permitiam o debate com a audiência o que levava

a que se exteriorizassem as críticas ao regime que quotidianamente estavam silenciadas.

Foi o que aconteceu na Incrível Almadense aquando da comemoração do cinquentenário

da Seara Nova durante a qual a assistência em debate com José Manuel Tengarrinha e

Maria Helena Neves Gorjão teceu críticas à política de habitação do regime.495 Sofia do

Nascimento Pinto revelava à sua mãe, nesse aspecto como a audiência se identificava

com os oradores na denúncia ao regime: “pois não calcula como o nosso povo gostou,

porque eu disse as palavras que me vinha do coração, que era o meu sentir, e o sentir

deles.”496

Não é de surpreender que estas actividades fossem malvistas pelo regime como

disruptivas do consenso social que visava impor. Em Abril de 1968 eram proibidas as

actividades culturais na Cooperativa Piedense como consequência da intervenção de

Tossant numa sessão de música e poesia no dia 22 de Março na qual leu um discurso

improvisado no qual se ridicularizava a ditadura e em especial Salazar: “Já para o final

desceu os óculos sobre o nariz, imitando sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho

e falou sobre Portugal, Nações Unidas e África, rematando com a frase que na África

negra também se encontra ainda o ovo branco.”497 O declamador foi recebido de pé pelos

assistentes que o aclamaram efusivamente espelhando bem o ambiente vivido naquela

colectividade e ao qual não é alheio a Cooperativa estar implantada num meio operário

com uma implantação comunista já bem solidificada.

Daniel Melo escreveu que as colectividades eram perseguidas intransigentemente

pelo regime por oferecerem “alternativas culturais de alcance político” ao “modelo

oficial” o que foi certamente o caso das associações do concelho principalmente as da

493 Entrevista a José Cavaco, 2 de Maio de 2018 494 Entrevista a Raul Costa, 17 de Julho de 2018 495 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118, NT 1292 Associações Recreativas e Culturais e Desportivas – Sociedade

Filarmónica Incrível Almadense – Almada, ff.4-5 496 Carta de Sofia do Nascimento Pinto à sua mãe PT/TT/PIDE/E/015/11253, f.10 497PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, ff.54-55

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Cova da Piedade.498 Tanto a SFUAP como a Cooperativa Piedense eram consideradas

baluartes da oposição e fachadas para reuniões do Partido Comunista que começou a

implantar-se no concelho durante a guerra.499

As colectividades de Almada ficaram debaixo de olho da polícia política, em

especial a SFIA, a SFUAP e a AIRFA, por não terem comparecido a 19 de Maio de 1945

na manifestação de agradecimento a Salazar pelo fim da guerra e por serem palco de

comícios oposicionistas na campanha de Norton de Matos.500 Em Agosto de 1940 o

regime tentou uma aproximação às principais colectividades do concelho galardoando a

SFIA a AIRFA e a SFUAP com a Ordem de Mérito, condecoração que homenageia actos

meritórios em prol da sociedade.501 Todavia os dirigentes destas colectividades eram

oposicionistas e alguns pertenciam à classe trabalhadora pelo que, vendo a repressão a

que o operariado foi sujeito aquando das greves, não podiam compactuar com um regime

que viam como causador da miséria e do agrilhoamento dos trabalhadores.502

Já em 1949, segundo Daniel Melo, a actividade do MUD Juvenil incrementou a

nível cultural nas colectividades.503 Neste prisma Alexandre Castanheira na Incrível

promoveu e pertencia ao editorial de um jornal de parede intitulado Juventude (Desporto,

Cultura e Arte) cujo número conhecido transparecia alguma politização da parte dos seus

498 MELO Daniel, Salazarismo e Cultura Popular (1933-1958), Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais,

2001, p.325 499 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118, NT 1292 Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, f. 3;

PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f.10 500 PIDE/DGS, SC, SR 22033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto, ff.85-86; 92 501 Cidadãos nacionais agraciados com ordens portuguesas, Sociedade Filarmónica União Artística

Piedense, Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Sociedade Filarmónica Incrível

Almadense, in http://www.ordens.presidencia.pt/ (consultado a 19 de Agosto de 2018) 502 Na Academia Almadense José Braz foi Presidente da Assembleia Geral em 1939, 1940, 1941, 1942 e

1943. (AHA CCA, Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas das

sessões da Assembleia Geral 1933-1941, Actas de 30 de Novembro de 1939 (AHALM-CCA-006-02-003-

004_m0064), de 10 de Maio de 1940 (AHALM-CCA-006-02-003-004_m0067) e de 8 de Maio de 1941

(AHALM-CCA-006-02-003-004_m0095); Livro de registo das atas da Assembleia Geral, 1940-1948,

Actas de 12 de Março de 1942 (AHALM-CCA-006-02-003-005_m0019) e de 6 de Março de 1943

(AHALM-CCA-006-02-003-005_m0030). Na Incrível António Henriques e Fernando Santos Gil,

serralheiro, foram, respectivamente Primeiro Secretário e Presidente da Assembleia Geral em 1944, 1945

e 1943 e, respectivamente, Primeiro Secretário e Presidente da Direcção em 1939, 1940, 1941, 1942 e 1943.

(AHA CCA, Sociedade Filarmónica, Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Assembleia Geral,

1937-1950, Actas de 19 de Julho de 1943 (AHALM-CCA-001-02-003-001_m0091) e 18 de Abril de 1945

(AHALM-CCA-001-02-003-001_m0110); Livro de registo das atas da Direção, Actas de 16 de Outubro

de 1939 (AHALM-CCA-001-02-005-002_m0054); 20 de Maio de 1940 (AHALM-CCA-001-02-005-

002_m0075) e 10 de Janeiro de 1941 (AHALM-CCA-001-02-005-002_m0097); Livro de registo das atas

da Direção 1941-1950, Actas de 15 de Janeiro de 1942

(AHALM-CCA-001-02-005-003_m0039) e 9 de Fevereiro de 1943 (AHALM-CCA-001-02-005-

003_m0084) 503 MELO Daniel, Salazarismo e Cultura Popular (1933-1958), Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais,

2001, p.331

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99

integrantes. Nos artigos Bem haja a juventude estudantil e Sacrifício pela educação

descreve-se a vida dos trabalhadores-estudantes almadenses que não eram valorizados

pelo patronato e não tinham ajudas estatais.504 O conto da Meia-Noite é particularmente

interessante por parecer referir-se a uma prisão política pintando o prisioneiro como um

exemplo de coragem e de honra que se mantinha fiel à sua causa, não obstante todas as

torturas a que foi submetido.505

Noutra perspectiva as colectividades encontravam-se integradas nas federações

de colectividades reforçando o projecto cultural alternativo de matiz popular ao oferecido

pelo governo. Nesse ano a Incrível Almadense esteve presente no congresso da Federação

de Sociedades de Educação e Recreio (4º e 2º nacional) e a Cooperativa Piedense foi uma

das fundadoras da UNICOOPE com a qual estará umbilicalmente ligada através do seu

investimento a nível monetário nesta instituição e da disponibilização de um terreno na

quinta da Argena em 1965 com o fito de se construir um melhor armazém a nível

regional.506 Carlos Alberto Rosado referiu que se preparou em 1973 um congresso de

colectividades da margem Sul em Palmela para promover uma frente comum de peleja

contra o regime.507 Este acabou por ser realizado apenas vinte anos depois já que o

objectivo principal ficou frustrado com a eclosão do 25 de Abril.

Não se deve menosprezar a actividade social das colectividades crucial no apoio

das populações tendo em conta que Almada só teve um hospital em 1945 e a assistência

oficial era praticamente nula. A Cooperativa Piedense, em particular foi muito importante

na Cova da Piedade pela abrangência de serviços que prestava desde a mercearia,

abastecida com os géneros produzidos na sua quinta até ao posto clínico no qual se

prestavam serviços de enfermagem, análises e se realizavam pequenas cirurgias nas várias

especialidades.508 António Sérgio frequentemente dava o exemplo desta instituição como

504 FELIPE Fernando, Bem haja a juventude estudantil; PEREIRA Agostinho, Sacrifício pela educação,

Jornal de parede “Juventude (Desporto, Cultura e Arte)” (não tem páginas), exposto na parede da biblioteca

da Incrivel Almadense in Espólio de Alexandre Castanheira no Museu da Cidade de Almada 505 AUGUSTO Orlando Marciano, Conto da Meia-Noite, Jornal de parede “Juventude (Desporto, Cultura

e Arte)”, (não tem páginas) exposto na parede da biblioteca da Incrível Almadense in Espólio de Alexandre

Castanheira no Museu da Cidade de Almada Vide a transcrição deste concento em Anexos 506 MALHEIRO José, Associativismo popular originalidade do povo português, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 1996, p.67; RAMOS António Alberto C. P., Cooperativa de Consumo Piedense 100

anos de Futuro, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1994, p.111 507 Entrevista a Carlos Alberto Rosado, 24 de Agosto de 2018 508 O posto clínico era servido por 13 médicos nas especialidades de Clínica Geral, Ginecologia,

Otorrinolaringologia, Cardiologia, Fisioterapia, Estomatologia, Radiologia, Oftalmologia e Análise

Clínicas e Histológicas (SOARES Manuel Lourenço, Rúbrica Ronda pelas colectividades do concelho de

Almada, V – Sociedade Cooperativa Piedense, Jornal de Almada, nº754, 31 de Maio de 1969, p.4) Existiam

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a materialização das suas ideias de cooperativismo integral como sistema alternativo ao

capitalismo e aos seus vícios, tendo reconhecido isso mesmo no livro de honra da

Cooperativa.509 As colectividades destarte não eram só rivais no plano político como na

esfera social especialmente na conjuntura da Segunda Guerra Mundial de crise motivada

pela falta de trabalho e carência de géneros de primeira necessidade.

Ainda na ditadura militar o decreto nº22513 de 12 de Maio de 1933

constitui a primeira tentativa de controlo das cooperativas impondo a sua fiscalização pela

Direcção Geral das Contribuições e Impostos e Inspecção Geral de Finanças, sob a tutela

do Ministério das Finanças.510 Este além de atacar a autonomia das cooperativas protegia

o comércio retalhista que via nelas competidores ao seu negócio.511

Houve pelo menos três ocasiões em que o poder local e o governo, por meio da

polícia política, procuraram controlar as colectividades do concelho. A primeira foi na

conjuntura da guerra civil de Espanha em 1938 quando a câmara procurou chantagear as

associações a cooperarem com a ditadura em troca de subsídios.512 Esta coincidiu, como

vimos, com o período mais repressivo do regime e de consolidação das suas estruturas no

concelho.

A segunda ocorreu depois do terramoto delgadista quando Orlando Soares

consegue tomar conta da SFUAP com a promessa de fazer uma nova sede. Durante este

período o regime esteve à defesa já que viu-se atacado em várias frentes. Por um lado,

assiste-se à dissidência católica expressada pelo bispo do Porto que seria exilado e pela

vigia na capela do Rato. Por outra banda, Botelho Moniz tenta um golpe palaciano. Nesse

ano de 1961 assiste-se ainda ao desvio do paquete Santa Maria por Henrique Galvão que

fez manchetes internacionais e de um avião da TAP, vulgo operação Vagô, e terminou

com a malograda acção no quartel de Beja na qual participaram alguns almadenses. Como

ainda a reforma por invalidez, a reforma por velhice concedida aos empregados com 65 anos e dez anos de

serviço; um fundo de assistência criado em 1959 para o auxílio dos sócios idosos, enfermos e incapacitados;

o subsídio de funeral que entre 1955 e 1966 aumentou de mil escudos para cento e vinte mil escudos.

(RAMOS António Alberto C. P., Cooperativa de Consumo Piedense 100 anos de futuro, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 1994, pp.98-101) 509SÉRGIO António, Sobre o Sistema Cooperativista, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1984, pp.74; 168; A

Cooperativa Piedense completou 78 anos, A Capital, 5 de Março de 1971 in PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191,

NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f.1 510 BARBOSA Raul Tamagnini, Direito Cooperativo, Porto, Imprensa Social, 1935, p.37 511 Ibidem, p.36 512 RODRIGUES Jorge Martins de Sousa, A Expansão programada de Lisboa para a Margem Sul: 1938-

1950, Lisboa, ISCTE, 1999, p.85

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resultado agudizou-se a repressão que afectou sobretudo o PCP e em Almada se

manifestou na morte de Cândido Capilé a 11 de Novembro perpetrada pela GNR.

Desde 1960 que a sociedade atravessava problemas financeiros estando na ordem

do dia a construção de uma sede capaz de albergar o número crescente de sócios pelo que

se elegeu para Presidente da Assembleia Geral Mário Pinto, pela mão do qual Soares ali

entraria, por ter algum ascendente na câmara e permitir destarte levar avante a obra

ambicionada.513

Orlando Pais Soares, inspector da PIDE, formou então a direcção conjuntamente

com José Maria Silva, Anselmo Pereira, Abilio Gomes Luz e Leonel José Covelo,

contudo levou a cabo uma gestão danosa investindo numa piscina para saltos construída

através de empréstimos e que, embora colhesse elogios do Jornal de Almada, não teve

qualquer uso já que ficava mais barato ir à praia na Costa da Caparica do que frequentá-

la.514

Por outro lado, agudizou-se a repressão servindo-se Soares dos ficheiros dos

sócios para ordenar a sua prisão dos que eram suspeitos de pertencerem à oposição como

aconteceu, por exemplo, a Joaquim Sim Sim, participante no golpe de Beja. Ao mesmo

tempo que procurou alterar os estatutos da colectividade para neutralizar a sua actividade

cultural e desviar os fundos da colectividade para financiar iniciativas de apoio ao regime

tal como a compra de uma ambulância para enviar para Angola.515

Desferiu igualmente um ataque sistemático às actividades culturais realizadas pela

colectividade especialmente o teatro, a banda de música, o cinema, a biblioteca e os

bailes, esvaziando-os de sentido.516 Mário Araújo, em particular, rememora “uma

fogueira enorme de livros de actas, de livros considerados clandestinos, considerados

subversivos (…) na esplanada.”517 Pais Soares ainda se procurava imiscuir noutras

513 (s.d.), "Relato de situação na Sociedade Filarmónica União Artistica Piedense", p.1, CasaComum.org,

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150182 (2018-8-4) 514 Idem, p.2; (1967), "Relato de situação económica e administrativa da Sociedade Filarmónica União

Artistica Piedense.", p.3, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150711

(2018-8-5); Entrevista a Joaquim do Carmo, 17 de Maio de 2018; J.M., Na Cova da Piedade um sonho que

se concretiza, Jornal de Almada, nº540, 25 de Abril de 1965, p.8 515 (s.d.), "Relato de situação na Sociedade Filarmónica União Artistica Piedense", p.2, CasaComum.org,

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150182 (2018-8-4); Entrevista a Joaquim do

Carmo, 17 de Maio de 2018 516 (s.d.), "Relato de situação na Sociedade Filarmónica União Artistica Piedense", p.2, CasaComum.org,

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150182 (2018-8-5) 517 Entrevista a Mário Araújo, 29 de Maio de 2018

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colectividades através do programa de rádio intitulado Imagens Piedenses, criado por

Fernando Casa Pia, cujas gravações das sessões eram entregues à polícia política.518

O volume de dívidas que contraiu foi de tal ordem que foi forçado a demitir-se e

nunca se ficou a saber a real magnitude do descalabro financeiro da Sociedade por as

contas de 1966 e 1967 nunca terem sido feitas.519 A Sociedade beneficiou, no entanto, da

solidariedade das suas congéneres e de algumas empresas, que a ajudou a saldar as dívidas

que ainda constituíam a principal preocupação dos corpos gerentes em 1969.520

A terceira foi no período final de Salazar quando a vereação cultural e assistência,

sob o patrocínio do presidente Glória Pacheco, promoveu em Fevereiro de 1968 uma

reunião no Clube Recreativo do Feijó para ter conhecimento das necessidades das

colectividades e poder auxiliá-las, estando por detrás desta ajuda uma tentativa de

controlo destas associações.521 Nesta tomaram parte 12 colectividades de pequena

dimensão, algumas das quais sem sede própria, que pediam financiamento à edilidade por

não conseguirem cobrir sozinhas todas as despesas inerentes à sua gestão.

Em 24 de Julho a Cooperativa Piedense, a Cooperativa Almadense e a

Cooperativa União Pragalense foram notificadas pela PIDE a apresentarem os seus

estatutos no prazo de um mês no Governo Civil de Setúbal sob pena de serem

consideradas associações secretas.522 Os advogados das duas primeiras procuraram

colocá-las na esfera das associações de fins lucrativos como forma de escaparem ao

518 Entrevista a José de Matos Silva, 4 de Junho de 2018; (s.d.), "Relato de situação na Sociedade

Filarmónica União Artistica Piedense", p.4, CasaComum.org, Disponível HTTP:

http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150182 (2018-8-5) 519 A dívida ascendeu ao montante de 3 milhões e 800 contos em Dezembro de 1967, além de outra na

ordem dos 60 mil contos a ser saldada até ao fim desse ano. (1967), "Relato de situação económica e

administrativa da Sociedade Filarmónica União Artistica Piedense.", p.1 CasaComum.org, Disponível

HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_150711 (2018-8-5)) 520 Este auxílio foi precioso conseguindo-se por seu intermédio se juntar 300 mil contos entre Dezembro de

1967 e Abril do ano seguinte. (Ibidem; SOARES Manuel Lourenço, Rúbrica Ronda pelas colectividades

do concelho de Almada, II – Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, Jornal de Almada, nº748,

19 de Abril de 1969, pp.1; 4) 521 Colóquio das Colectividades de Cultura e de Recreio do Concelho de Almada seus anseios e pretensões

in Dossiês de Informação, Associativismo em Almada, 2005, SOC – ANT A ASS 522 PIDE/DGS, SC, CI (1), 5191, NT 1305 Cooperativas – Sociedade Cooperativa de Consumo União

Pragalense – Pragal – Almada, ff.1-2; PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, 1305 Cooperativas – Sociedade

Cooperativa Almadense, ff.2-6; 8-9; PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa

Piedense, f.40

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despacho do Ministério do Interior de 18 de Maio desse ano que as referia como

“associações de fins não lucrativos.”523

No período marcelista a vigilância às colectividades apertou coincidindo com o

aumento da repressão nos anos finais do regime.524 Foi durante este período que foram

montados os processos da SFIA, da SFUAP, enquanto a Cooperativa Piedense esteve

desde 1958 permanentemente sob vigia do regime representando nesse aspecto a

colectividade mais monitorizada pelo regime.525

Os informadores e a GNR foram os principais auxiliares da polícia política na

repressão às colectividades no concelho. Os principais informadores na Cooperativa

Piedense eram “Brito”, “Manuel Antunes” e “Gouveia”.526 José Cavaco revela que depois

do 25 de Abril conseguiu descobrir que alguns alunos na Escola do Desportivo eram

informadores da PIDE.527

No processo da Cooperativa encontra-se alguns informes da Guarda Republicana

dirigidos à PIDE relativos às actividadades desta colectividade e dos seus corpos gerentes

e frequentemente fazia arremetidas a cavalo para dentro da colectividade.528 O cavalo,

como símbolo de conquista militar, remete-nos para o triunfo da força contra a razão já

que o poder político fazia-se representar pela intimidação com o auxílio da polícia e não

pela representatividade popular, não obstante todas as acções montadas com vista a

aparentar a sua legitimidade. O desprezo pela cultura popular representado na profanação

523 Os advogados foram respectivamente José Sérvulo Correia e Fernando Abranches Ferrão (PIDE/DGS,

SC, CI(1), 5191, 1305 Cooperativas – Sociedade Cooperativa Almadense, ff.4-5; 8; PIDE/DGS, SC, CI(1),

5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f.47 ) 524 PIMENTEL Irene, a história da PIDE, Lisboa, Círculo de Leitores, 2016, pp-379-386 525 No processo da SFUAP constam dois relatórios do posto da DGS de Setúbal relativos ao empossamento

dos corpos gerentes em 1972 e a actividades culturais realizadas em 1970 (PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118,

NT 1292 Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, ff.1-4) No da Incrível Almadense encontram-se

duas informações do posto da DGS de Setúbal acerca da tomada de posse dos corpos gerentes em 1972 e

das actividades culturais realizadas nesse ano, assim como um relatório atinente ao colóquio comemorativo

do cinquentenário da Seara Nova levado a cabo em Abril desse ano. (PIDE/DGS, SC, CI(1), 5118, NT 1292

Associações Recreativas e Culturais e Desportivas – Sociedade Filarmónica Incrível Almadense – Almada,

ff.1-6) Sobre o processo da Cooperativa Piedense leia-se o trabalho de Dulce Simões. (SIMÕES Dulce,

Memórias, Sociabilidades e Resistências O caso da Cooperativa de Consumo Piedense, Casal de Cambra,

Caleidoscópio, 2017, p.170) 526 De “Manuel Antunes” veja-se a informação nº87/70 de 25 de Maio de 1970; De “Gouveia” leia-se a

informação de 6 de Março de 1958; De “Brito” leia-se a informação nº85/70 de 23 de Maio de 1970

(PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, ff.14-16; 105) 527 Entrevista a José Cavaco, 2 de Maio de 2018 528PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, ff.2-13; 18-20 Um episódio

destes foi contado ao autor por Maria do Nascimento Bonança Falcão, esposa de António Reizinho, que na

década de 1960 trabalhava na Cooperativa Piedense.

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do espaço onde a população convivia e se recreava demonstra também até que ponto as

colectividades intimidavam o regime que em vão urdiu todos os ardis para as silenciar.

Contudo, a oposição não se deixava intimidar como se pode retirar da atitude

irreverente de Vladimiro Guinot em relação ao agente da PIDE José Rovisco Mourato de

Almeida que foi assistir a um colóquio sobre animação cultural na biblioteca da

Cooperativa: “Um pouco antes de se iniciar o colóquio e quando procediam a arrumação

dos bancos na referida biblioteca, o comunista Vladimiro Marques Guinot (…) disse “isto

é reservado aos sócios e senhoras”, não satisfeito com tal piada, pegou em papéis dum

certo tamanho e escreveu o mesmo que havia dito, colocando-os sobre os bancos

vagos.”529

Foram muitos os oposicionistas que ao longo dos anos reconheceram o valor das

colectividades do concelho como polos de oposição que ficou bem patente na

condecoração pelo presidente Jorge Sampaio em 1998 da Incrível Almadense com o grau

de Membro Honorário da Ordem da Liberdade.530 Nenhuma outra colectividade do

concelho recebeu a comenda pelo que aquela pode ser vista como uma prova de

reconhecimento geral às colectividades do concelho ao ser concedida à mais antiga de

todas elas. O facto de ter sido a primeira a ser criada dava-lhe um certo prestígio

relativamente ás suas congéneres como inauguradora do movimento associativo ao qual

se juntaram as associações mutualistas, de recreio e as cooperativas. Todavia no livro de

visitantes da Academia, como no da Cooperativa Piedense, encontram-se mensagens

elogiosas de figuras gradas da oposição tais como Maria Lamas, Borges de Macedo e

Lopes Graça.531

Embora este carácter democrático das colectividades, elas permaneceram durante

o Estado Novo um mundo masculino que traduzia ainda os estereótipos tidos

relativamente às mulheres. Se bem que houvessem comissões femininas as mulheres não

tinham acesso às Assembleias Gerais nem podiam ascender aos corpos gerentes e, por

529 PIDE/DGS, SC, CI(1), 5191, NT 1305 Sociedade Cooperativa Piedense, f.49 530 Discurso de Jorge Sampaio no 150º aniversário da SFIA in http://incrivelalmadense.pt/historia/

(consultado em 26 de Agosto de 2018) 531 AHA CCA, Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de Visitantes 1945-2006,

Mensagens de Jorge Borges de Macedo (AHALM-CCA-006-01-001-003_m0007), Fernando Lopes de

Graça (AHALM-CCA-006-01-001-003_m0011) e Maria Lamas (AHALM-CCA-006-01-001-003_m0017)

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conseguinte, aos órgãos de decisão. Na Cooperativa Piedense, nesse aspecto, criaram-se

as reuniões magnas para dar-lhes a voz que normalmente não tinham.532

A crescente urbanização do concelho trouxe problemas às colectividades que eram

lançadas para zonas mais marginais do concelho devido, segundo Hélio Quartim, ao

crescimento súbito e à leviandade dos responsáveis pelo planeamento.533 O 1º Encontro

das Colectividades do Concelho de Almada em 1970 surgiu destarte como resposta das

colectividades a esses problemas pondo-se a tónica na sua unidade sobretudo como meio

de defesa quer das cooperativas face ao comércio retalhista, quer das demais

colectividades junto da edilidade para fazerem valer os seus anseios.534

Almada, feita cidade em 1973, perdeu o seu modo de vida comunitário com as

colectividades a perderem o estatuto de ponto de encontro que anteriormente detinham.

A sociedade capitalista hodierna agravou a crise no movimento associativo fruto do

choque de mentalidades entre os homens que o dirigiram no Estado Novo e as novas

gerações, mais sensíveis aos valores do individualismo e sintonizadas com estilos de vida

mais orientados para o consumo ou para a gratificação imediata.

532 Entrevista a Raul Costa, 24 de Agosto de 2018 533 Carta (manuscrita) ao Ministro das Obras Públicas assinada por dirigentes associativos sobre a área do

Plano Integrado de Almada, Março de 1972, pp.8-9 in Museu da Cidade, Centro de Documentação, Hélio

Quartim – Associativismo e Urbanização, nº3 534 1º Encontro das Colectividades do Concelho de Almada abril – maio – junho 1970. Projecto das

recomendações e conclusões a ser submetido aos participantes da 3ª sessão de 30 de Junho de 1970, pp.1-

3 in Dossiês de Informação, Associativismo em Almada, SOC – ANT A ASS, 2005

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Conclusão

A vila de Almada começou a desenvolver-se com os olhos postos em Lisboa, todavia foi

sempre desprezada pelo poder central que raramente atendia às exigências das várias

vereações. A noção deste desprezo e desta subalternidade teve consequências políticas ao

colocar os almadenses contra as instituições. Assim, se explica que em 1910 os

republicanos tenham saído vencedores nas eleições e que em 1958 Humberto Delgado

tenha ganho na Cova da Piedade.

As câmaras, cronicamente sub-financiadas, não conseguiam per se resolver os

problemas que tinham em mãos. Todavia as ajudas estatais eram uma miragem e os

principais problemas de abastecimento de água, de saneamento e de electrificação da vila

atravessaram regimes.

Contudo, esta é apenas uma parte da equação. A crescente industrialização do

concelho transformou as fábricas nas últimas décadas de Oitocentos e inícios do século

pretérito em meios altamente politizados e manobrados pela corrente anarco-sindicalista,

dominante até ao 18 de Janeiro quando começou a perder força para o PCP. A exploração

desumana às mãos do patronato sedento de lucros fez com que muitos se encantassem

com ideologias que prometiam uma sociedade mais humana e fraterna. Tal como o

anarquismo, o comunismo granjeou muitos adeptos, que não conhecendo O Capital,

entendiam a mensagem libertadora que lhes era transmitida.

A freguesia da Cova da Piedade, onde estavam as mais importantes fábricas de

cortiça, foi destarte a mais progressista e de onde vieram a maioria dos presos políticos

do concelho. Na Trafaria, as indústrias de conservas seriam muito provavelmente também

politizadas, razão pela qual nesta região em 1937 foi encontrada propaganda comunista e

em 1958 se impediu que o delegado oposicionista fiscalizasse as urnas, não obstante estar

munido de uma certidão que o habilitava nesse sentido. A inexistência de um trabalho

sobre a indústria conserveira trafariense impede-nos de avançar com mais ilações.

As freguesias mais rurais da Caparica e da Costa da Caparica foram aquelas em

que o regime mais investiu para se implantar já que a sua população seria mais fácil de

enquadrar ideologicamente do que a das freguesias industriais de Almada e da Cova da

Piedade. O enquadramento foi sobretudo feito a partir da Casa de Pescadores da Costa da

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Caparica o que explica que tenha sido nesta instituição que sucessivamente o Estado Novo

tenha feito campanha eleitoral como fez em 1945 e em 1949. A inexistência de uma

colectividade capaz de retirar a tutela hegemónica da religião, na pessoa do padre Baltasar

Diniz de Carvalho, e dos acólitos do regime ajudou a população, pouco instruída e

miserável, a ser manobrada politicamente pela ditadura.

Todavia à excepção destas, a ditadura teve dificuldade em implantar-se no resto

do concelho. Primeiro as antigas elites, maioritariamente republicanas, puseram

obstáculos à criação da União Nacional e em fases cruciais para a consolidação do regime,

tais como a Guerra Civil de Espanha e as presidenciais de 1949 a comissão concelhia da

UN estava em desunião interna favorecendo o trabalho da oposição. O Estado Novo

obteve, no entanto, o apoio dos poucos monárquicos que restavam e de antigos sidonistas,

não obstante os republicanos da facção democrática, depois ligados à Esquerda

Democrática ainda fossem predominantes.

Segundo, o desprezo do poder central pelo concelho ajudava a fomentar o

sentimento de que a população não podia contar com as instituições vigentes agudizado

pelos parcos melhoramentos efectuados. Apesar das tentativas das edilidades de

aproximação ao centro de poder estas saiam sempre goradas, embora a incúria fosse

também apanágio dos edis que desdenharam o plano de urbanização da vila o que levou

a que esta se transformasse numa cidade-dormitório, subalterna à capital.

Terceiro, um centro fabril como era Almada, com uma classe operária

reivindicativa e ancorada ao anarco-sindicalismo e depois ao comunismo, dificilmente se

podia identificar com o país rural, pobre e pacato da propaganda do Estado Novo. As

difíceis condições de vida e a exploração nas fábricas catapultaram muitos jovens para a

luta contra o regime que viam como protector dos interesses do patronato. Nos cadernos

eleitorais os principais grupos recenseados eram os trabalhadores, as baixas patentes

militares e a pequena e média burguesia, ligada às profissões liberais e ao comércio. Estes

tendiam a abraçar ideias mais progressistas pelo que o seu voto recaía sobretudo nos

candidatos da oposição, como aconteceu em 1958.

Quarto, a imprensa republicana activa nos primeiros anos da ditadura,

especialmente combativa e abertamente anti-situacionista, impediu que aquela até 1934

lançasse bases sólidas no concelho. O silenciamento de O Almadense e das suas críticas

contundentes às vereações e ao governo depois do 18 de Janeiro criou um vácuo na

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imprensa local que seria preenchido em 1954 com o Jornal de Almada de feição muito

mais moderada que aquele.

A Situação teria apenas nos anos 1950 dois jornais no concelho chegando tarde

como veículos de propaganda, ainda que tenham surgido num contexto de refluxo e de

debilidade da oposição, com várias cisões dentro dela, até ao último folego de unidade

com Humberto Delgado em 1958. Mais uma vez a dicotomia entre as freguesias rurais e

as industriais fez-se sentir com o jornal situacionista a ser feito na Costa da Caparica

sendo notória nas suas páginas o elogio a Henrique Tenreiro, o principal homem do

regime no concelho e dinamizador da Casa de Pescadores daquela localidade.

Por fim, as colectividades, como centros de sociabilidade, ofereciam uma

alternativa cultural e no plano social ao pouco que o regime oferecia. As freguesias mais

industrializadas foram, sem surpresa, o palco das colectividades mais importantes que

foram fundadas pelos operários mais esclarecidos politicamente e pelos pequeno-

burgueses mais progressistas.

Houve toda uma tendência seguida de promoção do indivíduo pela instrução e

pela cultura, caro aos ideais socialistas, republicanos e anarquistas dominantes nos

fundadores e dinamizadores destas associações. A criação de escolas e a difusão de

literatura de pendor socializante apontava nesse sentido. Como os liceus só chegaram a

Almada nos anos 1950 a escolaridade de muitos ficou interrompida por falta de recursos.

Havia um certo auto-didactismo enraizado que explica o grande volume de obras

requisitadas, demonstrativo de um real interesse na leitura e na procura de alargar os

conhecimentos de cada um. Todavia o saber torna o indivíduo menos maleável a

influências externas, ao dotá-lo de capacidade argumentativa, e, logo, o regime tentou pôr

cobro às actividades culturais das colectividades que afastavam os almadenses do

pensamento do Estado Novo.

A vinda de destacados oposicionistas como palestrantes, ou oradores num

colóquio, ou simplesmente como visitantes servia de elo de ligação entre a resistência

local e a nacional. As colectividades eram respeitadas e valorizadas pelos antagonistas do

Estado Novo como bastiões de liberdade onde se privilegiava o pensamento independente

e o debate.

Nas colectividades encontraram-se os dois tipos de oposição: a passiva e a activa.

As pessoas que entravam para assistir a um colóquio de figuras gradas da oposição como

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Maria Lamas ou a uma sessão de propaganda eleitoral e aplaudiam o candidato ou o

orador mostravam o seu apreço pela mensagem que estavam a ouvir. Era uma resistência

mais simbólica feita por aqueles que, estando contra o regime, ficavam na retaguarda por

medo de sofrer represálias. Completamente diferentes eram os que ousavam ir para a linha

da frente e que davam a cara como dirigentes ou como organizadores de comícios

oposicionistas ou de comissões de biblioteca. Não obstante as diferenças, houve muitos

almadenses nas duas frentes de batalha. As multidões anónimas que celebraram o fim da

guerra e que acorriam aos comícios oposicionistas personificam a primeira e o elevado

número de presos políticos ilustra a segunda.

Todavia, as colectividades, como se viu, foram igualmente importantes no plano

social. Não só as associações mutualistas, como a Cooperativa Piedense permitiam uma

assistência médica que colmatava a que existia no concelho, a qual, deve dizer-se, era

bastante incipiente. Por outra banda, em situações de crise o povo sabia que podia recorrer

às colectividades, as quais foram criadas justamente dentro deste espírito de entre-ajuda

para melhor lidar com a carência de apoios estatais. A ditadura também tinha noção disso

e chegou a galardoar as principais associações com a ordem de mérito. Porém, este era o

mesmo poder que durante um mês paralisou o comércio na Cova da Piedade e que

reprimiu duramente os protestos dos proletários. Cientes disto, os dirigentes, alguns deles

da classe trabalhadora, deliberadamente recusaram participar na manifestação de apoio a

Salazar no pós-guerra.

O Estado Novo nunca conseguiu controlar as colectividades do concelho que

tiveram entre os seus dirigentes oposicionistas experimentados que sabiam como suster

os golpes do adversário. Por outro lado, subestimou-se a capacidade mobilizadora dos

sócios em defesa da sua colectividade, bem patente no afastamento de Orlando Soares,

acólito do regime, da SFUAP nos anos 1960.

As colectividades eram indissociáveis do quotidiano dos almadenses, pelos

motivos já anteriormente vistos, e consideradas como uma extensão das suas próprias

casas. Os associados eram tidos como representantes da colectividade a que pertenciam

o que subentendia ajudá-la com todos os meios que estivessem ao seu alcance. Era

destarte criado um vínculo entre o sócio e a instituição que pertencia transmitido de

geração em geração. Normalmente quem era associado da Incrível não esperava que o

seu filho fosse sócio da Academia. Havia portanto um sentimento de lealdade para com

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a colectividade que acompanhava os almadenses durante a sua vida. Se um

comportamento menos correcto dentro da colectividade era alvo de uma advertência, um

ataque infundado a um dirigente valia uma expulsão imediata porque se entendia que tal

significava um despeito à instituição. Este respeito e esta reverência pelas colectividades

permitiram que elas conseguissem, com o forte apoio da população, sobreviver à

repressão movida contra elas pela ditadura.

Almada era uma pequena vila, dentro de um pequeno país, onde toda a gente se

conhecia o que explica o papel das colectividades como ponto de encontro e de centro de

sociabilidades. Se, por uma banda, isto ajudou a fomentar a solidariedade entre os

operários que partilhavam as mesmas agruras, foi igualmente um terreno fértil para a

expansão dos informadores responsáveis pela criação de um clima de suspeição que para

alguns entrevistados era pior que a repressão física e visível da polícia. A denúncia

horizontal, dentro da mesma classe social, era especialmente disruptiva pelo quebrar dos

elos que supostamente a sustêm e bem revelador das intrigas, das invejas e dos ódios

pessoais que abundavam nos meios pequenos. As cartas de denúncia eram bem

reveladoras da instrumentalização da polícia política para servir os interesses pessoais do

delator longe de ser um salazarista convicto da sua missão de servir o Estado Novo.

A luta contra o regime mobilizou muita gente no concelho contabilizando-se mais

de centena e meia de presos políticos registados no livro de Registo Geral de Presos.

Todavia dentro do universo da resistência houve durante este estudo nomes que se

destacaram, por serem recorrentes nas informações prestadas à polícia política e nos

relatórios emitidos pela PIDE, o que leva a crer que o núcleo de activistas contra o regime

era mais restrito. Era geralmente sobre estes que as baterias repressivas eram apontadas

através das denúncias ou do impedimento em se recensearem ou em arranjarem emprego.

Nem todos os resistentes foram presos ou por conseguirem fugir a tempo, ou porque eram

cuidadosos em termos conspirativos o suficiente para não serem apanhados.

Também deve distinguir-se entre o trabalho de bastidores e aquele mais visível já

que nem sempre o último era levado a cabo pelos mais activos ou argutos politicamente.

Havia alguns que se destacavam nas colectividades como oradores e podiam ser

convidados a ler um discurso numa sessão de propaganda eleitoral sem terem tido uma

actividade de monta no decurso da campanha eleitoral. Por outra banda, havia quem

durante anos organizasse uma comissão de biblioteca adquirindo livros e delineando

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planos de colóquios ou palestras capazes de fomentar uma mentalidade oposicionista nos

seus consócios.

Embora fosse difícil aos anarquistas colaborarem com os comunistas devido a

divergências ideológicas, o MUD em Almada conseguiu juntar militantes destas duas

correntes. Muito embora o anarco-sindicalismo tenha perdido terreno em 1934 para o

comunismo, ele não morreu no concelho já que nas sucessivas campanhas eleitorais e nas

colectividades encontramos vários dos seus integrantes. Os velhos republicanos ainda

continuavam com um certo ascendente integrando o MUD e participando em campanhas

eleitorais oposicionistas. O socialismo, contudo, depois da morte de Jaime Ferreira Dias

em 1932 parece ter perdido adeptos no concelho já que não se encontram socialistas

dentro daquele movimento unitário da oposição. O comunismo, por seu turno, em 1945

já se estava a tornar na força dominante da oposição, ainda que houvessem elementos,

tais como o anti-clericalismo, que perduraram no tempo o que mostra que estavam

suficientemente enraizados na população.

Os jovens foram os principais dinamizadores das campanhas eleitorais

organizando as sessões e participando em acções de agitação, tais como a distribuição de

propaganda ou a pichagem nas paredes do concelho de frases ou de palavras de ordem

contra o regime. A sua juventude dava-lhes uma certa ousadia de demostrarem que não

tinham medo de serem silenciados e uma certa disponibilidade já que na sua maioria eram

solteiros e não tinham a preocupação com o emprego que normalmente têm os mais

velhos. Os elementos mais velhos normalmente já tinham um activo passado de

resistência política sendo tratados com respeito e como alguém que lhes tinha algo a

ensinar.

A mulher teve no concelho um papel importante na resistência. Foram as mulheres

que lideraram a jornada grevista de 1943 que paralisou o comércio em Almada, em

protesto contra a carestia de vida, Eram, no seu essencial, trabalhadoras que sofriam a

dupla subjugação de classe e de género. Por um lado, recebiam salários baixíssimos para

se sustentarem e, por outro, era-lhes negado nas colectividades o lugar de destaque que

cabia aos homens. Algumas foram presas políticas que suportaram as mesmas violências

que os seus camaradas. Muito embora tenham participado no MUD Juvenil e em

comissões femininas nas colectividades, a oposição no concelho foi até ao término da

campanha de Humberto Delgado, maioritariamente masculina.

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As mulheres também foram activas na recolha de fundos e no envio de comida

para os presos políticos. Estas acções fortaleciam a solidariedade à retaguarda com as

famílias que se viam privadas dos seus entes queridos proporcionando-lhes os meios para

os visitarem. Também fortaleciam o moral dos reclusos que sentiam que alguém se

lembrava deles e prestava auxílio na sua ausência à sua família. Mais uma vez um meio

comunitário como era Almada favorecia a extensão destas redes de entre-ajuda.

A GNR no concelho foi o principal braço repressivo que mantinha uma estrita

colaboração com a PIDE. Prenderam os grevistas nos anos 1940 e alguns dos presos eram

enviados para a Rua António Maria Cardoso para o prosseguir de mais um ciclo

repressivo. Eram frequentes as investidas de cavalo sobre a população, mesmo em

recintos fechados numa clara demonstração de força o que fez os seus comandantes

especialmente odiados pelos almadenses. O pós-guerra não levou a uma diminuição do

aparato policial nem do abuso de força que se mantiveram praticamente constantes nos

anos que viemos a analisar. A combatividade do operariado e o dinamismo da oposição

locais levavam a que o poder estivesse sempre em alerta.

A ligação a Setúbal, oficializada a partir de 1927 com o decreto que colocou

Almada no distrito a que hoje faz parte, fez-se sentir no movimento oposicionista. Tendo

em conta que o MUD foi um movimento de base nacional espraiando-se aos distritos e

destes aos concelhos até às freguesias, logicamente os elementos da comissão concelhia

de Almada tinham uma forte relação com os da comissão distrital de Setúbal de onde

partiam as directrizes para serem efectivadas no concelho.

Como centro industrial Almada relacionava-se mais com outros concelhos

industrializados do distrito de Setúbal como o Barreiro, nos quais a implantação da

oposição deveria ter seguido os mesmos moldes que o almadense por via das fábricas.

Contudo, a proximidade a Lisboa jogou, como já se aludiu, um papel preponderante no

desenvolvimento da vila com as suas principais fábricas a usarem o Tejo para escoar os

seus produtos. A sua oposição foi feita, assim, entre Lisboa, maldizendo a sua

marginalização relativamente ao centro de poder, e Setúbal integrando as estruturas

distritais dos movimentos oposicionistas.

Por outro lado, o território nacional não era uma entidade estanque. As migrações

do operariado para outros centros industriais tinham sempre um efeito dinamizador nas

lutas de classe já que os recém-chegados traziam na bagagem todo um passado

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reivindicativo nas suas terras de origem. Neste sentido, a vinda de operários de Silves

para Almada, que era outro centro corticeiro, ajudou a animar a resistência local. Muitos

presos políticos eram silvenses tais como Joaquim do Carmo e Sofia do Nascimento

Pinto. A ida de almadenses para outras localidades também poderia ter auxiliado a

desenvolver a resistência nesses locais, embora este tópico necessite de ser melhor

estudado.

Havia nomes de almadenses que, no entanto, ecoavam para lá dos limites do seu

concelho. Jaime Ferreira Dias foi um jovem militante socialista com uma vasta obra como

periodista em diversos jornais a nível nacional e um elemento respeitado pela cúpula do

PSP. Alexandre Castanheira, como membro da comissão distrital do MUDJ e depois na

clandestinidade ligado ao PCP, teve uma grande actividade política em vários pontos do

país.

Existiu todo um discurso da parte dos oposicionistas almadenses de integrarem a

sua terra na luta nacional contra a ditadura inserindo-a na vanguarda das tradições liberais

republicanas como percursora da implantação da República. Vendo os republicanos o

Estado Novo como uma usurpação da forma republicana de governo pretendia-se com

aquele argumento fazer de Almada uma das terras que estariam na dianteira da

restauração e da regeneração da verdadeira República. Os resistentes almadenses eram,

ao mesmo tempo, fortemente regionalistas e empenhados em que o concelho tivesse o

devido reconhecimento que pensavam estar-lhe sucessivamente a ser subtraído. Daí toda

esta ênfase em propagandeá-la como uma das regiões mais progressivas e, em simultâneo,

mais negligenciadas do país. Esperava-se que, uma vez derrubada a ditadura, Almada

pudesse obter a ajuda necessária ao seu desenvolvimento e finalmente ser engrandecida.

O concelho tinha, com efeito, dos dois lados da barricada fama de baluarte da

oposição o que traduz bem a sua integração na luta nacional contra o Estado Novo. A

polícia política notava-o nos seus relatórios, assim como as autoridades locais nas suas

informações.

Cruz Ferreira, Norton de Matos, Humberto Delgado, Rolão Preto e Igrejas Caeiro

foram os principais oposicionistas a manifestarem publicamente o seu elogio às suas

tradições democráticas. Velhos republicanos, como Norton de Matos, tinham certamente

presente a implantação precoce da República no concelho a 4 de Outubro. Rolão Preto

provavelmente conheceu as tendências ideológicas de Almada quando os nacionais-

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sindicalistas que liderou pretenderam aqui implantar-se tendo este movimento sido

duramente criticado em O Almadense.

A História Local tem mais para oferecer do que se julga. Em vez de se constituir

como um simples exercício de rememoração “bairrista”, ela pode e deve ser inserida no

cômputo geral para melhor o compreender. Seria interessante que surgissem mais estudos

no plano regional que explicassem a implantação do Estado Novo e o fenómeno da

resistência ao regime. Só desta forma se pode compreender quais as regiões onde a

oposição estava mais implantada e em quais o regime tinha as suas fundações mais

solidificadas – e as razões por detrás dessas configurações.

Conscientes de que muito ainda ficou por fazer, esperamos que esta dissertação

tenha oferecido um contributo para a investigação da luta contra a ditadura e do passado

recente de Almada.

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Fontes

Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Almada

Colectânea documental: Almada na História Boletim de fontes documentais,

nº17-18, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2010

Almada na História Boletim de fontes documentais, nº31, Almada, Câmara

Municipal de Almada, 2018

Manuscritas: Assembleia Nacional, 1957, livro nº2349

(PT/AHALM/CMALM/G/C/003)

Livro de recenseamento eleitoral para o Chefe de Estado e Assembleia Nacional,

1945, Livro nº2326 (PT/AHALM/CMALM/G/B/004

Registo geral de correspondência recebida (PT/AHALM/CMAL/C/A/005),

livros nº1341, 1356, 1403, 5653, 5654, 5656, 5657, 5658, 5664

Registo de pedidos de informação (PT/AHALM/CMALM/I/A/004), livro nº2383

Impressas: Abaixo a guerra!, “O Almadense”, II série, nº9, 22 de Outubro de

1933, p.1

A homenagem a Jaime Ferreira Dias constituiu uma impressionante manifestação

de saüdade, “O Almadense”, II série, nº13, 19 de Novembro de 1933, p.2

Almada de luto, “O Almadense”, nº164, 30 de Agosto de 1931, p.1; 4

A “Tejo-Oceano-Sado” em presença dos interesses deste Municipio (sic) Ouvindo

o Presidente da Camara, O Almadense, nº2, 22 de Julho de 1928, p.1

Azuis… mas sem camisa, “O Almadense”, II série, nº4, 3 de Setembro de 1933,

p.1

ALAIZ José, A Assistencia (sic) hospitalar em Almada, “O Almadense”, nº38, 31

de Março de 1929, p.3

BRAZ Gil, Almada por dentro, “A Voz de Almada”, nº215, 15 de Janeiro de 1927,

p.4

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CANANA Alfredo, As Bibliotecas da Cova da Piedade, “Jornal de Almada”, nº

206, 30 de Novembro de 1958, pp.1-3

CANANA Alfredo, Cova da Piedade alguns aspectos locais, Jornal de Almada,

nº310, 27 de Novembro de 1960, p.7

CASTANHEIRA Edgar, A Biblioteca Incrível Almadense, Produto Social de

Almada, “A Incrível”, 1948, pp.7;23

Como ha sessenta anos, “O Almadense”, nº 2, 22 de Julho de 1928, p.5

Corpos gerentes da Sociedade, “A Incrível”, Número comemorativo do

centenário, 1948, p.6

CORREIA Romeu, No 77º Aniversário da Academia Almadense Dois Relatos

Uma Conversa, “Jornal de Almada”, nº 901, 25 de Março de 1972, pp.6-7

CRUZ J., Pérfida como a onda, O Almadense, nº8, 2 de Setembro de 1928, p.1

DIAS Jaime Ferreira, A Escola e a criança, “O Almadense”, nº34, 3 de Março de

1929, p.3

DIAS Jaime Ferreira, A evolução mecânica e a transformação social, “O

Almadense”, nº20, 25 de Novembro de 1928, p.2

DIAS Jaime Ferreira, A dôr humana, “O Almadense”, nº14, 14 de Outubro de

1928, pp.2; 5;

DIAS Jaime Ferreira, A luz do alfabeto, “O Almadense”, nº 23, 16 de Dezembro

de 1928, p.3;

DIAS Jaime Ferreira, As crianças, “O Almadense”, nº28, 20 de Janeiro de 1929,

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DIAS Jaime Ferreira, A Instrução Problema Municipalista, “O Almadense”, nº 4,

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DIAS Jaime Ferreira, Campanha pela Higiéne, (sic) Política Municipalista, “O

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DIAS Jaime Ferreira, Moraiar, “O Almadense”, nº12, 21 de Outubro de 1928,

pp.3-5

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117

DIAS Jaime Ferreira, Mosaicos, “O Almadense”, nº15, 21 de Outubro de 1928,

pp.2;5

DIAS Jaime Ferreira, Municipalismo, nº3, “O Almadense”, 29 de Julho de 1928,

p.5

DIAS Jaime Ferreira, O culto da indiferença, “O Almadense” nº33, 24 de

Fevereiro de 1928, p.2;

DIAS Jaime Ferreira, O flagelo da época, “O Almadense”, nº6, 19 de Agosto de

1928, p.3

DIAS Jaime Ferreira, Politica Municipalista, “O Almadense”, nº37, 24 de Março

de 1929, p.2

DIAS Jaime Ferreira, Quando deixará de ser a Paz uma ficção e a Guerra uma

ameaça?!, “O Almadense”, nº124, 23 de Novembro de 1930, p.3

DIAS Jaime Ferreira, Traumatismo social, “O Almadense”, nº28, 20 de Janeiro

de 1929, p.3

Discurso de Romeu Correia, “Jornal de Almada”, nº 887, 18 de Dezembro de

1971, p.12

Directriz Futura, “O Almadense”, II Série, nº2, 3 de Setembro de 1933, p.1

É assim mesmo, “O Almadense”, II série, nº7, 8 de Outubro de 1933, p.2

Ela a raquítica, “O Almadense”, II série, nº 4, 17 de Setembro de 1933, p.1

Esta é autêntica, “O Almadense”, II série, nº6, 1 de Outubro de 1933, p.1

Eleições A liberdade de voto, “O Almadense”, nº144, 13 de Abril de 1931, p.1

Em Espanha ha Liberdade ! Viva a Republica !, “O Almadense”, nº 145, 19 de

Abril de 1931, p.1

FERREIRA Libânio, A nossa biblioteca, “O Académico”, 1945 (sem páginas)

FERREIRA Libânio, Uma obra do povo e para o povo, “A Incrível”, 1948, pp.7;

23

GONÇALVES Armando, A defeza da República, “O Almadense”, nº32, 17 de

Fevereiro de 1929, nº32, p.2

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118

Homenagens a Ferreira de Castro, “Jornal de Almada”, nº594, 8 de Maio de 1966

Jaime Ferreira Dias, “O Almadense”, II série, nº 12, 12 de Novembro de 1933,

p.1

J. C., A falta de agua e Almada Urge resolvê-la para tranquilidade dos espíritos;

O mercado de Almada urge edifica-lo, “O Almadense”, nº 4, 5 de Agosto de 1928, pp.1-

2

J.C, Viação muito acelerada.., “O Almadense”, nº10, 16 de Setembro de 1928,

p.1;5

Jornal das Colectividades, Sociedade Filarmónica União Artística Piedense

Algumas passagens do seu relatório, “Jornal de Almada”, nº288, 26 de Junho de 1960,

p.6

Jornal das Colectividades, Incrível Almadense, Alguns pontos do seu relatório,

“Jornal de Almada”, nº295, 14 de Agosto de 1960, p.3

Manifesto dos candidatos de Setúbal, “Jornal de Almada”, nº773, 11 de Outubro

de 1969, p.3

Mussolini glorificado, “O Almadense”, II série, nº5, 24 de Setembro de 1933, p.1

O celebérrimo cais de Cacilhas, “O Almadense”, nº138, 1 de Março de 1931, p.5

O Nacional–Socialismo, “O Almadense”, II série, nº15, 3 de Dezembro de 1933,

p.1

O nome de Romeu Correia numa artéria de Almada, “Jornal de Almada”, nº886,

11 de Dezembro de 1971, p.1

O nosso director, “O Almadense,” nº160, 9 de Agosto de 1931, p.1

O trabalho dêle…, “O Almadense”, II série, nº2, 10 de Setembro de 1933, p.1

Palavras de saudade, “O Almadense”, II série, nº13, 19 de Novembro de 1933,

p.1

Para as creancinhas descalças das escolas primarias, “O Almadense”, nº20, 25

de Novembro de 1928, p.1

Pereira da Cruz, Valas da Piedade, “O Almadense”, nº13, 7 de Outubro de

1928,p.6

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119

Quem são os candidatos a deputados pelo círculo de Setúbal?, “Jornal de

Almada”, nº772, 4 de Outubro de 1969, pp.4-5

SOARES Manuel Lourenço, Ronda pelas Colectividades do Concelho de Almada

I- Sociedade Recreativa União Pragalense, “Jornal de Almada”, nº746, 5 e Abril de 1969,

pp.1-5

SOARES Manuel Lourenço, Ronda pelas Colectividades do Concelho de Almada

II- Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, “Jornal de Almada”, 19 de Abril de

1969, pp.1;4

SOARES Manuel Lourenço, Ronda pelas Colectividades do Concelho de Almada

V- Sociedade Cooperativa Piedense, “Jornal de Almada”, nº754, 31 de Maio de 1969, pp.

1;4

Realizou-se na Incrível Almadense uma sessão da oposição democrática, “Jornal

de Almada”, nº983, 20 de Outubro de 1973, 9.1

Rebentamento de petardos em Almada e Cacilhas, “Jornal de Almada”, nº 959, 5

de Maio de 1973, p.12

Ser republicano, “O Almadense”, nº49, 7 de Julho de 1929, p1

S. L. (Sebastião Lopes), Ao povo liberal de Almada, O Almadense, nº153, 2 de

Junho de 1931, p.1

Terra desgraçada!, “O Almadense”, II Série, nº 9, 22 de Outubro de 1933, p.1

Uma amostra, “O Almadense”, II série, nº14, 26 de Novembro de 1933, p.1

Uma demissão, “O Almadense”, II série, nº5, 24 de Setembro de 1933, p.1

Um concelho mártir, “O Almadense”, II série, nº20, 7 de Janeiro de 1934, pp.1; 4

Um grande político, “O Almadense”, II série, nº 12, 12 de Novembro de 1933,

Um prodígio, “O Almadense”, II série, nº3, 16 de Setembro de 1933, p.1

VIEIRA José, Piedade Senhores!, “O Almadense”, nº138, 1 de Março de 1931,

p.2

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120

Arquivo Histórico de Almada – Colectividades do Concelho de

Almada (consultado online através do site infogestnet.com)

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de Visitantes 1945-

2006, Mensagens de Jorge Borges de Macedo (AHALM-CCA-006-01-001-003_m0007),

Fernando Lopes de Graça (AHALM-CCA-006-01-001-003_m0011) e Maria Lamas

(AHALM-CCA-006-01-001-003_m0017)

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas

das sessões da Assembleia Geral 1933-1941, Actas de 30 de Novembro de 1939

(AHALM-CCA-006-02-003-004_m0064), de 10 de Maio de 1940 (AHALM-CCA-006-

02-003-004_m0067) e de 8 de Maio de 1941 (AHALM-CCA-006-02-003-004_m0095);

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas da

Assembleia Geral, 1940-1948, Actas de 12 de Março de 1942 (AHALM-CCA-006-02-

003-005_m0019) e de 6 de Março de 1943 (AHALM-CCA-006-02-003-005_m0030).

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas

da Direção, 1948-1949, Actas de 25 e 26 de Janeiro e de 7 de Fevereiro de 1949

(AHALM-CCA-006-02-006-006_m0047 a AHALM-CCA-006-02-006-006_m0057)

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas

da Direção, 1955-1958, Actas de 10 e 31 de Maio de 1958 (AHALM-CCA-006-02-006-

008_m0186 a AHALM-CCA-006-02-006-008_m0187; AHALM-CCA-006-02-006-

008_m0191 a AHALM-CCA-006-02-006-008_m0193)

Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, Livro de registo das atas

da Direção, 1972-1976, Actas de 11, 18 e 25 de Outubro de 1973 (AHALM-CCA-006-

02-006-014_m0057 a AHALM-CCA-006-02-006-014_m0062)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Bailes, Mi-Careme, Conferências,

Excursões e Romagens, A relação de conferências, palestras e colóquios, (AHALM-

CCA-001-01-001-003_m0075 a AHALM-CCA-001-01-001-003_m0082)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, A Biblioteca e os Músicos da Incrível,

AHALM-CCA-001-01-001-016_m0009 e AHALM-CCA-001-01-001-016_m0010

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121

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Sessões Solenes, Orquestras,

Comissões do Teatro, Biblioteca, Prof. Simões Raposo, Serração da Velha, Biblioteca

(AHALM-CCA-001-01-001-013_m0098 a AHALM-CCA-001-01-001-013_m0109)

Sociedade Filarmónica, Incrível Almadense, Livro de registo das atas da

Assembleia Geral, 1937-1950, Actas de 19 de Julho de 1943 (AHALM-CCA-001-02-

003-001_m0091) e 18 de Abril de 1945 (AHALM-CCA-001-02-003-001_m0110)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Direção,

1937-1941, Actas de 16 de Outubro de 1939 (AHALM-CCA-001-02-005-002_m0054);

20 de Maio de 1940 (AHALM-CCA-001-02-005-002_m0075) e 10 de Janeiro de 1941

(AHALM-CCA-001-02-005-002_m0097)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Direção

1941-1950, Actas de 15 de Janeiro de 1942 (AHALM-CCA-001-02-005-003_m0039) e

9 de Fevereiro de 1943 (AHALM-CCA-001-02-005-003_m0084)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas das sessões

da Assembleia Geral, 1937-1950, Acta da sessão de 20 de Dezembro de 1948 (AHALM-

CCA-001-02-003-001_m0161 a AHALM-CCA-001-02-003-001_m0172)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas das sessões

da Assembleia Geral, 1937-1950, Acta da sessão de 14 de Janeiro de 1949 (AHALM-

CCA-001-02-003-001_m0172 a AHALM-CCA-001-02-003-001_m0174)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas das sessões

da Assembleia Geral, 1956-1959, Acta de 28 de Março de 1958 (AHALM-CCA-001-02-

003-003_m0156 a AHALM-CCA-001-02-003-003_m0158)

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Direção,

1957-1959, Actas da Direcção de 13 de Maio de 1958 e de 20 de Maio de 1958, AHALM-

CCA-001-02-005-006_m0078 a AHALM-CCA-001-02-005-006_m0083

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Direção,

1969-1970, Actas da Direcção de 3 de Outubro de 1969, 13 de Outubro de 1969 AHALM-

CCA-001-02-005-017_m0054 a AHALM-CCA-001-02-005-017_m0057

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas da Direção,

1973, LActa da Direcção de 18 de Outubro de 1973, AHALM-CCA-001-02-005-

021_m0057

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122

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas dos Corpos

Sociais, 1958-1960, Acta dos Corpos Sociais de 8 de Maio de 1958, AHALM-CCA-001-

02-008-002_m0021 a AHALM-CCA-001-02-008-002_m0027

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Livro de registo das atas dos Corpos

Sociais, 1964-1973, Acta de 3 de Outubro de 1969 AHALM-CCA-001-02-008-

004_m0043 a AHALM-CCA-001-02-008-004_m0045

Arquivo Histórico Parlamentar

Abaixo-assinados dos corticeiros de Almada, dos trabalhadores da Cova da Piedade e dos

tanoeiros e trabalhadores de armazém de exportação de vinhos do concelho de Almada

dirigidos a Cunha Leal com apelos á candidatura à Presidência da República em 1958,

cota: AFPCL, cx. 6, mç. 4 nº 74 a 76

Actas do Plebiscito Nacional para Aprovação do Projecto de Constituição Política

da República Portuguêsa Assembleias de voto de Almada, Caparica, Charneca, Costa da

Caparica, Cova da Piedade e Trafaria, 16 de Março de 1933 (Secção XXV-D, cx. 42)

Acta da Assemblea de apuramento da eleição dos Membros da Assemblea

Nacional, Concelho de Almada, 23 de Dezembro de 1934 cota XXV –c), cx.21, s.n.

Comissão de Inquérito aos Elementos da Organização Corporativa, Casa dos

Pescadores de Lisboa- Secção Costa da Caparica, 1946 cota: AN, Col. 5, nº2, s. n

Comissão de Inquérito aos Elementos de Organização Corporativa, Sindicato

Nacional dos Trabalhadores de Armazéns do Distrito de Setúbal, cota: AN, cx. 38, nº26,

s.n

Estado Novo, Assembleia Nacional, III Legislatura, Sessão Legislativa 02,

número 51, 29 de Fevereiro de 1944, p.171);Estado Novo, Assembleia Nacional, III

Legislatura, Sessão Legislativa 02, Suplemento ao Diário de Sessões nº42, 6 de Dezembro

de 1943 p.4

Estatutos do Grémio da Lavoura de Almada e Seixal, Lisboa, tip. Adolfo de

Mendonça LTD., 1944, cota: AN, cx.9, nº4

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123

Arquivo Histórico Social do Instituto de Ciências Socias da

Universidade de Lisboa

DIAS Jaime Ferreira, Os Escravos da Gleba, Lisboa, Edição da Biblioteca de

Educação Social, 1928 (I.C.S. PQ.1170 B.140)

Arquivo Nacional Torre do Tombo

Arquivo Salazar: Censura do “Jornal de Almada”, AOS/CO/PC-57.

Comunicado da Direcção da Organização Regional de Lisboa do Partido

Comunista Português aos trabalhadores da região de Lisboa e arredores, 1954,

AOS/CO/PC-3I

Ocorrência de incidentes em Almada, causadores da morte do corticeiro Cândido

Martins dos Santos Capilé, do Partido Comunista Português, Arquivo Salazar, PC-66,

caixa 640, pasta 29

Arquivo PIDE/DGS: Cadastro de Adriano Pimenta, PIDE/DGS, SC, Cad.,

Proc.3216 Adriano Pimenta

Cadastro de Pedro de Matos Filipe, Pide, SC, Cadastro 5148 Pedro de Matos Filipe

Carta da comissão executiva da candidatura de Arlindo Vicente à direcção da

Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, 13 de Maio de 1958, PIDE/DGS, SC,

SR,50/46,NT2513

Informação da PIDE sobre a mesa de voto de Almada nas eleições de 1958 do

lado oposicionista, PIDE/DGS,SC,SR,50/46,NT2513

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124

Está organizado o programa das comemorações em Almada, O Século, 28 de

Setembro de 1956 (Informação constante nos processos da PIDE sobre o MUD),

PIDE/DGS, SC, SR,50/46,NT2513

Informação sobre prisão de Hélio Quartim, 14 de Maio de 1943, PIDE/DGS, SC,

SR,50/46,NT2513

Informação sobre teor do discurso de Hélio Quartim no jantar de confraternização

republicana em Almada a 5 de Outubro de 1956, PIDE/DGS, SC, SR,50/46,NT2513

Informação do posto da PIDE de Setúbal sobre os recenseados em Almada a favor

de Arlindo Vicente nas eleições de ’58, 11 de Maio de 1958, PIDE/DGS, SC,

SR,50/46,NT2513

Jantar comemorativo da entrada das tropas liberais em Lisboa, República, 21 de

Julho de 1957 (informação constante no processo da PIDE sobre o MUD), PIDE/DGS,

SC, SR,50/46, NT2513

Notas biográficas sobre Hélio Quartim, PIDE/DGS,SC,SR,50/46,NT2513

PIDE, SC, PC 25/38, NT 4502, Alberto Emílio de Araújo

PIDE,SC,GT 128, NT 1393 Alberto Emílio de Araújo

PIDE, SC, Boletim 6013 Alberto Emílio de Araújo

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. nº1103/38, NT 4536 Alfredo Assunção Diniz

PIDE/DGS, SC, SR, Proc. 215/48, NT 2620 Alfredo Assunção Diniz

PIDE/DGS, SC, GT 7 NT 1384 Alfredo Assunção Dinis

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. nº 140/53, NT 5089 Alfredo Assunção Dinis

PIDE/DGS, SC, SR, Proc. nº543/68, NT 3640, António Rogério Reizinho Falcão

PIDE/DGS, SC, E/GT, Proc. nº6228, NT 1530 António Rogério Reizinho Falcão

PIDE/DGS, Del P, SR, Proc. nº 43119, NT 4106 António Rogério Reizinho Falcão

PIDEDGS, SC CI (1), Proc. nº5118, NT 1291-1292 Associações Recreativas

Culturais e Desportivas – Clube Recreativo da Caparica

PIDE, DGS, SC, CI(1), Proc. Nº 5118, NT 1292 Associações Recreativas e

Culturais e Desportivas – Sociedade Filarmónica Incrível Almadense – Almada

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125

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. 1359/40, NT4946 Adriano Pimenta

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº5191, NT 1305 Cooperativas – Sociedade

Cooperativa Piedense

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº 5192, NT 1305 Cooperativas – Sociedade

Cooperativas de Consumo União Pragalense – Pragal – Almada

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº167, NT 1163 Empresas – H. Parry and Som Lda.

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº167, NT 1169 Empresas – Lisnave

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. 1227, NT4309 Filipe José da Costa, Silvino Augusto

Ferreira

PIDE/DGS, SC, SPS 4778. NT 4269 Francisco Fritz Gerald Correia dos Santos

PIDE/DGS, Delegação do Porto, PI 124, NT 3449 Francisco Fritz Gerald Correia

dos Santos

PIDE/DGS, SC, Bol., Proc. 135588, Henrique Lima Barbeitos Pinto

PIDE/DGS,SC,PC, Proc. 973/58 NT 5223 Henrique Lima Barbeitos Pinto

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. 1751/64, NT 5693, Henrique Lima Barbeitos Pinto

PIDE/DGS,SC,SR, Proc. 2033, NT 2354 Henrique Lima Barbeitos Pinto

PIDE/DGS, Del P, PI, Proc. Nº25710, NT 3846 Henrique Lima Barbeitos Pinto

PIDE/DGS, SC, E/GT, Proc. 101, NT 1434 Henrique Lima Barbeitos

PIDE/DGS, Delegação do Porto, PI 22717, NT 3811 José Alaíz

PIDE/DGS, SC, CI(1) 5058, NT 1288 José Alaíz

PIDE/DGS, SC, E/GT 10432, NT 1579 José Alaíz

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. nº 629/59, NT 5291 José Alves de Almeida

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. nº1195/58, NT 5243 José Alves de Almeida

PIDE/DGS, SC, SR, Proc. nº4743/58, NT 2888 José Alves de Almeida

PIDE/DGS, SC, E/GT, Proc. nº1241, NT 1455 José Alves de Almeida

PIDE/DGS, Del P, Cad., Proc. nº 11709, NT 3447 José Alves de Almeida

PIDE/DGS, Del P, P I, Proc. nº26802, NT 3865 José Alves de Almeida

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126

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº1327, NT 1218 Organizações Católicas – Cânticos

– Igreja Paroquial da Cova da Piedade

PIDE/DGS, SC, CI (1), Proc. nº 2224, NT 1243 Pantera Cor de Rosa – Tabacaria

e Livraria – Almada

PIDE/DGS, SC, CI (2), Proc. nº1336, NT 7082 Partido Comunista Português

PIDE,SC,PC 742/36, NT 4441 Pedro de Matos Filipe

PIDE,SC, SPS 1011, NT 4303 Pedro de Matos Filipe

PIDE, SC, SR, 1197/48 NT 2630 Romeu Correia

PIDE, SC, CI(2) 14125, NT 7705 Romeu Correia

PIDE, SC, E7GT 6048, NT 1528 Romeu Correia

PIDE/DGS, SC, CI(1), Proc. nº5118, NT 1292, Sociedade Filarmónica União

Artística Piedense

PIDE/DGS, SC, SR, Proc. nº 1592/53, NT 2726 Sofia do Nascimento Pinto

PIDE/DGS, SC, PC, Proc. nº 112/53, NT 5087 Sofia do Nascimento Pinto (PT-

TT-PIDE-E-015-11253)

Processo de Alberto Emílio de Araújo, Pide, SC, SPS 3198, NT 4366, Alberto

Emílio de Araújo +

Processo de António Lopes e de Domingos Miguel na PVDE, PIDE/DGS, SC,

PC, Proc. 1177, NT4307 Domingos Miguel, António Lopes

Inspecção dos Organismos Corporativos: Grémio do Comércio dos Concelhos

de Almada e Sesimbra, Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 106, proc. 7

Secretaria Comum (Geral) dos Sindicatos e Secções com Sede em Almada,

Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 65, proc.10

Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório do Distrito de Setúbal (Secção

de Almada), Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 64, proc.6

Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Conservas do Distrito de Setúbal

(Secção de Almada), Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 63, proc.8

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127

Sindicato Nacional dos Operários Corticeiros do Distrito de Setúbal (Secção de

Almada), Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 63, proc.11

Sindicato Nacional dos Operários Metalúrgicos do Distrito de Setúbal (Secção de

Almada), Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 65, proc. 4

Sindicato Nacional dos Operários Tanoeiros do Distrito de Setúbal (Secção de

Almada), Inspecção dos Organismos Corporativos, cx. 65, proc. 10

Ministério do Interior: “Agressão e injúrias ao pároco de Almada”, Ministro do

Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 479, [pt.19/1], ff.1;3

“Envio do oficio do administrador do Concelho de Almada”, Ministério do

Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 465, [pt. 21/4]

“Felicitações da CM de Almada pela posição do governo face ao conflito

espanhol”, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 483, [pt.16/1]

“Moção da Comissão da União Nacional de Almada”, Ministério do Interior,

Gabinete do Ministro, , Mç.457, [pt.17/16], f.1

“Ofício de Jacinto Monteiro Torres Franco dirigido ao administrador do concelho

de Almada”, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, Mç. 452, [pt.23]

Registo Geral de Presos: Adelino José Cabrita, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 105, registo nº20910

Adolfo Assis Ramos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 111,

registo nº22144

Adrião Martins Roxo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

105, registo nº21702,

Albertino Ferreira de Oliveira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 117, registo nº 23325

Alberto Emílio de Araújo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

45, registo nº8923

Alberto Fernandes Estrela, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 132, registo nº26158

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128

Alberto Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 140,

registo nº27810

Alberto da Conceição Rodrigues Viegas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 93, registo nº18575

Albino Quaresma Francisco, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 140, registo nº27920

Alexandre dos Santos Castanheira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 104, registo nº20605,

Alfredo da Conceição Gualparrão dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 125, registo nº24918,

Álvaro Augusto de Carvalho Borges Fernandes, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 141, registo nº28110

Álvaro Agostinho Fragoso Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 144, registo nº28663

Amadeu Gonçalves de Almeida Ferrão, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 126, registo nº25040,

Américo Messias Pires Gonçalves da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 130, registo nº25870

Amílcar da Veiga Perdigão, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 105, registo nº20862

André de Matos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 131,

registo nº26147

Anselmo da Encarnação Albano, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 151, registo nº26155

Antero Quaresma Gonçalves, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 132, registo nº26268

António Braz de Ascensão, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 144, registo nº28638

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129

António Correia de Matos Santa Bárbara, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 125, registo nº 24910

António Luís Rodrigues Cabral, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 144, registo nº28767

António Pereira Correia, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

125, registo nº24909

António Rogério Reizinho Falcão, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 139, registo nº 27786

António Pombo Miguel, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

125, registo nº24901

António Jerónimo Barbosa Cidadão Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 143, registo nº28412

António da Conceição Marques, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 106, registo nº21117

António dos Santos Marques, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 131, registo nº26159

António Joaquim Almeida Moura, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 142, registo nº28278

António dos Santos Pereira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 124, registo nº24788

António Pereira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 86,

registo nº17164

António Albuquerque dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 124, registo nº24604

António José Alves dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 137, registo nº27370

António Alves da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

126, registo nº25048

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130

António Correia Velhinho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 144, registo 28768

Aquilino das Dores Mourinho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 129, registo nº25735

Arnaldo da Conceição Oliveira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 116, registo nº23151

Artur Catarino Simões, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

121, registo nº24196

Augusto Calvário Salvádo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 74, registo nº 14752

Augusto da Costa Valdez, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

6, registo nº 1004

Aureliano Joaquim José dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 133, registo nº26534

Boaventura Tomás de Pinho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 105, registo nº26153

Bráulio Barbas Monteiro Tôrres, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 6, registo nº1007

Cândido Migueis da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

86, registo nº17162

Carlos Teixeira Rodrigues, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 72, registo nº14280

Darwin Augusto da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

131, registo nº26157

Desidério Gomes Madeira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 143, registo nº28581

Domingos Pereira da Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 132, registo nº26352

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131

Edmundo Pedro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 2,

registo nº216

Eduardo José Frieza, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 131,

registo nº26156

Ernesto Pranchas Filipe Azedo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 126, registo nº25037

Eugénio Simões de Oliveira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 124, registo nº24770

Fernando Roxo da Gama, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

125, registo nº24889

Fernando Joaquim, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 135,

registo n.º 26807

Fernando Pereira Marques, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 131, registo nº26146

Fernando Nunes Pereira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

125, registo nº24911

Fernando Almeida Ribeiro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 38, registo nº7576

Fernando Jorge Martins Simões, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 126, registo n.º 25047

Fernando Trindade Valverde, PIDE, Serviços Centrais, Registos Geral de Presos,

livro 84, registo nº16739

Filipe José da Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 6,

registo nº1165

Filipe da Assunção Lopes, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

107, registo nº24902

Francisco Marques Açucena, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 134, registo nº26778

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132

Francisco Ramos Brissos de Carvalho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 127, registo n.º 25291

Francisco Jara, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 86,

registo nº17167

Francisco Fritz Gerald Correia dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 89, registo nº17629

Francisco Simões, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 78,

registo nº15520

Gabriel Pedro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 1, registo

nº71

Gilberto Henrique Rita da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 142, registo nº28279

Gomercindo de Jesus Carvalho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 140, registo nº 27815

Gregório Trindade Guinote, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 85, registo nº16983

Henrique Lima Barbeitos Pinto, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 115, registo nº22920

Jaime de Jesus Figueiredo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 96, registo nº19062

João Pereira de Abreu, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

125, registo nº 24900

João Marcos Antunes, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

123, registo nº24441

João Evaristo Araújo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 45,

registo nº8951

João Alberto Raimundo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

118, registo nº23595

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133

Joaquim da Silva Rodrigues do Carmo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 131, registo nº26148

Joaquim António Campino, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 83, registo nº16458

Joaquim Eugénio Ferreira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 144, registo nº28765

Joaquim Estevão Miguel Judas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 145, registo nº28879

Joaquim Cabrita Lourenço, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 131, registo nº26136

Joaquim Montes, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 1,

registo nº93

Joaquim Eduardo Pereira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 104, registo nº20757

Joaquim da Conceição Sim Sim, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 125, registo nº24904

Jorge Rodrigues Miguel, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

123, registo nº24440

José Alves de Almeida, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

117, registo nº23304

José Manuel Marques Carvela, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 143, registo nº28584

José António Neto Correia, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 131, registo nº26150

José Salvador Correia, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

116, registo nº23150

José Francisco Braizinha da Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 127, registo nº20846

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134

José da Cruz, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 134, registo

nº26740

José Inácio da Cruz, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 117,

registo nº23322

José Paixão Galante, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 141,

registo nº28108

José Duarte Galo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 125,

registo nº24903

José Carlos Pinto Gonçalves, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 98, registo, nº19571

José Gordinho, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 86, registo

nº17160

José António Lemos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 126,

registo nº25044

José Guerreiro Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

86, registo nº17193

José Augusto de Sousa Machado, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 74, registo nº14797

José Ricardo Lavaredas Zagalo e Melo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral

de Presos, livro 134, registo nº26668

José Alberto Monteiro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

118, registo nº23524

José António Marques Moreira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 125, registo nº24905

José Alberto Raimundo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

118, registo nº23595

José Felícia Ricardo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 116,

registo nº23153

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135

José Matias Rocha, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 86,

registo nº17161

José Malheiro da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

108, registo nº21554

José Joaquim Mateus da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 105, 20904

José Manuel Veríssimo da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 144, registo nº28770

José Rodrigues Vitorino, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

93, registo nº18410

Júlio Monteiro Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

86, registo nº17165

Justino das Neves Mascarenhas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 117, registo nº23263

Laurentino Amaral Santa Bárbara, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 86, registo nº17190

Libânio Augusto da Silveira Batista Ferreira, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 3, registo nº467

Liberto da Silva Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

86, registo nº17163

Ludgero António Pardal, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

140, registo nº27808

Luís Perdigão Bastos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

132, registo nº26381

Luís da Cunha Taborda, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

4, registo nº627

Manuel de Sousa Alexandre, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 140, registo nº27803

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136

Manuel Calvário, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 131,

registo nº26081

Manuel Ferreira Cardoso, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 130, registo 25836

Manuel Augusto da Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

1, registo nº142

Manuel João Farelo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 135,

registo nº26876

Manuel Custódio de Jesus, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 143, registo nº28586

Manuel Joaquim Miguel Judas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 148, registo nº29451

Manuel José Fernandes Lourenço, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 104, registo nº20612

Manuel Pereira Lucas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

131, registo nº26154

Manuel Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 132,

registo nº26353

Manuel Bernardo Miguel, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

131, registo nº26126

Manuel Marques da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

126, registo nº 25041

Manuel Simões, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 132,

registo nº26354

Manuel José de Serpa Viana, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 3, registo nº469

Marçal Duarte Florêncio, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

139, registo n.º 27768

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137

Maria dos Anjos Nazaré Dias Aleixo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 143, registo nº28564

Maria Adelaide Ribeiro da Fonseca, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 118, registo nº23446

Maria da Conceição Guerreiro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 115, registo nº22976

Maria Bárbara Olaia da Silva Miguel Judas, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 145, registo nº28880

Maria José Lopes da Silva, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 118, registo nº23445

Mariano Fernando Rasteiro Calado Mateus, PIDE, Serviços Centrais, Registo

Geral de Presos, livro 119, registo nº23654

Mariano António Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

144, registo nº28618

Mário José Araújo, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 140,

registo nº27809

Mário Coelho Caeiro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

104, registo nº20798

Mário Ferreira Dias, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 132,

registo nº26267

Mário Moreira, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 86,

registo nº17166

Mário Eugénio Rodrigues Sampaio, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de

Presos, livro 142, registo nº28386

Noémio José Martins, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

131, registo n.º 26152

Pedro de Matos Filipe, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro 1,

registo nº164

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138

Raul Antunes Cordeiro, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

117, registo nº23303

Romão dos Santos Duarte, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 1, registo nº168

Salvador Barbagilata Lucas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 138, registo nº27473

Sebastião Camilo Barradas, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 138, registo nº27401

Sebastião Martins dos Santos, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 138, registo nº27519

Sofia do Nascimento Pinto, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 107, registo nº21351

Vitor Fernandes Costa, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, livro

104, registo nº20611

Vitor Manuel Martins Bento, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 144, registo nº28641

Vladimiro Marques Guinot, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos,

livro 141, registo nº28109

Secretariado Nacional de Informação: “As cinco vogais”, Secretariado

Nacional de Informação, Direcção Geral dos Serviços de Espectáculos proc.4260

(PT/TT/SNI-DGE/1/4/260)

“Filhos da noite”, Secretariado Nacional de Informação, Direcção Geral de

Serviços de Espectáculos, proc. 2993 (PT/TT/SNI-DGE/1/2993)

“Isaura”, Secretariado Nacional de Informação, Direcção Geral dos Serviços de

Espectáculo, proc. 4991, (PT/TT/SNI-DGE/1/4/991)

“Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa 560

“Jornal de Almada”, Secretariado Nacional de Informação, Censura caixa 609

“Madrugada”, Secretariado Nacional de Informação, Direcção Geral dos Serviços

de Espectáculo proc. 2988, (PT/TT/SNI-DGE/1/2988)

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139

“Proibição do livro “Sábado sem Sol”, Secretariado Nacional de Informação,

Censura, cx.732

“Revelações”, Secretariado Nacional de Informação, Direcção Geral dos

Serviços de Espectáculos proc. 2986 (PT/TT/SNI-DGE/1/2986)

“Uma gota de vida”, Secretariado Nacional de Informação, Direcção Geral dos

Serviços de Espectáculos, proc. 5010

União Nacional: Carta da União Oeirense Futebol Clube ao Presidente da

omissão Executiva da União Nacional, 25 de Abril de 1964, União Nacional, cx. 498, mç.

1172 (PT/TT/UN-A/A/9-217/5)

Carta de António Correia, director do jornal Praia do Sol à Comissão

Administrativa da União Nacional em Lisboa, 25 de Fevereiro de 1959, União Nacional,

cx. 447, cm. 993 (PT/TT/UN-A/9-217/4)

Carta do Secretário Adjunto da União Nacional a António Correia, director do

jornal Praia do Sol, 3 de Fevereiro de 1960, União Nacional, cx. 447, mç. 993

(PT/TT/UN-A/9-217/4)

Informação emitida pela secção de contabilidade da União Nacional relativa ao

subsídio dado ao jornal Praia do Sol, 19 de Janeiro de 1960, União Nacional, cx. 447, mç.

993 (PT/TT/UN-A/9-217/4)

União Nacional, cx. 447, mç. 993

Biblioteca Municipal de Almada

MATEUS Fernando B., Há sempre alguém que resiste… Histórias de resistência

e outras, Cova da Piedade, Junta de Freguesia da Cova da Piedade, 2001

CASTANHEIRA Alexandre, Desilusão optimista, s.l., Sol XXI, 1993

CASTANHEIRA Alexandre, Parry & Sentimento, Cacilhas, Grafema, 1999

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140

CASTANHEIRA Alexandre, Outrar-se ou a longa invenção de mim, Porto,

campo das letras, 2003

Biblioteca Museu República e Resistência

Comissão do livro negro sobre o regime fascista, Presos políticos no regime

fascista 1932-1935, Presidência do Conselho de Ministros, 1º volume, Mem Martins,

1981

Comissão do livro negro sobre o regime fascista, Presos políticos no regime

fascista, Presidência do Conselho de Ministros, 2º volume, Mem Martins, 1982

Comissão Nacional de Socorro dos Presos Políticos, Presos Políticos documentos

1970-1971 1972-1974, Assembleia da República, Lisboa, 2011

SOUSA Franco de (coord.), Tarrafal Testemunhos, editorial caminho, s.l 1978

Biblioteca Nacional de Portugal

Livros: BARBOSA Raul Tamagnini, Modalidades e aspectos do cooperativismo, Porto,

Imprensa Social, 1930

BARBOSA Raul Tamagnini, Direito Cooperativo, Porto, Imprensa Social, 1935

CABRAL Alexandre, Fonte da Telha Romance, Lisboa, 1949

CORREIA Romeu, Trapo Azul, Lisboa, edição de autor, 1948

CORREIA Romeu, Calamento, Lisboa, Editorial Minerva, 1950

CORREIA Romeu, Gandaia, Lisboa, Guimarães Editores, 1952

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141

CORREIA Romeu, Desporto-Rei, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1955

CORREIA Romeu, Vagabundo das Mãos de Oiro, Almada, 1960

CORREIA Romeu, Jangada, Lisboa, Portugália, 1963

CORREIA Romeu, Bocage, Barcelos, colecção vária 2, 1965

CORREIA Romeu, três peças de romeu correia, Lisboa, Editorial Minerva, 1968

CORREIA Romeu, O Cravo Espanhol, Lisboa, Livraria Sam Carlos, 1969

CORREIA Romeu, Casaco de Fogo, 2ª edição, Lisboa, Prelo, 1970

CORREIA Romeu, Roberta, Lisboa, Livraria Sam Carlos, 1971

CORREIA Romeu, Os Tanoeiros, Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 1976

CORREIA Romeu, O Tritão, Lisboa, Editorial Notícias, 1983

CORREIA Romeu, Bonecos de Luz, 5ª edição, Lisboa, Editorial Notícias, 1987

CORREIA Romeu, Cais do Ginjal, Lisboa, Editorial Notícias, 1989

DIAS Jaime Ferreira, Duas uniões victoriosas, Cacilhas, Typographia Mesquita, 1931

DELGADO Humberto, Memórias de Humberto Delgado, Lisboa, Publicações Dom

Quixote, 1991

GIDE Charles, As Sociedades Cooperativas de Consumo, Lisboa, Livraria Classica

Editora, 1908

MACEDO José de, Cooperativismo, Lisboa, Biblioteca Popular de Orientação Socialista,

1898

MATOS Norton, Os dois primeiros meses da minha candidatura à Presidência da

República, Lisboa, Edição de Autor, 1948

MATOS Norton, A Nação Una, Lisboa, Paulino Ferreira, Filhos, LDA., 1953

Partido Comunista Português, As Greves de 8 e 9 de Maio de 1944, Lisboa, edições

Avante, 1979

SÉRGIO António, Sobre o Sistema Cooperativista, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1984

SILVA António Avelino Amaro da, O Caramujo Romance Histórico Original, Lisboa,

Typographia Universal, 1863

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142

SILVA Fernando Emygdio da, Cooperativas de Consumo sua technica, Lisboa, Edição

da Cooperativa 29 de Dezembro, 1917

Periódicos: Abastecimento de Agua à Cova da Piedade, “Diário de Notícias”,

nº28635, 1 de Novembro de 1945, p.5

A. D. T., Acerca da (in) actividade cultural na Cooperativa Piedense,

“República”, 16 de Outubro de 1969, pp.7;10

A Incrível Almadense recebeu ontem a Imprensa e a Rádio, “República”, nº9830,

7 de Maio de 1958, p.7

Alguns resultados do acto eleitoral fornecidos oficialmente, “O Primeiro de

Janeiro”, nº 157, 9 de Junho de 1958, p.5

A Lisnave vai construir uma nova doca que custará mais de 400 mil contos,

“República”, 6 de Janeiro de 1969, p.8

Almada – cidade a dois km de Lisboa, “República”, 13 de Junho de 1973, p.1;20

Almada festejou a elevação a cidade, “República”, 21 de Junho de 1973, pp.1;16

Almada realiza amanhã uma sessão de apoio ao general Humberto Delgado,

“República”, nº 9851, 28 de Maio de 1958, p.6

A. M., De atleta a romancista O antigo campeão Romeu Correia acaba de

publicar o romance dos pescadores da Caparica, “A Bola”, nº555, 17 de Junho de 1950,

p.2

Amanhã há uma reunião de republicanos em Setúbal, “O Século”, nº22829, 13 de

Outubro de 1945, p.2

ANDRADE João Pedro de, Os romances de Romeu Correia, “Ler”, nº1, Abril de

1952, p.3

A “República” em Pragal (Almada) Fevereiro, 5, “República”, nº6557, 6 de

Fevereiro de 1949, p.7

A reunião de ontem no cinema de Almada, “Diário de Notícias”, nº28630, 27 de

Outubro de 1945, p.2

A reunião de Setúbal, “Diário de Notícias”, nº28617, 14 de Outubro de 1945, p.5

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143

À reunião de Setubal (sic) assistirão inumeros republicanos do Barreiro, “Diário

Popular”, nº1096, 13 de Outubro de 1945, p.12

A reunião de Setubal (sic), decorreu com grande entusiasmo e com larga

concorrência de pessoas do Barreiro, “O Século”, nº22830, 14 de Outubro de 1945, p.2.

As eleições de Outubro, A nossa meta é a consciencialização política de todos os

portugueses –diz-se num manifesto da C. D. E. de Setúbal, “República”, 7 de Outubro de

1969, p.7

As eleições de Outubro «Estamos hoje a viver uma jornada que nos levará à

vitória» - afirmou-se no comício da C. D. E. de Setúbal em Alhos Vedros, “República”,

22 de Outubro de 1969, p.7

As eleições de Outubro Listas de oposição, “República”, 7 de Outubro de 1969,

p.12

As eleições de Outubro Um Comunicado da Oposição de Setúbal, “República”, 1

de Outubro de 1969, p.3

Assembleia de Caparica, “Correio do Sul”, nº35, 4 de Setembro de 1910, p.1

Assembleia de S. Tiago, “Correio do Sul”, nº35, 4 de Setembro de 1910, p.1

A sessão oposicionista em Almada, “República”, 9 de Outubro de 1969, p.1

“A soma e a qualidade dos benefícios concedidos pelas casas de pescadores

representam o mais extraordinário contraste com a situação anterior ao advento da

Revolução Nacional” – disse o sr. subsecretário das Corporações na inauguração do

bairro para pescadores na Costa da Caparica, “O Século”, nº24012, 2 de Fevereiro de

1949, p.1;9

Caparica Grupo dos amigos da Charneca, “República”, 3 de Maio de 1973, p.13

Comissão concelhia de Almada da União Nacional, “O Século”, nº24709, 13 de

Janeiro de 1951, p.5

Comunistas em Almada, “A Verdade… nua e crua”, nº6, 4 de Fevereiro de 1923,

p.3

Conferência do Prof. Dias Agudo sobre António Sérgio na Piedense, “República”,

5 de Março de 1969, p.6

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144

C. P., Almada elevada a cidade!, “República”, 20 de Junho de 1973, p.13

CORREIA Romeu, O elogio do fantoche, “Vértice”, nº 331-332, Agosto –

Setembro de 1971

Democratas de Almada debatem os problemas do seu distrito, “O Primeiro de

Janeiro”, nº282, 14 de Outubro de 1973, p.10

De Norte a Sul, “Diário de Notícias”, nº28652, 18 de Novembro de 1945, p.6

DIONÍSIO Mário, Trapo Azul – Romance de Romeu Correia. Lisboa, 1948,

“Vértice”, vol. VII, Junho de 1949, pp.370-372

Efeitos do temporal, 85 famílias da Cova da Piedade receberam hoje donativos

em dinheiro e agasalhos, entregues pelo Ministro do Interior, “Diário Popular”, nº1135,

22 de Novembro de 1945, p.6

Eleições d’hoje O momento da lucta, “Correio do Sul”, nº34, 28 de Agosto de

1910, p.1

Eleições para Deputados à Assembleia Nacional, Dados estatísticos fornecidos

pelo Ministério do Interior, “O Primeiro de Janeiro”, nº297, 29 de Outubro de 1973

Em Almada, “Diário de Notícias”, nº29780, 13 de Janeiro de 1949, p.6.

Em Almada houve prejuízos e faltou energia eléctrica, “O Século”, nº24851, 7 de

Junho de 1951, p.5

Em Almada um incêndio cujas causas estão para esclarecer, “República”, 6 de

Janeiro de 1969, p.8

Em Almada Numa sessão de 1propaganda a favor do general sr. Norton de Matos,

falaram os srs. dr, Mayer Garção, dr. Pinto Gonçalves, dr. Palma Carlos, o trabalhador

Benjamim Lopes Francisco, o dr. Ramos e Costa e a escritora D. Maria Lamas, “O

Primeiro de Janeiro”, nº13, 14 de janeiro de 1949, p.3

Endereços e telefones dos Movimentos de Oposição, “República”, 9 de Outubro

de 1969, p.12

Expediente, “Correio do Sul”, nº 40, 16 de Outubro de 1910, p.1

Falta de água nas zonas altas de Cascais, na Caparica e em Almada, “República”,

14 de Julho de 1969, p.6

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145

FERREIRA Armando, Primeiras representações Teatro D. Maria II, «Casaco de

fogo», “Jornal do Comércio,” 19 de Dezembro de 1953, pp. 4;8

F. d’ A., Christo, “Correio do Sul”, nº5, 30 de Janeiro de 1910, p.3

Foram empossados novos membros da comissão da U. N. do concelho de Almada,

“O Século”, nº23914, 22 de Novembro de 1948, p.2

Foram jornadas de entusiasmo e de fé democrática as sessões realizadas em

Almada e Grândola, “República”, nº 6548, 27 de Janeiro de 1949, p.7

Homenagem a Romeu Correia na Sociedade Recreativa União Pragalense,

“República”, 31 de Julho de 1969, p.9

Inquérito Situação do teatro em Portugal, “Vértice”, nº294, Março de 1968,

pp.215-219

JACINTO Maria Ondina G. Valverde, Almada modernizou-se, “República”, 22

de Abril de 1969, p.6

JACINTO Ondina Valverde, Anomalias da urbanização de Almada, “República”,

26 de Maio de 1969, p.11

Jaime Ferreira Dias, “O Protesto”, nº498, 20 de Novembro de 1932, p.1

LIMA Fernando, Romeu Correia e o seu romance “Trapo Azul”, “Diário dos

Açores”, 12 de Janeiro de 1950, p.2

Na Cova da Piedade, também houve inundações, “O Século”, nº24851, 7 de Junho

de 1951, p.5

Na Caparica Homenagem ao comandante Henrique Tenreiro, “Diário de

Notícias”, nº28631, 28 de Outubro de 1945, p.5

Na Costa da Caparica o bairro dos pescadores foi ontem inaugurado pelo

Subsecretário de Estado das corporações, “Diário Popula”r, nº2277, 1 de Fevereiro de

1949, pp.1; 8

Na Costa da Caparica registam-se irregularidades no fornecimento da luz

electrica (sic), “Diário de Notícias”, nº29780 13 de Janeiro de 1949, p.2

Na Provincia, as manifestações de regozijo pelo final da guerra tiveram

indescritível entusiasmo, “O Século”, nº22673, 9 de Maio de 1945, p.2

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146

NEVES Orlando (coord.), Rúbrica teatro, Romeu Correia representado por

vários grupos do teatro amador, “República”, 7 de Junho de 1969, p.9

No regímen dos «ficeles» O constitucionalismo do sr. José Luciano de Castro e a

abertura das côrtes, “Correio do Sul”, nº2, 9 de Janeiro de 1910, p.2

“Nós queremos Salazar!” disse a gente do mar da Costa de Caparica numa

sessão que ali realizou para celebrar a fundação da secção desportiva da Casa dos

Pescadores, “Diário da Manhã”, nº5202, 29 de Outubro de 1945, p.3

Notícias da Cova da Piedade, “República”, 23 de Maio de 1969, p.16

O Colóquio de Democratas em Almada, “República”, 6 de Outubro de 1973, p.8

O Curso Geral dos Liceus (1º ciclo no nosso Clube, é uma realidade, “O Cova da

Piedade”, nº8, Novembro de 1963, p.10

O general Humberto Delgado foi vibrantemente aclamado na sessão de

propaganda que anteontem se realizou em Almada, “República”, nº 9854, 31 de Maio de

1958, pp.9; 13

O general Humberto Delgado presidiu a uma sessão em Almada onde foi recebido

com entusiasmo, “O Primeiro de Janeiro”, nº147, 30 de Maio de 1958, p.8

O novo Matadouro de Almada foi hoje inaugurado, “República”, nº9725, 19 de

Janeiro de 1958, p.2

O povo de Almada aclamou, mais uma vez, entusiasticamente o Senhor General

Norton de Matos a República e a Democracia, “República”, nº6554 3 de Fevereiro de

1949, p.5

O povo do Pragal acorreu em massa a sessão de Almada, “República”, nº5387,

28 de Outubro de 1945, p.5

Os elementos oposicionistas realizaram reuniões em Almada, Pôrto e Tomar,

“Diário Popular”, nº1109, 27 de Outubro de 1945, p.3

Os estaleiros da Lisnave e o parque residencial «Miratejo» visitados pela missão

financeira belga, “República”, 8 de Março de 1969, p.11

Porto Brandão carece de atenção dos poderes públicos para as suas grandes

necessidades, “Diário Popular”, nº1088, p.9

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147

Porto Brandão tambem se queixa de irregularidades da iluminação electrica

(sic), “Diário de Notícias”, nº29784, 17 de Janeiro de 1949, p.5

Presença de Almada no ataque à ditadura, “Republica”, nº 6534,13 de Janeiro de

1949, p.5

Problemas da mulher analisados numa reunião da C.D.E. de Setúbal, “O Primeiro

de Janeiro”, nº285, 17 de Outubro de 1973, p.11

Projectam-se sessões na Cova da Piedade, Monforte e Palmela, “O Século”,

nº22858, 11 de Novembro de 1945, p.5

Reuniões da oposição republicana, “O Século”, nº22837, 21 de Outubro de 1945,

p.5

ROCHA Cabral, Rubrica Sociedades de recreio e agremiações regionalistas, A

Sociedade Incrível Almadense vai inaugurar o seu novo salão de festas, “República”,

nº9832, 9 de Maio de 1958, p.5

Romeu Correia representado pelo «Nacional» «Sou um produto da intensa vida

associativa de Almada» - afirmou-nos Romeu Correia a propósito da sua nova peça «O

Cravo Espanhol», “República”, 6 de Dezembro de 1969, p.9

Rúbrica Das Artes Das Letras, Romance «CALAMENTO», de Romeu Correia, “O

Primeiro de Janeiro”, nº175, p.3

Rúbrica Em defesa dos trabalhadores, Em Almada não há moradias para as

classes operárias, “Diário Popular”, nº1119, 6 de Novembro de 1945, p.1.

Rúbrica especial Eleições 73, Aprovada a lista dos candidatos da oposição de

Setúbal Amanhã a primeira sessão em Almada, “República”, 10 de Outubro p. I

Rúbrica O momento eleitoral, As reuniões do Porto, Tomar e Almada ficarão

memoráveis no grande movimento nacional em favor da democracia, “República”,

nº5386, 27 de Outubro de 1945, p.4

Rúbrica Sul – Notícias, Cacilhas pela imagem, “República”, 10 de Outubro de

1973, p.13

Rubrica Sul – Notícias Cacilhas pela imagem, “República,” 16 de Outubro de

1973, p.15

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148

Rúbrica Sul Notícias Porto Brandão (2) Palavras de um pescador – e mais,

“República”, 1 de Junho de 1973, p.13

Sessão da Oposição Democrática da C.D.E. de Setúbal, na Sobreda, “O Primeiro

de Janeiro”, nº 288, 20 de Outubro de 1969, p.12

Sessões de propaganda da candidatura do sr. general Norton de Matos

realizaram-se na Foz do Douro, em Alpiarça, Estarreja e Almada, “O Século”, nº 24002.

22 de Janeiro de 1949, p.8

Sessões de propaganda republicana oposicionista em Almada, Pôrto e Tomar nas

quais foram aprovadas as resoluções que se tomaram no Centro Almirante Reis, “O

Século”, nº22843, 27 de Outubro de 1945, p.8

Sessões republicanas oposicionistas Amanhã em Almada e em Tomar, “O

Século”, nº22841, 25 de Outubro de 1945, p.8

Setúbal, 14, “República”, nº5374, 15 de Outubro de 1945, p.4

Setúbal Amanhã a primeira sessão em Almada, “República”, 10 de Outubro de

1973, p. I

SIMÕES João Gaspar. Rúbrica Livros & Autores, Trapo Azul romance por Romeu

Correia, “Sol”, nº220, 21 de Maio de 1949, p.9

SOUSA Anibal de, Rubrica Sul – Notícias Almada Um monumento ao

associativismo popular sugere Romeu Correia, “República”, 23 de Outubro de 1973, p.13

SOUSA Aníbal de, Sociedade Filarmónica Incrível Almadense 125 anos de vida

intensa, “República”, 1 de Outubro de 1973, p.20

Suplemento especial Eleições 73, Aprovada a lista dos candidatos da oposição de

Setúbal Amanhã a primeira sessão em Almada, “República”, 10 de Outubro de 1973 p. I

Suplemento especial Eleições 73, «Como podem os trabalhadores pagar rendas

de dois contos?» – perguntou Ercília Talhadas na sessão de Almada, “República”, 16 de

Outubro de 1973, p. VIII

Suplemento especial Eleições 73, Como ousa falar em pluralismo quem não

admite as liberdades de associação e de reunião? – perguntou na sessão de Setúbal o

candidato Herculano Pires, “República”, 24 de Outubro de 1973, pp. .I-VIII

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149

Suplemento especial Eleições 73, perfil, “República”, 13 de Outubro de 1973, p.

II

Suplemento especial Eleições 73, O movimento democrático intensificou a luta –

afirmou-nos Alfredo Matos, candidato por Setúbal, “República”, 13 de Outubro de 1973,

p.II

Suplemento especial Eleições 73, «Só o Socialismo resolverá os problemas do

povo português» -afirmou-se ontem em Almada na sessão do Movimento Democrático,

“República”, 12 de Outubro de 1973, pp.I-VIII

Uma fábrica de cortiça perto do Caramujo está a ser devorada pelas chamas

combatidas pelos bombeiros de Almada, Cacilhas e Cova da Piedade, “O Século”,

nº23817, 17 de Julho de 1948, p.8

Uma reunião em Almada sob a presidência do sr. dr. Mário de Azevedo Gomes,

“O Primeiro de Janeiro”, nº34, 5 de Fevereiro de 1949, p.5

Uma sessão em Setúbal, “O Século”, nº24008, 28 de Janeiro de 1949, p.8

Vai realizar-se uma sessão em Almada, “O Século”, nº22850, 3 de Novembro de

1945, p.2

Centro de Documentação do Museu da Cidade

Entrevistas: Albertino Ferreira de Oliveira (FON ORA RES 1)

Albino Quaresma (FON ORA RES 2)

Alexandre Castanheira (FON ORA ASS 177)

Alfredo Canana (FON ORA RES 197); (FON ORA ASS 17)

Alfredo Gualparrão e Rosa Santos (FON ORA RES 175)

António Coelho (FON ORA-RES 329)

António Reizinho Falcão e Maria Nascimento Rosmaninho Falcão (FON ORA

RES 4)

António Santana Alho (FON ORA RES 9)

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150

António da Conceição Morgado (FON ORA ASS 77)

Conceição Costa (FON ORA ASS 18)

Fernando Brito Mateus (FON ORA ASS 24)

Fernando CID Simões (FON ORA RES 10)

Edmundo Pedro (FON ORA RES 8)

Joaquim do Carmo (FON ORA RES 172)

José da Costa (FON ORA ASS 20)

Juvenália Fernandes (FON ORA RES 46)

Manuel Carvalho (FON ORA RES 7)

Manuel Galhoz (FON ORA RES 178)

Manuel Joaquim Gualter Júnior (FON ORA ASS 24)

Marcos Antunes (FON ORA RES 11)

Maria de Jesus Barbosa (FON ORA ASS 76)

Maria do Nascimento Bonança (FON ORA ASS 26)

Maria José Lopes da Silva (FON ORA RES 6)

Mário Araújo (FON ORA RES 2)

Raul Cordeiro (FON ORA ASS 22)

Serafim dos Santos Rolão (FON ORA RES 173)

Sofia Nascimento Pinto Santos (FON ORA RES 3); (FON ORA ASS 19)

Vitor Costa (FON ORA ASS 21)

Victor Almeida dos Santos (FON ORA ASS 80)

Espólios: Espólio de Alexandre Castanheira

Espólio de António Henriques

Espólio de Hélio Quartim

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151

Exposições: Associativismo e Cidadania, Exposição sobre o Movimento

Associativo em Almada, Museu da Cidade, Câmara Municipal de Almada, Outubro de

2006 a Junho de 2007

Manuscritas/ Dactilografadas: CASTANHEIRA Alexandre (sob o pseudónimo

Edgar), Discurso proferido entre fins dos anos 1940 e começos dos anos 1950, em nome

da biblioteca da Incrível Almadense, na inauguração da biblioteca infantil da Sociedade

Democrática Seixalense.

QUARTIM Hélio, Correspondência ao Ministro das Obras Públicas, 1972 in

Dossiê de informação Associativismo em Almada (SOC – ANT A ASS)

QUARTIM Hélio, Discurso lido na noite de 25 de Outubro de 1969 na Cova da

Piedade na Sociedade Filarmónica e Clube Recreativo in Dossies de Informação, Eleições

em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 (ADM 0LOC A ELE)

QUARTIM Hélio, Esboço de uma carta ao governador civil de Setúbal solicitando

autorização para uma sessão de propaganda eleitoral, Almada in Dossies de Informação,

Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 (ADM 0LOC A

ELE)

QUARTIM Hélio, No cinquentenário do Movimento de Unidade Democrática,

pp.1-7 in Dossies de Informação, O Movimento de Unidade Democrática em Almada,

Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 (CIC SOC 936)DM LOC A ELE)

QUARTIM Hélio, Notas de uma reunião de democratas em Almada in Dossies de

Informação, Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006

(ADM LOC A ELE)

QUARTIM Hélio, Relatorio Eu, perante o P. e o MUD., in Dossiês de Informação,

Hélio Quartim – Campanha eleitoral de 1945 (Nov 1945 – Jan 1946)

QUARTIM Hélio, Texto de duas candidaturas oposicionistas in Dossies de

Informação, Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006

(ADM LOC A ELE)

1º Encontro das Colectividades do Concelho de Almada - [síntese das

intervenções e comunicação de [Hélio Quartim], 1970 in Dossiê de informação

Associativismo em Almada (SOC – ANT A ASS)

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152

Colóquio Colectividades de Cultura e Recreio do Concelho de Almada Seus

anseios e pretensões, 1968 in Dossiê de informação Associativismo em Almada (SOC –

ANT A ASS)

Credencial do Procurador de Humberto Delgado delegando poder em Hélio

Quartim, in Dossies de Informação, Eleições em Almada, Centro de Documentação

Museu da Cidade, 2006 (ADM LOC A ELE)

Folheto informativo/ propaganda da oposição in Dossies de Informação, Eleições

em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006 (ADM LOC A ELE)

Projecto de Manifesto dos Democratas de Setúbal sobre Eleições de 1958, in

Dossies de Informação, Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade,

2006 (ADM LOC A ELE)

Relatórios das Assembleias de voto de Almada e da Trafaria, in Dossiês de

Informação, Eleições em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006

(ADM LOC A ELE)

Temáticos: Dossiês de Informação, Associativismo em Almada, II, 2005, SOC –

ANT A ASS

Dossiês de Informação, Associativismo em Almada, 2005, SOC – ANT A ASS

Impressas: A inauguração da Escola Industrial e Comercial de Almada, “Jornal

de Almada”, nº50, 4 de Dezembro de 1955, pp.1; 4

Almada Progride Está a construir-se um explendido externato melhoramento

decisivo para a valorização do concelho, “Jornal de Almada”, nº 65, 1956, pp.1;7

“Associação liceal de Almada”, Novo Rumo, nº3, 3 de Março de 1973, p.1

“A tribuna de Almada: Semanário Independente do Concelho de Almada”, nº6,

1989, pp.10-11

“Diário da Manhã”, 31 de Maio de 1958, p.6

“Diário de Notícias”, 30 de Maio de 1958, p.5

“Diário de Notícias”, 1 de Outubro de 1973, p.7

“Diário de Notícias”, 11 de Outubro de 1973, p.7

“Diário de Notícias”, 13 de Outubro de 1973, p.7

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153

“Diário de Notícias”, 16 de Outubro de 1973, p.13

“Diário de Notícias”, 25 de Outubro de 1973, p.11

“Diário Popular”, 30 de Maio de 1958, pp.1-5

“Diário Popular”, 29 de Maio de 1958, pp.1-6

Encontram-se resolvida as dificuldades da Escola .D. António da Costa que vai

possuir novo edifício nos Caranguejais (Almada), “Diário da Outra Banda”, 19 de

Dezembro de 1962

J. A., A escola em que vivemos, “Novo Rumo, Órgão da secção informativa da

Associação Liceal de Almada”, p.8

“Jornal de Almada”, 22 de Outubro de 1932

J. S., ainda e sempre a lama, “Novo Rumo”, nº3, 3 de Março de 1973, p.2

MARIA José, Almada espera o seu liceu, “Jornal de Almada”, nº2, 1954, p.5

O Externato Frei Luís de Sousa o que nos disse acerca da realização mais valiosa

de Almada o seu director Rv. Padre João Cabeçadas, “Jornal de Almada”, nº91, 16 de

Setembro de 1956, pp.1;9

O Externato Frei Luís de Sousa, Inaugurou solenemente e oficialmente as suas

instalações Um grande acontecimento na Almada moderna, “Jornal de Almada”, nº1, 19

de Dezembro de 1956, p.6

O novo liceu, “Novo Rumo Secção informativa do liceu nacional de Almada”,

nº4, 4 de Junho de 1973, p.1

“O Século”, 12 de Outubro de 1973, p.7

“O Século”, 16 de Outubro de 1973, p.7

“O Século”, 25 de Outubro de 1973, p.7

“O Século”, 30 de Setembro de 1973, p.7

“República”, 12 de Outubro de 1973

São deficientes as instalações da Escola D. António da Costa e falta um liceu no

concelho de Almada, “Diário da Outra Banda”, 11 de Dezembro de 1962

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154

Seara Nova, Suplemento ao nº 945, in Dossiês de Informação, O Movimento de

Unidade Democrática em Almada, Centro de Documentação Museu da Cidade, 2006

(CIC SOC 936)

III Congresso da Oposição Democrática, Teses do Movimento Democrático do

Distrito de Setúbal, Aveiro, 4/8 de Abril de 1973

Centro de Documentação da Comissão da Presidência do

Conselho de Ministros para a Igualdade de Género

DIAS Jaime Ferreira, A Mulher Escrava do Lar e das Convenções Sociais, Lisboa,

Edição da Biblioteca de Educação Social, 1929

Espólio pessoal de Alfredo da Conceição Guaparrão dos Santos

Presidência do Tribunal Criminal de Lisboa, Julgamento do assalto ao quartel de

Beja

Espólio pessoal de António dos Santos Pereira

Boletim de Inscrição de Isaura dos Santos Pereira na Rankin Brothers & Sons,

1/7/44

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155

Carta do Administrador do Arsenal do Alfeite J. Perestrello ao Director da PIDE,

28/11/61

Carta do chefe do posto policial Joaquim Ferreira ao administrador do Arsenal J.

Perestrello, 3/1/62

Carta de João Serra, assessor da Casa Civil da Presidência da República a António

dos Santos Pereira, 19/04/04

Cópia das Condições da medida de segurança de liberdade vigiada relativas a

António dos Santos Pereira, 27/4/65

Declaração da Junta de Freguesia de Almada de 14/11/07

Despacho de expulsão do Arsenal dos funcionários envolvidos no golpe de Beja,

6/1/62

Hospital de Santa Maria, Serviço de Cirurgia III, Informação Clínica, 14/9/06

Informação do Arsenal do Alfeite nº14/61 de 7/12/61

Nota informativa do administrador do Arsenal à Direcção Comercial acerca do

despedimento dos funcionários envolvidos no golpe de Beja 3/1/62

Salvo-Conduto da Cadeia do Forte de Peniche, 18/5/65

Impressas: A Identidade dos Assaltantes, “Diário de Notícias”, nº 34426,

Suplemento de 1 de Janeiro de 1962, p.1

Elementos Subversivos dirigidos pelo Capitão Varela Gomes atacaram esta

madrugada o quartel de infantaria nº3, em Beja O subsecretário de Estado do Exército

morreu atingido pelas balas disparadas pelos elementos criminosos que intentaram

ocupar aquele aquartelamento, “Diário de Notícias”, nº 34426, Suplemento de 1 de

Janeiro de 1962, p.1

O Ministro Correia de Oliveira está em Beja em representação do Governo,

“Diário de Notícias”, nº 34426, Suplemento de 1 de Janeiro de 1962, p.1

Sacrifício da própria vida, “Diário de Notícias”, nº 34426, Suplemento de 1 de

Janeiro de 1962, p.1

Um morto e vários feridos no Hospital de Beja, “Diário de Notícias”, nº 34426,

Suplemento de 1 de Janeiro de 1962, p.1

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156

Espólio pessoal de Raul Fernandes Costa

Cais do Caramujo, 1957 (postal)

Dr. Henrique Barbeitos, “O Concelho de Almada”, suplemento regional de “Gazeta do

Sul”, nº1, 14 de Novembro de 1937, p.14

Fontes Orais

Alfredo da Conceição Guaparrão dos Santos, 18 de Abril de 2018

António Rogério Reizinho Falcão, 17 de Abril de 2018

António dos Santos Pereira, 26 de Abril de 2018; 18 de Outubro de 2018

Carlos Alberto da Conceição Rosado, 24 de Agosto de 2018

Gilberto Henrique Rita da Silva, 14 de Junho de 2018; 10 de Outubro de 2018

Joaquim da Silva Rodrigues do Carmo, 17 de Maio de 2018; 3 de Julho de 2018

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José de Sousa Cavaco, 2 de Maio de 2018

José de Matos da Silva, 4 de Junho de 2018; 15 de Junho de 2018

Mário José Araújo, 29 de Maio de 2018; 7 de Junho de 2018; 13 de Junho de 2018

Raul Fernandes Costa, 2 de Julho de 2018; 5 de Julho de 2018; 12 de Julho de

2018; 17 de Julho de 2018; 23 de Agosto de 2018; 23 de Outubro de 2018

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Outubro de 1969, pp.21;32

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“Esta campanha da A.N.P. será essencialmente ofensiva” – Afirmou o dr. Elmano

Alves na sessão da ANP em Almada, “Diário de Lisboa”, nº18238, 1 de Outubro de 1973,

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159

Na sessão da CDE realizada em Almada a vasta assistência encheu

completamente a sala e apoiou calorosamente os oradores, “Diário de Lisboa”, nº18250,

14 de Outubro de 1973, p.8

Nos estaleiros da Margueira, Custará 700 mil contos a doca seca para navios de

um milhão de toneladas – anunciou o sr. José Manuel de Melo, “Diário de Lisboa”,

nº16816, 13 de Outubro de 1969, pp.1-2

“Participamos nas eleições para as denunciar” – afirmou-se na sessão

oposicionista de Almada, “Diário de Lisboa”, nº18253, 17 de Outubro de 1973, p.8

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em Setúbal – um dos aspectos salientados no comício da C.D.E. no Montijo, “Diário de

Lisboa”, nº16825, 22 de Outubro de 1969, p.8

Suplemento mesa redonda especial eleições, «Mal vai o governo que diminui o

Povo para o poder governar» - afirmou-se na sessão da C.D.E. em Setúbal, “Diário de

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Avante!, Série II, nº24, 1ª quinzena de Dezembro de 1936

Avante!, série VI, nº37, 1ª quinzena de Agosto de 1943

Avante!, série VI, nº42, 2ª quinzena de Outubro de 1943

Avante!, série VI, nº43, 1ª quinzena de Novembro de 1943

Avante!, série VI, nº 45, Dezembro de 1943

Avante!, série VI, nº76, 1ª quinzena de Maio de 1945

Avante!, série VI, nº77, 2ª quinzena de Maio de 1945

Avante!, série VI, suplemento ao nº120, Julho de 1948

Avante!, série VI, nº256, 1ªquinzena de Junho de 1958

Avante!, série VI, nº 257, 2ª quinzena de Junho de 1958

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Avante!, série VI, nº76, 1ª quinzena de Maio de 1945

Avante!, série VI, nº77, 2ª quinzena de Maio de 1945

Avante!, série VI, suplemento ao nº120, Julho de 1948

Avante!, série VI, nº256, 1ªquinzena de Junho de 1958

Avante!, série VI, nº 257, 2ª quinzena de Junho de 1958

Avante!, série VI nº261, 1ªquinzena de Agosto de 1958

Avante!, série VI, nº264, 1ª quinzena de Outubro de 1958

Avante!, série VI, nº97, Junho de 1947

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