325
Tese apresentada à Divisão de Pós-Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciência no curso de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica na Área de Aerodinâmica, Propulsão e Energia. Pedro Teixeira Lacava INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DO ENRIQUECIMENTO DO AR NA INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS AQUOSOS Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados. Prof. Dr. João Andrade de Carvalho Jr. Orientador Prof. Dr. Amilcar Porto Pimenta Co-Orientador Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Chefe da Divisão de Pós-Graduação Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2000

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Tese apresentada à Divisão de Pós-Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica como

parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciência no curso de Pós-Graduação

em Engenharia Aeronáutica e Mecânica na Área de Aerodinâmica, Propulsão e Energia.

Pedro Teixeira Lacava

INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DO ENRIQUECIMENTO

DO AR NA INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS AQUOSOS

Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados.

Prof. Dr. João Andrade de Carvalho Jr.

Orientador

Prof. Dr. Amilcar Porto Pimenta

Co-Orientador

Prof. Dr. Homero Santiago Maciel

Chefe da Divisão de Pós-Graduação

Campo Montenegro

São José dos Campos, SP – Brasil

2000

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INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DO ENRIQUECIMENTO DO AR NA

INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS AQUOSOS

Pedro Teixeira Lacava

Composição da Banca Examinadora:

Prof. Dr. Edson Luiz Zaparoli ......................................... Presidente IEME - ITA

Prof. Dr. João Andrade de Carvalho Júnior ..................... Orientador UNESP - Guaratinguetá

Prof. Dr. Amilcar Porto Pimenta ..................................... Co-Orientador IEAC - ITA

Prof. Dr. Jayr de Amorim Filho ....................................... ITA -IEFF

Prof. Dr. Carlos Alberto Gurgel Veras ............................ UnB

Prof. Dr. Celso Luiz da Silva ........................................... UNESP - Bauru

ITA

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i

ÍNDICE

I INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

I.1 ENRIQUECIMENTO DO OXIDANTE ............................................................. 2

I.2 APLICAÇÃO DE CHAMAS ENRIQUECIDAS E OXI-CHAMAS ................. 4

I.3 OBJETIVOS DO TRABALHO .......................................................................... 9

II EMISSÃO DE POLUENTES ...................................................................................... 12

II.1 EMISSÃO DE NOX ........................................................................................... 12

II.2 EMISSÃO DE CO E CO2 .................................................................................. 20

II.3 EMISSÃO DE HIDROCARBONETOS NÃO QUEIMADOS ......................... 24

II.4 EMISSÃO DE FULIGEM E PARTICULADOS .............................................. 25

III TEMPERATURA E COMPOSIÇÃO DOS GASES .................................................. 28

III.1 TEMPERATURA DE CHAMA ADIABÁTICA ............................................. 29

III.2 COMPOSIÇÃO DOS GASES DE COMBUSTÃO ......................................... 32

III.2.1 Emissão de NOx ................................................................................. 32

III.2.2 Relação CO – CO2 e Dissociação ...................................................... 35

IV ANÁLISE TERMOQUÍMICA DO PROCESSO DE ENRIQUECIMENTO ............. 39

IV.1 BALANÇO DE MASSA .................................................................................. 41

IV.2 BALANÇO DE ENERGIA .............................................................................. 42

IV.3 SIMULAÇÃO .................................................................................................. 45

IV.3.1 Eficiência da Câmara Constante ........................................................ 46

IV.3.2 Influência da Eficiência da Câmara ................................................... 49

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ii

V EQUIPAMENTOS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ................................ 51

V.1 CÂMARA DE COMBUSTÃO ......................................................................... 51

V.2 MEDIDAS DE TEMPERATURA NA CÂMARA ........................................... 56

V.3 FLUIDOS DE OPERAÇÃO .............................................................................. 57

V.3.1 Linhas de Alimentação ........................................................................ 57

V.3.2 Medidas de Vazão ............................................................................... 62

V.3.3 Combustíveis ....................................................................................... 72

V.4 ANÁLISE DE GASES ...................................................................................... 73

V.5 SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS ........................................................ 79

V.6 ANCORADOR DE CHAMA TIPO SWIRLER ............................................... 81

V.7 INJETORES DE GLP ........................................................................................ 86

V.8 ATOMIZADORES DE LÍQUIDO .................................................................... 88

V.8.1 Atomizador Tipo Y ............................................................................. 88

V.8.2 Cálculo dos Atomizadores .................................................................. 91

V.8.3 Tamanho Médio das Gotas ................................................................. 97

V.9 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ............................................................ 105

V.10 CÁLCULO DOS PARÂMETROS DE OPERAÇÃO ....................................... 107

V.10.1 Número de Reynolds do Escoamento Gasoso .................................... 107

V.10.2 Tempo de Residência Médio .............................................................. 108

V.11 CONTROLE DA EMISSÃO DE NOX PELA INJEÇÃO DE AMÔNIA ........ 109

V.12 ANÁLISE TOMOGRÁFICA DE CHAMA ..................................................... 113

V.12.1 Sistema Ótico ...................................................................................... 114

V.12.2 Algoritmo de Reconstrução Tomográfica ........................................... 115

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iii

VI RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 120

VI.1 OBSERVAÇÕES GERAIS ............................................................................... 121

VI.2 ENSAIOS COM DIESEL ................................................................................. 126

VI.2.1 Sem Injeção de Resíduo e Enriquecimento ........................................ 126

VI.2.1.1 Variação do Número de “Swirl” ....................................... 126

VI.2.1.2 Variação da Razão de Atomização ................................... 135

VI.2.2 Condição Padrão de Operação ............................................................ 139

VI.2.3 Ensaios Com Chamas Enriquecidas ................................................... 143

VI.2.3.1 Taxa de Incineração .......................................................... 143

VI.2.3.2 Distribuição de Temperatura ............................................ 147

VI.2.3.3 Emissões de Gases ............................................................ 152

VI.2.3.4 Balanço de Energia ........................................................... 169

VI.2.3.5 Número de “Swirl” ........................................................... 179

VI.2.4 Controle da Emissão de NOx Pelo Número de “Swirl” ...................... 180

VI.2.5 Controle da Emissão de NOx Pelas Condições de Atomização .......... 183

VI.2.6 Combustão Estagiada .......................................................................... 187

VI.2.6.1 Combustível Estagiado ..................................................... 188

VI.2.6.2 Oxidante Estagiado ........................................................... 195

VI.2.7 Atomização Com Oxigênio ................................................................ 199

VI.2.8 Posição do Injetor de Combustível ..................................................... 202

VI.3 ENSAIOS COM GLP

VI.3.1 Taxa de Incineração ............................................................................ 205

VI.3.2 Distribuição de Temperatura .............................................................. 208

VI.3.3 Emissão de Gases ............................................................................... 214

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iv

VI.3.4 Balanço de Energia ............................................................................. 218

VI.3.5 Controle da Emissão de NOx Pelo Número de “Swirl”....................... 223

VI.3.6 Controle da Emissão de NOx Pela Injeção de Amônia ....................... 225

VII ANÁLISE TOMOGRÁFICA EM CHAMAS ENRIQUECIDAS NÃO

CONFINADAS .............................................................................................................

229

VIII CONCLUSÕES E SUGESTÕES .............................................................................. 253

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 269

APÊNDICE A ...................................................................................................................... 282

SIMULAÇÃO DE REATOR HOMOGÊNEO ............................................................ 282

A.1 REATOR HOMOGÊNEO .................................................................................. 283

A.2 SIMULAÇÃO ..................................................................................................... 288

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v

LISTA DE FIGURAS

Figura II.1: Química das espécies envolvidas no mecanismo “prompt” (Glarborg,

1993) ........................................................................................................................

17

Figura III.1: Comportamento da temperatura de chama adiabática em função da

porcentagem de O2 no oxidante, para b = 1,00, 1,15 e 1,33 ....................................

30

Figura III.2: Redução da massa de N2 presente nos produtos de combustão em função

da % O2 no oxidante e normalizada pela massa de combustível, para b = 1,00,

1,15 e 1,33 ................................................................................................................

31

Figura III.3: Emissão de NO normalizada de pela massa de combustível em função da

porcentagem O2 no oxidante, para b = 1,00, 1,15 e 1,50 .........................................

33

Figura III.4: Emissão normalizada de NO em função do excesso de oxidante para 21%,

50% e 70% de O2 ......................................................................................................

34

Figura III.5: Emissão normalizada de CO em função da porcentagem O2 no oxidante,

para b = 1,00, 1,15 e 1,50 .........................................................................................

36

Figura III.6: Emissão normalizada de CO2 em função da porcentagem O2 no oxidante,

para b = 1,00, 1,15 e 1,50 .........................................................................................

36

Figura III.7: Comportamento da emissão normalizada do CO e CO2 durante o

resfriamento dos gases provenientes da combustão do C12H26 com ar enriquecido

a 50% de O2 e b = 1,15 ............................................................................................

37

Figura IV.1: Representação do volume de controle (VC) adotado para análise

termoquímica ...........................................................................................................

40

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vi

Figura IV.2: Comportamento da taxa de incineração em função da porcentagem de O2

no oxidante para diversos valores de excesso de oxidante normalizado (b) e

considerando que a eficiência da câmara é 80% ......................................................

46

Figura IV.3: Vazões na câmara em função da porcentagem de O2 no oxidante e do seu

excesso (b), para a vazão de combustível de 3,11 g/s e eficiência de 80% para

câmara ......................................................................................................................

48

Figura IV.4: Comportamento da taxa de incineração em função da porcentagem de O2

no oxidante para diversos valores de eficiência de câmara e excesso de 15% ........

49

Figura V.1: Fotografia da câmara de combustão .............................................................. 52

Figura V.2: Detalhes e dimensões dos módulos da câmara de combustão (dimensões

em cm) ......................................................................................................................

53

Figura V.3: Diagrama esquemático das linhas de alimentação do combustível (diesel),

ar de atomização do combustível, oxigênio de atomização do combustível, ar de

combustão e oxigênio de combustão .......................................................................

59

Figura V.4: Diagrama esquemático das linhas de alimentação do resíduo (água), ar de

atomização do resíduo, oxigênio de atomização do resíduo, amônia e queimador

piloto ........................................................................................................................

60

Figura V.5: Diagrama esquemático das linhas de alimentação do GLP (combustível

auxiliar) e do sistema de refrigeração com água das sondas de captação dos gases.

62

Figura V.6: Painel de controle de operação da câmara .................................................... 63

Figura V.7: Curva de calibração do rotâmetro de diesel .................................................. 65

Figura V.8: A montagem usada na calibração do medidor turbina .................................. 66

Figura V.9: Comparação entre as vazões mássicas de ar obtidas pelo medidor turbina e

pela placa de orifício .............................................................................................

67

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vii

Figura V.10: Comparação das vazões mássicas de ar obtidas pelo medidor turbina e

corrigidas aplicando-se a equação (V.2), com as obtidas pela placa de orifício ......

68

Figura V.11: Comparação entre as vazões mássicas de oxigênio obtidas pelo rotâmetro

e pela placa de orifício .............................................................................................

70

Figura V.12: Esquema e fotografia das sondas utilizadas para captação dos gases de

combustão ................................................................................................................

74

Figura V.13: Esquema da linha de amostragem de gases ................................................ 76

Figura V.14: Comparação entre a leitura do analisador e a porcentagem de O2 nos

gases .........................................................................................................................

78

Figura V.15: Esquema do sistema de aquisição de dados ................................................ 80

Figura V.16: Fotografia da sala de instrumentação .......................................................... 80

Figura V.17: Esquema do distribuidor de ar de combustão com um sistema retentor de

chama do tipo vortical/axial com o ângulo entre as pás variável, desenvolvido no

trabalho realizado por Muniz (1993) .......................................................................

82

Figura V.18: Fotografia do ancorador tipo “swirler” com ângulo entre as pás variável .. 83

Figura V.19: Esquema genérico de um “swirler” axial .................................................... 83

Figura V.20: Esquema do queimador piloto (dimensões em mm) ................................... 86

Figura V.21: Esquema do queimador de GLP (dimensões em mm) ................................ 87

Figura V.22: Fotografia de uma chama de GLP com ar não confinada ........................... 87

Figura V.23: Esquema de um injetor tipo “Y-Jet” e suas principais dimensões .............. 89

Figura V.24: Esquema dos injetores construídos com atomizador acoplado na

extremidade (dimensões em mm) ............................................................................

96

Figura V.25: Fotografia do spray de diesel atravessando o feixe de laser de 18mm de

diâmetro do sistema Mastersizer X ..........................................................................

98

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viii

Figura V.26: Representação da bancada montada para o sistema laser no Laboratório

Prof. Feng da Divisão de Engenharia Aeronáutica do ITA .....................................

99

Figura V.27: Variação do SMD em função da razão de atomização para as vazões de

3,11 e 2,50g/s de diesel ............................................................................................

101

Figura V.28: Variação do SMD em função da vazão de resíduo .................................... 104

Figura V.29: Exemplo de curvas de temperatura ao longo da câmara em função do

tempo de teste, utilizadas para acompanhar os procedimentos durante os ensaios

(mf = 3,11 g/s (diesel), 25% de O2, 15% de excesso de oxidante e mres = 12,25

g/s) ............................................................................................................................

106

Figura V.30: Mecanismo de formação e redução do NO através da amônia ................... 113

Figura V.31: Esquema da montagem experimental para visualização da chama ............. 115

Figura V.32: Reconstituição axissimétrica da chama ....................................................... 116

Figura V.33: Reconstrução tomográfica ........................................................................... 116

Figura V.34: Ilustração da técnica de reconstrução tomográfica ..................................... 117

Figura V.35: Exemplo de recontrução de imagem utilizando o algoritmo de Souza

(1998) .......................................................................................................................

119

Figura VI.1: Relação do ângulo entre as pás do “swirler” com número de “swirl", para

as condições: mf = 2,5g/s, mar/atm/f = 0,40g/s e mar/comb = 47,7g/s ...........................

127

Figura VI.2: Comportamento da emissão de NOx em função do número de “swirl”: (a)

amostragem dos gases feita a 994 litros e (b) amostragem dos gases feita a 227

litros .........................................................................................................................

128

Figura VI.3: Fotografias da chama a 18cm do queimador para diferentes valores

de S’ .........................................................................................................................

130

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ix

Figura VI.4: Comportamento da temperatura medida pelo termopar posicionado a

18cm do queimador, com a variação do número de “swirl” ....................................

130

Figura VI.5: Comportamento da porcentagem de CO com S’. Amostragem dos gases

de combustão feita para o volume da câmara de 227 litros (1,225m do

queimador) ..............................................................................................................

131

Figura VI.6: Comportamento das temperaturas medidas pelos termopares 1 e 2,

posicionados a 18 e 70cm a jusante do queimador, em função da razão de

atomização ...............................................................................................................

136

Figura VI.7: Comportamento da emissão de NOx (saída da câmara) em função da razão

de atomização, para as condições dos ensaios de 8 a 13 da Tabela VI.1 .................

137

Figura VI.8: Comportamento da emissão de CO (volume de 227 litros) em função

da razão de atomização, para as condições dos ensaios de 8 a 13 da

Tabela 6.1 ................................................................................................................

139

Figura VI.9: Distribuição de temperatura ao longo da câmara para condição padrão de

operação utilizando diesel como combustível, com e sem injeção de resíduo

(perfil de medidas na linha de centro) ......................................................................

142

Figura VI.10: Comportamento da taxa de incineração com a porcentagem de oxigênio

no oxidante, para b = 14,65% ± 1,04 e T8 ≅ 750 oC ................................................

144

Figura VI.11: Vazões de resíduo, ar, oxigênio e total, em função da %O2 no oxidante ... 145

Figura VI.12: Aumento da vazão de resíduo em função da vazão de oxigênio puro

injetado na câmara ...................................................................................................

146

Figura VI.13: Distribuição de temperatura ao longo da câmara para as diversas

condições de enriquecimento (perfil de medidas na linha de centro) ......................

148

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x

Figura VI.14: Comparação entre duas condições de enriquecimento, baixo nível

(24,98% de O2) e alto nível (92,32% de O2) (perfil de medidas na linha de

centro) ......................................................................................................................

151

Figura VI.15: Ilustrações da chama e injeção de resíduo para as condições de baixo e

alto nível de enriquecimento ....................................................................................

152

Figura VI.16: Porcentagem volumétrica de O2 nos gases de combustão em função da

porcentagem de O2 no oxidante, para medidas realizadas a 227 e 994 litros ..........

153

Figura VI.17: Porcentagem volumétrica de CO nos gases de combustão em função da

porcentagem de O2 no oxidante, para medidas realizadas a 227 e 994 litros ..........

154

Figura VI.18: Porcentagem volumétrica de CO2 nos gases de combustão na saída da

câmara em função da porcentagem de O2 no oxidante. Valores medidos ou

calculados .................................................................................................................

158

Figura VI.19: Emissões mássicas de O2, CO2 e H2O, sendo que para H2O foi

considerado apenas o que se forma nas reações de combustão ...............................

160

Figura VI.20: Massa de CO2 / massa de resíduo em função da porcentagem de

oxigênio no oxidante ................................................................................................

161

Figura VI.21: Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, medidas

realizadas na saída da câmara (997 litros) ...............................................................

162

Figura VI.22: Razão mg de NO2/g de combustível, em função da porcentagem de O2

no oxidante, considerando que todo NO formado é convertido para NO2 na

atmosfera ..................................................................................................................

163

Figura VI.23: Temperaturas obtidas pelo termopar 2, em função do enriquecimento do

oxidante ....................................................................................................................

164

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xi

Figura VI.24: Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, medidas

realizadas a 227 litros ...............................................................................................

168

Figura VI.25: Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo em função da

porcentagem de O2 no oxidante ...............................................................................

169

Figura VI.26: Resultado do balanço de energia da câmara .............................................. 170

Figura VI.27: Número de Reynolds na câmara em função da % de O2 no oxidante ....... 172

Figura VI.28: Tempo de residência dos gases de combustão no interior da câmara em

função da porcentagem de O2 no oxidante ...............................................................

178

Figura VI.29: Comportamento do número de “swirl” em função da porcentagem de O2

no oxidante (α = 40o) ...............................................................................................

179

Figura VI.30: Variação da razão mg NO2/ g de resíduo em função do número de

“swirl”, para o enriquecimento de 50,56 % O2 e excesso de oxidante de 15,20%,

queimando diesel ......................................................................................................

180

Figura VI.31: Distribuição de temperatura em função do volume da câmara, para

diversos valores de S’ e 50,56% de O2 no oxidante .................................................

182

Figura VI.32: Fotografias da chama a 18cm da queimador para diferentes S’ e 50,56%

de O2 no oxidante (perfil de medidas na linha de centro) ........................................

182

Figura VI.33: Emissão de NOx na saída da câmara (994 litros) em função da razão de

atomização (mar/atm/f /mf) ..........................................................................................

184

Figura VI.34: Emissão de CO na saída da câmara (994 litros) em função da razão de

atomização (mar/atm/f /mf) ..........................................................................................

185

Figura VI.35: Temperaturas medidas pelos termopares 1, 2 e 3, posicionados a 18, 70 e

1,05m a jusante do queimador, respectivamente, em função da razão de

atomização ...............................................................................................................

186

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xii

Figura VI.36: Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo, em função da razão

de atomização, para o enriquecimento de 50,94% de O2 ........................................

187

Figura VI.37: Esquema da combustão com combustível estagiado ................................. 189

Figura VI.38: Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo na saída da câmara,

em função da razão de estagiamento do combustível (mGLP/mdiesel), para o

excesso global de oxidante próximo a 31% .............................................................

190

Figura VI.39: Distribuição de temperatura para combustão com o combustível

estagiado (perfil de medidas na linha de centro) ......................................................

191

Figura VI.40: Emissão de NOx medida (saída da câmara) e calculada para equilíbrio

químico (usando T2) e temperatura obtida pelo termopar 2, em função da razão

de equivalência .........................................................................................................

192

Figura VI.41: Relação entre as razões de equivalência do primeiro e segundo

estágios .....................................................................................................................

193

Figura VI.42: Condições de estagiamento do oxidante .................................................... 195

Figura VI.43: Emissão de NOx, em mg de NO2/g de resíduo, para as condições de

estagiamento do oxidante .........................................................................................

197

Figura VI.44: Emissão de NOx em ppm, para as condições de estagiamento do

oxidante ....................................................................................................................

197

Figura VI.45: Distribuição de temperatura ao longo da câmara para as condições de

estagiamento do oxidante e para o oxigênio injetado no fluxo de ar (perfil de

medidas na linha de centro) .....................................................................................

198

Figura VI.46: Distribuição de temperatura para situações de atomização com ar e com

oxigênio ....................................................................................................................

201

Figura VI.47: Situações de posição do atomizador em relação ao spray de resíduo ........ 203

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xiii

Figura VI.48: Distribuição de temperatura para as situações 1 e 2 da figura VI.47

(perfil de medidas na linha de centro) ......................................................................

203

Figura VI.49: Comportamento da taxa de incineração com a porcentagem de oxigênio

no oxidante, para b = 15,17 ± 0,60 e T8 ≅ 750oC, utilizando GLP como

combustível ..............................................................................................................

205

Figura VI.50: Vazões de resíduo, ar, oxigênio e total, em função da porcentagem de O2

no oxidante, utilizando GLP como combustível ......................................................

206

Figura VI.51: Aumento da vazão de resíduo em função da vazão de oxigênio puro

injetado na câmara, utilizando GLP como combustível ..........................................

207

Figura VI.52: Distribuição de temperatura ao longo da câmara para diversas condições

de enriquecimento, queimando GLP (perfil de medidas na linha de centro) ...........

209

Figura VI.53: Comportamento das temperaturas obtidas pelos quatro primeiros

termopares, em função da porcentagem de oxigênio no oxidante, queimando

GLP ..........................................................................................................................

210

Figura VI.54: Comportamento do número de “swirl” em função da porcentagem de O2

no oxidante, para combustão com GLP ...................................................................

212

Figura VI.55: Fotografias da chama a 18cm do queimador, para diferentes condições

de enriquecimento e queimando GLP ......................................................................

212

Figura VI.56: Comportamento da razão do fluxo de momento Mr para combustão

enriquecida de diesel e GLP, com potência de 133,55kW .......................................

213

Figura VI.57: Porcentagem volumétrica de CO2 nos gases de combustão na saída da

câmara em função da porcentagem de O2 no oxidante. Valores medidos e

calculados para GLP ................................................................................................

215

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xiv

Figura VI.58: Massa de CO2/massa de resíduo em função da porcentagem de oxigênio

no oxidante, para combustão com GLP ................................................................

215

Figura VI.59: Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, para

combustão com GLP, realizadas na saída da câmara ...............................................

216

Figura VI.60: Comportamento da razão NO2/g de resíduo, em função da porcentagem

de O2 no oxidante, para combustão com GLP .........................................................

218

Figura VI.61: Resultado do balanço de energia da câmara, para combustão com GLP .. 219

Figura VI.62: Comparação entre o número de Reynolds obtidos para GLP e diesel ....... 220

Figura VI.63: Tempo de residência dos gases de combustão no interior da câmara, em

função da porcentagem de O2 no oxidante, para combustão com GLP ...................

222

Figura VI.64: Emissão de NOx e ângulo entre as pás do “swirler” (alfa) em função de

S’, para as condições 48 a 55 da Tabela VI.1 ..........................................................

224

FiguraVI.65: Variação da razão mg de NO2/g de resíduo em função do número de

“swirl”, para o enriquecimento de 31% de O2 e excesso de oxidante de 15%,

queimando GLP .......................................................................................................

225

Figura VI.66: Emissão de NOx em função da vazão de NH3 adicionado à linha de ar

oxidante ....................................................................................................................

227

Figura VI.67: Emissão de NOx em função da vazão de NH3 injetado a 1,305m a

jusante do queimador ...............................................................................................

228

Figura VII.1: Intensidade de emissão (I) nos comprimentos de onda do C2, CH e OH

em função de 1/razão de equivalência (De Soete e Feugier, 1976)..........................

230

Figura VII.2: Região da chama analisada pelo processo de tomografia e representação

das faixas estudadas graficamente ...........................................................................

234

Figura VII.3: Análise da imagem do C2 para o diesel com 21% de O2 e b = 15,90 ......... 236

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xv

Figura VII.4: Análise da imagem do CH para o diesel com 21% de O2 e b = 15,90 ....... 236

Figura VII.5: Análise da imagem do C2 para o diesel com 30,05% de O2 e b = 15,14 .... 237

Figura VII.6: Análise da imagem do CH para o diesel com 30,05% de O2 e b = 15,14 .. 237

Figura VII.7: Análise da imagem do C2 para o diesel com 51,39% de O2 e b = 14,72 .... 238

Figura VII.8: Análise da imagem do CH para o diesel com 51,39% de O2 e b = 14,72 .. 238

Figura VII.9: Análise da imagem do C2 para o diesel com 72,63% de O2 e b = 15,95 .... 239

Figura VII.10: Análise da imagem do CH para o diesel com 72,63% de O2 e b = 15,95.. 239

Figura VII.11: Análise da imagem do C2 para o GLP com 21% de O2 e b = 15,61 ......... 243

Figura VII.12: Análise da imagem do CH para o GLP com 21% de O2 e b = 30,92 ........ 243

Figura VII.13: Análise da imagem do C2 para o GLP com 30,98% de O2 e b = 14,00 .... 244

Figura VII.14: Análise da imagem do CH para o GLP com 30,98% de O2 e b = 14,00 ... 244

Figura VII.15: Análise da imagem do C2 para o GLP com 54,52% de O2 e b = 15,80 .... 245

Figura VII.16: Análise da imagem do CH para o GLP com 54,52% de O2 e b = 15,80 ... 245

Figura VII.17: Análise da imagem do C2 para o GLP com 81,30% de O2 e b = 15,60 .... 246

Figura VII.18: Análise da imagem do CH para o GLP com 81,30% de O2 e b = 15,60 ... 246

Figura VII.19: Resultados de Chou e Patterson (1995) para relação entre razão de

equivalência (φ) e a razão de intensidade (IC2/ICH) para o propano e o indoleno ....

249

Figura VII.20: Comportamento da razão de intensidade IC2/ICH em função da posição

(X entre 40 a 60 e Y = 210) para as imagens das chamas de diesel apresentadas

na Tabela VII.2 ........................................................................................................

251

Figura VII.21: Comportamento da razão de intensidade IC2/ICH em função da posição

(X entre 40 a 60 e Y = 210) para as imagens das chamas de GLP apresentadas na

Tabela VII.3 .............................................................................................................

252

Figura A.1: Representação esquemática de um reator bem misturado ............................ iii

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xvi

Figura A.2: Esquema da divisão de câmara de combustão em uma sequência de

reatores homogêneos para simulação de cinética química .......................................

vi

Figura A.3: Resultados da simulação e de medidas experimentais para emissão de NOx

em base seca, na saída da câmara e em função da porcentagem de O2 no

oxidante ....................................................................................................................

vii

Figura A.4: Temperatura e tempo de residência no reator 1 em função da porcentagem

de O2, no oxidante, calculados pelo modelo de reator homogêneo .........................

ix

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xvii

LISTA DE TABELAS

Tabela IV.1: Valores de Cp segundo Perry e Chilton (1973), utilizados na integração

da equação (IV.15) ...................................................................................................

45

Tabela V.1: Posição dos termopares em relação à extremidade inferior da câmara ........ 56

Tabela V.2: Descrição dos fluidos utilizados no experimento ......................................... 57

Tabela V.3: Comparação entre a análise de gases na saída da câmara com o balanço de

massa para avaliar a placa de orifício utilizada na medida da vazão de GLP...........

71

Tabela V.4: Características do diesel ............................................................................... 72

Tabela V.5: Composição do GLP (apresentada em Ferreira, 1997) ................................. 73

Tabela V.6: Poder calorífico do GLP (Instituto Brasileiro do Petróleo, 1989) ................ 74

Tabela V.7: Características principais dos analisadores de gases .................................... 77

Tabela V.8: Recomendações para projeto das dimensões de atomizadores tipo “Y-Jet”,

segundo Mullinger e Chigier (1974) ........................................................................

90

Tabela V.9: Parâmetros geométricos dos atomizadores ................................................... 96

Tabela V.10: Valores de SMD para a vazão de 3,11 g/s de diesel ................................... 102

Tabela V.11: Valores de SMD para a vazão de 2,5 g/s de diesel ..................................... 102

Tabela V.12: Condições dos sprays de resíduo ................................................................ 104

Tabela V.13: Volumes de controle para o cálculo do tempo de residência médio .......... 109

Tabela VI.1: Condições dos ensaios ................................................................................. 123

Tabela VI.2: Parâmetros da condição padrão de operação para diesel ............................ 140

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xviii

Tabela VI.3: Emissão de gases na saída da câmara para a condição padrão de operação

com e sem injeção de resíduo ..................................................................................

141

Tabela VI.4: Ensaios com combustível estagiado ............................................................ 189

Tabela VI.5: Relações entre o primeiro e segundo estágios de combustão ...................... 193

Tabela VI.5: Comparação entre atomização com ar e com oxigênio ............................... 200

Tabela VI.6: Exemplo baseado em balanço de massa, para ilustrar a redução da vazão

do nitrogênio, devido ao enriquecimento, tanto para GLP como para diesel ..........

208

Tabela VI.7: Emissão de gases na saída da câmara, para combustão de GLP com

diversos níveis de enriquecimento ...........................................................................

214

Tabela VII.1: Configuração do sistema ótico ................................................................... 232

Tabela VII.2: Condições para os ensaios com diesel e imagens reconstruídas ................ 235

Tabela VII.3: Condições para os ensaios com GLP e imagens reconstruídas .................. 242

Tabela A.1: Volume adotado para os reatores homogêneos ............................................. vi

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xix

NOMENCLATURA

Caracteres Latinos

a Número de moles de oxigênio não provenientes do ar

T.R.a γ= Velocidade do som (Cap. V, atomizador Y) [m/s]

Aef Área efetiva do escoamento no “swirler” [mm2]

As Área da coroa circular do “swirler” [mm2]

A3a Área anular entre o “swirler” e a parede do tubo [mm2]

b Excesso de oxidante genérico normalizado

bg Excesso de oxidante normalizado global (combustão estagiada)

b1 Excesso de oxidante normalizado no primeiro estágio (combustão estagiada)

c Número de moles do resíduo

Cd Coeficiente de descarga [adimensional]

Ci Fator de correção de pressão para o composto i do gás para o cálculo da

emissividade [adimensional]

Cp Calor específico a pressão constante [cal/mol.K]

CB Coeficiente de bloqueio [adimensional]

d Diâmetro instantâneo das gotas do spray [µm]

da Diâmetro da saída do ar (atomizador tipo Y) [mm]

df Diâmetro da saída do combustível (atomizador tipo Y) [mm]

dm Diâmetro da câmara de mistura (atomizador tipo Y) [mm]

d0 Diâmetro inicial das gotas do spray [µm]

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xx

D Diâmetro da câmara de combustão [m]

E Energia [kJ]

Gx’ Componente axial do fluxo da quantidade de movimento linear [kg.m/s2]

Gφ Componente axial do fluxo da quantidade de movimento angular [kg.m/s2]

hofi Entalpia de formação do composto i [kJ/kg]

hofj Entalpia de formação do composto j [kJ/kg]

hL Calor latente de vaporização [kJ/kg]

HP Entalpia dos produtos [kJ/kg]

HR Entalpia dos reagentes [kJ/kg]

ICH Intensidade luminosa no comprimento de onda correspondente a emissão

quimiluminescente do radical CH [escala de cinza]

IC2 Intensidade luminosa no comprimento de onda correspondente a emissão

quimiluminescente do radical C2 [escala de cinza]

lb Comprimento característico do gás ou da chama [m]

L Comprimento da câmara de pré-mistura (atomizador tipo Y) [mm]

La Comprimento do canal de alimentação do ar (atomizador tipo Y) [mm]

Lf Comprimento do canal de alimentação do combustível (atomizador tipo Y)

[mm]

Lm Comprimento total da câmara de mistura (atomizador tipo Y) [mm]

m Massa [g]

mar Vazão mássica total de ar (combustão + atomização) [g/s]

mar/atm/f Vazão mássica do ar de atomização do combustível [g/s]

mar/atm/res Vazão mássica do ar de atomização do resíduo [g/s]

mar/comb Vazão mássica do ar de combustão [g/s]

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xxi

mCO2 Vazão mássica de CO2 lançado para atmosfera [g/s]

mdiesel Vazão mássica de diesel [g/s]

mf Vazão mássica de combustível [g/s]

mGLP Vazão mássica de GLP [g/s]

mNH3 Vazão mássica de amônia (NH3) [g/s]

mox/atm/f Vazão mássica do oxigênio de atomização do combustível [g/s]

mox/atm/res Vazão mássica do oxigênio de atomização do resíduo [g/s]

mox/comb Vazão mássica do oxigênio de combustão [g/s]

mO2 Vazão mássica total de oxigênio (combustão + atomização) [g/s]

mp Fluxo mássico do escoamento primário interno do “swirler” [g/s]

mres Vazão mássica de resíduo [g/s]

ms Fluxo mássico do escoamento secundário externo do “swirler” [g/s]

mt Vazão mássica total do fluxo de gases através da câmara de combustão [g/s]

M Massa molecular [g/mol]

a

VMach f/atm/ar= Número de Mach do fluido de atomização [adimensional]

MMD Diâmetro mediano de massa [µm]

Mr Razão entre as componentes axiais dos fluxos da quantidade de movimento

linear dos escoamentos primário interno e secundário externo [adimensional]

ni Número de moles do composto i

nj Número de moles do composto j

p’ Pressão parcial de um composto no gás de combustão [Pa]

pi Pixels de uma linha da imagem integrada obtida pela câmera CCD

P Pressão [Pa]

PCI Poder calorífico inferior do combustível [kJ/kg]

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xxii

Pif Pressão de injeção do combustível [Pa]

P0 Pressão de estagnação [Pa]

Qparede Calor transferido à parede da câmara [kcal/kg de combustível]

f

f/atm/aratm m

mr =

Razão de atomização [adimensional]

ri Pixels de uma linha da imagem reconstruída pelo algoritmo de tomografia

R Constante de gás ideal [m2/s2.K]

R Calor transferido por radiação para parede da câmara (cap. VI) [W/m2]

_

R Constante universal dos gases (0,08206 atm.l/K.mol)

D..

m.4Re t

µπ=

Número de Reynolds da câmara de combustão [adimensional]

RH Raio da lança central do “swirler” [mm]

RI Raio de injeção do combustível [mm]

Rs Raio da coroa circular do “swirler” [mm]

R3 Raio do duto de condução axial do escoamento secundário externo [mm]

S’ Número de “swirl” baseado na distribuição de velocidade do próprio

“swirler” [adimensional]

Ss’ Número de “swirl” do escoamento secundário [adimensional]

SMD Diâmetro médio de Sauter [µm]

t Tempo [s]

tr Tempo de residência [s]

T Temperatura [K]

T Espessura das pás do “swirler” (Cap. V) [mm]

Tg Temperatura do gás [K]

Ts Temperatura na saída do volume de controle (VC) [K]

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xxiii

Tw Temperatura na parede [K]

T0 Temperatura de estagnação [K]

var/atm/f Velocidade do ar de atomização do combustível [m/s]

vif Velocidade de injeção do combustível [m/s]

V Volume da câmara de combustão [l]

VC Volume de controle [l]

Vrel Velocidade relativa entre os fluidos na câmara de mistura (atomizador Y)

[m/s]

Z Número de pás do “swirler”

ZRI Zona de recirculação interna

Caracteres Gregos

α Ângulo entre as pás do “swirler” [o]

αg Absortividade do gás [adimensional]

βv Coeficiente de vaporização do combustível [µm2/s]

γ = Cp/Cv Razão entre calores específicos [adimensional]

δ Viscosidade cinemática [centistokes]

∆HRES Energia transferida ao resíduo [kJ/kg]

25∆hTs Diferença de entalpia entre 25oC e a temperatura Ts [kJ/kg]

∆ε Fator de correção espectral devido à absorção da radiação térmica por um

composto, que foi emitida por outro [adimensional]

εg Emissividade do gás [adimensional]

εi Emissividade do composto i do gás [adimensional]

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xxiv

εw Emissividade da parede [adimensional]

ηc Rendimento de combustão [adimensional]

θ Inclinação do canal de alimentação do combustível (atomizador tipo Y) [o]

µ Viscosidade média dos gases de combustão [centistokes]

ρ Massa específica [kg/l]

σ Fator de bloqueio (Cap.V)

σ Constante de Stefan-Boltzmann (5,67.10-8W/m2.K4) (Cap. VI)

∑ Somatório

τ Tensão superficial [dynas/cm]

φg Razão de equivalência global da câmara (combustão estagiada)

φ1 Razão de equivalência do primeiro estágio (combustão estagiada)

φ2 Razão de equivalência do segundo estágio (combustão estagiada)

Caracteres Especiais

[ ] Concentração [moles/cm3]

[A] Matriz de áreas do processo de discretização da chama no algoritmo de

tomografia

[P] Vetor que representa os pixels da linha a ser reconstruída pelo algoritmo de

tomografia

[r] Vetor que representa a linha reconstruída pelo algoritmo de tomografia

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xxv

SUMÁRIO

O presente trabalho apresenta uma investigação experimental sobre o enriquecimento

do ar em uma câmara de combustão projetada para incineração de resíduos aquosos. Diesel e

gás liquefeito de petróleo (GLP) foram utilizados independentemente como combustível

auxiliar. Um aumento de 85% na taxa de incineração foi obtida para 50% de O2 no gás

oxidante, em comparação com a incineração com ar. A taxa de incineração continuou

aumentando para níveis de enriquecimento acima de 50%, contudo em um passo menor. Para

combustão com oxi-chama (100% O2), o aumento da taxa de incineração foi em torno de

110% em comparação com a condição inicial e cerca de 13,5% em relação à condição de 50%

de O2. A concentração de CO medida próxima a frente de chama diminui drasticamente com

o aumento da quantidade de O2 no oxidante. Na saída da câmara, a concentração de CO foi

sempre próxima à zero, indicando que o tempo de residência foi suficiente para completa

oxidação do combustível em qualquer condição de ensaio. Para o diesel, o NOx foi

inteiramente formado na região primária da câmara de combustão. Para esse combustível, há

um tênue aumento na concentração de NOx até 35% de O2, acima deste valor a concentração

aumenta acentuadamente. Partindo de 60 p.p.m., em operação com ar, a concentração de NOx

atinge 200 p.p.m em 35% de O2, e então 2900 p.p.m. em 74% de O2. O último corresponde a

6 vezes mais NOx, em termos da razão massa de NO2/massa de resíduo, comparada com a

combustão com ar. Para o GLP, a concentração de NOx atinge 4200 p.p.m. em 80% de O2,

correspondendo a 9 vezes mais do que a operação com ar, também em termos da razão massa

de NO2/massa de resíduo. Resultados de diferentes técnicas usadas para controlar o NOx

durante o enriquecimento do ar também foram discutidas.

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xxvi

ABSTRACT

An experimental investigation is presented of air enrichment in a combustion chamber

designed to incinerate aqueous wastes. Diesel fuel and liquefied petroleum gas (LPG) were

used independently as fuels. An increase of 85 % in the incineration rate was obtained with

nearly 50 % O2 in the oxidant gas, in comparison to incineration with air only. The

incineration rate continues increasing for enrichment levels above 50 % O2, although at a

lower pace. For complete oxy-flame combustion (100 % O2), the increase of the incineration

rate was about 110 % relative to the starting conditions and about 13.5 % relative to the

condition with 50 % O2. The CO concentration measured near the flame front decreases

drastically with the increase of O2 content in the oxidant gas. At the chamber exit, the CO

concentration was always near to zero, indicating that the chamber residence time was

sufficient to complete fuel oxidation in any test setting. For diesel fuel, the NOx was entirely

formed in the first region of the combustion chamber. For diesel fuel, there was some increase

on the NOx concentration up to 35 % of O2; this increase became very sharp after that. From

60 p.p.m., at operation with air only, the NOx concentration raises to 200 p.p.m. at 35 % O2,

and then to 2900 p.p.m. at 74 % O2. The latter corresponds to 6 times more NOx, in terms of

the ratio mass of NO2/mass of residue, compared to the situation of combustion with air only.

For LPG, the NOx concentrations reached 4200 p.p.m. at 80 % O2, corresponding to 9 times

more, also in terms of the ratio mass of NO2/mass of residue, in comparison with combustion

with air only. Results of different techniques used to control the NOx emission during air

enrichment are also discussed.

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xxvii

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. João Andrade de Carvalho Júnior, não somente pela orientação da

tese, mas pela confiança e amizade desde minha época de graduação.

Ao Prof. Dr. Amilcar Porto Pimenta, por ter me recebido no ITA com a

confiança de poder desenvolver o presente trabalho, além da sua importante contribuição para

sua realização.

Ao Prof. Maher Nasr Bismarck-Nasr, Chefe da Divisão de Engenharia

Aeronáutica do ITA, pela compreensão durante o período em que precisei dividir minhas

atividades acadêmicas de docente dessa divisão, com as atividades relacionadas à tese.

Ao Dr. Marco Aurélio Ferreira, Chefe do Laboratório Associado de

Combustão e Propulsão do INPE de Cachoeira Paulista, na ocasião da realização dos

experimentos, por disponibilizar o laboratório e recursos financeiros, além da contribuição

com sugestões importantes para a montagem realizada.

Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Gurgel Veras pelas inúmeras discussões e

sugestões que tanto enriqueceram o trabalho.

Ao Dr. Armando de Azevedo Caldeira Pires pelas oportunidades de visita ao

Instituto Superior Técnico em Lisboa, que contribuíram muito para minha formação.

Ao Dr. Heraldo da Silva Couto pelas sugestões sobre injetores e ancoradores

de chama.

Ao Mestre Cesar Augusto Botura e ao Engenheiro Daniel Silva Ferreira pelo

suporte técnico durante a montagem dos experimentos.

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xxviii

Ao Físico Eleasar Martins Marins e aos Técnicos José Carlos dos Santos e

Adilson Rogério Nakano pelo suporte na parte de instrumentação.

Às amigas Maria Ignês e Maria Aparecida pelos inúmeros serviços de

biblioteca.

À todo pessoal de suporte técnico de oficina do Laboratório Associado de

Combustão e Propulsão do INPE e do Laboratório Prof. Feng do ITA.

Ao Departamento de Materiais Refratários da Faculdade de Engenharia

Química de Lorena pelo apoio no projeto e na construção da câmara de combustão.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo finaciamento

parcial da tese através dos projetos: 95/4167-7, 96/10310-0 e 97/5511-9.

Aos professores e colegas de turma pelo estímulo e apoio em todos momentos.

À todas pessoas que de alguma forma contribuiram para eleboração desta tese.

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xxix

Dedico esta tese aos meus pais, Pedro e

Zilda, por sempre terem me apoiado nas

buscas dos meus sonhos, à minha esposa

Laís, pelo carinho, compreensão e estímulo

para vencer as barreiras encontradas em

nossos caminhos, ao meu irmão Paulo e à

sua namorada Karin, pela fonte de amizade,

tão importante nos momentos de alegria e

de dificuldade.

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1

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas os processos industriais estão constantemente em busca do

aumento da produtividade, devido ao mercado consumidor ser cada vez mais amplo e

exigente. No entanto, em função da crise energética e exigências ambientais, o aumento da

produtividade está cada vez mais atrelado ao baixo consumo de energia e à baixa emissão de

poluentes. Desta forma, a busca de novas tecnologias que atendam a essas necessidades é uma

realidade, visto que em processos convencionais a conciliação de tais fatores é quase

impossível.

Atualmente, na maioria das plantas industriais está presente algum processo que

dependa da energia térmica liberada pelas reações de combustão, que vão desde fornos de

fusão e incineradores de resíduos industriais, até caldeiras para geração de vapor. Os

processos de combustão não fogem às exigências citadas no parágrafo anterior, pois, em

geral, são processos caros, passíveis de emissão de poluentes e importantes para o

funcionamento da indústria.

Uma tecnologia que vem ganhando espaço é a utilização de chamas enriquecidas com

oxigênio em processos de combustão industrial que necessitam de elevada energia térmica

disponível. O emprego de tal tecnologia teve início nos anos cinqüenta (Gitman, 1986). Desde

então muitos estudos e desenvolvimentos foram realizados. No entanto, com aumento do

preço dos combustíveis em relação ao preço do oxigênio, principalmente devido à crise do

petróleo e à diminuição dos custos de produção do oxigênio com avanço das técnicas

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criogênicas de separação do ar, as chamas enriquecidas surgiram como uma forte alternativa

nos últimos anos (Shahani et al., 1994, 1996).

I.1 – ENRIQUECIMENTO DO OXIDANTE

A grande maioria dos processos de combustão utilizam o ar ambiente como fonte de

oxigênio. Durante a combustão as reações desse oxigênio com o carbono e o hidrogênio

presentes nos combustíveis hidrocarbonetos liberam energia térmica. No entanto, a maior

parte dessa energia térmica liberada é absorvida pelo nitrogênio, visto que o ar é constituído

de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de traços de outros constituintes, em base

volumétrica. Do ponto de vista térmico, o nitrogênio é inerte, ou seja, apenas absorve a

energia liberada pelas reações de combustão, que poderia estar sendo utilizada em um

processo industrial. Enriquecendo a mistura oxidante para porcentagens de oxigênio acima

dos 21% do ar atmosférico a vazão total dos gases de combustão diminui e a eficiência

térmica do processo aumenta (Griffith, 1990).

A redução do volume de nitrogênio no gás oxidante tem consequência direta nos

chamados três “T’s” da combustão, que são temperatura, tempo e turbulência (Griffith, 1990).

Quanto maior for o nível de enriquecimento, menor será a energia absorvida pelo nitrogênio

e, consequentemente, maior será a temperatura dos gases de combustão. Isto pode ser

benéfico pelo fato de temperaturas elevadas serem necessárias para diversa aplicações

industriais, no entanto, podem propiciar elevadas emissões de NOx, que, além de, como o

SO2, provocar chuva ácida, constitui em um componente importante das reações fotoquímicas

que levam à formação do ozônio (O3).

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Tempo, neste caso, refere-se ao tempo de residência dos gases de combustão dentro da

câmara, que deve ser suficiente para que as reações de combustão ocorram. O efeito do

enriquecimento no tempo de residência deve-se ao fato do mesmo diminuir o volume do

escoamento de gases; em conseqüência, o tempo que cada molécula permanece na câmara é

aumentado. Para o caso da combustão com gás natural, a redução do volume de gás chega a

30% do original quando o enriquecimento atinge 100% de O2 (Griffith, 1990). Um tempo de

residência mais elevado permite que as reações de combustão sejam completadas,

favorecendo, por exemplo, a conversão de CO em CO2. No entanto, pode aumentar a emissão

de NOx, visto que a quantidade de NO produzido é proporcional ao tempo em que os gases de

combustão ficam expostos à temperatura elevada, devido às suas reações de formação serem

lentas quando comparadas com as reações de oxidação dos hidrocarbonetos (Miller e

Bowman, 1989).

Outra questão é o nível de turbulência da câmara. Com a redução do fluxo gasoso,

devido ao enriquecimento com oxigênio, o número de Reynolds na câmara diminui em função

da menor velocidade dos gases. Em determinadas circunstâncias, isso pode prejudicar o

processo de mistura entre o combustível e o oxidante, podendo levar à situação de combustão

incompleta. A análise teórica feita por Melo et al. (1998) apontou que, para a incineração em

um forno rotativo com câmara primária cilíndrica de 1,5m de diâmetro, o enriquecimento

pouco afeta o número de Reynolds, visto que, neste caso, o diâmetro é suficientemente alto

para que as variações no fluxo de gás não alterem bruscamente seu valor para um valor

laminar. Já para câmaras cilíndricas com diâmetro de 0,6m, Lacava e Carvalho (1996)

apontaram que o número de Reynolds pode ser um fator limitante para níveis elevados de

enriquecimento na incineração de resíduos líquidos aquosos, visto que em algumas

circunstâncias analisadas teoricamente, o número de Reynolds esteve abaixo dos 5000

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recomendados para incineração (Bonner et al., 1981). Como alternativa, uma melhor mistura

entre o combustível e oxidante pode ser alcançada com a geração de regiões de recirculação

na câmara, utilizando-se de dispositivos como queimadores com gerador de “swirl” (Wall,

1987).

I.2 – APLICAÇÃO DE CHAMAS ENRIQUECIDAS E OXI-CHAMAS

Basicamente, o processo de enriquecimento encontra espaço em processos industriais

que necessitam de temperatura elevada e alta eficiência térmica. Para as chamas onde o

oxidante é 100% oxigênio, a literatura usa o termo “oxi-chamas” (“oxy-flames” na língua

inglesa), já para a mistura oxigênio, nitrogênio e traços de outros constituintes em condições

de porcentagem de oxigênio acima dos 21% do ar atmosférico, emprega-se o termo “chamas

enriquecidas” (“enriched flames” na língua inglesa).

As oxi-chamas são amplamente utilizadas para aumentar a capacidade de produção de

fornalhas de fusão, entre elas, as utilizadas nas indústrias de vidro, metais fundidos e óxidos

metálicos (Souza et al., 1995). Os benefícios da utilização de chamas enriquecidas ou oxi-

chamas nas fornalhas utilizadas para produção de vidro, em comparação com a difundida

técnica de pré aquecimento do ar oxidante, são (Flamme e Kremer, 1993):

• A temperatura de combustão é aumentada de aproximadamente 1900oC (com ar pré

aquecido) para mais de 2700oC (com 100% oxigênio).

• O volume de gás é reduzido substancialmente.

• O calor transferido para a carga é aumentado.

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• A capacidade de produção de uma instalação existente é aumentada desde que o tempo

necessário para o processo de fusão seja reduzido.

• Há necessidade de uma menor estrutura para o tratamento dos gases provenientes da

fornalha, em função do menor escoamento de gases.

O enriquecimento ainda pode ser utilizado para o controle das dimensões e formato da

chama nas fornalhas. O uso de oxigênio diminui o comprimento da chama em função do

aumento das taxas de reação, evitando que a mesma atinja a parede refratária da câmara,

condição que reduz o tempo de vida do refratário e altera o processo de transferência de calor

para a carga.

Hansen et al. (1994) realizaram ensaios enriquecendo o ar de combustão em fornos de

cimento e observaram que a temperatura na zona de queima pode ser melhor controlada com

o uso dessa técnica, principalmente quando queimaram quantidades substanciais na região

central do forno, que, em operações convencionais, esfriam a zona de queima. A quantidade

de escória formada foi diminuída, em função da concentração de oxigênio aumentar na região

logo acima dos sólidos na zona de queima. Isso incrementa a formação de óxidos de ferro

adequados e impede a formação de SOx. Os pesquisadores também observaram uma melhoria

na estabilidade do processo.

Outra aplicação promissora para as chamas enriquecidas é na incineração de resíduos,

que, quando comparada com a utilização em fornos de fusão, ainda está na infância (Sharani

et al., 1994). Incineração é um processo que utiliza a decomposição térmica através da

oxidação em temperatura elevada (normalmente acima de 750oC) para destruir frações

orgânicas presentes nos resíduos e redução de seu volume (Dempsey e Oppelt, 1993). O uso

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de oxigênio para enriquecer o oxidante pode ser uma alternativa atrativa para aumentar a taxa

de incineração em uma câmara de combustão projetada para operar com ar. Para uma certa

vazão de combustível, se alguns parâmetros de incineração forem mantidos constantes (como

temperatura da câmara, nível de turbulência e tempo de residência), o aumento da taxa de

incineração torna-se possível com a injeção de oxigênio (Melo et al., 1998).

Sharani et al. (1994) conduziram ensaios promovendo enriquecimento em uma câmara

de incineração piloto de resíduo sólido municipal. O poder calorífico inferior médio do

resíduo era de 2251 kcal/kg, o excesso de ar 80%, e estabeleceu-se como parâmetro fixo o

volume de gases na saída da câmara. Para essas condições e um enriquecimento de 27% de O2

eles observaram um aumento de 20% na capacidade de incineração da câmara, com redução

na emissão de CO e aumento da emissão de NOx dentro dos limites aceitáveis para tratamento

dos gases. A emissão de CO é um dado importante não apenas para controle da emissão desse

poluente, mas para garantir eficiência da decomposição térmica de alguns compostos

orgânicos de especial interesse, como as dioxinas. Como o monitoramento de tais compostos

é muito complexo, a eficiência de combustão acaba sendo o indicador da qualidade da

decomposição desses compostos (Brunner, 1991).

Para plantas de incineração onde os resíduos são adicionados ao incinerador em barris,

como é o caso dos fornos rotativos, há um momentâneo aumento da emissão de CO quando os

mesmos são adicionados à câmara. A introdução do barril com resíduo de elevado poder

calorífico causa uma deficiência local de ar gerando uma quantidade elevada de CO, que não

consegue ser completamente oxidado na câmara de pós combustão. Franke e Hatami (1991)

mostraram que o uso de oxigênio na câmara rotativa e na câmara de pós combustão de uma

unidade de incineração de 17,5MW, incinerando resíduos líquidos, pastosos e sólidos (esse

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último em barril), reduz drasticamente a emissão transitória de CO e aumenta a capacidade de

incineração da unidade. Lemieux et al. (1990) também relataram que o uso do oxidante

enriquecido minimiza a emissão transiente de poluentes em fornos rotativos, mesmo para

operações com baixa temperatura e baixa rotação.

Melo et al. (1998) observaram que um dos fatores limitantes para o processo de

enriquecimento em câmaras de incineração tipo forno rotativo é a relação entre o tempo de

pirólise dos resíduos sólidos e o tempo de passagem do mesmo na câmara. Com o aumento da

taxa de incineração, em função do enriquecimento, há uma redução no tempo de passagem da

carga de resíduo na câmara, se a rotação do forno for mantida constante. Dependendo da

natureza do resíduo, da granulação e do aumento da taxa de incineração, ao final da passagem

pela câmara o resíduo pode não ter sido completamente pirolizado. A solução para tal

problema pode ser atacada de três maneiras diferentes, ou por uma combinação delas.

a) Aumentar a temperatura de operação da câmara. A taxa de pirólise pode ser representada

por uma expressão do tipo Arrhenius (Niessen, 1978):

∆−−=

RT

EexpK

dt

dm , (I.1)

onde m, t, K, ∆E, R e T são a massa do resíduo, tempo, uma constante (dependente do

material), energia de ativação, constante do gás e temperatura, respectivamente. Por

exemplo, o valor de ∆E/R é da ordem de 9500K para madeira e 27000K para papel

(Niessen, 1978). Se a temperatura for aumentada de T1 para T2, o aumento da taxa de

pirólise pode ser expresso como:

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−∆=

12

12

TT

TT

R

Eexpf . (I.2)

No entanto, o aumento da temperatura representa um maior custo de operação.

b) Diminuir a rotação da câmara. Isso levará ao aumento do tempo de passagem da carga.

Contudo, a taxa de incineração irá diminuir.

3) Promover uma granulação menor do resíduo. Com aumento da área superficial, o tempo

necessário para pirólise completa irá diminuir. No entanto, isso nem sempre é possível e

será um custo adicional ao processo.

Assim, a implementação do uso de chamas enriquecidas na incineração de resíduo

sólidos requer alterações na metodologia operacional, não sendo apenas um ajuste de vazões

de ar, oxigênio, combustível auxiliar e resíduo.

Além da perspectiva de uso em incineradores industriais, o enriquecimento com

oxigênio também é aplicável à incineração de resíduos de serviços de saúde. Este processo, já

aplicado em alguns hospitais do Brasil, destina-se aos incineradores convencionais (câmara

única) ou avançados (câmara primária e pós queimador) que não atingem as condições

mínimas de temperatura exigida pelo órgãos de controle ambiental (Gurjão, 1993). Além

disso, no enriquecimento a formação de dibenzodioxinas policloradas e dibenzofuranos é

fortemente inibida, visto que suas condições de síntese não são favorecidas. A maioria das

dioxinas e furanos tem sua síntese dentro das partículas de fuligem não queimadas numa faixa

de temperatura da ordem de 300oC a 700oC. Na combustão enriquecida, a maior concentração

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de oxigênio favorece a oxidação dos particulados e eleva a temperatura em seu núcleo a

valores superiores à condição de formação de dioxinas e furanos.

Apesar de algumas vantagens citadas ao longo dos parágrafos anteriores, a utilização

de chamas enriquecidas requer ainda estudos mais aprofundados para que tal tecnologia seja

amplamente difundida, sobretudo para seu uso em incineração. Poucos resultados são

encontrados na literatura, dificultando a ação de projetistas, engenheiros e pesquisadores.

Desta forma, o presente trabalho pretende obter dados e discutir aspectos importantes para a

utilização do processo de enriquecimento do ar na incineração de resíduo.

I.3 – OBJETIVOS DO TRABALHO

Conforme discutido nos itens anteriores, o processo de enriquecimento do ar

atmosférico com oxigênio puro mostra-se uma forte alternativa para aumento da capacidade

de incineração de câmaras que não atendem mais às necessidades de uma planta industrial.

Não é incomum encontrar, nas indústrias brasileiras, pátios lotados de resíduos estocados

aguardando um destino, representando perigo e custo. A implementação de um sistema de

enriquecimento em incineradores requer tecnologias simples, mas devem ser utilizadas de

maneira racional para que o aumento da capacidade de incineração não represente também um

aumento elevado de custo operacional.

A situação que parece ser mais adequada para a utilização do enriquecimento é a

incineração de resíduos líquidos aquosos (grande porcentagem de água), que representa

grande parte dos resíduos líquidos gerados pelas indústrias químicas. O estudo teórico

realizado por Melo et al. (1998) apontou que os maiores aumentos de taxa de incineração pelo

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enriquecimento do ar são obtidos na incineração desse tipo de resíduo. Além disso, o presente

trabalho enfocou a incineração de resíduos líquidos aquosos pelas facilidades laboratoriais

decorrentes e por se desejar fazer uma análise térmica e de emissões gasosas provenientes

apenas do processo de combustão, e não avaliar a destruição de compostos presentes no

resíduo.

Dentro deste contexto, o presente trabalho apresenta os resultados de uma investigação

experimental sobre a incineração de resíduos líquidos aquosos, utilizando chamas

enriquecidas com oxigênio em diversos níveis (de 21 a 100% de oxigênio). O principal

objetivo dos ensaios foi caracterizar o aumento da taxa de incineração à medida que se

aumenta o nível de enriquecimento do oxidante e avaliar a emissão dos gases produtos de

combustão, sobretudo CO e NOx.

As etapas de desenvolvimento do trabalho foram:

1) Projeto e construção de uma câmara de combustão de paredes quentes (sem refrigeração)

para realização dos ensaios.

2) Aquisição, projeto e construção de equipamentos periféricos (queimadores, injetores,

linhas, etc.) e instrumentação associada à câmara de combustão (termopares, rotâmetros,

etc.).

3) Realização dos ensaios utilizando água para simular o resíduo e diesel e GLP (Gás

Liquefeito de Petróleo) como combustíveis auxiliares, caracterizando o aumento da

capacidade de incineração e a emissão de poluentes.

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4) Empregar tecnologias e metodologias para minimizar a emissão de poluentes em operação

com chamas enriquecidas.

Além deste capítulo de introdução, esta tese conta com mais sete capítulos. O Capítulo

II apresenta detalhes sobre a formação de poluentes nos processos de combustão e a

influência do processo de enriquecimento, visto que as temperaturas elevadas obtidas nessa

situação podem favorecer a formação de alguns poluentes. No Capítulo III, são apresentadas

as conseqüências do processo de enriquecimento na temperatura de chama adiabática e na

composição dos gases de combustão, do ponto de vista de equilíbrio químico. No Capítulo IV,

é feita uma análise teórica da situação experimental estudada, baseada em balanços de massa

e energia. No Capítulo V, é feita a descrição da montagem experimental e de metodologias e

procedimentos adotados para os ensaios. No Capítulo VI, são apresentados os resultados

obtidos e os comentários pertinentes aos mesmos. No Capítulo VII, é feita uma análise visual

das chamas enriquecidas utilizando o processo de tomografia. Finalmente, no Capítulo VIII,

são apresentadas as conclusões sobre o trabalho, além de recomendações para trabalhos

futuros. Além dos capítulos citados, a tese ainda apresenta na forma de apêndice uma

comparação entre alguns resultados experimentais e uma simulação de reator homogêneo.

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CAPÍTULO II

EMISSÃO DE POLUENTES

Apesar do homem utilizar a combustão como fonte de energia há milênios, a emissão

de poluentes só ganhou destaque e importância no cenário mundial a partir do início da

década de setenta. A despeito das preocupações com o meio ambiente começarem a ganhar

corpo há cerca de trinta anos atrás, muitas questões e dificuldades tecnológicas ainda não

foram vencidas. Assim, muitas pesquisas e desenvolvimentos na área de combustão visam a

minimização das emissões de poluentes, pois as indústrias e os setores de transporte dos

países desenvolvidos e dos em desenvolvimento estão baseados, sobretudo, na queima de

combustíveis fósseis e deverão permanecer desta forma por algumas décadas.

Dentro deste contexto, a presente tese também destaca a emissão de poluentes em

operações com chama enriquecida com oxigênio. Neste capítulo são apresentadas

considerações sobre as emissões dos poluentes mais comuns em processos de combustão

(NOx, CO, CO2, hidrocarbonetos não queimados e fuligem e particulados). Um destaque

especial foi dado à emissão de NOx, pelo fato da utilização de chamas enriquecidas com

oxigênio propiciar condições favoráveis para a formação deste poluente, podendo limitar o

uso deste recurso tecnológico.

II.1 EMISSÃO DE NOX

O termo NOx é utilizado para designar a quantidade total de óxido de nitrogênio (NO)

e dióxido de nitrogênio (NO2). Em geral, nos processos de combustão, a formação do NO é

bem mais pronunciada do que a do NO2; no entanto, ao ser descarregado para atmosfera o NO

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é totalmente convertido a NO2. A alta temperatura de operação das câmaras de combustão

industrial e a utilização de combustíveis com teores de nitrogênio são fatores que contribuem

para a formação de NOx que, além de, como o SO2, provocar a chuva ácida, é um componente

importante das reações fotoquímicas que levam à formação de ozônio (O3). Além dos fatores

ambientais, o NOx é responsável direto por diversos problemas de saúde do homem, como

metaemoglobina ou cianose, edemas pulmonares e alteração das características hereditárias.

Não só para os processos industriais as pesquisas atuais estão sendo direcionadas.

Atualmente há uma grande quantidade de trabalhos publicados sobre emissão de NOx em

outros processos que utilizam sistemas de combustão, como é o caso das turbinas a gás

utilizadas na aviação e dos motores de combustão interna. Em geral os resultados destas

pesquisas podem ser estendidos aos processos industriais.

O NOx emitido durante a combustão depende da composição do combustível, do

modo de operação e do projeto dos queimadores e da câmara de combustão. Cada um desses

parâmetros são significativos em relação ao nível final de NOx emitido. A formação deste

poluente é atribuída a duas fontes distintas (Wood,1994).

a) NOx atmosférico, formado a partir da oxidação do N2 do ar atmosférico, seguindo

principalmente dois mecanismos de formação: o NOx térmico, sendo seu esquema

reacional proposto inicialmente por Zeldovich e colaboradores (1947), e o

"prompt” NOx, formado na região de frente de chama, cujo esquema reacional foi

proposto por Fenimore (1971).

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b) NOx do combustível, formado a partir da quebra das ligações do nitrogênio

presente no combustível e reação com oxigênio.

O meio mais comum de formação do NOx é a oxidação do N2 presente no ar,

conhecido como NOx atmosférico. Para sistemas pré-misturados, uma estimativa de sua taxa

de formação pode ser feita através da consideração de equilíbrio químico dado pela reação

(Glassman, 1987):

N2 + O2 = 2NO . (II.1)

No entanto, a formação do NO não surge de um simples ataque do oxigênio molecular

sobre o nitrogênio. Na realidade o N2 atmosférico reage com átomos de oxigênio provenientes

da dissociação do O2 ou da reação entre H e O2, formando os radicais O e OH:

H + O2 = O + OH . (II.2)

A reação (II.2) faz parte do submecanismo reacional H2-O2 dentro do processo de

combustão dos hidrocarbonetos, conforme descrito por Westbrook e Dryer (1984), sendo

considerada uma das reações de inicialização de tal submecanismo. O ataque do O sobre o N2

inicia o mecanismo reacional conhecido como Mecanismo de Zeldovich ou NO térmico,

apresentado pelas reções (II.3), (II.4) e (II.5):

N2 + O = NO + N , (II.3)

N + O2 = NO + O , (II.4)

N + OH = NO + H . (II.5)

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A contribuição da reação (II.5), em geral, é muito pequena, pelo fato de ambas

espécies serem radicais, estando, portanto, em baixas concentrações. No entanto, para

sistemas ricos tal reação pode ser importante e deve ser considerada (Glassman, 1987).

Zeldovich concluiu que a taxa de reação da reação (II.3), que inicia o mecanismo, é muito

mais lenta que a taxa das reações de combustão; sendo assim, a maior parte do NO térmico é

formado na região de pós-chama. Desta forma, é possível desacoplar o mecanismo e a taxa de

formação do NO térmico pode ser estimada pela expressão (II.6), derivada da aproximação de

regime permanente para o N e assumindo que a concentração de O pode ser calculada pela

consideração de equilíbrio O ⇔ ½ O2 (Glarborg, 1993):

]N.[]O).[T/67650exp(.10.3,1dt

]NO[d2

2/12

5 −= , (II.6)

onde as concentrações de NO, O2 e N2 estão em moles/cm3 e a temperatura em Kelvin. A

integração dessa equação promove uma boa aproximação da formação do NO térmico sobre

condições de combustão com excesso de ar, alta temperatura e baixa concentração relativa de

NO. Analisando a equação (II.6) é possível concluir que a formação de NO é extremamente

dependente da temperatura e em menor importância das concentrações de O2 e N2. Desta

forma, fica evidente que a melhor maneira de se controlar a formação do NO térmico é evitar

picos de temperatura. A importância da temperatura elevada para formação do NO, acima de

1500oC, decorre do fato da reação (II.3), que inicia o mecanismo de Zeldovich, possuir

elevada energia de ativação, conforme Miller e Bowman (1989).

Fenimore (1971) observou que o mecanismo de Zeldovich, com a hipótese de

equilíbrio para o oxigênio atômico, não consegue prever a taxa de formação do NO na região

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vizinha à chama. Nesta região as reações são rápidas e ocorrem em um ambiente onde os

hidrocarbonetos não foram completamente consumidos. Tal fato levou Fenimore acreditar na

existência de um mecanismo reacional diferente do de Zeldovich para esta região. Assim, ele

propôs um mecanismo envolvendo os radicais presentes na frente de chama da combustão dos

hidrocarbonetos com espécies nitrogenadas, conhecido como “prompt” NO. Na tentativa de se

descobrir qual radical de hidrocarboneto é o responsável pelo “prompt” NO, um grande

número de espécies foram sugeridas, por exemplo: CH, CH2, C2, C2H e C (Miller e Bowman

(1989)). Experimentos feitos por Blauwens et al. (1977) sugerem que os radicais CH e CH2

são os mais importantes dentro deste mecanismo, sendo as principais reações do mecanismo:

CH + N2 = HCN + N , (II.7)

CH2 + N2 = HCN + NH , (II.8)

CH2 + N2 = H2CN + N , (II.9)

C + N2 = CN + N . (II.10)

O HCN formado é convertido em N segundo os passos: HCN ⇒ NCO ⇒ NH ⇒ N, e,

na sequência, o N converte-se a NO através das reações (II.4) e (II.5). A formação do

“prompt” NO aumenta consideralvelmente a complexidade da química do nitrogênio na

chama. Isto está ilustrado na Figura II.1, que mostra os mais importantes caminhos das

reações de formação do “prompt” NO. A oxidação do HCN formado nas reações II.7 e II.8 é

complicada, envolve a formação e consumo de um número de espécies poluentes, incluindo

óxi-cianidas, aminas e óxido-nitroso. Contudo, estas espécies possuem normalmente um curto

tempo de vida e não constituem um problema de emissão de poluente para a maioria das

condições de operação (Glarborg, 1993). O “prompt” NO só se sobrepõe ao térmico em

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condição de combustão rica, caso contrário, o térmico representa mais de 70% de todo NO

formado.

Figura II.1 – Química das espécies envolvidas no mecanismo “prompt” (Glarborg, 1993).

As revisões sobre a emissão de NOx feitas por Bowman (1975) e Miller e Bowman

(1989) mostraram que há dados disponíveis na literatura indicando que parte do NO formado

na região de chama não é de responsabilidade do mecanismo de Fenimore, mas em virtude de

um superequilíbrio das concentrações de O e OH, o que acelera a taxa de reação das reações

(II.3) a (II.5), sobretudo nas condições de combustão pobre. Não há um consenso na literatura

sobre a definição do “prompt” NO, alguns autores consideram como somente o formado pelo

mecanismo de Fenimore, outros como sendo proveniente de qualquer reação rápida que

ocorra na região de chama, incluindo as do mecanismo de Zeldovich em condição de

superequilíbrio de O e OH.

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Outra fonte de formação NO na região de chama é através do mecanismo de

decomposição do N2O, sendo importante, em comparação com o NO térmico, somente na

situação de combustão pobre e com baixa temperatura (1000 a 1300K). O N2O é formado

através da combinação entre o oxigênio atômico e o nitrogênio molecular na presença de um

terceiro corpo (N2, O2, CO2 e H2O), conforme apresenta a reação II.11 (Glaborg, 1994).

O + N2 + M = N2O + M (II.11)

Em condições de combustão pobre, o N2O formado na reação (II.11) tende a ser

oxidado pelo oxigênio atômico e forma o NO, segundo a reação (II.12) (Bonturi et. al., 1996).

No entanto, em condições de combustão estequiométrica ou rica observa-se que o N2O é

convertido a N2 através de reações com o O e OH.

N2O + O = NO + NO (II.12)

Além do mecanismo de oxidação do nitrogênio presente no ar atmosférico, outra fonte

de NO é através das espécies nitrogenadas contidas no próprio combustível. Em geral, um

composto nitrogenado primário é quebrado em radicais nitrogenados secundários (HCN, CN,

NH2, NH e N). Esses compostos intermediários são convertidos a NO através das mesmas

reações envolvidas no mecanismo de Fenimore (Figura II.1). Assim, a quantidade de NO

formado também dependerá do teor de espécies nitrogenadas contidas no combustível.

Basicamente, o grande responsável pelo nível de NO formado no processo de

combustão é a temperatura. Assim, a maior parte das tecnologias não catalíticas empregadas

para redução da formação de NO envolve o seu controle, como, por exemplo, o estagiamento

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da injeção de reagentes e a recirculação dos gases de combustão para região de chama. Outro

ponto importante é o tempo de permanência dos gases de combustão em temperatura elevada,

pois como o mecanismo Zeldovich é relativamente lento, quanto maior for esse tempo maior

será o total de NO formado.

Em geral, os processos físicos desenvolvidos na região de chama influenciam na taxa

de mistura entre os reagentes, principalmente para o caso de chamas difusivas. Desta forma,

dificilmente haverá uma distribuição perfeita da razão de equivalência e, consequentemente,

da temperatura na região de reação. Assim, a intensidade de mistura entre os reagentes passa a

ser de fundamental importância na emissão de NO. Lyons (1982) mostrou que o grau de

homogeneidade da mistura atuará de maneira diferente de acordo com a razão de equivalência

média da combustão. Para o caso de chamas extremamente pobres, com razão de equivalência

em torno de 0,6, quanto mais homogênea for a mistura menor será a emissão de NOx, pois

diminui as regiões com temperatura elevada na zona de reação. Por outro lado, para

combustão nas proximidades da estequiometria a intensa mistura entre os reagentes seria

catastrófica, pois a distribuição de temperatura seria homogênea em torno de um valor

elevado, favorecendo a formação de NOx.

A emissão de NOx pode ser um obstáculo à ampla utilização do processo de

enriquecimento do oxidante com oxigênio, devido à elevada temperatura atingida na zona de

reação. No capítulo III é feita uma análise baseada em equilíbrio químico que mostra o

comportamento da temperatura e da emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no

oxidante. Na presente tese foi prevista a análise da emissão desse poluente e a busca de

estratégias para sua redução.

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II.2 – EMISSÃO DE CO e CO2

A combustão de hidrocarbonetos pode ser simplificada como ocorrendo em duas

etapas: o primeiro passo envolve a quebra do combustível em CO, com o segundo passo

sendo a oxidação do CO em CO2. Esse processo de oxidação é lento e a taxa de reação é

altamente controlada pela concentração de espécies hidrogenadas, sobretudo H2O e H2. Isto

em razão da reação de oxidação do CO envolvendo o radical hidroxilo ser muita mais rápida

do que as que envolve o O2 e O (Turns, 1996). Assumindo que a água é a espécie hidrogenada

primária no mecanismo, a oxidação do CO pode ser escrita como (Glassman, 1987):

CO + O2 = CO2 + O , (II.13)

O + H2O = OH + OH , (II.14)

CO + OH = CO2 + H , (II.15)

H + O2 = OH + O . (II.16)

A reação (II.13) é lenta e contribui pouco para o total de CO2 formado; no entanto, é a

reação que inicia o mecanismo. A reação (II.14) é a responsável pela formação do radical

hidroxilo e a (II.15) pela maior parte da conversão do CO em CO2. Quando o H2 está presente

em quantidade significativa, as seguintes reações ainda devem ser acrescidas ao mecanismo:

O + H2 = OH + H , (II.17)

OH + H2 = H2O + H . (II.18)

Além das reações (II.13) e (II.15), uma terceira reação de oxidação pode ocorrer

quando o radical HO2 está presente:

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CO + HO2 = CO2 + OH . (II.19)

No entanto, tal reação só apresenta algum significado em relação à (II.15) em

situações de pressão elevada.

A presença do O2 na região de reação química é de fundamental importância para o

início do mecanismo de oxidação do CO. Desta forma, além da parte química envolvida, é

preciso que o grau de mistura entre os reagentes seja intenso para que todo CO formado seja

convertido a CO2, principalmente em situações onde o excesso de oxidante é moderado. Isto

pode muito bem ser ilustrado pela combustão de motores diesel a pistão, onde a capacidade de

mistura dos reagentes é limitada e a emissão de CO elevada.

Fica claro que no processo de oxidação do CO o tempo de permanência dos gases

dentro da câmara de combustão precisa ser suficiente para compensar os “atrasos” químicos e

físicos envolvidos. O projeto dos queimadores também deve criar condições que propiciem

uma intensa mistura dos reagentes e, no caso da queima de combustível líquido, os

atomizadores devem ser capazes de promover um fino spray, facilitando a vaporização do

combustível e a penetração do oxidante no seu interior.

No caso de operações com chamas enriquecidas ou oxi-chamas, a expectativa é de

uma menor emissão de CO, devido aos fatores: 1) o aumento da concentração de oxigênio e

da temperatura dos gases de combustão acelera as taxas de reação do mecanismo de oxidação,

principalmente da reação responsável pelo início do mecanismo (II.13); 2) para o caso da

combustão de líquidos, o aumento da temperatura na região de chama também aumenta a taxa

de vaporização das gotas do spray, consequentemente, facilitando a mistura entre o

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combustível vaporizado e o oxidante; 3) a redução da concentração do nitrogênio nos gases de

combustão aumenta a concentração das espécies hidrogenadas.

Apesar da expectativa de uma menor redução de CO, conforme discutido no

parágrafo anterior, o aumento da concentração de oxigênio no oxidante reduz o fluxo

volumétrico de gases na câmara, consequentemente o número de Reynolds. O nível de

turbulência apresenta um importante papel na taxa de mistura entre os reagentes. Desta forma,

os três fatores apresentados no parágrafo anterior e o tempo de residência na câmara devem

compensar essa redução do nível de turbulência. Esse compromisso foi estudado

experimentalmente na presente tese e está apresentado no capítulo VI.

Outro ponto a destacar é a possibilidade da ocorrência das reações de dissociação pois,

em temperatura acima de 2200K, os compostos de oxidação completa, como o CO2 e H2O,

podem se dissociar e forma compostos de oxidação parcial, como o CO, OH, O, e H. No

entanto, se a temperatura for diminuindo ao longo da câmara de combustão, a tendência é uma

nova combinação entre os compostos de oxidação parcial em favor dos compostos de

oxidação completa. Esse aspecto está discutido com maior clareza no capítulo III.

A oxidação completa do CO em CO2 não soluciona totalmente o problema da emissão

de poluentes em processos de combustão. A não presença do CO em áreas urbanas é sempre

desejável, devido à sua alta toxidade. No entanto, o CO2 na atmosfera é um dos gases que

absorvem a radiação infravermelha, contribuindo para o aquecimento global, ou seja, o

chamado “efeito estufa”. O CO2 e traços de outro gases permitem a penetração da radiação

solar na superfície da Terra, mas reabsorvem a radiação infravermelha emitida desta.

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Desde a década de 50, a concentração de gases com capacidade de absorver a radiação

infravermelha aumentou muito, em função das nações se tornarem mais industrializadas e

florestas terem sido convertidas em área de aproveitamento para agricultura. Apesar disso,

foram nas décadas de 80 e 90 que os índices de aquecimento global se tornaram alarmantes.

Muitas incertezas ainda pairam sobre o papel de cada gás nesse processo. No entanto, já se

sabe que o CO2 é o responsável por cerca da metade da radiação infravermelha retida na

atmosfera (Manahan, 1993).

Infelizmente, o aproveitamento de energia da maioria dos países, altamente

industrializados ou não, está baseado na queima de combustíveis fósseis ou de biomassa e

essa situação deve se manter por algumas décadas. A utilização de chamas enriquecidas pode

minimizar esse impacto de duas formas: 1) nas situações onde a energia disponibilizada pela

menor ou não presença de nitrogênio se traduz em economia de combustível; com isso, há

uma redução no fluxo mássico de CO2 descarregado para atmosfera; 2) ou no caso onde a

energia disponibilizada é utilizada para aumentar a capacidade de um processo, como no caso

da incineração. Nesta última situação, mesmo a potência do processo sendo mantida

constante, a massa de CO2 emitida para atmosfera normalizada pela massa de resíduo

diminuirá, ou seja, para incinerar uma determinada massa de resíduo menos CO2 será emitido

se a incineração for feita com oxidante enriquecido. Desta forma, a utilização da combustão

enriquecida pode contribuir significativamente tanto para redução da emissão de CO como de

CO2.

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II.3 –EMISSÃO DE HIDROCARBONETOS NÃO QUEIMADOS

Os hidrocarbonetos não queimados, designados por UHC (“Unburned Hydrocarbons”

na literatura inglesa), incluem parte do combustível em fase gasosa ou na forma de gotículas

(combustíveis líquidos), bem como os produtos da degradação térmica do combustível

primário em hidrocarbonetos de menor peso molecular (ex.: metano e acetileno), que são

descarregados para atmosfera sem sofrer oxidação completa (Lefebvre, 1983). Em geral, a

concentração de UHC nos produtos de combustão está associada com a capacidade de mistura

entre os reagentes e o tempo de residência da câmara.

Bahr (1972) mostrou que a emissão de CO e de UHC seguem o mesmo

comportamento em relação à eficiência de combustão e as atitudes tomadas para o controle da

emissão do CO afetam da mesma maneira a emissão do UHC. A relação entre as emissões em

massa desses poluentes e a eficiência de combustão pode ser estimada pela equação (II.20).

3c 10).CO232.0UHC(1 −+=η− . (II.20)

Assim, os comentários feitos sobre como a utilização de chamas enriquecidas pode

contribuir para minimizar a emissão de CO, também são pertinentes à emissão de UHC. O

grande desafio tecnológico é conciliar a emissão desses dois poluentes com a emissão de NOx,

pois os parâmetros que influenciam atuam de forma divergente. Quarder (1978) mostrou que

a redução na emissão de UHC é cerca de 83% em relação à operação com ar, quando um

motor de combustão interna por ignição a centelha opera com oxidante enriquecido a 32% de

O2.

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II.4 – EMISSÃO DE FULIGEM E PARTICULADOS.

A fuligem é formada principalmente na zona primária de chamas difusivas, onde, em

geral, a combustão ocorre com falta de oxigênio. No entanto, sua formação pode ocorrer em

qualquer região da chama, desde que não haja uma adequada mistura entre os reagentes. A

maioria da fuligem produzida na região primária pode ser consumida na região secundária

(região de reação onde já há uma maior concentração de oxigênio) se a temperatura for

suficientemente elevada. Assim, do ponto de vista da emissão de fuligem, a chama pode ser

dividida em duas regiões distintas: a região primária que governa a taxa de produção e a

região secundária que determina a taxa de consumo (Lefebvre, 1983). Portanto, a presença de

fuligem nos produtos de combustão depende do balanço entre essas duas regiões.

A formação de fuligem está associada às reações de craqueamento dos

hidrocarbonetos, ou seja, complexas reações em fase gasosa que geram núcleos condensados

sólidos. Essa reações competem com o mecanismo de oxidação dos hidrocarbonetos, sendo

mais pronunciadas em situações de combustão rica e elevada temperatura. Apresentam em

geral diâmetros no intervalo 0,02 a 0,2 µm, frequentemente aglomerados em filamentos ou

cadeias (Williams, 1976).

Apesar das reações de formação de fuligem serem em fase gasosa, ela é observada

com maior intensidade em chamas de combustível líquido, principalmente pela maior

dificuldade de mistura entre o combustível vaporizado e o oxigênio (Chigier, 1981). Em

qualquer plano através de uma chama difusiva, há sempre uma extensa variação da razão de

equivalência, desde muita rica até muito pobre. Em função disso, sempre haverá regiões de

combustão rica com temperatura elevada, favorecendo a formação de fuligem nesse tipo de

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chama (Glassman, 1977). Já para as chamas pré-misturadas, em função da distribuição mais

uniforme da razão de equivalência, a formação de fuligem só acontecerá se os reagentes

estiverem em proporções com falta de oxigênio.

Apesar do enriquecimento do oxidante aumentar a temperatura, ele afeta outros

parâmetros que podem favorecer a redução da emissão de fuligem. No caso das chamas de

combustível líquido, esse aumento de temperatura causa o também aumento da taxa de

vaporização das gotas do spray. Desta forma, o tempo para mistura entre os reagentes irá

diminuir e a abrangência da região primária também. Além disso, se a temperatura ainda for

elevada na região secundária, a eficiência do processo de redução irá aumentar.

Além da fuligem, combustíveis líquidos com a presença de hidrocarbonetos menos

voláteis podem levar à formação de particulados. Os compostos mais voláteis vaporizam

rapidamente; no entanto, os menos voláteis, permanecendo muito tempo em elevada

temperatura, podem sofrer decomposição térmica levando à formação de coque (estrutura

porosa sólida de carbono) (Lawn et al., 1987). O coque formado, ainda pode ser convertido à

CO e CO2 através das reações de superfície participativa:

C + O2 → CO2 , (II.21)

C + ½ O2 → CO , (II.22)

C + CO2 → 2CO , (II.23)

C + H2O → CO + H2 . (II.24)

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A reação (II.22) é considerada a mais importante do mecanismo, no entanto, seu

desenrolar dependerá da quantidade oxigênio no ambiente da partícula de coque. Com

enriquecimento, aumenta-se a possibilidade dessa concentração aumentar.

O enriquecimento da combustão ainda pode diminuir a emissão de particulados

reduzindo o diâmetro de corte, definido como sendo o diâmetro máximo para que uma

partícula ainda seja carregada para fora da câmara pelo fluxo gases de combustão, caso

contrário a partícula se depositará no interior da mesma. Em uma câmara de combustão

vertical, basicamente o que define se uma partícula é carregada ou não é a diferença entre seu

peso e o arrasto. Como o enriquecimento do oxidante reduz o fluxo de massa através da

câmara; consequentemente, a velocidade do escoamento e o arrasto também diminuem e

somente partículas menores, onde o arrasto ainda se sobrepõe ao peso, seguirão o fluxo de

gases. Melo (1997) apresentou um equacionamento detalhado para dinâmica de uma partícula

em um fluxo de gases e, utilizando esse equacionamento, calculou a redução no diâmetro de

corte para uma câmara de pós-combustão de um incinerador industrial tipo forno rotativo

utilizando gás natural como combustível. Para operação com ar o diâmetro de corte foi

287µm e para o oxidante sendo oxigênio puro 264µm, ou seja, uma redução de 8%.

Dependendo da faixa de tamanho das partículas formadas, essa redução no diâmetro de corte

pode ser significativa.

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CAPÍTULO III

TEMPERATURA E COMPOSIÇÃO DOS GASES

A temperatura e a composição final dos gases de combustão são de grande

importância para o entendimento do processo de enriquecimento. Uma ferramenta útil para

esse fim são os cálculos baseados em equilíbrio químico. Com o avanço das técnicas

computacionais, os melhores pacotes baseados nesse tipo de cálculo podem ser facilmente

utilizados em microcomputadores, apresentando os resultados rapidamente.

Esse tipo de análise, apesar de apresentar algumas limitações, pode ser útil para avaliar

as possíveis situações de operação de uma câmara de combustão antes de sua real execução.

O equilíbrio químico é a condição esperada no final de um processo de combustão onde o

tempo disponível para o desenvolvimento das reações é infinito. Muitas vezes, o tempo de

residência de uma câmara é pequeno quando comparado ao tempo necessário para que a

condição de equilíbrio químico seja atingida. Nesta situação, os resultados quantitativos são

pouco úteis. No entanto, como as reações caminham para a condição de equilíbrio, é de se

esperar que pelo menos qualitativamente os resultados forneçam informações importantes.

Do ponto de vista da cinética química, o equilíbrio é considerado como um estado

estacionário dinâmico onde há o intercâmbio constante entre as moléculas de reagentes e

produtos, ou seja, quando as velocidades de todas as reações elementares, diretas e inversas,

forem iguais (Levenspiel, 1972). Já na termodinâmica o sistema é considerado em equilíbrio

com o meio ambiente a uma dada temperatura e pressão, se a energia livre do sistema está no

valor mais baixo possível (Van Wylen e Sonntag, 1989). De qualquer forma, são dois pontos

de vista para representar a mesma situação de um sistema reativo.

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Para os resultados apresentados no presente capítulo, utilizou-se o programa

computacional Gaseq – “Chemical Equilibria for Perfect Gases”, versão 0.63 (Morley, 2000),

baseado na minimização de uma função termodinâmica apropriada, a de Gibbs para situação

de pressão constante e a de Helmholtz para volume constante. Os resultados apresentados nas

seções seguintes são referentes a combustão do C12H26 (composição adotada para o diesel)

com ar enriquecido com oxigênio, seguindo o padrão da equação (III.1).

C12H26 + b.18,5.O2 + b.(18,5 – a). 3,76.N2 → ............... , (III.1)

onde a é o número de mols de oxigênio não proveniente do ar oxidante (se a = 0 o oxidante é

somente o ar, se a = 18,5 o oxidante é oxigênio puro) e b é o excesso de oxidante genérico

normalizado. Para todo os casos simulados a temperatura dos reagentes foi considerada 27oC

e a combustão se passando a pressão constante de 1 atm.

III.1 – TEMPERATURA DE CHAMA ADIABÁTICA

A Figura III.1 apresenta o aumento da temperatura em função da porcentagem de O2

no gás oxidante, para três valores de excesso: b = 1,00, 1,15 e 1,33. Observa-se que o

enriquecimento provoca um rápido aumento da temperatura até aproximadamente 50% de

oxigênio. Desse ponto em diante, o aumento ocorre de maneira menos acentuada.

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30

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

1600

1800

2000

2200

2400

2600

2800

3000

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

b = 1,00

b = 1,15

b = 1,33

Figura III.1 – Comportamento da temperatura de chama adiabática em função da porcentagem

de O2 no oxidante, para b = 1,00, 1,15 e 1,33.

O comportamento da temperatura é semelhante aos resultados apresentados por

Westbrook (1986) para combustão de gás natural enriquecida, calculada utilizando o pacote

computacional de cinética química CHEMKIN (Kee e colaboradores, 1980). O

comportamento apresentado na Figura III.1 está relacionado com a disponibilização da

energia em função da redução da massa de nitrogênio. A Figura III.2 mostra como é essa

redução em função da porcentagem de O2 no oxidante. Nota-se que ela é brusca até

aproximadamente 50% de O2, depois torna-se mais branda. Assim, o aumento de temperatura

segue o comportamento inverso à presença do N2 nos gases de combustão.

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31

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

2

4

6

8

10

12

14

16

g d

e N

2/g

de

C1

2H

26 b = 1,00

b = 1,15

b = 1,33

Figura III.2 – Redução da massa de N2 presente nos produtos de combustão em função da %

O2 no oxidante e normalizada pela massa de combustível, para b = 1,00, 1,15 e 1,33.

As emissões do N2 e das demais espécies químicas apresentadas nesse capítulo foram

normalizadas pela massa de combustível, conforme mostra a Figura III.2, e estão em base

úmida. A apresentação dos resultados em fração mássica ou volumétrica não leva em conta o

fato da redução do nitrogênio aumentar a concentração de qualquer espécie química, mesmo

que a taxa de formação dessa espécie não tenha sido alterada pelo processo de

enriquecimento.

Na prática, a temperatura raramente atinge a de chama adiabática, pois existem

diversos processos de transferência de calor evolvidos em uma câmara de combustão.

Contudo, o comportamento dessa temperatura é um bom indicador de como a energia é

disponibilizada no processo de enriquecimento. Os resultados da Figura III.1 mostram a

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necessidade de cautela para determinar o nível adequado de enriquecimento, pois acima de

50% de O2 a disponibilização de energia é menor.

III.2 – COMPOSIÇÃO DOS GASES DE COMBUSTÃO

III.2.1 – Emissão de NOx

Conforme discutido no capítulo II, a emissão de NOx pode ser um problema na

implementação dos processos de enriquecimento, pois a elevada temperatura atingida na

região de chama favorece drasticamente a formação desse poluente. Desta forma, uma

especial atenção deve ser dada a esse assunto e um primeiro passo seria simular as condições

de operação em um cálculo de equilíbrio químico. A Figura III.3 apresenta a emissão de NO

em função da porcentagem de O2 no oxidante. Para todos os casos estudados a emissão de

NO2 foi desprezível em relação a de NO.

A as curvas da Figura III.3 mostram que para qualquer nível de excesso de oxidante a

emissão de NO aumenta acentuadamente até próximo a 50% de O2, depois começa a decair

até zero em 100% de O2. Esse comportamento está atrelado aos das Figura III.1 e III.2. Até

50% de O2 a temperatura se eleva bruscamente e o NO segue seus passos. Desta ponto em

diante, a temperatura já não sobe com tanta intensidade, pelo menos não mais de maneira

suficiente para compensar a redução da concentração de N2. Apesar do resultado aqui

apresentado ser de equilíbrio químico, a influência da temperatura e das concentrações de O2

e N2 pode ser observada na equação II.6.

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20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.000

0.025

0.050

0.075

0.100

0.125

0.150

0.175

0.200

g d

e N

O/g

de

C1

2H

26

b = 1,00

b = 1,15

b = 1,33

Figura III.3 – Emissão de NO normalizada de pela massa de combustível em função da

porcentagem O2 no oxidante, para b = 1,00, 1,15 e 1,50.

O aumento do excesso de oxidante ainda manteve a temperatura elevada entre b =

1,00 e b = 1,33, principalmente para os maiores níveis de enriquecimento, como observado na

Figura III.1. Por outro lado, as concentrações de O2 e N2 aumentaram, o que acaba

favorecendo a formação de NO. O efeito do excesso de oxidante em condições de combustão

enriquecida é melhor compreendido através da Figura III.4, que mostra a emissão

normalizada de NO em função do excesso de oxidante para 21%, 50% e 70% de O2.

Os resultados da Figura III.4 mostram que o pico de emissão do NO vai se deslocando

para o lado da combustão mais pobre a medida que o nível de enriquecimento aumenta. Esse

comportamento também foi observado experimentalmente Quader (1978), para combustão

enriquecida do iso-octano em um motor de combustão interna de ignição a centelha. Isso

mostra que a temperatura tem um papel crucial, mas é a combinação desta com as

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concentrações de N2 e O2 é que atuarão fortemente no total de NOx formado, principalmente

para combustão enriquecida. Na combustão com ar, uma das maneiras usuais de se controlar a

emissão de NOx é através da operação em condição pobre. No entanto, para combustão

enriquecida isto pode ser catastrófico, dependendo da porcentagem de O2 no oxidante.

0 1 2 3 4 5

Excesso de oxidante mormalizado - b

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

g d

e N

O/g

de C

12H

26

21% de O2

50% de O2

70% de O2

Figura III.4 - Emissão normalizada de NO em função do excesso de oxidante para 21%, 50%

e 70% de O2.

Na prática, menores emissões de NOx são observadas em comparação com as obtidas

através dos cálculos de equilíbrio químico, provavelmente devido à diferença de temperatura.

Apesar disso, as alterações nas emissões instantâneas seguem padrões qualitativamente

semelhantes às alterações nas concentrações de equilíbrio (Meggyes e Boschan, 1988), daí a

importância do presente tipo de estudo.

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35

III.2.2 – Relação CO – CO2 e Dissociação

Conforme discutido anteriormente, a temperatura de chama adiabática pode atingir

valores bastante elevados. Como consequência disso, as moléculas dos compostos de

oxidação completa, como o H2O e o CO2, passam a sofrer dissociação e a presença dos

compostos de oxidação parcial, como: CO, OH, H, e O, passa a atingir níveis elevados na

composição de equilíbrio dos gases de combustão. Os resultados apresentados na presente

subseção são para a relação entre CO e CO2, no entanto, podem ser estendidas para as demais

relações de equilíbrio.

As Figuras III.5 e III.6 apresentam a presença normalizada de CO e CO2 nos gases de

combustão em função da porcentagem de O2 no oxidante, respectivamente. Como a

temperatura aumenta continuamente durante o enriquecimento, a tendência do equilíbrio é de

se deslocar para o lado do CO com o aumento do teor de oxigênio, reduzindo a emissão do

CO2.

Comparando as Figura III.5 e III.1, nota-se que a emissão de CO segue de maneira

rigorosa o comportamento da temperatura, ou seja, aumenta acentuadamente até 50% de O2,

acima desse ponto o aumento é mais suave. Isso ocorre em função dependência das constantes

de equilíbrio das reações de dissociação com a temperatura. Também se observa que o

aumento do excesso de ar reduz o efeito da dissociação, em virtude de propiciar menor

temperatura.

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36

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

g d

e C

O/g

de

C12

H2

6b = 1,00

b = 1,15

b = 1,33

Figura III.5 – Emissão normalizada de CO em função da porcentagem O2 no oxidante, para b

= 1,00, 1,15 e 1,33.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

1.2

1.5

1.8

2.1

2.4

2.7

3.0

3.3

g d

e C

O2/g

de

C12

H26

b = 1,00

b = 1,15

b = 1,33

Figura III.6 – Emissão normalizada de CO2 em função da porcentagem O2 no

oxidante, para b = 1,00, 1,15 e 1,33.

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37

Apesar da combustão enriquecida favorecer a ocorrência de dissociação em um nível

significativo, se os gases forem sendo resfriados ao longo da câmara a tendência das reações

de equilíbrio é de “reagrupamento” das espécies de oxidação parcial em favor das de oxidação

completa. Para ilustrar esse fato, a Figura III.7 mostra as emissões de CO e CO2 para o

resfriamento até 727oC do gás oriundo da combustão adiabática do C12H26 com o ar

enriquecido a 50% de O2 e b = 1,15.

5007501000125015001750200022502500

Temperatura de resfriamento [ C]

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

g d

e C

O/g

de C

12H

26

1.8

2.0

2.2

2.4

2.6

2.8

3.0

3.2

g d

e C

O2

/g d

e C

12

H26

o

CO

CO2

Figura III.7 – Comportamento da emissão normalizada do CO e CO2 durante o resfriamento

dos gases provenientes da combustão do C12H26 com ar enriquecido

a 50% de O2 e b = 1,15.

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38

Os resultados da Figura III.7 mostram que não há mais CO para temperaturas

inferiores a 1500oC e que a emissão de CO2 permanece estabilizada. Desta forma, a

dissociação irá afetar principalmente as proximidades da chama, se temperaturas acima de

1900oC forem atingidas nessa região. A principal consequência da ocorrência da dissociação é

a alteração da emissão por radiação da chama e dos gases de combustão. Compostos

heteropolares como o CO2 e o H2O são responsáveis por um parcela considerável do total da

radiação emitida pela chama ou pelos gases de combustão (Gitman, 1986). Como os

compostos de oxidação parcial não são capazes de compensar isso, o fluxo de calor por

radiação será menor, o que pode ser favorável ou não, dependendo da aplicação em questão.

As informações contidas no presente capítulo ilustram as tendências de como caminha

o processo de combustão quando o oxidante passa a ser enriquecido. Isso foi importante para

definir as condições experimentais de interesse de estudo e ajudou a análise dos resultados

obtidos.

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39

CAPÍTULO IV

ANÁLISE TERMOQUÍMICA DO PROCESSO DE ENRIQUECIMENTO

Nesse capítulo realizou-se uma abordagem teórica baseada nos balanços de massa e

energia aplicados à situação de incineração de resíduos aquosos com combustão enriquecida.

Através da análise termoquímica, é possível estimar a capacidade do aumento da taxa de

incineração de uma câmara de combustão projetada inicialmente para operar com ar, quando

o oxidante passa a ser enriquecido com oxigênio.

O combustível utilizado na análise foi o diesel (C12H26) e o resíduo considerado como

100% água. Essa situação teórica corresponde a uma das condições experimentais investigada

no capítulo VI, permitindo a comparação. O raciocínio aqui empregado também pode ser

estendido a outros combustíveis e resíduos.

Os balanços de massa e de energia foram aplicados ao volume de controle (VC)

definido como sendo o volume de toda câmara de combustão. Os fluxos de entrada no VC são

os dos reagentes (diesel, ar e oxigênio) e o do resíduo (água líquida). No fluxo de saída do VC

foi feita uma distinção entre os gases resultantes da combustão com diesel e o resíduo

vaporizado. A água formada na combustão e a água injetada como resíduo são tratadas de

maneira diferenciada na análise, pois, como o resíduo é injetado no estado líquido é preciso

levar em conta a energia utilizada para vaporizá-lo. A Figura IV.1 apresenta um esquema do

VC utilizado na análise.

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40

Figura IV.1 – Representação do volume de controle (VC) adotado para análise termoquímica.

Adotou-se como condição de entrada os reagentes e o resíduo estando a 25oC e 1 atm.

Como condição de saída os gases deixam o VC na temperatura Ts e a 1 atm. Também foi

incluído ao balanço de energia a eficiência da refratagem da câmara, ou seja, o calor que é

transferido para sua parede. Além disso, algumas considerações foram feitas aos balanços de

massa e energia:

a) combustão completa, ou seja, não há dissociação dos produtos de combustão;

b) a água formada decorrente da oxidação do hidrogênio presente no combustível está em

fase gasosa;

c) o resíduo é totalmente vaporizado;

d) a combustão ocorre a pressão constante.

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41

IV.1 – BALANÇO DE MASSA

Para 1 mol de combustível a reação estequiométrica do diesel com oxigênio pode ser

escrita como:

C12H26 + 18,5.O2 → 12.CO2 + 13.H2O . (IV.1)

Se o oxidante for o ar enriquecido com oxigênio puro, o balanço fica:

C12H26 + a.O2 + (18,5 - a).(O2 + 3,76.N2) →

12.CO2 + 13.H2O + (18,5 - a).3,76.N2 , (IV.2)

onde a é número de moles de oxigênio não proveniente do ar oxidante. Se a = 0 o oxidante é

100% ar e se a = 18,5 o oxidante é 100% oxigênio. Para um excesso normalizado genérico de

oxidante tem-se:

C12H26 + b.[a.O2 + (18,5 - a).(O2 + 3,76.N2)] →

12.CO2 + 13.H2O + b.(18,5a).3.76.N2 + 18,5.(b-1).O2 , (VI.3)

onde b é o excesso de ar genérico normalizado. Acrescentando o resíduo aquoso tem-se:

C12H26 + b.[a.O2 + (18,5 - a).(O2 + 3,76.N2)] + c.H2O(RES) →

12.CO2 + 13.H2O + b.(18,5 - a).3,76.N2 + 18,5.(b-1).O2 + c.H2O(RES) , (IV.4)

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42

onde c é o número de moles de resíduo aquoso acrescentado. Arranjando a equação IV.4,

obtém-se a forma final do balanço de massa em base molar.

C12H26 + b.18,5.O2 + b.(18,5 - a).3,76.N2 + c.H2O(RES) →

12.CO2 + 13.H2O + b.(18,5 - a).3,76.N2 + 18,5.(b - 1).O2 + c.H2O(RES) , (IV.5)

IV.2 – BALANÇO DE ENERGIA

Conforme já apontado, o processo de combustão foi considerado como sendo a

pressão constante. Assim, a primeira lei da termodinâmica aplicada ao VC de controle

apresentado na Figura IV.1, resulta no seguinte balanço de energia:

paredeRESPR QHHH +∆+= , (IV.6)

onde HR é a entalpia dos reagentes na entrada do VC, HP a entalpia dos produdos de

combustão na saída do VC, ∆HRES a energia transferida para o resíduo e Qparede o calor

transferido à parede da câmara. Considerando que os reagentes entram na câmara a 25 oC e 1

atm, a entalpia dos reagentes pode ser escrita como:

0fi

i

iR h.nH ∑= , (IV.7)

sendo ni e 0fih o número de moles e a entalpia de formação do componente i dos reagentes (i =

C12H26, O2 e N2), respectivamente. Da mesma forma a entalpia dos produtos pode ser escrita

como:

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43

jTs250f

j

jR )hh(.nH ∆+=∑ , (IV.8)

onde nj, 0fh e 25∆hTs são o número de mols, a entalpia de formação e a variação de entalpia de

25 oC a até Ts para o composto j dos gases produtos de combustão (j = CO2, H2O, O2 e N2),

respectivamente. A energia transferida ao resíduo corresponde à sua diferença de entalpia

entre a entrada e saída do VC, podendo ser escrita como:

]h)hh.[(nH líquida/O2H0fvapor/O2HTs25

0fRES/O2HRES −∆+=∆ . (IV.9)

As entalpias de formação da água nos estados líquido e vapor estão relacionadas pelo

calor latente de vaporização da água (hL).

Lvapor/O2H0flíquida/O2H

0f hhh −= . (IV.10)

Assim, a energia transferida ao resíduo pode finalmente ser escrita como:

)hh.(nH LTs25RES/O2HRES +∆=∆ . (IV.11)

Substituindo (IV.7), (IV.8) e (IV.11) na equação (IV.6) o balaço de energia fica:

paredeLTs25RES/O2HjTs250f

j

j0fi

i

i Q)hh.(n)hh(.nh.n ++∆+∆+=∑∑ . (IV.12)

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44

A relação entre as entalpias de formação dos reagentes e dos produtos de combustão

pode ser substituída pelo poder calorífico do combustível. Como foi considerado que toda

água formada durante a combustão está no estado gasoso, a maneira conveniente de expressar

a relação entre as entalpias de formação é pelo poder calorífico inferior (PCI).

vapor/O2H0fvapor/O2H2CO

0f2CO26H12C

0f26H12C26H12C26H12C h.nh.nh.nPCI.n −−= . (IV.13)

Com a consideração de que o processo de combustão é a pressão constante, a variação

de entalpia ∆h pode ser escrita em termos do calor específico a pressão constante (Cp), sendo

este uma função da temperatura (Cp(T)).

dT.Cp.n)h(Ts

25jjjTs25 ∫=∆ . (IV.14)

Levando em conta as considerações das equações (IV.13) e (IV.14), a equação que

descreve o balanço de energia pode ser escrita como:

paredeL

Ts

25

Ts

25

vapor/O2HRES/O2Hj

jj26H12C26H12C Q)hdt.Cp.(ndT.)Cp.n(PCI.n +++= ∫ ∫∑ (IV.15)

Desta forma, a avaliação do processo de enriquecimento do ponto de vista

termoquímico consiste do acoplamento das equações (IV.15) e (IV.5). O PCI do C12H26 é

10259kcal/kg ou 1744.103cal/mol e o hL da água igual –539kcal/kg ou –9720cal/mol. Os

valores de Cp foram obtidos em Perry e Chilton (1973) e são apresentados na Tabela IV.1.

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45

Tabela IV.1 – Valores de Cp segundo Perry e Chilton (1973), utilizados na integração da

equação (IV.15).

Espécie Cp

[cal.mol-1.K-1]

Faixa

[K]

CO2 2T

195500T.00274,034,10 −+

273 -1200

H2Ovapor 2T.00000134,0T0001522,8 ++ 300-2500

O2 2T

187700T.000258,027,8 −+

300-3000

N2 T.001,050,6 + 300-5000

IV.3 – SIMULAÇÃO

Nesta seção são apresentados os resultados das simulações de condições de

enriquecimento em câmaras que inicialmente foram projetadas para operar com ar. Para

avaliar o efeito do enriquecimento no aumento da capacidade de incineração se utilizou como

indicador a taxa de incineração, definida como a razão entra a vazão mássica de resíduo (mres)

e a vazão mássica de combustível (mf).

A quantidade de calor transferido para parede da câmara é o parâmetro que determina

a eficiência desta. Por exemplo, uma câmara com 80% de eficiência significa que 20% da

energia liberada pela oxidação do combustível é transferida para parede da câmara, não

estando disponível para o processo.

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46

IV.3.1 – Eficiência da Câmara Constante

Neste caso foi estudado como se comporta a taxa de incineração de uma câmara de

resíduo aquoso, queimando diesel como combustível auxiliar e com eficiência da câmara

constante em 80% para os vários níveis de enriquecimento (% de O2 no oxidante) e excesso

de oxidante normalizado. Como parâmetro fixo de operação estipulou-se como temperatura

na saída da câmara (Ts) 757 oC (valor adotado experimentalmente, conforme descrito na seção

VI.2.2). A Figura IV.2 apresenta o resultado para tal situação.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

2

3

4

5

6

7

8

9

Ta

xa d

e in

cin

era

ção

Excesso de oxidante

b = 1,15

b = 1,25

b = 1,50

b = 2,00

Figura IV.2 – Comportamento da taxa de incineração em função da porcentagem de O2 no

oxidante para diversos valores de excesso de oxidante normalizado (b) e considerando que a

eficiência da câmara é 80%.

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47

Nota-se que para qualquer valor de b há um aumento considerável na taxa de

incineração até aproximadamente 50% de O2 no oxidante. As curvas ainda mostram que há

uma maior eficiência para excessos de oxidante mais elevados. Por exemplo: para b = 1,15,

passando de 21% para 100% de O2 presente no oxidante a taxa de incineração aumento 51%.

Já para b = 2,00 a aumento é de 172%. Ambos comportamentos estão atrelados às

combinações de vazão na câmara. A Figura IV.3 apresenta as vazões mássicas total, do

resíduo, do O2 injetado e do ar, para a vazão de combustível de 3,11 g/s (133,55 kW).

As curvas da Figura IV.3 para a vazão de ar na câmara mostram que sua redução com

o enriquecimento é bastante acentuada até aproximadamente 50% de O2 no oxidante. Deste

ponto em diante a redução ocorre de maneira mais branda. Como a vazão total de oxigênio

(O2 do ar + O2 injetado) é constante para cada valor de excesso de oxidante, basicamente o

responsável pelo comportamento de elevado aumento da taxa de incineração até 50% de O2 é

a acentuada redução da quantidade de nitrogênio até esse ponto.

Isso também explica o fato da diferença entre as taxas de incineração para cada valor

de excesso de oxidante irem diminuindo à medida que se aumenta o teor de oxigênio no

oxidante. Para elevados níveis de enriquecimento, onde a diferença entre as vazões de ar para

cada valor de excesso de oxidante é pequena, o que acaba sendo mais importante no valor da

taxa de incineração é o oxigênio excedente injetado na câmara.

O comportamento do aumento da taxa de incineração segue o da temperatura de

chama adiabática apresentado na Figura III.1. Basicamente, essa temperatura indica a

disponibilização de energia devido ao enriquecimento. Se essa energia disponibilizada, ao

invés de aumentar a temperatura dos gases de combustão, for utilizada para aquecer uma

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massa adicional de resíduo injetado na câmara, obrigatoriamente as curvas de temperatura de

chama adiabática e de aumento da taxa de incineração devem seguir o mesmo padrão. Daí os

comentários no capítulo III sobre a importância do conhecimento dessa temperatura, pois

serve de referência sobre como o enriquecimento atuará no processo em questão.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

100.0

110.0

Vazã

o to

tal [

g/s

]

Excesso de oxidante

b = 1,15

b = 1,25

b = 1,50

b = 2,00

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

5.0

7.5

10.0

12.5

15.0

17.5

20.0

22.5

25.0

Va

zão

de

re

síd

uo [

g/s

]

Excesso de oxidante

b = 1,15

b = 1,25

b = 1,50

b = 2,00

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.0

2.5

5.0

7.5

10.0

12.5

15.0

17.5

20.0

22.5

Va

zão d

e O

2 inje

tad

o [

g/s

]

Excesso de oxidante

b = 1,15

b = 1,25

b = 1,50

b = 2,00

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Vazão d

e a

r [g

/s]

Excesso de oxidante

b = 1,15

b = 1,25

b = 1,50

b = 2,00

Figura IV.3 - Vazões na câmara em função da porcentagem de O2 no oxidante e do seu

excesso (b), para a vazão de combustível de 3,11 g/s e eficiência de 80% para câmara.

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49

Aparentemente, enriquecimentos acima de 50% não seriam recomendáveis,

principalmente para excessos de oxidante mais elevados, pois se gastaria uma grande

quantidade de oxigênio e pouco se conseguiria aumentar a capacidade de incineração em

relação à obtida com os 50% de O2. No entanto, se faz necessário saber como são alterados os

processos físicos desenvolvidos na câmara para que tal observação seja válida, conforme foi

abordado nos experimentos ligados a presente tese.

IV.3.2 – Influência da Eficiência da Câmara

Nesta simulação manteve-se o excesso de oxidante em 15% e para diversos valores de

eficiência da câmara variou-se o nível de enriquecimento. A temperatura na saída da câmara

também foi mantida em 757 oC. A Figura IV.4 mostra a influência da eficiência da câmara na

taxa de incineração. Os resultados mostram que o calor transferido para parede da câmara

afeta acentuadamente o valor da taxa de incineração. No entanto, não altera o comportamento

do seu aumento, ou seja, para qualquer valor de eficiência da câmara a capacidade de aumento

da taxa de incineração pelo enriquecimento do oxidante é a mesma.

A consideração de que a taxa de transferência de calor para parede da câmara

permanece constante durante o enriquecimento facilita a estimativa de como esse processo irá

aumentar a taxa de incineração. No entanto, o enriquecimento com oxigênio irá alterar a

distribuição de temperatura ao longo da câmara, a composição dos gases, a velocidade do

escoamento e o tempo de residência no interior da mesma. Esses parâmetros irão afetar de

uma forma ou de outra as transferência de calor por convecção e radiação. Esse é um dos

tópicos que foram investigado experimentalmente e os resultados e comentários estão

apresentados no capítulo VI.

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50

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Taxa

de

inci

nera

ção

100%

80%

60%

40%

Eficiência da câmara

Figura IV.4 – Comportamento da taxa de incineração em função da porcentagem de O2 no

oxidante para diversos valores de eficiência de câmara e excesso de 15%.

Outro ponto investigado experimentalmente é a eficiência do processo de combustão

quando se enriquece o oxidante e a vazão de resíduo injetado na câmara aumenta. Isto pode

ser identificado pela emissão de CO na saída da câmara. A eficiência de combustão é um

parâmetro importante para o ajuste do excesso de oxidante a ser empregado durante o

enriquecimento, possibilitando otimizar a quantidade de oxigênio puro injetado ao processo e,

consequentemente, seu custo. Conforme apresentado nessa simulação, excessos elevados de

oxidante podem se traduzir em um alto consumo de oxigênio, principalmente para elevados

níveis de enriquecimento.

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51

CAPÍTULO V

EQUIPAMENTOS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

No presente capítulo é feita a descrição dos equipamentos utilizados para obtenção dos

resultados experimentais, incluindo a montagem central e a instrumentação associada. Alguns

comentários também são feitos sobre os procedimentos experimentais adotados durante os

ensaios. Além disso, também foi incluído neste capítulo a metodologia para o cálculo de

alguns parâmetros de operação baseados nas medidas realizadas experimentalmente.

V.1 – CÂMARA DE COMBUSTÃO

Esse equipamento foi desenvolvido especialmente para a realização da presente tese,

sendo confeccioná-lo um dos objetivos desta. A câmara foi construída nas dependências do

Departamento de Materiais Refratários (DEMAR), da Faculdade de Engenharia Química de

Lorena (FAENQUIL), sendo posteriormente instalada no prédio de ensaios do Laboratório

Associado de Combustão e Propulsão (LCP), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(INPE), em Cachoeira Paulista, SP. A Figura V.1 apresenta uma fotografia da câmara

instalada no prédio de ensaios do LCP/INPE.

A câmara foi construída de forma modular com chapas de aço de carbono revestidas

internamente com uma parede 0,15m de espessura de cimento 50% refratário e 50% isolante

térmico. Para sustentação do cimento na chapa foram soldados vergalhões de aço trefilado de

15cm de comprimento e dobrados em forma de “L”. A câmara é sustentada por quatro vigas

de apoio inclinadas, chumbadas ao solo. O início do primeiro módulo está posicionado a 1,5m

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52

do solo, para permitir o acoplamento do queimador à câmara. O topo do último módulo está a

6m de altura.

Figura V.1 – Fotografia da câmara de combustão.

A câmara possui volume interno total de 1000 litros, dispostos em cinco módulos. A

Figura V.2 mostra o seu desenho com as dimensões características dos módulo, além dos

equipamentos acoplados a cada um. As dimensões estão diretamente relacionadas com:

vazões de operação, temperatura dos gases (levando-se em conta o material refratário), tempo

de residência e número de Reynolds do escoamento no seu interior (favorecendo a mistura

combustível/oxidante).

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53

Módulo 5

Módulo 4

Módulo 3

Módulo 2

Módulo 1

Figura V.2 - Detalhes e dimensões dos módulos da câmara de combustão (dimensões em cm).

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O desenho da câmara é típico dos incineradores de injeção de líquido, constituídos por

uma única câmara de combustão, onde o resíduo é nebulizado e degradado termicamente em

suspensão. Para resíduos com poder calorífico inferior abaixo de 2500kcal/kg é necessário

utilizar um combustível auxiliar para manter o processo de combustão em condições estáveis

(Bonner et al., 1981). Como o resíduo utilizado foi integralmente água, os combustíveis

auxiliares escolhidos foram diesel e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).

No módulo cônico inferior foi acoplado um queimador tipo “swirler” com o ângulo

entre as suas pás podendo ser variado. Com isso foi possível ajustar a estrutura da zona de

recirculação formada a jusante do queimador de tal forma que a geometria da chama fosse

adequada para a situação experimental investigada. Na lança central do queimador foi

acoplado o dispositivo para injeção do combustível: um atomizador tipo “Y-jet” para o caso

do diesel e um bico injetor com furo único para o GLP.

A injeção e nebulização do resíduo no interior da câmara também foi feita por um

atomizador do tipo “Y-jet”. A posição deste atomizador foi escolhida de tal forma que o spray

de resíduo formado não incidisse diretamente sobre a chama para não apagá-la. Desta forma,

o resíduo foi injetado a 32cm a jusante do queimador, a 22,8cm do eixo central da câmara,

com uma inclinação de 60o em relação ao plano horizontal.

Deslocado em 180o no plano horizontal da posição de injeção do resíduo, foi previsto

o acoplamento de um queimador piloto para ignição da chama principal. Esse queimador

utiliza GLP como combustível e seu bico injetor também contém furo único, sendo possível

operar tanto com chama pré-misturada como com difusiva.

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55

Os detalhes de projeto e construção do “swirler”, dos atomizadores tipo “Y-jet” e dos

bicos injetores de GLP, bem como das linhas de alimentação de cada fluido, são apresentados

ao longo do presente capítulo.

O montagem permitiu que o oxigênio de enriquecimento pudesse ser adicionado na

linha do ar oxidante, instantes antes da passagem pelo “swirler”. Isso garantiu uma mistura

homogênea entre os fluxos. Também foram previstas aberturas ao longo da câmara para

possibilitar a injeção de oxigênio ou outro fluido qualquer, permitindo ensaios em condição

de combustão estagiada.

Três visores de quartzo com diâmetro de 10cm foram instalados a 18, 70 e 105cm

acima do queimador (medidas relativas ao centro do visor). Desta forma, foi possível

visualizar parte da região ocupada pela chama e observar as modificações em sua estrutura

quando algum parâmetro operacional fosse alterado.

Ainda foram instaladas na câmara duas sondas de captação dos gases de combustão

para análise contínua de sua composição. A sonda inferior foi instalada a 122,5cm acima do

queimador, correspondendo ao volume de câmara de 227 litros e a região imediatamente após

a chama. A sonda superior foi posicionada a 30cm abaixo da saída da câmara,

correspondendo ao volume de 994 litros. Detalhes das sondas e da análise dos gases são

apresentados adiante no presente capítulo.

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V.2 – MEDIDAS DE TEMPERATURA NA CÂMARA

Em seis pontos ao longo da câmara de combustão foram instalados termopares

chromel-alumel tipo “K”, com bitola e 5mm, 40cm de comprimento, isolação mineral, junta

isolada e bainha metálica, suportando a temperatura máxima de 1200 oC. Apenas na região

próxima à chama foram utilizados dois termopares platina 90% - ródio 10% (+)/platina (-),

tipo“S”, bitola 8mm, 40cm de comprimento, isolação mineral, junta isolada e bainha de

cerâmica, suportando a temperatura máxima de 1800 oC. A Tabela V.1 apresenta a posição de

cada termopar em relação à extremidade inferior da câmara. Na Figura V.2 também está

indicada a posição de cada termopar na câmara. É importante ressaltar que a extremidade do

termopar coincidia com o eixo de centro da câmara.

Tabela V.1 – Posição dos termopares em relação à extremidade inferior da câmara.

Número Tipo Posição Volume da câmara [l]

Módulo da câmara

1 S 0,18 m 14,52 primeiro 2 S 0,70 m 128,43 segundo 3 K 1,05 m 227,39 segundo 4 K 1,40 m 326,35 segundo 5 K 1,75 m 425,31 segundo 6 K 2,50 m 637,36 terceiro 7 K 3,00 m 778,73 terceiro 8 K 4,20 m 994,45 quinto

Os sinais dos termopares foram lidos em indicadores digitais de temperatura

instalados em um painel de controle e em um sistema de aquisição de dados HP 6954. Os

indicadores apresentam os valores de temperatura em tempo mais próximo possível do real

(depende da inércia do termopar), o que é necessário para controlar a operação da câmara. Já

o sistema de aquisição de dados fazia uma varredura a cada 20 segundos, ou seja, a cada

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intervalo de 20 segundos a distribuição de temperatura na câmara era obtida e no final do teste

os resultados eram impressos e armazenados em um arquivo. Adiante é dedicada uma seção

para descrição com maiores detalhes sobre o sistema de aquisição de dados.

V.3 – FLUIDOS DE OPERAÇÃO

Esta seção aborda as informações sobre os fluidos utilizados durante os experimentos,

além das respectivas linhas de alimentação e sistemas de medida de vazão. A Tabela V.2

apresenta cada fluido e sua função no experimento.

Tabela V.2 – Descrição dos fluidos utilizados no experimento.

Fluido Função diesel Combustível auxiliar GLP Combustível auxiliar GLP Combustível para queimador piloto Ar Oxidante Ar Fluido auxiliar para atomização do diesel Ar Fluido auxiliar para atomização do resíduo

Oxigênio Oxidante Oxigênio Fluido auxiliar para atomização do diesel Oxigênio Fluido auxiliar para atomização do resíduo

Água Simulação do resíduo Água Refrigeração das sondas de captação de gases

Amônia Controle da emissão de NOx Nitrogênio Purga na Linha de Amônia

V.3.1 – Linhas de Alimentação

A alimentação de diesel foi feita através da pressurização de seu tanque com

nitrogênio. Esse tanque continha um sistema pescador para captação do mesmo. Já a

alimentação de ar e oxigênio de atomização do combustível foi feita por meio de garrafas com

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os gases pressurizados, sendo a pressão nas linhas mantida constante para que não houvesse

alteração no tamanho das gotas formadas e consequentemente mudança no comprimento da

chama. A Figura V.3 mostra um diagrama esquemático das linhas de alimentação do diesel, ar

de atomização e oxigênio de atomização.

Para alimentação da câmara com o ar de combustão foram utilizados dois

compressores radiais IBRAM, modelo CR-8, ligados em paralelo. Com tais compressores foi

possível alcançar a vazão máxima de 70g/s de ar, considerando a perda de carga da linha e

dos equipamentos de medida de vazão. O controle da vazão foi feito através da descarga de

parte do ar para atmosfera, sobrecarregando o menos possível os compressores. O diagrama

esquemático da Figura V.3 também apresenta a linha de ar de combustão.

O oxigênio de combustão também foi alimentado por um conjunto de garrafas com o

gás pressurizado e injetado na linha de ar de combustão instante antes da mistura oxidante

entrar no “swirler”. Também foram previstos ensaios onde o oxigênio é injetado ao longo da

câmara, propiciando a combustão em estágios. No entanto, esse processo não altera o

esquema da linha de oxigênio, mudando apenas a posição de sua injeção. A descrição da linha

do oxigênio de combustão também está apresentada na Figura V.3.

A água utilizada nos ensaios para simular o resíduo era proveniente do reservatório do

laboratório. Por gravidade o reservatório abastecia de resíduo um tanque provido de um

sistema pescador. Esse tanque, uma vez pressurizado com ar comprimido, alimentava o

injetor de resíduo. Um esquema da linha de injeção de resíduo é apresentado na Figura V.4.

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Figura V.3 – Diagrama esquemático das linhas de alimentação do combustível (diesel), ar de

atomização do combustível, oxigênio de atomização do combustível, ar de combustão e

oxigênio de combustão.

Como para os fluidos de atomização do combustível, o ar e o oxigênio de atomização

do resíduo também foram alimentados por garrafas com o gás pressurizado. A Figura V.4

também apresenta as linhas dos fluidos de atomização do resíduo.

Em alguns ensaios, amônia (NH3) foi utilizada para conter a emissão do NOx

eliminado da câmara. O seu efeito sobre a redução do NO em N2 é discutido adiante ainda

nesse capítulo. Utilizou-se amônia na forma gasosa e sua alimentação foi feita por uma

garrafa com gás pressurizado. Devido à grande toxidade da amônia foi previsto um sistema de

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purga com nitrogênio, para eliminar a amônia residual da linha ou para avaliar possíveis

vazamentos. A Figura V.4 também detalha o dispositivo para injetar amônia na câmara de

combustão.

Figura V.4 – Diagrama esquemático das linhas de alimentação do resíduo (água), ar de

atomização do resíduo, oxigênio de atomização do resíduo, amônia e queimador piloto.

Para ignição da chama do combustível auxiliar, seja ele diesel ou GLP, foi utilizado

um queimador piloto acoplado à câmara de combustão conforme apresentado na Figura V.2.

O combustível utilizado para esse queimador foi GLP, alimentado por cinco botijões de 45kg

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ligados em paralelo. O queimador era aceso fora da câmara e, em seguida, acoplado à mesma.

Para que a chama se sustentasse no momento do acoplamento e dentro da câmara sem que a

injeção de ar de combustão fosse acionada, uma pré-mistura do GLP com ar foi prevista. Essa

pré-mistura era realizada instantes antes que os fluidos entrassem no queimador piloto. O ar

foi alimentado por um compressor alternativo a pistão de único estágio. A Figura V.4 também

apresenta o esquema das linhas dos fluidos do queimador piloto.

Além do diesel também foi prevista a utilização de GLP como combustível auxiliar de

incineração. Para isso foi prevista uma linha de GLP independente da do queimador piloto,

alimentada por 3 botijões de 90 kg. A Figura V.5 mostra o esquema dessa linha.

As sondas utilizadas para captação dos gases no interior da câmara de combustão

necessitaram de refrigeração em função da elevada temperatura dos gases. Além do fator da

resistência térmica do material, a refrigeração é necessária para “congelar” as reações

químicas, caso contrário a análise dos gases pode não ser representativa. Esse assunto é

discutido com mais detalhes na seção referente à análise de gases. Desta forma, foi previsto

um sistema de refrigeração em circuito fechado onde os gases quentes que adentram às sondas

trocam calor com um fluxo de água em contra corrente. Por sua vez, a água é refrigerada por

uma torre de resfriamento e, em seguida, novamente bombeada para as sondas. A Figura V.5

também apresenta um diagrama esquemático do sistema de refrigeração das sondas.

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62

Figura V.5 – Diagrama esquemático das linhas de alimentação do GLP (combustível auxiliar)

e do sistema de refrigeração com água das sondas de captação dos gases.

V.3.2 – Medidas de Vazão

As vazões de diesel, resíduo, ar de atomização do combustível, oxigênio de

atomização do combustível, ar de atomização do resíduo, oxigênio de atomização do resíduo,

oxigênio de combustão (duas faixas de vazão) e amônia foram medidas por meio de

rotâmetros da marca OMEL, condizentes com a faixa de vazão de cada fluido. Um esquema

da distribuição dos rotâmetros nas linhas dos fluidos pode ser observado nas figuras da

subseção anterior. Para linha de ar de combustão, além de rotâmetros (duas faixas de vazão)

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foram instalados medidores de vazão tipo turbina. Os rotâmetros facilitam os ajustes do fluxo

durante a operação, mas para a faixa de vazões do ar de combustão não apresentam boa

precisão. Desta forma, os rotâmetros foram utilizados como referência, mas os valores das

vazões do ar de combustão foram obtidas por uma turbina, para vazões acima de 20 m3/h, e

por um sistema de placa de orifício, para vazões abaixo do valor citado.

Apesar dos rotâmetros estarem esquematicamente distribuídos nas linhas, fisicamente

eles estão reunidos em um painel onde foi feito o controle operacional da câmara. A Figura

V.6 apresenta uma fotografia do painel.

Figura V.6 – Painel de controle de operação da câmara.

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O estabelecimento correto da porcentagem de oxigênio no oxidante e sua vazão são de

fundamental importância para comparação dos resultados obtidos nesse trabalho. Desta

forma, destinou-se especial atenção para alguns equipamentos de maior relevância envolvidos

nessa determinação desse valores.

A calibração do rotâmetro de diesel foi feita medindo-se o tempo necessário para se

preencher 500ml de uma proveta de volume total de 1500ml, em uma dada condição de

abertura da válvula de controle de fluxo do rotâmetro. Foram utilizadas para as medidas as

marcações centrais da proveta, ou seja, entre 500 e 1000ml, diminuindo os erros envolvidos

com a descarga inicial do líquido. A vazão volumétrica foi obtida dividindo-se o volume de

500 ml pelo tempo obtido, sendo esta uma média de pelo menos 20 medidas feitas. Para

obtenção da vazão mássica multiplicou-se a vazão volumétrica pela massa específica do

diesel, 0,864 kg/l, obtida pelos dados da pesagem de um determinado volume de diesel (em

geral, a literatura aponta como densidade média do diesel 0,860 kg/l).

A Figura V.7 apresenta a curva que relaciona a escala do rotâmetro com a vazão

mássica obtida. Para determinação desta curva utilizou-se o programa computacional

“Grapher Version 1.00 – Golden Software” e o polinômio que a representa é dado por:

2x.0150476,0x.572324,0799599,0y ++−= , (V.1)

onde y representa a vazão mássica de diesel e x a escala de leitura do rotâmetro.

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65

2 3 4 5 6 7 8 9 10

Escala do rotâmetro

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

Vazã

o m

áss

ica

[g/s

]

Figura V.7 - Curva de calibração do rotâmetro de diesel.

Conforme já citado, durante os ensaios utilizou-se o medidor de vazão tipo turbina

para obter as vazões do ar de combustão acima de 20 m3/h (limite do equipamento). Segundo

o fabricante, a calibração deste equipamento é feita para temperatura de 22 oC e pressão de 1

atm manométrica. Como as condições de operação são diferentes da de calibração, houve a

necessidade de se realizar uma nova avaliação.

O medidor tipo turbina foi montado em série com um sistema de placa de orifício, que

foi considerado como instrumento de medida padrão. A montagem usada na calibração está

representada na Figura V.8. A formulação para projeto e cálculo de vazão usada para

dispositivos tipo placa de orifício é bem conhecida e pode ser encontrada na ABNT (NBR

ISO 05167)(1994), bem como em manuais de medição de vazão como o de Delmée (1989).

Em geral, os textos apresentam coeficientes de descarga para situações onde o diâmetro da

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tubulação é superior a 2 in, ou para tubos de pequenos diâmetros (diâmetro inferior a 40 mm).

A placa utilizada nesta calibração é do tipo “radius taps”, conforme denominação da literatura

inglesa, sendo a tomada de alta pressão feita 1D antes da placa e a de baixa pressão a 1/2D

depois da placa, sendo D o diâmetro da tubulação, que para o presente caso é de 44mm,

estando em uma condição intermediária fora de padrão. No entanto, Ferreira (1997) comparou

as medidas feitas nessa mesma placa, utilizando para o cálculo da vazão a formulação para

tubulação de diâmetro superior a 2in, com as medidas feitas em uma placa de tubulação de

35mm, com as tomadas de pressão nos flanges e utilizando a formulação para tubos de

pequenos diâmetros. Os resultados apontaram que não há necessidade de correção da placa de

tubulação fora de padrão, visto a concordância dos resultados.

Figura V.8 - A montagem usada na calibração do medidor turbina.

Foram utilizadas placas com os diâmetros de 13,45mm, 17,76mm, 22,25mm, 26,63

mm e 30,03mm, conforme a faixa de vazão ensaiada. O medidor turbina apresenta o resultado

em vazão volumétrica (m3/h), que é convertida para vazão mássica multiplicando-a pela

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massa específica calculada, levando-se em conta a pressão e a temperatura medidas antes da

turbina. A Figura V.9 compara as vazões mássicas obtidas pela turbina e pela placa de

orifício. Os resultados apontam que a vazão medida pela turbina teve sempre valor maior do

que a medida pela placa, sendo a diferença média em torno de 5%.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Vazão mássica obtida pela turbina [g/s]

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Vazã

o m

áss

ica o

btid

a p

ela

pla

ca [

g/s

]

Relação entre as vazões medidas pela placa e pela turbina

Curva polinomial ajustada aos resultados do ensaio

Represntação da situação onde as vazões medidas na turbina na placa são iguais

Figura V.9 – Comparação entre as vazões mássicas de ar obtidas pelo medidor turbina e pela

placa de orifício.

Para ajustar os valores obtidos pela turbina em relação à placa de orifício, utilizou-se

uma curva polinomial do segundo grau, também através do programa computacional

“Grapher Version 1.00 – Golden Software”, dada por:

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2x.000562.0x.883818,0609578,0y ++= , (V.2)

onde y é a vazão mássica corrigida e x a vazão mássica obtida em função dos dados da

turbina. Aplicando-se essa correção aos dados da Figura V.9 percebe-se que há uma

concordância bastante razoável entre os valores corrigidos e os obtidos pela placa, sendo a

diferença média em torno de 0,5%, conforme apresenta a Figura V.10.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Vazão mássica obtida pela turbina corrigida [g/s]

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Va

zão

sica

ob

tida

pela

pla

ca [

g/s

]

Figura V.10 – Comparação das vazões mássicas de ar obtidas pelo medidor turbina e

corrigidas aplicando-se a equação (V.2), com as obtidas pela placa de orifício.

Para as vazões de ar de combustão inferiores a 20m3/h (cerca de 7g/s), utilizou-se

diretamente a placa de orifício, visto que tal valor é o limite inferior da faixa de uso do

medidor tipo turbina. Para as vazões superiores a esse valor, preferiu-se utilizar o medidor

turbina em função de uma maior facilidade para o ajuste da vazão desejada em relação a placa

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de orifício. Não se realizou o mesmo procedimento do medidor turbina para os rotâmetros do

ar de combustão pelo fato dos mesmos serem utilizados somente para o ajuste grosseiro da

vazão e não para realização das medidas.

A verificação da calibração do rotâmetro de oxigênio também foi feita com a placa de

orifício utilizada na calibração do medidor tipo turbina, evidentemente alterando as

propriedades do ar para as do oxigênio na formulação envolvida. A montagem para

verificação foi semelhante à da Figura V.8. No lugar do medidor tipo turbina, foi colocado em

série com o dispositivo da placa de orifício o rotâmetro e seus periféricos (válvula anterior ao

rotâmetro, manômetro e válvula posterior ao manômetro). Durante o ensaio manteve-se no

fluxo do rotâmetro a pressão de calibração (1 atm manométrica), através de ajustes nas

válvulas anterior e posterior ao mesmo. Desta forma, não ocorreu a necessidade de correção

da vazão de oxigênio por estar operando fora das condições de calibração do rotâmetro. A

Figura V.11 apresenta a comparação entre as vazões medidas pelo rotâmetro e pela placa. Os

resultados apontam uma boa concordância entre os dois instrumentos de medida.

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70

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Vazão mássica obtida pela placa [g/s]

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Va

zão

máss

ica

obtid

a p

elo

ro

tâm

etr

o [g/s

]

Relação entre as vazões medidas no rotâmetro e na placa

Representação da situação onde as vazões medidas no rotâmetro e na placa são iguais

Figura V.11 - Comparação entre as vazões mássicas de oxigênio obtidas pelo rotâmetro e pela

placa de orifício.

A vazão do GLP utilizado como combustível auxiliar foi medida por uma placa de

orifício do tipo “tubulação com pequenos diâmetros” (entre 13mm e 40mm). A diferença de

pressão devido à presença da placa é obtida em tomadas de pressão nos próprios flanges,

feitas em ranhuras anelares. Na presente aplicação, os diâmetros utilizados para a placa e para

a tubulação foram 5,70mm e 19,30mm, respectivamente. O cálculo da vazão seguiu

rigorosamente o equacionamento recomendado por Delmée (1989) para esse tipo de

dispositivo.

Em trabalhos anteriores, como os de Momma (1993), Muniz (1993), Ferreira (1997) e

Martins (1998), placas de orifício com pequeno diâmetro de tubulação e o equacionamento de

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Delmée foi utilizado com sucesso para obtenção da vazão de GLP. Desta forma, não foi

realizado nenhum procedimento especial para calibração da placa. No entanto, uma

verificação experimental foi realizada para assegurar a confiabilidade das medidas. Na câmara

de combustão descrita anteriormente foram queimados 2,86g/s de GLP com 49,37g/s de ar,

valores de vazão obtidos pela placa de orifício e pelo medidor turbina, respectivamente. A

análise dos gases na saída da câmara foi comparada com os valores calculados através do

balanço de massa da reação de combustão para essas vazões de combustível e oxidante. A

Tabela V.3 mostra a comparação.

Tabela V.3 – Comparação entre a análise de gases na saída da câmara com o balanço de

massa para avaliar a placa de orifício utilizada na medida da vazão de GLP.

%O2 %CO2 %CO

Balanço de massa 2,82 12,53 0

Medidas 2,85 ± 0,05 12,57 ± 0,11 < 0,02

Como a presença de CO nos produtos de combustão foi muito baixa (< 0,02%, menor

que a sensibilidade do analisador), a comparação entre os resultados pôde ser realizada. Os

valores medidos e calculados para as porcentagens de O2 e CO2 concordam muito bem.

Admitindo que a vazão de ar está correta, devido ao medidor turbina ter sido previamente

calibrado, pode-se admitir que a medida de vazão para o GLP obtida pela placa de pequeno

diâmetro também apresenta valor coerente. Os resultados apresentados na Tabela V.3 são para

análise em base seca. Na seção seguinte deste capítulo é descrito como foi realizada a análise

dos gases de combustão durante os experimentos.

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72

V.3.3 – Combustíveis

Conforme já amplamente anunciado nessa seção, os combustíveis utilizados para os

experimentos foram o diesel e o GLP. Com isso foi possível diferenciar as consequências da

natureza de cada combustível, líquido ou gasoso, no enriquecimento da incineração de

resíduos aquosos. A composição do diesel foi adotada como sendo C12H26. A Tabela V.4

apresenta algumas de suas características, segundo Borman e Ragland (1998).

Tabela V.4 – Características do diesel.

Peso molecular 170,33 kg/kmol Gravidade específica

(a 20 oC) 0,86 kg/l

Calor latente de vaporização 244 kJ/kg Poder calorífico superior 47838 kJ/kg Poder calorífico inferior 44574 kJ/kg

Viscosidade (a 15oC)

2,4.10-3 N.s/m2

O GLP é uma mistura de hidrocarbonetos, basicamente compostos com C3 e C4. A

Tabela V.5 mostra os resultados da análise química do GLP apresentada por Ferreira (1997).

Sendo o GLP uma mistura de hidrocarbonetos pode-se, para efeito de balanço de massa,

considerá-lo como um composto de fórmula molecular média CpHq. Para o caso da

composição adotada, a fórmula molecular média fica igual a C3,425H7,824 e o peso molecular

médio igual a 49,02 g/mol. Os poderes caloríficos superior (PCS) e inferior (PCI) são

apresentados na Tabela V.6 (valores médios, segundo o Instituto Brasileiro do Petróleo,

1986).

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Tabela V.5 – Composição do GLP (apresentada em Ferreira, 1997).

Componente Composição % em massa real

% em massa adotada

Massa molecular

% molar adotada

Metano CH4 0,25 0,25 16,04 0,77 Propino C3H5 4,06 4,09 40,06 5,00 Propeno C3H6 26,65 26,82 42,08 31,25 Propano C3H8 23,29 23,44 44,10 26,06 1-Buteno C4H8 0,01 0,01 56,11 0,01 Isobuteno C4H8 2,57 2,59 56,11 2,26

cis 2-Buteno C4H8 8,82 8,88 56,11 7,76 Isobutano C4H10 14,03 14,12 58,12 11,91 n-Butano C4H10 9,33 9,39 58,12 7,92

Isopentano C5H12 10,10 10,17 72,15 6,91 n-Pentano C5H12 0,24 0,24 72,15 0,16

Não identificados

------- 0,65 0,00 0,00 -------

Tabela V.6 – Poder calorífico do GLP (Instituto Brasileiro do Petróleo, 1989).

PCS kcal/nm3

PCI kcal/nm3

PCS kcal/kg

PCI kcal/kg

27725 25282 12075 11025

V.4 – ANÁLISE DE GASES

A composição dos gases de saída é de especial interesse para avaliar as alterações no

processo de combustão durante o enriquecimento da incineração e verificar a emissão de

poluentes. Nos experimentos foram realizadas análises contínuas de O2, CO2, CO e NOx.

Os gases de combustão foram captados por sucção em dois pontos da câmara, a 122,5

cm a jusante do queimador e a 30cm antes da saída da câmara, correspondendo aos volumes

de câmara de 227 e 994 litros, respectivamente. As sondas de captação foram construídas em

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74

aço inoxidável, sendo o tubo de passagem dos gases com ¼ de polegada de diâmetro nominal.

As sondas foram posicionadas horizontalmente na câmara, conforme apresentado

anteriormente na Figura V.2. No entanto, as extremidades internas à câmara eram dobradas

em “L” de tal forma que abertura do tubo de passagem dos gases ficasse posicionada

verticalmente, na direção do escoamento e no eixo de centro da câmara.

Os gases eram resfriados ainda nas sondas trocando calor em contra corrente com a

água fria que escoava através de uma jaqueta externa também construída em aço inoxidável.

Os gases deixavam a sonda com a temperatura por volta de 60oC. Na subseção V.3.1 a Figura

V.5 apresenta o diagrama da linha da água de refrigeração das sondas. A Figura V.12 mostra

um esquema e uma fotografia das sondas utilizadas.

Figura V.12 – Esquema e fotografia das sondas utilizadas para captação dos gases de

combustão.

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75

A refrigeração da sonda não é somente importante para a resistência térmica do

material de sua confecção, mas também para estancar as reações químicas no seu interior.

Caso contrário, dependendo da temperatura, reações químicas ainda podem se desenvolver ao

longo da linha de amostragem de gases e os valores da análise podem não ser mais

representativos. Desta forma, as reações devem ser interrompidas o mais próximo possível do

ponto de amostragem. Chedaille e Braud (1972) sugerem que a 300oC praticamente todas

reações de combustão são interrompidas.

A sucção dos gases foi feita por uma bomba de vácuo do tipo diafragma, sendo a linha

de condução do gases também de aço inoxidável com ¼ de polegada. As linhas provenientes

das sondas se conectavam a uma válvula 3 vias que controlava a passagem de apenas um dos

fluxos. Antes de entrarem no sistema de tratamento da amostra, os gases passavam por um

dispositivo do tipo ciclone com volume aproximado de 2 litros, onde grande parte do

condensado era retido. Esse dispositivo teve que ser acoplado ao sistema devido à grande

quantidade de água presente nos gases de saída da câmara, em função da injeção de água

como simulador do resíduo.

Os gases eram resfriados por meio de duas serpentinas imersas em banho de água

gelada a 3 oC. Os condensados e particulados maiores que 25µm ficavam retidos em três

filtros montados em série. Dois deles estavam situados na região de sucção, antes e depois do

primeiro resfriamento; o último filtro encontrava-se na região de pressão positiva da linha, na

sequência do segundo circuito de refrigeração. Em seguida o escoamento de gases era

dividido em três destinos diferentes: 2 l/min eram desviados para o analisador de NOx, 1 l/min

era desviado para os demais analisadores e o restante do escoamento era descarregado para

atmosfera. O escoamento máximo total de gases era cerca de 8 l/min, obtido no início da

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76

análise quando a perda de carga nos filtros era a menor possível. Os escoamentos que se

encaminhavam para os analisadores eram forçados através de filtros de membrana Millipore

de fibra de vidro, que retinham os particulados mais finos. Finalmente os escoamentos eram

conduzidos aos analisadores onde as medidas eram feitas em base seca. A Figura V.13

apresenta o esquema da linha de amostragem dos gases.

Figura V.13 – Esquema da linha de amostragem de gases.

Para a análise de CO e CO2 foram utilizados analisadores tipo infravermelho, para O2

o tipo termomagnético e para o NOx o tipo quimiluminescente, que também permite analisar

somente NO. Os analisadores de CO, CO2 e O2 puderam ser acoplados em série por não

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alterarem a composição química da amostra. Já o analisador quimiluminescente de NOx

necessita que o NO presente na amostra reaja com o ozônio (O3) para formar NO2 e O2. Desta

forma, foi prevista uma linha separada para o analisador de NOx. O próprio analisador possui

um sistema de geração de ozônio a partir do oxigênio alimentado por uma garrafa com o gás

pressurizado. A Tabela V.7 mostra as principais características de cada analisador e a faixa de

medição utilizada durante os ensaios.

Tabela V.7 – Características principais dos analisadores de gases.

Gás Fabricante Modelo Sensor Precisão Faixa de medição

Gás de calibração

do zero

Gás de calibração do

fundo de escala

Vazão da amostra

CO Rosemount 880A infravermelho 1% do fundo de escala

0 a 2% em volume

N2 mistura com 1,89% de CO

1 l/min

CO2 Rosemount 880A infravermelho 0,5% do fundo de escala

0 a 20% em volume

N2 mistura com 18% de CO2

1 l/min

O2 Junkalor Permolyt 2 termomagnético 1% do fundo de escala

0 a 23% em volume

N2 mistura com 19,8 ou 20% de O2

1 l/min

NOx Rosemount 951A quimiluminescente 0,5% do fundo de escala

0 a 100 ppm

0 a 1000 ppm

0 a 2500 ppm

0 a 10000 ppm

N2 mistura com 90 ppm de NO

mistura com 900

ppm de NO

mistura com 2500 ppm de NO

mistura com

10000 ppm de NO

2 l/min

Além de mostradores, os analisadores possuem saídas em tensão que são ligadas ao

sistema de aquisição de dados (descrito na seção seguinte). Durante o processo de calibração

as indicações do mostrador foram ajustadas para os valores da concentração dos gases de

calibração de zero (N2) e de fundo de escala, através dos potenciômetros correspondentes.

Assim, a resposta em tensão elétrica para esses valores era utilizada para determinar uma

equação linear que associava o sinal de tensão com a concentração do gás no sistema de

aquisição de dados.

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A análise do oxigênio na saída da câmara foi de fundamental importância para o

presente trabalho, pois foi com ela que se verificou se a porcentagem de O2 e o excesso de

oxidante calculados a partir das vazões medidas estão corretos. Por essa razão e pelo fato do

analisador de O2 já ter sido amplamente utilizado em pesquisas anteriores, foi feita uma

verificação em sua leitura para gases com diversas concentrações de O2 conhecidas.

Inicialmente a calibração do zero foi feita com nitrogênio (0% de O2) e do fundo de escala

com um gás padrão de 19,8% de O2. A Figura V.14 apresenta o resultado dessa comparação.

Percebe-se que há uma boa concordância entre as medidas feitas pelo analisador e a

porcentagem de O2 no gás. Desta forma, não houve necessidade de se corrigir as leituras do

analisador de O2.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Leitura do analisador - %O2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Porc

enta

ge

m d

e O

2 n

o g

ás

Relação entre a porcentagem de O2 no gás padrão e a leitura do analisador

Representação onde a porcentagem de O2 no gás é igual a leitura do analisador

Figura V.14 – Comparação entre a leitura do analisador e a porcentagem de O2 nos gases.

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V.5 – SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS

Os sinais dos termopares e dos analisadores de gases foram digitalizados e arquivados

em um sistema de coleta de dados marca Hewlett-Packard, série 6900. O sistema fazia 3

varreduras por minuto, sendo o resultado para cada medida na varredura uma média de 10

leituras realizadas em sequência. No final de cada minuto o sistema calcula a média das três

varreduras e o resultado é impresso em papel e armazenado em arquivo. Na verdade, para

cada valor associado a um dado minuto de teste está por trás uma média de 30 leituras, 10 por

varredura. No final do ensaio todos os dados são arquivados no computador central do

sistema de aquisição e na sequência são transmitidos, via interface GPIB, para um

computador pessoal padrão IBM-PC para análise dos dados adquiridos. A Figura V.15 mostra

o arranjo do sistema de aquisição de dados.

Os resultados apresentados na presente tese foram obtidos na condição mais próxima

possível do regime estacionário. O tempo de aquisição de dados em cada condição nunca foi

inferior a 20 minutos. Consequentemente, cada valor de temperatura ou de análise de gás

apresentado é pelo menos uma média de 600 leituras feitas durante o experimento, o que

estatisticamente representa uma amostragem significativa.

O sistema de aquisição de dados, juntamente com o dispositivo para tratamento da

amostra dos gases de combustão e os analisadores de gases foram dispostos em uma sala

anexa ao experimento, em função da maior fragilidade desses equipamentos. A Figura V.16

apresenta uma fotografia da sala de instrumentação.

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Figura V.15 – Esquema do sistema de aquisição de dados.

Figura V.16 – Fotografia da sala de instrumentação.

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V.6 – ANCORADOR DE CHAMA TIPO SWIRLER

Tal como apresentado por Claypole e Syred (1982), a zona de recirculação a jusante

do queimador influencia fortemente o processo de queima e, consequentemente, também vai

influenciar a emissão de poluentes. No projeto de câmaras de combustão é de caráter

fundamental o dimensionamento correto do distribuidor de ar e do sistema de retenção da

chama pois, como consequência disso, tem-se uma otimização do consumo de combustível,

uma minimização da produção de CO e NOx e controle da dinâmica e das dimensões da

chama (Kuo, 1986).

Para assegurar o ancoramento da chama nas proximidades do bico queimador são

utilizados dois tipos de retentores de chama: corpos rombudos e geradores vorticais

(“swirlers”). A retenção de chama por corpos rombudos é conseguida, geralmente, de maneira

empírica, por não existir uma teoria abrangente disponível para ser utilizada em projetos. Já

os “swirlers” podem ser efetivamente dimensionados pelo emprego de expressões

matemáticas, sendo bastante atrativos para investigações experimentais.

Com intuito de contribuir com as pesquisas que visam compreender, capacitar e

modelar aerodinamicamente os processos de combustão que utilizam escoamentos rotativos

para ancoramento de chama, Muniz (1993) investigou um retentor de chama do tipo

vortical/axial com pás de ângulo variável. Para isto construiu um distribuidor de ar de

combustão, Figura V.17, que consiste de em uma câmara de aço 1020 com 310mm de

diâmetro interno e 248mm de comprimento, de um duto de saída em ferro galvanizado com

158mm de diâmetro interno e 210mm de comprimento onde se encontra instalado o “swirler”

e de uma lança central também em ferro galvanizado com 42mm de diâmetro externo e

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538mm de comprimento, onde é acoplado o injetor de combustível. A câmara admite o ar de

combustão e o força a entrar radialmente, por meio de um conjunto de placas fixas, no duto de

saída que o conduz axialmente para o “swirler”. Este é constituído por um conjunto de 8 pás

confeccionadas em aço inox 340 e 2mm de espessura e foi instalado de modo a permitir a

variação do ângulo entres as pás.

Figura V.17- Esquema do distribuidor de ar de combustão com um sistema retentor de chama

do tipo vortical/axial com o ângulo entre as pás variável, desenvolvido no trabalho realizado

por Muniz (1993).

A presente investigação utilizou tal retentor de chama, mediante a sugestão e

autorização dos Drs. Heraldo da Silva Couto e Demétrio Bastos Netto, orientadores da

dissertação de mestrado realizada por Muniz (1993). Assim, foi possível alterar a estrutura da

chama sem modificação nas vazões de oxidante e combustível, apenas alterando o ângulo

entre as pás do “swirler”. A Figura V.18 apresenta uma fotografia do ancorador tipo “swirler”.

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Figura V.18 - Fotografia do ancorador tipo “swirler” com ângulo entre as pás variável.

A relação adimensional que caracteriza a intensidade do “swirler”, utilizada aqui para

quantificar a intensidade da zona de recirculação, é dada pelo número de “swirl” S’, que

corresponde a razão entre a componente axial do fluxo da quantidade de movimento angular e

a componente axial do fluxo da quantidade de movimento linear. O modelo utilizado para

cálculo do número de “swirl” é basicamente o apresentado por Wall (1987), com as

considerações de coeficiente de bloqueio feitas em Muniz (1993) e em Couto et al. (1995). A

Figura V.19 apresenta o esquema genérico de um swirler axial e os raios característicos.

Figura V.19 - Esquema genérico de um “swirler” axial.

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O número de “swirl” pode ser definido baseando-se na distribuição de velocidade no

próprio “swirler” (Wall, 1987), que, para o caso onde apenas o escoamento secundário

externo passa pelo “swirler” (ar de combustão), pode ser escrito como (Couto et al., 1995):

( )Mr1

'S'S s

+= , (V.3)

onde Ss’ é o número de “swirl” do escoamento secundário e Mr a razão entre as componentes

axiais dos fluxos da quantidade de movimento linear dos escoamentos primário interno

(combustível) e secundário externo (ar de combustão). Ss’ e Mr podem ser calculados como:

( ) 'G.RR

G'S

xH3S

−=

φ , (V.4)

2I

2H

23.P

2S

2

R

)RR.()/m.()m/(Mr

−ρρ= , (V.5)

sendo ρ a massa específica, m a vazão mássica, RI o raio do orifício do injetor de combustível

e os subscritos p e s são referentes aos escoamentos primário e secundário, respectivamente.

A razão entre as componentes axiais do fluxo da quantidade de movimento angular e fluxo da

quantidade de movimento linear é dada por:

( )

)RR.(3

)RR).((gtan.CB.2

'G

G2H

23

3H

3s

x −

−α=

φ , (V.6)

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onde α é ângulo entre pás do “swirler” e CB é o coeficiente de bloqueio devido a espessura

finita das pás direcionais. O cálculo do coeficiente de bloqueio foi feito seguindo a

metodologia apresentada por Couto et al. (1995), que considera a situação de pás direcionais

com espessura finita e a influência do número de Reynolds como pequena. Assim, o

coeficiente de bloqueio depende apenas das dimensões geométricas das pás direcionais na

seção reta perpendicular ao eixo do duto, sendo verificado que:

)1(

1CB

σ−= , (V.7)

onde σ o fator de bloqueio dado por:

( )( )Sa3

efS

AA

AA

−=σ , (V.8)

sendo: A3a a área anular entre o “swirler” e a parede do tubo, As a área da coroa circular do

swirler e Aef a área efetiva de escoamento no próprio “swirler”, que é determinada

geometricamente por:

( )( ) α−−= cos.T2K.RR.2A HSef , (V.9)

onde K é dado por:

( ) ( ) ( )[ ]Z/tan.RZ/sin.R.Z.2/cosK Hs π+ππ= , (V.10)

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sendo Z o número de pás do swirler e T a espessura das mesmas. As dimensões geométricas

do swirler são: R3 = 79mm, RS = 79mm, RH = 21mm, RI = 0,875mm para o diesel, ou RI = 2,0

mm para o GLP, α = 0 – 70o, Z = 8 e T = 2mm. Como para o queimador utilizado RS = R3, os

ensaios foram realizados na condição de máximo bloqueio para um determinado ângulo de

inclinação α.

V.7 – INJETORES DE GLP

O GLP foi utilizado como combustível para o queimador piloto e como combustível

auxiliar de operação da câmara. Para ambas aplicações foram construídos injetores em aço

inoxidável. No caso do queimador piloto, cuja a Figura V.2 mostra sua posição na câmara, o

GLP era pré-misturado com ar instantes antes de entrar no queimador. A mistura era forçada

sobre um bico injetor com furo único de 3,3mm. A velocidade da mistura na saída do bico era

tal que não permitia a ocorrência de “flash back”, ou seja, velocidade da chama maior que a

do escoamento resultando na propagação dessa para o interior do injetor. A Figura V.20

mostra o esquema do queimador piloto.

Figura V.20 – Esquema do queimador piloto (dimensões em mm).

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O queimador de combustível auxiliar consiste de um tubo de 12mm de diâmetro

externo e 658mm de comprimento, onde na extremidade é acoplado um bico injetor de furo

único com 4mm de diâmetro. Tal queimador foi utilizado anteriormente por Muniz (1993),

acoplado ao ancorador de chama tipo “swirler”. A Figura V.21 mostra um do queimador e a

Figura V.22 uma chama não confinada obtida na queima do GLP com ar (mGLP = 2,90g/s, mar

= 51,00g/s e α = 40º)

Figura V.21 – Esquema do queimador de GLP (dimensões em mm).

Figura V.22 – Fotografia de uma chama de GLP com ar não confinada.

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V.8 – ATOMIZADORES DE LÍQUIDO

A queima de combustíveis líquidos se processa nos seguintes estágios sucessivos

(Russomano (1987)): 1) atomização, onde o combustível é desagregado, por processos

mecânicos, em pequenas gotículas; 2) vaporização, onde o combustível atomizado passa para

a fase gasosa, através do calor conduzido da chama para as gotas; 3) mistura, onde o

combustível, na fase gasosa, é misturado com o comburente, constituindo a mistura

inflamável; 4) combustão, na qual a mistura inflamável queima produzindo reações

exotérmicas. Desses estágios, o mais crítico e importante é a atomização, que visa o aumento

da superfície específica do combustível facilitando sua vaporização, condição indispensável à

sua íntima mistura com o comburente. É considerado, como eficiente, uma atomização que

pulverize 1cm3 de combustível em cerca de 10.000.000 gotículas (diâmetro médio de 60µm),

aumentando a superfície específica em mais de 200 vezes. Nesta seção é apresentado o

esquema de funcionamento e a metodologia que se empregou para projetar e construir os

injetores de combustível e resíduo e a avaliação experimental do diâmetro médio das gotas

obtidas pelos sprays.

V.8.1 – Atomizador Tipo Y

O presente trabalho utilizou atomizadores do tipo Y para nebulização tanto do

combustível líquido como do resíduo. Esse tipo de injetor funciona sob o princípio de se

imprimir uma alta velocidade no fluido auxiliar de atomização sobre o fluido a ser atomizado,

que possui baixa velocidade (Lefebvre, 1980). A Figura V.23 mostra um esquema desse tipo

de atomizador e suas principais dimensões.

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Figura V.23 – Esquema de um injetor tipo Y e suas principais dimensões.

É relevante mencionar que o uso deste tipo de atomizador no presente trabalho deve-se

à suas características de promover um fino spray (resultando em um baixo tempo de

evaporação das gotas), mesmo em condições que não a de projeto. Além disso, é de fácil

construção, requer baixa pressão para o líquido e permite variar o tamanho das gotas do spray

sem alterar a vazão de combustível, somente variando a vazão do fluido auxiliar. Esta última

característica foi de fundamental importância nos experimentos para avaliar a influência da

qualidade da mistura entre os reagentes na emissão de poluentes, sobretudo NOx.

Os parâmetros geométricos dos atomizadores foram obtidos baseados na investigação

experimental realizada por Mullinger e Chigier (1974). Entre outras coisas, eles determinaram

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as condições geométricas necessárias para uma pulverização adequada nos injetores tipo Y.

Essas recomendações estão organizadas na Tabela V.8.

Tabela V.8 – Recomendações para projeto das dimensões de atomizadores tipo Y, segundo

Mullinger e Chigier (1974).

1) Diâmetro de saída do ar (da) igual ao diâmetro de saída do

combustível (df). fa dd =

2) Diâmetro da câmara de mistura (dm). am d).8,14,1(d ↔=

3) Comprimento de pré-mistura (L). ad.75,0L =

4) Comprimento de mistura (Lm). mm d).54(L ↔=

5) Comprimento total da câmara (Lc). LLL mc +=

6) Comprimento do canal de alimentação do ar (La). aa d.2L >

7) Comprimento do canal de alimentação do combustível (Lf). ff d.2L >

8) Inclinação do canal de alimentação do combustível (θ) o52=θ

Além da geometria ideal, Mullinger e Chigier também determinaram a relação entre a

vazão mássica do fluido auxiliar de atomização e do líquido, denominada no presente trabalho

como razão de atomização (ratm). Desta forma, recomendaram que a vazão de fluido auxiliar

seja no mínimo 0,1 vezes a vazão do fluido a ser atomizado (equação V.11).

1,0m

mr

f

f/atm/aratm ≥= (V.11)

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Além das recomendações de Mullinger e Chigier, para o projeto dos atomizadores é

preciso levar em conta algumas considerações sobre os escoamentos de líquido e gás no se

interior. As considerações feitas no projeto dos atomizadores estão listadas a seguir.

I) Considerando a passagem do ar de atomização pelo orifício de injeção como um

escoamento reversível adiabático unidimensional em regime permanente para gás

perfeito, pode-se fazer uso das equações para este tipo de escoamento, facilitando os

cálculos de projeto. Foi adotado, ainda, Mach = 1 na passagem do escoamento de ar

pelo orifício de injeção e a pressão e a temperatura de estagnação como sendo 3atm e

27 °C, respectivamente.

II) Equacionamento do escoamento de líquido como sendo unidimensional

incompressível em regime permanente e coeficiente de descarga igual a 0,75 (também

recomendado por Mullinger e Chigier).

Basicamente, o projeto de dos atomizadores se resumiu em encontrar o diâmetro do

canal para passagem do ar de atomização e, com esse valor, adequar os demais parâmetros

geométricos segundo a Tabela V.8 e as facilidades de construção.

V.8.2 – Cálculo dos Atomizadores

O projeto do injetor de diesel foi feito admitindo uma vazão de 5g/s para esse fluido.

Utilizando igualdade na equação V.11, a vazão mássica de ar de atomização do combustível é

igual a 0,5g/s e admitindo Mach = 1 sua velocidade de injeção fica:

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92

T.R.av

1Mach

a.Machv

f/atm/ar

f/atm/ar

γ==

=

=

, (V.12)

sendo a a velocidade do som, R a constante de gas ideal = 287 m2/s2K, γ = Cp/Cv e T a

temperatura do ar no orifício de injeção, que pode ser calculada pela equação:

−γ+

=

Mach.2

11

TT 0 , (V.13)

sendo T0 a temperatura de estagnação, admitida como sendo 300 K. Para Mach = 1 e γ = 1,4:

K250300.833,0T.833,0T 0 === . (V.14)

Substituindo o resultado encontrado na equação (V.14) em (V.12):

93,316250.287.4,1v f/atm/ar == m/s . (V.15)

- Pressão do ar na saída de injeção:

γ

−γ

=

1

00

P

P

T

T , (V.16)

sendo P0 a pressão de estagnação do ar, admitida como sendo 3atm. Substituindo os valores:

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93

584,13.528,0P.528,0P 0 === atm

160498P = Pa . (V.17)

Assim, pode-se calcular a massa específica do ar de atomização do combustível:

24,2250.287

8,160498

T.R

P===ρ kg/m3 . (V.18)

Finalmente calcula-se o diâmetro do canal de injeção:

mm0,1d

m0009447,093,316.24,2.

0005,0.4

v..

m.4d

A..vm4

d.A

a

f/atm/ar

f/atm/ara

f/atm/arf/atm/ar

a

=ρπ

=

ρ=

π=

. (V.19)

Com o valor obtido para o diâmetro do canal de saída do ar foi possível calcular os

demais parâmetros geométricos utilizando as relações apresentadas na Tabela V.8. A pressão

de injeção do combustível pode ser calculada como segue:

84,0.2

1.

001,0.4.75,0

005,0

.2

1.

A.C

mP

2

2f

2

fd

fif

π=

ρ

= ,

42887,0Pa27,42887Pif == atm , (V.20)

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94

sendo Cd o coeficiente de descarga, ρf a massa específica do combustível e Af a área do

orifício de injeção do combustível (df = da). Com isso é possível calcular a velocidade de

injeção do combustível na câmara de mistura:

75,0.840

27,42887.2C.

P.2v

2/1

d

2/1

f

ifif

=

ρ= ,

5788,7vif = m/s . (V.21)

Para calcular o injetor de resíduo foi utilizada a mesma sequência de cálculos e

hipóteses feitas no projeto do injetor de combustível. Utilizou-se como vazão de projeto 20

g/s de resíduo. Esse valor foi atribuído antes de iniciados os ensaios, baseado em resultados

do balanço de massa e energia do capítulo IV. Caso houvesse necessidade de ensaios com

valores muito acima de 20g/s seria acoplado mais de um atomizador de resíduo. No entanto, a

maior vazão de resíduo obtida nos experimentos foi 21,12g/s, não havendo necessidade de

mais de um atomizador. Para efeito de projeto também considerou-se o resíduo como sendo

100% água.

Aqui também se utilizou a igualdade na equação V.11, ou seja, a vazão mássica de ar

de atomização do resíduo utilizada para projeto foi igual a 2g/s e, aproveitando os resultados

do dimensionamento do injetor de combustível para a velocidade de injeção, massa

específica, pressão e temperatura do ar de atomização, pôde-se calcular o diâmetro do orifício

de saída do ar de atomização do resíduo como segue:

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95

mm0,2d

m00189,093,316.24,2.

002,0.4

v..

m.4d

A..vm4

d.A

ar

ar

arar

arar

ar

=ρπ

=

ρ=

π=

. (V.22)

Com o valor obtido para o diâmetro de saída do ar, foi possível calcular os demais

parâmetros geométricos utilizando as relações da Tabela V.8. A pressão de injeção do resíduo

é dada por:

1.2

1.

002,0.4.75,0

02,0

.2

1.

A.C

mP

2

2res

2

resd

resires

π=

ρ

= ,

3652,0Pa67,36757Pires == atm , (V.23)

sendo Cd o coeficiente de descarga, ρres a massa específica do resíduo e Ares a área do orifício

de injeção do resíduo. A velocidade de injeção do resíduo na câmara de mistura fica:

75,0.840

67,36757.2C.

P.2v

2/1

d

2/1

rres

iresires

=

ρ= ,

0163,7vir = m/s . (V.24)

Com os cálculos dos diâmetros de injeção do ar de atomização e do líquido e levando

em conta as facilidades de construção, obtiveram-se os demais parâmetros geométricos dos

atomizadores. A Tabela V.9 apresenta esses parâmetros para cada atomizador.

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Tabela V.9 – Parâmetros geométricos dos atomizadores.

Atomizador

Diesel Resíduo

da 1 mm 2 mm

df 1 mm 2 mm

dm 1,8 mm 2,8 mm

L 0,75 mm 1,5 mm

Lm 9,0 mm 11,2 mm

Lc 9,75 mm 12,7 mm

La 2,0 mm 4,0 mm

Lf 8,5 mm 12,2 mm

θ 52o 52o

Os injetores onde os bicos atomizadores foram posicionados em suas extremidades

foram construídos em aço inoxidável com os fluidos escoando em tubos concêntricos. A

Figura V.24 mostra um esquema geral de um injetor com um bico atomizador acoplado.

Figura V.24 – Esquema dos injetores construídos com atomizador acoplado na extremidade

(dimensões em mm).

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As vazões de combustível e resíduo utilizadas para os projetos dos atomizadores

foram escolhidas através de uma perspectiva do uso desses fluidos. No entanto, as vazões de

operação foram estabelecidas somente na realização dos experimentos e não necessariamente

são as condições de projeto. Por essa razão e pelo fato de durante os experimentos ter sido

observada uma forte influência das condições de atomização na emissão de NOx, foi realizada

a determinação experimental do tamanho médio das gotas formadas pelos sprays. Essa

determinação é o assunto da próxima subseção.

V.8.3 – Tamanho Médio das Gotas

A caracterização dos sprays obtidos pelos atomizadores foi feita através de um sistema

não intrusivo a laser Malvern Mastersizer X. Esse sistema mede o espalhamento da luz de um

feixe de laser (Hélio – Neônio, 633nm) ao ser atravessado pelas gotas de um spray. A

detecção do espalhamento de luz no sistema ótico é constituído de uma placa circular de

detetores de fotodiodos, onde cada detetor coleta a luz espalhada em setores angulares

particulares. Para obtenção da distribuição do tamanho das gotas o sistema utiliza a teoria de

difração de Fraunhofer. Por esse modelo, quando um feixe de luz paralela e monocromático

atravessa uma nuvem de gotas o padrão obtido é o de uma série de discos concêntricos claros

e escuros cujo espaçamento entre eles dependerá da distribuição dos diâmetros das gotas. Esse

padrão de difração é proporcionado por uma lente transformadora de Fourier que converge o

feixe sobre o sistema de detecção. Esta transformação consiste na conversão do ângulo de

espalhamento θ numa distância radial r sobre o detetor plano. Cada detetor faz uma varredura

da ordem de 2ms e cada medida é constituída de 2000 varreduras. A Figura V.25 mostra um

fotografia do spray de diesel atravessando o feixe de laser do sistema Mastersizer X.

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98

Figura V.25 – Fotografia do spray de diesel atravessando o feixe de laser de 18mm de

diâmetro do sistema Mastersizer X.

Uma vez feita a medida, o software Malvern instalado em computador padrão IBM-

PC conectado ao sistema laser realiza um tratamento estatístico sobre os dados. Para

processos de vaporização e combustão, o diâmetro médio mais indicado é o de Sauter

(“Sauter Mean Diameter” na língua inglesa, ou simplesmente SMD) por relacionar volume de

líquido com a área superficial, sendo definido como:

∑=

i

2ii

i

3ii

d.n

d.nSMD , (V.25)

onde ni é número de gotas da classe i cujo o diâmetro é di. O SMD é definido como sendo o

diâmetro de gota que possui a mesma razão volume/área superficial de todo spray, ou pelo

menos, da região de amostragem. Desta forma, os resultados do ensaios são apresentados em

termos de SMD.

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99

A bancada utilizada para obtenção dos SMD’s dos sprays se encontra disposta no

Laboratório Prof. Feng da Divisão de Engenharia Aeronáutica do ITA. Algumas adaptações

foram feitas com intuito de posicionar os injetores na bancada e montou-se uma linha de

alimentação especial para o presente experimento. A Figura V.26 apresenta uma

representação da bancada utilizada. Os injetores eram fixados a um “braço” engastado em um

mesa posicionadora, do tipo utilizada em máquinas frezadoras, o que permitiu o movimento

tridimensional dos injetores e a obtenção da melhor posição para medida. As vazões de

líquido e ar foram medidas por rotâmetros e a alimentação foi realizada por um tanque

pressurizado com nitrogênio e um compressor, respectivamente.

Figura V.26 – Representação da bancada montada para o sistema laser no Laboratório Prof.

Feng da Divisão de Engenharia Aeronáutica do ITA.

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100

Os injetores foram posicionados a 15cm do centro do feixe de laser. Valores muito

inferiores a esse apresentavam um nível de obscuridade muito alto e saturavam os detetores,

em função da densidade de gota ser elevada nas proximidades da saída do bico atomizador.

Para valores muito superiores o diâmetro do cone formado pelo spray na região de medida era

suficientemente grande para que gotas acabassem chocando com as lentes. A distância de 15

cm foi bastante adequada para resolução dos dois problemas citados. Além disso, Lacava et

al. (1995) mostraram que acima de 3 polegadas de distância praticamente não há alteração nas

medidas do tamanho de gota em injetores tipo Y. Foram realizadas 20 medidas para cada

combinação de vazão e cada resultado aqui apresentado é uma média dessas medidas.

Para o atomizador de diesel foram feitos ensaios nas duas principais vazões de

operação, 3,11 e 2,50g/s. A Figura V.27 mostra os resultados do SMD em função da razão de

atomização (ratm), repetidos na Tabela V.10 para a vazão de 3,11g/s e na Tabela V.11 para

2,50g/s. As combinações de vazão são as mesmas utilizadas nos ensaios do capítulo VI. Os

resultados para ambas vazões evidenciam a capacidade dos atomizadores tipo Y em promover

finos sprays e do controle do tamanho das gotas através da vazão do ar de atomização. As

curvas obtidas são típicas para esse tipo de atomizador, concordando qualitativamente com o

comportamento apontado pela investigação experimental feita por Mullinger e Chigier (1974),

ou seja, o SMD diminui acentuadamente com aumento da vazão do fluido auxiliar até um

certo ponto, depois praticamente estabiliza em torno de um valor. Esse comportamento surge

em função da elevada dependência do SMD com a velocidade relativa entre os fluxos na

câmara de mistura do atomizador. Com aumento da vazão do ar de atomização sua velocidade

também irá aumentar e, como consequência, o SMD diminui.

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101

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20

r

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

SM

D [

]

atm

m = 3,11 g/s

m = 2,50 g/s

f

f

Figura V.27 – Variação do SMD em função da razão de atomização para as vazões de 3,11 e

2,50g/s de diesel.

A importância dos parâmetros que afetam o diâmetro das gotas do spray pode ser

observado pela equação de Wigg (1964), que calcula o diâmetro mediano de massa (MMD)

para atomizadores desse tipo:

rel

3,0

f/atm/ar

2,01,0m

5,0

atm

1,0f

5,0

V.

hr

11m.200

MMDρ

τ

= , (V.26)

onde δ é a viscosidade cinemática do combustível (centistokes), mf a vazão mássica do

combustível (g/s), mar/atm/f a vazão mássica do fluido de atomização (g/s), hm o raio da câmara

de mistura (cm), τ a tensão superficial do combustível (dynas/cm), ρar/atm/f a densidade do

fluido de atomização (g/cm3) no ponto de mistura e Vrel a velocidade relativa entre os fluxos

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102

(m/s). O MMD representa o ponto de 50% na curva porcentagem de massa acumulada x

diâmetro de gota (Marshall, 1954). A equação mostra que os fatores de maior efeito são a

razão de atomização, a densidade do ar, a velocidade relativa e a viscosidade do combustível.

A razão MMD/SMD é igual a 1,20 com um erro de 5% (Simmons, 1977). O equacionamento

para atomizadores tipo Y proposto por Couto et al. (1999), concorda melhor com resultados

experimentais do que a equação de Wigg. No entanto, esta última facilita a interpretação da

influência de cada parâmetro no processo de atomização.

Tabela V.10 – Valores de SMD para a vazão de 3,11g/s de diesel.

mar/atm/f

[g/s]

ratm

SMD

[µm]

0,15 0,0482 88,46 ±6,56

0,25 0,0803 41,69 ± 5,13

0,35 0,1125 26,10 ± 4,69

0,40 0,1286 17,39 ± 0,97

0,45 0,1447 14,46 ± 2,46

Tabela V.11 – Valores de SMD para a vazão de 2,5g/s de diesel.

mar/atm/f

[g/s]

ratm

SMD

[µm]

0,20 0,08 84,33 ± 4,36

0,25 0,10 58,63 ± 4,65

0,30 0,12 42,93 ± 2,59

0,35 0,14 28,16 ± 2,14

0,40 0,16 21,81 ± 0,88

0,45 0,18 19,18 ± 1,73

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103

Em uma primeira análise da equação V.26 pode-se concluir que o aumento da vazão

de combustível, conservando a razão de atomização, causaria um aumento no SMD. No

entanto, a Figura V.27 mostra um comportamento contrário. Mullinger e Chigier, que também

observaram o mesmo comportamento, atribuiram isso ao fato de que o aumento da vazão de

combustível causa uma elevação nas pressões de injeção do combustível e ar,

consequentemente aumentando a massa específica do ar no ponto de mistura. Conforme a

equação V.26 o SMD diminui com o aumento de ρar/atm/f.

Para o atomizador de resíduo, os ajustes de fluxos foram feitos de maneira similar aos

dos ensaios do capítulo VI, ou seja, sem a injeção de resíduo se ajustou a vazão do ar de

atomização para 1g/s, em seguida, foi ajustada a vazão de resíduo de acordo com o desejado

para o ensaio. Dependendo da vazão de resíduo, há uma queda na vazão do ar de atomização

em função do maior bloqueio na câmara de mistura do atomizador. A vazão de ar não foi

novamente ajustada para 1g/s, mantendo-se então a nova vazão de equilíbrio. Os resultados

estão reunidos na Figura V.28 e na Tabela V.12.

Nota-se que não há uma variação muito grande no SMD com a vazão de resíduo. Isso

se deve a uma combinação de fatores que acabam se compensando. Com o aumento da vazão

de resíduo, a tendência é diminuir o SMD, em função do aumento da densidade do ar no

ponto de mistura, conforme já discutido. No entanto, como não se conservou a razão de

atomização, sua redução tende a aumentar o tamanho da gotas. Para os experimentos do

capítulo VI essa pouca variação do SMD do spray de resíduo foi boa, pois é um parâmetro a

menos para influenciar os resultados da taxa de incineração, emissão de gases e distribuição

de temperatura na câmara.

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104

8 10 12 14 16 18 20 22

Vazão de resíduo [g/s]

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

SM

D [

]

Figura V.28 – Variação do SMD em função da vazão de resíduo.

Tabela V.12 – Condições dos sprays de resíduo.

mres

[g/s]

mar/atm/res

[g/s]

ratm SMD

[µm]

10,00 1,00 0,1000 44,87 ± 2,13

12,25 1,00 0,0816 52,05 ± 1,38

14,07 0,91 0,0781 56,47 ± 2,39

15,87 0,91 0,0573 56,88 ± 0,60

16,67 0,90 0,0539 55,91 ± 1,25

20,62 0,81 0,0393 50,37 ± 1,41

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105

V.9 – PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A aquisição de dados para uma determinada condição era realizada quando se atingia

o equilíbrio térmico na câmara, ou seja, quando para uma determinada combinação de vazões

a distribuição de temperatura era aproximadamente estacionária.

Inicialmente, a chama do queimador piloto era ignitada e em seguida o queimador

acoplado à câmara. Alguns minutos após, através de válvulas solenóides, permitia-se o

escoamento de combustível e a chama principal era ignitada, onde se iniciava o processo de

aquecimento da câmara. Durante esse processo não era injetado resíduo e a combustão era

com o ar como oxidante. Para vencer mais rapidamente a inércia térmica da parede da câmara,

o queimador piloto ainda permanecia em operação por cerca de 40 a 50 minutos após a

ignição da chama principal, quando era então desativado. Na sequência, o aquecimento

continuava até dar sinais de estabilização da distribuição de temperatura ao longo da câmara.

Deste ponto se iniciavam os ajustes de vazão para a condição de operação desejada. Uma vez

as vazões ajustadas, esperava-se novamente a estabilização das temperaturas para iniciar a

aquisição de dados.

Para acompanhar o processo de aquecimento da câmara o sistema de aquisição de

dados apresentava em seu monitor as curvas de temperatura em função do tempo de teste,

sendo atualizadas a cada um minuto. Com isso foi possível acompanhar a “história” do

aquecimento da câmara e analisar o melhor momento para iniciar a aquisição de dados, que

normalmente acontecia entre duas e duas horas e meia após a ignição da chama principal.

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106

A Figura V.29 mostra um exemplo da sequência de procedimentos durante o

experimento para combustão de 3,11g/s de diesel com 25% de O2 no oxidante, 15% de

excesso de oxidante normalizado e 12,5g/s de resíduo injetado.

Figura V. 29 – Exemplo de curvas de temperatura ao longo da câmara em função do tempo de

teste, utilizadas para acompanhar os procedimentos durante os ensaios (mf = 3,11 g/s (diesel),

25% de O2, 15% de excesso de oxidante e mres = 12,25 g/s).

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107

V.10 – CÁLCULO DOS PARÂMETROS DE OPERAÇÃO

Nesta seção descreve-se o procedimento de cálculo dos parâmetros operacionais da

câmara que utilizam os resultados obtidos experimentalmente e são apresentados no capítulo

VI.

V.10.1 – Número de Reynolds do Escoamento Gasoso

O número de Reynolds é um indicador do grau de turbulência do escoamento de gases

no interior do reator. Para uma câmara de combustão cilíndrica sua expressão é dada por:

D..

m.4D.v.Re t

µπ=

µ

ρ= , (V.27)

onde ρ, v e µ são, respectivamente, a massa específica média, velocidade média e viscosidade

dos gases à temperatura T, D o diâmetro interno da câmara (0,60m) e mt a vazão mássica total

de gases que escoam pela câmara. Os resultados apresentados no capítulo VI foram

calculados para a seção da câmara correspondente à posição do termopar número 6, usando

essa temperatura e a composição dos gases na saída da câmara para obter a viscosidade média

do gás, ou seja assumindo que a composição dos gases já está em equilíbrio nesse ponto.

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108

V.10.2 – Tempo de Residência Médio

O tempo de residência corresponde ao tempo em que os gases permanecem no interior

da câmara de combustão, podendo ser calculado pela seguinte relação:

∫=V

r q

dVt , (V.28)

onde V é o volume da câmara de combustão e q a vazão volumétrica do gás. Sendo

considerado o escoamento como unidimensional e o gás como perfeito, a equação (V.28) fica:

tr m.T.R

M.P.Vt = , (V.29)

sendo P a pressão, T a temperatura, M a massa molecular média dos gases, R a constante

universal dos gases (0,08206 atm.l/K.mol) e mt a vazão mássica total dos gases. Para a

incineradores de injeção líquida usualmente a pressão no interior da câmara é admitida como

sendo 1 atm.

Na presente aplicação, a temperatura não é uniforme ao longo do reator. Por isso não

foi possível calcular o tempo de residência como a câmara de combustão sendo um volume de

controle único. A câmara foi dividida em vários volumes de controle, sendo a temperatura em

cada volume uma média de temperaturas obtidas experimentalmente. Assim, o tempo de

residência médio da câmara é o somatório dos tempos de residência médios dos volumes de

controle. A Tabela V.15 mostra como foi calculada a temperatura em cada volume.

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109

Tabela V.13 – Volumes de controle para o cálculo do tempo de residência médio.

VC Volume

[litros]

Cálculo da

temperatura

1 32,27 T1

2 96,16 (T2+T1)/2

3 98,96 (T3+T2)/2

4 98,96 (T4+T3)/2

5 98,96 (T5+T4)/2

6 216,05 (T6+T5)/2

7 141,37 (T7+T6)/2

8 215,72 (T8+T9)/2

V.11- CONTROLE DA EMISSÃO DE NOX PELA INJEÇÃO DE AMÔNIA

Conforme foi discutido no capítulo II, um dos obstáculos à ampla utilização das

chamas enriquecidas é a elevada emissão de NOx. Também foi objetivo da presente tese

apontar caminhos para solução deste problema. Uma das tecnologias que foram testadas nos

ensaios foi a redução do NO através da injeção de amônia (NH3) na câmara de combustão. O

sistema de injeção da amônia em fase gasosa já foi apresentado na subseção V.3.1., cabendo

como discussão na presente seção apenas como a amônia age para converter o NO em N2.

Para utilização da amônia como redutor do NO é necessário um cuidado especial

quanto à posição de sua injeção. Se a amônia for injetada na região de chama, onde a

temperatura é mais alta, o efeito será contrário, ou seja, o mecanismo NH3 → ....... → NO será

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favorecido. Quando a amônia é injetada na região de pós-chama, onde a temperatura é mais

baixa, há uma predominância de redução do NO para N2.

Pfefferle e Churchill (1986) confirmaram a hipótese de DeSoete (1973, 1975) e

Haynes (1977) que se a amônia for injetada na região de chama seu comportamento é

semelhante ao da maioria dos compostos nitrogenados contidos nos combustíveis, que são

convertidos para HCN e CN na frente de chama, sendo em seguida convertidos para espécies

NHi (i = 0, 1 e 2) antes da oxidação, explicando porque a taxa de conversão de amônia (NH3)

para NO é aproximadamente a mesma das outras espécies nitrogenadas como dimetilamina e

piperidina. Os fatores mais importantes para a conversão da amônia em NO, ou da redução do

NO pela própria amônia, são a temperatura da chama e a estequiometria.

Reações de redução do tipo NHi + NO → N2 + . . . (i = 0, 1 e 2) não apresentam

grande importância nas regiões onde a temperatura é próxima à temperatura de chama

adiabática, pois as reações de oxidação das espécies NHi em favor da formação de NO são

favorecidas nesta condição, segundo Miller (1981). No entanto para o caso de amônia injetada

na região de pós-chama, o NO pode ser reduzido pelas reações V.29, V.30 e V.31, como

indicado por Fenimore (1976) e Haynes (1977):

NH2 + NO → N2 + H2O (V.29)

NH + NO → N2 + OH (V.30)

N + NO → N2 + O (V.31)

As reações V.29, V.30 e V.31 são consideradas o principal mecanismo de conversão

do NO em N2, sendo que a reação V.31 é de grande importância apenas para combustão rica

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(Pfefferle e Churchill, 1986). Bian et al. (1986) detalharam experimentalmente o mecanismo

de formação e conversão de NO em chamas de amônia queimando com oxigênio, através de

medidas das concentração de espécies químicas até a distância de 8mm do queimador. Os

resultados apontaram que a amônia desaparece por completo a 6mm, sendo que sua máxima

taxa de consumo ocorre na região onde a concentração de NH2 é máxima. Assim, as reações

V.32, V.33 e V.34 foram propostas como mecanismo de conversão da amônia em NH2.

NH3 + OH → NH2 + H2O (V.32)

NH3 + H → NH2 + H2 (V.33)

NH3 + O → NH2 + OH (V.34)

Reações subsequentes convertem o NH2 em NH e N. O radical NH2 não é importante

somente para o mecanismo de redução do NO na região de pós-chama, ele também é parte

fundamental do mecanismo de formação na região de chama. A reação do NH2 com o

oxigênio molecular pode causar a formação direta do NO, conforme reação V.35, ou produzir

o radical HNO, conforme reação V.36, que posteriormente é convertido em NO pelas reações

V.39, V.40 e V.41.

NH2 + O2 → NO + H2O (V.35)

NH2 + O2 → HNO + OH (V.36)

NH + O2 → NO + OH (V.37)

NH + O2 → HNO + O (V.38)

HNO + M → NO + H + M (V.39)

HNO + OH → NO + H2O (V.40)

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HNO + H → NO + H2 (V.41)

Entretanto, o trabalho de Hack et al. (1982) mostrou que a rota de formação do NO a

partir da reação NH2 + O2 → ......... é um mecanismo secundário em relação ao mecanismo

iniciado pela reação do radical NH com oxigênio molecular, conforme as reações (V.37) e

(V.38), semelhante ao próprio mecanismo do NH2. O radical HNO formado também é

convertido em NO pelas reações (V.39), (V.40) e (V.41).

Assim as reações V.37 a V.41 representam o principal mecanismo formador de NO

proveniente da injeção direta de amônia na chama. No entanto, a importância do radical NH2

não pode ser descartada, pois o trabalho de Bian e colaboradores (1986) apontou que o

aparecimento de NH na chama ocorre em uma região onde NH3 não existe mais; sendo assim,

não se pode admitir uma conversão direta de NH3 para NH. Na verdade, o NH é formado pelo

ataque dos radicais H e OH sofrido pelo NH2 , conforme as reações (V.42) e (V.43):

NH2 + H → NH + H2 (V.42)

NH2 + OH → NH + H2O (V.43)

A ação da amônia nos mecanismos de formação e redução de NO, conforme discutido

anteriormente, pode ser resumida pela Figura V.30. No presente trabalho, o interesse maior é

reduzir a emissão de NOx; portanto, a injeção de NH3 não foi feita como dopante do

combustível, pois nessa situação sabe-se que a emissão de NOx aumenta, como mostram os

resultados experimentais de Martins (1998). Desta forma, a amônia em fase gasosa foi

injetada no fluxo de oxidante, antes de passar pelo queimador swirler e a 1,305 m a jusante do

queimador.

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Figura V.30 – Mecanismo de formação e redução do NO através da amônia.

V.12 – ANÁLISE TOMOGRÁFICA DE CHAMA

Além dos ensaios realizados no interior da fornalha, na presente tese ainda se realizou

uma análise visual de chamas não confinadas enriquecidas de diesel e GLP. O objetivo desses

ensaios foi levantar a presença dos radicais C2 e CH na chama e com esses dados caracterizar

o processo de mistura entre os reagentes. A descrição detalhada de como foi feita essa análise

está apresentada no capítulo VII. A presente seção se limita a descrever o sistema ótico

utilizado e o algoritmo de reconstrução tomográfica.

As chamas não confinadas foram obtidas para as mesmas configurações dos ensaios

feitos na câmara de combustão, ou seja, utilizando o queimador tipo “swirler”, o atomizador

Y, o injetor de GLP, as linhas de fluido e os sistemas de medida de vazão, descritos

anteriormente.

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V.12.1 – Sistema Ótico

A visualização da chama foi feita por meio de uma câmera CCD Marshall V-1070-

EIA, com resolução espectral de 400nm a 1100nm, com controle do tempo de exposição entre

1/10000 e 1/60 segundos. O sensor ótico da câmera possui 811 pixels na horizontal e 510 na

vertical, com sensibilidade mínima de 0,03 Lux. A área do sensor possui 7,95mm (horizontal)

x 508mm (vertical). Acoplado à câmera foi utilizada uma lente Fujinon CF50B, f/1.4, com

foco e abertura controlável, sendo a esta adicionados filtros de interferência nos

comprimentos de onda 515,40nm e 413,09nm, correspondentes aos comprimentos de onda da

emissão quimiluminescente dos radicais C2 e CH, respectivamente. A transmitância dos

filtros é 0,66 para o C2 e 0,55 para o CH. Quando foi o caso, o efeito da transmitância foi

corrigido no valor numérico em escala de cinza associado à intensidade luminosa captada por

cada pixel do CCD.

As imagens adquiridas pela câmera foram digitalizadas numa placa de aquisição de

imagens Matrox Meteor/RGB com capacidade de taxa de aquisição de até 42Mb/s, instalada

em um computador PC-Pentium 133mHz, 32Mb de memória. Os programas de aquisição de

imagens foram desenvolvidos em ambiente de programação específico para placa utilizada. O

resultado final da aquisição era uma imagem monocromática (em escala de cinza) média de

200 imagens adquiridas em sequência. A Figura V.31 apresenta um esquema da montagem do

sistema óptico.

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Figura V.31- Esquema da montagem experimental para visualização da chama.

V.12.2 – Algoritmo de Reconstrução Tomográfica

Na análise visual, considera-se que a projeção da chama vista pela câmera de

aquisição de imagem representa a integração da chama. O objetivo da reconstrução

tomográfica é o processo inverso, ou seja, obter o perfil que, quando integrado numa

revolução de 2π radianos, origina a projeção observada. A Figura V.32 apresenta um esquema

deste procedimento.

A reconstrução tomográfica empregada segue o algoritmo desenvolvido em ambiente

MATLAB por Souza (1998). Tal modelo é aplicável a objetos axissimétricos e considera que

cada pixel da câmera CCD integra a radiação emitida pela chama a partir de um caminho

ótico conhecido, conforme o esquema da Figura V.33. Em outras palavras, o modelo admite

que as dimensões do CCD são da mesma ordem de grandeza do objeto.

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Figura V.32 – Reconstituição axissimétrica da chama.

Figura V.33 – Reconstrução tomográfica.

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A Figura V.34 ilustra a técnica de reconstrução tomográfica, pi representa os pixels de

uma linha da imagem integrada obtida pela câmara e ri os pixels da imagem reconstruída para

essa linha. O princípio básico utilizado pelo modelo considera que em cada raio a radiação

emitida é constante e igual. Assim, a intensidade luminosa no perfil central pode ser

conhecida da periferia para o interior. A reconstrução do pixel da periferia r1 é dada pela

divisão do pixel p1 pelo dobro da área a11. Conhecendo r1 e a21 e a22 calcula-se r2: r2 = (p2 –

a21.r1)/a22, e assim consecutivamente. Os valores das áreas aij são obtidos através de

correlações geométricas.

Figura V.34 – Ilustração da técnica de reconstrução tomográfica.

Como é conhecida a dimensão de cada pixel do CCD e o número de colunas da

imagem obtida pela câmera, o algoritmo constrói uma matriz de áreas A com dimensão nxn

(devido à axissimetria), onde n é o número de colunas dessa imagem obtida pela câmara

(correspondente ao número de pixels de cada linha da imagem). Em seguida, o algoritmo

relaciona essa matriz com o vetor P que representa os pixels da linha a ser reconstruída da

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imagem original, através da relação V.44. Assim, se obtém o vetor r que representa a linha

reconstruída.

2.[A].[r] = [P] (V.44)

A resolução do sistema de equações é direto e envolve pouco esforço computacional,

pois a matriz A é triangular inferior.

Antes da reconstrução propriamente dita da imagem obtida, esta passa por alguns

tratamentos. Mesmo que aquisição possa ter sido realizada em boas condições é possível a

existência de ruído na imagem, o que traria efeitos indesejáveis na reconstrução. Desta forma,

antes de qualquer passo a imagem sofre a ação de um “filtro” para remoção dos ruídos. Esse

filtro, medfit2, encontra-se disponível na “Toolbox Image Processing” do programa

MATLAB. A remoção é feita comparando o valor do pixel com os da sua vizinhança, se

houver discrepância a correção é feita se atribuindo a esse pixel o valor médio entre seus

vizinhos.

Como a chama é considerada axissimétrica, é necessário se conhecer uma das metades

da imagem reconstruída. Desta forma, o programa apresenta apenas a metade esquerda, a

partir do eixo de simetria da chama. Normalmente, este eixo de simetria da chama não

corresponde ao eixo de centro da imagem, em função do posicionamento da câmera em

relação à chama. O eixo de simetria da chama passaria pelo centro de “massa” da mesma,

sendo a massa representada pela intensidade dos pixels. Apesar do fundo da imagem ser

aparentemente negro, a intensidade luminosa (quantificada em escala de cinza) dos pixels de

regiões onde não há a presença da chama nem sempre apresentam o valor zero, alterando o

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cálculo do centro de massa da figura que representaria a chama integrada. Para resolver esse

problema, o programa utiliza a função im2bw, também disponível na “Toolbox Image

Processing” do programa MATLAB, que converte a zero qualquer valor de pixel abaixo de

um valor pré determinado e a um quando for acima desse valor. Desta forma, determina-se o

centro de massa da figura e o eixo de simetria da chama. Após o tratamentos citados, inicia-se

o processo de reconstrução da imagem. A Figura V.35 apresenta uma imagem obtida pela

câmara e sua reconstrução tomográfica pelo programa desenvolvido por Souza (1998),

descrito nesse capítulo.

Figura V.35 – Exemplo de reconstrução de imagem utilizando o algoritmo de Souza (1998).

Além do próprio trabalho desenvolvido por Souza (1998), a aplicação desse algoritmo

em combustão ainda pode ser vista nos trabalhos de Costa et al. (1998), Caldeira Pires et al.

(1999) e Lacava et al. (1999).

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CAPÍTULO VI

RESULTADOS E DISCUSSÕES

VI.1 – OBSERVAÇÕES GERAIS

Este capítulo tem como objetivo descrever e comentar os resultados alcançados nos

ensaios desenvolvidos. Tais resultados são apresentados na forma de tabela ou gráfico para

melhor ilustrar o comportamento das variáveis envolvidas no processo de incineração de

resíduos líquidos aquosos utilizando ar enriquecido com oxigênio como oxidante. Mesmo

para as circunstâncias onde resultados positivos não foram alcançados, em termos de aumento

da taxa de incineração ou emissão de poluentes, alguns comentários pertinentes também

foram elaborados, visto que um dos objetivos deste trabalho é caracterizar diversas condições

de enriquecimento do oxidante visando futuras implementações práticas.

Os ensaios foram executados com o objetivo de determinar a capacidade de aumentar

a taxa de incineração, definida como sendo a razão entre a vazão mássica de resíduo (mres) e a

vazão mássica de combustível (mf), quando se aumenta a concentração de oxigênio no

oxidante acima dos 21% do ar atmosférico. Além de determinar a capacidade do aumento da

taxa de incineração, foram investigadas as condições experimentais favoráveis para minimizar

a emissão de poluentes, sobretudo o NOx, por ser um dos fatores limitantes para utilização de

chamas enriquecidas.

Alguns ensaios preliminares, sem a injeção de resíduo e oxigênio puro, foram

realizados com intuito de avaliar a relevância da atomização do combustível e do número de

swirl, principalmente na emissão de gases. Assim, foi possível desvincular as influências

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desses parâmetros de operação do queimador dos processos de injeção de resíduo e

enriquecimento.

Também estabeleceu-se uma condição padrão de operação da câmara, ou seja, um

conjunto de dados operacionais que se assemelham aos das câmaras de incineração, mas

adequados às condições laboratoriais e com o oxidante sendo somente ar. Desta forma, o

aumento da taxa de incineração e emissão de gases poluentes são avaliados em comparação

com a condição padrão estabelecida. Os ensaios foram divididos em:

1) influência do número de “swirl” (queimando diesel);

2) influência das condições de atomização (queimando diesel);

3) condição padrão de operação (queimando diesel);

4) enriquecimento com oxigênio injetado na linha de ar (queimando diesel);

5) controle da emissão de NOx pelo número de “swirl” (queimando diesel);

6) controle da emissão de NOx pelas condições de atomização (queimando diesel);

7) combustão estagiada (queimando diesel);

8) atomização com oxigênio (queimando diesel);

9) posição do injetor de combustível.

10) enriquecimento com oxigênio injetado na linha de ar (queimando GLP);

11) controle da emissão de NOx pelo número de “swirl” (queimando GLP);

12) controle da emissão de NOx pela injeção de amônia (queimando GLP);

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Neste capítulo, além dos resultados obtidos diretamente de medidas realizadas no

experimento, também são apresentados alguns parâmetros obtidos a partir dos dados

experimentais, com intuito de facilitar as discussões e observações pertinentes aos

experimentos.

A maior parte dos ensaios foi organizada na Tabela VI.1 e os resultados relevantes são

apresentados e discutidos ao longo das seções deste capítulo. As células da Tabela VI.1 cujo

valor está em negrito, representam o(s) principal(is) parâmetro(s) variado(s) durante cada

grupo de ensaios.

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Tabela VI.1- Condições dos ensaios.

no

%O2 no oxidante

mdiesel

[g/s] mGLP

[g/s] mar/atm/f

[g/s] mox/atm/f

[g/s] mar/comb

[g/s] mox/comb

[g/s] mres

[g/s] mar/atm/res

[g/s] mox/atm/res

[g/s] mNH3

[g/s] b %

αo

1 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 15 2 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 40 3 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 4 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 55 5 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 60 6 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 65 7 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 70 8 21,00 2,50 0 0,20 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 9 21,00 2,50 0 0,25 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 10 21,00 2,50 0 0,30 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 11 21,00 2,50 0 0,35 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 12 21,00 2,50 0 0,40 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 13 21,00 2,50 0 0,45 0 47,70 0 0 0 0 0 29,00 50 14 21,00 3,11 0 0,45 0 52,74 0 0 0 0 0 14,40 40 15 21,00 3,11 0 0,45 0 51,74 0 10,00 1,00 0 0 14,40 40 16 24,98 3,11 0 0,45 0 42,00 2,55 12,25 1,00 0 0 17,00 40 17 29,96 3,11 0 0,45 0 31,87 4,71 14,07 0,89 0 0 14,94 40 18 35,34 3,11 0 0,45 0 24,66 6,39 15,87 0,88 0 0 14,92 40 19 41,68 3,11 0 0,45 0 18,35 7,72 16,67 0,85 0 0 13,54 40 20 50,85 3,11 0 0,45 0 12,46 9,23 18,62 0,80 0 0 14,71 40 21 62,27 3,11 0 0,45 0 7,33 10,35 18,93 0,75 0 0 13,93 40 22 74,09 3,11 0 0,45 0 3,68 11,12 19,37 0,76 0 0 13,20 40 23 92,32 3,11 0 0,45 0 0 11,81 20,62 0,73 0 0 14,39 40 24 100,00 3,11 0 0 0,45 0 11,25 21,12 0 0,80 0 14,95 40

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no

%O2 no oxidante

mdiesel

[g/s] mGLP

[g/s] mar/atm/f

[g/s] mox/atm/f

[g/s] mar/comb

[g/s] mox/comb

[g/s] mres

[g/s] mar/atm/res

[g/s] mox/atm/res

[g/s] mNH3

[g/s] b %

αo

25 50,56 3,11 0 0,45 0 12,62 9,28 18,62 0,85 0 0 15,20 40 26 50,56 3,11 0 0,45 0 12,62 9,28 18,62 0,85 0 0 15,20 50 27 50,56 3,11 0 0,45 0 12,62 9,28 18,62 0,85 0 0 15,20 60 28 50,56 3,11 0 0,45 0 12,62 9,28 18,62 0,85 0 0 15,20 70 29 50,94 3,11 0 0,45 0 12,47 9,28 18,62 0,79 0 0 15,18 40 30 51,01 3,11 0 0,40 0 12,47 9,28 18,62 0,79 0 0 15,08 40 31 51,08 3,11 0 0,35 0 12,47 9,28 18,62 0,79 0 0 14,97 40 32 51,22 3,11 0 0,25 0 12,47 9,28 18,62 0,79 0 0 14,75 40 33 51,36 3,11 0 0,15 0 12,47 9,28 18,62 0,79 0 0 14,54 40 34 43,46 3,11 0 0,45 0 19,57 9,28 15,00 0,82 0 0 30,52 40 35 44,14 2,40 0,645 0,35 0 19,02 9,28 15,00 0,83 0 0 31,61 40 36 45,25 1,70 1,280 0,25 0 17,80 9,28 15,00 0,85 0 0 31,00 40 37 44,21 1,10 1,930 0,15 0 19,11 9,28 15,00 0,85 0 0 31,46 40 38 42,33 3,11 0 0,45 0 21,35 9,28 15,00 0,82 0 0 34,35 40 39 42,33 3,11 0 0,45 0 21,35 9,28 15,00 0,82 0 0 34,35 40 40 24,92 3,11 0 0,45 0 47,89 2,85 10,50 1,00 0 0 32,47 40 41 24,95 3,11 0 0 0,49 47,75 2,35 10,55 1,00 0 0 31,11 40 42 21,00 0 2,91 0 0 49,62 0 11,30 0,90 0 0 14,93 40 43 25,36 0 2,91 0 0 38,54 2,55 13,40 0,87 0 0 14,56 40 44 30,87 0 2,91 0 0 29,21 4,75 15,10 0,80 0 0 14,65 40 45 43,35 0 2,91 0 0 16,88 7,72 17,62 0,77 0 0 15,53 40 46 54,99 0 2,91 0 0 10,27 9,23 19,20 0,75 0 0 15,19 40 47 80,30 0 2,91 0 0 2,60 11,12 20,52 0,73 0 0 16,15 40 48 31.06 0 2,87 0 0 28,53 4,75 15,10 0,82 0 0 14,72 0 49 31,07 0 2,87 0 0 28,51 4,75 15,10 0,82 0 0 14,68 10 50 31,08 0 2,87 0 0 28,46 4,75 15,10 0,82 0 0 14,57 20 51 31,02 0 2,87 0 0 28,68 4,75 15,10 0,82 0 0 15,07 30 52 31,18 0 2,87 0 0 28,16 4,75 15,10 0,80 0 0 13,83 40

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125

no

%O2 no oxidante

mdiesel

[g/s] mGLP

[g/s] mar/atm/f

[g/s] mox/atm/f

[g/s] mar/comb

[g/s] mox/comb

[g/s] mres

[g/s] mar/atm/res

[g/s] mox/atm/res

[g/s] mNH3

[g/s] b %

αo

53 31,17 0 2,87 0 0 28,18 4,75 15,10 0,80 0 0 13,87 50 54 31,12 0 2,87 0 0 28,36 4,75 15,10 0,80 0 0 14,29 60 55 31,08 0 2,87 0 0 28,50 4,75 15,10 0,80 0 0 14,61 70 56 30,96 0 2,90 0 0 28,93 4,75 15,10 0,79 0 0 14,38 40 57 30,82 0 2,92 0 0 29,39 4,75 15,10 0,79 0 0,13 14,64 40 58 30,83 0 2,92 0 0 29,37 4,75 15,10 0,79 0 0,18 14,60 40 59 30,85 0 2,90 0 0 28,14 4,75 15,10 0,79 0 0,31 15,25 40 60 30,79 0 2,92 0 0 29,51 4,75 15,10 0,79 0 0,44 14,91 40 61 30,88 0 2,91 0 0 29,21 4,75 15,10 0,79 0 0,57 14,63 40 62 30,05 0 2,91 0 0 29,26 4,75 15,10 0,79 0 0,70 14,74 40 63 30,82 0 2,91 0 0 29,37 4,75 15,10 0,81 0 0 15,04 40 64 30,77 0 2,91 0 0 29,58 4,75 15,10 0,80 0 0,13 15,49 40 65 30,85 0 2,91 0 0 29,29 4,75 15,10 0,80 0 0,18 14,83 40 66 30,84 0 2,91 0 0 29,31 4,75 15,10 0,82 0 0,31 14,92 40 67 30,84 0 2,91 0 0 29,32 4,75 15,10 0,81 0 0,44 14,92 40 68 30,84 0 2,91 0 0 29,33 4,75 15,10 0,78 0 0,57 14,88 40 69 30,86 0 2,91 0 0 29,25 4,75 15,10 0,79 0 0,70 14,72 40

Obs: mdiesel = vazão de diesel, mGLP = vazão de GLP, mar/atm/f = vazão do ar de atomização do combustível, mox/atm/f = vazão do oxigênio de atomização do combustível, mar/comb = vazão do ar de combustão, mox/comb = vazão do oxigênio de combustão, mres = vazão de resíduo, mar/atm/res = vazão do ar de atomização do resíduo, mox/atm/res = vazão do oxigênio de atomização do resíduo, mNH3 = vazão de amônia, b = excesso de oxidante normalizado, αo = ângulo entre as pás do swirler.

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126

VI.2 – ENSAIOS COM DIESEL

Nesta seção, foram relacionados os ensaios utilizando diesel como combustível. As

subseções estão organizadas de acordo com o tipo e a finalidade de cada grupo de ensaio.

VI.2.1 – Sem Injeção de Resíduo e Sem Enriquecimento

O objetivo desses ensaios foi caracterizar a situação experimental onde a geometria da

chama é influenciada somente pelos parâmetros operacionais do queimador, ou seja, pelo

número de “swirl” e pelas condições de atomização. Desta forma, foi possível desacoplar

esses efeitos dos decorrentes da injeção de resíduo e do enriquecimento.

A vazão de combustível e o excesso de ar foram mantidos em 2,50 g/s e 29%,

respectivamente, para que as temperaturas ao longo da câmara fossem compatíveis com a

faixa de operação dos termopares. Nos ensaios com injeção de resíduo, vazões mais elevadas

de combustível e excessos de oxidante menores puderam ser estabelecidos, visto que, o

controle de temperatura é feito pela injeção de resíduo.

VI.2.1.1 – Variação do Número de “Swirl”

A variação do número de “swirl” (S’) foi feita apenas alterando o ângulo entre as pás

do “swirler” (α), visto que as vazões do escoamento primário (combustível) e secundário (ar

de combustão) foram mantidas constantes. A Figura VI.1 apresenta a variação de S’ com o

ângulo α, calculado como apresentado no capítulo V e utilizando as condições dos ensaios. O

limite de chama estável, que corresponde ao valor mínimo de S’ para que não ocorra “blow

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127

out”, ou seja, a chama ser carreada pelo escoamento, ocorre para α = 15o, ou S’= 0,264. Os

resultados apresentados nesta subseção correspondem aos ensaios de número 1 a 7 da Tabela

VI.1.

A Figura VI.2 apresenta o comportamento da emissão de NOx em função do número

de “swirl”, para as amostragens de gases feitas em 994 e 227 litros. As curvas da figura

mostram comportamentos qualitativos e quantitativos bastante semelhantes para as emissões

de NOx em ambos pontos de amostragem, indicando que a maior parte do NOx é formado na

região de chama e não ao longo da câmara. Isso se deve principalmente à queda de

temperatura dos gases de combustão em função da transferência de calor para a parede da

câmara, após a região de chama. A temperatura obtida na saída da câmara foi em torno de

850oC, após o tempo de residência de 5 segundos.

0 10 20 30 40 50 60 70

Ângulo entre pás [ ]

0

1

2

3

4

5

6

7

8

mero

de

sw

irl -

S'

limite de chama estável

o

Figura VI.1 – Relação do ângulo entre as pás do “swirler” com número de “swirl”, para as

condições: mf = 2,5g/s, mar/atm/f = 0,40g/s e mar/comb = 47,7g/s.

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128

0 1 2 3 4 5 6 7 8

S'

60

65

70

75

80

85

90

95

100

105

110

115

120

NO

x [p

pm

]

Amostragem para o volume de 994 litros

(a)

0 1 2 3 4 5 6 7 8

S'

60

65

70

75

80

85

90

95

100

105

110

115

120

NO

x [p

pm

]

Amostragem para o volume de 227 litros

(b)

Figura VI.2 - Comportamento da emissão de NOx em função do número de “swirl”: (a)

amostragem dos gases feita a 994 litros e (b) amostragem dos gases feita a 227 litros.

O comportamento da emissão de NOx observado na Figura VI.2 está atrelado às

interações existentes entre o processo de vaporização das gotas do spray com a estrutura da

zona de recirculação. Basicamente, a combustão de sprays com a presença de uma zona de

recirculação interna (ZRI), gerada pela presença do “swirler” no escoamento do ar oxidante,

segue as observações experimentais feitas por Ballester e Dopazo (1994). O spray é injetado

diretamente na ZRI, com as gotas mantendo-se concentradas ao longo do cone formado pelo

spray. As gotas passam a ser aquecidas pela radiação proveniente da chama e das paredes da

câmara, além de uma combinação de convecção e condução devido aos gases quentes

retornados da chama que são carreados para ZRI. Desta forma, as gotas evaporam e são

desaceleradas ao longo de suas trajetórias a uma taxa que depende do tamanho de cada uma.

Gotas com menor diâmetro, tendem a seguir o escoamento reverso e evaporam quase

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129

instantaneamente (diâmetro inferior a 30µm (Kawahara et al., 1996)), suprindo as condições

de ignição e ancorando a chama próxima ao queimador. Por outro lado, as gotas maiores

possuem quantidade de movimento suficiente para atravessar o escoamento reverso e terão

sua vaporização completa a jusante da ZRI. No entanto, parte da vaporização ocorre ainda na

ZRI, resultando em uma região de alta geração de vapor e apenas uma limitada quantidade de

oxigênio sendo suprida do escoamento de ar que envolve o spray, caracterizando uma região

de combustão rica com altas concentrações de hidrocarbonetos não queimados e CO. À

medida que se fortalece a região de recirculação, aumentando S’, grande parte da vaporização

das gotas acaba sendo confinada nessa região (Barreiros et al., 1993).

A Figura VI.3 apresenta fotografias do primeiro visor da câmara (centro do visor a

18cm do queimador) para chamas em três condições de número de “swirl”. Para S’= 0,264 (α

= 15o) não é possível visualizar a influência da ZRI na estrutura da chama. No entanto, sua

atuação se faz presente, visto que, para S’ inferiores a esse valor não foi possível estabilizar a

chama. As fotografias ainda mostram que à medida que S’ aumenta, a tendência da chama é

se concentrar mais próxima ao queimador. Isto também pode ser comprovado pelo

comportamento da temperatura medida pelo termopar 1, posicionado 18cm a jusante do

queimador (Figura VI.4). O aumento da temperatura, com o aumento do número de “swirl”,

mostra que há uma maior liberação de energia proveniente das reações de combustão nas

proximidades do queimador.

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130

a) S’= 0,264 b) S’= 1,763 c) S’= 7,637

Figura VI.3 - Fotografias da chama a 18cm do queimador para diferentes valores de S’.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

S'

850

900

950

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

Tem

pe

ratu

ra a

18cm

do q

ue

ima

do

r [

C]

o

Figura VI.4 - Comportamento da temperatura medida pelo termopar posicionado a 18cm do

queimador, com a variação do número de “swirl”.

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131

Apesar do aumento de temperatura na região próxima ao queimador, devido a redução

do comprimento da chama e confinamento da vaporização das gotas na ZRI, quando S’

aumenta, a combustão acaba acontecendo sob condições ricas e os gases de combustão

apresentam alto teor de hidrocarbonetos não queimados e CO. A Figura VI.5 mostra o

aumento da porcentagem de CO nos gases de combustão logo após a região de chama. No

entanto, a jusante da ZRI tais compostos de oxidação parcial reagem com o oxigênio presente

em alta concentração. Na saída da câmara, a porcentagem de CO nos gases de combustão

manteve-se próxima a zero (< 0,02%) para qualquer valor de S’, demostrando que o tempo de

residência em torno de 5 segundos foi suficiente para mistura dos gases provenientes das

reações da ZRI com o oxigênio remanescente e que as reações de oxidação foram finalizadas.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

S'

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

%C

O

Amostragem para o volume de 227 litros

Figura VI.5 - Comportamento da porcentagem de CO com S’. Amostragem dos gases de

combustão feita para o volume da câmara de 227 litros (1,225m do queimador).

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132

Comparando as curvas (a) e (b) da Figura VI.2, percebe-se que a maior parte do NOx é

formado na região de chama. Sabe-se que a formação de NO por meio do mecanismo

reacional térmico, ou de Zeldovich, é predominantemente na região de pós–chama, em virtude

das reações de tal mecanismo serem lentas quando comparadas com as reações de oxidação

dos hidrocarbonetos. Além disso, o mecanismo térmico é extremamente dependente de

elevada temperatura, acima de 1500oC, em função da elevada energia de ativação das reações

envolvidas. A dependência da taxa de formação de NO com a temperatura e com as

concentrações de O2 e N2 está representada na equação (VI.1) (Glarborg, 1993).

].[N]/T).[O67650(.10.3,1dt

d[NO]2

2/12

5 −= exp . (VI.1)

Em função das observações feitas para a Figura VI.2 é bastante razoável considerar

que uma boa parte do NO é formado através do mecanismo “prompt”, onde há o

envolvimento de radicais intermediários do mecanismo reacional de oxidação dos

hidrocarbonetos. Em chamas de hidrocarbonetos ricas, considera-se que a principal fonte de

NO é a fixação do nitrogênio atmosférico (N2) por hidrocarbonetos fragmentados, em reações

como (Syska, 1993):

CH + N2 = HCN + N , (VI.2)

CH2 + N2 = HCN + NH . (VI.3)

O nitrogênio proveniente da reação (VI.2) ainda pode participar da reação rápida:

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133

N + OH = NO + H . (VI.4)

Contudo, os outros produtos, HCN e NH, serão parcialmente convertidos em N2 em

temperaturas acima de 1100oC. Ainda para o caso de chamas ricas, o NO pode ser convertido

em N2 através da reação intermediária (VI.5), que converte o NO em HCN, sendo este último

finalmente reduzido a N2. Spliethoff et al. (1996) também relataram, para queima de carvão

pulverizado, que o aumento de temperatura em regiões ricas acelera a taxa de decomposição

dos compostos nitrogenados, diminuindo a emissão de NOx.

CH + NO = HCN + O . (VI.5)

A interpretação para o comportamento do NOx pode ser dada como segue: como

observado na fotografia (a) da Figura VI.3, para o S’ baixo, o jato cruza a fraca região de

recirculação e as gotas acabam vaporizando em regiões com alta concentração de oxigênio, o

que é fundamental para formação do NO. Aumentando-se S’, a ZRI é fortalecida, confinando

a vaporização das gotas na ZRI rica. Isto resulta em uma progressiva redução da conversão do

nitrogênio para NO.

Apesar dos comentários feitos sobre redução do NO no mecanismo “prompt”, não se

pode descartar que flutuações locais de temperatura (que não podem ser detectadas pelos

termopares utilizados) e concentrações de superequilíbrio de O e OH em algumas regiões da

chama possam acelerar a taxa de reação das reações (VI.6) e (VI.7) do mecanismo de

Zeldovich.

N2 + O = NO + N (VI.6)

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134

N + OH = NO + H (VI.7)

Assim, o aumento de temperatura na região próxima ao queimador pode favorecer a

formação do NOx térmico, explicando o fato de que à medida que S’ vai aumentando, a sua

eficiência na redução da emissão de NOx vai diminuindo. Ou seja, à medida que S’ aumenta a

vaporização das gotas em regiões ricas diminui a formação do NOx “prompt”, por outro lado

eleva a temperatura na região próxima ao queimador, podendo favorecer a formação do NOx

térmico. Os valores de temperatura apresentados na Figura VI.4 estão longe de representar a

distribuição de temperatura na chama, mas indicam a tendência da mesma.

O comportamento observado para o NOx em função de S’, está de acordo com os

resultados experimentais de Barreiros et al. (1993) para queima de óleo pesado. Para os

números de swirl 0,6, 0,9, e 1,3, a emissão de NOx foi 400, 150 e 100ppm, respectivamente.

Também observaram que a eficiência na redução da emissão de NOx diminui com aumento de

S’ e que temperatura também aumentou na região de chama. Para o caso da queima de óleo

pesado, também está presente a formação de NO devido ao nitrogênio contido no

combustível. No entanto, Barreiros et al. observaram que o comportamento do NO

proveniente do combustível, frente a presença da ZRI, é o mesmo observado para o NOx

“prompt”.

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135

VI.2.1.2 – Variação da Razão de Atomização

A razão de atomização (ratm) é definida como sendo a razão entre as vazões mássicas

do fluido de atomização e do combustível.

f

fatmaratm m

mr //= . (VI.8)

A figura VI.6 mostra o comportamento das temperaturas medidas a 18 e 70cm a

jusante do queimador em função da razão de atomização, para as ensaios de 8 a 13 da Tabela

VI.1. À medida que ratm aumenta, as gotas formadas pelo spray diminuem e, como

consequência, passam a ter vaporização completa mais rapidamente. A relação entre o tempo

de vaporização de uma gotícula de combustível e seu diâmetro é conhecida como lei “d2”,

dada por (Glassman, 1987):

tdd v2

02

.β−= , (VI.9)

onde: d é o diâmetro instantâneo da gota, d0 o diâmetro inicial, βv o coeficiente de

vaporização do combustível e t o tempo. Assim, o tempo de vaporização depende do

quadrado do diâmetro; por exemplo, a redução do diâmetro de uma gota de 100 para 30µm

representa um diminuição de onze vezes no seu tempo de vaporização. No capítulo V, a

Figura V.27 apresenta o diâmetro médio das gotas do spray em função da razão de

atomização para a vazão 2,5g/s de diesel.

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136

As características da combustão do spray de combustível podem influenciar a

temperatura na região de chama, pois as gotas menores, com tempo de vaporização baixo,

misturam rapidamente com o ar, criando na chama regiões de queima que se assemelham à

combustão de uma chama pré-misturada, onde obtêm-se temperaturas mais elevadas (Rink e

Lefebvre, 1989). Desta forma, espera-se que com o aumento da razão de atomização a

temperatura na região de chama também aumente, tal qual como observado na Figura VI.6.

0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20

r

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

Te

mpera

tura

[ C

]

o

atm

T1 - 18cm

T2 - 70cm

Figura VI.6 – Comportamento das temperaturas medidas pelos termopares 1 e 2, posicionados

a 18 e 70 cm a jusante do queimador, em função da razão de atomização.

O aumento da razão de atomização pode ter consequências negativas para emissão de

NOx, pois, além de propiciar o aumento da temperatura média na zona de chama, pode criar

regiões com temperatura extremamente elevada, devido a uma melhora local na qualidade da

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137

mistura. Pershing et al. (1978) observaram que a diminuição do tamanho das gotas aumentou

o NOx térmico em chamas de óleo residual. O aumento do NOx para gotas pequenas foi

atribuído ao incremento da intensidade de combustão na região primária da chama (próximo

ao queimador). A Figura VI.7 apresenta o comportamento da emissão de NOx em função da

razão de atomização para medidas feitas na saída da fornalha.

0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20

r

40

50

60

70

80

90

100

110

NO

x [p

pm

]

atm

Figura VI.7 – Comportamento da emissão de NOx (saída da câmara) em função da razão de

atomização, para as condições dos ensaios de 8 a 13 da Tabela VI.1.

As figuras VI.6 e VI.7 mostram que os resultados obtidos seguem as observações

feitas por Pershing et al., pois com a diminuição do tamanho das gotas incrementou-se a

intensidade de combustão, visto o aumento da temperatura na região primária da chama,

medida pelo termopar T1, posicionado a 18 cm a jusante do queimador.

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138

Sarv e Cernansky (1989) confirmaram os resultados de Pershing et al. e apontaram

que a situação torna-se mais crítica para emissão de NOx à medida que se caminha para as

condições de estequiométrica ou ligeiramente pobre, devido a facilidade de penetração do

oxidante no spray, com a diminuição do tamanho das gotas. Por outro lado, observaram que

para condições extremamente pobres o tamanho das gotas tem influência menor na emissão

de NOx, em função da abundância de oxidante na região de chama. Lyons (1982) apresentou

resultados teóricos e experimentais sobre a influência da qualidade da mistura na formação de

NOx, para combustão do querosene com ar em diversas razões de equivalência. Os resultados

apontaram que para excessos de oxidante abaixo de 33% o aumento da qualidade da mistura

propicia maiores emissões de NOx.

A emissão de CO na saída da câmara permaneceu próxima a zero (< 0,02%) para

todas as razões de atomização ensaiadas. No entanto, a conversão completa do CO para CO2

necessita de um maior volume à medida que se diminui a razão de atomização, em função da

dificuldade de penetração do oxigênio no spray, devido a presença de gotas maiores. A Figura

VI.8 apresenta o comportamento da emissão de CO em função da razão de atomização para as

medidas feitas pela sonda posicionada no volume de câmara de 227 litros. É evidente que o

aumento na qualidade da atomização irá propiciar uma concentração menor de CO na região

pós-chama. Assim, para minimizar a emissão de NOx através do controle da qualidade de

mistura é preciso atentar para que haja tempo de residência suficiente para a conversão de

CO em CO2.

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139

0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20

r

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

%C

O

atm

Figura VI.8 – Comportamento da emissão de CO (volume de 227 litros) em função da razão

de atomização, para as condições dos ensaios de 8 a 13 da Tabela 6.1.

IV.2.2 – Condição Padrão de Operação

O enriquecimento do ar com oxigênio ocasiona mudanças em diversos parâmetros de

operação da câmara, como: vazões, distribuição de temperatura, nível de turbulência, número

de swirl, emissão de gases e taxa de incineração. Desta forma, estabeleceu-se uma condição

padrão de operação da câmara para se quantificar as alterações devido ao enriquecimento.

Uma série de ensaios preliminares foi realizada tentando balancear os critérios:

1) Potência e excesso de ar compatíveis com as temperaturas suportadas pelos termopares.

2) Elevada eficiência de combustão (baixa emissão de CO).

3) Baixo consumo de oxigênio (minimização do custo dos ensaios).

4) Simulação de condições industriais em escala laboratorial.

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140

A condição resultante desses ensaios preliminares foi estabelecida como padrão de

operação, corresponde ao ensaio número 15 da Tabela VI.1. A Tabela VI.2 apresenta maiores

detalhes.

Tabela VI.2 – Parâmetros da condição padrão de operação para diesel.

Vazão de combustível (mf) 3,11 g/s

Vazão de ar de combustão (mar/comb) 51,74 g/s

Vazão de ar de atomização do combustível (mar/atm/f) 0,45 g/s

Vazão de resíduo (mres) 10,00 g/s

Vazão de ar de atomização do resíduo (mar/atm/res) 1,00 g/s

Vazão total (mt) 66,30 g/s

Potência gerada (Pot) 133,55 kW

Temperatura na saída da câmara (T8) 757 oC

Tempo de residência (tres) 4,18 seg

Excesso de oxidante (b) 14,40 %

Número de swirl (S’) 1,00

Número de Reynolds da câmara (Rec) 3113

Alguns dos parâmetros apresentados na Tabela VI.2 não seguem fielmente os valores

normalmente utilizados nas unidades de incineração. Em geral, os parâmetros operacionais de

uma câmara de incineração são ajustados para propiciar o mínimo teor de CO nos gases, por

ser o fator que melhor indica a eficiência do processo de incineração, em virtude da facilidade

de sua medida e por estar relacionado com a qualidade da mistura no interior da câmara.

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141

Assim, parâmetros como número de Reynolds, número de swirl, excesso de oxidante e tempo

de residência são combinados com intuito de minimizar a emissão de CO.

A Tabela VI.3 apresenta a análise de gases na saída da câmara para as situações onde

o resíduo é injetado ou não (ensaio 14 da Tabela VI.1), percebendo-se que a emissão de CO é

baixa (> 0,02%). A eficiência do processo pode ser atribuída ao elevado tempo de residência

da câmara, visto que a porcentagem de CO medida pela sonda inferior (227 litros) foi de 1,53

% para situação de injeção de resíduo, ou seja, houve tempo suficiente para que o CO

proveniente da região de chama e o oxigênio remanescente se misturassem e reagissem

formando CO2.

Tabela VI.3 – Emissão de gases na saída da câmara para a condição padrão de operação com

e sem injeção de resíduo

%O2 %CO2 %CO NOx [ppm]

Com resíduo 2,84 ± 0,06 13,21 ± 0,05 > 0,02 60,64 ± 0,70

Sem resíduo 2,80 ± 0,07 13,27 ± 0,06 > 0,02 86,54 ± 1,58

A injeção de resíduo causa uma redução na emissão de NOx em cerca de 30% em

relação à situação sem injeção. Tal fato ocorre em virtude da queda de temperatura ao longo

da câmara, principalmente na região de chama que, conforme já discutido, é a região

responsável pela maior parte do NOx formado. A Figura VI.9 apresenta a distribuição de

temperatura ao longo da câmara para ambas situações.

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142

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

Distância axial [m]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

Com injeção de resíduo

Sem injeção de resíduo

Figura VI.9 – Distribuição de temperatura ao longo da câmara para condição padrão de

operação utilizando diesel como combustível, com e sem injeção de resíduo (perfil de

medidas na linha de centro).

O resíduo é injetado a 32cm a frente do queimador, ou seja, entre os termopares 1 e 2

(14cm acima do termopar 1 e 38cm abaixo do termopar 2). Como a injeção não é feita

diretamente sobre a chama, o spray de resíduo não chega a apaga-lá. No entanto, há

transferência de calor da chama para as gotas de resíduo, o que acaba diminuindo a

temperatura na região de chama, como pode ser observado comparando as curvas da Figura

VI.9. Após o termopar 3 (1,05m do queimador) já não há mais a presença visual nem da

chama nem do spray de resíduo. Assim, a câmara de combustão pode ser dividida em duas

regiões, em função dos processos predominantes: primária, entre o queimador e o termopar 3,

correspondendo a região de presença da chama, injeção de resíduo, vaporização e mistura do

resíduo com os gases de combustão; secundária, entre o termopar 3 e a saída câmara, região

de transferência de calor dos gases provenientes da região primária para parede da câmara.

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143

Normalmente, as normas relacionadas com os processos de incineração estabelecem

que os gases devem permanecer pelo menos 2 segundos em temperaturas acima de 850 oC. A

temperatura na saída da câmara foi adotada como sendo 757 oC, para a que a distribuição de

temperatura no interior da câmara fosse compatível com o limite de operação dos termopares

instalados. A temperatura de 850 oC é atingida nas proximidades do termopar 7 (conforme a

Figura VI.9), posicionado 3m a jusante do queimador, correspondendo a um tempo de

residência próximo a 3 segundos. Desta forma, mesmo a temperatura na saída da câmara

sendo inferior a 850 oC, as condições mínimas necessárias de incineração foram atingidas nos

ensaios.

VI.2.3 – Ensaios Com Chamas Enriquecidas

Variou-se a porcentagem de oxigênio no oxidante desde 21% (ar atmosférico) até

100% (oxigênio puro). O oxigênio foi injetado na linha de ar antes do queimador, por ser a

condição mais simples para adaptação de um sistema de combustão convencional em

combustão enriquecida. Além disso, a injeção de oxigênio antes da passagem pelo “swirler”

garante uma mistura homogênea no oxidante. Os resultados apresentados nesta subseção são

referentes os ensaios 15 a 24 da Tabela VI.1. A vazão de combustível foi mantida em 3,11g/s

e as vazões de ar de combustão, ar de atomização do combustível, ar de atomização do

resíduo, oxigênio de combustão, oxigênio de atomização do combustível e oxigênio de

atomização do resíduo foram combinadas de tal maneira que mantivessem o excesso de

oxidante normalizado em 14,65% ± 1,04, ou seja, a razão mf/mO2 praticamente constante em

qualquer valor de enriquecimento. A vazão de resíduo foi ajustada para cada condição de

enriquecimento tendo como referência a temperatura na saída da câmara (T8), mantida em

torno de 757 oC (temperatura obtida para condição padrão).

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144

VI.2.3.1 – Taxa de Incineração

A Figura VI.10 apresenta o comportamento da taxa de incineração, definida como a

razão entre as vazões mássicas de resíduo e combustível (mres/mf), em função da porcentagem

de oxigênio no oxidante. Percebe-se que há um aumento considerável até aproximadamente o

nível de enriquecimento de 50% de oxigênio, cerca de 85% acima da condição padrão. No

entanto, a partir desse ponto, a taxa de incineração aumenta “lentamente” com o incremento

da porcentagem de O2 no oxidante. Para combustão com oxi-chama (100% O2), o aumento da

taxa de incineração foi de 111% em relação a condição padrão e 13,4% em relação a condição

de 50% de O2. Tal comportamento já havia sido previsto nos cálculos termoquímicos

apresentados no capítulo IV.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

3.00

3.25

3.50

3.75

4.00

4.25

4.50

4.75

5.00

5.25

5.50

5.75

6.00

6.25

6.50

6.75

7.00

Ta

xa d

e in

cin

era

ção

Figura VI.10 – Comportamento da taxa de incineração com a porcentagem de oxigênio no

oxidante, para b = 14,65% ± 1,04 e T8 ≅ 750 oC.

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145

O comportamento da taxa de incineração, apresentado na Figura VI.10, está atrelado à

vazão mássica de ar na câmara, mais especificamente a vazão de N2. Quanto menor a

quantidade de N2 presente no oxidante, mais energia estará disponível para incineração, visto

que a vazão de oxigênio total (O2 do ar + O2 injetado) praticamente não foi alterada nos

ensaios. No entanto, a vazão de ar diminui acentuadamente até aproximadamente 50% de O2;

deste ponto em diante, sua redução é menos acentuada e, consequentemente, menos energia

estará disponível para aumentar a capacidade de incineração da câmara. Isso explica a

eficiência do processo de enriquecimento até 50% de O2. A Figura VI.11 apresenta o

comportamento das vazões na câmara em função da porcentagem de oxigênio no oxidante.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

10

20

30

40

50

60

70

Va

zõe

s m

áss

ica

s [g

/s]

Resíduo

Ar

Oxigênio

Total

Figura VI.11 – Vazões de resíduo, ar, oxigênio e total, em função da %O2 no oxidante.

Cada grama de oxigênio puro adicionada ao fluxo de oxidante corresponde à redução

de um grama de oxigênio proveniente do fluxo de ar atmosférico. Como, para cada grama de

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146

oxigênio do ar estão presentes 3,29 gramas de nitrogênio, pode-se dizer que para cada grama

O2 puro injetado no fluxo de oxidante disponibilizamos, para o processo de incineração, a

energia contida em 3,29 gramas de nitrogênio na temperatura de saída da câmara.

A Figura VI..12 apresenta o comportamento da vazão de resíduo em função da vazão

de oxigênio puro adicionado à câmara. Percebe-se que a vazão de resíduo tem um aumento

aproximadamente linear com o aumento da vazão de oxigênio adicionado. Assim, conhecendo

a relação entre o aumento da capacidade de incineração e a quantidade de oxigênio

adicionado para uma determinada condição de enriquecimento, pode-se estimar o aumento da

capacidade de incineração em qualquer outro nível de enriquecimento. Evidentemente que,

para que haja coerência nesta estimativa, as condições de excesso de oxidante, temperatura na

saída da câmara e poder calorífico do resíduo devem ser conservadas.

0 2 4 6 8 10 12 14

Vazão de oxigênio puro adicionado [g/s]

8

10

12

14

16

18

20

22

Va

zão

de r

esí

duo

[g/s

]

Figura VI.12 – Aumento da vazão de resíduo em função da vazão de oxigênio puro injetado

na câmara.

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147

Analisando os resultados da Figura VI.12, obtém-se que o valor médio da razão entre

o aumento da vazão de resíduo (em relação à condição padrão) e a vazão de oxigênio

adicionado, é de 0,89 ± 0,04 gres/gO2. Assim, para cada grama de oxigênio puro acrescentado

há um aumento médio de 0,89 gramas de resíduo na capacidade de incineração da câmara.

VI.2.3.2 – Distribuição de Temperatura

Apesar da temperatura na saída da câmara ter sido mantida aproximadamente

constante, o aumento da porcentagem de oxigênio altera significativamente sua distribuição

ao longo da mesma, principalmente na região de chama. A Figura VI.13 mostra a distribuição

de temperatura da câmara para os ensaios realizados.

As medidas do termopar 1, próximo a saída do queimador (18cm), mostra que há uma

tendência de aumento da temperatura nessa região, à medida que se eleva a porcentagem de

oxigênio. Basicamente, a diminuição da concentração de nitrogênio na região de chama altera

os processos físicos e químicos ali desenvolvidos, diminuindo o comprimento da chama e

aumentando a energia liberada por unidade de volume.

O aumento da concentração de oxigênio acelera as taxas de reação, ou seja, as reações

finalizam-se em tempos mais curtos. Além disso, a elevação da temperatura na região de

chama aumenta o coeficiente de vaporização do combustível (equação IV.9), fazendo com

que as gotas do spray vaporizem mais rapidamente, o que facilita a mistura entre o

combustível e o oxidante, favorecendo a redução do comprimento da chama.

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148

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

DISTÂNCIA AXIAL [m]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

21%

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

24,98%

29,96%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

35,34%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

TE

MP

ER

AT

UR

A [ C

]

41,68%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

50,85%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

62,27%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

74,09%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

92,32%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

100,00%

o

Figura VI.13 – Distribuição de temperatura ao longo da câmara para as diversas condições de

enriquecimento (perfil de medidas na linha de centro).

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149

Analisando os resultados da Figura IV.13, nota-se que, com aumento do nível de

enriquecimento, a diferença de temperatura entre os termopares 2 e 3 vai se acentuando.

Através de observações visuais feitas nos visores da câmara, notou-se que para baixos níveis

de enriquecimento (de 21 a 35,34% de O2) ainda há presença da chama na região

compreendida pelos termopares 2 e 3. Isto significa que parte das reações de combustão

ocorrem em um ambiente com acentuada presença de resíduo vaporizado. Ou seja, a energia

liberada pelas reações nessa região é rapidamente absorvida pelo resíduo ali presente, fazendo

com que a diferença de temperatura seja pequena. Por outro lado, à medida que a chama reduz

seu comprimento, como consequência ao aumento do nível de enriquecimento, a presença da

chama entre os termopares 2 e 3 vai se reduzindo, sendo que para valores acima de 41,68% de

O2, não foi mais observada a sua presença visual nessa região.

Para elevados níveis de enriquecimento (acima de 41,68%), a chama acaba sendo

confinada na parte da câmara inferior ao termopar 2. Como esta é uma região onde ainda não

há uma intensa mistura entre o gases quentes provenientes da chama e o resíduo vaporizado, a

tendência da temperatura é de se elevar com o aumento do enriquecimento. Por outro lado, os

resultados obtidos pelo termopar 3 indicam que, apesar do enriquecimento, não há uma

variação acentuada de temperatura neste ponto. Assim, pode-se dizer que, para qualquer nível

de enriquecimento, as reações químicas e o processo de mistura entre os gases quentes e o

resíduo ficam quase que totalmente confinados à região compreendida entre a saída do

queimador e o termopar 3 (região primária).

A Figura VI.14 compara, em detalhes, uma situação de baixo enriquecimento (24,98%

de O2) com uma situação de elevado enriquecimento (92,32% de O2), na região primária.

Percebe-se claramente o aumento de temperatura nos termopares 1 e 2 e que, apesar do

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150

enriquecimento, a temperatura no termopar 3 não sofreu grande alteração. Ou seja, há uma

compensação entre o aumento da temperatura dos gases de combustão e o aumento da taxa de

incineração de tal forma que, a partir do termopar 3, a distribuição de temperatura na câmara

possui comportamento qualitativo e quantitativo semelhante, para qualquer nível de

enriquecimento, como mostra a Figura VI.13. A transferência de calor para o resíduo e para a

parede da câmara é discutida com mais detalhe na subseção VI.2.3.4, referente ao balanço de

energia na câmara.

Para ilustrar os comentários feitos na presente seção, a figura VI.15 esquematiza o

comportamento da chama para as situações de baixo e alto nível de enriquecimento. As

ilustrações foram feitas baseadas nas temperaturas medidas e nas observações visuais (através

dos visores) realizadas durante os ensaios. A região 1 é caracterizada pela presença de chama,

englobando grande parte dos processos físicos e químicos nela desenvolvidos, e uma fraca

mistura entre os produtos de combustão e o combustível vaporizado. A região 2 já é

caracterizada pela intensa mistura entre os gases de combustão e o resíduo e, para o caso de

alto nível de enriquecimento, não há mais presença de chama. Na região 3, a maior parte das

reações de combustão e o processo de mistura foram finalizados, havendo apenas

transferência de calor dos gases para a parede da câmara até a saída da mesma.

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151

Baixo enriquecimento (24,98%)

Alto enriquecimento (92,32%)

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50

Distância axial [m]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

Tem

pera

tura

[ C

]

Presença de chama

Vaporização do

resíduo

Fraca mistura

entre os gases e o resíduo

vaporizado

Região 1

Intensa mistura

Região 2

Não há presença de chama

Completa misturaentre os gases de

combustão e o resíduo

vaporizado

Início da Região 3

Injeção de resíduo

o

entre os gases

e o resíduo

vaporizado

Presença de chama

(a)

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50

Distância axial [m]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

Tem

pera

tura

[ C

]

Presença de chama

Vaporização do resíduo

Fraca mistura

entre os gases e o resíduo

vaporizado

Região 1

Intensa mistura

Região 2

Não há presença de chama

Completa misturaentre os gases de

combustão e o resíduo

vaporizado

Início da Região 3

Injeção de resíduo

o

Não há presença de chama

o

entre os gasese o resíduovaporizado

(b)

Figura VI.14 – Comparação entre duas condições de enriquecimento, baixo nível (24,98% de O2) e alto nível (92,32% de O2) (perfil de

medidas na linha de centro).

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152

a) Baixo nível de enriquecimento b) Alto nível de enriquecimento

Figura VI.15 – Ilustrações da chama e injeção de resíduo para as condições de baixo e alto

nível de enriquecimento.

VI.2.3.3 – Emissões de Gases

Conforme já discutido, a análise de gases foi realizada por meio de uma sonda

refrigerada e posicionada a 30cm antes da saída da câmara, correspondendo a um volume de

994 litros. Em algumas ocasiões, foram realizadas análises através de outra sonda posicionada

após a frente chama (227 litros), para complementar os resultados.

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153

A Figura de VI.16 mostra a porcentagem de O2 nos gases de combustão a 994 litros e

a 227 litros, em função da porcentagem de O2 no oxidante. O aumento de O2 na saída da

câmara ocorre em virtude da redução do diluente N2, pois, como manteve-se o excesso de

oxidante aproximadamente constante, por volta de 15%, a vazão mássica de oxigênio

praticamente não foi alterada. A vazão do oxigênio que deixa a câmara diluído nos gases de

combustão foi em torno de 1,58g/s, independente do nível de enriquecimento.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

%O

2 n

os

ga

ses

de c

om

bust

ão

O2 superior (994 litros)

O2 inferior (227 litros)

Figura VI.16 – Porcentagem volumétrica de O2 nos gases de combustão em função da

porcentagem de O2 no oxidante, para medidas realizadas a 227 e 994 litros.

Comparando os medidas feitas na saída da câmara e nas proximidades da frente de

chama, observa-se que para porcentagens de O2 no oxidante inferior a 50%, há uma diferença

significativa entre os resultados. Acima de 50% de O2 o resultado é praticamente o mesmo

para ambos pontos de amostragem de gases. Tal comportamento está atrelado à redução do

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154

comprimento de chama e melhor eficiência na qualidade de mistura entre o oxigênio e o

combustível vaporizado. É importante observar que a captação de gases para análise é feita na

direção do escoamento e posicionada no eixo central vertical. Assim, os resultados para

análise a 227 litros indicam que à medida que a porcentagem de oxigênio no oxidante vai

aumentando, maior é a capacidade de penetração do O2 no interior do spray de combustível e

que, como consequência, mais rapidamente as reações químicas estão sendo finalizadas.

Os resultados para emissão de oxigênio estão coerentes com os da emissão de CO na

saída da câmara e a 227 litros. Conforme mostra a figura VI.17, a porcentagem de CO medida

a 227 litros e no centro da câmara, diminui drasticamente com aumento da porcentagem de O2

no oxidante. Já para a saída da câmara, o CO sempre esteve próximo a zero (< 0,02%),

indicando que o tempo de residência foi suficiente, em qualquer situação, para oxidação

completa do combustível.

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

%C

O n

os

gase

s de c

om

bust

ão

CO inferior (227 litros)

CO superior (994 litros)

Figura VI.17 - Porcentagem volumétrica de CO nos gases de combustão em função da

porcentagem de O2 no oxidante, para medidas realizadas a 227 e 994 litros.

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155

Apesar da redução do número de Reynolds com aumento do enriquecimento, assunto

tratado com maior detalhe adiante, a qualidade da mistura entre o combustível e o oxidante

(intensidade de mistura) aumentou na região de chama. Basicamente, alguns fatores que

favorecem esta situação podem ser destacados.

1) A elevação da temperatura na região de chama aumenta a taxa de vaporização das gotas,

ou seja, o combustível é vaporizado em um tempo menor facilitando a penetração do

oxidante na região central do spray.

2) Aumento da concentração de oxigênio no oxidante facilita as condições locais para o

desenrolar das reações químicas.

3) A combustão enriquecida propícia uma maior concentração de espécies hidrogenadas nos

gases de combustão, como, por exemplo H2O e H2, o que acelera consideravelmente a

conversão do CO em CO2 (Turns, 1996).

4) Com a redução do comprimento da chama, devido ao enriquecimento, esta se distancia do

spray de resíduo, evitando que o mesmo “congele” parte das reações químicas em

desenvolvimento, devido à redução local de temperatura.

5) Retornando à Figura VI.11, observa-se que, com enriquecimento, há uma redução na

vazão de oxidante, o que acaba diminuindo o número de swirl e, consequentemente,

enfraquecendo a estrutura da zona de recirculação interna (ZRI). Assim, conforme a

observações feitas na seção VI.2.1.1, o confinamento de combustível vaporizado na ZRI

vai diminuindo e a penetração de oxigênio vai sendo favorecida.

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156

A combustão dos hidrocarbonetos, como é o caso do diesel, pode simplesmente ser

caracterizada como sendo em duas etapas: a primeira está relacionada com a quebra do

combustível para formar monóxido de carbono (CO), e a segunda, a etapa final de conversão

do monóxido de carbono em dióxido de carbono (CO2). O mecanismo para oxidação do

monóxido de carbono é relativamente simples, consistindo das reações:

CO + O + M = CO2 + M , (VI.10)

CO + O2 = CO2 + O . (VI.11)

As reações (VI.10 ) e (VI.11) são extremamente lentas para o intervalo de

temperaturas de combustão. Por outro lado, se átomos de H estão presentes, mesmo que em

concentrações baixas, como 20ppm, o mecanismo do CO torna-se fortemente acoplado ao

mecanismo H2 – O2, conforme relatado por Westbrook e Dryer (1984). As reações que

descrevem tal acoplamento são:

CO + OH = CO2 + H , (VI.12)

CO + HO2 = CO2 + OH . (VI.13)

A reação (VI.13) torna-se importante em elevadas pressões ou nos estágios iniciais da

oxidação dos hidrocarbonetos. Para o presente caso, onde a pressão é aproximadamente a

atmosférica, a principal reação de redução do CO é a (VI.12). Dryer e Glassman (1973)

encontraram que em um ambiente composto por O2, H2O, O e OH, em equilíbrio térmico e

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157

negligenciando a concentração de H, a taxa de redução do CO, expressa na forma de

Arrhenius, fica:

[ ] [ ] [ ] [ ] 25.02

5.02

16.12 OOHCORT

39480exp10

dt

COd

−=− . (IV.14)

Como apresentado na equação (IV.14), a concentração da água tem um importante

papel na redução global do CO. Assim, a presença de espécies hidrogenadas afeta

tremendamente a taxa de oxidação do CO, em virtude de sua reação com o radical hidroxila

(reação VI.12) ser extremamente mais rápida do que as reações com O2 e O.

O enriquecimento, de uma maneira geral, aumenta a concentração de qualquer espécie

química envolvida no mecanismo reacional, em função da redução da concentração do

diluente N2. Desta forma, a concentração de H2O e de outras espécies hidrogenadas irá

aumentar na região de chama, acelerando a conversão do CO em CO2.

Com a redução do nitrogênio no oxidante, a porcentagem volumétrica de CO2 nos

gases de combustão aumenta demasiadamente, principalmente pelo fato das medidas serem

feitas em base seca. Desta forma, a obtenção experimental da porcentagem de CO2 só foi

possível até 30% de oxigênio no oxidante; acima disso o fundo de escala do analisador (20%

de CO2) é ultrapassado. Para as situações onde não foi possível realizar as medidas, adotou-se

o diesel como tendo fórmula C12H26, e estimou-se a porcentagem de CO2 em base seca e na

saída da câmara através da reação:

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158

2f

2res

2

ar

2

ar2O

2612f CO.

170

m.12OH.

18

mN.

2829,4

29,3.m

O.32

29,4mm

HC.170

m

+

+

++

2

ar

2ff

ar2O

2resf N.

2829,4

29,3.m

O.170.2

m.13

170

m.12

3229,4

mmOH.

18

m

170

m.13

+

−−+

+

++ , (VI.15)

onde, mf é a vazão de diesel, mO2 a vazão total de oxigênio (combustão + atomização), mar a

vazão total ar (combustão + atomização) e mres a vazão de resíduo. Não foi considerada a

presença de CO e NOx nos gases de combustão, em função de apresentarem valores

desprezíveis na saída da câmara, em comparação com O2, CO2, e N2. Também não foi

considerada a hipótese de dissociação, em virtude da baixa temperatura na saída da câmara.

Mesmo que se atinjam temperaturas locais elevadas na chama, condição necessária para

ocorrência da dissociação, à medida que a temperatura diminui ao longo da câmara, os

compostos possivelmente formados seriam reconvertidos em compostos de oxidação

completa.

A Figura IV.18 apresenta os resultados experimentais e calculados para a porcentagem

de CO2 em base seca na saída da câmara, em função da porcentagem de oxigênio no oxidante.

A ligeira discordância entre a tendência dos resultados experimentais e dos calculados reside

no fato de incertezas quanto a composição do diesel, admitido como sendo C12H26.

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159

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

10

20

30

40

50

60

70

80

90

%C

O2

nos g

ase

s de

com

bust

ão

Medido

Calculado

Figura VI.18 - Porcentagem volumétrica de CO2 nos gases de combustão em base seca na

saída da câmara em função da porcentagem de O2 no oxidante. Valores medidos ou

calculados.

A porcentagem volumétrica do CO2, na verdade não é a maneira mais adequada de se

analisar a emissão desse gás quando está envolvido um processo de enriquecimento. Uma

observação desatenta da Figura VI.18 poderia levar à conclusão de que o enriquecimento

causa um aumento brutal na emissão de CO2 que, como já discutido, é um dos responsáveis

pelo indesejável “efeito estufa”. Como a vazão de combustível e a vazão total de oxigênio

(proveniente do ar + injetado puro) foram mantidas constantes nos ensaios, a emissão mássica

de CO2 também permaneceu constante. A Figura VI.19 mostra o resultado da conversão das

emissões de O2, CO2 e H2O (este último somente o que foi gerado pela combustão) em

porcentagem volumétrica para emissão em massa.

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160

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Va

zõe

s na

sa

ída

da

câm

ara

[g/s

]calculado

experimental

CO2

calculado

experimental

H20

O2

Figura VI.19 – Emissões mássicas de O2, CO2 e H2O, sendo que para H2O foi considerado

apenas o que se forma nas reações de combustão.

É importante observar que, ao mesmo tempo que a emissão mássica de CO2

permanece constante com o enriquecimento, há um aumento na taxa de incineração. Sendo

assim, a razão entre a massa de CO2 lançada para atmosfera e a massa de resíduo incinerado

(mCO2/mres) reduz com aumento do enriquecimento. Ou seja, lança-se menos CO2 para

atmosfera quando se incinera uma certa massa de resíduo aquoso em condições de

enriquecimento. A Figura VI.20 mostra o comportamento da razão mCO2/mres com o

enriquecimento do oxidante. Para 100% de O2, a redução na emissão de CO2, normalizada

pela vazão de resíduo, chegou a 55% em relação a condição padrão.

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161

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

ma

ssa

de

CO

2/m

ass

a d

e r

esí

du

o [

g/g

]

Figura VI.20 – Massa de CO2 / massa de resíduo em função da porcentagem de oxigênio no

oxidante.

Em processos que fazem uso da combustão enriquecida, deve-se atentar, em especial,

para as emissões de NOx. O aumento da temperatura na região de chama, aliado a alta

concentração de oxigênio, são os principais fatores responsáveis pelo aumento da taxa de

produção deste poluente em ambientes de operação com chamas enriquecidas.

A Figura VI.21 apresenta os resultados da emissão de NOx em função da porcentagem

de oxigênio no oxidante, para amostragens realizadas no volume de 994 litros. A figura

mostra que até o nível de enriquecimento de 35% de O2, o aumento da emissão de NOx é

menos crítico. Por outro lado, deste ponto em diante, inicia-se um aumento acentuado,

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162

atingido 2875,2 ppm em 74,09% de O2, cerca de 48 vezes a emissão da condição padrão (60

ppm).

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

400

800

1200

1600

2000

2400

2800

3200

NO

x [p

pm

]

Figura VI.21 – Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, medidas

realizadas na saída da câmara (994 litros) .

A Figura VI.21 apresenta os resultados na forma em que foram obtidos, ou seja, em

partes por milhão [ppm] do volume de gás analisado. No entanto, o aumento da emissão de

NOx deve ser analisado corrigindo os efeitos da diluição ou em base mássica. Para aplicação

em questão, nos interessa a quantidade em massa de NOx despejado para atmosfera. Como o

NO é rapidamente convertido para NO2 ao entrar em contado com oxigênio atmosférico, é

conveniente apresentar os resultados em termos de NO2. Assim, o NO formado na câmara de

combustão, para efeitos de cálculo, foi convertido a NO2. A Figura VI.22 apresenta razão

entre a massa de NO2 emitida e massa de combustível queimado.

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163

Ao compararmos os resultados em base mássica (Figura VI.22) com os em base

volumétrica (Figura VI.21), nota-se que o aumento menos acentuado na formação de NOx

para até 35% de enriquecimento realmente acorre. No entanto, para os níveis mais elevados

de enriquecimento, os resultados em base volumétrica acabam não correspondendo à

realidade dos fatos. A maior emissão mássica registrada foi para 50% de O2 no oxidante,

18,81 mg de NO2/g de diesel, e não para 74,09% de O2, como indicam os resultados em base

volumétrica. Esta emissão, a 50% de O2, representa um aumento de 12 vezes em relação à

operação com o ar (1,54 mg de NO2/g de diesel).

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

mg

de

NO

2/g

de d

iesel

Figura VI.22 – Razão mg de NO2/g de combustível, em função da porcentagem de O2 no

oxidante, considerando que todo NO formado é convertido para NO2 na atmosfera.

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164

Após 50% de O2 a emissão mássica de NOx começa a diminuir, em função da redução

da concentração do N2 nos gases de combustão. A taxa de formação de NO, tanto pelo

mecanismo de Zeldovich como pelo de Fenimore, dependem da temperatura. Conforme já

discutido, as reações envolvidas no mecanismo de Zeldovich necessitam de elevada energia

de ativação (Westbrook e Dryer, 1984). A região de temperatura mais elevada na câmara

corresponde às medidas feitas pelo termopar 2. Assim, a Figura VI.23 detalha o

comportamento da temperatura nessa região, em função do aumento do nível de

enriquecimento.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2

900

1000

1100

1200

1300

1400

1500

T2 [

C]

o

Figura VI.23 – Temperaturas obtidas pelo termopar 2 em função do enriquecimento do

oxidante.

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165

Observa-se que, mesmo com enriquecimento, a temperatura no termopar 2 manteve-se

abaixo dos 1400oC. Como se espera um crescimento significativo da emissão de NOx somente

quando esta atinge valores acima dos 1500oC (Wood, 1994), os resultados apresentados nas

Figuras VI.21 e VI.22 seriam de se estranhar. No entanto, é preciso observar que as medidas

de temperatura realizadas no presente trabalho correspondem somente ao comportamento

médio de cada região da câmara, além do que, na região do termopar 2 já está presente o

resíduo vaporizado, o que impede a generalização desta temperatura para o resto da chama.

Em algumas situações, mais NOx é formado do que o esperado, quando se leva em

conta somente as temperaturas médias em algumas regiões da chama, como relata Rink e

Lefebvre (1989). A emissão de NOx em chamas de sprays está fortemente atrelada às

condições locais de mistura entre o combustível e o oxidante. Assim, mesmo que a

temperatura média obtida experimentalmente, ou a temperatura de chama calculada, seja

suficientemente baixa para não haver uma elevada emissão de NOx, se a distribuição da razão

de equivalência ao longo da chama e/ou dos produtos de combustão, propiciar “bolsões” onde

as reações se desenrolam próximas à condição estequiométrica, a emissão de NOx será mais

elevada do que o esperado.

O trabalho teórico e experimental clássico que detalha a influência do grau de não

uniformidade entre o combustível líquido e oxidante foi feito por Lyons (1982). O autor

mostra que o grau de não uniformidade pode ter consequências completamente diferentes de

acordo com a razão de equivalência total. Por exemplo, para situação de elevado excesso de

oxidante, se as condições na câmara levam a uma incompleta mistura entre o combustível e o

oxidante, flutuações temporais e espaciais na razão de equivalência podem levar a misturas

locais próximas a condição estequiométrica e, assim, mais NO será formado do que se

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166

houvesse uma mistura uniforme. Por outro lado, quando a razão de equivalência média está

próxima à condição estequiométrica, um alto grau de não uniformidade é desejado para

diminuir a emissão de NO, pois a tendência seria o surgimento de regiões onde as reações se

processam sob condições de falta e excesso de combustível. Para fazer uma análise mais

detalhada do que realmente se passa no interior da chama, seriam necessários dispositivos

como: termopares de fio fino (cerca de 30µm), para as medidas locais de temperatura e de

suas flutuações, e de uma sonda de amostragem de gases capaz de percorrer todo volume

ocupado pela chama, para determinar as razões de equivalência local.

No presente trabalho, não foi previsto para montagem experimental a realização de

medidas de tamanho detalhe na chama, visto que não é o objetivo central do trabalho, além do

fato da escala do experimento ser desfavorável para isso. No entanto, algumas considerações

podem ser feitas, ainda sob a influência da qualidade da mistura na emissão de NOx, através

dos resultados obtidos. Para o excesso de oxidante utilizado no trabalho, em torno de 15%, ou

seja, não tão distante da estequiometria, espera-se que, quanto maior for o grau de não

uniformidade, menor será a emissão de NOx, baseando-se nas conclusões do trabalho de

Lyons.

Os resultados para a porcentagem de O2 e CO, a 227 e 994 litros, mostraram que o

grau da mistura entre os reagentes é baixo até 40% de O2 no oxidante, conforme já discutido

em parágrafos anteriores, correspondendo exatamente ao ponto onde se inicia o aumento

acentuado de NOx. A partir deste ponto, a qualidade da mistura aumenta e o comportamento

do NOx passa a estar, pelo menos qualitativamente, de acordo com o esperado para chamas

enriquecidas com elevado grau de mistura.

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167

A relação entre a qualidade da mistura e o nível de enriquecimento também foi

objetivo do trabalho experimental conduzido por Joshi et al. (1986). Para um queimador

operando com óleo, sem dispositivos para gerar swirl e o oxigênio sendo pré-misturado com

ar antes de entrar na fornalha, observaram que para baixos níveis de enriquecimento (abaixo

de 35% de O2), as curvas isotérmicas e o comprimento de chama sofrem apenas uma pequena

modificação. Por outro lado, para níveis de enriquecimento mais elevados (acima 35% de O2),

tais parâmetros são drasticamente alterados.

Outro fator que também influência o comportamento da emissão de NOx é o tempo em

que os gases permanecem em temperatura elevada. A partir do momento que há a injeção de

resíduo, intensifica-se a transferência de calor da chama para este, diminuindo a temperatura

da chama ou dos gases de combustão. À medida que se aumenta o nível de enriquecimento, o

comprimento da chama vai diminuindo, conforme as observações já feitas na subseção

VI.2.3.2. Portanto, a região compreendida entre a chama e a injeção de resíduo aumenta, ou

seja, o tempo de permanência dos gases de pós-chama em temperatura elevada também

aumenta, o que favorece a formação de NOx. A análise de gases feita a 227 litros, Figura

VI.24, mostra que a injeção de resíduo praticamente congela o mecanismo reacional de

formação de NO visto que, se compararmos com a emissão na saída da câmara, Figura VI.24,

percebemos que a maior parte do NOx é formada até a injeção de resíduo.

Mais comentários sobre o comportamento da emissão de NOx são feitos ao longo da

presente tese, à medida que mais resultados sobre esse assunto vão sendo apresentados, como,

por exemplo, nas seções referentes à combustão com GLP e no capítulo sobre tomografia de

chama.

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168

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

400

800

1200

1600

2000

2400

2800

3200

NO

x [ppm

]

Figura VI.24 - Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, medidas

realizadas a 227 litros.

Tal qual feito para emissão de CO2, é conveniente expressar a emissão de NOx em

termos da razão entre a massa de NO2 liberada para atmosfera e a massa de resíduo incinerado

(mg de NO2/g de resíduo). A Figura VI.25 apresenta tal razão em função da porcentagem de

O2 no oxidante. Assim, quando se normalizam os resultados pela massa de resíduo incinerado,

que é o que realmente importa para incineração, nota-se que a emissão de pico de NOx (50%

de O2) foi de aproximadamente seis vezes a emissão da condição padrão. Contudo, este valor

ainda é alto e pode ser considerado um fator limitante para utilização de chamas enriquecidas

com altos níveis de enriquecimento, na incineração de resíduos aquosos. No entanto, ele ainda

está em um patamar que as tecnologias normalmente empregadas para redução de NOx em

dispositivos que utilizam o ar atmosférico como fonte de oxigênio podem ser utilizadas.

Algumas das seções adiante apresentam o resultado do emprego dessas tecnologias, para as

situações de alta emissão de NOx observadas aqui.

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169

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

mg d

e N

O2

/g d

e r

esíd

uo

Figura VI.25 – Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo em função da porcentagem

de O2 no oxidante.

VI.2.3.4 – Balanço de Energia

O objetivo desta subseção é determinar o quanto da energia disponibilizada pelo

enriquecimento é realmente aproveitado para o aumento da taxa de incineração. A energia

liberada pelas reações de combustão em processos de incineração segue basicamente três

caminhos diferentes: 1) eliminada com os gases produtos de combustão, 2) transferida para

carga de resíduo e 3) transferida para as paredes da câmara. Quando a queima ocorre sobre

condições enriquecidas, a energia eliminada pelos produtos de combustão diminui, pois a

massa total de gases é reduzida, se a temperatura for mantida constante. Sendo assim, essa

energia disponibilizada seguirá os outros dois caminhos. Para analisar esse contexto sobre as

condições ensaiadas 15 a 24 da Tabela VI.1, realizou-se um balanço de energia na câmara de

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170

combustão, aplicando o equacionamento apresentado no capítulo IV com os resultados

obtidos experimentalmente para as vazões, concentrações e temperaturas. Além disso,

considerou-se combustão completa, em função das emissões de CO e NOx serem muitos

baixas na saída da câmara, quando comparadas com as do CO2, O2, N2 e H2O. O resultado

está apresentado na Figura VI.26.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

en

erg

ia/m

assa

de d

iesel [k

cal/k

g d

e d

iese

l]

Calor transferido para parede da câmara

Calor transferido ao resíduo

Entalpia dos produtos de combustão

Entalpia do N2

Figura VI.26 – Resultado do balanço de energia da câmara.

O balanço de energia mostra que praticamente não há uma variação significativa na

razão calor total transferido para parede da câmara/massa de combustível e que, quase toda

energia disponibilizada pela redução da massa de nitrogênio no oxidante é utilizada para

aumentar a taxa de incineração do resíduo. A transferência de calor dos gases de combustão

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171

para o resíduo é em grande parte por contato direto, visto que esse é diretamente injetado

sobre os gases. Parte da transferência de calor ainda pode acontecer pela radiação térmica

emitida da chama para o spray de resíduo

A quantidade de calor transferida da chama e dos gases de combustão para parede da

câmara basicamente ocorre por duas maneiras: convecção e radiação. A primeira depende

principalmente da temperatura e velocidade dos gases, a segunda da temperatura, composição

do gás e volume da chama. Além das formas de transferência de calor, o tempo de residência

dos gases na câmara também influencia o total de energia perdida para parede, pois

corresponde ao tempo de troca térmica.

Conforme apresentado na Figura VI.11, com aumento do enriquecimento há uma

redução na massa total de gases que escoa pela câmara. Como a distribuição de temperatura

altera-se muito pouco após a injeção de resíduo (Figura VI.13), o principal fator que acaba

modificando a taxa de transferência de calor convectiva para parede da câmara, à medida que

aumenta-se o nível de enriquecimento, é a diminuição de velocidade em decorrência da menor

vazão mássica de gases. Assim, como há uma redução do número de Reynolds do escoamento

na câmara, taxa de transferência de calor convectiva diminui com aumento do

enriquecimento. A Figura VI.27 apresenta o número de Reynolds em função da porcentagem

de O2 no oxidante. O cálculo foi feito para a seção da câmara correspondente à posição do

termopar 6, usando essa temperatura e a composição dos gases na saída da câmara para obter

a viscosidade média do gás, ou seja, assumindo que a composição dos gases já está em

equilíbrio neste ponto. Como comprimento característico do escoamento foi utilizado o

diâmetro interno da câmara, 0,60m.

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172

20 30 40 50 60 70 80 90 100

% de O2 no oxidante

1800

2000

2200

2400

2600

2800

3000

3200

mero

de R

eynold

s

Figura VI.27 – Número de Reynolds na câmara em função da % de O2 no oxidante.

Para a transferência de calor por radiação, o raciocínio já não é tão simples como no

caso da convecção. Diversos fatores, dos quais depende a sua intensidade, são fortemente

afetados pelo processo de enriquecimento e de maneira desigual, alguns favorecendo e outros

reduzindo sua taxa de transferência por radiação.

Para gases de combustão gerados pela queima de hidrocarbonetos, a radiação emitida

pode ser dividida em duas componentes, conforme sua faixa de emissão: 1) a radiação que

emana de certos compostos heteropolares, principalmente dióxido de carbono e vapor d’água;

2) e a radiação que depende do número e tamanho de partículas sólidas presentes

(principalmente fuligem) e da presença de radicais de hidrocarbonetos. A primeira emite no

espectro do infravermelho e a segunda no visível.

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173

As mais fortes bandas de emissão para a H2O são 1,9, 2,7, 2,8, 4,4, 6,7 e 21µm. O CO2

irradia fortemente em torno de 2,7, 2,8, 4,3 e 15µm. No entanto, em elevada temperatura

(acima de 2000K), o H2O e CO2 se dissociam, diminuindo a emissão radioativa dos

compostos heteropolares. Por outro lado, há um aumento na emissão proveniente de

compostos diatômicos, principalmente do CO. Contudo, não há uma compensação e a

radiação total emitida é reduzida quando há forte dissociação presente. Além disso, moléculas

simétricas, como H2, O2 e N2, não contribuem para emissão de radiação térmica, mesmo em

temperatura elevada.

A transferência de calor por radiação de uma chama ou volume de gás para parede da

câmara, pode ser estimada pela equação VI.16 (Kreith e Black, 1980).

( ) ( )4wg

4ggw T.T..5,0.1.R α−εε+σ= (VI.16)

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann (5,67.10-8 W/m2.K4), εg é a emissividade do gás na

sua temperatura Tg, αg é a absortividade do gás na temperatura da parede Tw e εw é a

emissividade da parede. Investigações em diversas faixas de valores mostraram que a relação

entre a emissividade e a absortividade do gás pode ser dada como apresentado na equação

VI.17 (Lefebvre, 1983):

5,1

w

g

g

g

T

T

=

ε

α (VI.17)

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174

Assim, a absortividade do gás pode ser escrita em termos da emissividade na

equaçãoVI.16 (Lefebvre e Herbert, 1960):

( ) ( )5,2w

5,2gggw TT.T..5,0.1.R −εε+σ= (VI.18)

É evidente que a emissividade do gás dependerá de sua composição. Para uma dada

temperatura, ela pode ser obtida pela equação:

ε∆−ε=ε ∑ i

i

ig C. , (VI.19)

onde a εi e Ci são a emissividade e o fator de correção de pressão para o composto i do gás,

respectivamente, e ∆ε o fator de correção espectral devido à absorção de radiação térmica de

um composto, que foi emitida por outro. A emissividade de qualquer composto do gás

dependerá do produto entre a sua pressão parcial no gás (p’) e o comprimento característico

do gás ou chama (lb), que pode ser estimado pela equação (Lefebvre, 1983):

área

volume4,3lb = . (VI.20)

Em geral, quando se aumenta o produto p’.lb, também aumenta-se a emissividade do

composto em questão. O equacionamento de como ocorre a troca de calor por radiação de um

volume de gás ou da chama para parede da câmara é importante para nos indicar como os

parâmetros modificados pelo processo de enriquecimento influenciam esse processo. Ao

observarmos a equação VI.18, notamos que o aumento da temperatura tem o efeito de

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incrementar a transferência de calor por radiação. Assim, desta simples observação poder-se-

ia concluir que, como o enriquecimento aumenta a temperatura na região de chama, há um

incremento da taxa de transferência de calor por radiação nessa região da câmara, à medida

que se eleva o teor de O2 no oxidante. Isto nem sempre é verdade, pois o enriquecimento

altera a composição do gás e a razão volume/área.

À medida que se aumenta o enriquecimento, a concentração de N2 diminui, ao passo

que aumenta a concentração, ou pressão parcial, dos compostos de molécula heteropolar, CO2

e H2O. Na chama, isto favorece o aumento da emissão de radiação térmica até o ponto onde se

atinge uma temperatura suficientemente alta para que ocorram reações de dissociação em

quantidade significativa.

Com a redução da temperatura por razão da injeção de resíduo, os compostos de

oxidação parcial que por ventura se formaram na região de chama, graças às reações de

dissociação, se recombinam e formam novamente CO2 e H2O. A região de pós-chama se

caracteriza ainda por uma alta concentração de vapor d’água, devido à injeção de resíduo. No

entanto, nessa região da câmara os gases já estão em temperatura mais baixa, limitando a

transferência de calor por radiação.

Além da mudança de composição, o enriquecimento ainda provoca uma redução no

comprimento característico da chama, reduzindo sua emissividade. Desta forma, determinar o

real efeito do enriquecimento sobre a emissão total de radiação para a parede da câmara é um

problema bastante complexo, pois faz-se necessário conhecer a geometria da chama e as

distribuições de temperatura e concentração ao longo de toda câmara. No entanto, pode-se

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afirmar que o aumento de temperatura não necessariamente irá intensificar a troca térmica por

radiação, em situações de chama enriquecida.

Gaydon e Wolfhard (1979) relataram que para chamas extremamente quentes (acima

de 2000K), suportadas por oxigênio, é possível a mudança do comprimento de onda da

máxima radiação, da região do infravermelho para o visível, onde a emissividade do gás é

baixa. Tal fato ocorre devido aos problemas relacionados pela dissociação. Também

observaram que, como a queima ocorre rapidamente, seu volume é menor, contribuindo

menos ainda para emissão de radiação térmica. Gitman (1986) também relatou a falta de

capacidade de chamas com enriquecimento por volta de 100% de O2 em transferir calor por

radiação, pelas mesmas razões apontadas por Gaydon e Wolfhard. Contudo, Gitman propôs

como solução para esse problema a recirculação de “gases frios” para região de chama,

abaixando a temperatura de queima mas não permitindo que esta seja “transparente” para

ondas de transferência de calor por radiação.

Para a presente aplicação, essa “transparência” das oxi-chamas favorece a eficiência

do processo, pois como grande parte de transferência de calor ocorre por contato direto dos

gases com a carga de resíduo, quanto menos ele for transferido para parede da câmara, mais

energia estará disponível para aumentar a taxa de incineração.

Gitman (1986) ainda relatou que em temperatura elevada, o maior fluxo de radiação

térmica das moléculas de CO2 e H2O está nos comprimentos de onda 2.8 e 4.4µm. Contudo,

esses comprimentos de onda são preferencialmente absorvidos por outras moléculas de CO2 e

H2O, com temperatura mais baixa e que estão entre a chama e a parede da câmara. Assim,

pelas observações feitas por Gitman, pode-se pensar que uma boa parte da radiação térmica

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intensificada pela maior concentração de CO2 e H2O na região de chama, quando a

dissociação não é significativa, é absorvida pelo vapor de resíduo.

Além das concentrações de CO2 e H2O, outro fator fundamental para a taxa de

transferência de calor por radiação da chama para a parede da câmara é a quantidade de

fuligem presente. Conforme discutido no Capítulo 2, a formação de fuligem depende da

qualidade da mistura entre os reagentes na zona primária da chama, pois se regiões ricas e em

elevada temperatura se formarem, sua presença será em grande quantidade. Através dos

resultados da análise de gases, conforme apresentado na seção VI.2.3.3, concluiu-se que à

medida que o nível de enriquecimento é aumentado, a qualidade da mistura também é,

sobretudo para valores acima de 50% de O2. Sendo assim, espera-se uma maior formação de

fuligem e, consequentemente, uma maior emissão de radiação no espectro do visível, para

baixos níveis de enriquecimento.

Outro ponto importante é o tempo de residência dos gases na câmara, ou seja, o tempo

de troca térmica entre os gases e a parede. Como a vazão total diminui com enriquecimento, o

tempo de residência aumenta e, como consequência, a quantidade total de calor transferido

também aumentará. A Figura VI.28 apresenta o tempo de residência total da câmara,

calculado como apresentado no Capítulo V.

De uma maneira geral, para situação estudada, pode-se dizer que o enriquecimento

altera as taxas de transferência de calor convectiva e radiativa e o tempo de troca térmica, mas

de tal forma que a quantidade de energia perdida para parede da câmara é muito pouco

afetada. Assim, energia disponibilizada pela redução do nitrogênio no oxidante é quase que

totalmente aproveitada para aumentar a taxa de incineração do resíduo. No entanto, o real

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efeito do processo de enriquecimento sobre a taxa de transferência de calor por radiação é

bastante complexo de se determinar, visto a gama de alterações no processo.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

Tem

po d

e r

esid

ência

[se

g]

Figura VI.28 – Tempo de residência dos gases de combustão no interior da câmara em função

da porcentagem de O2 no oxidante.

A importância dos resultados apresentados nessa subseção consiste no fato de que se a

razão energia perdida para parede/massa de combustível praticamente não é alterada, ela pode

ser considerada constante no balanço de energia para se estimar o aumento da taxa de

incineração com o enriquecimento em um câmara de combustão convencional, tal qual como

feito no capítulo IV da presente tese. Evidentemente que a temperatura na saída da câmara, o

excesso de oxidante e a potência liberada devem ser mantidos constantes para que essa

hipótese seja razoável.

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179

VI.2.3.5 – Número de “Swirl”

Para os ensaios 15 a 24 da Tabela VI.1, manteve-se o ângulo entre as pás do “swirler”

(α) constante, por ser a situação normalmente encontrada nos queimadores, ou seja, com pás

fixadas em um determinado ângulo. No entanto, como há uma redução da massa de oxidante

que escoa pelo queimador, o número de “swirl” também diminui. A Figura VI.29 apresenta o

comportamento do número de “swirl” em função da porcentagem de O2 no oxidante.

Conforme apresentado na seção VI.2.1.1, o controle da emissão de NOx pode ser feito

ajustando o esse parâmetro, assunto discutido na próxima seção.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

mero

de S

wir

l (S

')

Figura VI.29 - Comportamento do número de “swirl” em função da porcentagem de O2 no

oxidante (α = 40o)

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179

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180

VI.2.4 – Controle da Emissão de NOx Pelo Número de “Swirl”

Conforme apresentado na seção VI.2.1.1, à medida que se aumenta o ângulo entre as

pás, intensifica-se a zona de recirculação interna (ZRI), quantificada pelo número de “swirl”.

Assim, as gotas do spray com pequeno diâmetro e o combustível já vaporizado acabam sendo

confinados na ZRI, caracterizando uma região de combustão rica (Ballester e Dopazo, 1994) e

favorecendo a redução da emissão de NOx, pois a presença de oxigênio é fundamental para

sua formação. Assim, variou-se número de “swirl” para situação de maior emissão

normalizada de NOx, que corresponde ao nível de enriquecimento próximo a 50% de O2, de

acordo com a Figura VI.25.

A Figura VI.30 mostra a variação da razão mg NO2/g de resíduo em função do número

de “swirl”. Os resultados correspondem aos ensaios 25 a 28 da Tabela VI.1, onde procurou-

se, na medida do possível, respeitar as condições do ensaio no 20, com exceção do ângulo

entre as pás (α). Para esse nível de enriquecimento, a redução observada foi por volta de 20%

na emissão de NOx, quando se modifica o S’ de 0,522 (α = 40o) para 3,831 (α = 70o), sendo

que este último corresponde ao máximo ângulo entre as pás que o “swirler” permite

estabelecer. Pelo comportamento dos resultados, a emissão se estabiliza em torno de 2,59 mg

NO2/ g de resíduo, sendo aparentemente pouco eficaz continuar aumentando S’.

Os comentário feitos na seção VI.2.1.1 continuam sendo pertinentes, apesar da menor

eficiência em diminuir a emissão de NOx, pois a redução para aquela condição foi em torno

de 35%, para mesma faixa de S’. O aumento de S’ continua criando uma ZRI mais “forte”,

dificultando a penetração do oxidante nessa região. No entanto, como a porcentagem de O2 no

oxidante é bem maior, aumenta a possibilidade de regiões na ZRI onde a

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temperatura e a concentração de oxigênio sejam tais que intensifiquem localmente a

formação de NO, mesmo que a razão de equivalência média da ZRI seja alta.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0

S'

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

mg N

O2/g

de r

esí

du

o

Figura VI.30 - Variação da razão mg NO2/ g de resíduo em função do número de “swirl”, para

o enriquecimento de 50,56 % O2 e excesso de oxidante de 15,20%, queimando diesel.

Outro ponto a ser considerado é que, apesar de se criar uma zona de combustão mais

rica a jusante do queimador, o tempo de permanência dos gases de queima em temperaturas

mais elevadas aumenta, conforme mostra a Figura VI.31, o que favorece a formação de NO

pelo mecanismo reacional de Zeldovich. Com o aumento de S’ a chama se concentra nas

imediações do queimador, conforme mostram as fotografias da Figura VI.32. Com isso, a

distância entre a região de chama e a região de injeção de resíduo aumenta. Como a injeção de

resíduo é responsável por “congelar” as reações que ocorrem na região pós-chama, o tempo

para o desenrolar de tais reações é maior para o S’ mais elevado.

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182

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50

Diatância axial [m]

900

950

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

S'= 0,522

S'= 0,844

S'= 1,652

S'= 3,831

Figura VI.31 – Distribuição de temperatura em função do volume da câmara, para diversos

valores de S’ e 50,56% de O2 no oxidante (perfil de medidas na linha de centro).

S’= 0,522 S’=0,884 S’=1,652 S’=3,831

Figura VI.32 - Fotografias da chama a 18cm da queimador para diferentes S’ e 50,56% de O2

no oxidante.

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183

Apesar da redução de 20%, a emissão de NOx ainda apresenta um valor cerca de 5

vezes maior que a condição padrão operação. No entanto, a utilização de valores elevados

para S’ pode ser uma estratégia a ser combinada com outros meios de redução de NOx, visto

que representa apenas um ajuste no projeto do queimador, sem dificuldades de

implementação.

VI.2.5 – Controle da Emissão de NOx Pelas Condições de Atomização

Conforme comentado na subseção VI.2.1.2, a razão de atomização (ratm = mar/atm/f /mf)

altera o comportamento da mistura entre os reagentes, principalmente na região primária da

chama. Razões de atomização mais baixas propiciam gotas maiores e dificultam a penetração

do oxidante no interior do spray. Como não há abundância de oxigênio na região primária da

chama, a combustão desenvolve-se preferencialmente sobre condições ricas, diminuindo as

regiões da chama com elevada concentração de oxigênio e temperatura. Esse contexto acaba

favorecendo a redução de NOx, conforme os resultados apresentados na Figura VI.7.

No entanto, é preciso saber como esse procedimento altera a situação com

enriquecimento e elevada emissão de NOx. Assim, variou-se a razão de atomização para o

enriquecimento próximo a 50% de O2, ensaios número 29 a 33 da Tabela VI.1. Escolheu-se

novamente esse nível de enriquecimento para os ensaios, por ser a maior emissão normalizada

de NOx alcançada, conforme Figura VI.25. No capítulo V, a Figura V.27 apresenta o valor do

SMD do spray em função da razão de atomização.

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184

A Figura VI.33 apresenta o resultado da emissão de NOx na saída da câmara de

combustão, em função da razão de atomização. Nota-se que a redução chega a 81%, quando

se altera a razão de atomização de 0,1446 para 0,0482.

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16

m /m

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

NO

x [p

pm

]

ar/atm/f

50,94% O2

b = 15,18%

Figura VI.33 – Emissão de NOx na saída da câmara (994 litros) em função da razão de

atomização (mar/atm/f /mf).

A contrapartida da redução do NOx através do controle da qualidade da mistura dos

reagentes pela atomização do combustível é a emissão de CO. A emissão deste poluente está

altamente relacionada com o processo físico de vaporização do combustível e de sua mistura

com oxidante. A Figura VI.34 apresenta a porcentagem de CO na saída da câmara em função

da razão de atomização. Os resultados mostram que a %CO nos gases de combustão aumenta

quando se reduz a razão de atomização até 0,0804. Para a razão de atomização de 0,0482 a

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185

emissão volta a diminuir. Esse resultado, aparentemente estranho, surge porque nesta razão de

atomização a chama passa a ser extremamente instável, sendo que esse ponto é o limite para

que ela permaneça ancorada. Essa instabilidade, ou pulsação da chama, intensifica a mistura

dos reagentes em sua zona primária, fato que pode ser identificado pelo aumento de

temperatura no termopar 1, conforme apresentado na Figura VI.35.

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16

m /m

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0.08

0.09

0.10

0.11

0.12

CO

[%

]

ar/atm/f

Figura VI.34 – Emissão de CO na saída da câmara (994 litros) em função da razão de

atomização (mar/atm/f /mf).

Na subseção VI.2.3.3 foram feitos comentários sobre a intensificação da qualidade da

mistura devido ao enriquecimento. No entanto, pelo que foi apresentado na presente subseção,

essa intensificação é bastante sensível a qualidade da atomização. Ou seja, o enriquecimento

só irá intensificar a mistura entre os reagentes se a atomização for capaz de gerar gotas que

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186

vaporizem rapidamente. Com a redução da razão de atomização, gotas com maior diâmetro

estarão presentes no spray e, em função disso, a temperatura na região de chama acaba sendo

mais baixa na região primária, conforme mostra a Figura VI.35. A presença de gotas maiores

em temperaturas mais baixas acabam aumentando o tempo de vaporização do combustível,

consequentemente prejudicando sua mistura com o oxidante e propiciando chamas com maior

comprimento.

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16

m /m

850

900

950

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

Tem

pera

tura

[ C

]

ar/atm/f

50,94% O2

b = 15,18%

T1

T2

T3

Figura VI.35 – Temperaturas medidas pelos termopares 1, 2 e 3, posicionados a 18, 70 e

1,05m a jusante do queimador, respectivamente, em função da razão de atomização.

A Figura da VI.33 apresenta a emissão de NOx em termos de porcentagem por milhão

em volume (ppm). Convertendo esse valores para mg de NO2/g de resíduo, como na Figura

VI.36, percebe-se que a emissão de NOx normalizada atinge valores próximos ao da condição

padrão de operação (21% de O2), indicando a eficiência desse procedimento. Cabe ressaltar

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187

que, apesar do aumento da emissão de CO na saída da câmara, os valores atingidos ainda são

baixos. Contudo é preciso atentar para que o tempo de residência seja suficiente para oxidação

completa dos compostos de oxidação parcial. Para os ensaios da presente subseção o tempo de

residência esteve em torno de 5,6 segundos.

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16

m /m

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

mg d

e N

O2/g

de

re

síd

uo

ar/atm/f f

Figura VI.36 – Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo, em função da razão de

atomização, para o enriquecimento de 50,94% de O2.

VI.2.6 – Combustão Estagiada

A idéia da combustão estagiada consiste na combinação de regiões ricas e pobres na

câmara, evitando condições favoráveis de temperatura e concentrações para formação de NO.

Essa técnica apresenta bom resultados para combustão de hidrocarbonetos com o ar (Wood,

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188

1984), inclusive para as situações onde o ar é pré-aquecido acima de 1000oC, onde elevadas

emissões de NOx normalmente são encontradas (Syska, 1993). Contudo, poucas informações

estão disponíveis sobre seu emprego em combustão enriquecida, sobretudo para situação de

incineração. Desta forma, realizaram-se ensaios estagiando a injeção do combustível ou do

oxidante, para condições de elevada emissão de NOx.

VI.2.6.1 – Combustível Estagiado

Nessa situação, parte do combustível é injetado na parte inferior da câmara (primeiro

estágio) e o restante a 1,305m a jusante do queimador (segundo estágio), entre os termopares

3 e 4, conforme mostra a Figura VI.37. O combustível injetado na parte superior foi GLP

(Gás Liquefeito de Petróleo), pelas facilidades de se trabalhar com gás no segundo estágio de

combustão. A razão entre a vazão mássica de GLP e a vazão mássica de diesel (mGLP/mdiesel)

foi combinada de forma que a potência liberada na câmara fosse constante. Também

procurou-se não alterar bruscamente a razão mar/atm/f/mdiesel, para que o processo de

atomização influenciasse o mínimo possível os resultados. A idéia desse tipo de estagiamento

é criar uma zona de queima pobre na região primária, com temperatura mais baixa, e uma

região secundária onde o restante da potência é liberada na presença de produtos de

combustão e resíduo vaporizado. Os ensaios desta subseção corresponde aos dos números 34

a 37 da Tabela 1. A Tabela VI.3 apresenta outras condições do ensaio.

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189

Figura VI.37 – Esquema da combustão com combustível estagiado.

Tabela VI.4 – Ensaios com combustível estagiado.

diesel

GLP

m

m

bg

(global)

b1

(1estágio)

φg

(global)

φ1

(1estágio) diesel

f/atm/ar

m

m Potência

(cal/s)

%CO (saída da

câmara)

0 30,52 30,52 0,766 0,766 0,1446 31906 0 0,267 31,61 67,35 0,759 0,597 0,1456 31733 0 0,753 31,00 131,10 0,763 0,433 0,1470 31552 0 1,754 31,46 258,50 0,761 0,279 0,1363 32563 0

Obs: bg = excesso de oxidante normalizado global da câmara, b1 = excesso de oxidante normalizado do primeiro estágio, φg razão de equivalência global da câmara e φ1 a razão de equivalência do primeiro estágio.

A figura VI.38 apresenta os resultados da emissão de NOx, representado pela razão mg

de NO2/g de resíduo, em função da razão de estagiamento do combustível (mGLP/mdiesel).

Nota-se quando se aumenta a razão de estagiamento, inicialmente a emissão de NOx eleva,

para posteriormente decrescer. Esse comportamento está diretamente relacionado com dois

fatores do primeiro estágio: a razão de equivalência e a temperatura.

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190

0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8

m /m

0

1

2

3

4

5

6

mg d

e N

O2/g

de

re

síd

uo

GLP diesel

Figura VI.38 – Comportamento da razão mg de NO2/g de resíduo na saída da câmara, em

função da razão de estagiamento do combustível (mGLP/mdiesel), para o excesso global de

oxidante próximo a 31% .

Através da Figura VI.39, observa-se que quando a razão de estagiamento passa de 0

para 0,267, pouco se modifica a temperatura no primeiro estágio. Há uma maior

disponibilidade de oxidante, pois a razão de equivalência (φ1) alterou-se de 0,766 para 0,597,

ou seja, a combustão nessa região tornou-se mais pobre, mas praticamente com a mesma

temperatura. Se observarmos a equação VI.1, notamos que se a temperatura for mantida

constante e a concentração de oxigênio aumentar, a taxa de formação do NO também irá

aumentar. Para os valores de mGLP/mdiesel acima de 0,267, a temperatura no primeiro estágio

diminuiu e com isso a emissão de NOx também. Apesar da enorme disponibilidade de

oxidante para mGLP/mdiesel = 0,753 e 1,754, a taxa de formação do NO depende bem mais da

temperatura do que da concentração de oxigênio.

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191

O comportamento descrito pode ser melhor analisado, comparando a emissão do NOx

medida com a calculada para o equilíbrio químico (programa Gaseq, Morley (2000)),

utilizando a temperatura obtida experimentalmente pelo termopar 2. A Figura VI.40 compara

esses resultados e também apresenta as temperaturas medidas pelo termopar 2, em função da

razão de equivalência no primeiro estágio. O NOx medido possui um comportamento

qualitativo semelhante ao calculado para condição de equilíbrio químico, indicando que o

processo de estagiamento deve ser aplicado apenas para condições extremamente pobres no

primeiro estágio, principalmente para altos níveis de enriquecimento, caso contrário a emissão

de NOx aumentará. É evidente que as temperaturas obtidas pelo termopar 2 estão longe de

representar a temperatura média da chama, por isso a diferença numérica entre os resultados.

No entanto, serve para indicar como se dá a influência da combinação entre a razão de

equivalência e temperatura no primeiro estágio de combustão pobre e verificar se os

resultados experimentais estão condizentes com a situação esperada.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

Distância axial [m]

700

800

900

1000

1100

1200

Te

mpe

ratu

ra [ C

]

o

0

0, 267

0,753

1,754

m / mGLP diesel

Figura VI.39 – Distribuição de temperatura para combustão com combustível estagiado (perfil

de medidas na linha de centro).

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192

0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80

Razão de equivalênca no primeiro estágio

0

250

500

750

1000

1250

1500

1750

2000

2250

2500

NO

x [p

pm

]

900

950

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

T2

[ C

]

o

NOx medido

NOx equilibrio (T2)

T2

Figura VI.40 – Emissão de NOx medida (saída da câmara) e calculada para equilíbrio químico

(usando T2) e temperatura obtida pelo termopar 2, em função da razão de equivalência.

Para a situação experimental analisada, o resíduo é injetado antes do segundo estágio

de combustão, conforme a figura VI.37. Isso faz com que a temperatura nesse estágio não

aumente substancialmente, pois a combustão secundária ocorre na presença de uma grande

quantidade de resíduo em processo de evaporação. A injeção de resíduo entre os estágios é de

fundamental importância para reduzir a emissão de NOx pois, caso contrário, à medida que a

razão de equivalência do primeiro estágio fosse sendo reduzida, a do segundo estágio iria

aumentar e, como conseqüência, a temperatura nessa região também. A Figura VI.41 e a

Tabela VI.4 apresentam a relação entre as razões de equivalência do primeiro e do segundo

estágios. O cálculo da razão de equivalência do segundo estágio foi feito considerando a

combustão completa no primeiro estágio, o que é bastante razoável para esse nível de

enriquecimento. A Tabela VI.4 ainda apresenta o consumo de oxidante no primeiro estágio e

a sua disponibilidade para o segundo.

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193

0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8

Razão de equivalência no primeiro estágio

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

Razã

o d

e e

quiv

alê

ncia

no s

egund

o e

stá

gio

Figurara VI.41 – Relação entre as razões de equivalência do primeiro e segundo estágios.

Tabela VI.5 – Relações entre o primeiro e segundo estágios de combustão.

φ1

(1 estágio)

mdiesel

ar total [g/s]

O2 total

[g/s]

ar consumido no primeiro

estágio [g/s]

O2 consumido no primeiro

estágio [g/s]

ar disponível

para o segundo estágio

[g/s]

O2 disponível

para o segundo estágio

[g/s]

mGLP

φ2

(2 estágio)

0,279 1,10 20,11 9,28 5,52 2,55 14,59 6,73 1,93 0,670 0,433 1,70 18,89 9,28 8,17 4,02 10,72 5,26 1,28 0,580 0,597 2,40 20,20 9,28 12,07 5,55 8,13 3,73 0,65 0,403 0,766 3,11 20,84 9,28 20,84 9,28 0 0 0 0

A faixa de valor da razão de equivalência no segundo estágio favorece a elevada

emissão de NOx para o nível de enriquecimento próximo a 44% de O2. Além disso, o oxidante

remanescente do primeiro estágio já está pré-aquecido. Contudo, conforme mostra a Figura

VI.39, após a injeção de resíduo a temperatura na câmara não atinge valores propícios para o

desenrolar dos mecanismos de formação do NO. Daí a importância da injeção de resíduo em

uma posição intermediária aos estágios de combustão. A Figura VI.39 ainda mostra que há

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194

um ligeiro aumento de temperatura após o termopar 4, com o aumento da razão de

equivalência no segundo estágio. No entanto, esse aumento de temperatura pode ser

controlado adicionando-se mais resíduo, o que inclusive aumentaria a taxa de incineração e

reduziria a emissão normalizada de NOx (mg de NO2/g de resíduo).

Deve-se destacar que a emissão de CO na saída da câmara manteve-se em zero para

qualquer condição de estagiamento do combustível e que há uma redução na emissão de NOx

de 3,24 mg de NO2/g de resíduo (mGLP/mdiesel = 0) para 1,26 (mGLP/mdiesel = 1,754), cerca de

61%. Esses resultados não podem ser comparados com os da condição padrão de operação

pelo fato do excesso de ar normalizado (b) ser diferente.

Não foi possível diminuir a razão de equivalência no primeiro estágio para valores

inferiores a 0,279, pelo fato deste estar próximo ao limite de chama estável. Esse pode ser um

dos entraves encontrados na utilização do sistema de combustão de combustível estagiado,

quando se opera com chamas enriquecidas. Por exemplo, quando se altera a condição de

operação com a razão de estagiamento de combustível em 1,754, 44% de O2 e excesso de

oxidante global em torno de 31%, para mesma situação só que com o oxidante passando a ser

apenas ar, a razão de equivalência no primeiro estágio permaneceria em 0,279 e dificilmente a

chama se estabilizaria nessa condição. Desta forma, seria necessário ajustar a razão de

estagiamento do combustível para cada nível de enriquecimento, o que complicaria os

procedimentos operacionais. Outra saída seria ajustar o número de swirl. Conforme mostra a

Figura VI.1, os números swirl mais altos tendem a estabilizar melhor as chamas geradas por

sprays. No entanto, seria necessário prever no queimador um “swirler” com ângulo entre as

pás variável.

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195

VI.2.6.2 – Oxidante Estagiado

As discussões apresentadas nas subseções VI.2.1.1, VI.2.1.2, VI.2.4 e VI.2.5

mostraram que a condição de combustão rica a jusante do queimador pode ser eficiente para

reduzir a emissão de NOx. Além do controle da qualidade da mistura entre os reagentes, outra

forma de se propiciar a combustão rica é através do estagiamento do oxidante. Assim, foram

investigadas duas situações de combustão com oxidante estagiado (Figura VI.42): 1) a

condição 1 corresponde ao oxigênio sendo injetado na mesma altura que o resíduo, ou seja, a

0,323m acima do queimador, só que deslocado 180o em relação ao ponto de injeção do

resíduo; 2) a condição 2 corresponde a injeção do oxigênio a 1,305m acima do queimador,

exatamente no mesmo ponto de injeção do GLP, para o caso do estagiamento do combustível.

Condição 1 de estagiamento do oxidante. Condição 2 de estagiamento do oxidante.

Figura VI.42 – Condições de estagiamento do oxidante.

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196

As condições 1 e 2 correspondem aos testes 38 e 39 da Tabela VI.1, respectivamente,

e são comparados com o teste 34 onde o oxigênio é injetado na linha de ar. É importante

destacar que a vazão de ar no primeiro estágio, por volta de 21g/s, representa o valor mínimo

para que a chama permaneça estável. A razão de equivalência no primeiro estágio (φ1) é igual

a 2,055 para ambas condições. As Figuras VI.43 e VI.44 apresentam a emissão de NOx em mg

de NO2/g de resíduo e ppm, respectivamente. Para as duas condições de estagiamento, a

redução foi bastante eficiente, com maior destaque para a condição 2. A eficiência desse tipo

de estagiamento deve-se principalmente a três fatores: baixa concentração de oxigênio,

temperatura e o tempo de residência em que os gases permanecem na região rica. Em chamas

de hidrocarbonetos ricas, o principal meio de formação do NO é a fixação do nitrogênio

atmosférico por hidrocarbonetos fragmentados, principalmente pelas reações VI.2 e VI.3,

conforme descrito na subseção VI.2.1.1. No entanto, se houver temperatura e tempo

suficientes, o NO e os demais compostos nitrogenados serão convertidos a N2 (Syska, 1993).

Assim, ao contrário do estagiamento do combustível, deseja-se que a temperatura mantenha-

se elevada no primeiro estágio, de preferência acima de 1100oC, onde há um aumento

substancial da taxa de conversão do NO para HCN e posteriormente desse para N2.

Spliethoff et al. (1996) observaram que o aumento do tempo de residência no primeiro

estágio favorece substancialmente a decomposição das espécies nitrogenadas gasosas (NO,

NH3 e HCN), sobretudo pelo fato dessas reações serem mais lentas do que as do mecanismo

de oxidação dos hidrocarbonetos. Também observaram que o aumento da temperatura nessa

região acelera a taxa de conversão dessas reações. A Figura VI.45 apresenta a distribuição de

temperatura ao longo da câmara para as condições de estagiamento e para o oxigênio injetado

no fluxo de ar.

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197

3.24

0.760.37

0

1

2

3

4

O2 injetado nofluxo de ar

Combustãoestagiada nacondição 1

Combustãoestagiada nacondição 2

NOx [mg de NO2/g de resíduo]

Figura VI.43 - Emissão de NOx, em mg de NO2/g de resíduo, para as condições de

estagiamento do oxidante.

NOx [ppm]

1190

279

136

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

O2 injetado no fluxo

de ar

Combustão

estagiada na

condição 1

Combustão

estagiada na

condição 2

Figura VI.44 - Emissão de NOx em ppm, para as condições de estagiamento do oxidante.

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198

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

Distância axial [m]

700

800

900

1000

1100

1200

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

Combustão estagiada na condição 1

Combustão estagiada na condição 2

O2 injetado no fluxo de ar

Figura VI.45 - Distribuição de temperatura ao longo da câmara para as condições de

estagiamento do oxidante e para o oxigênio injetado no fluxo de ar (perfil de medidas na linha

de centro).

Pelas curvas da Figura VI.45 nota-se que a distribuição de temperatura altera-se muito

pouco entre a condições de estagiamento. Desta forma, não se pode atribuir a melhor

eficiência da condição 2 pela aceleração da taxa conversão devido à temperatura. Com relação

ao tempo de residência, pode-se dizer o primeiro estágio é confinado entre o início da câmara

de combustão e a região onde o resíduo reduz a temperatura dos gases, estancando o processo

de decomposição das espécies nitrogenadas e formação de NO. Como as condições de injeção

de resíduo, de ar e de combustível não foram alteradas, o tempo de residência no primeiro

estágio também permaneceu o mesmo para as duas condições.

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199

Uma possível explicação para a pior eficiência da condição 1, em comparação com a

2, é que o oxigênio foi injetado próximo ao primeiro estágio. Assim, uma parte do jato de

oxigênio pode seguir em direção à essa região, ou ser carregado pela recirculação dos gases.

Com isso, algumas regiões da chama queimam em condição estequiométrica ou pobre,

aumentando a formação do NO.

A distribuição de temperatura (Figura VI.45), ainda mostra que, a despeito da grande

quantidade de oxigênio injetado e da combustão ocorrer com praticamente 100% de O2 no

segundo estágio, a temperatura nessa região permaneceu em patamares favoráveis a não

formação de NO, em função da grande quantidade de energia consumida pelo resíduo.

O fator que limita esse tipo de estratégia para redução da emissão de NOx é a

quantidade mínima de ar que deve ser injetado no primeiro estágio para que a chama

permaneça estável. Para 3,11 g/s de diesel, a mínima vazão de ar foi em torno de 21g/s. Isto

significa que o ajuste do nível de enriquecimento com o excesso global de oxidante tem que

levar em conta essa vazão mínima para estabilização da chama. Apesar dessa consideração,

esse tipo de estagiamento mostrou ser bastante eficiente na redução de NOx. Além disso, a

emissão de CO foi zero na saída da câmara, indicando que, apesar da combustão rica no

primeiro estágio, os compostos de oxidação parcial remanescentes são completamente

oxidados no segundo estágio.

VI.2.7 – Atomização Com Oxigênio

Uma alternativa para injeção do oxigênio na câmara é utilizando-o como fluido

auxiliar de atomização. Desta forma, nesta subseção compara-se o resultado do ensaio número

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200

40 da Tabela V.I, onde o oxigênio é totalmente injetado no fluxo de ar, com o número 41,

onde parte dele é utilizado como fluido de atomização. Ambos ensaios foram para o

enriquecimento próximo a 25% de O2, sendo que a vazão 0,49g/s para o oxigênio de

atomização corresponde a 17,2% do total de O2 é injetado na câmara. A Tabela VI.5 mostra

alguns dos resultados obtidos.

Tabela VI.5 – Comparação entre atomização com ar e com oxigênio.

Vazão de resíduo

[g/s]

CO [%]

NOx [ppm]

T8 (saída da câmara)

[oC] Atomização

com ar 10,50 0 110,39±1,55 791

Atomização com oxigênio

10,55 0 106,26±1,20 787

Os resultados mostram que quase nada é modificado quando se passa a atomizar com

oxigênio, principalmente em termos de taxa de incineração e emissão de NOx. A Figura VI.46

também mostra que há pouca alteração na distribuição de temperatura ao longo da câmara.

Desta forma, a atomização com oxigênio é apenas justificável para quando se deseja operar

com oxi-chamas, ou seja 100% de O2. Nessa condição ela passa a ser de fundamental

importância pois, a despeito de um possível teor de nitrogênio no combustível, o ar de

atomização seria uma fonte catastrófica de nitrogênio para formação de NOx, conforme

mostram os resultados experimentais de Souza et al. (1995). Também recomenda-se a

utilização de vapor superaquecido para oxi-chamas, quando há disponibilidade desse fluido.

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201

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Volume [litros]

700

800

900

1000

1100

1200

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

atomização com ar

atomização com oxigênio

Figura VI.46 – Distribuição de temperatura para situações de atomização com ar e com

oxigênio.

A vazão de 0,49g/s para o oxigênio de atomização foi a maior alcançada no

atomizador de combustível, ou seja, nesse valor atingiu-se a condição de bocal bloqueado,

pois o aumento da pressão de estagnação não altera a vazão de descarga. Pode ser que para

atomizadores assistidos por fluido auxiliar em quantidade mais elevada do que as utilizadas

pelos atomizadores Y, a atomização com oxigênio altere os resultados do processo de

enriquecimento. Contudo, baseado nos resultados obtidos nas subseções anteriores do

presente capítulo, pode-se dizer que os meio mais eficiente para reduzir a emissão de NOx em

chamas enriquecidas é a criação de uma região de combustão rica a jusante do queimador,

seja pelo controle da zona de recirculação, pela atomização ou pelo estagiamento da adição de

oxidante. Assim, injeção de oxigênio em grande quantidade na região interna do spray vai

exatamente no sentido contrário desse meio e, possivelmente, a emissão de NOx aumentaria.

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202

VI.2.8 – Posição do Injetor de Combustível

Essa subseção tem como objetivo fazer um observação sobre o correto posicionamento

do atomizador tipo Y para aplicação de incineração de resíduos líquidos. Para melhor

aproveitamento da energia térmica liberada pela chama, o resíduo deve ser injetado o mais

próximo possível desta, mas sem apaga-lá. No entanto, os atomizadores tipo Y com apenas

um canal de injeção de combustível, apresentam uma não simetria no cone do spray (Lacava

et al., 1995). Há uma inclinação do spray para o lado oposto ao canal de injeção do

combustível. Desta forma, conforme a posição desse canal, em relação à direção de injeção do

resíduo, o spray de resíduo pode apagar a chama, ou parte dela. Isso pode ser claramente

observado, comparando-se a distribuição de temperatura para as duas situações estremas, ou

seja, a chama seguindo em direção ao spray ou desviando-se dele, conforme mostra a Figura

VI.47.

Para estabelecer a comparação entre as duas situações, a vazão de resíduo foi mantida

constante em 10,0g/s e as demais condições de ensaio foram: mf = 3,11g/s, mar/atm/f = 0,45g/s,

mar/atm/res = 1,0g/s e excesso de ar de 15%. A Figura VI.48 apresenta o resultado da

distribuição de temperatura para as duas situações. As temperaturas obtidas para situação 1,

após a injeção de resíduo, são inferiores a da situação 2. A inclinação da chama em direção ao

spray de resíduo faz com as reações químicas praticamente “congelem”. Desta forma, a

liberação de energia proveniente das reações de combustão é prejudicada. Para todos ensaios

apresentados nas subseções anteriores, foi utilizado a situação 2 de posicionamento do

atomizador.

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203

• Situação 1 • Situação 2

Figura VI.47 – Situações de posição do atomizador em relação ao spray de resíduo.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

Distância axial [m]

600

700

800

900

1000

1100

1200

Te

mp

era

tura

[ C

]

Situação 2

Situação 1

o

Figura VI.48 – Distribuição de temperatura para as situações 1 e 2 da figura VI.47 (perfil de

medidas na linha de centro).

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204

VI.3 – ENSAIOS COM GLP

Nesse grupo de experimentos, correspondente ao ensaios número 42 a 47 da Tabela

VI.1, utilizou-se GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) como combustível. A posição de injeção

do GLP foi a mesma do diesel, ou seja, na lança central do queimador de “swirler”. O

oxigênio foi injetado no fluxo de ar antes de atingir o queimador, tal qual como nos ensaios

com diesel (ensaios 15 a 24 da Tabela VI.1). Também respeitaram-se algumas considerações

feitas para condição padrão com diesel: excesso de oxidante em torno de 15%, temperatura na

saída câmara por volta de 750oC e ângulo entre as pás do swirler igual a 40º.

Para comparação entre resultados, a vazão de GLP foi ajustada de tal forma que se

mantivesse a potência próxima à gerada nos ensaios com diesel, ou seja, 133,55 kW, visto a

diferença entre o poder calorífico de cada combustível.

O intuito desses ensaios foi verificar o comportamento do processo de enriquecimento

em operações com combustível gasoso. O estímulo para isso foram as observações sobre a

influência do processo de vaporização das gotas de combustível na mistura dos reagentes,

quando o combustível utilizado foi diesel. Desta forma, além dos resultados para outro

combustível, foi possível analisar a situação onde a queima não é controlada pela taxa de

vaporização do combustível, sobretudo no que diz respeito a emissão de gases.

Os procedimentos experimentais e a obtenção de alguns parâmetros (número de swirl,

Reynolds, tempo de residência, etc.) foram realizados da mesma forma que para os ensaios

com diesel, viabilizando a comparação dos resultados.

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205

VI.3.1 – Taxa de Incineração

A Figura VI.49 apresenta o comportamento da taxa de incineração em função da

porcentagem de oxigênio no oxidante. Tal qual como observado para o diesel, há um aumento

considerável até próximo a 50% de enriquecimento, após o aumento é mais “lento”. Isto deve-

se ao mesmo comportamento para as vazões mássicas da câmara (Figura VI.50), ou seja,

como manteve-se a vazão total de oxigênio (O2 do ar + O2 injetado) praticamente constante e

como há uma redução brusca de ar até aproximadamente 50% de O2, uma grande quantidade

de energia é disponibilizada até esse ponto.

20 30 40 50 60 70 80

% O2 no oxidante

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

7.5

Taxa

de I

nci

ne

raçã

o

Figura VI.49 – Comportamento da taxa de incineração com a porcentagem de oxigênio no

oxidante, para b = 15,17 ± 0,60 e T8 ≅ 750oC, utilizando GLP como combustível.

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206

20 30 40 50 60 70 80

% de O2 no oxidante

0

10

20

30

40

50

60

70

Vazõ

es

ssic

as

[g/s

]

Resíduo

Ar

Oxigênio

Total

Figura VI.50 – Vazões de resíduo, ar, oxigênio e total, em função da porcentagem de O2 no

oxidante, utilizando GLP como combustível.

As maiores taxas de incineração (mres/mGLP) queimando GLP, em comparação com a

situação queimando diesel, devem-se principalmente a três fatores: 1) para a mesma potência

liberada na câmara (133,55 kW), a vazão de GLP é menor que a de diesel, 2,91 e 3,11g/s,

respectivamente; 2) para condições próximas de nível de enriquecimento, excesso de oxidante

e temperatura na saída da câmara, a quantidade de resíduo injetada é maior para combustão

com GLP; 3) para o mesmo excesso, a vazão de oxidante é menor para a situação com GLP,

ou seja menos energia é absorvida pelo oxidante excedente; por exemplo: para 21% de O2 a

vazão total de oxidante foi 50,52g/s para o GLP, enquanto que para o diesel foi 53,19g/s.

Plotando-se a vazão mássica de resíduo em função da vazão mássica de O2 puro

adicionado à câmara, Figura VI.51, a relação continua sendo linear, apresentando como valor

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207

médio de 0,83 ± 0,02 gres/gO2. Desta forma, as considerações feitas sobre a estimativa da

capacidade de incineração com enriquecimento e utilizando diesel (subseção VI.2.3.1),

também são válidas para incineração com GLP.

0 2 4 6 8 10 12

Vazão de oxigênio puro adicionado [g/s]

8

10

12

14

16

18

20

22V

azã

o d

e r

esí

du

o [g

/s]

Figura VI.51 – Aumento da vazão de resíduo em função da vazão de oxigênio puro

injetado na câmara, utilizando GLP como combustível.

A razão média entre o aumento da capacidade de incineração e a quantidade de O2

puro injetado, apresentou um valor menor do que o obtido para combustão com diesel (0,89 ±

0,04 gres/gO2). Essa diferença deve-se à redução do nitrogênio presente no oxidante para cada

caso. Isto pode ser melhor explicado através de um exemplo baseado em balanço de massa. A

Tabela VI.6 compara as modificações das condições de combustão quando passa-se o

oxidante de ar para 25% de O2, queimando GLP e diesel. Os cálculos mostram que há uma

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208

redução na vazão de nitrogênio de 8,30g/s, para combustão do diesel, enquanto que para

combustão do GLP a redução foi de 7,85g/s, ou seja, 5% a menos. Desta forma, se a potência

liberada, o excesso de oxidante e a porcentagem de O2 forem mantidos constantes, o

enriquecimento para o diesel disponibiliza uma maior quantidade de energia para aumentar a

taxa de incineração. Assim, pode-se dizer que a incineração com GLP apresenta maior taxa de

incineração que a com diesel, mas o enriquecimento é mais eficiente quando se utiliza esse

último como combustível auxiliar.

Tabela VI.6 – Exemplo baseado em balanço de massa, para ilustrar a redução da vazão do

nitrogênio, devido ao enriquecimento, tanto para GLP como para diesel.

GLP Vazão de

combustível [g/s]

Potência liberada

[kW]

% de O2 no oxidante

Excesso de oxidante

%

Vazão total de ar

[g/s]

Vazão total de oxigênio

(ar + injetado) [g/s]

Redução na vazão de

nitrogênio [g/s]

2,91 133,55 21 15 53,45 12,46 ------ 2,91 133,55 25 15 42,62 12,46 8,30

diesel Vazão de

combustível [g/s]

Potência liberada

[kW]

% de O2 no oxidante

Excesso de oxidante

%

Vazão total de ar

[g/s]

Vazão total de oxigênio

(ar + injetado) [g/s]

Redução na vazão de

nitrogênio [g/s]

3,11 133,55 21 15 50,55 11,78 ------ 3,11 133,55 25 15 40,32 11,78 7,85

VI.3.2 – Distribuição de Temperatura

O perfil de temperatura ao longo da câmara para combustão com GLP é diferente do

da combustão com diesel, sobretudo na região de chama. Isto ocorre devido às diferenças

entre o desenrolar dos processos físicos para cada tipo de combustível, como por exemplo a

taxa de mistura entre os reagentes e as interações com a zona de recirculação. A Figura VI.52

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209

apresenta a distribuição de temperatura na câmara para os ensaios realizados com GLP. Nota-

se que a temperatura no termopar 1 (18cm acima do queimador) atinge valores mais elevados

do que para a combustão com diesel, principalmente para baixos níveis de enriquecimento.

Como não há envolvimento do processo de vaporização do combustível, pois esse já é gasoso,

a mistura entre os reagentes ocorre mais rapidamente. Esse fator contribui para que haja uma

maior liberação de energia nas proximidades do queimador. Visualmente, observou-se

chamas mais curtas para o GLP do que para o diesel.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

DISTÂNCIA AXIAL [m]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

21%

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

700

800

900

1000

1100

1200

1300

700

800

900

1000

1100

1200

1300

TE

MP

ER

AT

UR

A [

C]

25,36%

30,87%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

43,35%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

54,99%

700

800

900

1000

1100

1200

1300

80,30%

o

Figura VI.52 – Distribuição de temperatura ao longo da câmara para diversas condições de

enriquecimento, queimando GLP (perfil de medidas na linha de centro).

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210

Apesar da temperatura no termopar 1 apresentar valores mais elevados para baixos

níveis de enriquecimento, do que a combustão com o diesel, a partir de 43,35% de O2 começa

a ocorrer uma redução de temperatura nessa região. Esse comportamento pode ser melhor

observado através da Figura VI.53, que apresenta os resultados dos quatro primeiros

termopares, em função da porcentagem de O2 no oxidante.

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

850

900

950

1000

1050

1100

1150

1200

1250

1300

Te

mp

era

tura

[ C

]

o

T1

T2

T3

T4

Figura VI.53 – Comportamento das temperaturas obtidas pelos quatro primeiros termopares,

em função da porcentagem de oxigênio no oxidante, queimando GLP.

Basicamente há dois fatores contribuindo para a geometria da chama na câmara: o

nível de enriquecimento e a estrutura da ZRI. A medida que se aumenta o nível de

enriquecimento a taxa das reações químicas é intensificada e a tendência da chama é de se

concentrar nas proximidades do queimador. Por outro lado, o aumento do nível de

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211

enriquecimento reduz o número de “swirl”, chegando a valores extremamente baixos para

elevados enriquecimentos, e a tendência é dissipar a chama das proximidades do queimador.

A Figura VI.54 apresenta a variação do número de “swirl” com a porcentagem de O2

no oxidante. A explicação para o comportamento da temperatura pode ser dado como segue:

até por volta de 30,87% de O2, o efeito do enriquecimento se sobrepõe ao da redução do

número de “swirl”, com isso as temperaturas nos termopares 1 e 2 aumentam. A partir de

43,35% de O2, a redução do número de “swirl” já atinge valores significativos e a chama

começa a dissipar-se das proximidades do queimador. A temperatura no termopar 1 começa a

diminuir e o aumento da temperatura para o termopar 2 passa a ser menos acentuado. Em

54,99% de O2 a temperatura no termopar 2 também já diminuiu, ao passo que as dos

termopares 3 e 4 aumentam, indicando que, apesar do aumento do nível de enriquecimento,

com o enfraquecimento da ZRI grande parte das reações de combustão vai se deslocando a

jusante do queimador.

A dispersão da chama das proximidades do queimador pode ser observada pelas

fotografias obtidas para o primeiro visor da câmara (centro do visor a 18cm do queimador),

organizadas na Figura VI.55. A medida que o nível de enriquecimento aumenta, a forma da

chama na região do primeiro visor vai se aproximando do formato das chamas obtidas para

combustão com diesel enriquecida, com número de “swirl” inferior a 1. A Figura VI.52

também mostra que para 54,99 e 80,30% de O2, a distribuição de temperatura possui

comportamento semelhante ao da combustão com diesel, ou seja, a temperatura no termopar 1

é mais baixa do que a do termopar 2, devido à fraca intensidade de mistura nas proximidades

do queimador.

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212

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

mero

de S

wir

l (S

')

Figura VI.54 – Comportamento do número de “swirl” em função da porcentagem de O2 no

oxidante, para combustão com GLP.

21% O2 S’= 0,291

30,87% O2 S’= 0,154

43,35% O2 S’= 0,085

54,99% O2 S’= 0,054

80,30% O2 S’= 0,026

Figura VI.55 – Fotografias da chama a 18cm do queimador, para diferentes condições de

enriquecimento e queimando GLP.

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213

Ao compararmos a Figura VI.54 com a VI.29, nota-se que os valores do número de

swirl para combustão com GLP são inferiores ao da combustão com diesel. Apesar de

algumas modificações nas vazões de combustível e oxidante e no diâmetro de injeção do

combustível, não são essas as principais razões da diferença observada. O fator bruscamente

alterado, em razão da natureza líquida ou gasosa do combustível, é o fluxo da quantidade de

movimento axial do escoamento primário, devido à grande diferença de densidade entre os

fluidos. Com isso, a razão do fluxo de momento Mr é maior para o GLP, como o número de

swirl alternativo é inversamente proporcional a Mr, S’ diminuirá. A Figura VI.56 apresenta a

valor de Mr em função da porcentagem de O2 no oxidante, para os resultados experimentais

de diesel e GLP.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

0

1

10

100

Mr

diesel

GLP

Figura VI.56 – Comportamento da razão do fluxo de momento Mr para combustão

enriquecida de diesel e GLP, com potência de 133,55kW.

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214

VI.3.3 – Emissão de Gases

A Tabela VI.7 reúne os resultados da emissão de gases na saída da câmara, para a

combustão enriquecida utilizando GLP. A emissão de CO foi zero para todas condições de

ensaio. Tal resultado era esperado pois, se para combustão com diesel, onde a dificuldade para

a mistura entre os reagentes é maior, houve tempo de residência suficiente para praticamente

toda conversão do CO, é evidente que para a combustão com gás também seria.

Tabela VI.7 – Emissão de gases na saída da câmara, para combustão de GLP com diversos

níveis de enriquecimento.

% O2 no oxidante % O2 nos gases de combustão

% CO nos gases de combustão

% CO2 nos gases de combustão

NOx [ppm]

21,00 2,93 ± 0,05 0 12,33 ± 0,04 92,54 ± 3,24 25,36 3,51 ± 0,22 0 15,32 ± 0,21 259,24 ±7,74 30,87 4,38 ± 0,15 0 18,99 ± 0,16 1330,82 ± 27,65 43,35 6,75 ± 0,08 0 27,64 * 2003,20 ± 45,06 54,99 8,78 ± 0,08 0 36,75 * 3163,47 ± 74,58 80,30 14,91 ± 0,29 0 58,77 * 4184,83 ± 37,59

* valores calculados baseado nas porcentagens de O2 e CO na saída da câmara.

Plotando os valores da emissão de CO2 em função da porcentagem de O2 no oxidante,

Figura VI.57, nota-se um comportamento qualitativo e quantitativo semelhante ao da Figura

VI.18, para combustão com diesel. No entanto, quando se representa a emissão de CO2 em

massa e normalizada pela vazão de resíduo, observa-se que há uma redução em cerca de 20%

em relação a combustão com diesel, conforme mostra a Figura VI.58. Esta redução deve-se a

dois fatores: 1) a vazão de resíduo é maior para a combustão com GLP, de acordo com a

discussão da subseção VI.3.1; 2) para a potência de 133,55kW, na combustão com GLP

2,44g/s de carbono são adicionadas à câmara, enquanto que com diesel foi 2,63g/s.

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215

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

10

20

30

40

50

60

%C

O2

nos g

ase

s d

e c

om

bu

stão

valores medidos

valores calculados

Figura VI.57 – Porcentagem volumétrica de CO2 nos gases de combustão na saída da câmara

em função da porcentagem de O2 no oxidante. Valores medidos e calculados para GLP.

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

mass

a d

e C

O2

/massa

de

resíd

uo [

g/g

]

Figura VI.58 – Massa de CO2/massa de resíduo em função da porcentagem de oxigênio no

oxidante, para combustão com GLP.

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216

A emissão de NOx é completamente dependente dos processos físicos e químicos que

se desenrolam na região de queima, como já discutido na apresentação dos resultados para o

diesel. Assim, como era de se esperar, há uma diferença acentuada na emissão desse poluente

de acordo com a natureza do combustível, se líquido ou gasoso. A Figura VI.59 plota a

emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante (valores da Tabela VI.7).

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

NO

x [p

pm

]

Figura VI.59 – Emissão de NOx em função da porcentagem de O2 no oxidante, para

combustão com GLP, realizadas na saída da câmara.

Observa-se que os valores de NOx são mais elevados do que para a combustão com

diesel. Também não há o patamar de pouco aumento da emissão de NOx para baixos níveis de

enriquecimento (< 35%), conforme mostra a Figura VI.21 para combustão com diesel. Alguns

fatores podem ser destacados para esse comportamento.

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217

1) Na combustão com gás, a qualidade da mistura é intensificada em comparação com a de

líquido. Para o excesso de oxidante em torno de 15%, isso incrementa a emissão de NOx

(Lyons, 1982). A melhor homogeneidade da mistura propicia o aumento de regiões na

chama onde a razão de equivalência e a temperatura são favoráveis a formação de NO.

2) Também devido à melhor qualidade da mistura entre os reagentes, em geral, a formação

de fuligem em chamas de gás é menor. Com isso, nessa região da câmara pode haver uma

redução na transferência de calor por radiação para parede, e a temperatura na chama

aumenta. No entanto, o balanço de energia global da câmara, discutido posteriormente na

subseção VI.3.4, mostrou que pouco foi alterado em termos do total de calor transferido à

parede da câmara.

3) As chamas com gás apresentam comprimento inferior às de líquido. Desta forma, as

reações se desenvolvem com a menor presença do resíduo vaporizado, também

contribuindo para o surgimento de regiões com temperatura elevada. Além disso, a região

compreendida entre a chama e o ponto de injeção de resíduo aumenta, ou seja, o tempo de

permanência dos gases na região de pós-chama aumenta, favorecendo a formação de NO

pelo mecanismo de Zeldovich.

4) O comportamento de baixo aumento da emissão de NOx para níveis de enriquecimento

inferiores a 35% de O2, para combustão com diesel (Figura VI.21), foi principalmente

atribuído ao controle da mistura entre os reagentes pela taxa de vaporização das gotas do

spray. Como esse processo físico não está mais presente na combustão com gás, a mistura

entre os reagentes é altamente intensificada e, como consequência, o aumento da

formação de NO também torna-se mais elevado para baixos níveis de enriquecimento.

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218

O aumento da taxa de incineração não foi suficiente para compensar o aumento da

emissão de NOx. Desta forma, a emissão normalizada de NOx, ou seja, a razão mg de NO2/g

de resíduo, também foi superior ao da combustão com diesel, conforme apresenta a Figura

VI.60.

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

mass

a d

e C

O2/m

assa

de

re

sídu

o [g

/g]

Figura VI.60 – Comportamento da razão NO2/g de resíduo, em função da porcentagem de O2

no oxidante, para combustão com GLP.

VI.3.4 – Balanço de Energia

Tal qual como feito para o diesel, esta subseção quantifica o quanto da energia

disponibilizada pela combustão enriquecida de GLP é aproveitada para o aumento da taxa de

incineração. O balanço de energia também foi feito como apresentado no capítulo IV, só que

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219

fazendo as alterações para as condições de combustão com GLP. Como aqui as emissões de

CO e NOx também foram baixas na saída da câmara, quando comparadas com as do CO2, O2,

N2 e H2O, assumiu-se combustão completa. O resultado do balanço está apresentado na

Figura VI.61.

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

en

rgia

/mass

a d

e G

LP

[kc

al/k

g d

e G

LP

]

Calor transferido para parede da câmara

Calor transferido ao resíduo

Entalpia dos produtos de combustão

Entalpia do N2

Figura VI.61 – Resultado do balanço de energia da câmara, para combustão com GLP.

O mesmo comportamento observado para o diesel ocorreu para combustão com GLP,

ou seja, praticamente não há variação acentuada na razão calor total transferido para parede da

câmara/massa de combustível e quase toda energia disponibilizada pela redução da massa de

nitrogênio no oxidante é utilizada para aumentar a taxa de incineração de resíduo.

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220

O número de Reynolds para combustão de GLP foi ligeiramente inferior ao da

combustão do diesel, principalmente para baixos níveis de enriquecimento. Isso deve-se ao

fato da vazão dos produtos de combustão para o GLP também ser um pouco inferior à do

diesel. A Figura VI.62 apresenta o resultado do número de Reynolds, calculado pelo mesmo

procedimento utilizado nos ensaios com diesel, ou seja, na seção correspondente ao termopar

6, usando essa temperatura e a composição dos gases na saída da câmara para o cálculo da

viscosidade média. Os resultados da Figura VI.27 são repetidos na Figura VI.62, para

comparação entre o número de Reynolds dos dois combustíveis

20 30 40 50 60 70 80 90 100

% de O2 no oxidante

1800

2000

2200

2400

2600

2800

3000

3200

Núm

ero

de

Re

yno

lds

ensaios com GLP

ensaios com diesel

Figura VI.62 – Comparação entre o número de Reynolds obtidos para GLP e diesel.

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221

Apesar da diferença no número de Reynolds, não é possível dizer que ela é

significativa ao ponto de alterar bruscamente a taxa de transferência de calor por convecção

para parede da câmara. A Figura VI.63 mostra o resultado do cálculo do tempo de residência

para combustão com GLP e, ao compararmos com os resultados para diesel na Figura VI.28,

nota-se que também não há uma alteração intensa desse parâmetro, ou seja, o tempo de troca

térmica praticamente não se modifica se a combustão é com GLP ou diesel, para mesma

potência e excesso de oxidante.

Após a região de injeção do resíduo, a transferência de calor por radiação dos gases de

combustão para parede da câmara não deve ser diferente da combustão com diesel para GLP,

pois as composições dos gases e o perfil de temperatura a partir do termopar 3 são bastante

semelhantes para ambos combustíveis. No entanto, na região de chama esperam-se

modificações na intensidade dessa forma de transferência de calor, em função das alterações

no comprimento de chama e na formação de fuligem, ambos devido à intensificação da

mistura entre os reagentes quando o combustível é gasoso. Em decorrência do comprimento

de chama diminuir, o comprimento característico (equação VI.20) também irá e a

emissividade na região de chama será menor.

A formação de fuligem não foi quantificada no presente trabalho. No entanto, a

limpeza dos filtros de particulados, devido à saturação, era realizada com maior frequência

durante ensaios com diesel do que nos com GLP, sobretudo para os menores níveis de

enriquecimento. O GLP, apesar de ser um combustível gasoso, não pede ser considerado um

combustível totalmente “limpo”, como por exemplo o metano onde a formação de fuligem é

ínfima, pois, em sua composição há hidrocarbonetos relativamente pesados como o isobutano

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222

(C4H10). Mas, em comparação com a combustão com diesel, a formação de fuligem ainda é

menor.

Das observações citadas, deve-se esperar uma menor transferência de calor da chama

para a parede da câmara. No entanto, o calor total perdido para parede durante a combustão

enriquecida com GLP apresenta um comportamento qualitativo e quantitativo bastante

semelhante ao da combustão com diesel. Como não há uma modificação intensa no número

de Reynolds e no tempo de troca térmica, a conclusão seria que também não há uma grande

modificação troca de calor por radiação para parede da câmara. É importante observar que a

região de chama corresponde a 13,5% do volume total da câmara. Ou seja, é possível que as

modificações na transferência de calor radiativa dessa região, não sejam tão significativas ao

ponto de alterar bruscamente o total de calor perdido para parede da câmara.

20 30 40 50 60 70 80

%O2 no oxidante

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

Te

mp

o d

e r

esi

nci

a [

seg

]

Figura VI.63 – Tempo de residência dos gases de combustão no interior da câmara,

em função da porcentagem de O2 no oxidante, para combustão com GLP.

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223

VI.3.5 – Controle da Emissão de NOx Pelo Número de “Swirl”

Também para combustão com GLP, a emissão de NOx mostrou ser um fator que pesa

negativamente para o emprego direto de chamas enriquecidas com oxigênio, atingindo

inclusive valores mais elevados do que as emissões medidas para combustão com diesel.

Assim, as atitudes cabíveis para o controle da emissão desse poluente também devem ser

aplicadas aos combustíveis gasosos.

As observações feitas na subseção VI.3.2 sobre a maior capacidade de interação entre

a zona de recirculação interna (ZRI) e o jato gasoso, em comparação com o spray de

combustível, foram motivos para a insistência em se tentar controlar a emissão de NOx através

do número de “swirl” (S’). Para condições próximas às do ensaio 44 da Tabela VI.1,

escolhida por ser a condição que apresentou maior emissão normalizada de NOx (Figura

VI.60), variou-se o ângulo entre as pás do “swirler” do queimador de 0 a 70o, com passo de

10o. A Figura VI.64 mostra a relação entre o número de “swirl” e o ângulo entre as pás do

“swirler” (alfa), para as condições correspondentes aos números 48 a 55 da Tabela VI.1. Além

disso, a Figura VI.64 ainda mostra o comportamento da emissão de NOx em porcentagem

volumétrica para os diferentes valores de S’.

A emissão de NOx também apresentou um comportamento qualitativo semelhante aos

das Figuras VI.2 e VI.30 para combustão com diesel, ou seja, a emissão desse poluente reduz

com o aumento de S’, até que para valores mais elevados de S’ estabiliza-se. As razões para

esse comportamento já foram amplamente discutidas nas subseções VI.2.1.1 e VI.2.4, estando

relacionadas com a criação de uma ZRI forte e com razão de equivalência média rica. Apesar

do comportamento qualitativo semelhante, os resultados para o GLP mostram uma maior

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224

eficiência na redução do NOx com o aumento de S’. A Figura VI.65 apresenta a emissão de

NOx na forma de mg de NO2/g de resíduo. Para o nível de enriquecimento ensaiado, a redução

observada foi em cerca de 59%, quando modifica-se o S’ de 0,149 (α = 40o) para 1,117 (α =

70o).

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

S'

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

NO

x [p

pm

]

0

10

20

30

40

50

60

70

Alfa

Emissão de NOx

Alfa

Figura VI.64 – Emissão de NOx e ângulo entre as pás do “swirler” (alfa) em função de

S’, para as condições 48 a 55 da Tabela VI.1.

Os resultados apresentados mostram uma maior eficiência na redução da emissão de

NOx pelo controle da ZRI, para operações com combustível gasoso do que com líquido. Isto

provavelmente se dá pelo fato de, no caso da combustão com spray, gotas com maior

diâmetro atravessarem com facilidade a zona de recirculação, o que já não ocorre com a

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225

combustão com gás. Sendo assim, uma maior quantidade de combustível é retida na ZRI e o

caráter rico da combustão nessa região é intensificado e menos NO é produzido.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

S'

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

mg

de N

O2/g

de

re

síduo

FiguraVI.65 – Variação da razão mg de NO2/g de resíduo em função do número de “swirl”,

para o enriquecimento de 31% de O2 e excesso de oxidante de 15%, queimando GLP.

VI.3.4 – Controle da Emissão de NOx Pela Injeção de Amônia

Uma da técnicas amplamente utilizada em processos convencionais de combustão é a

redução do NOx para N2 através da injeção de amônia (NH3), apresentando eficiências de

redução de 42 a 90%. No entanto, praticamente não há dados disponíveis na literatura sobre a

eficiência dessa técnica aplicada às chamas enriquecidas. Desta forma, foram realizados

ensaios com intuito de caracterizar essa situação.

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226

No capítulo V foi feita uma breve discussão sobre a ação da amônia na redução de

NOx. Basicamente, a eficiência desse processo está atrelada à temperatura na região de

injeção de amônia. No capítulo V também foi apresentado a linha montada para injeção de

amônia na forma de NH3 gasoso.

Foram investigadas duas situações experimentais distintas. Na primeira situação, o

NH3 é adicionado ao fluxo de ar oxidante ainda na linha de alimentação desse, ou seja, antes

da passagem pelo swirler do queimador. Na segunda situação, a injeção é feita a 1,305m a

jusante do queimador, ou seja, equidistante dos termopares 3 e 4, onde há a presença dos

produtos de combustão e o resíduo já vaporizado.

Para ambos pontos de injeção de NH3 as condições dos ensaios foram mantidas

próximas às do número 44 da Tabela 1, ou seja, cerca de 31% de O2 e 15% de excesso de

oxidante. Novamente essa condição foi escolhida por apresentar a maior emissão de NOx

normalizada pelo resíduo (Figura VI.60)

Os resultados para primeira condição correspondem aos ensaios 56 a 62 da Tabela

VI.1. A Figura VI.66 mostra a emissão de NOx em função da vazão de NH3 adicionado a

linha de ar oxidante. Nota-se uma queda acentuada entre a condição sem nenhum NH3 e com

0,13g/s, cerca de 20%. Aumentando a vazão de amônia, a emissão de NOx continua sendo

reduzida, mas sem a intensidade inicial. Para 0,70g/s a redução total foi de aproximadamente

41% em relação à condição sem injeção de amônia, o que ainda representa uma emissão

bastante elevada.

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227

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8

Vazão mássica de NH3 [g/s]

700

800

900

1000

1100

1200

1300

NO

x [p

pm

]

1227

904894

883

791769

724

Figura VI.66 – Emissão de NOx em função da vazão de NH3 adicionado à linha de ar

oxidante.

A Figura V.67 mostra o comportamento da emissão de NOx quando o NH3 é injetado a

1,305m a jusante do queimador. Os valores correspondem aos resultados dos ensaios 63 a 69

da Tabela VI.1. Nota-se uma eficiência bastante elevada para esse ponto de injeção, chegando

a valores inferiores ao obtido quando a combustão foi com apenas ar como oxidante (92,54 ±

3,24 ppm). Quando a amônia é injetada junto ao fluxo de oxidante, possivelmente uma parte

do gás atinge diretamente a região de chama, onde o NH3 é rapidamente convertido para HCN

→ CN → NO, em função da temperatura elevada, conforme discutido no capítulo V. Desta

forma, a redução do NOx acaba sendo menos acentuada. Por outro lado, quando a amônia é

adicionada na região de pós-chama, onde a temperatura esteve por volta de 940oC, as reações

do tipo NHi + NO → N2 + . . . (i = 0, 1 e 2) acabam sendo favorecidas, explicando a

eficiência desse processo nessa condição.

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228

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8

Vazão mássica de NH3 [g/s]

10

100

1000

NO

x [p

pm

]

1244

621

416

131

19

14

11.1

Figura VI.67 – Emissão de NOx em função da vazão de NH3 injetado a 1,305m a jusante do

queimador .

Apesar do resultado positivo apresentado na Figura V.67, é preciso levar em conta o

preço da amônia no custo de operação e o nível de emissão de NOx que deseja-se alcançar. No

presente experimento utilizou-se o NH3 em sua forma gasosa, distribuída comercialmente em

garrafas de 10m3 (normais), por facilidades laboratoriais e devido ao baixo consumo. No

entanto, essa é forma mais cara de comercialização da amônia. Em geral, utiliza-se amônia

líquida estocada em um tanque pressurizado. O líquido passa por um aquecedor (normalmente

elétrico) onde é vaporizado antes de ser injetado ao fluxo de gases de combustão (Cho, 1994).

A despeito do custo da amônia, os ensaios da presente subseção mostraram que é possível

operar incineradores de resíduo líquido aquoso com chama enriquecida, com emissão de NOx

inferior à obtida com ar como oxidante.

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229

CAPÍTULO VII

ANÁLISE TOMOGRÁFICA EM CHAMAS ENRIQUECIDAS NÃO CONFINADAS

No capítulo anterior, estabeleceu-se uma conexão entre a qualidade da mistura dos

reagentes e a emissão de NOx. Para combustão enriquecida do diesel as emissões de O2 e CO

nas proximidades da frente de chama mostraram que até cerca de 40 % de O2 no oxidante o

grau de mistura entre os reagentes é deficiente. Tal fato foi associado ao aumento menos

acentuado da emissão de NOx até esse nível de enriquecimento.

Apesar dos resultados do capítulo VI indicarem o comportamento descrito no

parágrafo anterior, nenhuma medida foi feita direta na chama, o que melhor indicaria a

pertinência dos comentários. Na tentativa de se ampliar as observações sobre a conexão entre

o aumento do grau homogeneidade da mistura e o processo de enriquecimento, realizou-se

uma análise visual da presença dos radicais C2 e CH em chamas não confinadas de diesel e

GLP para diversos teores de O2 no oxidante.

Nas chamas de hidrocarbonetos, a zona de intensa reação química é marcada pela forte

emissão de radiação quimiluminescente, devido à presença dos radicais C2 e CH (Gaydon e

Wolfhard, 1979), cuja as bandas de emissão são 516 e 431nm, respectivamente. A associação

das emissões do C2 e do CH com o grau de homogeneidade de misturas e com razão de

equivalência foi inicialmente reportada na literatura por Gaydon (1957). Em geral, nas

misturas ricas a emissão na banda do C2 é predominante, por outro lado, em regiões da chama

onde a concentração de oxigênio é alta, caracterizando misturas pobres, há uma

predominância na banda de emissão do CH (Lewis e Von Elbe, 1968). Esse comportamento

pode ser exemplificado através do diagrama de evolução da intensidade de emissão (I) dos

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230

radicais C2, CH e OH em função do inverso da razão de equivalência para uma chama pré

misturada de metano com oxigênio diluídos em nitrogênio, apresentado por De Soete e

Feugier (1976) e reproduzido na Figura VII.1.

Figura VII.1 – Intensidade de emissão (I) nos comprimentos de onda do C2, CH e OH em

função de 1/razão de equivalência (De Soete e Feugier, 1976).

Gaydon (1957) mostrou que a intensidade da emissão quimiluminescente do C2 e a do

CH não são apenas uma função da razão de equivalência local, mas também da natureza do

combustível, sobretudo da quantidade de carbono contido no hidrocarboneto. Os resultados

para queimadores tipo bico de Bunsen mostraram que para hidrocarbonetos não saturados,

como acetileno e benzeno, as chamas apresentam fortes emissões na banda do C2, mesmo

para razões de equivalência correspondentes a combustão em regime pobre. No entanto, para

combustíveis saturados como o metano e etano a emissão do C2 é menos acentuada. Chou e

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231

Patterson (1995) notaram que, para uma mesma razão de equivalência, a emissão de C2 é mais

intensa para o indoleno (mistura de alcanos e aromáticos) do que para o propano, em virtude

deste último ser um hidrocarboneto saturado.

Com a trabalho clássico de Lyons (1982), que ressalta a importância do grau de

homogeneidade da mistura reagente na emissão de poluentes, sobretudo NOx, a associação da

emissão quimiluminescente dos radicais C2 e CH com esse parâmetro se tornou uma

ferramenta importante. Como exemplos de aplicação citam-se o trabalho de Chou e Patterson

(1995) na área de motores de combustão interna a pistão com ignição por centelha e os

trabalhos de Caldeira-Pires (1999) e Costa (1998) na área de combustão em turbina a gás.

Como já comentado, no presente trabalho dedicou-se à realização de um experimento

para obtenção das intensidade luminosas nos comprimentos de onda associados a emissão do

C2 e do CH em chamas de diesel e GLP enriquecidas e não confinadas. Os detalhes sobre o

sistema de aquisição de imagens e a o algoritmo de reconstrução tomográfica estão

apresentados no capítulo V. A Tabela VII.1 apresenta a configuração do sistema ótico

utilizado para a obtenção das imagens de cada radical.

O ancorador de chama tipo “swirler”, bem como o atomizador de diesel, o injetor de

GLP e o sistema de medida de vazões dos fluidos são os mesmos utilizados nos ensaios

realizados para chamas confinadas na câmara de combustão, sendo suas descrições também

apresentadas no capítulo V.

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232

Tabela VII.1 – Configuração do sistema ótico.

radical

abertura

foco

filtro de

interferência

[nm]

transmitância

tempo de

exposição

[seg]

distância entre

o sistema ótico

e a chama

C2 4 10 515,40 0,66 1/10000 ≅ 5 m

CH 4 10 431,09 0,55 1/10000 ≅ 5 m

Nas proximidades dos comprimentos de onda 431 e 516nm, característicos da radiação

quimiluminescente dos radicais CH e C2, respectivamente, existem mais duas fontes de

emissão luminosa: 1) reações envolvendo o CO e o CO2 com espécies hidrogenadas que

emitem radiação luminosa em um espectro contínuo entre 300 a 550nm (Chou e Patterson,

1995), e 2) a emissão luminosa característica da presença de fuligem.

Para o primeiro caso, essas reações são lentas quando comparadas com as dos radicais

intermediários, estando presentes nas regiões mais externas da chama. A detecção da região

onde essas reações ocorrem mais pronunciadamente pode ser feita através da análise da razão

entre as intensidades luminosas observadas para os comprimentos de onda 431 e 516nm.

Quando apenas os radicais são responsáveis pelas intensidades luminosas, há uma coerência

entre a razão dessas intensidades e a distribuição da razão de equivalência pela chama. Por

outro lado, quando as reações que envolvem o CO e o CO2 com espécies hidrogenadas estão

presentes em quantidade significativa, existem discrepâncias acentuadas entre as emissões dos

comprimentos de onda citados. As observações desse parágrafo são analisadas com mais

detalhes na apresentação dos resultados para a razão entre as intensidades luminosas dos

comprimentos de onda 516 e 431nm, adiante no presente capítulo.

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233

Em função da formação de fuligem, principalmente nas chamas de sprays, a análise

visual dos radicais C2 e CH é limitada à região onde a presença desta pode ser considerada

como de pequena influência. Conforme discutido no capítulo II, a formação de fuligem está

associada ao craqueamento de hidrocarbonetos voláteis em regiões com deficiência de

oxigênio na chama onde a razão C/O é maior que 0,5 (Haynes e Wagner, 1981). A fuligem,

em geral é formada na região primária das chamas difusivas, onde a mistura entre os

reagentes é deficiente. Contudo, mesmo nas regiões onde a concentração de oxigênio é

precária, sua taxa de formação é desprezível em temperaturas abaixo de 1500K (Lawn e

Godridge, 1987). As Figuras VI.13 e VI.52, mostram que a temperatura medida pelo termopar

1, posicionado a 18 cm do queimador, esteve abaixo de 1500K, tanto para as chamas de diesel

como para as de GLP, em qualquer nível de enriquecimento. Desta forma, a análise aqui

apresentada ficou restrita à essa região da chama.

As chamas de sprays apresentam maior dificuldade de mistura entre os reagentes,

devido à presença do processo de vaporização do combustível. No entanto, quando a

densidade de gotas (número de gotas/unidade de volume) é alta na região imediatamente a

jusante do queimador, a penetração de oxigênio e calor é limitada, fazendo com que a

combustão fique restrita à interface entre o cone central do spray e o escoamento externo de

ar. Com isso, a temperatura apresenta valores mais baixos nessa região da chama,

favorecendo a não formação de fuligem (Chigier, 1983). Os atomizadores tipo Y são

caracterizados por apresentarem uma elevada densidade de gotas nas imediações de sua saída,

em razão do pequeno ângulo de abertura do cone do spray, cerca de 10o (Lacava et al., 1995).

Esta elevada densidade de gotas pode ser observada nos ensaios feitos para determinação do

SMD do spray de diesel (capítulo V). A obscuridade do spray só não saturava os detetores do

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234

sistema de medida, quando o feixe de laser era posicionado a uma distância superior a 15cm a

frente do atomizador.

Em função dos comentários feitos nos parágrafos anteriores, limitou-se a região de

análise das chamas entre a saída do atomizador e a distância 4d (168mm), onde d é o

diâmetro da lança de acoplamento dos injetores de combustível no queimador, ou seja 42mm.

A Figura VII.2 apresenta essa região usando como exemplo a chama para combustão do

diesel enriquecida a 51,39% de O2. No final do processo de reconstrução tomográfica, a

imagem resultante forma uma matriz com 60 x 280 pixels, onde cada pixel armazena uma

informação de intensidade luminosa em escala de cinza. Para analisá-las, estabeleceu-se um

sistema de coordenadas (com a escala em número de pixels) onde se definiram as faixas de

observação gráfica da intensidade luminosa de ambos radicais, conforme também apresenta a

Figura VII.2

Figura VII.2 – Região da chama analisada pelo processo de tomografia e representação das

faixas estudadas graficamente.

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235

Os ensaios foram realizados em quatro combinações de vazão para cada combustível,

que representam as condições em diversos níveis de enriquecimento. A Tabela VII.2

apresenta as condições para os ensaios com diesel e as imagens obtidas para os radicais C2 e

CH após a reconstrução tomográfica. As Figuras VII.3 a VII.10 mostram a representação

gráfica para as faixas analisadas das imagens da Tabela VII.2.

Tabela VII.2 – Condições para os ensaios com diesel e imagens reconstruídas.

mf

[g/s] mO2

[g/s] mar [g/s]

%O2 b C2 CH

3,11

0

53,87

21,00

15,90

3,11

4,75

33,13

30,05

15,14

3,11

9,83

13,41

51,39

14,72

3,11

11,30

5,40

72,63

15,95

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236

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 280

Y = 210

Figura VII.3 – Análise da imagem do C2 para o diesel com 21% de O2 e b = 15,90.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Y = 70

Figura VII.4 – Análise da imagem do CH para o diesel com 21% de O2 e b = 15,90.

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237

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 280

Y = 210

Y = 140

Y = 70

Figura VII.5 – Análise da imagem do C2 para o diesel com 30,05% de O2 e b = 15,14.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.6 – Análise da imagem do CH para o diesel com 30,05% de O2 e b = 15,14.

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238

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 210

Y = 140

Y = 280

Figura VII.7 – Análise da imagem do C2 para o diesel com 51,39% de O2 e b = 14,72.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.8 – Análise da imagem do CH para o diesel com 51,39% de O2 e b = 14,72.

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0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.9 – Análise da imagem do C2 para o diesel com 72,63% de O2 e b = 15,95.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.10 – Análise da imagem do CH para o diesel com 72,63% de O2 e b = 15,95.

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240

As Figuras VII.3 e VII.4, para combustão do diesel com 21% de O2, mostram que para

Y = 70 e Y = 140 as curvas de intensidade de emissão do C2 e do CH apresentam picos em

faixas estreitas, indicando que a as reações químicas se concentram na fronteira do cone do

spray nessa região. Quanto mais próximo à saída do atomizador de combustível maior é a

densidade de gotas do spray e não há penetração suficiente de oxidante no interior do cone

para o desenvolvimento das reações, ficando limitadas à fronteira deste com o escoamento de

ar. À medida que se deslocam a jusante do atomizador as gotas evaporam e a densidade de

gotas no interior do spray diminui, facilitando a penetração de oxidante em seu interior. A

Figura VII.3, ainda para combustão do diesel com 21% de O2, mostra que já nas posições Y =

210 e Y = 180 há uma melhor distribuição do radical C2 no interior do cone do spray. No

entanto, a Figura VII.4 mostra que o radical CH não acompanha esse comportamento e,

mesmo nas posições mais superiores, sua emissão fica restrita à fronteira do cone. Essa

predominância do radical C2 sobre o CH no interior do cone denota que, mesmo havendo uma

melhor penetração do oxidante nas partes superiores da chama, a combustão tende a ser

acentuadamente rica nessa região.

Analisando as Figura VII.5 e VII.6, combustão do diesel com 30,05 % de O2, se

observa que apesar de menos acentuada ainda há uma predominância do radical C2 sobre o

CH, mostrando que permanece a tendência de combustão rica no interior do cone de spray.

Por outro lado, as Figuras VII.7 eVII.8 (combustão do diesel com 51,39% de O2) e Figuras

VII.9 e VII.10 (combustão do diesel com 72,63% de O2) mostram que mesmo para Y = 210 e

Y = 280 as curvas de emissão do CH já não apresentam picos de intensidade, mas um

comportamento mais homogêneo no interior do cone, semelhante ao do radical C2. Isso ocorre

em função do aumento da porcentagem de O2 no oxidante acelerar a taxa de vaporização das

gotas, em função da maior temperatura na região de chama, facilitando a mistura entre o

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241

combustível vaporizado e o oxidante. Com isso a o combustão passa a ser menos rica por toda

chama. Isto está de acordo com o resultados e comentários feitos na seção referente à análise

de gases do capítulo VI.

As Figuras VII.3 a V.II.10 mostram que tanto a radiação quimiluminescente do C2

quanto a do CH diminuem a medida que se aumenta a nível de enriquecimento do oxidante.

Segundo Gaydon e Wolfhard (1979), para chamas difusiva a baixa pressão as emissões de C2

e CH são bem mais fortes para uma chama com ar do que para uma chama com oxigênio,

devido ao tempo de vida dos radicais ser menor para a chama de oxigênio. No entanto, o

comportamento da redução da emissão quimilumisnecente de cada radical, a medida que se

aumenta o nível de enriquecimento, é diferente e depende da natureza do hidrocarboneto

utilizado como combustível.

Imagens na faixa de emissão do C2 e CH também foram obtidas em ensaios para

combustão enriquecida com GLP. A Tabela VII.3 apresenta as condições para os ensaios com

GLP e as imagens para os radicais C2 e CH após a reconstituição tomográfica. As Figuras

VII.11 a VII.18 mostram a representação gráfica para as faixas analisadas das imagens da

Tabela VII.3.

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242

Tabela VII.3 – Condições para os ensaios com GLP e imagens reconstruídas.

mf

[g/s] mO2

[g/s] mar [g/s]

%O2 b C2 CH

2,91

0

50,82

21,00

15,61

2,91

4,75

29,64

30,98

14,00

2,91

9,23

11,29

54,52

15,80

2,91

11,12

3,11

81,30

15,60

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0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.11 – Análise da imagem do C2 para o GLP com 21% de O2 e b = 15,61.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.12 – Análise da imagem do CH para o GLP com 21% de O2 e b = 30,92.

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0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.13 – Análise da imagem do C2 para o GLP com 30,98% de O2 e b = 14,00.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 280

Y = 140

Y = 210

Figura VII.14 – Análise da imagem do CH para o GLP com 30,98% de O2 e b = 14,00.

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0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y= 210

Y = 280

Figura VII.15 – Análise da imagem do C2 para o GLP com 54,52% de O2 e b = 15,80.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.16 – Análise da imagem do CH para o GLP com 54,52% de O2 e b = 15,80.

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246

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.17 – Análise da imagem do C2 para o GLP com 81,30% de O2 e b = 15,60.

0 10 20 30 40 50 60

Eixo X

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

Esca

la d

e c

inza

Y = 70

Y = 140

Y = 210

Y = 280

Figura VII.18 – Análise da imagem do CH para o GLP com 81,30% de O2 e b = 15,60.

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247

As Figuras VII.11 e VII.12, combustão do GLP com 21% de O2, mostram que a

emissão quimiluminescente dos radicais aumenta a jusante do queimador. Como pode ser

observado nas imagens para essa condição, na Tabela VII.3, ocorre um descolamento da

chama em relação ao queimador e com isso há uma tendência das reações químicas ocorrerem

com maior intensidade em posições superiores do sistema de coordenadas adotado. As

imagens da Tabela VII.3 e as Figuras VII.13 a VII.18 mostram que a medida que o nível de

enriquecimento aumenta essa tendência diminui, em função da chama ir se acoplando nas

proximidades do queimador.

Quando o queimador está operando com ar, devido à elevada velocidade de injeção do

jato de gás combustível, a tendência da chama é se estabilizar a jusante, onde o jato já foi

suficientemente desacelerado. Como a vazão de combustível foi mantida constante para todos

ensaios de GLP, a velocidade do jato de gás foi a mesma para qualquer valor de

enriquecimento. No entanto, como a velocidade de chama (velocidade com que os gases

reagentes entram na zona de reação química) aumenta com o enriquecimento e como a

tendência da chama é de se estabilizar onde sua velocidade é igual ao do escoamento, à

medida que a porcentagem de O2 aumenta no oxidante ela se estabiliza nas proximidades do

queimador, como se observa nas imagens para 54,52 e 81,30 % de O2 na Tabela VII.3.

A Figura VII.12 e a imagem do CH para o ensaio com 21 % de O2 da Tabela VII.3

mostram que há uma intensa emissão desse radical nas proximidades de Y = 70, chegando até

a saturar a imagem obtida pela câmara CCD nessa região. Em função do descolamento da

chama, esta se torna extremamente instável em sua região inicial de ancoramento,

caracterizada por elevada turbulência e, consequentemente, elevada mistura entre o gás na

fronteira do jato e o ar oxidante. Com isso, é provável que o desenrolar do processo de

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248

combustão adquire um caráter pobre nesse ponto, justificando a elevada intensidade de

emissão no comprimento de onda do CH. Com o avanço do enriquecimento essa estrutura

instável, responsável pela combustão pobre na região primária, se dissolve e a emissão do CH

é menos discrepante.

As análises gráficas das Figuras VII.11 a VII.18 mostram que há uma melhor

semelhança entre os comportamentos dos radicais C2 e CH na região interna do cone da

chama, em comparação com os resultados apresentados para o diesel. Isso caracteriza uma

melhor distribuição da razão de equivalência ao longo da chama, devido à maior facilidade de

mistura entre o gás combustível e o oxidante.

Uma outra maneira de caracterizar o comportamento da razão de equivalência através

da análise não intrusiva é obtendo a razão entre as intensidade luminosas dos comprimentos

de onda do C2 e CH (IC2/ICH). Chou e Patterson (1995) mostraram que para combustão do

propano e do indoleno em uma câmara de combustão do tipo “L” para motores de combustão

interna a pistão com ignição por centelha, a razão de intensidade IC2/ICH aumenta com o

também aumento da razão de equivalência, conforme mostra a Figura VII.20. Os resultados

apontam que a razão de intensidade não depende apenas da razão de equivalência, mas

também do comportamento dos radicais C2 e CH frente ao tipo de combustível utilizado. No

entanto, pode-se dizer que a razão de intensidade sempre aumentará a medida que se reduz a

concentração de oxidante. Caldeira Pires et al. (1999) também mostraram o aumento da razão

de intensidade com o incremento da razão de equivalência para experimentos utilizando

propano e querosene de aviação em um combustor protótipo do tipo L.P.P. (“Lean Pre-

vaporised Premixed Combustion”) para turbina a gás.

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249

No presente trabalho essa técnica também foi aplicada para as imagens apresentadas

na Tabela VII.2 (diesel) e Tabela VII.3 (GLP). Escolheu-se como região de análise a faixa Y

= 210, por ser uma região onde a densidade de gotas do spray é menos intensa, para o caso do

diesel, e está fora do problema de descolamento da chama, para o caso do GLP.

Figura VII.19 – Resultados de Chou e Patterson (1995) para relação entre razão de

equivalência (φ) e a razão de intensidade (IC2/ICH) para o propano e o indoleno.

A análise também restringiu-se no eixo X entre X = 40 e X = 60, correspondendo a

região interna da chama. Para valores mais externos ocorreram discrepâncias acentuadas entre

as emissões de C2 e CH, levando a resultados que não apresentam coerência. Este problema

na região externa da chama pode estar associado à presença de reações mais lentas, em

comparação com as dos radicais C2 e CH, envolvendo o CO e o CO2 com o hidrogênio

(reações VII.1 e VII.2) que emitem radiação luminosa em um espectro contínuo entre 300 a

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250

550nm, segundo Rassweiler e Withrow (1931) (também citados por Chou e Patterson, 1995),

causando interferência nas bandas de emissão do C2 (516 nm) e CH (431 nm).

H2 + CO2 = CO + H2O (VII.1)

2CO2 = 2CO + O2 (VII.2)

A região interna da chama é caracterizada pela presença das reações dos radicais

intermediários, como as do C2 e do CH. Desta forma, a interferência de reações envolvendo o

CO2 e o CO com hidrogênio tende a ser bem menos acentuada.

Antes de efetuar a divisão entre as intensidades de emissão do C2 e CH, quantificada

por escala de cinza, corrigiu-se o efeito transmitância dos filtros dividindo o valor associado a

cada pixel da imagem do C2 por 0,66 e das as imagens do CH por 0,55. Como a abertura da

lente é a mesma para todas imagens esse fator não precisou ser corrigido.

Após a divisão das intensidades luminosas, o resultado de cada situação experimental

foi normalizado pela sua maior razão IC2/ICH no intervalo X = 40 a X = 60. Com isso foi

possível estabelecer a comparação entre situações estudadas. A Figuras VII.20 e VII.21

mostram os resultados para o diesel e para o GLP, respectivamente.

De uma maneira geral, a Figura VII.20 mostra que à medida que se caminha para

região central das chamas de diesel a razão de intensidade aumenta, o que também representa

o aumento na razão de equivalência. A maior dificuldade de penetração do oxidante em

regiões mais internas da chama resulta em condições mais ricas de combustão. Por outro lado,

o aumento do teor de oxigênio no oxidante minimiza essa situação e tende a propiciar uma

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251

distribuição mais homogênea da razão de intensidade, ou da razão de equivalência. Na Figura

VII.20 nota-se que a razão IC2/ICH para combustão do diesel com ar varia entre

aproximadamente 0,17 e 1, já para combustão com 72,63% de O2 varia entre 0,66 e 1. Esse

comportamento ocorre em função do aumento da taxa de vaporização das gotas do spray com

a elevação da temperatura devido à combustão enriquecida.

40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60

Eixo X

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

IC2

/IC

H [u

nid

ad

e a

rbitrá

ria

]

21% O2

30,05% O2

51,39% O2

72,63% O2

Figura VII.20 - Comportamento da razão de intensidade IC2/ICH em função da posição (X

entre 40 a 60 e Y = 210) para as imagens das chamas de diesel apresentadas na Tabela VII.2.

Já a Figura VII.21 mostra que para as chamas de GLP a distribuição da razão de

intensidade, ou da razão de equivalência é bem menos heterogênea do que as das chamas de

diesel, mesmo para combustão com baixo nível de enriquecimento (30,98% de O2). Essa

diferença entre as chamas de diesel e GLP se deve a presença do processo físico de

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252

vaporização das gotas na queima do diesel, influenciando fortemente a taxa de mistura entre

os reagentes, principalmente para os baixos níveis de enriquecimento. Como o GLP já está em

fase gasosa a mistura entre os reagentes é facilitada na sua combustão.

40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60

EIXO X

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1IC

2/IC

H [u

nid

ad

e a

rbitrá

ria

]

21% O2

30,98% O2

54,52% O2

81,30% O2

Figura VII.21- Comportamento da razão de intensidade IC2/ICH em função da posição (X entre

40 a 60 e Y = 210) para as imagens das chamas de GLP apresentadas na Tabela VII.3.

Para obter o valor da razão de equivalência a partir da razão IC2/ICH seria necessário

uma calibração nas chamas dos combustíveis utilizados garantindo a homogeneidade da razão

de equivalência. Como isso não é possível com o queimador utilizado, a análise se restringiu a

observar a distribuição da razão de equivalência no interior da chama. No entanto, esse tipo

abordagem ainda assim é importante para avaliar a influência do grau de homogeneidade da

mistura reagente e associa-lo à emissão de NOx.

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253

A análise tomográfica das chamas de diesel com ar e com baixo nível de

enriquecimento (30,05% de O2) mostrou uma pior distribuição da razão de equivalência,

sendo que nessa faixa de enriquecimento para a situação de chama confinada apresentada no

capítulo VI, o aumento da emissão de NOx não apresentou um crescimento acentuado, em

comparação com as condições de maior nível de enriquecimento (acima de 35% de O2),

conforme apresentado na figura VI.21. Evidentemente que existem diferenças entre as

situações de chama confinada e não confinada, como por exemplo a estrutura da zona de

recirculação, o carreamento de ar por difusão, transferência de calor, etc., no entanto, é

perfeitamente possível estabelecer uma analogia entre seus resultados, pois a discussão sobre

o aumento da taxa de vaporização com o enriquecimento contínua valendo para ambas

circunstâncias.

Ao compararmos os resultados para a razão de intensidade luminosa IC2/ICH para o

diesel e para o GLP, nota-se que as chamas de GLP são mais homogêneas. Segundo Lyons

(1982) ainda para o excesso de oxidante normalizado de 15% um elevado grau de

homogeneidade corresponderá a uma maior emissão de NOx. Isto, também contribui para as

maiores emissões de NOx na combustão do GLP em comparação com a do diesel para

qualquer nível de enriquecimento, conforme pode ser observado comparando as Figuras VI.21

e VI.59.

Complementando os comentário feitos no capítulo VI, a maior qualidade da mistura

ainda á responsável por chamas mais curtas. Com isso a região entre o final da chama e o

spray de resíduo aumenta. Consequentemente, o tempo de permanência dos gases de

combustão em temperatura elevada também aumentará, o que favorece a formação de NO

principalmente pelas reações mais “lentas” do mecanismo de Zeldovich.

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254

CAPÍTULO VIII

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

A presente tese teve como objetivo principal caracterizar experimentalmente os

benefícios e dificuldades do processo de enriquecimento do oxidante, no aumento da taxa de

incineração de resíduos líquidos aquosos em câmaras de combustão originalmente projetadas

para operar com ar. A contra partida do aumento da taxa de incineração é a emissão de

poluentes, mais especificamente a emissão de NOx. Desta forma, a tese também enfocou

algumas propostas de controle da emissão deste poluente, preservando o aumento da taxa de

incineração.

A discussão apresentada no capítulo I mostra claramente os benefícios que a redução

da concentração de nitrogênio pode trazer ao disponibilizar energia para os processos

industriais que fazem uso da energia térmica liberada pelas reações de combustão, algo que já

vem sendo realizado com algum sucesso em fornos de fusão. No entanto, a utilização do

oxigênio puro para enriquecer o oxidante em processos de incineração ainda necessita de um

grande investimento de pesquisas científicas e de desenvolvimentos tecnológicos, para que

este procedimento seja amplamente adotado. Dentro deste contexto, a presente tese procurou

colaborar com uma discussão baseada em dados experimentais, sobre alguns aspectos desse

tema.

Especialmente para a realização dos experimentos, foi construída uma câmara de

combustão em escala laboratorial, com aproximadamente 1000 litros, sendo sua configuração

típica para incineração de resíduos líquidos em suspensão. No capítulo V foram apresentados

os detalhes da montagem experimental.

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Apesar do caráter totalmente experimental do trabalho desenvolvido, algumas

abordagens teóricas realizadas foram importantes para diagnosticar a diferença de expectativa

de resultados, quando a combustão utiliza o ar enriquecido como oxidante, no lugar do ar

atmosférico. No capítulo III, onde são apresentados os resultados de uma simulação baseada

em equilíbrio químico, previu-se que a disponibilização de energia devida ao enriquecimento

aumenta acentuadamente até 50% de O2 no oxidante; depois, o aumento é de maneira mais

branda, devido ao comportamento da redução da concentração do N2 nos gases de combustão.

Esta previsão para disponibilização de energia também ocorreu nos cálculos termoquímicos

apresentados no capítulo IV, sendo confirmada experimentalmente pela curva de aumento da

taxa de incineração em função da porcentagem de O2 no oxidante, apresentada no capítulo VI

(Figura VI.10).

O enriquecimento com 50% de O2, além de ser um ponto de alteração de

comportamento na curva de capacidade de incineração em relação ao nível de enriquecimento

do oxidante, também é crítico para a emissão de NOx. Os cálculos de equilíbrio químico

mostram que a maior formação de NOx ocorre em torno de 50% de O2, independente do

excesso de oxidante. A razão disso é o acentuado aumento da temperatura até esse nível de

enriquecimento. Acima de 50% de O2, o aumento de temperatura já não é mais tão acentuado,

além disso a concentração de nitrogênio nos gases de combustão vai se reduzindo, o que

diminui o nível de NO formado, até chegar a zero em 100% de O2. Nos resultados

experimentais, o enriquecimento a 50% de O2 também foi observado como crítico para

emissão de NOx.

Os comentários feitos no capítulo III mostram ainda que o excesso de oxidante deve

ser cuidadosamente analisado em operações com chamas enriquecidas. Na combustão com o

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ar, o pico de formação do NO ocorre para situação de combustão ligeiramente pobre, pouco

além da estequiometria. No entanto, quando se aumenta o nível de enriquecimento, o ponto de

máxima formação de NO tende a se deslocar para o lado mais pobre da combustão. Isto

ocorre em função da elevada temperatura alcançada e da disponibilidade de oxigênio. Desta

forma, um menor excesso de oxidante é recomendado para operações com combustão

enriquecida.

Além do elevado excesso de oxidante não ser adequado por propiciar maiores taxas de

formação de NO, a análise termoquímica apresentada no capítulo IV mostrou que menores

excessos de oxidante produzem maiores taxas de incineração, sendo isto mais pronunciado

para baixos níveis de enriquecimento, menos de 50% de O2.

O maior problema de se utilizar pouco excesso de oxidante é a redução do número de

Reynolds da câmara, alterando o nível de turbulência e, como consequência, a intensidade da

mistura entre os reagentes. No entanto, os resultados experimentais mostram que, mesmo para

Reynolds abaixo de 2000, a emissão de CO foi praticamente zero (< 0,02% em volume),

indicando que a eficiência de combustão esteve adequada para qualquer nível de

enriquecimento. Esse resultado mostra que há uma compensação de efeitos. A redução do

fluxo de massa total através da câmara aumenta o tempo de residência dos gases de

combustão no seu interior, ou seja, disponibilizando um tempo maior para o processo de

mistura entre os reagentes e as reações finais do mecanismo de oxidação dos hidrocarbonetos.

Outro aspecto importante é a intensificação da mistura entre os reagentes com o aumento do

nível de enriquecimento, principalmente para queima de combustíveis líquidos, onde a taxa de

vaporização aumenta devido à temperatura mais alta na região de chama. Desta forma, o nível

de turbulência não pareceu ser tão crítico com se julgava inicialmente.

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A análise termoquímica apresentada no capítulo IV mostra que a eficiência da câmara

de combustão estabelece níveis para quantidade de resíduo incinerado, mas não altera o

aumento da taxa de incineração. Esse tipo de análise, apesar de ser relativamente simples,

mostrou ser uma ferramenta capaz de estimar o aumento da taxa de incineração da câmara de

combustão em condições de enriquecimento. Nesta análise, utilizou-se como hipótese o calor

perdido para parede da câmara como sendo constante, ou seja, toda energia disponibilizada

pelo enriquecimento é aproveitada para aumentar a taxa de incineração. O balanço de energia

aplicado à câmara, utilizando os dados experimentais, mostrou que tal hipótese é bastante

razoável. Isto facilita a ação de engenheiros e projetistas pois, estimando a eficiência da

câmara em sua operação com ar, esse valor pode ser utilizado nos cálculos para se obter o

valor da taxa de incineração em qualquer nível de enriquecimento.

Os resultados experimentais para combustão enriquecida do diesel apontam o aumento

de 111% na taxa de incineração em relação a operação padrão, obtido em 100% de O2 no

oxidante. Para o GLP, atingiu-se 85% de aumento para 80% de O2 no oxidante. Esses

resultados foram para o excesso de 15% e eficiência de câmara em torno de 61%. De acordo

com o apresentado na análise termoquímica, operações com excesso de oxidante mais elevado

propiciam taxas de incineração menores; no entanto, a eficiência do processo de

enriquecimento no aumento da taxa é maior.

Apesar dos benefícios apresentados para a taxa de incineração, os resultados mostram

que o grande “gargalo” do processo de enriquecimento é a emissão de NOx. Para as condições

estudadas sem nenhum meio de controle desse poluente, a emissão de NO normalizada pela

massa de resíduo incinerado para a combustão enriquecida do diesel obteve o valor máximo

em 50% de O2, atingindo 6,4 vezes o valor da condição padrão. Já para o GLP, o máximo da

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emissão normalizada foi 7,33 vezes o da condição padrão desse combustível, com 30% de O2

no oxidante. Os resultados do diesel mostram que, para enriquecimentos abaixo de 35% de

O2, o aumento da emissão normalizada é sensível. Deste ponto em diante, há um salto de

valor e o máximo é atingido em 50% de O2, diminuindo após, devido à redução da

concentração do nitrogênio nos gases de combustão.

A comparação entre as emissões na saída da câmara e na região de pós-chama, para o

CO e o O2, indicam que o equilíbrio é atingido com maior rapidez a medida que se eleva o

nível de enriquecimento. Para valores abaixo de 35% de O2, a mistura entre o oxidante e o

combustível não é intensa, formando uma região de combustão rica a jusante do queimador,

impedindo o aumento intenso da formação do NO nessa região. Em regiões posteriores à essa,

onde já há uma melhor penetração do oxidante no cone formado pelo spray de combustível,

também já se faz presente um grande quantidade de resíduo recirculando, não permitindo à

temperatura atingir patamares favoráveis à formação do NO. No entanto, acima de 35% de

O2, os resultados mostram que já começa a haver uma melhor mistura entre os reagentes,

alterando alguns aspectos envolvidos com a formação do NO:

1) com aumento da qualidade da mistura, há uma destruição gradativa da estrutura de

combustão rica formada nas imediações do queimador;

2) o comprimento da chama se reduz, aumentando o tempo que os gases de combustão

permanecem entre o final da chama e o ponto de injeção de resíduo, ou seja, na região de

temperatura elevada;

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3) o enriquecimento causa uma redução do fluxo de massa para chama, o que também causa

o aumento do tempo de permanência dos gases em temperatura elevada;

4) com a redução do fluxo de oxidante, a estrutura da zona de recirculação formada a jusante

do queimador se enfraquece e, com isso, a capacidade de retenção de gotas com menor

quantidade de movimento e combustível vaporizado diminui, fato que favorecia a

combustão rica próxima ao queimador.

A análise visual baseada em reconstituição tomográfica (capítulo VII) mostrou que

realmente há uma melhora na qualidade da misturana região primária da chama com o

aumento da porcentagem de O2 na combustão enriquecida com diesel. Isto se deve

principalmente ao fato do enriquecimento aumentar a temperatura na região de chama,

acelerando o processo de vaporização das gotas do spray e facilitando a penetração do

oxidante no seu interior. Para baixos níveis de enriquecimento a predominância do radical C2

sobre o CH mostrou que a combustão tende a ser mais rica nas imediações do queimador, em

comparação para mesma análise feita para o GLP, principalmente para baixos níveis de

enriquecimento.

A analise tomográfica para as chamas de GLP mostrou uma melhor homogeneidade

da mistura em qualquer nível de enriquecimento. Isto explica, em parte, as maiores taxas de

emissão de NO para esse combustível, comparado com o diesel, sobretudo para os níveis

inferiores de enriquecimento. O comportamento da emissão de NOx para o GLP é

qualitativamente o esperado para um processo de enriquecimento. Além da intensidade da

mistura, deve-se destacar que, na combustão com GLP, o comprimento da chama é menor,

aumentando o tempo de residência dos gases na zona quente; além disso, são chamas com

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menor formação de fuligem, diminuindo a transferência de calor desta para parede da câmara,

aumentado a temperatura dos gases de combustão.

A qualidade com que os reagentes se misturam é um parâmetro controlado pelos

processos físicos envolvidos durante a combustão. No capítulo II discutiram-se os

mecanismos reacionais envolvidos com a formação do NO, mas o desencadear desses

mecanismos depende da temperatura e da razão de equivalência local, controladas pela taxa

de mistura dos reagentes, ou seja, por processos físicos. A importância desses processos sobre

o total de NO formado foi investigada através da comparação entre os resultados obtidos

experimentalmente para o diesel e os obtidos por uma simulação de combustão em reator

homogêneo. Essa comparação é apresentada na forma de um apêndice da tese (Apêndice A).

A situação onde os mecanismos reacionais se sobrepõem aos processos físicos,

podendo estes serem totalmente desprezados, pode ser simulada pelo equacionamento de um

reator bem misturado, ou reator homogêneo. A comparação entre resultados mostra que na

situação de mistura perfeita a emissão de NO é bem maior. No entanto, para enriquecimentos

acima de 40% de O2, nota-se que o comportamento qualitativo da emissão de NO obtido

experimentalmente é semelhante ao da simulação de reator homogêneo, indicando o melhor

nível de mistura para enriquecimentos mais elevados. Apesar do comportamento semelhante

acima de 40% de O2, numericamente, os valores da simulação são muito superiores aos dos

experimentos; isso ocorre, principalmente, pelo fato da simulação não levar em conta a

recirculação do resíduo vaporizado e dos gases de combustão para região de chama, fazendo

com que a temperatura seja mais baixa do que a simulada.

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Apesar da emissão de NOx mostrar ser um fator que limita a utilização das chamas

enriquecidas, algumas estratégias foram estudas como técnica de controle da emissão desse

poluente. Nos ensaios sem injeção de resíduo e sem enriquecimento, notou-se que os

parâmetros de operação do queimador (razão de atomização e número de “swirl”) podem

influenciar significativamente a formação do NO.

A redução da razão de atomização corresponde a aumentar o tamanho médio das gotas

do spray. Por exemplo, para vazão de 3,11g/s de diesel, a razão de atomização de 0,14

propicia o SMD = 14,46µm; se a razão de atomização for reduzida para 0,05, o SMD aumenta

para 88µm. Esse aumento eleva o tempo necessário para vaporização das gotas, dificultando a

penetração de calor e oxidante na parte interna do cone formado pelo spray, principalmente

em sua região primária onde a densidade de gotas é elevada (número de gotas/unidade de

volume). Com isso, a combustão tende a ser rica nessa região e passa a ter um maior

comprimento, reduzindo o tempo de residência dos gases de combustão entre a chama e o

ponto de injeção do resíduo. Para 50% de O2, atingiu-se a mesma emissão normalizada da

condição padrão.

O atomizador tipo Y apresenta um cone de spray com ângulo de abertura pequeno,

cerca de 10o, gerando uma densidade de gotas elevada em sua região primária. Outros tipos de

injetores podem produzir sprays com geometria diferente desta e, com isso, a taxa de mistura

entre os reagentes pode se desenvolver de outra forma, influenciando a emissão de NOx.

A contrapartida da menor emissão de NOx pela redução da razão de atomização é o

aumento da emissão de CO, conforme foi apresentado no capítulo VI. Baseado na emissão de

CO, também pode-se dizer que há aumento nas emissões de hidrocarbonetos não queimados e

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fuligem. Desta forma, é preciso prever algum sistema para redução desses compostos de

oxidação parcial, como exemplo, operações com maior excesso de oxidante. No entanto, para

chamas enriquecidas, consumir-se-ia uma maior quantidade de oxigênio e a taxa de

incineração seria menor. Outra opção é a injeção de ar na região superior da câmara, ou ainda,

a previsão de uma câmara de pós-combustão operando com excesso de ar.

A redução da emissão de NOx pelo ajuste do número de “swirl” foi mais intensa para a

combustão do GLP do que a do diesel. Para o primeiro, a redução para condição de máxima

emissão normalizada (30% de O2) foi cerca de 59%, enquanto que para o segundo foi de

apenas 20% (50% de O2). Esses resultados estão associados com a maior eficiência da zona

de recirculação em confinar o combustível gasoso do que gotas e vapor do combustível

líquido. Desta forma, um queimador com “swirler” que promova um elevado nível de “swirl”

é desejado para reduzir a emissão de NOx, em qualquer condição de operação da câmara. Nos

ensaios, a emissão de CO sempre esteve na ordem do erro do analisador, ou seja menor que

0,02% em volume, tanto para o diesel como para o GLP, em qualquer valor do número de

“swirl”.

Outra técnica amplamente utilizada para queima de hidrocarbonetos com o ar e

investigada para situação de combustão enriquecida no presente trabalho, é o estagiamento da

combustão. Quando o reagente estagiado é o combustível, para situação de combustão

enriquecida, essa técnica apresenta bons resultados somente quando a razão de equivalência

no primeiro estágio é muito baixa (combustão extremamente pobre), caso contrário a emissão

de NOx pode até aumentar. Isso ocorre devido ao deslocamento do ponto de máxima emissão

de NOx para o lado pobre da combustão com o aumento do teor de O2 no oxidante, conforme

apresentado no capítulo III. Já o estagiamento do oxidante, injetando oxigênio após o resíduo,

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foi bastante eficiente, chegando a reduzir a emissão normalizada a um nível inferior ao da

condição padrão de operação. Para todas as situações de combustão estagiada investigada, a

emissão de CO esteve próxima a zero (< 0,02%).

O presente trabalho também enfocou a adição de amônia como agente da conversão

do NO em N2. Para combustão do GLP com 30% de O2 e 15% de excesso de oxidante,

chegou-se a reduzir a emissão de NOx de 1244ppm para 11,1ppm, quando adicionado 0,7g/s

de NH3 a 1,305m a jusante do queimador. O problema dessa técnica é o custo da amônia,

sendo necessário um balanço entre esse custo e o nível de emissão que se deseja obter.

Apesar da necessidade de se implementar algum procedimento para conter ou

minimizar a emissão de NOx, podendo isso acarretar em custos adicionais ao processo, a

presente tese mostrou que é possível associar o aumento da capacidade de incineração com

baixos níveis de emissão de NOx, enriquecendo o oxidante.

A despeito dos custos envolvidos nas técnicas de redução de NOx, a utilização do

enriquecimento e o nível adequado dependem da capacidade do aumento da taxa de

incineração, custo do oxigênio adicional, economia de combustível e disponibilidade da

unidade de incineração para terceiros. O preço que uma indústria paga pelo oxigênio não

depende apenas do seu consumo deste gás, mas do total de gases que ela compra de uma

empresa vendedora. É evidente que seu consumo for alto, pode-se afirmar que o preço do

oxigênio será menor, muitas vezes compensando para empresa vendedora instalar uma

unidade criogênica na indústria. Assim, a definição entre o consumo de oxigênio e o preço a

ser pago por ele é um problema interativo, pois, dependendo da situação, é preferível

enriquecer a 100% de O2, do que a 50%, pois a multiplicação do consumo pelo preço do kg de

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O2 no primeiro caso pode ser menor do que no segundo. Além do que, para 100% de O2, não

se teria a formação NO, não havendo compostos nitrogenados no combustível ou resíduo.

O valor médio para o kg de O2 pago por indústrias de grande porte no Brasil é por

volta de US$ 0,30. Por outro lado, o custo da terceirização da incineração é em torno de

US$2,00/kg de resíduo, de onde se pode concluir que fica mais barato aumentar a capacidade

de incineração pelo enriquecimento do que pagar para outra empresa incinerar o resíduo

excedente. Utilizando os dados obtidos experimentalmente como base de cálculo, para

combustão com diesel são necessários 1,12 g de O2/g de resíduo adicional incinerado.

Fazendo o raciocínio para 1 tonelada de resíduo, na operação com ar seriam necessários

311kg de combustível, para 27,8 horas de operação da câmara. Incinerando a mesma 1

tonelada de resíduo, com ar enriquecido a 50% de O2, seriam necessários 167kg de

combustível e 496kg de oxigênio, para 14,9 horas de operação. Nessa situação, a viabilidade

de se enriquecer o oxidante depende de dois fatores: 1) a relação entre a economia de

combustível e o custo do oxigênio injetado; 2) e o aproveitamento do tempo disponibilizado.

Assim, pode-se concluir que a decisão de utilizar ou não o enriquecimento em uma

câmara de combustão, cuja finalidade é incineração, deve ser cuidadosamente estudada antes

de sua real execução, para que haja uma balanço entre os custos associados e a emissão de

poluentes.

A presente tese procurou ampliar a discussão sobre o tema proposto, não tendo de

forma alguma esgotado as lacunas a serem preenchidas para que esta tecnologia seja

amplamente empregada nas unidades de incineração brasileiras, tanto de uso industrial como

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para resíduos de saúde, cuja a realidade são pátios lotados de resíduo e operações que não

atendem a conciliação entre a minimização de consumo energia e as exigências ambientais.

Do ponto de vista tecnológico, esse trabalho procurou apresentar resultados que

forneçam informações úteis para que engenheiros e projetistas possam avaliar e prever

adequadamente as consequências do enriquecimento. Entre elas, algumas são destacadas: a)

consideração de rendimento de câmara constante durante o processo de combustão; b)

comportamento linear entre a quantidade de resíduo incinerado e o fluxo mássico de oxigênio

puro adicionado à câmara; c) pouca eficiência do processo de enriquecimento acima de 50%

de O2 no oxidante; d) informações sobre as consequências do enriquecimento na emissão dos

gases de combustão.

Do ponto de vista científico, a tese apresenta resultados sobre diversos parâmetros que

afetam a formação de NOx, em toda extensão de enriquecimento (21 a 100% de O2),

discutindo a influência da atomização, do número de “swirl”, do comprimento de chama, do

tempo de residência dos gases na zona quente, do grau de homogeneidade da mistura, entre

outros aspectos. Técnicas de redução de NOx, conhecidas pela eficiência na combustão com

ar, mas que pouco se encontra na literatura sobre como as aplicar em situações de

enriquecimento, também representaram alvo deste trabalho, e os primeiros passos para se

conciliar o aumento da taxa de incineração com baixa emissão de poluentes foram dados

nesse sentido.

Com relação à utilização de novas técnicas experimentais, a tese dedicou um capítulo

especial à analise visual tomográfica de chamas enriquecidas não confinadas. A partir dos

dados provenientes das imagens, foi possível caracterizar o processo de mistura entre os

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reagentes e, com isso, estabelecer uma associação desta caracterização com os resultados das

emissões de gases da câmara de combustão. A associação da razão de intensidade luminosa

entre os radicais C2 e CH com a qualidade da mistura dos reagentes pode ser considerada uma

importante ferramenta para o estudo de chamas, sobretudo para emissão de poluentes.

Conforme já discutido em parágrafos anteriores, a tese pretendeu dar mais

informações sobre o tema proposto, e dessas informações surgiram novas idéias que ficam

como sugestões para trabalhos futuros, listadas a seguir.

1) Como consequência do enriquecimento, a chama se torna mais curta, aumentado o tempo

de residência dos gases de combustão entre esta e a injeção de resíduo. Esta situação é

apontada como favorável à formação de NO, principalmente pelo mecanismo de

Zeldovich. Para presente investigação experimental não foi previsto alterar a distância

entre o queimador e o injetor de resíduo. No entanto, a quantificação da influência desse

tempo de residência na zona de alta temperatura pode ser feita acoplando-se ao módulo

inferior cônico da câmara um novo módulo cilíndrico que permita variar a posição do

queimador em seu interior. Para a montagem aqui desenvolvida é mais fácil alterar a

posição do queimador do que a do injetor de resíduo.

2) Também foi discutido que a recirculação de resíduo vaporizado para região de chama

limita a formação de NO por controlar o aumento da temperatura. No entanto, com a

redução do comprimento da chama, isso é prejudicado. Desta forma, sugere-se o

desenvolvimento e ensaio de um sistema de injeção de combustível e resíduo onde ambos

são posicionados na base da câmara de combustão, de tal forma que a chama ocupe a

região central da mesma e o spray de resíduo a envolva concentricamente por toda sua

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extensão, mas sem atingi-la diretamente. Com isso, espera-se que a temperatura não se

eleve por toda extensão da chama, mesmo quando seu comprimento reduzir devido ao

enriquecimento.

3) As sondas foram posicionadas em apenas dois pontos da câmara, na saída e na região de

pós chama, ambas com a extremidade na direção do escoamento e no eixo de centro da

câmara. No entanto, para melhor entender como a distribuição da razão de equivalência na

região de chama e pós-chama se altera com o enriquecimento, seria interessante a

construção de uma microsonda que pudesse varrer essas regiões e mapear as

concentrações de O2, CO, CO2 e NOx. Com isso, os processos físicos desenvolvidos nessa

região, alterados pelo enriquecimento, seriam melhor compreendidos.

4) As técnicas de redução e controle da formação de NO foram aplicadas somente para as

condições de máxima emissão normalizada, pela razão do objetivo ter sido apenas

apresentar a viabilidade do uso desses recursos em situações de enriquecimento. No

entanto, para realmente qualificar o emprego delas, cabe a realização de experimentos em

todo intervalo de enriquecimento, incluindo outros excessos de oxidante além de 15%.

5) O resíduo aqui empregado foi apenas água, mas fica como sugestão experimentos com

outros resíduos onde se possa avaliar a atuação do enriquecimento na destruição térmica

em suspensão de elementos presentes na composição desse resíduo. Também fica como

sugestão a realização de ensaios onde no combustível ou no resíduo haja a presença de

compostos nitrogenados. Assim, seria possível avaliar a formação de NO não somente

proveniente do nitrogênio atmosférico.

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6) Para a realização de ensaios envolvendo análise tomográfica de chama, a sugestão seria

desenvolver um sistema que fosse capaz de propiciar chamas completamente homogêneas,

ou seja, com uma distribuição da razão de equivalência uniforme e correspondente a da

proporção de reagentes adicionados. Com isso seria possível calibrar a razão de

intensidade luminosas do C2 e do CH para um determinado combustível, em função da

razão de equivalência. Portanto, a partir das imagens de C2 e CH, se obteria

numericamente o valor da razão de equivalência em qualquer ponto da chama, com a

vantagem de ser um sistema não intrusivo.

Finalmente, espera-se que este trabalho tenha contribuído para avanços científicos e

tecnológicos e que motive a continuidade de pesquisas na área de conciliação entre o melhor

aproveitamento da energia com a consciência de se diminuir os impactos ambientais.

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i

APÊNDICE A

SIMULAÇÃO DE REATOR HOMOGÊNEO

Os comentários relacionados aos resultados obtidos na presente tese, apresentados nos

capítulos VI e VII, designam responsabilidade à capacidade de mistura entre os reagentes

sobre o comportamento da emissão de gases, sobretudo de NOx. A intensidade com que os

reagentes se misturam depende dos processos físicos envolvidos na região de chama. Apesar

da formação de NOx ser um processo essencialmente químico, os mecanismos reacionais

envolvidos dependem da temperatura e razão de equivalência local. Desta forma, os processos

físicos acabam controlando o desenrolar dos químicos e influenciam fortemente a formação

de poluentes.

A situação onde os mecanismos reacionais se sobrepõem aos processos físicos,

podendo estes serem totalmente desprezados, pode ser simulada pelo equacionamento de um

reator bem misturado, ou reator homogêneo. Neste apêndice da tese, as situações

experimentais estudadas no capítulo VI foram simuladas como uma associação de reatores

homogêneos. O intuito não é o de desenvolver um modelo teórico, visto que a abordagem de

reator homogêneo está longe de ser a mais adequada para essas situações, mas estudar como

os processos físicos que influenciam a taxa de mistura entre os reagentes e a temperatura na

chama “pesam” nas emissões de CO e NOx para o processo de enriquecimento do oxidante.

Esse desenvolvimento teórico foi organizado em um apêndice por ter menor

relevância do que os capítulos apresentados anteriormente. No entanto, as informações aqui

obtidas são complementares e merecem ser discutidas.

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ii

A.1 – REATOR HOMOGÊNEO

Reatores bem misturados (“well-stirred reactors” – na língua inglesa), ou reatores

homogêneos, são câmaras onde os fluxos de combustível e oxidante são fortemente

misturados devido a um intenso nível de turbulência, causando uma distribuição espacial de

concentrações uniforme. Desta forma, a taxa de conversão dos reagentes em produtos é

controlada apenas pelas reações químicas e não pelo processo de mistura, ou seja, as taxas de

mistura são consideradas infinitesimalmente rápidas. Mas para garantir uma rápida e intensa

mistura, algumas hipóteses são adotadas:

1. As paredes da câmara devem ser assumidas como não-catalíticas.

2. O escoamento através do reator deve ser caracterizado por um tempo de residência

nominal.

3. Este tempo de residência deve ser obtido da vazão e do volume do reator.

A Figura A1. representa esquematicamente um reator bem misturado. O fluxo de

massa através do reator é constante é pode-se fazer considerações quanto ao calor trocado

pelas paredes.

Negligenciando os processos de convecção e difusão, o problema é reduzido

matematicamente a um sistema de equações algébricas não lineares, formado pelas equações:

de estado, conservação de espécies e conservação de energia. Para solução do problema

utilizou-se o programa computacional “PSR – A Fortran Program for Modeling Well-Stirred

Reactors” (Glarborg et al., 1992), que funciona acoplado ao pacote computacional

“CHEMKIN II – A Fortran Chemical Kinetics Package for the Analysis of a Gas Phase

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iii

Chemical Kinetics” (Kee et al., 1992). O equacionamento e a estratégia de solução do

programa computacional PSR podem ser encontrados com riqueza de detalhes em Glarborg

et.al. (1992).

Figura A.1 – Representação esquemática de um reator bem misturado.

A grande vantagem das simulações que assumem a combustão em condição de reator

homogêneo é permitir a utilização de mecanismos reacionais mais detalhados, o que não seria

impossível em simulações onde os processos de convecção e difusão estão presentes, devido

ao elevado tempo e custo computacional. Além disso, a química detalhada é de fundamental

importância para os estudos sobre a formação de NOx.

Apesar de estarem disponíveis na literatura diversas propostas de mecanismos

reacionais para hidrocarbonetos mais leves, como por exemplo para o CH4 e C3H8, não há um

mecanismo capaz de prever com clareza os complexos passos de quebra de hidrocarbonetos

mais pesados em mais leves. Desta forma, faz-se necessário adotar uma reação global para

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iv

quebra do hidrocarboneto mais pesado em compostos mais leves, presentes nos mecanismos

conhecidos. Hautman et al. (1981), Turns (1996) e Borman e Ragland (1998) apontam que as

reações iniciais de quebra de hidrocarbonetos podem ser simplificadas pela reação global A.1,

que, aplicada ao C12H26, resulta na equação A.2:

CnH2n+2 → (n/2)C2H4 + H2 , (A.1)

C12H26 → 6C2H4 + H2 . (A.2)

O etileno (C2H4) é um importante composto produzido em larga escala na combustão

de qualquer hidrocarboneto (Westbrook e Dryer, 1984). Tanto os mecanismos envolvendo o

C2H4 como o H2 são bastante divulgados na literatura. A equação A.1 respeita o balanço

molar dos átomos de C e H na quebra do hidrocarboneto; no entanto, não respeita o balanço

de energia visto a diferença de poder calorífico inferior (PCI) de cada composto. Desta forma,

é necessário fazer um balanço de energia conforme apresentado na equação A.3:

PCIC12H26 → 6.PCIC2H4 + PCIH2 - Qcorreção . (A.3)

Substituindo os valores: PCIC12H26 = 1744030cal/mol, PCIC2H4 = 315420cal/mol e

PCIH2 = 57798cal/mol, o calor de correção (Qcorreção) é igual a 206288cal/molC12H26 ou

1213,45cal/gC12H26. Na simulação de reator homogêneo, este calor de correção foi

representado como sendo uma das parcelas do calor total perdido pelo reator. Esta correção é

necessária pois, caso contrário, a temperatura será maior do que a da combustão com C12H26.

O mecanismo detalhado aqui utilizado é o proposto por Glarborg e Hadving (1991)

para química do nitrogênio acoplada à combustão do hidrocarboneto. Tal mecanismo envolve

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v

253 reações e 49 espécie químicas, incluindo submecanismos para os hidrocarbonetos C1 e

C2, HCN e submecanismos que relacionam espécies de hidrocarbonetos (CHi, HCCO) com

espécies nitrogenadas (NO, NHi, N2). Além do próprio trabalho de Glarborg e Hadving

(1991), diversos outros estudos mostraram que tal mecanismo apresenta resultados

satisfatórios em diversas condições de combustão (Kilpinen e Leppalahti, 1991).

A simulação foi feita para as mesmas situações experimentais da queima enriquecida

com diesel como combustível auxiliar, correspondentes ao ensaios 15 a 24 da Tabela VI.1 A

câmara de combustão foi considerada uma associação de reatores homogêneos, em um total

de 8, conforme mostra a Figura A.2. O primeiro reator representa a região da chama antes da

injeção de resíduo; assim, as vazões de entrada são apenas as de combustível e oxidante.

Neste reator, é feita a correção devida à diferença de energia liberada quando se adota a

reação global A.2, ou seja, o combustível que entra no volume do reator 1 (V1) é uma

combinação de C2H4 e H2, mas a energia liberada é corrigida retirando-se calor desse volume,

correspondente ao calor de correção (Qcorreção). O calor perdido para parede do reator foi

estimado fazendo um balanço de energia até a região do termopar 3 (1,05m acima do

queimador), utilizando a temperatura obtida experimentalmente e a composição de gases

como a de combustão completa. O fluxo de calor para parede da câmara foi considerado

uniforme até esse ponto, inclusive para a região do reator 1. O volume do reator 2 inicia no

ponto de injeção do resíduo, 32cm acima do queimador, e finaliza no ponto correspondente ao

termopar 2. Deste reator em diante, o volume de cada reator corresponde ao volume de

contido entre dois termopares (Figura V.2), por exemplo: o reator 3 (V3) compreende a região

entre o termopar 2 e 3.

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Figura A.2 – Esquema da divisão de câmara de combustão em uma sequência de reatores

homogêneos para simulação de cinética química.

Do segundo reator em diante, incluindo este, foi adotado o perfil de temperatura

obtido experimentalmente (Figura VI.13); desta forma, não foi preciso fazer considerações

sobre o calor perdido para parede no cálculo da temperatura, uma vez que o programa já é

“alimentado” com esse valor. A Tabela A.1 apresenta o volume de cada reator.

Tabela A.1 – Volume adotado para os reatores homogêneos.

Reator Volume [l]

Reator 1 – chama 32,27 Reator 2 – resíduo 96,16

Reator 3 (entre T2 e T3) 98,96 Reator 4 (entre T3 e T4) 98,96 Reator 5(entre T4 e T5) 98,96 Reator 6 (entre T5 e T6) 212,05 Reator 7 (entre T6 e T7) 141,37 Reator 8 (entre T7 e T8) 215,72

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A.2 – SIMULAÇÃO

A Figura A.3 apresenta o resultado da emissão de NO na saída da câmara, em base

seca e em função da porcentagem de O2, obtido pela simulação de reator homogêneo. A

emissão de NO2 é desprezível em relação à emissão de NO; assim, a emissão deste último

corresponde ao total de NOx formado. A Figura A.3 ainda compara o resultado da simulação

com o obtido experimentalmente, apresentado anteriormente na Figura VI.24.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

10

100

1000

10000

100000

NO

x [p

pm

]

Reator homogêneo

Resultados experimentais

Figura A.3 – Resultados da simulação e de medidas experimentais para emissão de NOx em

base seca, na saída da câmara e em função da porcentagem de O2 no oxidante.

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A Figura A.3 mostra que há uma discrepância acentuada entre o resultado do modelo e

o obtido experimentalmente. Isto se deve à grande distância entre as reais condições de

combustão e a combustão em um reator homogêneo. Os processo físicos desenvolvidos na

região de chama, como atomização, confinamento de combustível vaporizado na região de

recirculação, recirculação de produtos de combustão e penetração de resíduo vaporizado na

região de chama, são os maiores responsáveis por essa diferença.

Para 21% de O2 os resultados são muito próximos, pois mesmo na condição de reator

homogêneo, a temperatura na região primária é relativamente baixa e inibe a formação de

NO. Para baixos níveis de enriquecimento, até 35% de O2, os resultados da simulação não

acompanham os experimentais, ou seja, em um reator homogêneo a emissão de NO aumenta

acentuadamente nessa faixa de operação, enquanto que na situação experimental esse

aumento é bem mais brando. Esta diferença mostra que processos físicos influenciam

fortemente a distribuição da temperatura e da razão de equivalência, nesses níveis de

enriquecimento.

Para enriquecimentos acima de 40% de O2, a diferença entre os valores obtidos pela

simulação e os obtidos experimentalmente ainda são discrepantes, e a emissão de NOx para a

simulação continua sendo bem mais alta do que a experimental. No entanto, conforme mostra

a Figura A.3, nesta faixa de operação, o comportamento da emissão de NOx em função da

porcentagem de O2 é qualitativamente mais próximo ao do modelo de reator homogêneo

adotado. Conforme descrito na subseção VI.2.3.3, referente aos resultados da emissão de

gases na combustão enriquecida do diesel, e na análise tomográfica de chama apresentada no

capítulo VII, o enriquecimento propicia melhores condições para intensificar a taxa de mistura

entre os reagentes, daí essa maior semelhança com o comportamento de um reator

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homogêneo. Apesar da atuação de processos físicos que ainda não permitem dizer que a

situação experimental é dominada totalmente pelos processos químicos, a grande diferença

numérica entre as emissões estimadas pelo modelo e as medidas experimentalmente

provavelmente está associada com a elevada temperatura que o modelo calcula para o

primeiro reator. A Figura A.4 apresenta a temperatura e o tempo de residência no reator 1 em

função da porcentagem de O2 no oxidante, calculados pelo modelo.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

%O2 no oxidante

1400

1600

1800

2000

2200

2400

2600

2800

Te

mp

era

tura

no r

eato

r 1 [

C]

0.09

0.12

0.15

0.18

0.21

0.24

0.27

0.30

Tem

po d

e r

esid

ên

cia

no r

ea

tor

1 [s]

Temperatura

Tempo de residência

o

Figura A.4 – Temperatura e tempo de residência no reator 1 em função da porcentagem de O2,

no oxidante, calculados pelo modelo de reator homogêneo.

O modelo aqui utilizado não leva em conta a recirculação dos produtos de combustão

de partes superiores da câmara, cujas temperaturas são mais baixas, e de parte do resíduo

vaporizado, em direção ao reator 1. Como há transferência de calor da chama para esses gases

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e para o vapor de resíduo, experimentalmente a temperatura nas diversas regiões do reator 1

não irá atingir o valor estimado pelo modelo.

Para o equacionamento de reator homogêneo, a emissão de CO em base seca e na

saída da câmara esteve entre 6,86 ppm (21% de O2) e 0,003 ppm (100% de O2). As medidas

experimentais também feitas na saída da câmara, em base seca, mostraram que a emissão de

CO sempre esteve muito baixa (< 200ppm), conforme mostra a Figura VI.17. No entanto, a

faixa de erro do analisador utilizado é de 1% do fundo de escala, ou seja, 200ppm, não

permitindo a precisão de resultados que o modelo apresenta. Apesar da dificuldade de

comparação com os dados experimentais, este resultado de redução da emissão CO mostra

que enriquecimento realmente afeta o mecanismo de oxidação para CO2, pois, conforme

discutido anteriormente, a concentração de espécies hidrogenadas aumenta.