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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DIRCT / DIRGRAD / DECEN CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA DISCIPLINA PROJETO FINAL II LEONARDO TERRA LOYOLA INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DA CONVECÇÃO NATURAL EM CAVIDADES ABERTAS HETEROGÊNEAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA MAIO 2012

INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DA CONVECÇÃO NATURAL EM …repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/6414/1/CT_COEME... · 1.2 Aplicações de Fenômenos de Transporte em Meios Porosos

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  • UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

    DIRCT / DIRGRAD / DECEN

    CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECNICA

    DISCIPLINA PROJETO FINAL II

    LEONARDO TERRA LOYOLA

    INVESTIGAO NUMRICA DA CONVECO NATURAL EM

    CAVIDADES ABERTAS HETEROGNEAS

    TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO

    CURITIBA

    MAIO 2012

  • LEONARDO TERRA LOYOLA

    INVESTIGAO NUMRICA DA CONVECO NATURAL EM

    CAVIDADES ABERTAS HETEROGNEAS

    Monografia apresentada disciplina Projeto Final II, do Curso de Engenharia Industrial Mecnica da Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Campus Curitiba, como requisito parcial para aprovao.

    Orientador: Prof. Admilson T. Franco, Dr

    Co-orientador: Prof. Slvio L. M. Junqueira, Dr

    CURITIBA 2011

  • TERMO DE ENCAMINHAMENTO

    Venho, por meio deste termo, encaminhar para a apresentao o trabalho

    SIMULAO NUMRICA DA CONVECO NATURAL EM CAVIDADES

    ABERTAS HETEROGNEAS, realizado pelo aluno LEONARDO TERRA LOYOLA,

    como requisito parcial para aprovao na disciplina Trabalho de Concluso de Curso

    2 do curso de Engenharia Mecnica da Universidade Tecnolgica Federal do

    Paran.

    Orientador: Prof. Admilson T. Franco, Dr

    DAMEC, UTFPR

    Co-Orientador: Prof. Silvio L. M. Junqueira, Dr

    DAMEC, UTFPR

    Curitiba, 24 de Outubro de 2011.

  • RESUMO

    Neste trabalho, prope-se a investigao numrica do fenmeno de conveco

    natural em meios porosos heterogneos, em que as fases slido e fluido so

    visualmente distinguidas. Essa abordagem na soluo de escoamentos em meios

    porosos denominada abordagem microscpica. A geometria em estudo uma

    cavidade quadrada aberta para o ambiente com a presena de blocos condutivos,

    fixos e rgidos em seu interior, uniformemente distribudos. A parede vertical interna

    da cavidade mantida a uma temperatura constante maior que a do meio, e

    constitui a fonte de energia para a conveco natural. As equaes de balano de

    massa, quantidade de movimento e energia so resolvidas pelo Mtodo dos

    Volumes Finitos, atravs de um programa de DFC (dinmica dos fluidos

    computacional). O problema tratado em regime permanente, e adota-se a hiptese

    de propriedades fsicas dos constituintes como constantes, exceto a massa

    especfica do fluido na avaliao do termo de empuxo, sem o qual no h conveco

    natural. O objetivo deste trabalho analisar a influncia que os parmetros

    adimensionais: nmero de Rayleigh, razo de condutividade trmica slido-fluido e

    nmero de blocos exercem nas taxas de transferncia de calor e no escoamento. Os

    resultados das simulaes so avaliados quantitativamente com base nos valores de

    nmero de Nusselt e de vazo volumtrica adimensional de entrada na cavidade, e

    qualitativamente com base em grficos de isotermas e de linhas de corrente.

    Observou-se que, para qualquer nmero de Rayleigh, a quantidade de calor que o

    fluido capaz de transportar ao meio externo significativamente reduzida quando

    h interferncia da camada-limite trmica pela fase slida. A variao da razo de

    condutividade trmica slido-fluido possui maior importncia justamente nesses

    casos de interferncia, e blocos mais condutivos facilitam as trocas de calor.

    Palavras-chave: Conveco Natural, Cavidade Aberta, Meio Heterogneo, Regime Transiente, DFC.

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES vii

    LISTA DE TABELAS x

    NOMENCLATURA xi

    1 INTRODUO 1

    1.1 Meios porosos 1

    1.2 Aplicaes de Fenmenos de Transporte em Meios Porosos 3

    1.3 Formulao do Problema 6

    1.4 Objetivos 8

    1.5 Justificativa 9

    1.6 Contedo do Trabalho 10

    2 REVISO BIBLIOGRFICA 12

    2.1 Camadas-limite Hidrodinmica e Trmica Conceitos 12

    2.1.1 Lei de Resfriamento de Newton 13

    2.1.2 Conveco Natural 14

    2.2 Reviso da Literatura 19

    3 MODELAGEM MATEMTICA 24

    3.1 Hipteses Simplificadoras 24

    3.2 Equaes Governantes da Conveco Natural 26

    3.2.1 Equao de conservao da massa 26

    3.2.2 Equao de conservao da quantidade de movimento 27

    3.2.3 Equao da conservao da energia 28

    3.3 Adimensionalizao das Equaes Governantes 28

    3.3.1 Equao da conservao da massa adimensionalizada 29

    3.3.2 Equao da conservao da quantidade de movimento 29

    3.3.3 Equao da conservao da energia 29

    3.4 Condies de contorno 30

    3.5 Funo linha de corrente 32

    4 MODELAGEM NUMRICA 34

    5 VALIDAO DO CDIGO DO PROGRAMA DFC 37

    5.1 Cavidade Fechada sem Blocos 37

    5.2 Cavidade Fechada Heterognea 39

    5.3 Cavidade Aberta Homognea 40

    5.3.1 Escolha das dimenses do domnio computacional para a cavidade aberta 44

    6 Cavidade Aberta com Blocos 48

    6.1 Teste de malha e malhas utilizadas 48

  • vi

    6.1.1 Teste de malha para 510Ra e 610Ra 49

    6.1.2 Teste de malha para 710Ra e 810Ra 51

    6.2 Resultados e Discusses 56

    6.2.1 Efeito da variao do nmero de Rayleigh 60

    6.2.2 Efeito da variao do nmero de blocos 66

    6.2.3 Efeito da variao da razo de condutividade trmica slido-fluido 71

    6.2.4 Anlise do nmero de Nusselt local na parede aquecida para a conveco natural na cavidade aberta 73

    6.2.5 Correlaes para nmero de Nusselt de Nusselt mdio e vazo adimensional de entrada de fluido na cavidade 79

    7 CONCLUSO 81

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 83

    APNDICE A CAVIDADE FECHADA SEM BLOCOS 86

    APNDICE B RESULTADOS PARA A CAVIDADE ABERTA COM BLOCOS 88

    APNDICE C CDIGO DO PROGRAMA: ARQUIVO Q1 90

  • vii

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Exemplos de meios porosos: tecido sseo humano, pulmo humano e

    areia. .................................................................................................................... 2

    Figura 2 Perfuso de nutrientes numa estrutura porosa sinttica ............................ 4

    Figura 3 Etapas de manufatura para o processo RTM tpico (resin transfer molding)

    ............................................................................................................................. 5

    Figura 4 Desenho esquemtico do processo VARTM (vacuum assisted resin

    transfer molding) .................................................................................................. 5

    Figura 5 Evoluo do escoamento de resina no molde. ........................................... 6

    Figura 6 Esquema de uma cavidade aberta .............................................................. 7

    Figura 7 Representao esquemtica da cavidade aberta, meio heterogneo,

    abordagem microscpica ..................................................................................... 8

    Figura 8 Camada-limite hidrodinmica ( esquerda) e camada-limite trmica (

    direita) para a conveco natural laminar numa placa plana vertical aquecida

    adaptado de Incropera e De Witt (2008) ............................................................ 12

    Figura 9 Configurao esquemtica da conveco natural (adaptado de Nield e

    Bejan, 2009) ....................................................................................................... 15

    Figura 10 Esquema de desenvolvimento para nmero de Prandtl ( Pr ) baixo

    (acima) e alto (abaixo) (adaptado de Nield e Bejan, 2009) ................................ 17

    Figura 11 Representao esquemtica da cavidade aberta quadrada com o

    domnio heterogneo e condies de contorno; detalhe do bloco slido direita.

    ........................................................................................................................... 31

    Figura 12. Cavidade fechada horizontal. Geometria e condies de contorno. ........ 37

    Figura 13. Cavidade fechada horizontal heterognea, com a presena de um bloco

    em seu interior. .................................................................................................. 40

    Figura 14. Geometria e condies de contorno para a cavidade aberta sem blocos 41

  • viii

    Figura 15 Exemplo de malha utilizada para a simulao da cavidade aberta

    (80 0 no interior da cavidade) ......................................................................... 42

    Figura 16 Isotermas (acima) e linhas de corrente (abaixo) para os domnios

    3L H e 2 3L H , 310Ra e 810Ra . Obs: Apenas a regio correspondente

    ao domnio 2 3L H mostrada. ........................................................................ 46

    Figura 17 - Exemplo de malha: uniforme 121 121 no interior da cavidade e 20 20

    no-uniforme com 1,6n no exterior (regio 2 e 3). (a): domnio completo; (b):

    detalhe da cavidade ........................................................................................... 50

    Figura 18 Distribuio da malha na cavidade aberta quadrada e nas redondezas,

    mostrando-se as diferentes regies de refinamento e a alta concentrao de

    pontos nas regies 1 e 3 Ra=107 e Ra=108 .................................................... 51

    Figura 19. Isotermas para 610Ra e 710Ra , 9N e 36N . Apenas a regio

    prxima da cavidade mostrada. ...................................................................... 59

    Figura 20. Linhas de corrente para 610Ra e 710Ra , 9N e 36N . Apenas a

    regio prxima da cavidade mostrada. ........................................................... 59

    Figura 21. Grficos mNu Ra para 0,1 , 1 , 10 e 100 . ......................... 61

    Figura 22. Grficos M Ra para 0,1 , 1 , 10 e 100 . ............................ 62

    Figura 23. 1 , 36N (a), (b), (c) e (d): isotermas; (e), (f), (g) e (h): linhas de

    corrente. ............................................................................................................. 63

    Figura 24 Perfis de velocidade e temperatura na entrada da cavidade para 1 65

    Figura 25. Nmero de Nusselt mdio como funo do nmero de blocos para 0,1

    a 100 e 510Ra a 810Ra . ......................................................................... 67

    Figura 26. Vazo volumtrica adimensional como funo do nmero de blocos para

    0,1 a 100 e 510Ra a 810Ra . ............................................................. 67

    Figura 27. 710Ra , 0,1K . (a), (b) e (c): campos de temperatura; (d), (e) e (f):

    linhas de corrente. .............................................................................................. 70

  • ix

    Figura 28. Isotermas (acima) e linhas de corrente (abaixo) obtidas para 610Ra e

    36N . ............................................................................................................... 72

    Figura 29. Isotermas (acima) e linhas de corrente (abaixo) obtidas para 710Ra e

    9N . ................................................................................................................. 73

    Figura 30 LNu como funo de Y para 0,1 ..................................................... 74

    Figura 31 LNu , V e como funo de Y para 710Ra , 0,1 e 10 ............ 76

    Figura 32 Linhas de corrente (acima) e isotermas (abaixo) para 710Ra e 64N .

    ........................................................................................................................... 78

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Equaes dominantes adimensionais ..................................................... 33

    Tabela 2. Valores de e S para a varivel . ..................................................... 35

    Tabela 3 Comparao de mNu para refino de malha computacional ..................... 38

    Tabela 4. Resultados de mNu obtidos pela presente soluo e por solues de

    referncia encontradas na literatura para a cavidade quadrada e fechada com

    um bloco. ............................................................................................................ 40

    Tabela 7. Resultados de mNu e m obtidos pelo programa PHOENICS-CFD e por

    Chan e Tien (1985) para a cavidade quadrada, aberta e homognea. .............. 44

    Tabela 8. Resultados de mNu e M obtidos para os domnios 2 3L H e 3L H ,

    meio homogneo. .............................................................................................. 45

    Tabela 9 Valores dos parmetros a serem estudados ........................................... 48

    Tabela 10. Teste de malha para a cavidade aberta heterognea, 610Ra .

    Resultados de mNu e M encontrados para as malhas uniformes ( 144N e

    10 ). ............................................................................................................... 50

    Tabela 11 Teste de sensibilidade de malha para a regio 3, Figura 18. ................ 53

    Tabela 12 Teste de sensibilidade de malha para a regio 1, Figura 18. ................ 53

    Tabela 13 Teste de sensibilidade de malha para a regio 2, Figura 18. ................ 54

    Tabela 14 Refino da malha escolhida para 710Ra e 810Ra . ............................ 55

    Tabela 15 Teste de sensibilidade de malha para 810Ra , 144N e 10 . ....... 55

    Tabela 16. Valores de mnN esperados para os nmeros de Rayleigh investigados . 69

  • xi

    NOMENCLATURA

    Letras Romanas

    A rea 2m

    B Razo de aspecto da cavidade -

    pc Calor especfico presso constante /J kg K

    d Comprimento caracterstico dos blocos m

    D Comprimento caracterstico dos blocos adimensional -

    ie Vetor unitrio na direo x -

    je Vetor unitrio na direo y -

    ke Vetor unitrio na direo z -

    E Extenso de aplicao da malha numrica m

    EP Erro percentual relativo -

    g Acelerao da gravidade 2/m s

    Gr Nmero de Grashof -

    h Coeficiente convectivo local de transferncia de calor 2/W m K

    H Altura da cavidade m

    k Condutividade trmica /W m K

    L Comprimento caracterstico m

    m Vazo adimensional de entrada do fluido na cavidade -

    n Vetor unitrio normal superfcie de referncia -

    N Nmero de blocos -

    Nu Nmero de Nusselt -

    mNu Nmero de Nusselt mdio -

    mNu Nmero de Nusselt local -

    p Presso Pa

    P Presso adimensional -

    Pr Nmero de Prandtl -

    q Posio do n na malha -

  • xii

    Q Vazo volumtrica 3 /m s

    ''q Fluxo de calor 2/W m

    '''q Gerao de energia interna 2/W m

    r Grau de refinamento da malha -

    Ra Nmero de Rayleigh -

    t Tempo s

    T Temperatura K

    u Velocidade do fluido na direo x /m s

    U Velocidade adimensional do fluido na direo x -

    v Velocidade do fluido na direo y /m s

    V Velocidade adimensional do fluido na direo y /m s

    VC Nmero de volumes de controle /m s

    V Vetor velocidade em coordenada cartesiana /m s

    ,x y Coordenadas cartesianas m

    ,X Y Coordenadas cartesianas adimensionais -

    Smbolos Gregos

    Difusividade trmica 2 /m s

    Coeficiente de expanso trmica 1K

    Espessura da camada-limite hidrodinmica m

    T Espessura da camada-limite trmica m

    Funo dissipao viscosa 3/W m

    Viscosidade dinmica .Pa s

    Viscosidade cinemtica do fluido 2 /m s

    cal Valor calculado -

    ref Valor de referncia -

    Temperatura adimensional -

    Massa especfica 3/kg m

    Razo de capacidade trmica slido-fluido -

    Temperatura adimensional -

  • xiii

    Densidade de malha 3/W m

    Funo linha de corrente -

    Subscritos

    f Fluido

    F Temperatura na parede fria

    in Fluido que entra no domnio numrico

    mx Valor mximo

    out Fluido que deixa o domnio numrico

    Q Temperatura na parede quente

    S Slido

    Valor ambiente

  • 1

    1 INTRODUO

    Equation Chapter (Next) Section 1

    Pesquisas tericas e de aplicao sobre fenmenos de transporte em meios

    porosos tm recebido ateno crescente nas ltimas trs dcadas devido sua

    importncia em diversas reas da engenharia. Devido a esse esforo, avanos

    significativos tm sido alcanados nesse campo. A modelagem de escoamentos e

    transferncia de calor e de massa apresenta hoje resultados mais prximos do

    verificado em escoamentos reais. As prprias tcnicas de medio tm sofrido

    avanos importantes recentemente, incluindo formas mais eficientes e efetivas de

    medida de propriedades termodinmicas como condutividade trmica, alm de

    melhorias e novas formas de visualizao de escoamentos. (VAFAI, 2005)

    O objetivo desta introduo exemplificar aplicaes recentes da pesquisa da

    transferncia de calor e de massa em meios porosos e situar o estudo da

    transferncia de calor por conveco natural em cavidades. Sero apresentados

    ainda alguns conceitos bsicos para facilitar o entendimento do problema.

    1.1 Meios porosos

    O meio poroso pode ser definido como o material formado por uma matriz

    slida, rgida ou sujeitas a pequenas deformaes, com espaos interconectados.

    Freqentemente, tanto a matriz slida quanto os vazios so contnuos, de maneira a

    formar dois meios que se interpenetram, como numa esponja de cozinha. Os

    espaos formados pela estrutura slida podem ser preenchidos por um ou mais

    fluidos. (BEJAN, 2009)

    Em meios porosos naturais, a distribuio de poros com relao forma e

    tamanho irregular. Exemplos de meios porosos naturais so: a areia da praia,

    madeira, o pulmo humano, ou ainda o tecido sseo, como mostrado na Figura 1.

    Na escala do poro, as variveis de velocidade, temperatura e presso so

    nitidamente irregulares. Em experimentos, a medio dessas variveis feita em

    reas que atravessam vrios poros, e o que medido na verdade uma mdia

    espacial de valores de propriedades, de velocidade do escoamento e de

    temperatura.

  • 2

    Figura 1 Exemplos de meios porosos: tecido sseo humano, pulmo humano e areia.

    *Imagens retiradas de http://casasaudavel.com.br/2010/07/31/tour-pelo-pulmao-gigante-no-recife-

    acaba-amanha/, http://www.poderdasmaos.com/site/?p=Sistema_Esqueletico_-_417631 e

    http://jornale.com.br/mirian/?p=14039, respectivamente.

    A forma como o escoamento de fluidos em meios porosos tratado

    basicamente uma questo de distncia entre o observador e o fenmeno fsico.

    Quando a distncia pequena, podem ser vistos apenas alguns canais no meio, ou

    algumas cavidades fechadas ou abertas. Nessa abordagem do problema,

    denominada abordagem microscpica, possvel utilizar as equaes de balano da

    mecnica dos fluidos convencional para a resoluo dos campos de velocidade,

    temperatura e presso. Quando a distncia grande a ponto de ser difcil distinguir

    poro de matriz slida, h algumas complicaes que dificultam a soluo de maneira

    convencional, como a modelagem da geometria e da alta capacidade computacional

    necessria para os balanos de massa, energia e quantidade de movimento em

    todos os pontos em estudo. Nesses casos, adota-se a abordagem denominada

    macroscpica, em que so realizadas mdias volumtricas das propriedades termo-

    fsicas do meio para descrev-lo e simplificar a modelagem. (NIELD e BEJAN, 2009)

    http://casasaudavel.com.br/2010/07/31/tour-pelo-pulmao-gigante-no-recife-acaba-amanha/http://casasaudavel.com.br/2010/07/31/tour-pelo-pulmao-gigante-no-recife-acaba-amanha/http://www.poderdasmaos.com/site/?p=Sistema_Esqueletico_-_417631http://jornale.com.br/mirian/?p=14039

  • 3

    1.2 Aplicaes de Fenmenos de Transporte em Meios Porosos

    Uma rea rica de aplicao do conhecimento de fenmenos de transporte em

    meios porosos a biologia. Como exemplos temos o estudo da difuso trmica em

    tecido cerebral, difuso trmica durante processos de gerao de tecidos vivos

    (engenharia de tecidos), uso da ressonncia magntica por imagem (RMI) para

    caracterizar propriedades do tecido humano, perfuso de nutrientes do sangue para

    imediaes, fluxo sanguneo em tumores, etc. (VAFAI, 2005)

    Outras aplicaes ocorrem na rea de sistemas geotrmicos, processos de

    fabricao de compsitos, combusto em meios porosos inertes entre outros.

    i. Engenharia de Tecidos

    Como exemplo de aplicao da transferncia de calor e de massa em meios

    porosos tem-se a engenharia de tecidos, definida como um campo multidisciplinar de

    pesquisa que usa dos princpios de engenharia e das cincias relacionadas vida

    para o desenvolvimento de estruturas biolgicas substitutas que restaurem,

    mantenham, ou melhorem a funo de um tecido ou de um rgo (LANZA et al,

    2009).

    A estratgia principal da engenharia de tecidos envolve a implantao de

    clulas vivas numa estrutura sinttica porosa biocompatvel e a manuteno desse

    sistema num biorreator. A funo dessa estrutura sinttica possibilitar a formao

    de um tecido em trs dimenses. Ela deve permitir a fixao e migrao de clulas e

    de molculas bioqumicas, permitir a difuso dos nutrientes celulares e simular

    certas influncias biolgicas e mecnicas para modificar o comportamento das

    clulas. Alm disso, a estrutura deve ser biodegradvel, para evitar a necessidade

    de remoo cirrgica.

    Para atender a essas necessidades, essa estrutura sinttica deve possuir

    certas caractersticas quanto porosidade e tamanho de poros. Uma estrutura muito

    porosa pode prejudicar a distribuio de nutrientes para as clulas dentro do

    biorreator, ou ento submeter certas clulas a nveis exagerados de tenso devido

    ao movimento de fluidos. Hoje est claro que o metabolismo de clulas e tecidos

    influenciado pelos mecanismos de transporte de nutrientes e de rejeitos que

    regulado pela movimentao de fluidos. Em tecidos vivos, essa movimentao

  • 4

    assume uma importncia significativa na morfognese, no metabolismo e no

    aparecimento de patologias (VAFAI, 2011). A Figura 2 mostra de maneira

    esquemtica um padro de distribuio tpico numa estrutura sinttica, sendo

    evidenciada a direo principal do escoamento.

    Figura 2 Perfuso de nutrientes numa estrutura porosa sinttica

    *adaptado de Applications in Biological Systems and Biotechnology, 1ed

    , 2011

    ii. Manufatura de Compsitos

    Outro exemplo de aplicao do estudo da transferncia de calor e de massa

    em meios porosos a manufatura de compsitos, em especial o processo Liquid

    Composite Molding (LCM). Nesse processo, o polmero lquido injetado dentro de

    um molde que j contm as fibras do compsito, como fibras de vidro, de carbono ou

    de aramida. A Figura 3 e a Figura 4 apresentam algumas variantes do processo

    LCM (VAFAI, 2005).

    Direo principal da perfuso

  • 5

    Figura 3 Etapas de manufatura para o processo RTM tpico (resin transfer molding)

    *adaptado de Handbook of Porous Media, 2ed

    , 2005

    Figura 4 Desenho esquemtico do processo VARTM (vacuum assisted resin transfer molding)

    *adaptado de Handbook of Porous Media, 2ed

    , 2005

    Uma das razes para o estudo numrico desse processo de manufatura

    investigar a melhor maneira de dispor as fibras no molde e as melhores posies

    para a injeo da resina e para a aplicao do vcuo. No realizar esses estudos

  • 6

    pode levar a padres indesejados de impregnao de resina na fibra, conforme

    mostrado na Figura 5.

    Figura 5 Evoluo do escoamento de resina no molde.

    *adaptado de Handbook of Porous Media, 2ed

    , 2005

    1.3 Formulao do Problema

    O problema proposto a transferncia de calor por conveco natural em

    regime permanente em cavidades abertas preenchidas por blocos slidos quadrados

    condutivos e desconexos. Os blocos simulam o meio slido do meio poroso. Os

    espaos entre os blocos so preenchidos pelo fluido em movimento. Essa

    abordagem do problema denominada abordagem microscpica, em que ambas as

    fases fluido e slido so visveis. A soluo do problema ser realizada

    numericamente, usando-se um programa comercial de Dinmica dos Fluidos

    Computacional (DFC). Essa abordagem necessria pois as equaes diferenciais

    envolvidas na transferncia de calor e de massa no possuem soluo analtica.

    A Figura 6 ilustra uma cavidade aberta. De forma simples, as cavidades

    abertas representar objetos como fornos, cmeras refrigeradas, gabinetes de um

    computador desktop ou uma geladeira.

  • 7

    Figura 6 Esquema de uma cavidade aberta

    A geometria e o domnio numrico do problema so apresentados

    esquematicamente na Figura 7. A cavidade em estudo delimitada por uma parede

    isotrmica vertical e por duas paredes adiabticas horizontais. A razo de aspecto

    da cavidade, B H L , unitria. O domnio estendido nas direes x e y ,

    2 3L H . As paredes verticais acima e abaixo da entrada so adiabticas. Os

    blocos so fixos e rgidos e participam das trocas de calor por conduo. As linhas

    tracejadas representam fronteiras por onde o fluido pode entrar ou sair no domnio

    de soluo.

    As propriedades do fluido so mantidas constantes, exceto na avaliao do

    termo do empuxo, causado pela conjuno da variao da massa especfica em

    funo da temperatura e das foras de corpo originadas pela presena da gravidade.

    Slido

    Cavidade

    aberta

  • 8

    Figura 7 Representao esquemtica da cavidade aberta, meio heterogneo, abordagem microscpica

    1.4 Objetivos

    Objetivo Geral

    O objetivo deste trabalho a anlise numrica da transferncia de calor por

    conveco natural em uma cavidade preenchida por blocos quadrados, fixos, rgidos

    e condutivos, e aberta para o ambiente. Essa geometria foi escolhida como

    representante do meio poroso visto sob a tica da abordagem microscpica.

    Pretende-se avaliar sob que condies as trocas trmicas entre cavidade e meio so

    facilitadas ou dificultadas, e o porqu de tal comportamento.

  • 9

    Especificamente, ser investigado o efeito que a variao do nmero de

    blocos, da razo de condutividade trmica slido-fluido e da intensificao da

    hidrodinmica do escoamento, associada ao nmero de Rayleigh, causam nos

    resultados adimensionais nmero de Nusselt e vazo volumtrica adimensional de

    fluido na entrada da cavidade, alm da sua influncia nas distribuies de isotermas

    e linhas de corrente.

    Objetivos Especficos

    Pelo discutido acima, entende-se que os objetivos especficos compreendem a

    determinao de:

    1. Nmero de Nusselt mdio na parede aquecida;

    2. Vazo volumtrica adimensional na abertura da cavidade;

    3. Campos de temperatura (isotermas);

    4. Campos de linhas de corrente.

    Os parmetros fsicos de soluo que sero investigados so os mesmos

    adotados por Merrick e Lage (2005) no estudo da conveco natural numa cavidade

    fechada horizontal aquecida lateralmente, tambm preenchida por blocos slidos. A

    sua definio fsica e matemtica dada no decorrer do trabalho.

    1.5 Justificativa

    A transferncia de calor e de massa em meios porosos est presente em vrias

    aplicaes de interesse da engenharia. Podem-se citar reservatrios geotrmicos,

    processos de fabricao, combusto em meios porosos inertes, resfriamento de

    componentes eletrnicos, isolamento trmico, sistemas biolgicos e biotecnologia,

    entre outros.

    Simular numericamente o meio poroso de forma simplificada pode auxiliar no

    entendimento da transferncia de calor em meios porosos reais e na obteno de

    modelos que os representem de forma mais fiel e precisa. Isso se mostra necessrio

    devido ao grande esforo computacional realizado para se simular o meio poroso tal

    como encontrado nas diversas aplicaes da engenharia, formado por milhares de

    partculas slidas tambm porosas suscetveis movimentao devido ao

    escoamento do fluido.

  • 10

    Sendo assim, o presente projeto possui aplicaes que fornecem vantagens

    econmicas, tecnolgicas e de bem-estar humano. Economicamente, a simulao

    da transferncia de calor e de massa em meios porosos pode levar a redues de

    custos. Por exemplo, simulaes numricas podem substituir em parte a explorao

    de aquferos geotrmicos realizada pela perfurao de poos. Tecnologicamente, o

    estudo pode auxiliar no desenvolvimento de meios porosos para diversos fins, como

    isolantes trmicos ou dissipadores de calor, aumentando a eficincia energtica de

    sistemas em geral. Quanto ao bem estar humano, o estudo pode resultar em meios

    porosos que forneam a estrutura necessria para o desenvolvimento de tecidos ou

    rgos humanos (VAFAI, 2011).

    Academicamente, o desenvolvimento deste projeto de importncia, pois

    engloba o conhecimento adquirido em diversas disciplinas do curso, como Mecnica

    dos Fluidos, Transferncia de Calor e de Massa, Mtodos Numricos e noes de

    programao e de DFC (Dinmica de Fluido Computacional).

    1.6 Contedo do Trabalho

    O contedo do trabalho estruturado em 6 captulos, incluindo este captulo

    introdutrio, que insere o problema no contexto da transferncia da calor em meios

    porosos.

    O segundo captulo apresenta a Reviso Bibliogrfica, onde so realizadas

    algumas consideraes sobre transferncia de calor por conveco natural,

    necessrias para o desenvolvimento do estudo. So definidos os parmetros

    adimensionais de soluo e discutida sua influncia no desenvolvimento das

    camada-limites trmica e hidrodinmica. So comentados ainda alguns trabalhos de

    interesse encontrados na literatura relacionados ao tema da conveco natural em

    cavidades.

    O terceiro captulo, modelagem matemtica, apresenta as hipteses

    simplificadoras adotadas para o problema e as equaes de balano de massa, de

    quantidade de movimento e de energia. Essas equaes so adimensionalizadas e

    discutidas. Ainda, so apresentadas as condies de contorno aplicadas.

    O quarto captulo apresenta brevemente alguns conceitos importantes sobre o

    mtodo numrico de soluo das equaes de balano adotado pelo programa.

  • 11

    O quinto captulo trata das etapas de validao do cdigo implementado no

    programa DFC para a simulao da conveco natural na cavidade aberta

    heterognea, vista sob a ptica da abordagem microscpica. Aqui so avaliadas as

    cavidades fechadas homognea e heterognea e a cavidade aberta homognea. A

    validao realizada pela comparao da soluo obtida com solues de

    referncia encontradas na literatura, e discutem-se aspectos de teste de

    sensibilidade de malha.

    O sexto captulo apresenta a discusso do problema da conveco natural na

    cavidade aberta heterognea. Esse captulo dividido em duas sees, o teste de

    malha realizado e resultados. Nesta ltima seo so avaliados os efeitos que a

    variao dos parmetros de soluo causa nas taxas de transferncia de calor e no

    escoamento.

    Por fim, o stimo captulo expe as concluses do presente trabalho. Na

    seqncia, so apresentadas as referncias bibliogrficas e os apndices. O

    APNDICE A apresenta a comparao dos resultados obtidos para a cavidade

    fechada homognea e com solues de referncia da literatura. O APNDICE B

    apresenta os resultados de nmero de Nusselt e vazo volumtrica adimensional de

    entrada de fluido na cavidade encontrados para a cavidade aberta com blocos. No

    APNDICE C transcrito o cdigo de entrada de parmetros de soluo numrica

    utilizado no programa DFC para as simulaes da cavidade aberta com blocos.

  • 12

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    Equation Chapter (Next) Section 1

    Nesse captulo sero apresentadas brevemente algumas definies sobre

    transferncia de calor por conveco, importantes para o desenvolvimento do

    projeto. Na seqncia sero discutidos alguns trabalhos da literatura acerca do tema

    da conveco natural em cavidades.

    2.1 Camadas-limite Hidrodinmica e Trmica Conceitos

    A transferncia de calor por conveco, ou simplesmente conveco, o

    estudo do transporte de calor resultante da movimentao de fluidos (NIELD e

    BEJAN, 2009).

    A aplicao mais usual da conveco a interao trmica entre um fluido e

    uma superfcie slida, sob diferentes temperaturas. o caso, por exemplo, de

    cmeras frigorficas, fornos e trocadores de calor.

    A conveco caracterizada pela presena das camadas-limite hidrodinmica

    e trmica. Na Figura 8 so ilustradas camadas-limites laminares.

    Figura 8 Camada-limite hidrodinmica ( esquerda) e camada-limite trmica ( direita) para a conveco natural laminar numa placa plana vertical aquecida adaptado de Incropera e De

    Witt (2008)

  • 13

    Na Figura 8, representa a espessura da camada-limite hidrodinmica e T

    representa a espessura da camada-limite trmica. O subscrito indica

    propriedades do fluido nas condies do ambiente e o subscrito S indica

    propriedades da parede aquecida.

    A camada-limite hidrodinmica, ou de velocidade, formada devido ao efeito

    conjunto da viscosidade do fluido e da condio de no deslizamento na superfcie

    slida. Na interface fluido/slido, as partculas fluidas e o slido esto em contato e

    possuem a mesma velocidade em relao a um referencial qualquer. A viscosidade

    e a diferena de velocidade entre camadas adjacentes de fluido causam tenses

    cisalhantes que dissipam energia cintica das partculas fluidas, retardando-as. Isso

    claramente mostrado na Figura 8 conforme nos distanciamos da superfcie slida

    ( 0y ). A espessura da camada-limite hidrodinmica fica definida pelo valor de y

    em que a velocidade do fluido corresponde a 99% da velocidade da corrente-livre, e

    denotada pela letra grega .

    A camada-limite trmica formada devido conduo de calor no fluido e

    diferena de temperatura entre a superfcie do slido e o fluido. Na interface, as

    partculas fluidas possuem a mesma temperatura da superfcie, esto em equilbrio-

    trmico. Por sua vez, essas partculas trocam calor com as partculas fluidas

    adjacentes, e h o desenvolvimento de gradientes de temperatura no fluido. A regio

    do fluido onde esse fenmeno se desenvolve denominada camada-limite trmica,

    e sua espessura t definida pelo valor de y em que a razo

    0,99S ST T T T .

    2.1.1 Lei de Resfriamento de Newton

    A transferncia de calor por conveco regida pela lei de resfriamento de

    Newton, equao (2.1). Segundo essa lei, o fluxo de calor na interface slido/fluido

    diretamente proporcional ao coeficiente convectivo mdio, h , e diferena entre a

    temperatura da superfcie do slido e a temperatura do fluido ambiente. O

    coeficiente convectivo depende das condies da camada-limite, que so

    influenciadas pela geometria da superfcie, pela natureza do escoamento, e por

  • 14

    vrias propriedades termodinmicas e de transporte do fluido. (INCROPERA e DE

    WITT, 2008)

    '' Sq h T T (2.1)

    O coeficiente convectivo mdio pode ser calculado pela integrao do

    coeficiente convectivo local h ao longo da seo da superfcie slida analisada, de

    rea SA , conforme equao (2.2). (INCROPERA e DE WITT, 2008)

    1

    S

    S

    S A

    h hdAA

    (2.2)

    Para um problema bidimensional, a equao (2.2) se reduz a

    1

    L

    h hdLL

    (2.3)

    em que L um comprimento caracterstico de interesse.

    A maioria dos problemas de transferncia de calor por conveco so

    problemas de determinao do valor do coeficiente convectivo mdio.

    2.1.2 Conveco Natural

    A conveco se divide em conveco forada, conveco natural e conveco

    mista. Na conveco forada o movimento relativo entre o fluido e a superfcie

    mantido por meios externos, tais como ventiladores, sopradores, bombas. Na

    conveco natural, o escoamento originado pelas foras de empuxo decorrente de

    variaes de massa especfica no fluido e presena da acelerao gravitacional. A

    conveco mista caracterizada pela ocorrncia de ambos os fenmenos.

    (INCROPERA e DE WITT, 2008)

    No presente trabalho, a variao de massa especfica no fluido causada por

    diferenas de temperatura. Um esquema da conveco natural mostrado na Figura

    9. Um corpo aquecido ( 0T ) est submerso num fluido qualquer (T ). presso

    constante, o fluido aquecido se expande, se torna menos denso e mais leve, e tende

    a subir. Por sua vez, o reservatrio de fluido deslocado para baixo pela massa

    aquecida de fluido, formando a clula de conveco livre mostrada.

  • 15

    ''q

    x 0y

    y

    y H

    ''q

    Resfriamento e

    compresso

    Movimento do

    fluido

    Duto

    imaginrio

    Fluido Frio

    reservatrio

    Parede

    aquecida

    QT

    Aq

    uecim

    en

    to

    e e

    xp

    an

    so

    g

    Figura 9 Configurao esquemtica da conveco natural (adaptado de Nield e Bejan, 2009)

    O fluido em movimento passa por um ciclo de aquecimento, expanso,

    resfriamento e compresso, de forma similar ao que ocorre numa mquina trmica.

    Na ausncia de trabalho realizado, o fluido se movimenta com tal velocidade que

    todo o potencial de desenvolvimento de trabalho dissipado pelas foras viscosas

    no interior do fluido e na interface com as paredes.

    A questo fundamental da transferncia de calor por conveco natural a

    determinao da taxa de transferncia de calor entre a superfcie slida e o fluido.

    Quando os valores das temperaturas so conhecidos, o problema passa a ser a

    determinao do coeficiente convectivo mdio.

    2.1.2.1 Aproximao de Boussinesq

    Conforme explicado, no presente trabalho a diferena de massa especfica

    causada por diferenas de temperatura em camadas adjacentes de fluido. A relao

    entre as duas propriedades pode ser avaliada pela aproximao de Boussinesq.

    Matematicamente, essa aproximao dada pela equao (2.4) (NIELD e BEJAN,

    2009).

    f T T (2.4)

  • 16

    onde representa o coeficiente de expanso trmico do fluido. A fora motriz do

    escoamento mostrada como decorrente da diferena de temperatura entre o

    reservatrio e a partcula fluida. Caso essa diferena seja nula em todo o fluido, no

    h escoamento.

    2.1.2.2 Parmetros adimensionais da conveco natural

    O modo de transferncia de calor por conveco abrange dois mecanismos,

    difuso e adveco. A difuso a transferncia de energia devido movimentao

    molecular aleatria. A adveco corresponde ao transporte de calor devido ao

    movimento global do fluido. Logo, o fenmeno da conveco natural envolve um

    balano entre a conduo e a adveco, como ser mostrado na modelagem

    matemtica adiante, seo 3.2.3.

    H trs foras de naturezas distintas presentes na camada-limite da conveco

    natural: fora de inrcia, fora cisalhante e fora de empuxo. A conveco natural

    governada pelo balano dessas foras. A competio entre foras de inrcia e foras

    viscosas determinada pelo nmero de Prandtl, uma propriedade do fluido definida

    pela equao (2.5), em que representa a viscosidade cinemtica e a

    difusividade trmica. Fluidos com alto valor de nmero de Prandtl formam uma

    camada-limite hidrodinmica governada pelas foras viscosas e de empuxo,

    enquanto que fluidos com baixo valor de nmero de Prandtl formam uma camada-

    limite hidrodinmica governada pelas foras de inrcia e de empuxo.(BEJAN, 2009)

    Pr

    (2.5)

  • 17

    Figura 10 Esquema de desenvolvimento para nmero de Prandtl ( Pr ) baixo (acima) e alto (abaixo) (adaptado de Nield e Bejan, 2009)

    Os grficos da Figura 10 ilustram a relao entre a camada limite trmica e a

    camada limite hidrodinmica para nmeros de Prandtl baixo e alto. Para valores de

    Prandtl elevados, a espessura da camada-limite hidrodinmica consideravelmente

    maior que a espessura da camada-limite trmica, devido elevada viscosidade.

    Nesse caso, parte do fluido da camada-limite est em movimento sem estar sob

    influncia da fora de empuxo. Nessa regio, h apenas o balano da fora de

    inrcia e da fora viscosa. Na regio da camada-limite trmica, T , h a

    predominncia da fora de empuxo e da fora viscosa.

    Para valores de Prandtl baixos, no interior da camada de espessura T o fluido

    elevado pela fora de empuxo e retardado pela inrcia. Fora de T , onde o fluido

    isotrmico e no h fora de empuxo, o fluido no sofre movimentao. O perfil de

  • 18

    velocidade deve ser to largo quanto o perfil de temperatura. Devido condio de

    no deslizamento, h uma camada V de espessura mnima onde h a

    predominncia da fora de empuxo e da fora viscosa.

    Outro parmetro adimensional de importncia para a transferncia de calor por

    conveco natural o nmero de Grashof, definido na equao (2.6). Esse

    parmetro est relacionado intensidade do escoamento. Quanto maior seu valor,

    maiores as velocidades envolvidas. Fisicamente, o nmero de Grashof uma

    medida da razo entre a fora de empuxo e as foras viscosas que atuam no fluido

    Matematicamente, esse parmetro obtido pela adimensionalizao da equao de

    conservao de quantidade de movimento, seo 3.2.2.

    3

    2

    Sg T T LGr

    (2.6)

    Na equao (2.6) g a gravidade e o coeficiente de expanso trmica.

    prtica comum em estudos de conveco natural utilizar-se o parmetro

    adimensional nmero de Rayleigh para se referir intensidade da conveco

    natural. O nmero de Rayleigh obtido pela multiplicao dos nmeros de Prandtl e

    de Grashof, equao (2.7).

    3

    PrQ ambg H T T

    Ra Gr

    (2.7)

    2.1.2.3 Forma Funcional da Soluo da Conveco Natural e Nmero de Nusselt

    De acordo com Incropera e de Witt (2008), desconsiderando os efeitos da

    geometria, a soluo da conveco natural funo exclusiva do nmero de

    Grashof e do nmero de Prandtl, ou seja, , PrT f Gr .

    Na superfcie de troca trmica slido-fluido, as taxas de transferncia de calor

    ou fluxo de calor por conveco e por conduo devem ser iguais. No fluido, o fluxo

    de calor por conduo pode ser avaliado pela lei de Fourier, equao (2.8).

    0

    " fy

    Tq k

    y

    (2.8)

    Substituindo a equao (2.1) na equao (2.8) chega-se a

  • 19

    0

    S f

    y

    Th T T k

    y

    (2.9)

    Para obterem-se os parmetros de similaridade da camada-limite para a

    conveco natural, Incropera e de Witt (2008) sugerem a adimensionalizao das

    variveis geomtricas e de temperatura conforme as equaes (2.10) e (2.11).

    x y

    X YL L

    (2.10)

    S

    S

    T T

    T T

    (2.11)

    Substituindo as equaes (2.10) e (2.11) na equao (2.9), chega-se relao

    0Yf

    hL

    k Y

    (2.12)

    A razo fhL k denominado nmero de Nusselt local,

    0Yf

    hLNu

    k Y

    (2.13)

    Esse parmetro de grande importncia no estudo da conveco natural, pois

    representa uma medida da intensidade da transferncia de calor que ocorre em

    determinado ponto na superfcie. Fisicamente, o nmero de Nusselt diretamente

    proporcional ao coeficiente h e inversamente proporcional condutividade trmica

    do fluido.

    O nmero de Nusselt local pode ser integrado ao longo do comprimento

    caracterstico L , usando-se a definio de coeficiente convectivo mdio, equao

    (2.3), obtendo-se o nmero de Nusselt mdio,

    0

    1

    Yf L

    hLNu dL

    k L Y

    (2.14)

    2.2 Reviso da Literatura

    Nessa seo ser realizada uma breve reviso da literatura acerca do

    problema da transferncia de calor em cavidades. O objetivo no revisar todos os

  • 20

    trabalhos j desenvolvidos sobre esse tema, apenas os artigos considerados

    relevantes e que contriburam no entendimento da conveco natural em cavidades

    abertas heterogneas.

    Os efeitos da transferncia de calor por conveco natural vm sendo

    estudados desde o incio do sculo XX, tendo incio com Brnard (1901) e Rayleigh

    (1916). A partir de 1970, devido em grande parte maior facilidade de acesso ao

    computador e melhoria de tcnicas computacionais e de mtodos numricos, alm

    da importncia do fenmeno da conveco em vrias aplicaes da engenharia,

    uma grande quantidade de estudos vem sendo realizada a respeito do tema.

    Penot (1982) examinou uma cavidade isotrmica horizontal usando a

    aproximao de Boussinesq para o termo de empuxo. Le Qure et al (1981),

    estudando a mesma geometria e a mesma configurao de variveis concluram

    que, a partir de determinado nmero de Grashof (razo entre o nmero de Rayleigh

    e o nmero de Prandtl), 610Gr , as regies aquecidas prximas parede inferior da

    cavidade tornam o escoamento instvel, e o problema no mais apresenta soluo

    em regime permanente. Eles estudaram tambm os efeitos que a mudana da

    inclinao da cavidade causa na transferncia de calor. Em ambos os estudos foram

    usados domnios computacionais estendidos, tornando desnecessria uma

    avaliao mais cuidadosa das condies de contorno na entrada do domnio.

    Chan e Tien (1985a) realizaram um relevante estudo da conveco natural

    em regime laminar numa cavidade aberta bidimensional quadrada com a parede

    vertical aquecida e as paredes horizontais adiabticas. Foram obtidos resultados

    para 310Ra a 910Ra e nmero de Prandtl unitrio. Os resultados da transferncia

    de calor se aproximam daqueles encontrados para uma placa plana vertical

    aquecida, especialmente para nmeros de Rayleigh mais elevados. Uma zona de

    recirculao foi observada na regio de entrada da cavidade devido abrupta

    mudana de direo do escoamento do fluido. Abaixo da parede isotrmica superior,

    o escoamento apresentou estratificao trmica horizontal, com a formao

    subsequente de uma pluma na sada da cavidade. Devido ao no conhecimento das

    condies de contorno na entrada, o domnio numrico foi estendido.

    No mesmo ano, Chan e Tien (1985b) avaliaram a transferncia de calor numa

    cavidade aberta retangular, estendida na horizontal, com condies de contorno

  • 21

    similares s utilizadas no estudo anterior (CHAN E TIEN, 1985a). Desta vez,

    entretanto, empregaram um domnio computacional restrito ao interior da cavidade,

    com a finalidade de reduo do custo computacional das simulaes. Essa nova

    abordagem fiel quanto intensidade das trocas de calor na cavidade,

    especialmente para uma cavidade alongada. Algumas discrepncias foram

    observadas na regio da entrada, onde no foram verificadas as mudanas de

    direo no fluido nem as regies de recirculao. Eles obtiveram resultados para

    310Ra a 910Ra e Pr 7 . Para baixos valores de Ra , os resultados para nmero

    de Nusselt ficaram prximos de um, indicando um processo de transferncia de calor

    predominantemente condutivo. Conforme o valor de Ra aumenta, o nmero de

    Nusselt mdio se aproxima dos obtidos para a placa vertical plana.

    House et al. (1990) fizeram um dos primeiros estudos sobre a transferncia

    de calor em cavidades heterogneas. Eles investigaram o efeito que um bloco

    condutivo slido e rgido posicionado no centro da cavidade quadrada fechada

    exerce na transferncia de calor. A anlise revelou que o escoamento do fluido e a

    intensidade das trocas trmicas so governados pelos nmeros de Rayleigh e

    Prandtl, pelo tamanho adimensional do bloco e pela razo de condutividade trmica

    slido-fluido. Eles apresentaram resultados para Pr 0,71 e para uma ampla gama

    dos demais parmetros. A intensidade da transferncia de calor, representada pelo

    nmero de Nusselt mdio, pode ser favorecida ou desfavorecida dependendo da

    razo de condutividade trmica slido-fluido, e a influncia fica mais pronunciada

    com o aumento do tamanho do bloco. Oh et al. (1997) deram prosseguimento ao

    trabalho e analisaram a cavidade com um bloco com gerao de calor em seu

    interior.

    Bhave et al. (2006), no estudo de uma geometria semelhante, verificaram a

    influncia do aumento do bloco adiabtico e sem gerao de energia no interior da

    cavidade com a inteno de encontrar um tamanho timo que intensificasse a

    transferncia de calor. Eles apresentaram resultados para 310Ra a 610Ra e trs

    valores de Prandtl, Pr 0,071 , Pr 0,71 e Pr 7,1 . Eles observaram que o valor de

    nmero de Nusselt mdio aumenta at um valor mximo com o aumento do

    tamanho do bloco. Aps determinado tamanho, o bloco se torna maior que a rea

    dominantemente condutiva original, diminuindo a vazo mssica de fluido em

  • 22

    conveco. O valor do nmero de Nusselt pode aumentar em at 10%, dependendo

    do tamanho do bloco. Eles propuseram relaes matemticas para predizer o

    tamanho de bloco timo.

    Merrikh e Lage (2005) investigaram a conveco natural em uma cavidade

    horizontal aquecida lateralmente, preenchida por obstculos slidos quadrados

    igualmente espaados, condutivos e desconexos. O efeito dispersivo do constituinte

    slido foi isolado pelo aumento do nmero de blocos mantendo uma porosidade

    constante. Eles apresentaram resultados para uma ampla gama de nmero de

    Rayleigh e de razo de condutividade trmica slido-fluido. O efeito de obstruo do

    escoamento e de influncia nas taxas de transferncia de calor se mostrou

    dependente de um nmero mnimo de blocos, para cada Ra . Uma expresso

    analtica que prediz esse nmero mnimo de blocos que causa a interferncia da

    camada limite pela fase slida foi apresentada.

    De Lai et al. (2008) estudaram a mesma geometria, porm variaram a

    porosidade. Foram avaliados os efeitos que a variao da condutividade trmica

    slido-fluido, da porosidade, do nmero de blocos, e do nmero de Rayleigh

    exercem sobre a intensidade de transferncia de calor, representada pelo nmero

    de Nusselt mdio. Os resultados mostraram que uma maior proximidade dos blocos

    das paredes verticais isotrmicas, obstruindo o escoamento na camada limite, pode

    tanto aumentar ou diminuir o nmero de Nusselt, dependendo da razo de

    condutividade trmica.

    Braga e de Lemos (2005) compararam duas formas de abordagem para a

    obteno de solues numricas da conveco natural ou turbulenta dentro de uma

    cavidade preenchida por uma quantidade fixa de material slido condutivo. No

    primeiro modelo, modelo do poro-contnuo ou macroscpico, o meio slido e o meio

    fluido so vistos como um meio nico, onde so aplicadas as equaes de

    transporte baseadas em mdias volumtricas. No segundo modelo, modelo contnuo

    ou microscpico, as equaes de transporte so resolvidas separadamente para a

    fase slida e para a fase fluida. Em ambas as abordagens, foi utilizado o mtodo dos

    volumes finitos para a soluo. Chegou-se concluso de que, para mesmo nmero

    de Rayleigh, os valores de nmero de Nusselt mdio para as duas abordagens so

    diferentes, e essa diferena aumenta com a diminuio do nmero de Darcy (modelo

    poro-contnuo) ou com o aumento do nmero de blocos (modelo contnuo).

  • 23

    Yedder e Erchiqui (2009) investigaram a conveco natural numa cavidade

    fechada porosa aquecida por baixo e resfriada pelas laterais. Variaram-se os

    parmetros nmero de Rayleigh, razo de aspecto da cavidade e o perfil de

    temperatura na parede resfriada, que assumiu ou forma senoidal, ou linear. Os

    resultados mostram que o escoamento na cavidade basicamente unicelular para

    perfis lineares de temperatura nas paredes resfriadas. Para um perfil senoidal, o

    escoamento se torna bicelular.

    Mais recentemente, Oztop et al (2011) realizaram o estudo da conveco

    natural numa cavidade parciamente aberta preenchida por um meio poroso,

    adotando-se a abordagem macroscpica. O problema foi considerado em regime

    permanente. Foi verificado que com o aumento do nmero de Grashof, a

    temperatura nas regies da parede aquecida diminuem, e consequentemente so

    observados valores maiores de nmero de Nusselt local em qualquer ponto da

    parede aquecida.

    Prakash et al. (2012) voltaram ao estudo da conveco natural em cavidades

    abertas homogneas. Entretanto, a geometria do problema tridimensional, e trs

    formatos diferentes de cavidade foram investigados: cbico, esfrico e semiesfrico.

    Foi analisado o comportamento da conveco natural quando so variados a razo

    de aspecto da abertura da cavidade, a sua inclinao e o nmero de Rayleigh. Foi

    apresentada uma correlao para o nmero de Nusselt em funo desses

    parmetros.

    O presente trabalho pretende, portanto, dar continuidade a esses estudos da

    transferncia de calor em cavidades abertas heterogneas. A anlise a ser

    desenvolvida muito similar quela realizada por Merrick e Lage (2005) para a

    cavidade fechada. Ser avaliado o efeito que a variao do nmero de blocos, do

    nmero de Rayleigh e da razo de condutividade trmica slido-fluido causam nas

    transferncias de calor. Alm do nmero de Nusselt, outro resultado de interesse a

    vazo volumtrica adimensional de fluido que adentra a cavidade.

  • 24

    3 MODELAGEM MATEMTICA

    Equation Chapter (Next) Section 1

    Neste captulo sero apresentadas as equaes de conservao para o

    problema da conveco natural, quais sejam: a equao da conservao da massa,

    a equao da conservao da quantidade de movimento e a equao da

    conservao da energia. A formulao ser realizada para o meio heterogneo,

    abordagem microscpica. Sero apresentadas as hipteses simplificadores

    adotadas para o problema em estudo e as condies de contorno para as cavidades

    aberta e fechada.

    Pela soluo dessas equaes, fica determinado o campo de temperatura,

    presso e velocidade do problema de conveco natural.

    3.1 Hipteses Simplificadoras

    Nesta seo so numeradas as hipteses que sero aplicadas para

    simplificar as equaes de conservao.

    i) Problema bidimensional

    A Figura 7 ilustra a geometria da cavidade aberta e o detalhe do interior da

    cavidade para o meio heterogneo. Conforme mostrado, o problema est sendo

    tratado como bidimensional, envolve apenas duas coordenadas, x e y . Os

    resultados obtidos por essa anlise podem ser estendidos para aplicaes que

    envolvam a terceira coordenada cartesiana caso os efeitos de borda possam ser

    negligenciados, como, por exemplo, caso a largura da cavidade seja suficientemente

    maior que sua altura e comprimento.

    ii) Regime Permanente

    O problema ser tratado como em regime permanente. Os termos que

    envolvem o tempo sero descartados na formulao matemtica do problema.

    iii) Escoamento laminar

    De acordo com Bejan e Lage (1990), para uma placa plana vertical, a

    transio do regime de escoamento de laminar para turbulento ocorre na posio em

  • 25

    que Gr aproximadamente igual a 910 . Esse critrio universal pode ser expresso

    tambm em termos do nmero de Rayleigh. Logo, para que haja regime laminar,

    9Pr 10Ra Gr (3.1)

    No presente trabalho, o nmero de Prandtl ser considerado unitrio, e sero

    avaliados nmeros de Rayleigh de 510 a 810 . Apesar de essa relao ser vlida para

    uma placa plana vertical, a hiptese pode ser aplicada no estudo da conveco em

    cavidades, devido ao aquecimento da parede vertical.

    iv) Fluido newtoniano

    O fluido de trabalho ser tratado como newtoniano, o que equivale a dizer que

    a taxa de deformao de uma partcula fluida linearmente dependente das tenses

    cisalhantes (GRAEBEL, 2007). Vrios fluidos de aplicao na engenharia so

    considerados fluidos newtonianos em condies normais. Logo, a presente hiptese

    aplicvel e abrangente no problema da conveco natural.

    v) Fluido incompressvel

    A massa especfica do fluido ser tratada como constante, exceto na

    avaliao do termo de empuxo. Essa hiptese tambm pode ser utilizada para

    diversos fluidos nas condies de baixo gradiente de presso como os encontrados

    na conveco natural.

    vi) Propriedades fsicas constantes

    Alm da massa especfica, todas as demais propriedades do fluido, como

    viscosidade, condutividade trmica, difusividade, coeficiente de expanso trmica,

    sero tratadas como invariveis.

    vii) Dissipao viscosa e trabalho de compresso desprezveis

    A dissipao viscosa ocorre pela converso de energia mecnica em energia

    trmica. A dissipao viscosa consequncia das tenses cisalhantes no fluido, e

    mais pronunciada quanto maior os gradientes de velocidade envolvidos ou quanto

    maior a viscosidade do fluido. No caso da conveco natural, os gradientes de

    velocidade so baixos e a dissipao viscosa pode ser negligenciada.

  • 26

    Pela hiptese de fluido incompressvel, temos que o trabalho de compresso

    nulo.

    viii) No h gerao de energia

    Ser considerado na equao de conservao de energia que no h

    gerao de energia no problema.

    ix) A gravidade atua apenas na direo y

    A cavidade est sendo considerada na posio vertical. A gravidade no

    possui efeito na direo horizontal.

    3.2 Equaes Governantes da Conveco Natural

    Nesta seo sero apresentadas as equaes de balano para o processo de

    conveco natural, adotando-se as hipteses numeradas na seo 3.1.

    3.2.1 Equao de conservao da massa

    Para obter equaes locais que sejam vlidas em qualquer ponto do fluido, um

    volume de forma arbitrria abstrado, chamado volume de controle. Um volume de

    controle um artifcio usado na anlise de escoamentos de fluidos para avaliar

    balanos de massa, quantidade de movimento e energia. Possui normalmente uma

    forma fixa e referenciado a um sistema de coordenadas. A fronteira do volume de

    controle denominada superfcie de controle, por onde o fluido pode entrar ou sair.

    A massa especfica e a velocidade do fluido no interior do volume de controle podem

    variar com o espao ou com o tempo.

    Um enunciado da conservao de massa a taxa lquida de fluxo de massa

    para fora da superfcie de controle somada taxa de variao de massa dentro do

    volume de controle deve ser nula. Matematicamente, esse enunciado pode ser

    escrito como (FOX e MCDONALD, 2006):

    0V (3.2)

    onde o operador vetorial (eq. (3.3)) e V o vetor velocidade (equao (3.3)).

    e e ei j kx x x

    (3.3)

  • 27

    e e ei j kV u v w (3.4)

    Pelas hipteses adotadas de regime permanente, fluido incompressvel e

    problema bidimensional, a equao da conservao de massa simplificada para

    0u v

    x y

    (3.5)

    3.2.2 Equao de conservao da quantidade de movimento

    A equao da conservao da quantidade de movimento pode ser obtida pela

    aplicao da segunda lei de Newton a uma partcula fluida infinitesimal de massa

    dm . Essa lei enuncia que a taxa temporal de variao da quantidade de movimento

    num sistema proporcional fora resultante aplicada.

    As foras a que uma partcula fluida est submetida so de duas naturezas

    distintas: foras de corpo e foras de contato. No presente estudo, a fora de corpo

    devida ao efeito gravitacional, enquanto que a fora de contato devida s tenses

    cisalhantes e normais. Aplicando as hipteses de fluido newtoniano, de escoamento

    incompressvel e de viscosidade constante, a equao da conservao da

    quantidade de movimento pode ser escrita como (NIELD e BEJAN, 2009)

    2v

    vf f fD

    p gDt

    (3.6)

    Considerando o problema como bidimensional e aplicando a aproximao de

    Boussinesq, a lei da conservao da quantidade de movimento para uma partcula

    fluida ento escrita nas direes x e y como:

    na direo x

    2 2

    2 2

    1f

    f

    u u p u uu v

    x y x x y

    (3.7)

    na direo y

    2 2

    2 2

    1f ref

    f

    v v p v vu v g T T

    x y y x y

    (3.8)

    Uma vez que a gravidade atua na direo y , o termo de empuxo aparece

    apenas em (3.8).

  • 28

    3.2.3 Equao da conservao da energia

    A primeira lei da termodinmica aplicada a um volume de controle enuncia

    que a variao da energia acumulada num volume de controle somada ao

    trabalho lquido realizado pelo volume de controle no seu ambiente deve se

    igualar transferncia de energia movimentada pelo fluido somada

    transferncia de energia por conduo e gerao de energia interna. A

    formulao da equao da conservao de energia dada por (BEJAN,

    2009)

    '''p fDT DP

    c k T q TDt Dt

    (3.9)

    onde pc o calor especfico presso constante, a funo dissipao viscosa

    e '''q a taxa de gerao interna de energia.

    Aplicando as hipteses de fluido incompressvel, de dissipao viscosa

    desprezvel, de propriedades do fluido constantes e de regime permanente, a

    equao (3.9) pode ser escrita para as fases fluida e slida como

    Fase fluida

    2 2

    2 2f

    T T T Tu v

    x y x y

    (3.10)

    Fase slida

    2 2

    2 20 S

    T T

    x y

    (3.11)

    Na equao (3.10) fica claro o balano entre a conveco, lado esquerdo da

    igualdade, e conduo, lado direito.

    3.3 Adimensionalizao das Equaes Governantes

    Nesta seo, as equaes governantes da conveco natural sero

    adimensionalizadas. No final do processo de adimensionalizao ficar claro quais

    os parmetros adimensionais de interesse no problema.

    Para a adimensionalizao das equaes dominantes, sero utilizados os

    seguintes parmetros adimensionais (CHAN e TIEN, 1985):

    para as coordenadas espaciais

  • 29

    ,

    ,x y

    X YH

    (3.12)

    para as componentes da velocidade

    ,

    ,f

    u v HU V

    (3.13)

    para a presso

    2

    2

    f

    pHP

    (3.14)

    para a temperatura

    H

    T T

    T T

    (3.15)

    Substituindo as equaes (3.12) a (3.15) nas equaes de conservao obtemos

    3.3.1 Equao da conservao da massa adimensionalizada

    0U V

    X Y

    (3.16)

    3.3.2 Equao da conservao da quantidade de movimento

    Na direo X :

    2 2 2

    2 2

    VUU P U UPr

    X Y X X Y

    (3.17)

    Na direo Y :

    2 2 2

    2 2

    UV V P V VPr RaPr

    X Y Y X Y

    (3.18)

    3.3.3 Equao da conservao da energia

    Para a fase fluida:

  • 30

    2 2

    2 2

    U V

    X Y X Y

    (3.19)

    Para a fase slida:

    2 2

    2 20

    X Y

    (3.20)

    Pelas equaes (3.16) a (3.20), observa-se que os parmetros Ra e Pr so

    determinantes na conveco natural, conforme discutido na seo 2.1.2.

    Alm desses parmetros, a equao (3.20) mostra mais dois parmetros de

    interesse, a razo de condutividade trmica slido-fluido (eq. (3.21)), e a razo da

    capacidade trmica slido-fluido (eq. (3.22)).

    S

    f

    k

    k (3.21)

    p S

    p f

    c

    c

    (3.22)

    3.4 Condies de contorno

    A cavidade quadrada aberta e as condies de contorno so mostradas

    esquematicamente na Figura 11.

  • 31

    Figura 11 Representao esquemtica da cavidade aberta quadrada com o domnio heterogneo e condies de contorno; detalhe do bloco slido direita.

    A parede vertical interna cavidade mantida isotrmica e sob a temperatura

    constante e igual a

    1Q (3.23)

    A energia trmica que transferida ao fluido provm dessa parede vertical. O

    fluido temperatura ambiente retira calor da parede aquecida, tem sua massa

    especfica diminuda e movimenta-se em direo contrria gravidade devido

    fora de empuxo.

    As demais paredes so adiabticas, ou seja, o fluido no perde nem recebe

    calor nessas posies. Matematicamente, isso equivale a

    0Y

    (3.24)

    0X

    (3.25)

  • 32

    Nas aberturas horizontais, ao sul e ao norte da cavidade, so aplicadas as

    condies (CHAN e TIEN, 1985)

    0U V

    Y Y

    (3.26)

    0out inY

    (3.27)

    0P (3.28)

    Na abertura vertical, so aplicadas condies de contorno anlogas s das

    aberturas horizontais (CHAN e TIEN, 1985)

    0U

    VX

    (3.29)

    0in (3.30)

    0P (3.31)

    Na interface slido-fluido, as temperaturas de ambas as fases devem ser as

    mesmas, conforme equao (3.32). Ainda, um balano de energia numa seo

    infinitesimal da superfcie do slido indica que os fluxos de calor por conduo no

    fluido e no slido devem ser iguais, o que representado pela equao (3.33).

    f s (3.32)

    f Sn n

    (3.33)

    Em todas as paredes e nos blocos slidos foi aplicada a condio de no

    deslizamento, equao (3.34) .

    0U V (3.34)

    3.5 Funo linha de corrente

    No decorrer do trabalho, ser utilizado o conceito de linhas de corrente para a

    visualizao do escoamento. As linhas de corrente so linhas tangentes ao vetor

    velocidade em qualquer ponto do domnio, e permitem a visualizao da trajetria do

  • 33

    escoamento para um problema em regime permanente. A funo linha de corrente

    na forma adimensional definida matematicamente pela equao (3.35).

    1 1

    , , 1 1,

    J i

    j i

    Y X

    i j i j i j

    Y X

    UdY VdX

    (3.35)

    sendo i e j as posies dos ns da malha nas direes x e y , respectivamente.

    Resumo do captulo:

    Neste captulo foram apresentadas as equaes governantes do problema da

    conveco natural, simplificadas pelas hipteses discutidas e adimensionalizadas

    utilizando-se parmetros sugeridos na literatura. Foram enumeradas ainda as

    condies de contorno utilizadas, tambm respaldadas na literatura. Foi exposto que

    os parmetros fsicos adimensionais de interesse so o nmero de Prandtl, o

    nmero de Rayleigh, a razo de condutividade trmica slido-fluido e a razo de

    capacidade trmica slido-fluido. A Tabela 1 e apresenta um resumo das equaes

    governantes adimensionalizadas.

    Tabela 1 Equaes dominantes adimensionais

    Nmero da

    equao

    Equao de

    conservao

    adimensionalizada

    Expresso adimensional

    (3.16) Massa 0U V

    X Y

    (3.17) Quantidade de

    movimento na direo x

    2 2 22 2

    VUU P U UPr

    X Y X X Y

    (3.18) Quantidade de

    movimento na direo y

    2 2 22 2

    UV V P V VPr RaPr

    X Y Y X Y

    (3.19) Energia para a fase

    fluida

    2 22 2

    U V

    X Y X Y

    (3.20) Energia para a fase

    slida

    2 2

    2 20

    K

    X Y

  • 34

    4 MODELAGEM NUMRICA

    EQUATION CHAPTER (NEXT) SECTION 1

    Nesse captulo ser apresentado o tratamento numrico das equaes de

    balano, seo 3.2, a forma de discretizao do domnio e algumas particularidades

    como esquema de interpolao e mtodos de acoplamento presso-velocidade.

    O mtodo numrico para discretizao das equaes governantes empregado

    pelo programa DFC o Mtodo dos Volumes Finitos (MVF) (PATANKAR, 1980).

    Nesse mtodo, o domnio fsico dividido em diversos volumes de controle

    adjacentes. As grandezas escalares, como temperatura e presso, so avaliadas no

    centro de cada um deles, enquanto que as grandezas vetoriais so avaliadas nas

    faces. Como forma de soluo, as equaes de transporte so integradas em cada

    volume de controle, formando um sistema algbrico de equaes lineares que pode

    ser resolvido com o auxlio computacional.

    As equaes de transporte para um volume de controle diferencial, de forma

    geral, podem ser escritas como

    V S (4.1)

    Na equao (4.1) em que cada termo possui o seguinte significado fsico:

    ( )

    t

    Taxa temporal de acmulo da propriedade fsica associada varivel ;

    V Transporte convectivo da propriedade fsica associada varivel ;

    Transporte difusivo da propriedade fsica associada varivel ;

    S Termo fonte, que contm o que ainda no foi representado das equaes de

    transporte.

  • 35

    onde pode representar uma varivel escalar ou vetorial, o coeficiente de

    difuso associado a essa varivel.

    Para o escoamento de fluidos newtonianos, incompressveis e de viscosidade

    constante, o coeficiente de difuso e o termo fonte S so definidos na Tabela 2.

    Tabela 2. Valores de e S para a varivel .

    Equao S

    Continuidade 1 0 0

    Quantidade de

    movimento em x u

    p

    x

    Quantidade de

    Movimento em y v

    pg T T

    y

    Energia para a

    fase fluida T

    f

    f

    p

    k

    c 0

    Energia para a

    fase slida T

    S

    S

    p

    k

    c 0

    Aps a integrao da equao (4.1) em um volume de controle, obtm-se

    (PATANKAR, 1980):

    1

    ( ) ( )n n

    f f f

    f

    V A J n S Vt

    (4.2)

    onde J representa o fluxo total da varivel pela face f , definido na equao (4.3)

    , fA a rea da face f e fn seu vetor normal e unitrio.

    fJ V (4.3)

  • 36

    A equao (4.2) representa, portanto, a equao integrada geral que

    efetivamente resolvida pelo programa DFC para cada volume de controle.

    Conforme apresentado na Tabela 2, as equaes de conservao de

    quantidade de movimento dependem do gradiente de presso em determinado

    ponto do escoamento. Entretanto, no h equao explcita para o clculo da

    presso, o que torna necessrio um mtodo de soluo conjunta dos campos de

    presso e velocidade, denominado mtodo de acoplamento presso-velocidade.

    Basicamente, o clculo da presso realizado por sucessivas correes de forma

    que as equaes da quantidade de movimento satisfaam o balano de massa. O

    programa DFC utiliza o mtodo SIMPLEST.(PATANKAR, 1980)

    Para expressar o valor da varivel nas faces e nos centros de cada volume

    de controle, utilizada uma funo de interpolao. O programa DFC utiliza o

    esquema hbrido para os termos convectivos, uma combinao dos mtodos de

    diferena centrada e Upwind. (PATANKAR, 1981).

    A convergncia da soluo monitorada pelo critrio de controle de resduos

    de Spalding (1994), em que a soma dos valores absolutos dos resduos locais entre

    duas iteraes sucessivas deve ser menor que um determinado valor, normalmente

    da ordem de 510 ou 610 , para que a soluo seja considerada convergida. No

    presente trabalho adotou-se o valor 610 para a soma dos resduos absolutos de

    cada varivel (U , V , P , q ).

    O APNDICE C apresenta o cdigo do arquivo de entrada para o programa

    DFC, denominado q1, onde foram realizadas as implementaes numricas para o

    presente estudo.

  • 37

    5 VALIDAO DO CDIGO DO PROGRAMA DFC

    EQUATION CHAPTER (NEXT) SECTION 1

    Nesse captulo ser realizada a etapa de validao necessria para verificar as

    rotinas numricas implementadas no programa DFC, em especial para o clculo do

    nmero de Nusselt, da funo linha de corrente e da vazo volumtrica adimensional

    de entrada de fluido na cavidade aberta, definida na seo 5.3. No ser a inteno

    nessa etapa do trabalho discutir os fenmenos fsicos que ocorrem em cada caso

    estudado. Apenas ser realizada a comparao dos resultados encontrados no

    presente trabalho com solues de referncia na literatura, e discutidos alguns

    aspectos de teste de sensibilidade de malha.

    5.1 Cavidade Fechada sem Blocos

    O problema da conveco natural em uma cavidade quadrada fechada

    aquecida lateralmente um problema clssico da literatura. Normalmente, ele

    utilizado como uma forma de validao das rotinas numricas desenvolvidas para a

    soluo da conveco natural em cavidades.

    A Figura 12 apresenta a geometria da cavidade quadrada fechada e as

    condies de contorno adimensionais. A nica substncia presente no interior da

    cavidade o fluido em escoamento. Conforme mostrado, a cavidade possui

    dimenses unitrias. A origem das coordenadas adimensionais X e Y est situada

    no canto esquerdo inferior da geometria. A cavidade delimitada por quatro

    paredes, duas paredes verticais termicamente ativas e duas paredes horizontais

    adiabticas.

    / 0Y

    / 0Y

    g

    ,X U

    ,Y V

    Q

    F

    (0,0) (1,0)

    (0,1)

    Figura 12. Cavidade fechada horizontal. Geometria e condies de contorno.

  • 38

    O estudo da conveco natural na cavidade quadrada fechada sem blocos foi

    feito tomando-se como base o trabalho de Hortmann et al (1990), considerado pela

    literatura uma soluo de referncia para esse problema. Esses pesquisadores

    apresentaram um procedimento multigrid para a investigao numrica. Esse

    mtodo consiste em utilizar os campos de velocidade, temperatura e presso obtidos

    em malhas imediatamente mais grossas como campos de inicializao das

    iteraes. Aps aplicado o multigrid, a malha refinada sucessivamente at

    obterem-se resultados abaixo de um erro admissvel.

    Hortmann et al. (1990) apresentam resultados para mNu , mxNu (nmero de

    Nusselt local mximo na parede aquecida), maxNuY (posio em Y de mxNu ), mxV

    (componentes vertical mxima da velocidade no plano 0,5Y ) e mxU (componentes

    horizontal mxima da velocidade no plano 0,5X ). No APNDICE A so mostrados

    os resultados encontrados para essas variveis por essa soluo de referncia e

    pela presente soluo para 510Ra e 610Ra , Pr 1 .

    A Tabela 3 apresenta uma comparao do nmero de Nusselt na parede

    aquecida entre a soluo de Hortmann et al (1990) e do presente trabalho. Apenas

    os valores de mNu so mostrados, por esse ser o principal parmetro de anlise da

    transferncia de calor por conveco natural.

    Tabela 3 Comparao de mNu para refino de malha computacional

    Ra malha Hortmann et

    al. (1990) [presente] EP [%]

    510

    4040 4,617 4,624 0,152

    8080 4,545 4,552 0,154

    160160 4,528 4,522 0,133

    320320 4,523 4,525 0,044

    610

    4040 9,422 9,416 0,064

    8080 8,977 8,960 0,189

    160160 8,863 8,864 0,011

    320320 8,835 8,836 0,011

  • 39

    Na Tabela 3, EP representa o erro percentual entre a soluo do presente

    trabalho e a soluo de referncia de Hortmann et al. (1990), e definido pela

    equao (5.1).

    100ref

    i

    ref

    EP

    (5.1)

    onde representa o resultado de interesse e o subscrito ref est relacionado

    soluo de referncia.

    Os baixos valores de EP , abaixo de 0,2%, apresentados na Tabela 3 levam

    concluso de que a modelagem do problema realizada no programa DFC vlida.

    Outro ponto importante na comparao dos resultados entre a presente

    soluo e a adotada como referncia a validao da metodologia adimensional

    utilizada nas simulaes realizadas em todo este trabalho.

    Hortmann et al (1990) consideraram a geometria do problema e as

    propriedades do fluido de forma dimensional. Logo, utilizando o mesmo fluido, o

    nmero de Rayleigh do escoamento s pode ser alterado pela alterao das

    dimenses da cavidade. No presente trabalho optou-se pela variao das

    propriedades do fluido, calculados em funo dos parmetros adimensionais Ra e

    Pr desejados, mantendo-se a geometria com dimenses unitrias. Isso facilitou a

    modelagem da geometria e a definio da malha numrica de todas as cavidades

    investigadas.

    5.2 Cavidade Fechada Heterognea

    O modelo microscpico do meio heterogneo foi verificado levando-se em

    considerao o problema clssico da cavidade horizontal quadrada e fechada com a

    presena de um bloco slido, fixo, rgido e condutivo centralizado em seu interior. A

    geometria do problema e as condies de contorno adimensionais so mostradas na

    Figura 13.

  • 40

    / 0Y

    / 0Y

    g

    ,X U

    ,Y V

    Q

    C

    (0,0) (1,0)

    (0,1)

    D

    Figura 13. Cavidade fechada horizontal heterognea, com a presena de um bloco em seu interior.

    A malha utilizada na cavidade uniforme com 320320 volumes de controle.

    A Tabela 4 mostra os resultados obtidos no programa DFC para mNu e as solues

    de referncia encontradas na literatura.

    Tabela 4. Resultados de mNu obtidos pela presente soluo e por solues de referncia

    encontradas na literatura para a cavidade quadrada e fechada com um bloco.

    Ra D Zhao et

    al (2007)

    Das e Reddy (2006)

    Lee e Ha

    (2005)

    Bhave et al

    (2006)

    Merrikh e Lage (2005)

    House et al

    (1990)

    [presente]*

    Pr =0,71

    510 0,5 0,2 4,554 4,621 4,631 4,645 4,605 4,624 4,625

    5 4,062 4,308 4,308 4,338 4,280 4,324 4,320

    610 0,9 0,2 - - - 2,326 2,352 2,402 2,417

    5 - - - - - 3,868 3,811

    Nota: * Malha 320320

    Pela comparao dos dados apresentados na Tabela 4, conclui-se que o

    cdigo implementado neste trabalho para a soluo da conveco natural em meio

    heterogneo sob a abordagem microscpica vlido. Os erros percentuais ficam

    menores que 1%.

    5.3 Cavidade Aberta Homognea

    At o presente momento, foi validada a conveco natural numa cavidade

    fechada com a presena de blocos ou no. Para a simulao da conveco natural

  • 41

    na cavidade aberta com blocos, ainda necessria a validao das condies de

    contorno utilizadas nas aberturas do domnio, e um estudo das dimenses

    necessrias do ambiente externo cavidade para que o problema seja bem

    representado.

    Com esse propsito, ser estudada a conveco natural numa cavidade

    aberta homognea, tomando-se como base o trabalho de Chan e Tien (1985). A

    Figura 14 apresenta a geometria do problema e as condies de contorno

    adimensionais utilizadas.

    Assim como nas demais cavidades estudadas at aqui, a cavidade quadrada

    aberta apresenta dimenses unitrias. As dimenses totais do domnio numrico so

    3L H , em que 1L H . A gravidade aplicada no sentido Y . A parede interna

    vertical da cavidade mantida isotrmica 1Q . Na Figura 14 as linhas tracejadas

    representam aberturas por onde o fluido pode entrar ou sair do domnio de soluo.

    1

    3

    4

    2

    (1) e (2): 0/ X ;

    (3) e (4): 0/ Y

    0out inU V

    PY Y Y

    0inU

    V PY

    0U V

    X X

    0P

    Y

    2H

    X

    2L

    H

    L

    2H

    g Q

    0out inX

    Figura 14. Geometria e condies de contorno para a cavidade aberta sem blocos

  • 42

    Para a soluo desse problema, foi realizado um estudo de malha para

    310Ra a 910Ra . A malha utilizada no uniforme, seguindo o modelo de

    distribuio potencial, formulado na equao (5.2)

    1

    3

    rx q q

    E VC

    (5.2)

    onde, para a direo x , x q a coordenada do n da posio q , VC o nmero

    de volumes de controle e E a extenso do domnio em que a malha aplicada. O

    expoente r determina o grau de distribuio da malha.

    No interior da cavidade, as malhas utilizadas variam de 20 0 a 80 0

    volumes de controle. O expoente r foi mantido igual a 1,6. Na parte externa da

    cavidade, tambm se utilizaram malhas no uniformes, com 1,7r . A Figura 15

    ilustra a malha usada para a conveco natural na cavidade aberta homognea.

    Figura 15 Exemplo de malha utilizada para a simulao da cavidade aberta ( 80 0 no interior da cavidade)

    18 18

  • 43

    A Tabela 5 e a Tabela 6 apresentam o teste de sensibilidade de malha

    realizados considerando os valores de nmero de Nusselt e vazo adimensional na

    entrada da cavidade, respectivamente. A vazo adimensional na entrada calculada

    com o auxlio da equao (5.3) (CHAN e TIEN, 1985).

    1

    1 1

    1

    se 0onde

    0 se 0

    X

    X X

    X

    m UdY

    U U U

    U U

    (5.3)

    Tabela 5 Teste de sensibilidade de malha - Nmero de Nusselt, cavidade aberta limpa

    Ra 2020 EP [%] 4040 EP [%] 6060 EP [%] 8080

    310 1,0720 1,7078 1,0540 0,3236 1,0506 0,076 1,0514

    410 3,4294 0,6250 3,4081 0,0587 3,4061 0,050 3,4078

    510 7,7256 0,2569 7,7058 0,0571 7,7014 0,013 7,7004

    610 15,0120 0,2076 14,9809 0,1440 15,0025 0,013 15,0045

    710 28,0954 0,3207 28,0056 0,2631 27,9321 0,036 27,9221

    810 51,3025 0,0499 51,2769 0,0133 51,2701 0,231 51,1521

    910 94,9650 1,2895 93,7560 0,3884 93,3933 0,244 93,1658

    Tabela 6 Teste de sensibilidade de malha - vazo adimensional cavidade aberta limpa

    Ra 2020 EP [%] 4040 EP [%] 6060 EP [%] 8080

    310 1,9251 0,1035 1,9231 0,4646 1,9142 0,010 1,9140

    410 8,0339 0,7724 7,9723 0,2383 7,9533 0,059 7,9486

    510 21,0732 0,3386 21,0021 0,0241 20,997 0,005 20,9980

    610 46,8690 1,1656 46,3290 1,7092 45,5504 0,407 45,3659

    710 93,4350 2,1762 91,4450 1,5535 90,046 0,200 89,8659

    810 186,6464 6,8818 174,6288 1,4959 172,055 0,478 171,2369

    910 385,4093 14,2110 337,4537 2,4167 329,685 0,120 329,2910

  • 44

    Na Tabela 5 e na Tabela 6, os erros percentuais so calculados entre as

    malhas, e no mais em relao a uma soluo de referncia, conforme equao

    100malhagossa malhafina

    malhafina

    EP

    (5.4)

    Na simulao da cavidade aberta sem blocos foi utilzado o critrio de erro

    admissvel de 0,5% entre as malhas para Nmero de Nusselt e vazo adimensional.

    Por esse critrio, observa-se que a malha 6060 adequada.

    Pelos resultados apresentados na Tabela 5 e na Tabela 6, percebem-se

    baixos erros percentuais, em especial para os valores de nmero de Nusselt.

    A Tabela 7 apresenta os resultados encontrados para mNu e m pela soluo

    de referncia de Chan e Tien (1985) e pelo presente trabalho. A anlise dos valores

    dos erros percentuais permite concluir que as condies de contorno implementadas

    no programa DFC para a conveco natural na cavidade aberta esto corretas.

    Tabela 7. Resultados de mNu e m obtidos pelo programa PHOENICS-CFD e por Chan e Tien

    (1985) para a cavidade quadrada, aberta e homognea.

    Ra

    mNu m

    Chan e Tien (1985)

    [presente] EP Chan e Tien

    (1985) [presente] EP

    104 3,41 3,406 0,12 8,02 7,953 0,84

    105 7,69 7,701 0,14 21,1 20,997 0,49

    106 15,0 15,003 0,02 47,3 45,550 3,70

    Nota: *Valores obtidos com malhas 8080 no-uniformes (interior da cavidade), eq. (5.2).

    5.3.1 Escolha das dimenses do domnio computacional para a cavidade

    aberta

    A escolha das dimenses do domnio computacional interfere no grau de

    influncia que as condies de contorno especificadas nas fronteiras abertas

  • 45

    exercem sobre o escoamento e sobre a intensidade da transferncia de calor no

    interior da cavidade e nas regies prximas abertura.

    Com o objetivo de minimizar essa influncia, Chan e Tien (1985) realizaram um

    estudo de qual seria uma dimenso apropriada do domnio para o estudo numrico

    da cavidade aberta quadrada, sem a necessidade de um custo computacional

    elevado. Pelas suas concluses, um domnio de dimenses 3L H suficiente (ver

    Figura 14).

    No presente trabalho questionou-se a possibilidade de reduo dessas

    dimenses com o fim de reduzir o tempo de simulao. Como forma de verificao,

    as solues obtidas com os domnios 3L H e 2L H para determinados

    nmeros de Rayleigh foram comparadas, tanto pelo critrio quantitativo da avaliao

    do nmero de Nusselt e da vazo adimensional de entrada na cavidade, quanto pelo

    critrio qualitativo da visualizao das isotermas e linhas de corrente.

    A Tabela 8 apresenta os resultados de mNu e m encontrados para 510Ra a

    810Ra , e indica que a reduo do domnio computacional no causou alteraes

    significativas nos valores de nmero de Nusselt mdio e de vazo adimensional de

    entrada na cavidade.

    Tabela 8. Resultados de mNu e M obtidos para os domnios 2 3L H e 3L H , meio

    homogneo.

    Ra

    mNu m

    Domnio

    3L H *

    Domnio

    2L H EP

    Domnio

    3L H

    Domnio

    2L H EP

    103 1,051 1,052 0,10% 1,914 1,925 0,57%

    106 15,003 15,011 0,05% 45,550 45,451 0,22%

    108 51,270 51,301 0,06% 172,055 171,326 0,42%

    109 93,393 93,454 0,07% 329,491 328,038 0,44%

    Nota: *Valores obtidos com malhas 8080 no-uniformes (interior da cavidade), eq. (5.2).

    A Figura 16 apresenta os campos de temperatura e de linha de corrente para

    310Ra e 810 . Para facilitar a comparao e enfocar a cavidade e suas

    proximidades, nas figuras referentes ao domnio 3L H apenas a regio

  • 46

    correspondente ao domnio 2L H mostrada. Pode-se observar pelas imagens

    que as configuraes das isotermas e linhas de corrente sofreram alteraes

    tambm pequenas. Para 310Ra , elas so praticamente imperceptveis. Para

    810Ra , as mudanas so mais visveis nas linhas de corrente: no domnio

    estendido, o fluido penetra a cavidade com maior inclinao na regio prxima ao

    vrtice inferior da abertura, promovendo uma recirculao mais intensa na parede

    inferior da cavidade. H tambm pequenas mudanas no topo do domnio reduzido.

    Entretanto, as mudanas so sutis. Espera-se ainda que para a cavidade com

    blocos elas sejam atenuadas. A escolha do domnio 2 3L H , portanto, bastante

    razovel.

    310Ra 810Ra

    3 5L H 2L H 3 5L H 2L H

    T

    1.00

    0.90

    0.80

    0.70

    0.60

    0.50

    0.40

    0.30

    0.20

    0.10

    T

    1.00

    0.90

    0.80

    0.70

    0.60

    0.50

    0.40

    0.30

    0.20

    0.10

    8.69

    8.07

    7.45

    6.83

    6.21

    5.59

    4.97

    4.34

    3.72

    3.10

    2.48

    1.86

    1.24

    0.62

    0.00

    289.59

    268.76

    247.93

    227.10

    206.28

    185.45

    164.62

    143.79

    122.97

    102.14

    81.31

    60.48

    39.66

    18.83

    -2.00

    Figura 16 Isotermas (acima) e linhas de corrente (abaixo) para os domnios 3L H e

    2 3L H , 310Ra e 810Ra . Obs: Apenas a regio correspondente ao domnio 2 3L H mostrada.

  • 47

    Neste captulo foram realizadas as etapas de validao do cdigo numrico