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Investigando o Potencial Empreendedor e de Liderança Criativa Autoria: Fernando Antonio Prado Gimenez, Edmundo Inácio Júnior Resumo: O objetivo do artigo é analisar a associação entre os índices de potencial empreendedor e de liderança criativa bem como destes com as variáveis sexo, idade e grau de instrução. A metodologia abrangeu a tradução dos instrumentos Carland Entrepreneurship/CEI Index e Team Factors Inventory/TFI pelo método de backtranslation e o uso da estatística para a definição do tamanho da amostra e para a análise dos dados, caracterizando-se por ser um estudo descritivo, de corte transversal e quantitativo. Os resultados apontaram para uma alta pontuação dos índices de empreendedorismo e de liderança criativa e uma associação positiva e significativa entre estes; uma diferença não significativa em relação a sexo; uma associação positiva e significativa com grau de instrução, e negativa entre liderança criativa e idade, dando suporte às hipóteses do estudo. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O empreendedorismo tem sido entendido como um processo complexo e multifacetado, reconhecendo as variáveis sociais (mobilidade social, cultura, sociedade), econômicas (incentivos de mercado, políticas públicas, capital de risco) e psicológicas como influenciadoras no ato de empreender (Kets de Vries, 1985; Carland e Carland, 1991; Huefner, Hunt e Robinson, 1996). Dentre as características atribuídas ao empreendedorismo, as mais citadas são: lócus interno de controle, necessidade de realização, propensão ao risco, criatividade, visão, alta energia, postura estratégica e autoconfiança (Brockhaus, 1982; Hornaday, 1982; Carland et al., 1984; Vesper e Gartner, 1997). No presente trabalho as definições mais adequadas ao estudo do empreendedorismo estão embasadas em Filion (1999a) e Carland et al. (1998). Estes autores concordam que o empreendedorismo é o resultado tangível ou intangível de uma pessoa com habilidades criativas , sendo uma complexa função de experiências, oportunidades, capacidades individuais e que no seu exercício está inerente a variável risco . Colocado de outra forma, o empreendedor é alguém que, no processo de construção de uma visão, estabelece um negócio objetivando lucro e crescimento , apresentando um comportamento inovador e adotando uma postura estratégica . Dentre essas características, atualmente, o tema criatividade vem ganhando destaque no campo empresarial e, sobretudo nos estudos sobre empreendedorismo (Amabile, 1998; Brazeal e Herbert, 1999; Terra, 2000; Unsworth, 2000). A criatividade é considerada, no âmbito empresarial, também como um processo complexo e multifacetado, de interações dinâmicas entre indivíduo, organização e ambiente (Alencar, 1995, 1996, 1998; Whiting, 1988; Rickards, 1999; Terra, 2000). Particularmente, dar-se-á atenção ao tema pelo estudo do Modelo de Liderança Criativa – MLC (Rickards e Moger, 2000), que enfatiza o papel do líder criativo dentro da equipe de trabalho, contribuindo para o aumento da performance da mesma. O presente artigo objetiva analisar o potencial empreendedor e de liderança criativa – PE&LC dos proprietários-gerentes 1 das micro e pequenas empresas – PG-MPE’s bem como a associação destes com as variáveis sexo, idade e grau de instrução. Para tal, aplicou-se à versão em português dos instrumentos CEI e TFI nas empresas residentes 2 das Incubadoras Tecnológicas 3 do Estado do Paraná – IT-PR, tendo em vista que estas desempenham um importante papel no desenvolvimento do empreendedorismo (Oliveira, 2000; Lalkaka, 2001). O artigo está estruturado em cinco seções adicionais. A primeira, intitulada “Antecedentes” destina-se a explorar o tema empreendedorismo e o MLC (Rickards e Moger, 2000). A seção seguinte, “Instrumentos” traz uma breve descrição dos CEI e TFI. Procedimentos metodológicos e população/amostra são apresentados na terceira seção

Investigando o Potencial Empreendedor e de Liderança ... · O presente artigo objetiva analisar o potencial empreendedor e de liderança criativa – PE&LC dos proprietários-gerentes1

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Investigando o Potencial Empreendedor e de Liderança Criativa

Autoria: Fernando Antonio Prado Gimenez, Edmundo Inácio Júnior Resumo: O objetivo do artigo é analisar a associação entre os índices de potencial empreendedor e de liderança criativa bem como destes com as variáveis sexo, idade e grau de instrução. A metodologia abrangeu a tradução dos instrumentos Carland Entrepreneurship/CEI Index e Team Factors Inventory/TFI pelo método de backtranslation e o uso da estatística para a definição do tamanho da amostra e para a análise dos dados, caracterizando-se por ser um estudo descritivo, de corte transversal e quantitativo. Os resultados apontaram para uma alta pontuação dos índices de empreendedorismo e de liderança criativa e uma associação positiva e significativa entre estes; uma diferença não significativa em relação a sexo; uma associação positiva e significativa com grau de instrução, e negativa entre liderança criativa e idade, dando suporte às hipóteses do estudo. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O empreendedorismo tem sido entendido como um processo complexo e multifacetado, reconhecendo as variáveis sociais (mobilidade social, cultura, sociedade), econômicas (incentivos de mercado, políticas públicas, capital de risco) e psicológicas como influenciadoras no ato de empreender (Kets de Vries, 1985; Carland e Carland, 1991; Huefner, Hunt e Robinson, 1996). Dentre as características atribuídas ao empreendedorismo, as mais citadas são: lócus interno de controle, necessidade de realização, propensão ao risco, criatividade, visão, alta energia, postura estratégica e autoconfiança (Brockhaus, 1982; Hornaday, 1982; Carland et al., 1984; Vesper e Gartner, 1997).

No presente trabalho as definições mais adequadas ao estudo do empreendedorismo estão embasadas em Filion (1999a) e Carland et al. (1998). Estes autores concordam que o empreendedorismo é o resultado tangível ou intangível de uma pessoa com habilidades criativas, sendo uma complexa função de experiências, oportunidades, capacidades individuais e que no seu exercício está inerente a variável risco. Colocado de outra forma, o empreendedor é alguém que, no processo de construção de uma visão, estabelece um negócio objetivando lucro e crescimento, apresentando um comportamento inovador e adotando uma postura estratégica.

Dentre essas características, atualmente, o tema criatividade vem ganhando destaque no campo empresarial e, sobretudo nos estudos sobre empreendedorismo (Amabile, 1998; Brazeal e Herbert, 1999; Terra, 2000; Unsworth, 2000). A criatividade é considerada, no âmbito empresarial, também como um processo complexo e multifacetado, de interações dinâmicas entre indivíduo, organização e ambiente (Alencar, 1995, 1996, 1998; Whiting, 1988; Rickards, 1999; Terra, 2000). Particularmente, dar-se-á atenção ao tema pelo estudo do Modelo de Liderança Criativa – MLC (Rickards e Moger, 2000), que enfatiza o papel do líder criativo dentro da equipe de trabalho, contribuindo para o aumento da performance da mesma.

O presente artigo objetiva analisar o potencial empreendedor e de liderança criativa – PE&LC dos proprietários-gerentes1 das micro e pequenas empresas – PG-MPE’s bem como a associação destes com as variáveis sexo, idade e grau de instrução. Para tal, aplicou-se à versão em português dos instrumentos CEI e TFI nas empresas residentes2 das Incubadoras Tecnológicas3 do Estado do Paraná – IT-PR, tendo em vista que estas desempenham um importante papel no desenvolvimento do empreendedorismo (Oliveira, 2000; Lalkaka, 2001).

O artigo está estruturado em cinco seções adicionais. A primeira, intitulada “Antecedentes” destina-se a explorar o tema empreendedorismo e o MLC (Rickards e Moger, 2000). A seção seguinte, “Instrumentos” traz uma breve descrição dos CEI e TFI. Procedimentos metodológicos e população/amostra são apresentados na terceira seção

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“Amostra”. A quarta seção “Resultados” apresenta as analises da pesquisa. Por fim, a seção “Considerações Finais” aponta os principais resultados e traz sugestões para trabalhos futuros. ANTECEDENTES

O empreendedorismo tem sido definido e entendido de várias maneiras ao longo do tempo e nem todas as pesquisas colaboram para clarificar uma linha coerente de pesquisa (Brazeal e Herbert, 1999; Cooper, Hornaday e Vesper, 1997; Cooper, 2000). É comum ver textos sobre estratégia e também sobre empreendedorismo que utilizam o conto Hindu The Blind Men and the Elephant4 dizendo que os pesquisadores em empreendedorismo devem ser como os cegos hindus. Como ninguém tem a visão para enxergar o elefante, cada um toca em uma ou outra parte, deixando todo o resto na ignorância (Hart, Stevenson e Dial, 1995).

Filion (1999b) destaca que a palavra “diferença” seria mais apropriada do que “confusão”, pois as razões desta falta de consenso são atribuídas ao fato de que as pesquisas em empreendedorismo são, normalmente, levadas a cabo por pesquisadores de diferentes campos que, conseqüentemente, utilizam pressupostos de suas próprias áreas (Hart, Stevenson e Dial, 1995). Contudo, duas grandes correntes lançaram as fundações das posições atualmente dominantes sobre o empreendedorismo e tendem a conter elementos comuns à maioria delas (Filion, 1999a; Bruyat e Julien, 2000).

A primeira delas é a dos economistas com destaque a Richard Cantillon (1680-1734) e Jean-Baptiste Say (1767-1832) e, posteriormente, Joseph A. Schumpeter (1883-1950) que associaram o empreendedor à inovação. A segunda, dos comportamentalistas, tem como principal expoente David C. McClelland (1917-1998), que enfatizava os aspectos de atitude como a criatividade e a intuição. Em muitos artigos sobre empreendedorismo é comum ver referências a Jean-Baptiste Say como aquele que cunhou a palavra entrepreneur. Contudo, o verbo entreprendre vem de bem antes, da antiga França do século XII para designar aquele que incentivava brigas (Filion, 1999a) e não continha nenhuma conotação econômica.

Atualmente, outra corrente, além do enfoque econômico e do enfoque comportamental busca explicações para o ato de empreender (Bruyat e Julien, 2000). Ela possui uma visão mais integradora e parte de um paradigma construtivista que entende o fenômeno através das relações do indivíduo com a criação de novos valores, interagindo com o ambiente, em um processo ao longo do tempo. A perspectiva construtivista é muitas vezes colocada em oposição à ciência positivista, que vê o mundo como determinístico.

Apesar das diferenças nas abordagens, os pesquisadores concordam com a idéia básica de que o empreendedor é um importante e até vital elemento na criação de novos valores. Eles certamente não são os únicos criadores de novos valores para a sociedade, mas são os responsáveis por uma grande porcentagem dos novos valores. Segundo Timmons (1994 apud Dolabela, 1999), desde a segunda guerra mundial, 50% de todas as invenções e 95% de todas a inovações radicais surgiram de novas e pequenas empresas. Estão incluídas nesta lista, por exemplo, o micro-computador, o marcapasso, a troca de óleo rápida, o fast food, o anticoncepcional oral, a máquina de raios-X, entre outros exemplos.

Tanto do ponto de vista do processo empreendedor quanto do ponto de vista do indivíduo, a criatividade sempre se fez presente. Abordagens construtivistas procuram elucidar o assunto de modo que o processo empreendedor seja entendido dentro de um quadro conceitual onde se relacionam indivíduo, criatividade, inovação e mudança dentro de um ambiente e ao longo do tempo, para que surja a atividade ou o evento empreendedor (Brazeal e Herbert, 1999).

Partindo-se então dessa perspectiva, uma maneira de se definir o empreendedorismo, sem recorrer às definições que se utilizam de atributos como propensão ao risco, proatividade, ou a “busca de oportunidades sem considerar os recursos que correntemente controla-se” (Stevenson e Jarillo, 1990 apud Hart, Stevenson e Dial, 1995, p. 1), é reconhecendo que o empreendedorismo seja uma atividade que se torna possível pela:

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corrente ou potencial existência de algo novo [inovação]; que pode ter sido desenvolvido por novas maneiras de se olhar os velhos problemas [criatividade] ou pela incapacidade dos processos atuais em responder efetivamente aos parâmetros dos novos problemas trazidos pelas novas e emergentes condições externas [ambiente], o qual pode suplantar ou ser complementar aos processos ou soluções existentes [a mudança], quando capitaneado por um ou mais indivíduos [empreendedor] (Brazeal e Herbert, 1999, p. 33).

Nesta perspectiva, a criatividade não só faz parte da atividade empreendedora como

também é um elemento essencial, sem o qual, não seria possível a atividade. Bruyat e Julien (2000) concordam com essa idéia e em seu modelo de processo empreendedor tornam indissociáveis esses elementos: indivíduo criação de novos valores (CNV). Para eles “o empreendedor é o indivíduo responsável pelo processo de criação de novos valores sem o qual a CNV não poderia acontecer” (Bruyat e Julien, 2000, p. 169). Essa relação é vista como um diálogo entre sujeito e objeto onde os elementos estão combinados de uma maneira complexa em uma única unidade, não podendo ser divididos.

A noção de indivíduo utilizada pelos autores pode ser entendida como a ação de uma única pessoa ou uma equipe. Se o projeto desenvolvido por esta equipe não pudesse ser realizado sem a participação de todos, ou se removendo um ou mais membros da equipe a CNV ficasse comprometida, então se poderia dizer que se trata de uma equipe empreendedora, tendo ela um líder ou não. Segundo as palavras dos autores a definição para a palavra indivíduo é “um corpo vivo e organizado em sua própria existência que não pode ser dividido sem que seja destruído” (Bruyat e Julien, 2000, p. 170).

À parte a discussão sobre a definição, o que os autores concordam é que tanto para a criação ou desenvolvimento de uma organização, seja ela grande ou pequena, a presença de equipes empreendedoras é fundamental (Rickards e Moger, 1999; Birley e Stockley, 2000). Os autores acima em suas pesquisas concordam que é o comportamento da equipe que diretamente afeta seu desempenho. Este fato tem unido os conceitos de empreendedorismo e criatividade, e muitos pesquisadores têm sugerido que a criatividade é tão importante para a sobrevivência a longo prazo das organizações quanto o é para as áreas científicas, artísticas e de pesquisa e desenvolvimento (Terra, 2000; Unsworth, 2001).

Neste ponto é que se encontra a outra vertente de inter-relação entre o empreendedorismo e a criatividade. Tanto o indivíduo empreendedor quanto o indivíduo criativo parecem pertencer a um mesmo grupo, com características psicológicas, de personalidade e de comportamento semelhantes. Essa é a posição defendida por Whiting (1988) que ao analisar as características do indivíduo relativamente mais criativo, percebeu que as mesmas aparecem com suficiente repetição no indivíduo relativamente mais empreendedor. O Quadro 1, a seguir, traz uma lista das características freqüentemente atribuídas às pessoas ditas como empreendedoras.

Quadro 1 – Características freqüentemente atribuídas ao indivíduo empreendedor

1. Lócus Interno de Controle 11. Flexível 2. Determinado, perseverante 12. Necessidade de poder 3. Enérgico, diligente 13. Orientado ao lucro 4. Propensão ao risco 14. Experiência de trabalho prévia 5. Necessidade de realização 15. Dinâmico, líder 6. Criativo, inovador 16. Habilidade em se relacionar com os outros 7. Proativo, iniciativa 17. Sensibilidade para com os outros 8. Tolerância à incerteza, ambigüidade 18. Preditor 9. Resposta positiva frente a desafios 19. Egoísta 10. Independente 20. Cooperativo

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Fonte: adaptado de Brockhaus (1982), Hornaday (1982), Carland et al. (1984), Gartner e Shane (1995), Vesper e Gartner (1997), Kuratko e Hodgetts (1995) e Deakins (1999). Já o Quadro 2 apresenta as características descritas por Whiting, que teve como base a

revisão de trabalhos de pesquisadores da área de criatividade (Helson, 1967; Dellis e Gaier, 1979; Spector, 1982, Solano, 1982; Treffinger, 1987 apud Whiting, 1988). Ao se comparar as características do Quadro 1 e 2 pode-se concluir que pelo menos os deis primeiros itens podem ser enquadrados em uma das quatro descrições atribuídas a pessoas relativamente mais criativas. Muito deles são sinônimos, e outros associações diretas com o conceito das características do Quadro 1.

Quadro 2 – Características do indivíduo relativamente mais criativo Características Breve descrição

Independente não é constrangido por outros; é ao contrário das regras; possui um desrespeito saudável para com o saber convencional (há um modo melhor); segue padrões de pensamento diferentes, flexível e possui padrões internos de excelência e realização.

Orientado à realização tem responsabilidade; persistente; toma iniciativa; enfocado no esforço; alto investimento de energia.

Curioso olha por si próprio; explora assuntos atentamente; atraído pelo desconhecido, novo, complexo e desafiador; tolera bem ambigüidade.

Autoconfiante alta estima / eficácia; Lócus Interno de Controle; otimista.

Imersão profunda se põe completamente envolvido, fica muito conhecedor em áreas distintas; pensa em seu negócio quando se ocupa de outras tarefas; distraído com o tempo; busca informações pertinentes.

Fonte: Adaptado de Whiting (1988, p. 180).

Ademais, outros estudos que procuram associar características específicas às pessoas criativas também apresentam as mesmas similitudes, isto é, muitas delas podem ser ditas como de pessoas empreendedoras e vice-versa. Por exemplo, entre as características mais comuns encontradas nos estudos de Kneller (1978) e King e Anderson (1995) citadas por Terra (2000, p. 42) estão: tolerância à incerteza e ambigüidade; autoconfiança; comportamento não convencional; originalidade; motivação intrínseca; inteligência acima da média; determinação para o êxito; humor e inconformismo. Todas também encontradas no indivíduo empreendedor (Quadro 1).

Essas semelhanças também são encontradas no MLC (Rickards e Moger, 2000). Estes autores acreditam que o desempenho da equipe de trabalho possa aumentar com a presença de um líder criativo. Como comentado, se o desempenho de uma equipe está diretamente relacionado com seu comportamento, o papel do líder é trabalhar de maneira que a equipe altere seu comportamento em todos os sete fatores de equipes criativas. Para os autores, a Liderança Criativa é o processo fundamental que muda o comportamento criativo da equipe de inaceitável para aceitável e, posteriormente para superior, através da introdução de “estruturas benignas”, enfatizando a cooperação (e não a coerção) e a mutualidade (situações que beneficiam o grupo e o líder ao mesmo tempo).

Rickards e Moger utilizaram o modelo de formação de equipes de Tuckman (1965) que descreve as etapas do processo de formação de uma equipe: form (formação), storm (turbulência), norm (normalização), perform (performance), e adjourn (passagem ou finalização), incluindo duas barreiras a esse processo de formação, que as impedem de constituírem-se, primeiramente, e, posteriormente, de atingirem uma performance superior. Segundo Rickards e Moger isto foi necessário porque o modelo não conseguia explicar duas questões “que mecanismos estão em jogo quando uma equipe falha em atingir a performance esperada? e que mecanismos levam à performance exemplar?” (Rickards e Moger, 2000, p. 275). A Figura 1 ilustra o MLC.

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Figura 1 – Modelo de Liderança Criativa Fonte: Rickards e Moger, 2000.

A primeira barreira é considerada uma barreira fraca de comportamento, mostra-se presente em grupos que não conseguem superar a etapa de formação e turbulência. Superar esta barreira significa que as pessoas do grupo conseguiram estabelecer as relações pessoais entre si e o líder, e é considerada uma barreira fraca por Rickards e Moger (2000), pois eles têm observado que a grande maioria de equipes criativas supera esta barreira. A segunda, considerada uma barreira forte de performance, indica a capacidade de criatividade e inovação que o grupo atingiu. Avaliar essa performance “criativa” dependerá da cultura organizacional presente, como observam Rickards e Moger (2000).

Para que se possa superar essas duas barreiras e, outras que, contingencialmente aparecem nos grupos, Rickards e Moger (2000) reforçam a inserção das “estruturas benignas” que são representadas pelos sete fatores de equipe criativas que distinguem equipes com elevado potencial para criatividade, sendo eles: plataforma de entendimento; visão compartilhada; clima; resiliência; idéias próprias; ativação em rede e aprendizado vindo da experiência. O Quadro 3 traz uma breve descrição dos sete fatores de equipes criativas de Rickards e Moger.

Quadro 3 – Os Setes Fatores de Equipes Criativas

Fatores Características Chaves

Plataforma de Entendimento

Membros da equipe entendem e respeitam os pontos de vistas uns dos outros, a equipe compartilha conhecimento, crenças e convicções. Estes elementos incluem a plataforma de entendimento da qual novas idéias se desenvolverão.

Visão Compartilhada Membros da equipe compartilham senso de propósito e responsabilidades que motivam e sustentam o progresso da equipe. Membros da equipe também levam junto visões poderosas e significativas.

Clima Membros da equipe confiam uns nos outros e compartilham uma positiva e acolhedora abordagem para estimular a criatividade no trabalho.

Idéias Próprias

As idéias em que são dadas mais atenção são aquelas percebidas como abertas ao comprometimento de toda a equipe. Uma equipe criativa cria e sustenta novas e valorosas idéias de problemas relacionadas a tarefa, de maneira que seja suportada pelas necessidades de comportamento do própria equipe

Resiliência Membros da equipe são flexíveis com suas frustrações e obstáculos.

Ativação em Rede Membros da equipe são bons em se comunicarem com pessoas de fora da equipe, trocando idéias e oferecendo apoio mútuo.

Aprendizado vindo da Experiência

Membros da equipe são orientados em direção do aprendizado vindo de suas próprias experiências, permitindo assim, crescer, mudar, adaptar e resolver problemas de forma criativa.

Fonte: Adaptado de Rickards, Chen e Moger (2001, p. 245).

Barreira Fraca de Comportamento

Barreira Forte de Performance

Processos de Formação e Turbulência.

Processos de Normalização e Performance.

Processos de Performance Superiores

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A maior ou menor presença dos fatores de equipes criativas faz com que as duas barreiras existentes que impedem a inserção ou o desenvolvimento das “estruturas benignas” no grupo e, conseqüentemente, fazem com que as equipes não sejam capazes de atingir o desempenho esperado em termos criativos, sejam quebradas. Rickards e Moger (2000) usam o termo “barreira” para indicar um impedimento estrutural ao desenvolvimento da criatividade. Os autores vêem as barreiras para o desenvolvimento de equipe tanto externamente, como pressões do ambiente, quanto internamente, como barreiras socialmente construídas.

A partir da revisão da literatura das diversas pesquisas sobre empreendedorismo (Carland et al., 1984, 1998; Carland, Carland e Hoy, 1992, 1998; Carland e Carland, 1991; Kets de Vries, 1985; Knight, 1987; Gibb, 1987; Huefner, Hunt e Robinson, 1996; Filion, 1999a, 1999b) de criatividade (Alencar, 1995, 1996, 1998, Amabile, 1998; Whiting, 1988; Boden, 1999; Terra, 2000; Unsworth, 2001) e liderança criativa (Rickards, 1999, Rickards e Moger, 1999, 2000; Rickards, Moger e Chen, 2001) bem como das características da amostra (Anprotec, 2001; Oliveira, 2000), algumas hipóteses podem ser formuladas quanto a direção dos resultados esperados: H1: Os PG-MPE’s possuem um alto comportamento empreendedor e de liderança criativa. H2: Existe uma associação positiva entre empreendedorismo e liderança criativa. H3: Não existe associação entre o PE&LC e a variável sexo. H4: Existe uma associação positiva entre o PE&LC e a variável grau de instrução. H5: Existe uma associação positiva entre o PE&LC e a variável idade. INSTRUMENTOS

O CEI é resultado de extensa pesquisa sobre empreendedorismo realizada por Carland, Carland e Hoy (1992). A avaliação dessa grande massa de literatura levou-os a concluir que o empreendedorismo é uma função de, principalmente, quatro elementos: (i) traços de personalidade, (ii) inovação, (iii) propensão ao risco e (iv) postura estratégica. O CEI consiste de um questionário de auto-resposta na forma de papel e lápis com trinta e três frases afirmativas em pares, no formato de escolha forçada. A maior ou menor presença desses elementos, em um indivíduo, coloca-o, segundo a escala do CEI, entre os valores de 0 a 33 pontos, contidos em três faixas: de “Micro-Empreendedor” (0 a 15) ao “Macro-Empreendedor” (26 a 33), passando pela faixa intermediária de Empreendedor (16 a 25).

O TFI é o resultado de pesquisas sobre criatividade desenvolvidas diretamente com equipes criativas em diversas organizações da Europa, África e Ásia, que lidavam com tarefas e objetivos não rotineiros, freqüentemente associados à pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. O TFI consiste de um conjunto de 21 questões em uma escala de cinco pontos (discorda totalmente ... concorda totalmente), cada um contendo três itens, que compreende os sete fatores de equipe criativas. Todas as questões foram expressas positivamente e a primeira questão foi introduzida para focar a atenção do respondente.A maior ou menor presença dos sete fatores em uma equipe, coloca-a, segundo a escala do TFI, entre os valores de 0 a 5 pontos, contidos em três faixas: de “Team from hell” [0 a 1,87) a “Dream team” [3,10 a 5,00], passando pela faixa intermediária de “Standard team” [1,87 a 3,10).

Como a utilização destes instrumentos é inédita no Brasil, foi necessária a tradução do inglês para o português. Para tal, adotou-se o método de Backtranslation (Douglas e Craig, 2000), que compreende a tradução do instrumento original – source – para o idioma alvo – target, e sua re-tradução para o idioma original, novamente. Após, compara-se os resultados e, caso necessário, se refaz o mesmo processo até que o instrumento resultante contenha o mesmo significado em todo seu contexto. Conjuntamente com o CEI e o TFI foram incluídas na pesquisa, três perguntas demográficas (variáveis de controle) sobre a idade, o sexo e o grau

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de instrução, com o propósito de observar o relacionamento destas com os índices. A validade interna do CEI foi de 0,62 e a do TFI de 0,89 (Cronbach’s Alpha).

POPULAÇÃO/AMOSTRA

A população compreendeu PG-MPE’s residentes das IT-PR, sendo que a grande maioria das empresas (75%) trabalham na área tecnológica, agribusiness, produção de software comerciais e de entretenimento, automação industrial e soluções para Internet. Em geral, as incubadoras são recentes com menos de 3 anos de existência. A fórmula utilizada para determinação de uma amostra probabilística, no caso de população finita (pequena) com estimação da proporção como a da presente pesquisa, é dada por:

qpZ

dNNn

××

×+

=

2

21

Onde: n : é o número de elementos da amostra (tamanho da amostra) N : é o número de elementos da população (tamanho da população) Z : é o valor da abscissa da curva normal associada ao nível de confiança. d : é o erro tolerável da amostra (precisão da amostra) em porcentagem. p e q : proporção de se escolher uma dada empresa aleatoriamente.

Fonte: Silver, 2000, p. 227. Então, com um tamanho de população N = 55 empresas, para um nível de

significância pré-fixado de 5%, conforme afirma Steverson (1986), para estudos nas áreas sociais é comum se utilizar, resultando em um valor Z = 1,96, admitindo-se que a proporção é desconhecida e que portanto utiliza-se p = q = 0,5, pois dá o maior tamanho possível de amostra e tomando-se d (erro amostral) de 0,10 admitindo-se que intervalos de +/- 10% de variação sobre a média das pontuações do CEI e do TFI encontrados forneceu uma clara definição da tendência adotada, o tamanho mínimo necessário da amostra seria de 35 empresas. Como resultado, obteve-se 73 questionários respondidos englobando 38 empresas diferentes de todas as oito incubadoras. O Quadro 4 apresenta os principias dados da amostra.

Quadro 4 – Dados demográficos da amostra (n = 73) Idade n % Sexo n % < 20 4 5 F 17 23

[20, 25) 20 27 M 56 77 [25, 30) 25 34 Grau de Instrução n % [30, 35) 3 4 Elementar 1 1 [35, 40) 8 11 Médio 2 3 [40, 45) 2 3 Superior 50 68 >= 45 5 7 Pós-graduação 15 21

N/I 6 8 N/I 2 3 Incubadora Número de empresas % Número de respondentes % Localização

Inc-01 9 12 21 29 Maringá Inc-02 6 8 13 18 Pato Branco Inc-03 3 4 3 4 Cascavel Inc-04 2 3 3 4 Curitiba Inc-05 9 12 16 22 Curitiba Inc-06 3 4 9 12 Londrina Inc-07 4 5 5 7 São Mateus do Sul Inc-08 2 3 3 4 Foz de Iguaçu

N/I = não informado. RESULTADOS

Ambas as distribuições das pontuações do CEI como do TFI tiveram um comportamento próximo à normalidade, com média de 21,10, moda de 22 e mediana de 21

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para o CEI e média de 4,06, moda de 3,86 e mediana de 4,10 para o TFI. Essa constatação é importante para tratamentos estatísticos, onde alguns testes como o de correlação exigem tal característica (Pereira, 1999). Os Gráficos 1 e 2 trazem a distribuição de freqüência do CEI e do TFI respectivamente. Ambos os índices obtiveram valores de assimetrias mínimos, não caracterizando nem uma assimetria à direita ou à esquerda. Os índices de curtose do CEI e do TFI também sugerem um agrupamento em torno da média semelhante com uma distribuição pontiaguda, isto é, leptocúrtica. Isto sugere uma média representativa (Silver, 2000).

Gráfico 1 – Histograma do CEI

CEI

No

de o

bser

vaçõ

es

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33

n = 73 (X: 21,0959; D.P.: 3,11878)

Gráfico 2 – Histograma do TFI

TFI

No

de o

bser

vaçõ

es

0123456789

101112131415

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8

3,0

3,2

3,4

3,6

3,8

4,0

4,2

4,4

4,6

4,8

5,0

5,2

n = 73 (x: 4,06; D.P.: 0,4607)

Como pode ser observado nos histogramas, Gráficos 1 e 2, optou-se em apresentar no eixo das coordenadas (eixo X) a variação total da escala do CEI e do TFI respectivamente, para que se possa ter a noção da distribuição dos valores encontrados ao longo da escala. Dessa forma, nota-se que a distribuição dos valores do TFI situou-se em patamares superiores aos do CEI. Daí, pode-se sugerir que em termos de potenciais individuais, os PG-MPE’s possuem níveis medianos na escala, mas quando analisado o desempenho deles dentro da

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equipe, atingiram resultados mais elevados. De fato, a classificação de Rickards e Moger (1999) para as categorias de equipes não encontrou nenhuma equipe como “vinda do inferno”.

As Tabelas 1 e 2 apresentam as resultados do CEI e do TFI por tipo. Do total de respondentes, cinco estão dentro da faixa de Micro-Empreendedores com média de 13,80, representando aproximadamente 7% da amostra. Na outra extremidade se encontram quatro respondentes (≅ 5%) classificados como Macro-Empreendedores com média de 26,25. A grande maioria dos respondentes (≅ 88%) ficou na faixa de Empreendedor, totalizando 64 respondentes com média de 21,34. Já na categorização do TFI, do total de respondentes, apenas três estão dentro da faixa de “Standard team” com média de 3,03. Todos os demais se situaram na faixa de “Dream Team” com média de 4,10, representados por 70 respondentes.

Tabela 1 – Média do CEI por tipo Tabela 2 – Média do TFI por tipo

Faixas Média D.P. n % Faixas Média D.P. n % Micro-Empreendedor 13,80 0,84 5 7% Team from hell 0 0% Empreendedor 21,34 2,26 64 88% Standard team 3,03 0,08 3 4% Macro-Empreendedor 26,25 0,50 4 5% Dream team 4,10 0,42 70 96%

Geral 21,10 3,12 73 100% Geral 4,06 0,46 73 100%

Com relação ao sexo, somente os estudos dos autores do CEI fazem menção à preocupação desta análise. Contudo, outros autores apontam que um instrumento que se propõe avaliar somente o potencial não deveria ser tendencioso com relação ao sexo (Carland e Carland, 1991; Fleenor e Taylor, 1994; Huefner, Hunt & Robinson, 1996;). Seguindo essa assertiva, a diferença das pontuações entre homens e mulheres, tanto para o CEI (homens = 21,21; mulheres = 20,71; p = 0,58) quanto para o TFI (homens = 4,04; mulheres = 4,12; p = 0,60), não foi estatisticamente significativa, ao nível de confiança de 95%. Dessa maneira, pode-se sugerir que ambos os instrumentos não são tendenciosos em relação ao sexo.

Com relação à idade, a literatura revela que o potencial empreendedor e possivelmente o criativo tende a aumentar com o passar dos anos, com o amadurecimento e acumulação de conhecimento (Gibb, 1987; Carland, Carland e Hoy, 1998).Todas as análises de correlação utilizaram o coeficiente de correlação do momento produto – coeficiente de correlação de Pearson (Silver, 2000). Adotou-se também a estratégia de agrupar as médias das pontuações do CEI e do TFI por faixa de idade. O resultado encontrado foi uma correlação forte e estatisticamente significativa para ambos os índices que podem ser vistos nos Gráficos 3 e 4.

Gráfico 3 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x CEI

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IDADE (p.m.)

CE

I

19,0

19,5

20,0

20,5

21,0

21,5

22,0

15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0 37,5 40,0 42,5 45,0 47,5 50,0Regression 95% confid.

Correlação r = 0,87 Correlação r = - 0,67

Para o CEI apareceram dois grupos distintos. O primeiro indo até a faixa etária de 32,5

anos com uma correlação positiva forte (ρ = 0,87) e outro acima dos 32,5 com uma correlação negativa forte (ρ = - 0,67). Já para o TFI a associação foi negativa e estatisticamente significativa (ρ = -0,82; p <0,05), conforme pode ser vista no Gráfico 4. Cabe aqui dizer que a associação negativa do TFI com a idade para alguns estudiosos da criatividade não é de todo estranho. Alencar (1995), Amabile (1998), Goleman, Ray e Kaufman (1998) e Drucker (1994, apud TERRA, 2000), acreditam que apesar de toda a pesquisa realizada nas últimas décadas, sabe-se muito mais como destruir a criatividade do que sobre como a estimular.

Gráfico 4 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x TFI

IDADE (p.m.)

TFI

3,75

3,85

3,95

4,05

4,15

4,25

4,35

4,45

4,55

15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0 37,5 40,0 42,5 45,0 47,5 50,0

Regression 95% confid.

Correlação r = - 0,8182

N=67, ambos estaticamente significativos ao nível de p <0,05.

Esses padrões nas associações não são discutidos na revisão da literatura de Rickards e

Moger. Porém, autores como King e Andersen (1995, apud Terra, 2000) ressaltam que existem diferenças importantes nas características expressas da criatividade em virtude da idade, do sexo e da ocupação profissional. É importante notar que apesar da tendência e significância estatística apontarem em direção a uma associação negativa entre a idade e o

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TFI, a variação da pontuação de 3,80 a 4,55 permanece ainda dentro da faixa “Dream team” e, portanto, essa tendência não deve ser elevada a status de “total evidência” porque essas diferenças são poucas e não suficientes para se atribuir padrões de desempenho superiores a certa faixa e inferiores para outras faixas etárias.

Com relação à associação dos índices com o grau de instrução, verifica-se através dos Gráficos 5 e 6 uma associação positiva forte e estatisticamente significante, ao nível de 5% tanto para o CEI (r = 0,87) quanto para o TFI (r = 0,65). Essa evidência vem a contribuir com a questão se é ou não possível aprender a ser empreendedor ou criativo. Fiet (2000a, 2000b) e Gibb (1987) acreditam “[...] que o fenômeno do empreendedorismo possa, aparentemente, ser cultural e experimentalmente adquirido fornece suporte ao ponto de vista de que ele possa ser influenciado pela educação e treinamento” (Gibb, 1987, p. 16).

Gráfico 5 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x CEI

INSTRUÇÃO

CE

I

16,5

17,0

17,5

18,0

18,5

19,0

19,5

20,0

20,5

21,0

21,5

22,0

Elementar Médio Superior PósRegression 95% confid.

Correlação r = 0,85714

Gráfico 6 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x TFI

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INSTRUÇÃO

TFI

3,30

3,40

3,50

3,60

3,70

3,80

3,90

4,00

4,10

4,20

4,30

4,40

Elementar Médio Superior PósRegression 95% confid.

Correlação r = 0,65249

N=71, ambos estatisticamente significativos ao nível de p < 0,05.

Por fim, a análise da associação entre o CEI e o TFI tomou por base os valores

agrupadas com relação ao CEI. Dessa maneira, para cada valor de pontuação diferente do CEI, foi calculada a média do TFI, reduzindo a matriz a quinze valores distintos do CEI, como pode ser visto na Tabela 3. Tal procedimento possibilita uma reta de regressão de ajuste bastante satisfatório, sendo a estratégia inicialmente usada pelo próprio Pearson em 1903 (apud Pereira, 1999). Matthews e Farewell (apud Pereira, 1999) também lembram que a regressão linear em pesquisa nas áreas das ciências sociais não busca a mesma precisão matemática com que ela é usada, por exemplo, em física.

Tabela 3 – Média do CEI, TFI e seus fatores agrupados por CEI CEI 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 fi 2 2 1 2 3 1 5 11 11 13 4 9 5 3 1 TFI 3,5 4,1 3,3 3,9 4 3,4 4 4,1 3,9 4,1 4,4 4,1 4,3 4 4,8 Como pode ser visto no Gráfico 7, o ajuste da reta de regressão foi muito bom, tendo

poucos pontos discrepantes e com a grande maioria dentro do limite de confiabilidade de 95%. A correlação foi positiva e forte (r = 0,69) e estatisticamente significativa ao nível de 5%. Esse resultado traz suporte à hipótese H3 de que os índices de empreendedorismo e liderança criativa teriam uma associação positiva.

O resultado também contribuiu para a avaliação dos instrumentos, pois forneceu uma indicação preliminar de validade convergente (Cooper e Schindler, 1998). Se a análise dos resultados do TFI, que mede potencial criativo associado a liderança (Rickards, Moger e Chen, 2001), revelar os mesmos padrões de comportamento com relação ao CEI, pode-se dizer que o TFI tem validade convergente. No caso do CEI, esta análise foi levada a cabo pelos próprios autores do instrumentos (Carland, Carland e Hoy, 1992), sendo os resultados comparados com outras escalas conhecidas.

Gráfico 7 – Diagrama de dispersão: CEI x TFI

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CEI

TFI

3,00

3,20

3,40

3,60

3,80

4,00

4,20

4,40

4,60

4,80

5,00

12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28Regression 95% confid.

Correlação r = 0 ,68548

N=15, estaticamente significativa ao nível de p < 0,05.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os PG-MPE’s das IT-PR podem ser considerados pessoas com grande potencial empreendedor e criativo. Dos 73 respondentes, 88% enquadraram-se dentro da faixa de empreendedores e 96% dentro da faixa de “Dream team”, levando então a aceitação da hipótese H1 de que a amostra teria grande PE&LC. Ainda com relação as pontuações, verificou-se que a do TFI se situou em patamar superior a do CEI.

A associação entre o CEI e o TFI revelou uma correlação positiva e estatisticamente significativa ao nível de 5% (r= 0,69). Na revisão da literatura pode ser vista a aproximação destes dois campos de estudo pelas semelhanças que possuem com relação às características de atitude e comportamento entre as pessoas criativas e as empreendedoras. Desta maneira, a Hipótese H2 de que existiria uma associação positiva entre o PE&LC pode ser aceita. Essa associação também auxiliou na avaliação dos instrumentos de pesquisa demonstrando que o TFI possui validade convergente com relação ao CEI (Cooper e Schindler, 1998).

Com relação a hipótese H3, os resultados demonstraram não haver diferença estatisticamente significativa, ao nível de 5%, entre homens e mulheres, levando-se a aceitação de H3. Este resultado também colabora com a avaliação dos instrumentos, pois, diferenças de potencial não tem relação com diferenças de estilo, comportamento ou atitude. Como os instrumentos buscam quantificar características de um ser empreendedor e criativo, respectivamente, os mesmos podem ser considerados não tendenciosos a nenhum dos sexos.

Analisando-se a relação entre grau de instrução e o PE&LC, ambas indicaram uma associação positiva e estatisticamente significativa, ao nível de confiança de 95%. Estes resultados levaram à aceitação da hipótese H4, de que a variável grau de instrução teria associação positiva com o PE&LC. No que diz respeito a associação entre idade e PE&LC, os resultados não apontaram para um único caminho. Para o CEI apareceram dois grupos distintos, com uma idade média de separação dos grupos de 32,5 anos. Já a associação da idade com o TFI obteve uma associação negativa de (r= –0,81) e estatisticamente significativa ao nível de 5%. Feita essas considerações, acredita-se que parte da hipótese H5 possa ser aceita.

Com base nestas informações, pode-se sugerir que uma das maneiras de se promover o aumento da capacidade empreendedora seja através da inclusão dos mais jovens e mais velhos nesse processo. Infelizmente com relação a participação da mulher, as informações não permitem tal afirmação, pois muito provavelmente, devido ao ramo de atividade das

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empresas, a amostra foi predominantemente de homens. Isto vem a se configurar como um viés da pesquisa. Também a proposta de inclusão de disciplinas sobre empreendedorismo em todos os níveis de ensino podem auxiliar nesta tarefa, vista as relações encontradas com o PE&LC com a variável grau de instrução.

Como trabalhos futuros, a possibilidade do acompanhamento da trajetória destas empresas pode ser valorosa, de modo que abordagens longitudinais, possam gerar mais detalhes sobre a vida e a forma de gestão destes empreendedores tecnológicos. Como Lundvall (1995) afirma, sendo o conhecimento o recurso mais importante na economia moderna e o aprendizado o processo mais valioso, a tarefa de se avaliar um conteúdo de uma determinada matéria – no caso a do empreendedorismo também é passível de estudos futuros de maneira a prover as organizações, tanto empresariais quanto acadêmicas, de um instrumento confiável de avaliação do PE&LC dos indivíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, E. L. S. Desenvolvendo a criatividade nas organizações: o desafio da inovação. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 6, p. 6-11, nov./dez. 1995. ALENCAR, E. L. S. A gerência da Criatividade: abrindo as janelas para a criatividade pessoal e nas organizações. São Paulo: Makron Books, 1996. ALENCAR, E. L. S. Promovendo um ambiente favorável à criatividade nas organizações. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 38, n. 2, abr./jun. 1998. AMABILE, Theresa. M. How to kill creativity. Harvard Business Review. v. 76, n. 5, p. 77-87, set./out. 1998. BIRLEY, Sue; STOCKLEY, Simon. Entrepreneurial Teams and Venture Growth. Chapter XIV, p. 287-307. In: SEXTON, D. L.; LANDSTRÖM, H. (Ed.). The Blackwell Handbook of Entrepreneurship. Oxford: Blackwell Publishers, 2000. BODEN, Margaret A. Dimensões da criatividade. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul, 1999. BRAZEAL, Deborah V; HERBERT, Theodore T. The genesis of entrepreneurship. Entrepreneurship. Theory and Practice, v. 23 n. 3, p. 29-45, spring 1999. BROCKHAUS, Robert H. The psychology of the entrepreneur. Chapter III, p. 39-71. In: KENT, Calvin. A.; SEXTON, Donald. L.; VESPER, Karl. H. (Ed.) Encyclopedia of Entrepreneurship. Englewood Cliffs: New Jersey, Prentice-Hall, 1982. BRUYAT, Chirstian; JULIEN, Pierre-André. Defining the field of research in entrepreneurship. Journal of Business Venturing, v. 16, p. 165-180, 2000. CARLAND, James W. et al. Differentiating Entrepreneurs from Small Business Owners. Academy of Management Review, v. 9, n. 2, p. 354-9, 1984. CARLAND, James W. et al. A proclivity for entrepreneurship: a comparison of entrepreneurs, small business owners, and corporate managers. Journal of Business Venturing, v. 14, p. 189-214, 1998. CARLAND, James W; CARLAND, Jo Ann. An empirical investigation into the distinctions between male and female entrepreneurs and managers. International Small Business Journal, v. 9, n. 3, p. 62-72, Apr./June, 1991. CARLAND, James W; CARLAND, Jo Ann; HOY, Frank S. An entrepreneurship Index: an empirical validation. Frontiers of Entrepreneurship Research, 1992 Edition. CARLAND, James W; CARLAND, Jo Ann; HOY, Frank S. Who is an Entrepreneur? Is a question worth asking? American Journal of Small Business, p. 33-39, spring 1998. COOPER, Arnold C. Entrepreneurship: the past, the present, the future. Disponível em: www.sbaer.uca.edu/docs/publications/Entrep.txt. Acessado em: 18 agosto 2000. COOPER, Arnold C; HORNADAY, John A; VESPER, Karl H. The field of entrepreneurship over time. Frontiers of Entrepreneurship Research, 1997 Edition. COOPER, Donald R; SCHINDLER, Pamela S. Business Research Methods. EUA: Irwin McGraw-Hill, 6th edition, 1998.

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envolvidas com o gerenciamento rotineiro de uma empresa. Uma pessoa pode assumir um papel empreendedor sem nunca se tornar um proprietário-gerente de MPE’s, como por exemplo, aqueles que trabalham para outros. Por outro lado os proprietários-gerentes podem não ser considerados empreendedores, uma vez que, em geral, administram rotinas do dia-a-dia e não fazem nenhuma mudança significativa nos produtos ou serviços.

2 Empresas Residentes são aquelas em processo de incubação, ou seja, utilizam a infra-estrutura e os serviços oferecidos pela Incubadora, ocupando espaço físico, por tempo limitado, na mesma.

3 O termo Incubadora de Empresas, para efeito desta pesquisa, designa empreendimentos que ofereçam espaço físico, por tempo limitado, para a instalação de empresas de base tecnológica e/ou tradicional, e que disponham de uma equipe técnica para dar suporte e consultoria a estas empresas.

4 Traduzido para o inglês por John Godfrey Saxe (1816-1887), é uma Escritura Canônica Hindu, ocorrida em Udana. Encontrada, por exemplo em Mintzberg et al. (2000) e Brazeal e Herbert (1999).