Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
NOTA CEMEC ‐ 04/2018
Investimento e poupança na economia brasileira
2000 – 2017 O crowding out do setor privado
Março 2018
2
Equipe Técnica:
Diretor: Carlos Antonio Rocca Superintendente: Lauro Modesto Santos Jr. Analistas: Marly Paes e Fernando M. Fumagalli Dúvidas e Comentários: [email protected] As opiniões emitidas nesta publicação são de inteira e exclusiva responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Centro de Estudos de Mercado de Capitais ou da FIPE. Este Relatório utiliza dados das fontes citadas disponíveis até a data de sua elaboração, que podem estar sujeitos a alterações posteriores. O CEMEC não se responsabiliza pelo uso dessas informações para tomada de decisões e de compra ou venda ou qualquer transação de ativos financeiros, ou outras que possam causar algum prejuízo, de qualquer natureza, aos usuários da informação. *** A publicação foi produzida com as informações existentes em março/2018.
3
Nota CEMEC 04/2018
Investimento e poupança na economia brasileira 2000 a 2017 o crowding out do setor privado
Sumário Sumário executivo................................................................................................................................... 4
I. Fontes de dados e periodização .......................................................................................................... 7
II. Investimento e poupança na economia brasileira 2000 a 2017 ......................................................... 8
1. Em 2017 apesar de alguma recuperação da taxa de poupança, 13,9% em 2016 para 14,8% em 2017, seu nível é ainda dos mais baixos desde 2000 .............................................................................. 8
2. Poupança negativa do setor público é responsável pela queda da taxa de poupança; poupança de empresas e famílias cresce a partir de 2015 e se mantem acima da média de 2000/2017 ............ 10
3. Queda do investimento de empresas e famílias representa 82% da queda da taxa de investimento da economia brasileira de 2013 a 2017 .......................................................................... 13
4. Em 2017 excedente de poupança de empresas e famílias cobre 92% da necessidade de financiamento do setor público ............................................................................................................ 14
5. Setor público absorve cerca de 60% do fluxo de poupança financeira da economia brasileira .. 15
ANEXO 01 .............................................................................................................................................. 22
1. Estimativa dos Investimentos dos Setores Público e Privado ....................................................... 23
2. Estimativa da Poupança dos Setores Público e Privado ................................................................ 26
4
Sumário executivo
Objetivo
Utilizando estimativas do CEMEC que atualizam as contas nacionais para 2016 e
2017 e dados de seu modelo de contas financeiras, o objetivo desta nota é analisar
o impacto da deterioração das contas públicas nos últimos anos sobre a capacidade
de poupança da economia brasileira e especialmente a intensidade do “crowding
out” do setor privado.
Como resultado do acentuado crescimento da parcela da poupança financeira
absorvida pela dívida pública tem ocorrido uma forte restrição do fluxo de recursos
para o financiamento do setor privado. As empresas têm enfrentado também as
dificuldades decorrentes de endividamento excessivo e de um processo de
desalavancagem, mais lento no caso de pequenas e medias empresas, fatores
esses que haviam contribuído para acentuar a recessão e agora atuam moderando
a recuperação.
Principais observações:
1. Em 2017, apesar de alguma recuperação da taxa de poupança de 13,9%
em 2016 para 14,8% do PIB em 2017, seu nível é ainda dos mais baixos
desde 2000, com queda de 3,4 pontos porcentuais do PIB em relação à
média de 2010 a 2013 (18,2%).
2. A deterioração das contas públicas a partir de 2014 tem efeito dramático
sobre a poupança. De fato, a redução da taxa de poupança nesse período é
integralmente devida à reversão da poupança do setor público. De valores
positivos e acima de 0,5% do PIB em 2012, a poupança do setor público cai
para -6,99% em 2017. Estima-se que a poupança de empresas e famílias
em 2017 é de 21,87% do PIB, acima da média de 2000 a 2015 de 18,94%;
3. O desempenho da taxa de poupança do setor privado é ainda melhor
avaliado ao calcular essa taxa como porcentagem do PIB após a dedução
da carga tributária bruta. Nesse critério, a taxa de poupança do setor privado
se eleva para 32,5% em 2017, o maior nível desde 2000 e superior à média
de 28,1% do período de 2000 a 2015;
5
4. Queda do investimento de empresas e famílias representa 82% da redução
da taxa de investimento da economia brasileira entre 2013 e 2017. As
estimativas do CEMEC sugerem que o investimento público teria caído 1,1
p.p. do PIB nesse período (de 2,7% para 1,6% do PIB) enquanto os do setor
privado teriam perdido cerca de 5 p.p. do PIB (de 19,0% para 14,0%). nesse
mesmo período.
5. Em 2017 o excedente de poupança de empresas e famílias (7,9% do PIB)
equivalente à diferença entre poupança e investimento desse grupo, cobre
92% da necessidade de financiamento do setor público, complementados
por 0,7% de popança externa.
6. O setor público tem absorvido parcela crescente do fluxo de poupança
financeira nos últimos anos, configurando intenso processo de “crowding
out” do setor privado:
a. O saldo de dívida pública em relação ao PIB tem salto de 22,4 pontos
porcentuais do PIB entre 2013 e 2017 (de 50,8% para 73,2% do PIB). Ao
mesmo tempo, o saldo de operações de dívida do setor privado que havia
atingido 64,5% do PIB em 12/2015, tem acentuada queda para 56,3% do
PIB, com redução de 8,3p.p. do PIB;
b. Com esse aumento da dívida pública, a participação dos títulos de dívida
pulica na carteira ria dos investidores institucionais se eleva de 38% em
2013 para 52% em 2017;
c. No sistema bancário, utilizando dados oficiais organizados nas contas
financeiras do CEMEC verifica-se que em 12/;2017, quase ¾, ou seja
72,2% de todos os recursos captados pelo sistema bancário brasileiro
estão direcionados para financiar o setor público, na forma de títulos
públicos, operações compromissadas e empréstimos bancários. Ou seja,
restam apenas 27,8% do total de recursos captados pelo sistema bancário
para financiar empresas e famílias;
6
7. As projeções disponíveis feitas pela Instituição Fiscal Independente mostram
que no seu cenário básico a relação divida bruta/PIB continuará crescendo
no próximos anos, fazendo com que setor público continue absorvendo
parcela considerável do fluxo de poupança financeira para seu
financiamento. Nesse cenário, que incorpora também uma hipótese de
reforma da previdência e outros ajustes ficais, essas projeções indicam a
continuidade de elevação da relação da dívida bruta/PIB até 2023, quando
atingiria 86,6% do PIB.
8. Nesse contexto, uma questão relevante é verificar de que modo financiar o
investimento do setor privado, cuja recuperação deve liderar
necessariamente uma retomada do crescimento. Nesse contexto, num
cenário de retomada mais significativa do investimento privado, é importante
verificar em que medida e em que condições será possível contar com um
aumento sustentável de participação da poupança externa. .
7
I. Fontes de dados e periodização
As fontes de dados para cada subperíodo são as seguintes:
a) Período 2000- 2009: Contas Econômicas Integradas IBGE;
b) Período 2010 – 2014: Idem, com nova metodologia;
c) Período 2015 – 2016 4T– Contas Nacionais Trimestrais IBGE
d) Período 2016 – 2017 – Segregação de dados de investimento e poupança
entre administração pública e setor privado são estimativas preliminares
do CEMEC1
Todas os dados se referem a períodos anuais ou períodos de 12 meses encerrados
no trimestre de referência. Por exemplo, os dados (renda, poupança, investimentos
etc.) atribuídos ao quarto trimestre de 2017 (4T2017) se referem ao período de
quatro trimestres encerrados no quarto trimestre de 2017
1 Até 2015 os dados de poupança e investimento abertos por setor público e privado têm como fonte
as Contas Econômicas Integradas do IBGE; a partir de 2016 são estimativas preliminares do CEMEC, obtidas com a utilização de metodologia detalhada no Anexo 01.
8
II. Investimento e poupança na economia brasileira 2000 a 2017
.
1. Em 2017 apesar de alguma recuperação da taxa de poupança, 13,9% em 2016 para 14,8% em 2017, seu nível é ainda dos mais baixos desde 2000
No Gráfico 01 é apresentada a evolução do investimento, poupança bruta e do
déficit em contas correntes (poupança externa) com base nos dados das Contas
Nacionais Trimestrais (IBGE) no período de 2000 a 2017.
GRÁFICO 012
2 O déficit em conta corrente de Contas Nacionais difere do déficit da balança de pagamentos (veja‐se “Dois
termômetros da conta corrente” Giambiagi jornal Valor Econômico 12/03/2014).
9
Apesar de uma pequena reversão observada em 2017, a taxa de investimento e a
taxa de poupança nacional ainda se situam entre as menores desde o ano 2000,
ao mesmo tempo em se manteve a acentuada redução da poupança externa.
externa.
Podem ser feitas algumas observações:
a) A taxa de investimentos de 2017 (15,5%) é praticamente idêntica à
observada em 2016 (15,4%) e continua no menor nível realizado desde o
ano 2000, reproduzindo pelo segundo ano uma queda de mais de 6p.p do
PIB em relação à média de 2010/2013 (21,7%).
Certamente essa forte queda da taxa de investimentos é o principal fator
explicativo da intensidade da recessão da economia brasileira de 2015 e
2016 e que somente em 2017 dá os primeiros sinais de reversão. O
Gráfico 02 demonstra a elevada correlação (0,9705) mantida entre as
taxas de variação do PIB e da formação bruta de capital fixo a preços
constantes em períodos de quatro trimestres móveis desde 2004T1,
correlação essa mais elevada que a calculada com outros componentes
da demanda final.
GRÁFICO 02
10
b) Taxa de poupança: movimento análogo é observado na taxa de
poupança que havia atingido a média de 18,2% do PIB no período de
2010/2013, com queda de 4,9p.p. do PIB em 2016, para 13,9% e uma
pequena recuperação para 14,8% em 2017;
c) Poupança externa: verifica-se que a notável redução do deficit em
contas correntes, de -4,5% do PIB em 2014 para apenas 0,7% em 2017
possibilitada pela forte queda da absorção doméstica e especialmente do
investimento, de 20,5% para 15,5% do PIB, além dos efeitos da recessão e
da desvalorização cambial sobre importações e exportações de bens e
serviços.
2. Poupança negativa do setor público é responsável pela queda da taxa de poupança; poupança de empresas e famílias cresce a partir de 2015 e se mantem acima da média de 2000/2017
No Gráfico 03, verifica-se que no período de 2012 a 2017 o forte aumento da
poupança negativa do setor público foi parcialmente compensado pelo aumento de
poupança do setor privado.
GRÁFICO 03
11
As observações são as seguintes:
a. Em 2017 estima-se que a poupança do setor público tenha atingido seu
pior resultado desde o ano 2000, com valor negativo de -6,99% do PIB, o
que representa uma forte queda de 7,56p.p. do PIB em relação ao valor
positivo de + 0,57% do PIB realizado em 2012.
b. Mais da metade dessa queda de 6,99% p.p. do PIB da poupança do setor
público foi compensada pelo aumento de 4,31p.p. do PIB da poupança do
setor privado, elevando-se de 17,47% em 2012 para 21,78% em 2017,
nível esse que é maior desde 2000.
A segregação da poupança nacional entre o setor público e o setor
privado para 2016 e 2017 são estimativas do CEMEC3 e, portanto, podem
divergir das taxas que vierem a ser divulgadas mais adiante nas Contas
Nacionais do IBGE. Entretanto, dada elevada correlação mantida em
estimativas feitas anteriormente pelo CEMEC usando essa metodologia,
pode-se adotar a hipótese de que realmente a taxa de poupança do setor
privado tenha se elevado a partir de 20154.
No Gráfico 04, as taxas de poupança do setor privado são calculadas
sobre o valor do PIB depois de deduzida a carga tributária bruta e as
taxas de poupança do setor público são calculadas sobre sua
arrecadação, representada pela carga tributária bruta.
3
Detalhes da metodologia no Anexo 01. 4
É possível que esse aumento de poupança do setor privado esteja correlacionado com o processo
de desalavancagem de empresas e famílias.
12
GRÁFICO 04
Algumas observações:
a. Quando calculada sobre o valor do PIB após a dedução da carga
tributária bruta, a estimativa da taxa de poupança do setor privado em
2017 atinge 32,5%, maior nível desde 2000, com um salto de mais de
4p.p. em relação ao nível de 2013/2014, este muito próximo da média dos
últimos 17 anos,
b. No setor público a parcela poupada da receita bruta cai de um valor
positivo de 1,7% positivo em 2012 para um negativo de -21,2% em 2017,
o pior resultado observado no período de análise, iniciado em 2000. .
13
3. Queda do investimento de empresas e famílias representa 82% da queda da taxa de investimento da economia brasileira de 2013 a 2017
No Gráfico 05 são apresentadas as taxas de investimentos totais e sua
decomposição entre as parcelas do setor público e do setor privado de 2000 a 2017,
em % do PIB.
GRÁFICO 05
As principais observações são as seguintes:
a. Tomando-se como base de comparação dos dados de 2013, ano
imediatamente anterior ao segundo trimestre de 2014, data que marca o
início da recessão5, verifica-se que a queda da taxa de investimento é de
6,2 p.p. do PIB de 21,7% para 15,5%, nível esse praticamente idêntico ao
de 2016, o mais baixo desde o ano 2000;
b. A maior parte dessa que, da ordem de 5p.p. do PIB, ocorreu nos
investimentos de empresas e famílias (de 19,0% para 14,0%);
5 Conforme definição do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos CODACE da FGV.
14
c. Como é usual, com a crise das contas fiscais, os cortes de despesa
pública se concentram em geral sobre as despesas de capital, fazendo
com que entre 2013 e 2017 o investimento do setor público tenha queda
da ordem de 40%, de 2,7% para 1,6% PIB, nível esse que é o menor
desde o ano 2000.
d. Pela primeira vez desde o ano 2000, observa-se uma redução de
estoques por três anos seguidos, de 2015 a 2017, certamente associada
à forte intensidade da recessão ocorrida no período.
4. Em 2017 excedente de poupança de empresas e famílias cobre 92% da necessidade de financiamento do setor público
No Gráfico 06 é apresentada a necessidade de financiamento dos setores público e
privado, calculado pela diferença entre a taxa de investimento e a taxa de poupança
de cada setor.
GRÁFICO 06
As principais observações são as seguintes:
15
a) Apesar da queda do investimento público de 2,7% para1,6% do PIB entre 2013 e
2017, a necessidade de financiamento do setor público quase triplicou nesse
período em relação ao PIB, aumentando de 3,2% para 8,6%, que reflete o forte
crescimento das despesas correntes e despesas financeiras;
b) Nesse período o aumento do excedente de poupança do setor privado sobre
seus investimentos, salta de um valor negativo em 2013 (-0,1% do PIB) para um
valor positivo estimado de +7,9% do PIB em 2017; com isso, a partir de 2015 o
excedente de poupança de empresas e famílias tem sido a principal fonte de
recursos para financiar esse desequilíbrio do setor publico, mais que
compensando a acentuada redução da poupança externa, de 3,4% para apenas
0,7% do PIB;
5. Setor público absorve cerca de 60% do fluxo de poupança financeira da economia brasileira
Nos períodos de acentuada deterioração das contas públicas, parcela crescente da
poupança financeira da economia é desviada para financiar o desequilíbrio das
contas públicas, em detrimento do setor privado.
Alguns indicadores evidenciam esse movimento. O Gráfico 07 apresenta o fluxo
consolidado da poupança financeira em períodos móveis de 12 meses, definido
como a diferença de saldos de ativos financeiros monitorados no Modelo de
Contas Financeiras do CEMEC6.
6 Em razão da ausência de fontes de dados, o modelo de contas financeiras não inclui a parcela da
poupança financeira aplicada em ações e quotas de capital de empresas fechadas, incorporando na sua base de dados somente os ativos financeiros emitidos pelo sistema bancário, títulos públicos e instrumentos do mercado de capitais: ações de companhias de capital aberto e títulos de dívida privada.
16
GRÁFICO 07
Verifica-se que a parcela dos fluxos de poupança financeira em períodos móveis
de 12 nesses destinada ao financiamento do setor público em porcentagem do PIB
atingiu nos últimos dois anos os maiores valores da última década. A partir de
meados de 2014 a parcela destinada ao financiamento da dívida pública tem
crescimento acentuado, atingindo porcentuais em torno de 6% do PIB, a partir de
2015.
Esse mesmo resultado pode ser observado de várias formas. No Gráfico 08 pode-
se observar o resultado do direcionamento crescente da poupança financeira para
financiar o setor público, refletido na sua participação crescente no saldo total de
dívida no mercado doméstico, calculada pela soma de saldos de empréstimos
bancários, de títulos de dívida privada e de títulos da dívida pública.
17
GRÁFICO 08
É surpreendente o crescimento do saldo de dívida pública em relação ao PIB a
partir de 12/2013, com um salto de 22,4% pontos porcentuais, de 50,8% para
72,2% em 12/2017. Esse desempenho representa uma quebra significativa do
padrão médio observado desde 2007, quando os valores desse indicador são
relativamente estáveis, com média de 52,1%, nível esse muito próximo do
observado em 2013. Ao mesmo tempo, o saldo de operações de divida do setor
privado, feitas no sistema bancário e no mercado de capitais, que havia atingido
64,6% do PIB em 12/2015 tem acentuada queda para 56,3% do PIB em 12/2017,
com redução de 8,3p.p.
Dois outros indicadores calculados pelo CEMEC mostram a intensidade do
“crowding out” do setor privado, na medida em que a poupança financeira se
desloca para o setor público. Trata-se da análise da evolução da carteira de ativos
dos principais sistemas de intermediação financeira, a saber, a carteira dos
investidores institucionais e a do sistema bancário.
O Gráfico 09 apresenta a evolução da composição da carteira dos investidores
institucionais na última década, obtida pelo CEMEC com a consolidação das
18
carteiras dos fundos de pensão, fundos de investimento, planos de previdência
aberta e companhias de seguros.
GRÁFICO 09
A partir de 2014, quando o saldo de títulos públicos na carteira dos institucionais
atinge o menor volume desde 2007, representando 18,4% do PIB, uma parcela
crescente dos recursos desses investidores é dirigida para a aquisição desses
papeis, até atingir 32,5% do PIB, com aumento de 14,1 pontos porcentuais. Nesse
mesmo período a participação porcentual desses títulos na sua carteira
consolidada salta de 37% em 2014 para 52% em 2017.
Ao mesmo tempo, verifica-se que a parcela de recursos aplicados em ativos de
emissão bancária, onde se incluem depósitos, títulos de dívida bancária e
operações compromissadas, apresenta forte crescimento em todo o período
examinado. De um porcentual de 12,9% do PIB em 2008, essa parcela se eleva
para 18,9% do PIB em 2017, equivalente a 30% do valor da carteira nessa data
. .
O Gráfico 10, construído com base no Modelo de Contas Financeiras do CEMEC,
demonstra que quase ¾ (72,2%) de todos os recursos captados pelo sistema
19
bancário brasileiro não se dirige para financiar o setor privado mas são destinados
exclusivamente ao financiamento do setor público.
GRÁFICO 10
No lado esquerdo do gráfico é representada a composição da carteira consolidada
de ativos financeiros da economia brasileira em porcentagem do PIB em
12/2017. 7. O valor total da carteira representa 139,7% do PIB, dos quais 47,4% do
PIB corresponde ao saldo ativos de captação bancária.
Na coluna do meio, apresenta-se a composição da dívida pública doméstica de
73,2% do PIB em 12/2017 segregada em dois componentes:
a. saldo de dívida pública no sistema bancário de 34,2% do PIB, composto de
títulos públicos (30,80% do PIB) mais a dívida na forma de crédito bancário
(3,40% do PIB); por sua vez sua carteira de títulos públicos é composta de
operações compromissadas (16,2% do PIB), títulos públicos vinculados a
depósitos compulsórios (2,9% do PIB) e títulos públicos em sua carteira
própria. (11,7% do PIB).
7 Deve se lembrar que ações e quotas de capital de empresas fechadas não são consideradas nessa
carteira por falta de informações. Ver nota 5.
20
b. saldo de títulos da dívida pública colocados no mercado, na carteira de
investidores não financeiros equivalente a 39,0% do PIB.
Com esses números, conclui-se que 72,2% dos recursos totais captados pelo
sistema bancário (34,2/47,4) são destinados ao financiamento do setor público, na
aquisição de títulos públicos (69,8%) e de crédito bancário (3,4%). Desse modo,
somente 28% dos recursos totais captados pelo sistema bancário podem ser
destinados ao financiamento de famílias e empresas.
De acordo com as projeções recentes8 da Instituição Fiscal Independente, no seu
cenário básico9 a relação dívida/PIB continuaria aumentando até 2023, atingindo
86,6% do PIB como evidenciado no Gráfico 11.
GRÁFICO 11
Fonte: IFI – RAF - Relatório de Acompanhamento Fiscal – fevereiro de 2018 – No. 13
Cenário 1 (Básico): Em azul de outubro de 2017; em vermelho de fevereiro de 2018.
8 Relatório de Acompanhamento Fiscal de 9 de fevereiro de 2018 – Número 13
9 Nesse cenário, básico, explicitado em detalhes nos Relatórios de Acompanhamento Fiscal de junho
e outubro de 2017 a reforma da previdência sai com prazo dilatado.
21
Esse cenário implica a destinação de parcela considerável do fluxo de poupança
financeira para financiamento do setor público nos próximos anos. Uma questão
relevante é verificar de que modo financiar o investimento do setor privado, cuja
recuperação deve liderar necessariamente uma retomada do crescimento.
22
ANEXO 01
Metodologia de Estimativas do Investimento e da Poupança do Setor Público e Privado
O IBGE nas Contas Econômicas Integradas (CEI) estima a poupança e o investimento dos
setores institucionais (famílias, empresas não financeiras, empresas financeiras, entidades
sem fins lucrativos e administração pública) de forma integrada, isto é, a soma dos setores
institucionais equivale exatamente ao total da economia.
O setor institucional administração pública é constituído por unidades que têm como função
principal produzir serviços não-mercantis destinados à coletividade e/ou efetuar operações
de repartição de renda e de patrimônio. Segundo o IBGE10:
“O setor da administração pública é composto pelas seguintes unidades institucionais:
• órgãos governamentais da administração central e entidades descentralizadas
(autarquias, fundações e fundos), nos âmbitos federal, estadual e municipal;
• entidades públicas juridicamente constituídas como empresas com funções típicas
de governo e cujos recursos são provenientes, em sua maior parte, de
transferências ou de venda de serviços a órgãos governamentais;
• entidades paraestatais que têm como principal fonte de receita recursos tributários
vinculados, arrecadados pelo governo, são elas:
. Sistema S – instituições produtoras de serviços sociais que têm como principal
fonte de receita contribuições compulsórias com ônus ao setor produtivo nacional.
Conselhos Profissionais – instituições de apoio à regulação das atividades
profissionais que têm como principal fonte de recursos contribuições compulsórias
de seus filiados.
. FGTS – fundo de natureza privada e gestão pública cujos recursos são aplicados
nas áreas de habitação, saneamento e infraestrutura urbana. Sua principal fonte de
receita é a arrecadação compulsória de contribuição a cargo dos empregadores.”
No conceito de contas econômicas integradas (CEI) do IBGE as estatais que possuem
receitas próprias relevantes como Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, etc. estão no
setor institucional de empresas não financeiras ou financeiras11.
Em seguida vamos descrever os procedimentos utilizados pelo CEMEC para estimar os
investimentos
10 Veja-se
ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/Notas_Metodologicas_2010/04 _setores_institucionais.pdf 11
Na metodologia “Contas Nacionais referência 2010 IBGE” há uma separação das empresas:
empresas públicas não financeiras e empresas privadas não financeiras, mas ambas estão no setor institucional empresas não financeiras.
23
1. Estimativa dos Investimentos dos Setores Público e Privado
As contas econômicas integradas (CEI) do IBGE fornecem os investimentos das
administrações públicas (Governo federal, estadual e municipal) no período 2000 a 201512.
Para estimar 2016 e 2017 utilizamos as estimativas do Instituto Fiscal Independente (IFI)13
que através de uma metodologia própria, com diferenças em relação a metodologia utilizada
pelo IBGE14, estima o investimento do setor público segregando Governo Geral (federal,
estadual e municipal) e empresas estatais federais no período 1995 a 2017.
O Gráfico 01, a seguir, apresenta as estimativas do IBGE e do IFI no período 2000 a 2017.
Como se verifica no Gráfico 01 as estimativas dos investimentos das administrações
públicas do IBGE são em nível superior às do IFI por acrescentar algumas estatais
dependentes do governo e órgãos paraestatais como já salientado. Para podermos utilizar a
série do IBGE fizemos uma regressão linear onde Investimento nominal do IBGE é uma
função do investimento nominal IFI, os resultados são apresentados a seguir.
12 Veja-se https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/contas-nacionais/9052-
sistema-de-contas-nacionais-brasil.html?&t=resultados
13 Veja-se http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/535500/RAF11_DEZ2017_pt04.pdf
14 Provavelmente as diferenças ocorrem pelo fato do IBGE incluir as empresas estatais dependentes
dos recursos do Governo e entidades paraestatais enquanto as estimativas do IFI referem-se exclusivamente à administração pública segregando sua estimativa de setor público em Governo Geral e estatais federais.
24
R- Quadrado
ajustado
0,9911
Interseção 1.542,909
(0,66082)
Investimento IFI 1,260
(43,07838)
Desse modo utilizamos os dados do IBGE de 2000 a 2015 e uma estimativa para 2016 e
2017 com base nos dados do IFI.
De posse desta estimativa de investimento do setor público realizamos uma estimativa do
investimento do setor privado que é obtida pela diferença entre o investimento total
fornecido pelo IBGE nas Contas Nacionais Trimestrais e o investimento do Governo Geral
ora descrito.
A tabela 01, a seguir, resume os resultados encontrados para o período 2000 a 2017.
25
Tabela 01 - INVESTIMENTO PRIVADO E PÚBLICO: 2000 a 2017 (em % do PIB nominal)
Período
Investimento
Poupança
Externa
Formação bruta de capital fixo
Variação
de
Estoques
Investimento
Privado Total
Adm. Públicas
Privado
(1) (2) (3) (4) (5)= (3) - (4) (6) (7)= (5) + (6)
2000 18,90% 4,91% 18,30% 2,21% 16,09% 0,60% 16,69%
2001 18,74% 5,15% 18,42% 2,43% 15,99% 0,32% 16,31%
2002 17,45% 2,02% 17,93% 2,47% 15,46% -0,48% 14,98%
2003 16,86% 0,44% 16,60% 1,91% 14,70% 0,25% 14,95%
2004 17,91% -0,94% 17,32% 2,09% 15,23% 0,59% 15,82%
2005 17,20% -0,91% 17,06% 2,11% 14,94% 0,15% 15,09%
2006 17,82% -0,59% 17,21% 2,40% 14,81% 0,61% 15,41%
2007 19,82% 0,48% 18,00% 2,50% 15,49% 1,82% 17,31%
2008 21,62% 2,39% 19,39% 2,85% 16,53% 2,23% 18,77%
2009 18,80% 2,42% 19,10% 2,97% 16,13% -0,31% 15,82%
2010 21,80% 3,86% 20,53% 3,23% 17,30% 1,27% 18,57%
2011 21,83% 3,27% 20,61% 2,83% 17,78% 1,22% 19,00%
2012 21,42% 3,38% 20,72% 2,73% 17,99% 0,70% 18,69%
2013 21,69% 3,37% 20,91% 2,70% 18,21% 0,78% 19,00%
2014 20,55% 4,54% 19,87% 2,97% 16,90% 0,68% 17,58%
2015 17,61% 3,38% 18,09% 2,27% 15,82% -0,47% 15,34%
2016 15,45% 1,60% 16,38% 1,90% 14,48% -0,94% 13,54%
2017 15,50% 0,72% 15,63% 1,59% 14,04% -0,13% 13,91%
estimativa CEMEC
Fontes: Contas Nacionais Trimestrais IBGE, Contas Econômicas Integradas IBGE e
Instituto Fiscal Independente IFI
Observações:
(1) de 2000 a 2017 IBGE - Contas Nacionais;
(2) de 2000 a 2017 IBGE - Contas Nacionais;
(3) de 2000 a 2017 IBGE Contas Nacionais;
(4) De 2000 a 2015 IBGE – Contas Econômicas Integradas; 2016 e 2017 estimativa
CEMEC;
(5) = (3) - (4)
(6) de 2000 a 2017 IBGE Contas Nacionais;
(7) = (5) + (6)
26
2. Estimativa da Poupança dos Setores Público e Privado
As contas econômicas integradas (CEI) do IBGE fornecem a poupança das administrações
públicas (Governo federal, estadual e municipal) no período 2000 a 201515.
Para estimar 2016 e 2017 utilizamos uma proxi da poupança do setor público dada pela
diferença entre a necessidade de financiamento do setor público (NFSP) Federal, Estadual
e Municipal16 no conceito nominal e o investimento do Setor Público descrito no item 1.
O Gráfico 02, a seguir, apresenta a poupança do setor público como percentagem do PIB
fornecida pelo IBGE e a proxi anteriormente descrita.
Verifica-se no Gráfico 02 que a proxi e a poupança do setor público do IBGE tem boa
adesão no período 2003 a 2015, então fizemos uma regressão linear onde essa poupança
é uma função da varável proxi; os resultados são apresentados a seguir.
15 Veja-se https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/contas-nacionais/9052-
sistema-de-contas-nacionais-brasil.html?&t=resultados
16 Veja-se em IPEADATA, Necessidade de financiamento do setor público (NFSP) - governo federal
e Banco Central - conceito nominal - sem desvalorização cambial - acum. 12 meses e Necessidade de financiamento do setor público (NFSP) - estados e municípios - conceito nominal - sem desvalorização cambial - acum. 12 meses.
27
R- Quadrado
ajustado 0,959334
Interseção -0,005
(-2,7510)
Proxi Poupança 0,889
(9,6126)
Desse modo utilizamos para a poupança do setor público os dados do IBGE de 2000 a
2015 e uma estimativa para 2016 e 2017 com base na proxi descrita.
De posse desta estimativa de poupança do setor público realizamos uma estimativa da
poupança do setor privado que é obtida pela diferença entre a poupança bruta total
fornecida pelo IBGE nas Contas Nacionais Trimestrais e a poupança do setor público ora
descrita.
A tabela 02, a seguir, resume os resultados encontrados para o período 2000 a 2017.
28
Tabela 02 - POUPANÇA PRIVADA E PÚBLICA: 2000 a 2017 (em % do PIB nominal)
Período
Investimento
Poupança
Externa
Poupança bruta doméstica
Total
Adm.
Pública
Privada
(1) (2) (3)= (1) - (2) (4) (5)= (3) - (4)
2000 18,90% 4,91% 13,99% -2,77% 16,76%
2001 18,74% 5,15% 13,59% -4,14% 17,73%
2002 17,45% 2,02% 15,43% -3,78% 19,21%
2003 16,86% 0,44% 16,41% -2,86% 19,27%
2004 17,91% -0,94% 18,86% -0,82% 19,67%
2005 17,20% -0,91% 18,11% -0,66% 18,77%
2006 17,82% -0,59% 18,41% -2,13% 20,54%
2007 19,82% 0,48% 19,34% -2,17% 21,51%
2008 21,62% 2,39% 19,23% -0,04% 19,27%
2009 18,80% 2,42% 16,37% -1,30% 17,67%
2010 21,80% 3,86% 17,95% 0,23% 17,71%
2011 21,83% 3,27% 18,55% 0,32% 18,23%
2012 21,42% 3,38% 18,04% 0,57% 17,47%
2013 21,69% 3,37% 18,32% -0,52% 18,85%
2014 20,55% 4,54% 16,00% -2,80% 18,81%
2015 17,61% 3,38% 14,23% -5,59% 19,82%
2016 15,45% 1,60% 13,85% -6,90% 20,74%
2017 15,50% 0,72% 14,78% -6,99% 21,78%
estimativa
CEMEC
Fontes: Contas Nacionais Trimestrais IBGE e Contas
Econômicas Integradas IBGE
Observações:
(1) de 2000 a 2017 IBGE - Contas Nacionais;
(2) de 2000 a 2017 IBGE - Contas Nacionais;
(3) (1) - (2)
(4) De 2000 a 2015 IBGE – Contas Econômicas Integradas; 2016 e 2017 estimativa
CEMEC;
(5) = (3) - (4)