Upload
hahanh
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
onfiantes que o Senhor Ressuscitado caminha conosco em todas as jornadas que empreendemos. E mais, que Ele não apenas caminha co-nosco, mas guia nossos passos na construção do Seu Reino, nós do IPDM convidamos você à caminhar conosco.
Caríssimos, envoltos pela Alegria Pascal, colocamos em suas mãos nosso informativo nº 83, agradecendo a todos os votos de Feliz Páscoa que re-cebemos, e desejando o mesmo a todos.
Neste exemplar, você poderá desfrutar das reflexões sobre o Evan-gelho de Domingo, que nos traz a belíssima passagem do encontro do Se-nhor Ressuscitado com os discípulos que caminhavam para Emaús.
Tanto mais, artigos e opiniões de diferentes autores sobre temas atuais e de grande relevância completam nosso conteúdo. Tudo feito para você.
Sobre ele, o Padre José Antonio Pagola, fala-nos sobre a perda de confi-
ança em Jesus alimentadas hoje em milhares de pessoas, porque caminham
sem Ele: “Quando acolhemos Jesus como companheiro de caminho, as suas pa-
lavras podem despertar em nós a esperança perdida. Durante estes anos, mui-
tas pessoas perderam a confiança em Jesus. Pouco a pouco, foi-se convertendo
num personagem estranho e irreconhecível. Tudo o que sabem Dele é o que po-
dem reconstruir, de forma parcial e fragmentada, a partir do que escutaram a
predicadores e catequistas.” Veja a reflexão completa na página 2.
Na mesma página, o Padre Alberto Maggi—OSM, dirige nossa atenção
para uma questão que é ponto chave no texto: “Como conseguiram reconhecê-
lo? ‘Ao partir o pão’. Este critério foi válido naquela tarde, e é válido hoje e sem-
pre! Jesus é reconhecível em seu corpo, e seu corpo é a comunidade que se reú-
ne para tornar-se alimento para os outros. Por certo uma reflexão profunda e
esclarecedora.
Em sua reflexão Padre Gilberto Kasper, nos leva a agradecer ao Senhor:
“Agradecemos ao Senhor pela possibilidade de reconhecê-lo na palavra, na eu-
caristia, na comunidade dos irmãos na fé. Com os discípulos de Emaús, in-
sistimos: 'Fica conosco, Senhor', caminha ao nosso lado, para que possamos re-
partir o pão e acolher todas as pessoas sem discriminação”. Leia mais na pági-
na 3.
Frei Carlos Mesters e Irmã Mercedes Lopes nos falam sobre a necessi-
dade de “refazermos hoje a experiência do caminho de Emaús. Desafiados pela
atual conjuntura, somos chamados a viver hoje a experiência de Emaús e desco-
brir, na partilha solidária, a presença de Deus no meio de nós. Como comunida-
de de fé, sobre os chamados a reconstruir, no diálogo, na abertura e na acolhi-
da, o projeto de Jesus, pelo qual ele entregou sua própria vida.” Veja na página
3.
Para que você possa refletir com tranquilidade sobre o Evangelho do próxi-
mo domingo, o 4º da Páscoa, trazemos para você na página 4 a reflexão do Pa-dre Alberto Maggi– OSM. Ao falar sobre Jesus como Porta das Ovelhas, Maggi
nos recorda através de pensamentos múltiplos, que Jesus veio para que tenha-mos vida, e vida em abundância: “A Sua mensagem é a resposta de Deus à ne-cessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si. E, quando
nós escutamos esta voz, todas as outras vozes perdem importância!”
O Papa Francisco recordou João Paulo II como o “Papa das famílias”,
e João XXIII como o Papa “da docilidade ao espírito” na homilia feita durante a
missa solene de canonização de seus predecessores na Praça São Pedro. O Pa-
pa Bergoglio concluiu a homilia pedindo que Wojtyla e Roncalli “intercedam pe-
la Igreja, para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil ao
Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos
escandalizarmos com as chagas de Cristo, a penetrarmos o mistério da miseri-
córdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama”. Leia
mais na página 4.
“Qual beleza é maior? A do rosto frio de uma top-model ou a do rosto enru-
gado e cheio de irradiação da Irmã Dulce de Salvador, Bahia, ou a da Madre Te-
reza de Calcutá?” Com essas e outras perguntas sobre a beleza, Leonardo
Boff, nos brinda com uma artigo fantástico no qual Dostoiewski é a fonte ins-
piradora. O pensamento desenvolvido por Boff, sem dúvida, nos acrescenta al-
go mais, sobre tão belo tema. Leia o artigo na íntegra na página 5.
“Depois da enésima vez que jogaram bananas contra jogadores negros na
Europa, Daniel Alves resolveu comer a banana e Neymar declarou: Somos to-
dos macacos.” Partindo desta constatação, Emir Sader apresenta-nos um ar-
tigo no qual trata da questão do racismo com clareza levando-nos a refletir so-
bre a “soberania” que ainda hoje alguns retrógrados europeu tentam impor so-
bre outros povos. Lei tudo na página 5.
“Já está em pleno andamento Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida.
Vai durar dez dias, como já é costume consolidado. Esta é a 52ª assembleia.”
Sobre este importante evento que se realiza anualmente no Brasil, Dom
Demétrio Valentini, comenta com propriedade e profundidade fatos históricos
que cercaram as assembleias anteriores, assim como aborda questões impor-
tantes que serão tratadas nesta. Os Bispos do Brasil, além de tratarem de
questões locais, também estarão se preparando para o Sínodo das Famílias
que se realizará este ano em Roma. Leia o artigo na íntegra. Ele está na página
5.
“Não se trata de ser oposição cega à Dilma, à Lula ou ao PT, e muito menos
de atuar na lógica da direita - que faria exatamente a mesma coisa que hoje faz
o governo do PT. É uma posição clara diante do que representa para a maioria
das gentes essa "festa do futebol". A festa mesmo será apenas para muito pou-
cos. Os turistas que podem pagar os preços exorbitantes dos ingressos, as gran-
des redes de hotéis e restaurantes e principalmente as grandes empresas trans-
nacionais que "patrocinam" o evento.”
Com muita lucides, Elaine Tavares faz uma leitura dos acontecimentos
que cercam o evento mais esperado do ano: a Copa do Mundo de Futebol. A
leitura deste artigo esclarece muitos pontos obscuros, e até mesmo argumen-
tos vulgarmente utilizados tanto a favor, quanto contra a realização do evento
em terras brasileiras. O artigo está na página 6.
“A celebração do Dia 1º de Maio, pela consideração reverente ao trabalha-
dor, é oportunidade para reavivar a compreensão do trabalho como necessidade
e dom de Deus.”
Partindo desta premissa, Dom Valmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo
de Belo Horizonte, faz uma reflexão sobre a importância do trabalho digno pa-
ra todos os filhos e filhas de Deus. Dom Valmor nos conduz a uma reflexão so-
bre a Sacralidade do Trabalho como instrumento libertador. Vale a pena uma
leitura detalhada deste texto que está na página 6.
A partir da página 7, você encontra a Agenda Cidadã, onde divulgamos
eventos de grande importância para as comunidades da Zona Leste.
Se você quiser divulgar a agenda cidadão de sua região, envie-nos a pro-
gramação com todos os detalhes e teremos o maior prazer em divulga-lo.
Desejando a todos ótima leitura, despedimo-nos com fraternal abraço.
Evangelho - Liturgia
Palavras de Francisco
Artigos—Opiniões
Equipe de Produção
Agenda Cidadã
No Evangelho, entre linhas, transparece que os discípulos
aparentam ser mais decepcionados pela Ressurreição de Je-
sus do que pela sua morte! O evangelho mais antigo - o de
Marcos - termina com o anúncio da Ressurreição de Jesus às
mulheres, mas elas não dizem nada a ninguém. A mesma decepção transparece
no Evangelho de Lucas com o episódio dos discípulos de Emaús.
Por que essa decepção a respeito da Ressurreição de Jesus? Se Jesus mor-
reu significa simplesmente que eles erraram na identificação do Messias, por-
que o Messias não pode morrer! Então, se Jesus morreu, eles seguiram uma
pessoa errada e não há outra coisa a fazer a não ser esperar por um novo mes-
sias. De fato, naquela época os messias surgi-
am como cogumelos! Portanto significava que
tinham errado o homem!
Mas, e esta é a decepção, se Jesus ressus-
citou, então todas as esperanças e promessas
sobre a restauração do Reino de Israel, de do-
mínio sobre os outros povos pagãos, tudo foi
por água abaixo! Está aqui a decepção que
transparece neste episódio onde estão esses
discípulos. Para onde eles andam? É impor-
tante saber a localidade. Emaús era um lugar
importante, porque foi a localidade onde hou-
ve uma batalha entre Judas Macabeu e os pa-
gãos: a vitória foi dos judeus.
Era o lugar da esperança do Deus liberta-
dor: a derrota dos pagãos e a libertação de Is-
rael. Emaús recordava tudo isto, a vitória so-
bre os pagãos e a libertação de Israel. Portan-
to, uma vez que Jesus morreu, não podia,
certamente, ser Ele o Messias! Estes discípu-
los, então, voltam para aquele lugar que, para eles, foi o da desforra e da vin-
gança de Deus sobre os pagãos.
Dois discípulos. Só de um, o evangelista lembra o nome. Um nome, porém,
que é todo um programa! É chamado de Cléofas, que é uma abreviatura de
Cleopatros, que significa "do pai glorioso, do pai ilustre". Eis, portanto,
esses discípulos estão cheios de ambição, glória, sucesso. É este o Messias
que eles querem: o messias triunfante. Encontram a Jesus, e, evidentemen-
te, não o reconhecem! Eles olham para o passado e não podem reconhecer o Je-
sus que se apresenta na novidade e a Ele confiam toda a sua decepção. “Nós
esperávamos que ele fosse libertar Israel”. Mas Jesus não veio para liber-
tar Israel! Jesus é o Salvador da humanidade. Jesus não veio para res-
taurar o extinto reino de Davi, mas para inaugurar o Reino de Deus. De
fato, nos Atos dos Apóstolos, lemos que, como os discípulos não haviam enten-
dido isso, Jesus ressuscitado recomeçou tudo de novo e durante quarenta
dias os reuniu e lhes falou de um único assunto: o Reino de Deus.
Resultado? Infelizmente, no quadragésimo dia, um dos discípulos lhe per-
guntou: "Senhor, é agora que vai restaurar o reino de Israel?" (At 1,6). Jesus
fala do Reino de Deus, mas eles não entendem, são cegos e surdos, porque a
ideia e a esperança deles é ainda a restauração do reino de Israel.
Então Jesus “começando por Moisés e passando pelos Profetas, explica-
va...”.
“Explicava”: o termo usado pelo evangelista é aquele do qual traz origem a
palavra "hermenêutica", termo técnico que significa interpretação. Então Jesus,
mais do que explicar, interpreta a Escritura. Por que isso? Porque a Sagrada
Escritura pode ser aprendida apenas pelo amor. Quem põe em primeiro
lugar, como valor absoluto, o bem da pessoa humana, é capaz de compre-
ender a Escritura. Esta é a chave para a interpretação do Antigo e do No-
vo Testamento.
Então, já muito perto do povoado, - o povoado nos Evangelhos é sempre
símbolo de tradição, de incompreensão da mensagem de Jesus -, os discípulos
vão diretos para o povoado, direcionados para
a tradição e não conseguem entender o novo.
Enquanto Jesus, escreve o evangelista, “fez
de conta que ia mais adiante”. Jesus vai
para o novo e, em vez disso, eles vão para
o antigo!
No entanto, pedem a Jesus para ficar com
eles.
E, "quando estava com eles à mesa, to-
mou o pão” - como tinha feito na última ceia:
Ele repete os mesmos gestos -, “abençoou-o,
partiu-o e lhes distribuía”. “Nisso”, escreve o
evangelista, "seus olhos se abriram e eles re-
conheceram Jesus." Jesus é reconhecível
quando o pão é partido e partilhado. Jesus, o
Filho de Deus, torna-se pão, reparte a sua
vida para os seres humanos, a fim de que
todos aqueles que o acolhem e, por sua
vez, são capazes de se tornarem pão e ali-
mento de vida para os outros, tornem-se
também filhos e filhas do mesmo Deus-Pai.
É esta a experiência que leva a perceber a presença de Jesus. Jesus, porém,
“desapareceu da frente deles” - literalmente, a tradução não é que Ele
“desapareceu” e sim “tornou-se invisível”. Quer dizer que Jesus não desapa-
rece, mas é invisível, porque Jesus é visível, daqui para frente, apenas no
pão repartido, no pão que é compartilhado, na comunidade capaz de tor-
nar-se pão para os outros. Na verdade, quando voltam para Jerusalém e en-
contram os onze reunidos, os dois discípulos de Emaús “contaram o que ti-
nha acontecido no caminho”.
“No caminho”. “Na estrada”. Lugar das sementes da Palavra caídas à beira
do caminho..., que Jesus já havia explicado (Mt 13,19): “vem o Maligno” que é a
imagem do poder que tira a mensagem. É por isso que eles não entenderam o
anúncio, as palavras de Jesus, porque eles estavam imersos nesta ideologia do
poder que os tornava insensíveis à Palavra do Senhor.
E como, então, conseguiram reconhecê-lo?
“Ao partir o pão”. Este critério foi válido naquela tarde, e é válido hoje e
sempre! Jesus é reconhecível em seu corpo, e seu corpo é a comunidade
que se reúne para tornar-se alimento para os outros.
Dois discípulos de Jesus vão-se afastando de Jerusa-
lém. Caminham tristes e desolados. Nos seus corações apagou-se a esperança que tinham colocado em Jesus, quando o viram morrer na cruz. No entanto, continuam a pensar nele. Não o podem esquecer. Teria sido tudo uma ilusão?
Enquanto conversam e discutem de tudo o que vive-ram, Jesus aproxima-se e caminha com eles. No entanto, os discípulos não o reconhecem. Aquele Jesus em quem tanto tinham confiado e que tinham amado talvez com paixão, parece-lhes agora um caminhante estranho.
Jesus junta-se à sua conversa. Os caminhantes escu-tam-no primeiro surpreendidos, mas pouco a pouco algo se vai despertando nos seus corações. Não sabem exata-mente o quê. Mais tarde dirão: “Não estava a arder o nosso coração enquanto nos falava pelo caminho?”
Os caminhantes sentem-se atraídos pelas palavras de Jesus. Chega um momento em que necessitam da Sua companhia. Não querem deixa-Lo partir: “Fica conosco”. Durante o jantar, abrem-se os olhos e reconhecem-no. Esta é a primeira mensagem do relato: Quando acolhe-mos Jesus como companheiro de caminho, as suas palavras podem despertar em nós a esperança perdida.
Durante estes anos, muitas pessoas perderam a confi-ança em Jesus. Pouco a pouco, foi-se convertendo num personagem estranho e irreconhecível. Tudo o que sabem Dele é o que podem reconstruir, de forma parcial e frag-mentada, a partir do que escutaram a predicadores e ca-tequistas.
Sem dúvida, a homilia dos domingos cumpre uma ta-refa insubstituível, mas resulta claramente insuficiente para que as pessoas de hoje possam entrar em contato
direto e vivo com o Evangelho. Tal co-mo se leva a cabo, ante um povo que há de permanecer mudo, sem expor as suas inquietudes, interrogações e pro-blemas, é difícil que consiga regenerar a fé vacilante de tantas pessoas que procuram, por vezes sem o saber, en-contrar-se com Jesus.
Não terá chegado o momento de instaurar, fora do contexto da liturgia dominical, um espaço novo e dife-rente para escutarmos juntos o Evangelho de Jesus? Por-que não reunir-nos, laicos e presbíteros, mulheres e ho-mens, cristãos convencidos e pessoas que se interessam pela fé, a escutar, partilhar, dialogar e acolher o Evan-gelho de Jesus?
Temos de dar ao Evangelho a oportunidade de entrar com toda a sua força transformadora em contato direto e imediato com os problemas, crises, medos e esperanças das pessoas de hoje. Em breve será demasiado tarde para recuperar entre nós a frescura original do Evangelho.
Em: eclesalia.wordpress.com
Padre José Antonio Pagola
Em: www.studibiblici.it
I
T
U
R
G
I
A
L I T U R G I A
Leituras propostas pela Igreja para este Domingo
1ª Leitura: At 2, 14. 22-33 - Salmo: Sl 15(16) 2ª Leitura: 1Pd, 1, 17-21
Evangelho: Lc 24, 13-35
Domingo — 04 de Maio de 2014
3º Domingo da Páscoa
Ciclo “A” do Ano Litúrgico
L I T U R G I
L
I
T
U
R
G
I
A
Padre Alberto Maggi-OSM
"Senhor Jesus, revelai-nos o sentido da Escritura; fazei o nosso coração arder quando
falardes" (Lc 24,32).
Celebrando o Terceiro Domingo do Tempo Pas-
cal, aprendemos que o Senhor ressuscitado caminha
conosco e nos convida a formar comunhão com ele
ao redor do pão da vida. A páscoa de Jesus se reali-za nos corações e comunidades que promovem a partilha e criam laços de comunhão e solidariedade.
Pedro apresenta o modelo da pregação apostólica e nos diz que Jesus é aquele que nos conduz a Deus. Os discípulos de Emaús reconhecem o Senhor no
momento da partilha do pão. O primeiro anúncio da pregação de Pedro foi a ressurreição de Jesus, como
predisseram as Escrituras. O Ressuscitado caminha com a comunidade e se revela na partilha da palavra e do pão. Somos migrantes neste mundo, resga-
tados pelo sangue de Cristo.
A liturgia deste domingo indica o caminho pa-
ra um verdadeiro encontro com Jesus ressuscita-
do, presente de modo especial nas Escrituras e
no partir o pão. Palavra e Eucaristia correspon-
dem-se tão intimamente que não podem ser com-
preendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus
faz-Se carne, sacramentalmente, no evento euca-
rístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da
Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumi-
na e explica o Mistério Eucarístico.
Os discípulos reconhecem Jesus ao partir o
pão, sinal de sua entrega total por amor. As reu-
niões das comunidades primitivas, onde a escuta
da Palavra tinha um papel importante, culmina-
vam com a fração do pão, a Eucaristia (cf. At
2,42.46). Agradecemos ao Senhor pela possibilidade
de reconhecê-lo na palavra, na eucaristia,
na comunidade dos irmãos na fé. Com os discípu-
los de Emaús, insistimos: 'Fica conosco, Senhor', ca-
minha ao nosso lado, para que possamos repartir o
pão e acolher todas as pessoas sem discriminação.
Após a morte de Jesus, a comunidade dos discí-
pulos se dispersou por causa das desilusões, das
adversidades. A compreensão do mistério pascal de
Jesus, na perspectiva do desígnio do Pai: a salvação
da humanidade abriu nova esperança de libertação
para os discípulos. Assim, o encontro com o Ressus-
citado desperta nos discípulos a disposição para re-
encontrar a comunidade e continuar a missão. Que
o Senhor ressuscitado nos conserve reunidos em seu
nome, em torno de sua proposta libertadora.
De Jerusalém a Emaús há uma distância de onze
quilômetros. É justamente neste caminho que tudo
começa. Até aí as coisas estavam ainda obscuras. As
notícias da ressurreição corriam de boca em boca,
mas até a tardinha daquele domingo, ninguém ainda
vira o Ressuscitado, a não ser Maria de Magdala, a
quem parecia não ser conferida muita credibilidade.
Nem mesmo Pedro e João conseguiam compreender
claramente as coisas: constataram, é verdade, o se-
pulcro vazio, mas o Cristo Ressuscitado só sabiam
dos lábios de Maria, que levara a Boa Notícia da
Ressurreição! O anúncio poderia ser, quem sabe,
resultado das emoções vividas naqueles dias todos.
Já no Caminho para Emaús acontece a segunda
Missa: Jesus põe-se entre os dois desanimados e
dribla os demais. É no desânimo, na desesperança,
no cansaço, na desilusão que o Senhor aparece. Ce-
lebra caminhando com eles, a Liturgia da Palavra,
explicando-lhes novamente as Escrituras, como que
uma segunda chamada daquilo que aprenderam no
Seminário de Jesus. O coração dos discípulos ardia
enquanto Jesus falava. O convite de Emaús é funda-
mental para a segunda parte da Missa: "Fica conos-
co, pois já é tarde e a noite vem chegando!" Je-
sus aceita o convite dos dois discípulos. Jesus sem-
pre aceita nosso convite, quando lhe pedimos: "Fica
conosco, Senhor!" Reconhecem-no ao agradecer,
abençoar e partilhar o pão: eis a Liturgia Eucarísti-
ca!
Gosto de pensar que os discípulos, felizes por te-
rem reconhecido e estado com o Senhor, poderiam
dar-se por satisfeitos e descansarem do longo trecho
entre Jerusalém e Emaús. Geralmente é o que faze-
mos. Uma vez cumprido o preceito, Jesus comunga-
do em Palavra e Eucaristia voltamos para nossos
lares e continuamos quietinhos vivendo nossa vi-
da. Certinha, é bem verdade, mas com Jesus es-
condido no sacrário de nosso coração. Não foi a
atitude dos dois discípulos. Mesmo exaustos, não
ficaram de pernas para o ar, descansados em ca-
sa, mas voltaram, correndo à Comunidade reuni-
da em Jerusalém, onde houve a exclamação mú-
tua: "Vimos o Senhor. Está vivo. Ressuscitou!"
Eis o anúncio que a Igreja espera de cada um de
nós. Não guardemos o Senhor Ressuscitado só pa-
ra nós: anunciemo-lo por onde passarmos, tam-
bém da porta do Tempo para fora.
Rezamos pela 52ª Assembleia Geral dos Bispos do
Brasil (CNBB), que acontece no Santuário Nacio-
nal de Aparecida, sob o manto e o carinho amoro-
so de nossa Mãe e Padroeira do Brasil, Nossa Se-
nhora Aparecida. De 30 de abril a 9 de maio nossos
Bispos reveem as Diretrizes Pastorais da Ação Evan-
gelizadora do Brasil, que certamente nos animarão a
sermos a Igreja do Ir com o anúncio: Vimos o Se-
nhor. Está vivo. Ressuscitou! Entre outros assun-
tos, será retomado o tema: Paróquia: Comunidade
de Comunidades!
Desejando a todos o carinho de nossas ora-
ções, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo.
Em: www.cebi.org.br
1. De que estavam falando pelo caminho?
Duas pessoas andando pela estrada. Desanima-
das. Tristes! Estavam indo na direção contrária. Fu-
gindo. Buscando. Imagem de ontem e de hoje. Ima-
gem de todos nós. No ano de 85, muitos discípulos e
discípulas andavam pelo caminho, tristes, desani-
mados, sem saber se estavam no caminho certo. Pa-
rece que a cruz ficou maior e mais pesada. O desem-
prego, a violência, a droga, a falta de atenção séria à
saúde e à educação, a falta de dinheiro, as dívidas...
o desespero. Sentimo-nos impotentes frente à cor-
rupção que desvia fundos dos cofres públicos, ou
frente à má administração que deixa o povo no de-
samparo. O sistema neoliberal vai gerando cada dia
mais exclusões de indivíduos, grupos e países. Pare-
ce que vivemos em um caos, em uma situação sem
saída. Temos a impressão de estarmos caminhando
ladeira abaixo, para o pior.
2. Tinham os olhos vendados
A experiência da morte de Jesus tinha sido tão
dolorosa que eles perderam o sentido de viver em co-
munidade, abandonaram o grupo de discípulos e
discípulas. Sentiram-se impotentes diante do poder
que matou Jesus e procuraram salvar pelo menos a
própria pele. Sua frustração era tão grande, que
nem reconheceram Jesus, quando este se aproxi-
mou e passou a caminhar com eles (24,15). Tinham
um esquema rígido de interpretação sobre o Messi-
as, e não puderam ver a salvação de Deus entrando
em suas vidas. Algumas discípulas tentaram ajudar
os companheiros a perceber que Jesus estava vivo
(24,22-23). Mas eles se recusaram a acreditar
(24,24). Esta notícia era por demais surpreendente.
Era o mesmo que dizer que Jesus era o vencedor do
caos e da morte. Só podia ser fantasia, sonho, delírio
de mulheres (24,11). Impossível acreditar! Quando a
dor e a indignação pegam forte, há pessoas que fi-
cam depressivas, desesperadas. Outras se tornam
coléricas e amargas. Algumas invocam o fim do
mundo com catástrofes que vão tirar os maus da fa-
ce da terra. Outras buscam evadir-se numa oração
sem compromisso social e político. Mas nenhuma
dessas posturas ajuda a abrir os olhos e analisar a
situação com fé lúcida e responsável, capaz de in-
ventar saídas para esta situação aparentemente sem
saída.
3. A Bíblia esquentou o coração, mas não abriu
os olhos
Caminhando com eles, sem eles se darem conta,
Jesus fazia perguntas. Escutava as respostas com
interesse. Dessa maneira, obrigava-os a irem fundo
no motivo da sua tristeza e fuga. Procurava fazê-los
expressar a frustração que sentiam. Depois, ia ilu-
minando a situação com palavras da Escritura. Pro-
curava situar os discípulos na história do povo, para
que pudessem entender o momento que estavam vi-
vendo. Foi uma experiência apaixonante. Mais tarde,
eles iriam fazer uma reflexão e perceber que o cora-
ção deles ardia, quando Jesus lhes explicava as Es-
crituras pelo caminho (24,32). Mas a explicação que
Jesus dava a partir das Escrituras não conseguiu
abrir os olhos dos discípulos.
4. Eles o reconheceram na partilha do pão
Caminhando com Jesus, os discípulos sentiram o
coração arder. Cresceu dentro deles uma atitude de
acolhida: "Fica conosco! Cai a tarde e o dia já decli-
na!" (24,29). Foi só então que a partilha aconteceu.
Partilha de vida, de oração e de pão. Partilha que
abriu os olhos e provocou a mais importante desco-
berta da fé: ele está vivo, no meio de nós! (24,30-31).
Esta descoberta lhes deu forças para voltar a Jeru-
salém, mesmo de noite. Tinham pressa de partilhar
com os outros a descoberta que os fez renascer e ter
coragem para enfrentar o poder da morte. Sim, Je-
sus era de fato o vencedor do caos e da morte! Não
era fantasia das mulheres. Era uma realidade es-
condida, misteriosa, que só pode ser descoberta por
quem aprende a partilhar, a se entregar, a sair do
círculo vicioso dos interesses egoístas, para lutar
junto com os outros pela vida de todos. Quando
seus olhos se abriram, livres das trevas e travas por
poder dominante, puderam descobrir a morte de Je-
sus como expressão máxima de um amor sem limi-
tes. Amor que tem sua origem no Pai cheio de ternu-
ra, gerador incansável da vida. Amor que tomou car-
ne em Jesus de Nazaré para visitar e redimir a hu-
manidade. Amor que se mantém fiel até ao extremo
de dar a própria vida, para que todos tenham vida
(Jo 10,10). Amor que foi confirmado pelo Pai, quan-
do ressuscitou Jesus da morte.
5. Renascer para uma nova esperança
Esta experiência fez os discípulos renascerem pa-
ra uma nova esperança. Ao redor de Jesus vivo, eles
se uniram de novo e assumiram o projeto de vida
para todos. A esperança é como um motor que leva
a acreditar nos outros e a inventar práticas de fé.
Com a esperança renovada, aquilo que parecia uma
total impossibilidade passou a ter um novo significa-
do para eles. Perderam o medo, superaram a experi-
ência de incapacidade e de impotência. Deixaram de
lado o negativismo derrotista e voltaram, em plena
noite, como se fosse de dia. Voltaram para recome-
çar, para reconstruir a comunidade, expressão, si-
nal e sacramento da presença de Jesus Ressuscita-
do.
6. Refazer hoje a experiência do caminho de Emaús
Desafiados pela atual conjuntura, somos chama-
dos a viver hoje a experiência de Emaús e descobrir,
na partilha solidária, a presença de Deus no meio de
nós. Como comunidade de fé, somos chamados a
reconstruir, no diálogo, na abertura e na acolhida, o
projeto de Jesus, pelo qual ele entregou sua própria
vida. A solidariedade leva à descoberta da força li-
bertadora de Deus na história. Com olhar lúcido e
criativo procuraremos expressar esta fé numa soli-
dariedade bem concreta e articulada, seja a nível de
grupo, de bairro ou de cidade. Dizer articulada quer
dizer que esta ação solidária deve ser comunitária.
Só assim será de fato sinal do Reino e poderá inter-
vir em favor da vida, da vida indefesa dos pobres, os
preferidos de Jesus.
Padre Gilberto Kasper
Frei Carlos Mesters - Irmã Mercedes Lopes
Por ter aberto os olhos ao cego
de nascença (Jo, 1-41), Jesus foi considerado, pelos chefes religio-
sos, como um inimigo de Deus, um pecador. Agora é o próprio Jesus que se dirige diretamente a eles. Jesus fala aos fariseus no capítulo 10 do Evangelho
de João, descrevendo os pretendidos pastores de Israel com as mesmas características dos lobos. Na verdade, tal como os lobos, estes pastores são la-
drões e assaltantes.
Ladrões: porque tomaram posse do que não é de-les, e assaltantes: porque eles usam a violência pa-
ra subjugar o povo.
Vamos ver, com calma, este importante trecho do evangelista João que contém uma advertência mui-
to severa para aqueles que pretendem serem os
pastores do povo.
Jesus afirma claramente que todos aqueles que tinham pretendido ser os chefes do povo são bandi-
dos - usaram violência - e são ladrões, porque to-maram posse do rebanho que era de Deus, certa-
mente não deles.
Agora aparece Jesus, o pastor legítimo!
Esse pastor legítimo se identifica como quem “entra pela porta” e “as ovelhas escutam a sua voz”.
Por que ovelhas? O rebanho é imagem do povo. Por que escutam a sua voz? Porque o povo reconhece, nas palavras de Jesus, a resposta de Deus à neces-
sidade de plenitude de vida que cada pessoa carre-ga dentro de si. Esta é a força da mensagem de Je-
sus! Quando escutamos essa voz, percebemos na mensagem de Jesus a resposta à nossa necessidade de plenitude de vida. Jesus inaugura uma nova re-
lação pessoal com cada um. De fato, “Ele chama as
ovelhas pelo nome e as conduz para fora”.
O termo “conduzir” é o mesmo usado no Antigo Testamento para descrever o Êxodo. O que Jesus
faz é uma libertação: tira as ovelhas da cerca, quer dizer, do átrio da instituição religiosa judaica, não para prendê-las em outra cerca, mas para dar-lhes
plena liberdade. Na verdade, o evangelista João es-creve que Jesus “depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o se-
guem, porque conhecem a sua voz”.
O que mantém a fidelidade dos seguidores de Je-
sus é a voz de Jesus que é a resposta às necessida-
des humanas. Portanto, Jesus não fecha as ovelhas
em outra cerca, mas doa-lhes a liberdade.
Depois, mais do que uma constatação, parece ser um conselho o que Jesus diz: “elas não seguem um
estranho, antes fogem dele”.
“Fugir”: é este o conselho que Jesus dá. Fugir
dos que aparentam serem pastores, mas que, na realidade, são lobos. E, como tais, só trazem des-truição! “Fogem deles”. Por quê? “Porque não co-
nhecem a voz dos estranhos”. As ovelhas - o reba-nho, o povo - conhecem muito bem a voz de quem
as ama, mas não reconhecem a voz daqueles que as querem explorar. São estranhos, por quê? Porque não ouvem a voz do povo, não ficam perto das ove-
lhas. Portanto, o povo não escuta a voz desses es-
tranhos, porque eles não têm nada a lhes dizer.
Pois bem, o evangelista logo faz este comentário: “Jesus contou-lhes esta parábola” - muito, muito
clara e muito severa - “mas eles” - os fariseus - “não entenderam o que ele queria dizer”. Por que não en-tenderam? Porque não são ovelhas de Jesus. Eles
não têm nenhum desejo de plenitude de vida. Obvi-amente, eles não são surdos, mas são teimosos.
Eles entendem que, se acolherem a mensagem de Jesus, devem perder todo o seu poder, seu prestí-gio! E, ao invés de dominar, eles devem colocar-se,
como Jesus está fazendo, a serviço dos outros. E isso, as autoridades, os chefes, os fariseus não que-
rem de jeito nenhum.
Eles querem exercer o domínio sobre o povo e
não servi-lo. E Jesus, vendo que eles não entende-ram, reivindica, de forma ainda mais gritante e mais clara: “eu sou a porta das ovelhas”, e afirma:
“todos aqueles que vieram antes de mim são la-drões e assaltantes, mas...” - eis aqui a constatação
- “... as ovelhas não os escutaram”.
O povo pode ser submetido pelo medo, mas não
por escolha. O povo pode ser dominado, pode ser subjugado, mas, quando finalmente ouve a mensa-gem de liberdade, escuta uma mensagem de amor,
eis que o povo renasce! Portanto, Jesus garante,
aqui, que o povo nunca os escutou.
Eles impuseram a sua mensagem, obrigaram o povo a obedecer, mas não o convenceram. Ao con-
trário, Jesus não impõe sua mensagem, exatamente
porque a Sua palavra convence. Esta é a caracterís-
tica que distingue a mensagem que vem de Deus, daquela que não vem de Deus: a primeira é ofereci-
da, porque é uma mensagem de amor, e amor só pode ser oferecido, nunca imposto. A mensagem da autoridade religiosa, ao invés, é imposta, ela é uma
doutrina que é imposta. Por quê? Porque os chefes são os primeiros a não acreditar nos benefícios de-
la!
O que é bom, não tem necessidade de ser impos-
to!
E Jesus continua, afirmando, mais uma vez, ser
a porta, uma porta, porém, que não se fecha. Diz Jesus: “Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá...”. Jesus não veio para fechar ninguém numa
outra cerca, mas para dar plena liberdade, pois, só onde há plena liberdade há também a dignidade e a
plenitude do ser humano.
E aqui, o evangelista acrescenta: “... e encontrará
pastagem”. Ele usa o termo “pastagem”, que, em grego, é “nomé” que é muito semelhante a “nómos”, que significa "lei". Em Jesus, não encontramos uma
doutrina que deve ser observada, mas uma “pastagem”, quer dizer, o amor que alimenta a nos-
sa vida.
E, finalmente, se aproximando à conclusão, Je-
sus repete de novo: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir”. Portanto Jesus associa os pasto-
res aos ladrões, isto é, aos lobos.
Aqueles que aparentam serem pastores e que de-
veriam defender o rebanho dos lobos, na realidade são piores do que os lobos, porque o povo tem medo
dos lobos, mas dos pastores tem confiança!
E Jesus conclui: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Os chefes do povo toma-
ram posse das pessoas, levando-as à ruína. De fato, são eles que, em nome de Deus, têm explorado o
povo, sacrificando-o às suas próprias ambições, à sua sede de poder, insensíveis aos sacrifícios que
impõem e ao sofrimento que causam.
Mas agora veio Jesus. A Sua mensagem é a res-posta de Deus à necessidade de plenitude de vida
que cada pessoa carrega dentro de si. E, quando nós escutamos esta voz, todas as outras vozes per-
dem importância! Em: www.studibiblici.it
Em: www. news.va
“No centro deste domingo, que encerra a Oitava da Páscoa e que João Paulo II quis dedicar à Divina Mi-sericórdia, encontram-se as chagas gloriosas do
Cristo ressuscitado”, disse o Papa. “Ele já as mostra-ra na primeira vez que apareceu aos apóstolos na mesma tarde do primeiro dia da semana, o dia da ressurreição. Mas, Tomé, naquela tarde não estava; e, quando os outros lhe disseram que haviam visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aque-las chagas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu novamente, no Cenáculo, no meio dos dis-cípulos, e Tomé também estava; dirigiu-se a ele e o convidou para tocar suas chagas. E então, aquele homem sincero, aquele homem acostumado a com-provar pessoalmente as coisas, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: ‘Meu Senhor e meu Deus’ (Jo 20,28). As chagas de Jesus podem ser um escândalo para a fé, mas são também a comprovação da fé. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado as chagas não desaparecem, permanecem, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, e são indispensáveis para crer em Deus. Não para crer que Deus existe, mas para crer que Deus é amor, mi-sericórdia, fidelidade. São Pedro, citando Isaías, es-creve aos cristãos: ‘Suas feridas nos curaram’ (1Pd
2,24; cf. Is 53,5).”
“São João XXIII e São João Paulo II tiveram a cora-gem de contemplar as feridas de Jesus – recordou
o Papa –, de tocar suas mãos chagadas e seu lado transpassado. Não se envergonharam da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não se envergonharam da carne do irmão (cf. Is 58,7), porque em cada pessoa que sofria contempla-vam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios de ‘parresia’ do Espírito Santo, e deram testemunho à Igreja e ao mundo da bondade de Deus, da sua mi-sericórdia. Foram sacerdotes, bispos e papas do sé-
culo XX. Conheceram suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Neles, Deus foi mais forte; foi mais forte a fé em Jesus Cristo Redentor do homem e Se-
nhor da história; neles foi mais forte a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade de Maria. Nestes dois ho-mens contemplativos das chagas de Cristo e teste-munhas da sua misericórdia havia ‘uma esperança viva’, juntamente com uma ‘alegria inefável e radian-te’ (1Pd 1,3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pas-cal, purificados no crisol da humilhação, do esvazia-mento, da proximidade dos pecadores até o extremo, até a náusea por causa da amargura daquele cálice. Esta é a esperança e a alegria que os dois papas santos receberam como dom do Senhor ressuscitado, e que, por sua vez, deram abundantemente ao Povo de Deus, recebendo dele um reconhecimento eterno. Esta esperança e esta alegria se respirava na pri-meira comunidade dos fiéis, em Jerusalém, como narram os Atos dos Apóstolos (cf. 2,42-47). É uma comunidade na qual se vive a essência do Evange-lho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e
fraternidade.”
“E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vatica-no II teve diante de si – destacou Bergoglio. João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito San-to para restaurar e atualizar a Igreja segundo sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fa-zem crescer a Igreja. Na convocação do Concí-lio, João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado. Este foi seu grande
serviço à Igreja; foi o Papa da docilidade ao Espírito.”
Neste serviço ao Povo de Deus, explicou o Papa Francisco, “João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo, certa vez, disse que assim gostaria de ser lembrado como o Papa da família. Gosto de destacar isso agora que estamos vivendo um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele, do Céu, certamente acompanha e sustenta. Que estes dois novos santos pastores do Povo de
Deus intercedam pela Igreja, para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil
ao Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizar-mos com as chagas de Cristo, a penetrarmos o
mistério da misericórdia divina que sempre es-pera, sempre perdoa, porque sempre ama.”
“E agora – concluiu o Papa depois de agradecer a
todos os presentes – vamos nos dirigir em oração à Virgem Maria, que São João XXIII e São João Paulo
II amaram como seus verdadeiros filhos”.
Padre Alberto Maggi-OSM
O Papa Francisco recordou João Paulo II como o “Papa das famílias”, e João XXIII como o Papa “da docilidade ao espírito” na homilia feita durante
a missa solene de canonizaçãode seus predecessores na Praça São Pedro.
Em: www.adital.com.br
Dos gregos aprendemos e isso atravessou os séculos,
que todo ser, por diferente que seja, possui três caracterís-
ticas transcendentais (estão sempre presentes pouco importa a situação, o lu-
gar e o tempo): ele é o unum, o verum e o bonum, quer dizer ele goza de uma
unidade interna que o mantem na existência, ele é verdadeiro, porque se mos-
tra assim como de fato é e é bom porque desempenha bem o seu lugar junto
aos demais ajudando-os a existirem e coexistirem.
Coube aos mestres franciscanos medievais, como Alexandre de Hales e espe-
cialmente São Boaventura que, prolongando uma tradição vinda de Dionísio
Areopagita e de Santo Agostinho, acrescentarem ao ser mais uma característica
transcendental: o pulchrum vale dizer, o belo. Baseados, seguramente na expe-
riência pessoal de São Francisco que era um poe-
ta e um esteta de excepcional qualidade, que “no
belo das criaturas via o Belíssimo,” enriqueceram
nossa compreensão do ser com a dimensão da
beleza. Todos os seres, mesmo aqueles que nos
parecem hediondos, se os olharmos com afeição,
nos detalhes e no todo, apresentam, cada um a
seu modo, uma beleza singular na maneira como
neles tudo vem articulado com um equilíbrio e
harmonia surpreendentes.
Um dos grandes apreciadores da beleza foi Fio-
dor Dostoiewski. A beleza era tão central em sua
vida, conta-nos Anselm Grün, monge beneditino
e grande espiritualista, em seu último livro
“Beleza: uma nova espiritualidade da alegria de
viver” (Vier Türme Verlag 2014) que o grande ro-
mancista russo deslocava-se pelo menos uma vez
ao ano até Dresde, na Alemanha, só para con-
templar na capela a formosa Madona Sixtina de Rafael. Permanecia longo tem-
po em contemplação diante daquela esplêndida figura. Tal fato é surpreenden-
te, pois seus romances penetraram nas zonas mais obscuras e até perversas da
alma humana. Mas o que o movia, na verdade, era a busca da beleza pois nos
legou a famosa frase: “A beleza salvará o mundo” dita no livro O Idiota.
No romance Os irmãos Karamazov aprofunda a questão. Um ateu Ipolit per-
gunta ao príncipe Mynski como “a beleza salvaria o mundo”? O príncipe nada
diz mas vai junto a um jovem de 18 anos que agonizava. Aí fica cheio de com-
paixão e amor até ele morrer. Com isso nos quis dizer: beleza é o que nos leva
ao amor condividido com a dor; o mundo será salvo hoje e sempre en-
quanto houver essa atitude.
Para Dostoiewski a contemplação da Madona de Rafael era a sua terapia pes-
soal, pois sem ela desesperaria dos homens e de si mesmo, diante de tantos
problemas que vivia. Em seus escritos descreveu pessoas más e destrutivas e
outras que mergulhavam nos abismos do desespero. Mas seu olhar, que rimava
amor com dor compartida, conseguia ver beleza na alma dos mais perversos
personagens. Para ele, o contrário do belo não era o feio mas o espírito utilita-
rista e o uso dos outros, roubando-lhe assim a dignidade.
“Seguramente não podemos viver sem pão, mas também é impossível existir
sem beleza” repetia. Beleza é mais que estética; possui uma dimensão ética e
religiosa. Ele via em Jesus um semeador de beleza. “Ele foi um exemplo de be-
leza e a implantou na alma das pessoas para que através da beleza to-
dos se fizessem irmãos entre si”. Ele não se refere ao amor ao próximo; ao
contrário: é a beleza que suscita o amor e nos faz ver no outro um próximo a
amar.
A nossa cultura dominada pelo marketing vê a beleza como uma construção
do corpo e não da totalidade da pessoa. Então surgem métodos e mais métodos
de plásticas e botoxs para tornarem as pessoas
mais “belas”. Por ser construída, é uma beleza
sem alma. E se repararmos bem, nesta estética
fabricada, emergem pessoas com uma beleza fria
e com uma aura de artificialidade, incapaz de ir-
radiar. Daí irrompe a vaidade, não o amor, pois a
beleza tem a ver com amor e a comunicação. Dos-
toiewski observa, nos Irmãos Karamazov, que um
rosto é belo quando você percebe que nele litigam
Deus e o Diabo entorno do bem e do mal. Quando
percebe que o bem venceu, irrompe a beleza ex-
pressiva, suave, natural e irradiante. Qual beleza
é maior? A do rosto frio de uma top-model ou a do
rosto enrugado e cheio de irradiação da Irmã Dul-
ce de Salvador, Bahia, ou a da Madre Tereza de
Calcutá? A beleza, característica transcendental,
se revela como irradiação do ser. Nas duas Irmãs,
a irradiação é manifesta, na top-model existe mas
é esmaecida.
O Papa Francisco conferiu especial importância na transmissão da fé cristã à
via pulchritudinis (a via da beleza). Não basta que a mensagem seja boa e justa.
Ela tem que ser bela, pois só assim chega ao coração das pessoas e suscita o
amor que atrai (Exortação A alegria do Evangelho, n 167). A Igreja não visa o
proselitismo mas a atração que vem do amor e da beleza da mensagem que
causa fascínio e produz esplendor.
A beleza é um valor em si mesmo. É gratuita e sem interesse. É como a flor
que floresce por florescer pouco importa se a olham ou não, como diz o místico
Angelus Silesius. Quem não se deixa fascinar por uma flor que sorri gratuita-
mente ao universo? Assim devemos viver a beleza no meio de um mundo de in-
teresses, trocas e mercadorias. Então ela realiza sua origem sânscrita Bet-El-
Za que quer dizer: “o lugar onde Deus brilha”.
Brilha por tudo e nos faz também brilhar pelo belo que se irradia de nós.
A R T I G O S—O P I N I Õ E S
Leonardo Boff
Em: www.adital.com.br
Depois da enésima vez que jogaram bananas contra jogadores ne-
gros na Europa, Daniel Alves resolveu comer a banana e Neymar decla-
rou: "Somos todos macacos”. É o começo da reação, que os próprios
europeus parecem incapazes de fazer, contra a discriminação nos campos de futebol, que é
apenas a extensão da vida cotidiana em países que se consideram "brancos e civilizados”.
A Europa "civilizada” se enriqueceu às custas da escravidão e do seu corolário – a discri-
minação e a redução dos negros a "bárbaros”. Vieram com a cruz e a espada a "civilizar-
nos”, isto é, destruir as populações nativas e submete-las ao jugo da dominação colonial.
Tiraram milhões de africanos do seu mundo para trazê-los como animais a trabalhar como
escravos para explorar as riquezas daqui e enviá-las para enriquecer a Europa "civilizada”.
Todo o movimento histórico da "liberdade, igualdade, fraternidade”, foi feito em função
da libertação dos servos da gleba europeus, desconhecendo a escravidão que essa mesma
Europa praticava. Ninguém – salvo o solitário Hegel – tomou conhecimento da Revolução
Haitiana contra a dominação da França "emancipada”
por sua revolução, mas opressora da primeira Revolu-
ção Negra de independência nas Américas.
Séculos depois, quando a Europa "civilizada” termi-
na com seu Estado de bem estar social e joga no
abandono a milhões de pessoas – antes de tudo os
imigrantes, que foram trabalhar em condições degra-
dantes quando suas economias os necessitavam -, o
racismo mostra toda sua força. Os partidos de extrema
direita são os que mais se fortalecem, ao mesmo tem-
po que o racismo aparece nos também nos campos de
futebol, sem que gere indignação na Europa
"civilizada”.
Ao mesmo tempo, desenvolvem uma campanha discriminatória contra o Brasil, dese-
nhando um país de "cobras, tigres, macacos”, além de ser, segundo o absurdo e estúpido
informe do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, "um país de alto risco”. Fosse
assim porque estão instalando fábricas da BMW, da Mercedes, além de ampliar a da Volks-
wagen e várias outras?
Fazem por isso porque o Brasil de hoje incomoda os adeptos do neoliberalismo, que leva
a Europa a um desastre social, enquanto nós – e vários outros países da América Latina –
crescemos e diminuímos a desigualdade e a miséria. Nós os incomodamos porque estamos
fora do Consenso de Washington, que eles tentaram impor-nos, nos causaram muitos da-
nos, mas de que soubemos recuperar-nos e somos a região do mundo que se contrapõe
aos descaminhos que a Europa assume.
Vamos recebê-los com a maior cordialidade no Mundial de Futebol. Comendo e ofere-
cendo bananas a todos eles, assumindo que: "Somos todos macacos”.
Já está em pleno andamento Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida. Vai du-
rar dez dias, como já é costume consolidado.
Esta é a 52ª assembleia geral. Pelas contas feitas a partir da data de fundação
da CNBB, em 1952, seria bem maior o número de assembleias. Acontece que por um bom tempo as reuni-
ões não eram anuais, mas de dois em dois anos. E bem no início, deviam participar só os arcebispos.
Com a chegada do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1962, com os debates em torno da colegialidade
episcopal, ficou bem ressaltada a importância dos bispos, que participam, em plenitude, do ministério apos-
tólico, conferido pelo sacramento da ordem. Com isto, ficam relativizados todos e quaisquer outros títulos
ou ofícios que podem ser conferidos a determinados bispos. Pois todos eles participam, igualmente, da dig-
nidade e missão episcopal, pelo sacramento, e não por títulos ou encargos que um bispo possa vir a ter.
A consciência da igual dignidade de todos os bispos ficou muito ressaltada na trajetória da CNBB, espe-
cialmente a partir do Concílio. Tanto que por diversas vezes foram eleitos para presidirem a CNBB, não ar-
cebispos, mas simplesmente bispos diocesanos.
Esta postura da CNBB, de apreço e valorização do sacramento da ordem como referência para a distri-
buição de responsabilidades entre os bispos, chegou ao seu ponto culminante quando em 1987 foi eleito
presidente Dom Luciano Mendes de Almeida quando ainda ele era bispo auxiliar de São Paulo. Isto provo-
cou uma reação da Cúria Romana, que determinou a todas as Conferências Episcopais, que colocassem em
seus estatutos que "bispo auxiliar” não pode ser eleito presidente da Conferência.
Mas não deixa de ser emblemática esta postura da CNBB. Ela procura afirmar sua identidade em coe-
rência com os princípios teológicos que a fundamentam. E procura planejar suas ações, de acordo com os
postulados da missão recebida.
Os dois temas centrais da assembleia deste ano, encontram fundamento na identidade e na missão dos
bispos reunidos em assembleia. O tema da paróquia se insere mais diretamente na identidade eclesial, e o
tema da questão agrária se insere mais diretamente na missão da Igreja.
Detendo agora o olhar neste tema sempre tão complicado da questão agrária em nosso país, é evidente
que seria muito mais cômodo para os bispos, passarem ao lado desta questão, ou desviá-la, em tempo, de
suas preocupações. Mas a missão de pastores, leva de novo os bispos do Brasil a se debruçarem sobre este
assunto sempre tão complicado, que já mereceu na assembleia de 1980 um documento da CNBB, e que
volta agora com novas realidades e novas preocupações dos pastores.
Na verdade, de lá para cá, a realidade agrária mudou muito, e apresenta novos desafios. Serão olhados
pelos bispos na perspectiva de sua missão, que os impele a seguir de perto as angústias dos membros de
suas comunidades, também os que se defrontam com dificuldades provenientes da estrutura agrária em
nosso país.
Para dar-nos conta de sua complexidade, basta conferir a lista de situações, descritas no documento
que está sendo debatido nesta assembleia. Ela se propõe ouvir o clamor dos "povos indígenas”, o clamor
dos "quilombolas” dos "sem terra e assentados”, o clamor dos "ribeirinhos e pescadores”, dos "produtores
familiares”, além do clamor das próprias cidades.
Não é que os bispos se julguem competentes para trazer as soluções dos problemas vividos por estas
populações. Mas como pastores do seu povo, julgam, sim, do seu dever chamar a atenção de todos para
estas realidades, e urgir sua solução, à luz de critérios éticos e de valores evangélicos.
Emir Sader Dom Demétrio Valentini
Em: www.leonardoboff.wordpress.com
Desde bem menina gosto de futebol. Era comum acompanhar meu pai,
repórter esportivo, aos jogos dos dois clubes que havia em São Borja: Cruzeiro
e Internacional. Meu coração pendia irremediavelmente para o Inter. Não sei o
motivo. Nunca soube. Apenas amava aquela camisa vermelha brilhando ao sol. Quem pode saber o
que nos faz amar algo ou alguém? É coisa que nos toma e não há explicações a dar. Já, em Porto
Alegre, era o Grêmio que me tinha. Como entender essa confusão? Impossível. Amor! O rolo só se
desfez quando Cruzeiro e Inter se fundiram dando lugar ao São Borja. Fiquei só com o Grêmio. E,
assim, o futebol foi encontrando seu lugar na minha vida. A bola rolando, os dribles, os meneios de
corpo, as firulas, o voleio, o gol. Nunca me importei com ganhar ou perder. Apenas me encanta
aquela correria no quadrado, a arte de dominar a bola.
Há 24 anos vivo em Florianópolis e por força da profissão me vi setorista do Figueirense, escre-
vendo para o Jornal "O Estado". Em pouco tempo o furacão do estreito já tinha me ganhado, apesar
de o Avaí ser azul, como o Grêmio. De novo, o não-sabido, o incompreensível. Importa não. O que
vale é aquela alegria que assoma na hora do gol.
Repórter de esporte sempre soube o que estava em jogo no futebol. O espetáculo é uma merca-
doria do capital, feito para render lucros a alguns. Também sempre tive muito claro que os mais va-
riados esportes, entre eles o futebol, são, como muito bem aponta o professor Nilso Ouriques, no
livro Megaeventos Esportivos, "produtos de transplantes culturais produzidos pelas elites ociosas",
em busca de elementos culturais e simbólicos que garantissem riqueza e poder. Tanto que o futebol,
introduzido no Brasil pelos ingleses e jesuítas, era um jogo da elite, completamente proibido para os
pobres. Igualmente compreendo o papel do Estado na institucionalização do esporte, iniciada em
1941, com os dirigentes políticos do país definindo que
confederações e federações poderiam existir. Obviamen-
te um espaço dominado e atravessado pelo jogo do po-
der.
Nos anos 50, quando o Brasil se associa definitiva-
mente ao universo dos dois maiores eventos esportivos,
as Olimpíadas e a Copa do Mundo, toda essa herança de
coronelismo, clientelismo, desmandos e corrupção se for-
talece e, desde aí, estamos cada dia mais submetidos à
lógica do esporte/espetáculo/mercadoria, sem mudanças
no quadro político.
Mas, apesar de tudo isso, a vida mesma se encarrega
de colocar sua cunha nos planos das elites. E o futebol,
antes proibido aos pobres, ganha as ruas e dos campi-
nhos de várzea começam a brotar craques. Sem poder
fazer vistas grossas aos ídolos dos campinhos, os clubes
se abrem e incorporam os negros e os jogadores da peri-
feria. Espertamente, se apropriam da beleza criada nas
ruas e acabam inventando uma sofisticada forma de es-
cravidão. Em pouco tempo, os jogadores passaram a ser comprados e vendidos como se fossem coi-
sas. Mas, vez em quando, eles subvertem a ordem, que o digam Sócrates, Casagrande, Nelinho,
Éder, Albeneir, Renato e tantos outros. É a dialética.
É nessa contradição, entre a arte da rua, com o jogo sendo puro prazer, e o espetáculo montado
para uns poucos ganharem dinheiro, que seguimos. Nesse sentido, parece muito importante compre-
ender o caldo onde estamos metidos quando falamos de futebol. Não é só esse espaço de amor in-
traduzível que nos toma de paixão. É também campo de luta de classe e de confrontação com o sis-
tema capitalista que oprime e exclui.
Assim, por compreender todo o jogo político e de poder que se mistura ao esporte, é que fiz coro
ao grito de "não vai ter Copa" que tomou o país quando começaram as obras faraônicas e inúteis
dos estádios novos, financiadas com dinheiro público para que meia dúzia de empresários tenham
lucros exorbitantes. Porque, além de o governo permitir que poucos encham os bolsos, ainda é res-
ponsável por toda a sorte de destruição da vida que advém dessas. Mortes de operários, remoções
forçadas de milhares de famílias, gente que tem suas casas destruídas, que não têm para onde cor-
rer, que não recebe uma indenização justa, que não tem chance de discutir uma opção. Tudo feito
de forma autoritária e impiedosa, porque é da natureza do sistema capitalista não se importar ne-
nhum pouco com aqueles que explora. Não são pessoas, são números, cifras, entraves, coisas, que
podem ser removidas ou eliminadas. Tanto faz.
Não se trata de ser oposição cega à Dilma, à Lula ou ao PT, e muito menos de atuar na lógica da
direita - que faria exatamente a mesma coisa que hoje faz o governo do PT. É uma posição clara
diante do que representa para a maioria das gentes essa "festa do futebol". A festa mesmo será
apenas para muito poucos. Os turistas que podem pagar os preços exorbitantes dos ingressos, as
grandes redes de hotéis e restaurantes e principalmente as grandes empresas transnacionais que
"patrocinam" o evento. Afinal, por força de lei, apenas os seus produtos poderão ser comercializa-
dos. Nem mesmo os ambulantes, que acabam pegando carona nos grandes eventos, com seus ba-
dulaques falsificados, poderão comer as migalhas desse banquete. Conforme a Lei da Copa, se fo-
rem pegos vendendo coisas nas proximidades dos estádios, serão presos.
Sempre haverá aqueles que dirão: "melhor, não teremos pobres enchendo o saco na entrada dos
estádios". Mas, fatalmente, esses "pobres" saltarão nas suas caras quando menos esperarem, por-
que afinal, os estádios podem ser uma bolha protegida, mas a vida não é. E a violência que hoje se
mostra quase endêmica não brota do nada. Ela é fruto do processo de exclusão e desumanização
promovido pelo capital. Sabe-se que há uma camada até significativa da população que acredita pia-
mente nas benesses que a Copa vai trazer. Confia nas mensagens de propaganda sobre melhorias
nos transportes ou em outras questões estruturais. Mas, aqueles que sabem, que conhecem a raiz
dos eventos e sua origem, não podem dar-se ao luxo do engano, ou da visão ingênua. Por isso di-
zem "não vai ter Copa".
É certo que os movimentos contrários ao evento não lograram vencer a batalha de ideias, afinal,
a ideologia vomitada pelos meios de comunicação acabou prevalecendo. Assim, é certo também que
os jogos vão acontecer, ainda que certamente cercados de protestos, lutas, prisões, violências, como
soe acontecer quando o poder decide solapar a crítica. Porque a responsabilidade daqueles que sa-
bem assoma, a despeito das ameaças de, inclusive, enquadrar os que ousarem lutar em lei de segu-
rança nacional, como terrorista.
Então, para aqueles que, sem argumento, preferem enxovalhar os que lutam com comentários do
tipo: "são contra a Copa, mas vão ver os jogos", "são do contra, mas vão torcer para o Brasil", tenho
a obrigação de dizer que precisam se informar melhor sobre o tema. Ser contra os gastos públicos
exagerados, contra o domínio das multinacionais, contra o evento caça níquel, contra os novos se-
nhores de escravos, ou contra os figurões da Fifa, não tira de nós o amor que constituímos pela arte
do futebol. Uma coisa não tem nada a ver com a outra e só usa esse tipo de argumento quem não
quer ver a realidade.
O esporte, seja ele o futebol, ou outro qualquer, está para além dos jogos vorazes do capital. A
alegria do jogo, a festa dos corpos brincantes ultrapassa a dominação a qual os cartolas e políticos
insistem em impor. E desses corpos em festa sempre há de escapar a flor deliciosa do prazer que se
esconde no drible perfeito, no gol de placa. E, nessa hora, vamos vibrar, sim. A diferença é que a
gente sabe muito bem o que tudo aquilo significa, qual aparato está montado e a quem serve, em
última instância.
Nos dias da Copa vamos ver, sem dúvidas, toda essa nossa gente sofrida, excluída do banquete,
espremida em frente às lojas que apresentarem grandes televisores, vibrando pela seleção do Brasil.
Mas, não se iludam. Mesmo aqueles que não sabem, na sua pureza, vibram pela beleza do jogo. E,
apesar de estarem mergulhados até o pescoço na armadilha do capital, haverão de encontrar - al-
guns - o caminho de saída. A Copa é só mais uma batalha ideológica do sistema que nos oprime.
Outras virão. Seguiremos lutando, engordando os batalhões...
A R T I G O S—O P I N I Õ E S
Elaine Tavares
“Ser contra os gastos
públicos exagerados,
contra o domínio das
multinacionais, contra
o evento caça níquel,
contra os novos
senhores de escravos,
ou contra os figurões
da Fifa, não tira de
nós o amor que
constituímos pela
arte do futebol.”
A celebração do Dia 1º de Maio, pela consideração reverente ao trabalhador, é oportunidade para reavivar a compreensão do trabalho como necessidade e
dom de Deus. A concepção cristã do trabalho tem suas raízes numa articulada e clarividente compreensão antropológica e teológica. Deus, criador onipotente,
Pai de todos, cria o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e lhes confia o cultivo da terra. O Pai sublinha a primazia da humanidade em relação às outras
criaturas, que devem merecer cuidados e respeitos. Cultivar a terra, como ponto especial na narrativa da missão do homem e da mulher no conjunto da obra da criação, significa
não abandoná-la. E exercer domínio sobre ela significa comprometimento com o seu cuidado e com sua guarda, como um pastor deve cuidar de seu rebanho. Esse horizonte inspi-
rador é determinante nos rumos escolhidos para a dinâmica da economia com seus desdobramentos incisivos sobre a questão social e política.
Nesse sentido, no atual momento político e econômico, os construtores da sociedade pluralista devem superar a lógica perversa do lucro. Precisam buscar uma efetiva susten-
tabilidade, necessária para se alcançar o equilíbrio social. Imprescindível é deixar-se iluminar por um horizonte com princí-
pios antropológicos inequívocos. Isto é um enorme desafio para quem se orienta por parâmetros de funcionamentos me-
canicistas e, consequentemente, não consegue compreender o que se pode chamar de subjetividade do trabalho. O con-
junto de recursos, atividades, instrumentos e técnicas que permite a cada pessoa o exercício adequado de suas tarefas não
pode sobrepor-se ou minar a dimensão subjetiva do trabalho humano. O respeito a esta perspectiva é a consideração in-
substituível de cada ser humano e de sua vocação pessoal. Assim, alcança-se a compreensão de que todo trabalho é ima-
gem e extensão da ação criadora de Deus, de que o homem e a mulher, em suas muitas tarefas, participam da obra da cria-
ção.
A Doutrina Social da Igreja enfatiza, por isso mesmo, que o trabalho não somente procede da pessoa, mas também é orde-
nado a ela e a tem por finalidade. Assim sendo, todo ofício, mesmo aquele mais humilde, é caminho para que cada pessoa
tenha preservada a sua dignidade. Consequentemente, o trabalho se torna uma necessidade e ao mesmo tempo um dever
de todos. Trabalhar refere-se ao respeito moral ao próximo e, por desdobramento, é reverência à própria família e à socie-
dade. Abominável, pois, é o enquadramento do trabalhador na condição de escravo. Trata-se de um verdadeiro atentado
contra a dignidade, ferida na cultura solidária e civilizada, com consequências nefastas também para escravocratas.
A sacralidade do trabalho implica compreendê-lo, na escala de valoração e prioridade, como superior a todo e qualquer fator de produção, inclusive o capital. No horizonte largo
e diversificado sobre a sua abordagem como importante chave social, é prioritário considerá-lo como direito. A necessidade do trabalho não se refere apenas ao sustento familiar e
pessoal, prioridade incontestável, mas, particularmente, ao bem que promove a cada pessoa. Trata-se de direito fundamental. Por isso, a Igreja considera o desemprego uma per-
versa calamidade social. E sublinha que uma sociedade orientada para o bem comum tem sua capacidade avaliada, também, com base nas perspectivas de trabalho que ela pode
oferecer.
Com a oferta do trabalho, caminha a exigência de se promover a capacitação, já que a manutenção do emprego depende cada vez mais da competência profissional. O Estado,
então, é chamado à responsabilidade, por seu dever de promover políticas ativas de trabalho, particularmente pela regulação do funcionamento econômico, convocando as corpo-
rações a cumprirem seu papel social. As empresas tem o dever de garantir a oferta adequada de emprego. O tratamento desse desafio não pode prescindir de uma correta visão
antropológica e cristã, pelo respeito à sacralidade do trabalho.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Em: www.arquidiocesebh.org.br
JUVENTUDES EM DEBATE: O LEGADO DA COPA
Qual o legado para o Brasil da Copa do Mundo? Mobilidade urbana, segurança, desenvolvimento,
saúde, educação? Quem são os atores envolvidos nos protestos e nas mobilizações que tomam
o país inteiro pedindo reformas estruturais?
Quais juventudes se mobilizam para intervir socialmente nos processos de decisões do país?
Afinal, essa copa é pra quem?
Quem é Jesus de Nazaré: «Um profeta poderoso em ação e palavras, diante de Deus e de todo o povo". (Lc 24,19)
2
Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo
Dia: 14 de Maio de 2014—Quarta-Feira às 18h30 Local: Salão da Igreja São Francisco de Assis
para gerar empregos, moradia e espaço cultural, na Zona Leste...
O Arquiteto Ruy Ohtake apresentará proposta para utilização do espaço
Participe desta mobilização.
A Zona Leste de São Paulo deve receber os investimentos e melhorias que tem direito.
Somos mais de 4.300.000 habitantes na região mais populosa da cidade de São Paulo.
O espaço da antiga Fábrica Matarazzo pode ser o marco inicial nesta luta para que as grandes áreas ainda existentes na
Zona Leste, sejam destinadas às melhorias que o povo precisa e merece.
PARTICIPE VOCÊ TAMBÉM—A ZONA LESTE SOMOS TODOS NÓS
Os endereços eletrônicos abaixo indicados contêm riquíssimo material para estudos e pesquisas.
Por certo, poderão contribuir muito para o aprendizado de todos nos mais diversos seguimentos.
www.adital.org.br - Esta página oferece artigos/opiniões sobre movimentos sociais, política, igrejas e religiões, mulheres, direitos humanos dentre
outros. O site oferece ainda uma edição diária especial voltada aos jovens. Ao se cadastrar você passa a receber as duas versões diárias.
www.amaivos.com.br - Um dos maiores portais com temas relacionados à cultura, religião e sociedade da internet na América Latina, em conteúdos,
audiência e serviços on-line.
www.cebi.org.br - Centro de estudos bíblicos, ecumênico voltado para a área de formação abrangendo diversos seguimentos tais como: estudo bíbli-
co, gênero, espiritualidade, cidadania, ecologia, intercâmbio e educação popular.
www.cnbb.org.br - Página oficial da CNBB disponibiliza notícias da Igreja no Brasil, além de documentos da Igreja e da própria Conferência.
www.ihu.unisinos.br - Mantido pelo Instituto Humanitas Unisinos o site aborda cinco grandes eixos orientadores de sua reflexão e ação, os quais
constituem-se em referenciais inter e retro relacionados, capazes de facilitar a elaboração de atividades transdisciplinares: Ética, Trabalho, Sociedade
Sustentável, Mulheres: sujeito sociocultural, e Teologia Pública.
www.mundomissao.com.br - Mantida pelo PIME aborda, sobretudo, questões relacionadas às missões em todo o mundo.
www.religiondigital.com - Site espanhol abordando questões da Igreja em todo o mundo, além de tratar de questões sobre educação, religiosidade e
formação humana.
www.cartamaior.com.br - Site com conteúdo amplo sobre arte e cultura, economia, política, internacional, movimentos sociais, educação e direitos
humanos dentre outros.
www.nossasaopaulo.org.br - Página oficial da Rede Nossa São Paulo. Aborda questões de grande importância nas esferas político-administrativas
dos municípios com destaque à cidade de São Paulo.
www.pastoralfp.com - Página oficial da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo. Pagina atualíssima, mantém informações diárias sobre
as movimentações políticas-sociais em São Paulo e no Brasil.
www.vidapastoralfp.com - Disponibilizado ao público pela Paulus editora o site da revista Vida Pastoral torna acessível um vasto acervo de artigos
da revista classificados por áreas temáticas. Excelente fonte de pesquisa.
www.paulus.com.br – A Paulus disponibiliza a Bíblia Sagrada edição Pastoral online/pdf.
www.consciencia.net— Acervo Paulo Freire completo disponível neste endereço.
www.news.va/pt - Pronunciamentos do Papa Francisco diretamente do Vaticano.
Ajude-nos a enriquecer nossa relação de endereços. Envie-nos suas sugestões de páginas que possam
contribuir como nossos estudos e crescimento. Teremos prazer em publicar em nossa relação.