IPEA, Pontos de Cultura

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Governo FederalSecretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Wellington Moreira Franco

Fundao pblica vinculada Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasileiro e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.Presidente Marcio Pochmann Diretor de Desenvolvimento Institucional Fernando Ferreira Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas Internacionais Mrio Lisboa Theodoro Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da Democracia Jos Celso Pereira Cardoso Jnior Diretor de Estudos e Polticas Macroeconmicas Joo Sics Diretora de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e Ambientais Liana Maria da Frota Carleial Diretor de Estudos e Polticas Setoriais, de Inovao, Regulao e Infraestrutura Mrcio Wohlers de Almeida Diretor de Estudos e Polticas Sociais Jorge Abraho de Castro Chefe de Gabinete Fabio de S e Silva Assessor-chefe de Imprensa e Comunicao Daniel CastroURL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

Organizadores

Frederico Barbosa Lia Calabre

Braslia, 2011

Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2011

Pontos de cultura : olhares sobre o Programa Cultura Viva / organizadores: Frederico Barbosa, Lia Calabre.- Braslia : Ipea, 2011. 245 p. : grfs., mapas, tabs. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7811-104-5 1. Cultura. 2. Poltica Cultural. 3. Acesso Cultura. 4. Brasil. I. Silva, Frederico Augusto Barbosa da. II.Azevedo, Lia Calabre. III. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada. CDD 306.0981

As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

SUMRIO

ApReSentAO .................................................................................7 IntRODUO .....................................................................................9 CAptULO 1 CULTURA VIVA E O DIGITAL .......................................................................13Frederico A. Barbosa da Silva

CAptULO 2 O PROGRAMA CULTURA VIVA E A DIVERSIDADE CULTURAL .......................61Jos Mrcio Barros Paula Ziviani

CAptULO 3 INDICADORES PARA POLTICAS CULTURAIS DE PROXIMIDADE: O CASO PRMIO CULTURA VIVA ................................................................89Liliana Sousa e Silva

CAptULO 4 AO AGENTE CULTURA VIVA: CONTRIBUIES PARA UMA POLTICA CULTURAL DE JUVENTUDE .......................................................................111Luana Vilutis

CAptULO 5 A AO GRI: UMA PROPOSTA POLTICA NACIONAL .............................139Juliana Lopes

CAptULO 6 FORMULAO DE POLTICAS CULTURAIS: AS LEIS DE INCENTIVO E O PROGRAMA CULTURA VIVA ...............................................................155Eduardo Gomor dos Santos

CAptULO 7 POLTICA CULTURAL DE INSERO SOCIAL? ...........................................179Joo Guerreiro

CAptULO 8 POLTICA PBLICA CULTURAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ANLISE DO PONTO DE CULTURA ESTRELA DE OURO DE ALIANA, EM PERNAMBUCO ..............................................................195Csar de Mendona Pereira

CAptULO 9 TERRITRIO E TERRITORIALIDADES NA REDE CULTURA VIVA DA REGIO SUL: PROGRAMA CULTURA VIVA/MINISTRIO DA CULTURA ...........................................................................................229Patrcia Dorneles

ApReSentAO

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva mais um exemplo da tradio do Ipea de apoio e divulgao de trabalhos que contribuem com o debate e a ampliao de conhecimento a respeito de polticas pblicas. A proposta dos organizadores foi apresentar ao pblico, em uma nica publicao, parte das anlises produzidas recentemente sobre o tema das polticas culturais que estavam dispersas em forma de dissertaes de mestrado, teses de doutorado, relatrios de pesquisa e artigos. O resultado um livro-quadro que representa parte do esforo em colocar sob perspectiva e luz da crtica as experincias vividas em torno do Programa Cultura Viva, do Ministrio da Cultura (MinC), e tambm conhecido por abrigar os Pontos de Cultura. Fica, assim, demonstrado o apreo do Ipea pela pesquisa feita sob diferentes enfoques metodolgicos, orientaes tericas e estilos argumentativos. Parte importante dos textos apresentados neste livro foi reunida para apresentao em outubro de 2009 na Fundao Casa de Rui Barbosa (FCRB), quando ocorreu o I Seminrio o Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura: Novos Objetos de Estudo, que foi uma iniciativa da Secretaria de Cidadania Cultural (SCC)/MinC, da FCRB e da Escola de Comunicao da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No mesmo seminrio, foi apresentada verso preliminar do relatrio da pesquisa avaliativa que o Ipea realizava sobre o Programa Cultura Viva, que ensejou debates e forte demanda por maior divulgao dos resultados. A aproximao entre Ipea e FCRB j acontece desde longa data e torna-se mais comprometida com esta nova publicao. Os resultados apresentados nos nove captulos esto longe de conter toda a gama de anlises produzidas sobre o Cultura Viva, mas servem de exemplos e abrem espaos para novos e mais exaustivos trabalhos no campo de anlise das polticas pblicas, especialmente nas polticas culturais. Por si s, isso j justificaria a importncia da publicao, mas h outra de igual relevncia que a reunio de autores e pesquisadores capazes de explorar novas fronteiras de conhecimento e irrigar processos de reflexo que levem formulao e ao aperfeioamento de polticas e ao desenvolvimento da cultura. Este livro contm artigos e textos que nasceram em contextos variados de reflexo. Agradecemos aos autores o esforo por adapt-los da melhor forma s necessidades da publicao. Marcio Pochmann Presidente do Ipea

INTRODUO

Em outubro de 2009, no Rio de Janeiro, na Fundao Casa de Rui Barbosa (FCRB), ocorreu o I Seminrio O Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura Novos Objetos de Estudo; uma iniciativa da Secretaria de Cidadania Cultural, da FCRB e da Escola de Comunicao da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A ideia era a de reunir trabalhos acadmicos que tivessem como objeto de estudo o Programa Nacional de Cultura, Educao e Cidadania Cultura Viva e, mais especificamente, os Pontos de Cultura. Por meio da base de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), diversas dissertaes e teses foram localizadas; algumas delas j defendidas e outras em processo de elaborao. Na abertura do seminrio, foi apresentada uma verso preliminar do relatrio da pesquisa do Ipea de avaliao do Cultura Viva, suscitando uma srie de debates e a demanda de ampla divulgao dos resultados desta, considerada matria-prima fundamental para novos estudos acadmicos. Foram dois dias de intensa troca de informaes e experincias; participaram do encontro pesquisadores de diversas reas de conhecimento e de vrias regies do pas, alm de gestores do programa, especialistas, professores universitrios e observadores. Muito dos trabalhos apresentados tiveram sua origem em projetos individuais de pesquisa, inclusive de campo, com base, por exemplo, em entrevistas com participantes do programa. Uma referncia muito comum entre os estudos o do Relatrio Final da Avaliao do Cultura Viva, realizado pelo Ncleo de Polticas de Cultura do Laboratrio de Polticas Pblicas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e apresentado em 2006. Havia ainda trabalhos que utilizavam dados oriundos de avaliaes de algumas aes especficas, por exemplo, o Prmio Cultura Viva por meio do Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria (CENPEC) ou o Agente Cultura Viva por meio do Instituto Paulo Freire. Tambm foram fontes privilegiadas de pesquisa todos os documentos e as declaraes geradas pela Secretaria de Cidadania Cultural, pelos ento secretrio Clio Turino e ministro Gilberto Gil e pelas demais autoridades do Ministrio da Cultura (MinC). As fontes de informao arroladas nesta publicao no so excludentes entre si, muitos trabalhos utilizaram informaes de diversas origens e naturezas. A partir dos trabalhos apresentados, comeou a ser construdo o projeto da presente obra. A maior parte dos textos que a integram tem sua origem em trabalhos acadmicos, fruto de dissertaes e teses. Tal fato nos permite compreender a presena de alguns elementos e informaes comuns em grande parte dos trabalhos, por exemplo: a apresentao do Programa Cultura Viva, com

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

maior ou menor grau de detalhamento histrico; referncias s aes empreendidas pelo MinC na gesto de Gilberto Gil; consideraes sobre um conceito de cultura ampliado e o papel das polticas culturais e da cultura no mundo contemporneo; alm de consideraes tericas diversas. Longe de se tornarem uma montona repetio, as consideraes apresentadas, pelos diversos trabalhos, nos permitem constituir um interessante painel revelador de parte do processo de reflexo acadmica sobre o lugar das polticas culturais hoje no Brasil e da gesto do MinC em geral. Alm, claro, de revelar o prprio papel destacado que vem tendo o Programa Cultura Viva. Os trabalhos giram em torno de questes como a da incluso de novos atores socioculturais no cenrio das polticas culturais e da busca de novos modelos, ou de formas complementares destes, para a gesto pblica de cultura, sempre a partir de experincias do programa Cultura Viva. Longe de se tratarem de anlises conclusivas, ainda mais tendo em vista o pouco tempo de existncia do prprio programa, os trabalhos compem um mosaico analtico, que permitir, em momento futuro, um melhor estudo e uma anlise mais apurada deste. As vises dos pesquisadores se somam s dos documentos oficiais produzidos pelo MinC, em uma fase ainda inicial do programa. um fato pouco comum que aes pblicas, de implementao to recente, sejam objeto de avaliao e fonte de trabalhos acadmicos. Acreditamos que o ponto forte desta publicao o de disponibilizar, para um pblico variado, parte dessa anlise. Apresentando os trabalhos que integram esta obra, de uma maneira muito sinttica, temos como o captulo 1, Cultura viva e o digital, trabalho de Frederico A. Barbosa da Silva que discute a problemtica de incluso digital como um dos direitos informao, realizando uma anlise de tal processo no Brasil, tomando como base as informaes coletadas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD). Nesse enfoque, o autor toma o Programa Cultura Viva como uma estratgia pblica de construo e fortalecimento da cidadania e das prticas culturais locais. Como aponta o autor, a cultura digital um dos componentes centrais do programa. Barbosa afirma que a simples universalizao do acesso ao mundo digital e internet deve ser perseguida, mas que no se deve descuidar do estabelecimento de polticas de democratizao da produo e da distribuio de contedos, sob o risco de se estar somente criando novas estruturas de desigualdades sociais. O trabalho de Jos Mrcio Barros e Paula Ziviani foi produzido especificamente para o Ipea, a partir de alguns dados presentes na avaliao do programa. O captulo 2, intitulado O Programa Cultura Viva e a diversidade cultural, pretende identificar neste o que chamam de princpios e prticas de proteo e promoo da diversidade cultural. Os autores realizam sua anlise por meio dos documentos bsicos para, em seguida, buscar verificar a efetividade de suas proposies pelos resultados

Introduo

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obtidos pela avaliao do instituto. Por ltimo, os autores trabalharam com algumas das respostas abertas e das observaes presentes em alguns cadernos de campo da pesquisa. O captulo 3, Indicadores para polticas culturais de proximidade: o caso Prmio Cultura Viva, de Liliana Sousa e Silva, ressalta a importncia da criao de indicadores para elaborao, avaliao e acompanhamento de polticas culturais. A autora prope a criao de uma modalidade de indicadores que tenha por base a questo da proximidade e como unidade de anlise o bairro. A proposta tem origem na experincia de trabalho dela na equipe de coordenao tcnica do Prmio Cultura Viva. Souza e Silva apresenta um possvel marco conceitual e alguns elementos tericos que podem contribuir para a construo de indicadores para polticas culturais de proximidade. Luana Vilutis autora do captulo 4, Ao Agente Cultura Viva: contribuies para uma poltica cultural de juventude. Este tem como foco principal a questo da juventude, dos direitos e da cidadania cultural. Traz reflexes sobre o papel dos jovens na sociedade contempornea, historiando o processo de negociao interministerial e as dificuldades para a implantao da ao Agente Cultura Viva (programa voltado para jovens de 16 a 24 anos). A pesquisadora vai efetuar um balano da ao a partir da pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Freire, somada a uma srie de entrevistas de campo que ela realizou. O captulo 5, A Ao Gri: uma proposta poltica nacional, trabalho de Juliana Lopes, apresenta o Programa Cultura Viva, mapeando historicamente a Ao Gri e sua projeo nacional. Ao resgatar a histria da ao, a pesquisadora tem como principal objetivo identificar os motivos que levam esta a se transformar em uma proposta de projeto de lei de alcance nacional. Eduardo Gomor dos Santos autor do captulo 6, Formulao de polticas culturais: as leis de incentivo e o Programa Cultura Viva, trabalho que se inicia com uma anlise do papel das polticas culturais na contemporaneidade, em especial no que tange diminuio das assimetrias na alocao de recursos na rea da cultura. O foco central do captulo o da comparao do que o autor denomina de dois modelos distintos de formulao de polticas culturais, que so as leis de incentivo e o Programa Cultura Viva. Este ltimo tomado como um exemplo de construo de um novo paradigma de elaborao de polticas culturais. Joo Guerreiro, no captulo 7, Poltica cultural de insero social?, discute o papel do MinC na contemporaneidade, a partir do Cultura Viva. Para realizar tal intento, o autor recompe o itinerrio histrico das polticas culturais no pas, desde a dcada de 1930, centrando uma maior ateno na de financiamento, instituda com as leis de incentivo fiscal. O objetivo principal do artigo o de realizar um exerccio reflexivo sobre o volume de recursos financeiros mobilizados pelas leis de incentivo e aqueles investidos no programa.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

O captulo 8, Poltica pblica cultural e desenvolvimento local: anlise do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliana, em Pernambuco, de Csar de Mendona Pereira, apresenta o Programa Cultura Viva, com detalhamento sobre as diversas aes que o compem, tambm apontando para algumas dificuldades que este apresenta, seja no campo do acesso, seja no da gesto dos recursos. A temtica principal do trabalho a da anlise do Ponto de Cultura Estrela de Ouro, conveniado no primeiro edital, que tem como principal atividade o maracatu rural. O pesquisador buscou mapear as alteraes vivenciadas pela comunidade a partir do processo de valorizao, potencializao e diversificao das atividades realizadas pelo ponto, estabelecendo paralelos com o passado prximo e as possveis projees para o futuro do maracatu, sempre a partir do olhar da prpria comunidade. Patrcia Dorneles autora do captulo 9, Territrio e territorialidades da rede Cultura Viva na regio Sul: Programa Cultura Viva/Ministrio da Cultura. A autora apresenta uma proposta de estudo do programa a partir da questo da territorialidade/territrio e cultura, tendo como recorte regional a regio Sul do pas. Esse captulo traz algumas reflexes preliminares para a efetivao da anlise. Por fim, necessrio enfatizar que os trabalhos foram acolhidos praticamente em sua forma original, evitando-se, sempre que possvel, as intervenes editoriais em questes estilsticas, de estrutura e na forma da argumentao. Desnecessrio lembrar que as qualidades e os mritos dos trabalhos so todos dos autores. Frederico A. Barbosa da Silva Lia Calabre

CAPTULO 1

CULTURA VIVA E O DIGITALFrederico A. Barbosa da Silva*

1 INTRODUO

O presente trabalho tem como objetivo argumentar a respeito da incluso digital tomando duas direes. Em primeiro lugar, o argumento se direciona a estabelecer rpida reflexo sobre o direito informao e a avaliar quantitativamente, com a ajuda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), a evoluo do fenmeno da incluso digital entre 2002 e 2008. A PNAD 2005 tambm contm um suplemento que permite descrever alguns padres e caractersticas socioeconmicas do acesso e da utilizao da internet. Nesse sentido, a efetividade do direito posta sob as lentes da interpretao. Depois, no segundo feixe de argumentos, discutir os significados, os conceitos e os limites implicados na ideia de incluso digital. Aponta-se que a ideia de cultura digital (ou cibercultura), se no completamente alternativa, complementar e mais abrangente do que a primeira. De qualquer forma, este conceito de cultura digital impreciso e carece de alguma configurao. Na verdade, o conceito de cultura digital permite desconfiar do otimismo tecnolgico presente na noo de incluso e, por consequncia, na utilidade geral do seu oposto, o conceito espelho de excluso digital. Esse otimismo panglossiano da incluso digital se baseia na ideia de que o desenvolvimento tecnolgico por si mesmo proporciona acesso igualitrio e, no caso da internet, estimularia relaes horizontais de comunicao. Ao contrrio, sem descuido do cultivo de um otimismo ctico ou moderado em relao s potencialidades do desenvolvimento tecnolgico, neste estudo a nfase recair nos elementos sociopolticos e econmicos que contextualizam os usos e as apropriaes das tecnologias da informao e da comunicao, doravante TICs. Enfim, incluso digital se refere ao acesso aos meios tecnolgicos (computador e internet) e cultura digital se refere aos usos sociais da internet, sua capacidade de interconectar cultural e socialmente um nmero significativo de pessoas, grupos e comunidades. Esse enfoque permitir desdobrar outra linha de argumentao. Nesta, interessa* Tcnico de Planejamento e Pesquisa e coordenador da rea de Cultura da Diretoria de Estudos e Polticas Sociais (Disoc) do Ipea e doutor em Sociologia pela Universidade de Braslia (UnB). E-mail: [email protected]

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

descrever e discutir o Programa Cultura, Educao e Cidadania Cultura Viva como conjunto de estratgias de cidadania cultural, potencializao e dinamizao de circuitos culturais locais, em que o digital um dos componentes centrais. Discutiremos, ento, as polticas culturais para o digital, centrando a anlise nos Pontos de Cultura. Para contextualizar as aes descreveremos de forma sucinta algumas das discusses realizadas em torno da ao Cultura Digital no seminrio Cultura Viva e Cultura Digital em 2009. O conceito de cultura digital recontextualiza vises extremamente crticas em relao ao desenvolvimento das tecnologias digitais e da internet. Essas apontam para o fato da criao de monoplios e concentraes de poder nos governos, grandes empresas de software e equipamentos de informtica, operadores de infraestrutura ou contedos de telecomunicaes. De fato, esses elementos esto presentes no desenvolvimento da inteligncia coletiva criada pela internet, mas no impedem a consolidao de lgicas da comunicao horizontalizada e da criatividade coletiva. Tambm se enfatiza desde agora que a internet e as tecnologias acopladas transformaram a organizao produtiva e a administrao pblica e privada, impactando o cotidiano e as sociabilidades, e mesmo que se reproduzam nos quadros das acumulaes do sistema econmico, abrindo caminho para novas concentraes de renda e riqueza, tambm redistribuem o uso do tempo livre e tm a potncia de ampliar um campo conversacional horizontalizado, permitindo novos modelos de articulao social, de ao poltica e de democratizao do poder. So inmeras as experincias de e-governo, mecanismos de transparncia pblica, controle de gastos, prego pblico, consultas via internet a respeito de temas variados, processos decisrios com apoio em tecnologias virtuais, debates, trocas de documentos e de arquivos de msica, criaes artsticas coletivas ou simplesmente de acesso a produes clssicas ou contemporneas, digitalizao e virtualizao de patrimnios culturais, tais como hemerotecas, acervos de fotos, filmes etc. Ou seja, a proposta deste estudo reconhecer os potenciais, mas admitir alguns de seus efeitos reais, com que as TICs contribuem na estruturao de novas desigualdades, produzem e reproduzem, para no entrar em longas discusses, excluses e tambm incluses, embaralhando a estrutura das desigualdades sociais. Lembremo-nos que afinal mesmo os excludos digitais vivem em mundo de tecnologias digitais e que os processos tecnolgicos nem sempre atingem o ncleo estrutural das atividades econmicas e das hierarquias sociais, revertendo sentidos e assimetrias. Qualquer poltica pblica de incluso deve necessariamente considerar esses aparentes trusmos. Deve ficar claro, entretanto, que, se a cultura digital tem na internet apenas um de seus componentes tcnicos e estruturais, no se pode resumir a ela a questo da democratizao, mas a reflexo deve-se direcionar ao conjunto de processos

Cultura Viva e o Digital

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culturais entre eles, um que se sobressai o do uso de softwares livres que permitem uso livre, programao aberta, criativa e coletiva. Alm desses aspectos tcnicos ligados interconexo existem outros componentes mais ligados dimenso cultural, que so as comunidades virtuais, e a inteligncia coletiva. Essas possibilitam o estabelecimento de relaes horizontais entre usurios ou atores sociais. A questo da cultura digital tambm no se resume aos processos socioeconmicos relacionados diretamente internet, mas aos dinamismos culturais que envolvem o conjunto das tecnologias digitais, pois h convergncia no campo da televiso, do rdio, da telefonia, da produo audiovisual etc. Por outro lado, para manter a proximidade do foco na questo neste estudo apresentada, necessrio demarcar que a internet instrumento de comunicao de massa e do e-business, mas deve-se lembrar que engloba estudantes, trabalhadores, pesquisadores, tambm movimentos sociais, organizaes no governamentais (ONGs) e administrao pblica, cujas necessidades de comunicao so diversas daquelas puramente comerciais. Ento, embora se reconhea a complexa relao entre usos comerciais e outros usos, o problema da autonomia social e de seu protagonismo cultural nos processos criativos da cultura digital deve ser enfatizado como ponto crtico das polticas culturais neste mbito. O objetivo do presente texto organizar informaes sobre o tema e discutir o grande desafio que o desenvolvimento de infraestrutura e conceitos adequados para dar conta dos potencias das tecnologias digitais, sobretudo em termos de ampliao dos direitos culturais e da democratizao social. No h dvida nesses primeiros anos do sculo XXI sobre a expanso do nmero de pessoas no Brasil no apenas com acesso a microcomputadores, mas tambm com acesso internet. Do mesmo modo, no h dvidas a respeito do setor no de se refere aos empregos gerados neste campo da comunicao e da tecnologia digital. Finalmente, h que se dizer que esse novo mundo tecnolgico no se restringe aos domiclios e ao uso pessoal, mas formao de extensos circuitos de comunicao de escala local e mundial que liga empresas privadas, pblicas e administraes polticas. Dessa maneira, defende-se aqui que se deve reconhecer todos os impactos positivos dos usos das novas tecnologias, especialmente na sua potncia em estabelecer interaes horizontais a uma s vez virtuais e reais e na ampliao da inteligncia coletiva, mas que seus aspectos negativos devem ser enfatizados e transformados em objeto de intensas reflexes.

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A simples universalizao deve ser perseguida, sem descuido de polticas de democratizao da produo e de distribuio de contedos. Com isso, afirma-se com o conceito de cultura digital que so necessrias polticas pblicas abrangentes de interconexo em rede do maior nmero de pessoas e de polticas estruturantes capazes de potencializar o uso das tecnologias no sentido do desenvolvimento da inteligncia coletiva. Parte mnima desses diferentes usos e potencialidades da internet pode ser dimensionada com as discusses e as informaes que se seguem; sero necessrios estudos que aprofundem essas questes.2 INTERNET E CULTURA DIGITAL

O uso da internet tem-se popularizado e ao mesmo tempo a rede proclamada como instrumento de integrao econmica, comunicacional e cultural. Dadas suas caractersticas de descentralizao, de ampla possibilidade e liberdade de trocas horizontais, a internet apresentada em seus potenciais de democratizao da informao e da cultura e, em certo sentido, atribui-se a ela charme contra-hegemnico. Pode-se afirmar que a sociedade informacional estabeleceu novas relaes entre processos de comunicao social e tecnologia ao liberalizar a palavra e construir esfera mundial de conversao, em especial por meio de blogs, podcastings, softwares sociais e outros sistemas de redes. Todavia, os dinamismos tcnico-econmicos da internet apresentam as caractersticas e as contradies dos processos tpicos do sistema capitalista. Seu potencial emancipador revela-se empiricamente contraditrio. De um lado, dinamiza os mercados e potencializa possibilidades econmicas, tornando a internet, as telecomunicaes e a informtica, com as quais a primeira est articulada, peas de engrenagens comandadas por atores hegemnicos e por grupos economicamente poderosos. Por outro lado, a internet abre potenciais de articulao poltica e social entre os grupos da periferia dos mercados. No se exclui aqui a necessidade de entendimento das complexas articulaes entre os dois universos, mas chama-se ateno para a configurao de situaes que, se no escapam totalmente aos mercados mais estruturados e dinmicos, no podem tambm ser reduzidas totalmente a estes. Bolao destaca para esse paradoxo:() o aspecto mais interessante da internet o seu carter potencialmente democratizador da informao e promotor de uma comunicao horizontalizada, articuladora da sociedade civil, de forma mais independente e relativamente no transparente aos poderes do Estado e do capital (BOLAO et al., 2006).

Cultura Viva e o Digital

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E, em seguida, pondera que:() no devemos nos iludir com relao a esse potencial, pois assimetrias so estruturalmente constitutivas da rede, garantindo a existncia de uma complexa hierarquia em que predominam aqueles (indivduos e, sobretudo organizaes) que detm maior capital econmico e simblico (BOLAO et al., 2006).

Deve-se ainda apontar que essas contradies deixam espaos para aes autnomas e para usos da tecnologia que se concentrem em projetos polticos e sociais alternativos. H ainda outro ponto que essencial na discusso do acesso s tecnologias de comunicao. Este ponto o papel das polticas pblicas e do Estado no desenvolvimento da infraestrutura de comunicao e na regulao das condies para a universalizao do acesso e dos usos potenciais dessas novas tecnologias, dadas suas caractersticas e a lgica da qual fazem parte (HERSCOVICI apud BOLAO et al., 2006). Essas questes no sero abordadas neste estudo, ou melhor, apenas o sero indiretamente, na medida em que possvel perceber parte desses fenmenos que se ligam segmentao de mercados e excluso nos indicadores de acesso, nos comportamentos e nos usos sociais que so dados internet. O desenvolvimento histrico da internet no teve na lgica comercial seu ponto de partida, mas caminhou nessa direo. As possibilidades comerciais foram-se impondo ao processo de reorganizao capitalista da dcada de 1990, mas a perspectiva de ampliao das trocas simblicas, de pensamento e lingusticas permaneceram, estando ainda presentes na expanso da internet nas dcadas seguintes. A figura 1 apresenta os modelos histricos, as linhas gerais dos sistemas de telecomunicaes e as caractersticas mais relevantes paradigmas comunicacionais, modelo de financiamento, relao com usurio e relao com fornecedores de softwares, equipamentos e produo de contedos. No objetivo no contexto deste trabalho desenvolver a descrio do diagrama apresentado na figura 1, e, para tal remetemos a Bolao (2006), de quem se emprestou o esquema. O diagrama serve aqui a propsitos mais restritos: em primeiro lugar, mostra a posio das TICs no quadro das indstrias culturais e, em segundo, mostra a complexidade de modelos, relaes econmicas, interesses e usos possveis da internet. Por fim, permite demonstrar de forma sinttica a estrutura de relaes econmicas que, em certo sentido, gera a dependncia do usurio em relao aos processos de produo intelectual (programas e softwares), equipamentos e servios.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

Na verdade, o diagrama oferece moldura interpretativa para explorar os significados de alguns dados que sero em seguida apresentados. Sem aprofundar a questo, as lgicas de fundo so articuladas por comunicao de massa, interpessoal e acesso a bancos de dados.FIGURA 1Indstrias da comunicao modelos histricos e setores vinculadosEconomia das telecomunicaes

Telecomunicaes: modelos histricos Economia da educao e da cultura Radiodifuso

Setores de produo de contedos vinculados

Interface com o usurio

Paradigma comunicacional

Modelos de financiamento Publicidade Oramento pblico Imposto

Indstrias culturais

Rdio/TV

Comunicao de massa

Telefonia vocal Economia da informao Transmisso de dados Gestores de bancos de dados

Telefone

Comunicao interpessoal Interao homem mquina/ acesso a banco de dados

Tarifao

Computador

Venda da informaomercadoria

Setores fornecedores de softwares e equipamentos

Indstria de equipamentos de rede

Indstria de software de rede

Equipamentos de produo ou De gesto de bancos de dados

Softwares de produo ou De gesto de bancos de dados

Indstria eletroeletrnica de equipamentos de interface

Base tecnolgica atual

Microeletrnica Informtica Ncleo da 1a fase da 3a Revoluo Industrial Setores de biotecnologia Ncleo da 2a fase da 3a Revoluo Industrial

Fonte: Bolao (2006).

Vale ressaltar um pargrafo de Bolao a respeito do diagrama:() a parte intermediria do esquema representa os setores fornecedores de softwares e equipamentos de rede, de produo de contedos nas diferentes indstrias culturais, de gesto de bancos de dados e de equipamentos para o usurio final. Neste ltimo caso, trata-se de uma parte da indstria eletro-eletrnica, que inclui tambm, especificamente, a produo de equipamentos de som e de vdeo, no representados no esquema, mas que devem ser levados em considerao na anlise porque so importantes na relao do usurio com a indstria cultural no seu conjunto, enquanto sistema (BOLAO, 2006, p. 68).

Acrescente-se que a importncia dessa parte intermediria da indstria tambm se refere dependncia que provoca entre usurios institucionais ou no , dado o arranjo tecnolgico e a legislao de propriedade intelectual e de autor. Seja como for, e mais uma vez remetemos ao aprofundamento de questes histricas e interpretativas em outros trabalhos (LVY, 1993, 1996, 1999;

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LVY; LEMOS, 2010), deve-se assinalar que o significado social da informtica foi profundamente transformado com movimentos sociais na dcada de 1970 que pretenderam oferecer acesso tcnica e suas possibilidades aos indivduos, aspirao posteriormente apropriada pela indstria. A informtica pessoal no era prevista por governos ou empresas, mas foram os movimentos sociais que preconizaram sua reapropriao individual em contradio com seu monoplio por grandes burocracias pblicas e privadas. O movimento se desdobrou no fim dos anos 1980 com a construo da internet como espao de encontro, compartilhamento e criatividade coletiva interconexo entre servidores de informao , aprofundada depois na dcada de 1990 com a criao da web com a interconexo entre documentos textuais, de imagens e sonoros. Portanto, o papel dos movimentos sociais e da sociedade civil foi central na construo da internet como parte de opes coletivas e culturais. A internet exemplo de construo cooperativa internacional, expresso de um movimento amplo alimentado por centenas de iniciativas dispersas, individuais, locais, redes de empresas, associaes, universidades, iniciativas estatais, articuladas e articuladoras de mdias tradicionais, como jornais, televises, bibliotecas, museus etc. O espao construdo (ciberespao) permite prticas de comunicao interativa, recproca, comunitria e intercomunitria. Esse horizonte cultural vivo, heterogneo e intotalizvel, embora admita o desenvolvimento de uma tica do respeito e do reconhecimento. Como afirma Lvy,() qualquer tentativa para reduzir o novo dispositivo de comunicao s formas miditicas anteriores (esquema um todos de um centro emissor em direo a uma periferia receptora) s pode empobrecer o alcance do ciberespao, mesmo se compreendemos perfeitamente os interesses econmicos e polticos em jogo (1999, p. 126).

Portanto, a interconexo sempre prefervel ao isolamento est na origem da cultura digital e implica que cada computador do planeta ou outras tecnologias, como torradeira e automvel, para ficar em exemplos de Lvy , poderia estar conectado em rede de cabos ou sem fio. Entretanto, a interconexo uma das peas do quebra-cabea; as outras duas so a criao de comunidades virtuais e a inteligncia coletiva. Ambas prolongam a primeira, j que dependem da interconexo. As comunidades virtuais so criadas a partir das afinidades de interesses comuns, projetos, trocas, tudo isso independentemente de proximidades geogrficas e posies sociais e institucionais. Deve-se dizer que essas comunidades so reais e as interaes na rede so em muitos casos desdobradas em laos sociais presencias. A inteligncia coletiva o ideal de coletivo mais imaginativo e criativo, refere-se capacidade de aprender e inventar de forma mais rpida e intensa a

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

partir das interaes e de patrimnio de questes e respostas desenvolvidas de forma compartilhada. A internet e o ciberespao so elementos tcnicos; as comunidades virtuais so manifestaes concretas dos processos criativos e, logicamente, realizam-se em funo de diferentes interesses e intenes, sejam estes econmicos, de entretenimento, srios sejam frvolos, mas apresentam-se como condio do desenvolvimento de inteligncia coletiva. Seja como for, os trs aspectos, interconexo, comunidades virtuais e inteligncia coletiva, podem ser pensados como desdobramento dos valores mais tradicionais do iluminismo, da autonomia e da abertura para a alteridade (LVY, 1999, p. 132).Cada um dos trs aspectos constitui a condio necessria para isto: no h comunidade virtual sem interconexo, no h inteligncia coletiva em grande escala sem virtualizao ou desterritorializao das comunidades no ciberespao. A interconexo condiciona a comunidade virtual, que uma inteligncia coletiva em potencial (LVY, 1999, p. 133).

Finalmente, a cultura digital no uma infraestrutura tcnica particular das comunicaes. A cultura digital refere-se a tipos particulares de ligaes entre pessoas. Como se viu, a internet tem dimenso econmica insofismvel. Embora a preocupao aqui no seja dar nfase excessiva a esse componente, deve-se lembrar que a internet nasce pblica e atinge a maturidade sendo objeto de desejo de inumerveis empresas das indstrias culturais, que procuram aproveitar seus potenciais, menos com o sentido de ampliao da esfera pblica de conversao e muito mais relacionado-a, isto , a internet, aos desejos de ganho comercial e de trocas econmicas. As duas alternativas convivem como potenciais ou, como o termo indica como alternativas virtuais. Nesse quadro, evidentemente, o sonho de ampliao da democracia cultural tem duplo aspecto: de um lado, expanso do acesso a equipamentos digitais na lgica dos mercados e, de outro, a ampla ao do Estado para contrabalanar o jogo do mercado, conferindo aos cidados meios para o exerccio dos direitos culturais, ou seja, o mais amplo acesso produo e aos meios da criatividade cultural, inclusive aos instrumentos tecnolgicos que permitam o desfrute de parte do potencial disponibilizado pelo mundo digital. Nesse sentido, as aes do Estado por meio de polticas pblicas so um instrumento de fundamental importncia. No campo das polticas culturais, vale destacar um programa do Ministrio da Cultura (MinC) atuante nessa direo, o Programa Cultura Viva, que desenvolve ao denominada ao Cultura Digital.

Cultura Viva e o Digital

21

3 OS INTERCONECTADOS: INCLUSO DIGITAL NO BRASIL ENTRE 2002 E 2008

Embora se reconhea que o simples levantamento de aspectos quantitativos no permite tratar a contento a complexidade poltica e econmica da questo envolvida na democratizao das TICs e dos usos conferidos socialmente s tecnologias digitais, sem dvida a apresentao organizada desses dados constitui-se em bom ponto de partida, pois viabiliza contextualizar e delimitar aspectos importantes do problema de forma sinttica e objetiva. Esses dados indicam o nmero e quais pessoas, por perfil de renda e por localizao geogrfica, tm acesso aos microcomputadores e internet domiciliares. A excluso digital tem fortes relaes com o perfil socioeconmico da populao brasileira e reproduz grande parte dos fenmenos da excluso e das desigualdades sociais. A tabela 1 apresenta dados agregados e panormicos sobre a evoluo da incluso no Brasil entre 2002 e 2008.TABELA 1Percentual, nmero e renda mdia das pessoas com posse de microcomputadores e acesso internet incluso digital no Brasil, 2002-2008Categorias Microcomputador (%) N de pessoaso

2002 No tem 86,32 146.673.388 332,81 90,22 153.289.778 355,94 65,81 111.817.239 266,41 Tem 13,68 23.242.155 1.473,19 9,78 16.625.765 1.704,09 34,19 58.098.304 865,91 No tem 68,35 125.833.369 352,14 76,08 140.061.097 378,10 22,24 40.946.670 287,79 27,34 50.333.844 342,17

2008 Tem 31,65 58.265.560 1.103,48 23,92 44.037.832 1.264,77 77,76 143.152.259 658,17 72,66 133.765.085 668,71

Renda mdia Internet (%) N de pessoaso

Renda mdia Celular (%) No de pessoas Renda mdia DVD (%) No de pessoas Renda mdia

Fonte: Microdados da PNAD/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Elaborao: Disoc/Ipea. Obs.: Valores de setembro de 2008, ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC) mdio.

Os dados mostram ampliao acentuada da posse de computadores entre os dois anos. Em 2002, 146,6 milhes de pessoas (86,32%) no tinham microcomputador, nmero que cai em 2008 para 125,8 milhes (68,35%). Portanto, o percentual de pessoas que tinham computador no Brasil salta de 13% para 31,6%.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

Interessante notar que a renda mdia dos que no tinham microcomputador em 2002 era de R$ 332,80 e em 2008 era de R$ 352,14. Se a comparao da renda entre os dois anos recai sobre os que tm computador, observa-se que a renda de R$ 1.473,19 em 2002 e cai para R$ 1.103,19, em 2008. Essa diferena que percentualmente de quase 25% indica incluso de pessoas com menor renda no grupo dos que tm computador em casa. De qualquer forma, a renda dos includos maior. Algo similar acontece com o acesso internet, que sofre um processo de expanso acelerada nos domiclios brasileiros. O nmero de pessoas que tinham internet de 16,6 milhes em 2002 salta para 44 milhes, em 2008, uma incluso de 27,4 milhes. A relao entre os que tinham internet e computador era da ordem de 28% em 2002 e sobe para 24% em 2008, ou seja, a relao entre computador e internet simbitica tendo-se um provavelmente tem-se o outro , desde que os recursos para compra de pacotes da internet sejam suficientes, o que, pelos dados, nem sempre real. Os processos de posse de computador e de acesso internet caminham em linhas prximas, mas diferentes. Como as convergncias digitais transformam diferentes suportes e dispnhamos de informaes de acesso a certos bens durveis, relacionados s comunicaes e afetados pelos novos processos tecnolgicos, construmos a tabela que se segue com informaes a respeito de posse de celulares e DVDs. Deve-se lembrar que essas tecnologias oferecem diferentes recursos de comunicao, interconectividade e formas de interface com o usurio, o que pode implicar preos e diferentes possibilidades de acesso, a depender da renda disponvel. Na tabela 2, apresenta-se o percentual de pessoas que tm computador, internet, celular e DVD, ano a ano, desde 2002 at 2008, por estado da Federao, permitindo ver os diferentes dinamismos socioeconmicos em cada estado ou regio brasileira. Em quase todos os estados, observou-se aumento do nmero de pessoas com posse de computador e acesso internet. Deve-se enfatizar que o percentual de incluso e o ritmo desse processo diferenciado de estado para estado; certamente esto relacionados ao porte das economias e do desenvolvimento econmico de cada um das regies da Federao. Destaquem-se as diferenas regionais de acesso internet apresentadas na tabela 2, mostrando que nos estados das regies Norte e Nordeste brasileiras a cobertura ou o acesso internet aumenta no perodo, mas os resultados ainda no alcanam a mdia brasileira (31,6%). Nas regies Sudeste e Sul, as taxas de cobertura tambm so altas e puxam a mdia nacional para cima. No Centro-oeste, vale destacar o padro absolutamente diferenciado do Distrito Federal, que apresenta os melhores ndices do pas, com 56% da populao com acesso domiciliar ao microcomputador e 46% com acesso internet.

Cultura Viva e o Digital

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TABELA 2(Em %)Categorias Brasil Microcomputador Internet Celular DVD Rondnia Microcomputador Internet Celular DVD Acre Microcomputador Internet Celular DVD Amazonas Microcomputador Internet Celular DVD Roraima Microcomputador Internet Celular DVD Par Microcomputador Internet Celular DVD Amap Microcomputador Internet Celular

Pessoas com posse de microcomputadores, acesso internet, celulares e DVDs incluso digital no Brasil por estados, 2002-2008

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

13,68 9,78 34,19

14,71 10,82 38,30

15,69 11,52 47,90

18,10 13,19 60,49

21,68 16,31 64,92

26,52 19,78 69,12

31,65 23,92 77,76 72,66

9,23 5,33 28,48

9,30 6,77 40,63

8,19 5,26 44,96

7,70 4,95 54,16

12,59 9,15 59,78

18,65 13,23 61,99

21,17 15,28 71,47 66,41

6,74 3,84 31,60

9,62 7,80 37,49

6,23 4,40 39,28

9,34 5,76 53,64

11,70 8,61 63,50

19,54 13,62 64,82

21,68 15,96 76,91 65,30

8,99 4,95 38,57

8,10 4,75 39,53

7,33 4,40 38,36

8,86 4,83 43,74

10,93 7,07 51,51

15,92 8,19 62,33

20,81 11,20 69,05 73,86

6,54 4,85 27,44

9,20 6,19 40,82

6,42 4,61 34,17

9,24 4,73 48,11

10,67 7,03 57,10

18,49 11,25 62,14

19,92 14,21 70,61 68,69

6,54 4,45 27,69

6,03 3,76 32,71

5,40 3,04 34,49

6,97 3,40 46,71

8,14 4,26 54,40

10,55 5,90 56,14

14,60 7,82 70,40 66,35

7,54 4,46 34,32

6,91 3,67 37,05

8,83 4,50 52,46

12,42 7,42 57,75

10,78 4,84 66,47

14,52 9,21 68,10

17,05 9,02 69,98 (Continua)

24 (Continuao) Categorias DVD Tocantins Microcomputador Internet Celular DVD Maranho Microcomputador Internet Celular DVD Piau Microcomputador Internet Celular DVD Cear Microcomputador Internet Celular DVD Rio Grande do Norte Microcomputador Internet Celular DVD Paraba Microcomputador Internet Celular DVD Pernambuco Microcomputador Internet Celular 6,50 4,75 28,29 6,27 4,41 21,30 7,19 5,87 24,23 5,58 3,82 19,23 4,44 3,04 13,05 2,95 2,01 13,23 5,22 2,34 15,38 2002

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

2003

2004

2005

2006

2007

2008 73,17

5,06 2,54 19,56

6,13 3,72 30,51

7,87 4,72 48,11

10,28 5,98 58,14

13,08 8,25 62,07

16,13 11,59 68,14 58,13

3,52 2,76 18,03

3,80 2,65 24,27

3,60 1,68 28,34

6,13 4,22 34,24

7,77 5,23 39,79

10,72 7,25 49,48 60,10

3,44 2,86 15,40

5,07 3,94 21,39

5,69 4,28 31,81

6,67 4,51 37,36

9,73 6,83 45,31

12,17 8,33 55,27 58,53

5,81 3,93 22,71

6,09 4,03 31,85

7,18 4,58 45,95

8,60 6,19 51,52

10,67 7,55 58,11

14,63 10,71 70,19 65,01

7,65 5,34 29,52

8,07 6,13 39,16

9,72 7,14 57,10

11,08 7,78 61,39

16,03 11,28 66,86

19,99 13,38 75,17 76,80

6,60 4,27 24,66

6,50 5,18 33,78

9,18 6,87 49,75

10,90 7,19 55,73

11,80 8,67 62,39

15,30 11,73 73,39 75,62

6,59 4,62 31,25

7,58 5,42 37,83

8,72 6,13 54,96

10,11 7,55 59,75

12,88 9,22 62,61

16,33 11,74 72,68 (Continua)

Cultura Viva e o Digital(Continuao) Categorias DVD Alagoas Microcomputador Internet Celular DVD Sergipe Microcomputador Internet Celular DVD Bahia Microcomputador Internet Celular DVD Minas Gerais Microcomputador Internet Celular DVD Esprito Santo Microcomputador Internet Celular DVD Rio de Janeiro Microcomputador Internet Celular DVD So Paulo Microcomputador Internet Celular 23,22 17,52 40,52 24,94 18,98 45,04 25,95 19,86 56,47 29,54 23,04 69,37 33,85 27,26 72,75 41,39 32,59 77,15 46,54 36,60 84,93 18,42 13,60 51,17 20,57 15,66 52,39 22,37 16,96 61,21 25,98 19,57 73,26 31,28 24,87 73,74 36,14 29,10 75,99 43,20 34,90 83,93 78,30 13,16 9,65 33,57 14,67 11,41 38,15 17,22 12,43 50,05 19,61 14,50 63,15 22,34 16,68 69,28 28,98 22,04 76,90 34,80 27,71 82,64 77,19 12,47 8,19 31,17 12,90 8,40 35,73 14,89 10,09 47,55 17,12 11,45 60,44 21,83 15,44 66,36 27,23 19,51 69,19 33,02 24,32 79,78 71,86 5,56 4,13 17,82 5,85 4,14 19,09 6,84 4,82 25,51 8,33 5,62 36,79 10,27 7,19 42,32 13,52 9,95 50,43 17,37 13,59 61,03 63,78 6,50 4,43 26,63 8,62 6,07 30,40 8,38 6,13 40,64 9,93 6,27 57,38 13,32 9,35 60,88 17,11 12,40 75,14 23,30 16,19 82,99 78,54 3,99 3,26 19,66 4,93 3,86 19,98 4,82 3,88 26,72 5,45 3,85 39,42 8,21 5,67 44,70 9,23 6,35 55,87 12,39 9,22 60,63 68,22 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 73,58

25

(Continua)

26 (Continuao) Categorias DVD Paran Microcomputador Internet Celular DVD Santa Catarina Microcomputador Internet Celular DVD Rio Grande do Sul Microcomputador Internet Celular DVD Mato Grosso do Sul Microcomputador Internet Celular DVD Mato Grosso Microcomputador Internet Celular DVD Gois Microcomputador Internet Celular DVD Distrito Federal Microcomputador Internet Celular DVD 27,55 21,62 62,23 Fonte: Microdados da PNAD/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea. 9,01 6,10 36,85 10,01 6,62 35,66 12,24 8,45 41,64 15,49 10,27 53,88 18,60 12,13 38,23 16,82 11,25 34,67 2002

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

2003

2004

2005

2006

2007

2008 80,18

18,34 13,67 39,57

21,51 15,83 52,43

23,86 17,97 65,78

29,19 21,26 72,65

36,19 26,19 77,86

42,67 32,10 83,37 72,88

20,38 15,19 43,54

22,79 16,32 58,63

27,50 20,55 73,43

34,68 26,40 76,00

39,30 29,13 77,59

46,19 35,72 84,66 76,03

17,35 11,96 61,34

18,71 13,57 72,22

21,71 14,83 83,83

26,51 19,36 85,37

31,05 21,68 85,10

37,16 25,98 90,32 70,65

12,25 9,67 44,27

12,91 9,02 62,07

15,76 11,13 77,61

19,19 13,88 82,27

23,86 16,61 83,74

28,34 20,35 88,88 64,12

10,08 8,06 38,78

9,88 6,84 49,10

13,06 8,65 62,67

14,70 9,67 65,42

18,30 12,42 64,16

27,57 21,85 78,52 63,90

10,54 7,48 45,18

11,64 7,77 58,10

12,67 8,24 70,94

16,51 10,79 75,55

21,63 15,09 78,19

27,29 18,78 85,61 72,50

29,42 24,09 70,22

33,36 26,73 81,34

36,52 28,31 89,00

42,15 31,78 90,54

49,38 38,96 92,07

55,06 45,48 94,76 84,83

Cultura Viva e o Digital

27

A tabela 3 apresenta a relao entre posse de computadores e acesso internet e renda. Divide a populao em dois grupos de renda, isto , entre os 1% mais ricos e os 50% com menor renda (mais pobres). Entre os mais ricos de 2002, 76% (ou 1,2 milho pessoas que moravam em domiclios com renda mdia de R$ 6.411,55) possuam microcomputador e 70,6% tinham acesso internet. Esse nmero evolui para 87,3% e 83% em 2008. Em termos absolutos, sem considerar efeitos de composio, o aumento de pessoas desse grupo e com acesso ao microcomputador domstico e internet aumentou em aproximadamente 326 mil pessoas. J entre o grupo dos 50% mais pobres, ou seja, com renda domiciliar de R$ 127,40 em 2002, 98,5% no tinham microcomputador em casa e 99,4% no tinham internet, o que corresponde a mais ou menos 83,6 milhes de pessoas. Enquanto em 2002 1,5% tinha microcomputador em casa e 0,6% tinha internet, em 2008 a cobertura aumentou para 12,3% e 6,8%, respectivamente. Os dados so eloquentes em relao ao aumento do acesso a celulares apenas 16% dos 50% mais pobres possuam celulares em 2002, percentual que sobe para 64,5% em 2008. Tambm acessvel o DVD, presente em 64,5% dos domiclios. Entre os 1% mais ricos, ambos os recursos so praticamente universalizados.TABELA 3Percentual, nmero e renda mdia das pessoas com posse de microcomputadores, acesso internet, celulares e DVDs incluso digital no Brasil por rendimento (1% mais rico e 50% mais pobres) 2002-2008Categorias 2002 No tem Tem 1% mais ricos Microcomputador (%) No de pessoas Renda mdia Internet (%) N de pessoaso

2008 No tem Tem

23,98 407.527 6.745,79 29,37 499.159 6.632,64 9,22 156.763 6.216,54

76,02 1.291.929 6.411,55 70,63 1.200.297 6.432,64 90,78 1.542.693 6.517,82

12,11 222.900 7.175,55 16,90 311.192 7.108,94 2,84 52.330 7.130,87 5,90 108.689 6.956,54

87,89 1.618.108 7.102,98 83,10 1.529.816 7.111,98 97,16 1.788.678 7.110,93 94,10 1.732.319 7.120,75 (Continua)

Renda mdia Celular (%) No de pessoas Renda mdia DVD (%) No de pessoas Renda mdia

28 (Continuao) Categorias

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

2002 No tem Tem No tem 50% mais pobres

2008 Tem

Microcomputador (%) No de pessoas Renda mdia Internet (%) N de pessoaso

98,48 83.667.101 127,49 99,35 84.405.344 127,81 83,96 71.330.834 122,18

1,52 1.290.506 162,55 0,65 552.263 159,82 16,04 13.626.773 154,80

87,71 80.735.647 174,04 93,19 85.780.298 176,90 31,73 29.206.286 148,81 35,46 32.640.976 160,18

12,29 11.313.635 232,04 6,81 6.268.984 238,31 68,27 62.842.996 194,33 64,54 59.408.306 191,88

Renda mdia Celular (%) No de pessoas Renda mdia DVD (%) No de pessoas Renda mdia

Fonte: Microdados da PNAD 2005/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea.

Em termos absolutos, a expanso da cobertura impressionante. Para acesso aos microcomputadores, esse nmero de quase 10 milhes e, para internet, de 5 milhes. Esses dados por si so ilustrativos do processo de expanso do acesso ao computador e internet no Brasil. Para efeito de diagnstico, igualmente relevantes so os nmeros extremos. Por um lado, tm-se 80,7 milhes de excludos do acesso a microcomputador e 85,7 milhes sem internet domiciliar. Por outro lado, como j se viu, aparece a incrvel expanso da cobertura, tendncia que deve ser ressaltada. No entanto, outros so os mecanismos de acesso ao mundo do microcomputador e da internet em termos absolutos. Este o tema da prxima seo. A tabela 4 mostra que 20,9% da populao acessou a internet nos ltimos trs meses (PNAD 2005). Sudeste, Sul e Centro-Oeste apresentaram mdias de acesso maiores que a do Brasil. O Distrito Federal apresentou o maior percentual de pessoas com acesso (41%), enquanto Alagoas teve o menor percentual (7,57%). Quando se tomam as regies metropolitanas, v-se o maior acesso em Curitiba (34,7%), seguida por So Paulo (33,8%).

Cultura Viva e o Digital

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TABELA 4(Em %)

Pessoas que acessaram a internet nos ltimos trs meses 2005Categorias Grandes regies Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Unidades da Federao Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal 13,84 14,16 10,89 13,59 10,75 20,29 14,33 7,73 10,39 12,92 12,89 12,37 13,58 7,57 12,57 12,99 18,79 23,70 26,53 29,87 25,83 29,37 23,19 22,55 18,33 18,86 41,14 (Continua) 20,94 12,02 11,94 26,21 25,54 23,41 Pessoas com acesso internet

30 (Continuao) Categorias Regies metropolitanas Belm Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Rio de Janeiro So Paulo Curitiba Porto Alegre Renda domiciliar per capita At SM De a 1 SM De 1 a 3 SMs De 3 a 4 SMs De 4 a 5 SMs 5 SMs ou mais Sexo Masculino Feminino Raa/cor Branca Negra Posio na ocupao Empregado com carteira de trabalho assinada Militar Funcionrio pblico estatutrio

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

Pessoas com acesso internet

19,20 21,78 21,65 26,35 27,85 27,87 33,87 34,76 30,53

4,73 11,47 26,95 51,5 58,74 68,68

21,89 20,06

28,2 13,26

34,40 61,22 46,95 21,66 3,68 4,15 12,03 40,54 1,44 12,37 9,08

Outro empregado sem carteira de trabalho assinada Trabalhador domstico com carteira de trabalho assinada Trabalhador domstico sem carteira de trabalho assinada Conta prpria Empregador Trabalhador na produo para o prprio consumo Trabalhador na construo para o prprio uso No remunerado Condio de ocupao Ocupadas Desocupadas

22,82 26,73 (Continua)

Cultura Viva e o Digital(Continuao) Categorias Faixa de horas trabalhadas por semana At 14 horas 15 a 39 horas 40 a 44 horas 45 a 48 horas 49 horas ou mais Condio de estudo Estuda No estuda Faixa etria 10 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais Fonte: Microdados da PNAD 2005/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea. 27,92 31,50 27,04 19,46 7,31 35,73 15,90 11,58 20,94 30,51 18,28 19,51 Pessoas com acesso internet

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Os grupos de renda mais alta desfrutam de maior percentual de acesso. Entre os que ganham mais de cinco salrios mnimos (SMs), 68,6% haviam acessado a internet nos ltimos trs meses, percentual que fica em 4,7% entre aqueles com at meio SM. A questo de gnero no afeta muito o acesso, mas os negros tm acesso muito menor do que os brancos (13,2% contra 28,2%). Quanto posio na ocupao, 61% dos militares, 46,9% dos funcionrios pblicos e 40,5% dos empregadores fizeram acesso nos ltimos trs meses. Trinta vrgula cinco por cento dos internautas usam a internet entre 40 e 44 horas semanais, 18,2% entre 45 e 48 horas e 19,5% mais de 49 horas. Ou seja, a internet se constitui em parte importante no uso do tempo, inclusive tendo grande acesso entre estudantes (35,7%), desocupados (26,7%) e jovens de 18 a 24 anos (31,5%).4 PARTICIPANTES DA COMUNIDADE VIRTUAL NO BRASIL

As formas de acesso, as condies socioeconmicas e a presena ou no de recursos pblicos e sociais condicionam o acesso ao mundo da internet. A tabela 4 apresenta uma srie de informaes sobre o acesso internet. Sero interpretadas as informaes em grandes linhas; fica o convite ao leitor para explorar os dados em seus desdobramentos regionais, em cada estado e em outras variantes que lhe sejam interessantes. Chama ateno, em primeiro lugar, que 49,9% dos brasileiros que o fizeram nos ltimos trs meses (PNAD 2005) tm acesso internet em casa e 31,1%

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

adicionais recorrem ao uso em outros domiclios. As variaes no acesso entre as regies e os estados da Federao decorrem de diferentes qualidades e caractersticas sociais, econmicas e sociais, que no podem ser desprezadas. No lugar aqui para acentuar as conhecidas desigualdades e os nveis de desenvolvimento social e econmico presentes no territrio nacional. Ao se tomar o uso da internet em outros domiclios como foco de anlise, v-se que esta se torna importante opo para a populao de menores rendimentos. Entre as pessoas dos domiclios de at meio SM, apenas 9,2% acessam a internet em casa e 30,9% o fazem em outros domiclios. Outro exemplo, agora relacionado posio na ocupao, pode ser dado pelos trabalhadores domsticos sem carteira. Entre esses, apenas 19% acessam a internet no prprio domiclio e 33% acessam em outro. J 60% dos trabalhadores por conta prpria acessam a internet em casa. Entre as pessoas sem ocupao, 41% acessam internet em casa e 41,6%, em outro domiclio. Entre as que estudam, 46,5% acessam no domiclio e 37,9%, em outro domiclio. Interessante, no entanto, que as opes no se resumem a essas duas possibilidades. H a possibilidade de acesso internet no trabalho, quando a opo relevante para empregado com carteira (70,8%), militares (72%), estatutrio (71%), empregador (71%) e assim por diante.TABELA 5(Em %)Categorias Domiclio Trabalho Estabelecimento de Ensino Grandes regies Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 49,9 28,7 34,7 55,7 52,9 45,2 39,7 37,4 35,9 39,3 42,6 43,9 25,7 27,1 27,1 23,7 29,6 26,5 Unidades da Federao Rondnia Acre Amazonas 31,3 34,8 33,5 41,9 45,2 33,3 20,8 19,3 27,8 10,2 10,6 9,8 29,5 24,9 43,0 35,3 33,3 27,5 (Continua) 10,0 10,9 9,6 9,8 9,8 12,1 21,9 38,1 33,1 19,7 14,6 23,3 31,1 28,4 31,5 30,7 32,8 30,1 Centro pblico de acesso gratuito Centro pblico de acesso pago Outro domiclio

Pessoas que utilizam a internet, segundo categorias selecionadas, por local de acesso 2005

Cultura Viva e o Digital(Continuao) Categorias Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal Domiclio 28,5 25,9 28,0 25,6 17,9 29,8 28,0 42,6 44,5 38,2 46,6 36,7 35,6 45,2 49,4 56,3 59,0 53,8 53,7 51,4 41,0 41,1 35,6 60,0 Trabalho 34,1 36,7 33,1 42,2 36,8 32,9 33,4 36,8 37,3 36,2 43,0 39,8 35,5 41,4 39,6 37,5 39,4 41,8 43,3 43,1 39,2 47,2 41,0 47,7 Estabelecimento de Ensino 19,9 28,1 26,4 35,0 29,0 24,1 30,4 24,0 24,3 25,6 29,3 27,5 27,3 25,8 28,3 20,0 24,1 27,8 31,8 29,9 31,2 28,1 27,5 22,0 Regies metropolitanas Belm Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Rio de Janeiro So Paulo Curitiba Porto Alegre 33,1 35,1 45,9 43,6 56,2 58,5 60,8 58,3 59,1 38,1 34,1 39,4 38,1 46,7 38,3 41,4 44,4 48,1 27,4 30,3 25,6 25,8 24,2 18,8 23,2 28,5 27,3 9,8 6,2 9,3 9,5 7,4 11,6 11,6 12,7 10,5 38,5 41,5 21,1 30,5 18,3 20,8 20,8 16,5 14,1 30,6 28,1 33,4 34,9 33,1 35,0 28,9 31,2 32,7 Centro pblico de acesso gratuito 5,1 11,8 7,7 14,0 7,6 10,0 8,2 6,7 9,4 8,1 7,8 10,8 12,5 8,3 5,2 11,5 10,0 10,5 10,3 8,7 9,4 12,6 9,2 16,2 Centro pblico de acesso pago 31,6 39,7 54,8 30,4 39,9 34,1 40,5 23,7 25,5 28,3 21,5 25,1 36,3 19,6 15,6 20,3 19,8 19,2 11,3 12,0 28,3 22,1 26,4 17,8 Outro domiclio 23,9 27,4 25,1 26,7 29,2 30,8 25,8 31,9 36,5 31,9 35,8 31,9 33,2 33,1 30,4 34,2 28,8 32,5 34,4 32,1 25,6 26,9 28,5 36,1

33

(Continua)

34 (Continuao) Categorias Domiclio

Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

Trabalho

Estabelecimento de Ensino

Centro pblico de acesso gratuito

Centro pblico de acesso pago

Outro domiclio

Renda domiciliar per capita At SM De a 1 SM De 1 a 3 SMs De 3 a 4 SMs De 4 a 5 SMs 5 SMs ou mais 9,2 18,2 46,0 67,5 71,8 80,4 11,6 23,8 38,2 46,9 50,3 57,4 42,5 35,0 24,2 21,9 23,4 19,4 Sexo Masculino Feminino 50,3 49,5 43,5 35,8 23,6 27,8 Raa/cor Branca Negra 56,9 33,6 41,8 34,8 24,5 28,4 Posio na ocupao Empregado com carteira de trabalho assinada Militar Funcionrio pblico estatutrio Outro empregado sem carteira de trabalho assinada Trabalhador domstico com carteira de trabalho assinada Trabalhador domstico sem carteira de trabalho assinada Conta prpria Empregador Trabalhador na produo para o prprio consumo 9,1 12,0 18,9 28,8 31,1 31,1 9,5 10,5 24,1 19,7 31,3 30,8 16,6 13,8 9,8 7,8 9,0 6,9 33,9 31,5 23,1 17,8 15,4 12,5 30,9 33,8 31,9 30,5 29,2 28,3

47,2

70,8

15,6

6,5

15,2

26,2

49,4 55,7

72,0 71,7

9,6 11,7

7,3 8,3

19,9 11,0

28,0 21,5

44,5

53,9

24,1

10,9

25,8

33,1

33,7

32,5

17,7

11,1

17,7

29,4

19,6

14,2

39,0

12,2

32,7

33,4

60,5 65,7

42,5 71,0

11,0 6,3

7,2 3,1

20,9 9,1

28,3 17,8

33,8

4,5

46,9

10,2

13,4

33,7

(Continua)

Cultura Viva e o Digital(Continuao) Categorias Trabalhador na construo para o prprio uso No remunerado Domiclio Trabalho Estabelecimento de Ensino Centro pblico de acesso gratuito Centro pblico de acesso pago Outro domiclio

35

36,6

1,4

25,3

26,4

27,7

35,7

43,9

19,4

40,5 Condio de ocupao

11,2

25,3

26,6

Ocupadas Desocupadas

50,3 41,0

62,5 4,6

16,3 34,0

7,5 15,6

17,1 37,0

26,5 41,6

Faixa de horas trabalhadas por semana At 14 horas 15 a 39 horas 40 a 44 horas 45 a 48 horas 49 horas ou mais 46,9 52,8 50,5 42,6 53,1 22,4 49,6 71,8 59,6 63,8 31,7 23,6 14,7 14,3 10,5 Condio de estudo Estuda No estuda 46,5 52,5 19,4 55,3 49,4 7,5 Faixa etria 10 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais 40,6 43,8 46,3 58,0 71,5 3,8 34,2 55,0 62,6 52,3 49,2 32,7 18,8 9,9 4,4 14,6 13,0 9,0 5,8 4,3 32,4 29,2 20,3 12,5 6,4 40,1 37,4 33,0 21,9 16,5 15,2 6,0 28,7 16,7 37,9 25,8 11,3 10,7 6,6 6,4 6,2 27,0 21,1 14,2 19,3 16,6 36,2 30,2 24,5 25,1 26,6

Fonte: Microdados da PNAD/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea. Obs.: SM de R$ 300,00.

O acesso em estabelecimentos de ensino opo para grupos grandes de pessoas, a exemplo do trabalhador para o prprio consumo (46,9%) e para o trabalhador domstico sem carteira (39%). Os centros de acesso pblico so opes ainda restritas a 10%, enquanto os pagos servem a 21,9% da populao. Note-se que para algumas regies metropolitanas Belm e Fortaleza o centro pblico pago importante opo para aproximadamente 40% das pessoas. H outras variveis que condicionam o usos ou no da internet, como pode ser visto de forma sinttica no grfico 1.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

GRFICO 1(Em %)

Motivos dados no utilizao da internet 2005O computador do outro domiclio no est conectado O custo de utilizao alto O computador do domiclio no est conectado O custo de um microcomputador alto No sabe utilizar a internet No acha necessrio ou no quer No tem acesso a microcomputador Fonte: Microdados da PNAD/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea. 10 20 30 40

A principal motivao para no utilizar a internet no ter acesso a computador (37%), seguido de no achar necessrio ou simplesmente no ter vontade (21%) e no saber. O custo foi apontado como impeditivo por apenas 9% das pessoas. Quanto frequncia de acesso, 36% afirmaram acessar a internet todos os dias, enquanto 47,3% o fazem pelo menos uma vez por semana. A internet discada o tipo de conexo mais frequente para 58,8% das pessoas, enquanto a banda larga utilizada pelas outras 47,8%. No que se refere s finalidades da internet, tambm se utiliza aqui um grfico para sintetizar as principais, como a seguir.

Cultura Viva e o Digital

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GRFICO 2(Em %)

Pessoas que utilizam a internet, segundo categorias selecionadas, por finalidade de uso 2005Comprar ou encomendar bens ou servios Transaes bancrias ou financeiras Buscar informaes ou outros servios (procurar emprego, enviar currculo etc.) Interagir com autoridades pblicas ou rgos do governo Leitura de jornais e revistas Atividade de lazer Comunicao com outras pessoas Educao e aprendizado Fonte: PNAD/IBGE. Elaborao: Disoc/Ipea. 10 20 30 40 50 60 70 80

Como se depreende, tanto atividades de formao e educao (72%) como relacionadas a sociabilidades (69%) e lazer (54%) foram finalidades muito citadas para o uso da internet. Em caso fronteirio entre formao e lazer, est a leitura de jornais e revista, com 47%. De qualquer forma, nmero significativo das pessoas apontou a importncia instrumental, isto , para solucionar problemas e facilitar atividades do cotidiano: interao com rgos pblicos e autoridades de governo (27%), busca de informaes e outros servios (24%), transaes bancrias e financeiras (19%), compra e encomenda de bens e servios (14%). A partir dessa qualificao geral, pode-se concluir pela complexidade dos processos de acesso e de questes envolvidas com a expanso da internet. Para alm das questes econmicas interconexo e incluso digital , h um conjunto de transformaes sociais e culturais envolvidas nessas tecnologias, que acontecem simultaneamente, com complexos movimentos que causam impactos nas sociabilidades, na produo e no acesso a informaes e bens culturais, nos processos de distribuio de bens e servios e, finalmente, na organizao institucional e nas prticas culturais.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

5 POLTICAS CULTURAIS PARA O DIGITAL: PONTOS DE CULTURA

A convergncia tecnolgica dissolve gradualmente as fronteiras entre telecomunicaes, comunicao de massas e informtica, ou seja, entre telefone, televiso e computador. Como j se viu, o potencial que a internet abre nesse conjunto se refere formao de uma inteligncia coletiva, uma rede interconectada em tempo real em que se trocam textos, sons e imagens. Os impactos dessas transformaes na vida cultural so imensos. As polticas pblicas podem incentivar, promover e dinamizar parte dessas transformaes, assim como podem se beneficiar de novas formas de coordenao de suas aes, possibilidades abertas por essas mesmas tecnologias. Em termos de polticas federais, inmeras so as aes de incluso digital; muitas usam o digital como parte de polticas de melhorias das aes no campo da educao e do ensino distncia, no governo eletrnico, nos processos de criao de transparncia pblica no que se refere s aes dos governos, no prego eletrnico, no controle de compras, no voto eletrnico, em processos fiscais como apresentao de Imposto de Renda etc. Como vimos anteriormente, 26,7% das pessoas que acessaram a internet nos trs meses anteriores pesquisa, 26,7% o fizeram em estabelecimento de ensino, 10% em centro pblico no pago e 21,9% em local pblico pago. Entre as pessoas de menor renda, o maior percentual de acesso se deu em estabelecimento de ensino (42,6%), centro pblico no pago (16,6%) e pago (33,9%). Depois do uso da internet no domiclio, o acesso entre os jovens se faz no estabelecimento de ensino (49,20% centro pblico no pago (32,4%) e pago (14,6%). Ento, pode-se afirmar que polticas pblicas relacionadas incluso digital so parte importante na garantia de acesso, embora sejam ainda limitadas. As aes do Programa de Incluso Digital (PID) do governo federal em 2009 esto descritas no box 1 e representaram aproximadamente R$ 49 milhes. Como j se disse, h outras aes que envolvem o tema desenvolvidas por ministrios e rgos setoriais.BOX 1Aes do Programa de Incluso Digital governo federal no plano plurianual

1. Programa Nacional de Apoio Incluso Digital nas comunidades (Telecentros.br) o Decreto no 6.991, de 27 de setembro de 2009, determina a estrutura de coordenao (colegiado composto por representantes do Ministrio das Comunicaes (MC), do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT) e do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (MPOG). O programa tem como objetivo ofertar equipamentos de informtica, aumentar a conectividade internet, formar agentes de incluso digital e distribuir bolsas para jovens monitores.(Continua)

Cultura Viva e o Digital(Continuao)

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2. Projeto Computadores para Incluso (Projeto CI) tem como objetivo estimular e organizar o recondicionamento de computadores. Financia cinco centros: Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC) em Recife (PE), Porto Alegre (RS), Guarulhos (SP), Belo Horizonte (MG) e Gama (DF) e ainda possui outros dois em implantao, nas cidades de Belm (PA) e Lauro de Freitas (BA). Segundo dados da gerncia do programa, em 2009, os centros receberam 20.375 computadores para recondicionamento, alm de monitores de vdeo, impressoras, perifricos, partes e peas em desuso, tendo sido recuperados por 455 jovens em formao profissionalizante, e 3.645 computadores recondicionados foram doados a 277 escolas pblicas, bibliotecas, telecentros e outros projetos de incluso digital de todo o pas, selecionados pela coordenao nacional do Projeto CI. 3. Observatrio Nacional de Incluso Digital (ONID): sistematizao dos cadastros de 6,5 mil unidades de telecentros de todo o pas. O cadastro tambm passou a aceitar o registro de centros de incluso digital sem conexo internet.Fonte: Sistema de Informaes Gerenciais e de Planejamento (Sigplan). Elaborao do autor.

As informaes a seguir apresentam a infraestrutura e o espalhamento das polticas voltadas incluso digital.TABELA 6Presena de polticas de incluso digital nos municpios brasileiros 2009Tipo de poltica ou ao Nmero de municpios Telecentro funcionando Telecentro com apoio federal Municpios com poltica ou plano de incluso digital Municpio com telecentro com iniciativa da prefeitura Computadores com acesso internet disponibilizados para uso do pblico em geral Computadores na rede pblica municipal de ensino com acesso internet Municpios que garantem acesso ao pblico de servios disponibilizados na internet Municpios que tm servio de atendimento ao pblico pela internet Municpios com existncia de computadores ligados em rede Municpios com acesso a banda larga Nmero absoluto 5.565 10.694 7.658 4.877 4.043 % 100 100 72 88 73

2.127

3.451 1.829 4.293 4.970 5.313

33 77 89 95

Fonte: Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais (MUNIC) 2009/IBGE.

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Pontos de Cultura: olhares sobre o Programa Cultura Viva

Embora o acesso ao microcomputador e internet seja baixo, como j se viu, devem-se analisar as tendncias positivas que mostram aumento rpido do nmero de pessoas que fazem uso das novas tecnologias. As polticas pblicas ganham inteligibilidade nesse contexto. Nada se fez da noite para o dia nessa rea e no h panaceias que resolvam todos os problemas em poucos anos. Aponte-se para o fato de que em 2009 j encontramos 10.694 telecentros em funcionamento, sendo que 72% tinham apoio do governo federal, 88% dos municpios tinham poltica ou plano de incluso digital, 73% dos municpios tinham telecentro com iniciativa do prprio municpio, o nmero de computadores com acesso para uso pblico era de 2.127 e na rede municipal de ensino, 3.451. Ainda 33% dos municpios garantiam ao pblico acesso a servios disponibilizados na internet, 77% tinham servios de atendimento pela internet, 89% dos municpios tinham computadores em rede e 95% j tinham acesso banda larga em 2009. Os mapas a seguir apresentam os municpios que desenvolvem polticas no campo da incluso digital.MAPA 1Municpios brasileiros que possuem polticas de incluso digital

Fonte: MUNIC 2009/IBGE.

Cultura Viva e o Digital

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MAPA 2

Municpios brasileiros que possuem polticas de incluso digital

Fonte: MUNIC 2009/IBGE.

Os mapas mostram a grande abrangncia territorial das polticas de incluso digital. Os dados sobre acesso da populao indicam por sua vez, que essas polticas ainda tm baixa potncia para a universalizao do acesso. Lvy e Lemos descrevem as preocupaes do governo federal:(...) o governo federal criou a Casa Brasil (telecentro e rdios comunitrias) e o projeto Computador para Todos. Dezenas de milhes de usurios j foram beneficiados com incluso digital em todo o Brasil. Dados mostram que h crescimento, mas de forma desigual pelas regies do pas. A maioria beneficiada do Sul e do Sudeste. A divulgao da construo do Modelo Brasileiro de Incluso Digital e das suas metas governamentais do Plano Plurianual revela que o governo federal esta preocupado (...). Uma das principais aes criada pelo governo para combater a excluso e promover a democratizao foi o FUST Fundo de Universalizao dos Servios de Telecomunicaes atravs da lei de nmero 9.998 do dia 17 de agosto de 2000 (LVY; LEMOS, 2010, p. 152-153).

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Inmeras so as estruturas no governo federal que se voltam para a incluso digital, no MCT, no MPOG, no MC e no Ministrio da Educao (MEC) ou em empresas como o Banco do Brasil (BB) e a Petrleo Brasileiro S/A (Petrobras). A maior preocupao do governo com a questo da interconexo, como j se viu essa no questo nada trivial, mas a perspectiva tecnocrtica e econmica no esgota o assunto. O Programa Cultura Viva excelente laboratrio para ampliar a reflexo, pois se associa ideia de cultura digital e democracia cultural. Veremos a partir de agora, mesmo de forma exploratria, alguns resultados desse encontro. O processo de avaliao do Programa Cultura Viva realizado durante 2007 e 2008 e concludo em 2009 teve como ponto de partida a elaborao do modelo lgico (ML) do programa. O ML surgiu com as evidncias de que parte dos programas governamentais apresentavam problemas e deficincias de concepo e gerenciamento e que essas fragilidades impactavam nos resultados e nos processos internos das secretarias ou outras estruturas de implementao das aes pblicas. O ML basicamente reconstri a lgica do programa, ou seja, as explicaes que justificam o programa, os nexos causais pressupostos para os problemas enfocados, sua coerncia interna, a coeso das aes em relao aos objetivos, entre outros elementos que no sero abordados, a exemplo da anlise de vulnerabilidade. Este modelo procurou dar clareza aos componentes constitutivos do conjunto de aes que deve ser enunciado da forma o mais transparente possvel. Interessante assinalar que, na aplicao do ML no fim de 2007, o que viria a ser denominada ao Cultura Digital tinha outro desenho e nome. Chamava-se capacitao para ampliao do acesso a produo, fruio e difuso culturais, tinha como subao a capacitao de agentes em cultura digital, como produto agentes capacitados em cultura digital e como resultado esperado o fortalecimento de entidades culturais, iniciativas e indivduos das comunidades. Na verdade, duas questes se apresentam. O desenho da ao Cultura Digital naquele momento ainda no era muito claro, inclusive porque era citada como subao e no tinha o destaque que ganharia posteriormente. A segunda hiptese que seus significados no puderam ser aprofundados no processo de aplicao do ML, dada a necessidade de entendimento do programa em seu conjunto e no conjunto de suas vrias outras aes. Em um exerccio de interpretao como o aqui proposto, possvel constatar ou construir, em um processo de recontextualizao, a coerncia dos sentidos entre a ideia de cultura digital com a assim chamada teoria do programa, com o conjunto de explicaes que do partida e justificativa causal ao programa. Assim, mesmo que o tema da cultura digital tenha sido redesenhado e dimensionado depois da aplicao do ML em 2006, ou seja, tenha entrado na

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agenda de maneira mais intensa posteriormente, alguns de seus contedos explicativos se supem, devendo ser coesos com os demais princpios e explicaes que justificam o programa como um todo. A percepo a respeito do amadurecimento da ao coaduna com a de Fernandes, que descreve a ao da seguinte forma:() nenhuma dessas estruturas do Programa Cultura Viva tinha uma rotina de trabalho estabelecida, a no ser os procedimentos de convnio e acompanhamento da Gerncia de Gesto do Programa Cultura Viva (GEPRO). A cultura digital, portanto, ainda no havia alcanado, dentro do MinC, um espao institucional formal. Em 2008, Cludio Prado (coordenador da ao) deixa o Ministrio e a Ao continua sendo conduzida pela Secretaria de Programas e Projetos Culturais. Somente em 2009, j sob conduo do Ministro Juca Ferreira, a cultura digital foi repensada dentro do MinC (FERNANDES, 2010, p. 168).

Dessa forma, esse trabalho enfatiza a documentos produzidos em anos posteriores ao modelo lgico para refletir a respeito dos significados da ao. No box 2 esto as definies dadas pela Secretaria de Cultura e Cidadania (SCC) para o programa e para a ao Cultura Digital.BOX 2Objetivos do Programa Cultura Viva e da ao Cultura Digital

O Programa Cultura Viva, tem por objetivo incentivar, preservar e promover a diversidade cultural brasileira, ao contemplar iniciativas culturais locais e populares que envolvam comunidades em atividades de arte, cultura, educao, cidadania e economia solidria. Com a misso de (des-esconder) o Brasil, reconhecer e reverenciar a cultura viva de seu povo, em 2004, a ento Secretaria de Programas e Projetos Culturais atualmente SCC do ministrio iniciou a implantao dos Pontos de Cultura, que so a expresso de uma parceria firmada entre Estado e sociedade civil. Alm dos Pontos de Cultura, o Programa Cultura Viva integrado por um conjunto de aes: Cultura Digital, Gri, Escola Viva e, mais recentemente, Cultura e Sade. Pontos de Cultura o Ponto de Cultura a ao prioritria do Programa Cultura Viva e articula todas suas demais aes. Para se tornar um Ponto de Cultura, preciso que uma iniciativa da sociedade civil seja selecionada pelo MinC por meio de edital pblico. A partir da, um convnio estabelecido para o repasse de recursos e o Ponto de Cultura se torna responsvel por articular e impulsionar aes j existentes em suas comunidades. O Ponto de Cultura no tem um modelo nico de instalaes fsicas, de programao ou de atividades. Um aspecto comum a todos a transversalidade da cultura e a gesto compartilhada entre o poder pblico e a comunidade. Cada um dos pontos recebe quantia de R$ 60,00 mil/ano, divididos em parcelas semestrais e renovveis por trs anos, para investir de acordo com a proposta do projeto apresentado. Parte do incentivo recebido na primeira parcela, no valor mnimo de R$ 20 mil, utilizada para aquisio de equipamento bsico multimdia em software livre, composto por microcomputador, miniestdio para gravao de CD, cmera digital e outros materiais que sejam importantes para o Ponto de Cultura. Esta iniciativa est integrada a uma das aes do Programa Cultura Viva, a Cultura Digital.(Continua)

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Cultura Digital visa ao compartilhamento de produes simblicas e conhecimentos tecnolgicos gerados pela ao autnoma, porm em rede, dos Pontos de Cultura. O programa tem como diretriz interligar as aes locais e promover a troca de experincias dos pontos, bem como a comunicao entre eles a partir da tecnologia digital, possibilitando a circulao de sua produo textual e audiovisual. Cada Ponto de Cultura recebe um kit de cultura digital, com equipamentos avanados e que podem variar de acordo com a vocao da entidade. Todos recebem um equipamento composto de uma mesa com dois canais de udio, filmadora, gravador digital e dois computadores que funcionam como ilha de edio para a produo de contedos multimdia, permitindo a gravao de arquivos de udio e vdeo, a publicao de pginas na internet e a realizao de programas de rdio, sempre com o uso de programas em software livre.

Como se observa, o programa que tem no Ponto de Cultura um dos seus ncleos centrais associa-se aos valores de fortalecimento de entidades culturais, iniciativas e indivduos das comunidades, por meio do incentivo, da preservao e da promoo da diversidade cultural brasileira, com nfase nas iniciativas culturais locais e populares que envolvam comunidades em atividades de arte, cultura, educao, cidadania e economia solidria. Tem como uma de suas diretrizes, organizada na ao Cultura Digital, interligar as aes locais e promover a troca de experincias dos pontos, bem como a comunicao entre eles a partir da tecnologia digital, possibilitando a circulao da sua produo textual e audiovisual. Os equipamentos dos pontos permitem a autonomia para produzir CDs, vdeos, rdio, hipertexto/multimdia, arte em diferentes linguagens e manter redes com outros pontos. Portanto, o universo abrangido pelo programa no exatamente o observado nos processos de incluso digital e a nfase aqui no apenas a acesso aos contedos tecnolgicos, mas a processos de valorizao e promoo da diversidade e da explorao dos potenciais do digital na produo e na difuso das artes. Pode-se dizer que tem um forte contedo simblico e voltado para processos de reconhecimento e valorizao de formas de cultura popular no apenas tradicionais, diga-se e de sociabilidades comunitrias. Interconexo, comunidades virtuais e inteligncia coletiva, mesmo como elementos no completa e claramente enunciados, permeiam de forma tcita a organizao e as intenes da ao. Nesse sentido, o programa tambm capaz de conferir dinamismos a processos polticos, sociais e culturais, exatamente pelas facilidades que proporciona comunicao entre os grupos situados em qualquer espao territorial.

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QUADRO 1

Sntese dos objetivos e formas de implementao do Programa Cultura Viva e da ao Cultura DigitalPrograma/aes Programa Cultura Viva Objetivos Incentivar, preservar e promover a diversidade cultural brasileira Reconhecer as iniciativas da prpria sociedade Parte de iniciativas da sociedade civil selecionada pelo MinC por meio de edital pblico Responsvel por articular e impulsionar aes j existentes em suas comunidades No tem um modelo nico de instalaes fsicas, de programao ou de atividades, mas tem em comum a ideia de transversalidade da cultura e da gesto compartilhada entre o poder pblico e a comunidade Formas de implementao Parcerias entre Estado e sociedade

Pontos de Cultura

Articulao entre poder pblico e sociedade, gesto compartilhada, transversalidade da cultura

Ao Cultura Digital

Compartilhamento de produes simblicas e conhecimentos tecnolgicos gerados pela ao autnoma, porm em rede, dos Pontos de Cultura Interligar as aes locais e promover a troca de experincias dos pontos, bem como a comunicao entre eles a partir da tecnologia digital

Embora o kit de cultura digital possa variar, todos os pontos recebem um equipamento composto de uma mesa com dois canais de udio, filmadora, gravadores digitais e dois computadores para edio, para produo de contedos multimdia, gravao de arquivos de udio e vdeo, publicao de pginas na internet e realizao de programas de rdio Estimula-se o uso de programas em software livre

Elaborao do autor.

Como se depreende, a ao Cultura Digital refora a lgica de reconhecimento da autonomia da sociedade civil nos dinamismos culturais e faz do Estado o parceiro e indutor de novas articulaes, tanto entre o poder pblico e a sociedade, mas tambm entre sociedade e sociedade, ou seja, entre atores sociais que passam a se articular horizontalmente e com apoio das novas mdias. De certa forma, h o reconhecimento da transformao da esfera miditica e da constituio de um espao pblico de conversao e circulao ampliada de informaes, visuais e textuais. No so mais as empresas que consomem, produzem e distribuem informaes; qualquer pessoa pode faz-lo em tempo real e em qualquer lugar. Essa lgica tambm pressupe que as mdias tradicionais vo perdendo gradativamente o monoplio na construo de informaes e formao da opinio, no espao de surgimento de novos atores e formas de mediao. Esse duplo processo, conexo e formao de espao pblico de circulao da palavra e da imagem em rede aberta fomenta as interconexes ao mesmo tempo local (comunitria) e global (nacional e mundial). A liberao da palavra e a formao de uma inteligncia coletiva, termos usados por Lvy para descrever as transformaes do sistema comunicacional

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global, funcionam nesse quadro explicitando e afirmando tenses e contradies entre a esfera pblica e os interesses econmicos. Especialmente importante, no entanto, que o mundo virtual permite o estabelecimento de novas formas de interao social e produo simblica. As polticas culturais direcionadas ao digital, por sua vez, agregam uma camada ao fenmeno, ao permitir, por um lado, as trocas e a potencializao das relaes entre comunidades culturais ligadas s artes em geral, museus, msica, bibliotecas, etc. e, por outro, a organizao de instrumentos de produo, circulao e proteo da diversidade cultural. As polticas de cultura digital disponibilizam instrumentos para a formao de pblicos para a criao artstica tradicional, para a educao continuada, para o compartilhamento de sentidos de comunidade, pertencimento local e enraizamento. Tambm possvel assinalar que as polticas de cultura digital adicionam possibilidades proteo, valorizao e disseminao dos valores ligados ao patrimnio cultural. Finalmente, permitem a circulao de exposies virtuais, criao de obras coletivas, disseminao de msicas, etc., troca de textos e imagens etc. A partir do que se viu at aqui, evidente o distanciamento e, embora no seja possvel discuti-lo detalhadamente, a complementaridade entre a ideia de acesso ou incluso digital e cultura digital. A distino entre os dois basta para as finalidades da reflexo deste captulo. Para compreender os sentidos mais abrangentes da ao Cultura Digital desenvolvida no mbito do Cultura Viva ser feita interpretao livre dos resultados preliminares das discusses sobre cultura digital no Seminrio Internacional Cultura Viva (SICV), realizado em Pirenpolis (GO), no fim de 2009.5.1 O seminrio de Pirenpolis: Cultura Viva e Cultura Digital1

A proposta do seminrio era a reflexo coletiva sobre quatro conceitos estruturantes do Programa Cultura Viva (autonomia, protagonismo, empoderamento e gesto em rede) e a partir deles seriam pensadas algumas perspectivas para a ao Cultura Digital. Os participantes foram membros da SCC, entes federados, de coletivos independentes que atuam junto aos pontos, pesquisadores e observadores que acompanham o programa. Em geral, os debates giraram em torno dos temas apresentados no quadro 1, aos quais foram sendo acrescentadas e precisadas questes adicionais, a exemplo1. Este item se beneficiou do relatrio parcial Subverso, Resistncia, Pertencimento e Compartilhamento, de autoria dos componentes do grupo, escrito a partir das reunies realizadas no Seminrio Internacional Cultura Viva.

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do problema dos direitos autorais, das interfaces com economia solidria, meio ambiente, produo artstica. Os quatro eixos (autonomia, protagonismo, empoderamento e gesto em rede) foram tratados de maneira extensa. O item seguinte concentra reflexes nas ideias do seminrio que poderiam traduzir e delimitar um objeto de uma poltica cultural para o digital. Embora a reflexo se aproxime das discusses do seminrio a partir das ideias de cibercultura ou cultura digital, da questo das comunidades virtuais e da sua associao com coletivos, no se desenvolveremos aqui todas as questes, ricas em desdobramentos e possibilidades. Em primeiro lugar, pela delimitao feita nos itens anteriores; depois, para enfatizar dados empricos proporcionados tanto pelo relatrio final do grupo que discutia o componente ao Cultura Digital como pela pesquisa de campo realizada em 2008 pela Fundao Joaquim Nabuco (FUNDAJ)/Ipea. Um dos temas importantes e que corroboram com as preocupaes gerais da ao foi a do() uso do software livre e das diversas linguagens digitais como condio para o exerccio da autonomia tecnolgica, da visibilidade que se pode atingir ao se utilizar os espaos oferecidos pelas redes digitais, alm das potencialidades e desafios apresentados pelos processos de integrao das culturas tradicionais com a cultura digital (SICV, 2009).

Outro ponto ressaltado no debate mais amplo foi a ambiguidade da posio dos Pontos de Cultura, simultaneamente organizadores de atores locais, enraizados, muitas vezes comunitrios e parte de poltica pblica, dinamizados portanto, com recursos pblicos e se movimentando na lgica poltica da burocracia estatal. O relatrio optou por uma posio de conciliao:() independentemente de optarmos por ressaltar ora o campo de relaes Pontos de Cultura Estado, ora o campo Ponto de Cultura Comunidade, de um sujeito poltico que estamos tratando e colocando em questo. No poltico porque partidrio, mas poltico porque coletivo. Sejam os participantes das comunidades locais e que interagem com os Pontos de Cultura, seja a rede de Pontos se articulando e interagindo com o Estado, no podemos nos esquecer que estes somente apresentam demandas relevantes e que alcanam legitimidade porque so essencialmente coletivas (SICV, 2009).

Um debate importante foi o das relaes entre Cultura Digital e a ideia do software livre. A questo era precisar se o conjunto de prticas de autonomia preconizada pela ideia de cultura digital prescinde, abrangendo qualquer tipo de produo em suporte digital, ou se tem no uso software livre em elemento central.

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