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Coleção Aventuras Grandiosas Rudyard Kipling A origem do menino lobo Adaptação de Rodrigo Espinosa Cabral 1 a edição OS IRMÃOS DE MOWGLI Irmaos de Mowgli.indd 1 Irmaos de Mowgli.indd 1 27.09.07 18:27:24 27.09.07 18:27:24

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Coleção Aventuras Grandiosas

Rudyard Kipling

A origem do menino lobo

Adaptação de Rodrigo Espinosa Cabral

1a edição

OS IRMÃOS DE MOWGLI

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Capítulo 1

A AMEAÇA DO TIGRE

Entardecia após um dia de extremo calor na Índia. Numa caverna das

montanhas Seeonee o LOBO Pai abria os olhos após uma tarde de sono com

vários sonhos estranhos.

Olhou para sua companheira, a Loba Mãe. Ela estava ACONCHEGADA

num canto da caverna. Os quatro fi lhotes dormiam em volta dela.

— Bem, é hora de ir trabalhar. Vou descer a montanha para buscar

alimento para nossa família. Cuide de tudo, certo? Daqui a pouco estou de

volta — disse o Lobo Pai.

Mas, quando estava na BOCA da caverna, levou um susto com a aparição

SÚBITA de um pequeno e falante animal.

— Tenha uma boa caçada, Grande Lobo! — disse o pequeno animal.

— Seus fi lhotes são lindos e, quando crescerem, terão PRESAS grandes e

pontudas como as suas para caçar. Mas espero que eles se lembrem dos

animais que têm fome...

O nome desse animalzinho falante era Tabaqui, o CHACAL. Os lobos

da Índia geralmente não gostavam dos chacais e especialmente de Tabaqui,

porque o animalzinho sempre arrumava uma confusão. Ele não tinha muita

habilidade para caçar, preferia ir buscar comida nas casas dos humanos. Os

seres humanos jogam muita comida fora e Tabaqui gostava de revirar os restos

deixados por eles em suas lixeiras.

Só que os humanos, mesmo tendo jogado comida fora, o que para os

✎ LOBO: animal da espécie Canis lupus

✎ ACONCHEGADA: protegida

✎ BOCA: entrada

✎ SÚBITA: repentina

✎ PRESAS: dentes caninos

✎ CHACAL: mamífero parente do lobo e da raposa

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✎ DEJETOS: restos, lixo, detritos

✎ DETRITOS: restos, lixo, dejetos

✎ HÁBITATS: locais onde vive determinada população de animais

✎ REFUGIADOS AMBIENTAIS: pessoas e animais que perderam seu

hábitat original devido a algum problema ambiental

✎ ECOSSISTEMA: conjunto de relações mútuas entre fauna, fl ora e

meio ambiente

✎ CÔMODO: fácil, confortável

animais era algo muito estúpido, não permitiam que cachorros, gatos e chacais

fossem comer os DEJETOS.

— Fora daqui, seu vira-lata! — costumavam dizer os humanos quando

viam um cachorrinho faminto buscando alimento no lixo.

— Essas pragas de cachorros derrubam todo o lixo e fazem uma baita

sujeira! — reclamava uma mulher gorda com um cigarro na mão.

Mas os humanos esquecem que eles próprios sujam o planeta inteiro.

O lixo que deixam em frente às suas casas é recolhido por um caminhão que

leva os DETRITOS da cidade inteira para um local isolado, onde os humanos

não possam sentir o cheiro ruim que resta de seu modo de vida.

O problema é que esse local isolado costumava ser limpo, verde e

sem poluição. Lá viviam animais, que, devido ao lixo dos humanos, perderam

seus HÁBITATS e viraram REFUGIADOS AMBIENTAIS, dentro de seu próprio

ECOSSISTEMA.

Como Tabaqui e outros chacais achavam mais CÔMODO ir buscar

alimento nas áreas ocupadas pelos humanos, os lobos não gostavam deles.

Um lobo jamais suportaria viver dos restos dos homens. Além disso, a comida

dos seres humanos era muito ruim. Eles a estragavam colocando muito sal e

levando os alimentos para o fogo, fervuras e frituras, o que elimina grande

parte dos nutrientes.

Os lobos eram mais práticos. Caçavam seu alimento e comiam na hora,

sem perder tempo, sem precisar derrubar uma árvore, para usar a lenha como

combustível para o fogão ou a churrasqueira.

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✎ COMPROMETIDA: aqui o termo é usado no sentido de ferida,

em má situação

Enquanto olhava para Tabaqui, o Grande Lobo pensava:

— Meu bisavô ouviu de seu bisavô e me contou que, muito tempo

atrás, os humanos eram muito mais simples e muito mais amigos do planeta.

Eram como todos os outros bichos, totalmente integrados à Natureza. Eram

bichos como a gente. Nenhum deles poluía os rios, os mares e os céus. Não

derrubavam fl orestas, não tinham grandes máquinas e não produziam essa

quantidade enorme de lixo com plásticos, vidro e papel.

Grande Lobo se perguntava o que teria acontecido com o bicho humano

para ter mudado tanto? Agora viviam como se odiassem o planeta e uns aos

outros também, já que faziam guerras com aviões, bombas, mísseis, tanques

e milhares de soldados.

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Tabaqui:

— Grande Lobo, Grande Lobo! Estou falando com você!

— O que é, Tabaqui? Seja breve, porque estou ocupado.

— É Shere Khan, o Grandão, o Grande Tigre... Ele, ele...

— O que tem ele?

— Ele está mudando sua área de caça. Vai se mudar para esta região,

aqui no alto das montanhas Seeonee.

— Quem disse isso? — quis saber o Lobo.

— O próprio Khan me contou!

— Mas isso é proibido! — reclamou o Grande Lobo. — Pelas lei da selva,

ele não pode mudar de território sem antes avisar os animais que vivem no ter-

ritório em que ele pretende morar. Dessa forma ele está agindo pelas costas, à

traição, e vai causar muito pânico e medo nos animais que vivem aqui no alto das

montanhas. Muitos vão fugir, teremos um desequilíbrio, vai ser ruim para todos!

— Ainda bem que Shere Khan tem aquela pata COMPROMETIDA, que

não deixa que ele corra muito — disse a Loba Mãe, que até então só ouvia a

conversa entre o Grande Lobo e o Chacal. — Por isso ele desenvolveu uma

estranha mania.

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— Qual? — quis saber o chacal.

— Ele começou a caçar os animais criados pelos humanos.

— Quais, os prisioneiros? As vacas e os porcos? — perguntou

Tabaqui.

— Sim, eles mesmos. Como os bois, as vacas e os porcos já nascem

presos e vivem CONFINADOS, é muito mais fácil para o tigre caçá-los dentro

da fazenda, onde os animais indefesos não têm como fugir.

— Isso é tão triste... — falou o chacal com PESAR na voz.

— E essa atitude dele tem outro problema — disse o Grande Lobo —, os

humanos fi cam furiosos com os bichos da fl oresta, porque o tigre está matando

o rebanho de gado. Agora é provável que os homens se organizem e subam as

montanhas para capturar Shere Khan. E quando os homens se reúnem eles podem

matar não só o tigre, mas qualquer outro bicho que cruzar o caminho deles.

— É, os homens são muito vingativos — disse Tabaqui.

— E têm hábitos estranhíssimos, como matar o tigre, não comer a carne,

mas retirar a pele do animal. Por que querem a pele de outro animal, se já têm

a própria pele? — perguntava a loba.

Mas nenhum dos animais ali presentes tinha uma explicação.

Capítulo 2

MOWGLI, O SAPO

Enquanto o Grande Lobo pensava em que atitude tomar em relação ao

tigre, Tabaqui falou:

— Ei, escutem!

— Escutar o quê? — perguntou a Mãe Loba.

— Esse ruído ao fundo... parece um... — HESITOU Tabaqui.

✎ CONFINADOS: presos, trancados

✎ PESAR: tristeza, desgosto

✎ HESITOU: fi cou indeciso, incerto

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— ...tigre — completou o Grande Lobo.

— É ele! Shere Khan está vindo! Está subindo a montanha... — começou

a lamentar o chacal.

— Calma, Tabaqui — disse o Grande Lobo. — O desespero só piora as

coisas. Respire fundo, fi que tranqüilo. Nós vamos chegar a uma solução.

Então os três escutaram um rugido alto, vindo de algum lugar das

montanhas.

— Esse tigre é muito PRESUNÇOSO e estúpido. Nunca vi alguém começar

uma caçada com tanto barulho — explicava o Grande Lobo. — Os veados

são muito mais ágeis e espertos do que as vacas domesticadas! Os animais

selvagens e livres têm seus instintos muito mais à fl or da pele do que os criados

para o abate.

— É verdade! A domesticação ensina os animais a confi ar nos huma nos

e depois os humanos os matam pelas costas! — lamentava a Loba Mãe.

— Bem, mas nós somos livres. Vamos fazer alguma coisa contra Shere

Khan! — propunha Tabaqui, com os olhos arregalados.

Nesse momento os três animais ouviram vozes de humanos que

diziam:

— Socorro!

— Meu Deus!

— Corre, corre...

Quando as vozes CESSARAM, o Grande Lobo então falou:

— Ele está caçando humanos! Agora reconheci! Esses seus RUGIDOS

são para amedrontar os humanos.

— Mas caçar humanos é proibido pela lei da selva! — protestou o

pe queno chacal.

A lei da selva tinha sido elaborada e aprovada pelos animais. Ela não

permitia que os animais matassem os humanos, não porque os homens fossem

✎ PRESUNÇOSO: orgulhoso, vaidoso

✎ CESSARAM: pararam

✎ RUGIDOS: a voz de uma fera

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✎ INDISCRIMINADA: sem critério de escolha

✎ LEGÍTIMA DEFESA: defesa pessoal, autodefesa

✎ AGUÇADOS: agudos, afi ados, atentos

mais for tes ou poderosos ou superiores, mas porque, quando um animal caçava

um huma no, vários outros humanos vinham para a fl oresta em busca de vingança

e produ ziam muita violência, de forma injusta e INDISCRIMINADA.

Caçar, entre os animais, era algo mais natural. Difi cilmente o indivíduo

de uma espécie tentaria se vingar da outra por causa de uma morte. Eles

entendiam aqueles fatos como parte da vida. Além disso, cada espécie caçava

e se protegia de um modo justo, apenas com seu corpo e sua mente. Mas

os humanos eram injustos e covardes. Usavam arcos, fl echas, armas de fogo,

lanternas, miras noturnas, binóculos, apitos que imitam o som dos animais

(para chamá-los e depois matá-los). Por isso tudo, a lei da selva proibia que

os animais matassem os humanos, a não ser em casos de LEGÍTIMA DEFESA.

— Shere Khan está pondo a todos nós em risco — disse o Grande Lobo.

— Shhh, escutem...

Tabaqui, Grande Lobo e Loba Mãe fi zeram silêncio e puderam ouvir. Ao

longe, o vento trazia o choro de um animal.

— Vou ver o que está acontecendo, esperem aqui — disse o Grande

Lobo partindo para a escuridão da fl oresta.

Seus ouvidos AGUÇADOS logo localizaram o local de origem do choro.

Quando se aproximou, o lobo sentiu três cheiros diferentes. Eram odores de

seres humanos. Dois deles estavam mais diluídos, mas o terceiro estava bem

presente e vinha entrelaçado com o choro. Quando se aproximou, o Lobo viu,

encostado numa grande árvore, um bebê humano.

“Mas que droga, é um bebê humano!”, pensou o Grande Lobo.

Enquanto decidia o que fazer, Lobo ouviu um rugido de Shere Khan.

O tigre estava próximo. Sem hesitar, Lobo pegou o bebê pelo pescoço,

apertando-o com a boca, mas sem feri-lo, e o levou para a caverna.

— Eu não tive escolha. Se ele fi casse lá, seria comido pelo tigre e seria

pior para todos nós.

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— Ai, mas ele é muito lindo! — disse a Loba Mãe, lambendo o bebê.

— Lindo?! Você está maluca, minha querida! Ele é um fi lhote de hu-

mano! É muito novo ainda! Mal sabe andar. Tem esse cheiro de humano! Tem

essa pele dourada de humano e esses cabelos pretos e lisos! Resumindo:

ele é horroroso!

— Não fale assim — disse a Loba, pegando a criança pelo cangote e a

levando para perto de seus quatro fi lhotes. — Ele é tão pequeno, peladinho

e corajoso!

Em instantes as cinco pequenas criaturas estavam mamando, aconchegadas

embaixo da proteção confortável dos pêlos da Loba. Embora contrariado, o

Grande Lobo fi cou admirado com o ALTRUÍSMO de sua companheira.

Sentindo que a raiva do Grande Lobo poderia sobrar para ele, Tabaqui

saiu da caverna.

Seguindo seu FARO, o tigre chegou à árvore onde estava o bebê

humano. Por suas imensas narinas, recebeu a informação de que Grande

Lobo havia estado lá e carregado o bebê humano. Isso deixou Shere

Khan furioso:

— Ouça bem o que vou lhe dizer, Grande Lobo! Você roubou a

minha caça! Esse bebê humano é meu!!! Trate de devolvê-lo ou sofra as

conseqüências.

Na caverna, o Grande Lobo pensou com IRONIA:

“Estou morrendo de medo”.

Sabia que a entrada da caverna era muito estreita para que um tigre

passasse por ela. Sua companheira disse:

— Ele nunca vai encostar nesse bebê lindo!

Grande Lobo não sabia o que fazer. Não poderia largar o bebê no

mato, senão o tigre o mataria. Tampouco poderia levar o bebê de volta para

✎ ALTRUÍSMO: amor ao próximo, o oposto de egoísmo

✎ FARO: o olfato dos animais, cheiro, instinto

✎ IRONIA: expressar-se dizendo o contrário do que está sentindo

ou pensando

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o local onde os humanos moravam. A cidade estava muito longe para levar

o garoto pelo cangote e se os homens vissem um lobo com um bebê na

boca, certamente tentariam matar o lobo. Além disso, durante o caminho,

os dois seriam presa fácil do tigre. Concluiu que a única coisa a ser feita

era aguardar dentro da caverna. Iria esperar que Shere Khan se cansasse

daquele ódio ou que se mudasse.

Como o tigre era persistente e deveria demorar para mudar, o Grande

Lobo lembrou de pedir ajuda ao Conselho dos Animais. O Conselho se

reunia nas noites de lua cheia, quando a FAUNA tinha um ou mais problemas

comuns a todos. Sua idéia inicial era pedir uma TRÉGUA ou um SALVO-

CONDUTO, para que pudesse levar o fi lhote de humanos para um local

próximo à cidade. Mas as coisas não saíram exatamente como o Grande

Lobo imaginou.

— Esse bebê é tão frágil, amor! — dizia a Loba Mãe. — Ele não é uma

gracinha?

— Gracinha? Daqui a alguns anos essa gracinha vai andar pela fl oresta

com um rifl e na mão... — retrucou o Grande Lobo.

— Isso se for criado por pessoas que manejam rifl es... — a Loba Mãe

falava com ternura.

— Mas todos os humanos têm armas de fogo, querida!

— Será? Como você sabe?

— Bem, todos os homens que eu vi na fl oresta tinham armas. Até já

atiraram em mim. Mas tive a sorte de não ser atingido.

— Mas e se o criarmos aqui na caverna? — propôs a Loba Mãe, lambendo

o bebê que sorria para ela.

— Aqui? Nós? Criar este fi lhote de humanos? Você enlouqueceu?

— Não enlouqueci, não. Ele é uma vida e merece respeito. Como mãe

✎ FAUNA: conjunto de animais de uma região

✎ TRÉGUA: período de paz em meio a uma guerra ou confl ito

✎ SALVO-CONDUTO: licença para alguém viajar ou se locomover

sem ser importunado

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eu não posso e não quero abandonar um fi lhote desprotegido. Vamos criá-lo

e educá-lo à maneira dos lobos. Assim, quando crescer, ele será um humano

com coração de lobo e não fará as coisas terríveis que os homens fazem.

O Grande Lobo se calou e fi cou pensando por longos minutos, enquanto

olhava sua companheira, o bebê humano e seus quatro fi lhotes. Por fi m, falou:

— Vamos levar essa decisão para a reunião do conselho da fl oresta. Se

os demais bichos decidirem que é seguro criarmos um fi lhote humano, nós

fi camos com ele. Caso contrário, vou arriscar minha vida e tentar devolvê-lo

ao vilarejo onde moram seus semelhantes.

— Semelhantes? Há muitas semelhanças entre esse fi lhote humano e os

nossos fi lhotes. Entre você e ele, entre ele e eu. É só olhar — disse a Loba Mãe,

fazendo um gesto com o braço, direcionando o olhar de seu companheiro

para os cinco fi lhotes que brincavam sem se importar com o futuro.

— Você tem razão. Somos todos fi lhos da Mãe Terra. Mas precisamos

da aprovação do conselho para criarmos... qual o nome dele? Como vamos

chamá-lo?

— Vamos chamá-lo de Mowgli, o Sapo — disse a Loba Mãe.

O Grande Lobo riu e Mowgli sorriu também, como se, telepaticamente,

entendesse a aceitação que começava a ter naquela caverna, que para ele

começava a virar um lar.

Capítulo 3

O CÍRCULO DOS LOBOS

Pela lei da selva, quando um fi lhote fosse capaz de fi car em pé e já

exibisse alguns sinais de maturidade, seus pais deveriam apresentá-lo ao

conselho dos bichos da fl oresta, no alto da pedra grande, numa noite de lua

cheia. No caso dos lobos, esse conselho era formado apenas por membros

da ALCATÉIA. Mas outros animais poderiam acompanhar também.

✎ ALCATÉIA: grupo de lobos que vive em sociedade

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Uma vez aceitos e reconhecidos pela irmandade dos lobos, os fi lhotes

passam formalmente a fazer parte da tribo e a serem protegidos por ela. Após

crescerem, esses lobos têm a responsabilidade de cuidar dos novos fi lhotes.

Algumas luas cheias se passaram e, quando a Loba Mãe olhou para

Mowgli, percebeu que ele estava de pé, caminhando pela caverna. Ela

co meçou a uivar, chamando a atenção de seu companheiro. O Sapo

Mowgli estava pronto para ser apresentado à alcatéia na próxima noite

de lua cheia.

Tinha anoitecido há apenas alguns minutos e a pedra grande, no alto

das montanhas Seeonee, ainda estava aquecida pelo calor solar que a tinha

energizado durante o dia inteiro. Quarenta lobos repousavam sobre a pedra,

seus pêlos ondulando no vento e brilhando no luar.

Mowgli e os lobinhos estavam lá também, sentados no centro do

círculo, mas com o olhar protetor do Grande Lobo e da Loba Mãe. O ALFA

era Akela, também conhecido como Lobão Cinza, e estava numa pedra um

pouco mais alta.

— Vocês conhecem as regras, irmãos — disse Akela.

Em sentido anti-horário os lobos começaram a circundar os filhotes,

observando-os com olhos fi xos e cheirando-os. Para um lobo, o cheiro é algo

muito nítido. São capazes de reconhecer diversas FRAGRÂNCIAS e se lembrar

delas. Seguem um odor como nós humanos seguimos uma linha no chão.

Os quatro lobinhos foram aprovados e os lobos uivaram em saudação.

Então Mowgli fi cou sozinho no centro do círculo dos lobos. Lobão Cinza

pediu que todos observassem e cheirassem bem o garoto. Mas o ritual foi

interrompido por uma voz furiosa:

— Esse fi lhote é meu! — gritou Shere Khan, o tigre. — Passem-no já

para mim!

Akela apenas escutou a reclamação do tigre, sem mover suas orelhas.

Irritado, Khan continuou:

✎ ALFA: líder de uma alcatéia

✎ FRAGRÂNCIAS: aromas, perfumes

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— Por que vocês, os lobos, também conhecidos como o Povo Livre,

querem um fi lhote de humanos?

Akela então falou:

— Sim, somos o Povo Livre e nossas decisões cabem a nós mesmos. Por

que escutaríamos, em nosso conselho, a voz de um sujeito listrado e faminto

que ataca animais confi nados? Irmãos, olhem bem, cheirem e examinem a

questão de acordo com o instinto de cada um.

Shere Khan, irritado, soltou um rugido que estremeceu os céus da Índia.

Loba Mãe se aproximou de seus fi lhotes, temendo pelo pior. Seus olhos eram

duas grandes luas verdes e estavam fi xos no tigre. Mas Shere Khan não era louco

de enfrentar uma alcatéia inteira de lobos. Além disso, a lei da selva assegurava

que durante as reuniões a integridade física dos bichos fosse respeitada.

Após alguns minutos, os lobos já tinham uma opinião formada. Apenas

um lobo foi contra a presença de Mowgli na alcatéia. Pela lei da selva, se

um membro da matilha não aceita um fi lhote, os pais ou outro membro do

conselho têm o direito de se pronunciar para defender o fi lhote.

Mas Loba Mãe estava tão nervosa que não conseguiu falar nada. Ela

queria brigar com o lobo que se OPÔS à presença de Mowgli. Mas, se

brigasse, poderia se ferir e deixaria seus cinco fi lhotes DESAMPARADOS.

Por isso se conteve.

Mas Baloo, o Grande Urso Marrom, que era amigo dos lobos e encarregado

de ensinar a lei da selva para os fi lhotes de outras espécies, resolveu falar:

— Sim, Mowgli nasceu como fi lhote de um humano, mas quis a

Natureza que ele fosse adotado pelos irmãos lobos. Vejam, todos, como ele

brinca com seus irmãos mais peludos do que ele. Vejam como são amigos.

Mowgli e esses quatro lobinhos TRANSCENDERAM uma triste história de

inimizade entre as espécies. Com esse exemplo de bondade e união eles

nos ensinam muitas coisas boas. Coisas como tolerância, como aceitarmos

✎ OPÔS: foi contrário, não quis

✎ DESAMPARADOS: desprotegidos

✎ TRANSCENDERAM: foram além, passaram, superaram

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as diferenças e aprendermos com elas. Vamos deixar essa amizade fl orescer,

vamos aprender com esses jovens e o futuro poderá ser muito melhor e

mais pacífi co. Mowgli vai correr com os lobos, fará parte da alcatéia e eu o

ensinarei a lei da selva.

Os lobos se olharam admirados com o discurso de Baloo. Shere Khan

torceu o focinho. Akela perguntou se mais alguém gostaria de falar.

Um vulto de pelagem negra e lustrosa se INSINUOU e com movimentos

graciosos ganhou o centro do círculo. Era Bagheera, a Pantera Negra. Para

muitos ele era o animal mais rápido e feroz da selva, mas sua voz era suave

como uma noite de verão.

— Akela e Povo Livre, meus prezados irmãos lobos, eu não fui convidado

para este encontro, mas a lei da selva diz que, se há um problema em relação

a algum fi lhote, essa questão pode ser resolvida através da troca. A lei não

especifi ca quem pode fazer a troca ou o que deve ser trocado.

— Sim, isso é verdade — disse Akela. — Que troca você propõe?

Bagheera disse que tinha muita comida guardada e trocava sua comida

com os lobos se estes aceitassem Mowgli na alcatéia.

— Vamos aceitar — disse um lobo mais novo. — Aposto que esse

humano sem pêlos vai morrer de frio rapidinho no inverno. Então vamos lucrar

alguma comida antes que ele morra.

Outros falavam:

— Como é que um sapo pelado desses vai poder ser uma ameaça para

nós? Vamos aceitá-lo e fazer um BANQUETE com a comida da pantera!

— É, isso mesmo! — concordavam outros lobos.

Indiferente ao debate dos adultos, Mowgli brincava com algumas

pequenas pedras coloridas, bem no meio do círculo. Os lobos tinham chegado

a um acordo. Shere Khan saiu de lá rugindo furioso e declarando guerra aos

lobos. A pantera indicou onde estava sua comida e a maioria dos lobos foi

buscá-la. Akela falou:

✎ INSINUOU: deu a entender de uma forma sutil, indireta

✎ BANQUETE: comida farta, em abundância

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— Tomara que este fi lho de humano cresça e seja um bom menino-lobo.

Os humanos são espertos e eu prefi ro pensar que Mowgli vai nos ajudar muito

quando crescer.

— É verdade — concordou o urso.

E, dessa forma, Mowgli foi levado com seus pais, o Grande Lobo e a Loba

Mãe, brincando com seus irmãos lobinhos. Seria criado como um membro da

alcatéia do Povo Livre, como um lobo.

Capítulo 4

A INFÂNCIA DO MENINO-LOBO

Os anos seguintes foram de muitas aventuras, descobertas e diversão

para o menino-lobo. Ele cresceu com seus quatro irmãos e juntos desbravaram

a caverna, a área ao redor da montanha, a fl oresta, o rio e, quando se deram

conta, estavam uivando juntos, no alto dos montes, para a Lua Cheia.

O Grande Lobo ensinou a Mowgli como FAREJAR, como demarcar o

território, como encontrar alimento e como guardar a comida. Com seu pai, sua

mãe e seus irmãos, o Sapo aprendeu a ouvir os sons da Natureza. Seu ouvido

fi cou tão treinado que ele distinguia os mais diversos ruídos. Mowgli ouvia como

um lobo. Cada pingo de chuva tinha um barulho diferente, uma nota musical

que compunha a grande sinfonia da tempestade. Quando se concentrava,

Mowgli escutava a grama crescendo, o pasto ondulando ao vento, as folhas

caindo das árvores, viajando no ar e tocando o solo.

Para aquele menino totalmente natural, a vida era uma festa. Observava

os insetos, as borboletas, os pássaros com profunda admiração. Adorava

perceber as mudanças no clima, quando um vento mais AMENO começava

a soprar numa noite quente de verão e, de repente, começava a GAROAR.

✎ FAREJAR: procurar ou seguir algo ou alguém pelo cheiro

✎ AMENO: suave, brando

✎ GAROAR: chover com pouca intensidade

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Mowgli se deliciava com o canto dos passarinhos. Gostava de subir no

alto das árvores e chegava bem perto deles, para escutá-los melhor. Os pássaros

sentiam nos olhos e no coração do menino que ele tinha boas intenções e não

fugiam. Como seus irmãos não conseguiam subir nas árvores mais altas, às vezes

Mowgli os erguia e mostrava para eles o mundo de outra perspectiva.

Uma brincadeira que os cinco irmãos adoravam nos dias de calor era ir

até o rio para tomar banho e nadar. Mowgli SE REFESTELAVA mergulhando e

olhando os peixes saltarem contra a correnteza. Quando saía da água, Mowgli

via seus irmãos CHACOALHAREM o pêlo para tirar o excesso de água do corpo

e fazia o mesmo, sacudindo os ombros, sem perceber que não era tão peludo

quanto seus irmãos.

Quando não estava aprendendo algo, Mowgli se sentava ao sol e dor-

mia. Também gostava de dormir um pouco após comer. Seus irmãos riam

dele porque ele gostava de comer frutas e ia catá-las no alto das mangueiras.

Mowgli descobriu também os cocos verdes e adorava beber água de coco.

Seus parentes peludos também apreciaram o gosto do fruto dos coqueiros.

Bagheera ensinou a Mowgli como escalar os trechos mais difíceis das

montanhas e como manter o equilíbrio nas árvores. Ele e seu amigo pantera

se divertiam muito pelas fl orestas. Baloo tentou ensiná-lo a pegar o mel das

abelhas, mas Mowgli achou o preço do mel muito alto, visto que ele fi cava

dentro da COLMÉIA e as abelhas lutavam bravamente para defender seu lar.

Baloo tinha uma grossa pele de urso e não se importava muito com as picadas

das abelhas, mas Mowgli sentia que quebrar a casa e roubar o mel delas talvez

não fosse a melhor coisa a fazer. Pelo menos enquanto não aprendesse a se

comunicar com as abelhas e a encontrar uma forma de retirar o mel com a

ANUÊNCIA das bravas guerreiras aladas.

✎ SE REFESTELAVA: tinha muito prazer, se divertia muito

✎ CHACOALHAREM: sacudirem

✎ COLMÉIA: a casa das abelhas

✎ ANUÊNCIA: concordância, consentimento

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À medida que crescia, Mowgli ia sendo mais respeitado pelos outros

lobos e começou a participar das reuniões da alcatéia na pedra grande. Estava

sempre disposto a ajudar seus companheiros lobos. Quando um deles fi ncava

um espinho na pata, o garoto conseguia facilmente retirá-lo com os dedos e

com isso ia ganhando o respeito e a admiração de todos.

Algumas vezes, durante a noite, Mowgli se aproximava da cidade. Certa vez,

chegou bem perto de onde viviam os humanos e os observou atentamente. Os

humanos eram algo que ele não entendia muito bem. Ele não entendia como os

homens podiam viver afastados da fl oresta, dos rios, da montanha. Como podiam

viver confi nados em suas casinhas de onde saía uma fumaça do telhado?

Às vezes tinha vontade de se aproximar e perguntar algumas coisas aos

humanos, mas não sabia falar a língua deles. Além disso, não confi ava nos

homens. Por três vezes Bagheera tinha salvado Mowgli de pisar em armadilhas

que os humanos colocam na fl oresta para capturar os animais.

— Eles põem esses ferros pontudos escondidos sob folhas secas. Põem

uma comida por perto. Se uma raposa pisa ali, o ferro se fecha e as pontas se

cravam na perna dela. Ela não tem como fugir e sente uma dor incrível! — dizia

a pantera na lembrança de Mowgli.

— Mas por que os homens fazem isso? Eles comem as raposas?

— Não. Eles tiram a pele delas para fazer casacos.

“Mas isso é muito cruel”, pensava Mowgli, com certa vergonha de ter

nascido em uma espécie que causa tanto sofrimento aos animais indefesos.

Mas, como sabia que era um lobo, Mowgli se sentia livre.

Capítulo 5

A FLOR VERMELHA

Sua infância de descobertas o tornou um garoto forte e ATILADO. Todos

lhe davam muitos conselhos. Sua mãe dizia:

✎ ATILADO: esperto, sagaz

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— Filho, tome muito cuidado com Shere Khan. Aquele tigre odeia os

lobos e, quando você ainda era bebê, ele jurou que um dia iria matá-lo. Talvez

um dia você tenha que lutar com ele para defender a sua própria vida. Tenha

muito cuidado, meu fi lho.

Mas a Loba Mãe não sabia que a memória dos fi lhotes humanos não era

tão boa quanto a dos lobinhos e Mowgli logo esqueceu essa recomendação

de sua mãe a respeito do tigre.

Akela estava velho e já não podia acompanhar como antes o dia-a-dia

da matilha. Shere Khan sabia disso e começou a rondar o território dos lobos.

O plano do tigre era infl uenciar os jovens lobos, fi car amigo deles. Os jovens

não sabiam do passado do tigre e poderiam ser facilmente iludidos por ele.

Khan caçava e dava comida para os jovens lobos que tinham preguiça de

buscar a própria comida.

Quando fi cou sabendo disso, Akela nada pôde fazer, pois estava velho e

fraco e os jovens não respeitavam sua autoridade. Shere Khan usava a rebeldia

dos jovens lobos contra a alcatéia:

— Por que vocês, lobos, tão jovens e cheios de energia, obedecem

ao comando de um velho lobo DECRÉPITO? Por que vocês fi cam em uma

alcatéia que abriga um fi lho de humanos?! Isso é uma vergonha para o

Povo Livre.

— Sim, é mesmo! — concordavam alguns jovens lobos de modo AFOITO

e IRREFLETIDO.

— Por que vocês não se revoltam? Por que admitem essa vergonha em

sua alcatéia? Para quem vê a coisa de fora, como eu vejo, é uma vergonha que

os lobos sejam dominados por um humano. Isso é uma vergonha!

Os jovens lobos se olharam confusos. Alguns tinham raiva de Mowgli, e

agora o viam como o forasteiro que roubava o poder da alcatéia. O RUMOR

✎ DECRÉPITO: muito velho, idoso, desgastado

✎ AFOITO: apressado, precipitado

✎ IRREFLETIDO: sem pensar, sem ponderar, sem refl exão

✎ RUMOR: murmúrio, burburinho

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dessa CONSPIRAÇÃO contra Mowgli chegou aos ouvidos de Bagheera, que

preocupado foi falar com o menino-lobo.

— Mas eu não me sinto como um humano. Eu sou parte desta alcatéia.

Não entendo por que os lobos mais jovens possam estar contra mim — dizia

Mowgli para Bagheera, o seu amigo pantera.

— Irmãozinho, é melhor você fi car atento. Shere Khan é ARDILOSO. Ele

é um verdadeiro perigo para você. Akela está velho e, quando não conseguir

mais caçar, deverá perder seu posto de alfa. Quando isso acontecer, os lobos

jovens, infl uenciados pelo tigre, devem se voltar contra você — Bagheera

falava preocupado.

— Pode ser, mas eu nunca quebrei nenhuma lei da selva e vejo os jovens

lobos como meus irmãos!

— Mas, do jeito que as coisas vão, seus irmãos podem matar você,

quando tiverem uma chance.

— Mas por quê? — quis saber o menino com o coração AFLITO.

— Porque você é diferente e algumas pessoas têm difi culdade em

aceitar quem é diferente. Porque você é um homem, um humano, e a

mente deles está programada para se defender dos humanos assim como

a mente da maioria dos humanos está programada para explorar os animais

e a Natureza.

Mowgli fi cou quieto. Pela primeira vez na vida sentiu uma dor por dentro

de seu coração. Era como se ele batesse fora do lugar, meio que derretido por

um sentimento forte que o machucava.

— Escute, meu irmão — disse a pantera. — Você tem que se preparar.

Eu e Baloo não poderemos ajudá-lo para sempre. Quando Akela não tiver

mais forças, os jovens vão se voltar contra ele e contra você na reunião do

Conselho da Floresta.

— Mas o que eu posso fazer para me preparar? — perguntou Mowgli.

✎ CONSPIRAÇÃO: trama, algo planejado às escondidas

✎ ARDILOSO: que usa ardis, artimanhas, para enganar os outros

✎ AFLITO: com afl ição, preocupação

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— Já sei. Desça a montanha e vá até o vilarejo dos humanos. Lá

você vai procurar pelas Flores Vermelhas que crescem na VÁRZEA. Pegue

algumas flores e, quando a hora certa chegar, você terá um amigo mais

forte do que eu e do que Baloo para lhe ajudar contra a revolta dos

jovens lobos.

— É só isso? Ir até o pé da montanha e pegar algumas Flores

Vermelhas?

— Sim — disse a pantera.

— Mas onde elas crescem? Como elas são?

— Os humanos criam essas fl ores no inverno. Elas fi cam em potes,

do lado de fora das casas e soltam fumaça.

A fl or vermelha a que ele se referia não era um vegetal, era o fogo.

Os animais da fl oresta temiam a luz e o calor do fogo, energia que não

sabiam como dominar.

Nos dias seguintes, a saúde de Akela declinou e Mowgli percebeu como

os jovens lobos se agitavam. Estava na mata quando ouviu a alcatéia correndo.

Caçavam um jovem e grande ANTÍLOPE. Akela, como líder da matilha, correu

na frente dos outros e pulou no BOVÍDEO, mas seu impulso já não era tão

vigoroso, suas garras não fi rmavam como antes e seus dentes tinham perdido

a potência da juventude. Assim, o antílope conseguiu dar um coice no velho

lobo e, fazendo uma curva, fugiu por uma trilha na fl oresta. Akela fi cou atirado

no chão, respirando com difi culdade. O tempo havia chegado para ele. Não

tinha mais condições de ser o líder da alcatéia. Os jovens lobos, que o olhavam

atirado no chão, sabiam disso.

Vendo a cena, por detrás dos arbustos, Mowgli resolveu que era hora

de descer a montanha e pegar a Flor Vermelha.

✎ VÁRZEA: planície fértil em um vale

✎ ANTÍLOPE: mamífero ruminante com chifres longos

✎ BOVÍDEO: indivíduo da espécie dos bovídeos, mamíferos

herbívoros e ruminantes, com dedos protegidos por cascos,

dotados de chifres

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Capítulo 6

A PEDRA DO ALFA

A noite estava começando quando o menino-lobo chegou à cidade.

Bagheera estava enganado. Os potes com as fl ores vermelhas não cresciam

fora das casas, mas dentro delas. O fogo estava nos fogões à lenha e nas

lareiras que as pessoas acendiam para se proteger do frio do inverno na

região das montanhas Seeonee.

Mowgli se aproximou de uma janela e viu o fogo CREPITANDO dentro

de uma lareira. Havia duas crianças brincando perto do fogo. O garoto sentiu

vontade de brincar com elas, mas logo apareceu um humano adulto. Tinha a

barriga grande e um bigode enorme. Mowgli teve medo de que o adulto o

visse e se escondeu.

Depois, continuou espiando e aprendendo como os humanos faziam

para manter o fogo aceso. Como abanavam a Flor Vermelha para que ela cres-

cesse. Aprendeu como as LABAREDAS apreciavam gravetos e folhas secas,

devorando-os com estralos de prazer. Quando as crianças saíram de casa

para brincar carregando pedaços de madeira pegando fogo, Mowgli fi cou

FASCINADO. Aquelas tochas improvisadas faziam desenhos no ar e as crianças

riam, correndo e brincando.

Sentindo-se seguro, o menino-lobo se aproximou delas e, pela linguagem

universal da amizade, começou a brincar com elas. Por alguns minutos Mowgli

e as três crianças correram e brincaram, fazendo desenhos no ar com o fogo

e as faíscas. Até que...

— Mas o que vocês estão aprontando agora? — gritou o pai das crianças.

A voz vinha de dentro da casa.

✎ CREPITANDO: som da madeira estalando quando consumida

pelo fogo

✎ LABAREDAS: língua de fogo, chama alta

✎ FASCINADO: encantado, seduzido

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As crianças se assustaram e largaram os sarrafos no chão. Mowgli pe gou

um deles e fugiu para a fl oresta, sem ser visto pelo adulto que agora dava uma

bronca nas crianças:

— Já disse para vocês mil vezes: fogo não é brinquedo.

Realmente, a Flor Vermelha não era nenhum brinquedo. Enquanto corria

pela selva, Mowgli ia DESVENDANDO os mistérios daquela energia de chamas

amarelas e de brasa vermelha. Aprendeu que o ar alimentava o fogo. Viu

que, soprando a brasa, ela se animava e aumentava a COMBUSTÃO. Isso era

interessante porque aumentava o calor e a claridade, embora para isso o fogo

cobrasse um preço alto e devorasse a madeira com maior rapidez.

Quando chegou à caverna, Mowgli continuou observando e estudando

o fogo. Viu como doía tocá-lo. Viu que a pele fi cava chamuscada e ardendo.

Aprendeu a manter o fogo aceso e a manejar o pedaço de pau com fogo na

ponta como se fosse uma arma. Seus irmãos e seus pais não estavam na caverna,

mas no fi nal da tarde Tabaqui chegou para uma visita apressada.

— Mowgli, Mowgli! Você tem que participar da reunião do Conselho

da Floresta.

Vendo a expressão afl ita do velho chacal, Mowgli sorriu pensando que

não havia motivos para tanta preocupação, pois agora ele tinha um TRUNFO, um

elemento surpresa: o fogo. Sem entender o sorriso e o DESCASO do menino-

lobo, Tabaqui saiu da caverna assustado e se perguntando:

— Será que Mowgli enlouqueceu? Será que não percebe o perigo que

está correndo? Será que ignora que Akela já não é o líder e que o novo alfa

será escolhido na reunião do Conselho da Floresta? Será que não sabe que os

lobos mais jovens querem expulsá-lo da alcatéia e que Shere Khan quer a sua

cabeça e o seu coração?

✎ DESVENDANDO: descobrindo, conhecendo

✎ COMBUSTÃO: queima

✎ TRUNFO: uma vantagem (geralmente guardada em segredo) que

permite o sucesso ou a vitória em algum projeto

✎ DESCASO: desconsideração, desapreço, desprezo

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Tabaqui sentia o coração apertado com tantas perguntas sem

respostas.

Com calma, confi ança, um sorriso no rosto e uma tocha na mão, o menino-

lobo se dirigiu para o Conselho da Floresta. Akela não estava em seu local de

costume, que era uma pedra um pouco mais alta do que a do resto da alcatéia.

A pedra do alfa estava livre, ou seja, qualquer lobo poderia tentar subir nela.

Se um lobo subisse e outro lobo se achasse no direito de também ser o líder,

eles poderiam chegar a um acordo ou então lutar pela posição de alfa.

Shere Khan estava por perto também, observando tudo. As coisas haviam

mudado, pois os lobos que eram contra o velho tigre ou já haviam morrido ou

estavam envelhecidos e fracos. Mowgli sentou-se no círculo, perto de Baloo

e ao lado de Bagheera e deixou sua tocha no chão.

O tigre começou a falar, com um tom agressivo que ele jamais tinha usado

no Conselho quando Akela era o líder.

— Lobos! É a hora da renovação. O velho fi ca mais velho, desaparece! E

o novo fi ca mais forte! Vamos escolher o novo líder! Vamos mudar a fl oresta!

Os lobos mais jovens se animaram com o discurso. Os mais antigos

RETRUCARAM e Mowgli, não aceitando as palavras do tigre, falou:

— Povo Livre... Povo Livre! Meus irmãos lobos. Agora que Akela está

velho e cansado de anos de uma liderança brilhante de muitos ensinamentos

e cuidados para com todos nós, estamos aqui para escolher o novo líder.

Mas quem eu vejo falar? Shere Khan. Por acaso ele faz parte do Povo Livre?

Por acaso Khan é um lobo? O que ele está fazendo aqui? — perguntava

Mowgli e, olhando para o tigre, completou. — O que você está fazendo

aqui, Shere Khan?

O tigre ia falar, mas Akela o impediu, com um rosnado de alfa e falou:

— Povo Livre, meu Povo Livre. Por vinte verões eu os liderei pela

selva. Corremos juntos sob o sol, a chuva, a neve e a lua cheia. Uivamos,

comemos e vivemos aqui na floresta, como uma grande e aquecida

família peluda. Nunca nesses anos todos nenhum de nós foi pego numa

✎ RETRUCARAM: responderam, argumentaram

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armadilha dos homens. Tenho dado o melhor de mim, sempre tentando

fazer o que é justo e o que for o melhor para todos. Mas estou velho

e falhei em minha última caçada e por isso devo ser substituído, como

manda a lei. Por isso pergunto: quem de vocês vai subir naquela pedra

e tomar o meu lugar? Quem de vocês vai me enfrentar? Porque a lei diz

que o novo líder deve me derrotar e provar o seu valor.

Ninguém falou nada. Nenhum lobo gostaria de enfrentar Akela. Mas

Shere Khan fi cou irritado com o respeito de todos pelo velho lobo e disse:

— Bah! Quem é que se importa em derrotar um velho decrépito e

desdentado como você, Akela? Ninguém! Todos têm pena de você. Mas

eu não me importo com isso, porque você está com os dias contados. Eu

me importo sim com o fi lhote de humanos! Ele é um problema! Ele era meu,

minha caça! Eu quis matá-lo quando ainda era um bebê, mas Akela, Baloo e

os lobos mais velhos não deixaram. Mas hoje eu digo: Mowgli é meu! É meu!

Povo Livre, eu afi rmo, deixem que eu me apodere de Mowgli.

Os lobos permaneceram quietos por alguns momentos, PERPLEXOS com

a ira e a vingança nos olhos do tigre, até que Akela disse:

— Khan, como você consegue REMOER uma coisa por tantos anos? Será

que você não percebe que Mowgli é um de nós? Não percebe que desde

bebê ele correu com a alcatéia pelo mundo, aprendendo as linguagens da

selva? Não percebe como ele é dedicado e amigo de todos e seguidor da lei

da selva? Seu pedido é ridículo e sem fundamento.

O tigre rugiu com ira e disse:

— Ele é um homem! Um ser humano! Vocês não percebem isso? Não

vêem que ele é o inimigo, que ele é o espião? Vocês estão criando um humano

e isso é uma grande e perigosa loucura.

— Sim, ele é um homem! Ele é o inimigo! — gritaram os lobos mais

jovens, infl amados pelas palavras de Shere Khan.

Bagheera falou para Mowgli:

✎ PERPLEXOS: surpresos, espantados

✎ REMOER: pensar muito, refl etir sem parar sobre algo

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— Sapo, o tempo vai fechar, é melhor estar preparado. Acho que infelizmente

as palavras e os sentimentos não vão resolver mais nada por aqui. Eles querem

brigar e vão ter o que pedem. Estou do seu lado para o que der e vier.

Capítulo 7

SOMOS TODOS TERRÁQUEOS

Mowgli fez um carinho na grande cabeça negra de seu amigo pantera.

Sorriu confi ante e, segurando uma tocha de fogo, falou:

— Ei, escutem. Escutem o que vou dizer. Eu teria sido um lobo junto

com vocês até morrer. Eu teria corrido pela selva com o Povo Livre, feliz e

alerta até meu dia fi nal. Mas vocês foram bem claros em dizer que eu sou

um homem, que eu não sou um lobo e que por isso eu não mereço estar

entre vocês.

Os lobos ouviam Mowgli em silêncio e o rapaz continuava, sentindo

um peso desconhecido em sua voz, uma forte emoção:

— Por isso não vou mais chamá-los de irmãos. Vou chamá-los de lobos,

como os homens chamam. E como um homem que eu sou, vou fazer coisas

de homem. Vou carregar esse pedaço de pau que os animais não humanos

tanto temem. E vou usar a fl or vermelha no meu dia-a-dia — disse, balançando

a tocha ardente no ar da fl oresta.

Os lobos recuaram alguns metros com medo das labaredas.

— Vou deixar vocês, que um dia foram a minha tribo, a minha família,

e serei um homem entre os homens. Mas antes tenho um assunto a resolver

com você, Shere Khan.

O tigre o olhou com malícia assassina nos olhos. Pressentindo o perigo

da situação, Bagheera fi cou bem ao lado do rapaz.

— Khan, você sempre quis me matar. Mesmo quando eu era apenas um

bebê indefeso você já queria minha cabeça. Você armou esse complô contra

mim e destruiu a harmonia da minha vida. Venha me matar agora. Será que

você tem coragem? Agora eu sou um homem, tenho o poder do fogo. Venha

me pegar, Khan, que eu vou enfi ar essa tocha na sua boca.

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Com raiva por se sentir AFRONTADO, o tigre pulou sobre Mowgli.

Sentindo seus poros se arrepiar e seu espírito guiar seus movimentos, o

rapaz pulou para o lado e, enquanto se esquivava, DESFERIU um forte

golpe, com o sarrafo em chamas, na cabeça de Khan. O tigre soltou

um forte grito de dor e veio para cima de Mowgli mais uma vez. Mas o

garoto já previa o movimento do felino e pulou para cima de uma árvore.

Khan acertou o tronco da árvore com sua pata, arrancando muitas lascas.

Mowgli aproveitou para queimar novamente seu adversário com outro

golpe e disse:

— Está doendo, né?

O tigre nada respondeu. Mas era visível que mancava muito.

— Suma daqui, Khan, e nunca mais volte para o nosso território. Se você

reaparecer aqui, eu vou fi car sabendo e vou arrancar o seu couro como os

humanos fazem com os bichos.

Intimamente, só de se imaginar arrancando a pele de um animal, Mowgli

sentia um arrepio, mas teve que dizer aquelas coisas horríveis para evitar uma

guerra entre os jovens lobos comandados por Khan e os velhos lobos, guiados

por ele, Akela, Bagheera e Baloo. Deu certo. O tigre foi embora mancando,

com a cabeça baixa e o pêlo ardido pelo fogo.

— E vocês, Povo Livre, devem escolher um novo alfa. Mas Akela deve

ser livre para viver em paz seus últimos anos. O novo líder não precisa matar

Akela para assumir o domínio da matilha.

Muitos lobos concordaram com essa regra, balançando a cabeça.

Mas aqueles que tinham sido infl uenciados por Shere Khan estavam muito

incomodados. Mowgli percebeu a oposição deles e disse.

— E quanto a vocês, amigos do tigre, exijo que se retirem ime dia ta-

mente desta matilha e que nunca mais pisem neste Conselho de Lobos do

Povo Livre da Floresta. A não ser que os lobos que ainda estão por nascer,

no futuro, tenham outra percepção e perdoem o erro de vocês.

✎ AFRONTADO: confrontado, molestado

✎ DESFERIU: soltou

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Os jovens lobos obedeceram às ordens de Mowgli e a reunião se

esvaziou. Agora apenas o rapaz, Bagheera, Akela e outros dez lobos mais

antigos faziam companhia para o Sapo humano. Vendo a alcatéia separada,

olhando o vazio nos lugares onde antes estavam os jovens lobos, Mowgli

sentiu uma grande vontade de chorar e algumas lágrimas começaram a sair

de seus olhos.

— Pantera, o que está acontecendo comigo? Por acaso eu vou

morrer?

O felino negro riu:

— Calma, amigo, você não vai morrer, pelo menos não agora. Se de-

pender de mim, você vai viver muitos anos ainda, para ensinar aos outros

hu manos que somos todos animais, somos todos terráqueos, habitantes do

mesmo planeta. Você tem que contar para os homens como é limpa e livre a

vida na selva. Tem que dizer a eles que parem com as guerras, com as bombas,

os agrotóxicos, a poluição das fábricas e dos carros. Que parem de explorar

a si mesmos e à Natureza. Fale para eles, Mowgli, que eles fazem parte da

Natureza, que não precisam ser inimigos dela.

Mowgli estava admirado com a sabedoria de Bagheera e a pantera

continuava:

— Essas lágrimas que você está derramando vão irrigar o seu coração

e dele vão sair frutos muito saborosos que vão nutrir a alma dos homens e

ensiná-los a respeitar os animais, as pessoas e o planeta.

Mowgli então agradeceu a Bagheera pelas palavras e se aproximou de sua

mãe. Ajoelhando-se sobre o grosso pêlo da loba, o rapaz chorou, enquanto

falava baixinho algumas palavras cheias de carinho. Por fi m, lambeu o rosto de

sua mãe, num gesto de carinho e cuidado.

Dois de seus irmãos também estavam ali.

— Vocês vão se esquecer de mim? — o garoto perguntou.

— Enquanto pudermos farejar o chão e o ar, nunca vamos esque-

cer de você e desse seu cheiro insuportável — os irmãos de Mowgli

disseram rindo.

— Apareça no fi m do dia, perto das plantações de milho, para a gente

brincar enquanto a lua cheia nasce — disse o outro irmão.

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Mowgli abraçava os irmãos emocionado.

— Volte sempre que quiser, e venha nos visitar, Sapinho. Lembre-se de

que eu e sua mãe já estamos fi cando velhos — disse o Grande Lobo.

O dia começava a raiar enquanto Mowgli descia o morro sozinho para

encontrar aquelas criaturas desconhecidas que os animais conheciam como

homens.

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Roteiro de leitura

Onde se passa a história?

O texto é narrado em primeira ou em terceira pessoa?

Quem era Shere Khan?

Como se chama o líder de uma alcatéia?

Qual era a comida preferida de Mowgli?

Quando Mowgli saía do rio ele sacudia os ombros, mesmo sem ter

pêlos. Por quê?

Por que Mowgli não pegava o mel das abelhas?

Os animais do livro achavam muito estranho que os humanos se vestissem

com a pele de outros animais. Qual a sua opinião sobre isso?

Pela lei da selva, os animais podiam matar os humanos?

Por que no capítulo 4 o texto afi rma que Mowgli não confi ava nos seres

humanos?

Para os animais da história os humanos são vistos como seres vingativos.

Você concorda com essa visão? Por quê?

É possível afi rmar que a história de Mowgli é uma história sobre aceitarmos

as diferenças? Por quê?

O que era a Flor Vermelha?

Mowgli era muito diferente dos lobos e mesmo assim foi criado por

eles. Na sua sala de aula, pense em quem você acha que é a pessoa

mais diferente de você. Pense também no que você poderia fazer

para ser mais amigo ou amiga dessa pessoa e, se possível, coloque

suas idéias em prática.

No fi nal da história, Mowgli vai viver com os homens. Na sua opinião

os humanos o aceitariam como um igual ou Mowgli também sofreria

preconceitos por parte dos seres de sua própria espécie?

Que conselhos Bagheera dá a Mowgli no fi nal da história? Você concorda

com a pantera? Por quê?

Pense sobre o seu dia-a-dia. Em sua opinião, você explora os animais? Em

quais momentos? O que você pode fazer para melhorar isso?

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Cite algumas coisas que as pessoas podem fazer para não explorar os

animais.

De que parte da história você mais gostou? Por quê?

Forme uma dupla ou um trio. Escolha uma cena do livro e a apresente para

o resto da turma.

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OS IRMÃOS DE MOWGLI

Rudyard Kipling

BIOGRAFIA DO AUTOR

Rudyard Kipling, o autor das histórias de Mowgli, nasceu em Bombaim

(também chamada de Mumbai), capital do estado de Maharashtra, na Índia,

em 1865. Quando ainda era criança, Kipling foi mandado por seu pai para a

Inglaterra, para estudar. Logo no início, o garoto conviveu com parentes que não

entendiam as diferenças culturais entre um menino vindo da Índia e o estilo de

vida inglês. Foi um período difícil para Kipling.

Em 1882 ele voltou para a Índia, tinha então dezessete anos. Trabalhou

como jornalista para jornais publicados em inglês. Naquele tempo a Índia era

uma colônia dos britânicos e havia muitos ingleses negociando e trabalhando

naquele país. Além de escrever para jornais, Kipling começou a publicar suas

histórias e, aos poucos, foi fi cando famoso na Índia.

Em 1887 um livro seu foi publicado na Inglaterra e acabou sendo muito bem

recebido pelos leitores. Rudyard Kipling tinha uma visão diferente do mundo e seus

textos davam importância para os personagens pobres, as pessoas miseráveis da

Índia e os soldados ingleses que também viviam momentos difíceis na Ásia.

Em 1899, ele lançou Stalky e Cia., um livro sobre a vida de estudantes na

Inglaterra que foi detestado pela crítica. Em 1901 publicou Kim, contando as

aventuras de um garoto inglês na Índia. Kipling também publicou livros de poesia.

Seus poemas eram muito musicais e conseguiam se expressar da mesma forma

que as pessoas comuns.

As histórias de Mowgli foram publicadas em 1894, num volume chamado

O livro da selva, e foi um enorme sucesso entre leitores de todas as idades.

Rudyard Kipling morreu em 1936, em sua bela casa na cidade de Sussex,

na Inglaterra. Seu corpo está enterrado na ABADIA Westminster, em Londres,

perto de outros escritores e poetas importantes.

✎ ABADIA: residência de um abade, mosteiro

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