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216 Irregularidades em concurso público* 1 * Parecer emitido pelo Ministério Público de Contas. Até o fechamento desta edição, no Tribunal de Contas não havia manifestação definitiva acerca da matéria. Excelentíssimo Senhor Conselheiro Relator, 1 BREVE RELATÓRIO FÁTICO Versam os presentes autos sobre o Edital de Concurso Público n. 01/2012 para provimento de cargos efetivos e cadastro de reserva do Quadro de Pessoal do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), autuado por determinação do Conselheiro Presidente desta Corte de Contas a fls. 149. Em cumprimento ao expediente acostado na Secretaria do Pleno a fls. 4, foi intimado o representante legal do Indi para apresentação de documentos a fls. 5. Em atendimento, foram colacionados aos autos: Decretos Estaduais n. 42.899/2002 (fls. 11-18), n. 43.102/2002 (fls. 19), n. 44.388/2006 (fls. 20-22), n. 42.257/2002 (fls. 23-25); Leis Estaduais n. 11.867/1995 (fls. 26- 27), n. 13.392/1999 (fls. 28), n. 13.088/1999 (fls. 29-30); Leis Federais n. 7.853/1989 (fls. 31-36) e n. 10.741/2003 (fls. 55-75); Decretos Federais n. 3.298/1999 (fls. 37-50) e n. 6.135/2007 (fls. 51-54); edital do concurso público (fls. 76-96) com as publicações no Jornal Estado de Minas (fls. 130), Jornal O Tempo (fls. 131) e Diário Oficial de Minas Gerais (fls. 122-129). Juntados também: quadro informativo de cargos e vagas a serem preenchidos pelo concurso (fls. 132); atos constitutivos do Indi (fls. 134-148), pessoa jurídica de direito privado integrante da Administração Pública Indireta e vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sede) (fls. 134), cujo Capital Social e Recursos — arts. 5º-6º do ato constitutivo — apresentam como mantenedora a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG), com aporte operacional de recursos públicos em geral. Ato contínuo, foi determinada a autuação do feito pelo Conselheiro Presidente desta Corte de Contas a fls. 149, procedendo-se à distribuição a fls. 150. Foram os autos encaminhados para análise da unidade técnica, que se manifestou pontualmente acerca do certame a fls. 151-165, sugerindo a suspensão cautelar na fase em que se encontrava, até que o responsável legal: DICOM TCEMG PROCURADOR MARCÍLIO BARENCO CORRÊA DE MELLO

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Irregularidades em concurso público*1

* Parecer emitido pelo Ministério Público de Contas. Até o fechamento desta edição, no Tribunal de Contas não havia manifestação definitiva acerca da matéria.

Excelentíssimo Senhor Conselheiro Relator,

1 BREVE RELATÓRIO FÁTICO

Versam os presentes autos sobre o Edital de Concurso Público n. 01/2012 para provimento de cargos efetivos e cadastro de reserva do Quadro de Pessoal do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), autuado por determinação do Conselheiro Presidente desta Corte de Contas a fls. 149.

Em cumprimento ao expediente acostado na Secretaria do Pleno a fls. 4, foi intimado o representante legal do Indi para apresentação de documentos a fls. 5. Em atendimento, foram colacionados aos autos: Decretos Estaduais n. 42.899/2002 (fls. 11-18), n. 43.102/2002 (fls. 19), n. 44.388/2006 (fls. 20-22), n. 42.257/2002 (fls. 23-25); Leis Estaduais n. 11.867/1995 (fls. 26-27), n. 13.392/1999 (fls. 28), n. 13.088/1999 (fls. 29-30); Leis

Federais n. 7.853/1989 (fls. 31-36) e n. 10.741/2003 (fls. 55-75); Decretos Federais n. 3.298/1999 (fls. 37-50) e n. 6.135/2007 (fls. 51-54); edital do concurso público (fls. 76-96) com as publicações no Jornal Estado de Minas (fls. 130), Jornal O Tempo (fls. 131) e Diário Oficial de Minas Gerais (fls. 122-129). Juntados também: quadro informativo de cargos e vagas a serem preenchidos pelo concurso (fls. 132); atos constitutivos do Indi (fls. 134-148), pessoa jurídica de direito privado integrante da Administração Pública Indireta e vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sede) (fls. 134), cujo Capital Social e Recursos — arts. 5º-6º do ato constitutivo — apresentam como mantenedora a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG), com aporte operacional de recursos públicos em geral.

Ato contínuo, foi determinada a autuação do feito pelo Conselheiro Presidente desta Corte de Contas a fls. 149, procedendo-se à distribuição a fls. 150.

Foram os autos encaminhados para análise da unidade técnica, que se manifestou pontualmente acerca do certame a fls. 151-165, sugerindo a suspensão cautelar na fase em que se encontrava, até que o responsável legal:

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PROCURADORMARCÍLIO BARENCO CORRÊA DE MELLO

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a) Proceda às adequações abaixo relacionadas, atendendo às normas legais e constitucionais:

• Incluir, nos subitens 4.3.5, b, e 6.2.4.2, b do edital, a possibilidade de encaminhar os documentos nele previstos, por correio com AR.

• Incluir, no subitem 14.3 do edital, os exames médicos que serão exigidos do candidato no momento da avaliação médica.

• Incluir, no subitem 5.1 do edital, a possibilidade de conceder isenção do pagamento da taxa de inscrição a todos os hipossuficientes, ressaltando-se que a comprovação da hipossuficiência poderá ser feita mediante qualquer meio legalmente admitido.

• Incluir, no edital, cláusula prevendo que, em face do arredondamento permitido, a 1ª vaga a ser preenchida por deficiente físico será sempre a 5ª vaga e, ainda, a 11ª, a 21ª, a 31ª, a 41ª e assim sucessivamente.

• Incluir, no subitem 15.32 do edital, o prazo para a guarda dos documentos atinentes ao concurso público, para adequar-se às regras do Conarq, bem como considerar o prazo prescricional previsto no Decreto n. 20.910/31 caso não haja legislação a respeito.

• Retificar os subitens 13.5, 14.2 e 15.18 do edital, de modo a conferir aos candidatos aprovados, dentro do número de vagas oferecidas, o direito subjetivo à admissão e suprimir os critérios de oportunidade e conveniência neles previstos.

• Retificar o subitem 12.2 do edital incluindo outras formas de interposição de recursos (presencial, por procuração e via correios — por Sedex ou por AR).

• Retificar o subitem 6.2.4 do edital, a fim de conferir a todos os candidatos com deficiência física que se inscreverem no concurso, um prazo razoável para o encaminhamento do laudo médico.

• Retificar os subitens 15.25 e 15.27 do edital, de forma a constar o direito à ampla defesa e ao contraditório, nas situações neles previstas.

• Retificar o subitem 14.2, l, do edital, de forma a constar, com clareza e objetividade, quais processos impedirão a admissão do candidato, fazendo constar ainda a necessidade de haver trânsito em julgado da sentença condenatória.

• Retificar o subitem 11.29, h, do edital, excluindo a possibilidade de eliminação de candidato que recusar a submeter-se à identificação digital.

b) Proceda à juntada, aos autos, de:

• Legislação que disponha sobre a jornada de trabalho (prevista no subitem 2.2 do edital), os vencimentos oferecidos para os empregos (Anexo A do edital), a escolaridade exigida para os empregos (Anexo A do edital) e atribuições dos empregos (Anexo A do edital).

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• Declaração ou qualquer documento equivalente atestando que o edital foi afixado no quadro de avisos da entidade, conforme determinação contida na Súmula n. 116 deste Tribunal.

• Quadro informativo de pessoal, com a discriminação do quantitativo das vagas de cargo/emprego criadas, extintas, ocupadas e disponíveis, acompanhado da devida fundamentação legal.

Pontuados os itens acima, houve o encaminhamento dos autos à relatoria a fls. 166, abrindo-se vistas a este Parquet a fls. 167.

É o breve relatório fático.

2 FUNDAMENTAÇÃO

Antes de adentrarmos no mérito, impende destacar que o Fiscad (Fiscalização dos Atos de Admissão) é um processo eletrônico de exame de legalidade para fins de fiscalização dos atos de admissão e contratação de pessoal, por meio de concurso público, nos termos do art. 71, III, c/c art. 75, ambos da Constituição Federal c/c art. 76, VI, da Constituição do Estado de Minas Gerais.

A Constituição Federal de 1988 assim preconiza:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

[...]

III — apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;

[...]

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição, fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. [...] (grifo nosso)

Nessa senda, pelo princípio constitucional da simetria, a Constituição do Estado de Minas Gerais prescreve:

Art. 76. O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas, ao qual compete:

[...]

V — apreciar, para o fim de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, pelas administrações direta e indireta, excluídas as nomeações para cargo de provimento em comissão ou para função de confiança; (grifo nosso)

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As cortes de contas, inseridas num contexto normativo orientado pelas constituições, estão a estas também submetidas, devendo, portanto, pautar sua atuação nos valores e princípios nelas contidos, a fim de que sejam reconhecidas como instrumento burocrático voltado à implementação dos princípios constitucionais axiológicos, político-constitucionais e jurídico-constitucionais, bem como órgão democrático garantista e como mecanismo de desenvolvimento da eficiência do agir estatal, voltado ao bem comum da sociedade.

O exórdio da presente manifestação se deu em consonância com o cumprimento da IN TC n. 05/2007, alterada pela IN TC n. 04/2008 e n. 08/2009, regulando, conforme ementa:

Dispõe sobre critérios e procedimentos acerca da remessa, de documentos e informações necessárias à apreciação da legalidade para fins de registro e controle dos atos de admissão de pessoal da Administração Direta e Indireta dos Poderes do Estado e dos Municípios.

Visando atender ao princípio da celeridade processual e razoável duração do processo (ex vi inciso LXXVIII do art. 5º da CF/88), voltou-se esta Corte de Contas para a modernização de seus procedimentos de controle e fiscalização, entre os quais a implantação do software Fiscad.

A nova sistemática de informação de dados, na busca da necessária modernidade tecnológica dos órgãos de contas em geral, impôs ao jurisdicionado um regime de autodeclaração, isto é, preenchimento de um banco de dados preestabelecido, destinado à autodescrição dos atos e fatos jurídicos ocorridos no âmbito da sua própria estrutura administrativa, com remessas periódicas ao respectivo Tribunal, sujeitos à comprovação material imediata, ou seja, com materialidade documental, em casos de verificação de inconsistências, irregularidades ou ilegalidades, em tese, como no presente feito.

3 IRREGULARIDADES APONTADAS PELA UNIDADE TÉCNICA

3.1 Da publicidade do edital

Apontou a unidade técnica, a fls. 155, não ter sido demonstrada pelo Indi, a necessária publicidade do certame (afixação do edital no quadro de avisos da respectiva empresa), fato que pode decerto o invalidar por ofensa ao princípio constitucional da publicidade (artigo 37, caput, CF/88) e à Súmula n. 116 desta Corte de Contas.

Embora haja menção nos autos quanto à publicação em jornal de grande circulação, na imprensa oficial e no site da própria empresa contratada para realização do certame, verifica-se que se trata de método não pleno de divulgação do certame, podendo afetar o critério de conhecimento prévio por parte de potenciais candidatos, ferindo, assim, o princípio da ampla competitividade que se busca por meio dos concursos públicos em geral.

Considerando que o Indi e a Fundep não se desincumbiram de demonstrar que divulgaram amplamente o edital de forma correta pelos métodos retrocitados, entende este Órgão Ministerial que o edital deve ser republicado em todos os meios de comunicação, com afixação no quadro

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de avisos do Indi, publicação no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, em jornais de grande circulação local ou regional, na internet e/ou em outros meios, antes da abertura da fase de inscrições ou, com a reabertura dessas acaso já iniciadas e, consequente comprovação nos autos — por certidão — quanto à afixação nos quadros de aviso —, senão antes de atendidas as demais recomendações abaixo.

3.2 Da ausência de documentos imprescindíveis ao controle de legalidade do certame

O controle técnico desta Corte de Contas apurou a falta de juntada aos autos do Plano de Empregos e Salários e do Quadro Informativo de Pessoal, o que impediu o controle de legalidade acerca de jornada de trabalho, vencimentos, atribuições dos cargos, escolaridade exigida e quantitativo de vagas ofertadas no edital.

Na lição de Hely Lopes Meirelles (Direito administrativo brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 86), aduz-se:

A legalidade, como princípio da administração, significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

[...]

Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa “pode fazer assim”, para o administrador público significa “deve fazer assim.

Destarte, deve o representante legal do Indi ser intimado para cumprimento integral da diligência já determinada a fls. 4, sob as penas do art. 85, III, VI e VII, sem o qual não há como o certame prosseguir, devido ao imperioso controle de legalidade, atribuição desta Corte de Contas.

3.3 Da obrigatoriedade de envio de documentos exclusivamente por correios (Sedex)

Não se apresenta razoável, respeitando-se os princípios jurídicos da economicidade e segurança jurídica, a exclusividade de envio de documentos (nos moldes delineados nos subitens 4.3.5, b, e 6.2.4.2, b) pelos Correios (Sedex).

Assim, deverá o edital ser retificado para prever a possibilidade jurídica de envio de documentos — formulários de restituição e laudo médico — alternativamente por carta registrada, com AR, a critério do candidato, por ser meio idôneo e capaz de produção dos idênticos efeitos almejados pela empresa organizadora do certame, atendendo, sobretudo, o interesse público.

3.4 Da ausência de previsão editalícia quanto à relação de exames pré-admissionais

Atendido o princípio da publicidade, com a transparência necessária aos concursos públicos, a empresa organizadora e o Indi deverão relacionar expressamente os exames pré-admissionais que serão exigidos do candidato ao se submeter à avaliação médica antes da posse no emprego, cargo ou função.

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Deste modo, deverá o edital ser retificado com a inclusão do rol taxativo de exames pré-admissionais.

3.5 Da guarda dos documentos do certame

Sobre a ausência de cláusula editalícia acerca da guarda de documentos do concurso, principalmente das provas e recursos eventualmente interpostos, em que pese falta de lei específica regulamentadora, há de se ter em vista que é razoável o prazo estabelecido pelo Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), na Res. n. 14/2001, que fixa o arquivamento por seis anos.

Essa resolução está em conformidade com o estabelecido no Decreto n. 20.910/1932, segundo o qual fortuita ação judicial poderá ser interposta contra a Administração Pública em até cinco anos a contar do ato ou fato que a ensejar, o que impõe a necessidade de guarda da documentação do certame ao menos por esse período, de modo a assegurar a defesa de direitos por possíveis interessados.

Registre-se que os demais documentos do concurso devem ser guardados para fins de aferição da legalidade dos atos de admissão pelo TCEMG.

Assim, ratificando o apontamento da unidade técnica, o Ministério Público de Contas opina pela retificação do edital (subitem 15.32) para que preveja a guarda do material relativo ao concurso público — notadamente as provas e eventuais recursos interpostos —, pelo prazo mínimo de seis anos, seguindo as normas do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), sem prejuízo do cumprimento de outros prazos aplicáveis à guarda da documentação remanescente, para fins de fiscalização dos atos de admissão pelos órgãos públicos responsáveis.

3.6 Do direito à admissão dentro do número de vagas do edital

Compulsando o edital do certame, mais precisamente os subitens de n. 13.5, 14.2 e 15.18 (fls. 158), apontados pelo órgão técnico, verifica-se constarem as informações condicionantes à admissão dos candidatos classificados mediante critérios “de necessidade e conveniência”, e com exclusão do direito adquirido de admissão, dentro do número de vagas ofertadas.

Nesse diapasão, acompanhando o avanço da jurisprudência dos tribunais superiores, cuja posição se encontra consolidada na melhor doutrina, entende o Ministério Público de Contas que os candidatos aprovados dentro do número de vagas do edital (Anexo A a fls. 97) possuem direito subjetivo à admissão, dentro do prazo de validade do certame e de sua eventual prorrogação (subitem 1.5, a fls. 76), cabendo a aplicação dos critérios de necessidade e conveniência no curso do referido lapso temporal, o qual quando estiver próximo de se findar, imporá a admissão de todos os classificados, respeitada a ordem de classificação do concurso público.1

1 Precedente STF: Recurso Extraordinário n. 598.099. Precedentes STJ: Recursos em Mandato de Segurança n. 15.043, 15.420, 15.945, 20.718.

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O Ministro do STF Gilmar Mendes, em seu voto constante do Recurso Extraordinário n. 598.099/MS, assim asseverou:

[...] Entendo que o dever de boa-fé da administração pública exige respeito incondicional às regras do edital, inclusive quanto à previsão das vagas no concurso público. [...] necessário e incondicional respeito à segurança jurídica. [...] Quando a administração torna público um edital de concurso convocando todos cidadãos a participarem da seleção [...], ela, impreterivelmente, gera uma expectativa quanto ao seu comportamento segundo as regras previstas nesse edital. [...] Aqueles cidadãos que decidem se inscrever e participar do certame público depositam sua confiança no Estado-administrador, que deve atuar de forma responsável quanto às normas do edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma, um dever imposto ao poder público. [...] Respeitada à ordem de classificação, a discricionariedade da administração se resume ao momento da nomeação nos limites do prazo de validade do concurso. [...]

Desse modo, os subitens 13.5, 14.2 e 15.18 do edital do certame deverão ser retificados e adequados para fazer constar o direito subjetivo à admissão dos candidatos classificados, dentro do número de vagas ofertadas no Anexo A a fls. 97, de acordo com a necessidade e conveniência da pessoa jurídica epigrafada, tendo como prazo máximo de admissão a validade do certame e de sua eventual prorrogação.

3.7 Da isenção da taxa de inscrição

Descreve a unidade técnica irregularidade editalícia acerca da concessão da isenção da taxa de inscrição, ora remetida à observância do Decreto n. 6.135/08, que condiciona o direito à isenção, à inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e/ou às famílias de baixa renda (subitem 5.1, a fls. 81)

A unidade técnica propugna, ainda, a previsão de critério único, bastando, para tanto, a apresentação do formulário de pedido de isenção devidamente preenchido e assinado pelo candidato e, sob as penas da lei, declarando que sua renda familiar o impossibilita de arcar com as despesas da inscrição sem prejuízo do seu próprio sustento e de seus familiares, na qualidade de hipossuficiente.

Portanto, aplicável à espécie o princípio da razoabilidade, a hipossuficiência não se opera somente àqueles que estejam inscritos em Programas Sociais do Governo Federal e/ou como família de baixa renda, visando permitir a fruição de benefícios legais de um Estado Social, como o nosso, respeitando-se, sobretudo, o princípio da ampla acessibilidade aos cargos/empregos públicos.

Ainda que exista marco regulatório no âmbito federal constante do Decreto n. 6.593/08 e 6.135/07, temos em contraponto a coexistência de marco legislativo — Lei Federal n. 1060/50 — que, superior hierarquicamente no arcabouço normativo vigente, dispõe sobre a gratuidade de acesso à Justiça e a assistência jurídica gratuita, mediante simples afirmação nesse sentido, conforme dispõe:

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Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. (Redação dada pela Lei n. 7.510, de 1986). (grifo nosso)

Ora, como assegurar o acesso à Justiça e a assistência jurídica integral de forma gratuita, mediante mera afirmação do hipossuficiente, sob as penas da lei, e impedir o acesso ao concurso público, tendo como condicionante para comprovação de baixa renda familiar a inscrição nos programas sociais assistencialistas do Governo federal?

Entende o Ministério Público de Contas que seria desarrazoado fomentar o assistencialismo governamental como condicionante à geração de benefícios outros, em detrimento da própria condição social do candidato ao certame que se encontra na qualidade de hipossuficiência declarada, sob as penas da lei.

Desta feita, deverá o Indi retificar o edital e manter o critério descrito na Lei Estadual n. 13.392, de 7 de dezembro de 1999 a fls. 28, e/ou declaração de hipossuficiência sob as penas da lei, expurgando-se a condicionante limitadora do exercício de direito à isenção, lastrada no subitem 5.1 do edital do certame, e com base nos Decretos Federais n. 6.593/08 e 6.135/07, que devem ser afastados in casu.

3.8 Dos recursos, do prazo e dos meios para sua interposição

No item 12 do edital, a fls. 89, foram taxativamente enumerados os casos para interposição de recursos, o que vai de encontro aos princípios do contraditório e da ampla defesa, porquanto cria óbices à defesa de candidatos que sejam atingidos por decisões não contempladas no referido rol, desaguando na hipótese odiosa de violação das liberdades públicas negativas, isto é, as que o Estado não pode violar.

Trata-se aqui da preservação dos corolários inseridos no rol de direitos e garantias individuais e coletivos, assim insculpidos no inciso LV do art. 5º da Constituição Federal/88.

Dessa forma, o item 12 do edital deve ser modificado, para que conste a possibilidade de interposição de recurso em face de toda e qualquer decisão que venha a interferir na esfera de direitos subjetivos dos candidatos, sendo o rol meramente exemplificativo.

Outras irregularidades apontadas se referem à forma de interposição dos recursos (item 12.2, a fls. 90), exclusivamente por via internet, bem como à fixação do prazo recursal em dois dias úteis (item 12.1, a fls. 89), o que não se revela razoável ou suficiente para garantir a ampla defesa dos candidatos, motivo pelo qual deve o referido prazo ser ampliado em no mínimo três dias úteis, facultando outras formas de interposição (pessoal, por procuração, por Sedex ou Carta Registrada com AR).

Nesse sentido se manifestou esta Corte de Contas, nos autos do Edital do Concurso Público n. 839.004, cujo acórdão foi proferido pela Segunda Câmara na Sessão do dia 24/02/2011: “O prazo

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contido nos subitens [...] deve ser ampliado para 3 (três) dias úteis para a garantia constitucional do direito de defesa”. (grifo nosso)

Assim, o prazo razoável de três dias úteis deve ser o fixado no item 12 do edital e seus subitens, a fls. 89-90, para afastamento de qualquer exiguidade temporal, com possibilidade de interposição de recursos por via internet, pessoalmente, por via postal e/ou por procurador legalmente constituído, indicando-se, para tanto, os endereços físicos e eletrônicos completos, com horário de funcionamento da repartição.

Desta forma, ficarão afastadas as alegações do órgão técnico quanto às cláusulas abusivas de exclusão sumária de candidatos, em detrimento da ampla defesa e do contraditório (item 2.3.11, a fls. 160), visto que poderão recorrer de qualquer decisão que ofenda sua esfera de patrimônio individual, isto é, seus direitos subjetivos.

3.9 Do prazo de 90 dias previsto no subitem 6.2.4

Aponta o órgão técnico a imprecisão do prazo de 90 dias, fixado no subitem 6.2.4 do edital, para envio de laudo médico pelos candidatos que desejem concorrer às vagas destinadas aos portadores de deficiências, nos termos da lei. Contudo, tal discussão não merece prosperar, estando o subitem indene de dúvidas.

Explico: da mera interpretação literal do subitem 6.2.4, em momento algum se infere o prazo para encaminhamento do laudo, e sim, o prazo máximo antecedente para sua expedição, isto é, “expedido no prazo máximo de 90 (noventa) dias antes do término das inscrições”, cujo encaminhamento dar-se-á dentro do prazo final da inscrição no certame, isto é, 4 de junho de 2012, desde já a salvo de eventuais dilações e republicações.

Assim, entende o Ministério Público de Contas que inexiste qualquer irregularidade nesse aspecto, devendo ser mantido incólume o subitem 6.2.4, visto que se apresenta plausível e razoável juridicamente, sem qualquer imprecisão.

3.10 Da imprecisão da cláusula 14.2 acerca da convocação dos candidatos

A unidade técnica se insurge contra a impropriedade do subitem 14.2 a fls. 91, apontando possíveis dúvidas e incertezas quanto aos impedimentos no momento de admissão do candidato.

De fato, a colocação das expressões oportunidade e conveniência em aposto explicativo no subitem 14.2 — “[...], observados os critérios de oportunidade e conveniência, [...]”— quando da exigência de documentos indispensáveis à admissão de candidato, pode levar à interpretação de ofensa ao princípio da isonomia, com conotação de alternatividade impossível em certames públicos dessa natureza.

Poderia, assim, interpretar-se que o Indi ou a organizadora do certame, exigiria documentos de uns candidatos e de outros não, por ato de discricionariedade, o que é inconcebível, devendo tais expressões serem suprimidas do referido subitem, aclarando-o com precisão.

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No que concerne ao impedimento de admissão por força de processo criminal, cível ou outro de qualquer espécie, a ser declarado de próprio punho — alínea l da cláusula 14.2 —, o Ministério Público de Contas acompanha o entendimento da unidade técnica que, em tese expositiva, diz não ter ficado claro quais processos teriam o condão de impedir a admissão do candidato e que esses não poderiam causar óbices à nomeação, exceto se houver trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Decerto, não se pode obstaculizar a admissão de candidato por eventuais maus antecedentes ou processos cíveis, penais ou administrativos, mas sim, pela aferição da probidade e moralidade do candidato, acerca dos atos anteriores à sua investidura ou em cargos públicos que eventualmente tenha exercido, sem a observância dos princípios constitucionais garantidores das ditas liberdades públicas negativas (neno tenetur se detegere, inocência presumida, permanecer em silêncio, devido processo legal, entre outros).

Quando da exigência de apresentação da Declaração de Bons Antecedentes ou de Certidão de Antecedentes Criminais e Administrativos (se houver) no ato da posse, poder-se-á aferir algum impedimento de ordem jurídica em prol do interesse público, acerca da investidura do candidato aprovado e nomeado ao cargo público, como o cumprimento de sentença penal condenatória transitada em julgado que lhe acarrete a suspensão dos direitos políticos, bem como eventuais demissões do serviço público que lhe impeçam, por lapso temporal prospectivo, nova investidura em cargos, empregos ou funções.

Vejamos o que preconiza a Constituição Federal acerca da suspensão dos direitos políticos:Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I — cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II — incapacidade civil absoluta;

III — condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV — recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V — improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. (grifo nosso)

Não se trata, pois, de imposição na fase eliminatória ou exclusão sumária do certame, nem tampouco de etapa de investigação social, mas tão somente de requisito necessário à manutenção da moralidade administrativa com o objetivo de inibir possível tentativa de investidura em emprego de natureza pública de candidato condenado criminalmente em definitivo, com suspensão dos direitos políticos.

Ao analisar a temática de armazenamento e divulgação de antecedentes criminais, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça abordou-a em todos os seus reflexos e implicações, inclusive investidura em concurso público, tudo consoante às razões do voto do Ministro Relator Celso Limongi, na denegação de recurso ordinário em mandado de segurança:

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PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 30.182 — SP (2009/0155339-2)

RELATOR: MINISTRO CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)

EMENTA:

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE EXCLUSÃO DE INFORMAÇÕES RELATIVAS A INQUÉRITO POLICIAL ARQUIVADO, DECLARADA EXTINTA A PUNIBILIDADE, NOS TERMOS DO ARTIGO 84, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 9.099/95. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. As informações relativas a inquérito policial arquivado e declarada extinta a punibilidade, nos termos do artigo 84, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95 (agente fora indiciado por porte ilegal de arma de fogo) não podem ser excluídas do banco de dados do instituto de identificação, porque fazem parte da história de vida do agente e, assim, devem ser mantidas ad aeternum.

2. Ao recorrente assiste o direito somente ao sigilo das informações, as quais só podem ser fornecidas mediante requisição judicial. Os registros, de regra, existem para a comprovação de fatos e situações jurídicas de interesse particular e também público. Tornam públicas tais relações jurídicas.

3. Recurso ordinário em mandado de segurança ao qual se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE), Maria Thereza de Assis Moura e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília (DF), 17 de fevereiro de 2011. (grifo nosso)

O ministro relator assinalou, em seu voto, que esses cuidados também se aplicam aos processos que resultem em absolvição do réu; mas, em nenhum caso, a lei determina o cancelamento ou a exclusão de registros de informações. Ao contrário, recomenda a manutenção desses dados para possibilitar o fornecimento deles, na hipótese de requisição judicial e em outros casos previstos na legislação.

No seu voto, Celso Limongi destaca que a manutenção do registro histórico do processo é necessária para a preservação da memória dos atos praticados pela Administração: “Esses registros permanecem ad aeternum e compõem a própria história do condenado e da sociedade”.

Aduziu, ainda, que tais registros também são importantes diante da exigência da folha de antecedentes para concursos públicos e para o julgamento de ações penais: “Nem se desconsidere a existência de folha de antecedentes para concurso público e para os julgamentos de ações penais pelo Poder Judiciário, em que é vital a pesquisa sobre antecedentes criminais dos réus”. (grifo nosso)

Os candidatos do certame têm amparo tanto na Constituição Federal, quanto nas leis infraconstitucionais, que impedem a Administração Pública de violar-lhes a vida privada

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e intimidade, em especial sobre informações que não sejam objeto de decisões dotadas de definitividade criminal ou administrativa.

Exemplificando, o art. 202 da Lei de Execuções Penais (Lei Federal n. 7.210/84) dispõe que, depois de cumprida ou extinta a pena, qualquer notícia ou referência à condenação não constarão de atestado ou certidão, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos previstos em lei.

No mesmo sentido, o art. 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal (Decreto-Lei n. 3.689/41), dispõe que, nos atestados de antecedentes criminais solicitados às autoridades policiais, não poderão ser mencionadas nenhumas anotações relativas à instauração de inquérito contra os requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior.

Nesse diapasão, entende o Ministério Público de Contas pela inclusão de apresentação da Folha de Antecedentes Criminais como condição para admissão (subitem 14.2, a fls. 91), impondo-se, contudo, a retificação do edital já publicado, desde que expedida pelo Instituto de Identificação do estado de origem do candidato e, se for o caso, Certidão Negativa dos Recursos Humanos da Administração Pública com que tenha mantido ou mantenha vínculo na qualidade de servidor público, sem prejuízo de declaração de próprio punho, sob as penas da lei, excluindo-se outros critérios.

3.11 Da submissão do candidato à identificação digital sob pena de exclusão do certame

De fato, apresenta-se abusivo o dispositivo contido no subitem 11.1.29 do edital do certame (fls. 88), que prevê a possibilidade de eliminação de candidato que recusar submeter-se à identificação digital, por expressa vedação preconizada no inciso LVIII do art. 5º da Constituição Federal: “o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.

Desse modo, a obrigatoriedade de submissão de candidato à identificação digital, sob pena de eliminação do certame, configura constrangimento ilegal, sobretudo por não encontrar guarida na Lei Federal n. 12.037, de 1º de outubro de 2009, que regulamenta as hipóteses excepcionais de identificação, bem como define os documentos válidos para atestar identificação civil. 2

Tal imposição nas normas editalícias, configura flagrante violação ao princípio da legalidade, segundo o qual “ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, exigindo-se, assim, a expurgação dessa imposição (ex vi art. 5º, II, da Constituição Federal de 1988).

3.12 Da ausência de previsão editalícia sobre a ordem de convocação dos candidatos com deficiência

Conforme asseverado no subitem 2.3.6 da unidade técnica a fls. 157, inexiste nos autos o estabelecimento de ordem de convocação dos candidatos portadores de necessidades especiais,

2 Precedente STF: Recurso Extraordinário n. 561.254.

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observando-se, ainda, que os critérios sugeridos pelo órgão técnico não atendem às legislações aplicáveis in casu, não devendo ser observados. Assim, disseco abaixo.

Em sua obra Oração aos Moços, lida na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1921, o paraninfo Ruy Barbosa (Oração aos moços. Marcelo Módolo (Org.). São Paulo: Hedra, 2009) escreveu:

A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. (grifo nosso)

Assim, exsurge aplicação de uma das facetas do princípio constitucional da isonomia ou igualdade, descrito no caput, do art. 5º da Constituição Federal de 1988.

O item 6, a fls. 81-84, não dispõe sobre a ordem de convocação dos candidatos portadores de necessidades especiais — amparados em leis específicas quanto à natureza, grau de deficiência e compatibilidade com o exercício das funções —, havendo tão somente a possibilidade de inscrição e concorrência nessa condição, nos moldes editalícios e no quantitativo de vagas (Anexo A, a fls. 97-98).

A unidade técnica apontou a necessidade de reservar as vagas destinadas aos portadores de necessidades especiais, nas ordens de provimento da 5ª, 11ª, 21ª, 31ª, 41ª, 51ª, 61ª vagas e assim sucessivamente, mediante a aplicação do percentual de 10%, previsto no edital, frise-se, que traz critérios objetivos acerca do arredondamento quando fracionário o número, nos termos da legislação estadual mineira aplicável aos empregos/cargos ofertados pela contratante.

Acerca do tema, o então Procurador do Ministério Público de Contas, ora alçado a Conselheiro desta Corte, Cláudio Couto Terrão, relator deste processo, publicou artigo esclarecedor na edição especial [2011], ano XXVIII da Revista do TCEMG, a fls. 43-55, intitulado “Reserva de vagas na administração pública para as pessoas com deficiência: ação afirmativa e concurso público”, com o objetivo de refletir sobre a promoção da política constitucional de reserva de vagas, nos concursos públicos, às pessoas com deficiência.

A regra de competência constitucional material sobre o tema é indicada no art. 23, II, da Constituição Federal de 1988, que dispõe sobre a competência comum dos entes da federação para o exercício do poder-dever de implementar políticas públicas voltadas à inserção social das pessoas com deficiência na coletividade.

Já a competência constitucional legislativa é apontada no art. 24, XIV, da Constituição Federal de 1988, na classificação da competência concorrente, em que a União estabelece normas gerais, e os Estados e Distrito Federal complementam. Podem os municípios ainda suplementar a legislação federal e estadual, no que couber, devendo, contudo, subordinação legislativa (ex vi, art. 30, I e II, da Constituição Federal de 1988).

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Vejamos:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

[...]

XIV proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

[...]

Art. 30. Compete aos Municípios:

I — legislar sobre assuntos de interesse local;

II — suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (grifo nosso)

Com base nessas premissas hierarquizantes do arcabouço jurídico-normativo dos sistemas de regras que envolvem os instrumentos de realização dos princípios político-constitucionais, insculpiu-se na Constituição Federal de 1988 o art. 37, VIII, que preconiza: “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão” (grifo nosso). Remete-se, assim, à competência exclusiva dos entes que compõem a federação e à autoorganização administrativa dos estatutos de seus próprios servidores, onde houver.

No âmbito da União, a Lei Federal n. 8.112/90 estabeleceu em seu art. 5º, § 2º, o coeficiente de até 20% como limite máximo de vagas reservadas no âmbito da Administração Pública Federal, verbis:

Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público:

[...]

§ 1o As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei.

§ 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. (grifo nosso)

Regulamentando a Lei Federal n. 7.853/1989, que dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, o Decreto Federal n. 3.298/99, de 20 de dezembro de 1999, preconizou o percentual mínimo de reserva de vagas de 5% em face da aprovação e classificação obtida em concurso público, senão vejamos:

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Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador.§ 1o O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.§ 2o Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subsequente. (grifo nosso)

Em Minas Gerais, a Lei Estadual n. 11.867, de 28 de julho de 1995, fixa o coeficiente de reserva em 10% (dez por cento) e o correspondente arredondamento de números fracionados para o primeiro inteiro subsequente, quando a fração for maior que cinco décimos, desprezando-se a fração quando ela for menor que cinco décimos, como se vê, verbis:

Art. 1° Fica a administração pública direta e indireta do Estado obrigada a reservar 10% (dez por cento) dos cargos ou empregos públicos, em todos os níveis, para pessoas portadoras de deficiência.§ 1° Sempre que a aplicação do percentual de que trata este artigo resultar em número fracionário, arredondar-se-á a fração igual ou superior a 0,5 (cinco décimos) para o número inteiro subsequente e a fração inferior a 0,5 (cinco décimos) para o número inteiro anterior. (grifo nosso)

Assim, as normas editalícias amparadas na legislação mineira, aplicável ao contratante e ao organizador do certame, deixaram de prever os critérios de convocação dos portadores de necessidades especiais aprovados não só dentro do número de vagas ofertadas no específico certame, mas também no eventual chamamento de aprovados não classificados dentro do número de vagas originárias estabelecidas, em estrita oportunidade e conveniência da administração e, durante toda a validade do certame ou na hipótese de sua prorrogação, para cadastro de excedentes, respeitando-se sempre o princípio constitucional da ordem de classificação dos concursos públicos.

Assim postos, os critérios editalícios atenderão o preceito constitucional da máxima efetivação dos direitos fundamentais, em especial o da reserva de vagas.

Em seu artigo, Terrão (op. cit.) aduz apontamentos sobre questões polêmicas, que incidem no caso concreto, para fixação dos critérios objetivos de operacionalização que devem constar do exame de legalidade do certame:

No primeiro caso, a sistemática consiste em aplicar o coeficiente de reserva toda vez que a Administração Pública promover um certame. Apuram-se as vagas que serão oferecidas e sobre elas aplica-se o percentual de reserva fixado pela lei. No segundo caso, considera-se o total de vagas criadas no quadro de pessoal, aplicando-se o percentual de reserva sobre o montante de cada cargo ou emprego que compõe o quadro de pessoal. A partir daí, o órgão ou ente passa a ter números fixos de vagas reservadas, modificáveis tão somente a partir da alteração do próprio quadro. (grifo nosso)

Para maior concretude dos dispositivos constitucionais e legais antepostos, calcado, sobretudo, na interpretação teleológica da norma que determinou a reserva de vagas aos portadores de

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necessidades especiais em concursos públicos (art. 37, inciso. VIII da CF/88), entende o Ministério Público de Contas que o percentual aplicável à espécie deverá incidir sobre o montante de cada cargo ou emprego que compõe o quadro de pessoal, atendido sempre, o princípio da proporcionalidade.

Nesse sentido, o Ministro Cezar Peluso, em seu voto proferido no Supremo Tribunal Federal, no Mandado de Segurança n. 25.074, concluiu:

[...] o que assegura a Constituição é que os portadores de deficiência têm direito de ocupar determinado número de cargos e empregos públicos, considerados em cada quadro funcional, segundo a percentagem que lhes reserve a lei, o que só pode apurar-se no confronto do total dos cargos e dos empregos, e não, é óbvio, perante o número aleatório de vagas que se ponham em cada concurso. (grifo nosso)

Como posto, espancar-se-á decerto, qualquer discussão acerca dos critérios de arredondamento do número de vagas previstas no regime próprio do Estado de Minas Gerais, caso o percentual resulte em aplicação de números fracionados, com a escorreita convocação dos deficientes para admissão aos cargos/empregos ofertados.

Concluindo no mesmo diapasão, Terrão (op. cit.) afirma:

Com efeito, havendo a reserva por quadro, a aplicação do coeficiente destinado aos portadores de deficiência resultará em número fixo de cargos ou empregos reservados. Preenchido aquele número específico, a renovação dos ocupantes das vagas reservadas só ocorrerá a partir de sua vacância. Nesse caso, seria possível, sem ferir o princípio da isonomia, não se reservar vagas aos deficientes em certo concurso, desde que a razão prevista pela lei para o quadro permaneça estabilizada em função dos servidores ativos. Ou, a contrário senso, e em aparente prejuízo aos candidatos não deficientes, reservá-las no certame em número exato (uma, duas, três vagas, etc.), que pode até mesmo ser maior que o fixado para a ampla concorrência. (grifo nosso)

É cediço que o Supremo Tribunal Federal reconheceu como parâmetro nacional, pelas razões já aduzidas, a aplicação do limite mínimo de 5% (cinco por cento) e do máximo de 20% (vinte por cento), o que todos os entes compulsoriamente devem observar, sob pena de inconstitucionalidade.

Nessa linha de princípios, o julgado do STF, nas palavras do Ministro Marco Aurélio, altera a jurisprudência anteriormente consolidada, verbis:

CONCURSO PÚBLICO — CANDIDATOS — TRATAMENTO IGUALITÁRIO.

A regra é a participação dos candidatos, no concurso público, em igualdade de condições.

CONCURSO PÚBLICO — RESERVA DE VAGAS — PORTADOR DE DEFICIÊNCIA — DISCIPLINA E VIABILIDADE.

Por encerrar exceção, a reserva de vagas para portadores de deficiência faz-se nos limites da lei e na medida da viabilidade consideradas as existentes, afastada a possibilidade de, mediante arredondamento, majorarem-se as percentagens mínima e máxima previstas. (MS 26.310-5/DF — Relator Ministro Marco Aurélio — DJ 31.10.2007)

[...]

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PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

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VOTO — O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) — Reconheço a existência de precedente deste Plenário agasalhando a tese sustentada pelo impetrante. No recurso extraordinário n. 227.299-1/MG, relatado pelo ministro Ilmar Galvão, a Corte defrontou-se com situação concreta em que, oferecidas oito vagas, a percentagem de cinco por cento prevista na legislação local como própria à reserva de vagas aos portadores de deficiência desaguou em quatro décimos. Prevaleceu a óptica da necessidade de sempre conferir-se concretude ao inciso VIII do artigo 37 da Constituição Federal. Presente esteve, conforme o voto do relator que se encontra às folhas 32 e 33, o disposto no Decreto n. 3.298/99, que regulamentou a Lei n. 7.853/89. O tema, porém, merece reflexão, reexaminando-se o entendimento que acabou por prevalecer, até mesmo com o meu voto. (grifo nosso)

Desse modo, o coeficiente de reserva deve ser fixado pela lei do ente promotor do certame e estar previsto no edital, bem como obedecer aos citados parâmetros, isto é, nunca aquém do mínimo de 5% (cinco por cento), ou, além do máximo de 20% (vinte por cento), respectivamente, afastando-se as normas contrárias a tais preceitos já consolidados, posto que, flagrantemente inconstitucionais.

Nesse caso, é possível tão somete a aplicação da regra de interesse regional editada pelo Estado de Minas Gerais, com os critérios expressos de arredondamento já acima esposados; a 5ª vaga que houver em cada quadro de cargos/empregos — ex vi § 1º do art. 1º da Lei Estadual n. 11.867, de 28/07/1995, sendo o primeiro número inteiro alcançado com a aplicação da reserva máxima de 20% e, subsequentemente, a 15ª, 25ª, 35ª, 45ª, 55ª, 65ª vagas e, assim sucessivamente, deverão ser providas por admissão dos candidatos com deficiência que assim se declarem e comprovem tal condição, nas hipóteses legais e nos termos editalícios, incluindo-se expressamente como critério a ser adotado no item 6 do edital do certame a fls. 81-84.

A fim de aclarar a regra anteposta, disseco: as quatro primeiras vagas abertas para cada cargo serão providas pelos candidatos aprovados de acordo com a lista de classificação geral, seguindo-se, nas que vierem a ser providas, a 5ª delas é reservada para o deficiente, a 15ª, 25ª, 35ª, 45ª, 55ª, 65ª vagas e, assim sucessivamente, impondo-se o dever de constar no edital os referidos critérios objetivos ora incidentes, inclusive quanto à convocação acima do número de vagas disponibilizadas no certame, visando à manutenção perene da concretude do mandamento constitucional de reserva de vagas, com previsão de publicação de lista de classificação geral e específica de vagas reservadas.

Deverá ainda o edital atender expressamente a todos os preceitos da política nacional, estatuídos e regulamentados no Decreto Federal n. 3.298/1999, impondo-se desta feita sua republicação, senão vejamos in verbis:

Art. 39. Os editais de concursos públicos deverão conter:

I — o número de vagas existentes, bem como o total correspondente à reserva destinada à pessoa portadora de deficiência;

II — as atribuições e tarefas essenciais dos cargos;

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III — previsão de adaptação das provas, do curso de formação e do estágio probatório, conforme a deficiência do candidato; e,

IV — exigência de apresentação, pelo candidato portador de deficiência, no ato da inscrição, de laudo médico atestando a espécie e o grau ou nível da deficiência, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doença — CID, bem como a provável causa da deficiência.

Art. 40. É vedado à autoridade competente obstar a inscrição de pessoa portadora de deficiência em concurso público para ingresso em carreira da Administração Pública Federal direta e indireta.

§ 1º No ato da inscrição, o candidato portador de deficiência que necessite de tratamento diferenciado nos dias do concurso deverá requerê-lo, no prazo determinado em edital, indicando as condições diferenciadas de que necessita para a realização das provas.

§ 2º O candidato portador de deficiência que necessitar de tempo adicional para realização das provas deverá requerê-lo, com justificativa acompanhada de parecer emitido por especialista da área de sua deficiência, no prazo estabelecido no edital do concurso.

Art. 41. A pessoa portadora de deficiência, resguardadas as condições especiais previstas neste Decreto, participará de concurso em igualdade de condições com os demais candidatos no que concerne:

I — ao conteúdo das provas;

II — à avaliação e aos critérios de aprovação;

III — ao horário e ao local de aplicação das provas; e,

IV — à nota mínima exigida para todos os demais candidatos.

Art. 42. A publicação do resultado final do concurso será feita em duas listas, contendo, a primeira, a pontuação de todos os candidatos, inclusive a dos portadores de deficiência, e a segunda, somente a pontuação destes últimos. (grifo nosso)

Nesse diapasão, deverá constar do edital do certame que o Indi cumprirá, em continuação às regras retrocitadas, as seguintes:

Art. 43. O órgão responsável pela realização do concurso terá a assistência de equipe multiprofissional composta de três profissionais capacitados e atuantes nas áreas das deficiências em questão, sendo um deles médico, e três profissionais integrantes da carreira almejada pelo candidato.

§ 1º A equipe multiprofissional emitirá parecer observando:

I — as informações prestadas pelo candidato no ato da inscrição;

II — a natureza das atribuições e tarefas essenciais do cargo ou da função a desempenhar;

III — a viabilidade das condições de acessibilidade e as adequações do ambiente de trabalho na execução das tarefas;

IV — a possibilidade de uso, pelo candidato, de equipamentos ou outros meios que habitualmente utilize;

V — a CID e outros padrões reconhecidos nacional e internacionalmente.

§ 2º A equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade entre as atribuições do cargo e a deficiência do candidato durante o estágio probatório.

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4 DAS IRREGULARIDADES ENCONTRADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

4.1 Da fase interna na contratação de instituição para realização de concurso público

A fase externa dos concursos públicos, como regra, é marcada por grande controle social, decorrente, sobretudo, do interesse dos próprios candidatos.

Contudo, na fase interna (planejamento, preparação e contratação da instituição realizadora), o controle tem sido pouco efetivo, inclusive por parte dos órgãos de controle externo, sem nenhum demérito, diante das inúmeras atribuições legais e funcionais dos tribunais de contas, como partícipes da construção e realização do Estado Social de Direito.

Sabemos que o concurso público é procedimento administrativo, de natureza instrumental, que permite selecionar, de forma imparcial e por critérios estritamente objetivos, os indivíduos que ocuparão cargos, empregos ou funções na Administração Pública em geral, idealizando-se como meio relevante de combate à corrupção existente nos Poderes constituídos de nosso Estado Republicano.

Quanto às formas de promoção do concurso, encontra-se a direta, quando a própria Administração Pública realiza todas as fases do certame (concepção, planejamento, preparação e execução), dotada de pouca imparcialidade e carente de expertise para sua escorreita realização.

Usualmente, adota-se a forma indireta, quando há a contratação de terceiros para realização parcial ou integral do certame, como in casu.

Na linha esposada, agora, quanto à forma de contratação indireta pelo ente público, exsurge: a inexigibilidade — inaplicável in casu, segundo a jurisprudência pacífica do Tribunal de Contas da União ; e a dispensa de licitação, com fundamento no art. 24, XI, Lei n. 8.666/93, visando à contratação de instituição nacional incumbida regimental ou estatutriamente em pesquisa, de ensino ou de desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos.

Na hipótese de licitação, esta preferencialmente se dará na modalidade de concorrência pública e, sempre do tipo melhor técnica ou técnica e preço, por se tratar de serviço de natureza predominantemente intelectual. Desse modo, nunca é o caso de se admitir a licitação do tipo menor preço.

Assim, não esclarecido nos autos, de forma terminativa tais circunstâncias, e, para fins de controle de legalidade, a forma de contratação e do respectivo procedimento administrativo pretérito que ensejaria a legalidade da atuação da empresa organizadora do certame em tela, com atesto de todos os meandros e especificidades aplicáveis à espécie, o Ministério Público de Contas requesta o envio em inteiro teor do Processo Licitatório Administrativo instaurado pelo Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), que contratou a empresa Fundação de

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Desenvolvimento de Pesquisas (Fundep), em face das inúmeras irregularidades apontadas pela unidade técnica desta Corte de Contas, que demandam — prima facie — uma reflexão jurídica acerca da premente expertise inerente à própria organização de concursos públicos em geral.

4.2 Da renúncia irregular de receita, omissão de receita pública, pagamento antecipado à contratada e violação de princípios orçamentários

Consta na manifestação preliminar (Anexo I) a comprovação material de que usualmente a arrecadação do valor das inscrições vem-se dando diretamente aos cofres da empresa contratada para organização do certame, conforme boleto de cobrança acostado.

Observe-se que não se pode excluir o valor da inscrição (taxa de inscrição — sic) do certame, para conduzir a contratação direta com fundamento no art. 24, II, da Lei 8.666/93 — pequeno valor.

Constam dos autos, os atos constitutivos do Indi a fls. 134-148, como pessoa jurídica de direito privado pertencente à administração pública indireta e vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sede), com subvenção e aporte de recursos públicos estatais para sua manutenção e operação, constando ainda, a necessidade de elaboração de Orçamento Anual Básico e de Investimentos, bem como Plano de Diretrizes e Metas (§ 2° do art. 6º dos atos constitutivos a fls. 136).

Desse modo, o preço público — indevidamente denominado de taxa — referente à inscrição, frisamos, é receita pública que pertence ao ente contratante e, nessa condição, deve ser recolhida aos cofres públicos, de acordo com as regras do Direito Financeiro.

Acerca da natureza jurídica da taxa e do preço público, ensina o Professor Luciano Amaro3 queA taxa é um tributo, sendo, portanto, objeto de uma obrigação instituída por lei; já o preço é obrigação contratual. O preço é, pois, obrigação assumida voluntariamente, ao contrário da taxa de serviço, que é imposta pela lei a todas as pessoas que se encontrem na situação de usuários (efetivos ou potenciais) de determinado ente estatal.

Desse modo, diferentemente do preço público, que tem natureza contratual, não obrigatória, a taxa, dado seu caráter tributário, é compulsória, somente podendo ser instituída por lei. Assim, o preço público tem caráter volitivo, enquanto a taxa, natureza compulsória, sendo esse o entendimento jurisprudencial sedimentado, conforme o verbete sumular n. 545 do STF, que assim define: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.”

Ainda sobre o assunto, acórdão unânime proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região4, verbis:

3 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999.4 Apelação em Mandado de Segurança. Processo n. 9004126490/RS. Primeira Turma — Relator Fabio Rosa em 18 nov. 1997,

TRF400057615 — DJ. 21 jan. 1998. p. 277.

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TRIBUTÁRIO. EXIGÊNCIA EM ESPÉCIE DA INFAz PARA GUARDA DE VEÍCULOS SUBMETIDOS À INSPEÇÃO PELA RECEITA FEDERAL, COM FINALIDADE DE DESEMBARAÇO DAS MERCADORIAS. TAXA E NÃO TARIFA. ILEGALIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA.

1. O inspetor da Receita Federal nada exige e, pois, não constitui autoridade coatora.

2. Responde pelo “ mandamus “ o gerente da INFAZ.

3. Se o caminhão é obrigado a estacionar no pátio da repartição, com vigilância de empresa contratada, o preço cobrado por esta caracteriza tributo.

4. Tarifa [preço público] é algo que decorre de demanda voluntária para aquisição de bem ou serviço.

5. Ilegalidade da exigência.

6. Apelação e remessa oficial improvidas. (grifo nosso)

Amaro (op. cit.) assevera:

A adoção do regime jurídico das taxas permitirá [...], a opção do legislador pela incidência mesmo nos casos em que haja efetiva utilização do serviço público. Os preços, evidentemente, só poderão ser cobrados nos termos do contrato firmado, não cabendo impor ao indivíduo o pagamento, se ele se recusa a contratar; nada impede, por outro lado, cobrar preço pela simples colocação do serviço à disposição, se isso tiver sido contratado. (grifo nosso)

Enquanto o preço público somente pode ser cobrado por serviço contratualmente assumido, sujeito inclusive às regras do Direito do Consumidor, as taxas, em conformidade com o art. 145, inc. II, da Constituição Federal de 1988 c/c os arts. 77-80, do Código Tributário Nacional (Lei Federal n. 5.172/66), “são decorrentes de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados, ou postos à disposição do contribuinte, ou ainda mediante o exercício regular do poder de polícia por parte dos órgãos públicos”.

Vislumbra-se, assim, que a exclusão do preço público, referente à inscrição e o seu recolhimento direto pela contratada, caracteriza renúncia irregular de receita, omissão de receita pública, pagamento antecipado à contratada e violação de princípios orçamentários (universalidade, orçamento bruto, unidade).

Importante também destacar que a desconsideração do preço público de inscrição falseia o valor real do contrato que aparece então, subestimado, portanto ilícito, devendo ser objeto de análise.

Na doutrina de Aliomar Baleeiro5, a receita “é a soma de dinheiro percebida pelo Estado para fazer face à realização dos gastos públicos”.

Nesse diapasão, o conceito de receita, embora fundamentalmente baseado no de ingresso, dele se extrema, pois o ingresso corresponde também à entrada de dinheiro que ulteriormente será restituído, como ocorre no empréstimo e nos depósitos, não se confundindo com o patrimônio público, nem com os direitos da Fazenda Pública.

5 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro: Forense, 2010,

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Nessa seara, Baleeiro (op. cit.) assim definiu receita pública:

Receita pública é a entrada que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo. [...] Há ingressos provenientes da exploração dos bens dominiais do Estado, que compõe a atividade financeira, mas o tem do patrimônio público pertence ao Direito Administrativo, e não ao Financeiro.

Sob uma perspectiva estritamente financeira, De Plácido6 define receita — vocábulo derivado do latim recepta, forma feminina de receptus (receber) — como “o total de vendas ou o total de rendimentos prefixados ou previstos num orçamento e efetivamente arrecadado.”

O mesmo autor (op. cit.) — sob a concepção estatal de receita pública decorrente da entrada de recursos, ora constituída pelo recebimento de dinheiro ou de outras verbas — assevera que receita pública é “atribuída ao total de valores, representado em dinheiro, recebido pelo erário, provimento de diversas rendas ordinárias, extraordinárias e especiais”.

Aliomar Baleeiro7contextualizando, assim ensina:

Para a cobertura dos encargos públicos, o Estado sempre se vale dos meios de obtenção de recursos financeiros utilizados universalmente. Tais processos, que constituem as fontes principais de financiamento ao alcance do Poder Público, são as modalidades a que recorrem os governantes, materializados, na medida em que: a) realizam extorsões sobre outros povos ou deles recebem doações voluntárias; b) recolhem as rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado; c) exigem coativamente tributos ou penalidades; d) tomam ou forçam empréstimos; e) fabricam dinheiro metálico ou de papel.

A Receita Pública é a soma de ingressos, impostos, taxas, contribuições e outras fontes de recursos, arrecadados para atender às despesas públicas.

A respeito de receita pública, Lino Martins8 ensina:

Para fazer face às suas necessidades, cumprindo as suas precípuas funções, o Estado dispõe de recursos ou rendas que lhe são entregues através da contribuição das coletividades.

O conjunto desses recursos constitui a denominada receita pública e com ela o Estado vai enfrentar todos os encargos com a manutenção da sua organização, com o custeio de seus serviços, com a segurança de sua soberania, com as iniciativas de fomento e desenvolvimento econômico e social e com o seu próprio patrimônio.

Ensina ainda João Angélico9:

Receita pública, em seu sentido mais amplo, é o recolhimento de bens aos cofres públicos. Ingresso, entrada ou receita pública são, na verdade, expressões sinônimas na terminologia de finanças públicas. Os estudiosos da matéria divergem na conceituação de receita pública por esbarrarem em sutilezas de ordem abstrata que há longo tempo o uso e o costume eliminaram. Ingresso, entrada ou receita, de qualquer espécie já estão, na prática, consagrados pela expressão comum: receita pública.

6 SILVA, De Plácido apud MARTINS, Ives Gandra da Silva; NASCIMENTO, Carlos Valter. Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

7 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. Rio de Janeiro: Forense, 2007.8 SILVA, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.9 ANGÉLICO, João. Contabilidade pública. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

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Importante ressaltar que as receitas públicas são provenientes de fontes definidas, portanto hauridas do patrimônio público e do privado. Configuram as entradas definitivas de dinheiro promotoras do incremento dos bens pertencentes ao domínio do Estado.

Delas o Poder Público pode e deve lançar mão para o custeio da máquina administrativa e aplicação nos investimentos de infraestrutura social e material.

Já o princípio do orçamento bruto está inserido no princípio da universalidade, constando expressamente no art. 6° da Lei n. 4.320/64: “todas as receitas e despesas constarão da Lei Orçamentária pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções”. (grifo nosso)

Acerca da renúncia de receita, a Lei Complementar n. 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) dispõe:

Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições:

I — demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias;

II — estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.

§ 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.

§ 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso.

§ 3o O disposto neste artigo não se aplica:

I — às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1°;

II — ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.

Seguindo tal linha argumentativa, baseando-se na doutrina de Ricardo Lobo Torres,10 temos o princípio da unidade do orçamento, assim definido:

O princípio da unidade já não significa a existência de um único documento, mas integração finalística e a harmonização entre os diversos orçamentos. A CF/88 modernizou sobremaneira a disciplina orçamentária, ao unificar o orçamento fiscal, o de investimento das estatais e o da seguridade social, segundo a orientação hoje prevalecente em outros países.

10 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. 18. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.

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Segundo o princípio da universalidade, o orçamento deve conter todas as receitas e despesas da União, de qualquer natureza, procedência ou destino, inclusive a dos fundos, dos empréstimos e dos subsídios. É principio da maior importância para o equilíbrio financeiro, que se concretiza na norma do art. 165, § 5º, da CF 88 e que informa diversas Constituições modernas. (grifo nosso)

Por ser matéria nova afeta à apreciação dessa Corte de Contas, trazemos à baila Resolução de Consulta n. 22/2011 proferida em acórdão unânime pelo Tribunal de Contas do Mato Grosso, que contempla a linha de pensamento esposado acima, senão vejamos in verbis:

RESOLUÇÃO DE CONSULTA N. 22/2011

Ementa: CÂMARA MUNICIPAL DE PONTES E LACERDA. CONSULTA. LICITAÇÃO. DISPENSA. CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PARA REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO.

É legal a contratação de empresas para realização de concurso público por dispensa se a situação se enquadrar em uma das hipóteses estabelecidas no artigo 24 da Lei de Licitações, preenchendo todos os requisitos que o legislador expressamente indicou para cada situação, sendo indispensável à formalização de processo administrativo.

CONCURSO PÚBLICO. PAGAMENTO. DEPÓSITO DAS RECEITAS AUFERIDAS COM AS INSCRIÇÕES DOS CANDIDATOS AO CONCURSO PÚBLICO DIRETAMENTE À CONTRATADA. IMPOSSIBILIDADE.

1) É ilegal o depósito das receitas decorrentes das inscrições dos candidatos ao concurso público diretamente na conta bancária da empresa contratada, por afrontar os princípios da oportunidade, da universalidade, do orçamento bruto e da unidade de caixa, além de configurar omissão de receitas e violação aos princípios constitucionais da moralidade e eficiência, devendo o Poder Público ter o controle e prestar contas das receitas e despesas que irá realizar. 2) É legal a celebração de contrato de risco para contratação de empresa realizadora de concurso público, devendo a Administração Pública prever no edital e no contrato valor fixo ou variável, de acordo com o número de inscritos ou de acordo com as receitas auferidas com as inscrições dos candidatos, limitando esta remuneração a um valor máximo dos serviços prestados, observando as normas orçamentárias e financeiras que exigem a previsão das despesas a serem pagas. [...] (grifo nosso)

Nesse diapasão, o Tribunal de Contas da União também se manifestou, sumulando a matéria no sentido de que tais valores devem ingressar nos cofres públicos, integrando as tomadas ou prestações de contas dos responsáveis. Confira-se:

Súmula n. 214: Os valores correspondentes às taxas de inscrição em concursos públicos devem ser recolhidos ao Banco do Brasil S.A., à conta do Tesouro Nacional, por meio de documento próprio, de acordo com a sistemática de arrecadação das receitas federais prevista no Decreto-lei n. 1.755, de 31/12/79, e integrar as tomadas ou prestações de contas dos responsáveis ou dirigentes de órgãos da Administração Federal Direta, para exame e julgamento pelo Tribunal de Contas da União.

4.3 Da qualificação técnica dos organizadores do certame e do corpo docente

O concurso público deve ser visto como um processo garantidor do princípio republicano e democrático de ampla acessibilidade aos cargos e empregos públicos em geral, bem como um

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instrumento de efetivação dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência, todos assim insculpidos na Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998)

I — os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998)

II — a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998)

III — o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;

IV — durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; (grifo nosso)

No contexto dos autos, com a promoção do certame de forma indireta pela contratação de empresa organizadora, há de se observar fatores essenciais a serem considerados na capacidade técnica, para manutenção da imparcialidade:

a) Inquestionável reputação técnico-profissional para promoção do certame.

b) Demonstração da qualificação adequada da equipe técnica responsável pela elaboração e correção das avaliações constantes das provas objetivas e titulação pessoal dos responsáveis pelo corpo docente (mestrado, doutorado, entre outros), de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego público ofertado, vinculado às especificidades do conteúdo programático exigido.

c) Apresentação de plano de segurança, sistema de controle de informações adequado e suficiente à garantia da lisura e sigilo nas fases de elaboração, impressão, distribuição, aplicação e correção das avaliações.

d) Termo de compromisso, do corpo técnico, de elaboração de questões inéditas e provas de gabaritos variados.

e) Comprovação de especialização na realização de concurso público, e aptidão para o desempenho da atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos em relação à dimensão do certame.

f) Capacidade financeira e patrimonial para arcar com eventuais prejuízos aos candidatos e à Administração.

Desta forma, deve o Indi, ao assumir o ônus e a responsabilidade de entregar a promoção do certame a terceiros, especificar e trazer aos autos, para controle de legalidade, as respostas

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e comprovação do cumprimento dos itens acima (itens a a f), visando à manutenção da imparcialidade e expertise necessárias à realização dos concursos públicos.

4.4 Da medida cautelar incidental inaudita altera pars

A medida cautelar tem por finalidade assegurar o resultado efetivo e real dos processos cognitivo e executivo. Trata-se de medida de urgência de natureza instrumental, objetivando, segundo a doutrina dominante, proteger a atividade jurisdicional. A urgência é elemento constante do processo cautelar, mesmo porque as questões meritórias ínsitas são o periculum in mora, ao lado do fumus boni juris.

Ocorre que, em algumas situações de dano, a necessidade de um provimento célere e urgente é tamanha, em face da elevada possibilidade de lesão ao direito que se pretende tutelar, no caso o erário, que a própria legislação autoriza o aparente sacrifício do princípio do contraditório, permitindo-se a concessão de cautelas legais ex officio (ex vi art. 797 do CPC) e de tutelares cautelares sine audita altera pars (ex vi art. 804 do CPC).

Observe-se que tal proceder, como já referido, objetiva salvaguardar a utilidade da atuação do Estado quando da resolução da lide propriamente dita, como in casu por esta Corte de Contas.

Assim, com base nos fundamentos antepostos, impõe-se a concessão in limine litis da cautela perseguida, visando à comprovação de que o ente, após citado, não torne ineficaz a medida, em especial para salvaguardar a observância de princípios constitucionais e legais já esposados, bem como o erário e os candidatos do certame que vierem a concorrer aos cargos ofertados.

A Lei Orgânica deste Tribunal de Contas (Lei Complementar Estadual n. 102/2008) preconiza no Título IV, Capítulo II, as hipóteses das medidas cautelares que ora o Ministério Público de Contas entende cabíveis, para preservação de direitos e cumprimento das leis e da Constituição, em manutenção da segurança jurídica e em proteção ao erário. Confiramos:

Art. 95. No início ou no curso de qualquer apuração, havendo fundado receio de grave lesão ao erário ou a direito alheio ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, o Tribunal poderá, de ofício ou mediante provocação, determinar medidas cautelares.

§ 1º As medidas cautelares poderão ser adotadas sem prévia manifestação do responsável ou do interessado, quando a efetividade da medida proposta puder ser obstruída pelo conhecimento prévio.

§ 2º Em caso de comprovada urgência, as medidas cautelares poderão ser determinadas por decisão do Relator, devendo ser submetidas à ratificação do Tribunal na primeira sessão subsequente, sob pena de perder eficácia, nos termos regimentais.

§ 3º Na ausência ou inexistência de Relator, compete ao Presidente do Tribunal a adoção de medidas cautelares urgentes.

Art. 96. São medidas cautelares a que se refere o art. 95, além de outras medidas de caráter urgente:

I — recomendação à autoridade superior competente, sob pena de responsabilidade solidária, do afastamento temporário do responsável, se existirem indícios suficientes de

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que, prosseguindo no exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de auditoria ou inspeção, causar novos danos ao erário ou inviabilizar o seu ressarcimento;

II — indisponibilidade, por prazo não superior a um ano, de bens em quantidade suficiente para garantir o ressarcimento dos danos em apuração;

III — sustação de ato ou de procedimento, até que se decida sobre o mérito da questão suscitada;

IV — arresto.

[...]

Art. 97. As medidas cautelares previstas nesta seção serão regulamentadas no Regimento Interno, aplicando-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil.

(grifo nosso)

Assim tem se manifestado esta Corte de Contas, nos termos dos julgados transcritos. Vejamos:

SEGUNDA CÂMARA

PROCESSO n. 863.084

NATUREzA: EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

ÓRGÃO: PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSÁRIO DA LIMEIRA

INTERESSADO: Prefeito Municipal - Edson Curi

[...]

Diante do exposto verifico, neste primeiro momento, a existência de inúmeros vícios no procedimento ora focado, comprometendo a sua legalidade, justificando, desta forma, a adoção de medida acautelatória de suspensão do certame até que a Prefeitura Municipal tome as providências necessárias de modo a conformá-lo com o ordenamento jurídico em vigor.

Assim, encontrando-se preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris, e à vista da realização do certame que se anuncia com a possibilidade de violar o ordenamento jurídico, voto pela suspensão cautelar do Concurso Público n. 01/2012, a ser realizado pela Prefeitura Municipal de Rosário da Limeira, com fundamento no inciso XXXI do art. 3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar n. 102/08.

Ad referendum

Proceda-se, COM URGÊNCIA, a intimação, por e-mail e fac-símile do Prefeito Municipal de Rosário da Limeira, Sr. Edson Curi, fixando o prazo de 5 (cinco) dias para juntada aos autos de prova de publicação da referida suspensão, devendo o ofício conter advertência de que o não cumprimento desta decisão importará na aplicação de multa pessoal, nos termos do art. 85, inciso III, da Lei Complementar n. 102/2008.

[...]

PRIMEIRA CÂMARA

Processo n.: 862.646

Sessão do dia: 13/03/12

Natureza: Edital de Concurso Público

Jurisdicionado: Município de Japonvar

Parte(s): Leonardo Durães de Almeida

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Representante do MPC: Maria Cecília Borges

[...]

Diante do exposto, com fundamento no caput e § 2º do art. 95 da Lei Orgânica do Tribunal, determino, “ad referendum” da Primeira Câmara, a suspensão cautelar do concurso público de provas objetivas e práticas para provimento de cargos do quadro de pessoal do Município de Japonvar, regido pelo Edital n. 01/2011, na fase em que se encontra, até que o Tribunal se manifeste sobre a matéria, devendo, pois, a Administração abster-se da prática de qualquer ato atinente ao prosseguimento do certame, incluída a publicação de eventuais modificações, até ulterior determinação, sob pena de multa de R$10.000,00 (dez mil reais), nos termos do art. 85, III, da Lei Orgânica do Tribunal de Contas.

Fixo o prazo de 05 (cinco) dias para que o Senhor Leonardo Durães de Almeida, prefeito, comprove nos autos a adoção da medida ordenada, mediante publicação do ato de suspensão em diário oficial e em jornal de grande circulação.

Encaminho os autos à Secretaria da Primeira Câmara, para a intimação do responsável, em caráter de urgência, por e-mail e fac-símile, nos termos dos incisos VI e VII do art. 166 do Regimento Interno, e para apreciação na próxima sessão de julgamento. Na mesma oportunidade, o responsável deverá ser citado, para, querendo, oferecer defesa no prazo de 15 (quinze) dias sobre aos apontamentos contidos no relatório técnico a fls. 155-171 e no parecer ministerial a fls. 174-174v, cujas cópias deverão acompanhar a citação, ou apresentar minuta de edital acatando os apontamentos deste Tribunal.

[...]

SEGUNDA CÂMARA — SESSÃO: 1º/12/11

RELATOR: CONSELHEIRO MAURI TORRES

PROCESSO N. 862.545 — EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: MARIA CECÍLIA BORGES

[...]

Diante dos fundamentos acima expostos e, considerando que o Edital de Concurso Público contém cláusulas passíveis de causar lesão grave e de difícil reparação, entendo preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris que justificam a adoção da medida acautelatória de suspensão do certame, razão pela qual, DETERMINO, ad referendum da 2ª Câmara e com fulcro no inciso XXXI do art. 3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar n. 102/08, a suspensão cautelar do Concurso Público deflagrado pelo Edital n. 001/2011, promovido pelo Município de São João das Missões, na fase em que se encontra.

[...]

SEGUNDA CÂMARA — SESSÃO: 04/08/11

RELATOR: CONSELHEIRO EDUARDO CARONE COSTA

PROCESSO N. 851.262 — EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: SARA MEINBERG

[...]

Assim, encontrando-se preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris, e à vista da realização do certame que se anuncia com a possibilidade de violar o ordenamento jurídico, voto pela suspensão cautelar do Concurso Público n. 01/2011, a ser realizado pela Prefeitura Municipal de Angelândia, com fundamento no inciso XXXI do art. 3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar n. 102/08, em face da

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PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

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imperiosa necessidade de adequação. Proceda-se, COM URGÊNCIA, a intimação, por e-mail, fac-símile e AR da Prefeita Municipal de Angelândia, fixando o prazo de 05 (cinco) dias para juntada aos autos de prova de publicação da referida suspensão, bem como cópia das Leis n.s. 163/2006 e 164/2006, devendo o ofício conter advertência de que o não cumprimento desta decisão importará na aplicação de multa pessoal, nos termos do art. 85, inciso III, da Lei Complementar n. 102/2008.

[...]

PRIMEIRA CÂMARA — SESSÃO: 27/10/09

RELATOR: CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO GILBERTO DINIz

PROCESSO N. 804.524 — EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: MARIA CECÍLIA BORGES

Tendo em vista as irregularidades que constatei e com fundamento no caput do art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar Estadual n. 102/08, presentes o fumus boni júris e o periculum in mora, determino, liminarmente, a suspensão do Concurso Público de Provas e Títulos para provimento de cargos do Quadro de Pessoal do Poder Legislativo do Município de Matias Cardoso, regido pelo Edital 001/2009, na fase em que se encontra, em face das irregularidades apontadas que comprometem a legalidade do certame, até que ao Tribunal de Contas se manifeste definitivamente sobre a matéria, devendo, pois, a Administração abster-se da prática de qualquer ato atinente a seu prosseguimento, incluída a publicação de eventuais modificações, até julgamento final do presente feito.

Fixo o prazo de 5 (cinco) dias para que a Administração comprove a suspensão ora determinada, encaminhando a este Tribunal cópia da publicação no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), ao fundamento do disposto no art. 90 da referida Lei Complementar. (grifo nosso)

5 CONCLUSÃO

Por todo o exposto, o Ministério Público de Contas conclui pela presente manifestação preliminar, com as seguintes medidas a serem determinadas pelo conselheiro relator, haja vista o iminente perigo de lesão, de difícil reparação ao erário, com as inscrições do certame previstas para início em 02/05/2012, como seguem:

a) A concessão de medida cautelar incidental inaudita altera pars in limine, presentes os pressupostos legais autorizativos de sua concessão, para determinar a suspensão imediata do certame em questão, nos termos do art. 95, §§ 1º e 2º da Lei Complementar Estadual n. 102/2008, sob pena de multa pessoal diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a título de astreintes, nos termos do art. 90 da Lei Complementar n. 102/2008.

b) Determinar a intimação do representante legal do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), bem como o representante legal da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), organizadora do certame, para que procedam, ao incontinenti, cumprimento das disposições e alterações editalícias indicadas in totum nos subitens 1.1-1.12 e 2.1 a 2.3 da presente manifestação ministerial, encaminhando a

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esta Corte de Contas a comprovação de seu fiel cumprimento, sob pena de multa pessoal diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a título de astreintes, nos termos do art. 90 da Lei Complementar n. 102/2008, exceto, por ora, as incompatíveis com a medida cautelar a ser concedida.

c) Determinar a intimação do representante legal do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (indi), para remessa do inteiro teor do Processo Licitatório Administrativo que ensejou a contratação da organizadora do certame, Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP), sob pena de multa pessoal diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a título de astreintes, nos termos do art. 90 da Lei Complementar n. 102/2008, para fins de exame de legalidade dos atos praticados.

d) Determinar a citação do representante legal do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), bem como do representante legal da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), organizadora do certame, para, querendo, exercerem os corolários constitucionais da ampla defesa e do contraditório;

e) Após o cumprimento das medidas de praxe, abertura de novas vistas para manifestação ministerial em parecer conclusivo, nos termos do art. 95, §§ 3º e 4º da Lei Complementar n. 102/2008 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas).

É a manifestação preliminar ministerial.

Encaminhe-se à CAOP, visando à tramitação com a urgência que o caso requer.

Belo Horizonte, 25 de abril de 2012.

Marcílio Barenco Corrêa de Mello

Procurador do Ministério Público de Contas