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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO ISABELA SANTOS PRADO A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO ESQUENTA JOÃO PESSOA 2015

ISABELA SANTOS PRADO - ccta.ufpb.br · programas de auditório e o conceito de cultura de massa e cultura popular. Como ... (1975 e 1990), Aldo Vannucchi (1986) e Roque de Barros

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ISABELA SANTOS PRADO

A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO ESQUENTA

JOÃO PESSOA

2015

ISABELA SANTOS PRADO

A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO ESQUENTA

Monografia apresentada ao curso de

Comunicação Social com habilitação em

Jornalismo da Universidade Federal da

Paraíba - UFPB, como requisito final para

obtenção do título de bacharel.

Orientador: PROFESSOR-DOUTOR JOSINALDO JOSÉ FERNANDES MALAQUIAS

JOÃO PESSOA

2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ISABELA SANTOS PRADO

A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO “ESQUENTA”

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo para

obtenção do título de bacharel.

( ) Aprovada

( ) Reprovada

Data: __ /__/___.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________

Professor-Doutor Josinaldo José Fernandes Malaquias Orientador

______________________________________________

Professora-Doutora Sandra Raquew dos Santos Azevedo Examinadora

____________________________________________

Professora-Doutora Zulmira Nóbrega Examinadora

EPÍGRAFE

Artistas mudando o nariz, de

cabelo alisado reforça essa

merda de que ter cabelo crespo é

pecado. Século XXI, progresso,

olha de novo irmão,

cê vai ver que os preto ainda tão,

na rua, no gueto e na prisão.

Sem saber se são regras, ou

exceção . Todo mundo é igual, e

ainda assim, nós tá fora do

padrão .

Emicida

DEDICATÓRIA

À minha mãe, Maria do Rosário, e

ao meu pai, João Gomes do Prado,

que se esforçaram para me dar as

condições necessárias para eu

chegar até aqui.

AGRADECIMENTOS

Sou grata, antes de tudo, a Deus, em suas repletas formas e manifestações, pela

inspiração que é viver e por toda energia que instaura em mim diariamente.

Aos meus pais, Rosário e João, pelo árduo esforço para proporcionar-me o melhor

estudo e uma educação sólida sem a qual não teria chegado até aqui.

Aos meus irmãos Assis, Tiago e Jairo, que me ensinaram, na convivência diária,

o companheirismo, respeito e que os sonhos sempre são possíveis.

Ao meu namorado Ravi Freitas, e aos meus amigos Andréa Meireles, Bárbara

Santos, Jailson Batista, Letícia Freitas, Luan Barbosa e Lucas Freitas que me apoiaram e

confiaram no meu trabalho.

Ao professor e orientador Josinaldo Malaquias por sua paciência e

disponibilidade, sem a qual não chegaria a este processo.

PRADO, Isabela Santos. A Representação da Identidade Negra no Esquenta.

(Bacharelado de Comunicação em Jornalismo). 46 páginas.

RESUMO

Esse trabalho discorre a respeito da representação da identidade negra no programa

Esquenta, exibido aos domingos na Rede Globo. Para a pesquisa, foram utilizados os

conceitos de identidade, racismo, cultura de massa e cultura popular. Para o

desenvolvimento do pretendido, foram analisados as quatro primeiras ediçõs do mês de

agosto de 2014, referente aos dias 3, 10, 17 e 24. Foram discutidos os papéis sociais

representados no programa, o mito da democratização racial e os esteriótipos relacionados

aos ritmos oficiais do programa. Concluimos que o Esquenta, cumpre seu papel no que

se diz respeito à democratização do espaço, mas o faz de uma forma superficial e

reforçando esteriótipos.

Palavras-Chave: Representação; Identidade Negra; Esquenta.

ABSTRACT

This piece here presented will talk about the representation of black identity at the TV

show Esquenta, aired on Sundays by Rede Globo. To research purposes, were used

concepts about identity, racism, mass culture and pop culture. To its development, 4

editions of August 2014 were analysed, aired at 3, 10, 17 and 24. Before coming to a

conclusion was discussed the social representation, the racial democratization myth and

the stereotypes linked to the official rhythms on the show.

Key-words: Representation; Black Identity; Esquenta.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tabela de características raciais elaborada por Gobineau..............................20

Figura 2 – Tabela de grau de escolaridade por raças do IBGE.......................................38

Figura 3 – Tabela de média salarial por raças do IBGE .................................................39

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................12

1 TELEVISÃO BRASILEIRA ....................................................................................15

1.1 PROGRAMAS DE AUDITÓRIO ............................................................................15

1.2 CULTURA DE MASSA E CULTURA POPULAR.................................................16

1.3 A HISTÓRIA DO NEGRO NA TV .........................................................................17

2 RACISMO ..................................................................................................................20

2.1 RAÇA X ETNIA ......................................................................................................20

2.2 RACISMO À BRASILEIRA ....................................................................................21

3 IDENTIDADE ............................................................................................................24

3.1 CONCEPÇÃO DE IDENTIDADE...........................................................................24

3.2 IDENTIDADE NEGRA ...........................................................................................25

4 METODOLOGIA DE ANÁLISE ............................................................................27

5 A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO ESQUENTA ...............28

5.1 A APRESENTADORA ............................................................................................28

5.2 O ESQUENTA ..........................................................................................................29

5.2.1 OS QUADROS DO PROGRAMA .......................................................................30

5.2.1.1 CALOURÃO ......................................................................................................30

5.2.1.2 O QUE QUEREMOS PARA O BRASIL ..........................................................30

5.2.1.3 VISITA MUSICAL ............................................................................................31

5.2.1.4 ROLETA MUSICAL .........................................................................................31

5.2.1.5 #LUANE ............................................................................................................31

5.3 ANÁLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS .....................................................31

5.3.1 PROGRAMA EXIBIDO NO DIA 3 DE AGOSTO DE 2014 ..............................32

5.3.2 PROGRAMA EXIBIDO NO DIA 10 DE AGOSTO DE 2014 ............................33

5.3.3 PROGRAMA EXIBIDO NO DIA 17 DE AGOSTO DE 2014 ............................33

5.3.4 PROGRAMA EXIBIDO NO DIA 24 DE AGOSTO DE 2014 ............................34

5.4 QUE PAPÉIS SOCIAIS SÃO REPRESENTADOS NO ESQUENTA?..................36

5.4.1 DOUGLAS SILVA ...............................................................................................37

5.4.2 MUMUZINHO ......................................................................................................36

5.4.3 LUANE ..................................................................................................................36

5.4.4 NATHÁLIA RODRIGUES ..................................................................................36

5.5 DEMOCRACIA RACIAL: EXISTE NO BRASIL? ................................................37

5.6 O SAMBA E O FUNK REFORÇAM UM ESTERIÓTIPO? ..................................40

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................42

REFERÊNCIAS.............................................................................................................44

12

INTRODUÇÃO

A Cabana do Pai Tomás, novela exibida na Rede Globo no ano de 1969, foi

responsável por estreiar no Brasil, uma técnica utilizada no início do cinema americano

chamada “black face”. Na trama, o ator Sérgio Cardoso, que interpretava o escravo

Tomás, pintava o rosto e braços de preto, usava rolhas no nariz e usava perucas para

parecer com um negro.

Após anos com pouco espaço na TV, levando em consideração o caso acima

citado, os negros, especialmente os da periferia, aparentemente ganharam notoriedade na

grande mídia tradicional. Atualmente é possível encontrar atores negros fazendo papéis

nas novelas e modelos negros fazendo comerciais. Na grade de programação da Rede

Globo, o principal programa responsável por dar este espaço ao negro é o Esquenta, que

tem a proposta de “promover” a igualdade racial e ensinar que todo tipo de cultura é

válido e deve ser celebrado.

Com um elenco fixo composto por negros em sua maioria, o programa utiliza-se

especialmente de estilos musicais, geralmente marginalizados, como por exemplo samba,

pagode e funk para representar uma população que desde o início da televisão brasileira

tem sido sub representada. Nesse sentido, o Esquenta se apropria de elementos

característicos da periferia para passar a mensagem que todos são iguais, independente de

raça, classe social, gosto musical, orientação sexual etc.

Para discutir como é construída a identidade negra no universo televisivo, foi

selecionado como objeto de estudo o programa Esquenta, apresentado por Regina Casé e

exibido semanalmente na Rede Globo. A escolha do programa de televisão ocorreu em

função de ter a maior parte do elenco fixo do programa e da plateia composta por pessoas

negras, fator incomum nos outros programas de auditório, tanto da emissora em questão

quanto de suas concorrentes. Outro fator metodológico importante refere-se ao fato de a

televisão atingir à um grande público, e ser parte fundamental na representação social.

Esse estudo foi impulsionado por questões que pretendem compreender como o

Esquenta representa e constrói a identidade negra a partir dos componentes do elenco fixo

do programa. A análise será feita a partir dos ritmos musicais e da forma como parte do

elenco fixo do programa se comporta durante o programa para entender os papéis sociais

representados por eles no Esquenta.

Na realização do trabalho, num primeiro momento, foi feita a pesquisa

bibliográfica a partir dos temas Racismo, Identidade, Negro na TV, Cultura de Massa e

13

Cultura Popular. Em seguida, partiu-se para a pesquisa documental, com a gravação de

quatro edições do programa, referente aos dias 3, 10, 17 e 24 de agosto de 2014.

Busca-se assim, estabelecer a representação da identidade negra, e perceber como

se dá esse processo de represnetação da identidade negra no programa. O estudo é

estruturado em 4 capítulos teóricos e um analítico. Os três primeiros capítulos referem-se

à categorias bases para facilitar a compreensão do todo: Televisão brasileira, Racismo e

Identidade.

No primeiro, faz-se necessário discutir a televisão brasileira, enfatizando os

programas de auditório e o conceito de cultura de massa e cultura popular. Como

referência foram usados os autores Muniz Sodré (1975 e 1990), Aldo Vannucchi (1986)

e Roque de Barros Laraia (1986). Depois faz-se um panorama da história do negro na TV

brasileira, no qual é possível ter uma noção de como o negro é comumente excluído da

programação normal ou mal representado.

No segundo, discute-se sobre o racismo, onde faz-se necessário uma

explicação do “racismo à brasileira”, nome dado por Roberto Damatta (1997) para

explicitar as diferenças entre o racismo do Brasil e da América do Norte e Europa e uma

breve explicação dos conceitos de Etnia e Raça.

No terceiro capítulo é apresentado o conceito de Identidade, com destaque

para as contribuições de Stuart Hall(2001) e Manuel Castells (1999). E ainda a concepção

de Identidade Negra.

No quarto capítulo, explica-se a metodologia de análise baseade em Yin

(2005), cuja refere-se a um estudo de caso. Para desenvolver o estudo de caso, em um

primeiro momento, faz-se a descrição de maneira objetiva das quatro edições do

programa, referentes aos dias 3, 10, 17 e 24 de agosto de 2014. Só então, a análise começa

a ser feita a partir das seguintes questões: A. que papéis sociais são representados no

programa? B. Democracia racial: existe no Brasil? e C. O samba e funk (os ritmos oficiais

do programa) reforçam um esteriótipo?

Por fim, no quinto capítulo expõe-se as conclusões deste trabalho,

considerando o Esquenta como um programa que peca quando fala de uma igualdade

14

racial que não existe, mas que acerta ao dar espaço para uma população historicamente

marginalizada celebrar e se divertir com uma cultura feita por eles e para eles.

15

1 TELEVISÃO BRASILEIRA

1.1 Programas de auditório

Os programas de auditório se tornaram peças indispensáveis na grade de

programação das emissoras de TV do país quando o primeiro programa do gênero, que

se chamava Programa de Gala, estreou na TV Rio, e depois na TV Tupi e Globo, em

1955 como uma “extensão do rádio”. “A gênese dos programas de auditório de televisão

está no rádio, cujo formato, importado dos Estados Unidos, abre espaço para a

participação dos populares no novo meio de comunicação” (TORRES, 2004, p.12).

A principal característica desse gênero é a presença de uma plateia composta por

visitantes de diferentes origens. A plateia interage com o apresentador e com as atrações,

geralmente participando de provas, gincanas e entrevistas. Segundo Miceli (1982, p. 17),

o programa de auditório “é o único gênero, hoje, na TV brasileira, além das novelas, que

envolve um processo de produção e consumo cultural cuja tradição comunicativa se

estende desde os primórdios da rádio no país”.

A interação entre o apresentador e a plateia faz com que haja uma maior

identificação com o telespectador, pois a plateia funciona como um sistema de

representação. Para Sérgio Miceli (1982) a aproximação entre o apresentador do

programa e o telespectador é realizada através do público do auditório, presente no

programa de TV; isso que o define como programa de auditório.

Na grade de programação da Rede Globo há atualmente 8 programas de auditório,

entre outros o Caldeirão do Huck, Encontro com a Fátima, Domingão do Faustão,

Programa do Jô e o Esquenta, que é o objeto de estudo deste trabalho.

Entre os apresentadores referência de programas de auditório, estão Chacrinha,

que foi um ícone da TV brasileira entre as décadas de 50 e 80; Sílvio Santos, que apresenta

programas do gênero desde 1964 na sua emissora, SBT; Fausto Silva que está a frente do

Domingão do Faustão desde 1989 e Hebe Camargo, considerada a “Rainha da TV”, ela

passou pelos canais da SBT, Band e Rede TV.

Para Miceli (1982, p. 17) “a continuidade dos estereótipos em que se alicerça a

figura pública da animadora, deve responder às demandas simbólicas de alguma classe

ou de alguns setores de classe que compõem seu público”. Isto é necessário, para que haja

a identificação entre apresentador e telespectador e como resultado haja a garantia da

audiência.

Para Torres (2004, p. 14) a presença de populares na televisão causa um

sentimento de identificação e participação das minorias: “valorizando tudo aquilo que faz

16

parte de seu mundo excluído na sociedade moderna capitalista: a linguagem, a estética,

os assuntos de interesse, as carências sociais, sua ética, sua solidariedade”.

Neste sentido, o Esquenta é capaz de reafirmar esse sentimento de pertencimento,

pois segundo Torres (2004, p.2) o programa de auditório é responsável por refletir o

popular: “Desde as carências sociais, ao desamparo de uma camada social excluída,

passando pela estética, pela esperança de reconhecimento social, tudo leva a um forte

sentimento de pertencimento”.

1.2. Cultura de Massa e Cultura popular

Após a revolução industrial e a implantação do capitalismo, a cultura popular, que

era vista segundo Vannucchi (2010) como “um conjunto de manifestações humanas que

exemplificam as crenças, os mitos, os símbolos, as imagens, o folclore, os hábitos e os

valores”, se expandiu e criou um segmento chamado de “cultura de massa”. Para

Vannucchi (2010) as diferenças entre a cultura popular e de massa se dão pelos seguintes

motivos:

A cultura de massa não se limita a um território. Ela é globalizada, já

que consegue unir elementos de diversas sociedades. Elas também se

diferenciam pelo fato de que a cultura popular é produzida pelo e para

a massa, enquanto a de massa apenas para a massa e pelo capitalismo.

(VANNUCCHI, 2010, p. 109)

Na época em que o capitalismo estava em alta e interesses econômicos

exarcebados, a cultura de massa passou a poder ser chamada, também, de cultura de

mercado. Dessa forma, a cultura de massa, dita a moda, os desejos de consumo, o corpo

e vida dos mais diferentes tipos de consumidores.

No imaginário social, a cultura de massa é tida como menos importante, ou seja,

como se a “cultura da elite” tivesse mais importância que a “cultura da plebe”. Sodré

(1975), explica o motivo:

Esta oposição é basicamente falsa porque o código da cultura de massa

(também estético-cognitivo) é ontologicamente o mesmo da cultura

elevada, apenas adaptado para o consumo de todas as classes sociais

(um público amplo, disperso e heterogêneo). Quando se diversifica por

classes, sexos, idades, níveis de instrução, etc. – o publico receptor de

uma mensagem, esta deve simplificar-se a um denominador comum,

para ser entendida por todos. (SODRÉ, 1975, p.16).

17

De acordo com Sodré (1975) o lugar da cultura de massa brasileira é marcado pela

importância e direcionamento da tradição popular. Sodré (1990, p.27) separa as classes

sociais entre “burguesia, classe média, operários e subempregdos”. Para ele, as classes

dirigentes têm a oportunidade, através da cultura, de corrigir um fracasso histórico.

Isto fora impossível no século XIX, na medida em que a produção e

consumo culturais resistiram à sua democratização, por meio de

discriminações do tipo erudito/popular, sublime/vulgar etc. Hoje, sem

conseguir gerar por si própria valores de legitimação, a estrutura da

economia capitalista volta-se para a esfera da cultura como um meio de

fornecer aos diversos grupos sociais modelos universais de

comportamento, como um meio de organizar as massas. (SODRÉ,

1990, p.27).

Para Laraia (1986), os conflitos entre essa alta cultura e cultura popular se dão por

causa do etnocentrismo.

Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações

negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros

sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e

imorais. (LARAIA, 1986, p.74).

Apesar de serem geralmente má interpretadas, respectivamente, como “cultura de

boa qualidade” e “cultura de má qualidade”, as culturas de elite e populares, precisam

uma da outra para se firmarem. Assim, como no conjunto de classes, precisa-se que

existam os “ricos” e “não-ricos” para se fazer uma diferenciação.

1.3. A história do negro na TV

Desde 1950, ano em que começou a Televisão no Brasil, a inserção do negro na

TV brasileira tem evoluído muito lentamente. A maioria dos personagens destinados à

atores negros, já tem a etnia pré-definida na construção do personagem, como por

exemplo “o escravo”, “o favelado”, o “sambista”, “ a empregada”, entre outros. Ou seja,

um personagem que não precisa ser negro, provavelmente será interpretado por um

branco.

Em uma matéria especial da Revista Bravo (2012), mostra-se que a esteriotipagem

do negro na televisão brasileira, levando em consideração os personagens interpretados,

é tão repetitiva que não é possível fazer um panorama da evolução do negro na TV.

A constância da estereotipagem chega ao ponto de não ser possível

dizer que há, a rigor, uma história do negro na TV, no sentido de ter

18

havido modificações significativas e encadeamentos de fatos novos. O

que há, a rigor, é uma prolongada repetição de uma tipologia

desmerecedora do negro. (Bravo, 2002, p. 69 apud Andrade, 2012).

No caso das novelas, foi preciso sessenta anos para que uma negra fosse

protagonista no horário nobre da Rede Globo. Em 2010, Taís Araújo interpretou Helena,

uma top model reconhecida internacionalmente, na novela Viver a Vida de Manoel

Carlos.

A pesquisa de Joel Zito Santos que resultou em um documentário e em um livro,

chamados de A negação do Brasil (2004) , faz um panorama do negro na telenovela

brasileira. No documentário, a atriz Zezé Mota conta que quando fazia o curso de Artes

Dramáticas no Tablado, foi questionada se era preciso fazer curso para interpretar papel

de empregada na TV. Na época, a atriz foi contratada para interpretar uma empregada

chamada Zezé, na novela Beto Rockfeller. O ano era 1968, mas de lá pra cá notamos que

pouca coisa mudou.

Através dos meios de comunicação, especialmente dos meios de massa,

como a televisão e o rádio, as desigualdades raciais são naturalizadas,

banalizadas e muitas vezes racionalizadas. Em grande medida, através

da mídia de massa, as representações raciais são atualizadas e

reificadas. E dessa forma, como “coisas”, circulam como noções mais

ou menos sensatas. (RAMOS, 2007; p. 9)

Zilá Bernd no livro Racismo e anti-racismo (1994, p.27), diz que ao longo da

história da dramaturgia brasileira, é uma constante o negro desempenhar papéis de

escravo e empregado doméstico.

Apesar de mais atores negros ganharem papéis nas novelas, os papéis exercidos

por eles não contemplam a diversidade negra nas produções. Embora 50,7% da população

brasileira seja preta e parda (categorias usadas pelo IBGE), essa diversidade étnica não é

percebida na televisão, que tem uma “cara branca” num país majoritariamente negro. De

acordo com Sodré (2000) “a mídia funciona, no nível macro, como um gênero discursivo

capaz de catalisar expressões políticas e institucionais sobre as relações inter-raciais, (...)

que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da pele.”

Fora das novelas, a ausência do negro na televisão fica mais evidente. Segundo

um infógrafo feito pelo O Globo, intitulado de “Repórteres negros fazem história na TV,

em várias áreas do jornalismo”, conta-se apenas sete jornalistas negros, dos quais cinco

são da rede Globo: Abel Neto, do Globo Esporte, Valéria Almeida, do Profissão Repórter,

19

Heraldo Pereira, eventual apresentador do Jornal Nacional, e Zileide Silva, que faz

matérias sobre economia e política para os noticiários da TV Globo, e eventualmente

apresenta o Jornal Hoje e Jornal da Globo.

Para Sílvia Ramos em Mídia e Racismo (2007, p. 9) a forma como o negro é

representado na mídia é de suma importância para o combate ao racismo pois “nenhum

processo cultural de superação do racismo, de combate aos estereótipos e de luta contra

a discriminação será realizada sem os jornais, a televisão, as artes, a música. Por essa

centralidade (…) a mídia tende cada vez mais, na sociedade brasileira, um papel vital na

construção de saídas capazes de reduzir a exclusão racial.” Nesse sentido, nota-se a

importância do Esquenta em acabar com a invisibilidade do negro na TV.

É preciso que haja visibilidade, e que tenhamos essa visibilidade, não

pura e simplesmente com a criação de leis, que são necessárias e devem

ser efetivamente cumpridas, mas pela criação de mecanismos através

dos quais o negro garanta a sua presença na universidade, a sua presença

no meio de comunicação, a sua presença física também, e cultural, a

sua expressão, a sua imagem. (RAMOS, 2007. p. 22)

No programa Esquenta , há a ideia de promover a igualdade racial, onde todos

estão “juntos e misturados”, e mostrar a pluralidade étnica do país e como ela é bem aceita

por todos. Entretanto, é importante que haja uma reflexão para entender se esse espaço,

que foi negado às chamadas classes minoritárias ao longo dos anos, cumpre seu papel de

democratização no que se diz respeito às representações das raças.

O racismo não se reproduz na mídia (nem, via de regra, em outros

âmbitos da sociedade brasileira) através da afirmação aberta da

inferioridade e da superioridade, através da marca de racialização, ou

de mecanismos explícitos de segregação. O racismo tampouco se

exerce por normas e regulamentos diferentes no tratamento de brancos

e negros e no tratamento de problemas que afetam a população

afrodescendente. As dinâmicas de exclusão, invisibilização e

silenciamento são complexas, híbridas e sutis, ainda que sejam

decididamente racistas. (RAMOS, 2007, p. 8-9)

De acordo com Ramos (2007), é difícil perceber na mídia o racismo velado, então é

possível que haja formas de racismo até mesmo em um programa que tem o objetivo de promover

a igualdade racial.

20

2. RACISMO

2.1 Raça x Etnia

O termo “Etnia” é usado comumente como sinônimo de “Raça”. Seria, portanto,

um termo menos arrogante. Embora os dois termos tenham significados diferentes. O

termo “raça” carrega em si um sentido preconceituoso já que este classifica os seres

humanos em características biológicas homogênias, possível apenas em algumas espécies

de animais.

Seguindo uma doutrina racista, acreditava-se que as características raciais eram

determinadas, ou seja, o comportamento e mentalidades de um ser estavam

intrinsecamente ligados ao seu componente biológico. Arthur Gobineau, considerado o

“pai do racismo”, elaborou um esquema racial baseado nas principais características das

raças humanas:

Negra Amarela Branca

Intelecto Débil Medíocre Vigoroso

Propensões

animais

Muitos fortes Moderadas Fortes

Manifestações

morais

Parcialmente

latentes

Comparativamente

desenvolvidas

Altamente

cultivadas

Fonte: (GOBINEAU, 1956, p. 96 apud DAMATTA, 1997, p. 72)

Segundo Gobineau, a raça branca possui inteligência moralidade e força

de vontade superiores; são essas qualidades herdadas que subjazem à

expansão da influência ocidental pelo mundo. Os negros em constraste,

são os menos capazes, marcados por uma natureza animal, uma falta de

moralidade e uma instabilidade emocional. (GIDDENS, 2005, p. 205)

Foram teorias como essa de Gobineau, que influenciaram ideologias da

supremacia branca, como a exemplo do partido Nazista, com principal líder Adolf Hitler,

a Ku-Klux-Klan, nos Estados Unidos e o Apertheid na África do Sul.

A comunidade científica começou a abandonar o termo “raça” após perceber que

em termos biológicos havia variações físicas nos seres humanos, e não “raças” com

contornos definidos. Ainda segundo Giddens (2005, p.205) “a diversidade genética

21

encontrada dentro de populaçãoes que compartilham traços físicos visíveis é tão grande

quanto a diversidade entre estes”.

Enquanto, o termo “raça” implica na ideia de características definitivas e

biológicas a “etnia” tem seu significado puramente social e reproduzido ao longo do

tempo. Entre as características principais para distinguir um grupo étnico de outro, leva-

se em consideração a língua, religião, estilos de roupas e adereços. Para definir se

determinada pessoa pertence a determinado grupo étnico, mais características devem ser

levadas em consideração além da cor da sua pele.

A etnicidade é um atributo que todos os membros de uma população

possuem, e não apenas determinados segmentos desta. Contudo, [...] a

etnicidade está, em maior frequência, associada a grupos minoritários

dentro de uma população. (GIDDENS, 2005, p. 207)

O preconceito, baseado, então na etnia de determinado grupo, é chamado de “preconceito

de marca” (que será tratado com mais aprofundamento no capítulo 2.2) pois não baseia-se apenas

na cor da pele ou na linhagem social do indivíduo.

2.2 Racismo à brasileira

Damatta (1997) explica como se deu o processo do “racismo à brasileira” e porque

o racismo aqui é diferente de países como os Estados Unidos, por exemplo. Como

herança da colonização portuguesa, a sociedade vivia ainda fortes traços da

hierarquização na qual os lugares dos brancos e pobres estavam bem definidos, diferente

dos Estados Unidos, no Brasil não havia os valores igualitários, o que havia era um clima

de cumplicidade entre os senhores e escravos, o que impossibilitou que o negro fosse

segregado, pois a superioridade do branco estava assegurada por esse sistema de

hierarquia.

A lógica do sistema de relações sociais no Brasil é a de que pode haver

intimidade entre senhores e escravos, superiores e inferiores por que o

mundo está realmente hierarquizado [...]. Nesse sistema, não há

necessidade de segregar o mestiço, o mulato, o índio e o negro, porque

22

as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo

dominante. (DAMATTA, 1997, p.75)

Ainda de acordo com Damatta (1997, p.78) os Estados Unidos se viu com um problema

gravíssimo após o movimento abolicionista: a massa de negros livres.

Como encontrar um lugar para negros, ex-escravos, num sistema que

situava (ainda situa) o indivíduo e a igualdade como a principal razão

da sua existência social? Aqui a única resposta possível é a

discriminação violenta na forma de segregação que [...] assumiu

caracteristicamente a forma clara e inequívoca de segregação legal,

findada em leis. (DAMMATA, 1997, p. 78)

Cabe aqui fazer a distinção entre o “preconceito de origem e o “preconceito de

marca”, mais comuns nos Estados Unidos e no Brasil, respectivamente, para que essa

diferença fique mais clara. O “preconceito de origem” está relacionado diretamente à cor

da pele e resulta na exclusão do indivíduo, em consequência do credo igualitário e

individualista norte-americano, o mestiço é considerado como negro. No Brasil, se

reconhece que há gradações e nuanças, logo para a classificação social de uma pessoa,

não só a cor da pele é levada em consideração, mas também as vestimentas, o poder

aquisitivo ou até um cargo de destaque.

Temos, pois, no Brasil, sistemas múltiplos de classificação social, ao

passo que nos Estados Unidos há uma tendência nítida para a

classificação única, tipo “tudo ou nada”, direta e dualista, tendência que

me parece estar em clara correlação com o individualismo e,

obviamente, com a ética protestante. (DAMATTA, 1997)

Para Sílvia Ramos (2007 p.8), perceber que o racismo no Brasil acontecia de

forma diferente dos outros países foi importante para que se começasse a enfrentar a

desigualdade racial.

Na última parte dos anos 1990, contudo, o enfrentamento dos temas das

desigualdades racias, em diversos âmbitos, sofreu alterações

importantes, sobretudo, e em primeiro lugar, no que diz respeito à

ampliação do reconhecimento do racismo na origem das desigualdades;

e, em segundo lugar, na identificação de um racismo brasileiro, que se

estruturou de forma particular, distindo dos aspectos importantes do

racismo verificado em outros países com expressiva presença de

comunidades afrodescendentes, como é o caso dos Estados Unidos, ou

23

de países onde as desigualdades raciais se estruturaram a partir da lógica

do apartheid como é o caso da África do Sul. (RAMOS, 2007. pg. 8).

Por outro lado, imperioso se faz lembrar Fernandes (1978) que é um dos

precursores de uma vertente da Sociologia brasileira que estuda a questão da falta de

inclusão do negro na sociedade de classes. Para o mencionado autor, um dos fatores que

potencializam o preconceito deve-se a inexistência de uma consciência de classe por parte

do negro que é aceito, enquanto valor individual, sobretudo, como elemento de diversão:

cantor, sambista ou jogador de futebol, para dar alguns exemplos.

A desagregação do regime escravocrata e senhorial operou-se no Brasil,

sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho

escravo de assistência e garantias que os protegesse na transição para o

sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da

responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o

Estado, a Igreja ou outra qualquer instituição assumissem encargos

especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de

organização da vida e do trabalho. (FERNANDES, 1978, p. 15).

Ademais não foi desenvolvida nenhuma política que proporcionasse a qualificação do

negro para as novas especificidades do mercado produtivo depois da abolição. O negro foi,

simplesmente desprezado, e, para piorar, foi editada uma lei punindo a mendicância.

Em suma, a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino,

deitando sobre seus ombros a responsabilidade de reeducar-se e de

transformar-se para corresponder aos novos padrões e ideais de homem,

criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e do

capitalismo (Idem, p.20).

24

3. IDENTIDADE

3.1. Concepção de Identidade

A partir da proposta do estudo em analisar como a identidade negra é construída

no programa da Rede Globo, o Esquenta, é preciso entender que a identidade de grupos

sociais é estruturada pela sociedade e é mutável. Como afirma Hall (2001, p.38) “a

identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos

inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento.

Existe sempre algo ‘imaginário’ ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre

incompleta, está sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’.” Partindo da mesma

ideia, Jenkins (1996) diz que “as identidades não são inatas, não nascem conosco,

precisam ser construídas e essa construção passa pela interação com o outro, pois só a

interação social permite viver em sociedade.”

Como consequência da colonização e escravidão, o negro ainda é visto na

sociedade contemporânea como um ser inferior e isso reflete na representação do negro

na televisão que, salvo exceções, aparece como marginal, subalterno, analfabeto, entre

outros, sempre de forma pejorativa ou engraçada. No Esquenta, apesar da maioria dos

negros morarem na favela, não existe, no programa, a intenção de humilhá-los ou

menosprezá-los, pelo contrário, há a intenção de celebrar a cultura provinda da periferia,

entretanto o negro não é celebrado enquanto classe social, mas apenas enquanto valor

individual.

Os indivíduos que formam a sociedade são os responsáveis pela construção de

identidade de seu grupo a partir de sua vivência e baseados em atributos culturais que se

inter-relacionam. Nessa perspectiva, é importante que seja analisado como a identidade

negra é construída no programa, observando o comportamento dos negros que fazem

parte do Esquenta.

No que diz respeito a atores sociais, entendo por identidade o processo

de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda

um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais)

prevalece(m) sobre outras fontes de significado. Para um determinado

indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas.

(CASTELLS, 1999, p. 22)

O programa da Regina Casé que vai ao ar nas tardes de domingo na Rede Globo,

e que tem o elenco em sua maioria negro, incluindo dançarinos, plateia e convidados, traz

a proposta de dar um espaço que foi tirado dessa população ao longo dos anos. Em Ramos

25

(2007, p. 25), Benedita da Silva diz que os meios de comunicação têm uma função e uma

responsabilidade no que diz respeito ao combate à invisibilidade. Para Sodré (2002)

Não basta, por exemplo, a visibilidade pura e simples de um

indivíduo na mídia – a excessiva exposição de sua imagem na

tevê ou nos jornais. É preciso que se apele para todo um arsenal

de identificações entre a imagem e a audiência, a fim de se obter

efeitos, não mais apenas projetivos, como no caso do

entretenimento clássico, e sim de reconhecimento narcísico de si

mesmo no ‘espelho’ tecnocultural. (SODRÉ, 2002, p.34)

3.2 Identidade negra

Em um país de mestiços, como o Brasil, discute-se com frequência o que é “ser

negro”. No imaginário social, ser negro está exclusivamente ligado ao tom da pele do

indivíduo, mas alguns autores, a exemplo de Kabengele Munanga (2015), trabalham a

ideia de que mais do que a cor da pele, identificar-se como negro está relacionado também

à questões relacionadas a caracterização que remetem aos povos africanos, como roupas

e adornos, por exemplo. Para Munanga

A identidade negra não nasce do simples fato de tomar consciência da

diferença de pigmentação entre brancos e negros ou negros e amarelos.

[...] A negritude não se refere somente à cultura dos portadores da pele

negra, que aliás, são todos culturalmente diferentes. Na realidade, o que

esses grupos humanos têm fundamentalmente em comum não é, como

parece indicar o termo negritude, a cor da pele, mas sim o fato de terem

sido na história vítimas das piores tentativas de desumanização e terem

tido suas culturas não apenas objeto de políticas sistemáticas de

destruição, mas mais do que isso, ter sido simplesmente negada a

existência dessas culturas. (MUNANGA, 2015)

De acordo com Maria Salete Joaquim (2001) identificar-se como negro é

importante para que haja um resgate desta história para que assim seja possível recriá-la.

Saber-se negro é viver a experiência de ter sua identidade negada, mas

é também e, sobretudo, a experiência de comprometer-se a resgatar sua

história e recriar-se em sua potencialidade. Essa identidade daí

emergente é necessária, por ser historicamente formada em uma

sociedade ambígua e multifacetada. Uma identidade, ao mesmo tempo,

étnica e política, não somente individual, mas também coletiva.

(JOAQUIM, 2001, p.56)

26

Partindo desta mesma ideia, João Batista Borges Pereira (1987, p. 41) diz que “há

todo um processo universal contemporâneo de reafirmação, consolidação, elaboração e

reelaboração de identidades étnicas pelo mundo afora. São identidades que foram

banidas, apagada, esmaecidas, abafadas, sufocadas, eclipsadas durante certos períodos

históricos e que, hoje, pedem reconhecimento e o direito de existir”.

Ensinar a história da África nas escolas e a história do negro no Brasil para romper

a visão depreciativa do negro, é uma das saídas apontadas por Munanga (2012) para criar

a verdadeira identidade negra, para que o negro pare de ser visto apenas como objeto da

história, mas também como “sujeito participativo de todo o processo de construção da

cultura e do povo brasileiro”.

O processo de construção da identidade coletiva negra, é preciso

resgatar sua história e autenticidade, desconstruindo a memória de uma

história negativa que se encontra na historiografia colonial ainda

presente em “nosso” imaginário coletivo e reconstruindo uma

verdadeira história positiva capaz de resgatar sua plena humanidade e

autoestima destruída pela ideologia racista presente na historiografia

colonial. (MUNANGA, 2015)

27

4 METODOLOGIA DE ANÁLISE

A pesquisa que aqui se apresenta buscou discutir como é feita a representação da

identidade negra no Esquenta, programa exibido semanalmente na Rede Globo. Para isto,

foram analisados as quatro primeiras edições do programa veículadas em agosto, mês

escolhido de forma aleatória, referente aos dias 03, 10, 17 e 24 de agosto de 2014.

A análise realizada através de um estudo de caso, para um vasto conhecimento,

foi desenvolvido através da análise estrutural com base em Yin (2005), que diz que o

“estudo de caso trata-se de uma forma de se fazer pesquisa investigativa de fenômenos

atuais dentro de seu contexto real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e

o contexto não estão claramente estabelecidos”.

Para compreender a representação da identidade negra no Esquenta, foi necessário

primeiramente fazer a descrição de cada uma das edições escolhidas. Em um segundo

momento foi desenvolvida a análise de conteúdo que buscou responder as seguintes

perguntas: A. que papéis sociais são representados no programa? e B. Existe democracia

racial no Brasil? e C. O samba e funk (os ritmos oficiais do programa) são responsáveis

por reforçar um esteriótipo?

A partir destas respostas procura-se compreender a representação da identidade

negra no programa, e concluir se o programa reforça um estereótipo negativo ou se ele

cumpre o papel de democratizar o espaço da televisão dando vez e voz à população negra,

que tem sido subrepresentada ao longo da história da TV brasileira.

28

5. A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO ESQUENTA

5.1 A apresentadora

Regina Maria Barreto Casé, nascida em 1954, é tida no site do programa como

um ícone popular da TV brasileira por sua extensa trajetória na TV, participando de

novelas, séries, filmes e programas populares. Atriz, diretora, comediante, autora e

apresentadora, estreou na TV Globo no ano de 1983 na novela de Silvío de Abreu,

“Guerra dos Sexos”, na qual ganhou notoriedade numa cena de menos de um minuto no

último capítulo da novale, no mesmo ano participou do “Sítio do Pica-pau Amarelo”,

dirigida por Geraldo Casé, ator, diretor e pai de Regina.

Entre outros trabalhos de Regina Casé na Rede Globo podemos citar a novela

Vereda Tropical (1984), do programa infantil Plunct, Plact Zuuum II (1984), na novela

Cambalacho (1986), fez participação no programa humorístico Chico Anysio Show,

Cassino do Chacrinha (1982), TV Pirata (1988) e o Programa Legal (1991).

Em 2002, Regina Casé, escreveu e dirigiu, ao lado de Fernando Meirelles, Uólace

e João Vitor que deu origem ao seriado Cidade dos Homens. Estrelado pela dupla de

atores Darlan Cunha e Douglas Silva, no papel de Laranjinha e Acerola, o seriado

mostrava o cotidiano de dois meninos numa favela carioca e teve outros três episódios

assinados por Regina Casé: Tem que Ser Agora (2003), Pais e Filhos (2004) e As

Aparências Enganam (2005) (MEMORIA..., 2014).

Em 2006, Regina apresentou o programa Central da periferia “voltado

exclusivamente para a produção cultural das regiões menos favorecidas do país”

(MEMÓRIA...,2014), o que certamente ligou sua imagem às minorias do país.

Essa relação também fica exaltada na música de abertura do programa, composta

por Gilberto Gil e Arlindo Cruz.

“Alô Regina!

É tão gente fina que sabe chegar

Em qualquer esquina

Lá na cobertura, na laje ela está

É quem domina.

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Porque tem a sina de ser popular... alô

Alôôôô rainha...”

No site do programa, Regina Casé é definida como uma “comunicadora que

transita com maestria pelos mais diferentes meios, do popular ao intelectual. A

identificação com a periferia é sua marca registrada”.

5.2 O Esquenta

O programa, idealizado pelo antropólogo Hermano Vianna e pela diretora Regina

Casé, estreou na Globo em 02 de Janeiro de 2011 como um “programa de verão”. Suas

duas primeiras temporadas foram curtas: a primeira entre 02/01 a 27/03 de 2011 e a

segunda entre 11/12/2011 a 01/04/2012. Devido a audiência, o Esquenta passou a fazer

parte da programação fixa da Rede Globo a partir de sua terceira temporada que teve

início em 09/12/2012.

Nessa temporada, o cenário é mutável, contruído inteiramente sobre rodas e

estruturado em módulos, permitindo a inserção de novas peças e o uso da criatividade da

equipe do cenógrafo Milton Costa, que cria o cenário a partir do tema central abordado a

cada edição. Outra novidade é os monitores gigantes de LED que interagem entre si e

exibem imagens do elenco do Esquenta.

5.2.1 Os quadros do programa

5.2.1.1 Calourão

O quadro preferido da Regina Casé, é o de calouros, no qual os candidatos

mostram seus talentos e são avaliados pelos convidados e pela platéia. O vencedor ganha

um prêmio simbólico de acordo com cada prova, que muda a cada semana. Por exemplo,

na edição em que o objetivo era escolher o gringo que melhor sambava, o prêmio era um

“Kit Turista”.

5.2.1.2 O Que Queremos Para o Brasil

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Nesse quadro, personalidades da vida social, política e artística do país apontam

os desejos do brasileiro para o futuro da nação relacionados à educação, saúde, segurança,

inclusão social e tecnologia.

5.2.1.3 Visita Musical

O quadro que tem a intenção de rodar o país, permite o encontro de dois músicos

de estilos diferentes, para que um conheça a rotina do outro e troquem experiências. É

uma espécie de “intercâmbio musical”.

5.2.1.4 Roleta Musical

Dividido em dois grupos, o elenco fixo do programa e convidados, participam de

uma gincana musical, na qual , através de uma roleta, é sorteada uma palavra para cada

grupo, que por sua vez terá que cantar uma música que apareça a palavra sorteada. A

pontuação vai acumulando a cada programa.

5.2.1.5 #Luane

Egressa do YouTube, a personagem mal-humorada, criada por Luane Dias, ganha

um quadro na quarta temporada do Esquenta, no qual ela comenta os looks de

telespectadoras que enviam foto para o programa usando a “hashtag” #Luane. "O

raciocínio dela é muito rápido. Ela é ácida, inteligente. Queríamos aproveitar mais",

explica a diretora Mônica Almeida. (VALE, 2014).

5.3 Análise descritiva dos programas

A análise do Esquenta exibido pela Rede Globo aos domingos, foi feita a partir

da gravação do programa no período de um mês. O estudo contempla, portanto, quatro

edições referentes aos dias 3, 10, 17 e 24 de agosto de 2014.

O programa, que tem em média 80 minutos, começa e termina sempre com

música, e traz a cada edição um tema diferente, como por exemplo: “Circo”, “Espaço

sideral”, “Festa na cozinha”, entre outros. O cenário, o figurino dos dançarinos e da

Regina Casé varia de acordo com o tema abordado na edição.

31

Num cenário sempre colorido, com plateia cheia e ao som majoritariamente de

samba e funk, Regina Casé recebe em clima de festa, músicos, atores, políticos,

dançarinos, comediantes e personalidades, os quais participam de entrevistas, bate-papos

e apresentações. O formato do programa e a versatilidade da apresentadora permite que

haja uma interação entre anônimos e famosos, negros e brancos, pobres e ricos.

Nessa temporada (4ª), exibida durante o ano de 2014, o programa conta com um

elenco fixo, formada pelos músicos Arlindo Cruz, Péricles, Xande de Pilares,

Mumuzinho e Leandro Sapucahy. Os colaboradores de conteúdo Alê Youssef, Ronaldo

Lemos e José Marcelo Zacchi. O comediante Luis Lobianco, o ator Douglas Silva, Luane

Dias, egressa do Youtube , que se notabilizou no programa e ganhou um quadro para

comentar sobre moda, a deficiente visual Nathalia Rodrigues, além do grupo de

dançarinos e assistentes de palco.

No centro do palco, há dois sofás grandes, um de frente para o outro, onde ficam

os convidados e o elenco fixo do programa. A plateia fica atrás desses sofás, em formato

de “meia-lua”. Há também uma espécie de primeiro andar, onde fica um grupo de garis.

5.3.1 Programa exibido no dia 3 de agosto de 2014

Na edição do dia 3 de agosto, com o tema “Palhaços”, Regina Casé começa o

programa pedindo para os sambistas Arlindo Cruz, Péricles, Xande de Pilares,

Mumuzinho e Leandro Sapucahy chamarem os convidados fazendo versos em ritmo de

samba: os cantores Ivete Sangalo, Lucas Lucco, Preta Gil e os comediantes Samantha

Schmutz,, Rodrigo Sant’anna e Paulo Gustavo.

Em seguida, Regina Casé pede para que uma das convidadas imite Elis Regina e

a partir daí parte do elenco fixo do programa e até pessoas da plateia começam uma série

de imitações de pessoas famosas.

Segue o programa com o quadro “Calourão”, que nessa edição pediu que os

candidatos fizessem um cover da cantora Beyoncé. Entre apresentações e entrevistas com

os cantores convidados, é sugerida uma prova em que candidatos da plateia façam uma

performance da música “beijinho no ombro” da funkeira Valesca Popozuda.

No quadro “Batendo o ponto”, operadoras de telemarketing falam das

dificuldades da profissão, logo depois Regina Casé convida o cantor Lucas Lucco, que

aborda o câncer de mama em um de seus clipes, para conhecer uma mulher que descobriu

32

a doença dias antes do casamento. Durante a entrevista ela e o marido falam das

dificuldades e do amor que os uniu.

Depois de mais apresentações dos cantores convidados, Regina termina o

programa dizendo que o Brasil é um país que sabe fazer festa e que isso não significa que

os brasileiros são alienados ou bobos, pois festas movimentam a economia e gera

empregos e que festa boa é festa onde pessoas de cores e raças diferentes se divertem

juntos. Nesse discurso da Regina Casé, percebe-se o discurso da “democracia racial”,

(que será comentado com mais rigor no capítulo 4.5.2): quando há a crença que no Brasil

não há segregação entre pessoas de diferentes etnias.

5.3.2 Programa exibido no dia 10 de agosto de 2014

Celebrando o Dia dos pais e com o tema “Inverno”, o Esquenta recebe entre seus

convidados a dupla sertaneja Marcos e Belucci, o grupo Pagode 90, o ator Marcelo

Cerrado, a juíza Ana Florinda e o estilista Caio Braz.

Entre apresentações e entrevistas da dupla sertaneja e o do grupo de pagode, o

ponto alto do programa foi a discussão sobre filhos que não tem o nome dos pais no

registro de nascimento, e Regina entrevista a juíza Ana Florinda, responsável por um

projeto que visa facilitar o processo de reconhecimento de paternidade e registro de

nascimento. Regina pergunta a plateia quem ali presente não tem o nome do pai no

registro de nascimento e após várias pessoas levantarem a mão, Regina Casé apresenta

um vídeo do cantor Djavan dando um depoimento que o nome do seu pai não constava

no registro de nascimento, logo após Douglas Silva e Luane Dias, integrantes do quadro

fixo do programa, contam como era difícil passar o dia dos pais na escola. .

5.3.3 Programa exibido no dia 17 de agosto de 2014

Na terceira edição exibida no mês de agosto, cujo tema é “Festa na cozinha”,

Regina recebe entre seus convidados os atores Caio Blat e Maria Ribeiro, a banda Onze

e 20, o grupo Turma do Pagode e o chefe de cozinha francês Claude Troisgos.

Após entrevistas e apresentações, a apresentadora do programa comenta um pouco

das influências índigenas, africanas e europeias da comida brasileira e o colaborador de

33

conteúdo do programa, Alê Youssef, indica um livro sobre a história da formação da

culinária brasileira.

Depois integrantes do elenco fixo do programa são divididos em dois grupos e

Regina Casé pede para que cada grupo faça um prato para agradar o chef francês e os

convidados.

Já no fim do programa, Regina Casé recebe um dos idealizadores do Projeto Axé,

Marcos Cândido, responsável por atender 18 mil jovens das ruas de Salvador, na Bahia,

com aulas de música, dança e teatro. Dois adolescentes negros, que participaram do

projeto, contam suas histórias no programa: Jonilson de Jesus conta como sua vida mudou

após começar a ter aulas de dança e como essas aulas o ajudaram a parar de reagir de

maneira violenta ao preconceito que sofria por ser homossexual; Já Paulo Henriques, que

hoje é músico, emociona os convidados e a plateia do Esquenta ao falar do seu sonho de

conseguir ganhar a vida com a música para poder internar sua mãe, que é moradora de

rua, numa clínica de reabilitação.

Regina Casé termina falando como a educação e a cultura podem transformar a

vida de crianças pobres e o programa termina com a apresentação de outra participante

do Projeto Axé, cantando a música “Alegria da Cidade”, de margareth Menezes, enquanto

dançarinos fazem passos de Capoeira. Trechos da música dizem o seguinte: “Eu sou parte

de você, mesmo que você me negue. Na beleza do afroxé, ou no balanço no reggae. Eu

sou o sol da Jamaica, sou a cor da Bahia, sou você e você não sabia. Apesar de tanto não,

tanta dor que nos invade, somos nós a alegria da cidade.

Apesar de tanto não,tanta marginalidade, somos nós a alegria da cidade”.

Este é o único programa, dos quatro analisados para este projeto, em que se fala e

ensina sobre a cultura negra, a exemplo das influências africanas para a culinária

brasileira. Outro aspecto importante exaltado nesta edição é a abertura de um espaço para

a dança tipicamente negra, a capoeira.

5.3.4 Programa exibido no dia 24 de agosto de 2014

Na edição exibida no quarto domingo de agosto, o tema abordado é “Espaço

sideral”. O principal convidado do dia é o astrônomo e físico Marcelo Gleiser. Entre os

outros convidados estão a banda de pop rock Skank, o Grupo Clareou, de pagode e o

surfista Scooby.

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Depois de entrevista e apresentação com a banda Skank, Marcelo Gleiser é

entrevistado por crianças, que fazem parte do grupo de dançarinos fixos do programa, e

responde perguntas como, por exemplo, se existe água em outros planetas e quantos

minutos a luz do sol demora até chegar no planeta terra. O colaborador de conteúdo, Alê

Youssef, comenta sobre um prêmio que Marcelo Gleiser ganhou em 1994 do presidente

dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Já que o tema é Espaço Sideral, Regina Casé chama o pagodeiro Alexandre de

Pilares para cantar a música “Na velocidade da luz”. Logo após tem apresentação e

entrevista com o Grupo Clareou.

Após ler a carta de uma telespectadora elogiando o programa, Regina Casé diz

que o Esquenta é uma festa onde as difenças devem ser celebradas, onde as pessoas

marquem encontros inusitados, onde tudo esteja “junto e misturado”.

É apresentada, então, a história de Cícero Pereira Batista, homem negro e de

origem pobre, que quando criança achou no lixo um livro, a partir daquele momento

Cícero se interessou pela leitura e se formou em Medicina.

A apresentadora do programa fala do sonho de trazer o grupo de rap “Racionais

Mc’s” para o programa e lê um e-mail que recebeu do músico Tom Zé, com trechos de

uma entrevista com o Mano Brown, líder do grupo, dizendo que o Esquenta era um

programa revolucionário e atualmente o melhor programa da TV brasileira. Sobre a

Regina e o programa, Mano Brown disse: “É uma pessoa que vem lutando e chega um

momento que faz um grande programa de TV, morou? Do jeito que as pessoas são,

vivendo o que elas são. Não tenho vergonha de ninguém ali, tenho orgulho. Eu me vejo

em todos ali”.

5.4 Que papeis sociais são representados no Esquenta?

Para Berger e Luckman (2014, p. 99) a construção de tipologias dos papéis é um

correlato necessário da institucionalização da conduta. Para eles, as instituições

incoporam-se à experiência do indivídio por meio dos papéis.

Ao desempenhar papéis, o indivíduo participa de um mundo social. Ao

interiorizar estes papéis, o mesmo torna-se subjetivamente real pra ele.

(BERGER;LUCKMAN 2014, p. 100).

35

Já Goffmann (1999) trabalha a ideia de que a vida social é um grande teatro, em que

os sujeitos atuam o tempo todo. Para representar, os indivíduos, frente ao outro,

dependendo da circunstância, do interlocutor e do assunto, mudam de máscaras sociais.

Nessa perspectiva, analisaremos aqui, quatro integrantes do elenco fixo do programa

“Esquenta”, para compreender quais tipos de papéis são assumidos por eles.

Aleatoriamente, os integrantes escolhidos foram: Douglas Silva, ator e comediante,

Mumuzinho, cantor de pagode, Luane Silva, web celebridade e comentarista de moda, e

Nathália Rodrigues, estudande de Jornalismo e deficiente visual. Para chegar ao

resultado, faremos um breve perfil dos quatro integrates escolhidos.

5.4.1 Douglas Silva

Aos 14 anos, Douglas Silva, ”, que formou-se em artes cênicas no “Nós do morro”,

grupo formado em 1986 com o intuito de dar acesso à arte aos moradores do Morro do

Vidigal, e favelas próximas, através de cursos de Teatro e Cinema, ficou famoso ao fazer

uma participação no filme “Cidade de Deus”, dirigido por Fernando Meirelles em 2002.

Na trama, Douglas interpretava o bandido Dadinho.

O filme retratava o crescimento do crime organizado na favela Cidade de Deus entre

o final da década de 1960 e o início da década de 1980. Assim como Douglas, a maioria

dos atores do filme eram moradores de favela.

No mesmo ano, Douglas Silva, estreou em outro projeto do diretor Fernando

Meirelles, a série de tevelevisão, exibida na Rede Globo entre os anos de 2002 e 2005,

chamada de “Cidade dos Homens”.

Na série, ele interpretava o menino Acerola, que ao lado Laranjinha, interpretado por

Darlan Cunha, vivenciavam dilemas próprios da adolescência e da favela onde viviam,

como tráfico de drogas e violência urbana.

O quarto episódio da 1ª temporada de “Cidade dos Homens”, intitulado “João Victor

e Uólace”, foi roteirizado e dirigido por Fernado Meirelles em co-autoria com a Regina

Casé. É nesse momento, que surge a relação de intimidade entre o ator e a presentadora,

que anos mais tarde o convidaria para participar do seu programa, o “Esquenta” desde o

ano de sua estreia, em 2011.

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5.4.2 Mumuzinho

Márcio da Costa batista, mais conhecido como Mumuzinho, também no “Nós do

morro” e assim como Douglas Silva, Mumuzinho também atuou na série “Cidade dos

Homens” e no filme “Cidade de Deus”, e ainda atuou no filme “Tropa de Elite” (2007).

Mas foi como cantor de pagode que Mumuzinho consagrou sua carreira. A partir do ano

de 2007, o cantor começou a fazer a abertura de show de Belo e do grupo Exaltasamba,

por exemplo.

Em 2011, Mumuzinho lançou seu primeiro álbum, intitulado “Transpirando

amor” e em 2012 lançou, pena Universal Music “Dom de sonhar”, mesmo ano que foi

contratado pela Globo para fazer do elenco fixo do programa “Esquenta”.

5.4.3 Luane Dias

Após ganhar notoriedade na internet com um vídeo, postado no Youtube, que

falava sobre como se comportar nas redes sociais, Luane Dias, moradora da favela Cidade

Alta, no Rio de Janeiro, foi convidada para fazer uma participação no Esquenta, cujo tema

tratava sobre internet, exibido no dia 21 de de abril de 2013.

Com seu jeito de marrenta, muitas gírias no vocabulário e falando palavras

erradas, Luane caiu na graça da Regina Casé e do público e foi convidada para fazer parte

do elenco fixo no programa.

Atualmente, Luane Dias, tem um quadro que se chama #Luane, no qual ela

comenta os looks de anônimas que mandam suas fotos para o programa.

5.4.4 Nathália Rodrigues

Deficiente visual desde nascença, negra e moradora de uma favela do Rio de

Janeiro, a estudante de Jornalismo e repórter do programa “Rolezão”, exibido na Globo

News, Nathália Rodrigues também foi convidada por Regina Casé para fazer parte do

elenco fixo do programa após fazer uma participação na platéia. Apesar de participar de

todos os programas, Nathália não tem um espaço garantido em todas as exibições.

Raramente, ela faz um comentário sobre a pauta que vem sendo discutida no programa.

Ao analisar o perfil dos quatro integrantes do elenco fixo do programa pode-se

chegar a conclusão que todos têm duas características em comum: cresceram na favela,

37

e, o mais importante para esta pesquisa, aparecem no programa como sendo “a exceção”.

Negros, pobres e moradores da favela, todos eles se destacaram por um talento e

ganharam espaço e notoriedade no programa. No Esquenta, eles se destacam pelos mais

diversos talentos: na música, no cinema, no jornalismo ou como comediante, mas no

contexto social, os participantes não representam o negro enquanto classe, pois como

falou Fernandes (1978) há a inexistência de uma consciência de classe por parte do negro.

5.5 Democracia racial: existe no Brasil?

O discurso da Regina Casé, parte da ideia de que todos são iguais independente

de sua etnia, a chamada “democracia racial”, ideia disseminada por Gilberto Freyre em

Casa Grande & Senzala (1933), e em O Brasil em face das Áfricas negras e mestiças

(1962). Apesar de em nenhuma de suas obras, Gilberto Freyre ter usado o termo

“Democracia racial”, a criação dessa ideia foi atribuída à sua obra através de seus escritos

que diziam que no Brasil não havia racismo. A ideologia de democracia do autor, consiste

na ideia de que as relações raciais no Brasil se dão de forma harmoniosa e que

independente da cor da pele, todos os indivíduos têm seus direitos respeitados.

Para Freyre (1962) “nós, brasileiros, não podemos ser, como brasileiros, senão um

povo por excelência anti-segregacionista: quer o segregacionismo siga a mística da

‘branquitude’, quer siga o mito da ‘negritude’. Ou o da ‘amarelitude’.”.

(...) eregiu-se no Brasil o conceito de democracia racial; segundo esta,

pretos e brancos convivem harmoniosamente, desfrutando iguais

oportunidades de existência. (...) A existência dessa pretendidada

igualdade racial constitui o 'maior motivo de orgulho

nacional'.(NASCIMENTO, 1978, p. 41)

A ideia, apesar de ser muito criticada, ainda é aceita por grande parte da

população, mesmo que essa tenha noção de que existe discriminação. Sobre esse “mito

da democracia racial”, Schwarcz (1999 p. 309) diz que “a oportunidade do mito se

mantém, para além de sua desconstrução racional, o que faz com que, mesmo

reconhecendo a existência do preconceito, no Brasil, a ideia de harmonia racial se

imponha aos dados e à própria consciência da discriminação.” Desta forma, o racismo

fica mais difícil de ser combatido ou discutido já que há essa crença de que negros e

brancos vivem em perfeita harmonia.

38

No programa “Esquenta”, objeto de estudo deste trabalho, é comum perceber

elementos que lembrem a chamada “democracia racial”, tanto pelo clima do programa,

que reúne pretos e brancos no mesmo ambiente, quanto pelas falas da própria

apresentadora, como por exemplo nos episódios exibidos nos dias 3 e 10 de agosto de

2014, em que Regina Casé fala, respectivamente, sobre “pessoas de cores e raças

diferentes que se divertem juntos” e em como “o ‘Esquenta’ é uma festa onde as

diferenças são celebradas, encontros inusitados são marcados e tudo é ‘junto e

misturado’”.

Para o antropólogo Kabengele Munanga, em entrevista ao site do Jornal GGN

(2013), a crença que existe uma democracia racial dificulta o combate ao racismo porque

o opressor é invisível.

Ele [o racismo] está no ar… Como você vai combater isso? Muitas

vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: “você que é

complexado, o problema está na sua cabeça”. Ele rejeita a culpa e

coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso

racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é

responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum

problema. (MUNANGA, 2013)

A desigualdade entre negros e brancos está presente em vários aspectos, como por

exemplo, grau de escolaridade e renda. Podemos perceber essa diferença analisando

gráficos feitos pelo IBGE.

39

Nesta tabela é possível visualizar que pessoas negras e pardas são maioria no

Ensino Fundamental e Médio, mas já no Ensino Superior o número cai

consideravelmente. Agora analisemos, a diferença entre a renda de negros e brancos.

A partir desta tabela, é possível perceber que o trabalhador negro ganha um pouco

mais da metade que um trabalhador branco. Estamos falando de uma média salarial de

R$ 1.374,79 para os trabalhadores negros, enquanto a média dos trabalhadores brancos

ganham R$ 2.396,74. A partir da análise desses dois aspectos, concluimos que não

podemos falar de um país indiferente às raças.

Neste sentido, o programa Esquenta que, em sua pauta, traz a proposta de celebrar

as diferenças étnicas e raciais a fim de acabar com o preconceito peca ao não

problematizar a questão do racismo no Brasil e ao enfatizar uma harmonia entre os

diferentes grupos étnicos que não existe.

40

5.6 O Samba e o funk reforçam um esteriótipo?

A diversidade musical dos convidados do programa Esquenta é a mais extensa se

compararmos com os outros programas da TV brasileira. Em um só programa é possível

ouvir funk, rock, samba e forró, inclusive é possível ver uma banda de pop rock cantando

com um grupo de pagode, como aconteceu no dia 24 de agosto quando Skank e o Grupo

Clareou cantaram juntos.

Apesar disso, como dito anteriormente, o programa é animado majoritariamente

pelo som de samba e funk, o que não é uma surpresa, visto que o programa é gravado e

ambientado no Rio de Janeiro, é natural que ele seja influnciado por dois ritmos

característicos da “Cidade maravilhosa”. Porém esse motivo é responsável pelas

principais críticas relacionadas à afirmação do estereótipo de que o negro não gosta de

música considerada “boa” ou não tem “cultura”, visto que o samba e o funk são

expressões culturais populares.

Segundo Laraia (1986), as definições de cultura e civilização foram resumidas por

Edward Tylor (1832-1917) como tudo aquilo que o indivíduo de uma sociedade adquire.

Ou seja, Tylor (1986, p. 28) interpretou “cultura como sendo todo o comportamento

aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética” (LARAIA, 1986, p.

28). Todas as classes têm sua cultura, seja ela considerada popular ou de elite. O que

causa esse preconceito com a cultura popular é chamado de “etnocentrismo de classe”,

que acontece quando uma avaliação sobre determinado fato desconhecido é feita a partir

de seus valores, resultando numa conclusão negativa daquilo que é diferente. Lévi-Strauss

(1976, p. 334) disse que o etnocentrismo

Consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais: morais,

religiosas, sociais, estéticas, que são as mais afastadas daquelas com as

quais nos identificamos. “Hábitos de selvagens”,“na minha terra é

diferente”, “não se deveria permitir isso” etc., tantas reações grosseiras

que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma repulsa diante de

maneiras de viver, crer, ou pensar que nos são estranhas. Assim, a

antiguidade confundia tudo o que não participava da cultura grega

(depois greco-romana) sob a denominação de bárbaro; a civilização

ocidental utilizou em seguida o termo selvagem com o mesmo sentido.

Ora, subjacente a esses epítetos, dissimula-se um mesmo julgamento: é

provável que a palavra bárbaro se refira etimologicamente à confusão e

à inarticulação do canto dos pássaros, oposta ao valor da linguagem

humana; e selvagem quer dizer “da selva”, evoca também um gênero

de vida animal, por oposição à cultura humana. Em ambos os casos,

recusamos admitir o próprio fato da diversidade cultural; preferimos

41

lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma à norma

sob a qual se vive. (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 334).

A partir disso, podemos compreender que toda manifestação cultural é válida,

venha ela da favela ou do teatro, de negros ou brancos, ricos ou pobres e que o “Esquenta”

cumpre o seu papel de programa de auditório cujo lema é mostrar e celebrar a cultura

popular. Para FRANÇA (2004) os programas de auditório, e aqui essa definição cabe bem

ao Esquenta, se alimentam do cotidiano de seus personagens.

E o que é mesmo o cotidiano? Entendemos o cotidiano como lugar da

experiência, do vivido; lugar das partilhas e dos enfrentamentos;

igualmente um lugar da constituição dos laços e da sociabilidade. Falar

do cotidiano é falar de um trabalho de construção de um lugar no

mundo. Nesse sentido, ao alimentar-se do cotidiano, esses programas –

bem ou mal – falam e nos remetem para a dramaticidade do mundo real,

e para os movimentos que compõem esse mundo. (FRANÇA, 2004, p.

3- 4)

Já que no imaginário social, o negro, especialmente da favela, gosta de estilos musicais

populares, o “Esquenta” reforça sim este esteriótipo, já que os negros que fazem parte do programa

cantam e dançam majoritariamnete estes dois estilos. Contudo, não pode-se considerar que esta

seja uma representação depreciativa do negro.

O samba e o funk são característicos da periferia, fazem parte do cotidiano de parte

da população que lá vive e merece reconhecimento e visibilidade, assim como qualquer

outra forma de expressão cultural, especialmente em um programa popular na maior

emissora do país. Isto causa uma identificação com essa população, que como diz Sodré

(1975) é o reconhecimento do indivíduo através da espetacularização propiciada pela

cultura de massa.

42

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde a concepção do projeto da monografia até a presente pesquisa, que resultou

em um período de nove meses, muitas perguntas surgiram sobre a representação da

identidade negra, tomando como referência a representação do negro no espaço

televisivo. Para realizar este trabalho optou-se por fazer um recorte no programa

Esquenta, exibido semanalmente na Rede Globo.

A pesquisa, que é focada em apenas quatro edições do programa, que já conta com

sua quarta temporada, não tem a pretensão de chegar a respostas tão conclusivas, de

perguntas tão complexas que referem-se a identidade negra, a manutenção de esteriótipos

e ao racismo, assunto “proibido” no Brasil, pois segundo Ramos (2007, p. 7) assumir o

racismo gera culpa, ansiedade, impotência, vergonha e raiva e de novo negação.

Desta forma procurou-se articular uma apresentação de elementos do programa

para trazer a discussão sobre a representação do negro no espaço televisivo de uma

maneira geral.

Assim, pode-se concluir que o Esquenta tem a intenção de construir um novo tipo

de representação racial, diferente da apresentada no jornalismo, por exemplo. Esta nova

representação diz respeito ao processo de incorporação de forma natural do negro à

sociedade brasileira, especialmente à sociedade privilegiada social e economicamente.

No entanto, o programa reforça o preconceito de que a inclusão negra se dá pela ótica do

divertimento, do excêntrico e do pitoresco.

Em um momento em que se conhece e se debate muito mais sobre a militância

do movimento negro, é importante que não deixemos que a mídia resignifique a história

do negro e dê um novo resultado para ela, dizendo que a integração do negro já aconteceu

ou acontece de forma muita aceitável e natural. É importante que se faça essa reflexão

sobre a disparidade do que é representado no Esquenta e de como acontece fora dos

bastidores do programa, para entender quais são as consequências desse tipo de

representação na vida e na auto-estima dos jovens negros brasileiros, moradores ou não

das favelas.

Aparentemente, o Esquenta faz aquilo que propõe: “junta e mistura” os mais

diversos tipos de etnias, cores, religiões e estilos musicais num programa só, mas o faz

de maneira superficial, ou seja, apenas coloca todos no mesmo ambiente e diz que deve

ser daquela forma, mas não abre espaço para debater o racismo, os esteriótipos, a própria

43

representação dos negros na televisão, sendo assim é impossível combater o racismo

fingindo que ele não existe.

Ao contrário do que acredita a maioria das pessoas que criticam o programa, o

Esquenta, não erra ao mostrar negros dançando funk ou samba, dançarinos com seus

cabelos crespos ou moradores da favela, pois é claro que esses representam uma parcela

da população, o programa peca em representar apenas essa parcela.

É necessário que faça-se o esforço, da parte da mídia, para que o negro passe a se

enxergar na televisão das mas diversas maneiras, ocupando as mais diversas cadeiras,

inclusive as supervalorizadas, desta forma ela estará contribuindo para quebrar

esteriótipos que seguem essa classe por anos.

44

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