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AVALIAÇÃO DE PERCURSO: FORTALECER ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E INDUZIR POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

ISBN 978-85-85786-77-9 - s3.amazonaws.com · capaz de introduzir na agenda pública a necessária educação integral de crianças e adolescentes. Em suas primeiras edições, o Programa

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AVALIAÇÃO DE PERCURSO: FORTALECER ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E

INDUZIR POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

Este livro apresenta

uma análise do

percurso do Prêmio

Itaú-Unicef de 1995

a 2007, em seus

aspectos técnicos e

políticos, destacando

a importância

de espaços de

aprendizagem

que ofereçam

oportunidades de

desenvolvimento

integral à população

infanto-juvenil.

Nele encontramos

as propostas,

objetivos e metas dos

instituidores, mas

também a voz dos

educadores sociais,

seus sonhos e desafi os,

e, principalmente, a

realização de práticas

comunitárias que

produzem mudanças

signifi cativas na

vida de crianças e

adolescentes que

vivem em territórios

socialmente

vulneráveis.

ISBN 978-85-85786-77-9

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SOIniciativa Realização

AVALIAÇÃO DE PERCURSO: FORTALECER ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E

INDUZIR POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

Este livro apresenta

uma análise do

percurso do Prêmio

Itaú-Unicef de 1995

a 2007, em seus

aspectos técnicos e

políticos, destacando

a importância

de espaços de

aprendizagem

que ofereçam

oportunidades de

desenvolvimento

integral à população

infanto-juvenil.

Nele encontramos

as propostas,

objetivos e metas dos

instituidores, mas

também a voz dos

educadores sociais,

seus sonhos e desafi os,

e, principalmente, a

realização de práticas

comunitárias que

produzem mudanças

signifi cativas na

vida de crianças e

adolescentes que

vivem em territórios

socialmente

vulneráveis.

ISBN 978-85-85786-77-9

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SOIniciativa Realização

Iniciativa Realização

AVALIAÇÃO DE PERCURSO: FORTALECER ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E

INDUZIR POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Avaliação de percurso : fortalecer organizações sociais e induzir políticas de educação integral / coordenação geral Maria do Carmo Brant de Carvalho. — São Paulo : CENPEC, 2008.

Vários autores. “Prêmio Itaú-UNICEF” Iniciativa: Fundação Itaú Social, UNICEF Bibliografia.

ISBN 978-85-85786-77-9

1. Avaliação de programas de ação social 2. Educação de adolescentes 3. Educação de crianças I. Carvalho, Maria do Carmo Brant de.

08-10437 CDD-361.25

Índices para catálogo sistemático:

1. Avaliação : parâmetros de ações socioeducativas : Problemas sociais 361.25 2. Avaliação : Problemas sociais : Problemas sociais 361.25

APRESENTAÇÃOO Prêmio Itaú-Unicef integra o Programa Educação & Participação, iniciativa da Fundação Itaú Social

e do Fundo das Nações Unidas para a Infância - Unicef, com a coordenação técnica do Cenpec.

O Prêmio tem como objetivo reconhecer e estimular o trabalho de organizações sem fi ns lucrativos que

contribuam, em articulação com a escola pública, para a educação integral de crianças e adolescentes

brasileiros.

Criado em 1995, num contexto de mudanças sociais signifi cativas pós Constituição de 1988, o

Prêmio Itaú-Unicef foi se aperfeiçoando ao longo de cada edição, colocando em prática metodologias

inovadoras de avaliação e incluindo no escopo de sua proposta agentes públicos ligados à causa

dos direitos da criança e do adolescente, de modo a construir diálogo e sinergia com as políticas

públicas. Ao lado disso, o rigor e a seriedade do processo de avaliação e seleção conferiram ao Prêmio

legitimidade e credibilidade tanto entre as ONGs, quanto entre os organismos da educação e da

assistência social.

Este livro apresenta uma análise desse percurso, em seus aspectos técnicos e políticos, destacando

a importância de espaços de aprendizagem que ofereçam oportunidades de desenvolvimento integral

à população infanto-juvenil. Nele encontramos as propostas, objetivos e metas dos instituidores,

mas também a voz dos educadores sociais, seus sonhos e desafi os, e, principalmente, a realização de

práticas comunitárias que produzem mudanças signifi cativas na vida de crianças e adolescentes que

vivem em territórios socialmente vulneráveis.

Um estudo dos projetos inscritos nas sete edições do Prêmio Itaú-Unicef perpassa a análise e oferece

ao leitor um breve panorama dessas ações socioeducativas, que representam um esboço do cenário

das oportunidades à disposição das crianças e dos adolescentes no Brasil.

Agradecemos a especial colaboração de todos que contribuíram com sua leitura cuidadosa e

recomendações, enriquecendo esta publicação.

Fundação Itaú Social Unicef Cenpec

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

Procedimentos da pesquisa avaliativa 11

1. ANOS 90: UM CONTEXTO FÉRTIL PARA INOVAÇÕES 13

2. UMA INICIATIVA E SEU APRIMORAMENTO 19

Primeira etapa 20

Segunda etapa 21

3. FUNÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DA PREMIAÇÃO 31

O Prêmio Itaú-Unicef em números 36

As organizações e seus projetos 38

Campo de atuação das ONGs 39

4. ATORES DE UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA 47

O reconhecimento 48

5. EM 2007: TODOS PELA EDUCAÇÃO! 61

As forças em ação 62

A concretização da educação integral afi rmada pela LDB 64

Ações socioeducativas: Oportunidades de desenvolvimento 65

Gestão para a Sustentabilidade 73

6. SINERGIA DE FUTURO 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83

ANEXO 1 Organizações participantes dos grupos focais dos encontros de formação 2004 85

ANEXO 2 Organizações premiadas visitadas no ano de 2005 86

ANEXO 3 Organizações premiadas em todas as edições – 1995 a 2007 87

INTRODUÇÃOO Prêmio Itaú-Unicef é movido pela crença de ser o exercício da cidadania das crianças e jovens

de todo o Brasil que dá signifi cado ao investimento em processos que contribuem para a garantia do

direito de aprender e continuar aprendendo; de desenvolver talentos e exercitar sonhos; de brincar no

mundo e saber colher as pedras do caminho, construindo com elas uma estrada ampla e fi rme para um

presente e futuro que possamos partilhar!

Assim, apresentamos aqui o registro avaliativo do percurso do Prêmio Itaú-Unicef, uma das ações do

Programa Educação & Participação1. Na seqüência, trataremos da nova infl exão dada ao Prêmio em 2007.

A avaliação realizada foi predominantemente processual e qualitativa. Optamos por destacar a

dimensão processual, pois ela permite explicitar, a partir do curso da ação e das relações produzidas,

seus resultados e impactos. No caso do Programa Educação & Participação, qualquer avaliação que não

levasse em conta o processo, perderia em compreensão.

Na vigência do Programa, o monitoramento e a avaliação contínuos realizados sobre seu desempenho

e resultados, constituíram-se condição privilegiada ao seu aprimoramento e à oportunidade de pesquisa

sobre conceitos, processos e extensão da ação socioeducativa desenvolvida por ONGs junto ao grupo

infanto-juvenil. Permitiu construção coletiva e um efetivo aprendizado sobre a prática social neste campo.

Uma avaliação É referência segura na alteração de diretrizes, rumos, metas e procedimentos relativos ao

Programa e ao desempenho das organizações;

Tem sido condição necessária à produção de conhecimentos a partir da ação;

Propicia a socialização refl exiva da prática socioeducativa desenvolvida pelas organizações

que operam no campo social;

Contribui para o que hoje se denomina accountability, ou seja, a necessária prestação de

contas à sociedade e aos sujeitos envolvidos sobre o Programa e o movimento social que

desencadeia.

Dentre os componentes básicos do Programa Educação & Participação estão um Prêmio e uma

Formação que caminham em alternância, ano a ano, desde 1995.

Prêmio e Formação movem um triplo propósito:

Visibilizar práticas socioeducativas referenciais no desenvolvimento do grupo infanto-juvenil;

9

1 O Programa Educação & Participação agrega as seguintes ações, além do Prêmio Itaú-Unicef: Encontros Regionais de Formação, Projeto Tecendo

Redes, Estudos e Pesquisas, Publicações, Site e Boletim impresso.

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Formar ONGs para condução de projetos socioeducativos consistentes;

Produzir vocalização social em torno da educação integral de crianças e adolescentes.

Este Programa tem peculiaridades que precisam, já de início, ser destacadas:

Apresenta caráter público, porém não estatal;

Tem características de movimento social, envolvendo mobilização, formação e vocalização

social;

É implementado por uma parceria entre um banco nacional, o Itaú, uma agência multilateral

da Organização das Nações Unidas, o Unicef, e uma organização não governamental, o

Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária;

Nasce com um original compromisso: atuar com ONGs que desenvolvem programas no

contraturno escolar, visando crianças e adolescentes que, vivendo em contextos de pobreza,

não conquistam acesso, permanência e sucesso escolar;

Ao longo do tempo ganhou enorme importância: produzir mobilização e vocalização social

capaz de introduzir na agenda pública a necessária educação integral de crianças e adolescentes.

Em suas primeiras edições, o Programa pouco destaque ganhou na opinião pública, a não ser para

as próprias ONGs que consideraram importante o reconhecimento de suas ações junto ao grupo

infanto-juvenil. Foi na continuidade que conquistou alta visibilidade pública.

Como movimento social, e não apenas no aprimoramento da ação socioeducativa de ONGs no

contraturno escolar, sua perenidade longitudinal foi fator de ganhos progressivos de legitimidade

social e indução na conformação das políticas públicas de educação integral no País.

O objetivo desta avaliação, portanto, é destacar o processo de um Programa que afetou o desempenho

de ONGs em seus projetos socioeducativos e também se comportou como movimento de

vocalização social em torno da educação integral de crianças e adolescentes. Para revelar esse

alcance, o registro avaliativo aqui apresentado traz sua argumentação na seguinte seqüência:

1. Anos 90 – um contexto fértil para inovações

2. Uma iniciativa e seu aprimoramento

3. Função Social e Política da Premiação

a. O Prêmio Itaú-Unicef em números

b. As organizações e seus projetos

c. Campo de atuação das ONGs

4. Atores de uma construção coletiva

5. Em 2007: todos pela educação!

6. Sinergia de Futuro

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Procedimentos da pesquisa avaliativa A pesquisa avaliativa realizada valeu-se da consulta documental, rastreando os relatórios de campo

produzidos pela equipe técnica do Programa – informações, depoimentos e análises presentes nos

registros de suas várias edições – e alinhando-os de forma a captar os indicadores que sinalizem

processos e produtos referentes aos recortes analíticos priorizados.

Em 2004 foram realizadas conversas coletivas com representantes de iniciativas premiadas ou

que receberam menção honrosa (Anexo 1), tendo como tema explícito a avaliação do Prêmio. Essas

organizações estavam participando dos Encontros Regionais de Formação realizados no ano seguinte à

edição do Prêmio.

Em 2005 procederam-se a visitas de campo junto a dez organizações premiadas (vide Anexo 2) e à

realização de novos grupos focais, dessa vez com as fi nalistas de 2005. Também ocorreram entrevistas

com os diversos parceiros envolvidos.

Na escolha das dez organizações premiadas no intervalo dos dez anos do Programa, optou-se por

aquelas que desenvolvem ações socioeducativas, visto que esse é o foco que tem se fortalecido nas

últimas edições do Prêmio. Essa escolha nos fez descartar os projetos que trabalhavam com:

mobilização pela educação e

formação continuada de professores e/ou educadores e produção de material de apoio,

categorias vigentes no processo de premiação até 2001.

As organizações foram visitadas por pesquisadores do Cenpec entre os meses de agosto e dezembro

de 2005, momento em que aconteceram conversas com seus gestores, com as crianças e os

adolescentes atendidos, pais de alunos, diretores de escolas, conselheiros de políticas públicas

municipais e personagens que, citadas pela instituição premiada, estabeleciam vínculos estreitos

com o trabalho socioeducativo desenvolvido. No Anexo 2 encontra-se a lista das ONGs visitadas

discriminando os nomes dos projetos, as instituições a que pertencem, as cidades e os estados em

que estão sediados e os anos das premiações. Foram contempladas todas as regiões brasileiras (Norte,

Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).

Os documentos e registros obtidos nas entrevistas individuais e coletivas foram lidos e relidos por,

pelo menos, dois pesquisadores, com a perspectiva de destacar as referências espontâneas ao Prêmio

e à prática socioeducativa desenvolvida por essas ONGs. São essas temáticas, surgidas das narrativas

dos entrevistados e da leitura dos pesquisadores, que consideramos como a expressão das relações de

afetação entre o Prêmio e todas as iniciativas inscritas, particularmente as premiadas.

Assim, a pesquisa avaliativa dos dez anos do Prêmio Itaú-Unicef de um lado visou conhecer de que

forma o Prêmio impactou as organizações e, de outro, de que maneira infl uenciou a formulação e

implementação de políticas públicas de educação integral.

1. ANOS 90: UM CONTEXTO FÉRTIL

PARA INOVAÇÕESA década de 1990 para o nosso País pode ser caracterizada como aquela que reintroduz o

fundamento essencial de toda política pública: o reconhecimento da cidadania de todos os brasileiros.

O Brasil inicia a década de 90 contagiado pela recém-promulgada Carta Constitucional (1988) que

reconhece as crianças como sujeitos de direitos e proclama a educação pública como política nacional

a ser assumida em toda a sua radicalidade enquanto condição de emancipação do povo brasileiro.

No plano mundial, a Conferência “Educação para Todos”, ocorrida em 1990 em Jomtien, na Tailândia,

viabilizou a formação de um enorme consenso planetário em relação à centralidade da educação como

necessidade que se impõe tanto em termos éticos, quanto econômicos.

13

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A declaração nela aprovada transformou-se em documento de referência ao longo dos anos 90. Em

parte por ser a expressão desse consenso mundial, mas também por ter adotado um conceito amplo

de educação, cujo objetivo, expresso em seu artigo 1º, inclui a satisfação das necessidades básicas de

aprendizagem de toda e de cada pessoa – criança, jovem, adulto – “para que os seres humanos possam

sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar

plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentais e

continuar aprendendo”.

Em 1990 o Brasil promulga o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ratifi cando uma nova

concepção desse público em condição peculiar de desenvolvimento (que deve gozar, portanto, de

todos os direitos fundamentais inerentes ao ser humano), sugerindo maior integração entre as áreas da

cultura, esporte, educação e assistência social.

Em 1996 é promulgada a Lei Federal número 9.394 que trata das Diretrizes e Bases da Educação

no Brasil/LDB, assegurando as condições fundamentais para um regime efetivo de colaboração

entre estados e municípios, autonomia crescente dos sistemas de ensino, fi nanciamento do ensino

fundamental, autonomia das escolas e formação dos professores.

Foi expressiva a redefi nição do papel desempenhado pelo Ministério da Educação, resgatando sua

missão de agência formuladora e reguladora de políticas públicas. A LDB, o Fundo de Manutenção

e Valorização do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), instituído também

em 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC), de 1998, e os Sistemas de Avaliação

de Desempenho (Saeb e Enem) foram condições de enorme importância na regulação pública da

educação e também em sua viabilização.

Houve clara expansão do sistema de ensino, aumentando signifi cativamente o acesso de crianças

e adolescentes à educação. A proporção de alunos entre 7 e 14 anos no ensino fundamental passou

de 89% em 1994 a 96% em 1999 até os 97,3% em 2005, uma conseqüência direta do Fundef e da

Campanha “Toda Criança na Escola”. O País caminhou para a redução das diferenças regionais no

acesso à educação – expressa na expansão da rede das regiões Nordeste e Norte, bem acima da

média nacional – e, em concordância com o estipulado na LDB, desencadeou forte processo de

municipalização do ensino fundamental e estadualização do ensino médio.

(...) há uma coisa muito interessante nas décadas de 80 e 90, que é uma dupla concepção

do direito à educação. De um lado está a idéia do direito à educação como direito à escola,

como direito ao saber socialmente construído, ao saber selecionado nos currículos etc.

Há uma grande luta nessa direção e é uma luta muito rica, que vem atingindo objetivos

importantes. De outro lado, há outra posição, segundo a qual isso não dá conta de toda a

amplitude do direito à educação. Segundo essa visão, o direito à educação é mais amplo do

que o direito à escola ou ao domínio de habilidades escolares (...) (Miguel Arroyo, 1999 In:

SETUBAL, 2001:24).

15

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Tanto a década de 90 quanto a presente foram tomadas pela progressiva compreensão social de que

só teremos educação de qualidade para todos se todos estiverem envolvidos nessa luta. Este

desafi o ganhou a consigna de tarefa urgente e coletiva: todos pela educação!

O processo de construção democrática, fruto da maior participação da sociedade civil e também da

iniciativa empresarial, contagiou o País e fortaleceu o envolvimento de diferentes atores nas ações de

caráter público. O Prêmio Itaú-Unicef tem sua origem neste contexto.

Apesar dos inúmeros avanços realizados na última década, sobretudo no que se refere à

universalização do acesso ao ensino fundamental, os desafi os a serem enfrentados pela educação

brasileira no tempo presente não são pequenos. Será tarefa de todos a construção das sendas que

permitam alcançar a qualidade e a efetividade na educação, garantindo a eqüidade e a consolidação de

uma sociedade mais justa e democrática.

Adentramos o século XXI com 9% de analfabetos absolutos, 31,3% de pessoas que pouco utilizam a

leitura e a escrita em sua vida diária, revelando compreensão mínima de um texto escrito. (IBGE, 2000/

INAF, 2001)2.

Não é tarefa fácil assegurar qualidade de educação, a começar pelo tamanho e defi ciências ainda

presentes na rede de ensino.

É com este desafi o que se institui a parceria entre Itaú, Unicef e Cenpec para produzir em conjunto o

Programa Nacional Educação & Participação.

A originalidade do Programa está no investimento em ações no contra turno escolar (e não

propriamente na escola), compreendendo, já em 1995, que crianças e adolescentes brasileiros,

marcados pela pobreza, necessitam desenvolver e ampliar seu universo de experiências culturais,

lúdicas e socializadoras para conquistar o acesso, permanência e sucesso escolar.

2 INAF: Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional construído pelo Instituto Paulo Montenegro, ONG Ação Educativa e Ibope.

Analfabetismo funcional refere-se às condições de uso das habilidades de leitura e escrita em diferentes situações da vida diária.

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Os quadros acima apresentam dados educacionais de 2005 referentes ao ensino fundamental e

médio. Observamos altos percentuais da cobertura de matrículas, mas as taxas de distorção idade/série,

reprovação e abandono continuam altas. Os programas de atendimento a crianças e adolescentes no

contraturno escolar têm impacto signifi cativo no desempenho escolar, favorecendo a permanência e

auxiliando na aprendizagem.

O Programa Educação & Participação tem, assim, o propósito de identifi car e dar visibilidade

às organizações que desenvolvem ações na área da educação, sobretudo aquelas que ofertam

oportunidades de aprendizagem socioeducativas, culturais e lúdicas, afetando positivamente o

desempenho escolar de crianças e adolescentes com poucas oportunidades de acesso a bens e

riquezas culturais presentes na sociedade em que vivem.

Dados Educacionais – Ensino Fundamental – 2005 (em %)

Ensino Fundamental – 7 a 14 anos Brasil Centro-Oeste Norte Nordeste Sudeste Sul

Escolarização* 97,3 98,2 95,7 97,6 97,9 96,5

Distorção Idade - Série** 32,7 31,1 45,3 47,3 20,2 19,2

Taxa de Reprovação** 14,1 13,5 16,8 17,9 9,7 14,1

Taxa de Abandono** 9,1 11,1 12,9 14,7 4,5 3,2

Fontes: IBGE/PNAD 2005 e MEC/INEP 2005.

* população total de 7 a 14 anos

** total de matrículas

Dados Educacionais – Ensino Médio – 2005 (em %)

Ensino Médio – 15 a 17 anos Brasil Centro-Oeste Norte Nordeste Sudeste Sul

Escolarização* 81,7 81,9 77,9 84,6 80,7 79,3

Distorção Idade - Série** 51,1 50,2 69,6 70,1 39,1 33,3

Taxa de Reprovação** 11,4 11,9 9,0 8,5 12,7 14,5

Taxa de Abandono** 18,0 21,7 23,0 23,2 13,5 15,7

Fontes: IBGE/PNAD 2005 e MEC/INEP 2005.

*população total de 15 a 17 anos

** total de matrículas

2. UMA INICIATIVA E SEU

APRIMORAMENTONeste percurso de mais de dez anos, é possível destacar três etapas do Prêmio Itaú-Unicef: a primeira

delas inicia-se em 1994 e estende-se pelas suas primeiras quatro edições, a segunda atravessa as duas

edições seguintes (2003/2005). Uma terceira etapa teve início em 2007.

19

20

Primeira etapaEm 1994 é lançado o Guia de Ações Complementares à

Escola para crianças e adolescentes, com exemplos colhidos

de educadores sociais de todo o País. Resultou em primeiro

rastreamento da prática socioeducativa desenvolvida nas

comunidades e em primeiro incentivo a programas não-escolares

destinados a crianças e adolescentes. Sua tiragem e distribuição

ganharam enorme repercussão.

O Prêmio Itaú-Unicef é lançado em 1995 como ação de

mobilização socioeducacional. Congregou os interesses de

conhecer práticas de investimento em educação fora do

sistema escolar, realizadas por organizações da sociedade civil,

e ao mesmo tempo se propôs a dar visibilidade à oferta de

múltiplas oportunidades de aprendizagens necessárias ao avanço da educação pública.

Na época, a escassez de prêmios voltados para a ação social e o pouco conhecimento sobre as

ações socioeducativas desenvolvidas no horário alternado ao ensino regular ensejaram essa opção

programática do Educação & Participação. A premiação em si é estratégia de mobilização e de

visibilidade em torno de ações que devem ser incluídas na pauta de prioridades da política pública.

Em sua primeira edição, realizada em 1995, o Prêmio Itaú-Unicef atingiu as diversas regiões

brasileiras, somando 406 projetos/404 organizações inscritos. Em sua 6a edição, 2005, atinge 1.682

projetos de 1.566 ONGs. No conjunto das várias edições, o Prêmio alcançou 3.729 organizações.

Estima-se no Brasil a existência de 15.000 organizações3 atuantes na oferta de projetos

socioeducativos para crianças e adolescentes. Muitas dessas organizações surgiram em períodos

recentes, o que refl ete necessidades da comunidade, mas também pode signifi car um impacto do

Prêmio Itaú-Unicef em seu processo de mobilização/indução nacional.

A mobilização produzida pelo Prêmio em suas quatro primeiras edições (1995, 1997, 1999,

2001) ocorria em torno de um vasto campo de projetos complementares à escola: desde ações de

capacitação, de produção de material didático e de mobilização pela educação básica até ações

socioeducativas desenvolvidas diretamente junto ao grupo infanto-juvenil por ONGs.

O Prêmio Itaú-Unicef conquistara reconhecimento público, exigindo compromisso dos proponentes

(Fundação Itaú Social, Unicef e Cenpec) com sua continuidade e densidade.

3 Estimativas do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e do CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente)

em 2006.

21

Segunda etapaEtapa em que acontece a primeira grande infl exão. Chegamos a 2003.

As avaliações sobre o desempenho do Programa até 2001 indicavam que a questão da mobilização

pela educação (uma das categorias do Prêmio) já estava praticamente superada considerando a

sucessiva elevação das taxas de matrícula no ensino fundamental. As categorias de produção de

materiais educativos e de professores/educadores recebiam baixo número de inscrições. Por outro lado,

a categoria ações complementares à escola dominava o cenário do Prêmio com inscrições em torno de

85%. Além disso, percebeu-se a importância de deslocar o processo de seleção, centralizado em São

Paulo, para pólos regionais de modo a produzir maior reverberação das temáticas ligadas à educação

integral e, ainda, envolver os agentes públicos municipais nessa discussão. Essas análises permitiram o

aprimoramento do Programa revendo escolhas e introduzindo novas estratégias mais assertivas:

Colocar foco exclusivo nos programas socioeducativos promovidos por ONGs e

desenvolvidos no contraturno escolar. A avaliação do papel desses projetos na vida dos

sujeitos atendidos levou à substituição da expressão Ações Complementares à Escola por

Ações Socioeducativas, deslocando o foco da escola para o sujeito em desenvolvimento.

A escola, agente prioritário na oferta de educação, passa a dividir com outros atores

– projetos sociais, igrejas, centros esportivos, bibliotecas, museus, centros culturais – a

responsabilidade pela educação integral das crianças e dos adolescentes brasileiros,

reafi rmando as recomendações da Constituição de 1988, da LDB e do ECA.

A realização das quatro primeiras edições permitiu um conhecimento empírico fi no das ações

socioeducativas desenvolvidas pelas ONGs:

Essas ações nascem na comunidade. São iniciativas da comunidade promovidas, no

geral, por pequenas organizações. Estão presentes nos bairros populares com poucas

oportunidades e serviços destinados à proteção, educação e entretenimento de suas

crianças e jovens.

Têm um caráter de utilidade pública e são oferecidas gratuitamente. São um bem público

comunitário e se constituem em um capital social das próprias populações que convivem

com a pobreza e escassez de oportunidades e serviços.

Apresentam-se como um mosaico de propostas visíveis na diversidade criativa das

iniciativas sócio-comunitárias.

O currículo que orienta a maior parte dos programas complementares à escola é calcado nos

saberes, necessidades, possibilidades e expectativas da própria população local em relação

22

às suas crianças e adolescentes. Pode-se dizer que é também constituído a partir de recursos

e talentos dos próprios educadores locais. Nessa medida, é possível para essas organizações

compor um currículo fl exível. Por serem programas ou projetos pouco institucionalizados,

podem incorporar contributos e expectativas e processar alterações com maior adequação

aos tempos e espaços da própria comunidade.

Finalmente, as ações complementares não reproduzem a escola, pois contam com

um projeto pedagógico distinto. Os cuidados, a socialização e a participação na vida

comunitária são o forte de sua programação socioeducativa. Constituem um rito de

iniciação das crianças e adolescentes na vida pública.

Em síntese, tais iniciativas só muito recentemente adentraram a agenda do Estado. Expandem-se ainda

como políticas comunitárias, constroem-se no microterritório e são promovidas por organizações

não governamentais que, em parceria com a Prefeitura, grupos religiosos, empresas e membros

da comunidade oferecem um serviço de atenção à infância e à juventude. Os microterritórios em

que estão instaladas, em sua maioria, têm poucas oportunidades e serviços destinados à proteção,

educação e lazer de crianças, adolescentes e jovens. Tendo nascido nas comunidades e adentrado o

Estado pela porta da política de Assistência Social, não são reconhecidas como projeto educacional.

As alianças e parcerias de complementaridade com a escola, quando ocorrem, têm origem no

próprio interesse de cada escola/ONG, não sendo costuradas e assumidas enquanto política pública

da cidade.

Assumir compromisso com o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

O Programa Educação & Participação assume, como substantivo dessa ação, os objetivos que

compartilha com a intenção máxima do Estatuto da Criança e do Adolescente: desenvolvimento e

proteção integral. Reconhece crianças e adolescentes como sujeitos em desenvolvimento e sujeitos

de direitos.

Como sujeitos em desenvolvimento, crianças e adolescentes são portadores de um conjunto de

necessidades; como sujeitos de direitos, o atendimento a tais necessidades é assegurado por lei,

sendo portanto exigível. É responsabilidade de todos (família, Estado, comunidade e sociedade)

assegurar às crianças e aos adolescentes seus direitos fundamentais.

No Brasil, 35,9% da população total é constituída por crianças e adolescentes, sendo que 77,9%

vivem em áreas urbanas. São 27,2 milhões na faixa etária de 7 a 14 anos, 10,7 milhões, entre 15 e 17

anos, totalizando, assim, 37,9 milhões. (IBGE, Censo Demográfi co 2000)

23

Do total de crianças e adolescentes brasileiros, 45% são pobres, o que representa cerca de 17 milhões

de crianças e adolescentes que vivem em famílias com renda per capita de, no máximo, meio salário

mínimo. Comparativamente às crianças e adolescentes da camada social mais elevada, os pobres

têm duas vezes mais possibilidade de trabalhar na faixa etária de 10 a 15 anos; oito vezes mais

possibilidade de não freqüentar a escola na faixa de 7 e 14 anos; 21 vezes mais possibilidade de

não serem alfabetizados (12 a 17 anos). (IBGE, Censo Demográfi co 2000)

A educação integral de crianças e adolescentes torna-se o foco principal do Programa Educação

& Participação; é pensada com base em novos paradigmas e valores sociopolíticos presentes na

sociedade contemporânea.

O avanço na qualidade da educação depende do envolvimento da cidade como comunidade

educadora. Não apenas a escola, mas todos os espaços e sujeitos de aprendizagem de um

determinado território de pertencimento conjugam-se no compromisso com a educação de suas

crianças e adolescentes. É recente a noção de que a cidade educa e de que é importante envolvê-la

no projeto político de educação.

A ação pública, para ganhar efetividade, requer a promoção de ações articuladas em torno do

cidadão e do território enquanto eixos de um desenvolvimento sustentável. A sociedade clama

por políticas setoriais combinadas a programas multissetoriais de desenvolvimento. Nesse sentido

se quer um tempo integral que contenha o conjunto de oportunidades de aprendizagem que se

encontram dispersas nas várias políticas ditas sociais.

Introduzir na própria condução do Prêmio, enquanto ação mobilizadora, outros parceiros como

a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Colegiado Nacional de

Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) com atuação reconhecida na área da

criança e do adolescente.

Descentralizar nas regiões o processo de seleção e premiação, incluindo profi ssionais das

secretarias municipais de Educação/de Assistência Social e também conselheiros municipais da

política social como parceiros na avaliação dos projetos inscritos. Essas escolhas constituíram-se

num modo estratégico de envolvimento e formação de formadores de opinião pública, capazes

de infl uir na política local e regional de desenvolvimento para infância e juventude.

Dar visibilidade aos projetos fi nalistas realizando premiação regional com o objetivo de fortalecer

referências, considerando a diversidade de contextos que o País apresenta.

A descentralização do processo permitiu interiorizar a mobilização por todo o território nacional e

assumir as diferenças regionais.

24

Descentralizar para adensar redes locais/regionais e, sobretudo, garantir a marca que é peculiar

e tão necessária à educação: sua contextualização, assegurando visibilidade em torno de ações,

estratégias e conteúdos pedagógicos com signifi cado para o local e para a região.

A adoção da descentralização e a inclusão de gestores públicos e trabalhadores sociais da região

como parceiros na própria mobilização e avaliação dos projetos inscritos revelou-se estratégica para

atingir estes grandes formadores de opinião pública regional e infl uir seguramente na política local

de desenvolvimento para infância e juventude.

Para além desses fatores, estas novas estratégias foram responsáveis por quadruplicar as inscrições

- 1.834 projetos/1.708 organizações em 2003.

O Prêmio ganhou outros atributos. A nova concepção agrega o entendimento de que esta ação de

mobilização deve inserir uma perspectiva formativa, sobretudo dos gestores públicos formadores

de opinião pública. O Prêmio ganhou assim uma dupla característica: Mobilização/Formação.

Potencializar o apoio do Canal Futura como mídia de alto poder difusor e convocatório.

O canal televisivo passa a produzir programas específi cos para cada fase do processo

de seleção e premiação, dando visibilidade aos projetos selecionados como referências

regionais e nacional.

Dotar o Programa de compromisso político com a necessária articulação entre a política de

educação pública e outras políticas sociais públicas (cultura, esporte, assistência social) para

compor uma educação integral e de tempo integral.

Um programa que visa à mobilização social e vocalização em torno de uma causa pública precisa

engajar muitos parceiros com poder convocatório de forma a produzir densas coalizões entre

grupos ou agências governamentais e da sociedade civil.

Nenhuma política pública nasce no Estado. As prioridades em políticas públicas emergem na

sociedade e só adentram a agenda do Estado quando se constituem em demanda vocalizada.

Isto é, quando grupos da sociedade civil se organizam em torno de uma demanda, focalizam-na e

agem sensibilizando e mobilizando outros segmentos societários. Nessa condição, adensam forças

e pressões, transformando-a em prioridade e introduzindo-a na agenda da política pública.

Em 2003, já havia se tornado claro para os parceiros Itaú, Unicef e Cenpec que seria preciso fortalecer

o processo de mobilização, vocalização social e indução de uma política pública de educação capaz

de agregar diversas modalidades de educação integral. Portanto, já não mais centrada apenas

na modalidade escola de tempo integral, mas também em outras modalidades pautadas nos

25

muitos lugares e projetos socioeducativos presentes nas cidades e nos microterritórios da cidade.

Nesse processo, para além de agentes da política de educação, engajamos agentes da política

de assistência social que mantêm uma rede de núcleos socioeducativos conveniados com ONGs

visando à proteção social de crianças e adolescentes. A dimensão proteção social se fazia prioritária

dada a urgência de se agir sobretudo junto ao grupo infanto-juvenil pertencente a famílias em

situação de pobreza.

Reafi rmar a importância de adotar temas direcionadores da mobilização. Em 2001 introduziu-

se um primeiro mote, “Direito de Aprender”, visando irradiar, pela via da mobilização social, a

importância desse direito extensivo a todas as crianças e adolescentes. O direito de aprender

na escola era então uma prioridade, dadas as altas taxas de reprovação e abandono escolar

e os exames do Saeb que atestavam a falta de aprendizados básicos de leitura, escrita e

matemática – ferramentas indispensáveis para a apropriação do conhecimento acumulado pela

humanidade. Mas a mobilização social naquela edição também visou espraiar a idéia do direito

de aprender em outros domínios, que não a escola, com vistas a oferecer oportunidades de

aprendizagem ligadas à autonomia, à participação na vida pública, a trocas culturais.

Em 2003, como decorrência, foi introduzido o mote “Muitos Lugares para Aprender”, propondo o

reconhecimento das diversas aprendizagens de que crianças e adolescentes necessitam para seu

desenvolvimento integral.

A refl exão destacou não apenas os muitos lugares de aprendizagem, mas a idéia de que crianças

e adolescentes necessitam de circulação e experimentação. Visou, sobretudo, ao fortalecimento

e à expansão de iniciativas e projetos que promovam o desenvolvimento socioeducativo, lúdico

e cultural. A expressão socioeducativo é aqui tomada como qualifi cador, designando um campo

de construção de aprendizagens signifi cativas voltadas à convivência grupal, à sociabilidade,

à ampliação do universo informacional e cultural, âmbitos privilegiados para tratar de forma

intencional valores cívicos, éticos e estéticos.

Na seqüência, em 2005, introduziu-se o mote “Tecendo Redes” – não bastam mais políticas

fatiadas (educação, assistência social, cultura, esporte...), são necessárias articulações e propósitos

multissetoriais conjugados. Também não bastam ações estatais, são necessários o envolvimento e a

pró-atividade da comunidade local e da sociedade.

Manter os Encontros Regionais de Formação como ação sensibilizadora extensiva a todas as

organizações inscritas no Prêmio Itaú-Unicef, apostando no aprendizado rico, embora difuso,

que ocorre pela via do encontro e diálogo entre as próprias organizações. Os encontros constroem

o sentido de pertencimento a uma rede de ação socioeducativa de base local e regional.

26

A avaliação dos projetos participantes da primeira edição do Prêmio Itaú-Unicef desvendou um

cenário de mais de 400 organizações empenhadas em proteger e educar as crianças e adolescentes

de comunidades de baixa renda, fundamentadas em valores humanistas de solidariedade e

cidadania, mas muito poucas dentre elas com capacidade técnica signifi cativa para responsabilizar-

se por tarefa tão importante socialmente. Era preciso pensar muito além do benefício de um prêmio

para as três ou quatro organizações que se destacaram; era importante valorizar a experiência

daquelas outras que também descobriram caminhos e estratégias de superar as condições adversas

e propiciar espaços de desenvolvimento para crianças e adolescentes; era necessário oportunizar o

contato com novos discursos e estratégias de trabalho que possibilitassem o aperfeiçoamento das

práticas.

A proposta desenvolve-se, então, na direção de promover espaços de encontro dos educadores

sociais dos projetos participantes do Prêmio onde pudessem intercambiar suas experiências,

participar de palestras, ofi cinas, debater políticas públicas e ter acesso a um acervo básico de

publicações. Em 1996 aconteceram pela primeira vez os Encontros Regionais de Formação; estes

continuaram a realizar-se nos anos pares, sempre com a participação de um representante de

cada projeto inscrito no ano anterior e que estivesse de acordo com o regulamento. Embora tenha

assumido desenhos diferenciados, podemos dizer que se caracterizam por um formato de seminário

de 2 a 3 dias, no qual os educadores têm sua participação garantida pelos instituidores (Fundação

Itaú Social e Unicef ), uma vez que viagem, hospedagem e material são subvencionados pelo projeto.

Participam também convidados das secretarias de Educação e Assistência Social, de Conselhos de

Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, diretores e coordenadores de escolas públicas.

Acontecem em diferentes capitais a cada ano de modo a atender todas as regiões do Brasil. A cada

edição, o conteúdo técnico é relacionado ao mote do Prêmio.

Os Encontros Regionais criam oportunidades efetivas de diálogo público entre governo e sociedade

civil na construção de ações públicas de proteção e educação integral de crianças e de adolescentes.

Lançam ao debate conceitos, processos e políticas referidos à educação integral. Proporcionam as

trocas tão necessárias à formação de coalizões mais densas em torno de prioridades de ação.

Criar banco de dados sobre organizações e projetos socioeducativos, inscritos nas diversas

edições visando à disseminação, pesquisa e produção de conhecimento.

Essa decisão possibilitou a organização dos dados acumulados em quatro edições, material

de grande riqueza como base de estudos e pesquisas que iluminaram o processo de decisão

do Programa nos anos subseqüentes.

27

Produzir e divulgar parâmetros para as ações socioeducativas. O Programa Educação &

Participação aliou ação à produção de conhecimentos. Por meio de uma atitude de abertura

e transparência, promoveu a socialização de conhecimentos e aprendizagens adquiridos

no desenvolvimento de programas e projetos; sistematizou o conhecimento produzido

e apostou na estratégia de sua disseminação com a publicação do livro Avaliação:

construindo parâmetros das ações socioeducativas. Desse modo, transformou a refl exão

teórico-prática em ferramentas e metodologias que têm sentido e signifi cado na prática

pedagógica e socioeducativa.

Dar continuidade a nova ação, o Projeto Gestores de Aprendizagem Socioeducativa,

desenvolvida em 2002, visando engajar, por meio da formação conjunta, profi ssionais

de ONGs e agentes do poder público na formulação e implementação de projetos

socioeducativos no contraturno escolar. Com a parceria de governos municipais e estaduais,

a iniciativa alavanca a melhoria de programas complementares à escola na sua dupla

dimensão: a da proteção social e a da educação. Mais que isso, vem instaurando arranjos

locais de implementação de políticas de educação integral.

Manter a publicação do Boletim Educação & Participação.

O Boletim foi lançado em 2002 com o objetivo de

disseminar as propostas, eventos, aprendizados

e princípios que embasam o Programa Educação

& Participação, fornecer referências de ações

socioeducativas, fortalecer as iniciativas de formação,

dar visibilidade aos projetos desenvolvidos pelas

organizações e criar um campo de diálogo com os

educadores sociais. Distribuído gratuitamente às

organizações participantes do Prêmio Itaú-Unicef e

do Projeto Gestores de Aprendizagem, chega aos

mais distantes rincões do país. Sua tiragem de cinco

mil exemplares bimestral alcança, ainda, os demais

atores envolvidos com a realização dos direitos

da criança e do adolescente: conselhos, poder

público, órgãos colegiados, fundações empresariais,

agências internacionais e multilaterais, ONGs de

referências, além dos parceiros envolvidos nos

projetos do Programa.

28

A pesquisa de opinião realizada em 2006, por empresa especializada, concluiu que o boletim com

distribuição bimestral:

atende a uma demanda por informação, principalmente

nas regiões fora do eixo Sul-Sudeste;

é o principal veículo nessa categoria entre as ONGs que o recebem;

é arquivado para consultas e tem um importante caráter multiplicador: é lido em média por

sete pessoas;

apresenta um nível de satisfação muito alto (muito satisfeito [28%] e satisfeito [63%]);

é tido como muito importante tanto para atividades internas (45%) quanto externas (36%);

profundidade, qualidade das informações e pertinência

dos temas foram as principais qualidades apontadas no conteúdo;

sustentabilidade (capacitação, gestão, recursos) foi a principal demanda por novas

coberturas.

Implementar o site Educação e Participação.

O planejamento do site iniciou-se em 2002 para estabelecer um canal de comunicação com

profi ssionais de ONGs, técnicos do poder público e parceiros de fundações empresariais,

envolvidos na tarefa de buscar o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes

em todo o País, com o objetivo de fortalecer laços e garantir visibilidade aos trabalhos

desenvolvidos. Considerado como ferramenta fundamental de informação e formação, o

site foi incorporado aos projetos para ampliar o processo ativo, contínuo e participativo em

que se dá a aprendizagem.

29

Assim como as demais ações do Programa Educação & Participação, o site é visto como um meio

e não um fi m, portanto são os temas derivados das ações dos projetos que pautam aquilo que

será notícia na página da internet. São essas temáticas que devem pautar desde a agenda até as

reportagens que são feitas e publicadas no site.

3. FUNÇÃO SOCIAL E

POLÍTICA DA PREMIAÇÃOAs estratégias no desenho e condução do Prêmio Itaú-Unicef são fortes indutoras na melhoria e nos

ganhos de qualidade social na educação.

Os prêmios nacionais tornaram-se um nicho na ação da Fundação Itaú Social, do Unicef e do Cenpec.

Criamos uma metodologia de vocalização nacional na qual estratégias de formação de formadores de

opinião pública ganham enorme relevância. Tal metodologia descentraliza o processo de seleção e

premiação nas principais regiões brasileiras e além disso engaja profi ssionais dos governos municipais

e estaduais, universidades e ONGs como parceiros na avaliação dos projetos inscritos.

31

32

A avaliação e a seleção dos projetos são realizadas por agentes próximos do local/região – gestores,

conselheiros, jornalistas, professores de universidades e, até mesmo, gerentes do Banco Itaú.

Defi nidos parâmetros, quadro referencial e indicadores, esses agentes refl etem e avaliam juntos. Nessa

perspectiva, não só a avaliação ganha em objetividade e signifi cado coletivo e participativo, mas

também ocorre aí um rico aprendizado social apropriado por esse coletivo.

Tal formato constitui-se, por excelência, em modo estratégico de chegar aos formadores de opinião

pública capazes de infl uir na política local/regional de desenvolvimento da educação pública.

As parcerias com a Undime, o Congemas, o Canal Futura e outras instituições aproximaram o Prêmio

dos formadores de opinião pública nos municípios e regiões do País. Como mobilização, seleção

e encontros regionais ocorrem de forma compartilhada, esses parceiros se mantêm articulados. A

formação de formadores da opinião pública ganha continuidade, o que adensa uma nova consciência

sobre a importância da educação integral. Mais ainda: o processo cria oportunidade de construírem, no

local, novas modalidades para sua implementação.

Nos anos de alternância do Prêmio, a oferta de formação a todas as organizações e educadores

inscritos visa ganhos de aprendizado pela via do diálogo e articulação entre as próprias organizações.

Os encontros passaram a construir o sentido de pertença a uma rede de ação. Mantêm comunidades

virtuais com o mesmo objetivo e boletins bimestrais impressos.

Profi ssionais Benefi ciados pelos Encontros de Formação e Municípios Atingidos

Edições/Fase Ano Profi ssionais Municípios

1ª edição dos Encontros Regionais de Formação 1996 250 69

2ª edição dos Encontros Regionais de Formação 1998 311 82

3ª edição dos Encontros Regionais de Formação 2000 520 122

4ª edição dos Encontros Regionais de Formação 2002 500 149

5ª edição dos Encontros Regionais de Formação 2004 1.302 407

6ª edição dos Encontros Regionais de Formação

Seminário Nacional Tecendo Rede e irradiação 2006 4.453 588

Total 7.336

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef.

O Programa Educação & Participação produziu uma coleção de livros e subsídios distribuídos

gratuitamente ao conjunto do público participante dos Encontros de Formação. Estes textos

acompanharam a trajetória de dez anos de ação.

33

Assim, numa primeira fase foram explorados e divulgados materiais centrados na função social das

ONGs. Na seqüência, os subsídios teóricos produzidos giraram em torno dos motes, com ênfase na

indução de programas de educação integral.

34

Programa Educação & Participação – Publicações Guia de Ações Complementares à Escola para Crianças e Adolescentes (1995) (3 edições)

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação – Finalistas de 1995

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação – Finalistas de 1997

ONG: sua função social (1997)

ONG: tendências e necessidades (1997)

ONG: sua função mobilizadora (1998)

ONG: parceira da escola (1998)

ONG: nós, você e sua equipe (1998)

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação – Finalistas de 1999

Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação - 1995-1997-1999: Três Edições de Reconhecimento

e Conquistas (2001)

ONG: identidade em mutação (1999)

ONG: espaço de convivência (1999)

ONG: parceira da família (1999)

ONG e esporte: a cidadania entrando em campo (2000)

ONG: a arte ampliando possibilidades (2000)

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef - Educação & Participação: O Direito de Aprender – Finalistas de 2001

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef - Educação & Participação: Muitos Lugares para Aprender – Finalistas

de 2003

Muitos Lugares para Aprender (2003)

Avaliação: construindo parâmetros das ações socioeducativas (2005)

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação: Tecendo Redes – Finalistas de 2005

(Agenda)

Tecendo Redes - Parcerias que fazem a história (2006)

Tecendo Redes para a Educação Integral (2006)

Catálogo Prêmio Itaú-Unicef – Educação & Participação: Todos pela educação – Finalistas de 2007

Os motes que acompanham cada edição do Prêmio direcionam a mobilização social. Tornaram-se

indutores de reconhecimento e mudança nas práticas sociais. Observa-se que a indução de um mote produz

mudanças qualitativas nos projetos que se inscrevem na edição seguinte.

35

Foi com base nestas várias estratégias que o Prêmio Itaú-Unicef tornou-se uma das alavancas de

indução a políticas de educação integral no País e liderou o debate nacional sobre a necessidade de

muitos lugares para aprender.

Observou-se nos últimos anos um forte incremento na implantação de políticas locais de educação

integral, assim como se expandiu o número de seminários e ofi cinas em torno da educação integral

– Fundação Itaú Social, Unicef e Cenpec foram chamados a refl etir os propósitos do Programa.

O conhecimento adquirido nestas seis edições e a adesão exponencial ao Prêmio justifi ca e atesta

sua importância na construção de políticas efetivas para crianças e adolescentes.

Um Prêmio de caráter público como este precisa fortalecer inovações na própria política pública. O

seu desenho atual congrega estas inovações.

Observando o cenário brasileiro encontramos vários municípios que já estão operando ou

buscando implementar uma rede de serviços que conjugam educação, cultura, esportes e assistência

social para responder às demandas de desenvolvimento e proteção integral. Em pesquisa informal,

realizada em 2006, encontramos sete iniciativas municipais e doze estaduais realizando diferentes

modalidades de oferta de educação integral. Em 2007, o MEC, por meio da Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD propôs e articulou um conjunto de ações para

colocar em pauta a educação integral como política pública de desenvolvimento e inclusão social. O

Programa MAIS EDUCAÇÃO articula os Ministérios da Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Meio

Ambiente, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Esportes, e a Secretaria Nacional da Juventude

da Presidência da República, para promover a convergência das diversas políticas sociais do governo

federal em prol da educação integral por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno

escolar.

Também se constata outro avanço entre programas e serviços públicos estatais e serviços públicos

não estatais – de iniciativa da comunidade e sociedade civil – como uma tendência à formatação de

ações articuladas voltadas ao desenvolvimento de crianças adolescentes e jovens no país.

A rede escolar opera com dois, ou mesmo três turnos, para atender a demanda por vagas – situação

que não se resolverá no médio prazo – inviabilizando propostas de escolas de tempo integral. Assim,

a busca do tempo integral tem exigido uma articulação orgânica entre escola pública e programas

socioeducativos realizados na comunidade. A expansão dessa articulação vem pressionando o maior

debate e proposições sobre a educação integral e não apenas de tempo integral.

A partir de 2001, em diversas capitais do País, inicia-se uma articulação entre Secretarias da

Assistência Social e Educação, envolvendo organizações não-governamentais com o objetivo de

promover educação em tempo integral para uma parcela da infância e juventude vulnerabilizada pelas

condições de pobreza das periferias dos grandes centros. A partir de 2005 é observável uma tendência

a agregar os chamados pontos de cultura, programas de esporte e telecentros.

36

O Prêmio Itaú-Unicef em números O Prêmio Itaú-Unicef chega a todas as capitais brasileiras e a muitas cidades de grande porte.

Estende-se a todas as regiões do País. Tem uma vocação fortemente urbana, compreensível em

decorrência de que as famílias em meio urbano demandam com maior intensidade programas no

contraturno para seus fi lhos.

Para conhecer a abrangência geográfi ca do Prêmio Itaú-Unicef fez-se a contagem de todos os

municípios que participaram das seis edições (1995-2005) e chegou-se ao total de 976 cidades. Cada

município foi contado apenas uma vez, independente do número de inscrições ou edições de que

participou. Apresentamos a seguir uma tabela que relaciona o contexto territorial brasileiro por

grandes regiões e a cobertura do Prêmio a partir de estimativas do IBGE de 2005.

Distribuição dos Municípios Participantes do Prêmio Itaú-Unicef por Região e População Residente de

1995 a 2005

Grandes Brasil Prêmio Itaú-Unicef 1995 - 2005

regiões

População residente Municípios Municípios participantes do

Prêmio em comparação aos

municípíos brasileiros

No absoluto Em percentual No absoluto Em percentual No absoluto Em percentual

(%) (%) (%)

Total 184.184.534 100,00 5.564 100,00 976 17,54

Região Norte 14.699.148 7,98 449 8,07 50 11,14

Região Nordeste 51.019.091 27,70 1.793 32,23 187 10,43

Região Centro-0este 13.020.767 7,07 466 8,38 72 15,45

Região Sudeste 78.472.017 42,61 1.668 29,97 451 27,04

Região Sul 26.973.511 14,64 1.188 21,35 216 18,18

Fontes: IBGE, Estimativas para os municípios brasileiros 2005 e Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef.

Base: 976 municípios participantes do Prêmio Itaú-Unicef de 1995 a 2005.

A contagem das cidades participantes também considerou o porte populacional formulado pelo

IBGE, conforme tabela a seguir.

A densidade populacional das cidades grandes e das metrópoles corresponde a 51% da população

brasileira. São relativamente poucas as cidades com grande concentração populacional – 73% dos

municípios têm menos de 20 mil habitantes.

37

Número de Municípios por Porte segundo o Número de Habitantes

Porte No de habitantes No de municípios

Pequeno I até 20.000 hab. 4.018

Pequeno II de 20.001 a 50.000 hab. 964

Médio de 50.001 a 100.000 hab. 301

Grande de 100.001 a 900.000 hab. 209

Metrópole mais de 900.000 hab. 15

Fonte: IBGE, Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002.

Para distribuir os municípios participantes das seis edições do Prêmio de acordo com seu porte

utilizamos a base do IBGE, Atlas de Desenvolvimento Humano de 2002. Dessa forma, o conjunto dos

976 municípios participantes do Prêmio corresponde a 17,5% do total de municípios brasileiros que

abrigam 64,98% da população nacional, cerca de 120 milhões de pessoas.

Distribuição dos Municípios Inscritos no Prêmio Itaú-Unicef

(1995-2005) por Porte Populacional

Fontes: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef (1995 a 2005). IBGE, Estimativas para os municípios brasileiros 2005. IBGE, Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002 (Base da categorização por porte). Base: 976 municípios participantes do Prêmio Itaú-Unicef de 1995 a 2005.

6,7%

Pequeno 1

29,6%

Pequeno 2 Médio Grande Metrópole

60,0%

93,6%100,0%

38

A cobertura do Prêmio Itaú-Unicef no território nacional deu-se em 100% das metrópoles,

atingiu quase todas as cidades grandes e 60% das cidades de médio porte, levando sua proposta de

valorização das ações socioeducativas para grandes contingentes populacionais.

Pode-se inferir, a partir dessa informação, que as ONGs no território nacional concentram-se,

sobretudo, nos municípios de grande e médio porte. Nos pequenos municípios observa-se baixa

incidência de sociedade civil organizada, de redes de atendimento, ONGs e serviços diversifi cados.

Os municípios de maior porte demandam redes robustas de projetos socioeducativos para educação

de suas crianças, adolescentes e jovens. Portanto, é bastante expressivo o Prêmio Itaú-Unicef ter

atingido 93,6% dos grandes municípios e 100% das metrópoles.

Variáveis como articulação da sociedade civil, espaços públicos que favoreçam o diálogo

democrático, fóruns de debates, conselhos paritários de representação e controle de políticas públicas,

entre outras, interferem na operação dos serviços oferecidos, ampliando o escopo das ofertas das

atividades, e, igualmente, a sustentabilidade política das ações. Tal cenário é mais freqüente em

municípios com mais de 50 mil habitantes.

As organizações e seus projetosAo longo de suas seis edições, o Prêmio recebeu 5.708 inscrições – quase 50% referentes a ONGs que

já haviam concorrido em edições passadas, enquanto outras 50% representam novos integrantes. Isso

signifi ca que no geral uma ONG mantém-se fi delizada e integrada às ações do Programa Educação &

Participação por pelo menos quatro anos.

Participação de Projetos e Organizações por Edição do Prêmio Itaú-Unicef

Status de Participação Anos

1995 1997 1999 2001 2003 2005 Total

Projetos Inscritos 406 368 732 686 1.834 1.682 5.708

ONGs Participantes 404 356 700 634 1.708 1.566 3.729

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef (1995 a 2005).

39

Status de Participação das Organizações por Edição do Prêmio Itaú-Unicef

Status de Participação Anos

1995 1997 1999 2001 2003 2005

participou pela 1ª vez 404 283 551 366 1.310 815

participou pela 2ª vez 73 118 200 217 491

participou pela 3ª vez 31 53 140 142

participou pela 4ª vez 15 30 92

participou pela 5ª vez 11 19

participou pela 6ª vez 7

Total por Edição 404 356 700 634 1.708 1.566

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef (1995 a 2005).

Em 2005, 47,6% das ONGs inscritas já haviam participado de uma ou mais edições anteriormente.

Esses dados confi rmam a credibilidade e legitimidade que o Prêmio construiu nesta trajetória de

dez anos e, ao mesmo tempo, como a participação no Prêmio confere esses mesmos atributos às ONGs,

conforme a equipe do Prêmio constatou por meio do acompanhamento dessas organizações.

Segundo estimativa dos Conselhos Nacionais de Assistência Social e dos Direitos da Criança e

Adolescente (2005), o conjunto de organizações com atuação direta com crianças e adolescentes

– é de aproximadamente 15.000. Calcula-se que a irradiação estimada do Prêmio corresponda a cerca

de 25% desse contingente. É preciso esclarecer que, dentre essas 15.000 organizações, uma parte não

realiza serviços socioeducativos no contraturno escolar, operando com a oferta de serviços distintos

como abrigos, casa de passagem e outros. Portanto, a percentagem de 25% pode ser maior.

Campo de atuação das ONGsRealizamos uma categorização das ONGs inscritas a partir do estudo das diferentes denominações

já consolidadas, com a intenção de criar um instrumento que possa dialogar com estudos semelhantes.

Optamos pela proposta do Mapa do Terceiro Setor, iniciativa do Centro de Estudos do Terceiro

Setor (CETS), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), uma vez que a descrição de suas categorias mais se

aproximava das características apresentadas pelas organizações participantes do Prêmio quando

comparada à categorização do CNAS, do IBGE ou da ABONG.

40

Os programas de atendimento a crianças e adolescentes no contraturno escolar ocorrem no

registro da Assistência Social, não sendo ainda reconhecidos como políticas de educação. Somente

9% das organizações reconhecem-se atuantes no campo da educação. Esse fato explica a grande

diferença nessa esfera entre o perfi l das organizações do Prêmio e o Mapa do 3o Setor. As demais

categorias, com exceção de ONGs com atuação em Desenvolvimento e Moradia, não apresentam

diferenças signifi cativas. As ações culturais de caráter local vêm, gradativamente, adquirindo

natureza socioeducativa, incluindo a participação de crianças e adolescentes em programações

contínuas.

Fontes: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005 e Relatório de Estatísticas do Mapa do 3o Setor dados de Julho de 2005.Base: 1.566 organizações inscritas no Prêmio Itaú-Unicef em 2005 e 4.589 ONGs Mapa do 3o Setor de 2005.

Nota: As categorias são equivalentes, porém as nomenclaturas estão adaptadas para o contexto do Prêmio Itaú-Unicef Edição 2005.

Campo de Atuação das ONGs

Comparação Prêmio Itaú-Unicef Edição 2005 e Mapa do Terceiro Setor 2005

Assistência e Promoção Social

Cultura

Educação e Pesquisa

Desenvolvimento e Moradia

Serv. Legais, Defesa de Direitos e Org. Políticas

Religião

Saúde

Meio Ambiente

Institutos, Fundações e Promoção do Voluntáriado

Org. Profi ssionais, de Classes e Sindicatos

Sem Informações e Outras ÀreasPrêmio Itaú-Unicef Edição 2005

Mapa do 3o Setor 2005

53%17%10%12%9%25%9%15%5%3%5%4%4%9%2%4%1%3%1%3%1%5%

41

Após essa primeira caracterização, partimos para o estudo de outras variáveis que determinam o

grau de sustentabilidade das organizações: experiência acumulada, composição de recursos e grupo de

profi ssionais.

A primeira variável procura identifi car a experiência acumulada e sua adaptação aos desafi os atuais a

partir da conjugação do tempo de atuação da ONG e da data do início dos projetos.

Parcela signifi cativa das organizações participantes do Prêmio Itaú-Unicef pode ser considerada

jovem, pois 45,9% foram fundadas a partir dos anos 90. Nascem com a nova Constituição brasileira

e com os ideários do Estatuto da Criança e do Adolescente. O apoio de agências internacionais a

essas novas organizações, estimulando ações de enfrentamento da pobreza e transformação social,

colaborou para seu desenvolvimento e criação de espaços de interlocução com o poder público,

instalando a discussão de novas relações entre sociedade e Estado.

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef (1995 a 2005).Base: 3.729 organizações inscritas.

Ano de Fundação das Organizações Inscritas

no Prêmio Itaú-Unicef de 1995 a 2005

5,4%

1840 a 1949

3,6%

1950 a 1959

6,7%

1960 a 1969

8,9%

1970 a 1979

19,2%

1880 a 1989

31,2%

1990 a 1999

14,7%

2000 a 2005

10,3%

sem informação

42

Ao observarmos a data de início dos projetos apresentados pelas ONGs em 2005, percebemos que

27% foram implantados nos anos 90 e 65% a partir do ano 2000, totalizando 92% de projetos iniciados

recentemente e que representam o novo na sociedade brasileira. Portanto, podemos pressupor que

mesmo ONGs antigas, com mais de três ou quatro décadas de atuação, estão se renovando e criando

programas socioeducativos atualizados de modo a atender aos múltiplos desafi os de proteção e

desenvolvimento do grupo infanto-juvenil na contemporaneidade.

Mobilizar projetos novos, outra forte característica do Prêmio, termina por signifi car um termômetro

das tendências de desenho e público-alvo das ações socioeducativas. Do total de ONGs inscritas nas

diversas edições até 2005, 50% foram criadas nos últimos quinze anos, o que se considera natural, pois

a grande expansão das ONGs ocorre a partir de 1990.

As tendências nas primeiras edições focavam basicamente crianças de 7 a 12 anos com

atividades voltadas particularmente ao reforço escolar. Em 2003 e 2005 as tendências evidenciam

maior diversifi cação e ampliação do grupo etário. Assim, em 2005 tivemos quatro recortes: ações

socioeducativas tradicionais para os grupos de 6 aos 12 anos; atividades artístico-culturais apostando

no talento e na criatividade dos grupos infanto-juvenis; grupos de jovens e grupos em situação de

alto risco.

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base:1.682 projetos inscritos em 2005.

Data de Início dos Projetos

2000 a 2005

65%

1990 a 1999

27%

1980 a 1989

5%

1970 a 1979

2%1920 a 1969

1%

43

Outra variável investiga a sustentabilidade fi nanceira dessas ONGs, focalizando a diversidade das

fontes de recursos, considerada aqui como estratégia fundamental para garantia da continuidade

das ações.

Este quadro apresenta a freqüência de citações de fontes de recursos e não está relacionado

ao montante fi nanceiro. Os governos, marcadamente os municipais, sempre foram os principais

fi nanciadores das ações socioeducativas ao lado das doações da comunidade. Muitos desses projetos

são vinculados às secretarias municipais de Assistência Social e recebem apoio fi nanceiro por meio de

convênios ou outras ormas de subsídios. A contribuição das empresas e fundações empresariais está

em ascensão desde meados dos anos 90, quando a responsabilidade social passou a ser discutida e

valorizada no meio empresarial.

Finalmente, é importante destacar a composição do grupo de gestores e educadores envolvidos

na execução do projeto como um aspecto relevante para a sustentabilidade técnica das ações

socioeducativas.

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 1.566 organizações inscritas em 2005.

Porcentagem de Organizações por Fonte de Recursos Financeiros

Governo (Federal, Estadual e Municipal)

Doações ou Contribuições Individuais

Empresas Privadas, Institutos ou Fundações Empresariais

Entidades Religiosas

Venda de Produtos e Serviços

Agências Internacionais

Outros

79,2%

77,2%

62,3%

40,3%

56,6%

37,2%

41,6%

44

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 17.612 profi ssionais de 1.682 projetos inscritos em 2005.

Vínculo de Trabalho das Equipes dos Projetos

63%

Voluntário

37%

Remunerado

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 17.612 profi ssionais de 1.682 projetos inscritos em 2005.

Escolaridade das Equipes dos Projetos

13%Superior

50%

Fundamental

37%Médio

45

A escolaridade dos profi ssionais aponta para um investimento das organizações na qualifi cação

de suas equipes. Esse fato nos leva a pressupor a importância que conferem às ações socioeducativas

no desenvolvimento das crianças e adolescentes, criando um cenário favorável para a produção de

projetos tecnicamente mais consistentes.

A presença expressiva de voluntários (um terço das pessoas) na composição das equipes dos

projetos é característica de organizações de menor porte. Os projetos comunitários constroem redes de

apoio agregando moradores do território, jovens ex-usuários do projeto e o que podemos chamar de

militantes sociais engajados pelas próprias ONGs.

Total de profi ssionais declarado por 93,4% (1.571) dos projetos inscritos: 17.612

30,6% das equipes possuem de 4 a 7 profi ssionais

Equipe máxima: 128 profi ssionais – apenas 1 projeto na Regional Belo Horizonte (Estado de Minas

Gerais)

Equipe mínima: 1 profi ssional – 48 projetos, das diversas regionais, declararam ter apenas um

profi ssional.

4. ATORES DE UMA CONSTRUÇÃO

COLETIVAAs equipes fi nalistas do Prêmio Itaú-Unicef (gestores, educadores e jovens) reconhecem nessa

premiação uma força impulsionadora, uma fonte de energia que fortalece o projeto e a ONG que o

realiza. Dá-lhe ou amplia sua visibilidade, revelando seus meandros e resultados; atrai um olhar mais

detido que se transforma em reconhecimento de suas realizações; facilita sua inserção em redes,

através de parcerias, as mais diversas, e avaliza possibilidades de investimentos em infra-estrutura e

ampliação do atendimento, tanto pelo uso do prêmio fi nanceiro, quanto pela abertura de caminhos

para captação de recursos.

47

48

O Prêmio afeta as organizações e projetos: na imagem e credibilidade, nas parcerias que constroem,

na melhoria da infra-estrutura, na qualidade da ação. Sem dúvida, representa um diferencial no

percurso dos projetos premiados e das organizações às quais pertencem. Possibilita que potenciais

sejam revelados e realizados, aproximando comunidades, aumentando o número de crianças

atendidas, abrindo portas para novas parcerias e captação de recursos, fortalecendo os profi ssionais

que apostaram na idéia de desenvolver trabalhos de qualidade na área de educação voltados

para crianças, adolescentes e jovens dos mais diversos cantos deste País e com pouco acesso a

oportunidades de atualização de suas próprias potencialidades. Fortalece a credibilidade da proposta

junto aos jovens, aos pais e à comunidade do entorno.

Ganhar o Prêmio coloca as iniciativas numa vitrine. Até mesmo quem deveria monitorar sua

atividade – o poder público – abre os olhos e descobre os projetos.

Se pensarmos que seu objetivo principal é dar visibilidade a iniciativas de qualidade, podemos

afi rmar que o Prêmio Itaú-Unicef está cumprindo seus propósitos.

O reconhecimento Reconhecimento externo

Encontrarem-se entre os semifi nalistas ou entre os premiados4 possibilita às Ongs vivenciar um

sentimento de aceitação de uma idéia/ação colocada em prática. As expectativas dos profi ssionais

que idealizaram e desenvolveram a idéia inicial não são modestas, ainda que as condições de trabalho

o sejam. Caminham no sentido de descobrir possibilidades de educação, cultura, lazer e inclusão, em

relações pessoais e institucionais pautadas na cidadania, para uma parte da população infanto-juvenil

de sua localidade. Tratam de transformar seus sonhos em projetos e, então, torná-los reais a despeito de

todas as difi culdades, entre elas a desconfi ança em relação a tais iniciativas.

Pois bem, é nesse contexto que o reconhecimento nacional proporcionado pelo Prêmio assume um

valor inestimável, de confi rmação e compartilhamento de uma proposta.

Eu só tenho mesmo que agradecer a Deus por (...) essa oportunidade, por acreditar nesse

projeto. [pois] a gente vê, não na construção do projeto, mas no olhar das crianças, a

mudança, a transformação. Pra mim, o mais rico foi essa transformação das crianças, a

aceitação da comunidade e as possibilidades de crescimento. (2005 – Adorvalino, professor

polivalente no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no Garimpo Bom Futuro

e coordenador da jornada ampliada em 2005, premiado em 1999).5

4 O Anexo 3 apresenta a relação de todos os projetos premiados e menções honrosas das sete edições do Prêmio Itaú-Unicef, de 1995 a 2007.

5 A referência das cidades e Estados dos projetos citados constam dos Anexos 1 e 2.

49

Às vezes, a premiação alcança um raio ampliado para além da instituição, estendendo-se a seus

parceiros.

(...) nós sentimos uma satisfação de estar envolvidos no Prêmio do Itaú-Unicef não só no

sentido de portas que também se abriram localmente, mas digamos de uma sensação de

auto-motivação, uma sensação de reconhecimento externo desta preocupação em evoluir.

(2005 – Miguel Minguilo, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, parceiro do Ides,

organização responsável pelo Projeto Espaço Alternativo do Saber – PEAS, premiado em

2003).

É interessante notar que esse reconhecimento do trabalho não se traduz exclusivamente na

premiação: todo o processo, desde a inscrição do projeto passando pelas várias fases de avaliação, é

valorizado pelos profi ssionais, com destaque especial para a visita técnica. Nesse momento, em que

alguém vai ver e acompanhar as atividades inscritas, concretiza-se o processo seletivo e imprime-se a

ele seriedade, credibilidade. E é essa crença na lisura e no rigor no processo que valoriza, ainda mais, o

destaque alcançado com a premiação. Se o Prêmio é sério e criterioso, há realmente mérito na ação dos

ganhadores.

É a questão do reconhecimento. (...) o pessoal vem e encontra resultados e vai valorizando

estes resultados e no fi nal você chega a um lugar na premiação privilegiado. Aí quando

você chega você fala: - alguém olhou e viu o trabalho que a gente fez e não houve meio

escalão, não houve nada para receber. Só o trabalho e mais nada, aí você vê o quanto vale

o reconhecimento (...) isso que é importante, alguém que realmente avaliou você, realmente

acompanhou o teu trabalho e depois ele falou: o teu trabalho tem mérito. (2005 – José Bispo

de Assis, educador do Projeto Arte em Movimento, premiado em 2003).

Famílias e comunidade local reconhecem o projeto

A premiação coloca em foco um trabalho que, muitas vezes, não era sufi cientemente conhecido

e valorizado pela população local. O processo de avaliação e o destaque que coroa esse percurso,

inevitavelmente, atingem as pessoas próximas, que voltam seus olhares com mais acuidade para o

trabalho realizado, descobrem suas qualidades e passam a querer que seus fi lhos permaneçam ou

comecem a freqüentar o espaço do projeto, como oportunidade.

Esse reconhecimento vem acompanhado da percepção local de que o projeto não é uma atividade

qualquer ou uma possibilidade de ocupar o tempo da criança; ao contrário, reconhece-se no projeto

sua importância no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Certamente, essa transformação se dá

pela divulgação de temas relacionados à infância e adolescência provocados pela premiação.

Eu acho que o pessoal da cidade (...) entendeu a importância, porque [o projeto] foi

premiado nacionalmente e os pais começaram a perceber a importância dos seus fi lhos,

50

embora morando na periferia, (...) [terem] acesso à arte. Também há uma mudança de

atitude e de comportamento das pessoas, porque não adianta a criança querer vir estudar

aqui se o pai não estimula; houve um entendimento (...) das famílias, da importância de vir,

de trazer os seus fi lhos (...) eu acho que esse é um dado muito importante, o entendimento

da comunidade, da Prefeitura Municipal, da Fundarte, dos pais das crianças de baixa renda

que começam a perceber, “meu fi lho tem direito de estudar lá, eu também quero”. (2005

– Maria Isabel Petry Kehrwald, diretora executiva da Fundarte, responsável pelo Projeto

Dançar, premiado em 1997).

A premiação é um dos fatores que concorrem para que os pais e a comunidade revejam sua

relação com o projeto, reconheçam sua importância, acreditem em sua competência, o que signifi ca

reconhecer e acreditar nas potencialidades de seus fi lhos. Quando o projeto deixa de ser um

passatempo e toma ares de direito, deixa de ser uma forma de evitar um mal qualquer para criar

possibilidades consistentes de futuro.

Visibilidade

Atrelada ao reconhecimento local – expresso pela comunidade, pelas famílias e pelo poder público

– e nacional, dado pela abrangência do Prêmio, está a visibilidade emprestada ao projeto ganhador

e à instituição que o abriga. Essa exposição coloca em foco trabalhos de qualidade, porém tímidos

em relação ao espaço que ocupavam. A visibilidade dada pela premiação traz consigo um selo de

qualidade. Essa vitrine de projetos premiados abre-lhes oportunidades de ampliação e aprimoramento

das atividades já realizadas dadas pelo interesse e investimento, das mais variadas naturezas, que os

atingem.

(...) na época em que (...) ganhamos o Prêmio (...) muita gente tomou conhecimento de

quem nós éramos e o que a gente fazia. Eu acho que teve um salto de qualidade, a mídia

começou a nos olhar, a cobrir os eventos que nós fazíamos. Eu acho que deu um quezinho.

(2005 – Karla, ex-educadora do Projeto Escola de Cidadãos, premiado em 1999).

Além da divulgação produzida pela seriedade e importância da premiação, as próprias instituições

procuram noticiar seu feito e, efetivamente, portas se abrem tanto para a apresentação do trabalho

desenvolvido com as crianças e adolescentes, quanto para disseminação da metodologia, além da

captação de recursos, de que trataremos mais adiante.

(...) o Prêmio abriu as portas para a gente, as instituições começaram a nos visitar, querendo

ver o exemplo, (...) teve muita entrevista, nós ainda colocamos alguns outdoors mostrando

isso (...). O próprio governo do estado, através da primeira-dama, veio ver o trabalho, fi cou

muito sensibilizada de ver o (...) que a gente fazia, a metodologia, que (...) eles acharam

inovadora essa de realmente trabalhar com a família, (...) e o Prêmio fez isso, com a

51

visibilidade que ele deu, a gente teve muito trabalho, porque era um verdadeiro City Tour,

(...) porque todo mundo queria copiar.(...) e nós distribuímos mil vezes a metodologia,

tirava cópia e entregava, tirava cópia, ia para reunião, mostrava (...). (2005 – Gilva Ramos,

Presidente do Lar São Domingos, responsável pelo Projeto Ninho de Pássaro: Criação,

Construção e Exercício de Cidadania, premiado em 1997).

Também para as crianças e adolescentes participantes do projeto que recebe o prêmio, já é

oportunidade de exploração de novos espaços, de receber os aplausos dos desconhecidos e o

apoio daqueles que os acompanham. Momento de vivenciar um reconhecimento fundamental para

encontrar e fortalecer em si os talentos, os valores e a perspectiva de vida que, indubitavelmente, são os

fatos comuns de trabalho de todos os projetos.

(...) o movimento desse Prêmio trouxe (...): outras pessoas a quem esses jovens puderam

ter acesso, porque a partir do Prêmio outras pessoas convidaram para apresentações.

Foram apresentar no Centro Cultural Vergueiro, por várias vezes. Porque a gente fi ca

conhecido, passa a ser respeitado (...) Conclusão, a garotada passou a ter uma agenda

externa, que para a auto-estima coletiva (...) é muito signifi cativo, porque vai para a

família, a escola soube porque a gente teve que ir lá e dizer: “Ele não veio hoje na escola

porque tem uma apresentação importante”. (2005 – Valdênia Aparecida Paulino, fundadora

do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e dos Adolescentes Mônica Paião

Trevisan – CEDECA, organização responsável pelo Projeto Arte em Movimento, premiado

em 2003).

Selo de qualidade – porta para sustentabilidade e irradiação

A premiação fortaleceu a credibilidade das organizações e seus projetos. Ser um ganhador signifi ca

que seu trabalho é bom, portanto merece confi ança e investimento, além de ser uma garantia, para

órgãos fi nanciadores ou apoiadores técnicos, associar-se a iniciativas reconhecidamente efetivas.

(...) quando você vai apresentar e você fala: - eu tenho uma premiação, eu sou reconhecido,

o pessoal sabe que você é fi scalizado aí já fi ca mais fácil, já abre portas. (2005 – José Bispo de

Assis, educador do Projeto Arte em Movimento, premiado em 2003).

Pessoas, grupos e instituições vêem, a partir da visibilidade alcançada com o Prêmio, a possibilidade

de infl uenciar o mundo com suas habilidades, saberes, tempo disponível, num processo de inclusão

mútua em mundos aparentemente distantes.

É assim, quando nós recebemos o Prêmio, isso foi veiculado nos meios de comunicação e

o presidente da Confederação Catarinense de Xadrez viu na televisão algumas reportagens

nossas, e apareceu que nós tínhamos o xadrez aqui e aí ele veio conhecer (...) e veio

com a proposta já de um projeto pra contribuir e aí começou essa parceria com eles. (...)

quatro funcionários da Eletrosul são voluntários aqui, e eles são dispensados dentro do

52

horário de trabalho (...) para vir (...) ensinar às crianças. São jogadores notáveis que

trazem experiências para as nossas crianças (...). (2005 – Marise Pereira Lima Mazzucco,

coordenadora do Projeto Espaço Alternativo do Saber, premiado em 2003).

O Prêmio abre portas. É inevitável relacionar essa facilitação ao reconhecimento e à valorização do

projeto oferecidos por sua chegada na reta fi nal do concurso.

No ano de 97 a gente já tinha vários projetos espalhados por aí [esperando aprovação],

então quando o prêmio saiu, os projetos começaram a chegar (...). Com o prêmio,

essas portas começaram a se abrir com muito mais efetividade. (2005 – Inês Pacheco,

coordenadora técnica do Projeto Ninho de Pássaro: Criação, Construção e Exercício de

Cidadania, premiado em 1997).

Dentre as diversas possibilidades de parceria, aquela que envolve captação de recursos também é

favorecida pela premiação. É como se o Prêmio já dissesse, pela instituição, a que veio, como faz aquilo

a que se propôs e onde tem chegado com o seu trabalho. Com o Prêmio, o que está escrito no projeto

que solicita recursos fi nanceiros assume um tom de verdade. É um selo de qualidade.

Uma coisa é eu chegar apresentar um projeto na Secretaria de Cultura com aquela coisa

de iniciante. Outra coisa é apresentar sendo o Cedeca que já desenvolve trabalho com

reconhecimento através de uma premiação como essa. Quer dizer, já tem mais critérios

para dizer: - esse projeto é vencedor. Então em nível de captação de recurso é excelente.

(2005 – José Bispo de Assis, educador do Projeto Arte em Movimento, premiado em 2003).

A trajetória do Prêmio Itaú-Unicef, traçada com transparência e compromisso com a educação,

tornou-se exemplo de consistência, lisura e qualidade não só para as organizações que querem ter seus

projetos reconhecidos, mas também para os vários setores institucionais que transitam nessa área. É

assim que órgãos governamentais, fundações da iniciativa privada, grupos organizados, profi ssionais

que atuam nas áreas da proteção e da educação integral associam os ganhadores do Prêmio à

seriedade que reconhecem nele.

Qualifi cação dos espaços educativos

É compreensível que as organizações premiadas falem prontamente de como o recurso fi nanceiro

recebido foi utilizado quando estão sendo entrevistadas por pesquisadores do Cenpec, uma das

instituições organizadoras do Prêmio. Mas não podemos deixar de ressaltar que sua utilização vai além

da melhoria das estruturas, compra de material e aumento do número de atendidos. Surge, sim, como

uma condição necessária para um aprimoramento das atividades já realizadas e a execução de outras

que ainda estavam no papel. A construção ou reforma de espaço físico e a compra de materiais para a

realização de projetos atinge subjetivamente alunos e educadores.

53

O prêmio de 1999 que (...) [o programa] conseguiu do Itaú/Unicef, (...) veio, sim, ajudar

na construção de alguns pavilhões (...) na área física para trabalhar com os alunos, mas

também trouxe mais dignidade para as crianças, e deu mais esperança aos professores (...),

porque (...) [eles] começaram a acreditar. (...) Levantou o ego, os professores começavam a

sorrir (...) [ver que] é verdade, está acontecendo. (2005 – Adorvalino, professor polivalente

no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no Garimpo Bom Futuro e

coordenador da jornada ampliada em 2005, premiado em 1999).

O prêmio em dinheiro permite, ainda, que metodologias sejam aprimoradas por meio de ações

simples como a mudança das carteiras.

Aí conseguimos fazer a mudança aqui do espaço de cima, isso já deu uma possibilidade muito

grande dos professores criarem com as crianças, de abrir todo um espaço mais lúdico para

trabalhar, mexer com aquela estrutura de sala de aula... (2005 – Inês Pacheco, coordenadora

técnica do Projeto Ninho de Pássaro: Criação, Construção e Exercício de Cidadania,

premiado em 1997).

Ou essenciais, como a construção de uma biblioteca.

(...) que bom que foi premiado, e daí a gente não parou mais (...) Você viu a biblioteca?

Não tinha aquela biblioteca, foi construída (...) com aquele acervo todinho (...). (2005

– Maria Madalena de Araújo Bezerra Santos – educadora, Projeto Ninho de Pássaro:

Criação, Construção e Exercício de Cidadania, premiado em 1997).

É importante destacar que o recurso fi nanceiro destinado com o Prêmio é um dos raros recursos

que uma organização obtém livre de “carimbos”, o que lhe permite utilizá-lo nos projetos que entender

prioritários. Isso faz toda a diferença, pois no geral os recursos que fl uem pela via de convênios e

contratos com o poder público ou a iniciativa privada estão atrelados a projetos de interesse do

fi nanciador.

(...) talvez 50 mil [reais] para alguns projetos não signifi quem nada, mas para nós

signifi cou vida, signifi cou transformação, aquilo que era um limite para nós a gente

conseguiu transpor (...). Olha a alegria [com] que eles falam de ter o espaço físico, ter

alguns equipamentos que a gente precisava, nunca que a gente ia ter esse dinheiro para

adquirir.(...). (2005 – Anari, técnica da Secretaria Municipal de Educação, Projeto Poty

Reñoi, premiado em 2003).

É inegável que a estrutura física dos espaços de aprendizagem é, também, responsável pelo

prazer de aprender, pelo cultivo do belo, pela valorização do conforto e, sobretudo, pela afi rmação

da cidadania, acolhendo as crianças e jovens como pessoas merecedoras de situações dignas de

aprendizagem.

54

É interessante notar que algumas instituições decidem junto com a comunidade como empregar

o prêmio. Essa é uma oportunidade ímpar de lidar com as expectativas de todos – educadores, pais,

jovens, líderes comunitários – a respeito do que fazer com o recurso fi nanceiro.

(...) ao receber o dinheiro do Prêmio Itaú-Unicef falei “não fui eu que recebi o prêmio”, foi

a comunidade, então perguntei aos envolvidos o que gostariam de fazer com o dinheiro.

Surgiram 70 propostas. (2005 – Lilian Pacheco, coordenadora da Organização Associação

Grãos de Luz, responsável pelo Projeto Grãos de Luz e Griô, premiado em 2003).

Esse movimento caracteriza o projeto como pertencente a todos com a coordenação de alguns,

responsabiliza cada um por sua existência e crescimento e fortalece os vínculos entre todos. Acima de

tudo, compactua com princípios de responsabilidade, respeito e aposta na potencialidade de cada um

e de todos. Exercita a cidadania através da articulação de projetos individuais e coletivos.

E a outra coisa que a gente fez, foi nos reunir com as crianças, com os adolescentes, com

os jovens, todas as rodas que a gente trabalha pra pensar o orçamento, como se fosse um

orçamento participativo, com todos. Eu não sei se isso pode virar critério, mas eu achei

bonito. Porque o orçamento do Prêmio tem que ser participativo. (Encontros 2004 – Lilian

Pacheco, coordenadora da Organização Associação Grãos de Luz, responsável pelo Projeto

Grãos de Luz e Griô, premiado em 2003).

A inscrição no Prêmio produz oportunidades de formação

Para as organizações que se inscrevem, o processo formativo já se inicia na própria inscrição ao

Prêmio, quando têm que se apresentar, contar o que fazem e como fazem. É interessante notar o poder

formativo desse momento.

Surge a difi culdade de se inscrever para o Prêmio. O que é? Como é que se faz para

fazer um texto curto, enxuto, que passe emoção? E qual é o corte que de fato traz esse

reconhecimento? Foi, então, um exercício muito intenso, a gente fazer o corte pra escrever

o texto do Prêmio. Só isso já foi um aprendizado. Fazer esse corte, fazer a escrita, tudo

isso nos ajudou, foi um exercício de compreensão interna. (Encontros 2004 – Inalda Neves

Baptista, coordenadora do Projeto Formação de Agentes de Desenvolvimento Local

- SERTA, premiado em 2003).

O reconhecimento, a visibilidade, e as parcerias são desdobramentos importantes do Prêmio, mas

a formação, os espaços de refl exão, as trocas de experiências e os textos oferecidos no ano seguinte

à premiação, nos Encontros Regionais de Formação, têm um valor próprio que alguns profi ssionais

destacaram e/ou sugeriram que fosse fortalecido.

(...) nós participamos do seminário aqui aonde a ênfase foi ações complementares à escola.

55

A gente acredita que é exatamente isso que a gente está desenvolvendo, com mais ênfase

agora depois do Prêmio, depois inclusive da literatura que recebeu. Estimulou, reforçou-se

o que a gente estava fazendo... (2005 – Paulo Vidal, coordenador da sala do saber Paulo

Freire, no Projeto Centro Cultural Circo de Todo Mundo, premiado em 2003).

Os Encontros Regionais, que acontecem no ano seguinte a cada premiação, são muito valorizados

por sua perspectiva formativa. Esse tem sido o momento das trocas, de conhecer o que está dando

certo, de encontrar alternativas a serem experimentadas para resolução dos entraves, de pensar e

construir junto. E é isso o que os educadores querem!

Acho que esta é a peculiaridade do Prêmio Itaú-Unicef, ou seja, este espaço formativo,

esta oportunidade de acesso, esta democratização do conhecimento feito através desses

Encontros Regionais. Se vocês pudessem se debruçar sobre o fortalecimento cada vez

maior desse espaço formativo (...). (Encontros 2004 – Césare De La Rocca – Projeto Axé,

Menção Honrosa em 1995).

Valorização da sistematização da ação

Os projetos socioeducativos são experiências de processos sociais dinâmicos, em permanente

mudança e movimento. São também processos sociais complexos, em que se interrelacionam, de

forma contraditória, um conjunto de fatores objetivos e subjetivos:

as condições de contexto em que se desenvolvem;

as situações particulares a enfrentar;

as ações dirigidas para se conseguir um determinados fi m;

as percepções, interpretações e intenções dos diferentes sujeitos que intervêm no

processo;

os resultados esperados e inesperados que vão surgindo;

as relações e reações entre os participantes. (JARA H.: 2004)

Estamos falando de processos muito particulares, de experiências singulares carregadas de enorme

riqueza de elementos que muitas vezes são inéditos. Compreendê-los e extrair seus ensinamentos

torna-se importante tanto para aprimorar suas práticas quanto para comunicá-las a outros públicos.

A fi cha de inscrição do Prêmio é reconhecida como uma oportunidade de falar da instituição,

organizar as idéias, refl etir e produzir uma sistematização do trabalho.

Em uma reunião com representantes de projetos premiados, ainda em 1999, Naidison Baptista,

coordenador do MOC – Movimento de Organização Comunitária (Feira de Santana/BA), premiado em

1995, afi rmou:

56

Foi um desafi o para o MOC, mas acredito que para todas as ONGs em geral, sistematizar as

idéias e a proposta pedagógica em um processo lógico. Gerou muitas discussões, análises,

refl exões – foi fundamental esse processo de sistematização.

Outras organizações já estão envolvidas na sistematização de suas experiências e encontram no

Prêmio uma estratégia que as auxilia nesse processo.

(...) então a gente está buscando sistematizar os nossos trabalhos, nossas práticas, e esse

trabalho do Cenpec realmente vem ao encontro desse nosso desafi o que é sistematizar as

práticas do CMC no campo das relações de gênero e no campo do trabalho com a

juventude. Então, chega num momento fantástico para a gente esta avaliação do Cenpec.

(2005 – Silvia Cordeiro, coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo,

organização responsável pelo Projeto Jovens Comunicadores, premiado em 2001).

Compromisso

(...) Não é não considerar o pedagógico, a formação, não é isso... Mas é provocar as

instituições a investigarem eticamente qual é o compromisso, naquele cotidiano, com a

promoção do direito, com articulação de outros setores, com outras redes, assim qual é a

compreensão política que a instituição faz do trabalho que ela esta realizando com esses

meninos todo dia. (Participante dos Encontros de 2004).

O Prêmio é apontado como uma provocação para um questionamento ético sobre a qualidade

social da ação, a melhora das oportunidades de aprendizagem destinadas a crianças e adolescentes; a

construção e o fortalecimento de redes tecidas na comunidade para o desenvolvimento de educação

integral de suas crianças e adolescentes.

Aprendizagens compartilhadas – estímulo à articulação

As mudanças vivenciadas pelas crianças trazem um ganho, também, para as escolas, pois

testemunham um trabalho de qualidade.

Então muitos meninos que eram alunos das aulas de circo eram nossos alunos. Muitos

não tinham rendimento, aproveitamento, e a gente percebia que os que estavam lá,

estavam melhorando a aprendizagem aqui. E nós começamos a trabalhar isso e descobrir

por que eles melhoraram a aprendizagem. (...) É auto-estima, descoberta do corpo, o saber

que tinham talento. Então isso foi melhorando a relação nossa com o circo. Porque toda vez

que o aluno apresentava problemas disciplinares, falta de interesse nas aulas, difi culdade na

aprendizagem, a gente chamava os pais e recomendava o circo. (2005 – Neide dos Anjos

Borges, diretora de escola – Projeto Centro Cultural Circo de Todo Mundo, premiado

em 2003).

57

E a observação dos educadores da escola coincide com os objetivos dos educadores das

organizações, nesse caso, especifi camente, o Circo de Todo Mundo.

O circo vem resgatando a auto-estima desses meninos, a autonomia deles, o sonho deles.

O próprio circo é lúdico, a magia circense é muito lúcida. E resgatando a auto-estima desse

menino para que possa mostrar que a vida pode oferecer para eles outros caminhos que não

sejam esses (o tráfi co). Ele com a sua auto-estima, com seu alto poder de decisão, pode

construir esse caminho. (...) Por isso que a atividade circense é lúcida, todos os meninos

que vem, gostam disso. Hoje, por exemplo, as nossas crianças lá fora não brincam mais

e as nossas aqui dentro brincam. (2005 – Antônio, professor circense do Projeto Centro

Cultural Circo de Todo Mundo, premiado em 2003).

E não são os educadores, generosos, que percebem as mudanças. Elas são confi rmadas e festejadas

por pais e jovens.

Melhorou tudo... Aqui abre várias portas, você fi ca mais aberta, você fi ca mais próxima,

entendeu? Você tem mais acesso a teatro, coisas relacionadas a artes. Então, o meu

rendimento na escola melhorou bastante. O projeto dava conta disso também, a gente

tinha que apresentar as notas, a gente tinha que apresentar os boletins. (...) Então, a

gente tinha que trazer as notas, quem não estava legal era chamado para conversar. (2005

– Camila dos Santos, aluna do Projeto Dançar, premiado em 1997).

Não se trata, apenas, de prestar contas ao projeto, mas de querer permanecer nele, de sentir

prazer em aprender, em descobrir o mundo, em circular por novos espaços. E são essas experiências,

que trazem em sua origem uma aposta incondicional nas crianças e adolescentes merecedores de

oportunidades diversas e criativas, compreendidas e cultivadas.

Quando eu entrei, estava na sexta-série. Tinha aquela questão do colégio também, que eu

era um pouco tímido no colégio, a professora mandava eu explicar um assunto, tinha uma

dúvida, eu fi cava com medo. Assim, quando eu comecei o Jovens Comunicadores eu vi que

[o projeto] estava ajudando na escola. Eu fazer aqui estava dando resultado na escola.

(2005 – Vagner, aluno do Projeto Jovens Comunicadores, premiado em 2001).

E, fi nalmente, as famílias também reconhecem as mudanças.

Ele não era um menino rebelde, só aquele menino tímido, caladinho. Mas, hoje não, o que

se passa (...) ele conta, ele chega, ele conversa, ele fala. Acho que se (...) não tivesse

aprendido essas coisas que ele aprendeu ele não faria assim, ele não chegava com a gente

para sentar, ter uma reunião, conversar, falar de tudo que se passa com ele, para a gente

poder ajudar (...). Acho que se ele não tivesse entrado nesses Jovens Comunicadores (...)

não teria aprendido isto, teria fi cado tímido. (2005 – D. Aldenice, mãe de aluno do Projeto

Jovens Comunicadores, premiado em 2001).

58

Os projetos desarrumam o estabelecido e oferecem oportunidades para que novas habilidades,

talentos, características se revelem, sejam descobertas e transformem-se em ação. Oportunidade:

é essa diferença que precisa ser igual para todos.

Oferta de oportunidades onde não há

A realidade de muitos dos municípios e bairros onde atuam as organizações é caracterizada pela

ausência ou tênue presença do poder público. Essa carência torna a iniciativa mais importante ainda,

pois representa a única alternativa, para crianças e adolescentes, de ampliação de seus horizontes,

de descoberta dos seus direitos, de preocupação com cuidados de saúde, de contato com o belo, de

valorização da educação como formação humana.

Final de ano só fi ca polícia, porque a escola está de férias e no posto de saúde, a maior

parte dos funcionários também, principalmente os médicos, praticamente o bairro fi ca a

mercê da própria sorte. E é a época, é calor, e tem as saidinhas de Natal, dos familiares

que estão presos, tem uma grande população, aqui, presa. Como nós somos uma Ong,

queremos ser alternativos, é aí que nós temos que aparecer, trabalhar mesmo com o

pessoal, com os jovens e aí veio o Prêmio ... veio em boa hora porque o valor do prêmio nos

ajudou a garantir a continuidade do projeto. Então caiu como uma luva na mão certa. (2005

– Valdênia Aparecida Paulino, fundadora da Organização Centro de Defesa dos Direitos da

Criança e dos Adolescentes Mônica Paião Trevisan – CEDECA, organização responsável

pelo Projeto Arte em Movimento, premiado em 2003.

As parcerias bem-sucedidas entre organizações sociais e o poder público também existem e são

exemplo de fortalecimento e qualidade de trabalhos em que cada um oferece o que tem de melhor em

prol de um mesmo objetivo.

(...) a Fundarte resolveu procurar a Secretaria e fez a proposta de um projeto que envolvesse

as crianças da rede municipal de ensino, portanto, crianças oriundas de famílias carentes

e que não tinham acesso (a esse) tipo de cultura e a esse tipo de alternativa de busca de

desenvolvimento do contraturno do horário escolar, para que pudéssemos juntos traçar

alguns objetivos em relação à organização desse projeto. E nós então, encaminhamos,

reunimos as professoras da rede municipal de ensino e solicitamos que elas participassem

das reuniões de orientação, da seleção das crianças e das necessidades que poderiam surgir

em função do projeto e que a Secretaria pudesse dar o apoio necessário para a realização e

concretização do projeto. (2005 – Eunice Maria Brasil, ex-Secretária da Educação Municipal

de Montenegro, Projeto Dançar, premiado em 1997).

Sua presença ou ausência revela a inegável importância do poder público no processo de garantia

de direitos de crianças e adolescentes.

59

O Prêmio Itaú-Unicef afetou a formulação e implementação de

políticas públicas de educação integral.

Em síntese, podemos afi rmar que o Prêmio Itaú-Unicef tem cumprido seus objetivos. As narrativas

de seus representantes falam do reconhecimento, da visibilidade, da facilitação de parcerias e das

benfeitorias de infra-estrutura intimamente relacionados à premiação. Expressam igualmente a

importância da formação.

Os depoimentos indicam, no entanto, outro efeito bastante importante da premiação: sua irradiação

junto a outros públicos que de alguma forma interagem com o projeto premiado. A mobilização e

vocalização social produzida na condução do Prêmio Itaú-Unicef conquistou efeito irradiador porque

a própria sociedade civil manifestava esta demanda latente. Esse fator foi pouco mensurado nas

avaliações até então realizadas.

O Prêmio valorizou ONGs e organizações comunitárias de proteção e desenvolvimento

da criança e do adolescente. A expansão de ONGs nos últimos anos pode signifi car um

movimento de formalização das práticas socioeducativas pela sociedade civil. O Prêmio Itaú-

Unicef captou esta tendência e atuou em composição.

Tornou-se alavanca e indução a políticas de educação integral no país.

Liderou o debate nacional sobre a necessidade de muitos lugares de aprendizagem.

Obteve êxito na formação de formadores de opinião pública.

Está presente como parceiro no desenvolvimento de políticas municipais de educação em

tempo integral (no Município de Belo Horizonte, por exemplo).

Viabilizou no ano de 2006 diversos encontros locais e regionais em todo o Brasil sobre a

temática da educação integral.

Formulou para a Prefeitura Municipal de São Paulo os Parâmetros das Ações

Socioeducativas.

5. EM 2007: TODOS PELA

EDUCAÇÃO! A educação é investimento macroeconômico estratégico na sociedade da informação/

conhecimento, porém mais importante é assumi-la como investimento ético referido ao

compromisso com o desenvolvimento pleno dos cidadãos e oferta igualitária de

oportunidades a todos. (CARVALHO e MANSUTTI, 2005)

A política educacional no País já emite sinais claros de avanço no que se refere à universalização do

acesso ao ensino fundamental e à oferta de novas condições de freqüência e permanência na escola

(como o Programa Bolsa Família, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e a municipalização

desse nível de ensino).

O desafi o agora é assegurar a aprendizagem.

61

62

ContextoA jornada escolar diária no ensino fundamental ainda é bastante curta, embora haja uma progressiva

ampliação. Dados de 2006 indicam que os turnos de até 4 horas diárias ou menos atingem 34,9% da

rede escolar e os de mais de 4 horas até 5 horas chegam a 52,8%. (Censo Escolar de Ensino Básico

– CEEB, 2006)

O IDEB/2005 mostra que apenas 33 municípios do País têm um nível considerado satisfatório pelo

Ministério da Educação. A média nacional é de 3,8 e a meta desejável é de elevar esse índice a 6, nota

equivalente à média dos países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE).

Possuímos cerca de 55,9 milhões de alunos na Educação Básica (CEEB, 2006), o que representa mais

que a população conjunta dos nossos países vizinhos do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai).

Para dar conta do número de alunos, nossas escolas funcionam, no geral, com três e mesmo quatro

turnos.

As forças em açãoNesse contexto, o Compromisso Todos pela Educação tornou-se uma consigna de mobilização

e coalizões em torno da qualidade da educação pública no Brasil. Esta consigna espalha-se em várias

direções.

Uma das direções é denominar um movimento, capitaneado pela própria sociedade civil, que

agrega empresários, organizações não governamentais, organismos multilaterais e representantes de

gestores públicos de educação com uma clara intenção de mobilização societária em torno de pactos

estratégicos para elevação da qualidade da educação básica no Brasil. Este pacto se expressa em

compromissos com metas de aprendizagem a serem alcançadas até 2022, ano em que se comemora o

bicentenário da independência do Brasil:

Todas as crianças e jovens, de 4 a 17 anos, devem estar na escola

Todas as crianças, aos 8 anos de idade, devem saber ler e escrever

Todos os alunos devem concluir os ciclos do ensino fundamental e médio

Todos os alunos devem aprender pelo menos o mínimo adequado a cada ciclo (de acordo

com o Saeb, avaliação feita pelo Ministério da Educação – MEC)

A Educação deve ter a garantia dos recursos necessários para cumprir as metas de acesso,

permanência e sucesso escolar

63

Outra direção, de âmbito governamental, refere-se ao Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE

- apresentado pelo MEC, também denominado Todos pela Educação, que expressa um conjunto de

diretrizes de ação para alcance de efetividade da educação pública no Brasil.

Uma terceira direção move um conjunto de projetos promovidos por governos municipais, em

parceria com fundações empresariais e organizações da sociedade civil, para o fortalecimento da

educação local.

O Prêmio Itaú-Unicef é, no seu arranjo, um desses vários movimentos-programa que age na

interconexão escola e outros espaços de aprendizagem.

A importância de todos esses movimentos assenta-se na idéia básica de que a construção da

qualidade da educação depende do esforço partilhado dos agentes da rede de educação pública

– gestores, professores –, mas também da sociedade. Se assim não for, a vontade dos governantes e da

sociedade civil continuará sem força política.

É necessária forte coalizão entre trabalhadores da educação, comunidades e sociedade. Com esses

movimentos sociais, a construção do bem coletivo, a educação neste caso, ganha peso político.

Assim, o maior ganho desses movimentos é o ganho cívico referido à noção de bem público.

É preciso toda uma aldeia para educar uma criança.

(Ditado Africano)

Projetos de educação não são decisões pontuais e isoladas. Precisam de concertação e ação coletiva.

A educação é investimento de longo prazo. Sua sustentabilidade e seus impactos advêm dessa

compreensão.

Um salto a mais: o sentido abrangente da educação.

A escola tem uma responsabilidade ímpar na educação de crianças e adolescentes; no entanto,

não é a única responsável. A educação, em sentido amplo, ultrapassa a sala de aula e incorpora

aprendizagens desenvolvidas em outros espaços, no cotidiano familiar e na comunidade, nos espaços

de lazer, na convivência com amigos, nas organizações sociais e no contato com diferentes meios de

comunicação.

As políticas públicas, tais como cultura, assistência social, esporte e meio ambiente, invadem o

campo das chamadas ações-programas socioeducativas, proporcionando ao grupo infanto-juvenil

ampliação do universo cultural, aprendizados de iniciação tecnológica e inclusão digital, aprendizados

no campo esportivo, consciência e trato ambiental, enfi m, aprendizagens básicas implicadas com a vida

contemporânea. Não são oportunidades substitutivas da escola, ao contrário, realizam uma fi nalidade

própria.

Qualquer avanço dependerá de ação articulada – escola e outros espaços de aprendizagem – na

perspectiva de compor um projeto pedagógico mais rico e denso.

64

A concretização da educação integral

afi rmada pela LDBA implementação por vários governos estaduais e municipais da educação integral traz agora, mais

que no passado, a disputa por modalidades diversas – escola de tempo integral ou educação integral

em composição com espaços e organizações do território.

Articulada a essa disputa, outra entra em cena: as novas concepções na condução da política pública

quebram fronteiras setoriais da política social, assim como ameaçam os corporativismos instalados.

Uma educação integral compartilhada na sua condução por outras políticas (cultura, esporte,

assistência social etc.) ainda não ganhou consenso.

Mas a sociedade é movimento!Apostando neste novo contexto, o Programa Educação & Participação projeta uma terceira

etapa com novas infl exões:

Apoiar municípios e estados no desenho e implementação de políticas de educação

integral.

Formular indicadores de oportunidades de desenvolvimento infanto-juvenil, observáveis

no desempenho de ações socioeducativas, como modo de ancorar projetos mais robustos

de educação integral, promovidos na articulação de espaços, tempos, objetos e sujeitos de

aprendizagem, tendo como ponto de partida a escola e as ONGs, no território.

Formular indicadores de gestão para a sustentabilidade das organizações da sociedade

civil executoras de projetos educativos como sinalizadores de ações técnicas, políticas e

fi nanceiras capazes de promover o desenvolvimento e o fortalecimento de suas capacidades

para a realização dos direitos das crianças e dos adolescentes.

O Prêmio Itaú-Unicef destaca-se como uma das ações mais duradouras de incentivo a projetos

socioeducativos das organizações sociais sem fi ns lucrativos e, ao reafi rmar seu foco na educação

integral, toma o termo socioeducativo como um campo de aprendizagens voltado para o

desenvolvimento da convivência e participação na vida pública.

65

Ações socioeducativas: Oportunidades

de desenvolvimento A sistematização e a análise dos dados gerados pelas premiações foram realizadas em período

recente para responder a novas perguntas que não estão mais condicionadas a um processo de seleção

para premiação, mas sintonizadas com análises de conjuntura, com o entendimento da realidade das

ações socioeducativas brasileiras e com a preocupação em adensar o debate em torno da educação

integral.

O estudo dessas informações possibilitou o delineamento de um perfi l das organizações que

realizam atividades socioeducativas com as crianças e adolescentes e este, por sua vez, iluminou as

propostas do Prêmio para as suas próximas edições. Vejamos alguns dados deste perfi l.

A análise das variáveis atividades ofertadas, público atendido e resultados esperados de um conjunto

de projetos socioeducativos – 1.682 na edição de 2005 – subsidiou a formulação do indicador-chave para

expressar as oportunidades de desenvolvimento possibilitadas pelas ações socioeducativas propostas.

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 1.682 projetos inscritos em 2005.

Tipos de Atividades Desenvolvidas pelos Projetos

Artes

Apoio à Escolarização

Esporte, Recreação e Lazer

Formação para a Vida Pública

Promoção da Saúde

Iniciação Profi ssional

Educação Ambiental

Acompanhamento socioassistencial

Outros

Promoção da Diversidade

Comunicação e Mídias Eletrônicas

1.203

1.099

951

638

529

466

301

289

185

84

75

66

Tais atividades, de forma geral, são ofertadas a partir de interesses de crianças e jovens e, sobretudo,

a partir dos talentos dos agentes que integram a organização. Há uma clara intenção de desenvolver

essas iniciativas como ampliação de oportunidades para um grupo infanto-juvenil vulnerabilizado pela

pobreza. Nessa direção, o aprofundamento dos depoimentos deixa implícita (algumas vezes, explícita)

a intenção de ampliar repertório cultural: a prática de esportes, a sensibilidade estética, o exercício da

leitura e da escrita, as práticas de convivência entre pares e entre gerações, a vivência de situações de

cidadania comunitária e outras tantas necessárias ao desenvolvimento integral do ser humano.

Assim, ao olharmos mais atentamente este mosaico, encontramos três tipos de atividades que

poderíamos dizer que são pilares da programação ofertada às crianças e aos adolescentes: artes, apoio

à escolarização e esportes.

Ao observar esses dados, constata-se que os projetos combinam atividades de diferentes naturezas

com a perspectiva de promover a convivência e convocar a participação.

Fonte: Banco de Dados Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 1.682 projetos inscritos em 2005.

Atividades Desenvolvidas pelos Projetos

Mais de um terço (34,8%) dos projetos combinam estas

atividades na ação com as crianças e adolescentes;

As atividades de apoio à escolarização são

desenvolvidas de forma isolada apenas em 3 projetos;

Por outro lado, 67 projetos ofertam

atividades artísticas como única opção.

67

A investigação sobre as práticas desenvolvidas pelas organizações inscritas no Prêmio permite

confi rmar sua importância na oferta de atividades socioeducativas relevantes para o grupo infanto-

juvenil marcado pelas condições de pobreza e exclusão. No entanto, fi ca clara a necessidade de apoio,

orientação e indução para que tais práticas ganhem maior efetividade junto a esse universo de crianças

Público atendido

O público atendido pelos projetos é constituído de crianças e adolescentes – 6 a 18 anos –, o que

implica em clara exigência de desenvolvimento da convivência inter e intra faixas etárias e desafi a as

atividades ofertadas a responder a interesses distintos desse largo agrupamento etário. Destaca-se

igualmente que quase um quarto desse público tem entre 16 e 18 anos, o que demanda estímulo e

desenvolvimento de oportunidades de participação na vida pública.

População Atendida por Sexo

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 960.169 atendidos de 1.682 projetos inscritos em 2005.

51%Masculino

49%Feminino

População Atendida por Segmento Etário

23,5%28,9%

24,9% 22,7%

Fonte: Banco de Dados do Prêmio Itaú-Unicef 2005.Base: 960.169 atendidos de 1.682 projetos inscritos em 2005.

6 a 9 anos 10 a 12 anos 13 a 15 anos 16 a 18 anos

68

6 Delors, Jacques (Org.). Educação: Um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2006.

e adolescentes. Assim, com fundamento na garantia de direitos, associado a uma concepção de

educação integral sustentada pelos quatro pilares da educação6 (aprender a ser, aprender a aprender,

aprender a conviver, aprender a fazer), chegou-se à formulação de Indicadores de oportunidades de

desenvolvimento para crianças e adolescentes.

Defi nimos três dimensões como eixos das oportunidades de desenvolvimento:

Ampliação de capacidades para a convivência e participação na vida

pública

Dimensão 1: As ações são planejadas e avaliadas com o objetivo de que crianças e

adolescentes aprendam a conviver e a ser cidadãos.

A convivência

As oportunidades de convivência precisam propiciar às crianças e aos adolescentes formas de

expressar seus sentimentos e interesses, compartilhar múltiplos espaços e relacionamentos com outras

crianças, adultos e suas histórias de vida. A circulação e o acesso a diferentes espaços, às oportunidades

de laços com outros grupos, propiciam novas perspectivas e possibilidades de aprendizagem.

A valorização da diversidade é outro requisito básico para o Brasil superar discriminações e exclusões

e alcançar a eqüidade, rejeitando aquilo que transforma a diferença em motivo para iniqüidades. É

reconhecer que a diversidade tem importância; signifi ca tratar de maneira distinta pessoas que não

se encontram em condições de igualdade, visando à construção de relações igualitárias. O respeito

à dignidade de todos propicia o desenvolvimento das potencialidades por meio da criação de

oportunidades e possibilidades de escolhas, considerando as diferenças. A aprendizagem para lidar

com diferenças implica, portanto, o desenvolvimento de competências para reconhecer, respeitar e

admirar as diferenças humanas.

A convivência também está ligada ao domínio da expressão e comunicação. Aprender a se

comunicar cada vez mais e melhor, utilizando múltiplas formas de expressão, propicia uma convivência

marcada pelo diálogo, permeada por negociações, trocas de pontos de vista, reivindicações, acessos

a novos conhecimentos. Nessas relações estão presentes o afeto, a construção tecida com o outro, em

que sucessivas experimentações de medo, desejo, competição, saudade, prazer, irritação confi guram

estilos de convivência.

69

A participação na vida pública

Não nascemos sabendo participar; participar se aprende, e se aprende participando de diferentes

espaços e estabelecendo relações. Refl etir, formular questões, comparar, propor, pesquisar, construir

seu próprio caminho são aprendizagens fundamentais para compreensão crítica da sociedade e

ampliação do exercício da cidadania.

São inúmeras as estratégias de participação que podem ser desenvolvidas e vivenciadas

cotidianamente. Destacamos duas delas:

a participação na própria dinâmica do projeto socioeducativo em que crianças e

adolescentes estão inseridos;

a participação na vida da comunidade.

É preciso estimular e favorecer a participação de crianças/adolescentes/jovens na vida pública

comunitária. Tal participação pode ocorrer no cuidado ao meio ambiente do entorno; em pesquisas de

conhecimento da vida da população da comunidade; no desenvolvimento de projetos comunitários

compatíveis às faixas etárias.

Os projetos socioeducativos devem acolher e valorizar a participação das famílias e comunidade seja

no acompanhamento do desempenho da criança e do adolescente no projeto, seja no planejamento,

acompanhamento e avaliação do projeto. Devem também estimular a presença em ofi cinas, palestras,

reuniões, assembléias como oportunidades de participação e aprendizagem.

Essa participação contribui para valorizar o convívio familiar e comunitário, direito de todas as

crianças e adolescentes; o reconhecimento dos saberes das famílias e da comunidade enriquece e dá

pertinência aos projetos.

Na democracia e em particular na ação educacional, o aprendizado da participação é condição

imprescindível; começa nos serviços e equipamentos de que usufruímos e na própria comunidade em

que vivemos; é possibilidade de exercício da cidadania fundado no cuidado com o bem comum, o bem

público.

É necessário promover o compartilhamento de situações problemáticas e questões relevantes para

as crianças e os adolescentes, que mobilizem a participação e o envolvimento em um processo de

co-responsabilização de todos os envolvidos, que permita a tomada de posição, a defesa de idéias, o

reconhecimento e a apreciação de diferentes pontos de vista, a busca de saberes e informações e a

capacidade de negociação.

Ampliação de repertório de competências e habilidades

Dimensão 2: As ações são planejadas e avaliadas com o objetivo de que crianças e

adolescentes aprendam a conhecer e a fazer.

70

Os projetos socioeducativos precisam atuar, sobretudo, como promotores do acesso a informações e

a aspectos culturais diversos, assegurando ganhos de aprendizagem para o exercício da curiosidade, da

pesquisa e do prazer em aprender, além do domínio dos instrumentos para continuar aprendendo de

forma autônoma e crítica.

A confi guração de nossa sociedade como sociedade do conhecimento exige a formação de cidadãos

com competência para analisar criticamente, interagir nos diferentes espaços públicos, atuar como

interlocutor e produzir conhecimentos. Essas competências e habilidades são requisitos fundamentais

para a participação cidadã.

Atribui-se relevância às escolhas das atividades, dos espaços, dos recursos e às temáticas que

favorecem a localização e o acesso a informações, à argumentação e à produção de conhecimentos.

A leitura e a produção de textos

Os projetos socioeducativos devem contar com a presença de acervo de livros, atividades

sistemáticas de leitura e escrita. Ao mediador cabe o importante papel de ser o estimulador do leitor

e do autor, pois crianças e adolescentes precisam de oportunidades de encontrar nos livros e em seus

próprios textos, novas formas de alegria e prazer em aprender. Outros espaços estimuladores de leitura

e escrita como bibliotecas, livrarias, museus e teatros devem ser considerados.

A leitura e escrita são conhecimentos fundamentais para o processo de aprendizagem, são

ferramentas que permitem acessar e produzir conhecimento. Nessa perspectiva, a linguagem é mais do

que um sistema regido por regras gramaticais; saber utilizá-la em variadas situações e com diferentes

fi nalidades é uma tarefa bastante complexa. Podem ser várias as motivações para ler e escrever –

informar-se, pesquisar, resolver uma questão, fruir –, mas todas elas implicam a construção de sentidos,

bem como uma forma de interação com o outro e com o mundo por meio da leitura e escrita: para

quem eu escrevo e por quê? Com que fi nalidade eu leio?

Pretende-se induzir práticas qualifi cadas em relação à leitura e escrita estimulando as organizações

a ampliar seus repertórios de apoio à escolarização, ou seja, a incluir em sua programação atividades

de leitura e produção de textos, além de oferecer condições necessárias para o seu desenvolvimento:

ambientes acolhedores e estimulantes, quantidade e diversidade do acervo para os diferentes

grupos etários, e a presença de um responsável (mediador) pela organização e acompanhamento das

atividades.

A aprendizagem de diversas linguagens, por meio de diferentes gêneros discursivos, não somente

amplia a competência lingüística e discursiva da criança e do adolescente, mas também favorece

inúmeras formas de participação social. Assim, quanto mais as crianças e os adolescentes dominarem

e experimentarem situações diferenciadas de produção de linguagem, maiores serão suas capacidades

de comunicar suas aprendizagens.

71

O desenvolvimento da lógica e da iniciação científi ca

Tomar decisões e resolver problemas implica mobilizar valores, estabelecer raciocínios, enfrentar

dilemas e decidir pelo que julgar melhor, mais justo, mais condizente para o sujeito e para a sociedade à

qual ele pertence. O conjunto dessas aprendizagens é condição para que crianças e adolescentes sejam

capazes de resolver problemas com competências como autonomia, responsabilidade, cooperação,

dentre outras qualidades que regulam as relações entre as pessoas e as instituições. Também se refere à

relação de cuidados com os objetos – bens e equipamentos, a natureza e o próprio corpo.

A lógica refl exiva não está descolada da lógica operativa. Assim, o desenvolver habilidades para o

cotidiano ganha aqui um sentido fortalecedor de competências para a vida autônoma: desmontar e

consertar um aparelho elétrico-eletrônico, pintar as fachadas de um equipamento ou de uma casa,

desenhar e realizar um jardim são alguns exemplos de habilidades do fazer pessoal e social.

O projeto socioeducativo deve oferecer uma programação que contemple atividades contínuas,

sistemáticas e diversifi cadas, que mobilizem conhecimentos, experiências e práticas capazes de

estimular o desenvolvimento de potencialidades.

Tais projetos devem compor suas programações com atividades optativas, para que crianças e

adolescentes exercitem aprendizagens como escolha e tomada de decisões, considerando seus

interesses e aptidões.

Essa opção sustenta-se na visão de crianças e adolescentes como sujeitos de sua própria

aprendizagem.

A relevância está na diversidade de estratégias e ambientes que contemplem interesses e permitam

escolhas.

Garantia dos direitos sociais básicos

Dimensão 3: As ações são planejadas e avaliadas com o objetivo de contribuir para melhores

resultados na vida escolar, no usufruto da rede de proteção integral e na participação da

família no processo educativo.

Contribuir para a garantia dos direitos sociais básicos – do grupo infanto-juvenil – é uma

particularidade do projeto socioeducativo. Favorecer o acesso à escola, à unidade básica de saúde, a

regularização de documentos de identidade civil são alguns dos exemplos de promoção da garantia

dos direitos básicos. É indispensável que as organizações contribuam para que as crianças e os

adolescentes atendidos tenham acesso aos serviços públicos, programas socioculturais e de lazer.

Um dos pré-requisitos fundamentais para a garantia dos direitos é a posse do registro e da certidão

de nascimento que confere a qualquer cidadão existência legal, nome, nacionalidade, e o acesso aos

demais documentos e benefícios sociais.

72

Crianças e adolescentes e suas famílias devem ser informados e orientados para o acesso e usufruto

de serviços e equipamentos da comunidade que ofereçam proteção integral à população, tais como

creches, educação infantil, escolas públicas de ensino fundamental e médio, unidades básicas de saúde,

postos policiais, centros esportivos e de lazer, espaços culturais, praças, transporte coletivo, centros de

referência de assistência social, conselho tutelar etc.

Projeto socioeducativo e educação escolar

O projeto socioeducativo deve estimular a freqüência escolar da população atendida; essa tarefa

deve se concretizar por meio da atenção às condições de vida das crianças e dos adolescentes, do

acompanhamento sistemático da freqüência e do rendimento escolar, portanto da articulação com a

escola pública.

A escola é responsável pelo aprendizado nas diferentes áreas do conhecimento, para isso sua ação

está organizada por um currículo e conseqüente certifi cação, essenciais para a vida em sociedade.

A construção de oportunidades reais para crianças e adolescentes e a garantia dos direitos de

cidadania supõem a conjugação do acesso às demais políticas e à educação. Isso é proteção social,

sendo dever de todos: família, sociedade e poder público.

Executar projetos e atividades em parceria com a escola e demais serviços e programas do território;

utilizar alternadamente os espaços da escola e da organização constituem estratégias que valorizam a

vida escolar, estimulam o gosto pela aprendizagem e contribuem para a aprovação das crianças e dos

adolescentes atendidos.

No desenvolvimento de um projeto socioeducativo, é de grande importância a atenção à distorção

da relação idade-série escolar de crianças e adolescentes. A atenção a essa relação demanda o

acompanhamento da trajetória escolar, o estabelecimento de estratégias conjuntas e articuladas com a

escola para reverter a situação.7

A relação que se estabelece entre organização, educadores, crianças e adolescentes atendidos e suas

famílias é extremamente relevante para o alcance dos objetivos do projeto. Freqüência, participação,

colaboração, iniciativa podem sinalizar a maior ou menor adesão ao projeto. É dever de toda ação

pública apurar o grau de satisfação do público atendido. Também é da mesma forma relevante a

relação profícua com a comunidade em que se insere – com seus moradores, organizações, serviços

–, de forma a costurar uma ação cada vez mais articulada de proteção e desenvolvimento integral das

crianças e dos adolescentes.

7 Hoje em nosso país aproximadamente 50% das crianças e adolescentes permanecem na escola além dos 8/9 anos ofi cialmente previstos.

As ações que buscam a correção do fl uxo escolar propõem a superação de defasagens de aprendizagem, difi culdades materiais de

acompanhamento da rotina escolar, negação ao direito de matrícula, entre outros fatores que impedem que crianças e adolescentes estudem

em companhia de colegas de idade aproximada e completem sua escolarização a partir de uma enturmação escolar mais adequada.

73

A educação integral desejada passa por esta nova concepção: a de que sua realização é mais plena

e efetiva quando convoca todos os sujeitos aprendentes e ensinantes da comunidade a pensarem e

realizarem um projeto compartilhado.

A participação das famílias e comunidade atendidas em instâncias de avaliação e decisão na

organização denota processo de aprendizado social. O compartilhamento das decisões, a preocupação

com a qualidade, com a relação custo-benefício e com a transparência contribui com o sentido de co-

responsabilidade com relação à comunidade e a capacidade empreendedora coletiva.

Gestão para a Sustentabilidade Além dos indicadores de Oportunidades de Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes,

faz-se necessário introduzir indicadores de gestão referidos às organizações promotoras de ações

socioeducativas. Esses indicadores são divididos em três dimensões que dialogam entre si:

Sustentabilidade Técnica

Dimensão 1: Afere a capacidade que a organização tem de implementar tecnicamente os

projetos propostos, bem como de acompanhá-los.

Estabelecer parâmetro de relação entre o número de crianças e adolescentes atendidos e o de

profi ssionais do projeto é um importante indício da sustentabilidade técnica das ações.

A composição de talentos e esforços para a realização dos objetivos da organização constitui

desafi os a serem enfrentados pelas equipes de trabalho de um projeto socioeducativo. O quadro de

pessoal deve ser diversifi cado, composto por profi ssionais experientes e identifi cados com os objetivos

e atividades desenvolvidas no projeto.

Várias organizações contam com educadores sociais, talentos locais, muitas vezes, jovens formados

pelo próprio projeto, sem formação acadêmica, mas com forte identifi cação com a comunidade e com

uma atuação mobilizadora, articuladora e competente. Também é preciso considerar que grande parte

das organizações conta com a participação de voluntários nas várias instâncias de ação; o trabalho

voluntário é um recurso social importante, que complementa a atuação das equipes das organizações.

A formação de pessoal deve ser um processo contínuo de aprendizagem e avaliação, que forneça

ao grupo de trabalho conteúdos e elementos que possibilitem seu crescimento pessoal, profi ssional e

aperfeiçoamento para qualifi cação da ação socioeducativa e melhores resultados para as crianças e os

adolescentes atendidos.

Os resultados alcançados pelas organizações estão estreitamente relacionados com o desempenho

dos profi ssionais que delas participam, uma vez que das ações desses profi ssionais resulta a

constituição do ideário, da cultura e do modo de atuar das mesmas. A formação continuada favorece

74

novos olhares para as potencialidades do público atendido, produzindo ações socioeducativas mais

efetivas para a promoção da educação integral das crianças e dos adolescentes atendidos.

Verifi car o quanto as organizações empenham esforços para estimular ações formativas para seus

profi ssionais é a proposta de um dos indicadores desta dimensão.

Planejamento, implementação e avaliação são processos técnicos intrínsecos a um projeto. A

realização do planejamento pressupõe a análise do contexto; a partir dessa análise, a defi nição

dos objetivos é de fundamental importância para o sucesso do projeto, pois dá origem à escolha

das ações a serem executadas e avaliadas. O acompanhamento das ações no desenvolvimento do

projeto é fundamental para a comparação entre o que foi previsto e o que foi realizado, a mensuração

dos resultados e a apresentação de informações objetivas sobre o trabalho. A avaliação confi gura-

se como oportunidade de análise e refl exão crítica da ação, subsidia a tomada de decisão e indica

redirecionamentos ou correção de rumos. As organizações que atuam na esfera pública precisam

apresentar à sociedade os resultados e produtos de sua ação.

Quanto maior for a relação de horizontalidade, transparência, abertura, e proximidade entre

as organizações e o público atendido, maior será a possibilidade de construção de consensos,

de co-responsabilidade na decisão sobre os rumos do projeto e na formulação de ações para o

desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. A participação traz ganhos efetivos ao projeto,

à organização, aos profi ssionais e à população, confi gura-se como processo de aprendizagem que

possibilita a ampliação do entendimento dos objetivos, proposta e resultados do projeto. É exercício

que ensina a lidar com as tensões, as disputas, a pluralidade de interesses e a diversidade de opiniões.

O trabalho articulado entre organizações e escolas deve ser estimulado, para que se complementem,

criando ações sinérgicas na busca do desenvolvimento integral das crianças e dos adolescentes e da

ampliação do acesso a serviços e direitos básicos. Relação entre pares, tem como resultado mútuas

aprendizagens, nas quais as experiências de ambas as instituições somam-se com um objetivo comum

de desenvolvimento das crianças e adolescentes.

A análise das formas de relação entre as organizações inscritas na edição do Prêmio Itaú-Unicef 2005

com as escolas demonstra modos diversos de articulação. Essa análise permitiu a defi nição de graus

que expressam a intensidade e a fi nalidade do relacionamento estabelecido entre a organização

e a escola:

Não Articulado: A organização não mantém vínculo com a escola.

Contatos Interpessoais: Contato indireto e esporádico. O contato presencial, quando ocorre,

costuma partir da organização.

75

Articulação Pontual: Ações não sistemáticas promovidas para benefi ciar o grupo de

educandos.

Articulação Operativa: Realização de atividades conjuntas para um público comum. Os

contatos já produzem algo que decorre da relação das duas instituições.

Articulação Efetiva: Objetivos comuns para o desenvolvimento das crianças e dos

adolescentes constituem-se como norteadores do trabalho.

Estes modos de relacionar-se ganham relevância, pois o trabalho socioeducativo orientado pela

concepção de educação integral exige que ele se articule ao trabalho escolar.

Sustentabilidade Política

Dimensão 2: Afere a capacidade da organização em estabelecer redes de relacionamento

com a fi nalidade de dar credibilidade e legitimidade às ações socioeducativas e de se

constituir como operadora de uma ação pública. Destacam-se aqui as perspectivas de

articulação interinstitucional. Trata-se do universo da relação instituição-comunidade bem

como da efetividade da criação de espaços de participação democrática em suas ações e

atividades.

As organizações devem ter capacidade de estabelecer redes de relacionamento com a fi nalidade de

dar legitimidade, credibilidade e exeqüibilidade às ações e projetos que desenvolvem e de constituir-

se como operadoras de ações públicas. A participação nessas redes é que confere sustentabilidade

política.

Esse paradigma de gestão rompe com a cultura do isolamento e propõe ações conjuntas

caracterizadas pelo compartilhamento de objetivos e pelo esforço coletivo para alcançá-los.

A existência de diversos parceiros para o desenvolvimento dos projetos de uma organização é

indicador do seu grau de articulação com outras instituições, compreendida a parceria como uma ação

conjunta, realizada por atores diversos para um fi m de interesse comum.

As organizações que ofertam serviços socioeducativos a crianças e adolescentes devem se engajar

nos projetos de vida comunitária nos territórios em que se inserem; devem impactar políticas públicas

no território, e incorporar, em seus processos de trabalho, práticas democráticas.

A articulação da organização com a comunidade e com outros projetos é extremamente relevante

na busca da construção de ações cada vez mais efetivas. A participação da organização em ações

promovidas pela comunidade contribui para maior visibilidade, credibilidade e legitimidade dos

projetos que desenvolve. Em um movimento sinérgico, favorece, de um lado, a aproximação com a

76

comunidade e, de outro, possibilita um entendimento da realidade, das demandas, das forças locais,

das situações que podem favorecer ou difi cultar o alcance dos objetivos do projeto. Por meio da ação

conjunta, a organização pode ampliar e fortalecer sua abrangência e atuação.

A participação dos profi ssionais nos diversos níveis de decisão contribui para a motivação, sentido

de pertencimento e co-responsabilidade com os projetos e rumos da organização. Esse envolvimento

favorece a busca de soluções e a inovação no desenvolvimento do projeto.

A participação do público atendido e suas famílias nos diferentes momentos de decisão igualmente

contribui para o envolvimento, sentido de pertencimento e co-responsabilidade com os impactos dos

projetos.

A clareza quanto às instâncias de participação, acesso a informações, transparência na gestão,

desenvolvimento de habilidades para negociar, planejar e operar em conjunto, construção de relação

de confi ança e respeito mútuos são elementos que devem ser assegurados para a participação efetiva

da comunidade.

Uma organização que oferta projetos socioeducativos não pode se manter isolada e fechada em si

mesma. Precisa inserir-se em redes e agir de forma articulada com outras organizações e serviços para

produzir consensos e ações comuns capazes de induzir programas públicos intersetoriais de atenção

integral à criança. É também importante para fortalecer as representações coletivas da sociedade civil e

criar condições políticas de afi rmação e garantia de direitos ao conjunto da sociedade.

A participação da população, por meio de organizações, na formulação das políticas e no controle

das ações pode contribuir para a garantia da qualidade dos serviços. O controle social encontra seu

fundamento na Constituição Federal de 1988, como instrumento de efetivação da participação popular

no processo de gestão democrática e descentralizada. Nessa lógica, o controle do Estado é exercido

pela sociedade na garantia dos direitos fundamentais e dos princípios democráticos. Os espaços

privilegiados para se efetivar essa participação são conselhos, fóruns e redes.

Os Conselhos são instâncias de participação, formulação e controle de políticas públicas.

Sua composição é paritária, contemplando representantes do governo e segmentos da

sociedade civil.

Os Fóruns também são instâncias de representação, porém menos sistemáticas e

institucionalizadas. Normalmente se aglutinam a partir de áreas, como: Defesa dos Direitos da

Criança e do Adolescente, Assistência Social etc.

As Redes caracterizam-se como instrumentos de mobilização dos atores sociais para ações

coletivas no espaço público favorecendo o desenvolvimento institucional, o intercâmbio, o acesso

a novos conhecimentos e ampliação da capacidade articuladora e mobilizadora da organização.

77

Sustentabilidade Financeira

Dimensão 3: Afere a capacidade da organização de criar condições fi nanceiras que

viabilizem o desenvolvimento do projeto de ações socioeducativas e sua continuidade.

Refere-se à capacidade da organização em dispor de recursos fi nanceiros e utilizá-los de forma

efi ciente para que alcance seus objetivos e metas, de forma continuada e duradoura.

Para tanto, é importante que a organização disponha de diversidade de fontes de recursos, o que

possibilita:

A ampliação da base social de apoio, proporcionando maior autonomia e favorecendo a

construção de vínculos políticos e de fi nanciamento com outros atores;

Maior segurança às organizações, pois, ao contar com um conjunto expandido de

fi nanciadores, mesmo com o desligamento de um deles o risco de interrupção das

atividades é reduzido, sendo possível o rearranjo orçamentário que garanta a continuidade

dos projetos.

O indicador propõe observar como a organização compõe sua sustentabilidade fi nanceira,

destacando a multiplicidade de fontes de recursos, o percentual do orçamento da organização utilizado

no projeto inscrito e o potencial de estabilidade orçamentária.

É fundamental que as organizações busquem maior legitimidade, transparência e ética na relação

com a sociedade em que atuam. Uma das maneiras de garantir essa transparência é a prestação de

contas que, além da descrição de resultados fi nanceiros, deve apresentar relatórios técnicos, indicando

o cumprimento das atividades previstas, das metas e dos objetivos estabelecidos, forma de aplicação

dos recursos e alcance dos resultados.

Dois aspectos importantes na gestão fi nanceira são a existência de órgãos diretivos e a realização da

prestação de contas.

6. SINERGIA DE FUTURO

79

80

Considerando que o Prêmio Itaú-Unicef vem se comportando como movimento social indutor

de educação integral – referenciada em redes de base territorial e comunitária – pautada no

reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos que requerem uma abordagem

integralizada, faz-se necessário discriminar que contribuições essa rede de organizações agrega.

As práticas da rede de organizações ligadas ao Prêmio Itaú-Unicef têm interfaces com quatro

políticas públicas setoriais (educação, assistência social, cultura, esporte e lazer) as quais têm nas

práticas socioeducativas seu desafi o de articular efetividade, pois todas devem estar compromissadas

em garantir proteção integral para as crianças e adolescentes, entendendo que estas são prioridade

das políticas.

Nos últimos anos a ligação com a política pública de assistência social tem se intensifi cado em

função do reconhecimento das ações socioeducativas realizadas pelas ONGs como parte da rede

que oferece serviços de proteção social às crianças, adolescentes e jovens. Com a implementação

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a partir de 2004, os municípios vêm aprimorando sua

competência para defi nir a abrangência territorial e a qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos.

Com isso, abrem-se caminhos para o alargamento dos compromissos públicos em torno dos direitos

das crianças e adolescentes respeitando a diversidade local e regional dos lugares em que vivem.

Esse contexto tem pautado questionamentos, como:

Qual a medida adequada de participação das organizações sociais na execução da política

de assistência social?

Como potencializar o conhecimento que as ONGs têm da diversidade dos contextos em

que atuam e transpô-lo em metodologias de trabalho socioeducativo mais atrativa para o

público infanto-juvenil?

Recentemente as políticas públicas de cultura, esporte e lazer estão se aprimorando em qualidade

técnica e expandindo sua abrangência nacional por meio de novos formatos de implementação de seus

programas nos municípios. Muitos programas federais têm investido na relação com as organizações e

movimentos culturais da sociedade, ampliando o alcance destas iniciativas em todo território nacional.

Assim, as práticas esportivas e culturais são articuladas pelas organizações pelo campo socioeducativo,

ou seja, mais que aprender esporte e manifestações e produções culturais, as crianças e adolescentes

estão aprendendo a se relacionar, a lidar com limites e desafi os, a participar da vida de sua comunidade

e da cidade fazendo arte e cultura e, esporte e lazer.

Dessa aproximação decorrem algumas indagações:

Como combinar a eqüidade no atendimento de crianças e adolescentes sem perder a

qualidade e riqueza das produções e manifestações culturais e das performances esportivas?

Como vincular-se à escola sem escolarizar-se?

81

A interface entre as ações socioeducativas desenvolvidas pelas ONGs e a política de educação

atualmente ganha relevo no tema da educação integral.

Com a política de educação, por meio do relacionamento com as escolas, as organizações

sociais têm uma variabilidade extensa de modos e oportunidades de composição, como mostrado

anteriormente (pág. 74).

Algumas questões se colocam pela política de educação:

Incluir organizações sociais na operação da educação integral pode ser um risco de

precarização dos serviços e das relações de trabalho na educação?

Como fazer educação integral por meio de política intersetorial com orçamentos vinculados

setorialmente?

A aposta em uma concepção de educação integral – composta por vários espaços e oportunidades

de aprendizagem garantindo circulação, experimentação por ambientes distintos e ampliação da rede

relacional – é sem dúvida, contemporânea e assertiva. A formulação de indicadores de oportunidades

de desenvolvimento e aprendizagem para o grupo infanto-juvenil, no escopo do Prêmio Itaú-Unicef,

tem a intenção de contribuir para um olhar mais atento às potências de projetos desenvolvidos por

organizações de base comunitária.

Em nosso entendimento, para além de uma concepção e composição de modalidades operativas da

política, a contribuição das práticas socioeducativas se dá na construção de sinergia entre os diversos

atores sociais mobilizados pela questão:

Que mudanças são necessárias nas diferentes práticas para que crianças e adolescentes sejam

co-autores das situações de aprendizagem que experimentam?

82

83

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WORTHEN, Blaine R.; SANDERS, James R.; FITZPATRICK, Jody L. Tradução: Dinah de Abreu Azevedo. Avaliação de programas: concepção e

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Anexo 1

Prêmio Itaú-Unicef

Organizações e projetos participantes dos grupos focais dos Encontros Regionais de Formação – 2004 – citadas no texto

Organização Projeto Cidade / Estado Ano de Premiação

Centro de Defesa e Proteção à Projeto Axé Salvador BA Menção Honrosa em 1995

Criança e ao Adolescente

Serviço de Tecnologia Alternativa - SERTA Formação de Agentes de Glória de Goitá PE Premiado em 2003

Desenvolvimento Local

Associação Grãos de Luz Grãos de Luz e Griô Lençóis BA Premiado em 2003

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Anexo 2

Prêmio Itaú-Unicef

Organizações e projetos premiados visitados no ano de 2005

Organização Projeto Cidade / Estado Ano de Premiação

Fundação Municipal de Artes de

Montenegro - FUNDARTE Projeto Dançar Montenegro RS 1997

Lar São Domingos Ninho de Pássaro - Criação,

Construção e Exercício de Cidadania Maceió AL 1997

Comunicação e Cultura Escola de Cidadãos Fortaleza CE 1999

Conselho de Monitoramento para Erradicação do Trabalho Infantil no

Erradicação do Trabalho Infantil Garimpo Bom Futuro Ariquemes RO 1999

Centro das Mulheres do Cabo Jovens Comunicadores Cabo de Santo Agostinho PE 2001

Associação Grãos de Luz Grãos de Luz e Griô Lençóis BA 2003

Centro de Defesa dos Direitos da Arte em Movimento São Paulo SP 2003

Criança e do Adolescente Mônica

Paião Trevisan - CEDECA

Centro Recreação de Atendimento e Centro Cultural Circo de Todo Mundo Belo Horizonte MG 2003

Defesa da Criança e do Adolescente

Irmandade do Divino Espírito Santo - IDES Espaço Alternativo do Saber - PEAS Florianópolis SC 2003

Programa Kaiowa / Guarani Projeto Poty Reñoi Caarapó MS 2003

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Anexo 3

Prêmio Itaú-Unicef

Organizações e projetos premiados em todas as edições - 1995 a 2007

Organização Projeto Cidade / Estado Ano de Premiação

Centro Popular de Cultura e Ser Criança Belo Horizonte MG 1995 - Primeiro LugarDesenvolvimento - CPCD

Associação Nacional de Cooperação Por uma Escola Pública de Qualidade São Paulo SP 1995 - Segundo Lugar Agrícola - ANCA nas Áreas de Assentamento

Movimento de Organização Capacitação de Professores Rurais Feira de Santana BA 1995 - Terceiro LugarComunitária - MOC

Lar São Domingos Ninho de Pássaro - Criação, Maceió AL 1997 - Grande Vencedor Construção e Exercício de Cidadania

Fundação Municipal de Artes de Projeto Dançar Montenegro RS 1997 - Prêmio Categoria AçõesMontenegro - FUNDARTE Complementares à Escola

Centro de Defesa da Criança e do Educação, Faça Valer Esse Direito! Fortaleza CE 1997 - Prêmio Categoria Adolescente - CEDECA Mobilização pela Educação

5 elementos - Instituto de Educação Programa de Educação Ambiental São Paulo SP 1997 - Prêmio e Pesquisa Ambiental no Parque do Ibirapuera - Categoria Elaboração de Materiais de Projeto Trilha Radical Verde Apoio à Educação

Centro dos Trabalhadores da Amazônia - CTA Projeto Seringueiro Rio Branco AC 1997 - Prêmio Categoria Valorização e Formação Continuada de Professores

Conselho de Monitoramento para Erradicação do Trabalho Infantil Ariquemes RO 1999 - Grande VencedorErradicação do Trabalho Infantil no Garimpo Bom Futuro

Comunicação e Cultura Escola de Cidadãos Fortaleza CE 1999 - Prêmio Categoria Ações Complementares à Escola

Centro de Criação de Imagem Estatuto do Futuro Rio de Janeiro RJ 1999 - Prêmio Categoria Popular - CECIP Mobilização pela Educação

Instituto Socioambiental Formação de Professores Indígenas São Paulo SP 1999 - Prêmio Categoria Formação no Parque do Xingu para o Continuada de Professores e Magistério Educadores e/ou Produção de Material de Apoio

Federação de Órgãos para Assistência Social Clube da Cidadania Infanto-Juvenil São João de Meriti RJ 2001 - Grande Vencedore Educacional - FASE e Direito à Educação em São João de Meriti

Centro das Mulheres do Cabo Jovens Comunicadores Cabo de Santo Agostinho PE 2001 - Prêmio Categoria Ações Complementares à Escola

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Centro de Referência Integral de Projeto CRIA Salvador BA 2001 - Prêmio Categoria

Adolescentes - CRIA Mobilização pela Educação

Diocese de Santarém Rádio Pela Educação Santarém PA 2001 - Prêmio Categoria Formação

Continuada de Professores e

Educadores Sociais e/ou Produção

de Materiais

Associação Grãos de Luz Grãos de Luz e Griô Lençóis BA 2003 - Primeiro Lugar

Serviço de Tecnologia Alternativa - SERTA Formação de Agentes de Glória de Goitá PE 2003 - Segundo Lugar

Desenvolvimento Local

Programa Kaiowa / Guarani Projeto Poty Reñoi Caarapó MS 2003 - Terceiro Lugar

Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Arte em Movimento São Paulo SP 2003 - Premiado

Adolescente Mônica Paião Trevisan - CEDECA

Centro Recreação de Atendimento e Centro Cultural Circo de Todo Mundo Belo Horizonte MG 2003 - Premiado

Defesa da Criança e do Adolescente

Escola de Dança e Integração Dança Movimento para a Vida Fortaleza CE 2003 - Premiado

Social para a Criança e Adolescente - EDISCA

Irmandade do Divino Espírito Santo - IDES Espaço Alternativo do Saber - PEAS Florianópolis SC 2003 - Premiado

Núcleo Especial de Atenção à Criança - NEAC Gente é pra Brilhar Rio de Janeiro RJ 2003 - Premiado

Grupo Cultural Afro Reggae - GCAR Levantando a Lona Rio de Janeiro RJ 2003 - Premiado

Associação Fênix para o Desenvolvimento Projeto Fênix São Paulo SP 2003 - Premiado

da Educação e Cultura - FENIX

Associação Barracões Culturais de Cidadania - ABCC Barracões Culturais da Cidadania Itapecerica da Serra SP 2003 - Premiado Especial São Paulo

Associação de Apoio ao Trabalho Cultural, Rede Participativa Lucena PB 2005 - Primeiro Lugar

Histórico e Ambiental - APÔITCHÁ

Associação Imagem Comunitária Rede Jovem de Cidadania Belo Horizonte MG 2005 - Segundo Lugar

Associação Eremim - Ação Social de Promoção Eremim: Tecendo Novos Caminhos Osasco SP 2005 - Terceiro Lugar

da Cidadania e Desenvolvimento Humano

Centro de Referência Integral de Adolescentes Escola e Comunidade: Salvador BA 2007 - Grande Vencedor Nacional

- CRIA um diálogo necessário

Associação Cultural Chapada dos Negros Criança, Capoeira, Esporte e Cultura Arraias TO 2007 - Vencedor de Micro Porte

Associação Civil Crescer no Campo Estação de Conhecimentos Espírito Santo do Pinhal SP 2007 - Vencedor de Pequeno Porte

Bem TV - Educação e Comunicação (Associação Olho Vivo Niterói RJ 2007 - Vencedor de Médio Porte

Experimental de Mídias Comunitárias)

Fundação Museu do Homem Americano - FUMDHAM Pró-Arte Fumdham São Raimundo Nonato PI 2007 - Vencedor de Grande Porte

Observações:

1. Até 2001 o Prêmio era organizado em categorias, a partir de 2003 defi niu seu foco para projetos socioeducativos.

2. Em 2003 foram entregues dez prêmios, com defi nição dos três primeiros lugares. Além disso, excepcionalmente, aconteceu a entrega do Prêmio Especial São Paulo destinado ao destaque de um projeto de atuação com

jovens na região da Grande São Paulo.

3. A partir de 2007 defi niu-se pela entrega de cinco prêmios nacionais: um para cada categoria de porte orçamentário da organização e um grande vencedor.

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Prêmio Itaú-Unicef

Organizações e projetos que receberam Menção Honrosa de 1995 a 2007

Organização Projeto Cidade / Estado Ano da Menção

Associação Comunitária Monte Azul Monte Azul: um Projeto Comunitário São Paulo SP 1995

- ACOMA

Associação de Pais e Amigos dos Programa de Ação Complementar Lavras MG 1995

Excepcionais - APAE

Associação APJ – Aprender Casa do Adolescente Teófi lo Otoni MG 1995

Produzir Juntos

Ação Social Arquidiocesana - ASA Projeto Periferia Teresina PI 1995

Associação Benefi cente São Martinho Ao Encontro dos Meninos de Rua Rio de Janeiro RJ 1995

Centro de Defesa e Proteção à Criança Projeto Axé Salvador BA 1995

e ao Adolescente

Centro de Assessoria e Apoio aos Programa de Educação Agroecológica Ouricuri PE 1995

Trabalhadores e Instituições

Não-Governamentais Alternativas

- CAATINGA

Centro dos Trabalhadores da Projeto Seringueiro Rio Branco AC 1995

Amazônia - CTA

Federação das Associações de O Direito de Aprender Porto Alegre RS 1995

Municípios do Rio Grande do Sul

Pontifícia Universidade Núcleo de Trabalhos Comunitários São Paulo SP 1995

Fundação TERRA - Fundação do Escola da Natureza Guaramiranga CE 1997

Trabalho Educacional com Recursos

Renováveis e Arte

Missão Ramacrisna InforMissão Betim MG 1997

Centro de Referência Integral de Educação: um Exercício de Cidadania Salvador BA 1997

Adolescentes - CRIA

Associação dos Municípios do Fórum Permanente de Secretários e Belém PA 1997

Araguaia e Tocantins Dirigentes Municipais de Educação do

Sul Sudeste do Pará

Coletivo Refazendo Integração da Criança Portadora de Recife PE 1997 Defi ciência na Escola – Convivendo com a Diferença

Associação Cultural Bloco Projeto de Extensão Pedagógica Salvador BA 1997Carnavalesco Ilê Aiyê

Fundação Athos Bulcão Jornal Radical Brasília DF 1997

90

Associação Projeto Roda Viva Programa de Educação Ambiental Rio de Janeiro RJ 1997

Fundação Museu do Homem Capacitação dos Professores das São Raimundo Nonato PI 1997Americano - FUMDHAM Redes Municipais de São Raimundo Nonato e Coronel José Dias

Associação de Professores e Saltimbancos São José dos Campos SP 1997Servidores Públicos do Estado deSão Paulo - APROESP

Associação Educativa Livro em Roda Biblioteca Livro em Roda Conde PB 1999

Associação de Proteção à Casa da Criança Araucária PR 1999Maternidade e à Infância - APMI

Fundação Centro de Defesa dos Clube Recreativo União e Lazer Rio de Janeiro RJ 1999Direitos Humanos Bento Rubião

Associação Meninos do Morumbi Meninos do Morumbi São Paulo SP 1999

Fórum Mineiro de Saúde Mental Arte e Saúde Belo Horizonte MG 1999

Centro Brasileiro da Criança e do Acompanhamento Pedagógico Recife PE 1999Adolescente – Casa de Passagem

Programa de Apoio a Meninos e De Volta para Casa São Leopoldo RS 1999Meninas - PROAME

Centro de Defesa da Vida Hebert Campanha pelo Direito à Educação Fortaleza CE 1999de Souza

Centro de Cultura Luiz Freire Escolas de Índios Olinda PE 1999

Avante, Qualidade, Educação e Todos pela Educação no Município Salvador BA 1999Vida - ONG

Associação Menino Jesus de Praga Tapera das Artes Aquiraz CE 2001

Associação Projeto Roda Viva Formação de Jovens Monitores Rio de Janeiro RJ 2001 Ambientais

Associação de Pais e Professores da Largada 2000 Deixando Marcas Joinville SC 2001E.M. Prof. Avelino Marcante

Instituto Social das Medianeiras da Infoeducação – Formação e Recife PE 2001Paz - ISMEP Fortalecimento Pedagógico

Grupo Primavera Educação Complementar: Campinas SP 2001 Empreendedorismo Fazendo a Diferença

Associação de Pais e Amigos dos Bem Viver Belo Horizonte MG 2001

Portadores de Defi ciências Visuais e

Associados - APADV

Associação Educativa Livro em Roda Biblioteca Livro em Roda Conde PB 2001

- AELER

91

Instituto Avisa Lá – Formação Compartilhar: Construção de São Paulo SP 2001

Continuada de Professores Competências para Ensinar

Associação Movimento de Educação Melhoria da Qualidade do Belo Horizonte MG 2001

Popular Integral Paulo Englert / Fé Atendimento Comunitário a Crianças

e Alegria do Brasil - AMEPPE e Adolescentes - TUDOHAVER

Comissão Pró-Índio do Acre – CPI/AC Formação de Agentes Agrofl orestais Rio Branco AC 2001

Indígenas do Acre

Grupo de Pais dos Educandos do Ciranda dos Meninos de Sinhá Belo Horizonte MG 2003

CIAME Flamengo - GRUPECI

Espaço Cultural Vila Esperança - ECVE Pluralidade Cultural e Educação – Cidade de Goiás GO 2003

Vila Esperança

Centro Cultural Araçá - CCA Art & Mania Araçá São Mateus ES 2003

Instituto Rumo Náutico - IRN Projeto Grael Niterói RJ 2003

Obras Sociais da Diocese de Projeto Beija-Flor Rio Branco AC 2003

Rio Branco

Associação Nossa Senhora de Nazaré Centro de Artes Ir. Yolanda Setúbal Manaus AM 2003

Associação de Pais e Mestres da Circo da Alegria Toledo PR 2003

Escola Municipal Anita Garibaldi - APM

Associação Menino Jesus de Praga Tapera das Artes Aquiraz CE 2003

Associação Eremim – Ação Social de Eremim e a Cultura da Paz Osasco SP 2003

Promoção da Cidadania e

Desenvolvimento Humano

Lar Francisco Franco Espaço Amigo Rancharia SP 2003

“Casa das Meninas” - LFFCDM

Associação Curumins Banda de Lata de Todas as Cores Fortaleza CE 2005

Associação das Mulheres de

Nazaré da Mata - AMUNAM Deixando Marcas Nazaré da Mata PE 2005

Instituto Oboré Oboré Arte e Educação Belo Horizonte MG 2007

Sociedade dos Moradores e Amigos Radialista do Futuro Samambaia DF 2007

da Expansão de Samambaia

Observação: A partir de 2005 iniciam-se as premiações regionais, possibilitando o reconhecimento dos projetos que não eram premiados nacionalmente. Por este motivo o número de menções honrosas diminui.

Créditos das imagensVerso da 1a capa

Projeto Trupe Pedagógica – Centro de Estudos e Promoção da Mulher Marginalizada – Campinas-SP / Durival Jesus Pinto

Projeto Casinha de Cultura - Espaço de Encontro e Convivência – Associação Jenipapense de Assistência à Infância – Jenipapo de Minas-MG /

Marconi Pereira Rocha

Projeto Ceará Espaço de Vida Arte e Educação – Associação dos Moradores do Bairro João XXIII – Fortaleza-CE / Carlos Gomes Feitosa

Projeto Canto das Letras – Instituto Pombas Urbanas – São Paulo-SP / Cristina Rufato

Projeto Encanto Brasileiro – Núcleo Coração Materno – São Paulo-SP / Aline Cortes

Projeto Arte: Lugar de Renovação e Conhecimento – Associação Pela Família – São Paulo-SP / Aline Cortes

Projeto Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano – Instituto Homem Pantaneiro – Corumbá-MS / Silvia L. M. Almeida

Pág. 37

Projeto Arte: Lugar de Renovação e Conhecimento – Associação Pela Família – São Paulo-SP / Aline Cortes

Pág. 40

Projeto Educar para a Vida – Obras Sociais do Centro Paroquial São Francisco – São Luis-MA / José Maria Meireles Jr.

Pág. 41

Projeto Anima Xokleng – Centro de Pesquisa e Produção de Teatro de Animação – Rio do Sul-SC / Flavio Manuel da Silva

Pág. 42

Projeto Oboré Arte e Educação – Instituto Oboré – Belo Horizonte-MG / Gualter Naves Correa

Pág. 43

Projeto Novo Espaço – Casa do Sol Padre Luís Lintner – Salvador-BA / Adenor Queiroz Gondim

Pág. 44

Projeto Aprender Brincando – Centro Social Sopro de Vida – Curvelo-MG / Gualter Naves Correa

Projeto Ceará Espaço de Vida Arte e Educação – Associação dos Moradores do Bairro João XXIII – Fortaleza-CE / Felipe Abud

Pág. 65

Projeto Educação e Arte – Conselho Comunitário dos Bairros SAIC e Jardim Itália – Chapecó-SC / Elenir Lúcia Cericato

Pág. 66

Projeto Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano – Instituto Homem Pantaneiro – Corumbá-MS / Silvia L. M. Almeida

Pág. 67

Projeto Juventudes Construindo Sonhos – Associação de Juventudes Construindo Sonhos – Natal-RN / Francisco Canindé Soares de Lima

Projeto Carpe Diem – Instituição de Incentivo à Criança e ao Adolescente de Mogi Mirim – Mogi Mirim-SP / Luis Renato Canto de Campos

Pág. 79

Premiação Nacional / César Viégas

Verso da 4a capa

Projeto Olho Vivo - Bem TV - Educação e Comunicação – Associação Experimental de Mídias Comunitárias – Niterói-RJ / Marcelo G. M. Valle

Projeto Anima Xokleng – Centro de Pesquisa e Produção de Teatro de Animação – Rio do Sul-SC / Flavio Manuel da Silva

Projeto Juventudes Construindo Sonhos – Associação de Juventudes Construindo Sonhos – Natal-RN / Francisco Canindé Soares de Lima

Projeto Aprender Brincando – Centro Social Sopro de Vida – Curvelo-MG / Gualter Naves Correa

Projeto Canto das Letras – Instituto Pombas Urbanas – São Paulo-SP / Cristina Rufato

Projeto Juventudes Construindo Sonhos – Associação de Juventudes Construindo Sonhos – Natal-RN / Francisco Canindé Soares de Lima

Projeto Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano – Instituto Homem Pantaneiro – Corumbá-MS / Silvia L. M. Almeida

Iniciativa

Fundação Itaú Social Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância

Vice-Presidente Representante no Brasil

Antonio Jacinto Matias Marie-Pierre Poirier

Superintendente Coordenador de Programas

Ana Beatriz Patrício Manuel Rojas Buvinich

Coordenadora do Projeto Coordenadora do Programa de Educação

Marcia da Silva Quintino Maria de Salete Silva

Realização

Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

Diretora-Presidente

Maria Alice Setubal

Coordenação Geral

Maria do Carmo Brant de Carvalho

Coordenação da Área Educação e Comunidade

Maria Júlia Azevedo Gouveia

Coordenação da publicação

Yara Brandão Boesel Lopes

Autoria

Maria do Carmo Brant de Carvalho

Co-autoria

Equipe Prêmio Itaú-Unicef

Colaboração

Célia Terumi Sanda

Cintia Regina Ribeiro

Fernanda Ságuas Presas (Fêfa)

Ivana Boal

Júlio Neres

Lígia Duque Platero

Maria Cristina Rocha

Maria Júlia Azevedo Gouveia

Nazira Arbache

Yara Brandão Boesel Lopes

Sistematização de dados

Daniel Carvalho

Edilene Rodrigues de Castro

Marcelo Bragato Pardini

Sofi a Ferreira Santos Farah

Vergílio Alfredo dos Santos

Leitura crítica

Antonio Carlos Gomes da Costa

Marcia da Silva Quintino

Marie-Pierre Poirier

Rosa Maria Fischer

Edição de Arte

AC&R Artes

Ilustrações

Luiz Maia

Revisão

Carlos Eduardo Silveira Matos

Cenpec - São Paulo, 2008

AVALIAÇÃO DE PERCURSO: FORTALECER ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E

INDUZIR POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

Este livro apresenta

uma análise do

percurso do Prêmio

Itaú-Unicef de 1995

a 2007, em seus

aspectos técnicos e

políticos, destacando

a importância

de espaços de

aprendizagem

que ofereçam

oportunidades de

desenvolvimento

integral à população

infanto-juvenil.

Nele encontramos

as propostas,

objetivos e metas dos

instituidores, mas

também a voz dos

educadores sociais,

seus sonhos e desafi os,

e, principalmente, a

realização de práticas

comunitárias que

produzem mudanças

signifi cativas na

vida de crianças e

adolescentes que

vivem em territórios

socialmente

vulneráveis.

ISBN 978-85-85786-77-9

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