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a vida e as histórias da artista baiana
ERONILDES DA SILVA BACELAR
9 788587 204974
ISBN 978-85-87204-97-4
A ideia de escrever este livro nasceu da necessidade que senti de registrar minha carreira, desde o inicio até o atual sucesso da minha arte. Os relatos que permeiam esta obra respondem a questionamentos, tais como: por que escolhi a arte? Como teve início? Por que a escolha do tema afro-brasileiro? A arte é sustentável?
ERONILDES DA SILVA BACELAR
a vida e as histó
rias da artista baiana
A vidA e As históriAs dA ArtistA bAiAnA
EronildEs da silva BacElar
Salvador hetera 2017
A vidA e As históriAs dA ArtistA bAiAnA
© 2017, Nide Bacelar.
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
projeto gráfico Amanda Lauton Carrilhoarte final Lúcia Valeska Sokolowiczimagem da capa Faceirice da mulata, 90x80 cm, 2003revisão e normalização Mariana Rios Amaral de Oliveira
Sandra Batistaeditoração eletrônica Hetera Editora
dados internacionais de catalogação-na-publicação (cip)elaboração Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513
Bacelar, Eronildes da Silva B116a AartedeNide:avidaeashistóriasdaartistabaiana/Eronildesda
SilvaBacelar,autoriaeilustração.–Salvador:Hétera,2017.182p.:il.;22x26cm.
ISBN978-85-87204-97-4
1.Pintura.2.Arte.3.Pintores-Bahia.4.Bacelar,EronildesdaSilva,1927-.I.Título.
Agradeçoimensamenteaosmeusoitofilhospeloapoioepeladedicação:Simônides da Silva Bacelar
Sigildes Bacelar FrancisconeJudicelio da Silva Bacelar
Sidinaldo da Silva BacelarEdinaia Bacelar Gramacho
Marildes Bacelar AlmeidaJonildo da Silva BacelarIonaia da Silva Bacelar
Agradeçotambém,peladedicaçãoeporseusvaliososserviços,a:Bruno Oliveira da Silva
Andressa Cunha Rosa
A arte é o que me impulsiona como ser humano. É a linguagem que utilizo para expressar o belo de meu interior.
nide 11uma breve biografia 11
Prefácio 13
as primeiras obras 15um Singelo começo 16
aS paiSagenS 16
aS marinaS 18
o romantiSmo 22
natureza-morta 23
aS floreS 26
o abStrato 32
oS páSSaroS 34
oS caSarioS 35
um novo estilo 39evocando eSpíritoS no terreiro 43
maculelê 43
dança na braSa 46
os tecidos como obra de Arte 47aS almofadaS 48
a goma 48
as variações 51como varie i ? 52
depoiS da lei áurea 55
os orixÁs 65divina Senhora iemanjá 67
SereiaS 70
orixáS do candomblé 72
iemanjá 76
caboclo 78
preto-velho 79
o iaô 80
pilão 83SeSSando o café 87
torrando o café 88
caldeando o café 89
o coador 89
hiStóriaS de minha avó 90
As Amas 91aS amaS de leite e amaS–SecaS 92
aS indumentáriaS 96
crenças populares 99o porquê da curva do cortejo 102
no topo da colina 104
oferenda àS águaS 107
as baianas 113expoSição Shopping barra, 1991 115
as beldades 127oS primeiroS torçoS bordadoS 128
faceirice 137
negra a toda prova 143
beldade negra 144
Sou bem braSileira 155
menina-moça 156
assim cheguei ao amadurecimento 167o dom exiSte? 169
a arte dá dinheiro? 169
o SuceSSo 170
panorama – galeria de arte 171
galeria theodoro braga 174
vida e expoSiçõeS 178
referências 180
s u m á r i o
11
Nide
Uma breve biografia
nasciemAiquara,interiordaBahia,em27dejunhode1927.Filhadeagricultores,crescicomointerioranaentremeusdezirmãos,numaépocaemqueaeducaçãoformalparaasmulheresficavarestritaaaprenderalereescrever.Casei-meaos20anoseacompanheimeumaridopordiversasmoradas,semprepelointeriordaBahiae,nesseperíodo,tiveoitofilhos.Pormorarsempredistante,visitavameuspaisperiodicamentenacidadedeJequié.Nessasidasevindas,deparei-mecomumaescolinhadepintura,próximaàcasademeuspais.Umdosmeusirmãosemeumaridotinhamgrandesbibliotecasemcasa.Limuitoslivroscomoautodidata,especialmentesobreculturabrasileira.
12 13a arte de nide Nide Bacelar
A ideia de escrever este livro nasceu da necessidade que senti de registrar minha carreira, desde o inicio até o atual sucesso da minha arte. Os relatos que permeiam esta obra respondem a questionamentos, tais como: por que escolhi a arte? Como teve início? Por que a escolha do tema afro-brasileiro? A arte é sustentável?
PrefácioA Arte de Nide: a vida e as histórias da artista baianaéumlivroqueimpressionapelabelezadeseuconteúdo.Aobradescreveatrajetóriadaautoraeaevoluçãodesuaartedesdeoiníciodesuacarreiraatéosdiasatuais,comobemditoporelaprópria:“A ideia de escrever este livro nasceu da necessidade que senti de registrar minha carreira desde o início até o atual sucesso da minha arte”.
Nide,artistaconsagrada,temumcurrículoadmirávelqueincluidiversosprêmiosconquistadosegrandenúmerodeexpo-siçõesrealizadas,nasquaistemasvariadosforamregistradosporsuaarte,tendocomodestaqueprincipalapinturaemtelasde“Baianas”esuasrendas,tãoconhecidaseapreciadasnomundointeiro.Talento,dedicação,criatividade,sensibilidade,perfeiçãoemuitotrabalhonãofaltamaautora.Construiuumacarreirasólidae,aos90anos,continuapintando,comomesmocarinhoeempenhodesempre,empolgadaeentusiasmadapelavidaepelaarte.
Suaobrademonstraaversatilidadedaautoradesdeo“Singelocomeço”,iniciandooaprendizadocomampliaçãodefiguras,manejodospincéisemisturadetintas,avançandosuatrajetóriaporváriostemas,taiscomo:paisagens,marinas,romantismos,naturezasmortas,pinturasemcerâmica,flores,adereçosdeCarmemMiranda,abstratos,pássaros,casarios,sereiaseorixás.
Merecedestaqueemsuaobraseutemamaismarcante,o“estiloartístico–oafro-brasileiro”,noqualaartistaregistratodasuamaturidade,mostrandoadiversidadeeabelezadaculturaafricanainseridanahistóriaenasociedadebrasileira,
14 a arte de nide
AS PRIMEIRAS OBRAS
Beijo Ingênuo, 1960, 55x35 cm
surgindo,assim,“Nidedasafrodescendentes”,comodescrevemaravilhosamenteaautora,aolongodesuanarrativa,quefoiaperfeiçoando,suaarte,baseando-senahistóriadosafrodes-cendentes,nassilhuetas,nasreligiõesdematrizesafricanasenofolcloredaBahia.
AevoluçãodassilhuetaseseuvestuáriocriadasporNide,resultouemtrabalhosprimorosos,retratandobelíssimas“Baianas”ecortejosda“LavagemdoBonfim”,destacandoabelezaindes-critíveldeseustorços,dasrendasedorichelieudasroupasdasafrodescendentes,commovimento,transparência,sensuali-dade,gestosdelicadosegraciosidadequesósevênastelasdeNide,dandoaoleitorumimensoprazeraoapreciarabelezadastelas,comodestacadopeloescritorJorgeAmado,enasnarra-tivasdaautora.
Os filhos de Nide
16 a arte de nide
Um singelo começocansadadeumavidatrivial,matriculei-meemumaescoladearte,emqueaprofessoraMariaElisaensinou-meapintarcópiasdeestampas.Escolhi,paraomeuprimeiroquadro,pintarafiguradeumcasaldecriançasque,emminhavisão,brincavamdebolaedespediam-secomumbeijoingênuo.Meuaprendi-zadocomeçoucomaampliaçãodafigura,omanejodospincéiseamisturadastintas.Concluíatelaemquatrotardes.
Desprovidadetempoparadarcontinuidadeaosensina-mentosdaprofessorae,assim,evoluiressaarte,volteiparaapequenacidadedeCastroAlves,ondemoravacomminhafamília.
As paisagensemcasaesozinha,copieiepinteiumapaisagem,eessafoiminhasegundatela.Continueicopiandopaisagens,massemprecomumtoquepessoal.Umaárvoreverdeeucoloriaefloria,transfor-mavavegetaçãorasteiraemlagosoupequenasestradas.Criavadetalhesqueeramsómeus.Começouassimadescobertademinhacriatividade.
Comonesseinícioapinturaeraapenasumaterapia,semnenhumaintençãodemetornarumaprofissionaldaarte,essastelasforamdoadascomopresentes,edelasnãotenhonenhumregistro.Porisso,nãoseideseusparadeiros.
O Lago Azul, 70x90 cm, 1963
Um Cantinho para Nós Dois, 70x90 cm, 1964
Flamboaiãs, 60x70 cm, 1964
Queda D’água, 80x90 cm, 1965
19Nide Bacelar
As marinassempremedeslumbreicomomar,suasmarés,seusmovi-mentoseosefeitosdosreflexosdosolsobreele.Achofasci-nantesasmudançasrepentinasdoscoloridos,distribuindoseusmatizessobreasondasmisteriosaeromanticamenteimpulsio-nadaspelovento.Casamentoperfeito.
Essasnãoforamasprimeirasmarinas.
Veleiro no Crepúsculo, 50x70 cm, 2012
Veleiro, 40x80 cm, 2006
Na Luz do Luar, 100x100 cm, 1981
Frota de Barcos ao Crepúsculo, 100x100 cm, 1981 Veleiro Baiano, 50x70 cm, 2012 Veleiro Crepuscular, 50x70 cm, 1970
Itaparica, 40x50 cm, 1968
21Nide Bacelar
Procuravaguardarnamemóriaomovimentoritmadodasondaseseuemaranhadocomaareiasobreaqualelassedes-mancham.Nãoháumaondaigualaoutra.Tenteitrazerparaastelastodasessasminhassensaçõeseimpressões.
Jaguaribe, 1980
Praia de Itapuã, 40x50 cm, 1963
Rio Vermelho, 50x60 cm, 1969
Ribeira, 50x60 cm, 1968
Mar Crepuscular, 50x70 cm, 2016
Praia Turista, 40x60 cm, 1969
22 23a arte de nide Nide Bacelar
O romantismoapassagemdocometaHalleyfoiumamarcaemminhavida.Registreiissopintandodoiscoraçõesqueseamam.Partemascorrentesecriamasas,ganhamoespaçoazuldocéu,embria-gam-senoperfumedasflores,aquecem-senocalordoAstro-Rei,banham-senoserenodoluaremarcamsuasliberdadesnanoitedapassagemdocometa.
Quemnãoapreciaoromantismotransmitidoatravésdasonoridadedeumpiano?
Antigamente,asmulheresnãotrabalhavamforadesuascasaselongedesuasfamílias.Suasatividades,alémdastarefasdomésticas,eramvoltadasparatrabalhosmanuaiseparaoestudodeuminstrumentomusical.Dentreosmaiscomuns,haviaaflauta,obandolim,oviolinoeopiano.
Natureza-mortanoiníciodaminhacarreira,frequenteioscursoslivres,durantetrêsmeses,daEscoladeBelasArtesdaUniversidadeFederaldaBahia(UFBA),situadanaRuadoTijolo,BaixadosSapateiros,Salvador,Bahia.
Temperos, 30x40 cm, 1963
Impressionante,não?Euvejovidaemminhastelas.Essetemafavoreceousodeumavariedadedecoreseobjetos,usodeumplanodefundoneutro,texturasesuperfíciesdiferentes,sejanasfrutas,sejanotecido.Inspirei-menoestilodosartistasholandesesdoséculoXVIIeseustemasdomésticos.
Um Cometa Inesquecível, 40x50 cm, 1965 A Pianista, 40x55 cm, 1978
24 25a arte de nide Nide Bacelar
Nosmeus17anos,aprendiabordarcrivo,richelieu,matizesebarafundasnamáquinadecostura.Transpusaartedebordarparaasminhastelas.
Emumadasminhasfases,enfeiteiváriascerâmicas,imiteieuseibordados.Desisti,porqueaspeçaserammuitofrágeiseprecisavamdemuitoespaçoparaarmazenamento.
Cortinas e Frutas 2, 40x60 cm, 1968
Moringas Rendadas
Cortinas e Frutas 1, 40x50 cm, 1968
26 a arte de nide
As floresbusqueiavidadasfloresepinteivariedades,inspiradaemsuascoreseformatos.Euasconsideroromânticas,festivaselenitivas.Adaptam-seatodososambientes.Nadúvidadeumpresente,esseestilodetelasubstituiumajoia,enriquecendomajestosa-mentequalquerespaço.
Arranjo derramado, 40x80 cm, 1970 Flores, 50x70 cm, 2015 Copo de Leite, 40x70 cm, 1969
Buquê, 50x50 cm, 1969 Buquê de Noiva, 40x60 cm, 1985
Arranjo floral, 45x50 cm, 1969 Jardim dos Girassóis, 40x50 cm, 1998
Certavez,duranteumaviagemaoRioGrandedoSul,depa-rei-mecomgrandesbuquêsdehortênsias.Apreciando-as,viquehaviaumamisturadecoresquevariavadebuquêparabuquê.Haviaverde,rosa,lilás,azul,roxoebranco.Transferiessaimagemparaumacortina,sobreaqualjogueiumramalhetedehortênsias,emaranheifolhasecaules,imagineiumaclaridadequeinvadiaorecinto,reluzindoanaturezaornamentada.
Os Girassóis, 80x70 cm, 1975
Grande Girassol, 80x70 cm, 2007
Girassol, 50x60 cm, 2004
Arranjo de Girassol, 50x70 cm, 1967
Os Ramos das Hortênsias 1, 70x50 cm, 1987
Luz nas Hortênsias, 70x90 cm, 1995
Os Ramos das Hortênsias 2, 70x50 cm, 1987
Hortênsias Caídas, 50x60 cm, 1991
30 31a arte de nide Nide Bacelar
Prosseguipintandováriostemas.Guardavaváriosdeles,massemcritérios.Fotografavaalgunsapenasporquemeimpressio-navam,aguçavamminhacriatividade.Mas,atéentão,vendertelaseraoquemaisimportava.Pintavatudooqueviaeoquenãoviatambém,buscandooquemaisimpulsionasseminhacriatividadeemetornasseumaartistamaiscompleta,oquemefizessesentir,emcadatelapintada,umfilhonascido.Apesardemuitoversátil,nãomeagradaotrivial;esteeupintavaapenasparasatisfazerodesejodosclientes.
Botões de Rosas, 40x70 cm, 1991 Arranjo de Rosas, 40x70 cm, 2010
Rosas Amarelas Desabrochadas, 50x70 cm, 1986
Rosal, 40x70 cm, 1981
Rosas Amarelas, 50x70 cm, 1985
Cestas de Rosas, 50x70 cm, 2005
3332 a arte de nide
OsadereçosdafamosaCarmemMiranda.Seustrajessofis-ticados,omovimentodesuasmãos,seusolhosexpressivoseobalançodeseusquadrisritmadospelosambafizeramaformadanotávelpequenaCarmem.Pinteiváriastelasnesseestilo,reu-nindoadereçoseobjetosquemarcaramosfamosos.
Carmem Miranda, 50x60 cm, 1970
Pétalas, 50x60 cm, 1983 Êxtase, 50x70 cm, 1985
O abstratopinteialgumastelasnesseestilo,queforambemapreciadaspelopúblico,maspintá-lasnãofoimuitoprazerosoparamim,quesemprepinteiformasbemdefinidasedetalhadas,ligadasaomundoreal.Nessasobras,eubuscosimplificarasformas,usarascoresdeformadiferente,semmeateraosjogosdeluz,desombraeàperspectiva.
3534 a arte de nide
Os pássarosospássaros.Ah,ospássaros!Tãoserenos,tãofrágeiseele-gantes.Outroobjetodeminhasincansáveisobservações.Percebiquesãoconduzidosporumlíderemsuasrevoadasembuscadoseuagasalhonoturno.NoteiesseritualemumentardecernacidadedeRibeirãoPreto,SãoPaulo.Elessurgiamdevárioslugaresdocéu,sempreconduzidosporumpássaroqueassumiaadianteira,guiando-osatéaescolhidapousada.
Os casariosOportaldeentradadoantigoMercadoModelodaCidadeBaixadeSalvador,Bahia,naPraçaViscondedeCairu,foiconsumidopelaschamasdeumincêndioacidental.Depoisderenovado,continuasendomuitovisitado,nãosomentepelosturistas,mastambémpelopovodacidadedeSalvador.
Pássaros em Busca de Agasalho Noturno, 50x60 cm, 2001
Mercado Modelo, 50x60 cm, 1971
36 a arte de nide
Oprazerdapinturamodificouminharotina.Comasparedesdaminhacasaenfeitadasporminhastelas,eracomumapareceralguémoferecendopropostadecompras.Resolvi,então,comer-cializá-las.Visiteiváriasgaleriasedistribuíporelasalgumasobras,convencidadequeminhaarteprecisavaserdestacada.Empolguei-mequandovimeusquadrossendovendidosatémesmoparaoexterior.
Entusiasmadacomosucesso,busqueidesenvolveraindamaismeuladoartístico.AriquezadahistóriadoBrasiltraria-me,comcerteza,muitostemasinteressantes,edescobrinelesumacriatividadeinfinitaeincansável.Comeceipintandocasarios,MercadoModelo,ElevadorLacerda,fortes,Pelourinho,igrejas,orixásetc.Paraessestemas,eunãodavacontadaprocura.
ExperimenteipintaraovivooscasariosdoPelourinhoquandoestefoirenovado,posicionando-meemumsobradoàsuafrente.
Rua do Pelourinho, 50x60 cm, 1995
Pelourinho, 60x70 cm, 2001
Como alguns artistas consagrados me aconselharam a criar um estilo próprio, já que eu dominava tão
bem os pincéis, a aplicação das cores, o uso da perspectiva, dos sombreados e da luminosidade, resolvi aceitar o desafio e partir em busca desse
objetivo.Enchi minhas mãos e a mente de livros, visitei galerias, museus, além de fazer curso livre na
Faculdade de Belas Artes da UFBA. Conclui que quase tudo já havia sido explorado
em torno da pintura. Essa constatação deixou-me reflexiva e pessimista por algum tempo.
UM NOVO ESTILOUma Silhueta Dançando, 40x50 cm, 1969
41
Achei!!!Veio-meogrito:
–Acheimeuestiloartístico.Oafro-brasileiro.Aperfeiçoeiodesenho,passandoparaumformatoque
caracterizavaumanegra.Acrediteiterencontradoummotivoparamostraradiversidadeeabelezadaculturaafricanainse-ridanahistóriaesociedadebrasileiras.Assim,surgiuaNidedasafrodescendentes.
Comoafro-brasileiro,alcanceimeugrandeobjetivo.Ofimdeumabuscaobstinada,evidenciadanascaracterísticasdaquelasilhueta.
Essasforamminhasprimeirastelaspintadas,seguindootematãoprocurado.
Sambistas, 60x50 cm, 1971Arroz-Doce, 50x60 cm, 1970 O Panderista, 55x45 cm, 1971 Pescados, 40x50 cm, 1970
Elástico, 50x60 cm, 1971 A Corrida da Gazela Negra, 40x50 cm, 1970
42 43a arte de nide Nide Bacelar
Evocando espíritos no terreiroinspiradanahistóriadosafrodescentesnoBrasil,resolviestudarumpoucoasreligiõesdematrizesafricanasebuscaralgumasinformaçõesquemeassegurassemdequeeuestarialidandocomotemadeformarespeitosa.Seguradomeuintento,crieiumcompanheiroparaasuntuosa,seguindoomesmoestilo.
Apegadaaindaaogêneroromântico,frutodasminhasemo-ções,crieiestecasalnumapaisagemcrepuscular,evocandoespí-ritosnoterreiro,aosomdostambores,preparandooambienteparaumacerimônianupcial.
Maculelê
BailadoguerreiroqueseexigenafestadeN.ªS.ªdaConceiçãonaPraçadaPurificação,nacidadedeSalvadorenoutrospontosdaBahia,comoemSantoAmaro.Dezouvintenegros,decamisasbrancasdealgodão,beiçosampliadosavermelho,comasesgrimas,grimas,bastõesdemadeiraemcadamão,cantamebailamentrechocandoasarmas.1
Ojogoinicia-secomatoadaDeus vos salve, Casa Santa,Onde Deus fez a morada...
Quefazpartedohináriocatólico,mastambéminicia,obrigato-riamente,ascerimôniaspúblicasdessescandomblés.2
1 CASCUDO,1984.
2 CARNEIRO,1982.
Evocando Espíritos no Terreiro, 90x70 cm, 1971
Retrateiessehábito,levandoasilhuetaparaasruasdoPelourinho,nacidadedeSalvador,Bahia,carregandonacabeçaoseutabuleiro.Mercandoseusprodutosedeixandoàvistaseusatributos,natentativadechamaraindamaisaatençãodosfre-guesesou,quemsabe,deumadmirador.
Vozdosvendedores.
Ba... a... a...nana madura.Ra... a... a...padura.Já... a... a... ca mole.La... a... a...ranja.
Tranca-Rua, 80x50 cm, 1972
Nessatela,osfacõesforamincluídosparaenriquecerogin-gadodoslutadoreseocruzamentodessasarmas,provocandocentelhasetornandoalutamaisadmirável.Éumadançarit-madaaosomdetambores.
Osescravosvestiam-secomtecidosmuitobaratos,comomorim,algodãozinhooumadrastos.Essestecidos,quandolavados,encolhiamapontodedeixaremasbarrigasàmostraeascalçasnomeiodaspernas.
Maculelê, 55x80 cm, 1971
46 a arte de nide
Dança na brasaNodecorrerdodesenvolvimentodomeutema,acheiquejáeratempodasilhuetasimbolizarmaisumacaracterísticaanimadaeprovocante,gesticulandoumadançaquefaziapartedeseumundo,nabuscadealgumaalegriaedeforça,vê?Elapisanasbrasasdevivaincandescência,sorrindo.
Aindanessetema,crieiparaasilhuetaváriasposiçõesemambientesdiversos.Assim,pinteimuitastelas,fizmuitasexposi-çõesevendinumerosostrabalhosmeus.Comoumafonteperenedearte,eunãoconseguiasuprirasdemandas.Nesseturbilhãoinesgotáveldecriatividade,oamadurecimentomefezbuscaroaperfeiçoamentodatécnicacadavezmais.
Dança Africana, 60x80 cm, 1971 Dança do Fogo, 65x45 cm, 1970
OS TECIDOS COMO OBRA DE ARTE
48 49a arte de nide Nide Bacelar
antesdasintetizaçãodoscorantesedocrescimentodaindus-trializaçãotêxtil,otingimentodostecidoserafeitocomcorantesnaturaisextraídosdeplantas,cujosprocessosdecultivoeextraçãoerammuitocaros.Porisso,ostecidoscoloridoseramusadospreferencialmenteparaovestuário.Asroupasdecamaemesaeramconfeccionadasprincipalmenteemtecidosbrancosbor-dadosartesanalmentecomlinhabrancaemcrivos,bainhasabertas,richelieuseoutros,dando-lhesumtoquededelica-dezaepoesia.Bicoserendastrançadosporartesãosfaziamoacabamentofinaldaconfecção,transformando-asemverda-deirasobrasdearte.
As almofadasAsrendaseosbicoseramtecidosconfeccionadoscommuitades-trezaecriatividade,comoauxiliodebilrosesobreumaalmo-fadaredondacomenchimentodefolhassecas.Esseacolchoadomantinhaosmoldespresosporalfinetesespetados,facilitandootrabalhodasrendeiras,queé,aindahoje,coroadocomoumadasmaisbelasericasmanifestaçõesdaartedopovobrasileiro.
A gomaNostemposdassinhás,eracomumcomeçaroenxovalnaadoles-cênciadasmoças.Esteeraricaeartesanalmentebordadopelasmulheresdafamília.Aconfecçãodoenxovaleraumaherançapassadademãeparafilhas.Essetrabalhodelicadoeexclusivo
ganhavaumdestaqueaindamaiorquandoengomado.Ousodagomatransmitiaacadapeçaumcaimentoimpecáveleumaspectodecuidadoqueeraorgulhosamenteexibidoemjantareseeventosdeindumentárias.Nasminhasentrevistas,feitasporestudanteserepórteres,quandomencionavaasroupasengomadas,sempreoscuriososmeperguntavamcomosãofeitasasgomas.
A goma como é feita
Éextraídadamandiocaraladaimersaemáguaemumcocho.Apósumtempodedescanso,agomaacomoda-senofundoeobagaçoflutua.Separa-seobagaçodagoma‒ouochamadopolvilho‒,que,depoisdepeneirada,ésecaaosol.
Como engomar
Prepara-seumavasilhacomáguaferventeeadiciona-se,aospoucos,agoma,jádiluídacomáguafria,mexendo-acomumacolherdepausemparar,afimdenãoembolar,atéagomaficartransparente.Retira-seavasilhadofogo,deixa-seesfriare,emseguida,mergulha-sealiaroupaquaseseca.Daí,põe-searoupanovaralparasecar.Passa-secomoferrodeengomarquentecomoauxiliodeumguardanapoúmidoparafacilitarodeslizamentodoferrosobrearoupa.
50 a arte de nide
AS VARIAÇÕES
Dança para Você, 50x60 cm, 1985
Oxum, 60x50 cm, 1979 Dança para Você, 50x60 cm, 1985
A Lírica Axambó Rumba, 40x50 cm, 1987Olha o Acarajé, 30x38 cm, 1976 Dançarina, 60x80 cm, 1978 Pipoca para Orixás, 50x40 cm, 1979
Como variei?Compinceladas,imiteirendas.Comeceiporvestiraspersonagens.Assilhuetasficarammaisenriquecidas.Acriatividadeborbulhavaemminhamente,transbordavaemnovidadesdentrodesseestilo.
Useiminhasprendasdebordadeiranasindumentárias.Então,percebiqueessesbordadostãodelicadosnãocombi-navamcomodesenhogrotescodassilhuetas.Aperfeiçoeiasformasaousarmatizesdoclaro-escuronassilhuetas,objeti-vandoumaaparênciadelicada.Masesseaperfeiçoamentonãopodiaficarrestritoàsformas,tinhaqueincluiroestilo.PasseiaestudareobservaraparticipaçãodosnegrosnofolcloredaBahia.Essasmudançasforamaprovadascommuitosucesso.
Frutas da venda, 70x60 cm, 1975
Banca de Frutas, 50x60 cm, 1975
Frutas e Verduras, 50x60 cm, 1975
Depois da Lei ÁureaHouveumtempoemqueeracomumosnegrossaírempelasruasdascidadesparavenderfrutas,verduraseoutrospro-dutosarrumadosemtabuleiros.Mercavamemvozaltaepro-nunciavamdeformacantanteoquevendiam.
Minha Dança, 70x80 cm, 1987 Meus Movimentos, 50x60 cm, 1984
Meus Requebrados, 50x60 cm, 1986 Flores para Águas, 50x70 cm, 1984
56 a arte de nide
Otimistacomosoueconvictadequeoladobonitodavidaéparasermostrado,apresento,nestamostra,otemaemquepudedesenvolverumvastomovimentodasafrodescendentes,desta-candoabelezadostorçosouturbantes,dasrendasedo riche-lieudasbaianasedosorixás,delongaserasatéaatualidade.
Baiana nº 2, 70x90 cm, 1991
Asduasprimeirasbaianas,comroupasbordadas.
Baiana Bordada nº 1, 70x90 cm, 1979
Baiana Bordada nº 2, 70x90 cm, 1980
58 59a arte de nide Nide Bacelar
sociais,compondoestéticasquedizemdascondiçõeseconô-micasedasintençõesdeuso,exibindomuitasvezesdetalhes,sutilezasdespercebidaspelamaioria.Hátorçoscom‘orelha’,‘orelhinha’,‘semorelha’,-incluindodeterminadasfolhas-,companobranco,engomado,deta-lhadocomrichelieunaspontas,totalmentelisoediscreto,ouempanoslistrados,dediferentescores,embrocado,emseda,emlamê,entretantos.‘Amaneiradeutilizá-loétotalmentepeculiar,otorçoépresoàcabeçasendoarrematadoemformadebolananuca,osignifi-cadoéúnico,lembramaisumpenteadodoqueumtorçopro-priamentedito’.6
Osturbantespossuemimportantesignificaçãoparaidentificarapessoaqueoporta,mostrandoapresençadosorixás.Assim,seapessoaédedicadaàsiabás(divindadesfemininas),osturbantespossuemaspontasàmostra,sendomaisfartaaquantidadedetecido.Sendoapessoadedicadaaosaborós(divindadesmascu-linas),sãomaisenroladosnacabeça,nãoaparecendoaspontasouentãoumaúnicaponta,tambémconhecidacomoorelhinha.Apesardetodosossimbolismosencontradosnosturbantes,épormeiodopano-da-costalistrado,liso,estampadooubor-dadoemrichelieuourendaqueamulherpodedemonstrarsuaposiçãohierárquicae,assim,marcarsuapresençapelosforteselosquedeterminamidentidadesepapéissociais.
Asnegras,personalizadasemminhastelas,tambémeramdotadasdehabilidadesparaoartesanato.Fabricavampotes,jarras,panelas,moringasdebarroquevendiamnasfeirasambulantesdascidades.Aindaexiste,nacidadedeNazarédasFarinhas,noestadodaBahia,afamosafeiradoCaxixi.
Seuvestidodechitaesuablusademorimfazempartedovestuáriodospersonagenspormimretratados.
6 Ibid.Antesdoaparecimentodarenda,porvoltadoséculo15,naEuropa,ocorreumaetapaintermediáriacomobordado.Essemomentotrazasherançasdascruzadas,quandoseimportoudoOrienteoluxodericostecidosqueinfluíramsobreroupasbrancasusuaisentreanobrezaeoclero.Nosterreirosdecandomblé,orichelieuémarcadededicação,deorgulhoaoseuostentaremroupas,oumesmonossantuários,nospanosquemontamosassentamentos.Nomundodoaxé,nomundodosanto,agradar,fazeromáximoparaseuorixá,seuvodum,seuinquiceécomportamentoéticocomumaosdife-rentesmodelosétnicos-culturais,nações,oumesmoparaosestilospersonalizadosdepaisemães-de-santo,confirmandoamáxima‘oquehádemelhoreudouparaomeusanto’.Nesseconceitode‘melhor’,orichelieuéumdosmaisclarosexem-plosdedevotamentoreligioso,destacando-seasroupasfemi-ninas,inteiramentetratadascomessatécnica,desdeoojádecabeçaatéabarradocalçulão.3
Ousodorichelieudefinefesta,ritualespecial,édistintivodecerimônia.Oscamizusoucamisasdecrioula,usadossobasbatas,geralmentedetecidosmaisfinosempeçaslargasàmul-çumana,sãofeitoscomrichelieubemaberto.Alémderefrescar,dãoaocorpomaiorliberdadedemovimentos.Àsvezesrecebemadornoapenasnodecote,comosbordadossalientes,pontia-gudos,bemengomados,lembrandomesmoassuntuosasgolaselizabetanas.4
Otorçoprotegeoori(cabeça);paraasmulheresiniciadasnocandomblé,oestardetorçotemsignificadospróprios,comotambémoestarsemtorço,emmomentosreligiososespeciais,emqueseestabelecemcontatosmaisdiretoscomosagrado.5
Nossoturbanteafro-brasileiroé,semdúvida,afro-islâmico-maneiradeprotegeracabeçadosoldosdesertosoudeoutrasáreastórridasdoprópriocontinenteafricano.Comseuusoefunçãoampliados,distingueamulheremdiferentespapéis
3 LODY,2003.
4 Ibid.
5 Ibid.
Nazaré, 50x70 cm, 1990
Feira do Caxixi nº 3, 50x70 cm, 1991
Feira do Caxixi nº 1, 60x80 cm, 1990 Vendo Vasos de Caxixi, 50x70 cm, 1991
Feira do Caxixi nº 2, 50x70 cm, 1990
63Nide Bacelar
Baiana, 50x60 cm, 2005
Pipocas para os Orixás, 40x50 cm, 2005
Flores para Iansã, 30x40 cm, 2006
Flores para as Águas da Lagoa do Abaeté, 50x60 cm, 2005
Flores para Santos, 40x50 cm, 2005
Minhaartenãopoderiadeixarderegistrarasbaianasven-dedorasdeacarajéeseusderivados,assimcomoasbaianasquelevamfloreseáguadecheirocomooferendasparaseusorixás.Nessesrituais,suasindumentáriastêmcoresvariadasadependerdoorixáescolhidoparasuashomenagens.Essaspersonagenssãomarcantesnofolclorebaiano.
• Blusademorim,saiadechita,babadoscomoacabamentodasanáguas.
Orixá Oxóssi, 70x60 cm, 1982 Levando Flores, 40x60 cm, 2001
OS ORIXÁS
Iemanjá - Mãe das Águas (recebam as pérolas em troca das flores), 70x50 cm, 2005
66 67a arte de nide Nide Bacelar
Divina Senhora IemanjáConformeascrençasdospescadores,hámaismistériosnaságuasdosriosedosmaresdoqueosestudiosospodemimaginar.
Ospescadoresacreditamqueaságuastêmmãospoderosas,sábiaseespirituosas.Acreditamqueadivinamãedaságuassemisturacomosmurmúriosdasondasdomarecomoacalantodobalançodaságuas.Elesacreditamque,aojogarsuasredesdepescapelomarafora,asnereidastangemospeixesparasuasarmadilhasadependerdasoferendaslançadaspelospescadores.MuitosveemaimagemdamajestosaIemanjánasuperfíciedaságuas,comsuasvestesbrancaseleves,cabeloslongosesedosos,aexibirumdocesorrisoeumavozsuaveemelodiosa.
Contaalendaqueospescadores,diantedavisãodeIemanjá,nãoresistiamesejogavamaomarparaseencontraremcomsuarainhanasprofundezasdaságuas.Osencantos,aforça,abelezaeamajestadedeIemanjásãofestejadostododia2defevereiro.Nessedia,seusseguidoresreúnem-senapraiadoRioVermelhoparahomenagearesseorixáelançarnaságuassuasoferendas.Comoagradecimento,presenteiamsuadivacomflores,colares,perfumeseoutrosobjetosparaenfeitareperfumaraDeusadasÁguas,aSenhoraIemanjá.
NoBrasil,Iemanjátransformou-sena‘senhoradosmares’,talvezdevidoagrandezaoceânicadenossopaís,masétambémarainhadoslagos,daslagoasedajunçãodoriocomomar-daíoserchamadadeodô-iyá(odòìyá),‘amãedosrios’.Pode-sedizerqueondeexistirágua,Iemanjáreinará!Porestaremquasetodasaságuas,elaacolheeprotegetambémosseushabitantes,advindodaíoseunomeYeyêomóejá(Yèyèómóejá),‘mãedosfilhospeixes’[...].
Ospescadores,puxandoaredejácomocardumeprome-tidoporIemanjá,tambémsãopartedofolclorebaiano.
Rede ao Mar, 60x100 cm, 2000
68 69a arte de nide Nide Bacelar
Ondas de Flores nas Águas nº 1, 70x100 cm, 2000
Iemanjá Recebendo Arranjo de Flores, 70x80 cm, 1995
Iemanjárepresentaaáguaquerefrescaedávidaàterra,queajudanaprocriaçãoenageraçãodenovosseres[...].Comorepresentaçãofeminina,éprimeiramenteamulherbonita,mastambéméfilha,mãeeesposa,símbolomíticodopapelinerenteatodasasmulheres.Emumaoutrafase,éguerreira,batalha-dora,conquistadoraesetransforma,quandonecessário,emamanteardorosa,meigaesensual.[...]Nooceano,IemanjácontrolaasmarésatravésdasfasesdaLuaecomaforçadovento,queagitasuaságuasefazcomqueelassemostremoracalmas,oratenebrosasetemerárias.Emalgunsmomentos,tornam-sedestrutivas,masIemanjáprocuraabran-dá-las,propiciandoaospescadoresabundânciaevariedadedealimentosparasuasobrevivênciaeseucusteio.7
7 MAURÍCIO,2014.
Ondas de Flores, 70x100 cm, 2004
70 a arte de nideSereia da Praia de Jaguaribe, 50x80 cm, 2005
Sereia Negra das Águas Baianas, 50x70 cm, 2005
Sereias
O Encanto da Sereia, 60x80 cm, 2002
73Nide Bacelar
Osorixássãoentidadesdivinasqueacompanhamofolcloreafro-brasileirodesderecuadostemposatéapresentedata.
Paraopovoioruba,oorixá(òrìsà)é‘osenhordanossacabeça’,forçapoderosadanaturezaquenosdásuportefísicoeespiri-tual.Nanaçãofonasdivindadeschamam-sevodunse,nanaçãobantu,recebemonomedeinquices.Éatravésdessasdivindadesqueomundoserevitalizaeregeneraoseuequilíbrioeasuaharmonia.CriaçãodivinadeOlorum,nossodeussupremo,osorixássãoosintermediáriosentreesseserdivinoeonipotenteeoshomens.Oorixátambémpodeserdenominadodeoluware (senhordomundo),porqueeleéjustamenteissoparaaquelequeopossui-o‘senhordoseumundo,dasuavida’.Dizemositãsque,apósOduduacriaraterra,chamadade‘oberçodomundo’,osorixásforamosseusprimeiroshabitantes.Istonostorna,então,seusdescendentes!Olorum,‘senhorsupremoecriador’,designou,então,acadadivindadeumcompartimentodomundoparaqueestacuidassedeleequetambémporeleseresponsabilizasse.Emresumopequeno,podemosdizerqueOlorumdistribuiuosquatroelementosdanaturezadaseguinteforma:Obatalárepresentaoar;Odudua,aterra;Aganjusim-bolizaofogoquesaidoventredaterra;Iemanjá,aságuas;eOrungã,oaratmosférico,oarquerespiramos.Dentrodestesvariadoscompartimentos,outrasdivindadestambémregemereinam,emumconjuntoharmoniosoeperfeito!8
Dominandoosventos,transforma-osemtempestades,tufões,furacõeseciclones,mastambémpossibilitaqueoarquerespi-ramostorne-sepuroelimpo,equilibradonaquantidadeexatadeoxigênionecessáriaàvidanaterraenaságuas.
8 MAURÍCIO,2014.
Iansã ou Oyá – A Deusa dos Raios e Trovões, 50x60 cm, 1978 Iansã – Deusa do Trovão e do Raio, 70x90 cm, 2012
Orixás do Candombléocandomblénãoeraadmitidopelareligiãocatólica.Porisso,ospadresnãopermitiamaentradadosnegrosescravosnasigrejas.Osescravosadeptosdocandomblé,insatisfeitospornãoparti-ciparemdessacomunidade,fizeramassociaçõesdeseusorixás,cujosnomestinhamorigememsuaslínguas-mãe,comassanti-dadescatólicas.Assim,IemanjáéNossaSenhora,OxaláéSenhordoBonfim,OxóssiéSantoAntônio,IansãéSantaBárbaraetc.Comisso,conseguiramdospadresapenasapermissãoparalavarasescadariasefestejarseusorixásdoladodeforadasigrejas.
74 75a arte de nide Nide Bacelar
A Esgrimista Iansã, 50x60 cm, 1978 Caçadora, 30x40 cm, 2005Oyá,orixáfeminino,divindadeafricanadorioNíger,umadasesposasdeXangô,rainhaguerreira,donadosventos,raiosetempestades.Temperamentodominadoreapaixonado.Éoúnicoorixáquenãotemeoseguns,dominando-oscomoseuiruexim.ÉsincretizadacomSantaBárbaraemtodooBrasil,ondeparecequeganhouonomedeIansã,emboraodeOyásejaconservadonoscandomblésnagô.Símbolos:espadaoualfanjedecobreeirueximcomcabodecobre.9
Dentreseustítulos,podemoscitar‘senhoradoscorais’,‘senhoradosventos’,‘senhoradosnovemundos’,‘senhoradastardescor-de-rosa’,‘senhoradosraios’,‘mãedosEguns’,‘mãedosIbejis’,‘mulher-búfalo’,‘rainhadosEguns’eoutros.[...]representantedoamorardenteeimpetuoso,dapaixãocarnal,sendoassimreconhecidacomoamaisvoluptuosaesensualdentrodopanteãofemininoioruba.Eladesconheceoamordirecionadosomenteàprocriação.Seutemperamentoinquietoeextrovertidoproduzaimagemdeumamulherdes-temidaeguerreira,companheiradeváriosorixás.Ofogoétambémumdeseussímbolosmaismarcantes[...].Ogum[...]ensinou-lheaindaaartedelutarenãodeixar-seabaterouserderrotadanasdisputas.Oxóssi,seucompanheirodasmatas,lheensinouossegredosdafloresta,aartedacaçaetambémconhecimentossobreasplantaseaservas.10
9 CACCIATORE,1977.
10 MAURÍCIO,2014.
Oxum, a orixá vaidosa
OXUM–Orixáiorubanodaságuasdoces,dariqueza,dabelezaedoamor.[...]ÉaVênusdosIorubás,famosaporsuabelezaeporseugrandecuidadocomaaparência.Alta,deseiosbelíssimos,édescritacomodivindadequegostamuitodesebanhar,queestásempresemirandonumespelhoequeusabraceletesdelatão,dopulsoatéocotovelo.11
11 LOPES,2004.
A Deusa Vaidosa Oxum, 50x60 cm, 1981
Oxum – Deusa das Cachoeiras, 90x95 cm, 2012 Oxum, 40x70 cm, 1981
Iemanjá
Iemanjá – Deusa da Água, 40x50 cm, 1978
Iemanjá, 62x90 cm, 1979
79Nide Bacelar
Preto-velho
Pretos-velhos:EntidadesdaUmbanda,tidoscomoespíritospurificadosdeantigosescravos.Sãosempreexemplosdebon-dade,carinhoesabedoria,agindocomoancestraisprotetores,aconselhandoeadmoestando,quandonecessário.Fumamcachimbo,vestemroupassimples,apresentam-sedescalçosesãochamadosde‘pai’,‘vovô’,‘tio’etc.14
14 LOPES,2004.
Preto-Velho, 40x50 cm, 1976 Preto-Velho, 50x60 cm, 1977
Caboclo
Oorixádonoeprotetordasflorestas.
Nomegenéricoparaespíritoaperfeiçoadodeancestralindígenabrasileiro,representandoumorixáouasipróprio,oqual‘baixa’noscandomblésdecaboclo,macumbas,catimbós,terreirosdeUmbandaeoutroscominfluênciaameríndia.12
NaUmbanda,designaçãodecadaumadasentidadesamerín-diasdalinhadeOxóssi.Nocandomblédecaboclo,cadaumadasentidadesprincipais,reverenciadascomoancestraisdosprimeiroshabitantesdaterrabrasileira.13
12 CACCIATORE,1977.
13 LOPES,2004.
Caboclo, 50x70 cm, 1984
80 81a arte de nide Nide Bacelar
Qualéonomedoritualemqueoabiãsetransformaemiaô?Oritualemqueoabiãsetornaiaôdenomina-seiberêeéumapartelitúrgicamuitobonita.ConstaprimeiramentedoBori, seguidadebanhos,ebós,matanças,pinturas, raspagemetc.,eculminandonafeitura,asuaentradapermanentena‘famíliacandomblecista’.15
Operíododerecolhimentonaépocadainiciação
Éumperíodoemqueapessoaficaacomodadaemumquarto,chamadoderondêmi ou roncó. Localrestrito,afastadodomovi-mentopúblico,completamentelimpo,ondereinamapazeosilêncio.[...]otemponecessárioparaorecolhimentoédeterminadodeacordocomoorixáecomcadacasadecandomblé.Asincisõessãocortesminúsculosesuperficiais,[...]emváriaspartesdocorpoequeservemcomocanaiscondutoresporondeoaxédoorixápenetraránocopodoiniciado[...].Apósasinci-sões,écostumepassarporcimadestasoatim, um pó sagrado, queajudanofechamentodocorpodoiaô,proporcionando-lhemaiordefesacontraasmaldadeseosfeitiços.16
Seuscabelossãoraspados,recolhidoseembrulhadosemumpanobranco,comodeumbebê;onoviçoentraentãoemumestadodepossessão.Sãofeitasincisõesnoaltodacabeça(irê);animaissãosacrificados,eseusangueéderramadosobreacabeçaeocorpodenoviço.17
Aspenasbrancasemcimadaincisãonacabeçadoiaôsãoparafacilitaracura,porseremdeumaavesímbolodapaz:opombo.
15 MAURÍCIO,2014.
16 Ibid.
17 BUONFIGLIO,2004.p.32.
O iaô
Paraserumiaô,éprecisopassarumperíododetemponoroncó,nomedadoaumquartoondesãofeitasasiniciaçõeseobriga-ções.Opré-iniciadorecebeonomedeabiã.
Quemsãoosabiãs?[...]Oabiãtrazaideiadeinício,denascimento,eelerepre-sentarealmenteocomeço,poiséumpré-iniciado,oprimeiromomentodofuturoiaô.
Iaô nº 2, 40x60 cm, 1975Iaô nº 1, 50x60 cm, 1975
82 a arte de nide
PILÃO
Pilão de uma Boca, 50x60 cm, 1980
84 85a arte de nide Nide Bacelar
boca.Ospilõesmaiores,comatéseisbocas,eramsustentadosporforquilhasatéalcançaremaalturadeummetro,paramelhorconfortodostrabalhadores,ecomportavamaté14pessoas.
Vestiassilhuetascomonaépocadosmeuspais.Suasroupaseramdechitaestampada,torços,laços,anáguaseblusasdemorim.Quandotodossereuniam,cadaqualcomsuamãodepilão,eracomumumacantoriapareadacomasbatidas.Auxiliadaspeloritmo,asbatidastinhamsincroniaperfeita,easonoridadedes-contraíaoambiente.Osgrãoserampiladosdepoisdesecoseensacadosapósseremsessados.Opilãoeapilaçãotambémsãopartesdonossofolclore.
Pilão, 50x60 cm, 1981
Pilando e Cantando, 70x90 cm, 1981
Porintermédiodassilhuetasvestidas,resgateideminhasmemóriasaslembrançasdotrabalhonopilão,queeuobser-vavaquandocriança,quandopasseavanafazendademeuspais.Desdeaquelestempos,jáapreciavamovimentosquemepare-ciamdiferentes.
Apilaçãodocaféeraumtrabalhorealizadoemumreci-pientedemadeirachamadopilão.Essesutensílioseramcon-feccionadoscomuma,duasoumaisaberturasoubocas,comcercadeummetrodealturaeummetrodeespessurae,ainda,umsoqueteoumãodepilãoparasocarosgrãos.Nessetipodepilão,trabalhavamsimultaneamenteatétrêspessoasemcada
Pilão, 70x80 cm, 1972
Estou Pilando, 50x60 cm, 1980
87Nide Bacelar
Sessando o cafécomumapeneiradetaquarafeitadataliscadatabocaoudobambu,comoauxíliodeoutrapessoa,osgrãosdocaféeramsessadoseaçoitadosparacima.Apeneira,deformaritmada,eraafastadaparaumlado.Apalha,porsermaisleve,voavaecaíanochãoenquantoosgrãos,livresdascascasoudaspalhas,eramacolhidosnoretornodapeneira.
Opilãoeraconstituídodeumtocodemadeiragrosso,colo-cadoverticalmente,noqualdecimaparabaixoseabriaumaescavaçãodesecçãocircularcomumaprofundidadede60a80centímetros,ofundoaconcavado,eumdiâmetrode40ou50centímetros,peçaquesecompletavacomumaoutra—amãodopilão—pedaçodemadeiraroliça,com10a12centímetrosdediâmetronasextremidadesealgomaisfinaemsuapartemédia.Preparadoeassentadootocodepau,introduzia-seemsuaescavaçãoumacertaporçãodecaféseco(emcoco)elevan-tando-seebaixando-seamãodopilão,socava-seocaféatéqueeleficassequasetododescascado.Interrompia-seentãoaope-ração,esvaziava-seobojodopilãoeemumapeneiradetaquarapassava-setodoocafé,demodoqueeleficasseexpurgadodacascafragmentadaeseparadososgrãoscompletamentedes-cascadosdosquehaviamescapadoàaçãodosoquete.Osgrãosaindainteirosvoltavamparaopilãonaoperaçãoseguinte.Eraumtrabalho,portantotodofeitoamãoeacargodosescravosnegros.Esseserviçocomeçavanasfazendasàsquatrohorasdamanhãeseprolongavaatéàsnovedanoite.‘Muitoantesdoclareardodiajásefaziaouviroruídocaracterísticodaquelasrústicasinstalações’.Eraumprocessopenosoedemorado[...].Consumiapessoalnumerosodetrabalhoerendiapouco,nãodandovazãoàscolheitasdasfazendasdeproduçãodesenvolvida.19
19 BRUNO,2005.Aindamelembrodealgumastoadascantadaspelosempre-gadosdafazenda.
O pé da amora18
OitiraoitiraOitiraopédaamoraOitiraoitiraAmanhãeuvouembora
Quando eu era pinto novoQuandoeuerapintonovoComiamilhonamãoAgorasougalovelhoBatoobicopelochão
18 Ascanções“Opédaamora”e“Quandoeuerapintonovo”sãodeautoriadesconhecida.
Pilão de Três Bocas, 60x80 cm, 1978 Pilão de Três Pessoas, 60x80 cm, 1978
88 89a arte de nide Nide Bacelar
Caldeando o caféComosgrãosaindaquentesnatorradeiraenofogo,jogava-seoaçúcar,mexendosempararatéderretê-lotodo.Daí,amisturaeraretiradadofogo,deixando-seesfriar,aindamexendo-separanãoembolar.Esseprocessoantecediaapilação.Esseera,paramim,omelhorcafédomundo.
O coadorParaprepararabebidadecafé,ainfusãodopóprecisasercoada.Issoerafeitopormeiodeumutensíliochamadocoador,con-feccionadoempanoepresoaumarodemetalcomcabodeferro.Ocaféeracolocadonesseutensílio,sobreoqualsejogavaáguafervente.Osaborforteoufracodependiadaquantidadedeáguautilizada.
Torrando o caféDepoisdedespolpado,ogrãodocaféeralevadoaumatorra-deiradeflandresouaumafrigideiradebarro.Mexendo-secomumaespátulademadeira,osgrãoseramtorradosatéficaremhomogêneos.Adependerdogostodaspessoas,ocaféeracal-deado,usando-se,paraisso,oaçúcarmascavoouarapadura.Ocaféassimtratadoficavamaistintoemenosamargo.
Sessando o Café, 50x60 cm, 1972
90 a arte de nide
AS AMAS
Ama de Leite, 80x80 cm, 2012
Histórias de minha avóComo em tudo o que se quer fazer com perfeição é preciso ter persistência e consequente amadurecimento, acentuei a anatomia das negras e, com minhas destrezas, descobri as diversas faces e os encantos das afro-brasileiras ou afrodescentes ou negras, lembrando-me das histórias da minha mãe em relação à escravidão nos tempos da minha avó.
quandoeuerapequena,ouviademinhamãemuitoscasossobreostemposdeminhaavó.Umdelesexerciaemmimespecialfas-cínio.Tratava-sedehistóriasdasescravasdaquelestempos.
Numaépocaemqueaindanãoeramconhecidososmétodosanticoncepcionaismodernos,aformaqueassenhorasbrancas,emgrandeparte,conheciamparanãotermaisfilhoseraabrirmãodafidelidadedeseusmaridoseignorarosencontrosdelescomsuasescravas.
Algumasescravasnassenzalas,porsuavez,dotadasdemuitasensualidade,acentuavamaindamaisessedoteparacon-quistarregaliasjuntoaopatrãoeaosseusfilhos.Suasroupasmuitogastasecompoucotecidodeixavamàmostraseusatri-butosdemulher,queencantavamaindamaisseuspatrões.Daí,seusolhosclarosautenticamamisturaderaças.
Essescasos,contadosporminhamãeeguardadosemminhamemória,serviramdeinspiraçãoparaqueeuretratassepartedashistóriasdessasnegras,usandocomoinstrumentosaminhacriatividadeeomeupincel.
92 93a arte de nide Nide Bacelar
Essaintimidadeeproximidadedasescravasficavammaisintensasquandoelaseramobrigadasaseremamas-de-leitedosfilhosdeseusenhor.DePortugaltransmitira-seaoBrasilocostumedasmãesricasnãoamamentaremosfilhos,confiando-osaopeitodesaloiasouescravas[...]:opreciosoleitematernoeraquasesempresubstituídopeloleitemercenáriodasamas.21
Segundoapresentadono7ºEncontroEscravidãoeLiberdadenoBrasilMeridional,22emCuritiba,naUniversidadeFederaldoParaná(UFPR),diversasrazõeslevavamaocostumedossenhorespreferiremqueasescravasamamentassemseusfilhosemlugardassuasmulheres;umadelaseraaconvicçãodequeasnegrassãomaissaudáveiseseuleitemaisforte.
Atradiçãobrasileiranãoadmitedúvida:paraama-de-leitenãohácomoanegra.[...].Alegavaquealémdeseremmaissangui-nhas,convertemmelhoroalimentoemleite,[...],quetantoémaisnegratantoémaisfértil.23
Ainda,GilbertoFreyrecontestaaopiniãodequeasesposasdossenhoresdacasa-grandenãoamamentavamseusfilhospordesinteresseoumodismo:
ComrelaçãoaoBrasil,seriaabsurdoatribuir-seàmodaaapa-rentefaltadeternuramaternadapartedasgrandessenhoras.Oquehouve,entrenós,foiimpossibilidadefísicadasmãesdeatenderemaesseprimeirodeverdematernidade.Jávimosquesecasavamtodasantesdotempo;algumasfisicamenteinca-pazesdesermãesemtodaaplenitude.Casadas,sucediam-senelasospartos.Umfilhoatrásdooutro.Umdolorosoecontínuoesforçodemultiplicação.Filhosmuitasvezesnascidosmortos[...].Outrosquesesalvavamdamortepormilagre.Mastodosdeixandoasmãesunsmulambosdegente.24
21 FREYRE,2003.
22 ENCONTROESCRAVIDÃOELIBERDADENOBRASILMERIDIONAL,2015.
23 FREYRE,op.cit.
24 FREYRE,op.cit.
As amas de leite e amas-secas
Quantoàsmães-pretas,referemastradiçõesolugarverdadei-ramentedehonraqueocupavamnoseiodasfamílias.Negrasaquemsefaziamtodasasvontades:osmeninostomavam-lheabênção;osescravostratavam-nascomosenhoras;osboleeirosandavamcomelasdecarro.Emdiadefesta,quemasvisseanchaseenganjentasentreosbrancosdecasahaviadesupô-lassenhorasbem-nascidas,nuncaescravasvindasdasenzala.
Énaturalqueessapromoçãodeindivíduosdasenzalaàcasa-grande,paraoserviçodomésticomaisfino,sefizesseatendendoaqualidadesfísicasemorais,enãoàtoaedesleixa-damente.Anegraparadardemamaranhonhô,paraniná-lo,preparar-lheacomidaeobanhomorno,cuidardasuaroupa,contar-lhehistórias,àsvezes,parasubstituiraprópriamãe– énaturalquefosseescolhidadentreasmelhoresescravasdasenzala.Dentreasmenosboçaiseasmaisladinas–comoentãosediziaparadistinguirasnegrasquetinhamalgumahabilidadeparaasatividadesdomésticaseinstruçãoreligiosadeacordocomocatolicismodasquehaviamrecém-chegadodaÁfricaequeaindanãofalavamportuguêsouasmaisligadasàssuasori-gensafricanas.
Amadeleite.NoBrasilantigo,mulheremgeralnegraeescravaque,emseubenefícioounodeseusenhor,emprestavaoualu-gavaoseioparaalimentarcriançabrancanecessitadademelhornutrição.Seureversoeraa‘ama-seca’,quasesemprevelha,queapenastomavacontadascrianças.20
20 LOPES,2004.
94 a arte de nide
Aamacantarolavaeexibiaumbiquinhobemsalientenosseuslábios,porondesussurravacomlanguidezevozmacia,acalentavaoneném.Umacalentomagnéticomarcavaocom-passonopé.
Su ru ru uuuuu28
SururunenémPapaifoiàcaçaMamãelogovemSu ru ruuuuu
28 Autordesconhecido.
Ama-Seca, 80x80 cm, 2012
Deacordocomo7ºEncontroEscravidãoeLiberdadenoBrasilMeridional,25 duranteoperíododeamamentação,cria-vam-sevínculoselaçosafetivosentreaescravaeacriança.Essaafeiçãoultrapassavaafasedelactante.Aescravanegraacabavaseconvertendoemumasegundamãe,conhecidacomomãe--preta.“Muitomeninobrasileirodotempodaescravidãofoicriadointeiramentepelasmucamas.Rarooquenãofoiama-mentadopornegra”.26Pormuitasvezes,asescravasnegrasama-mentavamosprópriosfilhosilegítimosemsegredo,poisocul-tavamasuacondiçãodemãediantedosseussenhores.
SegundoGilbertoFreyre,asmães-pretasconquistaramgrandeimportânciadentrodafamíliapatriarcalnoséculoXIXeorespeitodetodosquefaziampartedascasas-grandes:
referemàstradiçõesolugarverdadeiramentedehonraqueficavamocupandonoseiodasfamíliaspatriarcais.Alforriadas,arredondavam-sequasesempreempretalhonasenormes.Negrasaquemsefaziamtodasasvontades:osmeninostomavam-lheabênção;osescravostratavam-nasdesenhoras;osboleeirosandavamcomelasdecarro.Ediadefesta,quemasvisseanchaseenganjentasentreosbrancosdecasa,haviadesupô-lassenhorasbem-nascidas;nuncaex-escravasvindasdasenzala.27
Asamas-secascuidavamdosfilhosdossenhores.Eracomumosbebêsrecém-nascidosusaremtoucanacabecinhaparaevitarventonamoleira,sapatinhosdelãparaevitarresfriamentodospezinhos,panoschamadosdecueirosparaapararoxixi,cami-setascommangasparaprotegerotóraxecamisolascompridasabertasatrásedecoresvariadas.
25 ENCONTROESCRAVIDÃOELIBERDADENOBRASILMERIDIONAL,2015.
26 FREYRE,2003.
27 Ibid.
96 a arte de nide
Levo Flores para a Igreja, 24x30 cm Pipocas para Preto-Velho, 50x70 cm
Flores para Santos, 50x70 cm, 1985 Levo Flores, 50x70 cm, 1985
As indumentáriasasindumentáriasdasbaianasdostabuleirosedaslava-
gensdaescadariadasigrejassãobordadaseengomadas.Aodesenvolvermaishabilidadesnesseestilo,useiminhas
prendasdebordadosrichelieu,bainhaaberta,rendainglesaecrivosnasindumentárias.Asvendagens,osucessoeosprêmiossubiramalémdasminhasexpectativas.
Flores para vocês, 50x70 cm, 1985 Jarro de Flores, 50x70 cm, 1984
CRENÇAS POPULARES
Lavagem das Escadarias, 50x70 cm, 1999
100 a arte de nideLavagem do Senhor do Bonfim, 70x70 cm, 1990
Cortejo, 50x80 cm, 1991
Cortejo da Lavagem do Senhor do Bonfim, 100x90 cm, 1991
Cortejo Espiritual, 50x80 cm, 1990
nomêsdejaneirodecadaano,écomemorado,naIgrejadoSenhordoBonfim,amaiorfestareligiosadacidadedeSalvador,Bahia.
TudocomeçacomumaprocissãoquesaidaIgrejadeNossaSenhoradaConceição,situadanaPraçaCairu,naCidadeBaixa,percorreoitoquilômetrosatéobairrodoBonfim,onde,emumacolina,estáerguidaaIgrejadoSenhordoBonfim.Osfiéislevamumaimagemsagradaefazempartedocortejo,easbaianas,tra-jadascomsuasindumentáriasmuitobrancas,levamjarroscomáguadecheiroeflorescoloridas.Muitosturistasedevotosacom-panhamessaprocissãoatéasescadariasdasagradacolinadaIgrejadoSenhordoBonfim.Láchegando,asbaianaslavamasescadaseoadrocomáguadecheiroealiespalhamsuasflores,pontoaltodafesta,numacerimôniaqueseligaaoritualdasÁguasdeOxalá.Oxalá,“EstegrandePai,nossoorientador,transmiteoshomensassuasprincipaiscaracterísticas:oamorfraternoeapaciência,repre-sentandotambémadelicadeza,abondade,atolerânciaeacalma”.29
Afestaéummeiodefazervalerseusvaloresedesejos.Asfestas(delargo)delinearamaculturabrasileira,beneficiada,semdúvida,pelamiscigenaçãodeculturasereligiõesdiversas,pro-venientesdepovosdistintos,emsuaformação.Esteprocessosedeudemaneiralenta,quaseimperceptível,porém,comonosdizGilbertoFreyre(1990,p.343):[...]todobrasileiro,mesmooalvo,decabelolouro,traznaalma,quandonãonaalmaenocorpo,asombra,oupelomenosapinta,doindígenaoudonegro[...]Naternura,namímicaexcessiva,nocatolicismoemquesedeliciamnossossentidosnamúsica,noandar,nafala,nocantodeninardemeninopequeno,emtudoqueéexpressãosinceradavida,trazemosquasetodosamarcadainfluêncianegra.UmadasfestasondeessamiscigenaçãoémaisevidenteéafestadoSenhordoBonfim,Santoquesetornouummembroparti-cipanteeativodafamíliadecadabaiano.30
MeusprimeiroscortejospintadosqueretratamalavagemdaIgrejadoSenhordoBonfim.
29 MAURÍCIO,2014.
30 SANTANA,2008.
Lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim nº 1, 50x60 cm, 1990
102 a arte de nideIgreja do Senhor do Bomfim, 3º Cortejo, 120x100 cm, 2001
O porquê da curva do cortejoalgumastelasquepintosobreaLavagemdoSenhordoBonfimapresentamocortejocomumacurvaturaantesdachegadaàIgreja.Ocorreque,naladeiraquelevaaotopodacolina,emseuladodireito,háumpasseiooucalçadacontornadoporumabalaustradae,noladoesquerdo,umjardim.Édessaformaquesevê,delonge,ocortejo,atéalcançarasagradacolina,ondetodossereúnem.
A Curva do Cortejo, 100x90 cm, 2000 Cortejo das Baianas, 50x80 cm, 2013
104
No Alto da Colina, 100x100 cm, 2008
No topo da colinaAmadureciessetemaealcancei,tambémnele,omeuobjetivo.
Baianas no Topo da Colina, 100x90 cm, 2001
Topo da Colina, 120x110 cm, 2001
106 107a arte de nide Nide Bacelar
Oferenda às águasaliberdadedoartistaàsvezessenteanecessidadedechamaràatençãoosapreciadoresdaarte,utilizando-sedaforçadeexpressãodesuacriatividadenolugardaspalavras.Nestatela,elimineioscuriososepinteiocortejocomemoradonodia2defevereiroemhomenagemaIemanjá,usandoaexpressãodopovo:“Omarestavacheiodebaianas”.
Presente para Iemanjá, 100x80 cm, 2002
Presente para Iemanjá, 100x80 cm, 2011
109108 a arte de nide
Oferenda das Águas, 110x90 cm, 1991
Oferenda a Iemanjá, 100x90 cm, 1991
Afestade2defevereirosechamatambém‘festa do presente de Iemanjá’,poiselanãosemanifestasomenteaosomdoscân-ticosedaspreces.Éprecisoquelhesejamoferecidospresentese,seosmesmosforemdoseuagrado,asprecesserãoatendidas.MasseIemanjá,porumarazãoqualquer,estiverdemauhumorouirada,recusaráospresentes,queserãodevolvidosàpraia,eacrençapopularacreditaentãoqueseráanomauparaapesca,queseráminguada,masseaocontrárioospresentesforemaceitos,ésinalqueoanoserábomparatodos.AfestadeIemanjáéumaverdadeiramanifestaçãopopular. Demanhãcedinho,sobaluzdosolquecomeçadespontarequeserefletenoverdeenoazuldomar,as‘baianas’vistosamenteves-tidas,comseuscolaresepulseirasdeouro,decontasedecoral,comseustorsos,suassaiasvistosaseseusbrandoseserenossor-risos,começamasedirigireasereunirnapraia.31
31 IWASHITA,1991.
O Mar Cheio de Baianas, 100x90 cm, 1995
111
Suasposiçõeseseussemblantesserenosmostramqueofervordesuafétambémfazpartedeseussentimentosedesualutaparaamenizaravidaamargurada.
Igreja dos Pretos no Pelourinho, 90x90 cm, 2013
A Prece, 50x65 cm, 2013
112
Acarajé Baiana, 80x70 cm, 2009
AS BAIANAS
Concentração, 60x80 cm, 2003
Sou bem baiana, 60x80 cm, 2004 Meditação, 70x80 cm, 2001
114 a arte de nide
Exposição Shopping Barra, 1991
suaartetemacaradaBahia.Doceemágica.Lúdicaebela.Apelemorenadas“baianas”contrastacomobrancodesuassaiasrodadas,quedãovoltas.Odetalhamentodasrendasdasiaôs,ekedesemãesdesantonãoconsegueesconderasensualidadedosrostosdesuasnegrasmulatasquepovoamseumundopictórico.Nidecontinuaassim,exposiçãoapósexposição,fielàsuatemática,queelegeuessafiguraçãotãoligadaàBahiaequeestáperpetuadaporinter-médiodemuitastelasqueestãoespalhadasporesteBrasilafora.
Reynivaldo Brito Jornalistaeditor,jornalA Tarde,Salvador,Bahia.
Baiana Acarajé, 100x120 cm, 2000
nabahia,ésempreassim:baianascomtrajestípicosavendersuasiguariasapetitosasnumtabuleiroelegantementeforradocomumatoalhaalvaebordada.Sobreela,ogostosoacarajérecheadocompimentadecheiro,camarão,carurueodeliciosovatapá.Emaisoabará,bolinhodeestudanteecocadabrancaepreta.Osgalhinhosdearrudafazempartedopreceitoparaespantaromauolhado.
Otrabalhodefazerevenderacarajénotabuleirocongregaexperiênciasfamiliares,religiosaseeconômicas.Nãoéapenasfazerevender;éantesdetudorelacionar,ritualizaropapeldamulher,damulherdosquitutes,dasreceitaselaboradas,donadossegredosdosingredientes,temperoseestilosquedãoàpró-priacomidasentidoeidentidade.Cheirosegostos.Acomidaétambémrepresentaçãodosagrado,comosdiferentespapéissociaisdesempenhadospelasmulheresnosterreirosdecandomblé.Eespecialmenteaschamadasiabás,deusas,orixásfemininos,Oxum,Iemanjá,Nanã,OyáouIansã,têmimediatasvinculaçõescomasfunçõesdamulher,nacasa,nomandoeaindanotrabalhopúblico,narua,vendendocomidas,especialmenteoacarajé.AcarajéécomidadeOyáe,paramuitasbaianasdeacarajé,fazerevenderobolinhodefeijãosãoatosquefortalecemobrigaçõesiniciáticaseoutroscompromissoscomosagrado,sendomuitasvezesumaformadehomenagearOyá,Iabá,mulherdoventos,esposadeXangô,reideOyó.33
33 LODY,2003.
117Acarajé da Bahia, 70x80 cm, 2006
Cocada Branca, 50x60 cm, 2009
Acarajé do Pelourinho, 70x100 cm, 2010
Sou Bem Baiana, 80x60 cm, 2005
Baiana do Acarajé, 50x40 cm, 2016
O Que É Que a Baiana Tem, 40x50 cm, 2000
118 a arte de nide
Flores para Divino Espirito Santo, 80x70 cm, 2009
Baiana Vendendo Flores, 80x70 cm, 2009Elastambémvendemflores.Sãomeigasegraciosas.
Flores para as Águas da Bahia, 50x70 cm, 2016
Baianinha, 50x40 cm, 2004
Água de Cheiro, 60x70 cm, 2005
121Nide Bacelar
Ritmo dos Tambores, 70x60 cm, 2004
Pandeirista, 50x60 cm, 1996
Meus Tambores, 50x60 cm, 2005
Minha Harmonia, 50x60 cm, 2005
OOloduméumgrupodehomensemulheresquetiradosinstrumentosdepercussãoumsomritmadoealucinante,mar-cadospeloentusiasmodeseusgestos.SuasedeficanoPelourinho,centrohistóricodacidadedeSalvador.
Baiana e seus Instrumentos, 50x70 cm, 1999 Ritmado pelo Som, 70x50 cm, 1999 Som Instrumental, 50x70 cm, 1999
Baiana dos Tambores, 50x60 cm, 2003
122 a arte de nide
Deixequeanegraluteporsuasrazões.Serfascinanteésuamaiorcaracterística.
Sou Baiana, 50x60 cm, 2000
Meus Momentos, 50x60 cm, 2000
Baianinha, 50x60 cm, 1999
Baiana de Salvador, 60x70 cm, 2000
Baianas, 60x50 cm, 1999
Ser Baianinha, 50x60 cm, 1999
Meus Gestos, 50x60 cm, 2000
Meu Descanso, 60x70 cm, 2000
Baiana, 50x60 cm, 1999
Um Ritmo, 40x50 cm, 1999
Meus Instrumentos, 70x50 cm, 2005
Tocando Percussão, 50x60 cm, 2003
125Nide Bacelar
Eu Sou Bem Baiana, 60x70 cm, 2000
Sou Bem Baianinha, 50x60 cm, 2005
Eu Danço no Pelourinho, 90x70 cm, 2002
AS BELDADES
129
Baiana de Torço, 70x60 cm, 1991
Pensamento Distante, 60x70 cm, 1992
O Torço Rendado, 70x60 cm, 1990 Beleza Rara, 60x70 cm, 1992
Torço Dourado, 70x100 cm, 1993
Afro-brasileira, 50x60 cm, 1991
Os primeiros torços bordadoscomoumadádivadamãeÁfrica,apresento,nestamostra,otemapormeiodoqualpudedesenvolverumagrandevarie-dadedemovimentos.Destaca-seabelezadostorços,dasrendase do richelieudasbaianasedosorixás,desdetemposidosatéaatualidade.
Beleza Afro-brasileira, 90x80 cm, 1995
130
Mulata Faceira, 70x60 cm, 1995 Africana, 50x60 cm, 1995
Cheia de Pose, 70x60 cm, 2004 Eu Sou de Salvador, Bahia, 50x60 cm, 2004 Momento de Relaxar, 50x70 cm, 2003Rodeio, 60x80 cm, 1995 Liberdade, 70x60 cm, 1995
Asnegrasquepintotornam-seaindamaissensuaisquandoodecotedeslizaedeixamàmostrapartesbonitasdoseucorpo.
OsescravosquechegavamaoBrasilquasenãotinhamroupa.Eramenroladosemretalhosdetecidoparcobriraspartesmaisíntimasdocorpo.Amulherescravaexibiaotronconucobertoapenascomumtecidofino,provocandoospudoresdasociedadedaColôniaquepassouaexigirofimdaqueleestilodetraje.AsensualidadeexpressadapelanudezdotroncodabaianaatingiuosprincípiosmoraisdaIgreja,que,porsuavezpassouacombatê-loeganhouforçacomachegadadaRepública.Otroncodabaianafoicon-denadoasercobertodeformamaiscomportada.Paraisso,foiimplantadaabatacomosentença.32
32 VIEIRA,[19--?].
132Empoderamento, 70x80 cm, 2005
Beleza Natural, 60x70 cm, 1998
Acorrentada, 60x80 cm, 1998
Mirando o Luar, 80x60 cm, 2003
135Nide Bacelar
RomanoGalefficaptoubemasexpressõesdasnegrasemminhastelasquandoescreveusobremeustrabalhos:
[...]seusolharesbrejeiros,seusinesperadosgestofaceiros,seuspenteadosderainhas,seuscorposformososeesguios,seusenfeitesbrilhantesqueaNIDErealizacompequenostoquesmagistrais,comoemrapidíssimospassesdemágica,emanandofulgurantesreflexosmetálicos,deprata,deouro,debronzeedeopalescentecoral,poderiamsermagníficasfontesdeinspiraçãoparamuitospoetasdapalavraarticuladaemusicalmenterit-madaqueàcomovidacontemplaçãoessasmaravilhasseentre-gassemporcongenialidade.
Negra Baiana, 40x50 cm, 2004Sou Tostada, 40x50 cm, 2007Sou da Cor de Canela, 80x60 cm, 2006
136
Estasusavamroupaschiques;torçosartisticamentearmados,adereçosdeouroeramusadosporescravaspoderosas,adependerdosméritosalcançados.
Faceiriceeuimagineique,pararealçaraindamaissuabeleza,asnegrasrecorressemaostorçosenriquecidospelosrendados,artistica-menteenfeitadosdecontas,mostrandoumtrabalhointeligente,admirávelerequintadoparaenriqueceraindamaisseustrajes.
Faceirice da Mulata, 90x80 cm, 2003
Africana, 80x120 cm, 1999
Insistotambémnospanosbordadoserendados,caídossua-vementesobreoseucorpo,evidenciandosuacoreoladobonitodahistóriadonossoafrodescendente.
Mulata da Cidade de Lauro de Freitas, 50x60 cm, 2004 Olhar Singelo, 50x70 cm, 1995
Pureza Baiana, 50x70 cm, 1995 Beleza Afro, 50x60 cm, 1997
Baiana do Torço Azul, 50x70 cm, 2003
141Nide Bacelar
Sou Baiana da Gema, 60x73 cm, 2012
Mulata a Toda Prova, 50x90 cm, 2006 Eu Sou uma Chique Mulata, 60x100 cm, 2009
143142 a arte de nide
Eu Sou Mulata Baiana, 70x80 cm, 2012
Baiana Adolescente, 50x40 cm, 2011 Negra a toda prova
Suaexuberânciaérealmenteumaperfeitaobradearte.Acordecanelacomvariaçõesdebronzeétípicadesuaetnia,sempremuitoapreciada.
Exuberância, 50x70 cm, 1999
144 145a arte de nide Nide Bacelar
Beldade negraMostrararealidadeescravocratadanossahistóriaafro-brasileirasóenriqueceonossofolclore.
Beldade negra, 80x50 cm
Seusolharesharmonizam-secomosmovimentosdeseuscorposesculturais.
Meu Relaxamento, 60x80 cm, 1996 Olhar Harmonioso, 50x70 cm, 1996
147O Desabrochar da Mulata, 60x80 cm, 2004
Seuspenteadosartisticamentetrabalhadosmostramabelezadeseuscabelos.
Soteropolitana, 90x70 cm, 2005
149Nide Bacelar148
AssimcomoChicadaSilva,havianegrasmuitoricasepres-tigiadaspelaelitedasociedadebrasileiradaépoca.
Chica da Silva nº 1, 100x80 cm, 1994 Requinte da Mulata, 70x90 cm, 2010
Asnegrasqueconseguiamumespaçonasociedadedor-miamsobrelençóisbordados,exibiammerecidamenteseupres-tígioalcançado.
Boa Noite, 90x110 cm, 2000
150 a arte de nide
Reflexão, 60x80 cm, 1998
O Repouso da Mulata, 130x60 cm, 2005
Sentimentos, 80x90 cm, 2001
Sou de Peixe, 60x80 cm, 1999
Meu Bronzeado, 60x80 cm, 1998
Gosto da Cama, 60x80, 1999
152
Estou te Esperando, 70x90 cm, 2004
Sensualidade Morena, 120x80 cm, 1999
Boa Noite, 100x100 cm, 2000
Frágil e Poderosa, 60x80 cm, 1999
155154 a arte de nide
Asmucamaseramescravasprivilegiadas.Quemdizqueanegraprecisadecabeloslisosparaserbela
nãosabequeaarteéobelodavida.Quemnãoapreciaumcabeloartisticamentearrumado?
Mucama do Reinado, 50x70 cm, 2000 Mucama do Reino, 50x70 cm, 2000
Sou bem brasileiraexistemnegrasbemproduzidaseorgulhosasdoseucorpo.Comoaarteéabelezadavida,oprimeiroplanodatelaéacoreoencantamentodeumcorpomorenoescultural.
Momento de Reflexão, 90x70 cm, 2003
Menina-moçamuitasescravasjáerammulheresaindamuitojovens.
Paraenfeitar-se,asmulatasusavamdesuacriatividade,abu-savamdosbúziosedassementessecascoloridas,queeramentre-meadasemlinhaforteparadecorarseuscabelos,pés,braçosecolos.
Quemnãotembalangandãs...Aspencasoumolhosdebalangandãsouamuletosestãoincluídosnesseexagerodeadorno,reforçandoidealderiquezaepoderdossenhorescoloniais[...].Ofá,oxê,mão-de-pilão,saquinhosdecourooutecido‒patuás‒, dentesencastoadosefigasestãoemfiosdemiçangas,correntesdeourooudeprata,contasdelouça,corais,laguidibás,fiosdebúzios,entreoutros.Ajoalheriaquecompõeotrajedabaianaéfundamentadaembrincos‒argolasdostipos‘pitangas’ou‘barrilzinho’‒,pul-seiras,ides,debúzios,decontas,corais,marfim,prata,ouro,cobre,latão,ferro,colarestipo‘trancilim’,deargolasencadeadas,eos‘ilequês’,comascoressimbólicasdosdeusespessoais,dafamíliaouNaçãoeterreiro.34
34 LODY,2003.
Baiana que Toca, 80x90 cm, 2003 Afro-Baiana, 80x100 cm, 2003
Adolescente Mulata, 90x70 cm, 2005
158
Sou Bem Brasileira, 110x70 cm, 2004
Nestastelas,nasnegrasatributos,dotesétnicoseanatô-micosquelhesfavorecem.
Meu Charme, 70x80 cm, 1994
Atrevida, 50x70 cm, 1999
Beldade, 50x70 cm, 1994
Eu Sou Linda, 60x70 cm, 1997
Exuberância, 60x70 cm, 1999
161Nide Bacelar
Obra-prima, 60x90 cm, 1995
Adolescente Mulata, 90x70 cm, 2005 Sou Bem Baiana, 100x60 cm, 2004
Adançatemumtoquedivino.Românticaouritualística,sejaqualforsuaintenção,adançasempreéfestiva,artísticaedelirante.
Danço para Você, 110x70 cmMulata em Oscilação, 90x90 cm, 2005
Dança Sensual, 70x50 cm, 2002 A Dança dos Búzios, 80x60 cm, 2010
ASSIM CHEGUEI AO AMADURECIMENTO
168 169a arte de nide Nide Bacelar
observandoatentamentetodososdetalhescaracterísticosdasnossasmulatas;atravessandootempo,desdeaépocademinhaavóaténossosdias,usandoparaessaviagemminhaimaginaçãoeahistória;conduzidapeloromantismo,pelaarte,pelomeusensodebelezaeimpulsionadapeloentusiasmo;incrementandotudoissocommuitapersistência,crieiminhaarte,extraídademinhapercepção,minhasfantasiasedosmeusmaissinceroseimpenetráveissentimentos.
Euescrevoepintooladobonitodosnossosescravos,semprecomalembrançadasmuitashistóriasqueminhamãemecon-tavasobreosescravosdemeusavós.
Sinto-memuitomalaoimaginarseusinfortúnios.Pesquiseisuahistóriaesuasestórias.Descobrioquantoaindalutamparaconquistaraverdadeiraigualdade.Noteique,emsualuta,osnegroslançarammão,inteligentemente,dasarmasquetinhamparaconquistarumaposiçãomaisdignaemnossasociedade.Erampoucososquesabiamler,poisnãotinhamacessoàsescolas.
Tenhosido,porvezes,criticadaporpintarnegrasquasenuas,sempretãobelasesensuais.Masnãopoderiaserdife-rente.Eupintoaafrodescendente,pintoseussentimentos,suaforça,suaastúciaparasobreviveratempostãodifíceis.Seucorpoesculturaléumaobradearte.Seusrequebros,seuandar,seusolhares,seusgestosfazempartedenossahistória.Exponho,emminhastelas,osseios,ascadeirasvolumosas,ascoxasgrossaseoslábioscarnudosdaspersonagens.Observo,naspraias,nasrevistas,natelevisãoenosdesfilescarnava-lescos,essasmulheresquasedespidas,adistribuirlargossor-risos,levandotodosaodelírio,marcandoosambanopée,daí,todooseucorpofreneticamenteacompanhaoritmo,contagiacomsuagraça,belezaealegriatodaamultidãoqueasaprecia.
O dom existe?Emminhasentrevistas,aspessoasinsistememperguntarseodomexiste.Ocorre-mequeexisteodesenvolvimentodeumahabilidadeespecífica.Baseadaapenasemminhasexperiênciascomoprofessoradepintura,lecionandoparapessoasdeváriasidadeseprofissões,afirmoquenenhumadelasdeixoudepintarporfaltadedom.
Pensoquetodosnascemcomalgumahabilidadeartística.Éprecisoapenasdescobrirseucaminhoedesenvolvê-lo.Achoqueaspessoassedistanciamdofazersuaarteporacreditaremqueotempoaeladedicadoteriamelhorutilizaçãoemestudosvoltadosparaprofissõesque,emseuentendimento,têmfuturomenosincerto.Achoque,emtodasasprofissões,háumagrandevariedadedeopçõeseescolhe-se,dentreelas,aquemaisinte-ressaàprópriapessoa.Persistindonoobjetivodesejado,épos-sívelalcançaroamadurecimento.
A arte dá dinheiro?Oartistanãoviveapenasdeseussonhos,nãoéalimentadoapenasporsuacriatividade.Buscarretornofinanceiroépartedasobrevivêncianavidaemsociedade.Entendoaartedepintarcomosendoigualaqualqueroutraprofissão.Elatambémofe-recemuitasopções.Alcançarosucessoeoretornofinanceirodependeprincipalmentedapersistência,doapoiodafamíliaeatémesmodeinfluênciaspolíticas.
170 a arte de nide
O sucessoconvidadaparaexporemváriasgaleriaseparticipardecon-cursosemSãoPaulo,RiodeJaneiro,Brasília,Recifeeaténoexterior,osprêmioseasreportagenssobreminhaarteaumen-taramdefrequência.Comimensahonra,recebidiversosprê-miosemconcursosdearte,umamedalhadeouroauferidapelaAcademiaBrasileiradeLetras,quemefoioutorgadaemsole-nidadepeloprofessorAustregésilodeAthayde,quandopresi-dentedessaconsagradaAcademia.
Panorama – Galeria de Arte29deoutubroa9denovembrode1970
EXPONDOquadrodeNIDE,aPANORAMA–GaleriadeArte,convida-nosnãoparaumaexibiçãopuraesimplesnocampoartístico,mas,essencialmente,aumafestadeluz,coremovimento,quesefixanoespíritocomoencantamentoeacendenocoraçãoaternuravivadaterraquenosserviudeberço,atravésdasugestõesmísticasdofolclore.
ERONILDESdaSilvaBacelar,NIDE,começouapintaraostrezeanosdeidade.Iniciouporondeamaioriater-mina,utilizandoóleo.Insubordinaçãonatural,própriadosgêniosemsuamissãodecriarnovosvalores.Assim,WaltDisney;assim,também,NIDE.Eternizandotiposqueseprolongam,imortalizadosnotempo.Disneylândiaacolá;e,entrenós,essadeliciosa,movimentada,coloridafamíliadenegrinhosenegrinhasestilizadosematitudesvárias,oraemlabor,cumprindoapenaquenosveiodepaiAdão,oraemsambaecantigaparaespancarasmágoas,mastodos,sempre,invariavelmente,bebendovidaemrisosabertossobredentesbrancos...Nãoraro,oapêloaosobrenatural,própriodaraçamística,evocandoaspotestadesdoscultosprimitivos,emplenoséculoespacial-atômico.
172 173a arte de nide Nide Bacelar
NApresentemostradaPANORAMA,apresenta-seNIDEapenaspeloângulofolclóricodesuaarte.Nãoobstante,existeaNIDEdastelassurrealistaseaNIDEcriadoradomis-térioedalenda,fixandolemanjásemidíliocomanatureza,porassimdizer,paradisíacaeignota,comaqualsonhamostodos,pormaisrealistaquepretendamosser,principal-menteemhorasdeabandono,quandodeixamosoinfaustodasmaterialidadecotidianas,emergulhamosnadocepazdoscamposoudaspraiasvirgens,ondedeixamossoltoopensamento,aosabordafantasia.
Sejaqualforopontodevistaemquesecoloqueocrítico,sempreselhedepararáválidaaobradeNIDE.Porqueautênticacomopessoaecomoartista.Porquesinceraemaçãoeexpressão.Preocupadacontinuamenteemaperfei-çoar,comoédestinodoseleitos,cientesdequevidaéocontinuoevolvereamortepertenceoquantoestagnounotempoenoespaço.Porisso,aartedeNIDEévida,muitavida.Evocê,espectador,aovisitaraexposiçãodeNIDEreceberáesseprêmio:vida!
Humberto LyrioGaleriaCorredordeArte15deJaneirode1972
“Semterpassadopornenhumaadotrinaçãoesemcompro-missocomnenhummovimentoartísticooucultural,aNIDEestáorientadaparaocaminhomaiscerto:sócriaporumaintrínsecanecessidadeestética,enãoporimperativoséticosousócio-e-conômicosoulógico-tepréticos”.
Equeestacriaçãonãosejaummerodivertissement,mas,depreferência,aexpressãodeumaexigênciaespiritual,independentedequalquerespéciedeinterêssematerialoumoralesemarepresentaçãodeumconceito,éprovadopelofatodequesuasobrasnãosãoamerareproduçãopas-sivaaaspectosdanatureza,nemumaespéciededesabafodesentimentosreprimidos,masumaespéciedetransfigu-raçãosentimentaldeaspectosdavida,quesãocomoquefiltradosporumatodecontemplaçãodesuaférvidafan-tasiacriadoraourecriadora.
Revelaaartistainvulgaresdotesexpressionais,agoraapli-cadosexclusivamenteaotemáriogeraldofolcloreafro-baiano.Compondogostosascenasdegênero,contadascomrefi-nadosensodehumor,sãoosseguintesostemasabordados:“Evocandooespiritonoterreiro’’,‘‘Oelástico“,“Omalaba-rista”,“Osamba”,“Oarrozdocedamulata”,‘‘Baterpandeiroémelhor”,“Capoeira“,“Maculelé”,“Vatapá”,“Omercadomodelo”e“Trancarua”.Suaspersonagens,concebidas,viaderegra,demaneiraarefletirintensodinamismoeexpres-sandoásvezes,ummovimentopotencial,sãoestruturadasmedianteumdesenhofortementeestilizadoepessoal.
Pelousodacorepelomatizadoplásticoaartistarevelaumautênticoaprimoramentoartesanaleestilísticocomefeitostonaiseumintensodinamismoqueconstituemasuamelhorcartadeapresentação.
Romano Galeffi(1915-1998)Filósofoecríticodearteitaliano,fundadoreprofessordacadeiraEstética,UniversidadeFederaldaBahia
174 a arte de nide
Galeria Theodoro BragaDe3a9dejulhode1979
VoltaaexporaNIDE(EronildesdaSilvaBacelar),apresen-tandoumasériedemaisde25variaçõessobreotemadasbaianas(edopretovelho)notrajebrancodalavagemdeigrejas,doBomfim,daConceiçãodaPraia,etc.
Daartistajátivemosocasiãodefirmar,comoutraspala-vras,que,semcompromissocomdeterminadosmovimentosartísticos,sócriaporumaintrínsecanecessidadeestética.
Comoéprovadopelassuasinúmerascriaçõesdasfasesanterioresinspiradasemtemasdofolclorebaiano,dasquaistambémnestaocasiãoexpõemalgumas,quaseparadocu-mentarseupassadoartístico,aNIDErevelou,então,uminvulgaraprimoramentoartesanalemseuvariadocolo-rismotonalista,associadoaoefeitoplásticodoclaro-escuro
eaumanotávelcapacidadedeestilizaçãoabstratizante,comalgumassaborosaspitadasdehumorcaricatural.Entreostemastratadosnasfasesantecedenteslembramososseguintes:“Evocandooespíritodoterreiro”;“Oelástico”,“Omala-barista”,“Osamba”,“Oarrozdocedamulata”,“Capoeira”,“Maculelé”,“Omercadomodelo”,“Trancarua”etc.
Mas,otemadalavagem,queprevalecenafasecriativaatual,induzaNIDEaumaquaseeliminaçãodejogostonais.Comefeito,seprescindirmosdobronzeadodapeledasmulatasedosuavecromatismodasfloresdealgumvaso,ovalorcro-máticopredominanteéoazulclaroque,comsuasvariaçõesdeintensidade,sugereofundodocéuemarcaosombreadolevedasvolutasdaroupagembranca,istoé,dassaiasedosvéusemcontínuaondulaçãocaligráfica.
Nãofaltaotabuleirodabaianacomoacarajéoucomoabará.E,noânguloesquerdodealgumastelas,apin-torafigurou,emminiatura,umaimagemdapadroeiraoudopadroeirodaigrejaqueépalcodacerimônialustral.Admirávelsuarecriaçãodoarabescadodasrendasbrancasdesuaspersonagens.
Aartistaconseguelevaraoextremoseuacentuadosentidodefluênciadinâmicaededesmaterializaçãodasformas.Nadademaiseficazparasimbolizarsua“poética’’expres-sional,doqueessainefáveltransfiguraçãodeimagensdeumaexperiênciapossível,medianteumasublimaçãoemo-cionalqueabreasportasdeumaoutradimensãoatodoespectadordisponíveleesteticamentedistanciado.
Romano Galeffi (1915-1998)Filósofoecríticodearteitaliano,fundadoreprofessordacadeiraEstética,UniversidadeFederaldaBahia
176 177a arte de nide Nide Bacelar
Coletiva de Verão - Panorama 1991
AsmulatasdeNIDE,seusolharesbrejeiros,seusinespe-radosgestofaceiros,seuspenteadosderainhas,seuscorposformososeesguios,seusenfeitesbrilhantesqueaNIDErealizacompequenostoquesmagistrais,comoemrapi-díssimospassesdemágica,emanandofulgurantesreflexosmetálicos,deprata,deouro,debronzeedeopalescentecoral,poderiamsermagníficasfontesdeinspiraçãoparainúmerospoetasdapalavraarticuladaemusicalmenterit-madaqueàcomovidacontemplaçãoessasmaravilhasseentregassemporcongenialidade.
Romano Galeffi(1915-1998)Filósofoecríticodearteitaliano,fundadoreprofessordacadeiraEstética,UniversidadeFederaldaBahia
178 179a arte de nide Nide Bacelar
Vida e Exposições1960–RecebeuasprimeirasaulasdepinturanacidadedeJequié,comaprofessoraMariaEliza.1962–LecionoupinturaemJequié.1963–FrequentouaEscoladeBelasArtes(Salvador,BA),comprofessorEmídioMagalhães.1964–Deixouaescolaeprosseguiuosestudos,desen-volveutemasfolclóricos;lecionoudesenhoepintura.1971–Empreendeuviagemdeestudonosuldopaís,noRiodeJaneiro,efoirepresentantedaAssociaçãodeArtistaPlásticosdoDistritoFederaleMadredaRosaCruz,emSalvador,Bahia.1976–FoivocaldoInternationalWomen’sClub(Salvador,BA).1978–ParticipoudolivroArte Nordeste Hoje(Recife,PE).1979–RecebeuotítulodePinturaDestaquedaBahia naVIIGrandeNoitedeElegânciaeDestaquedoNordeste(Recife,PE).1979–ParticipoudocursoIniciaçãoàCriticadeArtepelaFundaçãoNacionaldeArte(Funarte),peloprofessorRomanoGaleffi,emBrasília.1979a1991–Lecionoudesenhoepinturaemseu atelier.
salões1978–Diploma–AssociaçãoBrasileiradeImprensa (RiodeJaneiro,RJ)1980–MedalhadePrata–CâmaraMunicipal (RiodeJaneiro,RJ)1980–MedalhadeOuro–PintoraRevelaçãodoAno(AssociaçãoBrasileiradeDesign–ABD,RiodeJaneiro,RJ)1980–MedalhadeOuro–CorreioseTelegrafos(ABD,RiodeJaneiro,RJ)1980–Diploma–IVGincanadePintura(Maricá, RiodeJaneiro)1981–MedalhadeOuro–InternacionalContemporânea(ABD,RiodeJaneiro,RJ)
1981–MedalhadeOuro–AcademiaBrasileira deLetras(RiodeJaneiro,RJ)1984–MedalhadeOuro–OthonPalaceHotel(Salvador,BA)1990–ParticipaçãodolivroArte Plástica Brasil 90(SãoPaulo,SP)1996–SegundacolocadanoConcursodeSalão deArtesdaMarinha(Salvador,BA)2000–ParticipaçãodolivroSalvador Menina (Salvador,BA)2010–ParticipaçãodolivroArte Atual (SãoPaulo,SP)2010–ParticipaçãodolivroAnuário Brasileiro de Artes Plásticas Consulte,vol.IX(SãoPaulo,SP)2010–HomenagemdaPanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2011–Participaçãodolivro Anuário Brasileiro de Artes Plásticas Consulte,vol.X(SãoPaulo,SP)2012–ParticipaçãodolivroConsulte Arte – Roteiro das Artes Plásticas,primeiraedição (SãoPaulo,SP)
exposições individuais1970–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1972–GaleriaEscada(RiodeJaneiro,RJ)1972–GaleriaCorredordeArte (RiodeJaneiro,RJ)1973–ClubeBahianodeTênis(Salvador,BA)1975–FoyerdoTeatroCastroAlves(Salvador,BA)1975–IateClubedaBahia(Salvador,BA)1975–BibliotecaSouzaCruz(Salvador,BA)1976–IateClubedaBahia(Salvador,BA)1977–IateClubedaBahia(Salvador,BA)1978–IateClubedaBahia(Salvador,BA)1979–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)
1979–GaleriaTheodoroBraga1981–GaleriaEuropa(RiodeJaneiro,RJ)1983–LampiãoGaleriadeArte(Brasília,DF)1983–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1988–ShoppingBarra(Salvador,BA)1991–ShoppingBarra(Salvador,BA)1998–ShoppingBarra(Salvador,BA)2000–GaleriaSolarFerrão(Salvador,BA)2001–SescCasadoComércio(Salvador,BA),março2001–SescCasadoComércio(Salvador,Ba),dezembro2007–TribunaldeJustiçadaBahia(Salvador,BA)2010–ColégioMódulo(Salvador,BA)2010–IberostarHotéiseResorts(Salvador,BA)2012–SalvadorShopping(Salvador,BA)2013–AeroportoInternacionaldeSalvador–DeputadoLuísEduardoMagalhães(Salvador,BA)2013–ShoppingParalela(Salvador,BA)
exposições coletivas1970–BancoNacionaldeMinasGerais(Salvador,BA)1971–FeiradeArtesPlásticas(Salvador,BA)1971–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1971–GaleriaIrlandini(RiodeJaneiro,RJ)1971–InstitutoGoethe(Salvador,BA)1972–FeiraEmbu(SãoPaulo,SP)1973–LeDômeGaleriadeArte(Salvador,BA)1973–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1973–IISalãodeArtesVisuais(PortoAlegre,RS)1974–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1975–GaleriaFlorentina(Curitiba-PA)1976–GaleriaSerei(Salvador,BA)1976–GaleriaPelourinho(Salvador,BA)1976–IIISalãodeArtedaInconfidência(Brasília,DF)1977–GaleriaRag(Brasília,DF)
1978–GaleriadoHotelNacional(Brasília,DF)1978–IVSalãodeArtedaInconfidência(Brasília,DF)1978–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1978–MuseudeBolso–GabrielaDantas (RiodeJaneiro,RJ)1979–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1980–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)1980–SalãoNegrodoCongressoNacional(Brasília,DF)1981–SalãoNacionaldeArtesPlásticadaAeronáutica(Salvador,BA)1983–StampStúdiodeArte(Salvador,BA)1983–ExposiçãoemproldaIrmãDulce(Salvador,BA)1983–ExporBahiaVerão–Meridian(Salvador,BA)1984–ItaigaraGaleiradeArte(Salvador,BA)1985–MariadoCarmoGaleriadeArte(SãoPaulo,SP)1986–ExporBahia–HotelBahia(Salvador,BA)1988–SemanadeItamandaré(Salvador,BA)1991–LeDômeGaleriadeArte(Salvador,BA)1991–ColetivadeVerão–Panorama(Salvador,BA)1993–BancodoEstadodaBahia–Baneb(Salvador,BA)1995–MarinaCaféTeatro–TeatroCastroAlves(Salvador,BA)1997–Mango’sRestaurante(Salvador,BA)1997–EspaçodeArteFrancisBacon(Curitiba,PR)2000–Exposiçãocomalunos–Panorama (Salvador,BA)2001–CinelliGaleriadeArte(Salvador,BA)2004–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2006–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2007–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2009–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2010–PanoramaGaleriadeArte(Salvador,BA)2010–ExposiçãoAnuárioConsulte(SãoPaulo,SP)
180 181a arte de nide Nide Bacelar
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Esta foi e será eternamente a mãe de todos os seres humanos, seja qual for a etnia.
Bendito é o Fruto do Vosso Ventre, 100x70 cm, 2000
colofãoEstelivrofoipublicadonoformato220x260mm impressãodecapaemiolonaGráficaSantaMarta tiragemde1000exemplaresMioloempapelCoucheFosco150g/m2
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