16
O potencial do babaçu O potencial do babaçu Projeto de pesquisa cria arranjo produtivo local do babaçu e amplia conhecimento para inovações tecnológicas Projeto de pesquisa cria arranjo produtivo local do babaçu e amplia conhecimento para inovações tecnológicas Identificados insetos que prejudicam desenvolvimento da cana-de-açucar Identificados insetos que prejudicam desenvolvimento da cana-de-açucar Página 14 Página 14 TERESINA - PI, JUNHO DE 2010 Nº 24 ANO VI TERESINA - PI, JUNHO DE 2010 Nº 24 ANO VI n n ISSN 1809-0915 ISSN 1809-0915

ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

  • Upload
    dodien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

O potencial do babaçuO potencial do babaçuProjeto de pesquisa cria arranjo produtivo local do babaçu

e amplia conhecimento para inovações tecnológicasProjeto de pesquisa cria arranjo produtivo local do babaçu

e amplia conhecimento para inovações tecnológicas

Identificados insetos que prejudicamdesenvolvimento da cana-de-açucarIdentificados insetos que prejudicamdesenvolvimento da cana-de-açucar

Página 14Página 14

TERESINA - PI, JUNHO DE 2010 Nº 24 ANO VITERESINA - PI, JUNHO DE 2010 Nº 24 ANO VIn n

ISSN 1809-0915ISSN 1809-0915

Page 2: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

Inovações tecnológicas através do BabaçuII

ndiscutivelmente, as Universidades Públicas brasileirase seus Institutos de Pesquisas deram um grande salto namelhoria da sua qualidade durante o Governo Lula. Isto

é refletido na excelente produção científica destas institui-ções, basta observarmos a destacada colocação obtida peloBrasil na produção de ciência, ocupando a décima terceira po-sição no mundo, sendo responsável por mais de 2% da ciêncialançada no planeta.

Por outro lado, continuamos extremamente carentes eminovação tecnológica. Ainda não conseguimos transformar anossa grande produção de ciência em produtos inovativos nasempresas. Existe um distanciamento inaceitável entre o pú-blico (universidades) e o privado (empresas/indústrias) ge-rando perdas incalculáveis à sociedade. Esta afirmativa seconfirma quando verificamos que os investimentos financei-

ros em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) noBrasil representa apenas 1,1% do seu PIB, enquanto que oschineses aplicam 1,4%.

O Fundo Verde-Amarelo dos Fundos Setoriais tem sidoum dos meios pelos quais o Governo Federal tem estimuladoa interação Universidade/Empresa a melhorar e assim corrigireste grave erro. Outro importante marco neste caminho temsido a criação de um arcabouço legal (Lei de Inovação, 2004;a Lei do Bem, 2005 e a Lei Rounet da Pesquisa, 2007) maispropício à cultura empreendedora e de inovação no Brasil.

O Sapiência, neste número, traz um dos projetos aprova-dos pela FAPEPI que representa muito bem esta preocupaçãogovernamental. A FAPEPI (Governo estadual) em parceriacom a FINEP (Governo Federal) estão investindo mais de seismilhões no Projeto de Pesquisa intitulado “NÚCLEO INTE-

RINSTITUCIONAL DE ESTUDOS E GERAÇÃO DENOVAS TECNOLOGIAS PARA O FORTALECIMENTO DOARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO BABAÇU” – GERA-TEC. Trata-se de um de um projeto interinstitucional envol-vendo UESPI, UFPI e IFPI, objetivando desenvolver açõesvoltadas para o atendimento das demandas de Inovações Tec-nológicas das atividades produtivas do agronegócio do Ba-baçu no Estado do Piauí. Através deste projeto estamos tendograndes investimentos em estruturas físicas de laboratórios ena compra de equipamentos possibilitando aos pesquisadorescondições necessárias para realização de pesquisas científi-cas e tecnológica cujo objetivo é transformar o coco babaçunatural, que possui baixo valor agregado, em novos compo-nentes tecnológicos com alto valor econômico.

Acácio Véras

Entendendo o efeito estufaAA

atmosfera terrestre é for-mada por uma película degases naturais que permite

a passagem da radiação solar, e ab-sorve grande parte do calor emi-t ido pela superfície aquecida daTerra, formando assim, o efeito es-tufa natural , fenômeno de essen-cial importância para a manutençãoda vida na biosfera.

Os gases da atmosfera, inclusiveo dióxido de carbono (CO2), agemcomo uma membrana protetora que

impede que o calor absorvido da irradiação solar escapepara o espaço exterior, mantendo um estado de equilíbriotérmico sobre a superfície terrestre durante o dia e a noite.

Embora a quantidade de CO2 que existe permanente-mente na atmosfera seja relativamente pequena, ela é muitoimportante para manter a temperatura da superfície terrestreconstante, via efeito estufa. Porém, este fenômeno é garan-tido tanto pela presença do CO2, como pelo vapor de águae de outros gases que mantém a Terra aquecida, de modo apropiciar condições favoráveis para a continuidade da vida.

Por analogia, vamos entender o mecanismo do efeitoestufa. Considere um carro exposto ao sol com os vidrosfechados. O vidro ao permitir a passagem da luz do Sol,vai acumulando calor no interior do carro, que fica cadavez mais quente, formando uma estufa. Assim, pelosprincípios da física, quanto maior for a concentração de

gases, maior será o aprisionamento do calor. Portanto,mais alta será a temperatura.

Assim também funciona o efeito estufa natural. Ali, osgases naturais, incluindo o CO2, se acumulam na atmos-fera agindo como um obstáculo que impede o calor prove-niente do Sol de sair da atmosfera. Com isso, atemperatura do globo terrestre se mantém constante, favo-recendo a existência das diversas formas de vida. Por serum processo natural e equilibrado, sua ação é bastante be-néfica ao meio ambiente.

Por outro lado, a liberação na atmosfera de outros gasescomo metano, óxido nitroso e clorofluorcarbonos, de formacontínua e excessiva, provoca o efeito estufa maléfico. O au-mento da concentração dos gases estufa na atmosfera funcionacomo um isolante por absorver uma parte da energia irradiadapela Terra. Assim, mais calor fica retido na atmosfera e o pla-neta se torna cada vez mais quente, reduzindo as possibilida-des de sobrevivência de muitas espécies.

Apesar dos clorofluorcarbonos, em passado recente,terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo deMontreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a uti-lização destes gases, visto que eles contribuíram para agravaro efeito estufa e provocar a destruição da camada de ozônioque protege a Terra contra os raios nocivos do sol. Mesmoassim, atividades como a indústria, a agricultura e os trans-portes públicos continuam liberando os gases de efeito estufapara a atmosfera.

Estudos comprovam que a queima de combustíveis fós-seis aliada ao desmatamento, ao longo dos últimos cem anos,

intensificaram a concentração de CO2 na atmosfera com re-flexos no aumento da temperatura da terra. Nesta perspectiva,o aquecimento crescente da superfície terrestre vem alterandoo clima, resultando em frequentes ondas de calor e enchentes,no avanço do mar sobre o continente, na perda de habitats eda biodiversidade, com reflexos negativos na produção agrí-cola e na qualidade das reservas de água.

Para combater a intensificação do efeito estufa, em1997, foi ratificado o Protocolo de Kyoto, tratado interna-cional em vigor desde 2005, que estabelece compromissospara a redução da emissão de gases que provocam o efeitoestufa. Diversos países, inclusive o Brasil, ratificaram estetratado, menos os Estados Unidos, o maior emissor destesgases, do mundo.

Embora alguns países em desenvolvimento já utilizemtecnologias limpas e renováveis, a concentração dos gasesestufa na atmosfera ainda é alarmante. Daí a urgente neces-sidade de se combater o efeito estufa por meio do uso sus-tentável de combustíveis alternativos, da reciclagem demateriais e da eficiência energética.

Em suma, o efeito estufa natural é um fenômeno essen-cial para a manutenção do equilíbrio térmico e da vida naTerra. No entanto, sua ação quando relacionada com o au-mento artificial e desproporcional dos gases do efeito estufana atmosfera pode desencadear mudanças dramáticas noclima, com graves consequências socioambientais.

Assessora Jurídica [email protected]

Nº 24 Ano VI Junho de 2010

ISSN - 1809-0915

Informativo produzido pela

Fundação de Amparo à Pesquisa

do Estado do Piauí - FAPEPIPUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

DIRETOR EDITORIALAcácio Salvador Véras e Silva

CONSELHO EDITORIALAcácio Salvador Véras e SilvaFrancisco Laerte J. Magalhães

Wellington LageREVISÃO DE TEXTO

Assunção de Maria S. e SilvaEDITORA

Márcia Cristina

REPORTAGEM E FOTOSMárcia Cristina (Mtb -1060)Roberta Rocha (Mtb - 1856)

IMPRESSÃOGrafiset Gráfica e Editora

TIRAGEM9 mil exemplares

PROJETO GRÁFICOTony Cesar (86) 8832-5057

PARA CRÍTICAS, SUGESTÕES E CONTATO:[email protected] - [email protected] - www.fapepi.pi.gov.br

OU PELOS TELEFONES: (86) 3216-6090 - Fax: (86) 3216-6092

2 TERESINA-PI, JUNHO DE 2010EX

PEDI

ENTE

AO LEITOR

EDITORIAL

A r t i g o

Eliana Morais de Abreu*

Page 3: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

A hegemonia política no Piauí atualAA

lguns autores sustentam quena fase do capitalismo finan-ceiro a diferenciação de inte-

resses de frações no interior da classedominante teria sido abolida. Essa éa posição, por exemplo, do econo-mista francês Gérard Duménil. Defato, pode ocorrer de formarem-se osgrupos multifuncionais, ou seja, osconglomerados econômicos queatuam em mais de uma esfera do ca-pital (indústria, banco, comércio). Noentanto, esse fenômeno não anula aexistência das frações de classe, uma

vez que aqueles conglomerados ten-dem a sofrer o recorte dos interesses

setoriais, em razão do impacto das políticas do Estado,no seio deles. No Piauí, no período anterior a 1964, ogrande capital extrativo (cera de carnaúba e babaçu) eradividido por conflitos entre as suas várias dimensões(agrária, comercial, industrial), sendo que a política eco-nômica do Estado piauiense favorecia o capital mercan-til. Assim, diante de certas políticas, a família Freitas -possuidora de fazenda e casa exportadora – podia perdercomo fazendeiro, mas ganhava como comerciante.

Dessa forma, a classe dominante não é homogênea.Os conflitos, no seu interior, determinam o perfil dapolítica econômica governamental. Isso em razão dacapacidade de pressão sobre o aparelho do Estado,exercida pelos setores dominantes. Cabe, assim, inda-garmos que fração do capital detém a hegemonia polí-tica no Piauí atual.

A nossa hipótese de trabalho é que, a partir da eleiçãodo governo estadual do Partido dos Trabalhadores – PT,em 2002, houve a mudança da preponderância do capitalcomercial (importador de bens manufaturados) para a he-gemonia política da burguesia agrária (exportadora debens primários).

O sistema de estradas pavimentadas, constituído apartir dos anos 1960/70, ligava, sobretudo, as grandes ci-dades locais às estradas federais. As estradas rurais esta-vam sempre em dificuldades, pois, sob aresponsabilidade das municipalidades, estas não tinhamnunca os recursos para melhorá-las. A Associação dosPrefeitos do Piauí fazia reiteradas críticas a esse sistema,que favorecia o transporte de produtos de outros estados,em detrimento da produção agrícola local. A partir de2002, esse quadro se altera, com a pavimentação das es-tradas rurais pelo governo estadual. Assim, no ano de2007, a pavimentação de estradas estaduais (2.415 km)supera a de estradas federais (2.238 km).

O sistema de energia elétrica era criticado pelos re-presentantes do setor agrícola e os da indústria urbana.Como em outros estados, uma usina hidroelétrica foiconstruída no Piauí durante os anos de 1960; mas o go-verno local não foi capaz de praticar uma política de pre-ços diferenciados, que favorecesse o consumo produtivode energia – como foi o caso no Estado de São Paulo. NoPiauí, os representantes do capital comercial – a Asso-ciação Comercial e a Câmara dos Dirigentes Lojistas –manifestaram uma forte oposição a uma política de pre-ços diferenciados para a energia, ameaçando transferirsuas atividades para outras regiões. Esses representantesargumentavam que uma prática de preços reduzidos paracertos segmentos sociais implicaria necessariamente umaelevação de impostos locais, o que o comércio não estava“em situação de suportar”. Os representantes do setoragrário, através da Federação da Agricultura e Pecuáriado Estado do Piauí (FAEPI), passaram a reivindicar a “ta-

rifa verde”, que ainda estaria no papel. As condições de crédito foram favoráveis às ativida-

des produtivas. No Piauí, o Banco do Nordeste do Brasil(BNB) aplicou mais de R$ 790 milhões em 2008, repre-sentando um aumento de 62% em relação a 2007. Umdestaque são as Parcerias Público-Privada (PPP), umamodalidade especial de concessão de crédito para infra-estrutura, onde o BNB constituiu um Grupo de Trabalhopara organizar e buscar investidores para diversas obras.Um projeto de PPP a ser desenvolvido no Piauí é para pa-vimentar a rodovia PI-397, conhecida como Transcerra-dos, por onde já escoa parte significativa da safra degrãos do Estado. Na avaliação do presidente da FAEPI,as agências de fomento ao crédito no estado – BB e BNB– têm tido uma atuação positiva para o agronegócio.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)vem investindo, no Piauí, em estradas e energia e o Go-verno Estadual mostra disposição de continuar atuandojunto ao agronegócio. O cerrado piauiense é o quartomais importante do Brasil e o primeiro do Nordeste, ocu-pando uma área de 11.856.866 milhões de hectares, o quecorresponde a 46% da área do Estado. Os empreendedo-res agrícolas foram atraídos para os cerrados piauiensesdevido ao esgotamento do solo em outras regiões dopaís, ao preço extremamente baixo das terras, à proxi-midade do mercado externo, à existência de solos comcaracterísticas favoráveis à mecanização, aos baixos sa-lários da mão-de-obra local e aos recursos governamen-tais facilitados, como incentivos fiscais e financeiros. Aprodução de grãos nos cerrados cresce a taxas elevadas:a produção de soja aumentou em 326,5% entre 2002-2004, enquanto a de arroz elevou-se em 89%, no mesmoperíodo. Em 2005, a participação relativa da soja napauta de exportação do estado era a maior (36%), se-

guida da cera de carnaúba (21%) e da castanha de caju(11%). Em 2009, a soja consolida-se como o produtolíder da pauta de exportações: as vendas do produto re-presentam quase 70% da pauta.

Até 2002, a cidade de Guadalupe, apesar de estar àsmargens do rio Parnaíba e ter a barragem de Boa Espe-rança, importava 15 toneladas de frutas e legumes de Pe-trolina (PE), a cada semana. Sete anos depois, opresidente da Associação Central de Irrigantes do Perí-metro Platôs de Guadalupe conta que o município exporta15 toneladas de fruta por dia. Segundo o IBGE, o Sul doPiauí, área dos cerrados, é a região que mais cresceu empopulação nos últimos dois anos. Nas nove maiores cida-des da região, a média de crescimento foi de 3,5%, acimada média do Estado, que ficou em 3,3%, e das cidades daregião Norte, que ficou em 3,1%. Com a efetivação doprojeto da ferrovia Transnordestina, o escoamento da pro-dução de grãos até o porto de Suape no Estado de Per-nambuco será facilitado e o Piauí muito beneficiado.

As exportações, de janeiro a agosto de 2009, regis-traram U$ 110 milhões em vendas, crescimento de 40%em relação a igual período do ano de 2008. O desem-penho das exportações do Piauí ignorou a média bra-sileira, que registrou uma queda de 25%. Ocrescimento de 40% foi o único entre os Estados doNordeste e o maior aumento verificado no Brasil emtermos percentuais. O PIB estadual saltou de R$ 7 bi-lhões, em 2002, para R$ 12 bilhões, em 2006, e a pro-jeção para 2009 é de R$ 18 bilhões. O aumento do PIBde 2002 para 2009 é em torno de 157%. Isso se refletiuno Orçamento Geral do Estado, que era de R$ 1,5 bi-lhões em 2002, e foi para R$ 5 bilhões em 2009, au-mentando cerca de 200%.

A política econômica governamental (infraestru-tura, crédito) voltada preferencialmente para a atividadeprodutiva refletiu-se no maior dinamismo do setor agrí-cola e pecuário. Assim, no período 2002-2004, a parti-cipação da atividade primária no valor adicionado noEstado passou de 9% para 13%; enquanto a atividadeterciária decresceu do patamar de 65% para 60%. A ar-recadação de ICMS por setor de atividade mostrou queo setor primário teve uma variação de 173% de recolhi-mento entre 2007 e 2008, enquanto o setor terciário ficoucom uma oscilação de 12% no mesmo intervalo.

A hegemonia política da burguesia agrária periféricaimplica uma redefinição na dependência interregional. Ocapital comercial periférico, por se ver atrelado ao capi-tal industrial da região pólo, tende a se comportar como“burguesia compradora”, isto é, como simples interme-diária dos interesses externos (nacionais e estrangeiros).Isso significa que os representantes políticos dessa fraçãode classe, no âmbito regional, não oferecem resistênciasàs políticas nacionais (favoráveis à burguesia do centroeconômico). Já a burguesia agrária periférica, por disporde uma base de acumulação autóctone, tende a uma pos-tura de “burguesia interna”, ou seja, de ambiguidadefrente aos interesses externos (nacionais e estrangeiros):ora apoiando, ora resistindo as políticas ligadas a tais in-teresses. No Piauí, por exemplo, os representantes daburguesia agrária, através da FAEPI, posicionaram-secontrários à legislação ambiental do Governo Federal,que se adequaria aos interesses dos estados mais desen-volvidos, onde não existem mais áreas novas a serem ex-ploradas na agropecuária, diferentemente de Estadoscomo o Piauí.

* Professor da UFPI e doutorando em Ciência Política na Unicamp.

[email protected]

Francisco Pereira de Farias*

3TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

ARTIGO

DIV

ULG

ÃO

Page 4: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

4 TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

de Novas Tecnologias para o Arranjo

REPORTAGEM

AAatividade extrativista do babaçué uma das mais antigas e signi-ficativas no Estado do Piauí. As

potencialidades da (Orbignya phale-rata) vão desde o aproveitamento dococo, como o seu desdobramento emtodas as frações primárias do epicarpo,mesocarpo, endocarpo e amêndoas. Asua exploração econômica é realizadade diversas formas: como alimento hu-mano, na medicina popular e aindacomo materiais de limpeza e cosméti-cos. Artesanalmente, podem-se obtervários utensílios domésticos a partir damanipulação de partes da planta. Poroutro lado, tal aproveitamento sempreesbarrou na falta de tecnologia queviabilizasse a obtenção e a aplicaçãode tais produtos, uma vez que a inexis-tência de pesquisas tecnológicas tornaa indústria incipiente.

Mesmo com a carência de pesqui-sas, o babaçu constitui hoje fonte deemprego e renda para milhares de fa-mílias, principalmente no Meio-Nortedo Brasil, onde sua abundância émaior, numa área calculada em maisde 17 milhões de hectares. A partir dolevantamento destes dados, pôde-seobservar o rico potencial industrial ecomercial que representa a exploraçãoda palmeira. Com o objetivo de desen-volver a cadeia produtiva da explora-ção do babaçu, o Governo do Estadodo Piauí, por meio da Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado do Piauí(FAPEPI) e da Secretaria de Estadode Desenvolvimento Econômico

e Tecnológico (SEDET), buscaramparceria com pesquisadores da Univer-sidade Estadual do Piauí (UESPI), Uni-versidade Federal do Piauí (UFPI) eInstituto Federal de Educação Ciênciae Tecnologia (IFPI) para realizaremum projeto com mote nas pesquisascientíficas que viabilizasse recursospara a obtenção de novos produtos apartir da exploração da palmeira, co-meçando com a implementação dabase estrutural de laboratórios e mão-de-obra especializada.

A partir daí, criou-se um centro deprodução de conhecimento e desenvol-vimento de tecnologias apropriadas asustentabilidade desse setor. Assim,formalizou-se o Núcleo Interinstitucio-nal de Estudos e Geração de NovasTecnologias para o Fortalecimento doArranjo Produtivo Local do Babaçu –o GERATEC, que foi aprovado pelaFinanciadora Nacional de Estudos eProjetos (FINEP) e o Governo do Es-tado do Piauí. Trata- se de uma açãode grandes proporções que congregainstituições de CT&I do Piauí,com o objetivo de desenvolverações voltadas para o atendimentodas demandas de inovação tecno-lógica das atividades produtivas doagronegócio do babaçu no Estado. OGERATEC tem a função de dar su-porte ao desenvolvimento de tecno-logias apropriadas à valorizaçãode produtos e subprodutos do

babaçu com o estabelecimento deuma infraestrutura munida de equipa-mentos de caracterização química, fí-sica, biológica, mecânica e estrutural,respaldada por uma equipe técnica ecientífica especializada.

Neste projeto, que teve início em2009, está sendo investido um total derecursos de R$ 6.113.931,40, sendo acontrapartida do Governo Estadualmais de um milhão e meio. Do total,aproximadamente três milhões serão in-vestidos na UESPI, compreendendoobras e instalações, equipamentos labo-ratoriais, reagentes, bolsas para pesqui-sadores visitantes, de Apoio Técnico ede Iniciação Científica.

A proposta é obter novos produtosa partir da exploração dos compostosdo coco babaçu, do mapeamento dacadeia produtiva e de estudos das fo-lhas, amêndoa e fibra, como tambémda instalação de três modernos labora-tórios de análises químicas. Os novosprodutos e os derivados já conhe-cidos, a partir da pesquisa cien-tífica, deverão ter seu valoreconômico aumentado, o querepresentará um reforço tantona economia familiar, quantona do próprio Es-tado do Piauí. Aspesquisas pode-

rão inclusive produzir patentes deprocessos, máquinas, produtos paraquímica fina, alimentícia, cosméticae de novos materiais, microbiologiaetc. Além disso, também se produziráconhecimentos sobre as extensões denossas matas de babaçuais, preserva-ção e povoamento.

O coordenador geral do Projetoé o Prof. Dr. Nouga Cardoso Batista(curso de Química/UESPI); a ProfªDrª Francisca Lúcia de Lima e a ProfªEmília Odonis (ambas do curso deBiologia/UESPI) coordenam as pes-quisas de três subprojetos no Núcleode PD&I em Oleoquímica, no Nú-cleo de Pesquisa em substâncias an-timicrobianas extraídas do babaçu eno Núcleo de Pesquisas em BiologiaVegetal do Babaçu. Dessa forma, foi

Page 5: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

5TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

o Piauí em excelência na pesquisa

OOProjeto GERATEC contemplacinco subprojetos, que já estãorecebendo os recursos para o

cumprimento dos objetivos e deman-das durante as várias fases de vigên-cia do convênio, que é de três anose, caso não haja pedido de renova-ção, deverá ser concluído no final de2010. O projeto nasceu pelo esforçoconjunto do Governo Federal com oGoverno Estado, em virtude da ca-rência de uma base infraestruturalpara desenvolvimento de açõescientíficas e tecnológicas no Piauí,que barravam o desenvolvimento,fortalecimento e integração da eco-nomia local do agronegócio do ba-baçu com a economia regional,nacional e internacional.

Os subprojetos são: 1 - Núcleode desenvolvimento de Tecnologiasapropriadas à cadeia produtiva dobabaçu (NUDETAPI), a ser implan-tado no IFPI; 2 – Núcleo de Desen-volvimento de Novos Materiais e denanotecnologia (NANOTEC), a serexecutado pela UFPI; 3 – Núcleo deP&DI em Oleoquímica de DerivadosQuímicos do Babaçu (P&DI-

OLEOQ), a ser executado pelaUESPI; 4 – Núcleo de Pesquisa emsubstâncias antimicrobianas extraí-das do Babaçu (LABMICRO), exe-cutado pela UESPI e 5 – Núcleo dePesquisa em Biologia Vegetal do Ba-baçu (LABIOVEG), executado pelaUESPI. Embora, eles sejam implan-tados e executados separadamenteem uma das três instituições, UESPI,UFPI e IFPI, os pesquisadores e bol-sistas atuarão em parceria com os la-boratórios, como um projeto quefunciona em rede.

O NANOTEC é coordenadopelo Prof. Dr. de Química da UFPI,José Ribeiro dos Santos Júnior. Estesubprojeto tem como objetivo imple-mentar técnicas específicas de carac-terização de materiais com oobjetivo de gerar produtos tecnoló-gicos de alto valor agregado. Os re-cursos do GERATEC são destinadosa estruturar os laboratórios dos cur-sos de Química e de Física já exis-tentes, como o Laboratório doGrupo de Materiais e de Nanobio-tecnologia. Na Física, o coordena-dor das pesquisas é o Prof. Dr.Angel Alberto Hidalgo**.

A aquisição de equipamentos deúltima geração é uma delas; apenasum deles custou mais de R$ 500 mil(228 mil Euros), um microscópio deforça atômica (AFM). O equipa-mento faz foto quase em nível mole-cular e mapeamento de superfíciesde filmes. Segundo José Ribeiro, oaparelho tem um RAMAM, que é umexpectômetro que auxilia a identifi-cação das substâncias analisadas.Outra vantagem do microscópio éque possibilitará as pesquisas emfilmes e polímeros de óleos vege-tais pela técnica LANGMUIR, aco-plado com um elipsômetro, que éum aparelho que permite medir aespessura dos filmes estudados.“Esse estudo específico de óleosvegetais é muito importante porqueessas camadas de óleos tambémpodem ser estudadas para sistemasbiológicos de membrana celular.

Todas as pesquisas com o babaçuirão beneficiar os programas de Pós-Graduação de Química e de Físicada UFPI. O conhecimento da estru-tura físico-química do babaçu seráfeita aqui, possibilitando o conheci-mento e a divulgação posterior emartigos científicos”.

A recém-doutoranda da UFPIpelo Programa RENORBIO, IonaraNaiana Gomes Passos, escolheupesquisar o babaçu, já visando lequede possibilidades que encontrariacom a implantação do GERATEC.Ela defenderá a tese “Isolamento,caracterização e aplicação do co-rante do coco babaçu”. Um estudonovo e o Dr. José Ribeiro acreditaque a doutoranda será beneficiadacom a tecnologia avançada paraseus estudos. Sabe-se que o babaçupossui vários tipos de corantes eestes apresentam vários constituin-tes, que têm aplicação, por exemplo,para tingir fibras, como o algodão, eainda aplicação em células solares,que utilizam a energia do sol e têma capacidade de transformar emenergia elétrica. A pesquisa de Io-nara levará ao início do isolamento

desses corantes dentro da estruturado coco.

Se o Departamento de Quí-mica, por meio dos cursos de gra-duação e pós-graduação estudarão,entre outros, a morfologia em escalananométrica de polímeros sintetiza-dos a partir do óleo do babaçu e asfibras, o Departamento de Física faza caracterização de transportes decargas (condução de eletricidade) ea parte de ótica dos filmes, emissãoe absorção de luz.

possível montar o mais completo labo-ratório de análises químicas do Es-tado, o que dará a oportunidade deampliar as atividades de pesquisa, me-lhorar atividades de ensino e prestarserviços à comunidade.

“A pesquisa dentro da universi-dade tem que ter um direcionamentofinal, o de melhorar a vida em socie-dade, daí porque nós temos pesquisaem medicamento, para que leve a cura

de pessoas; pesquisa em tecnologia,para que se possa produzir bens deconsumo com custo mais barato. Apesquisa com o coco babaçu visa me-lhorar a vida das pessoas e, com inte-resse, as que vivem da extração ecomercialização do coco, para quepossam sobreviver de forma maisdigna. Estamos realizando pesquisaspara mais adiante apresentar respostaspara a sociedade de produtos viáveis

social e economicamente”, disseNouga Batista.

Para o Prof. Dr. Ayrton de Sá Bran-dim, (IFPI), antes do GERATEC o ba-baçu não era considerado como umArranjo Produtivo Local – APL, comoo mel, a cachaça, a cajuína etc. “Esta-mos desenvolvendo várias pesquisas,uma delas tem como foco o levanta-mento georeferenciado das matas dosbabaçuais no Meio-Norte. Outra linha

de pesquisa, no setor de engenharia,explora as fibras do coco e da palhado babaçu para obtenção de compósi-tos onde se desenvolve um aglome-rante natural utilizando o mesocarpoassociando a uma resina natural.Além disto, estamos realizando a ca-racterização fisicoquímica de bio-combustível do babaçu e estudando opotencial para produção de alimen-tos”, explicou o pesquisador.

José Ribeiro dos Santos Júnior*

Microscópio de força atômica - sistema AFM-RAMAN

RC

IA C

RIS

TIN

A

Luiz Francisco Pianowski

Coordenador da Pesquisa

com o AM10 e AM11

[email protected]

Nouga Cardoso Batista

Prof. Dr. em Química da UESPI

[email protected]

Ayrton de Sá Brandim

Prof. Dr. em Eng. de Materiais do IFPI

[email protected]

* Prof. Dr. do Depto. de Química da UFPI

[email protected]

** Prof. Dr. do Depto. de Física da UFPI

[email protected]

AR

QU

IVO

UFP

I

Page 6: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

6 TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

AAprofessora da UESPI SilviaMaria Colturato Barbeiro édoutora em Botânica e desen-

volve um subprojeto no GERATEC(Núcleo Interinstitucional de Estudose Geração de Novas Tecnologias) parao fortalecimento do arranjo produtivolocal do babaçu, tendo como linha depesquisa a área da ecologia. O estudode Silvia Barbeiro visa fazer o levan-tamento de epífitas que utilizam o ba-baçu como forófito e detectar adiversidade dessas espécies nas diver-sas áreas do Estado. A pesquisa ana-lisa, além das epífitas, outras espéciesque podem se desenvolver no suportedo babaçu.

Epífitas são plantas autótrofas quese desenvolvem sobre outro vegetal,denominado forófito, vivendo todo oseu ciclo de vida, ou parte dele, sobreo hospedeiro. São independentes doforófito na obtenção e aproveitamentode nutrientes e água, embora sejamconfundidas, frequentemente, com es-pécies parasitas. Essas epífitas apre-sentam uma relação harmônica, oepifitismo, caracterizada por não cau-sar prejuízo no suporte proporcionadopela planta hospedeira.

Segundo Silvia Barbeiro, os epí-fitos vasculares constituem uma dascategorias ecológicas mais diversifica-das de florestas úmidas tropicais e sub-

tropicais exercendo grande influêncianos processos e manutenção dos ecos-sistemas, como ciclagem de água e nu-trientes. Essas espécies contribuem,portanto, na manutenção da diversi-dade biológica e no equilíbrio intera-tivo entre as espécies, tendo em vistaque este grupo de plantas proporcionarecursos, como alimento (frutos, néc-tar, pólen), além de microhabitats es-pecializados para a fauna, constituídapor uma infinidade de organismos.

O objetivo desse trabalho é carac-terizar a composição florística do com-ponente epifítico vascular presente emindivíduos de babaçu de uma mata decocais; classificar as espécies em cate-gorias ecológicas, de acordo com suarelação com o forófito; comentar sobreos aspectos ecológicos e de distribui-

ção das espécies e comparar a floraepifítica com levantamentos existentesem outras áreas.

Para Silvia Barbeiro, a pesquisarepresenta uma valiosa contribuiçãopara a complementação do conheci-mento da flora regional, visto que todoo restante das pesquisas com as comu-nidades vegetais da região concen-tram-se em espécies terrícolas.

A pesquisadora explica que comesse estudo espera-se que a análise e oconhecimento dos componentes per-tencentes à referida flora poderão seconstituir em dados que possam refor-çar a importância dessas matas e sub-sidiar a hipótese de que os cerrados doNordeste compõem um dos supercen-tros de biodiversidade; auxiliar outrosestudos, ampliando a base de conheci-mento sobre a flora epifítica de umamata de Orbignya sp, bem como daecologia do forófito, inserida na áreados cerrados do Piauí, para que sepossa auxiliar na tomada de decisõessobre a preservação e utilização deforma correta pela sociedade.

O estudo encontra-se na fase ini-cial de seu desenvolvimento com asvisitas de campo e a área escolhidapara realização da pesquisa foi umamata de babaçu pertencente à FazendaNazareth Eco Resort, localizada nomunicípio de José de Freitas. Esta áreasitua-se na microrregião de Teresina ena mesorregião centro-norte piauiense,com altitude de 138m.

De acordo com a pesquisadora, aárea estudada está inserida nos cerra-dos do Nordeste com clima caracteri-zado pela presença de uma estaçãoseca e outra chuvosa bem definida. O

ciclo anual das chuvas começa em de-zembro e a precipitação pode sofrervariações interanuais com anos relati-vamente mais secos.

Silvia Barbeiro explica que, atra-vés de avaliação visual, pode-se cons-tatar a presença de representantes dafamília Orchidaceae, com uma espéciepertencente ao gênero Vanilla sp eduas do gênero Catasetum spp, alémde três espécies de Pteridophyta, todasclassificadas como holoepífitas verda-deiras e geralmente localizadas nofuste alto (base das folhas verdes maisvelhas) dos indivíduos adultos de ba-baçu. Nesta mesma altura, foram ob-servadas espécies de eudicotiledoneaspertencentes, provavelmente, a catego-ria ecológica das holoepífitas aciden-tais e, no fuste baixo (cerca de 50cmdo solo), uma espécie do gênero Pas-palum sp da família Poaceae, classifi-cada na mesma categoria.

Por outro lado, ainda não foramrealizadas coletas das espécies, poisestas dependem de épocas chuvosaspara se desenvolver e florar. “Nas pri-meiras observações, as espécies nãoestavam em estágio fértil, período ne-cessário para fazer as constatações dapesquisa, ou seja, os espécimes nãoforam coletados para posterior herbo-rização por não se encontrarem emfase reprodutiva, estádio de desenvol-vimento necessário para a sua corretaidentificação botânica”, esclarece apesquisadora.

Ela acrescenta que “esse ano foimuito anômalo em relação à chuva e,portanto, não tivemos uma resposta sa-tisfatória dessas plantas; por este mo-tivo não foram coletadas paraidentificação. Apesar das poucasconstatações através do pequeno nú-mero observado de holoepífitas obri-gatórias, vale ressaltar que asvariações climáticas constituem umgrande fator que é também responsá-vel por influenciar os eventos fenoló-gicos (enfolhamento, desfolhamento,floração, frutificação) regulando aépoca, a intensidade, a duração e a pe-riodicidade dessas fenofases”.

De maneira geral, Silvia Barbeirodestaca que os levantamentos que en-globam toda a flora epifítica vascular

REPORTAGEMPesquisadoras realizam levantamentoda flora e da anatomia do babaçu

Coordenadoras das pesquisas Silvia Maria Barbeiro* e Maria de Fátima Oliveira Pires**

Corte transversal da lâmina foliar evidenciando fibras subepidérmicas (setas)do babaçu Orbignya sp. Escala: 50 μm

Page 7: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

7TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

realizados no Brasil sãoainda escassos, sendo quea maioria dos trabalhosefetuados nas diferentesformações vegetais sãoinventários de um deter-minado grupo taxonômico(Araceae, Bromeliaceae,Orchidaceae, Pteridop-hyta, por exemplo). “Até omomento não se conhecenenhum estudo relativo àdiversidade das matas debabaçu envolvendo, quera comunidade epifítica,quer a de apenas um deter-minado táxon”, enfatiza Sil-via Barbeiro.

Como as pesquisas de-senvolvidas na UESPI abor-dam as áreas da fisiologia,anatomia e ecologia, a ProfªDrª. Maria de Fátima de OliveiraPires, do Curso de Licenciatura emBiologia, também faz parte do Pro-jeto GERATEC, em um subprojetona área de botânica e tem como fina-lidade realizar a caracterização ana-tômica da folha e do fruto dobabaçu.

A pesquisa propõe analisar a

folha e o fruto do babaçu, enfocandoprincipalmente as características dasfibras, contribuindo, dessa forma, paraampliar a base do conhecimento sobrea biologia da espécie e servir comosubsídio para os outros subprojetos doGERATEC.

O objetivo deste subprojeto é am-pliar estudos básicos e aplicados sobre

a biologia do ba-baçu, dandosubsídios para ouso racionaldos recursosassociados àsua cadeia pro-dutiva noPiauí. O es-tudo estásendo reali-zado em con-junto com otrabalho daprofessoraSilvia Bar-beiro, poisambas uti-lizam a

mesma área decampo para a coleta das folhas e fru-tos. A primeira fase da pesquisa foiiniciada a fim de avaliar a anatomiadas folhas e o material botânico estáem análise no Laboratório de Anato-mia Vegetal da UESPI.

Maria de Fátima revela que ospróximos passos são as coletas em ou-tras regiões do Estado e a aquisição deequipamentos para trabalhar com osfrutos do babaçu.

“O nosso objetivo é caracteri-zar o conhecimento das fibras dobabaçu, anatomicamente, e anali-sar as diferenciações nas áreas emque ocorrem. Uma das observa-ções do estudo é analisar se exis-tem mudanças nas folhas emambientes secos e úmidos, a fim detraçar um comparativo da anato-mia da planta em várias regiões;até o momento foi analisada a ana-tomia foliar de espécimes de umapopulação ocorrente no Municípiode José de Freitas (PI)”, explicoua pesquisadora, que acrescenta queos resultados de sua pesquisa, alia-dos aos obtidos dos outros subproje-tos em desenvolvimento no ProjetoGERATEC, são de fundamental im-portância e possibilitarão comple-mentar os estudos sobre a cadeiaprodutiva do babaçu.

* Profª. Drª. do Departamentode Biologia da UESPI

[email protected]

Profª. Drª. do Departamentode Biologia da UESPI

[email protected]

SSe tem uma coisa que nenhumpesquisador já desenvolveu atéhoje, quando o assunto é o ba-

baçu, foi uma máquina que realmenteservisse para a quebra de um doscocos mais resistentes da natureza.Mas necessariamente os inventosnem sempre partem dos acadêmicos,basta alguém que tenha a façanha decriar algo inédito. Foi o que o mara-nhense Demóstenes Cardozo Leite,quer vive em Teresina há muitosanos fez: inventou e patenteou hátrês anos o projeto da máquina debeneficiamento do coco babaçu.Com o projeto pronto e pelo menosduas delas já em funcionamento, oinventor diz, com orgulho, que in-ventou a primeira máquina de bene-ficiamento de babaçu do mundo.

A ideia parece genial, afinal, pe-sando 1,2 tonelada, feita do mais puroaço, visando resistir à rigidez dococo, a máquina faz o que toda que-bradeira de coco gostaria: num piscarde olhos realiza a quebra separando,ao mesmo tempo, as principais partesda amêndoa, epicarpo, mesocarpo,endocarpo e amêndoa. A capacidadeda engenhoca: três toneladas de cocoquebradas por hora, ou seja, para uma

produção média de 10 horas/dia, amáquina rende o impensável até hoje:30 toneladas de coco quebrados e di-vididos, prontas para comercializaçãoou para processos de industrialização.Uma das máquinas funciona hoje naempresa de Demóstenes, a BabaçuBrás, que funciona no município dePirapemas-MA, a 320 Km de Tere-sina. A produção para comercializa-

ção é do pó do mesocarpo, que servepara alimentação e tem muitas pro-priedades terapêuticas.

Mas quem pensa que Demóste-nes já está milionário com a sua obs-tinada e cobiçada invenção, quecusta entre R$ 80 e R$ 100 mil, en-gana-se. “Ainda não vendemos ne-nhuma para os empresários, emboragente da Holanda, Japão e de outrospaíses já tenha nos procurado. Nuncapensei em vender, mas transferir tec-nologia, principalmente com o go-

verno. Este compraria as máquinas erepassaria para os extrativistas. Que-remos agregar valor e impedir que

elas caiam nas mãos de pessoas quevisam apenas o lucro. Se a coisanão for feita de forma a valorizarquem vive da cata e quebra do ba-baçu, isto é, a máquina funcio-nando em um projeto que envolveo trabalho dessas pessoas, o pro-cesso de escravidão e pobreza vaicontinuar”, disse com sabedoria.

Demóstenes informou que oGoverno Federal, por meio do Mi-nistério do Desenvolvimento Agrá-rio tem o seu projeto e já estuda acompra do mesmo, bem como osgovernos do Piauí e do Maranhão.“O Governo do Maranhão já mani-festou maior interesse, tanto é quelevamos a máquina para ser apre-sentada no I Congresso Brasileirode Palmeira do Babaçu”, disse De-móstenes. O congresso, realizadopela UEMA, no último mês deabril, em São Luís, foi o primeiroevento nacional a discutir e apre-sentar os rumos da pesquisa agro-nômica, da tecnologia industrial eos aspectos social, econômico eambiental e, sobretudo, objetivouincentivar o desenvolvimento sus-tentável do agronegócio e da indús-tria do babaçu.

Alstromeria SP

Produção da máquina é de até 3 toneladas por hora

AR

QU

IVO

PES

SOA

L

Page 8: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 20108

GERATEC agrega valoraos produtos do babaçu

ENTREVISTA

Sapiência – O Projeto GERA-

TEC começa a ser executado com re-

cursos federais e com a contrapartida

do Estado (FAPEPI e SEDET). Quais

são as primeiras etapas de implanta-

ção do mesmo e quais resultados se

pretende atingir, a princípio?

Nouga Batista – O edital que con-corremos na FINEP e deu origem aoprojeto GERATEC denomina-se estru-turante, o que em tese tem como obje-tivo melhorar as condições deinfraestrutura de laboratório para o de-senvolvimento de pesquisas. Portanto, aprimeira etapa consiste em fazer aquisi-ção de equipamentos e investimentosque visem à melhoria da estrutura fí-sica de laboratórios nas três institui-ções parceiras, UESPI, IFPI e UFPI.Neste projeto, o foco principal serátransformar produtos naturais do cocobabaçu de baixo valor agregado, pormeio da pesquisa e desenvolvimentocientífico & tecnológico que visam aobter novos componentes tecnológi-cos, adicionando valor econômico àssubstancias e derivados da palmeira edo fruto do coco babaçu. Ainda, bus-caremos conhecer a real situação daocorrência dessa espécie vegetal e suadistribuição territorial, por meio de es-tudos de georeferenciamento.

Sapiência - Qual a relação do

Projeto GERATEC com o setor pro-

dutivo?

Nouga Batista – Na região deno-minada Meio Norte do Brasil, onde sesitua os Estados do Piauí e Maranhão, aexploração do coco babaçu é utilizadacomo fonte de renda por milhares de fa-mílias. Por isso, com o objetivo de de-senvolver políticas de fixação dohomem no campo e de forma digna éque o Governo do Estado através da FA-PEPI e SEDET escolheram a cadeia

produtiva do coco babaçu como de in-teresse no desenvolvimento desta pes-quisa. Através do GERATECbuscaremos alternativas para uma me-lhor exploração do coco babaçu, bus-cando a geração de novas tecnologias,agregar valor econômico a seus deriva-dos. Não temos dúvida que este con-junto de ações levará a um aumento darenda de milhares de famílias e contri-buirá significativamente para melhorarsuas condições de vida.

Sapiência – Ainda pouco estu-

dado quanto às suas inúmeras aplica-

ções, o babaçu já demonstrou que

pode gerar diversos produtos, entre

eles na alimentação, na cosmética, in-

dústria farmacêutica, de lubrifican-

tes, tintas, vernizes, borracha,

plásticos, etc. Como as pesquisas

podem ajudar a entender me-

lhor este recurso natural tão

importante do Piauí?

Nouga Batista – Nãopodemos negar que já co-nhecemos muito sobre apossibilidade de exploraçãoeconômica deste vege-tal. No entanto,ainda não conse-guimos retirardo babaçualgo maisi m p a c -tante que

possa mudar a vida das pessoas quelidam diretamente ou que sobrevivemda exploração do coco babaçu, nemtão pouco as riquezas produzidashoje foram capazes de frear o desma-tamento dos babaçuais em favor deoutras atividades agropecuárias.Neste sentido, acreditamos que osnovos conhecimentos que estamosbuscando tornarão a exploração dococo babaçu mais atraente economi-camente, o que certamente concor-rerá para o estabelecimento depolíticas e ações de preservação de nos-sas matas de babaçuais.

Sapiência - Em relação ao ba-

baçu, a maior carência é de conheci-

mento científico ou de conhecimento

tecnológico?

Nouga Batista - Os dois. Poucatecnologia e conhecimento científico

foram gerados no que se refere aobabaçu. No que se refere às for-mas como os frutos têm sido be-

neficiados ainda podemosdizer serem artesanais. Conhe-cemos poucas experiências que

visam à industrialização do pro-cesso de quebra do fruto e que

possibilite o aprovei-tamento integral

do mesmo.Embora reco-

nheçamosque muitas

tentativas tenham sido efetuadas. Outrofator relevante que devemos levar emconsideração é que os produtos obtidosdos derivados das amêndoas têmmuito pouco de conhecimento cientí-fico incorporado. Os constituintes quí-micos em menor escala e queconferem características especiais aoóleo como cor e odor, não foram total-mente identificados.

Sapiência – O projeto GERA-

TEC tem grandes proporções e en-

volve instituições de ensino e

pesquisa, como a UESPI, a UFPI e o

IFPI, além do setor produtivo.

Como o projeto pretende articular

as ações para que os estudos e inves-

timentos aconteçam em sincronia

nestas instituições, visando a atingir

os objetivos propostos?

Nouga Batista – A execução doprojeto foi muito bem planejada. Temosum coordenador geral que acompanha apesquisa como um todo e responde àtodas as demandas dos coordenadoresdos cinco subprojetos no que se refereàs necessidades de compra de materiaise equipamentos, pagamentos de passa-gens e diárias de pesquisadores, todasantecipadamente elencadas quando daelaboração de cada subprojeto. Temostambém um comitê gestor, compostopelos cinco coordenadores, que acom-panha a execução do projeto e produzos relatórios, além de discutir e encami-nhar soluções de questões eventuais.Importante colocar que embora o GE-RATEC seja executado em cinco sub-projetos, cada subprojeto desenvolveatividades independentes e que se com-plementarão ao final do projeto.

Sapiência - Houve insucessos na

produção e comercialização de bio-

combustível à base da mamona, ape-

sar da grande publicidade positiva e

OOcoordenador Geral do Projeto GERATEC (Núcleo Interinstitucional de Estudos e Geração de novas tecnologias para o fortaleci-

mento do arranjo produtivo local do Babaçu), Prof. Dr. Nouga Cardoso Batista, possui graduação em Licenciatura Plena em Ciên-

cias pela Universidade Federal do Piauí (1992), mestrado em Química (Química Analítica) pela Universidade de São Paulo (1995) e

doutorado em Química (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (1999). Atualmente é professor adjunto - DE da Universidade Es-

tadual do Piauí. Tem experiência na área de Química, com ênfase em catálise homogênea e química analítica, atuando principalmente nos

seguintes temas: ensino de química, metátese, análise química. Possui dezenas de publicações em artigos, congresso e eventos científicos,

participações em bancas examinadoras e ainda participou de publicações técnicas. Como Coordenador geral do GERATEC, o Prof. Dr.

Nouga Batista fala das propostas e metas do projeto.

Prof. Dr. Nouga Batista MÁ

RC

IA C

RIS

TIN

A

Page 9: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

9TERESINA-PI, JUNHO DE 2010

de promessas de resultados promissores. Sabe-

se que o biodiesel com a mamona tem uma

composição química que dificulta o seu con-

trole de qualidade. Com relação às pesquisas

de biocombustível com óleo de babaçu, existe

potencial técnico, econômico e social?

Nouga Batista – Sim, o principal consti-tuinte do óleo de mamona (ácido ricinoléico),tem em sua estrutura uma hidroxila que é respon-sável pela alta viscosidade e outras propriedadesindesejável no biodiesel. Já o óleo de babaçu ob-tido da amêndoa do coco é um óleo com carac-terísticas excelentes para a produção dobiocombustível. O maior problema ainda é comoobter amêndoas em quantidade capaz de fornecermatéria prima para a indústria de combustível.Esperamos também que a partir dos resultadosdesta pesquisa, essa demanda deve aumentarainda mais com a perspectiva do desenvolvi-mento de novos produtos para as indústrias decosméticos, farmacêuticas, etc. Aliado a tudoisso, temos que pensar que a exploração do cocobabaçu deve ser rentável para todos que partici-pam da cadeia produtiva e em especial as milha-res de famílias que vivem e têm os babaçuaiscomo alternativas de sustento.

Sapiência – O GERATEC tem previsão

de duração de 36 meses. Depois de findado

este prazo, quando também deixarão de en-

trar recursos, como se sustentará toda a infra-

estrutura, humana e de equipamentos

adquiridos, no sentido de se evitar, inclusive,

que muitos investimentos fiquem obsoletos?

Nouga Batista – Importante colocar que pormeio do GERATEC está sendo feito o maior in-vestimento em estrutura de laboratórios de pes-quisa na UESPI desde sua criação.Disponibilizaremos de laboratórios que nos pos-sibilitarão desenvolver novas pesquisas e em di-ferentes áreas da química e biologia. Fatosemelhante ocorrerá nas outras instituições par-ceiras, IFPI e UFPI, onde os equipamentos con-seguidos por meio do GERATEC se somarão amuito outros já disponíveis. Temos clareza quedepois de terminado o GERATEC, os professoresda UESPI, IFPI e UFPI deverão continuar desen-volvendo projetos de pesquisa com o coco ba-baçu, além de realizar novos projetos em outraslinhas de pesquisa financiados pelo poder públicoou privado. Estas novas pesquisas subsidiarão ofuncionamento adequado dos equipamentos con-seguidos e outros que deverão ser adquiridos.

Sapiência – Sustentabilidade da cultura

do babaçu no Piauí. Este é um dos objetivos do

GERATEC. Qual a proposta para melhorar,

de alguma maneira, a vida das famílias que so-

brevivem do babaçu, a exemplo das “quebra-

deiras” de coco?

Nouga Batista – Por meio da pesquisa cien-tífica poderemos agregar valor econômico aos de-rivados do coco babaçu e até desenvolvertecnologias mais eficientes de extração da amên-doa. Mas ao contrário de outras culturas, a pre-sença humana na coleta será sempreinsubstituível. No nosso entendimento tambémprecisaremos desenvolver políticas de valorizaçãodessa atividade e possibilitar que parte dos divi-dendos econômicos obtidos a partir do desenvol-vimento dessas novas tecnologias sejam divididos

de forma mais justa com essas pessoas. Alémdisso, imaginamos que os estudos apontarão ma-neiras viáveis, e até mais eficientes, de praticarculturas de legumes e cereais nas matas baba-çuais, evitando assim derrubadas e preservandoas palmeiras.

Sapiência – Do fruto extraem-se produ-

tos para a alimentação humana e animal,

como o óleo, azeite, o coco. No entanto, pes-

quisas arrojadas buscam formular novos

produtos, como até mesmo um substituto

economicamente mais viável e mais nutritivo

que o trigo, a partir das fibras da casca. O

que o Sr. sabe sobre esses estudos?

Nouga Batista – Temos notícias da aplica-ção de derivados do mesocarpo na merenda es-colar em cidade aqui no Piauí, um exemplo quedeve ser incentivado, pois está comprovado seuvalor nutritivo e viabilidade econômica. Temosconhecimento de pesquisas nesta área e temoscerteza que elas potencializarão ainda mais onosso coco babaçu como fonte alternativa deaumentar a riqueza de nosso Estado.

Sapiência – Quanto ao impacto ambien-

tal, quais as ações que o projeto prevê para

prevenir a ameaça da planta na natureza, já

ameaçada pelas atividades pecuaristas?

Nouga Batista – Este é outro aspecto im-portante do projeto. Ficando comprovadas aspossibilidades de agregação de valor econômicoaos derivados do coco babaçu, temos certezaque o desmatamento será evitado. Sendo o ba-baçu uma espécie vegetal que ajuda a fixar osolo por meio de suas inúmeras raízes e sendosua ocorrência bastante frequente em margensde rios e mananciais, preservando as palmeiras,estaremos por consequência ajudando a preser-var essas fontes de água e de vidas.

Sapiência – Pouco se sabe do carvão pro-

duzido à base do endocarpo do babaçu. Uns

dizem que polui menos o meio ambiente e

ainda é fonte de energia térmica. O que se

pode afirmar sobre isso?

Nouga Batista – Sabemos que fontesalternativas de energia limpa são bem vin-das, principalmente por causa do efeito es-tufa. Neste ponto, a queima do endocarpo dococo babaçu pode representar uma fonte im-portante. No entanto, do ponto de vista legalnão se pode queimar o fruto inteiro do cocobabaçu (Lei Estadual), embora se tenha co-nhecimento dessa prática em caldeiras dediversas empresas de grande porte. Já foidemonstrado que o mesocarpo tem umpoder calorífico muito alto (quantidade decalor gerado por quilo), baixo teor de cin-zas, baixa umidade, produz pouca fuligens;para uso siderúrgico apresenta boa resistên-cia mecânica, e ainda é fonte de energia re-novável. Os objetivos da lei que proíbe aqueima do coco é garantir o trabalho dasquebradeiras, o que é importante. No en-tanto, concordamos que a prática ilegalexistente hoje em parte, é devido ao poucovalor econômico das amêndoas que pretende-mos modificar com os resultados da pesquisado GERATEC.

Page 10: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 201010

Avaliação de potencialidades e aplicações de espectrômetros com plasma acoplado indutivamente em análises químicas

Edivan Carlhalho VieiraProfessor de Química da UFPIDefesa:Universidade Federal de São Carlos-SP, [email protected]

Desenvolvimento territorial recente em espaçossub-regionais dinâmicos do Piauí

Antônio Cardoso Façanha Professor de Geografia da UFPIDefesa: Univiversidade. Federal. de Pernambuco, [email protected]

A experiência pedagógica de uma escritura dionisíaca

Cellina Rodrigues MunizProfessora da UESPI – Campus Picos-PIDefesa: Universidade Federal do Ceará, [email protected]

Características de substratos e concentrações de soluções nutritivas para o cultivo do crisântemo em vaso

Márkilla Zunete Beckmann-CavalcanteProfessora da UFPI, Campus Profa. “Cinobelina Elvas”Defesa: Universidade Estadual Paulista, UNESP/FCAV, [email protected]

A construção da memória cívica: as festas escolaresespetáculos de civilidade no Piauí (1930-1945)

Contribuição ao estudo dos metabólitos secundários do gê-

nero Casearia e de algumas de suas atividades biológicas

Salânia Maria Barbosa MeloProfessora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, [email protected]

Este trabalho relata o estudo fitoquímico de quatro espé-cies do gênero Casearia, bem como a avaliação de algumasatividades biológicas. O estudo da constituição química de C.gossypiosperma resultou no isolamento de três substâncias,(+)-taxifolina e quercetina e um novo ciclitol: rel-(2R, 3S, 4R,5R)-3,4,5-trihidroxi-2-etóxi-ciclohexanona. De C. obliqua iso-lou-se nove substâncias: sitosterol, cinco diterpenos clerodâni-cos: (rel)-2β-benzoato-6β-hidroxizuelanina +(rel)-6β-benzoato-2α-hidroxizuelanina, 6β-cinamato-2β-hidroxi-zuelanina, sendo dois inéditos caseobliquina A e caseobliquinaB, ácido cinâmico, N-trans-p-cumaroiltiramina e N-trans-feru-loiltiramina. De C. rupestris foram isolados setes ubatâncias, amistura de sitosterol + E-fitol e cinco diterpenos clerodânicosinéditos, as casearupestrinas A, B, C, D e G. A partir da casea-rupestrina A e D foram obtidos, por acetilação, mais dois diter-penos inéditos, as casearupestrinas E e F, respectivamente.Das folhas C. decandra foi isolada a hidroquinona. No perfil fi-toquímico dos extratos hexânicos, obtido por CG-DIC, foi iden-tificado o esteróide sitosterol em todos os extratos analisados.A atividade anticolinesterásica apresentou bons resultadospara a (+)-taxifolina. A atividade antifúngica da casearupes-trina A foi positiva frente a C. albicans, C. krusei e C. neofor-mans. A casearupestrina G também apresentou potenteatividade antifúgica frente as cepas de C. krusei e C. neofor-mans. As substâncias (+)-taxifolina e hidroquinona mostraram-se ativas frente as cepas de C. cladosporioides e C.sphaerospermum. As substâncias (rel)-2β-benzoato-6β-hidro-xizuelanina + (rel)-6β-benzoato-2α -hidroxizuelanina, 6β -cina-mato-2β-hidroxizuelanina, caseobliquina A, casearupestrinasA-G e a hidroquinona apresentaram atividade citotóxica. Emalgumas lignhagens de células tumorais, as substâncias (rel)-2β-benzoato-6β-hidroxizuelanina + (rel)-6β-benzoato-2α-hidro-xizuelanina, casearupestrina A e casearupestrina G forammais potentes que o controle positivo doxorubicina.

Gerardo Magela Vieira JúniorProfessor da UFPIDefesa: Universidade Estadual Paulista, [email protected]

A pesquisa diz respeito à construção da memória cívicapiauiense e à invenção das tradições, inserindo-a no campo daHistória da Educação e tem como foco principal as comemora-ções cívicas, que são as festas que acontecem com a participaçãoda escola, desde as festas de 7 de setembro, festa da árvore, des-file da juventude e do pan-americanismo, as festas de inaugura-ções, festas de colação de grau, somando as homenagens àsautoridades, aniversários de governantes, aniversários do EstadoNovo, constituindo-se o calendário cívico, cumprido e organi-zado pela escola. Esta investigação tem como intuito analisar estamemória, destacando principalmente, os aspectos relevantes paracompreendê-la, tais sejam: o tempo escolar, o disciplinamento,as disciplinas escolares e as festas cívicas, elementos que cons-tituem a memória cívica, evidenciando, a cidade e a rua comopalco dos eventos onde ocorriam as festas cívicas. Este caminharfaz-se metodologicamente pela História Oral pelas lembrançasde pessoas com setenta ou mais anos que vivenciaram estes mo-mentos e têm alguma relação com a escola e com a cidade e,ainda, no manejo das fontes escritas como os periódicos locais OPiauhy, O Momento, Diário Oficial, o Almanaque da Parnaíba eas Mensagens Governamentais. Mergulho nas práticas cotidianase nas lembranças para problematizá-las e, por fim, compreendercomo ocorreu a invenção das tradições cívicas e suas relaçõescom o ensino primário durante a Era Vargas (1930-1945), cientesde que nossa investigação constatou que este ensino deu-se nosentido do que era considerado moderno neste período, formandosujeitos que construíram as instituições pesquisadas, tornando-os civilizados, nacionalistas e amantes da Pátria.

A pesquisa tem como objetivo central analisar os espaçossub-regionais dinâmicos recentes no Piauí à luz da perspectivado desenvolvimento territorial. A trajetória está traçada coma discussão do tema do desenvolvimento, quando são levanta-das as visões recentes de liberdade, capacidade e sustentabili-dade, além de refletir sobre as dimensões exógenas eendógenas, e os reflexos da globalização e da inovação, for-necendo assim os aportes teóricos para as perspectivas do de-senvolvimento territorial. Seguida da articulação doreferencial teórico, com as bases e os contextos recentes dadinâmica territorial piauiense, adentra pela discussão dos es-paços sub-regionais dos serviços de saúde, da apicultura, doturismo litorâneo, arqueológico, e da soja, seguindo o percursode análise pela formação dos espaços sub-regionais, das arti-culações ocorridas no território, a participação do público edo privado até a reflexão sobre as consequências na sociedadee no meio ambiente. A metodologia utilizada foi sustentada,através do método de abordagem crítico-dialético, com uso detrês níveis de apreensão da realidade: – técnico, teórico e epis-temológico. Se fez uso de diversas fontes para a construção darevisão bibliográfica, acrescidos de visitas aos órgãos públicose privados, a entidades sindicais, aos poderes públicos muni-cipais, além dos trabalhos de campo em que foram realizadasentrevistas e com registros fotográficos nos municípios. Dessaforma, a incursão da relação entre Geografia e desenvolvi-mento territorial lança horizontes de reflexão do território, apartir dos espaços sub-regionais do Piauí, possuidores de ex-pressivo dinamismo e diferenciação, permeados por novasredes sociais, e que articulam as potencialidades naturais, eco-nômicas e espaciais.

Este trabalho está dividido em duas partes principais. Na pri-meira, foram avaliadas as condições de operação de um espec-trômetro de emissão óptica com plasma acoplado indutivamente– ICP OES com configuração radial. Um planejamento fatorialfoi efetuado para avaliação sistemática das condições de operaçãodo equipamento, tendo-se estabelecido as condições 1,05 kW depotência, 0,6 L min-1 vazão de gás de nebulização e 8 mm de al-tura de observação como adequadas para a determinação de Al,B, Ba, Ca, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, P, S e Zn nas amostras estu-dadas, material de referência certificado (NIST, folhas de pesse-gueiro e farelo de milho) digeridos em diferentes meiosoxidantes. A recuperação de Cu, Fe, Mn e Zn em extratos de solosem meio de DTPA (IAC 274) e a recuperação de Al, Ba, Ca, Cr,Cu, Fe, Mg, Mn, V e Zn em solo certificado (NIST, San JoaquimSoil) também foram avaliadas nas mesmas condições de operaçãodo ICP OES. Foi realizada comparação de custos entre os dife-rentes procedimentos de determinação e proposto protocolo parauso do ICP OES em análises de rotina. Na segunda parte do tra-balho, avaliou-se a biodisponibilidade de ferro em alimentos cruse processados. Metaloproteínas foram extraídas nos seguintesmeios: tampão Tris 50 mmol L-1 e fluido gástrico simulado. Paraa determinação de Fe nas soluções extratoras, foi utilizado espec-trômetro de massa com plasma acoplado indutivamente - ICP MSe para a especiação das metaloproteínas foi utilizado uma colunade exclusão por tamanho (SEC) acoplada em linha a detector UVe ao ICP-MS. Os resultados indicaram que processos de cozi-mento causaram mudanças significativas nos teores de Fe ligadosàs proteínas contidas em amostras de carne e alga marinha, apesarde continuarem biodisponíveis, fato verificado após a digestãocom fluido gástrico simulado.

Este estudo traz uma análise de determinadas práticas deescrita de um grupo de indivíduos que conviviam no bairroBenfica, na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, no início dosanos 2000. Da vivência desses indivíduos, foram escritos, edi-tados e distribuídos os fanzines PalavraDesordem (numa sériede onze edições), Sarrabuio de Tertúlia (em três edições), alémde uma edição da revista alternativa Pindaíba. Com o suportedo pensamento de autores como Nietzsche, Maffesoli, Fou-cault, Maingueneau e Larrosa, este estudo postula que as prá-ticas implicadas na escritura dessa comunidade discursiva,observadas no cenário da pós-modernidade, podem ser inter-pretadas como uma experiência pedagógica que reatualiza omito de Dioniso, a fazer valer princípios de errância e plurali-dade nas sociedades contemporâneas. Os fanzines e a revistaproduzidos pelo grupo são abordados a partir de alguns prin-cípios e procedimentos da Análise do Discurso, bem como sãoutilizados para análise depoimentos escritos e/ou orais conce-didos pelos próprios indivíduos em entrevistas semiestrutura-das. A análise parte de categorias como ritos genéticos,posicionamentos discursivos e formas de si associados à es-critura em questão, em sua criação e circulação, e evidenciacomo a manifestação do dionisíaco se faz: a boemia, a indis-ciplina, o culto à vida em grupo, o elogio à embriaguez, oapelo ao riso, a crueldade à vista, o errádico (nas funções deautoria, nos cuidados de si e nas concepções de escrita) e acriação (nos modos de fazer e na apropriação de saberes). Atese conclui, assim, que o exercício de autoria de tal escriturapossibilita a constituição desses indivíduos em sujeitos da ex-periência, o que, em última instância, traduz-se como uma pe-dagogia da vida.

O presente trabalho teve por objetivo estudar: i) o efeito de di-ferentes soluções nutritivas; e, ii) diferentes condutividades elétri-cas da solução nutritiva e lixiviação de sais sobre odesenvolvimento e estado nutricional do crisântemo cv. Miramarcultivado em vaso; e na Alemanha; iii) caracterizar diferentes turfase verificar a influência no crescimento e desenvolvimento do cri-sântemo cv. Sun City cultivado em vaso. No primeiro estudo, as di-ferentes soluções nutritivas não interferiram no diâmetro da haste,número e diâmetro de inflorescências e, massa seca de raízes,porém as soluções S3 e S4 promoveram a maior altura de plantas,área foliar, número de folhas, massa seca da parte aérea e total. Nosegundo estudo, o aumento da condutividade elétrica (CE) da so-lução nutritiva inibiu o desempenho vegetativo, o acúmulo de mi-cronutrientes e de nitrogênio na massa seca foliar do crisântemo,porém estimulou o diâmetro da haste e os teores de P, K, Ca, Mg eS. A lixiviação dos sais promoveu maior crescimento das variáveisfitotécnicas e maior acúmulo foliar de micronutrientes nas plantas.No terceiro estudo, o conteúdo de sais solúveis (SS), N, P, K, den-sidade seca e capacidade de retenção de água incrementaram du-rante o cultivo, enquanto o espaço de aeração diminuiu em todasas turfas. O crescimento das plantas de crisântemo foi superiorquando cultivadas na turfa SP-9 e com qualidade inferior em FBP-5. Os métodos VDLUFA e CEN apresentaram correlações signifi-cativas, embora os valores de pH, SS e concentrações de macro emicronutrientes das turfas não se encontrarem dentro das faixas su-geridas como ideais. Dentre as conclusões, recomenda-se a fertir-rigação com a solução S4 para o cultivo do crisântemo cv. Miramarem vaso; a CE 2,1 dS m-1 possibilita a produção de crisântemo cv.Miramar com padrões produtivos e qualitativos de comercialização,lixiviando a solução do substrato com água destilada; os substratosdevem ser analisados antes de realizar o cultivo de espécies vege-tais em recipiente.

TESES

Page 11: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 2010 11

REPORTAGEM

OOBrasil possui a maior biodiversi-dade do mundo, estimada emcerca de 20% do número total de

espécies do planeta, o que demonstra aimportância do estudo das potencialida-des dessas plantas. Dentre essas poten-cialidades, destaca-se o babaçu, palmeiraencontrada em território brasileiro, ca-racterizada pela graça e beleza da sua es-trutura, por ser uma planta monocaule,com até 20 metros de altura e estipe liso,medindo até 41cm de diâmetro, frutosoblongos-elipsóides lisos, com 11,3 x6,3cm de diâmetro, de coloração mar-rom na maturidade.

Muitos são os usos populares do ba-baçu, desde estruturas na construção decasas (palha e tronco), passando pela ali-mentação (mesocarpo e óleo) até paratratamento de doenças. Muito se tempesquisado com relação aos aspectosagronômicos e econômicos envolvendo,neste último caso, a produção do óleo edo carvão vegetal do coco como fonteenergética. O seu uso popular, sobretudona área alimentícia e medicinal possuiescassos estudos científicos.

Pensando em conhecer melhor aspotencialidades do babaçu, uma equipede pesquisadores da Universidade Fe-deral do Piauí, coordenada pelo Prof.Dr. Lívio César Cunha Nunes e pelaprofª Waleska Ferreira de Albuquerque,do curso de Farmácia, juntamente comoutros professores e alunos da gradua-ção e pós-graduação, decidiram realizarum estudo para verificar as potenciali-dades do babaçu na indústria cosmeto-farmacêutica e alimentícia. O objetivo érealizar a caracterização físico-químicado mesocarpo do babaçu (Orbignya sp)extraídos em diferentes regiões do Piauíe Maranhão (tabela abaixo) para o auxí-lio de possíveis aplicações deste mate-rial no desenvolvimento de novosprodutos farmacêuticos e alimentícios.

O Dr. Lívio Nunes esclarece que écedo para relacionar a espécie a trata-mentos farmacológicos e que prefere umpasso após o outro. “Precisamos antescaracterizar o pó de mesocarpo do pontode vista químico e fisico-químico, ava-liar a sua toxicidade para, só então, par-tirmos para a pesquisa do seu usofarmacológico”. No entanto, o óleo dobabaçu já é conhecido tanto na medicinapopular, quanto na área de cosméticos.“O óleo possui ampla diversidade de áci-dos graxos, como caprílico (4%), cá-prico (5%), esteárico (7%), oléico(17%), linoléico (5%). Mas são as altasconcentrações dos ácidos láurico (45%),mirístico (18%) e palmítico (10%), uti-lizados em todo o mundo para a produ-ção de tensoativos, os maiores atrativos

para o aproveitamento dessas substân-cias pelas indústrias cosméticas. Con-siderado um lipídeo polifuncionalpara uso em formulações cosméticas,o óleo de babaçu atua como emo-liente, reequilibrante do manto hidro-lipídico, umectante, hidratante,reengordurante, lubrificante, disper-sante de pigmentos e solubilizante decomponentes lipofílicos, descreve”.

A época de frutificação dessa plantaocorre durante todo o ano, sendo osmeses de agosto a janeiro consideradoso pico da produção, podendo cada plantaproduzir até seis cachos de coco babaçupor vez. É uma árvore nativamente bra-sileira de suma importância na conser-vação e melhoramento do solo,encontrada em grande quantidade nos

estados do Maranhão, Piauí, Tocantins eMato Grosso, tendo maior concentraçãono estado do Maranhão. Ela é distribuídade forma descontínua cobrindo cerca de10 milhões de m2. O intuito é verificarse existe e em que extensão é a variaçãoda composição química do mesocarpode diferentes regiões.

Com os dados relativos às proprie-dades químicas e físico-químicas do póde mesocarpo, a equipe de pesquisado-res passará para o desenvolvimento deprodutos. Waleska Ferreira disse quemuitas são as possibilidades e o impor-tante é que os produtos desenvolvidosa partir dessa pesquisa possam ser li-cenciados para a produção em larga es-cala e venha beneficiar a cadeiaprodutiva do babaçu, levando renda àpopulação e colocando à disposição umproduto de qualidade.

De forma preliminar, a empresaAtiva Vida (empresa regional inseridano mercado na área de produtos natu-rais e que beneficia o mesocarpo comfins alimentícios) já se mostrou interes-sada nos resultados desta pesquisa epretende assinar um acordo de coope-ração e parceria. “Com o início do pro-grama de pós-graduação em ciênciasfarmacêuticas, em 2010, acreditamosque vamos alavancar essas pesquisasbem como outras nos mesmos moldes,tendo em vista que a linha de pesquisado citado mestrado é a Produção e Con-trole de Qualidade de Medicamentos”,destacou o Dr. Lívio Nunes, que é tam-bém o sub-coordenador do Programade Pós-Graduação em Ciências Farma-cêuticas da UFPI.

Lívio Nunes*: pesquisa na fase de caracterização

RC

IA C

RIS

TIN

A

O babaçu na indústriacosmetofarmacêutica e alimentícia

*Prof. Dr. do Depto. de

Farmácia da UPFI

[email protected]

Page 12: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 201012

Las estaciones - H. Dobal FANZINES: Autoria, subjetividade e invenção de si

Juventude do Nordeste do Brasil, da América Latina e do Caribe O que os netos dos vaqueiros me contaram

Favela COHEBE: uma história de luta por habitação popularA obra de Florbela Espanca na perspectiva da estética da recepção

Organizadora e Tradutora: Divaneide Carvalho319 páginasR$ 25,[email protected]

Esta obra organizada e traduzida para o espanhol pela Professora de Letrasda UFPI, Divaneide Carvalho reúne os cem melhores poemas de H.Dobal,uma das maiores expressões da Literatura Brasileira de expressãopiauiense. Este trabalho de pesquisa exaustiva representa uma valiosa con-tribuição a todos os falantes, estudantes e professores de língua espanhola.

Organizadora: Vânia Reis 480 pá[email protected] livro reúne investigações de jovens do Nordeste acerca das reali-dades juvenis da região e artigos de especialistas da UFPI e do exte-rior. Experiência que se insere no Coletivo Latino Americano deJovens, envolvendo 17 países da América Latina e do Caribe, execu-tada pela Rede Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (RedeFLACSO).

Autora: Clêuma de Carvalho Magalhães126 páginasR$ 25,[email protected] leitor que abrir este livro encontrará paixão. Tanto a paixão da poesiaenamorada de Florbela Espanca, uma das autoras portuguesas mais popu-lares no Brasil, quanto a paixão que transparece na análise poética elabo-rada por Clêuma Magalhães, leitora que se debruçou sobre a história doslivros, dos poemas e da repercussão dessa singular obra da modernidadeda literatura ocidental.

Organizadora: Cellina Rodrigues Muniz140 PáginasR$ 20,[email protected] livro reúne artigos de autores de Teresina, Fortaleza, São Paulo eCuritiba que estão pensando a produção e circulação dos fanzines (im-pressos informais, criados e distribuídos às margens do mercado editoriale do circuito profissional de escrita). Trazem a contribuição de áreas di-versas sobre os fanzines. Vale a pena desfrutar da experiência de conhe-cer quantas interpretações essas práticas discursivas podem suscitar.

Autor: Manuel Domingos Neto465 páginasR$ 50,[email protected]

O livro problematiza a modernização capitalista do Brasil apontandocomo esta se complementa nas práticas econômicas, sociais e políticasdos coronéis e seus descendentes no Vale do Parnaíba. Profissionaisda História, assim como de outras áreas de conhecimento, terão nesselivro uma rica fonte acerca da complexidade política e cultural do ser-tão nordestino e da história do Brasil.

Autora: Antônia Jesuíta de Lima175 páginasR$ 25,[email protected] livro Favela COHEBE trata dos conflitos urbanos em Teresina na décadade 1970. Evidencia o período de maior expansão no processo de urbanizaçãoda capital piauiense e os principais atores sociais e políticos envolvidos na-quele contexto. Também analisa as relações entre Estado e movimentos so-ciais urbanos, mediadas pela Política Nacional de Habitação, sob a égide doBNH, e a experiência de remoção da Favela COHEBE, na zona sul da cidade.

Livros

Livros

REPORTAGEM

OOLABMICRO é um subprojetodo GERATEC que tem comoobjetivo estudar vários aspectos

da microbiologiado babaçu,

isolando ecaracteri-zando mi-

croorganismos do fruto e da planta.Estes seres isolados vão constituir oprimeiro grupo da Bacterioteca e Mi-coteca, que serão mantidos na UESPIpara preservação e desenvolvimento defuturas pesquisas.

Coordenado pela pós-doutoraem Microbiologia, Francisca Lúciade Lima, o estudo pretende tambémanalisar as propriedades antimicro-bianas e antiinflamatórias do endo-carpo do babaçu, extraindo o mesmode frutos de diferentes localidades doPiauí e testando contra bactérias efungos resistentes a antimicrobianosde uso clínico.

Francisca Lúcia explica que a pes-quisa consiste em estudar a microbiotado fruto do babaçu, o entorno da pal-meira e ainda uma doença rara que éfrequente nas quebradeiras de coco,trata-se de uma doença fúngica e

que através dos estudos vai procu-rar identificar se o agente trans-missor fica na palmeira, noentorno, no fruto ou no momento daquebra do babaçu.

“Como é uma doença prevalentenas quebradeiras de coco e como

não sabemos em que momento ocorrea contaminação, acreditamos que ocontágio tenha relação com a extraçãodo coco”, revela.

O projeto conta com quatro bolsis-tas que passaram por um treinamentoque consiste nas normas de segurança,no aprendizado da elaboração dosmeios de cultura, do isolamento demicroorganismos para a caracteriza-ção, identificação e manutenção, e so-mente, a partir daí, é que começam ascoletas dos objetos a serem estudados.

Francisca Lúcia acrescenta que otrabalho com microbiologia é minu-cioso e envolve biosegurança, pois tra-balha com microorganismos que sãopatogênicos, por isso a necessidade dotreinamento. Seu estudo será desenvol-vido, tendo como base os dados obtidosatravés do resultado do projeto realizadopela professora Valdira Brito, do IFPI,que faz o georreferenciamento e a loca-lização de todos os pontos de cocaisexistentes no Piauí. Além disso, as co-letas do material serão feitas em con-junto com o projeto da professora Mariade Fátima Pires, responsável pela partede fisiologia vegetal.

As coletas acontecerão em uma fa-zenda localizada no município de Joséde Freitas em outras regiões do Estado.Na oportunidade, os adquiridos frutosserão utilizados pelo laboratório daUFPI a fim de estudar a fibra do cocoe a previsão é que os primeiros resul-tados da pesquisa aconteçam em agostodeste ano.

“Nós somos o novo eldorado dosmega empreendimentos agropecuá-rios e como está tendo um aumentodas áreas cultivadas do Estado, haveráuma diminuição na área do babaçu.Portanto, é preciso conhecer e saberonde existe, realmente, o babaçu equem e como são as pessoas que so-brevivem dele, a fim de que as pesqui-sas possam melhorar ou oferecermudanças na vida dessa população,além de conseguir novas formas deutilização de produtos, pois financei-ramente será muito importante”, des-tacou Francisca Lúcia.

Francisca Lúcia de Lima*

Estudo da microbiologia do babaçu pretendeidentificar agente transmissor de doença

Luiz Francisco Pianowski

Coordenador da Pesquisa

com o AM10 e AM11

* Profª . Drª. da Universidade

Estadual do Piauí

[email protected]

RO

BER

TA R

OC

HA

Page 13: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 2010 13

Distribuição espacial dos babaçuaisserá mapeada por satélite

REPORTAGEM

NNúmeros do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística(IBGE) mostram que a extra-

ção do babaçu envolve 300 mil pes-soas nos Estados do Maranhão, Piauí,Tocantins, Pará, Goiás e MatoGrosso. Atualmente, esta atividadeestá ameaçada por atividades pecua-ristas e grandes plantações de soja,mamona e eucalipto.

A preocupação com a ocupaçãode outros cultivos nas áreas cobertaspor babaçuais chamou a atenção depesquisadores piauienses. Pensandonisso, o projeto GERATEC inseriu oNUDETAPI, um subprojeto que estásendo desenvolvido no IFPI e quetem como função dar suporte ao de-senvolvimento de tecnologias apro-priadas à valorização de produtos esubprodutos do babaçu relacionadosao arranjo produtivo local.

Este subprojeto, coordenado pelaprofessora Doutora Valdira de CaldasBrito Vieira, tem como objetivo reali-zar o mapeamento georreferenciadoda distribuição geográfica do babaçuno Piauí e desenvolver um sistema deinformações georreferenciadas paramonitorar continuamente a produção,produtividade, investimentos e custosfixos e operacionais, visando o diag-nóstico das variações de mercado,preço, demanda e oferta, viabilizandoum planejamento seguro para o setor.

Segundo Valdira Brito, a primeirafase do trabalho já está sendo reali-zada por um grupo formado por sete

bolsistas do CNPq, sendo quatro tec-nólogos em Geoprocessamento e trêsalunos do curso de Tecnologia emGeoprocessamento do IFPI. Estegrupo é responsável pelo mapeamentogeorreferenciado da distribuição espa-cial do babaçu no Estado.

O grupo está localizando as áreasde existência do babaçu no do Estado,através de GPS, os dados serão trans-feridos para imagens de satélite e apartir desta coleta será possível iden-tificar os demais pontos de coberturado babaçu. “O trabalho está sendo rea-lizado, através de levantamento emcampo, utilizando equipamentos GPSpara coleta dos dados de localizaçãodos babaçuais. Os pontos levantadosserão inseridos em um banco dedados, juntamente com imagens de sa-télites e serão posteriormente analisa-dos através do SIG SPRING 4.3.2para o processamento digital das ima-gens e geração dos mapas”, esclarecea pesquisadora.

Além da necessidade de localizargeograficamente para identificar aquantidade que ainda existe de ba-

baçu, a pesquisa irá gerar um softwareque será disponibilizado na web comtodas as informações .“A nossa in-tenção é incentivar a exportação dosprodutos do babaçu, pois em qual-quer lugar do mundo a pessoa quese interessar em saber mais sobre apalmeira poderá acessar e obtertodas as informações que estão dispo-níveis no banco de dados sempre atua-lizado com as imagens de satélite”,destaca Valdira.

A pesquisadora acrescenta que osdados de potencialidade, disponibili-dade, análise econômica e demais in-

formações levantadas durante o es-tudo serão utilizadas para a implanta-ção de um sistema de informaçõespara o monitoramento e diagnósticoda situação do mercado, viabilizandoum planejamento seguro para o setor.Após a fase inicial do trabalho, serãocoletadas amostras de matéria primapara os estudos laboratoriais e poste-rior processamento.

Para Valdira Brito, o GERATEC éimportante porque, através das pes-quisas, será possível o fortalecimentodo agronegócio do babaçu no Piauí ea partir daí identificar o potencial e oaproveitamento de derivados domesmo; além de disponibilizar à so-ciedade produtos gerados através dearticulação com o GERATEC.

Já o grupo coordenado pelo Dr.Ayrton Brandim também do IFPI,está desenvolvendo análises referentesao aproveitamento do potencial pro-dutivo para geração de novos produ-tos. Os produtos com ênfase àengenharia estrutural serão caracteri-zados por meios de ensaios mecânicosde tração, compressão, flexão, durezae micro dureza. Esses também passa-rão por uma caracterização microes-

trutural para levantamento das fasespresentes. Para isso serão utilizados osrecursos da microscopia ótica, eletrô-nica, difração de raios - X e granulo-metria. Também serão caracterizadosbiologicamente, em termos da estru-tura e morfologia dos órgãos vege-tativos e reprodutivos da espécie,além dos compostos associados aodesenvolvimento e adaptação, utiliza-dos na indústria farmacológica parafins terapêuticos.

A caracterização química passarápor análise térmica diferencial, cro-matografia gasosa e espectroscopia.Tais técnicas serão utilizadas para ca-racterização das propriedades térmi-cas dos produtos do babaçu por dasanálises termo-gravimétrica, termo-calorimétrica e termo-diferencial,como também para caracterizaçãoquímica dos produtos da combustãodo policarpo do babaçu e para análisedas fases presentes nos biocombustí-veis, leite da castanha do babaçu,como também dos produtos com apli-cações terapêuticas.

Valdira de Caldas Brito Vieira*

“”

A pesquisa irá gerar umsoftware que será disponibilizado na web

com todas as informações a respeito do babaçu

Babaçuais serão localizados e monitorados por GPS

*Profª. Drª. em Agronomia do IFPI

[email protected]

RO

BER

TA R

OC

HA

Page 14: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 201014

REPORTAGEM

CCom o objetivo de registrar a ocor-rência e análise de insetos fitófa-gos, predadores e parasitóides

associados à cultura da cana-de-açúcar noEstado do Piauí, mais especificamente naConvap, localizada no município deUnião do Piauí, o agrônomo RommelTito Pinheiro Castelo Branco defendeuem 2008 seu trabalho de dissertação inti-tulado “Entomofauna associada à culturada cana-de-açúcar mo município deUnião – Piauí”. O estudo foi iniciado emdezembro de 2006 e concluído no ano se-guinte. O autor justificou sua escolha de-vido a cana ser uma das culturas maisimportantes do Estado, perfazendo umtotal de quase 20 mil hectares e por nãoexistir nenhum registro de levantamentoentomofaunístico para o nosso Estado. Adissertação, vinculada ao Programa dePós-Graduação em Agronomia da UFPI,foi orientada pelo Prof. Dr. em BiologiaAnimal Paulo Roberto Ramalho Silva, doDepartamento de Fitotecnia do Centro deCiências Agrárias (CCA) da UFPI.

Foram registradas 155 espécies deinsetos predadores e parasitóides, distri-buídos em 112 gêneros, 20 famílias e 07ordens, sendo a família Carabidae a maisdiversificada. Entre os insetos coletados,foram registradas 287 espécies fitófagasassociadas à cana-de-açúcar, naquele mu-nicípio, distribuídas em 249 gêneros, 80famílias e 09 ordens, sendo a ordem Co-leoptera a mais diversificada e a famíliaScarabaeidae a mais numerosa.

Nas coletas realizadas no municípiode União (PI), durante o período de 2006e 2007, Rommel Tito informou queforam capturados 259.561 insetos, distri-buídos em 576 morfo-espécies, 374 gê-

neros e 132 famílias, sendo por sua vezpertencentes a 16 ordens. Deste total,233.176 indivíduos pertenciam a uma es-pécie de díptero da família Dolichopodi-dae, o que representou 89,83% do totaldos insetos capturados. A espécie se en-contrava no local devido à presença decursos de água que se formam durante aestação chuvosa e à irrigação feita duranteo período pós-corte da cana. A espécie As-taena sp foi a que apresentou maior nú-mero de indivíduos coletados entre oscoleópteros, com 3.313 presentes em 44das 52 coletas realizadas. Esta espéciesurgiu como a mais representativa pelapresença de irrigação com resíduo de vi-nhaça para elevar o teor de compostos ni-trogenados e pela presença de tanques devinhaça nas proximidades.

As grandes extensões de áreas ocu-padas pela monocultura canavieira, bemcomo as novas técnicas mecanizadas ecolheita crua (sem queima) têm propi-ciado o aumento de insetos nocivos, que

ocasionam prejuízos. “Moscas d'águaque são encontradas por conta da irriga-ção; besouros escaravelhos, que estãopresentes por conta do vinhoto adicio-nado na água da irrigação, formigas ar-gentinas, que são onívoras; e possíveispredadores de pequenos insetos, comopulgões, formiga de fogo, esta uma pre-dadora voraz de pequenos animais, inclu-sive vertebrados”, destacou Rommel Titosobre os nomes populares de alguns in-setos encontrados.

“A pesquisa deixa importantes resul-tados que poderão subsidiar futuras pes-quisas. Esta cultura apresenta um grandenúmero de insetos-pragas, podendo ultra-passar 1.500 espécies em todo o mundo.No Brasil, mais de 12 espécies de cupinsjá foram identificadas como pragas dasraízes para a cultura da cana-de-açúcar,sendo que as mesmas podem causar pre-juízos superiores a 10 toneladas por hec-tare no ano”, informou Paulo Ramalho.Dentre as espécies de cupins, os gêneros

mais importantes são Amitermes, Cylin-drotermes e Nasutitermes, no Nordeste.

Outra praga das raízes igualmenteimportante é o Migdolus frianus, um be-souro da família Vesperidae que, em suafase larval, destrói o sistema radicular devárias culturas, entre elas a cana. Alémdas dificuldades normais de controle dequalquer praga de solo, o desconheci-mento de várias fases do ciclo desse co-leóptero complica ainda mais o seucombate. As pragas que proporcionam osmaiores prejuízos na cultura da cana sãoas brocas do colmo Lepidoptera (Cram-bidae), do gênero Diatraea.

O principal prejuízo é causado pelaação de fitopatógenos, como o Fusariummoniliforme e Colletotrichum falcatum,que penetram pelos orifícios feitos pelaslagartas, causadores das podridões defusário e podridão-vermelha, respectiva-mente, responsáveis pela inversão eperda de sacarose. Com distribuição bemmais restrita, é a broca gigante Castnialicus que tem provocado prejuízos quepodem ultrapassar 60% em muitos cana-viais do Nordeste. Outra praga citada noestudo são as cigarras Mahanarva fim-briolata e M. posticata, devido à práticacada vez mais freqüente do corte da canacrua (sem queima), de acordo com estu-dos já registrados na literatura. Estes in-setos sugam a seiva, ocasionando aqueima das folhas e podendo causar o de-finhamento do colmo.

Catalogadas dezenas de espécies de insetos-pragas na culturada cana-de-açúcar

Paulo Roberto Ramalho Silva** Rommel Tito Pinheiro Castelo Branco*

Luiz Francisco Pianowski

Coordenador da Pesquisa com

o AM10 e AM11

[email protected]

*Mestre em Agronomia na UFPI

[email protected]

**Prof. Dr. do Depto. de Fitotecnia

– CCA UFPI

[email protected]

Page 15: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 2010 15

AApesar de variadas utilidadesque podem ser extraídas desdea palha da árvore até o fruto do

babaçu, muito pouco se tem pesqui-sado sobre a utilização do vegetal en-contrado em maior abundância noNordeste do Brasil. O babaçu ainda évisto como uma cultura marginalizada,predominando no sistema de subsis-tência. Sua exploração predomina emmunicípios do interior do Piauí e doMaranhão, Tocantins e Pará, onde mi-lhares de famílias sobrevivem da ex-tração da amêndoa, através do trabalhomanual da sua quebra, comumentefeito pelas quebradeiras de coco.

Pouco se sabe sobre faturamento,formas de exploração, quantidade deamêndoas extraídas através do traba-lho artesanal das quebradeiras, que,em sua grande maioria é vendida paraos atravessadores que se encarregamde fornecer para os comerciantes paraa produção de óleo, azeite, sabão,entre outros produtos. Um dado geraldivulgado pelo IBGE, em 2007, mos-trou que naquele ano o babaçu rendeuR$ 113 milhões, com uma produçãode 114.874 toneladas. Estima-se queexistam mais de 400 mil quebradeirasde coco, numa área de 18,5 milhões dehectares no Brasil.

A exploração dos recursos vege-tais para sobrevivência feita pelohomem é objeto de interesse do Go-verno Federal, que através do Ministé-rio do Meio Ambiente (MMA) lançouem 2009 o Plano Nacional das CadeiasProdutivas da Sociobiodiversidade,com o objetivo de potencializar econo-micamente a castanha-do-pará, o ba-baçu e outros produtos da natureza.Nesse contexto, está sendo realizadano Piauí uma pesquisa junto às famí-lias que sobrevivem da exploraçãodo babaçu, especialmente na regiãodos Cocais.

A coleta de dados com as quebra-deiras é executada pela GTZ, agência

alemã sem fins lucrativos de coopera-ção técnica internacional para o desen-volvimento sustentável. A GTZ apóiao governo alemão na concretizaçãodos objetivos por ele almejados emsua política de desenvolvimentoeconômico, ecológico e social eapóia reformas e processos demudança social. O governobrasileiro é parceiro econô-mico da Alemanha e, partindode interesses comuns, a GTZauxilia o Governo Federal nocombate ao avanço das mu-danças climáticas e a garantiro fornecimento de energia,por meio do uso sustentáveldas florestas tro-picais. Atravésdo MMA edo Minis-tério doDesen-volvi-

mento Agrá-rio (MDA),a agência já

atuou comoutras cadeias

produ-

tivas, como a do leite, do biodiesel, dacastanha do Pará e do buriti.

O relatório ficará pronto no mêsde julho deste ano. Depois, será repas-sado para órgãos do governo, univer-sidades e empresários do setor. O Incrae a Fundação Banco do Brasil apoia-ram a pesquisa, que terá um custo demais de R$ 100 mil. A pesquisa essen-cialmente é voltada para conhecer operfil das famílias e como se dá a ex-tração e a venda do babaçu pelas que-bradeiras de coco em 12 municípios daregião Norte do Estado, onde está amaior área nativa de babaçu. Técnicoscontratados pela agência fazem entre-vista presencial juntos às famílias dasquebradeiras, através de questionárioe em seguida os dados serão tabuladospara a produção do relatório final.Cerca de 15 mil famílias de quebra-

deiras estão sendo entrevistadas.A coordenadora da pesquisa é

a pernambucana Rejane Tavares,que possui mestrado em Admi-

nistração Rural pela UFRPEe é contratada da GTZ. Os

municípios foco da pes-quisa são: Barras,

Batalha, Esperan-tina, Matias

Quebradeira de coco de assentamento no município de São João do Arraial

traça o perfil das quebradeiras

REPORTAGEM

Page 16: ISSN 1809-0915 - FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO … · terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a

TERESINA-PI, JUNHO DE 201016

Olímpio, São João do Arraial, Porto,Nossa Senhora dos Remédios, Ma-deiro, Joca Marques, Campo Largo,Luzilândia e Morro do Chapéu. Porfalta de recursos e tempo hábil, algunsmunicípios ficaram de fora, entre elesUnião, Miguel Alves e Cabeceiras.

“A GTZ atua no Nordeste há maisde 30 anos e visa inserir a agricultura fa-miliar em mercados mais dinâmicos.Sua ação é voltada para aproximar agri-cultores familiares de empresas privadaspara que se estabeleçam formas de con-tratações diferentes, de ajuda mútua, emum ambiente onde se firmem contratosque permitam ganhos bilaterais. Tudodentro de uma nova perspectiva devisão de mercado, de responsabilidadesocial, de inclusão social e é dentrodessa perspectiva que iniciamos o nossotrabalho com as quebradeiras de coco”.

Rejane informou que a proposta dotrabalho era o de aproximar empresasque tenham o perfil de responsabilidadesocial e de compromisso com o desen-volvimento sustentável, que utilizem aamêndoa ou o óleo do babaçu no seuprocesso de produção -, com as quebra-deiras de coco. “A GTZ identificouempresas em São Paulo, no Maranhãoe no próprio Piauí. Só que nesse traba-lho esbarramos com uma série de difi-

culdades, como afalta de in-f o r m a ç ã osobre o pro-

cesso produtivo, sobre a quantidade demulheres que trabalham nesse pro-cesso, a sua capacidade de produçãomanual, para onde era levada a amên-doa por elas extraída, a casca, o carvãoe os demais subprodutos do babaçu.Então, essas informações precisas nãoexistiam. Há estudos macro, desenvol-vidos pelo Ministério do Meio Am-

biente, que trabalha a cadeia do babaçucomo um todo, caracterizando desde oMaranhão, Tocantins, Piauí, Pará, masnão chegando a esse nível de conheci-mento e de cadastramento das mulheres,para um processo posterior de negocia-ção com empresas”, esclareceu.

O trabalho de aproximação entrequebradeiras de coco e empresas visa aque as famílias também façam parte doprocesso em alguns níveis de beneficia-mento da produção, para agregar valorao produto e principalmente restabele-cer uma relação direta, na qual as mu-lheres passem a ter acesso, semintermediadores, ao dinheiro da venda

da amêndoa. “O que observamos namaioria dos municípios é que elas

fazem todo o trabalho duro e ma-nual e em vez de venderem oproduto o que existe é a troca da

amêndoa por alimentos. Nesse

contexto, elas e suas famílias vivemnuma situação de miséria, caracteri-zando a exploração do mercado. Muitasmulheres são analfabetas e os índicessão alarmantes, chegando a mais de60% das entrevistadas”.

Rejane disse que na pesquisa cons-tatou que mesmo quando há a venda di-reta da amêndoa do babaçu pelasquebradeiras, o preço é inferior ao esta-belecido pelo Governo Federal, no qualo quilo da amêndoa deve ser vendidopelo preço mínimo de R$ 1,46. “Atravésda proposta da Lei do Babaçu (ainda aser sancionada), as mulheres que vende-rem a amêndoa com preço inferior a R$1,46, podem procurar a Conab para re-ceber a diferença, mas no Piauí ne-nhuma mulher tem acesso a essetrâmite, por falta de informaçãomesmo. Para que elas tenham acesso aesse mecanismo, é necessário que es-tejam organizadas, que tenham a notafiscal para comprovar que fez a venda,precisa de um cadastro que atesta queela é uma agricultora familiar, entre ou-tros requisitos”, explicou.

Rejane espera que com a pesquisa,que fornecerá um banco de dados comtodas as informações sobre as quebra-deiras e como se dá o seu modo de vidae de produção, possa subsidiar políticaspúblicas voltadas para esse grupo pro-dutivo. “O nosso trabalho não encerrana pesquisa. Nós temos toda uma estra-tégia de continuidade do processo de or-ganização de grupos produtivos. A ideiaé organizar essasmulheres por co-munidade, dis-cutir com elas

qual será o melhor formato legal para asua organização, se é associação, coo-perativa. No caso da cooperativa, de-pende do nível de maturidade do grupo,não adianta criar uma cooperativa, semque elas estejam preparadas para geren-ciar. É necessário preparar mulheres ejovens para que se transformem em em-preendedores. Nesse processo, nós ca-pacitamos alguns filhos de quebradeiraspara atuarem na pesquisa e esse traba-lho foi de fundamental importância,pela linguagem de aproximação, o queminimizou as barreiras”.

O PERFIL – O município de Bar-ras foi onde concentrou o maior númerode quebradeiras, segundo o levanta-mento da GTZ, embora os númerosda pesquisa ainda não estejam dispo-níveis. Os municípios de Porto eNossa Senhora dos Remédios tam-bém foram os que mais predomina-ram na atividade. Os dadospreliminares mostram que as mulhe-res quebradeiras de coco no Piauí sãojovens, entre 20 a 45 anos, e que so-brevivem de um trabalho pesado esem condições mínimas de garantiaspara o futuro.

“”

As mulheres quebradei-ras vivem em situação demiséria, caraterizando a

exploração do mercado

Luiz Francisco Pianowski

Coordenador da Pesquisa

com o AM10 e AM11

Rejane Tavares

Coordenadora da GTZ no Piauí

[email protected]