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COMUNICAÇÃO Pesquisas piauienses rompem as fronteiras do Estado Teresina-PI | Edição nº 37 | Ano X Publicação Científica da FAPEPI ISSN 1809-0915 ENTREVISTA José Bringel Filho fala sobre Apps móveis FÁRMACO Fator anti-hipertensivo é descoberto na casca do bacuri SUSTENTABILIDADE Unidades de Conservação do Piauí são alvo de estudos

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COMUNICAÇÃOPesquisas piauienses rompem as fronteiras do Estado

Teresina-PI | Edição nº 37 | Ano X

Publicação Científica da FAPEPI

ISSN 1809-0915

ENTREVISTAJosé Bringel Filho fala sobre

Apps móveis

FÁRMACOFator anti-hipertensivo é

descoberto na casca do bacuri

SUSTENTABILIDADEUnidades de Conservação do

Piauí são alvo de estudos

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AO LEITOR

[email protected]

Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-P

FonF

Para críticas, sugestões e contato:

EXPEDIENTE

N° 37 Ano XISSN - 1809-0915

PUBLICAÇÃO SAPIÊNCIAPublicação produzida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí

Publicação Quadrimestral

CONSELHO EDITORIALAdemir Sérgio Ferreira de Araújo

Ana Regina Barros Rêgo LealAntônia Jesuíta de Lima

Bárbara Olímpia Ramos de MeloDiógenes Buenos Aires de CarvalhoFrancisco Chagas Oliveira Atanásio

Hermes Manoel Galvão Castelo BrancoJoão Batista Lopes

Maria José Lopes de CarvalhoRaimundo Isídio de Sousa

Ricardo de Andrade Lira RabêloRivelilson Mendes de Freitas

EDITORES, REDAÇÃO E FOTOS:Cássia SousaNayra VerasRosa Rocha

Vanessa Soromo

ESTAGIÁRIO:Allan Campêlo

REVISÃO DE TEXTOS:Raimundo Isídio de Sousa

DIAGRAMAÇÃO:Tanurio Silva

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:Grafi set Gráfi ca e Editora

TIRAGEM:3 mil exemplares

Em entrevista pesquisador apresenta projetos desenvolvidos no laboratório Opala7

10 Propriedades farmacológicas são encontradas na casca do bacuri

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30 Pesquisadores investigam impac tos amb ien ta i s causados pelo turismo em unidades de conservação 34 Projeto Memória possibilita

digitalização do acervo de periódicos do Piauí

E mais...artigos, teses e dicas de livros.

Sum

ário

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Sistema criado por pesquisadores da Embrapa Meio-Norte beneficia

famílias no interior do Estado26

15 Dossiê destaca pesquisas em comunicação desenvolvidas no Piauí

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RedesSOCIAISAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIS

Fapepi PI

@Fapepi_pi

fapepi pi

Dos primeiros sinais de fumaça, usados há milhões de anos para se comunicar, até os dias de hoje, a humanida-de desenvolveu uma série de recursos para aperfeiçoar

seu processo de comunicação: do pergaminho ao papel, do pom-bo-correio à imprensa, do telegrama ao e-mail, do rádio à TV.

Na contemporaneidade, somos bombardeados por informa-ções que nos chegam de todos os lados, seja de um político, um artista, ou uma marca de refrigerante com sua publicidade no rádio, internet ou televisão. Com tanto progresso nos meios e modo de fazer comunicação, é natural que surjam muitas dúvi-das e questionamentos sobre como a comunicação nos atinge, de como altera nosso modo de ver e encarar o mundo. Questiona-mentos que podem até ser respondidos pelo senso comum, mas que ganham maior rigor e confi abilidade quando respondidas pela pesquisa científi ca.

Conscientes da importância desse tipo de pesquisa para o desenvolvimento social, a edição de nº 37 da Sapiência traz um dossiê sobre as pesquisas desenvolvidas no estado do Piauí na área de comunicação. Na infi nidade de possibilidades que podí-amos contemplar, optamos por tratar dos resultados de alguns estudos realizados por pesquisadores das duas Universidades públicas do estado sobre os mais diferentes tipos de mídia.

Para abrir o nosso dossiê, apresentamos uma reportagem so-bre o mestrado em comunicação da UFPI, que tem representado o principal centro de produção de pesquisas na área no Piauí. Apesar dos desafi os impostos a quem se propõe a tarefa de fazer pesquisa em comunicação, o mestrado tem ganhado visibilidade nacional. Por isso, não poderíamos deixar de registrar a conquis-ta do prêmio internacional Donnald Brenner pelos professores do programa de mestrado da UFPI, assunto da nossa segunda matéria do dossiê. Encerrando o dossiê, apresentamos a matéria a respeito da pesquisa realizada por professor do curso de Jorna-lismo da Uespi, que trata de como a internet tem infl uenciado no modo de fazer das rádios no interior do Nordeste. Registramos também as pesquisas que têm como objeto de estudo o cinema piauiense. Estudos nessa área têm-se tornado cada vez mais fre-quentes e demonstram a tendência dos pesquisadores em anali-sar a produção cultural do estado, trabalho cada vez mais inter-disciplinar.

A entrevista desta edição também tem como foco a discus-são sobre a comunicação. O Professor Dr. José Bringel Filho, coordenador do laboratório Opala da Uespi, nos falou sobre o desenvolvimento da tecnologia digital e sua aplicação na comu-nicação pública.

Essa edição conta ainda com matérias sobre o turismo sus-tentável em unidades de conservação no Piauí, os resultados das pesquisas sobre a descoberta de fatores anti-hipertensivos na casca do bacuri, artigos, teses, dicas de livros e muito mais. A equipe Sapiência agradece a todos que contribuíram para a pro-dução desta edição e deseja aos leitores uma boa leitura.

Edito

rial

Agradecemos aos nossos seguidores no Facebook por ultrapassarmos a marca de 1600 seguidores. Este número resulta do esforço da gestão da Fapepi e da Ascom em popula-rizar o acesso ao conhecimento científi co e tecnológico. Enten-demos que as redes sociais são fundamentais para a interação e o compartilhamento de infor-mações com os pesquisadores e a comunidade em geral.

Continue acompanhando nossas publicações e siga-nos em nossas redes sociais.

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O professor PhD. Bringel Filho coordena o Laboratório de Sistemas Onipresentes e Per-vasivos (OPALA) e fala de que forma o conceito de seres humanos como sensores pode

contribuir para auxiliar na gestão pública.

Duas décadas se passaram desde que a internet se tornou popular no Brasil.

Naquele contexto, década de 90, a internet representava a possibilida-de de potencializar as atribuições do computador, tornando possível conectar pessoas de diferentes par-

Tecnologia digital a favor da comunicação pública

tes do mundo. Naquela época, as tecnologias digitais apresentavam muito mais previsões que diagnósti-cos concretos sobre suas possibilida-des. Nos dias de hoje, pode-se quase afi rmar que computadores são coisas do passado. Numa época em que a internet está cada vez mais presente

nos mobiles (celulares e tablets), o “boom” são os aplicativos utilizados para aperfeiçoar e facilitar a comu-nicação instantânea. Não por acaso, a pesquisa para o desenvolvimento de soft wares para mobiles tem sido a tarefa mais comum entre os cien-tistas de tecnologia. Entusiasta des-

Por Nayra Veras

José de Ribamar Martins Bringel Filho

Possui pós-doutorado pela Uni-versité d’Evry Val d’Essonne, UEVE France (2011), na área de suporte a tomada de decisões sensíveis ao contexto para sistemas ubíquos de saúde. Tem doutorado pela Univer-sité Joseph Fourrier - UJF, Grenoble I - France (2010), e realizou estágio doutoral (sanduíche) no National Institute of Informatics - NII, Tokyo - Japão (2009). É mestre em ciência da Computação pela Universidade Federal do Ceará (2004), espe-cialista em desenvolvimento para a Web pela Universidade Federal do Piauí (2001) e graduado em Ciência da Computação pela Uni-versidade Federal do Piauí (2000). Atualmente é Professor da Univer-sidade Estadual do Piauí (UESPI) e coordenador do Omnipresent and Pervasive Systems Laboratory - OPALA (UESPI).

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sas pesquisas, o professor PhD. José de Ribamar Martins Bringel Filho coordena o Laboratório de Sistemas Onipresentes e Pervasivos (OPALA). O laboratório está sediado na Uni-versidade Estadual do Piauí (UESPI) e concentra projetos de Pesquisa & Desenvolvimento focados em solu-ções móveis, os chamados APPs. O carro-chefe resultante de tais proje-tos é o aplicativo “De olho na cidade”, que objetiva aproximar o cidadão da gestão pública através do poder de fi scalização. Em entrevista à Sapi-ência, o pesquisador contou sobre o desenvolvimento do aplicativo, o desafi o para se inovar e os refl exos dessas pesquisas para o Piauí.

Como são desenvolvidas as pes-quisas do Laboratório Opala?

A grande difi culdade do profes-sor cientista é tornar a tecnologia ou o conhecimento científi co em algo útil para a sociedade. Os projetos que desenvolvemos no OPALA bus-cam justamente reduzir esse distan-ciamento com a sociedade, para que esta perceba como a tecnologia de-senvolvida na universidade interfere positivamente no seu dia-a-dia. Esse foi um posicionamento defi nido co-letivamente pelos professores que compõem o laboratório OPALA, buscando externalizar para a socie-dade o nosso know-how científi co, mas de forma útil para a sociedade. O “De olho na Cidade” foi o primei-ro projeto que realmente teve essa visibilidade como ferramenta de au-xílio social, mas existem outros pro-jetos em andamento.

Como surgiu a ideia do aplicati-vo “De olho na cidade”?

Surgiu de uma ideia similar de-

senvolvida na minha experiência do doutorado, em 2007. Na ocasião, tra-balhávamos com a ferramenta Pho-toMap, que permitia mapear fotos de turismo, enriquecidas com informa-ções sobre os locais das fotos para se-rem compartilhadas com o público. Quando cheguei ao Brasil, pensei: “temos que fazer algo similar, voltado para ajudar a população”, e a ideia foi usar a capacidade de coleta de infor-mações gratuitas por meio da parti-cipação popular, conceito defi nido por mim de “Seres Humanos como Sensores” (HumanBeing as Sensor – HBS), em um projeto visível e enten-dível por qualquer cidadão. A primei-ra coisa que pensamos foi em criar uma plataforma em que as pessoas pudessem mostrar problemas viven-ciados no dia a dia em suas cidades, e que todo mundo pudesse comentar e compartilhar, transformando em informação de utilidade pública. Ou seja, nós trabalhamos com o concei-to de seres humanos como sensores, que utilizam seu sensoriamento na-tural para identifi car fenômenos e externá-los usando a tecnologia.

Qual a inovação do aplicativo?

O grande diferencial do aplicati-vo é o contexto em que ele se insere, que é o da construção colaborativa de uma informação que normalmen-te seria cara para se obter por outros métodos. Veja o seguinte: o prefeito é uma pessoa só e, para essa pessoa sozinha, é humanamente impossível conhecer todos os problemas de uma cidade com um milhão de habitantes distribuídos em 115 bairros, como é o caso de Teresina. A capacidade des-se tipo de ferramenta é a exploração colaborativa para a construção de um mapa da situação, sem custos para a administração pública.

A lógica colaborativa é a mesma de uma rede social comum, como o facebook, por exemplo? O que a di-fere?

No caso do facebook, trata-se de uma rede social que não tem foco no conteúdo. O que tem sido explorado hoje são redes sociais específi cas, fo-cadas a determinados nichos de con-teúdo. Nós focamos nesse cenário para que a informação fosse útil para o cuidado de cidades. A nossa pro-posta é “por que não colocar o cida-dão nesse processo, uma vez que ele é o principal interessado?” O cida-dão passa a observar os problemas, a colaborar e acompanhar a solução.

Como o aplicativo foi desenvol-vido?

O projeto do aplicativo começou na minha disciplina de engenharia de soft ware, no segundo semestre de 2012, quando foi proposto aos alunos aplicar o conhecimento da disciplina para produzir um produto inovador. No início, foram apresen-tados cinco projetos, mas, ao fi nal da disciplina, resolvemos focar em um para que ele fosse realmente efetiva-do e nos concentramos no “De olho na Cidade”. E foi assim que o projeto começou a caminhar. Em 2013, foi que realmente investimos a fundo no projeto.

Quantas pessoas participam do projeto?

No caso do “De olho na cidade”, é uma equipe de seis desenvolvedo-res. A minha participação é como mentor e gestor do projeto. Também existe a participação dos prof. Mar-cus Vinicius e prof. Anchieta Araújo, em que cuidam da parte de desafi os

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tecnológicos e divulgação/convênio com instituições e ONGs, respecti-vamente. Ao todo, são nove pessoas diretamente envolvidas no projeto.

Quais foram os custos reais para que o projeto fosse viabilizado?

Inicialmente não foram muitos custos, porque a gente conseguiu motivar os alunos a participarem pelo fato de adotarmos o modelo de Start Up. Esse é o modelo em que pessoas investem seu tempo, inves-tem seu know-how com a perspecti-va de terem lucro caso o projeto se torne monetizado, ou seja, os alunos são cotistas do projeto. Então, não ti-vemos um custo de pessoal.

Existe também o custo de domí-nio, de registro na Play Store, que a gente tem que pagar uma assinatura. O domínio é R$ 40 reais (quaren-ta reais) por ano e o Play Store é de U$25 dólares por ano. A hospeda-gem nós não pagamos, porque uma empresa ofereceu gratuitamente. E esses custos foram os professores que pagaram.

Nos dias de hoje, ainda se per-cebe “resistência” ao uso de plata-formas que possam contribuir para a gestão pública, a exemplo do “De olho na cidade”. Na sua opinião, quais são as maiores difi culdades para superar essa resistência?

A motivação é um grande desafi o nesse processo: como motivar a par-ticipação das pessoas sem pagá-las para isso? O grande passo vem da educação, da politização da popula-ção. A consciência política de cada um é que vai fazer a diferença, o sen-timento de cidadão e a sabedoria da sua inserção dentro da sociedade. Existem pessoas politizadas, mas

elas são minoria. Eu tive a oportu-nidade de viver numa sociedade onde as pessoas verbalizam o que elas sentem com relação aos seus anseios sociais. Se uma pessoa joga um papel no chão, as pessoas ver-balizam e não tem medo por causa disso. Aqui no Brasil, infelizmente, se você verbaliza, você corre o ris-co de ser agredido, então, as pesso-as não são preparadas. E realmente é um desafi o enorme. Se fosse, por exemplo, uma rede social com ou-tro foco, eu tenho certeza de que a aceitação seria maior.

Como você acha que esse pro-blema pode ser solucionado?

A solução que nós estamos ado-tando agora é ir direto às ONGs que têm ações voltadas para essa fi na-lidade e tentando encaixar o nosso objetivo com os objetivos das ONGs. Por exemplo, uma ONG que fi scali-za a corrupção pode participar do “De olho na Cidade”, observando os problemas de corrupção na cidade e acompanhando a solução. Assim, o papel da prefeitura passa a ser se-cundário e não de protagonista. Nós nascemos com foco nas prefeituras, mas observamos que os órgãos de controle foram quem despertaram maior interesse. Então, nós temos a parceria com outras instituições, a exemplo do Tribunal de Contas do Estado, o que fortalece a nossa pro-posta.

Verifi cada a falta de interesse da população, porque o senhor não preferiu investir numa tecnologia que pudesse trazer retorno fi nan-ceiro?

Eu falo que existem uma série de motivos. O principal é o motivo

pessoal de querer ser útil para a so-ciedade, de mostrar que era possível aplicar o conhecimento científi co de pesquisa em benefi cio da sociedade. Além disso, o know-how, ou seja, o conhecimento adquirido servirá para o desenvolvimento de outros produtos que, futuramente, podem ter um valor comercial.

Qual avaliação você faz até ago-ra do aplicativo “De olho na cida-de”?

O maior benefício do projeto “De Olho na Cidade” foi ser o divisor de águas para o curso de computação da UESPI, que passou de um curso extremamente esquecido, no sentido de ter uma evasão enorme de alunos, em que as pessoas não acreditavam no que elas estavam fazendo e que agora se sentem capazes. Consegui-mos mostrar que podemos inovar, mesmo com pouco recurso. O que temos buscado é aproximar o mer-cado em relação ao que tem sido desenvolvido no laboratório para que tenhamos condições de formar melhor os nossos alunos para se-rem profi ssionais mais qualifi cados. Além disso, o projeto viabilizou o desenvolvimento de novos projetos como o de um mestrado profi ssio-nal, que esperamos que seja lança-do em 2015, bem como o progra-ma Lagoas Digitais a ser executado ainda este ano na região das Lagoas do Norte, que é composto por uma incubadora, cujo objetivo é poder captar iniciativas de inovação tecno-lógica, oferecendo consultoria visan-do ao desenvolvimento regional e local. Associado a esse projeto, existe um projeto de formação, batizado de “Jovem Inovador”, que busca capaci-tar jovens daquela região com foco em tecnologia.

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Há quatro anos sendo desenvolvido na UFPI, o estudo mostra resultados positivos.

Pesquisa piauiense descobre fator anti-hipertensivo em

casca de Bacuri

O bacuri é uma fruta comum da região Norte do Brasil muito utilizado na fabri-

cação de doces e sorvetes. O que poucos sabem é que o potencial do bacuri está além da polpa e pode ser encontrado também na casca que guarda importantes propriedades farmacológicas. Subproduto, joga-da ao lixo por não ter valor comer-cial, a casca do bacuri foi alvo de um longo estudo realizado na Uni-versidade Federal do Piauí (UFPI) que revelou um fator anti-hiperten-sivo, capaz de baixar a pressão arte-rial com pequenas dosagens.

O estudo teve o apoio da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi), através do Programa Pri-meiros Projetos (PPP), começou em 2011 e foi desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais (NPPM), com orienta-ção da professora da UFPI, doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Aldeídia Pereira.

Com pouca pesquisa relaciona-da ao tipo de composto encontra-do, o trabalho dos pesquisadores piauienses foi ainda mais difícil. “Quando não conhecemos a com-posição química da planta ou do fruto, temos que começar do zero, por isso foi um longo período de trabalho”, destacou a professora Aldeídia.

A escolha do produto foi bem avaliada já que atendeu ao propó-sito de mostrar um trabalho inova-dor. É um dos propósitos no NPPM fazer com que produtos próximos à realidade local sejam aproveitados tanto na pesquisa científi ca, como na geração de renda e estímulo à população para reaproveitar deter-minados produtos. “Nós trabalha-mos com a casca do Bacuri que, na grande maioria das vezes, acaba

indo para o lixo e ninguém sabia como agregar valor a este produto. Então, avaliamos o potencial far-macológico dele e, para nossa sur-presa, os resultados foram bastante positivos”.

ENTENDA COMO A PESQUISA SE DESENVOLVEU

O trabalho contou com a dedi-cação de oito pesquisadores que

Por Allan Campêlo

“É um dos objetivos do nosso estudo conferir importância a um produto subutilizado e estamos conseguindo isso com a casca do Bacuri”, destaca Aldeídia Pereira, Coord. da Pesquisa.

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desenvolveram a pesquisa tendo caráter interdisciplinar, o que pos-sibilitou uma melhor execução da proposta.

Farmacêuticos, biólogos e quí-micos trabalharam na pesquisa. A primeira fase foi desenvolvida pelo setor de química da UFPI, etapa em que o extrato etanólico da casca do bacuri foi analisado em sua compo-sição química para que o produto, mais puro possível, tivesse o poten-cial farmacológico estudado.

A segunda etapa consistiu na identifi cação dos materiais que aca-bou pela percepção do fator anti-hi-pertensivo na casca do bacuri.

Na fase de testes, foram minis-tradas doses do composto em ratos hipertensos e, como resultado, a pressão arterial em todas as cobaias se manteve controlada por horas.

“Buscamos analisar a ação va-sorrelaxante do composto. Pelo perfi l de resposta do extrato, iden-tifi camos que ele age via sistema nervoso. Como um produto natural não tem uma ação única e especí-fi ca, acreditamos que ele seja um bloqueador dos canais de cálcio, o que acaba diminuindo a resistência vascular e a pressão arterial”, afi rma a professora.

A hipertensão arterial age de forma a aumentar os níveis de pres-são sanguínea e faz com que o co-ração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para garan-tir a circulação do sangue.

No Brasil, de acordo com a pes-quisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crô-nicas por Inquérito Telefônico (Vi-gitel) de 2012, 24,3% da população

brasileira têm hipertensão arterial contra 22,5% em 2006, ano em que foi realizada a primeira pesquisa.

Apesar dos bons resultados ob-tidos com a pesquisa piauiense, a aplicação em seres humanos é bem mais complexa. Exatamente para este propósito, a pesquisa agora se volta para outro ponto: identifi car como o organismo reage a perío-dos mais longos com a utilização da substância e futuramente modifi car o modo de administração do com-posto. “É possível pensar em utili-zar o composto em humanos, mas temos que fazer ainda muitos testes. A hipertensão é uma doença crôni-ca e é preciso identifi car se o uso da substância de forma frequente cau-sa algum tipo de dano tóxico ao or-ganismo”, destaca a professora.

Até agora, o composto é usado de maneira intravenosa, ou seja, aplicada diretamente na corrente sanguínea, porém, como para os humanos é preciso o uso diário, os pesquisadores piauienses buscam uma maneira de conseguir minis-trar a substância de forma oral.

Com os bons resultados obtidos com a pesquisa, a professora Aldeí-dia destaca a participação da Fapepi neste processo. “A Fapepi teve uma importância muito grande em nos-so projeto, sem a atuação efetiva da fundação, a concretização deste tra-balho seria bem mais difícil”.

Além de render dois resumos em evento nacionais, uma disserta-ção de mestrado e dois trabalhos de iniciação científi ca, no início deste ano, o periódico internacional Jour-nal of Medicinal Food aceitou a pu-blicação do artigo “Pharmacological evidence of α2-adrenergic receptors in the hypotensive eff ect of Platonia insignis Mart.”, destacando a pesqui-sa piauiense com a casca do bacuri.

Aluna do Mestrado em Farmacologia realiza intervenção cirúrgica em rato hipertenso.

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Pedagogo. Mestre em Educação/UFPI, Doutor em História da Educação/UFC, Professor Adjunto I da UESPIContato: [email protected]

Robson Carlos da Silva

A capoeira como manifestação cultural brasileira e fenôme-no social que envolve pessoas

de classes e grupos sociais diversos, criada e desenvolvida pelos escra-vos e seus descendentes no Brasil, é capaz de agregar valores educativos signifi cativos, possibilitando um olhar diferenciado sobre a diversi-dade cultural de nosso povo, consti-tuindo-se historicamente em um dos instrumentos privilegiados de resis-tência e estratégia de sobrevivência no bojo das complexas sociedades urbanas brasileiras, em que, após décadas de perseguições e quase che-gando à extinção, se reinventou e as-sume a condição de cultura nacional, sendo aceita nos currículos escolares e culminando com sua inscrição do IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

A pesquisa, que fomentou o Dou-torado em História da Educação Brasileira, pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e amparada no contexto dos estudos desenvolvidos no NHIME (Núcleo de Estudos em História e Memória da Educação), procurou compreender como se deu o processo histórico de inserção da capoeira nos espaços escolares, além de contribuir para estudos futuros e posterior adoção de novas fontes de pesquisa no campo da história cultu-ral brasileira e piauiense.

O estudo se assentou no seguinte problema: Como se deu a trajetória

A Capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares

histórica da capoeira e o processo de escolarização dessa cultura a partir das narrativas de mestres de capoeira de Teresina-PI? O objetivo principal foi investigar como se deu a trajetória histórica da capoeira e o processo de escolarização dessa cultura a partir dos testemunhos orais de mestres de capoeira de Teresina-PI. A pesquisa, de natureza qualitativa, se amparou no campo historiográfi co da His-tória Cultural, privilegiando como metodologia o uso das narrativas das memórias dos mestres de capoeira piauienses, combinados e cruzados com diversas fontes, diversos traços e fragmentos, tais como textos de jor-nais e de revistas periódicas, imagens e documentos ofi ciais ou não ofi ciais, na tentativa de revisitar, reconstruir e dar signifi cado a esse passado.

Os mestres de capoeira, atores principais dessa história, identifi ca-dos como detentores do conheci-mento sobre sua história e seu pro-cesso de escolarização e pioneiros a ensinar e manter viva a tradição dessa arte são Mestre Caramuru, Mestre Tucano, Mestre Zé Carlos e Mestre Chocolate, selecionados pela representatividade e autoridade ad-quirida e reconhecida no universo da capoeira, forjados nos embates da dinâmica de desenvolvimento dessa cultura.

A principal experiência foi per-ceber a extrema difi culdade que é contar as histórias dos “povos sem

história”, dos grupos marginaliza-dos e tratados como de menor im-portância na historiografi a ofi cial, problema que se agrava quando se busca uma história que seja contada pelos próprios sujeitos, que vivencia-ram e construíram tal história. Esse é o caso da capoeira no Piauí, cujas fontes ofi ciais parecem não existir, não havendo o cuidado em se regis-trar a história de uma cultura em que os sujeitos são pessoas comuns, sem signifi cância social a partir do olhar de quem representa e pode, ofi cial-mente, falar “do” e “sobre” o outro.

A pesquisa apontou para o enten-dimento de que a capoeira do Piauí nasceu de forma espontânea, somen-te pelo prazer e pela alegria de se praticar uma arte de beleza e plasti-cidade incomuns, uma luta que dava respeito a seus praticantes, a partir de um pequeno foco, no início dos anos de 1970, chegando até a escola por volta do ano de 1979, pela “invasão” literal aos espaços escolares.

As narrativas dos mestres de ca-poeira revelam que sua prática é im-portante no imaginário teresinense, pela vastidão de saberes que a carac-terizam como instrumento de cons-cientização e desenvolvimento da criticidade, com suas cantigas, ges-tualidades, histórias, tradições, poe-sias, segredos, mandingas e magias, em que corpo e espírito se fundem e jamais podem ser concebidos em separados.

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1.Graduando em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI)2. Especialista em Desenvolvimento Web (UFPI) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI)

3. Doutor em Informática na Educação (UFRGS) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI)

Gleison Brito Batista¹ · Fernando Castelo Branco Gonçalves Santana²· Fábio de Jesus Lima Gomes³

A aplicação das Novas Tec-nologias da Informação e Comunicação (NTICs)

para fi ns educacionais colaboram para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais agradável e proveitoso. Os recursos necessários para a utilização das NTICs, muitas vezes, não fazem parte do cotidiano de boa parte dos alunos e professo-res no Brasil. Grande parte da po-pulação não tem acesso à internet, ocasionando o aumento da exclusão digital e, consequentemente, social.

No cenário brasileiro, a TV surge como uma solução para veiculação de conteúdo de qualidade e, com o advento da TV Digital Interativa (TVDi), surge a possibilidade de interação com o telespectador. Por meio de processos de digitalização do sinal da TV, aplicações podem ser executadas em aparelhos de TV.

Na transição da TV analógica para a TV digital, ocorreram diversas mudanças, dentre as quais se desta-cam: alta qualidade de som e ima-gem, interatividade com o conteúdo apresentado e otimização da largura da banda utilizada na transmissão do sinal e de vídeos sob demanda. Na TV analógica, tem-se a transmissão de áudio e vídeo, enquanto, na TV di-gital, é acrescido mais um elemento: dados. Na camada de dados, aplica-ções e serviços podem ser enviados.

Criando objetos de aprendizagem para TV Digital baseados em mapas

conceituais hierárquicosO Decreto nº 5.820/2006, que

dispõe sobre implantação da TVDi no Brasil, deixou claro que o uso da tecnologia para fi ns educacionais será um dos seus principais objeti-vos, uma vez que o aluno passa de um papel passivo de mero telespec-tador para um papel ativo na inte-ração com o conteúdo transmitido pela TV, o que possibilita melhorias no processo de aprendizagem.

Existem atualmente muitos ob-jetos de aprendizagem construídos para a plataforma Web, porém a in-ternet muitas vezes não é acessível em nosso país, especialmente em regiões interioranas. A TV Digital surgiu no Brasil com a proposta de levar à comunidade a possibilidade de inclusão digital e acesso a servi-ços governamentais voltados à edu-cação, em uma tentativa de prover serviços antes somente disponíveis na internet. Dessa maneira, pro-põe-se uma ferramenta para criação de objetos de aprendizagem para TVDi baseados em mapas conceitu-ais hierárquicos desenvolvidos com o soft ware CMapTools©.

Mapas conceituais são repre-sentações gráfi cas semelhantes a diagramas utilizados para repre-sentar um conjunto de signifi cados conceituais. Por se tratar de uma técnica fl exível, mapas conceituais podem ser utilizados como recur-

sos de aprendizagem.Na tela inicial das aplicações

construídas com a ferramenta proposta, o usuário tem acesso ao mapa conceitual por meio de uma estrutura de diretórios. Também é exibida na tela as mídias associadas a cada nó. Cada mídia é iniciada quando o telespectador aprendiz pressionar o botão vermelho do controle remoto de sua TV. Ao se-lecionar determinado conceito, a aplicação exibirá a estrutura de nós fi lhos do nó selecionado. Na tela situada acima das mídias exibidas, encontra-se o vídeo relativo ao con-ceito selecionado.

Sendo uma ferramenta voltada para o âmbito educacional, visa-se promover um ambiente agradável de aprendizagem, onde o professor poderá facilmente desenvolver apli-cações para TVDi utilizando mapas conceituais hierárquicos criados a partir do CMapTools©. Como tra-balhos futuros, pretende-se prover ao usuário professor a possibilida-de de escolher entre vários layouts para as aplicações, além de poder criar seus próprios layouts.

Com esta pesquisa, espera-se promover uma refl exão sobre a ado-ção da TVDi no meio educacional. Também se espera que a ferramenta proposta possa auxiliar no processo de expansão da educação no Brasil.

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1. Licenciado em Química, Programa Institucional de Iniciação Científi ca Voluntária (ICV), UFPI | 2. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Química da UFPI | 3 e 4. Professor do Departamento de Química, do Centro de Ciências da Natureza da UFPI, e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Química e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas · Conta-to: [email protected]

No semiárido nordestino do Brasil, existe uma grande incidência da intoxicação de

equinos por ingestão de plantas tóxi-cas. Um exemplo importante é a into-xicação por Crotalaria retusa, comum no município de Teresina-PI. Diver-sas espécies animais, como suínos, equinos e bovinos, podem ser afeta-das com intoxicação por plantas do gênero Crotalaria spp. Essas plantas apresentam altos teores de alcaloides do tipo pirrolizidinicos (APs). Alguns APs são toxinas naturais (hepatotóxi-cas, pneumotóxicos e carcinogênicos) presentes em mais de 6.000 espécies de vegetais em diferentes gêneros e famílias e que acometem humanos e animais (AISRES et al., 2004).

O objetivo deste trabalho foi de-terminar a composição química de constituintes voláteis e fi xos por CG-EM de Crotalaria retusa, bem como avaliar seu potencial anticolinesterási-co, toxicidade frente à Artemia salina e toxicidade pela técnica MTT.

As plantas são ricas em uma mis-tura complexa de metabólitos secun-dários, e seus efeitos no organismo podem ser devido a uma ação conjun-ta de vários componentes (sinergis-mo) ou de componentes individuais. No caso da C. retusa, embora apresen-te APs tal como a monocrotalina, um metabolito secundário presente em diferentes partes da planta, e já isolada de extratos das folhas e das sementes. Outros componentes presentes nes-ses extratos podem ser responsáveis por princípios ativos encontrados

Composição química e avaliação anticolinesterásica de partes aéreas de Crotalaria retusa

Edmilson Araújo de Oliveira Júnior¹ · Maria do Carmo Gomes Lustosa²· Sidney Gonçalo de Lima³ · Chistiane Mendes Feitosa4

para a espécie como, por exemplo, o da inibição da enzima acetilcolineste-rase (AChE), e atividade antioxidan-te, foco de nosso estudo.

A inibição da acetilcolinesterase (AChE) humana tem várias aplica-ções importantes em tratamentos médicos, especialmente na Doença de Alzheimer (DA). A DA é uma de-sordem neurodegenerativa progres-siva, afetando em maiores números idosos, e os principais sintomas des-sa doença são a perda de memória, defi cit na linguagem, depressão, alte-rações no comportamento, agitação, alterações de humor e psicose (ME-DEIROS et al., 2006). O aumento do nível de ACh no cérebro através da inibição da AChE é uma alternativa para o tratamento da DA (DOHI et al., 2009). Essa elevação dos níveis de ACh pode ser útil para melhorar um dos sinais da doença: a defi ciên-cia de aprendizagem (MACHADO et al., 2009).

Atualmente apenas quatro inibi-dores da AChE são aprovados pela agência Food and Drug Administra-tion (FDA) dos EUA para o trata-mento da DA: donepezil (Aricept®), galantamina (Reminyl®), rivastigmi-na(Exelon®) e tacrina (THA, Cog-nex®). A grande variedade estrutural dos anticolinesterásicos, hoje conhe-cidos, e a possibilidade de explorar diferentes modos de ação dos mes-mos têm estimulado o estudo fi to-químico de diversas espécies vegetais e de micro-organismos que venham fornecer novos modelos de substân-

cias anticolinesterásicas. Os extratos hexânico, etanólico e

decocto das folhas de C. retusa apre-sentaram potencial de inibição frente à AChE. Esses extratos mostraram-se atóxicos às larvas de A. salinae em en-saios MTT, o que fi rma sua importân-cia e amplia as perspectivas de estudo da espécie diante de novas atividades biológicas. Os constituintes voláteis das folhas de C. retusa não têm sido relatados na literatura como inibido-res da acetilcolinesterase e nem um dos componentes isolados. Assim este estudo é de grande contribuição na busca de novos fármacos anticolines-terásicos naturais.

Crotolaria retusa foi objeto de es-tudo da então aluna Maria do Carmo no Programa de Iniciação Científi ca Voluntário (ICV – UFPI). Mais tar-de, o aluno Edmilson Júnior (ICV – UFPI) deu continuidade, sendo ob-jeto de estudo de seu TCC em 2013, com o tema “Composição química e avaliação anticolinesterásica de partes aéreas de Crotalaria retusa”, desen-volvido no Laboratório de Produtos Naturais da UFPI em 2013, sob orien-tação do Prof. Dr. Sidney Gonçalo de Lima e com colaboração da Profa. Dra. Chistiane Mendes Feitosa. Al-guns resultados foram apresentados nos Congressos da Sociedade Bra-sileira de Química e da Associação Brasileira de Química e também em Encontros de Iniciação Científi ca da UFPI. O grupo está aprofundando estes estudos e pretende registrar um pedido de patente junto ao INPI.

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O Programa foi inaugurado em 2011 e, apesar das dificuldades, professores e alunos mostram que é possível conseguir visibilidade.

Mestrado em comunicação da UFPI conquista reconhecimento

nacional

Por Nayra Veras

A egressa do mestrado em comunicação Marcela Miranda ao lado dos professores da UFPI Ana Regina Rego, Paulo Fernando e do professor convi-dado Feliciano Bezerra

Quais os impactos da pro-paganda sobre os consu-midores? Como a inter-

net altera a vida dos indivíduos? Como uma novela pode infl uen-ciar no comportamento de uma dada comunidade? Estes são al-guns questionamentos que podem ser solucionados com a pesquisa científi ca em comunicação e que começaram a ganhar mais espaço no estado com a inauguração do Programa de Pós-graduação Stric-tu Sensu (mestrado) em Comu-

nicação da Universidade Federal do Piauí (PPGCOM) em 2011. O programa tem atraído pesquisado-res das diversas subáreas da comu-nicação e de diferentes regiões do estado, atendendo a uma demanda até então carente desse tipo de for-mação. Através de um trabalho em rede, os professores do programa mostram que, apesar das difi cul-dades, é possível conseguir visibili-dade. Exemplo disso é que mesmo com pouco tempo de existência, o PPGCOM já adquiriu reconheci-

mento, com premiações nacionais, a exemplo do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação.

Desde que foi inaugurado, o mestrado em comunicação já for-mou duas turmas, totalizando 19 dissertações defendidas nas suas duas linhas de pesquisa: “Proces-sos e práticas em jornalismo” e “Mídia e produção de subjetivida-des”, áreas que concentram profi s-sionais do Jornalismo, Publicida-de, Relações Públicas e Marketing, mas não somente estes, pois tem

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atraído pesquisadores das ciências sociais e humanas de uma forma geral.

De acordo com a coordenadora do Programa, professora Doutora Ana Regina Rêgo, as linhas foram desenhadas de acordo com as di-retrizes do MEC para cada uma das áreas, tendo como foco tam-bém a formação dos professores.

Segundo Ana Regina, o objeti-vo do programa é atender às pes-soas que se formam na área de co-municação na região Nordeste. “É um programa regional e nós temos recebido alunos tanto do Mara-nhão quanto do Ceará e do Piauí todo. Temos gente do interior, mas temos atraído principalmente alu-nos que se formam em Teresina nas diversas universidades e facul-dades de Comunicação, sobretudo em jornalismo.”

Para quem já passou pela ex-periência de fazer pesquisa em comunicação, o mestrado em comunicação realizado no Piauí representou a oportunidade de crescimento profissional sem ter que sair da sua cidade de forma-ção. “Após a especialização que fiz em 2008, tinha interesse na pós-graduação, visando o mestra-do, mas, devido a projetos pesso-ais, não pude fazer a pós em outro Estado. Quando foi anunciado o Mestrado aqui na UFPI, vi que era o momento de dar continuidade à minha formação acadêmica e foi algo bastante positivo para mim”, afi rma Marcela Miranda, egressa do mestrado em Comunicação na linha de pesquisa Processos e prá-ticas em jornalismo.

Para Ana Regina Rêgo, o mes-trado em comunicação tem con-tribuído para desenvolver a massa crítica do estado do Piauí, princi-

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palmente para aqueles que querem atuar como formadores. E, apesar de ser um mestrado acadêmico, a professora ressalta que as pes-quisas nas duas linhas ajudam a aprimorar tanto a prática do fazer jornalístico quanto o desenvolvi-mento do fazer acadêmico.

Sobre as contribuições do mestrado para a sociedade, Ana Regina destaca que, além da qua-lificação de pessoal da área, o pro-grama tem desenvolvido outros tipos de trabalho que beneficiam a sociedade, como o trabalho de digitalização do acervo público do estado, que, segundo ela, bene-ficiará pesquisadores de todas as áreas e não apenas da História e

da Comunicação. Apesar das contribuições e ino-

vações trazidas pelo mestrado, a coordenadora pontua que ainda há um grande diferencial entre produzir pesquisa e conhecimen-to no eixo sul e sudeste e produzir conhecimento nas outras regiões do País. De acordo com dados da Coordenação de Aperfeiçoamento em Nível Superior (Capes), atual-mente existem no Brasil 67 cursos de pós-graduação em Comunica-ção no Brasil, dos quais 22 são de doutorado e 45 de mestrado, sendo a região Sudeste responsável por abrigar 22 dos cursos de mestrado ofertados no país (veja o mapa).

Para Ana Regina, isso repre-senta um desafi o em termos de visibilidade das produções. “Eu acho que é um desafi o, mas, exa-tamente por ser um desafi o, ele é extremamente importante. Nós temos algumas difi culdades, não

da produção em si, mas da visibili-dade dessa produção em nível na-cional.” Para superar esse desafi o, a professora ressalta que o mestrado tem desenvolvido um trabalho em rede: “Nós temos um trabalho em rede com outras regiões do país,

Curso de mestrados e doutoradosCurso de mestrado

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com outras universidades. No caso do meu núcleo, com São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Por-tugal, Espanha; no caso do Gusta-vo Said, com o Rio Grande do Sul e Estados Unidos, e isso facilita o trâmite que a gente tem para dar visibilidade a nossas produções”.

Marcela Miranda apresentou a dissertação intitulada “Do riso ao grito: a atuação dos jornais Gram-ma e Chapada do Corisco, na dé-cada de 1970 em Teresina-PI” e destacou que uma das maiores di-fi culdades de se produzir pesquisa no Estado está na falta de incentivo à produção de pesquisas científi cas no campo da Comunicação desde a graduação. “Trata-se de uma área de pesquisa bastante ampla, que permite desvendar muitos saberes e que os alunos ainda na gradua-ção devem passar por essa expe-riência e não se limitar somente à formação técnica que o mercado profi ssional exige”.

Para Renata Santos, egressa do mestrado em Comunicação da UFPI e autora da pesquisa inti-tulada “Blogs como estratégia de regionalização em portais piauien-ses: estudo de caso do portal 180 graus”, da linha de pesquisa “Pro-cessos e práticas em jornalismo”, a produção de pesquisa nessa área no Estado requer dos estudantes outros desafi os como, por exem-plo, encontrar bibliografi a nas li-vrarias de Teresina e mesmo nas bibliotecas: “Boa parte dos livros que utilizei comprei pela internet”. Acrescenta ainda que “análises que envolvem pesquisa de campo, como viagens ao interior do Esta-do, esbarram na falta de investi-mento, motivada, frequentemente, pelo preconceito de quem não vê a importância das mesmas. O pro-

Somos ainda um programa pequeno, mas

que se tem destacado e

eu acho que já está no caminho

certo.

grama Ciência sem Fronteiras, por exemplo, não contempla as áreas de Humanas e Ciências Sociais Aplicadas”.

Para superar tais difi culdades, as alunas destacam o auxílio atra-vés de bolsas como fundamentais para o desenvolvimento de suas atividades de pesquisa. “Recebi auxílio da Fapepi nos últimos seis meses de realização do Mestrado, que tem duração de dois anos e foi um auxílio imprescindível vis-

to que pude apresentar os resul-tados parciais de minha pesquisa em alguns eventos científi cos da área, tanto no Brasil como em al-guns outros países e assim ter um feedback de outros pesquisadores, proporcionando uma troca de experiências e informações que agregaram grande valor e conhe-cimentos a minha pesquisa”, afi r-ma Marcela Miranda. Ao todo 17 alunos já foram contemplados com bolsas, 11 pela Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) e 11 pela Capes.

PRÊMIO LUIZ BELTRÃO

Apesar do pouco tempo de existência e das difi culdades en-contradas, o mestrado em Comu-nicação foi premiado na 16ª edição do Prêmio Luiz Beltrão. O prêmio Luiz Beltrão de Ciências de Co-municação foi criado como forma de reconhecimento para pesqui-sadores e grupos de pesquisa que estejam destacando-se no meio acadêmico. O troféu é concedido a quem produz trabalhos relevantes na área das ciências da comunica-ção e contribui para consolidar o prestígio das comunidades acadê-mica e profi ssional brasileiras.

Para a coordenadora do mes-trado, professora Ana Regina, a premiação resulta de um conjunto de fatores, como a estruturação do departamento e a quantidade de professores doutores. “Nós vamos receber o prêmio em setembro em Foz do Iguaçu, exatamente porque é um núcleo que está começando a ter uma visibilidade nacional, mas, a partir de um trabalho de-senvolvido por cada um dos pro-fessores, com essa formação de alunos, desde a graduação, com bolsistas de iniciação científi ca até o mestrado”. Além do prêmio Luiz Beltrão, a professora cita a premia-ção dos professores Gustavo Said e do Prof. Dr. Michael Stricklin no prêmio Donnald Brenner Best Pa-per Award como um indício de que o trabalho realizado no mestrado em Comunicação está no caminho certo.

“Somos ainda um programa pequeno em relação aos demais programas do país, sobretudo da região Sul e Sudeste, mas é um pro-grama que se tem destacado e eu acho que já está no caminho certo.”

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Gustavo Said e Michael Stricklin conquistaram a premiação internacional em 2013, na cidade de Amsterdã, com o artigo que trata das aproximações epistemológicas entre

Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin.

Prêmio Donnald Brenner coroa parceria de 18 anos entre

pesquisadores

Por Vanessa Soromo

Uma pessoa pode pensar de forma independente? So-mos os autores de nossos

pensamentos? Como podemos sa-ber?”. Para responder a essas e outras questões, os professores Dr. Gustavo Said e Dr. Michael Stricklin do Pro-grama de Pós-Graduação em Co-municação (PPGCOM), nível Mes-trado, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), tentaram aproximar, em nível ontológico-epistemológico,

Professores do PPGCOM/UFPI durante Conferência em Amsterdã, onde lançaram livro e conquistaram o Prêmio Donnald Brenner.

os pensamentos de dois importantes estudiosos: o fi lósofo russo Mikhail Bakhtin e o físico e psicólogo inglês William Stephenson.

O artigo intitulado “Comunicabi-lidade e Dialogismo: aproximações epistemológicas entre Willian Ste-phenson e Mikhail Bakhtin” foi apre-sentado em setembro do ano passa-do, durante a programação do 29º Congresso da International Society for the Scientifi c Study of Subjectivity

(ISSSS) - Q Conference 2013, realiza-do na cidade de Amsterdã, Holanda.

Durante o evento, os professores Said e Stricklin também lançaram o livro “Anais da 1ª Conferência In-ternacional sobre Metodologia Q: análises quantitativa e qualitativa na pesquisa científi ca”. A publica-ção organizada pelos dois pesquisa-dores reúne seis artigos com temas relacionados a diversas áreas, como Comunicação, Sociologia e Ciência

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Michael Stricklin, ao lado de Gustavo Said, mostra imagens referentes à Copa do Mundo no Brasil. O material foi utilizado durante o novo estudo dos pesquisadores que será apresentado em Salt Lake City, nos Estados Unidos.

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Capa do o livro “Anais da 1ª Conferência Internacional sobre Metodologia Q: análises quantitativa e qualitativa na pesquisa científi ca”, lançado na Q Conference 2013.

Política, escritos por docentes de universidades internacionais.

A viagem a Amsterdã, além de produtiva, trouxe signifi cantes sur-presas aos professores do PPGCOM da UFPI. Dentre os mais de 200 tra-balhos selecionados pelo Congresso, a ISSSS conferiu aos pesquisadores Gustavo Said e Michael Stricklin o prêmio Donnald Brenner Best Paper Award, pelo artigo “Comunicabili-dade e Dialogismo: aproximações epistemológicas entre Willian Ste-phenson e Mikhail Bakhtin”, consi-derado o melhor trabalho apresen-tando durante o Congresso.

“Imagina que você tem um tex-to apresentado num Congresso que tenha mais de 150 outros trabalhos, e o seu é escolhido o melhor. Vindo de uma universidade pequena como a UFPI se comparada a outras uni-versidades no Brasil e no estrangei-ro e com um programa (PPGCOM) que é recentíssimo. E de repente você tem o seu trabalho servindo como

referência para um Congresso Inter-nacional. Isso é, no mínimo, anima-dor. Digamos que o Prêmio seja uma recompensa pelo esforço coletivo que está sendo desenvolvido aqui no Programa”, ressalta Gustavo Said.

Michael Stricklin defi niu, em uma única palavra, o que signifi cou ganhar o Prêmio Donnald Brenner - Satisfação. “O sentimento de sa-tisfação é básico do lado positivo da vida de uma pessoa. E quando nós podemos somar as nossas ativida-des e os resultados são positivos dá uma grande satisfação”, completa Stricklin.

O professor americano se apai-xonou pelas terras piauienses em 1996, quando veio pela primeira vez a Teresina ministrar uma aula de internet. De lá para cá, muitas coi-sas aconteceram: foram realizadas diversas viagens e intercâmbios, os laços com o Departamento de Co-municação da Universidade foram

estreitados, decidiu que a capital do Piauí seria o local que vivenciaria sua aposentadoria e entre tudo isso conheceu pessoas, uma delas foi o professor Gustavo Said.

A amizade e parceria de Said e Stricklin já completaram a maiori-dade. Para eles, o Prêmio representa um coroamento dessa parceria. Em dezoito anos, os dois pesquisadores já publicaram juntos cerca de seis trabalhos, e a intenção é que, no fu-turo, novos trabalhos sejam produzi-dos a quatro mãos. Segundo Michael Stricklin, “a meta é fazer uma pes-quisa por ano e, para 2014, o tema é a Copa Mundial”.

O novo trabalho será apresen-tado no mês de setembro, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, quando será realizado o 30º Con-gresso da Sociedade Internacional para Estudo Científi co da Subjeti-vidade. Na oportunidade, será en-tregue a premiação conquistada na

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Holanda em 2013. “Nós apresentamos o trabalho

em Amsterdã no ano passado, con-corremos ao prêmio, saiu o resultado – nós ganhamos – e, no congresso do ano seguinte, que é esse ano, eles vão entregar o prêmio. É legal porque, você ganha lá, mas recebe depois, fi ca um ano curtindo”, declara Gus-tavo Said.

É reservado aos que conquistam o Prêmio Donnald Brenner a publi-cação do texto em inglês na Revista Operant Subjectivity, certifi cado e uma recompensa fi nanceira. Além disso, o artigo vai se transformar em capítulo de livro na Espanha e já foi publicado na revista online “Ques-tões Transversais – Revista de Epis-temologias da Comunicação”.

Há quem acredite que as melho-res ideias, os “insights” costumam surgir em momentos ordinários. O momento no qual os professores Said e Stricklin tiveram a ideia de aproxi-mar os pensamentos de Bakhtin e Stephenson corrobora essa crença. Em um certo dia, a dupla de pesqui-sadores foi a um restaurante de Tere-sina e de praxe regaram a conversa com muitos autores, até que perce-beram que o físico e psicólogo inglês e o fi lósofo russo tinham sobretudo, de um ponto de vista epistemológi-co, algo em comum. “Realmente foi em uma mesa de restaurante que a ideia surgiu. Depois disso, claro, para fazer a pesquisa, nós fi zemos várias reuniões. Mike trazendo algumas ideias, eu trazendo algumas ideias, até que a pesquisa ganhasse corpo e pudesse ser planejada de forma mais consistente”, lembra Said.

Segundo Michael Stricklin, que foi o último orientando de doutora-do do professor Stephenson na dé-cada de 70 e que trabalha há muitos anos com a Metodologia Q, criada

pelo estudioso, “as ideias não vêm de muro branco. Surgem de uma situ-ação e nós temos que estar prontos para pegar a ideia quando aparece. Se não estiver pronto para pegar, nunca pega”, afi rma.

O Prêmio Donnald Brenner Best Paper Award poderia ser apenas mais uma conquista na trajetória acadêmica desses professores e pes-

quisadores. Mas, de acordo com eles, a premiação refl ete um processo co-letivo de produção de conhecimento que vem acontecendo no Piauí na área da Comunicação, que envolve parcerias entre universidades públi-cas, faculdades particulares, o forta-lecimento de grupos de pesquisa, um ambiente de cooperação acadêmica, a realização de eventos e o apoio

de agências de fomento à pesquisa como a Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado do Piauí (Fapepi), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científi co e Tecnológico (CNPq).

Said e Stricklin acreditam tam-bém que uma premiação como a Donnald Benner contribui para au-mentar a percepção pública da im-portância da Comunicação, da pes-quisa e dos trabalhos desenvolvidos pelos docentes e serve principalmen-te como estímulo para as novas gera-ções de pesquisadores.

“Todo processo de transferência de conhecimento a partir de progra-mas como o Programa de Iniciação Científi ca, o trabalho em sala de aula, a criação dos grupos de estu-dos, as orientações de mestrado, eu acho que isso tudo é importante. E, para que o aluno se sinta estimulado, é preciso que ele reconheça de fato no professor um pouco desse esfor-ço, perceba o trabalho do professor como algo estimulante. Então, eu acredito que um prêmio como esse ou qualquer outro tipo de atividade que o professor esteja desenvolvendo serve como estímulo para os alunos, os pesquisadores em formação”, con-clui Gustavo Said.

“Quando chegamos na sala de aula cheia de pessoas jovens e pode-mos mostrar nossos livros, mostrar nossos trabalhos, mostrar o diploma que ganhamos em uma premiação, eu acredito que isso vai instigar as pessoas de uma maneira muito bo-nita, positiva, um motivo para elas investirem o seu suor, a sua imagina-ção. E bom, o que mais um professor está procurando, além de abrir um espaço novo nas cabeças dos seus alunos?!”, fi naliza Michael Stricklin.

As ideias não vêm de muro

branco. Surgem de uma situação e nós temos que

estar prontos para pegar a ideia quando

aparece. Se não estiver pronto para pegar,

nunca pega.

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Primeiro doutor em Comunicação Social da UESPI chama atenção para fenômeno ainda pouco abordado.

Rádios Comunitárias e o crescimento da interatividade

através da internet

Por Allan Campêlo

Professor Orlando Berti em visita a Rádio Livramento FM no interior da Paraíba.

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Sabe o rádio? Aquele que tre-meu com a chegada da tele-visão, que cambaleou com os

teóricos da comunicação prevendo o seu fi m e que resistiu como um dos meios mais populares até hoje? Então, ele continua a surpreender, a se renovar e provocar fenômenos comunicacionais que transcendem as ondas sonoras.

Quando se fala em comunica-ção, é comum pensar em grandes redes de TV ou Rádio, ou associar à comunicação que acontece de pes-soa para pessoa, porém, por vezes, esquecemos o meio termo dessas signifi câncias e é, nesse momento, que se pode perceber a comunica-ção comunitária.

O professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), doutor em Comunicação Social pela Uni-versidade Metodista de São Paulo (UMESP), Orlando Berti, se propôs a estudar em sua tese os “Processos comunicacionais nas rádios co-munitárias no Sertão do Nordeste brasileiro na internet”, o fenômeno, ainda pouco abordado, que mos-tra o desenvolvimento do processo de interatividade entre a internet e as rádios comunitárias. O projeto contou com a orientação da profes-sora e doutora pela Universidade de São Paulo (USP) Cicília Peruzzo,

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referência em comunicação comu-nitária em todo o país.

O início do estudo se deu de forma mais efetiva com uma dis-sertação de mestrado apresentada em 2006. O professor Orlando Ber-ti viajou, conheceu e transformou em dissertação a pesquisa sobre as rádios comunitárias legalizadas no sertão de nosso estado.

“Em minha dissertação, eu an-dei 19 mil km para estudar todas as rádios comunitárias legalizadas do sertão do Piauí. Eu costumava

dizer para as pessoas que faziam as rádios que elas são mais impor-tantes do que qualquer outra rede de comunicação nacional. Esses comunicadores mostram a falta de um médico ou de um dentista, problemas que acontecem em um quarteirão e pela magnitude das grandes redes nacionais nunca te-riam destaque.”

Proximidade, talvez esta seja, de fato, a palavra certa para descrever, com clareza, o que no mínimo deve ser a relação entre uma rádio co-

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Com mais 15 mil km percorridos para concluir sua tese de doutorado, Orlando conheceu grande parte do sertão nordestino para compreender a comunicação comunitária.

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munitária e as pessoas para quem a ela se dirige. Sem fi ns lucrativos ou qualquer produção comercial, e principalmente prezando por ter valor representativo para uma co-munidade específi ca, é assim que esse tipo de emissora deve ser de acordo com a lei 9.621, que vigora no Brasil desde 1998.

Com o crescimento nem tão re-cente da popularidade das mídias digitais, as rádios comunitárias ganharam um aliado a mais para auxiliar na busca pela interativi-dade e representatividade de seus ouvintes. Orlando buscou identifi -car como essa interação entre rádio comunitária e internet estava acon-tecendo. “Um dos fenômenos mais interessantes que encontrei quando estava analisando como abordar a comunicação comunitária foi a questão da migração sazonal nas cidades do interior do Piauí. Locais em que aproximadamente 80% dos homens, durante seis meses do ano, saem da cidade para trabalhar em

colheitas, por exemplo, e utilizam a internet para interagir com as rá-dios comunitárias e manter contato com seus familiares. E isso mostra a força da internet dentro das rá-dios comunitárias, mesmo com um Piauí que ainda sofre com os altos índices de exclusão digital”.

Para a construção de sua tese de doutorado, Orlando Berti percor-reu oito estados do nordeste brasi-leiro e se deparou com uma realida-de pouco conhecida dos estudantes e docentes de comunicação: “Pedi carona, andei de moto, carro, nem sempre pude dormir porque não tinha local, mas fui muito bem recebido por onde passei e vi que esses comunicadores têm o desejo de fazer acontecer. Infelizmente a maioria ainda reproduz, copia mui-to de programas de grandes emis-soras, mas tem o desejo de melho-rar, percebi isso quando pedi mais proximidade na programação, pro-duções mais voltadas à realidade da comunidade e vi que eles foram

bastante receptivos ao que sugeri”.Depois de delimitar o que real-

mente seria compreendido no tra-balho, foram analisadas 8 rádios, uma de cada estado. A escolha se deu através dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Diversas outras rádios foram visi-tadas, somente no sertão do Piauí foram 30, e diferentes concepções de comunicação comunitária pu-deram ser identifi cadas no traba-lho. “Todos acreditavam em um conceito diferente para o que real-mente deve ser uma rádio comu-nitária. Alguns achavam que devia ser mais política, outros apostavam tudo na interatividade. Não temos um padrão e talvez isso seja o mais interessante”, destaca.

Apesar do interessante fenôme-no estudado, o professor Orlando Berti destaca que a academia ainda deve muito à comunidade, pesqui-sas que propiciem melhorias na co-municação. “Eu não creio que seja por maledicência e talvez nem fos-se tão interessante se a maioria dos estudos fossem voltados para essa linha de pesquisa, mas a academia precisa olhar mais para estes acon-tecimentos. Alunos e professores precisam meter o pé na lama para dar respostas que a comunidade necessita. Não é fácil, mas tem que ser feito!”, fi naliza.

Antes mesmo de ser concluída, a tese do professor Orlando Berti, deu origem a outro projeto: o “Nú-cleo de Extensão e Pesquisa em Co-municação Alternativa, Comunitá-ria e Popular”, desenvolvido pelos alunos de Comunicação Social do campus de Picos da UESPI. O pro-jeto segue desenvolvendo a prática de analisar como a comunicação comunitária está crescendo e de que forma a academia pode contri-buir para esta expansão.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 37 23

MAT

ÉRIA

O filme “Cipriano” (2001) e o documentário “Um Corpo Subterrâneo” (2007) foram analisados pelo doutor em História, José Luís de Oliveira, e pela mestre em Imagem e

Som, Patrícia Vaz, respectivamente. Os estudos dos dois pesquisadores demonstram o quão interessante pode ser a cooperação entre diferentes áreas do saber.

Obras do cineasta Douglas Machado são objeto de estudo de pesquisadores piauienses

Por Vanessa Soromo | Colaboração Rosa Rocha

Mestre em Imagem e Som, Patrícia Vaz.

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soalPesquisadores nascidos no Piauí

ou que se graduaram no Estado estão dedicando-se ao estudo

de histórias, costumes, fi guras e obras piauienses. Dois exemplos signifi cati-vos dessa tendência são as pesquisas de José Luís de Oliveira e Silva, para a obtenção do título de doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e de Patrícia Costa Vaz, para a obtenção do título de mestre em Imagem e Som pela Universidade Fe-deral de São Carlos (UFSCar). Ambos os pesquisadores trabalharam com obras de Douglas Machado, cineasta piauiense que conta com importantes produções no currículo, algumas de-las reconhecidas internacionalmente.

“Escolher um documentário piauiense para estudar no mestrado não se tratou apenas de uma escolha baseada em afi nidade, mas também uma forma de dar visibilidade às pro-duções audiovisuais feitas em estados fora do eixo Rio e São Paulo. Foi uma forma de ‘revelar outros Brasis’”, expli-ca Patrícia Vaz, que descobriu sua pai-xão pelo cinema documentário ainda na graduação, nas aulas do professor Doutor Paulo Fernando de Carvalho Lopes, quando cursava Comunicação Social na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

A pesquisa de Patrícia Vaz con-siste no estudo do processo criativo de “Um Corpo Subterrâneo” (2007). No documentário, Douglas Macha-do visitou as cidades de Cajueiro da Praia, Piripiri, Gilbués e Oeiras em busca dos mortos mais recentes. A partir de depoimentos de familia-res e amigos de pessoas falecidas, o cineasta abordou questões como a construção do outro, através de me-mória do luto.

Segundo a mestre em Imagem e Som, sua pesquisa (Na urdidura das ruínas: o percurso criativo de

Douglas Machado em “Um Corpo Subterrâneo” propõe o mergulho na construção do documentário, indo além da análise do fi lme pronto. “Percorremos os caminhos da cria-ção através do dossiê genético do di-retor (cadernos de anotações, rotei-ros de edição, still, versões editadas, entrevistas do cineasta, dentre ou-tros), além de dados de sua biografi a e fi lmografi a.

A dissertação de Patrícia Vaz está

disponível online no endereço:

http://www.bdtd.ufscar.br

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 3724

MAT

ÉRIA

COMUNICAÇÃO, CINEMA

E HISTÓRIA

O doutor em História, José Luís de Oliveira e Silva também escolheu uma

das produções cinematográfi cas de Douglas Machado para ser o obje-to de estudo da sua tese, intitulada “Discursos de memória, expectativa e identidade: o fazer cinematográ-fi co de Cipriano e o agenciamento das imagens do sertão na cultura piauiense (1997-2003)”.

De acordo com o pesquisador e professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI), cinco conceitos amplos atuaram como alicerces de seu es-tudo: Expectativa, Memória, Iden-tidade, Sertão e Inter-Texto. Além destes, outros conceitos e teorias revelaram-se fundamentais para o sucesso da pesquisa.

“As quase 400 páginas da tese não tratam apenas de descrever ou ana-lisar a narrativa de Cipriano. Inte-ressou-me ver principalmente como o fi lme foi absorvido, como ele foi interpretado na sociedade piauien-se. Onde foi que eu fui buscar esses discursos relacionados ao fi lme? Busquei na imprensa do Piauí. Por isso eu necessitei também analisar, estudar, buscar uma bibliografi a que não pertence a minha área, que é a de Comunicação”, explica José Luís de Oliveira.

A tese mostra que, de 1997 a 2001, período que antecede a estreia do fi lme Cipriano, considerado o primeiro longa-metragem piauiense, foram publicadas semanalmente ma-térias sobre a obra cinematográfi ca. De acordo com os dados levantados pela pesquisa, os três principais jor-nais da capital costumavam publicar,

O resumo da pesquisa de José Luís se encontra

nesta edição, na seção “Teses” (pág. 28)

na mesma semana, textos sobre o fi l-me (um impresso pautava o outro). No fi nal de quatro anos, centenas de matérias foram publicadas, na maio-ria das vezes, seguindo a mesma li-nha: “o fi lme é o espelho da alma do piauiense”, “o fi lme vai trazer a iden-tidade do Piauí”.

O estudo revela ainda que, no dia do lançamento de “Cipriano”, al-gumas publicações anunciaram sua estreia. Um fato curioso observa-do pelo pesquisador foi que, após o dia da estreia, durante uma semana, nenhuma matéria ou nota referen-te à obra foi divulgada na imprensa piauiense. A identifi cação desta e de outras situações encontradas pelo pesquisador José Luís levou a inves-tigar, de forma mais profunda, os vá-rios signifi cados e intenções do que

Doutor em História, José Luís de Oliveira e Silva.

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era dito ou não dito pela imprensa referente a “Cipriano”.

“Algumas coisas me chamaram a atenção. Muitas vezes tinha uma matéria sobre Cipriano que parecia Ctrl-C/Ctrl-V de uma outra matéria já publicada antes. E a matéria pa-recia um pouco sem sentido. Mas, quando se olhava todo o layout da página, percebia-se que muitas vezes a matéria vinha a construir um senti-do geral de crítica ou de valorização do estado”, lembra o pesquisador. A partir dessas conclusões, José Luís de Oliveira revela a importância e os di-versos signifi cados de uma produção cinematográfi ca como “Cipriano”. “O Cinema não se constrói apenas enquanto imagem. O Cinema é ima-gem, mas imagem em movimento, o Cinema é som, o Cinema é silêncio. E o fi lme Cipriano é um bom exem-plo de como o Cinema é acima de tudo outros discursos elaborados so-bre ele”, fi naliza.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 37 25

MAT

ÉRIA

De autoria da pesquisadora Andrea Rufino Cronemberger, a pesquisa mostra que 96,3% dos professores brasileiros de cursos de Medicina abordam a sexualidade, mas apenas

sob o viés orgânico, biológico e patológico.

Pesquisa aponta necessidade de mudança no ensino de

temas sexuais nos cursos de Medicina

Por Cássia Sousa

Nas últimas décadas, houve diversas mudanças sociais e culturais em relação à se-

xualidade. Comportamentos antes tidos como patológicos passaram a ser considerados normais, e o pró-prio tema da sexualidade passou a ser discutido mais abertamente na sociedade, seja no âmbito midiático seja no escolar. Entretanto, isto ainda não ocorre de modo satisfatório.

É o que assinala a pesquisa intitu-lada “Estudo transversal e descritivo sobre o ensino da sexualidade nas escolas médicas brasileiras”, desen-volvida pela pesquisadora Andrea Rufi no Cronemberger, professora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), durante o doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ela explica que orientação sexual, direitos sexu-ais e reprodutivos são temas pouco abordados pelos professores de dis-ciplinas que trazem a sexualidade como conteúdo.

“A pesquisa mostrou que 96,3% dos professores das escolas médicas brasileiras abordam a sexualidade nas aulas que ofertam. No entanto, este ensino mostrou-se não padro-

A pesquisa foi publicada na re-vista científi ca Th e Journal of Sexual Medicine e obteve fi nanciamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi).

nizado e fragmentado em várias dis-ciplinas. Vários temas sexuais que representam a construção social da sexualidade e que dão sentido aos comportamentos sexuais não foram abordados. Estes resultados apontam para a necessidade de mudarmos o ensino da sexualidade ofertada aos alunos de medicina. Se mudarmos esta realidade, poderemos formar profi ssionais médicos mais prepara-dos para ofertar assistência integral em saúde sexual e reprodutiva da po-pulação”, explica a professora.

O estudo foi realizado entre março de 2010 e julho de 2011. Foram en-trevistados 207 professores, oriundos de 144 escolas médicas. De acordo com Andrea Rufi no, 110 escolas en-caminharam respostas aos questio-nários. Ela explica que, para chegar a essa amostra, selecionou previamente faculdades ou universidades que ti-nham cursos de Medicina concluídos até julho de 2011. Depois, entrou em contato com os coordenadores dos cursos e divulgou a pesquisa solici-tando contato com professores das disciplinas de Ginecologia, Urologia, Psiquiatria e outras que abordassem o tema da sexualidade em suas ementas.

DAS 144 ESCOLAS INCLUÍDAS NO ESTUDO, MAIS

DA METADE SÃO PRIVADAS.

56,2% Privadas27,1% Federais14,6% Estaduais2,1% Municipais

56,2%27,1%

14,6%

2,1%

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MAT

ÉRIA

Com reconhecimento internacional, pesquisa já beneficia famílias no Piauí.

Projeto busca alternativas para combate de doenças e

produção de alimentos através da criação de peixes

Por Allan Campêlo | Colaboração Rosa Rocha

Sisteminha já benefi cia famílias no interior do Piauí.

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Um criatório caseiro de pei-xes parece uma ideia bem comum, mas, se for aliado

a uma extensa pesquisa acadêmica, esse modelo de produção alimentí-cia pode tornar-se também uma al-ternativa para controle de doenças. O grande desafi o é tornar esse sis-tema viável, pois a criação de peixes em pequenos espaços e com grande densidade ainda possui custos ele-vados, principalmente para aquelas

pessoas que mais precisam: as que têm baixa renda. Apesar do desafi o, projeto desenvolvido pela Embrapa Meio Norte tem tornado possível essa produção em cidades do inte-rior do Piauí.

O pesquisador da Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e doutor em Genética e Bioquímica pela Universidade Fede-ral de Uberlândia (UFU), professor Luiz Carlos Guilherme, desenvolveu

um sistema que utiliza pequenos espaços para criação de peixes que atuam no controle biológico de lar-vas e mosquitos. Ainda no início de seu doutorado, o pesquisador de-senvolveu o projeto “Dengoso”, que utiliza peixes da família Poecilidae, conhecidos como “barrigudinhos”. Estes peixes cresciam em pequenos tanques e se alimentavam de larvas do mosquito Aedes aegypti, o que, segundo o professor, poderia cau-sar uma redução quase que total da proliferação do mosquito. “Em relação à dengue, pode-se obter até 100% de controle de pontos estra-tégicos como piscinas em clubes abandonados, ou água acumulada em locais de difícil escoamento. Realizamos um acompanhamen-to para garantir que o sistema está atingindo seu objetivo”, afi rma.

Desde o fim de seu doutorado em 2005, Luiz Guilherme concen-trou seus estudos em adaptar o projeto à realidade de cada local. Assim, a partir de 2013, o projeto foi modificado e adaptado à rea-lidade piauiense. Os municípios de Parnaíba e Campo Maior de-senvolvem o projeto com a parti-cipação de alunos e professores da Universidade Estadual do Piauí

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 37 27

MAT

ÉRIA

Tanques têm capacidade para até 150 peixes da espécie Tilápia.

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(UESPI) e da Universidade Fede-ral do Piauí (UFPI). Atualmente 12 pessoas estão envolvidas no trabalho e, em breve, realizarão atividades de educação ambiental nas escolas municipais para falar da importância de se evitar cria-douros e a proliferação do mos-quito.

Com a reformulação do traba-lho, novos propósitos foram adqui-ridos. O “Sisteminha”, como foi ba-tizado, une produção alimentícia, educação ambiental e geração de renda, ganhando destaque com o apoio da Embrapa Meio Norte.

O “Sisteminha” tem como foco garantir que famílias de renda bai-xa possam tirar o seu sustento de um sistema interligado de produ-ção alimentícia. Em pequenos es-paços, peixes, galinhas e até por-quinhos da índia são criados, e o adubo gerado por estes animais é

aplicado para o desenvolvimen-to de hortaliças que também são aproveitadas no preparo da comi-da dos agricultores. “Os benefí-cios das pesquisas do Sisteminha, além de sociais e econômicos (já que garantem segurança alimentar e reduz os gastos da família com compras em supermercados), são também ambientais. Por exemplo, a irrigação das culturas é feita com os efl uentes dos tanques onde são criados os peixes, que os torna ri-quíssimos em nutrientes. Portanto, no Sisteminha, a prática de recicla-gem é constante, o resíduo de uma cultura é o insumo da outra”, com-pleta o professor.

O professor Luiz Guilherme também destaca que a criação de outras espécies pode ser em breve uma realidade do projeto: “o cul-tivo de camarão marinho em água doce pode garantir o acesso das

pessoas que vivem longe da região costeira, até mesmo as comunida-des que vivem no sertão piauiense, ao recurso pesqueiro de alto valor nutritivo e de mercado”.

Questionado sobre as recompen-sas do projeto, o professor Luiz Gui-lherme destacou o lado social de seu trabalho. “O melhor prêmio é ver, a cada dia, mais crianças crescerem bem nutridas, sem risco de adquiri-rem doenças com base em restrição alimentar ou serem acometidas com a dengue e, com certeza, a educação ambiental que um projeto como esse desenvolve”.

Em 2012, o Sisteminha fi cou em terceiro lugar no prêmio para tecno-logias sociais da Fundação Banco do Brasil. No dia 24 de Abril deste ano, em Córdoba, na Espanha, o trabalho recebeu, como vencedor, o prêmio internacional “Red Innovagro”, na categoria inovação tecnológica.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 3728

TESE

S

Professora da Universidade Estadual do PiauíDefesa: Universidade Federal de Pernambuco, Recife, [email protected]

Professor da Faculdade do Médio Parnaíba (FAMEP), SEDUC-PI, Secretaria Municipal de Educação de Caxias - MA | Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), [email protected]

Shirlei Marly AlvesJonas Rodrigues de Moraes

A Ativid@de de Tutores na Educação a Distância: Uma Análise Bakhtiniana

do Prescrito e do Vivido nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem

Polifonia e Hibridismos Musicais: Relações Dialógicas entre Luiz Gonzaga, Gilberto Gil

e Torquato Neto

Esta pesquisa tem como objetivo descrever e interpre-tar as normas do trabalho de tutoria na Educação a Distância, bem como as renormalizações promovidas

no cotidiano dessa atividade. A hipótese levantada é de que a divisão do trabalho docente e as interações a distância pre-ponderam como fatores determinantes dessas renormaliza-ções. Teoricamente, o estudo se fundamenta na Ergologia, corrente de estudos que concebe o trabalho humano como atividade situada, no qual se efetiva um debate entre as nor-mas antecedentes e as contínuas arbitragens promovidas pelos trabalhadores, bem como nas postulações de Bakhtin e o Círculo acerca do dialogismo, constitutivo da atividade de linguagem. A pesquisa é do tipo qualitativa, tendo sido realizado um estudo de caso na Universidade Estadual do Piauí, vinculada ao Programa Universidade Aberta do Bra-sil (UAB). Procedeu-se à seleção dos dados no documento regulador do trabalho de tutoria do Núcleo de Educação a Distância (NEAD), em entrevistas com a tutora colaborado-ra da pesquisa e em observação das suas interações com pro-fessor e alunos no ambiente virtual de aprendizagem, geran-do-se um diversifi cado conjunto de enunciados concretos. As análises mostram que o enunciador institucional no texto regulatório dialoga com um interlocutor-tutor dotado dos saberes procedimentais específi cos de seu trabalho, anteci-pando uma resposta ativa de máxima adesão ao prescrito, sob a ameaça da perda do posto de trabalho. A tutora parti-cipante da pesquisa, por sua vez, no diálogo, apresenta uma forte adesão às determinações relativas ao tempo de dedica-ção ao trabalho, ao tempo em que cria uma série de renor-malizações devidas, principalmente, à ausência do professor no ambiente virtual de aprendizagem e à busca de garantir a permanência e a motivação dos alunos (no) do curso, fa-tos verifi cados também nos enunciados com que efetiva seu trabalho. O estudo permite concluir que a atividade de tu-toria na EAD, por constituir parte do trabalho da docência e desenvolver-se em interações a distância, é marcada por diversos confl itos para aquele que a desenvolve, o que move esse trabalhador a diversas arbitragens no sentido de manter estável a sua atividade.

Esta pesquisa busca discorrer e analisar a produção mu-sical, o dialogismo e as inter-relações entre o compo-sitor Luiz Gonzaga (1912-1989) e os artistas Gilberto

Gil (1942) e Torquato Neto (1944-1972). O universo estético e a trajetória dos artistas em discussão são investigadas por meio dos processos de polifonia, territorialização, hibrida-ção, performance, entre outros postulados – categorias que constituem bases importantes para a construção deste tra-balho. Outra abordagem pertinente neste estudo consiste na procura incessante por verifi car os processos de invenção e instituição de marcadores identitários territoriais da região Nordeste pela inter-relação entre universal e local nas com-posições dos três artistas. Luiz Gonzaga ganhou projeção a partir da reinvenção do baião, mas também o sanfoneiro do Araripe se apropriou de outros ritmos musicais, os quais exerceram funções discursivas e determinantes para a insti-tucionalização de Nordeste e de nordestino. Desse modo, a sonoridade gonzagueana teve a capacidade de expressar um sentimento de nordestinidade que reverberou e encontrou ressonância em seus ouvintes/receptores. Nessa proposta, procura-se também compreender de que modo os artistas Gilberto Gil e Torquato Neto – integrantes do movimento tropicalista – apropriaram-se do universo musical gonza-gueano e dos gêneros tidos como oriundos do Nordeste, bem como de outras paisagens sonoras. Compreende-se que, nas canções desses compositores, há um diálogo visível com o modus operandi de Luiz Gonzaga, no que se refere a ritmos, performance, elementos melódicos, textuais, além de signos que remetem à cultura acústica do sertão nordesti-no. A relação da história com a música, o dialogismo, os pro-cessos de polifonia e hibridização das canções dos referidos compositores possibilitou constatar que existiu entre eles um intenso diálogo.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 37 29

TESE

S

Professor Adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí | Defesa: Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPIDefesa: Universidade Federal de Goiás – UFG, [email protected]

Marcio André de Oliveira dos SantosJosé Luís de Oliveira e Silva

Políticas raciais comparadas: movimentos negros e Estado no Brasil e Colômbia

(1991-2006)

Discursos de Memória, Expectativa e Identidade: o fazer cinematográfico de

Cipriano e o agenciamento das imagens do sertão na cultura piauiense (1997-2003)

A tese discute e analisa o conjunto de relações polí-tico-institucionais estabelecidas entre movimen-tos negros e Estado no Brasil e Colômbia sob uma

perspectiva comparativa entre os anos de 1991 e 2006. Pro-cura-se mostrar que ambos os países apresentam histórias de formação racial e nacional que se assemelham e se dife-renciam substancialmente. Tais semelhanças e diferenças se expressam no “mito da democracia racial” e na ideologia da mestiçagem, dois mecanismos que funcionam como man-tenedores das desigualdades raciais em ambos os países de modo a infl uenciar os modos pelos quais os movimentos negros brasileiros e colombianos têm negociado políticas de superação das desigualdades raciais junto aos poderes esta-tais, argumento que Brasil e Colômbia adotaram “políticas raciais racistas” entre fi ns do século XIX e as primeiras déca-das do século XX, proibindo a entrada de imigrantes negros, asiáticos e árabes e incentivando a entrada de imigrantes europeus. A principal justifi cativa era de que estes últimos impulsionariam o desenvolvimento econômico, quando, na realidade, o propósito era o de embranquecer a população existente naquele momento, composta majoritariamente por “negros e mestiços”. Após os anos de 1990 e devido ao es-treitamento das relações político-institucionais entre movi-mentos negros e o Estado, a ideia de “políticas raciais” sofre modifi cações importantes e ganha novos contornos, passan-do a signifi car políticas públicas de promoção da igualdade racial e de reconhecimento identitário dos afrodescenden-tes. Nesse sentido, as políticas de ação afi rmativa passam a ser demandadas pelos movimentos negros de ambos os paí-ses como “políticas raciais antirracistas”, visando à superação de desigualdades raciais entre brancos e negros.

A pesquisa trata das relações entre História e Cinema, tem como objeto o fi lme Cipriano (Douglas Macha-do, 2001) – considerado o primeiro longa-metragem

piauiense – e como problemática o desafi o de entender as for-mas como o fi lme em análise, e os discursos que são constru-ídos ao seu redor traduzem o universo sertanejo piauiense e como esses signifi cados se relacionam com as estereotipias que historicamente foram tomadas como referências para pensar esse universo. Mais do que simplesmente descrever o processo de criação de Cipriano, a preocupação esteve localizada na pos-sibilidade de verticalizar as análises de um conjunto amplo e di-versifi cado de fontes (matérias publicadas em jornais e revistas, programas de rádio e TV, material de divulgação, encartes de festivais de Cinema e, claro, o próprio fi lme objeto desta pes-quisa). Essas análises foram embasadas sobre chaves conceitu-ais elaboradas a partir de um arcabouço teórico-metodológico igualmente amplo e diverso de onde se sobressaem as chaves imagem, sertão, identidade e memória. A partir desse exercício historiográfi co, (re)construiu-se o que chamei de evento Ci-priano, ou seja, o universo discursivo formado pelo fi lme, pelos discursos carregados de expectativas em relação à memória e à identidade do ser sertanejo e piauiense, que deveriam ser vi-síveis no fi lme, e pelas diversas formas de se apropriar da obra, motivadas por interesses pessoais ou de determinados grupos. A pesquisa foi perpassada por um duplo desafi o. Primeira-mente, há o desafi o posto ao meu ofício enquanto historiador: elaborar uma operação historiográfi ca que seja sustentada em uma fonte escorregadia como o é a cinematográfi ca e que assu-me a forma de intertextos que envolvem linguagens as mais di-versas. O segundo desafi o foi adentrar um campo de discussão controverso como o é aquele que trata de questões identitárias e de memória, em especial daquelas que incidem sobre as ima-gens do sertão na cultura brasileira. Atento a esse duplo desafi o que envolve a pesquisa, deixo claro que a minha prática, pro-positalmente, trilhou dois caminhos, os quais acabaram por se entrecruzar ao fi nal: as refl exões acerca das imagens do sertão se conectaram com aquelas que tratam do ofício do historiador e de questões e temas que se revelam sempre problemáticas ao seu metier.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 3730

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ÉRIA

Rodrigo Melo e Valdecir Galvão investigam os impactos ambientais produzidos pelas visitações às UC’s e buscam estratégias que desenvolvam o turismo sustentável.

Pesquisadores estudam o turismo em unidades de conservação no Piauí

Por Vanessa Soromo

Pesquisador Rodrigo Melo registra visitação na APA do Delta do Parnaíba.

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O Parque Nacional de Sete Cida-des (PNSC) e a Área de Prote-ção Ambiental (APA) do Delta

do Parnaíba são preciosidades da natu-reza no Piauí. Elas fazem parte das 39 Unidades de Conservação (UC’s) que o estado possui e são objeto de estudo de duas importantes pesquisas apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi). Uma delas intitula-se “Turismo de Baixo Carbono em Unidades de Conservação no Piauí”, e é desenvolvida pelo professor Rodrigo de Sousa Melo, bolsista do Programa de Bolsas de Doutorado e de Auxílio para Docentes de Instituições de Ensino Su-perior, edital 008/2012 Capes/Fapepi.

Segundo o pesquisador e profes-

sor do curso de Turismo da Univer-sidade Federal do Piauí (UFPI), cam-pus Parnaíba, “a pesquisa consiste na análise dos impactos do turismo em Unidades de Conservação, com ênfa-se no inventário das fontes de emissão de dióxido de carbono (CO2) dos visitantes e prestadores de serviços turísticos. Para isso, utilizou-se como categorias analíticas os consumos de energia e de água, os gastos com com-bustíveis em deslocamentos terres-tres, aéreos e aquáticos e a produção de lixo orgânico e inorgânico”.

A Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba está situada no bioma Marinho e enquadra-se como uma Unidade de Uso Susten-

tável (UUS) e o Parque Nacional de Sete Cidades está localizado no bio-ma Caatinga e é defi nido como uma Unidade de Proteção Integral (UPI). Estas características peculiares de cada UC’s foram determinantes para torná-las objeto da pesquisa de Melo. “Ademais, ambas possuem um fl uxo turístico crescente e não contemplam programas para a avaliação e monito-ramento dos impactos da visitação”, afi rma o pesquisador.

O doutor em Geociências - Meio Ambiente Valdecir Galvão, coordena-dor do projeto “Análise Geoambiental do Sistema Flúvio-Deltaico do Rio Parnaíba, Estado do Piauí, Visando Incremento de Atividades Turísticas, Sob a Égide do Desenvolvimento Sus-tentável”, corrobora a afi rmação de Melo. Segundo Galvão, a ausência de um planejamento efetivo para a ad-ministração dos impactos ambientais resultantes do turismo é um proble-ma encontrado em muitas unidades de conservação piauienses. Uma das UC’s que se encontram nesta situa-ção é o Delta do Parnaíba, o objeto de estudo do pesquisador. “Acredito que é imprescindível um estudo de impacto decorrente das atividades turísticas para posteriormente determinar qual a ca-pacidade de carga turística para o local, para que não ocorra um impacto inde-sejado e irreversível”, ressalta Galvão.

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Publicação Científica da FAPEPISAPIÊNCIA 37 31

MAT

ÉRIA

Pesquisador Valdecir Galvão em trabalho de campo.

Valdecir Galvão é bolsista do Pro-grama de Desenvolvimento Cien-tífi co Regional (DCR-Piauí), edital nº 007/2013 Fapepi/CNPq, que tem como principal objetivo estimular a fi xação de recursos humanos com experiência em ciência, tecnologia e inovação e/ou reconhecida compe-tência profi ssional em instituições de ensino superior e pesquisa.

O objetivo central da pesquisa desenvolvido por Galvão é a elabo-ração de uma análise geoambiental do sistema fl úvio-deltaico do rio Parnaíba, que possibilitará a identi-fi cação e caracterização dos subam-bientes do Delta mais favoráveis ao interesse turístico. A partir disso, saber qual a fragilidade ambiental e qual o tempo de resiliência para cada subambientes identifi cados, com a fi -nalidade de qualifi car os impactos (ou possíveis impactos) que os subam-bientes desse sistema podem sofrer com a atividade turística e, posterior-mente, determinar qual a capaci-dade de carga para os ambientes flúvio-deltaicos.

Turismo Sustentável

A Organização Mundial de Turis-mo (OMT) defi ne o Turismo Susten-tável como “a gestão de todos os recur-sos de tal forma que as necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser satisfeitas mantendo-se ao mesmo tempo a integridade cultural, os pro-cessos ecológicos essenciais, a diversi-dade biológica e os sistemas de apoio à vida”. Os pontos elementares desta ideia, que se popularizou na década de 90 e que se deriva do conceito de de-senvolvimento sustentável, permeiam os objetivos, metas e atividades dos estudos que estão sendo desenvolvidas por Valdecir Galvão e Rodrigo Melo.

Ambas as pesquisas confi gu-

ram-se de suma importância para o contexto atual do Piauí, estado que possui um signifi cante patrimônio ambiental, mas pouco explorado por estudos científi cos que abordem a in-trincada rede de relações estabelecida entre Meio Ambiente, Turismo, Sus-tentabilidade e temas afi ns. Segundo Rodrigo Melo, no estado do Piauí, há algumas pesquisas publicadas, com caráter disciplinar, que abordam ape-nas uma das dimensões da sustenta-bilidade e, em face da complexidade e da multidimensionalidade da questão ambiental, tais estudos promovem uma visão fragmentada e desconec-tada da relação entre turismo e meio ambiente, tornando-se pouco efi cazes para subsidiar o processo de tomada de decisões.

“Nesse contexto, entendo que se faz necessário desenvolver estudos que promovam a conexão das di-mensões da sustentabilidade e do tu-rismo em diversos contextos sociais, econômicos e ambientais do Estado. Propostas como o Mestrado e o Dou-torado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI) são essenciais para a elaboração de estudos interdisci-

plinares, capazes de preencher essa lacuna do conhecimento no nosso Estado”, ressalta Rodrigo Melo, res-ponsável pelo projeto “Turismo de Baixo Carbono em Unidades de Con-servação no Piauí”.

Para o pesquisador Valdecir Gal-vão, os avanços das pesquisas cien-tífi cas são essenciais para que o tu-rismo nas Unidades de Conservação Piauienses se desenvolva de manei-ra sustentável, gradual e planejado. “Acredito que, com o início do curso de mestrado para o próximo ano, as pesquisas nessa área vão aumentar e se desenvolver de uma forma mais dinâ-mica e incisiva. É através da pesquisa que se descobre o funcionamento do ambiente e suas fragilidades. Somen-te através dela é que se poderá saber como e se será possível e desenvolvido alguma atividade no local, em virtude de sua fragilidade e assim poder pla-nejar melhor as atividades”, declara Valdecir Galvão, coordenador do pro-jeto “Análise Geoambiental do Siste-ma Flúvio-Deltaico do Rio Parnaíba, Estado do Piauí, Visando Incremento de Atividades Turísticas, Sob a Égide do Desenvolvimento Sustentável”.

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A E APIA

DICAS DE LIVROS

O DNA DA CONSPIRAÇÃO: O DEPOIMENTO DE DOIS OFICIAIS DE EXÉRCITO QUE NÃO ADERIRAM AO GOLPE MILITAR DE 1964

A obra nasceu da ideia de dois ofi ciais da reserva do Exército Brasileiro que vivenciaram sofrimentos com a implantação do Regime Militar em 1964. Fatos e episódios explicitados no livro evidenciam e fornecem um bom ângulo de visão sobre a vida cas-trense intramuros, mostrando a mobilidade do esqueleto militar da conspiração. Esta, após sucessivos reveses, foi afi nal vitoriosa em 1964, conseguindo tomar de assalto o Poder e entravando a democracia no Brasil por vinte e um anos. O livro mostra a agonia do regime, decorrente da conspiração reincidente e exibe fragmentos da personalidade de inúmeros perseguidores.

Autores: Jônatas de Barros Nunes, Gastão Rúbio de Sá Weyne Número de Páginas: 470 (São Paulo: Scortecci)

Ano: 2012E-mail: [email protected]

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A E APIA

DICAS DE LIVROS

ENTRE VAQUEIROS E FIDALGOS: SOCIEDADE, POLÍTICA E EDUCAÇÃO NO PIAUÍ (1820-1850)

NAÇÃO, PAÍS MODERNO E POVO SAUDÁVEL:

POLÍTICA DE COMBATE À LEPRA NO PIAUÍ

EDUCAÇÃO, POLÍTICA E RELIGIÃO NO MUNDO ANTIGO.

O livro é refl exo da tese de doutora-do defendida pelo autor em 2009 e tem como tema principal a biografi a do Pa-dre Marcos de Araujo Costa. Através da reconstrução da sua trajetória de vida, o autor recupera a análise da sociedade, da política e da educação no Piauí na primeira metade do século XIX, em um momento de profundas transformações. A leitura proporciona revisitar algumas das dimensões sociais do Piauí do século XIX, suas tensões e contradições, contri-buindo para o debate historiográfi co so-bre o período.

A obra resulta de pesquisas sobre a Lepra no Piauí no contexto da moderni-zação e desenvolvimento do Brasil, quan-do se deu o estabelecimento da política nacional de combate à lepra, no período entre 1930 e 1960. Ao longo do texto, a autora mostra que o Piauí, durante os primeiros anos da República, não possuía uma estrutura institucional mínima de saúde pública, o que favoreceu a prolife-ração de diversas endemias por seu terri-tório, embora no imaginário do piauiense estivesse presente a ideia de que o Estado gozava de excelente salubridade.

Autor: Marcelo de Sousa Neto Número de Páginas: 335

Ano: 2013E-mail: [email protected]

Autor: Antônia Valtéria Melo Alvarenga Número de Páginas: 343

Ano: 2014E-mail: [email protected]

Organizadores: José Renato de Araujo e José Lourenço Pereira da Silva

Número de Páginas: 221Ano: 2012

E-mails: [email protected]; [email protected]

A obra reúne trabalhos de estudiosos provenientes de diversas instituições de-dicados à cultura helênica e seu legado. O livro é composto por 13 artigos com o tema “educação, política e religião no mundo antigo”. A educação é entendida como a forma mais apropriada de conhe-cer o mundo e a si mesmo. O livre debate ideias para o exercício da cidadania e do governo é o aspecto principal da política grega. No tocante à religião, os autores destacam como a religião penetra todos os aspetos da vida social.

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O jornalismo enquanto prá-tica social estrutura sua narrativa no presente a

partir de condições de produção deste mesmo presente. Seu discurso aborda diversos aspectos da socie-dade de sua atuação. Através dele, inúmeras vozes ganham vida e mui-tas outras são relegadas ao silêncio. Sua missão é prestar um serviço pú-blico levando informações de qua-lidade e interesse público, entretan-to, variáveis intermitentes em seu processo de construção o desviam, muitas vezes, de seus objetivos.

Concordamos com Le Goff (2003) quando enquadra o jorna-lista como um dos profi ssionais da memória, muito mais do que com Nora (1974), que imputa aos meios de comunicação a predominância da história sobre a memória nos dias atuais, embora reconheça sua infl uência nesse processo. Nesse contexto, o jornalismo enquanto lu-gar de memória se coloca disponível para o trabalho do pesquisador em um momento posterior ao momen-to de sua construção, em que a tem-poralidade da categoria se impõe ao presente. Trata-se de uma análise a qualquer tempo, em que se conside-ra o tempo presente de sua constru-ção já situado no passado, a partir de um presente de observação. En-quadradas, manipuladas ou somen-te trabalhadas, o jornalismo guarda, em si, memórias sociais que podem ser acessadas a qualquer momento e que não se encontram cristalizadas, mas fazem parte de um jogo em que podem ser confrontadas e até mo-difi cadas. Ficamos assim com a es-colha de Ricouer (2012) para quem os lugares de memória continuam como de memória.

Diante desse contexto e do péssimo estado de conservação dos periódicos piauienses nos di-versos acervos incluindo a Casa Anísio Brito, que impossibilita que muitos pesquisadores tenham aces-so ao jornalismo do Piauí, foi que, em 2010, ao retornamos do douto-rado, criamos, a partir do núcleo de pesquisa que coordenamos no PPGCOM-UFPI, NUJOC-Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comu-nicação, o Projeto Memória do Jor-nalismo e, com o incentivo da Profa. Dra. Jacqueline Dourado, criamos ainda o Projeto Memória do curso de Jornalismo da UFPI.

PRO

JETO

A iniciativa consiste em digitali-zar o acervo de periódicos (jornais, revistas, almanaques e outros) do Piauí desde o século XIX até os dias atuais, disponíveis no Arquivo Pú-blico do Piauí, acervos dos próprios meios de comunicação e acervos pessoais.

O projeto funciona a partir do engajamento dos bolsistas do NU-JOC em nível de graduação e de pós-graduação (mestrado), assim como bolsistas do PET - Programa de Educação Tutorial do Curso de História da UFPI - e conta com a parceria do Núcleo de História da Educação também desta IES. Du-rante os anos de 2011, 2012 e 2013, foram digitalizados cerca de 10 mil fotogramas equivalentes a 2.500 exemplares de jornais e revistas disponíveis no Arquivo Público do Piauí e em acervos pessoais.

O Projeto Memória do Jornalis-mo tem o apoio do CNPq e da CA-PES. O primeiro fi nanciou, através da pesquisadora responsável, equi-pamentos que facilitaram o processo de digitalização; a CAPES, por sua vez, através do Programa Pro-Equi-pamentos, fi nanciou uma digitali-zadora de microfi lmes, comprada já em 2014 e que está acelerando o processo de digitalização a partir dos acervos de microfi lmes da pró-pria coordenadora do projeto, assim como do PET da História e do NU-PEM também do curso de História, todos da UFPI.

O maior apoio, no entanto, tem vindo da administração superior da UFPI, assim como do Departamen-to de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação, com disponibi-lização de espaço, equipamentos e cessão de bolsas para completar o número de alunos que necessitamos para o projeto.

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Profa. DrªAna Regina RêgoCoordenadora do Projeto Memória do Jornalismo e do PPGCOM-UFPI, membro do Conselho Editorial da Sapiência.

Memória doJornalismoPiauiense

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