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Influenza A (H1N1): por quê é difícil contê-lo? S e t e m b r o / O u t u b r o 2 0 1 1 V o l u m e 2 , n ú m e r o 5 Distribuição gratuita Universidade Federal de Viçosa Campus de Rio Paranaíba Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva ISSN 2177-6725 Folha Biológica Nesta edição: Perguntas que você já se fez sobre os fósseis. Pag. 2 Ruivos: da mitologia à Ciência. Pag. 3 Evolução: dicotomia entre Ciência e Fé? Pag. 4 E confira ainda as notícias que mudaram a biologia no país e no mundo! Pags. 2 e 3 o vírus novamente sofreu mutação, desta vez gerando o subtipo H3N2. Em 1979 acredita-se que tenha ocorri- do o primeiro contato entre o vírus das aves e dos suínos, sendo esta variante também de- nominada H1N1. Em 1998 as três sepas entra- ram em contato novamente, desta vez dentro de suínos (aves H2N2 -, suínos H1N1 -, humanos H3N2) surgindo assim o Vírus H1N2. Devido ao seu alto potencial mutagêni- co por erros durante a replicação e pelo con- tato de suínos doentes com homens, esta sepa se transformou na hoje conhecida Influ- enza A Subtipo H1N1, responsável pela pan- demia iniciada no ano de 2009. Acredita-se que o paciente zero, o que deu origem à pan- demia, seja do México, país que registrou mais de 100 mortes devido à influenza A. Em todo o mundo há registro de mortes pelo influenzavírus A - H1N1. Em 2010, entretanto, a pandemia foi considerada controlada. O vírus Influenza A Subtipo H1N1 tem como característica alto grau de mutação, por possuir de forma exclusiva o material genético de RNA, sendo agravado pelo uso indiscrimi- nado de drogas que o torna mais resistente às mesmas, fazendo com que o controle das epidemias seja cada vez mais difícil. A evolução rápida destes vírus é uma evidência sólida das modificações ao longo das gerações, e também do relativo parentes- co que mantemos com animais como aves e outro mamíferos. Nathan Lima Amorim é acadêmico do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba. Eric Azevedo Cazetta é acadêmico do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e bolsista do Programa de Iniciação ao Ensino - PIBEN. 1. Mutação: Modo Espontâneo: são erros durante a sua replicação; Modo Induzido: a influência de agentes químicos e físicos possibilita a maior resistên- cia e ocasiona a seleção das formas mais viru- lentas. 2. Ressortimento: Exclusivo de vírus que possuem genoma RNA segmentado, e pode ser ilustrado como uma mistura ao acaso de cartas de um baralho: o vírus da Influenza atende os requisitos necessários, uma vez que os pesquisadores mapearam o genoma dos vírus e identificaram partes do genoma de aves, suínos e humanos formando uma nova sepa. O que torna o vírus da Influenza A Sub- tipo H1N1 um exemplo de irradiação adaptati- va tão bem sucedida são suas interações gli- coprotéicas. Há 16 subtipos de Hemaglutinina (HA) virais e 9 subtipos de Neuraminida (NA), as quais podem recombinar-se para criar no- vas combinações de vírus da gripe. Mudando por Seleção Natural de seu RNA segmentado e que passou por ressortimento (a partir de hospedeiros anteriores como aves, suínos e humanos), pode-se considerar o Influenza A (H1N1) um vírus triplorecombinante. Essa recombinação se iniciou no ano de 1918 com a gripe aviária, quando ocorreu o primeiro contato entre sepas de aves e de homens. Neste mesmo ano houve infestação desta variante do H1N1 para suínos (contato entre sepa homem-suíno). Em 1957 aconteceu um segundo conta- to da sepa avehomem e os humanos passa- ram a carregar um novo Vírus (H2N2). Isso se repetiu em 1968 entre as sepas ave-homem e Um das primeiras vezes que fomos capazes de conhecer o poderio “bélico” dos vírus fora em uma data bastante peculiar. O mundo experimentava uma guerra de fácil solução perto do que estava surgindo naque- le mesmo ano de 1918. Acredita-se que um dos precursores da gripe suína tenha surgido da gripe aviária (gripe espanhola de 1918), levando à morte de 20 a 100 milhões de pes- soas naquela década. Com o advento da II Revolução Indus- trial e a ascensão do Capitalismo, houve a diminuição do espaço físico rural pela inva- são das fábricas, obrigando pequenos agricul- tores a condensar a sua produção em locais cada vez menores, tendo desta forma o con- tato direto com animais e plantas. Voltados ao aspecto macrobiótico, não observarmos a seqüência de acontecimentos que passam despercebidos aos nossos olhos no mundo microbiótico. Referindo-se ao meio microbiótico, mais especificamente aos vírus (seres consi- derados acelulares, supostamente simples, parasitas intracelulares obrigatórios, tendo sua estrutura composta por: capsídeo, um ácido nucléico, envelope e proteína), encon- tramos dois tipos: o Retrovírus e o Vírus de DNA. A grande eficiência evolutiva dos vírus é devida ao fato desses possuírem a capaci- dade de se replicar e se excretar, ter imensa adaptação a diferentes hospedeiros, obter mecanismos imunológicos distintos e sua forma de transmissão ser vertical, ou seja, de um indivíduo para outro, o que o torna mais veloz e mais eficiente. Devido ao vírus Influenza A Subtipo H1N1 ser do tipo Retrovírus, suas mutações acontecem em taxas altíssimas, entre 10 -3 e 10 -4 nucleotídeos a cada nova geração viral. Desta forma, temos como conseqüência a leitura de seu material genético de forma diferente, gerando implicações evolutivas e de saúde pública, uma vez que o vírus pode mudar até mesmo dentro de um só hospe- deiro. O surgimento da variação nestes vírus acontece de duas formas: A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Viçosa apóia a publicação deste número do jornal Folha Biológica. Fonte: World Wide Web

ISSN 2177-6725 Folha Biológica · Influenza A (H1N1): por quê é difícil contê-lo? V o l u m e 2 , n ú m e r o 5 S e t e m b r o / O u t u b r o —2011 Distribuição gratuita

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Influenza A (H1N1): por quê é difícil contê-lo?

S e t e m b r o / O u t u b r o — 2 0 1 1 V o l u m e 2 , n ú m e r o 5

Distribuição gratuita

Universidade Federal de Viçosa Campus de Rio Paranaíba

Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde

Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva

ISSN 2177-6725

Folha Biológica

Nesta edição: Perguntas que você já se fez sobre os fósseis. Pag. 2

Ruivos: da mitologia à Ciência. Pag. 3

Evolução: dicotomia entre Ciência e Fé? Pag. 4

E confira ainda as notícias que mudaram a biologia no país e no mundo! Pags. 2 e 3

o vírus novamente sofreu mutação, desta vez gerando o subtipo H3N2.

Em 1979 acredita-se que tenha ocorri-do o primeiro contato entre o vírus das aves e dos suínos, sendo esta variante também de-nominada H1N1. Em 1998 as três sepas entra-ram em contato novamente, desta vez dentro de suínos (aves – H2N2 -, suínos – H1N1 -, humanos – H3N2) surgindo assim o Vírus H1N2.

Devido ao seu alto potencial mutagêni-co por erros durante a replicação e pelo con-tato de suínos doentes com homens, esta sepa se transformou na hoje conhecida Influ-enza A Subtipo H1N1, responsável pela pan-demia iniciada no ano de 2009. Acredita-se que o paciente zero, o que deu origem à pan-demia, seja do México, país que registrou mais de 100 mortes devido à influenza A. Em todo o mundo há registro de mortes pelo influenzavírus A - H1N1. Em 2010, entretanto, a pandemia foi considerada controlada.

O vírus Influenza A Subtipo H1N1 tem como característica alto grau de mutação, por possuir de forma exclusiva o material genético de RNA, sendo agravado pelo uso indiscrimi-nado de drogas que o torna mais resistente às mesmas, fazendo com que o controle das epidemias seja cada vez mais difícil.

A evolução rápida destes vírus é uma evidência sólida das modificações ao longo das gerações, e também do relativo parentes-co que mantemos com animais como aves e outro mamíferos.

Nathan Lima Amorim é acadêmico do

Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba.

Eric Azevedo Cazetta é acadêmico do

Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e bolsista do Programa de Iniciação ao Ensino - PIBEN.

1. Mutação:

Modo Espontâneo: são erros durante a sua replicação;

Modo Induzido: a influência de agentes químicos e físicos possibilita a maior resistên-cia e ocasiona a seleção das formas mais viru-lentas. 2. Ressortimento:

Exclusivo de vírus que possuem genoma RNA segmentado, e pode ser ilustrado como uma mistura ao acaso de cartas de um baralho: o vírus da Influenza atende os requisitos necessários, uma vez que os pesquisadores mapearam o genoma dos vírus e identificaram partes do genoma de aves, suínos e humanos formando uma nova sepa.

O que torna o vírus da Influenza A Sub-

tipo H1N1 um exemplo de irradiação adaptati-va tão bem sucedida são suas interações gli-coprotéicas. Há 16 subtipos de Hemaglutinina (HA) virais e 9 subtipos de Neuraminida (NA), as quais podem recombinar-se para criar no-vas combinações de vírus da gripe. Mudando por Seleção Natural de seu RNA segmentado e que passou por ressortimento (a partir de hospedeiros anteriores como aves, suínos e humanos), pode-se considerar o Influenza A (H1N1) um vírus triplorecombinante.

Essa recombinação se iniciou no ano de 1918 com a gripe aviária, quando ocorreu o primeiro contato entre sepas de aves e de homens. Neste mesmo ano houve infestação desta variante do H1N1 para suínos (contato entre sepa homem-suíno).

Em 1957 aconteceu um segundo conta-to da sepa ave–homem e os humanos passa-ram a carregar um novo Vírus (H2N2). Isso se repetiu em 1968 entre as sepas ave-homem e

Um das primeiras vezes que fomos capazes de conhecer o poderio “bélico” dos vírus fora em uma data bastante peculiar. O mundo experimentava uma guerra de fácil solução perto do que estava surgindo naque-le mesmo ano de 1918. Acredita-se que um dos precursores da gripe suína tenha surgido da gripe aviária (gripe espanhola de 1918), levando à morte de 20 a 100 milhões de pes-soas naquela década.

Com o advento da II Revolução Indus-trial e a ascensão do Capitalismo, houve a diminuição do espaço físico rural pela inva-são das fábricas, obrigando pequenos agricul-tores a condensar a sua produção em locais cada vez menores, tendo desta forma o con-tato direto com animais e plantas.

Voltados ao aspecto macrobiótico, não observarmos a seqüência de acontecimentos que passam despercebidos aos nossos olhos no mundo microbiótico.

Referindo-se ao meio microbiótico, mais especificamente aos vírus (seres consi-derados acelulares, supostamente simples, parasitas intracelulares obrigatórios, tendo sua estrutura composta por: capsídeo, um ácido nucléico, envelope e proteína), encon-tramos dois tipos: o Retrovírus e o Vírus de DNA.

A grande eficiência evolutiva dos vírus é devida ao fato desses possuírem a capaci-dade de se replicar e se excretar, ter imensa adaptação a diferentes hospedeiros, obter mecanismos imunológicos distintos e sua forma de transmissão ser vertical, ou seja, de um indivíduo para outro, o que o torna mais veloz e mais eficiente.

Devido ao vírus Influenza A Subtipo H1N1 ser do tipo Retrovírus, suas mutações acontecem em taxas altíssimas, entre 10-3 e 10-4 nucleotídeos a cada nova geração viral. Desta forma, temos como conseqüência a leitura de seu material genético de forma diferente, gerando implicações evolutivas e de saúde pública, uma vez que o vírus pode mudar até mesmo dentro de um só hospe-deiro.

O surgimento da variação nestes vírus acontece de duas formas:

A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da

Universidade Federal de Viçosa apóia a

publicação deste número do jornal Folha

Biológica.

Fonte: World Wide Web

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P á g i n a 2

Acontece no Brasil...

F o l h a B i o l ó g i c a

Brasil, e afirma que: “A informação genética faz parte de nossa individualidade e deve ser tratada como qualquer outro tipo de informação pessoal”.

Zatz relata ainda que, nos próximos anos, será possível sequenciar genomas individuais por apenas mil dólares.

Se à primeira vista a notícia soa como um avan-ço, a pesquisadora alerta para o excesso de confiança depositado no material genético como única forma de determinar as características futuras do indivíduo.

Rumo ao continente gelado

No dia 10 de dezembro, 15 pesquisadores brasi-leiros e dois estrangeiros partem de Porto Alegre rumo à Antártida para mais uma etapa do projeto Criosfera (termo usado para nomear a massa de gelo do planeta).

Esta será a segunda expedição científica brasilei-ra ao local (a primeira consistiu em um acampamento) e servirá para que seja instalado o primeiro módulo avan-çado de pesquisa do País na parte central do continente

Livro contesta excesso de confiança na genética

Ocorreu em setembro deste ano o lançamento pela Editora Globo do livro: GenÉtica: escolhas que nos-sos avós não faziam, de autoria da renomada bióloga e geneticista Mayana Zatz, pesquisadora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociên-cias da Universidade de São Paulo.

Mayana é Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano na Universidade de São Paulo (CEGH/USP), e foi uma das pioneiras no uso de técnicas de biolo-gia molecular para o estudo de genes humanos no Brasil.

A pesquisadora também participou ativamente da aprovação pelo Congresso Nacional das pesquisas envol-vendo células-tronco embrionárias e seus estudos dão atenção especial às distrofias musculares hereditárias.

Como o próprio nome sugere, o livro faz uma reflexão de temas ainda difíceis de serem tratados na atualidade: a Bioética.

A autora critica a falta de mecanismos legais para proteger os pacientes envolvidos em testes genéticos no

gelado. Na expedição, os pesquisadores estarão focados

nos estudos da química da atmosfera, glaciologia, geofísi-ca, climatologia e, especialmente, no estudo do transpor-te de poluentes da América do Sul para o centro da Antártida.

Há interesse especial em saber se já existem sinais no continente gelado da poluição atmosférica causada pelas queimadas no Brasil. Por isso, o módulo Criosfera I, coletará de forma contínua tanto gases como micro partículas sólidas para monitorar o ar.

Também serão realizados estudos para descobrir a história ambiental ao longo dos últimos 500 anos, com base em perfurações de gelo de aproximadamente 150m.

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera disponibilizou R$ 5 milhões para três anos e meio de estudos e, caso não haja imprevistos, a instalação deverá funcionar por 15 anos.

A primeira expedição de brasileiros no interior da Antártida foi no biênio 2008-2009.

Como se conhece a idade de um fóssil? Existem dois tipos de datações, as abso-

lutas e as relativas. As datações absolutas consistem em

analisar proporções de elementos radioativos cuja vida média é conhecida, presentes nas rochas onde estão os fósseis.

O carbono 14, muito usado na Arqueo-logia, tem uma vida média de apenas 6000 anos, proporcionando medidas confiáveis até cerca de 100.000 anos, sendo, por isso, pouco usado na Paleontologia.

Os paleontólogos usam isótopos de potássio, argônio, rubídio e estrôncio entre outros, pois estes possuem uma vida média de vários milhões de anos.

Porém as datações mais usadas são as relativas, por serem mais práticas e viáveis.

Estas consistem em relacionar as diver-sas camadas de sedimentos entre si (Estratigrafia), e relacionar os fósseis com os de outras localidades previamente datadas pelos métodos absolutos (Bioestratigrafia).

Como se forma um fóssil?

A fossilização de um organismo repre-senta um evento raro na natureza. A grande maioria dos organismos se degrada e não dei-xa rastro algum.

Para que um organismo se preserve é necessário que este tenha uma morte em con-dições que facilitem a sua conservação.

Ambientes com pouco oxigênio, e por-tanto sem degradação e com muita sedimen-tação, são os melhores para fossilizar um orga-nismo. Alguns destes ambientes são: pânta-nos, leito marinho profundo, fundo de lagos, etc.

Mortes catastróficas também aumen-tam bastante as chances de fossilização, por serem rápidas e por afetar vários indivíduos de uma vez, por exemplo, enxurradas de lama.

Os fósseis estão constituídos por restos origi-nais dos organismos ou são unicamente ro-chas?

Os fósseis podem ser constituídos tanto por restos originais dos organismos como por minerais que ocupam o seu lugar ou ainda por uma combinação de ambos.

Na maioria dos casos a matéria orgânica se degrada e é substituída por minerais exter-nos, mas se o organismo possui um esqueleto formado por minerais (como uma concha, ou ossos), este esqueleto pode se preservar.

Em alguns casos excepcionais, os tecidos moles se preservam, como no caso dos insetos e aracnídeos preservados em âmbar ou os ma-mutes congelados na Sibéria.

O que é um "fóssil vivo"? Um fóssil vivo é um organismo que so-

breviveu por um considerável tempo sem so-frer mudanças morfológicas significativas, ten-do chegado até os nossos dias.

Exemplos de fósseis vivos são Latimeria, ou celacanto, um peixe sem mudanças no as-pecto externo geral e em detalhes da anatomia desde o período Cretáceo (uns 100 milhões de anos atrás); Sphenodon, ou tuatara, um réptil que sobrevive desde o Jurássico (mais de 150 milhões de anos atrás); ambos foram contem-porâneos dos dinossauros.

Mas existem fósseis vivos ainda mais

Cinco perguntas sobre Fósseis

antigos, como Limulus, um artrópode marinho relacionado aos escorpiões que habita o Golfo do México, existente desde o Permiano (uns 250 milhões de anos atrás) ou como Lingula, um braquiópode, semelhante a um molusco marinho, existente desde o Cambriano (mais de 500 milhões de anos atrás!).

Algumas coníferas, entre estas, a Arauca-ria, tão comum no Sul do Brasil, existem desde o Triássico (mais de 200 milhões de anos).

Por que um fóssil vivo não se extingue? Por que um fóssil vivo "não evolui"?

Existem diversos motivos pelos quais um organismo sobrevive milhões de anos sem so-frer mudanças. Um deles é que simplesmente esse organismo já está muito bem adaptado a uma diversidade de condições, ou seja, possui um "design" de sucesso, não sendo necessário que este mude.

Este é o caso de Limulus, que entre ou-tras coisas possui uma ampla carapaça que dificulta o ataque de predadores, suporta gran-des variações de salinidade e temperatura, e pode sobreviver meses sem alimento.

Já outros organismos se mantém sem mudanças devido a uma continuidade das ca-racterísticas do ambiente que selecionam as características presentes no organismo. Este pode ser o caso de Lingula.

A sobrevivência de alguns fósseis vivos também pode dever-se ao fato destes habita-rem ambientes isolados, onde não enfrentam a competição com outros organismos potencial-mente melhor adaptados a esses ambientes. Esse é o caso do tuatara, que encontra-se isola-do na Nova Zelândia.

Juan Carlos Cisneros Martínez é biólogo, mes-

tre e doutor em Geociências. Atualmente é pro-

fessor da Universidade Federal do Piauí e atua

na área de Paleontologia.

Fóssil de anfíbio. Fonte: Oceanário de Lisboa

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P á g i n a 3 V o l u m e 2 , n ú m e r o 5

Vermelho é a cor do raro

Correspondendo a menos de 2% da

população mundial, os ruivos marcam sua presença no mundo e os cabelos avermelha-dos (rutilismo) causam uma abundância de mitos e medos desde tempos remotos.

A mitologia grega que diz que quando um ruivo morre, transforma-se em vampiro. Já a cultura antiga alemã considerava os rui-vos bruxos. Os egípcios consideravam que a cor vermelha trazia azar e por isso queima-vam mulheres ruivas em rituais que tinham como objetivo extinguir os cabelos averme-lhados. No século XVI se acreditava que a gordura corporal de um ruivo era essencial para a elaboração de poções, e mesmo na iconografia da Igreja Católica Romana geral-mente Eva é representada como uma mulher ruiva, simbolizando o pecado, e seu filho Ca-im, também ruivo, por ter matado seu irmão.

Mas verdade seja dita, nenhuma destas “lendas” são verdadeiras, sendo fruto da curi-osidade a respeito de uma bela variação da natureza humana. Em pequenas cidades for-madas por poucas famílias, o gene que causa o tom avermelhado nos cabelos pode ser numericamente dominante.

A origem do fenótipo é incerta. Acredi-tava-se que seu surgimento fora há cerca de 100 mil anos atrás, com a origem no Homem de Neandertal. Segundo essa teoria, os ruivos teriam surgido antes que o homem tivesse migrado para a Europa. Entretanto, um estu-do feito na Universidade de Edimburgo (Escócia) liderada pelo Prof. Jonathan Rees, encontrou poucas evidências de que a pele branca e o cabelo ruivo fossem realmente uma vantagem adaptativa na evolução huma-na fora da África.

Esse estudo foi realizado através de análises dos genes relacionados ao cabelo

ruivo, a partir do qual pôde-se verificar as mudanças das proteínas que produzem a cor do nosso cabelo. Quando o gene muda, o aminoácido na proteína formada também pode mudar, e aí surgem as variações que enxergamos nos organismos, ou seja, as ma-deixas avermelhadas.

Um gene é formado por uma sequência de moléculas chamadas "bases". Elas são formadas de carbono, oxigênio e nitrogênio, e por isso, são chamadas de bases nitrogena-das. A cada três bases no DNA, temos um aminoácido (bloco formador das proteínas), e chamamos essa trinca de códon. As duas pri-meiras bases de um códon são cruciais para a codificação de um aminoácido, mas mudanças na terceira base nem sempre alteram o resul-tado final de uma proteína. Estudando as mudanças provocadas na terceira base, com-paradas às mudanças provocadas pelas duas primeiras bases, a equipe do Prof. Rees desco-briu quais características genéticas são resul-tado da seleção natural e quais são meros frutos do acaso.

Foi o que aconteceu com o gene do cabelo ruivo. Não há evidência de seleção natural sobre esta característica. A cor do cabelo, assim como o da pele, vem do pig-mento melanina, podendo ser de dois tipos. Um dos tipos de melanina é a eumelanina, que pode ser marrom ou preta, e o outro tipo é a feomelanina, que pode ser vermelha ou amarela. A cor da pele e do cabelo de cada um de nós é o resultado da mistura dos dois tipos de melanina. Pessoas brancas produzem menos melanina que pessoas morenas. O cabelo preto é composto quase que unica-mente de eumelanina, enquanto o cabelo ruivo possui quase 100% de feomelanina.

O gene responsável pela produção da

melanina é chamado MC1R e se localiza no par cromossômico 16 (o ser humano possui 23 pares de cromossomos, que são as moléculas de DNA que herdamos de nossos pais e de nos-sas mães). A equipe de dermatologistas do Prof. Rees descobriu, em 1997, que todos os ruivos apresentam variantes nesta região do genoma (MC1R).

Cientistas da Universidade de Louisville, no Kentucky (EUA) comprovaram em 2002 o que os anestesistas já supunham há tempos: os ruivos são mais tolerantes a anestesia. O estu-do realizado com 10 mulheres ruivas mostrou que é necessário 20% a mais de anestesia para desacordar uma ruiva, no entanto não são só as ruivas que exibem essa tolerância. Em 2004, um estudo com homens ruivos também chegou a estes resultados.

Para se ter um filho ruivo é necessário que ambos os pais tenham uma das cinco varia-ções do gene MC1R e que essas sejam herdadas pelo seu filho. Caso só um dos pais apresente a variação, existe uma chance de seu filho ser portador do gene variante e deste ter filhos ruivos, se casado com uma portadora da varia-ção.

Atualmente, a Escócia é a maior detento-ra de pessoas ruivas: calcula-se que 10 a 13% da população escocesa seja ruiva. No Brasil estima-se que os ruivos representem menos de 1% da população. Dizem que os ruivos entrarão em extinção até 2060, mais isso não passa de mais uma lenda, afinal o gene do rutilismo é recessivo e pode "passar despercebido" nas famílias, surgindo, após varias gerações de mo-renos e loiros na família, uma criança ruiva.

João Paulo de Morais é acadêmico do

curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e é ruivo.

Acontece no Mundo... A supercadeira

Stephen Hawking é um físico britânico nascido em 1942, que ajudou a entender a origem do universo, o papel dos buracos negros e escreveu 262 páginas de um dos maiores best-seller da ciência: “Uma Breve História do Tempo”. O incrível é que fez isso tudo sem conseguir mover seu corpo.

Ele sofre de uma doença diagnosticada quando tinha 21 anos (Esclerose Lateral Amiotrófica) que afeta células nervosas responsáveis pelo controle da muscula-tura. Na época os médicos estimaram que ele teria mais 2 anos de vida. A doença afetou a fala, mas ele ainda conseguia se comunicar, ditando à sua secretária o rascunho do livro publicado em 1984.

No ano seguinte, sofreu com uma pneumonia grave, sendo necessária uma cirurgia que o fez perder a voz por completo. Mudo e quase paralisado, levantava a sobrancelha quando alguém apontava para letras.

Anos mais tarde, passou a utilizar o software Equalizer e um sintetizador acoplados em sua cadeira para se comunicar. A cadeira que utiliza é acoplada com um tablet que possui um menu, onde há termo-prontos e uma lista de palavras em ordem alfabética, além da função soletrar. Um sensor nos óculos capta movimen-tos da bochecha usados para escolher as frases.

Depois de completo, o texto é enviado ao sintetizador, que cria a voz simulando a entonação. O som sai atrás do suporte do computador.

Com todos esses acessórios, Hawking ministra palestras, escrevendo o discurso antes. Na hora apre-sentação, envia ao sintetizador uma frase por vez, para deixar a fala mais natural.

Stephen Hawking ocupou a cadeira de Isaac Newton na Universidade de Cambridge de 1979 a 2009, atuando como um dos importantes cientistas de nosso tempo, e comunicando-se apenas com um botão.

AIDS detectada em 15 minutos

Trata-se de um parelho portátil - um chip

móvel microfluídico (mChip) - também denominado ‘chip-laboratório’. Segundo a proposta, ele detecta o vírus HIV, causador da “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em Humanos” em 15 minutos, sendo uma alternativa prática na hora de realizar testes para doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS e sífilis.

Basta uma espetada e uma gota de sangue para saber se a pessoa está saudável ou não.

O chip custa US$1 e já está sendo testado na Ruanda, país africano onde a incidência de AIDS chega a 18% da população urbana.

Isso é importante pois para analisar o sangue de tribos isoladas, normalmente as amostras são enviadas a laboratórios distantes e os resultados demoram semanas para retornarem.

O projeto foi desenvolvido pela Universidade Columbia, dos Estados Unidos, em parceria com a empresa Claros Diagnostics.

Uma nova versão para câncer de próstata, um dos cânceres que mais vitimam homens no mundo, já está aprovada para uso na Europa.

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Folha Biológica

Publicação Bimestral do Curso de Ciências Biológicas

Universidade Federal de Viçosa

Campus de Rio Paranaíba

Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde

Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva

Conselho Editorial: Colegiado do curso de Ciências Bioló-

gicas - UFV/Rio Paranaíba

Editora chefe: Karine Frehner Kavalco

Edição e revisão: Rubens Pazza

Bolsista PIBEX: Letícia Cruvinel

Colaboração: Alunos do curso de Ciências Biológicas

Jornalista responsável: Janaína Pazza (MTB/PR 8244)

Contato: [email protected]

website: www.folhabiologica.bio.br

Tiragem 3.000 exemplares

Distribuição gratuita

Rodovia BR 354, km 310 (a 1300m), Cx Postal 22

CEP 38810-000, Rio Paranaíba, MG.

Fone: (34) 3855-9000

www.crp.ufv.br

Agende-se Ecologia Química Aplicada ao Controle Biológico na Agricultura- 21 de Nov. de

2011 a 2 de Dez. de 2011- Brasília – DF. Produção e Controle de Qualidade de Biopesticidas (Base de Fungos Entomo-

patogênicos)- 21 de Nov. de 2011 a 23 de Nov. de 2011- Piracicaba – SP. Nutrição Clínica de Pequenos Animais-3 de Dez. de 2011 de 08:00h às 18:00h-

Lavras – MG. Cirurgias em Pequenos Animais-4 de Dez. de 2011 a 6 de Dez. de 2011-Viçosa

– MG. Brazilian Zinc Day-6 de Dez. de 2011 de 08:00h às 18:00h-Campinas – SP

Dúvidas, sugestões ou críticas?

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P á g i n a 4 F o l h a B i o l ó g i c a

A questão sobre as origens do homem

e do mundo remete a um amplo debate, no

qual filosofia, religião e ciência entram em

cena para explicar, a seu modo, como foi que

isso ocorreu. Desde as primeiras manifesta-

ções mítico-religiosas o homem busca respos-

ta para essa questão. Neste âmbito, até hoje a

teoria criacionista é a que tem maior aceita-

ção. Ao mesmo tempo, ao contrário do que

muitos pensam, as diferentes religiões do

mundo elaboraram uma versão própria.

O cristianismo, uma das crenças religi-

osas mais adotadas no mundo e protagonista

das principais discussões sobre o tema, adota

a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação

do homem. Segundo a narrativa bíblica, o

homem foi concebido depois que Deus criou

céus e terra. Feito a partir do barro e a ima-

gem e semelhança de Deus, o homem teria

ganho vida quando Deus insuflou o hálito da

vida em suas narinas (Gn 2,7). O fato é que o

livro do Gênesis não tem a intenção de des-

crever como se deu a criação, mais sim, ape-

nas demonstrar que tudo provém de Deus

(CIC)*. Vê-se pois, criacionismo é a crença de

que o mundo e tudo o que existe nele são

potencialidades de um ato criador de um

deus.

Em contrapartida ao criacionismo há a

teoria do evolucionismo. A Evolução Biológica

consiste na mudança das características here-

ditárias de grupos de organismos ao longo de

gerações. Grupos de organismos, denomina-

dos populações e espécies são formados pelas

divisões de populações e espécies ancestrais;

posteriormente os grupos descendentes pas-

sam a se modificar de forma independente.

Portanto, numa perspectiva de longo prazo a

evolução é a descendência com modificações,

de diferentes linhagens a partir de ancestrais

comuns. A evolução não busca explicar a ori-

gem da vida, mas sim descrever as mudanças

pelas quais ela passa.

A falsa dualidade entre Criação e Evolução

A discussão sobre ter havido evolução

ou não é uma questão que foi resolvida no

século XIX. Hoje não se discute mais isso.

Essas são dúvidas de religiosos e cientistas

desatualizados e que plantam esta idéia na

sociedade. . Deus e Evolução não são mutua-

mente excludentes.

A evolução de fato ocorre; isso não

está sob discussão. Não se trata de acreditar

nela ou não, mais sim de aceitar a realidade.

O fato agora é: acreditar que tudo tenha

provido da vontade de um ser transcenden-

tal ou não. Isso é questão de fé e depende

de cada pessoa. Pela fé compreende-se que

Deus teria criado o mundo e inserido nele

todas as potencialidades para que chegas-

sem ao que é hoje e o que será no futuro. A

ciência não pode opinar se foi Deus ou não

quem criou tudo, justamente por que este

também não é o seu objetivo. Já à evolução

cabe descrever como, por quê meios e leis o

mundo chegou ao que é hoje.

*CIC: Catecismo da Igreja Católica. Tido pelos católicos

“como texto de referência, seguro e autêntico, para o

ensino de sua doutrina”.

Willian Silva Lopes é acadêmico do curso de

Ciências Biológicas da Universidade Federal

de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e versa-

do em filosofia religiosa/teológica pelo Semi-

nário Maior Dom José André Coimbra.

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