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ISSN 2318-2377 TEXTO PARA DISCUSSÃO N 603 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: UM PANORAMA Carlos Eduardo Suprinyak Alexandre Mendes Cunha Maio de 2019

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ISSN 2318-2377

TEXTO PARA DISCUSSÃO N 603

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: UM PANORAMA

Carlos Eduardo Suprinyak

Alexandre Mendes Cunha

Maio de 2019

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Universidade Federal de Minas Gerais

Jaime Arturo Ramírez (Reitor)

Sandra Regina Goulart Almeida (Vice-reitora)

Faculdade de Ciências Econômicas

Hugo Eduardo Araujo da Gama Cerqueira (Diretor)

Kely César Martins de Paiva (Vice-Diretora)

Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Regional (Cedeplar)

Frederico Gonzaga Jayme Jr (Diretor)

Gustavo de Britto Rocha (Vice-Diretor)

Laura Rodríguez Wong (Coordenadora do

Programa de Pós-graduação em Demografia)

Gilberto de Assis L.ibânio (Coordenador do

Programa de Pós-graduação em Economia)

Adriana de Miranda-Ribeiro (Chefe do

Departamento de Demografia)

Bernardo Palhares Campolina Diniz (Chefe do

Departamento de Ciências Econômicas)

Editores da série de Textos para Discussão

Aline Souza Magalhães (Economia)

Adriana de Miranda-Ribeiro (Demografia)

Secretaria Geral do Cedeplar

Maristela Dória (Secretária-Geral)

Simone Basques Sette dos Reis (Editoração)

http://www.cedeplar.ufmg.br

Textos para Discussão

A série de Textos para Discussão divulga resultados

preliminares de estudos desenvolvidos no âmbito

do Cedeplar, com o objetivo de compartilhar ideias

e obter comentários e críticas da comunidade

científica antes de seu envio para publicação final.

Os Textos para Discussão do Cedeplar começaram

a ser publicados em 1974 e têm se destacado pela

diversidade de temas e áreas de pesquisa.

Ficha catalográfica

S959h

2019

Suprinyak, Carlos Eduardo .

A história do pensamento econômico no

Brasil : um panorama / Carlos Eduardo

Suprinyak, Alexandre Mendes Cunha . - Belo

Horizonte: UFMG / CEDEPLAR, 2019.

27 p. : il. , gráfs. e tabs. - (Texto para

discussão, 603)

Inclui bibliografia (p. 28 - 29) .

ISSN 2318-2377

1. Economia - História. 2. Economia –

Estudo e ensino. I. Cunha , Alexandre Mendes

. II. Universidade Federal de Minas Gerais.

Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Regional. III. Título. IV. Série.

CDD: 330.15

Elaborada pela Biblioteca da FACE/UFMG –

AKR063/2019

As opiniões contidas nesta publicação são de

exclusiva responsabilidade do(s) autor(es), não

exprimindo necessariamente o ponto de vista do

Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências

Econômicas ou da Universidade Federal de Minas

Gerais. É permitida a reprodução parcial deste texto

e dos dados nele contidos, desde que citada a

fonte. Reproduções do texto completo ou para

fins comerciais são expressamente proibidas.

Opinions expressed in this paper are those of the

author(s) and do not necessarily reflect views of the

publishers. The reproduction of parts of this paper

of or data therein is allowed if properly cited.

Commercial and full text reproductions are strictly

forbidden.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:

UM PANORAMA*

Carlos Eduardo Suprinyak

Professor Associado, Cedeplar/UFMG. [email protected].

Alexandre Mendes Cunha

Professor Associado, Cedeplar/UFMG. [email protected].

CEDEPLAR/FACE/UFMG

BELO HORIZONTE

2019

* Capítulo preparado para publicação como parte do primeiro volume da coleção Novos Estudos de História Econômica,

organizada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE). Os autores gostariam de agradecer a enorme ajuda prestada por Marco Dantas e Jéssica Moreira Pereira na coleta das informações que serviram de base para a análise desenvolvida neste trabalho.

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SUMÁRIO

1. O LUGAR DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO ....................................................6

2. O LUGAR DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL ...............................8

3. O ENSINO EM HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL ............................ 11

4. A PESQUISA EM HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL........................ 18

5. COMENTÁRIOS FINAIS ............................................................................................................ 25

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 26

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RESUMO

Quando comparada com as condições que prevalecem atualmente no cenário internacional, a

área de história do pensamento econômico no Brasil ocupa uma posição privilegiada. Após discutir

alguns dos dilemas que vêm afetando a área ao longo das últimas décadas, o artigo apresenta os

elementos singulares que caracterizam a comunidade brasileira de especialistas. Com o auxílio de alguns

indicadores quantitativos, traçamos então um panorama do estado atual do ensino e da pesquisa

brasileiras em história do pensamento econômico, discutindo os conteúdos dos cursos, a presença no

nível de graduação e pós-graduação, o grau de internacionalização e a escolha entre diferentes

abordagens metodológicas. Como conclusão, apresentamos algumas implicações dos resultados

encontrados para o futuro da área no Brasil.

Keywords: história do pensamento econômico; ensino de economia; internacionalização; historiografia.

ABSTRACT

When compared to the conditions currently prevailing internationally, the history of economics

occupies a privileged position within Brazil. After discussing some of the dilemmas that have affected

the field over recent decades, the paper examines the distinctive elements that characterize the Brazilian

scholarly community. Using a few quantitative indicators, we then present an overview of the current

state of Brazilian training and research on the history of economics, analyzing the contents covered in

courses, the role played in graduate and undergraduate education, the level of internationalization and

the choices among different methodological approaches. The paper concludes by discussing some

implications of the results for the future of the field in Brazil.

Keywords: history of economics; teaching of economics; internationalization; historiography.

JEL Codes: B00; A22; A23.

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1. O LUGAR DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

Se quiséssemos abusar das caricaturas, poderíamos dizer que a história do pensamento

econômico nasceu ao mesmo tempo que a própria ciência econômica. Afinal de contas, o mais extenso

dos cinco livros que compõem a suposta obra-fundadora da disciplina – A Riqueza das Nações – é

dedicado à investigação daquilo que Adam Smith chama de “sistemas de economia política”: tradições

teóricas e intelectuais que haviam buscado explicar, até então, a natureza dos processos que conduzem

à prosperidade material das sociedades. Quando Smith se debruçou, no livro IV de sua célebre obra,

sobre o “sistema de comércio” e o “sistema de agricultura”, ele produzia uma versão pioneira daquilo

que viria mais tarde a ser conhecido como practitioner history: a história de uma disciplina contada a

partir da perspectiva de um praticante contemporâneo da mesma. Como toda narrativa histórica desse

gênero, a contribuição de Smith exibe algumas características marcantes: trata-se de uma reconstrução

seletiva e viesada do registro histórico, cuja principal função é colocar em evidência os méritos relativos

da perspectiva teórica defendida pelo próprio autor.

Foi esse o gênero historiográfico que prevaleceu ao longo de todo o século XIX, período em

que a Economia Política consolidava seu espaço como uma disciplina acadêmica autônoma. A lista de

praticantes é extensa, diversa e ilustre: Jean-Baptiste Say, John Ramsay McCulloch, Karl Marx,

Friedrich List, Gustav Schmoller, William Stanley Jevons e Alfred Marshall, para citar apenas alguns.

Durante esse período, também começaram a surgir obras com ambições mais sistematizantes, que

buscavam oferecer um panorama semi-enciclopédico acerca da história das teorias econômicas. Jérôme-

Adolphe Blanqui (1837), na França, foi um pioneiro, seguido por autores como Luigi Cossa (1880) na

Itália, Gustav Cohn na Alemanha e John Kells Ingram (1888) no Reino Unido. Em geral, tais

contribuições eram fortemente marcadas pelas inclinações teóricas de seus próprios autores: alguns,

como Blanqui, exaltando os avanços teóricos trazidos pela tradição clássica; outros, como Ingram,

criticando as implicações perversas associadas ao legado intelectual dessa mesma escola. Exercícios

dessa natureza persistiram, obviamente, ao longo de todo o século XX. John Maynard Keynes talvez

ofereça o exemplo mais ilustrativo ao retorcer o lugar ocupado na história por ‘clássicos’ e

‘mercantilistas’, porém encontramos casos similares em momentos muito mais recentes. Basta lembrar

da antinomia entre os paradigmas marshalliano e walrasiano identificada por Milton Friedman (1949),

ou de como Robert Lucas (1996) redescobriu as origens da teoria quantitativa da moeda, ou ainda da

visão de Paul Krugman (1995) acerca das limitações da ‘velha’ geografia econômica. No limite,

podemos imaginar que todo estudante de doutorado que dedica um capítulo de sua tese para um resgate

das raízes históricas de seu problema de pesquisa está levando adiante, ainda hoje, essa longa tradição

de ‘história dos praticantes’.

Ao longo da primeira metade do século XX, entretanto, os padrões acadêmicos que orientavam

a produção de conhecimento sobre a história do pensamento econômico começaram a se modificar. Por

um lado, o tema persistia essencialmente como um monopólio dos próprios economistas, de forma que

suas próprias inclinações teóricas inevitavelmente informavam suas investigações históricas, às vezes

de forma implícita, outras de forma explícita. Por outro lado, essa nova geração de historiadores do

pensamento econômico gradualmente desenvolveu certa sensibilidade quanto à necessidade de utilizar

métodos de análise que fossem ao mesmo tempo mais rigorosos e mais adequados aos seus objetos de

investigação. O resultado foi uma safra de estudos que, embora preservassem a perspectiva do

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economista praticante, eram caracterizados por uma profundidade e sofisticação analíticas até então sem

precedentes. Trata-se do momento em que Eli Heckscher (1935), Jacob Viner (1937), Wesley Clair

Mitchell (1949), Gunnar Myrdal (1953 [1932]), Joseph Schumpeter (1954) e Lionel Robbins (1952)

produziram alguns dos grandes clássicos da área, com reflexos tardios nas contribuições de autores

posteriores como George Stigler e Paul Samuelson. Durante esse período, ao qual podemos nos referir

como a era de ouro dos economistas-historiadores, a história do pensamento econômico era entendida

como parte integrante da formação acadêmica e do ofício de todo e qualquer economista.

Tal situação sofreu profundas transformações durante o pós-guerra. Agora já firmemente

institucionalizada, a ciência econômica passou por um processo de intensa fragmentação subdisciplinar,

com a proliferação de áreas de especialização e o aumento significativo do conteúdo técnico requerido

para a formação de um economista. A própria história do pensamento econômico foi ‘disciplinarizada’

ao longo desse processo, com a criação de espaços institucionais próprios e o gradual desenvolvimento

de uma identidade compartilhada, capaz de integrar a comunidade de especialistas em formação.1 Por

um lado, essas transformações exerceram efeitos positivos importantes ao estimular a profissionalização

da área, introduzindo novos problemas, novos métodos de investigação e critérios de qualidade mais

rigorosos. Por outro lado, ao perder seu status privilegiado como objeto de interesse das grandes mentes

da profissão, tornando-se apenas mais uma entre dezenas de subáreas de especialização, a história do

pensamento econômico viu-se imediatamente mergulhada em uma crise de identidade, que persiste em

maior ou menor grau até os dias de hoje.2 Uma vez perdida a conexão íntima com a vanguarda da ciência

econômica, qual deveria ser, afinal de contas, o papel da história do pensamento econômico? De que

maneira a área ainda seria capaz de contribuir para enriquecer as discussões dos economistas

contemporâneos? As atividades de pesquisa deveriam ser pautadas pelos critérios de excelência que

prevalecem entre historiadores ou entre economistas?

Essas angústias foram imediatamente reforçadas à medida que se sentiam os efeitos colaterais

do processo de fragmentação disciplinar da ciência econômica. Em um contexto marcado pela

ascendência de um modelo de financiamento à atividade acadêmica que favorecia o domínio de técnicas

analíticas avançadas em detrimento de uma formação liberal/humanística, a história do pensamento

econômico viu-se forçada a disputar espaço nos currículos universitários com uma miríade de outras

subáreas muito mais bem preparadas para atender às demandas da época (Mirowski 2002). A

disciplinarização da área foi acompanhada, dessa forma, por uma crescente marginalização dentro do

mainstream da profissão, primeiramente no nível da pesquisa e da pós-graduação, mas depois

estendendo-se também para o ensino de graduação nas instituições que oferecem uma formação

especializada em Economia (Tarascio 1971; Gayer 2002).3 Hoje, nos principais centros de produção de

conhecimento acadêmico do mundo, a história do pensamento econômico praticamente não encontra

1 A revista History of Political Economy publicou sua primeira edição em 1969. Quatro anos mais tarde, em 1973, ocorreu a

fundação da History of Economics Society. Trata-se da primeira revista acadêmica e da primeira associação dedicadas à história do pensamento econômico no mundo ocidental. Antes delas, já havia no Japão uma associação e uma revista especializadas, fundadas respectivamente em 1950 e 1963 (Ikeo 2002).

2 Essa inquietação produziu uma longa lista de reflexões historiográficas, que espelha o próprio processo de disciplinarização da história do pensamento econômico. Ver, por exemplo, Winch (1962), Gordon (1965), Coats (1969), Stigler (1969), Boulding (1971) e Corry (1975).

3 Nos Estados Unidos, os chamados liberal arts colleges, que tradicionalmente oferecem uma formação acadêmica menos técnica e disciplinar, continuam abrigando profissionais especializados em história do pensamento econômico (Bateman 2002).

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mais nenhum espaço dentro de departamentos ou centros de pesquisa dedicados à ciência econômica,

sendo gradualmente extinta ou deslocada para junto de outras comunidades disciplinares.4

Diante desse cenário, uma série de reações bastante distintas vieram à tona. Diversos

historiadores do pensamento econômico passaram a defender com vigor a ideia de que a comunidade

deveria buscar espaços de interlocução com outras disciplinas, abandonando de vez suas pretensões de

contribuir para os debates contemporâneos da ciência econômica. Em sua visão, a história do

pensamento econômico encontraria um lar mais confortável junto à história intelectual, à filosofia da

ciência ou à história da ciência e da tecnologia, cabendo então aos praticantes reposicionar-se

institucionalmente nessa direção (Winch 1962; Schabas 1992; Weintraub 2007). Outros seguiram a

direção oposta, reafirmando que a história do pensamento econômico era capaz de oferecer uma

contribuição única para a ciência econômica contemporânea ao resgatar tradições teóricas do passado

capazes de oferecer soluções para os dilemas do presente. Muito embora não haja uma identificação

necessária, essa reação frequentemente esteve associada a uma postura crítica em relação ao estado

corrente da teoria econômica, promovendo assim uma aliança entre a história do pensamento econômico

e determinadas correntes heterodoxas (Dow 2002; Kurz 2006). Por fim, uma terceira estratégia envolve

reafirmar a importância da história do pensamento econômico como um instrumento pedagógico,

evitando associá-la diretamente a qualquer posição crítica em relação ao mainstream da profissão. Nesse

sentido, a área deveria ser valorizada pela sua capacidade de despertar as faculdades analíticas dos

economistas em formação, chamando sua atenção para as grandes questões da ciência econômica e para

os fundamentos conceituais que sustentam suas construções teóricas (Hollander 1975; Roncaglia 1996;

Blaug 2001; Trautwein 2017). A tensão entre essas perspectivas contrastantes segue influenciando o

desenvolvimento da área até os dias de hoje, sem nenhuma perspectiva clara de emergência de um

consenso acerca do lugar a ser ocupado pela história do pensamento econômico.

2. O LUGAR DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL

Em contraste com a situação que prevalece na Europa e na América do Norte, a história do

pensamento econômico continua usufruindo de uma posição institucional confortável em diversos países

da América Latina. Em parte, esse resultado está relacionado, sem dúvida alguma, à importância

conquistada na região por abordagens teóricas autóctones, que pretendiam colocar em evidência as

limitações da teoria econômica dita ortodoxa quando aplicada à realidade latino-americana. O exemplo

mais ilustre, obviamente, é o estruturalismo cepalino, mas podemos também lembrar das diversas

formas de ‘desenvolvimentismo’ nacionalista que proliferaram na primeira metade do século XX, da

teoria da dependência, dos ‘choques heterodoxos’ que invadiram a política monetária nas décadas de

1970 e 1980, chegando até os modelos recentes de crescimento com restrição no balanço de pagamentos.

Na medida em que tais abordagens ocupavam um espaço proeminente em meio à comunidade dos

economistas latino-americanos, a história do pensamento econômico também conseguiu preservar seu

lugar junto a essa comunidade, cumprindo as seguintes funções: 1) guardiã da memória dos grandes

4 As grandes exceções a essa tendência continuam sendo a França e o Japão, dois países onde a história do pensamento

econômico conseguiu preservar uma posição relevante junto à comunidade acadêmica dos economistas (Deleplace 2002; Ikeo 2002).

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economistas do passado, fossem eles os próprios mestres latino-americanos, ou então aqueles que lhes

serviram de inspiração; e 2) reflexão crítica acerca dos mecanismos por meio dos quais o mainstream

da teoria econômica foi recebido e incorporado na América Latina, buscando identificar as limitações

inerentes a esse processo de transmissão e adaptação conceitual.

No caso brasileiro, essa tendência difusa foi reforçada por uma série de mecanismos

institucionais, com maior ou menor grau de formalidade, que contribuíram para assegurar o espaço da

história do pensamento econômico como parte da ciência econômica. O processo de consolidação da

comunidade acadêmica dos economistas no Brasil coincidiu com o período de maior endurecimento do

regime militar, na passagem entre as décadas de 1960 e 1970. O contexto político delicado contribuiu

para a emergência de um consenso entre os membros da incipiente comunidade, que passaram a

promover a tolerância e a diversidade como valores estruturantes de sua prática acadêmica (Fernández

& Suprinyak 2019). Esse cenário permitiu à história do pensamento econômico posicionar-se como uma

espécie de ‘fiadora’ do pluralismo da ciência econômica no Brasil, mantendo viva a memória da herança

intelectual carregada pela disciplina. Os reflexos persistem até os dias de hoje. Na Resolução nº 04/2007

do Conselho Nacional de Educação, que regulamenta as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de

graduação em ciências econômicas, a história do pensamento econômico é mencionada explicitamente

como um dos conteúdos de formação histórica obrigatórios na formação de um economista, visando

construir “uma base cultural indispensável à expressão de um posicionamento reflexivo, crítico e

comparativo”. O instrumento de avaliação Qualis, utilizado pela CAPES para aferir a qualidade da pós-

graduação brasileira, inclui revistas especializadas em história do pensamento econômico nos níveis

mais elevados do ranking dos periódicos da área de Economia, possibilitando aos pesquisadores

especializados que se posicionem favoravelmente dentro de seus programas de pós-graduação.5 Por fim,

algumas das principais associações acadêmicas da área de Economia no Brasil – casos da ANPEC, SEP

e ABPHE – tradicionalmente reservam espaços em seus encontros para contribuições na área de história

do pensamento econômico.

Trata-se, sem dúvida, de uma posição invejável do ponto de vista das condições que prevalecem

ao nível internacional. A criação recente da Associação Latino-Americana de História do Pensamento

Econômico (ALAHPE) atesta a força da área na América Latina e também no Brasil, que abriga

aproximadamente um terço dos membros ativos da associação. Os congressos bienais da ALAHPE

rivalizam em tamanho com os encontros da History of Economics Society, ao passo que seu perfil

demográfico é marcado por uma maior participação relativa de jovens pesquisadores, sejam estudantes

de pós-graduação ou recém-doutores – um sinal claro da vitalidade e do potencial de desenvolvimento

futuro dessa comunidade. Ainda assim, as condições subjacentes ao ensino e à pesquisa em história do

pensamento econômico no Brasil acabaram produzindo alguns efeitos colaterais indesejáveis, que

contribuíram para inibir a adoção de padrões mais elevados de profissionalismo na área.

Em primeiro lugar, as fronteiras entre a história do pensamento econômico e a discussão teórica

contemporânea são frequentemente borradas no Brasil, quase ao ponto de desaparecerem. Os grandes

5 No ranking mais recente da área, a revista History of Political Economy aparece no nível A1, e a revista Journal of the History

of Economic Thought aparece no nível A2. Outras revistas com abertura para publicações em história do pensamento econômico – como Cambridge Journal of Economics, Journal of Economic Issues, Journal of Economic Methodology, Review of Political Economy, Oxford Economic Papers, Economics and Philosophy e American Journal of Economics and Sociology – também estão atualmente classificadas nos dois níveis mais elevados do ranking.

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autores do passado são vistos como participantes ativos de uma mesma conversa que se estende até os

dias de hoje, configurando, na terminologia de Kenneth Boulding (1971), um ‘presente estendido’ que

alcança mais de dois séculos. O juízo acerca das virtudes e defeitos de uma atitude como essa depende,

obviamente, da visão de cada um acerca do papel a ser desempenhado pela história do pensamento

econômico. Ainda assim, algumas consequências que daí emergem nos parecem inequivocamente

prejudiciais à saúde da área. Por um lado, os esforços de pesquisa tendem a exibir um viés muito forte

na direção do estudo dos ‘grandes economistas’, que supostamente continuam tendo algo a contribuir

para o debate contemporâneo. Esse viés não configura necessariamente um problema, não estivesse ele

frequentemente associado à prática de ignorar todo o estoque de conhecimento histórico acumulado

sobre determinado autor ou obra, em nome da busca por uma interpretação ‘própria’ ou ‘original’. Por

outro lado, a sobreposição indiscriminada entre história e teoria acaba reduzindo a capacidade dos

historiadores do pensamento econômico para estabelecerem a legitimidade dos seus resultados de

pesquisa. Se os economistas do passado fazem parte da mesma discussão que continuamos tendo até

hoje, qualquer economista que se dedique ocasionalmente a ler e interpretar os ‘clássicos’ pode aspirar

à mesma autoridade que um especialista na matéria. No limite, o que temos é uma versão do mesmo

fenômeno que já discutimos na seção anterior, em que um estudante de doutorado entende o capítulo de

revisão teórica de sua tese como uma contribuição para a história do pensamento econômico.

De maneira correlacionada, temos então um segundo tipo de problema: a disseminação de

práticas historiográficas de qualidade duvidosa. Aqui também retornamos a um terreno já discutido na

seção anterior. Se a função da história do pensamento econômico envolve, antes de mais nada, contribuir

para o debate econômico contemporâneo, é de se esperar que os critérios de relevância e legitimidade

adotados pela área sejam, ao menos em parte, importados desse debate. Mais uma vez, os méritos ou

deméritos dessa abordagem dependem da visão de cada um. O risco, entretanto, reside no uso

instrumental das contribuições oferecidas pela história do pensamento econômico, que serão valorizadas

ou desvalorizadas de acordo com sua capacidade de contribuir para determinadas agendas

contemporâneas. Em outras palavras, quando os critérios dos economistas se sobrepõem aos critérios

dos historiadores, abre-se a possibilidade de que o debate teórico seja informado por resultados de

pesquisa que não atendem aos padrões mínimos da boa prática historiográfica.

Por fim, a história do pensamento econômico no Brasil também se mostrou frequentemente

desalinhada em relação às práticas acadêmicas que prevalecem no cenário internacional. Na medida em

que sua principal função consiste em contribuir com debates essencialmente latino-americanos,

demonstrando as limitações inerentes a certas tradições teóricas com pretensões universais, a pesquisa

feita no Brasil naturalmente busca legitimar-se recorrendo às questões e problemas próprios da região.

Se essa tendência, por um lado, preservou um contato salutar da área com nossa realidade periférica,

por outro lado, quando levada ao limite, acabou resultando na formação de um ambiente acadêmico

insular. Novos temas e métodos de pesquisa surgidos internacionalmente, nos poucos casos em que

chegaram ao Brasil, fizeram-no com uma defasagem de anos, às vezes décadas. Em um período mais

recente, esses traços foram atenuados com a emergência de uma nova geração de pesquisadores já

treinados em meio às demandas de internacionalização que há algum tempo afetam a academia

brasileira. Ainda assim, parte da pesquisa produzida na área continua sendo marcada por um caráter

fortemente auto referencial, recorrendo quase que exclusivamente a autores brasileiros ou latino-

americanos para embasar discussões sobre temas tão universais como a teoria do valor ricardiana ou o

princípio keynesiano da demanda efetiva.

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Feitas essas considerações de caráter mais geral, passamos agora à tentativa de oferecer um

panorama concreto sobre o estado corrente do ensino e da pesquisa em história do pensamento

econômico no Brasil. Para tanto, apresentaremos alguns dados e informações coletadas durante o

processo de elaboração desse artigo, durante os primeiros meses de 2019. Desde já, entretanto, deixamos

claro que esse exercício não se pretende exaustivo nem definitivo. Trata-se, pelo contrário, apenas de

uma tentativa de ilustrar algumas características e tendências recentes, que permitam vislumbrar

algumas das particularidades da área de história do pensamento econômico no Brasil.

3. O ENSINO EM HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL

Dado o tamanho e a densidade do sistema brasileiro de ensino superior, a inclusão da história

do pensamento econômico como parte das diretrizes curriculares do bacharelado em ciências

econômicas produz um resultado inequívoco: em termos absolutos, o Brasil é um dos países que mais

oferta disciplinas de graduação em história do pensamento econômico em todo o mundo. Buscando

entender melhor a natureza do treinamento que é atualmente oferecido aos estudantes de Economia no

país, coletamos uma amostra de programas/ementas de cursos lecionados em instituições de ensino

superior espalhadas por todo o território nacional. No total, conseguimos recolher 127 programas e

ementas, referentes a disciplinas de graduação lecionadas em instituições públicas e privadas, em todas

as cinco regiões do país. A amostra cobre todos os estados da federação, embora a quantidade de

programas por estado varie significativamente, acompanhando as densidades dos respectivos sistemas

universitários. Acre, Alagoas, Sergipe e Tocantins contribuíram com apenas um programa cada, ao

passo que São Paulo (16), Minas Gerais (15) e Paraná (13) encabeçam a lista dos estados mais bem

representados na amostra. As instituições públicas, que costumam funcionar como polos regionais de

liderança acadêmica, também estão sobre representadas, contribuindo com um total de 98 programas,

contra 29 programas de instituições privadas. Para além dos critérios de abrangência e

representatividade, a seleção da amostra foi determinada essencialmente pela disponibilidade da

informação – não devendo, portanto, ser interpretada como um exercício estatístico rigoroso.

A principal informação contida nos programas e ementas de disciplinas diz respeito à cobertura

temática do ensino de graduação na área de história do pensamento econômico. Para entender melhor

essa dimensão, organizamos os diversos conteúdos em dezoito categorias temáticas distintas, que

cobrem desde o pensamento econômico da Antiguidade Clássica até abordagens teóricas

contemporâneas. De posse dessa classificação, identificamos então quais as categorias contempladas em

cada um dos programas da amostra. Nos diversos casos em que uma mesma instituição oferece mais de

uma disciplina de graduação na área, consolidamos os diversos programas como se constituíssem um

percurso formativo unificado. Os resultados dessa análise são apresentados no Gráfico 1.

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As informações ali consolidadas permitem vislumbrar o que seria um curso ‘típico’ de história

do pensamento econômico no Brasil. Tal curso teria início com uma discussão sobre a reflexão

econômica durante o início do período moderno, e então passaria pelas ideias da escola fisiocrata antes

de chegar ao estudo das contribuições de Adam Smith e da Escola Clássica de Economia Política. Após

uma incursão pelo pensamento econômico de Marx e seus seguidores, chegaria então à chamada

revolução marginalista e ao processo de consolidação do paradigma neoclássico, para então concluir

com uma discussão sobre a revolução keynesiana. Os tópicos que acabamos de mencionar estão

presentes em 70% ou mais de todas as disciplinas analisadas. Mais da metade dos cursos também

apresenta alguma discussão sobre temas mais contemporâneos, seja a Escola de Chicago, a tradição de

Cambridge depois de Keynes, a abordagem estruturalista latino-americana, ou os debates

macroeconômicos do pós-Segunda Guerra. Em contraste, temas tradicionais como o pensamento

econômico da Antiguidade Clássica, variantes não marxistas de pensamento socialista e a Escola

Histórica Alemã encontram pouco espaço atualmente nos cursos de graduação brasileiros.

Dentre os programas de curso que compõem a amostra, 104 contém informações detalhadas

acerca do material bibliográfico utilizado pelos docentes. A tabela 1 apresenta um sumário dos vinte e

cinco itens bibliográficos utilizados com mais frequência nos cursos de graduação do Brasil. A listagem

não discrimina entre o uso de cada item como bibliográfica básica ou complementar. Se o ranqueamento

levasse em consideração apenas as menções a determinado item como parte da bibliografia básica da

disciplina, a principal alteração seria a entrada de dois itens na lista das principais referências: o manual

An Outline of the History of Economic Thought, de Ernesto Screpanti e Stefano Zamagni, e o Tratado

de Economia Política de Jean-Baptiste Say, listados como bibliografia básica em sete e seis programas,

respectivamente. Por outro lado, o livro de John Kenneth Galbraith, O Pensamento Econômico em

Perspectiva, acabaria ficando de fora, sendo listado como referência obrigatória em apenas três cursos.

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TABELA 1

Referências bibliográficas utilizadas com mais frequência nos cursos de graduação em História do

Pensamento Econômico no Brasil

Título Autor Ocorrências

História do Pensamento Econômico* E. K. Hunt 83

História do Pensamento Econômico Stanley Brue 45

A Riqueza das Nações Adam Smith 37

História do Pensamento Econômico: de Lao Tse a Robert Lucas Ricardo Feijó 36

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda John M. Keynes 34

Os Clássicos da Economia Ricardo Carneiro 31

Princípios de Economia Política e Tributação David Ricardo 28

História do Pensamento Econômico: uma abordagem introdutória Carlos R. V. Araújo 27

O Capital: Crítica da Economia Política Karl Marx 25

Smith, Ricardo, Marx Claudio Napoleoni 23

História das Doutrinas Econômicas Paul Hugon 20

Lições de Economia Política Clássica Mauricio Coutinho 17

História do Pensamento Econômico R. Oliveira / A. Gennari 16

A Teoria da Economia Política W. Stanley Jevons 16

Princípios de Economia Alfred Marshall 15

A Evolução das Ideias Econômicas Phyllis Deane 15

A História do Pensamento Econômico Robert Heilbroner 14

O Pensamento Econômico do Século XX Claudio Napoleoni 13

O Pensamento Econômico em Perspectiva: uma história crítica John K. Galbraith 13

Princípios de Economia Política John Stuart Mill 11

História do Pensamento Econômico Ingrid Rima 11

Teoria do Desenvolvimento Econômico J. A. Schumpeter 11

Acumulação de Capital e Demanda Efetiva Jorge Miglioli 11

Princípios de Economia Política; Ensaio Sobre a População T. R. Malthus 10

Compêndio dos Elementos de Economia Política Pura Léon Walras 10

Fonte: elaboração própria, com base em programas/ementas de disciplinas de História do Pensamento Econômico ofertadas por instituições de ensino superior brasileiras (2019). O total de menções não discrimina entre o uso do item como bibliografia básica ou complementar da disciplina. Itens em itálico são referências ‘primárias’ – obras originais dos economistas estudados na

disciplina.

* O total de menções ao manual de E. K. Hunt inclui as versões mais recentes escritas em coautoria com Howard Sherman e Mark Lautzenheiser.

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A obra de referência mais popular nos cursos brasileiros de história do pensamento econômico

é, sem dúvida alguma, o manual de E. K. Hunt, em suas diversas edições. Utilizado em

aproximadamente 80% das disciplinas, trata-se de uma obra traduzida para o português pela primeira

vez nos anos 80, e amplamente disponível no mercado editorial brasileiro desde então. Embora de

origem mais recente, o livro de Stanley Brue, segundo colocado na lista, configura um caso semelhante:

um manual introdutório, traduzido para o português já há mais de uma década, e publicado por uma

editora acadêmica de renome. Há também manuais introdutórios escritos por autores brasileiros que

aparecem bem colocados na lista, caso das obras de Ricardo Feijó, Ricardo Carneiro e Carlos Roberto

Araújo. Chama atenção, porém, a grande quantidade de entradas que poderíamos classificar como

literatura ‘primária’: as obras originais dos próprios economistas que são objeto de estudo na disciplina.

Dentre os vinte e cinco itens mais utilizados, dez são obras de grandes economistas como Adam Smith,

Keynes, Ricardo, Marx, Jevons e Marshall. Em suma, o treinamento em história do pensamento

econômico recebido por estudantes brasileiros de Economia parece envolver, em geral, a leitura e estudo

dos ‘grandes clássicos’ da área, direcionado e complementado por manuais introdutórios que oferecem

uma visão mais panorâmica da evolução da disciplina. Em relação à literatura ‘secundária’ utilizada nos

cursos, a disponibilidade de materiais de leitura no mercado editorial brasileiro exerce um efeito

claramente limitador. Muito embora algumas obras tradicionais tenham recebido revisões e novas

edições ao longo dos anos, chama atenção o fato de que apenas três dos 25 itens mais utilizados foram

publicados originalmente depois do ano 2000: os manuais de Stanley Brue, Ricardo Feijó e, mais

recentemente, Oliveira & Gennari.

Por fim, podemos também utilizar os programas de disciplinas buscando entender melhor o

perfil dos docentes que lecionam história do pensamento econômico no Brasil. Infelizmente, as

informações a esse respeito são muito mais esparsas: apenas 34 dos 129 programas/ementas apresentam

alguma indicação sobre o docente responsável pela disciplina. Com essa limitação em mente, buscamos

utilizar as informações disponíveis para entender até que ponto o ensino de história do pensamento

econômico está sob a responsabilidade de profissionais que possuem algum tipo de qualificação

especializada na área. Para tanto, reunimos informações sobre a formação e a atuação acadêmica de cada

um dos docentes identificados na amostra, classificando-os como especialistas ou não-especialistas. Um

especialista seria alguém que cumpre ao menos um dos três seguintes critérios: 1) ter dedicado ao menos

parte de sua trajetória de pós-graduação ao estudo da história do pensamento econômico; 2) atuar como

pesquisador na área, conforme atestado por sua produção científica; 3) auto identificar-se explicitamente

como um especialista na área. Avaliando os perfis dos diversos docentes à luz desses critérios,

conseguimos identificar 14 disciplinas que são lecionadas por especialistas, correspondendo a

aproximadamente 40% da amostra. No que concerne os 60% restantes, trata-se de disciplinas lecionadas

por profissionais especializados em outras subáreas da ciência econômica – macroeconomia, economia

do trabalho, desenvolvimento regional, etc.

Se comparado com o ensino de graduação, é possível argumentar que o lugar da história do

pensamento econômico na pós-graduação brasileira constitui, por assim dizer, um capítulo à parte. Se,

para o ensino de graduação, a referência é inequivocamente a oferta de disciplinas em bacharelados em

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ciências econômicas,6 no caso da pós-graduação, a análise não poderia se restringir exclusivamente aos

cursos na área de Economia, sob pena de deixar encoberta uma parte importante dessa realidade. Estando

a pós-graduação muito diretamente relacionada às ações de pesquisa, e uma vez que os programas de

pós-graduação não são necessariamente espelhos de departamentos específicos, reunindo por vezes

equipes interdisciplinares, não é incomum em nosso contexto que se verifique a atuação de professores

pertencentes a departamentos de Economia em programas de pós-graduação em História (ainda que o

contrário seja menos frequente). Algumas instituições de ensino superior que dispõem de tradição de

pesquisa histórica na área de Economia e de temas econômicos no âmbito das pesquisas históricas

tendem a se beneficiar dessas possibilidades de sinergia. O Programa de Pós-graduação em História

Econômica da USP, que tradicionalmente conta com professores filiados à Faculdade de Economia,

Administração e Contabilidade (FEA/USP), é exemplo interessante nesse sentido.

Ainda assim, para mapearmos as atividades formativas no nível da pós-graduação no campo da

história do pensamento econômico no Brasil, o ponto de referência fundamental segue sendo a pós-

graduação em Economia. Segundo as informações disponibilizadas na Plataforma Sucupira da CAPES

acerca do Sistema Nacional de Pós-Graduação, existem hoje no Brasil um total de 108 cursos de pós-

graduação stricto sensu na área de Economia, incluindo doutorado, mestrado e mestrado profissional,

distribuídos entre 57 diferentes instituições de ensino superior (lembrando que algumas instituições têm

mais de um programa de pós-graduação e que o mesmo programa pode abrigar diferentes cursos).7 A

presença da história do pensamento econômico enquanto disciplina de especialização nesse conjunto

amplo de cursos é extremamente limitada. Identificamos apenas 13 programas de pós-graduação que,

no conjunto de disciplinas registradas junto à CAPES, listam cursos específicos em história do

pensamento econômico8. Isto não exclui, todavia, a possibilidade de que mesmo instituições que não

dispõem de uma disciplina específica ainda assim ofertem conteúdos na área em disciplinas com título

mais genérico (como “tópicos em teoria econômica”), nem tampouco que as disciplinas listadas possam

permanecer indefinidamente nos programas de curso, porém sem resultar em uma oferta regular. O dado

é suficientemente expressivo, no entanto, como forma de explicitar o contraste com a ampla oferta

formativa na área de história do pensamento econômico presente nos cursos de graduação, por força das

diretrizes curriculares nacionais.

Se considerarmos a informação acerca das áreas de concentração dos programas, o resultado é

ainda mais contundente. No presente momento, somente o Programa de Pós-Graduação em Economia

da UFMG indica a história do pensamento econômico como parte de uma área específica9. Na prática,

não obstante, teses e dissertações na área seguem sendo desenvolvidas e defendidas em diversos desses

programas de pós-graduação, sob o abrigo de áreas de concentração variadas tais como teoria

econômica, desenvolvimento econômico, história econômica, economia política, ou mesmo economia

6 Alguns cursos de HPE são eventualmente ofertados de forma regular em outros cursos de graduação, mas via de regra

enquanto disciplinas a cargo de departamentos de Economia. O Departamento de Ciências Econômicas da UFMG oferta

disciplinas de HPE, por exemplo, nos bacharelados em Ciências do Estado e Relações Econômicas Internacionais, para além da oferta regular no bacharelado em Ciências Econômicas.

7 https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoIes.jsf?area

Avaliacao=28&areaConhecimento=60300000 [Consulta realizada em 8-9 de abril de 2019].

8 As instituições que abrigam programas de pós-graduação em Economia com disciplinas listadas na área de história do pensamento econômico são: UnB, USP, Unicamp, UFMG, UFRJ, UFF, UFPR, UFBAC, UFES, FGV/RJ, UFC, Unifal e

UFOP.

9 Contemplada na área de concentração em “História Econômica, Economia Política e História do Pensamento Econômico”.

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aplicada. Devemos somar a isso, como mencionado acima, a própria atuação de alguns programas de

pós-graduação em História, que não só abrigam a produção de teses e dissertações na área, mas por

vezes até mesmo a oferta de disciplinas relacionada à temática.

Essa realidade ganha alguns contornos interessantes se contemplarmos especificamente o

conjunto de teses e dissertações que podemos associar de forma mais ou menos direta à história do

pensamento econômico. O acervo da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, cuja cobertura, em especial na última

década, tem enorme abrangência, é um bom guia para esta finalidade. Ainda que uma busca com

“história do pensamento econômico” enquanto marcador específico de assunto só retorne um minguado

total de 18 trabalhos em um banco de dados que conta com mais de 130 mil teses e 370 mil dissertações,

uma pesquisa mais ampla revela um cenário um pouco mais auspicioso, mas ao mesmo tempo de difícil

mensuração. Quando combinamos uma pesquisa ampla utilizando marcadores diversos, tais como

“pensamento econômico” e “ideias econômicas”, com uma pesquisa específica dos trabalhos oriundos

dos programas de pós-graduação que dispõem de oferta de cursos da área, não é difícil constatar que é

expressivo o número de trabalhos que abordam temas que podemos associar à história do pensamento

econômico – seja, por exemplo, na análise das ideias econômicas de um autor específico, ou de um

debate teórico em particular. Não obstante, permanece muito reduzido o número de dissertações e teses

que visam oferecer, especificamente, uma contribuição à área de história do pensamento econômico,

apoiando-se para tanto em pesquisa e metodologia próprias. Nesse sentido, se valorizarmos

superposições com subáreas diversas, como a economia política marxista, a economia do

desenvolvimento ou a economia institucional, e incluirmos trabalhos que, mesmo não se dedicando

exclusivamente à história do pensamento econômico, apoiam-se ao menos em parte nos temas e

conteúdos próprios da área, podemos facilmente listar mais de uma centena de teses e dissertações,

defendidas ao longo dos últimos dez anos, que exibem afinidades com a história do pensamento

econômico.10 Não obstante, se focarmos especificamente em trabalhos que atendem a todas as

especificações necessárias, em particular no tocante aos métodos, para que os entendamos propriamente

como pesquisas acadêmicas na área de história do pensamento econômico, esse número cai para não

mais do que 20 trabalhos nos últimos dez anos.

Isto nos leva a um conjunto de constatações importantes relativas à presença da área no âmbito

da pós-graduação. Tendo como referência a quantidade global de teses e dissertações defendidas nos

programas de pós-graduação em Economia e História, os trabalhos dedicados especificamente à história

do pensamento econômico podem ter (e de fato têm) qualidade, mas são numericamente pouco

expressivos. A frequência com que se pode identificar algum esforço de enquadramento histórico no

tratamento do pensamento econômico em trabalhos acadêmicos de subespecialidades variadas contrasta

em alguma medida com esta realidade, mas sem a contradizer. Mesmo sendo possível vislumbrar um

número muito mais amplo de trabalhos que se relacionam de alguma forma com o estudo da história das

ideias econômicas, fica claro que as pesquisas verdadeiramente especializadas são exíguas.

10 Excluem-se aqui aqueles trabalhos no estilo mencionado acima, que simplesmente listam uma sequência de autores ou fazem

referência a debates específicos na seção relativa à “revisão teórica” da dissertação ou tese, muitas vezes entendendo isto como uma contribuição à história do pensamento econômico. Fazemos referência nessa aproximação apenas aos trabalhos cujo tema principal seja uma discussão de ideias econômicas, mas cujo propósito primordial seja oferecer uma contribuição a debates teóricos e conceituais contemporâneos, e não à história das ideias propriamente dita.

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Há, de fato, um espaço muito limitado para a especialização formal. As abordagens

especializadas são a exceção e, via de regra, apoiam-se em esforços de indivíduos ou grupos específicos,

permanecendo assim muito limitado o grau de profissionalização da pesquisa na área. No caso da maior

parte das contribuições que se aproximam de forma mais frouxa das temáticas de história do pensamento

econômico, o tratamento dispensado ao tema revela fragilidades metodológicas e pouca sintonia com as

pesquisas especializadas no plano internacional. Não há como afastar desse diagnóstico, no entanto, a

existência de uma certa sensibilidade disseminada em parte importante dos programas de pós-graduação

em Economia (e em alguns programas de História) em relação aos esforços de enquadramento histórico

das ideias econômicas, o que favorece fertilizações cruzadas e permite que pensemos em estratégias

para o efetivo adensamento da pesquisa na área.

4. A PESQUISA EM HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL

Para completar esse panorama, elaboramos um diagnóstico ilustrativo do estado da pesquisa

brasileira em história do pensamento econômico, utilizando como referência central a publicação de

trabalhos especializados em revistas acadêmicas, tanto no Brasil quanto no exterior. Para esse exercício,

optamos por concentrar nossa análise no período 1990-2018, por dois motivos: por um lado, esse

intervalo coincide, em linhas gerais, com o período de atividade das revistas analisadas; por outro, o

período é longo o suficiente para que possamos tentar identificar algumas tendências. No que tange às

revistas brasileiras, optamos por concentrar nossa atenção nas revistas de perfil generalista mais

importantes da área de Economia. São elas: Revista Brasileira de Economia, Estudos Econômicos,

Revista de Economia Política, Nova Economia, Economia e Sociedade, EconomiA e Revista de

Economia Contemporânea. A essas sete, decidimos agregar também a revista História Econômica &

História de Empresas, por ser um veículo tradicional para a divulgação de artigos em história do

pensamento econômico. Ao longo do intervalo de três décadas analisado, as revistas brasileiras passaram

a utilizar, em diferentes momentos, os indicadores de classificação JEL como indexadores de conteúdo.

Nos casos em que a classificação JEL está disponível, esse foi o único critério utilizado para definir se

um artigo deveria ou não ser incluído na análise. Em outras palavras, sempre que um artigo listou algum

código JEL entre B10 e B32, entendemos que seu propósito (ao menos parcial) era oferecer uma

contribuição à área de história do pensamento econômico. Nos casos que antecedem a adoção da

classificação JEL, a decisão sobre o que incluir ou deixar de fora foi baseada em nossa própria avaliação

acerca dos temas e argumentos desenvolvidos em cada artigo.

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GRÁFICO 2

Publicação de artigos de história do pensamento econômico em periódicos brasileiros da área de

Economia, 1990-2018*

Fonte: elaboração própria.

* As séries contemplam todo o período 1990-2018, exceto nos casos de Economia e Sociedade (publicação iniciada em 1992), Revista de Economia Contemporânea (publicação iniciada em 1997), História Econômica & História de Empresas (publicação iniciada em 1998) e EconomiA (publicação iniciada em 2000).

O gráfico 2 apresenta uma síntese dos resultados dessa análise. No total, contabilizamos a

publicação de 494 artigos em periódicos brasileiros, entre 1990 e 2018, que se debruçaram sobre temas

relacionados à história do pensamento econômico. Chamam atenção, de saída, tanto a magnitude quanto

a estabilidade da participação relativa de artigos de história do pensamento econômico no volume total

de publicação das revistas generalistas brasileiras. Considerando todas as revistas ao mesmo tempo, a

presença dos artigos de história do pensamento econômico oscila em torno de 10% do total dos artigos

publicados. Apesar de uma redução perceptível ocorrida na segunda metade da década de 2000, essa

tendência foi rapidamente revertida na década seguinte, de forma que a série alcança seu pico justamente

no intervalo 2015-18 – quando a participação relativa dos artigos da área ultrapassa 13%. Os dados

também indicam que algumas revistas reduziram, ao longo do tempo, o espaço dedicado à história do

pensamento econômico em suas páginas, casos da Revista Brasileira de Economia e, em menor medida,

da Revista de Economia Contemporânea. Tais perdas, porém, foram compensadas pelo surgimento de

novas revistas que cedem regularmente espaço para publicações na área – EconomiA e História

Econômica & História de Empresas – e pelo aumento da participação relativa em revistas já existentes,

tais como Economia e Sociedade e Revista de Economia Política.

Visando avaliar o grau de envolvimento dos pesquisadores brasileiros com a comunidade

acadêmica internacional, fizemos também um levantamento de todos os artigos publicados por autores

brasileiros em periódicos internacionais especializados em história do pensamento econômico. Para

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tanto, selecionamos as sete revistas mais tradicionais da área que publicam majoritariamente artigos em

língua inglesa: History of Political Economy, Journal of the History of Economic Thought, European

Journal for the History of Economic Thought, History of Economic Ideas, Research in the History of

Economic Thought and Methodology, History of Economics Review, e History of Economic Thought

and Policy. Utilizando o mesmo intervalo temporal, identificamos um total de 71 artigos que listavam

ao menos um coautor brasileiro. Sabemos que esse indicador subestima o grau de internacionalização

da comunidade nacional, uma vez que contribuições na área de história do pensamento econômico

também são publicadas, no exterior, em periódicos não-especializados. Ainda assim, acreditamos que o

volume de publicações nas sete revistas mencionadas constitui um indicador importante, na medida em

que reflete o interesse dos pesquisadores brasileiros em participarem do diálogo que ocorre dentro da

comunidade internacional de especialistas. A síntese dos resultados, apresentada no Gráfico 3, é

contundente: percebe-se ali uma tendência clara de crescimento, sendo que o número de artigos

publicados em periódicos internacionais apenas nos últimos quatro anos (2015-18) já é superior à soma

das publicações ao longo dos primeiros quinze anos da série (1990-2004).

GRÁFICO 3

Publicação de artigos de pesquisadores brasileiros em periódicos internacionais especializados em

história do pensamento econômico, 1990-2018

Fonte: elaboração própria, com base em levantamento dos artigos publicados nas seguintes revistas: History of Political Economy, Journal of the History of Economic Thought, European Journal for the History of Economic Thought, History of Economic Ideas, Research in the History of Economic Thought and Methodology, History of Economics Review e History of Economic Thought and Policy.

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Um último exercício permitirá entender melhor as características da produção acadêmica

brasileira na área de história do pensamento econômico. De posse da lista de todas as publicações do

período 1990-2018, buscamos classificar cada artigo de acordo com a natureza do argumento

desenvolvido e os métodos de investigação utilizados. Para que os resultados pudessem ser interpretados

de uma maneira sintética, trabalhamos com seis categorias ‘ideais’, que descrevemos abaixo:

Exegese textual: Nesta categoria, incluímos artigos cujos argumento gira em torno de uma

reinterpretação de obras que fazem parte do cânone do pensamento econômico, baseada em

uma leitura detalhada e analítica dessas próprias obras. Objetivos comuns envolvem a

identificação de equívocos em interpretações anteriores ou a defesa de determinada posição

em uma disputa interpretativa já existente. Outra estratégia usual se apoia na identificação de

afinidades e/ou contradições entre diferentes autores ou escolas de pensamento, sem que haja

a pretensão de explicar tais fenômenos como resultado de um processo histórico que conecte

as abordagens em questão. Artigos classificados nessa categoria frequentemente mobilizam

seus resultados como insumos para a discussão de questões teóricas ou práticas

contemporâneas;

Reconstrução histórica: Aqui foram classificados artigos cujo propósito central consiste em

contextualizar historicamente certos autores, teorias ou conceitos, fazendo uso de diferentes

tipos de literatura secundária. Vale ressaltar que essa contextualização pode ser feita no plano

puramente intelectual – situando, por exemplo, determinado autor como parte de uma tradição

teórica mais ampla, ou ilustrando como suas ideias foram transformadas pelo contato com

outras ideias. Essa categoria também inclui trabalhos que buscam contrapor diferentes autores

e tradições teóricas, porém agora indicando a existência de um processo histórico concreto

que conecta os objetos em discussão;

Pesquisa primária: Trata-se de artigos que constroem seu argumento com base em algum tipo

de pesquisa histórica primária, que complementa a literatura secundária já existente. Tal

pesquisa primária pode envolver diversos tipos de fontes: manuscritos não-publicados,

correspondências, documentos oficiais, jornais e revistas, história oral, etc.11 Cabe também

ressaltar que a pesquisa primária pode ser utilizada tanto para fins de reconstrução analítica –

caso de um manuscrito que é usado para questionar ou validar determinada interpretação de

uma obra canônica – quanto de reconstrução histórica – quando as novas evidências servem,

por exemplo, para iluminar as motivações por trás da elaboração dessa mesma obra. O que

diferencia essa categoria das demais, portanto, é a natureza das fontes históricas utilizadas;

Abordagens não-tradicionais: Nessa categoria, reunimos um conjunto bastante variado de

trabalhos, unidos apenas pela adoção de objetos e perspectivas de investigação que fogem do

cânone da pesquisa na área de história do pensamento econômico. Encontram-se aqui artigos

que se debruçam sobre a história de determinadas instituições que orientam a produção do

conhecimento econômico, ou que investigam a sociologia da profissão dos economistas, ou

então que mobilizam técnicas analíticas mais recentes, tais como exercícios bibliométricos ou

análise de redes sociais;

11 Ainda que as obras originais publicadas de autores específicos possam ser tratadas no processo de pesquisa histórica como

fontes primárias em sentido estrito, para efeito da diferenciação de categorias, não consideramos esse uso de fontes como pesquisa primária.

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Historiografia: Artigos dedicados à discussão sobre a natureza da pesquisa em história do

pensamento econômico: seus métodos, seus resultados, suas implicações, suas limitações, sua

relevância para o ensino e a pesquisa na área de Economia;

Metodologia: Por fim, reunimos nessa última categoria aqueles artigos que, muito embora

indicassem uma categoria JEL correspondente à história do pensamento econômico,

apresentavam argumentos essencialmente relacionados à metodologia da economia, sem a

adoção de uma perspectiva histórica explícita.

Antes de apresentar os resultados, dois esclarecimentos fazem-se necessários. Em primeiro

lugar, grande parte dos artigos analisados apresenta mais de uma das seis dimensões acima descritas.

Nesses casos, a classificação correspondeu ao aspecto que julgamos mais importante para o argumento

central do artigo – ou seja, àquela parte da análise da qual dependem suas pretensões de originalidade e

relevância. Além disso, é inegável que existem zonas cinzentas entre algumas das categorias, que

impedem uma demarcação clara das fronteiras entre elas. Nesses casos limítrofes, prevaleceu mais uma

vez nosso próprio juízo acerca da natureza da contribuição central oferecida pelo artigo.

GRÁFICO 4

Distribuição dos artigos publicados por pesquisadores brasileiros em história do pensamento

econômico segundo abordagem metodológica, 1990-2018

Fonte: elaboração própria.

0

10

20

30

40

50

60

% d

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a ár

ea

Periódicos nacionais Periódicos internacionais

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O Gráfico 4 apresenta uma síntese comparativa dos resultados, colocando lado a lado as

características dos artigos de história do pensamento econômico publicados por pesquisadores

brasileiros em revistas nacionais e internacionais. Alguns contrastes entre o perfil da produção voltada

para as comunidades nacional e internacional imediatamente saltam aos olhos. No caso dos artigos

publicados em revistas nacionais, a abordagem metodológica mais popular, por uma larga margem, é a

exegese textual, que caracteriza quase metade da produção intelectual. Em segundo lugar aparecem os

artigos que se apoiam em reconstrução histórica, com aproximadamente 40% do total da produção, e

apenas em um distante terceiro lugar surgem as abordagens não-tradicionais. A pesquisa primária, que

aparece como quarta abordagem mais comum entre as publicações nacionais, responde por pouco mais

de 3% do total da produção na área. Quando olhamos para os artigos publicados em periódicos

internacionais, entretanto, o cenário se altera substancialmente. A estratégia metodológica mais popular

passa a ser a reconstrução histórica, respondendo por pouco mais de 40% dos artigos. Em segundo lugar

surgem agora os trabalhos baseados em pesquisa primária, totalizando quase 30% da produção total. A

exegese textual aparece apenas em terceiro lugar, com pouco menos de 20% dos trabalhos publicados

internacionalmente.

A simples constatação desse contraste não nos permite inferir nenhuma conclusão clara acerca

de relações de causalidade – se as pesquisas baseadas em exegese textual, por exemplo, são publicadas

majoritariamente em periódicos nacionais porque não encontram espaço no âmbito internacional, ou se

há de fato uma preferência da comunidade nacional por trabalhos dessa natureza. As correlações, de

qualquer forma, são muito claras. Tentando captar as transformações que podem ter acompanhado o

processo recente de internacionalização da comunidade brasileira, decompusemos os dados sobre as

publicações em revistas nacionais em três intervalos de uma década. Essa decomposição tem por

objetivo identificar tendências de longo prazo nas preferências metodológicas dos pesquisadores

brasileiros especializados em história do pensamento econômico. Os resultados são apresentados no

Gráfico 5.

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GRÁFICO 5

Evolução da distribuição, segundo abordagem metodológica, dos artigos de história do pensamento

econômico publicados em periódicos nacionais, 1990-2018

Fonte: elaboração própria.

Mais uma vez, alguns padrões emergem de maneira clara. A participação relativa dos artigos

baseados em exegese textual decresce continuamente ao longo do tempo. Se na década de 1990, artigos

que faziam uso dessa abordagem respondiam por mais de 60% do total da produção publicada

nacionalmente, na década de 2010 sua fatia já se encontra abaixo de 40%. Essa diferença foi distribuída

de maneira razoavelmente homogênea entre os artigos baseados em reconstrução histórica, pesquisa

primária e abordagens não-tradicionais. Na década de 2010, a reconstrução histórica passou a ocupar a

primeira posição entre as metodologias de pesquisa mais populares em meio aos artigos publicados no

Brasil, alinhando-se parcialmente ao perfil das publicações internacionais dos pesquisadores brasileiros.

Chama atenção, por outro lado, a grande discrepância que ainda existe entre o uso de pesquisa primária

nas publicações nacionais e internacionais. Ainda assim, podemos aventar a seguinte conclusão

tentativa: o processo recente de internacionalização da comunidade de pesquisadores brasileiros

especializados em história do pensamento econômico foi acompanhado de transformações também no

perfil dos trabalhos publicados domesticamente na área. Mais uma vez, não temos subsídios suficientes

para inferir qualquer relação de causalidade nesse processo, mas o conjunto das questões analisadas até

aqui permite avançar algumas considerações gerais a título de conclusão.

0

10

20

30

40

50

60

Exegese textual Reconst.histórica

Pesquisaprimária

Abord. não-tradicionais

Historiografia Metodologia

% n

a p

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acio

nal

1990-99 2000-09 2010-18

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5. COMENTÁRIOS FINAIS

À luz do contexto que atualmente prevalece no cenário internacional, a área de história do

pensamento econômico no Brasil encontra-se, sem dúvida alguma, em uma situação privilegiada.

Pesquisadores especializados usufruem de uma posição institucional sólida, frequentemente atuando

junto a algumas das principais instituições de ensino superior e programas de pós-graduação do país.

Mais do que isso, enquanto perdurar o ‘consenso pluralista’ que vem caracterizando a comunidade

brasileira de economistas há algumas décadas, parece razoável supor que as instituições formais e

informais que garantem a estabilidade da área no Brasil também serão preservadas.

Essa situação privilegiada traz consigo algumas implicações. Em alguma medida, existe um

nível básico de treinamento suficientemente disseminado por meio do ensino de graduação, que

tendemos a naturalizar em nossas análises, mas que é um componente distintivo da formação do

economista no sistema universitário brasileiro, quando comparado ao plano internacional. Não parece

exagerado atribuir parcialmente a este fator a permanência de certa sensibilidade aos temas da história

do pensamento econômico por parte desses profissionais, quando dão continuidade a seus estudos e

pesquisas na área de Economia, fazendo com que a história da disciplina continue muito presente no

cotidiano dos economistas que atuam na esfera acadêmica. Se somarmos a isto uma proximidade

também rara entre as comunidades de historiadores econômicos e historiadores do pensamento

econômico – que foi construída, no Brasil, em parte via ABPHE – encontramos um contexto que

favoreceu também a disseminação de pesquisas relacionadas à história do pensamento econômico em

programas de pós-graduação em História, com ênfase particularmente em estudos sobre o pensamento

econômico brasileiro. Todos esses fatores atuam no sentido de criar um ambiente acadêmico de muita

vitalidade, com amplo espaço para atuação seja no ensino, seja na pesquisa.

Por outro lado, essa mesma situação confortável parece ter reforçado, ao longo do tempo, uma

certa tendência ao insulamento da comunidade brasileira de historiadores do pensamento econômico.

Tanto em seus objetos quanto em seus métodos de investigação, a comunidade brasileira com frequência

se mostrou pouco permeável aos desenvolvimentos que ocorrem na fronteira da disciplina em nível

internacional. No que concerne ao ensino, isto se reflete na escassa preocupação em oferecer algum

treinamento especializado para estudantes de pós-graduação, por meio do qual possam entrar em contato

com o ‘estado da arte’ do conhecimento na área. Em geral, nossos futuros especialistas adquirem sua

formação como autodidatas, ou no máximo por meio do contato pessoal com seus orientadores. Quanto

à pesquisa, podemos encontrar evidências desse isolamento na utilização de estratégias de investigação

que não correspondem às práticas correntes da comunidade internacional. Em relação a esse último

ponto, entretanto, as pressões pela internacionalização que vêm caracterizando a história recente da

academia brasileira parecem ter surtido algum efeito também na área de história do pensamento

econômico, com a gradual redução das discrepâncias temáticas e metodológicas entre a produção

publicada no Brasil e no exterior.

Essa combinação de fatores sugere que existem elementos – em contraste com as tendências

internacionais prevalecentes na área – que favorecem uma fértil e persistente articulação entre ensino e

pesquisa em história do pensamento econômico no cenário brasileiro.

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