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JOÃO BAPTISTA Monitor de vela tradicional, Velejador, Patrão de Alto Mar, investi- gador de Património Marítimo, Promotor de Encontros de Embarcações tradicionais. IVONE BAPTISTA DE MAGALHÃES Arqueóloga, Investigadora de Património Marítimo, Promotora de encontros de Embarcações tradicio- nais, Directora do Museu Municipal de Esposende. Investigadores do Património Marítimo do Norte de Portugal. Promotores de Encontros de Embarcações Tradicionais. Os autores são fundadores da Associação BARCOS DO NORTE- Associação para a Preservação, Defesa e Estudo do Património Marítimo.

IVONE BAPTISTA DE MAGALHÃES JOÃO BAPTISTAnas figuras 1 e 2. Levantamento da reprodução da barca de carga efectuado em Abril de 1964: Fig.1 As medidas aqui apresentadas são em

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JOÃO BAPTISTA

Monitor de vela tradicional,

Velejador, Patrão de Alto Mar, investi-

gador de Património Marítimo,

Promotor de Encontros de

Embarcações tradicionais.

IVONE BAPTISTA DE MAGALHÃES

Arqueóloga, Investigadora de

Património Marítimo, Promotora de

encontros de Embarcações tradicio-

nais, Directora do Museu Municipal

de Esposende.

Investigadores do Património

Marítimo do Norte de Portugal.

Promotores de Encontros de

Embarcações Tradicionais.

Os autores são fundadores da

Associação BARCOS DO NORTE-

Associação para a Preservação,

Defesa e Estudo do Património

Marítimo.

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AS BARCAS DE CARGA

E DE PASSAGEM

DO RIO CÁVADO

O presente trabalho não pretende sermais que uma apresentação sobre opouco que até aos nossos dias chegouem registo, quer escrito quer fotográfico,dos barcos e barcas de passagem do rioCávado. Assim vamos falar dos barcos ebarcas utilizados.

De salientar que todos eles já não existempura e simplesmente.

Ivone Baptista de MagalhãesJoão Baptista

Prado tinham uma industria de ola-ria muito próspera, motivo da des-locação de pessoas de uma paraoutra margem. Por outro lado asgrandes distancias entre as pon-tes, e a falta de boas estradas,levaram a que se mantivessem aspassagens.

Com as novas pontes, novas estra-das, novos transportes rodoviários eferroviários, as passagens confina-ram-se e só, aos utilizadores locais,e estes no presente utilizam outrotipo de barcos motorizados, emfibra e contraplacado mais simplese de manutenção reduzida.

Mapa contendo a localização doslocais de passagem em 1965 e aspontes que existiam no rio Cávado.A localização do convento de Vilare do convento de Tibães.

As freguesias a montante da Pontede Barcelos e a jusante da de

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O declínio das passagens

Os rios constituíram desde os pri-mórdios da civilização, a maisimportante via de comunicaçãoentre os povos. Foi devido à suanavegabilidade, que se formaramaglomerados populacionais noslocais de acostagem rio acima, ese desenvolveram povoações. Orio navegável passou a ser factorde união entre margens . Novasculturas se desenvolveram e se mis-turaram. Os barcos cada vez seaperfeiçoaram mais quer em técni-ca construtiva quer em robustez. Oprogresso também se aplicou nanavegação, e foi esse mesmo pro-gresso que ditou a morte rápidados barcos e barcas de passagem.O conforto e rapidez em detrimen-to da lentidão, da rusticidade.

O progresso social e industrial, asnovas estradas e automóveis, ascarreiras rodoviárias, o caminhode ferro em detrimento do trans-porte fluvial, condenaram ocomercio fluvial, que se confinousó ás passagens entre margens depessoas e bens, efectuados porbarcos rudimentares e barcas decarga. Mas também elas em virtu-de da construção de pontes sobreos rios, dos fracos rendimentosobtidos com esta actividade emdeclínio, foram gradualmenteabandonadas. Era mais fácil ecómodo apanhar um transporterodoviário, do que fazer grandescaminhadas nas quais se tinha deatravessar o rio.

De igual modo, muitas das passa-gens e respectivos barcos, erampertença de ordens monásticas,mosteiros e conventos, que, por seextinguirem, também levaram àextinção das passagens.

O rio Cávado

Nasce na serra do Larouco, naraia da fronteira entre Portugal e

Espanha, no estremo norte doconselho de Montalegre, numlugar chamado de Cabo, desceaté ao Gerez, ai num lugar cha-mado Vau do Bico, junto a Prado,recebe o rio Homem e vai des-aguar a Esposende. Corre de sulpara norte na foz, depois de per-correr mais de 118 km. Era nave-gável até Fornelos cerca de 12 kmacima da foz. A navegabilidadedo Cávado foi um sonho alimen-tado durante décadas. Entre1795 e 1809 foram regulamenta-das as obras para o seu encana-mento e navegabilidade desde afoz até ao Vau do Bico, algumasdessas obras ainda visíveis. Àdata, foram gastos mais de qua-trocentos e vinte mil cruzados,dinheiro inútil, face à mingua deágua que o rio transportava nosmeses de verão, e principalmentedevido às edificações que se fize-ram no seu curso, nomeadamente,pesqueiras e levadas para funcio-namento das azenhas. Maistarde, num passado recente, asedificações para aproveitamentohidroeléctrico.

Antes das azenhas, era navegávelaté perto de Braga ao lugar daFurada, por barcos pequenos defundo chato, e daí até ao presen-te, sempre a regredir a extensãonavegável. Em 1738 os barcosgrandes de pesca do alto, noinverno subiam até perto de Vilarde Frades, (ver mapa de localiza-ção das passagens), uma léguaabaixo de Barcelos. No sec. XIX jásó era navegável por barcos depequeno porte e fundo chato. Em1932 já estava completamenteassoreado e só navegável até àBarca do Lago numa extensão decerca de 6 km.

No presente a navegação noCávado acima da Ponte de Fãodesapareceu, e até ai, só de marécheia, por barcos de pequenoporte. A barra de difícil acessopor sudoeste, condiciona a entra-da a embarcações de maior

porte, condenando também aodeclínio os estaleiros navais deque hoje só um existe sobreviven-do a muito custo.

As passagens a montante de Prado até à foz

Só de Prado para baixo é que noschegam registos das passagens,talvez porque até aqui se seguiapara Braga, o centro gravitacionalque dava a ligação pelo rio aomar. Desde os primórdios da civili-zação romana que existiu nestaparte da Península Ibérica, noschegam relatos escritos do camin-ho marítimo e fluvial do rioCávado ou Celanus, até BracaraAugusta, a cidade de Braga.Daqui se seguia depois por viaterrestre até Aquae Flaviae-Astúrica, a cidade de Chaves.

Temos nos dias de hoje relatos demergulhadores da presença deancoras romanas e de uma cons-trução submersa a lembrar umcais frente à praia de Fão, quetem protegida do mar pelos aflo-ramentos rochosos dos “Cavalosde Fão,” a enseada e fundeadou-ro naturais para os navios roma-nos. Também é de considerar odesnível que se faz sentir deAmares situado a montante dePrado até á nascente mais de700 mts.

As passagens de que nos chegamregistos são desde a foz até Pradoas seguintes como no mapa:

Barca do Lago, Marachão,Pedreiras, e Fornelos a jusante deBarcelos. Depois temos o BarcoDourado, Vilar, Afurada, Quintão,S. Romão, Graça e por fim Ruãesantes de Prado.

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A passagem da Barcado Lago

A Barca do Lago era servida poruma barca para o transporte decarga e animais e por um barcoque fazia a travessia, o autorainda utilizou o barco em meninonos anos 60, lembra-se de pagarcinco tostões pela passagem. Estapassagem da Barca do Lago, erasem duvida a mais importante detodas. Por aqui se fazia a ligaçãolitoral do sul com o norte, e com avizinha Galiza. A Mala-posta aquifazia paragem, bem como osromeiros que a Santiago se diri-giam incluindo o próprio rei D.Manuel l. Ao redor da passagemdesenvolveu-se um aglomeradopopulacional importante comcasas fidalgas, uma estalagem,capela, etc. Hoje é um lugar bucó-lico tranquilo nos meses de inver-no, e no verão local de veraneio,com milhares de pessoas a procu-rarem as águas quentes doCávado para ai se banharem.

A barca de carga da Barca doLago desapareceu na década de40, dela só nos resta o levanta-mento de uma pequena reprodu-ção, feita para o cortejo etnográfi-co da Festa das Cruzes deBarcelos em 1964. Dos registos daDirecção Geral de Hidráulica doDouro, são transcritas as dimensõ-es ao que se pensa da ultimabarca que serviu na passagem, foiregistada em 1941 e extinta em1947. Tinha de comprimento 9.90mts, de pontal 0.65 mts, e de boca3.2 mts, de tonelagem 6324 kg.Era portanto em face das medidasregistada, uma barca de grandeenvergadura, podia transportardois carros de bois carregados, eera conduzida por dois barqueirosque à vara, a levavam de uma aoutra margem.

Restam-nos algumas fotos destabarca e os desenhos possíveis dasua reconstituição que se anexamnas figuras 1 e 2.

Levantamento da reprodução da barca de cargaefectuado em Abril de 1964:

Fig. 1As medidas aqui apresentadas são em metros

Antes desta desapareceu a “Nini”que foi a ultima barca de Vilar, leva-da uns anos antes por grandeenchente do rio.

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A estrutura da constru-ção da barca de carga

O casco é simétrico em relação adois eixos, um longitudinal (com-primento), e outro transversal à lar-gura (boca). A planta era rectan-gular com ligeiras curvaturas apartir do meio, o fundo com ligeiracurvatura, formando umas as cér-ceas de saída de água, de modo alevantar nas testeiras, portantoapresentando um fundo com ligei-ro bojo, e um cavername que ésimétrico, a partir da caverna mes-tra a meio vai diminuindo á largu-ra até ás testeiras ou proas, queaqui são como se sabe duas.

As madeiras utilizadas eram opinho bravo para o tabuado, o car-valho e o castanho para as caver-nas e o pinho manso, aproveitandoas suas curvas para a forma dosbraços. As cavernas ou cadilhassão feitas por duas ou três peças,aproveitando as curvaturas dasmadeiras para fazer os braços quesão depois ligados (apostos) doisnos extremos (como no barco dorio Lima) ou dois e a caverna ameio, por meio de cavilhas emmadeira. O uso de pregos ou cavil-has em ferro na parte submersa,era reduzido ao mínimo devido àsua degradação pela corrosão.Estas ligações eram escarvas lava-

das feitas na vertical. As cavernaseram de grandes dimensões emuito juntas. O tabuado era afei-çoado de modo a encostar astábuas lado a lado e permitir umaboa vedação. Nesta barca, o chãofazia de convés, pois os braçossubiam e faziam uma borda lateral,as costaneiras, que depois remata-vam num varandim ou grade, atodo o comprimento. Ao meio dochão existia também um alçapãoonde o barqueiro esgotava a águaque a barca fazia, e que se juntavano falso ou porão. Para a calafetarusava-se uma torcida de estopa, oulinho, que era metido a martelo eferro de grafetar nas juntas, depoisera pintada (crenada), com umamistura de pez de louro e sebo, ougordura de carneiro por fora e den-tro. Nas testeiras, esta barca tinhauma comporta ou rampa que levan-tava, girando em torno de um eixofeito com um cano ou ferro redon-do, no qual abraçava uma ferra-gem a fazer de dobradiça. Paramanobrar as rampas existia umaalavanca lateral que era fixa a umgancho fixado nas costaneiras. Abarca era depois manobrada pordois barqueiros à vara.

Reconstituição da barca de carga da Barca do Lago

Fig. 2 Legenda:

1 - Vista geral da barca.

2 - Pormenores da construção:a: chão ou soalhob: fundo ou cascoc: caverna armada (embaraçada) ou cadilhad: barrotese: travessas (vaus) transversais que suportam o tabuado do chãof: grades ou varais (varandins)g: testeira, h: rampai: alavanca,j: cano (faz de eixo de dobradiça) k: porão ou falsol: alçapão (alboi)

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O barco de Passagemda Barca do Lago

O barco de passagem para pesso-as e pequenas cargas, é, ao con-trário das que ficam acima deFornelos, um barco de rio já deconstrução elaborada, construído apartir da ossada, de casco emtabuado liso, com a proa em bico,e a popa de painel em v ligeira-mente acima da borda, com umentalhe a meio, onde se coloca oremo ou a vara. É possivelmenteuma adaptação do canote ou dobatel de Fão, barco de mar e rio, efundo chato, de que ainda existeum exemplar, propriedade de umparticular que o preservou. Tambémo barco que se encontrava noMarachão nos parece um caíco doDouro. Na semelhança, muito idên-

tico a um antigo escaler proprieda-de da Alfândega de Viana, tambémse calhar construído no Douro, eque hoje se encontra recuperado.

Este tipo de embarcações da Barcado Lago e das passagens imediata-mente a seguir, o Marachão eFornelos, são como já se referiu deconstrução elaborada. Esta apari-ção de embarcações cuidadas ebem feitas tem uma explicação,que, pensamos ser a que mais seadapta, e a mais lógica. Fão tinhaà época importantes estaleiros deconstrução naval, que empregavammuita mão de obra oriunda das fre-guesias ao redor, Fonte Boa, RioTinto, Gemeses, Fornelos e Mariz.De salientar também que, em FonteBoa, existia uma grande comunida-de de lavradores pescadores que

utilizavam a praia de Sedovem oudas Pedrinhas na Apúlia, onde tin-ham os seus barracões e os seusbarcos. Estes lavradores pescado-res, construíam na maior parte dasvezes os próprios barcos, os cano-tes ou barcos de fundo de prato, osmesmos que nos aparecem até àpassagem de Fornelos, estes já comuma adaptação na popa, umpequeno painel, em vez de fecharem bico com cadaste.

Não vamos por opção dedicarmuito tempo neste trabalho à suaconstrução pois já é suficientementeconhecida e publicada, pelo quenos vamos debruçar sobre os deconstrução mais rústica.

A construção dos barcosde passagem

À medida que nos afastamos dafoz, do que podemos chamar, ocentro da construção naval, subindoo rio, as formas mudam, tornam-semais grosseiras e empíricas, os bar-cos estão reduzidos à sua expres-são mais simples e funcionamentorudimentar. São, pensamos, até deauto construção na maioria. A subs-tituição, reproduzindo e copiando aforma do barco velho, que se cons-trói até junto à margem num estalei-ro improvisado, é algo que seaprende oralmente. Não existemplantas ou desenhos de construção,ela é feita a olho, pela transposiçãode medidas e formas do velho parao barco novo, e é nesta substituiçãoconstrutiva, que se vão introduzir asnovas técnicas e progressos entre-tanto adquiridos.

As passagens eram muitas vezesuma herança que se herdava de paipara filho, daí a aprendizagem datécnica da construção pelos filhos, aprincipal mão de obra na ajuda aostrabalhos de reparação e manuten-ção dos barcos.

Outras passagens e barcos, erampertença de um mosteiro. Mosteiro

Levantamento do barco Dourado actual em 1965

Fig. 3.As medidas são expressas em metros.

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que por vezes arrendava a barca eo direito da passagem, retirandodaí importante fonte de rendimen-to. O encerramento das ordensmonásticas ditou o fim às suas pas-sagens.

Todos os outros barcos de passa-gem a montante de Fornelos obede-cem a uma forma mais ou menoscomum, não eram construídos emestaleiro nem por carpinteirosnavais, são de fundo raso com umligeiro bojo, as costaneiras (bordas)com pouca altura entre 25 a 35 cm,proa quase a direito com pequenocapelo e ligeiro angulo e painel depopa na vertical. São de dimensõesvariáveis desde os 20 palmos decomprimento (4.40 mts) e 7 palmosde boca ao terço (1.54 mts), a maispequena de Vilar, até aos 5.20 mtsde comprimento por 2.20 mts deboca e 0.46 mts de pontal, comuma arqueação liquida de 965 kg

Plantas do fundo dessas barcas

Fig. 4

e lotação de 13 pessoas, a barcada Afurada propriedade de umabarqueira, conforme consta dosregistos de matricula na Direcçãodas Hidráulicas do Douro, na 2ªsecção de Braga. A anterior barcade Vilar, tinha segundo as informa-ções do barqueiro Francisco de Sá,entre 33 a 36 palmos de compri-mento (de 7.26 a 7.92 mts) por 9de boca ao terço (1.98 mts).

Verificam-se também algumas mel-horias ou inovações técnicas emalgumas das barcas, nomeadamen-te, o uso de uma tábua (a mestracomo no Barquinho do Lima) assen-te no cavername, que permite omovimento do barqueiro ou dospassageiros, visíveis nas barcas daAfurada, da Graça e na Dourada.Noutras, a fazer de banco, umatábua pregada sobre os cabeçosdos braços a cada lado, o capea-do, uma espécie de alcatrate que

fecha a embarcação no topo dasbordas. O barqueiro vai sempre apé, ou remando ou empurrando avara, um pau comprido feito namaioria de eucalipto. Os remosesses eram de pinho, o resto dasmadeiras que se usavam eram ocastanho para a proa e cavernas, eo pinho para o forro do tabuado. Opinho manso que se utiliza parafazer as curvas dos braços, não erautilizado pela ausência de braçoscompletos nestes barcos. Os braçossão colocados a topo por cima dacaverna ou em escarva lavada ver-tical são direitos.

De todas estas barcas de passa-gem, temos o levantamento feito aoultimo barco, o Dourado, em 1965que se encontrava a navegar, nafigura 3. O seu antecessor já estáextinto, dele também temos umaplanta do fundo na figura 4 E, e demais alguns nas restantes figuras.

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De notar que em todas estas embar-cações o tabuado é liso, isto é mon-tadas as tábuas topo a topo, aocontrario de outros como no rioMinho com os Carochos, e no Limacom os Barcos de Riba acima emcasco trincado, também conhecidocomo de tingladilho.

A ultima operação era o calafeto,todas as juntas eram calafetadas ougrafetadas com cordão de estopaou linho embebido em gordura ani-mal, sebo, ou mesmo azeite à mis-tura com resina (pez de louro),assim o fundo era crenado, isto é,pintado por fora, e dentro de modoa proteger a madeira e fazer avedação. Também já mais recente-mente, pintavam a embarcaçãocom óleo queimado para protegera madeira. As tintas não eram utili-zadas.

A maneira de preparar a mistura dopez, de forma a que ele corressesem estalar, era a seguinte: derretia-se a resina num caldeiro, e era adi-cionado sebo ou outra gordura,para destemperar a resina, contro-lando esta quantidade do seguintemodo,: introduzia-se um pau na mis-tura e depois em água fria, se aosolidificar o pez estalar tem quelevar mais gordura. Esta operaçãode pintura e calafeto era efectuadatodos os anos.

As técnicasde construção utilizadas

Como já se referiu não existe umatécnica de construção instituída,para se fazer uma barca, qualquerlugar servia, na beirada do rio,uma eira, um quintal... a improvi-sação a habilidade e o conheci-mento empírico eram os métodosde construção, as barcas resumem-se à sua forma elementar. Mas, noentanto são empregues técnicas defixação das cavilhas em substitui-ção dos pregos muito eficientes,ver a figura 6,A,B,e C. De igualmodo a maneira de dispor astábuas que vão fazer o fundo paradaí o riscar, lembra a sala do riscode um estaleiro.

Destas técnicas construtivas, se éque assim as podemos chamar,vamos falar da que foi relatadapor José Barbosa Fernandes, con-hecido no meio pelo apelido de ZéPindalho natural de Areias de SãoVicente, oleiro de profissão e cons-trutor naval nas horas vagas... quea usava para construir os barcosde pesca do rio conhecidos porPindalhos, e todos os outros barcosque lhe encomendavam. Efectu-asse assim a construção nestazona do rio:

São colocados no chão dispostosparalelamente três traves, uma acada testeira outra no terço, é apartir destas peças que vai nascer orisco do fundo, chamam-se os gas-talhos, e podem ser até quatro oucinco dependendo do comprimentoque se quer construir.

Os gastalhos, na parte superior,são cavados de forma a dar acurvatura que se pretende para ofundo, nos extremos tem unsfuros, três ou quatro, todos simé-tricos entre si, e a linha medianada proa popa do futuro fundo.Para delimitar a largura máximado fundo, são introduzidos duascavilhas em cada gastalho quevão fazer de ponto de acerto,

depois são colocadas as tábuasque vão servir de fundo ao com-primento, com os lados fasquia-dos, são encostadas de modo aefectuarem a maior vedação pos-sível, depois de montado o tabua-do que vai ser o fundo, é feito orisco da forma desse fundo, apartir daqui, já com esta dimen-são achada, tiramos as dimensõ-es das primeiras três cavernas emais importantes, a mestra aoterço, a da proa,e a da ré, ascavernas são feitas em duas outrês peças, em duas como osBarquinhos do Lima, são dois bra-ços com a forma de cachimbo eque são embaraçadas lado a ladosem escarva ou a forma maiscomum uma trave fixa ao fundo enas costaneiras um braço de cadalado cavilhado com cunha, a for-mar uma escarva lavada vertical,pois as bordas são muito baixascerca de 25 a 40 cm, depois écolocada a proa, que leva umentalhe de cada lado na vertical,como que um alefriz na roda deproa, nas embarcações de cons-trução mais erudita. Em seguidasão colocadas as borda ou costa-neiras formadas por uma únicatábua de fora a fora, e a tábua oupainel de ré. Só agora é que secolocam o resto das cavernasespaçadas entre si de 25 a 40 cmna maioria das vezes, podemosobservar algumas dessas técnicasnas figuras 5,6,7e 9.

As tábuas do fundo, e as costanei-ras, tinham uma vida de cerca decinco anos sendo substituídasgeralmente, as cavernas comoeram em castanho duravam cercade dez anos, devido ao desgaste ecorrosão como já referido o tabua-do era todo cavilhado a madeira,os poucos pregos que leva sãofabricados pelo ferreiro, de gran-des espessuras e destinam-se aconsolidar o conjunto.

Estes barcos lembramos tinham umavida pouco longa, duravam emmédia de 10 a 15 anos.

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Fig.5

Legendas:

a: Capeados (espécie de alcatrate) assentos ou bordasb: Tábua do lémioc: Lados ou Costaneirasd: Cadilhas ou Cavernase: Lémiof: Tábua traseira ou ré.

Fig.6

Legendas:A: processo de ligação das tábuas do fundo às cavernas com cavilhas.B: ligação dos lados à proa, reparar no entalhe (Alefriz).C: colocação do fundo em tabuado liso, tábuas lado a lado.

a: Cavilhab: Cunhac: Cavernad: Tábua de fundoe: Cavilha e cunha montadas,f: Proag: Lados.

Nas figuras seguintes alguns pormenoresda construção:

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As remadouras eram montadas aoterço, e variavam de construçãopara construção, são apresentadosalgumas das utilizadas nos barcosdas diversas passagens na figura 7:

Nos barcos da passagem daAfurada, (figura da direita), a rema-doura ou chumaceira assenta direc-tamente no capeado ou alcatrate, ésuficientemente alta para que o furoque tem a meio. onde enfia o toletee gira o remo, suporte o tolete ouferro, sem que este salte, é de umbarco com construção mais robustacom as bordas ou costaneiras termi-nadas nos cabeços dos braços e atodo o comprimento uma tábua quefunciona como assento.

Na figura da esquerda a constru-ção é mais rudimentar e frágil, emvez de remadoura existe um tacofurado pregado lateralmente, afacetar a borda onde o tolete enfia,e mais duas tábuas pregadas comum entalhe, de modo a reforçar aborda e não deixar que o tolete se

escape, apoiadas numa espécie decunha, que fecha o entalhe e faz oapoio de baixo do tolete, a lembraruma castanhola como no Barco daFaneca, uma embarcação de mar.

Na embarcação Dourado actual àdata, as remadouras por baixo tam-bém levavam um taco lateral onde otolete apoia e remata. No barco deQuintão o que se encontrou deconstrução mais rudimentar e sim-ples a solução encontrada para acolocação das remadouras e aomesmo tempo dos toletes foi a apli-cação de um taco em madeira afacetar, e um ferro com uma unhafurada em L, que era pregada aotabuado do fundo, e fixada porbaixo do taco à costaneira por umaabraçadeira em ferro. Nunca sepodia portanto desmontar.

Os remos que se utilizavam eramde três tipos como apresentados nafigura 8 sempre construídos emmadeira de pinho. Em algumas pas-sagens quase não se utilizam, abarca é movida à vara, em algumasoutras a vara pura e simples nãoexiste, são os remos o meio de pro-pulsão, no entanto em todas as bar-cas de passageiros na ré existemuma tábua chamada de, tábua dolémio, e o lémio, este é uma peçaem madeira que se fixa pela basena ultima caverna, e tem por funçãoservir de eixo à vara quando ela éusada como leme sai acima datábua do lémio cerca de 20 a30cm.

Fig.7

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taram e existiram, está completamen-te diferente, não é mais um ponto dedesunião e dificuldade em se trans-por, das quatro pontes que existiamaté Braga: Fão, Barcelos, Prado, ePonte do Bico, todas centenárias, econsiderando também a ferroviária amontante de Barcelos, temos naactualidade mais cinco. Uma, a mon-tante da de Fão e a jusante da pas-sagem da Barca do Lago, outra ajusante da de Barcelos, e outra amontante, a da auto estrada A3,outra ainda a montante da de Prado,e outra a montante da Ponte do Bico.Todas construções modernas embetão fruto do progresso, da uniãoviária, das estradas que rasgam,quais rios negros de asfalto, as terrasoutrora cultivadas...

Glossário de termos:

Azenhas: Moinhos para moer cereais,milho e trigo movidos pela força daágua do rio que era represada por umdique e encanada até ás pás quefaziam mover a roda.Arqueação: Medida de tonelagemmáxima incluindo a carga de umaembarcação, expressas em TABTonelagem de Arqueação Bruta.Também expressa em toneladasMoorson.Alcatrate: Diz-se da tábua que remataa borda por cima, assente no topo dosbraços das balizas nas embarcaçõesconstruídas a partir da ossada.Alefriz: Diz-se do entalhe feito na rodade proa cadaste e quilha dos dois bor-dos de modo a encaixar e rematar nele

o tabuado, nas embarcações construí-das a partir da ossada. Nas barcas doCávado o entalhe que existe na proa fazde alefriz.Barca: Designação genérica dada ásembarcações à vela ou não, de peque-nas dimensões, usadas para o transpor-te de pessoas e bens nos cursos de águaou rios.Batel de Fão: Embarcação de rio emar de boca aberta de roda de proa epopa e fundo chato, menor que 5 mts,que navega com o apoio de remos evara, característico da povoação deFão. Também chamado de canote. Barco de fundo de prato: Embar-cação de duas proas e de fundo liso,semelhante ao batel ou canote de Fão,variando em alguns pormenores de cons-trução segundo a zona onde é construído.Braços: Diz-se das peças que dos doislados completam a caverna sendo a elaembaraçadas por uma escarva lavada.Boca: A largura máxima da embarca-ção. É medida a partir da caverna mes-tra,a mais larga.Bojo: Diz-se da parte arredondada docasco de uma embarcação. O bojo dofundo.Bordas: Os lados da embarcaçãocorridos de proa a popa, nas embarca-ções grandes são divididas em três par-tes : Amura, Través, e Alheta.Cadilha: O mesmo que caverna nasembarcações de rio em algumasregiões.Caverna armada: Diz-se da cavernaembaraçada isto é a ligação das duaspartes: a costela (parte do fundo) e osdois braços laterais. Também se chamabaliza ao conjunto.Caverna mestra: A primeira cavernaa ser montada, e que nos vai dar a lar-gura máxima da embarcação (a boca).Canote: O mesmo que batel de Fão.

Fig.8Alguns tipos de remos e respectivostacos onde passa o tolete.

a: Afuradab: Graçac: Quintão.

Fig. 9Exemplos de algunslémios que se encontra-ram:

a: Afuradab: Vilarc: Dourado (já extintoà data)

d: Graçae: Dourado actual em1965.

Notas finais

Não vamos falar das lendas e dasorigens dos lugares das passagens,perdem-se nas brumas dos tempos,e os que nos chegaram foram osescutados na tradição oral, que secontavam vezes sem conta, aoredor do calor da lareira nos longosserões do inverno. O autor, lembra-se de tantas vezes adormecer com opensamento cheio de histórias, ouvi-das noite dentro, às sextas feiras,noite de festa e de serão, noite emque se cosia o pão, a broa de milhoe o bolo de sardinha, em casa dosavós, mesmo frente à foz doCávado. Eram dessas histórias, con-tadas vezes sem conta pelas visa-vós, e avós, que recolhidas, noslevam na maioria à procura das pis-tas e das verdades.

Nos dias de hoje o rio Cávado, nofundo, o curso de água, á volta doqual todos estes barcos se movimen-

Page 12: IVONE BAPTISTA DE MAGALHÃES JOÃO BAPTISTAnas figuras 1 e 2. Levantamento da reprodução da barca de carga efectuado em Abril de 1964: Fig.1 As medidas aqui apresentadas são em

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Cadaste: Nome dado nas embarcaçõ-es construídas com quilha e ossada, àroda de popa que liga à quilha por umaescarva e fecha a ossada da embarca-ção pela ré .Caico: Pequena embarcações de duasproas filiados no modelo Poveiro, tripu-ladas por 2 a quatro pescadores, quepescavam até uma hora de terra, na bei-rada até as 30 braças.Capelo de proa: Diz-se da extensãoda roda de proa que fica acima do ale-friz ou do capeado nas barcas, servetambém para ai passar o cabo de ama-rrar a barca.Castanhola: Pequena peça em madei-ra fixa na 2ª draga onde assenta o tole-te no Barco da Faneca.Capeado: Nome dado às tábuas querematam por cima as bordas nas barcasde passagem do Cávado, uma espéciede alcatrate, funcionam também comobancos.Cavername: Nome dado ao conjunto debalizas (cavernas) de uma embarcação.Calafeto: Nome dado à substanciacom que se faz a vedação da embarca-ção, antigamente usava-se estopa,depois estopa alcatroada, nos dias dehoje utiliza-se fio de algodão torcido em2 ou 3 fiadas.Crenar: Nome dado ao acto de pintara embarcação com uma mistura de resi-na e óleo de peixe ou gordura animal, obreu. Nas barcas a crena era dada porfora e dentro todos os anos.Costaneiras: Nome dado aos ladosdas barcas. Bordas.Embaraçar: Nome dado à ligação dobraço com a costela, constituindo acaverna ou baliza.Escarva lavada: Técnica de ligaçãode duas peças de madeira que ficam noprolongamento uma da outra. Na escar-va lavada vertical das barcas, não exis-tem cortes feitos ao terço, os talões deligação que eram rematados junto àtábua de encosto por uma cavilha deágua de vedação. Temos também asescarvas à navio ou de ganzepe nasembarcações de construção mais elabo-rada e porte.Escaler: Nome dado às pequenasembarcações a remos semelhante aocaico, menores de 5 mts mas para otransporte de pessoas de bordo paraterra ou vice versa. Embarcação auxiliar.Fasquiar: Nome dado ao aparar damadeira. Também galivar.Gastalhos: Nome da peças em madei-ra de castanho que vão servir de base emolde do fundo da barca. Com a dis-posição dos gastalhos em numero de 3

ou mais e das tábuas que vão fazer ofundo pode efectuar-se o seu risco e tiraras medidas da caverna mestra, da proae da popa.Grafetar: O mesmo que calafetar,introdução do calafeto nas juntas exte-riores da embarcação de modo a vedarcom ferramentas próprias, os ferros decalafate e maços.Levadas: Represas de água nos rios eribeiros feitas pelo homem, de modo aaproveitar a força sua corrente paramover os moinhos e azenhas.Lemio: Peça em madeira que está fixa-da ao meio na popa das barcas, servepara ai fazer o ponto de apoio (eixo) davara para o deslocamento da barca.Local onde também se passa o cabo queamarra pela popa a barca a terra.Ossada: Diz-se do conjunto de caver-nas, quilha, roda de proa e cadaste deuma embarcação.Pesqueiras: Locais ou construções nosrios onde os pescadores ou lavradorescolocavam as redes e armadilhas paraapanhar o peixe, por vezes junto dascomportas das levadas nas azenhas.Pontal: Medida da altura da embarca-ção, é tirada a partir da caverna mestradesde a quilha até à altura da bordanas barcas, do vau ou das bancadasnas outras embarcações.Remo: Peça em madeira destinada aimprimir o movimento da embarcação, édividido em 3 partes a saber: Punho, azona onde se colocam as mãos, aHaste, a zona a meio onde existe o tacoa trama ou o cáguedo, por onde enfia otolete, e a Pá, a parte mais larga quemergulha na água.Risco: Nome dado ao traçado ou des-enho directamente nas tábuas que vãoser trabalhadas para a embarcação aconstruir.Roda de proa: Nome dado à peçaem madeira que se segue à quilha paravante, com forma geralmente curvilínea.Nas barcas não existe propriamenteuma roda de proa, mas uma trave direi-ta com inclinação para vante acavilha-da na tábua do meio do fundo, e comdois entalhes laterais (alefrizes) para aiencaixar as costaneiras de modo a faze-rem o fecho lateral e consolidar o con-junto.Remadoura: O mesmo que chumacei-ra, peça em madeira de carvalho oucastanho com um furo onde passa o tole-te e onde enfia o taco do remo. Assentasobre o alcatrate ou capeado, emboraem algumas barcas de construção maisrudimentar, pela ausência de capeadosa chumaceira é colocada lateralmente

Bibliografia:Adélio M. Macedo e José A.Figueiredo “As barcas de passagemdo Cávado a jusante de Prado” Museuregional de Cerâmica Barcelos 1966 M. Silva Valente. “Carpintaria eConstrução Naval de Madeira”(Apontamentos) Livraria AvelarMachado, 2ª edição 1948 ASPA - Associação para a defesa, estu-do e divulgação do património culturale natural. “Cávado alguns Olhares”Braga 1994 Ernesto V. de Oliveira, FernandoGalhano, Benjamim Pereira.“Actividades Agro-Marítimas emPortugal” Publicações D. Quixote 2ªedição 1990.José Felgueiras “A Pilotagem e os pilo-tos da barra de Esposende ”Boletimcultural de Esposende n.º 19 dezem-bro de 1997.Xosé Manuel V Rodriguez “Os bar-queiros na ribeira sacra” Lucensia,Miscelânea de Cultura e Investigacion,Biblioteca Seminário Diocesano n.º 15Lugo 1997.Arquivos dos autores, textos, fotos ediapositivos.

pregada à costaneira e a fixar o toleteem ferro que está fixo ao fundo (barcade Quintão).Tábua mestra: A tábua principal naausência da quilha geralmente de maiorespessura (caso dos Barcos do Lima), oua tábua que por cima das cavernas nolado interior serve para o barqueiro sedeslocar ao comprimento. Visível nasbarcas da Afurada da Graça e naDourado.Tábua do lémio: A tábua que faz oremate exterior da popa, onde por umfuro encaixa o lémio, ao mesmo temposerve esta tábua de reforço e consolida-ção ao fecho na popa, funcionandocomo que uma boçarda.Terço: Diz-se da medida de divisão emtrês partes iguais usada em construçãonaval. Testeira: Diz-se da parte da frente outraseira das barcas de construção rec-tangular, barcas de carga. São exem-plos a barca de carga da Barca do Lagoou a de Vilar.Tolete: A peça em ferro ou madeira degiesta ou eucalipto, que se usa paramontar o remo na remadoura e servir deeixo. Em algumas barcas era fixo, emoutras por se moverem só à vara nãoexiste.