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IZABELLA BARBARINI BAPTISTA A GEOPOLÍTICA PETROLEIRA DO MERCOSUL COM A ENTRADA DA VENEZUELA: CONTINUIDADE OU MUDANÇA? Monografia apresentada ao Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo. Área de concentração: Geopolítica Energética Orientador: Prof. Dra. Sonia Seger Mercedes São Paulo 2014

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IZABELLA BARBARINI BAPTISTA

A GEOPOLÍTICA PETROLEIRA DO MERCOSUL COM A ENTRADA DA

VENEZUELA: CONTINUIDADE OU MUDANÇA?

Monografia apresentada ao Instituto de

Energia e Ambiente da Universidade de

São Paulo.

Área de concentração:

Geopolítica Energética

Orientador:

Prof. Dra. Sonia Seger Mercedes

São Paulo

2014

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a quatro pessoas:

A minha mãe Vivian Barbarini por sempre acreditar em minha capacidade e me

brindar com todo seu amor, dedicação e carinho.

Aos meus avós Arthur Barbarini (in memoriam) e Vanny Barbarini pelo carinho,

preocupação e aprendizado, dando todas as bases materiais e espirituais para que

eu alcance, ao longo da minha vida, todos os meus objetivos.

Ao meu amor Mario Raffo por seu companheirismo e afeto incomensuráveis. Minha

eterna gratidão pelo apoio incondicional ao longo dessa árdua e gratificante

trajetória.

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AGRADECIMENTOS

Ao Profº Dr Edmilson Santos pela oportunidade.

A Profª Drª Sonia Seger Mercedes pela grande dedicação a este trabalho e sua

paciência e disposição de ensinar sempre. Levarei comigo seus exemplos de

humildade, responsabilidade e amor pela pesquisa. Minha eterna gratidão.

Aos meus colegas do PRH-04, em especial a Renata Rodrigues de Araújo pela

amizade, paciência, lealdade e solidariedade.

Aos meus irmãos Ana Clara e Neto Barbarini pela paciência e compreensão nos

momentos difíceis e por proporcionar-me momentos de descontração e alegria.

Ao Prof° Dr Rafael Antonio Duarte Villa do (DCP-USP) pelas contribuições

generosas a esse trabalho. Obrigada pela atenção e carinho.

A Profª Drª Patricia Matai (EP-USP) pelo auxilio de maneira tão solicita a este

trabalho.

Ao doutorando Rafael Magalhães (CAENI-USP) pela atenção, paciência e

generosidade. Suas contribuições foram de grande valia para a conclusão deste

trabalho.

Aos funcionários da Guarda Universitária da USP, em especial a Messias dos

Santos e Edmur Amaral pelos conselhos e solidariedade inestimáveis.

Aos funcionários da divisão de alimentação da COSEAS/SAS pela disposição diária

em servir-me com tanto carinho e amizade.

Aos meus amigos e familiares que de alguma forma me auxiliaram ao longo dessa

jornada. Estão todos sempre na minha lembrança e sintam-se partícipes da

realização desse trabalho.

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Por último agradeço ao apoio financeiro por meio do Programa de Recursos

Humanos da ANP para o Setor Petróleo e Gás – PRH-ANP/MCT da Agência

Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis–ANP, da Financiadora de

Estudos e Projetos–FINEP, do Ministério da Ciência e Tecnologia–MCT e da

Petrobras.

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(...) assim como os que desenham as paisagens se colocam embaixo, na planície,

para considerar a natureza dos montes e dos lugares elevados, e para considerar a

forma dos lugares baixos, colocam-se no alto, em cima dos montes, para conhecer

bem a natureza dos povos ,é preciso ser príncipe, e, para conhecer a natureza dos

príncipes, convém ser do povo.

(Nicolau Maquiavel)

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RESUMO/ABSTRACT

Essa pesquisa aborda o tema das relações internacionais, com ênfase na

geopolítica energética do petróleo no bloco do MERCOSUL (Mercado Comum do

Sul), analisando o contexto atual, a partir da entrada da Venezuela. Busca-se

averiguar possíveis mudanças no comércio de petróleo intrabloco. Fundamenta-se

na necessidade de evidenciar os rumos da integração do Mercosul, no aspecto

energético, para averiguar empiricamente a entrada desse novo ator e seus efeitos

dentro do processo político mais amplo no interior do bloco, indo além das hipóteses

e análises conjunturais acerca da adesão da Venezuela, muitas vezes pautadas por

diretrizes ideológico-políticas.

This research project approaches a theme of international relations by emphasizing

the energetic geopolitics of petroleum on MERCOSUL (South Common Market) and

also by analyzing it from the perspective of the joining of Venezuela in the

organization. In doing so, one analyzes the path of commercial deals and the

investments on the petroleum sector done by the MERCOSUL belonging countries

(Argentina, Brazil, Paraguay and Uruguay) and associate countries (Peru and

Ecuador), from 2000 until Venezuela joined the organization, in December 2009. At

the same time, one analyzes the situation of the petroleum sector in Venezuela (i.e.,

their commercial deals and investments), before Venezuela became associate

membership of the MERCOSUL. Based on such data, one searches to check

whether there have been changes on the petroleum geopolitics of the economic

group when the mentioned country joined it. The necessity to show the direction of

the integration of the MERCOSUL members in the field of energy and to look into

how modify or not the Venezuela joined in this group taking into consideration

ideological policies of the member nations

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i

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................... iii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................. iv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................... v

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

1.1. O objetivo e a estrutura do capitulo ......................................................... 1

1.2. Contexto, objetivos e justificativa. ............................................................ 1

1.3. Fundamentos teóricos ............................................................................. 9

1.3.1. O Globalismo, Neoliberalismo e Regionalismo ................................. 9

1.3.2. O Conceito de Geopolítica e o petróleo como recurso estratégico . 13

1.3.3. A Venezuela como “outsider” no MERCOSUL ............................... 19

2. A Venezuela a partir das transformações da Era Chávez e sua adesão ao

MERCOSUL .......................................................................................................... 24

2.1 O objetivo e a estrutura interna deste capítulo. ............................................ 24

2.2 A ascensão de Chávez no cenário político venezuelano. ............................ 24

2.3 A política de Chávez e a PDVSA. ................................................................ 27

2.4 O processo de adesão ao MERCOSUL. ...................................................... 31

3. O MERCOSUL e o FOCEM ............................................................................ 36

3.1. Objetivo do capitulo e sua estrutura ...................................................... 36

3.2. Breve Histórico da Integração Sul-Americana ....................................... 36

3.3. O Fundo para Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do

MERCOSUL (FOCEM) ....................................................................................... 40

3.3.1. Contexto de sua Formação ............................................................. 40

3.3.2. Motivação, Estrutura e Normativa de Funcionamento. ................... 44

3.3.2.1. Estrutura ...................................................................................... 45

3.3.2.2. Normativa de Funcionamento ...................................................... 50

4. Resultados ...................................................................................................... 59

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ii

4.1 O objetivo e a estrutura deste capítulo ..................................................... 59

4.2 A entrada da Venezuela no MERCOSUL e seu impacto no FOCEM: uma

análise de normativas ........................................................................................ 59

4.2.1. Metodologia ..................................................................................... 60

4.2.2. Coleta de dados .............................................................................. 61

4.2.3. Análise dos Dados .......................................................................... 61

4.2.4. Resultados ...................................................................................... 67

4.2.4.1. Resultados Relativos à Normativa. .............................................. 67

4.2.4.2. Resultados Relativos aos Projetos .............................................. 70

4.3 A entrada da Venezuela no MERCOSUL e seu impacto no comércio de

Petróleo: uma análise de dados ......................................................................... 76

4.3.1. Metodologia ..................................................................................... 77

4.3.2. Coleta de dados .............................................................................. 78

4.3.3. Análise dos Dados .......................................................................... 79

4.3.4. Resultados ...................................................................................... 80

5. Conclusões e Trabalhos Futuros .................................................................... 87

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 88

APENDICE A – ORGÃOS MERCOSUL ................................................................ 92

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iii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Relação Consumo/Produção 1970-2010 ................................................... 17

Figura 2- Estrutura dos Órgãos Executivos no MERCOSUL (2012, p 107)(34) ........ 46

Figura 3- Estrutura dos Órgãos Executivos do Mercosul (2012, pp.107-113)(34).... 47

Figura 4-Estrutura Institucional do FOCEM (2010, pp.7-14)(53) ............................... 50

Figura 5 - Porcentagem das Contribuições ao FOCEM(2005, p.3)(55) ..................... 54

Figura 6 - Distribuição dos Recursos do FOCEM(2005, p.3)(55) .............................. 56

Figura 7- Processo de Elaboração Orçamentária do FOCEM(2010, p.15)(53). ........ 57

Figura 8- Modelo de Decisão do Conselho de Mercado Comum .............................. 62

Figura 9- Categorias Selecionadas dos Projetos ...................................................... 64

Figura 10-Código do Banco de Dados "Normativa FOCEM" ..................................... 65

Figura 11- Código do Banco de Dados "Projetos Focem .......................................... 66

Figura 12- Distribuição das Normativas do FOCEM .................................................. 68

Figura 13- Distribuição dos Objetivos das Normativas do FOCEM ........................... 69

Figura 14- Gráfico Assunto Normativa X Ano de Aprovação..................................... 70

Figura 15- Distribuição de Projeto por Beneficiário ................................................... 71

Figura 16- Distribuição de Projetos por Área de Financiamento ............................... 72

Figura 17- Gráfico de da Distribuição dos Convenios dos Projetos .......................... 73

Figura 18- Gráfico da Distribuição dos Valores Totais dos Projetos ......................... 73

Figura 19- Gráfico dos Projetos ano país .................................................................. 74

Figura 20- Projetos da Área de Convergência Estrutural .......................................... 75

Figura 21- Projetos da Área de Desenvolvimento de Competitividade ..................... 75

Figura 22- Gráfico Transação Venezuela-MERCOSUL ............................................ 80

Figura 23- Produção Interna Venezuelana e Transação Venezuela-EUA ................ 81

Figura 24- Exportações MERCOSUL-EUA 2000-2007 ............................................. 82

Figura 25- Exportações MERCOSUL -EUA 2008-2012 ............................................ 82

Figura 26-Importações Mercosul- EUA 2000 a 2007 ................................................ 83

Figura 27- Importação MERCOSUL- EUA 2008-2012 .............................................. 84

Figura 28- Petróleo Venezuelano Refinado na Venezuela e nos EUA ...................... 84

Figura 29- Produção Interna da Argentina ................................................................ 85

Figura 30- Produção Interna do Brasil ....................................................................... 86

Figura 31- Produção Interna Peru ............................................................................. 86

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iv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição das Categorias de Normativa ............................................... 67

Tabela 2 - Objetivos Pretendidos pela Normativa do FOCEM .................................. 68

Tabela 3 - Projetos Divididos por Beneficiários ......................................................... 70

Tabela 4 - Programas do FOCEM ............................................................................. 71

Tabela 5 - Convênios de Financiamento dos Projetos .............................................. 72

Tabela 6 - Coleta de dados de Produção de Petróleo ............................................... 78

Tabela 7 - Tabela de Conversão do Óleo Cru ........................................................... 78

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v

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD Acción Democrática

ALADI Associação Latino Americana de Integração

ALBA Alternativa Bolivariana

ALCA Área de Livre Comércio das Américas

ANP Agência Nacional do Petróleo

CA-FOCEM. Conselho de Administração do FOCEM

CAN Comunidade Andina de Nações

CCMAS Comissão de Coordenação dos Ministros de Assuntos Sociais

CDS Conselho de Defesa Sul-Americano

CMC Conselho de Mercado Comum

COPEI Comité de Organización Política Electoral Independiente

COSIPLAN Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento

CRPM Comissão de Representantes Permanentes do MERCOSUL

CSAN Comunidade Sul-Americana de Nações

FOCEM Fundo de Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do MERCOSUL

GMC Grupo de Mercado Comum

IIRSA Infraestrutura Regional da América do Sul

ISM Instituto Social do MERCOSUL

MBR-200 Movimento Bolivariano Revolucionáio 200

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MVB Movimento V República

NAFR Nova Arquitetura Financeira Regional

NCM Nomenclatura Comum do Mercosul

OMC Organização Mundial do Comércio

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

PDVSA Petroleos de Venezuela Sociedad Anonima

PEB Política Externa Brasileira

PEV Política Externa da Venezuela

PICE Programa de Integração e Cooperação Econômica

SM Secretaria do MERCOSUL

SUNAT Superintendencia Nacional de Aduanas y de Administración Tributaria

TEC Tarifa Externa Comum

TLC Tratados de Livre Comércio

UNASUL União de Nações Sul-Americanas.

UTF Unidade Técnica do FOCEM

UTF-SM Unidade Técnica do FOCEM na Secretaria do MERCOSUL

UTNF Unidade Nacional Técnica do Focem

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vi

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1. O objetivo e a estrutura do capitulo

Este capítulo expõe na sua primeira parte o contexto, os objetivos e a

justificativa para o desenvolvimento dessa monografia. Na segunda parte, enfatiza-

se uma abordagem teórica que reflita a gama de conceitos e atores envolvidos na

questão analisada. Busca-se discutir os conceitos de globalização, geopolítica, a

presença de um recurso estratégico e por fim, o papel politico de um ator

considerado como outsider e um possível agente de mudanças. Dessa maneira,

constrói-se um instrumental analítico focado na percepção de aspectos políticos que

venham a compor a geopolítica do petróleo no MERCOSUL.

1.2. Contexto, objetivos e justificativa.

De acordo com o cientista político Igor Fuser (2013, p.87)(1):

“o petróleo se insere no cenário internacional segundo duas lógicas simultâneas: a econômica e a estratégica. A primeira vincula-se a sua condição de matéria-prima, gerando recursos bilionários para o mercado de capitais, (...) A segunda é que o petróleo é um recurso raro não renovável, distribuído desigualmente pelo planeta “essencial para a sobrevivência, segurança e bem – estar de todos os Estados”.

Nesse sentido, o petróleo tem duas características principais uma econômica,

pois para que haja sua exploração é necessário um grande volume de

investimentos, por parte da indústria petroleira, onde numa visão econômico-

financeira se visa o lucro. A segunda lógica vincula-se a visão estratégica, pois,

desde o século XX, o petróleo passa ser um insumo fundamental ao

desenvolvimento econômico: Portanto, não é uma mercadoria simples, restrita

somente ao âmbito econômico, possui também dimensões políticas e sociais.

O objetivo principal deste trabalho é analisar a geopolítica do petróleo no

MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), em seu aspecto político-econômico, e as

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2

possíveis implicações, da entrada da Venezuela. Para tanto, serão analisados

elementos do contexto anterior e posterior a esta entrada, a politica energética da

Venezuela, antes de sua entrada no bloco e as motivações que determinaram sua

adesão e sua atuação no âmbito das relações Sul-Sul.

Este trabalho se justifica por sua característica de análise empírica, que lhe

confere um grau de ineditismo ao examinar a geopolítica do MERCOSUL com a

entrada da Venezuela. Este ineditismo consiste em averiguar a entrada desse novo

ator e seus efeitos dentro do processo político mais amplo no interior do bloco a

partir de dados de caráter quantitativo, embora não prescinda dos elementos

qualitativos, indo além das hipóteses e análises conjunturais acerca da adesão da

Venezuela.

O método utilizado nessa pesquisa é o indutivo. Esse método parte do

particular e postula generalizações. Nesse sentido, a generalização deve ser

constatada a partir da observação de dados concretos, suficientemente confirmados

dessa realidade. A fundamentação está exclusivamente na experiência e não em

objetivos pré-estabelecidos. Somente após a observação é possível estabelecer

comparações e relações entre os fatos observados (1999, pp. 28-29)(2). Essa

metodologia adota a observação, como procedimento indispensável, para atingir o

conhecimento científico.

Existem várias formas de compreensão geopolítica do petróleo. Esta pesquisa

emprega o conceito de geopolítica inserido no processo de globalização. Segundo

Otavio Ianni (2002, p. 19)(3), o processo de globalização é definido como “fábrica

global”:

“A fábrica global instala-se além de toda e qualquer fronteira, articulando capital, tecnologia, força de trabalho, divisão do trabalho social e outras forças produtivas. Acompanhada pela publicidade, a mídia impressa e eletrônica, a indústria cultural, misturadas em jornais, revistas, livros, programas de rádio, emissões de televisão, videoclipes, fax, redes de computadores e outros meios de comunicação, informação e fabulação, dissolve fronteiras, agiliza os mercados, generaliza o consumismo. Provoca a desterritorialização e reterritorialização das coisas, gentes e ideias. Promove o redimensionamento de espaços e tempos.”

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3

Esse processo também provoca, segundo o autor, a reestruturação do

Estado- Nação (1998, p.30)(4):

“O Estado é reorganizado e dinamizado de conformidade com as injunções e as possibilidades da dinâmica dos processos de concentração e centralização, compreendendo o desenvolvimento desigual, contraditório e combinado, operando em escala mundial.”

No entanto, é importante destacar que o Estado não perde sua linha de ação.

Sua atuação passa a ocorrer de um modo mais restrito com orientações cívicas,

governamentais e geopolíticas. Nesse sentido, para compreender o processo de

relações sociais, mais amplo, é necessário um novo conceito de federalismo. Para

Ianni esse conceito, no marco global, seria definido por “federalismo mundial” e teria

como desdobramentos (2004, p.65)(5):

“(...) está em marcha o que se pode definir como federalismo regional”, pois são múltiplas “[...] as organizações multilaterais regionais, por meio das quais se desenvolvem a formação e o desenvolvimento de fins e meios formulados de maneira a atender à dinâmica econômica de países associados”

Nesse cenário instável, em uma ordem de grandes blocos, multipolar, os

países em desenvolvimento, como os da América do Sul1, tendem a se unir para

ganhar maior relevância internacional e conseguir, assim, defender seus interesses,

buscando seu desenvolvimento econômico, a preservação da autonomia política e

da identidade cultural, enquanto, os países do centro tendem a restringir sua

participação efetiva na condução dos destinos econômicos e políticos desses blocos

(2008, p.171)(6). A integração se apresenta como uma estratégia para enfrentar os

impactos gerados pelo processo de globalização, ou seja, uma alternativa para

adequação dos países ao fenômeno. No Cone Sul, devido à influência do paradigma

econômico-politico neoliberal, a integração era indicada como a saída mais provável

para questões de interdependência econômica, criadas pelos seus governos durante

a década de 1980. A reinserção desses países no cenário internacional foi, assim,

marcada por tipos distintos de regionalismo, vistos como uma maneira de solucionar

1 Nesse trabalho, entende-se por América do Sul os países que adotaram o regionalismo, ou seja,

voltados para formas mais profundas de integração como mercados comuns e uniões aduaneiras. São os países pertencentes à Comunidade Andina de Nações (CAN) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), sendo membros plenos ou associados. O único território sul-americano que não pertence a nenhum desses blocos é a Guiana Francesa. (departamento ultramar da França).

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4

a tensão globalização versus integridade econômica e política dos Estados

Nacionais (1997, pp. 254-255)(7).

O MERCOSUL surgiu em um contexto especifico, em plena ressurgência

liberal, com o objetivo enunciado de inserção no comércio internacional globalizado.

Nesse contexto, era necessário rever os projetos nacionais de desenvolvimento

apoiados na industrialização dita protecionista. Para tanto, a América do Sul adotou

o paradigma do regionalismo aberto. Propunha-se, nesse modelo de integração, a

eliminação de tarifas no comércio de bens e também se integravam à agenda temas

como o comércio de serviços e investimentos. A ambição maior era a constituição do

Mercado Comum (2007, p.11)(8).

Após as sucessivas crises geradas pelo livre-cambismo, houve uma alteração

importante no cenário da América do Sul. Tal conjuntura provocou a revisão das

politicas neoliberais, que geraram pouco crescimento econômico, mas também

atingiu o processo de integração, que passou a enfatizar a promoção ampla do

desenvolvimento e a busca de mecanismos mais abrangentes de concertação entre

os Estados (2011, p.189)(9).

A partir dessa mudança de paradigma no MERCOSUL, a integração passou a

ser defendida como a inserção autônoma e soberana dos Estados sul-americanos,

através de cooperação. O resultado final da integração seria o fortalecimento de

todos, ou seja, todos os Estados nacionais e soberanos ganhariam com a nova

construção do Megaestado da América do Sul (2006, p.218)(10).

Este conceito de geopolítica, defendido por Darc Costa e adotado por este

trabalho, relaciona-se com a ideia de globalização, já que o Estado Nacional

ultrapassa suas fronteiras. Assim, excedendo os limites geográficos, converte-se

numa instituição acima das nações que é o Megaestado. Outros elementos,

importante nesse conceito, é o de que o desenvolvimento social e econômico de um

conjunto de povos pode se dar por meio do aproveitamento racional e coordenado

de seus recursos. No marco do Megaestado, as forças são canalizadas por meio do

poder aglutinador do Estado Nacional, tendo como fundamento para as ações no

plano regional: o planejamento estratégico. O caráter do Megaestado é transformar o

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5

potencial determinado pelos recursos existentes em “poder”, no sentido de realizar o

objetivo de desenvolvimento social e econômico. Visa-se aproveitar os recursos

regionais por meio de um processo de cooperação, em função do desenvolvimento a

partir da expansão da infraestrutura, sobretudo: transporte e energia. O autor

argumenta:

Buscar a cooperação em qualquer um dos seus três sucessivos graus com outros Estados: o primeiro, a cooperação propriamente dita, no sentido de aproveitar-se das trocas econômicas e de outras naturezas o segundo, a

associação, com outros Estados decorrentes desta postura; onde além de

aproveitar-se do sistema de trocas buscariam adotar o terceiro, políticas comuns entre si e inacessíveis a outros Estados; ao se unir a uma federação, indo além da associação, caso em que formalmente deixaria de ser o Estado, como conhecemos, pois passaria a reconhecer uma autoridade mais alta, a que se nomeia como Megaestado. (...) Em tempo de regionalização, como demonstrado pela recém-criada União Europeia, surge uma nova figura que se coloca acima do Estado Nacional, o Megaestado, que não o dispensa, mas que obriga a sua concepção estratégica a se voltar para a solução federativa de forma a garantir sua própria sobrevivência. Esta será a linha que mais adiante seguiremos ao propormos a cooperação sul-americana (1999 p.7)(11).

Logo, o pensamento geopolítico atual tem como um dos seus pilares a

existência de importantes recursos estratégicos. O mesmo vale ao analisar o caso

específico da América do Sul.

Nesse sentido, o petróleo passa a ser de grande importância para a

integração energética. Através dele pode-se alcançar uma posição estratégica em

relação a outros Estados e também uma renda econômica capaz de inserir o país

nos mercados internacionais, gerando volumosos recursos.

Segundo Homer-Dixon (1994, p.5)(12) a liberalização econômica em escala

mundial tende a insuflar a competição por recursos, uma vez que os Estados

Nacionais perdem o controle sobre as atividades econômicas em seus territórios.

Outro teórico desse conflito por recursos é Klare (2000, p. 34)(13). Esse autor

acredita que o conflito pelos recursos não renováveis aumentará, chegando a um

conflito bélico, quanto maior for seu consumo:

“o consumo de certos recursos está se expandindo mais depressa do que a capacidade da terra em fornecê-los”, o que deverá elevar seus preços a patamares inatingíveis por grande parte da humanidade e, em alguns casos, provocar discórdia entre os Estados interessados em garantir o seu acesso

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a custos aceitáveis. “Quanto mais intensa a pressão sobre a base dos recursos mundiais existentes, maior o risco de um grande trauma”.

No entanto, as condições para esse conflito estão subordinadas a, pelo

menos, quatro condições de acordo com Ehrlich, Gleick, & Conca (2001, p.116)(14):

1) O grau de escassez (os recursos se distribuem pelo mundo de uma

forma desigual e fatores humanos como a densidade populacional

ou o desenvolvimento industrial intenso podem criar situações de

escassez “relativa”).

2) A medida na qual o suprimento é compartilhado por dois ou mais

grupos (quando a base de recursos se estende sobre uma fronteira

entre dois países, a discórdia sobre a localização ou o uso dos

recursos é mais provável).

3) O poder relativo desses grupos (se há grandes disparidades de força

econômica ou militar entre as partes envolvidas, as atitudes

unilaterais são mais prováveis).

4) A facilidade de acesso a fontes alternativas (como os conflitos

trazem altos custos econômicos, sociais e políticos, há maiores

chances de evita-los caso se encontrem substitutos aceitáveis para

os recursos em disputa).

A América Latina integra a geopolítica mundial do petróleo, com maior

intensidade após a década de 1970, quando a exploração petrolífera foi ampliada

em países como Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Guatemala, Trinidad e Tobago,

Equador, Peru e Venezuela. A partir desse período, 40% da Energia importada pelos

EUA vinham da América Latina (2005, pp. 121e 122)(15):

Nesse novo contexto, apresenta-se, segundo Peters (2004, p. 190)(16), um novo conflito por recursos não renováveis numa dimensão Norte-Sul, e quase 90% das reservas comprovadas do planeta situam-se em países do “Terceiro Mundo”, parte significativa delas no Hemisfério Sul. Além disso, segundo Klare (2004, p.31)(17), boa parte desses produtores emergentes guardava um passado colonial e abrigava profunda hostilidade em relação às potencias imperiais da Europa: “Os EUA são vistos em muitos desses países como herdeiro moderno dessa tradição imperial (...) o petróleo é encarnado como o principal motivo para o envolvimento norte americano nessas áreas (...)”

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Assim, o petróleo devido ao seu grande consumo no século XX, passa a gerar

disputas e conflitos na arena internacional, que lhe conferem um caráter estratégico.

Esses conceitos e interpretações integram o constructo teórico a partir do qual

será investigada a hipótese fundamental deste trabalho: a entrada da Venezuela

exerceu e ainda exerce influência na geopolítica petroleira do MERCOSUL, isto é, o

país andino não pertencente ao bloco sul-americano – um outsider - passa a sê-lo

na condição de um agente capaz de alterar a geopolítica petroleira do bloco. Essa

hipótese assenta-se em três elementos:

Em primeiro lugar, a conjuntura interna vivida pela Venezuela, desde a

ascensão ao poder de Hugo Chávez. Nesse novo contexto, percebe-se

a ruptura com as políticas neoliberais da década de 1990, de maneira

geral, provocando mudanças internas no cenário político e econômico

do país. Retorna-se ao paradigma do Estado como agente promotor do

desenvolvimento econômico (2013, p.11)(18).

Em segundo lugar, a política externa venezuelana, do período chavista,

tem uma postura multilateralista. Busca-se o fortalecimento da OPEP,

através de encontros do presidente Chávez com os principais líderes

da organização. Ao mesmo tempo, há uma aproximação com os países

do MERCOSUL, principalmente após 2002, quando a Venezuela

apoiou a negativa dos países sul-americanos, aos termos de

proposição da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) pelos

EUA (2004, p.112)(19).

E, por fim, o caráter ideológico que passa a compor a política interna e

externa venezuelana, após o golpe de Estado sofrido por Chávez em

2002. Tal fato marcou o início de uma politica de confrontação com os

EUA, já que o governo chavista afirmava que houve financiamento

estadunidense de grupos opositores ao governo (2004, p.110)(19). O

discurso antiamericano veio acompanhado, internamente, de forte

posição nacionalista em relação aos recursos petrolíferos do país.

Foram aprovadas novas leis em relação ao setor petrolífero e o

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governo resistiu à greve da burocracia petroleira, ligada às antigas

elites políticas do país (2006, p.225)(20).

O petróleo ocupa lugar de grande relevância na trajetória social, política e

econômica da Venezuela. Ele aparece como figura central no devir histórico do país,

desde a década de 1920 (2006, p.211)(20). Assim, além do componente político do

recurso petrolífero, por ser estratégico, soma-se a conjuntura venezuelana da “Era

Chávez” com seus desdobramentos, já mencionados. A união desses dois

componentes torna tangível a hipótese de um forte componente político dentro da

geopolítica do MERCOSUL, com a entrada do país andino. A influência desse

componente no comércio de petróleo do bloco é a grande questão que esse trabalho

busca responder.

Discute-se, assim, a possibilidade do país andino alterar as relações

comerciais, ligadas ao petróleo, dos países do bloco com os EUA. Além disso,

discute-se se, com sua vinculação ao MERCOSUL, poderá ocorrer maior

comercialização do recurso intrabloco, visando o combate às assimetrias

energéticas entre os países. Por fim, busca-se investigar se houve um aumento na

comercialização e refino do petróleo venezuelano nos EUA.

Essa pesquisa foi estruturada em cinco etapas. A primeira enfatiza uma

abordagem teórica e a construção de um instrumental analítico que reflita a gama de

conceitos e atores envolvidos na questão analisada. Discutem-se os conceitos de

globalização, geopolítica, a presença de um recurso estratégico e por fim, o papel

politico de um ator considerado como outsider, como um possível agente de

mudanças no MERCOSUL.

A segunda parte estuda a reconfiguração da Venezuela na “Era Chávez”,

visando explicar os aspectos internos e externos que conduziram à entrada da

Venezuela no MERCOSUL. Entre esses consta: as condições internas do país que

levaram à emergência de Chávez, a política externa e interna do chavismo em

relação ao setor petrolífero do país – a PDVSA, e por fim, o processo que culminou

com a adesão da Venezuela ao MERCOSUL.

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A terceira visa expor a trajetória de desenvolvimento da integração sul-

americana, em especial do MERCOSUL. Nesse sentido, explora-se desde uma

mudança do caráter da integração, à relevância do setor energético nos países do

bloco, estudados na pesquisa 2 . Por fim, a preocupação com o combate às

assimetrias e a possível contribuição venezuelana.

A quarta parte enfoca o estudo de caso que suscitou os estudos teóricos

precedentes: a análise do comércio de petróleo no MERCOSUL. O modelo

construído visa entender, através da coleta de dados da produção petrolífera, se

houve alterações, no período posterior à entrada da Venezuela: 1) nas relações

comerciais, ligadas ao petróleo, dos países do bloco com os EUA; 2) no aumento do

volume no comércio intrabloco, e por fim, 3) na comercialização e refino do petróleo

venezuelano nos EUA.

A quinta parte apresenta as conclusões desse estudo e as propostas para

trabalhos futuros, em relação ao tema proposto.

1.3. Fundamentos teóricos

Nesse item apresentam-se os conceitos teóricos dessa pesquisa. São

apresentados os conceitos de globalismo, neoliberalismo e regionalismo; de

geopolítica, e a discussão do petróleo como recurso estratégico. Por fim, o papel da

Venezuela na geopolítica do MERCOSUL, entendida como um outsider.

1.3.1. O Globalismo, Neoliberalismo e Regionalismo

O conceito de “Globalismo” de Octavio Ianni encaixa-se perfeitamente no

marco teórico, desde trabalho, já que compreende os significados, as correlações e

a forma da sociedade global. O autor não utiliza o termo globalização, porque essa

definição está restrita a economia dos anos 1990 e sintetizaria múltiplos processos 2 Para essa pesquisa são estudados países do MERCOSUL com expressiva produção petrolífera.

Como países membros foram selecionados Argentina e Brasil e como membro associado o Peru. O caso peruano foi selecionado por possuir tradição no setor petroleiro, e também porque sua integração com o MERCOSUL está bastante avançada.

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sociais econômicos e culturais (2005, p.23)(21). Tais processos são produto e

condição de uma ruptura histórica, ou seja, os desdobramentos do mundo

bipolarizado, no final do século XX (2004, p.185)(22).

A nova realidade social, politica, econômica e cultural está articulada em um

âmbito propriamente global a despeito de suas conotações nacionais e regionais.

Além de desenvolver e mundializar as forças produtivas e as relações de produção,

desenvolvem-se e mundializam-se instituições, padrões e valores socioculturais,

formas de pensar, agir, sentir e imaginar. Essa configuração transnacional, nem

sempre anula o que preexiste, mas em geral modifica as condições e as

possibilidades de espaço e tempo que haviam se codificado com base no parâmetro

geistórico e mental representado pelo nacionalismo (2004, pp.187 e 188)(22). Logo,

a definição de globalismo, segundo Octavio Ianni (2004, p183)(22):

“O globalismo pode ser visto como uma configuração histórico-social no âmbito da qual se movem os indivíduos e as coletividades, as nações e as nacionalidades, compreendendo grupos sociais, classes sociais, povos, tribos, clãs e etnias, com suas formas sociais de vida e trabalho, com as suas instituições seus padrões e seus valores, Juntamente com as peculiaridades de cada coletividade nação e nacionalidade com as suas tradições ou identidades, manifestam-se as configurações e os movimentos do globalismo”

Temos uma configuração social histórica abrangente, onde o jogo das forças

sociais, as controvérsias políticas, as opções econômicas e os movimentos da

história estão lançados em âmbito global. Essa realidade mais ampla, também é

constituída pelas diversidades dos regimes políticos, das tradições culturais e até

mesmo das inclinações de amplos setores culturais de cada nação (2012, p.6)(23).

As características: dessa sociedade são:

1. Uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo, com o

desenvolvimento de padrões de racionalidade, produtividade,

competitividade e lucratividade. Esse sistema econômico ultrapassa

todas as fronteiras, todas as formas de organização social emergindo

novas técnicas de produção e reprodução ampliada do capital,

ocorrendo sua concentração e centralização na articulação empresa-

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mercado. A fábrica global instala-se além de toda e qualquer fronteira

articulando capital, tecnologia e força de trabalho (2004, p.19)(24).

2. Ocorre a desterritorialização, ou seja, as relações, processos e

estruturas de dominação, apropriação e antagonismo frequentemente

dissolvem as fronteiras de mando e referência. Sobrevém o declínio do

Estado-Nação e a dispersão dos centros decisórios por diferentes

lugares, empresas, corporações, conglomerados, organizações e

agências transnacionais. Desenvolvem-se estruturas de poder

econômico, politico, social e cultural internacionais, mundiais ou globais

sem qualquer localização, neste ou naquele lugar, região ou nação.

Parecem flutuar por sobre os Estados, as fronteiras, as moedas,

grupos, classes e movimentos sociais e partidos políticos (2005,

p.95)(21).

3. A homogeneização dessa sociedade não é completa, embora sempre

estejam presentes forças empenhadas em tal fim, ou que tentam

equalizar interesses, acomodar alianças, criar ou reforçar estruturas de

apropriação econômica e politica. Essas mesmas forças que geram

acomodação também geram contradições, ou seja, algumas forças,

nesse processo mais amplo, divergem e tencionam outras convergem

e aliam-se. Através dos centros de poder globais florescem modelos

políticos e econômicos de organização das sociedades nacionais.

Ainda que essas diretrizes tenham marcos nacionais são também

mundiais organizam-se internacionalmente, buscando acomodar as

forças sociais internas dos países (2005, p.129)(21).

4. No aspecto cultural, o globalismo caracteriza-se pela presença da

publicidade, da mídia impressa, da eletrônica e pela indústria cultural

mostrada em jornais, revistas e programas de televisão e na internet.

Esses meios de comunicação vendem e empacotam as informações

agilizadas pela eletrônica. Produziu-se e universalizou-se uma cultura

internacional popular que envolveu o processo de homogeneização e

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pluralidade através da redefinição de valores que incorporarão essa

cultura global (2004, p. 19)(24).

Nesse contexto, emerge a necessidade de “Reforma do Estado”. Esse

processo mais amplo, provoca rearranjos modificando as relações do Estado com a

sociedade nacional de modo a agilizar e generalizar as condições próprias do

desenvolvimento da produção, distribuição, troca e consumo (2012, p.6)(23). Os

centros globais de poder econômico, sob a tutela dos EUA (o Banco Mundial, o

Fundo Monetário Internacional) passaram a recomendar a proposta “Neoliberal” para

a economia como condição para conceder cooperação financeira externa, bilateral

ou multilateral aos países em desenvolvimento, principalmente na América Latina.

Essa região atravessava, durante a década de 1980, grave crise econômica

provocada pela necessidade de pagar suas dividas externas aos países

desenvolvidos, agora representados pelas agências internacionais de crédito (2012,

p.375)(25).

Os países periféricos, através de seus Estados, passaram a adotar as

medidas econômicas neoliberais ditadas pelos países centrais, com o pretexto de

encaixar-se no novo contexto da economia. Segundo Octavio Ianni esse modelo

define-se (1998, p.28)(4):

“O neoliberalismo compreende a liberação crescente e generalizada das atividades econômicas, englobando produção, distribuição, troca e consumo. Funda-se no reconhecimento da primazia das liberdades relativas às atividades econômicas como pré-requisito e fundamento da organização e funcionamento das mais diversas formas de sociabilidade, compreendendo não só as empresas, corporações e conglomerados, mas também as mais diferentes instituições sociais (...). Realizam-se a desregulamentação das atividades econômicas pelo Estado a privatização das empresas produtivas estatais, a privatização das organizações e instituições governamentais relativas à habitação, aos transportes, à educação, à saúde à previdência. O poder estatal é liberado de todo e qualquer empreendimento econômico ou social que possa interessar ao capital privado nacional e transnacional. (...) Tudo isto baseado no suposto de que a gestão pública ou estatal de atividades direta e indiretamente econômicas é pouco eficaz, ou simplesmente ineficaz. O que está em causa é a busca de maior e crescente produtividade, competitividade e lucratividade, tendo em conta mercados nacionais, regionais e mundiais”.

A doutrina neoliberal impõe as diretrizes da globalização do capitalismo de

forma a ampliar os espaços e as fronteiras da reprodução ampliada do capital. Ao

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mesmo tempo, essas mudanças na estrutura e na ação do Estado implicam

rearranjos às vezes profundos entre o Estado e a sociedade civil (2012, p.6)(23).

O regionalismo emergiu dentro desse processo de modernização e

racionalização do sistema capitalista, de reforma do Estado Nacional com a

privatização, desregulação e abertura dos mercados. Segundo Ianni esse processo

“situa-se precisamente no contraponto entre nacionalismo e globalismo” (2012,

p.6)(23).

Os Estados Nacionais passam a inserir-se em um todo mais amplo que os

integra para ampliar e dinamizar os mercados nacionais A regionalização lhes

introduz dentro das geoeconomias e geopolíticas das transnacionais, de forma

independente ou em conjunto às nações mais poderosas, concretizando processos e

estruturas que os sobrepõe. No entanto, esses entes políticos das nações são

agentes ativos da regionalização, mobilizando agências e organizações nacionais

nesse processo (2012, p.7)(23).

Em síntese, a abordagem de Octavio Ianni relaciona os processos e as

estruturas que foram condição e produto das transformações econômicas, politicas e

culturais ocorridas no final do século XX. Nesse cenário estão os marcos teóricos e

propriamente o objeto dessa pesquisa.

1.3.2. O Conceito de Geopolítica e o petróleo como recurso estratégico

O surgimento da Geopolítica como Ciência, em meados do século XIX, está

vinculado à conjuntura histórica da emergência de potências mundiais. O termo

“Geopolítica” aparece com Mackinder (1904)(26), no século XX, sua reflexão era

uma tentativa permanente de aliar a análise política do equilíbrio de poder no quadro

internacional com os elementos empíricos formados pela geografia.

Esse conceito de “geopolítica clássica” pode ser definido de acordo com

Costa (1992, p.55) (27):

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“A “Geopolítica” é antes de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da “Geografia Política”, na medida em que se apropriam em parte seus postulados gerais, para aplicá-los na análise das situações concretas interessando ao jogo de forças externas, projetando no espaço”.

Neste trabalho abandona-se o conceito clássico de “Geopolítica”, que enxerga

a integração dos Estados Nacionais como um jogo de soma zero, onde uns tem que

perder para outros ganharem. Nesse sentido, adota-se o conceito de Estado

Nacional entendido por Darc Costa (2011, p.14) (11) como “aquele em que a sua

vontade é coincidente com a dos seus cidadãos e que tem como contraponto o

antigo Estado Nacional, em que a vontade resultava exclusivamente da sua casa

reinante ou da elite dirigente”. Esse conceito passa a ser extrapolado, atualmente,

para uma realidade que pode transcender às fronteiras de um país determinado.

Assim, excedendo os limites geográficos converte-se numa instituição acima das

nações que Darc Costa denomina Megaestado.

O discurso da globalização, segundo o autor, é uma forma de dominação. As

suas principais bases – a informação, a cultura, o desenvolvimento, a tecnologia e

as ciências- são formas de dominação e estão sob o controle dos países

desenvolvidos que exercem rigorosa fiscalização de sua disseminação. O processo

de mundialização não alterou as relações entre centro e periferia. Na periferia

domina o discurso de superação de seus problemas sociais através da sociedade

industrial e pela ação do Estado, a quem cabe prover a sociedade de vontade

nacional e de uma concepção estratégica (2004, p.21)(28). O centro exerce práticas

protecionistas, mas proclama a liberdade econômica sem intervenção do Estado.

Na conjuntura atual existe uma polarização econômica transfigurada de

regionalização Para Costa, o centro exige que os países perlíferos se unam em

mercados maiores, em Megaestados ou estariam fadados a tornarem-se ou

continuarem periféricos. O Brasil poderia criar, segundo essa teoria, um espaço

próprio de acumulação capitalista, a partir de estudos geopolíticos e de uma agenda

de percepção estratégica, defendendo um projeto regional de integração para

América do Sul. Esse continente dispõe de elevado grau de suficiência em recursos

naturais e de complementariedade econômica. A sinergia decorrente do processo

de integração sul-americana poderia acrescentar aos Estados Nacionais

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participantes parcelas expressivas de poder e bem-estar para as sociedades

envolvidas (2004, p.22)(28).

Nessa visão de integração há maior importância do Estado no planejamento,

gerenciamento, na definição e na articulação política, na formulação de estratégias e

na condução dos projetos a serem implementados com o necessário respaldo

técnico, cientifico e vontade política. O Estado teria como função superar as óbices e

implementar a cooperação integralmente permitindo uma inserção equilibrada no

sistema internacional (2004, p.23)(28).

A adoção de politicas comuns pelos Estados sul-americanos levaria a união

em uma federação e a constituição do Megaestado da América do Sul, sob a

liderança do Brasil por suas características – maritimidade, continentalidade,

potencial geográfico, geopolítico e seu dinamismo econômico - que adotaria como

concepção estratégica a cooperação sul-americana (2004, p.24)(28).

Em síntese, a visão geopolítica de Darc Costa parte da construção do

Megaestado da América do Sul de modo a promover uma inserção internacional

mais justa e equilibrada, eliminando outros projetos de integração impostos pela

potência hegemônica (1999, p.18 e 19)(11):

“(...) ao se unir a uma federação, indo além da associação, caso que formalmente deixaria de ser o Estado, como conhecemos, pois passaria a reconhecer uma autoridade mais alta o Megaestado, que obriga a sua concepção estratégica a se voltar para a solução federativa de forma a garantir sua sobrevivência (...)”.

Na geopolítica atual, para os países em desenvolvimento, predomina uma

ideia regionalista, principalmente como estratégia de inserção internacional e maior

poder de influência. Além disso, a disputa pelo poder entre os países passou da

esfera econômico–militar para energética, por isso a ênfase no aproveitamento

desses recursos pela América do Sul como geração de maior desenvolvimento

econômico interno e maior influência política na ordem internacional.

Segundo Michael Klare, com a atual dinâmica econômica, os recursos

energéticos são fator determinante na nova ordem mundial. O autor considera que o

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mundo enfrenta uma ameaça real o “energo-fascismo”, ou seja, a militarização da

luta mundial pelos sempre minguantes suprimentos energéticos. Temos a crescente

participação do Estado na obtenção, transporte e na certificação da posse de

reservas de energia, ao mesmo tempo, com maior emprego da força contra os que

resistem a atender as prioridades dessas tarefas (2006, p.30)(29).

Os Estados predominantes, como no fascismo, assumiram o controle cada

vez maior sobre os aspectos da vida pública e privada em defesa de um “dito”

interesse nacional essencial: a aquisição de energia suficiente para manter suas

economias e serviços públicos funcionando, incluindo o exército. A origem dessa

nova ordem mundial estaria em dois aspectos: 1) um choque eminente entre a

demanda e a oferta de recursos energéticos, e 2) a histórica migração do centro de

gravidade, na produção da energia planetária do norte para o sul (2006, p.34)(29).

Na atualidade presenciamos a adoção de uma politica nacional

“econocêntrica”, principalmente dos EUA, vinculada a objetivos econômicos, com a

valorização da busca e proteção das matérias-primas (2008, p.116)(30). O petróleo é

indispensável nas sociedades modernas, desde a segunda Revolução Industrial, já

que esse recurso é a base de produtos da indústria química, como combustíveis e

materiais sintéticos largamente utilizados. Enquanto haja crescimento econômico

haverá maior dependência do petróleo (2009, p.63)(31). Em contrapartida, a

indústria petrolífera apesar de seus avanços, não consegue satisfazer a demanda

por esse recurso, como mostrado na Figura 1.

Nesse cenário, ressurge a ideologia geopolítica da superpotência, defendida

pelos EUA, visando assegurar seu domínio sobre as áreas mais ricas em recursos,

já que essas são entendidas como fonte de poder e riqueza. O país explicita

abertamente seu interesse em lutar para manter seu poder, frente às outras grandes

superpotências (Rússia, China, União Europeia, Japão e Índia) (2003, p.111)(33).

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Figura 1- Relação Consumo/Produção 1970-20103

Essa teoria está presente no documento chamado Estratégia de Segurança

Nacional dos Estados Unidos, publicado em 2002. Segundo Klare, esse documento

estabelece os objetivos para evitar a aparição de outra grande superpotência, pela

ação dos EUA que poderá utilizar de todos os meios necessários para evitá-la,

incluindo a presença de força militar preventiva. Para tanto, aumentaria o gasto em

defesa jamais aparecendo um competidor em igualdade (2003, p.113)(33).

Nessa nova geopolítica, o novo centro de competição e conflito seria a região

centro-sul da Eurásia na qual se encontram a região do Golfo Pérsico, onde estão

2/3 do petróleo do mundo, as jazidas do Mar Cáspio, as quais possuem as grandes

áreas de prospecção de petróleo restantes e os países da circunvizinhança da Ásia

Central. A administração W. Bush, então, decidiu que os EUA dominariam essa nova

zona (2003, p.113)(33).

Desde o final da Guerra Fria, ainda segundo Klare, o principal realinhamento

militar estadunidense tem implicado na diminuição das forças norte-americanas no

leste asiático e Europa, acumulando-as na região centro-sul. Estabelecem-se novas

bases no Golfo Pérsico e na Ásia Central. Essa estratégia foi iniciada pelo

presidente Clinton, que instituiu os laços militares com os países da região do Mar

3 Elaboração Própria dados BP Statistical Review of World Energy June 2011(32).

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Cáspio e quem edificou a capacidade dos EUA para interesses na área do Golfo

Pérsico, possibilitando a presença militar no Iraque (2003, p.114)(33).

A ideologia que justifica a presença militar dos EUA na região é o controle das

reservas de petróleo do Golfo Pérsico. A potência acredita controlar a economia

mundial e tem vantagem em relação às potências competidoras. O petróleo tem

motivado a politica externa dos EUA, já que a região tem o petróleo que sustentará o

desenvolvimento econômico da Ásia (China, Japão e Coreia do Sul), além de ser

uma área de choque de interesses de superpotências, como a China e a Rússia e os

EUA (2003, p.115)(33).

Nessa nova geopolítica um elemento novo é o surgimento das companhias

petrolíferas dos países que não compõe a OCDE. Essas empresas são de

propriedade, em sua maior parte, estatais. Nessa realidade não são as sete irmãs

europeias e americanas que impõe as regras e que controlam a indústria e os

mercados (2009, p.69)(31). Os líderes internacionais tem que aceitar o predomínio

das companhias nacionais. A principal causa desse giro de forças é o renascimento

de uma tendência nacionalista sobre o controle dos recursos. Essa tendência

ressurgiu com a crise neoliberalismo e a queda do preço do óleo cru. Os consórcios

energéticos são obrigados a aceitar contratos que devolvem às companhias estatais

o controle dos poços de petróleo (2009, p.70)(31).

A influência dessa nova dinâmica é diferente daquela que ocorreu na década

de 1970, porque as companhias petroleiras dos países desenvolvidos não possuem

novos campos petrolíferos. As companhias petroleiras nacionais, dos países em

desenvolvimento, se uniram para expandir conjuntamente suas reservas, deixando o

crescimento das indústrias petroleiras e gasíferas – e os recursos para o

desenvolvimento econômico mundial - nas mãos das novas sete irmãs 4 e dos

governos que as controlam (2009, p.70)(31).

4

Saudi Aramco de Arábia Saudita; Gazprom de Rússia; CNPC (China National Petroleum Corporation) de China; NIOC (National Iran Oil Company) de Iran; PDVESA (Petróleos de Venezuela) de Venezuela; PETROBRAS ((Petróleos de Brasil) de Brasil e PETRONAS, de Malásia

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Logo, a América Latina sofre um processo de inflexão onde seus governos,

pela abundância de recursos gerada pelo petróleo, propõem as soluções dos

problemas sociais das maiorias excluídas dos ganhos do desenvolvimento

econômico. Por essas ações governamentais se reinicia o processo de criação,

nacionalização, renegociação e consolidação das empresas nacionais e dentro delas

as empresas petrolíferas. Além disso, ressurge o discurso do desenvolvimento da

integração energética e financeira (2009, p.70)(31).

Essa vertente nacionalista não é hegemônica, pois em países como

Colômbia, Peru e México, se assiste a privatização e entrega de seus recursos às

multinacionais, através dos Tratados de Livre Comércio. Da mesma forma, existe a

preocupação, por parte das potências mundiais, do não reinvestimento dos

abundantes lucros petrolíferos nas próprias empresas, para garantir a aquisição de

tecnologias importadas para a produção e prospecção dos recursos energéticos

(2008, p.141)(30).

1.3.3. A Venezuela como “outsider” no MERCOSUL

A visão geopolítica/estratégica do regionalismo está dentro de um debate

mais amplo exposto por Octavio Ianni, e se compõe por duas vertentes: a

nacionalista e a globalista. O primeiro é defendido por grupos nacionais identificados

com a nação, o território, a pátria, o hino, a reserva de mercado, a soberania e o

projeto nacional. Essa vertente supõe que o regionalismo é um meio de fortalecer a

nação. Já a vertente globalista do regionalismo acredita que esse é o único meio de

intermediação entre nacionalismo e o cenário mais amplo do globalismo (2004,

p.120)(22).

Esse debate adentrou o cenário do MERCOSUL, após a crise do livre

cambismo, provocando a revisão das politicas neoliberais. Dentro de um novo

paradigma o processo de integração passa a enfatizar a promoção ampla do

desenvolvimento e a busca de mecanismos mais abrangentes de concertação entre

os Estados (2012, p.189)(34).

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A visão predominante do processo de integração no bloco, apesar de

mudanças de governo, permanece fiel à sua autonomia e a uma relação positiva

com os EUA, ou seja, com um modus operandi voltado para a inserção desses

países no mercado globalizado (2007, p.14)(35).

Nesse pragmático MERCOSUL, a Venezuela começa a ensaiar uma

aproximação, em virtude das mudanças internas que influenciaram a política externa

do país. Logo que assumiu a presidência, Chávez propôs um bloco alternativo à

Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), proposta pelos EUA, aos países

latino-americanos. A proposta sugeria a criação de um novo bloco econômico, que

iria além do modelo neoliberal de Tratados de Livre Comércio (TLCs), assumindo

uma postura fundada no princípio da solidariedade entre os países e mais autônoma

em relação aos EUA, assim denominada “Alternativa Bolivariana”. Segundo Briceño

(2010, p.88)(36):

“Este seria o início da denominada integração bolivariana, que busca promover a equidade, a igualdade, a lealdade e a unidade de propósitos. Trata-se de um modelo que se propõe a transcender o econômico e comercial e que, ao invés disso, se propõe a coordenar as estratégias sociais, políticas, de segurança e as ações diplomáticas internacionais. (...)”

A visão mais ideológica da integração levou a Venezuela a deixar a CAN

(Comunidade Andina de Nações), pois países como a Colômbia e o Peru já tinham

TLCs com os EUA, o que representava uma contradição à política externa

venezuelana e seu antiamericanismo. Nesse contexto, o MERCOSUL surge como

alternativa para a realização dos objetivos externos de Chávez, pois contava com

governos mais alinhados à esquerda como Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia,

Rafael Corrêa no Equador e Cristina Kirchner na Argentina. Conforme Briceño

(2010, p.89)(36):

“O avanço das negociações dos Tratados de Livre Comércio entre EUA e países andinos isolou a Venezuela no contexto da CAN, ademais de estar em contradição com objetivos expressos da política externa do país a luta contra a ordem unipolar, a cooperação sul-sul e a integração latino-americana”.

Percebe-se que as identidades ideológicas e interesses que dominam a elite

chavista na Venezuela, incluindo a forma como esta enxerga seu papel na América

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do Sul, não coincide ou concorrem com as identidades e interesses dos países do

MERCOSUL em relação ao processo de integração do bloco (2007, p.14)(35).

Segundo Villa:

(...) a Venezuela concebe seu processo de integração em bases não somente econômicas mas também profundamente politicas. dentro de valores anticapitalistas, ancorados na proposta de socialismo do século XXI. (..)O modelo de integração proposto pela ALBA teria dois objetivos principais : o primeiro é ser uma alternativa ao projeto de integração proposto pelo governo estadunidense, a ALCA e também a ampliação da integração e combater a influencia dos Estados Unidos na América do Sul (2007, pp.15 e 16)(35).

Nota-se um distanciamento em relação aos países do MERCOSUL, já que

esses, pautados numa diretriz politica de centro-esquerda ou moderada, dão grande

peso ao aspecto econômico no processo de integração. Os preceitos do modelo de

integração sul-americana, proposta pela Venezuela, seriam: bases não capitalistas,

o exercício da democracia participativa, a promoção de uma economia que combine

a propriedade estatal com propriedades sociais e cooperativas e a regulamentação e

diminuição de investimentos estrangeiros diretos (2007, p.5)(37).

Diante deste contexto, esse trabalho considera a Venezuela como um

“outsider” no contexto do Mercosul, baseando-se nas diferentes premissas e valores

com relação ao processo de integração. Esse paradigma empírico, estabelecidos x

outsiders, estrutura-se, segundo Norbert Elias (2000, p.7)(38):

Ambos os conceitos são relacionais, ou seja, se temos o grupo que se percebe e é reconhecido como establishment local porque ocupam posições de prestigio e poder, com alto grau de coesão interna. (...) uma identidade social construída a partir de uma combinação singular de tradição, autoridade e influência: os establishment fundam seu poder no fato de ser um modelo moral para os outros. Já os outsiders é um conjunto heterogêneo e difuso de unidos por laços sociais menos intensos do que aqueles que unem os established. Outsiders ocupam lugar de uma minoria estigmatizada nessa figuração social.

O par conceitual está associado às relações de poder e de status e tensões

que lhes estão associados. Alguns grupos tem mais poder do que outros e essa

seria a explicação de suas diferenças (2000, p. 16)(38), monopolizando as

oportunidades de poder e utilizando-as para marginalizar e estigmatizar membros de

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um grupo muito semelhante. Constroem-se “imagens de nós” do grupo hegemônico,

excluindo “eles” os outsiders (2000, p.13)(38).

Os conceitos são relacionais, ou seja, o grupo que se percebe e é

reconhecido como establishment local e outro conjunto de indivíduos, outsiders,

excluídos do grupo local hegemônico. Os primeiros fundam sua distinção e seu

poder em um princípio que os une, no caso o pertencimento a uma visão de

MERCOSUL fundada em preceitos neoliberais, encarnando seus valores e suas

práticas de regionalismo. Os outros, no caso a Venezuela, aparece estigmatizada

com todos os atributos associados à anomia5, no caso a divergência em aspectos

com relação à integração defendendo um paradigma mais integracionista.

Dentro desse paradigma conceitual o MERCOSUL é percebido como um foco

de relações de poder. As categorias “estabelecidos” e “outsiders” se definem na

relação que as nega e que as constituem como formas de definir as identidades de

cada grupo. Os indivíduos que fazem parte de ambas estão ao mesmo tempo

separados e unidos por um laço tenso e desigual de interdependência. Nesse caso,

as relações de pertencimento e exclusão são elementos que o par estabelecidos-

outsiders esclarece exemplarmente: as relações de poder (2000, p.7 e 8)(38).

No bloco havia uma agenda em direção a temas econômicos inserida num

paradigma “estabelecido” do neoliberalismo e de inserção na economia global e

aproximação com os EUA. A partir da entrada da Venezuela apareceu outra

proposta de um novo MERCOSUL, defendido por Hugo Chávez com forte

nacionalismo econômico e uma maior politização da agenda de integração. Sendo

assim, a Venezuela, um outsider, defende uma visão de integração em um grupo

disperso e não hegemônico, tendo menor poder de afirmação dentro do bloco, por

lutar contra um paradigma estabelecido e compartilhado anteriormente.

A peça central dessa figuração é um equilíbrio instável de poder com tensões

que lhe são inertes. Um grupo somente pode estigmatizar outro considerá-lo

5 Estado de ausência, falta de regra e de ordem de não estrutura , possuía o sentido normativo de um

julgamento moral associado aos mesmos valores que servem para estigmatizar os “outsiders”(p.9)

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diferente quando está instalado em posições de poder das quais o grupo

estigmatizado é excluído (p.23)(38).

Logo, é dentro desse paradigma conceitual estabelecido outsider que a

questão dessa pesquisa ganha relevância. A Venezuela, sendo um outsider e por

isso, estando numa posição inferior de poder é capaz através do Petróleo, utilizado

como “moeda” política, alterar o contexto mais amplo do MERCOSUL.

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2. A Venezuela a partir das transformações da Era Chávez e sua

adesão ao MERCOSUL

2.1 O objetivo e a estrutura interna deste capítulo.

Nesse capítulo é estudada, de forma mais detalhada, a “Era Chávez”, que

traduz um período de transformações politicas, sociais e econômicas na Venezuela.

Primeiro, trata-se da contextualização desse processo político. Na sequência, busca-

se conhecer a natureza das mudanças, após a eleição de Chávez, relacionadas: aos

arranjos institucionais, à economia e à política externa, ocorridas no período. A

análise desses fatores fornece as bases para a compreensão das mudanças

observadas atualmente na indústria petroleira venezuelana. Por fim, ainda com

recurso à analise das transformações, o processo de adesão da Venezuela ao

MERCOSUL.

2.2 A ascensão de Chávez no cenário político venezuelano.

A emergência de Hugo Chávez Frías no cenário politico venezuelano está

intrinsicamente associada à quebra do pacto de elites que sustentava a democracia

venezuelana, desde 1958. Esse pacto instituiu-se, segundo Mendes (2012, pp.64 e

66)(39) para garantir a estabilidade do nascente regime democrático instituído no

país após a ditadura de Marcos Perez Jimenez (1951-1958). O Pacto do Punto Fijo,

como foi denominado, reunia os interesses de várias forças politicas, que juntas se

comprometeram em torno da estabilidade social, considerada importante para

modernização do país (2012, pp.64 e 66)(39). A principal característica desse acordo

estava na predominância de dois partidos principais: a Acción Democrática (AD) e o

Comité de Organización Política Electoral Independiente (COPEI), que se

alternavam no poder, sem outros concorrentes, entre 1959 a 1998. De acordo com

Villa((2005, p.154)(40), as lideranças políticas evitavam disputas polarizadas e

competitivas pelo poder, que poderiam dar margem a novos golpes de Estado (2005,

p.154)(40). A institucionalização desses partidos e a prioridade da disciplina

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partidária permitiu o estabelecimento de uma democracia de coalização, a qual abriu

canais para a participação de partidos menores. No entanto, sua incorporação

ocorria nos cargos de segundo escalão e alguns setores da esquerda, vinculados à

Central de Trabalhadores da Venezuela, já que havia o controle bipartidário dos

cargos de primeiro escalão, em instituições como o Congresso, a Corte Suprema de

Justiça e os Sindicatos. Portanto, havia uma articulação da representação dos

interesses políticos, dando estabilidade institucional e, ao mesmo tempo, excluía a

atração por opções políticas radicais (2005, p.154)(40).

A base material do corporativismo venezuelano era a renda petrolífera, a qual

era distribuída de maneira clientelista pelo Estado - único proprietário do recurso

petrolífero. Com esses recursos, o Estado controlava a economia e subsidiava os

principais atores políticos do país, graças aos altos preços do petróleo na década de

1960. A distribuição dos recursos era perceptível por todos os setores da sociedade,

principalmente a classe média, a qual era a principal base de filiação dos partidos

predominantes (2005, p.155)(40). Segundo Villa (2000, p.136)(41).

A existência do petróleo condicionou a forma de intervenção do Estado na economia, independentemente que o regime fosse democracia ou ditadura, e condicionou a relação do Estado com os demais atores políticos, como partidos, sindicatos, Forças Armadas e setor privado. (...) Não se pode entender a vida econômica do país sem entender o papel protagonista do Estado (...) o único proprietário do petróleo

O pacto de elites começou a desmoronar na década de 1980. Essa década

marcou um período de forte recessão econômica, devido à crise da dívida dos

países latino-americanos. Além disso, a Venezuela sofreu com a queda do preço do

petróleo, principal produto de exportação e base da economia do país (2000, pp.138

e 139)(41). Com a crise, o Estado já não tinha os excessivos lucros do petróleo para

prover o país de produtos variados e serviços públicos. Segundo vários setores da

população, as causas desse período de instabilidade eram a corrupção e o inchaço

das funções do Estado. Como remédios à crise foram sugeridos o corte de gastos e

a renegociação das dividas, assim como nos demais países latino-americanos

(2012, p.88)(39).

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Em 1989, com a eleição de Carlos Andrés Péres adotou-se um pacote de

medidas, atendendo as exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) como

suspensão do controle do câmbio, a reestruturação do sistema de controle de

preços. O valor do petróleo no mercado interno foi continuamente aumentado

atingido os níveis de preços externos e efetuou-se um reajuste de quase 100% nos

seus derivados. Além destas medidas, ocorreu a privatização de várias empresas de

serviço público e o reajuste de 30% a 50% do salário de funcionários públicos. Tais

medidas deterioraram ainda mais o poder aquisitivo e a qualidade de vida da

população, que já vinham caindo durante a década de 1980 (2012, pp. 97 a 99)(39).

O anúncio das medidas neoliberais foi o estopim de uma grande revolta

popular nas ruas de Caracas, conhecida por Caracazo. Essa revolta foi reprimida

pelo exército de maneira violenta, causando mais de 200 mortes (2012, p.107)(39).

A partir dessa revolta os protestos se tornaram mais comuns no país e expressavam

a insatisfação de todos os setores da sociedade, que não tinham suas demandas

atendidas pelo Estado (2012, p.111)(39). Essas manifestações mostravam a fissura

que já estava presente nas estruturas do pacto de coalização que sustentava a

democracia venezuelana.

Nesse período, ocorreu o levante militar de fevereiro de 1992, liderado pelo

Tenente-Coronel Hugo Chávez Frías e por fim, o presidente Perez sofre

impeachment em 1993, sob acusação de corrupção. . Apesar do golpe liderado por

Chávez não atingir sua meta, demonstrou o descontentamento também dos

militares. Mais ainda, o Movimento Bolivariano Revolucionário 200 e Hugo Chávez

deram vozes à oposição ao puntofijismo, ocupando um lugar ainda vazio no cenário

politico venezuelano (2012, pp.123)(39).

Rafael Caldera, eleito em 1994, manteve as medidas neoliberais. Apesar do

baixo apoio em diversos setores do próprio pacto, mostrado pelo alto índice de

abstenções nas eleições, o presidente anistiou os participantes do levante de 1992

(2012, p.125)(39).

O aumento das bases sociais do MBR-200, ao longo da década de 1990,

resultou da resposta direta que o movimento dava às demandas da população.

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Devido ao grande apoio popular, o movimento reviu suas vias de ação e propôs

modificar as instituições de dentro para fora, através de uma Assembleia Nacional

Constituinte. Para tanto, teria que participar das eleições seguintes, através da

constituição do partido denominado Movimento V República (MVR),

institucionalizando as bases chavistas no sistema politico representativo da

Venezuela (2005, p. 159)(40).

Assim, em dezembro de 1998, Chávez, com uma vitória expressiva, foi eleito

presidente da Venezuela, trazendo importantes mudanças e inaugurando a “Era

Chávez”.

2.3 A política de Chávez e a PDVSA.

Após a eleição de Chávez, os principais objetivos de seu projeto eram minar

as bases institucionais dos partidos políticos tradicionais (AD e COPEI) e elaborar

uma nova constituição que substituísse a de 1961 (2000, p.145)(41). O mandatário

identificou que as distorções nas funções representativas e fiscalizadoras do Estado

estavam associadas à Constituição de 1961, pelo amplo poder de atuação que dava

aos partidos tradicionais. A partir dessa percepção da realidade política e social do

país, o núcleo do programa político proposto era a ideia de Refundar a Republica.

A IV República era o antigo regime, atribuído ao sistema político iniciado em

1830, quando a Venezuela se separou da Grande Colômbia. Para os bolivarianos,

teve inicio ali um regime autoritário e excludente, cujo epilogo é representado pela

democracia de Punto Fijo (2012, p, 111)(39). Com essa demarcação do passado,

recaía sobre as antigas elites o fracasso da Venezuela democrática nas últimas

décadas, tomando corpo na sociedade uma grande rejeição à política tradicional e

suas instituições.

Para sinalizar o novo regime, a V República, houve a convocação de uma

constituinte, que deveria orientar sua ação em dois focos (2000, p.146)(41) :

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1. Repensar os poderes políticos estatais com a elaboração de uma nova

Constituição.

2. Iniciar a desestruturação do pacto de elites, através de um ataque

político direto às antigas instituições políticas, criando condições para a

circulação das elites.

Atendendo a esses dois objetivos, através da constituinte, o governo

objetivava que o povo venezuelano se visse representado pelo novo governo e

possuísse eficácia política, através das práticas da democracia plebiscitária. Esse

exercício democrático tornou-se quase rotineiro, inserido na vida política dos

venezuelanos.

As mudanças nas bases institucionais do governo venezuelano aparecem nos

seguintes eventos:

1. Na Assembleia Constituinte, vê-se a ausência das forças políticas

tradicionais que significava, no mínimo, a mudança do comportamento

eleitoral do venezuelano. Além disso, já atendia ao objetivo do

chavismo de refundar as instituições estatais e isso passava pela

intervenção velada ou aberta em poderes constituídos e o

enfraquecimento dos partidos tradicionais (2000, p.148)(41).

2. O judiciário passou por uma reestruturação na constituinte, já que era

considerado um dos focos de corrupção da administração pública

venezuelana. Os magistrados da Suprema Corte de Justiça e centenas

de juízes foram destituídos de seus cargos, com a abertura de

processos administrativos e penais. A justificativa para essas medidas

radicais era que tais funcionários do Judiciário haviam sido nomeados

através de acordos feitos pelas elites tradicionais com os partidos, o

Congresso e as Assembleias Estatais (2000, p.149)(41).

3. Quanto às Forças Armadas, não houve propriamente uma refundação,

mas uma redefinição de suas funções. Haveria uma presença mais

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ativa de militares na administração pública estatal e a formulação de

uma função social para os militares (2000, p.149)(41)6 .

4. A constituição do de dois novos poderes: o Cidadão e o Eleitoral.

5. Por fim, a maior concentração de poder nas mãos do Presidente da

República. Esse passou a ter atribuições de legislador, por meio da

promulgação da “Ley Habilitante” a respeito de qualquer matéria. Essa

lei deveria ser aprovada pela Assembleia Nacional (2005, p.162)(42).

Essa nova estrutura institucional dava meios para que o governo realizasse a

diversificação da economia, como linha estratégica de política econômica nacional.

Com as mudanças políticas, se redefinia o papel do Estado como promotor do

desenvolvimento, da eficácia e da igualdade e abria a possibilidade de buscar uma

solução para a dependência nacional da exportação do petróleo (2006, pp. 216 e

217)(20). Dentro dessa linha de ação foi promulgado o Plano de Desenvolvimento

Econômico e Social da Nação (2001-2007). A partir desse plano foram traçadas as

linhas mestras da política petroleira. O novo presidente tentou devolver ao Estado a

capacidade regulatória da indústria petroleira.

Durante as décadas de 1980 e 1990, aplicava-se a política da “apertura

petrolera”, dando autonomia à estatal do petróleo para gerenciar, sem a fiscalização

de outros órgãos oficiais, contratos com empresas multinacionais e também a

capacidade de formar empresas no exterior. Segundo Villa e Urquidí ((2006, p.

72)(43) a extrema independência da empresa, sem nenhum freio institucional, gerou

uma estrutura estatal com absoluta autonomia de outras agências estatais como o

Ministerio de Minas y Hidrocarburos.

deixara fim de anular os efeitos do marco regulatório do período da “apertura”,

o presidente decretou a Lei Orgânica de Hidrocarbonetos Gasosos em setembro de

1999, com a qual o Estado pretendia retomar à gestão do gás. Em 2001, a Lei de

Hidrocarbonetos foi publicada. Através dessas duas medidas, Chávez entrava em

6 Esse processo segundo Villa, nos últimos anos as forças Armadas, na América Latina, estão a

procura de novas funções que justifiquem sua existência (2000, p. 150)(41).

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choque com setores da PDVSA fortalecidos no período da abertura. O governo

tornou-se o acionista principal na associação com empresas privadas, embora

prevalecendo uma politica nacionalista, com o estimulo a empresas privadas

nacionais (2006, p. 72)(43).

Em oposição às mudanças legais, o novo governo manteve intacto o quadro

gerencial e tecnocrático da PDVSA. Porém, a disputa pelo controle da empresa

aumentou durante os anos de 2002 e 2003. Em um primeiro momento, Chávez

destituiu publicamente o presidente da estatal e altos quadros gerenciais. Essa

atitude contrariou a classe da “meritocracia” da empresa e culminou com o golpe de

Estado de abril de 2002, onde a oposição esperava a restituição imediata dos

gerentes da empresa (2006, p. 73)(43).

Com o fracasso do golpe, se iniciou uma greve petroleira, em finais de 2002,

que perduraria até fevereiro de 2003. Nesse quadro de lutas pelos recursos

petroleiros, três consequências importantes para a conjuntura interna do país podem

ser observadas (2006, p. 74)(43):

1. O que estava em disputa eram dois modelos excludentes de

gerenciamento da indústria petroleira: a abertura globalista ou a

petroleira estatal desenvolvimentista. Junto à escolha desse marco,

estava atrelada a sobrevivência politica do chavismo ou dos sistemas

políticos tradicionais e tecnocráticos que organizavam a política

petroleira.

2. Com os recursos petroleiros foi criado o Fundo de Desarrollo

Económico y Social no interior da PDVSA, com o objetivo de financiar a

estratégia distributiva de renda através das Misiones.

3. A sociedade venezuelana ficou extremamente polarizada, pois com a

estratégia redistributiva houve uma mudança nas relações entre

governo e oposição. A corrente contrária ao chavismo perdeu influência

nas suas bases e também seu espaço institucional. Esse quadro de

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isolamento se completa com a manutenção do mandato de Chávez,

após referendo que pedia sua revogação.

Quanto os reflexos econômicos da greve petroleira, foram superados já em

2004, devido à adoção de medidas que ampliaram a margem de ação do Estado.

Tais medidas constituíram-se na criação de novas instituições como o Ministério da

Economia Popular e o Ministério da Indústria Básica, no controle de saída de

capitais, na lei do Banco Central e na criação do Fundo de Desenvolvimento e, por

fim, no aumento da carga tributária, principalmente das grandes empresas nacionais

e multinacionais. Como afirma Barros (2006, p. 223)(20): “A experiência bolivariana

na Venezuela (...) pode ser considerada a primeira ruptura de um governo sul-

americano com as diretrizes do Consenso de Washington.”.

2.4 O processo de adesão ao MERCOSUL.

A compreensão da entrada da Venezuela no MERCOSUL passa pela

compreensão das bases da Politica Externa da Venezuela (PEV) durante a “Era

Chávez”.

Primeiro, é necessário contextualizar a PEV retomando alguns eixos centrais

que a sustentaram ainda durante o puntufijismo. Nesse período da democracia de

elites havia a doutrina Bitencourt, que pregava como pontos principais (2004,

p.101)(19): 1) a consolidação e estabilidade das instituições democráticas; 2) o não

reconhecimento de qualquer governo que rompesse com as instituições

democráticas; 3) o pleito a uma liderança terceiro mundista7; 4) o petróleo como

pedra basilar do interesse nacional; 5) o exercício de uma diplomacia presidencial.

Considerando essas questões, pode-se analisar a PEV na “Era Chávez” com

alguns pontos de continuidade e outros de ruptura, conforme sugere a análise de

Villa (2004, p.100)(19). Como pontos de continuidade podem ser mencionados: a

7 A Venezuela sempre almejou desde o inicio de seu período democrático, um papel de ator regional

de relevância, mesmo com seus problemas internos e sendo um país pequeno em população e território (2007, p. 42)(44).

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manutenção da natureza democrática do regime político e a importância do petróleo,

já que se constitui como a principal via de inserção do país na economia mundial. É

importante ressaltar que essa dependência do petróleo e, sobretudo a continuada

dependência do mercado norte americano, colocam certos limites a uma PEV com

princípios ideológicos que propiciem um maior ativismo político.

Com relação às descontinuidades da administração Chávez, tem-se como

fator preponderante um persistente foco de tensão com os EUA, abandonando a

postura pragmática, anterior ao golpe de 2002. O presidente da Venezuela acusou

publicamente os EUA de financiar grupos políticos e organizações não

governamentais de oposição. Essa radicalização pode ser explicada também pela

intensa polarização interna da sociedade venezuelana, obrigando a administração

Chávez procurar elementos emotivos de coesão interna através de uma ameaça

exterior. No entanto, parece mais lógico que a PEV, a partir de 2003, tenha se

tornado mais ideológica e refletiria as simpatias e escolhas da elite governante. Se

no período anterior a Chávez havia um alinhamento quase automático com a grande

potência, agora as preferências refletem um realinhamento que afasta as politicas

externas desses países. Porém, mesmo com as divergências ideológicas não há um

afastamento econômico dos países (2004, p.108)(19).

Outro ponto importante de descontinuidade foi a forte presença, de forma

racional e ativa, nos fóruns multilaterais e na reativação da OPEP, com viagens do

mandatário venezuelano aos principais países da organização. Além disso, houve

maior coerência entre as metas e os métodos da politica interna e da externa do

país, propondo mudanças na Carta Democrática da OEA8 (2004, p. 117)(19).

Por fim, a posição da Venezuela com relação à América do Sul. Logo que

assumiu a presidência, Chávez propôs um bloco alternativo à Área de Livre

Comércio das Américas, proposta pelos EUA, aos países latino-americanos. No

entanto, no decorrer do seu mandato, Chávez aprofundou sua proposta sugerindo a

criação de um novo bloco econômico, que iria além do modelo neoliberal de

8 O governo venezuelano propôs a mudança no conceito de democracia da carta, considerando não

somente a questão da representatividade, mas também os marcos democráticos de participação. Propunha que o conceito de democracia plebiscitária e participativa fosse contemplado pela OEA.

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Tratados de Livre Comércio, assumindo uma postura fundada no princípio da

solidariedade entre os países e mais autônoma em relação aos EUA, através da

assim denominada “Alternativa Bolivariana”. Segundo Briceño (2010, p.88)(36):

“Este seria o início da denominada integração bolivariana, que busca promover a equidade, a igualdade, a lealdade e a unidade de propósitos. Trata-se de um modelo que se propõe a transcender o econômico e comercial e que, ao invés disso, se propõe a coordenar as estratégias sociais, políticas, de segurança e as ações diplomáticas internacionais. (...)”

Tal desejo levou a Venezuela a deixar a Comunidade Andina de Nações,

pois países como a Colômbia e o Peru já tinham TLCs com os EUA, o que

representava uma contradição à política externa venezuelana e seu

antiamericanismo. Nesse contexto, o MERCOSUL surge como alternativa para a

realização dos objetivos externos de Chávez, pois contava com governos mais

alinhados à esquerda como Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia, Rafael Corrêa no

Equador e Cristina Kirchner na Argentina. Conforme Briceño (2010, p.89)(36):

“O avanço das negociações dos Tratados de Livre Comércio entre EUA e países andinos isolou a Venezuela no contexto da CAN, ademais de estar em contradição com objetivos expressos da política externa do país a luta contra a ordem unipolar, a cooperação sul-sul e a integração latino-americana”

Os argumentos favoráveis fundamentavam-se em vários elementos: grande

crescimento do comércio Brasil-Venezuela, saindo de quase dois bilhões de dólares

em 2004, para quase quatro bilhões de dólares em 2007; aproximação militar e

econômica, na região amazônica, como em programas de combate ao narcotráfico e

fiscalização das fronteiras; a Venezuela é detentora de grandes reservas de

petróleo, tornando o MERCOSUL mais próximo da meta de combate às assimetrias

energéticas regionais e do propósito da União Aduaneira; e, com destaque, aumento

da cooperação Sul-Sul com elevação do peso sul-americano dentro da Organização

Mundial de Comércio.

Porém, os fatores contrários mostravam preocupação com a política interna

venezuelana, uma vez que a ascensão de Hugo Chávez Frias no cenário político e

sua ulterior eleição ao governo levou a profundas modificações na política externa

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da Venezuela, que poderiam afetar o MERCOSUL e, consequentemente, seus

países membros.

Outro temor era de a Venezuela atrapalhar a relação do MERCOSUL com os

EUA, e, também, as dificuldades enfrentadas pela PDVSA, que sofreu inúmeras

mudanças devido às transformações políticas da Venezuela. Segundo Arraigada

(2006, p.30)(45), a indústria de petróleo venezuelana exige grandes investimentos

para que se mantenham, pelo menos, os níveis médios de prospecção e refino. No

entanto, em 2005 esses investimentos corresponderam apenas à metade do

necessário. Os investimentos privados também se mantêm aquém do necessário,

devido à política interna do governo, que leva a incertezas, acerca da propriedade

estrangeira no país; a maioria da tecnocracia da PDVSA se comprometeu com a

oposição a Chávez, o que levou um grupo de técnicos de alto nível a serem

expulsos da empresa, porque participaram da greve em 2002, havendo uma perda

do comprometimento com suas metas (que perdura até hoje); e, por fim, há um

grande controle da estatal petrolífera por parte do governo, já que são seus recursos

que financiam os projetos sociais do país, denominados “las missiones”. Conforme

Arrigada (2006, p.9):

“Em síntese, a “diplomacia do petróleo” de Chávez tem lugar em um marco especifico, por baixo de muitas situações adversas, como indica o recrudescimento dos níveis de produção, a subversão, a incapacidade para atrair níveis significativos de investimentos privados, a politização e má administração da PDVSA e a presença de crus ultrapassados. Nessas condições [a diplomacia do petróleo] depende dos atuais altos preços do petróleo e só é possível enquanto essa situação se mantenha. Uma caída significativa dos preços não poderia ser compensada, ao menos em médio prazo, por aumentos de produção dos crus”.

Após intensos debates, o processo de adesão da Venezuela ao Mercosul foi

concluído por meio da Decisão CMC 27/12, que concedeu a este país a condição de

Estado Parte, desde 12/08/12 e o direito de participar plenamente no Mercosul.

Segundo dispõe o Protocolo de Adesão da Venezuela, assinado em julho de 2006 e

em vigor desde agosto de 2012, foram previstas etapas e prazos para a plena

incorporação do normativo MERCOSUL; para a adoção da Tarifa Externa Comum e

da Nomenclatura Comum do Mercosul pela Venezuela; bem como para exercer o

livre comércio (46) .

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A Venezuela incorporou a NCM e o cronograma de adoção da TEC por meio

do Decreto venezuelano nº 9.430, de 19/03/2013 (modificado pelo Decreto nº 236,

de 15 de julho de 2013), que internaliza ao ordenamento jurídico venezuelano a

nomenclatura MERCOSUL e prevê a adequação à TEC.

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3. O MERCOSUL e o FOCEM

3.1. Objetivo do capitulo e sua estrutura

Este capítulo visa expor a trajetória de formação do Fundo de Convergência

Estrutural e Fortalecimento Institucional do MERCOSUL. Primeiramente, construiu-

se um breve percurso da integração sul – americana. Em segundo lugar, fez-se a

análise do processo de integração do MERCOSUL, passando do pragmatismo

comercial para uma visão mais política e social da integração. Por fim, a constituição

do FOCEM, sua localização no marco institucional e suas funções no interior do

bloco.

3.2. Breve Histórico da Integração Sul-Americana

As motivações históricas da estratégia de aproximação [entre Brasil e

Argentina] até a concretização do MERCOSUL, com o Tratado de Assunção, são

bem remotas (OLIVEIRA, 2003 p. 58)(47), datando dos anos 1940, com a criação da

União Aduaneira Brasil e Argentina, intensificada pela Aladi (Associação Latino

Americana de Integração), com a assinatura do tratado de Montevidéu, em 1980.

Esse Tratado foi um importante passo, não só porque criou uma Zona de Livre

Comércio, mas também gerou um estímulo a arranjos bilaterais. No entanto, esses

arranjos não se estenderam automaticamente a outros países membros,

comprometendo a expansão do processo de integração.

A consolidação dessa aproximação veio com a assinatura do Tratado de

Iguaçu em 1985, entre Brasil e Argentina, com o comprometimento da defesa de

recursos e interesses comuns entre os dois países. Na esfera econômica houve a

criação do Programa de Integração e Cooperação Econômica que foi fruto do

sucesso já alcançado pelo comércio bilateral entre os dois países, conduzindo à

percepção de que a cooperação era necessária ao projeto de inserção internacional

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não subalterno, bem como à modernização empresarial e das estruturas produtivas

de seus países.

Por fim, o MERCOSUL foi instituído em vinte seis de março de 1991, a partir

da assinatura do Tratado de Assunção, com a incorporação de Uruguai e Paraguai.

O Tratado de Assunção “estabeleceu condições para o surgimento de um projeto de

integração” (KUNZLER, 2002 p.101)(48), definindo claramente seu objetivo: a

criação de um Mercado Comum. A proposta reforçou a livre circulação de bens,

serviços e fatores de produção, relacionando os meios a serem utilizados:

eliminação de direitos alfandegários e restrições não tarifárias; o estabelecimento de

uma TEC; a adoção de uma política comercial em relação aos outros países; a

coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais; e harmonização das

legislações internas.

O Processo de formação do MERCOSUL ganhou traços mais definidos com a

Assinatura do Protocolo de Ouro Preto (dezembro/1994). Com esse protocolo, houve

revogações do Tratado de Assunção, legitimadas mesmo com alterações do texto do

Tratado, sendo sua principal contribuição conceber uma personalidade jurídica ao

MERCOSUL, completando sua estrutura organizacional. Isso permitiu que pudesse

se relacionar com outros grupos de países e órgãos internacionais multilaterais

como um bloco econômico.

Esse novo bloco, como ressalta BRECEÑO-RUIZ (2010 p.79)(36), foi criado

sob as diretrizes do “Consenso de Washington”, com preceitos neoliberais, visando o

livre comércio. Nessa visão, o livre mercado proveria os recursos, com interferência

mínima do Estado, ou seja, a iniciativa privada em parceria com o Estado, ou por

sua livre iniciativa, promoveria o desenvolvimento econômico e social de um país.

O processo de integração sul-americana se desenvolveu, não sem

dificuldades, com acordos de livre comércio entre os países do MERCOSUL (Brasil,

Argentina, Paraguai e Uruguai), o Chile (1995), a Bolívia (1996), a Venezuela (2006),

o Equador e a Colômbia (2004) e com o Peru (2005). Porém, esses acordos

referiam-se exclusivamente ao comércio de bens e não incluíam o comércio de

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serviços, compras governamentais, regras sobre investimento, propriedade

intelectual entre outros.

Na busca por maior consolidação do bloco, a política energética passa a ser

fundamental para a economia e o desenvolvimento dos países membros, que

dependem da garantia do abastecimento energético, com suprimento constante e

suficiente. Nessa lógica, o MERCOSUL se preocupou em diminuir as assimetrias

energéticas de seus países, criando sistemas funcionais de infraestrutura em

hidrocarbonetos e outras fontes, através de marcos legais de integração,

principalmente, no âmbito de conferências e acordos regionais, como a Integração

da Infraestrutura Regional da América do Sul, que seria viabilizada através de

recursos advindos do FOCEM, liderado pelo Brasil. Conforme Guimarães (2008,

p.173)(6):

“A América do Sul é uma região extremamente rica em recursos naturais, que se encontram distribuídos de forma muito desigual entre os diversos países. Enquanto o Brasil tem as maiores reservas mundiais de minério de ferro de excelente teor, a Argentina não as tem em volume suficiente. A Argentina dispõe de terras aráveis de extraordinária fertilidade, em contraste com o Chile. A Colômbia possui grandes reservas de carvão de boa qualidade e o Brasil as tem poucas e pobres. A Venezuela tem a sexta maior reserva de petróleo e a nona maior reserva de gás do mundo, enquanto que, em todos os países do Cone Sul, inclusive no Brasil, são elas insuficientes para sustentar o ritmo de desenvolvimento, talvez de 7% a/a, necessário à absorção produtiva dos estoques históricos de mão-de-obra desempregada e subempregada e dos que chegam anualmente ao mercado. A Bolívia detém jazidas de gás que correspondem a duas vezes as brasileiras, mas tem sérias dificuldades para ampliar sua exploração. O Chile explora as maiores reservas conhecidas de minério de cobre do mundo, responsável por 40% de suas exportações. O Paraguai ostenta um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo, em especial quando calculado em termos per capita, mas ainda não teve êxito em utilizá-lo para acelerar seu desenvolvimento”.

Após a eleição de Lula, em 2002, houve a indicação do chanceler Celso

Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães para o Ministério de Relações Internacionais.

Marca-se, então, o início de uma nova linha na condução da Política Externa. As

matrizes dessa política baseavam-se no fortalecimento da integração Sul-americana

e das relações Sul-Sul (multilateralismo) (não são novas, pois estão presentes em

outros momentos da política externa brasileira). A novidade, a partir de 2002, foi a

ousadia de essas matrizes serem colocadas em prática sem a necessidade do aval

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de nenhum outro governo e também a mudança qualitativa, ao fugir das questões

estritamente econômicas e financeiras.

Nessa conjuntura, houve a integração do continente com a união do

MERCOSUL, da CAN e da ALBA. Configurou-se o primeiro fruto daquele governo

com a articulação do que, posteriormente, seria a União de Nações Sul-Americanas.

Antes da constituição da UNASUL, buscou-se associar o destino do Brasil ao

MERCOSUL e à recém-inaugurada Comunidade Sul-Americana de Nações,

enfatizando a posição solidária com as outras nações sul-americanas e tentando

reverter a imagem imperialista cultivada pelo país ao longo da história do continente.

Após várias reuniões (Cusco, 2004 e Cochabamba, 2006), solidificou-se uma

integração política do continente em 2008. A CASAN se transforma em UNASUL

que, de acordo com Nafaski (2010, p.101)(49), reflete em seu Tratado o fato de que

a “(...) UNASUL foi constituída para ser um organismo político, que absorve

demandas econômicas, mas que ultrapassa essa esfera, ao contrário do que se

tinha antes”

Tal integração não se dá em função de um movimento econômico que

acontece fora do continente, como no caso do MERCOSUL, mas atende à exigência

de uma união interna ao continente, que mobiliza os presidentes. Busca-se

desenvolver um espaço regional integrado: no âmbito político, econômico, social,

ambiental, energético, cultural e de infraestrutura. Integram a UNASUL Argentina,

Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,

Uruguai e Venezuela. Sua estrutura institucional é constituída por uma Secretaria

Geral e um Parlamento.

Cabe ressaltar novamente, que a UNASUL é um processo de integração que

vai além da dimensão econômica e valoriza, antes disso, a perspectiva política e

uma visão humanista. Logo, a UNASUL seria um órgão de diretrizes políticas amplas

para a América do Sul, englobando todos os blocos econômicos sul-americanos

(MERCOSUL, CAN e ALBA) e facilitando suas relações com o restante da América

Latina e Caribe.

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3.3. O Fundo para Convergência Estrutural e Fortalecimento

Institucional do MERCOSUL (FOCEM)

3.3.1. Contexto de sua Formação

O MERCOSUL surgiu com o objetivo de inserção no comércio internacional

globalizado. Nesse contexto, era necessário rever os projetos nacionais de

desenvolvimento apoiados na industrialização protecionista. Para tanto, a América

do Sul, através de seus projetos de integração para inserção internacional, adotou o

paradigma do regionalismo aberto. Propunha-se, nesse modelo de integração, a

eliminação de tarifas no comércio de bens e também se integrava a agenda temas

como o comércio de serviços e investimentos. Assim, a ambição maior seria a

constituição de Mercado Comum (2007, p.11)(8).

Com a assinatura do Protocolo de Ouro Preto em 1994, o MERCOSUL

ganhou maior profundidade. Houve a ampliação de sua estrutura institucional e

atribuição de personalidade jurídica internacional. Nesse contexto, o bloco recebe a

classificação de União Aduaneira, pois se objetivava a integração do ponto de vista

do comércio, com o fim gradual das barreiras tarifárias. Em 1997, adotou-se a Tarifa

Externa Comum, ou seja, uma tarifa de importação harmonizada, prevista no

Protocolo de Assunção (2011, pp.184 e 185)(9).

Cabe ressaltar que, até a crise cambial de 1999, havia uma harmonização

macroeconômica no bloco. Os países haviam adotado medidas como estabilização

inflacionária, em conjunto com uma política de câmbio valorizado, privatização das

empresas estatais, abertura de capital, altos juros da dívida soberana e graus

distintos de dolarização interna. Essas politicas geraram efeitos extremamente

danosos nos níveis de emprego e renda nos países onde foram adotadas. Essa

conjuntura comum acabou facilitando a integração econômica do MERCOSUL

(2011, p.185)(9).

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O respeito à existência de regime democrático em seus países membros

passou a ser uma cláusula do MERCOSUL, através do Protocolo de Ushuaia,

instituído em 1998. Esse instrumento jurídico foi utilizado em 2012, como motivo

principal para a expulsão do Paraguai, após o Golpe contra o presidente Fernando

Lugo.

Quando ocorreu a crise Argentina, em 1995, a politica do currency board, que

dependia dos fluxos de Investimentos Estrangeiros Diretos, não pôde ser mantida.

Consequentemente, o espaço regional deixou de ser atrativo aos fluxos de capitais

estrangeiros especulativos. (2003, pp.77 e 78)(47).

Nesse período, o MERCOSUL foi importante para o Brasil, pois permitiu que

o país fosse capaz de adquirir boa parte das exportações argentinas. Entretanto,

apesar dos problemas, a orientação entre os governantes dos quatro países

membros era manter a qualquer custo a imagem positiva do processo de integração,

pois isso poderia manter a atratividade da região aos investimentos externos,

principalmente no caso do Brasil, visto que o seu desenvolvimento poderia redundar

em benefícios para todos os membros (2003, p. 82)(47).

Com as sucessões de crises no sistema internacional (Asiática e Russa),

houve a estagnação definitiva do sistema de âncoras cambiais, que necessitavam de

fluxos de capitais estrangeiros. Assim, se extinguiram as bases dos programas de

estabilização, principalmente no Brasil e na Argentina, com crises econômicas

intensas entre 1999 e 2002 (2003, p.83)(47).

Nesse panorama de profundas crises internas de seus membros, o

MERCOSUL perde sua força de integração comercial. Começaram a ocorrer

disputas internas entre o Brasil e a Argentina, porque cada país visava garantir

melhores condições aos seus grupos sociais internos. Esses benefícios eram

produzidos internamente através da diminuição dos custos de produção, com

incentivo às exportações, visando garantir superávits comerciais. Segundo Oliveira

(2003, pp.85 e 86)(47):

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“(...) para se defender de uma crise no sistema internacional contemporâneo ou do esgotamento do modelo de desenvolvimento neoliberal, os Estados tendem a desencadear medidas compensatórias nacionais em contraposição aos acordos firmados no âmbito do MERCOSUL. Isso ocorre pelo fato de que os governos dos países-membros, principalmente o da Argentina e o do Brasil, não estabeleceram para o MERCOSUL nem metas comuns macroeconômicas muito menos políticas de desenvolvimento regionais e setoriais, tanto no plano macro quanto no micro, que poderiam absorver esses impactos (...)”

Houve uma alteração importante no cenário na América do Sul, após as

sucessivas crises geradas pelo livre-cambismo. Tal conjuntura provocou a revisão

das politicas neoliberais, que geraram pouco crescimento econômico, mas também

atingem o processo de integração, que passa a enfatizar a promoção ampla do

desenvolvimento e a busca de mecanismos mais abrangentes de concertação entre

os Estados (2011, p.189)(9).

O novo paradigma da integração sul-americana ganhou contornos

expressivos com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2003. A Política

Externa Brasileira iniciou um novo período, da autonomia pela afirmação. Nesse

modelo, buscou-se criar meios para a sustentação de um projeto de liderança

politica, além de outros meios, através do reforço da integração regional (2005,

p.18)(42).

Nesse novo paradigma, havia preocupações com a solução de conflitos e com

a estabilidade democrática em crises políticas regionais. Além disso, compartilhar

responsabilidades em matéria de segurança regional, demonstrado pelo envio de

tropas ao Haiti. No âmbito comercial, houve maior fortalecimento das relações Sul-

Sul através do aumento de acordos e também de ações conjuntas em busca de

maior barganha de negociação (Rodada de Doha) (2005, p.18 e 19)(42).

Através dessas linhas de ação da PEB, relativizou-se o peso econômico na

integração sul-americana. Na Cúpula de Mar del Plata em 2005, estabeleceu-se a

primazia do desenvolvimento econômico sobre o livre-cambismo e ademais as

negociações da ALCA foram paralisadas por não coadunarem com os objetivos da

região. Assim, avaliou-se uma maior integração entre o MERCOSUL e a CAN

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iniciando o que viria a ser a Comunidade Sul-Americana de Nações, o que

posteriormente se tornou a UNASUL, como detalhado acima.

No entanto, é importante ressaltar que a UNASUL nasceu com o objetivo de

estender seu espectro de atuação para além do que propunha o paradigma liberal.

Percebe-se uma atuação para a integração da América Latina como um todo: i)

infraestrutura, com a incorporação da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura

Regional Sul-Americana ao Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e

Planejamento; ii) finanças, com a Nova Arquitetura Financeira Regional (NAFR); e iii)

defesa, com a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (2011, pp.189 e

190)(9).

Influenciado pelo novo contexto mais amplo da integração Sul-americana, a

explicação para a baixa efetividade da integração no MERCOSUL passava pela

ênfase demasiada nas questões comerciais. Nesse sentido, os acordos com baixo

nível de institucionalização latu sensu, isto é, com efetividade normativa são

explicados pelas assimetrias entre os países do bloco. Esse diagnóstico levou a uma

ampliação de sua agenda de integração passando para temas como a importância

da convergência de infraestrutura, social, politica e cultural (2007, p. 19)(8).

Essa percepção deu legitimidade a várias iniciativas dentro do processo sub-

regional de integração. Criaram-se o Instituto Social do MERCOSUL e a Comissão

de Coordenação dos Ministros de Assuntos Sociais. Também houve a coroação de

uma série de acordos complementares de equivalência no âmbito da previdência

conjunta e serviços de saúde, residência, reciprocidade na dispensa do visto no

trânsito de turismo e de trabalho entre os países (acordos bilaterais) e dispensa de

tradução de documentos oficiais para fins imigratórios.

Nesse processo de ampliação, os mecanismos de participação da sociedade

civil têm-se consolidado, desde a criação do Parlamento do MERCOSUL, em 2005,

do qual participam os congressistas dos países membros, no intuito de harmonizar

as legislações nacionais e de aproximar a representação civil às decisões da

organização internacional (2011, p.190)(9).

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Dentro dessas novas iniciativas sociais e politicas estão também as

comerciais, tomadas a partir da Cúpula de San Juan em 2010. Houve a criação do

Programa de Consolidação Aduaneira, no qual foi estabelecido um consenso entre

os países membros do bloco sobre o fim da bitributação da TEC. Esse programa

objetivava construir sistemas comuns de coordenação macroeconômica, integração

produtiva, defesa comercial, regimes especiais de importação, regime de origem,

simplificação aduaneira, além da própria consolidação da TEC e da distribuição da

renda aduaneira (2011, p.190)(9).

Por fim, percebe-se uma evolução do MERCOSUL na superação do

paradigma liberal, passando a enfatizar o desenvolvimento econômico, maior

atuação dos Estados, mudanças nas politicas comerciais e de atração de

investimentos. Esse processo deu legitimidade a uma integração voltada para a

superação das diferenças estruturais, econômicas e sociais entre os países do

bloco, refletindo a conjuntura interna de mudanças econômicas pós-neoliberalismo.

3.3.2. Motivação, Estrutura e Normativa de Funcionamento.

Como demonstrado acima, o processo de integração através do MERCOSUL

nasce com uma profunda inspiração liberal, buscando acordos comerciais comuns.

No entanto, mesmo com os avanços da integração até 1999, não existem garantias

que os custos e benefícios da integração se repartam naturalmente entre países que

compõem um acordo de integração. No contexto da integração Sul-Sul é comum

ocorrer externalidades como os efeitos de polarização 9 e da aglomeração

econômica10 (2004, p.2)(52).

9 A polarização econômica ocorre quando existem regiões onde se localizam polos indústrias

complexos, ou seja, indústrias motrizes onde ocorre a intensificação das atividades econômicas. Nesse contexto, a aglomeração industrial urbana possibilita o crescimento progressivo, a diversificação do consumo e o atendimento as necessidades coletivas (transporte, habitação e serviços públicos). Dessa maneira, os polos indústrias dão origem a outros polos de crescimento, mas a existência de outros polos depende da região indutora, onde está o parque industrial complexo (1991, p.534)(50). 10

O efeito da aglomeração ocorre quando há associação espacial de estabelecimentos produtivos independentes, sem considerar sua dimensão. Nesse contexto, vão existir economias de escala em uma determinada região ou setor industrial e relacionadas à urbanização. Logo, onde haja esse processo de aglomeração encontra-se maior crescimento da produtividade (1999, p.194)(51).

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45

Esses dois efeitos estão associados ao aumento do crescimento econômico e

do desenvolvimento em áreas onde já existam forte estrutura econômica e grande

acumulação de recursos. Nesse contexto, regiões ou áreas que não tenham

relevância econômica tendem a ser menos beneficiadas com a integração, ou ainda,

terem os custos, para alcançar seu desenvolvimento, aumentados pelo processo

mais amplo.

Por esse fato, o combate às assimetrias no processo de integração regional

permitiria nivelar as condições estruturais dos países ou regiões que integrassem o

acordo mais amplo. Dessa maneira, se garantiria o equilíbrio dinâmico dos

interesses dos países membros, que participariam de um processo de integração

acordado de maneira voluntária (2004, p.10)(52).

Essa preocupação, em combater tais assimetrias, geraria maior convergência

entre os países e as regiões do bloco aprofundando o processo de integração.

Conforme destaca Campos (2007, p.274)(10):

“A ideia de integração (...) e a de inserção autônoma e soberana dos países sul-americanos através de sua cooperação. O resultado final da integração seria o fortalecimento de todos, ou seja, todos os Estados nacionais e soberanos ganhariam com a construção do Megaestado da América do Sul”

Portanto, houve uma concertação no bloco da importância política e

econômica de alcançar maior convergência dentro do MERCOSUL. É nesse novo

paradigma que se constitui o Fundo de Convergência Estrutural e Fortalecimento

Institucional do MERCOSUL (FOCEM). Tal fundo estrutural começou a ser discutido

em 2004, e seria destinado a combater as assimetrias entre os países membros.

Sua instituição, dentro da estrutura do bloco, ocorreu através da decisão n°45/04 do

Conselho de Mercado Comum (CMC) e, posteriormente, foi regulamentado pelas

decisões do CMC nº 18/05 e n 24/05.

3.3.2.1. Estrutura

O FOCEM após sua regulamentação, passou a compor a estrutura

institucional do bloco. De acordo com a classificação de Ribeiro (2012, p.106)(34),

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as instâncias do MERCOSUL podem ser divididas em órgãos de Poder Executivo e

de Poder Legislativo.

Os órgãos de Poder Executivo são os órgãos formados por membros dos

poderes Executivos dos Estados-Parte do bloco e aqueles a eles subordinados.

Representam a maioria tanto em quantidade quanto em funções exercidas. Ribeiro

(2012, p.107)(34) organiza-os de forma piramidal dividindo-os em cinco categorias:

Órgão Decisório Máximo; Órgãos Executivos; e três níveis de Órgãos Técnicos e

Consultivos. A Figura 2 mostra a disposição dos órgãos institucionais executivos do

MERCOSUL.

Órgão decisórioMáximo

Órgãos Executivos e decisórios

Órgãos Técnicos e Consultivos de 1º plano

Órgãos Técnicos e Consultivos de 2º plano

Órgãos Técnicos e Consultivos de 3º plano

Figura 2- Estrutura dos Órgãos Executivos no MERCOSUL (2012, p 107)(34)

Essa disposição é mais coerente do que a descrição dos órgãos

separadamente, mostrada no Apêndice A, porque leva em consideração a estrutura

do processo decisório no bloco. Conforme explica Ribeiro (2012, p.108)(34), tem-se

uma concentração das decisões em um único órgão:

“(...) a organização institucional se dá, na prática, de forma piramidal. As decisões propriamente ditas estão concentradas em um único órgão (o Conselho de Mercado Comum), que recebe as propostas de todos os demais.”

Há evidente primazia do CMC, quando se analisa as funções dos demais

órgãos institucionais, nenhum deles tem poder real de decisão . Cabe ressaltar que,

nessa estrutura piramidal, o FOCEM localiza-se nos órgãos técnicos e consultivos

de segundo plano. Isso significa que o fundo está subordinado ao CMC, ao Grupo de

Mercado Comum (GMC) e também à Comissão de Representantes Permanentes do

MERCOSUL (CRPM). Tal hierarquia aparece na Figura 3, onde pode ser visualizada

a posição de cada órgão executivo do MERCOSUL, na estrutura piramidal.

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Conselho de Mercado

Comum (CMC)

Grupo Mercado Comum (GMC)

Comissão de Comércio do

Mercosul (CMC)

Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul (CRPM)

Alto Representante

Geral

Centro Mercosul de Promoção do Estado de Direito

Foro de Consulta e Concertação

Política

Reuniões de Ministros

Reuniões Especializadas

Foro Consultivo Econômico e

Social Focem

Subgrupos de Trabalho

Unidade de Apoio a

Participação Social (UAPS)

Comissões

Grupos Ad Hoc GruposGrupos de Alto

Nível

Figura 3- Estrutura dos Órgãos Executivos do Mercosul (2012, pp.107-113)(34)

Quanto à organização institucional do FOCEM, especificamente, ela é

constituída de vários órgãos da estrutura mais ampla do bloco.

O CMC tem função executiva, como aprovação dos projetos que serão

financiados pelo fundo, aprovação da normativa interna, do orçamento e da

nomeação de cargos como do Diretor Executivo da Unidade Técnica do FOCEM. Já

o GMC, atua como o Conselho de Administração do FOCEM. Cabe a tal Conselho

ser uma instância de avaliação do funcionamento e das prioridades do FOCEM.

Além disso, forma diretrizes para a atuação da CRPM e para o Coordenador

Executivo do FOCEM (2010, p.7)(53).

Dentro dos órgãos Técnicos, a CRPM aparece com várias funções ligadas à

gestão e supervisão do FOCEM (2010, p.8)(53):

Avaliar a execução das atividades desenvolvidas.

Receber os projetos das instâncias inferiores e dar início ao

procedimento para a sua consideração.

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Encaminhar, a análise técnica da UTF, os projetos dos Estados-Parte

considerados elegíveis e que cumpram os requisitos de apresentação.

Elevar ao GMC relatórios pertinentes aos projetos (relatórios de

inspeção e semestrais)

Aprovar os resultados das auditorias externas contábeis de gestão e

execução dos projetos, enviados pela UTF.

Elaborar e aprovar normas e procedimentos do FOCEM propostos

pelos Estados-Parte ou pela UTF.

Elaborar o anteprojeto de orçamento do FOCEM e elevá-lo ao GMC.

Propor emendas ao GMC com relação a toda normativa e

administração do FOCEM.

Resolver consultas apresentadas pelos Estados-Parte ou pela UTF

sobre aplicação e interpretação do presente Regulamento.

Reunir-se, uma vez por mês, para acompanhar o funcionamento do

FOCEM e pelo menos a cada três meses com os Estados-Parte para

avaliar possíveis contribuições ao fundo.

No âmbito da Secretaria do MERCOSUL aparece a Unidade Técnica do

FOCEM que faz a avaliação e acompanhamento da execução dos projetos e

financiamentos. A UTF conta também com um Coordenador Executivo que atuará

junto com técnicos enviados pelos Estados-Parte, dentro do princípio do equilíbrio de

nacionalidades. Em relação ao coordenador, atua de modo geral na administração,

na gestão, contratação de recursos humanos e em relação ao funcionamento do

FOCEM. A indicação para este cargo é efetuada pelos Estados-Parte e a sua

atribuição cabe ao CMC (2010, p.9)(53).

De maneira geral, as atribuições da UTF são as seguintes (2010,pp.10-

11)(53):

Receber os projetos com o parecer da CRPM e analisa os critérios

avaliados pela Comissão.

Avaliar a execução dos projetos aprovados pelo CMC.

Elevar a CRPM os relatórios de avaliação dos projetos em execução.

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Elevar a CRPM os relatórios de avaliação produzidos pela UTNF,

acerca da execução dos projetos e das auditorias externas.

Elaborar relatório de suas atividades e sugestão de orçamento a serem

enviados a CRPM.

Efetuar os desembolsos dos recursos financeiros, conforme o

cronograma de execução aprovado pelo CMC, através da elaboração

de um calendário.

O Financiamento da UTF se dá pela transferência de 1,5% dos

recursos do fundo. Esse percentual pode ser alterado por meio de

Decisão do CMC.

Por fim, há duas instâncias no interior de cada Estado-Parte do FOCEM: a

Unidade Nacional Técnica do Focem e o Organismo Executor. A primeira tem por

funções estabelecer um vínculo operativo com a UTF. Para esse fim, cada Estado-

Parte manterá a UTF informada e os demais Estados-Parte sobre a organização

institucional e a composição da UTNF, incluindo o funcionário que atuará como

ponto focal para contatos com a UTF. As tarefas executadas diretamente são as de

coordenação interna. Tais tarefas estão relacionadas à formulação, apresentação,

avaliação e execução dos projetos.

Quanto ao Organismo Executor, será designado pelo Estado-Parte

beneficiário, como o responsável pela execução de cada projeto (2010, pp. 12-

13)(53). A Figura 4 ilustra a organização institucional interna do FOCEM.

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50

CMC

GMC

CRPM

UTF

UTNF

Decisão final

Conselho de administração

Gestão e Supervisão

Cordenação Executiva

Vínculo Operativo com a UTF dentro dos países

membros

Secretaria Mercosul

Organismo Executor

Responsável direto pela execução do Projeto

Figura 4-Estrutura Institucional do FOCEM (2010, pp.7-14)(53)

3.3.2.2. Normativa de Funcionamento

Como mencionado, a motivação para a criação do FOCEM adveio da

exigência de tornar os benefícios da integração mais equitativos, já que no

MERCOSUL existem níveis muito díspares de desenvolvimento econômico e social.

Assim, na decisão do CMC número 45 de 2004 decidiu-se criar um Fundo de

Convergência Estrutural do MERCOSUL, a partir de interesses e perspectivas

comuns. Os pressupostos para criação do FOCEM eram (2004, p. 1)(54):

a. Promover a competitividade e coesão social dos Estados-Parte,

reduzindo as assimetrias em regiões e países menos desenvolvidos.

b. Impulsionar a convergência estrutural

c. Fortalecer a estrutura institucional do processo de integração

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51

Logo em 2005, elaborou-se a decisão do CMC número 18, a qual

determinava a integração ao MERCOSUL e o funcionamento do FOCEM. Nesse

documento aparece claramente o objetivo do Fundo (2005, p.1)(55):

“O Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM) está destinado a financiar programas para promover a convergência estrutural; desenvolver a competitividade; promover a coesão social, em particular das economias menores e regiões menos desenvolvidas, e apoiar o funcionamento da estrutura institucional e o fortalecimento do processo de integração.”

Cabe ressaltar que tais programas tem como pressuposto geral consolidar o

processo de integração para alcançar o Mercado Comum.

Conforme o regulamento do fundo, decisão do CMC número 24 de 2005, os

programas que compõem o FOCEM estão divididos em quatro áreas maiores

compostas de outras subáreas menores, a saber (2005, pp. 8-10)(56) :

i. Programa de Convergência Estrutural: os projetos dentro deste

programa deverão contribuir para o desenvolvimento e ajuste estrutural

das economias menores e regiões menos desenvolvidas, incluindo a

melhora dos sistemas de integração fronteiriça e dos sistemas de

comunicação em geral. O programa compreenderá os seguintes

componentes:

Construção, modernização e recuperação de vias de transporte

modal e intermodal que aperfeiçoem o escoamento da produção

e promovam a integração física entre os Estados-Parte e entre

suas sub-regiões.

Exploração, transporte e distribuição de combustíveis fósseis e

biocombustíveis.

Geração, transporte e distribuição de energia elétrica.

Implantação de obras de infraestrutura hídrica para contenção e

adução de água bruta, de saneamento ambiental e de

macrodrenagem.

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52

ii. Programa de Desenvolvimento da Competitividade: os projetos

incluídos dentro deste programa deverão contribuir para a

competitividade das produções do MERCOSUL, incluindo processos de

reorganização produtiva e trabalhista que facilitem a criação de

comércio interno ao MERCOSUL, e projetos de integração de cadeias

produtivas e de fortalecimento da institucionalidade pública e privada

nos aspectos vinculados à qualidade da produção (padrões técnicos,

certificação, avaliação da conformidade sanidade animal e vegetal,

etc.); assim como a investigação e desenvolvimento de novos produtos

e processos produtivos. O programa compreenderá os seguintes

componentes:

Geração e difusão de conhecimentos tecnológicos voltados para

setores produtivos dinâmicos.

Metrologia e certificação da qualidade de produtos e processo.

Rastreamento e controle de sanidade de animais e vegetais e

garantia da segurança e da qualidade de seus produtos e

subprodutos de valor econômico.

Promoção do desenvolvimento de cadeias produtivas em setores

econômicos dinâmicos e diferenciados.

Promoção da vitalidade de setores empresariais, formação de

consórcios e grupos produtores e exportadores.

Fortalecimento da reconversão, crescimento e associatividade

das pequenas e médias empresas, seu vínculo com os mercados

regionais e promoção da criação e desenvolvimento de novos

empreendimentos.

Capacitação profissional e em autogestão, organização produtiva

para o cooperativismo e o associativismo e incubação de

empresas.

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53

iii. Programa de Coesão Social: os projetos enquadrados dentro desse

programa deverão contribuir ao desenvolvimento social, em particular

nas zonas de fronteira, e poderão incluir projetos de interesse

comunitário em áreas da saúde humana, a redução da pobreza e do

desemprego. O programa compreenderá os seguintes componentes:

Implantação de unidades de serviços e atendimento básico em

saúde, com vistas a aumentar a esperança de vida e, em

particular, diminuir as taxas de mortalidade infantil; melhorar a

capacidade hospitalar em zonas isoladas e erradicar

enfermidades epidemiológicas e endêmicas provocadas pela

precariedade das condições de vida.

Ensino fundamental, educação de jovens e adultos e ensino

profissionalizante, com vistas a diminuir as taxas de

analfabetismo e de abandono escolar, aumentar a cobertura do

sistema educativo formal na população, promover a educação

destinada a proteger as necessidades específicas de

especialização e a diminuição das disparidades no acesso à

educação.

Capacitação e certificação profissional de trabalhadores,

concessão de microcrédito, fomento do primeiro emprego e de

renda em atividades de economia solidária, orientação

profissional e intermediação de mão-de-obra, com vistas à

diminuição das taxas de desemprego e subemprego; diminuição

da disparidade regional incentivando a criação de emprego nas

regiões de menor desenvolvimento relativo e melhora da

situação dos jovens no mercado de trabalho.

Combate à pobreza: identificação e localização das zonas mais

afetadas pela pobreza e exclusão social; ajuda comunitária;

promoção do acesso à moradia, saúde, alimentação e educação

de setores vulneráveis das regiões mais pobres e das regiões

fronteiriças.

iv. Programa de Fortalecimento da Estrutura Institucional e do Processo

de Integração: os projetos enquadrados dentro deste programa

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54

deverão atender à melhora da estrutura institucional do MERCOSUL e

seu eventual desenvolvimento. Uma vez cumpridos os objetivos dos

projetos, as estruturas e atividades que possam resultar serão

financiadas em partes iguais pelos Estados Partes. Os projetos dentro

deste programa deverão contribuir para aumentar sua eficiência e

favorecer sua evolução

É importante destacar que o regulamento estabeleceu, como prioridade dos

quatro primeiros anos de vigência do fundo, projetos vinculados ao Programa I,

ressaltando a preocupação em promover projetos vinculados à infraestrutura dos

Estados-Parte, com vistas a facilitar o processo de integração.

As normas para a conformação do fundo estão vinculadas a contribuições dos

Estados-Parte efetuadas em cotas semestrais. Tais contribuições são primeiramente

depositadas em instituições financeiras de cada Estado-Parte. No entanto, tais

instituições devem atender aos requisitos da SM que terá acesso livre as contas.

O montante total anual de contribuições dos Estados-Parte ao FOCEM é de

100 milhões de dólares, composto pelas porcentagens mostradas na Figura 5,

considerando a média histórica do Produto Interno Bruto (PIB) do MERCOSUL

(2005, p.3)(55).

Figura 5 - Porcentagem das Contribuições ao FOCEM(2005, p.3)(55)

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55

Percebe-se que a maior parte das contribuições 70% cabe ao Brasil, por ter o

PIB muito superior em relação aos outros países que compõe o Fundo. A Argentina

ficaria em uma posição mediana, em relação aos demais países, contribuindo com

quase 30%. Paraguai e Uruguai, por serem as menores economias, considerando o

PIB, respondem por contribuições de 1% e 2%, respectivamente.

De acordo com a decisão nº 18/05, toda a contribuição anual do Estado- Parte

deve ir para a execução dos Projetos. Além disso, o FOCEM poderá receber

contribuições provenientes de outros países, instituições ou organismos

internacionais para o desenvolvimento dos projetos.

Com relação à administração dos recursos, essa será feita pelo diretor da SM

conjuntamente com o coordenador da Unidade Técnica do FOCEM, vinculada a SM.

Nesse contexto, a SM possui autorização para ter uma conta em Montevideo, na

qual recebe os recursos de cada Estado-Parte que compõe o fundo. Quando houver

transferência de recursos, para execução de projetos, ao Estado-Parte esta será

efetuada em dólares estadunidenses (2005, p.2)(56).

No caso do descumprimento dos pagamentos ou atraso nas cotas para o

financiamento da Estrutura Institucional, o Estado-Parte será considerado devedor

(em mora). Nesse caso, não se beneficia dos recursos do FOCEM para financiar

novos projetos por ele apresentados, como em caso de projetos aprovados não

iniciados. Somente se mantem o financiamento dos projetos em execução (2005,

p.2)(56).

No que tange à distribuição dos recursos, destinados ao financiamento dos

projetos I, II e III, de acordo com a decisão do CMC número 18 de 2005, os

percentuais cabíveis a cada Estado-Parte é mostrado na Figura 6.

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56

Figura 6 - Distribuição dos Recursos do FOCEM(2005, p.3)(55)

Nota-se que Paraguai e Uruguai recebem a maior parte dos recursos do

fundo: os dois somam 80% do montante para seus projetos. Esse fato relaciona-se

diretamente com a exigência desses países em possuírem maior acesso aos

benefícios da integração. Tal disparidade é justificada pela busca de maior equilíbrio

econômico entre os membros. Essa razão tornou-se um pressuposto para a

integração do bloco, por isso o acordo foi aceito pelos membros mais ricos, Brasil e

Argentina, ficando, estes, com 20% dos recursos para seus projetos.

Os gastos de funcionamento do FOCEM devem ser pagos pelo próprio fundo.

Além disso, o Programa IV recebe anualmente um montante correspondente a 0,5%

dos recursos totais do fundo.

Os Estados-Parte participam do financiamento de seus projetos, aprovados

pelo CMC, com fundos equivalentes, no mínimo a 15% do valor total do projeto

(2005, p.4)(55).

O FOCEM conta também com uma reserva de contingência, empregada para

que não se interrompa a execução dos projetos em andamento, no caso de

apresentarem-se problemas de financiamento. Seu valor é de 10% das contribuições

anuais dos Estados-Parte ao FOCEM, até alcançar a cifra de 10 milhões de dólares

(2005, p.3)(56) .

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57

Por último, cabe ao GMC formular o exercício orçamentário do FOCEM

corresponde ao período de 1º de janeiro até 31 de dezembro de cada ano. Sua

elaboração é feita seguindo várias etapas através dos órgãos institucionais

componentes do FOCEM, como mostra a Figura 7.

CMC

GMC

CRPM

UTF

Aprovação do Orçamento na última reunião

ordinária do ano

Elaboração do Oçamento Final

para a aprovação

Elaboração do Anteprojeto de

Orçamento

Apresentação do Orçamento

Anual

Figura 7- Processo de Elaboração Orçamentária do FOCEM(2010, p.15)(53).

A aprovação final do orçamento é feita pelo CMC, já que esse é o órgão

decisório máximo. O órgão técnico do Fundo, a UTF, somente elabora um

orçamento em caráter propositivo que será encaminhado a CRPM. A comissão

elevará a proposta com as devidas alterações ao GMC encaminhando a proposta de

orçamento ao CMC, que aprovará ou irá propor mudanças.

Nesse percurso, percebe-se a concentração das decisões no CMC e a baixa

discricionariedade dos órgãos técnicos, através da avaliação de sua proposta por

três instâncias.

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O orçamento é constituído de duas partes: o Título I que apresenta as

disposições gerais e complementares relacionadas com a aprovação, execução e

avaliação do orçamento dos projetos apresentados; o Titulo II inclui quadros

descritivos dos recursos, sua aplicação e sua desagregação por projeto (2010,

p.14)(53).

Quanto aos recursos não alocados durante o ano orçamentário, são

adicionados aos recursos do ano seguinte e distribuídos seguindo as mesmas

porcentagens de distribuição (2012, p.3)(56).

Por fim, cada Estado-Parte poderá solicitar à CRPM, um suplemento de até

30% dos recursos realocados no exercício orçamentário para antecipar o

cronograma de execução do projeto. Esses recursos serão provenientes daqueles

destinados ao Estado-Parte para novos projetos. Além disso, o pagamento parcial

de 30% poderá advir da dotação destinada à execução de outro projeto do Estado

Parte que esteja atrasado (2010, p.15)(53).

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59

4. Resultados

4.1 O objetivo e a estrutura deste capítulo

Este capítulo tem o objetivo de mostrar os resultados da pesquisa. No

primeiro item será discutido o impacto da Venezuela no bloco com relação ao

combate às assimetrias estruturais. Além dos resultados que propiciaram uma visão

geral do caráter das normativas e a classificação dos projetos financiados pelo

FOCEM, são mostrados os resultados que contemplam a participação venezuelana.

No segundo item temos a análise dos impactos da Venezuela com relação ao

comércio de petróleo com o bloco. Também a análise da relação dos países do

bloco com os EUA e, por fim, a análise dos impactos da entrada no MERCOSUL,

com relação ao refino de petróleo venezuelano nos EUA.

4.2 A entrada da Venezuela no MERCOSUL e seu impacto no FOCEM:

uma análise de normativas

Como mostrado no Capítulo I, o Problema principal dessa pesquisa é

“analisar as implicações na geopolítica petroleira do MERCOSUL, com a entrada da

Venezuela” Dentro desse problema mais geral, inseriu-se o seguinte objetivo

específico: averiguar os reflexos da entrada da Venezuela no MERCOSUL, com

relação aos avanços no combate às assimetrias estruturais e energéticas dos países

através de projetos transnacionais de abastecimento petrolífero.

Para averiguar empiricamente a existência de tais avanços no combate às

assimetrias estruturais, houve a formação de um banco de dados com todas as

decisões do CMC relacionadas ao FOCEM. Esse levantamento se justifica pelo fato

de o Fundo ser responsável pelo combate às assimetrias estruturais entre os países.

Logo, evidencia-se que essa pesquisa tem caráter descritivo, ou seja,

descreve características dos fenômenos ou estabelece relações entre as variáveis.

Para tanto, utilizam-se técnicas padronizadas de coleta de dados, com a intenção de

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60

averiguar associação entre variáveis. Proporciona-se, assim, uma nova visão do

problema estudado (1999, p.44)(2)

4.2.1. Metodologia

Nessa etapa, de análise empírica foram utilizados, em grande medida, três

processos metodológicos: (1999, pp.65-66)(2)

Pesquisa Bibliográfica: permitiu a coleta de uma gama de fenômenos

muito mais ampla, em relação à pesquisa direta. Através de materiais

científicos como livros, artigos e outros trabalhos acadêmicos, sendo

possível alcançar o problema de dados muito dispersos.

Pesquisa Documental: consistiu na pesquisa de fontes documentais,

especificamente, de instituições governamentais. Esses documentos

são de “primeira mão” já que não receberam tratamento nenhum. A

classificação foi efetuada de acordo com os objetivos da pesquisa.

Método Estatístico: fundamentou-se na aplicação da teoria estatística

da probabilidade. Mediante a utilização de testes estatísticos, tornou-se

possível determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto

de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor

obtido. Assim, foi fornecido razoável grau de precisão, muito valorizado

na pesquisa quantitativa (1999,p.35)(2)

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61

4.2.2. Coleta de dados

O Estudo é de análise documental, retrospectivo, desenvolvido numa

instituição de referência do MERCOSUL, o Fundo de Convergência e Fortalecimento

Institucional do MERCOSUL (FOCEM) localizado no Edifício MERCOSUL, em

Montevidéu, no Uruguai. Esse órgão possui um sitio “http://www.mercosur.int/focem”,

onde estão localizadas todas as decisões do Conselho de Mercado Comum,

relacionadas ao FOCEM.

Utilizaram-se informações constantes em 127 decisões do CMC,

disponibilizadas no sitio do Fundo. Foram analisadas decisões do período entre

2002 a 2012. Tais decisões foram selecionadas porque continham informações

relacionadas à origem, normativa e projetos do FOCEM. A coleta dessas decisões

foi feita durante junho de 2013. É importante ressaltar que as decisões estavam

separadas dentro do sitio em duas áreas principais:

Documentos e normativa: institucional, convênios e normativa dos

Estados-Parte.

Projetos: divididos por países beneficiários.

Após a coleta, os dados foram compilados manualmente. Esse processo

permitiu que fossem discutidos e analisados posteriormente.

4.2.3. Análise dos Dados

A análise tem como objetivo organizar e sumarizar os dados para que

possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto na investigação. A

interpretação, por sua vez, tem como objetivo a procura de sentido mais amplo das

respostas obtidas. (1999, p.168)(2).

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62

Para esse trabalho, o processo de análise e interpretação dos dados seguiu

as seguintes etapas: estabelecimento de categorias, codificação, tabulação, análise

estatística e interpretação

4.2.3.1. Estabelecimento de categorias

1) Estabelecimento de categorias: ocorre para que as respostas fornecidas

pelos dados possam ser adequadamente analisadas. Esse ordenamento é

feito com o agrupamento de dados mediante categorias (1999,p.169)(2)

De acordo com definição, as categorias foram criadas baseadas nas

partes das decisões do CMC: número da decisão, órgão institucional da

decisão, o título, considerando (considerações direcionadas a integração

propriamente-dita) e o próprio conteúdo da decisão. Estas partes estão

destacadas em vermelho na Figura 8:

Figura 8- Modelo de Decisão do Conselho de Mercado Comum

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63

A partir dessas secções, presentes na decisão, foi produzido um banco de

dados prévio com as decisões relacionadas a normativas, ou seja, regras

relacionadas ao próprio MERCOSUL, ao FOCEM e aos Estados-Parte. Para tanto,

foram criadas sete categorias:

a) Número: número da decisão do CMC

b) Institucional: órgão institucional do MERCOSUL responsável pela decisão.

c) Categoria: natureza da decisão, ou seja, vinculada a uma regra, plano de

ação, instituição ou uma lei.

d) Ano: ano da decisão

e) Assunto: tema versado na decisão (Vinculado ao Título da decisão)

f) Objetivo: motivo da decisão, ou seja, estabelecimento de uma ação pelo

CMC. (vinculado à última parte da decisão)

g) Pressuposto: objetivo ligado ao processo de integração mais amplo, pré-

estabelecido anteriormente. (Vinculado ao Considerando)

Depois de categorizar as normativas relacionadas ao FOCEM, coube a parte

relacionada diretamente aos projetos financiados pelo fundo. A descrição do projeto

a ser financiado pelo FOCEM têm as seguintes partes: título do projeto, convênio,

país, programa, componente do programa, organismo executor, duração, valores

relacionados ao convênio, valores relacionados ao projeto, localização geográfica,

alcance do projeto, descrição do projeto, benefícios do projeto, situação sem o

projeto e imagens do mapa mostrando a localização do projeto.

Para a formação do banco de dados prévio foram selecionadas as seguintes

categorias:

a) Número: número da decisão do CMC, que aprovou a execução do projeto.

b) Ano: ano de autorização do projeto

c) Categoria: relativa a projetos de teste (piloto) ou projetos na fase de

consolidação do fundo (efetivos)

d) Projeto: titulo do projeto

e) Programa: área do projeto dentro dos programas de financiamento do

FOCEM.

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64

f) País: país beneficiado pelos projetos do FOCEM.

g) Convênios: convênios com outros países e instituições para execução dos

projetos.

h) Valor: valores totais dos projetos apresentados

i) FOCEM: recursos FOCEM

j) Contribuição: contribuição de recursos do país beneficiado

k) Duração: tempo de execução do Projeto

Na Figura 9, são destacadas em laranja as categorias selecionadas na

descrição ampla do projeto:

Figura 9- Categorias Selecionadas dos Projetos

Com a elaboração desses dois bancos de dados “gerais” foi possível

estabelecer classificações mais amplas, que abarcaram as especificidades de cada

decisão.

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65

2) Codificação: corresponde ao processo pelo qual os dados brutos são

transformados em símbolos, que possam ser tabulados (1999, p. 172)(2).

Nesse sentido, os dados brutos tanto do banco de dados referente às

normativas do FOCEM, quanto o relacionado aos projetos foram

codificados. Os códigos são ilustrados na na Figura 10 e na Figura 11

Figura 10-Código do Banco de Dados "Normativa FOCEM"

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66

Figura 11- Código do Banco de Dados "Projetos Focem

Após a codificação, as variáveis foram tabuladas eletronicamente e tratadas

de maneira estatística. Esses processos foram efetuados com ajuda do programa

SPSSW, versão 17.0 para Windows. Utilizar a estatística descritiva, para analisar as

decisões do CMC relativas ao FOCEM, nos permite a organização, análise e

interpretação dos dados empíricos, através da criação de instrumentos como tabelas

e gráficos. Visa-se a mera descrição da realidade dentro dos documentos

selecionados como “uma fotografia”.

3) Tratamento dos Dados: após a codificação, as variáveis foram tabuladas

eletronicamente e tratadas de maneira estatística. Esses processos foram

efetuados com ajuda do programa SPSSW, versão 17.0 para Windows.

Utilizar a estatística descritiva para analisar as decisões do CMC relativas

ao FOCEM permite a organização, análise e interpretação dos dados

empíricos, através da criação de instrumentos como tabelas e gráficos.

Visa-se a mera descrição da realidade dentro dos documentos

selecionados como “uma fotografia”.

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67

4.2.4. Resultados

Após o tratamento dos dados, os resultados foram divididos em dois grupos:

àqueles relativos à normativa e os relacionados aos projetos financiados pelo

FOCEM.

4.2.4.1. Resultados Relativos à Normativa.

Os resultados relacionados à normativa estão associados tanto com a

categoria da normativa, quanto com o alcance de determinado objetivo. Assim, as 43

decisões do Conselho de Mercado Comum relativas à normativa do Fundo puderam

ser classificadas em categorias mais amplas. Essas categorias referem-se à espécie

de normativa, ou seja, a que área pretende regular. A Erro! Fonte de referência

não encontrada. mostra a distribuição percentual das categorias analisadas,

conforme sua frequência.

.

Tabela 1 - Distribuição das Categorias de Normativa

Frequência Porcentagem

Institucional 3 7,00%

Linha de Ação 1 2,30%

Normativa Reguladora 11 25,60%

Normativa Técnica 7 16,30%

Normativa de Orçamento 7 16,30%

Normativa de Recursos 4 9,30%

Lei 10 23,30%

Total 43 100%

De acordo com os dados colhidos, 25,6% dos resultados relacionam-se com a

normativa reguladora, ou seja, aquela que discorre sobre o próprio funcionamento do

FOCEM. Já 23,3% correspondem às leis que dão legitimidade às regras do Fundo

dentro dos Estados Partes. Destaca-se também, com 16,3% cada, a normativa

relacionada ao funcionamento da área técnica e aos orçamentos anuais. Também

aparecem as normativas que se relacionam com o quadro institucional mais amplo

do bloco e aquelas relacionadas ao gerenciamento de recursos: 7% e 9,3%,

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68

respectivamente. A distribuição da frequência de cada categoria de normativa dentro

da totalidade é mostrada na Figura 12.

Figura 12- Distribuição das Normativas do FOCEM

Além da observação das categorias, as normativas foram analisadas

considerando seus objetivos. A Tabela 2 sintetiza a distribuição encontrada em

relação a este critério.

Tabela 2 - Objetivos Pretendidos pela Normativa do FOCEM

Frequência Porcentagem

Aprofundar Integração 6 14,00%

Escolha de Representantes Perante Órgãos Internacionais

1 2,30%

Base Jurídica 1 2,30%

Correção de Assimetrias para Convergência Estrutural

3 7,00%

Regras de Contratação Externa 2 4,70%

Regulamentação 3 7,00%

Racionalidade Técnica para Burocracia Administrativa

6 14,00%

Prestação de Contas 7 16%

Aproveitamento dos Recursos 4 9,30%

Reconhecimento do Estado Parte a Normativa do FOCEM

10 23,30%

Total 43 100%

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69

De acordo com a Tabela 2, percebe-se que as normativas apresentam vários

objetivos a serem alcançados. Os principais corresponderam ao reconhecimento dos

Estados Partes à normativa do FOCEM (23,30%), seguido pelo objetivo de

prestação de contas (16%). Ainda com boa representatividade dentro da amostra,

14% estão ligados à necessidade de aprofundar a integração e que a burocracia

ligada ao fundo tenha mérito técnico. Já os percentuais abaixo de 10% estão

relacionados aos objetivos de aproveitamento de recursos, convergência estrutural

e, por fim, à regulamentação propriamente dita, ligada às normas de funcionamento

do FOCEM e as regras de contratação de funcionários externos ao Fundo. A Figura

13: ilustra a frequência de cada um dos objetivos, dentro das normativas ligadas ao

Fundo.

Figura 13- Distribuição dos Objetivos das Normativas do FOCEM

Cabe ressaltar dois casos específicos ligados à normativa do fundo, por

relacionarem-se com a Venezuela. O primeiro deles é a normativa que estabelece a

adesão do país andino ao FOCEM e o segundo é o orçamento de 2013, aprovado

em 2012. A Figura 14 mostra as normativas destacadas aprovadas em 2012, que se

relacionam ao novo membro do MERCOSUL.

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70

Figura 14- Gráfico Assunto Normativa X Ano de Aprovação

4.2.4.2. Resultados Relativos aos Projetos

Os resultados relacionados aos projetos do FOCEM são divididos em duas

categorias. A primeira ligada à análise univariada, ou seja, aquela que examina a

distribuição de casos de apenas uma variável de cada vez. (2001,p.337)(57) A

segunda é a análise bivariada, mostrando relações entre duas variáveis, onde uma

será independente e a outra dependente (2001, p.352)(57).Dessa maneira,

começamos analisando os projetos de acordo com os beneficiários . As frequências

e porcentagens aparecem na Tabela 3 abaixo:

Tabela 3 - Projetos Divididos por Beneficiários

Frequência Porcentagem

Argentina 5 11,10%

Brasil 5 11,10%

Paraguai 18 40%

Uruguai 10 22,20%

Secretaria 4 8,90%

Pluriestatal 2 2,40%

Biestatal 1 1,20%

Total 45 100%

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71

Percebe-se que 40% dos projetos tiveram como beneficiário o Paraguai,

seguido pelo Uruguai com 22,2%. Argentina e Brasil têm as mesmas porcentagens

de 11,1%. Por último, os projetos da Secretaria do MERCOSUL, os Pluriestatais e os

Biestatais com 8,90%, 2,40% e 1,20% respectivamente. A Figura 15 enfatiza esta

maioria de projetos aprovados pelo FOCEM, destinados ao Paraguai e Uruguai.

Figura 15- Distribuição de Projeto por Beneficiário

Quanto aos Programas do FOCEM, a maioria de projetos está vinculada ao

Programa I, de Convergência Estrutural (46,7%), seguidos pelos projetos ligados ao

Programa II, de Desenvolvimento da Competitividade (26,7%), por fim, o Programa

III, de Coesão Social, com 17,80%. Com relação ao Programa IV, vinculado aos

projetos da Secretaria do MERCOSUL, que visa promover o fortalecimento

institucional e o Processo de Integração, atinge 8,90% em relação ao total de

projetos (Tabela 4, Figura 16). Cabe ressaltar o grande número de projetos ligados à

área de Convergência Estrutural: quase a metade dos projetos.

Tabela 4 - Programas do FOCEM

Frequência Porcentagem

Convergência Estrutural 21 46,70%

Desenvolvimento da Competitividade 12 26,70%

Coesão Social 8 17,80%

Fortalecimento Institucional e Processo de Integração 4 8,90%

Total 45 100%

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72

Figura 16- Distribuição de Projetos por Área de Financiamento

Outro critério analisado foram os convênios vinculados ao financiamento dos

projetos. Quase 75,6% dos projetos foram financiados por meio de convênios

governamentais e dois casos pontuais de convênios com Instituto e Universidade

representando 2,20% cada um. Outra característica importante é a inexistência de

convênios em 20% dos projetos. (Tabela 5). A Figura 17 evidencia o grande número

de convênios governamentais:

Tabela 5 - Convênios de Financiamento dos Projetos

Frequência Porcentagem

Nenhum 9 20,00%

Governamental 34 75,60%

Instituto 1 2,20%

Universidade 1 2,20%

Total 45 100%

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73

Figura 17- Gráfico de da Distribuição dos Convênios dos Projetos

Na Figura 18 consta a distribuição dos valores dos projetos. Nota-se que

existem projetos com valores muito elevados e, por isso, a média aparece bem

acima da mediana, representada pela linha em negrito no gráfico. Os

empreendimentos que recebem maior volume de recursos estão associados às

áreas de energia e transporte.

Figura 18- Gráfico da Distribuição dos Valores Totais dos Projetos

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74

Após a análise univariada acima, juntamos as variáveis ano e país. Destaca-

se, na Figura 19, a concentração de projetos aprovados pelo FOCEM nos anos de

2007, 2008 e 2010, havendo redução expressiva nos anos seguintes. Quanto aos

países do Fundo, a primazia é do Paraguai, de 2007 a 2009, havendo maior

diversificação de participantes no fundo a partir de 2010..

Figura 19- Gráfico dos Projetos ano país

Por fim, os projetos relacionados à área de energia, aparecem em sua

maioria, vinculados à área de Convergência Estrutural. Na Figura 20, os projetos

destacados em vermelho são àqueles ligados a energia e aparecem relacionados ao

ano de aprovação do projeto. Concentram-se na área de transmissão de energia

elétrica e ampliação de Itaipu, datam de 2010 e 2012.

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75

Figura 20- Projetos da Área de Convergência Estrutural

Já na área de Desenvolvimento da Competitividade, relacionados ao ano de

aprovação do projeto, temos um único projeto ligado à promoção do fortalecimento

da cadeia de petróleo e gás, aprovado em 2010. (Figura 21) Objetivou integrar as

empresas âncoras dos Estados Parte do MERCOSUL com outras empresas,

potenciais e efetivas, que promovam a complementação e integração na cadeia

produtiva.

Figura 21- Projetos da Área de Desenvolvimento de Competitividade

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76

4.3 A entrada da Venezuela no MERCOSUL e seu impacto no comércio

de Petróleo: uma análise de dados

Além da averiguação dos avanços no combate às assimetrias, essa pesquisa

se propôs a examinar as mudanças ocasionadas pela entrada da Venezuela no

MERCOSUL, em relação ao comércio de petróleo, no período de 2000 a 2012

Dentro dessa questão geral, buscava resposta a três questões especificas: 1)

analisar a produção da PDVSA e seus reflexos comerciais em relação aos países do

bloco; 2) verificar as transações comerciais dos países membros com os EUA,

posterior à entrada da Venezuela, e por fim, 3) avaliar a participação dos EUA no

refino e comercialização da PDVSA com a adesão ao bloco.

Para responder a essas questões empiricamente foi construído um banco de

dados com as estatísticas comerciais dos países selecionados pela pesquisa. Esse

levantamento possibilitou posteriormente a estruturação e a organização da

informação atendendo aos objetivos da pesquisa.

Os países considerados, no âmbito do MERCOSUL, foram: Argentina, Brasil e

Peru. Esses países foram selecionados pela expressiva produção petrolífera. O Peru

é ainda membro associado do bloco, no entanto, há uma gama de acordos com o

bloco no sentido de uma politica de migração comum. Esse processo de grande

aproximação com o MERCOSUL indica uma integração bem avançada do país

andino.

Em relação à Venezuela, cabe ressaltar que, no início dessa pesquisa, o país

ainda era membro associado ao bloco. Por isso, foi considerado o ano de 2006

como o marco de entrada da Venezuela no MERCOSUL.

Trabalhou-se com os dados de produção de petróleo cru, com o objetivo de

evitar maiores dificuldades na análise do comércio de petróleo entre os países.

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77

4.3.1. Metodologia

Foram utilizados, basicamente, dois processos metodológicos também

empregados na primeira parte da coleta e análise de dados ( item 4.2) (1999, pp.66-

67)(2)

Pesquisa Documental: consistiu na pesquisa de bancos estatísticos,

especificamente, de instituições governamentais. Esses documentos

foram de “segunda mão” já que receberam o tratamento estatístico da

instituição consultada.

Método Estatístico: Fundamentou-se na aplicação da teoria estatística

da probabilidade. Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se

possível determinar em termos numéricos, a probabilidade de acerto

de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor

obtido (1999,p.35)(2)

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78

4.3.2. Coleta de dados

Utilizar a estatística descritiva, para analisar, nos permite a organização,

análise e interpretação dos dados empíricos, através da criação de instrumentos

como as tabelas e gráficos.

Assim foram coletados dados de bancos estatísticos dos países selecionados

na pesquisa. Esses dados foram padronizados para uma mesma unidade de

medida, já que vieram de bancos estatísticos distintos. Na Tabela 6 são mostrados o

país, a instituição de fornecimento dos dados e a unidade padrão de cada banco

estatístico.

Tabela 6 - Coleta de dados de Produção de Petróleo

País Órgãos Institucionais Unidade de Origem

Argentina Ministerio de Planificacion Federal Inversion Públlica

Metros Cúbicos (m³)

Brasil Agência Nacional do Petróleo Milhares de barris (Mbbl)

Peru Superintendencia Nacional de Aduanas y de Administración Tributaria

Quilograma (kg)

Venezuela Petroleos de Venezuela Sociedad Anonima

Milhões de barris (MMbbl)

A padronização dos dados de produção petrolífera de óleo cru foi feita na

unidade de Milhares de Barris (Mbbl). A conversão seguiu os parâmetros da

seguinte tabela de conversão fornecida pelo sitio web http://www.portalnaval.com.br/

Tabela 7 - Tabela de Conversão do Óleo Cru11

Toneladas Barris Galões (EUA) Toneladas/Ano

Toneladas (métricas)

1 7,33 308 _

Toneladas longas

1,016 7,45 313 _

Barris 0,136 1 42 _

Galões (EUA) 0,00325 0,0238 1 _

Barris/dia _ _ _ 49,8

11

baseado na média (Árabe Leve) 33,5 API

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79

4.3.3. Análise dos Dados

Para comparar os dados da produção petrolífera foi utilizado um modelo de

análise que visava traduzir as questões da pesquisa de maneira a se encaixarem

nos dados numéricos coletados. Nesse sentido os objetivos da pesquisa foram

“traduzidos” da seguinte maneira:

1) Entender as relações da produção venezuelana e os países do bloco: para

analisar essa questão, a produção venezuelana de óleo cru foi dividida em

produção interna, produção exportada/importada destinada ao

MERCOSUL, produção exportada/importada destinada aos EUA e

produção restante, destinada a outros países.

2) Verificar as transações comerciais dos países membros com os EUA,

posterior à entrada da Venezuela: os dados de produção dos países do

MERCOSUL foram separados em dois períodos distintos. O primeiro é o

anterior à entrada da Venezuela, ou seja, 2000 a 2007 e o segundo, o

posterior a entrada no bloco, de 2008 a 2012. Dessa maneira, verificou-se

a produção dos países do bloco importada e exportada, nesses dois

períodos, para os EUA.

3) Avaliar a participação dos EUA no refino e comercialização da P DVSA

com a adesão ao bloco: nesse sentido, os dados da produção de petróleo

venezuelana foram divididos em dois conjuntos. O primeiro é o anterior à

entrada da Venezuela, ou seja, 2000 a 2007 e o segundo seria o posterior

a entrada no bloco de 2008 a 2012. Assim, pôde-se examinar a diferença

entre os dois períodos, em relação à quantidade refinada pelos EUA.

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80

4.3.4. Resultados

Os resultados em relação ao comércio de petróleo no MERCOSUL com a

entrada da Venezuela foram analisados através da elaboração de gráficos com o

programa Statistical Package for the Social Sciences.

Na Figura 22 é mostrada a transação da produção de Petróleo Cru

venezuelano para os países do MERCOSUL. Trata-se, apenas, das importações do

petróleo Venezuelano pelos países do bloco durante o período de 2000 a 2012.

Figura 22- Gráfico Transação Venezuela-MERCOSUL

A linha em azul indica a diminuição da quantidade de petróleo importada pelo

Brasil de 2000 a 2003 chegando a níveis nulos em 2005. Voltando a subir em 2008 e

2009, sem retomar o patamar anterior. Sem transações com Argentina. Em relação

ao Peru (linha de cor preta) observa-se uma queda de 2000 a 2002, ocorre um

aumento em 2004 e volta a cair em 2007. Porém, volta a crescer e cair novamente

em 2010.

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81

Na Figura 23 vê-se a transação de óleo cru entre Venezuela e EUA, de 2006

a 2012 e a produção interna venezuelana durante os anos de 2000 a 2012.

Figura 23- Produção Interna Venezuelana e Transação Venezuela-EUA

Temos a produção interna venezuelana, representada pela linha roxa, cai em

2003, tem uma ligeira alta e permanece com relativa estabilidade até 2010. A partir

de 2011 inicia uma queda. Já a importação estadunidense da Venezuela, com dados

a partir de 2006, tem uma queda até 2010 voltando a subir em 2011 e 2012.

Com relação às exportações dos países do MERCOSUL para os EUA, no

período anterior a entrada da Venezuela 2000-2007, tem-se: 1) o Brasil apresenta

forte exportação nesse primeiro período, com forte elevação entre 2005 e 2007; 2) a

Argentina, entre 2001 a 2005, tem ligeira alta com queda brusca em 2006; 3) o Peru

com pouca expressividade nas exportações para os EUA no período na Figura 24.

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82

Figura 24- Exportações MERCOSUL-EUA 2000-2007

No período posterior a entrada da Venezuela de 2008 a 2012, as exportações

para os EUA podem ser observadas na Figura 25.

Figura 25- Exportações MERCOSUL -EUA 2008-2012

Quanto ao Brasil, observa-se uma estabilidade entre 2008 e 2009, com ligeira

alta até 2011, quando cai um pouco em 2012. No caso argentino, permanece no

mesmo patamar entre 2007 a 2009, com ligeira queda até 2011, quando retoma o

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83

crescimento. Por fim, o Peru apresenta uma menor quantidade exportada no período

com elevação a partir de 2011.

As importações feitas pelo MERCOSUL dos EUA na época de 2000 a 2007,

que antecede a entrada da Venezuela no bloco, podem ser observadas tanto por

parte da Argentina como do Brasil (Figura 26).

Figura 26-Importações Mercosul- EUA 2000 a 2007

Destaque para o Brasil com aumento a partir de 2004, de forma expressiva,

em relação ao período anterior. Já a Argentina apresenta uma curva pouco

expressiva. Na segundo etapa, posterior a entrada da Venezuela temos: a

inexistência de importações argentinas. No caso brasileiro as importações

permanecem elevadas até 2009, quando ocorre uma forte queda. A trajetória

brasileira aparece indicada. Na Figura 27. Em relação ao Peru, não realiza

importações dos EUA ao longo de todo período.

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84

Figura 27- Importação MERCOSUL- EUA 2008-2012

Também temos o refino de petróleo venezuelano nos EUA e na própria

Venezuela, ao longo do período. A Figura 28 indica uma queda na quantidade de

petróleo refinada na Venezuela a partir de 2006. Já a quantidade refinada nos EUA

apresenta queda em 2006, porém permanece estável de 2008 a 2012.

Figura 28- Petróleo Venezuelano Refinado na Venezuela e nos EUA

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85

Por fim, foi analisada a produção de petróleo cru no interior dos países

pesquisados, para entender possível reflexos internos na realidade mais ampla do

bloco. A produção interna da Argentina, mostrada na Figura 29, apresentou forte

queda até 2002, com níveis baixos de produção até 2012.

Figura 29- Produção Interna da Argentina

No caso da produção brasileira, observamos um forte aumento entre 2000 e

2002. Essa elevação permanece, até o final do período, porém em níveis menores.

(Figura 30)

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86

Figura 30- Produção Interna do Brasil

A produção interna peruana, conforme a Figura 31, tem uma trajetória de

queda consistente até 2006, com aumentos menores que não chegam aos níveis

anteriores.

Figura 31- Produção Interna Peru

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87

5. Conclusões e Trabalhos Futuros.

Com esses resultados pode-se concluir que em relação ao combate às

assimetrias, a influência da Venezuela foi pequena, já que se tornou membro do

FOCEM somente em 2012 tendo participação somente no orçamento deste ano.

Com relação aos projetos ligados à energia, estão relacionados em grande

parte à eletricidade e preocupação no desenvolvimento da cadeia de petróleo e gás.

Em relação às transações de petróleo, tem-se o Brasil com aumento da

produção interna, o que acarretou menores níveis de importação da Venezuela. A

Argentina não importou petróleo venezuelano, apesar da diminuição da produção

interna. Quanto aos níveis de importação peruanos não foram tão relevantes.

Com relação aos EUA, a importação e exportação de petróleo cru tem

relevância somente com o Brasil.

Por fim, conclui-se que no período estudado, de 2000 a 2012, as alterações

na geopolítica de petróleo do Mercosul não estão associadas diretamente à

Venezuela. Percebe-se influencia maior do contexto interno dos países.

Como sugestão para trabalhos futuros indica-se:

Analisar as transformações ocorridas internamente na PDVSA:

entender como estabelece relações comerciais com os países.

Analisar as implicações no MERCOSUL do Brasil como futuro

exportador,

Incorporar na análise as relações petrolíferas entre MERCOSUL e

CAN, especialmente em relação ao Equador e à Colômbia.

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APENDICE A – ORGÃOS MERCOSUL

Órgão Institucional

Função Composição

Conselho do Mercado

Comum (CMC)

É o órgão decisório máximo da

estrutura institucional do

bloco. Titular da Personalidade

Jurídica do bloco. Responsável

por criar, modificar ou

suprimir órgãos na estrutura

do MERCOSUL. Além das

decisões de ordem financeira e

orçamentaria

Ministros da Economia e

relações internacionais dos

Estados Partes

Grupo de Mercado Comum

(GMC)

É responsável por apresentar

projetos ao CMC e pela tomada

de providências necessárias ao

cumprimento da decisão que

foi adotada pelo órgão

decisório central.

Representante das propostas e

recomendações levadas a seu

conhecimento pelos demais

órgãos do bloco

É ocupado por quatro

membros titulares e quatro

membros e quatro membros

que obedecem ao critério de

alternância por Estado Parte.

Sendo que devem ser

representantes dos Ministério

de Relações Exteriores, da

Economia e do Banco Central

Comissão de Comércio do

MERCOSUL (CCM)

Compete ao órgão propor

regulamentações na área de

sua competência ao GMC

pronunciando-se por meio de

propostas .. Adotar politicas de

convergência comuns e

responder a consultas

realizadas pelos Estados Partes

Seções Nacionais coordenadas

pelos Ministérios de Relações

Exteriores dos Estados Partes

Comissão de Representantes Cabe a esses órgãos apresentar São órgãos compostos por

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Permanentes do MERCOSUL

(CRPM) o Alto

Representante-Geral, o Foro

de Consulta e Concertação

Politica, o Centro

MERCOSUL de Promoção do

Estado de Direito e as

Reuniões de Ministros

propostas ao CMC geralmente

por intermédio do GMC sobre

os mais diversos temas da

integração

funcionários dos Estados

Partes do MERCOSUL para

cumprir determinado

mandato

Foro Consultivo Econômico

e Social (FCES)

Órgão de Representação dos

Setores econômicos e Sociais.

Ser um espaço para a

participação da sociedade no

processo de integração ,

apresentar propostas de

politicas públicas econômicas e

sociais referentes ao referido

processo ; dar seguimento as

propostas ; analisar e avaliar

seu impacto; e realizar o

acompanhamento da

implementação de políticas

concernentes a integração.

Fundo de Convergência

Estrutural e Fortalecimento

Institucional do MERCOSUL

(FOCEM)

Financiamento de programas

para promover a convergência

estrutural; desenvolvimento da

competitividade; promover a

coesão social , em particular

das economias menores e

regiões menos desenvolvidas, e

apoiar o funcionamento da

estrutura institucional e

fortalecimento do processo de

Técnicos designadas pelos

Estados Partes com

representação Paritária

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94

integração

Unidade de Apoio a

Participação Social (UAPS)

Organizar a Cúpula Social do

MERCOSUL , financiar a

participação social e manter o

cadastro de organizações e

movimentos sociais. Contará

para a realização de suas

funções contará com um Fundo

de Participação Social

Desempenhar suas funções

por meio de ações

coordenadas Reunião de

Ministros e os demais órgãos

referentes as politicas sociais

Programa “SOMOS

MERCOSUL”

Trata-se de um instrumento de

Paraticipação da Sociedade

Civil. Seu Objetuvo é articular a

agenda dos governos e da

sociedade civil com o proposito

de resgatar a dimensão social,

politica e cultural do

MERCOSUL

Atua por meio de Reuniões e

eventos por meio de pontos

focais sediados nos Estados

Partes . As Reuniões da

Cupúla Social do MERCOSUL

que ocorre semestralmente ,

em paralelo a Reunião de

Presidentes do Bloco e conta

com a presença dos setores

sociais dos quatro Estados

Partes e dos Estados

Associados

Reuniões Espcializadas Discutem a formação de

politicas públicas que serão

encaminhadas ao GMC

podendo ser levadas ao CMC

Funcionários dos Ministérios

ou das Secretarias

Especializadas

Subgrupos de Trabalho Dividem-se por assunto ou área

de atuação e tratam de temas

relacionados a coordenação de

politicas macroeconômicas e

setoriais do bloco

Órgão diretamente

subordinados ao GMC . Tímida

participação do setor privado

na tomada de decisão . A

maioria das atuações são

consultas formuladas pelos

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Estados e setores diretamente

interessados

Grupos Ad Hoc e Grupos de

Alto Nível

Análise de forma técnica das

questões que lhe são

submetidas

Especialistas nas respectivas

áreas de competência.

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