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CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL - 2009 | EDIÇÃO 81 | ANO XII | ESPECIAL nifolha U J ORNAL -L ABORATÓRIO DO CURSO DE J ORNALISMO DA U NIDERP pro jeto vivên cias PROFESSOR ALEXANDRE MACIEL "É dia de feira/quarta-feira, sexta- feira, não importa a feira/é dia de feira/quem puder pode chegar...". A canção do grupo O Rappa não poderia ser mais adequada para representar um cenário cada vez mais comum em diversos bairros de Campo Grande. As feiras comu- nitárias já passam de 50 e viraram pontos de encontro para toda a família. Lazer próximo de casa, acompanhado de cheiros, cores e sabores irresistíveis. Em mais uma edição do projeto Unifolha Vivências, os acadêmicos do terceiro semestre de Jornalis- mo da Uniderp/Anhanguera foram a campo, "mergulhar" no mun- do das principais feiras de bairro. Conversaram com os feirantes, ob- servaram suas rotinas produtivas, pesquisaram a opinião do público, além de terem aberto todos os sentidos para narrar o que encon- traram. Vamos conferir? É dia de Feira! MARIANA BIANCHI MARIANA BIACHI BRUNO CHAVES MILTON OLIVEIRA

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CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL - 2009 | EDIÇÃO 81 | ANO XII | ESPECIAL

nifolhaUJ O R N A L - L A B O R A t ó R I O D O C u R S O D E J O R N A L I S m O D A u N I D E R P

projetovivências

Professor AlexAndre MAciel

"É dia de feira/quarta-feira, sexta-feira, não importa a feira/é dia de feira/quem puder pode chegar...". A canção do grupo O Rappa não poderia ser mais adequada para representar um cenário cada vez mais comum em diversos bairros de Campo Grande. As feiras comu-nitárias já passam de 50 e viraram pontos de encontro para toda a família. Lazer próximo de casa, acompanhado de cheiros, cores e sabores irresistíveis.

Em mais uma edição do projeto Unifolha Vivências, os acadêmicos do terceiro semestre de Jornalis-mo da Uniderp/Anhanguera foram a campo, "mergulhar" no mun-do das principais feiras de bairro. Conversaram com os feirantes, ob-servaram suas rotinas produtivas, pesquisaram a opinião do público, além de terem aberto todos os sentidos para narrar o que encon-traram. Vamos conferir?

É dia de Feira! MAriAnA biAnchi

MAriAnA biAchi bruno chAvesMilton oliveirA

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02 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009

Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Uniderp/AnhangueraAno XII - Nº 81 - abril de 2009 - Tiragem 5 mil exemplares.Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos acadêmicos do 3º semestre do curso de Jornalismo da Anhanguera/Uniderp (N 30)Reitor: Professor Guilherme Marback NetoVice-Reitora: Professora Heloísa Gianotti PereiraPró-Reitor Administrativo: Marcos Lima Verde Guimarães Jr. Pró-Reitor de Graduação: Professor Paulo de Tarso Camillo de CarvalhoPró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. BusatoPró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Professora Elizabeth Tereza Bruninii SbardeliniDiretor de Controle Acadêmico: Professor José Luis Leon RamirezCoordenador do curso de Jornalismo: Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067

Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 172).

Revisão: Professor Mário Márcio Cabrera (DRT/MS 109)

Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090)

Projeto Interdisciplinar "Vivências" - 3º semestre de Jornalismo - Professores envolvidos: Alexandre Maciel, Carlos

Kuntzel, Elis Regina Nogueira e Mário Márcio Cabreira.

Projeto Gráfico, Diagramação: Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041

Impressão: Gráfica "A Crítica"

Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010 – Tel:(0**67) 3348-8096.

www.unifolha.com.br E-mail: [email protected]

ESPECIAL

Expediente

AscoM uniderP

Como começar um empreendimento? Provavelmente esta foi a dúvida levanta-da pelos empreendedores responsáveis pela constituição das 7.528 empresas, registradas na Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (Jucems) durante o ano passado.

A idéia inicial do produto ou serviço, o planejamento, o levantamento de cus-tos, o plano de negócios, são apenas al-guns dos tópicos iniciais que merecem atenção para que o empreendimento ganhe forma, e possa disputar espaço com seus concorrentes. A fim de auxi-liar futuros empreendedores na reali-zação de seus objetivos, a Incubadora de Empresas (Interp) da Universidade Anhanguera-Uniderp oferece, desde 2001, orientações e capacitações para que idéias saiam do papel e conquistem seu lugar no mercado.

No último edital de seleção aberto pe-la Interp em novembro de 2008, foram inscritos 20 projetos, destes, oito foram para a fase final de seleção e sete foram aprovados: Habitat, Bacarin, Cerimonial e Eventos, CompGraf, ABIGS, Revista Mo-tor Esporte e Mais Comunicação e Clip-ping.

De acordo com o assessor da Divisão de Projetos e Monitoramento da Incuba-dora, Marcos Henrique Marques, entre os projetos aprovados, quatro são em-presas constituídas e três estão em fase de abertura, reforçando o foco da Interp que é o de promover a inserção merca-dológica.

“Agora estes projetos vão entrar no período de pré-incubação, onde com a ajuda da Interp, será desenvolvido o plano de negócios ou planejamento es-tratégico de acordo com a necessidade do empreendimento. Estes empreende-dores terão à disposição as instalações e a equipe de apoio para criação, desen-

Incubadora auxilia novos empreendimentosJóias do Pantanal é um dos casos de empresas incubadas que, hoje, atua com sucesso no mercado

volvimento e consolidação do seu ne-gócio”, explicou Marcos Henrique.

Ele contou, ainda, que a incubadora disponibiliza infra-estrutura para uso compartilhado composto de secretaria, showroom, sala de reuniões e seguran-ça. “Aos projetos residentes é oferecida cessão por tempo determinado de um módulo, com pontos de energia elétrica (110V), um ponto telefônico para ramal e um ponto de acesso à rede de com-putadores”, declarou o assessor sobre a base de apoio da incubadora.

“O processo de seleção para novos projetos é contínuo, de modo que, quando o empreendedor decide nos procurar com a idéia de um negócio inovador, nós abrimos um edital espe-cífico para atendê-lo”, finalizou Marcos Henrique.

Os selecionados – A Habitat oferece consultoria em ações sustentáveis e tra-tamento de imagem e conteúdo insti-tucional, fortemente delineada por bo-as práticas econômicas sociais. Também

realizará comércio de produtos de bio-diversidade como livros e cartões pos-tais. A Bacarin desenvolve softwares. A Cerimonial e Eventos cuida da organi-zação de festas e eventos. A CompGraf oferece serviços de gráfica rápida, jo-gos eletrônicos e loja de manutenção de equipamentos. A ABIGS comercializa software de gestão empresarial para cooperativas e empresas de agrone-gócios. Já a Revista Motor Esporte pre-tende promover o auto-esporte e auto-esportistas e investidores. Finalmente, a Mais Comunicação e Clipping ofere-cerá serviços de assessoria de imprensa e atuará como clippadora de veículos impressos e sites de notícias.

Entre os projetos selecionados, estão professores, acadêmicos, egressos da instituição e demais empreendedores que acompanham o trabalho da Interp, responsável por impulsionar o trabalho de mais de dez empresas ativas no mer-cado.

Exemplo de sucesso - Ao colocar

em prática a idéia de produzir jóias a partir do reaproveitamento de chifres bovinos, empregados na fabricação de cuias para tereré, no ano de 2002, Isabel Doering Muxfeldt deu início ao empre-endimento conhecido como Jóias do Pantanal. Em 2004, sua irmã Anita se juntou ao negócio atribuindo à linha de comercialização, a produção de peças decorativas, como caixas, e empregan-do às jóias, metais nobres, como a prata reciclada.

Mesmo com a boa aceitação dos pro-dutos pelo público, para as irmãs Mu-xfeldt ainda faltava algo. Foi em uma palestra assistida por Isabel no Distrito Federal, que ela descobriu a existência das incubadoras de empresas e como elas podem auxiliar os micro e peque-nos empresários, como era o seu caso, e de volta a Campo Grande, a empreen-dedora procurou a Interp que passou a auxiliá-las no ano de 2007.

“Com o auxílio da incubadora nossa vida mudou muito. Em 2008 nós saí-mos da informalidade, abrimos a em-presa, e hoje, a produção das Jóias do Pantanal, ou biojóias, como também são conhecidas, é fonte de renda para nove famílias. Então nós demos um sal-to maravilhoso, pois não sabíamos co-mo investir o retorno financeiro e nem como ampliar nosso empreendimento, e atualmente, contamos com nossa lo-ja e exportamos nossos trabalhos para outros estados como Minas Gerais e São Paulo”, contou a empreendedora Anita Muxfeldt.

Pelo excelente trabalho realizado, a Jóias do Pantanal também faz parte de dois programas do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); o Comércio Brasil – projeto de consulto-ria e apoio para venda do produto em todo país, e o programa mundial de Co-mércio Justo, que em Mato Grosso do Sul, aprovou somente oito grupos.

wAgner guiMArães

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14 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

leonArdo brAndão3º seMestre

Três horas da tarde de uma sexta-feira 13. Chove considera-velmente na cidade. Uma per-gunta ilumina minha mente: Se-rá que vai dar “feira” hoje? Tudo me indicava que não. A noite chega e é hora de feira. E contra todas as teorias metereológicas do dia a chuva cessa e então se abrem as cortinas para a reali-zação da feira no bairro Novos Estados.

Sim, algumas pessoas se in-timidaram com a premissa de novas pancadas de chuva, mas este não foi o caso de Maria Te-reza, 66, que comenta de forma animada: “É difícil a sexta-feira que eu não venho na feira.” De cabelos acobreados estilo Cha-nel, ela aparenta ser uma dona de casa dedicada, mas que apro-veita bem os finais de semana. Conta que é freguesa assídua há dez anos da feira e destaca al-guns pontos particulares: “Aqui

Café torrado, nostalgia e azaração

o que me ganha é a qualidade excelente das frutas e verduras e o café torrado na hora.”

Logo se nota que tal afirma-ção é verdadeira, pois nas mãos de Maria Tereza pesam três sa-colas plásticas cheias de mer-cadorias. Mas não é só isso que a faz religiosamente participar toda semana desta manifesta-ção cultural. “Aqui é diferente do mercado, lá o atendimento é frio. Aqui eu conheço todo mundo”, afirma, com um olhar vibrante, a entusiasmada se-nhora.

Além das donas de casa acompanhadas ou não de seus maridos e netos de colo, a feira do Novos Estados acolhe uma gama imensa de casais jovens. Como Thaís, 15, e Elthon, 18, que afirmam também irem à fei-ra toda sexta. “Para nós, a feira é pra passear”, enfatiza a menina, intimidada com a situação de ser entrevistada. O rapaz nem meche os lábios, mas confirma a reposta da namorada com um

movimento positivo da cabeça.Bom, falou-se em senhoras,

em casais, mas e os solteiros? Nesta feira, sem dúvida nenhu-ma, eles são as atrações princi-pais. Feira também é lugar de azaração. Daiane, 16, é categó-rica: “Para mim a atração da feira são os meninos, eu não venho atrás de mulher”, debocha. Loira e desbocada, ela parece ser a lí-

der do grupo, a “expert” em tirar o que a feira “tem de melhor”. Nilcilene, 19, morena e mais re-servada, destaca que até as 23 horas rolam as paqueras.

Lia, 17, conta que na feira já conheceu vários meninos. De repente, Daiane interrompe: “Há três anos eu apresentei um ami-go pra ela aqui”, entrega a loira, toda orgulhosa. Beatriz, 18, que

é irmã de Lia, mas que parece ser mais nova que ela, lembra que já conheceu um garoto e que ficou com ele na feira. Tu-do muito normal. Bom, mas e o pastel, o yakisoba, o espetinho? Pelo que se viu na feira dos No-vos Estados estes deliciosos ali-mentos são apenas coadjuvan-tes.

Garotas consideram que a principal atração da feira dos Novos Estados são os meninos e falam de suas conquistas

douglAs QueiroZ

Cheiro de feira é mesmo inconfundívelKAMillA AZAMbujA3º seMestre

Todas as noites de sexta acon-tece a feira regional do bairro Novos Estados, que recebe, além dos moradores da região, pessoas de outros bairros que gostam de freqüentar o local, como moradores do vizinho Mata do Jacinto.

A feira oferece barraquinhas com opções inusitadas, como o conserto de celulares e a venda de galinhas caipiras já limpas. O cheiro da feira é maravilhoso. É

uma mistura de verduras fres-cas, frutas e o óleo que fritam os pastéis. É indescritível, cheiro de feira é cheiro de feira.

Lá também existem bancas de artesanato que destacam a cultura sul-mato-grossense. Freqüentadores mais antigos da feira relataram que é um ambiente agradável, mas desta-caram o problema de gangues rivais, que, por serem violentas e transmitirem medo aos mo-radores, impõem certo horário para que a freqüentem. Os mo-

radores disseram que apesar de tudo acham a feira tranqüila e familiar.

Um morador que freqüenta a feira há 20 anos relatou que o local sempre foi familiar e que os problemas de violência são freqüentes, mas não afetam o movimento. O local tem movi-mento considerável, mas não há segurança e nem policiais que rondam o espaço enquan-to ocorre a feira.

Os doces típicos e o café tor-rado na hora também mostram

um espaço de costumes anti-gos e pessoas que ainda valori-zam os produtos fresquinhos. A evolução da diversidade do que é comercializado nas barraqui-nhas dessa feira é o destaque para os moradores mais velhos da região, que tem o prazer de freqüentar este local.

A feira se localiza na aveni-da Senhor do Bonfim, que é a principal do bairro Nova Bahia. O presidente da feira, que tam-bém é fiscal do local, não de-monstrou interesse para des-

creve-la. As comidas típicas são o maior interesse das pessoas, tais como o sobá, tapioca e di-versos salgados.

Apesar de ser um espaço agradável, é preciso alertar as autoridades responsáveis para que haja mais segurança no lo-cal e que não atrapalhe a vonta-de das pessoas de freqüentá-la e para que ela continue a ser um ambiente familiar, desta-cando o valor cultural da feira.

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04 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

Anny MAlAgolini3º seMestre

Muitos feirantes da Moreni-nha II estão ali porque gostam, sentem prazer no que estão fazendo, mesmo sabendo que não ganham rios de dinheiro, e que a renda não é fixa. Depen-de da sorte, da lábia, de quem grita mais.

Andando pela feira é comum ouvi-los gritando suas ofertas, cada um procurando seu dife-rencial entre centenas de bar-racas. Afinal, estão no bairro mais populoso da capital, com 68 mil habitantes. Haja criativi-dade para chamar atenção pa-ra se destacar. Em cada ponto da feira pode se ouvir um tipo de música, assim, agradando os mais variados gostos, que vão da polca paraguaia ao funk.

Andando mais um pouco

vejo um cachorro olhando fi-xamente para o frango assa-do, TV para cachorro. A feira do bairro é bem diversa, tem barracas de roupas, CDs, arte-sanatos, cosméticos, brinque-dos, e não podia faltar aquele pastel frito na hora. Cada fei-rante paga impostos anuais à prefeitura de Campo Grande, relativos aos espaços ocupa-dos por suas barracas, além de despesas como água, luz e segurança.

Jaime de Oliveira tem 58 anos e trabalha na feira da Moreninhas há mais de 20. Além de outras 13 em diversos cantos da cidade. Já teve ren-das além do ofício, mas, com o avanço da idade, decidiu tra-balhar apenas como feirante. O trabalho é muito cansativo, tem baixo retorno. “Seu” Jaime diz que com o que ganha dá para sobreviver, porque pra vi-

ver é complicado. O grande intuito de sua vida foi

trabalhar para conseguir manter os estudos dos três filhos, sendo

que hoje em dia dois já estão formados. Um deles ajuda o pai na barraca enquanto ter-mina os estudos. Seu Jaime se

Moacyr fala de feiracom propriedade

joice vieirA3° seMestre

São 8h30 de domingo, es-tá muito quente, cerca de 30° graus, mas já tem muita gente na feira do bairro Moreninha II, que está situado na rua Ba-rueri. Muita gente transita por aquele corredor de variedades e opções de compras. Não es-tão ali por um acaso, e sim pa-ra construir a história com sua presença.

Andando pela feira, senti um cheiro delicioso de espetinho de carne, pastel frito e tam-bém frango assado, que são os odores que mais provocam apetite e atraem fregueses em uma feira comum. Cada um querendo falar mais alto que o outro pra vender seu peixe,

mas usando de muita simpa-tia, que é para o freguês voltar sempre.

“Eita vontade que eu tô de trabalhar hoje. É hoje que que eu vendo tudo essas verduras”, exclama um feirante. Música latina na barraca de CDs, que chama atenção pelo som, e é bem animada. Já no final da feira um ambiente mais tran-qüilo, onde ficam casais de namorados, crianças comendo ou até escolhendo nesse leque de opções que a feira da More-ninhas oferece.

E é nesse fogo cruzado entre o tranqüilo e o agitado que me encontro com Moacyr Baptista da Silva, 72 anos, casado, três filhos, que com Nilva Freschi, acorda cedo no domingo pa-ra ir à missa na igreja Imacu-

lada Coração de Maria. More-no, cabelos grisalhos, com sua camiseta do Palmeiras, ‘‘time do coração’’, bermuda e ócu-los escuros, ele é ex- carretei-ro de transportadora. Moacyr diz ser freqüentador da feira há 26 anos, é uma figura já co-nhecida pelos feirantes da Mo-reninha II, por sua simpatia e seu jeito descontraído de ser. Informa que sempre cede sua casa para os feirantes e ao pu-blico também, já que mora em frente ao local, mas reclama que foram construídos dois sa-nitários ao lado da Águas Gua-riroba, que não foram abertos ao público.

Moacir destaca que, além dos impostos básicos que os feirantes pagam como taxa da prefeitura, água e luz, alguns

Lógica da lábia e do "grito"

Jaime de Oliveira garante que sobrevive, mas que viver de feira é difícil

emociona ao falar sobre as di-ficuldades enfrentadas no dia-a-dia e da rotina de manter sua barraca de alho.

Escondido em um sobrado, está Nelson Moraes, 39 anos, o DJ da Feira das Moreninhas. Mais conhecido como Nelsinho Funk, é ele quem comanda a rádio FM Moreninhas há qua-se dez anos, com objetivo de ajudar a população, colocando as músicas mais pedidas, recla-mações sobre a feira e o bairro, promoções das barracas e tam-bém ajuda a localizar crianças perdidas e até mesmo bicicletas roubadas. Nelson sente muito prazer e orgulho do que faz.

Os feirantes o apóiam para conseguir manter a rádio, con-tribuindo com algumas taxas não estipuladas. E assim ele vai levando a vida com a certeza do bem que ele faz à população do bairro Moreninhas.

Moacyr Baptista frequenta a feira há 26 anos e considera que esta evoluiu

bruno chAves

bruno chAves

precisam arcar, do seu pró-prio bolso, com a contratação de seguranças já que seriam comuns as ocorrências de pe-quenos furtos.

Ele acredita que a transfor-mação do terminal de ônibus das Moreninhas, que será de-

sativado para abrir um comér-cio de venda de produtos arte-sanais, produzidos pelos mo-radores da região, será preju-dicial à feira, pois a demanda se tornaria grande demais para poucos compradores.

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05CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

A cor do cheiro e o som da almanAndo MendeshyAnnA gonçAlves3º seMestre

“Dormiu até tarde hoje, né, seu Antônio? Agora, num tem mais...” Isabel de Souza Rocha acorda as galinhas da casa, às 4 da manhã, aos domingos, e parte para a feira das Moreni-nhas, com seu companheiro, Mário José de Lacerda.

Ela tem 54, e ele 59 anos. Há um clima um tanto tenso durante o trabalho do casal, que chegou à feira às 5 horas da matina, com sua banca e suas mercadorias dispostas em carrinhos.

De legumes e verduras, vi-ve o simples casal, que pos-sui meio hectare de horta em sua casa. “Aqui, o forte é o cheiro-verde. Por causa do meu preço”, explica Mário, olhando para baixo.

Não tem como competir com o produtor. Mário dei-xa um rastro verde por onde

passa com o carrinho. Tudo fica estranhamente fresco quando se junta salsa, ce-bolinha e coentro num aro-ma colorido e adocicado, verde e molhado. E é do seu pedaço de chão que nasce o diferencial desta barraca, aqui, na feira das Moreni-nhas.

“O que compramos no Ceasa acaba ficando mais caro. Mas o cheiro-verde, como eu planto, é sempre o mais barato e mais fresco. Esse aqui eu colhi ontem. Só aumenta mesmo de pre-ço quando sobe o adubo”.

O que aflige o produtor e feirante é a segunda quin-zena do mês, quando o lu-cro acaba sendo menor, e o cliente continua exigindo variedade. “Porque uma coi-sa puxa a outra. O cliente vem aqui atrás do cheiro-verde e acaba levando o to-mate, a batatinha”.

Do dia 5 ao dia 15, o lucro

da banca é de mais ou menos R$ 100 a R$ 150 por feira. De-pois, isso começa a baixar de R$ 50 a R$ 100 por feira. Pa-ra a família, não há tanto lu-

cro, mas dá para viver, pois, de seus quatro filhos, dois se “formaram advogados”.

Mário José Filho e Maria Nei-de são o orgulho de dona Isa-

Onde salsa, cebolinha e coentro se unem para sustentar a familia de Mário

bruno chavesevelyn nAvArros 3º seMestre

Há mais de dez anos, a feira da Moreninha II vem sendo uma opção de lazer para os moradores do bairro. Ela acon-tece aos domingos, pela ma-nhã e às quintas-feiras, duran-te a noite.

Maria de Lordes, 37 anos, conta que há mais de 10 anos, trabalha na feira. Possui uma barraca de bijuterias e fica feliz porque tem uma boa clientela. Mas, não abre mão da feira co-mo opção de emprego.

O espaço é local de encon-trar amigos, saborear um bom pastel, fazer compras, com óti-mos preços e uma boa quali-dade nos produtos oferecidos pelos comerciantes. Mas, há

quem reclame. Odonzo Gon-zaga da Silva, 52 anos, mora-dor do bairro há mais de 20, diz que nas quintas-feiras “é um horror”, uma “falta de segu-rança absurda”. Ele acrescenta que “ninguém agüenta tanta violência. Parece que aqui é o ponto de encontro dos margi-nais e vândalos que circulam pelo bairro”.

Pelo fato da feira ocorrer também no domingo, pela ma-nhã, os moradores sentem-se mais seguros em comparação com a quinta-feira, quando ela funciona durante a noite, sendo, segundo os moradores, mais violenta neste dia da se-mana.

Patrícia Bom Jesus, freqüen-tadora da feira, também expõe sua opinião a respeito da in-

fra-estrutura disponível: “Acho que, aqui, deveriam existir ba-nheiros públicos e que tives-sem chuveiro, pois tenho ami-gos que trabalham nas barra-cas, que têm filhos pequenos e necessitam usufruir”.

Ela acrescenta que muitos feirantes, e mesmo frequenta-dores, tendem a usar banhei-ros de locais próximos, como bares, mercados e outros esta-belecimentos comerciais. Se-gundo a assessoria de impren-sa da prefeitura, foram ofereci-dos banheiros químicos para o local. Moradores e clientes da feira reclamam, dizendo que isso não é o bastante, e exigem banheiros de alvenaria.

Feira da Moreninha II ainda tem controvérsias com relação aos ítens banheiros e segurança

bel, que conta da trajetória pobre e vencedora de seus rebentos. “O Mário vendia verdura na feira e fazia está-gio para pagar a faculdade, porque não tinha nenhuma ajuda de casa. Hoje, a me-nina e o menino trabalham juntos num escritório”.

Isabel continua puxando pela memória. “Trabalho na feira, porque sou obrigada. Já mexi com lanchonete, to-quei um clube, um sacolão. De todos, o que eu menos gosto é a feira. Nessa vida, só não matei, nem roubei... Deus queira que eu não pre-cise”.

Ao mesmo tempo que se lembra da trajetória, Isabel conta do cansaço e da diver-são que é o trabalho na feira. “Nós fizemos muitos amigos durante todo esse tempo. Aqui, a gente cansa muito, mas se diverte”. E continuam o seu ofício. Felizes ou não... mas de chinelos.

Moradores dizem que se sentem mais seguros no domingo pela manhã

bruno chaves

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06 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

A feira também é feita de cores

A essência do frescor em um olharbrunA lourençodAyAnA de jesus3° seMestre

Sexta-feira, tarde chuvosa no bairro Maria Aparecida Pedros-sian. A feira começou por volta das 18h. Faltavam barracas por causa do clima, mas, mesmo assim, os fregueses começa-vam a aparecer.

“Eu gosto de vir cedo à fei-ra. Eu venho cedo e volto pa-ra minha casa”, diz Vera Lúcia Gonçalves Menezes, 52 anos, que mora no bairro, há 26. Ela prefere ir no começo, porque a feira está vazia e ela pode es-

colher à vontade, além de po-der encontrar mais variedade.

O que atrai, inicialmente, as pessoas são o preço e a quali-dade dos produtos, como afir-ma Silvana Alves, 35. “Venho sempre aqui comprar. As coi-sas são mais baratas”. Marlene Ânderson visita, pela primeira vez, a feira do bairro. “Eu gosto de verdura fresquinha. Prefiro comprar na feira. É tudo mais novinho”. Ela teve uma boa im-pressão do local. “A feira está bonitinha. Tem bastante coisa”.

Quem chega percebe um ambiente familiar, contagiante e alegre. Ali, não se vê tristeza

nas pessoas, mas, sim, um mo-do diferente de se relacionar. Crianças correndo, adolescen-tes passeando, pai, mãe, filhos e avós. Como no caso do ado-lescente Júlio César Martins Gomes, de 18 anos. “Eu venho com a minha avó comprar ovos, uma variedade de coisas”. Segundo ele, não era assim an-tes: “Antigamente, não virava, tinha muito maloqueiro. Mas, hoje, está melhor”.

Para o presidente da Associa-ção de Moradores, Jânio Batista de Macedo, a feira é importan-te para a população. “Porque é um momento da comunidade

também se encontrar. Não é só um momento de comércio”. A feira é um lugar para comprar verduras, mas, também, de fa-zer amizades, marcar encon-tros, namoricos.

Miriam Souza de Silva mora há 23 anos no bairro e, sempre, freqüenta o local. Junto com sua filha de 15 anos, ela conta momentos felizes passados na feira, dos amigos que fez, das conversas, dos encontros. “A gente fica íntimo do pessoal da feira. Pede até fiado”. Com seu jeito alegre e espontâneo, acrescenta: “Um bom lugar pa-ra a socialização: a feira”.

fláviA silveirA suZy figueirAs3º seMestre

As feiras de rua são mágicas e convidativas. No bairro Maria Aparecida Pedrossian, não é dife-rente. Na rua lateral da Praça dos Amigos (Isso mesmo! Essa feira possui essa particularidade), às 16 horas, todas as sextas-feiras, tem feira...

Com movimentação tran-qüila, devido à praça, a visão é ampla. Diferente das feiras muito movimentadas por que passeamos, vendo, principal-mente, mais lonas e nucas. Mesmo com chuva, os feiran-tes tiram das kombis de vários tons de azul – além das beges e brancas - as armações das barracas. Barras de ferro en-caixáveis, mas são as caixas de plástico de todas as cores, das horticulturas, a verdadeira estrutura das mesas.

Ajeitadas as lonas que co-brem as barracas e puxados os bicos de luz, verduras, le-gumes e frutas podem sair das peruas e das caixas para, final-mente, serem dispostas, lado a lado, nas tábuas. Enchem os olhos com suas muitas cores formadoras de saladas para a satisfação da gula.

A luz brilha nas berinjelas. Beterrabas em pratos laranjas, cenouras nos azuis. Pimen-tões, abóboras, hortaliças vi-çosas... No meio da feira, os conjuntos de mesas redondas

e cadeiras amarelas de madei-ra dão um charme especial, que se completa com as ár-vores da praça. Numa banca em frente, um simpático ja-ponês vende mudas de rosas,

orquídeas, alecrim e arruda, que mesclam suas cores com a barraca ao lado, de queijos e doces. Um luxo!

Crianças passeiam ou jogam bola no campo ao lado. Casais

compram e devagar. Sem per-ceber, brincam com as diversas formas possíveis de caminhar de mãos dadas. Adolescentes passam com suas roupas e posturas diferentes.

A lama fez parte do cenário. Salto escorrega aqui, havaia-nas grudam ali. Começam a chegar senhoras orgulhosas de comprarem os melhores produtos para suas casas, sob seus guarda-chuvas. Isso não desanimou quem estava só esperando o dia da feira.

Com música ambiente, po-demos fazer tatuagens de "henna" e comprar bijuterias "hippies" feitas na hora. A mo-vimentação aumenta após as 20 horas. Os bancos de ma-deira em volta das barracas enchem. "Shoyo" e pimenta não podem faltar em barraca alguma dos tradicionais pra-tos rápidos das feiras.

No final, não há desperdício de comida pelo chão. Ao con-trário, tudo é embalado em sacolas plásticas e levado em-bora dali. Em uma pequena compra, levamos 20 sacolas. Fizeram falta os velhos costu-mes, o carrinho de feira e as sacolas de "nylon". Tão colo-ridas quanto são as próprias feiras.

O colorido que se come, a diversidade na alimentação e a própria caminhada na feira tornam a vida mais sau-dável

Miriam de Silva acredita que a feira é um local ideal para a socialização

MAriAnA biAnchi

MAriAnA biAnchi

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07CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

É dessa aqui que eles gostam mais

A feira e os seus “Antônios”

dAyene PAZMilton juniorrobertA cAceres3°seMestre

Sedutora, afamada, mo-

desta, gostosa, livre, sempre pronta para todos, satisfaz homens mulheres e crianças. Calma! É da feira da Jacy que eles estão falando. Eles, os freqüentadores, vêm de ou-tros bairros, pois consideram o local uma das feiras mais se-guras e completas.

Verduras, frutas, roupas e CD´s, de tudo um pouco se vende aqui. Serviços também não faltam, de sobarias a as-sistência técnica. Os freqüen-tadores não dispensam por nada o sábado a noite na ilu-minada feira da Jacy, fazendo questão de transmitir sua ale-gria e disposição.

No pouco tempo que fica-mos ali, percebemos a fami-

liaridade com que se tratam o cliente e a feirante. “Oi Cidi-nha!”, acena um frequentador. Os meninos tecem comentá-rios elogiosos para as meni-

nas que passam: “Ela é uma gata!”. Uma serena família de-gusta o famoso sobá da banca da Dona Maria. Sempre com o seu carrinho, Fátima Abbad

chega cedo de sua casa, que fica a poucas quadras da feira. O preço baixo das verduras e frutas para ela é o maior atra-tivo.

De longe, um trio de senho-res distintos chama a atenção. Homens de meia idade que, nos finais de semana, sempre arranjam um tempo para um bom papo. Um teólogo pau-lista que não esconde a sua crença católica, um empresá-rio português com seu des-pojado chapéu, e um servidor público campo-grandense, que após horas de trabalho vem, resmungando, comprar o que falta em sua lista.

Entrando na prosa, questio-namos sobre a pirataria. Foi quando uma das esposas in-terrompeu a conversa: “Tem dez reais?”. Após o marido disfarçadamente entregar o dinheiro, o executor fiscal

AryAnA lobo gustAvo nunes3º seMestre

Por mais diferentes que as histórias sejam, sempre há um lugar para se encontrar. Ainda mais se este espaço for uma feira livre. Neste caso, a vez foi dos “ Antonios”. Dois homens que sobrevivem do mesmo ofí-cio e, no entanto, com perspec-tivas de vida diferentes.

De um lado um senhor tí-mido em uma kombi, Antonio Caris, que, ao ser entrevistado pondera: “Mas eu não sei falar”. De um jeito bem reservado ele conta que possui 67 anos de experiência de vida, contando com os dez de feirante. Diz que começou por acaso, primeiro vendendo e em seguida já es-tava fazendo os consertos de panelas.

Mais para a frente encontra-mos Antônio Valter Tavares, que se destacou por sua barraca de frutas e verduras. Logo falou

sobre a vida que leva, mais pre-cisamente dos seus 27 anos de feira. Ambos gostam bastante do que fazem e valorizam seus trabalhos. Caris afirma que não largaria a feira por nada. “Sou só eu e a kombi mesmo, aqui e lá em casa”. Tavares destaca que essa é uma forma dele não pre-cisar dar satisfação para patrão. “Eu trabalho para mim, se eu não quiser vim eu não venho”.

Os Antônio’s concordam que o lucro depende muito do movimento, mas “dá para vi-ver”. Sobre os sonhos deles, a esperança não é comum. Caris ainda sonha em comprar uma casa com o que ganha. Já Tava-res lembra que já teve muitos sonhos, mas o tempo passa e vêm os tropeços da vida. “Aí de-pois de um tempo você vê que não enrica”. E assim, Antonios, Marias, Joãos, enfim, todos aqueles que ajudam a construir a história das feiras, continuam seus trabalhos seguindo as su-as metas. Antônios, Tavares (esquerda) e Caris (direita): idéias diferentes que se encontram em um mesmo local

robertA cáceres

gustAvo nunes

de impostos, considerou: “O negócio de vender CD é um jeitinho brasileiro”, deixando claro que para ele “este é um meio de propagar a cultura para os menos favorecidos, pois os produtos originais são muito caros”. Lúcia Maria, 63 anos, vai sempre bem arru-mada e não deixa de chamar atenção, pois sorri e fala alto para que todos a vejam. Não escondendo também a sua real intenção de estar ali, ar-ranjar um namorado.

Quando mais do que de re-pente em frente a barraca de lingerie, ao som de cantadas e olhares marotos, três garotas desfilam despreocupadas com o tempo, fazem ali o seu “es-quenta” para a festa de logo mais. Todas estas diferentes personagens fazem da Jacy o palco de um verdadeiro es-petáculo da vida.

Diante da barraca de lingerie, garotas gastam o tempo antes da festa

gustAvo nunes

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08 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

nílson netoMArcus Antônio3° seMestre

Ao longe, surgem pequenas luzes que bloqueiam uma das duas pistas de uma avenida lar-ga, com um bem cuidado can-teiro ao centro. Logo no come-ço, ouvem-se gritos de crianças brincando; música alta e varia-da; borbulhar de gordura a fri-tar; passos lentos em contraste com outros bem apressados; o suave toque do vento nos ouvi-dos molhados.

Isso tudo em meio a uma ga-roa fina, com gotas que caem lentamente sobre a Coophavila II, como em uma cena de filme em câmera lenta. Um olhar pa-ra cima, e surgem riscos forma-dos pelas mesmas gotas. Ainda assim, as pessoas não deixam de sair de suas casas para ir à feira.

Os pingos explodem nos corpos das pessoas, formando uma minúscula coroa. Perce-

bemos a brisa molhada, que traz em sua composição odores tão distintos e tão colhecidos, como o do café que, aqui, é moído na hora. E o das frutas, legumes, das pessoas, da terra, agora úmida, e da água que ainda cai sobre o solo.

Igual a um gigante liquidifica-dor de sentidos, tudo se mistu-

ra aos sons de Bee Gees, Abba, Queen, Madona e aos anúncios de shows, que acontecerão no centro comunitário local. Sem falar nos sabores. Ah! Os sabo-res. Em meio ao óleo que ferve, surge um delicioso pastel de carne, de queijo ou de pizza, tudo bem baratinho. E, olhan-do mais atentamente, surgem

na banca ao lado um fabuloso espetinho de carne e um sa-bor novo, vindo do Nordeste: a tapioca, com seus temperos secretos, que são guardados como em um cofre de banco superprotegido.

Olhando mais atentamente observam-se feirantes que se desdobram sobre as bancas,

Viagem à essência dos sentidos

Será que o tempo traz melhorias?AndreiA MeneZes eliAne dA rochA 3º seMestre

Uma das mais antigas de Cam-po Grande, a feira da Coophavi-la II existe há mais de 20 anos. Com um intenso fluxo de pes-soas, conta com barracas de frutas e legumes, verduras, rou-pas e, até, de lanches. A feira acontece às terça-feiras, das 17 às 22 horas, e às quinta-feiras, das 7 às 12 horas. Os feirantes informam que as terças são mais movimentadas, atraindo, geralmente, o dobro de públi-co.

Zacarias Clementino dos Santos, de 64 anos é um dos feirantes mais antigos. Conta que a feira teve início na ave-

nida Marinha, mas, por atrapa-lhar a linha do ônibus, teve de ser mudada para um local mais distante.

Como não houve adaptação de feirantes e consumidores, ela acabou voltando ao antigo local. Zacarias acredita que a feira fica mais acessível à comu-nidade, e isso justifica o intenso movimento, já que a clientela está formada. Desde então, a feira não pára de crescer. O ca-sal Vera Lúcia e João Santana, 34 e 36 anos, respectivamente, está há dois meses, no final da feira, em um canteiro central, fora do espaço oficial, aguar-dando uma vaga.

“Estamos ansiosos pela libe-ração, mas a fiscalização deixa a desejar, já que, raramente, ela

comparece. O que é um pro-blema é enfrentar os feirantes legalizados, que acham que es-tamos aqui nesta situação por-que queremos”, explica João.

Para os feirantes, o proble-ma mais agravante é a falta de higiene. Banheiros quí-micos foram instalados há menos de um ano, mas fun-cionam somente na terça-feira. Anteriormente, Dalvina Oliveira, de 45 anos, cedia o banheiro do seu comércio co-brando uma pequena quan-tia de R$ 0,50 para ajudar na manutenção e limpeza. “Não me incomodo em ceder meu banheiro, mas acho que a prefeitura deveria estar mais presente nas dificuldades dos feirantes”.

Pessoas aguçam todos os seus sentidos ao passear pelo espaço da feira, enquanto os feirantes tentam disputar sua atenção

diAnnA MAlves

na ansiedade de atender seus clientes. Estes, com suas crian-ças de colo, que também lhes requerem atenção. Choram. Algumas até gritam, como to-da criança nessa idade faz. As pessoas comem, compram, divertem-se. Tudo junto e mis-turado, com diz aquela música do Latino.

William Henrique de Almeida Ximenes, 20 anos, é adminis-trador. “O que me faz vir à feira é a vontade de andar. O clima de família”. Walkley Santos, 24 anos, assistente administrativo, observa os contrastes da feira. “Aqui, a gente encontra desde pai de família a mendigos. Exis-te um respeito um pelo outro”. Classes A, B, C, D, etc, acotove-lando-se em uma democracia quase impensável, lembrando nosso Congresso Nacional em dia de votação importante. Aqui, as pessoas são mais fe-lizes, mais elas mesmas, sem preconceitos de espécie algu-ma. Aqui está o povo.

diAnnA MAlves

Feirantes afirmam que as terças são mais movimentadas, atraindo o dobro de

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09CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

Flor vermelha e Brasília amarelaAníbAl PlAcênciorAfAel PAniAgo3º seMestre

Entre sua antiga Brasília e uma singela barraca de con-dimentos e flores, lá está ele, João Tiaki Okamoto, um tímido senhor de etnia oriental que trabalha na feira da Coophavi-la II. Demonstra muita humil-dade e conta pacientemente, sobre os longos 21 anos de ex-periência como feirante.

Aos 66 anos, seu João chega à feira, às 17 horas, e retorna para casa, que fica no Parque Lajeado, às 23 horas. Essa ro-tina se repete todas as terças-feiras. Nos demais dias da se-mana, trabalha como feirante em outros três bairros. Porém, com certeza, esse ofício não é problema para seu João. “O bom da feira é que esquece-mos dos problemas de casa. O serviço é cansativo, mas dá pra gente se distrair”.

Essa distração se transforma em frases simpáticas, ao aten-

der duas senhoras que se en-cantam com as plantas expos-tas no balcão. “Eu sempre digo que flores alegram nossa vida. Tristeza não paga dívida”. Resul-tado: ambas compraram uma muda de estrelinha, cada. Ape-sar do jeito contido, seu João olha nos olhos ao falar e cativa os clientes que param em sua barraca. Freqüentemente, che-gam pessoas que pedem infor-mações sobre flores e querem saber como se faz legumes em conserva, ou mesmo, conver-sam sobre o tempo.

“Seu” Agenor, feirante e ami-go há mais de 20 anos, não poupa elogios para o compa-nheiro. “Seu João é uma boa pessoa. Sempre, comparece na feira e trata a todos muito bem”. A marca registrada de seu João é o chapéu marrom claro, que o acompanha des-de sempre. Demonstra em sua face certo desgaste e cansaço. Mas, ao conversar sobre fute-bol, logo se anima. “Coloca aí

que sou corintiano roxo”, pe-de. Para quem duvida de sua paixão, logo mostra a carteiri-nha com o símbolo do time.

A imagem do Corínthians, porém, não é a única que ele guarda. Nota-se que há um adesivo de Jesus Cristo colado na janela do seu carro. Seu João explica que é católico e dizimis-ta, e sempre procura ir à missa com sua mulher. Orgulhoso, afirma que o relacionamento é de longa data, e ela é uma fiel companheira, ajudando na plantação das flores e mudas. Quando perguntado sobre qual sua perspectiva para o futuro, muda a feição e responde sem muito entusiasmo. “A idade es-tá pesando, mas, enquanto eu tiver forças para trabalhar, con-tinuo no batente”.

Esse é o seu João, uma pes-soa tímida, que foge do padrão convencional dos feirantes, mas que conquista a simpa-tia dos clientes com um jeitão tranqüilo e bem humorado.

cAio PossArisue liZZie viAnA3º seMestre

A opinião popular é o que caracteriza qualquer lugar e a melhor forma de se obter in-formação, críticas e elogios. Foi assim, que descobrimos um pouco da feira do bairro Coo-phavila II.

O local foi definido como um ponto de encontro entre ami-gos e famílias. A maior parte das pessoas que passeavam por ali e faziam um lanche eram pais e filhos.

Aliás, as barracas mais lota-das são as de espetinho, pas-tel e tapioca. São cerca de 150 barracas, distribuídas de forma aleatória, que oferecem desde verduras, roupas e calçados, até eletrônicos. “Aqui, tem de tudo. Não falta nada pra gente”, é o que o senhor Antônio disse, em tom de satisfação e firmeza.

Passeio entre barracas e bicicletas E há um detalhe importan-

tíssimo: as verduras estão mais frescas na terça feira, à noite, curiosidade contada pela dona Ana, que vai, há quatro anos, assiduamente, comprar os seus “verdes”.

Ao contrário do que muitos julgam, o lugar é tranqüilo. Se-guranças circulam durante to-do o tempo de funcionamento, e um posto policial centraliza-do reforça ainda mais a paz no local.

Porém, uma crítica unânime foi feita e ressaltada: o tráfe-go intenso de cicilistas inco-moda os freqüentadores dali. “Bicicleta é o que atrapalha. O meio tem que ficar livre”. Foi esse o ponto que dona Maria disse ter que receber melhoria. O espaço do corre-dor central de barracas é es-treito, e as bicicletas tumul-tuam o ambiente, dificultam que as pessoas transitem à

vontade.E a previsão do tempo é o

que define a quantidade de pessoas que vão à feira. Segun-do a senhora Maria José, que já reside no bairro e vai ao local,

há 30 anos, quando o tempo está bom, a feira lota. Ao con-trário, quando uma chuva ou frio ameaça chegar, as pesso-as preferem mesmo é ficar em casa.

A feira é a maior e mais com-pleta dessa região, o que ga-rante a presença constante de moradores de bairros vizinhos, como Tijuca, Jardim Ouro Ver-de, Serra Azul e Pênfigo.

Feirante João Okamoto: "Flores alegram a vida. Tristeza não paga dívida"

Espaço entre as barracas é estreito, mas a presença de famílias passeando e fazendo as suas compras é constante

diAnnA MAlves

diAnnA MAlveZ

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10 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

dAliAne rAMiresgAbriel MAyMone3º seMestre

Chuva fraca. Sexta-feira à noite. Movimento fraco na rua que abriga a feira do Maria Apare-cida Pedrossian. Ao andar de um lado para outro, ele obser-va atento o movimento das pessoas que circulam ao redor de sua barraca. Ilustrada com diversas variedades de doces, colorida e chamativa. Sorriso sempre estampado em seu rosto, cabelos grisalhos, olhos verdes esbugalhados, jeitão despojado e chinelo de dedos, Francisco dos Santos Ponces diz que é muito feliz com a vi-da de feirante.

Trabalhou durante 35 anos, como motorista de caminhão e

ônibus, mas não viu futuro em sua profissão. Então, resolveu “embarcar” com sua esposa na vida de feirante. Hoje, após 17 anos de feira, conhecido pe-los amigos de trabalho como “Chiquinho”, fala que nunca foi assaltado em seu estabele-cimento. “Feirante é tudo doi-do, nunca anda desarmado”, brinca. Existe muito respeito, é como se os “bandidinhos ficas-sem com receio, porque da-mos duro para poder levar pão para casa”. Conhece seus clien-tes como ninguém e quando alguém demora muito para aparecer em sua barraca grita: “Tá sumida, dona Maria”.

Chiquinho garante que con-segue tirar o sustento de casa com a feira. “Muitos feirantes formaram os filhos na facul-

dade”, comenta, lembrando or-gulhoso de sua filha, que saiu de casa para estudar fora. Com

muito bom-humor, faz pose para a fotografia. “Pode tirar foto minha que eu sou boni-

to”. Segundo Chiquinho, o su-cesso do feirante é conquistar a clientela.

A maioria dos doces é com-prada. Alguns são feitos pela esposa do feirante. Chiquinho ajuda, mas só na hora de lavar a louça, conta, com um gran-de sorriso. O feirante circula de um lugar para outro, cada dia da semana é um bairro diferen-te. Uma rotina muito cansativa que vai de terça a domingo. Quem pensa que existe folga se engana, só na segunda fei-ra. “O tempinho que sobra é apenas para pagar as contas”. Nessa aventura diária, entre ar-mar e desarmar a barraca, Chi-quinho resume sua vida com o típico sorriso no rosto: “Não preciso de mais nada para ser feliz”.

cArlos PereirAlArissA MunhoZ3º seMestre

A primeira projeção leva-nos para o início dos anos de 1980. Um galpão no es-t i lo M ercadão M unic ipa l , com 14 boxes, foi o único ponto comercial da região, por anos. Ali, funcionava o embrião da pujante feira do bairro Maria Aparecida Pe-drossian.

Atenciosos, orientais ven-diam f rutas , ho r t a l i ças e verduras em geral, em uma pequena banca que dividia o espaço com mercadinho, padaria, açougue, vidraça-r ia e, também, vár ios ba-rez inhos que ser v iam de ponto de encontro após as compras e para o bate-papo com amigos. “Bar era o que t inha mais”, af irma, r indo, Leandro Nepomuceno, um dos primeiros moradores do bairro e também freqüen-tador do centro comercial, q u e, d e s at i va d o, p o r u m tempo foi transformado em estacionamento. Hoje, é um supermercado, forte concor-

anos, fala mansa e sorriso acolhedor. “Eu venho de fa-mília de feirante, né? Meus pais , meus t ios . Comecei com um pontinho”. Também, encontramos o Ari Serafim Pacheco, 20 anos no ramo, cuia de mate na mão para espantar o frio. Olhar sere-no, atento e receptivo aos c l ientes que chegam sem cerimônia. Ele relata sobre o difícil começo, quando, por falta de segurança, tinham que f icar calados perante os abusos de gangues que aterrorizavam o bairro.

“Os maloqueiros passa-vam, iam pegando verdura, assim. Você não podia falar nada”. Com os problemas ameaçando o futuro da fei-ra, real izou-se assembléia entre comerciantes, feiran-tes e a Associação de Mora-dores, presidida por Jânio Batista de Macedo. Enten-deu-se necessário buscar re-forço policial e, também, a contratação de seguranças particulares. Essa ação deu mais tranqüilidade aos fei-rantes. “A feira tava come-

çando a ser abandonada pe-los moradores, por causa da insegurança”, afirma Jânio, que considera impor tante para a sua expansão a volta da feira ao local da primeira formação, em frente à Praça dos Amigos.

S o b re a s e g u r a n ç a , A r i destaca que “hoje, melhorou 100% nesse sentido”. Entre-tanto, naquela época, o lu-cro era maior. Não havia a competição dos mercados, que ficam abertos pratica-mente, todos os dias da se-mana. “Antes, era bem me-lhor. É. . . na época, os mer-cado não abriam à noite, no sábado e no domingo, né? Então, a venda era melhor”.

Mesmo com o carisma con-tagiante dos entrevistados, já não encontramos mais aqueles personagens folcló-ricos de outras épocas. Não temos mais aquela gostosa despreocupaç ão que não nos deixava perceber toda a agitação em volta e da qual sentimos falta. “Hoje, na fei-ra, não tem mais aquela gri-taria”, observa Eliana.

Feira quer recuperar o seu carisma

MAriAnA biAnchi

Ari há mais de 20 anos repete a mesma rotina de trabalho na feira da Pedrossian

Ex-motorista descobre o doce de viver

Após 17 anos de trabalho na feira, Chiquinho não precisa de mais nada para ser feliz

MAriAnA biAnchi

rente daquela feira.A segunda projeção nos

remete à organização da fei-

ra, hoje. Acolhedora e com simpáticos feirantes, como Eliana Gomes, feirante há 16

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11CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

Milton oliveirA

Fundada na década de 1970, feira da Vila Jacy passou por mudanças na sua estrutura

Milton oliveirAdênis AugustoluciAnA ábregoMichAel fAustino3° seMestre

De uma tradição passada de pai para filho, e do sonho de construir uma vida me-lhor, nasce a feira da vila Jacy, que, a cada sábado, abriga uma grande diversidade de pessoas. É um verdadeiro re-duto cultural, distribuído ao longo de seus 900 metros e suas 125 barracas.

Fundada na década de 1970, a feira da vila Jacy pas-sou por algumas mudanças. Entre elas, na sua estrutura, que, antes, possuía boxes fi-xos, nos quais cada comer-ciante podia se instalar com comodidade.

Porém, essa estrutura foi, aos poucos, se degradando e sendo abandonada por al-guns comerciantes, que, por um motivo ou outro, deixa-ram o local. Os feirantes, jun-to com a comunidade, resol-veram, então, demolir toda

aquela estrutura que estava gerando certa insegurança aos moradores, sendo depre-dada e servindo como abri-go para moradores de rua e também para usuários de drogas.

Após a demolição da an-tiga estrutura, a prefeitura de Campo Grande, em 1997, decidiu criar um grande pavi-mento central, que deu mais dinamismo à feira. Esse espa-ço também serve para o la-zer da comunidade em geral, menos aos sábados, à noite. Alguns jogam futebol, soltam pipa ou fazem caminhada por ali, durante a semana.

Além do pavimento central, o projeto da prefeitura, que foi criado como padrão para as feiras da capital, contava com um banheiro, que, no início, foi usado. Mas, hoje em dia, está desativado, por falta de manutenção. “Esse poderia ser um grande atra-tivo aos nossos clientes, mas os feirantes não aceitam pa-

gar a taxa de manutenção do banheiro, que acabou sendo abandonado”, diz o presiden-te da Associação dos Feiran-tes, Josifan Dantas.

Bom exemplo da tradição da feira da Jacy é o vendedor de utensílios domésticos, Cel-so Calixto, que tem 45 anos de idade, e o mesmo tempo de feira. “Nasci em baixo de uma barraca”, explica Celso, brincando. Seu pai, dono do negócio, sempre o levou para a feira. Mais tarde, quando o pai ficou doente e, ao retor-nar de São Paulo, Celso pas-sou a tomar conta da banca, já sentindo-se realizado pro-fissionalmente. O feirante es-tudou e se formou em Enge-nharia Civil.

Hoje, tem a sua própria empre-sa. Durante o dia, é engenheiro, e, às noites, é feirante. Tudo para manter a tradição. “Sou um fei-rante meia-boca. Tem fim de se-mana, que eu nem venho. Mas, tenho muito orgulho das duas profissões", esclarece.

Da tradição, nasce a fórmula do sucesso

De verde-limão a vermelho-melanciadAyAne reistAMArA MendonçA3º seMestre

O céu ainda estava claro, e pas-sava pouco das 16h de um sába-do caloroso, quando chegamos à feira da Jacy. As barracas ain-da estavam sendo montadas, e os senhores e senhoras, de aparência simples, com saco-las na mão, já tomavam conta daquela grande rua. Ali, era possível encontrar desde fru-tas e verduras até conserto de panelas e celulares.

Embaladas pelo típico som sertanejo, os feirantes aten-diam seus clientes, ainda sem muito alvoroço. O barulho vi-nha apenas das conversas de clientes. “Quanto tá a cenou-ra?” E as respostas solícitas dos feirantes.

A senhora de cabelos gri-salhos, aparentando ser real-mente muito velha, recolhia folhas murchas de alface pelo chão. Seu carrinho de mão, cheio de legumes, era puxado com bastante dificuldade. Nós a perdemos de vista.

Com medo da chuva, que parecia estar cada vez mais próxima, os dois meninos da barraca de CDs, relógios, rá-dios e todo tipo de quinqui-lharia, cobriam o teto com mais lona. Aparentam ter ex-periência nessa rotina. Mas, ainda assim, encantados com a pipa que caía, girando do céu. Foi depois das 19 horas, que a movimentação aumentou. Já era possível ver cachorros e crianças correndo por todos os lados. Sorridentes, elas iam

para a cama elástica, posicio-nada no final da feira.

A fumaça branca, subindo ao encontro dos balões coloridos que iam e vinham pela rua, encantavam os mais novos e anunciavam: ali era o local do espetinho. Com as cadeiras sempre lotadas e, pedindo a famosa tubaína, os clientes se deliciavam.

As cores eram das mais va-riadas. De verde-limão a ver-melho-melancia. O cheiro vi-nha da gordura do “tiozinho do churros” e da barraca de pastel. E quando menos per-cebemos, a multidão tomou conta das barracas e dos chei-ros. E os feirantes puderam respi-rar aliviados. As vendas iam, sem dúvida, ser excelentes.

Cores das frutas atraem os olhares e agradam os clientes mais exigentes

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12 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

Dos encontros na rua, nasce uma famíliasAMuel otA rAfAel hiAne3º seMestre

Encontrada entre limites de bairros, a feira do Santo Ama-ro é a mais movimentada da região. Não é um lugar apenas para fazer compras, mas é o espaço do encontro da comu-nidade, da “Grande Família”.

Este relacionamento come-çou há mais de 20 anos, com a reivindicação de Eva Simões Barbosa, que era assessora da vice-prefeita de Campo Gran-de, Marilu Guimarães. Na oca-sião, o prefeito viajou cinco dias, e Marilu ficou em seu lu-gar. Por ser assessora da vice e sempre estar envolvida com a comunidade, Eva reivindi-cou à Marilu uma feira para o Santo Amaro.

A pr imeira exper iênc ia aconteceu, recorda dona Eva, no dia 28 de novembro de

1988, com 40 barracas. De lá para cá, acontece “todos” os sábados, só não em feriados, como Ano Novo e Natal.

O número de barracas au-mentou durante o período, calcula Antônio Cézar, mora-dor da rua. No início, qualquer pessoa poderia ter seu ponto. Muitos moradores mantinham seus locais de venda em fren-te às próprias casas. Mas, ago-ra, as coisas mudaram. Alguns contam que têm ponto que chega a custar R$ 500,00. Es-tes são cobiçados, devido ao movimento da feira. Quando falta alguém, tem sempre um “penetra” de prontidão para entrar.

As casas em volta do local são como as "mãezonas" da feira. Servem de ponto de re-fúgio quando chove e, tam-bém, de proteção. É difícil ter roubo, pois a feira é cercada por casas. Até o ano passado,

as residências também ser-viam de salvação para muitos que estavam “apertados” para ir ao banheiro, depois de te-rem comido um delicioso pas-tel de queijo e tomado um su-co de laranja, especialidades da feira.

Houve tempo, que se fala-va sobre mudar a feira de lo-cal, para liberar a avenida ao “mini hospital”, na verdade, um grande posto de saúde 24 horas, que está sendo cons-truído. Mas, como ela não é barulhenta, não tem muitas brigas e, por acontecer ape-nas no sábado, como diz Rei-naldo, morador da rua, isso não ocorreu.

Existem reivindicações pa-ra se instalar luminárias na avenida. Se elas forem aten-didas, a feira ficará ainda me-lhor, com segurança, saúde, alimentação e vestuário, tudo em um mesmo espaço. Feira deixou de ser informal e, hoje, há pontos que custam até R$ 500

wAgner jeAn

Diversão para crianças e adultos

Feira do Santo Amaro é bem mais do que simplesmente comércio, também é um espaço para o lazer e a diversão

cAMilA toMAsi ÉlidA Monteiro 3º seMestre

Sábado, 18 horas. O público que freqüenta a feira do Santo Amaro vem chegando aos poucos. Muitas senhoras com seus carrinhos de feira, casais de namorados e um número surpreendente de crianças, das maiores até os bebês de colo.

A feira parece tranqüila. As barracas com frutas, verduras e legumes são as mais dispu-tadas e, quando perguntamos o que eles acham dos pro-dutos, a resposta é unânime: “Aqui é tudo fresco, em qual-quer uma das barracas”. É o que diz Constância Ramona, 62 anos, que freqüenta a fei-ra há mais de 10. O público parece realmente apreciar os produtos, pois todos saem com seus carrinhos lotados ou com as mãos carregadas de sacolas plásticas. Os fei-rantes explicam com a maior

atenção e boa vontade a ori-gem do que vendem e mos-tram seus benefícios.

Para os jovens, a atração maior são as barracas com fi lmes e CDs. Eles olham atentos, perguntam, testam os produtos até decidirem o que levar. As meninas ficam entretidas nas lojinhas de bijuterias e acessórios. Aline Pereira da Cruz, 15 anos, diz que não perde a feira nem um sábado, e que, ela e suas ami-gas sempre combinam de se encontrar por lá. As crianças também estão por toda par-te, acompanhadas dos pais ou até mesmo sozinhas, como Vitor e Leonardo, de 11 e 8 anos. Eles foram deixados na feira pelos pais, que ficaram de buscá-los mais tarde. En-quanto isso, se divertem nas barracas de jogos e brinque-dos, e comem um espetinho, sobre o qual dizem estar de-licioso.

wAgner jeAn

Encontramos muitos mora-dores de outros bairros que têm feiras mais próximas, mas que preferem vir até ao San-to Amaro. De todos eles, es-cutamos muitos elogios, aos

produtos, à localização, segu-rança e tranqüilidade da feira. Uma crítica feita por uma se-nhora foi contra as bicicletas que circulam pelo local, atra-palhando as pessoas que ca-

minham entre as barracas, já que a feira é bem estreita. Fi-cou bem claro que, para eles, a feira vai muito além de um simples comércio. É lazer e di-versão para toda família.

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13CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

Nesta feira todo mundo é vizinholAne nAKAsonejoAnA Moroni3º seMestre

Dois botecos pé-sujo, um em cada esquina, se insinuam que-rendo ser monumentos que marcam o início da feirinha no bairro Santo Amaro. Logo, o ar impregnado de churrasquinho recepciona o freguês. Com agi-lidade, o feirante virava e des-virava o espetinho, enquanto um cão simpático, de focinho esperto, acompanhava seus movimentos com os olhos pi-dões.

A feira está disposta sobre o asfalto estreito, obrigando a freguesia trocar ligeiros pedi-dos de desculpa a cada esbar-rão. Sobre as calçadas estão espalhadas cadeiras e poltro-nas trazidas de dentro das ca-sas, transformando a feira em uma sala de estar comunitária. “Olha, olha! Pega no monte!”, sugeria o verdureiro, para as “vizinhas” que passavam. Ali, freguês é vizinho. Em outra

barraca, uma senhora empu-nhando um tanto de feijão verde quer saber: “Quanto cus-ta esta ‘criatura’?”. Todo mundo se entende por ali, sem ceri-mônia.

A brisa muda e revela chei-ros doces, almiscarados, cítri-cos e florais. Perfumes “primo-rosamente” embrulhados em plástico aderente sobre ban-dejinhas de isopor. Logo atrás do palhaço e suas esculturas de balões, os doces oferecem a si mesmos e, sem pedir li-cença, se metem na boca do freguês!

Mais alguns passos e a bo-ca saliva, o paladar imagina um mar de clorofila tempera-dinha! A rúcula, a salsa, o al-face e o agrião se misturam e criam o aroma mais denso de toda a feira. Entre as cenouras e a acelga, um senhor segura diante de si um maço de raba-netes. Com ares de perito, in-vestiga o maço. Afasta, aproxi-ma, cheira e olha mais. Fica as-sim por dez minutos e desiste,

não leva. Vai até as cenouras e recomeça a pesquisa.

Roupas, acessórios, bijute-rias, DVDs/CDs... Os sons do funk, pagode e sertanejo se mesclam e se redefinem. Lo-go adiante, uma barraca de artigos “importados”: cultura "pop" japonesa, "made in" Chi-na. Estampas de picachús e si-milares, pantufas de "animê", adesivos de "mangá". Mas o pequi e o feijão de corda estão a poucos metros, sobre uma tábua apoiada em caixotes.

A poodle melindrosa, com as unhas pintadas de vermelho, saltita para a dona. “Colinho, colinho, vem mamãe colinho!” e a cadela se aninha no colo espaçoso. Ao lado passa uma vira-lata tão “prenha” que mais parece uma mesa sobre patas.

Gatos espreitam, uns se en-roscam no pé da barraca de frango. Por detrás de um opu-lento bigode, o vendedor de aves fita os clientes e suspira. O freguês se vai, o gato mia e mais um suspiro.

wAgner jeAn

Cheiro forte da clorofila cria o aroma mais denso de toda feira do Santo Amaro

Receitas reveladoras de um nisseiAdeline fernAndAAdriAnA QueiroZ3º seMestre

Barracas grandes, peque-nas e até improvisadas. Muita gente e pouco espaço. Dispu-ta por clientes, atenção e cria-tividade. Assim observamos a feira que ocupa uma quadra no bairro Santo Amaro.

Dentre tantas barracas e muitos vendedores, encon-tramos um de pequena esta-tura, cabelos grisalhos, quase brancos, com um sorriso largo e um semblante alegre. Traços nipônicos, olhos puxados, pe-quenos e brilhantes.

Este é Gonda, brincalhão e descontraído. Quando per-gunto a idade diz que nem sabe, pois não consegue mais contar nos dedos. Conta que não gosta de freqüentar bai-

Os olhos, que a pouco conver-savam expressivamente, por um segundo fecham e abrem enquanto o semblante revela um momento de preocupa-ção. Durante tantos anos na feira constatou que o movi-mento caiu. Gonda acha que é por causa da situação finan-ceira das famílias, que têm ca-da vez mais compromissos.

Volta a sorrir enquanto fala que é melhor trabalhar como feirante do que como empre-gado. “Sempre tem troquinho no bolso”. Trabalhar em feira? “Gosto muito, é diversão. Sou véio, suzinho” Com um sorriso aberto e contagiante, apon-ta para os grupos de pessoas que passam às pressas de um lado para o outro. “Tem um monte de menina bonita.”

A partir de terça, traba-lha todos os dias. Quarta em

diante faz mais de uma feira por dia. Ele divide seu tem-po e força entre 10 feiras. “Já acostumou. Se não faz feira, faz falta.” Seu relacionamen-to com os outros feirantes é admirável. Na segunda-feira (16/03) um grupo deles se reuniu na casa de Gonda pa-ra um almoço. “Nas feiras se eu faltar já perguntam o que aconteceu.” Nem sempre tem a neta como ajudante. Mas não se preocupa, pois até a freguesia ajuda quando ele está sozinho.

Entre um gole e outro de cerveja, não escolhe palavras. “No Japão tem feira quase igual. Lá o atendimento é ex-celente.” E com um sorriso na voz confessa preferir as feiras do Brasil. “Tem tudo raça. Aqui é divertido. Pra morar não tem lugar melhor.”

wAgner jeAn

Senhor Gonda, com seu jeito brincalhão e descontraído, atrai vários freg-ueses

les e programas para idosos. “A gente fica véio”. E sorrindo continua: “convivendo com jo-vem o espírito fica jovem”.

Com um jeito irreverente, sentado no banquinho de ma-

deira e só se levantando para atender a freguesia, Gonda re-lata que trabalha com feira há “uns 10 ou 15 anos”. Nem ele sabe. Em seguida confessa ser “difícil se sustentar de feira”.

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03CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

Como posso me tornar um feirante?eliZângelA goMesguilherMe MeirA 3º seMestre

O campo-grandense possui o hábito de freqüentar feiras para o entretenimento e fazer compras. A prática explica o elevado número de feiras, ao todo 54, existentes na capital. A feira Central é a principal delas, sendo um dos pontos turísticos do município. Ape-sar do número elevado de espaços públicos de compras, conseguir um ponto para co-mercialização de alimentos ou outros tipos de produtos não é tão simples.

Para quem deseja tornar-se feirante o primeiro passo é comparecer à Central de Atendimento ao Cidadão vin-culada à prefeitura de Campo Grande, na área responsável pelas feiras, que é a Divisão de Fiscalização Controle e Postura (DFCP). Preencher o formulário de solicitação de vaga, que deve conter os

seus dados pessoais, ramo de atividade e tipo de produto (industrializado, artesanal ou agrícola). O solicitante pode escolher até nove feiras, a DFCP faz a análise de dispo-nibilidade. Caso haja vaga nas feiras solicitadas, os fis-cais entram em contato com o solicitante, que paga uma taxa de adesão de aproxima-damente R$ 32 por feira em que for participar. O mesmo valor é pago anualmente por ocupação do solo.

Segundo o supervisor de Fiscalização da DFCP, Zilmar Assis de Oliveira, pode ser que tenha vaga em apenas três, isso não significa que irá conseguir em todas elas. "En-tramos em contato e informa-mos sobre a disponibilidade”. Após a comunicação com o feirante, ele opta em ficar com as vagas disponíveis ou não.

A fiscalização das feiras é feita das 15 h às 19 h. É or-

ganizada a chamada dos co-merciantes, que não podem ter mais que quatro faltas por mês. “O feirante pode tirar uma licença de 30 dias por ano, em casos de doen-ça, maternidade ou viagens”, informa Zilmar.. O serviço de segurança é particular, pago pelos próprios feirantes.

Quem tem seu ponto pode vendê-lo, mas este tipo de procedimento é informal. A DFCP não interfere. A única ação realizada pelo setor é a transferência de titularidade do ponto.

Qualquer pessoa pode pe-dir a criação ou a oficializa-ção da feira, por meio de um ofício, desde que tenha no mínimo 25 barracas. A DFCP faz a verificação da rua indi-cada. E também é feita con-sulta popular. Após todas as etapas concluídas a oficiali-zação da feira é feita em 90 dias, sendo publicada em Di-ário Oficial do município.

Central de Atendimento ao Cidadão, onde os feirantes podem se cadas-

roberto belini

Vigilância Sanitária elogia feiras da capital

MArcos ribeirotAísA rodrigues3º seMestre

A Secretaria Municipal de Saúde Publica (Sesau), por

alimentos. No ano de 2008, o serviço de inspeção recebeu 356 reclamações, de popula-res, relacionadas à saúde pu-blica. Entre as denúncias de irregularidades, apenas três foram sobre feiras.

Carlos José de Oliveira, res-ponsável pelo serviço de ins-peção municipal, cita alguns cuidados. “A lei fala que todos que trabalham em contato com alimentos precisam fazer cursos, nós damos esses cur-sos. Informação e conscien-tização diminuem o risco de contaminação. O que adianta usar luvas e sair pegando em tudo?”.

Todos as queixas referen-tes às feiras foram solucio-nadas com facilidade. Mas, nem sempre a relação entre feirantes e fiscalização foi tão

tranqüila como agora. Carlos José, atuante na área da saú-de há 30 anos, lembra como era difícil manter a limpeza e organização. O surgimento de novas leis veio para facilitar o trabalho. “As carnes ficavam expostas, o que a tornava im-própria para o consumo. De-pois que balcões frigoríficos e freezers se tornaram obriga-tórios, alguns se adaptaram, outros preferiram trabalhar com mercadorias diferentes”. O responsável pela fiscaliza-ção dá exemplos: verduras, frutas e legumes. Ele acredita também que esta medida foi um passo importante para re-solver esse que era um grave problema.

A Vigilância Sanitária de Campo Grande é responsável por mais de 16 mil estabele-

cimentos, entre eles bares, lanchonetes, restaurantes, hospitais e feiras. O serviço de inspeção é dividido em cinco distritos: central, norte, sul, leste e oeste. Dispõem de pré-dios em lugares estratégicos, veículos, supervisores, agen-tes sanitários, (graduados e atuantes na função específica) e fiscais sanitários, (possuem Ensino Médio).

Devido ao funcionamento noturno de muitas feiras e ou-tros comércios, os 50 agentes se revezam em escalas aleató-rias de acordo com a necessi-dade de vistoria. A Vigilância Sanitária disponibiliza à po-pulação, um telefone para su-gestões e reclamações. Caso haja necessidade é possível fazer contato por meio do te-lefone 3313-5020.

meio do Serviço de Inspeção Municipal, elogia a respon-sabilidade dos feirantes de Campo Grande e se mantém alerta com a higiene, princi-palmente na manipulação de

Apenas três queixas foram registradas a respeito das feiras da capital em 2008

douglAs QueiroZ

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15CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009ESPECIAL

Feira do Novos Estados: Aquele jeitinho aconchegante com cheiro de café torradoMAriA frAnciscA PAgnoZZi3º seMestre

Ela nos lembra aquela feira com jeitinho aconchegante daquelas de cidades peque-nas. O cheiro do café torrado na hora, é o que nos embala durante o percurso pela feira dos Novos Estados. Ao iniciar nossa viagem pelo túnel cer-cado de luzes e lonas amare-las, encontramos informações de ambos os lados.

As barracas são primorosa-mente organizadas em seto-res, começando pelos artigos eletrônicos, os pessoais, co-mo roupas e calçados, para logo em seguida nos mostrar as mais diversificadas frutas e verduras.

As gotículas de água, que compõe toda a superfície da polpa, fazem com que as tor-nem mais apetitosas, não só aos olhos dos observadores,

mas também ao crivo e pa-ladar das donas de casa. Elas preferem preencher o cardápio com os alimentos mais fresqui-nhos e selecionados, que os feirantes podem oferecer.

Em pouco mais de 20 anos de feira, as pessoas têm barra-cas de sua preferência, conhe-cem o feirante de longa data, e assim, cria-se um vínculo, além de mercador e consumi-dor, mas também de amizade. Circulam, examinam e pechin-cham. Famílias trabalham uni-das, e em um lugar cheio de sons, movimentado e colorido, é notável a presença do fei-rante que, em alto e bom som, oferece e atribui qualidades aos seus produtos. Uma figura não muito comum nas feiras de hoje, o senhor da barraca de doces gritando “leve que-bra-queixo pra sogra que hoje tá barato”, rende um charme especial ao lugar.

E a avenida Senhor do Bon-fim, também é um centro de lazer. A alguns metros da feira, os jovens tímidos, com olhares desconfiados se reúnem em busca da paquera e diversão. A música rola solta, e muitas vezes é ali o ponto de encon-tro da moçada antes de se di-rigirem a uma festa posterior-mente.

Muitas famílias se reúnem para saborear a verdadeira far-tura alimentícia que encontra-mos por lá. Não há só comidas típicas do estado, mas também um pouquinho de Brasil em cada parte, tapioca, sobá, es-petinho, yakissoba, e a famosa barraca de pastel do Sansil, a qual é impossível passar des-percebida ao nosso olfato, re-produzindo o pensamento em onomatopéias.

É um burburinho de gente que passa pra lá e pra cá, es-colhe, pesa e experimenta de

maneira democrática. Pratica-se não só o comércio ou a tro-ca de produto e moeda, mas também o respeito e a genti-

leza do ser humano, que exer-cita o hábito da convivência, da forma mais elevada com o próximo.

Feira Central promove sensações e saboresrosiAny bArros3º seMestre

A Feira Central é ponto tu-rístico na cidade de Campo Grande. Disso, não existem dúvidas. Ponto que nos leva à cultura japonesa, à culinária tanto apreciada aos sábados e quartas-feiras que, por meio do olfato nos levam a desven-dar um mar de sensações e sabores.

Pratos típicos como delicio-so sobá. Em meio à fumaça do macarrão escaldante somos surpreendidos com aquele cheirinho maravilhoso do es-petinho que dá água na boca. E para a sobremesa, as variadas mesas de doces são de verter lágrima dos olhos, bolos, tor-tas, churros, frutas banhadas em chocolate, amendoins açu-carados, dá aquela vontade de todo dia ser sábado.

Para Marlene Romero que

douglAs QueiroZ

Feira é espaço da prática não só do comércio, mas também da solidariedade

wAgner jeAn

retira do comércio informal formado em frente à feira o sustento de oito filhos, o novo

local é melhor, tem mais or-ganização e limpeza. “Quan-do todo mundo colabora e se

organiza o dinheiro vem pra todo mundo e ninguém recla-ma porque ninguém tem mais que ninguém, todo mundo trabalha”.

Para os moradores da re-gião onde a feira seria cons-truída, formada basicamente por ex-funcionários aposen-tados da Rede Ferroviária, as mudanças significariam me-lhoria de vida, o movimento de pessoas traria mais segu-rança. Os tempos de gloria da região estariam de volta.

A feira chegou e com ela muitos obstáculos que antes incomodavam os moradores agora se transformam em um problema de segurança pública. Elizabeth Rodrigues, moradora há seis anos na rua D° Ferreira assistiu da porta de sua casa as mudanças que a Feira Central passou, e na visão dela não foram muito

boas. “Eu não tenho 30 anos aqui, mas quem tinha foi em-bora não aguentou o barulho que esses marginais fazem.”

O apelo feito pela dona Eli-zabeth é sobre o fato de que a feira teria trazido consigo a marginalidade, uma vez que a região já não era muito segura e esta insegurança aumentou com a falta de policiamento.

Outra moradora insatisfeita é Jussara Correia, morado-ra há 15 anos, que esperava muito mais. “Eu trabalho na feira, pago o aluguel, os pou-cos que ficaram alugam a ga-ragem pra ganha um trocado a mais pra paga o colégio dos filhos”. A Feira Central é pon-to turístico, as ruas da ferro-viária foram conservadas, o paralelepípedo esta lá como há muitos anos. O que os mo-radores procuram é a também conservação do respeito.

Visitar a Feira Central significa econtrar várias culturas em um mesmo local

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16 CAM PO GRAN DE-MS | ABRIL DE 2009 ESPECIAL

Feirona: 84 anos de tradição

Feira Central é considerada um tradicional ponto de encontro da capital

dAnielly AZevedonAtáliA chAves3º seMestre

Será que há muita diferença entre as feiras de algum tem-po atrás e as atuais? A Feira Central de Campo Grande é um exemplo de que uma tradição tão antiga pode se modernizar e se adaptar com o passar dos tempos.

Criada no dia 4 de agosto de 1925, a feira funciona-va aos sábados, das 8 às 16 horas, no local onde está si-tuado, hoje, o Mercado Mu-nicipal. Em 10 de fevereiro de 1966, a Feira Central foi transferida para a rua Madei-ra, entre ruas José Antônio e Constituição. E parte dela, entre a rua Madeira e aveni-da Mato Grosso. Esse local, talvez, seja o mais presen-te na memória dos campo-grandenses. Afinal, a Feira Central permaneceu ali, por 38 anos de tradição, aliados

ao lazer e à cultura sul-mato-grossense.

Inaugurada no dia 18 de dezembro de 2004, pelo ex-prefeito André Puccinelli, na área da antiga Estação Fer-roviária, a atual Feira Central ou “feirona”, como é popular-mente conhecida, conta com espaço para 248 feirantes, di-vididos em artesanato, lazer e alimentação. Freqüentada por jovens, casais e, na maio-ria, famílias, tem como alvo de maior procura o setor ali-mentício, que oferece pratos regionais e estrangeiros.

Ernani Schlitter, que tra-balha como feirante, há 18 anos, diz preferir o antigo lo-cal, pois os seus lucros eram maiores. “Hoje, não é mais tão lucrativo”. Para poder au-mentar a renda, ele informa-tizou o sistema de vendas, visando um controle maior dos lucros, o que gerou um aumento de 8% a 10% na lu-cratividade. Para atrair mais

clientes, disponibilizou um telão, para que os amantes de futebol pudessem assis-tir aos jogos, uma idéia para melhorar o fluxo de clientes na quarta-feira, já que o mo-vimento nesse dia é fraco.

Diferentemente dos feiran-tes do ramo alimentício, os de artesanato aprovam o espaço da Feira Central. Keyty Lo-ren diz que a mudança para o novo espaço melhorou os seus lucros. Os clientes, por sua vez, preferem essa nova acomodação da Feira Central. Consideram o lugar mais hi-giênico, seguro e atrativo. “A nova feira é mais higiênica e tem bem mais variedades”, diz Miriam, de 15 anos.

A feira possui uma gama de variedades que vai desde produtos tradicionais, como pastéis e sobás, até aviões de aeromodelismo e moto-cicletas. Está cada dia mais moderna, tudo para atender melhor aos seus clientes.

wAgner jeAn

juliAnA nogueirA KArinA bArbosA3º seMestre

Quando pensamos em um lu-gar que tem a cara do sul-ma-to-grossense, logo nos vem à cabeça a Feira Central de Cam-po Grande, ou Feirona, para os mais íntimos. O espaço é com-posto por várias culturas, e as comidas japonesas são as que fazem mais sucesso por lá.

Com a nova estrutura, uma questão foi levantada pelos fre-qüentadores: a essência da fei-rona se perdeu? Na opinião de Cláudia Nakazone, que vende verdura há 15 anos, descarac-terizou-se a essência do que é feira e desvalorizou-se em sen-tido de comércio. “Pelo menos, pra mim”, considera.

Manoel começou na Feira

Muda de casa, troca de roupa e continua a mesma...

Central, nos tempos do Mer-cadão e foi o dono da primei-ra barraca da rua Abrão Júlio

Rahe, com a José Antônio. Tendo iniciado há 43 anos, ven-dendo bijuterias e bolsas, o fei-

Manoel Pereira afirma que o que importa, realmente, é descansar e viver

juliAnA nogueirA rante conquistou fiéis clientes, que fazem questão de comprar os seus artefatos até hoje, mes-mo tendo mudado o tipo de produtos e começado a vender artigos pantaneiros.

A mudança, para Manoel, foi ótima. “Eu me sinto em casa. Aqui dentro, eu posso assistir televisão e não preciso me pre-ocupar com nada que me pre-ocupava antes, como as chuvas, por exemplo. Na minha idade, o que eu preciso mesmo é des-cansar e viver”.

Aos entramos na área em que são comercializados os alimen-tos, percebemos um banner escrito “Barraca Tókio, 84 anos de tradição”. O ponto foi her-dado por uma gentil senhora, que fica à frente dos negócios, Takako Guenka. Márcia Guenka, nora de Takako, afirmou que a

mudança trouxe benefícios pa-ra o comércio, principalmente, quando acontecem eventos co-mo o Festival de Sobá e o Fes-tival do Peixe. Mas, lamentou a falta de características culturais que todas as feiras possuem, pois houve uma mudança mui-to grande.

Mesmo com todas as altera-ções, os turistas principalmen-te, acham a feirona um ponto indispensável para quem esco-lhe Campo Grande como o seu destino de viagem. “Os turistas valorizam muito a cultura sul-mato-grossense, mais até que o povo daqui. Sempre saem sa-tisfeitos e com vontade de vol-tar”, analisa Solange Cáceres, da barraca Rancho Pantaneiro, que é conhecida pela sua saborosa lingüiça pantaneira, a caracte-rística da barraca.